1. lectio divina - a samaritana

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LECTIO DIVINA: JESUS E A SAMARITANA (Jo. 4,5-42) No momento mais caloroso do dia, à beira de um poço famoso, Jesus pede de beber. Neste momento uma mulher se aproxima, também ela tem necessidade de água. Inicia-se um diálogo profundo que se torna vibrante como a fonte de água sobre as pedras. Estrutura: O relato de João amplia o diálogo estrito entre Jesus e a Samaritana (4,5-26). Este se prolonga em um segundo diálogo entre Jesus e seus discípulos (4,27-38), e depois culmina em uma terceira sequência na qual os samaritanos participam (4,39-42). Aí está o ponto de chegada do relato: o discipulado se faz missionário. O texto, então, se articula em três partes, cuidadosamente entrelaçadas uma com a outra. Alguns pontos relevantes: 1. O ENCONTRO COMEÇA DE FORMA CASUAL Jesus deixa a Judéia para ir a Galiléia e está atravessando a região da Samaria. Esta primeira indicação mostra o caráter gratuito do encontro: Os dois personagens do relato vêm ao poço movidos pela sede. Jesus chega primeiro, está cansado do caminho; a mulher vem buscar a água que necessita para seus trabalhos cotidianos. As primeiras palavras da mulher, em resposta ao pedido de Jesus “Dá-me de beber” (4,7), parecem fechar a possibilidade de um diálogo: “Tu, sendo judeu, me pedes de beber , a mim que sou uma mulher samaritana!” Normalmente um judeu piedoso devia evitar de pedir comida a um samaritano, e mais ainda, evitar de dirigir a palavra em público a uma mulher. O status social de cada personagem pesa neste diálogo. Mais tarde os discípulos se surpreenderão por Jesus estar conversando com uma mulher (4,27). 2. PRIMEIRO MAL ENTENDIDO Na primeira parte (4,7-26), surge um mal entendido sobre a água, realidade cotidiana de máxima importância, mas também imagem bíblica dos Dons de Deus. Nos vers. 7 a 15 a questão está em saber de que água se trata. Descobre- se, pouco a pouco que Jesus, o primeiro a pedir, na realidade é um possuidor de “água viva”. A que será “uma fonte que jorra para a vida eterna” (4,14). A mulher, acostumada a tirar do poço água comum, vê crescer nela o desejo de possuir a verdadeira água que Jesus pode dar. Quem pensava dar receberá e quem pede já é possuidor: tal é o efeito da surpresa da primeira parte do relato. 3. A DESCOBERTA DA IDENTIDADE DO MESSIAS A descoberta da identidade do Messias é um dos fios do diálogo. Jesus, reconhecido pela mulher como um judeu fora do comum (ele se atreve a falar com uma estrangeira) , desperta a curiosidade da mulher dizendo-lhe: “Se tu conhecesses o dom de Deus e que é que te diz...” (4,10). O diálogo que segue

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LECTIO DIVINA: JESUS E A SAMARITANA (Jo. 4,5-42)No momento mais caloroso do dia, à beira de um poço famoso, Jesus pede de beber. Neste momento uma

mulher se aproxima, também ela tem necessidade de água. Inicia-se um diálogo profundo que se torna vibrante como a fonte de água sobre as pedras.

Estrutura: O relato de João amplia o diálogo estrito entre Jesus e a Samaritana (4,5-26). Este se prolonga em um segundo diálogo entre Jesus e seus discípulos (4,27-38), e depois culmina em uma terceira sequência na qual os samaritanos participam (4,39-42). Aí está o ponto de chegada do relato: o discipulado se faz missionário. O texto, então, se articula em três partes, cuidadosamente entrelaçadas uma com a outra.

Alguns pontos relevantes:1. O ENCONTRO COMEÇA DE FORMA CASUALJesus deixa a Judéia para ir a Galiléia e está atravessando a região da Samaria. Esta primeira indicação

mostra o caráter gratuito do encontro: Os dois personagens do relato vêm ao poço movidos pela sede. Jesus chega primeiro, está cansado do caminho; a mulher vem buscar a água que necessita para seus trabalhos cotidianos.

As primeiras palavras da mulher, em resposta ao pedido de Jesus “Dá-me de beber” (4,7), parecem fechar a possibilidade de um diálogo: “Tu, sendo judeu, me pedes de beber , a mim que sou uma mulher samaritana!” Normalmente um judeu piedoso devia evitar de pedir comida a um samaritano, e mais ainda, evitar de dirigir a palavra em público a uma mulher. O status social de cada personagem pesa neste diálogo. Mais tarde os discípulos se surpreenderão por Jesus estar conversando com uma mulher (4,27).

2. PRIMEIRO MAL ENTENDIDONa primeira parte (4,7-26), surge um mal entendido sobre a água, realidade cotidiana de máxima

importância, mas também imagem bíblica dos Dons de Deus.Nos vers. 7 a 15 a questão está em saber de que água se trata. Descobre-se, pouco a pouco que Jesus, o

primeiro a pedir, na realidade é um possuidor de “água viva”. A que será “uma fonte que jorra para a vida eterna” (4,14).

A mulher, acostumada a tirar do poço água comum, vê crescer nela o desejo de possuir a verdadeira água que Jesus pode dar. Quem pensava dar receberá e quem pede já é possuidor: tal é o efeito da surpresa da primeira parte do relato.

3. A DESCOBERTA DA IDENTIDADE DO MESSIASA descoberta da identidade do Messias é um dos fios do diálogo. Jesus, reconhecido pela mulher como um

judeu fora do comum (ele se atreve a falar com uma estrangeira) , desperta a curiosidade da mulher dizendo-lhe: “Se tu conhecesses o dom de Deus e que é que te diz...” (4,10). O diálogo que segue permite, seja por iniciativa da mulher, ou de Jesus, entrar na revelação desta identidade.

A mulher estabelece um paralelo entre Jesus e o patriarca Jacó: “És tu maior do que nosso patriarca Jacó?” (4,12). Uma frase irônica? Surpreendente? Jesus a intriga, ela quer conhecê-lo melhor. O diálogo seguinte sobre o marido, em que Jesus a faz dar-se conta que tem cinco, é ocasião para avançar nesta descoberta: “Tu és um profeta” (4,19). Enfim, como para continuar a frase de Jesus sobre os verdadeiros adoradores (4,21-24), a mulher evoca, de forma questionadora, a espera do Messias que “virá anunciar todas as coisas”. Então Jesus conclui: “Eu Sou” (4,26). Ela fica cheia de água viva e regressa para sua aldeia esquecendo seu balde que agora não necessita mais.

4. SEGUNDO MAL ENTENDIDOEm contraste com a primeira parte, a segunda (4,27-38) mostra a incapacidade dos discípulos, que são

judeus como Jesus, para dizer verdadeiramente quem é ele. Mesmo que sejam respeitosos com ele, ao não atrever-se a perguntar, eles o chamam “Rabi”, que é um título comum também usado para outros especialistas da lei.

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Esta segunda parte, na qual a mulher sai para alertar os outros, leva a um segundo mal entendido, o qual tem como tema “o verdadeiro alimento”. Os discípulos, querendo que Jesus coma (por isso haviam ido para a aldeia) não entendem que Jesus esteja satisfeito. De que se alimentou? Da vontade o Pai, diz Jesus (4,34). Na transformação da mulher, não havia se realisado esta vontade?

Depois vem um monólogo sobre a relação que existe entre os que semeiam e os que colhem (4,35-39). Os discípulos não intervém. Porque Jesus fala da messe? A que acontecimento futuro se refere? Esta tarefa era dos profetas do AT ou de Jesus? A referência ao cansaço de Jesus no início do relato poderia agora ter um novo sentido: a obra do Pai. Jesus semeou na Galiléia e em Jerusalém, agora a grande colheita chega aqui onde não se esperava: na Samaria.

5. A DESCOBERTA DO SALVADOR DO MUNDOA terceira e última parte do texto é breve e espetacular (4,39-42). A palavra de salvação se propaga:

começando com o testemunho da mulher, vai bem além dela.Mas os samaritanos também tem acesso direto à pessoa de Jesus. Não é Ele a palavra mesma de Deus?

Esta palavra permanece dois dias entre eles. Fortalecidos por essa relação pessoal, eles agora podem fazer um ato de fé em Jesus como “Salvador do mundo” (4,42).

“...Do mundo”. Daqui pra frente não só uma mulher da Samaria, mas muitos samaritanos sabem e proclamam que Jesus é “o Salvador do mundo”. Este é o último e, sem dúvida o mais importante, dos títulos que este texto atribui a Jesus.

PONTOS PARA UMA LECTIO MAIS PROFUNDA DO TEXTOO texto do encontro de Jesus com a Samaritana surpreende por muitos motivos e é muito denso. Para tirar

maior proveito não é bom analisá-lo todo, mas focar a atenção sobre o comportamento e as palavras da Samaritana.

- Vamos deter-nos primeiro sobre aquilo que permite a João montar a cena: os personagens, a geografia, os tempos...

