universidade candido mendes pÓs-graduaÇÃo … · o texto do cpc é expresso ao ... da...

60
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE A HOMOLOGAÇÃO DA DESISTÊNCIA DO RECURSO NO PROCESSO CIVIL Por: Ivan Capoli Silva Orientador Prof. Dr. Jean Alves Pereira Almeida Rio de Janeiro 2008

Upload: dokhuong

Post on 07-Nov-2018

213 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

A HOMOLOGAÇÃO DA DESISTÊNCIA DO RECURSO NO

PROCESSO CIVIL

Por: Ivan Capoli Silva

Orientador

Prof. Dr. Jean Alves Pereira Almeida

Rio de Janeiro

2008

2

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

A HOMOLOGAÇÃO DA DESISTÊNCIA DO RECURSO NO

PROCESSO CIVIL

Apresentação de monografia à Universidade

Candido Mendes como requisito parcial para

obtenção do grau de especialista em Direito

Processual Civil

Por: . Ivan Capoli Silva

3

AGRADECIMENTOS

....à Deus, aos parentes, aos

amigos......

4

DEDICATÓRIA

.....dedica-se ao filho, pai, mãe, irmã,

noiva, familiar, .......

5

RESUMO

A desistência da ação é uma das formas de extinção do processo sem

resolução do mérito. O texto do CPC é expresso ao afirmar da necessidade de

sua homologação para produção de feitos no mundo jurídico, visto não haver

ainda sentença.

A desistência do recurso, por sua vez, no iter do processo, parte de uma

sentença prolatada. O CPC não expressa a necessidade de sua homologação.

A prática dos Tribunais empresta à desistência do recurso o mesmo

procedimento da desistência da ação: a homologação pelo juiz. Os tribunais,

por intermédio de seus Regimentos Internos, corroboram tal praxe.

Caberia, então, a homologação da desistência do recurso em sede

processual civil?

O nosso entendimento é que não cabe homologação em face da

desistência do recurso. O que ocorre é uma questão de prática processual

tendo como base a desistência da ação. Os regimentos internos não são

hierarquicamente superiores à legislação Federal, no caso o Código de

Processo Civil

Homologa-se a desistência da ação, produzindo sentença sem

julgamento do mérito. No caso do recurso, já há sentença preexistente que não

carece de ser homologada. É preclusão lógica.

METODOLOGIA

6

Pesquisa etimológica; da legislação federal; da doutrina (clássica e

atualizada); da jurisprudencial e bibliográfica.

7

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I - Origem Histórica 11

CAPÍTULO II - O Mercado 20

CAPÍTULO III – A Proposta 39

CONCLUSÃO 47

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 52

BIBLIOGRAFIA CITADA (opcional) 55

ANEXOS 58

ÍNDICE 59

FOLHA DE AVALIAÇÃO 63

8

INTRODUÇÃO

Segundo o Regimento Interno do STF cabe ao Relator homologar as

desistências, ainda que o feito se ache em mesa para julgamento. Este

preceito é acompanha pelos Regimentos Internos do STJ e do TRF 2ª Região,

entre outros.

O art. 267, VIII do CPC enuncia que o processo se extingue, sem

resolução do mérito quando o autor desistir da ação. No parágrafo único do art.

158 do CPC diz que a desistência não produzirá efeitos enquanto não for

homologada por sentença.

É obrigatória a homologação da desistência da ação no Processo

Civil? Numa interpretação literal e gramatical dos textos acima tem-se que é

compulsória a homologação da desistência da ação. Este entendimento é

pacífico na Doutrina e na Jurisprudência.

Problema: Quanto à homologação da desistência do recurso, é

cabível? Aí reside o problema. Hipótese: Pela regra do CPC não cabe

homologação da desistência do recurso.Como, porém, o CPC não é expresso

sobre a questão, Doutrina e Jurisprudência tem debatido a questão.

Não se trata, porém, de simples solução pela interpretação literal e

teleológica da lei. Há que se buscar as raízes etimológicas da palavra

desistência, como o instituto era concebido no CPC anterior (1939), uma

análise jurídica do ato homologação, do ato desistência, do ato renúncia. É

necessário que se verifique a localização do tema no CPC de 1973, ou seja,

Livro I – Do Processo de Conhecimento, Título VI – Da Formação, Da

Suspensão e Da Extinção do Processo comparando com o Título X – Dos

Recursos, Capítulo I – Das Disposições Gerais.

Há de se verificar, também, sobre os efeitos e limites da desistência e

do recurso, como também o juízo de admissibilidade dos recursos, passando

pela coisa julgada material e formal.

9

Como se vê, então, a questão é mais complexa do que inicialmente se

apresenta. Para isto que se presta o presente trabalho, que não objetiva

esgotar o tema, mas contribuir para um aprefeiçoamento do Tema Desistência

no Processo Civil Brasileiro.

Para tanto, foi-se buscar o pensamento dos principais doutrinadores

processuais a respeito do tema como também pesquisa jurisprudencial.

Na certeza de que não cabe homologação da desistência do recurso é

que se inicia este trabalho.

CAPÍTULO I

10

ORIGEM HISTÓRICA

O CONCEITO

...Mene incepto, desistere victam?

1.1 – Origem Histórica

De acordo com o Dicionário Latino Português de Fernando Torrinha,

desistir vem de desisto, is, ere, stiti, situm, verbo tansitivo ou intransitivo que

significa deixar, desisitr de, cessar.

No Dicionário Etimológico Nova Fronteira da Língua Portuguesa temos

que desistência vem do latim medieval desistentia. O verbo português

desistir significa renunciar, não prosseguir num intento. Do latim desistere

que denota afastar-se, deixar de.

No Novo Dicionário da Língua Portuguesa de Aurélio Buarque de

Holanda, desistência tem origem no latim desistentia, que significa ato ou

efeito de desistir. Ainda, desistir – do latim desistere que é verbo transitivo

indireto ou intransitivo: não prosseguir (num intento), renunciar.

O Dicionário jurídico da Academia Brasileira de Letras Jurídicas define

a desistência como ato ou efeito de desistir e que na técnica processual, é a

renúncia feita pelo autor à instância ou à ação, antes ou depois da contestação

(nesta última hipótese com o consentimento do réu). Sua natureza jurídica é de

causa de extinção do processo sem julgamento do mérito (art. 267 do CPC). É

termo técnico que se usa, também para indicar a renúncia a recurso (art. 501

do CPC).

Jônatas Milhomens, no seu Vocabulário Prático do Direito, conceitua a

desistência como mudar de parecer, cessar, descontinuar de, parar, que

significa na terminologia jurídica, a renúncia, que se faz de alguma coisa ou de

algum direito, seja em consequência de evidente abandono, seja motivado por

11

uma transação. Assim, a desistência mostra-se como renúncia recompensada,

ou se apresenta como renúncia pura e simples.. Na desistência pura e simples,

a vontade do desistente (ato unilateral) será o bastante para que se verifique

válida, desde que nela não se envolva qualquer prejuízo a outrem, que se

possa opor ao ato de renúncia.

Milhomens conceitua a desistência da ação como o ato pelo qual o

autor de uma demanda renuncia ao andamento dela. Enquanto a ação não é

contestada, não tornando assim o caráter litigioso, a desistência será ato

voluntário do autor, sem qualquer intervenção da parte contrária. Caso

contrário, é necessária, a aprovação da parte contrária. Embora não se faça

mister a elaboração do “termo de desistência”, somente valerá após sua

homologação por sentença.

Já no Dicionário Jurídico de autoria de Maria Helena Diniz, a autora

apresenta três aspectos no conceito de desistência: 1) Direito Civil – a)

remissão da dívida pelo credor; b) renúncia a um direito; c) transação; d)

abandono; 2) Processo Civil – é a intenção do autor de não prosseguir com a

ação por ele proposta ou com o recurso interposto; 3) Processo Penal –

reconciliação do querelante e do querelado na audiência inaugural do processo

e julgamento dos crimes de calúnia e injúria, arquivando-se a queixa.

Conceituando a desistência da ação ensina que é o ato pelo qual o autor

renuncia à demanda, manifestando sua vontade de que a ação proposta não

tenha prosseguimento. Essa decisão somente produzirá efeitos após sua

homologação por sentença judicial, não obstando, porém, o prosseguimento

por reconvenção e o seguimento da ação declaratória incidental.

Alexandre Freitas Câmara conceitua a desistência da ação como

sendo a abdicação expressa da posição processual, alcançada pelo autor,

após o ajuizamento da ação.

De acordo com Pontes de Miranda a extinção do processo apaga ex

tunc a relação jurídica processual. Segundo ele, ao analisar o CPC de 1939,

fim à instância: a) o Normal que ocorre com a decisão da causa; e b) Anormal

que ocorre com a extinção do processo, a desistência homologada pelo juiz e a

transação. O Código de 1973 não separou a extinção do processo e a

12

cessação do processo (no art. 267, VII e VIII, estão o compromisso arbitral e a

desistência).

O processo extingue-se sem julgamento do mérito se o autor desiste

da “ação” (no sentido do direito processual). Até a resposta do réu, pode o

autor desistir da ação, a seu arbítrio. Depois de decorrido o prazo, não: precisa

do consentimento do réu (art. 267, § 4°). Diferente é o que se passa com a

renúncia do autor, no tocante ao direito, à pretensão e à ação, ou só a à ação

(no sentido do direito material), porque aí, há a extinção do processo com

julgamento do mérito: a ação, ou o direito, a pretensão e a ação deixaram de

existir.

Ocorre o mesmo em caso de reconvenção, em que o reconvinte

desistiu da ação.

1.2 – O CPC de 1939

O Código de Processo Civil de 1939 atestava no seu art. 818:

“O recorrente poderá, a qualquer tempo, sem anuência do recorrido ou

dos litisconsortes, desistir do recurso interposto”.

A renúncia era à pretensão de recorrer; a desistência era ao recurso. A

desistência do recurso é unilateral e independe de concordância ou aceitação

da outra parte. A razão está em que ela não se entende com a relação jurídica

processual, mas apenas com a extensão dessa ao juízo do recurso. A lei

equiparou tal desistência ao que ocorre, antes da contestação, quando o autor

desiste (art. 181 CPC): já existe relação jurídica processual, a desistência faz

cessar tal relação, e, no entanto, o Código de 1939 permite a desistência

unilateral. Pontes de Miranda acrescenta que não devem pois procurar

fundamentos profundos para a regra do 181 CPC: os seus propósitos políticos

foram de ordem prática. A bilateralidade da desistência devera, a priori,

começar da vocatio in ius, desde quando se iniciam deveres de ambas as

13

partes e direitos a favor do réu. O Código o fez mais tarde: “Apresentada a

contestação, o autor não poderá...” (art. 181).

Diferente da renúncia é a desistência, que supõe interposto o recurso.

Esta desistência, declaração de vontade, também unilateral, se pode fazer em

qualquer tempo, sem anuência do recorrido ou dos litisconsortes do recorrente.

