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  • ACOLHENDO A ALFABETIZAO NOS PASES DE LNGUA PORTUGUESA REVISTA ELETRNICA ISSN: 1980-7686 Equipe: Grupo Acolhendo Alunos em Situao de Excluso Social da Faculdade de Educao da Universidade de So Paulo e Ps-

    Graduao em Educao de Jovens e Adultos da Faculdade de Educao da Universidade Eduardo Mondlane. (Via Atlntica: Perspectivas Fraternas na Educao de Jovens e Adultos entre Brasil e Moambique). PROCESSO 491342/2005-5 Ed. 472005 Cham.

    1/Chamada. APOIO FINANCEIRO: CNPq e UNESCO

    Revista Eletrnica Acolhendo a Alfabetizao nos Pases de Lngua Portuguesa Stio Oficial: www.acoalfaplp.net 127

    A magia do feitio: apropriaes africanas no Brasil Colnia1

    The witchcraft magic: African appropriations in Brazil Colony

    Glcia CALDAS

    RESUMO O presente estudo visa examinar as concepes de entendimento da

    religiosidade africana nas colnias atlnticas portuguesas. O objeto central a implicao da transposio do discurso europeu sobre feitiaria para as prticas religiosas africanas. Visitar ritos e simbolismos religiosos dos povos da dispora africana imprescindvel para o entendimento de agregaes, apropriaes e recriaes de representaes culturais dos grupos de africanos escravizados que foram transmigrados para o Brasil. Examinaremos as colnias portuguesas africanas da regio dos Bacongos, nome pelo qual a Antropologia e a Histria tm identificado os povos habitantes das regies dos atuais Congo e Angola. Alguns estudos importantes perceberam bem a relao entre a feitiaria e as tenses sociais. necessrio compreendermos o significado da feitiaria para uma grande parte da frica, em comparao com a perspectiva ocidental. O africano escravizado buscou e utilizou diversas formas de resistncias, tentando minimizar a adversidade das relaes escravas. As prticas da magia so inseridas em uma das formas de resistncia escrava contra o sistema escravista, como instrumento legitimador da represso e violncia.

    Palavras-chave: frica, magia, religiosidade, resistncia escrava. ABSTRACT

    The present study analyzes the conceptions of agreement of the African religiosity in the Portuguese Atlantic colonies. The central object is the implication of the transposition of the European speech about "witchcraft" for the Africans religious practices. To visit ceremonies and

    1 Este artigo foi apresentado no II Simpsio Internacional sobre Religies, Religiosidade e Culturas,

    Dourados/MS- Brasil, 2006.

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    religious symbolisms of the African Diaspora peoples is essential for theagreement of "aggregations", "appropriations" and "new creations" of cultural representations of the groups of enslaved Africans who had been transmigrated to Brazil. We will examine the African Portuguese colonies of the region of the Bacongos, name that the Anthropology and History have identified to the peoples inhabitants of the Congo and Angola current regions. Some important studies had perceived the good relation between witchcraft and social tensions. It is necessary to understand the meaning of "witchcraft" for a great part of Africa, in comparison to the occidental perspective. The enslaved African searched and used diverse resistance forms, trying to minimize the enslaved relations adversity. The witchcraft practices are inserted in one of the forms of enslaved resistance against the slavish system, as legislator instrument of the repression and violence.

    Index Terms: Africa, enslaved resistance, magic, religiosity.

    Introduo

    Um negro angola forro Domingos Umbata2, em Salvador, no ano de 1646, foi denunciado e preso pelo Santo Ofcio por ajudar duas pretas a melhorar seus relacionamentos com suas donas. As senhoras eram perversas e imputavam s pretas muitos castigos. Para proteger as

    escravas da fria de suas senhoras, Domingos fazia com que se banhassem em uma bacia de gua que continha folhas esmagadas, um guizo e um dente de jaguar, que deveria ter trazido do continente africano ou comprado de algum outro africano recm chegado. Presumivelmente, o banho as protegia das agruras do cativeiro, do poder do feiticeiro branco que poderia usar de suas foras para trazer algum infortnio s pretas. Os africanos escravizados utilizavam ritos e cones da religio de matriz africana como forma de se proteger nas relaes escravas, muitas vezes, como forma preventiva aos ataques dos seus senhores.

    2 Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Lisboa/Portugal ( ANTT), Inquisio de Lisboa, Cadernos do

    Promotor, n. 29, livro 228, p. 4-4v.

