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Artigos Cientificos

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  • Artigos

    cientficos

    Cnion do Xing. Rio So Francisco, Sergipe.Foto de Valria Franco.

  • 9BeloHorizonte06(2)9-25julho-dezembrode2010LidianeAparecidaAlvesWlissesdosSantosCarvalhdoRosielliSantosArajoWilliamRodriguesFerreira

    Geografias

    ARTIGoSCIENTFICoS

    Mobilidade Urbana Sustentvel em reas Centrais: reflexes sobre seus desafios a partir de Uberlndia-MG

    Resumo

    Devido ao modelo de desenvolvimento urbano

    e polticas de transporte adotados, surgiu nas

    cidades a problemtica do trfego e da mobilidade

    que, consequentemente, reflete em distores que

    inviabilizam o alcance da mobilidade sustentvel.

    Em Uberlndia-MG, a circulao dos diversos

    agentes na rea central ocorre de maneira conflituosa,

    demonstrando a necessidade de redefinio das

    prioridades na circulao do sistema virio. No

    mbito da circulao de cargas, importante e

    necessrio aumentar a fiscalizao para que as leis de

    trnsito sejam cumpridas. O objetivo deste trabalho

    apresentar as divergncias existentes entre as

    polticas governamentais e as aes efetivadas na rea

    central da cidade de Uberlndia, no que concerne

    mobilidade urbana sustentvel, perpassando pelas

    proposies legais, teorias que abordam as temticas

    de organizao do espao urbano, mobilidade

    urbana e sustentabilidade. Para tanto, recorreu-

    se s diretrizes internacionais e nacionais para a

    formulao de uma anlise do contexto institudo

    no mbito corporativo do espao intraurbano para

    alm de uma proposio logstica.

    LidianeAparecidaAlves(UniversidadeFederaldeUberlndia,mestrandanocursodeGeografia)

    WlissesdosSantosCarvalhdo(UniversidadeFederaldeUberlndia,mestrandonocursodeGeografia)

    Rosielli SantosArajo(UniversidadeFederaldeUberlndia,

    alunaespecialdocursodemestradoemGeografia)

    WilliamRodriguesFerreira(UniversidadeFederaldeUberlndia,Prof.Dr.doInstitutodeGeografia)

    Abstract:

    Due to the model of urban development and transport

    policies adopted, occurred an problematic in the cities of

    traffic and mobility that consequently reflected in distortions

    that disable the achievement of sustainable mobility. In

    Uberlndia-MG, the movement of various agents in the

    downtown occurs in a conflict way, demonstrating the need

    for setting priorities in the circulation of the road system.

    Within the movement of loads is important and necessary

    to increase surveillance to ensure the compliance the traffic

    laws. The objective of this work is to present the differences

    between government policies and actions carried out in

    the central area of the city of Uberlndia, in relation to

    sustainable urban mobility, permeated by legal propositions,

    theories that address the issues of organization of the urban

    space, mobility and urban sustainability. For this, was used

    the national and international guidelines for the formulation

    of an analysis of the corporate context of the intra-urban

    space for beyond a proposed logistics.

    Palavras-chave: reas Centrais, Mobilidade

    Urbana, Sustentabilidade.

    [email protected]

    [email protected])

    [email protected]

    [email protected]

    Key-words: Urban Mobility, Sustainability.

    Recebido02/2010

    Aprovado04/2010

    Sustainable Urban Mobility in Central Areas: reflections on their challenges considering Uberlndia-MG

  • 10 BeloHorizonte06(2)9-25Julho-dezembrode2010Mobilidade Urbana Sustentvel em reas Centrais: reflexes sobre seus desafios a partir de Uberlndia-MG

    Geografias

    ARTIGoSCIENTFICoS

    IntroduoO espao urbano apresenta-se dinmico, constantemente sofrendo modificaes de acordo com

    as necessidades, anseios e contradies da sociedade; sua estrutura reflete em cada perodo histrico as aes inseridas nesse espao construdo. Com efeito, as formas e funes de cada setor da cidade so determinadas por relaes polticas, econmicas e culturais que influenciam na qualidade de vida da populao. Devido ao modelo de desenvolvimento urbano e as polticas de transporte adotados, surgiu nas cidades a problemtica dos conflitos do trfego e da mobilidade que, consequentemente, reflete em distores que inviabilizam o alcance da sustentabilidade.

    A fim de reverter o contexto instalado e garantir a acessibilidade e a mobilidade no espao urbano de maneira sustentvel, a tomada de algumas medidas torna-se necessria. Dentre as quais se destacam a priorizao dos deslocamentos em transporte coletivo em detrimento aos automveis particulares, aes que incentivem os deslocamentos utilizando os meios de transporte no motorizados como a bicicleta, criao de espaos exclusivos e/ou adequados para pedestres e ciclistas, enfim, promover certa mudana cultural e conceitual em relao aos deslocamentos e medidas para a educao e a segurana no trnsito.

    Para tanto, o entendimento do conceito de mobilidade urbana tambm passou por algumas alteraes, sendo definida a partir do conjunto de polticas, embasadas na mobilidade de pessoas e cargas que visem prioritariamente os modos no-motorizados e coletivos de transporte, resultando em intervenes socialmente inclusivas e ambientalmente sustentveis (MCIDADES, 2006: 20-21). Assim, a definio mais aceita atualmente e, adotada para esse estudo, aquela elaborada pela Secretaria Nacional de Transportes e da Mobilidade Urbana, compreendida como o

    [...] resultado de um conjunto de polticas de transporte e circulao que visam a priorizao dos modos

    no-motorizados e coletivos de transporte, de forma afetiva, que no gere segregaes espaciais, socialmente

    inclusiva e ecologicamente sustentvel. (MCIDADES, 2006, p.19)

    No mbito dos pases europeus, a partir das dcadas de 1970 e 1980, iniciou o desenvolvimento de medidas para assegurar a mobilidade sustentvel e inclusiva, a fim de reduzir os impactos ambientais, sociais e melhorar a qualidade de vida. Providencias que, em sua maioria, apresentaram xito nos resultados. No contexto espanhol, Sanz (1997) destaca entre as aes com enfoque na mobilidade sustentvel a

    [] peatonalizacin del casco de Oviedo, a red para peatones y ciclistas en San Sebastian, a poltica

    de generacin de accesibilidad no motorizada y disuasin de la movilidad motorizada en Ciutat Vella

    (Barcelona), a reintroduccin del tranva en Valencia, Intercambiadores de Moncloa y Principe Po

    en Madrid como nodos de una poltica de fortalecimiento del transporte colectivo en el corredor de

    la N-VI. (SANZ, 1997, p.96)

    Diferentemente, nas cidades dos pases latinoamericanos menor a quantidade, e, menor ainda os xitos de aes que buscam pela mobilidade sustentvel, fato que pode ser explicado pela poltica de priorizao do transporte individual adotada, apesar da grande demanda pelo uso do transporte coletivo pelas classes menos favorecidas socioeconomicamente. Conforme afirma Pons e Reyns (2004, p.47) ... la movilidad se manifesta de forma diferenciada entre las reas desarrolladas y las reas menos desarroladas, y tambm lo hace en el interior de cada uma de ellas, con elevados niveles de heterogeneidade.