- Coloquemos em relevo o contexto de hostilidade entre judeus e samaritanos, entre homens e mulheres.- Observemos agora o comportamento da mulher. Com naturalidade, ela se surpreende com a pergunta de

Jesus (4,9).- Destaquemos como o narrador intervém para explicar a palavra da mulher, que tem consciência de fazer

parte de um grupo rejeitado pelos judeus.- Jesus conduz a discussão sobre sua própria identidade e ela o chama pela primeira vez: “Senhor” (4,11).

Que sentido tem essa palavra em sua boca?- Ela se pergunta pela “grandeza” de Jesus. Jesus é maior que Jacó, que deixou de herança esse poço?- O verbo “dar” joga um papel importante no diálogo. Primeiro estava na boca de Jesus em sua frase inicial:

“Dá-me de beber”. Agora a mulher o usa para pedir que ele lhe dê de beber (4,15)- Ao constatar que Jesus conhece sua vida pessoal, a mulher chega à conclusão que ele é um homem de

Deus, um “profeta”. E embora ele sendo judeu, ela não hesita em pedir-lhe uma opinião autorizada sobre um tema discutido entre judeus e samaritanos.

- Ela reafirma sua esperança na vinda de um Messias e leva Jesus a revelar-se (4,25-26).- Com a chegada dos discípulos, sua atitude se contrapõe a deles. Eles chegam (trazendo provisões), ela sai

(deixando seu recipiente). Eles calam, ela fala e toma iniciativas.- Jesus havia lhe pedido que fosse buscar seu marido. Em vez disso ela vai, com sucesso, à aldeia

provocando curiosidade e ao final leva a todos a dar os primeiros passos até o “Salvador do mundo”.- Que imagem da Samaritana aparece na leitura atenta deste texto? É uma desprezada por cinco maridos?

Uma apóstola da Samaria? Esta mulher encontrou seis homens em sua vida, agora encontrou o sétimo. Como Jesus sacia o verdadeiro desejo de seu coração? Como a fez crescer e passar do papel de portadora de água a portadora do Evangelho?

Assim como a Samaritana, e graças a ela, cada um de nós está sendo convidado para fazer uma redescoberta de Jesus. Nesta redescoberta tem um papel muito importante o processo de comunicação. Eu o

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descobri? Quais foram os passos? Onde teve dificuldades e de que tipo eram? Como Jesus as superou? Que efeitos isso produziu?

Somos convidados a tirar as lições para nossos processos de comunicação evangelizadora.

Para o momento da oração

SALMOS PARA REZAR JUNTO COM A SAMARITANATEXTO 12 – Como a corça desejam as águas correntes, assim minha alma anseia por ti, ó Deus3 – A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo: quando hei de ver a face de Deus?(Salmo 42,2-3)TEXTO 22 – Ó Deus, tu és o meu Deus, desde a aurora te procuro. De ti tem sede a minha alma, anelaPor ti minha carne, como terra deserta, seca, sem água (Sl. 63,2).TEXTO 310 – Fazes brotar as fontes dos vales e escorrem entre os montes;11 – dão de beber a todas as feras do campo e os asnos selvagens matam sua sede.12 – A seus lados moram as aves dos céu, cantam entre as ramagens (Sl 104,10-12).TEXTO 41- Aleluia! Louvai o Senhor porque ele é bom, pois eterno é seu amor!2- Assim digam os que o Senhor remiu, os que livrou da mão do opressor,3- E que ele reuniu de vários países, do oriente e do ocidente do norte e do sul.4- Vagueavam na solidão do deserto, sem achar o caminho para uma cidade habitada;5- Sofrendo fome e sede, suas forças iam se acabando (Sl 107,1-5).

TEXTO 58 – Que louvem o Senhor por sua bondade e por suas maravilhas em favor dos homens.9 – Pois saciou quem tinha sede, e cumulou de bens os que tinham fome (Sl. 107,8-9).

TEXTO 65 – Recordo os tempos antigos, medito todas as tuas obras, reflito sobre os teus atos.6 – A ti estendo as minhas mãos, como a terra seca, anseio por ti.7 – responde-me logo, Senhor, pois meu espírito me abandona. Não me escondas teu rosto, para eu não

ser como quem desce ao sepulcro.8 – De manhã faze-me sentir tua bondade, pois em ti confio. Indica-me a estrada que devo seguir porque a

ti elevo minha alma (Sl. 143,5-8).

LEITURA ORANTE com alguns coordenadores regionais em preparação ao 3º Encontro Nacional da Pastoral da Comunicação Jo 4,1-26

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Mantra preparando ambiente: (mapa da palestina, jarras com água, potes de barro...)1- Motivação: vamos meditar sobre o encontro de duas pessoas: Jesus e a Samaritana. A conversa foi difícil:

tanto para Jesus quanto para a samaritana. Os dois tiveram que superar algumas barreiras. Jesus se encontrava em um ambiente estranho... fora de casa... de sua cidade... A samaritana estava em seu próprio ambiente... ambiente de sua casa e do seu trabalho. Mas, por ser mulher, ela não podia conversar com um homem estranho, judeu e de outra religião. Mesmo assim, os dois tentaram superar barreiras... Depois de várias tentavas a comunicação dialógica avançou significativamente esse estabeleceu uma comunicação interativa entre os dois... Difícil acolher uma pessoa estranha e diferente sobretudo quando se quer realizar comunicação que é comunhão de vida... interatividade....

2- Vamos ouvir o texto que nos relata o encontro de Jesus com a samaritana: Jo 4,1-263- Ler uma segunda vez a partir da ótica da comunicação, percebendo os passos comunicativos e como

vão se concretizando de forma crescente até constituir comunhão de vida...4- Momento de silêncio...5- Partilha: 1º passo: Leitura: O QUE DIZ O TEXTO

RECONTAR O TEXTO: quais os personagens... ambiente... assunto da conversa...reações de um e de outro....diálogo interativo que provocam uma comunhão de vida que é comunicação.

1- Jo 4,1-6: Palco onde se realiza ao encontro: Jesus percebe que os fariseus podem irritar-se com a sua atividade batismal, ele sai da Judéia e volta para Galiléia. Assim ele evita uma briga religiosa (4,1-3). Ao voltar ‘era preciso que passasse pela Samaria... perto do meio dia... chega junto ao poço de Jacó... Cansado, senta-se perto do poço onde a samaritana vai encontrá-lo. O poço era o point dos encontros. Hoje onde são os lugares do encontro????

2- Jo 4,7-15: primeiro nível de comunicação: água e trabalho: água, corda, balde poço (eram os elementos que marcavam o mundo do trabalho da samaritana. Jesus é quem toma a iniciativa do diálogo... As barreiras se rompem... Ele vai ao encontro, assim como Deus tomou a iniciativa de vir ao encontro da humanidade, ao encontro de cada um de nós... Jesus parte de uma necessidade concreta, de sua sede e pede água... Pela pergunta a samaritana percebe que Jesus precisa de sua ajuda para resolver o problema que é a sede! Com isso Jesus desperta nela o interesse/gosto para ajudar e servir. Desde o início da conversa Jesus usa a palavra água nos dois sentidos: normal (água que mata a sede) e simbólico (como fonte de vida e como dom do Espírito Santo prometido no AT – Zc 14,8; Ez 47,1-12). Porém, a samaritana só entende água no sentido normal: água que mata sede do corpo. Há uma tensão: Jesus tenta ajudar a samaritana a passar para outro nível de entendimento e a samaritana, por sua vez, procura levar Jesus a entender as coisas conforme o sentido que ela tem no cotidiano. Conclusão: por essa porta Jesus não consegue comunicar-se com a samaritana e o diálogo não avança...

3- Jo 4,16-18: segundo nível de comunicação: Marido ou família. Jesus manda buscar o marido. A resposta da samaritana não permite que Jesus estabeleça comunicação com ela; a reposta é seca:: “não tenho marido”. E Jesus: “tá certo... tiveste cinco, e o que tens agora não é seu marido!”. Os cinco maridos evocam simbolicamente os cinco ídolos do povo samaritano (2Rs 17,29-30). O sexto marido a que Jesus alude, provavelmente fosse João Batista venerado como Messias, ou a fé diferente dos samaritanos em Javé.

4- Jo 4,19-24: terceiro nível de comunicação, a adoração. Até que enfim! Por causa da resposta de Jesus a samaritana o identifica com o Messias... Aí é ela quem começa a perguntar... a comunicação muda o rumo: onde adorar a Deus? Em Jerusalém ou em Garizim? Agora é Jesus que aproveita a porta aberta pela samaritana para comunicar-se com ela. Ele estabelece interatividade dialógica, porta para a comunhão de vida, de comunicação.Primeiro Ele relativiza o lugar do

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culto: nem em Jerusalém, nem em Garizim, ou seja, aqui não há privilégio para os judeus! Em seguida Jesus esclarece que tanto judeu como samaritano adoram a Deus. A diferença é que os judeus adoram o que conhecem. Os samaritanos adoram o que ainda não conhecem... ‘pois a salvação vem dos judeus’! Jesus termina dizendo que chegará o tempo em que se poderá adorar a Deus em qualquer lugar, desde que seja em “espírito e verdade”.

