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UNIVERSIDADE VEIGA DE ALMEIDA CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS CURSO DE ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS MARCELY ALMEIDA BEZERRA A CULTURA DE PREOCUPAÇÃO COM VALORES ÉTICOS TEM SIDO A PREOCUPAÇÃO ATUAL DOS EMPRESÁRIOS BRASILEIROS OU A CULTURA DO “JEITINHO BRASILEIRO” PREVALECE? ATÉ QUE PONTO O “JEITINHO BRASILEIRO” INTERFERE NA PRÁTICA DO ADMINISTRADOR? RIO DE JANEIRO 2007

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UNIVERSIDADE VEIGA DE ALMEIDA CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS

CURSO DE ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS

MARCELY ALMEIDA BEZERRA

A CULTURA DE PREOCUPAÇÃO COM VALORES ÉTICOS TEM SIDO A PREOCUPAÇÃO ATUAL DOS EMPRESÁRIOS BRASILEIROS OU A

CULTURA DO “JEITINHO BRASILEIRO” PREVALECE? ATÉ QUE PONTO O “JEITINHO BRASILEIRO” INTERFERE NA PRÁTICA DO

ADMINISTRADOR?

RIO DE JANEIRO 2007

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MARCELY ALMEIDA BEZERRA

A CULTURA DE PREOCUPAÇÃO COM VALORES ÉTICOS TEM SIDO A PREOCUPAÇÃO ATUAL DOS EMPRESÁRIOS BRASILEIROS OU A

CULTURA DO “JEITINHO BRASILEIRO” PREVALECE? ATÉ QUE PONTO O “JEITINHO BRASILEIRO” INTERFERE NA PRÁTICA DO

ADMINISTRADOR?

Monografia apresentada para conclusão do curso de graduação em Administração de Empresas da Universidade Veiga de Almeida, como requisito para obtenção do título de bacharel em Administração de Empresas, no dia 11 de julho de 2007. Orientador: Professor. JOSÉ NOGUEIRA

RIO DE JANEIRO 2007

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MARCELY ALMEIDA BEZERRA

A CULTURA DE PREOCUPAÇÃO COM VALORES ÉTICOS TEM SIDO A

PREOCUPAÇÃO ATUAL DOS EMPRESÁRIOS BRASILEIROS OU A CULTURA DO “JEITINHO BRASILEIRO” PREVALECE?

ATÉ QUE PONTO O “JEITINHO BRASILEIRO” INTERFERE NA PRÁTICA DO ADMINISTRADOR?

Monografia apresentada para conclusão do curso de graduação em Administração de Empresas da Universidade Veiga de Almeida, como requisito para obtenção do título de bacharel em Administração de Empresas.

Aprovado em _____/_____/2007

BANCA EXAMINADORA

_______________________________ Prof. JOSÉ NOGUEIRA – Orientador

UVA

________________________________ Prof. LUÍZ SOARES

UVA

_________________________________ Profa. FLÁVIA MARTINEZ RIBEIRO

Coordenadora do Curso de Administração de Empresas UVA

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente, quero agradecer a Deus por mais esta restituição;

ao meu amor, Marcelo, por toda a compreensão nos momentos de desespero e por toda

revisão feita com extremo carinho;

às minhas filhas, Anne e Cíntia, pela ausência em alguns momentos;

à minha mãe, que sempre se orgulhou muito de mim e sempre me ajudou para que eu

conseguisse viver esse momento;

ao meu pai, que infelizmente não está aqui, mas com certeza está transbordando de

orgulho;

a todos que investiram em mim, na minha conquista: César Benjamin, Estela Abreu,

Evanildo Bechara, Marcelo Bezerra,

a uma amiga especial, Cris, companheira de árduos anos, que sempre me incentivou e me

ajudou;

a todos os professores e professoras que me ajudaram a construir o meu saber : Adriano

de Freixo, Lincoln, Rocha, Adilson, Mauro Takao, Ricardo, Daniele, Rosângela, Cláudia,

Roberto, Silvio, Aluísio,Luiz Soares, José Roberto, Fabiano, Juarez, Artur, Celso,

Marcelo, Roberto Querido, Salustiano, Correia, Beatriz, Érico, Reinaldo,Paulo Ovídeo,

Alceu, Pinheiro, Agamenon, José Otávio, José Francisco, Maria da Ajuda, Luigi,

Windson, Jefferson, Waldemar,William.

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Às minhas filhas, Anne e Cíntia, que representam o futuro. Que possam viver num

mundo mais justo, mais humano, enfim, mais ético.

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“Na administração, uma profissão nascida no século XX, a construção da

ética passa pela própria reflexão do que significa ser Administrador, de como

essa profissão deve ser constituída em termos dos princípios que deverão dirigir

as ações e suas conseqüências, pois a ética, no fundo, é uma reflexão sobre a

nossa prática, a nossa vida.”

Fábio Bittencourt, Doutorando FGV/ Ebap – RBA – dezembro de 2005

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO 1 - ÉTICA NOS AMBIENTES ORGANIZACIONAIS 9

1.1- Conceituação 9

1.1.1– Ética 10

1.1.2 – Ambiente organizacional 12

1.2 – Fatores ligados à importância da ética 14

1.2.1- Fatores sociais 14

1.2.2 – Fatores administrativos 15

1.3 - Conseqüências da conduta antiética 16

1.4 - Medidas para se viabilizar um ambiente ético 18

CAPÍTULO 2 – O “JEITINHO BRASILEIRO” 22

2.1 – O “jeitinho” na visão de alguns pensadores 24

2.2 – O mapa social do “jeitinho” no Brasil 25

2.3- Os discursos positivo e negativo do “jeitinho” 26

2.4- “Esse país não tem jeito” 28

2.5- O “jeitinho” e sua identidade nacional no país do “jeitinho” 29

CAPÍTULO 3: ESTUDO DE CASO - A QUEDA DA ENRON 30

CONCLUSÃO 38

REFERÊNCIAS 41

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INTRODUÇÃO

Este estudo demonstrará o papel fundamental da ética nas organizações,

abordando inicialmente fatores sociais e administrativos, passando pela análise das

conseqüências de uma conduta antiética e pelas medidas que viabilizam um ambiente

ético.

Em um segundo momento, esta pesquisa tratará da expressão “jeitinho

brasileiro”, trazendo, a este respeito, a visão de alguns pensadores, uma análise social e

cultural e a identidade nacional do “jeitinho”.

Este estudo trará, ainda, à discussão, como estudo de caso, a queda da empresa

americana Enron, atuante no mercado mundial de energia.

Por fim, este estudo comprovará que a cultura de preocupação com valores éticos

tem sucumbido à interferência do “jeitinho brasileiro”, afetando a boa administração.

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CAPÍTULO 1 - ÉTICA NOS AMBIENTES ORGANIZACIONAIS

1.1 - Conceituação

Ao iniciar este trabalho, verificou-se, inicialmente, a necessidade de se conceituar

seus termos norteadores, quais sejam: “ética”, “ambiente” e “organização”, que compõem

o título acima.

