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NOEMIA VARELA: de barro de vidro de barro

Copyright: Instituto Arte na Escola

Autor deste material: Elaine Schmidlin

Revisão de textos: Soletra Assessoria em Língua Portuguesa

Diagramação e arte final: Jorge Monge

Autorização de imagens: Ludmilla Picosque Baltazar

Fotolito, impressão e acabamento: Indusplan Express

Tiragem: 200 exemplares

Créditos

MATERIAIS EDUCATIVOS DVDTECA ARTE NA ESCOLA

Organização: Instituto Arte na Escola

Coordenação: Mirian Celeste Martins

Gisa Picosque

Projeto gráfico e direção de arte: Oliva Teles Comunicação

MAPA RIZOMÁTICO

Copyright: Instituto Arte na Escola

Concepção: Mirian Celeste Martins

Gisa Picosque

Concepção gráfica: Bia Fioretti

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

(William Okubo, CRB-8/6331, SP, Brasil)

INSTITUTO ARTE NA ESCOLA

Noemia Varela: de barro de vidro de barro / Instituto Arte na Escola ; autoria de

Elaine Schmidlin ; coordenação de Mirian Celeste Martins e Gisa Picosque. – São

Paulo : Instituto Arte na Escola, 2006.

(DVDteca Arte na Escola – Material educativo para professor-propositor ; 122)

Foco: FE-A-3/2006 Formação: Processos de Ensinar e Aprender

Contém: 1 DVD ; Glossário ; Bibliografia

ISBN 85-98009-92-X

1. Artes - Estudo e ensino 2. 3. Varela, Noemia I. Schmidlin, Elaine II.

Martins, Mirian Celeste III. Picosque, Gisa IV. Título V. Série

CDD-700.7

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DVDNOEMIA VARELA: de barro de vidro de barro

Ficha técnica

Gênero: Documentário sobre a arte-educadora Noemia Varela,

realizado em sua homenagem.

Palavras-chave: História do ensino de arte; concepções de en-

sino de arte; educação estética; experiência estética e estésica;

produtor-artista-pesquisador; atitude lúdica; aquarela.

Foco: Formação: Processos de Ensinar e Aprender.

Tema: Percursos de Noemia Varela em arte, cultura e educa-

ção, a partir da pesquisa de Lucimar Bello Pereira Frange.

Artista abordada: Noemia Varela.

Indicação: Formação de educadores e programas de educa-

ção continuada.

Direção: Alexandre Pereira França.

Realização/Produção: LUF 2000 Produções em Vídeo,

Uberlândia.

Ano de produção: 2000.

Duração: 12 ’.

SinopseO documentário é uma livre criação da artista plástica e pro-

fessora Lucimar Bello Pereira Frange, que realizou sua pesqui-

sa de pós-doutoramento sobre Noemia Varela, importante

educadora no cenário brasileiro, por suas experiências de van-

guarda no campo da educação pela arte. Neste documentário,

estão presentes aquarelas, poemas, depoimentos, produções

de crianças, paisagens da cidade, assim como imagens da

Escolinha de Arte do Recife, fundada por Noemia.

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Trama inventivaVida tão cheia de encontros! Vida de educador. Encontros com a

arte, encontros com aprendizes de arte. Às vezes, o encontro é

na sala de aula; outras, no mundo do lado de fora. O que repre-

senta para o educador o seu trabalho? Paixão? Diversão? Meio

ou fim? Para alguns, domina sua vida; para outros, confunde-se

com ela. Seja deste ou daquele modo, todo educador tem uma

curiosa sensibilidade para o outro. Outro-obra, outro-gente.

Assim, de forma muito pessoal, o educador vai renovando sabe-

res, experiências, fazeres educativos em arte. Na cartografia,

mirar este documentário no território Formação: Processos de

Ensinar e Aprender oferece ao olhar paisagens educativas pin-

tadas com cores vivas por aqueles que, atuando como professor,

mediador ou artista-educador, educam com arte para a arte.

