13 - 15-05-12 - ilicitude

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INTENSIVO I Disciplina: Direito Penal Prof. Rogério Sanches Data: 15.05.2012 Ilicitude Ilicitude ou antirujidicidade? 1° corrente: trata os termos como sinônimos 2° Corrente: o CP não reconhece a expressão antijuridicidade (só trabalha com a expressão ilicitude) Evite a expressão antijuridicidade e prefiram a expressão ilicitude. Conceito de ilicitude: Entende-se a relação de contrariedade entre o fato típico e o ordenamento jurídico como um todo, não existindo qualquer exceção determinando, incentivando ou permitindo a conduta típica. Se existe exceção determinando ou incentivando a conduta, sequer há tipicidade. Pergunta de concurso: O que é antijuridicidade material e o que é antijuridicidade formal? Antijuridicidade formal : é a contrariedade do fato típico em relação ao ordenamento jurídico como um todo. Hoje é chamada de ilicitude Antijuridicidade material : é a relevância da lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico tutelado. Hoje é chamado de tipicidade material. Pergunta de concurso: O princípio da insignificância exclui qual substrato do crime? R: Hoje o princípio da insignificância exclui a tipicidade material, antes excluía a antijuridicidade material. Relação de Tipicidade e Ilicitude (várias teorias) 1ª teoria: teoria da autonomia ou absoluta independência A tipicidade não tem qualquer relação com a ilicitude. Adotada por Beling. Ilicitude INTENSIVO I Material elaborado por Tatiana Melo Contato: e-mails: [email protected] [email protected]

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  • INTENSIVO I Disciplina: Direito Penal Prof. Rogrio Sanches Data: 15.05.2012

    Ilicitude

    Ilicitude ou antirujidicidade? 1 corrente: trata os termos como sinnimos 2 Corrente: o CP no reconhece a expresso antijuridicidade (s trabalha com a expresso ilicitude) Evite a expresso antijuridicidade e prefiram a expresso ilicitude. Conceito de ilicitude: Entende-se a relao de contrariedade entre o fato tpico e o ordenamento jurdico como um todo, no existindo qualquer exceo determinando, incentivando ou permitindo a conduta tpica.

    Se existe exceo determinando ou incentivando a conduta, sequer h tipicidade.

    Pergunta de concurso: O que antijuridicidade material e o que antijuridicidade formal?

    Antijuridicidade formal: a contrariedade do fato tpico em relao ao ordenamento jurdico como um todo. Hoje chamada de ilicitude

    Antijuridicidade material: a relevncia da leso ou perigo de leso ao bem jurdico

    tutelado. Hoje chamado de tipicidade material.

    Pergunta de concurso: O princpio da insignificncia exclui qual substrato do crime?

    R: Hoje o princpio da insignificncia exclui a tipicidade material, antes exclua a antijuridicidade material.

    Relao de Tipicidade e Ilicitude (vrias teorias)

    1 teoria: teoria da autonomia ou absoluta independncia

    A tipicidade no tem qualquer relao com a ilicitude. Adotada por Beling.

    Ilicitude

    INTENSIVO I

    Material elaborado por Tatiana MeloContato: e-mails: [email protected] [email protected]

  • 2 teoria: teoria da indiciariedade ou ratio cognoscendi -

    Havendo fato tpico presume relativamente ilicitude. afastada mediante prova em sentido em contrrio (a cargo da defesa) Adotada por Mayer.

    3 teoria: teoria da absoluta dependncia ou ratio essendi

    Primeiro ela cria o tipo total o injusto,

    A ilicitude essncia da tipicidade. (No havendo ilicitude no haver tipicidade.)

    Adotada por Mezger.

    4 teoria: teoria dos elementos negativos do tipo

    Para essa teoria o tipo penal composto de elementos positivos (elementares do tipo) que devem estar presentes para que o fato seja tpico (explcitos) e elementos negativos do tipo, so elementos que no devem ocorrer para que o fato seja tpico. So elementos implcitos.

