11.323/2005 e 11.382/2006 · curso avançado de processo civil . 10.ed. são paulo: revista dos...

26
1 EXECUÇÃO DE TÍTULO EXTRAJUDICIAL: UMA ANÁLISE SOBRE AS MODIFICAÇÕES NO PROCESSO DE EXECUÇÃO EM FACE DAS LEIS Nº 11.323/2005 E 11.382/2006 Paola M Gallina 1 Mariana M. Betioli 2 Natália Taves Pires 3 INTRODUÇÃO O presente estudo irá discorrer acerca da execução de títulos extrajudiciais no direito processual civil brasileiro. É importante destacar a importância da discussão de tal tema, tendo em vista as recentes alterações legislativas das Leis 11.323/2005 e 11.382/2006, as quais modificaram substancialmente o regime do processo de execução disposto no Código de Processo Civil. Primeiramente, será necessário apresentar noções gerais acerca da execução, apontando a sua evolução histórica no direito brasileiro, bem como seu conceito e princípios a ela aplicados. Posteriormente, cumpre demonstrar os requisitos gerais e específicos da execução. Para completar a primeira parte do trabalho, o qual tem por escopo explanar as principais características da execução, impende destacar os seus dois tipos, quais sejam, o processo de execução e o cumprimento de sentença, elucidando suas diferenças básicas, bem como suas semelhanças. Em análise à problemática suscitada, é imperioso apresentar os aspectos gerais da execução de títulos extrajudiciais, destacando-se as suas espécies, dando primazia àqueles títulos incluídos ou alterados com a reforma legislativa supracitada. Demais disso, será demonstrado o procedimento do processo de execução propriamente dito, distinguindo a execução de títulos extrajudiciais que imponham a obrigação de pagar quantia certa, obrigação de fazer, não fazer e de entregar coisa certa ou incerta. 1 Acadêmica do 4º ano de Direito da Universidade Estadual de Londrina. 2 Acadêmica do 4º ano de Direito da Universidade Estadual de Londrina. 3 Mestra em Teorias do Direito e do Estado pelo Centro Universitário Eurípides Soares da Rocha, Marília, SP; professora do Curso de Especialização em Direito Empresarial e pesquisadora da Universidade Estadual de Londrina; advogada.

Upload: duongthuy

Post on 18-Jan-2019

213 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

1

EXECUÇÃO DE TÍTULO EXTRAJUDICIAL: UMA ANÁLISE SOBRE AS

MODIFICAÇÕES NO PROCESSO DE EXECUÇÃO EM FACE DAS LEIS Nº

11.323/2005 E 11.382/2006

Paola M Gallina1

Mariana M. Betioli2 Natália Taves Pires3

INTRODUÇÃO

O presente estudo irá discorrer acerca da execução de títulos extrajudiciais

no direito processual civil brasileiro. É importante destacar a importância da discussão de tal

tema, tendo em vista as recentes alterações legislativas das Leis 11.323/2005 e 11.382/2006,

as quais modificaram substancialmente o regime do processo de execução disposto no Código

de Processo Civil.

Primeiramente, será necessário apresentar noções gerais acerca da execução,

apontando a sua evolução histórica no direito brasileiro, bem como seu conceito e princípios a

ela aplicados. Posteriormente, cumpre demonstrar os requisitos gerais e específicos da

execução.

Para completar a primeira parte do trabalho, o qual tem por escopo explanar

as principais características da execução, impende destacar os seus dois tipos, quais sejam, o

processo de execução e o cumprimento de sentença, elucidando suas diferenças básicas, bem

como suas semelhanças.

Em análise à problemática suscitada, é imperioso apresentar os aspectos

gerais da execução de títulos extrajudiciais, destacando-se as suas espécies, dando primazia

àqueles títulos incluídos ou alterados com a reforma legislativa supracitada.

Demais disso, será demonstrado o procedimento do processo de execução

propriamente dito, distinguindo a execução de títulos extrajudiciais que imponham a

obrigação de pagar quantia certa, obrigação de fazer, não fazer e de entregar coisa certa ou

incerta.

1 Acadêmica do 4º ano de Direito da Universidade Estadual de Londrina. 2 Acadêmica do 4º ano de Direito da Universidade Estadual de Londrina. 3 Mestra em Teorias do Direito e do Estado pelo Centro Universitário Eurípides Soares da Rocha, Marília, SP; professora do Curso de Especialização em Direito Empresarial e pesquisadora da Universidade Estadual de Londrina; advogada.

2

Ressalta-se que ainda serão objeto deste trabalho as demais alterações da

nova lei 11.382/2006, as quais não foram tratadas nos tópicos supra, entretanto, terão um

capítulo próprio em que serão sopesadas minuciosamente.

Por fim, realizar-se-á uma análise sobre os embargos do executado,

apontando o seu cabimento, os requisitos para serem interpostos, assim como o seu

procedimento, evidenciando sua importância para o devedor que se vê frente a um processo

de execução. Noutro passo, ainda serão apresentados os embargos à arrematação, alienação e

adjudicação, além dos embargos por carta precatória.

1 EXECUÇÃO

1.1 BREVE HISTÓRICO NO DIREITO PROCESSUAL BRASILEIRO

Inicialmente, no que tange à ação de execução é importante demonstrar as

suas alterações legislativas no direito processual brasileiro. Ressalta-se que dessas alterações

cumpre destacar os grandes marcos da legislação processual que tratavam sobre a execução,

passando pelas Ordenações Filipinas, pelos Códigos de Processo Civil de 1939 e 1973,

chegando até o regime atual instituído pelas Leis nº 11.232./2005 e 11.382/2006.

No Livro III, Título 25 das Ordenações Filipinas havia três formas de

execução, sendo estas, a execução de sentença, a qual era uma fase do processo de

conhecimento; a ação de execução de títulos extrajudiciais, que somente se dava através de

processo autônomo e a assinação de dez dias também denominada de ação decendária, a qual

era uma ação de procedimento sumário que deu origem à atual ação monitória.

Tais formas de execução perduraram até o Código de Processo Civil de

1939, sendo certo que com a entrada em vigor desta legislação foi excluída a figura da ação

da assinação de dez dias, permanecendo inalteradas a execução de sentença e a ação de

execução.

O Código Processual Civil de 1979 foi o mais ousado, tendo alterado em

larga escala a execução, uma vez que em seu Livro II uniu a ação de execução para títulos

extrajudiciais e a execução de sentença, formando somente o processo de execução, este que

poderia ser utilizado para os ambos os títulos, tanto os judiciais como os extrajudiciais.

Pode-se dizer que as alterações legislativas ocorridas em face das Leis

11.232/2005 e 11.382/2006 são um retorno à sistemática anterior, a qual foi repudiada pelo

Código de 1979, tendo em vista que novamente separou a execução em processo autônomo e

em fase de execução de sentença condenatória, tendo destinado aquele à satisfação dos títulos

3

extrajudiciais e dos títulos judiciais não decorrentes do juízo cível e este à execução de títulos

judiciais civis.

Impende aduzir que o atual regime determinou que após o processo de

conhecimento haverá o cumprimento da sentença, extinguindo-se, nestes casos, a ação de

execução autônoma, devendo, desde logo que se encerrar a fase de conhecimento iniciar à

fase executiva. Ao revés, com relação à execução de títulos extrajudiciais e a título judiciais

não civis, esta continua ocorrendo por meio de nova ação denominada de processo de

execução.

Como se vê a alteração legislativa forneceu maior celeridade aos processos

judiciais, permitindo que fosse economizada uma via do judiciário, pois aquele que tem seu

direito declarado em processo judicial não necessita ingressar com ação autônoma, já que a

execução, isto é, o cumprimento da sentença será realizada no próprio processo sendo uma

fase subseqüente à de conhecimento.

1.2 CONCEITO

Execução é uma sanção imposta pelo Estado ao devedor inadimplente.

Quando o indivíduo não cumpre obrigação advinda de título judicial ou extrajudicial, a fim de

que venha adimpli-la, o estado, investido em seu caráter jurisdicional, através da sanção

“intromete-se no patrimônio do devedor, independentemente de sua concordância, ou impõe-

lhe meios coercitivos de pressão psicológica”4.

