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A LIBERDADE NO PENSAMENTO DE HEIDEGGER E GADAMER Gualter de Souza Andrade Júnior 1 . Resumo Os conceitos de autonomia e autossuficiência formam o juízo analítico de liberdade desde o fim da Idade Média, numa perspectiva solipsista, no sentido de razão como mônada. A Filosofia da Linguagem, por sua vez, por meio do Existencialismo, permite a compreensão que o conceito de liberdade é condicionado pelos sentidos de vida autêntica e interpretação autêntica, num viés focado no dasein que é projeto, linguagem, tempo e decisão em prol da verdade como vitória existencial. Para a Filosofia da Linguagem, liberdade e autossuficiência são sentidos que não se implicam. Ao contrário, liberdade resulta em hemenêutica como projeto de vida assentada na escolha de enfrentamento que o dasein deve desempenhar em face da certeza da morte vidando à autenticidade. Palavras-chaves: Filosofia do Sujeito, Filosofia da Linguagem e Existencialismo, liberdade, Heidegger, Gadamer, autonomia, autenticidade. 1 INTRODUÇÃO Todo questionar é um buscar. Toda busca retira do que se busca a sua direção prévia. Questionar é buscar cientemente o ente naquilo que ele é como ele é. A busca ciente pode transformar-se em “investigação” se o que se questiona for determinado de maneira libertadora. (HEIDEGGER, 2007, p.40). Os estudos científicos perpetrados na Idade Contemporânea demonstraram que a Ciência da Interpretação, denominada Hermenêutica, tem como paradigma a Filosofia da Linguagem, a qual se desdobra em duas vertentes: a Filosofia Analítica que tem como principais autores Wittgenstein e John Langshaw Austin e a Filosofia da Existência ou Existencialista de Heidegger e Gadamer. (HABERMAS, 2004). A Filosofia da Linguagem rompe o modo de se compreender o fenômeno, o mundo da vida que consiste na existência e tudo que dela participa como decorrência das operações intelectivas que se processam na razão. O entendimento 1 Doutorando e mestre em Direito pela PUC Minas. Professor de Direito Privado-Constitucional da PUC Minas em Serro. Coordenador do Conselho Editorial da Revista Eletrônica do Curso de Direito da PUC Minas Serro. Coordenador de Pesquisa do Campus e do Curso de Direito da PUC Minas em Serro. Professor do Serviço de Assistência Judiciária (SAJ) da PUC Minas em Serro.

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  • A LIBERDADE NO PENSAMENTO DE HEIDEGGER E GADAMER

    Gualter de Souza Andrade Jnior1.

    Resumo

    Os conceitos de autonomia e autossuficincia formam o juzo analtico de liberdade desde o fim da Idade Mdia, numa perspectiva solipsista, no sentido de razo como mnada. A Filosofia da Linguagem, por sua vez, por meio do Existencialismo, permite a compreenso que o conceito de liberdade condicionado pelos sentidos de vida autntica e interpretao autntica, num vis focado no dasein que projeto, linguagem, tempo e deciso em prol da verdade como vitria existencial. Para a Filosofia da Linguagem, liberdade e autossuficincia so sentidos que no se implicam. Ao contrrio, liberdade resulta em hemenutica como projeto de vida assentada na escolha de enfrentamento que o dasein deve desempenhar em face da certeza da morte vidando autenticidade.

    Palavras-chaves: Filosofia do Sujeito, Filosofia da Linguagem e Existencialismo, liberdade, Heidegger, Gadamer, autonomia, autenticidade.

    1 INTRODUO

    Todo questionar um buscar. Toda busca retira do que se busca a sua direo prvia. Questionar buscar cientemente o ente naquilo que ele como ele . A busca ciente pode transformar-se em investigao se o que se questiona for determinado de maneira libertadora. (HEIDEGGER, 2007, p.40).

    Os estudos cientficos perpetrados na Idade Contempornea demonstraram que a Cincia da Interpretao, denominada Hermenutica, tem como paradigma a Filosofia da Linguagem, a qual se desdobra em duas vertentes: a Filosofia Analtica que tem como principais autores Wittgenstein e John Langshaw Austin e a Filosofia da Existncia ou Existencialista de Heidegger e Gadamer. (HABERMAS, 2004).

    A Filosofia da Linguagem rompe o modo de se compreender o fenmeno, o mundo da vida que consiste na existncia e tudo que dela participa como decorrncia das operaes intelectivas que se processam na razo. O entendimento 1 Doutorando e mestre em Direito pela PUC Minas. Professor de Direito Privado-Constitucional da PUC Minas em Serro. Coordenador do Conselho Editorial da Revista Eletrnica do Curso de Direito da PUC Minas Serro. Coordenador de Pesquisa do Campus e do Curso de Direito da PUC Minas em Serro. Professor do Servio de Assistncia Judiciria (SAJ) da PUC Minas em Serro.

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    que o fenmeno decorrncia da razo, como juzo analtico a priori nos moldes kantianos o grande marco da reviravolta da transcendncia que permitiu a passagem da Filosofia do Objeto Filosofia do Sujeito ou da Conscincia.

    Embora seja correto que o fenmeno fruto de operaes processadas pelo intelecto e que a possibilidade de conhecimento est na prpria razo e no no objeto de estudo, o paradigma da Filosofia do Sujeito montado sob a premissa de um incorreto juzo entendido como analtico nos sentido kantiano: que o modo de processar da razo autossuficiente, solipsista, como se ela fosse uma mnada de inteleco numa perspectiva leibiniziana.

    Par Leibniz, as mnadas so elementos imateriais e no comunicantes constitutivos do Universo, sendo que os processos que ocorrem numa mnada corresponderem aos processos que acontecem nas demais como se fossem peas de quebra-cabeas que se encaixam, porm sem se tocar, como se pode ver no texto A Justia no Pensamento de Leibniz (ANDRADE JNIOR, 2002).

    A monadalogia da razo promovida pela Filosofia da Conscincia fez com que se entendesse a autossuficincia como juzo necessariamente intrnseco liberdade, como se o sentido de autossuficincia e liberdade formasse um juzo analtico. Tal interpretao encontra seu apogeu no pensamento de Kant e Hegel.

    Kant entende a liberdade como autonomia no sentido de autossuficincia como independncia da razo para fazer normas para si mesma em face do mundo racional exterior ao sujeito. Isso , para Kant, liberdade no sentido negativo. No sentido positivo, seria autossuficincia racional como capacidade da razo de fazer normas para si mesma, ou seja, liberdade no sentido positivo. (KANT, 2002; REALE; ANTISERI, 1990a).

    Hegel, por sua vez, a partir dos estudos de Kant, imprime movimento a essa inteleco, pela sua Ideia como logicidade, ou seja, dialtica, de forma que do Esprito Subjetivo, a razo individual toma conscincia de si, quando sai de si e retorna a si e para si, numa inteleco em espiral que resulta no Esprito Objetivo e no Esprito Absoluto. (HEGEL, 2002; REALE; ANTISERI, 1990a).

    Contudo, embora de forma dinmica, a inteleco defendida por Hegel continua, como em Kant, a ser solipsista, monadalgica.