    Elementos positivos que devem ocorrer: matar algum. (art. 121 do CP)

    Elementos negativos que no devem: estado de necessidade, legtima defesa

    e estrito cumprimento de dever

    Prevalece que o Brasil segue a teoria da indiciariedade (ratio cognoscendi)

    A tipicidade presume ilicitude A causa de excluso da ilicitude nus da defesa Sendo o nus da prova da defesa no se aplica o in dubio pro reo.

    Ateno: lei 11.690/2008 (alterou o CPP)

    Art. 386 da CPP e a Lei 11690/08

    Antes da lei 11690/08,

    O juiz absolvia o ru quando comprovada a causa de excluso da ilicitude

    Havendo dvida, o juiz condena!!!! (teoria da indiciariedade)

    Jurisprudncia havendo dvida fundada o juiz tambm absolve

    Depois da lei 11690/08

    O juiz absolve o ru quando comprovada a causa de excluso da ilicitude ou se houver fundada dvida sobre sua existncia

    Havendo dvida (no fundada) o juiz condena (teoria da indiciariedade mitigada)

    Causas de excluso da ilicitude

    Essas causas tambm so chamadas de causas descriminantes ou causas justificantes, essas causas podem ser:

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  • Legais (previstas em lei)

    Cdigo Penal parte geral - art. 23; Cdigo Penal parte especial art. 128; Leg. Extravagante- lei 9.605/98; CF/88 - apesar de divergente tem doutrina ensinado que a imunidade parlamentar exclui a

    ilicitude (no o que prevalece o que prevalece que exclui a tipicidade)

    Supralegal (no prevista em lei) Consentimento do ofendido (doutrina)

    ESTADO DE NECESSIDADE Previso legal: Art. 23, I, Cdigo Penal. Conceito Considera-se em estado de necessidade quem pratica um fato tpico, sacrificando um bem jurdico, para salvar de perigo atual direito prprio ou de terceiro, cujo sacrifcio, nas circunstncias, no era razovel exigir-se. SE H DOIS BENS EM PERIGO, O ESTADO PERMITE QUE SEJA SACRIFICADO UM DELES, POIS, DIANTE DO CASO CONCRETO, A TUTELA PENAL NO PODE SALVAGUARDAR A AMBOS. Requisitos:

    1 - O perigo deve ser atual

    Pergunta de concurso: abrange o perigo iminente?

    1 Corrente em que pese o silncio da lei, o perigo iminente (prximo)

    2 Corrente diante do silncio da lei, no abrange o perigo iminente (algo para autorizar algum a sacrificar bens jurdicos alheios). o que PREVALECE!

    O perigo atual pode decorrer: a) Fato da natureza b) Comportamento humano c) Comportamento de um animal Ateno: Se o perigo imaginrio temos o estado de necessidade putativo no exclui a ilicitude.

    2 - que a situao de perigo no tenha sido causada voluntariamente pelo agente

    1 Corrente- somente o causador doloso do perigo no pode alegar estado de necessidade.

    PREVALECE!

    2 Corrente o causador doloso ou culposo do perigo no pode alegar estado de necessidade. Fundamenta sua concluso no art. 13,2, c, do CP (dever jurdico de evitar o resultado).

    3 - salvar direito prprio ou alheio

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  • Salvar direito prprio estado de necessidade prprio

    Salvar direito alheio estado de necessidade em nome de terceiro.

    Pergunta de concurso: O estado de necessidade de terceiro depende da autorizao ou ratificao da pessoa cujo bem jurdica esta em perigo.

    R.: temos duas correntes

    1C O estado de necessidade de terceiro dispensa autorizao ou ratificao.

    PREVALECE!

    2C O estado de necessidade de terceiro s dispensa autorizao ou ratificao se o bem jurdico em perigo for indisponvel.

    4 - Inexistncia do dever legal de enfrentar o perigo

    No pode alegar estado de necessidade quem tinha o dever legal de enfrentar o perigo.

