apostila sobre variação linguísticas

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Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. 192 ESTUDANDO Variação linguística Para o VESTIBULAR 1 (Unirio-RJ) Sagrado dever Menino, tira o dedo do nariz. Menino, não põe a mão na boca. Menino, não coma doce antes do almoço. Vai fazer a lição de casa. Sai daí. Vai dormir. BRANDãO, Inácio de Loyola. a) Reescreva o texto, utilizando o registro culto da língua. Menino, tira o dedo do nariz. Menino, não ponhas a mão na boca. Menino, não comas doce antes do almoço. Vai fazer a lição de casa. Sai daí. Vai dormir. b) O tipo de linguagem do texto caracteriza a relação existente entre pais e filhos. Explique a afirmativa. Há emprego indiferenciado da segunda e da terceira pessoa do singular nas ordens (imperativo), além de transgressão gramatical, permitida no registro informal (familiar, coloquial). 2 (UFRJ) Balada do amor através das idades Eu te gosto, você me gosta desde tempos imemoriais. Eu era grego, você troiana, troiana mas não Helena. Saí do cavalo de pau para matar seu irmão. Matei, brigamos, morremos. (...) Hoje sou moço moderno, remo, pulo, danço, boxo, tenho dinheiro no banco. Você é uma loura notável, boxa, dança, pula, rema. Seu pai é que não faz gosto. Mas depois de mil peripécias, eu, herói da Paramount, te abraço, beijo e casamos. ANDRADE, Carlos Drummond de. Alguma poesia, 1930. A norma culta não prevê o emprego dos pronomes tal como aparecem no texto. Levando em consideração a proposta de linguagem do movimento literário em que o poema se insere, justifique o uso dos pronomes no primeiro verso. O uso desses pronomes não corresponde à norma culta porque o poema pertence à segunda fase do Modernismo brasileiro, que se propôs a romper com os padrões tradicionais. 3 (Unicamp-SP) No geral, o turista é visto como rude, grosseiro, in- vasivo, pouco interessado na vida da comunidade, preferindo visitar o espaço como se visita um zooló- gico e decidido a gastar o mínimo e levar o máximo. Conforme relata um guia, “O turismo na favela é um pouco invasivo, sabe? Porque você anda naquelas ruelas apertadas e as pessoas deixam as janelas abertas. E tem turista que não tem ‘desconfiômetro’: mete o carão den- tro da casa das pessoas! Isso é realmente desagradável. Já aconteceu com outro guia. A moradora estava cozi- nhando e o fogão dela era do lado da janelinha; o turista passou, meteu a mão pela janela e abriu a tampa da pa- nela. Ela ficou uma fera. Aí bateu na mão dele.”. HAAG, Carlos. Laje cheia de turista: como funcionam os tours pelas favelas cariocas. Pesquisa Fapesp, n. 165, 2009, p. 90-93. (Adaptado.) O trecho em itálico, que reproduz em discurso direto a fala do guia, contém marcas típicas da linguagem colo- quial oral. Reescreva a passagem em discurso indireto, adequando-a à linguagem escrita formal. O guia afirmou que o turismo na favela é um pouco invasivo. Anda-se em ruelas apertadas nas quais as janelas abertas expõem os moradores a turistas inconvenientes, que invadem a privacidade alheia, gerando mal-estar. A propósito, o guia relatou o que foi presenciado por um colega de trabalho durante uma visita: um turista introduziu sua mão pela janela de uma casa e tirou a tampa da panela de uma moradora que cozinhava no momento. Irritada, a moradora o repreendeu com um tapa em sua mão. 4 (Fuvest-SP) Responda ao que se pede: a) Noticiando o lançamento de um dicionário de filmes brasileiros, um jornal fez o seguinte comentário a propósito do filme Aluga-se moças, de 1981:

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ESTUDANDO Variação linguística

Para o Vestibular1 (Unirio-RJ)

Sagrado deverMenino, tira o dedo do nariz. Menino, não põe a mão

na boca. Menino, não coma doce antes do almoço. Vai fazer a lição de casa. Sai daí. Vai dormir.

BRANDãO, Inácio de Loyola.

a) Reescreva o texto, utilizando o registro culto da língua.

Menino, tira o dedo do nariz. Menino, não ponhas

a mão na boca. Menino, não comas doce antes

do almoço. Vai fazer a lição de casa. Sai daí.

Vai dormir.

b) O tipo de linguagem do texto caracteriza a relação existente entre pais e filhos. Explique a afirmativa.

Há emprego indiferenciado da segunda e da terceira

pessoa do singular nas ordens (imperativo), além de

transgressão gramatical, permitida no registro

informal (familiar, coloquial).

2 (UFRJ)

Balada do amor através das idades

Eu te gosto, você me gosta

desde tempos imemoriais.

Eu era grego, você troiana,

troiana mas não Helena.

Saí do cavalo de pau

para matar seu irmão.

Matei, brigamos, morremos.

(...)

Hoje sou moço moderno,

remo, pulo, danço, boxo,

tenho dinheiro no banco.

Você é uma loura notável,

boxa, dança, pula, rema.

Seu pai é que não faz gosto.

Mas depois de mil peripécias,

eu, herói da Paramount,

te abraço, beijo e casamos.

ANDRADE, Carlos Drummond de. Alguma poesia, 1930.

A norma culta não prevê o emprego dos pronomes tal como aparecem no texto. Levando em consideração a proposta de linguagem do movimento literário em que o poema se insere, justifique o uso dos pronomes no primeiro verso.

O uso desses pronomes não corresponde à norma culta

porque o poema pertence à segunda fase do

Modernismo brasileiro, que se propôs a romper com os

padrões tradicionais.

3 (Unicamp-SP)

No geral, o turista é visto como rude, grosseiro, in-vasivo, pouco interessado na vida da comunidade, preferindo visitar o espaço como se visita um zooló-gico e decidido a gastar o mínimo e levar o máximo. Conforme relata um guia, “O turismo na favela é um pouco invasivo, sabe? Porque você anda naquelas ruelas apertadas e as pessoas deixam as janelas abertas. E tem turista que não tem ‘desconfiômetro’: mete o carão den-tro da casa das pessoas! Isso é realmente desagradável. Já aconteceu com outro guia. A moradora estava cozi-nhando e o fogão dela era do lado da janelinha; o turista passou, meteu a mão pela janela e abriu a tampa da pa-nela. Ela ficou uma fera. Aí bateu na mão dele.”.

HAAG, Carlos. Laje cheia de turista: como funcionam os tours pelas favelas cariocas. Pesquisa Fapesp,

n. 165, 2009, p. 90-93. (Adaptado.)

O trecho em itálico, que reproduz em discurso direto a fala do guia, contém marcas típicas da linguagem colo-quial oral. Reescreva a passagem em discurso indireto, adequando-a à linguagem escrita formal.

O guia afirmou que o turismo na favela é um pouco

invasivo. Anda-se em ruelas apertadas nas quais

as janelas abertas expõem os moradores a turistas

inconvenientes, que invadem a privacidade alheia,

gerando mal-estar. A propósito, o guia relatou o que foi

presenciado por um colega de trabalho durante uma

visita: um turista introduziu sua mão pela janela de

uma casa e tirou a tampa da panela de uma moradora

que cozinhava no momento. Irritada, a moradora o

repreendeu com um tapa em sua mão.

4 (Fuvest-SP) Responda ao que se pede:

a) Noticiando o lançamento de um dicionário de filmes brasileiros, um jornal fez o seguinte comentário a propósito do filme Aluga-se moças, de 1981:

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O título traz um dos maiores erros ortográficos já vistos no cinema brasileiro. O título correto do longa seria “Alugam-se moças”.

O comentário e a correção feitos pelo jornal são jus-tificáveis do ponto de vista gramatical? Por quê?

Não há dúvida de que a correção feita pelo jornal

é perfeitamente justificável do ponto de vista

gramatical. A frase correta é “Alugam-se moças”.

Equivocado é o comentário segundo o qual o erro

que o título traz é de natureza ortográfica. Trata-se,

na verdade, de um erro sintático de concordância

verbal. No caso, como o “se” é pronome apassivador,

o sujeito da oração é “moças”, e o verbo deve,

portanto, ir para o plural: “Alugam-se moças”

equivale a “Moças são alugadas”.

b) Ao lado de um caixa eletrônico de um grande banco, pode ser lido o seguinte aviso:

6 (UFSC) Leia as citações a seguir e responda à questão.

Mas muito lhe será perdoado, à TV, pela sua ajuda aos doentes, aos velhos, aos solitários.

BRAGA, Rubem. 200 crônicas escolhidas. Rio de Janeiro/São Paulo: Record, 2004. p. 486.

Sinhô e Sinhá num mêis ou dois mêis se há de casá!

LIMA, Jorge de. Novos poemas. Rio de Janeiro: Lacerda, 1997. p. 3.

(...) eu osvi falá que os bugre ero uns bicho brabo (...)

CASCAES, Franklin. O fantástico na Ilha de Santa Catarina. Florianópolis: UFSC, 2004. p. 27.

(...) morreu segunda que passou de uma anemia nos rim (...)

MACHADO, A. de A. Brás, Bexiga e Barra Funda. São Paulo: Martin Claret, 2004. p. 55.

Levando em conta as diferentes formas linguísticas utilizadas pelos autores na composição de suas obras, comente a linguagem usada como recurso na cons-trução dos textos. Para tanto, considere as duas pro-posições a seguir:

• variação linguística versus erro linguístico;• funções da linguagem na literatura.

No primeiro texto, houve uso de linguagem formal.

Nos outros, percebe-se que os autores têm

a intenção de mostrar uma linguagem informal,

dando ênfase ao regionalismo e também à classe social

dos falantes.

7 (Mackenzie-SP)

Se, pela pronúncia, você está desconfiado de que a nossa palavra “xará” surgiu de alguma expressão indígena, acertou. “Ela tem origem em ‘sa rara’, um derivado de ‘se rera’, que significa aquele que tem o mesmo nome, em tupi”, diz o etimologista Cláudio Moreno. No sul do Brasil, usa-se também a palavra “tocaio” com o mesmo significado. Vem do espanhol “tocayo” que, por sua vez, tem origem na frase ritual latina que a noiva dizia ao noivo quando a comitiva nupcial vinha buscá-la em casa: “Ubi’tu Caius, ibi ego Caia” (Onde fores chamado Caio, ali eu serei Caia). Por transmitir a ideia de que a noiva, ao se ca-sar, passava a ter o mesmo nome do noivo, a palavra passou a ser usada como sinônimo de xará.

CAVALCANTE, Rodrigo. (Adaptado.)

Em caso de dúvida, somente aceite ajuda de funcionário do banco.

Reescreva a frase, posicionando adequadamente o termo destacado, de modo a eliminar a ambiguidade nela existente.

Em caso de dúvida, aceite ajuda somente de

funcionário do banco.

5 (ITA-SP) O texto abaixo, de divulgação científica, apresen-ta termos coloquiais que, apesar de muito expressivos, não são comuns em textos científicos. Reescreva o pri-meiro período, utilizando a linguagem no nível formal.

Gene “vira-casaca” derruba tumor

A ciência vive atrás de truques para dar uma ras-teira genética no câncer, mas desta vez parece que pesquisadores americanos deram de cara com um ovo de Colombo. Desligando um só gene, eles para-ram o crescimento do tumor. Melhor ainda: quando a substância que suprimia o gene parava de agir, ele se ativava, outra vez – mas a favor do organismo, ordenando a morte do câncer.

LOPES, José Reinaldo. Folha de S.Paulo, A16, 5 jul. 2002.

A ciência sempre procura meios para superar, através da

genética, o câncer. Pesquisadores americanos podem

ter encontrado uma nova solução.

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Sobre o trecho “Se, pela pronúncia, você está descon-fiado de que a nossa palavra ‘xará’ surgiu de alguma ex-pressão indígena, acertou”, é correto afirmar que:

a) corresponde a um trecho de diálogo real travado en-tre o redator do texto e os especialistas em língua portuguesa.

b) explora a função referencial da linguagem, que im-põe certa distância entre o texto e o leitor.

c) exemplifica o que chamamos de discurso direto livre, já que reproduz uma pergunta do leitor, tal como foi elaborada.

d) corresponde a um trecho de diálogo entre o redator do texto e o leitor Cláudio Moreno.

e) explora o recurso de simular um diálogo entre o re-dator e o leitor do texto, a fim de motivar a leitura.

8 (Fuvest-SP)

Eu te amoAh, se já perdemos a noção da hora,Se juntos já jogamos tudo fora,Me conta agora como hei de partir

Se, ao te conhecer, dei pra sonhar, fiz tantos desvariosRompi com o mundo, queimei meus naviosMe diz pra onde é que inda posso ir

(...)

Se entornaste a nossa sorte pelo chão,Se na bagunça do teu coraçãoMeu sangue errou de veia e se perdeu

(...)

Como, se nos amamos feito dois pagãosTeus seios inda estão nas minhas mãosMe explica com que cara eu vou sair

Não, acho que estás te fazendo de tontaTe dei meus olhos pra tomares contaAgora conta como hei de partir

JOBIM, Tom; BUARQUE, Chico.

Nesse texto, em que predomina a linguagem culta, ocor-re também a seguinte marca da linguagem coloquial:

a) emprego de “hei” no lugar de “tenho”.b) falta de concordância quanto à pessoa nas formas

verbais “estás”, “tomares” e “conta”.c) emprego de verbos predominantemente na segunda

pessoa do singular.d) redundância semântica, pelo emprego repetido da

palavra “conta” na última estrofe.e) emprego das palavras “bagunça” e “cara”.

9 (Fatec-SP)

Solteiro, comerciário, ele se desespera na fila das seis da tarde. Na meia hora de vida roubada por este bonde, José podia ter feito grandes coisas: beber rum da Jamaica, beijar Mercedes, saquear uma ilha. Pula

de um pé no outro, impaciente de assumir o seu pos-to no mundo, assim que o bonde chegue – o navio fantasma fundeia nos verdes olhos.

Não dói o calo no pé esquerdo, nem pesa o guarda--chuva no braço, a um flibusteiro que bebe rum em crânio humano daria o Capitão Kidd desconto de 3% para vendas à vista? Desafia os vagalhões na sua nau Catarineta, eis que um pirata lhe bateu no braço e o herói saltou em terra.

– Seu moço, para onde vai esse bonde?

TREVISAN, Dalton. Bonde.

Considere as afirmações que se seguem.

I. “beber rum da Jamaica”, “beijar Mercedes” e “saquear uma ilha” são orações cuja função é esclarecer o sen-tido de grandes coisas.

II. A expressão “na fila das seis da tarde” é predominan-temente indicativa de tempo.

III. “solteiro”, “comerciário” e “herói” mencionam, nesse fragmento, a mesma personagem.

IV. A expressão “para onde” (“para onde vai esse bon-de?”) poderia ser corretamente substituída por “onde” (“onde vai esse bonde?”).

Dentre essas afirmações, estão corretas apenas:a) I e III. c) II e IV. e) III e IV.b) I e II. d) II e III.

10 (FGV-SP)

O Estado de S. Paulo, 14 abr. 2001. (Adaptado.)

Nos três primeiros quadrinhos, a linguagem utilizada é mais formal e, no último, mais informal. Assinale a alter-nativa que traga, primeiro, uma marca da formalidade

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e, depois, uma marca da informalidade presentes nos quadrinhos.

a) Vilania; vosso. d) Tenhais; segui.b) Vós; você. e) Notícias; falem.c) Estou; você.

11 (Fuvest-SP) Entre as mensagens abaixo, a única que está de acordo com a norma escrita culta é:

a) Confira as receitas incríveis preparadas para você. Clica aqui!

b) Mostra que você tem bom coração. Contribua para a campanha do agasalho!

c) Cura-te a ti mesmo e seja feliz!

d) Não subestime o consumidor. Venda produtos de boa procedência.

e) Em caso de acidente, não siga viagem. Pede o apoio de um policial.

12 (PUC-PR)

Tem um contrato em que o Ronaldo tem que jogar todos os jogos, os noventa minutos.

EDMUNDO, Veja, ago. 1998.

A frase anterior está expressa em uma variante informal da língua. Quais das versões seguintes a transformariam em variante formal?

I. Há um contrato em que o Ronaldo tem que jogar os noventa minutos de todos os jogos.

II. Segundo um contrato, o Ronaldo tem de jogar os no-venta minutos de todos os jogos.

III. Há um contrato segundo o qual o Ronaldo tem de jogar os noventa minutos de todos os jogos.

IV. Existe um contrato prescrevendo que o Ronaldo deve jogar os noventa minutos de todos os jogos.

a) Todas.

b) Apenas II, III e IV.

c) Apenas I e IV.

d) Apenas III e IV.

e) Nenhuma.

13 (UFRGS-RS)

Analise as afirmações abaixo acerca do segundo quadro da tira.

I. Quando em sua forma preposicionada, a expressão “es-tar a fim” é equivalente à expressão “estar disposto a”.

II. No uso culto, a expressão “estar a fim” pode ser usada com qualquer preposição da Língua Portuguesa.

III. O uso da expressão “estar a fim”, sem a preposição “de”, é típico do registro coloquial.

Quais estão corretas?

a) Apenas I.

b) Apenas II.

c) Apenas I e III.

d) Apenas II e III.

e) I, II e III.

14 (Uesb- BA)

QUINO. Toda Mafalda. São Paulo: Martins Fontes, 1995. p. 183.

O diálogo entre Mafalda (a menina) e o moço da farmá-cia apresenta:

a) uma situação embaraçosa, fundamentada em uma visão negativista da ciência.

b) uma visão crítica dos experimentos científicos em face de suas limitações em pesquisa.

c) uma impossibilidade de comunicação dos interlocu-tores, devido à inadequação da linguagem usada ao contexto situacional.

d) o humor decorrente de uma suposta resposta nega-tiva do segundo interlocutor e a pertinente reflexão crítico-irônica de Mafalda.

e) o primeiro enunciado contendo uma fala de conteú-do ambíguo, razão do não entendimento da pergun-ta por parte do segundo interlocutor.

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15 (Fuvest-SP)

Todo o barbeiro é tagarela, e principalmente quando tem pouco que fazer; começou portanto a puxar conversa com o freguês. Foi a sua salvação e fortuna.

O navio a que o marujo pertencia viajava para a Costa e ocupava-se no comércio de negros; era um dos comboios que traziam fornecimento para o Va-longo, e estava pronto a largar.

– Ó mestre!, disse o marujo no meio da conversa, você também não é sangrador?

– Sim, eu também sangro...– Pois olhe, você estava bem bom, se quisesse ir

conosco... para curar a gente a bordo; morre-se ali que é uma praga.

– Homem, eu da cirurgia não entendo muito...– Pois já não disse que sabe também sangrar?– Sim...– Então já sabe até demais.No dia seguinte saiu o nosso homem pela bar-

ra fora: a fortuna tinha-lhe dado o meio, cumpria sabê-lo aproveitar; de oficial de barbeiro dava um salto mortal a médico de navio negreiro; restava unicamente saber fazer render a nova posição. Isso ficou por sua conta.

Por um feliz acaso logo nos primeiros dias de via-gem adoeceram dois marinheiros; chamou-se o mé-dico; ele fez tudo o que sabia... sangrou os doen tes, e em pouco tempo estavam bons, perfeitos. Com isto ganhou imensa reputação, e começou a ser es-timado.

Chegaram com feliz viagem ao seu destino; to-maram o seu carregamento de gente, e voltaram para o Rio. Graças à lanceta do nosso homem, nem um só negro morreu, o que muito contribuiu para aumentar-lhe a sólida reputação de entendedor do riscado.

ALMEIDA, Manuel Antônio de. Memórias de um sargento de milícias.

A linguagem de cunho popular, presente tanto na fala dos personagens quanto no discurso do narrador do ro-mance de Manuel Antônio de Almeida, está mais bem exemplificada em:

a) “quando tem pouco que fazer”; “cumpria sabê-lo aproveitar”.

b) “Foi a sua salvação”; “a que o marujo pertencia”.c) “saber fazer render a nova posição”; “Chegaram com

feliz viagem ao seu destino”.d) “puxar conversa”; “entendedor do riscado”.e) “adoeceram dois marinheiros”; “sólida reputação”.

(UFRN) A questão 16 refere-se aos textos 1 e 2 a seguir.

Texto 1

(...)Um dos tipos de fatores que produzem diferenças na

fala de pessoas é externo à língua. Os principais são os fatores geográficos, de classe, de idade, de sexo, de et-nia, de profissão etc. Ou seja: as pessoas que moram em lugares diferentes acabam caracterizando-se por falar

de algum modo de maneira diferente em relação a ou-tro grupo. Pessoas que pertencem a classes sociais dife-rentes, do mesmo modo (e, de certa forma, pela mesma razão, a distância – só que esta é social) acabam carac-terizando sua fala por traços diversos em relação aos de outra classe. O mesmo vale para diferentes sexos, ida-des, etnias, profissões. De uma forma um pouco simpli-ficada: assim como certos grupos se caracterizam através de alguma marca (digamos, por utilizarem certos trajes, por terem determinados hábitos etc.), também podem caracterizar-se por traços linguísticos.

(...)

POSSENTI, Sírio. Por que (não) ensinar gramática na escola. Campinas: ALB/Mercado Aberto, 2005. p. 34.

Texto 2

Xaxado chiado Eu botei o som na caixa e testei o microfone no capri-

[cho mas o som saiu chiado Eu tentei fazer um xote, um chorinho ou um maxixe

[mas não sei quem foi que disse que o que eu fiz era xaxado

3 Ó xente, vixe! Um xaxado diferente, de repente tá [chegando pra ficar

Resolvi dar uma chegada lá no Sul pra mostrar o meu [xaxado porque achei que lá embaixo iam gostar

Chinelo, chapéu, xampu6 Enchi minha mochila e parti pro Sul Encaixei um toca-fitas no chevete e achei o meu cas-

[sete do Raul Na estrada eu nem parei na lanchonete porque eu ti-

[nha pouco cash e esperei até chegar9 Em território gaúcho só pra rechear o bucho de chu-

[leta na chapa na churrascada de lá Ó xente, vixe! É o xaxado é o maxixe! Não se avexe, chefe, chega nesse show só de chinfra12 Ó xente, vixe! É o xaxado é o maxixe! Não se avexe, se mexe, meu chefe, chama na xinxa! Uai, sô! Que trem doido sô! Que som doido sô! Que

[troço doido é esse?15 Uai, sô! Que trem doido sô! Que som doido sô! Que

[trem bão! (...)

GABRIEL O PENSADOR; GOMES, André. Disponível em: <http://letras.terra.com.br>. Acesso em: 8 jun. 2010.

16 Com relação ao uso diferenciado da língua:

a) no texto 1, discutem-se os vários fatores que pro-vocam as diferenças na fala. Essas diferenças são ilustradas nas linhas 13 e 14 do texto 2.

b) no texto 2, o uso repetido de palavras com ch e x provoca uma sonoridade. Essa repetição compro-mete o propósito comunicativo do texto.

c) no texto 2, essas diferenças revelam a classe social e o nível de escolaridade dos autores da canção. Isso se comprova nas linhas 14 e 15 desse texto.

d) nos textos 1 e 2, apresenta-se um conteúdo que reforça o preconceito quanto às diferentes formas de falar. Esse preconceito é, predominantemente, regional.

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17 (UFSCar-SP) Considere a tirinha.

Policarpo Quaresma, cidadão brasileiro, funcionário público, certo de que a língua portuguesa é emprestada ao Brasil; certo também de que, por esse fato, o falar e o escrever em geral, sobretudo no campo das letras, se veem na humilhante contingência de sofrer continua-mente censuras ásperas dos proprietários da língua; sabendo, além, que, dentro do nosso país, os autores e os escritores, com especialidade os gramáticos, não se entendem no tocante à correção gramatical, vendo-se,

Disponível em: <www.custodio.net>.

