1 danÇa circular nas aulas de educaÇÃo fÍsica · a dança nasceu no começo de todas as coisas;...

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DANÇA CIRCULAR NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA : uma possibilidade de

interação social1

Autora: Vera Maria Dotti Marini2

Orientadora: Vânia Rosczinieski Brondani3

Resumo

A Dança é um conteúdo da Educação Física, porém quando apresentado aos alunos provoca inquietação. Por medo de se expor e ser ridicularizado pelos colegas, por acreditar que não conseguirá fazer ou por preconceito, alguns alunos se recusam a participar, outros a praticam por obrigação e poucos a realizam por prazer, gerando um complicado problema para o professor em questão. Diante desta situação, a Dança Circular despertou nosso interesse investigativo, porque além de desenvolver os aspectos físicos, mentais e emocionais dos sujeitos de forma integral, potencializa a concepção de grupo, em que todos são incluídos em um clima de cooperação e respeito. O presente estudo teve como objetivo proporcionar a vivência em Dança Circular como forma de estimular o aluno para a prática da Dança e promover a interação social. A metodologia foi pautada na pesquisa-ação, desenvolvendo uma proposta didática teórica e prática com 13 aulas de Dança Circular, envolvendo alunos de uma turma de 8ª série do Ensino Fundamental, com idade entre 13 a 15 anos, do Colégio Estadual Carlos Gomes – EFM, de Pato Branco – PR. Ao final, foram percebidas mudanças significativas no comportamento do grupo envolvido, o que nos leva a crer que a Dança Circular é um valioso instrumento a ser desenvolvido nas aulas de Educação Física, possibilitando ao aluno um novo olhar em relação ao conceito de Dança.

Palavras chave : Dança Circular; Aulas de Educação Física; Interação Social.

1 Artigo apresentado ao Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE da Secretaria de Estado da Educação – SEED, Superintendência da Educação – SUED.Curitiba, Paraná, junho, 2012.

2 Graduada em Educação Física pela Universidade de Caxias do Sul - RS (UCS), Professora de Educação Física do Ensino Fundamental e Médio do Colégio Estadual Carlos Gomes de Pato Branco - PR.

3 Professora Orientadora, Mestre em Educação pela Universidade de Passo Fundo – RS (UPF), Bacharel e Licenciada em Educação Física pela Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – UNIJUÍ, Professora Colaboradora da Universidade Estadual do Centro-Oeste –(UNICENTRO) – Guarapuava/PR.

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Introdução

A Dança é inerente ao homem nas suas mais diversas manifestações e por

isso, ao ser desenvolvida no espaço escolar, é uma proposta que facilita as

transformações do sujeito e do meio em que ele está inserido.

Dançando é possível Educar e Educar-se, utilizando os recursos do movimento e da música. A dança é portanto, elemento fundamental para Formar e Informar o individuo, pois desperta nele a possibilidade de crescer em interação Consigo Mesmo, com o Outro e com o Meio (SAMPAIO, 2002, p.96).

Quando trabalhada como conteúdo nas aulas de Educação Física, a Dança

pode levar o aluno a novas descobertas no plano físico, mental, emocional e

espiritual, de forma integral, ampliando o seu referencial de mundo.

Se em todas as etapas do homem – desde a primitiva até nossos dias - o movimento e a dança formam parte de uma necessidade motriz e espiritual, é na adolescência que essas manifestações são sentidas como imprescindíveis: com efeito, os ritmos do crescimento físico e psíquico desequilibram muitas vezes a possibilidade de um bom encontro do adolescente com o seu corpo. Podendo expressar-se através dele com a dança, se pode obter equilíbrio nesta etapa (FUX,1983, p.84).

Ao ser apresentada na escola, como um conteúdo da Educação Física, a

Dança provoca inquietação no aluno. Por medo de se expor e ser ridicularizado

pelos colegas, por acreditar que não conseguirá fazer ou por preconceito, alguns

alunos se recusam a participar da aula, outros a praticam por obrigação, gerando

com isso um complicado problema para o professor resolver. Assim, emerge o

problema por este estudo abarcado: como estimular o aluno para a prática da

Dança?

Dentre as modalidades de Dança que fazem parte das Diretrizes Curriculares

para a Educação Básica do Estado do Paraná, a Dança Circular despertou nosso

interesse porque possibilita um trabalho pedagógico escolar de interação e

socialização, revelando um entendimento sobre o corpo dissociado dos aspectos de

seleção e competição, estimulando o aluno para a prática da Dança. Além de

desenvolver os aspectos físicos, mentais e emocionais nos indivíduos, potencializa a

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concepção de grupo, em que todos são incluídos em um clima de cooperação e

respeito.

Por meio da Dança Circular o sujeito passa a compreender que é parte

importante no todo e que deve fazer a sua parte para acompanhar o ritmo desta

totalidade. Isso cria a compreensão de grupo, onde cada um é um líder em

potencial, pois o seu movimento se reflete no movimento do outro. Com essa

prática, estaremos contribuindo para despertar no aluno valores e sentimentos que

trarão benefícios pessoais e para a sociedade.