5- Jo 4,25-26: quarto nível de comunicação, a revelação: “O Messias sou eu que estou conversando contigo”! A samaritana muda de novo o rumo da comunicação e passa para outro assunto, a esperança messiânica do seu povo (sei que vem o Messias!). e Jesus aproveita essa ‘deixa’ para se apresentar, para revelar-se, para comunicar-se no verdadeiro sentido da palavra: comunhão de vida que é compromisso entre ambos. (“Sou eu que estou conversando contigo”). É para esta mulher excluída, herética para os judeus da época que Jesus se revelou por primeiro, como MESSIAS. Parece que a comunicação só avançou quando a samaritana tomou a iniciativa de se expor, comunicar sua vida, suas preocupações, inseguranças, dúvidas...Só então o diálogo assumiu o rumo do diálogo que Jesus pretendia. Será que temos também coragem de deixar ao outro a iniciativa do rumo da conversa.

2º passo: Meditação: O QUE O TEXTO DIZ PARA MIM?Colocando-nos no lugar da Samaritana, escutamos Jesus que nos pede água. Qual é a água que ele nos pede? A samaritana se admira de que Jesus peça água a ela... afinal ela era a necessitada... Eu.. você.. temos nossas necessidades, nossas buscas, nossas sedes...e é Jesus que pede água. O que

significa isso? Como Ele me pede de beber? O que significa essa insistência... “O senhor não tem balde para tirar a água...e o poço é fundo...” O poço de minha vida, de minhas buscas e

desejos é fundo. Como vou conseguir essa água da vida? Será que o Senhor é mais importante que Jacó? – Com a samaritana, deixemos que essas perguntas ressoem em nosso coração: Como vou conseguir essa

água viva que me satisfaça? Será que Jesus não é mais do que eu sei e que os outros me comunicaram? “A água que eu lhe der se tornará nele (a) fonte de água viva” - De que água eu estou bebendo?

3º passo: Oração: O QUE O TEXTO ME FAZ DIZER A DEUS Peça neste momento a água que você precisar para viver, para cumprir a sua missão de ser fonte para os

outros....

4º passo: Contemplação: A QUE AÇÕES /COMPROMISSOS O TEXTO ME REMETE Vamos contemplar a beleza do texto e sua consequência para a missão ... O diálogo, a comunicação transforma e realiza. Uma primeira atitude de quem descobre o Messias é anunciar,

é buscar a comunidade para com ela caminhar, vivendo um itinerário de fé no qual Deus continua se revelando... se comunicando, procurando estabelecer diálogo.

Pai Nosso e Canto final

“NINGUÉM JAMAIS FALOU COMO ESSE HOMEM”

“Vejo que és um profeta”!

Leitura Divina e Orante da narrativa de João

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A SAMARITANA - Jo 4,1-30

CONTEXTUALIZAÇÃO

Vamos fazer a Leitura Divina e Orante (Lectio Divina) do evangelho apresentado pela comunidade Joanina, cuja redação se dá em torno dos anos 95 a 100 da era cristã (E.C ou d.C).

O evangelho de João é dos mais belos, por suas narrativas bem amarradas. A comunidade de João é a mais distante do acontecimento Jesus de Nazaré, e

também, a mais instruída, por isso, talvez, a mais comunicativa. Mas, atenção! É também o evangelho mais difícil de ser compreendido no seu justo sentido, porque é cheio de simbologias. Aliás, não é isso que faz um bom comunicador (a)? As simbologias, as comparações, as metáforas são elementos preciosos para esclarecer a mensagem: O bem-aventurado Tiago Alberione apóstolo da moderna comunicação dizia: “Poucas ideias e claras”. O texto de Jo 4,1-30 é um texto relativamente amplo que trás quatro ideias claras e com vários elementos para nossa oração:

1. Jesus aparece como um Patriarca, doador de um dom precioso como é a água – Ele é a água viva que dá vida

em abundância;

2. Jesus é um Profeta não porque adivinha algo, mas, porque anuncia denunciando;

3. Jesus é o Messias esperado por todos, também, pelos samaritanos, também por outras expressões religiosas;

4. Jesus é aquele que deve ser anunciado, segundo a confissão da samaritana.

QUATRO PASSOS DA LEITURA DIVINA E ORANTE

1º Passo: Invoca o Espírito Santo, depois Ler e ler e ler com atenção procurando descobrir quem está falando, para quem está falando, sobre o que está falando e deter-se no versículo ou palavra que mais chamou a atenção; que mais impressionou durante a leitura.

2º Passo: Meditar. É o momento de mastigar o texto, de ruminá-lo, aprofundá-lo buscando o seu sentido oculto e trazê-lo para perto da gente.

Para mim, que tipo de comunicador é Jesus?

Como ele comunica a Boa Notícia que ele tem para dar?

Como ele anuncia denunciando?

Como ele aborda sua interlocutora, uma mulher samaritana?

Como ela trabalha a mensagem recebida?

O que esse texto diz para mim vendo que somos; profissional, Jovem, mãe, esposa, filha, catequista etc

3º Passo: Oração. É o momento da oração dialógica. Espontaneamente faço minha oração direta a Jesus, como uma conversa com ele, que se apresentou como Profeta, Messias, Comunicador da Boa Notícia da salvação para todos. É o momento da comunicação mais profunda entre Jesus e eu. Ele me falou no texto lido eu respondo em oração.

4º Passo: Contemplação + ação: É o momento em que contemplo a ação de Jesus. Volto meu olhar silencioso e amoroso para essa cena. Deixo-me cativar por ela. É o momento do encantamento, da paz profunda, do silêncio fecundo que se faz comunicação. É o momento em que a palavra ouvida penetra minhas entranhas e me sugere (ação) uma mudança de vida.

EVANGELHO DE JOÃO 4, 1-30

CHAVE DE LEITURA SOBRE JO 4, 1-42: JESUS E A SAMARITANA

Mapa da Palestina : 3 regiões

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Jesus vem da Judéia- pára na Samaria e vai para a Galiléia Problema da Samaria 1) Jesus acolhe: chega em Sicar – Fonte de Jacó – senta-se - pára – percebe alguém. Percebe uma mulher da Samaria que vem tirar água (duplamente marginalizada). Olha está atento – Vê a pessoa – Vence o preconceito – aceita a pessoa.

2) Jesus dialoga: “Dê-me de beber” – Jesus pede o que ela tem, o que pode dar. Parte da realidade.

A samaritana retruca: “Como é que tu, sendo judeu....?” - Ela se enxerga.Diálogo é base do encontro – Encontro gera comunidade.

Jesus provoca: Se você conhecesse o dom de Deus...e quem está lhe pedindo de beber...você é que lhe pediria. Ele daria a você a água viva.

3) Jesus suscita o questionamento: Mulher: Senhor, não tens balde, o poço é fundo. De onde vais tirar água viva? Não és maior do que nosso pai Jacó que bebeu deste poço...

4) Jesus é proposta: Quem bebe desta água vai ter sede. A água que eu vou dar mata a sede. Quem beber desta água terá dentro de si uma fonte...

Não impõe – Não tem pressa- Respeita o ritmo – aguarda – ajuda – tem paciência – deixa-se questionar.

5) Jesus prepara a revelação: suscita necessidade na mulher: “Senhor, dá-me desta água para que eu não tenha mais sede e nem tenha que vir buscar mais água aqui”.- Chame teu marido...(cultos de outros povos- alianças...) Culto sem vida – água que não sacia. - Encoraja : elogia = é verdadeira..- Vejo que és profeta!- Conversa sobre o lugar de adorar a Deus = Jesus universaliza a salvação: Verdadeiro adoradores:

espírito e verdade = Deus e os irmãos.

6) Jesus se revela: diante da afirmação da mulher que diz que vai chegar o Messias: Jesus se Jesus se revela: SOU EU – falo com você... Proposta – Fé.

7) Jesus provoca ação: a mulher deixou o balde, foi para a cidade (nem levou a água que tinha ido buscar) e disse: Venham ver um homem que me disse tudo o que eu fiz. Será que não é o Messias?. O pessoal foi ao encontro de Jesus. Jesus ficou com os samaritanos. Já não acreditamos porque você disse: ouvimos e sabemos quem Ele é: o salvador do mundo - Acreditou – aceitou – foi – proclamou – testemunhou – conduziu a Jesus – foi ponte.

ANO A3º DOMINGO DA QUARESMA

Tema do 3º Domingo da Quaresma

A Palavra de Deus que hoje nos é proposta afirma, essencialmente, que o nosso Deus está sempre presente ao longo da nossa caminhada pela história e que só Ele nos oferece um horizonte de vida eterna, de realização plena, de felicidade perfeita.A primeira leitura mostra como Jahwéh acompanhou a caminhada dos hebreus pelo deserto do Sinai e como, nos momentos de crise, respondeu às necessidades do seu Povo. O quadro revela a pedagogia de Deus e dá-nos a chave para entender a lógica de Deus, manifestada em cada passo da história da salvação.A segunda leitura repete, noutros termos, o ensinamento da primeira: Deus acompanha o seu Povo em marcha pela história; e, apesar do pecado e da infidelidade, insiste em oferecer ao seu Povo – de forma gratuita e incondicional – a salvação.O Evangelho também não se afasta desta temática… Garante-nos que, através de Jesus, Deus oferece ao homem a felicidade (não a felicidade ilusória, parcial e falível, mas a vida eterna). Quem acolhe o dom de Deus e aceita Jesus como “o salvador do mundo” torna-se um Homem Novo, que vive do Espírito e que caminha ao encontro da vida plena e definitiva.