Acrescenta Pontes de Miranda, comentando o CPC de 1939, que a deserção é

espécie desistência que não admite prova em contrário, se bem que possa

ser elidida pela regra do art. 813, isto obrigaria a construí-la como efeito de

prazo preclusivo, em que o quod plerumque tit atua para concepção da regra.

A desistência pode ser parcial. É processualmente válida a promessa

de desistir do recurso (“aliter”, a de renúncia). Para se determinar a extensão

da desistência, mais se há de atender ao sentido da declaração que às

palavras. A desistência e a promessa de desistência não compreendem

renúncia à interposição de outro recurso, ou do mesmo, dentro do prazo.

A extensão da relação jurídica processual no grau de recurso significa

que podendo terminar aí, normalmente – estende-se. O juiz muda, sem que

deixe de ser juiz, desde o início, a outra figura subjetiva da relação, no lugar do

Estado (autor, Estado; Estado, réu). Entretanto, há uma diferença entre a

relação jurídica processual, até então, e a mesma relação jurídica processual,

depois.. Cada recurso é extensão. Se só uma parte recorre, a outra não tem

atividade positiva. Uma das conseqüências disso está em que, para a

desistência da ação (art. 181), é preciso o consenso da outra parte, ou a

apreciação judicial de se dar ao caso do art. 181, parágrafo único, ao passo

que, para a desistência do recurso, é desnecessário (prescindível) o seu

consenso e, até mesmo, inoperante a discordância. A essas considerações

atendem as leis para redigir preceitos como os dos arts. 181 e 818. Ainda,

sendo o recurso parcial (autor vencedor em parte, réu vencido em parte), cada

um dos interessados, para desistir, prescinde do consenso do outro.

Tendo havido o ato processual do recurso não cabe perguntar-se se a

parte ou o terceiro, aqui, quis realmente recorrer. É o princípio fundamental

de direito processual que os atos processuais – da parte, ou do juiz, ou

dos aderentes – têm existência, valor e eficácia, sem se levar em conta a

14

“vontade” de quem os praticou. Desde que se “encheu” o que a lei reputou

indispensável à existência, validade ou eficácia, o ato processual existe, vale e

é eficaz, independentemente do que se haja querido. O que importa é a

declaração configurada pelo ato. Por isso mesmo, a própria renúncia

extrajudicial ou a desistência extrajudicial do recurso é inoperante: prova,

talvez plenamente, a vontade de renunciar ou de desistir, porém não tem

existência processual, tal como a transação e a desistência não-homologadas

(arts. 206 e 207 do CPC de 1939)

Na regra processualista de 1939, antes de serem remetidos os autos,

conhecia da desistência o juiz recorrido, ainda que se tratasse de apelação.

Nesse caso, a despeito da extensão da relação processual, a declaração de

vontade que é a desistência, integrada pelo ato judicial declarativo, tem a

eficácia constitutiva negativa para destruir aquela extensão de relação

processual (arts. 809 e 818).

Em geral, a desistência do recurso independe de termo; mas há de

haver “declaração de vontade”, ainda que tácita ou pelo silêncio, com o

elemento integrativo (declarativo) da homologação ou outro ato do juiz, ou

tribunal (por exemplo a cognição do recurso).

O juiz podia, antes de homologar a desistência do recurso, ouvir a

parte contrária; porém essa audiência não faz depender de qualquer

comunicação de vontade da parte contrária a tomada do recurso, nem pode

prejudicar o desistente. (4ª. Câmara do Tribunal de Apelação do Distrito

Federal, 2 de abril de 1940, Revista Forense, 82/347).

CAPÍTULO II

A DESISTÊNCIA DA AÇÃO

1.1 – A Extinção do Processo

15

O Código de Processo Civil cuida nos artigos 267 e 269 das hipóteses

de extinção do processo sem e com julgamento do mérito, respectivamente.

De acordo com Fredie Didier Júnior, o legislador relacionou esses artigos à

sentença, visto ser esse o ato que encerra o procedimento em primeira

instância, conforme o texto do § 1° do art. 162: “Sentença é o ato do juiz

proferido conforme os arts. 267 e 269 desta Lei”.

A redação do Código induz o entendimento de que toda decisão

judicial, que tenha por conteúdo uma das hipóteses previstas nesses artigos,

será uma sentença. Porém deve se ter muito cuidado com a terminologia. Os

arts. 267 e 269 não prevêem hipóteses em que necessariamente o processo

será extinto nem estabelecem matérias que sejam exclusivas de sentença, a

despeito da redação do § 1° do art. 162 do CPC de 1973.

Os arts. 267 e 269 identificam o conteúdo de certas decisões judiciais,

determinando quando se considera que há e não há exame do mérito da causa

e, consequentemente, se a decisão pode ou não ficar protegida pela coisa

julgada. Somente as decisões de mérito ficam acobertadas pela coisa julgada.

A nova redação do art. 269 do CPC corrobora esta assertativa: “Há resolução

de mérito...”. A nova redaçaõ do art. 267 do CPC, com a troca do “julgamento

de mérito” por “resolução de mérito”, permanece, porém, com referência à

extinção do processo. Perdeu-se a chance de corrigir, também, a redação do

caput do art. 267, que assim deve ser lido: “ Não há exame de mérito”.

Fredie Didier Jr. sistematiza as hipóteses da relação jurídico-

processual sem exame do mérito em 4 (quatro) tipos:

a) Extinção por Inadmissibilidade – trata-se de extinção sem

julgamento decorrente da aplicação da sanção de invalidade do

procedimento (incisos I, IV, V, VI, VII do art. 267);

b) Extinção por Morte – se o autor morrer e o direito for

intransmissível (inciso IX);

c) Extinção por Revogação – que decorre de manifestação de

vontade de uma ou de ambas as partes (incisos II, III e VIII;

16

d) Extinção por Confusão – que, na verdade, não implica

decisão terminativa.

A desistência do prosseguimento, ainda segundo Fredie Didier, é um

ato unilateral do demandante. Tecnicamente, não se trata da desistência da

ação, como afirma o inciso VIII do art. 267; é, sim, desistência do

prosseguimento do processo.

Admite-se a desistência parcial, hipótese em que não haverá extinção

do processo, pois a parcela não desistida deve prosseguir para ulterior

julgamento. Se houver litisconsorte passivo necessário, não pode o autor

desistir do prosseguimento do processo apenas em relação a um dos co-réus.

Nada impede, contudo, que, no litisconsórcio facultativo ativo, apenas um dos

autores desista; no caso do litisconsórcio facultativo passivo, é possível que

apenas em relação a um dos réus-litisconsortes haja a desistência.

Não se confunde a desistência com o abandono de que trata o inciso

III do mesmo art. 267, que é “conduta tácita”, ao contrário da desistência, que é

expressa.

Não se admite a desistência após a prolação da sentença. Pode o

autor, se ganhou a causa, renunciar ao direito de executar ou desistir da

execução eventualmente já ajuizada; ou, se perdeu, renunciar ao direito de

recorrer ou desistir do recurso que já interpôs. Nesse sentido Leonardo José

Carneiro Cunha cita acórdão da 2ª. Turma do STJ no RESP 89.474/SP, DJ de

24/05/1999. Se, porém, o autor desistir da causa que já foi julgada, não, há,

pois, mais do que desistir, uma vez que “a prestação jurisdicional almejada ja

foi entregue”.

A diferença entre a desistência do processo e a desistência do recurso

consiste no fato da primeira extingui-lo sem julgamento do mérito (art. 267, VIII,

do CPC); já a desistência do recurso pode implicar extinção do processo “com

ou sem” julgamento do mérito, a depender do conteúdo da decisão recorrida,

como também pode não implicar a extinção do processo: caso de uma

desistência de um agravo de instrumento. A desistência do processo precisa

ser homologada pelo magistrado (art. 158, parágrafo único, do CPC),

17

dispensada na desistência do recurso (art. 501 do CPC). A do processo

depende do consentimento do réu, se já houve resposta (art. 267, §4°, do

CPC); na desistência do recurso, o consentimento é dispensado (art. 501 do

CPC)

Estão incorretas as expressões “pedir desistência” e “pedido de

desistência”. Não se pede desistência; desiste-se. O que o desistente requer é

a “homologação da desistência”, tendo em vista que esta somente produz

efeitos após a chancela judicial (art. 158, parágrafo único do CPC).

Se já houve oferecimento de defesa, a homologação da desistência

exige o consentimento do demandado – ainda que tenha sido apresentada a

contestação por curador especial (art. 9°, II, do CPC). É o oferecimento da

defesa, mesmo antes do vencimento do prazo, o parâmetro para saber se há

ou não necessidade de prévio consentimento, e não o simples escoamento do

prazo de resposta do réu, como indica o § 4° do art. 267 do CPC.

Há casos, porém, que a primeira manifestação do réu no processo é a

interposição de um recurso – agravo de instrumento – contra eventual decisão

liminar que lhe seja desfavorável. Neste caso, mesmo que ainda não tenha

havido a apresentação da resposta, a homologação da desistência do

processo exige a vênia do réu. Se houve o escoamento do prazo de defesa

sem qualquer resposta (revelia), não há necessidade de consentimento do

demandado. Reiterada jurisprudência do STF, contudo, admite a desistência

do mandado de segurança a qualquer tempo, independentemente da anuência

do impetrado.

No caso do réu, em sua defesa, requeira a extinção do processo sem

julgamento do mérito. Aqui, não teria o réu como o réu rejeitar a desistência

apresentada, por absoluta falta de interesse – para contestar é necessário ter

interesse, afirma o art. 3° do CPC. É que a desistência do demandante lhe

proporciona o exato resultado almejado: a extinção do processo sem exame do

pedido. A recusa do consentimento não pode ser fruto de mero capricho do

réu.

Assim, mais correta era a redação do CPC de 1939, que

expressamente determinava a averiguação do interesse do réu em negar

18

consentimento à desistência: “A recusa do réu será rejeitada, se da

desistência não lhe resultar prejuízo”. (art. 181, parágrafo único).

A desistência do processo é ato distinto da renúncia ao direito sobre o

que se funda a demanda. Ambos são atos processuais dispositivos, que

exigem do advogado poder especial para agir: “A procuração geral para o

foro, conferida por instrumento público, ou particular assinado pela parte,

habilita o advogado a praticar todos os atos do processo, salvo para

receber citação inicial, confessar, reconhecer a procedência do pedido,

transigir, desistir, renunciar ao direito sobre que se funda a ação, receber,

dar quitação e firmar compromisso”. (art. 38 do CPC).

A desistência, porém, não se refere ao direito demandado, mas

apenas ao prosseguimento do processo (daí implicar decisão terminativa); a

renúncia, ao contrário, diz respeito ao próprio direito em que se pauta a

demanda – gera, pois, extinção do processo com julgamento do mérito.

Humberto Theodoro nos ensina que pela desistência, o autor abre mão

do processo, não do direito material que eventualmente possa ter perante o

réu. Daí por que a desistência da ação provoca a extinção do processo sem

julgamento do mérito e não impede que, futuramente, o autor venha outra vez

a propor a mesma ação, uma vez que inexiste, no caso, a eficácia da coisa

julgada.

