schneider constelações familiares

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  • 8/14/2019 Schneider Constelaes Familiares

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    Sobre a Tcnica das Constelaes Familiares Jakob Robert Schneider

    Em nossa compreenso preliminar, entendemos "tcnica" como um meio para a realizaode um fim humanamente estabelecido. Ela tem um carter instrumental, pois usada comoum instrumento para se obter determinada utilidade. No desenvolvimento e ampliao dasantigas habilidades artesanais, a moderna tcnica, como aplicao prtica da cinciamoderna, caracteriza-se por trs outros critrios: precisa ser segura e proporcionar-nossegurana; torna previsvel o seu objeto; e confere ao mtodo, com o qual abordamos oobjeto utilizvel, a precedncia sobre aquilo que pode ser utilizado de forma segura. (1)

    Tal entendimento da tcnica no coincide com o procedimento fenomenolgico queadotamos nas constelaes familiares. verdade que as utilizamos como um mtodo paraprocessos anmicos de soluo e cura. Contudo, o procedimento metdico fica em segundoplano com relao dinmica familiar que ele revela e s solues que aponta. O que seevidencia atravs desse trabalho no pode ser previsto com segurana, tanto no que serefere ao processo dessa revelao, quanto no que diz respeito ao resultado de talprocesso. () procedimento metdico utilizado nas constelaes familiares requer aberturaem face de seu resultado, e s bem sucedido na ausncia de intenes e de preconceitosintelectuais.

    Apesar disto, justifica-se falar de uma tcnica de constelaes familiares. Pois, na maioriados casos, comprovou-se o valor de um procedimento metdica, que pode ser transmitido eproporciona uma certa segurana na conduo desse trabalho. 0 procedimento prticoutilizado nesse processo requer uma srie de atenes e habilidades que esto a servio dapercepo teraputica e do processo liberador e que podem ser comunicadas. Essesrequisitos sero tratados a seguir.

    Quando falamos da tcnica das constelaes familiares, no a entendemos no sentidomatemtico das cincias naturais, mas antes semelhana de determinada tcnica de fazeruma pintura ou de tocar um instrumento. A composio de uma pea musical ou a criaode um poema exigem igualmente, via de regra, uma tcnica, que entretanto fica emsegundo plano em relao ao resultado. Aquilo que se mostra num quadro, numa msica ounum poema no pode ser previsto, determinado, apreendido ou assegurado com o auxlio datcnica utilizada no processo da criao. Assim, o conceito da "tcnica", em nosso trabalho,serve aqui simplesmente para distinguir entre "como" se conduz uma constelao familiar eo "que" se revela a, em termos de dinmica da alma.

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    1. A intenoPara que uma constelao familiar seja bem sucedida, preciso que haja uma necessidadecuja fora sustente o trabalho e conduza o cliente, o terapeuta e os representantes. Ajudamuito quando tal necessidade claramente formulada. Um problema solvel geralmente sedistingue de um problema insolvel, na medida em que pode ser expressa numa frase eentendido por todos. A inteno do cliente deve ser formulada com abertura, tanto emrelao ao problema ou necessidade sentida quanto sua soluo, sem apresentao dejustificativas para o problema ou de condies para o que possa surgir como soluo. Umdesejo claro e poderoso pode ser expresso ao terapeuta com o olhar franco, enquanto queum olhar que se desvia para o cho freqentemente se associa impreciso nossentimentos e na descrio do problema.

    Nem sempre o problema ou mesmo a inteno precisam ser claramente formulados, se oque pesa na alma se manifesta atravs de uma emoo, de um sintoma ou da revelao deum destino funesto. O terapeuta se decide a fazer uma constelao baseado na fora quepercebe no desejo do cliente e na reao de ateno tensa que provoca na grupo. fcil,por exemplo, perceber a diferena entre "Eu gostaria de ser mais livre" e: "No agentomais esta depresso, que j dura anos".

    Nem todo cliente consegue expressar sua inteno logo no incio de um grupo. Ele talvezainda precise de tempo e de vivenciar antes o trabalho feito com outras pessoas do grupo.Com muita freqncia, os participantes de um curso mudam sua inteno no decurso dotrabalho, porque somente conseguem perceber o essencial a partir das experincias dosoutros. Por outro lado, possvel que s vezes, impressionados pelo peso desses destinos,eles recuem das poderosas intenes que expressaram inicialmente e sigam por algumcaminho secundrio.

    Talvez a causa mais freqente do insucesso de uma constelao reside em que o terapeutase decidiu a faz-la, apesar de ter percebido que o problema apresentado pelo cliente ou aforma de sua apresentao -- por exemplo, pela impreciso, falta de amor ou teimosia --no sustentaria o trabalho.

    A forma breve e concisa com a qual o terapeuta pergunta pela inteno, pelo problema,pela necessidade emergente ou pelo beneficio que se espera do trabalho estimula o clientea responder de forma igualmente breve e concisa. A coragem do terapeuta em encararqualquer tipo de problema estimula a confiana do cliente, e sua disposio de deixar-seconduzir pela fora e pelo amor que atua no sistema familiar incentiva a abertura da almaque se manifesta atravs do cliente.

    A formulao do problema e o gestual que a acompanha fornecem, com freqncia,indicaes importantes sobre aquilo de que se tratar na constelao e sobre a dinmicabsica da alma, que pressiona no sentido de uma soluo. Portanto, vale a pena dedicaruma grande ateno ao incio do processo. porm igualmente importante, na busca dasoluo, que o terapeuta no se deixe prender e confinar pelo desejo que e clientemanifestou e pelas primeiras informaes que prestou.

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    A montagem de uma constelao no se fixa num problema ou num sintoma a resolver, masse concentra naquilo que precisa ficar em ordem, em paz ou em sintonia numa alma. daque nasce aquilo que libera, e talvez resida a tambm a soluo para o problemaapresentado ou algo que aja curativamente sobre algum sintoma.

    2. O processo da informaoPara conduzir uma constelao familiar poucas informaes so necessrias. O que serequer so os acontecimentos e destinos numa famlia, no a caracterizao de pessoas oua descrio de vivncias pessoais - se bem que uma vivncia, narrada em poucas palavras,possa eventualmente abrir caminho para o conhecimento de um importante acontecimentofamiliar. A maneira como algum se apresenta e comporta menos significativa do que osacontecimentos essenciais de sua vida e de seu destino e o fato de ser simplesmente meou pai, embora s vezes a aparncia e o comportamento estejam associados ao destinopessoal. A constelao familiar um mtodo teraputico que visa descobrir os efeitos deacontecimentos e de destinos.

    Que informaes so importantes para esse trabalho? Uma primeira pergunta diz respeito spessoas que pertencem ao sistema. Estas so: irmos, pai, me, eventuais parceirosanteriores dos pais, meios-irmos, tios e tias, avs e seus eventuais parceiros anteriores,meios-irmos dos pais; s vezes, tambm um ou outro dos irmos de avs e bisavs, quandoafetados por um destino impactante. Tambm pertencem ao sistema pessoas sem vnculode parentesco, quando a famlia lhes deve algo de modo existencial, como so pais adotivose ainda pessoas a quem foi infligida alguma desgraa por membros da famlia. Sopertencentes tanto os vivos como os mortos, at onde habitualmente alcana a memria dafamlia.

    Acontecimentos importantes nas famlias so: nascimentos e mortes; mudanas dedomicilio especialmente importantes (por exemplo, por deportao ou emigrao oumudana para um ambiente muito diferente); separaes, tanto entre filhos e pais quantodos pais ou parceiros entre si; doenas; vcios que envolvem dependncia; acidentes;destinos associados guerra; suicdios; internaes psiquitricas, etc.

    Ao indagar pelas informaes, o terapeuta deve distinguir entre dois tipos deacontecimentos: aqueles que pertencem antes ao domnio dos ressentimentos pessoais (porexemplo, uma separao prematura entre a criana pequena e sua me), e aqueles que sosistmicos e por isso especialmente relevantes para a constelao familiar. Da observaoresultam indicaes sobre se convm trabalhar com o resgate de um movimento amorosoem direo aos pais ou com a constelao familiar, dentro da qual poder eventualmenteser encaixado um abrao, como meio de se recuperar tal movimento. Muitas vezes,recomenda-se trabalhar simultaneamente com a soluo sistmica e com o movimentoamoroso. Nesse caso, convm comear com o trabalho sistmico e ento, ou num momentoposterior, propiciar o movimento amoroso. Isso possibilita distinguir mais facilmente entreos sentimentos adotados de outras pessoas e os ressentimentos pessoais. s vezes, porm, ador da criana, proveniente da vivncia de separao dos pais, est de tal maneira " flor

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    da pele" que o terapeuta precisa lidar imediatamente com esses sentimentos, provenientesde um movimento amoroso interrompido.