Para a conscientização dos benefícios que a Dança institui no ser humano,

elaboramos uma unidade didática composta por 13 aulas de Dança Circular,

orientada pelos princípios da pesquisa-ação, a qual foi implementada no Colégio

Estadual Carlos Gomes – EFM, envolvendo os alunos de uma 8ª série do Ensino

Fundamental.

Pelo relato final dos alunos e com as constantes observações e anotações

diárias, os resultados obtidos com a implementação foram além dos esperados, o

que no início provocava inquietação, ao final da aplicação era desenvolvido com

tranquilidade e naturalidade.

A Dança no Âmbito Cultural

A Dança desde a antiguidade sempre esteve presente no viver humano,

expressando seus anseios e sentimentos.

A dança é um modo de existir. Não apenas um jogo, mas celebração, participação e não espetáculo, a dança está presa à magia e à religião, ao trabalho à festa, ao amor e à morte. Os homens dançaram todos os momentos solenes de sua existência: a guerra e a paz, o casamento e os funerais, a semeadura e a colheita (GARAUDY, 1994, p.13).

É no interior desse conjunto de ideias que Garaudy (1994) define a Dança.

Podemos ressaltar ainda resumidamente uma de suas considerações deveras

pertinentes: “Dançar é vivenciar e exprimir, com o máximo de intensidade, a relação

do homem com a natureza, com a sociedade, com o futuro e com seus deuses”

(p.14).

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Na índia, a Dança de Shiva tem por tema a atividade cósmica. É um Deus

dançarino que irradia o seu poder no espírito e na matéria, e os arrasta, por sua vez,

para a Dança. Essa Dança exprime as cinco atividades divinas:

- A criação do mundo: neste ritmo o universo nasceu e se expande;

- A manutenção deste universo: o equilíbrio do cosmo só se conserva pelo

ritmo da Dança;

- A destruição: as formas se destroem para que outras possam nascer

infinitamente;

- A reencarnação: a Dança mostra o percurso através de diversas vidas, para

além das ilusões de existências limitadas;

- A salvação: libertação última pela qual cada um toma consciência do que é

por toda a eternidade (p.15).

A Dança é então um modo total de viver o mundo: é, a um só tempo,

conhecimento, arte e religião.

A Dança nasceu no começo de todas as coisas; aparece no coro das

constelações, no movimento dos planetas e das estrelas, nas rondas e evoluções

que traçam no céu e em sua ordem harmônica.

Quando Atenas era apenas uma aldeia de agricultores, todo o trigo era levado

à praça para a debulha e as uvas para a pisa. O trigo era debulhado sobre uma eira

de pedra. Os cachos de uvas acumulados em enormes lagares para serem

esmagados com os pés. Para tornar-se mais coordenado e eficaz, o movimento se

fez rítmico, os pisadores deslocavam-se em ritmo, formando uma ronda ritmada por

seus próprios cantos e dança.

Desde a origem das sociedades, é pelas danças e pelos cantos que o homem

se afirma como membro de uma comunidade que o transcende. Em cada

organização coletiva de trabalho a comunidade se realiza, e se realiza de maneira

rítmica. A força do grupo, uma vez coordenada e ritmada, mostra-se superior à soma

das forças individuais dos participantes. É a conhecida sinergia, em que a força da

somatória dos participantes é muito maior do que a força individual. Isso se

evidencia na Dança do Xamã que pode curar o indivíduo insuflando-lhe a vida maior

do Todo, na Dança de Guerra para inspirar naqueles que vão para o combate, o

sentimento de coesão interna de seu destacamento ou no bater rítmico dos

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tambores para a Dança da Chuva ou da Colheita, dentre centenas de outros motivos

para a Dança.

Na China do século VI, Confúcio dizia: “mostrem-me como dança um povo e

eu lhes direi se sua civilização está doente ou tem boa saúde” (p.20).

A Dança tem por objetivo captar a força viva sobrenatural que nasce dos

esforços ritmados do grupo. É um condensador de energia. Nela se afirma e se

constitui a unidade do homem e de seu meio, do indivíduo e do grupo, do corpo e do

espírito.

Toda Dança implica participação. Acompanhamos com os movimentos de

nosso próprio corpo. Mostra-nos a unidade de todo movimento do corpo com um

movimento psíquico, isto é, que o físico e o espiritual não são dois domínios

separados, mas dois aspectos de uma mesma realidade.

A história da Dança nos mostra que as tribos dançavam para brincar, para

pedir e agradecer, para celebrar, enfim para representar as suas crenças e

emoções, contando a sua história e tradições, que passavam de geração para

geração, informando e educando as gerações seguintes. A Dança educava o corpo

para a vida em comunidade, uma educação que envolvia a tudo e a todos com

significados e valores.

Com o passar do tempo, o homem evoluiu e modificou sua forma de viver,

com isso a Dança também passou a ter outro sentido e outro significado, tornando-

se um vasto universo com muitas técnicas e perspectivas que podem ser exploradas

por meio de repertórios folclóricos, populares, clássicos e contemporâneos.

O homem evolui e com ele a dança, tanto em seu conceito como na própria ação de mover-se e no desenho espacial. Esta forma vai revelando, através da história, a mutação social e cultura e a relação do homem com a paisagem, marco geográfico que lhe impõe distintos modos de vida (OSSONA, 1988, p. 43).

