10. o exercício profissional das diversas profissões jurídicas

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10. O exercício profissional das diversas profissões jurídicas. Direito como forma de controle social, DHF e DigPHum, Estado, Separação de Poderes, Judiciário, Ubiquidade, processo RESUMO Trata-se de estudo acerca das principais regras éticas aplicadas às profissões jurídicas, demonstrando-se o valor de cada uma delas de acordo com o fim precípuo de cada operador do direito, e delineando-se ainda o dever de colaboração deontológica entre si, e deles em relação à sociedade, tendo em vista a consecução dos plenos objetivos consentâneos com a perpetuação da justiça. Resumo: Este artigo aborda de modo sucinto questões pertinentes atinentes à moral, ética e ao direito mediante uma abordagem que realça o campo de atuação de cada um destes institutos e destaca as possíveis diferenças e semelhanças existentes. A relevância do estudo se dá pela necessidade de reconhecer uma nova dinâmica em torno dos valores e normas norteadores da conduta humana. De pouco vale o acúmulo de normas em descompasso com a valorização dos preceitos ético-morais. Desta forma, através deste ensaio abordamos a influência do direito natural e dos princípios morais sobre a norma jurídica posta, bem como a interface entre direito e moral, desde uma perspectiva Kelseniana, por uma ciência jurídica pura destituída de qualquer interferência advinda dos princípios morais, até outras vertentes em que a interação entre direito e moral se mostra absolutamente necessária. A boa compreensão da ética, enquanto moralidade positivada, bem como da deontologia jurídica se mostram fundamentais à formação de indivíduos, profissionais do direito, e instituições realmente comprometidas com a busca do bem-comum. 1 – BREVES NOÇÕES ACERCA DA ÉTICA GERAL Liberdade de Profissão e Expressão

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Page 1: 10. O Exercício Profissional Das Diversas Profissões Jurídicas

10. O exercício profissional das diversas profissões jurídicas.

Direito como forma de controle social, DHF e DigPHum, Estado, Separação de Poderes, Judiciário, Ubiquidade, processo

RESUMO

Trata-se de estudo acerca das principais regras éticas aplicadas às profissões jurídicas, demonstrando-se o valor de cada uma delas de acordo com o fim precípuo de cada operador do direito, e delineando-se ainda o dever de colaboração deontológica entre si, e deles em relação à sociedade, tendo em vista a consecução dos plenos objetivos consentâneos com a perpetuação da justiça.

Resumo: Este artigo aborda de modo sucinto questões pertinentes atinentes à moral, ética e ao direito mediante uma abordagem que realça o campo de atuação de cada um destes institutos e destaca as possíveis diferenças e semelhanças existentes. A relevância do estudo se dá pela necessidade de reconhecer uma nova dinâmica em torno dos valores e normas norteadores da conduta humana. De pouco vale o acúmulo de normas em descompasso com a valorização dos preceitos ético-morais. Desta forma, através deste ensaio abordamos a influência do direito natural e dos princípios morais sobre a norma jurídica posta, bem como a interface entre direito e moral, desde uma perspectiva Kelseniana, por uma ciência jurídica pura destituída de qualquer interferência advinda dos princípios morais, até outras vertentes em que a interação entre direito e moral se mostra absolutamente necessária. A boa compreensão da ética, enquanto moralidade positivada, bem como da deontologia jurídica se mostram fundamentais à formação de indivíduos, profissionais do direito, e instituições realmente comprometidas com a busca do bem-comum.

1 – BREVES NOÇÕES ACERCA DA ÉTICA GERAL

Liberdade de Profissão e Expressão

Inicialmente buscaremos estabelecer conceitos, características, diferenças e semelhanças entre moral, ética e direito para só após isto procedermos uma análise sobre o exercício de algumas profissões jurídicas no Brasil.

A vida em sociedade seria insuportável se destituída de um mínimo de respeito, bom senso e solidariedade no trato das pessoas umas com as outras, deste modo é que se torna imprescindível impor ao ser humano um rol de normas morais e jurídicas capazes de fazer com que ao menos as pessoas se tolerem e se respeitem mutuamente.

A corrupção é abominável e opera em desfavor das virtudes e valores de qualquer sociedade, deste modo a intolerância, o desprezo aos valores e o desrespeito às pessoas e instituições têm uma relação muito próxima com a questão ético-moral e com o direito.

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É fundamental que se assegure o respeito a uma estrutura moral básica, posto que em sua essência além de ser um ser social o Homem também é um ser moral, e neste desiderato a ética e o direito assumem grande relevância.

Neste sentido percebe-se que o próprio direito assimilou o princípio da moralidade, sobretudo no que se refere à regência dos interesses públicos, vide Art. 37 da Constituição da República de 1988, onde a moralidade consta como um dos princípios da administração pública brasileira.

Na ordem privada a boa fé nas relações negociais também reflete a relevância do emprego da moral para segurança jurídica dos contratos. Desta forma, a moral não interessa apenas à disciplina da ordem pública, no que também é fundamental à boa dinâmica das relações privadas.

A enumeração cogente de axiomas e disciplinas sancionatórias por parte dos conselhos profissionais nunca se fez tão necessária quanto em tempos hodiernos, tamanho o descaso com que alguns profissionais atuam diante de situações de incomensurável importância à sociedade.

Em realidade, direito e moral se relacionam e disto decorre que o direito passa a ter conteúdo moral, e a moral passa a revestir-se de roupagem jurídica, todavia tanto a moral como o direito guardam um espaço de independência.

Na construção de sua teoria pura do direito Hans Kelsen tenciona resguardar o direito contra qualquer possível interferência advinda das demais ciências humanas ou de qualquer parte do conhecimento.

Nesta perspectiva a tão necessária interação entre direito e moral exposta nos ordenamentos jurídicos modernos estaria de todo comprometida se construída a partir do pensamento Kelseniano.

Interessante é que a proposição de Kelsen não subtrai do direito a possibilidade de equipar-se com princípios morais, com efeito, o que o referido jurista destacava era que em essência a moral não alicerça o direito, posto que a ciência jurídica teria seu fundamento construído a partir de seus próprios princípios.