    Mencionarei, a seguir, alguns critrios que ajudam a distinguir se convm fazer de

    preferncia um trabalho sistmico ou a terapia do movimento amoroso. Critrios para otrabalho sistmico so, por exemplo:

    a pessoa se experimenta como se fosse teleguiada, e de algum modo no estpresente a si mesma;

    no conhece e no encontra seu lugar na vida; ao apresentar-se, d a impresso de estar meio ofuscada, inapropriada, contraditria

    ou enredada; d a impresso de estar presa ao problema e de ter permanecido magicamente num

    cego amor infantil; existem na pessoa ou em sua famlia destinos pesados como mortes prematuras,

    suicdios, acidentes freqentes, psicoses, etc.,, a pessoa coloca em risco, leviana ou compulsivamente, o sucesso de sua vida; h um grave desequilbrio em seus relacionamentos, brigas srias, faltas de

    considerao e de reconciliao, conflitos de conscincia, sentimentos de culpa,sentimentos de vtima ou medo compulsivo de fazer algo funesto;

    faltam pessoas no sistema, por exemplo, algum filho extraconjugal do pai; pessoas do sistema no so levadas em considerao, por exemplo, natimortos; silencia-se sobre o destino das pessoas, dizendo-se, por exemplo, que um av morreu

    de infarto, quando na verdade suicidou-se.

    Critrios para o trabalho com o movimento amoroso so, por exemplo:

    a pessoa teve graves experincias traumticas, sobretudo na primeira infncia.-, apresenta as chamadas perturbaes "neurticas": problemas ligados aproximao,

    medos, compulses, etc., d a impresso de estar "ligada" e aberta quando se imagina abraada com amor pela

    me ou pelo pai; tem dificuldade de tomar e mostra sentimentos de desesperana e resignao, que

    no correspondem situao real de sua vida; permanece presa na satisfao de necessidades infantis.

    As informaes recolhidas para a constelao familiar visam responder s seguintesperguntas:

    quem falta e precisa ser acolhido, para que algo se resolva no sistema; quem est sendo atrado para fora de um sistema, e para onde est sendo atrado; de quem quer afastar-se ou em lugar de quem deseja partir; quem preciso deixar partir, para que os outros do sistema possam ficar; quem talvez possa deter a dinmica de partir e morrer, caso seja considerado e seu

    amor seja recebido; que destino pressiona para ser repetido atravs de uma compensao funesta, de

    modo que uma pessoa s se sente ligada a outra se no estiver melhor do que ela;

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    que destino pressiona para ser repetido porque foi encoberto e deseja vir luz ouno foi honrado e quer ser reconhecido;

    quem foi, atravs de seu destino, arrancado da vida de forma a parecer"incompleto", e talvez precise ser consumado atravs de outros;

    que pessoas, vivas ou mortas, no puderam despedir-se, que vtima no foi vista e reconhecida, e pressiona para que um pstero se

    assemelhe a ela; que perpetrador no foi visto e reconhecido por seu ato funesto, de forma que um

    outro deseja segui-lo cometendo um ato semelhante; se foi perturbada a ordem num sistema, por exemplo, a hierarquia dos irmos, ou se

    no foi assegurada a precedncia de um novo sistema, por exemplo, a da famliaatual sobre a famlia de origem, ou a do segundo casamento sobre o primeiro;

    se as relaes numa famlia no so confiveis porque, por exemplo, filhospressionam por assumir papis dos pais ou vice-versa, ou porque os filhos queremfazer algo de inapropriado por seus pais, ou porque os pais no preservam a

    segurana dos filhos.

    O mais conveniente que as informaes necessrias sejam perguntadas passo a passo, emconexo com o processo da constelao. Naturalmente, preciso saber inicialmente quempertence a um sistema e eventualmente poder ser includo em sua representao. Asinformaes restantes podem se: recolhidas de acordo com a dinmica que se manifestadurante o processo da constelao.

    Com freqncia til tambm que, antes de comear o trabalho, sejam solicitadasinformaes sobre os destinos na famlia. Isto importante, sobretudo quando algumainda no tem muita experincia com constelaes e, antes de comear o trabalho,gostaria de obter indicaes sobre a direo em que se desenvolver o processo. O riscoque se corre com isso que as informaes nos levem a desviar da dinmica autntica quese manifesta no processo da constelao ou que este fique sobrecarregado com asinformaes previamente recolhidas. Recomenda-se que, antes de iniciar o trabalho, sejamrecolhidas informaes suficientes sempre que a inteno expressa pela pessoa envolvidaainda no revele uma fora clara e o direcionamento para uma soluo, e o terapeuta aindacarea de informaes que contenham um "peso de alma" e lhe dem esta segurana:"agora j posso trabalhar".

    Muitas vezes, as informaes essenciais para uma constelao liberadora s se revelam, deforma totalmente inesperada, durante o processo de sua colocao. Vou citar um breveexemplo.

    Uma mulher, que j tinha feito sua constelao e contemplado nela os destinos da famliada me, queria esclarecer algo de "indefinvel" que a separava de seu pai. Numa segundaconstelao, ela colocou sua representante num lugar que no competia a uma filha, comose estivesse substituindo uma pessoa que faltava. Mas o que mais impressionou nessaconstelao foi que o representante do pai olhava "para um tmulo". Perguntas feitas naocasio revelaram que o pai tivera anteriormente uma noiva, sobre a qual nada se sabia.Numa rodada anterior, o terapeuta havia interrogado os participantes sobre histriasliterrias que foram pessoalmente importantes para eles, e essa mulher citara "A BelaAdormecida", que fala de uma amada excluda pelo pai, e uma histria de Ingeborg

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    Bachmann sobre o suicdio de uma mulher. Baseado nessa informao, o terapeuta fez comque a representante da noiva se deitasse no cho, diante do pai, mas no se manifestounenhuma relao significativa. Ento o terapeuta simplesmente virou o pai para fora, comose buscasse a morte. A o representante do irmo da mulher exclamou: "Eu bem gostaria de

    fuzil-lo pelas costas!" Essa expresso emocionou profundamente a mulher, e ela contouque seu pai sempre sofreu muito porque, quando era um jovem soldado na guerra, tinhafuzilado num bosque, pelas costas, um homem que depois se verificara ser um velhocampons, que trazia flores nas mos. Com o relato da filha, ficou claro para que tmulo opai estava olhando e na direo de quem se sentia atrado, e assim foi possvel encontraruma soluo que comoveu e aliviou a famlia.

    3. Sistema atual ou sistema de origem?Para um esclarecimento talvez necessrio: famlia de origem a famlia onde algum filho, e famlia atual aquela onde algum marido ou mulher, pai ou me.

    Que sistema o terapeuta deve pedir que o cliente coloque? (No presente contexto e tio quevem a seguir falo sempre de sistemas familiares, sem entrar nas caractersticasmetodolgicas do trabalho com outros sistemas de relaes como so, por exemplo, umaempresa ou unia equipe). A resposta pergunta acima depende muitas vezes diretamenteda inteno expressa pelo cliente, por exemplo, a soluo para uma briga sria com umairm ou uma ajuda para permanecer com o parceiro.

    Se eventualmente tal desejo abrange ambas as direes, a precedncia geralmente devecaber ao sistema que possua a maior fora com vistas soluo desejada. Via de regra osistema atual, quando se trata de um problema de peso. O cliente tem a tendncia deescapar desse sistema, porque com freqncia ele exige as solues mais dolorosas. Oterapeuta no deve colaborar com tal evaso; caso contrrio, perder a confiana docliente. Por outro lado, ele nada conseguir insistindo, contra a vontade do cliente, emcolocar o sistema atual. J vivenciei repetidas vezes que, ao pedir a um participante queconfigure o seu sistema atual, ele espontaneamente vai buscar representantes para a meou um irmo, mostrando que interiormente est voltado para o sistema de origem. Em talcaso talvez seja melhor esperar, at que o cliente manifeste com mais fora e segurana aescolha do sistema a ser colocado.