    Ao contrrio da Filosofia do Sujeito, a Filosofia da Linguagem demonstrou que a linguagem o mdium que perpassa a cada ser humano ligando os homens, sendo que, cada sentido que se processa na razo de um sujeito tem seu sentido

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    condicionado aos sentidos lingsticos dos sentidos presentes na linguagem, fazendo com que no exista razo privada. Toda racionalidade privado-pblica.

    Em face disso, preciso compreender qual o sentido de correo da liberdade no contexto da Filosofia da Linguagem, j que, desde o fim do Medievo, h a insistncia de fazer-se interpretao da liberdade como juzo que rene autonomia e autossuficincia de forma analtica.

    O presente ensaio tem o fim de explorar a adequada compreenso da liberdade tendo como parmetro a Filosofia da Linguagem e, para isso, ser explorado o seu vis Existencialista, a partir dos estudos de Heidegger e Gadamer.

    2 DASEIN: O HOMEM COMO SER DE POSSIBILIDADES

    Reale e Antiseri (1990b) lecionam que Martin Heidegger 1889 a 1976 o principal expoente da Filosofia da Existncia. A obra mais importante de Heidegger Ser e Tempo, cujo resumo a analtica existencial do homem tomado como ente, que tem como objetivo a determinao adequada do sentido do ser. Aps 1930, Heidegger deixa de se ocupar com o homem, com o ente que analisa as vias de acesso ao ser, e passa a verificar o ser e sua autorrevelao.

    Giles (1989), no seu trabalho Histria do existencialismo e da fenomenologia, diz que o pensamento de Edmund Husserl, Wihelm Dilthey, Paulo de Tarso, Agostinho, Lutero, Kierkegaard, Aristteles, os pr-socrticos, Kant, Fichte, a mstica medieval, Decartes, tm influncia decisiva no pensamento de Martin Heidegger nos primeiros anos de seu magistrio. Aluno de Husserl, desde o incio, Heidegger tem posio prpria, tencionando desligar o idealismo transcendental das Ideias do mtodo fenomenolgico husserlniano. Heidegger ocupou-se de investigar o pensamento existente at o momento histrico no qual vivia. Queria verificar o que haveria nele de impensado, a fim de descobrir a verdade do Ser para nela habitar no futuro.

    Em Ser e Tempo, Heidegger procura fazer a elaborao concreta da problemtica quanto ao sentido do ser, de modo a verificar junto a que ente se deve captar o sentido do ser, a fim de se evidenciar os modos de penetrao no ser e da compreenso e posse do seu sentido. Deve-se tambm solucionar a possibilidade da escolha correta do ente exemplar e qual a via autntica de acesso ao mencionado ente. Penetrao, compreenso, soluo, escolha, acesso so

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    momentos que formam a procura e, ao mesmo tempo, a maneira de ser de determinado ente, que o homem e que o busca segundo afirma Heidegger. A analtica existencial consiste na elaborao do problema quanto ao ser, ou seja, o tornar-se transparente. O homem pergunta-se sobre o sentido do ser. Para isso, preliminarmente, precisa explicitar antes o significado do ser. Heidegger emprega ento a palavra dasein para designar o ente do homem que tem, entre vrias possibilidades, a de buscar. Dasein o homem que sempre est numa situao e ativamente se relaciona com ela. O se de dasein significa isso. Dasein tambm a compreenso de que todos os objetos esto presentes em funo do ente que o homem. O modo de ser do dasein sua existncia. No se pode compreender dasein como uma presena que, de forma acessria, tem o atributo de poder alguma coisa, como entende a tradio filosfica ocidental at a. Ao contrrio, constituir-se, como ser-possvel, a principal compreenso sobre o dasein, ou seja, ele sempre algo que pode ser. A essncia dessa possibilidade, como ser-possibilidade, caracterizada pelo cuidar dos outros e do mundo. Destarte, a essncia da existncia, o ser do homem a possibilidade de agir. O homem pode se escolher se perdendo ou conquistando. O homem o dasein, o ente que resulta do seu ser e este decidido apenas para cada dasein individual, no sentido de sua runa ou posse. (REALE; ANTISERI, 1990b).

    Para Schuback (2007, p. 24), tradutora de Ser e Tempo de Heidegger, no seu texto A perplexidade da presena, dasein [...] indicativo de experincia [...], pois o seu sentido to somente o de ser uma tarefa infinita, o de ser um a ser. Schuback traduz a palavra dasein como presena para a lngua portuguesa.

    O que dizer do alemo da? DA no diz nem a, nem l, nem c. O da etimologicamente palavra de intensificao, tendo a funo primria de avivar, marcar, ressaltar, no possuindo propriamente nenhuma determinao espacial, cultural que poderia ser superada ou assumida por decreto. Metafsica o modo mesmo de ser de Dasein, de presena como ser para alm de si mesmo numa antecipao, transcendncia, traduo, em suma, o que s possui a si mesmo perdendo a si mesmo. O modo de ser de Dasein o modo de ser de um paradoxo radical, ser em-si mesmo um outro, ser em-si mesmo no ser um si-mesmo. Essa inscrio metafsica mostra no apenas que toda busca de aprender Dasein uma necessidade inevitvel, mas igualmente que toda tentativa de agarrar o sentido da existncia num sentido substancial no capaz de desvencilhar-se da verbalidade temporalizante da vida da ek-sistncia. [...] A experincia filosfica com que Ser e tempo nos presenteia est na descoberta de que a vida ftica do homem, a existncia, um entre-aberto vivo, um desprendimento incessante do j determinado, a possibilidade livre de entregar-se ao nada aberto de um durante, em que se descobre que assim como o raio s existe em raiando, o homem s existe fazendo-se

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    presena. Com o mistrio da presena, surge o campo do vazio, esse em que o mundo pode fazer-se mundo. O pensamento de Heidegger no nos d nada, ou melhor, nos d o no nada do em fazendo-se, em sendo, em realizando, o raio de um nada, que como disse a poetisa Emily Dickson a fora que renova o mundo. (SCHUBACK, 2007 p. 27-32).

    Giles (1989, p. 99-100) assume a traduo da palavra dasein pela conhecida frmula ser-a. Heidegger v a existncia como a forma de ser prpria do homem, ou seja, a essncia do ser-a, sua existncia. Pelo fato de a essncia do homem estar na sua existncia, Heidegger no caracteriza o homem como ente-a, mas ser-a. A forma verbal exprime o fato de cada elemento da essncia ser um modo de existir, de se encontrar a.