    Pergunta de concurso: o que vem a ser dever legal? Segurana particular pode alegar

    estado de necessidade?

    1 Corrente: entende que tem o dever legal o garantidor do art. 13,2, a, do CPO o dever legal no abrange o dever contratual. Quem tem dever contratual pode alegar estado de necessidade.

    2 Corrente: entende que abrange o garantidor do art. 13,2, a, b, e c, do CP. Logo, abrange o dever contratual. O segurana no pode alegar estado de necessidade. A exposio de motivos do CP adotou a segunda corrente.

    5 - inevitabilidade do comportamento lesivo

    Se a fuga for suficiente para salvar o interesse ameaado, deve ser a alternativa

    servida pelo agente (commodus discessus) obrigao de procurar cmoda fuga do local

    6 - inexigibilidade do sacrifcio do direito ameaado

    Proporcionalidade entre o bem protegido e o bem sacrificado.

    Teoria Diferenciadora

    Estado de necessidade justificante (exclui a ilicitude)

    Quando o bem protegido (vida) vale mais di que o bem sacrificado (patrimnio)

    Estado de necessidade exculpante (exclui a culpabilidade) Quando o bem jurdico protegido vale igual ou vale menos do que o bem sacrificado

    Teoria Unitria

    Estado de necessidade justificante (exclui a ilicitude)

    Quando o bem protegido vale mais do que o bem sacrificado ou vale igual ao bem sacrificado.

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  • Obs. Se o bem protegido vale menos do que o bem sacrificado para a teoria unitria uma causa de diminuio de pena.

    Obs. O CP militar adotou a teoria diferenciadora no art. 39

    7 - conhecimento da situao de fato justificante (requisito subjetivo)

    A ao do estado de necessidade deve ser objetivamente necessria e subjetivamente conduzida pela vontade de salvamento. Pergunta de concurso: Cabe estado de necessidade em crime habitual e permanente?

    R.: Exigindo a lei como requisito a inevitabilidade do comportamento lesivo, no se tem admitido estado de necessidade nos crimes habituais ou permanentes.

    Classificao doutrinria

    Quanto titularidade

    Prprio

    De terceiro

    Quanto ao elemento subjetivo do agente

    Estado de necessidade real existe efetivamente a situao de perigo Estado de necessidade putativo o agente age em face de perigo imaginrio. No exclui a

    ilicitude.

    Quanto ao terceiro que sofre a ofensa

    Estado de necessidade defensivo o Agente sacrifica bem jurdico do prprio causador do perigo

    Estado de necessidade agressivo o agente sacrifica bem jurdico de pessoa que no concorreu para o perigo.

    Legtima Defesa Previso legal art. 23, II e art. 25 do CP. Diferena entre estado de necessidade e legtima defesa

    Estado de necessidade

    H conflito entre vrios bens jurdicos diante de uma situao de perigo. O perigo decorre de conduta humana, comportamento animal ou fato da natureza. O perigo no tem destinatrio certo Os interesses em conflito so legtimos Obs.: possvel estado de necessidade X estado de

    necessidade (simultneos) ex.: dois nufragos disputando um colete salva vidas.

    Legitima defesa

    H ameaa ou ataque a um bem jurdico; Agresso humana;

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  • A agresso dirigida; Os interesses do agressor so ilegtimos - no possvel Legitima defesa X legitima defesa

    (simultneos) possvel legitima defesa X legitima defesa putativa e possvel legitima defesa putativa X legitima defesa putativa

    Requisitos

    a) Agresso injusta conduta humana que ataca ou coloca em perigo bens jurdicos de algum.

    Obs.: Agresso injusta pode ser uma ao ou omisso

    Ex.: agente penitencirio que diante de alvar de soltura, por vingana, se nega a soltar o preso.

    Pergunta de concurso: ataque de animal enseja legtima defesa ou estado de necessidade?