    Freqentemente convm inserir algo do sistema de origem na constelao de um sistemaatual, porque muitos conflitos de casais e de famlias decorrem de emaranhamentos nasfamlias de origem. Talvez seja preciso que se solte um movimento interrompido emdireo me para que algum aceite a proximidade do parceiro, ou que algum sedespea de uma noiva do pai ou de uma av que foi tratada injustamente, para que passe aolhar o parceiro sem mistura de sentimentos estranhos. Quando, porm, existem gravesofensas ou acontecimentos entre o casal ou na famlia atual (por exemplo, morte ouexcluso de um filho, ou violncia), ou quando o sistema atual muito complexo,provavelmente ser preciso, para esclarecer o que nele se passa, renunciartemporariamente a abordar os emaranhamentos do sistema de origem.

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    4. A escolha dos representantesUma constelao comea com a escolha dos representantes. Ela deve ser feita num nico

    fluxo, sem predeterminao de pessoas e sem critrios. Quando o cliente valorizadeterminadas caractersticas das pessoas que quer escolher, ele prende a alma, responsvelpela escolha, a fantasias e ligaes que distraem. Semelhanas na aparncia, altura daspessoas ou outras caractersticas no influem na percepo dos representantes. Pois umapessoa no se torna me pelo fato de ser alta ou baixa, e o destino normalmente nodepende de caractersticas externas. A vantagem de trabalhar com representantes consistejustamente em que eles no se assemelham aos membros da famlia e aquilo que sentemno depende de qualquer caracterizao ou indicao prvia. Desta maneira, podem sentircoisas essenciais que na prpria famlia, devido ao excesso de informaes e grandeproximidade, no podem ser percebidas. O essencial liberado pelo acaso, e este no seprende a nossos laos pessoais.

    conveniente que a pessoa que coloca sua famlia escolha ela prpria os representantes,pois atravs dessa escolha ela j introduz no processo a busca e a fora de sua alma. Isto,porm, no significa que somente ela possa escolher os representantes "certos". Quando, nodecurso de uma constelao, preciso introduzir outras pessoas, o prprio terapeuta, paraagilizar o processo, pode escolher os representantes. Pois pertence s surpreendentescaractersticas deste mtodo que pessoas diferentes, colocadas no mesmo lugar dentro deuma constelao, sentem da mesma maneira.

    J no processo da escolha das pessoas preciso que haja tranqilidade, concentrao euma certa tenso na pessoa que coloca, no terapeuta e no prprio grupo. O "campo" daconstelao j comea a ser estruturado com a escolha e a introduo das pessoas. Osrepresentantes precisam estar disponveis para se deixarem colocar, desfazendo-se deobjetos que possam perturbar, por exemplo, de algum chapu que chame a ateno. Suaenergia deve poder fluir livremente, sem ser prejudicada, por exemplo, por um chiclete naboca. Caso alguma pessoa escolhida no se mostre disponvel, hesite ou d a impresso deestar inibida, o terapeuta deve pedir ao cliente que escolha outra pessoa.

    Quantas pessoas devem ser includas desde o incio numa constelao? Isto depende,naturalmente, das dimenses do sistema a ser colocado e do problema a ser resolvido.Como regra geral, devem ser colocadas apenas as pessoas que sejam absolutamentenecessrias. E melhor incluir posteriormente outras pessoas na constelao do quesobrecarreg-la ou bloque-la, desde o incio, com um excessivo nmero de pessoas.Quando, por exemplo, houver muitos irmos e seus destinos no puderem ser tratadosindividualmente, basta comear com aqueles que, pelas informaes prestadas, sejamimprescindveis, incluindo posteriormente os demais na imagem da soluo. Quando ossistemas familiares so muito complexos, o terapeuta comea apenas com os membros quepertencem imediatamente famlia do interessado e eventualmente com os "anteriores".Quando a famlia de origem tem uma forte influncia sobre a famlia atual, consideramosinicialmente a dinmica da famlia atual e depois introduzimos pessoas relevantes dafamlia de origem. Pode-se ainda trabalhar simplesmente com um sistema reduzido, porexemplo, apenas com a me e seu filho, ou com a pessoa em questo e sua doena ou suamorte.

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    Se j no incio precisa ser colocado um nmero maior de representantes, necessrio ficaratento para que cada um deles saiba, desde o princpio, qual a pessoa que ele estrepresentando e quem esto representando as demais pessoas escolhidas. Caso contrrio,comea com freqncia um cochicho entre os representantes, durante o processo da

    escolha, para saber quem quem, e com isso se desconcentram. O melhor que as pessoassejam escolhidas em alta voz, claramente e numa ordem bem definida. Por vezes, tilque o terapeuta coloque os escolhidos numa certa ordem provisria que mostre claramentea seqncia dos irmos.

    5. 0 processo da colocaoA pessoa que coloca seu sistema deve faz-lo sem se preocupar com pocas e com razes, esem uma imagem preconcebida. Se o terapeuta tem a impresso de que o cliente estseguindo algum esquema ou alguma imagem preconcebida, deve adverti-lo e pedir querecoloque os representantes, ou ento interromper o processo. Se for perguntado se afamlia deve ser colocada como atualmente ou corno era antes, o terapeuta no deveentrar na questo mas acentuar a necessidade de uma "ausncia de tempo" na colocao.Pertence essncia da alma, e portanto tambm de uma constelao, que sua dinmicano est confinada a um tempo determinado. Vivos e mortos esto presentes da mesmaforma, e freqentemente no sabemos que acontecimentos e que destinos ainda estoatuando numa famlia.

    Na maioria dos casos, as pessoas colocam a famlia "corretamente", sem que o terapeutaprecise dizer ou explicar muita coisa. s vezes, preciso dar algumas indicaesintrodutrias como, por exemplo: "Coloque sem preocupao de ordem temporal, sembuscar razes, sem imagem preconcebida. Posicione as pessoas em relao umas com asoutras, da forma como a famlia . Aja de acordo o seu sentimento e confie em seu coraoe em sua alma". Talvez seja preciso ainda dizer algo sobre a maneira de posicionar, como:"Segure as pessoas, de preferncia com ambas as mos, pelos braos ou pelos ombros, defrente ou de costas, e coloque-as silenciosamente em seu lugar, sem configurar posturas esem dar instrues". Ento o terapeuta se retira, deixa com o interessado o processo dacolocao e confia-se prpria percepo do que acontece. Ele toma ateno para que apessoa configure o sistema com cuidado e amor e para que, desde o incio, as foras docampo possam manifestar-se atravs da "fora" da constelao. A reao de ateno ou deintranqilidade no grupo indica rapidamente se o tema de uma constelao importante ese a pessoa que a coloca est realmente envolvida.

    Quando algum coloca sem amor sua famlia, esquece de posicionar pessoas, assegura quej esto certas no lugar onde por acaso ficaram depois de escolhidas, no sabe onde colocarcertas pessoas ou duvida da prpria imagem que configurou, o terapeuta podeeventualmente intervir com esclarecimento e incentivo; porm, na maioria dos casos,precisa interromper o trabalho, ainda na fase da colocao. Talvez no seja ainda omomento certo para colocar o sistema, ou o sistema escolhido no seja o adequado. Talveza lealdade a um membro da famlia ou a falta de algum, por insuficincia de informao,esteja bloqueando a constelao. Algumas pessoas colocam seu sistema apesar de estarem

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    talvez excessivamente "saciadas" ou excessivamente "famintas" ou amarguradas, ou tmmedo do que possa manifestar-se, ou se sentem pressionadas, por exemplo, pelo parceiro,a colocar o sistema, embora no se sintam dispostas a isso.

    Uma moa compareceu a um grupo, por intermdio de sua me, para fazer suaconstelao. Em virtude de seus medos, sua me precisou acompanh-la de Hamburgo aMunique, para que ela pudesse participar. Quando ela comeou a colocar, dava a impressode estar muito desconcentrada e no sabia onde posicionar as pessoas da famlia. Oterapeuta interrompeu imediatamente, e isto trouxe a ela simultaneamente decepo ealvio. Na rodada inicial do dia seguinte ela contou que, na noite anterior, tivera uma sriabriga com sua me, por causa da interrupo de seu trabalho. O desejo de sua me era queela se livrasse de seus medos, mas o interesse dela era totalmente diverso; o que eladesejava era encontrar finalmente um relacionamento satisfatrio com um homem. Elaafirmou isto com muita fora na voz, e o terapeuta imediatamente fez com que elacolocasse de novo sua famlia. Desta vez, ela o fez com muita clareza e energia e conseguiu

    ter com seu falecido pai um encontro que muito a comoveu e aliviou. Indiretamente algotinha ficado claro tambm sobre seus medos. Essa segunda tentativa de colocao foisustentada por sua prpria fora e por seu direcionamento interior.