  • 11BeloHorizonte06(2)9-25julho-dezembrode2010LidianeAparecidaAlvesWlissesdosSantosCarvalhdoRosielliSantosArajoWilliamRodriguesFerreira

    Geografias

    ARTIGoSCIENTFICoS

    A prioridade estabelecida ao veculo particular percebida no caso das cidades mdias brasileiras, como Uberlndia-MG mapa 1, onde na rea central h priorizao dessa modalidade de transporte em relao aos demais, o que contribui para a baixa eficincia das infraestruturas dos outros usos de trfego. No h ciclovias nessa rea, o que expe os ciclistas h um risco maior de se envolverem em acidentes, assim como existem caladas estreitas com baixos nveis de servios e ineficincia da fiscalizao no transporte de mercadorias.

    Sendo assim, assistimos a uma realidade anacrnica, em que necessria a mobilidade urbana sustentvel, pautada de acordo com a - Unin Internacional de Transporte Pblico - UITP (2003) nos pilares de uso do solo que incorpore as necessidades da mobilidade, a restrio do uso do veculo privado e a promoo do transporte pblico. Porm, o que se v a popularizao do automvel particular, os baixos investimentos nos meios de transporte coletivos e no motorizados.

    Com efeito, novas formas de circulao so adotadas em um modelo de organizao intraurbana com espaos, simultaneamente, homogneos, de/para a convivncia de grupos idnticos e cada vez mais fragmentados, como reflexo dos novos valores e interesses, decorrentes de reestruturaes em escalas mais amplas, como no modo de produo e na economia incorporados pela sociedade. Por vezes, visto a relevncia da circulao para todas as esferas da vida, e paradoxalmente as externalidades e impactos que podem ser gerados, faz-se necessrio reflexes e busca por mudanas com o intuito de reverter essa situao.

    Diante do exposto, o objetivo deste trabalho apresentar as divergncias existentes entre as polticas governamentais e as aes efetivadas na rea central da cidade de Uberlndia-MG, no que concerne a mobilidade urbana sustentvel, perpassando pelas proposies legais, teorias que abordam as temticas de organizao do espao urbano, mobilidade urbana e sustentabilidade. Para tanto, recorreu-se as diretrizes internacionais e nacionais para a formulao de uma anlise do contexto institudo no mbito corporativo do espao intraurbano para alm de uma proposio logstica.

    Mapa1 Localizao de Uberlndia-MG.

    Fonte:Miranda,2008.

  • 12 BeloHorizonte06(2)9-25Julho-dezembrode2010Mobilidade Urbana Sustentvel em reas Centrais: reflexes sobre seus desafios a partir de Uberlndia-MG

    Geografias

    ARTIGoSCIENTFICoS

    Consideraes gerais sobre reas centrais e o contexto da rea central e da mobilidade urbana em Uberlndia-MGAs reas centrais, geralmente so espaos que polarizam as atividades urbanas mais relevantes,

    como as econmicas e administrativas, bem como as dimenses simblicas e culturais, implicando a necessidade de complexa rede infraestrutural. Alm disso, simultaneamente, apresentam grande acessibilidade, dinmica conflituosa e significativa importncia para a cidade e sua hinterlndia.

    O processo de estruturao socioespacial que origina as reas centrais encontra-se condicionado a elementos histricos e sociais. O modo capitalista de produo atravs dos fluxos de capitais, mercadorias e pessoas condicionou a origem do processo de centralizao e consolidao da rea central (CORRA, 1995); resultando, sob a ptica dos lugares centrais de Christaller, em um ponto de concentrao mximo das atividades de comrcio e servios.

    A concentrao de comrcio, servios e os meios de transporte, possibilitaram a transformao da rea central em um ponto de privilgio em relao aos deslocamentos humanos e, portanto, de maior acessibilidade na cidade. Villaa (1998) explica a formao da rea central pela existncia das relaes sociais que requerem atividades de interesse comum, de cooperao e de interdependncia; que por sua vez, geram deslocamentos espaciais regulares e predeterminados, como tambm, a disputa por localizaes que permitam o controle do tempo e energia. Assim, a rea central surge a fim de otimizar os deslocamentos necessrios reproduo social, cujo privilgio da rea central influencia substancialmente em sua valorizao. Alm das dimenses sociais, Castells (2001) aborda as dimenses polticas e econmicas no processo de estruturao urbana, visto a importncia desses aspectos no processo de reproduo da sociedade.

    As transformaes concretizadas na rea central podem apresentar diferentes intensidades, afinal, cada perodo histrico influencia sobremaneira em suas caractersticas. Nos perodos precedentes ao capitalismo industrial, eram poucas modificaes em detrimento permanncia dos usos. Contraditoriamente ao perodo a partir do final do sculo XIX, que como reflexo e condio do desenvolvimento capitalista, materializado na reestruturao produtiva, no surgimento de novas lgicas, especialmente no mbito da diviso social e territorial do trabalho modificada a organizao interna das cidades, que passam a apresentar uma maior complexidade. Essas transformaes ocorrem com maior expressividade nas cidades de efmero crescimento econmico e demogrfico.