Atualmente, vivemos em uma sociedade em que a Dança é sistematizada,

automatizada, reproduzida e competitiva, onde há vencedores e vencidos, portanto a

transmissão e o desenvolvimento dos valores educativos, formativos e informativos

torna-se cada vez mais complexo.

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A Dança na Educação Física Escolar

Como a Dança é uma arte de expressão que sugere ação e se exprime pelo

movimento do corpo de forma significativa, deve ser abordada de forma especial no

espaço escolar. Por meio dela podemos superar limites, diferenças corporais e

sociais. Entendemos que

a dança pode se constituir numa rica experiência corporal, que possibilita compreender o contexto em que estamos inseridos. É a partir das experiências vividas na escola que temos a oportunidade de questionar e intervir, podendo superar os modelos pré-estabelecidos, ampliando a sensibilidade no modo de perceber o mundo (SARAIVA citado pelas DCEs EDUCAÇÃO FÍSICA, 2008, p.70).

Ao ensinar Dança na escola, por ser ela uma manifestação da cultura

corporal, devemos estar atentos para que o ato expressivo não se confronte com o

ato técnico, portanto:

Na dança são determinantes as possibilidades expressivas de cada aluno, o que exige habilidades corporais que, necessariamente, se obtém com treinamento. Em certo sentido, esse é o aspecto mais complexo do ensino da dança na escola: a decisão de ensinar gestos e movimentos técnicos, prejudicando a expressão espontânea, ou de imprimir no aluno um determinado pensamento/sentido/intuitivo da dança para favorecer o surgimento da expressão espontânea, abandonando a formação técnica necessária à esta expressão (COLETIVO DE AUTORES, 1992, p.82).

A Dança, como conteúdo da Educação Física, possui papel muito importante

no modo de expressão integral do sujeito. Tem o compromisso de ampliar as

vivências corporais e a visão de mundo do aluno, dando-lhe oportunidade de ser

crítico e criativo.

A dança na perspectiva escolar, não objetiva o rendimento técnico, a execução perfeita do gesto, mas deve ser vista como elemento que contribui para a reflexão e a crítica. Isto não significa ser contrário ao ensino da técnica ou tão pouco negá-la, não a ensinando. É importante a aprendizagem das mais variadas possibilidades de movimentos e esses também podem ser aprendidos por meio de técnicas. Mas também é preciso “ler”, analisar, comentar e criticar as mensagens simbólicas, os significados que estão impregnados e permeiam os aspectos da dança (COLETIVO DE AUTORES, 2006, p.205).

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Como a Dança é um meio de aprendizagem e quando trabalhada como

conteúdo educativo, não pode reforçar os modismos que geralmente são lançados

pela mídia com objetivos comerciais. Todavia, o educador não pode omitir ou

ignorar a existência dela, mas deve despertar no educando o senso crítico sobre

eles.

A escola pode, sim, fornecer parâmetros para a sistematização e apropriação crítica, consciente e transformadora de conteúdos específicos da dança e, portanto, da sociedade. A escola teria, assim, o papel não de “soltar” ou de reproduzir, mas sim de instrumentalizar e de construir conhecimento em / por meio da dança com seus alunos, pois ela é forma de conhecimento, elemento essencial para a educação do ser social ( MARQUES,2005, p.23).

Assim sendo, a Dança interage na realidade escolar, buscando o

desenvolvimento contínuo e integral do educando nas áreas cognitiva, motora e

afetiva, de forma a prepará-lo para o mundo que o envolve.

Para que se possa compreender e desfrutar estética e artisticamente a dança, portanto é necessário que nossos corpos estejam engajados de forma integrada com o seu fazer-pensar. Essa é uma das grandes contribuições da dança para a educação do ser humano – educar corpos que sejam capazes de criar pensando e re-significar o mundo em forma de arte (MARQUES, 2005, p.24).

Nesse contexto a Educação Física assume o papel de ser uma disciplina que

visa desenvolver a prática de atividades físicas para uma vida saudável, que inicia

dentro do ambiente escolar e que continua fora dele.

A Dança por sua vez trata-se de uma atividade física completa e complexa,

diferente, no entanto, de outras atividades físicas, porque os movimentos e o ritmo

musical são desenvolvidos simultaneamente.

A dança é simplesmente vida intensificada e, com isto, delimita contra outros movimentos rítmicos atribuído as áreas de esporte e ginástica, assim como a todos os trabalhos. A dança se comunica do ponto onde a respiração, a representação, a imagem e a vivência onírica afloram e se tornam criativas (WOSIEN, 2000, p. 26).

A Dança surge como uma prática diferente no espaço escolar, muito

importante e proveitosa para o desenvolvimento integral do aluno, porque se

apresenta como um meio pedagógico ideal, assim como infere Wosien:

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A dança oferece, aplicada pedagogicamente no sentido correto, o desenvolvimento do movimento, do espaço de execução do movimento, do ritmo, da ordem, da expressão da música e do movimento, da referência espacial, da referência do eu e do parceiro, da referência da comunidade, num plano mais elevado do ser. Um fazer, portanto, não no sentido usual objetivado, mas, sim, pleno de sentido e destacado do quotidiano, no sentido do festivo e, com isso, direcionado para o próprio ser. O professor de dança deveria, basicamente, evitar ensinar a sua dança com o livro em sua cabeça. Música, coreografia e a linguagem da aula deveriam formar uma unidade, pois, no sentido de uma ação, a dança é menos pedagogia (como uma disciplina científica), mas, sobremaneira, formação humana (WOSIEN, 2000, p.65).