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    Os africanos escravizados e forros no Brasil Colnia, numa sociedade senhorial, elitizada, em uma escala hierarquizada, estavam na base da pirmide da hierarquia e os senhores brancos no pice. Impostos degradao fsica, moral e psicolgica pelo sistema escravista, sua difcil condio de sobrevivncia era de, algum modo, compensada com prticas mgicas; freqentemente, aqueles que eram especialistas em manipulaes

    com foras sobrenaturais, eram chamados de feiticeiros. Detentores de saberes mgicos, a fama pblica fazia-os requisitados tambm pelos senhores, o que geralmente elevava seu status junto sua prpria comunidade e possibilitava, atravs das prticas mgico-religiosas, a obteno de ganhos materiais, no s em dinheiro, mas tambm em gneros. Para os senhores, era um grande inconveniente ter seus escravos identificados como feiticeiros pela Inquisio, uma vez que estes, quando presos, dificilmente retornavam aos seus ofcios. Negros feiticeiros tambm se armaram com suas bruxarias, para se defenderem das agruras do cativeiro, em tentativas variadas de aplacar a ira senhorial, escaparem de castigos e maus-tratos; dessa forma, resistindo cotidianamente sua condio.

    No Brasil, os africanos escravizados urdiram toda sorte de magia para se livrarem da ira de seus senhores. A resistncia ao sistema escravista no mundo colonial se apresentou sob diversas formas, desde formas explcitas como fugas individuais e coletivas, revoltas e formao de quilombos at as mais sutis, vinculadas ao cotidiano e vivenciadas no interior do prprio sistema, como roubos, suicdios, abortos, assassinatos e boicotes produo senhorial3. As prticas de magia inseriram-se nessa segunda categoria, sendo consideradas necessrias formao social escravista colonial, uma vez que eram, ao mesmo tempo, alternativas de luta

    3 REIS, Joo J.; SILVA, Eduardo (1989). Negociao e conflito: a resistncia negra no Brasil escravista.

    So Paulo: Companhia das Letras.

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    contra o sistema, muitas vezes a nica possvel4 , assim como instrumento legitimador da represso e violncia.

    Alguns estudos importantes perceberam bem a relao entre a feitiaria e tenses sociais. Entre eles, o trabalho de Evans-Pritchard5, sobre as bruxarias utilizadas pelos Azande, do sul do Sudo e nordeste do Congo, publicado em 1937. O autor mostrou o papel da feitiaria como um mecanismo de escape s tenses e aos medos, encarnado na figura do bruxo. Cerca de trinta anos depois de seus estudos, esta anlise foi objeto de reflexo acerca da feitiaria europia. As mazelas trazidas por um sculo XIV difcil, com pestes, fome, crise econmica, desesperana, pessimismo, herana abraada pelo alvorecer da poca Moderna e acrescida, ainda, de conflitos religiosos, fizeram aumentar cada vez mais as presses sociais. Assim, as desgraas que assolavam os indivduos eram encarnadas na figura da bruxa, responsabilizada por muitas destas intempries. Segundo Jean Delumeau (1996, p.376):

    [...] na estrutura de uma sociedade que ainda permanecia amplamente no estgio mgico, a bruxa era necessria, portanto, como bode expiatrio, sendo alis verdade que certos indivduos realmente procuraram desempenhar esse papel nefasto de enfeitiador.

    Para Marc Aug (1982, p.219), as bruxas tentam resolver as angstias existenciais das suas pocas e de suas culturas, desempenhando uma funo social reconhecida:

    Sublinha que as descries de bruxaria africana que pde fazer ao vivo (atravs das confisses dos acusados, o rumor pblico ou os especialistas locais da cura e da contra feitiaria) evocam de maneira bastante notvel aquelas que

    4 MELLO E SOUZA, Laura de (1986). O Diabo e a terra de Santa Cruz: feitiaria e religiosidade

    popular no Brasil. So Paulo: Companhia das Letras, p. 205. No Brasil essa crena no poder redentor e purificador da violncia fsica encontrou poderoso aliado na necessidade escravista do castigo exemplar. Escravos podiam ser legitimamente castigados tambm porque eram feiticeiros. Enxerg-los como feiticeiros, por sua vez, foi uma das manifestaes da parania das camadas senhorial na colnia. 5 EVANS-PRITCHARD, E. (1978a). Bruxaria, Orculos e Magia entre os Azande. Rio de Janeiro:

    Zahar.