LEITURA I – Ex 17,3-7

Naqueles dias,o povo israelita, atormentado pela sede,começou a altercar com Moisés, dizendo:«Porque nos tiraste do Egipto?

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Para nos deixares morrer à sede,a nós, aos nossos filhos e aos nossos rebanhos?»Então Moisés clamou ao Senhor, dizendo:«Que hei de fazer a este povo?Pouco falta para me apedrejarem».O Senhor respondeu a Moisés:«Passa para a frente do povoe leva contigo alguns anciãos de Israel.Toma na mão a vara com que fustigaste o rioe põe te a caminho.Eu estarei diante de ti, sobre o rochedo, no monte Horeb.Baterás no rochedo e dele sairá água;então o povo poderá beber».Moisés assim fez à vista dos anciãos de Israel.E chamou àquele lugar Massa e Meriba,por causa da altercação dos filhos de Israele por terem tentado o Senhor, ao dizerem:«O Senhor está ou não no meio de nós?»

AMBIENTEO texto que nos é proposto como primeira leitura pertence às “tradições sobre a libertação” (cf. Ex 1-18). Trata-se de um bloco de tradições que narram a libertação dos hebreus do Egipto (por acção de Jahwéh e do seu servo Moisés) e a caminhada pelo deserto até ao Sinai.O texto leva-nos até ao deserto do Sinai. O vers. 1 do nosso texto situa o episódio de Massa/Meribá nos arredores de Refidim, provavelmente no sul da península do Sinai (cf. Nm 33,14-15); mas Nm 20,7-11 situa-o nos arredores de Kadesh, a norte (aliás, não é possível traçar com rigor o caminho percorrido pelos hebreus, desde o Egipto até à Terra Prometida: estamos diante de textos que provêm de “fontes” diferentes, aqui combinados por um redactor final; e essas “fontes” referem-se, provavelmente, a viagens distintas e a grupos distintos, que em épocas distintas atravessaram o deserto do Sinai). De qualquer forma, também não interessa definir exactamente o enquadramento geográfico: mais do que escrever um diário de viagem, aos catequistas de Israel interessa fazer uma catequese sobre o Deus libertador, que conduziu o seu Povo da terra da escravidão para a terra da liberdade.A questão fundamental para este grupo de fugitivos que, chefiados por Moisés, fugiu do Egipto, é a questão da sobrevivência num cenário desolado como é o deserto do Sinai. Os beduínos conheciam diversos “truques” que lhes asseguravam a sobrevivência no deserto. Um desses “truques” pode relacionar-se com o texto que nos é proposto… Alguns autores garantem a existência no deserto do Sinai de rochas porosas que, quando quebradas em certos lugares, permitem o aproveitamento da água aí armazenada. Terá sido qualquer coisa parecida que aconteceu na caminhada dos hebreus e que deixou um sinal na memória do Povo? É possível; mas o importante é que Israel viu no facto um sinal da presença e do amor do Deus libertador.

MENSAGEMEste episódio é um episódio paradigmático, que reproduz as vicissitudes e as dificuldades da caminhada histórica do Povo de Deus.Desde que o Povo fugiu do Egipto, até chegar a este lugar (Massa/Meribá, segundo os autores do relato), Jahwéh manifestou, de mil formas, o seu amor por Israel… No episódio da passagem do mar (cf. Ex 14,15-31), no episódio da água amarga transformada em água doce (cf. Ex 15,22-27), no episódio do maná e das codornizes (cf. Ex 16,1-20), Deus mostrou o seu empenho em conduzir o seu Povo para a liberdade e em transformar a experiência de morte numa experiência de vida… Jahwéh mostrou, sem margem para dúvidas, estar empenhado na salvação do seu Povo. Depois dessas experiências, Israel já não devia ter qualquer dúvida sobre a vontade salvadora de Deus e sobre o seu projecto de libertação.No entanto, não é isso que acontece. Diante das dificuldades da caminhada, o Povo esquece tudo o que Jahwéh já fez e manifesta as suas dúvidas sobre os objectivos de Deus. A falta de confiança em Deus (“o Senhor está ou não no meio de nós?” - vers. 7) conduz ao desespero e à revolta. O Povo entra em contenda com Moisés (o nome “meribá” vem da raíz “rib” – “entrar em contencioso”) e desafia Deus a clarificar, através de um gesto espectacular, de que lado está (o nome “massa” vem da raíz “nsh” – “tentar”, no sentido de “provocar”). Acusam Deus de ter um projecto de morte, apesar de Ele, tantas vezes, ter demonstrado que o seu projecto é de vida e de liberdade. Afinal, depois de tantas provas, Israel ainda não fez uma verdadeira experiência de fé: não aprendeu a confiar em Deus e a entregar-se nas suas mãos.Como é que Deus reage à ingratidão e à falta de confiança do seu Povo? Com “paciência divina”, Deus responde mais uma vez às necessidades do seu Povo e oferece-lhe a água que dá vida. À pergunta do Povo (“o Senhor está ou não no meio de nós?”), Deus responde provando que está, efectivamente, no meio do seu Povo.Desta forma os israelitas – e os crentes de todas as épocas – são convidados a reter esta verdade definitiva: o Senhor é o Deus que está sempre presente na caminhada histórica do seu Povo oferecendo-lhe, em cada passo da caminhada, a vida e a salvação.

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ACTUALIZAÇÃOReflectir sobre os seguintes dados:

• A caminhada dos hebreus pelo deserto é, um pouco, o espelho da nossa caminhada pela vida. Todos nós fazemos, todos os dias, a experiência de um Deus libertador e salvador, que está presente ao nosso lado, que nos estende a mão e nos faz passar da escravidão para a liberdade. No entanto, ao longo da travessia do deserto que é a vida, experimentamos, em certas circunstâncias, a nossa pequenez, a nossa dependência, as nossas limitações e a nossa finitude; as dificuldades, o sofrimento e o desencanto fazem-nos duvidar da bondade de Deus, do seu amor, do seu projecto para nos salvar e para nos conduzir em direcção à verdadeira felicidade. No entanto, a Palavra de Deus deste domingo garante-nos: Deus nunca abandona o seu Povo em caminhada pela história… Ele está ao nosso lado, em cada passo da caminhada, para nos oferecer gratuitamente e com amor a água que mata a nossa sede de vida e de felicidade.

• Ao longo da caminhada do Povo de Deus pelo deserto vêm ao de cima as limitações e as deficiências de um grupo humano ainda com mentalidade de escravo, agarrado à mesquinhez, ao egoísmo e ao comodismo, que prefere a escravidão ao risco da liberdade. No entanto, Deus lá está, ajudando o Povo a superar mentalidades estreitas e egoístas, fazendo-o ir mais além e obrigando-o a amadurecer. À medida que avança, de mãos dadas com Deus, o Povo vai-se renovando e transformando, vai alargando os horizontes, vai-se tornando um Povo mais responsável, mais consciente, mais adulto e mais santo.

• É esta, também, a experiência que fazemos. Muitas vezes somos egoístas, orgulhosos, comodistas, “meninos mimados” que passam a vida a lamentar-se e a acusar Deus e os outros pelos “dói-dóis” que a vida nos faz. No entanto, as dificuldades da caminhada não são um castigo ou uma derrota; são, tantas vezes, parte dessa pedagogia de Deus para nos forçar a ir mais além, para nos renovar, para nos amadurecer, para nos tornar menos orgulhosos e auto-suficientes. Devíamos, talvez, aprender a agradecer a Deus alguns momentos de sofrimento e de fracasso que marcam a nossa vida, pois através deles Deus faz-nos crescer.

LEITURA II – Rom 5,1-2.5-8

Irmãos: Tendo sido justificados pela fé, estamos em paz com Deus, por Nosso Senhor Jesus Cristo, pelo qual temos acesso, na fé,a esta graça em que permanecemos e nos gloriamos,apoiados na esperança da glória de Deus.Ora, a esperança não engana,porque o amor de Deus foi derramado em nossos coraçõespelo Espírito Santo que nos foi dado.Cristo morreu por nós, quando éramos ainda pecadores. Dificilmente alguém morre por um justo; por um homem bom,talvez alguém tivesse a coragem de morrer.Deus prova assim o seu amor para connosco:Cristo morreu por nós, quando éramos ainda pecadores.

AMBIENTEQuando escreve aos Romanos, Paulo está a terminar a sua terceira viagem missionária e prepara-se para partir para Jerusalém. O apóstolo sentia que tinha terminado a sua missão no oriente (cf. Rom 15,19-20) e queria levar o Evangelho a outros cantos do mundo, nomeadamente ao ocidente. Sobretudo, Paulo aproveita a ocasião para contactar a comunidade de Roma e para apresentar aos Romanos os principais problemas que o ocupavam (entre os quais avultava o problema da unidade – um problema bem actual na comunidade cristã de Roma, então afectada por alguma dificuldade de relacionamento entre judeo-cristãos e pagano-cristãos). Estamos no ano 57 ou 58.Paulo aproveita para dizer aos Romanos e a todos os cristãos que o Evangelho deve unir e congregar todo o crente, sem distinção de judeu, grego ou romano. Para desfazer algumas ideias de superioridade (e, sobretudo, a pretensão judaica de que a salvação se conquista pela observância da Lei de Moisés), Paulo nota que todos os homens vivem mergulhados no pecado (cf. Rom 1,18-3,20) e que é a “justiça de Deus” que a todos dá a vida, sem distinção (cf. Rom 3,1-5,11).No texto que a segunda leitura deste domingo nos propõe, Paulo refere-se à acção de Deus, por Jesus Cristo e pelo Espírito, no sentido de “justificar” todo o homem.