    R. Depende, pois:

    o Se for um ataque espontneo perigo atual estado de necessidade. ( prefervel a fuga se possvel)

    o Se for ataque provocado pelo dono agresso injusta agresso injusta legtima defesa. (pode abater o animal mesmo que possvel)

    A agresso deve ser injusta, independente da conscincia da ilicitude por parte do agressor. Assim, quem se defende de agresso atual e injusta praticada por inimputvel, age em legtima defesa.

    Obs. Para Roxin, no se concede a ningum um direito ilimitado de legtima defesa face agresso de um inimputvel, de modo que a excludente no se aplica a todas as situaes (agresso praticada por criana contra adulto). Alguns autores resolvem o impasse aplicando, no caso de agresses de inimputveis, o requisito da obrigao de procurar uma cmoda fuga. Ateno: a injusta agresso no precisa ser tpica. Ex.: legtima defesa contra furto de uso. (atpico agresso injusta) 2. JURISPRUDNCIA CORRELATA 2.1. STF HC 112262 / MG Relator: Min. Luiz Fux rgo Julgador: Primeira Turma Julgamento: 10/04/2012 Ementa: Penal. Habeas corpus. Furto qualificado mediante o concurso de duas ou mais pessoas (CP, art. 155, 4, inciso IV). Bens avaliados em R$ 91,74. Princpio da insignificncia. Inaplicabilidade, no obstante o nfimo valor da res furtiva: Ru reincidente e com extensa ficha criminal constando delitos contra o patrimnio. Liminar indeferida. 1. O furto famlico subsiste com o princpio da insignificncia, posto no integrarem binmio inseparvel. 2. possvel que o reincidente cometa o delito famlico que induz ao tratamento penal benfico. 3. Deveras, a insignificncia destacada do estado de necessidade impe a anlise de outro fatores para a sua incidncia. 4. cedio que a) O princpio da insignificncia incide quando presentes, cumulativamente, as seguintes condies objetivas: (a) mnima ofensividade da conduta do agente, (b) nenhuma periculosidade social da ao, (c) grau reduzido de reprovabilidade do comportamento, e (d) inexpressividade da leso jurdica provocada; b) a aplicao do princpio da insignificncia deve, contudo, ser precedida de criteriosa anlise de cada caso, a fim de evitar que sua adoo indiscriminada constitua verdadeiro incentivo prtica de pequenos delitos

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  • patrimoniais. 5. In casu, consta da sentena que ...os antecedentes criminais so pssimos, ressaltando-se que a reincidncia no ser no momento observada para se evitar bis in idem. Quanto sua conduta social e personalidade, estas no lhe favorecem em razo dos inmeros delitos contra o patrimnio cujas prticas lhe so atribudas, o que denota a sua vocao para a delinquncia. 6. Ostentando o paciente a condio de reincidente e possuindo extensa ficha criminal revelando delitos contra o patrimnio, no cabe a aplicao do princpio da insignificncia. Precedentes: HC 107067, rel. Min. Crmen Lcia, 1Turma, DJ de 26/5/2011; HC 96684/MS, Rel. Min. Crmen Lcia, 1Turma, DJ de 23/11/2010; e HC 108.056, 1 Turma, Rel. o Ministro Luiz Fux, j. em 14/02/2012. 5. Ordem denegada. 2.2. STF HC 105947 / PE Relator: Min. Dias Toffoli rgo Julgador: Primeira Turma Julgamento: 03/04/2012 EMENTA Habeas corpus. Penal. Jri. Crime de homicdio qualificado (CP, art. 121, 2, II e IV). Paciente absolvido. Legtima defesa. Apelao do Ministrio Pblico sob fundamento de que a sentena manifestamente contrria prova dos autos. Recurso provido para determinar a submisso do ru a novo julgamento pelo jri. Violao soberania dos veredictos. No ocorrncia. Reexame do contexto ftico-probatrio. Inviabilidade. Ordem denegada. 1. A aferio da tese da legtima defesa, fundada em prova oral favorvel ao paciente, exige aprofundamento no exame do acervo ftico-probatrio da causa, invivel em sede de habeas corpus. Precedentes. 2. Writ denegado.

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