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1 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO COPPEAD DE ADMINISTRAÇÃO BEATRIS HUBER RELACIONAMENTO COLABORATIVO NA TERCEIRIZAÇÃO LOGÍSTICA. UM ESTUDO COM OPERADORES LOGÍSTICOS NO BRASIL RIO DE JANEIRO 2012

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1

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

INSTITUTO COPPEAD DE ADMINISTRAÇÃO

BEATRIS HUBER

RELACIONAMENTO COLABORATIVO NA TERCEIRIZAÇÃO LOGÍSTICA.

UM ESTUDO COM OPERADORES LOGÍSTICOS NO BRASIL

RIO DE JANEIRO

2012

2

BEATRIS HUBER

RELACIONAMENTO COLABORATIVO NA TERCEIRIZAÇÃO LOGÍSTICA.

UM ESTUDO COM OPERADORES LOGÍSTICOS NO BRASIL

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de

Pós Graduação em Administração, Instituto

COPPEAD de Administração, Universidade Federal

do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos

necessários à obtenção do título de Mestre em

Administração.

Orientador Prof. Dr. Kleber Fossati Figueiredo

RIO DE JANEIRO

2012

3

H877r

Huber, Beatris.

Relacionamento colaborativo na terceirização logística: um estudo com

operadores logísticos no Brasil. / Beatris Huber.- 2012.

133 f.: il.

Dissertação (Mestrado em Administração) - Universidade Federal do Rio de

Janeiro, Instituto Coppead de Administração, Rio de Janeiro, 2012.

Orientador: Kleber Fossati Figueiredo

1. Logística. 2. Relações com clientes. 3. Administração - Teses. I. Figueiredo,

Kleber Fossati (Orient.). II. Universidade Federal do Rio de Janeiro. Instituto de

COPPEAD de Administração. III. Título.

4

BEATRIS HUBER

RELACIONAMENTO COLABORATIVO NA TERCEIRIZAÇÃO LOGÍSTICA.

UM ESTUDO COM OPERADORES LOGÍSTICOS NO BRASIL

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de

Pós Graduação em Administração, Instituto

COPPEAD de Administração, Universidade Federal

do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos

necessários à obtenção do título de Mestre em

Administração.

Aprovada por:

___________________________________________________________

Prof. Kleber Fossati Figueiredo, Ph.D. – Orientador

(COPPEAD/UFRJ)

___________________________________________________________

Prof. Paulo Fernando Fleury, Ph.D.

(COPPEAD/UFRJ)

___________________________________________________________

Prof. Edson José Dalto, D.Sc.

(IBMEC)

Rio de Janeiro

2012

5

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente à minha família pelo incentivo e carinho. Sem o apoio dos meus

pais, Dulce Helena e Franz, e do meu irmão, Franz Junior, o mestrado de dedicação exclusiva

não seria opção.

Ao meu companheiro, Luiz Felippe, pela paciência e compreensão. Ele apoiou minha decisão

desde o início, respeitando a intensa rotina de estudo e estando ao meu lado nos momentos em

que eu mais precisei.

Ao meu orientador, Prof. Kleber Figueiredo, por acreditar neste trabalho. Sua competência e

dedicação foram fundamentais não apenas para a conclusão da tese, mas para meu

aprendizado ao longo do mestrado.

Aos professores Paulo Fleury e Edson Dalto, por aceitarem o convite de participar da banca e

pelas críticas positivas para este estudo.

Ao Prof. Otavio Figueiredo, pelo tempo e dedicação despendidos para a realização dos testes

estatísticos do presente estudo.

Aos professores do COPPEAD, pela atenção ao mestrado. Gostaria de agradecer

especialmente à Profa. Denise Fleck pela inteira dedicação à coordenação do mestrado.

Aos amigos da turma 2010, que tornaram o mestrado mais rico e divertido. Gostaria de

declarar um agradecimento especial para a representante de turma, Flávia Freitas, que

acreditou no meu potencial e generosamente compartilhou comigo sua experiência.

Aos funcionários do COPPEAD, não poderia deixar de agradecer pela competência e atenção

que sempre dispensaram a mim e aos demais mestrandos desta instituição.

Finalmente, às empresas que participaram da pesquisa por possibilitarem análises que

agregaram conhecimento à área de logística.

6

RESUMO

Beatris Huber. Relacionamento colaborativo na terceirização logística: um estudo com

operadores logísticos no Brasil. Rio de Janeiro, 2012. Dissertação (Mestrado em

Administração) – Instituto de Pós Graduação e Pesquisa em Administração, COPPEAD,

Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2012.

O presente estudo teve como principal objetivo investigar os elementos que aumentam a

intensidade do relacionamento e os benefícios e riscos do relacionamento mais próximo do

ponto de vista do operador logístico, objeto de estudo desta pesquisa. Para isso, lançou-se

mão de uma extensa revisão de literatura a fim de reunir as variáveis que impactam na

intensidade do relacionamento, as variáveis que definem a intensidade da relação, os possíveis

benefícios do relacionamento mais próximo e os possíveis riscos associados. A partir da

teoria, em sua maior parte estrangeira, especialistas foram entrevistados a fim de adaptar

nomenclaturas e conceitos ao contexto brasileiro de operadores logísticos. Após a certificação

de que a base conceitual do estudo estava alinhada com o contexto estudado, a pesquisa foi

finalmente aplicada em uma amostra representativa do setor de operadores logísticos no

Brasil. No total, a análise de 82 observações levaram às conclusões do presente estudo.

Constatou-se, então, que para aumentar a intensidade do relacionamento é preciso haver

expectativa de continuidade da relação, especificação de funções e regras, conhecimento do

operador sobre o cliente, alinhamento de objetivos estratégicos, compartilhamento de riscos e

benefícios, equipe conjunta e, principalmente, medidas de desempenho em conjunto. Com o

aumento da intensidade de relacionamento, alguns benefícios podem ser alcançados,

principalmente por causa da confiança que o operador possui sobre o cliente, como o aumento

da eficiência operacional e a melhora de desempenho do operador logístico, além de redução

da percepção do risco do investimento específico que o operador faz no cliente. No entanto,

não se pode esquecer dos riscos que este tipo de relacionamento pode trazer para o operador,

consequência principalmente da dependência inerente a esse tipo de relação.

Palavras chave: Operador Logístico, Relacionamento Colaborativo, Elementos do

Relacionamento, Benefícios e Riscos do Relacionamento.

7

ABSTRACT

Beatris Huber. Relacionamento colaborativo na terceirização logística: um estudo com

operadores logísticos no Brasil. Rio de Janeiro, 2012. Dissertação (Mestrado em

Administração) – Instituto de Pós Graduação e Pesquisa em Administração, COPPEAD,

Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2012.

The main purpose of this study was to investigate the elements that increase the intensity of

the relationship and the benefits and risks of a closer relationship from the standpoint of third-

party logistics providers, object of this research. With this in mind, we resorted to an

extensive literature review so as to gather the variables that have an impact on the intensity of

the relationship, the variables that define its strength, the potential benefits of a closer

relationship, and the possible associated risks. On the basis of theory, which is mostly foreign,

experts were interviewed in order to adapt concepts and nomenclatures to the Brazilian

context of logistics providers. After making sure that the conceptual basis of the study was

aligned with the context studied, the research was finally applied in a representative sample of

the logistics operators sector in Brazil. In total, the analysis of 82 observations led to the

conclusions of this study.

It was then found that, in order to increase the intensity of the relationship, there must be an

expectation of the relationship’s continuity, the specification of roles and regulations, the

provider's knowledge about the customer, the alignment of strategic objectives, the sharing of

risks and benefits, a joint-working team, and mainly joint-performance measures. Some

benefits can be achieved from the increase of the relationship’s intensity, mainly due to the

provider’s trust in the customer, such as increased operational efficiency and improved

logistics operator performance, besides a reduction in the operator’s perception of risk in the

specific investment made in the customer. Nevertheless, one cannot forget the risks that this

type of relationship can bring to the provider, mainly due to the dependence inherent to this

type of relationship.

Keywords: Third-party Logistics Provider, Collaborative Relationship, Relationship

Elements, Relationship Benefits and Risks.

8

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

FIGURAS

Figura 1 - Modelo Conceitual Stank et al. (2001) .................................................................... 56

Figura 2 - Modelo Conceitual Min et al. (2005 ........................................................................ 58

Figura 3 – Modelo conceitual Nyaga et al. (2010) ................................................................... 59

Figura 4 – Modelo Conceitual .................................................................................................. 63

Figura 5 – Modelo de pesquisa ................................................................................................. 74

QUADROS

Quadro 1 – Dimensões de intensidade do relacionamento ....................................................... 37

Quadro 2 – Elementos do relacionamento colaborativo ........................................................... 46

Quadro 3 - Benefícios esperados da colaboração para o operador logístico ............................ 53

Quadro 4 – Variáveis relacionadas à intensidade do relacionamento ...................................... 71

Quadro 5 – Variáveis relacionadas aos benefícios do relacionamento colaborativo ............... 72

GRÁFICOS

Gráfico 1 – Percentuais dos custos logísticos para pagamento de terceiros ............................. 14

Gráfico 2 – Faturamento total e quantidade de PSL’s no Brasil .............................................. 15

Gráfico 3 – Tempo de mercado do PSL’s no Brasil ................................................................. 16

Gráfico 4 – Há quantos anos embarcadores utilizam PSL’s nos EUA ..................................... 17

Gráfico 5 - Qual a importância de construir relacionamentos estratégicos para a estratégia da

sua empresa, numa escala de 1 a 10? ....................................................................................... 17

Gráfico 6 – Por que terceirizar? ................................................................................................ 27

Gráfico 7 – Cargo dos Respondentes ....................................................................................... 82

Gráfico 8 – Área de atuação dos respondentes ......................................................................... 83

Gráfico 9 – Gráfico scatter plot do 1º modelo de regressão (Eficiência Operacional) .......... 105

Gráfico 10 - Gráfico scatter plot do 2º modelo de regressão (Desempenho) ......................... 106

Gráfico 11- Gráfico scatter plot do 3º modelo de regressão (Resultado Financeiro) ............ 106

9

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Percepção sobre fatores de sucesso do relacionamento nos EUA .......................... 16

Tabela 2 - Comparação das características dos Operadores Logísticos e Prestadores de

Serviços Logísticos Tradicionais. ............................................................................................. 24

Tabela 3 – Relatório dos benefícios mensuráveis do uso de OL’s ........................................... 28

Tabela 4 – Motivos para a terceirização ................................................................................... 28

Tabela 5 – Quantidade de clientes e parceiros ......................................................................... 83

Tabela 6 – Representatividade do cliente escolhido na receita do operador ............................ 84

Tabela 7 – Posição do cliente escolhido em relação aos outros clientes do operador em termos

de receita ................................................................................................................................... 84

Tabela 8 – Estatística descritiva dos Elementos do Relacionamento ....................................... 86

Tabela 9 - Estatística descritiva das variáveis de intensidade do relacionamento.................... 88

Tabela 10 – Estatística descritiva das variáveis relacionadas aos benefícios do relacionamento

.................................................................................................................................................. 90

Tabela 11 – Estatística descritiva dos riscos associados ao relacionamento ............................ 90

Tabela 12 – Análise fatorial dos atributos de intensidade ........................................................ 93

Tabela 13 – Correlação entre os elementos do relacionamento ............................................... 96

Tabela 14 – Resultado do teste da hipótese 1 ........................................................................... 98

Tabela 15 – Análise fatorial dos benefícios do relacionamento ............................................. 103

Tabela 16 - Resultado do teste da hipótese 2.......................................................................... 105

Tabela 17 - Resultado do teste da hipótese 2 (desconsiderando observações outliers) ......... 107

Tabela 18 – Correlação entre as dimensões de intensidade do relacionamento ..................... 110

Tabela 19 – Resultado do teste de hipótese 3 ......................................................................... 111

Tabela 20 – Resumo dos resultados ....................................................................................... 116

10

SUMÁRIO

1. Introdução ......................................................................................................................... 13

1.1 Objetivos do Estudo ................................................................................................... 13

1.2 Relevância do Estudo ................................................................................................. 14

1.3 Delimitação do Estudo ............................................................................................... 18

1.4 Organização do Estudo .............................................................................................. 18

2. Revisão Bibliográfica ....................................................................................................... 20

2.1 Contexto Logístico ..................................................................................................... 20

2.2 A Indústria da terceirização logística ......................................................................... 22

2.3 Origem e Definição .................................................................................................... 23

2.4 Razões para terceirizar ............................................................................................... 25

2.5 Evolução do conceito de terceirização até colaboração ............................................. 29

2.6 Relacionamento Colaborativo .................................................................................... 31

2.6.1 Classificação do Relacionamento ....................................................................... 31

2.6.2 Intensidade do Relacionamento .......................................................................... 33

2.6.3 Elementos do relacionamento colaborativo ........................................................ 38

2.6.4 Resultados da colaboração.................................................................................. 49

2.6.5 Benefícios ........................................................................................................... 49

2.6.6 Riscos ................................................................................................................. 54

2.7 Modelos de relação entre elementos da colaboração, intensidade do relacionamento e

resultados ................................................................................................................................ 55

2.7.1 Modelo de Stank et al. (2001) ............................................................................ 56

2.7.2 Modelo de Min et al. (2005) ............................................................................... 57

2.7.3 Modelo de Nyaga et al. (2010) ........................................................................... 58

2.8 Resumo e Modelo Conceitual .......................................................................................... 60

3. Metodologia ...................................................................................................................... 64

3.1 Tipo de pesquisa ............................................................................................................... 64

3.1.1 Entrevistas com especialistas.............................................................................. 65

11

3.1.2 Pesquisa quantitativa .......................................................................................... 66

3.2 Universo e Amostra .......................................................................................................... 66

3.3 Perguntas de Pesquisa ....................................................................................................... 67

3.4 Coleta de dados ................................................................................................................. 67

3.5 Questionário ..................................................................................................................... 68

3.6 Operacionalização das variáveis ....................................................................................... 69

3.6.1 Variáveis do perfil demográfico ......................................................................... 69

3.6.2 Elementos do relacionamento ............................................................................. 70

3.6.3 Variáveis associadas à intensidade do relacionamento ...................................... 71

3.6.4 Variáveis associadas aos benefícios do relacionamento colaborativo................ 72

3.6.5 Variáveis associadas aos riscos do relacionamento colaborativo ....................... 73

3.7 Modelo de pesquisa .......................................................................................................... 73

3.8 Tratamento dos dados ....................................................................................................... 73

3.8.1 Identificação de casos incomuns ........................................................................ 75

3.8.2 Análise descritiva dos dados demográficos ........................................................ 75

3.8.3 Análise fatorial exploratória ............................................................................... 75

3.8.4 Regressão linear múltipla ................................................................................... 77

3.8.5 Limitação da pesquisa ........................................................................................ 80

4. Resultados: apresentação e análise ................................................................................... 82

4.1 Perfil da amostra ............................................................................................................... 82

4.2 Estatística descritiva das variáveis ................................................................................... 85

4.3 Teste da hipótese 1 ........................................................................................................... 91

4.3.1 Análise fatorial exploratória ............................................................................... 91

4.3.2 Análise de regressão linear multivariada ............................................................ 95

4.4 Teste da hipótese 2 ......................................................................................................... 101

4.4.1 Análise fatorial ................................................................................................. 102

4.4.2 Análise de regressão linear multivariada .......................................................... 104

4.5 Teste da hipótese 3 ......................................................................................................... 110

4.5.1 Análise de regressão linear multivariada .......................................................... 110

5. Resumo e conclusões ...................................................................................................... 113

5.1 Resumo do estudo ........................................................................................................... 113

12

5.2 Conclusões ...................................................................................................................... 115

5.3 Contribuições da pesquisa .............................................................................................. 120

5.4 Sugestões para pesquisas futuras .................................................................................... 121

Referência bibliográfica ......................................................................................................... 122

Apêndice A - Questionário ..................................................................................................... 127

Apêndice B – Análise de resíduos dos modelos de regressão linear do teste da hipótese 1 .. 131

Apêndice C – Análise de resíduos dos modelos de regressão linear do teste da hipótese 2 .. 132

Apêndice D – Análise de resíduos dos modelos de regressão linear do teste da hipótese 3 .. 133

13

1. INTRODUÇÃO

A logística vem assumindo uma função estratégica que adiciona valor às empresas, sendo

muitas vezes vista como fonte de vantagem competitiva. O dinâmico ambiente econômico

forçou as organizações a concentrarem seus esforços no core business em busca de melhores

resultados e menores custos. A logística, portanto, ao mesmo tempo em que tem sua

importância reconhecida, tem sido um alvo permanente de terceirização.

A popularidade da terceirização de atividades logísticas é resultado de benefícios para o

embarcador como redução de custos ou capital investido, melhora no nível de serviço, maior

eficiência e flexibilidade operacionais, especialização etc. Para atender essa demanda,

surgiram provedores logísticos especializados que ofereciam, inicialmente, serviços básicos

como transporte e armazenagem.

Com o tempo, as exigências dos contratantes quanto à variedade e complexidade dos serviços

aumentaram, dando origem a uma evolução na indústria. Surgem, então, os Operadores

Logísticos, foco de pesquisa deste trabalho. Além da prestação de serviços de maior valor

agregado, percebe-se a tendência de longo prazo nos relacionamentos entre embarcadores e

operadores logísticos. A terceirização de atividades logísticas muitas vezes desabrocha em

uma verdadeira parceria entre o cliente e o prestador de serviço.

Os relacionamentos colaborativos na terceirização logística são compostos por diversos

elementos típicos da parceria, que geram confiança, compromisso e dependência, aumentando

a intensidade da relação. Além disso, relacionamentos mais próximos podem trazer uma série

de benefícios para o embarcador e, principalmente, para o provedor de serviço. Por outro

lado, não podemos esquecer os riscos para o operador logístico de trabalhar de forma mais

próxima com um número limitado de clientes. Quais seriam então os fatores fundamentais do

relacionamento colaborativo e os resultados esperados desse tipo de relação no Brasil?

1.1 OBJETIVOS DO ESTUDO

A presente pesquisa possui dois objetivos de estudo. O primeiro é identificar os elementos

diferenciadores do relacionamento colaborativo entre o operador logístico e o embarcador e o

segundo é investigar os resultados alcançados ou esperados deste tipo de relação, sob a ótica

do operador.

14

O primeiro objetivo de identificar os elementos que diferenciam o relacionamento

colaborativo de um relacionamento convencional baseado em transações e, por esta razão,

chamado de transacional, visa entender os fatores principais da colaboração. Para tanto, foram

levantados os principais elementos encontrados na literatura que foram testados a fim de

identificar os fatores mais importantes para a colaboração no setor de operadores logísticos no

Brasil.

Em segundo lugar, essa pesquisa almeja identificar os principais resultados da colaboração

sob a ótica do operador. Os resultados podem tomar tanto a forma de benefícios, onde foram

investigadas as principais recompensas da colaboração para o operador, quanto de riscos,

onde foram buscados os principais custos percebidos pelo operador quando o relacionamento

não transcorre de acordo com as expectativas.

1.2 RELEVÂNCIA DO ESTUDO

Cada vez mais a terceirização logística está sendo considerada como uma alternativa

estratégica para as empresas que desejam melhores serviços, ao mesmo tempo em que buscam

eficiência operacional e redução de custos. Dados de COPPEAD (2003) indicam que o índice

de terceirização logística no Brasil saltou de 41% para 60% entre 1998 e 2003. A pesquisa de

2009 mostra que esse índice aumentou ainda mais. No Brasil, 63% dos custos logísticos são

utilizados para pagamento de terceiros como mostra o Gráfico 1, retirado do Panorama

Terceirização Logística no Brasil – COPPEAD (2009a).

Gráfico 1 – Percentuais dos custos logísticos para pagamento de terceiros

Fonte: Panorama Terceirização Logística no Brasil 2009 – COPPEAD

65% 63% 62%

47%

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

Europa Brasil Ásia

Pacífico

América do

Norte

15

Outra evidência da crescente importância da terceirização logística é o rápido crescimento dos

prestadores de serviços logísticos, especialmente em termos de faturamento. No período entre

2007 e 2009, o número de prestadores de serviços logísticos cresceu de 128 para 165 e a

receita total do setor aumentou 44,7%, como mostra o Gráfico 2 (PANORAMA, 2010a).

Gráfico 2 – Faturamento total e quantidade de PSL’s no Brasil

Fonte: Panorama Operadores Logísticos e Ferrovias 2010 – Instituto ILOS

A relevância da presente pesquisa também está na tendência dos relacionamentos mais

próximos. Na pesquisa “3PL Results and Findings of the 15th Annual Study” de Langley

(2010), 46% dos embarcadores americanos confessaram que estão reduzindo ou consolidando

o número de operadores usados. Do ponto de vista do prestador de serviço, esse número sobe

para 73%, ou seja, 73% dos operadores logísticos têm a percepção de que os embarcadores

estão reduzindo o número de operadores. Considerando que 89% dos embarcadores e 97%

dos prestadores de serviços nos EUA estão satisfeitos com o relacionamento (LANGLEY,

2010), a redução do número de operadores por cliente é um indicativo de que as relações entre

o tomador e o provedor de serviço estão mais próximas.

A pesquisa de Langley (2010) investigou também a percepção dos contratantes e contratados

com relação a existência de alguns fatores de sucesso que tornam o relacionamento

embarcador-operador o melhor possível. A Tabela 1 mostra o percentual de embarcadores e

prestadores de serviços logísticos que citaram cada fator.

R$ 1,5 R$ 3,4 R$ 4,7 R$ 6,0 R$ 10,2 R$ 16,4 R$ 21,3 R$ 21,7 R$ 26,6 R$ 38,5

98 107

124 114 112 118

133 122 128

165

1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

Receita total dos PSL's (Bilhões de R$) Quantidade de PSL's

16

Tabela 1 – Percepção sobre fatores de sucesso do relacionamento nos EUA

Fator de sucesso do

relacionamento

Perspectiva do embarcador

(% de respondentes)

Perspectiva do

prestador de serviço (% de respondentes)

Abertura, transparência e boa

comunicação 70% estão satisfeitos 64% estão satisfeitos

O operador logístico possui

agilidade e flexibilidade para

atender necessidades de mudança

correntes ou futuras

72% concordam 98% acham que essa é a

expectativa do cliente

Interesse no compartilhamento de

ganho entre operadores logísticos

e embarcadores 56% estão interessados

52% acham que seus

clientes estão

interessados

Interesse na colaboração com

outras empresas, até mesmo

competidores, para atingir

melhorias nos custos logísticos e

nível de serviço

68% estão interessados 80% estão interessados

Fonte: Langley (2010)

O interesse pelo relacionamento colaborativo pode ser consequência do amadurecimento do

setor de operadores logísticos. Como mostra o Gráfico 3, o tempo de mercado dos prestadores

de serviços logísticos tem aumentado no Brasil. Além disso, os embarcadores estão mais

experientes na utilização de terceiros. Em média, os embarcadores americanos já possuem

operador logístico há 13 anos, como evidencia o Gráfico 4 de forma desagregada.

Gráfico 3 – Tempo de mercado do PSL’s no Brasil

Fonte: ILOS (2010)

0% 20% 40% 60% 80% 100%

2002

2003

2004

2005

2006

2007

2008

2009

2010

até 5 anos

5 a 10 anos

10 a 15 anos

15 a 30 anos

30 ou mais anos

17

Gráfico 4 – Há quantos anos embarcadores utilizam PSL’s nos EUA

Fonte: Langley (2010)

Por último, o Panorama (2009b) investiga empresas brasileiras de diversos setores sobre o

grau de importância de algumas ações para a estratégia da empresa. Ao questionar sobre o

grau de importância de construir relacionamentos estratégicos, 108 respondentes avaliaram

como 7,5 a nota da importância, em uma escada de 1 a 10. O resultado da pesquisa encontra-

se no Gráfico 5.

Gráfico 5 - Qual a importância de construir relacionamentos estratégicos para a

estratégia da sua empresa, numa escala de 1 a 10?

Fonte: Panorama Tecnologia da Informação no Supply Chain 2009 – COPPPEAD

1 a 3 anos

10%

4 a 7 anos

15%

8 a 10 anos

23%

11 a 2 anos

35%

21 a 30 anos

17%

1 a 5

22%

6

9%

7

16% 8

17%

9

16%

10

20%

18

Os dados apresentados nesta seção evidenciam a importância do tema no meio corporativo; no

entanto, pesquisadores acadêmicos percebem que tem se dado pouca atenção empírica para a

relação entre prestadores de serviços logísticos e seus clientes (MURPHY E POIST, 2000;

LIU e LYONS, 2011). Dessa forma, esta pesquisa possui também grande relevância

acadêmica, pois contribui com um tema pouco explorado na teoria.

1.3 DELIMITAÇÃO DO ESTUDO

Embora o tema estudado possua relevância tanto para embarcadores quanto prestadores de

serviços logísticos, uma vez que o relacionamento colaborativo acontece entre ambos, a

presente pesquisa delimita-se a estudar a questão do ponto de vista do prestador de serviço.

Além disso, a pesquisa se restringirá a prestadores de serviço do tipo Operador Logístico, de

acordo com definição publicada pela revista Tecnologística e apresentada na seção 2.2.1 do

presente estudo. A seleção do conjunto de empresas alvo do estudo foi baseada na lista de

Operadores Logísticos atuantes no Brasil, publicada na revista em 2011.

1.4 ORGANIZAÇÃO DO ESTUDO

Para facilitar a compreensão da estrutura da dissertação e dar ao leitor uma sinopse dos

capítulos do presente estudo, uma explicação do conteúdo tratado em cada um dos cinco

capítulos será fornecida a seguir.

O capítulo 1, no qual esta seção está inserida, inicia-se com uma introdução e breve

explicação do contexto em que o trabalho foi desenvolvido com o intuito de situar o leitor e

despertar seu interesse sobre a pesquisa. Em seguida, apresentam-se os objetivos do estudo, a

sua relevância e a sua delimitação, além da presente seção que trata da disposição dos

capítulos.

No segundo capítulo encontra-se a estrutura teórica em que se baseia o trabalho. A revisão de

literatura aborda o contexto logístico, em seguida apresenta a indústria dos Operadores

Logísticos para então abordar o principal tema que são os relacionamentos colaborativos entre

o embarcador e o prestador de serviços logísticos. Entre as referências utilizadas, podem-se

citar livros, pesquisas acadêmicas, estudos realizados por institutos de pesquisa, revistas

especializadas, entre outros. Ao final desse capítulo, descreve-se o modelo conceitual

utilizado como base para a pesquisa de campo.

19

O capítulo 3 descreve a metodologia utilizada na pesquisa. Nessa seção, é descrito o tipo de

pesquisa em que este estudo se enquadra, são apresentadas as perguntas de pesquisa, assim

como a forma de coleta dos dados e a descrição do questionário. Este capítulo também traz

informações sobre a amostra, sobre as variáveis investigadas e como os dados foram tratados

para se chegar às conclusões do estudo, descrevendo os testes estatísticos utilizados na

presente pesquisa.

Em seguida, o capítulo 4 apresenta os resultados dos testes estatísticos e faz uma breve análise

de cada resultado à luz da teoria. Esta seção inicia apresentando o perfil da amostra e em

seguida discute os resultados dos testes de cada uma das três hipóteses.

Por último, o quinto capítulo conclui o estudo apresentando um breve resumo, as principais

conclusões e implicações do estudo, as contribuições da pesquisa para o meio acadêmico e

gerencial e, finalmente, apresenta sugestões para pesquisa futuras.

20

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Este capítulo apresenta a fundamentação teórica do presente estudo e está divido em três

etapas.

Na primeira parte, será feita uma contextualização do ambiente logístico, no qual o objeto de

pesquisa deste estudo está inserido. O objetivo dessa etapa é mostrar os fatores,

principalmente econômicos, que levaram as empresas a fazer uso da terceirização de funções

logísticas.

Em seguida, será apresentada a indústria da terceirização logística mostrando sua origem e

definindo o termo Operador Logístico. Na segunda etapa da revisão também serão mostradas

as principais razões para terceirizar e como a terceirização evoluiu para uma forma mais

colaborativa.

Por último, o relacionamento colaborativo será tratado de forma mais direta, abordando os

temas que serão efetivamente utilizados no modelo conceitual. Na última etapa da revisão

bibliográfica, serão apresentadas diferentes formas de classificação do relacionamento e a

intensidade do relacionamento. Elementos do relacionamento colaborativo, assim como

resultados (riscos e benefícios) esperados da colaboração serão identificados e definidos. Esta

etapa também apresenta modelos conceituais encontrados na literatura que relacionam, de

alguma forma, os elementos, a intensidade e os resultados do relacionamento colaborativo.

Finalmente, esta etapa é concluída com o modelo conceitual usado como base no presente

estudo.

2.1 CONTEXTO LOGÍSTICO

Stank e Daugherty (1997) declaram que durante as décadas de 80 e 90, as organizações se

depararam com demandas por serviços logísticos melhores, mais rápidos e mais baratos. Isso

se deveu a mudanças econômicas, que, segundo Fleury (2000), criaram novas exigências

competitivas tornando as operações logísticas cada vez mais complexas e demandantes.

Segundo o autor, as principais mudanças econômicas que afetaram a logística nas duas

últimas décadas foram:

Globalização – com a crescente integração da economia mundial e a desregulamentação de

mercados, as organizações podem comprar e vender em qualquer local do planeta,

aumentando a complexidade logística, dado o incremento na quantidade de clientes,

21

fornecedores, locais para suprimento e distribuição, distâncias percorridas, e as barreiras

culturais e regulatórias que as empresas devem vencer.

Aumento das incertezas econômicas – em um mundo onde mudanças ou crises nacionais

tendem a espalhar-se numa escala mundial, as incertezas econômicas são reflexo de alterações

cambiais, recessão, mudanças na regulamentação etc. As incertezas, frutos da

interdependência e volatilidade econômicas, criam dificuldades para previsão de vendas e

planejamento de atividades logísticas.

Proliferação de produtos – com o objetivo de diferenciação, as empresas lançam novos

produtos com frequência. Visto que a logística é responsável por disponibilizar o produto

certo na hora certa e no local certo, quanto maior o portfólio de produtos, mais complexo seu

processo de entrega.

Menores ciclos de vida – as rápidas mudanças na tecnologia fazem com que os produtos

sejam facilmente substituídos por outros mais modernos e atrativos. A redução nos ciclos de

vida aumenta o risco de obsolescência do estoque, forçando a logística a reduzir os níveis de

estoque sem deixar faltar produto para o cliente.

