12 os manuscritos do mar morto

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1 OS MANUSCRITOS DO MAR MORTO - HISTÓRICO A DESCOBERTA Em 1947, no deserto da Judéia, no vale de Khirbet Qumran, junto às encostas do Mar Morto, vivia uma tribo semibeduína conhecida como Taamireh. Juma Muhammad edh-Dhib, um jovem pastor de 15 anos, cuidava das cabras do seu pai, quando deu por falta de um animal, que logo tratou de procurar (ao lado, foto de um rebanho de cabras na região de Qumran). O jovem, ao explorar o local, percebeu uma fenda em uma rocha e começou a atirar pedras para testar a sua pontaria. Após várias tentativas, ouviu um ruído dentro da caverna, parecendo o som de um vaso quebrando. Curioso, foi verificar o que seria aquele barulho. Ao olhar pela entrada da rocha avistou grandes jarros de barro, mas ao lembrar-se da lenda do espírito mau que mora numa caverna, o Sheitan, voltou apressadamente para casa. Ao chegar à tenda contou a sua experiência ao seu irmão mais velho, Ahmed Muhammad, que ficou muito curioso. Ahmed então pediu ao irmão para levá-lo ao local e na manhã seguinte foram em busca dos vasos. Chegando ao local, Ahmed viu os vasos de barro (foto ao lado) e de imediato entrou na gruta. Acreditando que encontraria tesouros em sue interior, transferiu todos os vasos para o seu irmão, que permanecia do lado de fora da caverna. Ahmed, ao sair da caverna, encontrou um embrulho feito de panos de linho. Abriu e viu um rolo feito de couro de cabras, com uma escrita desconhecida, e assim foi com todos os outros jarros. Outros exploradores encontraram centenas de pergaminhos em 11 cavernas. Além destes potes com os papiros, outras cerâmicas e artefatos domésticos também foram encontrados nas grutas (foto ao lado). Este material data do terceiro século a.C até 68 d.C., segundo testes realizados com carbono 14.

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OS MANUSCRITOS DO MAR MORTO - HISTÓRICO

A DESCOBERTA

Em 1947, no deserto da Judéia, no vale de Khirbet Qumran, junto às encostas do Mar Morto, vivia uma tribo semibeduína conhecida como Taamireh.

Juma Muhammad edh-Dhib, um jovem pastor de 15 anos, cuidava das cabras do seu pai, quando deu por falta de um animal, que logo tratou de procurar (ao lado, foto de um rebanho de cabras na região de Qumran).

O jovem, ao explorar o local, percebeu uma fenda em uma rocha e começou a atirar pedras para testar a sua pontaria. Após várias tentativas, ouviu um ruído dentro da caverna, parecendo o som de um vaso quebrando. Curioso, foi verificar o que seria aquele barulho.

Ao olhar pela entrada da rocha avistou grandes jarros de barro, mas ao lembrar-se da lenda do espírito mau que mora numa caverna, o Sheitan, voltou apressadamente para casa.

Ao chegar à tenda contou a sua experiência ao seu irmão mais velho, Ahmed Muhammad, que ficou muito curioso. Ahmed então pediu ao irmão para levá-lo ao local e na manhã seguinte foram em busca dos vasos.

Chegando ao local, Ahmed viu os vasos de barro (foto ao lado) e de imediato

entrou na gruta. Acreditando que encontraria tesouros em sue interior, transferiu todos os vasos para o seu irmão, que permanecia do lado de fora da caverna.

Ahmed, ao sair da caverna, encontrou um embrulho feito de panos de linho. Abriu e viu um rolo feito de couro de cabras, com uma escrita desconhecida, e assim foi com todos os

outros jarros.

Outros exploradores encontraram centenas de pergaminhos em 11 cavernas. Além destes potes com os papiros, outras cerâmicas e artefatos domésticos também foram encontrados nas grutas (foto ao lado).Este material data do terceiro século a.C até 68 d.C., segundo testes realizados com carbono 14.

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A Caverna IV (foto ao lado) foi uma das mais ricas em artefatos. Nela, forma encontrados milhares de fragmentos de 382 manuscritos diferentes. \EXPLORANDO E ESTUDANDO OS MANUSCRITOS

Inicialmente os pastores tentaram, mas sem sucesso, vender o material em Belém. Mais tarde, o material que possuíam foi finalmente vendido para Athanasius Samuel, bispo do mosteiro ortodoxo sírio São Marcos, em Jerusalém, e para Eleazar Sukenik, da Universidade Hebraica, em dois lotes distintos.

A autenticidade dos documentos foi atestada em 1948. Em 1954, o governo israelense, que já havia comprado o lote de Sukenik, comprou através de um representante, os documentos em posse do bispo, por 250 mil dólares.

Outra parte dos manuscritos, encontrada nas últimas dez cavernas, estavam no Museu Arqueológico da Palestina, em posse do governo da Jordânia, que então controlava o território de Qumram.

O governo jordaniano autorizou apenas oito pesquisadores, a maioria padres católicos europeus, a trabalharem nos manuscritos. Em 1967, com a Guerra dos Seis Dias, Israel apropriou-se do acervo do museu.

Porém, mesmo com a entrada de pesquisadores judeus, o avanço nas pesquisas não foi signicativo. Apenas em 1991, com a quebra de sigilo em relação aos microfilmes que Israel havia enviado para algumas instituições pelo mundo, um número maior de pesquisadores passou a ter acesso aos documentos, permitindo que as pesquisas, enfim avançassem significativamente.