Na situação comunicativa em que se encontram, os per-sonagens valem-se de uma variedade linguística mar-cada pela informalidade. Reescreva as frases a seguir, adequando-as à norma-padrão, e justifique as altera-ções realizadas.

a) “Onde ele foi?” e “Vai onde for preciso!”.

“Aonde ele foi?” e “Vai aonde for preciso!”. Nessas

frases, o verbo “ir” exige o uso da preposição “a”, que

se aglutina ao pronome “onde”.

b) “Você conhece ele...” e “A gente tem camisa pro frio?”.

“Você o conhece...”: não se pode utilizar o pronome

pessoal do caso reto “ele” na função de objeto direto;

é necessário utilizar o pronome oblíquo “o”. “Nós

temos camisas para o clima frio?”: “a gente”, “pro” e

“frio” (com omissão do substantivo a que se refere o

adjetivo) são marcas de oralidade, substituídas,

respectivamente, por “nós”, “para o” e “clima frio”.

(FGV-RJ)

diariamente, surgir azedas polêmicas entre os mais pro-fundos estudiosos do nosso idioma – usando do direito que lhe confere a Constituição, vem pedir que o Congres-so Nacional decrete o tupi-guarani como língua oficial e nacional do povo brasileiro.

O suplicante, deixando de parte os argumentos históricos que militam em favor de sua ideia, pede vênia para lembrar que a língua é a mais alta manifestação da inteligência de um povo, é a sua criação mais viva e original; e, portanto, a emancipação política do país requer como complemento e consequência a sua emancipação idiomática.

Demais, Senhores Congressistas, o tupi-guarani, língua originalíssima, aglutinante, é a única capaz de traduzir as nossas belezas, de pôr-nos em relação com a nossa natu-reza e adaptar-se perfeitamente aos nossos órgãos vocais e cerebrais, por ser criação de povos que aqui viveram e ainda vivem, portanto possuidores da organização fisio-lógica e psicológica para que tendemos, evitando-se dessa forma as estéreis controvérsias gramaticais, oriundas de uma difícil adaptação de uma língua de outra região à nossa organização cerebral e ao nosso aparelho vocal – controvérsias que tanto empecem* o progresso da nossa cultura científica e filosófica.

Seguro de que a sabedoria dos legisladores saberá en-contrar meios para realizar semelhante medida e côns-cio* de que a Câmara e o Senado pesarão o seu alcance e utilidade.

P. e E. deferimento.

BARRETO, Lima. Triste fim de Policarpo Quaresma.

* Empecem: prejudicam, impedem.* Cônscio: consciente.

18 Entre as marcas linguísticas presentes no texto, destaca-se:

a) o emprego de linguagem figurada, com a finalidade de reforçar a argumentação.

b) o predomínio da coordenação, visando torná-lo mais descritivo.

c) a originalidade de sua estruturação, em contraste com a do romance em que se insere.

d) a incorporação de coloquialismos para disfarçar a ori-gem nobre do autor do pedido.

e) o uso de linguagem estereotipada, tendo em vista sua finalidade.

19 A única frase que está redigida de acordo com a norma escrita padrão é:

a) Os resultados da tendência de redução do índice de natalidade só poderá ser sentido dentro de aproxi-madamente vinte anos.

b) Com o aumento das pessoas com mais de 60 anos aumentou consideravelmente as despesas de nosso sistema previdenciário.

c) A queda nas taxas de fecundidade de vários países costuma ser reflexo de seu desenvolvimento econô-mico e social.

d) Inúmeros fatores modificaram a pirâmide etária bra-sileira e pode causarem uma séria consequência, caso seja mantido.

e) Em países onde os problemas do controle da nata-lidade já se tornou realidade, propõe-se incentivos econômicos para o aumento de filhos.

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1 (Enem)

ESTUDANDO Variação linguística

Para o eneM

Disponível em: <http://revistaescola.abril.com.br>. Acesso em: 27 abr. 2010.

Calvin apresenta a Haroldo (seu tigre de estimação) sua escultura na neve, fazendo uso de uma linguagem espe-cializada. Os quadrinhos rompem com a expectativa do leitor, porque:

a) Calvin, na sua última fala, emprega um registro for-mal e adequado para a expressão de uma criança.

b) Haroldo, no último quadrinho, apropria-se do regis-tro linguístico usado por Calvin na apresentação de sua obra de arte.

c) Calvin emprega um registro de linguagem incompa-tível com a linguagem de quadrinhos.

d) Calvin, no último quadrinho, utiliza um registro lin-guístico informal.

e) Haroldo não compreende o que Calvin lhe explica, em razão do registro formal utilizado por este último.

2 (Enem)

Quando vou a São Paulo, ando na rua ou vou ao mercado, apuro o ouvido; não espero só o sotaque geral dos nordestinos, onipresentes, mas para con-ferir a pronúncia de cada um; os paulistas pensam que todo nordestino fala igual; contudo as varia-ções são mais numerosas que as notas de uma es-cala musical. Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará, Piauí têm no falar de seus nativos

muito mais variantes do que se imagina. E a gen-te se goza uns dos outros, imita o vizinho, e todo mundo ri, porque parece impossível que um praia-no de beira-mar não chegue sequer perto de um sertanejo de Quixeramobim. O pessoal de Cariri, então, até se orgulha do falar deles. Têm uns tês doces, quase um the; já nós, ásperos sertanejos, fazemos um duro au ou eu de todos os terminais em al ou el – carnavau, Raqueu... Já os paraibanos trocam o l pelo r. José Américo só me chamava, afetuosamente, de Raquer.

QUEIROZ, R. O Estado de S. Paulo, 9 maio 1998. (Adaptado.)

Rachel de Queiroz comenta, em seu texto, um tipo de variação linguística que se percebe no falar de pessoas de diferentes regiões. As características regionais explo-radas no texto manifestam-se:

a) na fonologia.b) no uso do léxico.c) no grau de formalidade.d) na organização sintática.e) na estruturação morfológica.

3 (Enem)

Maurício e o leão chamado MillôrLivro de Flavia Maria ilustrado por cartunista nasce como um dos grandes títulos do gênero infantil

Um livro infantil ilustrado por Millôr há de ter alguma grandeza natural, um viço qualquer que o destaque de um gênero que invade as livrarias (2 mil títulos novos, todo ano) nem sempre com qualidade. Uma pegada que o afaste do risco de fazer sombra ao fato de ser ilustrado por Millôr: Maurício – O Leão de Menino (Cosac Naify, 24 páginas, R$ 35), de Flavia Maria, tem essa pegada.

Disponível em: <www.revistalingua.com.br>. Acesso em: 30 abr. 2010. (Fragmento.)

Como qualquer outra variedade linguística, a norma- -padrão tem suas especificidades. No texto, observam- -se marcas da norma-padrão que são determinadas pelo veículo em que ele circula, que é a revista Língua Portuguesa. Entre essas marcas, evidencia-se:

a) a obediência às normas gramaticais, como a concor-dância em “um gênero que invade as livrarias”.

b) a presença de vocabulário arcaico, como em “há de ter alguma grandeza natural”.

c) o predomínio de linguagem figurada, como em “um viço qualquer que o destaque”.

d) o emprego de expressões regionais, como em “tem essa pegada”.

e) o uso de termos técnicos, como em “grandes títulos do gênero infantil”.

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O “politicamente correto” tem seus exageros, como chamar baixinho de “verticalmente prejudica-do”, mas, no fundo, vem de uma louvável preocu-pação em não ofender os diferentes. É muito mais gentil chamar estrabismo de “idiossincrasia ótica” do que de vesguice.

O linguajar brasileiro está cheio de expressões racistas e preconceituosas que precisam de uma correção, e até as várias denominações para bêbado (pinguço, bebo, pé de cana) poderiam ser substi-tuídas por algo como “contumaz etílico”, para lhe poupar os sentimentos.

O tratamento verbal dado aos negros é o melhor exemplo da condescendência que passa por tolerân-cia racial no Brasil. Termos como “crioulo”, “negão” etc. são até considerados carinhosos, do tipo de ca-rinho que se dá a inferiores, e, felizmente, cada vez menos ouvidos. “Negro” também não é mais correto. Foi substituído por “afrodescendente”, por influên-cia dos afro-americans, num caso de colonialismo cultural positivo. Está certo. Enquanto o racismo que não quer dizer seu nome continua no Brasil, uma in-tegração real pode começar pela linguagem.

VERISSIMO, L. F. Peixe na cama. Diário de Pernambuco, 10 jun. 2006. (Adaptado.)

Ao comparar a linguagem cotidiana utilizada no Brasil e as exigências do comportamento “politicamente corre-to”, o autor tem a intenção de:

a) criticar o racismo declarado do brasileiro, que convi-ve com a discriminação camuflada em certas expres-sões linguísticas.

b) defender o uso de termos que revelam a despreocu-pação do brasileiro quanto ao preconceito racial, que inexiste no Brasil.

c) mostrar que os problemas de intolerância racial, no Brasil, já estão superados, o que se evidencia na lin-guagem cotidiana.

d) questionar a condenação de certas expressões consi-deradas “politicamente incorretas”, o que impede os falantes de usarem a linguagem espontaneamente.

e) sugerir que o país adote, além de uma postura lin-guística “politicamente correta”, uma política de con-vivência sem preconceito racial.

5 (Enem)

Considerando as observações sobre o emprego de ter em lugar de haver, pode-se afirmar que:

a) na opinião dos gramáticos, o emprego de ter com sentido de existir corrompe a língua portuguesa e, por isso, deve ser evitado em qualquer situação.

b) os dois autores desaconselham o emprego de ter com sentido de existir em qualquer situação comunicativa.

c) de acordo com o texto 2, a língua escrita culta não é receptiva ao emprego de ter em lugar de haver, mui-to embora construções como “tem livros na mesa”, frequentes na fala espontânea, sejam encontradas em alguns textos literários.

d) de acordo com o texto 1, o emprego de ter em lu-gar de haver deve ser evitado apenas em situações formais, quando devemos recorrer a uma linguagem mais cuidada, sem marcas do falar coloquial.

e) ao contrário do autor do texto 1, o autor do texto 2 de-fende que ter precisa ser empregado em lugar de haver na conversação espontânea, mas não na linguagem literária, que necessariamente adota a norma-padrão.

6 (Enem) Diante do número de óbitos provocados pela gripe H1N1 – gripe suína – no Brasil, em 2009, o minis-tro da Saúde fez um pronunciamento público na TV e no rádio. Seu objetivo era esclarecer a população e as autoridades locais sobre a necessidade do adiamento do retorno às aulas, em agosto, para que se evitassem a aglomeração de pessoas e a propagação do vírus.

Fazendo uso da norma-padrão da língua, que se pauta pela correção gramatical, seria correto o ministro ler, em seu pronunciamento, o seguinte trecho:

a) Diante da gravidade da situação e do risco de que nos expomos, há a necessidade de se evitar aglome-rações de pessoas, para que se possa conter o avanço da epidemia.

b) Diante da gravidade da situação e do risco a que nos expomos, há a necessidade de se evitarem aglomera-ções de pessoas, para que se possam conter o avanço da epidemia.

c) Diante da gravidade da situação e do risco a que nos expomos, há a necessidade de se evitarem aglomera-ções de pessoas, para que se possa conter o avanço da epidemia.

d) Diante da gravidade da situação e do risco os quais nos expomos, há a necessidade de se evitar aglome-rações de pessoas, para que se possa conter o avanço da epidemia.

e) Diante da gravidade da situação e do risco com que nos expomos, tem a necessidade de se evitarem aglomerações de pessoas, para que se possa conter o avanço da epidemia.

4 (Enem)

Texto 1

Dos quatro verbos auxiliares, somente ter não pode ser impessoal; constitui erro grave, e todo o possível devemos fazer para evitá-lo, empregar o verbo ter com a significação de existir. Não devemos permitir frases como estas: “Não tem nada na mala” (em vez de: “Não há nada...”) – “Não tem de quê” (em vez de: “Não há de quê”) – “Não tem lugar” (em vez de: “Não há lugar”).

ALMEIDA, N. M. Gramática metódica da língua portuguesa.São Paulo: Saraiva, 2005.

Texto 2

Constitui incorreção, na língua literária, o emprego do verbo ter em lugar de haver em orações como: “Tem livros na mesa” por “Há livros na mesa”.

Esse emprego corre vitorioso na conversação de todos os momentos e já vai ganhando aceitação nos escrito-res modernos brasileiros que procuram aproximar a língua literária da espontaneidade do falar coloquial (...).

BECHARA, E. Lições de português pela análise sintática.Rio de Janeiro: Grifo, 1976.

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ESTUDANDO Elementos da comunicação e funções da linguagem

Para o vestibular1 (Uerj, adaptada)

Brincar com palavras nos jogos verbais, exercícios de literatura

Você sabe o que é um palíndromo?É uma palavra ou mesmo uma frase que pode ser

lida de frente pra trás e de trás pra frente. Por exem-plo, em português: [osso]; em espanhol: “Anita lava la tina”. Ou, então, a frase latina: “Sator arepo tenet opera rotas”, que não só pode ser lida de trás pra frente, mas pode ser lida na vertical, na horizontal, de baixo pra cima, de cima pra baixo, girando os olhos em redor deste quadrado:

S A T O RA R E P OT E N E TO P E R AR O T A S

Essa frase latina polivalente foi criada pelo es-cravo romano Loreius, 200 anos antes de Cristo, e tem dois significados: “O lavrador mantém cuida-dosamente a charrua nos sulcos” e/ou “o lavrador sustém cuidadosamente o mundo em sua órbi-ta”. Osman Lins construiu o romance Avalovara (1973) em torno desse palíndromo.

Muita gente sabe o que é um caligrama – aque-les textos que existiam desde a Grécia, em que as letras e frases iam desenhando o objeto a que se referiam – um vaso, um ovo, ou então, como num autor moderno tipo Apollinaire, as frases do poe-ma se inscrevendo em forma de cavalo ou na per-pendicular imitando o feitio da chuva.

Mas pouca gente sabe o que é um lipograma.Lipo significa tirar, aspirar, esconder. Portanto,

um lipograma é um texto que sofreu a lipoaspi-ração de uma letra. O autor resolve esconder essa letra por razões lúdicas. Já o grego Píndaro havia escrito uma ode, sem a letra “s”. Os autores bar-rocos no século XVII também usavam este tipo de ocultação, porque estavam envolvidos com o ocul-tismo, com a cabala e com a numerologia.

Por que estou dizendo essas coisas?Culpa da internet.Esses jogos verbais que vinham sendo feitos desde as

cavernas agora foram potencializados com a informá-tica. Dizia eu numa entrevista outro dia que estamos vivendo um paradoxo riquíssimo: a mais avançada tecnologia eletrônica está resgatando o uso lúdico da linguagem e uma das mais arcaicas atividades huma-nas – a poesia. Os poetas, mais que quaisquer outros escritores, invadiram a internet. Se em relação às coisas prosaicas se diz que a vingança vem a cavalo, no caso da poesia a vingança veio a cabo, galopando eletronicamente. Por isto que toda vez que um jovem iniciante me procura com a angústia de publicar seu livro, aconselho-o logo: “Meu filho, abra uma página sua na internet para não mais se constranger e se sentir constrangido diante dos editores e críticos. Estampe seu texto na internet e deixe rolar”.

Sant’anna, affonso Romano de. O Globo, 15 set. 1999 (adaptado.)

Você sabe o que é um palíndromo? (par. 1)

Por que estou dizendo essas coisas? (par. 7)

Observando os parágrafos compreendidos entre as per­guntas acima, identifique a função da linguagem predo­minante nesses parágrafos e justifique sua resposta.

Função metalinguística.

Uma entre as justificativas: os parágrafos explicam

os significados das palavras.

Os parágrafos contêm definição de palavras por

outras palavras.

2 (Fuvest-SP) Considere este trecho de um diálogo en­tre pai e filho (do romance Lavoura arcaica, de Raduan Nassar):

– Quero te entender, meu filho, mas já não entendo nada.

– Misturo coisas quando falo, não desconheço, são as palavras que me empurram, mas estou lúcido, pai, sei onde me contradigo, piso quem sabe em falso, pode até parecer que exorbito, e se há farelo nisso tudo, posso assegurar, pai, que tem muito grão intei-ro. Mesmo confundindo, nunca me perco, distingo para o meu uso os fios do que estou dizendo.

No trecho, ao qualificar o seu próprio discurso, o filho se vale tanto de linguagem denotativa quanto de lingua­gem conotativa.

a) A frase “estou lúcido, pai, sei onde me contradigo” é um exemplo de linguagem de sentido denotativo ou conotativo? Justifique sua resposta.

A frase “estou lúcido, pai, sei onde me contradigo”

é de sentido denotativo, pois expressa de forma

inequívoca um significado de base: a consciência do

filho da lucidez diante de seu discurso desconexo.

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b) Traduza em linguagem de sentido denotativo o que está dito de forma figurada na frase: “se há farelo nisso tudo, posso assegurar, pai, que tem muito grão inteiro”.

Uma tradução possível é: se no que eu digo pode

haver alguma obscuridade ou desconexão, tenha

certeza, meu pai, de que muita coisa aí contida

também é coerente e muito bem pensada.

3 (UFG-GO) Uma propaganda a respeito das facilidades oferecidas por um estabelecimento bancário traz a se-guinte recomendação:

Trabalhe, trabalhe, trabalhe. Mas não se esqueça: vírgulas significam pausas.

Veja, São Paulo, n. 1918, p. 17, 17 ago. 2005.

Nesse texto, observa-se um exercício de natureza meta-linguística. Explique como esse recurso auxilia a cons-trução do sentido pretendido para persuadir o leitor.

O exercício metalinguístico dá a possibilidade de uma

comparação entre a função da vírgula na organização

do texto e as consequências do uso dos serviços

oferecidos pelo banco.

4 (Ufal)

Língua para inglês ver

A incorporação da língua inglesa aos idiomas nati-vos dos mais diversos países não é novidade. Traduz, no âmbito da linguagem, uma hegemonia que os Estados Unidos consolidaram desde a década de 50. Com a globalização e o encurtamento das distâncias entre as nações obtido pelo avanço dos meios de co-municação, a contaminação das demais línguas pelo inglês ficou ainda mais patente.

O fenômeno não é em si mesmo nocivo. Pode até enriquecer um idioma ao permitir que se incorpo-rem informações vindas de fora que ainda não têm correspondência local. A internet é um exemplo nesse sentido.

Outra coisa, porém, bem diferente, é o uso gratuito de palavras em inglês como o que se verifica hoje no Brasil. A não ser pela vocação novidadeira – e caipi-ra – de quem se deslumbra diante de qualquer coisa que o aproxima do “estrangeiro”, não há nenhuma razão para que se diga sale no lugar de liquidação, ou qualquer motivo para falar off em vez de desconto. Tais anomalias são um dos sintomas do subdesenvol-vimento e exprimem, no seu ridículo involuntário, a mentalidade de quem confunde modernidade com uma temporada em Miami.

Um país como a Alemanha, menos vulnerável à in-fluência da colonização da língua inglesa, discute hoje uma reforma ortográfica para “germanizar” expressões estrangeiras, o que já é regra na França. O risco de se cair no nacionalismo tosco e na xenofobia é evidente.

Não é preciso, porém, agir como Policarpo Qua-resma, personagem de Lima Barreto, que queria transformar o tupi em língua oficial do Brasil para recuperar o instinto de nacionalidade. No Brasil de hoje já seria um avanço se as pessoas passassem a usar, entre outros exemplos, a palavra “entrega” em vez de delivery.

Folha de S.Paulo, 20 out. 1997.

“No Brasil de hoje já seria um avanço se as pessoas pas-sassem a usar, entre outros exemplos, a palavra ‘entrega’ em vez de delivery.“

Nessa frase a linguagem está empregada em função:

a) poética. d) conativa.b) fática. e) emotiva.c) metalinguística.

5 Considere a campanha a seguir.

Ministério da Saúde. Fôlder da Campanha contra a dengue (capa). 2011.

O texto publicitário acima é parte de um fôlder produ-zido pelo Ministério da Saúde para a campanha de ação contra a proliferação da dengue. Em relação à função comunicativa predominante nesse texto, pode-se afir-mar que:

a) é um texto que apela para a atenção do leitor, com o uso de verbos no imperativo; portanto, predomina a função conativa.

b) é um texto predominantemente referencial, por apresentar uma série de informações referentes à dengue.

c) o fato de o fôlder apresentar referências a sites e ou-tras instituições públicas ligadas à campanha nos faz ver que é um texto referencial.

d) está claramente estabelecida no texto a função meta-linguística, por haver explicações sobre os cuidados que se deve ter contra a dengue.

e) a fim de motivar a adesão dos leitores à campanha, no fôlder predomina a função emotiva, perceptível pelo uso do pronome “você”.

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(Cefet-CE) Texto para as questões 6 e 7.

VoracidadeEstávamos num cinema nos Estados Unidos. Na nossa

frente sentou-se um americano imenso decidido a não pas-sar fome antes do filme acabar. Trouxera do saguão um bal-de – literalmente um balde – de pipocas, sobre as quais eles derramam um líquido amarelo que pode até ser manteiga, e um pacote de M&M, uma espécie de pastilha envolta em chocolate. Intercalava pipocas, pastilhas de chocolates e goles de sua small Coke, que era gigantesca, e parecia feliz. Fiquei pensando em como tudo naquela sociedade é feito para saciar apetites infantis, que se caracterizam por serem simples mas vorazes. As nossas poltronas eram ótimas, a projeção do filme era perfeita, o filme era um exemplar im-pecável de engenhosidade técnica e agradável imbecilida-de. Essa competência é o melhor subproduto da voracidade americana por prazeres simples. O que atrai nos Estados Unidos é justamente a oportunidade de sermos infantis sem parecermos débeis mentais, ou pelo menos sem destoarmos da mentalidade à nossa volta, e de termos ao nosso alcance a realização de todos os nossos sonhos de criança, quando ninguém tinha senso crítico ou remorso.

Mas o infantilismo dominante tem seu lado assustador. Nenhum carro de polícia ou de socorro do mundo é tão espalhafatoso quanto os americanos. Numa sociedade de brinquedos caros, quanto mais luzes e sirenas mais diver-tido, mas o espalhafato também parece criar uma necessi-dade infantil de catástrofes cada vez maiores. O caminho natural do apetite sem restrições é para o caldeirão de pi-pocas, para a Mega Coke e para a chacina. Existe realiza-ção infantil mais atraente do que poder entrar numa loja e comprar não um brinquedo igualzinho a uma arma de verdade mas a própria arma? Nos Estados Unidos pode. De vez em quando uma daquelas crianças grandes resolve sair matando todo mundo, como no cinema, mas a maio-ria dos que compram as armas e as munições só quer ter os brinquedos em casa.

Vivemos nas bordas dessa voracidade ao mesmo tempo ingênua e terrível, mas ela não parece entrar nas nossas equações econômicas ou no cálculo dos nossos interes-ses. Somos cada vez mais fascinados e menos críticos diante do grande apetite americano e de um projeto de hegemonia chauvinista e prepotente como sempre, agora camuflado pelos mitos de “globalização”. Quando a pru-dência ensina que se deve olhar os americanos do ponto de vista das pipocas.

VERISSIMO, Luis Fernando. A mesa voadora. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001. p. 63-64.

6 A linguagem denotativa foi utilizada em:

a) “As nossas poltronas eram ótimas, a projeção do fil­me era perfeita (...)”.

b) “Vivemos nas bordas dessa voracidade ao mesmo tempo ingênua e terrível (...)”.

c) “Fiquei pensando em como tudo naquela sociedade é feito para saciar apetites infantis (...)”.

d) “(...) mas a maioria dos que compram as armas e as munições só quer ter os brinquedos em casa”.

7 As frases a seguir constituem exemplos da função ex­pressiva da linguagem, exceto:

a) “Fiquei pensando em como tudo naquela sociedade é feito para saciar apetites infantis (...)”.

b) “Somos cada vez mais fascinados e menos críticos diante do grande apetite americano (...)”.

c) “De vez em quando uma daquelas crianças grandes resolve sair matando todo mundo (...)”.

d) “O que atrai nos Estados Unidos é justamente a opor­tunidade de sermos infantis sem parecermos débeis mentais (...)”.