Maior exigência de serviços – o consumidor está cada vez mais exigente quanto ao nível de

serviço esperado das empresas. O preço e a qualidade dos produtos não são mais

diferenciadores, desafiando a logística a lidar com a pressão por uma maior consistência,

frequência e velocidade de entrega de seus produtos.

“Em seu conjunto, esse grupo de mudanças econômicas vem transformando a visão

empresarial sobre Logística, que passou a ser vista não mais como uma simples atividade

operacional, um centro de custos, mas sim como uma atividade estratégica, uma ferramenta

gerencial, fonte de vantagem competitiva.” (FLEURY, 2000, p. 29)

No Brasil, a estabilização econômica trazida pelo plano real em 1994 despertou as grandes

organizações para a importância fundamental da logística na criação e manutenção da

vantagem competitiva, como lembram Fleury e Wanke (2003). Segundo os autores, a logística

brasileira vem constituindo-se em um negócio de grandes proporções que evoluiu muito

22

rápido nos últimos anos. Hoje, os custos logísticos correspondem a cerca de 11,6% do PIB

brasileiro e, no âmbito microeconômico, 8,3% da receita líquida das empresas.1

Fleury e Ribeiro (2003) acrescentam que os investimentos em logística são cada vez mais

necessários, dado o aumento da complexidade da cadeia de suprimentos. No entanto, a

logística, muitas vezes, não faz parte do core business das empresas e, nestes casos, várias

delas preferem terceirizar todas ou algumas das atividades logísticas para poderem

concentrar-se no seu próprio negócio. Stank e Daugherty (1997) concordam que a demanda

por melhores serviços logísticos e, ao mesmo tempo, pela redução de custos, resultaram na

decisão dos produtores de focar na sua core compentence e terceirizar as atividades logísticas.

A próxima seção aborda, então, a indústria da terceirização logística, mais especificamente os

operadores logísticos que, segundo Murphy e Poist (2000), é uma das principais questões na

gestão logística contemporânea.

2.2 A INDÚSTRIA DA TERCEIRIZAÇÃO LOGÍSTICA

Langley (2010) alerta que embarcadores consideram a logística e o supply chain management

como fatores de sucesso do negócio em geral. Muitos deles afirmam que operadores logísticos

estão ajudando-os a alcançar seus objetivos relacionados a serviço, custo e satisfação do

cliente. Segundo a declaração de um executivo de supply chain publicada na pesquisa de

Langley (2010), atualmente os negócios estão tendo que lidar com a alta volatilidade da

economia, tornando a flexibilidade e a capacidade de adaptação componentes fundamentais

para o sucesso. Para o executivo, o uso de operadores logísticos pode ser um recurso bastante

útil no esforço de manter a cadeia de suprimentos flexível e adaptável.

Com o objetivo de compreender melhor essa indústria, serão apresentados nesse capítulo a

origem dos operadores logísticos e a definição desse segmento, assim como as razões para a

terceirização e as especificidades da terceirização colaborativa. A finalidade dessa seção é

evidenciar como o relacionamento colaborativo tornou-se um componente importante no

desempenho e futuro dos operadores logísticos.

1 Panorama Logístico. Custos Logísticos no Brasil – Instituto ILOS 2010.

23

2.3 ORIGEM E DEFINIÇÃO

Dado o atual contexto logístico, com toda sua complexidade e importância competitiva,

Barros (2009) observa que, nos últimos anos, empresas de todo o mundo buscaram formas

mais eficientes para conduzir suas operações logísticas. Uma das alternativas encontradas

para essa reestruturação foi a terceirização dos serviços logísticos, fazendo com que optassem

por entregar aos prestadores de serviços logísticos desde as atividades operacionais até as

mais estratégicas e de gestão.

De acordo com Bowersox (1990), quatro forças criaram um ambiente favorável para o

surgimento da terceirização logística. (1) o ambiente político-legal dos anos 1980, que

estimulou o desenvolvimento de práticas de serviço integrado; (2) o surgimento da tecnologia

da informação; (3) a ênfase em organizações mais enxutas, levando os gestores a buscar

especialistas externos para resolver problemas e questões de desempenho; (4) um ambiente

cada vez mais competitivo, forçando os players a fazer tudo que podem para reduzir seus

custos. Fleury e Ribeiro (2003) também listaram uma série de fatores que contribuíram para o

crescimento da indústria de operadores logísticos. Dentre eles estão o amplo movimento de

terceirização, patrocinado pelas empresas industriais e comerciais a partir da década de 80, a

crescente importância do serviço ao cliente, novos padrões de relacionamento nas cadeias de

suprimento e a maior disponibilidade de tecnologia de informações para aplicações logísticas.

Ashenbaum, Maltz e Rabinovich (2005) declaram que os prestadores de serviços logísticos

foram identificados como uma indústria independente no final dos anos 80 e desde então só

cresce o número de estudos nesse setor de serviço. Knemeyer e Murphy (2005) chamam a

atenção, no entanto, para um desafio enfrentado pelos crescentes estudos empíricos: o

emprego de diferentes definições para o termo Operador Logístico. Para amenizar este

problema, os parágrafos seguintes buscam uma definição criteriosa desse setor.

De acordo com Mattos (2006) empresas que prestam qualquer tipo de serviços logísticos, os

chamados prestadores de serviços logísticos, são referenciadas de diferentes formas na

literatura: “terceiros provedores de serviços logísticos” (3PL ou third-party logistics

providers), “empresas de logística contratadas” (contract logistics companies), “provedores

de logística integrada” (integrated logistics providers), “alianças logísticas” (logistics

alliances) e “operadores logísticos” (logistics operators). Segundo o autor, cada expressão é

usada com diferentes objetivos e significados. Para o presente estudo, a expressão mais

24

adequada é “operador logístico” e faz-se necessário delimitar as condições que fazem um

prestador de serviço logístico seja considerado um operador.

Fleury (1999) compara os operadores logísticos com os demais prestadores de serviços.

Segundo o autor, os operadores são capazes de oferecer serviços logísticos integrados de

forma personalizada, atendendo grande parte das necessidades logísticas de seus clientes,

como mostra a Tabela 2.

Tabela 2 - Comparação das características dos Operadores Logísticos e Prestadores de

Serviços Logísticos Tradicionais.

Provedor de Serviços Tradicionais Operador Logístico Integrado

Oferece serviços genéricos – commodities Oferece serviços sob medida –

personalizados

Tende a concentrar em uma única atividade

logística: transporte, estoque ou

armazenagem

Oferece múltiplas atividades de forma

integrada: transporte, estoque e

armazenagem.

O objetivo da empresa contratante do serviço

é a minimização do custo específico da

atividade contratada.

O objetivo da contratante é reduzir os custos

totais da logística, melhorar os serviços e

aumentar a flexibilidade.

Contratos de serviços tende, a ser de curto a

médio prazos (6 meses a 1 ano).

Contratos de serviços tendem a ser de longo

prazo (5 a 10 anos).

Know-how tende a ser limitado e

especializado.

Possui ampla capacitação de análise e

planejamento logístico, assim como de

operação.

Negociações para os contratos tendem a se

rápidas (semanas) e em um nível

operacional.

Negociações para contrato tendem a ser

longas (meses) em um nível gerencial.

Fonte: Fleury (1999)

A definição de Operador Logístico (OL) que será utilizada como base para este trabalho foi

publicada pela revista especializada Tecnologística em 1999:

25

“Operador Logístico é o prestador de serviços logísticos especializado em gerenciar

e executar todas ou parte das atividades logísticas nas várias fases da cadeia de

abastecimento de seus clientes, agregando valor aos produtos dos mesmos, e que

tenha a competência para, no mínimo, prestar simultaneamente serviços nas três

atividades básicas de controle de estoque, armazenagem e gestão de transportes”

(TECNOLOGÍSTICA, 1999, ao IV, n.39, p. 34)

2.4 RAZÕES PARA TERCEIRIZAR

Os motivos que levam as empresas a deixarem suas atividades logísticas nas mãos de

prestadores de serviços logísticos são diversos e constituem tema de vários estudos. Lynch

(2000) afirma que existem muitas razões para terceirizar funções logísticas e muitas dessas

razões são únicas para organizações ou setores específicos. Mas, de um modo geral, existe

uma série de vantagens na subcontratação de serviços logísticos. A seguir, estão definidas as

motivações da terceirização destacadas pelo autor:

Retorno sobre os ativos – ao reduzir os investimentos em instalações e equipamentos, os

retornos são aumentados significativamente e o capital pode ser investido em

empreendimentos que fazem parte do negócio principal.

Produtividade do pessoal – a utilização de pessoal pode ser mais eficiente quando se

concentra no core business, uma vez que menos pessoas terão que ser treinadas em menos

habilidades ao aumentar o nível de expertise.

Flexibilidade - à medida que as características do mercado e do produto mudam, as

necessidades logísticas também mudam e a utilização de um prestador de serviços logísticos

reduz o risco de obsolescência de instalações e equipamentos.

Considerações empregatícias – questões sindicalistas são reduzidas ao usar mão-de-obra de

terceiros.

Custo – para muitos embarcadores, os custos operacionais são as considerações mais

importantes na terceirização. Além dos savings em investimento, os tomadores de serviço

esperam que as instalações externas operem a baixo custo e alcancem economias de escala

que não seriam possíveis internamente.

Considerações políticas e de gestão – é mais fácil gerir um ou um número limitado de

prestadores de serviços do que administrar uma série de funções individuais internamente.

26

Serviço ao cliente e serviço especializado – o foco na satisfação do cliente tem grande

impacto nas práticas logísticas fazendo com que a especialização se torne regra.

Tecnologia da informação – quando recursos tecnológicos são escassos ou possui baixa

prioridade na organização, a utilização de provedores de serviços que já possuem os sistemas

necessários ou a habilidade de desenvolvê-los pode ser vantajosa.

Os prestadores de serviços logísticos – o aumento da maturidade das empresas de logística,

que hoje utilizam sistemas integrados, possuem instalações, conhecem técnicas de manuseio

de material e possuem profissionais especializados, implica melhores qualificações do que o

embarcador na função de distribuição do produto.

Bolumole (2001) concorda que as organizações terceirizam suas funções logísticas por

variados motivos, mas destaca como razão principal a percepção da falta de expertise logística

in house necessária para gerir operações de distribuição de forma centralizada, ou seja, de

forma mais eficiente. Em sua pesquisa, a autora identificou outras razões operacionais para

terceirizar as atividades logísticas como a necessidade de conseguir volume com produtos

complementares e consolidação, acesso às competências e instalações existentes,

disseminação de riscos, eficiência operacional e redução de custos fixos.

Jiang, Frazier e Prater (2006) acreditam que a principal razão para a terceirização logística é a

eficiência de custo, concordando com Lynch (2000). De acordo com a pesquisa, empresas que

terceirizavam suas atividades logísticas possuíam vantagens significantes em eficiência de

custo comparado com seus concorrentes que não faziam uso da terceirização. Barros (2009)

argumenta que muitos embarcadores entregam suas atividades logísticas aos prestadores de

serviços logísticos, pois estes poderiam aperfeiçoar suas operações com maior habilidade e

conhecimento, gerando alguma economia. A autora apresenta alguns exemplos de economia

como: os operadores logísticos podem agrupar a carga de um cliente com a de outras

empresas, conseguindo reduzir o custo da tonelada transportada.

Wilding e Juriado (2004) discordam de que a redução de custos seja o principal fator para a

terceirização. Para os autores, custos são um fator qualificador e não ganhador de pedido uma

vez que as organizações, ao contratar prestadores de serviços logísticos, já assumem de

antemão baixos custos logísticos e suas decisões de terceirização são tomadas com base em

fatores de serviço.

27

Esses autores investigaram a percepção de clientes da terceirização logística na indústria

europeia de bens de consumo. A pesquisa evidencia que as principais motivações para a

terceirização envolvem serviço e custos, sendo que o primeiro é mais representativo que o

segundo. Dentre as possíveis razões para contratar serviços logísticos, as principais são

competências dos operadores, flexibilidade operacional, redução de custo e foco no core

business. O resultado da pesquisa, que avaliou 50 respostas de organizações do setor de bens

de consumo no Reino Unido, França e Alemanha, está ilustrado no Gráfico 6.

Gráfico 6 – Por que terceirizar?

Fonte: Winding e Juriado (2004)

Langley (2010) apresenta um relatório com a mensuração dos benefícios do uso de operadores

logísticos do ponto de vista de embarcadores americanos. Os resultados relatados pelos

embarcadores sobre redução de custos logísticos, redução de ativos logísticos e redução de

custos de estoque foram consistentes com o relatório de 2009 e estão apresentados na Tabela

3.

No Brasil, também foi feito um estudo sobre os motivos pelos quais as empresas optam pela

terceirização logística. De acordo com COPPEAD (2009), o principal motivo que levam as

empresas a terceirizar a logística é a redução de custos, com 81% das respostas. A Tabela 4

apresenta o resultado da pesquisa realizada em 2008 com 118 empresas de diversos setores do

grupo das maiores em faturamento do país.

56%

54%

54%

50%

38%

18%

6%

8%

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60%

Competências dos OL's

Flexibilidade operacional

Redução de custos

Foco no core business

Evitar investimentos

Expansão para novos mercados

Mão de obra

Outros

Porcentagem de respostas

28

Tabela 3 – Relatório dos benefícios mensuráveis do uso de OL’s

Benefício Indicador

de melhoria

Redução de custos logísticos 15%

Redução de ativos logísticos fixos 25%

Redução de custos de estoque 11%

Média da duração

do ciclo do pedido

Mudança de: 17 dias

Para: 12 dias

Taxa de atendimento

do pedido

Mudança de: 73%

Para: 81%

Precisão no

atendimento do

pedido

Mudança de: 83%

Para: 89%

Fonte: Langley (2010)

Tabela 4 – Motivos para a terceirização

Motivos para terceirizar % de Citações

Reduzir custos 81%

Focar no core business 73%

Aumentar os níveis de serviço logístico 73%

Trazer maior eficiência na execução das atividades

operacionais 73%

Reduzir o investimento em ativos 72%

Adquirir maior flexibilidade nas operações logísticas 66%

Realizar serviços especializados de maior valor agregado 56%

Trazer maior know how para geração de novas soluções

logísticas 53%

Aumentar o controle das atividades logísticas 46%

Expandir mercados 43%

Melhorar as Tecnologias de Informação utilizadas 43%

Fonte: Panorama Terceirização Logística no Brasil 2009 – COPPEAD

29

Barros (2009) lembra, porém, que os motivos para terceirizar são diferentes para cada setor da

economia. Para as empresas do segmento químico e petroquímico, por exemplo, o mais

importante seria a “redução de custos”. Entre as empresas dos setores de bebidas, papel e

celulose e material de construção e decoração, tão importante quanto reduzir custos seria

também “aumentar os níveis de serviço logístico”. Já o motivo “redução do investimento em

ativos” é relevante para diversos setores, principalmente aqueles onde o veículo utilizado é

mais específico e, portanto, mais caro.

Conclui-se, portanto, que as razões para terceirizar são diversas e a importância de cada

motivação depende de diversos fatores, dentre os quais o país estudado e o setor de atuação da

organização.

2.5 EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE TERCEIRIZAÇÃO ATÉ COLABORAÇÃO

Bagchi e Virum (1996) declaram que organizações de sucesso focam no seu core business e

reforçam que no atual mercado dinâmico onde mudanças tecnológicas estão cada vez mais

rápidas, é quase sempre impossível para uma organização ser a melhor em tudo. A

terceirização de atividades logísticas ajuda as empresas a concentrar em algumas áreas

principais enquanto que os parceiros cuidam de outras áreas críticas do negócio. As atividades

que são mais comumente terceirizadas são transporte e armazenagem (BOWERSOX, 1990).

Bagchi e Virum (1996) reforçam que, muitas vezes, as alianças começam com a terceirização

do transporte e algumas funções de armazenagem.

Bagchi e Virum (1996) complementam, porém, que baseados em um desempenho superior

nas primeiras fases, o relacionamento frequentemente desabrocha em uma verdadeira parceria

englobando todos os elementos logísticos. Leahy et al. (1995) percebem que, durante a última

década, aconteceu uma dramática mudança do prestador de serviço logístico tradicional, em

que o prestador oferecia relativamente poucos serviços básicos em uma base transacional de

curto prazo para uma visão mais moderna caracterizada pelas ofertas de serviço abrangentes e

relacionamentos de longo prazo. Muitos embarcadores e clientes potenciais estão percebendo

que podem ganhar vantagem competitiva baseado na expertise e recursos oferecidos pelo

moderno prestador de serviço. Como resultado, é previsto um explosivo crescimento na

terceirização e a capacidade de gerir habilmente essas relações tornar-se-á cada vez mais um

diferencial logístico no futuro.

30

Ellram e Cooper (1990) chamam a atenção para os riscos da terceirização do ponto de vista do

tomador de serviço. Os riscos mais citados estão associados com a perda de controle das

funções logísticas, a perda da capacitação in house e a perda de contato com o cliente. Stank,

Crum e Arango (1999) colocam, então, o relacionamento colaborativo entre o embarcador e o

prestador de serviço como uma maneira de lidar com a perda de controle proveniente da

terceirização. A relação mais próxima permite que o contratante mantenha certo grau de

controle sobre as funções terceirizadas sem incorrer no comprometimento de investimentos.

Do ponto de vista do operador, os relacionamentos de curto prazo possuem foco na prestação

de serviços logísticos básicos. Esses serviços, por sua vez, são percebidos como commodity,

com baixa margem e pouca oportunidade de diferenciação (BOLUMOLE, 2003). A autora

declara, por outro lado, que relacionamentos entre embarcador e prestador de serviço de longo

prazo tendem a envolver responsabilidades de maior valor agregado à medida que os clientes

ganham confiança nas capacitações do prestador de serviço. As atividades de maior valor

agregado permitem, então, que o operador logístico seja mais integrado as estratégias e

operações dos seus clientes. Essas capacitações podem se tornar difíceis de serem replicadas

pelos clientes, aumentando a dependência no operador logístico e aumentando a probabilidade

de manter o relacionamento.

A pesquisa de Langley (2010) mostra que o futuro dos operadores logísticos dependerá da sua

capacidade de prover soluções inovadoras para os problemas logísticos e da cadeia de

suprimentos. Segundo o autor, os componentes mais importantes para o relacionamento entre

embarcadores e operadores serão a confiança necessária para alcançar padrões de qualidade e

vontade de compartilhar informações essenciais para desenvolver uma estratégia de cadeia de

suprimentos otimizada que reduza o custo total.

A terceirização logística, portanto, pode tomar diferentes formas e condições, desde um

contrato de transporte de curto prazo até acordos de aliança estratégica que contemplam todas

as atividades logísticas durante muitos anos (BAGCHI E VIRUM, 1996). Bowersox (1990)

também aponta algumas características que distinguem a terceirização convencional dos

arranjos cooperativos. Na compra tradicional, a terceirização é uma decisão de make or buy

guiada basicamente por considerações de custo. Já a aliança logística é um negócio especial

em que as partes buscam benefícios da sinergia de trabalhar juntos. Outra diferença é a

concentração em um relacionamento contínuo ao invés de uma série de transações únicas. No

31

relacionamento contínuo, é desenvolvido um alto nível de dependência que estimula maior

cooperação.

Segundo Bagchi e Virum (1996), a aliança logística indica um relacionamento próximo de

longo prazo entre o cliente e o prestador responsável por atender uma grande gama de

necessidades logísticas. Em uma aliança logística, as partes idealmente consideram-se entre si

como parceiras e ambas participam no planejamento e desenvolvimento de soluções logísticas

e mensuração de desempenho. Segundo os autores, alianças logísticas envolvem uma ampla

gama de serviços desempenhados pelo prestador a longo prazo e alguns arranjos avançados

incluindo customização de serviços específicos, como design e gestão de sistemas de

informações, e participação em decisões estratégicas como localização de instalações.

O próximo capítulo da revisão bibliográfica aprofunda o tema relacionamento colaborativo,

buscando classificar as relações e identificar os elementos e implicações da colaboração na

terceirização logística, principalmente sob a perspectiva do operador logístico.

2.6 RELACIONAMENTO COLABORATIVO

Conforme Oaks, Markham e Mehltretter (2004) a gestão dos relacionamentos, junto com a

gestão da complexidade e da mudança, é um fator de sucesso da nova cadeia de suprimentos.

Segundo os autores, a gestão eficaz da cadeia de suprimentos requer colaboração,

coordenação e cooperação além da fronteira da organização. As empresas e as pessoas, no

entanto, começam com metas e motivações diferentes, gerando o desafio de caminhar lado a

lado para um conjunto comum de objetivos. Os autores concluem que a forma como os

parceiros gerenciam seus relacionamentos pode consolidar ou desfazer uma aliança.

2.6.1 Classificação do Relacionamento

Ao longo dos anos, foram desenvolvidas diferentes classificações e modelos conceituais para

descrever as variadas formas de relacionamentos entre organizações (DAUGHERTY, 2011).

Historicamente, relacionamentos interorganizacionais têm sido categorizados dependendo de

onde se situam em um continuum de governança. A literatura de canais de marketing foi a

primeira a propor que a variação do relacionamento vai de transações “a distância de um

braço” (arm’s length) ou governança de mercado até integração vertical ou governança

hierárquica (GOLICIC, FOGGIN E MENTZER, 2003).

32

Heide (1994), em uma abordagem de canais, reconhece os dois extremos do espectro de

classificação do relacionamento entre formas de governança de mercado (intercâmbio sem

continuidade) e formas de governança de não mercado. O autor aponta dois tipos de

relacionamento em que formas deliberadas de governança substituem a “mão invisível” do

mercado. Além da forma unilateral da integração vertical, em que uma estrutura autoritária

proporciona a uma das partes a capacidade de desenvolver regras e impor decisões, o autor

também reconhece as relações cooperativas no meio do continuum. Esse tipo de

relacionamento, chamado de governança bilateral (HEIDE, 1994), é o foco desta pesquisa.

Golicic et al. (2003) alertam que os pesquisadores não são consistentes na seleção das

características que levam a diferentes estruturas de relacionamento. Cox (1996), por exemplo,

não usa a tradicional abordagem de governança e classifica o relacionamento de acordo com a

especificidade dos ativos e importância da competência na aquisição de bens e serviços. De

acordo com o autor, competências essenciais devem ser sempre mantidas internamente e

competências complementares de média especificidade de ativo seriam terceirizadas através

de um contrato externo que pode tomar diferentes formas. Cox (1996) também classifica os

relacionamentos em um contínuo que vai desde acordos do tipo arm’s length até fusões e

aquisições, passando por relacionamentos de parceria.

Lambert, Emmelhainz e Gardner (1999), por sua vez, identificam três tipos de parcerias

adicionais que estariam entre os extremos de relação à distância e joint venture. O fator que

diferencia esses três tipos é o nível de integração. No tipo I as organizações envolvidas

reconhecem a outra como parceira e, de forma limitada, coordenam atividades e

planejamentos. A parceria normalmente tem um foco de curto prazo e envolve somente uma

divisão ou função de cada organização. No tipo II, as organizações envolvidas vão da

coordenação de atividades para a integração de atividades. Embora não se espere que vá durar

para sempre, a parceria tem um horizonte de longo prazo. Múltiplas divisões e funções na

empresa são envolvidas na parceria. No tipo III, as organizações compartilham um

significativo nível de integração, cada parte vê a outra como a extensão da sua própria

organização e não existe uma data final para a existência da parceria.

Halldórsson e Skjøtt-Larsen (2004) acrescentam aos estudos de Cox (1996) uma perspectiva

de relação com prestadores de serviços logísticos. Os autores partem da base do continuum de

classificação do relacionamento de acordo com a importância da competência e especificidade

do ativo para propor quatro tipos ou níveis de relacionamentos: interação de mercado,

33

soluções logísticas customizadas, soluções logísticas em conjunto e soluções logísticas in

house.

Outra forma de classificação dos relacionamentos é adotada por Rinehart, Eckert e Handfield

(2004). Segundo os autores, a definição dos diferentes níveis de relacionamento depende de

fatores como confiança, frequência de interação e compromisso. Os autores identificam sete

diferentes tipos de relacionamento: transação não estratégica, relacionamento administrado,

relacionamento contratual, relacionamento de contrato de especialidade, parceria, joint

venture e aliança.

Como se pode notar, diversos autores partem de diferentes fatores para classificar os

relacionamentos interorganizacionais, baseando-se em diferentes tipologias. A quantidade de

tipos de relacionamentos identificados também varia nos estudos. De acordo com Golicic et

al. (2003) inconsistências na definição e uso de termos do relacionamento criaram problemas

para a interpretação e replicação dos resultados de pesquisas. Para evitar tais dificuldades, este

estudo investiga os fatores mais abordados na literatura para pesquisar o que Simatupang e

Sridharan (2002) chamam de intensidade do relacionamento. O objetivo é classificar o

relacionamento de acordo com seus níveis de confiança, compromisso e dependência, que

serão abordados na seção a seguir.

2.6.2 Intensidade do Relacionamento

A literatura propõe diferentes fatores que influenciam na intensidade do relacionamento.

Enquanto Lambert et al. (1999) afirmam que o grau de integração depende da propensão a

parceria, para Simatupang e Sridharan (2002) a intensidade da colaboração depende do

horizonte de impacto que o relacionamento possui no desempenho da cadeia. Esta seção

possui o intuito de reunir os principais fatores descritos na literatura, que servirão de variáveis

de pesquisa para acessar a intensidade do relacionamento dos operadores logísticos.

Bove e Johnson (2001) percebem a magnitude como força, proximidade ou qualidade do

relacionamento. Para os autores, a magnitude do relacionamento depende de confiança e

compromisso, ou seja, quanto mais percebida a presença de confiança e compromisso, mais

forte é o relacionamento. Golicic et al. (2003) também definem a magnitude do

relacionamento como extensão ou grau de proximidade ou de força do relacionamento entre

as organizações. De acordo com os autores, A magnitude entre duas ou mais organizações

ajuda a determinar o tipo de relacionamento que vão possuir. Além de confiança (honestidade

34

e benevolência) e compromisso (exercer esforço para a continuidade da relação), Golicic e

Mentzer (2006) acrescentam dependência (percepção de necessidade de manter o

relacionamento para atingir objetivos desejados) como dimensão do construto magnitude.

Rinehart et al. (2004) citam atributos chaves de distinção que diferenciam os tipos de

relacionamento. Além de confiança e compromisso, já citados no parágrafo acima, aqueles

autores também falam de freqüência da interação. Para eles, a dimensão dependência, citada

por Golicic e Mentzer (2006), está contida em compromisso. Na prática, o relacionamento

desenvolvido significa interações de longo prazo construídas sobre confiança mútua e

comprometimento (MIN, ROATH, DAUGHERTY E GENCHEV, 2005). Slack e Lewis

(2009) concordam que o grau de interdependência dos parceiros está refletido na proximidade

ou grau de intimidade, entendimento e suporte mútuo que existe entre eles. Os autores

também abordam a dimensão compromisso quando afirmam que a intimidade depende da

crença de cada parceiro na atitude e na motivação do outro em manter o relacionamento.

Slack e Lewis (2009) acrescentam que quase toda a pesquisa na área dos relacionamentos

cliente-fornecedor ressalta o papel da confiança no momento de definir o escopo e os limites

para o relacionamento.

A seguir, estão definidas as dimensões da intensidade do relacionamento que serão adotadas

neste estudo:

2.6.2.1 Confiança

Bowersox (1990) afirma que para que uma parceria funcione, é preciso, dentre outras coisas,

construir confiança entre as organizações, determinando objetivos comuns, estabelecendo

regras e funções claras e medir desempenho de forma precisa. Leahy, Murphy e Poist (1995)

também acreditam que a confiança é um dos fatores determinantes no sucesso do

relacionamento. Lambert et al. (1999) concordam que em uma parceria forte, há uma

confiança implícita. Segundo os autores, confiança é quando cada parceiro acredita

completamente que o outro está totalmente comprometido com o seu sucesso a longo prazo.

Golicic e Mentzer (2006) definem confiança como vontade de contar com um parceiro em

que se acredita na sua honestidade e benevolência.

A confiança mútua proporciona uma base entre os parceiros colaborativos e podem levar a

troca de informações críticas de mercado (MIN e al., 2005). Estes autores lembram, no

entanto, que construir confiança não é fácil. A confiança entre parceiros deve ser conquistada,

35

uma vez que ela vem apenas depois do parceiro provar suas habilidades de oferecer soluções e

demonstrar lealdade. Segundo Slack e Lewis (2009), quanto maior o grau de confiança, maior

é a vontade de tornar-se vulnerável às ações do outro, mesmo que essa vulnerabilidade não

seja tão gravemente sentida por causa da existência de confiança. Se não houver o risco

envolvido em um relacionamento, não haverá a necessidade da confiança, e sem algum grau

de confiança existe pouca justificativa para assumir riscos com um parceiro.

2.6.2.2 Compromisso

Wilson (1995) define compromisso como o desejo de continuar o relacionamento e de

trabalhar para garantir sua continuidade. De acordo com Lambert et al. (1999), confiança não

basta para a gestão do relacionamento, o compromisso também é um componente

fundamental. Min et al. (2005) concordam que um relacionamento de longo prazo baseado na

confiança também requer comprometimento das partes envolvidas. Para os autores,

comprometimento implica que as partes sejam tolerantes em relação às deficiências do outro,

que cada um coopere e que não ajam de forma oportunista. Segundo Golicic e Mentzer

(2006), compromisso pode ser definido como a vontade de exercer esforço para continuidade

do relacionamento.

Portanto, enquanto a confiança diz respeito à crença na honestidade do outro, o compromisso

vai além, requerendo esforço e trabalho em busca da continuidade da relação.

2.6.2.3 Dependência

Um alto nível de dependência entre os parceiros levam a maior colaboração (HEIDE, 1994).

Para entender melhor esse construto, este autor mede a dependência do fornecedor através das

seguintes questões: (1) é relativamente difícil encontrar um novo cliente?; (2) encontrar novos

clientes traria um impacto negativo nos preços?; (3) se o relacionamento com algum cliente

terminar, isso traria problemas para a operação?.

Wilson (1995) afirma que a interdependência e desequilíbrio de poder são variáveis de

relacionamento importantes. O poder do cliente ou do fornecedor está associado com a

interdependência dos parceiros em um relacionamento. Desequilíbrio de poder acontece

quando um parceiro possui a capacidade de prover o outro com algo que ele não teria

normalmente, ou seja, está diretamente relacionado com o grau que um parceiro depende do

outro (WILSON, 1995).