Muito embora estes termos já tenham sido largamente estudados e conceituados, a

evolução humana e da própria ciência, como era de esperar, traz, de tempos em tempos,

novos significados para estas palavras.

A ética de uma organização não se reduz à ética da responsabilidade, pois os

resultados nem sempre justificam a violação de princípios éticos. Não se reduz a uma

ética da convicção, pois a defesa de valores legítimos pode ter conseqüências que

invalidam a sua intenção. Não se pode desprezar o impacto das decisões em cada um dos

públicos da empresa, o que seria uma atitude irresponsável. Desconsiderar os resultados

das ações no processo de tomada de decisão não é apenas ingenuidade, é má gestão. Não

basta também crer que pessoas virtuosas formam uma organização virtuosa. A empresa é

mais do que pessoas que a integram. Ela é a soma de processos, tecnologias, culturas e

pessoas.

O modelo de ética organizacional exige articulação integrada entre resultados,

valores e o modo habitual da organização agir. A ética nos negócios é uma forma de

gestão e deve estar inserida na cultura e nos processos administrativos, tecnológicos e

decisórios de uma organização.

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1.1.1 - Ética

A palavra “ética” é um daqueles termos sobre a qual existem numerosos textos e

páginas definindo-a, assim como explicando sua fundamentação e seu campo de ação.

Historicamente, quem primeiro abordou o tema foi o filósofo Sócrates, ateniense

que questionava as razões de ser das condutas virtuosas da sociedade da qual ele fazia

parte. Descontente por algo ser considerado moral apenas e tão-somente porque todos

faziam, ele fundou a “filosofia da moral”, que hoje chamamos de “ética”. Dizia que o

conteúdo do bem moral consistia na felicidade interior, dado que agindo de uma forma

correta o homem seria feliz. Platão optou por uma ética de fins: se os fins são bons, então

também são bons a intenção, o saber e o poder. Para Aristóteles a ética consistia na

satisfação da felicidade, em que apenas a atitude perfeita do homem pode conduzí-lo à

felicidade.

Na antiguidade, a ética estava direta e intimamente vinculada a três questões:

ao racionalismo, pois, para os antigos, a vida virtuosa significava agir em

consonância com a razão, vez que a razão conhece o bem, o deseja e norteia nossa

vontade;

ao naturalismo, pois na concepção dos antigos, a virtude estava ligada à maneira

de agir de acordo com nossa própria natureza;

à impossibilidade de se separar ética de política, ou seja, entre a conduta da

pessoa e os valores da sociedade, pois apenas na existência compartilhada com

outras pessoas é que encontramos felicidade, justiça e liberdade.

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Com a evolução dos tempos, chega-se à Idade Média, momento em que se

vislumbrou uma ética mais próxima a Deus. Naquele tempo, os filósofos eram teólogos e

aliavam ética à religião. Com isto, formava-se um compromisso do homem com Deus e

não com sua sociedade. Destacaram-se nesta concepção São Tomás de Aquino e Santo

Agostinho, para quem a ética de um homem era medida pela maneira através da qual agia

de acordo com as leis divinas.

Chegando-se à Idade Moderna, as concepções da Idade Média foram desprezadas,

uma vez que os pensadores não mais aceitavam a concepção teológica. É a fase do

Iluminismo, onde a ética passou a ser discutida na política, no direito e em diversas

formas de relações sociais. Uma série de pensadores, tais quais Montesquieu, Hegel e

Nietzsche passaram a crer em uma ética voltada para uma relação do indivíduo com a

sociedade e não com Deus.

Nos tempos modernos, a partir de Kant, empreendeu-se o estudo da ética

independentemente das idéias religiosas. Os traços fundamentais da ética kantiana são: o

formalismo, o apriorismo e a autonomia. Essa ética ignora todo o conteúdo material e a

lei é um imperativo categórico, que converte a ética do dever ser, que outra coisa não é

senão a determinação da vontade com a sua bondade específica única da lei.

Como se pode verificar, a concepção de ética tem sido bastante discutida ao longo

dos tempos por variados pensadores e autores. Abraçada pela idéia geral destas

concepções, encontramos, dentre outras virtudes, a responsabilidade, a honestidade e o

respeito, que servem de alicerce para uma conduta ética e que são brevemente abordados

a seguir:

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A responsabilidade é o ponto de partida da ética para a sociedade, é um elemento

da ética; quem não responde por seus atos falta com a ética. Implica na noção de que

toda ação da organização afeta pessoas ou grupos sociais, ou seja, os públicos com os

quais se relaciona. A dimensão da responsabilidade reúne o tripé econômico-social-

ambiental da sustentabilidade, não só da organização, mas do mundo em que vivemos. A

honestidade é um fator que faz parte da ética, pois ser honesto é agir com probidade, com

honra, tomando para si apenas aquilo que é seu de direito. Implica na adoção de valores

de humanidade que, de algum modo, limitam a busca dos resultados estrategicamente

planejados. Uma organização ética preocupa-se com os resultados, sim, mas sabe o que

não deve fazer para realizá-los. Por último, o respeito, que é também um elemento da

ética, embora não o principal. Mesmo dentro da honestidade existe, intrinsecamente, o

respeito, isto é, não se pode ser honesto sem ser respeitoso. É a disposição firme e

constante para a prática do bem.

Donde-se conclui que, devido às grandes modificações tecnológicas ocorridas no

mundo, passamos a viver em um conflito de valores, fazendo com que a sociedade já

questione determinados valores e busque outros novos em que possa se nortear.

Muito embora seja difícil determinar o fator principal que levou a sociedade a

buscar a ética, os fatores sociais e administrativos foram os que mais se destacaram na

busca da ética nas organizações.

1.1.2 – Ambiente organizacional

A idéia de organização existe deste a pré-história da humanidade, quando o

homem primitivo buscou, através de grupos organizados, alcançar certos objetivos que,

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sem auxílio, não lograria êxito, sendo certo, entretanto, que a forma organizacional era

bastante rudimentar.

A organização na vida moderna somente surgiu com a Revolução Industrial, no

século XVIII. Este fenômeno provocou mudanças substanciais em nossa sociedade no

que concerne à política, economia, tecnologia, etc.

No final da Revolução Industrial o mundo já havia se transformado

completamente, tendo, por conta disto, surgido uma sociedade de organizações que vivia

com algumas características: a) o crescimento acelerado e desorganizado das empresas,

que passaram a exigir uma administração de caráter científico que pudesse substituir o

empirismo e a improvisação reinantes; b) a necessidade de maior produtividade e

eficiência das empresas, para proporcionar condições de enfrentar a intensa concorrência

e competição no mercado.