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    puderam recolher no seu tempo os inquisidores e os juzes; os temas do desdobramento, a metamorfose e a ambigidade da relao feiticeiro/contra feiticeiro, nomeadamente, apresentam sobre os dois continentes, em uma e a outra histria, numerosas analogias.

    necessrio compreendermos o significado da categoria feitiaria para a frica Banto, responsvel pela grande maioria dos africanos escravizados, transladados para o Brasil, em comparao com a perspectiva ocidental, traando-se um arcabouo da religiosidade da populao negra no Brasil Colnia, atravs do universo da magia do feitio, utilizado para uma gama varivel de situaes: problemas amorosos, dificuldades financeiras, curas de doenas, minimizao das dificuldades das relaes entre senhores e escravos. Outras, como um contra feitio, para contra atacar, como um remdio, para as mazelas provocadas por feitios, sejam do corpo ou do esprito. Atravs das prticas mgico-religiosas o africano escravizado buscou e utilizou diversas formas de resistncias, tentando minimizar a adversidade das relaes escravas.

    O presente estudo visa examinar as concepes de entendimento da religiosidade africana nas colnias atlnticas portuguesas. O objeto central a implicao da transposio do discurso europeu de feitiaria para as prticas mgico-religiosas de matriz africana. Com os africanos escravizados e as mercadorias africanas, oriundos da regio dos Bacongos, vinham as representaes culturais de sua cosmogonia, maneiras de lidar com as coisas do mundo real e do espiritual. Bacongo o nome pelo qual a Antropologia e a Histria tm identificado os povos habitantes de regies dos atuais Congo e Angola, constituintes do tronco lingistico Bantu. Algumas dessas formas podem ser identificadas nas representaes culturais recriadas por africanos de origem Banto e por seus descendentes, pelas vrias maneiras que os Bacongos reinterpretavam smbolos e rituais estrangeiros, em termos bsicos de sua cultura de origem.

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    Cosmogonia africana

    1. Feitio e contra-feitio

    A cosmogonia africana harmnica, o universo coeso, e tudo que o desequilibra visto como sobrenatural, sortilgio mgico, produto de feitiaria. O sagrado permeia, de tal modo, todos os setores da vida africana, que torna impossvel realizar uma distino formal entre o sagrado e o secular, entre o espiritual e o material nas atividades do cotidiano. Uma fora, um poder ou uma energia permeia tudo. Como diz Tempels6, o valor supremo a vida, a fora, viver forte ou fora vital. Essa fora no exclusivamente fsica ou corporal e sim uma fora do ser total, sendo que sua expresso inclui os progressos de ordem material e o prestgio social. Felicidade possuir muita fora, e infelicidade estar privado dela. Toda doena, todo flagelo, todo fracasso e toda adversidade so expresses da ausncia de fora. Os smbolos e rituais dotam a comunidade de uma fora e proteo especiais frente adversidade da vida diria; seu objetivo principal preservar a vida boa7.

    A prtica do mal era apenas um componente do que deve ser entendido como um pacote de foras religiosas ocultas. Em muitas sociedade africanas, no havia nenhum diferencial que distinguisse os bons rituais dos rituais malvolos. Os rituais e simbolismos empregados eram os mesmos para o bem e o mal; a diferena estava na finalidade ao qual se

    6 TEMPELS, R. P. P. La philosophie bantoue. Paris: Collction Prsence Africaine, 1949. Tambm para o

    ocidente, existe essa mesma concepo, nas camadas populares at o fim do sculo XIX. Banto, palavra que significa homens ou povo, (no sentido coletivo ou plural, sem a escrita da letra s) , Bantu o singular, definies aceitas para a grande maioria desses idiomas. O tronco lingstico Bantu composto por vrios grupos tnicos onde na diversidade das lnguas entre os povos muitos dos vocbulos razes indicavam os conceitos bsicos da vida cotidiana. Um estudo mais detalhado ver SLENES, Robert, Malungu, ngoma vem! frica coberta e descoberta no Brasil. Revista da USP, So Paulo, n12, pp.12-67, 1991-1992, p. 50. 7 Ver CRAMER, Willy; VANSINA, Jan; FOXES, Rene (1976). Religious movements in central Africa: a

    theoretical study. In: Comparative studies in society and History, (18), p. 458-475. Vida Boa para os banto era representada pela presena da harmonia e equilbrio, atravs de uma fora espiritual mgica (p. 468).

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    destinavam8. As foras poderiam ser usadas para uma variedade de atuaes positivas, adivinhaes, curas, fertilidade, auxlio com o gado, colheitas, sempre visando restabelecer a harmonia, seja no plano individualizado ou coletivo. Por outro lado, essas mesmas foras poderiam ser usadas nas prticas de danos individuais ou coletivos. Para essas sociedades, se um adivinho ou curandeiro tinha o poder de ver espritos maus e expuls-los com seus poderes, ento, certamente, estava habilitado a controlar formas similares do mal, para os prprios propsitos nefastos dele. Esta circulariedade entre o mgico, a divindade e a reparao demonstra a extraordinria natureza ambgua do discurso religioso nas sociedades africanas, estando presente a mesma dicotomia no catolicismo.