    6. Deixar agir a imagem que foi colocadaQuando a pessoa; com o auxlio dos representantes, acabou de configurar o sistema dasrelaes familiares, ela se senta, de modo a poder acompanhar bem o que acontece narepresentao. Tambm o terapeuta se senta ou se afasta do campo da constelao.Comea uma fase mais ou menos longa de silncio, em que os representantes entram emcontato com seus sentimentos e se concentram no que emerge neles. O terapeuta se deixaimpressionar pela imagem que foi colocada. Em termos mais precisos, deixa que essecampo ou a alma da famlia que foi colocada produza uma impresso sobre ele. Sem seprender aos detalhes, percebe as primeiras reaes, freqentemente sutis, dosrepresentantes, os impulsos de se movimentar, os movimentos corporais intranqilos, asmudanas na direo do olhar para outros membros da famlia, um olhar para o cho, parao cu ou para longe, etc. Ao mesmo tempo, o terapeuta fica atento s prprias reaesinternas, s vezes tambm corporais, s "imagens" que afloram nele, quilo que nelefulgura com uma primeira "verdade" (no sentido de um desvendamento). Ele se deixa tocarpelo sistema representado ou pela alma da famlia. Na medida do possvel, "esvazia-se" edeixa-se comover por aquilo que v e que o toca.

    Este , muitas vezes, o momento mais difcil para um terapeuta, pois nesse ponto ele nadapode fazer, nem sabe para onde o conduzir a dinmica da constelao. Talvez sejatentado a formular pensamentos, a compatibilizar a imagem com as informaes que jpossui ou a refletir como ir proceder. Talvez se coloque sob presso, coma se passasse adepender dele o sucesso ou o insucesso da constelao. Talvez tambm fique com medodiante do que possa surgir ou no surgir, ou ento se entregue a uma segurana precipitadasobre a forma de achar logo uma soluo. Porm o que importa agora aquilo que BertHellinger chama de olhar fenomenolgico: um olhar "sem saber", "sem inteno", "sem

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    medo". Este tambm um momento profundo de participao naquilo que muitas vezestoca uma famlia no mais ntimo; o olhar e a percepo do terapeuta (e tambm dosrepresentantes) so acompanhados de respeito e gratido por poder participar.

    Esse primeiro momento silencioso de uma constelao, antes que os representantescomecem a ser interrogados, de grande importncia. Ele necessrio para que se tomeconscincia daquilo que a alma do grupo est disposta a manifestar.

    Quanto tempo deve durar esse silncio, algo que o terapeuta geralmente percebe commuita preciso. O silncio sustentado por uma fora que vai se construindo, por umatenso e, s vezes, por uma profunda comoo, que vem tona durante a representao etambm mobiliza o terapeuta e o grupo. Quando o terapeuta comea a fazer perguntascedo demais, o fator que mobiliza no pode desenvolver-se e o processo da constelao ficasuperficial ou torna-se cansativo. Freqentemente o terapeuta no confia no prprio olhare por conseguinte "necessita" dos representantes e do que eles dizem. Isto, porm, pode

    sepultar a confiana, no terapeuta. Por outro lado, quando ele espera por um tempo longodemais, a energia da tenso se dissipa e os representantes ficam inquietos e impacientes oucaem num processo que os tira da dinmica da famlia que representam e os leva para umadinmica pessoal, que ento pode falsificar o processo da constelao.

    Nem sempre, verdade, a atitude de deixar que a representao atue resulta numadinmica poderosa. Algumas constelaes s desenvolvem sua fora e sua dinmica com ospassos posteriores. Isso acontece principalmente quando ainda no foram colocadas pessoasdecisivas para a dinmica familiar ou faltam informaes importantes. Assim, o terapeutano deve se deixar perturbar ou desencorajar quando a imagem de uma constelao noapresenta inicialmente profundidade. Embora seja s vezes aconselhvel interromper arepresentao j no princpio, vale a pena, em primeiro lugar, insistir na continuao doprocesso e confiar em seu bom xito

    s vezes aparecem, desde o incio, reaes estranhas nos representantes. Certa vez, umhomem colocou sua famlia de origem. Mal havia acabado de posicionar os representantesquando estes comearam a cochichar e a rir, e no houve meio de fazlos parar. O homemficou muito perturbado e confuso e o terapeuta j pensava em interromper o trabalho,quando uma voz interior o aconselhou a presenciar o riso por mais algum tempo. Ento eleperguntou ao homem: "O que aconteceu no casamento de seus pais?" Pois algo na imagemlhe fazia lembrar uma companhia de convidados num casamento. O homem respondeu:"Certa vez me contaram que no casamento de meus pais apareceu uma mulher com umafilha de uns vinte anos. Diante de toda a assistncia, ela caminhou at minha me,mostrou-lhe a mo da filha e disse: "Esse anel na mo de minha filha foi dado a ela depresente por seu marido, junto com a promessa de casamento". Ao ouvir este relato, osrepresentantes repentinamente silenciaram. O terapeuta introduziu ento representantesdessa mulher e de sua filha, que tinham sido supostamente ridicularizadas, e agora elasforam olhadas com emoo.

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    7. As perguntas aos representantesSe os representantes esto envolvidos - e quase sempre esto - o terapeuta comea a

    interrog-los sobre seus sentimentos. Talvez seja necessrio -- sobretudo se osrepresentantes ainda no conhecem o trabalho -- que o terapeuta os incentive a confiar noque sentem e a comunic-lo abertamente, sem qualquer tipo de considerao. A maioriados representantes, pelo menos em nosso espao cultural, tem facilidade de expressar seussentimentos. As vezes eles expressam no o que surge de seu papel mas o que pensam dasituao, fora do contexto da representao, ou dizem o que julgam que deveriam dizer.Na maioria das vezes, basta um curto esclarecimento e incentivo por parte do terapeutapara que entrem na representao. Acontece ainda, com freqncia, que os representantesno expressem o que esto sentindo mas relatem o que esto vendo, ficando presos superficialidade do olhar e simples descrio de sua posio. Isto tambm geralmentefcil de corrigir atravs de uma breve advertncia quanto ao servio que se espera do

    representante numa constelao.

    Quem interrogado primeiro pelo terapeuta? Se o incio da constelao ainda mostra poucadinmica, ele comea habitualmente pelo pai e pela me, passando depois para os filhos.Se, porm, logo ao comear, se manifesta num representante alguma reao ntida, oterapeuta acompanha essa dinmica com suas perguntas e aborda os representantes quenela estejam claramente envolvidos.

    No necessrio, e freqentemente mesmo contraproducente, que todos osrepresentantes sejam logo interrogados, sobretudo nos sistemas maiores. Se uma dinmicaimportante se manifesta em algum, o terapeuta a acompanha imediatamente e, emconsonncia com ela, comea a fazer as primeiras alteraes na imagem. Se ele o fizer,estar acompanhando a fora e o fluxo de energia da constelao. Se no o fizer, com acontinuao das perguntas a fora se dissipa, pelo menos inicialmente. Caso se evidenciedepois que seguir a primeira dinmica no leva soluo e at mesmo desorienta, issopoder ser corrigido no decorrer do trabalho.

    Pode acontecer que um representante nada sinta mas esteja comunicando algo deverdadeiro com essa ausncia de sentimento. J outros precisam ser contidos em sualoquacidade para que se limitem ao essencial, que pode ser expresso de maneira muitosimples e breve. Quando um representante mostra um forte sentimento ou uma espontneareao fsica, o terapeuta fica nessa reao no verbal, ao invs de tirar dela orepresentante incentivando-o a descrev-la. Com efeito, o que interessa no so tanto aspalavras, mas a revelao da dinmica profunda da alma numa famlia. Quando as palavrasde um representante contrariam a impresso que a dinmica produziu no terapeuta, estedeve confiar tambm no prprio sentimento e comunic-lo. Muitas vezes isto contribui paraelucidar o que importante e adequado na expresso dos representantes.

