1 introduÇÃo - biblioteca digital de teses e ... · ou abaixo do limiar anaeróbio, ... wisloff e...

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1 1 INTRODUÇÃO O Futsal, modalidade esportiva coletiva com bola, começou a ser praticado no Brasil na década de trinta. Há duas correntes sobre sua origem: a primeira indica que é uma modalidade esportiva genuinamente brasileira, nascida das “peladas” com bolas de meias; e a segunda que considera o Futsal um esporte originário do Uruguai e trazido para o Brasil pela Associação Cristã de Moços (ACM) (TOLUSSI, 1982). Os jogos de Futsal são praticados em quadras de 25 a 42 metros (m) de comprimento e de 15 a 22 m de largura. São permitidos cinco jogadores em quadra por equipe, sendo um goleiro e quatro jogadores de linha. A bola de jogo pode pesar entre 400 a 440 gramas, e o tempo de jogo se divide em dois períodos de 20 minutos (cronometrados) com 10 minutos de intervalo entre ambos (FIFA, 2006). O Futsal se caracteriza por uma sucessão de movimentos de alta velocidade, em espaços reduzidos (5-10 m), com contínuas trocas de direção e sentido, intercalados com pausas de recuperação ativas e incompletas (MEDINA, SALINA, VIRÓN & MARQUETA, 2002). Estas pausas, de maneira geral, não permitem uma recuperação completa, sendo uma sucessão de processos anaeróbios e aeróbios (MEDINA et alii, 2002). Para BARBANTI (1996), esses ciclos são enormemente imprevisíveis, resultantes da espontaneidade do jogador, ou impostos pelos padrões de jogo. Segundo MORENO (2001), os jogadores percorrem uma distância média de 6000 m, sendo que 11% da distância total percorrida ocorre em um ritmo de 0 a 1 m.s -1 , 46% em um ritmo de 1 a 3 m.s -1 , 26% a umritmo de 3 a 5 m.s -1 e 15% a um ritmo de 5 a 7 m.s -1 . Como demonstram os dados de MORENO (2001), 98% das atividades são de predominância aeróbia, sendo que, para BARBANTI (1996), uma sólida base de resistência aeróbia deveria ser desenvolvida na fase de preparação geral e se possível mantida durante a temporada. MEDINA et alii (2002) complementam que, uma boa potência aeróbia deve ser o requisito básico para obter uma alta capacidade de rendimento no jogo. Para esses autores, nas pausas da partida, o jogador bem treinado em resistência se recupera mais rapidamente, e de forma mais completa. Easy PDF Creator is professional software to create PDF. If you wish to remove this line, buy it now.

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1 INTRODUO

O Futsal, modalidade esportiva coletiva com bola, comeou a ser

praticado no Brasil na dcada de trinta. H duas correntes sobre sua origem: a

primeira indica que uma modalidade esportiva genuinamente brasileira, nascida

das peladas com bolas de meias; e a segunda que considera o Futsal um esporte

originrio do Uruguai e trazido para o Brasil pela Associao Crist de Moos (ACM)

(TOLUSSI, 1982).

Os jogos de Futsal so praticados em quadras de 25 a 42 metros (m) de

comprimento e de 15 a 22 m de largura. So permitidos cinco jogadores em quadra

por equipe, sendo um goleiro e quatro jogadores de linha. A bola de jogo pode pesar

entre 400 a 440 gramas, e o tempo de jogo se divide em dois perodos de 20 minutos

(cronometrados) com 10 minutos de intervalo entre ambos (FIFA, 2006).

O Futsal se caracteriza por uma sucesso de movimentos de alta

velocidade, em espaos reduzidos (5-10 m), com contnuas trocas de direo e

sentido, intercalados com pausas de recuperao ativas e incompletas (MEDINA,

SALINA, VIRN & MARQUETA, 2002). Estas pausas, de maneira geral, no

permitem uma recuperao completa, sendo uma sucesso de processos anaerbios

e aerbios (MEDINA et alii, 2002). Para BARBANTI (1996), esses ciclos so

enormemente imprevisveis, resultantes da espontaneidade do jogador, ou impostos

pelos padres de jogo.

Segundo MORENO (2001), os jogadores percorrem uma distncia mdia

de 6000 m, sendo que 11% da distncia total percorrida ocorre em um ritmo de 0 a 1

m.s-1, 46% em um ritmo de 1 a 3 m.s-1, 26% a um ritmo de 3 a 5 m.s-1 e 15% a um

ritmo de 5 a 7 m.s-1. Como demonstram os dados de MORENO (2001), 98% das

atividades so de predominncia aerbia, sendo que, para BARBANTI (1996), uma

slida base de resistncia aerbia deveria ser desenvolvida na fase de preparao

geral e se possvel mantida durante a temporada. MEDINA et alii (2002)

complementam que, uma boa potncia aerbia deve ser o requisito bsico para obter

uma alta capacidade de rendimento no jogo. Para esses autores, nas pausas da

partida, o jogador bem treinado em resistncia se recupera mais rapidamente, e de

forma mais completa.

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Para BARBANTI (1996) e MEDINA et alii (2002), jogadores de

modalidades esportivas coletivas tendem a apresentar altos valores de VO2max,

demonstrando que a capacidade de produo de energia pelos processos aerbios

acontece de forma elevada. Isto indica que este tipo de metabolismo importante

para o desempenho em partida.

Estudos com jogadores brasileiros de Futsal, encontraram valores de

VO2max de 60,70 ml.kg-1.min-1 (SANTOS, GIAROLA & FIGUEIRA, 1991) e 53,57

ml.kg-1.min-1 (KRABBE, COLPANI, TOURINHO & RIBEIRO, 1996). Em estudo mais

recente, MEDINA et alii (2002) determinaram a potncia aerbia mxima em

jogadores espanhis de futsal encontrando valores de 57,80 2,53 ml.kg-1.min-1. No

Brasil, realizamos testes peridicos com equipes de Futsal, em nvel nacional, e

encontramos valores mdios de VO2max de 53,38 ml.kg-1.min-1.

Contudo para STICKLAND, PETERSEN e BOUFARD (2003), e

McNAUGHTON, HALL e COOLEY (1996), os testes de VO2max. so normalmente

realizados em laboratrio, com o uso de esteiras ergomtricas ou cicloergmetros,

necessitando de materiais sofisticados e caros. Porm, na tentativa de avaliar um

grande nmero de atletas, LEGER e LAMBERT (1982) desenvolveram o teste de 20

m de ida-e-volta, que apresenta algumas vantagens sobre os anteriores: um teste

de baixo custo e atende a especificidade de movimentos da modalidade em questo.

A especificidade um importante critrio na seleo de um teste, pois determinada

atravs da semelhana entre a caracterstica do esporte praticado pelo atleta

avaliado e o movimento executado durante o teste (LIMA & KISS, 2003).

Com as medidas obtidas no Teste de 20 m de ida-e-volta, a prescrio

do treinamento tem sido baseada em porcentagem do VO2max, ou mais

especificamente, em porcentagem da velocidade mxima atingida no teste acima

citado. Contudo, para DWYER e BYBEE (1983), a prescrio do treinamento

baseado em porcentagens do VO2max no distingue entre o trabalho realizado acima

ou abaixo do limiar anaerbio, lembrando-se que o limiar anaerbio no uma

porcentagem constante do VO2max. para todos os indivduos. Portanto, o exerccio

realizado a uma intensidade especfica, variando entre 50-85% do VO2max, pode

resultar em diferentes esforos para indivduos com limiares anaerbios diferentes,

mas com VO2max similares.

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Para AHMAIDI, COLLOMP e CAILLAUD (1992), o treinamento aumenta

a capacidade de endurance e performance quando a intensidade prescrita

corresponde ao acmulo sanguneo de lactato. Ainda segundo os autores, na

tentativa de ajustar o treinamento capacidade do indivduo, ou ao objetivo do

treinamento, a intensidade deve estar baseada no consumo de oxignio, ou

freqncia cardaca, ou na velocidade correspondente ao limiar ventilatrio ou ao

incio do acmulo do lactato sanguneo (OBLA). Para HELGERUD, ENGEN,

WISLOFF e HOFF (2001), o limiar de lactato parece ser um melhor preditor da

performance aerbia do que o VO2max, sendo que para o autor, o limiar de lactato

pode sofrer mudanas em funo do treinamento, sem que haja mudanas no

VO2max. O autor ainda cita que um jogador com limiar mais alto, teoricamente, pode

manter uma mdia maior de atividade em alta intensidade, sem acmulo de lactato

sanguneo.

Assim como para os testes de potncia aerbia, os testes comumente

usados para a determinao das concentraes fixas de lactato so testes de

laboratrio, embora um menor nmero de estudos aplique testes em campo (KISS,

FLEISHMANN, GORDANI, KALINOVSKY, COSTA, OLIVEIRA & GAGLIARDI, 1995).

Para esses autores, existe uma lacuna na literatura cientfica relativa validao e

identificao das velocidades de limiar da concentrao de lactato sanguneo com

metodologias de campo, similares quelas de laboratrio, no havendo determinao

direta do mximo estado estvel de lactato em testes realizados em quadra.

2 OBJETIVO

O objetivo deste trabalho a validao da medida de limiar anaerbio

com o teste escalonado intermitente de 20 m de ida-e-volta em quadra, comparando-

o com teste escalonado em esteira e com o mximo estado estvel de lactato em

teste retangular simulado, em jogadores de Futsal.

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2.1 Objetivos especficos

a) verificar se a velocidade relativa a 3,5 mmol.l-1 (V3,5) obtida no teste

de 20 m de ida-e-volta representa um estado de equilbrio metablico em cargas

retangulares em quadra (em jogadores de Futsal),

b) comparar a V3,5 em quadra com a V3,5 de laboratrio,

c) verificar o comportamento da freqncia cardaca na V3,5 em quadra,

em laboratrio e no teste de mximo estado estvel de lactato.

3 JUSTIFICATIVA

A capacidade aerbia, mais especificamente, as velocidades

correspondentes s concentraes fixas de lactato, o marcador mais sensvel do

estado de treinamento e tambm mais comumente usado para avaliao, prescrio

e verificao dos efeitos do treinamento, alm de ser mais treinvel que o VO2max.

(KISS, COLANTONIO, REGAZZINI, BARROS & REGAZZINI, 2003; LUCAS,

ROCHA, BURINI & DENADAI, 2000).

Um dos mtodos mais usados para a determinao da capacidade

aerbia, atravs da determinao do lactato sanguneo, o mximo estado estvel

de lactato (MLSS). O MLSS a maior intensidade de exerccio em que h um

balano entre a taxa de aparecimento do lactato no sangue e a taxa de remoo do

mesmo (BENEKE & VonDUVILLARD, 1996).

