101103 sentença - felipe mota

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TERMO DE AUDIÊNCIA DE INSTRUÇÃO Reclamação: 0022416-10.2010.8.26.0002 - Procedimento do Juizado Especial Cível Requerente: Advogado: Felipe Mota, RG 18.501.254-1 SSP/SP , CPF 025026828/83, MARIAN CAVALCANTE TAVARES - OAB 286.836/SP Requerido: Preposto(a): Advogado: Sul América Seguro Saúde SA DANIELE CRISTINA CAVALHEIRO DA SILVA – RG. 32.636.556-4 SSP/SP CAROLINA OLIVEIRA BARAUNA - OAB 277.577/SP Data da audiência: 03/11/2010 às 14:40h Em 03 de novembro de 2010, às 14:40 horas, nesta sala de audiência do Juizado Especial Cível de Santo Amaro, sob a presidência da MMª Juíza de Direito Dra. Fabiana Bissolli Scardoeli Alves, nos termos da ação e entre as partes supra qualificadas, iniciou-se a audiência de conciliação, instrução e julgamento. Apregoadas as partes, compareceram conforme acima qualificadas. Pela ré foi juntada preposição. Iniciados os trabalhos, a conciliação restou infrutífera. A seguir, pelo patrono da ré foi oferecida contestação escrita, da qual foi dada ciência ao patrono da autora, que se manifestou nos seguintes termos: "Reitero os termos da inicial". A seguir, pelas partes foi dito que não havia outras provas a serem produzidas, sendo declarada encerrada a instrução. Em seguida, pela MMª Juíza foi proferida a seguinte sentença: “Vistos. Dispensado o relatório, nos termos do artigo 38 da lei 9099/95.A ação é procedente.É incontroverso nos autos que o autor é segurado da ré. De outro lado, o relatório médico a fls. 55 confirma a necessidade de realização pelo autor de radioterapia com técnica IMRT, intensidade modulada. Ocorre, contudo, que a ré sustenta a exclusão contratual, alegando que apenas há cobertura para radioterapia convencional.. Com efeito, analisando-se o artigo 3.1 do contrato entre as partes, item “i”, vê-se que há expressa cobertura para sessões de quimioterapia e radioterapia. Ora, considerando que o contrato em exame submete-se às regras do Código de Defesa do Consumidor, uma vez que se trata de prestação de serviços, a jurisprudência e doutrina mais abalizadas orientam-se no sentido da inversão de ônus da prova, de tal modo que compete à seguradora provar que a segurada, na época em que aderiu ao contrato, não ignorava todos os seus termos (artigo 6 º , VIII, CDC), prova, aliás, da qual não se desincumbiu a ré. Conforme já decidiu o E. Min. Ruy Rosado de Aguiar (Resp 86.095-SP – S.T.J), “o segurado é um leigo, que quase sempre desconhece o real significado dos termos, cláusulas e condições constantes dos formulários que lhe são apresentados. Para reconhecer a sua malícia, seria indispensável a prova de que (1) realmente, fora ele informado e esclarecido de todo o conteúdo do contrato de adesão, e ainda, (2) estivesse de todo ciente das características de sua eventual doença, classificação e efeitos. A exigência de um comportamento de acordo com a boa-fé recai também sobre a empresa que presta a assistência, pois ela tem, mais do que ninguém, condições de conhecer as peculiaridades, as características, a álea do campo de sua atividade empresarial, destinada ao lucro, para o que corre um risco que deve ser calculado antes de se lançar no empreendimento. O que não se lhe pode permitir é que atue indiscriminadamente, quando se trata de receber as prestações, e depois passe a exigir estrito cumprimento do contrato para afastar a sua obrigação de dar cobertura às despesas” (JTJ 184/43-44). Nesse contexto, nota-se que eventual cláusula restritiva de direitos, na medida em que versa acerca da extensão, alcance e abrangência do contrato de seguro, deveria ter sido previamente informada ao consumidor, informação esta que não se tem nos autos. No caso dos autos, como se vê, não há exclusão de cobertura para a radioterapia modulada, e, ao revés, tem-se cobertura para a radioterapia e para o câncer, moléstia de que sofre o autor, de tal sorte que a não cobertura do pedido inicial demonstra-se verdadeiro contrasenso. A propósito, assim decidiu o E. Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo: “PLANO DE SAÚDE - Exclusão de cobertura de radioterapia IMRT, necessária ao tratamento oncológico - Descabimento - Afronta ao objetivo do contrato, que é a preservação da saúde - Presença, ademais, de cláusula genérica de cobertura para tratamento de quimioterapia e de radioterapia, cuja interpretação deve ser favorável ao consumidor - Recurso desprovido” (TJ/SP, Apelação 994080453610, Relator Sebastião Carlos Garcia, 6ª Câmara de Direito Privado, J. 26/08/2010). “APELAÇÃO CÍVEL - Ação cautelar inominada e ação de obrigação de fazer julgadas procedentes. Condenação da apelante ao custeio do tratamento radioterápico do apelado, com o procedimento de radioterapia com intensidade modulada - Alegação do plano de TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO COMARCA DE SÃO PAULO FORO REGIONAL II - SANTO AMARO 1ª VARA DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL Avenida Adolfo Pinheiro nº 1992, 1º andar, Chácara Santo Antônio - CEP 04734-003, Fone: (11) 5686-3119, São Paulo-SP - E-mail: [email protected]