MENSAGEM

Paulo parte da ideia de que todos os crentes – judeus, gregos e romanos – foram justificados pela fé. Que significa isto?

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Na linguagem bíblica, a justiça é, mais do que um conceito jurídico, um conceito relacional. Define a fidelidade a si próprio, à sua maneira de ser e aos compromissos assumidos no âmbito de uma relação. Ora, se Jahwéh se manifestou na história do seu Povo como o Deus da bondade, da misericórdia e do amor, dizer que Deus é justo não significa dizer que Ele aplica os mecanismos legais quando o homem infringe as regras; significa, sim, que a bondade, a misericórdia e o amor próprios do ser de Deus se manifestam em todas as circunstâncias, mesmo quando o homem não foi correcto no seu proceder. Paulo, ao falar do homem justificado, está a falar do homem pecador que, por exclusiva iniciativa do amor e da misericórdia de Deus, recebe um veredicto de graça que o salva do pecado e lhe dá, de modo totalmente gratuito, acesso à salvação. Ao homem é pedido somente que acolha, com humildade e confiança, uma graça que não depende dos seus méritos e que se entregue completamente nas mãos de Deus. Este homem, objecto da graça de Deus, é uma nova criatura (cfr. Gal 6,15): é o homem ressuscitado para a vida nova (cf. Rom 6,3-11), que vive do Espírito (cf. Rom 8,9.14), que é filho de Deus e co-herdeiro com Cristo (cf. Rom 8,17; Gal 4,6-7).Quais os frutos que resultam deste acesso à salvação que é um dom de Deus?Em primeiro lugar, a paz (vers. 1). Esta paz não deve ser entendida em sentido psicológico (tranquilidade, serenidade), nem em sentido político (ausência de guerra), mas no sentido teológico semita de relação positiva com Deus e, portanto, de plenitude de bens, já que Deus é a fonte de todo o bem.Em segundo lugar, a esperança (vers. 2-4 – embora os versículos 3 e 4 não apareçam no texto que nos é proposto). Trata-se desse dom que nos permite superar as dificuldades e a dureza da caminhada, apontando a um futuro glorioso de vida em plenitude. Não se trata de alimentar um optimismo fácil e irresponsável, que permita a evasão do presente; trata-se de encontrar um sentido novo para a vida presente, na certeza de que as forças da morte não terão a última palavra e que as forças da vida triunfarão.Em terceiro lugar, o amor de Deus ao homem (vers. 5-8). O cristão é, fundamentalmente, alguém a quem Deus ama. A prova desse amor está em Jesus de Nazaré, o Filho amado a quem Deus “entregou à morte por nós quando ainda éramos pecadores”.Como pano de fundo, o nosso texto propõe-nos o cenário do amor de Deus. Paulo garante-nos algo que já encontrámos na primeira leitura de hoje: Deus nunca abandona o seu Povo em caminhada pela história… Ele está ao nosso lado, em cada passo da caminhada, para nos oferecer gratuitamente e com amor a água que mata a nossa sede de vida e de felicidade (a paz, a esperança, o seu amor).

ACTUALIZAÇÃO• Este texto convida-nos a contemplar o amor de um Deus que nunca desistiu dos homens e que sempre soube encontrar formas de vir ao nosso encontro, de fazer caminho connosco. Apesar de os homens insistirem, tantas vezes, no egoísmo, no orgulho, na auto-suficiência e no pecado, Deus continua a amar e a fazer-nos propostas de vida. Trata-se de um amor gratuito e incondicional, que se traduz em dons não merecidos, mas que, uma vez acolhidos, nos conduzem à felicidade plena.• A vinda de Jesus Cristo ao encontro dos homens é a expressão plena do amor de Deus e o sinal de que Deus não nos abandonou nem esqueceu, mas quis até partilhar connosco a precariedade e a fragilidade da nossa existência, a fim de nos mostrar como nos tornarmos “filhos de Deus” e herdeiros da vida em plenitude.• A presença do Espírito acentua no nosso tempo – o tempo da Igreja – essa realidade de um Deus que continua presente e actuante, derramando o seu amor ao longo do caminho que, dia a dia, vamos percorrendo e impelindo-nos à renovação, à transformação, até chegarmos à vida plena do Homem Novo. É esse caminho que a Palavra de Deus nos convida a percorrer, neste tempo de Quaresma.• Está em moda uma certa atitude de indiferença face a Deus, ao seu amor e às suas propostas. Em geral, os homens de hoje preocupam-se mais com os resultados da última jornada do campeonato de futebol, com as últimas peripécias da “telenovela das nove”, com os investimentos na Bolsa, com as vantagens da última geração de computadores ou com o caminho mais rápido e mais seguro para atingir o topo da carreira profissional do que com Deus e com o seu amor. Não será tempo de redescobrirmos o Deus que nos ama, de reconhecermos o seu empenho em conduzir-nos rumo à felicidade plena e de aceitarmos essa proposta de caminho que Ele nos faz?

ACLAMAÇÃO ANTES DO EVANGELHO – cf. Jo 4,42.15

EVANGELHO – Jo 4,5-42

Naquele tempo,chegou Jesus a uma cidade da Samaria, chamada Sicar,junto da propriedade que Jacob tinha dado a seu filho José,onde estava a fonte de Jacob.Jesus, cansado da caminhada, sentou Se à beira do poço.Era por volta do meio dia.

Veio uma mulher da Samaria para tirar água.Disse lhe Jesus: «Dá Me de beber».Os discípulos tinham ido à cidade comprar alimentos.Respondeu Lhe a samaritana:«Como é que Tu, sendo judeu,me pedes de beber, sendo eu samaritana?»De facto, os judeus não se dão com os samaritanos.

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Disse lhe Jesus:«Se conhecesses o dom de Deuse quem é Aquele que te diz: ‘Dá Me de beber’,tu é que Lhe pedirias e Ele te daria água viva».Respondeu Lhe a mulher:«Senhor, Tu nem sequer tens um balde, e o poço é fundo:donde Te vem a água viva?Serás Tu maior do que o nosso pai Jacob,que nos deu este poço, do qual ele mesmo bebeu,com os seus filhos a os seus rebanhos?»Disse Lhe Jesus:«Todo aquele que bebe desta água voltará a ter sede.Mas aquele que beber da água que Eu lhe dernunca mais terá sede:a água que Eu lhe der tornar se á nele uma nascenteque jorra para a vida eterna».«Senhor, suplicou a mulher dá me dessa água,para que eu não sinta mais sedee não tenha de vir aqui buscá la».Vejo que és profeta.Os nossos pais adoraram neste montee vós dizeis que é em Jerusalém que se deve adorar».Disse lhe Jesus:«Mulher, podes acreditar em Mim:Vai chegar a hora em que nem neste montenem em Jerusalém adorareis o Pai.Vós adorais o que não conheceis;nós adoramos o que conhecemos,porque a salvação vem dos judeus.Mas vai chegar a hora – e já chegou –em que os verdadeiros adoradoreshão de adorar o Pai em espírito a verdade,pois são esses os adoradores que o Pai deseja.Deus é espíritoe os seus adoradores devem adorá l’O em espírito e verdade».Disse Lhe a mulher:«Eu sei que há de vir o Messias,isto é, Aquele que chamam Cristo.Quando vier há de anunciar nos todas as coisas».Respondeu lhe Jesus:«Sou Eu, que estou a falar contigo».Muitos samaritanos daquela cidade acreditaram em Jesus,por causa da palavra da mulher.Quando os samaritanos vieram ao encontro de Jesus,pediram Lhe que ficasse com eles.E ficou lá dois dias.Ao ouvi l’O, muitos acreditaram e diziam à mulher:«Já não é por causa das tuas palavras que acreditamos.Nós próprios ouvimose sabemos que Ele é realmente o Salvador do mundo».

AMBIENTE

O Evangelho deste domingo situa-nos junto de um poço, na cidade samaritana de Sicar. A Samaria era a região central da Palestina – uma região heterodoxa, habitada por uma raça de sangue misturado (de judeus e pagãos) e de religião sincretista.