O passeio da câmera

No silêncio, nosso primeiro contato é com palavras e fotos que,

de certo modo, nos apresentam Noemia Varela. Depois, a po-

ética das imagens nos conduz, por entre pequenos títulos, pe-

las várias facetas da arte-educadora. Sua voz recita seus poe-

mas e pensamentos, registrados em sua homenagem pela ar-

tista e professora Lucimar Bello Pereira Frange1 .

Alocado em Formação: Processos de Ensinar e Aprender,

este documentário abre espaço para outros territórios, que

podem ser visualizados no mapa potencial.

Sobre Noemia Varela(Macau/RN, 1917)

Noemia Varela de barro, de vidro e de barro, é criança, é meninado barro, dos brinquedos e das coleções, da biblioteca e do sorve-te tomado até hoje, com sabor de festa, sabor de encontros. Émenina da cerâmica dos artesãos nordestinos ao visibilizarem seusespaços multiculturais. (...) É cristal lapidado, é sensualidade, ématuridade, mulher-idade assumida e construída em constantedesconstrução para outros construíres.

Lucimar Bello Pereira Frange2

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material educativo para o professor-propositor

NOEMIA VARELA – DE BARRO DE VIDRO DE BARRO

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Nascida aos 7 meses, Noemia de Araújo Varela é criada no colo

de sua avó materna, sua mãe “Loló”, de quem herda o cofrinho

transparente no qual guarda todas as suas memórias, desejos

e sabores, enfim, sua pessoalidade.

Sua opção de vida a leva, aproximadamente aos 23 anos, a ser

professora, especialmente interessada em psicologia junguiana

e crianças portadoras de deficiências. São elas que lhe mostram

o caminho da arte. Ensinando, desenhando e aquarelando,

Noemia assume a sua professoralidade3 . O encontro com a

Escolinha de Arte do Brasil, no Rio de Janeiro em 1949, e as

experiências do Hospital Psiquiátrico Pedro II, em Engenho de

Dentro, com a Doutora Nise da Silveira, marcam sua trajetória.

Sua alegria e esperança, ancoradas em percursos de inquieta-

ção como arte- educadora, levam-na à criação, em 1953, da

Escolinha de Arte do Recife, na Rua do Cupim, 124, no bairro

Graças, instalada em um “chalé memoroso”. Até hoje, o chalé

continua recebendo crianças e educadores ávidos por conviver

com a arte e viver experiências estésicas e estéticas.

Aluna de Herbert Read e parceira de Augusto Rodrigues, a in-

ventiva professora se encanta diante da criança e da arte e tor-

na-se multiplicadora e estudiosa do processo criador e da cons-

ciência estética do Movimento das Escolinhas de Arte (MEA) no

Brasil e dos Cursos Intensivos de Arte-Educação da Escolinha

de Arte do Brasil (Ciae), no período de 1970 a 1980. Com ela,

amigos e irmãos conceituais4 multiplicam as vozes da “educa-

ção criadora”, atentos à formação do professor-aluno em uma

proposta de trabalho criativa, orientada e acolhida por um pro-

cesso dinâmico de busca pela relação compartilhada de afetos.

Os percursos de Noemia são intensos, múltiplos, e podem

ser encontrados em seus projetos poéticos, revelados por sua

escritura contínua e sistematizada sobre arte, cultura e ensi-

no, decorrente de suas experiências e vivências com crian-

ças. Tais percursos estão presentes, também, em seus poemas e

aquarelas que “pintam sua Recife”. Delas, nos fala Lucimar Bello5 :

O Rio-água-des-aguante é força expansiva na “retangularidade” dasaquarelas, para além das cidades de papel, mostradas em diferentes

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situações de um dia: amanhecer, entardecer, anoitecer. O rio que eu

não vi tem luz de nascente, amanhece; Pontes do Recife é luz depoente, entardece; Capibaribe, memória de infância, pela densidadede tons saturados, é luz pós-poente, paisagem-cidade que anoitece.

As visualidades se estendem no poema que ouvimos, ao final

do documentário, escrito em 1973. O fino papel de seda azul

forma um livreto de textos visuais e verbais – Rendas. São eles

que iniciam e finalizam o documentário e trazem a voz de Noemia

Varela6, na época do documentário, com 84 anos:

Caminhos de renda brancaAndando de mão em mão ...de mão em mão andandoa trilha dos passos meus.Mãos que me cuidaramrendas que me enfeitaramAdeus!