A determinao do MLSS tem basicamente uma desvantagem, ela

requer a performance de quatro a seis sries de exerccios de carga constante, de

aproximadamente 30 minutos de durao e a presena dos atletas nos laboratrios

por vrios dias (DENADAI, GOMIDE & GRECO, 2005). HECK, MADER, HESS,

MUCKE, MULLER e HOLLMAN (1985) propuseram a determinao indireta do

MLSS baseado em um nico teste usando a concentrao fixa de 4mmol.l-1 de

lactato sanguneo. Porm, poucos estudos com concentraes fixas de lactado

sanguneo tem sido realizados com testes de campo (KISS et alii,1995). Os autores

ainda complementam que, assim como o treinamento com atletas de alto nvel tem

como objetivo adaptaes especficas ao esporte, na avaliao funcional, esse

princpio tambm verdadeiro, sendo que para HECK et alii (1985), os dados obtidos

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em esteira rolante, embora nos forneam informaes bastante seguras, so

insuficientes para o controle adequado das diferentes intensidades de treinamento.

Complementando, para SZOGY (1987), os estudos de campo nos fornecem dados

mais teis para guiarmos o treinamento.

Como nesse estudo, a modalidade a ser avaliada o Futsal, escolheu-

se o teste de de 20 m de ida-e-volta (LGER & LAMBERT, 1982), por se tratar,

assim como o Futsal, de um teste intermitente, que pode ser realizado em quadra, no

mesmo ambiente em que os atletas esto acostumados a treinar. Porm, para

DENADAI et alii (2002), poucos so os estudos que analisaram a resposta do lactato

sanguneo durante o teste de 20 m de ida-e-volta. Para tanto, em nosso estudo o

teste foi adaptado a estgios de trs minutos, pois segundo HECK et alii (1985), as

concentraes fixas de lactato sanguneo so protocolo-dependente e a

determinao da capacidade aerbia por meio de limiar de lactato a ponto fixo de 2

mmol.l-1 e 4 mmol.l-1 deve ser realizada por protocolo intermitente de trs minutos ou

preferencialmente de cinco minutos por estgio (KISS et alii, 2003).

4 REVISO DE LITERATURA

A Reviso de literatura contemplar os principais pontos relacioandos ao

objetivo da pesquisa como: limiar anaerbio, mtodos de deteco e fatores de

influncia na determinao; teste de 20 metros de ida-e-volta; monitoramento da

condio aerbia durante o jogo e o treino atravs da frequncia cardaca, sendo

est relacionada com fatores fisiolgicos submximos como o lacta sanguno; uma

breve reviso sobre validade e por fim a caracterizao da modalidade esportiva

Futsal.

4.1 Limiar Anaerbio

Tema central de inmeras pesquisas realizadas nas ltimas dcadas, o

Limiar Anaerbio (LA), apresenta-se como um dos assuntos mais polmicos e

controversos dentro da histria recente da fisiologia do exerccio (DENADAI, 1995).

Poucos conceitos no campo da cincia do exerccio tem gerado tanto debate como o

limiar anaerbio (SVEDAHL & MACINTOSH, 2003).

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Uma das razes para tanto debate, a falta de um consenso na

definio do limiar anaerbio. Outro ponto de polmica so as diferentes maneiras de

detectar a intensidade de exerccio ele associada.

Segundo HOLLMANN (2001), 42 anos se passaram e nem os

participantes do 3o Congresso Pan-Americano de Medicina do Esporte em 1959,

onde o autor apresentou os conceitos de limiares ventilatrios e de cido ltico,

assim como o mtodo para suas determinaes, poderiam imaginar que as

diferentes verses e determinaes destes limiares levariam centenas de

publicaes desde ento.

No artigo de 2001, em que HOLLMANN (2001) descreve os 42 anos de

desenvolvimento dos conceitos de limiares ventilatrios e de lactato, o autor cita que

de 1922 a 1925 Hill e colaboradores relataram que o consumo mximo de oxignio

(VO2max) a varivel que melhor representa a mxima capacidade humana de

performance, sendo que os melhores atletas alcanavam valores de VO2max

prximos de 4 l/min (HOLLMANN, 2001). Porm, somente em 1954, com o

desenvolvimento tecnolgico, que apareceram sistemas com capacidade de medir

valores de VO2max acima de 6000 l/min. Desde ento, exames espiromtricos

passaram a ser utilizados em pacientes com diferentes doenas, baseando-se na

mensurao do VO2max/min.

Contudo, para HOLLMAN (2001) a mensurao do VO2max/min possua

duas desvantagens:

a) O resultado era muito influenciado pela motivao do paciente

examinado;

b) A entrada no limite da capacidade de performance de um

indivduo com doena cardiorespiratria, metablica ou sangunea, pode provocar a

ocorrncia de acidentes.

Para RIBEIRO e DE ROSE (1980), o VO2max reconhecido

universalmente como um dos melhores indicadores da capacidade para o trabalho de

longa durao, sendo que esta varivel pode ser influenciada por fatores intrnsecos

e extrnsecos, como: altitude, treinamento, sexo e idade. Entretanto, segundo

BOUCHARD, DIONNE, SIMONEAU e BOULAY (1992), embora o VO2max possa ser

modificado pelo treinamento, os efeitos da hereditariedade ainda no so

conclusivos, mas podem responder de 25 a 50% da variabilidade do VO2max

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RIBEIRO (1995) lembra que a manuteno de um exerccio prolongado

tambm depende da capacidade do organismo em tolerar altas intensidades de

trabalho em elevado percentual do VO2max, independentemente do seu valor

absoluto, ou seja, atletas altamente condicionados para eventos aerbios so

capazes de manter esforos prximos a seu VO2mx. Por isso, a utilizao do

VO2max como preditor de performance em atletas de endurance pode ser

questionado. Estudos tm mostrado baixa associao entre o VO2max e resultados

obtidos em provas de longa durao em atletas de endurance. Alm disso,

observada melhora de performance em atletas de endurance mesmo sem haver

qualquer alterao nos resultados de VO2max obtidos em testes laboratoriais

(WELTMAN, 1995).

Apesar das limitaes do VO2max em discriminar performance em

atletas de endurance, parece que o mesmo no ocorre para detectar adaptaes do

treinamento em jogadores de futebol e diferenciar caractersticas individuais de

acordo com o posicionamento que o jogador desempenha no jogo (SVENSSON &

DRUST, 2003). Contudo, o VO2max. no visto como o melhor indicador para a

capacidade de realizar o exerccio intermitente especfico, como o requerido pelo

jogo. Para os autores, o VO2max utilizado para diferenciar jogadores em relao a

diferentes populaes e/ou para avaliar mudanas (evoluo) no condicionamento,

como por exemplo na pr temporada, onde se espera que tais mudanas no

condicionamento sejam grandes. Ainda para SVENSSON e DRUST (2003), o

VO2max no um indicador suficientemente sensvel de condicionamento para uso

regular durante a fase competitiva, quando as mudanas na performance sero

menores e devem refletir preferencialmente as mudanas perifricas do que as

mudanas centrais.

Em 1950 Hollmann e seus colaboradores comearam a procurar um

critrio fidedigno de determinao do comportamento da performance fsica durante

o trabalho submximo. Segundo RIBEIRO e DE ROSE (1980), esse ponto se

caracterizaria pelo momento no qual o metabolismo anaerbio passasse a participar

de uma forma mais significativa na transferncia de energia.

HOLLMANN et alii introduziram (HOLLMANN,1985), entre 1957 e 1963,

o conceito de incio do metabolismo anaerbio para medir a capacidade

cardiopulmonar e perifrica da performance aerbia. Os pesquisadores observaram

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que durante o exerccio com incremento na bicicleta ergomtrica, um ponto

alcanado em que a ventilao pulmonar aumenta acima do consumo de oxignio.

Pensava-se que as mudanas na ventilao e no lactato sanguneo eram constantes,

ento HOLLMAN definiu esse ponto de quebra ventilatria como ponto de tima

eficincia ventilatria. O autor ainda cita que em 1964 WASSERMAN e McILROY,

propuseram o termo limiar anaerbio. Como HOLLMAN, eles queriam identificar a

intensidade de exerccio que produzisse uma substancial, mas ainda segura,

quantidade de estresse fsico para pacientes com problemas cardacos e sugeriram

que a troca de gases pulmonares poderia ser usada para se estimar o ponto de

quebra de lactato, ou ao que era referido como incio da acidose (ltica) metablica.

Aplicaes prticas da determinao do LA incluem a prescrio da

intensidade adequada de exerccio, predio de performance e a avaliao dos

efeitos do treinamento aerbio, principalmente durante um acompanhamento

longitudinal. O LA tem sido descrito como um marcador mais sensvel do estado de

treinamento (KISS et alii, 2003).

Os principais mtodos utilizados atualmente para a determinao do

limiar anaerbio so: o mtodo respiratrio e o mtodo metablico..

4.1.1 Mtodo respiratrio

O Limiar Ventilatrio definido como a intensidade de exerccio na qual

o aumento na ventilao se torna desproporcional ao aumento na transferncia de

energia ou da velocidade de locomoo durante um teste incremental de exerccio

(SVEDAHL & MacINTOSH, 2003). Para WASSERMAN (1984) durante um exerccio

incremental , um ponto alcanado no qual a demanda de oxignio do metabolismo

do msculo em atividade maior do que o fornecimento s mitocndrias. Este

desequilbrio entre fornecimento e demanda, onde a demanda maior do que a

disponibilidade, resulta em aumento na converso anaerbia do piruvato em lactato.

Na tentativa de minimizar a magnitude da mudana do pH, vrios sistemas de

tamponamento esto envolvidos, incluindo o sistema bicarbonato. A reao do H+

com o bicarbonato resulta na formao do cido carbnico, que se dissocia em H20 e

CO2. O excesso de CO2 e a queda no pH estimulam a ventilao e um aumento na

ventilao resulta em excreo extra de CO2 (SVEDAHL & MacINTOSH, 2003).

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Os limiares ventilatrios tm sido determinados pela observao de

diferentes variveis que podem ser derivadas das medidas de trocas gasosas obtidas

durante o exerccio progressivo (TABELA 1).

O mtodo respiratrio foi descrito por Wasserman e seus colaboradores,

partindo da prpria definio de Limiar Anaerbio e dos princpios fisiolgicos que

inter-relacionam a acidose e sua compensao respiratria (RIBEIRO & DeROSE,

1980).

TABELA 1 - Diferentes variveis derivadas das medidas de trocas gasosas obtidasdurante exerccio progressivo.

Ventilao Ve

Produo de CO2 CO2Razo de troca respiratria

(VCO2/VO2)

R

Frao expirada de O2 Fe O2Frao expirada de CO2 Fe CO2Presso parcial de O2 no final da

expirao

PET O2

Equivalente ventilatrio para o O2 VE/VO2Equivalente ventilatrio para o CO2 VE/VCO2

Posteriormente, em estudos realizados no final da dcada de 70 e incio

da dcada de 80, WASSERMAN e colaboradores refinaram sua metodologia no

invasiva para determinar o limiar anaerbio. Como a metodologia proposta utiliza-se

de parmetros ventilatrios, alguns autores preferem o termo Limiar Ventilatrio

(LV), principalmente para se diferenciar dos mtodos que utilizam o lactato

sanguneo que, em funo disso, freqentemente empregam o termo Limiar de

Lactato (LL) (DENADAI,1995).