Os desdobramentos em relação aos resultados prosseguem e, recentemente, a Universidade da Califórnia apresentou o "The Visualization Qumram Project" (Projeto de Visualização de Qumram), recriando em três dimensões a região onde os manuscritos foram achados.

O Museu de Israel já publicou na Internet parte do material sob seus cuidados e o Instituto de Antiguidades de Israel, do Museu Rockefeller, trabalha para fazer o mesmo com sua parte do material.

CONTEÚDO DOS MANUSCRITOS

Os Manuscritos do Mar Morto foram escritos em três idiomas diferentes: Hebreu, Aramaico e Grego, totalizando quase mil obras.

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A maior parte dos manuscritos encontra-se gravada em pergaminhos, sendo uma pequena parcela em papiros e penas um deles em cobre (foto ao lado).

De acordo com os estudiosos, os Manuscritos estão divididos em três grupos principais: escritos bíblicos e comentários, textos apócrifos e literatura de Qumram.

Um quarto de todos os manuscritos são bíblicos, contendo todos os livros do Antigo Testamento, exceto Ester, totalizando 22 livros. Os manuscritos mais numerosos são Deuteronômio, Salmos e Isaías, sendo este último mil anos mais velho do que qualquer outro anteriormente conhecido. Ele, ao contrário dos outros manuscritos, foi escrito em "folhas" feitas de pele de cabra e costuradas uma ao lado da outra, totalizando cerca de 7 metros (foto acima).

Os Apócrifos são os livros sagrados excluídos da Bíblia e são ricamente representadas, incluindo dois livros em escrita criptográfica, um livro de Enoque e um tratado sobre o livro de Moisés.. Ao final deste texto, há uma breve referência ao Evangelho segundo Tiago.

Os da literatura são manuscritos relacionados com a sociedade, incluindo visões apocalípticas, manuais de disciplinas, hinários, comentários bíblicos, calendários e outros escritos.

Os pergaminhos não-bíblicos mais famosos são o Manual de Disciplina, o Comentário de Habacuque, os Salmos de Ação de Graças, o antigo ritual da Ordem da Batalha, o Gênesis Apócrifo (uma história mais completa do Genesis, incluindo uma nova história de Abraão no Egito), um "Descrição da Nova Jerusalém " e um Comentário sobre Jó.

Até agora os estudiosos em geral concordam que os pergaminhos nos ensinam, pela primeira vez: (1) a vida de João Batista, (2) a data exata da Páscoa; (3) a natureza e origem da organização da Igreja Primitiva, (4) o significado da língua estranha e os ensinamentos de João; (5) a origem do gnosticismo; (6) a natureza da Igreja como uma continuação de uma antiga tradição apocalíptica e messiânica, ignorada pelo judaísmo rabínico; (7) a natureza da terminologia estranha do Novo Testamento como continuação de uma tradição antiga; (8) da comunidade cristã, como seguidores do padrão das primeiras comunidades apocalíptica no deserto, e (9) o antigo cenáriodos hebraico-apocalíptico dos escritos de Paulo.

Portanto, oferecem uma vasta e inédita documentação sobre o período que foram escritos, revelando aspectos desconhecidos até então do contexto político e religioso no período do nascimento do Cristianismo e do Judaismo rabínico.

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Um relatório parcial sobre essa descoberta, do arqueólogo inglês G. Lankester Harding, diretor do Departamento de Antiguidades da Jordânia, diz o seguinte:

"A mais espantosa revelação dos documentos essênios até agora publicada é a de que os essênios possuíam, muitos anos antes de Cristo, práticas e

terminologias que sempre foram consideradas exclusivas dos cristãos. Os essênios tinham a prática do batismo, e compartilhavam um repasto litúrgico de

pão e vinho presidido por um sacerdote. Acreditavam na redenção e na imortalidade da alma. Seu líder principal era uma figura misteriosa chamada o

Instrutor da Retidão, um profeta-sacerdote messiânico abençoado com a revelação divina, perseguido e provavelmente martirizado."

"Muitas frases, símbolos e preceitos semelhantes aos da literatura essênia são usados no Novo Testamento, particularmente no Evangelho de João e nas

Epístolas de Paulo. O uso do batismo por João Batista levou alguns eruditos a acreditar que ele era essênio ou fortemente influenciado por essa seita.

"Os Pergaminhos deram também novo ímpeto à teoria de que Jesus pode ter sido um estudante da filosofia essênia."

Todos esses documentos foram preservados por quase dois mil anos, e sua grande importância teológica reside no fato de que a Bíblia data de uma tradução grega, feita pelo menos mil anos depois dos pergaminhos de Qumran terem sido escritos. Hoje, os Manuscritos do Mar Morto encontram-se no Museu do Livro em Jerusalém (foto ao lado). AUTORIA DOS MANUSCRITOS

A autoria dos documentos é até hoje desconhecida.

Com base em referências cruzadas com outros documentos históricos, ela é atribuída aos essênios, uma seita judaica que viveu na região da descoberta e guarda semelhanças com as práticas identificadas nos textos encontradas. O termo "essênio", no entanto, não é encontrado nenhuma vez em nenhum dos manuscritos.