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TERMO DE AUDIÊNCIA DE INSTRUÇÃO

Reclamação: 0022416-10.2010.8.26.0002 - Procedimento do Juizado Especial CívelRequerente:Advogado:

Felipe Mota, RG 18.501.254-1 SSP/SP , CPF 025026828/83,MARIAN CAVALCANTE TAVARES - OAB 286.836/SP

Requerido:Preposto(a):Advogado:

Sul América Seguro Saúde SADANIELE CRISTINA CAVALHEIRO DA SILVA – RG. 32.636.556-4 SSP/SPCAROLINA OLIVEIRA BARAUNA - OAB 277.577/SP

Data da audiência: 03/11/2010 às 14:40h

Em 03 de novembro de 2010, às 14:40 horas, nesta sala de audiência do Juizado Especial Cível de Santo Amaro,sob a presidência da MMª Juíza de Direito Dra. Fabiana Bissolli Scardoeli Alves, nos termos da ação e entre aspartes supra qualificadas, iniciou-se a audiência de conciliação, instrução e julgamento. Apregoadas as partes,compareceram conforme acima qualificadas. Pela ré foi juntada preposição. Iniciados os trabalhos, a conciliaçãorestou infrutífera. A seguir, pelo patrono da ré foi oferecida contestação escrita, da qual foi dada ciência aopatrono da autora, que se manifestou nos seguintes termos: "Reitero os termos da inicial". A seguir, pelas partesfoi dito que não havia outras provas a serem produzidas, sendo declarada encerrada a instrução. Em seguida, pelaMMª Juíza foi proferida a seguinte sentença: “Vistos. Dispensado o relatório, nos termos do artigo 38 da lei9099/95.A ação é procedente.É incontroverso nos autos que o autor é segurado da ré. De outro lado, o relatóriomédico a fls. 55 confirma a necessidade de realização pelo autor de radioterapia com técnica IMRT, intensidademodulada. Ocorre, contudo, que a ré sustenta a exclusão contratual, alegando que apenas há cobertura pararadioterapia convencional.. Com efeito, analisando-se o artigo 3.1 do contrato entre as partes, item “i”, vê-se quehá expressa cobertura para sessões de quimioterapia e radioterapia. Ora, considerando que o contrato em examesubmete-se às regras do Código de Defesa do Consumidor, uma vez que se trata de prestação de serviços, ajurisprudência e doutrina mais abalizadas orientam-se no sentido da inversão de ônus da prova, de tal modo quecompete à seguradora provar que a segurada, na época em que aderiu ao contrato, não ignorava todos os seustermos (artigo 6º, VIII, CDC), prova, aliás, da qual não se desincumbiu a ré. Conforme já decidiu o E. Min. RuyRosado de Aguiar (Resp 86.095-SP – S.T.J), “o segurado é um leigo, que quase sempre desconhece o realsignificado dos termos, cláusulas e condições constantes dos formulários que lhe são apresentados. Parareconhecer a sua malícia, seria indispensável a prova de que (1) realmente, fora ele informado e esclarecido detodo o conteúdo do contrato de adesão, e ainda, (2) estivesse de todo ciente das características de sua eventualdoença, classificação e efeitos. A exigência de um comportamento de acordo com a boa-fé recai também sobre aempresa que presta a assistência, pois ela tem, mais do que ninguém, condições de conhecer as peculiaridades, ascaracterísticas, a álea do campo de sua atividade empresarial, destinada ao lucro, para o que corre um risco quedeve ser calculado antes de se lançar no empreendimento. O que não se lhe pode permitir é que atueindiscriminadamente, quando se trata de receber as prestações, e depois passe a exigir estrito cumprimento docontrato para afastar a sua obrigação de dar cobertura às despesas” (JTJ 184/43-44). Nesse contexto, nota-seque eventual cláusula restritiva de direitos, na medida em que versa acerca da extensão, alcance e abrangência docontrato de seguro, deveria ter sido previamente informada ao consumidor, informação esta que não se tem nosautos. No caso dos autos, como se vê, não há exclusão de cobertura para a radioterapia modulada, e, ao revés,tem-se cobertura para a radioterapia e para o câncer, moléstia de que sofre o autor, de tal sorte que a não coberturado pedido inicial demonstra-se verdadeiro contrasenso. A propósito, assim decidiu o E. Tribunal de Justiça doEstado de São Paulo: “PLANO DE SAÚDE - Exclusão de cobertura de radioterapia IMRT, necessária aotratamento oncológico - Descabimento - Afronta ao objetivo do contrato, que é a preservação da saúde -Presença, ademais, de cláusula genérica de cobertura para tratamento de quimioterapia e de radioterapia, cujainterpretação deve ser favorável ao consumidor - Recurso desprovido” (TJ/SP, Apelação 994080453610, RelatorSebastião Carlos Garcia, 6ª Câmara de Direito Privado, J. 26/08/2010). “APELAÇÃO CÍVEL - Ação cautelarinominada e ação de obrigação de fazer julgadas procedentes. Condenação da apelante ao custeio do tratamentoradioterápico do apelado, com o procedimento de radioterapia com intensidade modulada - Alegação do plano de