SKINNER e McLELLAN (1980) propuseram trs fases na transio do

metabolismo aerbio para o metabolismo anaerbio, e onde esta transio ocorre.

Segundo os autores, durante o que eles chamaram de fase I, exerccio

de intensidade baixa, uma grande quantidade de oxignio retirada pelos tecidos,

resultando em uma pequena frao de oxignio no ar expirado (FeO2). Como

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conseqncia, mais CO2 est sendo produzido e expirado (FeCO2). H tambm, um

aumento linear no consumo de oxignio (VO2), na ventilao, no volume de CO2expirado (VCO2) e na freqncia cardaca. At este momento pouco ou nenhum

lactato esta sendo formado e valores de 0,7 0,8 para a razo de troca respiratria

(R) so encontrados durante esta fase de baixa intensidade em exerccio constante.

Durante a segunda fase, que tem como caracterstica um aumento na

intensidade de exerccio at valores entre 40% a 60% do VO2max., o VO2 e a FC

continuam a crescer linearmente e h um pequeno aumento no lactato (La) para

valores duas vezes acima do valor de repouso, por volta de 2mmol.l-1. O H+

produzido pelo La principalmente tamponado pela base bicarbonato (HCO3-),

resultando no aumento da produo de CO2 pela dissociao de cido carbnico

(H2CO3) e um contnuo aumento no FeCO2 (H + HCO3- H2CO3 H2O + CO2).

Como tentativa de compensar o aumento na acidose, o centro respiratrio

estimulado para aumentar o VE; a combinao do efeito do aumento na VE e

aumento nos nveis de CO2 no sangue produzem um maior VCO2. At que o lactato

atinja valores por volta de 4mmol.l-1 durante esta segunda fase, a compensao

respiratria parece ter efeito efetivo.

Os valores de R tambm aumentam com o crescimento do VE e do

VCO2 acima do crescimento do VO2. Como, neste momento, o corpo no consome

mais O2 do que est sendo necessrio para repor o ATP que est sendo utilizado, o

aumento extra no VE resulta numa extrao baixa de O2 por volume de ar ventilado e

h ento um aumento correspondente no FeO2.

Basicamente o que se procura identificar durante um exerccio com

incremento de carga o momento em que existe um aumento do VE/VO2 e do

PETO2, sem uma mudana equivalente do VE/VCO2 e no PETCO2. De acordo com a

teoria proposta, o fato de o VE/VCO2 no aumentar na mesma intensidade em que

ocorre o aumento do VE/VO2, permanecendo estvel mesmo aps alguns

incrementos de carga, implica que a PCO2 arterial no se altera na regio em que

supostamente existe o tamponamento do cido ltico, justificando o termo

tamponamento isocpnico (isocapnic buffering). Para alguns autores esta intensidade

de exerccio corresponde ao LV1 (McLELLAN, 1985).

Com o aumento de intensidade entre 65 a 90% do VO2 max, o aumento

linear entre o VO2 e a F.C. continua at prximo carga mxima, quando eles

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iniciam um plat. No incio desta fase, o La est prximo a 4 mmol.l-1 e cresce

rapidamente antes que o indivduo atinja seu VO2max. Na tentativa de se compensar

este aumento grande do La, h tambm um grande aumento no VE e um contnuo

aumento no VCO2. Neste momento, a hiperventilao no pode compensar

adequadamente e h uma queda no FeCO2, enquanto o FeO2 continua a crescer.

medida que a intensidade do exerccio aumenta acima do LV1, existe

um aumento da acidose metablica, determinando uma queda acentuada do pH e

com isso, um aumento tambm do VE/VCO2 e queda do PETCO2. Neste momento

atinge-se para alguns autores o ponto de compensao respiratria da acidose

metablica ou LV2 (DENADAI, 1995).

4.1.2 Mtodo Metablico

Para RIBEIRO e DE ROSE (1980), o mtodo metablico consiste na

coleta seriada de amostras de sangue durante um exerccio fsico progressivo, para

posterior anlise das curvas de concentrao de cido ltico ou das alteraes do

equilbrio cido-bsico expressa pelo pH, excesso de base e bicarbonato.

A avaliao da resposta do lactato sanguneo ao exerccio uma medida

rotineira em vrios laboratrios e em campo. Muitos investigadores tm utilizado a

dosagem sangunea de lactato como representativa da produo de lactato e a

participao da gliclise anaerbia no sistema de transferncia de energia para o

exerccio.

A quantidade de lactato presente no sangue est relacionada tanto

taxa de produo quanto taxa de remoo de lactato. A concentrao de lactato no

sangue e suas variaes, resulta do balano entre a adio de lactato no sangue

proveniente da produo de lactato no msculo e da remoo do mesmo do sangue

(WELTMAN, 1995).

A musculatura esqueltica a grande produtora de cido ltico, tanto no

repouso quanto no exerccio, sendo tambm o maior stio de captao, msculos que

no participam do exerccio durante e aps o exerccio (WELTMAN, 1995). Tanto

msculos esquelticos que participam do exerccio como os que no participam,

contribuem para a troca (Exchange) de lactato durante o exerccio. O papel preciso

dos msculos ativos e dos que no participam do exerccio difcil de ser

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determinado in vivo durante o exerccio, pela dificuldade em isolar a circulao de

msculos especficos em animais intactos (STAINSBY, BRECHURE &

ODROBINAK, 1991). O intestino, o fgado, o rim e o corao tambm so stios de

limpeza do lactato durante o exerccio (WELTMAN, 1995). O fgado tem sido

normalmente aceito como tecido responsvel pela remoo do lactato, pela

gliconeogenesis a partir do cido ltico, e pela sntese do glicognio. Contudo, tem

ficado aparente, que o fgado regula no somente a homeostase da glicose

sangunea, mas tambm todo o suprimento de carboidrato. O fgado pode tanto

consumir lactato e liberar glicose ou armazenar glicognio, como tambm pode

liberar lactato em um esforo para manter o fornecimento do substrato.

WELTMAN (1995) lembra que h considervel controvrsia em relao

ao controle da produo de lactato e de sua remoo durante o exerccio.

sabido que a produo de cido ltico acelerada quando as

contraes iniciam. O metabolismo oxidativo tem uma alta inrcia e o maior tempo

necessrio para que o sistema oxidativo seja acelerado, resulta na necessidade de

se fazer uso do sistema de fosfagnio e, por vezes, do sistema ltico (STAINSBY,

BRECHURE & ODROBINAK, 1991). Um aumento na produo de lactato tambm

observado em 50-70% do consumo mximo de oxignio, bem antes da potncia

aerbia ser alcanada na sua totalidade. Contudo, os mecanismos para o aumento

do lactato ainda no esto totalmente entendidos. A explicao clssica tem sido que

no msculo que est contraindo h um deficite de oxignio e, portanto, parte da

energia necessria deve ser suplementada pelo aumento do fornecimento anaerbio

de ATP.

Para SVEDAHL e MACINTOSH (2003) no h dvida que quando a

disponibilidade de oxignio limitada, o cido ltico ser formado no msculo

participando de uma rede de contribuio para a proviso de energia. Porm, para os

autores, a afirmao anterior no permite concluir que a presena de cido ltico no

msculo significa que a limitada disponibilidade estava restringindo o metabolismo

oxidativo. MAUGHAM, GLEESON e GREENHAFF (2000) concluem que, embora a

converso da glicose em lactato seja um processo anaerbio, ele ocorre mesmo

quando o oxignio se encontra disponvel livremente para o msculo e a liberao de

lactato no implica necessariamente a inadequao do suprimento de oxignio. Em

msculos in situ, perfundidos com o sangue do animal durante contraes repetidas,

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13

ou fsicas, e condies normais, no h evidncias claras de que a falta de oxignio

limita o consumo de oxignio em nenhum nvel ou tenha qualquer papel direto na

produo ou remoo de lactato. As concluses para essas evidncias para o

exerccio so as mesmas (STAINSBY & BROOKS, 1990).

A gliclise que resulta na formao de cido ltico deve ser interpretada

como um processo que ocorre sem o uso de oxignio, no necessariamente na falta

de oxignio (SVEDAHL & MACINTOSH,2003), sendo um processo multifatorial que

no est sempre relacionado disponibilidade de oxignio (GOLLNICK, BAYLI &

HODGSON, 1986).

Segundo SVEDAHL e MACINTOSH (2003), muitos fatores podem

promover a formao de cido ltico no msculo, e um destes fatores pode ser a

acelerada glicogenlise e a gliclise resultantes de atividades simpaticoadrenal. Esse

efeito simpaticoadrenal pode ser o mecanismo primrio para a marcante elevao do

lactato sanguneo, ou plasmtico, durante um teste com incremento de carga. Tem

sido sugerido que quando a epinefrina sangunea cresce, na mesma proporo da

intensidade do exerccio, a gliclise estimulada causando um aumento na produo

de lactato no msculo e ao mesmo tempo um decrscimo na remoo de lactato por

outros tecidos, resultando em um aumento na concentrao de lactato (STAINSBY &

BROOKS,1990).

O aumento da gliclise com a intensidade do exerccio ocorre atravs da

estimulao dos -adrenoreceptores. Esse aumento na atividade adrenrgica, leva a

uma vasoconstrio heptica, renal e dos msculos inativos, levando a uma reduo

na remoo do cido ltico e conseqentemente ao seu aumento no sangue

(BILLAT, SIRVENT, KORALSTEIN & MERCIER, 2003).

Resultados obtidos em exerccios com humanos suportam as concluses

alcanadas nos experimentos com animais. Lactato no sangue arterial e as

concentraes de epinefrina esto altamente correlacionadas, e o ponto de infleco

do lactato sanguneo coincide com o de infleco da epinefrina em exerccios

escalonados (BROOKS, 1991).

A grande responsvel pela estimulao da glicogenlise e, em

conseqncia, da gliclise, a epinefrina, que ativa a enzima chave fosforilase,

enzima responsvel pelo desdobramento do glicognio (MATSUSHIGUE, LIMA &

KISS, 2003). Os autores ainda citam a estimulao adrenrgica, a liberao de clcio

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e a diminuio das reservas de creatina fosfato para a ativao completa da

fosforilao oxidativa, como mecanismos que levam maior rapidez na resposta do

sistema ltico na limitao na utilizao do sistema oxidativo na fase de transio do

repouso para o esforo fsico.