Ora, isso significa que a validade de uma ordem jurídica positiva é independentemente da sua concordância ou discordância com qualquer sistema moral (KELSEN, 1998)

As regras jurídicas constituem o núcleo das regras morais; poderá também ocorrer que as regras morais constituem o núcleo do direito que compreende muitas normas moralmente indiferentes - moral como mínimo jurídico; noutra perspectiva as regras jurídicas são aparentadas com as morais, sendo impossível criar e interpretar o direito sem levar em consideração a moral; outra possibilidade se dá quando entre ambos os ordenamentos há plena e absoluta separação em dimensão Kelseniana. (DIMOULIS, 2003)

A natureza coercitiva do direito na concepção de Kelsen é um elemento diferenciador que impede a moral de assemelhar-se à ciência jurídica. A compreensão do direito a partir de seus próprios fundamentos remete a moral a uma dimensão cujas

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conseqüências nada têm a ver com o direito, como já ficou realçado quando tratamos da questão da coerção do ponto de vista moral e sob a ótica jurídica.

Deste modo, o comportamento humano estaria limitado ora pelo ônus ora pelo bônus, tanto na órbita jurídica quanto na dimensão moral, o modo de punir a conduta inadequada é o que faz a diferença.

O campo de atuação da moral é mais amplo que o do direito; o direito possui coercibilidade, a moral é incoercível. Enquanto a moral busca a recusa à conduta malévola pela prática do bem, o direito propõe a busca da justiça. A moral enfatiza as questões internas da alma humana, o direito exige a manifestação do fato social. A moral é unilateral, o direito bilateral. (MONTEIRO, 2004)

A postura ética se direciona na busca do melhor, do justo, segue as orientações do escolhido e assume os riscos do caminho a ser trilhado. É uma escolha independente e livre, que precisa ser investigada e fundamentada, com a intenção de se optar por aquilo que melhor se adapte ao cotidiano real.

                                      As mais diversas correntes éticas sempre chegam ao mesmo ponto: deve ser eleito o que é melhor dentro de um senso comum, sendo essa uma necessidade humana a de encontrar o que é o certo, do ponto de vista ético. Mas o que é melhor para algumas doutrinas éticas pode não ser para outras, pois existem variantes de valoração e tendências. A ética não pode ser enquadrada numa teoria homogênea, porque na prática ela depende de muitos fatores e se molda ao indivíduo de acordo com seus valores, conceitos, crença e experiência.

                          A ética estuda a ação moral e suas transações dentro do contexto social, o conjunto de regras definidas como moral dentro de um determinado contexto no comportamento humano (levando sempre em conta a história), socialmente aceitável.

                                     Segundo Bittar, como a ética está diretamente ligada ao comportamento e às escolhas humanas, pode-se dizer que ela foi profundamente influenciada e reconstruída ao longo dessas revoluções, isso se aplica tanto a especulação ética, entendida como o “estudo dos padrões de comportamento, das formas de comportamento, das modalidades de ação ética, dos possíveis valores em jogo para a escolha ética”, quanto à prática ética, definida como “a conjunção de atitudes permanentes de vida, em que se construam, interior e exteriormente, atitudes gerenciadas pela razão e administradas perante os sentidos e os apetites”.

Analisando-se, prima facie, a concepção geral de ética, deparamo-nos com um conceito que, tal qual a essência humana, se baseia indubitavelmente com as condutas sociais escolhidas livremente pelo homem. Em se tratando de tais comportamentos, a ética se conceitua como sendo a ciência que estuda o comportamento moral dos homens em sociedade (José Renato Nalini).

Seu maior objetivo se concentra no estudo da busca pela essência de seu ser, que, através de condutas, passa a colaborar com a sociedade, demonstrando ser, assim, congenitamente gregório. Além disso, busca modelos dessas condutas que se encaixem

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nos moldes convenientes previamente estabelecidos pela sociedade, que lhes invoca valores, em virtude da concepção das pessoas do que é bom e/ou justo.

Assim como o direito, a ética também é parte do conhecimento científico e deste modo também possui metodologia, objeto de estudo e princípios próprios atuando em qualquer parte, sem limitação geográfica, donde exsurge sua validade universal.

A moral não tem preocupação ou compromisso com a norma, a ética e o direito sim. A ética é normativa, é utilitária, pragmática, e objetiva. O direito do mesmo modo se manifesta em regra através de normas escritas ou consuetudinárias em execeção.

Entendemos que a fundação da ética se dá pela externalização da moral, com isto queremos dizer que o aspecto da moral ligado tão somente às questões de foro íntimo perpetrados pela mente humana, sem repercussão no mundo fático, não interessam de todo à ética, desta forma entendemos que a moral é bem mais ampla e complexa que a ética.

A teoria tridimensional do direito do saudoso Prof. Miguel Reale expõe o direito mediante três espectros, a saber: fato, valor e norma, note-se que entre o fato jurídico e a produção da norma está a valoração, que nada mais é que o componente moral da ciência jurídica.

A ética é a ciência dos deveres, e sua matéria prima é a moral, sendo utilitária, pragmática, teórica, normativa, objetiva e por certo cientifica também, tendo por objeto de estudo, como já realçado, a moral.

A teoria do “mínimo ético” de Jellinek consiste em dizer que o direito representa apenas o mínimo de moral declarado obrigatório para que a sociedade possa sobreviver. Como nem todos podem ou querem realizar de maneira espontânea as obrigações morais, é indispensável armar de força certos preceitos éticos, para que a sociedade não soçobre. A moral, em regra, dizem os adeptos dessa doutrina, é cumprida de maneira espontânea, mas como as violações são inevitáveis, é indispensável que se impeça, com mais vigor e rigor, a transgressão dos dispositivos que a comunidade considerar indispensável à paz social. (REALE, 1993)

Diante disto, pode-se afirmar para assegurar a harmonia funcional à sociedade e ao Estado faz-se necessário que os cidadãos e as instituições tenham como alvo a prática de um comportamento moral mediano, intermediário entre a virtude e o vício, portanto não se busca o homem moralmente perfeito, o que se pretende como ideal é o homem mediano do ponto de vista moral (Emanoel Maciel da Silva).

Ao vislumbrarmos a moral sob uma ótica absoluta e outra relativa, temos que a moral absoluta é universal, imutável, manifesta pelos valores comuns a todos os povos, enquanto a moral relativa é local, é característica de cada região, povo ou sociedade, se ocupando das questões locais no que se refere à cultura, costume, tradição e a religião de cada sociedade, admitindo nuances de variação de acordo com a vivência e experiência de cada povo, constata-se assim que a moral relativa é variável.