    Em linhas gerais, as reas centrais encontram-se na poro mais antiga das cidades, correspondem ao stio histrico das mesmas ou esto em seu entorno. Dialeticamente, possuem vias de dimenses fsicas limitadas e constituem o ndulo principal da rede e das vias urbanas, ou seja, o ponto de convergncia/divergncia do sistema de circulao para onde todos deslocam. H concomitantemente, a interao das atividades a inseridas com as demais que se realizam em outras pores da cidade ou fora dela (SPOSITO, 1991). Assim sendo, a rea central corresponde a regio funcional da cidade, onde coexistem funes complexas traando suas diretrizes econmicas, financeiras, polticas e administrativas (IBGE, 1967) e atraindo outras atividades como: alimentao, alojamento, profissionais liberais, etc. Decorrente dessa multiplicidade de funes, a rea central apresenta valor de uso do solo elevado e maior ndice de crescimento vertical, diferenciando a paisagem urbana pela sua forma e funo, em decorrncia de caractersticas locacionais, de trabalho, lazer, compras, moradia e conexo a outras localidades.

    Nas reas centrais intensa a circulao de pessoas e bens, pois as mesmas exercem grande atrao, destarte, carecem de sistemas de transportes que atendam a demanda de fluxos gerados, a

  • 13BeloHorizonte06(2)9-25julho-dezembrode2010LidianeAparecidaAlvesWlissesdosSantosCarvalhdoRosielliSantosArajoWilliamRodriguesFerreira

    Geografias

    ARTIGoSCIENTFICoS

    fim de minimizar os conflitos da circulao viria. Apesar de muitas vezes, as vias das reas centrais encontrarem-se no limite de trfego, as convergncias dos deslocamentos para os mesmos locais so elevadas. Em funo dos aspectos econmicos e culturais, mantm-se na rea central o privilgio ao trfego veicular e relega a um segundo plano a preocupao com a mobilidade dos pedestres, transportes coletivos motorizados e transportes no os motorizados; cuja situao desencadeia uma srie de questionamentos sobre os congestionamentos, acidentes, prejuzos ambientais, econmicos e sociais; gerando reduo na qualidade de vida da populao.

    Considerando a interrelao entre rea central e mobilidade urbana sustentvel segundo os preceitos da Secretaria Nacional de Transportes e da Mobilidade Urbana (SeMob), as reas centrais enquanto espao de articulao do sistema de mobilidade, devem oferecer boas condies infraestruturais para o sistema de transporte pblico, bom sistema virio, boa circulao e transporte de pessoas, conciliadas a polticas pblicas voltadas para humanizao destes espaos.

    significativa a importncia da rea central nos processos de reproduo das relaes sociais em uma cidade, pois ela a poro do espao urbano que melhor evidencia a totalidade. De modo que, para apreender as caractersticas e dinmica da rea central de Uberlndia, torna-se imprescindvel a compreenso da constituio espacial e temporal dessa cidade, pois as especificidades do lugar explicam-se pelo modo como foi formada a aglomerao urbana, que neste caso remonta a 1818, quando as terras do Antigo Serto da Farinha Podre - atual Tringulo Mineiro comearam a ser ocupadas, possibilitando a formao do ncleo de habitao denominado Fundinho1, a partir do qual foi possvel a expanso da mancha urbana e, por conseguinte, a consolidao da cidade de Uberlndia.

    O crescimento do ncleo urbano e desenvolvimento das atividades industriais; juntamente com ao da elite local, possibilitou em 1895 a implantao da Companhia Mogiana Estradas de Ferro. Para ligar o aglomerado urbano, localizado na poro mais baixa do terreno s estaes da Mogiana foram abertas novas estradas largas e simtricas, onde circulavam pessoas e mercadorias por trao animal. Na atualidade, correspondem s avenidas Afonso Pena, Floriano Peixoto, Joo Pessoa e Joo Pinheiro.

    Segundo Ferreira (1997), o crescimento urbano despertou na administrao pblica uma preocupao com a organizao da cidade que resultou no projeto urbanstico de traado retilneo ortogonal, definindo as avenidas Floriano Peixoto, Afonso Pena, Cipriano Del Fvero, Joo Pinheiro, Cesrio Alvim e as oito ruas transversais a elas, que constituiria o novo centro da cidade, conforme localizado no mapa 1e figura 1.

    Em 1940, as avenidas Afonso Pena e Floriano Peixoto entre as praas da Estao Mogiana e Antonio Carlos (atuais Srgio Pacheco e Clarimundo Carneiro, respectivamente), haviam se consolidado como o principal setor de comrcio, servios e lazer de Uberlndia-MG (SOARES, 1995). As dcadas seguintes foram marcadas pela afirmao do desenvolvimento impulsionado pelas polticas de interiorizao do pas, pelo processo de industrializao, fortalecimento da malha rodoviria, posio geogrfica estratgica; bem como, pela poltica econmica adotada pela elite local, que viabilizou a implantao de projetos e investimentos.

    Nesse contexto, a rea central tornou-se um importante local para a circulao de capitais, pessoas e bens, com um expressivo crescimento vertical que refletiu na otimizao dos espaos dos lotes e saturao dos espaos pblicos. A intensa concentrao das atividades e consequente aumento das demandas por espaos para circulao na rea central culminou em meados da dcada de 1970 na necessidade de realizao de medidas que (re)estruturassem essa rea, que apresentava sintomas

    1 Esse ncleo de habitao, na medida

    em que se instavam atividades comer-

    ciais, foi nos primrdios da fundao

    de Uberlndia-MG o seu centro co-

    mercial, abrigando a elite da poca.

  • 14 BeloHorizonte06(2)9-25Julho-dezembrode2010Mobilidade Urbana Sustentvel em reas Centrais: reflexes sobre seus desafios a partir de Uberlndia-MG

    Geografias

    ARTIGoSCIENTFICoS

    de congestionamentos e depreciao (FERREIRA, 1997). Foi elaborado o PAITT (Plano de Ao Imediata de Trnsito e Transportes), o qual embasou alteraes na geometria dos cruzamentos, constituio de vias de mo nica, implantao semafrica e melhorias no transporte coletivo.

    A partir da dcada de 1980, a reestruturao na diviso social e territorial do trabalho implicou em modificaes no espao urbano de Uberlndia, como o surgimento de novas formas de organizao espacial das atividades de comrcio e servios devido perda de amenidades na rea central e presena nas reas para alm do centro2, o desenvolvimento de tecnologias que popularizaram o uso dos veculos automotores e o interesse dos promotores imobilirios em expandir o tecido urbano.