Com isto, surge a organização como instituição, ou seja, um órgão que tem a

finalidade de alcançar um certo objetivo, onde o homem tem uma preocupação com a

racionalização do processo do trabalho. Assim, verifica-se que a organização é um

sistema social, posto que faz parte da sociedade, e também um sistema, vez que seus

procedimentos se conectam, fazendo com que os primeiros passos do processo de

organização refletissem no resultado final.

Assim, o ambiente organizacional é um conjunto de elementos que envolvem as

organizações.

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1.2 – Fatores ligados à importância da ética

1.2.1 – Fatores sociais

Existe hoje no mundo uma sede por ética e não é à toa que este tema se torna cada

vez mais discutido em palestras, workshops, ou mesmo internamente nas empresas. O

mundo começa a perceber a extrema relevância de um comportamento ético, de uma

conduta condizente com os valores da honestidade, da integridade e do caráter.

São muitos os fatores que deixaram (e ainda deixam) as sociedades estarrecidas,

tornando-as sedentas por ética. Dentre outros, destacam-se:

o caos vivido na primeira metade do século XX, em decorrência de duas guerras

mundiais;

enriquecimento fenomenal do primeiro mundo e, na contramão, o

empobrecimento dos países do terceiro mundo;

fome generalizada nos continentes africano, asiático e americano, em especial na

América Latina;

crescimento da violência doméstica e terrorista ao redor do mundo;

proliferação da AIDS;

corrupção governamental desenfreada.

Seguramente outros fatores poderiam ser agregados à lista acima, mas é certo que os

mencionados contribuíram para que o mundo clamasse (e continue a clamar) por uma

ética na política, nos negócios, na família, etc.

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Assim, conclui-se que as organizações não são meras máquinas de fazer dinheiro;

ao contrário, elas têm um papel social a cumprir e a ética deve embasar todas as suas

ações, internas e externas. O dinheiro é apenas parte de um todo.

1.2.2 – Fatores administrativos

Não se pode negar que as mudanças ocorridas na administração desde a década de

oitenta tenham mudado o mundo organizacional para sempre. O dinamismo é a tônica,

exigindo que empresas não mais fiquem inertes à espera de soluções e mudanças que

batam às suas portas. A conjuntura econômica mundial demanda que as empresas é que

devem realizar mudanças administrativas em seus âmbitos de atuação, antecipando-se aos

concorrentes. O mundo tem se tornado um enorme e complexo sistema, com os

mercados se expandindo de forma dinâmica. Como não poderia deixar de ser, mesmo as

pessoas estão em constantes mudanças, em especial aquelas ativas economicamente.

O mundo administrativo/corporativo de hoje está cada vez mais exigente e podemos

destacar algumas de suas mais freqüentes demandas:

relação de confiança entre funcionários de níveis hierárquicos praticamente

iguais;

boa qualidade de vida dos funcionários;

credibilidade da informação, vez que é a “matéria prima” no mundo de hoje;

credibilidade perante a sociedade;

boa imagem perante o mercado consumidor.

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Não obstante, este mesmo modelo administrativo tem se tornado um ambiente

propenso para a desonestidade, a omissão, intrigas, condutas inadequadas, mentiras, etc.,

na medida em que o enxugamento das estruturas organizacionais reduziu os espaços para

promoções, abrindo caminho para a disputa acirrada por cargos, o desespero e a

desonestidade, comumente usados nos dias de hoje para se alcançar um objetivo.

O que se percebe hoje é um ambiente organizacional e social “sedento por ética”,

pois empresários e clientes têm se tornado cada vez mais seletivos na captação de novos

clientes e na busca por melhores cargos, utilizando a ética como critério de decisão.

1.3- Conseqüências da conduta antiética

Dúvidas não há que de ter quanto aos prejuízos causados pela falta de ética nos

ambientes organizacionais, independentemente do nível hierárquico em que se encontram

seus membros.

Uma boa imagem empresarial vai muito mais além de um belo edifício comercial,

uma refinada propaganda televisiva ou mesmo um nome marcante. A imagem da

empresa é transmitida por seus membros através de suas condutas externas e internas.

Não é à toa que empresas que tratam bem seus funcionários, que primam pela excelência

de seus produtos, que zelam pela comunidade onde se situam, que contribuem com seus

impostos e que respeitam e ouvem seus clientes, invariavelmente são bem vistas pelo

público em geral.

As organizações ao redor do mundo enfrentam, nos dias de hoje, uma

concorrência assustadora, com critérios de avaliação de várias ordens. Já se foi o tempo

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em que um cliente queria apenas adquirir um produto de boa qualidade e que satisfizesse

suas necessidades; hoje, este mesmo cliente quer ter a certeza de estar adquirindo um

produto que tenha cumprido rigorosamente com as regras de um processo de produção

confiável e eficiente.

Neste contexto, podemos destacar vários fatores que justificam esta postura do

consumidor atual:

ao contrário de antigamente, quando os mercados eram mais enxutos, a qualidade

que hoje um cliente exige já não é tão difícil assim de ser obtida, face à

concorrência acirrada;

empresas que primam por atitudes eticamente corretas possuem mais solidez e,

com isso, estão em condições de proporcionar uma assistência mais duradoura;

o consumidor de hoje tem consciência do potencial econômico que detém nas

mãos;

o consumidor feliz se multiplica, na medida em que o seu bem-estar,

proporcionado pela aquisição de um bom produto, invariavelmente implica em

recomendações a amigos e familiares.

Com isto, resta claro que as empresas perdem significativas fatias de mercado ao

optarem por condutas antiéticas; a memória do público consumidor de hoje já não é tão

curta quando a de outrora.

Mesmo em situações difíceis, deve a empresa optar por uma postura ética e

transparente, sob pena de sofrer conseqüências irreversíveis.

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Um caso clássico e de passado recente foi o do anticoncepcional Microvilar: ainda

na fase de testes de embalagens, o laboratório farmacêutico equivocadamente lançou no

mercado o produto sem o princípio ativo; mesmo após ter sido avisado a respeito,

passaram-se algumas semanas até que o laboratório tomasse uma medida para alertar os

possíveis compradores. Esta demora suscitou a interferência do Poder Público, o que

tornou público não só o erro, mas também a conduta inadequada da empresa no trato com

os consumidores, além de ter proporcionado significativos prejuízos à empresa.

Adicionalmente, vale registrar que o contexto de postura ética nas empresas

passa, também, por um processo seletivo de contratação de funcionários, pois são eles

que constituirão uma imagem da empresa para o público e não se pode negar que

imagem, nos dias de hoje, é condição sine qua non para o sucesso, em qualquer esfera no

mundo corporativo.

A preocupação com a imagem da empresa tem influência direta com a

produtividade. Empregados antiéticos são como ervas daninhas: desmotivam os demais,

geram insatisfações mesmo quando em ambientes favoráveis, atrapalham o

funcionamento da empresa com suas atitudes e concepções questionáveis e dificultam o

fluxo de informação nos setores de uma empresa.