Os olhos da arte

O mais fundamental está em se arquitetar a formação do arte-edu-cador a partir do princípio de que deva estar sempre em desenvolvi-mento, na abordagem dos fenômenos da arte, da educação, da filo-sofia, enfim, do conhecimento teórico e prático que a enriqueça e faledas conquistas do homem como ser inventivo, fértil em sua imagina-ção e capacidade de construir o mundo.

Noemia Varela

Conhecer o Movimento Escolinhas de Arte (MEA) é conhecer um

pouco da história do ensino da arte no Brasil. Os preceitos acadê-

micos, fortalecidos pela Missão Artística Francesa, trazida em 1816

por D. João VI e criadora da Academia Imperial de Belas Artes/

AIBA, marcam o percurso deste ensino. Mais tarde, com o

surgimento do movimento denominado Escola Nova, ocorre a va-

lorização da produção da criança e os horizontes se ampliam.

Uma mostra de trabalhos infantis, realizada no Museu Nacio-

nal de Belas Artes, traz ao Rio de Janeiro, em 1941, o seu

organizador, o crítico de arte Herbert Read, autor de A educa-

ção pela arte e fundador da International Society for Education

through Art/ InSEA. Suas idéias inovadoras sobre a importân-

cia da arte na educação influenciam artistas e educadores brasi-

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material educativo para o professor-propositor

NOEMIA VARELA – DE BARRO DE VIDRO DE BARRO

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leiros. Por isso, em

1948, é fundada a

Escolinha de Arte do

Brasil, no Rio de Ja-

neiro, pelo artista

plástico Augusto

Rodrigues, a profes-

sora gaúcha Lúcia

Alencastro Valentim

e a escultora norte-

americana, Margaret

Spence.

A Escolinha se tor-

na um centro de for-

mação de professo-

res de arte, que fun-

dam e orientam outras unidades no Brasil e na América Latina.

Dentre elas, a Escolinha de Arte do Recife, tendo Noemia Varela

como diretora. No Rio Grande do Sul, escolinhas se espalham

por todo o Estado. As opções de Noemia, ligadas à educação

e arte, frutificam ações pedagógicas coletivas, realizadas de

forma inclusiva e atenta às crianças com necessidades especi-

ais, envolvendo a estética do cotidiano nas experiências das

escolinhas, lugares de acontecimentos estéticos e estésicos em

constante vivência reflexiva.

Do ensino autoritário e acadêmico, centrado no professor, pen-

de- se para a valorização da produção da criança. Pensadores

como o filósofo da educação John Dewey que valoriza a expe-

riência, considerando-a também estética, e Viktor Lowenfeld,

um dos primeiros da área a ser traduzido para o português,

também influenciam as ações artísticas nas escolas.

Os autores citados fundamentam que a aprendizagem não é

apenas intelectual, mas também emocional, social, perceptiva,

física e psicológica no desenvolvimento infantil. Enfatizam a

necessidade de desenvolver, de modo livre e flexível, a sensibi-

lidade e a conscientização de todos os sentidos (ver, sentir, ouvir,

Noemia Varela na Escolinha

Foto: Fabio da Costa Lago

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cheirar, provar), em uma interação entre sujeito e meio, promo-

vendo a auto-expressão a partir da vivência pessoal (o que é

muito diverso do chamado laissez-faire). No entanto, essas

questões são compreendidas de maneira equivocada quando o

ensino de educação artística é implementado, nas décadas de

70 e 80, nas escolas brasileiras.

Durante muito tempo, criatividade é confundida com livre-ex-

pressão. Os processos cognitivos, emocionais e intelectuais,

entretanto, não acontecem nas expressões artísticas de forma

automática. “É necessário ensinar a ver, a analisar, a especu-

lar, a investigar”, já diz Ana Mae Barbosa7 . Essas considera-

ções são pertinentes ao momento em que a arte é reconhecida

como campo de conhecimento e como linguagem, no ensino de

arte contemporâneo. São essas ressonâncias de educadores

inquietos e ousados, como Noemia Varela, que nos fundamen-

tam e desafiam a fazer e ensinar arte, alicerçados na cultura a

ser percebida, analisada e significada.