    Martin Heidegger, na obra Ser e Tempo, disserta sobre o dasein, traduzido para o portugus como presena:

    [...] essa no apenas um ente que ocorre entre outros entes. Ao contrrio, ela se distingue onticamente pelo privilgio de, em seu ser, isto , sendo, estar em jogo seu prprio ser. Mas tambm pertence a essa constituio de ser da presena a caracterstica de, em seu ser, isto , sendo, estabelecer uma relao de ser com seu prprio ser. Isso significa, explicitamente e de alguma maneira, que a presena se compreende em seu ser, isto , sendo. prprio deste ente que seu ser se lhe abra e manifeste com e por meio de seu prprio ser, isto , sendo. A compreenso de ser em si mesma uma determinao de ser da presena. O privilgio ntico que distingue a presena est em ela ser ontolgica. Ser ontolgico ainda no diz aqui elaborar uma ontologia. Por isso, se reservarmos o termo ontologia para designar o questionamento terico explcito do sentido de ser, ento dever-se chamar este ser-ontolgico da presena de pr-ontolgico. Isso, no entanto, no significa simplesmente sendo onticamente um ente, mas sendo no modo de uma compreenso de ser. [...] A essncia da presena est em sua existncia. As caractersticas que se podem extrair desde ente no so, portanto, propriedades simplesmente dadas de um ente simplesmente dado que possui esta ou aquela configurao. As caractersticas constitutivas da presena so sempre modos possveis de ser e somente isso. [...] A presena s pode perder-se ou ainda no se ter ganho, porque, segundo seu modo de ser, ela uma possibilidade prpria, ou seja, chamada a apropriar-se de si mesma. (HEIDEGGER, 2007, p. 48-55).

    3 A LIBERDADE EM HEIDEGGER: UMA QUESTO DE AUTENTICIDADE E DECISO EM FACE DA MORTE

    A experincia poder-ser e isso significa projetar, de modo que, essencialmente, a existncia transcendncia, vista por Heidegger como superao. Destarte, para Heidegger, as coisas do mundo so utenslios em funo do homem que projeto. Heidegger emprega importante conceito acerca do dasein

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    que o ser-no-mundo. O homem, por estar-no-mundo, como existncia, poder-ser, projeto, transcendncia, significa, originalmente que faz do mundo o projeto de seu agir. a transcendncia que institui o projeto ou esboo de um mundo: esse ato de liberdade alis, para Heidegger, a prpria liberdade. Entretanto, nesse ato de liberdade, o homem limitado pelos utenslios que so o mundo. Portanto, ao se dizer que o homem est-no-mundo, tal fato traduz o cuidado do dasein quanto aos acontecimentos concernentes ao seu projeto, em face de uma realidade-utenslio, que plataforma de ao. O homem no espectador inerte do mundo, mas se relaciona com o que nele ocorre de modo a modific-lo e, por consequncia, o dasein modifica-se. No mundo, as coisas so instrumentos, mas podem ser teis para a composio de um projeto quando compreendidas cientificamente. [...] O homem compreende uma coisa quando sabe o que fazer dela, do mesmo modo como compreende a si mesmo quando sabe o que pode fazer consigo, isto , quando sabe o que pode ser. Heidegger desconstitui a certeza gnosiolgica da Idade Moderna de que o conhecimento ocorre no interior da mente e encerra-se nela, centrada na qualidade interior do sujeito, como se fosse mnada, modo originrio de compreenso do mundo. Ao contrrio, o sujeito aberto ao conhecimento. Dessa forma, o ser-com-os outros tambm existencial, pois no h sujeito individual sem os outros e sem mundo. Assim [...] como o ser-no-mundo do homem se expressa pelo cuidar das coisas, do mesmo modo o seu ser-com-os-outros se expressa pelo cuidar dos outros [...]. Diante disso, o sujeito pode optar por dois caminhos: deixar de ocupar-se com os outros ou ajud-los [...] a conquistar a liberdade de assumir seus prprios cuidados. A primeira hiptese denota atitude inautntica, pois h apenas um estar junto. A segunda traz a compreenso de ao autntica pelo coexistir. (REALE; ANTISERI, 1990b, p. 583-585).

    Em Ser e Tempo, Martin Heidegger explica que a

    [...] fundamentao dos modos de ser-no-mundo constitutivos do conhecimento de mundo evidencia que, ao conhecer, a presena adquire um novo estado de ser, no tocante ao mundo j sempre descoberto. Esta nova possibilidade de ser pode desenvolver-se autonomamente, pode tornar-se uma tarefa e, como cincia, assumir a direo do ser-no-mundo. Todavia, no o conhecimento quem cria pela primeira vez um commercium do sujeito com um mundo e nem este commercium surge de uma ao exercida pelo mundo sobre o sujeito. Conhecer, ao contrrio, um modo de presena fundado no ser-no-mundo. (HEIDEGGER, 2007, p.109).

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    Explicam Mrcio Paiva e Ricarlos Cunha, no escrito A Constituio sob o fio condutor da ontologia fundamental, ao dissertar sobre o Direito:

    [...] De fato, a liberdade, ao deixar-valer o mundo, a origem do fundamento em geral. Heidegger estabelece a diferena entre o fundar como instituir (Stiften) e o fundar como dar fundamentao (Begruenden). Fundamentalmente, o mundo do Direito s possvel a partir de uma compreenso adequada do ser do Dasein. Assim, no exerccio da liberdade, o Dasein revela-se sempre mais como ser-no-mundo, instituindo e fundamentando seus projetos. Portanto, a Constituio, antes de ser um objeto ao alcance da mo (Zuhandenheit), lanar suas razes num especfico modo de ser do Dasein: seu ser-livre, poder-ser, existncia-no-mundo. Por isso, a Instituio (Stiftung) um projeto de mundo antes de tudo. Este ser possvel na forma de ocupao e pr-ocupao humana. [...] Essa ideia no nos pe em uma situao de prvia compreenso plena e total do mundo, dado o carter instrumental das coisas, que se reflete no possvel uso que delas podemos fazer. Tal possibilidade est intimamente ligada compreenso, haja vista que, sendo o Dasein constitutivamente abertura, um poder-ser, as suas estruturas se caracterizam pelas possibilidades. O Dasein, sendo-no-mundo como projeto, tem na sua pr-compreenso do mundo tambm mera possibilidade, sujeita a alteraes, desenvolvimentos e ulterior elaborao. (PAIVA; CUNHA, 2008, p. 3645-3664, grifo nosso).

    A existncia inautntica a existncia annima e tem trs caractersticas consecutivas: o homem atirado ao plano dos fatos que diz que as coisas acontecem de determinada forma porque assim se diz. H um vazio que leva o homem curiosidade recorrendo ao novo continuamente; a terceira o equvoco, por causa da individualidade das situaes devorada pelo palavratrio e curiosidade. O homem cai no plano das coisas do mundo como dejeto. A voz da conscincia, no obstante, convoca o homem procura do sentido do ser. No aceita mais que ele se ponha no plano existentivo, mas no existencial, que o ontolgico. Entrementes, como o dasein projeto, quando o homem decide por um caminho que o considera definitivo como, por exemplo, uma profisso, um estudo, a riqueza, acaba lanando-se dispersivamente na existncia inautntica. Diz Heidegger que a morte incondicionada, pois nenhum sujeito pode assumir a morte do outro, cada um precisa fazer isso em face da sua; insupervel, pois a ltima possibilidade da existncia que o aniquila; a mais prpria das possibilidades, pois essncia da existncia. Somente de uma possibilidade no se pode fugir: da morte, a possibilidade que torna as demais impossveis. Faz com que a existncia autntica seja ser-para-a-morte, pois a perspectiva da morte, que nulifica toda outra possibilidade, pe alicerce na historicidade da existncia e impede que o sujeito se fixe em projeto inautntico. O sujeito, ento, quando assume, por deciso

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    antecipatria e isso nada tem a ver com suicdio - a perspectiva de que a possibilidade da morte a nica inexorvel, torna-se livre da disperso casual de projetos inautnticos, para que os demais projetos possam ser escolhidos autenticamente. A existncia autntica a aceitao da prpria finitude, enfrentando a possibilidade da morte, percebida, no de forma intelectiva, mas por sentimento de angstia. A existncia inautntica a tentativa de escapar da angstia da morte por meio de uma vida banal e annima, de forma que, segundo Heidegger, o medo angstia da morte que decaiu no mundo. O medo a banalizao, fraqueza de um dasein no seguro de si, retratando tranqilidade indiferente diante da morte. (REALE; ANTISERI, 1990b).