Os ilustres doutrinadores Marinoni e Arenhart5 prelecionam que:

[...] execução nada mais é do que uma prestação jurisdicional voltada à tutela do direito de crédito. Ora, quando a execução é fundada em título executivo extrajudicial, precedendo à eventual atividade cognitiva pode ser instaurada pelo devedor, ela obviamente deve iniciar mediante ação de execução. Porém, quando a execução é posterior à cognição, fundando-se em sentença, ela apenas constitui a fase final da ação voltada à tutela do direito material.

A doutrina clássica divide a execução em direta e indireta, sendo certo que

esta não considera como execução propriamente dita à indireta. Frisa-se que na execução

direta a realização do direito material ocorre por meio de sub-rogação, ou seja, a jurisdição

substitui a vontade do devedor e promove a execução forçada sem a cooperação do executado,

um exemplo disso é a penhora de um bem do devedor que será alienado e, o saldo levantado

4 ALMEIDA, Flávio Renato Correia de; TALAMINI, Eduardo; WAMBIER, Luiz Rodrigues. Curso Avançado de Processo Civil. 10.ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008. v.2. p.61. 5 ARENHART, Sérgio Cruz; MARINONI, Luiz Guilherme. Execução. 2.ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008. v.3. p.29.

4

com a venda, utilizado para solver a dívida com o exeqüente.

Em contraposição, a execução indireta, através da coação, atua sobre o

intento do devedor com o escopo de que este venha a cumprir voluntariamente a execução,

nesta vertente, pode se citar a imposição de multa para obrigar os devedores a cumprir as

obrigações de fazer e a de prisão para os devedores de alimentos.

Comungando dessas idéias, o processualista Humberto Theodoro Júnior6

também entende que os meios de coação, tais como a multa e a prisão, “[...] não são medidas

próprias do processo de execução, a não ser em feitio acessório ou secundário”, acrescentando

que o Estado na sub-rogação funciona “[...] como substituto do devedor inadimplente,

procurando, sem sua colaboração ou até contra a sua vontade, dar satisfação ao credor [...]”,

promovendo, desta forma, a execução forçada.

Embora seja o entendimento da doutrina majoritária não considerar a

execução indireta como uma forma de execução, alguns estudiosos7 argumentam que não há

problema em reputá-la como execução propriamente dita, anotando os professores Marinoni e

Arenhart que se “[...] recomenda a manutenção da distinção entre elas [...], mas com o grifo

de que ambas constituem formas de execução das tutelas jurisdicionais.”8

1.3 PRINCÍPIOS

Tendo em vista que a execução é um processo jurisdicional, todos os

princípios processuais gerais serão a ela aplicados. Entretanto, existem aqueles princípios que

são fundamentais a este instituto, tais como, o princípio da realidade da execução, princípio da

máxima utilidade, princípio do menor sacrifício ao devedor, assim como o princípio da

execução equilibrada e da disponibilidade.

O princípio da realidade da execução preleciona que responderão pela

dívida disposta no título executivo, os bens presentes e futuros (responsabilidade

patrimonial)9.

Ademais, o princípio da máxima utilidade da execução tem por escopo

solver integralmente a dívida do credor, dando a este tudo aquilo a que tem direito. Por sua

vez, o princípio do menor sacrifício, estabelece que quando for realizada execução deve haver

6 JÚNIOR, Humberto Theodoro. Curso de Direito Processual Civil. 41.ed. Rio de Janeiro: Forense, 2007. v.2. p.127. 7 Os doutrinadores Flávio Renato Correia de Almeida, Eduardo Talamini, Wambier, Marinoni e Arenhart. 8 ARENHART; MARINONI, op. cit., p.71. 9 Cf. Artigo 591 do Código de Processo Civil.

5

à utilização dos meios menos onerosos ao devedor.

Ressalta-se que o princípio da execução equilibrada, através do princípio da

proporcionalidade equilibra os princípios da máxima utilidade da execução e o do menor

sacrifício ao devedor, a fim de que o credor receba o valor mais próximo daquilo a que tem

direito sem que haja abuso do devedor, utilizando-se dos meios menos gravosos a este.

Por fim, o princípio da disponibilidade argumenta que o credor tem o direito

de desistir da execução, podendo dispor de tal faculdade, entretanto, em restrição a este

princípio vale citar que a desistência da execução necessita da anuência do devedor10.

1.4 REQUISITOS

Preliminarmente, convém dizer que a execução - processo de execução e o

cumprimento de sentença -, igualmente ao processo de conhecimento, deve apresentar os

pressupostos processuais e as condições da ação, sob pena de extinção sem a resolução de

mérito.11

Ressalta-se que os pressupostos processuais e as condições da ação são

considerados os requisitos gerais de qualquer ação proposta perante o Judiciário, à

inexistência de um desses, como já dito anteriormente impede o curso normal do processo,

podendo o mesmo ser extinto ex officio pelo juiz da causa a qualquer tempo e grau de

jurisdição.12

Além dos requisitos gerais, a execução necessita preencher alguns requisitos

específicos, estes estão dispostos nos Artigos 58013 e seguintes do Capítulo III, Título I, Livro

II do Código de Processo Civil.

O primeiro dos requisitos específicos, o qual é de suma importância para a

execução, é a existência de título executivo. Sem o título não há execução, isto é, vige a regra

de que nulla executio sine titulo.

Conforme o entendimento de Chiovenda apud Marinoni e Arenhart14 a

execução não pode ser realizada sem a presença de título, tendo em vista que é necessária a

10 Artigo 689 do Código de Processo Civil: “Art. 569. O credor tem a faculdade de desistir de toda a execução ou de apenas algumas medidas executivas. Parágrafo único. Na desistência da execução, observar-se-á o seguinte: [...] b) nos demais casos, a extinção dependerá da concordância do embargante.” 11 Artigo 267, incisos IV, V e VI do Código de Processo Civil. 12 Artigos 267, §3º e 301, §4º, ambos do Código de Processo Civil. 13 Artigo 580 do Código de Processo Civil: “A execução pode ser instaurada caso o devedor não satisfaça a obrigação certa, líquida e exigível, consubstanciada em título executivo” 14 ARENHART; MARINONI, op. cit., p.71.

6

certeza jurídica para se executar.

Destaca-se que no direito processual brasileiro existem os títulos judiciais e

os extrajudiciais, sendo que aqueles podem se dividir ainda em títulos provenientes do juízo

cível ou não decorrentes deste juízo15.

Outro requisito a ser anotado para a validade da execução é o

inadimplemento da obrigação pelo devedor. Nesta vertente, comenta-se que caso o devedor

venha adimplir voluntariamente a obrigação, não pode o credor provocar a tutela jurisdicional

para cobrar o cumprimento do direito material já satisfeito.

Além do título executivo, assim como do inadimplemento do mesmo, ainda

é requisito específico da execução a exigibilidade, a liquidez e a certeza da obrigação a ser

cumprida.

A obrigação é certa quando estiverem dispostos no título a natureza da

prestação, seu objeto e sujeitos. Diz-se que é exigível quando não exista condição ou termo

pendente e, se houverem, já tenham ocorrido. E, por fim, líquida quando há a quantificação ou

individualização dos bens no título, os quais podem ser verificados diretamente ou por meio

de cálculos, conforme o caso.

1.5 CLASSIFICAÇÃO DAS ESPÉCIES DE EXECUÇÃO

A execução pode ser classificada com relação à origem do título e à sua

estabilidade, quanto à natureza e ao objeto da prestação, quanto à especificidade do objeto da

prestação e à solvabilidade do devedor.

A classificação quanto à origem do título diz respeito à execução de título

extrajudicial e judicial. Ressalta-se que a distinção entre estas espécies será realizada no

tópico seguinte, sendo certo que neste momento apenas será citada a fim de se apresentar a

classificação supramencionada.

Com relação à estabilidade do título cumpre dizer que este pode ser de

execução provisória ou execução definitiva16, sendo certo que esta ocorre quando for fundada

em título executivo extrajudicial, bem como em sentença transitada em julgado, enquanto que

15 O Artigo 475-N do Código de Processo Civil trata dos títulos executivos judiciais, enquanto que o Artigo 585 do mesmo Codex refere-se aos títulos executivos extrajudiciais.

16 Artigo 475-O do Código de Processo Civil: “A execução provisória da sentença far-se-á, no que couber, do mesmo modo que a definitiva, observadas as seguintes normas: [...] Artigo 587 do Código de Processo Civil: “É definitiva a execução fundada em título extrajudicial; é provisória enquanto pendente apelação da sentença de improcedência dos embargos do executado, quando recebidos com efeito suspensivo (art. 739).”