O passeio dos olhos do professorO documentário está planejado para ser utilizado em projetos que

envolvem a formação de educadores. Como educador de educa-

dores, você pode buscar nele aspectos para provocar o pensar

sobre concepções de ensino de arte. Para isso, inicie um diário de

bordo com suas anotações. Uma pauta do olhar poderá ajudá-lo:

Alunos em atividade na

Escolinha

Foto: Fabio da Costa Lago

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material educativo para o professor-propositor

NOEMIA VARELA – DE BARRO DE VIDRO DE BARRO

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O que lhe parece relevante no trabalho desenvolvido por

Noemia Varela? O que parece repercutir o contexto atual do

ensino de arte?

Quais as relações significativas que você pode estabelecer

entre a artista e a educadora Noemia Varela?

O que a linguagem poética do documentário desperta em você?

O documentário provoca quais relações entre educação, fi-

losofia e arte?

O que seus alunos-professores gostariam de ver no

documentário?

A partir de suas anotações, quais questões você faria em uma

pauta do olhar para o passeio dos olhos dos colegas ou de seus

alunos em formação? Você pode fazer um mapa do que consi-

dera mais importante para suas proposições pedagógicas.

Percursos com desafios estéticosOs percursos sugeridos não são seqüenciais e se apresentam

como possibilidade de caminhos a serem trilhados e rein-

ventados por você como formador de educadores.

O passeio dos olhos dos alunosAlgumas possibilidades:

Valorizar os sentidos e a capacidade criadora é uma proposta

da Escolinha de Arte. A construção de bonecos, feitos com

massa, argila, panos ou colagem, pode dar vida aos sentimen-

tos vividos pelos alunos, relembrando a infância. A primeira

conversa sobre essas lembranças é um modo de prepará-los

para a exibição do documentário, focalizando, especialmente,

o trecho intitulado: “Noemia e a criança que ela ainda é”. O

que esse trecho provoca em seus alunos-professores?

Os sabores e cheiros das frutas de sua região, experimen-

tados concretamente ou apenas lembrados, podem se tor-

nar mais conscientes se você preparar os alunos para a apre-

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qual FOCO?

qual CONTEÚDO?

o que PESQUISAR?

Zarpando

agentes

artista, professor

formação de público

escola

espaços sociais do saber

educação estética, experiência estética e estésica

MediaçãoCultural

Forma - Conteúdo

relações entre elementosda visualidade

elementos davisualidade cor, linha, forma expressiva,

superfície, volume, textura

movimento,atmosfera,composição

figurativa, paisagem temática

SaberesEstéticos eCulturais

história da arte cultura popular

política cultural criação de instituições de ensino de arte

sistema simbólico

metáfora, signo

Formação:Processos deEnsinar eAprender

percursos educativos

sistematização do ensino-aprendizagem, registro, reflexões

educação estética, história do ensino de arte,concepções de ensino de arte, escola de arte,processo lúdico e participativo

ensino de arte

aprendiz de arte

valorização da produção do aprendiz,referências culturais, necessidades especiais

ambiência da aula

organização,ambiente acolhedor

professor-propositor

artistas-professores, formaçãode educadores, pesquisa e estudosobre arte, produção teórica,análise crítica

Linguagens Artísticas

artesvisuais

literatura

meiostradicionais

aquarela, desenho, pintura, modelagem

poesia

cinema

desenho animado

Processo deCriação

poética pessoal, arte como experiência de vida,inquietude, infância produtiva

projeto poético

observação sensível, corpo perceptivo, atitude lúdica, sensibilidade,afetividade, pensamento visual, ativar sentidos, memória de infânciarepertório pessoal e cultural, imaginação criadora

ação criadora

potências criadoras

produtor-artista-pesquisador

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ciação de suas formas, cores, texturas, odores e sabores.