    Na frica Central, os entendimentos sobre malevolncia religiosa estavam ligados a um infortnio temporrio, especialmente causado pela fora humana oculta, atravs do binmio ventura/desventura. Aqueles que usavam suas foras mgicas para causar danos a outros ou para benefcios prprios, ao invs do melhoramento de sua comunidade, eram considerados malvolos. Um dos aspectos de malevolncia era um crescimento social e/ou econmico desigual entre o mgico e todos ou demais da comunidade. Assim, dois dos sistemas clssicos da malevolncia religiosa eram o injusto sofrimento das vtimas e a rpida, inexplicvel, prosperidade social e econmica por parte dos atormentadores espirituais. Na perspectiva africana, escravido e explorao econmica dos europeus preencheram esses critrios, mas o impacto dessas fortes e desconhecidas novas formas de malevolncia transformaram radicalmente o significado religioso na frica e na dispora.

    Antes do contato com os europeus, os africanos viam a malevolncia religiosa atravs de um prisma micropoltico que permitia um antdoto

    8 Cf. Evans-Pritchard, op. cit., p.462. O autor analisa a feitiaria como um sistema cognitivo capaz de

    explicar o infortnio.

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    religioso familiar. Bondade e maldade eram parte da mesma continuidade cosmolgica, e ambos poderiam ser controlados com prticas e rituais religiosos familiares. Os europeus introduziram uma nova forma de malevolncia social e econmica, o comrcio de escravos do Atlntico, que transformou esse equilbrio cosmolgico. Guerras, doenas, migrao forada e outros infortnios instigados pelo desejo europeu do trabalho escravo, tudo era entendido como parte dos poderes dos feiticeiros brancos, os europeus.

    Segundo Sweet9 muitas sociedades da costa central africana acreditavam que os europeus levavam os africanos escravizados para com-los, e aproveitar suas partes, transformando-os em produtos que seriam retornados ao comrcio na frica. Acreditavam que o leo comestvel era obtido da gordura dos corpos africanos, os vinhos vermelhos eram o sangue, os queijos europeus eram os crebros de suas vtimas. A plvora era as cinzas dos ossos dos africanos escravizados que eram queimados pelos seus algozes. Este entendimento era embasado na cosmogonia das sociedades da costa central africana, em que Kalunga10, era a travessia do mundo real para o mundo espiritual; assim, transpor a Kalunga, em navios negreiros, representava uma morte prematura, nas mos dos feiticeiros brancos (os europeus), que se alimentavam dos corpos negros na terra dos mortos, as Amricas. Para os bacongos, a cor branca simbolizava a morte, os homens eram pretos, os espritos, brancos. Como resultado desta crena, do trfico de africanos escravizados e da associao do oceano com a Kalunga, foi fcil para os bacongos identificar a terra dos brancos com a dos mortos. Com esse entendimento sobre a malevolncia e prosperidade dos europeus, demonstra quo profundamente o mercado

    9 SWEET, James H. (2003). Recreating Africa: culture, Kinship, and religion in African-Portuguese

    World, 1441-1770. London: The University of North Caroline Press, 2003, p. 162. 10

    Para os banto, Kalunga significava a travessia do mundo dos vivos para o mundo dos mortos, o oceano ficou conhecido pela mesma palavra, pois atravess-lo significava o ingresso no outro mundo, o dos

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    escravo impactou o discurso africano. Para eles, os europeus usavam de feitiaria, foras ocultas, para escravizar e comercializar os corpos negros

    para o prprio enriquecimento.

    Se o comrcio escravo e a explorao econmica foram o impulso

    transformador de certas formas religiosas malvolas em feitiaria na frica, ento, verdadeiramente, a escravido pelos europeus deve ser entendida como a mais mortal forma de feitiaria dos feiticeiros brancos. Necessitando de um poderoso contra-ataque mgico-religioso africano, objetivando libert-los da maldio, esta postura defensiva, por parte dos africanos escravizados, direcionou-os para frente do discurso de feitiaria do mundo ocidental. Por outro lado, os portugueses j conviviam com um discurso sobre feitiaria, antes de entrarem em contato com as sociedades africanas. O que eles fizeram foi transferir para o contexto africano a

    histria estabelecida sobre feitiaria e feiticismo. Por falta de uma literatura africana sobre a feitiaria, a igreja portuguesa aderiu ao amplo contorno da construo europia da feitiaria. Era amplamente entendido que Deus usava feitios, e o demnio, para punir pecadores e testar a f humana. O uso da fora diablica para contra-atacar a prpria fora do diabo foi proibida pela igreja, porque isto, necessariamente, significava invocar o demnio. Apenas a prece e a f em Deus poderiam contra-atacar o poder diablico de maneira segura e crist.