7

aquela é realizada quando está pendente apelação da decisão de improcedência dos embargos

do executado com efeito suspensivo ou quando a sentença de mérito de processo de

conhecimento ainda não transitou em julgado.

Convém destacar que em caso de execução provisória, em regra, o credor

deve arcar com os danos que o executado sofreu em razão da execução que foi anulada por

acórdão. Noutro passo, o credor deve garantir a execução provisória por meio de caução

arbitrada pelo juiz e prestada nos autos, caso queira levantar depósito em dinheiro ou quando

deseja alienar bens do executado, ainda que esta alienação possa causar grave dano para o

devedor.

Quanto à natureza da prestação esta se divide em obrigação de fazer, não

fazer, ou de entregar. No que tange ao objeto da prestação este pode ser incerto ou certo,

destaca-se que quando o objeto é incerto este deve ser escolhido pelo devedor ou pelo credor,

dependendo do que foi pactuado no título.

No que tange a especificidade do objeto da prestação, frisa-se que esta é

normalmente disposta nas obrigações de fazer, não fazer ou de entregar, isto é, o credor

especifica qual deverá ser a obrigação cumprida no título, podendo ser esta a construção de

uma casa ou ainda a entrega de certa quantidade de sacos de soja, salientando-se que a

obrigação estabelecida nas execuções específicas não poderão ser o pagamento em espécie.

Por sua vez, a execução é genérica quando a obrigação a ser cumprida é o

pagamento em dinheiro – moeda corrente. Frisa-se que a execução específica quando

frustrada pode se transformar em genérica, devendo o credor requerer esta transformação.

Vale dizer que caso a execução genérica ou específica não forem satisfeitas

em face de insuficiência de bens do patrimônio do devedor ela é considerada infrutífera,

entretanto, se for encontrado “frutos no patrimônio do réu, permitindo a realização do direito

mediante a expropriação de bens” 17 haverá a execução frutífera.

Finalizando a classificação das espécies de execução, cita-se àquela

referente à solvência do devedor, sendo certo que a execução por quantia certa pode ocorrer

de duas maneiras, isto é, contra devedor solvente e contra devedor insolvente, a primeira

seguirá os procedimentos dos Artigos 475-J (execução de títulos judiciais) ou 646 a 651

(execução de títulos extrajudiciais) do Código de Processo Civil, tendo em vista que o

patrimônio do devedor é suficiente para solver a obrigação, enquanto que na segunda aplicar-

se-ão as disposições dos Artigos 748 a 786-A do Estatuto Processual Civil, uma vez que o

17 ARENHART; MARINONI, op. cit., p.71.

8

patrimônio do devedor é inferior à dívida para com o credor. Evidencia-se que caso o devedor

seja empresário ou sociedade empresária serão seguidos os procedimentos da Lei de Falência.

1.6 DISTINÇÃO ENTRE A EXECUÇÃO DE TÍTULO JUDICIAL E EXTRAJUDICIAL

Conforme analisado anteriormente, as alterações legislativas do processo

civil, ocorridas nos anos de 2005 e 2006, distinguiram a execução de títulos judiciais

decorrentes do juízo cível da execução de títulos extrajudiciais e judiciais, tais como a

sentença arbitral e a sentença penal condenatória. Desta feita, duas são as formas de execução,

sendo certo que estas são determinadas em face da natureza do título a ser executado.

Neste diapasão, vale dizer que a alteração legislativa criou a fase do

cumprimento de sentença para a execução de títulos judiciais, tais como, as obrigações de

fazer, não fazer e entrega de coisa certa, assim, uma vez encerrado o processo de cognição e

prolatada a sentença, haverá a execução. Nota-se que não haverá ação autônoma, mas apenas

uma fase subseqüente do processo de conhecimento.

Ao revés, a execução de títulos extrajudiciais e judiciais não decorrentes do

juízo cível “sempre demandará a instauração de processo novo, destinado exclusivamente a

realizar o direito representado pelo título executivo”.18

É necessário dizer que diferentemente do título executivo judicial, a criação

do título extrajudicial se dá sem qualquer intervenção do judiciário, desta forma, é facultado

ao executado intentar ação incidental de conhecimento, denominada de ação de embargos,

podendo alegar qualquer matéria que for de seu interesse para a desconstituição do título.

Pelo exposto, a defesa do executado é exercida através da ação de embargos,

a qual é um processo incidente aos autos de execução, este ainda é um processo de

conhecimento de cognição plena e exauriente em que se discute sobre a validade do título e

do crédito cobrado.

Ressalta-se que em razão do título judicial ter sido constituído por meio de

sentença ou homologação da jurisdição, após processo de conhecimento, a lei restringe as

matérias alegáveis para a impugnação do mesmo, dispondo no Artigo 475-L do Código de

Processo Civil19 as matérias que poderão ser ventiladas nesta peça processual.

18 Ibid., p.430. 19 Artigo 475-L do Código de Processo Civil: “A impugnação somente poderá versar sobre: I – falta ou nulidade da citação, se o processo correu à revelia; II – inexigibilidade do título; III – penhora incorreta ou avaliação errônea; IV – ilegitimidade das partes;

9

Convém dizer que o Artigo 475-L do Código Processual Civil foi

acrescentado pela Lei 11.232/2005 e claramente conferiu maior celeridade à execução no que

tange ao cumprimento de sentença, tendo em vista que restringiu a argüição de matéria que

eventualmente poderia ter sido alegada durante o processo de conhecimento.

Embora seja necessária para que haja efeito suspensivo, tanto na

impugnação como nos embargos à execução, a demonstração de dano grave e de difícil

reparação em face da execução20, urge salientar ser mais fácil conseguir efeito suspensivo da

execução nos embargos, já que não existe restrição às matérias alegadas, o que tornam os

fundamentos apresentados na referida defesa do devedor mais relevantes.

Cabe esclarecer ainda que o novo regime da execução, outra vez visando

facilitar, bem como dar ao processo um caminho mais eficaz e célere, permitiu que, depois de

encerrado o processo de conhecimento, ocorra início da execução através de mera

apresentação de petição ao juízo pelo credor, requerendo o cumprimento da sentença, sendo o

devedor, ora executado apenas intimado de tal situação. Em contraposição, na execução de

título extrajudicial, como analisado supra, será interposto um processo autônomo, sendo certo

que será o devedor citado da instauração do mesmo.

Com o escopo de impor o cumprimento da sentença, o Código de Processo

Civil determinou que caso a decisão de mérito não fosse adimplida pelo devedor, este ficaria

incurso na sanção da pena de multa de 10% (dez por cento) do montante devido, após o que

poderá o credor requerer a expedição de mandado de penhora e avaliação.21

Além de o inadimplemento da obrigação de títulos extrajudiciais não

permitir a imposição de multa ao devedor, este ainda pode ser beneficiado com a sanção

V – excesso de execução; VI – qualquer causa impeditiva, modificativa ou extintiva da obrigação, como pagamento, novação, compensação, transação ou prescrição, desde que superveniente à sentença. § 1o Para efeito do disposto no inciso II do caput deste artigo, considera-se também inexigível o título judicial fundado em lei ou ato normativo declarados inconstitucionais pelo Supremo Tribunal Federal, ou fundado em aplicação ou interpretação da lei ou ato normativo tidas pelo Supremo Tribunal Federal como incompatíveis com a Constituição Federal. § 2o Quando o executado alegar que o exeqüente, em excesso de execução, pleiteia quantia superior à resultante da sentença, cumprir-lhe-á declarar de imediato o valor que entende correto, sob pena de rejeição liminar dessa impugnação.” 20 Ver os Artigos 475-M e 739-A, §1º do Código de Processo Civil. 21 Artigo 475-J do Código de Processo Civil: “Caso o devedor, condenado ao pagamento de quantia certa ou já fixada em liquidação, não o efetue no prazo de quinze dias, o montante da condenação será acrescido de multa no percentual de dez por cento e, a requerimento do credor e observado o disposto no art. 614, inciso II, desta Lei, expedir-se-á mandado de penhora e avaliação.”

10

premiativa22, em que o devedor terá os honorários advocatícios fixados pelo juiz reduzidos à

metade caso venha atender a citação, no prazo de 3 (três) dias, solvendo integralmente o

débito devido ao credor.