8 (PUC-SP)

A questão é começarCoçar e comer é só começar. Conversar e escre-

ver também. Na fala, antes de iniciar, mesmo numa livre conversação, é necessário quebrar o gelo. Em nossa civilização apressada, o “bom-dia”, o “boa- -tarde, como vai?” já não funcionam para engatar conversa. Qualquer assunto servindo, fala-se do tempo ou de futebol. No escrever também poderia ser assim, e deveria haver para a escrita algo como conversa vadia, com que se divaga até encontrar assunto para um discurso encadeado. Mas, à dife-rença da conversa falada, nos ensinaram a escrever e na lamentável forma mecânica que supunha texto prévio, mensagem já elaborada. Escrevia-se o que antes se pensara. Agora entendo o contrário: escre-ver para pensar; uma outra forma de conversar.

Assim fomos “alfabetizados”, em obediência a cer-tos rituais. Fomos induzidos a, desde o início, escre-ver bonito e certo. Era preciso ter um começo, um desenvolvimento e um fim predeterminados. Isso estragava, porque bitolava, o começo e todo o resto. Tentaremos agora (quem? eu e você, leitor), conver-sando, entender como necessitamos nos reeducar para fazer do escrever um ato inaugural; não apenas transcrição do que tínhamos em mente, do que já foi pensado ou dito, mas inauguração do próprio pensar. “Pare aí”, me diz você. “O escrevente escreve antes, o leitor lê depois.” “Não”, lhe respondo, “Não consigo escrever sem pensar em você por perto, espiando o que escrevo. Não me deixe falando sozinho”.

Pois é; escrever é isso aí: iniciar uma conversa com interlocutores invisíveis, imprevisíveis, virtuais ape-nas, nem sequer imaginados de carne e ossos, mas sempre ativamente presentes. Depois é espichar conversas e novos interlocutores surgem, entram na roda, puxam assuntos. Termina-se sabe Deus onde.

MARQUES, M. O. Escrever é preciso. Ijuí: Unijuí, 1997. p. 13.

Observe a seguinte afirmação feita pelo autor: “Em nos­sa civilização apressada, o ‘bom­dia’, o ‘boa­tarde, como vai?’ já não funcionam para engatar conversa. Qualquer assunto servindo, fala­se do tempo ou de futebol”. Ele faz referência à função da linguagem cuja meta é “quebrar o gelo”. Indique a alternativa que explicita essa função.

a) Função emotiva d) Função conativab) Função referencial e) Função poéticac) Função fática

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9 (Cefet-CE)

Os jovens velhos francesesA juventude francesa parece ter envelhecido. Em

maio de 1968, os jovens saíram às ruas em Paris e nas principais cidades para pôr a imaginação no po-der, como dizia um slogan das míticas manifestações estudantis da época. Era um tempo de expansão eco-nômica no país e os jovens queriam mais que apenas terminar os estudos e arrumar um emprego.

Para os manifestantes que ameaçam paralisar o país hoje, um emprego estável protegido pelo Estado é tudo com que eles sonham. Milhares de estudantes se mo-bilizaram na França contra a lei do primeiro emprego proposta pelo primeiro-ministro Dominique de Villepin. A nova lei visa combater a alta taxa de desemprego en-tre jovens na França, hoje em dia oscilando na casa dos 22%. Villepin quer flexibilizar a legislação, permitindo que as empresas contratem jovens para seu primeiro emprego sem as garantias da legislação comum. O pon-to mais polêmico da proposta de Villepin é a precarieda-de do primeiro emprego. Por um período de dois anos, os contratados pela nova legislação podem ser demitidos sem os empecilhos da legislação trabalhista vigente. Os estudantes alegam que o resultado será a oficialização do contrato de trabalho com prazo fixo: dois anos.

O fato é que a discussão sobre a necessidade de dimi-nuir o custo da proteção estatal na economia já se encer-rou na Europa. A conclusão é que é preciso diminuir os gastos do generoso Estado de Bem-Estar para aumentar a produtividade, ganhar competitividade e voltar a cres-cer. Cada país da União Europeia vem tentando seus métodos. Mas os jovens, paralisados pela falta de imagi-nação, só conseguem lutar contra as mudanças.

Maio de 1968 acabou derrubando o presidente Charles de Gaulle, símbolo de uma França arcaica que se queria superar. Os jovens de hoje pedem a cabeça de Villepin com medo do futuro.

Época, Primeiro plano, 27 mar. 2006.

No texto “Os jovens velhos franceses”:

a) não há características de reportagem.

b) a função da linguagem predominante é a referencial.

c) muitas palavras foram empregadas em sentido cono-tativo.

d) o autor não deixa transparecer sua posição ante os fatos relatados.

e) os fatos relatados não estão em ordem cronológica.

10 (Ufal) Está incorreta a classificação da função da lingua-gem na frase:

a) Comunicação é a transferência de informação por meio de mensagem = função metalinguística.

b) Psiu! Atenção! Olhe aqui! Aonde vai? = função fática.c) Não percas tempo em mentir. Não te aborreças =

função apelativa.d) Nem todos os alunos são capazes de valorizar devida-

mente a escola onde estudam = função referencial.e) Os moradores da periferia dirigiam-se ao prefeito so-

licitando verbas para a canalização do rio = função emotiva.

11 (Uerj)

Não coisa O que o poeta quer dizer no discurso não cabe e se o diz é pra saber o que ainda não sabe.

5 Uma fruta uma flor um odor que relume... Como dizer o sabor, seu clarão seu perfume?

Como enfim traduzir10 na lógica do ouvido o que na coisa é coisa e que não tem sentido?

A linguagem dispõe de conceitos, de nomes15 mas o gosto da fruta só o sabes se a comes

(...)

No entanto, o poeta desafia o impossível e tenta no poema20 dizer o indizível:

subverte a sintaxe implode a fala, ousa incutir na linguagem densidade de coisa

25 sem permitir, porém, que perca a transparência já que a coisa é fechada à humana consciência.

O que o poeta faz30 mais do que mencioná-la é torná-la aparência pura – e iluminá-la.

Toda coisa tem peso: uma noite em seu centro.35 O poema é uma coisa que não tem nada dentro,

a não ser o ressoar de uma imprecisa voz que não quer se apagar – essa voz somos nós.

GULLAR, Ferreira. Cadernos de literatura brasileira. São Paulo: Instituto Moreira Salles, 1998.

A primeira estrofe expõe ideias no campo da metalin-guagem, já que apresenta concepções acerca da própria linguagem poética. Os versos que mais se aproximam dessas ideias são:

a) Uma fruta uma flor / um odor que relume... (l. 5-6)b) sem permitir, porém, / que perca a transparência

(l. 25-26)c) é torná-la aparência / pura – e iluminá-la. (l. 31-32)d) Toda coisa tem peso: / uma noite em seu centro.

(l. 33-34)

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12 (UFRN) Os trechos abaixo são as frases iniciais de crô-nicas de Luis Fernando Verissimo presentes no livro Comédias para se ler na escola. Identifique em qual deles há um tratamento metalinguístico.

a) Sou fascinado pela linguagem náutica, embora mi-nha experiência no mar se resuma a algumas pas-sagens em transatlânticos, onde a única linguagem técnica que você precisa saber é “a que horas servem o bufê?”. (O jargão, p. 67.)

b) Esta ideia para um conto de terror é tão terrível que, logo depois de tê-la, me arrependi. Mas já estava tida, não adiantava mais. Você, leitor, no entanto, tem uma escolha. Pode parar aqui, e se poupar, ou ler até o fim e provavelmente nunca mais dormir. (Sozinhos, p. 33.)

c) Sandrinha nunca esqueceu o seu primeiro dia na redação. Os olhares que recebeu quando se enca-minhou para a mesa do editor. De curiosidade. De superioridade. Ou apenas indiferença. Do editor não recebeu olhar nenhum. (A novata, p. 79.)

d) Quando a gente aprende a ler, as letras, nos livros, são grandes. Nas cartilhas – pelo menos nas cartilhas do meu tempo – as letras eram enormes. Lá estava o A, como uma grande tenda. O B, com seu grande busto e sua barriga ainda maior. (ABC, p. 113.)

(Ufal) Texto para as questões 13 e 14.

Bechara. Não sei se é badulaque, o fato é que a língua, que não tem vida independente, também admite modismos, além de refletir todas as qualidades e os defeitos do povo que a fala. Estrangeirismos aparecem, somem e podem ser substituídos por termos nossos. Foi o que aconteceu com a terminologia clássica e introdutória do futebol no Brasil, quando se falava em goalkeeper, off side e corner. Com a pas-sar do tempo, e sem nenhuma atitude controladora, os ter-mos estrangeiros do futebol foram dando lugar a expressões feitas no Brasil, como goleiro, impedimento, escanteio.

Entrevista com Evanildo Bechara. Disponível em: <www.jornaldaciencia.org.br>. Acesso em: 30 mar. 2008. (Adaptado.)

Entrevista com Evanildo BecharaJornalista. É fato que o português está sendo invadi-

do por expressões inglesas ou americanizadas – como background, playground, delivery, fast-food, download... Isso o preocupa?

Bechara. Não. É preciso diferenciar língua e cultura. O sistema da língua não sofre nada com a introdução de termos estrangeiros. Pelo contrário, quando esses termos entram no sistema têm de se submeter às regras de fun-cionamento da língua, no caso, o português. Um exem-plo: nós recebemos a palavra xerox. Ao entrar na língua, ela acabou por se submeter a uma série de normas. Daí surgiram xerocar, xerocopiar, xerografar, enfim, nasceu uma constelação de palavras dentro do sistema da língua portuguesa.

Jornalista. Então esse processo não é ruim?Bechara. É até enriquecedor, pois incorpora palavras.

Não há língua que tenha seu léxico livre dos estran-geirismos. A língua que mais os recebe, curiosamente, é o inglês, por ser um idioma voltado para o mundo. Hoje, fala-se delivery, mas poderíamos dizer “entrega a domicílio”. E há quem diga que o correto é “entrega em domicílio”. Será? Na dúvida, há quem fique com o delivery. A palavra inglesa delivery não chegou a entrar nos sistemas da nossa língua, pois dela não resultam outras palavras. Apenas entrou no vocabulário do dia a dia no contexto dos alimentos. Agora deram de falar que “entrega em domicílio” é melhor do que “entrega a domicílio”. Não sei de onde isso saiu, porque o verbo entregar normalmente se constrói com a preposição a. Fulano entregou a alma a Deus. De qualquer modo, a língua se enriquece quando você tem dois modos de di-zer a mesma coisa.

Jornalista. E por que usar delivery, se temos uma ex-pressão própria em português? Não é mais um badulaque desnecessário?

13 Considerando alguns aspectos que, globalmente, carac-terizam o texto, analise as seguintes observações.

I. No texto predomina a função referencial, uma fun-ção centrada no contexto de produção e de circula-ção do texto.

II. Do ponto de vista da tipologia textual, podemos reco-nhecer no texto um exemplar dos textos narrativos.

III. Por se tratar de uma entrevista, o texto apresenta, entre outras, formulações próprias do diálogo oral.

IV. O fato de não se tratar de um texto literário leva a que o entrevistado não use palavras em sentido figurado.

V. O professor entrevistado apresenta seus argumen-tos, mas se omite quanto à apresentação de exem-plos que pudessem reforçá-los.

Estão corretas:

a) I, II, III, IV e V. d) I e V apenas.b) I e II apenas. e) IV e V apenas.c) I e III apenas.

14 A compreensão global do texto – que resulta da arti-culação entre os elementos contextuais e o material linguístico presente – nos leva a reconhecer como afir-mações principais do texto as seguintes:

I. O português está sendo invadido por expressões in-glesas ou americanizadas.

II. Não há língua que tenha seu léxico livre dos estran-geirismos.

III. A língua se enriquece quando você tem dois modos de dizer a mesma coisa.

IV. O sistema da língua não sofre nada com a introdu-ção de termos estrangeiros.

V. Os termos estrangeiros do futebol foram dando lu-gar a expressões feitas no Brasil.

Estão corretas:

a) I, II, III e V apenas. d) I, II e IV apenas.b) II, III e IV apenas. e) I, II, III, IV e V.c) III e V apenas.

15 No texto a seguir, predomina o uso da função referen-cial. Que alternativa não corresponde às pistas dadas pelo texto que justificam essa afirmação?

Das pequenas tábuas de argila, passando pelo surgi-mento do papel, ao suporte virtualizado, onde, hoje, nos expressamos, o sistema de símbolos gráficos a que damos o nome de escrita conheceu revoluções que al-

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a) A organização das informações iniciais em uma espé-cie de linha do tempo.

b) O uso de orações subordinadas adjetivas restritivas.c) O uso de linguagem técnica adequada aos textos in-

formativos.d) A menção a lugares e personagens importantes para

a explicação do assunto.e) A generalização de informações tratadas anterior-

mente de modo específico.

16 (UFG-GO)

Einstein com a língua de fora é uma das imagens mais exploradas pela publicidade. Essa foto é produtiva como recurso persuasivo no discurso publicitário porque:

a) instiga o leitor a recuperar valores emocionais des-pertados em um dos maiores físicos da história.

b) estimula o público consumidor a questionar as ver-dades científicas estabelecidas antes do século XX.

c) vincula a credibilidade da propaganda ao princípio físico de que a percepção da realidade é relativa.

d) concorre para a promoção do jogo com o inesperado, ao mostrar a irreverência de um renomado cientista.

e) sugere que os textos das propagandas devem ser tão atuais quanto as inovações tecnológicas.

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teraram profundamente a maneira como produzimos e trocamos informações, sentimentos e ideias. Geral-mente atrelada aos recursos e condições materiais dos diferentes contextos históricos em que se desenvolveu, a escrita tornou-se protagonista de convulsões sociais, culturais e religiosas numa Europa que ainda não havia compreendido completamente os significados da revolu-ção nas técnicas de impressão iniciada por Gutenberg.

ALBERGARIA, Danilo. A internet e a cultura escrita. Revista Comciência, n. 113, nov. 2009. Disponível em:

<www.comciencia.br>. Acesso em: 15 maio 2011.

Textos para as questões 17 e 18.

Texto 1Outra fruta há nesta terra muito melhor, e mais prezada

dos moradores de todas, que se cria em uma planta hu-milde junto do chão; a qual tem umas pencas como de erva-babosa. A esta fruta chamam ananases e nascem como alcachofras, os quais parecem naturalmente pinhas, e são do mesmo tamanho e alguns maiores. Depois que são ma-duros, tem um cheiro mui suave, e comem-se aparados fei-

tos em talhadas. São tão saborosos, que, a juízo de todos, não há fruta neste reino que no gosto lhe faça vantagem.

GANDAVO, Pero de Magalhães. História da província de Santa Cruz. São Paulo: Hedra, 2008. p. 91.

Texto 2ananás (s.m.) Fruta de casca espinhosa e coroa de flores longas, muito semelhante ao abacaxi.

ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS. Dicionário escolar da Língua Portuguesa. São Paulo: Nacional, 2008.

Texto 3Vereis os Ananases,Que para Rei das frutas são capazes;Vestem-se de escarlata,Com majestade grata,Que para ter do Império a gravidade,Logram da verde c’roa* a majestade;Mas, como têm a c’roa levantada,De picantes espinhos adornada,Nos mostram que entre Reis, entre Rainhas,Não há c’roa no Mundo sem espinhas.Este pomo celebra toda a gente,É muito mais que o pêssego excelente,Pois lhe leva vantagem, gracioso,Por maior, por mais doce, e mais cheiroso.

OLIVEIRA, Manuel Botelho. Música do Parnaso. Cotia: Ateliê Editorial, 2005. p. 132-133. (Adaptado.)

* C’roa: coroa.

17 A alternativa que apresenta uma análise correta das fun-ções comunicativas predominantes nos textos é:

a) Os textos 1 e 3 são predominantemente poéticos.b) Os textos 1 e 3 são predominantemente conativos.c) Os textos 1, 2 e 3 são predominantemente metalin-

guísticos.d) Os textos 1 e 2 são predominantemente referenciais.e) O texto 3 é predominantemente fático.

18 Em relação aos efeitos de sentido dos diferentes usos das funções comunicativas, nos textos lidos, pode-se afirmar que:

a) o excesso de descrição do texto 1, que é referencial, e, portanto, deveria apresentar linguagem clara e objetiva, prejudica a compreensão de sentidos pelo destinatário.

b) no texto 1, o uso da comparação com a erva-babosa, a alcachofra e as pinhas facilita a compreensão do leitor em relação ao tamanho, forma e desenvolvi-mento do ananás.

c) o texto 2, que exerce a função referencial, apresenta uma linguagem tão concisa que chega a prejudicar a compreensão do enunciado, a ponto de ser necessá-ria uma comparação com o abacaxi.

d) embora o texto 3 apresente características claramen-te poéticas, como os versos ornamentados por figu-ras de linguagem, as sequências descritivas sobre o ananás nos levam a crer que a função predominante é a referencial.

e) o texto 3 apresenta uma linguagem técnica e, assim, poderia ser adaptado, para fins didáticos, a um texto em que predominasse a função referencial.

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ESTUDANDO Elementos da comunicação e funções da linguagem

Para o ENEM

1 (Enem) 3 (Enem)

A biosfera, que reúne todos os ambientes onde se desenvolvem os seres vivos, se divide em unidades menores chamadas ecossistemas, que podem ser uma floresta, um deserto e até um lago. Um ecossistema tem múltiplos mecanismos que regulam o número de organismos dentro dele, controlando sua repro-dução, crescimento e migrações.

DUARTE, M. O guia dos curiosos. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.

Predomina no texto a função da linguagem:a) emotiva, porque o autor expressa seu sentimento em

relação à ecologia.b) fática, porque o texto testa o funcionamento do ca-

nal de comunicação.c) poética, porque o texto chama a atenção para os re-

cursos de linguagem.d) conativa, porque o texto procura orientar comporta-

mentos do leitor.e) referencial, porque o texto trata de noções e informa-

ções conceituais.

2 (Enem)

S.O.S. portuguêsPor que pronunciamos muitas palavras de um jeito

diferente da escrita? Pode-se refletir sobre esse as-pecto da língua com base em duas perspectivas. Na primeira delas, fala e escrita são dicotômicas, o que restringe o ensino da língua ao código. Daí vem o entendimento de que a escrita é mais complexa que a fala, e seu ensino restringe-se ao conhecimento das regras gramaticais, sem a preocupação com situações de uso. Outra abordagem permite encarar as diferen-ças como um produto distinto de duas modalidades da língua: a oral e a escrita. A questão é que nem sempre nos damos conta disso.

S.O.S. português. Nova Escola, São Paulo, Abril, ano XXV, n. 231, abr. 2010. (Adaptado.)

O assunto tratado no fragmento é relativo à língua portuguesa e foi publicado em uma revista destinada a professores. Entre as características próprias desse tipo de texto, identificam-se as marcas linguísticas pró-prias do uso:

a) regional, pela presença de léxico de determinada re-gião do Brasil.

b) literário, pela conformidade com as normas da gra-mática.

c) técnico, por meio de expressões próprias de textos científicos.

d) coloquial, por meio do registro de informalidade.e) oral, por meio do uso de expressões típicas da orali-

dade.

Transtorno do comer compulsivoO transtorno do comer compulsivo vem sendo reco-

nhecido, nos últimos anos, como uma síndrome caracte-rizada por episódios de ingestão exagerada e compulsiva de alimentos. Porém, diferentemente da bulimia nervosa, essas pessoas não tentam evitar ganho de peso com os métodos compensatórios. Os episódios vêm acompanha-dos de uma sensação de falta de controle sobre o ato de comer, sentimentos de culpa e de vergonha.

Muitas pessoas com essa síndrome são obesas, apresen-tando uma história de variação de peso, pois a comida é usada para lidar com problemas psicológicos. O transtor-no do comer compulsivo é encontrado em cerca de 2% da população em geral, mais frequentemente acometen-do mulheres entre 20 e 30 anos de idade.

Pesquisas demonstram que 30% das pessoas que pro-curam tratamento para obesidade ou para perda de peso são portadoras de transtorno do comer compulsivo.

Disponível em: <www.abcdasaude.com.br>. Acesso em: 1o maio 2009. (Adaptado.)

Considerando as ideias desenvolvidas pelo autor, con-clui-se que o texto tem a finalidade de:a) descrever e fornecer orientações sobre a síndrome

da compulsão alimentícia.b) narrar a vida das pessoas que têm o transtorno do

comer compulsivo.c) aconselhar as pessoas obesas a perder peso com mé-

todos simples.d) expor de forma geral o transtorno compulsivo por

alimentação.e) encaminhar as pessoas para a mudança de hábitos

alimentícios.

4 (Enem)

Texto 1Chão de esmeraldaMe sinto pisandoUm chão de esmeraldasQuando levo meu coraçãoÀ MangueiraSob uma chuva de rosasMeu sangue jorra das veiasE tinge um tapetePra ela sambarÉ a realeza dos bambasQue quer se mostrarSoberba, garbosaMinha escola é um cata-vento a girarÉ verde, é rosaOh, abre alas pra Mangueira passar

BUARQUE, C.; CARVALHO, H. B. Chico Buarque de Mangueira. Marola Edições Musicais Ltda. BMG, 1997.

Disponível em: <www.chicobuarque.com.br>. Acesso em: 30 abr. 2010.

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c) divulgar as várias expressões idiomáticas existentes e controlar a atenção do interlocutor, ativando o canal de comunicação entre ambos.

d) definir o que são expressões idiomáticas e como elas fazem parte do cotidiano do falante pertencente a grupos regionais diferentes.

e) preocupar-se em elaborar esteticamente os sentidos das expressões idiomáticas existentes em regiões distintas.

6 (Enem)

Disponível em: <http://ziraldo.blogtv.uol.com.br>. Acesso em: 27 jul. 2010.

O cartaz de Ziraldo faz parte de uma campanha contra o uso de drogas. Essa abordagem, que se diferencia da de outras campanhas, pode ser identificada:

a) pela seleção do público-alvo da campanha, represen-tado, no cartaz, pelo casal de jovens.

b) pela escolha temática do cartaz, cujo texto configura uma ordem aos usuários e não usuários: diga não às drogas.

c) pela ausência intencional do acento grave, que cons-trói a ideia de que não é a droga que faz a cabeça do jovem.

d) pelo uso da ironia, na oposição imposta entre a se-riedade do tema e a ambiência amena que envolve a cena.

e) pela criação de um texto de sátira à postura dos jo-vens, que não possuem autonomia para seguir seus caminhos.

Texto 2Quando a escola de samba entra na Marquês de

Sapucaí, a plateia delira, o coração dos componen-tes bate mais forte e o que vale é a emoção. Mas, para que esse verdadeiro espetáculo entre em cena, por trás da cortina de fumaça dos fogos de artifício, existe um verdadeiro batalhão de alegria: são costu-reiras, aderecistas, diretores de ala e de harmonia, pesquisadores de enredo e uma infinidade de pro-fissionais que garantem que tudo esteja perfeito na hora do desfile.

AMORIM, M.; MACEDO, G. O espetáculo dos bastidores. Revista de Carnaval 2010: Mangueira.

Rio de Janeiro: Estação Primeira de Mangueira, 2010.

Ambos os textos exaltam o brilho, a beleza, a tradição e o compromisso dos dirigentes e de todos os com-ponentes com a escola de samba Estação Primeira de Mangueira. Uma das diferenças que se estabelecem en-tre os textos é que:

a) o artigo jornalístico cumpre a função de transmitir emoções e sensações, mais do que a letra de música.

b) a letra de música privilegia a função social de comu-nicar a seu público a crítica em relação ao samba e aos sambistas.

c) a linguagem poética, no Texto 1, valoriza imagens metafóricas e a própria escola, enquanto a lingua-gem, no Texto 2, cumpre a função de informar e en-volver o leitor.

d) ao associar esmeraldas e rosas às cores da escola, o Texto 1 acende a rivalidade entre escolas de samba, enquanto o Texto 2 é neutro.

e) o Texto 1 sugere a riqueza material da Mangueira, enquanto o Texto 2 destaca o trabalho na escola de samba.