A desistência da ação é ato unilateral do autor, quando praticado antes

de vencido o prazo de resposta do réu, não depois dessa fase processual.

Na verdade, porém, o que é decisivo é a contestação, pois se o réu

apresentou sua defesa, mesmo antes de vencido o prazo de resposta, já não

mais poderá o autor desistir da ação sem o assentimento do demandado. O

ato passa a ser necessariamente bilateral (CPC, art. 267, §4°).

Pontes de Miranda, comentando o § 4° do art. 267 do CPC de 1973

acrescenta o termo desistência tardia:

“ O art. 267, § 4°, acertadamente, estatui que, decorrido o

prazo para a resposta, que é de quinze dias (art. 297),

com a observância do art. 298, e do parágrafo único,

19

concernentes à pluralidade de réus, somente se pode

desistir da ação (ou da reconvenção, ou da oposição) se

a parte contrária (réu, reconvindo, oposto) consente ”

(MIRANDA, 1975, p.442).

Alexandre Freitas Câmara em Lições de Direito Processual Civil, no

seu sistema, conceitua a desistência da ação como ato processual dispositivo

da parte, usando o critério subjetivo de classificação dos atos processuais. Os

atos processuais classificam-se em atos das partes e do órgão judicial. O das

partes em: postulatórios, dispositivos, instrutórios e reais.

Atos dispositivos são declarações de vontade destinadas a dispor da

tutela jurisdicional. Podem ser unilaterais, quando praticados por apenas uma

das partes, como o reconhecimento do pedido, a renúncia à pretensão ou a

desistência da ação.

Jurisprudência sobre o tema:

1. AÇÃO – Desistência – Imprescindibilidade da concordância da

parte adversa – Anulação da sentença homologatória da

desistência que se impõe – Inteligência do art. 267, § 4° do

CPC.

Ementa Oficial: Para homologação de pedido de desistência

formulado pelo autor, é imprescindível a concordância da ré, na

forma do § 4° do art. 267 do CPC. Sendo demonstrada a ausência

de intimação regular da União, deve ser anulada a sentença

homologatória de pedido de desistência formulado pelo autor.

(TRF 1ª. Região, RT 849/402, julho/2006).

1.2 – A Extinção Anômala do Processo

20

Para alguns autores a desistência da ação se enquadra como uma

forma de extinção anômala do processo.

O art. 329 do CPC afirma que: “Ocorrendo qualquer das hipóteses

previstas nos arts. 267 e 269, II a V, o juiz declarará extinto o processo”.

Luiz Guilherme Marinoni, analisando a questão, assim diz:

“ Quando impossível ao juiz, em vista de alguma situação

impeditiva, proferir sentença julgando procedente ou

improcedente o pedido, cabe a extinção anômala do

processo ” (MARINONI, 2007, vol 2 p.233).

A Lei 11.232/2005 (arts. 267 e 269) substituiu a expressão

“julgamento” por “resolução”, mas, aqui, isso não traz qualquer repercussão.

Na desistência da ação, o autor desiste de ver seu pedido “apreciado”

pelo juiz, mas não de seu direito material, que poderá ser invocado perante a

própria jurisdição ou mesmo exercido fora dela.

Para o Ministro Luiz Fux, a desistência da ação está inserida no

contexto da “alteração dos elementos de identificação das ações”, que iria de

encontro à regra da manutenção dos elementos identificadores das ações. A

base deste entendimento está no princípio da estabilidade da demanda.

Preceitua o art. 264 do CPC: “Feita a citação, é defeso ao autor

modificar o pedido ou a causa de pedir, sem o consentimento do réu,

mantendo-se as mesmas partes, salvo as substituições permitidas por lei.

Parágrafo único – A alteração do pedido ou da causa de pedir em

nenhuma hipótese será permitida após o saneamento do processo”.

Tendo em vista a ratio essendi da vedação à alteração é não desiquilibrar as

partes, nem desvirtuar a atuação jurisdicional, o dispositivo não impede que os

sujeitos manifestem atos de disponibilidade processual, como a renúncia, o

reconhecimento da procedência do pedido, a transação ou a desistência da

ação, porque nesses casos cessam a atividade de defesa e a função

21

especulativa do juízo. Acrescenta Luiz Fux, no seu Curso de Direito Processual

Civil:

“ Com exceção da desistência da ação, que é ato

meramente formal, as demais manifestações de vontade

extinguem a própria pretensão material, consolidando

uma decisão de mérito, cujo, conteúdo é ditado pela

vontade das partes, com força de coisa julgada material ”

(FUX, 2005, p.201).

Para Fux a desistência atinge, apenas, a ação processual e, para

manifestá-la, o autor somente precisa do consentimento do réu se este já

estiver oferecido a sua resposta antes do prazo legal ou decorrido este. Caso o

réu se tenha mantido inerte e, portanto, revel, a desistência, porque lhe é

benéfica, dispensa nova convocação do demandado.

Havendo vários réus, sendo possível a desistência em relação a algum

deles ainda não citado, a mesma não se opera imediatamente com relação

aos já convocados, até porque isto poderia gerar uma revelia “de surpresa”.

Por esta razão, o art. 298 do CPC, parágrafo único dispõe que os

litisconsortes passivos devem ser avisados da desistência, para que se inicie,

em relação a eles, o prazo da resposta que, em princípio, somente iniciar-se-ia

com a citação do último dos demandados.

O processo como relação jurídica foi comparado, em sede de doutrina

singular, com a própria vida; na complexidade de sua existência, ele, o

processo, nasce e morre também. O processo durante a sua existência pode

submeter-se a crises que alteram o marco normal da sua vida: no itinerário da

“formação, suspensão e extinção do processo” - Livro I – Do Processo

de Conhecimento – Título VI do CPC (arts. 262 a 269).

A formação do processo corresponde a sua instauração gradual, com

a primeira aparição do autor através da demanda e posterior convocação do

22

demandado em respeito aos princípios constitucionais do contraditório, do

devido processo legal e da ampla defesa.

A extinção do processo, em regra, efetiva-se pela exaustão da

função jurisdicional com a resposta do Judiciário ao pedido da parte através da

sentença de mérito. Esta é a que define o litígio, daí, também, denominar-se

sentença definitiva. Porém, há casos que, por força de uma crise, não surge

para o juiz o dever de julgar o pedido, porquanto, obstáculos formais impedem-

no dessa incumbência, como ocorre, por exemplo, quando ausente uma das

condições da ação.

Nessas hipóteses, extingue-se, também, o processo, mas de forma

anômala, sem uma resposta sobre a questão de fundo. Na verdade, o

processo termina, mas a função de julgar o mérito, de definir a situação

litigiosa com o crivo da imutabilidade do decidido, emprestado pela coisa

julgada material, não se verifica. Esta é a razão pelo qual essa sentença

formal, que não aprecia o mérito, recebe o nome de sentença terminativa.

A suspensão do processo ocorre quando há uma paralisação

temporária na marcha dos atos processuais.

Novamente acerca da extinção, sabe-se que o processo tem seu ciclo

vital, cujo ápice ocorre com a extinção pela solução do litígio, cumprindo o juízo

seu ofício jurisdicional.

Ao conferir uma resposta à questão de fundo, o juiz, no exercício da

função jurisdicional, atinge o escopo dessa atividade estatal que é conferir

certeza e estabilidade às relações jurídicas através da palavra oficial do

Judiciário.

No processo de conhecimento, esse desígnio é alcançado pela

definição do litígio através da sentença ou, caso haja recurso, por via do

acórdão.

Destarte, muito embora, a solução normal do processo seja a definição

do litígio, com o julgamento do mérito, alguns fatos de natureza formal

impedem o juízo de alcançar esse desígnio. Em excelente ensino acerca do

assunto, diz Luiz Fux:

23

“ A lei processual, preconizando a Teoria de Liebman,

distingue as hipóteses de extinção do processo com e

sem julgamento do mérito conforme a decisão atinja o

modo de ser da pretensão deduzida em juízo. Não a

alcançando, a extinção será terminativa; atingindo-a na

sua existência, será definitiva ” (FUX, 2005, p.438).

É imperioso, assim, que se assente a natureza da decisão posto

submetida a regimes jurisprudenciais completamente diversos.

Para esse fim de categorização das decisões, importa menos o nomen

júris à essência do que foi decidido. Assim, não se encaixando nas hipóteses

do art. 267 do CPC, a decisão será definitiva.

Nesta linha de raciocínio, extinção anômala do processo, desistir da

ação significa abdicar, momentaneamente, do monopólio da jurisdição acerca

do litígio, exonerando o Judiciário de pronunciar-se sobre a causa.

A desistência equivale à revogação da propositura da ação.

Trata-se de instituto de cunho processual, não atingindo o direito

material objeto da ação. A parte que desiste da ação engendra faculdade

processual, deixando incólume o direito material, tanto descompromete o

Judiciário de se manifestar sobre a pretensão de direito material.

É diversa da figura da “renúncia” ao direito em que se funda a ação,

prevista textualmente como causa de extinção do processo com análise do

mérito. Na renúncia, a abdicação significa despojamento do direito material,

razão pela qual o juiz, em caso de dúvida sobre o alcance da manifestação da

parte, deve insta-la a declinar o seu desígnio de forma clara; se pretende

desisitir ou renunciar...

O art. 267, § 4° é que fixa o termo limite no término do prazo de

defesa.

Considerando-se em razão de ser do dispositivo, é inegável que, sendo

revel, o autor pode desistir sem sua anuência, salvo se funcionar no

processo o curador especial em razão da revelia decorrente da citação

24

ficta, que nesse caso, deve manifestar-se. Nas hipóteses de litisconsórcio,

cumpre distinguir as espécies para verificar se a desistência exige a

manifestação de todos os litisconsortes ou de apenas um deles.

Assim, tratando-se de litisconsórcio necessário, a desistência somente

pode operar-se pela anuência de todos. Diversamente, no litisconsórcio

passivo simples, a desistência da ação exige, apenas, manifestações

individualizadas.

O mesmo princípio, que veda o mutatio libeli após o saneamento

impede, também, que haja desistência da ação após a decisão definitiva do

juiz.

O que as partes podem engendrar é a transação quanto ao objeto

litigioso definido jurisdicionalmente. Mas, em hipótese alguma lhes é lícito

desprezar a sentença, como se nada tivesse acontecido, de sorte a permitir,

após a desistência da ação, que potencialmente outra ação seja reproposta.

1.3 – O Ato Processual Desistência

O Código Processual Civil traz no Título V, do Livro I, o tema: Dos Atos

Processuais, dividindo-os entre os atos da parte (arts. 158 a 161), atos do juiz

(arts. 162 a 165) e dos atos do escrivão ou do chefe de secretaria (arts. 166 a

171).

Humberto Teodoro Júnior no seu Curso de Direito Processual Civil, nos

amplia a visão quanto à desistência ao contemplá-la como ato processual que

é. Acrescenta que consideram-se atos da parte os praticados pelo autor ou

réu, pelos terceiros intervenientes ou pelo Ministério Público, no exercício de

direitos ou poderes processuais, ou para cumprimento de ônus, obrigações ou

deveres decorrentes da relação processual. Citando Couture, classifica os atos

em atos de obtenção e atos dispositivos.