Num contexto global a Dança oferece ao aluno a oportunidade de

desenvolver e aprimorar a capacidade física e intelectual, que vai se refletir

positivamente no estudo e aprendizagem das demais disciplinas e em todas as

áreas do conhecimento.

Para Wosien (2002), a Dança é um treinamento de consciência na qual o

equilíbrio é treinado, desenvolve-se o sentido de espaço, forma, linha e medida do

tempo, assim como a memória para a sequência do movimento. O nascimento

desse processo é o círculo, que também é uma imagem de comunidade igualitária,

que guarda a qualidade do todo e passa de mão em mão. Na Dança de Roda, a

liberdade e a ligação se equilibram e por meio do movimento surge um despertar

interno que cria condições para vivenciar a mudança como um tema de vida central.

Na alegria do estar juntos, no sentido comunitário, a existência quotidiana é elevada

ao festivo, é elevada ao ser propriamente dito. O objetivo da Dança é a harmonia,

por isso exige do grupo um estado de alerta, pois, como na vida diária, a falta de

atenção, os ritmos inexatos, a falta de dedicação ao detalhe, as inibições de poder

se dar ao todo, levam à desarmonia e a desordem.

Faz-se necessário, portanto, que enquanto educadores, tenhamos o

compromisso de mostrar ao aluno a diversidade de informações existentes que

facilitam a aprendizagem para a produção do conhecimento.

A Dança Circular nas Aulas de Educação Física

Epistemologicamente falando, a Educação Física visa a educação do

movimento pelo movimento, utilizando-se de conhecimentos teóricos e práticos que

são desenvolvidos simultaneamente. Como o ser humano é um ser único e integral,

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o corpo e a mente não podem ser dissociados. O desenvolvimento dos aspectos

cognitivo, motor e sócioafetivo acontecem simultânea e sucessivamente.

Portanto a Dança Circular é um meio para o desenvolvimento de tais

aspectos de forma ampla e geral

desenvolvendo no indivíduo a percepção de sua individualidade, de suas características e diferenças em relação aos outros, a dança consegue, de maneira simples e direta, preservar a identidade pessoal dentro da coletividade. E, com a individualidade garantida, em comum-unidade com os outros, conduz também à percepção mais clara do meio em que o individuo vive, conscientizando-o de sua importância enquanto parte deste meio (SAMPAIO 2002, p.102).

No que diz respeito as Danças Circulares nas aulas de Educação Física,

observamos que

a Dança traz uma proposta nova e ao mesmo tempo antiga, dando um caráter participativo às aulas de Educação Física. Desenvolvida como uma unidade associada ao prazer de fazer seu forte simbolismo serve de instrumento para instigar a curiosidade e motivar a participação de todo o grupo, potencializando as qualidades individuais e coletivas. A Dança, portanto, tem uma contribuição importante para a formação do individuo, seja em relação à sua própria pessoa, ou como parte de um grupo, pois desenvolve, com eficiência e de forma cooperativa, as questões sócio afetivas (SAMPAIO 2002, p.102).

Partindo da ideia de que a Dança Circular dá um caráter participativo às aulas

de Educação Física, façamos uso do pensamento de Sampaio (2002), que por ser

também professor de Educação Física, trouxe elementos importantes para a

fundamentação de nossa visão sobre esta Dança.

A Dança Circular é um ótimo instrumento para desenvolver os três níveis de

conhecimento de forma ampla e global: o sócioafetivo, que estimula a formação de

uma personalidade equilibrada, capaz de interagir com o outro e adequar-se ao

meio; o cognitivo, com o desenvolvimento intelectual e operação de processos

reflexivos; o motor, tratando diretamente do movimento e do seu desenvolvimento.

Ainda, possibilita momentos de introspecção buscando a individualidade; momentos

de encontrar-se com as pessoas e formar uma comunidade; momentos em que o

indivíduo busca equilibrar-se no seu próprio eixo e também no eixo centralizador do

grupo.

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O potencial formativo e informativo das Danças Circulares representa uma

ferramenta eficaz nas aulas de Educação Física, dando ao movimento um

significado maior e mais profundo, com o objetivo de ressignificar a consciência da

comunhão de cada indivíduo com o grupo.

O formato circular, assim como o círculo, representa o Todo, cada ponto

dentro do círculo representa a individualidade.

A Dança consegue, de maneira simples e direta, preservar a identidade

pessoal dentro da coletividade, desenvolvendo no indivíduo a percepção de sua

individualidade, características e diferenças em relação aos outros. Isso, conduz à

percepção de cooperação consigo mesmo, com o outro e com o meio, o que

representa a capacidade de conviver em unidade dentro da diversidade.

A posição das mãos reforça e ideia de interação. Com uma palma para cima e

outra para baixo, a forma de se darem as mãos simboliza o ato de dar a receber,

ressaltando o grau de interdependência e equilíbrio entre as pessoas, porque é

dando que se recebe.