As causas da produo de lactato no msculo e por todo o corpo so

vrias. Ao nvel tecidual de um msculo isolado, fatores como os padres das

contraes, durao das contraes, disponibilidade de substratos, hipxia e a

estimulao -adrenrgicas tm papel fundamental. Por todo o corpo, os nveis de

lactato sanguneo circulante dependem do balano da liberao do lactato e da

retirada pelos diversos tecidos, que podem, dependendo das condies, passarem

de uma rede de produtores, para consumidores, e vice-e-versa. A limitao de

oxignio para o metabolismo pode aumentar a produo de lactato e aumentar os

nveis circulantes, mas a hipoxia apenas um dos fatores da elevao da produo e

do acmulo de lactato. Normalmente, a limitao do oxignio para o metabolismo,

no a causa da produo de lactato. O maior produtor de lactato no sangue

sistema receptor -adrenrgico (STAINSBY & BROOKS,1990).

4.1.2.1 Fatores que afetam a Resposta do Lactato Sanguneo ao Exerccio

4.1.2.1.1 Tipo de Fibra Muscular

O msculo esqueltico composto de dois tipos fundamentais de fibras

musculares, fibras rpidas (tipo II) e fibras lentas (tipo I), contendo as seguintes

diferenas metablicas e estruturais (KARLSSON & JACOBS, 1982;

MATSUSHIGUE, FRANCHINI & KISS, 2003) (TABELA 2):

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TABELA 2 - Caractersticas dos tipos de Fibras Muscular

Oxidao Lenta

(Tipo I)

Oxidao Rpida

(Tipo IIa)

Gliclise Rpida

(Tipo IIb)

Contrao Contrao Lenta Contrao Rpida Contrao Rpida

Tamanho da Fibra Pequeno Intermedirio Grande

Cor Vermelha Vermelha Branca

Concentrao de

mioglobina Alta Alta Baixa

Contedo

Mitocndrial Alta Alta Baixa

4.1.2.1.1.1 Fibras Tipo I

As fibras tipo I possuem um maior nmero de capilares, maior

capacidade oxidativa e maior atividade da isoenzima da desidrogenase ltica, o que

favorece a oxidao do lactato a piruvato.So mais adaptadas para assegurar

contraes relativamente pequenas quanto fora, porm, quanto durao,

prprias ao trabalho de resistncia (VERKOSHANSKI, 2001). Realizam a ressntese

de ATP predominantemente por meio do sistema de transferncia de energia aerbio

(McARDLE, KATCH & KATCH, 1992). Para MAUGHAM, GLEESON e GREENHAFF

(2000), possuem alta capacidade para o metabolismo oxidativo, sendo resistentes

fadiga.

Para WASSERMAN, HANSEN, SUE, CASABURI e WHIPP (2005) a

propriedade contrtil mais lenta das fibras tipo I parece resultar basicamente da baixa

atividade da miosina ATPase na miofibrila que catalisa a quebra do fosfato de alta

energia do ATP, a atividade mais baixa do Ca++ da protena regulatria, troponina, e

a taxa diminuda da captao de Ca++ pelo retculo sarcoplasmtico. Estas mesmas

propriedades parecem conferir uma resistncia relativamente alta fadiga das fibras

tipo I. Tendem a ter nveis significativamente mais altos de enzimas oxidativas do que

as fibras do tipo II.

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4.1.2.1.1.2 Fibras Tipo II

Possuem uma maior atividade da miosina ATPase, lembrando-se que

a miosina ATPase que fraciona o ATP para fornecer energia para a contrao

muscular. Estas fibras possuem alta capacidade para a transmisso eletroqumica

dos potenciais de ao, um nvel rpido de liberao e captao de clcio pelo

retculo sarcoplasmtico e um alto nvel de reenervao das pontes cruzadas,

caractersticas, que segundo McARDLE, KATCH e KATCH (1992) se relacionam com

a capacidade que estas fibras possuem para gerar energia para produzir contraes

rpidas e vigorosas.

Complementando, para MAUGHAM, GLEESON e GREENHAFF

(2000), as fibras Tipo II (especialmente as fibras tipo IIb), possuem um tempo de

relaxamento e contrao relativamente rpidos e, conseqentemente, possuem uma

produo mxima de energia cerca de trs vezes maior que as fibras tipo I. Segundo

MATSUSHIGUE, FRANCHINI e KISS (2003), essas fibras tem como caractersticas:

poucas mitocndrias, so pobres no aporte sanguneo e possuem pouca mioglobina.

Para VERKHOSHANSKI (2001), as fibras tipo II produzem maior

lactato, sendo que as fibras Tipo I extraem ininterruptamente o lactato do sangue e

das fibras Tipo II, oxidando-o. O autor conclui, que como nas fibras tipo II o

metabolismo se realiza mais rapidamente que nas fibras tipo I, essa diferena de

velocidade nestes processos contribuir para o acmulo de lactato no msculo e no

sangue.

4.1.2.1.2 Disponibilidade dos Substratos

A quantidade de glicognio armazenada no msculo, segundo os

estudos de GOLLNICK, BAYLY e HODGSON (1986), est diretamente relacionada

com a formao de lactato. Para os autores, altos valores de lactato so produto da

grande utilizao de glicognio. Quando a concentrao de glicognio muscular

diminui em funo tanto da dieta como do exerccio, a concentrao de lactato fica

abaixo do que as obtidas quando o msculo se encontra com concentraes normais

de glicognio.

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A taxa de utilizao do glicognio e a concentrao de lactato no sangue

tm sido demonstradas como dependentes da concentrao de glicognio (KATZ &

SAHLIN, 1990). No estudo de GOLLNICK, BAYLY e HODGSON (1981), onde

sujeitos realizaram exerccio em bicicleta, usando ambas as pernas, sendo que em

uma das pernas havia contedo normal de glicognio e na outra contedo reduzido.

Apesar da quantidade similar de trabalho realizado, a perna com taxa normal de

glicognio liberou lactato enquanto aquela com depleo de glicognio extraiu

lactato. Para KATZ e SAHLIN (1990), dos dados de GOLLNICK et alii (1981), pode

ser estimado que a taxa glicoltica foi marcadamente reduzida no estado depletado

de glicognio.

Para McARDLE, KATCH e KATCH (1992), grandes reservas de

glicognio possibilitam uma grande utilizao do mesmo, e a grande utilizao de

glicognio, por sua vez, resulta em altos valores de lactato.

O substrato demonstra sua importncia na produo de lactato, j que

para determinadas cargas mximas de trabalho, o acmulo de lactato pode ser

significativamente alterado pela manipulao diettica pr-exerccio. Mudanas nas

concentraes de insulina e na glicose sangunea estimulam a gliclise e o aumento

na concentrao sangunea de lactato, enquanto o aumento dos nveis circulantes de

AGL durante o exerccio aumentam significativamente a oxidao lipdica e leva a

uma diminuio do acmulo de cido ltico.

Para VIRU e VIRU (1993), os efeitos do treinamento nos estoques de

glicognio so conhecidos desde 1927. No caso do treinamento de resistncia o

sucessivo esvaziamento e recarga dos reservatrios energticos ao longo do tempo,

resulta num aumento dos mesmos. A cada vez que um reservatrio recarregado,

seu nvel inicial superado em um determinado valor, o que pode resultar num

aumento de at 100% de glicognio muscular e heptico (VERKHOSHANSKI, 2001).

4.1.2.1.3 Estado de treinamento

Tem sido demonstrado que o treinamento fsico desempenha papel

importante na regulao do metabolismo do lactato.

A diminuio na produo de lactato sanguneo em funo do

treinamento est ligada a fatores fisiolgicos como:

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a) Aumento da densidade mitocondrial do msculo;

Na medida do crescimento da intensidade da carga e a ativao da

gliclise, o fator a limitar a capacidade de trabalho a capacidade do sistema

mitocondrial de utilizar o piruvato. Quanto maior for essa capacidade, menor ser o

teor de lactato nos msculos passando ao sangue (VERKHOSHANSKI, 2001).

Para MAUGHAN, GLEESON e GREENHAFF (2000) a capacidade do

msculo esqueltico tambm melhorada por um aumento acentuado, tanto do

tamanho quanto do nmero, de mitocndrias por unidade de rea e por uma

ampliao da rea de superfcie da membrana das motocndrias do msculo.

Um tpico treino de resistncia, o responsvel pelo aumento no nmero

e volume observado nas mitocndrias (VIRU & VIRU, 1993).

b) Aumento da atividade enzimtica o treinamento de endurance

produz um grande aumento na alanina transaminase, criando assim uma alternativa

para a remoo do piruvato no msculo, com a converso de piruvato a alanina,

sendo que, para SALTIN e KARLSSON (citados por SKINNER & McLELLAN, 1980),

esta via alternativa demonstra ser a possvel explicao porque atletas de endurance

parecem produzir menos lactato, mesmo com taxas similares de glicose;

O treinamento aerbio garante uma grande participao de enzimas

oxidativas e o aumento da sua velocidade de reao (VERKHOSHANSKI, 2001).

c) Aumento da densidade capilar a maior densidade capilar

aumenta a liberao de lactato dos msculos em exerccio. Tem sido demonstrado

que o nmero de capilares por fibra muscular aumenta com o treinamento intensivo

de endurance.

d) Alteraes nas respostas hormonais ao exerccio H aumentos

menores nas concentraes de epinefrina e noraepinefrina para cargas iguais, ou

relativas de trabalho, depois do treinamento, comparando-se com resultados pr-

treinos (GOLLNICK, BAYLY & HODGSON, 1986).

e) Diminuio da taxa de utilizao do glicognio muscular e da

glicose durante o exerccio.

_______________________B. Saltin; J. Karlsson. Muscle ATP, CP and lactate during exercise after physicalconditioning. In: B. PERNOW & B.SALTIN, Muscle during exercise. New York: Plenum,1971

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19

f) Aumento na concentrao dos carreadores de lactato (MCT). Os

MCT e suas isoformas (MCT1, MCT4) so sensveis ao treinamento de endurance

(BILLAT et alii, 2003).

4.1.2.2 Limiar de Lactato (LL)

O estudo da cintica de lactato no sangue e no msculo introduziu uma

nova dimenso fisiologia muscular e cincia do exerccio (KARLSSON &

JACOBS, 1982).

Os termos, limiar anaerbio, limiar de lactato, estado de mximo

equilbrio de lactato ou mximo steady state, incio do acmulo do lactato

sanguneo, ponto de quebra de lactato, entre outros, so termos que tm sido usados

para definir a intensidade de exerccio em que h um aumento no linear na

concentrao de lactato sanguneo.

Neste estudo, nos deteremos especificamente ao estado de mximo

equilbrio de lactato (MLSS) e ao incio do acmulo do lactato sanguneo (OBLA).

4.1.2.2.1 Estado de mximo equilbrio de lactato (MLSS)

O MLSS definido como a maior concentrao de lactato sanguneo e

carga de trabalho que pode ser mantida por um longo perodo (25 a 30 minutos) sem

um acmulo contnuo de lactato (BILLAT et alii, 2003). Em outras palavras, o MLSS

indica a intensidade individual de trabalho acima da qual a taxa de produo de

lactato excede a remoo do mesmo.