1.4- Medidas para se viabilizar um ambiente ético

Nossas organizações, lamentavelmente, têm sido o cenário de exemplos

inadequados de conduta gerencial alicerçados na crença de que o desrespeito a colegas e

subordinados e a "queimação" de concorrentes são alguns dos caminhos que levam, mais

rapidamente, ao sucesso. Porém, hoje se sabe que o primeiro passo efetivo para o

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sucesso e o alcance da qualidade total é a adoção de uma conduta ética por parte de todos

os componentes humanos das organizações.

A postura ética congrega alguns benefícios:

1. Criação de um ambiente interno de harmonia, equilíbrio e motivação para os

clientes internos nas empresas.

2. Estabelecimento de um relacionamento respeitável e de alto grau de

confiabilidade junto aos clientes externos.

3. Ampliação das possibilidades de alianças e parcerias internas e externas.

4. Reconhecimento público da qualidade baseada na confiança transmitida pela

marca embasada na ética nos negócios.

5. Ampliação dos mercados, da lucratividade e da longevidade da empresa.

6. Respeito dos clientes externos, internos e competidores.

Muito embora a definição de conduta ética dependa da convicção de cada

indivíduo, não se pode negar que existam princípios básicos. Com base nisto, existem

medidas que podem (e devem) ser tomadas pelas organizações com o intuito de garantir

comportamentos éticos:

a) Prevenção – segundo Jacomino1, “para se saber se uma empresa é ou não ética, não

basta observar seu comportamento na hora da crise. Ao contrário, é preciso verificar a

maneira como ela se planeja e cria soluções para evitar deslizes e escorregadelas”.

b) Superiores devem dar exemplo – a forma de trabalho são determinados pelos

administradores de uma empresa; se assim o fazem através de mentiras e desonestidades,

1 JACOMINO, Dalen. Você é um profissional ético? VOCÊ S.A, Rio de Janeiro, n.25, p.28-37, jul.2000.

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seus subordinados assim farão. Por isso, uma conduta irrepreensível dos administradores

propaga a ética nas empresas.

c) Promover discussões sobre a ética - a ética, como já visto, não é somente um

costume; ela é lógica, emoção e desejo. Um dos fatores que viabiliza uma conduta ética é

justamente o conhecimento; assim, devem sempre existir espaços para estas discussões.

d) Adotar conjunto de regras claras – este é outro meio de levar ao conhecimento dos

funcionários o grau de importância que a ética tem em um determinado ambiente

corporativo, em sua maioria de vezes materializado pelo que se chama de Código de

Ética.

e) Dispor de organograma para decisões em conjunto – uma atitude já bastante

sedimentada no mundo corporativo de hoje é a da tomada de decisões em conjunto, de

forma democrática. Ademais, esta medida elimina os riscos inerentes às decisões que são

tomadas por apenas um funcionário.

f) Abrir espaço para denúncias – outra medida bastante comum no ambiente

corporativo de hoje; estabelece-se um canal de comunicação entre a diretoria e o baixo

escalão. É uma medida de grande retorno para a empresa, na medida em que quaisquer

atitudes questionáveis de funcionários podem facilmente chegar ao conhecimento dos

diretores, sem a interferência de níveis hierárquicos intermediários.

g) Transparência e severidade na reação – é uma das mais importantes medidas a ser

tomada. Abafar casos equivale a correr riscos imperdoáveis, que inclui a desagradável

surpresa de o incidente chegar ao conhecimento da imprensa, possibilidade de ações

judiciais e outros desdobramentos que podem expor a omissão da empresa. Não ter medo

de reconhecer os erros cometidos é uma atitude ética.

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Estas medidas seguramente auxiliarão a empresa a construir um ambiente de

trabalho saudável, sólido e ético, e exterioriza a preocupação da empresa não apenas com

sua função comercial, mas, sobretudo, com sua função social.

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CAPÍTULO 2 – O “JEITINHO BRASILEIRO”

Uma análise feita pelo sociólogo Alberto Carlos Melo de Almeida2 mostra que,

independente do nível social ou educacional, 65% dos brasileiros já usaram de esperteza

para obter vantagem pessoal; o jeitinho está incorporado ao cotidiano.

João Ubaldo Ribeiro, em sua crônica “Precisa-se de matéria-prima para construir

um país”3, fez uma crítica ácida ao povo brasileiro, que, segundo ele, valoriza a moeda da

“esperteza” tanto ou mais que o dólar. Depois de dar inúmeros exemplos de falta de

solidariedade, como no trânsito, onde os carros jamais dão preferência aos pedestres, e de

desrespeito pelo coletivo, como o caso das pessoas que atiram lixo nas ruas e depois

reclamam do Governo por não limpar os esgotos, conclui: os grandes responsáveis pela

situação do Brasil não são os governos anteriores, mas sim aquele que nos olha no

espelho.

Há pessoas corretas no funcionalismo, aquelas que respeitam o erário público, a

importante atividade do agente público, o normal desenvolvimento da máquina

administrativa quando se relaciona com o cidadão. Existe, porém, a carteirada, desvio

de comportamento funcional que de vez em quando é realizado por algumas autoridades

públicas, com algumas exceções. Ela consiste em obter ou tentar obter proveito pessoal,

material ou de outra natureza, para si ou para terceiro, valendo-se o funcionário público

do cargo ou função que exerce ou ocupa. O exemplo mais comum é a expressão "sabe

com quem você está falando?", geralmente acompanhada da apresentação da carteira

2 Corrupção: com Jeitinho Parece que Vai, coordenada pelo sociólogo Alberto Carlos Melo de Almeida - Correio Braziliense, 7/5/2004, p. 15 (com adaptações). 3 Em 14 de novembro de 2005 no Jornal do Meio Ambiente

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funcional, aberta na cara da vítima, como um instrumento de ameaça implícita. Se o

carteirado não cede, fica mais do que compreendido por ele que o carteirante poderá

valer-se do seu poder para prejudicá-lo ou lhe criar algum problema.

Esse comportamento, irmão do jeitinho brasileiro e da mania de levar vantagem

em tudo, ainda que possa parecer inofensivo e insignificante diante das inúmeras

condutas corruptas levadas ao conhecimento do público no momento atual, é deletério e

antidemocrático.

Em mais um texto de grande impacto, Roberto DaMatta4 aborda o papel das

emoções em nossa sociedade, dentro de um contexto jurídico, mais precisamente a

diminuição da responsabilidade criminal. Isto logo após a barbárie cometida no Rio de

Janeiro contra o cidadão João Hélio, de 6 anos, que ganhou as primeiras páginas dos

jornais do país e rodou o mundo televisivo.

Em reação ao afã do momento e da emoção provocados por mais esta recente

tragédia (e como não ter emoção em um momento como este ?), ouviu-se a sandice

verbalizada por alguns políticos e acadêmicos do meio jurídico: as leis não podem ser

feitas com emoções.

Criou-se, com isto, mais uma nova modalidade do jeitinho: a de minimizar a

necessidade de reações imediatas.