Na formação do círculo cada participante sempre estará amparado por outras

duas pessoas, uma de cada lado. Saberá que não precisa ter medo de errar, pois,

caso precise, as pessoas que estão ao seu lado vão ampará-lo, e não lhe farão

censuras, porque sabem que fazem parte de um mesmo conjunto em que prevalece

o espírito de cooperação.

A consciência de unidade e de grupo é o aspecto mais importante nas

Danças Circulares porque desperta a percepção das próprias necessidades e das

necessidades do outro que está ao seu lado.

O senso de comum-unidade é de vital importância para a formação integral do

indivíduo, porque possibilita o desenvolvimento da auto-estima, auto-imagem e

autoconfiança.

Nas aulas de Educação Física, as Danças Circulares, com o seu rico

potencial formativo, resgatam algo que vem sendo perdido ao longo do tempo e que

precisa ser recuperado: o respeito à individualidade e o sentido da cooperação e da

unidade.

O caráter participativo da Dança, momento em que todos dançam ou ninguém

dança, representa o sentido amplo de educação, que sempre deve incluir e não

excluir.

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A interação entre corpo, mente e espírito perdida pela nossa sociedade, pode

ser recuperada por meio a Dança, que é um elemento importantíssimo para se

iniciar um processo educacional integrador.

As danças circulares são um instrumento riquíssimo para desenvolver alguns

conteúdos importantes da Educação Física e ressignificar tópicos relevantes que se

perderam como: o caráter formativo da aula, o significado do movimento, a

integração do grupo, a percepção da coletividade e individualidade, e o estímulo

para a comunicação do corpo de forma íntegra.

Os povos primitivos não se preocuparam com tantas teorias e conceitos para

qualificar as danças e os seus elementos educativos, pois acontecia de maneira

espontânea e natural, incorporavam o espírito da dança e viviam de forma intensa

aquele momento. Era um momento pleno para eles, e também pode ser pleno para

nós, basta descobrirmos esta plenitude, realizado por meio de uma simples dança.

Como diria Confúcio: “Ouço, esqueço. Vejo, entendo. Faço, aprendo”.

A Dança Circular nas aulas de Educação Física tem como objetivo estimular a

sociabilidade e o gosto pela dança, bem como proporcionar um meio de tornar-se

receptivo para adaptar-se a novas situações e desenvolver a capacidade de criar. É

uma forma de incluir a todos sem hierarquias, originando o bem estar emocional que

promove a atenção, a concentração e a percepção.

Entendemos perfeitamente a proposta teórica dos conteúdos a serem

desenvolvidos nas aulas de Educação Física, mas entendemos também que a sua

aplicação prática é deveras desafiadora e requer um árduo trabalho, incansável e

persistente. Exige do educador muita compreensão, paciência, determinação e

acima de tudo acreditar que aos poucos podemos fazer a diferença. É plantando

muitas sementes que teremos algumas árvores que darão frutos e desses frutos

surgirão novas sementes.

Tudo que se modificou profundamente mudou primeiro na consciência de cada ser humano. Os físicos modernos comprovam, através de processos helográficos, que “tudo é um” e que, se assim é, a conscientização de uma só pessoa modifica a consciência de milhares de outras; a conscientização de milhares de pessoas pode modificar a consciência de 100 milhões, e a consciência destes 100 milhões pode modificar de um bilhão de seres humanos (JOAHIM-ERNEST BERENDT citado por RODRIGUES, 2002, p.50).

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Toda modificação positiva no comportamento do ser humano acontece de

forma lenta e gradativa, aos poucos novos valores vão sendo compreendidos e

internalizados, manifestando-se em ações que promovem uma interação social

favorável.

Metodologia

Acreditando no poder que a Dança exerce sobre o ser humano, entendemos

que ela não pode continuar restrita à teoria, temos o compromisso de transformá-la

em vivência prática. Dançar é uma experiência transformadora, muito boa e

saudável, que nos torna mais capazes e confiantes. Quando nos sentimos capazes

e confiantes, experimentamos a maravilhosa sensação que o movimento associado

à música pode provocar em nossos sentimentos.

A metodologia aplicada neste estudo foi orientada pelos princípios da

pesquisa-ação (THIOLLENT, 2005), na qual o pesquisador e o grupo pesquisado

interagem de modo participativo, desenvolvendo as ideias propostas no plano de

pesquisa, para que ao final do processo haja alguma modificação do grupo

envolvido.

Desenvolvemos uma Unidade Didática composta de 13 aulas de Dança

Circular, com uma mescla de teoria e muita prática, envolvendo 28 alunos de uma

turma com de 8ª série do ensino fundamental, com idade entre 13 a 15 anos, do

Colégio Estadual Carlos Gomes – EFM, de Pato Branco – PR., no período de agosto

a outubro de 2011.

Para a implementação do estudo, todas as aulas foram elaboradas

evidenciando os objetivos, a exposição inicial, o desenvolvimento e a finalização. No

objetivo, delineamos a meta a ser alcançada em cada aula. Na exposição inicial,

apresentamos os conteúdos em forma de questionamentos, explorando e utilizando

o conhecimento dos alunos. No desenvolvimento, fizemos a aplicação das

atividades selecionadas para a transmissão do conteúdo. Na finalização, avaliamos

o desenvolvimento da aula e colhemos informações que foram fundamentais para a

condução das aulas seguintes.