A taxa de trabalho que corresponde taxa de trabalho do MLSS,

representa a intensidade mais alta de trabalho submximo (MLSS intensity) que pode

ser realizada sem a energia do metabolismo anaerbio (HECK et alii, 1985). Acima

da intensidade do MLSS, a produo de piruvato excede a remoo do lactato, a

concentrao muscular de creatina fosfato e o pH muscular e sanguneo decrescem,

o que causa o fim do exerccio. (BENEKE, HUTLER & LEITHAUSER, 2000). No

estudo sobre a independncia do MLSS em relao performance, BENEKE,

HUTLER e LEITHAUSER (2000) demonstraram que o MLSS no indica uma dada

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20

carga, mas uma intensidade de exerccio. Ainda para os autores, a intensidade do

MLSS corresponde a uma intensidade forte de treino de endurance.

H vrias razes para tentar quantificar esta intensidade de exerccio,

incluindo acesso sade cardiovascular ou pulmonar, evoluo de programas de

treinamento, prescrio de intensidades apropriadas de exerccio e categorizao da

intensidade de exerccio como moderada, forte ou severa (DENADAI, FIGUERA,

FAVARO & GONALVES, 2004).

A interpretao dos achados relacionados ao MLSS complicada pelo

fato dos diferentes protocolos e definies do MLSS utilizados no passado. Em

princpio, todos os mtodos diferem em respeito durao do teste, ao perodo de

carga constante de exerccio observada para a interpretao da cintica de lactato, e

ao mximo aumento na concentrao de lactato aceito (BENEKE, 2003). Em seu

estudo sobre os aspectos metodolgicos nos testes de MLSS, BENEKE (2003)

comparou trs mtodos para a identificao do MLSS:

MLSS I O MLSS I foi determinado atravs da anlise da concentrao

de lactato sanguneo entre o dcimo e o trigsimo minuto de um exerccio com carga

constante. Durante este perodo, o aumento na concentrao do lactato sanguneo

no poderia ser maior do que 1mmol.l-1. O MLSS I foi calculado como a mdia da

concentrao sangunea de lactato medida no dcimo quinto, vigsimo, vigsimo

quinto e trigsimo minuto.

MLSS II O MLSS II foi baseado nas mudanas na concentrao de

lactato sanguneo ocorridas durante o dcimo e vigsimo minuto. Durante este

perodo de exerccio com carga constante, o aumento mximo na concentrao

sangunea de lactato foi limitado em no mais do que 0,5 mmol.l-1, o que era similar

ao aumento por unidade de tempo definido para o MLSS I (0,5mmol.l-1.min-1), mas

com a durao do teste reduzido em 33%.

MLSS III Para o MLSS III, as mudanas ocorridas na concentrao de

lactato sanguneo, tambm foram consideradas entre o dcimo e o vigsimo minuto.

Aqui, o MLSS foi definido como o aumento na concentrao de lactato sanguneo

no sendo maior do que 0,2mmol.l-1.

Os MLSS II e III foram calculados como a mdia dos valores da

concentrao de lactato sanguneo medidos no dcimo quinto e vigsimo minutos do

teste.

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21

Neste estudo (BENEKE, 2003), 26 homens, sendo 18 triatletas e oito

fisicamente ativos, realizaram teste para determinar a carga correspondente

concentrao de 3,0 mmol.l-1 de lactato. Depois de detectada a carga

correspondente concentrao de 3,0 mmol.l-1 de lactato, todos os indivduos

realizaram trs testes de carga constante. No primeiro teste de carga constante, a

carga era correspondente a 3,0 mmol.l-1 de lactato. No caso de, durante o primeiro

teste, um estado contnuo na concentrao do lactato, ou mesmo um decrscimo

fossem observados, os testes subsequentes teriam um aumento de carga de 3 a

10% na intensidade do exerccio at que a concentrao de lactato sanguneo

apresentasse um estado de equilbrio. Caso a primeira carga de exerccio

apresentasse um aumento claro na concentrao do lactato sanguneo ou o teste

fosse interrompido por exausto, as cargas seguintes seriam reduzidas.

O estudo de BENEKE (2003) demonstrou que mtodos distintos de

determinao do MLSS resultam em diferentes valores para o MLSS e para as

cargas relativas ao MLSS. Para o autor, numerosos estudos adotados para a

determinao do MLSS no consideraram adequadamente a cintica da

concentrao do lactato sanguneo durante testes prolongados com carga constante,

tanto por durao insuficiente dos testes, como negligncia do atraso na adaptao

da concentrao do lactato sanguneo a uma dada carga constante. Baseado nos

resultados do estudo, testes com cargas constantes com durao de pelo menos

trinta minutos e com aumento na concentrao de lactato sanguneo no maior do

que 1 mmol.l-1 depois do dcimo minuto, parecem ser mais eficazes com respeito

validade dos resultados testados.

4.1.2.2.2 Incio do acmulo do lactate sanguneo (OBLA)

A intensidade de exerccio que corresponde ao ponto onde o lactato

comea a crescer exponencialmente tem sido demonstrada como um bom preditor

de performance de corrida de endurance e tem sido referido como a intensidade de

exerccio no OBLA (SJODIN & JACOBS, 1981)

OBLA definido como a intensidade do exerccio em que o lactato

sanguneo atinge valores de 4 mmol.l-1 durante um teste com incremento de carga

(HECK et alii, 1985).

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22

O valor de limiar de 4 mmol.l-1 resulta das observaes que atletas de

endurance podem tolerar as cargas respectivas por longos perodos de tempo e que

cargas mais altas normalmente resultam em um aumento contnuo do lactato (HECK

et alii, 1985). Para BILLAT et alli (2003), a mdia da concentrao de lactato no incio

do acmulo do lactato sanguneo medido na populao de 4mmol.l-1.

Umas das razes para selecionar 4mmol.l-1 como a concentrao de

lactato associada ao OBLA o reconhecimento de que concentrao de 4mmol.l-1

de lactato muscular, a concentrao de lactato no msculo e a concentrao de

lactato sanguneo esto relacionados (SVEDAHL & MacINTOSH, 2003). Para

KARLSON e JACOBS (1982), quando a concentrao de lactato no msculo est por

volta de 4-5 mmol.kg-1 um plat atingido para a liberao e remoo de lactato.

OBLA tipicamente medido com um teste de exerccio de protocolo

incremental com subsequente interpolao para determinar a intensidade que

esperada para que ocorra os 4mmol.l-1 de lactato (SVEDAHL & MacINTOSH, 2003).

O atleta realiza um teste de exerccio incremental em que a carga aumentada em

intervalos regulares de 3 a 4 minutos. A concentrao de lactato sanguneo

determinada no final de cada intervalo e plotada contra a velocidade neste intervalo,

para se produzir o chamado perfil do lactato. O limiar anaerbio determinado em tais

testes incrementais demonstram grande correlao com o ritmo em provas de

endurance (HOPKINS, 1991). Segundo HECK et alii (1985), em testes de exerccios

incrementais, valores mdios de lactato de 4 mmol.l-1 para 5 min de intervalo e 3,5

para 3 minutos foram encontrados em cargas correspondentes a cargas do MLSS.

As concentraes de lactato sanguneo podem ser medidas durante

sesses normais de treinamento de ritmo constante, quando o objetivo caracterizar

ou acertar a intensidade de treino diretamente em termos de uma concentrao

especfica de lactato (HOPKINS, 1991).

Est bem estabelecido, que em relao s cargas de intensidades

relativas, indivduos treinados tm um OBLA tardio se comparado com sujeitos no

treinados. Baseado em estudos mais recentes, parece razovel especular que o

treinamento por si s no o nico fator a induzir um acmulo tardio de lactato, mas

uma maior quantidade de fibras tipo I dever ter uma vantagem neste caso. Algumas

outras caractersticas do msculo, alm do tipo de fibra, que podem estar associadas

com um OBLA tardio a densidade capilar, a capacidade respiratria muscular e as

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altas taxas de atividades das enzimas oxidativas em relao s glicolticas

(KARLSSON & JACOBS, 1982).

A vantagem de se usar os 4mmol.l-1 como critrio para se estimar o

OBLA que isto fornece uma avaliao objetiva do limiar de lactato. J o problema

em se usar concentraes fixas de lactato a insensibilidade para indivduos

fisiologicamente diferentes. Muitos fatores afetam a produo e distribuio pelo

corpo em exerccio. Como discutido anteriormente o estado de treinamento e a

disponibilidade de substratos, particularmente os estoques de glicognio (SVEDAHL

& MacINTOSH, 2003).

4.2 Teste de 20 m de ida-e-volta

O consumo mximo de oxignio (VO2max) reconhecido universalmente

como um dos melhores indicadores da capacidade para o trabalho de longa durao

(RIBEIRO & De ROSE, 1980). Para McNAUGHTON et alii (1996), o VO2max

alcanado quando o indivduo incapaz de consumir oxignio adicional mesmo com

um aumento da carga de trabalho durante teste progressivo. Para o autor, os testes

progressivos so usualmente realizados em esteira, bicicleta ou remo ergomtrico,

portanto reservados a ambientes de laboratrios, o que no permite testar um

grande nmero de sujeitos, necessitam de tcnicos treinados e demandam

equipamentos caros. STICKLAND, PETERSEN e BOUFFARD (2003) ainda

acrescentam que, alm dos problemas citados acima, os testes realizados em

laboratrio podem no ser apropriados para algumas aplicaes especficas, o que

tem levado a um aumento no interesse em testes preditivos que sirvam como

alternativas mensurao direta do VO2max.

Um dos testes mais conhecidos e usados, como alternativa

mensurao direta do VO2max, o teste de 12 minutos (KISS, 1987). Porm,

LGER e LAMBERT (1982) lembram que o teste de 12 minutos contrrio

tendncia de usar testes de multi-estgios em adultos j que um teste mximo do

incio ao trmino do perodo de 12 minutos.

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24

Segundo BAUMGARTNER e JACKSON, 1975 (citado por MECHELEN,

HLOBIL & KEMPER, 1986), as correlaes encontradas na literatura entre o teste de

12 minutos e o VO2max diferem largamente: r = 0,20 a r = 0,90. Os autores justificam

essa diferena lembrando que a performance no teste de 12 minutos altamente

influenciada pela motivao do indivduo e pela habilidade em controlar o ritmo ou a

velocidade de corrida.

Com o objetivo de testar a capacidade aerbia de grandes grupos a um

custo mnimo LGER e LAMBERT (1982) desenvolveram o teste mximo de corrida

de ida e volta de 20m de mltiplos estgios para predizer a potncia aerbia mxima

(VO2max) em adultos. O teste consiste em corrida de ida-e-volta entre duas linhas

afastadas 20 metros entre si. H uma rea de dois metros de fundo de cada lado. O

ritmo de corrida marcado por sinal sonoro, emitido por fita cassete pr-gravada e o

tempo anunciado a cada meio minuto de cada estgio (FIGURA 1).