Segundo os ensinamentos de Marinoni e Arenhart23: Na execução da sentença condenatória, trabalha-se com outro tipo de sanção, isto é, com uma sanção punitiva, voltada a estimular o devedor a pagar para não sofrer a multa de dez por cento, e não com uma sanção dirigida a estimulá-lo a cumprir para se beneficiar com a redução do valor pago. A distinção entre as sanções decorre da diferença entre a sentença condenatória e o título extrajudicial, sendo claro que o condenado não merece a mesma espécie de estímulo que o devedor de título extrajudicial.

Na execução de títulos extrajudiciais, ainda na mesma vertente de que o

devedor interessado em solver o débito deve ser beneficiado, é facultado àquele que, após

citado venha imediatamente depositar o montante de 30% (trinta por cento) do valor da

execução, o pagamento do restante em até seis vezes, com correção monetária e juros de

1%(um por cento) ao mês24.

Diante do exposto, percebe-se que com a alteração legislativa a

diferenciação entre a execução de títulos extrajudiciais e judiciais tornou-se muito clara,

sendo certo que o ingresso, bem como os procedimentos utilizados para ambas são bem

diversos.

Vale dizer que, por ora, apenas foi realizado um apanhado geral sobre a

execução, nos tópicos seguintes será discutida a problemática do trabalho, abordando-se

minuciosamente a execução de títulos extrajudiciais e as recentes alterações legislativas.

2 EXECUÇÃO DE TÍTULO EXTRAJUDICIAL

Em que pese já tenha sido exaustivamente citado, cumpre repetir que a

execução de título extrajudicial é aquela em que o credor munido desta espécie de título,

ingressa com uma ação autônoma perante o judiciário a fim de dar início à execução,

“independentemente de qualquer indagação sobre a existência ou não do crédito

22 Artigo 652-A do Código de Processo Civil: “Ao despachar a inicial, o juiz fixará, de plano, os honorários de advogado a serem pagos pelo executado (art. 20, § 4o).” Parágrafo único. No caso de integral pagamento no prazo de 3 (três) dias, a verba honorária será reduzida pela metade.” 23 ARENHART; MARINONI, op. cit., p.433. 24 Artigo 745-A do Código de Processo Civil: “Art. 745-A. No prazo para embargos, reconhecendo o crédito do exeqüente e comprovando o depósito de 30% (trinta por cento) do valor em execução, inclusive custas e honorários de advogado, poderá o executado requerer seja admitido a pagar o restante em até 6 (seis) parcelas mensais, acrescidas de correção monetária e juros de 1% (um por cento) ao mês.”

11

demandado”25. Em posse do título “o credor tem o poder de intrometer-se no patrimônio do

executado, expropriando seus bens, ainda que possa haver discussão.”26

2.1 ESPÉCIES DE TÍTULO EXECUTIVO EXTRAJUDICIAL

Os títulos em exame são considerados atos ou documentos que representam

a certeza da existência do direito, e, portanto, de sua exigibilidade. Por ser desnecessária a

instauração de prévio processo de conhecimento para sua formação, afere-se que estes títulos

indicam “certa probabilidade da existência do direito” ou ainda, “boa dose de verossimilhança

acerca da existência dos fatos constitutivos do direito”.27

Os títulos executivos extrajudiciais só poderão ser instituídos por lei federal,

pois compete exclusivamente à União legislar sobre matéria processual. Sendo assim, estes

modelos de títulos estão previamente definidos em lei, especialmente elencados nos incisos do

Artigo 585 do Código de Processo Penal, em obediência ao Princípio da Tipicidade Legal do

Título Executivo. Cabe unicamente ao legislador conferir o caráter de título executivo a um

ato ou documento, razão pela qual são considerados numerus clausus. Assim, como os

demais, devem preencher os requisitos de certeza, liquidez e exigibilidade.

Registre-se que os títulos executivos somente serão criados através do

direito processual, sendo que este ramo contempla a lei vigente no momento da prática do ato.

Deste modo, conclui-se que, no momento da propositura da ação de execução, deve se levar

em conta se o ato mencionado constitui título executivo capaz de fundamentar o pedido de

adimplemento da obrigação.

As espécies abordadas no inciso I do Artigo supracitado referem-se aos

títulos cambiais ou de crédito, quais sejam: a letra de câmbio, nota promissória, duplicata,

debênture e o cheque. Ressalta-se que estes se diferenciam dos demais títulos extrajudiciais,

pois estão investidos de características próprias, tais como a literalidade, o formalismo, a

autonomia, a abstração e a circulação.

Já o inciso II trata da eficácia executiva conferida à escritura pública ou ao

documento público assinado pelo devedor, bem como ao documento particular assinado por

25 ARENHART; MARINONI, op. cit., p.436. 26 Ibid., loc. cit. 27 MARINONI, Luiz Guilherme. Efetividade do processo e tutela de urgência. Porto Alegre: Fabris, 1994. p.25 e ss.

12

este e mais 02 (duas) testemunhas e ao instrumento de transação referendado pelo Ministério

Público, pela Defensoria Pública ou pelos advogados dos transatores.

Em seguida, a Lei contempla os contratos garantidos por hipoteca, penhor,

anticrese e caução, assim como os de seguro de vida. Destaca-se que as 04 (quatro) primeiras

hipóteses são consideradas direitos reais de garantia.

O inciso IV faz alusão ao crédito decorrente de foro e laudêmio. Sobre o

tema, impende conceituar os dois institutos para melhor compreender sua inserção no artigo.

Foro é verba anual que o enfiteuta paga ao proprietário, em razão do

domínio útil que exerce sobre o imóvel. Laudêmio é a quantia a ser paga ao proprietário,

quando este domínio útil for transferido por venda ou dação em pagamento.

Feitas as considerações supra, vale salientar que tais institutos decorrem da

enfiteuse, esta que foi expressamente extinta pelo novel Código Civil. Entretanto, as que ainda

persistem devem se subordinar ao Código Civil de 1916.

O crédito proveniente de aluguel de imóvel e decorrente de encargos

acessórios, como taxas e despesas do condomínio (inciso V, do Artigo 585 do Código de

Processo Civil), ganhou maior eficácia executiva através da Lei nº 11.382/2006, uma vez que

no novo sistema apenas é necessária a comprovação documental, sendo prescindível o

instrumento contratual por escrito.

Na seqüência, encontram-se os créditos pertencentes aos auxiliares da

justiça, como o escrivão, oficiais de justiça, contador, avaliador, intérprete ou ainda o tradutor.

Tais créditos, dispostos no inciso VI do supracitado Artigo, devem ser aprovados mediante

decisão judicial e serão cobrados da parte vencida no processo, sendo que o valor a ser

cobrado será somente aquele que não foi adiantado no decorrer do processo.

No inciso VI, está elencada a certidão da dívida ativa da Fazenda Pública da

União, Estado, Distrito Federal, Território e Município. A inscrição em dívida ativa, conforme

previsão do Art. 5º, LV, da Constituição Federal, é precedida de procedimento administrativo,

por meio do qual é garantida a efetivação do contraditório por parte do administrado. A

aludida certidão irá representar um título executivo, o qual irá instruir procedimento especial

de execução, qual seja, a execução fiscal.

Por fim, o inciso VII encerra a enumeração do Artigo 585 do Estatuto

Processual Civil, prevendo a existência de títulos executivos extrajudiciais abrangidos pela

legislação extravagante, tais como as cédulas de crédito rural (Decreto-lei 167/67, Artigo 41),

13

industrial (Decreto- lei 413/69, Artigo 10) e comercial (Lei 6.840/80 c/c o Decreto- Lei

413/69).

Ainda neste sentido, vale destacar os títulos executivos extrajudiciais

provenientes de outro país, aos quais o ordenamento jurídico pátrio não impõe a homologação

no Brasil como condição para que o mesmo esteja investido de validade e força executiva.

2.2 PROCEDIMENTO

Preliminarmente, urge ressaltar que a execução de títulos extrajudiciais

exige os requisitos gerais para a constituição e validade de qualquer processo. Porém, no

presente caso, a execução se realiza, particularmente, através de um processo autônomo,

sendo-lhe dispensada a instauração de prévio processo de conhecimento, pois não há exame

nem discussão de direito, apenas busca-se sua materialização e execução imediata. Entretanto,

a ação de conhecimento poderá surgir de forma incidental no processo de execução como

forma de defesa do executado, como se verá oportunamente.