Depois, inicie a exibição do documentário pelo trecho: “De-

lícias noemianas”. A partir da fala de Noemia sobre o que

gosta, como os alunos-professores imaginam essa arte-

educadora? O que podem conhecer dela pelos seus gostos?

Vivenciar a linguagem da aquarela, com suas cores e trans-

parências, em um espaço amplo, como o pátio da escola,

por exemplo, pode ser um bom começo. Para isso, bastam:

um papel de qualidade, potes com água e pincéis macios.

Proponha que os alunos deixem o papel umedecido se im-

pregnar de cores e apenas dirijam a trajetória que a tinta

teimará em traçar. As formas nascentes podem gerar pai-

sagens e figuras, ou apenas manchas. É um bom momento

para analisar Noemia aguadeante, buscando referências

sobre os procedimentos vistos no documentário e iniciando

uma conversa sobre inter-relações entre a artista e a edu-

cadora. Como essas conexões poderão ser visualizadas no

documentário, tanto em relação a Noemia Varela como em

relação a Lucimar Bello, também artista-educadora?

Como o trabalho está, aqui, proposto para o estudo de profes-

sores, seria oportuno que eles percebessem esse primeiro

momento do trabalho educativo, quando se prepara o início de

um projeto, com observação e escuta dos que dele participam,

para pensar sobre os encaminhamentos futuros.

Ampliando o olharO documentário é uma livre criação a partir da pesquisa em

pós-doutorado de Lucimar Bello. Será interessante rever o

documentário por várias vezes para provocar múltiplas leitu-

ras. Por que a artista Lucimar Bello escolheu este modo para

falar de uma arte-educadora? Como ler suas metáforas?

No documentário, crianças amassam, modelam, experimen-

tam linhas e texturas com estecas na argila. Um exercício de

observação pode ser planejado com uma pauta do olhar, pre-

viamente elaborada juntamente com os alunos-professores,

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material educativo para o professor-propositor

NOEMIA VARELA – DE BARRO DE VIDRO DE BARRO

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com o objetivo de melhor compreender a processualidade de

uma ação expressiva com a argila. Será interessante elaborar

atividades com grupos de diferentes faixas etárias e também

variar o material para o trabalho tridimensional: argila, massinha

para modelar, massa de farinha. Algumas questões podem ser

norteadoras de seu olhar: como as crianças se aproximam do

material? Há algumas com receio ou certo nojo de tocar a

massa? Exploram a tridimensionalidade ou trabalham no pla-

no bidimensional? A diferença de material provoca diferenças

na produção? O que conversam enquanto produzem? A análi-

se da observação pode problematizar os modos de oferecer e

acompanhar os processos de criação das crianças, estendidos,

depois, às outras linguagens plásticas.

Em seu livro sobre Noemia Varela, Lucimar Bello8 comenta so-

bre as assinaturas: “esses nomes-marcas, variando de posição

nos textos, mostram uma preocupação composicional por parte

do enunciador, fazendo com que os pesos das letras dialoguem

com os pesos cromáticos, aquarelados e apastelados, colocan-

do num mesmo nível a escrita e a imagem”. Problematizar a

questão da assinatura é um modo de ampliar o olhar para as

escolhas de lugar, peso e tamanho nos desenhos e pinturas in-

fantis. Essa pesquisa do olhar ficaria enriquecida se fossem

envolvidas, também, assinaturas de artistas conhecidos, como

a de Albrecht Dürer (1471-1528), que pode ser vista em artigo

disponível em: <www.anpuh.uepg.br/historia-hoje/vol1n1/

albrecht.htm> (acesso em 29 jan. 2006).

Para o aluno criar, é preciso que o professor ensine-o a in-

vestigar, analisar e ver, a partir de propostas práticas, ex-

periências. A leitura da própria produção é um ponto impor-

tante. Como ampliar o olhar da criança para a sua própria

produção? De que maneira salientar suas formas expressi-

vas, seu modo de compor no espaço do suporte, sua manei-

ra singular de escolher e usar as cores? Essas questões

podem problematizar a leitura das produções infantis que,

muitas vezes, não são feitas. É muito comum que os traba-

lhos sejam apenas guardados em pastas e enviados para

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casa no final do bimestre ou semestre. Como os alunos-

professores lêem essas produções?