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Muitas são as teorias sobre as relações entre o Direito e a Moral, mas é possível limitar-nos a alguns pontos de referência essenciais, inclusive pelo papel que desempenharam no processo histórico. (REALE, 1993)

A moral é mais ampla que o direito, todavia como já asseveramos nem todo conteúdo jurídico é necessariamente moral.

O direito absorve a perspectiva externa referente ao fenômeno moral e é bem verdade que questões eminentemente internas também poderão interessar ao direito penal e mesmo ao direito civil, no que tange, por exemplo, à caracterização do elemento culpa.

Entretanto, não podemos ter em conta a afirmativa de que o direito não se interessa pelo elemento interno das condutas humanas, como conclusão definitiva, visto que o direito também leva em conta, para aplicação de suas normas, o ponto de vista interno do atuar humano, como, por exemplo, se verifica, facilmente, nos conceitos de dolo, erro, simulação, fraude etc. (Leoni de Oliveira)

A moral não se restringe às fronteiras e limites do chamado codicismo, quando se tenciona codificar a moral, esta acabará por assumir caráter científico dando lugar à ética, entretanto, não se pode olvidar de que tudo que é ético é essencialmente moral, sendo a moral anterior ao próprio direito natural, haja vista que ela subsiste a Crusoé, enquanto que a seu turno o direito necessita do fenômeno social para desencadear-se.

Entendemos que o direito positivo é um reflexo do direito natural. É certo ainda que o direito positivo é a base do chamado codicismo, onde o que interessa é o que está posto, o que está colocado na norma jurídica.

Direito natural e direito positivo compõem e habitam um único corpo apesar de serem diferentes membros na composição da ciência jurídica (Emanoel Maciel da silva).

Para o positivismo jurídico prevalece o direito enquanto norma jurídica estatal, enquanto para o direito natural o que prevalece é o direito advindo não do Estado, mas, da sociedade, numa compreensão segundo a qual o direito já existia antes mesmo da criação do Estado.

É preciso reconhecer que a atuação do Estado tem sido valiosa na produção e validação da norma que regerá a sociedade e o as próprias instituições estatais.

Como água e óleo, o positivismo jurídico desconsidera a importância do direito natural, e o jusnaturalismo também tenta desqualificar o direito positivo, todavia é inútil posicionar-se em favor de uma ou de outra teoria, sem se considerar ambas as teorias como parte de uma única engrenagem, e isto ocorre pelo fato do direito natural estar na base do próprio direito positivo, haja vista que a norma jurídica é edificada sobre fundamento principiológico.

Sobre o a Escola do Direito Natural Rizato Nunes que era primeiramente, uma escola racionalista com longa tradição, desde os filósofos gregos, passando pelos escolásticos, na Idade Média, pelos racionalistas dos Séculos XVII e XVIII indo até as concepções modernas Stammler e Del Vechio ( começo do Séc. XX). (NUNES, 2007)

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O direito natural é essencialmente distinto do direito positivo, precisamente porque se afirma como princípio deontológico, indicando aquilo que deve ser, mesmo que não seja. (VECCHIO, 1979)

Deste modo, vislumbramos a influência do positivismo sobre a ética, posto que a ética manifesta-se mediante preceitos normativos de cunho moral.

O positivismo incide sobre o direito, codificando-o, facilitando a sistematização normativa, tendo ainda incidido sobre a ética, no sentido de também positivá-la, cujos resultados são observados pela existência de códigos de postura em diversos segmentos profissionais.

Como já destacado, a moral é mais ampla que o direito porque em algumas circunstâncias certos desvios de conduta que escapam ao direito não fogem à moral, e citamos para ilustrar isto, o clássico exemplo do incesto, que do ponto de vista jurídico, no ordenamento pátrio, não representa nenhuma ilegalidade, todavia não escapa ao rigor moral.

Tomando por base a gênese humana quando do surgimento do primeiro humano, nesta perspectiva ainda não se podia falar da existência de sociedade, posto ainda inexistir pluralidade humana, assim sendo, por esta hipótese é certo que não se podia falar ainda em direito natural muito menos em direito positivo, apesar disto a moral já se encontrava presente antes mesmo da fundação da primeira sociedade humana, posto que mesmo sozinho o ser humano tinha, tem e terá consciência dos deveres morais para com a sua própria existência.

Assim sendo, não haverá direito natural ou direito positivo diante de uma hipótese em que o ser humano esteja sozinho destituído da convivência de outras pessoas, apesar disto, mesmo no gênesis ou no apocalipse, o primeiro ou o último homem estará sob regência da moral.

Logo, a moral é anterior e também poderá ser posterior ao direito, afirmamos assim porque em verdade já existia moral antes do surgimento do direito e não é impossível que ela continue a existir mesmo após o fim do direito, ainda que por breve tempo, neste caso o fim da moral coincidiria com a extinção do próprio ser humano.

Nesta esteira, o positivismo jurídico influenciou o direito no sentido de normatizá-lo, o que vale é o direito enquanto norma e produzido pelo Estado, desconsiderando-se como jurídico tudo o que não se amolde a tal máxima.

No que se refere ao positivismo sua atenção se converge apenas para o ser do direito, para a lei, independentemente de seu conteúdo. Identificando o direito com a lei, o positivismo é uma porta aberta aos regimes totalitários, seja na fórmula comunista, fascista ou nazista. (NADER, 2007)

Entendemos que é razoável afirmar que a influência do positivismo sobre a moral faz nascer a ética, posto que esta nada mais é que a exteriorização da moral através de normas.

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Assim como a moral, a ética também poderá operar mediante interface com o direito, posto que existe influência da moral sobre o direito e isto notadamente também se reflete sobre a ética.

Podemos assim nos referir à moral como bem próxima ao direito natural, enquanto a ética estaria bem mais ligada ao direito positivo, assim sendo, é fácil concluir que moral positivada nada mais é do que ética.

1.1 – DA ÉTICA PROFISSIONAL:

A ética profissional viria a ser, o estudo das normas de conduta aplicadas ao exercício da profissão, fazendo com que o homem, através de seus preceitos, entenda o que seja bom ou como fazer o bem nas suas relações concernentes ao trabalho que vem desempenhando.

