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1.1 .4.2 Organização do texto Precisa-se de um texto, organizado estrategicamente de dada forma, em decorrência das escolhas feitas pelo produtor entre as diversas possibilidades de formulação que a língua lhe oferece, de tal sorte que ele estabelece limites quanto às leituras possíveis. Atentemos para o seguinte par de frases: Alguns de nós faremos a limpeza da sala. Alguns de nós farão a limpeza da sala. Qualquer um dos enunciados anteriores está correto quanto à norma culta, mas a escolha de um ou de outro dará pistas ao leitor quanto à participação ou não do autor da frase na "limpeza da sala”.

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1.1 .4.2 Organização do texto Precisa-se de um texto, organizado estrategicamente de dada forma, em decorrência das escolhas feitas pelo produtor entre as diversas possibilidades de formulação que a língua lhe oferece, de tal sorte que ele estabelece limites quanto às leituras possíveis. - PowerPoint PPT Presentation

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1.1 .4.2 Organização do texto 

Precisa-se de um texto, organizado estrategicamente de dada  forma, em decorrência das escolhas  feitas pelo produtor entre as diversas possibilidades de formulação que a língua lhe oferece,  de  tal  sorte  que  ele  estabelece  limites  quanto  às leituras possíveis.

Atentemos para o seguinte par de frases: Alguns de nós faremos a limpeza da sala. Alguns de nós farão a limpeza da sala.

Qualquer  um  dos  enunciados  anteriores  está  correto quanto à norma culta, mas a escolha de um ou de outro dará pistas ao leitor quanto à participação ou não do autor da frase na "limpeza da sala”.

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1.1.4.3 leitor/ouvinte 

Precisa-se  de  um  leitor/ouvinte  que,  a  partir  do  modo como  o  texto  se  encontra  lingüisticamente  construído,  das sinalizações  que  lhe  oferece,  bem  como  pela  mobilização  do contexto relevante à interpretação, vai proceder à construção dossentidos. Exemplo:

Às  vésperas  do  Dia  das  Mães,  a  professora  dá  como tarefa de casa o tema de redação: "Mãe só tem uma”.

Na  data  marcada  para  a  entrega  dos  textos,  alguns alunos  fazem a  leitura de suas  redações e entre eles está o Juquinha, que produziu o seguinte texto:

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"Domingo foi visita lá em casa e minha mãe pediu para eu pegar Coca-Cola na cozinha. Quando eu abri a geladeira,

gritei:- Mãe, só tem uma."

 Observe que o uso da vírgula alterou o sentido do texto.

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1.1.5 O que é texto? 

O  texto é um "evento  comunicativo no qual  convergem ações lingüísticas, cognitivas e sociais." (Beaugrande - 1997:10). Trata-se  de  um  evento  dialógico  de  interação  entre  sujeitos sociais  -  contemporâneos  ou  não,  co-presentes  ou  não,  do mesmo grupo social ou não, mas em diálogo constante.

Se  observarmos  os  exemplos  citados  até  agora, perceberemos que, em qualquer texto, o significado das frases (ou dos desenhos e gravuras) não é autônomo. Não se pode isolar  frase  alguma  do  texto  (ou  parte  de  um  desenho)  e tentar  conferir-lhe  o  significado  que  se  deseja,  pois  uma mesma frase pode ter significados distintos dependendo do contexto dentro do qual está inserido.

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Observe o quadro a seguir:

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Guernica,  de  Picasso,  é  uma  denúncia  contra  as  mortes que estavam destruindo a Espanha na terrívelGuerra  Civil  Espanhola  (1936-1939),  e  contra  a  perpétua desumanidade do homem.

A  motivação  imediata  do  quadro  foi  a  destruição  de Guernica, capital da região basca, no dia da feira da cidade, 26 de abril de 1937. Em plena  luz do dia, os avies nazistas, sob as ordens do general Franco, atacaram a cidade  indefesa. De seus 7000 habitantes, 1654 foram mortos e 889 feridos.

Através  das  setas  explicativas  inseridas  no  texto, podemos ver que cada parte deste quadro tem uma explicação e uma interpretação, mas o completo entendimento de cada uma delas  só  é  possível  se  levarmos  em  conta  o  quadro  como  um todo,  ou  seja,  cada  parte  só  tem  sentido  no  todo  e  o  todo  só tem sentido com a soma das partes.

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Observemos a significação de cada parte em relação ao todo:

1) Ausência de coresA pintura severa, monocromática, é adequada ao tema. 