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Na época do Novo Testamento, existia uma animosidade muito viva entre samaritanos e judeus. Historicamente, a divisão começou quando, em 721 a.C., a Samaria foi tomada pelos assírios e foi deportada cerca de 4% da população samaritana. Na Samaria instalaram-se, então, colonos assírios que se misturaram com a população local. Para os judeus, os habitantes da Samaria começaram, então, a paganizar-se (cf. 2 Re 17,29). A relação entre as duas comunidades deteriorou-se ainda mais quando, após o regresso do Exílio, os judeus recusaram a ajuda dos samaritanos (cf. Esd 4,1-5) para reconstruir o Templo de Jerusalém (ano 437 a.C.) e denunciaram os casamentos mistos. Tiveram, então, de enfrentar a oposição dos samaritanos na reconstrução da cidade (cf. Ne 3,33-4,17). No ano 333 a.C., novo elemento de separação: os samaritanos construíram um Templo no monte Garizim; no entanto, esse Templo foi destruído em 128 a.C. por João Hircano. Mais tarde, as picardias continuaram: a mais famosa aconteceu por volta do ano 6 d.C., quando os samaritanos profanaram o Templo de Jerusalém durante a festa da Páscoa, espalhando ossos humanos nos átrios.Os judeus desprezavam os samaritanos por serem uma mistura de sangue israelita com estrangeiros e consideravam-nos hereges em relação à pureza da fé jahwista; e os samaritanos pagavam aos judeus com um desprezo semelhante.A cena passa-se à volta do “poço de Jacob”, situado no rico vale entre os montes Ebal e Garizim, não longe da cidade samaritana de Siquém (em aramaico, Sicara – a actual Askar). Trata-se de um poço estreito, aberto na rocha calcária, e cuja profundidade ultrapassa os 30 metros. Segundo a tradição, teria sido aberto pelo patriarca Jacob… Os dados arqueológicos revelam que o “poço de Jacob” serviu os samaritanos entre o ano 1000 a.C. e o ano 500 d.C. (embora ainda hoje se possa extrair dele água).O “poço” acaba por transformar-se, na tradição judaica, num elemento mítico. Sintetiza os poços abertos pelos patriarcas e a água que Moisés fez brotar do rochedo no deserto (primeira leitura de hoje); mas, sobretudo, torna-se figura da Lei (do poço da Lei brota a água viva que mata a sede de vida do Povo de Deus), que a tradição judaica considerava observada já pelos patriarcas, antes de ser dada ao Povo por Moisés.O Evangelho segundo São João apresenta Jesus como o Messias, Filho de Deus, enviado pelo Pai para criar um Homem Novo. No chamado “Livro dos Sinais” (cf. Jo 4,1-11,56), o autor apresenta – recorrendo aos “sinais” da água (cf. Jo 4,1-5,47), do pão (cf. Jo 6,1-7,53), da luz (cf. Jo 8,12-9,41), do pastor (cf. Jo 10,1-42) e da vida (cf. Jo 11,1-56) – um conjunto de catequeses sobre a acção criadora do Messias.O nosso texto é, exactamente, a primeira catequese do “Livro dos Sinais”: através do “sinal” da água, o autor vai descrever a acção criadora e vivificadora de Jesus.

MENSAGEMNo centro da cena, está o “poço de Jacob”. À volta do “poço” movimentam-se as personagens principais: Jesus e a samaritana.A mulher (aqui apresentada sem nome próprio) representa a Samaria, que procura desesperadamente a água que é capaz de matar a sua sede de vida plena. Jesus vai ao encontro da “mulher”. Haverá neste episódio uma referência ao Deus/esposo que vai ao encontro do povo/esposa infiel para lhe fazer descobrir o amor verdadeiro? Tudo indica que sim (aliás, o profeta Oseias, o grande inventor desta imagem matrimonial para representar a relação Deus/Povo, pregou aqui, na Samaria).O “poço” representa a Lei, o sistema religioso à volta do qual se consubstanciava a experiência religiosa dos samaritanos. Era nesse “poço” que os samaritanos procuravam a água da vida plena. No entanto: o “poço” da Lei correspondia à sede de vida daqueles que o procuravam? Não. Os próprios samaritanos tinham reconhecido a insuficiência do “poço” da Lei e haviam buscado a vida plena noutras propostas religiosas (por isso, Jesus faz referência aos “cinco maridos” que a mulher já teve: há aqui, provavelmente, uma alusão aos cinco deuses dos samaritanos de que se fala em 2 Re 17,29-41).Estamos, pois, diante de um quadro que representa a busca da vida plena. Onde encontrar essa vida? Na Lei? Noutros deuses? A mulher/Samaria dá conta da falência dessas “ofertas” de vida: elas podem “matar a sede” por curtos instantes; mas quem procura a resposta para a sua realização plena nessas propostas voltará a ter sede.É aqui que entra a novidade de Jesus. Ele senta-se “junto do poço”, como se pretendesse ocupar o seu lugar; e propõe à mulher/Samaria uma “água viva”, que matará definitivamente a sua sede de vida eterna (vers. 10-14). Jesus passa a ser o “novo poço”, onde todos os que têm sede de vida plena encontrarão resposta para a sua sede.Qual é a água que Jesus tem para oferecer? É a “água do Espírito” que, no Evangelho de João, é o grande dom de Jesus. Na conversa com Nicodemos, Jesus já havia avisado que “quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar no Reino de Deus” – Jo 3,5; e quando Jesus se apresenta como a “água viva” que matará a sede do homem, João tem o cuidado de explicar que Ele se referia ao Espírito, que iam receber aqueles que acreditassem n’Ele (cf. Jo 7,37-39). Esse Espírito, uma vez acolhido no coração do homem, transforma-o, renova-o e torna-o capaz de amar Deus e os outros.Como é que a mulher/Samaria responde ao dom de Jesus? Inicialmente, ela fica confusa. Parece disposta a remediar a situação de falência de felicidade que caracteriza a sua vida, mas ainda não sabe bem como: essa vida plena que Jesus está a propor-lhe significa que a Samaria deve abandonar a sua especificidade religiosa e ceder às pretensões religiosas dos judeus, para quem o verdadeiro encontro com Deus só pode acontecer no Templo de Jerusalém e na instituição religiosa judaica (“nossos pais adoraram neste monte, mas vós dizeis que é em Jerusalém que se deve adorar”)?No entanto, Jesus nega que se trate de escolher entre o caminho dos judeus e o caminho dos samaritanos.

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Não é no Templo de pedra de Jerusalém ou no Templo de pedra do monte Garizim que Deus está… O que se trata é de acolher a novidade do próprio Jesus, aderir a Ele e aceitar a sua proposta de vida (isto é, aceitar o Espírito que Ele quer comunicar a todos os homens).Dessa forma – e só dessa forma – desaparecerá a barreira de inimizade que separa os povos – judeus e samaritanos. A única coisa que passa a contar é a vida do Espírito que encherá o coração de todos, que a todos ensinará o amor a Deus e aos outros e que fará de todos – sem distinção de raças ou de perspectivas religiosas – uma família de irmãos.A mulher/Samaria responde à proposta de Jesus abandonando o cântaro (agora inútil), e correndo a anunciar aos habitantes da cidade o desafio que Jesus lhe faz. O texto refere, ainda, a adesão entusiástica de todos os que tomam conhecimento da proposta de Jesus e a “confissão da fé”: Jesus é reconhecido como “o salvador do mundo” – isto é, como Aquele que dá ao homem a vida plena e definitiva (vers. 28-41).O nosso texto define, portanto, a missão de Jesus: comunicar ao homem o Espírito que dá vida. O Espírito que Jesus tem para oferecer desenvolve e fecunda o coração do homem, dando-lhe a capacidade de amar sem medida. Eleva, assim, esses homens que buscam a vida plena e definitiva à categoria de Homens Novos, filhos de Deus que fazem as obras de Deus. Do dom de Jesus nasce a nova comunidade.

ACTUALIZAÇÃOConsiderar, para a reflexão, os seguintes pontos:• A modernidade criou-nos grandes expectativas. Disse-nos que tinha a resposta para todas as nossas procuras e que podia responder a todas as nossas necessidades. Garantiu-nos que a vida plena estava na liberdade absoluta, numa vida vivida sem dependência de Deus; disse-nos que a vida plena estava nos avanços tecnológicos, que iriam tornar a nossa existência cómoda, eliminar a doença e protelar a morte; afirmou que a vida plena estava na conta bancária, no reconhecimento social, no êxito profissional, nos aplausos das multidões, nos “cinco minutos” de fama que a televisão oferece… No entanto, todas as conquistas do nosso tempo não conseguem calar a nossa sede de eternidade, de plenitude, dessa “mais qualquer coisa” que nos falta para sermos, realmente, felizes. A afirmação essencial que o Evangelho de hoje faz é: só Jesus Cristo oferece a água que mata definitivamente a sede de vida e de felicidade do homem. Eu já descobri isto, ou a minha procura de realização e de vida plena faz-se noutros caminhos? O que é preciso para conseguirmos que os homens do nosso tempo aprendam a olhar para Jesus e a tomar consciência dessa proposta de vida plena que Ele oferece a todos?• Essa “água viva” de que Jesus fala faz-nos pensar no baptismo. Para cada um de nós, esse foi o começo de uma caminhada com Jesus… Nessa altura acolhemos em nós o Espírito que transforma, que renova, que faz de nós “filhos de Deus” e que nos leva ao encontro da vida plena e definitiva. A minha vida de cristão tem sido, verdadeiramente, coerente com essa vida nova que então recebi? O compromisso que então assumi é algo esquecido e sem significado, ou é uma realidade que marca a minha vida, os meus gestos, os meus valores e as minhas opções?• Atentemos no pormenor do “cântaro” abandonado pela samaritana, depois de se encontrar com Jesus… O “cântaro” significa e representa tudo aquilo que nos dá acesso a essas propostas limitadas, falíveis, incompletas de felicidade. O abandono do “cântaro” significa o romper com todos os esquemas de procura de felicidade egoísta, para abraçar a verdadeira e única proposta de vida plena. Eu estou disposto a abandonar o caminho da felicidade egoísta, parcial, incompleta, e a abrir o meu coração ao Espírito que Jesus me oferece e que me exige uma vida nova?• A samaritana, depois de encontrar o “salvador do mundo” que traz a água que mata a sede de felicidade, não se fechou em casa a gozar a sua descoberta; mas partiu para a cidade, a propor aos seus concidadãos a verdade que tinha encontrado. Eu sou, como ela, uma testemunha viva, coerente, entusiasmada dessa vida nova que encontrei em Jesus?