Segundo o autor, tudo parece indicar que as emoções, em nosso país, estão de

uma vez por todas associadas ao lado baixo da condição humana e da sociedade.

No seu livro O jeitinho brasileiro, Lívia Barbosa5 desvenda os mistérios do

surgimento do famoso jeitinho brasileiro, que surge como uma instituição, um

4 Roberto da Matta – Roberto Da Matta lava a alma dos emotivos malvados – O Globo 28/2/2007 5 BARBOSA, Lívia. O Jeitinho Brasileiro. Rio de Janeiro: Editora Campus, 1992.

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instrumento para auxiliar no difícil dia-a-dia brasileiro. A autora encara o jeitinho como

um procedimento inevitável em todos os níveis de relações. Uma prática social

legitimada por todas as classes, algo que se situa entre o favor e a corrupção.

Curiosamente, o jeitinho somente encontra sentido de uso ante um acontecimento

imprevisto aos objetivos da pessoa, que deseja resolver seu problema em curtíssimo

prazo.

Em nossa sociedade burocratizada, recorrer ao jeitinho é lugar-comum.

Curiosamente, o jeito parte de pressupostos opostos àqueles que baseiam a burocracia.

Nesta, a máquina é impessoal, anônima e racional, enquanto que para o uso do jeitinho, é

preciso lançar mão de emoções, como simpatia, modo de falar e etc. O jeitinho que não

vem acompanhado de simpatia e de boa fala está fadado ao fracasso em poucos segundos.

2.1 - O “jeitinho” na visão de alguns pensadores

Em que pese o amplo uso do jeitinho em nossa sociedade, pouco se estudou o

tema até aqui. Ainda assim, o tema tem sido objeto de ensaios por parte de algumas

mentes brilhantes nacionais, dentre eles Roberto Campos e Guerreiro Ramos, os quais, de

forma bastante resumida, comentaremos a seguir.

Não bastasse seu notório saber no campo da Economia, o lendário Roberto

Campos também espalhou seus conhecimentos na esfera socióloga, ao assinar o texto “A

técnica e o riso”, escrito em 1966.

Neste, o renomado autor indica três fatores principais que se ligam às raízes do

jeitinho: a) origem histórica, muito comum nos países latinos e nem tanto nos anglo-

saxões; b) atitude no que concerne às relações entre a lei e o fato social; enquanto que

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para os países anglo-saxões a lei nada mais é do que um espelho do costume, nos países

latinos as leis são normativas, o que leva a uma relação desmedida entre a norma e o

comportamento e, por via de conseqüência, uma tensão institucional; c) atitude

religiosa; enquanto que nos países latinos prevalece o catolicismo, culminando com a

rigidez e a intolerância, nos países anglo-saxões, predomina o protestantismo, que possui

uma moral complacente que permite a modificação de normas éticas quando a situação

assim o exige.

O ensaio de Guerreiro Ramos6 sobre o jeitinho foi um dos primeiros a ser

publicado no Brasil. Entende Ramos que o jeitinho é tão comum nos países latino-

americanos por força do formalismo: é a discrepância entre as instituições sociais,

políticas e jurídicas e nossas práticas sociais; é a diferença entre o que está na lei e o que

realmente ocorre.

Não obstante, afirma o referido autor que o jeitinho tende a desaparecer no futuro

nos países latinos, face à crescente impessoalidade nas relações sociais que vivenciamos

nos dias de hoje.

2.2- O mapa social do “jeitinho” no Brasil

Um dos aspectos mais interessantes a respeito do jeitinho é seu cunho universal.

Em nossa sociedade, dificilmente localizaríamos uma cidadão que já não tenha feito uso

desta mania nacional. De tão usado, o jeitinho tem até mesmo sinônimos: quebra-galho,

ginga, jogo de cintura, etc.

6 RAMOS, Alberto Guerreiro. Administração e Estratégia do Desenvolvimento – Elementos de uma Sociologia da Administração. Rio de Janeiro, Fundação Getúlio Vargas.

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Verdade seja dita: todos nós, que seja em uma única oportunidade, já usamos o

jeitinho em alguma situação.

Corriqueiramente, podemos conceituar jeitinho como a forma especial de se

resolver algum problema ou alguma situação.

Curiosamente, o jeitinho somente encontra sentido de uso ante um acontecimento

imprevisto aos objetivos da pessoa, que deseja resolver seu problema em curtíssimo

prazo.

Em nossa sociedade exageradamente burocratizada, recorrer ao jeitinho é lugar-

comum. Curiosamente, o jeito parte de pressupostos opostos àqueles que baseiam a

burocracia. Nesta, a máquina é impessoal, anônima e racional, enquanto que para o uso

do jeitinho, é preciso lançar mão de emoções, como simpatia, modo de falar e etc. O

jeitinho que não vem acompanhado de simpatia de boa fala está fadado ao fracasso em

poucos segundos.

2.3- Os discursos positivo e negativo do “jeitinho”

Como o próprio título acima indica, o jeitinho pode ser considerado positivo na

concepção daqueles que o aprova e que o valorizam; na mão contrária, é tido como

negativo pelos que desaprovam tal conduta.

No discurso positivo, o jeitinho serve tanto como resposta criativa a uma situação

emergencial como também uma maneira de burlar a lei ou procedimento a fim de

alcançar algum objetivo.

Para aqueles que defendem o uso do jeitinho, ele faz parte do caráter do

brasileiro; é a síntese do nosso lado cordial, simpático, alegre, etc. Mais que isso, é uma

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qualidade do povo brasileiro e uma maneira de fugir à vida rígida e certinha, de modo

que o jeito ajuda a encarar as eventualidades do dia-a-dia, evitando, assim, a monotonia.

Assim, para Lívia Barbosa7 podemos afirmar que o jeitinho positivo se baseia não

em direitos e deveres, mas na necessidade de quem precisa, e, para que logre, o jeitinho

precisar encontrar a reciprocidade daquele que tem o controle da situação.

Resumidamente, podemos também dizer que o jeitinho prega mudanças de ordem

moral, mas, curiosamente, poucas vezes vê-se o jeitinho associado à corrupção; enquanto

que a corrupção é percebida como um elemento institucional, no jeitinho o foco é

colocado unicamente nas relações inter-pessoais, haja vista que envolve simpatia, boa

vontade, charme, modo de pedir e outros elementos que não se relacionam com as

improbidades institucionais e quebra de normas legais que vemos em nosso cotidiano.

Com relação ao discurso negativo, Barbosa8 entende que este apresenta uma

complexidade bem maior que o negativo. Afinal, ele não é apenas popular, mas também

teórico, residindo às diferenças entre eles no tipo de explicação oferecida para a

sociedade, no vernáculo usado e no tipo de material em torno do qual a discussão se

desenvolve.