As aquarelas de Noemia Varela podem despertar novas leitu-

ras e pesquisas sobre essa linguagem. Os alunos podem pro-

curar, na DVDteca Arte na Escola, outros documentários que

tenham o termo aquarela presente em seu mapa potencial.

Entre eles, Rubens Matuck: a aquarela no Brasil e Aquarela:

técnica em evolução podem ser uma boa maneira de ampliar o

contato com essa linguagem visual e a sua história. As tonali-

dades das cores, a transparência, as ferramentas e suportes

utilizados impulsionam também a experimentação pessoal.

Conhecendo pela pesquisa

O documentário apresenta uma série de desenhos animados. A

alma do desenho animado é o storyboard, ou seja, uma seqüên-

cia de desenhos em quadrinhos. Se for possível, marque um

encontro no laboratório de informática de sua escola para acessar

o site: <www.canalkids.com.br/arte/cinema/magia.htm>

(acesso em 29 jan. 2006). Também seria interessante entrar em

contato com a produção de um desenho animado. Ao rever a

animação presente no documentário, será possível imaginar

quantos desenhos foram necessários para sua realização?

O documentário apresenta algumas peças da cultura popu-

lar. Esse pode ser um foco para as pesquisas envolvendo a

cultura visual e a estética do cotidiano. Documentários da

DVDteca Arte na Escola, podem aprofundar a investigação.

Quando acontece a valorização da cultura brasileira em nos-

sa história cultural? Qual o papel de Mário de Andrade nessa

valorização? Por que a força expressiva e criativa desses tra-

balhos foi valorizada pelo Movimento de Escolinhas de Arte

no Brasil? Que relações podem ser estabelecidas com o ar-

tesanato? Quais outros documentários têm cultura popular

em seu mapa potencial?

As Escolinhas de Arte no Brasil oferecem um espaço para o

ensino de arte não-formal. Em sua cidade, há algum espaço com

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material educativo para o professor-propositor

NOEMIA VARELA – DE BARRO DE VIDRO DE BARRO

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esse tipo de ação? Os alunos-professores podem pesquisá-los,

descobrindo as fundamentações filosóficas e metodológicas.

Qual é o papel da arte no processo da educação inclusiva?

Os pressupostos de Noemia Varela, Helena Antipoff e Nise

da Silveira para a educação especial, assim como os

Parâmetros Curriculares para a Educação Especial, podem

ser campos de pesquisa para buscar respostas a essa ques-

tão. Que tal ampliá-la com uma reflexão sobre o atendimento

ao público especial em museus?

Paulo Freire e Noemia Varela têm idéias em comum? Alguns

aspectos sobre essa relação podem ser descobertos na

bibliografia recomendada.

John Dewey foi um filósofo da educação que, aos 72 anos,

escreveu a obra A arte como experiência, da qual só parte

foi traduzida para o português. Seu conceito de experiência

estética, presente em qualquer atividade humana que en-

volva a cognição, a emoção e a vida prática, precisa ser

estudado, apesar de toda a influência que o ensino de arte rece-

beu de suas idéias. Um autor contemporâneo, chamado Jorge

Larrosa, toca a questão da experiência por um outro viés. Am-

bos fortalecem o conceito de que apenas o que nos toca pode

nos transformar. Problematize o conceito e a idéia comum de

“transmissão de conhecimentos”, de “passar experiências”.

Desvelando a poética pessoal

A poética pessoal de um professor revela-se pelas suas sele-

ções, pelo seu gosto, pelos projetos que inventa, pelas coisas

que escreve. A partir do documentário, os alunos-professo-

res podem levantar as suas próprias histórias, o seu projeto

poético e estabelecer relações com a história do ensino de arte

em sua região, expressando-se com textos verbais e visuais.

Amarrações de sentidos: portfólioUm mapa de questões e caminhos percorridos, a partir deste

documentário, pode ajudar os alunos-professores a compreen-

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derem o conceito de rizoma que fundamenta este material

educativo, feito especialmente para o ensino de arte inventivo.