No que tange à classificação das espécies de execução, esta pode ser

individualizada quanto à natureza e objeto da prestação, ou seja, em obrigação de pagar

quantia certa, obrigação de fazer e não fazer e entrega de coisa.

2.2.1 Obrigação de Pagar Quantia Certa

Com o intuito de conferir maior eficácia e celeridade ao processo em geral,

a Lei 11.382/2006 alterou significativamente as regras do processo de execução, facilitando o

acesso e constrição pelo credor dos bens do devedor. Referida medida tem o escopo de

permitir uma maior satisfação do crédito e, desta maneira, alcançar a solução do impasse

gerado pelo inadimplemento da obrigação assumida.

Em linhas gerais, o processo executivo se inicia através de petição inicial, a

qual deve conter, como todas as demais, os requisitos enunciados no Artigo 282 do Código de

Processo Civil, assim como os requisitos específicos da execução previstos no Artigo 614,

inciso II, do mesmo Estatuto Processual.

Desta forma, além dos requisitos gerais para a apresentação da petição

inicial, ainda é necessária a juntada do título executivo extrajudicial, bem como a

demonstração do valor atualizado do débito (discriminado por meio de cálculo aritmético) e a

comprovação de que se transcorreu o termo e se verificou a condição, quando houver estes

institutos restringindo a exigibilidade do título.

14

Para a completa formação do processo, o réu deverá ser citado para, deste

modo, ser chamado a integrar a lide, estabelecendo a relação jurídica processual. Trata-se de

um ato essencial à formação do processo, pois é através dele que se permitirá ao réu o pleno

exercício do contraditório.

A antiga redação do Artigo 652 do Estatuto Processual Civil previa que o

executado, após a citação, dispunha de apenas 24 (vinte e quatro) horas para efetuar o

pagamento voluntário da dívida ou nomear bens à penhora. Com a entrada em vigor da

supracitada Lei28, o prazo foi modificado para 03 (três) dias, ademais, foi fixada a faculdade

de nomeação de bens a penhora para o exeqüente, sendo exceção no atual regime, a indicação

de bens a penhora pelo devedor29. Embora haja demasiada controvérsia, a doutrina majoritária

entende que o referido prazo tem início a partir da juntada do mandado de citação aos autos e

não, como alguns defendem, do momento da própria citação do executado.

Frise-se que no momento do recebimento da petição inicial o juiz procederá,

desde logo, ao arbitramento dos honorários de sucumbência. Assim agindo, o magistrado

evita nova execução no futuro referente ao mesmo título, o que poderia retardar ainda mais a

conclusão do processo. Deste modo, havendo o adimplemento integral no prazo descrito

acima, o valor dos aludidos honorários será reduzido pela metade30. Tal medida constitui

sanção premiativa ao devedor, a fim de estimular o pagamento do crédito.

Citado o devedor e, transcorrido o prazo destinado ao adimplemento

espontâneo da dívida, o oficial de justiça irá verificar em Juízo se, de fato, realizou-se o

pagamento. Caso não tenha sido efetuado, servirá da segunda via do mandado de citação para

proceder à penhora e posterior avaliação dos bens do devedor, lavrando-se o termo respectivo.

Não sendo encontrado o executado, o oficial de justiça poderá realizar o

arresto de bens para a satisfação da execução31. Permanecendo desconhecido o paradeiro do

devedor, será o mesmo citado por edital. Caso o executado não se manifeste, o arresto será

28 Artigo 652 do Código de Processo Civil: “O executado será citado para, no prazo de 3 (três) dias, efetuar o pagamento da dívida”. 29 Artigo 652 do Código de Processo Civil: “[...] § 2o O credor poderá, na inicial da execução, indicar bens a serem penhorados (art. 655). § 3o O juiz poderá, de ofício ou a requerimento do exeqüente, determinar, a qualquer tempo, a intimação do executado para indicar bens passíveis de penhora.” 30 Art. 652-A do Código de Processo Civil: “[...] Parágrafo único. No caso de integral pagamento no prazo de 3 (três) dias, a verba honorária será reduzida pela metade.” 31 Art. 653 do Código de Processo Civil: “O oficial de justiça, não encontrando o devedor, arrestar-lhe-á tantos bens quantos bastem para garantir a execução. Parágrafo único. Nos 10 (dez) dias seguintes à efetivação do arresto, o oficial de justiça procurará o devedor três vezes em dias distintos; não o encontrando, certificará o ocorrido.

15

convertido em penhora, prosseguindo a execução em todos os seus moldes, entretanto, será

lhe nomeado curador32.

Da realização da penhora, o executado será imediatamente intimado. Ocorre

que, quando não for possível localizá-lo, o juiz poderá dispensar a intimação ou determinar

novas diligências. Neste sentido, alude o eminente doutrinador Humberto Theodoro Junior

apud Igor Raatz dos Santos33 que “a lei não quer que o executado, já ciente da execução pelo

ato citatório, crie embaraço intencional à intimação da penhora, e, consequentemente, ao

prosseguimento da execução”.

De outro vértice, o devedor, devidamente intimado acerca da penhora

realizada, possui a prerrogativa de substituir os bens penhorados, atendendo às exigências dos

Artigos 656 e 668 do Código de Processo Civil34. É mister salientar que, através da citação,

ato pelo qual o devedor ficará ciente da ação de execução, será aberto prazo de 15 (quinze)

dias para que o mesmo ofereça embargos à execução, não se confundindo este prazo com o

concedido para a substituição dos bens penhorados.

Vale destacar que, ao contrário da antiga Lei, o devedor não mais dispõe da

preferência de indicação de bens à penhora, cabendo ao credor a prerrogativa de apontá-los e

a escolha sobre qual deles deseja que recaia a constrição. Além disso, o exeqüente possui o

32 Art. 654 do Código de Processo Civil: “Compete ao credor, dentro de 10 (dez) dias, contados da data em que foi intimado do arresto a que se refere o parágrafo único do artigo anterior, requerer a citação por edital do devedor. Findo o prazo do edital, terá o devedor o prazo a que se refere o art. 652, convertendo-se o arresto em penhora em caso de não-pagamento. 33 RAATZ, Igor dos Santos. Execução de título extrajudicial; Algumas considerações acerca de alterações Introduzidas pela Lei 11.382/2006. Disponível em: <http://iargs.com.br/index.php?option=com_content&task=view&id=96&Itemid=59>. Acesso em: 20 jun. 2008. 34 Art. 656 do Código de Processo Civil: “A parte poderá requerer a substituição da penhora: I - se não obedecer à ordem legal; II - se não incidir sobre os bens designados em lei, contrato ou ato judicial para o pagamento; III - se, havendo bens no foro da execução, outros houverem sido penhorados; IV - se, havendo bens livres, a penhora houver recaído sobre bens já penhorados ou objeto de gravame; V - se incidir sobre bens de baixa liquidez; VI - se fracassar a tentativa de alienação judicial do bem; ou VII - se o devedor não indicar o valor dos bens ou omitir qualquer das indicações a que se referem os incisos I a IV do parágrafo único do art. 668 desta Lei. [...]” Art. 668 do Código de Processo Civil: “ O executado pode, no prazo de 10 (dez) dias após intimado da penhora, requerer a substituição do bem penhorado, desde que comprove cabalmente que a substituição não trará prejuízo algum ao exeqüente e será menos onerosa para ele devedor (art. 17, incisos IV e VI, e art. 620). Parágrafo único. Na hipótese prevista neste artigo, ao executado incumbe: I - quanto aos bens imóveis, indicar as respectivas matrículas e registros, situá-los e mencionar as divisas e confrontações; II - quanto aos móveis, particularizar o estado e o lugar em que se encontram; III - quanto aos semoventes, especificá-los, indicando o número de cabeças e o imóvel em que se encontram; IV - quanto aos créditos, identificar o devedor e qualificá-lo, descrevendo a origem da dívida, o título que a representa e a data do vencimento; e. V - atribuir valor aos bens indicados à penhora. (Incluído pela Lei nº 11.382, de 2006).”

16

direito de requerer, antes mesmo da citação do executado, a penhora online, por meio da qual

o juiz bloqueia as contas e aplicações financeiras registradas no Cadastro de Pessoas Físicas

(CPF) ou Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ) do devedor em todo o território

nacional.

Após a constrição, será feito o depósito do bem penhorado, com a nomeação

de depositário, o qual irá atuar como verdadeiro auxiliar do juízo e será o responsável legal

pela guarda e conservação do bem, até ulterior deliberação judicial.