Toda e qualquer profissão deve ser embasada por princípios éticos de atuação que se estabelecem de acordo com a especificidade de cada atividade. Nas profissões jurídicas estes princípios éticos possuem uma alta vinculação normativa por envolver questões de relevante interesse social, devendo o operador do direito atuar em conformidade com a realidade social que o cerca, preocupando-se não somente com o aspecto formal e estrutural da norma, mas principalmente com a sua aplicabilidade prática, fazendo com que os fins a que se propõe o Direito sejam alcançados, qual seja a justiça.

Para reforçar a cooperação estabelecida entre moral e direito na construção das ordens jurídicas nacionais, vamos a partir deste ponto por em destaque a atuação da moral sobre os diversos ramos do ordenamento jurídico brasileiro, para também deixar consignado que a busca da justiça passa pela transformação moral do direito, e isto é uma exigência do ser moral que habita cada um de nós.

Como tantos outros setores da ciência jurídica, o direito constitucional se deixa influenciar por questões morais referentes, por exemplo, à dignidade da pessoa humana, cidadania, igualdade, erradicação de preconceitos, extinção de desigualdades sociais, promoção da justiça social, dentre outros assuntos.

Impende destacar a atuação do fenômeno moral sobre o direito penal, sobretudo no que tange aos costumes, com a tipificação dos chamados crimes contra os costumes, como o estupro, o atentado violento ao pudor, rapto, e sedução, etc. Aliás, o crime é antes de tudo um equívoco moral. Além do que toda a discussão que envolve o elemento culpa tem sua origem no campo moral, mas especificamente na parte da moral que cuida das questões volitivas.

No direito civil a moral se manifesta pelo principio da boa-fé, e também pelos deveres decorrentes do parentesco, donde se depreende que os pais têm o dever de amparar os filhos, e na velhice os filhos têm o dever de amparar seus pais, pode-se mencionar ainda o dever de fidelidade conjugal.

No plano do direito adjetivo, tem-se que o processo é um instrumento para realização da justiça, o que representa uma evolução no sentindo de fazer com que o direito seja aplicado com razoabilidade, não mais em consagração à retaliação decorrente da

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vingança privada, tão presente nas primeiras sociedades. O processo é uma forma civilizada de se estabelecer o direito, um modo racional em que as partes têm a chance de oportunizar suas versões acerca do mesmo fato. Assim sendo, a aplicação do direito destituída do processo, pautada apenas em critérios subjetivos ao sabor do julgador, como ocorria em tempos de absolutismo, poderia revelar a assunção de preconceito, perseguição, inveja, disputas, etc., e acabar por produzir absurdas injustiças. Então, a influência da moral sobre o direito processual ocorre no sentido de fazê-lo civilizado sem a necessidade da aplicação da lei do mais forte, sem a manutenção da retaliatio, agora o direito se estabelece através de um processo pacífico, ordeiro, diferentemente do que ocorria nos primórdios. Nesta perspectiva, a moral se estabelece aqui muito mais pelos fins do que propriamente pelos meios.

As profissões jurídicas são aquelas desempenhadas por bacharéis em direito, dentre os tais ofícios jurídicos estão a advocacia e a magistratura.

Os desvios de conduta profissional nesta área, tendem a ser extremamente maléficos e cooperam para o descrédito das instituições e do próprio Estado.

A frouxidão moral no exercício da advocacia tornou-se tão corriqueira a ponto desta carreira ter perdido boa parte do enorme prestígio que ostentava no passado.

Com efeito, até bem pouco tempo o ingresso nos quadros da Ordem dos Advogados do Brasil se dava sem a necessidade de realização do exame de ordem, isto evidentemente cooperou para a desqualificação profissional dos membros desta honrada instituição, fundamental à manutenção do estado democrático de direito.

Quando se questiona sobre a necessidade da exigência de tal exame para o exercício da milenar profissão jurídica face às possíveis incompatibilidades com o texto constitucional, é que se deve trazer à superfície a urgente necessidade de selecionar adequadamente os novos causídicos, não apenas mediante critérios intelectuais, como também exigindo-lhes reputação ilibada devidamente comprovada, tal rigor se justifica pelo fato da advocacia ser considerada um múnus publico.

Aliás, no que se refere à adequação do exame de ordem à CF/88 entendemos haver total compatibilidade entre a determinação contida no Estatuto da Advocacia face ao disposto na CF/88.

Aliás, com base no Art. 5º, XIII tem-se que a Lei Maior remete ao legislador infralegal a atribuição de disciplinar o exercício de determinados ofícios, como bem faz o Estatuto da Advocacia.

A propósito em praticamente todas as democracias ocidentais o citado exame de ordem é uma exigência ao exercício da advocacia, e seria um desfavor à sociedade brasileira o legislador pátrio eliminar tal requisito.

As profissões têm suas regras, e cada vez mais uma tendência, que cada profissão elabore o seu código de ética, diante disto torna-se relevante falar sobre ética profissional aplicada às profissões jurídicas, ou seja, deontologia jurídica.

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Bem, passemos agora a tratar da deontologia profissional que é composta por regras e princípios éticos disciplinadores do comportamento humano no que se refere ao exercício de uma determinada profissão.

Com efeito, a deontologia não deve ser confundida com regras de etiqueta ou boa educação ainda que aplicadas ao ambiente de trabalho.

A deontologia é a teoria dos deveres. Deontologia profissional se chama o complexo de princípios e regras que disciplinam particulares comportamentos do integrante de determinada profissão. Deontologia forense designa o conjunto de normas éticas e comportamentais a serem observadas pelo profissional jurídico. (NALINI, 2001)

A ética profissional é sinônimo de deontologia profissional, de modo que a atuação profissional deve ser pautada por valores morais garantidores das boas relações laborais.

Na adequação da deontologia profissional às profissões jurídicas tem-se a  deontologia jurídica formada por um conjunto de regras éticas que regem o exercício das atividades jurídicas.