Os atos de obtenção procuram obter do órgão jurisdicional a satisfação

de uma pretensão manifestada nos autos; e os dispositivos têm por fim criar,

25

modificar ou extinguir situações processuais. Os atos de obtenção

compreendem: a) atos de petição; b) atos de afirmação; c) atos de prova.

Quanto aos atos dispositivos, também chamados de causação,

porque nele o ato de vontade da parte tende a produzir justamente o efeito

procurado por sua intenção tal como ocorre, nos atos jurídicos do direito

privado, podem ser subdivididos em: a) atos de submissão; b) atos de

desistência (atos unilaterais) – quando há desistência do processo ou renúncia

ao direito nele postulado, quer do autor, quer do réu; podendo se referir a

questões de direito material (art. 269,V) e de direito processual (art. 267,III); c)

atos de transação.

Para José Rogério Cruz e Tucci, a desistência da ação há de ser

considerada como um ato processual dispositivo da parte. É de se notar que,

ao contrário do que se dá com os atos processuais das partes em geral, a

desistência da ação não produz efeitos desde logo, fazendo-se essencialmente

para que tais efeitos se produzam a homologação da mesma por sentença,

conforme art. 158 parágrafo único do CPC.

Também sendo a desistência da ação manifestada antes do

oferecimento da resposta do demandado, é ato unilateral, devendo ser

homologada sem que se faça a oitiva do demandado. Já na desistência, após

a resposta do réu, faz-se necessário a prática de atos processuais dispositivos

concordantes.

Faz-se necessário, então, o consentimento do réu para que a

desistência possa ser homologada por sentença, extinguindo-se o processo

sem resolução do mérito.

A redação do art. 267, §4° do CPC é absolutamente imprecisa, pois

condiciona a produção de efeitos da desistência à concordância do réu toda

vez que a mesma for manifestada depois de decorrido o prazo da resposta, o

que não se revela adequado.

O § 4° do art. 267 justifica-se pelo fato de que também o réu tem

direito a receber o pronunciamento do mérito. Além disso, evita-se que o autor,

prevendo resultado negativo, naquele feito, desista e, com isso, garanta a

possibilidade de repropor a demanda.

26

A melhor doutrina exige o consentimento do réu. Quer-se, com isto,

dizer o seguinte: decorrido o prazo da resposta e tendo o réu permanecido

revel (havendo, pois, ausência de contestação), poderá o autor desistir

livremente da ação, sem que o consentimento do demandado se faça

necessário. De outro lado, tendo o réu oferecido resposta antes do término do

prazo para a prática do ato, seu consentimento será necessário, ainda que a

desistência tenha sido manifestada antes do termo final daquele.

Por isso, Freitas Câmara assim como Humberto Theodoro entendem

que o momento a partir do qual o consentimento do réu é exigido para que a

desistência surta efeitos é o do oferecimento da contestação, e não o termo

final do prazo para resposta.

Relembre-se, ainda, que a desistência indireta da ação deve ser

evitada. Assim, já oferecida a contestação (e sendo, portanto, exigido seu

consentimento para que o autor possa, eficazmente, desistir da ação), não se

poderá admitir a extinção do processo por abandono unilateral sem que haja a

provocação do demandado, sob pena de ao autor ser permitido obter, por via

oblíqua, o que não lhe permite a lei conseguir por via direta: “Extingue-se o

processo, sem resolução de mérito: quando, por não promover os atos e

diligências que lhe competir, o autor abandonar a causa por mais de 30

(trinta) dias”. (art. 267, III do CPC).

1.4 – O Ato Processual Homologação

O Dicionário da Academia Brasileira de Letras Jurídicas conceitua a

homologação como sendo o ato pelo qual o juiz, sem julgar o conflito de

interesses suscitado, limita-se a dar validade e eficácia à deliberação ou ao

acordo entre as partes, desde que atendidas as prescrições legais.

De acordo com o Vocabulário Jurídico de Plácido e Silva, a

homologação vem do latim que vem do verbo grego omologein, que significa

reconhecer. A autoridade judicial ratifica, confirma ou aprova um outro ato, a

fim de que possa investir-se de força executória ou apresentar-se com validade

27

jurídica, para ter eficácia legal. Cedo se homologa o ato, intervém

simplesmente o magistrado para o efeito de lhe imprimir o caráter público de

que carece, e para ter força de execução de que também necessita.

Maria Helena Diniz, em seu Dicionário Jurídico, conceitua

homologação como sendo a decisão pelo qual o magistrado aprova um acordo

ou ato processual, levado a efeito, para que irradie conseqüências jurídicas.

1.5 – Efeitos da Desistência da Ação

Dispõe o art. 158 e parágrafo único do CPC: “Os atos das partes,

consistentes em declarações unilaterais, ou bilaterais de vontade,

produzem imediatamente a constituição, a modificação ou a extinção de

direitos processuais. A desistência da ação só produzirá efeito depois de

homologada por sentença”.

Isto quer dizer que a regra é que os efeitos do ato processual são

imediatos e não dependem de redução a termo nem de homologação judicial.

A desistência da ação, porém, só produz efeito depois de homologada por

sentença. O mesmo se dá com a conciliação das partes (art. 449) e a

sentença homologatória de conciliação ou de transação (art. 475-N,III) com

redação dada pela Lei n° 11.232/2005, que revogou o art. 584 do CPC.

A desistência, quer como ato unilateral, quer como bilateral, só produz

efeito depois de homologada por sentença. É que a relação processual não

envolve apenas as partes, mas também o juiz, que, por isso, não pode ficar

estranho ao ato extintivo.

Ao tomar conhecimento da pretensão, o juiz pratica, embora numa só

sentença, dois atos jurisdicionais distintos: a homologação da desistência, para

que ela surta os efeitos de direito, e a declaração da conseqüente extinção do

processo, em razão do ato homologado.

A sentença terminativa que encerra o processo sem julgamento do

mérito não faz coisa julgada material, visto que não chegou a apreciar a

substância da controvérsia estabelecida entre as partes em torno da situação

28

jurídica material: “A sentença, que julgar total ou parcialmente a lide, tem

força de lei nos limites da lide e das questões decididas”. (art. 468 do

CPC).

O seu efeito é de apenas de coisa julgada formal, isto é, o de impedir

que dentro do mesmo processo volte a parte a postular novo julgamento,

depois de exaurida a possibilidade de impugnação recursal.

Não é defeso à parte, porém, o direito de renovar a propositura da

ação: “Salvo o disposto no art. 267,V, a extinção do processo não obsta a

que o autor intente de novo a ação. A petição inicial, todavia, não será

despachada sem a prova do pagamento ou do depósito das custas e dos

honorários de advogado”. (art. 268 do CPC).

Há, não obstante, três casos previstos no CPC em que a sentença

terminativa, tal como a definitiva (ou de mérito), impede a renovação do

processo: isto se dá quando a extinção tiver sido decretada por

reconhecimento de litispendência, coisa julgada ou perempção.

Nelson Nery acrescenta:

“ Quando o autor desistir da ação, o mérito não

pode ser apreciado, devendo o magistrado proceder à

extinção do processo sem ingressar no exame do mérito.

(...) A desistência da ação nada tem a ver com o direito

material nela discutido, razão pela qual, nada obstante

tenha havido desistência da ação, esta pode ser

reproposta em processo futuro ” (JÚNIOR, 2002, p.595).

A desistência da ação acarreta a extinção do processo sem julgamento

do mérito. Decorrência do princípio da disponibilidade processual, a

desistência consiste na abdicação expressa da posição processual, alcançada

pelo autor, após ajuizamento da ação.

Como já visto, a desistência da ação, não se confunde com a renúncia

ao direito sobre que se funda a ação, pois esta última figura produz a extinção

29

do processo sem resolução do mérito e, portanto, produz coisa julgada

material (art. 269, V do CPC). Já a sentença homologatória de desistência não

impede a repropositura da demanda.

1.6 – Limites à Desistência da Ação

A desistência da ação só pode ser feita até antes da sentença de 1ª.

instância, porque, até aí, ainda a relação jurídica, para a qual foi pedida a

tutela jurisprudencial, não ficou fixada pelo Judiciário, achando-se no âmbito

livre da vontade das partes, notadamente da parte autora da ação.

O atual CPC admite a desistência da ação, enquanto não tenha havido

julgamento do mérito, conforme art. 267, VIII.

No dizer de Francisco Raitani:

“ Depois do julgamento do mérito, se não tiver havido

rejeição do pedido, o processo só se extingue, como

dispõe o art. 267 quando as partes transigirem, quando

houver a prescrição, quando o autor renunciar o direito

sobre que se funda a ação ” (RAITANI, 2000, p.242).

Depois da sentença só pode haver renúncia do direito material por

parte do vencedor.

A desistência da ação não se confunde com a renúncia do direito. A

renúncia refere-se a direitos, a situações estabelecidas ou pelo menos

sustentadas como se fossem tais, implicam abrir mão, o perder por vontade

própria.

A sentença, como ato do Poder Público, fixa a situação jurídica. Por

isso acentuava o eminente processualista José Frederico Marques, que a

desistência do processo, denominada de desistência pelo art. 181 do CPC de

1939, é negócio jurídico processual, que subtrai do juiz o dever de julgar a

pretensão do autor.

30

O efeito da desistência da ação é o de evitar que o processo seja

julgado.

Depois da sentença, já a parte não pode desistir da ação. O Judiciário

já declarou, com efeito de lei, qual o direito. É o que diz o art. 468 do CPC: “A

sentença, que julgar total ou parcialmente a lide, tem força de lei nos

limites da lide e das questões decididas”.

Após a sentença, esse ato do Poder Público só pode ser anulado pelos

meios de direito. A lei estipula quais são: 1) Transação, art. 1025 do Novo

Código Civil (NCC); 2) Ação Rescisória, art. 485 do CPC; 3) Prescrição para

o exercício do direito reconhecido pela decisão judiciária, art. 178, § 1°, VIII do

NCC; 4) Renúncia e o Abandono, art. 589, II e III do NCC.

Daí, no silêncio da lei, há que admitir-se que a desistência pode ter

lugar até a sentença definitiva (de mérito) em 1ª instância. Sobre esta questão

acrescenta Raitani:

“ A desistência da ação ou do processo só se dá, pois,

validamente, até antes da sentença de 1ª instância ou

originária. Até aí vigora a vontade das partes. Depois da

sentença vigora a vontade do Poder Judiciário, só se

desfaz pelos meios de direito, entre os quais não se acha

a desistência da ação. É que a ação já terminou ”

(RAITANI, 2000, p.244).