    Antes do sculo XVII, os telogos inquisitoriais portugueses comearam a comentar mais largamente sobre a origem da feitiaria. Na viso de filsofos portugueses sobre feitiaria, rituais, oraes e smbolos usados para contra-atacar o mal, eram todos evidncias de pacto com o diabo. Mesmo os rituais que envolviam preces crists e uso de objetos sagrados eram suspeitos, porque eles, na maioria das vezes, eram utilizados

    espritos. Ver SLENES, op. cit., 1991-1992. Nas pginas 53 e 54 o autor analisa a etimologia e a simbologia da palavra Kalunga.

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    pelas pessoas profanas que eram contrrias santidade das palavras ou aos objetos que eram utilizados. Para os portugueses, essas pessoas eram todas consideradas como ignorantes, exticas, primitivas. J durante o sculo XVII, o entendimento portugus sobre feitiaria foi fundindo-se com o surgimento do discurso de classe social, uma classe literata, educada e civilizada, tentando distanciar-se das massas populares, que eram declaradas como mergulhadas no mundo vulgar da superstio e da magia. O clero, os juzes, os mdicos e a maioria da elite acreditavam na fora do demnio manipulada atravs dos feiticeiros. Eles no acreditavam que a feitiaria fosse uma ameaa real para a ordem e a razo crist. A maioria dos feiticeiros portugueses atuavam sozinhos e no em grupos. O alarme que

    contagiou outros pases europeus no foi estendido a Portugal11. Acreditavam que, pelo uso dos recursos de Deus batismo, confisso, comunho, oraes, e exorcismo , feiticeiros individuais poderiam ser combatidos. Essas crenas foram estendidas ao Brasil, desde a poca da colnia, quando os feiticeiros portugueses encontravam prticas religiosas africanas. A diferena entre o Brasil e Portugal era que os feiticeiros africanos estavam presentes em grande nmero no Brasil, eram capazes de usar sua fora espiritual contra seus senhores, inclusive fisicamente, e

    ameaando a f catlica. Todas as prticas religiosas africanas eram suspeitas de serem rituais demonacos.

    Sweet12 nos alerta que, na maioria das sociedades da frica Central, a escravido era compreendida como o resultado da maldade religiosa de Portugal, contrria aos mais poderosos antdotos religiosos africanos, que eram reconhecidos e temidos pelos portugueses. Na tentativa de extinguirem ou minimizarem as tormentas da escravido, os maus tratos, o rompimento de linhagens, a m nutrio, a vestimenta, as doenas, a separao de

    11 PAIVA, Jos Pedro (1997). Bruxaria e superstio num pas sem caa s bruxas: 1600/1774. Lisboa.

    Notcias Editorial, p.104. 12

    Sweet, 2003, op. cit., p.163.

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    parentesco e outros, os africanos escravizados e libertos adaptaram prticas mgico-religiosas para contra-atacar o que eles acreditavam ser feiticeiros brancos, causadores de sortilgios mgicos, do infortnio.

    Outras formas mais poderosas eram dirigidas diretamente ao senhor ou sua famlia. Lembrando que, na concepo africana, os europeus eram feiticeiros brancos, os mais poderosos antdotos religiosos africanos pretendiam mutilar ou matar os brancos e as suas famlias. Os senhores eram conscientes da vingana dos africanos escravizados13. No s os africanos escravizados utilizavam os feitios como formas de resistncias individuais; os forros, tambm, usaram suas foras religiosas para expressarem mgoas contra os brancos. A recusa de alguns brancos em acreditar nas formas africanas de feitiaria variava em funo de diversos fatores, principalmente a confuso entre veneno e feitio, pela crena

    popular. Muitos ingredientes, usados nas misturas da feitiaria pelos africanos escravizados ou forros, eram peonha, veneno, misturas de razes, ervas. Os ritos e simbolismos religiosos africanos eram considerados demonacos. Os envenenamentos eram includos dentro das prticas da magia, sendo, apenas, um outro lado dos feitios africanos, pela transposio do discurso europeu da feitiaria para as prticas mgicas africanas. Pelas mesmas razes de dominao e com formas bem parecidas, um criado, na Europa, que pretendesse se vingar de seu senhor usando veneno, seriam atribudos a esse ingrediente poderes mgicos malvolos.