    Para alguns autores como Govea e Tejada (2007) o processo de descentralizao das atividades tercirias no reduziu os conflitos dos diferentes atores que circulam e apropriam-se da cidade. Ao contrrio, favoreceu a intensificao de outros problemas como a grande expanso da mancha urbana, afinal

    [...] ha caracterizado a las ciudades; las facilidades de movimiento que el vehculo privado ha brindado desde su

    aparicin han favorecido la gran expansin urbana y sus inevitables consecuencias, reflejadas, en suelos segregados

    y reas perifricas de baja densidad. En el caso latinoamericano, esta situacin es preocupante, pues la segregacin

    espacial est ntimamente ligada a la gran desigualdad econmica de la poblacin, y se traduce en dificultades

    para la adquisicin de bienes y servicios para la poblacin de menores recursos (GOVEA e TEJADA 2007, p.1).

    Por outro lado, segundo o MCidades (2007) evidente a necessidade de limitar as viagens motorizadas, podendo o processo de descentralizao e consolidao de novas centralidades contribuir para tal, na medida em que modifica e diminui os deslocamentos, principalmente motorizados, pois as demandas de atividades estaro mais prximas s residncias. Na mesma perspectiva Chao & Monroy (2008), ao estudar a mobilidade na cidade do Mxico, propem, que

    Es importante consolidar estos espacios pues la policentralidad permite equilibrar la intensidad de

    actividades, disminuir el nmero y extensin de viajes y con ello reducir las emisiones contaminantes,

    mejorar La calidad y diversidad de servicios, y en resumen, mejorar la calidad de vida de sus habitantes

    (CHAO e MONROY, 2008, p. 766).

    Figura1 Uberlndia MG: Zona Central e Antigo Centro Comercial do Fundinho

    Fonte:Ferreira,2002.AdaptadoporALVES,L.A.

    2 Corra (1995) destaca como princi-

    pais transformaes nas reas centrais

    e no centrais que implicaram no

    processo de descentralizao, as

    seguintes: valorizao da terra, con-

    gestionamentos, reduo de espaos,

    aumento das restries legais e perdas

    de amenidades nas reas centrais; e

    terras com menor valor, presenas de

    infra-estrutura e de transportes, fatores

    atrativos naturais relevo, controle no

    uso do solo, nas reas no centrais.

  • 15BeloHorizonte06(2)9-25julho-dezembrode2010LidianeAparecidaAlvesWlissesdosSantosCarvalhdoRosielliSantosArajoWilliamRodriguesFerreira

    Geografias

    ARTIGoSCIENTFICoS

    Desde sua origem, o municpio de Uberlndia-MG destaca-se pelo seu dinamismo econmico e expressivo crescimento demogrfico. No ano de 2009, o contingente populacional foi estimado em 634.345 habitantes (IBGE, 2009), cujas caractersticas refletem na organizao do espao urbano e nas polticas adotadas. Muitas aes permanecem priorizando os veculos automotores em detrimento aos demais atores que utilizam o espao urbano, embora existam polticas que primem pela implantao da mobilidade sustentvel na cidade.

    Percebe-se que, mesmo com experincias das grandes cidades norte-americanas em seu (re)ordenamento e descentralizao das atividades comerciais e de servios ocorridas a partir da saturao da rea central no perodo Ps Segunda Guerra, aliadas aos novos estudos desta temtica (CAIAFA, 2007), no contexto nacional, muitas medidas de polticas pblicas so paliativas e intervm temporalmente na reduo da saturao da mobilidade nas reas centrais.

    Para exemplificar essa situao, pode-se citar o processo de ampliao da marginal do Rio Tiet na cidade de So Paulo, com obras que representam uma potencial insustentabilidade da perspectiva ambiental, econmica e social; visto que os problemas de congestionamentos seriam resolvidos temporariamente, porm gerando impactos, como os decorrentes da impermeabilizao das margens do rio; concentrao veicular gerando elevados ndices de congestionamentos e acidentes de trnsito; induo dos fluxos de passagem, principalmente de veculos pesados, por no existir rotas alternativas; elevado ndice de emisso de gases poluentes; no priorizao dos meios de transporte pblico e no-motorizados, entre outros. Contexto esse que pode ser abstrado, da concepo de Vasconcellos (2001) que trata dos impactos das aes paliativas no mbito do trnsito e transporte, gerando as insustentabilidades.

    Conflitos na mobilidade: A questo dos transportes de cargas A infraestrutura das reas centrais apresenta caractersticas anteriores ao intenso desenvolvimento

    comercial, como resultado do aumento da populao e devido grande atrao dos investimentos econmicos. Seu planejamento objetivou mitigar as problemticas advindas desta atrao e concentrou-se em intervenes adaptativas, que possibilitassem amenizar a contradio entre o impulso das grandes empresas e a realidade historicamente consolidada. Fator materializado pela substituio de pequenas atividades comerciais e de servios, por outras maiores do setor varejista, exigindo maior oferta de servios no transporte de carga para fins logsticos, segundo Sanches J. (2008)

    Apesar da relevncia da carga urbana no suporte vida econmica das cidades, o transporte desse tipo de

    produto se encontra freqentemente renegado a um papel secundrio nas prioridades do planejamento

    das cidades. Os problemas das cidades so to complexos e, na maioria das vezes, com causas que se

    encontram de tal maneira interligadas, que o transporte urbano de carga acaba no sofrendo nenhum tipo

    de regulamentao pelo poder pblico. Isso dificulta o estabelecimento de regras para a logstica urbana

    que satisfaa tanto os operadores logsticos quanto os motoristas de carros, nibus, moradores, pedestres,

    comerciantes que disputam desde as condies ambientais at o espao para se locomoverem, estacionarem

    e carregar/descarregar, normalmente concorrendo no mesmo lapso de tempo, criando o horrio de pico

    (SANCHES J. 2008, p.43).

    Aparentemente percebemos que a logstica urbana no apenas est preocupada na priorizao da mobilidade da carga de mercadorias. Contudo, a contradio torna-se clara ao analisarmos a

  • 16 BeloHorizonte06(2)9-25Julho-dezembrode2010Mobilidade Urbana Sustentvel em reas Centrais: reflexes sobre seus desafios a partir de Uberlndia-MG

    Geografias

    ARTIGoSCIENTFICoS

    busca das intervenes urbanas na malha viria, que tende a priorizar este servio, tais como: as intervenes preferencialmente devero servir aos os caminhes por serem considerados como maiores geradores de trfego; a remoo das barreiras fsicas e equipamentos virios, pois dificultam o trnsito dos veculos de cargas; priorizar o estacionamento em determinadas reas urbanas, eliminando estacionamentos pblicos sem construir novos; autorizao de permisso de acesso a zonas exclusivas de pedestres, como tambm entregas noturnas de cargas (SANCHES J. 2008:64-72).