1.7 – A Desistência na Legislação Federal

Segundo Fredie Didier a decisão que homologa a desistência tem,

ainda, um efeito anexo: o juízo que a homologou fica prevento para julgar a

demanda, se eventualmente ela for reproposta: “Distribuir-se-á por

31

dependência as causas de qualquer natureza: II – quando, tendo sido

extinto o processo, sem julgamento de mérito, for reiterado o pedido,

ainda que em litisconsórcio com outros autores ou que sejam

parcialmente alterados os réus da demanda”. (art. 253, II do CPC, com

redação dada pela Lei 11.280/2006).

O art. 3° da Lei Federal n° 9.469/97 determina que os representantes

judiciais da União, suas autarquias e fundações, bem como das empresas

públicas federais, só podem concordar com a desistência da causa se o autor

renunciar ao direito sobre que se funda a demanda. Como não bastasse a

desistência, o autor há de renunciar ao direito, de modo que a decisão fique

acobertada pela “coisa julgada material”. Embora aparentemente violenta,

trata-se de medida legítima, obviamente não aplicável a qualquer hipótese,

como nos seguintes exemplos: a) nas ações cautelares, em que não são

veiculadas pretensões materiais passíveis, pois, de renúncia; b) nas situações

em que o próprio ente público, em sua peça de defesa, havia solicitado a

extinção do processo sem análise do mérito.

A desistência na ação civil pública tem regramento expresso. Quando

a associação autora desiste da causa de forma infundada, autoriza-se que o

outro co-legitimado à propositura da demanda coletiva, inclusive o Ministério

Público, a suceda, assumindo a posição ativa da causa: “Em caso de

desistência infundada ou abandono da ação por associação legitimada, o

Ministério Público ou outro legitimado assumirá a titularidade ativa”. (art.

5°, § 3° da Lei 7.347/85).

Não se admite desistência na ADI (ação direta de

inconstitucionalidade) e na ADC (ação declaratória de constitucionalidade):

“Proposta a ação direta, não se admitirá desistência” e “proposta a ação

declaratória, não se admitirá desistência” (arts. 5° e 16 da Lei 9.868/1999,

respectivamente).

Caberá ao autor o pagamento das custas processuais remanescentes

(art. 26 do CPC; art. 14, § 1° da Lei 9.289/96). Se parcial a desistência, a

responsabilidade pelas despesas processuais será proporcional à parte de que

se desistiu (art. 26, § 1° do CPC).

32

Relativamente ao Ministério Público e ao Código de Processo Penal,

inexiste na lei processual civil norma correspondente à inscrita no art. 576 do

Código de Processo Penal, que o proíbe de desistir do recurso interposto: “O

Ministério Público não poderá desistir de recurso que haja interposto”.

Quanto à ação penal, temos: “O Ministério Público não poderá desistir da

ação penal”. (art. 42 do CPP).

Quanto à oposição à desistência por parte do Ministério Público,

adverte Luiz Fux:

“ A desistência da ação exige, por vezes, a anuência de

outros partícipes da relação processual. Assim é que,

intervindo em favor do incapaz, o Ministério Público pode

opor-se à desistência ” (FUX, 2005, p.448).

Não havendo anuência nos casos em que ela se torna obrigatória, o

juiz deve compor a lide mediante julgamento sem qualquer influência nessa

atitude, a desistência formal manifestada.

1.8 – A Desistência em face dos Direitos Indisponíveis

Há decisões que têm rejeitado a homologação da desistência, sob o

fundamento de que a causa em jogo não permite essa espécie de ato

dispositivo. Recentemente, por exemplo, o Superior Tribunal de Justiça não

admitiu a homologação de desistência de uma investigação de paternidade

feita pelo representante do menor-autor:

“EMENTA – Civil e Processual. Ação Investigatória de

Paternidade. Desistência da própria menor, por sua tutora. Descabimento.

Direito Indisponível. Apuração da verdade real. Exame DNA positivo.

Conformação do pai investigado.

I – O direito ao reconhecimento da paternidade é indisponível,

pelo que não é possível à tutora do menor desistir da ação já em curso,

33

ao argumento de que a adoção que se propunha ela própria fazer era

mais vantajosa à tutelada, e que, a todo tempo, seria possível à autora

novamente intentar igual pedido, por imprescritível (...)

III – Corretos, pois, a sentença e o acórdão estadual que,

rejeitando o pedido de desistência, julgaram procedente ação

investigatória.

IV – Recurso especial não conhecido.

No voto, o Ministro Relator Aldir Passarinho Júnior pontua:

Ao nosso sentir razão não assiste à autora. É que o presente

recurso versa sobre direito indisponível, não havendo possibilidade de

desistência. Assim se entendido, não há como se cogitar ofensa ao art.

267, VIII do Estatuto Processual Civil (...)

Analisando o instituto da desistência da ação juntamente com o

tema em estudo, podemos entender, num primeiro momento, que sendo o

direito à filiação indisponível, não seria admissível a desistência da ação

investigatória de paternidade ou ação de alimentos em favor do nascituro

por sua representante legal que, no caso é sua genitora (...)

É de se indeferir a homologação de desistência de ação de

investigação de paternidade cumulada com alimentos, por parte do autor,

absolutamente incapaz, representado por sua mãe, uma vez que,

tratando-se de direitos indisponíveis, é a desistência prejudicial aos

superiores interesses do menor, que devem ser preservados, embora

possa, a qualquer tempo, propor nova ação com o mesmo propósito”.

(STJ, 4ª. Turma, RESP 472608-AL – 2002/0136005-7, publicado no

DJ de 09/06/2003).

Em sentido contrário: “Pode haver desistência da ação que verse

sobre direitos indisponíveis, pois a desistência não atinge o direito

material discutido n ação, não impedindo sua repropositura”. (RJTJSP

115/103).

34

CAPÍTULO II

A DESISTÊNCIA DO RECURSO

1.1 – Juízo de Admissibilidade

35

Refere-se ao requisitos de admissibilidade em fase preliminar, antes do

juízo de mérito.

Segundo Barbosa Moreira, em seu livro “O Novo Processo Civil

Brasileiro”, podem ser: 1) Intrínsecos – relativos à existência do direito: a)

cabimento; b) legitimação para recorrer; c) interesse para recorrer; 4)

inexistência de fato impeditivo ou extintivo do poder de recorrer. 2)

Extrínsecos – relativos ao exercício do direito de recorrer: a) tempestividade;

b) regularidade formal; c) preparo.

Sérgio Bermudes, comentando o CPC, entende os requisitos acima

classificado-os em: 1) Subjetivos – atinentes à pessoa que interpõe o recurso;

2) Objetivos – recursos considerados em si próprios.

O Ministro Luiz Fux, na concepção de extinção anômala do processo,

pondera que neste juízo de admissibilidade dos recursos há de ser

considerado sobre a inexistência de fato impeditivo do direito de recorrer.

Fux ensina que requisito de admissibilidade de caráter negativo

do direito de recorrer é a inexistência de fatos impeditivos ao exercício da

recorribilidade, acrescentando:

“ A doutrina do tema aponta a desistência, a renúncia, a

aceitação da decisão e a transação acerca do objeto

litigioso como fatos impeditivos do direito de recorrer,

decorrentes da preclusão,lógica que esse negócios

processuais encerram em confronto com o ônus da

impugnação ” (FUX, 2005, p.947).

A desistência é a revogação da manifestação de recorrer já

engendrada. A renúncia antecede a manifestação de recorrer e a aceitação é o

conformismo com o conteúdo da decisão, revelado por atos incompatíveis e

sem reservas (arts. 501, 502 e 503 do CPC).

36

Essas manifestações de disponibilidade, quanto ao direito de recorrer,

independem da aceitação da outra parte, posto que somente recorre quem

sucumbe, o que significa dizer que esses atos consolidam antecipadamente a

vitória da parte contrária. Diferentemente, na ação, a lei exige o consentimento

do réu (art. 267, § 4° do CPC), uma vez que, enquanto pende o processo,

perdura a incerteza e não se sabe quem tem razão.

A presença de litisconsortes não torna exigível a necessidade da

anuência quanto à desistência dos demais, uma vez que, sendo simples o

litisconsórcio, os recursos dos litisconsortes são independentes; e sendo

unitário, a desistência de um não se estende aos outros: “O recurso

interposto por um dos litisconsortes a todos aproveita, alvo se distintos

ou opostos os seus interesses” (art. 509 do CPC).

Destarte, admite-se a desistência a qualquer tempo antes do

julgamento final do recurso, mesmo já iniciado e proferido o voto do relator,

sem a conclusão do julgado.

Deveras, em geral, a desistência do recurso manifesta-se por petição

escrita, conforme o caso, ao órgão perante o qual se o interpôs ou ao relator

do Tribunal, mas nada impede que tal se faça, oralmente, na própria sessão de

julgamento.

Jurisprudências acerca do assunto:

1. RESP 63.702 (95/0017575-4) – SP

EMENTA – Processo Civil. Julgamento iniciado e adiado por

pedido de vista. Desistência manifestada. Homologação requerida pela

Recorrente. Deferimento.

ACÓRDÃO – Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam

os Ministros da 4ª. Turma do STJ (...) homologar a desistência pela parte

recorrente. (Publicado no DJ em 26/08/1996).

2. RESP 21.323-3 – GO (1992/0009404-0)

EMENTA – Processo Civil – Recurso – Desistência Oral – Sessão

de Julgamento.

37

I – Em geral a desistência do recurso manifesta-se por petição

escrita, conforme o caso, ao órgão perante o qual se o interpôs ou ao

relator do Tribunal, mas nada impede que tal se faça, oralmente, na

própria sessão de julgamento, ainda que iniciada a votação. (publicado

no DJ em 24/08/1992).

3. EDRESP 98.473-RS (1996/0037947-5)

EMENTA – Embargos de Declaração. Transação. Desistência do

recurso. Comunicação, depois do julgamento do recurso especial, o fato

anterior da transação acordada entre as partes, com desistência do

recurso, são acolhidos os embargos de declaração, com efeito

modificativo, para desfazer aquele julgamento e homologar a desistência.

Embargos acolhidos. (publicado no DJ em 14/04/1997).

4. RESP 30.678-8 – RJ (1992/0013747-4)

EMENTA – Não é dado ao Tribunal determinar, de ofício, que volte

a figurar como ré quem do processo já foi excluída em virtude de

desistência. (publicado no DJ em 01/03/1993).

5. RESP 89.474 (96.012559-7) – SP

EMENTA – Processual Civil e Tributário. Desistência. Ação. ICM.

Cana-de-açúcar. Base de Cálculo. Recurso conhecido e provido.

Estando o processo em fase recursal, o autor-derrotado não pode

desistir da ação, ainda mais havendo discordância do réu-vencedor. Só o

recurso pode ser alvo da desistência unilateral e incondicionada.

(publicado no DJ em 24/05/1999).

6. AÇÃO – Desistência – Inocorrência – Necessidade de

manifestação de vontade expressa nesse sentido – Situação que não

pode ser presumida – Hipótese de abandono da causa configurado –

38

Obrigatoriedade de ser a parte intimada pessoalmente antes da extinção

do feito – Inteligência do art. 267, § 1, do CPC.