O desenvolvimento do processo de ensino aprendizagem, para a produção do

conhecimento, fundamentou-se em:

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• Contextualização da Dança Circular e sua simbologia.

• Vivência das Danças Circulares como manifestação cultural, iniciando-se

pelas mais simples até as mais complexas.

• Vivência de atividades que, de forma indireta envolveram as emoções,

sentimentos e entendimentos dos alunos.

• Atividades que possibilitaram aos alunos criarem movimentos, com base no

conhecimento das Danças Circulares.

• Proporcionamos aos alunos, a oportunidade de sugerir músicas para serem

dançadas em roda. Sendo que para a seleção foram destinados momentos

de interpretação da letra, observando-se a mensagem transmitida.

• Atividades que possibilitaram aos alunos aplicarem os movimentos de sua

criatividade nas músicas por eles selecionadas.

• Realizamos no espaço escolar, uma apresentação das coreografias das

Danças Circulares desenvolvidas no projeto de intervenção, para: Direção,

Professores e Alunos de 7ª e 8ª série.

Para avaliação da implementação foi necessário um trabalho contínuo de

observação sobre como os alunos interagiam com a dança, com os colegas, com as

diferenças e limites de cada um, para isso elaboramos um registro diário dos

acontecimentos.

Os envolvidos no processo tiveram oportunidade de aprender e desenvolver

habilidades no sentido de elaborar novas práticas e refletir sobre as modificações da

realidade que as ações práticas podem produzir.

Ao final da aplicação da intervenção pedagógica, foi realizado de forma

escrita o seguinte questionamento:

Análise dos Resultados

Ao término da intervenção didático pedagógica, com o objetivo de constatar

os resultados observados no decorrer do processo, aplicamos o referido

questionamento, do qual participaram os 28 alunos.

A partir desta experiência o que representa a Dança Circular para você?

14

As respostas a indagação ocorreram de forma subjetiva e para

apresentarmos os resultados atingidos, realizamos uma tabulação dos dados por

aproximação, como pode ser observado na Figura 1.

2827

87

4 43

21

0

5

10

15

20

25

30F

Frequência (F) de Opiniões Sobre a Dança Circular dos 28 Alunos Participantes

Figura 1 – Avaliação dos Alunos Sobre a Dança Circular Aplicada

Observamos na Figura 1, uma grande diversidade de respostas ao

sentimento que a Dança Circular provocou nos participantes desse estudo. Dentre

os sentimentos que mais se destacaram está a vergonha, relatado pelos 28

participantes. Ressaltamos o comentário de superação de alguns alunos:

“Para mim a dança foi boa, porque antes eu tinha muita vergonha de pegar na mão do colega. No

começo eu procurava dançar apenas quando a professora estivesse olhando, mas agora eu

desenvolvi calma e prazer pela dança” (L.V.S., 13 anos).

“Coisas boas, é pensamento positivo e a dança circular tira a vergonha porque todos fazem juntos”

(R.M.D., 14 anos).

Outro ponto enfatizado pelos participantes foi o fato de terem gostado muito

da Dança Circular, tanto que 27 deles citaram em suas respostas o sentimento de

satisfação pela atividade proposta. Destacamos os seguintes relatos:

15

“Foi legal e gostei. No inicio foi cansativo porque eu não conseguia fazer o passos. No dia da

apresentação eu estava com vergonha, mas a professora Vera conversou comigo e minhas amigas

também, ai eu fiz. Não sei se ficou bom, mas eu falo com orgulho QUE EU TENTEI, CONSEGUI

HOJE ESTOU REALIZADA” (M.R.G., 13 anos).

“Uma experiência nova e muito prazerosa onde aprendemos que a união é uma parte fundamental

para o bom convívio” (V.C.O.,13 anos).

A Dança Circular é uma atividade que potencializa a concepção de grupo em

que todos são incluídos com igualdade. O trabalho em equipe em que um ajuda o

outro, também foi um dos pontos relatados na pesquisa por 8 participantes. Vale

citar alguns depoimentos:

“Representa o trabalho em conjunto, uma aprendizagem de uma nova dança, a perca da vergonha,

todo mundo pegando na mão. Para mim representou a alegria do trabalho em conjunto, todo mundo

participou, todos pegaram nas mãos” (B.F.L., 14 anos).

“Um ajuda o outro, onde um erra o outro ajuda, assim deve ser na vida, pois nem sempre acertamos.

Foi uma experiência muito boa que poderia continuar. É uma dança onde se passa energia de uma

pessoa para outra. Nos conhecemos melhor, quebramos preconceitos entre meninos e meninas e

aprendemos coisas novas” (J.F.B., 14 anos).

A Dança Circular evoca as pessoas para um contato físico de aproximação,

por meio do ato de se dar as mãos. Para muitas pessoas essa postura torna-se uma

barreira que as inibem em participar da atividade. Tal fato foi um dos pontos citados

por 7 participantes, principalmente no que diz respeito ao contato que tinham com

as mãos.