36

Simatupang e Sridharan (2002) concordam que a interdependência é um conceito chave para

analisar a colaboração. Baseados na teoria de dependência do recurso, Rinehart et al. (2004)

também concordam com Wilson (1995) e interpretam o impacto da dependência em

diferentes tipos de relação. Seria de se esperar que as relações colaborativas operem em

condições de mútua dependência entre as partes e relações competitivas seriam resultado de

situações de desequilíbrio de poder/dependência.

Golicic e Mentzer (2006) concluem que a dependência é a percepção da necessidade de

manter o relacionamento para atingir os objetivos e está associada à magnitude da relação.

O Quadro 1 resume as dimensões da intensidade do relacionamento (confiança, compromisso

e dependência), expandindo os construtos.

Outras dimensões além de confiança, compromisso e dependência também foram utilizadas

na literatura para medir intensidade do relacionamento. Simatupang e Sridharan (2004), por

exemplo, propuseram três capacitadores de colaboração que refletem a intensidade da

interface operacional entre membros participativos chamados de compartilhamento de

informação, sincronização da decisão e alinhamento de incentivo. Os mesmos autores, no ano

seguinte, usaram essas três dimensões para desenvolver um instrumento de mensuração da

colaboração na cadeia de suprimentos. (SIMATUPANG E SRIDHARAN, 2005).

Bove and Johnson (2001), no entanto, afirmam que construtos como satisfação, informação,

comportamento amigável, cooperação etc. antecedem confiança e compromisso. Min et al.

(2005), Nyaga, Whipple e Lynch (2009) e Daugherty (2011) também reconhecem que

existem elementos antecedentes à colaboração. Na presente pesquisa, os construtos

antecedentes às dimensões de intensidade do relacionamento são chamados de elementos do

relacionamento colaborativo (LA LONDE E COOPER, 1989) e serão definidos na seção

seguinte.

37

Quadro 1 – Dimensões de intensidade do relacionamento

Definição da dimensão Referência Bibliográfica

1. CONFIANÇA

Confiança é a crença no compromisso do

outro, no caso, do cliente e pode ser

definida de diferentes formas:

Confiança no outro;

Percepção de que o outro trata de

forma honesta;

Percepção de que o outro trata de

forma justa;

Percepção de que o outro age de forma

proativa, buscando o melhor para o

relacionamento;

Percepção de sinceridade nas

promessas do outro;

Crença de que o outro não tiraria

vantagem de forma oportunista da

relação.

Bowersox (1990)

Leahy et al. (1995)

Lambert et al. (1999)

Min et al. (2005)

Golicic e Mentzer (2006)

Slack e Lewis (2009)

2. COMPROMISSO

Compromisso é o esforço próprio máximo

colocado na busca da continuidade da relação.

Wilson (1995)

Lambert et al. (1999)

Min et al. (2005)

Golicic e Mentzer (2006)

3. DEPENDÊNCIA

Dependência é a percepção dos dois membros do

relacionamento da necessidade de manter o

relacionamento para atingir objetivos. Algumas

definições usadas neste estudo:

Dependência mútua do operador e do cliente;

Percepção de que o cliente é essencial para o negócio

da empresa;

Percepção de que o operador é essencial para a

operação do cliente;

Percepção de que o prestador terá dificuldade em

recuperar o volume de vendas no caso do término do

relacionamento;

Percepção de que o cliente terá dificuldade em

encontrar outro prestador que atenda plenamente suas

necessidades no caso do término do relacionamento.

Heide (1994)

Wilson (1995)

Simatupang e Sridharan (2002)

Rinehart et al. (2004)

Golicic e Mentzer (2006)

38

2.6.3 Elementos do relacionamento colaborativo

Lambert et al. (1999) definem os componentes de gestão da parceria como atividades em

conjunto e processos usados para construir e sustentar uma parceria. As parcerias podem

falhar se os componentes não são implementados apropriadamente. A forma como os

parceiros irão colocar os componentes em prática e a sua gestão vão determinar como a

parceria opera. Wilson (1995) levanta através de pesquisa bibliográfica e empírica uma lista

de elementos básicos do relacionamento. O autor alerta, porém, que essa lista não esgota os

elementos do relacionamento uma vez que novas variáveis podem ser adicionadas por outros

pesquisadores que refletem fatores situacionais.

No presente estudo também levantou-se uma série de elementos do relacionamento

colaborativo ou antecedentes da colaboração, o que Min et al. (2005) chamam de tudo que

está envolvido no desenvolvimento de uma relação colaborativa. Após seleção dos elementos

mais representativos na literatura e agrupamento dos fatores similares, chegou-se a uma lista

de 14 elementos que antecedem a intensidade do relacionamento, que será detalhada a seguir:

2.6.3.1 Alinhamento de objetivos estratégicos

Wilson (1995) define o conceito de objetivos mútuos como o grau em que os parceiros

compartilham objetivos que só podem ser alcançados com ações conjuntas e com a

manutenção do relacionamento. Esses objetivos mútuos proporcionam uma forte razão para a

continuação da relação. O autor reconhece o compartilhamento de valores como um conceito

similar e mais amplo. Segundo Leahy et al. (1995), a consistência de valor, ou seja, o

compartilhamento de objetivos comuns é um fator determinante no sucesso do

relacionamento.

Oaks et al. (2004) concordam que para atingir os benefícios potenciais da colaboração, um

dos desafios é definir um grupo de objetivos conjuntos entre os parceiros que se alinhem com

os objetivos corporativos próprios e da outra parte.

Simatupang e Sridharan (2004) chamam esse construto de sincronia de decisão. Segundo os

autores, essa atividade envolve o alinhamento de objetivos estratégicos, políticas e métricas

entre os membros da cadeia. Tecnologias avançadas como sistema de suporte de decisão e

fórum virtual de discussão podem ser usados para implementar efetivamente a sincronização

de decisão. Na pesquisa de Min et al. (2005), os respondentes indicaram que um objetivo

39

estratégico claro leva ao sucesso dos arranjos colaborativos, pois proporciona foco para o

relacionamento e configura as interações para o alcance de recompensas e melhorias entre as

empresas. Segundo os autores, sem um roteiro como esse, resultados ótimos não podem ser

alcançados.

2.6.3.2 Medidas de desempenho em conjunto

Leahy et al. (1995) classificam a existência de um acordo sobre padrões de mensuração de

desempenho entre o fornecedor e o cliente como um dos fatores determinantes no sucesso do

relacionamento. Segundo Bagchi e Virum (1996), os fatores críticos de sucesso devem estar

alinhados com os objetivos de desempenho do cliente. Eles precisam ser definidos em

cooperação entre o embarcador e o prestador de serviço e devem refletir as expectativas dos

clientes do embarcador. Atenção particular deve ser dada para expectativas de serviço ao

cliente. Os autores reforçam ainda que os fatores críticos de sucesso devem ser precisamente

expressados, medidos e concordados por ambas as partes para evitar desavenças no futuro.

Para garantir o desempenho mútuo durante o relacionamento, é importante que os parceiros

submetam-se à fiscalização (STANL E DAUGHERTY, 1997). Min et al. (2005) concordam

que o sucesso dos esforços colaborativos não pode ser assegurado a menos que o desempenho

seja devidamente medido e monitorado. De acordo com os autores, métricas comuns devem

ser desenvolvidas e usadas para determinar recompensas para o sucesso dos esforços

colaborativos e também para identificar gaps de desempenho. Esse passo consiste na

identificação de variações entre os padrões de desempenho planejados e o que realmente

ocorreu (BAGCHI E VIRUM, 1996). Estes autores reforçam que baseado nos resultados

registrados, as causas dos gaps devem ser identificadas para que as barreiras para o bom

desempenho também sejam identificadas o mais cedo possível.

Bagchi e Virum (1996) reconhecem que o monitoramento e a mensuração de desempenho na

logística são geralmente limitados a atividades físicas e funções administrativas relacionadas.

Estes autores afirmam, porém, que para alianças logísticas isso não é o bastante. As

observações devem incluir também aspectos de como as relações interorganizacionais estão

trabalhando. Monitoramento e mensuração de desempenho devem estar concentrados em

áreas críticas, devem ser reportados em tempo hábil, os indicadores devem ser simples e

significativos, assim como incluir aspectos de qualidade e produtividade.

2.6.3.3 Compartilhamento de riscos e benefícios

40

Heide (1994) reconhece a importância de um sistema de incentivo na manutenção do

relacionamento. Segundo Leahy et al. (1995), o compartilhamento de riscos e benefícios é um

programa de incentivo que envolve a partilha dos benefícios e dos riscos entre o fornecedor e

o cliente em qualquer esforço de cooperação, sendo um dos fatores determinantes no sucesso

do relacionamento. Lambert et al. (1999) afirmam que o fato das partes estarem dispostas a

sofrer um pequeno golpe para o bem do relacionamento é um componente importante para a

força da parceria. Os autores lembram que em uma parceria, tanto a escassez como o

excedente podem acontecer a cada ano e devem ser compartilhados para reforçar um senso de

justiça de longo prazo.

Simatupang e Sridharan (2002) também afirmam que o alinhamento de incentivo é uma das

características essenciais para o sucesso da colaboração, pois impacta no nível de

comprometimento dos membros participativos. De acordo com Simatupang e Sridharan

(2004), esse regime motiva os membros a atuarem de forma consistente com os objetivos

estratégicos mútuos. A atitude de compartilhamento do sucesso significa que ambos os

parceiros reconhecem que eles têm mais a ganhar com o sucesso do outro do que buscando

apenas o próprio sucesso ou explorando o parceiro (SLACK E LEWIS, 2009). Estes autores

ilustram a ideia com a situação em que cliente e fornecedores estão menos interessados em

obter a maior fatia da pizza para focar no aumento do tamanho da pizza como um todo. A

crença de que o tamanho da pizza será maior se ambos os parceiros cooperarem ajuda a evitar

que os parceiros ajam individualmente contra os interesses do outro a fim de ganhar vantagem

imediata, o que os economistas chamam de comportamento oportunista. Os autores reforçam

que é importante ter um acordo como relação à forma como a pizza aumentada será divida.

Oask et al. (2004) também consideram importante que as partes concordem quanto ao

compartilhamento dos custos, riscos e benefícios.

Vieira, Yoshizaki e Ho (2009a) percebem o compartilhamento de riscos e ganhos logísticos

como um elemento da integração tática. Além da divisão dos ganhos logísticos ou savings, os

autores também reforçam a importância do compartilhamento de custos e riscos.

2.6.3.4 Compartilhamento de informação

“O compartilhamento de informação é a cola que mantém as empresas juntas” (BOWERSOX,

1990). Segundo Bowersox et al. (1992) esse construto refere-se a vontade de compartilhar

informações particulares, evitando a prática padrão de acumular informação e só liberar de

41

acordo com a necessidade. Leahy et al. (1995) lembram que as informações podem ser

compartilhadas através de sistemas de informação, procedimentos e reuniões e devem ser

relevantes. A troca de informações deve ser acima das expectativas mínimas, incluindo

previsão de longo prazo (STANK E DAUGHERTY, 1997). Para Lambert et al. (1999), o

segredo para uma boa parceria é não ter segredos, a comunicação deve ser equilibrada, nos

dois sentidos e em diferentes níveis.

Simatupang e Sridharan (2002) lembram que o avanço da tecnologia da informação permite

que dados sejam colhidos e transferidos em tempo real ou sob demanda. Os dados mais

compartilhados incluem disponibilidade de recursos (ex. capacidade e estoque), status de

desempenho (tempo, qualidade, custos e flexibilidade), status do processo (previsão de

vendas, pedidos, entregas, reposição e serviço) e o status do contrato. Simatupang e Sridharan

(2004) acrescentam que a visibilidade de medidas de desempenho permite que os parceiros

tenham acesso a questões de produção e qualidade mais rapidamente, o que permite um

planejamento da demanda mais ágil.

Min et al. (2005) também colocaram esse construto como antecedente da colaboração,

chamando-o de livre fluxo de informação e comunicação freqüente. Os autores reconhecem

que a troca de informação é uma via de mão dupla, que pode acontecer de maneira formal ou

informal entre parceiros da colaboração. Algumas informações essenciais para a operação são

dados do ponto de vendas, planos de promoção, níveis de estoque etc. Vieira et al. (2009a)

falam também de informação logística e comercial. Para Nyaga et al. (2010) é esperado que

qualquer informação que possa ajudar a outra parte seja fornecida, incluindo mudanças que

possam afetar a outra parte.

2.6.3.5 Flexibilidade

Flexibilidade é o grau de ajuste que cada parceiro faz no próprio comportamento para atender

as necessidades do outro (HEIDE E MINER, 1992). Heide (1994) mostra que em um

relacionamento de governança bilateral as partes estão preparadas para mostrar flexibilidade e

ajustes são negociáveis à medida que as situações mudam. Segundo o autor, o processo de

ajuste faz parte da manutenção do relacionamento uma vez que alterações no contrato inicial

são esperadas. Stank e Daugherty (1997) citam a flexibilidade como uma característica da

cooperação e a definem como reação dos parceiros aos pedidos de ajustes de última hora

dentro de um relacionamento.

42

Segundo Lambert et al. (1999), as parcerias mais fortes parecem ser aquelas em que o

contrato ou não é escrito ou existe estritamente para fins jurídicos e não é usado como diretriz

para o dia-a-dia da operação. Bowersox (1990) concorda que muitos relacionamentos operam

com base em entendimentos informais ao invés de contratos formais. Dessa forma, existe

espaço para o que Vieira et al. (2009a) chamam de mudanças circunstanciais como

flexibilidade do serviço de entrega, na manufatura e no atendimento de uma solicitação

urgente. Vieira, Yoshizaki e Ho (2009b) falam também sobre a flexibilidade de mudar os

parâmetros logísticos.

2.6.3.6 Investimentos dedicados

Leahy et al.(1995) citam o compartilhamento de instalações e recursos humanos como fatores

determinantes no sucesso do relacionamento. Para Lambert et al. (1999), investimento

financeiro recíproco também está presente em uma parceria efetiva. Min et al. (2005) realçam

que colaborações sustentáveis precisam estar suportadas por recursos, investimentos

financeiros e não financeiros como tempo, treinamento, atualização de tecnologia etc.

Investimentos específicos do prestador sinalizam que o provedor pode ser confiável

(KNEMEYER E MURPHY, 2005).

Slack e Lewis (2009) confirmam que ativos dedicados fazem parte dos elementos que

contribuem para a proximidade da relação. Para estes autores, uma das formas mais evidentes

de demonstrar um compromisso de parceria, e uma das mais arriscadas, é um parceiro

(normalmente fornecedor) investir em recursos que serão dedicados a um único cliente. Uma

empresa só fará isso se estiver convencida de que a parceria será de longo prazo, que ambos

os parceiros terão vantagens e que o cliente não vai explorar o investimento a fim de

barganhar abaixo do preço que foi originalmente acordado.

2.6.3.7 Expectativa de continuidade

A expectativa de continuidade é a crença de que a relação continuará no futuro sem prazo

determinado para acabar (HEIDE E MINER, 1992). Baseados no dilema do prisioneiro da

teoria dos jogos, estes autores afirmam que a expectativa de continuidade da relação por

tempo indeterminado deve aumentar a probabilidade de cooperação entre os parceiros. Stank

e Daugherty (1997) citam a continuidade como uma característica da cooperação e ela

significa que o intercâmbio entre os parceiros ocorre durante longo período de tempo, sem

data de término definida e envolve negócios repetidos.

43

Leahy et al. (1995) acrescentam a natureza contratual e não transacional das relações

cooperativas entre o cliente e o fornecedor. Segundo os autores, a ênfase no longo prazo é um

dos fatores determinantes no sucesso do relacionamento. As alianças logísticas duram cinco

anos ou mais (BOWERSOX, 1990). Slack e Lewis (2009) concordam com este ponto. Para os

autores, expectativas a longo prazo contribuem para a proximidade do relacionamento. Os

níveis mais profundos de confiança requerem tempo para serem desenvolvidos. Além disso,

não é necessário gerar os custos de transação de mudanças freqüentes de parceria, sempre

assumindo que o parceiro se comporta a fim de ajudar o outro. Ainda segundo Slack e Lewis

(2009), os relacionamentos de longo prazo não são necessariamente permanentes, uma vez

que está implícito no conceito de parceria que qualquer parte poderia terminar o acordo

quando não fosse mais vantajoso fazer parte dele. É isso (em parte) que mantém cada um

motivado para fazer o melhor para o outro. Manter o relacionamento é uma confirmação de

que cada parceiro tem mais a ganhar com o relacionamento do que com seu término.

2.6.3.8 Frequência de interação

De acordo com Heide e Miner (1992), uma grande freqüência de contato leva a maior

expectativa de interações futuras, por isso, é de se esperar que a freqüência de interação tenha

um efeito positivo na cooperação.

Rinehart et al. (2004) vão além. Segundo os autores, o sucesso na relação cliente-fornecedor

está baseado na freqüência relativa em que as partes interagem e do volume de negócios

realizados. No nível pessoal, freqüência de comunicação afeta a percepção do valor criado

pelo outro através de tempo gasto com comunicação com a outra parte. No nível

organizacional, a freqüência de interação é caracteriza-se pela quantidade de negócios

realizados entre as partes.

2.6.3.9 Especificação de funções e regras

Segundo Bowersox (1990), uma boa forma de sinalizar a vontade de trabalhar junto é

estabelecer regras básicas logo no início do relacionamento. Essas regras devem incluir

procedimentos de resolução de conflito. O autor também ressalta a importância da negociação

de papeis e responsabilidades das partes envolvidas para ajudar na perpetuidade da aliança.

Bowersox et al. (1992) também reconhecem as especificações de funções e regras básicas

como um fator crítico de sucesso no relacionamento colaborativo. Os papeis de cada membro

da aliança devem ser especificados com antecedência, assim como as regras do jogo e a forma

44

da prestação de contas. De acordo com os autores, as regras básicas definem expectativas e

estabelecem procedimentos para lidar com a rotina e com o inesperado, ajudando a evitar ou

resolver conflitos ao longo da vida da relação.

Enquanto Heide (1994) destaca a especificação de papeis como um dos processos para

manutenção do relacionamento, Leahy et al. (1995) consideram importante o estabelecimento

de orientações para resolver problemas ou conflitos. Segundo Bagchi e Virum (1996), um

plano de contingência deve mostrar o que fazer no caso das operações normais saírem do

curso. A base de um plano de contingência deve ser uma pesquisa dos eventos mais prováveis

de acontecer como atrasos de entrega, mercadorias danificas, greves e quedas no sistema.

Simatupang e Sridharan (2002) chamam atenção para a importância da revisão conjunta e

periódica das políticas, uma vez que podem tornar-se obsoletas dada uma nova conjuntura.

Na pesquisa de Min et al. (2005), aproximadamente um terço dos respondentes consideraram

a formalização como uma parte essencial do processo de colaboração. Entre as áreas de

formalização sugeridas estão determinação de papéis e responsabilidades de cada membro da

parceria e planos de implementação da colaboração.

2.6.3.10 Planejamento conjunto

Heide (1994) afirma que o planejamento é fundamental para a manutenção do

relacionamento. Dahlstrom, McNeilly e Spech (1996) declaram que a decisão participativa é

um mecanismo importante para aumentar a intensidade da relação e desempenho em alianças

bilaterais. Lambert et al. (1999) concordam que um elemento-chave de uma parceria bem

sucedida é o planejamento conjunto, em que equipes são designadas para resolver problemas

e fazer planejamentos de longo prazo.

De acordo com Bagchi e Virum (1996), o planejamento deve definir como as atividades

logísticas terceirizadas serão integradas com as operações atuais do prestador e com a

logística do embarcador e outros sistemas. Mudanças nas condições de trabalho, pessoal e

treinamento são elementos importantes do plano. As conexões para fornecedores e clientes

(do embarcador) devem também ser incluídas. O plano deve explicar como os requisitos de

capacidade e nível de serviço serão atendidos. Deve apresentar cálculos detalhados de

investimentos e custos de operação. Finalmente, deve também ser aprovado e concordado

pela alta gerência de ambas as organizações.

45

Min et al. (2005) acrescentam que o planejamento conjunto é necessário para co-alinhar as

operações bem como as capacidades de cada parceiro de colaboração. Durante o processo de

planejamento, o fornecimento e seus clientes conjuntamente priorizam metas e objetivos com

base em expectativas de metas de cada empresa.

2.6.3.11 Solução de problemas em conjunto

Solucionar problemas em conjunto pode melhorar o processo de desenvolvimento de idéias e

muitas vezes resulta em quebra de barreiras entre parceiros colaborativos (Min et al., 2005).

As parcerias não fluem sempre suavemente. Slack e Lewis (2009) acrescentam que na

verdade, o grau de proximidade entre os parceiros seria gravemente limitado se elas assim

fluíssem. Quando os problemas aparecem, ou problemas menores relacionados com o fluxo

cotidiano de produtos e serviços, ou questões mais fundamentais relacionadas com a natureza

do relacionamento em questão, eles precisam ser tratados, por um ou ambos os parceiros. A

forma como tais problemas são tratados é considerada central para o desenvolvimento da

parceria. Os autores argumentam que é somente quando os problemas aparecem que existe a

oportunidade para explorar totalmente muitas das questões discutidas com relação à

confiança, o sucesso compartilhado, as expectativas a longo prazo e assim por diante.

De acordo com Vieira et al. (2009a), ações em conjunto fazem parte dos elementos da

integração tática e constituem a união de solução de problemas em conjunto e planejamento

conjunto (elemento definido no item anterior). Nyaga et al. (2010) acrescentam que para que

a relação colaborativa tenha sucesso, é importante que os parceiros trabalhem juntos para

planejar e coordenar atividades, assim como resolver problemas.

2.6.3.12 Equipe conjunta

Segundo Bagchi e Virum (1996), estabelecer uma equipe de planejamento conjunto deve

envolver a divisão de grupos de trabalho para tarefas específicas. Segundo os autores, quando

operações terceirizadas começam, a equipe deve ser responsável por identificar problemas e

tomar ações para resolvê-los. Lambert et al. (1999) acrescentam que equipes conjuntas são

designadas para resolver problemas e fazer planejamentos de longo prazo. Segundo Min et al.

(2005), a formação de equipes multifuncionais e interorganizacionais pode evoluir para uma

integração virtual no processo de cadeia de suprimentos.

46

Vieira et al. (2009a) concordam que a participação conjunta de equipes das duas organizações

envolvidas na parceria em projetos logísticos faz parte das ações em conjunto que levam a

maior integração. Slack e Lewis (2009) ressaltam a importância de múltiplos pontos de

contato para a proximidade da relação. Para os autores, a comunicação entre os parceiros

inclui várias ligações entre muitos indivíduos em ambas as organizações.

2.6.3.13 Envolvimento da alta gerência

De acordo com Leahy et al. (1995) e Murphy e Poist (2000), o envolvimento organizacional

total é um fator determinante no sucesso do relacionamento e isso inclui o compromisso do

top management. Bachi e Virum (1996) acrescentam que o planejamento conjunto do sistema

logístico terceirizado deve ser aprovado e concordado pela alta gerência de ambas as

organizações. Somente a atenção da alta gerência irá conduzir os ajustes necessários para a

colaboração externa (MIN et al., 2005).

2.6.3.14 Conhecimento sobre o parceiro

Conhecimento do provedor sobre as operações do cliente e vice-versa é o que Leahy et al.

(1995) definem como o entendimento das capacidades e limitações que cada parte possui dos

envolvidos na parceria. Os autores reconhecem esse construto como um fator determinante no

sucesso do relacionamento. Vieira et al. (2009a) acrescentam que o conhecimento sobre

dificuldades e estratégias do parceiro, além de visitas técnicas às plantas e centros de

distribuição, são essenciais para esclarecer cada um sobre políticas, culturas, sistemas e

padrões, sendo um dos elementos a integração estratégica.

O Quadro 2 resume os elementos da colaboração que serão usados no modelo conceitual do

presente estudo.

Quadro 2 – Elementos do relacionamento colaborativo

Definição do elemento Referência bibliográfica

1. Alinhamento de objetivos estratégicos

Alinhamento e compartilhamento de objetivos

estratégicos comuns, proporcionando foco para o

relacionamento e forte razão para a continuação da

relação.

Leahy et al. (1995)

Wilson (1995)

Simatupang e Sridharan (2004)

Oaks et al. (2004)

Min et al. (2005)

47

2. Medidas de desempenho em conjunto

Definição de medidas de desempenho ou fatores

críticos de sucesso em cooperação entre o embarcador

e o operador logístico. As medidas de desempenho

devem ser expressas, medidas, monitoradas e

concordadas por ambas as partes para evitar

desavenças.

Leahy et al. (1995)

Bagchi e Virum (1996)

Stank e Daugherty (1997)

Min et al. (2005)

3. Compartilhamento de riscos e benefícios

Programa de incentivo que envolve a partilha dos

benefícios e dos riscos entre o fornecedor e o cliente

em qualquer esforço de cooperação. Tanto a escassez

como o excedente devem ser compartilhados para

reforçar o senso de justiça de longo prazo, impactando

no nível de comprometimento dos parceiros.

Heide (1994)

Leahy et al. (1995)

Lambert et al. (1999)

Simatupang e Sridharan (2002)

Simatupang e Sridharan (2004)

Oaks et al. (2004)

Slack e Lewis (2009)

Vieira et al. (2009a)

4. Compartilhamento de informação

Compartilhamento de informações relevantes, ou seja,

que possa ajudar ou afetar a outra parte, nos dois

sentidos do relacionamento, de forma formal ou

informal, em tempo real ou sob demanda, através de

sistemas de informação, procedimentos e reuniões.

Bowersox (1990)

Bowersox et al. (1992)

Leahy et al. (1995)

Stank e Daugherty (1997)

Lambert et al. (1999)

Simatupang e Sridharan (2002)

Simatupang e Sridharan (2004)

Min et al. (2005)

Vieira et al. (2009a)

Nyaga et al. (2010)

5. Flexibilidade

Grau de ajuste que cada parceiro faz no próprio

comportamento para atender as necessidades do outro

frente a nova conjuntura. Na prática, a flexibilidade

pode ser entendida como a reação dos parceiros aos

pedidos de ajustes de última hora.

Heide e Miner (1992)

Heide (1994)

Stank e Daugherty (1997)

Lambert et al. (1999)

Vieira et al. (2009a)

Vieira et al. (2009b)

6. Investimentos dedicados

Colaborações sustentáveis são suportadas por

investimentos como instalações, recursos humanos,

tempo, treinamento, atualização de tecnologia,

equipamentos. Ativos dedicados demonstram

compromisso. Uma empresa só investirá no

relacionamento se estiver convencida de que a

parceria será de longo prazo, que ambos os parceiros

terão vantagens e que o cliente não atuará de forma

oportunista.

Leahy et al. (1995)

Lambert et al. (1999)

Min et al. (2005)

Knemeyer e Murphy (2005)

Slack e Lewis (2009)

48

7. Expectativa de continuidade

É a crença de que a relação continuará no futuro sem

prazo para terminar, com expectativas de longo prazo

e gerando negócios repetidos. Os relacionamentos de

longo prazo não são necessariamente permanentes, o

que mantém cada um motivado para fazer o melhor

para o outro e confirma que cada parceiro tem mais a

ganhar com o relacionamento do que com seu término.

Bowersox (1990)

Heide e Miner (1992)

Leahy et al. (1995)

Stank e Daugherty (1997)

Slack e Lewis (2009)

8. Frequência de interação

Frequência de comunicação e volume de negócios

realizados que leva a expectativas de interações

futuras.

Heide e Miner (1992)

Rinehart et al. (2004)

9. Especificação de funções e regras

Formalização de regras básicas e responsabilidades,

que definem expectativas e estabelecem

procedimentos para lidar com a rotina e com o

inesperado, ajudando a evitar ou a resolver conflitos.

Bowersox (1990)

Bowersox et al. (1992)

Heide (1994)

Leahy et al. (1995)

Bagchi e Virum (1996)

Simatupang e Sridharan (2002)

Min et al. (2005)

10. Planejamento conjunto

O planejamento conjunto deve definir como as

atividades logísticas serão integradas e deve

especificar como os requisitos de capacidade e nível

de serviço serão atendidos, sendo necessário para co-

alinhar as operações.

Dahlstrom et al. (1996)

Heide (1994)

Bagchi e Virum (1996)

Lambert et al. (1999)

Min et al. (2005)

11. Solução de problemas em conjunto

Solucionar problemas em conjunto pode melhorar o

processo de desenvolvimento de ideas e quebrar

barreiras entre os parceiros. O surgimento de

problemas é uma oportunidade de explorar questões

como confiança, sucesso compartilhado e expectativas

de longo prazo.

Min et al. (2005)

Slack e Lewis (2009)

Vieira et al. (2009a)

Nyaga et al. (2010)

12. Equipe conjunta

Formação de equipes multifuncionais e

interorganizacionais responsáveis por identificar

problemas e tomar decisões para resolvê-los.

Bagchi e Virum (1996)

Lambert et al. (1999)

Min et al. (2005)

Slack e Lewis (2009)

Vieira et al. (2009a)

49

13. Envolvimento da alta gerência

Compromisso, aprovação e atenção da alta gerência

para no relacionamento no que diz respeito a

planejamentos, investimentos e decisões.

Leahy et al. (1995)

Bachi e Virum (1996)

Murphy e Poist (2000)

Min et al. (2005)

14. Conhecimento sobre o parceiro

Entendimento das capacidades, limitações,

dificuldades e estratégias que cada parte possui,

incluindo vistas técnicas às instalações.

Leahy et al. (1995)

Vieira et al. (2009a)

2.6.4 Resultados da colaboração

Os relacionamentos colaborativos diferem-se das relações transacionais não apenas através

dos seus classificadores de intensidade ou dos seus elementos, mas também por causa dos

resultados esperados. Simatupang e Sridharan (2002), por exemplo, declaram que,

teoricamente, membros da cadeia de suprimentos que se envolvem em esforços colaborativos

têm melhores desempenhos que aqueles com menor envolvimento com colaboração.

Bowersox (1990), por sua vez, descreve uma série de exemplos de alianças logísticas para

ilustrar os benefícios e motivações desse tipo de relação comparado aos relacionamentos de

curto prazo. Dentre os benefícios citados estão redução de custos de distribuição e

armazenagem, melhora drástica no serviço ao cliente, alta customização do serviço, redução

de risco, redução do preço do frete, etc.