EMENTA – A desistência da ação não pode ser presumida,

devendo haver manifestação de vontade expressa da parte nesse sentido

(...), nos termos do art. 267, § 1° do CPC. (RT 807/417).

A lei, diferentemente do que ocorre com a ação em 1° grau, não exige

expressamente a homologação da desistência do recurso. Não obstante, nos

Tribunais, a providência vem prevista e delegada aos relatores dos recursos,

como, por exemplo, RISTF, art. 21,VIII: “São atribuições do Relator: VIII –

homologar as desistências, ainda que o feito se ache em mesa para

julgamento”.

No RISTJ, art. 34-IX: “São atribuições do Relator: IX – homologar

as desistências, ainda que o feito se ache em pauta ou em mesa para

julgamento”.

No Regimento do TRF2a. Região: “Ao Relator incumbe: VII –

homologar a desistência do feito, ainda que incluído na pauta de

julgamento”.

E no RITST, art. 75, II: “Ao Tribunal Pleno, à Seção Administrativa,

às Seções Especializadas e às Turmas cabe, ainda, nos processos de sua

competência: II – homologar os pedidos de desistência dos recursos,

decidir sobre pedido de desistência de ação quanto aos processos

incluídos em pauta para julgamento e homologar os acordos em

processos de competência originária do Tribunal”.

O nosso entendimento é que não cabe homologação em face da

desistência do recurso. O que ocorre é uma questão de prática processual

tendo como base a desistência da ação. Os regimentos internos não são

hierarquicamente superiores à legislação Federal, no caso o Código de

Processo Civil.

Homologa-se a desistência da ação para que produza sentença sem

julgamento do mérito. No caso do recurso, já há sentença preexistente que não

carece de ser homologada. É preclusão lógica.

39

1.2 – Impedimentos Recursais

São fatos cuja presença tornam vedada a interposição do recurso. Na

hipótese de se interpor recurso em processo onde se tenha dado algum dos

impedimentos, deverá ser proferido “juízo negativo de admissibilidade do

recurso”, que não poderá ter seu mérito apreciado pelo órgão ad quem.

A desistência do recurso já interposto é impedimento recursal. Difere

da renúncia, essencialmente, por ser posterior à interposição do recurso,

enquanto a renúncia se dá, necessariamente, antes do mesmo ser julgado.

Jurisprudência sobre o tema:

RECURSO – Ação – Desistência – Autora que desistiu da demanda

e foi condenada aos ônus da sucumbência – Impossibilidade de

conhecimento do apelo diante da existência de fato impeditivo do direito

de recorrer.

EMENTA – A desistência de ação figura como fato impeditivo do

direito de recorrer. Assim, em virtude da ausência de pressuposto

recursal, não deve ser conhecido o recurso de inconformada autora que

desistiu da ação e foi condenada ao pagamento dos honorários de

sucumbência. (RT 796/435).

1.3 – A Desistência do Recurso

De acordo com o Vocabulário Prático de Direito, de Jônatas

Milhomens, a desistência de recurso é o abandono ou a renúncia ao recurso

interposto, conseqüente ou derivado do próprio “direito de recorrer”. A

deserção do recurso põe em evidencia uma desistência tácita, pois que a falta

de preparo pode ser modo de renunciá-lo, salvo se, em tempo oportuno, sendo

caso, vem o recorrente justificar o abandono e mostrar justo impedimento.

40

Na terminologia jurídica, a renúncia em certos casos, aspectos e

figurações é denominada especialmente: a renúncia da ação intentada, pela

qual se põe termo à demanda, é desistência.

Não se renuncia ao que não se tem ou ao que não se exerce. Por

exemplo, não se pode renunciar da apelação antes que se tenha proferido

sentença. É que, não havendo ainda decisão, nada há a renunciar.

Maria Helena Diniz, em seu Dicionário Jurídico, conceitua a desistência

do recurso como sendo um ato unilateral do recorrente de manifestar sua

vontade ao órgão judicante de que não seja julgado o recurso por ele

interposto, extinguindo-se o procedimento recursal com a homologação

judicial.

Preceitua o art. 501 do CPC: “O recorrente poderá, a qualquer

tempo, sem a anuência do recorrido ou dos litisconsortes, desistir do

recurso”. De acordo com Fredie Didier, o recurso é uma demanda e, nessa

qualidade, pode ser revogada pelo recorrente. A revogação do recurso chama-

se “desistência”. Nesse sentido, segue o pensamento de José Carlos Barbosa

Moreira, que equipara a desistência do recurso a um ato de revogação. Para

Barbosa Moreira chama-se desistência do recurso ao ato pelo qual o

recorrente manifesta ao órgão judicial a vontade de que não seja julgado, e,

portanto, não continue a ser processado, o recurso que interpusera. Vale pela

revogação da interposição.

Para Pontes de Miranda, a desistência do recurso é a “declaração de

vontade” pela qual o recorrente quer que o procedimento do recurso não

continue, porque se retira o que manifestara quando exercera a pretensão

recursal. A desistência do recurso é unilateral e independe de concordância ou

aceitação de outra parte ou de litisconsorte.

A razão está em que ela não entende com a relação jurídica

processual, mas apenas com a extensão dessa ao juízo do recurso. O Código

de 1973 equiparou tal desistência ao que ocorre antes de decorrido o prazo

para a resposta, quando o autor desiste (art. 267, § 4°): já existe relação

jurídica processual, a desistência faz cessar tal relação, e, no entanto o Código

permite a desistência unilateral.

41

Ainda acrescenta o renomado mestre que há a retirada da “vox”. Com

a desistência cessa o recurso e, em consequência, nenhum julgamento

haverá.

Avaliando a figura da deserção, em face da desistência da ação, diz

Pontes de Miranda:

“ Se o recorrente deixa de preparar, no prazo legal, o

recurso, dele não desistiu: dele desertou. O caso é de

deserção ” (MIRANDA, 1975, p.102).

Este autor clássico do direito brasileiro, comentando acerca da

desistência do recurso e da deserção, diz:

“ A deserção é espécie de desistência que não admite

prova em contrário, posto que possa ser elidida pela regra

jurídica do art. 507;mas isso nos obriga a construí-la

como efeito de prazo preclusivo, em que o quod

prelumque fit atua para concepção da regra ” (MIRANDA,

1975, p.101 e 102).

A desistência distingue-se da figura deserção, que consiste no fato de

tornar-se inadmissível o recurso pela omissão do recorrente em proceder ao

respectivo preparo no prazo devido; como preceitua Barbosa Moreira, não

seria próprio falar aqui em “desistência tácita”:

“ A deserção é pura conseqüência objetiva da falta de

preparo oportuno, prescindindo de qualquer indagação

sobre a vontade do recorrente, que tanto pode haver-se

omitido intencionalmente como por mera negligência ou

descuido ” (MOREIRA, 2005, p.332).

42

A desistência do recurso pode ser parcial ou total e, pode ocorrer até o

início do julgamento (até a prolação do voto).

“Em sentido diverso, aceitando homologar a desistência

ao fundamento de que é possível desistir do recurso até

que se termine o julgamento, decisão na Questão de

Ordem no REsp 556.685-PR, rel. Min. César Asfor Rocha,

j. em 11/02/2004”.

O recorrente pode desistir por escrito ou em sustentação oral. Inclusive

come bem esclarece Barbosa Moreira:

“ Pode-se, entretanto, desistir oralmente, na própria

sessão de julgamento (antes de iniciada a votação!): a lei

não impõe forma especial (art. 154do CPC) ” (MOREIRA,

2005, p.332).

Já para Pontes de Miranda, sobre o tempo do cabimento da

desistência, assevera:

“ É princípio assente, em direito processual civil, que, se

já foi proferido o julgamento, ou se, começada a tomada

dos votos, algum voto já foi proferido, não mais se pode

desistir (...) depois de proferido o julgamento, seria

absurda qualquer desistência; a fortiori, depois da

publicação ” (MIRANDA, 1975, p.100).

43

Não comporta condição nem termo. Trata-se de ato dispositivo que

independe de consentimento da parte adversária (CPC, art. 501) e de

homologação judicial para a produção de efeitos. E, isso porque os atos

praticados pelas partes produzem efeitos imediatos (CPC, art. 158), somente

necessitando de homologação para produzir efeitos a desistência da ação

(CPC, art. 158, parágrafo único), e não a desistência do recurso. Esta, como

vimos acima, independe de homologação.

“ A desnecessidade da homologação judicial não

significa exclusão de toda e qualquer atuação do juiz (ou

do tribunal). É óbvio que este há de conhecer do ato e

exercer sobre ele o normal controle sobre os atos

processuais em geral (...) aqui, toda a eficácia remonta à

desistência, cabendo tão só ao juiz ou ao tribunal apurar

se a manifestação de vontade foi regular e – através de

pronunciamento meramente declaratório – certificar os

efeitos já operados”. (MOREIRA, José Carlos Barbosa.

Comentários ao Código de Processo Civil. 11 ed, p.337).

A desistência pressupõe recurso já interposto; se o recurso ainda não

foi interposto, e o interessado manifesta vontade de não interpô-lo, o caso é de

renúncia.

O diploma de 1973, como o anterior, dá a desistência do recurso

tratamento diverso do adotado para a desistência da ação, que, depois do

prazo para a resposta, se condiciona ao consentimento do réu (art. 264, § 4°).

Justifica-se tal diversidade: no procedimento de primeiro grau, o réu pode ter

interesse próprio na emissão da sentença de mérito, preferindo ver logo

julgada a lide, para furtar-se aos incômodos que decorreriam de eventuais

reproposituras da demanda, e por fim ao estado de incerteza conseqüente à

pendência do processo, sem julgamento do mérito. Aqui, porém, já existe uma

decisão, que a desistência do recurso normalmente fará prevalecer em

44

definitivo, sem que disso, em princípio, advenha qualquer prejuízo à outra

parte.

A desistência é conduta determinante (determina resultado

desfavorável a quem a pratica) e, como tal, somente produz efeitos em

relação ao recorrente. Em caso de litisconsórcio unitário, a desistência do

recurso somente é eficaz se todos os liticonsortes desistirem.

A desistência do recurso pode resultar de transação feita entre o

recorrente ou os recorrentes e o recorrido ou os recorridos. Sendo assim, há

efeito processual do negócio jurídico de direito material.

A unilateralidade do negócio jurídico da desistência, semelhante com o

que se observa na renúncia e na denúncia, faz independente de aceitação ou

anuência do recorrido o ato jurídico do desistente. Para que haja exigência, é

preciso que exista regra jurídica especial, tal como ocorre com a desistência da

ação.

Novamente, analisando o instituto da desistência, o professor Pontes

de Miranda, explanando sobre a desistência parcial e a promessa de desistir

pontua que não há desistência tácita do recurso e que esta pode ser parcial. É

processualmente válida a promessa de desistir do recurso. A extensão da

relação jurídico processual no grau de recurso: ao invés da relação terminar,

estende-se. Cada recurso é extensão.

Tendo havido o ato processual do recurso, não cabe perguntar-se se a

parte ou o terceiro quis realmente recorrer. É princípio fundamental de direito

processual que os atos processuais da parte, ou do juiz têm existência, valor e

eficácia, sem se levar em conta a “vontade” de quem os praticou.