O que se sabe é que a comunidade de Qumram era formada provavelmente por homens, que viviam voluntariamente no deserto, em uma rotina de rigorosos hábitos, opunham-se à religiosidade sacerdotal e esperavam a vinda de um messias.

A organização parece ter nascido no Egito, nos anos que precedem o Faraó Akhenathon, o grande fundador da primeira religião monoteísta, sendo difundida em diferentes partes do mundo, inclusive em Qumran.

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Para medir o tempo, os Essênios utilizavam um calendário diferenciado, baseado no Sol. Ao contrário do utilizado na época, que consistia de 354 dias, seu calendário continha 364 dias, que eram divididos em 52 semanas. Isto permitia que cada estação do ano fosse dividida em 13 semanas e mais um dia, unindo cada uma delas.

Ainda, o primeiro dia do ano e de cada estação sempre caía no mesmo dia da semana, quarta-feira, já que de acordo com Gênesis, foi no quarto dia que a lua e o sol foram criados.

Segundo os Manuais de Disciplina dos Essênios, encontrados dos Manuscritos do Mar Morto, eles eram realmente originários do Egito.

Durante a dominação do Império Selêucida, em 170 a.C., formaram um pequeno grupo de judeus, que

abandonou as cidades e rumou para o deserto, passando a viver às margens do Mar Morto, e cujas

colônias estendiam-se até o vale do Nilo.

No meio da corrupção que imperava, os essênios conservavam a tradição dos profetas e da Pura Doutrina. Eram pacíficos e de boa fé, dedicavam-se ao estudo espiritualista, à contemplação e à caridade, longe do materialismo avassalador.

Procuravam auxiliar o próximo, sem imolações no altar e sem cultuar imagens. Eram livres, trabalhavam em comunidade, e não tinham criados, pois acreditavam que todo homem e mulher eram seres livres.

Era uma seita aberta aos necessitados e desamparados, mantendo inúmeras atividades onde a acolhida, o tratamento de doentes e a instrução dos jovens eram a face externa de seus objetivos.

O silêncio era prezado por eles. Sabiam guardá-lo, evitando discussões em público e assuntos sobre religião. A voz, para um essênio, possuía grande poder e não devia ser desperdiçada. Através dela, com diferentes entonações, eram capazes de curar um doente.

Cultivavam hábitos saudáveis, zelando pela alimentação, pelo físico e pela higiene pessoal.

O EVANGELHO SEGUNDO TOMÉ

O Evangelho de Tomé, preservado em um manuscrito copta em Nag Hammadi, é uma lista de 114 ditos atribuídos a Jesus.

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Alguns são semelhantes aos dos evangelhos canônicos de Mateus, Marcos, Lucas e João, mas outros eram desconhecidos até a descoberta desse manuscrito em 1945.

Tomé não explora, como os demais, a forma narrativa, apenas cita - de forma não estruturada - as frases, os ditos ou diálogos breves de Jesus a seus discípulos, contados a Tomé o Gêmeo, sem incluí-los em qualquer narrativa, nem apresentá-los em contexto filosófico ou retórico.

Duas características marcantes do Evangelho de Tomé, que o diferenciam dos canônicos, são a recomendação de Jesus para que ninguém faça aquilo que não deseja ou não gosta e a ênfase não na fé, mas na descoberta de si mesmo.

Uma boa discussão sobre esse evangelho, em português, encontra-se no livro "Além de Toda Crença: O Evangelho Desconhecido de Tomé", da historiadora Elaine Pagels, que defende a tese de que o Evangelho de João teria sido escrito para refutar o de Tomé.

Obtém-se nesse livro proveitosa aula sobre o início do Cristianismo e entende-se melhor a escolha dos evangelhos canônicos e a posterior rejeição aos demais, tratados como "heréticos".

Segundo a tradição, São Tomé teria partido para as Índias acompanhado de João Crisóstomo. O escritor Panteno, segundo Eusébio, também esteve na Índia e conversou com Crisóstomo, mas nada comentou sobre Tomé.

_______________________________Sugestão de links:

Wikipedia - Manuscritos do Mar Morto.QUMRAN Galeria Bíblica Manuscritos do Mar Morto Mistérios Antigos

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OS MANUSCRITOS DO MAR MORTO E O LIVRO DE MÓRMON

Texto traduzido e adaptado de Changing World of Mormonism

O apóstolo Orson Pratt declarou que:

“Os manuscritos mais antigos de qualquer um dos livros do Antigo Testamento, nos dias de hoje, datam do século XII da era cristã." Journal of Discourses, vol.7,

January 2, 1859. – veja-o integralmente AQUI.

Embora esta afirmação pode ter sido verdadeira na época de Pratt, a descoberta dos Manuscritos do Mar Morto mudou esta idéia. Temos, agora, alguns manuscritos que datam de antes da época de Cristo.

Na Enciclopédia Compton, lemos:

"Os manuscritos bíblicos, conhecidos como os Manuscritos do Mar Morto, tem sido chamados pelos acadêmicos de ‘a maior descoberta de manuscrito dos

tempos modernos.’ Eles incluem livros do Antigo Testamento e textos não-bíblicos que datam de 100 aC a 68 AD "(vol. 6, p.41a).

Em seu livro, The Ancient Library of Qumran, Frank Moore Cross Jr. descreve os pergaminhos:

“Um esboço do conteúdo da Caverna IV pode ser útil .... No final de quatro anos de trabalho, 382 manuscritos foram

identificados nesta caverna .... Dos manuscritos identificados até o momento, cerca de cem, pouco mais de um quarto do total, são bíblicos. Todos os livros do cânon hebraico ainda existem, com exceção do Livro de Ester ....