A deontologia jurídica há de compreender e sistematizar, inspirada em uma ética profissional, o status dos distintos profissionais e seus deveres específicos que dimanam das disposições legais e das regulações deontológicas, aplicadas à luz dos critérios e valores previamente decantados pela ética profissional. Por isso, há que distinguir os princípios deontológicos de caráter universal (probidade, desinteresse, decoro) e os que resultam vinculados a cada profissão jurídica em particular: a independência e imparcialidade do juiz, a liberdade no exercício profissional da advocacia, a promoção da justiça e a legalidade cujo desenvolvimento corresponde ao Ministério Público, etc. (LÓPEZ, 1995)

Deste modo, a deontologia jurídica prega o agir com base nos ditames da ética enquanto ciência e com fundamento nas diretrizes oriundas da própria consciência, esse é seu o lema, ação pautada na ciência e na consciência. Deste modo é que o profissional do direito além de se preocupar em cumprir as obrigações profissionais sob o ponto de vista da melhor técnica, também deve nortear seus atos em conduta eticamente adequada.

No caso da advocacia a atuação deve pautar-se tanto no Estatuto da Advocacia (Lei Federal nº 8.906/94) quanto no Código de Ética que rege a citada atividade jurídica.

A obediência ao Estatuto da Advocacia faz com que o advogado haja conforme os ditames da ciência jurídica, enquanto a preocupação moral pautada no código de ética (manifesta pela adoção do melhor padrão de conduta moral na tomada de decisões no dia-a-dia, no trato com os clientes, com os pares e com os demais operadores do direito) faz com que o advogado, atue em cumprimento da ética profissional.

Com efeito, o advogado não é um autômato, assim como os demais operadores do direito também não o são, desta forma, a obediência aos ditames éticos não deve ser feita a esmo, sem a devida reflexão acerca da importância de todos os atos profissionais praticados. Assim é que a obediência aos princípios que regem as profissões jurídicas tenderão a cooperar na produção do bem comum.

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Vamos a partir deste ponto citar alguns valores que cooperam para o ambiente ético que deve prevalecer no exercício das profissões jurídicas em nosso país.

O decoro é o comportamento zeloso do ponto de vista moral no âmbito da atividade profissional. O decoro profissional é exigido no ambiente de trabalho, durante a atividade laboral.

A urbanidade prima pela civilidade nas relações de cunho profissional exigindo-se que a cortesia, a polidez sejam constantes no dia a dia dos profissionais em nome do equilíbrio e da paz e da ordem no local de trabalho.

A diligência exige do profissional forense o devido zelo e esmero no desempenho da atividade profissional manifestando-se através de senso de responsabilidade, eficiência, assiduidade, pontualidade etc.

A reserva se oportuniza pela discrição no trato de assuntos relevantes na esfera profissional. (segredos de justiça – algumas questões de direito de família, menores, estupro). Visa proteger a integridade moral das pessoas. (traição, adultério). Discrição no trato do segredo alheio.

A lealdade se manifesta pela boa fé, honestidade, solidariedade e o exercício da verdade, doa a quem doer, com o ânimo de não enganar os inimigos ou mesmo os amigos.

Bem, existem tantos outros princípios que poderiam ser citados, entretanto o que importa acima de tudo é a consulta constante que cada operador do direito deve fazer ao homem interior que habita em cada um, no sentido de sempre buscar para sua vida profissional aquela conduta mais adequada à produção do bem.

Com efeito, a produção de códigos de ética para a advocacia e para a magistratura é fundamental, todavia isto não basta, há que haver uma preocupação com a efetiva punição dos desvios de conduta com a superação do corporativismo diante dos delitos gravosos que exigem em vez de proteção aos infratores uma atuação rigorosa em nome de uma satisfação à sociedade.

A punição exemplar aplicada aos infratores das normas éticas e jurídicas servirá também como desestímulo às mesmas práticas aos demais operadores do direito.

Neste diapasão, o componente ético-moral torna-se imprescindível para o bom exercício da advocacia e das demais profissões jurídicas.

Assim sendo, uma conduta eticamente ajustada é o mínimo que se espera de um advogado. Já está mais do que na hora de se operar o resgate do prestígio da advocacia, faz-se necessário superar a noção que já se arraigou no seio da sociedade de que todo advogado é um ladrão.

Em verdade, a conduta antiética de alguns causídicos tem feito um estrago enorme para a imagem da classe, com prejuízos a tantos outros profissionais que se esforçam para exercer a profissão com dignidade.

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Diante disto, é que não se pode mais aceitar uma postura de tolerância com relação aos maus advogados, mas do que nunca é preciso puni-los adequadamente e quando for o caso, retirar-lhes o direito de exercer a profissão, evidentemente esgotados o direito de ampla defesa e contraditório. Agir com benevolência nestes casos é praticar suicídio profissional coletivo.

A propósito a péssima imagem que a sociedade nutre dos advogados opera em desfavor da cidadania e da democracia, visto que uma parcela considerável da sociedade prefere amargar a injustiça, pelo receio de procurar seus direitos e se deparar com um causídico aproveitador disposto a fazer de tudo para arrancar até o último centavo de seus clientes, e exemplos assim não faltam.

Coopera também para tal descrédito a infindável espera pela manifestação do Poder Judiciário cuja fama quanto à celeridade processual também não é lá das melhores. A exclusão jurídica é uma realidade e uma dentre suas causas é a falta de confiança de parte da sociedade nos advogados e na justiça brasleira, e não estamos a falar apenas dos advogados privados, incluímos ai também os defensores públicos.

2 – A ÉTICA E O ADVOGADO

Constituição parte que trata das profissões jurídicas.

Constituição

         Óbvio que em qualquer profissão devem ser respeitados princípios éticos, mormente aquela através da qual a vida emocional e patrimonial de outras pessoas está em discussão, caso da advocacia, tão importante nas civilizações modernas justamente em virtude de promover a justiça e a democracia, por meio da consecução da dignidade da pessoa humana e, pois, do exercício dos DHF.

A própria Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), de modo a viabilizar disposições éticas em um quadro normativo e a padronizar regras deontológicas fundamentais, elaborou o Código de Ética e Disciplina da OAB, verdadeira síntese dos deveres éticos de tais profissionais, que, de acordo com o artigo 133 da Constituição Federal, são essenciais à administração da justiça.

Com base no acima exposto evidente é a afirmação que o exercício da advocacia é dotado de inúmeras prerrogativas e deveres, exatamente por isso deve ser desenvolvida de forma responsável, proba, honesta, enfim condizente com o ético, mormente por constituir o advogado, quase sempre, a última esperança de seu cliente, que na maioria das vezes já tentou diversos modos para resolução de seu problema e se vê desamparado, acreditando fielmente que seu procurador poderá defender seu direito e promovendo-lhe a justiça. Tal pensamento é deveras magnânimo, pois impede que o advogado se desapegue do patrocínio, colocando-se de modo fictício no lugar de seu cliente, impedindo-o de cair no desinteresse.