Consoante a antiga regra, era o devedor quem possuía preferência em

assumir tal função. No entanto, com o advento da Lei 11.382/2206, o executado só será

investido desta condição se houver anuência expressa do credor.

Por conseguinte, será realizada avaliação e, na seqüência, a expropriação

executiva dos bens penhorados a fim de proceder à satisfação do crédito do exeqüente. Da

análise do Artigo 647 da nova Lei35, emergem 04 (quatro) hipóteses do referido instituto,

quais sejam: a adjudicação em favor do exeqüente ou de credor com garantia real sobre o

bem, a alienação por iniciativa popular, alienação judicial (arrematação) ou ainda o usufruto

de bem móvel ou imóvel.

Considerada a hipótese mais comum, a alienação judicial refere-se à venda

realizada através de leilão, no caso de bens móveis, ou de praça, para bens imóveis, a quem

oferecer o maior lance.

Todavia, com o objetivo de dar maior efetividade à venda dos bens

penhorados, evitando que sejam arrematados por valor ínfimo, a nova Lei priorizou a

adjudicação do bem, por meio da qual o próprio credor ou aquele que possua garantia real

sobre o bem penhorado, têm a possibilidade de adquiri-lo, preferencialmente. Além disso,

podem requerer a adjudicação em seu favor, os credores que hajam penhorado o mesmo bem,

o cônjuge, os descendentes ou ascendentes do executado. Havendo vários pretendentes à

adjudicação, far-se-á licitação entre os concorrentes.

Por sua vez, a alienação por iniciativa particular representa um grande

avanço, uma vez que a publicidade se estende à via eletrônica, aumentando

consideravelmente a divulgação. De outro lado, possuindo o credor a alternativa de procurar

35 Artigo 647 do Código de Processo Civil: “A expropriação consiste: I - na adjudicação em favor do exeqüente ou das pessoas indicadas no § 2o do art. 685-A desta Lei; (Redação dada pela Lei nº 11.382, de 2006). II - na alienação por iniciativa particular; (Redação dada pela Lei nº 11.382, de 2006). III - na alienação em hasta pública; (Redação dada pela Lei nº 11.382, de 2006). IV - no usufruto de bem móvel ou imóvel. (Incluído pela Lei nº 11.382, de 2006).”

17

pessoalmente compradores ou indicar corretor que o faça, permite-se que o bem seja vendido

por valor justo e compatível com o obtido através da avaliação.

No que tange ao usufruto, a nova Lei 11.382/2006 introduziu modificação

relevante, passando a permitir que o mesmo recaia tanto sobre bem móvel como imóvel. O

juiz concederá tal medida quando esta representar menor gravidade para o executado e maior

eficiência para a satisfação do crédito.

Nas hipóteses do Art. 670 do Código de Processo Civil 36, poderá ser

efetuada a alienação antecipada dos bens penhorados quando estes estiverem sujeitos à

depreciação ou deteriorização ou, ainda, quando representar manifesta vantagem. Referida

medida visa impedir prejuízos, tanto para o credor como para o devedor, na medida em que os

bens, por sua própria natureza, correm o risco de perecer caso não sejam alienados no

momento oportuno. Tal procedimento, norteado pelo contraditório, pode ser requerido por

qualquer das partes e até mesmo pelo juiz e procederá da mesma forma da alienação

definitiva. Após a efetivação da venda, a quantia obtida será depositada em Juízo, aguardando

autorização judicial para que seja entregue ao credor.

Por fim, no que diz respeito à competência para julgamento do processo, a

execução fundada em título extrajudicial seguirá as regras comuns de competência. Em regra,

o juízo competente será o do lugar em que a obrigação deveria ser satisfeita. Porém esta

diretriz poderá ser desconsiderada pelas partes, uma vez que se trata de competência territorial

e, por sua vez, relativa.37

2.2.2 Obrigação de Fazer

Inadimplida a obrigação de fazer no prazo determinado, o procedimento irá

prosseguir, conforme a espécie da prestação, de duas maneiras diferentes. Quando a prestação

de fazer possuir caráter infungível, ou seja, não puder ser satisfeita senão pelo próprio

devedor, tendo em vista suas características específicas, será convertida em perdas e danos,

procedendo-se, por conseguinte, à liquidação do valor. A partir de então, a execução

prosseguirá por quantia certa, como visto acima.

36 O juiz autorizará a alienação antecipada dos bens penhorados quando: I - sujeitos a deterioração ou depreciação; II - houver manifesta vantagem. Parágrafo único. Quando uma das partes requerer a alienação antecipada dos bens penhorados, o juiz ouvirá sempre a outra antes de decidir. 37 Para a execução fundada em título extrajudicial, a preferência para fixação do foro competente observa a seguinte ordem: a) foro de eleição; b) lugar do pagamento; e c) domicílio do réu (STJ, 2ª Seção, CC 4.404-1 – PR, Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira, j. 25.8.1993, v.u., DJU de 20.9.1993, p. 19132).

18

De outro lado, caso exista a possibilidade de a prestação ser cumprida por

outra pessoa, que não o devedor, o credor terá a opção de requerer que a mesma seja

adimplida por terceiro ou que se resolva em perdas e danos. Convém mencionar que, caso o

credor opte pelo cumprimento por terceiro, o adimplemento seguirá às custas do executado.

Prestada a obrigação por terceiro, o juiz ouvirá as partes para oporem

impugnação, apontando eventual descumprimento do prazo estipulado, bem como

adimplemento defeituoso ou incompleto. Deste modo, conforme redação do Artigo 636 do

Código de Processo Civil38, o credor poderá requerer ao juiz autorização para, por si só,

concluir a prestação, por contra do contratante. De outro vértice, não havendo reclamações

nem reparações a realizar, dará por cumprida a obrigação.

2.2.3 Obrigação de Não Fazer

A obrigação de não fazer consiste na abstenção, pelo devedor, da prática de

determinado ato, previsto em lei ou convencionado por meio de um contrato. Esta modalidade

de prestação é de cunho personalíssimo, e, por sua vez, infungível, sendo impossível seu

adimplemento por terceiro.

Tendo o devedor praticado determinada conduta da qual estava impedido, o

credor poderá requerer ao juiz que lhe estipule prazo para desfazimento do ato. Para tanto, o

Estatuto Processual Civil prevê sanção consistente em multa coercitiva por dia de atraso, com

o objetivo de constranger o devedor desfazer o que não deveria ter feito.

Ocorre que, em situações específicas, não existe a possibilidade de

desfazimento do ato praticado, ou ainda, não há mais interesse por parte do credor,

ocasionando, desta forma, a resolução da obrigação em perdas e danos. Sendo assim, se

procederá a liquidação do valor devido, seguindo a execução por quantia certa, conforme

visto anteriormente.

Por fim, vale destacar que, havendo a impossibilidade de abstenção por

parte do devedor, por motivos alheios à sua vontade, a obrigação será declarada extinta.

38 “Art. 636. Se o contratante não prestar o fato no prazo, ou se o praticar de modo incompleto ou defeituoso, poderá o credor requerer ao juiz, no prazo de 10 (dez) dias, que o autorize a concluí-lo, ou a repará-lo, por conta do contratante.”

19

2.2.4 Obrigação de Entrega de Coisa

Este modelo de obrigação divide-se em entrega de coisa certa ou

determinada ou entrega de coisa incerta ou indeterminada. A primeira refere-se à entrega de

coisa perfeitamente individualizada, pois é considerada objeto único e precioso, não dispondo

o devedor da opção de entregar coisa diversa da acordada.

Neste caso, se a coisa vier a perecer sem culpa do devedor, cabe ao credor

dar a obrigação por extinta ou aceitá-la no estado em que se encontra, abatendo no preço o

valor do estrago. Havendo culpa por parte do devedor, este responderá pelo equivalente

acrescido de perdas e danos.

Ao revés, a obrigação de entrega de coisa incerta consiste na relação

obrigacional, onde, a princípio, o objeto é indicado de forma genérica, tornando-se

determinado, mediante escolha do credor ou do devedor, na ocasião do adimplemento. Na

ausência de norma que discipline a quem competirá a referida escolha, esta será do devedor.

Entretanto, o executado não poderá entregar coisa pior do que a avençada, porém, não estará

obrigado à entrega da melhor39.