Ellram e Cooper (1990) reconhecem que a parceria entre embarcadores e prestadores de

serviços logísticos pode trazer benefícios econômicos, gerenciais e estratégicos para ambas as

partes. As autoras, no entanto, lembram que esse tipo de relacionamento também pode trazer

riscos devido ao nível de envolvimento e dependência dos parceiros.

O presente trabalho considera como possíveis resultados do relacionamento colaborativo tanto

as consequências positivas como as negativas. Os benefícios e riscos esperados do ponto de

vista do operador logístico serão descritos a seguir em detalhes.

2.6.5 Benefícios

Benefícios variados do relacionamento colaborativo foram identificados na revisão de

literatura. Segundo Fisher (1997), os benefícios da colaboração são aumento da receita,

redução de custos e flexibilidade operacional para lidar com incertezas da demanda. No

50

estudo de caso de Lambert et al. (1999), tanto o embarcador quanto o prestador de serviço

logístico obtiveram grande número de resultados positivos com a parceria. Enquanto o

embarcador teve seu nível de serviço para o cliente aumentado, reclamações por danos

reduzidos e aumento de satisfação do cliente, para o operador logístico os principais

resultados foram lucro, estabilidade de lucro e vantagem competitiva. Já para Knemeyer e

Murphy (2005) os resultados do marketing de relacionamento no contexto de arranjos com

prestadores de serviços logísticos são retenção, referência, recuperação de serviço e melhoras

no desempenho operacional.

Não há, portanto, um consenso do total de resultados positivos esperados em uma parceria

entre embarcadores e operadores logísticos. Não existe também uma classificação única dos

benefícios esperados. Uma ideia, no entanto, parece ser o ponto de vista da maioria dos

autores: os benefícios associados à colaboração não são visíveis de forma imediata, mas

atraem potenciais recompensas de longo prazo (MIN et al., 2005). Com base na revisão

bibliográfica, o presente estudo aborda uma série de benefícios para o operador logístico, que

serão classificados aqui como eficiência operacional, melhora no desempenho e melhores

resultados financeiros, todos com implicações de longo prazo, que serão descritos a seguir.

2.6.5.1 Eficiência operacional

De acordo com Ellram e Cooper (1990), armazéns e transportadoras podem conseguir melhor

utilização das instalações e equipamentos concentrando os serviços em alguns clientes.

Através de parcerias, a eficiência na operação torna-se possível, uma vez que um número

reduzido de procedimentos operacionais é requerido para atender uma base de clientes menor.

As autoras adicionam que relacionamentos de longo prazo também proporcionam um nível

básico de transações esperadas, o que permite o planejamento de investimentos e

comprometimento de recurso humano com mais confiança. Isso é importante em mercados

que requerem altos níveis de serviço e serviços de maior valor agregado. As autoras resumem

os benefícios econômicos em economia de escala e redução de risco na utilização da

capacidade.

Min et al. (2005) lembram que os benefícios econômicos também podem ser alcançados

através da alavancagem dos efeitos de potenciais sinergias associadas como o ganho de

economias de escala e/ou aquisição de recursos e capacitações complementares. Esse

construto está associado à eficiência, que, segundo Min et al. (2005) diz respeito a quão bem

51

os recursos estão sendo utilizados gerando racionalização do processo e redução de custos. A

redução de custos também foi lembrada por Bowersox (1990) e Fisher (1997) como benefício

do relacionamento colaborativo. Min et al. (2005) acrescentam que a alavancagem de

recursos e habilidades que se torna possível graças a especialização.

2.6.5.2 Desempenho

Na pesquisa de Stank, Keller e Daugherty (2001), os autores confirmam a hipótese de que a

colaboração externa tem uma influência positiva no desempenho de serviços logísticos. Os

autores medem o desempenho de serviço logístico do operador através da capacidade de

reduzir o tempo de entrega ao cliente, da capacidade de antecipar as datas de entrega e da

capacidade de responder às necessidades e desejos dos clientes chave. Simatupang e

Sridharan (2002) concordam que membros da cadeia de suprimentos que se envolvem em

esforços colaborativos têm melhores desempenhos que aqueles com menor envolvimento de

colaboração. Os mesmos autores, em 2005, mostram que alguns elementos da colaboração

influenciam variáveis de desempenho como atender a necessidade do cliente e maior

capacidade de resposta. A colaboração permite que os membros da cadeia melhorem sua

habilidade de atender as necessidades do cliente como entrega no prazo e precisão no

atendimento do pedido, além de melhorar o prazo de entrega e flexibilidade, aumentando

capacidade de resposta (SIMATUPANG E SRIDHARAN, 2005).

Além do desempenho operacional, Knemeyer e Murphy (2005) reconhecem também a

recuperação de serviço como um resultado relacionado ao marketing de relacionamento.

Embora os erros sejam prováveis de acontecer em quase todos os arranjos, a recuperação

desses erros parece ser importante quando existe uma troca relacional.

Foram encontradas variadas medidas de desempenho de serviços logísticos na literatura. Min

et al. (2005) citam, por exemplo, a melhora do nível de serviço ao cliente e o

desenvolvimento de novos produtos como consequências da colaboração. Bolumole (2003)

acrescenta que serviços de maior valor agregado possuem maior risco de terceirização e

tendem a ser mantidos in house. Quando são terceirizados, são feitos depois de certa

maturidade no relacionamento, depois que já foi estabelecido um certo nível de segurança e

confiança nas capacitações do operador logístico.

Lai, Zhao e Wang (2007) falam sobre variedade e qualidade de serviço. A variedade de

serviço diz respeito à prestação de mais tipos de serviço e prestação de serviços customizados,

52

enquanto que a qualidade do serviço está na velocidade da entrega, confiabilidade da entrega,

precisão no atendimento do pedido, resposta rápida ao requerimento do cliente,

acompanhamento das reclamações dos clientes e livre comunicação com clientes.

Ellram e Cooper (1990) acrescentam que os operadores podem alavancar suas expertises e

seus serviços de maior valor agregado em maiores fatias dos negócios do embarcador, além

de poder transferir o know-how adquirido no relacionamento para outros clientes. Halldórsson

e Skjøtt-Larsen (2004) e Slack e Lewis (2009) concordam que o relacionamento entre o

cliente e o provedor pode trazer desenvolvimento de competência e aprendizado em conjunto.

Vieira et al. (2009b), por sua vez, listam como resultados da parceria elementos de

desempenho logístico qualificadores e diferenciadores. Alguns dos elementos qualificadores

são entregas na data prometida, entregas completas e entregas sem erro e os elementos

diferenciadores de desempenho são atendimento de pedido urgente e atendimento de pedido

em pico de demanda.

2.6.5.3 Resultados financeiros

Maiores resultados financeiros também são esperados com a adoção desse tipo de

relacionamento. Fisher (1997) cita, por exemplo, o aumento de receita como um benefício da

colaboração. Min et al. (2005) coloca o aumento de rentabilidade como conseqüência da

colaboração e avalia esse construto através do retorno sobre investimento e vendas por

segmento-alvo. Nyaga et al. (2010), por sua vez, investiga as consequências da colaboração

avaliando a satisfação dos parceiros com os resultados da relação em termos de rentabilidade,

participação de mercado e crescimento de vendas.

Ellram e Cooper (1990) lembram que serviços de maior valor agregado podem ser adaptados

às necessidades do embarcador para amarrar ainda mais o embarcador ao provedor. Knemeyer

e Murphy (2005) também citam a retenção do cliente como resultado associado ao marketing

de relacionamento. A retenção envolve manter o cliente ao atender suas necessidades e

superar expectativas. Segundo os autores, a retenção de clientes é reconhecida geralmente

como menos caro do que aquisição de novos clientes, uma regra geral é que custa cinco vezes

mais conquistar um novo cliente do que manter um cliente existente. Além da retenção de

clientes, os autores também citam a referência como benefício da colaboração para o

prestador de serviço logístico. Este resultado refere-se à disponibilidade do cliente de tornar-

53

se um defensor do prestador de serviços, promovendo-o para outros embarcadores e trazendo

novos clientes para o operador.

Quadro 3 - Benefícios esperados da colaboração para o operador logístico

Definição do benefício Referência bibliográfica

1. Eficiência operacional

Eficiência operacional, melhor utilização de ativos e

sinergias gerando:

Melhor planejamento de investimentos

Economia de escala

Melhor utilização da capacidade (redução de

ociosidade)

Redução de custos

Bowersox (1990)

Ellram e Cooper (1990)

Fisher (1997)

Min et al. (2005)

2. Desempenho

Melhoras no desempenho de serviços logísticos

como:

Redução no tempo de entrega

Entrega no prazo

Precisão do atendimento completo dos pedidos

Capacidade de resposta

Atendimento de pedidos urgentes

Recuperação do serviço

Desenvolvimento de novos serviços

Customização de serviços

Desenvolvimento de competência e know how que

pode ser aplicado com outros clientes

Ellram e Cooper (1990)

Stank et al. (2001)

Simatupang e Sridharan (2002)

Simatupang e Sridharan (2005)

Halldórsson e Skjøtt-Larsen (2004)

Knemeyer e Muphy (2005)

Min et al. (2005)

Lai et al. (2007)

Slack e Lewis (2009)

Vieira et al. (2009b)

3. Resultados financeiros

Melhores resultados financeiros, gerados por:

Aumento de receita

Maior participação de Mercado

Retenção de cliente

Propaganda boca a boca (referência)

Ellram e Cooper (1990)

Fisher (1997)

Herkett et al.(2002)

Knemeyer e Murphy (2005)

Min et al. (2005)

Nyaga et al. (2010)

Herkett, Sasser e Schlesinger (2002) afirmam que a retenção é o relacionamento contínuo e

ativo com um cliente, que acarreta um fluxo de receita a partir da venda do produto ou serviço

inicial. Esse fluxo de receita vai se tornando cada vez mais rentável, à medida que fica mais

54

fácil atender os clientes exigentes, com menor necessidade de dedicar-lhes esforços de

marketing. Além disso, os autores completam que custa muito menos vender novos produtos

e serviços a clientes já existentes que a clientes novos. Os autores lembram que o lucro

também é impactado pelas referências positivas fornecidas por estes aos clientes em potencial.

Portanto, Herkett et al.(2002) colocam de forma simples e direta, através da teoria da cadeia

serviços-lucro, que existem relações diretas e intensas entre lucro, crescimento, fidelidade dos

clientes e sua satisfação.

Os benefícios esperados da colaboração estão resumidos no Quadro 3.

2.6.6 Riscos

A existência de benefícios no relacionamento colaborativo, principalmente de longo prazo,

parece ser consenso entre os autores. Poucos, porém, reconhecem a existência de riscos.

Ellran e Cooper (1990) alertam que as vantagens potenciais da parceria podem ser desafiadas

pelos potenciais riscos associados com o relacionamento de longo prazo com um limitado

número de parceiros. As autoras discutem os riscos da parceria do ponto de vista do

embarcador e do prestador de serviços logísticos.

Artz e Brush (2000) identificaram a especificidade do ativo como um custo da aliança

colaborativa. Ellran e Cooper (1990) concordam que o alto investimento inicial seja um risco

para o operador, uma vez que geralmente é o operador que carrega os riscos de posse do ativo

em um relacionamento com o embarcador. Muitos investimentos adicionais podem ser

necessários como mais sistemas de informação, importantes para gerir a cadeia de

suprimentos, e equipamento especializado, que pode ser necessário para leve montagem ou

embalagem especial. As autoras acrescentam que essas instalações ou equipamentos podem

não ser transferíveis para outros clientes. A estratégia de posicionamento de responder às

necessidades específicas do embarcador carrega um significante risco financeiro de curto e

longo prazos, quanto menos universal a instalação ou equipamento e maior o investimento

inicial, maior é a prioridade de acordos para compartilhar a amortização desses investimentos

com o embarcador. Ellran e Cooper (1990) lembram que acordos de longo prazo e

compartilhamento de responsabilidade pelos investimentos podem ajudar a mitigar os riscos

do investimento dedicado.

Outro risco percebido pelas autoras é a absorção pelo embarcador de algumas ou até todas

funções terceirizadas. Isso pode ser feito através da aquisição do prestador de serviço logístico

55

ou simplesmente o embarcador passa a desempenhar as funções internamente na sua própria

operação sem usar o terceiro de nenhuma forma. Ellran e Cooper (1990) sugerem acordos de

longo prazo para postergar essa decisão do embarcador ou o fornecimento de serviços de

maior valor agregado de forma mais eficiente na tentativa de manter a relação.

A revisão de literatura, portanto, identificou dois riscos percebidos nos casos em que a relação

não transcorre como previsto: os altos investimentos em ativos específicos e a transferência

das funções logísticas para o embarcador.

2.7 MODELOS DE RELAÇÃO ENTRE ELEMENTOS DA COLABORAÇÃO,

INTENSIDADE DO RELACIONAMENTO E RESULTADOS

Como pode se perceber ao longo da revisão bibliográfica, muitos autores investigam os

elementos do relacionamento colaborativo utilizando diferentes nomenclaturas para

referenciá-los como características do relacionamento (KNEMEYER E MURPHY, 2005),

antecedentes da colaboração (MIN et al., 2005), elementos que contribuem para a

proximidade (SLACK E LEWIS, 2009), elementos da integração (VIEIRA et al., 2009), entre

outros.

Bove e Johnson (2001) lembram, no entanto, que esses construtos antecedem a colaboração

que deve ser avaliada através da intensidade do relacionamento. Para avaliar a intensidade ou

magnitude do relacionamento, Golicic e Mentzer (2006) sugerem que em um tipo particular

de relacionamento podem existir diferentes magnitudes dependendo do tempo e esforço

colocados na relação.

Finalmente, alguns estudos buscam entender os resultados do relacionamento mais próximo

do ponto de vista do comprador e/ou do fornecedor de produtos ou serviços.

A seguir, estão apresentados três modelos que relacionam os elementos com a intensidade do

relacionamento e os resultados. Stank et al. (2001) investigam o impacto da colaboração,

interna ou externa, no desempenho logístico. Min et al. (2005) elaboram um modelo

conceitual onde antecedentes impactam na colaboração e a colaboração possui conseqüências,

que, por sua vez, também impactam na colaboração. Finalmente, Nyaga et al. (2010) testam a

hipótese de que atividades colaborativas levam a resultados do relacionamento, mediado por

compromisso e confiança. As próximas sessões apresentam esses três estudos, que serviram

de inspiração para o modelo conceitual investigado na presente pesquisa.

56

2.7.1 Modelo de Stank et al. (2001)

De acordo com Stank et al. (2001), benefícios como redução de recursos duplicados, maior

atendimento das necessidades do cliente e flexibilidade surgem quando parceiros estão

dispostos a trabalhar juntos, entendem o ponto de vista do outro, compartilham informação e

recursos e atingem objetivos coletivos. Para os autores, os parceiros podem estar dentro da

organização ou fora dela. Um dos objetivos do seu estudo, portanto, foi determinar

empiricamente se altos níveis de colaboração interna e externa resultam em melhores

desempenhos logísticos, gerando as duas hipóteses seguintes:

H1: Colaboração interna tem uma influência positiva nos resultados do desempenho de

serviço logístico.

H2: Colaboração externa tem uma influência positiva nos resultados do desempenho de

serviço logístico.

A terceira e última hipótese relacionou o relacionamento interno com o externo, testando a

teoria de que as empresas precisam alcançar um nível relativamente alto de colaboração entre

os processos internos antes de iniciar arranjos externos.

H3: Colaboração interna e colaboração externa são positivamente relacionadas.

A Figura 1 resume o modelo conceitual da pesquisa de Stank et al. (2001)

Figura 1 - Modelo Conceitual Stank et al. (2001)

Fonte: Stank et al. (2001)

57

As três hipóteses foram testadas quanto a sua magnitude, significância e direção. A amostra

foi comporta por 306 respostas de executivos seniores de logística e supply chain presentes na

lista de participantes do CLM (Council of Logistics Management) em 1998. As empresas

participantes situavam-se na América do Norte (Canadá, México e Estados Unidos) e

constituíam-se de fabricantes, distribuidores e varejistas.

A primeira hipótese foi suportada concluindo que colaboração interna aumenta velocidade de

entrega, confiabilidade, capacidade de resposta, flexibilidade e satisfação geral do cliente. A

colaboração externa, no entanto, ao contrário da hipótese, não leva diretamente a melhores

resultados no serviço logístico. Os autores comentam esse resultado inesperado e acrescentam

que outras pesquisas, no entanto, revelaram que a colaboração com entidades externas

aumenta a colaboração interna que, por sua vez, melhora o serviço logístico. Portanto,

empresas benchmarking focam nas duas formas de colaboração.

Finalmente, a colaboração interna está correlacionada à colaboração externa de forma

significativa, confirmando a terceira hipótese.

2.7.2 Modelo de Min et al. (2005)

Min et al. (2005) basearam sua pesquisa em entrevistas de profundidade e questionário,

recebendo ao todo, 62 respostas de executivos envolvidos na operação logística de grandes

empresas norte americanas. Os respondentes eram membros do CSCMP (Council of Supply

Chain Management Professionals) e também faziam parte do quadro de executivos de

Logística e Supply Chain da Universidade de Oklahoma.

Min et al. (2005) sugerem um modelo conceitual de progressão da colaboração na cadeia de

suprimentos, incluindo antecedentes à colaboração e as suas consequências. De acordo com

os autores, os antecedentes da colaboração estão relacionados a tudo que envolve o

desenvolvimento do relacionamento colaborativo. A natureza da colaboração, por sua vez, diz

respeito ao significado da colaboração para a organização baseado em três construtos:

comportamento, cultura e interações do relacionamento. Por último, estão as consequências

da colaboração que, segundo Min et al. (2005), são os benefícios associados à colaboração.

Os autores alertam que os benefícios da colaboração podem não ser visíveis imediatamente,

no entanto possuem um potencial de recompensas a longo prazo bastante atrativo. A Figura 2

ilustra o modelo conceitual sugerido pelos autores.

58

A principal conclusão de Min et al. (2005) é que a colaboração é boa, mas na realidade, só é

boa se ela for realmente feita. Para que funcione, as organizações devem esforçar-se. Além

disso, o nível de colaboração e cooperação se diferencia entre as indústrias. Dentre as

indústrias pesquisadas pelos autores, a alimentícia parece ser a melhor no que diz respeito a

desenvolvimento e benefícios da colaboração.

Os entrevistados na pesquisa compartilham experiências e esperanças ao se tratar de

colaboração. Os respondentes apontaram a colaboração como um item fundamental na

continuação do sucesso da organização.

Figura 2 - Modelo Conceitual Min et al. (2005

Fonte: Min et al. (2005)

2.7.3 Modelo de Nyaga et al. (2010)

Nyaga et al. (2010) examinaram os relacionamentos na cadeia de suprimentos sob a ótica de

compradores e também fornecedores, incluindo fábricas, distribuidores, varejistas, prestadores

de serviços logísticos e transportadoras dos Estados Unidos. O objetivo da pesquisa foi

investigar como mecanismos de governança bilateral afetam o desempenho da colaboração e

a satisfação. O modelo conceitual de Nyaga et al. (2010) aborda desde atividades

colaborativas como troca de informação, esforços conjuntos e investimentos dedicados,

passando por variáveis moderadoras chave, como comprometimento e confiança, finalizando

com os resultados do relacionamento, como satisfação com o relacionamento, satisfação com

resultados e desempenho. A Figura 3 ilustra o modelo conceitual sugerido pelos autores.

59

Os autores testaram cinco hipóteses originadas do modelo teórico:

H1: Investimentos dedicados possuem um impacto positivo em (a) compromisso e (b)

confiança.

H2: Compartilhamento de informação possui um impacto positivo em (a) compromisso e (b)

confiança.

H3: Esforço de relacionamento conjunto possui um impacto positivo em (a) compromisso e

(b) confiança.

H4: Compromisso possui um impacto positivo em (a) satisfação com o relacionamento, (b)

satisfação com os resultados e (c) desempenho.

H4: Confiança possui um impacto positivo em (a) satisfação com o relacionamento, (b)

satisfação com os resultados, (c) desempenho e (d) compromisso.

Figura 3 – Modelo conceitual Nyaga et al. (2010)

Fonte: Nyaga et al. (2010)

A maior parte das hipóteses foi confirmada tanto do ponto de vista do cliente quanto do

fornecedor. As exceções são H1b (investimentos dedicados têm impacto positivo em

confiança) e H3a (esforços conjuntos tem impacto positivo em compromisso), que não foram

suportadas nem sob a perspectiva do cliente nem do fornecedor e H4c (compromisso tem

impacto positivo em desempenho), que foi suportada apenas do ponto de vista do cliente.

Os autores concluem que clientes e fornecedores possuem perspectivas muito similares. Nesse

sentido, isso possibilita que relacionamentos colaborativos possuam maiores chances de

60

serem bem sucedidos, uma vez que os modelos entre compradores e fornecedores não se

diferem muito.

2.8 RESUMO E MODELO CONCEITUAL

Esta seção visa retomar os pontos mais importantes da literatura para a pesquisa proposta e

apresentar o modelo conceitual investigado no presente estudo.

Mudanças econômicas como globalização, aumento das incertezas, proliferação de produtos,

redução dos ciclos de vida e aumento das exigências de serviço tornaram a logística uma

atividade estratégica. A logística deixou de ser uma função simplesmente operacional para

tornar-se uma ferramenta gerencial e fonte de vantagem competitiva (FLEURY, 2000). A

necessidade de reestruturação das funções logísticas e a busca por formas mais eficientes de

conduzir as operações é percebida por Barros (2009), que coloca como alternativa a

terceirização de serviços logísticos.

A autora destaca como as principais motivações para levarem os embarcadores a entregar aos

prestadores de serviços logísticos desde atividades operacionais até as mais estratégicas e de

gestão a redução de custos logísticos e o foco no core business. A literatura, no entanto,

mostra que as razões são diversas como a falta de expertise logística in house (BOLUMOLE,

2001), busca por melhores serviços (WILDING E JURIADO, 2004), melhores desempenhos

(LANGLEY, 2010), entre outras.

Knemeyer e Murphy (2005) alertam para a importância de definir o que o estudo entende por

operador logístico. A definição utilizada foi a da Revista Tecnologística (1999) que destaca a

característica do operador logístico de gerenciar ou executar todas ou parte das atividades

logísticas, prestando “simultaneamente serviços nas três atividades básicas de controle de

estoque, armazenagem e gestão de transportes”.

A terceirização de atividades logísticas básicas, frequentemente desabrocha em uma

verdadeira parceria, englobando todos os elementos logísticos (BAGCHI E VIRUM, 1996)

Leahy et al. (1995) percebem que, durante a última década, aconteceu uma dramática

mudança do prestador de serviço logístico tradicional, em que o prestador oferecia

relativamente poucos serviços básicos em uma base transacional de curto prazo para uma

visão mais moderna, caracterizada pelas ofertas de serviço abrangentes e relacionamentos de

longo prazo.

61

A terceirização logística, portanto, pode tomar diferentes formas e condições, desde um

contrato de transporte de curto prazo até acordos de aliança estratégica que contemplam todas

as atividades logísticas durante muitos anos (BAGHI E VIRUM, 1996). Ao longo dos anos,

foram desenvolvidas diferentes classificações e modelos conceituais para descrever as

variadas formas de relacionamentos entre organizações (Daugherty, 2011). Golicic et al.

(2003) também alertam que os pesquisadores não são consistentes na seleção das

características que levam a diferentes estruturas de relacionamento e essas inconsistências

criaram problemas para a interpretação e replicação dos resultados de pesquisas.

Para evitar tais dificuldades, este estudo investiga os fatores mais abordados na literatura para

pesquisar o que Simatupang e Sridharan (2002) chamam de intensidade do relacionamento. O

objetivo é classificar o relacionamento de acordo com sua magnitude, como sugerem Golicic

et al. (2003). De acordo com os autores, a magnitude do relacionamento é a extensão ou grau

de proximidade ou de força do relacionamento entre as organizações, que depende de

confiança (honestidade e benevolência) e compromisso (exercer esforço para a continuidade

da relação). Golicic e Mentzer (2006) acrescentam dependência (percepção de necessidade de

manter o relacionamento para atingir objetivos desejados) como dimensão do construto

magnitude.

Existem, no entanto, elementos que antecedem a magnitude da colaboração como reconhecem

Bove and Johnson (2001), Min et al. (2005), Nyaga, Whipple e Lynch (2009) e Daugherty

(2011). Na presente pesquisa, os construtos antecedentes às dimensões de intensidade do

relacionamento são chamados de elementos do relacionamento colaborativo, que são os

componentes envolvidos no desenvolvimento e continuidade da relação colaborativa

(LAMBERT et al., 1999).

Após seleção dos elementos mais representativos na literatura e agrupamento dos fatores

similares, chegou-se a uma lista de 14 elementos que antecedem a intensidade do

relacionamento: Alinhamento de objetivos estratégicos; Medidas de desempenho em

conjunto; Compartilhamento de riscos e benefícios; Compartilhamento de informação;

Flexibilidade; Investimentos dedicados; Poucos relacionamentos e compatibilidade;

Expectativa de continuidade; Frequência de interação; Especificação de funções e regras;

Planejamento conjunto; Solução de problemas em conjunto; Equipe conjunta; Envolvimento

da alta gerência; Conhecimento sobre o parceiro.

62

Os relacionamentos colaborativos diferem-se das relações transacionais não apenas através

dos seus classificadores de intensidade ou dos seus elementos, mas também por causa dos

resultados esperados. Os resultados vêm em forma de benefícios, como mostram a maior parte

dos autores, mas esse tipo de relacionamento também pode trazer riscos devido ao nível de

envolvimento e dependência dos parceiros, como alertam Ellram e Cooper (1990).

A literatura identifica benefícios de diferentes níveis e magnitudes esperados do

relacionamento colaborativo. Não há um consenso do total de resultados positivos esperados

em uma parceria entre embarcadores e operadores logísticos e não existe também uma

classificação única dos benefícios esperados. Uma ideia, no entanto, parece ser o ponto de

vista da maioria dos autores: as recompensas associadas à colaboração são de longo prazo

(MIN et al., 2005). Os benefícios encontrados na literatura foram agrupados em eficiência

operacional (melhor planejamento de investimentos; economia de escala; melhor utilização da

capacidade e redução de custos), melhoras no desempenho logístico (redução no tempo de

entrega; entrega no prazo; precisão do atendimento completo dos pedidos; capacidade de

resposta; atendimento de pedidos urgentes; recuperação do serviço; desenvolvimento de

novos serviços; customização de serviços) e melhores resultados financeiros (aumento de

receita; maior participação de mercado; retenção de cliente e propaganda boca a boca,

podendo trazer novos clientes).

A existência de benefícios no relacionamento colaborativo, principalmente de longo prazo,

parece ser consenso entre os autores. Poucos, porém, reconhecem a existência de riscos.

Ellran e Cooper (1990) alertam que as vantagens potenciais da parceria podem ser desafiadas

pelos potenciais riscos associados com o relacionamento limitado a um pequeno número de

parceiros. O término de uma relação como essa poderia trazer grandes problemas para o

operador como a posse de um ativo muito específico que não poderia ser usado em outro

cliente (ARTZ E BRUSH, 2000) ou a absorção pelo embarcador de algumas ou até todas

funções terceirizadas (ELLRAN E COOPER, 1990).

O modelo conceitual utilizado como base nesta pesquisa está representado na Figura 4 e

resume os principais pontos da literatura.

63

Figura 4 – Modelo Conceitual

64

3. METODOLOGIA

Este capítulo apresenta a metodologia do estudo, caracterizando o tipo de pesquisa,

apresentando justificativas para os métodos utilizados, descrevendo o universo e a amostra

utilizados no estudo e listando as perguntas de pesquisa. Esta seção também mostra como se

deu a coleta de dados e a operacionalização das variáveis, apresentando o questionário e como

os dados foram tratados. Este capítulo é concluído admitindo as limitações da presente

pesquisa.

3.1 TIPO DE PESQUISA

Essa sessão visa apresentar o tipo de pesquisa realizado, sua conceituação e justificativa. De

acordo com Andrade (2001), existem diferentes formas e critérios de classificação dos tipos

de pesquisa. Por isso, é importante expor qual critério será utilizado. Andrade (2001)

classifica as pesquisas quanto à natureza, aos objetivos e aos procedimentos.

Andrade (2001) declara que a pesquisa pode assumir duas naturezas. Ela pode ser um trabalho

científico original, ou seja, “pesquisa realizada pela primeira vez que venha a contribuir para a

evolução do conhecimento em determinada área da ciência” (ANDRADE, 2001, p. 19), ou

pode ser um resumo do assunto, definido como “pesquisa fundamentada em trabalhos mais

avançados, que utiliza metodologia adequada e apresenta análise e interpretação dos fatos

estudados sob um enfoque original” (ANDRADE, 2001, p. 19). O presente estudo é do tipo

resumo do assunto, uma vez que se baseia em uma série de pesquisas e busca a interpretação

dos fatos estudados sob o enfoque original de operadores logísticos no Brasil.

Do ponto de vista dos objetivos da pesquisa, Andrade (2001) classifica-os como exploratória

(objetiva proporcionar maiores informações sobre o assunto que vai se investigar), descritiva

(ultrapassa a identificação das relações entre as variáveis e procura estabelecer a natureza

dessas relações) e explicativa (tipo mais complexo de pesquisa, em que busca o “porquê” das

coisas). De acordo com esta classificação, a presente pesquisa pode ser classificada como

exploratória, um vez que o assunto ainda não foi pesquisado no mercado brasileiro de

prestadores de serviços logísticos. O presente trabalho, porém, vai além da orientação e

fixação dos objetivos e a formulação de hipóteses, descrevendo características de determinada

população e estabelecendo relações entre as variáveis. Isso é o que Gil (1991) chama de

pesquisa descritiva, em que uma de suas características mais significativas é a utilização de

técnicas padronizadas de coleta de dados, tais como o questionário e a observação sistemática.

65

Este estudo, portanto, também pode ser classificado como descritivo, estando alinhado com a

ideia de Andrade que recomenda as pesquisas descritivas para estudos nas ciências humanas e

sociais. Quanto aos procedimentos ou meios de investigação, trata-se de uma pesquisa de

campo, pois é uma investigação empírica que faz uso de entrevistas e aplicação de

questionário.