O artigo 2º, parágrafo único, do Código de Ética e Disciplina da OAB preceitua uma série de condutas que devem ser observadas pelo advogado quando do exercício de sua profissão.

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Sucintamente, o advogado em suas relações com o cliente uma relação de lealdade, devendo ser fiel a defesa do direito dele, desde que nos termos da ética e justiça, também aconselhando-o a não ingressar em aventura judiciais, restando claro ser sua atividade de meio e não resultado.

Quanto ao sigilo profissional, é defeso ao advogado exteriorizar, seja por depoimento testemunhal ou ainda através da imprensa, segredos de que sabe em razão da profissão. E tal vedação revela sabedoria, eis que o advogado conhecerá das mais íntimas e preciosas informações relacionadas com a honra e imagem de seu cliente. Só não se valerá do segredo quando estiver diante de grave ameaça ao seu direito à vida ou honra, ou ainda quando deparado com afronta do próprio cliente.

A violação do segredo profissional constitui crime, com pena que pode chegar a um ano de detenção, além de ensejar anulabilidade de atos processuais, fato que coloca o advogado, sob as penas da lei, ao seu estrito cumprimento.

Por fim, saliente-se que quanto ao exercício da advocacia desempenha a OAB um papel crucial, instituindo normas e fiscalizando seu cumprimento, podendo mesmo punir os infratores com advertência, suspensão, ou mesmo cassação de registro.

A advocacia é a confiança que se entrega a uma consciência. Confiança que é entregue pelo cliente ao advogado e sem a qual não poderá atuar. Tal consciência deve estar amparada nas normas éticas a que está interligada. É imprescindível que todo advogado tenha consciência da importância que a ética desempenha em sua profissão.

O advogado, de acordo com sua função, realiza atos para terceiros, não podendo exercer tal atividade sem uma função moral digna, embasada em conceitos estabelecidos pela sociedade como conduta correta para a harmonia social. Assim, o advogado ético é aquele que observa, no exercício da sua profissão, respaldado pelo seu código de ética, uma série de princípios morais que resulte em uma maneira de ser íntegra e honrada.

  A ética é uma das maiores aliadas do advogado, pois o protege e guia no caminho da moral e da dignidade profissional, indissociável do exercício do Direito, não tendo o simples objetivo de respeitar o código, mas sim como uma posição de sua consciência  voltada para a humanidade, que faria da advocacia uma profissão digna no mundo todo.

3 – A ÉTICA DOS MEMBROS DO MINISTÉRIO PÚBLICO

Constituição, discorrer acerca das funções do MP

Não seria menos importante estabelecer aos membros do Ministério Público do Brasil, sejam em âmbito da União ou nos limites de cada Estado Federado ou Distrito Federal, condutas condizentes com a ética voltada à profissão, haja vista serem dotados de grande independência administrativa e funcional, atuando onde seu bom senso de justiça indicar, e a lei lhes conferir suporte para tanto.

A lei 8.625/93 elenca no capítulo VII os deveres e vedações dos membros do Ministério Público de forma geral, assim sendo incide tanto para os promotores e

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procuradores de justiça, em âmbito estadual, quanto para os procuradores da república, do trabalho e militar, em âmbito federal.

Inicialmente surge o dever de manter ilibada sua conduta pública e particular, devendo igualmente zelar pelo prestígio da justiça, mormente por serem os membros do Parquet, "promotores" da Justiça, encontrando nela o fundamento de sua profissão, têm que assistir pessoalmente aos atos judiciais, quando obrigatória ou conveniente a sua presença já que representa a sociedade, por isso deverá adotar as providências cabíveis a fim de sanar quaisquer irregularidades de que tenha conhecimento, o que demonstra o poder de defensor da sociedade e da justiça, bem como obedecer aos prazos processuais, garantindo, assim, a celeridade do processo, sempre fundamentando seus pronunciamentos processuais, o que garante o controle de sua atuação por parte de sua própria estrutura interna, ou se for o caso, pelo Judiciário no caso de recursos.

Questão importante a um atuar ético por parte do MP diz respeito à obrigatoriedade de seus integrantes se declararem suspeitos ou impedidos de atuar em processo, com o fito de se evitar atos passionais, ensejando, assim, segurança da coletividade, representada pelo ente ministerial.

Ora, uma das características da jurisdição é a substituição da vontade das partes pela vontade do Estado, expressa no provimento jurisdicional, quando as primeiras, por não conseguirem chegar a um acordo, provocam-na com o escopo de obter solução para sua lide; para tanto é preciso que toda a sua estrutura seja imparcial, obviamente estes profissionais também são pessoas, e como tal dotadas de interesses, parentescos, amizades, e, mesmo, inimizades; daí para que o processo não sofra ingerência desses fatores externos, que aqui ocasionariam uma nítida mácula à aplicação da justiça da decisão a ser proferida, é que, havendo vício de ordem subjetiva ou objetiva, devem os membros do MP alegar, de imediato, sua suspeição ou impedimento, respectivamente, no sentido de serem substituídos por outros que não sofram a referida ingerência externa; e caso não se aleguem suspeitos ou impedidos poderá qualquer as partes oferecer exceção nesse sentido, que se acolhida pelo órgão ad qum ensejará o afastamento do exceto.

Deve o promotor, assim como o Juiz, residir na comarca onde exerce suas atividades, pois assim será encontrado nos casos de relevância e urgência, bem como Não pode exercer qualquer outra função pública remunerada, salvo a de magistério.

Tamanha responsabilidade e autonomia não impedem que se estabeleçam regras éticas do promotor em relação a seus superiores. Deve ele acatar as decisões de sua administração superior, bem como prestar informações, quando solicitadas pelos órgãos da instituição.