“Três documentos muito antigos foram encontrados na Caverna IV .... Eles incluem uma antiga cópia de Samuel,

preservada em apenas um punhado de fragmentos; uma seção gasta e em pedaços de Jeremias ... e uma cópia do Êxodo ... das quais apenas uma coluna e alguns poucos pedaços

existem ....

“O pergaminho arcaico de Samuel pode datar por volta do final de 200 aC. A data do último quarto do século III é mais acurada.

Jeremias é provavelmente de uma época um pouco mais adiante. O Êxodo arcaico ... parece ser mais velho do que os fragmentos de Samuel e,

provavelmente, é mais antigo.

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“Uma cópia de Daniel está inscrita no pergaminho no final do século II aC ...

“Os pergaminhos bíblicos de Qumran abrangem a data de cerca de três séculos. Alguns espécimes arcaico nos levam

de volta para o final do século III, como vimos. A grande maioria, porém, data do século I aC e do primeiro século

cristão ... (The Ancient Library of Qumran, by Frank Moore Cross, Jr., New York, 1961, pp.39, 40, 42, 43).

Os estudiosos mórmons aceitaram a autenticidade dos Pergaminhos do Mar Morto, embora não tenham percebido os graves problemas que esses manuscritos criaram para o Livro de Mórmon e para a Versão Inspirada de Joseph Smith da Bíblia.

Werner Keller resumiu a situação relativa ao pergaminho de Isaías:

“O texto de Isaías da caverna em Qumran tinha realmente sido copiado cerca de 100 aC, como o Professor Albright foi o primeiro a reconhecer ... com a descoberta

dos Pergaminho do Mar Morto de Isaías, temos um texto hebraico da Bíblia ....

E o fato extraordinário e maravilhoso é que o antigo pergaminho de Isaías, assim como o livro do profeta em qualquer Bíblia impressa, seja em hebraico, grego, latim, alemão ou qualquer outra língua ... concorda com o nosso texto de hoje.”

"Dezessete folhas de couro costuradas em um comprimento de quase sete metros –

deve ser assim que o rolo do profeta parecia e que foi entregue a Jesus na sinagoga de Nazaré, para que ele pudesse lê-lo para a congregação. "E foi-lhe entregue o livro do

profeta Isaías." (Lc 4:16,17)

O professor André Parrot escreveu:

"Todo o movimento das mãos de Jesus foi trazido mais perto de nós, pois ainda podemos ver no verso do couro as marcas

dos dedos das mãos dos leitores" (The Bible as History, by Werner Keller, William Neil, trans., New York, 1957, pp.423-24).

Dr. Gleason L. Archer salienta sobre os pergaminhos de Isaías:

"Mesmo que as duas cópias de Isaías descobertas na Caverna 1 de Qumran, perto do Mar Morto em 1947, eram de mil anos antes do que o manuscrito mais antigo conhecido e datado previamente (980 AD), eles mostraram-se idênticos, palavra por palavra, com a Bíblia hebraica padrão em mais de 95 por cento do

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texto. Os 5 por cento de variação consistiram, principalmente, em lapsos óbvios da pena e em variações de ortografia "(A Survey of Old Testament Introduction, p.19).

Os estudiosos da Bíblia têm motivos para alegrarem-se com a descoberta dos manuscritos de Isaías, que remonta aos tempos antigos. Os estudiosos Mórmon, entretanto, são confrontados com um dilema, pois embora estes manuscritos apoiam o texto da Bíblia, eles podem ser uma das mais fortes evidências contra a " revisão inspirada" da Bíblia feita por Joseph Smith e sua “tradução" do texto de Isaías encontrada no Livro de Mórmon.

Durante anos, os eruditos mórmons têm trabalhado para provar que o texto de Isaías no Livro de Mórmon é realmente uma tradução de um exemplar antigo de Isaías e, portanto, superior à tradução encontrada na Bíblia. Eles têm tentado mostrar um paralelo entre o texto de Isaías do Livro de Mórmon e alguns manuscritos antigos. No entanto, esses paralelos são de pouco valor, porque os manuscritos eram conhecidos e estudados na época de Joseph Smith (Ver Mormon Scriptures and the Bible, pp.9-10).

Se os eruditos mórmons pudessem encontrar semelhanças entre o texto do Livro de Mórmon e documentos que não eram conhecidos na época de Joseph Smith, este tipo de prova seria impressionante. Os Manuscritos do Mar Morto, por exemplo, deveriam fornecer uma grande quantidade de provas para o Livro de Mórmon se este fosse realmente um registro antigo.

O pergaminho de Isaías encontrado em Qumran na Caverna 1 deve ter causado uma grande alegria entre os estudiosos mórmons, pois aqui está um manuscrito de Isaías, que é centenas de anos mais velho do que qualquer manuscrito conhecido previamente. Certamente, se o Livro de Mórmon fosse verdadedeiro, este manuscrito estaria repleto de evidências que apoiariam o texto de Isaías no Livro de Mórmon e, assim, provariam que Joseph Smith foi um profeta de Deus.

Entretanto, ao invés de provar a veracidade do Livro de Mórmon, os pergaminhos acabaram sendo uma grande decepção para os estudiosos mórmons.