    Para Heidegger, o tempo xtase, o que, no seu sentido etimolgico, significa estar fora. O passado o retorno s situaes para aceit-las e o cuidado com as possibilidades que surgem dele; o futuro, projetar-se-adiante em-vista-de-si-mesmo, pretender-se; o presente preso s coisas. Os trs encontram significado no futuro, ou seja, no homem fora de si. Os fenmenos do rumo a, retro e junto, ou seja, fora de si, em si e para si futuro, passado e presente so denominados xtases da temporalidade. (REALE; ANTISERI, 1990b).

    Pode-se verificar a influncia do pensamento de Hegel em Heidegger, tendo em vista a dialtica do ser, que sai de si e retorna, em sntese, a si e para si.

    O tempo inautntico visa preocupao com o xito, sucesso, enquanto o futuro, como viver para a morte, sendo tempo autntico desprovido de mundaneidade. O passado autntico, por sua vez, a no aceitao passiva da tradio, confiar nas possibilidades oferecidas e reviver a possibilidade do homem que j existiu. O presente, por ltimo, o instante que, quando autntico, o homem decide seu destino e repudia a vida inautntica absoro pelas coisas a fazer. Para Heidegger, isso tudo tem as consequncias de compreender a significao de tempo usada no pensamento comum e cientfico, como databilidade e medio temporal cientfica, tempo inautntico, voltado mundaneidade; a existncia angustiada, quando autntica, faz com que o homem viva os fatos mundanos de seu tempo, mas com conscincia de afastamento; a historicidade do dasein resulta na historiografia. (REALE; ANTISERI, 1990b).

    Segundo a metafsica clssica, Aristteles e a Filosofia at Hegel procurou o sentido do ser indagando aos entes, e atribuiu simples-presena desses o ser, identificando-os com objetividade. Heidegger denuncia isso como reduo do ser

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    fsica absorvida pela coisa, o que no seria metafsica, resultando no esquecimento do ser. A anlise da existncia autntica, por sua vez, no revela o sentido do ser, apenas o vazio, o nada. Para Heidegger, a linguagem do ente no capaz de revelar o sentido do ser, isso deve ser iniciativa do prprio ser. O desvelamento ocorre, ento por meio da linguagem, mas no a cientfica ou a do palavratrio, porm na linguagem autntica potica, que seria a casa do ser. A poesia a lngua originria e a palavra tinha carter sagrado. As coisas foram nomeadas pela palavra, responsvel pela fundao do ser. A fundao do ser no seria obra do homem, mas dom do ser, pois no o poeta quem fala, mas o ser na linguagem. Dessa forma, o homem no deve ser o senhor do ente, mas sim o pastor do ser; ele no pode desvelar o sentido do ser, chamado para atuar como guarda da verdade que pertence ao prprio ser. O silncio para ouvir o ser, o abandono ao ser seria a nica atitude correta. O homem, em funo disso, deve se colocar livre para com a verdade, sem agir como seu senhor, mas ser seu guardio, pois ela o desvelamento do ser. Liberdade e verdade coincidem, portanto. (REALE; ANTISERI, 1990b).

    Plato rejeitou o no ocultamento do ser como verdade, subvertendo a relao entre eles. Baseou o ser na verdade, ela estaria [...] no pensamento que julga e estabelece relaes entre os prprios contedos e ideias, e no no ser que se desvela ao pensamento. [...] desse modo, o ser deveria se finalizar e relativizar para a mente humana, alis, para a sua linguagem. Como resultado, houve preponderncia, f exacerbada na tcnica no mundo ocidental. (REALE; ANTISERI, 1990b, p. 590-591).

    Por outras palavras, Plato, em vez de anunciar o ser como algo que est no sentido existencial das decises humanas autnticas, encerrou-o na teoria com sede na razo do sujeito segundo uma perspectiva objetiva. Consequentemente, o sentido do ser deixa de ser algo que se desvela nas aes para ser objeto de sentido lgico tomado como juzo de falso ou verdadeiro quanto inteleco de ideias na mente do homem.

    Anaximandro, Parmnides e Herclito entendiam a liberdade como [...] um des-velar-se do ser, como provaria o sentido etimolgico de aletheia, em que lanthno, velar, precedido de privativo. Ao contrrio, Plato, como dito, rejeitou a verdade como no ocultamento. (REALE; ANTISERI, 1990b, p. 590-591).

    O Ocidente pagou o preo por essa deciso como consequncia.

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    A partir do exposto, pode-se compreender a proposio heideggeriana sobre autonomia e liberdade. Thomas Ranson Giles assevera que a

    [...] prpria autonomia do Ser-a no significa outra coisa seno a resoluo de ser aberto a todas as possibilidades autnticas e caractersticas da existncia e, finalmente, ser para a morte. Isso s se torna possvel se o Ser-a puder fazer um ato de reflexo sobre si mesmo, sobre suas autnticas possibilidades. [...] O Ser-a liberta o existente do seu ocultamento transcendental e lhe d o ser, isto , o seu significado. (GILES, 1989, p.108-110).

    Afirma Martin Heidegger a respeito da liberdade, em sua obra intitulada Sobre a Essncia da Verdade, que a

    [...] essncia da verdade a liberdade. [...] A liberdade foi primeiramente determinada como liberdade daquilo que manifesto no seio do aberto. Como dever ser pensada esta essncia da liberdade? O manifesto ao qual se conforma a enunciao apresentativa, enquanto lhe conforme, o ente assim como se manifesta para e por um comportamento aberto. A liberdade em face do que se revela no seio do aberto deixa que cada ente seja o ente que . A liberdade se revela ento como o que deixa-ser o ente. [...] Se, entretanto, o ser-a ek-sistente, como deixar-ser do ente, libera o homem para a sua liberdade, quer oferecendo sua escolha alguma coisa possvel (ente), quer impondo-lhe alguma coisa necessria (ente), no ento o arbtrio humano que dispe da liberdade. O homem no possui a liberdade, o ser-a, ek-sistente e desvelador, possui o homem, e isto to originariamente que somente ela permite a uma humanidade inaugurar a relao com o ente em sua totalidade e enquanto tal, sobre o qual se funda e esboa toda a histria. Somente o homem ek-sistente historial. A natureza no tem histria. (HEIDEGGER, 1999, 160-162).