    O terapeuta deve ficar atento para que a prontido de comunicar por parte dosrepresentantes no se autonomize. Existem constelaes em que os representantes, da.mesma forma como na famlia real, passam a disputar entre si, o que afasta do essencial.Nesse caso, o terapeuta deve reconduzir os representantes a um silncio que permita odesenvolvimento do que realmente importa. Alguns representantes se sentem

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    desconsiderados se no so imediatamente interrogados e pressionam o terapeuta nodecurso da constelao. Tambm aqui deve-se pedir que se contenham e assegurar a todosque tero oportunidade de dizer o que for significativo. Os representantes, com seussentimentos e comunicaes, so individualmente importantes; contudo, na medida em que

    esto dentro do sistema, no conseguem ter um olhar de conjunto e um direcionamentopara o sistema em sua totalidade. O terapeuta que os acompanha capaz disso e precisaestar consciente dessa tarefa.

    Durante as perguntas aos representantes, o terapeuta no deixa de manter tambm sob osolhos a pessoa que colocou a famlia -- que geralmente est olhando e ouvindo de fora --,percebe suas reaes pelo canto dos olhos e pode interrog-la, de vez em quando, sobre oque ela gostaria de dizer sobre as manifestaes dos representantes, e se fazem sentidopara ela. Um dos principais efeitos de uma constelao para a soluo de problemas docliente reside no fato de ele identificar a si mesmo e a prpria famlia nas reaes dosrepresentantes. Assim, embora acompanhando de fora, ele vibra em sintonia com o

    processo da constelao.

    8. A descoberta da dinmica familiarO cerne de todo trabalho com constelaes consiste em acompanhar as reaes dosrepresentantes e aquilo que o terapeuta "v" e sente, e em fazer as correspondentesalteraes e complementaes no contexto dos relacionamentos. Nesse trabalho se mostra,passo a passo, o que aflige a alma do grupo e a mantm no destino funesto, bem como oque pode desfazer o emaranhamento ou levar a uma soluo final os processos inconclusosnuma famlia. Neste particular, cada constelao nova e nica para o terapeuta. A cadavez, ele de novo desafiado a no se deixar levar por regras rgidas mas pelo amor, pelafora e verdade do prprio sistema. Caso o terapeuta perca contato com o fluxo darepresentao, isto no ser to desastroso, desde que recupere a tempo o contato.Caminhos errados so rapidamente reconhecidos e geralmente corrigidos quando oterapeuta confia no processo da constelao, nas reaes dos representantes e nos prpriossentimentos. Se o processo estanca, geralmente so necessrias novas informaes e aintroduo de pessoas importantes no sistema. Em seguida apresento algumas perguntasimportantes, que podem dirigir o processo de descoberta da dinmica familiar (j foramapresentadas, de modo semelhante, no captulo sobre o processo de informao).

    Elas apontam para uma variedade de processos na alma, que aqui apenas pode seresboada.

    Que indicaes para o processo na alma do grupo se depreendem imediatamente daimagem que foi colocada -- por exemplo, de um olhar para o cho ou do tremor nocorpo de algum representante--? A primeira imagem colocada a base de tudo 0mais e a conexo com ela no deve ser perdida na continuao do processo Se, essaprimeira imagem no d sustento, necessrio interromper a constelao.

    Que indicaes fornecem as palavras dos representantes, por exemplo: "No sintonenhuma relao com meus filhos"?

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    Quem est faltando no sistema e deve ser nele includo? Quem se sente atrado para sair do sistema, e para onde? Essa atrao resulta do

    destino pessoal, da vontade de seguir ou substituir outra pessoa, do desejo de expiarpor ela?

    Quem procura impedir que outra pessoa v embora? Quem atua no sistema paraseparar ou unir outras pessoas, por exemplo, os prprios pais?

    Quem no consegue assumir o lugar que lhe compete? Quem assume um lugar porpresuno?

    Quem est preso lembrana de um acontecimento funesto, -- por exemplo, adescoberta do corpo do pai que se suicidara -- e de que precisa essa pessoa paralibertar-se disso?

    Quem no foi reconciliado, -- por exemplo, uma antiga noiva do pai --, e de quenecessita para que se reconcilie?

    Por quem no se chorou? Que processos de despedida precisam ser retomados (deambos os lados) entre vivos ou entre vivos e mortos?

    Que mudanas e alteraes no sistema possibilitam que o amor flua, que umasituao seja concluda, que algo se cure, seja colocado em ordem ou fique em paz?O que no foi olhado ou nomeado e precisa s-lo?

    Quem no foi respeitado, que destino no foi honrado? Como podem os homens ser homens, as mulheres ser mulheres, os pais ser pais e os

    filhos ser filhos?

    Os meios para obter processos de mudana na constelao so os seguintes:

    permitir que sejam executados os impulsos de se movimentar; virar as pessoas na direo das outras ou na direo contrria; incluir ou afastar pessoas (s vezes, tambm para fora do recinto); colocar pessoas

    frente a frente ou lado a lado; ordenar pessoas de acordo com a hierarquia dentro de um sistema ou a precedncia

    do novo sistema, quando houver vrios; colocar pessoas deitadas ( em acidentes fatais de grande importncia no destino) e

    fazer com que outras se deitem ao seu lado, abraar-se fazer uma inclinao ou reverncia; olhar pessoas nos olhos; dizer frases que trazem luz e nomeiam algo oculto e que atuam de forma

    liberadora e curativa.

    Depois de fazer ou deixar fazer tais alteraes na posio e na postura dos representantes,o terapeuta, aps um adequado tempo de sensibilizao, verifica, com novas perguntas aosenvolvidos, o efeito dessas alteraes. Assim se desenvolve, passo a passo, um processo querevela, no decorrer da constelao, os eventos anmicos que enredam e que liberam, epossibilita a sua compreenso. No processo de descoberta e de soluo preciso observaralgumas coisas:

    O terapeuta no pode seguir todas as dinmicas do sistema. Precisa limitar-se ao que narepresentao se revela como essencial e que mais eficaz em relao ao desejomanifestado pelo cliente. Assim, o terapeuta se concentra na procura da soluo sistmica

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    9. A ordenao do sistemaNa maioria das vezes, o processo de uma constelao conduz a uma nova ordenao da

    sistema: a uma nova ordenao mais externa, atravs da imagem da soluo, que indica acada um o lugar certo e liberador no sistema; e a uma nova ordenao mais interna, queresulta das frases e tambm dos gestos trocados entre as pessoas.

    Ordenar uma constelao no sentido de se obter uma imagem da soluo obedece adeterminadas regras que em muitas constelaes se comprovaram como solucionadoras.Vou citar algumas regras gerais, que certamente permitem muitas variaes deposicionamento.

    Os filhos ficam de frente para os pais. Na maioria das vezes, a melhor soluo residena separao clara entre os nveis dos pais e dos filhos, que ento podem ver-se.

    Os filhos so ordenados entre si de acordo com a hierarquia de origem, isto ,primeiro o mais velho, em seguida o segundo, e assim por diante.

    A hierarquia de origem se mostra na imagem da soluo, no sentido horrio. Entre os pais, ocupa o primeiro lugar (a direita) o que tem maior responsabilidade

    quanto segurana da famlia ou que, por sua famlia de origem, tem um pesoespecial no que toca ao destino ou aos bens, ou ainda que j possui filhos de umrelacionamento anterior.

    s vezes, os filhos necessitam da segurana de um dos pais, por exemplo, quando 0outro est em risco de suicdio. Nesse caso os filhos ficam imediatamente ao lado doprogenitor que lhes proporciona segurana.

    Na separao dos pais, o lugar dos filhos freqentemente entre ambos. Entre ospais, o primeiro lugar cabe quele que permaneceu em casa.

    s vzes, os pais precisam ser fortalecidos por seus antepassados, sobretudo quandoestes morreram prematuramente. Pode-se ento colocar, por trs dos pais, os avs es vezes tambm outros antepassados.

    Por vezes, uma fila de pais ou irmos ou outros parentes j falecidos, junto a um oua ambos os pais, tem um sentido liberador, sobretudo quando uma corrente de amorinterrompida quer voltar a fluir e pessoas que antes no foram consideradas aindaprecisam manter, por algum tempo, um lugar junto aos vivos.

