11.323/2005 e 11.382/2006 · curso avançado de processo civil . 10.ed. são paulo: revista dos...
TRANSCRIPT
1
EXECUÇÃO DE TÍTULO EXTRAJUDICIAL: UMA ANÁLISE SOBRE AS
MODIFICAÇÕES NO PROCESSO DE EXECUÇÃO EM FACE DAS LEIS Nº
11.323/2005 E 11.382/2006
Paola M Gallina1
Mariana M. Betioli2 Natália Taves Pires3
INTRODUÇÃO
O presente estudo irá discorrer acerca da execução de títulos extrajudiciais
no direito processual civil brasileiro. É importante destacar a importância da discussão de tal
tema, tendo em vista as recentes alterações legislativas das Leis 11.323/2005 e 11.382/2006,
as quais modificaram substancialmente o regime do processo de execução disposto no Código
de Processo Civil.
Primeiramente, será necessário apresentar noções gerais acerca da execução,
apontando a sua evolução histórica no direito brasileiro, bem como seu conceito e princípios a
ela aplicados. Posteriormente, cumpre demonstrar os requisitos gerais e específicos da
execução.
Para completar a primeira parte do trabalho, o qual tem por escopo explanar
as principais características da execução, impende destacar os seus dois tipos, quais sejam, o
processo de execução e o cumprimento de sentença, elucidando suas diferenças básicas, bem
como suas semelhanças.
Em análise à problemática suscitada, é imperioso apresentar os aspectos
gerais da execução de títulos extrajudiciais, destacando-se as suas espécies, dando primazia
àqueles títulos incluídos ou alterados com a reforma legislativa supracitada.
Demais disso, será demonstrado o procedimento do processo de execução
propriamente dito, distinguindo a execução de títulos extrajudiciais que imponham a
obrigação de pagar quantia certa, obrigação de fazer, não fazer e de entregar coisa certa ou
incerta.
1 Acadêmica do 4º ano de Direito da Universidade Estadual de Londrina. 2 Acadêmica do 4º ano de Direito da Universidade Estadual de Londrina. 3 Mestra em Teorias do Direito e do Estado pelo Centro Universitário Eurípides Soares da Rocha, Marília, SP; professora do Curso de Especialização em Direito Empresarial e pesquisadora da Universidade Estadual de Londrina; advogada.
2
Ressalta-se que ainda serão objeto deste trabalho as demais alterações da
nova lei 11.382/2006, as quais não foram tratadas nos tópicos supra, entretanto, terão um
capítulo próprio em que serão sopesadas minuciosamente.
Por fim, realizar-se-á uma análise sobre os embargos do executado,
apontando o seu cabimento, os requisitos para serem interpostos, assim como o seu
procedimento, evidenciando sua importância para o devedor que se vê frente a um processo
de execução. Noutro passo, ainda serão apresentados os embargos à arrematação, alienação e
adjudicação, além dos embargos por carta precatória.
1 EXECUÇÃO
1.1 BREVE HISTÓRICO NO DIREITO PROCESSUAL BRASILEIRO
Inicialmente, no que tange à ação de execução é importante demonstrar as
suas alterações legislativas no direito processual brasileiro. Ressalta-se que dessas alterações
cumpre destacar os grandes marcos da legislação processual que tratavam sobre a execução,
passando pelas Ordenações Filipinas, pelos Códigos de Processo Civil de 1939 e 1973,
chegando até o regime atual instituído pelas Leis nº 11.232./2005 e 11.382/2006.
No Livro III, Título 25 das Ordenações Filipinas havia três formas de
execução, sendo estas, a execução de sentença, a qual era uma fase do processo de
conhecimento; a ação de execução de títulos extrajudiciais, que somente se dava através de
processo autônomo e a assinação de dez dias também denominada de ação decendária, a qual
era uma ação de procedimento sumário que deu origem à atual ação monitória.
Tais formas de execução perduraram até o Código de Processo Civil de
1939, sendo certo que com a entrada em vigor desta legislação foi excluída a figura da ação
da assinação de dez dias, permanecendo inalteradas a execução de sentença e a ação de
execução.
O Código Processual Civil de 1979 foi o mais ousado, tendo alterado em
larga escala a execução, uma vez que em seu Livro II uniu a ação de execução para títulos
extrajudiciais e a execução de sentença, formando somente o processo de execução, este que
poderia ser utilizado para os ambos os títulos, tanto os judiciais como os extrajudiciais.
Pode-se dizer que as alterações legislativas ocorridas em face das Leis
11.232/2005 e 11.382/2006 são um retorno à sistemática anterior, a qual foi repudiada pelo
Código de 1979, tendo em vista que novamente separou a execução em processo autônomo e
em fase de execução de sentença condenatória, tendo destinado aquele à satisfação dos títulos
3
extrajudiciais e dos títulos judiciais não decorrentes do juízo cível e este à execução de títulos
judiciais civis.
Impende aduzir que o atual regime determinou que após o processo de
conhecimento haverá o cumprimento da sentença, extinguindo-se, nestes casos, a ação de
execução autônoma, devendo, desde logo que se encerrar a fase de conhecimento iniciar à
fase executiva. Ao revés, com relação à execução de títulos extrajudiciais e a título judiciais
não civis, esta continua ocorrendo por meio de nova ação denominada de processo de
execução.
Como se vê a alteração legislativa forneceu maior celeridade aos processos
judiciais, permitindo que fosse economizada uma via do judiciário, pois aquele que tem seu
direito declarado em processo judicial não necessita ingressar com ação autônoma, já que a
execução, isto é, o cumprimento da sentença será realizada no próprio processo sendo uma
fase subseqüente à de conhecimento.
1.2 CONCEITO
Execução é uma sanção imposta pelo Estado ao devedor inadimplente.
Quando o indivíduo não cumpre obrigação advinda de título judicial ou extrajudicial, a fim de
que venha adimpli-la, o estado, investido em seu caráter jurisdicional, através da sanção
“intromete-se no patrimônio do devedor, independentemente de sua concordância, ou impõe-
lhe meios coercitivos de pressão psicológica”4.
Os ilustres doutrinadores Marinoni e Arenhart5 prelecionam que:
[...] execução nada mais é do que uma prestação jurisdicional voltada à tutela do direito de crédito. Ora, quando a execução é fundada em título executivo extrajudicial, precedendo à eventual atividade cognitiva pode ser instaurada pelo devedor, ela obviamente deve iniciar mediante ação de execução. Porém, quando a execução é posterior à cognição, fundando-se em sentença, ela apenas constitui a fase final da ação voltada à tutela do direito material.
A doutrina clássica divide a execução em direta e indireta, sendo certo que
esta não considera como execução propriamente dita à indireta. Frisa-se que na execução
direta a realização do direito material ocorre por meio de sub-rogação, ou seja, a jurisdição
substitui a vontade do devedor e promove a execução forçada sem a cooperação do executado,
um exemplo disso é a penhora de um bem do devedor que será alienado e, o saldo levantado
4 ALMEIDA, Flávio Renato Correia de; TALAMINI, Eduardo; WAMBIER, Luiz Rodrigues. Curso Avançado de Processo Civil. 10.ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008. v.2. p.61. 5 ARENHART, Sérgio Cruz; MARINONI, Luiz Guilherme. Execução. 2.ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008. v.3. p.29.
4
com a venda, utilizado para solver a dívida com o exeqüente.
Em contraposição, a execução indireta, através da coação, atua sobre o
intento do devedor com o escopo de que este venha a cumprir voluntariamente a execução,
nesta vertente, pode se citar a imposição de multa para obrigar os devedores a cumprir as
obrigações de fazer e a de prisão para os devedores de alimentos.
Comungando dessas idéias, o processualista Humberto Theodoro Júnior6
também entende que os meios de coação, tais como a multa e a prisão, “[...] não são medidas
próprias do processo de execução, a não ser em feitio acessório ou secundário”, acrescentando
que o Estado na sub-rogação funciona “[...] como substituto do devedor inadimplente,
procurando, sem sua colaboração ou até contra a sua vontade, dar satisfação ao credor [...]”,
promovendo, desta forma, a execução forçada.