3.1.1 Entrevistas com especialistas

Após levantar na literatura os elementos que poderiam ser importantes para o relacionamento,

as variáveis que influenciam em sua intensidade e as consequências do relacionamento

colaborativo, detectou-se a necessidade de realizar pesquisa exploratória através de entrevistas

com especialistas do setor de operadores logísticos. O objetivo dessa etapa era confirmar se as

variáveis relacionadas na revisão de literatura eram coerentes com o conhecimento tácito

adquirido ao longo da vida desses especialistas e se eram válidas no contexto de operadores

logísticos brasileiros. Churchill (1991) completa que esse tipo de pesquisa pode ter como fim

obter insights sobre a relação entre as variáveis. Além disso, segundo Vergara (2005), “a

investigação exploratória é realizada em área na qual há pouco conhecimento acumulado e

sistematizado”. No caso da presente pesquisa, a dificuldade em encontrar literatura que

aborde especificamente o tema de colaboração na relação operador logístico e embarcador no

contexto brasileiro justifica a realização dessa etapa.

O formato utilizado nas entrevistas foi por pautas, onde o entrevistador faz poucas perguntas

diretas e deixa o entrevistado falar livremente à medida que refere às pautas assinaladas (GIL,

2007). Churchill (1991) concorda com a ideia de que as pesquisas não devam ser estruturadas,

chegando a ser informais. Por isso, as entrevistas constituíram-se de uma sequência

minimamente organizada com as variáveis abordadas no estudo, mas flexível o bastante para

dar a elas um caráter de “bate-papo” sobre o tema pesquisado.

Segundo Churchill (1991), os entrevistados devem ser selecionados de acordo com a real

possibilidade que eles têm de contribuir ao estudo, sendo preferível buscar pessoas que atuem

no setor. Buscaram-se, então, profissionais com cargo de gestão e experiência com

prestadores de serviços logísticos. Na rede de contatos do pesquisador deste estudo, foram

identificados três especialistas dentro do perfil procurado. O primeiro é Diretor Regional de

uma multinacional que presta serviços logísticos e trabalhou por mais de 12 anos em

operadores logísticos. O segundo entrevistado é sócio fundador de uma empresa de

66

investimentos em logística e já participou de projetos com operadores logísticos. O terceiro

também participou de projetos com operadores logísticos e é sócio fundador de um instituto

de pesquisa.

As entrevistas incrementaram a revisão bibliográfica, acrescentando ao modelo conceitual

dois riscos que não haviam sido identificados na literatura. Um dos entrevistados chamou a

atenção para o risco de imagem. No caso de acontecer alguma falha na parceria, o cliente

possui grande poder de deteriorar a imagem do operador logístico frente a outros potenciais

clientes por causa da proximidade que o embarcador possui com a empresa. Outro risco

identificado é o do cliente aprender o serviço especializado com o operador e passar a fazer

internamente ou transferir o know how para outro operador deixando a parceria.

3.1.2 Pesquisa quantitativa

Após as entrevistas, a pesquisa de campo foi concluída com a etapa quantitativa. O objetivo

dessa etapa foi investigar, através da coleta de dados, as relações entre as variáveis levantadas

na literatura e nas entrevistas com especialistas. Para coleta de dados, foi utilizado um

questionário formal, aplicado em indivíduos selecionados de acordo com as características da

população alvo. A pesquisa foi realizada através da internet, sendo o próprio entrevistado o

responsável pelo preenchimento do questionário. Esta etapa da pesquisa será aprofundada nas

sessões seguintes.

3.2 UNIVERSO E AMOSTRA

A população alvo deste estudo é formada por operadores logísticos que atuam no mercado

brasileiro. Utilizou-se como universo a lista de operadores logísticos publicada pela revista

Tecnologística em março de 2011. Tentou-se contato com toda a lista publicada, além de

operadores citados em outras edições ou indicações com o fim de obter o máximo de

respostas possíveis para garantir a validade estatística dos resultados. Da lista de 143 contatos,

considerados a população desse estudo, 129 concordaram em participar da pesquisa, mas

apenas 86 responderam. Os respondentes representaram 60% da população previamente

definida.

Os participantes da pesquisa foram executivos dos operadores logísticos com conhecimento

sobre os clientes e a relação da empresa com estes. Os sujeitos com tal conhecimento podem

67

pertencer às áreas de operações, comercial ou de projetos, dependendo da estrutura

organizacional de cada operador.

3.3 PERGUNTAS DE PESQUISA

Duas perguntas fundamentais direcionam este estudo. De acordo com os objetivos

estabelecidos no modelo conceitual proposto, as principais perguntas de pesquisa são:

1) Quais são os elementos diferenciadores do relacionamento colaborativo entre

embarcadores e operadores logísticos?

2) Quais são os resultados do relacionamento colaborativo para o operador logístico?

A segunda pergunta foi desmembrada em duas questões secundárias:

2a) Quais são os benefícios do relacionamento colaborativo para o operador logístico?

2b) Quais são os riscos do relacionamento colaborativo para o operador logístico?

As perguntas de pesquisa deram origem às seguintes hipóteses:

H1: Elementos do relacionamento possuem impacto positivo na intensidade do

relacionamento. A intensidade do relacionamento será representada pelas dimensões: (a)

confiança, (b) compromisso e (b) dependência, resultantes da análise fatorial.

H2: Intensidade do relacionamento possui relação positiva com benefícios. Os benefícios

contemplarão as seguintes dimensões: (a) eficiência operacional, (b) desempenho e (c)

resultados financeiros, resultantes da análise fatorial.

H3: Intensidade do relacionamento possui relação positiva com riscos associados a mudanças

na relação como (a) risco de investimento específico, (b) risco de imagem e (c) risco de

transferência de know how.

3.4 COLETA DE DADOS

A coleta de dados da pesquisa foi realizada através da aplicação do questionário online,

hospedado no website da Qualtrics (www.qualtrics.com). O link para o questionário foi

enviado por e-mail para o potencial respondente, que já havia sido abordado por telefone

previamente e já havia concordado em participar da pesquisa. Essa abordagem estimulou a

participação dos executivos, uma vez que se comprometeram a responder antes mesmo de

receberem o e-mail. Outra tentativa de estimular a participação foi a promessa de que os

68

respondentes da pesquisa receberiam um sumário executivo com os resultados agregados e

que o sigilo quanto a identificação das empresas seria mantido.

O esforço de angariar participantes foi feito em dois momentos. O primeiro foi composto de

duas semanas no mês de julho do ano de 2011, quando se conseguiram 15 respostas ao

questionário. Essa etapa serviu como mais uma validação do questionário, que já havia sido

testado antes do envio, como será abordado na próxima subseção. Não houve problemas nas

respostas recebidas e o esforço na busca por mais respondentes foi concluída no segundo

momento. O mesmo questionário foi enviado no período entre início de janeiro e meados de

março de 2012, conquistando mais 68 respostas válidas. Ao todo, foram dedicados três meses

para a coleta de dados através de questionário para alcançar-se o número de 86 respostas.

3.5 QUESTIONÁRIO

O questionário baseou-se na revisão de literatura e nos questionários utilizados por autores da

própria revisão. Logo no início do questionário, o operador logístico foi convidado a escolher

um cliente considerado parceiro ou um cliente importante. A maioria das perguntas referia-se

ao cliente escolhido e o operador deveria respondê-las baseado no relacionamento com este

cliente.

As perguntas foram submetidas à avaliação de especialistas nas entrevistas e testadas com

alunos de mestrado, com o fim de avaliar a clareza do questionário e a adequação dos termos

ao meio empresarial. A versão final do questionário encontra-se no Apêndice A e compõe-se

de quatro seções:

Parte I- Perfil demográfico: teve como objetivo caracterizar tanto o respondente quanto a

empresa e o cliente escolhido através de 6 perguntas.

Parte II- Elementos do relacionamento: o objetivo desta seção foi reconhecer ou não a

presença dos elementos no relacionamento através de 21 perguntas.

Parte III- Intensidade do Relacionamento: nesta seção, pretendeu-se avaliar a intensidade do

relacionamento escolhido, avaliando seu grau de confiança, compromisso e dependência

através de 12 perguntas.

69

Parte IV- Resultados: a última parte do questionário buscou determinar os resultados positivos

e negativos da parceria, através da identificação de benefícios e riscos. Os resultados foram

avaliados através de 17 perguntas sobre benefícios e três perguntas sobre os riscos.

3.6 OPERACIONALIZAÇÃO DAS VARIÁVEIS

Este estudo está baseado em uma série de variáveis que são medidas das mais diferentes

formas e tiveram diferentes papéis para chegar-se nas conclusões da pesquisa. Todas as

variáveis usadas neste trabalho estão descritas e classificadas a seguir.

3.6.1 Variáveis do perfil demográfico

O perfil demográfico dos participantes foi traçado a partir de duas variáveis que caracterizam

o respondente (cargo do respondente e departamento), duas variáveis que caracterizam a

empresa (quantidade de clientes; quantidade de clientes considerados parceiros) e duas

variáveis que caracterizam o cliente escolhido para análise (representatividade do cliente

escolhido na receita; posição do cliente escolhido em relação aos outros clientes em termos de

receita).

Variável cargo do respondente: pergunta aberta que depois foi transformada em escala

categórica (“Diretor”, “Gerente”, “Coordenador”, “Supervisor”, “Assistente”,

“Outro”);

Variável área de atuação (departamento) do respondente: pergunta aberta que depois

foi transformada em escala categórica (“Operações/Logística”, “Comercial/Vendas”,

“Outro”);

Variável quantidade de clientes: variável quantitativa discreta;

Variável quantidade de clientes considerados parceiros: variável quantitativa discreta;

Variável representatividade do cliente escolhido na receita: escala categórica (“de 0 a

4%”, de “5 a 9%”, de “10 a 19%”, de “20 a 29%”, de “30 a 39%”, de “40 a 49%”, de

“50 a 59%”, de “60 a 69%”, de “70 a 79%”, de “80 a 89%”, de “90 a 99%”, “100%”);

Variável posição do cliente escolhido em relação aos outros clientes em termos de

receita: escala categórica (“1°”, “2°”, “3°”, “4°”, “5°”, “6ª posição ou mais”).

70

3.6.2 Elementos do relacionamento

A revisão bibliográfica expôs 14 itens consideradas elementos do relacionamento

colaborativo. Os 14 item tornaram-se 15 variáveis, uma vez que o último elemento,

conhecimento sobre o parceiro, possui duas direções. Este item foi transformado em duas

variáveis: conhecimento que o operador possui sobre o cliente e conhecimento que o cliente

possui sobre o operador logístico.

Das 15 variáveis, 12 foram medidas através de escala Likert de acordo com o grau de

concordância do respondente. Kerlinger (1964) destaca as escalas de Likert como um tipo

específico de escala ordinal, de pontos assumidos como intervalares. No caso destas variáveis,

a escala foi formada por cinco pontos, ancorada de acordo com o grau de concordância do

respondente quanto à presença do elemento no relacionamento, ou seja, 1 representa que o

entrevistado discorda totalmente da presença daquela característica no relacionamento, 2

significa que discorda parcialmente, 3 que não concorda nem discorda, 4 que concorda

parcialmente e 5 representa que concorda totalmente. As 12 variáveis medidas dessa forma

foram: alinhamento de objetivos estratégicos; medidas de desempenho em conjunto;

compartilhamento de riscos e benefícios; compartilhamento de informação; flexibilidade;

investimentos dedicados; expectativa de continuidade; especificação de funções e regras;

planejamento conjunto; solução de problemas em conjunto; equipe conjunta; envolvimento da

alta gerência.

A variável frequência de interação no relacionamento também possuía cinco opções de

resposta, mas essas não podem ser caracterizadas como escala Likert e sim como escala

categórica: “todo mês”; “de quinze em quinze dias”; “toda semana”; “todo dia”; “mais de uma

vez ao dia”. No momento do tratamento dos dados, no entanto, cada uma das 5 opções foi

representada por um valor (“todo mês”=1; “de quinze em quinze dias” = 2; “toda semana” =

3; “todo dia” = 4; “mais de uma vez ao dia” = 5).

Os elementos conhecimento do operador sobre o cliente e conhecimento do cliente sobre o

operador foram medidos através do conhecimento de quatro frentes: instalações; capacidades;

limitações e dificuldades; estratégias. O participante da pesquisa avaliou seu nível de

conhecimento, com base em uma escala Likert de 1 a 5, em relação às instalações,

capacidades, limitações/dificuldades e estratégias do cliente. A nota média de conhecimento

dessas quatro frentes foi utilizada como medida do conhecimento geral do operador em

71

relação ao cliente. O mesmo foi feito para avaliar o nível de conhecimento geral do cliente em

relação ao operador do ponto de vista do operador logístico.

3.6.3 Variáveis associadas à intensidade do relacionamento

A intensidade do relacionamento é formada por três construtos como identificado na

literatura: confiança, compromisso e dependência. Cada construto, por sua vez é composto

por variáveis que também foram identificadas na literatura. No total, foram identificadas 12

variáveis relacionadas à intensidade do relacionamento, todas medidas através de uma escala

Likert de cinco pontos, ancorada de acordo com o grau de concordância do respondente

(1=discorda totalmente da presença daquela característica no relacionamento; 5=concorda

totalmente). Os três construtos e suas variáveis estão apresentados no Quadro 4. O quadro

mostra a classificação encontrada na literatura que foi testada através de análise fatorial na

presente pesquisa. Após o teste, as variáveis 1 (confiança do operador no cliente) e 12

(percepção de que o cliente terá dificuldade em encontrar outro operador que atenda

plenamente suas necessidades no caso do término do relacionamento) foram descartadas e a

classificação das variáveis restantes foi confirmada.

Quadro 4 – Variáveis relacionadas à intensidade do relacionamento

Construtos Variáveis

1. Confiança

1. Confiança do operador no cliente

2. Percepção de que o cliente o trata de forma honesta

3. Percepção de que o cliente o trata de forma justa

4. Percepção de que o cliente age de forma proativa, buscando o

melhor para o relacionamento

5. Percepção de sinceridade nas promessas do cliente

6. Crença de que o cliente não tiraria vantagem de forma oportunista

da relação

2. Compromisso 7. Esforço do operador em manter a relação

3. Dependência

8. Dependência do operador em relação ao cliente

9. Percepção de que o cliente é essencial para o negócio do operador

10. Percepção de que o operador terá dificuldade em recuperar o

volume de vendas no caso do término do relacionamento

11. Percepção de que o operador é fundamental para a operação do

cliente

12. Percepção de que o cliente terá dificuldade em encontrar outro

operador que atenda plenamente suas necessidades no caso do

término do relacionamento

72

3.6.4 Variáveis associadas aos benefícios do relacionamento colaborativo.

Na revisão de literatura, foram identificados 17 benefícios do relacionamento colaborativo do

ponto de vista do operador logístico que foram mensurados através de escala Likert de cinco

pontos, de acordo com o grau de concordância ou discordância do participante (1=discorda

totalmente da presença daquele benefício no relacionamento; 5=concorda totalmente). Para

fins práticos, os benefícios foram agrupados em três conjuntos: eficiência operacional;

desempenho e resultados financeiros pelo próprio pesquisador. A lista das variáveis que

representam os benefícios do relacionamento para o operador logístico, assim como seu

agrupamento, está evidenciada no Quadro 5. É importante dizer que a análise fatorial retornou

esse mesmo agrupamento. No entanto, cinco variáveis foram descartadas, restando 12

benefícios divididos em três fatores (eficiência operacional; desempenho; resultados

financeiros). Os benefícios desconsiderados após a análise fatorial foram: (5) redução no

tempo de entrega; (6) maior índice de entregas dentro do prazo; (12) desenvolvimento de

novos serviços; (13) desenvolvimento de competência e know how que pode ser aplicado com

outros clientes; (14) conquista de novos clientes.

Quadro 5 – Variáveis relacionadas aos benefícios do relacionamento colaborativo

Grupo Variável

1. Eficiência operacional

1. Economias de escala

2. Melhor planejamento de investimentos

3. Melhor utilização da capacidade

4. Redução de custos

2. Desempenho

5. Redução no tempo de entrega

6. Maior índice de entregas no prazo

7. Precisão do atendimento completo dos pedidos

8. Maior capacidade de resposta

9. Maior capacidade a atendimento de pedidos urgentes

10. Maior capacidade de recuperação do serviço

11. Customização de serviços

12. Desenvolvimento de novos serviços

13. Desenvolvimento de competência e know how que pode

ser aplicado com outros clientes

3. Resultados financeiros

14. Conquista de novos clientes

15. Maior fidelidade e retenção de cliente

16. Maior volume de negócio com o cliente

17. Maior participação de Mercado

73

3.6.5 Variáveis associadas aos riscos do relacionamento colaborativo

A literatura identificou um risco para o operador logístico associado ao fim do relacionamento

que foi o risco de investimento específico. Após a etapa de entrevistas com especialistas,

foram identificados mais dois riscos: o risco de imagem e o risco de transferência de know

how. Ao todo, portanto, foram testadas três variáveis associadas ao risco que o

relacionamento colaborativo pudesse trazer para o operador logístico. Os três riscos foram

medidos por escala Likert de cinco pontos, de acordo com o grau de concordância ou

discordância do participante sobre a presença do risco no relacionamento (1=discorda

totalmente da presença daquele benefício no relacionamento; 5=concorda totalmente).

3.7 MODELO DE PESQUISA

O modelo conceitual final, após as entrevistas com os especialistas e construção de hipóteses,

está resumido na Figura 5.

3.8 TRATAMENTO DOS DADOS

As respostas coletadas online foram transferidas do site que hospedou o questionário para um

arquivo em Excel com o objetivo de organizar os dados no formato ideal para análise. Das 86

respostas, duas foram desconsideradas por estarem incompletas e outra resposta pertencia a

uma empresa não identificada como operador logístico. A amostra, então, foi formada por 83

respostas válidas.

As estatísticas descritivas de análise do perfil demográfico foram feitas no próprio Excel.

Após as análises iniciais, os dados foram transferidos para o software SPSS versão 19, com o

objetivo de fazer as análises mais complexas e conclusivas. Antes de iniciar as análises, foi

feito um teste no próprio SPSS com o objetivo de identificar dados inadequados chamado de

“Identify Unusual Cases”. Após descartar dados identificados como incomuns, métodos de

análise quantitativas dos dados foram utilizados para testar as hipóteses. Os testes feitos foram

análise fatorial exploratória, com o objetivo de reduzir uma série de variáveis a um grupo de

fatores, e regressão linear múltipla, que teve como finalidade gerar conclusões sobre as

relações entre as variáveis ou fatores, testando as hipóteses.

74

Figura 5 – Modelo de pesquisa

75

3.8.1 Identificação de casos incomuns

Antes de iniciar as análises, foi feito um teste de identificação de casos incomuns nas 83

respostas válidas. A resposta de número 62 foi identificada como inadequada, ou seja, fora

dos padrões das outras respostas e, por isso, decidiu-se descartá-la. Portanto, a amostra final é

constituída de 82 observações.

3.8.2 Análise descritiva dos dados demográficos

Para caracterizar o perfil dos operadores participantes do estudo, foram avaliados distribuição

de frequência, mínimo, máximo, média e o desvio padrão de variáveis demográficas. As

variáveis usadas para identificar o perfil dos respondentes foram seu cargo e sua área de

atuação na empresa; as variáveis que caracterizaram o operador logístico, enquanto empresa,

foram quantidade de clientes e quantidade de clientes considerados parceiros e, por último, as

variáveis que avaliaram o cliente escolhido para análise foram representatividade do cliente

escolhido na receita e posição do cliente escolhido em relação aos outros clientes em termos

de receita.

Não foram apenas as variáveis demográficas que foram submetidas a estatísticas descritivas.

Com o intuito de resumir os dados e, com isso, compreender o perfil das respostas, calculou-

se também a frequência, média e desvio padrão das respostas dadas às variáveis utilizadas nos

testes de hipóteses.

3.8.3 Análise fatorial exploratória

Em termos gerais, a análise fatorial é uma abordagem estatística que analisa a estrutura das

correlações entre um grande número de variáveis, definindo um conjunto de dimensões

latentes comuns, chamados de fatores (HAIR et al., 2010). Segundo Hair et. al. (2010),

objetivo da análise fatorial é encontrar um meio de condensar a informação contida em um

número de variáveis originais em um conjunto menor de variáveis estatísticas (fatores) com

uma perda mínima de informação. Para Sharma (1996), a análise fatorial possibilita a

identificação do menor número de fatores comuns que melhor explica as correlações entre as

variáveis. Portanto, a análise fatorial busca selecionar um subconjunto representativo de

variáveis ou mesmo criar novas variáveis que substituam as originais sem perder suas

características.

76

No presente estudo, lançou-se mão da análise fatorial exploratória com a finalidade de reduzir

ou resumir as 12 variáveis associadas à intensidade do relacionamento e as 17 variáveis que

representavam os benefícios do relacionamento. Também houve uma tentativa de redução das

15 variáveis associadas aos elementos do relacionamento, mas essa análise não obteve

sucesso.

De acordo com Hair et al. (2010), o pesquisador dificilmente realiza uma análise fatorial com

uma amostra com menos de 50 observações. Como regra geral, o mínimo é ter pelo menos

cinco vezes mais observações do que o número de variáveis a serem analisadas. A amostra do

presente estudo compõe-se de 82 observações, o que representa 5,47 observações para cada

elemento do relacionamento, 6,83 observações para cada variável associada à intensidade do

relacionamento e 4,82 observações por benefício do relacionamento. Essas proporções já são

consideradas razoáveis, mas após o descarte de algumas variáveis no processo da análise

fatorial, essas proporções aumentaram significativamente, principalmente no caso dos

benefícios do relacionamento, tornando o tamanho da amostra ideal para a análise fatorial

exploratória.

Existem dois métodos de extração dos fatores (análises de fatores comuns e análises de

componentes) e a seleção do método de extração depende do objetivo do pesquisador (HAIR

et al., 2010). O presente estudo utilizou a análise fatorial com o objetivo principal de redução

de dados, o que torna o método de extração dos fatores por componentes principais o mais

adequado. Quanto ao método de rotação dos dados, cujo objetivo é simplificar as linhas e as

colunas da matriz fatorial para facilitar a interpretação, ele pode ser ortogonal ou oblíquo

(HAIR et al. 2010). As análises desta pesquisa basearam-se no método de rotação de dados

oblíquo OBLIMIN do SPSS. Segundo Hair et al. (2010), as rotações oblíquas são semelhantes

às rotações ortogonais, porém, as oblíquas permitem fatores correlacionados em vez de

manterem independência entre os fatores rotacionados. Ou seja, a rotação oblíqua assume que

os fatores são correlacionados (SHARMA, 1996). Segundo Hair et al. (2010), é muito

razoável esperar que dimensões perceptuais sejam correlacionadas. Assim, a aplicação de uma

rotação oblíqua é justificada no presente estudo.

Segundo Sharma (1996), a primeira decisão que o pesquisador encara é se os dados são

apropriados ou não para a análise fatorial. Duas estatísticas fundamentais nesse processo são o

teste de esfericidade de Bartlett e a medida de adequação da amostra de Kaiser-Meyer-Olkin

(KMO). O teste Bartlett de esfericidade é o teste estatístico da significância geral de todas as

77

correlações em uma matriz de correlação, sendo considerado como satisfatório um valor

p<0,01 (HAIR et al., 2010). O KMO, por sua vez, é uma medida mais popular de adequação

da amostra e mede as intercorrelações (ou homogeneidade) das variáveis (SHARMA, 1996).

Sharma (1996) reforça que quanto maior o valor do KMO, melhor. O autor sugere que, de

forma geral, a medida deve ser maior que 0,80, mas resultados acima de 0,60 já são toleráveis.

O método da análise fatorial exige também um processo de seleção de variáveis e de fatores

que serão incluídos no resultado final do estudo. Hair et al. (2010) sugerem quatro critérios de

seleção das variáveis incluídas no resultado final da análise fatorial: (1) apresentar valores de

comunalidade maiores que 0,5; (2) apresentar carga fatorial maior que 0,6, o suficiente no

caso de aproximadamente 85 observações, e não apresentar cross loading, ou seja, não

apresentar carga alta em mais de um fator; (3) a relevância da variável segundo a literatura

estudada.

O critério de seleção dos fatores foi possuir autovalor (eigenvalue) maior que um (1) para

serem considerados significantes, descartando-se os fatores com autovalor menor que 1. Usar

o autovalor para estabelecer um corte é mais apropriado quando se tem entre 20 e 50 variáveis

incluídas no estudo (HAIR et al. 2010). Segundo os autores, se o número de variáveis é

menor que 20, o que é o caso do presente estudo, há uma tendência para que esse método

extraia um número conservador de fatores. Também levou-se em consideração o poder de

explicação do modelo, buscando atingir valor mínimo de 60% que, segundo Hair et al.

(2010), é satisfatório quando se trata de estudos dentro das ciências sociais.

Além de resumir os dados com a identificação de fatores, a análise fatorial também tem como

objetivo obter os escores fatoriais para que os fatores possam ser usados posteriormente em

uma análise multivariada de dados. Segundo Hair et al. (2010), os escores fatoriais são

valores padronizados calculados a partir da conjunção da carga fatorial, sendo o melhor

método para supressão de dados. No presente estudo, lançou-se mão da opção de extrair os

escores fatoriais na análise fatorial no SPSS. Os escores fatoriais foram utilizados na

aplicação da regressão linear que deu sequência ao estudo.

3.8.4 Regressão linear múltipla

De acordo com Hair et al. (2010), a análise de regressão múltipla é uma técnica estatística que

pode ser usada para analisar a relação entre uma única variável dependente e várias variáveis

independentes. Esse tipo de técnica estatística é útil na investigação do quanto um conjunto de

78

variáveis independentes explica significativamente a variação da variável dependente,

determinando também a intensidade da relação entre elas.

No presente estudo, a regressão múltipla foi utilizada para responder todas as perguntas de

pesquisa e testar as três hipóteses. Para testar as hipóteses, foram feitas, ao todo, nove testes

de regressão. A primeira hipótese foi testada classificando os elementos do relacionamento

como variáveis independentes e os fatores encontrados na análise fatorial relacionados com a

intensidade do relacionamento (confiança, compromisso e dependência) fizeram o papel de

variáveis dependentes, gerando três testes. No teste da segunda hipótese, o objetivo era

verificar se os fatores de intensidade do relacionamento (confiança, compromisso e

dependência) tinham poder de explicação sobre os construtos relacionados aos benefícios

(eficiência operacional, desempenho e resultados financeiros). Ou seja, os fatores de

intensidade do relacionamento passaram a ser variáveis independentes e os três possíveis

benefícios fizeram o papel de variáveis dependentes, gerando mais três testes de regressão

linear. A terceira hipótese objetivava testar a relação entre os três fatores de intensidade do

relacionamento (variáveis independentes) e as variáveis dependentes riscos associados a

mudanças na relação (risco de investimento específico, risco de imagem e risco de

transferência de know how), gerando mais uma vês três testes de regressão.

Para a execução das regressões, foi utilizado o método Enter, que inclui todas as variáveis

independentes na análise, independente do seu nível de significância. Hair et al. (2010)

advertem que o tamanho da amostra possui papel fundamental na determinação do poder

estatístico. No caso da regressão linear, os autores colocam como regra geral que o número de

observações para cada variável independente não deve ser abaixo de 5. Se a proporção ficar

abaixo de 5 para 1, o pesquisador correrá o risco de super ajustar a variável estatística com a

amostra, tornando o resultado demasiadamente específico à amostra e assim perdendo a

generalização. Os autores complementam que apesar de a proporção mínima ser de 5 para 1, o

nível desejado está entre 15 e 20 observações para cada variável independente. No modelo

usado na presente pesquisa, baseada em 82 observações, a primeira hipótese baseia-se em 15

variáveis independentes, gerando uma proporção de 5,47 observações por variável

independente, o que está de acordo com os padrões mínimos estabelecidos pela literatura. Nas

hipóteses 3 e 4, esta proporção aumenta para 27,3 alcançando o nível desejado pela literatura.

O tamanho da amostra é importante, pois ela tem impacto direto e de magnitude considerável

sobre o poder da regressão múltipla (HAIR et al. 2010). Segundo os autores, o poder em

79

regressão múltipla refere-se à probabilidade de detectar como estatisticamente significante um

nível específico de R2. O R

2 (coeficiente de determinação), por sua vez, é uma medida da

proporção da variância da variável dependente em torno de sua média que é explicada pelas

variáveis independentes. Os autores lembram que o coeficiente pode variar entre 0 e 1.

Quando o R2 é maior que zero significa que a quantia da variação explicada pelo modelo de

regressão é maior que a variação explicada pela média. Quanto maior o valor de R2, maior o

poder de explicação da equação de regressão. Além do coeficiente de determinação R2, os

programas de regressão costumam fornecer também um coeficiente ajustado de determinação

(R2 ajustado), que se torna menor, uma vez que temos menos observações por variável

independente (HAIR et al. 2010). Segundo os autores, o valor R2 ajustado é particularmente

útil na comparação entre modelos de regressão que envolvem diferentes quantidades de

variáveis independentes ou diferentes tamanhos de amostra, pois ele considera o número

específico de variáveis independentes e o tamanho da amostra em que cada modelo é baseado.

Malhotra (2006) alerta para o fato da presença de multicolinearidade nas pesquisas sociais, o

que dificulta a análise de regressão múltipla. Quando as intercorrelações entre variáveis

independentes são muito altas, existe a multicolinearidade e isso pode gerar uma série de

problemas como:

Os coeficientes de regressão podem não ser estimados com precisão e os erros padrão

tendem a ser muito altos;

As magnitudes e os sinais dos coeficientes de regressão podem variar de uma amostra

para outra;

Torna-se difícil avaliar a importância relativa das variáveis independentes ao explicar

a variação na variável dependente.

Ao se realizar uma análise de regressão linear múltipla, é importante verificar se as suposições

associadas ao método são atendidas pelo modelo de regressão. Hair et al. (2010) explicam que

existem quatro premissas que devem ser verificadas: (1) a linearidade do fenômeno medido;

(2) variância constante dos termos de erro; (3) independência dos termos de erro; (4)

normalidade da distribuição dos termos de erro. Se alguma dessas premissas não for

alcançada, os autores recomendam que medidas de ajuste do modelo sejam tomadas para

adequá-lo às suposições.