    Em resumo, como se configura a liberdade no pensamento de Heidegger? A liberdade aparece como autonomia, mas no no sentido kantiano. Segundo Kant (2002) na sua Crtica da Razo Prtica, a autonomia, no

    sentido negativo, independncia da razo ao que lhe externo. J a autonomia positiva capacidade da razo de fazer normas para si mesma.

    Todavia, enquanto em Kant a liberdade se conforma ao imperativo categrico, segundo um dever ser moral de inteleco solipsista e autossuficiente, no pensamento de Heidegger, s h liberdade quando o homem decide por uma vida existencial autntica que se processa segundo a perspectiva no estar junto como ser-no-mundo.

    Pode-se defender que, para Heidegger, a autonomia, no sentido negativo, est no homem ser capaz de no se enveredar nas possibilidades inautnticas

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    existenciais a fim de que se preserve de vivenciar experincia banal, annima e fraca, pautada pelo domnio do medo.

    No sentido positivo, pode-se acastelar que a autonomia o homem constituir-se, ontologicamente, como ser diverso dos outros animais, no sentido de ser capaz de experincia autntica.

    A liberdade relaciona-se com a autonomia, no que concerne ao desvelamento de sentido do ser chamado por Heidegger como verdade.

    Ser livre desprender-se de tudo o que impede uma vida autntica, no optando pela efetivao das possibilidades que levam banalizao existencial.

    Igualmente, o homem, como dasein, apresenta-se livre, quando escolhe parar de sobrepujar o sentido do ser, as suas decises que fortalecem o jugo do medo. A liberdade ocorre pela atitude humana de abrir mo dos empecilhos existenciais quanto a sua relao com o ser e passa a ouvi-lo para compreender seu sentido.

    No sentido positivo, a liberdade a deciso de agir conforme a conscincia de que o homem ser-para-a-morte, de modo a direcionar suas foras para efetivao de possibilidades autnticas.

    No contexto do ser-no-mundo, como dasein, que experincia como possibilidades, o homem, no sentido ontolgico, depara-se com a liberdade existencial, por viver a oposio morte como encerramento das demais possibilidades.

    Significativamente, o homem dasein, ser-no-mundo, livre, quando, em significao existencial de sentido do ser, autnomo em relao morte, no porque deixa de receber sua influncia como a mais aguda possibilidade.

    Diversamente, torna-se autnomo em relao morte, pela tomada racional de deciso de, a partir da angstia que sente em funo da morte, ter a oportunidade de deixar de ser escravo perante a inexorabilidade de sentido do encerramento da possibilidade, a fim de que possa vivenciar as escolhas autnticas. Nesse contexto, o homem autnomo ao decidir por existncia de sentido autntico. Destarte o dasein somente compreende-se como livre quando se rende verdade existencial de sentido do ser como fonte vlida de projeto de vida.

    A possibilidade de aferio compreensiva sobre o significado de liberdade, a autonomia e vida autntica somente possvel quando se compreende que toda possibilidade de sentido existe a partir de significados j pr-existentes no mundo, pois o homem ser-no-mundo. Dessa forma, qualquer sentido possvel para o

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    dasein depende de uma pr-orientao significativa de sentido em face de um significado pr-existente no mundo. A possibilidade de interpretao de sentido, o prprio dasein ser de sentido, est encerrada num crculo hermenutico.

    O crculo hermenutico quebra da razo subjetiva, apregoada pela Filosofia do Sujeito, como mnada de sentido racional.

    A seguir, apresenta-se texto de Heidegger (2007), escrito em Ser e Tempo, o qual se tornou muito conhecido sobre o crculo hermenutico.

    No projetar-se do compreender, o ente se abre em sua possibilidade. O carter de possibilidade sempre corresponde ao modo de ser de um ente compreendido. O ente intramundano em geral projetado para o mundo, ou seja, para um todo de significncia em cujas remisses referenciais a ocupao se consolida previamente como ser-no-mundo. Se junto com o ser da presena o ente intramundano tambm se descobre, isto , chega a uma compreenso, dizemos que ele tem sentido. Rigorosamente, porm, o que compreendido no o sentido, mas o ente e o ser. Sentido aquilo em que se sustenta a compreensibilidade de alguma coisa. Chamamos de sentido aquilo que pode articular-se na abertura compreensiva. Enquanto no se abolir do compreender esse crculo, a historiografia deve satisfazer-se com possibilidades menos rigorosas de conhecimentos. Permite-se-lhe que preencha, de certo modo, essa falta mediante o significado espiritual de seus objetos. Segundo a opinio dos prprios historiadores, o ideal seria que se pudesse evitar o crculo na esperana de se criar, pela primeira vez, uma historiografia to independente do ponto de vista do observador como se presume que seja o conhecimento da natureza. [...] Mas, ver esse crculo num vcio, buscar caminhos para evit-lo, tambm senti-lo apenas como imperfeio inevitvel, significa um mal-entendido de princpio acerca do que compreender. [...] O crculo do compreender pertence estrutura do sentido, cujo fenmeno tem suas razes na constituio existencial da presena, enquanto um compreender que interpreta. O ente em que est em jogo seu prprio ser como ser-no-mundo possui uma estrutura de crculo ontolgico. Deve-se, no entanto, observar que, se do ponto de vista ontolgico, o crculo pertence a um modo de ser do que simplesmente dado, deve-se evitar caracterizar ontologicamente a presena mediante esse fenmeno. (HEIDEGGER, 2007, 214-215).

    Tendo em vista a perspectiva de que a possibilidade de todo sentido do dasein pressupe o crculo hermenutico, as decises em prol da vida autntica sero compreendidas como liberdade, pois sero manifestaes existenciais verdadeiras de desvelamento compreensivo de sentido do ser por meio de aes que levam o homem a vivenciar possibilidades autnticas.

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    4 INTERPRETAO, PR-JUZOS E A HISTRIA EFEITUAL: O PENSAMENTO DE GADAMER

    Outro aspecto para se compreender a liberdade, a partir do contexto do existencialismo, consiste na Hermenutica de Hans Georg Gadamer 1900 a 2002.

    Gadamer (2007), no seu livro Verdade e Mtodo, explica que o referido crculo hemenutico, formado por juzos prvios, sua historicidade em face de sentido de significados repetitivos validados por aceitao racional, tomados como tradio, recebem significado para o homem por intermdio da linguagem. Para Gadamer, a significao de mundo s possvel por meio da linguagem, cujo conceito sobreposto ao de pensamento. Por isso, a prpria possibilidade de pensamento, Filosofia, compreenso somente ocorrer em funo da mesma

    Conforme Georg Gadamer, a

    [...] tradio no simplesmente um acontecer que aprendemos a conhecer e dominar pela experincia, mas linguagem [...]. [...] O problema hermenutico no , pois, um problema de domnio correto da lngua, mas de correto acordo sobre um assunto, que se d no medium da linguagem. [...] O sentido da experincia hermenutica reside, antes, no fato de que, frente a todas as formas de experincia do mundo, a linguagem abre uma dimenso de profundidade a partir da qual a tradio alcana os que vivem no presente. Desde h muito tempo, antes do uso de toda escrita, essa a verdadeira essncia do ouvir, a saber, o ouvinte capaz de ouvir a lenda, o mito, a verdade dos antigos. [...] Nossas reflexes se orientam pela ideia de que a linguagem um meio (Mitte) em que se renem o eu e o mundo, ou melhor, em que ambos aparecem em sua unidade originria. [...] a hermenutica um aspecto universal da filosofia e no somente a base metodolgica das chamadas cincias do esprito. (GADAMER, 2007, p.467- 613).