5 (Enem)

Expressões idiomáticasExpressões idiomáticas ou idiomatismos são ex-

pressões que se caracterizam por não identificar seu significado através de suas palavras individuais ou no sentido literal. Não é possível traduzi-las em outra língua e se originam de gírias e culturas de cada região. Nas diversas regiões do país, há várias expressões idiomáticas que integram os chamados dialetos.

Disponível em: <www.brasilescola.com>. Acesso em: 24 abr. 2010. (Adaptado.)

O texto esclarece o leitor sobre as expressões idiomáti-cas, utilizando-se de um recurso metalinguístico que se caracteriza por:

a) influenciar o leitor sobre atitudes a serem tomadas em relação ao preconceito contra os falantes que uti-lizam expressões idiomáticas.

b) externar atitudes preconceituosas em relação às classes menos favorecidas que utilizam expressões idiomáticas.

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ESTUDANDO Substantivo

Para o veStibular

1 (UFRJ)

A Maria dos Povos, sua futura esposaDiscreta, e formosíssima Maria,Enquanto estamos vendo a qualquer hora,Em tuas faces a rosada Aurora,Em teus olhos e boca o Sol, e o dia:

Enquanto com gentil descortesiaO ar, que fresco Adônis te namora,Te espalha a rica trança voadora,Quando vem passear-te pela fria:

Goza, goza da flor da mocidade,Que o tempo trata a toda ligeireza,E imprime em toda flor sua pisada.

Oh não aguardes, que a madura idade,Te converta essa flor, essa beleza,Em terra, em cinza, em pó, em sombra, em nada.

MATOS, Gregório de. Poemas escolhidos. (Seleção de José Miguel Wisnik.) São Paulo: Cultrix, [s.d.].

O texto se constrói por meio da oposição entre dois campos semânticos, especialmente no contraste entre a primeira e a última estrofes.

Explicite essa oposição e retire, dessas estrofes, dois vocábu-los com valor substantivo – um de cada campo semântico –, identificando a que campo cada vocábulo pertence.

Os dois campos semânticos presentes na construção

do poema indicam aspectos positivos e negativos:

juventude versus maturidade; beleza versus

decrepitude; nascimento versus morte; luminosidade

versus sombra. Os vocábulos representativos desses

campos semânticos são aurora, sol, dia, flor, beleza

versus terra, cinza, pó, sombra, nada.

2 (UFRJ)

Almeida e Costa comprão para remeterem para fora da Província, huma escrava que seja perfeita costurei-ra, engomadeira, e que entenda igualmente de cozinha, sendo mossa, de bôa figura, e afiançada conduta para o que não terão duvida pagala mais vantajosamente; quem a tiver e queira dispor, pode dirija-se ao escripto-rio dos mesmos na rua da fonte dos Padres, n. 91.

Gazeta Commercial da Bahia, 19 set. 1832.

Do texto:

a) selecione 2 (dois) verbos e 2 (dois) substantivos que apresentem forma ou emprego diferentes da (do) atual.

comprão / pagala / mossa / escriptorio

b) reescreva-os na forma vigente.

compram / pagá-la / moça / escritório

3 (Cefet-CE)

Pensar é viver(...) Discernir e escolher fica mais difícil, porque o

excesso de informações nos atordoa, a troca de mitos nos esvazia, a variedade de solicitações nos exaure. Para ter algum controle de nossa vida é necessário des-cobrir quem somos ou queremos ser – à revelia dos modelos generalizantes.

Dura empreitada, num momento em que tudo pa-rece colaborar para que se aceitem modelos prontos para servir. Pensamento independente passou a ser excentricidade, quando não agressão. Família, escola e sociedade deviam desenvolver o distanciamento crítico e a capacidade de avaliar – e questionar – para poder escolher. (...)

LUFT, Lya. Pensar é transgredir. Rio de Janeiro: Record, 2004. p. 177-78.

No 1o parágrafo selecionado do texto, Lya Luft defende a ideia de que devemos buscar nossa identidade. Que expressão, formada por substantivo mais adjetivo, utili-zada no parágrafo seguinte retoma essa ideia ao mesmo tempo em que transmite uma opinião da cronista?

A expressão é “Dura empreitada”.

4 (Cefet-CE)

Quem é o criminoso?

Outro dia, durante uma conversa despretensiosa, um dos líderes da Central Única de Favelas (Cufa), entida-de surgida no Rio de Janeiro para representar os fave-lados do país, descrevia uma cena que presenciou du-rante anos a fio em sua vida: “É o bacana da Zona Sul estacionar seu Mitsubishi no pé do morro e comprar cocaína de um garotinho de 12 anos”. Em seguida, fez uma pergunta perturbadora: “Quem é o criminoso? O bacana da Zona Sul ou o garoto de 12 anos?”. E deu a resposta: “Para vocês, o garoto de 12 anos tem de ser preso porque ele é um traficante de drogas. Para nós, tem de prender o bacana da Zona Sul porque ele está aliciando menores para o crime”. Não resta dúvida de que a situação retrata um dilema poderoso: de um lado, tem-se uma vítima do vício induzida ao crime de comprar drogas e, de outro, tem-se uma vítima da pobreza e da desigualdade induzida ao crime de ven-dê-las. Na cegueira legal em que vivemos, a solução é simples: prendem-se vendedor e comprador.

(...)

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Começa agora a surgir uma alternativa mais rea-lista com a intenção do governo federal de implan-tar a chamada “política de redução de danos”. Ou seja: em vez de punir os usuários, tratando-os como criminosos, passa-se a encará-los como doentes e atendê-los de modo a reduzir os riscos a que estão expostos – como a overdose, aids, hepatite e outras doenças. É mais realista porque a repressão do uso de drogas é uma política bem-intencionada, na qual se pretende a purificação pela via da punição, mas que tem se mostrado sistematicamente falha. A ideia brasileira – já em uso em outros países, e não apenas na Holanda – é um pedaço de bom senso e humilda-de. Encarar um viciado como doente é um enfoque justo e generoso.

PETRY, André. Veja, p. 50, 24 nov. 2004.

No último período do 1o parágrafo do texto, há substantivos.

a) 5 b) 6 c) 2 d) 4 e) 3

(Fuvest-SP) O texto abaixo refere-se às questões 5 e 6.

S. Paulo, 13-XI-42Murilo

São 23 horas e estou honestissimamente em casa, ima-gine! Mas é doença que me prende, irmão pequeno. To-mei com uma gripe na semana passada, depois, desen-sarado, com uma chuva, domingo último, e o resultado foi uma sinusitezinha infernal que me inutilizou mais esta semana toda. E eu com tanto trabalho! Faz quinze dias que não faço nada, com o desânimo de após-gripe, uma moleza invencível, e as dores e tratamento atrozes. Nesta noitinha de hoje me senti mais animado e andei trabalhandinho por aí. (...)

Quanto a suas reservas a palavras do poema que lhe mandei, gostei da sua habilidade em pegar todos os casos “propositais”. Sim senhor, seu poeta, você até está fican-do escritor e estilista. Você tem toda a razão de não gostar do “nariz furão”, de “comichona”, etc. Mas lhe juro que o gosto consciente aí é da gente não gostar sensitivamente. As palavras são postas de propósito pra não gostar, devi-do à elevação declamatória do coral que precisa ser um bocado bárbara, brutal, insatisfatória e lancinante. Carece botar um pouco de insatisfação no prazer estético, não deixar a coisa muito benfeitinha.(...) De todas as palavras que você recusou só uma continua me desagradando “lar fechadinho”, em que o carinhoso do diminutivo é um desfalecimento no grandioso do coral.

ANDRADE, Mário de. Cartas a Murilo Miranda.

5 No trecho “... o gosto consciente aí é da gente não gostar sensitivamente”, apresenta-se um jogo de ideias contrá-rias, que também ocorre em:

a) “dores e tratamento atrozes”.b) “reservas a palavras do poema”.c) “insatisfação no prazer estético”.d) “a coisa muito benfeitinha”.e) “o carinhoso do diminutivo”.

6 No texto, as palavras “sinusitezinha” e “trabalhandinho” exprimem, respectivamente:

a) delicadeza e raiva. d) irritação e atenuação.b) modéstia e desgosto. e) euforia e ternura.c) carinho e desdém.

7 (Unifesp)

Meus oito anos

Oh! que saudades que tenhoDa aurora da minha vida,Da minha infância queridaQue os anos não trazem mais!Que amor, que sonhos, que flores,Naquelas tardes fagueirasÀ sombra das bananeiras,Debaixo dos laranjais!

ABREU, Casimiro de.

No primeiro verso, a palavra “que” antecede o substantivo “saudades”. Nesse contexto, ela só pode ser substituída por:

a) muita. d) bastante. b) quais. e) algumas. c) quantas.

8 Leia o texto a seguir, extraído do blog do jornalista Tutty Vasques.

Jeitinho de presidenta19 de junho de 2011Que diabos Tasso Jereissati quis dizer ao se referir

a Dilma Rousseff como “alguém com jeitão de pre-sidente”?

Homofobia agora é crime! Ou não?

Disponível em: <http://blogs.estadao.com.br/tutty>. Acesso em: 20 jun. 2011.

a) O grau aumentativo, na expressão “jeitão de presi-dente”, ressalta determinada qualidade daquele a quem ela é atribuída. Aponte essa qualidade.

Trata-se de virilidade ou autoridade inquebrantável,

características supostamente apropriadas ao

exercício austero do Poder Executivo.

b) Por que, segundo o próprio título do comentário, seria mais adequado atribuir a Dilma Rousseff um “jeitinho de presidenta” em vez do “jeitão” ao qual se referiu Tasso Jereissati?

O diminutivo “jeitinho”, na referida expressão, denota

feminilidade e maleabilidade, qualidades que,

segundo Tutty Vasques, seriam mais aceitáveis e

esperadas que a suposta aspereza de um “jeitão”

masculino.

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(UFV-MG, adaptada) As questões de 9 a 11 baseiam-se em fragmentos da obra Grammatica portugueza pelo methodo confuso, de 1927, na qual o autor apresenta uma visão car-navalizada da gramática. A grafia foi atualizada.

9 “Procedamos acurada e pachorrentamente ao estudo (...) da gramática, porque na melhor das hipóteses não ficare-mos sabendo coisa alguma...”

O autor tem razão diante de afirmativa como:

a) “Os adjetivos se caracterizam morfologicamente por receberem as mesmas marcas de gênero e nú-mero que distinguem os nomes, com a diferença de que estas marcas, no adjetivo, resultam de regras de concordância.”

b) “Substantivo é a palavra com que designamos ou nomeamos os seres em geral. São, por conseguin-te, substantivos: a) os nomes de pessoas, animais, vegetais, lugares e coisas: Maria, cão, ipê, Brasil, livro; b) os nomes de ações, estados e qualidades, tomados como seres: colheita, patriotismo, velhice, bondade, largura.”

c) “O emprego facultativo do infinito flexio nado. Regra: Quando o infinito, apesar de não ter sujeito próprio (...) exprime, contudo, uma ação exercida por um agente que conhecemos do contexto e ao qual esta se atribui, pode ser flexionado ou inva riá vel, embora frequentemente se dê preferência ora a uma, ora a outra, das duas formas do infinito.”

d) “Os substantivos, todos os artigos, a maioria dos ad-jetivos, alguns numerais e alguns pronomes podem sofrer uma variação de forma para dar ideia de um ou mais de um. A isso nós chamamos de flexão de número.”

e) “Raiz é o morfema comum a várias palavras de um mesmo grupo lexical, portador da significação bási-ca desse grupo de palavras. Assim em ‘claro, clarear, aclarar, esclarecer, esclarecimento e clarividência’, a raiz é ‘clar-’. Em ‘livro, livrinho, livreiro, livraria e livres-co’, a raiz é ‘livr-.’”

10 Na sua intenção carnavalizadora, Mendes Fradique, ao tratar do substantivo, mescla a nomenclatura usual com o que lhe serve ao propósito humorístico. Em termos de Nomenclatura Gramatical Brasileira – e apenas em termos dela –, ele somente não inovou em:

a) “O substantivo pode ser próprio ou de aluguel. O substantivo é ‘próprio’ quando nomeia pessoa. Ex.: Presidente da República, Prefeito, Ministro etc. Esses substantivos só não nomeiam pessoa quan-do a pessoa não tem pistolão. O substantivo é de ‘aluguel’ quando o morador paga a renda ao se-nhorio...”

b) “O substantivo pode ser real ou abstrato. É ‘real’ quando se relaciona com o rei ou quando serve de padrão monetário. O substantivo é ‘abstrato’ quando não passa de conversa fiada. Ex.: câmbio estável, pla-taforma governamental, opinião pública, soberania popular, democracia, sorte grande, camarão de em-pada, Tesouro Nacional etc.”

c) “Os substantivos variam desinencialmente [também] em caso... Ex.: João come frutas. João é aí um caso no-minativo. Maria lê jornais. Maria é aí um caso nomi-nativo. Excetuam-se: Pedro toma o trem da Central, porque aí Pedro é um caso perdido.”

d) “Quanto ao gênero, podem os substantivos ser mas-culinos, femininos ou neutros. Masculino: Mesquita Cabral; feminino: Marion; neutro: preguiça, que é co-mum ao masculino e ao feminino.”

e) “O substantivo pode ser simples ou composto. O substantivo é ‘simples’ quando é simples mesmo. Ex.: café pequeno. É ‘composto’ quando acompanhado de entrepitíveis. Ex.: média com pão quente.”

11 “O substantivo varia segundo o grau, dando uma ideia de aumento no aumentativo; de diminuição no diminutivo (...). aumentativo se forma com a terminação inho (...); di-minutivo se forma com a terminação ão.”

A exemplificação que completa a doutrina carnavalizada do autor foi quebrada por um exemplo, que é nosso, em:

a) aumentativo: moinho – mó grande.

b) diminutivo: pedrinha – pedra pequena.

c) diminutivo: cartão – carta pequena.

d) diminutivo: limão – lima pequena (e azeda).

e) aumentativo: fossinho – fossa grande (nasal).

12 (FGV-RJ)

Com a sociedade de consumo nasce a figura do con-tribuinte. Tanto quanto a palavra consumo ou consu-midor, a palavra contribuinte está sendo usada aqui numa acepção particular. No capitalismo clássico, os impostos que recaíam sobre os salários o faziam de uma forma sempre indireta.

Geralmente, o Estado taxava os gêneros de primeira necessidade, encarecendo-os. Imposto direto sobre o contracheque era coisa, salvo engano, inexistente. Com o advento da sociedade de consumo, contudo, criaram--se as condições políticas para que o imposto de renda afetasse uma parcela significativa da classe trabalhadora.

Quem pode se dar ao luxo de consumir supér-fluos ou mesmo poupar, pode igualmente pagar impostos.

HADDAD, Fernando. Trabalho e classes sociais. Em: Tempo Social, out. 1997.

No plural, a frase – “Imposto direto sobre o contrache-que era coisa, salvo engano, inexistente.” – assume a se-guinte forma:

a) Impostos direto sobre os contracheque eram coisa, salvo engano, inexistente.

b) Impostos diretos sobre os contracheques eram coi-sas, salvo engano, inexistentes.

c) Impostos diretos sobre os contras-cheques eram coi-sa, salvo engano, inexistentes.

d) Impostos direto sobre os contras-cheque eram coisas salvos enganos, inexistentes.

e) Impostos diretos sobre os contracheque era coisas, salvo enganos, inexistente.

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13 (Fuvest-SP)

Uma flor, o Quincas Borba. Nunca em minha infân-cia, nunca em toda a minha vida, achei um menino mais gracioso, inventivo e travesso. Era a flor, e não já da escola, senão de toda a cidade. A mãe, viúva, com alguma cousa de seu, adorava o filho e trazia-o amima-do, asseado, enfeitado, com um vistoso pajem atrás, um pajem que nos deixava gazear a escola, ir caçar ninhos de pássaros, ou perseguir lagartixas nos morros do Li-vramento e da Conceição, ou simplesmente arruar, à toa, como dous peraltas sem emprego. E de imperador! Era um gosto ver o Quincas Borba fazer de imperador nas festas do Espírito Santo. De resto, nos nossos jogos pueris, ele escolhia sempre um papel de rei, ministro, general, uma supremacia, qualquer que fosse. Tinha garbo o traquinas, e gravidade, certa magnificência nas atitudes, nos meneios. Quem diria que... Suspendamos a pena; não adiantemos os sucessos. Vamos de um salto a 1822, data da nossa independência política, e do meu primeiro cativeiro pessoal.

ASSIS, Machado de. Memórias póstumas de Brás Cubas.

A enumeração de substantivos expressa gradação as-cendente em:

a) “menino mais gracioso, inventivo e travesso”.b) “trazia-o amimado, asseado, enfeitado”.c) “gazear a escola, ir caçar ninhos de pássaros, ou per-

seguir lagartixas”.d) “papel de rei, ministro, general”.e) “tinha garbo (...), e gravidade, certa magnificência”.

14 (PUC-PR) Assinale a alternativa em que não há corres-pondência semântica entre as duas palavras.

a) gelo – glacialb) cabeça – cefálicoc) fogo – ígneod) pele – capilare) costas – dorsal

15 (UFSM-RS)

Os mensaleiros, os sanguessugas, os corruptos de to-das as grandezas continuam aí, expondo suas “caras de pau” envernizadas, afrontando os que pensam e agem honestamente. Tudo isso, entretanto, não é motivo para anular o voto ou votar em branco.

BLATTES, Sergio. Diário de Santa Maria, 3 ago. 2006.

Assinale a frase em que os substantivos compostos tam-bém estão flexionados corretamente.

a) As autoridades desconsideraram os abaixos-assina-dos dos cirurgiões-dentistas.

b) Os vice-diretores foram chamados pelos alto-falantes.c) Trouxe-lhe um ramalhete com sempre-vivas e amor-

-perfeitos.d) Alguns populares ouviram os bate-bocas entre os

guardas-costas do Presidente.e) Alguns boias-frias comiam pés de moleques.

16 (UFRGS-RS)

Se escapar do bombardeio ao qual está sendo sub-metido, um achado divulgado anteontem por pesqui-sadores do Reino Unido poderá mudar a história da ocupação humana da América. Segundo eles, pega-das de pessoas descobertas no centro do México te-riam 40 mil anos – embora os registros mais antigos de presença humana no continente não ultrapassem 13 mil anos.

A equipe, liderada pela geoarqueóloga mexicana Silvia González, achou os rastros na beira de um antigo lago assolado por chuvas de cinza vulcânica. Imagina-se que, depois de um desses episódios, um grupo de pessoas (entre as quais crianças, a julgar pelas dimensões das pegadas) teria caminhado sobre a cinza, deixando sua marca.

Usando uma série de métodos diferentes, o grupo britânico datou fósseis de animais no mesmo nível da pegada, assim como sedimentos em volta da própria, chegando à data de por volta de 40 mil anos antes do presente. Hoje, o sítio arqueológico das Américas mais antigo cujas datas são aceitas pelos cientistas é Monte Verde, no extremo sul do Chile, com seus 12,5 mil anos. Poucos pesquisadores põem em dúvi-da a ideia de que os primeiros americanos cruzaram o estreito de Bering, vindos do extremo nordeste da Ásia, para chegar ao Novo Mundo.

“Novas rotas de migração que expliquem a existência desses sítios mais antigos precisam ser consideradas. Nossos achados reforçam a teoria de que esses primei-ros colonos tenham vindo pela água, usando a rota da costa do Pacífico”, disse González em comunicado.

“Nunca se deve dar a conhecer um achado tão im-portante numa entrevista coletiva”, critica o antro-pólogo argentino Rolando González-José, do Centro Nacional Patagônico. O pesquisador já chegou a es-tudar os antigos mexicanos junto com a arqueólo-ga, mas teve “divergências inconciliáveis” com ela. “Uma data de 40 mil anos não necessariamente leva a modelos alternativos de povoamento, muito menos recorrendo a rotas transpacíficas”, diz.

LOPES, Reinaldo José. Folha de S.Paulo, p. A16, 6 jul. 2005.

Considere as seguintes afirmações sobre referentes de segmentos do texto.

I. O substantivo “bombardeio” (1o par.) refere-se às frequentes chuvas de cinza vulcânica que atingem o achado.

II. O substantivo “marca” (2o par.) refere-se essencial-mente a pegadas de crianças.

III. A expressão “esses primeiros colonos” (4o par.) refe-re-se aos migrantes que deixaram suas pegadas no centro do México.

Quais estão corretas?a) Apenas Ib) Apenas IIc) Apenas IIId) Apenas I e IIe) Apenas II e III

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17 (Unesp) A questão toma por base um fragmento do livro Comunicação e folclore, de Luiz Beltrão (1918-1986).

O Bumba meu BoiEntre os autos populares conhecidos e praticados

no Brasil – pastoril, fandango, chegança, reisado, congada, etc. – aquele em que melhor o povo ex-prime a sua crítica, aquele que tem maior conteúdo jornalístico, é, realmente, o Bumba meu Boi, ou sim-plesmente Boi.

Para Renato Almeida, é o “bailado mais notável do Brasil, o folguedo brasileiro de maior significação es-tética e social”. Luís da Câmara Cascudo, por seu tur-no, observou a sua superioridade porque “enquanto os outros autos cristalizaram, imóveis, no elenco de outrora, o Bumba meu Boi é sempre atual, incluindo soluções modernas, figuras de agora, vocabulário, sen-sação, percepção contemporânea. Na época da escra-vidão mostrava os vaqueiros escravos vencendo pela inteligência, astúcia e cinismo. Chibateava a cupidez, a materialidade, o sensualismo de doutores, padres, delegados, fazendo-os cantar versinhos que eram con-fissões estertóricas. O capitão do mato, preador de escravos, assombro dos moleques, faz-sono dos ne-grinhos, vai ‘caçar’ os negros que fugiram, depois da morte do Boi, e em vez de trazê-los é trazido amarra-do, humilhado, tremendo de medo. O valentão mes-tiço, capoeira, apanha pancada e é mais mofino que todos os mofinos. Imaginem a alegria negra, vendo e ouvindo essa sublimação aberta, franca, na porta da casa-grande de engenho ou no terreiro da fazenda, nos pátios das vilas, diante do adro da igreja! A figura dos padres, os padres do interior, vinha arrastada com a violência de um ajuste de contas. O doutor, o curioso, metido a entender de tudo, o delegado autoritário, va-lente com a patrulha e covarde sem ela, toda a galeria perpassa, expondo suas mazelas, vícios, manias, cacoe-tes, olhada por uma assistência onde estavam muitas vítimas dos personagens reais, ali subalternizados pela virulência do desabafo”.(...)

BELTRÃO, Luiz. Comunicação e folclore. São Paulo: Melhoramentos, 1971.

Efeitos mil revolve o pensamento,E não sabe a que causa se reporte;Mas sabe que o que é mais que vida e morteQue não o alcança o humano entendimento.

Doutos varões darão razões subidas,Mas são experiências mais provadas,E por isto é melhor ter muito visto.

Cousas há i que passam sem ser cridas,E cousas cridas há sem ser passadas.Mas o melhor de tudo é crer em Cristo.

CAMÕES, Luís de. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2005. p. 301.

“O capitão do mato, preador de escravos, assombro dos moleques, faz-sono dos negrinhos, vai ‘caçar’ os negros que fugiram (...)”

Nessa passagem, levando-se em conta o contexto, a fun-ção sintática e o significado, verifica-se que “faz-sono” é:

a) substantivo. b) adjetivo. c) verbo.d) advérbio.e) interjeição.

18 Leia o seguinte soneto do poeta clássico português Luís de Camões (1524?-1580).

Verdade, Amor, Razão, MerecimentoQualquer alma farão segura e forte,Porém, Fortuna, Caso, Tempo e SorteTêm do confuso mundo o regimento.

a) Para maior efeito de solenidade na primeira estrofe, concorre o emprego reiterado de iniciais maiúscu-las em substantivos comuns como “Verdade”, “Amor”, “Razão” e “Merecimento”. Essa afirmação é verdadei-ra? Justifique sua resposta.