Saindo da seara dos deveres dos membros do MP, impõe-se-lhes vedações, que são impedimentos de praticarem atos contrários ao propósito da instituição. Não pode o promotor exercer advocacia ou comércio, ou ainda participar de sociedade comercial, salvo como acionista ou cotista. Também, e por corolário a estas duas regras, jamais receberá honorários, custas ou porcentagens, a qualquer pretexto, na qualidade de promotor de justiça.  Tal vedação, além de proteger o bem senso do titular do cargo, denota a confiança da sociedade em seu trabalho, pois assim não poderá cair em

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devaneios acerca de causas particulares, e exercerá, única e exclusivamente, a sua função pública, que lhe exige tempo e trabalho.

Finalmente, lhes era vedado o exercício de atividade político-partidária, mas ressalvando-se as exceções da lei, segundo o Art. 44, V, da Lei 8.625/93. Porém, com o advento da emenda constitucional n.º 45/04, doravante não será mais permitida, em qualquer hipótese, o exercício de atividade político-partidária por parte de membro do Ministério Público, visto que o art. 128, § 5º, inciso II, da CF, em sua alínea a), sofreu alteração, vedando, em qualquer hipótese, tal atividade por parte do promotor. 

Os poderes concedidos ao Ministério Público após o advento da CF de 88 merecem destaques em discussões éticas acerca da atuação de seus membros, visto que passaram, significativamente, a obter poderes discricionários, sob o crivo de suas próprias consciências éticas, o que, de um lado trouxe seriedade e temor quanto às suas investigações, e de outro, exageros e exibicionismos por parte de alguns de seus membros. Fato é que, diante do crescimento do assédio da mídia em relação a tais profissionais [33], indagações éticas permanecerão nas pautas dos estudiosos, análises a serem vistas diversas vezes conforme a entidade ganha destaque na sociedade ao exercer seu fundamental papel.

4 – A ÉTICA PRESENTE NO PODER JUDICIÁRIO

As principais diretrizes dos deveres, prerrogativas e preceitos éticos da magistratura são encontrados no art. 93 da CF, além da LOMAN (Lei Orgânica da Magistratura Nacional) e do Código de Ética da Magistratura Nacional, criado pelo Conselho Nacional de Justiça, entidade surgida com o advento da emenda constitucional n.º 45/04, e destinada precipuamente às apurações de infrações e irregularidades dentro do poder judiciário.

Dever interessante, já comentado quando da explanação acerca dos membros do MP, é a fixação de residência do juiz na respectiva comarca onde atua, salvo autorização do Tribunal [38], pois em casos de excepcional urgência poderá o poder judiciário ser acionado, para que assim garanta a efetiva justiça em eventualidades, passíveis de se acontecer.

Ademais, o juiz não poderá exercer outra atividade, senão a de magistério, consagrando-se, aqui, o dever de dedicação exclusiva à profissão. Além disso, como obtempera Nalini, dois deveres merecem destaque: o do desinteresse, que faz com que todas as causas sejam examinadas com imparcialidade e igualdade de atenção, e o da abstenção política, que é conseqüência da imparcialidade, para que o juiz decida segundo sua consciência e não sob influência política. [39] Todos esses são encontrados no art. 95, parágrafo único, incisos I a III, da CF, sob a forma de vedações.

Obrigação importante, que garante estabilidade no exercício da jurisdição, é a de fundamentação das decisões do juiz, objetivando a explicação de o porquê haver o magistrado seguido por tal entendimento, elucidando melhor a decisão e dando-lhe maior segurança. [40]

Duas vedações presentes na CF garantem a imparcialidade do Poder Judiciário, quais sejam: receber contribuições pecuniárias de pessoas físicas ou jurídicas (em razão

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da função), além de exercer a advocacia no juízo ou tribunal do qual se afastou, antes de decorridos três anos do afastamento. [41]

A Lei Orgânica da Magistratura Nacional (Lei Complementar n.º 35 de 1979) organiza regras deontológicas para o exercício da profissão, especificamente em seu artigo 35, que dispõe sobre os deveres dos magistrados, alguns corroborados posteriormente pelo advento da CF, além de outros em caráter de especialidade.

O juiz deve cumprir e fazer cumprir, com independência, serenidade e exatidão, as disposições legais e os atos de ofício, não excedendo injustificadamente os prazos para sentenciar ou despachar, além de determinar as providências necessárias para que os atos processuais se realizem nos prazos legais, tudo para garantir a presteza e celeridade de todo o trâmite processual. [42]

Dever concorrente de todos os profissionais da área jurídica é o de urbanidade, eis que o juiz, que exige respeito, também o faz para com as partes, membros do MP, advogados, partes, funcionários e demais presentes (inciso IV, art. 35, da LOMAN).

Se o juiz deve cumprir com seus deveres, deve fazer também com que os demais cumpram com os seus. Ao passo que deve comparecer pontualmente à hora de iniciar-se o expediente ou a sessão, e não se ausentar injustificadamente antes de seu término, deverá exercer assídua fiscalização sobre os subordinados, especialmente no que se refere à cobrança de custas e emolumentos, mesmo que não haja reclamação das partes. [43]

A LOMAN impõe ainda três importantes vedações aos magistrados, em seu artigo 36, incisos I a III. Os juízes estão proibidos de exercer o comércio ou participar de sociedade comercial, exceto como acionista ou quotista, além do que não podem exercer cargo de direção ou técnico de sociedade civil, associação ou fundação, de qualquer natureza ou finalidade, salvo de associação de classe, em cargo sem remuneração. Ademais, veda-se-lhes a manifestação, por qualquer meio de comunicação, de opinião sobre processo pendente de julgamento, seu ou de outrem, ou juízo depreciativo sobre despachos, votos ou sentenças, de órgãos judiciais, ressalvada a crítica nos autos, em obras técnicas ou no exercício do magistério.

Dentro do processo judicial, o juiz deverá coordenar uma estrutura cooperatória entre o mesmo e as partes, de maneira a viabilizar o exercício do contraditório e da ampla defesa, buscando sempre a verdade real dos fatos, e trazendo ao final, a decisão mais justa a cada caso concreto, em uma alusão aos brocardos jurídicos narra mihi factum dabo tibi jus (narre-me o fato que te darei o direito) e juria novit curia (o juiz conhece o direito). [44]

Por fim, o Código de Ética da Magistratura Nacional elenca os grandes elementos a serem seguidos pelos magistrados no exercício da profissão, quais sejam: a independência, a imparcialidade, a transparência, a integridade pessoal e profissional, a diligência e dedicação, a cortesia, a prudência, o sigilo profissional, o conhecimento e a capacitação, a dignidade, a honra e odecoro. [45]

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São essas as regras gerais sobre a ética dos magistrados. Quaisquer atos atentatórios às regras éticas poderão ser punidos, de acordo com o Capítulo II - Das Penalidades, presentes na LOMAN, que demandam estudo peculiar ao cunho deste.