Lewis M. Rogers, que foi professor assistente na Universidade Brigham Young, escreveu um artigo intitulado "The Significance of the Scrolls and a Word of Caution [O significado dos Manuscritos e uma palavra de cautela].” Neste artigo, ele declarou:

“Os Santos dos Últimos Dias têm motivo para se alegrarem com os outros cristãos e judeus, pois uma nova luz e uma nova perspectiva foram trazidas pelos

Manuscritos do Mar Morto. Mas ocasionalmente eles precisam ser lembrados de que suas esperanças e emoções tornam-nos vulneráveis. É bem possível que as

afirmações do Livro de Mórmon e da teologia SUD não avançarão muito como consequência desta descoberta” (Progress in Archaeology, Brigham Young

University, 1963, pp.46-47).

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Wayne Ham fez mestrado no Departamento de Línguas Bíblicas na Universidade Brigham Young, em 1961. Sua dissertação comparou o pergaminho de Isaías com o Livro de Mórmon, e é intitulada "A Textual Comparison of the Isaiah Passages in the Book of Mormon with the Same Passages in the St. Mark's Isaiah Scroll of the Dead Sea Community". Depois de fazer este estudo, o Sr. Ham foi forçado a concluir que o livro de Isaías não apóia o texto do Livro de Mórmon. Em um artigo publicado na Courage, em 1970, ele declarou:

“Os Santos dos Últimos Dias estavam esperançosos de que estes pergaminhos de Isaías trariam alguma evidência de apoio ao Livro de Mórmon. Os Manuscritos do Mar Morto de Isaías, que datam provavelmente do século II aC, são mil anos mais

antigos que texto que era considerado o mais antigo do Antigo Testamento.

“Após uma investigação profunda do assunto ... este autor não encontrou exemplos notáveis de apoio para as afirmações do livro de Mórmon.” (Courage,

vol. 1, no. 1 de Setembro de 1970, p.20).

O apologista mórmon Dr. Sidney B. Sperry, da Brigham Young University, teve que admitir que os Manuscritos do Mar Morto não ajudam o caso do Livro de Mórmon:

“Após a leitura dos Manuscritos com muito cuidado, eu cheguei à conclusão de que não há uma única linha neles que sugira que seus escritores sabiam o

Evangelho como é entendido pelos Santos dos Últimos Dias. Na verdade, existem algumas passagens que parecem provar o contrário....

“Devemos estar especialmente interessados na luz que o livro de Isaías lança sobre o problema do texto de Isaías no Livro de Mórmon. Tenho comparado, com

certo detalhe, o texto do pergaminho com seus paralelos no texto do Livro de Mórmon. Esta tarefa tediosa revelou que o livro raramente concorda com as

divergências do texto do Livro de Mórmon com o texto massorético convencional de Isaías e, consequentemente, a Versão Autorizada ....

“O pergaminho de Isaías é de importância relativamente pequena para Santos dos Últimos Dias para mostrar a antiguidade do texto de Isaías no Livro de Mórmon ....

Os Manuscritos, sem dúvida, contribuem muito para a história do judaísmo e do cristianismo, e especialistas do Antigo e Novo Testamentos são apropriadamente

muito preocupados com eles ....

“Mas, além do seu valor técnico para os estudiosos, creio que a importância dos Manuscritos em um sentido religioso tem sido muito exagerado por alguns estudiosos. A sua importância prática para os Santos dos Últimos Dias é

relativamente pequena” (Progress in Archaeology, pp.52-54).

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OS MANUSCRITOS DO MAR MORTO E O MORMONISMO

Nos últimos 58 anos, desde a descoberta dos "manuscritos do Mar Morto", em 1947, nas montanhas de Qunram, apologistas mórmons tem feito um grande alarde ao afirmarem que tais escritos confirmariam a fé mórmom. [1-9]

O Professor Hugh Nibley da BYU, escreveu vários artigos, buscando paralelismos entre os ensinos dos Essênios e algumas crenças mórmons.

Será que realmente os Essênios eram cristãos? Ou mais inda, seriam eles os mórmons do passado? Teriam eles experimentado todos os rituais mórmons?

A seguir, veremos argumentos a favor, usados pelos estudiosos mórmons, e os argumentos contra.

ARGUMENTOS A FAVOR:

1 - Hierarquia de 12 na comunidade.

Embora a idéia de doze esteja muito ligada à Cristo, ela remonta ao Velho Testamento, como os 12 patriarcas e as12 tribos de Israel. Os Essênios eram observantes da lei, e como Judeus, absorveram idéias ligadas à esta religião.

2 - Batismos realizados em Qunran.

Nessa comunidade, o batismo não tinha as características Cristãs, mas era, na realidade, parte de um ritual regular, e diário, cujo propósito era uma purificação cerimonial.

Assim, batismos eram realizados antes de Jesus, mas certamente não com as caracteristicas Cristãs, conforme instituido por Cristo. Mesmo o batismo realizado por João Batista era diferente - confira em Mateus 28:19; Atos 18:24,25; Atos 19:3-6.

3 - Ensinos cristãos

As religiões da época pregavam:- os perigos da riqueza e os benefícios da pobreza; - a hospitalidade e amor entre os irmãos;- eram exclusivistas;- acreditavam em um cenário professor\aluno, com um mestre e seus seguidores.

Várias religiões, cristãs ou não-cristãs tem estes mesmos valores.