    Estas contradies no condizem com a Poltica Nacional de Mobilidade Urbana Sustentvel (PNMUS), e as estratgias da Secretaria Nacional de Transporte e da Mobilidade Urbana (SeMOB), que em alguns de seus princpios e diretrizes buscam

    [...] direito ao acesso universal, seguro, equnime e democrtico ao espao urbano; a mobilidade urbana

    centrada no deslocamento das pessoas; priorizar pedestres, ciclistas, passageiros de transporte coletivo,

    pessoas com deficincia, portadores de necessidades especiais e idosos, no uso do espao urbano de

    circulao; promoo da circulao no motorizada, uso racional do automvel (MCIDADES, 2006, p.40-43).

    A rede viria central de Uberlndia, parcialmente irregular, apresenta algumas ruas e avenidas de intersees ortogonais e outras de configurao variada adaptadas s determinaes dos edificados, como o caso daquelas do centro histrico, cujos traados no suportam a utilizao mltipla das vias (pedestres, automveis, motocicletas, transportes de cargas variadas), mas contraditoriamente, (co)existem e se mostram na disputa pelo espao tornando-se reflexos das especificidades da distribuio comercial.

    Com um PIB de aproximadamente 10 bilhes de reais, a utilizao do automvel particular em Uberlndia preponderante aos demais meio automotores da cidade. Da frota de 253.704 veculos registrados, verifica-se segundo o tipo de veculo, que os automveis so em maior nmero com 133.133, representando 52,47%, sendo que o nmero de motos e afins (ciclo motor, motocicleta, motoneta e side-car) expressivo, com 75.959 ou 29,94%; caminhes e afins (caminho, caminho trator, reboque, semi-reboque e chassi plataforma) totalizam 20.626 ou 8,12% e caminhonetes e afins, 20.354 ou 8,02% (MCIDADES/DENATRAN, 2008).

    A jurisprudncia de Uberlndia vem sendo adaptada s regras estabelecidas pelo Estatuto da Cidade no Art. 41 no 2., tornando obrigatrio em forma de lei e/ou decretos municipais complementares, a existncia de conformidade entre o sistema virio bsico de forma integrada com a legislao de parcelamento e zoneamento do uso e ocupao do solo, e com o sistema integrado de transporte coletivo urbano disposto no plano diretor municipal - Lei complementar municipal n 432 de 19 de outubro de 2006.

    As leis municipais de Uberlndia, juridicamente apresentam-se em conformidade s propostas do Plano de Mobilidade desenvolvido pelo Ministrio das Cidades, no mbito de dinamizar os espaos e no objetivo de tornar a cidade mais humanizada. Contrariamente, as infraestruturas urbanas das cidades brasileiras so concebidas num acelerado processo de urbanizao. O que demonstram serem projetadas no entendimento de mobilidade a partir da fluidez dos veculos automotores, fator demonstrado pela presena do alargamento das avenidas principais e permanncia das estreitas caladas e passeios (VILLAA, 1998). Tambm presenciveis na rea central de Uberlndia (fotos 01 e 02).

    As novas discusses do Ministrio das Cidades, algumas j abordadas nesse trabalho, vm reformulando o conceito de mobilidade, com o objetivo de abranger o deslocamento de pessoas,

  • 17BeloHorizonte06(2)9-25julho-dezembrode2010LidianeAparecidaAlvesWlissesdosSantosCarvalhdoRosielliSantosArajoWilliamRodriguesFerreira

    Geografias

    ARTIGoSCIENTFICoS

    bens e cargas que traduza as relaes do indivduo com o espao e no apenas facilidade de deslocamento pela cidade. Atravs de uma poltica de mobilidade que comporte as demais polticas urbanas e democratize as relaes espaciais, um grande obstculo ainda a ser superado sobre esta proposta so os conflitos e nveis de participao dos setores envolvidos.

    Foto01 Av. Afonso Pena prximo Pa Clarimundo Carneiro

    Fonte:BancodedadosVERTRAN

    Foto02 Av. Afonso Pena entre a rua Cel. Ant. Alves e a rua Quintino Bocauva.

    Fonte:BancodedadosVERTRAN.

  • 18 BeloHorizonte06(2)9-25Julho-dezembrode2010Mobilidade Urbana Sustentvel em reas Centrais: reflexes sobre seus desafios a partir de Uberlndia-MG

    Geografias

    ARTIGoSCIENTFICoS

    Juridicamente, a configurao do sistema virio de Uberlndia regulamentado pela lei complementar que estabelece o Sistema Virio Bsico da Cidade, de forma integrada com a legislao de Parcelamento e Zoneamento do Uso e Ocupao do Solo Urbano, e com o Sistema Integrado de Transporte Coletivo Urbano, conforme disposto no Plano Diretor do Municpio. Especificamente para a rea central, foi regulamentada a lei do Estacionamento Rotativo atravs da Zona Azul e, finalmente, a lei que dispe sobre o Estacionamento para Operaes de Carga e Descarga nas vias Pblicas em acordo ao Cdigo de Postura do Municpio.

    A Lei de Carga e Descarga na Zona Central n9410/06, restringe o horrio das 07:00h s 20:00h para os veculos cujo peso bruto total (PBT) de at 7 toneladas, e os de 16 toneladas no perodo noturno das 20:00h s 07:00h, nos locais sinalizados. Essa lei buscou evitar o conflito entre, os modos diversos de circulao referentes presena de veculos pesados incompatveis com a estrutura viria em perodo de maior fluxo, a falta de estacionamentos adequados, a poluio do ar e, principalmente, o impedimento da circulao de pedestres nos passeios e caladas, respeitando o que prev o Plano de Mobilidade Urbana (PlanMob)

    [...] na movimentao de cargas, medidas regulatrias do poder pblico podem condicionar ou restringir

    rotas, horrios, regies, tipos de produtos e tipos de veculos, sempre em funo do interesse coletivo,

    procurando resolver conflitos de rudo, segurana, capacidade do sistema virio e outros aspectos [...]

    o transporte de carga pode sofrer restries espaciais ou temporais de circulao; e assim por diante

    (PLANMOB, 2007, p.41-44).