Ainda de acordo com a referida autora, regra geral o discurso negativo teórico

baseia-se na reflexão crítica sobre nossas instituições sociais, a nossa realidade

econômica e o que entendemos do Brasil como nação. Tem um cunho de denúncia;

denúncia de nossos homens públicos, da corrupção, da impunidade, etc. A idéia que

prevalece é a de que nada aqui funciona, que as coisas não são levadas a sério e que

7 BARBOSA, op. cit. 8 BARBOSA, op. cit.

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mudanças estruturais e institucionais são o caminho para se mudar o país. A proposta é

de uma reformulação na ordem política, institucional e jurídica.

Já no discurso negativo popular, a idéia de mudança está vinculada mais ao

indivíduo. Quando existe uma proposta de mudança, ela pretende a reforma moral dos

agentes empíricos, enquanto que no discurso teórico, a proposta é pela reformulação no

tipo de sociedade.

Segundo a referenciada autora, existe no Brasil a perspectiva de acreditar na

mudança pelo decreto; esta tradição, que busca regular todas as relações sociais através

de decretos e leis, estabelece um contrate marcante com outras nações, em especial os

povos germânicos, onde a lei dá apenas o princípio básico, permitindo grande margem de

liberdade para a solução de situações baseados no bom senso. No Brasil, a fé na palavra

escrita tem como conseqüência se ter como resolvido aquilo que é transformado em lei.

Em verdade, a mera confecção de uma lei nada resolve se não se criar instrumentos que

viabilizem sua efetiva implementação. Uma lei criada, mas não implementada na prática

se transforma em uma norma ineficaz. Mais que isso, ao se permitir que outras tantas leis

encontrem o mesmo fim (a sua não implementação), sinaliza-se para a sociedade

brasileira a idéia de que elas, as leis, ao final, acabam por existir para nada, viabilizando a

crença de que as leis podem ser desprezadas, desrespeitadas. Existe historicamente em

nossa nação uma postura de zombaria, de desdém, em relação às leis.

2.4- “Esse país não tem jeito”

Contrariamente ao discurso dos que defendem o jeitinho, “esse país não tem jeito”

é o tipo de discurso que qualquer cidadão brasileiro aciona quando sente frustradas suas

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expectativas em relação ao futuro do Brasil, ao governo ou mesmo ao próprio meio do

qual ele faz parte, e baseia-se nas experiências vividas ou presenciadas ao longo da vida.

O referido discurso traz em seu contexto que o jeitinho é nada mais que um engodo,

esperteza pequena. Ainda, denota uma grande descrença no país, no povo, nas

instituições, no governo, em quase tudo9.

2.5- O “jeitinho” e sua identidade nacional no país do “jeitinho”

O jeitinho pode ser considerado um elemento de identidade social. Na esfera da

antropologia, identidade social é a auto-atribuição de uma determinada imagem, maneira

de ser ou característica que serve de base para a compreensão do mundo e de outros

grupos sociais.

Como esta identidade social não é nata, mas adquirida, afirma a autora que esta

identidade é uma construção cultural, mas que não significa que o jeitinho simbolize toda

a sociedade brasileira em todas as suas expressões, nem tampouco expressa o

comportamento típico do brasileiro e, muito menos, significa que essa maneira de ação

seja privilégio do nosso povo.

9 BARBOSA, op. cit.

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CAPÍTULO 3 - ESTUDO DE CASO: A QUEDA DA ENRON

Tendo analisado o conteúdo do filme “Enron – Os mais espertos da sala”,

verificou-se que esta empresa era considerada uma gigante no mercado de energia.

Fundada em 1985, a Enron reinou por muito tempo como uma das mais sólidas e

promissoras empresas dos EUA, chegando, inclusive, a ser a sétima empresa daquele

país, em qualquer ramo de atividade. Por seis vezes foi eleita a empresa mais inovadora

dos EUA.

Ainda segundo o filme, o caso Enron representa um dos maiores fracassos

empresariais da atualidade e demonstra a crise do sistema econômico global. Muito

embora represente um caso ocorrido nos Estados Unidos, os fatores motivadores da crise

vivenciada pela Enron não se distanciam da realidade brasileira.

Dona de lucros respeitadíssimos e vultuosos, Enron era a empresa para a qual

milhares de americanos sonhavam trabalhar. Seu fundo de pensão para empregados era a

garantia de uma aposentadoria tranqüila. Tamanha era a solidez da empresa que seus

funcionários assumiam financiamento de casa própria na certeza de que, trabalhando para

Enron, não teriam problemas com desempregos. A vida de milhares de empregados foi

planejada com base na vida longa da empresa, mas o que estava por vir chocou a todos.

Em 16 anos, seu patrimônio passou de 16 bilhões para 65 bilhões de dólares.

Enron reinventou o mercado de energia nos EUA ao disponibilizar ações da empresa na

bolsa de valores.

Tão rápida quanto a sua ascendência foi a sua queda – Enron faliu em 24 dias.

Então considerada uma potência empresarial, divulgou, em 2 de dezembro de 2001, seu

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pedido de concordata e, dez dias após, o Congresso Americano começou a analisar a

falência do grupo, o qual possuía uma dívida aproximada de 22 bilhões de dólares.

Administrada por gente competente, porém inescrupulosa, tinha acesso até na

Casa Branca e não foi coincidência que Enron foi a maior financiadora de recursos para a

campanha de George Bush a presidência dos EUA no início dos anos 90.

Verificada a falência da empresa, uma das maiores descobertas do processo

falimentar foi a forma como os administradores financeiros da Enron maquiavam os

números da empresa, através de um programa denominado “Finança Estruturada”. Esta

maquiagem, que durou anos, ocultava fraudes e levava os acionistas não apenas a

acreditar na solidez da empresa, mas também a investir cada vez mais em suas ações.

Esta maquiagem elevava o nível de segurança em investimentos da empresa e ocultava os

prejuízos. Associada a esta maquiagem, existia uma filosofia agressiva de captação de

recursos, e a empresa investia milhões para convencer os americanos a comprar suas

ações.

Outra descoberta, esta mais triste e com resultados catastróficos, foi que, com a

falência, os trabalhadores, que por anos a fio investiram nas ações da empresa, correram

aos bancos para sacar seu dinheiro, apenas para descobrirem que não havia qualquer

quantia disponível. Estima-se que 20 bilhões de dólares desapareceram dos fundos de

pensões.

A maquiagem dos números era do conhecimento de um pequeno grupo de

pessoas, incluindo o presidente, alguns diretores, “traders” e advogados do escritório de

auditoria Arthur Andersen. Em conluio, sabiam que o desmoronamento da empresa

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ocorreria inevitavelmente, mas estavam seguros de que, quando isto acontecesse, já

teriam todos feito fortunas.

Em meados da década de 90, deu-se a privatização da energia elétrica no estado

da Califórnia e a Enron não pensou duas vezes em capitalizar. Regularmente, promovia

apagões em várias cidades do estado, acarretando milhões em prejuízos para empresas e

cidadãos. Com isso, os preços de suas ações subiam vertiginosamente e a Enron faturava

milhões.