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Podemos afirmar que Essênios eram Cristãos devido às suas crenças similares ao cristianismo?

Os paralelismos a favor provam algo?

ARGUMENTOS CONTRÁRIOS

1 - Os Essênios eram estritamente legalistas, não acendiam fogo, e recusavam-se até mesmo a evacuar no Sábado. Preparavam-se antes, mas caso isso fosse nescessário, não podiam caminhar mais de 2000 cúbitos.

O "DOCUMENTO DE ZODIKE" determinava:

"Ninguém deve comer coisa alguma que aconteça estar no campo, nem deve beber de nada que não estivesse previamente no acampamento"

"Ninguém deve vestir roupas empoeiradas, ou estocadas , a não ser que primeiro sejam lavadas e esfregadas com resinas de goma de incenso de árvores; ninguém

deve bate-las com o punho"

"Nínguém deve retirar nada da casa, ou trazer nada para dentro"

"Ninguém deve apanhar uma pedra ou limpar poeira em uma residência."

Em "O DOCUMENTO DE DAMASCO", os Essênios são proibidos de resgatarem até mesmo uma novilha recém-nascida no valado, no dia do Sábado.

Em "O MANUAL DE DISCIPLINA", era determinado qual o tipo de pessoas que eles poderiam se associar. Como exemplo, mulheres em período menstrual ou após o parto eram consideradas impuras.

Compare estas práticas e ensinos com o dos cristãos em Marcos 2:23-27; Mateus 12:5-8,11-12; Mateus 15:1-2,11; Mateus 11:19; Lucas 8:1-3.

2 - Eram contra práticas adotadas no templo de Jerusalém, e não viam o templo como característica central de sua religião, como os Judeus da época.

3 - Não acreditavam na ressureição do corpo, embora cressem na imortalidade da alma.

Frederic C. Howe falou:

"Os essênios não podiam harmonizar a idéia de um espírito puro, sendo reunido com um corpo que participou de uma substância material, e por conseguinte mau".

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Cliford A. Wilson falou que eles criam pelo o menos na vinda de 2 messias. O perito no Velho Testamento Merril F. Unger explicou:

"Há uma diferença radical no conceito messiânico como se encontra na bíblia, e o corrente entre os membros da comunidade de Qunram".

O MANUAL DE DESCIPLINA exigia um juramento de ligação para voltar a lei de Moisés de acordo com tudo que ele ordenou. Confira Mateus 5:33-37.

4 - Evitavam o contato com as mulheres, e tendiam a considerá-las tabus. Os rabinos da época, inclusive, recomendavam que fosse evitado qualquer contato com mulheres em locais públicos! Atitude muito diferente daquela considerada cristã (compare com João 4:1-30, Lucas 8:1-3)

HIÓLIPO, líder da igreja no século II escreveu: "Para que as mulheres dos apóstolos não duvidassem dos anjos, Cristo apareceu

para elas, para que fossem os apóstolos de Cristo...Cristo apareceu para os apóstolos (homens) e disse: -Sou eu quem apareceu para estas mulheres e sou

eu quem quis envia-las a vós"

5 - Os essênios ensinavam a odiar os inimigos

- compare com os cristãos (Mateus 5:43-45)

O arqueólogo Dr. J. Price, Ph.D. no Oriente médio, exibiu em seu livro "Secrets of The Dead Sea Scrolls", uma tabela mostrando várias diferenças interessantes entre os essênios e os cristãos.

Os mórmons não são os únicos a especular o assunto. Devido ao grande conteúdo gnóstico contindo nos manuscritos, esotéricos como Edouard Schuré que escreveu "Os Grandes Iniciados - Jesus", e Edgar Cayce que inspirou o livro "Edgar Cayce on the Dead Sea Scrools", apontam conexões entre os essênios e o esoterismo, budismo, induismo e espiritismo.

Portanto, as conexões e semelhanças entre os essênios e os cristãos não constituem prova de que os pergaminhos retratassem, na verdade, um grupo que teria os mesmos princípios dos mórmons atuais.

Na realidade, estes rolos contrariam as afirmações de Joseph Smith e outras autoridades gerais da igreja mórmon, que afirmam que a Bíblia foi adulterada (I Néfi 13:25-28).

Quando estas cópias são comparadas com as utilizadas, percebe-se que contém essencialmente os mesmos escritos, mesmo estando separados por mais de mil anos.

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Ainda, as modificações feitas por Smith nos textos de Isaías, que estão no LdM, não são encontradas nos pergaminhos do Mar Morto.Veja mais detalhes AQUI.