2.3 A NOVA LEI 11.382/2006

Vislumbram-se ainda outras mudanças trazidas pela nova Lei, as quais

foram criadas com vistas a assegurar o pagamento da dívida e desestimular a inadimplência e,

por sua vez, alteraram sensivelmente o processo de execução. Umas delas é a imposição de

multa de 20% (vinte por cento) sobre o valor do débito quando for comprovada a omissão de

patrimônio do credor ou então na hipótese de interposição de recursos protelatórios.

Diante da necessidade de impedir que o devedor dilapide seu patrimônio,

deixando de cumprir com a obrigação contraída, a nova Lei introduziu modificação relevante,

tendo em vista que, no momento da propositura da ação de execução, o exeqüente receberá

uma certidão comprovando o ajuizamento da ação, a qual poderá ser averbada no registro de

imóveis, de veículos ou ainda no registro de quaisquer outros bens do devedor e passíveis de

penhora. A mencionada averbação não impede a alienação dos bens, no entanto, possui

caráter inibitório, uma vez que objetiva dificultar que o executado se desfaça de seu

patrimônio de forma irresponsável e fraudulenta.

39 Cf. enuncia o Artigo 244 do Código Civil, 2ª parte.

20

Além disso, a gradação legal dos bens passíveis de penhora também sofreu

alteração, visando impedir o sacrifício do patrimônio do executado além do razoável e

necessário e, conseqüentemente, protegê-lo de situações vexatórias. Quanto aos bens

impenhoráveis, determinou-se, por exemplo, que os móveis e pertenças guarnecedoras da

casa, o vestuário e objetos de uso pessoal, bem como os vencimentos do devedor não serão

alvo de constrição, salvo se de elevado valor e ultrapassarem as necessidades comuns a um

médio padrão de vida.

Acrescenta-se, outrossim, que no caso de reconhecimento da dívida pelo

devedor, este poderá requerer o parcelamento do débito, mediante o depósito prévio de 30%

(trinta por cento) de seu valor. Todavia, por representar um prêmio ao devedor, este benefício

não se estende ao condenado inadimplente, devendo este realizar o depósito imediato e

integral da quantia devida.

De outro lado, havendo interposição de embargos, a legislação não mais

impõe a obrigatoriedade de segurança do Juízo por parte do embargante para que o mesmo

possa apresentar sua defesa, ressalvado os casos em que pleiteie efeito suspensivo ao seu

recurso, hipótese em que a execução deverá estar garantida por penhora, depósito ou caução.

Em outra vertente, embora ainda necessite de regulamentação, a nova Lei

11.382/2006 trouxe para dentro do processo executivo a possibilidade de se proceder à hasta

pública eletrônica dos bens penhorados, em substituição à tradicional praça e leilão. Tal

procedimento será realizado por meio da Rede Mundial de Computadores (Internet) e deverá

atender as exigências de publicidade, autenticidade e segurança, estabelecidas na legislação.

Em relação às mudanças que não foram inseridas no texto legal, vale citar o

dispositivo que permitia a constrição de parte do salário do devedor e também a norma que

limitava a mil salários mínimos o valor do “bem de família”, impassível de penhora judicial.

3 EMBARGOS DO EXECUTADO 3.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Conforme já sedimentado, o processo de execução não visa à discussão da

existência do direito, uma vez que o título executivo a representa. Este documento imbuído de

eficácia executiva faz presumir o reconhecimento do direito do credor. Porém, tal presunção

não é absoluta, de maneira que é possível a prova em contrário através das exceções de pré-

executividade ou ainda por meio da interposição de embargos.

21

As primeiras constituem defesa apresentada pelo executado dentro do

processo de execução, afastando o uso dos embargos. Segundo os Tribunais, por esta via, o

devedor pode alegar matéria de ordem pública, bem como fatos modificativos, extintivos ou

impeditivos do direito do autor, tornando prescindível maior dilação probatória para

demonstrá-los.

Já os embargos do executado ou do devedor são ação de conhecimento,

geradora de processo incidental e autônomo, mediante a qual, com a eventual suspensão da

execução, o executado impugna a pretensão creditícia do exeqüente e a validade da relação

processual executiva.40

Neste sentido, verifica-se que a defesa apresentada pelo executado se dará

por meio de processo de conhecimento, autônomo e incidente, em atendimento ao princípio

de que a execução se destina à realização do direito e não à sua discussão. Por esta razão, a

competência para seu processamento pertence ao juízo responsável pelo julgamento do

próprio processo executivo. Estará investido de legitimidade para interpor embargos, o

devedor, o seu cônjuge, no caso de penhora de bens imóveis e, por fim, aquele que, embora

não figure como executado, tenha seus bens penhorados na execução.

3.2 REQUISITOS

Os embargos devem preencher todos os requisitos necessários à admissão

de qualquer ação, tais como condições da ação e pressupostos processuais. No entanto,

deverão ser interpostos no prazo próprio de 15(quinze) dias, contados a partir da juntada do

mandado de citação aos autos. Entretanto, caso figure no pólo passivo vários executados, o

prazo será autônomo para cada um deles.

Urge salientar, a inovação advinda com a Lei 11.382/2006, consistente na

inexigibilidade da penhora dos bens do devedor como garantia, a fim de que se lhe permita o

oferecimento de embargos. Ao executado é facultado o direito de, assim que citado, ou

mesmo após seu comparecimento espontâneo ao processo, apresentar sua defesa. Todavia,

caso o devedor requeira a atribuição de efeito suspensivo aos embargos, impedindo o

prosseguimento da execução, deverá assegurar o Juízo, conforme previsão legal.41

40ALMEIDA; TALAMINI; WAMBIER, op. cit. 41 Art. 739- A, parágrafo 1º do Código de Processo Civil: “O juiz poderá, a requerimento do embargante, atribuir efeito suspensivo aos embargos quando, sendo relevantes seus fundamentos, o prosseguimento da execução manifestamente possa causar ao executado grave dano de difícil reparação, e desde que a execução já esteja garantida por penhora, depósito ou caução suficientes.”

22

Além disso, o Código de Processo Civil elenca as matérias que se permite

alegar por meio de embargos, quais sejam: nulidade da execução, por não ser executivo o

título apresentado; penhora incorreta ou avaliação errônea; excesso de execução ou

cumulação indevida de execuções; retenção por benfeitorias necessárias ou úteis, nos casos de

título para entrega de coisa certa e, por fim, qualquer matéria que lhe seria lícito deduzir como

defesa em processo de conhecimento.

Como último requisito específico, a lei prevê a necessidade de viabilidade

dos embargos, cabendo ao juiz rejeitar liminarmente aqueles que se mostrarem meramente

protelatórios e, como sanção, aplicar ao litigante de má-fé multa não superior a 20 % (vinte

por cento) do valor da execução.

3.3 EFEITO SUSPENSIVO

No que tange ao efeito suspensivo, o sistema atual não mais prevê sua

concessão de forma automática, no momento da interposição, devendo a execução prosseguir

normalmente. Aos embargos, no entanto, será atribuído tal efeito nas hipóteses enumeradas no

Art. 739 – A. Para tanto, dependerá de requerimento do embargante, de serem os fundamentos

apresentados relevantes, com aparência de procedência, da existência de perigo de dano grave

ou de difícil reparação e, finalmente, da garantia do Juízo, apontada acima. Cabe ressaltar que,

no caso de vários executados, apenas um oferecer defesa, ou se aos seus embargos for

conferido efeito suspensivo, a execução prosseguirá quantos aos demais, exceto quando o

motivo determinante da suspensão for comum a todos os devedores.

A decisão que concede o efeito suspensivo aos embargos pode ser revogada

ou modificada a qualquer tempo, mediante fundamentação do juiz, caso sobrevenham

circunstâncias que justifiquem sua alteração.

3.4 PROCEDIMENTO

Os embargos serão apresentados através de petição inicial e serão autuados

em apartado, seguindo incidentalmente sobre a lide principal. Assim que registrada, o

exeqüente será citado para apresentar sua defesa no prazo de 15 (quinze) dias. Por ser

considerado procedimento simples, não há que se pensar em reconvenção ou exceção de

incompetência, limitando-se o embargado à apresentação de contestação ou ainda exceção de

suspeição e de impedimento.

23

Há grande controvérsia doutrinária e jurisprudencial acerca da omissão do

réu em apresentar defesa aos embargos, o que, em tese, o tornaria revel. Porém, no presente

caso, há presunção de existência do direito do embargado, pois o mesmo tem consigo a posse

do título executivo. Diante disso, não tendo os embargos como fundamento a inexistência do

direito, o silêncio do réu não importará em presunção dos fatos alegados pelo embargante.