80

Neste estudo, o teste de adequação do modelo às premissas descritas acima foi a análise de

resíduos. Hair et al. (2010) recomendam este método que indica a relação entre resíduos

padronizados e os valores previstos pelo modelo de regressão através de um gráfico de

dispersão (scatterplot) , apontando, visualmente, se as suposição da análise de regressão

múltipla estão sendo atendidas. Idealmente, este gráfico deve apresentar uma dispersão

aleatória e igualmente distribuída em torno do zero dos resíduos, sem passar dos limites de 3 e

-3. O gráfico de probabilidade normal também deve ser analisado para verificar a quarta

suposição citada no parágrafo anterior.

3.8.5 Limitação da pesquisa

Vergara (2005) alerta que qualquer método de pesquisa possui suas limitações e é interessante

reconhecer essas limitações para antecipar-se às críticas que podem explicitar as limitações

que o método escolhido carrega.

Para fins práticos, foi utilizada a lista de operadores logísticos publicada na revista

Tecnologística em 2011, além de operadores publicados em edições anteriores e indicações.

No entanto, as publicações e indicações não garantem a inexistência de outros operadores que

poderiam ter feito parte da amostra. Além disso, nem todos da lista que formava o universo

responderam o questionário. A amostra, portanto, é uma amostra de conveniência, sendo

formada apenas por aqueles que quiseram participar da pesquisa.

A metodologia de pesquisa escolhida para o presente estudo baseia-se na percepção de

profissionais de operadores logísticos, estando sujeita à interpretação do respondente. Para

tentar amenizar essa limitação, o questionário foi testado e revisado com o objetivo de

garantir a clareza dos termos utilizados na pesquisa. Além disso, cada pergunta foi descrita de

forma detalhada para que, no caso de dúvida, o respondente pudesse ter mais informações a

respeito do que estava sendo perguntado.

Além da interpretação, a pesquisa estava sujeita aos sentimentos e vieses do respondente. Por

fazer parte do tema investigado, o participante poderia não possuir a imparcialidade

necessária na pesquisa sobre relacionamento com o cliente. Dependendo de sua experiência

no relacionamento, suas respostam poderiam estar carregadas de emoção e parcialidade.

Algumas perguntas do questionário referiam-se ao cliente escolhido para análise, ou seja, foi

perguntado ao operador a sua percepção sobre o que o cliente conhece de sua operação. Este é

81

um exemplo de pergunta que poderia ter sido feita para o próprio cliente, mas esta ideia foi

descartada por inviabilizar a pesquisa.

Portanto, pode-se apontar a subjetividade dos dados como a principal limitação da pesquisa.

Ao se pedir a percepção do entrevistado em relação ao relacionamento analisado, abriu-se a

possibilidade de as informações não serem precisas ou dependerem do julgamento pessoal do

indivíduo.

82

4. RESULTADOS: APRESENTAÇÃO E ANÁLISE

A presente seção dedica-se a apresentar os resultados obtidos na pesquisa e discuti-los. Este

capítulo começa apresentando o perfil da amostra utilizada para investigação, mostrando

características dos respondentes, das empresas e dos clientes escolhidos para análise.

Em seguida, são apresentadas estatísticas descritivas das variáveis investigadas no teste das

hipóteses da presente pesquisa.

Por último, o teste de cada uma das três hipóteses é descrito detalhadamente, apresentando os

resultados das análises fatoriais e análises de regressão. As conclusões dos testes são

apresentadas e confrontadas com resultados de outros estudos.

4.1 PERFIL DA AMOSTRA

O perfil dos respondentes é basicamente composto por gerentes e diretores das áreas de

Operações/Logística e Comercial/ Vendas. O Gráfico 7 mostra que 76% dos respondentes

ocupam cargos da alta gerência e o Gráfico 8 que 82% dos respondentes atuam no

departamento de Operações/Logística ou Comercial/ Vendas, considerados os mais aptos a

responder questões sobre o tema relacionamento colaborativo com o cliente do ponto de vista

operacional.

Gráfico 7 – Cargo dos Respondentes

Assistente

7% Supervisor

7%

Coordenador

6%

Gerente

51%

Diretor

25%

Outro

4%

83

Gráfico 8 – Área de atuação dos respondentes

Em relação aos operadores logísticos, foi perguntado o número total de clientes do operador

logístico e quantos desses eram considerados parceiros. Como era de se esperar, dada a

grande diversidade no porte dos operadores logísticos, o número de clientes e a proporção de

clientes parceiros variou muito entre os participantes. A Tabela 5 apresenta o número mínimo,

o máximo, a média e o desvio padrão da quantidade de clientes, de parceiros, assim como a

proporção entre eles.

Tabela 5 – Quantidade de clientes e parceiros

Mínimo Máximo Média Desvio

Padrão

Quantidade total de clientes 1 20.000 1.104 2.557

Quantidade de clientes considerados

parceiros (com o qual o operador possui

um relacionamento de colaboração de

longo prazo)

1 3.000 113 435

Proporção de clientes considerados

parceiros (parceiros/total de clientes) 0,07% 100% 37,78% 25%

No que tange ao perfil dos clientes escolhidos para análise do relacionamento, foram

avaliadas a representatividade do cliente escolhido na receita e a posição do cliente escolhido

em relação aos outros clientes em termos de receita. As tabelasTabela 6 e Tabela 7

apresentam a frequência, a frequência relativa e a frequência acumulada de cada uma das

possíveis respostas.

Operações/

Logística

53% Comercial/

Vendas

29%

Outro

18%

84

Tabela 6 – Representatividade do cliente escolhido na receita do operador

Frequência

Frequência

Relativa

Frequência

Acumulada

100% (este é meu único cliente) 2 2% 2%

de 90 a 99% 2 2% 5%

de 80 a 89% 3 4% 9%

de 70 a 79% 10 12% 21%

de 60 a 69% 3 4% 24%

de 50 a 59% 5 6% 30%

de 40 a 49% 7 9% 39%

de 30 a 39% 14 17% 56%

de 20 a 29% 12 15% 71%

de 10 a 19% 8 10% 80%

de 5 a 9% 10 12% 93%

de 0 a 4% 6 7% 100%

Total 82 100%

Tabela 7 – Posição do cliente escolhido em relação aos outros clientes do operador em

termos de receita

Frequência Frequência

Relativa

Frequência

Acumulada

1º 46 56% 56%

2º 18 22% 78%

3º 6 7% 85%

4º 3 4% 89%

5º 2 2% 91%

6ª posição ou mais 7 9% 100%

Total 82 100%

Como podemos ver, mais da metade dos clientes escolhidos tem a participação significativa

de 30 a 39% da receita do operador logístico. Além disso, 85% dos clientes escolhidos

ocupam até a 3ª posição em relação ao total de clientes em termos de receita do operador.

85

Como já era de se esperar, o cliente escolhido tem, em média, grande importância para os

negócios do operador logístico.

4.2 ESTATÍSTICA DESCRITIVA DAS VARIÁVEIS

Antes de detalhar os testes que trazem conclusões sobre as hipóteses levantadas, é preciso

apresentar estatísticas descritivas das variáveis usadas nas análises fatoriais e regressões.

Dessa forma, tem-se um resumo dos dados relacionados aos elementos do relacionamento, as

variáveis associadas à intensidade do relacionamento, aos benefícios e aos riscos da relação

colaborativa, o que pode ajudar a justificar alguns resultados mais adiante.

A média, o desvio-padrão e a frequência das respostas dadas a cada uma das perguntas

associadas aos elementos do relacionamento estão apresentados na Tabela 8. Observando a

tabela, percebe-se que a média de cada item variou entre 3,671 e 4,622, o desvio-padrão das

respostas de cada item variou entre 0,621 e 1,066 e, em geral, as respostas abrangeram todos

os pontos da escala, com exceção de alguns itens. No conjunto das variáveis, os elementos

considerados mais presentes nos relacionamentos analisados foram medidas de desempenho

em conjunto, investimentos dedicados, especificações de funções e regras e envolvimento da

alta gerência. Esses receberam grau médio de concordância acima de 4,5.

Murphy e Poist (2000) percebem em sua pesquisa que medidas de desempenho em conjunto

são um dos fatores chaves para o sucesso do relacionamento. No estudo, esta variável foi

chamada de controle e avaliação de desempenho conjunto e recebeu a média 3,30 de

importância entre os prestadores de serviços e 2,93 entre os clientes em uma escala de 0 (sem

importância) a 4 (máxima importância). Medidas de desempenho em conjunto também foram

consideradas na pesquisa de Stank et al. (2001) que avaliam como o atributo mais importante

dentre seis variáveis de colaboração externa. A pesquisa dos autores baseou-se em grandes

empresas de manufatura, armazenagem/distribuição e varejo no Canadá, México e Estados

Unidos. Esse público foi escolhido por causa da sua frequente interação com clientes chaves e

parceiros da cadeia de suprimentos no que diz respeito a processos logísticos e resultados de

desempenho. Outros autores como Leahy et al. (1995), Baschi e Virum (1996), Stank e

Daugherty (1997) e Min et al. (2005) também apontam medidas de desempenho em conjunto

como um importante elemento do relacionamento colaborativo.

86

Tabela 8 – Estatística descritiva dos Elementos do Relacionamento

Variáveis N Frequência

Média DesvPad 1 2 3 4 5

Frequência de Interação 82 4% 0% 16% 37% 44% 4,171 0,953

Alinhamento de objetivos estratégicos 82 0% 4% 7% 50% 39% 4,244 0,746

Medidas de desempenho em conjunto 82 0% 1% 4% 27% 68% 4,622 0,621

Compartilhamento de riscos e benefícios 82 4% 12% 15% 46% 23% 3,732 1,066

Compartilhamento de informação 82 0% 2% 13% 46% 38% 4,195 0,761

Flexibilidade 82 0% 6% 1% 45% 48% 4,341 0,789

Investimentos dedicados 82 2% 1% 4% 21% 72% 4,585 0,831

Expectativa de continuidade 82 2% 2% 4% 32% 60% 4,439 0,876

Especificação de funções e regras 82 0% 2% 4% 32% 62% 4,537 0,688

Planejamento conjunto 82 1% 1% 6% 44% 48% 4,354 0,760

Solução de problemas em conjunto 82 0% 1% 5% 48% 46% 4,390 0,643

Equipe conjunta 82 1% 2% 7% 37% 52% 4,366 0,824

Envolvimento da alta gerência 82 0% 1% 5% 27% 67% 4,598 0,645

Conhecimento da instalação do cliente

por parte do operador* 82 1% 2% 13% 32% 51% 4,293 0,882

Conhecimento da capacidade do cliente

por parte do operador* 82 1% 7% 11% 39% 41% 4,122 0,961

Conhecimento das limitações do cliente

por parte do operador* 82 1% 4% 21% 50% 24% 3,927 0,843

Conhecimento das estratégias do cliente

por parte do operador* 82 0% 11% 24% 51% 13% 3,671 0,847

Conhecimento da instalação do operador

por parte do cliente** 82 1% 5% 10% 35% 49% 4,256 0,914

Conhecimento da capacidade do operador

por parte do cliente** 82 1% 5% 13% 35% 45% 4,183 0,931

Conhecimento das limitações do operador

por parte do cliente** 82 2% 7% 32% 32% 27% 3,732 1,019

Conhecimento das estratégias do

operador por parte do cliente** 82 1% 10% 20% 43% 27% 3,841 0,975

* Essas quatro variáveis foram agrupadas em uma única variável chamada "conhecimento do operador sobre o cliente" através

da média entre as 4 notas atribuídas ao conhecimento de instalação, capacidade, limitações e estratégias. A média dessa variável foi 4,003 e o desvio-padrão foi 0,738.

**Essas quatro variáveis foram agrupadas em uma única variável chamada "conhecimento do cliente sobre o operador" através

da média entre as 4 notas atribuídas ao conhecimento de instalação, capacidade, limitações e estratégias. A média dessa variável

foi 4,003 e o desvio-padrão foi 0,805.

A pesquisa de Knemeyer e Murphy (2005) explora o potencial impacto das características do

relacionamento e atributos do cliente no resultado do prestador de serviços. O estudo, no

entanto, foi feito com embarcadores americanos de diferentes indústrias. Em média, os

embarcadores não estavam muito satisfeitos com o investimento dedicado a eles pelo

prestador de serviços logísticos. Dentre cinco características do relacionamento pesquisadas, o

investimento específico do prestador de serviço ficou com a penúltima menor nota: 4,41 (em

87

uma escala de 1 a 7). O investimento dedicado, no entanto, possui presença considerável na

presente pesquisa e é percebido como importante elemento para o relacionamento

colaborativo por diversos autores (LEAHY ET AL., 1995; LAMBERT ET AL., 1999, MIN ET

AL., 2005; SLACK E LEWIS, 2009).

A especificação de funções e regras não foi percebida como importante, quando comparada

com outros fatores de sucesso do relacionamento na pesquisa de Murphy e Poist (2000). Essa

variável ficou em vigésimo lugar em uma lista de 25 fatores chaves no sucesso do

relacionamento entre o prestador de serviço logístico e o embarcador. Outros autores, no

entanto, atribuem importância a esse elemento como Bowersox (1990), Bowersox et al.

(1992), Heide (1994), Bagchi e Virum (1996), Simatupang e Sridharan (2002) e Min et al.

(2005).

O envolvimento da alta gerência também foi percebido como um elemento fundamental na

pesquisa de Murphy e Poist (2000) nos Estados Unidos. Dentre os 25 fatores chave para o

sucesso no relacionamento entre prestadores de serviços logísticos e seus clientes

pesquisados, o envolvimento organizacional total (que inclui o compromisso do top

management) recebeu a nota média 3,24 do ponto de vista do prestador de serviço e 3,00 do

ponto de vista do cliente em uma escala que ia de 0 (nenhuma importância) a 4 (máxima

importância). Este fator ficou entre os 10 principais fatores sob a perspectiva de ambos, do

prestador de serviço e do cliente. Outros autores também citam o envolvimento da alta

gerência como um importante elemento para o relacionamento como Leahy et al. (1995),

Bachi e Virum (1996) e Min et al. (2005).

Os elementos menos encontrados nos relacionamentos investigados na presente pesquisa

foram compartilhamento de riscos e benefícios, conhecimento das limitações e estratégias do

cliente por parte do operador e conhecimento das limitações e estratégias do operador por

parte do cliente. Essa talvez possa ser uma evidência de que o relacionamento colaborativo no

Brasil enfrenta desafios de confiança dificultando o compartilhamento de riscos e benefícios,

além do compartilhamento das limitações e estratégias entre os prestadores de serviços e os

clientes.

A Tabela 9 apresenta a média, o desvio-padrão e a frequência das respostas dadas a cada uma

das 12 perguntas associadas à intensidade do relacionamento que foram agrupadas,

posteriormente, em três fatores: confiança, compromisso e dependência. Através da tabela é

88

possível perceber que a média de cada item variou entre 2,683 e 4,622, o desvio-padrão das

respostas de cada item variou entre 0,601 e 1,256 e, em geral, as respostas abrangem quase

todos os pontos da escala, com exceção de seis itens que não receberam 1 como resposta em

nenhuma das observações. No conjunto das variáveis relacionadas à intensidade do

relacionamento, o esforço do operador em manter a relação foi o mais percebido nas relações

investigadas e a variável menos percebida foi a dependência do operador em relação ao

cliente.

Este resultado pode estar sendo influenciado pela subjetividade das respostas dos participantes

sobre seu esforço investido no relacionamento e sua dependência na relação. É natural que o

respondente reconheça, talvez até de forma superestimada, seu esforço em manter a relação.

Por isso, era de se esperar que o esforço do operador fosse o item mais percebido dentre as

variáveis que medem a intensidade do relacionamento.

Tabela 9 - Estatística descritiva das variáveis de intensidade do relacionamento

Variáveis N Frequência

Média DesvPad 1 2 3 4 5

Confiança no outro* 82 0% 1% 12% 59% 28% 4,134 0,662

Percepção de que o cliente trata de forma

honesta 82 0% 2% 5% 39% 54% 4,439 0,704

Percepção de que o cliente trata de forma justa 82 0% 4% 9% 54% 34% 4,183 0,739

Percepção de que o cliente age de forma

proativa, buscando o melhor para o

relacionamento

82 0% 4% 13% 51% 32% 4,110 0,770

Percepção de sinceridade nas promessas do

cliente 82 0% 6% 15% 48% 32% 4,049 0,845

Crença de que o cliente não tiraria vantagem de

forma oportunista da relação 82 1% 6% 21% 37% 35% 3,988 0,962

Esforço do operador em manter a relação 82 0% 1% 2% 29% 67% 4,622 0,601

Dependência do operador em relação ao cliente 82 20% 30% 22% 18% 10% 2,683 1,256

Percepção de que o cliente é essencial para o

negócio do operador 82 6% 9% 24% 37% 24% 3,646 1,126

Percepção de que o operador terá dificuldade em

recuperar o volume de vendas no caso do

término do relacionamento

82 11% 26% 24% 28% 11% 3,024 1,196

Percepção de que o operador é essencial para a

operação do cliente 82 4% 5% 26% 38% 28% 3,817 1,020

Percepção de que o cliente terá dificuldade em

encontrar outro prestador que atenda plenamente

suas necessidades no caso do término do

relacionamento*

82 7% 13% 22% 33% 24% 3,537 1,209

* Essas variáveis foram descartadas após análise fatorial por não compor nenhum fator.

89

Por outro lado, é difícil para o operador reconhecer que ele depende do cliente. Esta questão

também é delicada e está muito sujeita a subjetividade do respondente. Isso pode justificar os

baixos resultados no que tange a percepção do operador quanto à existência da dependência

do cliente analisado.

A média, o desvio-padrão e a frequência das respostas dadas a cada uma das 17 perguntas

associadas aos benefícios do relacionamento estão apresentados na Tabela 10. Observando a

tabela, nota-se que a média de cada item variou entre 3,329 e 4,415, o desvio-padrão das

respostas de cada item variou entre 0,748 e 1,188 e, em geral, as respostas abrangeram todos

os pontos da escala, com exceção de cinco variáveis que não receberam 1 como resposta e

quatro variáveis que não receberam 2 como resposta. Na lista de benefícios do relacionamento

colaborativo, os benefícios mais observados nas relações da amostra foram maior capacidade

de resposta, maior capacidade de atendimento de pedidos urgentes, maior customização de

serviços, desenvolvimento de competência e know how, maior fidelidade e retenção do cliente

e maior volume de negócios com o cliente.

Os benefícios menos encontrados nos relacionamentos investigados foram redução de custos

e redução do tempo de entrega. O relacionamento mais próximo com o cliente pode trazer

custos que não existiriam caso a relação fosse do tipo transacional, como investimentos

especializados, maior dedicação de recursos humanos e financeiros, maior planejamento etc.

Dessa forma, justifica-se o baixo índice de percepção de redução de custos nos

relacionamentos escolhidos pelos respondentes. A redução do tempo de entrega também foi

um resultado pouco percebido nos relacionamentos analisados e isso pode ser justificado pela

relação de parceria que há entre o embarcador e o cliente. Por causa da colaboração, o próprio

cliente pode avaliar se a redução no tempo de entrega é tão importante a ponto de compensar

os gastos extras que são necessários para este resultado. Quando o relacionamento entre o

embarcador e cliente é próximo, a avaliação desse trade-off é feita de forma mais consciente e

a redução no tempo de entrega pode não ser mais tão valorizada frente ao custo que isso traz.

A média, o desvio-padrão e a frequência das respostas dadas a cada um dos três riscos

associados ao relacionamento estão apresentados na Tabela 11. Como pode ser visto na

tabela, a média de cada item ficou por volta de 2,4, o desvio-padrão por volta de 1,2 e as

respostas abrangeram todos os pontos da escala.

90

Tabela 10 – Estatística descritiva das variáveis relacionadas aos benefícios do

relacionamento

Variáveis N Frequência

Média DesvPad 1 2 3 4 5

Economia de escala 82 2% 5% 21% 52% 20% 3,817 0,891

Melhor planejamento de investimentos 82 0% 6% 20% 56% 18% 3,866 0,782

Melhor utilização da capacidade (redução

de ociosidade) 82 0% 6% 17% 55% 22% 3,927 0,798

Redução de custos 82 4% 18% 29% 39% 10% 3,329 1,007

Redução no tempo de entrega* 82 5% 13% 30% 28% 23% 3,512 1,136

Maior índice de entregas no prazo* 82 0% 7% 22% 35% 35% 3,988 0,936

Maior precisão do atendimento completo

dos pedidos 82 0% 5% 15% 39% 41% 4,171 0,858

Maior capacidade de resposta 82 0% 1% 12% 34% 52% 4,378 0,748

Maior capacidade de atendimento de

pedidos urgentes 82 4% 0% 9% 38% 50% 4,305 0,912

Maior capacidade de recuperação do

serviço 82 1% 4% 11% 38% 46% 4,244 0,883

Maior customização de serviços 82 1% 2% 7% 41% 48% 4,317 0,815

Desenvolvimento de novos serviços* 82 5% 4% 17% 23% 51% 4,122 1,126

Desenvolvimento de competência e know

how* 82 1% 0% 12% 38% 49% 4,329 0,787

Propaganda boca a boca (referência)* 82 6% 6% 20% 27% 41% 3,915 1,188

Maior fidelidade e retenção de cliente 82 1% 1% 13% 34% 50% 4,305 0,842

Maior volume de negócios com o cliente 82 1% 0% 13% 27% 59% 4,415 0,816

Maior participação de Mercado 82 4% 0% 17% 22% 57% 4,293 1,000

* Essas variáveis foram descartadas após análise fatorial por não compor nenhum fator.

Tabela 11 – Estatística descritiva dos riscos associados ao relacionamento

Variáveis N Frequência

Média DesvPad 1 2 3 4 5

Risco de investimento específico 82 30% 26% 17% 24% 2% 2,427 1,228

Risco de imagem 82 33% 21% 21% 23% 2% 2,415 1,237

Risco de transferência de know how 82 29% 30% 20% 17% 4% 2,354 1,180

De forma geral, os respondentes perceberam baixos níveis de risco no relacionamento. Dentre

os riscos listados, o rico mais evidente foi o de investimento específico e o menos percebido

foi o risco de transferência de know how.

Uma possível explicação para este resultado pode ser o baixo nível de intensidade do

relacionamento entre os parceiros brasileiros. O risco de investimento específico é algo

91

inerente a qualquer tipo de relacionamento em que o prestador de serviço deva fazer

investimentos dedicados a prestação daquele serviço específico, ou seja, o investimento não é

necessariamente consequência de um relacionamento colaborativo. Portanto, independente da

intensidade do relacionamento, este risco pode estar presente.

Já o risco menos percebido na pesquisa, o risco de transferência de know how, só está presente

em relações de muita confiança em que o compartilhamento de informações, conhecimentos e

experiências é intenso. A baixa percepção desse risco do ponto de vista dos operadores

logísticos brasileiros pode indicar baixo índice de troca e confiança entre os parceiros.

4.3 TESTE DA HIPÓTESE 1

A primeira hipótese prevê uma relação positiva entre os 15 elementos do relacionamento

investigados e os níveis de confiança, compromisso e dependência na relação entre o operador

logístico e seu cliente. Para testar essa hipótese, foi necessário, inicialmente, agrupar as

variáveis relacionadas à intensidade do relacionamento nos três fatores: confiança,

compromisso e dependência. Esses fatores foram previstos na literatura e após os testes de

análise fatorial, foram confirmados na presente pesquisa. Após a etapa de resumo dos dados

através da análise fatorial, foram feitos testes de regressão linear múltipla, relacionando os

elementos a cada um dos três fatores de intensidade do relacionamento.

4.3.1 Análise fatorial exploratória

Antes de partir para a análise de regressão e, finalmente, testar a hipótese inicial, lançou-se

mão da análise fatorial com o objetivo de reduzir as variáveis a um número de fatores à luz da

literatura.

No caso da lista de variáveis que constituíam os elementos do relacionamento, a análise

fatorial não se fez útil uma vez que os elementos identificados na literatura apareciam sempre

como variáveis independes, que não constituíam fatores. No entanto, apesar de não haver

sugestão de agrupamento na revisão bibliográfica, aplicou-se a análise fatorial nas

observações do presente estudo, na esperança de agrupar alguns dos elementos em fatores.

Essa análise, porém, não foi bem sucedida, pois muitas variáveis tiveram que ser

desconsideradas para se chegar a fatores razoáveis e com boas comunalidades. Além disso, os

fatores agrupavam poucas variáveis. Por isso, a análise fatorial em elementos do

92

relacionamento foi descartada e as 15 variáveis foram utilizadas de forma independente nos

testes de regressão subsequentes.

Já para variáveis atribuídas à intensidade do relacionamento, a revisão bibliográfica indicou

que elas formavam grupos de variáveis chamadas pela própria literatura de confiança,

compromisso e dependência. Esses construtos foram sempre referenciados na literatura como

fatores que indicam a intensidade ou magnitude do relacionamento. Portanto, esperava-se a

formação dos três fatores na análise fatorial das 12 variáveis atribuídas à intensidade do

relacionamento.

A análise fatorial das variáveis de intensidade considerou, incialmente, as 12 variáveis

listadas. Nesta primeira rodada, chegou-se a três fatores que explicavam 67,08% da variância

total. No entanto, ao analisar as comunalidades de cada variável independente e a matriz de

correlação rotacionada, detectou-se que algumas delas apresentavam valor inferior ao mínimo

satisfatório. Nesses casos, recomenda-se a eliminação das variáveis e a execução de uma nova

rodada de análise. Assim, foram realizadas rodadas subsequentes de análise fatorial, seguindo

sempre os mesmos critérios descritos, até chegar-se a um resultado consistente.

No último resultado apurado, a análise fatorial, resumida na Tabela 12, indicou três fatores

com o poder de explicar 71,85% da variância total. O teste de esfericidade de Barlett e a

medida de adequação da amostra de Kaiser-Meyer-Olkin (KMO) também apresentaram bons

resultados como pode ser confirmado pela tabela. Conforme citado anteriormente, Hair et al.

(2010) apontam que o valor da significância do teste de esfericidade de Barlett deve ser um

valor p < 0,01 e que o KMO deve ser maior que 0,80, mas resultados acima de 0,60 já são

toleráveis, tornando válidos os resultados encontrados.

Das 12 variáveis iniciadas, somente 10 foram consideradas no resultado final. Seguindo os

critérios previamente determinados, duas variáveis foram eliminadas do estudo, a saber:

confiança no outro e percepção de que o cliente terá dificuldade em encontrar outro

prestador que atenda plenamente suas necessidades no caso do término do relacionamento.

É importante ressaltar que no processo da análise fatorial, foi necessário ponderar as variáveis

formadoras de cada fator com base em seus escores fatoriais. Os escores fatoriais são

calculados com base na carga fatorial de cada uma das variáveis no fator, atribuindo-se um

valor para cada observação, que será usado em substituição aos valores de todas as variáveis

associadas ao fator.

93

Com o objetivo de verificar a confiabilidade da escala, considerando as dimensões obtidas na

análise fatorial, foi obtido o Alfa de Cronbach para as variáveis de cada fator. O Alfa de

Cronbach dos atributos do primeiro e último fatores foram acima de 0,8, indicando grande

confiabilidade da consistência interna da escala. O segundo fator não possui Alfa de

Cronbach, pois é constituído de uma única variável.

Tabela 12 – Análise fatorial dos atributos de intensidade

Atributos de Intensidade Carga Fatorial

Comunalidade Confiança Compromisso Dependência

Percepção de que o cliente trata de forma honesta 0,70 0,11 0,02 0,54

Percepção de que o cliente trata de forma justa 0,76 0,34 -0,14 0,83

Percepção de que o cliente age de forma

proativa, buscando o melhor para o

relacionamento 0,83 0,13 -0,03 0,75

Percepção de sinceridade nas promessas do

cliente 0,83 -0,08 0,08 0,69

Crença de que o cliente não tiraria vantagem de

forma oportunista da relação 0,91 -0,31 0,02 0,78

Esforço do operador em manter a relação 0,02 0,90 0,06 0,83

Dependência do operador em relação ao cliente -0,07 -0,21 0,80 0,67

Percepção de que o cliente é essencial para o

negócio do operador 0,10 0,20 0,79 0,71

Percepção de que o operador terá dificuldade em

recuperar o volume de vendas no caso do término

do relacionamento

-0,06 -0,10 0,84 0,71

Percepção de que o operador é essencial para a

operação do cliente 0,11 0,28 0,73 0,68

Alfa de Cronbach (apenas dos atributos

pertencentes à escala, em negrito) 0,873 - 0,804

Variância explicada 37,07% 10,46% 24,33%

Medida de adequação da amostra KMO 0,769

Teste Barlett de esfericidade 0,000

Total da variância explicada 71,85%

Os três fatores gerados, foram chamados de confiança, compromisso e dependência, uma vez

que as variáveis agrupadas e os fatores encontrados condiziam com os construtos abordados

na literatura. As três dimensões são definidas nas descrições encontradas na literatura e no

resultado da análise fatorial descrita acima.

O primeiro fator, chamado de confiança, é definido por Lambert et al.(1999) como a crença

de que o parceiro está comprometido com o sucesso a longo prazo da relação. Essa definição

pode ser percebida em duas variáveis que formaram o fator confiança: percepção de que o

94

cliente age de forma proativa, buscando o melhor para o relacionamento e crença de que o

cliente não tiraria vantagem de forma oportunista da relação. Na pesquisa de Golicic e

Mentzer (2006), o construto confiança é formado por alta integridade do parceiro, sinceridade

nas promessas do parceiro, se o parceiro trata a empresa de forma justa e honesta, se a

empresa confia totalmente no parceiro e se a empresa pode contar com o parceiro para fazer o

que é certo. O resultado da pesquisa de Golicic e Mentzer (2006) confirma a validade do fator

confiança encontrado. De acordo com o resultado da análise fatorial da presente pesquisa, a

dimensão confiança é formada pela percepção de que o cliente trata o operador de forma

justa, honesta e sincera, agindo de forma proativa na relação em busca do melhor para o

relacionamento, sem tirar vantagem de forma oportunista da relação.

Lambert et al. (1999), no entanto, agrupam confiança e comprometimento como uma única

variável definida como a crença no comprometimento mútuo. Essa referência não corrobora

com o resultado da análise fatorial da presente pesquisa, uma vez que a confiança no outro e o

comprometimento próprio foram agrupados em diferentes fatores no presente estudo. Golicic

e Mentzer (2006) concordam que o compromisso independe de confiança e definem esse

construto como a vontade de exercer esforço para continuidade do relacionamento. Este

resultado também foi encontrado pela análise fatorial do presente estudo que define a

dimensão compromisso como o esforço do próprio operador logístico na busca da

continuidade da relação.