A afirmação é verdadeira, pois o emprego de iniciais

maiúsculas em substantivos comuns atribui-lhes

características próprias e, mais do que isso, confere-lhes

certa personificação ou até divinização, uma vez que

“Verdade”, “Amor”, “Razão” e “Merecimento” teriam

o poder de dar segurança e força a “qualquer alma”,

ainda que “Fortuna”, “Caso”, “Tempo” e “Sorte” –

substantivos também deificados pelo emprego da

inicial maiúscula – sejam, segundo o eu poético, os

verdadeiros regentes “do confuso mundo”.

b) Reescreva os dois últimos versos da primeira estrofe substituindo o substantivo “Fortuna” por outro que cumpra a mesma função semântica e comunicativa que ele tem no texto.

Resposta possível:

“Porém, Destino, Caso, Tempo e Sorte

Têm do confuso mundo o regimento.”

19 Leia o texto que segue.

– Pelos últimos cálculos, replicou Meyer com vá-rias pausas durante as quais introduzia enormes co-lheradas da mistura que lhe aconselhara o anfitrião, é sabido que em Londres morrem no inverno oito pessoas à míngua, em Berlim cinco, em Viena qua-tro, em Pequim doze, em Iedo sete, em...

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– Salta! atalhou Pereira exultando de prazer, então viva cá o nosso Brasil! Nele ninguém se lembra até de ter fome. Quando nada se tenha que comer, vai-se no mato, e fura-se mel de jataí e manduri, ou chupa- -se miolo de macaubeira. Isto é cá por estas bandas; porque nas cidades, basta estender a mão, logo cho-vem esmolas... Assim é que entendo uma terra... o mais é desgraça e consumição...

– Decerto! corroborou o alemão, o Brasil é um país muito fértil e muito rico. Dá café para meio mundo beber e ainda há de dar para todo o globo, quando tiver mais gente... mais população...

– Bem, eu sempre digo, acudiu Pereira tocando no ombro de Cirino e deitando-lhe uns olhos de triun-fo. Lá fora é que nos conhecem, nos fazem justiça... Não acha, patrício? Homem, agora reparo... vosmecê está tão calado!... meio casmurro, que é isso? sempre aquele negócio?

De fato, Cirino, depois que ouvira o convite a Meyer para conviver no interior da casa de Pereira, tornara-se sombrio, inquieto, meditabundo. O cor-po ali estava, mas a sua imaginação vigiava zelosa o quartinho onde repousava aquela menina febricitan-te, tão bela na sua fraqueza e palidez enferma.

TAUNAY, Visconde de. Inocência. São Paulo: Ática, 1991. (Série Bom Livro.)

E agora, José?A festa acabou,a luz apagou,o povo sumiu,a noite esfriou,e agora, José?e agora, você?você que é sem nome,que zomba dos outros,você que faz versos,que ama, protesta?e agora, José?

Está sem mulher,está sem discurso,está sem carinho,já não pode beber,já não pode fumar,cuspir já não pode,a noite esfriou,o dia não veio,o bonde não veio,o riso não veio,não veio a utopiae tudo acaboue tudo fugiue tudo mofou,e agora, José?(...)

ANDRADE, Carlos Drummond de. José. Em: Literatura comentada. São Paulo: Nova Cultural, 1990. p. 61-62.

20 O texto abaixo é um excerto do poema “José”, de Carlos Drummond de Andrade (1902-1987).

Apesar de ser um nome próprio, o vocábulo “José” tam-bém pode ser entendido, no contexto do poema, como substantivo comum. Justifique esse fato com base na personalidade que o poeta atribui a José ao longo das duas estrofes lidas.

De tão empregado e recorrente, o nome próprio “José”

acaba por perder sua individualidade e se confundir

com a massa dos homens. No poema, além disso, José é

um sujeito desprovido de notáveis qualidades individuais,

o que o torna, de fato, comum aos olhos do eu lírico.

Muitas obras do Romantismo brasileiro ressaltam ma-tizes linguísticos regionais em sua composição, espe-cialmente na descrição de cenários e em discursos dire-tos. É o que acontece no romance Inocência (1872), de Visconde de Taunay (1843-1899), obra da qual se extraiu o excerto apresentado. Justifique convincentemente o emprego dos substantivos comuns “jataí”, “manduri” e “macaubeira” pelo personagem Pereira, cujas palavras aparecem, acima, em dois momentos nos quais se em-prega o discurso direto.

Os substantivos “jataí”, “manduri” e “macaubeira”,

todos de origem tupi, evidenciam a filiação

regionalista do texto (o regionalismo é uma

destacada vertente da prosa romântica brasileira).

Extrapolando os propósitos do projeto literário

do momento, é possível, ainda, afirmar que esses

substantivos, devido exatamente a seu tom

pitoresco, assumem um significado muito próprio,

inerente à sensibilidade e à identidade do homem

mato-grossense – fato que lança tais palavras a um

campo semântico muito mais próximo ao de nomes

próprios, ainda que sejam compreendidos como

substantivos comuns.

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ESTUDANDO Substantivo

Para o eneM

Texto para as questões 1 e 2.

Circuito fechado (1)Chinelos, vaso, descarga. Pia, sabonete. Água. Escova,

creme dental, água, espuma, creme de barbear, pincel, espuma, gilete, água, cortina, sabonete, água fria, água quente, toalha. Creme para cabelo, pente. Cueca, cami-sa, abotoaduras, calça, meias, sapatos, gravata, paletó. Carteira, níqueis, documentos, caneta, chaves, lenço, re-lógio, maço de cigarros, caixa de fósforos. Jornal. Mesa, cadeiras, xícara e pires, prato, bule, talheres, guardana-po. Quadros. Pasta, carro. Cigarro, fósforo. Mesa e pol-trona, cadeira, cinzeiro, papéis, telefone, agenda, copo com lápis, canetas, bloco de notas, espátula, pastas, caixas de entrada, de saída, vaso com plantas, quadros, papéis, cigarro, fósforo. Bandeja, xícara pequena. Cigar-ro e fósforo. Papéis, telefone, relatórios, cartas, notas, vales, cheques, memorandos, bilhetes, telefone, papéis. Relógio. Mesa, cavalete, cinzeiros, cadeiras, esboços de anúncios, fotos, cigarro, fósforo, bloco de papel, caneta, projetor de filmes, xícara, cartaz, lápis, cigarro, fósfo-ro, quadro-negro, giz, papel. Mictório, pia, água. Táxi. Mesa, toalha, cadeiras, copos, pratos, talheres, garrafa, guardanapo, xícara. Maço de cigarros, caixa de fósforos. Escova de dentes, pasta, água. Mesa e poltrona, papéis, telefone, revista, copo de papel, cigarro, fósforo, telefo-ne interno, externo, papéis, prova de anúncio, caneta e papel, relógio, papel, pasta, cigarro, fósforo, papel e caneta, telefone, caneta e papel, telefone, papéis, folhe-to, xícara, jornal, cigarro, fósforo, papel e caneta. Car-ro. Maço de cigarros, caixa de fósforos. Paletó, gravata. Poltrona, copo, revista. Quadros. Mesa, cadeiras, pratos, talheres, copos, guardanapos. Xícaras. Cigarro e fósforo. Poltrona, livro. Cigarro e fósforo. Televisor, poltrona. Cigarro e fósforo. Abotoaduras, camisa, sapatos, meias, calça, cueca, pijama, chinelos. Vaso, descarga, pia, água, escova, creme dental, espuma, água. Chinelos. Coberta, cama, travesseiro.

RAMOS, Ricardo. Circuito fechado (1). Em: Melhores contos. (Seleção Bella Jozef.) São Paulo: Global, 2001. p. 59-60.

a) A sequência de substantivos, ordenados logica-mente, representa a materialidade das ações e dis-pensa a presença de outros termos, como verbos.

b) Os substantivos demonstram o apego material do protagonista; não lhe importa, por exemplo, a ca-racterização (adjetivação) dos seres do mundo.

c) Subentendemos, com base nos substantivos, certas ações que representam o cotidiano de um homem, cuja vida circular o levará a um fim trágico.

d) A presença de substantivos demonstra que não há espaço para outra pessoa e outros eventos na vida do protagonista, já que as ações subentendidas se dão em um “circuito fechado”.

e) Trata-se de uma escolha estilística do narrador, que produz um texto sem coerência e coesão.

3

1 A leitura do conto revela:

a) o manejo de uma linguagem arcaica, estranha a épo-cas mais atuais.

b) o uso de expressões linguísticas próprias do meio urbano, onde as novidades e a presença de ações inusitadas são surpreendentes.

c) a circularidade do cotidiano do protagonista.d) o uso de um vocabulário próprio do jargão empre-

sarial.e) a intenção comunicativa de marcar o isolamento so-

cial do protagonista.

2 Entre as alternativas a seguir, aponte a que explica de forma mais convincente a presença quase exclusiva de substantivos no texto “Circuito fechado (1)”.

O assassino era o escribaMeu professor de análise sintática era o tipo do su-

jeito inexistente. Um pleonasmo, o principal predicado de sua vida,

regular como um paradigma da 1a conjugação.Entre uma oração subordinada e um adjunto adver-

bial, ele não tinha dúvidas: sempre achava um jeito assindético de nos torturar com um aposto.

Casou com uma regência.Foi infeliz.Era possessivo como um pronome. E ela era bitransitiva.Tentou ir para os EUA. Não deu.Acharam um artigo indefinido em sua bagagem.A interjeição de bigode declinava partículas ex-

pletivas, conectivos e agentes da passiva o tempo todo.

Um dia, matei-o com um objeto direto na cabeça.

LEMINSKI, Paulo. O assassino era o escriba. Em: Caprichos e relaxos.

São Paulo: Brasiliense, 1983. p. 144.

Sobre o texto lido, é válido afirmar que:a) vários termos da gramática servem apenas para en-

cobrir a fúria assassina de um ex-aluno que detestava um professor.

b) não se pode dizer que a vida escolar tenha marcado, de algum modo, a vida do narrador.

c) os muitos termos gramaticais abordados pelo nar-rador revelam a convivência difícil entre um pro-fessor em crise e um aluno dotado para o aprendi-zado de gramática.

d) a vida amorosa do professor foi tão desastrosa quan-to a do aluno.

e) as referências gramaticais dizem respeito tanto à terminologia técnica da área quanto a substantivos, ou seja, a nomes de seres do mundo (como “artigo”, “partículas” ou “objeto”).

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– Senhor Presidente, meus nobres colegas!Resolveu arrematar de qualquer maneira. Encheu o pei-

to e desfechou:– Em suma: não sou daqueles. Tenho dito.Houve um suspiro de alívio em todo o plenário, as pal-

mas romperam. Muito bem! Muito bem! O orador foi vi-vamente cumprimentado.

SABINO, Fernando. Eloquência singular. Em: Para gostar de ler: crônicas. São Paulo:

Ática, 1979. v. 4, p. 35-38. (Fragmento.)

Eloquência singularMal iniciara seu discurso, o deputado embatucou:– Senhor Presidente: não sou daqueles que...O verbo ia para o singular ou para o plural? Tudo in-

dicava o plural. No entanto, podia perfeitamente ser o singular:

– Não sou daqueles que...Não sou daqueles que recusam... No plural soava me-

lhor. Mas era preciso precaver-se contra essas armadilhas da linguagem – que recusa? – ele que tão facilmente caía nelas, e era logo massacrado com um aparte. Não sou daqueles que... Resolveu ganhar tempo:

– ... embora perfeitamente cônscio das minhas altas res-ponsabilidades, como representante do povo nesta Casa não sou...

Daqueles que recusa, evidentemente. Como é que podia ter pensado em plural? Era um desses casos que os gra-máticos registram nas suas questiúnculas de português: ia para o singular, não tinha dúvidas. Idiotismo de lin-guagem, devia ser.

– ... daqueles que, em momentos de extrema gravidade, como este que o Brasil atravessa...

Safara-se porque nem se lembrava do verbo que pre-tendia usar:

– Não sou daqueles que...Daqueles que o quê? Qualquer coisa, contanto que atra-

vessasse de uma vez essa traiçoeira pinguela gramatical em que sua oratória lamentavelmente se havia metido logo de saída. Mas a concordância? Qualquer verbo ser-via, desde que conjugado corretamente, no singular. Ou no plural:

– Não sou daqueles que, dizia eu – e é bom que se re-pita sempre, senhor Presidente, para que possamos ser dignos da confiança em nós depositada.

Intercalava orações e mais orações, voltando sempre ao ponto de partida, incapaz de se definir por esta ou aque-la concordância. Ambas com aparência castiça. Ambas legítimas. Ambas gramaticalmente lídimas, segundo o vernáculo:

– Neste momento, tão grave para os destinos da nossa nacionalidade.

– Ambas legítimas? Não, não podia ser. Sabia bem que a expressão “daqueles que” era coisa já estudada e decidida por tudo quanto é gramaticoide por aí, qualquer um sabia que levava sempre o verbo ao plural:

– ... não sou daqueles que, conforme afirmava...Ou ao singular? Há exceções, e aquela bem podia ser

uma delas. Daqueles que. Não sou UM daqueles que. Um que recusa, daqueles que recusam. Ah! O verbo era re-cusar:

– Senhor Presidente. Meus nobres colegas.(...)E entrava por novos desvios:– Muito embora... sabendo perfeitamente... os imperati-

vos de minha consciência cívica... senhor Presidente... e o declaro peremptoriamente... não sou daqueles que...

O Presidente voltou a adverti-lo de que seu tempo se esgotara. Não havia mais por onde fugir:

4 Como se percebe pela leitura do texto, o discurso do deputado encobre, na verdade, uma dúvida sobre a concordância de certa palavra. Para “ganhar tempo”, ele tece uma fala praticamente esvaziada de sentido e caracterizada por fórmulas oratórias. Dentre os enun-ciados (em discurso direto ou indireto) e os pensa-mentos do deputado listados abaixo, escolha aquele em que o substantivo destacado ressalta sua secreta preo cupação com a norma culta gramatical.

a) “(...) embora perfeitamente cônscio das minhas altas responsabilidades (...)”

b) “Idiotismo de linguagem, devia ser.”c) “(...) os imperativos de minha consciência cívica (...).”d) “– Senhor Presidente, meus nobres colegas!”e) “(...) em momentos de extrema gravidade, como este

que o Brasil atravessa...”

5 No trecho “Era um desses casos que os gramáticos re-gistram nas suas questiúnculas de português: ia para o singular, não tinha dúvidas” (7o parágrafo), o subs-tantivo em destaque, cujo significado é “questão me-nor, sem importância”, está empregado no diminutivo erudito. Evidentemente, o uso desse termo revela a preferência por uma linguagem formal. Dentre as as-sertivas dispostas a seguir, aponte a que justifique de modo mais convincente a escolha do deputado por uma terminologia erudita.

a) Termos eruditos são protocolares no ambiente po-lítico, em que o emprego de palavras populares ou chulas é terminantemente proibido.

b) O uso de diminutivos eruditos é regra em ambientes refinados, como uma Câmara de Deputados; tama-nha preocupação com a linguagem, aliás, justifica o receio do protagonista quanto à flexão correta de uma forma verbal.

c) O deputado opta pelo diminutivo “questiúnculas” para criticar o abusivo poder dos gramáticos nos mais variados meios sociais; de fato, é espantoso imaginar que suas ridículas preocupações linguísti-cas afetem até mesmo os discursos dos líderes po-pulares.

d) O substantivo “questiúnculas” se mostra aparen-temente adequado à solenidade pertinente a uma Câmara de Deputados, onde um discurso cerimonio-so decerto causaria boa impressão.

e) O deputado demonstra pura afetação ao cogitar pro-nunciar o substantivo “questiúnculas”, cujo efeito de sentido seria idêntico ao de “questõezinhas”.

Texto para as questões 4 e 5.

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ESTUDANDO Adjetivo

Para o vestibulAr1 (UFRJ)

Texto 1A produção cultural do corpo

Pensar o corpo como algo produzido na e pela cultura é, simultaneamente, um desafio e uma ne-cessidade. Um desafio porque rompe, de certa for-ma, com o olhar naturalista sobre o qual muitas vezes o corpo é observado, explicado, classificado e tratado. Uma necessidade porque ao desnaturalizá--lo revela, sobretudo, que o corpo é histórico. Isto é, mais do que um dado natural cuja materialidade nos presentifica no mundo, o corpo é uma constru-ção sobre a qual são conferidas diferentes marcas em diferentes tempos, espaços, conjunturas econô-micas, grupos sociais, étnicos etc. Não é portanto algo dado a priori nem mesmo é universal: o corpo é provisório, mutável e mutante, suscetível a inú-meras intervenções consoante o desenvolvimento científico e tecnológico de cada cultura bem como suas leis, seus códigos morais, as representações que cria sobre os corpos, os discursos que sobre ele produz e reproduz.

Um corpo não é apenas um corpo. É também o seu entorno. Mais do que um conjunto de múscu-los, ossos, vísceras, reflexos e sensações, o corpo é também a roupa e os acessórios que o adornam, as intervenções que nele se operam, a imagem que dele se produz, as máquinas que nele se acoplam, os sen-tidos que nele se incorporam, os silêncios que por ele falam, os vestígios que nele se exibem, a educa-ção de seus gestos... enfim, é um sem limite de possi-bilidades sempre reinventadas e a serem descobertas. Não são, portanto, as semelhanças biológicas que o definem mas, fundamentalmente, os significados cul-turais e sociais que a ele se atribuem.

GOELLNER, Silvana Vilodre. A produção cultural do corpo. Em: LOURO, Guacira Lopes (Org.). Corpo, gênero e

sexualidade; um debate contemporâneo na educação. Petrópolis: Vozes, 2003. p. 28-29.

Texto 2A não aceitação

Desde que começou a envelhecer realmente come-çou a querer ficar em casa. Parece-me que achava feio passear quando não se era mais jovem: o ar tão limpo, o corpo sujo de gordura e rugas. Sobretudo a claridade do mar como desnuda. Não era para os ou-tros que era feio ela passear, todos admitem que os outros sejam velhos. Mas para si mesma. Que ânsia, que cuidado com o corpo perdido, o espírito aflito nos olhos, ah, mas as pupilas essas límpidas.

Outra coisa: antigamente no seu rosto não se via o que ela pensava, era só aquela face destacada, em oferta. Agora, quando se vê sem querer ao espelho, quase grita horrorizada: mas eu não estava pensando

nisso! Embora fosse impossível e inútil dizer em que rosto parecia pensar, e também impossível e inútil dizer no que ela mesma pensava.

Ao redor as coisas frescas, uma história para a fren-te, e o vento, o vento... Enquanto seu ventre cres-cia e as pernas engrossavam, e os cabelos se haviam acomodado num penteado natural e modesto que se formara sozinho.

LISPECTOR, Clarice. A descoberta do mundo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984. p. 291.

a) Do primeiro parágrafo do texto 1, retire os quatro adjetivos que melhor caracterizam a noção de corpo nele apresentada.

Os quatro adjetivos são: histórico, provisório,

mutável e mutante.

b) Estabeleça a relação entre esses adjetivos e a temáti-ca central do texto 2.

No texto 2 é abordada a transformação do corpo,

que, com o passar dos anos, muda e envelhece,

assim como mostram os adjetivos do texto 1.

2 (UFV-MG)

Pensar é viverNão tenho nenhuma receita, nenhum facilitador

para se entender a vida: ela é confusão mesmo.A gente avança no escuro, teimosamente, porque

recuar não dá. (...)Tenho talvez a ingenuidade de acreditar que tudo

faz algum sentido, e que nós precisamos descobrir – ou inventá-lo. Qualquer pessoa pode construir a sua “filosofia de vida”. (...)

Essa capacidade de refletir, ou de simplesmente aquietar-se para sentir, faz de nós algo além de ca-bides de roupas ou de ideias alheias. (...)

Dura empreitada, num momento em que tudo pa-rece colaborar para que se aceitem modelos prontos para servir. Pensamento independente passou a ser excentricidade, quando não agressão. Família, esco-la e sociedade deviam desenvolver o distanciamento crítico e a capacidade de avaliar – e questionar – para poder escolher.

Por sorte nossa, aqui e ali aquele olho da angústia mais saudável entreabre sua pesada pálpebra e nos encara irônico: como estamos vivendo a nossa vida, esse breve sopro...?

LUFT, Lya. Pensar é transgredir. Rio de Janeiro: Record, 2004. p. 177-178.

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No 5o parágrafo do texto, Lya Luft defende a ideia de que devemos buscar nossa identidade. Que expressão, formada por substantivo mais adjetivo, utilizada no pa-rágrafo seguinte, retoma essa ideia ao mesmo tempo que transmite uma opinião da cronista?

A expressão é “Dura empreitada”.

3 (Ufla-MG) Complete com a locução adjetiva adequada.

No romance Dom Casmurro, de Machado de As-sis, o autor faz referência aos olhos da personagem Capitu, “grandes e abertos, como a vaga do mar lá fora, como se quisesse tragar também o nadador da manhã”.

Isso nos permite afirmar que eram olhos

.

4 (Cesgranrio-RJ)

PerfeiçãoVamos celebrar a estupidez humanaA estupidez de todas as nações (...)Vamos celebrar a estupidez do povoNossa polícia e televisão (...)Vamos celebrar a fome (...)Vamos celebrar nossa bandeiraNosso passado de absurdos gloriosos (...)Tudo o que é normalVamos cantar juntos o Hino Nacional (...)Venha, o amor tem sempre a porta abertaE vem chegando a primaveraNosso futuro recomeça:Venha, que o que vem é perfeição.

Legião Urbana

No verso “Nosso passado de absurdos gloriosos” (v. 7), substantivo e adjetivo se associam de forma a criar uma figura que se caracteriza pelo(a):

a) emprego de palavras desnecessárias ao sentido da frase.

b) ênfase no exagero da verdade das coisas.c) interpenetração de planos sensoriais diferentes.d) relação de semelhança entre o sentido denotativo e

o sentido conotativo do texto.e) reunião de ideias contraditórias num só pensamento.

5 (Unirio-RJ)

DeclaraçãoDevia começar, como o sabe de cor e salteado a maio-

ria dos leitores, que é sem dúvida nenhuma muito en-tendida na matéria, por uma declaração em forma.

Mas em amor, assim como em tudo, a primeira saí-da é o mais difícil. (...) Achava com facilidade milha-res de ideias brilhantes: porém, mal tinha assentado

em que diria isto ou aquilo, já isto ou aquilo lhe não parecia bom. (...) Enfim, depois de muitas lutas con-sigo mesmo para vencer o acanhamento, tomou um dia a resolução de acabar com o medo, dizer-lhe a primeira coisa que lhe viesse à boca.

Luizinha estava no vão de uma janela a espiar para a rua pela rótula: Leonardo aproximou-se tremendo, pé ante pé, parou e ficou imóvel como uma estátua atrás dela. (...)

Ouvindo passos no corredor, entendeu que alguém se aproximava, e tomado de terror (...) deu repen-tinamente dois passos para trás, e soltou um – ah! – muito engasgado. Luizinha, voltando-se (...) e re-cuando espremeu-se de costas contra a rótula: veio- -lhe também outro – ah! (...)

(...) Leonardo, por um supremo esforço, rom-peu o silêncio, e com voz trêmula e em tom o mais sem graça que se possa imaginar perguntou desenxabidamente:

– A senhora... sabe... uma coisa?E riu-se com uma risada forçada, pálida e tola.Luizinha não respondeu. Ele repetiu no mesmo tom:– Então... a senhora... sabe ou... não sabe?E tornou a rir-se do mesmo modo. Luizinha con-

servou-se muda.– A senhora bem sabe... é porque não quer dizer...Nada de resposta.– Se a senhora não ficasse zangada... eu dizia...Silêncio.– Está bom... Eu digo sempre... mas a senhora fica

ou não fica zangada?Luizinha fez um gesto de quem estava impacientada.– Pois então eu digo... a senhora não sabe... eu... eu

lhe quero... muito bem...Luizinha fez-se cor de uma cereja; e fazendo meia-

-volta à direita, foi dando as costas ao Leonardo e caminhando pelo corredor. Era tempo, pois alguém se aproximava.