Até hoje o assunto desse mural provoca polêmica na Espanha. Essa  enorme  tela  está  exposta  numa  sala  própria  no  Museu Rainha Sofia, protegida por um imenso vidro à prova de balas. 2) Mãe e filho

Uma criança morta pende dos braços da mãe. Entre as complexas  imagens  cubistas  de  Guernica, esta  pode  ser interpretada  de  imediato.  O  grito  da  mãe  está  representado pela  sua  língua, que  sugere um punhal ou um caco de  vidro. Outros cacos semelhantes aparecem por todo o quadro. 

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3) O touroPicasso  sempre  foi  fascinado  pelas  touradas,  velho 

esporte Espanhol, brutal e espetacular, e as  imagens da arena de touros aparecem com freqüência em seu trabalho. 

Embora  Picasso  afirmasse  que  o  touro  em  Guernica representa  a  brutalidade,  trata-se  de  uma  imagem  ambígua. Parado  e  abanando  a  cauda,  o  touro  não  parece  selvagem. Talvez  Picasso  tivesse  em  mente  o  momento  de  tourada  em que, após um ataque bem-sucedido, o  touro  recua para ver o que fez e prepara seu próximo movimento.

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4) A cabeça cortadaNo  primeiro  plano,  há  uma  figura  fragmentada,  com  a 

cabeça  decepada  à  esquerda  e,  ao  centro,  um  braço  cortado segurando  uma  espada  quebrada.  É  possível  que  Picasso estivesse se referindo à Batalha de San Romano, de Uccello. Este quadro,  que  interpreta  a  guerra  como  um  torneio  cerimonial, contrasta com a poderosa imagem de Picasso, de assassinato em massa.

5) Cavalo em agoniaPicasso,  que  raramente  dava  interpretações  de  seu 

trabalho,  disse  que  o  cavalo  representava  o  povo.  Tal  como  a mãe  à  esquerda,  a  agonia  é  sugerida  pela  língua  pontiaguda como um punhal. Acima da cabeça do cavalo, há uma  lâmpada elétrica que sugere o olho de Deus, que  tudo vê. Até mesmo a luz parece gritar de horror.

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6) Flor simbólicaHá pouco simbolismo explícito no quadro; aqui Picasso não 

seguiu nenhuma linguagem simbólica bem definida. Como em boa parte da arte moderna, o simbolismo é particular e pessoal, e só pode ser decifrado nesta base. Contudo, é difícil não interpretar a única  flor  no  centro  do  quadro  como  um  símbolo  de  esperança, afirmando  que  uma  nova  vida  continuará  a  crescer  apesar  das tentativas do homem de destruí-Ia. A pungente delicadeza da flor intensifica o horror generalizado dessa cena caótica. 7) Uma crucifixão moderna

Duas mulheres olham o cavalo ferido com terror e piedade, sugerindo  certas  semelhanças,  em  conceito  e  emoção,  com  as imagens de Cristo  sofrendo na cruz e a presença das  três Marias nessa  cena.  Talvez  Picasso  estivesse  procurando  uma  imagem moderna,  secular,  para  expressar  o  sofrimento  da  humanidade, mas uma imagem que não tivesse um simbolismo cristão explícito.

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8) Referência a GoyaA  figura  da  direita  ergue  os  braços  como  se  quisesse 

deter as bombas que caem do céu. Mas é  também a pose da figura  central  de  Os fuzilamentos de 3  de maio de 1808, de Goya.  Há  uma  semelhança  entre  os  fatos  que  motivaram  os dois  quadros  -  ambos  foram  atos  de  brutalidade  selvagem contra pessoas inocentes. Picasso decerto tinha consciência de estar seguindo de perto as pegadas de Goya.

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1 .2 Contexto 

As  definições  de  contexto  variam  não  só  no  tempo, como  de  um  autor  para  outro,  mas  podemos  concordar  com alguns autores que afirmam que "a noção de contexto encerra uma justaposição fundamental de duas entidades: um evento focal e um campo de ação dentro do qual o evento se encontra inserido." 

Assim sendo, entende-se por contexto uma unidade lingüística maior onde se encaixa uma unidade  lingüística menor. A palavra encaixa-se na oração, que se encaixa no período,  que  se  encaixa  no  parágrafo,  que  se  encaixa  no capítulo, que se encaixa na obra toda, que...

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Exemplo:

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Esse detalhe de anúncio do  Jornal da Tarde pode  levar o leitor  a  entender  "bode"  como  se  tratando  do  animal.  No entanto,  quando  contextualizado  (veja  o  texto  à  direita), entendemos  que  "bode",  aqui,  significa  chateação, aborrecimento. 

Além dessa noção de contexto, podemos concordar com o lingüista  Hymes,  que  propõe  os  seguintes  pontos  para caracterizar o contexto:· situação: cenário, lugar;· participantes: falante/ autor, ouvinte/ leitor;· finalidade: propósito, resultados;· seqüência de atos: forma de mensagem/ forma de conteúdo;· código: Língua Portuguesa, gravura; · instrumentos: canal/ formas de fala; · normas: de interação/ interpretação; · gênero: texto publicitário.