“Representou muitas coisas, foi bom para mim. Por ter aprendido a pegar na mão dos homens e

meninas. Eu tinha vergonha de dançar e de dar as mãos, mas agora eu já perdi a vergonha” (M.A.C.,

14 anos).

“Ela representou a amizade, a perda de vergonha quando fosse para pegar na mão do colega. Ajuda

a todos na coordenação, até para o futebol” (W.V.S., 15 anos).

A Dança Circular proporciona bem estar, alegria e leveza. Transmite uma

energia positiva que gera entre os participantes a real sensação de leveza,

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acolhimento e calor humano. Notamos nos depoimentos de 4 alunos o entendimento

sobre os benefícios desta Dança, descritos abaixo:

“A dança circular para mim foi uma dança muito legal, sinceramente adorei, gostaria de ter outras

chances como esta. Me senti leve, solta, livre com esta dança. Me senti como uma borboleta livre no

ar. Adorei, não só adorei como amei, muito obrigada Professora pela oportunidade” (F.A.O.D., 14

anos).

“Foi muito bom. Eu gostei é uma dança que nos ajuda a locomover ao mesmo tempo você se

interessa mais pelo que esta fazendo e esquece dos seus problemas. Também achei interessante

saber que a repetição dos passos faz parte da dança, por mais que repetíssemos os passos parece

que era um ritmo diferente, mas com o mesmo passo. Achei muito legal” (F.A.O.D., 13 anos).

Os sentimentos, até então desconhecidos, experimentados com o desenrolar

da Dança Circular, despertaram o gosto e o interesse dos educandos para continuar

desenvolvendo essa atividade. Notamos pelas respostas que 4 participantes

demonstraram interesse em dar continuidade na Dança, das quais descrevemos:

“Coisa maravilhosa, eu amei fazer isso foi muito bom, aprendi bastante. Eu gostaria de continuar as

danças e aprender mais” (F. da S., 15 anos).

“É muito loka! Gostei bastante das aulas, as danças eram legais, eu queria fazer de novo, porque eu

gostei demais. No começo, eu pensava que era ruim e perdia as aulas na quadra, depois foi uma

experiência incrível, todos participaram” (E.F.S., 13 anos).

A Dança é uma atividade que apresenta certo grau de dificuldade aos

iniciantes, pelo fato de ser uma atividade em que se faz necessária a concentração,

a atenção, a coordenação e o ritmo, para que o seu desenvolvimento flua de forma

agradável, estética e harmônica. Para o aprendizado dos passos e sequências

básicas de cada dança, depende muito da habilidade individual. Enquanto uns

apresentam facilidade na aprendizagem dos movimentos, outros necessitam de um

tempo maior para assimilação dos mesmos. Entretanto, na Dança Circular, por ser

uma atividade em grupo, em que um auxilia o outro, essas diferenças de

aprendizagem logo passam despercebidas, porque na roda o mais importante é o

ritmo, sendo que um ajuda o outro a entrar no compasso.

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Embora alguns alunos tenham relatado que os passos são fáceis, outros que

os passos são difíceis e ainda outros que são repetitivos, observamos que poucos

citaram esses itens, demonstrando que para a grande maioria, o aprendizado dos

movimentos foi parte integrante da atividade, a qual teve um significado maior no

seu contexto geral. Descrevemos o comentário de alguns alunos:

“[...] A dança são passos fáceis e legais” (A.A.A.M. 14 anos).

“[...] No inicio foi cansativo porque eu não conseguia fazer os passos” (M.R.G., 13 anos).

“[...] Um pouco repetitiva, mas assim em pouco tempo a perfeição de alguns” (J.L.S., 15 anos).

“[...] Alguns passos em certas músicas muito repetitivos” (J.F.B., 14 anos).

“Para mim a dança circular foi muito legal, muito massa, só faltou uns passinhos mais massa”

(R.F.S., 15 anos).

Como em toda e qualquer atividade desenvolvida, é impossível atingir cem

por cento de aprovação, nesta também não deixou de ser diferente. Para um aluno,

mesmo com toda nossa dedicação, não conseguimos alcançar o objetivo de

transmitir-lhe que a dança faz parte de um desenvolvimento integral do ser humano.

Porém, vale ressaltar que mesmo sem gostar da atividade e achar uma chatice, ele

participou de todas as aulas. Pelo seu relato, observamos que fez uma análise do

trabalho desenvolvido, mas isso não foi suficiente para convencê-lo sobre a

importância de dançarmos.

“Foi algo novo e eu gostei porque o projeto foi bem elaborado. Algumas aulas foram chatas” (M.W.S.,

14 anos).

Portanto, ao analisarmos os relatos dos alunos envolvidos no processo,

vemos a Dança Circular como um conteúdo de fundamental importância a ser

trabalhado nas aulas de Educação Física, porque além de desenvolver os aspectos

cognitivos, motores e afetivos, é apropriado para ampliar conceitos, modificar

comportamentos e promover a interação social.

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Considerações Finais

Mediante os depoimentos dos alunos participantes, fica evidente que o projeto

alcançou os objetivos propostos e nos levam a crer que o primeiro passo foi dado

para que a Dança seja uma prática integrante nas aulas de Educação Física.