Leonardo viu-a ir-se, um pouco estupefato pela resposta que ela lhe dera, porém, não de todo des-contente: seu olhar de amante percebera que o que se acabava de passar não tinha sido totalmente desa-gradável a Luizinha.

Quando ela desapareceu, soltou o rapaz um suspiro de desabafo e assentou-se, pois se achava tão fatiga-do como se tivesse acabado de lutar braço a braço com um gigante.

ALMEIDA, Manuel Antônio de. Memórias de um sargento de milícias.

A opção em que o adjetivo determina o substantivo, mas, na verdade, qualifica o referente a que o substanti-vo está associado é:

a) “Achava com facilidade milhares de ideias brilhantes” (2o par.)

b) “... e com voz trêmula...” (5o par.)c) “E riu-se com uma risada pálida e tola” (7o par.)d) “Luizinha fez-se cor de uma cereja” (18o par.)e) “Leonardo viu-a rir-se, um pouco estupefato” (19o

par.)

de ressaca (ou olhos que atraem).

atraentes

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6 (Unirio-RJ)

Antes do nomeNão me importa a palavra, esta corriqueira.Quero é o esplêndido caos de onde emerge a

[sintaxe,os sítios escuros onde nasce o “de”, o “aliás”,o “o”, o “porém” e o “que”, esta incompreensívelmuleta que me apoia.Quem entender a linguagem entende Deuscujo Filho é Verbo. Morre quem entender.A palavra é disfarce de uma coisa mais grave,

[surda-muda,foi inventada para ser calada.Em momentos de graça, infrequentíssimos,se poderá apanhá-la: um peixe vivo com a mão.Puro susto e terror.

PRADO, Adélia. Bagagem.

As palavras incompreensível e infrequentíssimos pos-suem o mesmo prefixo com valor semântico idêntico. Porém, seus sufixos apresentam funções distintas, uma vez que -(í)vel forma adjetivo a partir de:

a) verbo e -íssimo atribui um valor de grau ao adjetivo.b) verbo e -íssimo atribui um valor de grau ao subs-

tantivo.c) substantivo e -íssimo atribui um valor de grau ao

adjetivo.d) substantivo e -íssimo forma adjetivo a partir de

adjetivo.e) adjetivo e -íssimo forma adjetivo a partir de verbo.

7 (FGV-SP)

Estamos crescendo demais?O nosso “complexo de vira-lata” tem múltiplas fa-

cetas. Uma delas é o medo de crescer. Sempre que a economia brasileira mostra um pouco mais de vigor, ergue-se, sinistro, um coro de vozes falando em “ex-cesso de demanda”, “retorno da inflação” e pedindo medidas de contenção.

O IBGE divulgou as Contas Nacionais do segundo trimestre de 2007. Não há dúvidas de que a eco-nomia está pegando ritmo. O crescimento foi sig-nificativo, embora tenha ficado um pouco abaixo do esperado. O PIB cresceu 5,4% em relação ao segundo trimestre do ano passado. A expansão do primeiro semestre foi de 4,9% em comparação com igual período de 2006. (...)

A turma da bufunfa não pode se queixar. Entre os subsetores do setor serviços, o segmento que está “bombando” é o de intermediação financeira e segu-ros – crescimento de 9,6%. O Brasil continua sendo o paraíso dos bancos e das instituições financeiras.

Não obstante, os porta-vozes da bufunfa financei-ra, pelo menos alguns deles, parecem razoavelmente inquietos. Há razões para esse medo? É muito duvi-doso. Ressalva trivial: é claro que o governo e o Ban-co Central nunca podem descuidar da inflação. Se eu fosse cunhar uma frase digna de um porta-voz da bufunfa, eu diria (parafraseando uma outra máxima

trivializada pela repetição): “O preço da estabilidade é a eterna vigilância”.

Entretanto, a estabilidade não deve se converter em estagnação. Ou seja, o que queremos é a estabilidade da moeda nacional, mas não a estabilidade dos níveis de produção e de emprego.

A aceleração do crescimento não parece trazer grande risco para o controle da inflação. Ela não tem nada de excepcional. O Brasil está se recupe-rando de um longo período de crescimento eco-nômico quase sempre medíocre, inferior à média mundial e bastante inferior ao de quase todos os principais emergentes.

O Brasil apenas começou a tomar um certo impul-so. Não vamos abortá-lo por medo da inflação.

Folha de S.Paulo, 13 set. 2007. (Adaptado.)

Assinale a alternativa em que a mudança da posição do adjetivo no texto altera o sentido da frase.

a) O nosso “complexo de vira-lata” tem múltiplas face-tas. (1o parágrafo)

b) Se eu fosse cunhar uma frase digna de um porta-voz da bufunfa... (4o parágrafo)

c) ... (parafraseando uma outra máxima trivializada pela repetição)... (4o parágrafo)

d) O Brasil apenas começou a tomar um certo impulso... (7o parágrafo)

e) O Brasil está se recuperando de um longo período de crescimento... (6o parágrafo)

8 (FGV-SP) Aponte a alternativa que traga os superlativos absolutos sintéticos de acordo com a norma culta.

a) celebérrimo, crudelésimo, dulcíssimo, nigérrimo, nobilíssimo

b) celebésimo, crudelíssimo, dulcíssimo, nigérrimo, nobérrimo

c) celebérrimo, crudelíssimo, dulcíssimo, nigérrimo, nobilíssimo

d) celebríssimo, cruelérrimo, dulcésimo, negérrimo, nobérrimo

e) celebríssimo, crudelérrimo, dulcíssimo, negérrimo, nobérrimo

9 (ITA-SP) Durante a Copa do Mundo deste ano, foi veicu-lada, em programa esportivo de uma emissora de TV, a notícia de que um apostador inglês acertou o resultado de uma partida, porque seguiu os prognósticos de seu burro de estimação. Um dos comentaristas fez, então, a seguinte observação: “Já vi muito comentarista burro, mas burro comentarista é a primeira vez”.

Percebe-se que a classe gramatical das palavras se altera em função da ordem que elas assumem na expressão.

Assinale a alternativa em que isso não ocorre:

a) obra grandiosab) jovem estudantec) brasileiro trabalhadord) velho chinêse) fanático religioso

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10 (UFRN)

Uma visão do futuro(1) Estamos às portas de um milênio miraculoso

(2). A pessoa tem a mão decepada por uma ser-ra elétrica, e os médicos conseguirão fazer crescer uma nova (3) no mesmo lugar. Casas e carros serão feitos de materiais (4) que podem consertar-se a si próprios. Um alimento em pó incolor com 90% de proteína em sua fórmula poderá ser modificado para ter o sabor que se deseje.

As previsões acima podem parecer ousadas, mas, no fundo, são até conservadoras. Membros reimplan-táveis? Os cientistas (5) começaram a regenerar a pele humana ainda nos anos 70, e atualmente alguns laboratórios conseguem produzir válvulas cardíacas com base em algumas poucas células. O dia chegará em que substituir órgãos humanos defeituosos será rotina. No campo dos materiais, já existe um metal, o nitinol, que consegue desamassar sua própria su-perfície sem esforço. Basta aplicar um pouco de ca-lor. A comida milagrosa? Já existe. É um derivado (6) da soja produzido pela empresa Archer Daniels Midland desde meados dos anos 80.

Especial do Milênio. Veja, ano 31, n. 51, p. 126, 23 dez. 1998. (Adaptado.)

Do ponto de vista morfológico, o vocábulo que perten-ce à mesma classe de miraculoso (ref. 2) é:

a) nova (ref. 3). c) derivado (ref. 6).b) materiais (ref. 4). d) cientistas (ref. 5).

11 (Uece)

A memória e o caos digitalA era digital trouxe inovações e facilidades para o

homem que superou de longe o que a ficção previa até pouco tempo atrás. Se antes precisávamos correr em busca de informações de nosso interesse, hoje, úteis ou não, elas é que nos assediam: resultados de loterias, dicas de cursos, variações da moeda, ofer-tas de compras, notícias de atentados, ganhadores de gincanas, etc. Por outro lado, enquanto cresce a capacidade dos discos rígidos e a velocidade das in-formações, o desempenho da memória humana está ficando cada vez mais comprometido. Cientistas são unânimes ao associar a rapidez das informações ge-radas pelo mundo digital com a restrição de nosso “disco rígido” natural. Eles ressaltam, porém, que o problema não está propriamente nas novas tecno-logias, mas no uso exagerado delas, o que faz com que deixemos de lado atividades mais estimulantes, como a leitura, que envolvem diversas funções do cérebro. Os mais prejudicados por esse processo têm sido crianças e adolescentes, cujo desenvolvimento neuronal acaba sendo moldado preguiçosamente.

Responda sem pensar: qual era a manchete do jor-nal de ontem? Você lembra o nome da novela que antecedeu O clone? E quem era o técnico da Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 1994? Não ter uma resposta imediata para essas perguntas não deve ser causa de preocupação para ninguém, mas exempli-

fica bem o problema constatado pela fonoaudióloga paulista Ana Maria Maaz Alvarez, que há mais de 20 anos estuda a relação entre audição e recordação.

A pedido de duas empresas, ela realizou uma pes-quisa para saber o que estava ocorrendo com os fun-cionários que reclamavam com frequência de lapsos de memória. Foram entrevistados 71 homens e mu-lheres, com idade de 18 e 42 anos. A maioria dos es-quecimentos era de natureza auditiva, como nomes que acabavam de ser ouvidos ou assuntos discutidos. (Por falar nisso, responda sem olhar no parágrafo an-terior: você lembra o nome da pesquisadora citada?)

Ana Maria descobriu que os lapsos de memória resultavam basicamente do excesso de informação em consequência do tipo de trabalho que essas pes-soas exerciam nas empresas, e do pouco tempo que dispunham para processá-las, somados à angústia de querer saber mais e ao excesso de atribuições. “Elas não se detinham no que estava sendo dito (lido, ou-vido ou visto) e, consequentemente, não conseguiam gravar os dados na memória”, afirma.

COLAVITTI, Fernanda. Superinteressante, 2001.

Assinale a alternativa em que todas as expressões desta-cadas têm valor de adjetivo.

a) Era digital trouxe inovações e facilidades que supe-raram o que previa a ficção.

b) Deixemos de lado atividades que envolvem diversas funções do cérebro.

c) Hoje, úteis ou não, as informações é que nos assediam.d) Responda qual era a manchete do jornal de ontem.

12 (Fuvest-SP)

Segundo a ONU, os subsídios dos ricos prejudicam o Terceiro Mundo de várias formas:1. mantêm baixos os preços internacionais, desvalo-

rizando as exportações dos países pobres;2. excluem os pobres de vender para os mercados

ricos;3. expõem os produtores pobres à concorrência de

produtos mais baratos em seus próprios países.

Folha de S.Paulo, E-12, 2 nov. 1997.

Neste texto, as palavras em destaque “ricos” e “pobres” pertencem a diferentes classes de palavras, conforme o grupo sintático em que estão inseridas.

a) Obedecendo à ordem em que aparecem no texto, identifique a classe a que pertencem, em cada ocor-rência em destaque, as palavras “ricos” e “pobres”.

Seguindo a sequência temos:

“ricos”: substantivo; “pobres”: adjetivo; “pobres”:

substantivo; “ricos”: adjetivo

b) Escreva duas frases com a palavra brasileiro, empre-gando-a cada vez em uma dessas classes.

Substantivo: Como o brasileiro é solidário!

Adjetivo: O povo brasileiro quer justiça.

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(UEL-PR) Leia o texto a seguir e responda às questões 13 e 14.

Poema obscenoFaçam a festa

cantem e dancemque eu faço o poema duro

o poema-murrosujocomo a miséria brasileira

Não se detenham:façam a festa

Bethânia MartinhoClementina

Estação Primeira de Mangueira Salgueirogente de Vila Isabel e Madureira

todosfaçam

a nossa festaenquanto eu soco este pilão

este surdo poema

que não toca no rádioque o povo não cantará(mas que nasce dele)Não se prestará a análises estruturalistasNão entrará nas antologias oficiais

Obscenocomo o salário de um trabalhador aposentado

o poematerá o destino dos que habitam o lado escuro do país

– e espreitam.

GULLAR, Ferreira. Toda poesia. São Paulo: Círculo do Livro, s.d. p. 338.

13 O adjetivo “obsceno” presente no título e no poema refere-se:

a) à permissividade característica de festas populares como o carnaval.

b) ao tom de poemas de Gullar, proibidos de figurar em antologias oficiais.

c) à situação dos que habitam o lado escuro do país.d) à denúncia de uma condição social.e) à indignação para com a corrupção política do país.

14 Considerando os recursos de composição do poema, assinale a alternativa correta.

a) As negativas presentes nos versos 19 a 23 desqualifi-cam o poema e seu potencial crítico.

b) O termo comparativo “como” é utilizado para apro-ximar a experiência pessoal do eu lírico da miséria social brasileira.

c) O uso do imperativo constitui uma metáfora da es-trutura de opressão típica da época da ditadura.

d) Os “que habitam o lado escuro do país / – e esprei-tam” são uma metáfora dos militares responsáveis pela censura da produção artística.

e) Os versos 19 a 23 são formas de adjetivação do termo “poema”, assim como “sujo” e “duro”.

AchadoAqui, talvez, o tesouro enterradohá cem anos pelo guarda-mor.Se tanto o guardou, foi para os trinetos,principalmente este: o menor.Cavo com faca de cozinha, cavoaté, no outro extremo, o Japãoe não encontro o saco de ourode que tenho a mor precisãopara galopar no lombo dos longesfugindo a esta vidinha choca.Mas só encontro, e rabeia, e fogeuma indignada minhoca.

ANDRADE, Carlos Drummond de.

15 Está de acordo com a mensagem principal do texto a seguinte frase:a) Sonho e realidade, muitas vezes, são contrastantes.b) O insucesso não deve desestimular a busca da

aventura.c) A natureza, com frequência, nos traz revelações sur-

preendentes.d) A ambição pode ser um obstáculo para se alcançar a

felicidade.e) As coisas simples do cotidiano é que valem a pena

ser vividas.

16 Sobre a expressão “vidinha choca”, entendida no contex-to do poema, é correto afirmar:a) O diminutivo exprime carinho, ao contrário do termo

que o acompanha.b) A ideia aí presente é de tempo: sugere-se que a vida

é passageira.c) Seu sentido se opõe àquilo que, poeticamente, “mi-

nhoca” está representando.d) O adjetivo deve ser entendido denotativamente, ao

contrário do substantivo.e) O segundo termo reforça o sentido negativo do pri-

meiro.

17 (Uece)

(FGV-SP) Texto para as questões 15 e 16.

Mensagem de NatalUm cartão de Natal com um desenho colorido de Pa-

pai Noel e uma menina, postado em 1914, chegou a seu destino na cidade americana de Oberlin, no estado do Kansas, depois de ficar extraviado durante 93 anos.

O cartão, datado de 23 de dezembro de 1914, tinha sido enviado a Ethel Martin, de Oberlin. Ethel Martin nunca chegou a ler a mensagem de Natal. Ela morreu antes de receber o cartão. (17/12/2007)

Para ele, o fim do ano era sempre uma época dura, difícil de suportar. Sofria daquele tipo de tristeza mór-bida que acomete algumas pessoas nos festejos de Natal e de Ano Novo.

No seu caso havia uma razão óbvia para isso: aos 70 anos, solteirão, sem parentes, sem amigos, não tinha com quem celebrar, ninguém o convidava para festa al-guma. O jeito era tomar um porre, e era o que fazia, mas

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o resultado era melancólico: além da solidão, tinha de suportar a ressaca. No passado, convivera muito tempo com a mãe. Filho único, sentia-se obrigado a cuidar da velhinha que cedo enviuvara. Não se tratava de tarefa fácil: como ele, a mãe era uma mulher amargurada.

Contra sua vontade, tinha casado, em 31 de dezem-bro de 1914 (o ano em que começou a Grande Guerra, como ela fazia questão de lembrar), com um homem de quem não gostava, mas que pais e familiares achavam um bom partido. Resultado desse matrimônio: um filho e longos anos de sofrimento e frustração.

O filho tinha de ouvir suas constantes e ressentidas queixas. Coisa que suportava estoicamente; não dei-xou, contudo, de sentir certo alívio quando de seu falecimento, em 1984. Este alívio resultou em culpa, uma culpa que retornava a cada Natal. Porque a mãe falecera exatamente na noite de Natal. Na véspera, no hospital, ela lhe fizera uma confissão surpreendente: muito jovem, apaixonara-se por um primo, que acabou se transformando no grande amor de sua vida. Mas a família do primo mudara-se e ela nunca mais tivera no-tícias dele. Nunca recebera uma carta, uma mensagem, nada. Nem ao menos um cartão de Natal.

No dia 24 pela manhã ele encontrou um envelope na caixa do correio. Como em geral não recebia cor-respondência alguma, foi com alguma estranheza que abriu o envelope. Era um cartão de Natal, e tinha a fale-cida mãe como destinatária. Um velhíssimo cartão, uma coisa muito antiga, amarelada pelo tempo. De um lado, um desenho do Papai Noel sorrindo para uma meni-na. Do outro lado, a data: 23 de dezembro de 1914. E uma única frase: “Eu te amo”. A assinatura era ilegível, mas ele sabia quem era o remetente: o primo, claro. O primo por quem a mãe se apaixonara, e que, através da-quele cartão, quisera associar o Natal a uma mensagem de amor. Uma nova vida, era o que estava prometendo. Esta mensagem e esta promessa jamais tinham chegado a seu destino. Mas de algum modo o recado chegara a ele. Por quê? Que secreto desígnio haveria atrás daqui-lo? Cartão na mão, aproximou-se da janela. Ali, parada sob o poste de iluminação, e provavelmente esperando o ônibus, estava uma mulher já madura, modestamente vestida, uma mulher ainda bonita. Uma desconhecida, claro, mas o que importava? Seguramente o destino a trouxera ali, assim como trouxera o cartão de Natal. Num impulso, abriu a porta do apartamento e, sempre segurando o cartão, correu para fora. Tinha uma men-sagem para entregar àquela mulher. Uma mensagem que poderia transformar a vida de ambos, e que era, por isso, um verdadeiro presente de Natal.

SCLIAR, Moacyr. Histórias que os jornais não contam.

c) Na segunda retomada do referente, o narrador em-prega o substantivo “coisa”, que empresta uma cono-tação negativa ao referente.

d) Os adjetivos “antiga” e “amarelada”, no contexto em questão, não têm valor sensorial, somente valor afetivo.

18 Leia o texto a seguir.

Em “Era um cartão de Natal, e tinha a falecida mãe como destinatária. Um velhíssimo cartão, uma coisa muito anti-ga, amarelada pelo tempo”, o narrador emprega a expres-são “um cartão de Natal”; depois, substitui essa expressão por “um velhíssimo cartão” e, por fim, torna a substituí-la por “uma coisa muito antiga, amarelada pelo tempo”.Assinale a assertiva incorreta sobre os elementos que entram no processo referencial que acontece no excerto transcrito.

a) O artigo indefinido “um” em “um cartão de Natal” in-dica que o referente ainda não aparecera no texto.

b) Com a expressão “um velhíssimo cartão”, além de re-tomar o referente, o narrador o altera, expressando uma reação afetiva.

Verdes mares bravios de minha terra natal, onde canta a jandaia nas frondes da carnaúba;

Verdes mares, que brilhais como líquida esmeral-da aos raios do sol nascente, perlongando as alvas praias ensombradas de coqueiros;

Serenai, verdes mares, e alisai docemente a vaga impetuosa, para que o barco aventureiro manso res-vale à flor das águas.

Onde vai a afouta jangada, que deixa rápida a costa cearense, aberta ao fresco terral a grande vela?

Onde vai como branca alcíone buscando o rochedo pátrio nas solidões do oceano?

Três entes respiram sobre o frágil lenho que vai singrando veloce, mar em fora.

Um jovem guerreiro cuja tez branca não cora o sangue americano; uma criança e um rafeiro que vi-ram a luz no berço das florestas, e brincam irmãos, filhos ambos da mesma terra selvagem.

A lufada intermitente traz da praia um eco vibran-te, que ressoa entre o marulho das vagas:

— Iracema!

ALENCAR, José de. Iracema. 24. ed. São Paulo: Ática, 1991. (Série Bom Livro.)

No excerto acima, pertencente à obra romântica Iracema (1865), de José de Alencar, é especialmente marcante o emprego de adjetivos, além de outros recursos que atri-buem grande expressividade ao texto. No que se refere ao uso de adjetivos e suas funções no fragmento lido, as-sinale a alternativa correta.

a) Na primeira frase do texto, há somente o emprego de adjetivos expressivos (e jamais descritivos) como “verdes” e “bravios”.

b) Na frase “Onde vai como branca alcíone buscando o ro-chedo pátrio nas solidões do oceano?” (5o parágrafo), a aproximação entre a imagem do “barco aventureiro” (3o parágrafo) e da “alcíone” se dá unicamente pela cor “branca”, adjetivo que qualifica ambos os termos.

c) Considerando o fragmento de texto “(...) brincam irmãos, filhos ambos da mesma terra selvagem” (7o parágrafo), nota-se que o substantivo “irmãos”, ape-sar de sua classificação morfológica, assume função adjetiva, pois qualifica outros termos anteriormente referidos (“guerreiro”, “criança” e “rafeiro” – os “três en-tes” que se aventuram no barco).

d) Na frase “A lufada intermitente traz da praia um eco vi-brante, que ressoa entre o marulho das vagas” (8o pará-grafo), a expressão “das vagas” tem função adjetiva, em-bora não qualifique claramente nenhum nome anterior.

e) O fragmento lido atende aos propósitos românticos de idealização da terra natal (no caso, o Ceará de José de Alencar); para tanto, concorre o emprego expres-sivo de muitos adjetivos, necessários à personificação dos elementos naturais e à descrição exata e realista do ambiente.

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ESTUDANDO Adjetivo

Para o eNeM

1 Levando em conta as intenções comunicativas do au-tor, bem como os recursos linguísticos do poema, assina-le a alternativa mais pertinente quanto à interpretação do texto.

a) No primeiro verso, o termo “de nada” caracteriza a humildade inicial da condição humana, que, infeliz-mente, terminará por levar o herói à revolta final.

b) O emprego sequencial dos adjetivos “aguda”, “irra-cional” e “intensa” (dispostos entre o quinto e o sexto verso do poema) estabelece uma progressão carac-terizadora do substantivo “certeza”, anteriormente referido.

c) O texto, como um todo, imita a linguagem instru-cional de uma receita, fato justificável pela explícita referência ao substantivo “fome”, que é um termo próprio do jargão culinário.

d) A palavra “morto”, no último verso, determina a condição à qual todo e qualquer alimento deve se adequar antes de ser levado à mesa; até mesmo “um homem feito de nada” (v. 1) deve se conformar a tal situação.

e) A expressão “de herói”, presente no título do poe-ma, funciona como locução adjetiva e caracteriza o substantivo “receita”. Trata-se, também, de uma mar-ca de autoria, já que a expressão “receita de herói” revela também a condição heroica do inventor de tal “receita”.

3

O jeito cearense de ser únicoCearense não briga... ele risca a faca!Cearense não vai em festa... ele cai na gandaia!Cearense não vai embora... ele pega o beco!Cearense não bate... ele senta o sarrafo!Cearense não bebe um drink... ele toma uma!Cearense não joga fora... ele rebola no mato!Cearense não discute... ele bota boneco!Cearense não ri... ele se abre!Cearense não toma água com açúcar... ele toma garapa!Cearense não percebe... ele dá fé!Cearense não vigia as coisas... ele pastora!Cearense não sobe na árvore... ele se trepa no pé de pau!Cearense não passa a roupa... ele engoma a roupa!(...)Cearense não é homem... ele é macho ou é cabra danado!Ser cearense é ser único! Ô orgulho véi besta!!!