O portfólio também é uma das metodologias valorizadas, como

possibilidade de aprofundar o olhar sobre tudo o que foi estu-

dado, avaliando o processo vivido.

Pode ser interessante a criação de um seminário composto por co-

municações semelhantes às de um congresso para apresentação

dos trabalhos plásticos e os trabalhos dos alunos. Tais seminários

podem ser complementados por mesas-redondas sobre o ensino

de arte, pautadas em questões que intrigaram os professores.

Valorizando a processualidadeA avaliação da escolha deste documentário e as questões que

foram problematizadas podem ser o início de uma boa conver-

sa com seus alunos-professores na percepção de alguns cami-

nhos compartilhados por vocês. Com eles, levante aspectos do

que foi mais significativo, daquilo que estudaram, e o que po-

deria ter sido realizado de outro modo.

Você pode, ainda, encontrar na DVDteca Arte na Escola ou-

tros documentários para ampliar algumas questões levanta-

das. Fica o convite!

GlossárioEducação através da arte – “A arte deve ser a base da educação. (...) oque tenho em mente não é meramente a ‘educação artística’ como tal,que deveria ser denominada, mais propriamente, por educação visual ouplástica; a teoria a desenvolver abrange todos os modos de auto-expres-são, literária e poética (verbal), assim como musical e auditiva, e formauma abordagem integral da realidade que deveria chamar-se de educaçãoestética – a educação daqueles sentidos em que se baseiam a consciênciae, finalmente, a inteligência e raciocínio do indivíduo humano. É apenas namedida em que estes sentidos se relacionam harmoniosa e habitualmentecom o mundo exterior que se constrói uma personalidade integrada”. Fon-te: READ, Herbert. A educação pela arte. São Paulo: Martins Fontes, 1982,p. 13 e 20. (A primeira edição é de 1958).

Educação criadora – “A criatividade precisa ser alimentada por um tipo espe-cial de ambiente. A atmosfera de ‘vale tudo’ parece exercer uma influência tãonegativa quanto o meio autoritário, onde os indivíduos estão completamente

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material educativo para o professor-propositor

NOEMIA VARELA – DE BARRO DE VIDRO DE BARRO

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dominados. A criatividade merece ser amparada, mas, ao mesmo tempo, pre-cisa ser orientada para caminhos socialmente aceitáveis. (...) As experiênciasartísticas proporcionam uma excelente oportunidade para reforçar o pensamentocriador e propiciar os meios pelos quais os jovens podem desenvolver suasrepresentações imaginativas e originais sem censura.” Fonte: LOWENFELD,Viktor; BRITTAIN, W. Lambert. Desenvolvimento da capacidade criadora. SãoPaulo: Mestre Jou, 1977, p. 66. (A primeira edição é de 1947).

Pessoalidade – termo utilizado por Lucimar Bello, no sentido de uma pes-soa em sua inteireza, “jeitos de ser, ancorados em momentos anteriores eem momentos posteriores (“passados” e “futuros”), vontades, desejos,sentimentos, maneiras de vestir, gesticular, enfim, a pessoa com todas assuas vozes expressivas, culturais, situacionais e contextuais”. Fonte:FRANGE, Lucimar Bello Pereira. Arte, cultura e educação: diversos olha-res. Conversa terceiro-milênicas com Paulo Freire e Noemia Varela. In:CORRÊA, Ayrton Dutra (org.). Ensino de artes: múltiplos olhares. Ijuí:Editora Unijuí, 2004, p. 196.

BibliografiaAZEVEDO, Fernando Antônio Gonçalves. Movimento Escolinhas de Arte:

em cena Noemia Varela e Ana Mae Barbosa. Dissertação (Mestrado).Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo - ECA/USP, São Paulo, 2001.

BARBOSA, Ana Mae. John Dewey e o ensino de arte no Brasil. São Pau-lo: Cortez, 2001.

___ (org.). Inquietações e mudanças no ensino de arte. São Paulo: Cortez, 2002.

DEWEY, John. A arte como experiência. São Paulo: Abril Cultural, 1974,p. 163-246. (Os pensadores, 15).