Golicic e Mentzer (2006) definem dependência como a percepção da necessidade de manter o

relacionamento para atingir os objetivos do negócio. As variáveis que compõem esse fator no

presente estudo medem a dependência tanto do operador logístico quanto do cliente na relação

entre eles. Heide (1994) mede a dependência através de três questões, que estão alinhadas

com as variáveis encontradas na presente pesquisa na formação do fator dependência: (1) é

relativamente difícil encontrar um novo cliente?; (2) encontrar novos clientes traria um

impacto negativo nos preços?; (3) se o relacionamento com algum cliente terminar, isso traria

problemas para a operação?. A diferença do estudo de Heide (1994) para o presente estudo é

que esta pesquisa considera os dois sentidos de dependência. O resultado da análise fatorial

aponta que a dimensão dependência representa o nível de dependência mútua entre o operador

logístico e seu cliente. Ou seja, esta dimensão prevê não só que o operador depende do

cliente, que o cliente é essencial para o negócio do operador e que o operador terá dificuldade

95

em recuperar o volume de vendas no caso do término do relacionamento, mas que o operador

é essencial para o negócio do cliente.

Com os elementos e os fatores de intensidade do relacionamento em mãos, foram feitas

análises de regressão relacionando os elementos a cada uma dos três dimensões confiança,

compromisso e dependência. Os resultados e a resposta do teste da primeira hipótese são

apresentados e discutidos a seguir.

4.3.2 Análise de regressão linear multivariada

Com o objetivo de testar a primeira hipótese (elementos do relacionamento possuem impacto

positivo em (a) confiança, (b) compromisso e (b) dependência), foi efetuada a análise de

regressão linear múltipla Enter, que considera todas as variáveis independentes na análise,

incluindo as com baixo nível de significância. Essa análise foi realizada para verificar se os

elementos do relacionamento colaborativo tinham poder de explicação sobre cada uma das

dimensões da intensidade do relacionamento e, dentre eles, quais possuíam maior poder de

explicação sobre cada um dos construtos.

Antes de apresentar o resultado do teste de regressão linear múltipla, é importante abordar o

problema da multicolinearidade presente entre as variáveis independentes da presente

pesquisa. Alguns elementos do relacionamento possuem correlação positiva entre si. A

solução de problemas em conjunto, muitas vezes exige o planejamento conjunto e o

alinhamento de objetivos estratégicos vem acompanhado do compartilhamento de

informação. A Tabela 13 apresenta as correlações entre os elementos do relacionamento,

evidenciando a presença de multicolinearidade. Por causa dessa condição, os resultados da

regressão podem apresentar problemas como a baixa precisão dos coeficientes, baixo nível de

explicação das variáveis e altos erros padrão.

96

Tabela 13 – Correlação entre os elementos do relacionamento

E1 E2 E3 E4 E5 E6 E7 E8 E9 E10 E11 E12 E13 E14 E15

E1-Frequência de interação 1,000

E2-Alinhamento de objetivos estratégicos 0,288** 1,000

E3-Medidas de desempenho em conjunto 0,173 0,148 1,000

E4-Compartilhamento de riscos e benefícios -0,027 0,254* 0,292** 1,000

E5-Compartilhamento de informação 0,124 0,350** 0,184 0,126 1,000

E6-Flexibilidade 0,102 0,087 0,367** 0,184 0,258* 1,000

E7-Investimentos dedicados 0,340** 0,225* 0,267* 0,305** 0,188 0,369** 1,000

E8-Expectativa de continuidade 0,131 0,080 0,195 0,194 0,129 0,173 0,168 1,000

E9-Especificação de funções e regras 0,047 0,175 0,163 0,114 0,434** 0,408** 0,221* 0,239* 1,000

E10-Planejamento conjunto 0,120 0,303** 0,104 0,134 0,328** ,270* 0,216 0,116 0,364** 1,000

E11-Solução de problemas em conjunto 0,132 0,365** 0,343** 0,155 0,196 0,367** 0,191 0,152 0,330** 0,649** 1,000

E12-Equipe conjunta 0,155 0,054 0,153 0,001 0,121 0,147 0,062 0,288** 0,085 0,323** 0,379** 1,000

E13-Envolvimento da alta gerência 0,133 0,155 0,293** 0,164 0,112 0,200 -0,085 0,032 0,131 0,294** 0,383** 0,373** 1,000

E14-Conhec. do operador sobre o cliente -0,010 0,346** 0,137 0,327** 0,175 0,210 0,254* -0,050 0,216 0,257* 0,368** 0,039 0,314** 1,000

E15-Conhec. do cliente sobre o operador 0,188 0,302** 0,089 0,127 0,241* 0,203 0,293** 0,274* 0,203 0,099 0,224* 0,036 0,115 0,491** 1,000

* Correlação significativa a 5%

** Correlação significativa a 1%

97

A Tabela 14 apresenta o resumo do resultado das três regressões. Observando a tabela, nota-

se que os modelos apresentaram bons níveis de significância para determinadas variáveis

independentes com betas padronizados que suportam a hipótese de que alguns elementos do

relacionamento possuem impacto positivo nas dimensões confiança, compromisso e

dependência. O poder explicativo dos modelos, no entanto, foi baixo o que pode indicar que,

no contexto brasileiro, existem outros elementos não investigados que influenciam nas

dimensões de intensidade do relacionamento. Vieira et al. (2009a) sugerem, por exemplo, que

a colaboração interpessoal tem maior contribuição para a intensidade da colaboração do que

outros fatores e, no presente estudo, a colaboração no nível das pessoas não foi considerada,

pois isso limitaria muito a possibilidade de respondentes para a pesquisa. Apenas os

envolvidos diretamente na operação do relacionamento com o cliente escolhido para análise

poderiam responder questões sobre a colaboração interpessoal.

Alguns dos elementos investigados não alcançaram o nível de significância mínimo (10%)

para serem considerados no modelo, não suportando a hipótese de que esses elementos

possuem impacto positivo nas dimensões de intensidade do relacionamento. Os elementos que

não alcançaram o nível de significância mínimo em nenhuma das três regressões foram:

frequência de interação, compartilhamento de informação, flexibilidade, solução de

problema em conjunto e conhecimento do cliente sobre o operador.

Além disso, alguns elementos apresentaram sinal do beta padronizado invertido ao esperado.

Nesses casos, a hipótese de que quanto maior a presenta do elemento, maior a dimensão de

intensidade foi negada. Os parágrafos a seguir analisam e discutem cada um dos resultados

encontrados.

O primeiro modelo possui R2 ajustado de 0,471, indicando que 47% da variação na confiança

que o operador possui no cliente pode ser explicado pelo modelo. As variáveis com nível de

significância estatística nesse modelo foram expectativa de continuidade e conhecimento do

operador sobre o cliente a 1%, medidas de desempenho em conjunto e especificação de

funções e regras a 5% e compartilhamento de riscos e benefícios e investimentos dedicados a

10%.

98

Tabela 14 – Resultado do teste da hipótese 1

Elementos do

relacionamento

Confiança Compromisso Dependência

Beta

padron.

t

valor Sig.

Beta

padron. t valor Sig.

Beta

padron.

t

valor Sig.

Frequência de interação 0,152 1,591 0,116 0,165 1,409 0,164 0,055 0,440 0,661

Alinhamento de objetivos

estratégicos -0,105 -1,041 0,301 0,289 2,322 0,023** -0,178 -1,344 0,184

Medidas de desempenho em

conjunto 0,208 2,088 0,041** 0,379 3,097 0,003*** 0,232 1,775 0,081*

Compartilhamento de riscos

e benefícios -0,174 -1,799 0,077* -0,061 -0,512 0,611 0,295 2,329 0,023**

Compartilhamento de

informação 0,054 0,544 0,588 -0,185 -1,515 0,134 0,033 0,253 0,801

Flexibilidade 0,082 0,819 0,415 -0,063 -0,508 0,613 -0,083 -0,629 0,531

Investimentos dedicados -0,177 -1,668 0,100* -0,071 -0,543 0,589 -0,034 -0,245 0,807

Expectativa de continuidade 0,274 2,820 0,006*** 0,061 0,512 0,610 -0,232 -1,824 0,073*

Especificação de funções e

regras 0,243 2,412 0,019** 0,071 0,571 0,570 0,013 0,098 0,922

Planejamento conjunto 0,120 1,018 0,312 -0,077 -0,532 0,596 -0,008 -0,049 0,961

Solução de problemas em

conjunto 0,102 0,792 0,431 0,076 0,479 0,634 0,089 0,527 0,600

Equipe conjunta -0,060 -0,607 0,546 0,075 0,615 0,541 0,325 2,515 0,014**

Envolvimento da alta

gerência -0,042 -0,411 0,683 -0,227 -1,787 0,078* -0,029 -0,211 0,833

Conhecimento do operador

sobre o cliente 0,314 2,775 0,007*** 0,260 1,871 0,066* -0,013 -0,090 0,928

Conhecimento do cliente

sobre o operador 0,148 1,392 0,169 -0,028 -0,213 0,832 0,070 0,507 0,614

R2 0,569 0,350 0,262

R2 ajustado 0,471 0,202 0,094

Estimativa do erro padrão 0,727 0,893 0,952

MSE 0,529 0,798 0,906

F (Sig.) 5,811 (0,000) 2,370 (0,009) 1,562 (0,109)

* significância a 10%

** significância a 5%

*** significância a 1%

99

O elemento com maior poder de explicação da dimensão confiança é o conhecimento que

operador possui das instalações, capacidade, limitações e estratégicas do cliente. É

compreensível que quanto mais o operador conhece sobre o cliente, mais ele confie no

embarcador. Por isso, se o operador logístico e o cliente querem alcançar altos níveis de

confiança, antes de tudo é preciso conhecer ou deixar que o parceiro conheça suas instalações,

capacidades, limitações e estratégias. Possuir medidas de desempenho em conjunto, possuir

expectativa de continuidade da relação e especificar funções e regras também aumentam a

confiança do operador no cliente.

Diferente do previsto na primeira hipótese, o compartilhamento de riscos e benefícios e os

investimentos dedicados podem impactar negativamente na confiança que o operador

logístico possui no seu cliente. Curiosamente, estes dois elementos do relacionamento estão

associados a riscos para o operador, o que realmente pode influenciar em maior prudência na

hora de confiar no relacionamento. Na pesquisa de Nyaga et al. (2010), a hipótese de que

investimentos dedicados aumentam a confiança também não é suportada. Segundo os autores,

uma possível explicação para este fenômeno é que quando um fornecedor faz investimentos

dedicados em um relacionamento, ele pode ter mais cautela sobre confiar no cliente.

No entanto, Nyaga et al. (2010) concluem que o compartilhamento de informação e o esforço

conjunto aumentam a confiança tanto do cliente quanto do fornecedor. Na presente pesquisa,

estas variáveis não alcançaram os níveis mínimos de significância na explicação da confiança.

Outras variáveis como equipe conjunta e conhecimento do cliente sobre o operador também

não foram significativas. Este resultado, no entanto, não é conclusivo, pois a alta correlação

entre as variáveis independentes e uma percepção viesada do respondente podem ter

prejudicado o resultado.

Já para compromisso, obteve-se o coeficiente ajustado de determinação de 20,2% e, dessa vez,

as variáveis significativas foram medidas de desempenho em conjunto a 1%, alinhamento de

objetivos estratégicos a 5% e envolvimento da alta gerência e conhecimento do operador

sobre o cliente a 10%.

Dentre essas variáveis, o elemento com maior poder de explicar o compromisso do operador

logístico na relação são as medidas de desempenho em conjunto. O operador tende a se

esforçar mais no relacionamento quando ele possui medidas de desempenho em conjunto com

100

o cliente. O alinhamento de objetivos estratégicos e o conhecimento que o operador possui do

cliente também aumentam seu comprometimento.

Diferente da presente pesquisa, Nyaga et al. (2010) concluem que investimentos dedicados e

compartilhamento de informação aumentam o compromisso entre os parceiros. Para os

autores, os investimentos dedicados, por si só, sinalizam um comprometimento de logo prazo

na relação. Os autores, no entanto, encontram o mesmo resultado não conclusivo da presente

pesquisa com relação ao impacto de esforços conjuntos no compromisso. Segundo os autores,

uma possível justificativa é que o esforço conjunto, que inclui equipes conjuntas,

planejamentos conjuntos e decisões conjuntas, tende a ter um foco mais operacional. Ele é

usado para resolver problemas e não é visto como estratégico, o que não influencia

diretamente no compromisso de longo prazo de uma empresa naquele relacionamento.

Curiosamente, o envolvimento da alta gerência impacta negativamente no compromisso do

operador no relacionamento. Esse elemento, no entanto, possui correlação positiva

significativa com medidas de desempenho em conjunto e conhecimento do operador sobre o

cliente. Essas duas variáveis possuem alto poder de explicação do compromisso, o que pode

ter afetado o resultado da explicação o envolvimento da alta gerência.

Por fim, foi encontrado o R2 ajustado de 9,4% para a dimensão dependência e somente os

elementos compartilhamento de riscos e benefícios e equipe conjunta possuem o poder de

explicar a dependência mútua entre o operador e o embarcador à significância de 5% e

medidas de desempenho em conjunto explicam a dependência a um nível de significância de

10%. A dependência, portanto, é impactada positivamente pelo compartilhamento de riscos e

benefícios, pela existência de uma equipe conjunta e pela definição de medidas de

desempenho em conjunto. Uma explicação para este resultado é que quando existe uma

política de compartilhamento de riscos e benefícios, os parceiros dependem dessa relação para

continuar se beneficiando dessa política. Os riscos são inerentes ao relacionamento, mas os

benefícios muitas vezes são colhidos apenas no longo prazo. Para que os parceiros

beneficiem-se dos resultados que o relacionamento pode trazer, eles dependem da

continuidade deste relacionamento. Além disso, o compartilhamento de equipe e de medidas

de desempenho é algo definido para aquele relacionamento e depende da sua existência para

continuarem. Se o relacionamento terminar, a equipe e as medidas de desempenho deixarão

de existir.

101

A expectativa de continuidade é significativa a 10%, mas possui impacto inverso ao previsto

na dependência. Ou seja, quanto maior a expectativa de que este relacionamento continuará,

menor é a dependência. Talvez a percepção de dependência do operador seja impactada pela

sensação de que nada mudará no relacionamento. Como o operador não está preocupado com

o fim da relação, pois acredita na continuação eterna do relacionamento, ele não percebe que é

dependente daquele cliente. O resultado também pode ter sido interferido pela alta correlação

que a expectativa de continuidade possui com a equipe conjunta. Como esta última variável

possui alto poder explicativo, ela pode ter prejudicado o resultado no que tange ao poder e

sinal de explicação da expectativa de continuidade. Este é o modelo mais defasado, indicando

uma oportunidade de pesquisa futura que investigue outros elementos que explicariam a

dimensão de dependência da intensidade do relacionamento.

Verificou-se se as premissas do modelo de regressão linear múltipla foram obedecidas pelos

modelos propostos. Os gráficos scatter plot (indicam a relação entre resíduos padronizados e

os valores previstos pelo modelo) e de probabilidade normal dos termos de erro foram

analisados visualmente e atenderam aos requisitos de linearidade do fenômeno medido,

variância constante dos termos de erro, independência dos termos de erro e normalidade da

distribuição dos termos de erro. Os gráficos encontram-se no Apêndice B. Os modelos

apresentados, portanto, são consistentes, uma vez que não contrariam as premissas da análise

de regressão, caracterizando os resultados encontrados como conclusivos.

A primeira hipótese, portanto, foi parcialmente suportada uma vez que apenas seis elementos

obtiveram confirmado seu impacto positivo em confiança, quatro elementos possuem

impactos positivos confirmados sobre compromisso e outros dois elementos sobre

dependência. Cinco dos 15 elementos não alcançaram níveis significativos de explicação em

nenhuma das três dimensões de intensidade do relacionamento. Talvez estes elementos

estejam presentes nas relações entre operador logístico e o cliente, independentemente da

intensidade deste relacionamento. Além disso, dois elementos apresentaram impacto negativo

na confiança, indo contra a primeira hipótese.

4.4 TESTE DA HIPÓTESE 2

A segunda hipótese pressupõe que as dimensões de intensidade do relacionamento (confiança,

compromisso e dependência) possuem relação positiva com os benefícios esperados de uma

relação colaborativa. Para testar essa hipótese, foram utilizados os fatores encontrados na

102

formação das três dimensões de intensidade do relacionamento e agrupou-se a lista de

benefícios esperados em três conjuntos chamados de benefícios (a) de eficiência operacional,

(b) de desempenho e (c) resultados financeiros. Esses agrupamentos foram feitos incialmente

para fins práticos e foram confirmados após os testes de análise fatorial da presente pesquisa.

Após a etapa de resumo dos benefícios por meio de análise fatorial, foram feitos testes de

regressão linear múltipla, relacionando as dimensões de intensidade do relacionamento com

cada um dos três tipos ou conjuntos de benefícios. A análise fatorial dos benefícios e as

regressões serão apresentadas e comentadas nas próximas seções.

4.4.1 Análise fatorial

A análise fatorial das variáveis atribuídas à intensidade do relacionamento já foi abordada

anteriormente e o resumo dos fatores encontra-se na Tabela 12. As três dimensões

encontradas, chamadas de confiança, compromisso e dependência fizeram o papel de variável

dependentes no teste da hipótese 1. Nessa seção, o papel desses três fatores passou a ser o de

variáveis independentes que explicariam os benefícios do relacionamento.

A análise fatorial dos benefícios esperados no relacionamento considerou incialmente as 17

variáveis listadas. Nesta primeira rodada, chegou-se a quatro fatores que explicavam 60,95%

da variância total. No entanto, ao analisar as comunalidades de cada variável independente e a

matriz de correlação rotacionada, detectou-se que algumas delas apresentavam valor inferior

ao mínimo satisfatório ou não faziam parte de nenhum fator. Nesses casos, recomenda-se a

eliminação das variáveis e a execução de uma nova rodada de análise. Assim, foram

realizadas rodadas subsequentes de análise fatorial, seguindo sempre os mesmos critérios

descritos, até chegar-se a um resultado consistente.

No último resultado apurado, a análise fatorial, resumida na Tabela 15, indicou três fatores

com o poder de explicar 70,75% da variância total. O teste de esfericidade de Barlett e a

medida de adequação da amostra de Kaiser-Meyer-Olkin (KMO) também apresentaram bons

resultados.

Das 17 variáveis iniciadas, somente 12 foram consideradas no resultado final. Seguindo os

critérios previamente determinados, cinco variáveis foram eliminadas do estudo, a saber:

redução no tempo de entrega, maior índice de entregas no prazo, desenvolvimento de novos

serviços, desenvolvimento de competência e know how e propaganda boca a boca

103

(referência). Assim, a proporção do tamanho da amostra em relação ao número de variáveis

na formação dos fatores chegou a 6,83, superando a proporção recomendada.

Tabela 15 – Análise fatorial dos benefícios do relacionamento

Benefícios Carga Fatorial

Comunalidade Eficiência Desempenho Resultado

Economia de escala 0,80 -0,24 0,13 0,62

Melhor planejamento de investimentos 0,80 0,13 -0,04 0,70

Melhor utilização da capacidade (redução de

ociosidade) 0,76 0,25 -0,15 0,72

Redução de custos 0,77 0,04 0,06 0,63

Maior precisão do atendimento completo dos

pedidos 0,06 0,70 0,14 0,60

Maior capacidade de resposta 0,13 0,80 -0,02 0,71

Maior capacidade de atendimento de pedidos

urgentes -0,15 0,92 0,00 0,79

Maior capacidade de recuperação do serviço -0,10 0,83 0,11 0,72

Maior customização de serviços 0,25 0,67 -0,02 0,60

Maior fidelidade e retenção de cliente 0,09 0,13 0,79 0,75

Maior volume de negócios com o cliente -0,03 0,04 0,92 0,86

Maior participação de mercado -0,01 -0,02 0,90 0,80

Alfa de Cronbach (apenas dos atributos

pertencentes à escala, em negrito) 0,807 0,885 0,866

Variancia explicada 17,52% 39,44% 13,79%

Medida de adequação da amostra KMO 0,765

Teste Barlett de esferecidade 0,000

Total da variância explicada 70,75%

Com o objetivo de verificar a confiabilidade da escala, considerando as dimensões obtidas na

análise fatorial, foi obtido o Alfa de Cronbach para os benefícios agrupados em cada fator. O

Alfa de Cronbach de cada um dos três fatores encontrados foi acima de 0,8, indicando grande

confiabilidade da consistência interna da escala.

Os três fatores gerados, foram chamados de eficiência operacional, desempenho operacional

e resultado financeiro, uma vez que esses títulos caracterizam o tipo dos benefícios

agrupados. Cada uma dessas três dimensões dos benefícios esperados do relacionamento é

aprofundada a seguir à luz da literatura e dos resultados encontrados na análise fatorial acima.

A eficiência operacional pode ser definida como a melhor utilização dos ativos gerando

redução de custos (MIN et al., 2005). A presente pesquisa considera que os ganhos de

104

eficiência operacional são formados por economia de escala, melhor planejamento de

investimentos, melhor utilização da capacidade (redução de ociosidade) e redução de custos.

O desempenho do serviço logístico é constituído de nível de serviço (MIN et al., 2005),

variedade e qualidade de serviço (LAI et al., 2007) oferecido ao cliente. Na presente pesquisa,

o desempenho é formado por maior precisão do atendimento completo dos pedidos, maior

capacidade de resposta, maior capacidade de atendimento de pedidos urgentes, maior

capacidade de recuperação do serviço e maior customização do serviço.

Por último, os resultados financeiros são provenientes do aumento da receita (FISHER, 1997;

MIN et al., 2005). Herkett et al. (2002) completam afirmando que existem relações diretas

entre lucro, crescimento, fidelidade dos clientes e sua satisfação. Ou seja, quanto maior a

retenção do cliente, maiores são as receitas, gerando resultados financeiros. No presente

estudo, os resultados financeiros são formados por maior fidelidade e retenção do cliente,

maior volume de negócios com o cliente e maior participação de mercado.

4.4.2 Análise de regressão linear multivariada

Para testar a segunda hipótese (Intensidade do relacionamento possui relação positiva com

benefícios (a) de eficiência operacional, (b) de desempenho e (c) resultados financeiros), foi

efetuada a análise de regressão linear múltipla pelo método Enter, que considera todas as

variáveis independentes na análise, incluindo as com baixo nível de significância. O objetivo

da regressão foi verificar se as três dimensões de intensidade do relacionamento (confiança,

compromisso e dependência) tinham poder de explicação sobre cada um dos três tipos de

benefício e, dentre elas, quais possuíam maior poder de explicação sobre cada um dos tipos de

benefício.

A Tabela 16 apresenta o resumo do resultado das três regressões. Observando a tabela, nota-

se que o poder explicativo dos modelos foi baixo.

105

Tabela 16 - Resultado do teste da hipótese 2

Construtos importantes

para a intensidade do

relacionamento

Eficiência Operacional Desempenho Resultado Financeiro

Beta

padron. t valor Sig.

Beta

padron. t valor Sig.

Beta

padron. t valor Sig.

Confiança 0,191 1,703 0,093* 0,352 3,316 0,001** -0,137 -1,209 0,230

Compromisso 0,042 0,378 0,706 0,157 1,483 0,142 -0,103 -0,911 0,365

Dependência 0,210 1,938 0,056* 0,064 0,628 0,532 -0,185 -1,694 0,094*

R2 0,095 0,187 0,077

R2 ajustado 0,060 0,155 0,042

Estimativa do erro padrão 0,969 0,919 0,979

MSE 0,940 0,845 0,958

F(Sig) 2,727 (0,05) 5,961 (0,001) 2,182 (0,97)

** significância a 1%

*significância a 10%

Após observar os resultados da análise de regressão, verificaram-se os gráficos scatter plot e

foi percebido que o resultado desses gráficos não atendia as premissas do modelo de regressão

linear. Observando os gráficos, foi possível notar que o resíduo de algumas observações

estavam fora do limite de 3 e -3, sendo considerados outliers. Como podemos notar no

Gráfico 9, as observações 49 e 60 podem ser consideradas outliers na análise de regressão

cuja variável dependente é a eficiência operacional. No Gráfico 10, é possível classificar as

observações 15 e 26 como outliers quando a variável dependente é o desempenho. Por último,

percebemos no Gráfico 11 que a observação 57 é o outlier na regressão cuja variável

dependente é o resultado financeiro.

Gráfico 9 – Gráfico scatter plot do 1º modelo de regressão (Eficiência Operacional)

106

Gráfico 10 - Gráfico scatter plot do 2º modelo de regressão (Desempenho)

Gráfico 11- Gráfico scatter plot do 3º modelo de regressão (Resultado Financeiro)

Com o intuito de alcançar melhores resultados na regressão linear múltipla do teste da

segunda hipótese, as análises foram refeitas após desconsiderar os outliers identificados nos

gráficos scatter plot. A Tabela 17 apresenta os novos resultados e mostra quais observações

foram descartadas em cada teste. Como podemos observar, o coeficiente de determinação (R2)

apresentou melhores resultados nos três modelos e o nível de significância estatística de

algumas variáveis também melhorou, possibilitando chegar-se a mais conclusões. Além disso,

os gráficos scatter plot e de probabilidade normal dos termos do erro atendem as premissas do

modelo de regressão linear, validando o resultado da segunda análise. Os gráficos dos

107

resíduos dos resultados das análises desconsiderando as observações consideradas outliers

encontram-se no Apêndice C e estão consistentes com o esperado.

Tabela 17 - Resultado do teste da hipótese 2 (desconsiderando observações outliers)

Construtos importantes

para a intensidade do

relacionamento

Eficiência Operacional Desempenho Resultado Financeiro

Beta

padron. t valor Sig.

Beta

padron. t valor Sig.

Beta

padron. t valor Sig.

Confiança 0,254 2,317 0,023** 0,493 4,854 0,000* -0,234 -2,120 0,037**

Compromisso -0,002 -0,016 0,987 0,082 0,810 0,421 -0,160 -1,460 0,148

Dependência 0,275 2,594 0,011** 0,060 0,617 0,539 -0,143 -1,331 0,187

R2 0,152 0,283 0,129

R2 ajustado 0,118 0,254 0,096

Estimativa do erro padrão 0,870 0,759 0,840

MSE 0,756 0,576 0,706

F (Sig) 4,534 (0,006) 9,976 (0,000) 3,817 (0,013)

Observações descartadas 49 e 60 26 e 15 57

* significância a 1% ** significância a 5%

O primeiro modelo, que relaciona as dimensões de intensidade com o benefício da eficiência

operacional, possui R2 ajustado de 11,8% e duas variáveis independentes possuem

significância estatística a 5%. Dessa forma, é possível concluir que a confiança do operador

no cliente e a dependência mútua entre operador logístico e o cliente podem trazer ganhos em

eficiência operacional para o operador logístico.

Confiar no cliente pode ajudar o operador a dimensionar os recursos, pois ele pode contar

com a veracidade das informações de demanda passadas pelo cliente honesto. Além disso, a

confiança estimula o investimento em programas de melhoria de produtividade.

Já a dependência entre os parceiros pode indicar que o relacionamento continuará no longo

prazo e isso facilita o planejamento do melhor uso dos ativos. Enquanto houver confiança no

cliente e a percepção de que os parceiros são dependentes entre si, o operador logístico pode

contar com as demandas de serviço desse relacionamento, planejando melhor seus recursos.

Isso facilita o planejamento de investimentos, a melhor utilização de capacidade, economias

de escala e, por consequência, traz a redução de custos para o operador logístico.

O segundo modelo possui coeficiente ajustado de determinação de 25,4% e somente a

confiança possui poder explicativo sobre o desempenho. Ou seja, quanto maior o nível de

confiança do operador logístico em relação ao cliente, maior seu desempenho na entrega do

108

serviço. As conclusões de Nyaga et al. (2010) são parecidas com as encontradas no presente

estudo. Os autores concluem que confiança aumenta o desempenho logístico tanto sob a

perspectiva do cliente quanto do fornecedor. Fang et al. (2011) também concluem que

confiança leva a benefícios tais como assistência emergencial, o que compõe a dimensão

desempenho.

Poder confiar na sinceridade do cliente aumenta o desempenho do operador logístico. Quando

o operador percebe que o cliente não tiraria vantagem de forma oportunista da relação, ele

atende seus pedidos com mais precisão, aumentando sua capacidade de resposta inclusive sua

capacidade de atender aos pedidos urgentes. Outros benefícios de desempenho alcançados

pela confiança são maior capacidade de recuperação dos serviços e maior customização. Do

ponto de vista do operador logístico, confiar no cliente pode ajudar na investigação de

possíveis falhas e estimula a implantação de programas de melhorias não só de produtividade,

mas de qualidade do serviço prestado.

A segunda hipótese não foi totalmente suportada, uma vez que o as variáveis compromisso e

dependência não alcançaram nível mínimo de significância. Assim como no presente estudo,

Nyaga et al. (2010) também não encontraram resultados que suportavam a hipótese de que

compromisso aumenta o desempenho do ponto de vista do fornecedor. Portanto, podemos

concluir que a confiança no cliente melhora o desempenho do serviço prestado pelo operador

logístico, mas não podemos concluir que quanto maior a intensidade do relacionamento,

maior é o desempenho do serviço logístico.

Stank et al. (2001) também não conseguem concluir em sua pesquisa que colaboração externa

aumenta o desempenho do serviço logístico. Os autores investigam a relação entre a

colaboração e o desempenho logístico entre fornecedores e clientes de uma cadeia de

suprimentos. Os resultados da pesquisa revelam que a colaboração interna (entre os

departamentos da empresa) influencia significativamente no desempenho de serviços

logísticos, mas não obtiveram o mesmo suporte para a hipótese de que a colaboração externa

(entre elos da cadeia de suprimentos) traga o mesmo benefício. A pesquisa, no entanto,

mostrou que a colaboração com outros elos da cadeia influencia no aumento da colaboração

interna, que, por sua vez, melhora o serviço logístico. Segundo os autores, a colaboração

externa é necessária, mas não o suficiente para trazer melhorias de desempenho. Portanto,

empresas benchmarks focam nos dois tipos de colaboração.