    Diferentemente do desejvel, estas determinaes legais no so efetivas, devido falta de uma fiscalizao efetiva; somada ao descaso com a populao residente, quando regulamenta a utilizao em perodos noturnos, feriados e finais de semana para a carga e descarga de mercadorias. Essa atividade gera poluio sonora e raramente fiscalizada, visto que o rgo fiscalizador especfico e responsvel por essa fiscalizao, apontada na lei n9410/06, apresenta um reduzido quadro de profissionais capacitados para tal atividade.

    importante ressaltar que, de acordo com a lei n9410/06 Art. 5, as vias para uso exclusivo de transporte coletivo na rea central podem servir para operaes de carga e descarga com veculos at 16 toneladas em horrio das 22:00h s 06:00h, desde que no obstruam a passagem dos demais veculos. J segundo o Art. 7, at mesmo as vias para uso exclusivo do pedestre podem ser utilizadas como uma extenso das cargas e descargas, em horrio especfico, estando em coerncia com a pouca utilizao dos mesmos locais.

    Assim, entendemos que, apesar do Cdigo de Postura Municipal prever normas para o uso dos passeios como apoio descarga de mercadorias, faz-se necessria uma maior atuao do poder fiscalizador e aplicao da lei, por entender que, a sinalizao de estacionamento rotativo delimitando as reas para carga e descarga na rea central tornou-se insuficiente, segundo a demanda de concentrao dos estabelecimentos comerciais no Centro de Negcios de Uberlndia (foto 03).

    A foto 04 ilustra a desconformidade com a legislao referente operao de carga e descarga na rea central de Uberlndia-MG. Essa operao foi realizada de forma inadequada e em local proibido, por volta das 8:30 da manh e fora do local sinalizado, ocupando o espao destinado exclusivamente a passagem de pedestres e gerando conflito entre os diferentes usos do espao urbano.

    No Art. 8 da lei n9410/06, o transporte de valores entendido como transporte de carga, mas no se enquadra nas restries de operao, apenas dimensionando o horrio de 07:00h 22:00h para

  • 19BeloHorizonte06(2)9-25julho-dezembrode2010LidianeAparecidaAlvesWlissesdosSantosCarvalhdoRosielliSantosArajoWilliamRodriguesFerreira

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    ARTIGoSCIENTFICoS

    utilizao dos seus servios. Deixando a cargo da resoluo n268/08, Art. 31 IV do Conselho Nacional de Trnsito (CONTRAN), a regulamentao sobre essa operao, que institui o uso de luzes intermitentes ou rotativas nos veculos de valores, enquadrando-os como prestadores de servios de utilidade pblica. E ainda, o Art. 4 da mesma lei, oferece-lhes total liberdade de parada, independente de proibies ou restries estabelecidas na legislao de trnsito ou atravs de sinalizao regulamentar.

    Como proposta de dilogo com os atores envolvidos na dinmica da mobilidade de carga urbana, para alm de uma proposio logstica (SANCHES J. 2008), o Ministrio das Cidades prope que se deve buscar discusses e medidas mais incisivas de direcionamento entre gestes estaduais e municipais, no trabalho integrado para as novas intervenes urbanas visando uma mobilidade mais sustentvel considerando, simultaneamente os impactos das atividades humanas numa perspectiva ambiental, de coeso social e de desenvolvimento econmico, tanto para atual como para as geraes futuras.

    Deve ser pensada a malha viria, a utilizao de transportes alternativos, a aplicabilidade das leis com maior vigor no controle e acompanhamento das mudanas realizadas pelas empresas e a criao de possibilidades das pequenas e mdias empresas adequarem-se s restries legais. Alm da instituio de uma entidade capaz de planejar e fiscalizar a aplicabilidade de um plano voltado para a mobilidade municipal pensada a partir do contexto estadual, para impedir a sobreposio de estudos em intervenes pontuais, e a desconsiderao dos conflitos de mobilidade entre cargas intraurbanas e interregionais, diretamente impactante na mobilidade da cidade.

    No caso de Uberlndia-MG, a espacializao e configurao da rea central possibilitam a construo de terminais de cargas e aes conjuntas na entrega de mercadorias, minimizando o nmero de veculos pesados circulando nessa rea da cidade. Tal ao diminuir os deslocamentos e congestionamentos, propiciando maior mobilidade para os pedestres e as cargas, e possibilitar um projeto de integrao entre o transporte de carga no espao municipal e regional. Com a construo destes terminais, ocorrer a diminuio do nmero de viagens entre o comrcio atacadista e o varejista, como tambm, a possibilidade de utilizar veculos de dimenses menores como os VUC3 e VLC4, ou ainda, veculos no motorizados capazes de deslocar pequenas distncias com cargas menores, como bicicletas adaptadas.

    Fonte:BancodedadosVERTRAN.

    Foto03 rea Central de Uberlndia Foto04 rea Central de Uberlndia

    Fonte:Autores

  • 20 BeloHorizonte06(2)9-25Julho-dezembrode2010Mobilidade Urbana Sustentvel em reas Centrais: reflexes sobre seus desafios a partir de Uberlndia-MG

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    ARTIGoSCIENTFICoS

    Consideraes acerca da mobilidade de pessoas na rea central de Uberlndia.Deslocar-se em reas centrais, em grande parte das cidades brasileiras, principalmente nas regies

    metropolitanas, quase sempre esteve aliada sensao de desconforto devido ao mau aproveitamento do espao urbano e falta de infraestrutura de circulao adequada. Essa situao, conforme j foi mencionada anteriormente nesse estudo, acontece devido ao desordenado e acelerado processo de urbanizao ocorrido no Brasil, que contribuiu tambm para forar a criao de novos bairros e centralidades, a partir de incentivos financeiros e polticas pblicas voltadas para essas reas. O Ministrio das Cidades explica melhor como aconteceu esse processo.

    A disponibilidade de crdito a juros subsidiados, voltada sempre para a produo de imveis novos, permitiu

    classe mdia das grandes cidades constituir novos bairros e centralidades nas cidades gerando, alm da

    expanso horizontal, o paulatino esvaziamento dos centros tradicionais. Do ponto de vista da estratgia

    de produo e financiamento das infra-estruturas, os centros tradicionais foram abordados apenas como

    centros econmicos saturados, devendo ser objeto de descentralizao das atividades, inclusive administrativas

    (ROLNIK & BOTER, 2004 apud MCIDADES, 2006, p. 21).

    Em Uberlndia, a circulao de pessoas na rea central resultado da dinmica econmica e social e est a servio dela. Porm, percebe-se um relativo abandono deste espao pelo poder pblico nos ltimos anos, que provocou perda de atividades e pessoas para reas em expanso resultando em um estoque imobilirio e queda de qualidade de equipamentos de infraestrutura e servios. Diante dessa realidade, a Prefeitura Municipal, atravs da Secretaria de Trnsito e Transportes (SETTRAN), est elaborando um Projeto de Requalificao para essa rea, do qual, a partir do diagnstico realizado em maro de 2008 que conta com diversas pesquisas, foram retiradas as informaes subsequentes.

    O fluxo de deslocamentos a p nessa regio intenso, de acordo com a Pesquisa Contagem Volumtrica de Pedestres, em pontos que concentram muitas atividades comerciais, servios diversificados e instituies financeiras. O volume acumulado, por exemplo, em um trecho da Av. Afonso Pena chegou 34.898/dia, com a calada apresentando nvel D de servio5 (Av. Afonso Pena entre Rua Machado de Assis e Rua Duque de Caxias - foto 05). Percebe-se que no h prioridade aos pedestres, por isso, a maioria das caladas no possuem infraestrutura adequada (estreitas, desniveladas, com inmeros obstculos fsicos e vendedores ambulantes) e no planejamento semafrico no existe tempo exclusivo para a travessia de pedestres (foto 06).

    Na perspectiva de uma mobilidade urbana universal e sustentvel, o pedestre deve ser a ateno das polticas pblicas e das intervenes a serem tomadas. No caso de Uberlndia, sobretudo nas avenidas Afonso Pena e a Floriano Peixoto que se destacam como eixos de pedestres, deve-se intensificar essa de priorizar o pedestre. Dentre as aes de priorizao do pedestre a serem empreendidas, previstas no Projeto de Requalificao, est a pedonizao, ou seja, a criao de calades a partir da reduo ou eliminao do trfego em algumas ruas do centro, onde forte a dinmica comercial, cultural ou turstica, cujo processo comum em vrias cidades, e tem efeitos positivos, conforme afirma Salgueiro (2005) com base em seus estudos em Portugal.

    Esse processo implicaria no aumento da especializao funcional, sobretudo na venda de artigos pessoais, restaurao, servios pessoais, bancos e seguros, na reestruturao da rede viria e em um

    3 Veculo de Carga Urbana (VUC),

    caminho com comprimento mximo

    de 5,50m, largura mxima de 2,20m

    e carga til acima de 1.500kg.

    4 Veculo Leve de Carga (VLC), camin-

    ho com comprimento mximo de

    6,30m e largura mxima de 2,20m e

    carga til acima de 1.500kg.

    5 Para o diagnstico do Projeto de

    Requalificao da rea Central, foram

    realizadas pesquisas de contagem

    volumtrica de pedestres, levantamen-

    to dos aspectos fsico-estruturais das

    caladas e registro fotogrfico, para

    calcular o nvel de servio das mesmas

    e os conflitos existentes. No total 22

    trechos foram analisados. Os nveis de

    servio vo de A a F, sendo que o nvel

    A corresponde s condies ideais e o

    nvel F, totalmente inadequado. O nvel

    D j considerado como uma situao

    inapropriada.

  • 21BeloHorizonte06(2)9-25julho-dezembrode2010LidianeAparecidaAlvesWlissesdosSantosCarvalhdoRosielliSantosArajoWilliamRodriguesFerreira

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    ARTIGoSCIENTFICoS

    reordenamento da circulao que passaria a concentrar-se, especialmente no entorno do ncleo central, onde estariam convergidos os estacionamentos e os terminais de transporte. Neste caso, a manuteno da acessibilidade fundamental.

    Quanto aos usurios do transporte coletivo, no h nenhuma prioridade para a circulao desse modal de transporte, bem como sistemas de informao ao usurio, o que aumenta o risco das pessoas que usufruem desse tipo de transporte se envolverem em acidentes. Na Pesquisa de Opinio desenvolvida pela Secretaria de Trnsito e Transporte de Uberlndia (SETTRAN), realizada na rea central em maro de 2008, a terceira maior reclamao dos usurios do transporte coletivo diz respeito s quedas no interior dos nibus, ocasionadas devido s freadas bruscas dos motoristas ao disputarem a via com os veculos particulares. Alm disso, os usurios tambm citaram os problemas com a superlotao, atraso no cumprimento dos horrios, nibus sujo e mal conservado e pontos de

    Foto05 Av. Afonso Pena entre Rua Machado de Assis

    e Rua Duque de Caxias

    Fonte:BancodedadosVERTRAN.

    Foto06 R. Duque de Caxias entre Av. Afonso

    Pena e Av. Floriano Peixoto

    Fonte:BancodedadosVERTRAN.

  • 22 BeloHorizonte06(2)9-25Julho-dezembrode2010Mobilidade Urbana Sustentvel em reas Centrais: reflexes sobre seus desafios a partir de Uberlndia-MG

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    parada sem infraestrutura6, cuja realidade materializada no condiz com os preceitos de mobilidade sustentvel, e conforme assegura Vasconcellos

    Apesar de todas as intervenes realizadas, estas condies permanecem insatisfatrias para a maioria,

    especialmente para aqueles que no tm acesso ao transporte privado: as grandes cidades dos pases em

    desenvolvimento apresentam baixos nveis de servio dos transportes pblicos, distribuio desigual de

    acessibilidade, altos ndices de acidentes de trnsito (envolvendo principalmente os papis mais vulnerveis,

    como pedestres e ciclistas), congestionamento, poluio ambiental e invaso dos espaos habitacionais e

    de vivncia coletiva por trfego inadequado. (VASCONCELLOS, 2001, p. 13),

    Se referindo aos motoristas de veculos particulares, enquanto agentes dessa rea, questionados na Pesquisa de Opinio sobre a possibilidade da troca do carro pela bicicleta com a construo de ciclovias, constatou-se que 85,5% do universo pesquisado responderam que no trocariam o carro pela bicicleta e apenas 14,5% dos motoristas disseram que fariam a troca. As porcentagens com relao a essa pergunta no so surpreendentes, afinal, conforme j discutido em outras ocasies nesse trabalho, sempre houve no pas incentivo ao uso do automvel, conferindo sua aquisio status, alm disso, perceptvel como o traado e sentido das vias favorecem a circulao dos veculos particulares na rea central da cidade.