E concluindo-se sobre as regras deontológicas da magistratura nacional, demonstra-se que o juiz, autoridade preponente na aplicação da justiça, deverá ser aquele profissional que se orgulha de seu cargo e trabalha com devotamento, que não se influencia pelas idiossincrasias do cotidiano, mantendo-se imparcial. Sua conduta deverá servir de exemplo, não somente dentro do exercício de suas atribuições, mas também em sua vida particular [46], visto que aos olhos de todos ele é a justiça, e o descrédito em sua pessoa também gera o descrédito no Poder Judiciário.

Nos dizeres de José Renato Nalini, desembargador com vasta experiência na judicatura, "a justiça abarca tudo. Diz a última palavra. Garante ou destrói o Estado de Direito. É imprescindível para que a sociedade não se torne um caos. Impede a barbárie. E é concretizada mediante implementação da ciência mais próxima à moral, de intimidade maior com a ética, a ciência do direito". [47]

O que se espera do futuro da magistratura é a excessiva educação e o treinamento dos juízes, para que ajam e julguem como devem, e não apenas como queiram. Preserva-se, assim, a ética diante do Poder Judiciário, que é instrumento da justiça, necessária em qualquer nação, e que jamais poderá ser ignorada perante estudiosos da área jurídica.

5 – CONCLUSÃO

Da abordagem desta temática surge a convicção a respeito da atualidade e urgência atinentes à questão ético-moral.

A vida em sociedade exige posturas moralmente responsáveis nos campos pessoal, familiar e profissional.

Na atualidade há um grande esforço no sentido de pautar a conduta profissional dentro de um padrão ético que satisfaça minimamente às exigências de decência e dignidade nas relações estabelecidas entre profissionais e destes com seus clientes.

Na seara jurídica, como noutros ofícios, há uma enorme preocupação em diminuir o desgaste pelo qual passa principalmente a advocacia diante de tantos escândalos envolvendo advogados.

Os códigos de conduta profissional têm sido adotados como uma forma de tentar frear os abusos cometidos, mas enfrentam dificuldades no que se refere à aplicação das punições, em virtude do corporativismo que move os interesses profissionais.

Apesar disto, é sobremodo importante a valorização das condutas profissionais adequadas pautadas nos princípios morais, na ética e quando for o caso na própria norma jurídica.

Quando os códigos de ética profissional não funcionam em seu escopo de promover a adequada higienização dos quadros profissionais, resta à Justiça suprir tal lacuna, posto

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que não raro a lesão aos valores ético-morais também poderá ter conseqüências legais, entretanto quando a Justiça tarda demais ou simplesmente falha na promoção de sua missão institucional, perdemos todos nós os cidadãos de bem, e perde também o país, tem lugar o descrédito nas instituições, o dano portanto é coletivo.

A compreensão da deontologia profissional passa pela adequada percepção que se deve ter das possibilidades advindas da interface entre moral, ética e direito. Neste sentido, é preciso que se estabeleçam os espaços de atuação de cada um desses institutos.

Com efeito, a honestidade, boa fé, honradez e a solidariedade, dentre outros valores, devem permear todas as relações sociais. Diante disto, exige-se dos operadores do direito um compromisso com a moralidade a fim de resgatar a dignidade de algumas profissões jurídicas combalidas pelos sucessivos escândalos que constantemente visitam o noticiário.

Os códigos de ética profissional representam um avanço na missão de melhorar a qualidade moral dos profissionais do direito, aliado a isto não podemos deixar de repisar a necessidade de se valorizar o exame de ingresso na Ordem dos Advogados do Brasil como um critério favorável à melhoria da qualidade dos causídicos em nosso país.

 A sociedade tem ânsia por dignidade, decência e justiça e espera que o Estado dote a norma jurídica de um mínimo ético fundamental à segurança das relações sociais e profissionais, a fim de que os indivíduos e as instituições sejam impelidos ao exercício de uma moral mediana, nem tão virtuosa que não possa ser cumprida, tampouco tão viciosa que não consiga evitar a proliferação dos desvios de conduta profissional.

 A ética sempre cuida de questões morais aplicadas aos diversos segmentos sociais (atuação profissional, família, igreja, serviço publico, etc.). A abordagem referente ao direito, moral e à ética é fundamental para o bom entendimento acerca da importância de tais institutos ao desempenho adequado das atividades profissionais, sobretudo, no que se refere às profissões jurídicas imprescindíveis á boa prestação da atividade jurisdicional.

A justiça, em todos os seus pormenores, jamais conseguirá se estabelecer por si só, através de um único órgão ou ente. Necessita de integração de todos os profissionais ligados à área jurídica, entre eles o advogado (público e particular), o promotor de justiça (e cargos afins) e, claro, o juiz, que exercerá o poder jurisdicional com a colaboração de todos os supramencionados.

A análise de regras deontológicas, nortes éticos das respectivas carreiras, nos conduz à percepção de que a ética sempre exigirá do bom profissional afinco e dedicação, para que se torne como exemplo para os demais indivíduos da sociedade e da própria área. Tanto juízes, quanto advogados e promotores são pessoas que servem de parâmetro a ser seguido pela coletividade, eis que representam classes de respeitados profissionais, nos quais muitos se espelham.

Nota-se também que certas regras éticas são comuns a todos eles, como a que exige do profissional o dever de urbanidade com membros de outra carreira, o que por demais explicita a educação e respeito aos olhos da sociedade.

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Nada se faz e nenhum passo se alcança sem regras e princípios éticos, e, ainda que muitas vezes não percebamos, tais regras estão presentes em nossa conduta prática de tal maneira que a sua desobediência geraria não somente a punição legal mas também a moral, que, de certa forma, é mais ampla e inaceitável. Assim, com as análises e estudos éticos, pode-se chegar ao ideal de cada profissão, para que a luta incessante por direito e justiça jamais deixe de ser praticada, e para que tenhamos sempre a certeza de que estaremos amparados por um Estado defensor da paz social e da segurança jurídica.

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