Desde que se “encheu” o que a lei reputou indispensável à existência,

validade ou eficácia, o ato processual existe, vale e é eficaz,

independentemente do que se haja querido. O que importa é a declaração

configurada pelo ato. Por isso mesmo, a própria renúncia extrajudicial ou a

desistência extrajudicial do recurso é inoperante: prova, talvez plenamente, a

vontade de renunciar ou de desistir, porém não tem existência processual, tal

como a transação e a desistência da ação, não homologadas.

45

O procedimento recursal extingue-se em razão da desistência. Não se

trata de extinção por inadmissibilidade, mas, sim, pela revogação do recurso; a

desistência não torna inadmissível o recurso: torna-o inexistente. A desistência

não extingue o procedimento recursal se houver outro recurso pendente de

análise; o procedimento deve prosseguir, agora com objeto litigioso menor.

Também não haverá extinção do processo após a desistência do recurso,

como acontece nos casos de desistência do agravo de instrumento, por

exemplo.

A desistência impede uma nova interposição do recurso de que se

desistiu, mesmo se ainda dentro do prazo. Esse recurso, uma vez renovado,

será considerado inadmissível, pois a desistência é fato impeditivo que, uma

vez verificado, implica a inadmissibilidade do procedimento recursal. Verifica-

se, então, que a desitência não extingue o procedimento recursal por

inadmissibilidade, mas uma vez interposto novamente o recurso revogado,

esse “novo” procedimento recursal, e não o primeiro, será havido por

inadmissível.

O poder de desistir do recurso é especial e deve constar

expressamente na procuração outorgada ao advogado (art. 38 do CPC). Se a

desistência implicar a extinção do processo, com decisão de mérito

desfavorável ao recorrente (desistência da apelação contra sentença de

mérito, por exemplo), além do poder de desistir ao advogado deve ter sido

outorgado, também, o poder de disposição do direito material discutido

(transigir), sem o qual a desistência, nesse caso, será ineficaz em relação ao

suposto representado.

As desistências da ação e do recurso não se confundem. A desistência

do processo (da ação) extingue-o sem julgamento do mérito (art. 267, VIII,

CPC); a desistência do recurso pode implicar extinção do processo com

julgamento do mérito ou sem julgamento do mérito, a depender do conteúdo

da decisão recorrida, como também não pode implicar a extinção do processo.

A desistência do processo precisa ser homologada pelo magistrado (art. 158,

parág. único, CPC), o que não acontece na desistência do recurso. A

desistência do processo depende do consentimento do réu, se já houve

46

resposta (art. 267, § 4° do CPC); na desistência do recurso, o consentimento é

dispensado (art. 501 do CPC).

Tecnicamente, por fim, estão incorretas as expressões “pedir

desistência” e “pedido de desistência”. Não se pede a desistência; desiste-se.

Jurisprudência sobre o assunto:

RECURSO – Desistência – Admissibilidade – Desnecessidade de

anuência da parte contrária – Inteligência do art. 501 do CPC.

EMENTA – O agravante pode desistir de recurso por ele interposto

a qualquer tempo, sem necessidade de anuência da parte contrária,

segundo o art. 501 do CPC. (STF-RT 832/172).

1.4 – A Homologação do Recurso

A tradição de boa parte dos tribunais brasileiros, quanto à matéria,

pode ser resumida na decisão abaixo:

“Assim, em razão do requerimento da agravante, à luz do art. 501

do CPC, homologo a desistência deste recurso de AgIn 50178-4/180

(200601084882), a fim de que surta seus efeitos jurídicos e legais”. (RT

852/299).

Barbosa Moreira, novamente, ensina que a desistência parcial,

validamente manifestada, restringe o objeto do recurso, preexcluindo a

cognição do órgão ad quem no tocante à(s) parte(s) que desistiu; a desistência

total produz a extinção do procedimento recursal, independentemente de termo

ou quaisquer outras formalidades. Ao contrário do diploma de 1939, que

continha exigência expressa a respeito no art. 16, onde se falava, em termos

genéricos, de “desistências”, o Código vigente dá a entender que a

desistência do recurso não precisa sequer ser homologada. Seguindo esta

linha de entendimento, ou seja, de acordo estão José Frederico Marques,

47

Amaral Santos, Pontes de Miranda, Sérgio Bermudes, Humberto Theodoro

Júnior, Nélson Nery Júnior, Pinto Ferreira.

Com efeito, o art. 158 caput e parágrafo único do CPC, concluem que

a única exceção à regra é somente para a desistência da ação. O órgão

judicial, tomando conhecimento da desistência do recurso e verificando-lhe a

regularidade, simplesmente declarará extinto o procedimento recursal,

podendo acontecer, no entanto, que o feito haja de prosseguir em razão da

existência de outro recurso contra a mesma decisão, ou por ser interlocutória

aquela de que se tinha recorrido.

A desnecessidade da homologação não significa exclusão de toda e

qualquer atuação do juiz (ou tribunal). É óbvio que este há de conhecer do ato

e exercer sobre ele o normal controle sobre os atos processuais em geral.

Complementa, criteriosamente, Barbosa Moreira:

“ A diferença em relação às hipóteses de ato

dependente de homologação reside em que, nestas, o

pronunciamento judicial tem natureza constitutiva,

acrescenta algo de novo, e é ele que desencadeia a

produção dos efeitos, ao passo que, aqui, toda a eficácia

remonta à desistência, cabendo tão só ao juiz ou ao

tribunal apurar se a manifestação de vontade foi regular

e, através de pronunciamento meramente declaratório,

certificar os efeitos já operados ” (MOREIRA, 2005,

p.335).

Acerca do efeito da desistência sobre a decisão recorrida, o Código de

1973 silencia sobre o ponto. De acordo com Barbosa Moreira, deve-se

entender, a princípio, que com a desistência do recurso, validamente

manifestada, passa em julgado a decisão recorrida, desde que o único

obstáculo erguido ao trânsito em julgado seja a interposição de recurso pelo

desistente.

48

1.5 – Efeitos da Desistência do Recurso

Se a causa está pendente de recurso interposto pelo autor, pode este

desistir do recurso, mas não pode desistir da ação. Com a desistência do

recurso opera-se o trânsito em julgado da decisão recorrida: com a desistência

da ação far-se-ia cair a decisão de mérito, “ e não é admissível que o autor,

mesmo com a aquiescência do réu, inutilize uma verdadeira sentença

proferida, não sobre a relação processual, mas sobre a relação substancial,

uma sentença que tem o alcance de pôr termo ao litígio.

José Carlos Barbosa Moreira, comparando os efeitos da desistência do

recurso com outras figuras, leciona:

“ Os efeitos também são diferentes: a renúncia, a

aquiescência e a deserção fazem inadmissível o recurso;

a desistência torna-o inexistente, sem que caiba indagar

se ele era ou não admissível ” (MOREIRA, 2005, p.332).

Pontes de Miranda sentencia que a declaração de vontade, que é a

desistência, integrada pelo ato judicial declarativo, tem a eficácia constitutiva

negativa para destruir a extensão de relação jurídico processual.

O negócio jurídico unilateral da desistência da ação julgada por

sentença extingue-a (arts. 267, VII, e 158, parágrafo único); não se exige o

mesmo à desistência do recurso. Não há, a respeito desta, o que se estatui a

propósito da desistência da ação, que só produzirá efeito depois de

homologada por sentença, o que permite a apelação, art. 513 do CPC: “Da

sentença caberá apelação (arts. 267 e 269)”. Se o juízo não atribui eficácia

extintiva à desistência do recurso, de tal ato judicial cabe agravo (art. 522 do

CPC).

Na apreciação do ato de desistência do recurso, não se precisa de

mais do que o ter-se por extinto o procedimento recursal.

49

Se nenhum outro recurso foi interposto, que obste ao trânsito em

julgado, a desistência, depois do prazo para interposição de recurso (pode ser

outro), faz transitar em julgado a decisão que fora recorrida. Se parcial a

desistência, somente quanto à parte do recurso interposto, de que desistiu, há

a eficácia do trânsito em julgado. O restante tem de ser julgado.

1.6 – Renúncia ao Recurso

De acordo com o Dicionário Jurídico da Academia Brasileira de Letras

Jurídicas, renúncia vem do latim renuntiatio, é o ato de vontade,

personalíssimo e inquestionável, de desistir, alguém, de alguma coisa ou de

algum direito.

De acordo com José Carlos Barbosa Moreira, a renúncia ao direito de

recorrer é o ato pelo qual uma pessoa manifesta a vontade de não interpor o

recurso de que poderia valer-se contra determinada decisão. Independe da

aceitação da outra parte (art. 502 CPC). Não se admite renúncia a termo ou

sob condição. A renúncia é sempre anterior à interposição do recurso, mas não

se admite a renúncia antes do momento em que o direito de recorrer seria

exercitável – não se admite renúncia anterior à prolação da decisão, que

poderia ser impugnada.

Se, após a renúncia, o recurso for interposto, será considerado

inadmissível, pois a renúncia é fato extintivo do direito de recorrer.

Como requisitos da renúncia, temos que só se pode renunciar

validamente ao direito de recorrer a partir do momento em que ele já seria

exercitável no caso concreto: assim como não se desiste do recurso ainda não

interposto, tampouco se renuncia a recurso ainda não interponível. Renunciar

ao direito de recorrer, antes de proferida a decisão, é renunciar a um direito

que ainda não se tem e, a rigor, nem sequer se sabe se nascerá – o que

depende do sentido em que venha a pronunciar-se o órgão judicial. Não há

que se admitir que se renuncie a um (futuro) direito não apenas incerto, senão

também indeterminado no conteúdo. Ora, é imprevisível o teor da decisão que

50

o juiz proferirá. A possibilidade de renunciar validamente surge apenas no

instante da possibilidade de interpor-se o recurso.O termo final é a própria

interposição (depois da qual só cabe falar de desistência, não de renúncia), ou

a ocorrência de qualquer fato que já torne inadmissível o recurso.

Não exige a lei forma especial para a renúncia. Todavia, dadas as

características do ato, entende-se que deve constar de petição escrita, dirigida

ao órgão perante o qual pende o feito. Não há necessidade da lavratura de

termo, nem de homologação judicial (art. 158).

Como a desistência do recurso, a renúncia ao direito de recorrer

tampouco admite condição ou termo. O texto reza expressamente que ela

“independente da aceitação da outra parte”.

Pontes de Miranda, dissertando sobre o tema, explana que o CPC de

1973 no art 502, permitiu a renúncia ao direito de recorrer, não só à pretensão:

“A renúncia ao direito de recorrer independe da aceitação da outra parte”.