Embora seja o entendimento da doutrina majoritária não considerar a
execução indireta como uma forma de execução, alguns estudiosos7 argumentam que não há
problema em reputá-la como execução propriamente dita, anotando os professores Marinoni e
Arenhart que se “[...] recomenda a manutenção da distinção entre elas [...], mas com o grifo
de que ambas constituem formas de execução das tutelas jurisdicionais.”8
1.3 PRINCÍPIOS
Tendo em vista que a execução é um processo jurisdicional, todos os
princípios processuais gerais serão a ela aplicados. Entretanto, existem aqueles princípios que
são fundamentais a este instituto, tais como, o princípio da realidade da execução, princípio da
máxima utilidade, princípio do menor sacrifício ao devedor, assim como o princípio da
execução equilibrada e da disponibilidade.
O princípio da realidade da execução preleciona que responderão pela
dívida disposta no título executivo, os bens presentes e futuros (responsabilidade
patrimonial)9.
Ademais, o princípio da máxima utilidade da execução tem por escopo
solver integralmente a dívida do credor, dando a este tudo aquilo a que tem direito. Por sua
vez, o princípio do menor sacrifício, estabelece que quando for realizada execução deve haver
6 JÚNIOR, Humberto Theodoro. Curso de Direito Processual Civil. 41.ed. Rio de Janeiro: Forense, 2007. v.2. p.127. 7 Os doutrinadores Flávio Renato Correia de Almeida, Eduardo Talamini, Wambier, Marinoni e Arenhart. 8 ARENHART; MARINONI, op. cit., p.71. 9 Cf. Artigo 591 do Código de Processo Civil.
5
à utilização dos meios menos onerosos ao devedor.
Ressalta-se que o princípio da execução equilibrada, através do princípio da
proporcionalidade equilibra os princípios da máxima utilidade da execução e o do menor
sacrifício ao devedor, a fim de que o credor receba o valor mais próximo daquilo a que tem
direito sem que haja abuso do devedor, utilizando-se dos meios menos gravosos a este.
Por fim, o princípio da disponibilidade argumenta que o credor tem o direito
de desistir da execução, podendo dispor de tal faculdade, entretanto, em restrição a este
princípio vale citar que a desistência da execução necessita da anuência do devedor10.
1.4 REQUISITOS
Preliminarmente, convém dizer que a execução - processo de execução e o
cumprimento de sentença -, igualmente ao processo de conhecimento, deve apresentar os
pressupostos processuais e as condições da ação, sob pena de extinção sem a resolução de
mérito.11
Ressalta-se que os pressupostos processuais e as condições da ação são
considerados os requisitos gerais de qualquer ação proposta perante o Judiciário, à
inexistência de um desses, como já dito anteriormente impede o curso normal do processo,
podendo o mesmo ser extinto ex officio pelo juiz da causa a qualquer tempo e grau de
jurisdição.12
Além dos requisitos gerais, a execução necessita preencher alguns requisitos
específicos, estes estão dispostos nos Artigos 58013 e seguintes do Capítulo III, Título I, Livro
II do Código de Processo Civil.
O primeiro dos requisitos específicos, o qual é de suma importância para a
execução, é a existência de título executivo. Sem o título não há execução, isto é, vige a regra
de que nulla executio sine titulo.
Conforme o entendimento de Chiovenda apud Marinoni e Arenhart14 a
execução não pode ser realizada sem a presença de título, tendo em vista que é necessária a
10 Artigo 689 do Código de Processo Civil: “Art. 569. O credor tem a faculdade de desistir de toda a execução ou de apenas algumas medidas executivas. Parágrafo único. Na desistência da execução, observar-se-á o seguinte: [...] b) nos demais casos, a extinção dependerá da concordância do embargante.” 11 Artigo 267, incisos IV, V e VI do Código de Processo Civil. 12 Artigos 267, §3º e 301, §4º, ambos do Código de Processo Civil. 13 Artigo 580 do Código de Processo Civil: “A execução pode ser instaurada caso o devedor não satisfaça a obrigação certa, líquida e exigível, consubstanciada em título executivo” 14 ARENHART; MARINONI, op. cit., p.71.
6
certeza jurídica para se executar.
Destaca-se que no direito processual brasileiro existem os títulos judiciais e
os extrajudiciais, sendo que aqueles podem se dividir ainda em títulos provenientes do juízo
cível ou não decorrentes deste juízo15.
Outro requisito a ser anotado para a validade da execução é o
inadimplemento da obrigação pelo devedor. Nesta vertente, comenta-se que caso o devedor
venha adimplir voluntariamente a obrigação, não pode o credor provocar a tutela jurisdicional
para cobrar o cumprimento do direito material já satisfeito.
Além do título executivo, assim como do inadimplemento do mesmo, ainda
é requisito específico da execução a exigibilidade, a liquidez e a certeza da obrigação a ser
cumprida.
A obrigação é certa quando estiverem dispostos no título a natureza da
prestação, seu objeto e sujeitos. Diz-se que é exigível quando não exista condição ou termo
pendente e, se houverem, já tenham ocorrido. E, por fim, líquida quando há a quantificação ou
individualização dos bens no título, os quais podem ser verificados diretamente ou por meio
de cálculos, conforme o caso.
1.5 CLASSIFICAÇÃO DAS ESPÉCIES DE EXECUÇÃO
A execução pode ser classificada com relação à origem do título e à sua
estabilidade, quanto à natureza e ao objeto da prestação, quanto à especificidade do objeto da
prestação e à solvabilidade do devedor.
A classificação quanto à origem do título diz respeito à execução de título
extrajudicial e judicial. Ressalta-se que a distinção entre estas espécies será realizada no
tópico seguinte, sendo certo que neste momento apenas será citada a fim de se apresentar a
classificação supramencionada.
Com relação à estabilidade do título cumpre dizer que este pode ser de
execução provisória ou execução definitiva16, sendo certo que esta ocorre quando for fundada
em título executivo extrajudicial, bem como em sentença transitada em julgado, enquanto que
15 O Artigo 475-N do Código de Processo Civil trata dos títulos executivos judiciais, enquanto que o Artigo 585 do mesmo Codex refere-se aos títulos executivos extrajudiciais.
16 Artigo 475-O do Código de Processo Civil: “A execução provisória da sentença far-se-á, no que couber, do mesmo modo que a definitiva, observadas as seguintes normas: [...] Artigo 587 do Código de Processo Civil: “É definitiva a execução fundada em título extrajudicial; é provisória enquanto pendente apelação da sentença de improcedência dos embargos do executado, quando recebidos com efeito suspensivo (art. 739).”
7
aquela é realizada quando está pendente apelação da decisão de improcedência dos embargos
do executado com efeito suspensivo ou quando a sentença de mérito de processo de
conhecimento ainda não transitou em julgado.
Convém destacar que em caso de execução provisória, em regra, o credor
deve arcar com os danos que o executado sofreu em razão da execução que foi anulada por
acórdão. Noutro passo, o credor deve garantir a execução provisória por meio de caução
arbitrada pelo juiz e prestada nos autos, caso queira levantar depósito em dinheiro ou quando
deseja alienar bens do executado, ainda que esta alienação possa causar grave dano para o
devedor.
Quanto à natureza da prestação esta se divide em obrigação de fazer, não
fazer, ou de entregar. No que tange ao objeto da prestação este pode ser incerto ou certo,
destaca-se que quando o objeto é incerto este deve ser escolhido pelo devedor ou pelo credor,
dependendo do que foi pactuado no título.
No que tange a especificidade do objeto da prestação, frisa-se que esta é
normalmente disposta nas obrigações de fazer, não fazer ou de entregar, isto é, o credor
especifica qual deverá ser a obrigação cumprida no título, podendo ser esta a construção de
uma casa ou ainda a entrega de certa quantidade de sacos de soja, salientando-se que a
obrigação estabelecida nas execuções específicas não poderão ser o pagamento em espécie.
Por sua vez, a execução é genérica quando a obrigação a ser cumprida é o
pagamento em dinheiro – moeda corrente. Frisa-se que a execução específica quando
frustrada pode se transformar em genérica, devendo o credor requerer esta transformação.
Vale dizer que caso a execução genérica ou específica não forem satisfeitas
em face de insuficiência de bens do patrimônio do devedor ela é considerada infrutífera,
entretanto, se for encontrado “frutos no patrimônio do réu, permitindo a realização do direito
mediante a expropriação de bens” 17 haverá a execução frutífera.
Finalizando a classificação das espécies de execução, cita-se àquela
referente à solvência do devedor, sendo certo que a execução por quantia certa pode ocorrer
de duas maneiras, isto é, contra devedor solvente e contra devedor insolvente, a primeira
seguirá os procedimentos dos Artigos 475-J (execução de títulos judiciais) ou 646 a 651
(execução de títulos extrajudiciais) do Código de Processo Civil, tendo em vista que o
patrimônio do devedor é suficiente para solver a obrigação, enquanto que na segunda aplicar-
se-ão as disposições dos Artigos 748 a 786-A do Estatuto Processual Civil, uma vez que o
17 ARENHART; MARINONI, op. cit., p.71.
8
patrimônio do devedor é inferior à dívida para com o credor. Evidencia-se que caso o devedor
seja empresário ou sociedade empresária serão seguidos os procedimentos da Lei de Falência.
1.6 DISTINÇÃO ENTRE A EXECUÇÃO DE TÍTULO JUDICIAL E EXTRAJUDICIAL
Conforme analisado anteriormente, as alterações legislativas do processo
civil, ocorridas nos anos de 2005 e 2006, distinguiram a execução de títulos judiciais
decorrentes do juízo cível da execução de títulos extrajudiciais e judiciais, tais como a
sentença arbitral e a sentença penal condenatória. Desta feita, duas são as formas de execução,
sendo certo que estas são determinadas em face da natureza do título a ser executado.
Neste diapasão, vale dizer que a alteração legislativa criou a fase do
cumprimento de sentença para a execução de títulos judiciais, tais como, as obrigações de
fazer, não fazer e entrega de coisa certa, assim, uma vez encerrado o processo de cognição e
prolatada a sentença, haverá a execução. Nota-se que não haverá ação autônoma, mas apenas
uma fase subseqüente do processo de conhecimento.
Ao revés, a execução de títulos extrajudiciais e judiciais não decorrentes do
juízo cível “sempre demandará a instauração de processo novo, destinado exclusivamente a
realizar o direito representado pelo título executivo”.18
É necessário dizer que diferentemente do título executivo judicial, a criação
do título extrajudicial se dá sem qualquer intervenção do judiciário, desta forma, é facultado
ao executado intentar ação incidental de conhecimento, denominada de ação de embargos,
podendo alegar qualquer matéria que for de seu interesse para a desconstituição do título.
Pelo exposto, a defesa do executado é exercida através da ação de embargos,
a qual é um processo incidente aos autos de execução, este ainda é um processo de
conhecimento de cognição plena e exauriente em que se discute sobre a validade do título e
do crédito cobrado.
Ressalta-se que em razão do título judicial ter sido constituído por meio de
sentença ou homologação da jurisdição, após processo de conhecimento, a lei restringe as
matérias alegáveis para a impugnação do mesmo, dispondo no Artigo 475-L do Código de
Processo Civil19 as matérias que poderão ser ventiladas nesta peça processual.
18 Ibid., p.430. 19 Artigo 475-L do Código de Processo Civil: “A impugnação somente poderá versar sobre: I – falta ou nulidade da citação, se o processo correu à revelia; II – inexigibilidade do título; III – penhora incorreta ou avaliação errônea; IV – ilegitimidade das partes;
9
Convém dizer que o Artigo 475-L do Código Processual Civil foi
acrescentado pela Lei 11.232/2005 e claramente conferiu maior celeridade à execução no que
tange ao cumprimento de sentença, tendo em vista que restringiu a argüição de matéria que
eventualmente poderia ter sido alegada durante o processo de conhecimento.
Embora seja necessária para que haja efeito suspensivo, tanto na
impugnação como nos embargos à execução, a demonstração de dano grave e de difícil
reparação em face da execução20, urge salientar ser mais fácil conseguir efeito suspensivo da
execução nos embargos, já que não existe restrição às matérias alegadas, o que tornam os
fundamentos apresentados na referida defesa do devedor mais relevantes.
Cabe esclarecer ainda que o novo regime da execução, outra vez visando
facilitar, bem como dar ao processo um caminho mais eficaz e célere, permitiu que, depois de
encerrado o processo de conhecimento, ocorra início da execução através de mera
apresentação de petição ao juízo pelo credor, requerendo o cumprimento da sentença, sendo o
devedor, ora executado apenas intimado de tal situação. Em contraposição, na execução de
título extrajudicial, como analisado supra, será interposto um processo autônomo, sendo certo
que será o devedor citado da instauração do mesmo.
Com o escopo de impor o cumprimento da sentença, o Código de Processo
Civil determinou que caso a decisão de mérito não fosse adimplida pelo devedor, este ficaria
incurso na sanção da pena de multa de 10% (dez por cento) do montante devido, após o que
poderá o credor requerer a expedição de mandado de penhora e avaliação.21
Além de o inadimplemento da obrigação de títulos extrajudiciais não
permitir a imposição de multa ao devedor, este ainda pode ser beneficiado com a sanção
V – excesso de execução; VI – qualquer causa impeditiva, modificativa ou extintiva da obrigação, como pagamento, novação, compensação, transação ou prescrição, desde que superveniente à sentença. § 1o Para efeito do disposto no inciso II do caput deste artigo, considera-se também inexigível o título judicial fundado em lei ou ato normativo declarados inconstitucionais pelo Supremo Tribunal Federal, ou fundado em aplicação ou interpretação da lei ou ato normativo tidas pelo Supremo Tribunal Federal como incompatíveis com a Constituição Federal. § 2o Quando o executado alegar que o exeqüente, em excesso de execução, pleiteia quantia superior à resultante da sentença, cumprir-lhe-á declarar de imediato o valor que entende correto, sob pena de rejeição liminar dessa impugnação.” 20 Ver os Artigos 475-M e 739-A, §1º do Código de Processo Civil. 21 Artigo 475-J do Código de Processo Civil: “Caso o devedor, condenado ao pagamento de quantia certa ou já fixada em liquidação, não o efetue no prazo de quinze dias, o montante da condenação será acrescido de multa no percentual de dez por cento e, a requerimento do credor e observado o disposto no art. 614, inciso II, desta Lei, expedir-se-á mandado de penhora e avaliação.”
10
premiativa22, em que o devedor terá os honorários advocatícios fixados pelo juiz reduzidos à
metade caso venha atender a citação, no prazo de 3 (três) dias, solvendo integralmente o
débito devido ao credor.
Segundo os ensinamentos de Marinoni e Arenhart23: Na execução da sentença condenatória, trabalha-se com outro tipo de sanção, isto é, com uma sanção punitiva, voltada a estimular o devedor a pagar para não sofrer a multa de dez por cento, e não com uma sanção dirigida a estimulá-lo a cumprir para se beneficiar com a redução do valor pago. A distinção entre as sanções decorre da diferença entre a sentença condenatória e o título extrajudicial, sendo claro que o condenado não merece a mesma espécie de estímulo que o devedor de título extrajudicial.
Na execução de títulos extrajudiciais, ainda na mesma vertente de que o
devedor interessado em solver o débito deve ser beneficiado, é facultado àquele que, após
citado venha imediatamente depositar o montante de 30% (trinta por cento) do valor da
execução, o pagamento do restante em até seis vezes, com correção monetária e juros de
1%(um por cento) ao mês24.
Diante do exposto, percebe-se que com a alteração legislativa a
diferenciação entre a execução de títulos extrajudiciais e judiciais tornou-se muito clara,
sendo certo que o ingresso, bem como os procedimentos utilizados para ambas são bem
diversos.
Vale dizer que, por ora, apenas foi realizado um apanhado geral sobre a
execução, nos tópicos seguintes será discutida a problemática do trabalho, abordando-se
minuciosamente a execução de títulos extrajudiciais e as recentes alterações legislativas.
2 EXECUÇÃO DE TÍTULO EXTRAJUDICIAL
Em que pese já tenha sido exaustivamente citado, cumpre repetir que a
execução de título extrajudicial é aquela em que o credor munido desta espécie de título,
ingressa com uma ação autônoma perante o judiciário a fim de dar início à execução,
“independentemente de qualquer indagação sobre a existência ou não do crédito
22 Artigo 652-A do Código de Processo Civil: “Ao despachar a inicial, o juiz fixará, de plano, os honorários de advogado a serem pagos pelo executado (art. 20, § 4o).” Parágrafo único. No caso de integral pagamento no prazo de 3 (três) dias, a verba honorária será reduzida pela metade.” 23 ARENHART; MARINONI, op. cit., p.433. 24 Artigo 745-A do Código de Processo Civil: “Art. 745-A. No prazo para embargos, reconhecendo o crédito do exeqüente e comprovando o depósito de 30% (trinta por cento) do valor em execução, inclusive custas e honorários de advogado, poderá o executado requerer seja admitido a pagar o restante em até 6 (seis) parcelas mensais, acrescidas de correção monetária e juros de 1% (um por cento) ao mês.”
11
demandado”25. Em posse do título “o credor tem o poder de intrometer-se no patrimônio do
executado, expropriando seus bens, ainda que possa haver discussão.”26
2.1 ESPÉCIES DE TÍTULO EXECUTIVO EXTRAJUDICIAL
Os títulos em exame são considerados atos ou documentos que representam
a certeza da existência do direito, e, portanto, de sua exigibilidade. Por ser desnecessária a
instauração de prévio processo de conhecimento para sua formação, afere-se que estes títulos
indicam “certa probabilidade da existência do direito” ou ainda, “boa dose de verossimilhança
acerca da existência dos fatos constitutivos do direito”.27
Os títulos executivos extrajudiciais só poderão ser instituídos por lei federal,
pois compete exclusivamente à União legislar sobre matéria processual. Sendo assim, estes
modelos de títulos estão previamente definidos em lei, especialmente elencados nos incisos do
Artigo 585 do Código de Processo Penal, em obediência ao Princípio da Tipicidade Legal do
Título Executivo. Cabe unicamente ao legislador conferir o caráter de título executivo a um
ato ou documento, razão pela qual são considerados numerus clausus. Assim, como os
demais, devem preencher os requisitos de certeza, liquidez e exigibilidade.
Registre-se que os títulos executivos somente serão criados através do
direito processual, sendo que este ramo contempla a lei vigente no momento da prática do ato.
Deste modo, conclui-se que, no momento da propositura da ação de execução, deve se levar
em conta se o ato mencionado constitui título executivo capaz de fundamentar o pedido de
adimplemento da obrigação.
As espécies abordadas no inciso I do Artigo supracitado referem-se aos
títulos cambiais ou de crédito, quais sejam: a letra de câmbio, nota promissória, duplicata,
debênture e o cheque. Ressalta-se que estes se diferenciam dos demais títulos extrajudiciais,
pois estão investidos de características próprias, tais como a literalidade, o formalismo, a
autonomia, a abstração e a circulação.
Já o inciso II trata da eficácia executiva conferida à escritura pública ou ao
documento público assinado pelo devedor, bem como ao documento particular assinado por
25 ARENHART; MARINONI, op. cit., p.436. 26 Ibid., loc. cit. 27 MARINONI, Luiz Guilherme. Efetividade do processo e tutela de urgência. Porto Alegre: Fabris, 1994. p.25 e ss.
12
este e mais 02 (duas) testemunhas e ao instrumento de transação referendado pelo Ministério
Público, pela Defensoria Pública ou pelos advogados dos transatores.
Em seguida, a Lei contempla os contratos garantidos por hipoteca, penhor,
anticrese e caução, assim como os de seguro de vida. Destaca-se que as 04 (quatro) primeiras
hipóteses são consideradas direitos reais de garantia.
O inciso IV faz alusão ao crédito decorrente de foro e laudêmio. Sobre o
tema, impende conceituar os dois institutos para melhor compreender sua inserção no artigo.
Foro é verba anual que o enfiteuta paga ao proprietário, em razão do
domínio útil que exerce sobre o imóvel. Laudêmio é a quantia a ser paga ao proprietário,
quando este domínio útil for transferido por venda ou dação em pagamento.
Feitas as considerações supra, vale salientar que tais institutos decorrem da
enfiteuse, esta que foi expressamente extinta pelo novel Código Civil. Entretanto, as que ainda
persistem devem se subordinar ao Código Civil de 1916.
O crédito proveniente de aluguel de imóvel e decorrente de encargos
acessórios, como taxas e despesas do condomínio (inciso V, do Artigo 585 do Código de
Processo Civil), ganhou maior eficácia executiva através da Lei nº 11.382/2006, uma vez que
no novo sistema apenas é necessária a comprovação documental, sendo prescindível o
instrumento contratual por escrito.
Na seqüência, encontram-se os créditos pertencentes aos auxiliares da
justiça, como o escrivão, oficiais de justiça, contador, avaliador, intérprete ou ainda o tradutor.
Tais créditos, dispostos no inciso VI do supracitado Artigo, devem ser aprovados mediante
decisão judicial e serão cobrados da parte vencida no processo, sendo que o valor a ser
cobrado será somente aquele que não foi adiantado no decorrer do processo.
No inciso VI, está elencada a certidão da dívida ativa da Fazenda Pública da
União, Estado, Distrito Federal, Território e Município. A inscrição em dívida ativa, conforme
previsão do Art. 5º, LV, da Constituição Federal, é precedida de procedimento administrativo,
por meio do qual é garantida a efetivação do contraditório por parte do administrado. A
aludida certidão irá representar um título executivo, o qual irá instruir procedimento especial
de execução, qual seja, a execução fiscal.
Por fim, o inciso VII encerra a enumeração do Artigo 585 do Estatuto
Processual Civil, prevendo a existência de títulos executivos extrajudiciais abrangidos pela
legislação extravagante, tais como as cédulas de crédito rural (Decreto-lei 167/67, Artigo 41),
13
industrial (Decreto- lei 413/69, Artigo 10) e comercial (Lei 6.840/80 c/c o Decreto- Lei
413/69).
Ainda neste sentido, vale destacar os títulos executivos extrajudiciais
provenientes de outro país, aos quais o ordenamento jurídico pátrio não impõe a homologação
no Brasil como condição para que o mesmo esteja investido de validade e força executiva.
2.2 PROCEDIMENTO
Preliminarmente, urge ressaltar que a execução de títulos extrajudiciais
exige os requisitos gerais para a constituição e validade de qualquer processo. Porém, no
presente caso, a execução se realiza, particularmente, através de um processo autônomo,
sendo-lhe dispensada a instauração de prévio processo de conhecimento, pois não há exame
nem discussão de direito, apenas busca-se sua materialização e execução imediata. Entretanto,
a ação de conhecimento poderá surgir de forma incidental no processo de execução como
forma de defesa do executado, como se verá oportunamente.
No que tange à classificação das espécies de execução, esta pode ser
individualizada quanto à natureza e objeto da prestação, ou seja, em obrigação de pagar
quantia certa, obrigação de fazer e não fazer e entrega de coisa.
2.2.1 Obrigação de Pagar Quantia Certa
Com o intuito de conferir maior eficácia e celeridade ao processo em geral,
a Lei 11.382/2006 alterou significativamente as regras do processo de execução, facilitando o
acesso e constrição pelo credor dos bens do devedor. Referida medida tem o escopo de
permitir uma maior satisfação do crédito e, desta maneira, alcançar a solução do impasse
gerado pelo inadimplemento da obrigação assumida.
Em linhas gerais, o processo executivo se inicia através de petição inicial, a
qual deve conter, como todas as demais, os requisitos enunciados no Artigo 282 do Código de
Processo Civil, assim como os requisitos específicos da execução previstos no Artigo 614,
inciso II, do mesmo Estatuto Processual.
Desta forma, além dos requisitos gerais para a apresentação da petição
inicial, ainda é necessária a juntada do título executivo extrajudicial, bem como a
demonstração do valor atualizado do débito (discriminado por meio de cálculo aritmético) e a
comprovação de que se transcorreu o termo e se verificou a condição, quando houver estes
institutos restringindo a exigibilidade do título.
14
Para a completa formação do processo, o réu deverá ser citado para, deste
modo, ser chamado a integrar a lide, estabelecendo a relação jurídica processual. Trata-se de
um ato essencial à formação do processo, pois é através dele que se permitirá ao réu o pleno
exercício do contraditório.
A antiga redação do Artigo 652 do Estatuto Processual Civil previa que o
executado, após a citação, dispunha de apenas 24 (vinte e quatro) horas para efetuar o
pagamento voluntário da dívida ou nomear bens à penhora. Com a entrada em vigor da
supracitada Lei28, o prazo foi modificado para 03 (três) dias, ademais, foi fixada a faculdade
de nomeação de bens a penhora para o exeqüente, sendo exceção no atual regime, a indicação
de bens a penhora pelo devedor29. Embora haja demasiada controvérsia, a doutrina majoritária
entende que o referido prazo tem início a partir da juntada do mandado de citação aos autos e
não, como alguns defendem, do momento da própria citação do executado.
Frise-se que no momento do recebimento da petição inicial o juiz procederá,
desde logo, ao arbitramento dos honorários de sucumbência. Assim agindo, o magistrado
evita nova execução no futuro referente ao mesmo título, o que poderia retardar ainda mais a
conclusão do processo. Deste modo, havendo o adimplemento integral no prazo descrito
acima, o valor dos aludidos honorários será reduzido pela metade30. Tal medida constitui
sanção premiativa ao devedor, a fim de estimular o pagamento do crédito.
Citado o devedor e, transcorrido o prazo destinado ao adimplemento
espontâneo da dívida, o oficial de justiça irá verificar em Juízo se, de fato, realizou-se o
pagamento. Caso não tenha sido efetuado, servirá da segunda via do mandado de citação para
proceder à penhora e posterior avaliação dos bens do devedor, lavrando-se o termo respectivo.
Não sendo encontrado o executado, o oficial de justiça poderá realizar o
arresto de bens para a satisfação da execução31. Permanecendo desconhecido o paradeiro do
devedor, será o mesmo citado por edital. Caso o executado não se manifeste, o arresto será
28 Artigo 652 do Código de Processo Civil: “O executado será citado para, no prazo de 3 (três) dias, efetuar o pagamento da dívida”. 29 Artigo 652 do Código de Processo Civil: “[...] § 2o O credor poderá, na inicial da execução, indicar bens a serem penhorados (art. 655). § 3o O juiz poderá, de ofício ou a requerimento do exeqüente, determinar, a qualquer tempo, a intimação do executado para indicar bens passíveis de penhora.” 30 Art. 652-A do Código de Processo Civil: “[...] Parágrafo único. No caso de integral pagamento no prazo de 3 (três) dias, a verba honorária será reduzida pela metade.” 31 Art. 653 do Código de Processo Civil: “O oficial de justiça, não encontrando o devedor, arrestar-lhe-á tantos bens quantos bastem para garantir a execução. Parágrafo único. Nos 10 (dez) dias seguintes à efetivação do arresto, o oficial de justiça procurará o devedor três vezes em dias distintos; não o encontrando, certificará o ocorrido.
15
convertido em penhora, prosseguindo a execução em todos os seus moldes, entretanto, será
lhe nomeado curador32.
Da realização da penhora, o executado será imediatamente intimado. Ocorre
que, quando não for possível localizá-lo, o juiz poderá dispensar a intimação ou determinar
novas diligências. Neste sentido, alude o eminente doutrinador Humberto Theodoro Junior
apud Igor Raatz dos Santos33 que “a lei não quer que o executado, já ciente da execução pelo
ato citatório, crie embaraço intencional à intimação da penhora, e, consequentemente, ao
prosseguimento da execução”.
De outro vértice, o devedor, devidamente intimado acerca da penhora
realizada, possui a prerrogativa de substituir os bens penhorados, atendendo às exigências dos
Artigos 656 e 668 do Código de Processo Civil34. É mister salientar que, através da citação,
ato pelo qual o devedor ficará ciente da ação de execução, será aberto prazo de 15 (quinze)
dias para que o mesmo ofereça embargos à execução, não se confundindo este prazo com o
concedido para a substituição dos bens penhorados.
Vale destacar que, ao contrário da antiga Lei, o devedor não mais dispõe da
preferência de indicação de bens à penhora, cabendo ao credor a prerrogativa de apontá-los e
a escolha sobre qual deles deseja que recaia a constrição. Além disso, o exeqüente possui o
32 Art. 654 do Código de Processo Civil: “Compete ao credor, dentro de 10 (dez) dias, contados da data em que foi intimado do arresto a que se refere o parágrafo único do artigo anterior, requerer a citação por edital do devedor. Findo o prazo do edital, terá o devedor o prazo a que se refere o art. 652, convertendo-se o arresto em penhora em caso de não-pagamento. 33 RAATZ, Igor dos Santos. Execução de título extrajudicial; Algumas considerações acerca de alterações Introduzidas pela Lei 11.382/2006. Disponível em: <http://iargs.com.br/index.php?option=com_content&task=view&id=96&Itemid=59>. Acesso em: 20 jun. 2008. 34 Art. 656 do Código de Processo Civil: “A parte poderá requerer a substituição da penhora: I - se não obedecer à ordem legal; II - se não incidir sobre os bens designados em lei, contrato ou ato judicial para o pagamento; III - se, havendo bens no foro da execução, outros houverem sido penhorados; IV - se, havendo bens livres, a penhora houver recaído sobre bens já penhorados ou objeto de gravame; V - se incidir sobre bens de baixa liquidez; VI - se fracassar a tentativa de alienação judicial do bem; ou VII - se o devedor não indicar o valor dos bens ou omitir qualquer das indicações a que se referem os incisos I a IV do parágrafo único do art. 668 desta Lei. [...]” Art. 668 do Código de Processo Civil: “ O executado pode, no prazo de 10 (dez) dias após intimado da penhora, requerer a substituição do bem penhorado, desde que comprove cabalmente que a substituição não trará prejuízo algum ao exeqüente e será menos onerosa para ele devedor (art. 17, incisos IV e VI, e art. 620). Parágrafo único. Na hipótese prevista neste artigo, ao executado incumbe: I - quanto aos bens imóveis, indicar as respectivas matrículas e registros, situá-los e mencionar as divisas e confrontações; II - quanto aos móveis, particularizar o estado e o lugar em que se encontram; III - quanto aos semoventes, especificá-los, indicando o número de cabeças e o imóvel em que se encontram; IV - quanto aos créditos, identificar o devedor e qualificá-lo, descrevendo a origem da dívida, o título que a representa e a data do vencimento; e. V - atribuir valor aos bens indicados à penhora. (Incluído pela Lei nº 11.382, de 2006).”
16
direito de requerer, antes mesmo da citação do executado, a penhora online, por meio da qual
o juiz bloqueia as contas e aplicações financeiras registradas no Cadastro de Pessoas Físicas
(CPF) ou Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ) do devedor em todo o território
nacional.
Após a constrição, será feito o depósito do bem penhorado, com a nomeação
de depositário, o qual irá atuar como verdadeiro auxiliar do juízo e será o responsável legal
pela guarda e conservação do bem, até ulterior deliberação judicial.
Consoante a antiga regra, era o devedor quem possuía preferência em
assumir tal função. No entanto, com o advento da Lei 11.382/2206, o executado só será
investido desta condição se houver anuência expressa do credor.
Por conseguinte, será realizada avaliação e, na seqüência, a expropriação
executiva dos bens penhorados a fim de proceder à satisfação do crédito do exeqüente. Da
análise do Artigo 647 da nova Lei35, emergem 04 (quatro) hipóteses do referido instituto,
quais sejam: a adjudicação em favor do exeqüente ou de credor com garantia real sobre o
bem, a alienação por iniciativa popular, alienação judicial (arrematação) ou ainda o usufruto
de bem móvel ou imóvel.
Considerada a hipótese mais comum, a alienação judicial refere-se à venda
realizada através de leilão, no caso de bens móveis, ou de praça, para bens imóveis, a quem
oferecer o maior lance.
Todavia, com o objetivo de dar maior efetividade à venda dos bens
penhorados, evitando que sejam arrematados por valor ínfimo, a nova Lei priorizou a
adjudicação do bem, por meio da qual o próprio credor ou aquele que possua garantia real
sobre o bem penhorado, têm a possibilidade de adquiri-lo, preferencialmente. Além disso,
podem requerer a adjudicação em seu favor, os credores que hajam penhorado o mesmo bem,
o cônjuge, os descendentes ou ascendentes do executado. Havendo vários pretendentes à
adjudicação, far-se-á licitação entre os concorrentes.
Por sua vez, a alienação por iniciativa particular representa um grande
avanço, uma vez que a publicidade se estende à via eletrônica, aumentando
consideravelmente a divulgação. De outro lado, possuindo o credor a alternativa de procurar
35 Artigo 647 do Código de Processo Civil: “A expropriação consiste: I - na adjudicação em favor do exeqüente ou das pessoas indicadas no § 2o do art. 685-A desta Lei; (Redação dada pela Lei nº 11.382, de 2006). II - na alienação por iniciativa particular; (Redação dada pela Lei nº 11.382, de 2006). III - na alienação em hasta pública; (Redação dada pela Lei nº 11.382, de 2006). IV - no usufruto de bem móvel ou imóvel. (Incluído pela Lei nº 11.382, de 2006).”
17
pessoalmente compradores ou indicar corretor que o faça, permite-se que o bem seja vendido
por valor justo e compatível com o obtido através da avaliação.
No que tange ao usufruto, a nova Lei 11.382/2006 introduziu modificação
relevante, passando a permitir que o mesmo recaia tanto sobre bem móvel como imóvel. O
juiz concederá tal medida quando esta representar menor gravidade para o executado e maior
eficiência para a satisfação do crédito.
Nas hipóteses do Art. 670 do Código de Processo Civil 36, poderá ser
efetuada a alienação antecipada dos bens penhorados quando estes estiverem sujeitos à
depreciação ou deteriorização ou, ainda, quando representar manifesta vantagem. Referida
medida visa impedir prejuízos, tanto para o credor como para o devedor, na medida em que os
bens, por sua própria natureza, correm o risco de perecer caso não sejam alienados no
momento oportuno. Tal procedimento, norteado pelo contraditório, pode ser requerido por
qualquer das partes e até mesmo pelo juiz e procederá da mesma forma da alienação
definitiva. Após a efetivação da venda, a quantia obtida será depositada em Juízo, aguardando
autorização judicial para que seja entregue ao credor.
Por fim, no que diz respeito à competência para julgamento do processo, a
execução fundada em título extrajudicial seguirá as regras comuns de competência. Em regra,
o juízo competente será o do lugar em que a obrigação deveria ser satisfeita. Porém esta
diretriz poderá ser desconsiderada pelas partes, uma vez que se trata de competência territorial
e, por sua vez, relativa.37
2.2.2 Obrigação de Fazer
Inadimplida a obrigação de fazer no prazo determinado, o procedimento irá
prosseguir, conforme a espécie da prestação, de duas maneiras diferentes. Quando a prestação
de fazer possuir caráter infungível, ou seja, não puder ser satisfeita senão pelo próprio
devedor, tendo em vista suas características específicas, será convertida em perdas e danos,
procedendo-se, por conseguinte, à liquidação do valor. A partir de então, a execução
prosseguirá por quantia certa, como visto acima.
36 O juiz autorizará a alienação antecipada dos bens penhorados quando: I - sujeitos a deterioração ou depreciação; II - houver manifesta vantagem. Parágrafo único. Quando uma das partes requerer a alienação antecipada dos bens penhorados, o juiz ouvirá sempre a outra antes de decidir. 37 Para a execução fundada em título extrajudicial, a preferência para fixação do foro competente observa a seguinte ordem: a) foro de eleição; b) lugar do pagamento; e c) domicílio do réu (STJ, 2ª Seção, CC 4.404-1 – PR, Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira, j. 25.8.1993, v.u., DJU de 20.9.1993, p. 19132).
18
De outro lado, caso exista a possibilidade de a prestação ser cumprida por
outra pessoa, que não o devedor, o credor terá a opção de requerer que a mesma seja
adimplida por terceiro ou que se resolva em perdas e danos. Convém mencionar que, caso o
credor opte pelo cumprimento por terceiro, o adimplemento seguirá às custas do executado.
Prestada a obrigação por terceiro, o juiz ouvirá as partes para oporem
impugnação, apontando eventual descumprimento do prazo estipulado, bem como
adimplemento defeituoso ou incompleto. Deste modo, conforme redação do Artigo 636 do
Código de Processo Civil38, o credor poderá requerer ao juiz autorização para, por si só,
concluir a prestação, por contra do contratante. De outro vértice, não havendo reclamações
nem reparações a realizar, dará por cumprida a obrigação.
2.2.3 Obrigação de Não Fazer
A obrigação de não fazer consiste na abstenção, pelo devedor, da prática de
determinado ato, previsto em lei ou convencionado por meio de um contrato. Esta modalidade
de prestação é de cunho personalíssimo, e, por sua vez, infungível, sendo impossível seu
adimplemento por terceiro.
Tendo o devedor praticado determinada conduta da qual estava impedido, o
credor poderá requerer ao juiz que lhe estipule prazo para desfazimento do ato. Para tanto, o
Estatuto Processual Civil prevê sanção consistente em multa coercitiva por dia de atraso, com
o objetivo de constranger o devedor desfazer o que não deveria ter feito.
Ocorre que, em situações específicas, não existe a possibilidade de
desfazimento do ato praticado, ou ainda, não há mais interesse por parte do credor,
ocasionando, desta forma, a resolução da obrigação em perdas e danos. Sendo assim, se
procederá a liquidação do valor devido, seguindo a execução por quantia certa, conforme
visto anteriormente.
Por fim, vale destacar que, havendo a impossibilidade de abstenção por
parte do devedor, por motivos alheios à sua vontade, a obrigação será declarada extinta.
38 “Art. 636. Se o contratante não prestar o fato no prazo, ou se o praticar de modo incompleto ou defeituoso, poderá o credor requerer ao juiz, no prazo de 10 (dez) dias, que o autorize a concluí-lo, ou a repará-lo, por conta do contratante.”
19
2.2.4 Obrigação de Entrega de Coisa
Este modelo de obrigação divide-se em entrega de coisa certa ou
determinada ou entrega de coisa incerta ou indeterminada. A primeira refere-se à entrega de
coisa perfeitamente individualizada, pois é considerada objeto único e precioso, não dispondo
o devedor da opção de entregar coisa diversa da acordada.
Neste caso, se a coisa vier a perecer sem culpa do devedor, cabe ao credor
dar a obrigação por extinta ou aceitá-la no estado em que se encontra, abatendo no preço o
valor do estrago. Havendo culpa por parte do devedor, este responderá pelo equivalente
acrescido de perdas e danos.
Ao revés, a obrigação de entrega de coisa incerta consiste na relação
obrigacional, onde, a princípio, o objeto é indicado de forma genérica, tornando-se
determinado, mediante escolha do credor ou do devedor, na ocasião do adimplemento. Na
ausência de norma que discipline a quem competirá a referida escolha, esta será do devedor.
Entretanto, o executado não poderá entregar coisa pior do que a avençada, porém, não estará
obrigado à entrega da melhor39.
2.3 A NOVA LEI 11.382/2006
Vislumbram-se ainda outras mudanças trazidas pela nova Lei, as quais
foram criadas com vistas a assegurar o pagamento da dívida e desestimular a inadimplência e,
por sua vez, alteraram sensivelmente o processo de execução. Umas delas é a imposição de
multa de 20% (vinte por cento) sobre o valor do débito quando for comprovada a omissão de
patrimônio do credor ou então na hipótese de interposição de recursos protelatórios.
Diante da necessidade de impedir que o devedor dilapide seu patrimônio,
deixando de cumprir com a obrigação contraída, a nova Lei introduziu modificação relevante,
tendo em vista que, no momento da propositura da ação de execução, o exeqüente receberá
uma certidão comprovando o ajuizamento da ação, a qual poderá ser averbada no registro de
imóveis, de veículos ou ainda no registro de quaisquer outros bens do devedor e passíveis de
penhora. A mencionada averbação não impede a alienação dos bens, no entanto, possui
caráter inibitório, uma vez que objetiva dificultar que o executado se desfaça de seu
patrimônio de forma irresponsável e fraudulenta.
39 Cf. enuncia o Artigo 244 do Código Civil, 2ª parte.
20
Além disso, a gradação legal dos bens passíveis de penhora também sofreu
alteração, visando impedir o sacrifício do patrimônio do executado além do razoável e
necessário e, conseqüentemente, protegê-lo de situações vexatórias. Quanto aos bens
impenhoráveis, determinou-se, por exemplo, que os móveis e pertenças guarnecedoras da
casa, o vestuário e objetos de uso pessoal, bem como os vencimentos do devedor não serão
alvo de constrição, salvo se de elevado valor e ultrapassarem as necessidades comuns a um
médio padrão de vida.
Acrescenta-se, outrossim, que no caso de reconhecimento da dívida pelo
devedor, este poderá requerer o parcelamento do débito, mediante o depósito prévio de 30%
(trinta por cento) de seu valor. Todavia, por representar um prêmio ao devedor, este benefício
não se estende ao condenado inadimplente, devendo este realizar o depósito imediato e
integral da quantia devida.
De outro lado, havendo interposição de embargos, a legislação não mais
impõe a obrigatoriedade de segurança do Juízo por parte do embargante para que o mesmo
possa apresentar sua defesa, ressalvado os casos em que pleiteie efeito suspensivo ao seu
recurso, hipótese em que a execução deverá estar garantida por penhora, depósito ou caução.
Em outra vertente, embora ainda necessite de regulamentação, a nova Lei
11.382/2006 trouxe para dentro do processo executivo a possibilidade de se proceder à hasta
pública eletrônica dos bens penhorados, em substituição à tradicional praça e leilão. Tal
procedimento será realizado por meio da Rede Mundial de Computadores (Internet) e deverá
atender as exigências de publicidade, autenticidade e segurança, estabelecidas na legislação.
Em relação às mudanças que não foram inseridas no texto legal, vale citar o
dispositivo que permitia a constrição de parte do salário do devedor e também a norma que
limitava a mil salários mínimos o valor do “bem de família”, impassível de penhora judicial.
3 EMBARGOS DO EXECUTADO 3.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Conforme já sedimentado, o processo de execução não visa à discussão da
existência do direito, uma vez que o título executivo a representa. Este documento imbuído de
eficácia executiva faz presumir o reconhecimento do direito do credor. Porém, tal presunção
não é absoluta, de maneira que é possível a prova em contrário através das exceções de pré-
executividade ou ainda por meio da interposição de embargos.
21
As primeiras constituem defesa apresentada pelo executado dentro do
processo de execução, afastando o uso dos embargos. Segundo os Tribunais, por esta via, o
devedor pode alegar matéria de ordem pública, bem como fatos modificativos, extintivos ou
impeditivos do direito do autor, tornando prescindível maior dilação probatória para
demonstrá-los.
Já os embargos do executado ou do devedor são ação de conhecimento,
geradora de processo incidental e autônomo, mediante a qual, com a eventual suspensão da
execução, o executado impugna a pretensão creditícia do exeqüente e a validade da relação
processual executiva.40
Neste sentido, verifica-se que a defesa apresentada pelo executado se dará
por meio de processo de conhecimento, autônomo e incidente, em atendimento ao princípio
de que a execução se destina à realização do direito e não à sua discussão. Por esta razão, a
competência para seu processamento pertence ao juízo responsável pelo julgamento do
próprio processo executivo. Estará investido de legitimidade para interpor embargos, o
devedor, o seu cônjuge, no caso de penhora de bens imóveis e, por fim, aquele que, embora
não figure como executado, tenha seus bens penhorados na execução.
3.2 REQUISITOS
Os embargos devem preencher todos os requisitos necessários à admissão
de qualquer ação, tais como condições da ação e pressupostos processuais. No entanto,
deverão ser interpostos no prazo próprio de 15(quinze) dias, contados a partir da juntada do
mandado de citação aos autos. Entretanto, caso figure no pólo passivo vários executados, o
prazo será autônomo para cada um deles.
Urge salientar, a inovação advinda com a Lei 11.382/2006, consistente na
inexigibilidade da penhora dos bens do devedor como garantia, a fim de que se lhe permita o
oferecimento de embargos. Ao executado é facultado o direito de, assim que citado, ou
mesmo após seu comparecimento espontâneo ao processo, apresentar sua defesa. Todavia,
caso o devedor requeira a atribuição de efeito suspensivo aos embargos, impedindo o
prosseguimento da execução, deverá assegurar o Juízo, conforme previsão legal.41
40ALMEIDA; TALAMINI; WAMBIER, op. cit. 41 Art. 739- A, parágrafo 1º do Código de Processo Civil: “O juiz poderá, a requerimento do embargante, atribuir efeito suspensivo aos embargos quando, sendo relevantes seus fundamentos, o prosseguimento da execução manifestamente possa causar ao executado grave dano de difícil reparação, e desde que a execução já esteja garantida por penhora, depósito ou caução suficientes.”
22
Além disso, o Código de Processo Civil elenca as matérias que se permite
alegar por meio de embargos, quais sejam: nulidade da execução, por não ser executivo o
título apresentado; penhora incorreta ou avaliação errônea; excesso de execução ou
cumulação indevida de execuções; retenção por benfeitorias necessárias ou úteis, nos casos de
título para entrega de coisa certa e, por fim, qualquer matéria que lhe seria lícito deduzir como
defesa em processo de conhecimento.
Como último requisito específico, a lei prevê a necessidade de viabilidade
dos embargos, cabendo ao juiz rejeitar liminarmente aqueles que se mostrarem meramente
protelatórios e, como sanção, aplicar ao litigante de má-fé multa não superior a 20 % (vinte
por cento) do valor da execução.
3.3 EFEITO SUSPENSIVO
No que tange ao efeito suspensivo, o sistema atual não mais prevê sua
concessão de forma automática, no momento da interposição, devendo a execução prosseguir
normalmente. Aos embargos, no entanto, será atribuído tal efeito nas hipóteses enumeradas no
Art. 739 – A. Para tanto, dependerá de requerimento do embargante, de serem os fundamentos
apresentados relevantes, com aparência de procedência, da existência de perigo de dano grave
ou de difícil reparação e, finalmente, da garantia do Juízo, apontada acima. Cabe ressaltar que,
no caso de vários executados, apenas um oferecer defesa, ou se aos seus embargos for
conferido efeito suspensivo, a execução prosseguirá quantos aos demais, exceto quando o
motivo determinante da suspensão for comum a todos os devedores.
A decisão que concede o efeito suspensivo aos embargos pode ser revogada
ou modificada a qualquer tempo, mediante fundamentação do juiz, caso sobrevenham
circunstâncias que justifiquem sua alteração.
3.4 PROCEDIMENTO
Os embargos serão apresentados através de petição inicial e serão autuados
em apartado, seguindo incidentalmente sobre a lide principal. Assim que registrada, o
exeqüente será citado para apresentar sua defesa no prazo de 15 (quinze) dias. Por ser
considerado procedimento simples, não há que se pensar em reconvenção ou exceção de
incompetência, limitando-se o embargado à apresentação de contestação ou ainda exceção de
suspeição e de impedimento.
23
Há grande controvérsia doutrinária e jurisprudencial acerca da omissão do
réu em apresentar defesa aos embargos, o que, em tese, o tornaria revel. Porém, no presente
caso, há presunção de existência do direito do embargado, pois o mesmo tem consigo a posse
do título executivo. Diante disso, não tendo os embargos como fundamento a inexistência do
direito, o silêncio do réu não importará em presunção dos fatos alegados pelo embargante.