Após apresentação ou não da defesa do embargado, o juiz irá proceder ao

imediato julgamento do pedido, na hipótese da discussão de questão unicamente de direito ou

de ser prescindível produção de provas em audiência. Do contrário, irá designar data para

audiência de conciliação, instrução e julgamento, proferindo sentença na mesma oportunidade

ou no prazo de 10 (dez) dias.

No caso de rejeição da petição inicial por inobservância dos requisitos

presentes no Artigo 282 do Código de Processo Civil, bem como em qualquer das hipóteses

previstas nos Artigo 267 e 269 do Estatuto Processual Civil, a decisão do juiz terá natureza de

sentença e, portanto, caberá o recurso correspondente de apelação. Acrescenta-se ainda que o

recurso terá efeito suspensivo, se interposto contra a sentença de procedência dos embargos; e

meramente devolutivo, caso se volte contra a sentença que os rejeite, com ou sem resolução

de mérito (Artigo 520, V, do Código de Processo Civil).42

De outro lado, existe grande divergência que permeia o Artigo 587 do

Código de Processual Civil43. Neste sentido prelecionam Marinoni e Arenhart44:

Não há qualquer dúvida de que a execução de título executivo extrajudicial é sempre definitiva, já que, obviamente, ao existe título extrajudicial provisório. A execução de título executivo extrajudicial se inicia com natureza definitiva e sempre conserva tal natureza, seja quando os embargos do executado são recebidos com efeito suspensivo, seja quando se processa a apelação contra a sentença de improcedência dos embargos recebidos com tal efeito.

Em que pese a discussão doutrinária, o aludido artigo faz referência à

execução definitiva e provisória como formas possíveis e distintas, sendo a segunda

modalidade consistente enquanto pender apelação da sentença de improcedência dos

embargos, quando recebidos com efeito suspensivo.

3.5 EMBARGOS À ARREMATAÇÃO, À ALIENAÇÃO E À ADJUDICAÇÃO

42 ALMEIDA; TALAMINI; WAMBIER, op. cit. 43 Art. 587 do Código de Processo Civil: “É definitiva a execução fundada em título extrajudicial; é provisória enquanto pendente apelação da sentença de improcedência dos embargos do executado, quando recebidos com efeito suspensivo (art. 739).” 44 ARENHART; MARINONI, op. cit., p.467.

24

No prazo de 05 (cinco) dias, contados a partir da arrematação, alienação ou

ainda da adjudicação, o executado está autorizado a oferecer embargos fundados em nulidade

da execução ou em causa extintiva da obrigação, com a condição de que seus fundamentos

sejam supervenientes à penhora. Esta modalidade recursal, considerada de segunda fase, tem

o objetivo de discutir questões não deduzidas nos embargos à execução e seguirá o mesmo

rito, com a possibilidade de recebimento de efeito suspensivo, exercício do contraditório,

produção de provas e sentença.

Após a interposição destes embargos, o adquirente do bem tem a

prerrogativa de desistir da aquisição realizada, de acordo com a introdução do parágrafo 1º do

Artigo 746 do Código de Processo Civil.45

Caso assim proceda, o juiz deferirá o requerimento, determinando a

imediata liberação do depósito feito pelo adquirente. Assim como nos embargos do

executado, mostrando-se os presentes meramente protelatórios, caberá fixação de multa,

prevista no parágrafo 3º do referido artigo.

3.6 EMBARGOS NA EXECUÇÃO POR CARTA PRECATÓRIA

O processo de execução pode demandar a prática de atos fora do âmbito da

competência territorial do juiz da execução, como a efetivação de penhora de bens, avaliação

ou até mesmo a alienação. Por estar o juiz da causa impedido de praticá-los, este irá se utilizar

da expedição de cartas precatórias, requerendo que o juízo deprecado o faça.

Desta situação poderia emergir dúvida acerca de qual juízo seria competente

para o julgamento de eventual interposição de embargos. Contudo, o Artigo 747 do Código

Processual Civil vem dirimi-la, elucidando que estes podem ser oferecidos perante o juízo

deprecante ou deprecado, porém, esclarece que a competência para o julgamento de tal

incidente é do juízo deprecante, incumbindo ao julgamento do juízo deprecado apenas os

embargos que tratarem tão somente de vícios ou defeitos da penhora, avaliação ou alienação

dos bens.

45Art. 746 do Código de Processo Civil: “É lícito ao executado, no prazo de 5 (cinco) dias, contados da adjudicação, alienação ou arrematação, oferecer embargos fundados em nulidade da execução, ou em causa extintiva da obrigação, desde que superveniente à penhora, aplicando-se, no que couber, o disposto neste Capítulo. § 1º Oferecidos embargos, poderá o adquirente desistir da aquisição. § 2º No caso do § 1º deste artigo, o juiz deferirá de plano o requerimento, com a imediata liberação do depósito feito pelo adquirente (art. 694, § 1º , inciso IV). § 3º Caso os embargos sejam declarados manifestamente protelatórios, o juiz imporá multa ao embargante, não superior a 20% (vinte por cento) do valor da execução, em favor de quem desistiu da aquisição.”

25

CONCLUSÃO

O presente trabalho pretendeu discorrer sobre a execução dos títulos

extrajudiciais, notadamente, após as alterações introduzidas pelas Leis 11.232/2005 e

11.382/2006, a qual modificou significativamente alguns procedimentos referentes ao

processo de execução.

O Código de Processo Civil vem passando por intensas modificações desde

o início da década de 90, sendo que a mencionada lei faz parte do que se pode chamar de 3ª

“onda de reforma”, atualmente em curso.

Como se pode aferir, esta nova reforma a qual vem se submetendo o Código

de Processo Civil é motivada pelo desejo de reformular o processo, conferindo-lhe maior

celeridade e, por sua vez, concedendo maior efetividade na prestação jurisdicional aos

cidadãos.

Vislumbra-se, por meio das alterações realizadas especialmente no processo

de execução, que as mesmas surgiram com o objetivo de impedir a inadimplência por parte do

devedor, e, consequentemente, garantir a máxima satisfação do crédito do exeqüente. Assim,

o processo segue sua verdadeira razão de ser servindo de instrumento efetivo na solução dos

litígios, observando os princípios norteadores da execução, quais sejam: da máxima satisfação

do crédito e da execução menos gravosa.

De todo o exposto, extrai-se que todas as mudanças implementadas com a

recente reforma e, mais particularmente, através das Leis 11.232/2005 e 11.382/2006, surgem

no sentido de suprimir a morosidade da tutela jurisdicional e garantir maior segurança nas

relações entre os sujeitos.

26

REFERÊNCIAS AGUIAR, Jean Menezes de. Reforma do CPC-III . Disponível em: <http://www2.oabsp.org.br/asp/esa/comunicacao/esa1.2.3.1.asp?id_noticias=50>. Acesso em: 20 jun. 2008. ALMEIDA, Flávio Renato Correia de; TALAMINI, Eduardo; WAMBIER, Luiz Rodrigues. Curso Avançado de Processo Civil. 10.ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008. v.2. ASSIS, Araken. Manual de Execução. 11.ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007. ARENHART, Sérgio Cruz; MARINONI, Luiz Guilherme. Execução. 2.ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008. v.3. CARMANHANIS, Gelson Ribeiro. Comentários às novas leis de execução de títulos judiciais e extrajudiciais. Disponível em: <http://ultimainstancia.uol.com.br/artigos/ler_noticia.php?idNoticia=36827>. Acesso em: 17 jun 2008.

JÚNIOR, Humberto Theodoro. Curso de Direito Processual Civil. 41.ed. Rio de Janeiro: Forense, 2007. v.2. MARINONI, Luiz Guilherme. Efetividade do processo e tutela de urgência. Porto Alegre: Fabris, 1994. NERY JUNIOR, Nelson; NERY, Rosa Maria de Andrade. Código Civil Anotado e Legislação Extravagante. 2.ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2003. RAATZ, Igor dos Santos. Execução de título extrajudicial; Algumas considerações acerca de alterações Introduzidas pela Lei 11.382/2006. Disponível em: <http://iargs.com.br/index.php?option=com_content&task=view&id=96&Itemid=59>. Acesso em: 20 jun. 2008.