    Quando existem ligaes estveis anteriores das pais de que no resultaram filhos, opai se interpe entre a me e o parceiro anterior dela, e a me se interpe entre opai e a parceira anterior dele, a no ser que o amor anterior ainda atue tofortemente que impea essa soluo. Essa interposio no possvel se existemfilhos da relao anterior. Por exemplo, um homem separou-se da primeira mulher,com quem tem trs filhos, casou-se de novo e tem um filho com a segunda mulher.Ento a ordem a seguinte: primeiro vem a primeira mulher, depois os filhos doprimeiro casamento, a seguir o pai, ento sua segunda mulher e finalmente o filhodo segundo casamento. Nesse caso, deve-se notar que a primeira mulher, emboraanterior no sistema, ocupa posio secundria com respeito segunda mulher. J osfilhos do primeiro casamento tm (para o pai) posio anterior e precedncia sobre ofilho do segundo.

    s vezes, em razo de uma culpa grave, como um assassinato, preciso que algumabandone um sistema familiar ou que se satisfaa sua tendncia de abandonar a

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    famlia. Isto se mostra na constelao, na medida em que essa pessoa afastada oulevada para fora do recinto, de forma a aliviar o sistema. Outras pessoas que sintamvontade de ir embora devem ser viradas para fora. Com freqncia, porm, elasdevem ser novamente viradas para dentro na imagem da soluo, de forma a

    poderem participar melhor, mesmo que sintam impulso de ir embora. Isto maisfcil de se fazer quando ficou claro quem que elas querem seguir e, aps umprocesso de soluo, ambos podem ser virados de novo para dentro do sistema.

    Crianas abortadas, de forma espontnea ou voluntria, geralmente no socolocadas na fila dos irmos.

    Um saber claro sobre a ordem liberadora na imagem da soluo facilita muito 0 terapeuta.Os representantes no podem encontrar por si mesmos a ordem que libera porque, como jfoi mencionado, eles esto no sistema. Quando, porm, ficam na nova ordem, percebemmuito bem se ela boa ou no. Se no se sentem bem preciso geralmente "melhorar"alguma coisa no processo e na imagem da soluo.

    Para a ordenao existe ainda uma regra geral, alm dos critrios anteriormentemencionados: quanto mais simples forem as alteraes e quanto mais conectadas primeira imagem do sistema, tanto melhor. Modificaes excessivas confundem, produzindoinquietao e falta de clareza. A ordem na imagem da soluo no precisa ser sempre exata-- exceto quanto ordem seqencial dos irmos --, se a exatido representar um peso paraa dinmica da soluo. Assim, nem toda constelao precisa ser completamente ordenada,e nem sempre importante qual dos pais fica direita ou esquerda. Entretanto, de modogeral, justamente a imagem da soluo que guarda na memria uma fora liberadora delargo alcance. Assim, vale a pena cuidar que ela seja ordenada de uma forma certa eliberadora. As imagens da soluo despertam uma sensao de estarem bem formadas euma certa harmonia que ajuda. E eventualmente revestem uma certa beleza interior eexterior e irradiam para todos algo de prazer e de alegria.

    10. A introduo do cliente na constelaoA pessoa que coloca a famlia geralmente introduzida na constelao quando j sevisualiza para onde caminha a soluo e quando o processo decisivo precisa ser percorridocom a presena da prpria pessoa. Assim, quando o sistema j est mais ou menosordenado e a dinmica mais profunda foi esclarecida, a pessoa interessada colocadadiante do pai, da me ou de outras pessoas, para fazer ou dizer algo que a desprende deum destino alheio e faz com que ela tome e deixe fluir o amor, com os olhos abertos.

    Neste particular, muitas variantes so aceitveis.

    s vezes, o terapeuta trabalha s com os representantes at o final. Isto aconselhvelquando a prpria pessoa ainda no consegue defrontar-se com processos difceis desuportar em sua famlia, quando duvida, resiste ou simplesmente precisa de mais tempo edistncia para assumir plenamente o que se revela. Entretanto, o terapeuta precisa sentirque a pessoa foi tocada pelo que acontece na representao.

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    Quando os representantes esto muito emocionados e foram tomados a servio de assuntosfunestos, muitas vezes bom percorrer com eles os passos da soluo. Pois a pessoainteressada tambm est acompanhando de fora com seu sentimento e mais fcil para orepresentante sair do seu papel quando pde vivenciar no apenas o peso, mas tambm o

    alvio. J o cliente pode assumir o peso com mais facilidade, porque algo que lhepertence, o que no sucede com seu representante. E o cliente ter tempo, em seu dia adia, para o processo liberador e para seu aprofundamento, enquanto 0 representante serretirado do processo ainda no decurso da constelao. Alm disso, os representantes queparticipam da constelao de algum recebem algo de bom para si quando so tocados emalgo que tambm os afeta. Esta , entre outros, a grande vantagem do trabalho daconstelao num grupo: atravs da representao de destinos estranhos, tambm se recebemuito para si mesmo.

    Existem constelaes onde o representante da pessoa interessada est pouco tocado,embora o prprio terapeuta o esteja. Nesse caso pode-se introduzir o prprio cliente, logo

    que seja possvel. Com freqncia aparece ento, com muito mais clareza, a profundidadedo que acontece. Se porm a troca do representante pela pessoa interessada iria prejudicarou mesmo suprimir a emoo, melhor continuar trabalhando com o representante. Deve-se evitar fazer um processo com o representante e depois repeti-lo com o interessado, poiscom isto a fora e a tenso se dissipam. Caso seja preciso fazer um movimento amoroso emdireo ao pai ou me, o prprio interessado deve ser tomado para o processo; porm seeste acontece espontaneamente com o representante, o terapeuta deixa que ele fique, poralgum tempo, nos braos da me ou do pai, e ento geralmente precisa repetir o processocom o interessado.

    A pessoa que coloca sua famlia no introduzida desde o incio na constelao porque elaprpria no percebe a dinmica oculta em sua famlia -- caso contrrio, no necessitariadesse processo. Por esta razo, ela s entra em cena quando a dinmica da famlia foiesclarecida. Isto vale sobretudo quando a pessoa est enredada. Existem casos demovimento interrompido em que as experincias dolorosas sepultaram a confiana dacriana em ser acolhida pelos pais ou em que o filho se recusa a fazer tal movimento,rejeitando os pais com arrogncia. Nesses casos, pode ser conveniente colocarrepresentantes apenas para a me ou o pai, e trabalhar desde o incio com a prpria pessoainteressada. No movimento livre fica ento muito clara a dinmica do relacionamento e apessoa interessada chega freqentemente a uma boa soluo ou ao processo curativo, por simesma ou com pequena ajuda do terapeuta.

    11. A imagem da soluoA imagem da soluo acontece quando, depois de tudo o que ainda precisou ser dito eexecutado (por exemplo, uma reverncia), todos os representantes e a pessoa interessadase sentem bem em seus lugares. Muitas vezes, uma respirao profunda e um visvel alviopercorrem toda a famlia colocada. As fisionomias esto claras e abertas e, s vezes,realmente irradiantes.

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    A imagem da soluo, quando vivenciada como verdadeira e liberadora, tem para apessoa envolvida uma grande fora, que estrutura sua vida. Se, numa situao de estresse,o efeito de uma constelao corre o risco de perder-se, a lembrana ativa ou inconscienteda imagem da constelao conduz a alma, como um guia, atravs das dificuldades. O

    terapeuta pode chamar a ateno para esse ponto quando algum se pergunta ansioso se asoluo vai se manter. Mas se algum pergunta: "o que fao agora com essa imagem dasoluo?", isto revela que a constelao (ainda) no moveu coisa alguma na alma, sejaporque essa imagem no pode ser assumida, seja porque no tocou em profundidade a almado grupo familiar.

    Alguns participantes pedem a outros que anotem a constelao e tambm escrevam asfrases, porque temem que o importante se perca. Entretanto, esse direcionamento interiorpara "possuir" a imagem de uma constelao fecha a alma. Quando uma constelao toca aalma ela tambm faz efeito, justamente porque a pessoa se entrega ao que vivencia, semuma preocupao dispersiva sobre seu efeito no futuro.

    O terapeuta percebe com clareza se a constelao tem um efeito visvel na pessoaenvolvida, e em certas circunstncias a interroga a respeito. Um bom indcio do efeito deuma constelao o sentimento de soltura em todo o grupo, quando este deixa que atuesobre si a imagem da soluo. Existem porm tambm imagens de soluo que, apesar deserem certas, ainda ficam como que pairando no espao. Repetidas vezes recebi, longotempo depois de uma constelao, cartas de pessoas em que adequadamente mecomunicam: "Agora entendi".