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Observemos novamente o texto do bode. Situação: uma casa num domingo qualquer. Participantes: uma pessoa qualquer (provavelmente um homem).Finalidade: ler o jornal que está sendo lançado. Seqüência de atos: atividades  corriqueiras  e  aborrecidas  do domingo.Código: Língua Portuguesa escrita e desenho. Instrumento: revista IstoÉ.Normas: conhecimento  do  leitor  sobre  o  que  seja  um  bode (animal)  e  associação  do  animal  às  atividades  aborrecidas  do domingo.Gênero: texto publicitário.

A  propaganda  tenta  persuadir  o  leitor  a  ler  o  jornal  para acabar com o dia ruim. O contexto, portanto, tem estreita relação entre linguagem, cultura, organização social, bem como o estudo de como a linguagem é estruturada.

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1.2.1 A contextualização na fala e na escrita

O sentido de um texto não depende da estrutura textual em si mesma, pois essa estrutura, como um iceberg, apresenta apenas  uma  "pontà'  do  seu  conteúdo,  permanecendo  muita coisa  implícita.  O  produror  do  texto  pressupõe  da  parte  do leitor/  ouvinte  conhecimentos  textuais,  situacionais  e enciclopédicos  e,  por  isso,  omite  informações  consideradas redundantes. A isso damos o nome de Princípio da Economia.

Observe a frase a seguir:"Roberto Jefferson foi cassado por causa do mensalão" .

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Na  atual  conjuntura  política,  o  autor  dessa  frase,  ao emiti-Ia,  supõe  que  seu  interlocutor  saiba  quem  é  Roberto Jefferson,  o  que  significa  a  palavra  "cassado",  por  que  isso ocorreu e o que é mensalão.

O leitor/ouvinte procura sentido no texto lido ou ouvido a  partir  das  informações  dadas,  construindo  uma representação  coerente,  ativando  seu  conhecimento  de mundo, suas deduções (Princípio da continuidade de sentido). Põe  em  funcionamento  todos  os  componentes  e  estratégias cognitivas que possui. Logo, há total interação entre produtor -leitor/ouvinte.

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No momento.. da  interação, o escritor! falante verbaliza somente o que  for necessário à compreensão e que não pode ser deduzido pelo leitor/ouvinte (Princípio da seletividade).

Os  interactantes  desenvolvem  estratégias  (dão  pistas) para  o  processamento  eficaz  do  texto.  Por  exemplo,  numa conversa, levamos em conta as entonações de voz, as pausas, a escolha  do  registro  e  do  léxico,  os  gestos,  as  expressões fisionômicas, as ênfases, etc.

As  pistas  de  contextualização  na  escrita  podem  ser:  os sinais  de  pontuação  de  um  modo  geral  (aspas,  pontos),  os recursos gráficos, como tamanho e tipo de letra, a diagramação, os destaques (itálicos, negritos), etc.Por  exemplo,  nas  HQ,  o  leitor  deve  conhecer  os  recursos gráficos dos desenhos para entender coisas como:

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1.3 Hipertexto  Segundo  a  maioria  dos  autores,  o  hipertexto  é  uma escritura não-seqüencial e não-linear, que se ramifica e permite ao leitor virtual acessar um número ilimitado de outros textos. O hipertexto faz do leitor um co-autor do texto na medida em que  oferece  várias  possibilidades,  caminhos  diversificados, permitindo  diferentes  níveis  de  desenvolvimento  e aprofundamento de um tema. o hipertexto tem sido apontado como  algo  radicalmente  inovador,  mas  a  novidade propriamente  dita  está  na  tecnologia  que  permite  subverter movimentos e redefinir funções. 

Na  verdade,  o  hipertexto  já  está  presente  em  textos acadêmicos,  por  exemplo,  povoados  de  referências,  citações, notas de rodapé ou de final de capítulo. 

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As chamadas para esses itens correspondem aos links.O leitor poderá, por exemplo, ler o texto de maneira contínua e só consultar as notas após essa leitura; consultar apenas as que  mais  lhe  interessarem  ou  mesmo  não  ler  nenhuma. Poderá,  também,  interromper  sua  leitura a  cada  chamada e integrar o conteúdo da nota à leitura que está fazendo. 

Ao encontrar uma  referência, quer no  texto, quer em nota,  poderá  inclusive  suspender  a  leitura  para  consultar  a obra  ali  referendada.  Nesta  nova  obra,  por  sua  vez,  poderá encontrar outras referências, que o  levem a outros textos, e assim  por  diante.  A  diferença  com  relação  ao  hipertexto eletrônico  está  apenas  no  suporte  e  na  forma  e  rapidez  do acessamento.