O fim de 2000 e início de 2001 marcou o início da queda da Enron, assegura o

filme. As tramas da empresa não puderam mais ser ocultadas e, com isso, o valor de suas

ações despencou.

No segundo semestre de 2001, um de seus mais importantes diretores, Jeff

Skillings, pediu demissão. Em janeiro de 2002, outro alto funcionário, Cliff Baxter, se

matou ao verificar que o mar de denúncias que envolvia seu nome o levaria

inevitavelmente à prisão pelo resto da vida. Seu presidente, Kenneth Lay foi condenado

por diversos crimes. Durante uma investigação no escritório Arthur Andersen, verificou-

se a destruição de milhares de documentos sigilosos que tratavam da maquiagem dos

números da Enron, o que causou enorme abalo à reputação do escritório, que culminou

com a perda de importantes contas e o fechamento de diversas de suas filiais ao redor do

mundo.

As investigações concluíram que aproximadamente 1 bilhão de dólares foram

desviados da Enron por 5 altos funcionários, deixando órfãos milhares de credores e

funcionários, vitimados pela impossibilidade de retirarem seus bônus do fundo de pensão

no qual durante anos investiram suas economias. Ademais, concluíram que há de existir

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uma prática transparente entre administradores de corporações, seus investidores e

empregados, capazes de refletir a real situação financeira de uma empresa.

Em maio de 2006, deu-se por concluído nos Estados Unidos o julgamento dos

executivos Jeffrey Skilling e Kenneth Lay, que, após quatro anos, foram considerados

culpados de vários crimes relacionados ao colapso financeiro da empresa. Enquanto

Skilling atualmente cumpre uma pena superior a 24 anos em prisão no Estado de

Minnesota, Lay morreu em julho de 2006, vítima de um ataque cardíaco fulminante.

Por fim, concluiu o filme que a condenação de Skilling e Lay foi emblemática por

se tratar do desfecho de um caso que revolucionou a maneira como as empresas se

relacionam com os seus acionistas.

Depoimentos retirados do filme “Enron – os mais espertos da sala”

“Com o agravamento da crise na empresa, que não mais conseguia ocultar ou

maquiar suas dificuldades, comecei a ouvir rumores acerca da situação da empresa , que

se espalharam entre o fim de 2000 e o início de 2001. Tornou-se comum a nós, padres da

Igreja Memorial Palmer, recebermos funcionários da Enron abalados e deprimidos com a

situação financeira da empresa, pelos crescentes boatos e pela falta de transparência dos

executivos. À medida que começaram a surgir dúvidas acerca da situação da empresa,

aliadas a comportamentos erráticos dos executivos, o valor das ações da Enron começou

a despencar no mercado. Ainda hoje somos procurados por ex-funcionários da Enron que

não conseguiram absorver os prejuízos provocados pela falência da empresa. Em 2001,

com a falência, 20 mil funcionários perderam seus empregos e aproximadamente 1,2

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bilhão de dólares de fundo de pensão deixaram de ser disponibilizados aos funcionários

(informação verbal)”10.

“Na esteira da queda das ações, durante o verão americano de 2001, especulações

davam conta de que Kenneth Lay poderia vir a ser convidado a participar da

administração do governo George W. Bush, por sua conhecida amizade com o clã Bush

de muitos anos. Não obstante, não apenas o convite a Kenneth Lay não se materializou,

como em 2 de dezembro de 2001 a Enron declarou falência. Somente neste dia é que os

funcionários da empresa receberam a notícia que mudaria suas vidas para sempre, numa

prova inequívoca da falta de transparência dos executivos da empresa para com os

funcionários. Aos funcionários foi dado apenas 30 minutos para recolher seus objetos

pessoais e abandonar as dependências do edifício da Enron (informação verbal)11.

“Em 14 de agosto de 2001, pouco antes da decretação de falência, Jeff Skilling,

um dos mais importantes diretores da Enron, renunciou ao seu cargo, pegando-me e a

todos de surpresa e dando um sinal de alerta aos funcionários, à comunidade e ao

governo. A renúncia fez com que eu e os demais funcionários nos sentíssemos traídos,

uma vez que Skilling exercia forte influência sob nós. Com isto, passei a trabalhar mais

diretamente com Andy Fastow, executivo responsável pela contabilidade da empresa, e

me deparei com números contábeis claramente manipulados, o que me levou a descobrir

as parcerias escusas que Andy estabeleceu em nome da Enron, com o fim de maquiar a

situação financeira da empresa. Parecia impossível que a empresa de consultoria Arthur

10 Depoimento dado pelo Rev. James Netter, da Igreja Memorial Palmer. 11 Depoimento dado por Max Eberts, ex-Relações Públicas da Enron Energy Services.

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Andersen tivesse aprovado tais números, e isto me levou a escrever uma carta anônima

de alerta a Kenneth Lay (informação verbal)”12.

“Durante anos a fio, investi seriamente nas ações da Enron, chegando a acumular

um montante de US$ 348,000, mas com a falência, não obtive mais do que US$ 1,200

com a venda delas. As contas dos fundos de pensão de milhares de funcionários foram

congeladas, mas todos os executivos, cientes da iminente falência, conseguiram retirar

seus milhões de dólares antes do barco afundar (informação verbal)13.

Diante deste resultado final, surge a questão: Como se daria, na realidade

brasileira, o desenrolar de uma caso igual ao da Enron ? Será que o jeitinho brasileiro

não levaria a um outro desfecho ?

Não é preciso um grande esforço de reflexão para se concluir que um caso tal qual

o da Enron certamente encontraria, através do jeitinho brasileiro, um outro caminho, uma

outra conclusão.

Nossa sociedade vive um momento de descrença generalizada: descrença no

sistema político, no sistema legal, nas instituições, nos governantes e no futuro. Vive

descrente na infeliz certeza da impunidade, na certeza de que “isso aí não vai dar em

nada, como sempre”. Nossa realidade mostra que muito se investiga e estas

investigações revelam um cenário típico de um câncer generalizado, onde se percebe que

a corrupção tem tentáculos em todas as camadas sociais. Percebe-se cada vez mais a

prevalência da “Lei de Gérson” (tornada famosa através do jargão “você tem que levar

vantagem em tudo”, dito pelo famoso jogador de futebol em um comercial televisivo de

cigarros, décadas atrás), em detrimento da noção do que é certo e do que é errado. O

12 Depoimento dado por Sheron Watkins, Vice-Presidente da Enron Corporation. 13 Depoimento dado por um ex-funcionário da Portland General, uma das empresas do Grupo Enron.

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comportamento dos homens nem sempre é conforme seus próprios juízos sobre o valor

de seus atos.

Tem-se a impressão de que a noção de certo e errado cada vez mais é relativizada

em nossa sociedade, onde, para muitos, os fins justificam os meios. Enquanto que nos

Estados Unidos viu-se um clamor de todos os prejudicados, reivindicando seus direitos,

em nossa sociedade a passividade impera. Fazem parte do nosso cotidiano variados casos

de corrupção e violência urbana, mas a indignação do povo não se sustenta por muito

tempo.