109

Os testes de regressão do terceiro modelo, que considera o impacto da intensidade do

relacionamento nos resultados financeiros, apresentam resultados contrários à hipótese. Com

R2 ajustado de 9,6%, a única variável com significância estatística a 5% é confiança. No

entanto, o sinal do coeficiente angular está inverso ao esperado. Ou seja, podemos concluir

que quanto menor a confiança no cliente, maior é o resultado financeiro para o operador

logístico.

Golicic e Mentzer (2006) podem trazer uma boa justificativa para o não suporte a essa

hipótese. Segundo os autores, as empresas podem ficar receosas na hora de investir tempo e

recursos em relacionamentos mais próximos porque não percebem um rápido retorno

financeiro para seus investimentos. O retorno financeiro dos relacionamentos colaborativos é

de longo prazo, ou seja, sua presença não é percebida de forma imediata no relacionamento.

Por ser um benefício de longo prazo, os respondentes desta pesquisa podem não ter percebido

ainda o resultado financeiro do relacionamento analisado. Pelo contrário, percebem apenas os

investimentos e esforços colocados na relação.

Bagchi e Virum (1996), no entanto, insistem que nenhum dos embarcadores pesquisados por

eles planejam reduzir o volume de serviços que terceirizam, pelo contrário, os clientes querem

aumentar o número de serviços e expandir geograficamente a aliança com o prestador de

serviço logístico. Vieira et al. (2009b) concordam que o custo com investimentos no

relacionamento pode ser compensado pelo volume de contratação.

Liu e Lyons (2011) concluem, no entanto, que eficiência operacional leva a melhores

resultados financeiros. Como encontramos no presente estudo que dependência aumenta a

eficiência operacional, este pode ser um indicativo de que dependência também aumente os

resultados financeiros.

A confiança e o compromisso são significativos em pelo menos um dos modelos. O

compromisso, no entanto, não alcançou nível de significância estatística na explicação da

eficiência operacional, do desempenho ou do resultado financeiro. A multicolinearidade pode

ter prejudicado mais uma vez o resultado da pesquisa. Como mostra a Tabela 18, a variável

compromisso possui alta correlação significativa com a variável confiança, o que pode ter

afetado o poder explicativo da primeira variável.

110

Tabela 18 – Correlação entre as dimensões de intensidade do relacionamento

Confiança Compromisso Dependência

Confiança 1

Compromisso 0,259* 1

Dependência 0,097 0,047 1

* Correlação significativa a 5%

A segunda hipótese, portanto, foi parcialmente suportada uma vez que parte das hipóteses 2a

e 2b foram confirmadas pelo modelo. No entanto, parte da hipótese 2c foi negada pelo

resultado e a outra parte não foi suportada.

4.5 TESTE DA HIPÓTESE 3

A terceira hipótese prevê que o relacionamento colaborativo pode trazer riscos associados a

mudanças na relação para o operador logístico. Ela presume que confiança, compromisso e

dependência podem trazer riscos de investimento específico, riscos de imagem e riscos de

transferência de know how. Para testar essa hipótese, foram utilizados os fatores encontrados

na formação das três dimensões de intensidade do relacionamento como variáveis

independentes e os três riscos como variáveis dependentes. Na próxima seção são

apresentados e comentados os resultados das três regressões lineares.

4.5.1 Análise de regressão linear multivariada

A terceira hipótese (intensidade do relacionamento possui relação positiva com riscos

associados a mudanças na relação como (a) risco de investimento específico, (b) risco de

imagem e (c) risco de transferência de know how) também foi testada através da análise de

regressão linear múltipla pelo método Enter. A análise teve como objetivo verificar se as

dimensões de intensidade do relacionamento poderiam trazer riscos para o operador logístico.

Segundo Fang et al. (2011), o lado negro do relacionamento é a inércia. Os relacionamentos

interorganizacionais estão sujeitas a estabilidade quando envolvem altos níveis de

investimento específico e comprometimento de recursos. Essa inércia pode comprometer

esforços de inovação e busca de informações de mercado. Pior ainda, a inércia pode reduzir a

busca por novos parceiros, mesmo que os atuais não possuam mais a capacidade de trazer

benefícios para o relacionamento. Para os autores, essa situação pode trazer tensão para a

relação. Dessa forma, tensões no relacionamento atual podem levar a um desfecho inesperado,

levando aos riscos investigados na presente pesquisa.

111

A Tabela 19 apresenta o resumo do resultado das três regressões. Observando a tabela, nota-

se que os modelos não possuíam alto poder explicativo apresentando baixos valores de R2

ajustado. Os modelos, no entanto, apresentam algumas interessantes conclusões.

Tabela 19 – Resultado do teste de hipótese 3

Construtos importantes

para a intensidade do

relacionamento

Investimento Específico Imagem Transferência de know

how

Beta

padron.

t

valor Sig.

Beta

padron.

t

valor Sig.

Beta

padron.

t

valor Sig.

Confiança -0,222 -1,967 0,053* -0,169 -1,502 0,137 -0,122 -1,093 0,278

Compromisso 0,012 0,105 0,917 0,011 0,095 0,924 -0,010 -0,088 0,930

Dependência 0,195 1,788 0,078* 0,258 2,369 0,020** 0,291 2,689 0,009***

R2 0,078 0,086 0,093

R2 ajustado 0,043 0,051 0,059

Estimativa do erro padrão 1,201 1,205 1,145

MSE 1,443 1,452 1,310

F (Sig) 2,205 (0,094) 2,445 (0,070) 2,680 (0,053)

* significância a 10%

** significância a 5%

*** significância a 1%

No primeiro modelo, percebemos duas dimensões de intensidade foram associadas a

significância de 10% com o risco de investimento específico: confiança e dependência. O

coeficiente da dependência confirma a hipótese de que quanto maior a dependência entre os

parceiros, maior o risco do investimento específico. No entanto, a confiança possui relação

inversa ao previsto pela hipótese. Pelo resultado, quanto maior a confiança que o operador

possui no cliente, menor é o risco do investimento específico. O compromisso não alcançou

nível de significância mínimo.

No segundo modelo, o risco de imagem pode ser submetido à dimensão de dependência que

possui poder explicativo no segundo modelo. Quanto maior a dependência, maiores são os

riscos de imagem caso aconteça algo não previsto com a relação. As outras dimensões, no

entanto, não alcançaram níveis de significância mínimos e não podem ser relacionadas ao

risco de imagem.

A dependência também foi a única variável independente que apresentou poder de explicação

no terceiro modelo. Os resultados indicam que quanto maior o nível de dependência mútua

entre o operador logístico e o cliente, maiores são os riscos de transferência de know how

entre o operador e o cliente.

112

Mais uma vez, a variável compromisso apresentou baixo poder de explicação, reforçando o

problema da multicolinearidade exposto na análise dos resultados do teste da segunda

hipótese. A Tabela 18 evidencia a correlação existente entre compromisso e confiança, o que

reduz a significância da variável compromisso perante a existência da variável confiança.

Os gráficos scatter plot e de probabilidade normal dos termos do erro encontram-se no

Apêndice D, e atendem as premissas do modelo de regressão linear. A última hipótese,

portanto, foi parcialmente suportada uma vez que a hipótese 3a foi parte negada e parte

suportada, e as hipótese 3b e 3c foram parcialmente suportadas.

Este resultado nos leva a concluir que a intensidade do relacionamento possui fatores que

aumentam os riscos do relacionamento e outros fatores que reduzem o risco do investimento

específico. A dependência, principalmente a dependência do operador no cliente, deixa o

operador a mercê de riscos como o risco do investimento específico, o risco de imagem e o

risco de transferência de know how. No entanto, confiar no cliente reduz o risco do

investimento específico do ponto de vista do operador logístico. Esta é uma conclusão

delicada, pois tanto a confiança quanto o risco são percepções do operador. É claro que, para

o operador logístico, se ele confia ele percebe menos riscos. Mas é preciso cautela, pois a

confiança pode prejudicar a percepção de risco do operador.

Outra possível abordagem para a questão do risco na colaboração é trazida por Stank et al.

(2001). Os autores concluíram em sua pesquisa que a colaboração e o compartilhamento de

informação envolvem mais recursos humanos e financeiros na operação, o que permite mais

decisões embasadas, o que reduz riscos. É importante alertar que os autores não investigaram

os riscos pesquisados no presente estudo, mas os riscos de ruptura na operação.

Portanto, para poder colher os benefícios do relacionamento colaborativo, é preciso sujeitar-se

aos riscos do relacionamento, principalmente aos riscos associados à dependência da relação.

No entanto, é preciso estar atento e perceber que independentemente da confiança depositada

no cliente, existe o risco do relacionamento terminar e isso pode trazer consequências como a

perda do investimento dedicado ao cliente, o cliente (ou ex-cliente após o término da relação)

tem pode deteriorar a imagem do operador devido a sua proximidade e o cliente pode passar a

fazer internamente ou transferir o serviço para outro fornecedor devido ao know how

adquirido na relação.

113

5. RESUMO E CONCLUSÕES

Esta seção conclui o presente estudo apresentando seu resumo, seguido das principais

conclusões. São expostas também as contribuições acadêmicas e gerenciais da presente

pesquisa assim como sugestões para pesquisa futuras.

5.1 RESUMO DO ESTUDO

A função estratégica que a logística vem assumindo nas empresas e a necessidade dessas se

concentrarem no seu core business tem aumentado a importância da terceirização logística no

Brasil e no mundo. Os operadores logísticos surgem como resposta a exigências dos

embarcadores da variedade em suas ofertas e de serviços mais complexos. As maiores

exigências não apenas aumentaram do valor agregado dos serviços logísticos terceirizados,

mas também impactaram no tipo de relacionamento entre o cliente e o prestador de serviço.

Para atender as necessidades, a relação entre o embarcador e o operador logístico ficou mais

próxima, podendo ser caracterizada como uma relação de longo prazo.

No contexto da terceirização logística no Brasil, o presente estudo investigou a relação entre o

operador logístico e o contratante. O primeiro objetivo de pesquisa foi identificar os

elementos que contribuem para um relacionamento mais próximo entre o prestador de serviço

e o cliente. Depois, investigaram-se os resultados dessa colaboração para o operador logístico.

Os resultados pesquisados foram não só os benefícios, mas também os riscos que uma relação

mais próxima com o cliente pode trazer para o operador logístico.

O primeiro desafio da presente pesquisa foi definir uma forma de caracterizar o tipo de

relacionamento cliente-fornecedor. A literatura apresenta variadas tipologias para classificar

os relacionamentos interorganizacionais. O presente estudo adotou a metodologia que mede a

intensidade (SRIDHARAN, 2002) ou a magnitude (BOVE E JOHNSON, 2001; GOLICIC et

al., 2003) do relacionamento, o que Golicic et al. (2003) definem como grau de proximidade

ou força do relacionamento entre as organizações.

Para medir a intensidade dos relacionamentos investigados, foram reunidas 12 variáveis com

base na literatura. Essas variáveis foram submetidas à avaliação dos operadores logísticos

participantes da pesquisa empírica. Os respondentes escolheram um cliente para avaliar sua

relação com este embarcador. A análise fatorial das 12 variáveis de intensidade do

relacionamento, com base em 82 observações, resultou no agrupamento em três fatores que

114

foram chamados de confiança, compromisso e dependência, alinhados com o que foi sugerido

por Golicic e Mentzer (2006). Estes autores afirmam que as dimensões do construto

magnitude do relacionamento entre empresas são confiança (crença na honestidade e

benevolência), compromisso (exercer esforço para a continuidade da relação) e dependência

(percepção da necessidade de manter o relacionamento para atingir objetivos desejados). As

três dimensões da intensidade do relacionamento foram usadas no teste de três hipóteses.

A primeira hipótese previa a influência positiva dos elementos do relacionamento na

intensidade do relacionamento, representada pelas dimensões confiança, compromisso e

dependência. Foi investigada a relação de 15 elementos, reunidos com base na revisão

bibliográfica, com as três dimensões de intensidade, gerando o teste de 45 relações. Quatro

elementos alcançaram níveis de significância mínimos estabelecidos que confirmam seu

impacto positivo na confiança do operador no cliente, a saber: medidas de desempenho em

conjunto, expectativa de continuidade, especificação de funções e regras e conhecimento do

operador sobre o cliente. Os elementos compartilhamento de riscos e benefícios e

investimentos dedicados apresentaram impacto negativo na confiança do operador. Ainda na

primeira hipótese, o resultado mostrou que o compromisso do operador no relacionamento é

positivamente influenciado pelo alinhamento de objetivos estratégicos, medidas de

desempenho em conjunto e conhecimento do operador sobre o cliente. O envolvimento da alta

gerência tem impacto inverso no compromisso do operador. Por último, a dependência mútua

entre o contratado e o contratante é influenciada positivamente por medidas de desempenho

em conjunto, compartilhamento de riscos e benefícios e equipe conjunta. A expectativa de

continuidade apesentou influencia negativa na dimensão dependência da intensidade do

relacionamento.

A segunda hipótese afirmava que as dimensões de intensidade do relacionamento impactavam

positivamente nos benefícios esperados do relacionamento colaborativo. A lista de benefícios

utilizados na pesquisa foi originada com base na literatura. Os benefícios foram agrupados,

por meio de análise fatorial, em três dimensões: eficiência operacional, desempenho e

resultado financeiro. A hipótese, portanto, previa o impacto positivo da confiança, do

compromisso e da dependência em cada um dos três tipos de benefício, gerando o teste de 9

relações. O resultado da presenta pesquisa confirma a hipótese de que confiança tem impacto

positivo na eficiência operacional e um impacto maior no desempenho dos serviços prestados

pelo operador logístico. O resultado também confirma a hipótese de que dependência impacta

115

na eficiência operacional. Curiosamente, o resultado da análise de regressão conclui que a

confiança no cliente tem um impacto negativo no resultado financeiro do operador logístico.

O compromisso não alcançou níveis de significância mínimos em nenhum dos três modelos,

assim como dependência não é significante na definição do desempenho e do resultado

financeiro.

A terceira hipótese testada previa que a intensidade do relacionamento trazia riscos para o

operador logístico no caso da relação não continuar como o previsto. Ou seja, a hipótese

coloca que a confiança, o compromisso e a dependência têm relação positiva com a presença

do risco de investimento específico, o risco de imagem e o risco de transferência de know

how, prevendo 9 relações positivas. A hipótese de que a dependência aumenta os três riscos

foi confirmada. O modelo não atingiu significância para a relação do compromisso com os

três riscos nem para a relação da confiança com os riscos de imagem e de transferência de

know how. A confiança, no entanto, apresentou impacto significativo negativo no risco de

investimento específico, ou seja, quanto maior a confiança no cliente, menor é o risco do

investimento dedicado do ponto de vista do operador.

A Tabela 20 resume os resultados encontrados na pesquisa, mostrando quais das 63 relações

estudadas foram suportadas, negadas ou não suportadas. A próxima subseção apresenta as

principais conclusões desse trabalho.

5.2 CONCLUSÕES

Nos relacionamentos investigados entre operador logístico e cliente, os elementos mais

presentes foram medidas de desempenho em conjunto, investimentos dedicados,

especificações de funções e regras e envolvimento da alta gerência. Esses elementos muitas

vezes também estão presentes em relacionamentos de menor magnitude. Ou seja, o

relacionamento não precisa ser de longo prazo ou colaborativo para que haja a especificação

de funções e regras ou investimentos dedicados. Já os elementos menos encontrados nos

relacionamentos são mais dependentes de colaboração como o compartilhamento de riscos e

benefícios, conhecimento das limitações e estratégias do cliente por parte do operador e

conhecimento das limitações e estratégias do operador por parte do cliente. Essa talvez possa

ser uma evidência de que os relacionamentos brasileiros mais próximos não atingem níveis de

colaboração plena que envolvam o compartilhamento de riscos e informações estratégicas.

116

Tabela 20 – Resumo dos resultados

H Hipótese Resultado

H1a Frequência de interação → Confiança não suportado

H1a Alinhamento de objetivos estratégicos → Confiança não suportado

H1a Medidas de desempenho em conjunto → Confiança suportado

H1a Compartilhamento de riscos e benefícios → Confiança negado

H1a Compartilhamento de informação → Confiança não suportado

H1a Flexibilidade → Confiança não suportado

H1a Investimentos dedicados → Confiança negado

H1a Expectativa de continuidade → Confiança suportado

H1a Especificação de funções e regras → Confiança suportado

H1a Planejamento conjunto → Confiança não suportado

H1a Solução de problemas em conjunto → Confiança não suportado

H1a Equipe conjunta → Confiança não suportado

H1a Envolvimento da alta gerência → Confiança não suportado

H1a Conhecimento do operador sobre o cliente → Confiança suportado

H1a Conhecimento do cliente sobre o operador → Confiança não suportado

H1b Frequência de interação → Compromisso não suportado

H1b Alinhamento de objetivos estratégicos → Compromisso suportado

H1b Medidas de desempenho em conjunto → Compromisso suportado

H1b Compartilhamento de riscos e benefícios → Compromisso não suportado

H1b Compartilhamento de informação → Compromisso não suportado

H1b Flexibilidade → Compromisso não suportado

H1b Investimentos dedicados → Compromisso não suportado

H1b Expectativa de continuidade → Compromisso não suportado

H1b Especificação de funções e regras → Compromisso não suportado

H1b Planejamento conjunto → Compromisso não suportado

H1b Solução de problemas em conjunto → Compromisso não suportado

H1b Equipe conjunta → Compromisso não suportado

H1b Envolvimento da alta gerência → Compromisso negado

H1b Conhecimento do operador sobre o cliente → Compromisso suportado

H1b Conhecimento do cliente sobre o operador → Compromisso não suportado

H1c Frequência de interação → Dependência não suportado

H1c Alinhamento de objetivos estratégicos → Dependência não suportado

H1c Medidas de desempenho em conjunto → Dependência suportado

H1c Compartilhamento de riscos e benefícios → Dependência suportado

H1c Compartilhamento de informação → Dependência não suportado

H1c Flexibilidade → Dependência não suportado

H1c Investimentos dedicados → Dependência não suportado

H1c Expectativa de continuidade → Dependência negado

H1c Especificação de funções e regras → Dependência não suportado

H1c Planejamento conjunto → Dependência não suportado

H1c Solução de problemas em conjunto → Dependência não suportado

H1c Equipe conjunta → Dependência suportado

H1c Envolvimento da alta gerência → Dependência não suportado

H1c Conhecimento do operador sobre o cliente → Dependência não suportado

H1c Conhecimento do cliente sobre o operador → Dependência não suportado

H2a Confiança → Eficiência Operacional suportado

H2a Compromisso → Eficiência Operacional não suportado

H2a Dependência → Eficiência Operacional suportado

H2b Confiança → Desempenho suportado

H2b Compromisso → Desempenho não suportado

H2b Dependência → Desempenho não suportado

H2c Confiança → Resultado Financeiro negado

H2c Compromisso → Resultado Financeiro não suportado

H2c Dependência → Resultado Financeiro não suportado

H3a Confiança → Risco Investimento Específico negado

H3a Compromisso → Risco Investimento Específico não suportado

H3a Dependência → Risco Investimento Específico suportado

H3b Confiança → Risco Imagem não suportado

H3b Compromisso → Risco Imagem não suportado

H3b Dependência → Risco Imagem suportado

H3c Confiança → Risco Transferência de know how não suportado

H3c Compromisso → Risco Transferência de know how não suportado

H3c Dependência → Risco Transferência de know how suportado

117

Os benefícios mais observados nas relações pesquisadas foram melhoras no desempenho da

prestação de serviços como maior capacidade de resposta, maior capacidade de atendimento

de pedidos urgentes, maior customização de serviços, desenvolvimento de competência e

know how. Esses resultados beneficiam não apenas o operador logístico, mas também o

cliente envolvido na relação uma vez que este é este melhor atendido. Alguns benefícios que

trazem retornos financeiros para o operador também foram percebidos nos relacionamentos

investigados: maior fidelidade e retenção do cliente e maior volume de negócios com o

cliente. Talvez a retenção do cliente e o aumento no volume de negócios seja resultado do

aumento do desempenho percebido pelos operadores.

Os benefícios menos encontrados nos relacionamentos investigados foram redução de custos

e redução do tempo de entrega. Uma justificativa para a baixa percepção de redução de custos

na relação é que o relacionamento mais próximo com o cliente pode trazer custos que não

existiriam caso a relação fosse do tipo transacional, como investimentos especializados, maior

dedicação de recursos humanos e financeiros, maior planejamento etc. A redução do tempo de

entrega também foi um resultado pouco percebido nos relacionamentos analisados e isso pode

ser justificado pela relação de parceria que há entre o embarcador e o cliente. Por causa da

colaboração, o próprio cliente pode avaliar se a redução no tempo de entrega é tão importante

a ponto de compensar os gastos extras que são necessários para este resultado. Quando o

relacionamento entre o embarcador e cliente é próximo, a avaliação desse trade-off é feita de

forma mais consciente e a redução no tempo de entrega pode não ser mais tão valorizada

frente ao custo que isso traz.

De forma geral, a pesquisa empírica apresentou baixa percepção de risco nas relações

investigadas. É difícil dizer se esses riscos realmente são baixos ou se eles existem, mas o

operador não reconhece. Outra justificativa é que os relacionamentos não são intensos o

bastante para serem arriscados. O risco mais percebido foi o risco do investimento específico,

que dentre os três riscos é o menos inerente ao relacionamento colaborativo. Por outro lado, o

risco menos percebido na pesquisa, o risco de transferência de know how, só está presente em

relações de muita confiança em que o compartilhamento de informações, conhecimentos e

experiências é intenso. A baixa percepção desse risco do ponto de vista dos operadores

logísticos brasileiros pode indicar baixo índice de troca ou intensidade entre os parceiros.

E como aumentar a intensidade do relacionamento? Para aumentar sua intensidade, o

relacionamento precisa estar baseado em confiança, compromisso e dependência. Este estudo

118

conclui que a confiança do operador logístico no cliente aumenta quando há medidas de

desempenho em conjunto, expectativa de continuidade da relação, especificação de funções e

regras do relacionamento e, principalmente, quando o operador conhece as instalações,

capacidade, limitações e estratégicas do cliente. É compreensível que quanto mais o operador

conhece sobre o cliente, mais ele confie no embarcador. Por isso, se o operador logístico e o

cliente querem alcançar altos níveis de confiança, antes de tudo, é preciso conhecer ou deixar

que o parceiro conheça suas instalações, capacidades, limitações e estratégias.

Já o compartilhamento de riscos e benefícios e os investimentos dedicados podem impactar

negativamente na confiança que o operador logístico possui no seu cliente. Talvez porque

esses fatores possam ser percebidos como riscos para o operador logístico, que será mais

prudente na hora de confiar em relacionamentos em que fez investimentos ou que haja

compartilhamento de riscos e benefícios.

O compromisso do operador no relacionamento também impacta na intensidade da relação. O

compromisso aumenta quando há medidas de desempenho em conjunto, alinhamento de

objetivos estratégicos e conhecimento do operador sobre o cliente. Possuir indicadores e

objetivos compartilhados motiva o operador a alcançar melhores desempenhos e resultados;

além disso, se o operador conhece bem o cliente, ele tem mais interesse em se esforçar no

relacionamento.

Por último, a o nível de dependência entre os parceiros também é um indicativo de

intensidade do relacionamento. A dependência é impactada pelo compartilhamento de riscos e

benefícios, pela existência de uma equipe conjunta e pela definição de medidas de

desempenho em conjunto. Quando existe uma política de compartilhamento de riscos e

benefícios, os parceiros dependem dessa relação para continuar se beneficiando dessa política.

Além disso, o compartilhamento de equipe e de medidas de desempenho é algo definido para

aquele relacionamento e depende da sua existência para continuarem. Se o relacionamento

terminar, a equipe e as medidas de desempenho deixarão de existir.

O relacionamento de longo prazo, de maior magnitude pode trazer resultados positivos e

negativos para o operador logístico. Os benefícios do relacionamento são ganhos em

eficiência operacional e no desempenho da prestação de serviços. Por outro lado, os riscos do

relacionamento são os investimentos específicos, o risco de imagem e a transferência de know

119

how. Tanto os benefícios quanto os riscos percebidos não estão totalmente relacionados à

intensidade do relacionamento, mas a algumas de suas dimensões.

A confiança, por exemplo, ajuda o operador a dimensionar os recursos, pois ele pode contar

com a veracidade das informações passadas pelo cliente honesto. Além disso, a confiança do

operador na boa vontade do cliente pode estimular o investimento em programas de melhoria

de produtividade. A dependência mútua entre os parceiros, associada à confiança, também

pode trazer benefícios de eficiência operacional. A dependência é um indicativo de que o

relacionamento continuará no longo prazo e isso facilita o planejamento do melhor uso dos

ativos. Enquanto houver confiança no cliente e a percepção de que os parceiros são

dependentes entre si, o operador logístico pode contar com as demandas de serviço desse

relacionamento, planejando melhor seus recursos. Portanto, a confiança e a dependência

trazem eficiência para o operador através de economias de escala, melhor planejamento de

investimento, melhor utilização da capacidade e redução de custos.

A confiança também aumenta o desempenho do operador logístico na entrega do serviço.

Quando o operador percebe que o cliente não tiraria vantagem de forma oportunista da

relação, ele atende seus pedidos com mais precisão, aumentando sua capacidade de resposta

inclusive sua capacidade de atender aos pedidos urgentes. Outros benefícios de desempenho

alcançados pela confiança são maior capacidade de recuperação dos serviços e maior

customização. Do ponto de vista do operador logístico, confiar no cliente pode ajudar na

investigação de possíveis falhas e estimula a implantação de programas de melhorias não só

de produtividade, mas de qualidade do serviço prestado.

Por outro lado, os resultados da pesquisa indicam que a confiança no cliente reduzem os

resultados financeiros do operador logístico. Este resultado pode refletir a falta de percepção

dos operadores dos retornos de longo prazo. Os resultados financeiros do relacionamento

colaborativo são alcançados no longo prazo através da retenção do cliente, do aumento do

volume do negócio com este cliente e da maior participação de mercado. Talvez o operador

logístico ainda não perceba esses benefícios no relacionamento.

A análise dos riscos associados ao relacionamento chegou a resultados que nos levam a

concluir que a intensidade do relacionamento possui fatores que aumentam os riscos do

relacionamento e outros fatores que reduzem o risco do investimento específico. A

dependência, principalmente a dependência do operador do cliente, deixa o operador a mercê

120

de risco como o risco do investimento específico, o risco de imagem e o risco de transferência

de know how. Portanto, o relacionamento colaborativo pode trazer riscos para o operador por

causa de sua dependência deste relacionamento.

No entanto, confiar no cliente reduz o risco do investimento específico do ponto de vista do

operador logístico. Esta é uma conclusão delicada, pois tanto a confiança quanto o risco são

percepções do operador. Era de se esperar que em relacionamento onde a confiança no cliente

está presente, o operador logístico perceba poucos riscos.

Portanto, para poder colher os benefícios do relacionamento colaborativo, é preciso sujeitar-se

aos riscos do relacionamento, principalmente aos riscos associados à dependência da relação.

No entanto, é preciso estar atento e perceber que independente da confiança depositada no

cliente, existe o risco do relacionamento terminar e isso pode trazer consequências negativas

para o operador logístico.

5.3 CONTRIBUIÇÕES DA PESQUISA

Este estudo fez uma série de contribuições para a teoria e a prática da gestão do

relacionamento colaborativo entre operadores logísticos e seus clientes. Do ponto de vista

acadêmico, a presente pesquisa sugere um framework que relaciona os elementos do

relacionamento com a sua intensidade, além de relacionar a intensidade do relacionamento

com benefícios e riscos da relação. Dessa forma, o estudo contribui com uma sugestão de

modelo de pesquisa, que não foi totalmente validado nesta pesquisa, mas que ainda pode ser

testado na avaliação da relação entre fornecedores e clientes em outros contextos temporais,

geográficos ou setoriais. Além disso, o tema estudado foi pouco explorado na literatura

(MURPHY E POIST, 2000; LIU E LYONS, 2011) aumentando a relevância da contribuição

do presente estudo para o meio acadêmico.

Para o meio empresarial, as principais contribuições foram definir as ações que ajudam na

construção de um relacionamento mais próximo entre o operador logístico e seu cliente. Além

disso, foram destacados os benefícios desse tipo de relacionamento, que pode trazer

resultados positivos não só para o operador logístico, como também para o cliente ao

melhorar o desempenho do operador. O presente trabalho também alertou para os riscos

provenientes da dependência do operador na relação. Os achados do presente estudo podem

ser usados na definição de estratégias e na condução dos relacionamentos dos operadores

logísticos com seus clientes, caracterizando, assim, uma contribuição gerencial do trabalho.

121

5.4 SUGESTÕES PARA PESQUISAS FUTURAS

A presente pesquisa foi baseada nas respostas de operadores logísticos brasileiros que fizeram

a análise de um único relacionamento considerado importante para seu negócio. As

observações, portanto, tinham um comportamento muito semelhante, dificultando a percepção

dos impactos e relações investigados. Para uma pesquisa futura, sugere-se que não só os

relacionamentos mais intensos, mas também os de curto prazo sejam analisados na esperança

de que o impacto das variáveis na intensidade do relacionamento fique mais evidenciado.

Além disso, outros elementos que impactam na dimensão de dependência devem ser

investigados, pois ficou claro que as variáveis utilizadas no presente estudo não são o bastante

para explicar nem 10% da dependência. A dimensão compromisso também pode ser mais

explorada, pois possui alta correlação com confiança perdendo significância estatística nos

modelos gerados. Talvez, sejam necessárias novas formas de medir o compromisso entre o

operador logístico e o cliente.

Por último, é preciso reconhecer que algumas análises feitas no estudo seriam mais

conclusivas se os clientes dos operadores também tivessem sido ouvidos. Por isso, sugere-se

que seja feita uma próxima pesquisa abordando também o relacionamento colaborativo entre

o operador logístico e o cliente sob a perspectiva do cliente. A comparação dos resultados sob

as duas perspectivas pode gerar novas conclusões ainda mais interessantes.

122

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127

APÊNDICE A - QUESTIONÁRIO

128

129

130

131

APÊNDICE B – ANÁLISE DE RESÍDUOS DOS MODELOS DE REGRESSÃO

LINEAR DO TESTE DA HIPÓTESE 1

132

APÊNDICE C – ANÁLISE DE RESÍDUOS DOS MODELOS DE REGRESSÃO

LINEAR DO TESTE DA HIPÓTESE 2

133

APÊNDICE D – ANÁLISE DE RESÍDUOS DOS MODELOS DE REGRESSÃO

LINEAR DO TESTE DA HIPÓTESE 3