    Na compreenso africana, venenos portugueses eram substncias comuns carregadas de simbolismos sagrados, ou seja, acrescidos da fora mgica, para agir contra outras formas de feitiaria ou malevolncia.

    13 Outros exemplos sobre feitios usados por africanos escravizados contra seus senhores, em formas

    mais brandas ou mais poderosas, utilizados, na maioria das vezes, como forma de preveno, ver Sweet, 2003, op. cit., captulo 8, Witchraft, ritual, and resistance in the African-Portuguese diaspora.

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    Segundo Sweet14, as tentativas dos africanos escravizados de exterminarem com os seus senhores, atravs de venenos, eram, provavelmente, melhor entendidas, como tentativas de erradicar os feiticeiros brancos. As respostas africanas aos feitios dos senhores eram um contra-feitio mais poderoso. Os mesmos ingredientes usados nas frmulas para curar doenas eram, tambm, utilizados para provocar males, sempre carregados de ritos e cones sagrados. Quase sempre, o resultado era atribudo a uma deidade e nunca a uma substncia natural, legitimando o poder e a fora no sagrado. O veneno transformado em feitio era uma das formas de controle africano, no discurso entre sagrado e profano em Portugal e no Brasil, potencializando a magia africana, alm de ser uma das importantes formas de resistncia africana na dispora. Todo ato de feitio, entre os prprios africanos escravizados, usando foras sagradas africanas, era sempre mais do que um ataque individual, era, tambm, um ataque contra um bem material, atingindo o estado econmico e social de seu senhor, tornando-se um ato de resistncia individual contra a dominao escravista. No Brasil, a utilizao dos ritos e simbolismos sagrados africanos persistiu atravs do entendimento de sua transformao em feitiaria; com um nmero elevado de africanos escravizados, foi comum o temor dos seus donos pela destruio de suas propriedades humanas, atravs do uso de prticas religiosas, mais complexas e mais divulgadas aqui do que na frica.

    2. O equilbrio harmnico e o papel do adivinho

    Entre os vrios papis dos agentes religiosos africanos estava a figura do adivinho, de real importncia para o equilbrio harmnico da comunidade africana, e soube ser devidamente apropriado pelos senhores de escravos no Novo Mundo. Realizavam uma variedade de atividades ritualsticas para invocar os espritos ancestrais, fazendo a intercomunicao entre o mundo dos vivos e dos alm-tmulos. Medianeiro entre os dois

    14 Sweet, 2003, op. cit., p.169.

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    espaos, sagrado e profano, poderia ele predizer acontecimentos passados e futuros, descobrir culpados por ilcitos, causas de doenas, feitios, e atuar na pacificao das sociedades africanas, referente ao seu equilbrio e harmonia interna.

    Na intercomunicao entre os dois mundos, a revelao deveria ser legitimada pela sociedade, ou seja, o adivinho fazia as revelaes, mas a interpretao dela era deixada para a viso da comunidade; a atuao do adivinho era vista, geralmente, como um servio social, como ponto principal para uma sociedade equilibrada e pacfica. Com a transformao interna na frica, a ruptura social provocada pelo sistema escravista reelaborou as funes do adivinho, para melhor adaptao da nova identidade escrava, buscando explicaes no mundo espiritual para escravido. Nas comunidades escravas nascidas na dispora, os africanos utilizavam os adivinhos, na tentativa de criar os mesmos modelos de equilbrio comunitrio que os ajudavam em sua terra de origem.

    Reconhecendo a larga aceitao da adivinhao nas comunidades escravas, os senhores usavam os africanos escravizados, especialistas da adivinhao, para adivinhar quem havia cometido algum ilcito contra eles, seja roubo, uso da feitiaria ou fuga. Porque os rituais de adivinhao ressoavam com a maioria das tradies culturais dos escravos, as adivinhaes eram quase sempre aceitas como vlidas, mesmo quando os indicados do mal eram os prprios africanos. Isto reforou os mecanismos religioso-judicial da instituio escravista, auxiliando o senhor a determinar a culpabilidade dos rebeldes, contra a escravido. Mas era, tambm, uma indicao da classe senhorial de apropriao de uma instituio africana de controle social15.