Da tradição popular. Disponível em: <www.nordesterural.com.br>. Acesso em: 18 abr. 2011.

Sobre o texto, é possível afirmar que:

a) Acentua-se o completo desprezo do enunciador em relação ao registro formal culto, pois este não adjetiva (ou seja, não qualifica) o iletrado homem cearense.

b) Todas as referências às qualidades do homem cearen-se reafirmam o pitoresco de sua situação e o opõem à cultura letrada do sulista.

c) Ele dá exemplos de traços típicos do caráter e das atitudes do homem cearense, ridicularizando-o pela exposição caricatural de suas qualidades mais acen-tuadas, as quais se evidenciam pelo emprego de ad-jetivos chulos.

d) Em “ele é macho ou é cabra danado”, o adjetivo “da-nado” é empregado em seu sentido específico, indi-cando que a danação (ou infelicidade) do cearense se deve a seu linguajar inculto e popularesco.

e) O último verso compreende a frase exclamativa “Ô orgulho véi besta!!!”; nela, percebe-se o emprego de uma expressão coloquial de valor adjetivo, que, ao caracterizar o substantivo “orgulho”, atribui-lhe grande expressividade.

2 Receita de heróiTome-se um homem feito de nadaComo nós em tamanho naturalEmbeba-se-lhe a carneLentamenteDe uma certeza aguda, irracionalIntensa como o ódio ou como a fome.Depois perto do fimAgite-se um pendãoE toque-se um clarim.Serve-se morto.

FERREIRA, Reinaldo. Receita de herói. Em: GERALDI, João Wanderley. Portos de passagem.

São Paulo: Martins Fontes, 1991. p. 185.

Pelé: 1000O difícil, o extraordinário, não é fazer mil gols,

como Pelé. É fazer um gol como Pelé. Aquele gol que gostaríamos tanto de fazer, que nos sentimos maduros para fazer, mas que, diabolicamente, não se deixa fazer. O gol. Que adianta escrever mil li-vros, como simples resultado de aplicação mecâ-nica, mãos batendo máquina de manhã à noite, traseiro posto na almofada, palavras dóceis e resig-nadas ao uso incolor? O livro único, este não há condições, regras, receitas, códigos, cólicas que o façam existir, e só ele conta – negativamente – em nossa bibliografia. Romancistas que não capturam o romance, poetas de que o poema está se rindo a distância, pensadores que palmilham o batido pen-samento alheio, em vão circulamos na pista durante 50 anos. O muito papel que sujamos continua alvo, alheio às letras que nele se imprimem, pois aquela não era a combinação de letras que ele exigia de nós. E quantos metros cúbicos de suor, para chegar a esse não resultado!

Então o gol independe de nossa vontade, formação e mestria? Receio que sim. Produto divino, talvez? Mas, se não valem exortações, apelos cabalísticos, bossas mágicas para que ele se manifeste... Se é de Deus, Deus se diverte negando-o aos que o implo-ram, e, distribuindo-o a seu capricho, Deus sabe a quem, às vezes um mau elemento. A obra de arte, em

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forma de gol ou de texto, casa, pintura, som, dança e outras mais, parece antes coisa-em-ser da nature-za, revelada arbitrariamente, quase que à revelia do instrumento humano usado para a revelação. Se a obrigação é aprender, por que todos que aprendem não a realizam?

Por que só este ou aquele chega a realizá-la? Por que não há 11 Pelés em cada time? Ou 10, para dar uma chance ao time adversário? O Rei chega ao mi-lésimo gol (sem pressa, até se permitindo o charme de retificar para menos a contagem) por uma fata-lidade à margem do seu saber técnico e artístico. Na realidade, está lavrando sempre o mesmo tento perfeito, pois outros tentos menos apurados não são de sua competência. Sabe apenas fazer o máximo, e quando deixa de destacar-se no campo é porque até ele tem instantes de não Pelé, como os não Pelés que somos todos.

ANDRADE, Carlos Drummond de. O poder ultrajovem. Rio de Janeiro: Record, 1986. p. 133. (Fragmento.)

Sabendo que o Parnasianismo (estilo de época ao qual se liga a obra poética de Olavo Bilac) preza a riqueza voca-bular como uma de suas qualidades máximas, indique a alternativa que justifique mais propriamente o emprego de adjetivos como “fulvo” e “espectral”.

a) São meros termos descritivos, sem outra função a não ser caracterizar objetivamente a paisagem de Ouro Preto.

b) Trata-se de termos pomposos e gastos, marcantes do elitismo da linguagem e do puro jogo de aparências da escola parnasiana.

c) Tais termos se revestem de certo preciosismo voca-bular, tão caro à formalidade parnasiana.

d) Adjetivos como “fulvo” e “espectral” demonstram, por parte do poeta, o domínio de termos técnicos das artes visuais, surpreendentemente empregados no lirismo sentimental do Parnasianismo.

e) O poeta mal esconde o apelo sentimental, próprio da escola romântica; no entanto, para se adequar aos dogmas do Parnasianismo, lança mão de um vocabu-lário raríssimo e da forma fixa do soneto, de inspira-ção clássica.

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“O difícil, o extraordinário, não é fazer mil gols, como Pelé.” Observando a frase de abertura do texto, é correto afirmar que:

a) Drummond antecipa que o futebol é um esporte marcado por grande facilidade e gratuidade: afinal, uma contagem de “mil gols” para um único atleta se-ria ordinária.

b) o autor menospreza a marca simbólica dos mil gols, admitindo que tal feito não implica qualquer dificul-dade.

c) Drummond se vale de adjetivos (“difícil” e “extraordi-nário”) para caracterizar as proezas de Pelé, mais sig-nificativas que uma simbólica marca numérica (“mil gols”).

d) há predominância de termos caracterizadores, como adjetivos (“difícil” e “extraordinário”), e quantitativos (“mil”), todos em referência ao nome próprio “Pelé”.

e) a expressão “fazer mil gols” recebe as qualificações de “extraordinário” e “difícil”.

4 Vila RicaO ouro fulvo do ocaso as velhas casas cobre;Sangram, em laivos de ouro, as minas, que a ambiçãoNa torturada entranha abriu da terra nobre:E cada cicatriz brilha como um brasão.

O ângelus plange ao longe em doloroso dobre.O último ouro de sol morre na cerração.E, austero, amortalhando a urbe gloriosa e pobre,O crepúsculo cai como uma extrema-unção.

Agora, para além do cerro, o céu pareceFeito de um ouro ancião que o tempo enegreceu...A neblina, roçando o chão, cicia, em prece,

Como uma procissão espectral que se move...Dobra o sino... Soluça um verso de Dirceu...Sobre a triste Ouro Preto o ouro dos astros chove.

BILAC, Olavo. Vila Rica. Em: Poesias. Belo Horizonte: Itatiaia, 1985. p. 203. (Coleção Poetas de Sempre, v. 5.)

(...) se algum dia fosse poeta, e quisesse cantar a minha terra e as suas belezas, se quisesse compor um poema nacional, pediria a Deus que me fizesse es-quecer por um momento as minhas ideias de homem civilizado.

Filho da natureza, embrenhar-me-ia por essas ma-tas seculares; contemplaria as maravilhas de Deus, veria o sol erguer-se no seu mar de ouro, a lua desli-zar-se no azul do céu; ouviria o murmúrio das ondas e o eco profundo e solene das florestas.

ALENCAR, José de. Cartas sobre a Confederação dos Tamoios. Em: Obra completa.

Rio de Janeiro: José Aguilar, 1960. p. 865, v. IV.

José de Alencar (1825-1877) é um dos expoentes má-ximos do Romantismo brasileiro. Em sua diversificada obra, encontram-se exemplos bem acabados de distin-tas vertentes da prosa do período, como narrativas ur-banas (Diva, Lucíola, Senhora), regionalistas (O gaúcho, O sertanejo), históricas (Alfarrábios, As minas de prata) e indianistas (O guarani, Iracema e Ubirajara). Levando em conta as características convencionais da escrita român-tica, pode-se afirmar seguramente que:

a) o adjetivo “civilizado”, empregado de início por Alencar, relaciona-se à condição do indígena brasileiro.

b) no primeiro parágrafo, por caracterizar o substantivo “terra”, o termo “minha” recebe unicamente a classifi-cação morfológica de adjetivo.

c) predomina, ao longo de todo o texto, uma termino-logia puramente coloquial.

d) no segundo parágrafo, termos como “da natureza” e “de ouro” podem ser entendidos como locuções ad-jetivas.

e) a maioria dos adjetivos empregados no texto carac-teriza o ambiente idealizado da Corte, que é o cená-rio predominante nos romances de Alencar.

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ESTUDANDO Pronomes indefinidos, interrogativos e relativos

Para o vestibular1 (UFRJ)

O padeiroTomo meu café com pão dormido, que não é tão

ruim assim. E enquanto tomo café vou me lembrando de um homem modesto que conheci antigamente. Quando vinha deixar o pão à porta do apartamento ele apertava a campainha, mas, para não incomodar os moradores, avisava gritando:

– Não é ninguém, é o padeiro!Interroguei-o uma vez: como tivera a ideia de gritar

aquilo?“Então você não é ninguém?”Ele abriu um sorriso largo. Explicou que aprendera

aquilo de ouvido. Muitas vezes lhe acontecera bater a campainha de uma casa e ser atendido por uma em-pregada ou outra pessoa qualquer, e ouvir uma voz que vinha lá de dentro perguntando quem era; e ouvir a pessoa que o atendera dizer para dentro: “Não é nin-guém, não senhora, é o padeiro”. assim ficara sabendo que não era ninguém...

Ele me contou isso sem mágoa nenhuma, e se despe-diu ainda sorrindo.

BraGa, rubem. Ai de ti, Copacabana. rio de Janeiro: Editora do autor, 1964. p. 44-45. (Fragmento.)

a) Que sentido assume o pronome indefinido “ninguém” no texto acima?

O pronome “ninguém” significa “pessoa

sem importância”.

b) Quando esse pronome indefinido é usado na função sintática de sujeito, a dupla negação pode ou não ocorrer. Justifique essa afirmativa, exemplificando-a.

Se o pronome (sujeito) é anteposto ao verbo, não

ocorre a dupla negação: “Ninguém veio”. Se, porém,

ele é posposto ao verbo, a dupla negação ocorre:

“Não veio ninguém”.

2 (UFU-MG) Preencha, com pronomes relativos, as lacunas das orações abaixo.

I. “Fisionomia melancólica, fitou o cadáver. Sapatos lus-trosos, brilhava a luz das velas, calça de vinco perfeito, paletó negro assentado, as mãos devotas cruzadas no peito.” (J. Amado)

II. “Cabo Martim, em matéria de educação só per-dia para o próprio Quincas, retirou da cabeça o surra-do chapéu, cumprimentou os presentes.” (J. Amado)

III. “Não gostava dessas magricelas, cintura a gen-te nem podia apertar.” (J. Amado)

IV. “Curió, infância em parte decorrera num asilo de menores dirigido por padres, buscava na embota-da memória uma oração completa.” (J. Amado)

Assinale, a seguir, a alternativa correta.

a) Todas as lacunas podem ser preenchidas com o pro-nome relativo “cujo” (a).

b) III e IV podem ser preenchidas com o pronome relati-vo “cujo” (a).

c) Todas as lacunas podem ser preenchidas com o pro-nome relativo “que”.

d) I e II podem ser preenchidas com o pronome relativo “onde”.

e) II e III podem ser preenchidas com o pronome relati-vo “que”.

3 (UFPR) Considerando os provérbios a seguir, assinale a(s) alternativa(s) em que os termos destacados são pronomes relativos, ou seja, que retomam um termo antecedente.

(01) É de pequenino que se torce o pepino.(02) A vingança é um prato que se serve frio.(04) Mais vale um pássaro na mão do que dois voando.(08) Isso é do tempo em que se amarrava cachorro com

linguiça.(16) Ele(a) não é flor que se cheire.

Soma: 02 + 08 + 16 = 26

4 (UFC-CE) No trecho: “Eu não creio, não posso mais acre-ditar na bondade ou na virtude de homem algum; todos são mais ou menos ruins, falsos e indignos; há porém al-guns que sem dúvida com o fim de ser mais nocivos aos outros, e para produzir maior dano, têm o merecimento de dizer a verdade nua e crua (...)”:

I. “algum” e “alguns” são pronomes indefinidos. II. “alguns” é sujeito do verbo haver.III. “algum” equivale a nenhum.

Assinale a alternativa correta sobre as assertivas acima.

a) Apenas I é verdadeira.b) Apenas II é verdadeira.c) Apenas I e II são verdadeiras.d) Apenas I e III são verdadeiras.e) I, II e III são verdadeiras.

5 (UFRGS-RS)

desenvolveu-se nos Estados Unidos, nos meios in-telectuais (1) que (2) defendem as minorias, a ideia do “politicamente correto” – ou seja, a substituição de termos com conotação preconceituosa por outros carregados de positividade. assim, a própria palavra “negro” não seria desejável, devendo-se preferir “afro- -americano”. o mesmo vale para várias outras pala-vras, como “deficiente”, “solteirão” – em suma, todo termo que possa dar a entender uma falha, um de-

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feito. E isso se acentua quando comunidades fortes – como os homossexuais da Califórnia – interferem em roteiros de filmes, ou quando figuras históricas (3) são condenadas mediante critérios morais fora de sua (4) época (como sucedeu quando um condado da luisiana resolveu que nenhuma escola pública (5) de (6) sua jurisdição deveria ostentar o nome de quem tivesse possuído escravos – o que eliminava, por exem-plo, Thomas Jefferson). Tudo isso parece exagerado e, no Brasil, é apresentado como ridículo. Entretanto, há que destacar o que é positivo no chamado politica-mente correto: a ideia – óbvia para qualquer linguista, psicólogo ou psicanalista – de que a linguagem não é neutra, mas expressa, produz e reproduz uma visão de mundo. Se a linguagem não se limita a traduzir fatos, mas tende a expressar pontos de vista (7), é preciso expô-los (8) e eventualmente combatê-los. aqui está o que a zombaria contra o politicamente correto (9) dissimula: ele (10) reage contra velhas ideias conserva-doras. o que dizem ainda hoje nossos livros escolares, a despeito de elogiáveis iniciativas (inclusive oficiais), sobre o negro e o índio? Quantos preconceitos não rodam por aí, moldando a mente das crianças assim como moldaram as nossas? antes de se zombar dos exageros de certos movimentos norte-americanos, não seria preciso romper a cumplicidade que ata nossa opinião pública a quem incita à violência nas rádios matutinas, a quem ridiculariza e humilha a mulher nos programas de humor? Se alguma cultura pode dar-se ao luxo de achar risível o excesso nos direitos huma-nos, não é a nossa, certamente.

rIBEIro, r. J. A sociedade contra o social. São Paulo: Cia. das letras, 2000. (adaptado.)

Vários pronomes do texto retomam elementos anterior-mente referidos. Assinale a alternativa em que a asso-ciação entre o pronome e o elemento substituído está incorreta.

a) que (ref. 2) – meios intelectuais (ref. 1)b) sua (ref. 4) – figuras históricas (ref. 3)c) sua (ref. 6) – escola pública (ref. 5)d) los (ref. 8) – pontos de vista (ref. 7)e) ele (ref. 10) – o politicamente correto (ref. 9)

6 (ITA-SP) Em relação ao texto a seguir, assinale a opção que preenche corretamente as lacunas.

Nos ecossistemas naturais, como as matas, os cerrados e os campos nativos, há um perfeito equilíbrio entre os seres vivos, e entre estes e o meio. Essa condição resulta da interação entre as espécies, e da adaptação destas ao meio ao longo de extensos períodos de tempo. São sis-temas quase fechados (1) , devido a razões pouco conhecidas, novas espécies dificilmente se estabelecem neles de modo natural. Em qualquer deles, a densidade populacional de um inseto fitófago, isto é, que se alimen-ta de plantas, é controlada principalmente pela densida-de populacional da espécie de planta (2) ele tem preferência e por seus inimigos naturais (parasitos, pre-dadores e patógenos, ou seja, seres que (3) causam doenças), além evidentemente dos fatores físicos como a temperatura, a umidade e a luz, entre outros.

Ciência Hoje, n. 6, maio/jun. 1983.

a) que – que – osb) por que – a qual – lhec) porque – na qual – lhesd) porque – pela qual – lhee) por que – pela qual – os

7 (UFF-RJ)

1 acompanho com assombro o que andam dizendo sobre os primeiros 500 anos do brasileiro. Concordo com todas as opiniões emitidas e com as minhas em primeiríssimo lugar. Tenho para mim que há dois referenciais literários para nos definir. de um lado, o produto daquilo que Gilberto Freyre chamou de ca-sa-grande e senzala, o homem miscigenado, potente e tendendo a ser feliz. de outro, o Macunaíma, herói sem nenhuma definição, ou sem nenhum caráter – como queria o próprio Mário de andrade.

2 Somos e seremos assim, em nossa essência, embora as circunstâncias mudem e nós mudemos com elas. retomando a imagem literária, citemos a Capitu me-nina – e teremos como sempre a intervenção sobera-na de Machado de assis.

3 Um rapaz da plateia me perguntou onde ficaria o ho-mem de Guimarães rosa – outra coordenada que nos ajuda a definir o brasileiro. Evidente que o universo de rosa é sobretudo verbal, mas o homem é causa e efeito do verbo. Por isso mesmo, o personagem ro-siano tem a ver com o homem de Gilberto Freyre e de Mário de andrade. É um refugo consciente da casa-grande e da senzala, o opositor de uma e de ou-tra, criando a sua própria vereda, mas sem esquecer o ressentimento social do qual se afastou e contra o qual procura lutar.

4 É também macunaímico, pois sem definição catalo-gada na escala de valores culturais oriundos de sua formação racial. Nem por acaso um dos personagens mais importantes do mundo de rosa é uma mulher que se faz passar por jagunço. ou seja, um herói – ou heroína – sem nenhum caráter.

5 Tomando Gilberto Freyre como a linha vertical e Mário de andrade como a linha horizontal de um ângulo reto, teríamos Guimarães rosa como a hipo-tenusa fechando o triângulo. a imagem geométrica pode ser forçada, mas foi a que me veio na hora – e acho que fui entendido.

CoNY, Carlos heitor. Folha de S.Paulo, São Paulo, Ilustrada, p. 12, 21 abr. 2000.

Assinale a opção em que o pronome em destaque rece-be uma referência a elemento anteriormente expresso no texto.

a) “mas foi a que me veio na hora – e acho que fui en-tendido” (par. 5)

b) “De um lado, o produto daquilo que Gilberto Freyre chamou de casa-grande e senzala” (par. 1)

c) “De outro, o Macunaíma, herói sem nenhuma defini-ção, ou sem nenhum caráter” (par. 1)

d) “Um rapaz da plateia me perguntou onde ficaria o homem de Guimarães Rosa – outra coordenada que nos ajuda a definir o brasileiro” (par. 3)

e) “Acompanho com assombro o que andam dizendo sobre os primeiros 500 anos do brasileiro” (par. 1)

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8 (Fuvest-SP)

Um homem precisa viajar. Por sua conta, não por meio de histórias, imagens, livros ou TV. Precisa via-jar por si, com seus olhos e pés, para entender o que é seu. Para um dia plantar as suas próprias árvores e dar-lhes valor. Conhecer o frio para conhecer o calor. E o oposto. Sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o próprio teto. Um homem precisa viajar para lugares que não conhece para quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como o imaginamos, e não simplesmente como é ou pode ser; que nos faz profes-sores e doutores do que não vimos, quando devería-mos ser alunos, e simplesmente ir ver.

KlINK, amyr. Mar sem fim.

Na frase “que nos faz professores e doutores do que não vimos”, o pronome destacado retoma a expressão antecedente:

a) “para lugares”. d) “essa arrogância”.b) “o mundo”. e) “como o imaginamos”.c) “um homem”.

9 (FGV-SP)

À aldeia chamam-lhe azinhaga, está naquele lugar por assim dizer desde os alvores da nacionalidade (já tinha foral no século décimo terceiro), mas dessa es-tupenda veterania nada ficou, salvo o rio que lhe pas-sa mesmo ao lado (imagino que desde a criação do mundo), e que, até onde alcançam as minhas poucas luzes, nunca mudou de rumo, embora das suas mar-gens tenha saído um número infinito de vezes. a me-nos de um quilómetro das últimas casas, para o sul, o almonda, que é esse o nome do rio da minha aldeia, encontra-se com o Tejo, ao qual (ou a quem (1), se a licença me é permitida), ajudava, em tempos idos, na medida dos seus limitados caudais, a alagar a lezíria* quando as nuvens despejavam cá para bai-xo as chuvas torrenciais do Inverno e as barragens a montante, pletóricas, congestionadas, eram obrigadas a descarregar o excesso de água acumulada. a ter-ra é plana, lisa como a palma da mão, sem acidentes orográficos dignos de tal nome, um ou outro dique que por ali se tivesse levantado mais servia para guiar a corrente aonde causasse menos dano do que para conter o ímpeto poderoso das cheias. desde tão dis-tantes épocas a gente nascida e vivida na minha aldeia aprendeu a negociar com os dois rios que acabaram por lhe configurar o carácter, o almonda, que a seus pés desliza, o Tejo, lá mais adiante, meio oculto por trás da muralha de choupos, freixos e salgueiros que lhe vai acompanhando o curso, e um e outro, por boas ou más razões, omnipresentes na memória e nas falas das famílias.

SaraMaGo, José. As pequenas memórias. São Paulo: Companhia das letras, 2006.

* Lezíria: planície de inundação junto a certos rios.

Observe na referência 1: “ao qual (ou a quem, se a licen-ça me é permitida), ajudava”. A licença a que o autor se refere é uma forma de:

a) ser mais preciso no emprego da forma pronominal.b) tratar respeitosamente o leitor.c) valorizar o rio Tejo, dando-lhe status de pessoa.d) desvalorizar o rio Tejo em suas memórias.e) valorizar o rio da sua aldeia, o Almonda.

10 (UFRGS-RS)

O problema Nerudahá cem anos nasceu o poeta mais popular de língua

espanhola, com uma obra cuja força lírica supera todos os seus defeitos (1).

Sem dúvida, há um “problema Pablo Neruda”. Foi o outro grande poeta chileno, seu contemporâneo Nicanor Parra (depois de passar toda uma longa vida injustamente à sombra de Neruda), quem o formulou com maliciosa concisão: “Existem duas maneiras de refutar Neruda: uma é não lê-lo; a ou-tra, lê-lo de má-fé. Tenho praticado as duas, mas nenhuma deu resultado”. a frase de Parra descreve o dilema de várias gerações de leitores. Ninguém duvida, ou nega seriamente, que Neruda, cujo cen-tenário de nascimento se comemora no dia 12 deste mês, seja um grande poeta – dos maiores do século 20. Mas quase todos os leitores mais exigentes pre-ferem outros poetas, enquanto os mais fiéis neru-distas admiram incondicionalmente o pior de uma vasta obra muito desigual na sua qualidade. Entre matronas sentimentais, Neruda parece quase nau-fragar sob o peso de sua popularidade. Mas sempre volta a emergir, triunfante e definitivo, de toda lei-tura de boa-fé.

ESTENSSoro, hugo. Bravo, v. 7, n. 82, p. 65, jul. 2004. (adaptado.)

Entre as alterações sugeridas a seguir, assinale a que mantém o sentido original e a correção do trecho “com uma obra cuja força lírica supera todos os seus defei-tos” (ref. 1).

a) com uma obra cujos defeitos são todos superados pela sua força lírica.

b) cuja força lírica da obra supera todos os seus defeitos.c) cujos defeitos são todos superados pela força lírica

de sua obra.d) com cuja força lírica superou todos os defeitos de

sua obra.e) cuja obra supera todos os defeitos através de sua for-

ça lírica.