ESCOLINHA de Arte do Brasil. Brasília: INEP, 1980. (Estudos e pesquisas, 6).

FRANGE, Lucimar Bello Pereira. Noemia Varela e a arte. Belo Horizonte: C/Arte, 2001.

___. Arte, cultura e educação: diversos olhares. Conversa terceiro-milênicascom Paulo Freire e Noemia Varela. In: CORRÊA, Ayrton Dutra (org.).Ensino de artes: múltiplos olhares. Ijuí: Editora Unijuí, 2004.

LARROSA, Jorge. Pedagogia profana: danças, piruetas e mascaradas. BeloHorizonte: Autêntica, 2000.

Bibliografia de arte para crianças

ABRAMOVICH, Fanny. Que raio de professora sou eu? São Paulo: Scipione, 1996.

BARROS, Manoel de. Exercícios de ser criança. Rio de Janeiro:Salamandra, 1999.

COELHO, Marcelo. A professora de desenho e outras histórias. São Pau-lo: Companhia das Letrinhas, 1995.

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VARELA, Noemia. Igarassu vista pelas crianças. Recife: Escolinha de Artedo Recife, 1974. Texto do poeta Mauro Mota.

ZIRALDO. Uma professora muito maluquinha. São Paulo: Melhoramentos, 1995.

Seleção de endereços sobre arte na rede internetOs sites abaixo foram acessados em 25 jan. 2006.

ESCOLINHAS DE ARTE. Disponível em: <www.funarte.gov.br/vsa/download/down05/Fernando_Azevedo.doc>.

___. Disponível em: <www.anpuh.uepg.br/xxiii-simposio/anais/anaistitulo.htm>(procure o título: História do movimento de arte-educação no Brasil).

VARELA, Noemia. Disponível em: <www.artenaescola.org.br/livros_detalhe.php?livro=98>.

Notas1 O pós-doutorado foi realizado junto ao Centro de Pesquisas Sócio-semióticas da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo/PUC, soborientação da Prof.ª Dr.ª Ana Cláudia de Oliveira e gerou o livro: Noemia

Varela e a arte, publicado pela C/Arte em 2001.2 Lucimar Bello Pereira FRANGE, Arte, cultura e educação: diversos olha-res. Conversa terceiro-milênicas com Paulo Freire e Noemia Varela. In:CORRÊA, Ayrton Dutra (org.). Ensino de artes: múltiplos olhares, p. 212.3 Termo criado por Marcos Villela que estuda os “processos de formação,aventuras e desventura na constituição de uma professoralidade commomentos de fala, de evasão, de fluxo para fora e momentos de escuta,de entrada, de fluxos para dentro e, ainda, momentos de espera, de dese-nho, de silêncio”. PEREIRA, Marcos Villela, A estética da professoralidade:um estudo interdisciplinar sobre a subjetividade do professor. Tese (Dou-torado). Pontifícia Universidade Católica – PUC, São Paulo, 1996.4 Entre eles, podemos citar: Anísio Teixeira, Augusto Rodrigues, HerbertRead, John Cage, Nise da Silveira, Helena Antipoff, Margaret Spence, AnaMae Barbosa, Cecília Conde, Lúcia Freire, Mauro Sá Rego Costa, VaniaGranja, Maria Helena Novaes, Dolores Coni Campos, Sebastião Pedrosa,Lucimar Bello Pereira Frange, Bartolomeu Campos Queiroz, YaraRodrigues, Ceci Curado, Olga Blinder, Sylvio Rabello, Lúcia Valentim,Heitor dos Prazeres, Sílvio Caldas, Paulinho da Viola, Miguel José Wisnik.5 Lucimar Bello Pereira FRANGE, Arte, cultura e educação: diversos olha-res. Conversa terceiro-milênicas com Paulo Freire e Noemia Varela. In:CORRÊA, Ayrton Dutra (org.). Ensino de artes: múltiplos olhares, p. 32.6 Ibid., p. 129.7 BARBOSA, Ana Mae. Teoria e prática da educação artística. São Paulo:Cultrix, 1995, p. 46.8 Lucimar Bello Pereira FRANGE, Noemia Varela e a arte, p. 99.

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