    Por benfica que seja para todos uma boa imagem de soluo, nem sempre aconselhveluma constelao seja "bem" resolvida. Justamente nos casos onde existe dificuldade deassumir a dinmica que se manifesta, a fora da constelao aumenta se o terapeuta ainterrompe no auge dos acontecimentos e a deixa ficar sem soluo. Muitas vezes, istoestimula mais as foras saudveis na alma do que uma imagem da soluo. Porm esterecurso s aconselhvel quando o terapeuta tem clareza e est em sintonia com o queacontece na constelao.

    Uma imagem de soluo, assim como a prpria constelao, no precisa ser completa.Portanto, no precisam estar presentes todas as pessoas que pertencem ao sistema.Entretanto, quando a pessoa que coloca j foi includa na imagem da soluo, possvelque ela diga: "Estou sentindo falta de meu irmo". Nesse caso, pode-se colocar ainda oirmo. O terapeuta tambm pode completar a imagem introduzindo pessoas que, emborano sejam imediatamente importantes para a dinmica, pertencem imagem da soluo ea tornam mais "redonda" e poderosa.

    Acontece, repetidas vezes, que a imagem da soluo colocada peio terapeuta no aceitapelos representantes ou mesmo pela pessoa interessada. Neste caso, freqentemente faltaainda alguma informao, alguma pessoa ou algum acontecimento importante, que atento no foi considerado no processo da soluo. Se aparecem indcios nesse sentido, preciso completar o trabalho. Se, porm, a energia da constelao j se dissipou,geralmente preciso interromper. So situaes que muitas vezes pesam em todos osenvolvidos. O terapeuta precisa suportar isso e permanecer interiormente conectado com asoluo, mesmo que ela no tenha se manifestado.

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    Pode acontecer, ainda, que os representantes sugiram uma imagem que bem recebidamas que, de uma forma ou de outra, contraria as ordens do amor. Nesse caso, a terapeutano deve deixar-se seduzir pelos representantes ou pela pessoa envolvida. Por exemplo,numa constelao todas as pessoas se sentiram bem quando a primeira mulher do pai e a

    filha comum de ambos foram voltadas para fora e se afastaram alguns passos. Porm oterapeuta no confiou nisso. Levou o pai outra vez presena de sua primeira mulher e fezcom que ele lhe dissesse algo que a tocou muito. Ento o terapeuta pde trazer a mulherpara perto da segunda famlia do pai e sua presena e proximidade foi aceita pelosrepresentantes.

    Com isso eu gostaria de apontar para algo importante. Uma imagem de soluo, comotambm todo o processo da constelao, recebe geralmente sua adequao, antes de tudo,daquilo que precisa ser dito, portanto das palavras reveladoras e das frases liberadoras. Aimagem proporciona clareza, as frases proporcionam direo e fora. Sem as palavras queprecisam ser ditas, uma imagem pode bem aliviar e ser "bonita", mas talvez permanea

    superficial. O que atua na alma realmente atua atravs de imagens, mas no consiste emimagens. O essencial antes invisvel. A ressonncia com a alma pode de fato instalar-sepor meio da imagem, mas freqentemente s vibra com as palavras que atingem e liberam. sempre surpreendente verificar como imagens de constelao muito semelhantes abremna alma processos totalmente distintos, e como processos de soluo totalmente distintosconduzem a imagens de soluo semelhantes.

    12. As frases liberadorasO terapeuta pode indicar as frases da soluo ou deixar que sejam encontradas pelosrepresentantes. 0 essencial que elas resultem do processo da constelao e sejamadequadas. Elas surgem da compreenso dos processos profundos da alma numa famlia.Com freqncia elas ocorrem simplesmente ao terapeuta ou aos representantes quandoeles se abrem aos acontecimentos familiares e quando a alma do grupo est preparada parauma soluo. Elas do expresso ao vnculo e soluo, tocam e comovem a alma.

    Nas constelaes utilizamos duas espcies de frases de soluo: as que descobrem umvnculo de destino e as que desatam um vnculo de destino. As frases descobridoras tm umefeito liberador, porque nelas vem luz numa vivncia de espanto, muitas vezes muitotocante, o vnculo de destino que at agora determinou a vida, e porque elas exprimem aconcordncia com o amor que causou a vinculao ao destino. Tais frases so, por exemplo:"Mame, por voc vou encontrar sua irm na morte, e ento voc pode ficar com papai",ou: "Querido vov, voc perdeu tudo; eu tambm no conservo nada, ento fico perto devoc".

    As frases que liberam proporcionam ao amor a converso para o domnio aberto da vida.Elas honram o destino das pessoas conectadas, contemplam seu amor e deixam o destinocom aqueles que o devem carregar -- e geralmente j o carregaram. Assim, uma filhapoderia dizer noiva abandonada por seu pai: "Vejo sua dor mas no posso tir-la de voc;

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    tenho que deixar sua dor e sua raiva com voc e com papai. Seja bondosa comigo se eudeixo voc, fico com minha me e conservo meu namorado".

    As frases liberadoras s funcionam em confronto com a pessoa a quem algum est

    vinculado. Esse olhar de pessoa a pessoa precisa de um certo tempo, at que a relao e aligao sejam percebidas. A soluo acontece "cara a cara". Portanto, as frases da soluono devem ser ditas cedo demais. E preciso ficar atento para que as pessoas envolvidasrealmente entrem em ligao recproca. S ento as frases se comunicam, como queespontaneamente, e podem desenvolver todo o seu efeito.

    Nesse processo, o terapeuta fica atento a que a pessoa envolvida, enquanto diz as frasesliberadoras, mantenha o contato do olhar com a pessoa com a qual est envolvida pelodestino, pois com freqncia ela procura desviar o olhar e com isso conservar ossentimentos que mantm o enredamento. O terapeuta faz ento, cuidadosamente, com queela recupere o contato do olhar, de forma que os sentimentos que liberam encontrem sua

    expresso. Da mesma forma, o terapeuta fica atento, na repetio das frases da soluo, adequao da voz e sua fora liberadora, de modo que tambm a pessoa a quem se dirigee todo o grupo se convenam do passo liberador.

    Nem sempre as frases de soluo ocorrem logo aos representantes, ao terapeuta e mesmo pessoa envolvida. O terapeuta talvez se sinta ento um pouco desorientado. Nesse caso, bom que ele mantenha a situao num curto silncio. Ele tambm pode recorrer s frasespadronizadas que lhe so conhecidas, de Bert Hellinger ou de outros terapeutas. Elasconservam uma grande funo orientadora, mesmo que sejam freqentemente repetidas.

    essencial que a pessoa envolvida possa pegar as frases e vivenci-las de maneiraadequada e liberadora. s vezes o terapeuta precisar igualmente experimentar frases, atencontrar aquelas que trazem soluo. Isto tambm no traz problema, na medida em quea busca das frases permanecer no contexto da alma e em contato com ela.

    O terapeuta deve verificar com cuidado se a pessoa simplesmente repete as frases ou seestas so tambm acertadas para ela e a tocam. Se no alcanam o que adequado, preciso procurar outras frases. Se o terapeuta sente que as frases so acertadas mas notocam, ele precisar talvez lanar mo de mais alguma coisa na dinmica do sistema. Porexemplo, ele induz a um dilogo os representantes da me e do pai e, depois, coloca apessoa envolvida outra vez em relao e faz com que ela repita, na nova base, as frases dasoluo. Quando uma confrontao no liberta do emaranhamento, freqentemente houtras pessoas no sistema que precisam primeiro liberar algo entre si. Portanto, durante asfrases de soluo no se deve olhar apenas a pessoa envolvida, mas manter presente todo osistema.