Não obstante, enquanto que no caso da Enron as investigações levaram à

merecida condenação e prisão de grande parte dos envolvidos, não se vislumbra

infelizmente tal desfecho em nosso país.

Nosso jeitinho entraria em cena: uma “Enron à brasileira” seguramente estaria

operando até hoje, com os acusados em liberdade aguardando a conclusão de processos

judiciais, que, por sua vez, se arrastariam por anos graças aos infindáveis recursos e

influências corporativistas. Em uma “Enron à brasileira”, as fortunas obtidas graças ao

desvio de dinheiro público, ao superfaturamento de obras, às fraudes de licitação, à

compra de decisões judiciais, etc., não só não seriam recuperadas como aqueles que se

apropriaram delas jamais cumpririam sentença na prisão. Em uma “Enron à brasileira”,

doações milionárias a uma campanha presidencial serviriam como garantia de um futuro

ainda mais próspero, sendo impensada a possibilidade de decretação de falência.

Em suma, o jeitinho cuidaria para que uma “Enron à brasileira” não encontrasse o

mesmo fim que o da sua irmã americana. Tudo isto possível graças à falta de vontade

política, ao corporativismo, às leis que privilegiam as elites, à certeza da impunidade.

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Uma “Enron à brasileira” estaria fadada a um providencial esquecimento, pois nossa

memória é curta, ao passo que a Enron que existiu jamais será esquecida.

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CONCLUSÃO

A preocupação com valores éticos tem encontrado cada vez mais espaço nas

mentes dos empresários brasileiros. Restou claro neste estudo que não apenas o cidadão

brasileiro tem se tornado mais exigente na busca de atitudes éticas por parte do

empresariado, como também os próprios empresários se deram conta de que posturas e

ações éticas vinculadas às suas empresas rendem uma imagem positiva perante os

cidadãos. Porém, para a implantação da ética nas organizações, é necessário mais do que

um movimento dos cidadãos e empresários, é essencial a mudança da cultura da

sociedade. Precisamos deixar de nos conformarmos com as situações anti-éticas e nos

mobilizarmos para exigirmos mudanças. Temos alguns exemplos de mobilizações da

sociedade em que o resultado foi satisfatório para a implantação da ética. É necessário

reivindicar mais os nossos direitos e não achar uma maneira de passar pela situação de

uma forma mais confortável. Existem determinadas situações que já se incorporaram ao

nosso cotidiano, ao invés de terem sido banidas através da mobilização da sociedade.

Ao ser estudado , observamos que o “jeitinho brasileiro” permanece incrustado

na cultura nacional, em todas as camadas sociais, o que torna a preocupação do

empresariado brasileiro com valores éticos uma tarefa árdua e longa. Esta mania

nacional definitivamente interfere na prática do Administrador, ao desrespeitar métodos e

procedimentos éticos; com isso, abre-se o caminho para a desonestidade, omissão,

intrigas, condutas inadequadas, mentiras, etc. As pessoas que agem com falta de ética

sabem que não sofrerão nenhuma conseqüência por suas condutas inadequadas, e isso

facilita os procedimentos e as condutas inadequadas. A aplicação do “jeitinho brasileiro”,

ainda que aparentemente inofensiva e insignificante diante das inúmeras condutas

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corruptas levadas ao conhecimento do público no momento atual, é anti-ética, dúvidas

não há que se ter quanto a isto.

Através dessa pesquisa, observamos que a ética precisa estar interiorizada nos

indivíduos, afinal, ela é uma condição de sobrevivência e de convivência social, impõe

limites e deve estar comprometida com a dignidade do ser humano e com a justiça social,

mas, para isso, é necessário uma mudança na cultura da sociedade para sua

implementação.

O principal ponto da ética é a discussão sobre a relação entre os seres humanos,

ou seja, sua forma de agir e os seus costumes. Cada sociedade cria seus valores a partir

de seus interesses na sociedade e cada cultura cria seus valores e define as relações dos

seres humanos. Há uma palavra que pode abrir a porta para um futuro que os brasileiros

mal podem adivinhar: ÉTICA. Segundo Baruch Espinosa, governar é capacitar as

pessoas a desenvolver-se, a fazer pleno uso de sua racionalidade.

O Administrador de hoje é consciente da fundamental importância da ética em um

ambiente organizacional como critério de decisão, sem a qual podem advir resultados

negativos transformados em prejuízos sociais, pessoais e financeiros, afetando de forma

muitas vezes irrecuperável a imagem da empresa que administra. Afinal, permitir a

presença de posturas e compromissos anti-éticos equivale a abrir espaço para enlaces

burocráticos, rígida hierarquia, autoritarismo de chefia, falta de comprometimento com o

cliente, isolamento perante as demais empresas, falta de credibilidade perante

consumidores, etc. Donde se conclui que estas “ferrugens” maculam o dinamismo

corporativo e, como o atual mercado se submete às fortes influências nacionais e

internacionais, as empresas que não acompanham esta tendência estão fadadas ao atraso

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na constante evolução do mercado corporativo. Mas tudo isso não conseguirá implantar

posturas éticas se não houver uma mudança na cultura da sociedade.

Ademais, verificou o estudo que uma organização ética é aquela que valoriza o

ser humano, que age de forma responsável, equilibrando seus interesses econômicos com

os sociais. A ética faz com que as organizações sejam vistas como organismos vivos,

onde cada pessoa inserida tem um papel importante a cumprir e é responsável pelo bom

funcionamento das relações de trabalho e pelo alcance dos objetivos. Neste contexto,

saliente-se a extrema importância do Administrador que, antes de lidar com números,

precisa entender e saber administrar pessoas, que cada vez mais querem ser tratadas com

respeito, seriedade e ética. Com isto, funcionários também se beneficiam ao trabalharem

para empresas que adotam posturas éticas, benefícios estes traduzidos em eficiência,

qualidade de vida, projeção futura, estabilidade, leveza nas comunicações, etc.

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REFERÊNCIAS

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http://www.investsul.com.br/textos_academicos

Filme-documentário: ENRON – os mais espertos da sala

JACOMINO, Dalen. Você é um profissional ético? VOCÊ S.A, Rio de Janeiro, n.25,

p.28-37, jul.2000.

BARBOSA, Lívia. O jeitinho brasileiro. Rio de Janeiro: Campus, 1992. SROUR, Robert Henry. Poder, cultura nas organizações. Rio de Janeiro: Campus, 2005. DAMATTA,Roberto. Carnavais, malandros e heróis – para uma sociologia do dilema

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CAMPOS, Roberto de Oliveira.” A Sociologia do Jeito”. In: A técnica do riso. Rio de

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RAMOS, Alberto Guerreiro. Administração e estratégia do desenvolvimento- elementos

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O valor da ética nas organizações. Revista Brasileira de Administração. Ano XVI- No

51 – Dezembro de 2005