Daí, se tira que há a renunciabilidade do direito ao recurso. Não se trata de

renúncia a futuro ou eventual direito de recorrer, mas sim de direito que já

existe. Não se poderia admitir, por exemplo, que antes ou mesmo depois de

iniciada a ação, mas sem que ainda se houvesse proferido decisão ou

sentença recorrível, se permitisse a renúncia. O direito ao recurso ainda não

nasceu. Só se renuncia ao direito ao recurso depois de conhecida a decisão ou

a sentença de que a parte ou interessado, com legitimação a recorrer, pode

recorrer. A lei não falou de renúncia a recurso, a recorrer, mas apenas de

renúncia ao direito de recorrer, que é o direito ao recurso.

A regra jurídica atinge qualquer direito a recorrer, seja na primeira, ou

na única instância, seja em qualquer instância superior. Trata-se de declaração

unilateral de vontade, que pode ser escrita, ou oral, ou tácita, mas tem de ser

clara e categórica. Comparando a desistência com a renúncia, diz Ponte de

Miranda, comentando o CPC de 1973:

“ Desiste-se do recurso que se interpusera. Renuncia-se

ao recurso que ainda se pode interpor. A previedade da

renúncia é que a caracteriza. Ali, quem desiste extingue,

51

com tal atitude, o direito que exerceu. Aqui, quem

renuncia pré-corta o direito ” (MIRANDA, 1975, p.109).

Com a renúncia ao direito de recorrer, inconfundível com a desistência,

há declaração unilateral de vontade, razão por que independe de aceitação da

outra parte. Com ela, nem se renunciou à ação de direito material, nem à

”ação” de direito processual. O direito a renunciar somente pode advir de já ser

recorrível o julgado. Não se renuncia ao que ainda não existe. Com a

publicação do julgado começa a recorribilidade; portanto, o direito ao recurso e

a renunciabilidade. Não há a antecipação da renúncia, posto que se achava no

Anteprojeto do CPC de 1973.

Renunciado o direito ao recurso, o renunciante não mais pode recorrer,

posto que, tratando-se de litisconsórcio unitário, o recurso por outro

litisconsorte lhe aproveita.

A renúncia não depende dos litisconsortes, posto que, se unitário o

litisconsórcio, não tenha a eficácia que lhe correspondera se o litisconsórcio

não fosse unitário. Para que houvesse a coisa julgada, seria necessário que

todos os litisconsortes unitários houvessem renunciado.

A parte pode aceitar expressa ou tacitamente a resolução judicial; de

modo que a sua aquiescência torna irrecorrível, por ela, a resolução judicial.

Trata-se de declaração de vontade, unilateral; e não vale, se ainda não há

resolução judicial proferida. Desde que o exercício da pretensão a recorrer e o

ato da parte são incompatíveis, houve, ou pode ter havido, no plano do direito

material, renúncia. Na dúvida, não há renúncia. Portanto: não há renúncia a)

por fatos equívocos ou ambíguos; b) se houve protesto ou reserva, pois aí não

vale a regra Protestatio facto contraria nihil operatur.

Depois da resolução judicial, mas antes da apelação ou de outro

recurso, o direito brasileiro (art. 502) admite a renúncia, ainda que tácita. Não

se confunda renúncia tácita com deixar passar o prazo (preclusão). A renúncia

tácita, de fundo canonístico, atendia a sugestões do sistema canônico de

apelabilidade das sentenças interlocutórias em geral. As Ordenações Filipinas,

52

Livro I, Título 24, § 20, eram invocadas para as desistências serem por termo

nos autos, - o que hoje também se há de entender. Nas Ordenações Filipinas,

Livro III, Título 79, § 2°, está dito:

“ Nem será recebido apelar o que por alguma maneira

consentiu na sentença dada contra ele; porque se fosse

presente ao tempo, que a sentença contra ele fosse

publicada, não apelando dela, e fazendo algum auto, por

que mostrasse consentir nela, não será jamais recebido a

apelar dela assim como se pedisse tempo para pagar o

em que era condenado, em tal caso, ainda que houvesse

apelado da sentença, por tal auto mostrara consentir nela,

e renunciar à apelação, em tanto que já a não poderá em

algum tempo ” (MIRANDA, 1975, p.113).

A aceitação expressa ou tácita, que é a causa da renúncia tácita ao

recurso, tem seus pressupostos: ser posterior à sentença.

Não se confunde a renúncia com a aceitação ou aquiescência à

decisão, embora ambas importem inadmissibilidade de recurso eventualmente

interposto. A “aceitação” é o ato por que alguém manifesta a vontade de

conformar-se com a decisão proferida. Pode ser escrito ou tácita.

Admite-se aceitação parcial ou total. A aquiescência pode ocorrer

antes ou depois do recurso interposto. A aceitação e a renúncia implicam

“preclusão lógica” do direito de recorrer.

53

CONCLUSÃO

A desistência da ação é tema complexo. Seu entendimento mais

profundo requer mais que uma análise do CPC. A Doutrina é farta no tema “Do

Processo de Conhecimento”, porém excassa no tema “Extinção do Processo

por Desistência”.

A própria cultura popular diz que o brasileiro não desiste nunca. Daí a

dificuldade natural em pensar em desistir...renunciar...como se fosse um

derrotado.

O processo é como a vida, tendo início, meio e fim. O estudo da morte

e de suas causas, pela medicina e demais ciências, muito contribui para a

preservação e prolongamento da vida. Com a desistência do processo ocorre o

mesmo...

O princípio que norteia a desistência é o da disponibilidade processual.

A desistência da ação é uma forma de extinção anômala do processo,

encerrando-o sem julgamento (resolução) do mérito. Seu principal efeito é

que, homologada por sentença, produz coisa julgada formal. Por isso, é

obrigatória a homologação da desistência da ação para que produza seus

efeitos. Tema pacífico neste trabalho, na Legislação, na Doutrina e na

Jurisprudência.

É obrigatória a homologação da desistência do recurso? Não.

Primeiro, porque em grau de recurso, o consentimento do réu é

dispensado, consequentemente não há que se falar em homologação pelo juiz

em face da vontade das partes.

Segundo, já há sentença de mérito. Desistindo-se do recurso, forma-se

coisa julgada material e o CPC não exige, expressamente, a homologação

como pré-requisito de eficácia do recurso desistido.

54

Terceiro, enquanto a homologação da desistência da ação implica na

extinção do processo (coisa julgada formal), a desistência do recurso extingue

o procedimento recursal, não extingue o processo, fazendo coisa julgada

material.

No Processo de Conhecimento, o juiz julga procedente ou

improcedente o pedido. Na sentença homologatória da desistência da ação,

porém, isto é impossível. Na desistência do recurso há sentença preexistente

que julgou o pedido procedente ou improcedente (dái, a necessidade de

recurso). Não há o que se homologar, visto estar julgado o pedido.

Os Tribunais devem, por fim, revogar os textos de seus regimentos

internos quanto à homologação da desistência do recurso. Não cabe , em sede

recursal, homologação da desistência.

55

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

ANGHER, Anne Joyce (org.). VADE MECUM ACADÊMICO DE DIREITO. 4ª

edição. São Paulo: Rideel, 2007.

DICIONÁRIO ETIMOLÓGICO NOVA FRONTEIRA DA LÍNGUA

PORTUGUESA. 2ª edição. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986.

DINIZ, Maria Helena. Dicionário Jurídico. 2ª edição. São Paulo: Saraiva, 2000.

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Dicionário da Língua

Portuguesa. 1ª edição. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985.

FUX, Luiz. Curso de Direito Processual Civil. 3ª edição. Rio de Janeiro:

Forense, 2005.

JÚNIOR, Nélson Nery. Código de Processo Civil Comentado. 6ª edição. São

Paulo: RT, 2002.

JÚNIOR, Fredie Didier. Curso de Direito Processual. 7ª edição. Salvador:

Podivm, 2007.

JÚNIOR, Humberto Theodoro. Curso de Direito Processual Civil. 41ª edição.

Rio de Janeiro, Forense, 2007.

MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Curso de Processo

Civil. 6ª edição. São Paulo: RT,2007.

56

MILHOMENS, Jônatas. ALVES, Geraldo Magela. Vocabulário Prático de

Direito. 1ª edição. Rio de Janeiro: Forense, 2000.

MIRANDA, Pontes de. Comentários ao Código de Processo Civil. Rio de

Janeiro: Forense, 1949 e 1975.

MOREIRA, José Carlos Barbosa. Comentarios ao Código de Processo Civil.

12ª edição. Rio de Janeiro: Forense, 2005.

REVISTA DE JURISPRUDÊNCIA RT. São Paulo: Editora Revista dos

Tribunais, 2000 a 2006.

SIDOU, J.M. Othon. Dicionário Jurídico. 4ª edição. Rio de Janeiro: Forense,

1996

RAITANI, Francisco. Prática de Processo Civil. 22ª edição. São Paulo: Saraiva,

2000.

SILVA, De Plácido e. Vocabulario Jurídico. 17ª edição. Rio de Janeiro:

Forense, 2000.

TUCCI, José Rogério Cruz e. Desistência da Ação.São Paulo: Saraiva, 1988.

www.stf.gov.br/jurisprudência. acessado em 15/01/2008.

www.stj.gov.br/jurisprudencia. acessado em 16/01/2008

57

BIBLIOGRAFIA CITADA

1 – FUX, Luiz. Curso de Directo Processual Civil. 3ª. Edição. Rio de Janeiro:

Forense, 2005.

2 – JÚNIOR, Nélson Nery. Código de Processo Civil Comentado. 6ª. edição.

São Paulo:RT, 2002.

3 – MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Ségio Cruz. Curso de Processo

Civil. 6ª edição. São Paulo: RT, 2007.

4 – MIRANDA, Pontes de. Comentários ao Código de Processo Civil. 12ª

edição. Rio de Janeiro: Forense, 2005.

5 – MOREIRA, José Carlos Barbosa. Comentários ao Código de Processo

Civil. 12ª edição. Rio de Janeiro: Forense, 2005.

6 – BRAITANI, Francisco. Prática de Processo Civil. 22ª edição. São Paulo:

Saraiva, 2000.

58

ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATÓRIA 4

RESUMO 5

METODOLOGIA 6

SUMÁRIO 7

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I

A DESISTÊNCIA DA AÇÃO 15

1.1 - A Extinção do Processo 15

1.2 – A Extinção Anômala do Processo 20

1.3 – O Ato Processual Desistência 25

1.4 – O Ato Processual Homologação 27

1.5 – Efeitos da Desistência da Ação 28

1.6 - Limites à Desistência da Ação 30

1.7 - A Desistência na Legislação Federal 32

1.8 – A Desistência em face dos Direitos Indisponíveis 33

CAPÍTULO II

A DESISTÊNCIA DO RECURSO 36

1.1 – Juízo de Admissibilidade 36

1.2 – Impedimentos Recursais 40

1.3 – A Desistência do Recurso 41

1.4 – A Homologação do Recurso 48

1.5 – Efeitos da Desistência do Recurso 50

1.6 – Renúncia ao Recurso 50

CONCLUSÃO 55

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 58

59

BIBLIOGRAFIA CITADA 59

ÍNDICE 60

60

FOLHA DE AVALIAÇÃO

Nome da Instituição:

Título da Monografia:

Autor:

Data da entrega:

Avaliado por: Conceito: