1.1. objectivos 4 1.1.1. geral 4 1.1.2. específicos 4 2.1 ... · combinação de formas...

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Índice Introdução ....................................................................................................................................... 4 1.1. Objectivos .................................................................................................................................... 4 1.1.1. Geral ........................................................................................................................................ 4 1.1.2. Específicos .............................................................................................................................. 4 1. Panorama do português em Moçambique .............................. Error! Bookmark not defined. 2. Conceito de norma .................................................................................................................. 5 2.1. Tipos de norma ............................................................................................................................ 5 2.2. Processo de construção e de estabelecimento da norma ..................................................... 6 3. O conceito de Erro linguístico ................................................................................................ 6 3.1. Tipologia e clacificação dos erros ............................................................................................... 7 3.2. Relação entre Erro/norma e variação linguística ......................................................................... 8 3.3. Dicotomia Erro vs Desvio ........................................................................................................... 9 3.4. Erros toleráveis e Erros renegados ............................................................................................ 10 Erros do Português de Moçambique (PM).................................................................................... 12 Considerações finais ..................................................................................................................... 13 Referências bibliográficas ............................................................................................................. 15

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Índice

Introdução ....................................................................................................................................... 4

1.1. Objectivos .................................................................................................................................... 4

1.1.1. Geral ........................................................................................................................................ 4

1.1.2. Específicos .............................................................................................................................. 4

1. Panorama do português em Moçambique .............................. Error! Bookmark not defined.

2. Conceito de norma .................................................................................................................. 5

2.1. Tipos de norma ............................................................................................................................ 5

2.2. Processo de construção e de estabelecimento da norma ..................................................... 6

3. O conceito de Erro linguístico ................................................................................................ 6

3.1. Tipologia e clacificação dos erros ............................................................................................... 7

3.2. Relação entre Erro/norma e variação linguística ......................................................................... 8

3.3. Dicotomia Erro vs Desvio ........................................................................................................... 9

3.4. Erros toleráveis e Erros renegados ............................................................................................ 10

Erros do Português de Moçambique (PM).................................................................................... 12

Considerações finais ..................................................................................................................... 13

Referências bibliográficas ............................................................................................................. 15

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Introdução

O presente trabalho, enquadra-se no âmbito dos trabalhos de investigação da cadeira de Técnicas

de Comunicação, leccionada no II Semestre do curso de Licenciatura em Engenharia Ferroviária.

De forma breve discutir-se-ão conceito da agramaticalidade das frases, tendo em vista uma norma

específica que permita tal análise. Outros conceitos importantes, como o de erro e desvio serão

igualmente desenvolvidos.

O conceito de norma tem particular importância na discussão do nosso trabalho. Como veremos

a sua discussão é particularmente delicada que trata-se de sociedades multilingues, como a nossa

em que o Português representa uma segunda língua (L2). O conceito de erro, será analisado, nos

termos da conjuntura da aquisição duma L2 e não como erros cometidos pelos falantes nativos

da língua.

Por sua vez, os conceitos de erro e desvio apresentam uma proximidade tao notória que quase se

confundem. Como tal, procurar-se-á fazer uma distinção básica entre os dois, evidenciando os

elementos chaves para tal distinção: no caso, módulo de língua em que incidem e nível de

gravidade.

O presente trabalho foi estruturado em seis eixos temáticos que poderão ajudar o leitor a

compreender toda a argumentação proposta.

Objectivos

1.1.1. Geral

Compreender a ocorrência da agramaticalidade nas frases em Português

1.1.2. Específicos

a) Descrever o padrão de referência para a avaliação dos elementos linguísticos;

b) Entender os conceitos de Erro e Desvio no contexto linguístico;

c) Identificar os erros típicos do contexto moçambicano.

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1. Conceito de norma

Há muito que se possa dizer sobre a Norma no contexto linguístico. Basicamente, este conceito

remete a um padrão claro e não ambíguo que rege o uso da língua, resultante de acordos e

convenções relativamente rígidos e estáveis (Stroud, 1997). De forma simples e prática, pode-se

definir a norma como sendo a variedade da língua

“Que é habitualmente impressa, e que é normalmente ensinada em escolas e a falantes não-nativos

quando aprendem a língua. É também a variedade que é normalmente falada por pessoas instruídas

e usada na emissão radiofónica de notícias e outras situações similares” (Trudgill, 1983: 17

citado por Stroud, 1997).

É evidente que esta definição, carrega consigo vários elementos que clamam por uma reflexão

mais exaustiva, sobretudo porque nas circunstâncias, supramencionadas, em que se pressupõe tal

uso, invariável e impecável, da norma de variação do padrão, têm se verificado, não poucas vezes,

o uso indevido da mesma. No entanto, não é nossa intenção realizar tal reflexão no presente

trabalho esta constituir-se-á como a compreensão geral do conceito de norma por nós adoptada.

1.1. Tipos de norma

Conforme Stroud (1997) existem dois tipos de norma: a variedade padrão e o uso geral. O primeiro

tipo relaciona-se com a abordagem prescritiva da norma, sendo obrigatória para os usuários e os

aprendizes de uma língua. Por sua vez, a norma do uso geral está relacionada com os meios

linguísticos convencionais para o grupo de falantes residentes duma região, podendo divergir

ligeira ou significativamente da norma de variedade padrão. Este tipo é denotado como a norma

descritiva (ou especificamente, norma nativa cf. Perpétua, 2005).

Na sua argumentação, Stroud(1997) entende que geralmente a norma da variedade padrão é

influenciada pela forma como as elites ou os grupos dominantes usam a língua. Neste caso, pela

importância e prestígio das elites na sociedade, considera-se que o uso que fazem da língua é

particularmente digno de ser escolhido para o uso comum.

Pese embora seja consensual que a norma é que rege o uso da língua, Stroud (1997) entende que,

regra geral, esta é parte implícita da vida diária dos indivíduos. Disso resulta que os falantes só a

questionam e a fazem referência explícita ocasionalmente.

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1.2. Processo de construção e de estabelecimento da norma

A construção da norma é, evidentemente, posterior ao desenvolvimento e a construção da língua.

Dito de outra forma, a língua primeiro constitui-se e posteriormente constitui-se regras de

padronização de forma a uniformizar o seu uso por parte dos seus utentes.

De acordo com Haugen (1966, citado por Stroud, 1997) a padronização da norma oficial de uma

língua realiza-se através de processos de três processos fundamentais: codificação, elaboração e

aceitação (p. 23).

Codificação – é a descrição da língua a vários níveis, especialmente o da ortografia,

através dos dicionários, gramaticais, manuais de regras de uso da língua, etc.

Elaboração – consiste na expansão das alternativas estilísticas da língua através da

inovação lexical com vista designar novas áreas onde a língua deve ser usada.

Aceitação – é a disseminação da norma pressupõe a aceitação por parte dos usuários

da língua, devendo respeitar e acomodar-se ao uso geral, sem imposição de um uso

específico da língua.

2. O conceito de Erro linguístico

Na linguística, os erros são vistos como parte integrante do processo de aquisição duma língua

(Stroud, 1997).Neste âmbito, eles são analisados de forma mais descritiva do que prescritiva. Desta

feita, como conclui o autor, os erros fornecem uma informação considerável sobre o

desenvolvimento do indivíduo na língua alvo. Um erro, só é, na medida em que pode ser julgado

como tal em confronto com uma norma específica (Stroud, 1997: 9; Gonçalves, 2005).

No entanto, é verdade que nem sempre os erros denotam uma tendência progressiva, podendo os

falantes da língua apresentar erros, tao básicos, sem que impliquem, necessariamente, estar na fase

incipiente do uso da língua. Numa abordagem mais ou menos semelhante, Gonçalves (2005:)

entende que os erros denotam o nível de resistência do indivíduo em relação a aprendizagem da

nova língua.

Liski e Putanen (1983: 227 citado por Stroud, 1997) definem um erro como sendo o que ocorre

quando o falante “deixa de seguir o padrão ou modo de discurso de pessoas instruídas…”.Como é

notório, esta definição denota em si uma abordagem prescritiva. Vale reiterar que, no caso do nosso

país, tal padrão consiste na norma europeia (PE).

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No entanto, é também consensual que os erros devem ser considerados e classificados em função

do contexto e das condições em que os usuários da língua se inserem. Neste sentido, a definição

considerada mais cautelosa, das inúmeras existentes, é a conceptualizada por Lennon (1991: 182

citado por Stroud, 1997) segundo a qual o erro linguístico é “uma forma linguística ou uma

combinação de formas linguísticas que, no mesmo contexto e sob condições de produção

semelhantes, não seriam, muito provavelmente produzidas pelas contrapartes de falantes nativos”.

Evidentemente, esta definição denota traços da abordagem descritiva, pois conceptualiza o erro

tendo em vista a norma de uso geral em detrimento da norma de variedade padrão.

2.1. Tipologia e classificação dos erros

A literatura opta por dividir os erros em dois grandes grupos existindo, assim, os considerados

erros de produção e erros de compreensão. Se bem que, os do primeiro tipo são mais discutidos

que os do segundo devido, provavelmente, à maior objectividade dos elementos que estes

apresentam1. A partir deste entendimento, a nossa discussão atentará, quase exclusivamente, mais

aos erros de produção do que aos de compreensão, pois estes demandam uma análise não só do

ponto de vista puramente linguístico, mas psicológico, contextual.

De acordo com Stroud (1997: 13), as taxonomias ou tipologias dos erros baseiam em diferentes

dimensões ou Critérios, alguns dos quais são:

a) Com referência à sua forma linguística,

A classificação mais comum baseia-se neste critério. Os erros são categorizados dependendo da

sua ocorrência, ou não, em categorias lexicais (substantivos, verbos, adjectivos), características

morfológicas (número, género, tempo, etc.), categorias sintácticas (sintagmas nominais, orações

encaixadas, etc.), ou unidades fonológicas (vogais, consoantes, traços suprassegmentais, etc.).

Estes erros ocorrem em casos em que a unidade-alvo sofre transformação por processos como

adição (até aqui onde que estou (= aqui onde estou)), omissão (todas pessoas (= todas as pessoas)),

re-ordenamento (ajudar as crianças a educar (= ajudar a educar as crianças)) e substituição (eu

não tenho dinheiro para remborsar (= reembolsar)) (Dulay & Burt, 1972, citado por Storud, 14).

b) Na base das suas causas hipotéticas

1É teoricamente mais exequível detectar erros de produção de um falante do que de compreensão de um ouvinte

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Nesta tipologia são considerados três tipos de erro, nomeadamente os erros de

transferência/interferência, os erros de desenvolvimento, e, os erros induzidos pelo ensino. Os do

primeiro tipo referem-se ao uso das regras de L1, ou de outras línguas previamente aprendidas, na

língua alvo. Se isso ocorre de forma benéfica denomina-se transferência positiva – podendo ser

usado como recurso para línguas com estruturas muito semelhantes – do contrário, denomina-se

transferência negativa, ou simplesmente, interferência.

Sobre os erros de desenvolvimento, vale referir que os erros podem ocorrer como consequência de

tentativas de verificar diferentes hipóteses sobre a forma como a nova língua é construída – estes

são chamados de erros de desenvolvimento que implicam processos como (Stroud, 1997, p. 16):

a) Sobregeneralização – são o resultado da suposição errada do aprendente sobre as restrições

de uma certa regra da língua-alvo, Ex: Carregar = Carregador; Roubar = Roubador.

b) Simplificação – resultada negligência de distinções que são feitas, de facto, na língua-alvo,

como por exemplo não distinção entre certos fonemas ou entre diferentes tempos verbais.

Ex: Corremos (presente do indicativo), Corremos (pretérito perfeito do indicativo)

c) Erros induzidos pelo ensino – devido a forma como a língua é ensinam na sala. Os

professores podem fornecer descrições bastante limitadas, quando não erradas, da

estrutura. A situação é mais delicada, quando as explicações dadas pelos professores são a

única fonte de input.

c) Em relação ao um modelo de processamento psicolinguístico,

d) dentro de um modelo de proficiência linguística,

e) relacionado com os efeitos que eles têm no interlocutor, tais

como até que ponto eles impedem a comunicação.

2.2. Relação entre Erro/norma e variação linguística

É comum haver dúvida sobre a diferença entre os conceitos: variedades linguísticas e erros/desvios

linguísticos. Tanto quanto se sabe sobre o assunto, o primeiro conceito relaciona-se com a

constatação de que “qualquer língua, falada por qualquer comunidade, exibe-se com

variações”(Mussalin e Bentes, 2001), que se caracterizam pelos diferentes modos de falar ou de

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empregar a língua. Desta feita, é do consenso que nenhuma língua se apresenta como uma entidade

homogénea. Exemplo concreto, que ilustra tais casos, é o da língua portuguesa que engloba os

diferentes modos de falar característico dos falantes dos países lusófonos: Brasil, Portugal, Angola,

Moçambique, Cabo-Verde, São -Tomé, Timor-Leste (op. Cit.p. 32).

Contudo, tais variações não devem sempre ser entendidas como erros, de forma mecânica, embora,

em algumas circunstâncias, possam consistir em produções ou construções frásicas estranhas à

norma.

Assim, a distinção básica que se pode fazer entre os dois conceitos é que as variações são

consideradas num espectro aceitável, quer na norma de variedade padrão quer norma de uso geral,

e típico do contexto em que são avaliadas. Pelo contrário, os erros referem-se a produções

estranhas ao contexto e à norma. Isso implica que, dentro de uma variedade linguística podemos

encontrar frases e elementos linguísticos catalogados como erros.

2.3. Dicotomia Erro vs Desvio

Não poucas vezes, o Erro e o Desvio, como conceitos linguísticos, têm sido tratados de forma

indiscriminada. Tal tendência é compreensível, haja vista a estreitíssima relação existente entre

eles. A discussão e a distinção desses dois conceitos, é um momento de particular importância para

a compreensão de toda a argumentação proposta no presente trabalho. Tal distinção não é

facilmente exequível, porque, mesmo na comunidade científica, que se dedica ao estudo da língua,

ainda resistem debates fervorosos sobre a extensão e o limite de cada um dos conceitos em relação

ao outro.

Para melhor entendermos esta dicotomia, no nosso contexto, devemos considerar um processo que

acontecera a quando da oficialização do Português como língua nacional, a partir de 1980.

Gonçalves (2005), relata que ocorreu a chamada nativização da língua (que pelo seu mérito

originou a chamada norma nativa), que implicou na pronúncia africanizada do português e na

inovação lexical (op. cit. p. 8), disso resultou que certas formulações classificadas como erros na

base do PE, em Moçambique não são, ou podem não ser, avaliados com a mesma rigidez e rigor

(op. cit. p. 9).

Gonçalves (2005), entende que parece haver maior tolerância ao erro, quando, por exemplo, um

cidadão moçambicano adulto pronuncia ‘incorrectamente’ as palavras ritmo ou herói como

“ritimo” e “herrói” respectivamente, ou quando alguém fala de doenças contaminosas (em vez de

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contagiosas), ou declara que comprou um arrumário (em vez de armário)2. Contudo há maior

rigidez e intransigência quando ocorrem erros de ortografia – ex. concidero (= considero), votade

(= vontade) – ou de gramática (i.e. morfo-sintaxe) nas mais variadas configurações (a. Muitos já

não respeita a tradição. (PE = respeitam). (p. 10).

Assim, pode-se concluir que existem casos em que se usa palavras ou expressões inexistentes no

léxico do Português europeu, como é o caso das palavras chapa (autocarro), bichar (ficar na fila)

ou da expressão dar parto (‘dar à luz’)), que não estejam erradas, mas preencham algum vazio

lexical. No entanto, todos podem ficar hesitantes quanto à legitimidade da frase: Eu comprou

amendoim (= eu comprei …).

Portanto, mesmo que não exista (ainda) uma norma oficial do PM, muitos dos cidadãos

moçambicanos já estabeleceram, inconscientemente, uma norma imaginária a partir da qual

legitimam certas inovações e rejeitam outras. Avaliação da gravidade do erro (i.e. se é

propriamente erro ou desvio) nem sempre é uniforme e depende do módulo ou da área da língua

em que se insere (Gonçalves, 2005).

Sistematizando, pode se entender que, fazendo alusão ao caso do PM, são consideradas como um

desvio as variações linguísticas relacionadas com a pronúncia e com a inovação lexical. Noutro

pólo, são consideradas erros, as variações que incidem sobre aspectos ortográficos, gramaticais e

morfossintáticos das frases.

Esquematicamente temos a seguinte ilustração, onde “+” indica o nível de gravidade comummente

atribuído a cada tipo de erro:

Módulo da língua Ortografia Morfo-sintaxe Sintaxe Léxico Pronúncia

Gravidade de erro +++++ ++++ +++ ++ +

Esquema 1: Adaptado de Gonçalves (2005).

2.4. Erros toleráveis e Erros renegados

Com base no tópico anterior, pode-se entender melhor a distinção entre “os erros toleráveis” e “os

erros renegados”. Consideremos, assim, os do primeiro tipo como sendo os mais ligeiros por

incidirem em módulos da língua como pronúncia, léxico, etc. (cf. Gonçalves, 2005). Os do segundo

2 Nota-se que um dos casos refere-se a nativização, no aspecto pronúncia, e a inovação lexical, respectivamente.

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tipo como sendo mais graves e notórias pois incidem sobre a ortografia, mofo-sintaxe, etc. (cf.

Gonçalves, 2005).

Como já foi possível perceber, os erros, ou desvios, são sempre avaliados tendo em conta a norma

e o contexto em que ocorrem, podendo variar de muito grave a pouco grave. Tomando como base

o contexto moçambicano, podemos perceber que tal avaliação é baseada não só na norma europeia,

mas também numa norma nativa local (norma do uso geral), que regula o uso da língua (Stroud,

1997;Gonçalves, 2005).

Portanto, conforme Gonçalves, embora possa ser consensual a existência de agramaticalidade em

uma frase, existem casos em que estas são aceitáveis e outros em que são, completamente,

inaceitáveis. Tomando como exemplo dois grupos de frases apresentados pela própria autora

poderemos constatar e compreender melhor esse facto.

Exemplo 1:

Exemplo 2:

Na acepção da autora, as frases do primeiro exemplo são consideradas, invariavelmente, como

erradas, pois “parecem decorrer ou da falta de atenção dos falantes aos seus próprios enunciados,

ou da falta de treino nestas áreas da língua” (Gonçalves, 2005: 11). Contrariamente, as frases do

segundo exemplo, em que nota-se flexão indevida do infinitivo ou neutralização de formas próprias

para o tratamento por tu/você, “não podem, de forma simples e mecânica, ser classificadas como

erros, mesmo que o sejam do ponto de vista da gramática prescritiva do PE”(op. cit. p. 11) uma

vez que apresentam, no PM, um carácter relativamente sistemático, e são produzidas, inclusive,

a) Muitos já não respeita a tradição. (PE = respeitam);

b) Rituais religioso só conheço um. (PE = religiosos);

a) Os alunos propuseram fazerem o trabalho em dois dias. (PE = fazer)

b) Os chefes deviam criarem melhores condições para todos. (PE = criar)

c) Jovem universitário, procure o teu lugar. (PE = procura... /...seu)

d) Você não tinha nada que falar, porque ele não é teu irmão. (PE = seu)

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por pessoas instruídas ou profícuas na língua. Assim, os erros do primeiro tipo podem ser

considerados renegados, inclusive no PM, e os do segundo, aceitáveis contanto que se considere o

contexto e as circunstancias em que ocorrem.

Erros do Português de Moçambique (PM)

Nesta secção discutir-se-á, ainda que descritivamente, o conjunto e a tipologia dos erros que

frequentemente ocorrem no PM tendo em vista a norma do PE. A base teórica para a nossa listagem

serão os resultados da pesquisa de Gonçalves (1997). Ademais, é caso de fazer referência a duas

pesquisas exploratórias e pioneiras anteriores à esta (Meijer et al., 1982; Albarran; 1991) que, alias,

indicaram informações relevantes para a descrição final da autora.

Contudo, não sendo nosso objectivo, não iremos nos alongar em argumentações teóricas sobre os

erros que ocorrem como, exaustivamente, o faz a autora no seu artigo original. No entanto, como

forma demonstrativa, aparecerá entre parentes a proposta de correcção do elemento que causa a

agramaticalidade das frases alistadas.

Léxico – inclui os “erros” que afectam unidades lexicais simples - que são os casos mais

significativos nesta área.

Exemplo 3.

Léxico-Sintaxe

Exemplo 4.

Sintaxe

Exemplo

i. Mandou-nos fazer uma casinha (…) para trazermos de casa para a escola. (PE = levarmos)

ii. Não sou boa historiadora (PE = contadora de histórias)

iii. O ensino antigamente era bem regularizado (PE = organizado)

xiii. Eu não concordo disso. (PE = com isso)

xiv. A pessoa vai apanhar a educação. (PE = receber educação)

xv. A minha mãe desde nunca trabalhou (PE = nunca)

xvi. A mulher está mais superior e o homem está em baixo (PE = é superior)

xvii. Eu tinha de ir participar um curso na Suécia. (PE = num curso)

xviii. Ensina a criança respeitar aos pais. (PE = os pais)

xix. Não tem amor os filhos. (PE = aos filhos)

xx. Tem que passar da cidade (PE= na cidade)

xxi. Fico admirado naquilo que estou a ver. (PE = com aquilo)

xxii. Há filhos que batem os pais. (PE = nos pais)

i. Na Marracuene. (PE = em)

ii. Tenta trabalhar fim-de-semana (PE = no fim-de-semana)

iii. Nos sábados nem posso ir. (PE = aos sábados)

iv. A minha mãe desde nunca trabalhou. (PE = nunca)

v. Sempre às vezes caía na emboscada. (PE = ?)

vi. Isto é mais melhor. (MX/1/MAT) (PE = é melhor)

vii. Machimbombo é mais importante como no chapa. (PE = é tão importante)

viii. Os polícias bateram-me que até hoje ainda tenho marcas. (PE = bateram-me tanto que)

ix. Nunca dei porrada a alguém. (PE = ninguém)

x. Cem por centos (PE = cento)

xi. Os pais insultam perante as crianças. (PE = insultam-se)

xii. O ponto mais importante é de responsáveis entender entre um ao outro. (PE = entenderem-se

i. A minha filha está a fazer maldade. (PE = maldades)

ii. Tinha um curral de suíno. (PE = suínos)

iii. Agitava-me eu a passear. (PE = eu agitava-me)

iv. É que mesmo estamos perder. (PE = estamos mesmo a perder)

v. Disseram que “eh pá já não vai a tempo” (PE = disseram: “eh pá…”)

vi. Embora nunca fui nestes dias mas parece que as coisas estão mudando. (PE = embora nunca tenha

ido nestes dias parece que)

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Para além do mais, o feedback correctivo sobre a sua produção é ou mínimo ou confuso, uma vez

que pode ser corrigido por erros que não são erros em relação ao uso geral, mas apenas em relação

à norma prescritiva. (p. 25)

Considerações finais

Em sociedades pós-coloniais, multilingues, não podemos aplicar de forma rígida a norma das

línguas ex-coloniais, mesmo que ela seja tomada como referência a nível oficial. Contudo, não

podemos tratar todo e qualquer tipo de traço desviante produzido pelos falantes das línguas ex-

coloniais que vivem nestas sociedades como evidência de uma norma local, que está emergindo

no quadro da nativização destas línguas exógenas.

Quanto às inovações lexicais destinadas a designar realidades locais e para as quais não existem termos

no PE, isto é, inovações destinadas a preencher lacunas lexicais, parece legítimo que elas sejam aceites.

i. As senhoras também amantiza.(PE = também se amantizam)

ii. Se os preços dos transportes públicos fosse um bocado baixos… (PE = fossem)

iii. Eu pode dizer (PE = posso)

iv. Na escola nós entrava às dezassete (PE =entrávamos)

v. A educação moral está sendo deixado para trás. (PE = deixada)

vi. Temos relacionamento muito boa. (PE = muito bom)

vii. A única coisa melhor era que houvesse assim esse machimbombos. (PE = esses

machimbombos)

viii. Há muitas dificuldade. (PE = dificuldades)

ix. Consigo ver ultimamente embora dantes não conseguia. (PE = não conseguisse)

x. Não há ninguém que fica satisfeito do salário que está receber. (PE = que fique)

xi. Talvez é por isso, talvez é isso, não sei. (PE = talvez seja (…) talvez seja)

xii. Na Maxixe, eu nunca tinha um par de sapatos. (AM/ 16/IJA) (PE = nunca tive)

xiii. Qualquer pessoa que ver que a minha filha está a fazer maldade… (MX/1/MAT) (PE = que

vir)

xiv. É nesta altura quando eu voltei de Tete. (PE = foi nessa altura)

xv. Andei bem, só na quinta quando estou quase a chegar ao fim tive problemas. (PE =quando

estava)

xvi. Querem ganharem naquela hora. (PE = querem ganhar)

xvii. Os professores não conseguem darem aulas. (PE = conseguem dar)

xviii. As pessoas lá têm um horário para poder em se separarem da cidade. (PC/1/URA) (PE =

poderem separar-se)

xix. Deviam as moças fazerem o planeamento. (PE = fazer)

xx. Eu não ajudava a ela. (PE =não a ajudava)

xxi. Levam a miúda para o quarto, vestem-lhe. (PE = vestem-na)

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Referências bibliográficas

GONÇALVES, Perpetua, (2005), O que são erros de Português? Maputo

STROUD, Christopher. (1997) Os conceitos linguísticos de ‘erro’ e ‘norma’. In C. Stroud & P.

Gonçalves (orgs), Panorama do Português oral de Maputo. Volume 2: A construção de um banco de

‘erros’, pp. 9-35. Maputo: Instituto Nacional do Desenvolvimento da Educação. Disponível em

http://cvc.instituto-camoes.pt/conhecer/biblioteca-digital-camoes/doc_details.html?aut=133

FIRMINO, Gregório (…), A situação do português no Contexto Multilingue de Moçambique