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULOCOMARCA DE SÃO PAULOFORO REGIONAL II - SANTO AMARO1ª VARA DO JUIZADO ESPECIAL CÍVELAvenida Adolfo Pinheiro nº 1992, 1º andar, Chácara Santo Antônio - CEP 04734-003, Fone: (11) 5686-3119,São Paulo-SP - E-mail: [email protected]

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saúde de não cobertura - Incidência do CDC ao caso em tela - Cobertura devida por parte da apelante. Ocontrato de consumo do tipo prestação de assistência médica e hospitalar não pode ficar adstrito às regrasnormais dos contratos de natureza civil ou comercial, uma vez que o seu objeto é a vida e a saúde das pessoas,normalmente fragilizadas quando necessitam de atendimento. Dever da contratada de explicitar de maneiraclara, precisa e objetiva todas as restrições possíveis, no momento da contratação e não impor as objeções nomomento em que for acionada a cumprir regras ordinárias de proteção à vida e saúde dos contratantes. Mantidaa decisão de procedência - Recurso improvido” (TJ/SP, Apeçaão 990101828316, Relator James Siano, 5ª Câmarade Direito Privado, J. 15/09/2010). “...Negativa de cobertura dos tratamentos de Radioterapia IMRT eQuimioterapia Temodal - Alegação de que tais tratamentos estão excluídos da cobertura do plano de saúde -Cláusulas abusivas - Art. 51, IV do CDC - Tratamentos necessários para a sobrevivência da autora - Sentençamantida - Recurso desprovido” (TJ/SP, Apelação 994090338460, Relator Rui Cascaldi, 1ª Câmara de DireitoPrivado). Só resta reconhecer-se, portanto, a procedência da ação, com a condenação da ré no custeio das sessõesde radioterapia IMRT indicadas pelo médico do autor. Isto posto e pelo mais que dos autos consta, JULGOPROCEDENTE a ação para o fim de condenar a ré ao custeio das sessões de radioterapia IMRT indicadas pelomédico do autor, tornando definitiva a antecipação de tutela concedida. Não incidem custas ou honoráriosadvocatícios, na forma do art. 55 da Lei n.º 9.099/95, uma vez que não demonstrada a má-fé de qualquer daspartes. O prazo para interposição é de 10 dias. O valor do preparo deverá ser recolhido de acordo com o dispostono art. 4º, da Lei Estadual nº 11.608/03. Na hipótese de recurso, deverá ser recolhido, ainda, o valor do porte deremessa e retorno, que é R$ 20,96 por volume de autos, nos termos do Provimento 833/2004. do CSM (guia dofundo de despesa – código da receita 110-4). Por fim, em razão do art. 52, III, da Lei nº 9099/95, c.c. art. 475-J,“caput”, do Código de Processo Civil, fica o vencido advertido de que o prazo de quinze dias a que alude asegunda norma passará a fluir automaticamente a partir do trânsito em julgado desta sentença, independentementede nova intimação. Publicada em audiência, saem as partes intimadas. Registre-se. Eu, MLD, _____, subscrevi.

Fabiana Bissolli Scardoeli AlvesJuíza de Direito

Felipe Mota: Advogada da parte autora:

Sul América Seguro Saúde SA: Advogada da parte ré:

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULOCOMARCA DE SÃO PAULOFORO REGIONAL II - SANTO AMARO1ª VARA DO JUIZADO ESPECIAL CÍVELAvenida Adolfo Pinheiro nº 1992, 1º andar, Chácara Santo Antônio - CEP 04734-003, Fone: (11) 5686-3119,São Paulo-SP - E-mail: [email protected]