___________________________________ Notas:1 - Andrew C. Skinner, "The Dead Sea Scrolls and Latter-day Truth," Ensign, February 2006, 44-49. Andrew Skinner explores the world of the Dead Sea Scrolls and how they are similar, as well as different, to those things taught by the Latter-day Saints.2 - "," Latter-day Saint Perspectives on the Dead Sea Scrolls, Eds., Donald W. Parry and Dana M. Pike (Provo, UT: FARMS) This free electronic version of the FARMS book is now available on-line. It includes several articles by LDS scholars who discuss the details and significance of the Dead Sea Scrolls.3 - "The Dead Sea Scrolls," (Provo, Utah: Brigham Young University, 2002) A Web site dedicated to an understanding of the Dead Sea Scrolls.4 - FARMS, "LDS Perspectives of the Dead Sea Scrolls," (Provo, UT: FARMS) MP3: 48 minutes.5 - Hugh W. Nibley, "Apocryphal Writings and Teachings of the Dead Sea Scrolls," Temple and Cosmos (Salt Lake City: Deseret Book Company, 1992), 264-335 Nibley reviews some of the issues related to the discovery of the Dead Sea Scrolls and the Nag Hammadi library, noting that, like the Book of Mormon, they were buried with the expectation of being received by a later generation. He points to a number of their teachings, including "cosmism," which in the literal interpretation of scripture runs counter to the allegorical tendencies of later Christianity. He lectures on the importance of matter and space and how they relate to the larger picture of "worlds without number." He explains that although creations follow patterns, they are characterized not by monotonous sameness but by refreshing individuality. Nibley also discusses the ordinances that were revealed to the early Christians to guide them back to the presence of the Father.6 - Hugh Nibley, "The Expanding Gospel," BYU Studies (City Unknown: BYU, 1966), 1-21 Dr. Nibley demonstrates that traces of authentic gopsel doctrines can be found in the previously forgotten writings of the ancients.7 - Daniel C. Peterson and William J. Hamblin, "The Great Religious Books of Early Judaism," (City Unknown: MeridianMagazine.com)8 - Gerald Smith, Comparing Covenants in Dead Sea Scrolls and Book of Mormon. 9 - Gerald Smith, Comparison Between Nephi's Psalm and Community Rule. Brief comparison between Nephi's Psalm (2 Ne 4), and a Psalm found in the Community Rule scroll of the Dead Sea Scrolls (Geza Vermes translation).

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Após uma espera de 54 anos, manuscritos do mar Morto são editados na íntegra

Notícia do jornal Le Monde (retirado do site UOL) Christiane Galus

A editora Oxford University Press acaba de anunciar nos Estados Unidos a publicação dos últimos volumes dos manuscritos do mar Morto. O conjunto dos 39 volumes, apresentado sob o título geral de "Discoveries in the Judaean Desert" (Descobertas no deserto de Judá), estará completo em janeiro, com o lançamento do último volume, o qual inclui uma introdução geral e um índice remissivo.

Esse anúncio, feito por Emmanuel Tov, professor da Universidade Hebraica de Jerusalém e responsável pela publicação, pode parecer algo sem importância. No entanto, ele encerra uma longa saga arqueológica, iniciada em 1955, com a publicação do primeiro volume desses manuscritos, a maior parte dos quais foi escrita em hebraico entre 250 a.C. e 68 d.C. As peripécias e as delongas que prejudicaram esses trabalhos de leitura e de transcrição durante 46 anos foram qualificadas por Geza Vermés, professor da Universidade de Oxford, de "escândalo acadêmico do século 20".

"Um momento de máxima importância"

"Para os filólogos e os historiadores que trabalham nesses manuscritos, trata-se da conclusão de uma empreitada de marca maior e de um momento de máxima importância. Com essa coleção agora disponível, chegou finalmente o tempo das sínteses", sublinha Francis Schmidt, diretor de estudos na Escola Prática de Estudos Avançados e especialista na história do judaísmo nas épocas helenística e romana.

"De agora em diante, estamos ingressando num novo período de exploração e de comparação dos documentos, uma tarefa que vai exigir sem dúvida várias décadas de trabalho", precisa o especialista Marc Philonenko, membro do Institut de France e decano honorário da faculdade de teologia protestante de Estrasburgo. Com efeito, ele publicou na editora Gallimard (na coleção La Pléiade), em colaboração com André Dupont-Sommer, a primeira tradução em francês de uma parte dos manuscritos do mar Morto, com o título de "La Bible - écrits intertestamentaires" (A Bíblia - escritos sobre o Antigo e o Novo Testamento).

Foi em 1947 que o "caso" dos manuscritos do mar Morto começou, perto da localidade de Qumrân, em terra jordaniana, no deserto superaquecido de Judá. Quando estava procurando uma ovelha perdida, um pastor da tribo beduína dos Te'amré, Mohammed Ahmed el-Hamed, conhecido como "o Lobo", descobriu por acaso, dentro de uma caverna situada nas montanhas que dominam o mar Morto,

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uma série de jarras afiladas, cada uma com cerca de 60 centímetros de cumprimento.

Algumas entre elas ainda tinham sua tampa intacta, em forma de tigela. Numa delas, ele encontrou pacotes embrulhados dentro de panos que continham três rolos de pergaminho, que a sua tribo vendeu posteriormente a um comerciante. Consultados sobre o seu valor, vários especialistas internacionais confirmaram a ancianidade desses documentos, que remontavam a pelo menos um século a.C. Eles constituem, portanto, uma incrível descoberta: a de textos da Bíblia mil anos mais antigos que os documentos que eram conhecidos até então. Após a realização de outras pesquisas, foram encontrados na gruta n° 1 - existem 11 grutas no total, naquele local - um conjunto de sete grandes rolos, que estão entre os mais bem conservados de todos os manuscritos do mar Morto. Em particular, o rolo de Isaías, que mede 7,34 metros de cumprimento. Mais tarde, de 1952 a 1956, por ocasião de escavações sistemáticas realizadas em Qumrân pela Escola Bíblica de Jerusalém, a descoberta de dez outras grutas permitiu trazer à luz do dia cinco outros rolos praticamente intactos - entre os quais o rolo do Templo, de 8,75 metros de cumprimento -, além de incontáveis fragmentos de cerca de 700 textos. A gruta n° 3, por sua vez, continha um misterioso rolo de cobre quebrado em dois, cujo significado ainda não foi esclarecido. Os sete rolos da gruta n° 1 foram publicados dentro de um prazo razoável, alguns anos depois de terem sido estudados por pesquisadores franceses, ingleses e americanos. No decorrer dos anos, os textos fragmentários das outras grutas também foram divulgados, com exceção dos da gruta n° 4, descoberta em 1952 pelo Padre Roland de Vaux, diretor da Escola Bíblica e Arqueológica francesa. Foi por intermédio daquela gruta que veio o escândalo.