Todas as atividades programadas na Unidade Didática foram realizadas

conforme o planificado. Até a quarta aula todos os alunos estavam participando

efetivamente, até então quatro alunos ficavam sentados ou participavam com

atitudes de pouco caso (rindo, soltando a mão, puxando o colega, fazendo a

movimentação de qualquer jeito), com estas atitudes, sempre levavam consigo

outros colegas, desmotivando o grande grupo. Passado esse período de adaptação

em uma atividade com a qual não estavam acostumados, as aulas foram

desenvolvidas com muita alegria e descontração. O simples ato de dar as mãos que

no início parecia difícil, passou a ser natural, até mesmo quando a coreografia da

dança chegava ao seu final, as mãos permaneciam unidas, sem pressa de soltarem-

se, até o começo da próxima dança.

Nas atividades que envolveram a criatividade, percebemos que ainda há

muito a ser desenvolvido e trabalhado. Pelo fato de não estarem acostumados a

este tipo de prática, a maioria fica aguardando que alguém tome a iniciativa,

limitando-se a aceitar as sugestões propostas. Contudo, acreditamos que a

capacidade criativa é um processo que deve ser estimulado constantemente e que o

seu desenvolvimento acontece de forma gradual por meio da descoberta pessoal de

habilidades. Quando há uma descoberta de aptidões, a capacidade criativa é

estimulada e se desenvolve espontaneamente.

Quanto às atividades que envolveram as emoções, sentimentos e

entendimento dos alunos, aconteceram se forma surpreendente. Fizemos uso do

jogos de 45 Cartas “Palavra de Criança” de Patricia Gebrim, sobre valores humanos.

Ao final de cada aula, quando nos reuníamos para avaliarmos o nosso desempenho

e direcionarmos a aula seguinte, as cartas eram distribuídas entre os participantes,

para que fizessem leitura silenciosa e refletissem sobre o dizeres nela contidos. No

primeiro encontro, após um período de reflexão, fizemos a leitura da nossa carta em

voz alta e comentamos o que nela estava escrito. A seguir, deixamos o espaço

aberto para quem quisesse ler a sua carta, ninguém se manifestou. Na aula

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seguinte, fizemos o mesmo procedimento e houveram 4 leitores e nenhum

comentário. Com o passar das aulas, foram aumentando os leitores e os

comentaristas. Até o término da implementação, a finalização da aula passou a ser

um momento de socialização de conceitos e interpretações. Com esta atividade,

percebemos quanto o educando gosta e tem necessidade de emitir a sua opinião e

ser ouvido.

O nosso maior desafio foi conscientizá-los sobre a importância da

apresentação das danças no espaço escolar. Alegavam que tinham vergonha; que

seriam motivo de risos e piadas; que não precisavam mostrar para ninguém aquilo

que haviam aprendido. Na finalização da nona aula, aceitaram a proposta, porém os

convidados deveriam ser: Direção, Professores e alunos de 7ª e 8ª série. A

apresentação de danças aconteceu, superando as expectativas. No início, por

estarem sendo observados, preocuparam-se com os passos e movimentos, com

isso o ritmo ficou um pouco prejudicado, mas aos poucos as coreografias se

desenvolveram com harmonia. Ao término da apresentação mostraram-se satisfeitos

com o desempenho e felizes porque a postura dos convidados foi de interesse e de

aplausos.

Os resultados obtidos durante este processo de intervenção evidenciam

também que os alunos tornaram-se capazes de identificar e modificar seus

movimentos, entendimentos e ações, por meio de uma tomada de consciência dos

benefícios que a Dança traz consigo, o que nos leva a crer que a Dança Circular é

um valioso instrumento a ser utilizado nas aulas de Educação Física, como uma

prática que contribui para formação integral do aluno e consequentemente para a

interação social, possibilitando a modificação do contexto social onde vive.

Para uma escola, em que a “cultura da bola” é muito forte e resistente,

podemos dizer que o efeito da aplicação prática do projeto foi excelente. O objetivo

inicial de proporcionar a vivência em Dança Circular como forma de estimular o

aluno para a prática da Dança e promover a interação social, foi alcançado.

Percebemos que os alunos passaram ter uma nova visão sobre a Dança,

confiando mais no grupo e entendendo que quando há união, as atividades

acontecem espontaneamente, sem imposições, tendo a sua subjetividade respeitada

pela coletividade.

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O seu convívio diário no espaço escolar demonstrou mais respeito e união,

até mesmo na prática desportiva o espírito de equipe e a tolerância aumentaram

significativamente.

Essa experiência nos leva a crer que, por meio da Dança Circular,

poderemos ampliar a compreensão do aluno sobre a Dança, com isso ele aprenderá

apreciar os vários repertórios da Dança.

Referências

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COLETIVO DE AUTORES. Educação Física – Ensino Médio . 2ed.Curitiba: SEED-PR, (2006, p.205).

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RAMOS, Renata Carvalho Lima. Danças Circulares Sagradas: Uma Proposta de Educação e Cura. São Paulo: Editora Triom, 2002.

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WOSIEN, Bernhard. Dança: Um caminho para a totalidade. São Paulo: Editora Triom, 2006.

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WOSIEN, Maria Gabriele. Dança Sagrada: Deuses, Mitos e Ciclos. São Paulo:

Editora Triom, 2002.