    15 Sweet, 2004, op. cit. p. 141. Outro exemplo de apropriao de instituio africana pelos portugueses, o

    mecanismo de mocano, citado por Roquinaldo Ferreira, Transforming Atlantic slaving: trade, warfare and territoriae control in Angola, l650-l800. PHD dissertion, Ucla, 2003. Este mecanismo era utilizado por

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    A adivinhao adaptou-se s novas mudanas nas relaes sociais, na colnia portuguesa na Amrica, construindo um arcabouo entre os interesses dos senhores e da aceitao pela comunidade africana. Na Bahia, em 1685, Andr Gomes de Medina16 havia perdido 15 escravos vtimas de feitiaria; a acusao recai sobre um negro forro Simo Congo, ex-escravo de Andr. Em busca de indcios que servissem para comprovar a acusao, a nica prova foi a descoberta de algumas panelas com ervas, unhas, dentes e plos de vrios animais, na casa do suspeito. Impossvel saber quais eram as especificidades dos ingredientes encontrados na dita panela. O Sr. Andr chamou uma adivinha, escrava negra, Gracia Conga, de outra fazenda, para desvendar o mistrio. Na propriedade do senhor, a adivinha preparou certos rituais, na presena de todos. Ela ateou fogo em alguns gravetos, sobre eles um grande pote com gua para ferver, com algumas pedras dentro. Todos deveriam retirar uma das pedras do pote fervendo, somente o culpado sairia queimado. Os presentes fizeram uma roda em volta do pote fervendo, Gracia danou em torno dele, no sentido anti-horrio, a dana dos adivinhos danar avure, cantando e dizendo palavras, provavelmente, em seu idioma de origem. Cada um, por sua vez, foi colocando uma das mos dentro do pote com gua fervendo, e retirando uma das pedras. Nos escravos, forros e brancos, apenas pequenas e leves queimaduras aconteceram. O forro Simo Congo, ao retirar sua mo e brao, estava com vrias queimaduras graves. O ritual de adivinhao realizado pela escrava Gracia Conga confirmou a suspeita j existente, de que o ex-escravo seria o culpado17. Ele se defendeu, alegando que na panela

    africanos livres nas sociedades autctones africanas na regio de Angola, atual. Quando eram presos injustamente e vendidos como escravos, interpem um pedido a autoridade local, alegando suas razes e solicitando sua interveno. incorporado pelos Governadores Gerais de Angola, no sculo XVII. 16

    Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Lisboa/Portugal, Inquisio de Lisboa, processo n 8464. 17

    CAVAZZI, Padre Giovanni Antonio (1965). Descrio Histrica dos trs reinos do Congo, Matamba e Angola. Lisboa: Notcias, p. 109. Os rituais praticados pela africana escravizada era largamente utilizados na frica Central, com alteraes entre o continente africano e o reproduzido no Brasil. O autor descreve quando um feiticeiro coloca um pote com gua para ferver, dentro uma pedra. Os acusados devero retirar a pedra com suas mos, aquele que no sair com queimaduras ser aclamado inocente, dando-se o caso por encerrado. Quem se queimasse seria julgado culpado. O ritual realizado na presena da comunidade, mas

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    encontrada eram preparados medicinais contra mordida de cobra. Alegou, tambm, que a acusao dos escravos, dirigida a ele, era por cime, pela condio de ser livre. A liberdade foi-lhe concebida pela filha de Andr Gomes de Medina, tornando-se um lavrador de madeira. A adivinhao, simplesmente, confirmou a culpa de quem j era considerado culpado, atuando como um mecanismo religioso-judicial. O resultado foi satisfatrio para ambos os lados envolvidos. O culpado era algum de fora da comunidade escrava, reestabelecendo o equilbrio, e reforando o ritual como uma soluo favorvel para todos. A liberdade e a ascenso do negro forro Simo eram vistos como resultados de algumas manipulaes de foras sobrenaturais, at feitiarias. Para o entendimento africano de malevolncia religiosa, aqueles que usavam foras mgicas para benefcio prprio, ao invs do melhoramento de sua comunidade, eram considerados malvolos. A ascenso rpida, de um escravo para um liberto economicamente auto-suficiente no era explicvel por foras naturais,

    humanas e, sim, atravs de manipulaes de foras espirituais malvolas.

    A apropriao, pelos portugueses, da instituio de adivinhao africana pode ser compreendida como uma importante concesso de fora judicial, implicando a diminuio das formas das estruturas judiciais dos senhores. Sendo a instituio jurdico-legal da colnia um tanto quanto precria, principalmente em reas rurais, uma parte considervel de senhores buscou legitimar esta fora religioso-judicial, que na frica central era denominada de provao de jaji. Este mecanismo fez sua travessia pelo Atlntico em uma forma aproximada sua estrutura original, adaptando-se s novas condies do sistema escravista. Os africanos escravizados atribuam a outros africanos a culpa; nessas cerimnias de julgamento, os rituais poderiam ser vistos, simplesmente, como formas de

    para sua legitimao deve ser confirmado pelos orculos, o que no acontecia no Brasil. Existem outros relatos com rituais iguais na frica, conhecido como a provao de jaji. Sobre os ritos dos adivinhos ver

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    justia africana, isentando os senhores de qualquer tipo de perseguio aos seus bens.