Trabalho de uma dificuldade extraordinária

O estado catastrófico desses manuscritos explica em grande parte a lentidão dos trabalhos de decodificação e a demora até a sua publicação. Com efeito, eles são constituídos por 15 mil fragmentos, e até mais, dos quais muitos têm o tamanho de um selo postal. A decodificação desse gigantesco quebra-cabeça representou um trabalho de uma dificuldade extraordinária, dirigido inicialmente por uma pequena equipe internacional de jovens pesquisadores reunida sob auspícios jordanianos.

No começo, "a equipe não incluía nenhum pesquisador judeu; o seu recrutamento foi confiado ao Padre Roland de Vaux. O membro alemão do grupo, Claus Hunzinger, logo se retirou, deixando uma equipe de sete jovens pesquisadores, formada, na maioria, por religiosos católicos que se dedicaram à reconstituição do quebra-cabeça", precisa Hershel Shanks, um especialista americano em arqueologia bíblica, no livro "L'Aventure des manuscrits de la mer Morte" (A Aventura dos manuscritos do mar Morto, publicado pela editora do Seuil).

Perto do final dos anos 50, após um imenso trabalho, a pequena equipe tinha terminado grande parte dos trabalhos de reconstituição dos fragmentos. Os

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integrantes distribuíram então entre eles os quinhentos textos recenseados com objetivo de organizar a sua publicação. "Ao que tudo indica, eles assumiram uma tarefa que estava muito acima de suas capacidades", explica Hershel Shanks. Durante as três décadas seguintes, essa equipe conseguiu publicar menos de um centésimo dos quinhentos textos. Apesar dessa demora, os pesquisadores da equipe, determinados em preservar os seus direitos de publicação, proibiram o acesso aos seus documentos a outros cientistas. Nesse intervalo, com o advento da guerra de Seis Dias, em 1967, vencida por Israel, o direito de controle dos manuscritos havia passado para a autoridade israelense. As restrições da equipe da Escola Bíblica também acabaram esgotando a paciência dos orientalistas estrangeiros que não conseguiam aceder a esse tesouro. Alguns rumores afirmando que o Vaticano estaria criando obstáculos em relação às pesquisas para evitar a publicação de revelações embaraçosas no que diz respeito à origem do cristianismo começaram a propagar-se.

"Não acredito nem um pouco na veracidade desses boatos!", exclama Francis Schmidt. "Entretanto, é verdade que entre 1950 e 1955, a descoberta dos manuscritos provocou um verdadeiro terremoto, uma vez que certos teólogos tradicionalistas viram nesses textos um perigo para o dogma. Naquela época, nada garante que os exegetas tenham beneficiado de toda a liberdade para expressar seus pontos de vista."

A revista especializada americana "Biblical Archaelogy Review", dirigida por Hershel Shanks, iniciou então uma campanha virulenta para "libertar" os manuscritos do mar Morto e torná-los acessíveis a todos. John Strugnell, um cientista americano de Harvard que foi nomeado responsável pelas pesquisas sobre os manuscritos em 1987, ampliou então a equipe, contratando pela primeira vez pesquisadores judeus e israelenses. Na mesma época, o Ofício das Antiguidades de Israel começou a reivindicar os seus direitos em relação à publicação dos manuscritos.

No final de 1990, John Strugnell deu uma entrevista ao jornal hebreu "Haaretz", na qual ele se declarou profundamente "antijudaico". Em decorrência do escândalo provocado por essa afirmação, ele foi despedido e substituído por Emmanuel Tov, um professor da Universidade Hebraica. "Quando Emmanuel Tov substituiu John Strugnell, essa mudança resultou indiscutivelmente numa aceleração dos trabalhos", precisa Marc Philonenko. Apesar de algumas peripécias, Emmanuel Tov, assessorado por uma centena de pesquisadores, terminou no espaço de uma década a publicação dos manuscritos do mar Morto. Os últimos entre os 28 volumes dedicados a essa obra acabam de ser editados "após 54 anos de excitação, de espera e de tribulações".

"Discoveries in the Judaean Desert", Oxford University (http://www.oup.co.uk) está disponível na livraria La Procure em Paris ao preço de cerca de 28.000 francos (cerca de R$ 8.750). Cada volume comporta a edição do texto em hebraico ou em aramaico, mais a tradução em francês ou em inglês e ainda as fotos dos rolos. Vale notar também o lançamento do livro "Les Manuscrits de la mer Morte", de

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Michael Wise, Martin Abegg e Edward Cook, publicado pela editora Plon, na sua edição traduzida do inglês para o francês. Preço: 190,22 francos (R$ 59,44).

Tradução: Jean-Yves de Neufville