O indivduo que realiza o teste instrudo a completar o mximo de

estgios possveis. O teste interrompido quando o indivduo no consegue

acompanhar o ritmo marcado pelo sinal sonoro: por exemplo, no consegue por trs

vezes seguidas alcanar a rea de fundo dos vinte metros.

FIGURA 1 - Representao esquemtica do teste de 20m de ida-e-volta

20 m2m 2m

___________________T.A. Baumgartner; A.S. Jackson. Measurement for evaluation in physicaleducation. Boston, Houghton Mifflin, 1975.

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25

Em sua primeira verso, os estgios comeavam com a velocidade de

8,5 km.h-1 com incremento de 1km.h-1 a cada 2 min at que o sujeito no pudesse

mais manter o ritmo de corrida. A velocidade mxima era usada para predizer o

VO2max (r=0,84). Posteriormente, no estudo de LGER e GADOURY (1989), o teste

foi validado para incremento de carga de 1 km.h-1 a cada 1 min, sendo segundo os

autores, mais fcil de administrar e mais motivante do que o incremento a cada 2

minutos.

Segundo McNAUGHTON et alii (1996) h duas verses para se estimar

o VO2max, a partir dos trabalhos de LEGER e LAMBERT (1982). Os autores

classificaram estas verses como a verso europia (ET) e a verso canadense

(CT). A diferena entre estas verses pequena, sendo a velocidade inicial na

verso europia de 8km.h-1 enquanto na verso canadense a velocidade inicial de

8,5 km.h-1.

No presente estudo, analisaremos a verso canadense, que foi validada

no trabalho de LGER, MECIER, GADOURY e LAMBERT (1988). Em seu estudo,

139 crianas e garotos, com idade entre de 6 e 16 anos, e 81 homens e mulheres,

com idade entre 20 e 45 anos, realizaram o teste de 20m ida-e-volta duas vezes,

com intervalo de uma semana, com o objetivo de testar a fidedignidade. O teste de

20m se mostrou fidedigno tanto para crianas (r=0,89) quanto para adultos (r=0,95).

No foi encontrada diferena significativa (P>0,05) entre teste e reteste. Em crianas

(at 16 anos), o VO2max pode ser predito a partir da velocidade mxima de corrida e

pela idade, utilizando-se a equao:

VO2max=31,025+3,238X1-3,248X2+0,1536X1*X2,

sendo X1 = km.h-1; e X2 = idade. Em adultos, o VO2max foi relacionado apenas

velocidade mxima com resultados similares para homens e mulheres, como

tambm para sujeitos abaixo e acima de 35 anos de idade., utilizando-se a equao:

Y= -24,4+6,0*X1 (X1= km.h-1).

O teste de 20m de ida-e-volta um teste de campo ideal para medir a

aptido cardiorespiratria. O teste possui um protocolo com incremento de

velocidade, o que est de acordo com o padro de sobrecarga para um teste de

VO2max. O mtodo de acompanhamento do resultado tambm fcil de administrar

e interpretar. Para aqueles cujos esportes envolvem freqentes paradas, sadas e

mudanas de direo, este teste parece ser mais especfico do que os testes de

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26

corrida contnua. Os problemas associados aprendizagem do ritmo so eliminados

j que o ritmo controlado por um sinal sonoro. Outra grande vantagem do teste de

20m de ida-e-volta a utilizao do mesmo protocolo para todas as idades, sendo

possvel fazer comparaes longitudinais e transversais (LEGER et alii, 1988; LIU,

PLOWMAN & LOONEY, 1992; MAHONEY, 1992; MECHELEN, HLOBIL & KEMPER,

1986).

4.3 Monitoramento da condio aerbia

Desde a dcada de 50, quando pela primeira vez se estabeleceu uma

relao clara entre a falta de exerccio e o risco de desenvolver doenas

coronarianas, o interesse em uma metodologia em que se possa quantificar a

atividade fsica diria das populaes tem aumentado (GLEESON & LAMBERT,

1998).

Segundo GILMAN (1996), a intensidade do treinamento crtica para a

performance do atleta. Porm, para HOPKINS (1991) pouca ateno tem sido dada

metodologia de quantificao de treinos. GILMAN (1996) ainda cita que um

programa de treinamento de baixa intensidade no melhorar a aptido aerbia,

enquanto um programa de treinamento muito intenso causara contuses ou

overtraining. Conforme descrito por LAMBERTS, LEMMINK, DURANDT e

LAMBERT (2004), assumindo-se que a F.C. uma dada carga submxima decresce

em funo da melhora da condio aerbia, uma F.C. elevada em uma dada

intensidade de exerccio submxima pode indicar um estado de overtraining ou falta

de condicionamento aerbio.

O monitoramento, como forma de se atingir o objetivo especfico da

sesso de treino e no incorrer nos erros acima citados, pode ser divido, em trs

formas usuais: questionrio retroativo e ou dirios, monitoramento fisiolgico e

observao diria (HOPKINS, 1991). Em seu estudo, o autor lembra que os

questionrios retroativos apesar de serem o mtodo mais barato e de fcil

entendimento por tcnicos e jogadores, apresentam como principal problema a

natureza subjetiva das medidas: as questes podem ser mal entendidas, as

respostas podem ser distorcidas com ou sem inteno ou o item a ser respondido

pode ter sido esquecido. Os dirios levam vantagem em relao aos questionrios, j

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que os dados so registrados com grande proximidade temporal. J o fato de ter que

registrar os treinos por longos perodos causa desinteresse por parte dos atletas.

Isso pode ocasionar registros simples e curtos.

O monitoramento fisiolgico se divide em dois grupos: aquele que produz

a medida integral ou parcial de um certo perodo de tempo e aquele que reproduz a

sesso de treinamento. Um grande nmero de variveis fisiolgicas muda durante o

exerccio, mas apenas o consumo de oxignio, freqncia cardaca (F.C.) e

concentrao de lactato tem sido usados para monitorar sesses em progresso.

4.3.1 Freqncia Cardaca

Muitas tentativas tm sido feitas para demonstrar a relao entre vrios

marcadores fisiolgicos submximos e de intensidade. Essas tentativas incluem o

monitoramento da F.C., a mensurao do lactato sanguneo e o pH, os valores de

equivalentes metablicos e a taxa de troca respiratria. Com particular relevncia

para a prescrio de exerccios para a populao est o uso dos marcadores

submximos de intensidade de exerccios, sendo que o monitoramento da F.C.

indiscutivelmente o melhor e mais seguro (HILLS, BYRNE & RAMAGE 1998)

A monitorao da F.C. provavelmente a metodologia mais usada para

a prescrio de exerccio em adultos saudveis e atletas (KARVONEN &

VUORIMAA, 1988). A sua importncia levou realizao em dezembro de 1997 da

Conferncia Internacional de Monitorao da F.C. e Exerccio, realizada na frica do

Sul (edio especial do Journal of Sports Sciences, 1998).

Como uma nova rea de investigao, VUORI (1998) indica como

principal objeto de estudo da monitorao da F.C., a caracterizao de maneira

quantitativa das relaes entre os estmulos, a atividade fsica nas suas mais

diferentes formas e o resultado favorvel ou no para a sade. Para o esporte,

KARVONEN e VUORIMAA (1988) classificam o uso da F.C. como o meio mais

usado para se estimar a intensidade do exerccio durante atividades realizadas fora

do laboratrio, j que fcil de ser aferida com o uso dos monitores cardacos

portteis, que permitem ao sujeito realizar seus exerccios livremente durante a

coleta de dados.

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Para VUORI (1998), a F.C. pode ser usada para estudos observacionais

e estudos de interveno. Como exemplo de estudos observacionais, a F.C. pode ser

usada como instrumento para medir e comparar a intensidade de tipos diferentes de

atividades fsicas para se estimar o esforo mximo cardiovascular, ou seja, o risco

cardiovascular. Em estudos de interveno, a F.C. pode ser usada para acessar,

monitorar e ajustar a zona alvo de treinamento para se assegurar a efetividade e a

segurana da atividade.

H, atualmente, na literatura muitos trabalhos nos quais a F.C. est

comumente ligada ao ndice de trabalho realizado pelo sujeito (COEN, URHAUSEN

& KINDERMANN 1996; GILMAN & WELLS, 1993; RAYSON, DAVIES, BELL &

RHODE-JAMES, 1995; SWAIN, ABERNATHY, SMITH, LEE & BUNN 1994;

WELTMAN, WELTMAN, RUTT, SEIP, LEVINE, KAISER & ROGOL,1989). A sua

relativa facilidade de aferimento permite encontrar um ndice significativo do trabalho

produzido e, posteriormente, pode constituir um exame indireto com relativa

aproximao dos processos metablicos intervenientes durante o esforo.

Segundo McARDLE, KATCH e KATCH (1992), para cada pessoa, a

freqncia cardaca e o consumo de oxignio tendem a se relacionar linearmente

durante grande parte da variao do trabalho aerbio. Se essa relao exata for

conhecida, a freqncia cardaca do exerccio poder ser utilizada para estimar o

consumo de oxignio, e a seguir computar o gasto energtico. Essa abordagem pode

ser usada quando o consumo de oxignio no pode ser medido durante a atividade.

Uma boa alternativa consiste em utilizar a freqncia cardaca para

classificar o exerccio em termos de intensidade relativa e para estabelecer um

protocolo de treinamento. Essa prtica se baseia no fato de o percentual do VO2max.

e o percentual da freqncia cardaca mxima de algum estarem relacionados de

maneira previsvel, independente do sexo, do nvel de aptido ou da idade. No

entanto, perto de cargas mximas a linearidade entre F.C. e VO2. nem sempre

encontrada (ASTRAND & RODAHL, 1980). Para McARDLE, KATCH e KATCH

(1992), neste caso, assumimos uma linearidade entre F.C. e carga de trabalho,

assim a F.C. refletir a carga de trabalho atual.

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Para GRANT e McMILLAN (2001 citado por SVENSSON & DRUST,

2003), pelo monitoramento de variveis fsiolgicas como a frequncia cardaca

durante testes incrementais, as intensidades de treinos podem ser pr-selecionadas

de acordo com os objetivos da sesso de treinamento. Tais procedimentos podem

ajudar na efetividade de estmulos isolados e em qualquer interveno.

A prescrio de treino baseada na F.C. relacionada a marcadores

metablicos com subseqente monitorao da F.C. deve permitir a treinadores e

tcnicos administrar pontualmente a intensidade de treino (GILMAN & WELLS,

1993).

4.3.1.1 Monitoramento de Freqncia Cardaca durante o jogo e o treino.

Os primeiros estudos que procuraram quantificar a carga fisiolgica

imposta em treinos e jogos s podiam gravar a freqncia cardaca (F.C.) antes e

depois da partida, o que segundo alguns autores (RAMSEY, AYOUB & DUDEK,

1970) no reflete a variao da F.C. durante a partida. Tecnicamente, os

equipamentos comumente usados eram considerados impraticveis e inconvenientes

para o sujeito. Somente com o desenvolvimento dos primeiros frequencmetros

portteis, no incio dos anos 80, que se tornou comum o uso da FC como indicador

da intensidade do exerccio em campo (ACHTEN & JEUKENDRUP, 2003).

Atualmente, com o avano tecnolgico no monitoramento da F.C. e os

testes de laboratrio, comum o uso da F.C. para medir a carga de trabalho imposta

durante os treinos e as partidas, sendo possvel o uso de monitores de F.C. tanto

para resposta imediata para o exerccio como para se armazenar e estudar

posteriormente os dados. Em esportes onde h contato, como o Futsal, importante

que o equipamento seja pequeno, leve e no oferea nenhum risco de dano ao

praticante (RHODE & ESPERSEN, 1988).

_________________S.GRANT; K.McMILLAN. The role of blood lactate response to sub-maximalexercise in the monitoring of aerobic fitness in footballers. Insight: The FA CoachesAssociation Journal, v.4, n.2, p.34-35, 2001.

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ALI e FARRALY (1991) encontraram como resultado, que o uso de rdio

de telemetria de curto alcance (como Sport Tester PE3000, ou equipamento similar)

permite uma medio realstica da carga fisiolgica em jogadores de futebol durante

as partidas. Os autores ainda recomendam o intervalo de 5 segundos para se gravar

a F.C. durante jogos e treinos. Esse intervalo fornece detalhadamente o

comportamento da F.C. durante a partida, j que a cada 5 segundos ou menos, h

uma mudana no tipo de deslocamento durante uma partida. Para os autores, o

intervalo de 5 segundos tambm consegue ser sensvel mudana no ritmo dos

deslocamentos. Contudo, segundo IMPELLIZERI, RAMPININI e MARCORA (2005),

a validade destas informaes, pode ser questionada pela natureza intermitente dos

treinos e performance no futebol. Para CHRISTMASS, RICHMOND, CABLE,

ARTHUR e HARTMANN (1998) a F.C. no reflete imediatamente as variaes na

intensidade durante o exerccio intermitente. ACHTEN e JEUCKENDRUP (2003)

ainda complementam que em ralao mudanas rpidas nos exerccios, de baixa

para alta intensidade (e vice-versa), a resposta da F.C. ocorre de forma mais lenta, o

que segundo os autores, levaria a um pequeno erro quando a F.C. usada para

predizer o gasto energtico ou predizer o VO2max. durante atividades intermitentes.

CHRISTMASS et alii (1998) ainda acrescenta que fatores como estresse emocional e

o acmulo de metablitos podem alterar a relao F.C./ VO2.

Mesmo com os problemas metodolgicos apresentados acima, alguns

autores (DEUTSCH, MAW, JENKINS & REABURN 1988; GILMAN, 1996; GILMAN &

WELLS 1993) recomendam a subdiviso da F.C. gravada para se determinar o

tempo gasto acima ou abaixo do limiar de lactato, lembrando-se que como a

intensidade do exerccio est associada com o lactato sanguneo, a correlao entre

o lactato e a F.C. pode ser usada para se estimar a solicitao fisiolgica durante o

jogo. Esta subdiviso expressa pela porcentagem da F.C. mxima. DEUTSCH et

alii (1988) dividem a F.C. em quarto zonas de treinamento (TABELA 3):

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TABELA 3- Zonas de treinamento determinadas pela subdiviso da F.C. mxima(DEUTSCH et alii, 1988).

Mxima > 95% F.C. Mxima

Supra Limiar 85-95% F.C. Mxima

Limiar Anaerbio 75-84% F.C. Mxima

Sub- Limiar

32

4.4 Validade

O progresso em uma rea est estritamente ligado eficincia dos

instrumentos de medida. A existncia de instrumentos eficientes merece

considerao quanto sua validade e fidedignidade. A validade refere-se extenso

que um instrumento mede o que se prope a medir (SAFRIT & WOOD, 1995). Um

teste, portanto, vlido quando mede o que diz que mede. A fidedignidade ou

confiabilidade, por outro lado, refere-se extenso a qual o instrumento

consistente, ou seja, nas mesmas condies oferece resultados semelhantes.

A validade da medida indica o grau no qual o teste, ou instrumento,

mede o que se espera o que ele supostamente deva medir. Assim, validade refere-se

segurana da interpretao de um teste, que a mais importante considerao em

medio (THOMAS & NELSON, 2002).

A validade poder ser dividida em vrios tipos diferentes: validade

relacionada ao contedo, validade relacionada ao critrio e validade relacionada

construto (MORROW JUNIOR, JACKSON, DISCH & MOOD, 2003). As medidas

utilizadas em estudos de pesquisa so frequentemente vlidas contra algum critrio.

A validade relacionada ao critrio, baseia-se na existncia de uma

medida de critrio verdadeira disponvel. A validade a evidncia de que um teste

possui uma relao estatstica com a prova que est sendo medida. Para validar um

teste de VO2max, em algum momento, os sujeitos devem completar o teste de

critrio (golden standard) e o teste a ser utilizado para estimar o critrio. Se um forte

relacionamento descoberto entre o critrio e o teste alternativo, os sujeitos no

precisam completar a medida de critrio, mas podem ter o seu valor no critrio

estimado a partir da medida alternativa, ou medida substituta (MORROW JUNIOR et

alii, 2003).

A validade de critrio utilizada em dois contextos principais: validade

concorrente e validade preditiva.

A validade de predio refere-se extenso a qual o teste prediz futuros

desempenhos de indivduos. Um teste tem validade para predizer quando,

efetivamente, indica como o objetivo em estudo desenvolver no futuro uma outra

tarefa ou incumbncia. Este tipo de validade muito importante para testes que so

usados com o propsito de selecionar e classificar (SAFRIT & WOOD, 1995;

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THOMAS & NELSON, 1990). A validade preditiva envolve o uso de um critrio a ser

predito. Frequentemente o critrio algum comportamento posterior, por exemplo, os

exames de vestibular so utilizados para predizer o sucesso posterior (THOMAS &

NELSON, 2002).

A validade concorrente refere-se relao entre escores de um

instrumento e o critrio disponvel ao mesmo tempo. Na validade de predio, a

relao feita entre escores individuais em um teste e o desenvolvimento do

indivduo em uma funo determinada posteriormente, enquanto na validade

simultnea, aps localizar-se um critrio aceitvel e contemporneo, o instrumento

sob estudo correlacionado com o mesmo. A validade concorrente um processo

que no depende de acompanhamento do objeto em estudo, nem da

complementao de um programa. , portanto, mais acessvel em relao ao tempo,

visto que os resultados podem ser obtidos simultaneamente (SAFRIT & WOOD 1995;

THOMAS & NELSON, 1990). A validade concorrente envolve um instrumento de

medida sendo correlacionado com algum critrio que administrado quase que ao

mesmo tempo (concorrentemente). A validade concorrente usualmente empregada

quando os pesquisadores desejam substituir um critrio que difcil de medir por um

teste mais curto e mais facilmente administrado (THOMAS & NELSON, 2002). A

escolha do critrio crtica no mtodo da validade concorrente. Tudo o que as

correlaes podem determinar o grau de relao entre uma medida e o critrio. Se

o critrio inadequado, ento o coeficiente de validade concorrente de pouca

importncia (THOMAS & NELSON, 2002).

Uma limitao de tais estudos que a validade tende a diminuir quando

a frmula de predio utilizada com uma nova amostra. O problema que as

correlaes so nicas para a amostra e quando os resultados so aplicados a outra

amostra (mesmo se for similar primeira), nem sempre a relao sustentada.

Consequentemente, o coeficiente de validade diminui substancialmente (THOMAS &

NELSON, 2002).

Uma parte importante da validade a fidedignidade, que diz respeito

consistncia, ou possibilidade da repetio de uma medida. Um teste no pode ser

considerado vlido se no for fidedigno. Em outras palavras, se o teste no for

consistente se no se pode confiar que testes sucessivos produzam os mesmos

resultados - ento no se pode confiar no teste. Um teste deve primeiro ser

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reprodutvel, para ento ser vlido, para verdadeiramente medir o que ele pretende

medir (MORROW JUNIOR et alli, 2003).

4.5 FUTSAL

Como citado anteriormente, o Futsal, modalidade coletiva de

colaborao e oposio, se caracteriza por perodos de alta intensidade e curta

durao, intercalados com perodos de baixa intensidade e pausas incompletas, que

no permitem recuperao completa (MEDINA et alii, 2002)

A elaborao de um modelo de treinamento especfico nos esportes de

equipe requer uma anlise das exigncias fsicas, fisiolgicas e energticas impostas

na competio. Partindo de seus conhecimentos, pode-se estabelecer programas

adequados dirigidos para as qualidades condicionais especiais, propondo um

processo de treinamento rigoroso, cientfico e adaptado s necessidades da

modalidade (ALVAREZ, 1998).

Quanto s exigncias fsicas citadas anteriormente, para REILLY

(1997), a intensidade do exerccio durante a partida de futebol pode ser indicada pela

distncia total coberta por cada jogador. Outros autores (REILLY & THOMAS, 1976;

PLISK, 1991) lembram que o perfil das atividades em partida serve para indicar,

ainda que indiretamente, o sistema energtico e a demanda fisiolgica predominante

em competio. REILLY (1997) lembra que a atividade poder ser classificada de

acordo com o tipo de ao ou movimento, intensidade (qualidade), durao

(distncia) e frequncia.

Segundo ARAJO, ANDRADE, FIGUEIRA e FERREIRA (1996) os

jogadores de futsal percorrem uma distncia total de 4300 a 4900m por jogo, sendo

que para esse total percorrido, dividindo-se por posio, temos a seguinte

distribuio: fixo: 4.494 m; ala: 4877 m, piv: 4304 m. Outros estudos tambm tem

demonstrado o total percorrido por jogadores de futsal durante a partida (TABELA 4).

As diferenas na tcnica utilizada para mesurar o deslocamento em partida e a

diferena nos nveis das equipes podem explicar a variao nos valores encontrados.

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TABELA 4 - Distncia percorrida durante a partida (metros)

Fixo Ala Piv

ARAJO et alii (1996) 4.494 4.877 4.304

MOLINA (1996) 1.940 3.042 1.967

MORENO (2001) 6.014,17 7.876,97 5.893,15

O tempo mdio de permanncia em quadra de aproximadamente 30

minutos (MOLINA, 1996), e as diferentes formas de deslocamento (andando, costas,

trote e corrida) so mostradas na TABELA 5.

TABELA 5 - Valores de distncia percorrida em partida por jogadores de Futsal em

funo das posies.