4. BILHETE DE EVANGELHO.A vida é dom. “Se conhecêsseis o dom de Deus!”, diz Jesus à mulher de Samaria. Deus é alguém que oferece um presente, é o seu modo de fazer aliança connosco. Ele faz-nos viver porque é nosso Criador. Ele faz-nos reviver porque é nosso Salvador. Ele faz-nos viver com Ele e com os nossos irmãos porque é o Espírito que faz a nossa comunhão. Saibamos apreciar estes presentes, saibamos provar o seu sabor. A vida, recebemo-la… que presente! É preciso que a demos… em troca! Nesta semana, procuremos aprofundar esta relação que somos convidados a viver com Deus e com os nossos irmãos. Não sejamos daqueles “mimados” que já não sabem apreciar o que se lhes dá! Não sejamos daqueles “avarentos” que já não sabem o que é oferecer!

5. ORAÇÃO NA LECTIO DIVINA.Na meditação da Palavra de Deus (lectio divina), pode-se prolongar o acolhimento das leituras com a oração.

No final da primeira leitura:Nós Te bendizemos, Deus nosso Pai, porque habitas verdadeiramente no meio de nós. Tinhas tirado o povo de Israel da sua infelicidade, fizeste-o sair do Egipto, pelo teu servo Moisés fizeste jorrar a água do rochedo.Nós Te pedimos: guarda-nos de toda a impaciência, confirma a nossa confiança na tua presença em nós.

No final da segunda leitura:

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Nós Te damos graças porque nos justificas quando temos fé em Ti. Nós Te bendizemos por Jesus, teu Filho, que aceitou morrer por nós, pecadores, e pelo Espírito Santo que foi derramado nos nossos corações.Nós Te pedimos por todos os nossos irmãos e irmãs cuja esperança está ferida e que atravessam períodos de dúvida, por causa das provações que os atingem.

No final do Evangelho:Bendito sejas, Senhor Jesus, Tu o Messias, o Salvador do mundo, porque nos revelas a água viva da tua presença e nos levas a adorar o Pai no Espírito e em verdade. Bendito sejas pela água do Baptismo.Nós Te pedimos pelas crianças e pelos jovens que conduzimos para Ti e por todos os futuros baptizados: faz com que tenham sede de Te conhecer!

6. ORAÇÃO EUCARÍSTICA.Pode-se escolher a Oração Eucarística III.

7. PALAVRA PARA O CAMINHO.Que fonte? Sede do Povo de Israel no deserto! Sede da samaritana! E nós? Temos sede? De quem? De quê? A que poço vamos nós beber para matar todas as sedes que nos habitam? E se nos enganamos na fonte? “Senhor, dá me dessa água, para que eu não sinta mais sede”!

Lectio Divina de Jo.4, 4-30

JESUS E A SAMARITANA1Quando Jesus soube que chegara aos ouvidos dos fariseus que Ele conseguia mais discípulos e baptizava mais do que João - 2embora não fosse o próprio Jesus a baptizar, mas sim os seus discípulos - 3deixou a Judeia e voltou para a Galileia. 4Tinha de atravessar a Samaria. 5Chegou, pois, a uma cidade da Samaria, chamada Sicar, perto do terreno que Jacob tinha dado ao seu filho José. Ficava ali o poço de Jacob. 6Então Jesus, cansado da caminhada, sentou-se, sem mais, na borda do poço. Era por volta do meio-dia.7Entretanto, chegou certa mulher samaritana para tirar água. Disse-lhe Jesus: «Dá-me de beber.» 8Os seus discípulos tinham ido à cidade comprar alimentos. 9Disse-lhe então a samaritana: «Como é que Tu, sendo judeu, me pedes de beber a mim que sou samaritana?» É que os judeus não se dão bem com os samaritanos. 10Respondeu-lhe Jesus: «Se conhecesses o dom que Deus tem para dar e quem é que te diz: ‘dá-me de beber’, tu é que lhe pedirias, e Ele havia de dar-te água viva! 11Disse-lhe a mulher: «Senhor, não tens sequer um balde e o poço é fundo... 12Onde consegues, então, a água viva? Porventura és mais do que o nosso patriarca Jacob, que nos deu este poço donde beberam ele, os seus filhos e os seus rebanhos?» 13Replicou-lhe Jesus: «Todo aquele que bebe desta água voltará a ter sede; 14mas, quem beber da água que Eu lhe der, nunca mais terá sede: a água que Eu lhe der há-de tornar-se nele em fonte de água que dá a vida eterna.» 15Disse-lhe a mulher: «Senhor, dá-me dessa água, para eu não ter sede, nem ter de vir cá tirá-la.» 16Respondeu-lhe Jesus: «Vai, chama o teu marido e volta cá.» 17A mulher retorquiu-lhe: «Eu não tenho marido.» Declarou-lhe Jesus: «Disseste bem: ‘não tenho marido’,18pois tiveste cinco e o que tens agora não é teu marido. Nisto falaste verdade.» 19Disse-lhe a mulher: «Senhor, vejo que és um profeta! 20Os nossos antepassados adoraram a Deus neste monte, e vós dizeis que o lugar onde se deve adorar está em Jerusalém.» 21Jesus declarou-lhe: «Mulher, acredita em mim: chegou a hora em que, nem neste monte, nem em Jerusalém, haveis de adorar o Pai. 22Vós adorais o que não conheceis; nós adoramos o que conhecemos, pois a salvação vem dos judeus. 23Mas chega a hora - e é já - em que os verdadeiros adoradores hão-de adorar o Pai em espírito e verdade, pois são assim os adoradores que o Pai pretende. 24Deus é espírito; por isso, os que o adoram devem adorá-lo em espírito e verdade.» 25Disse-lhe a mulher: «Eu sei que o Messias, que é chamado Cristo, está para vir. Quando vier, há-de fazer-nos saber todas as coisas.» 26Jesus respondeu-lhe: «Sou Eu, que estou a falar contigo.» 27Nisto chegaram os seus discípulos e ficaram admirados de Ele estar a falar com uma mulher. Mas nenhum perguntou: ‘Que procuras?’, ou: ‘De que estás a falar com ela?’ 28Então a mulher deixou o seu cântaro, foi à cidade e disse àquela gente: 29«Eia! Vinde ver um homem que me disse tudo o que eu fiz! Não será Ele o Messias?» 30Eles saíram da cidade e foram ter com Jesus. 31Entretanto, os discípulos insistiam com Ele, dizendo: «Rabi, come.» 32Mas Ele disse-lhes: «Eu tenho um alimento para comer, que vós não conheceis.» 33Então os discípulos começaram a dizer entre si: «Será que alguém lhe trouxe de comer?» 34Declarou-lhes Jesus: «O meu alimento é fazer a vontade daquele que me enviou e consumar a sua obra. 35Não dizeis vós: ‘Mais quatro meses e vem a ceifa’? Pois Eu

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digo-vos: Levantai os olhos e vede os campos que estão doirados para a ceifa. 36Já o ceifeiro recebe o seu salário e recolhe o fruto em ordem à vida eterna, de modo que se alegram ao mesmo tempo aquele que semeia e o que ceifa. 37Nisto, porém, é verdadeiro o ditado: ‘um é o que semeia e outro o que ceifa’. 38Porque Eu enviei-vos a ceifar o que não trabalhastes; outros se cansaram a trabalhar, e vós ficastes com o proveito da sua fadiga.» 39Muitos samaritanos daquela cidade acreditaram nele devido às palavras da mulher, que testemunhava: «Ele disse-me tudo o que eu fiz.» 40Por isso, quando os samaritanos foram ter com Jesus, começaram a pedir-lhe que ficasse com eles. 41E ficou lá dois dias. Então muitos mais acreditaram nele por causa da sua pregação, e diziam à mulher: 42«Já não é pelas tuas palavras que acreditamos; nós próprios ouvimos e sabemos que Ele é verdadeiramente o Salvador do mundo.»

1. LEITURA1

Enquanto nos evangelhos sinópticos, Jesus se vê, com frequência, em contacto com o povo, com grandes multidões em João, pelo contrário, Jesus vê-se muito pouco metido no meio das pessoas. O termo aparece em João 19 vezes (mas só em Marcos aparece 37; e em todo o NT mais de 150) e nem sempre indica um contacto. No quarto evangelho descrevem-se preferencialmente os largos episódios dos contactos pessoais. Nicodemos, a Samaritana, o cego de nascença, Lázaro, ou grupos muito restritos (Caná) e concretos (sinagoga de Cafarnaum). Dentro deste marco situa-se o encontro com a Samaritana, que nos permite reflectir sobre umas das formas com que Jesus evangeliza. Vejamos a estrutura do texto: Jesus revela-se.