    Dissertam Reale e Antiseri (1990b) que o fundador da Hermenutica contempornea, compreendida como Teoria da Interpretao, Gadamer. A Hermenutica relaciona-se com a interpretao das Escrituras e dos textos que formam o objeto da Literatura. No obstante as pistas da Antiguidade clssica e de alguns sinais da Filosofia medieval sobre concepes de diversos sentidos, a Hermenutica surge das discusses teolgicas advindas da Reforma e, posteriormente, incide, a par da Teologia, na Filosofia, Histria e Direito, quanto interpretao. Schelegel e Schleiermacher procuraram destacar a Hermenutica na Filosofia. Posteriormente, Dilthey quis estabelec-la como pedra angular das cincias do esprito. Para ele, a Hermenutica no era apenas conjunto de questes

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    tcnicas, metodolgicas, mas tinha natureza filosfica na qual se baseava a historicidade do homem e sua conscincia histrica. Entrementes, foi Heidegger que concebeu a Hermenutica como intrnseca ao homem, por ser a estrutura constitutiva do dasein e no apenas instrumento disposio do homem. Novelo de experincias que cresce sobre si mesmo o homem. Cada uma dessas experincias origina-se do fundo das anteriores reintegrando-as. A essncia do alerta de Heidegger no se dar conta do crculo hermenutico, mas sim que o intrprete no se pode deixar levar por limitaes oriundas de hbitos mentais inconscientes e arbitrrios, de modo que a interpretao seja correta, mantendo-se os olhos firmes no objeto interpretado, para sobrepujar as confuses do ntimo do intrprete. Quem interpreta um texto visa realizao de algum projeto e a interpretao j parte preliminarmente de um significado. Com base na penetrao posterior do texto, essa interpretao revista. Quando o intrprete se aproxima do texto, ele no uma tabula rasa, mas j leva consigo pr-compreenses, pr-juzos, pr-suposies de significao, suas expectativas. H, ento, esboo de significado preliminar por parte do intrprete, quando se depara com o texto, em face da sua pr-compreenso. A Hermenutica, portanto, a partir disso, continua revisando, como projeto interpretativo, a pr-compreenso inicial, confirmando ou no sua autenticidade, e da surgem novos projetos. Como saber, entretanto, se a interpretao correta ou no? Gadamer diz que por meio da anlise posterior do texto. Se a primeira interpretao se mostra contrria ao texto, chocando-se com ele, elabora-se novo esboo de sentido e assim sucessivamente, j que, ao longo do tempo, mudam-se os saberes sobre o contexto, os pr-juzos e as expectativas. Como tabula cheia e no rasa, os choques entre as pr-compreenses do intrprete e o texto atraem sua ateno, fazendo com que o hermeneuta tome conscincia de seus prprios pr-juzos, pr-conceitos, a fim de que possa interpretar com maior adequao, assevera Gadamer. Surge, ento, a alteridade do texto em face do intrprete. Sob a presso do texto, o intrprete passa a descartar suas prprias atribuies de sentido pr-compreensivas. Logo, para se compreender algum texto, preciso deixar que este diga alguma mensagem ao intrprete, por sua tomada de conscincia sobre seus prprios pr-juzos.

    Pode-se inferir desse pensamento de Gadamer que, para compreender, o intrprete deve abaixar seu escudo formado de pr-compreenses de forma a aceitar que o que o texto lhe quer dizer diverso do esboo inicial. Pode-se afirmar

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    que, para compreender, preciso abrir a mente, no cristalizando a possibilidade de compreenso possvel nos pr-juzos, embora esses sejam os pontos de partida para a prpria compreenso.

    Apresentando sempre um sentido mais adequado para o texto, aps o outro, a interpretao do hermeneuta no pode ter, como objetivo, somente confirmar o esboo pr-compreensivo do intrprete, mas este o ponto de partida, para se compreender. O hermeneuta interpreta com conscincia metodolgica, quando o esboo inicial apenas plataforma para o incio da interpretao. Tornando-se conscientes os pr-juzos do intrprete, ele pode verific-las, alicerando sua compreenso no objeto de interpretao e no em si mesmo. So os pr-juzos inconscientes do intrprete que o tornam surdo para o texto. preciso deixar o texto falar, pois. (REALE; ANTISERI, 1990b).

    O texto tem vida prpria, produzindo efeitos sobre a histria ulterior, muitas vezes, inimaginveis pelo seu prprio autor. Portanto, a histria dos efeitos causados por um texto importante para sua interpretao tambm. Logo, ao contrrio do que muitas vezes se pensa, quanto maior a distncia do intrprete de algum texto, melhor a chance de se aproximar interpretativamente de forma correta deste. s vezes, no futuro, consegue-se interpretao melhor da que poca se fez do texto, porque naquele tempo no se considerou algum sentido por causa de alguma significao de validade daquela poca. A interpretao de um texto, portanto, menos simples, quando no se conhece sua histria efeitual. Pr-juzo, para Gadamer no tem sentido pejorativo, mas significa ideia, conjectura, proposio. O idola, ou seja, o preconceito foi estudado por Bacon que props que este aprisiona o esprito e o desvia da verdade, de modo que o homem precisa afast-lo. Gadamer, ao contrrio, diz que isso no metodologia, mas sim disciplina mental no sentido latino. O pensamento de Bacon, para Gadamer, tem o efeito contrrio que aquele quis propor, ou seja, mostra a importncia do pr-juzo para se interpretar. Gadamer defende que no se deve expurgar a mente do idola, como queria Bacon, mas sim tomar conscincia dele e coloc-lo constantemente prova e, s vezes, at elimin-lo, assumindo outro melhor. Os iluministas foram os responsveis, segundo Gadamer, pelo sentido pejorativo que o pr-juzo passou a apresentar. Eles faziam distino entre pr-juzo devido ao respeito pela autoridade e pr-juzo devido precipitao. Isso se deve conhecida passagem kantiana que diz que se deve servir do prprio entendimento. Gadamer denuncia, contra a

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    indiscriminada difamao dos iluministas em desfavor da autoridade, que, realmente, quando o juzo da autoridade toma o lugar do juzo do intrprete aquela se torna fonte de preconceito. Entrementes, o iluminismo no se deu conta que a autoridade tambm pode ser causa da exposio de verdade. O Romantismo, por sua vez, critica negativamente o Iluminismo equiparando a tradio natureza, desvinculando-a da razo, em face da fora de conservao que aquela tem. Se contra o Iluminismo Gadamer evoca os direitos da tradio, ope-se ao Romantismo, baseado no fato de que para se manter a tradio preciso aceitao racional. A tradio, por isso, ato de racionalidade e, ao contrrio do que pensavam os iluministas, no somente o novo que racional. (REALE; ANTISERI, 1990b).

    Gadamer est convencido de que um dos significados menos compreensvel para o homem o sentido de experincia. Esta tem caracterstica de sempre ser substituda por outra mais adequada; os choques de pr-juzos promovem sua abertura fundamental, no somente para corrigir os equvocos, mas no sentido de sempre se buscar a confirmao da experincia. Ele v um sentido produtivo na negativao da experincia, como autntica, que consiste no contraditar generalizaes. Gadamer chama isso de experincia dialtica. Quando algum diz que fez experincia de algo, significa que passou a compreender esse algo melhor que antes. Isso diz respeito no somente compreenso dos novos significados da experincia nova, mas tambm da expectativa inicial. A compreenso sobre algo que tem significado universal, como a expectativa anterior nova experincia, ocorre por meio da experincia dialtica. A contradio ao pr-juzo a experincia autntica. A experimentao, nessa esteira, faz com que aquele que experimentou adquira conhecimento novo, tornando-se perito sobre algo. Mas ao mesmo tempo abre-se para novas experincias sobre o que ainda no sabe. Outrossim, a continuidade da experincia autntica, como experincia dialtica, demonstra que o que se passou no retorna e nem todo instante o momento adequado, para se praticar determinado ato. Por outras palavras, o homem ser finito e assim tambm a experincia. A experincia dialtica resulta em alargamento de horizonte sobre compreenso. No entanto, isso no significa ser senhor de todo o conhecimento. Ao contrrio, abertura para novas experincias, como expanso de horizonte de compreenso numa condio finita. Compreender o que existe ter compreenso

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    dos limites de todo projeto. Por isso, a experincia experincia da finitude humana. (REALE; ANTISERI, 1990b).

    A pergunta, para Gadamer (2007), a chave para abertura da experincia a novas experincias. Ela confronta o pr-juzo estabelecido suspendendo sua validade, fazendo com que se erijam novas possibilidades hermenuticas de sentido lingustico.

    O sentido dos juzos compreendido, levando-se em conta que, no ato de compreender, operam-se os efeitos da concepo prvia de perfeio. Esta, por sua vez, guia a formao de sentido, por referncia expectativa de verdade da experincia hermenutica visada, como se possvel concluir do pensamento de Gadamer (2007) em Verdade e Mtodo.

    Pode-se deparar com textos de Verdade e Mtodo sobre a concepo prvia de perfeio; o papel hermenutico da pergunta, no sentido de instrumento que abre a possibilidade de experincia e a hermenutica como horizonte de compreenso, pelos seguintes apontamentos de Georg Gadamer expostos abaixo.

    [...] Toda a interpretao correta tem que proteger-se da arbitrariedade de intuies repentinas e da estreiteza dos hbitos de pensar imperceptveis, e voltar seu olhar para as coisas elas mesmas (que para os filsofos so textos com sentido, que tratam, por sua vez, de coisas). [...] Na verdade, no a histria que nos pertence, mas somos ns que pertencemos a ela. Muito antes de nos compreendermos na reflexo sobre o passado, j nos compreendemos naturalmente na famlia, na sociedade, no Estado em que vivemos. A autorreflexo do indivduo no passa de uma luz tnue na corrente cerrada da vida histrica. Por isso, os preconceitos de um indivduo, muito mais que seus juzos, constituem a realidade histrica do seu ser. [...] O crculo da compreenso no , portanto, de modo algum, um crculo metodolgico; ele descreve antes um momento estrutural ontolgico da compreenso. [...] A concepo prvia da perfeio que guia toda nossa compreenso demonstra tambm que ela tem em cada caso um contedo determinado. [...] distncia temporal nos d condies de resolver a verdadeira questo crtica da hermenutica, ou seja, distinguir os verdadeiros preconceitos, sob os quais compreendemos, dos falsos preconceitos que produzem os mal-entendidos. [...] Um pensamento verdadeiramente histrico deve incluir sua prpria historicidade em seu pensar. S ento deixar de perseguir o fantasma de um objeto histrico objeto de uma investigao que est avanado para aprender a conhecer no objeto o diferente do prprio, conhecendo assim tanto um quanto o outro. O verdadeiro objeto histrico no um objeto, mas a unidade de um e de outro, uma relao formada tanto pela realidade da histria quanto pela realidade do compreender histrico. Uma hermenutica adequada coisa em questo deve mostrar a realidade da histria na prpria compreenso. A essa exigncia eu chamo de histria efeitual. Compreender , essencialmente, um processo de histria efeitual. [...] Horizonte o mbito de viso que abarca e encerra tudo o que pode ser visto a partir de um determinado ponto.

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    [...]. A verdadeira experincia assim experincia da prpria historicidade. (GADAMER, 2007, p. 355-467).

    Ommati (2004, p. 34-4), no seu livro A Igualdade no Paradigma do Estado Democrtico de Direito, ensina que o movimento do giro hermenutico iniciou-se com Heidegger, pela caracterizao de que o ser do homem conhecer. O homem compreendido como tal porque linguagem e tempo, sendo este a marca do prprio significado de homem. Em essncia, pode-se afirmar que o homem memria do ser, como [...] momento fundamental do evento de desvelamento do ser. S se pode falar de linguagem, no sentido estrito da palavra, a onde o ser se desvela, se abre, ou seja, no homem. As perguntas que o homem faz j ocorrem numa tradio determinada, pois ele ser histrico. Quanto a Gadamer, afirma que esse marca a reviravolta da Hermenutica, pela demonstrao da importncia, para se encontrar a verdade, dos valores enraizados no homem, da tradio e da histria o que ocorre por intermdio da linguagem. No obstante, diz que Gadamer no explicou como a comunicao possvel, ou seja, como o entendimento mediado pela linguagem possvel. Esse papel coube a Wittgenstein.

    Em face do exposto, resta perguntar sobre como se pode interpretar, em face da comunicao textual de Gadamer, o significado de liberdade e autonomia.

    5 AUTONOMIA COMO SER DE LINGUAGEM: A LIBERDADE NO PENSAMENTO DE GADAMER

    Pode-se dizer que a liberdade, em Gadamer, tem sentido geral e especfico, como tambm um negativo e um positivo.

    No sentido geral, significa que o homem, diferentemente dos animais, autnomo. Ele capaz de falar, pode dar nomes aos objetos com infinitas possibilidades existenciais. A linguagem o mundo do significado de mltiplas possibilidades significativas de sentido na qual somente o homem consegue se elevar a esse patamar superior.

    No mundo lingustico, o homem capaz de tornar-se autnomo ao interpretar, frente aos pr-juzos que carrega consigo e focar sua interpretao no que o texto lhe quer dizer.

    A autonomia, com essa significao especfica, tambm pode ser percebida como capacidade de vivenciar experincias lingusticas significativas, dialticas e

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    histricas, de modo a alargar seu horizonte de compreenso, sua capacidade de aprender, ser cada vez mais experiente. Por outras palavras, o homem, pela experincia, pode livrar-se de um destino de impossibilidade de avano quanto verdade enquanto puder experimentar, nunca desistir de alargar seu horizonte de compreenso.

    No sentido negativo, a liberdade do homem no estar preso condio existencial de no experimentar linguisticamente, como o caso dos animais que no conseguem se elevar ao mundo da linguagem.

    No sentido positivo, a liberdade autonomia como liberdade genrica e especfica. Por outras proposies, capacidade de linguagem e de deter-se busca da verdade na interpretao.

    O texto de Georg Gadamer exposto a seguir, a par dos j inscritos neste trabalho, podem possibilitar a interpretao apresentada.

    Quase j no se pode contestar que o que caracteriza a relao do homem com o mundo, em oposio a todos os demais seres vivos, a sua liberdade frente ao mundo circundante. Essa liberdade implica a constituio de um mundo que se d na linguagem. Um faz parte do outro. Elevar-se acima das coeres do que vem ao nosso encontro a partir do mundo significa ter linguagem e ter mundo. [...] para o homem, elevar-se acima do mundo circundante significa elevar-se ao mundo, e no, abandonar o mundo circundante, mas uma postura distinta frente a ele, uma postura livre e distanciada, cuja realizao tem o modo de ser da linguagem. Uma linguagem dos animais s existe per aequivocationem, pois linguagem uma possibilidade varivel do homem, uma possibilidade livre em seu uso. Para o homem, a linguagem no varivel s no sentido de que existem outras lnguas que podem ser aprendidas. Para ele, ela varivel tambm em si mesma, na medida em que lhe dispe diversas possibilidades de expressar uma mesma coisa. (GADAMER, 2007, p. 573-574).

    6 CONSIDERAES FINAIS

    A liberdade no pensamento de Heidegger e Gadamer remete-se aos sentidos de autonomia e autenticidade no contexto da Filosofia da Linguagem.

    A partir do pensamento de Heidegger, pode-se, portanto, classificar a autonomia em seu pensamento como negativa e positiva.

    A autonomia negativa implica na capacidade humana de no se enveredar vida mundana, na inautenticidade, numa existncia que se mata diariamente pelo medo da morte.

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    A autonomia positiva consiste, por sua vez, na capacidade do dasein de experimentar vida autntica.

    A contnua fuga de uma existncia autntica seria morte existencial que, a seu turno, gera no homem a iluso de estar experimentando vida. A escolha a cada instante de uma vida inautntica morte existencial de prxis diria. Frente inexorvel expectativa da morte fsica, essa escolha resulta numa negao da prpria morte como inteleco hermenutica errnea sobre a compreenso do que vida. A vida como confinamento numa existncia inautntica, banal, mundana, cujos objetivos so sucesso profissional, aquisio de coisas, no promoo do outro e de si em prol da verdade e consequente vivncia com autenticidade contnua deciso de percorrer o caminho da fuga da morte fsica a cada instante.

    Por isso, tendo em vista que cada meta tem um propsito, os objetivos cuja finalidade, como pando de fundo de sentido, o no enfrentamento da morte resulta numa vida cujo propsito sempre a tentativa de se escapar da angstia gerada pela certeza da morte, porm no suscitando vida autntica, mas iluso de vida livre.

    Na Idade Contempornea, flagrante a experimentao de inautenticidade em larga escala como iluso de vitria existencial, mas que resulta, na verdade, em fuga da morte como certeza inexorvel. Nesse sentido, o dasein foge de si mesmo e se ludibria numa jornada banal repleta de mundaneidade.

    Numa perspectiva intersubjetiva, mediada pela linguagem, pode-se afirmar que, no pensamento heideggeriano, o homem desoculta a verdade de seu ser, como vida autntica, quando toma conscincia que diante da morte tem duas possibilidades e decide pela segunda: experimentar sua existncia como fuga contnua da morte, o que resulta na mundaneidade como vida inautntica, ou enfrentar essa certeza, escolhendo pautar sua experincia pela verdade do seu ser como prxis da vida com autenticidade, o que liberdade.

    Liberdade e verdade implicam-se, pois. Nesse sentido, pode-se dizer, a partir do pensamento de Heidegger, que decidir por uma vida inautntica significa o fracasso do ser, mas a liberdade sua vitria.

    Autonomia, liberdade e vitria so proposies lingusticas que se interdeterminam no mundo heiddegeriano e no se pode olvidar: a experincia do dasein intersubjetiva por ser mediada pela linguagem, pois o dasein ser-no-mundo e, por conseguinte, ser junto. Isso significa que as humanas possibilidades do dasein traduzem contnua obteno de sentidos advindos das experincias

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    intersubjetivas, pois os homens so seres-no-mundo e esto necessariamente interligados pela linguagem que lhes perpassa e ligam.

    Portanto, a liberdade no pode estar atrelada racionalmente autossuficincia. Compreender a liberdade como autonomia associada autossuficincia fazer interpretao do ser humano como mnada de racionalidade, razo solipsista nos moldes da Filosofia do Sujeito, engodo que cega para uma verdade ontolgica: o ser do homem tempo, linguagem e deciso. A experincia humana estar junto como dasein que, quando livre, traduz-se como processo de autenticidade o qual continuamente construdo, num contexto lingustico de aprendizado e propsito autntico.

    O ser do homem hermenutica contnua na prxis, como projeto cuja interpretao mediada pela linguagem segundo a histria efeitual no sentido gadamariano. O confronto dos pr-juzos do dasein com os textos de sentido do mundo da vida lhe possibilitam obter interpretao autntica e isso liberdade para Gadamer, porque o homem ser de linguagem, ao contrrio dos animais. Desse modo, num sentido negativo, pode-se defender que a autonomia, para esse autor, a capacidade humana de no estar acorrentado esfera de no ser existncia, ou seja, ser de linguagem. J, no sentido positivo, o sentido de autonomia guia o intrprete a compreender o homem como ser capaz de linguagem e mais: que ser livre acessar a interpretao autntica.

    Diante do exposto, correto dizer que a liberdade implica vitria existencial como vida autntica, rompimento dos grilhes da mundaneidade. A compreenso sobre o sentido de liberdade est atrelada interpretao autntica de maneira que o sentido de verdade informe de significao tanto a vida autntica do dasein como a interpretao que consista em autenticidade acerca de suas possibilidades. Esse o sentido de liberdade segundo a Filosofia da Linguagem na sua vertente da Filosofia da Existncia, a partir da compreenso sobre o pensamento de seus dois maiores expoentes, Heidegger e Gadamer.

    ABSTRACT The concepts of autonomy and self sufficiency form the analytical judgment of freedom since the end of the middle ages, in solipsism, in the sense of reason as Monad. The Philosophy of Language, by means of Existentialism, gives an understanding that the concept of freedom is conditioned by the directions of genuine and authentic interpretation of life, a bias that dasein is focused on design, language,

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    time and decision in favour of truth as existential victory. For the Philosophy of Language, freedom and self sufficiency are experienced not imply. Unlike, freedom results in interpretation as project life seated in choosing confrontation that dasein should play in the face of certain death targeting authenticity.

    Key-Words: Philosophy of Subject, philosophy of language and Existentialism, freedom, Heidegger, Gadamer, autonomy, authenticity.

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