    Um outro ponto a ser observado nesse mecanismo era, em alguns raros casos, os brancos aceitarem as culpas dos ilcitos de seus prprios parentes e amigos. Antonio da Guin18, escravo na Bahia, procurado para adivinhar quem havia roubado dinheiro e uma cruz de prata do seu senhor, utilizou uma bacia com gua para as prticas da adivinhao. No fica esclarecida nos documentos, a real origem africana de Antonio. Presumindo que seja da frica central, a crena de que a linha divisria entre os dois mundos, o material e o dos espritos, era a de um espelho dgua, um especialista mgico-religioso poderia fazer contatos com os mortos, os antepassados, e obter orientaes, respostas para as dificuldades de vida real. Antonio, olhando a gua, proferindo oraes, presumivelmente, em algum idioma africano, obteve a resposta esperada: o roubo fora efetuado pelo filho mais novo do seu dono, revelando, tambm, onde estava escondido, dentro de uma caixa, em baixo de uma das camas da casa. Achada a caixa, dentro estavam o dinheiro e a cruz, no lugar indicado. O resultado foi aceito pelo seu senhor, mas, infelizmente, os documentos silenciaram sobre quais foram as atitudes da punio pelo roubo. Porm, podemos atrever-nos a supor que o senhor no imaginaria que o responsvel fosse um de seus filhos. A fora da estrutura tornou-se completamente confusa, transformando a adivinhao em outra forma de resistncia escrava.

    Vrias vezes os senhores procuravam os adivinhadores africanos para desempenharem suas atividades para eles. Os africanos eram capazes de transformar a fora religiosa em resistncia sua escravizao,

    Evans-Pritchard, op. cit., Bruxaria, Orculos e Magia entre os Azande, 1978 (a), cap. V, Os adivinhos, p.107-132.

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    conseguindo prestgio, no somente junto sua comunidade, mas tambm entre outras pessoas que acreditavam em suas prticas mgico-religiosas. Consultar adivinhos africanos foi uma aceitao da cosmologia da frica, resultando em uma das rachaduras, no sistema colonial portugus.

    Referncias bibliogrficas

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    18 H o relato de um caso em que a culpabilidade recaiu sobre um dos filhos do senhor. No ritual de adivinhao,

    foi indicado que o objeto furtado estava dentro de uma caixa, achada a referida caixa, foi localizado dentro dela os objetos roubados (ANTT, Inquisio de Lisboa, livro 784, pp. 113-114).

  • Sede da Edio: Faculdade de Educao da Universidade de So Paulo Av da Universidade, 308 - Bloco A, sala 111 So Paulo SP Brasil CEP 05508-040. Grupo de pesquisa: Acolhendo Alunos em situao de excluso social e escolar: o papel da instituio

    escolar.

    Parceria: Centro de Recursos em Educao No-Formal de Jovens e Adultos CRENF FacEd UEM Prdio da Faculdade de Letras e Cincias Sociais Segundo Piso - Gabinete 303 Campus Universitrio Maputo, Moambique, frica

    Setembro de 2006 Maro de 2007 Ano I N. 001

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    Autora

    Glcia Caldas Mestranda em Histria Comparada pelo Instituto de Filosofia e Cincias Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Orientador Prof. Dr. Francisco Weffort. Especialista em Histria da frica pela Universidade Candido Mendes, Psicloga pela Universidade Gama Filho, Bacharel em Direito pela Sociedade Universitria Augusto da Motta, Rio de Janeiro. pesquisadora em assuntos afro-brasileiros da Assessoria de assuntos afro-brasileiros da Secretaria de Cultura do Estado do Rio de Janeiro, Professora de Ensino mdio da rede pblica estadual e Coordenadora Federal de Diversidade e Incluso Educacional em Formao continuada em educao e relaes tnico-raciais no Rio de Janeiro. Fone (21) 3451-6902 Cel. 9281-4603 Rua Honrio de Almeida, 68 Iraj RJ 21235-490 [email protected] [email protected]

    Como citar este artigo: CALDAS, Glcia. A magia do feitio: apropriaes africanas no Brasil Colnia. Revista ACOALFAplp: Acolhendo a Alfabetizao nos Pases de Lngua portuguesa, So Paulo, ano 1, n. 1, 2006. Disponvel em: . Publicado em: setembro de 2006.