Trata-se de um diálogo em sete cadências, onde um fala e o outro contesta.

1. Jesus diz: dá-me de beber. A mulher contesta: como é que tu, sendo judeu, me pedes água a mim, que sou uma samaritana?

2. Jesus eleva o tom da conversação: Se conhecesses o dom de Deus... ele te daria água viva». A mulher responde estupefacta: Como podes dar-me água viva. Serás tu maior que o nosso pai Jacob?

3. Jesus sobe ainda mais o tom da conversa: Aquele que beber da água que eu lhe der, nunca mais terá sede. A mulher responde, ainda fora do contexto, tentando descer o nível da conversação: dá-me dessa água e eu não terei que vir aqui mais buscá-la...

4. É a viragem decisiva, a viragem moral do diálogo, que até aqui esteve ligado a necessidades básicas e imediatas. Vai a tua casa. Chama o teu marido. Ela contesta: não tenho marido.

5. Jesus diz: É verdade. Não tens marido... E estas palavras operam uma reviravolta na mulher, quando ela diz: Senhor, vejo que és Profeta... Nossos antepassados prestaram culto a Deus neste monte; vós os judeus dizeis que é em Jerusalém que se deve prestar culto a Deus.

6. Chegamos agora à parte mais longa da conversa, por parte de Jesus. Acredita em mim, mulher. Chegou a hora em que não tereis de subir a este monte nem de ir a Jerusalém. Os verdadeiros adoradores do Pai adoram-no em espírito e em verdade. Diante de semelhante revelação, a samaritana agarra-se ao que sabe: Sei que o Messias há-de chegar...

7. E Jesus pronuncia a sétima palavra: Sou Eu, Aquele que está a falar contigo! É interessante observar que a mulher não dá uma resposta verbal, mas prática: deixa o cântaro e vai à cidade dar a notícia.

Estamos, pois, diante de um Discurso que vai subindo de tom: as quatro primeiras frases estão sob o signo da ambiguidade, mas na quinta frase faz-se luz e o diálogo eleva-se até à revelação do verdadeiro culto e do próprio Jesus, como Messias. Trata-se de uma revelação progressiva.

As sete cadências desenvolvem-se a partir de várias incompreensões:

1. Tu és judeu e eu sou samaritana... Jesus pacientemente aprofunda o diálogo;2. Para a samaritana a água é a do poço. Jesus está a falar-lhe da água da vida eterna;3. Para a mulher o culto a Deus tem um lugar... Jesus fala de um novo culto em espírito e em verdade;4. A Mulher espera o Messias mas não sabe quando virá. Jesus mostra-lhe e diz que está aqui.

Jesus aparece como aquele que vai subindo o tom do diálogo. E, com simplicidade e perseverança, sobe o nível da conversação até chegar à Palavra da Revelação. Parte-se da necessidade imediata da pessoa para a conduzir às suas necessidades mais profundas. Parte-se de um contacto que poderia parecer frustrante,

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cheio de prejuízos, em que a pessoa com quem se contacta não mostra inquietude espiritual, não dá esperanças de iniciar um caminho. Pelo contrário, Jesus resolve toda a objecção e o diálogo acontece. Jesus pede para poder dar.

2. MEDITAÇÃO

Lendo esta página do encontro de Jesus com a Samaritana, perguntamo-nos: que mensagem contém o texto?

Que quer ensinar-nos esta Palavra, através deste colóquio entre Jesus e a mulher? Que densidade espiritual têm as nossas conversas, diálogos, partilhas? Qual é a acção pastoral que vive Jesus e que nos diz a nós? Como me situo nesta cena? Na admiração dos discípulos, na sede da mulher, na sede de Jesus? Que mais me impressiona em Jesus, na Mulher, nos discípulos, na reacção ao testemunho da Mulher? Sinto «sede» de Deus? Podemos colocar esta pergunta: Como perspectiva o evangelista a actividade pastoral e missionária de

Jesus?

1. A acção pastoral de Jesus parte de uma circunstância muito corrente da vida diária. Não se desenrola durante uma celebração nem está na raiz de uma qualquer iniciativa: tem a ver com um caminho, com uma sede, com um poço, com a falta de um cântaro ou de um balde, com o cansaço, com o encontro casual...

2. A acção Pastoral de Jesus está atenta à situação do interlocutor.

3. Concretamente, a acção pastoral de Jesus não se deixa bloquear nem pelos desaires, nem pela falta de educação, nem pela tentativa de mudar de tema.

4. A acção pastoral de Jesus baseia-se na consciência de quem é Ele e do que tem a dar e dizer.

5. A acção pastoral de Jesus não está ansiosa por triunfar, e muito menos por triunfar entre o povo.

6. Finalmente, a acção pastoral de Jesus está condicionada pelo dever da sua missão. Ainda que tenha tido êxito na cidade da Samaria, só ficará ali o tempo estritamente necessário – dois dias -, para continuar o ministério (que não raro será menos frutuoso que o de Samaria) que tem a cumprir.

A sede de Jesus

O Senhor queria fazer compreender à samaritana que não tinha pedido a água de que ela falava, mas que tinha sede da sua fé e a ela, que tinha sede de água, desejava dar o Espírito Santo. Pensamos precisamente que esta água viva é aquele dom de Deus de que o Senhor falava quando dizia: "Se conhecesses o dom de Deus!" E como o mesmo Evangelista João atesta noutro lugar: "Jesus, pondo-se de pé, exclamou em voz alta: "Se alguém tem sede, venha a mim e beba; quem crê em mim, como diz a Escritura, do seu íntimo jorrarão rios de água viva"" [Jo 7, 37]. [...] Os rios de água viva que o Salvador queria dar àquela mulher eram, portanto, o prémio da fé, do qual, antes de mais tinha Ele sede nela. (Santo Agostinho)

3. ORAÇÃO

“O pedido de Jesus à Samaritana: «Dá-Me de beber» (Jo 4, 7) exprime a paixão de Deus por todos os homens e quer suscitar no nosso coração o desejo do dom da «água a jorrar para a vida eterna» (v. 14): é o dom do Espírito Santo, que faz dos cristãos «verdadeiros adoradores» capazes de rezar ao Pai «em espírito e verdade» (v. 23)” (Bento XVI, Mensagem para a Quaresma 2011).

Que me sugere esta Palavra? Que digo eu ao Senhor? Deixar que a prece ou o louvor, a súplica ou a acção de graças brote da oração de cada um. Naturalmente ela pode despontar nestas expressões conhecidas:

- “A minha alma tem sede de Vós, meu Deus” (Sal.62 - 63)

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- Senhor, dá-me de beber…- Senhor, Tu és a água viva…- Senhor, ocupa-Te de Mim…- Senhor, eu creio que sois Cristo…

P- (adaptado do RICA, n.164): Oremos Senhor nosso Deus, que nos enviaste o vosso Filho como Salvador, olhai para estes vossos filhos, que, como a Samaritana, desejam a água viva. Convertei-os pela vossa Palavra e levai-os a confessarem-se prisioneiros dos seus próprios pecados e fraquezas. Não permitais que nós, levados por falsa confiança em nós próprios, nos deixemos enganar pela astúcia do demónio, mas livrai-nos do espírito da mentira, para que, reconhecendo os nossos pecados, sejamos purificados no Espírito e entremos pelo caminho da salvação. Por Jesus Cristo, nosso Senhor.

Ou

Senhor, se da dura pedra, tiras um fio de água, tira do chão desta mágoa um fio de louvor. Tira de mim, o que não posso dar-te e só Tu me dás. O que ponho em tuas mãos, são as tuas mãos que o traz!

4. CONTEMPLAÇÃO

Passando à contemplação, vamos perguntar ao Senhor: Qual é o segredo da sua forma de se comportar, da sua tranquilidade, do seu desapego? Pode-nos responder com uma palavra que encontramos com frequência no evangelho de São João: o meu segredo é fazer a vontade do Pai, eu sempre faço o que ele gosta.

“Só esta água pode extinguir a nossa sede do bem, da verdade e da beleza! Só esta água, que nos foi doada pelo Filho, irriga os desertos da alma inquieta e insatisfeita, «enquanto não repousar em Deus»” (Bento XVI, Mensagem para a Quaresma 2011).

“A samaritana que Te procurava encontrou a alegria individida...Irmã água, Que dessedenta e lava, berço primeiro da Vida”.

5. ACÇÃO

Qual é a mensagem dirigida a nós, às paróquias, aos grupos de Catequese?

1. A importância das quantidades pequenas, em que tanto insiste João, construindo grandes episódios com poucos personagens.

2. A importância dos encontros casuais.

3. A importância das seguranças interiores. Jesus, neste episódio da Samaritana, fala e actua a partir da forte consciência interior que tem de si mesmo e da sua missão. Desta consciência brotam de forma

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espontânea as afirmações, as superações de bloqueios, e pouco a pouco, chega-se ao tema definitivo do discurso. Creio que esta aplicação é a mais importante: cultivar a consciência da nossa missão, através da oração prolongada e a escuta da Palavra. É o primeiro passo para uma nova evangelização.

Deixemo-nos consolar todos com esta presença.