11 (UBC-SP)

Alguém, antes que Pedro o fizesse, teve vontade de falar o que foi dito.

Os pronomes assinalados dispõem-se nesta ordem:

a) de tratamento, pessoal, oblíquo, demonstrativob) indefinido, relativo, pessoal, relativoc) demonstrativo, relativo, pessoal, indefinidod) indefinido, relativo, demonstrativo, relativoe) indefinido, demonstrativo, demonstrativo, relativo

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12 (UGF-RJ) Assinale a opção que preenche corretamente as lacunas da frase a seguir: “Quando o cidadão levar

frente tudo aquilo sonha, todo o grupo so-cial ele pertence se movimentará em ”.

a) a – com que – a que – ascençãob) à – com que – a que – ascensãoc) a – o qual – ao qual – ascençãod) em – que – que – ascensãoe) a – que – ao qual – ascenção

13 (UCPel-RS) Assinale a opção que completa corretamen-te as lacunas das frases.

I. O lugar moro é muito pequeno. II. Esse foi o número gostei mais.III. O filme enredo é fraco tem dado grande prejuí zo.a) onde / que / cujob) em que / de que / cujo oc) no qual / o qual / do qual od) que / que / cujo oe) em que / de que / cujo

14 (UEL-PR) Pergunta-se quantos são ao certo os que fo-ram premiados.

As classes a que pertencem as expressões em destaque na frase acima são, respectivamente:

a) advérbio de intensidade, locução prepositiva, artigo definido.

b) pronome interrogativo, advérbio de modo, artigo de-finido.

c) advérbio de intensidade, locução prepositiva, prono-me demonstrativo.

d) pronome interrogativo, locução adverbial, pronome demonstrativo.

e) pronome indefinido, locução adverbial, artigo de-finido.

15 (Ufes) Não, Hagar não tem como única habilidade aparar as flechadas dos adversários nas batalhas. Veja, na figura adiante, como ele estruturou bem sua frase, demonstran-do dominar a norma culta, no tocante ao uso do pronome relativo e da preposição, quando necessária.

É a única coisa em que sou bom.

Demonstre que você também tem esse domínio, indi-cando a opção em que o período, resultante da ligação entre as frases, está bem estruturado.

a) Frases: “Mas existe uma responsabilidade estrutural que não é imposta de fora para dentro. Todos que-rem fugir dela.”

IstoÉ, 15/7/98.

Período: Mas existe uma responsabilidade estrutural que não é imposta de fora para dentro, que todos querem fugir dela.

b) Frases: “Mas eles são artistas de cinema. A atividade deles é fazer show usando movimentos extremamen-te plásticos.”

Veja, 8/10/97.

Período: Mas eles são artistas de cinema, cuja a ativi-dade é fazer show usando movimentos extremamen-te plásticos.

c) Frases: “Um bom exemplo de gestão pública criativa é o mutirão do reflorestamento. Por meio dele, em 12 anos, foi plantado 1,7 milhão de mudas de árvo-res nativas da Mata Atlântica em morros urbanos do Grande Rio (...).”

Época, 27/7/98.

Período: Um bom exemplo de gestão pública cria-tiva é o mutirão do reflorestamento que por meio dele, em 12 anos, foi plantado 1,7 milhão de mudas de árvores nativas da Mata Atlântica em morros ur-banos do Grande Rio.

d) Frases: “A secura do ar na Indonésia e na Malásia provocou incêndios florestais, poluiu cidades e en-fumaçou o céu de tal forma que até a semana pas-sada havia provocado dois desastres horrendos. Num deles, um jato de passageiros estatelou-se no chão da Indonésia matando todas as 234 pessoas a bordo.”

Veja, 8/10/97.

Período: A secura do ar na Indonésia e na Malásia provocou incêndios florestais, poluiu cidades e enfu-maçou o céu de tal forma que até a semana passada havia provocado dois desastres horrendos, num dos quais um jato de passageiros estatelou-se no chão matando todas as 234 pessoas a bordo.

e) Frases: “Para a Maritel, com 19 anos no mercado, a invasão dos bichos importados atrapalha o cres-cimento da empresa. Por essa razão, assim como os concorrentes, trabalha com personagens licen-ciados.”

Folha de S.Paulo, 2/9/98.

Período: Para a Maritel, com 19 anos no merca-do, a invasão dos bichos importados atrapalha o crescimento da empresa, razão porque, assim como os concorrentes, trabalha com personagens licenciados.

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16 (UFMS) Leia os provérbios abaixo e assinale a(s) propo-sição(ões) correta(s).

I. Quem casa muito prontamente, arrepende-se... II. Quem casa, muito prontamente arrepende-se...(001) Em I e II, a palavra “quem” pode ser substituída por

“aquele que”.

(002) Tanto em I como em II a interpretação dos provér-bios é a mesma.

(004) A posição da vírgula provoca mudança de sentido entre os provérbios I e II.

(008) “Quem” é um pronome demonstrativo em I e II.

(016) Em I, está subentendida a palavra “para”.

17 (Cefet-CE)

Assinale a alternativa correta.

a) Do ponto de vista da norma culta, a forma verbal “deixe” deveria ser substituída por “deixa” (linha 15), já que o pronome usado é “você” (linha 15).

b) Nas linhas 1 e 7, a palavra “porque” está grafada cor-retamente, assim como em “Não sei porque você insiste nisso”.

c) Em “um dia hão de me pagar” (linhas 7 e 8), a forma verbal foi usada incorretamente, assim como em “Eu me lembro que havia ainda alguns casos a resolver”.

d) A frase “Está esquecido de que ela deixou você?” (linhas 3 e 4) admite também, de acordo com a nor-ma-padrão, a seguinte pontuação: “Está esquecido, de que ela deixou você?”.

e) A palavra “que” (linha 11) funciona como pronome relativo e, portanto, substitui o termo imediatamente anterior: “o prato de comida”.

19 (PUC-RJ) Em uma passagem do livro O que é o tempo?, o matemático e filósofo inglês Gerald James Whitrow nos diz o seguinte:

Soma: 001 + 004 = 5

O Beato RomanoSaí dali zonzo. Tinha sido fácil demais. Meu deus,

eu que pensava ir encontrar uma fera – encontrei o quê? Um chefe de bando, um comandante, uma si-nhá governando a sua senzala?

Ela mandou que o João rufo me arranjasse uma rede. Jogaram no chão a trouxa que eu trazia e o João rufo disse:

– Tome os seus molambos!Mas falou quase como se fosse uma prosa, uma

brincadeira. Via-se que não estava seguro a meu respeito; no começo me tratou com pouco caso, ar-rogante, mas agora parecia desconfiado. Não sei se engoliu a história do Beato romano; eu não tinha chegado ali com roupa de beato, mas de calça e blu-sa, como um homem qualquer. E a espingardinha velha não era de cabra de respeito, a faca só servia pra picar fumo. Que é que eu vinha fazer para a dona Moura, se não era um guerreiro?

E João rufo chegou a me fazer essas perguntas, enquanto eu atava as cordas da minha rede. Peque-na e ruim, por sinal. Me deram também um prato com pirão de peixe cozido, e um taco de rapadura.

Eu ainda pedi ao homem notícias do meu cavalo.– Se não morrer de tão estropiado que está, vai

engordar solto. ainda tem por aí muita capoeira com pasto.

Na rede, onde eu caí, não devia parecer um ador-mecido, mas um defunto em caminho da cova. Só de ceroulas, sem camisa, o calor tão forte... Que-ria pensar, mas morria de cansado. deus do céu, o que iria pela cabeça da dona? lembrar, ela lem-brou, disso eu tenho certeza... Mas a minha dúvida é outra: que é que ela vai fazer de mim? Não sei se acreditou na minha história e se a aceita. Quem sabe me mata?

ora, se quisesse me matar já tinha feito... Mas, por outro lado, para que ela vai me querer vivo? Que serventia eu posso ter, nesta praça de guerra? Talvez ela ainda mande os cabras me darem um aperto. E pode ser que eu aguente. afinal, mesmo debaixo de confissão, não posso dizer nada que interesse à dona. Nada. Toda a minha tragédia se passou depois que ela foi embora. Na gente com quem eu andei e ando, ela nunca ouviu nem fa-lar. Gente sem poder... sem dinheiro... sem força... deus do céu, creio que, pelo menos por agora, eu já posso dormir.

QUEIroZ, rachel de. Memorial de Maria Moura. São Paulo: Siciliano, 1992. p. 15-16.

Sobre o trecho “(...) que é que ela vai fazer de mim?” (li-nha 33), é correto afirmar que:

a) o primeiro “que” é pronome interrogativo e o segun-do, integrante da expressão expletiva “é que”.

b) o segundo “que” é pronome relativo.c) o primeiro “que” corresponde a “que coisa” e o segun-

do é um pronome interrogativo que aparece no inte-rior do período.

d) o primeiro “que” tem a função de sujeito da oração e o segundo não tem função sintática.

e) nenhum dos “ques” tem função sintática.

18 (Mackenzie-SP, adaptada)

Chicó: Por que essa raiva dela?João Grilo: Ó homem sem-vergonha! Você inda

pergunta? Está esquecido de que ela dei-xou você? Está esquecido da exploração que eles fazem conosco naquela pada-ria do inferno? Pensam que são o Cão só porque enriqueceram, mas um dia hão de me pagar. E a raiva que eu tenho é porque quando estava doente, me aca-bando em cima de uma cama, via passar o prato de comida que ela mandava pr’o cachorro. até carne passada na mantei-ga tinha. Pra mim nada, João Grilo que se danasse. Um dia eu me vingo!

Chicó: João, deixe de ser vingativo que você se desgraça! Qualquer dia você inda se mete numa embrulhada séria!

SUaSSUNa, ariano. Auto da Compadecida. (Fragmento.)

a primeira questão é a origem da ideia de que o tempo é uma espécie de progressão linear medida pelo relógio e pelo calendário. Na civilização mo-derna, esse conceito de tempo domina de tal forma a nossa vida que parece ser uma necessidade inevitável do pensamento. Mas isso está longe de ser verdade. (...) a maioria das civilizações anteriores à nossa,

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nos últimos 200 a 300 anos, tendia a considerar o tempo essencialmente cíclico na natureza. À luz da história, nossa concepção de tempo é tão excepcio-nal quanto a nossa rejeição ao mágico.

Embora nossa ideia de tempo seja uma das caracte-rísticas peculiares do mundo moderno, a importân-cia que damos a ele não é inteiramente desprovida de precedente cultural. Nem tampouco o presente calendário gregoriano – assim chamado em home-nagem ao papa Gregório XIII, que o introduziu em março de 1582 – é o mais preciso de todas as civili-zações. Nosso calendário, por muito sofisticado que seja, não é tão exato quanto aquele criado, há mais de mil anos, pelos sacerdotes maias da américa Cen-tral. o ano gregoriano é um tanto longo demais, e o erro chega a três dias em dez mil anos. a duração do ano dos astrônomos maias pecava por ser um tanto curta demais, mas o erro era de apenas dois dias em dez mil anos.

de todos os povos que conhecemos, os maias eram os mais obcecados pela ideia de tempo. Enquanto na antiguidade europeia considerava-se que os dias da semana eram influenciados pelos principais corpos celestes – Saturn-day, Sun-day, Moon-day (dia de Sa-turno, dia do Sol, dia da lua e assim por diante) –, para os maias cada dia era por si só divino. Todos os monumentos e altares eram erigidos para marcar a passagem do tempo, nenhum glorificava governantes ou conquistadores.

os maias viam as divisões do tempo como cargas transportadas por uma hierarquia de portadores di-vinos que personificavam os números pelos quais os vários períodos – dias, meses, anos, décadas e sécu-los – se distinguiam. apesar dessa constante preo-cupação com os fenômenos temporais e da incrível exatidão de seu calendário, os maias nunca chegaram à ideia de tempo como a jornada de um portador com a sua carga. Seu conceito de tempo era mágico e politeísta. Embora a estrada na qual os portadores divinos caminhassem em revezamento não tivesse começo nem fim, os eventos ocorriam em um círculo representado por períodos recorrentes de serviço a cada deus na sucessão dos portadores.

dias, meses, anos, e assim por diante, eram mem-bros dos grupos que caminhavam em revezamento pela eternidade. a carga de cada deus era o presságio para o intervalo de tempo em questão. Num ano a carga podia ser a seca; no outro, uma boa colheita. Pelo cálculo dos deuses que estariam caminhando juntos em um determinado dia, os sacerdotes podiam determinar a influência combinada de todos os cami-nhantes, e assim prever o destino da humanidade.

a hierarquia dos ciclos de cada divisão de tempo levou os maias a dedicar mais atenção ao passado que ao futuro. Esperava-se que a história se repetisse em ciclos de 260 anos, e que os eventos significativos tendessem a seguir um padrão geral pré-ordenado. Por exemplo, a religião cristã introduzida pelos es-panhóis era identificada com a adoração de um culto alienígena imposto aos maias vários séculos antes. os eventos passados, presentes e futuros mescla-vam-se, na visão global dos maias, porque resulta-vam da mesma carga divina do ciclo de 260 anos.

WhITroW, G. J. O que é o tempo? rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003. p. 15-17. (adaptado.)

a) Para comparar a visão de tempo dos maias à nossa moderna concepção, o autor do texto evoca duas imagens geométricas distintas. Diga quais são elas e, com base no texto, explique por que servem para descrever a diferença fundamental entre as duas ideias de tempo comparadas.

As duas imagens geométricas que o autor evoca

são a linha reta e o círculo. A linha reta descreve

bem a concepção de tempo da civilização moderna,

porque tendemos a percebê-lo como algo que se

desenvolve de modo sequencial e unidirecional.

O círculo, por sua vez, caracteriza bem a visão dos

maias, porque estes pensavam o tempo como algo

que recorre ou retorna periodicamente, num tipo de

movimento que encontra no círculo uma imagem

bastante usual.

b) Retire do texto um período que contrarie a seguinte afirmação: “Nunca houve sociedade que tenha dado ao tempo um lugar tão central como a nossa”.

“Embora nossa ideia de tempo seja uma das

características peculiares do mundo moderno, a

importância que damos a ele não é inteiramente

desprovida de precedente cultural.” ou “De todos

os povos que conhecemos, os maias eram os mais

obcecados pela ideia de tempo.”

c) Forme um único período com as orações abaixo, uti-lizando para isso o pronome relativo “cujo”. Faça as adaptações necessárias. I. Não vemos a relação entre passado, presente e

futuro da mesma forma que os maias. II. O conceito de tempo dos maias era mágico e po-

liteísta.

Não vemos a relação entre passado, presente e

futuro da mesma forma que os maias, cujo

conceito de tempo era mágico e politeísta.

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ESTUDANDO Pronomes indefinidos, interrogativos e relativos

Para o enem

1 6. o que é nascido da carne é carne, e o que é nas-cido do Espírito é espírito.

7. Não te maravilhes de te ter dito: Necessário vos é nascer de novo.

8. o vento assopra onde quer, e ouves a sua voz, mas não sabes de onde vem, nem para onde vai; as-sim é todo aquele que é nascido do Espírito.

(...)16. Porque deus amou o mundo de tal maneira que

deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.

17. Porque deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que condenasse o mundo, mas para que o mun-do fosse salvo por ele.

18. Quem crê nele não é condenado; mas quem não crê já está condenado, porquanto não crê no nome do Unigênito Filho de deus.

19. E a condenação é esta: Que a luz veio ao mun-do, e os homens amaram mais as trevas do que a luz, porque as suas obras eram más.

20. Porque todo aquele que faz o mal aborrece a luz, e não vem para a luz, para que as suas obras não sejam reprovadas.

21. Mas quem pratica a verdade vem para a luz, a fim de que as suas obras sejam manifestas, porque são feitas em deus.

Evangelho segundo São João (cap. 3, v. 16-21). Em: Bíblia sagrada. Tradução João Ferreira de almeida.

rio de Janeiro: Imprensa Bíblica Brasileira, 1995. p. 108.

Sendo um texto amplamente conhecido, o evange-lho traz um discurso de matiz universal e, em excertos como o citado anteriormente, faz uso marcante de pro-nomes indefinidos, como em “Porque todo aquele que faz o mal aborrece a luz, e não vem para a luz, para que as suas obras não sejam reprovadas” (v. 20). Quanto ao emprego da expressão pronominal “todo aquele”, no versículo citado, escolha a alternativa que justifique mais convincentemente seu emprego, adequando-o aos propósitos instrucionais e persuasivos do texto como um todo.

a) A expressão particulariza o receptor do texto, refe-rindo-se, no caso em questão, àqueles ouvintes já predispostos a acatar a mensagem.

b) “Todo aquele” generaliza e universaliza o referente, sem restringi-lo; o apelo do texto ganha, assim, mais alcance e repercussão.

c) O apelo da expressão não repercute particularmente em nenhum receptor, pois o discurso é vago e incoe-rente.

d) O discurso religioso tem seu viés apelativo enfraque-cido pela expressão “todo aquele”, pois esta não defi-ne claramente o receptor da mensagem.

e) A expressão “todo aquele” tem valor enfático, embora as intenções do enunciador não estejam claras.

nÍQuel nÁusea fernando gonsales

2

A tira acima opõe dois personagens: um carrancudo aten-dente e um jovem vestibulando (chamado Benedito Cujo) que pretende efetuar a inscrição para o exame. Nas falas de ambos, é notável não só a oposição visual (maturidade e juventude), mas também a oposição entre a tagarelice do vestibulando e o laconismo do atendente. No último quadrinho, Benedito emprega o pronome “quem” em sua fala. Assinale a alternativa que define corretamente o efeito de sentido provocado pelo uso desse pronome no contexto da tira.

a) O pronome “quem” assume valor interrogativo. Portanto, seria mais correto se a fala de Benedito Cujo se encerrasse com um ponto de interrogação.

b) O atendente é o verdadeiro neurótico, pois nada jus-tifica a agressão contra o rapaz; afinal, este apenas lhe dirigira inofensivas questões, as quais, apesar de inapropriadas, são compreensíveis se atribuídas a um jovem em vias de prestar um concorrido exame.

c) A fala de Benedito Cujo denuncia a existência de um julgamento comum sobre o vestibulando em geral: o de que ele seria “neurótico”. O segundo quadrinho, em que o rapaz interpela o atendente com perguntas prolixas, demonstra com humor a suposta validade do senso comum.

d) Ambos seriam “neuróticos”, pois o vestibulando perde a consciência por conta do nervosismo, e o atenden-te reage de modo violento, por causa da impaciência. Assim, o pronome “quem”, no último quadrinho, faz referência aos dois personagens.

e) O emprego de linguagem informal nas falas de Benedito Cujo (no segundo quadrinho) causa impa-ciência e indignação no atendente; por isso, o jovem (no último quadrinho) lhe atribui a tal neurose erro-neamente creditada aos vestibulandos em geral.

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Page 40: Apostila sobre variação linguísticas

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c) “Todo o Mundo” tem acesso à riqueza e outros bens, ainda que, para isso, seja necessário sacrificar a ho-nestidade de caráter – virtude que a personagem “Ninguém” também demonstra desprezar.

d) Gil Vicente emprega os pronomes indefinidos de ma-neira simultaneamente irônica e moralizante, o que é próprio do teatro clássico, ao qual se filia.

e) A presença dos demônios Dinato e Belzebu (dois no-mes próprios) atenuam a indefinição sugerida pelas formas “Todo o Mundo” e “Ninguém”.

4

Ninguém: Que andas tu aí buscando?

Todo o Mundo: Mil cousas ando a buscar delas não posso achar, porém ando porfiando por quão bom é porfiar.

Ninguém: Como hás nome, cavaleiro?

Todo o Mundo: Eu hei nome Todo o Mundo e meu tempo todo inteiro sempre é buscar dinheiro e sempre nisto me fundo.

Ninguém: Eu hei nome Ninguém, e busco a consciência.

Belzebu: Esta é boa experiência: dinato, escreve isto bem.

Dinato: Que escreverei, companheiro?

Belzebu: Que Ninguém busca consciência. e Todo o Mundo dinheiro.

Ninguém: E agora que buscas lá?

Todo o Mundo: Busco honra muito grande.

Ninguém: E eu virtude, que deus mande que tope com ela já.

Belzebu: outra adição nos acude: escreve logo aí, a fundo, que busca honra Todo o Mundo e Ninguém busca virtude.

Ninguém: Buscas outro mor bem qu’esse?

Todo o Mundo: Busco mais quem me louvasse tudo quanto eu fizesse.

Ninguém: E eu quem me repreendesse em cada cousa que errasse. (...)

Todo o Mundo: Folgo muito d’enganar, e mentir nasceu comigo.

Ninguém: Eu sempre verdade digo sem nunca me desviar.

Belzebu: ora escreve lá, compadre, não sejas tu preguiçoso.

Dinato: Quê?

Belzebu: Que Todo o Mundo é mentiroso, E Ninguém diz a verdade.

VICENTE, Gil. auto da lusitânia. Em: Obras completas. São Paulo: Cultura, 1946. t. 2, p. 471. (Fragmento.)

O texto acima, trecho de um conhecido diálogo do Auto da Lusitânia, originalmente composto em 1531 por Gil Vicente, faz uso dos termos indefinidos “Todo o Mundo” e “Ninguém” para nomear dois personagens. O uso desses termos pronominais, no texto, pode ser justificado pela seguinte assertiva:

a) Os nomes “Todo o Mundo” e “Ninguém” são ale-góricos; representam, respectivamente, a presun-çosa vaidade da maioria absoluta das pessoas e a honesta virtude dos mais simples (comprovando, portanto, que praticamente nenhuma pessoa é virtuosa).

b) “Todo o Mundo” é o nome que demonstra virtude e legitimidade de caráter, enquanto “Ninguém” é deso-nesto e inescrupuloso.

3

Alguém me disse 1 alguém me disse 2 Que tu andas novamente 3 de novo amor, nova paixão 4 Toda contente

5 Conheço bem tuas promessas 6 outras ouvi iguais a essas 7 E esse teu jeito de enganar 8 Conheço bem

9 Pouco me importa10 Que te beijem tantas vezes11 E que tu mudes de paixão12 Todos os meses

13 Se vais beijar, como eu bem sei14 Fazer sonhar, como eu sonhei15 Mas sem ter nunca16 amor igual ao que eu te dei.

GoUVEIa, Evaldo; aMorIM; Jair. alguém me disse. Em: CoSTa, Gal. Plural. BMG, 1990. Faixa 9.

Assinada por Evaldo Gouveia e Jair Amorim, a canção “Alguém me disse” ganhou prestígio na voz de Anisio Silva (1920-1989), cantor e compositor brasileiro que a gravou em 1960. A mesma composição, regravada por Gal Costa em 1988, tornou-se, então, novamente reconhecida. Em sua letra, é recorrente a presença de variados pronomes, como os indefinidos e relativos. Reconhecendo sua importância para a composição e os efeitos de sentido decorrentes de seu emprego, assinale a alternativa que discorra mais adequada-mente sobre o uso expressivo desses pronomes na canção.

a) No verso 4, o termo “toda” tem função exclusivamente pronominal, referindo-se à figura feminina evocada.

b) No verso 6, o emprego do pronome indefinido “ou-tras” demonstra, por parte do eu poético, o conheci-mento da desfaçatez e dos enganos implicados nas “promessas” da mulher.

c) Nos versos 2 e 10, o vocábulo “que” assume, morfo-logicamente, a função de pronome relativo. Em cada verso, refere-se, respectivamente, aos termos antece-dentes “alguém” e “jeito de enganar”.

d) No verso 12, o pronome indefinido “todos” alude à su-posição de que a mulher, caracterizada pelo gosto da infidelidade, entregava-se ao amor de muitos homens.

e) No último verso, o desalento e a melancolia da com-posição – elementos característicos do bolero, gênero musical de tendência popularmente romântica – apa-recem surpreendentemente contidos e ocultos na dis-crição do eu poético, que prefere, modestamente, não comparar seu amor ao de outras pessoas.

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