Após apresentação ou não da defesa do embargado, o juiz irá proceder ao
imediato julgamento do pedido, na hipótese da discussão de questão unicamente de direito ou
de ser prescindível produção de provas em audiência. Do contrário, irá designar data para
audiência de conciliação, instrução e julgamento, proferindo sentença na mesma oportunidade
ou no prazo de 10 (dez) dias.
No caso de rejeição da petição inicial por inobservância dos requisitos
presentes no Artigo 282 do Código de Processo Civil, bem como em qualquer das hipóteses
previstas nos Artigo 267 e 269 do Estatuto Processual Civil, a decisão do juiz terá natureza de
sentença e, portanto, caberá o recurso correspondente de apelação. Acrescenta-se ainda que o
recurso terá efeito suspensivo, se interposto contra a sentença de procedência dos embargos; e
meramente devolutivo, caso se volte contra a sentença que os rejeite, com ou sem resolução
de mérito (Artigo 520, V, do Código de Processo Civil).42
De outro lado, existe grande divergência que permeia o Artigo 587 do
Código de Processual Civil43. Neste sentido prelecionam Marinoni e Arenhart44:
Não há qualquer dúvida de que a execução de título executivo extrajudicial é sempre definitiva, já que, obviamente, ao existe título extrajudicial provisório. A execução de título executivo extrajudicial se inicia com natureza definitiva e sempre conserva tal natureza, seja quando os embargos do executado são recebidos com efeito suspensivo, seja quando se processa a apelação contra a sentença de improcedência dos embargos recebidos com tal efeito.
Em que pese a discussão doutrinária, o aludido artigo faz referência à
execução definitiva e provisória como formas possíveis e distintas, sendo a segunda
modalidade consistente enquanto pender apelação da sentença de improcedência dos
embargos, quando recebidos com efeito suspensivo.
3.5 EMBARGOS À ARREMATAÇÃO, À ALIENAÇÃO E À ADJUDICAÇÃO
42 ALMEIDA; TALAMINI; WAMBIER, op. cit. 43 Art. 587 do Código de Processo Civil: “É definitiva a execução fundada em título extrajudicial; é provisória enquanto pendente apelação da sentença de improcedência dos embargos do executado, quando recebidos com efeito suspensivo (art. 739).” 44 ARENHART; MARINONI, op. cit., p.467.
24
No prazo de 05 (cinco) dias, contados a partir da arrematação, alienação ou
ainda da adjudicação, o executado está autorizado a oferecer embargos fundados em nulidade
da execução ou em causa extintiva da obrigação, com a condição de que seus fundamentos
sejam supervenientes à penhora. Esta modalidade recursal, considerada de segunda fase, tem
o objetivo de discutir questões não deduzidas nos embargos à execução e seguirá o mesmo
rito, com a possibilidade de recebimento de efeito suspensivo, exercício do contraditório,
produção de provas e sentença.
Após a interposição destes embargos, o adquirente do bem tem a
prerrogativa de desistir da aquisição realizada, de acordo com a introdução do parágrafo 1º do
Artigo 746 do Código de Processo Civil.45
Caso assim proceda, o juiz deferirá o requerimento, determinando a
imediata liberação do depósito feito pelo adquirente. Assim como nos embargos do
executado, mostrando-se os presentes meramente protelatórios, caberá fixação de multa,
prevista no parágrafo 3º do referido artigo.
3.6 EMBARGOS NA EXECUÇÃO POR CARTA PRECATÓRIA
O processo de execução pode demandar a prática de atos fora do âmbito da
competência territorial do juiz da execução, como a efetivação de penhora de bens, avaliação
ou até mesmo a alienação. Por estar o juiz da causa impedido de praticá-los, este irá se utilizar
da expedição de cartas precatórias, requerendo que o juízo deprecado o faça.
Desta situação poderia emergir dúvida acerca de qual juízo seria competente
para o julgamento de eventual interposição de embargos. Contudo, o Artigo 747 do Código
Processual Civil vem dirimi-la, elucidando que estes podem ser oferecidos perante o juízo
deprecante ou deprecado, porém, esclarece que a competência para o julgamento de tal
incidente é do juízo deprecante, incumbindo ao julgamento do juízo deprecado apenas os
embargos que tratarem tão somente de vícios ou defeitos da penhora, avaliação ou alienação
dos bens.
45Art. 746 do Código de Processo Civil: “É lícito ao executado, no prazo de 5 (cinco) dias, contados da adjudicação, alienação ou arrematação, oferecer embargos fundados em nulidade da execução, ou em causa extintiva da obrigação, desde que superveniente à penhora, aplicando-se, no que couber, o disposto neste Capítulo. § 1º Oferecidos embargos, poderá o adquirente desistir da aquisição. § 2º No caso do § 1º deste artigo, o juiz deferirá de plano o requerimento, com a imediata liberação do depósito feito pelo adquirente (art. 694, § 1º , inciso IV). § 3º Caso os embargos sejam declarados manifestamente protelatórios, o juiz imporá multa ao embargante, não superior a 20% (vinte por cento) do valor da execução, em favor de quem desistiu da aquisição.”
25
CONCLUSÃO
O presente trabalho pretendeu discorrer sobre a execução dos títulos
extrajudiciais, notadamente, após as alterações introduzidas pelas Leis 11.232/2005 e
11.382/2006, a qual modificou significativamente alguns procedimentos referentes ao
processo de execução.
O Código de Processo Civil vem passando por intensas modificações desde
o início da década de 90, sendo que a mencionada lei faz parte do que se pode chamar de 3ª
“onda de reforma”, atualmente em curso.
Como se pode aferir, esta nova reforma a qual vem se submetendo o Código
de Processo Civil é motivada pelo desejo de reformular o processo, conferindo-lhe maior
celeridade e, por sua vez, concedendo maior efetividade na prestação jurisdicional aos
cidadãos.
Vislumbra-se, por meio das alterações realizadas especialmente no processo
de execução, que as mesmas surgiram com o objetivo de impedir a inadimplência por parte do
devedor, e, consequentemente, garantir a máxima satisfação do crédito do exeqüente. Assim,
o processo segue sua verdadeira razão de ser servindo de instrumento efetivo na solução dos
litígios, observando os princípios norteadores da execução, quais sejam: da máxima satisfação
do crédito e da execução menos gravosa.
De todo o exposto, extrai-se que todas as mudanças implementadas com a
recente reforma e, mais particularmente, através das Leis 11.232/2005 e 11.382/2006, surgem
no sentido de suprimir a morosidade da tutela jurisdicional e garantir maior segurança nas
relações entre os sujeitos.
26
REFERÊNCIAS AGUIAR, Jean Menezes de. Reforma do CPC-III . Disponível em: <http://www2.oabsp.org.br/asp/esa/comunicacao/esa1.2.3.1.asp?id_noticias=50>. Acesso em: 20 jun. 2008. ALMEIDA, Flávio Renato Correia de; TALAMINI, Eduardo; WAMBIER, Luiz Rodrigues. Curso Avançado de Processo Civil. 10.ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008. v.2. ASSIS, Araken. Manual de Execução. 11.ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007. ARENHART, Sérgio Cruz; MARINONI, Luiz Guilherme. Execução. 2.ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008. v.3. CARMANHANIS, Gelson Ribeiro. Comentários às novas leis de execução de títulos judiciais e extrajudiciais. Disponível em: <http://ultimainstancia.uol.com.br/artigos/ler_noticia.php?idNoticia=36827>. Acesso em: 17 jun 2008.
JÚNIOR, Humberto Theodoro. Curso de Direito Processual Civil. 41.ed. Rio de Janeiro: Forense, 2007. v.2. MARINONI, Luiz Guilherme. Efetividade do processo e tutela de urgência. Porto Alegre: Fabris, 1994. NERY JUNIOR, Nelson; NERY, Rosa Maria de Andrade. Código Civil Anotado e Legislação Extravagante. 2.ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2003. RAATZ, Igor dos Santos. Execução de título extrajudicial; Algumas considerações acerca de alterações Introduzidas pela Lei 11.382/2006. Disponível em: <http://iargs.com.br/index.php?option=com_content&task=view&id=96&Itemid=59>. Acesso em: 20 jun. 2008.