    No entanto, o intenso fluxo de veculos na rea central gera congestionamentos em horrio de pico, aumento da poluio do ar e sonora, e da quantidade de espaos destinados ao automvel se comparado aos pedestres e ciclistas em relao ao nmero de usurios (fotos 07 e 08). De acordo com o diagnstico realizado para a Requalificao da rea Central, as principais vias arteriais desse

    Foto07 Falta bicicletrios na rea central.

    Fonte:BancodedadosVERTRAN.

    6 Para melhor compreenso, sa-

    lientamos que o sistema de trans-

    porte pblico por nibus da cidade

    composto pelo Sistema Integrado

    de Transporte SIT e pelo sistema

    convencional denominado Beija-Flor,

    mas ambos possuem a mesma tarifa. O

    SIT composto por cinco terminais de

    integrao, sendo um central e quatro

    perifricos e, em 2007, apresentava

    290.507 passageiros/dia (conside-

    rando a integrao) em 99 linhas e

    336 nibus.

  • 23BeloHorizonte06(2)9-25julho-dezembrode2010LidianeAparecidaAlvesWlissesdosSantosCarvalhdoRosielliSantosArajoWilliamRodriguesFerreira

    Geografias

    ARTIGoSCIENTFICoS

    local esto com sua capacidade de trfego prximo ao limite, principalmente no cruzamento da Av. Floriano Peixoto com R. Duque de Caxias, onde a alta concentrao de atividades tercirias ocasiona forte poder centralizador. Por outro lado, a Av. Cesrio Alvim, paralela Av. Floriano Peixoto a que ainda comporta maiores fluxos, devido ao menor ndice de atividades de comrcio e servios.

    Em relao aos ciclistas, ainda que se conhea os benefcios do uso da bicicleta, em que apenas os riscos de acidentes so desvantagens, percebe-se que, no apenas na rea central, mas em toda a cidade, no h uma rede cicloviria e estacionamentos para bicicletas suficientes para atender demanda. Em todo o centro existem apenas dois paraciclos, localizados em frente a Caixa Econmica Federal e a Escola Estadual Bueno Brando, sendo insuficiente para a demanda, diria de 11.411 ciclistas que trafegam pelo local, conforme a Pesquisa Volumtrica de Bicicletas realizado em 39 pontos da rea central. Na pesquisa de opinio, tambm realizada pela SETTRAN, questionados quanto aos principais problemas que enfrentam durante o percurso, os ciclistas alegaram, em primeiro lugar, a falta de respeito no trnsito, que movimentado nas vias que acessam em seus deslocamentos.

    Para a Comisso Europia (2000, p.33) os efeitos positivos da bicicleta sobre a sade e a qualidade de vida excedem de longe os anos de vida perdidos nos acidentes, sendo possvel garantir a segurana dos ciclistas atravs da disponibilizao de boas caractersticas fsicas em seu trajeto (bom pavimento, boa conduo, sinalizao, eventualmente dissociao do trfego), aliadas a uma postura responsvel dos ciclistas.

    No contexto analisado, comprova-se que a circulao nessa rea realmente acontece sem nenhuma priorizao aos pedestres, ciclistas e transporte pblico atravs de nibus, sendo o automvel o nico que recebe ateno, como a maior parte dos espaos destinados ele.

    Fonte:BancodedadosVERTRAN.

    Foto08 Paraciclo todo ocupado.

  • 24 BeloHorizonte06(2)9-25Julho-dezembrode2010Mobilidade Urbana Sustentvel em reas Centrais: reflexes sobre seus desafios a partir de Uberlndia-MG

    Geografias

    ARTIGoSCIENTFICoS

    Consideraes FinaisCom o intuito de contribuir, mas no de encerrar as discusses realizadas, acredita-se que a poltica

    a ser seguida na relao entre reas centrais e mobilidade urbana de uma maneira geral, a busca da sustentabilidade, compreendida como a realizao de deslocamentos sem comprometer o meio ambiente e a qualidade de vida, aproveitando o espao da melhor forma possvel. Assim, as aes devem prever a criao de atrativos capazes de conter a expulso da populao residente nesses locais, promovendo a diversidade de usos e de atividades, abrangendo a reutilizao de espaos pblicos e edificaes deterioradas ou subutilizadas, bem como a melhoria da infraestrutura dos equipamentos e servios urbanos.

    A circulao dos diversos agentes na rea central de Uberlndia ocorre de maneira conflituosa, demonstrando a necessidade de definio das prioridades na circulao do sistema virio. Dessa forma, essas medidas priorizando em primeiro lugar o pedestre, em segundo, o ciclista e, em terceiro, o transporte pblico por meio dos nibus. Alm disso, na circulao de cargas importante e necessrio aumentar a fiscalizao para que as leis municipais sejam de fato cumpridas.

    Alm dessa busca pela sustentabilidade, as polticas de mobilidade voltadas para as reas centrais, em particular o caso de Uberlndia, devem garantir tambm o acesso das pessoas com mobilidade reduzida. De acordo com o Censo IBGE 2000, somadas as pessoas com deficincia e as idosas (sem considerar indivduos com limitaes ou com temporrias restries de mobilidade, como acidentados, mulheres grvidas, crianas e outras), tnhamos cerca de 40 milhes de brasileiros com necessidades de solues de acessibilidade e, por conseguinte, de incluso social, vale dizer, de cidadania.

    Contudo, melhorar a qualidade da mobilidade urbana do local supracitado, passa essencialmente pelo avano conceitual sobre sustentabilidade urbana no contexto do sistema virio, da circulao de pessoas e bens, do transporte pblico atravs de nibus, bem como a reduo do volume de veculos no centro, que atualmente apresenta um nmero significativo. Essas alteraes devem ir ao encontro, espera-se, em um futuro no muito distante, implantao de sistemas intermodais, com nfase no transporte no motorizado (a p e bicicleta).

  • 25BeloHorizonte06(2)9-25julho-dezembrode2010LidianeAparecidaAlvesWlissesdosSantosCarvalhdoRosielliSantosArajoWilliamRodriguesFerreira

    Geografias

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