Posio Total Andando%Costas

%Trote

%Corrida

%Fixo 4.494 m 24,0 23,0 12,6 40,1

Ala 4.877 m 20,1 12,2 13,6 53,9

Piv 4.304 m 26,3 25,2 14,4 33,9

*Fonte: ARAJO et alii (1996)

Como demonstrado anteriormente pelo estudo de MORENO (2001), 88%

das atividades so de predominncia aerbia, sendo que para SANCHEZ,

HERNANDEZ, MARTIN e CABEZON (2005), h uma aleatoriedade na ocorrncia

dos esforos fsicos durante o jogo, que exigem do atleta a capacidade de mobilizar,

de maneira imediata, grandes quantidades de energia, assim como manifestar uma

tima resistncia para recuperar-se destas cargas de trabalho e manter um nvel de

rendimento de acordo com as demandas competitivas.

Quanto s respostas fisiolgicas e energticas, para REILLY (2005), as

respostas fisiolgicas ao jogo incluem o monitoramento de variveis metablicas

(como consumo de oxignio, acmulo de lactato sanguneo, glicose e a utilizao de

cidos graxos), respostas termoreguladoras, metablitos circulantes e concentraes

hormonais. Para HOPKINS (1991) um grande nmero de variveis fisiolgicas muda

durante o exerccio, mas apenas o consumo de oxignio, freqncia cardaca e

concentrao de lactato tm sido usados para monitorar sesses em progresso.

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36

Segundo MEDINA et alii (2002), os jogadores de Futsal, apresentam

valores mdios de F.C. de 165 10 bpm com valores mximos e mnimos de 181 e

141 bpm, respectivamente. O autor encontrou, ao relacionar a F.C. mdia dos

jogadores, com suas F.C. mximas, valores entre 80-90% da F.C. mx. J

ALVAREZ, VERA e HERMOSO (2004) encontraram valores um pouco maiores,

sendo a F.C. mx. mdia 192 1 bpm, F.C. mdia 172 4 bpm e F.C. mnima de

119 11 bpm. O autor encontrou ao relacionar a F.C. mxima individual com a F.C.

mdia valores de 89,5% da F.C. mx.

Para ALVAREZ, VERA e HERMOSO (2004), que pese o carter

intermitente dos esforos no futsal, frequncias cardacas mdias to altas,

superiores do que as da maioria das modalidades esportivas coletivas, indicam

elevadas exigncias do componente cardiovascular requerido pela competio. Para

HOFF (2005), a mdia de frequncia cardaca entre 80 e 90 % da frequncia

cardaca mxima, representa uma mdia de intensidade prxima intensidade do

limiar anaerbio.

J em relao ao lactato sanguneo, os jogadores apresentaram no

primeiro tempo, concentrao mdia de 4,5mmol.l-1 e 3,8mmol.l-1 no segundo tempo

(MOLINA et alii, 1996).

Apesar dos sprints repetitivos, das disputas de bola, chutes e trocas de

sentido estarem vinculados a exerccios anaerbios, quase toda atividade realizada

durante o jogo emprega o metabolismo aerbio, sendo ento uma boa potncia

aerbia o requisito bsico para se obter um alto rendimento no jogo. Quanto melhor

desenvolvido, de forma mais econmica se efetuar a sntese de (ATP-CP), que

representam as fontes de energia mais decisivas nos exerccios de jogos

intermitentes. Uma boa capacidade aerbia assegura desta forma, um nvel de

esforo timo, com uma regenerao, recuperao e no menos importante

resistncia ao esforo. Quanto mais alto o limiar anaerbio, mais alto ser o ritmo

mdio de jogo que se poder manter ao largo da partida (MEDINA et alii, 2002).

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5 MATERIAL E MTODOS

5.1 Populao e Amostra

Para este estudo, considerou-se como amostra: nove jogadores de

Futsal das categorias infanto e juvenil, nvel nacional, participantes dos

campeonatos srie Ouro da Federao Paulista de futsal em 2005.

5.1.2 Critrios de incluso

- Sexo masculino.

- Idade entre 16 e 20 anos.

- Ser atleta devidamente registrado pela equipe (nvel nacional) em 2005.

5.2 Coleta de Dados

Aps leitura e assinatura do termo de consentimento, os atletas

compareceram no Laboratrio de Desempenho Esportivo da Escola de Educao

Fsica da Universidade de So Paulo para realizarem as baterias de testes propostos

a seguir:

5.2.1 Medidas antropomtricas

Foram consideradas: Massa corporal, estatura, espessuras de dobras

cutnea tricipital, subescapular, supra-ilaca, abdominal, panturrilha (LOHMAN,

1992).

Espessura de dobra cutnea tricipital: Com o avaliado em p, brao

relaxado ao longo do corpo, a espessura foi medida na parte posterior do brao, no

ponto que se situa no meio da medida entre o acrmio e o olcrano, sendo a medida

feita no eixo longitudinal do corpo.

Espessura de dobra cutnea subscapular: Com o avaliado em p,

ombros relaxados e braos ao lado do corpo, a espessura da dobra cutnea foi

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medida a dois centmetros do ngulo inferior da escpula, sendo obtida obliquamente

ao eixo longitudinal, seguindo a orientao dos arcos costais.

Espessura de sobra cutnea supra-ilaca: Com o avaliado em p, em

postura ereta e de lado para o avaliador, o avaliado afastava levemente o brao

direito para trs, tendo sido ento a medida realizada no sentido oblquo, a dois

centmetros da crista ilaca ntero-superior na altura da linha axilar anterior.

Espessura de dobra cutnea abdominal. O avaliado se em p, postura

ereta. A espessura foi determinada a aproximadamente dois centmetros direita da

borda lateral da cicatriz umbilical, paralelamente ao eixo longitudinal.

Espessura de dobra cutnea da panturrilha medial: Com o avaliado na

posio sentada, perna e coxa direita formando um ngulo de 90o, sem apoiar o p

direito no cho. A dobra foi tomada ao nvel da maior circunferncia longitudinal da

perna.

Para o estudo do comportamento da gordura corporal nos atletas, este

estudo optou por utilizar o mtodo de somatria de dobras: somatria de dobras

cutneas tricipital e panturrilha medial (gordura subcutnea de membros) e somatria

de dobras cutneas subescapular, supra ilaca e abdominal (gordura subcutnea de

tronco (GAGLIARDI, 1996)

5.2.2 Teste escalonado na esteira com coleta de sangue para determinao

da V3,5 Protocolo de HECK et alli (1985)

5.2.2.1 Procedimentos e explicaes

Antes do incio do teste, foi feita a coleta de sangue do lbulo da orelha

direita para avaliar a concentrao do lactato sanguneo em repouso. Para a anlise

do lactato, foi utilizado o aparelho Yellow Spring 1500 .

Foram feitos registros de eletrocardiograma em repouso e em esforo

(micromedics com 12 derivaes), para anlise do traado eletrocardiogrfico e

critrio de prosseguimento do teste de esforo.

O teste foi composto por uma caminhada de 5 minutos na velocidade 6

km.h-1 a 1% de inclinao para acomodao do atleta na esteira (InbraSport -

SUPER ATL) e para aquecimento.

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Aps o aquecimento foi utilizado um protocolo progressivo, com

velocidade inicial de 6 km.h-1 com incrementos de 1,2 km.h-1 a cada trs minutos e

com uma inclinao constante de 1% at alcanar a exausto do atleta,

caracterizando-se como teste mximo.

O critrio utilizado como identificao do teste mximo, alm da

manifestao de fadiga relatada pelo atleta e da concentrao de lactato sanguneo

maior que 8 mmol.l-1.

Durante a aplicao do teste foram feitos registros eletrocardiogrficos,

coleta de amostras de sangue arterializado do lbulo da orelha direita para avaliar a

concentrao do lactato sanguneo aps cada intervalo de carga.

5.2.3 Teste de 20 m de ida-e-volta escalonado

Na quadra de futsal, os atletas realizaram teste de potncia aerbia

teste de 20 m de ida e volta (LGER & LAMBERT, 1982) adaptado com estgios

de trs minutos, velocidade inicial de 8,5 km.h-1 com incremento de 1,0 km.h-1 a cada

trs minutos. Durante a aplicao do teste foram feitos registros dos batimentos

cardacos pelo frequencmetro da marca Polar , coletas de amostras de sangue

arterializado do lbulo da orelha direita para avaliar a concentrao do lactato

sanguneo aps cada intervalo de carga. Foram feitas coletas de sangue no primeiro,

terceiro e quinto minutos aps o trmino do teste.

5.2.4 Teste retangular para determinao da MLSS

Aps a determinao da V3,5 no teste de 20 m de ida e volta adaptado,

foi realizado teste retangular nessa velocidade, em quadra (20 m ida e volta), para a

verificao da VMSSL. Os atletas realizaram testes de 30 minutos com a velocidade

correspondente V3,5 (determinada no teste de 20 m de ida e volta). A

determinao da VMSSL seguiu a definio de BENEKE et alii (2003), na qual o

MLSS atingido quando a concentrao sangunea de lactato varia menos do que 1

mmol.l-1 durante os 20 minutos finais. Como houve variao maior que 1 mmol.l-1 de

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lactato, os atletas realizaram o mesmo teste, porm em carga inferior, at encontrar

valores de variao menores que 1 mmol.l-1.

6. ESTATSTICA

Foi realizada a anlise descritiva para frequncia cardaca, concentrao

de lactato, peso, estatura, somatria de dobras cutneas de tronco, somatria de

dobras cutneas de membros, velocidades mximas e velocidades de limiar

atingidas no teste de esteira e teste de quadra. Foram calculadas as velocidades no

limiar e as velocidades de MLSS. Para as mesmas variaveis, foi realizada a

correlao de Pearson entre os dados de esteira e quadra (FC esteira x FC quadra;

[LA] esteira x [LA] quadra).

A validade da determinao da V3,5 no Teste de 20 m de ida-e-volta foi

realizada estatisticamente atravs da correlao dos resultados obtidos no teste

retangular com as velocidades do teste de MLSS.

Foi feito ANOVA com medidas repetidas para comparao entre as

intensidades de limiares no teste de quadra, limiares no teste de esteira e no MLSS.

7 RESULTADOS

A seguir so apresentados os resultados, divididos da seguinte forma: 1

anlise descritiva e, 2- correlaese comparaes.

1-Anlise Descritiva

Foram sujeitos deste estudo nove jogadores de Futsal (17 1 anos,

71,56 6,73 kg, 175,56 5,36 cm) (ANEXO VI).

Na TABELA 6 encontram-se os valores mdios e desvio padro, valores

mximos e mnimos referentes s variveis somatria de dobras cutneas de tronco

e somatria de dobras cutneas de membros, observadas nos jogadores de Futsal

categorias infanto e juvenil (ANEXO VII).

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TABELA 6 - Valores mdios, desvio padro, valores mximos e mnimos referentess variveis somatria