    As frases liberadoras tocam o cerne do trabalho com constelaes. Elas fazem vibrar as"imagens da alma". Tais frases no se vinculam necessariamente s imagens da constelao,se bem que uma linguagem tocante tem sempre a capacidade de "ver". Experimentamosisto quando, independentemente de constelaes, e at mesmo numa conversa notelefone, a alma toca atravs das palavras. E fica claro, no mais tardar at que as soluesda alma advenham pela mediao das palavras, que a psicoterapia est longe de ser umatcnica de transmisso de informaes, e que o elemento fundamental da psicologia

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    consiste "no dizer, como forma de mostrar e fazer comparecer o presente e o ausente, arealidade em seu sentido mais amplo". (2) Na psicoterapia, atravs de uma linguagem quepreserva e guarda o que pertence alma, o mundo dito de novo em sua qualidadeanmica e o ainda-no-visto trazido luz. (3)

    13. Rituais nas constelaes familiaresNas constelaes familiares, os rituais desempenham um importante papel. O ritual, comoum procedimento repetido da mesma forma, associa-se s dimenses mais profundas darealidade. Nele so experimentadas foras anmicas que no podem, sem perder seusentido, ser transmitidas pela simples linguagem. Vou abordar aqui brevemente apenas trsrituais: a reverncia, o deitar-se ao lado dos mortos e a fileira dos antepassados. Ainclinao e a reverncia

    Na reverncia, a pessoa que coloca sua famlia inclina-se diante de seus pais. Ela se inclinadiante do destino que atua em sua famlia e das pessoas que carregam esse destino. Areverncia entendida de modo mais amplo do que a inclinao profunda.

    Na inclinao profunda, muitas vezes at o cho, uma pessoa deixa cair a presuno,sobretudo em face do pai ou da me. Tal gesto indicado quando algum permanece narecusa de se mover em direo aos pais, fez-lhes graves acusaes ou talvez mesmocometeu atos contra eles. Mesmo quando algum, por amor ou orgulho, se coloca acima dospais e com isso os perdeu internamente e s vezes tambm externamente, a inclinaoprofunda libera. Esse gesto restabelece o desnvel entre os pais e o filho e muitas vezes acondio para que o amor volte a fluir. No raramente, a inclinao profunda leva umapessoa a lgrimas abundantes, nas quais a compulso da presuno e talvez tambm aculpa podem se dissolver.

    O gesto de curvar-se no indicado quando a pessoa envolvida tem a sensao de serhumilhada pelos pais. Isto acontece, por exemplo, quando vem tona a recordao degraves maus tratos infligidos pelos pais. Aqui necessrio um outro processo de liberao,e geralmente preciso trabalhar primeiro com os pais na constelao.

    Uma inclinao profunda, feita com o devido sentimento, sempre libera, mesmo que nemsempre seja aceita pela outra pessoa. s vezes muito tarde para tal gesto, e ento apessoa precisa carregar diante dos pais a culpa e suas conseqncias. Se grande aresistncia contra a inclinao, pode-se pedir ao representante que a faa em lugar dapessoa envolvida. Isto muitas vezes produz um efeito ainda maior. O representante podeentregar-se mais facilmente ao que acontece. Nele, e no efeito sobre ele, costuma ser maisfcil perceber se autntico o gesto de curvar-se, e normalmente a pessoa envolvidaparticipa plenamente, de fora. A inclinao profunda feita pelo representante talvezsuporte mais, porque nela no existe o medo inibidor diante do despojamento e porquetambm a resistncia respeitada. Esse curvar-se envolve tambm um segundo movimento,igualmente importante, que o erguer-se. Atravs dele volta a fora e a coragem para umrelacionamento adequado e para o movimento amoroso.

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    A reverncia um gesto abrangente de respeito e homenagem e de soltar-se. Por ela sohonradas pessoas que nos precederam, juntamente com seus destinos. Atravs delaaceitamos os efeitos que o destino de outros trouxe nossa prpria vida e nosdesprendemos desse destino. Pela inclinao algo pode "declinar", isto , caminhar para seu

    fim, de forma a poder passar depois de algum tempo, mesmo quanto a seu efeito. Deitar-seao lado dos mortos

    Se algum morreu no sistema e queremos perceber o efeito de sua morte sobre a famlia,podemos virar para fora o representante da pessoa morta e afast-lo da famlia algunspassos. Podemos tambm fazer com que algum se retire do recinto. Se algum teve umamorte trgica ou se sua morte no foi devidamente considerada e honrada, pode-se fazercom que seu representante se deite no cho, geralmente de costas. Isto provocageralmente reaes muito fortes na constelao, pois o ato de morrer e a morte sosentidos com todo o seu efeito. Talvez algum queira deitar-se ao lado da pessoa morta, ouesta queira ser abraada mais uma vez, ou uma me ao morrer queira tomar, mais uma vez,

    seu filho nos braos, ou os vivos se curvam. Freqentemente no houve uma despedidaentre vivos e mortos, que ento pode ser resgatada.

    Quando se pede a uma pessoa que se deite ao lado de um morto, pode-se notar a atraoque a morte exerce e a necessidade freqente que sentem os vivos de estar entre osmortos. Com efeito, observa-se, muitas vezes, que os vivos querem trazer os mortos devolta vida. Quando se deitam ao lado deles, percebem logo que isso no possvel e queos mortos tambm no o desejam. Para outras pessoas, deitar-se ao lado dos mortos faz oefeito de uma redeno e pode-se perceber ento algo do poder que possui a vontade demorrer. Se um vivo permanece por algum tempo deitado ao lado de um morto, a intimidadena ligao vem tona. Porm muitas vezes os mortos tambm ficam inquietos, queremvoltar as costas e ser deixados em paz. A pessoa que vive sente ento que sua presenajunto aos mortos no desejada e pode mais facilmente encarar a vida.

    Uma mulher tinha passado por graves depresses e algumas tentativas de suicdio. Comoquadro de fundo, revelou-se que sentia uma profunda ligao com as vtimas de seu queridoav, que no regime nazista tinha denunciado muitas pessoas e as levado a um campo deconcentrao. Quando as vtimas e o av se deitaram no solo, a mulher quis imediatamentedeitar-se ao lado das vtimas. Olhou-as com lgrimas nos olhos e sentiu um profundo peso.O terapeuta trabalhou primeiro com o av e suas vtimas e o resultado foi que estas seafastaram da mulher. De repente, ela se sentiu muito s. Depois de algum tempo, seusolhos procuraram os olhos de seu marido e de seus filhos e ela disse: "Agora gostaria deficar de novo com os vivos".

    Um movimento como este geralmente s possvel depois que algum se deitou por algumtempo junto aos mortos. Como ritual, o deitar-se com os mortos transcende esse processo.Nele se experimenta que a vida e a morte fazem parte de uma s realidade. Para alm davontade da vida em afirmar-se, da esperana e do consolo, experimenta-se o efeitoliberador que resulta da concordncia e da sintonia com o abismo da realidade. Podemosexperimentar que a vida algo que emerge, por um momento, de algo obscuro e que secompleta e consuma quando volta a cair nesse obscuro. A vida e a morte, o sucesso e ohorror, como tudo o que existe, so acolhidos na grande realidade nica. A fileira dosantepassados

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    s vezes, mesmo depois que uma constelao foi resolvida, algum d a impresso de estarainda sem fora em seu lugar. Pode-se ento colocar essa pessoa com as costas apoiadasem seus pais. Desta forma, ela pode perceber e receber em si a fora deles, sentindo seusuporte e apoio. Se a fora dos pais no for bastante, pode-se colocar atrs deles outros

    antepassados, at que flua a corrente de fora.

    Quando os pais se separaram ou preciso assumir que esto separados, o terapeuta oscoloca juntos nesse ritual e depois os separa de novo. Pois, pelo menos no momento degerar, os pais estiveram assim juntos para a criana. A fora masculina pode serespecialmente sentida numa fileira de homens e a fora feminina numa fileira de mulheres.

    Na fileira dos antepassados, a pessoa no ganha apenas o sentimento de que sustentada eapoiada pelos pais, pelo grupo familiar e pela grande alma, mas tambm o saber e a forade perceber que ela prpria agora uma pessoa adulta. Justamente quando foramtrabalhadas as vivncias traumticas da criana e as necessidades infantis, entra em ao

    desta forma, alm do movimento amoroso, aquilo que d apoio e sustento pessoa. Aomesmo tempo, abre-se nesse ritual, para muitas pessoas, o olhar para a frente. Nossa vidano apenas carregada pela "fonte", mas tambm pelo "desnvel" que nos puxa para afrente.

    14. A constelao condensadaNos ltimos anos, Bert Hellinger vem trabalhando, com freqncia cada vez maior, comconstelaes condensadas. Nessa forma breve - ou melhor, intensiva - de representao,no colocamos e mantemos diante dos olhos um sistema familiar, mas a pessoa interessada,em seu relacionamento individual com a me, o pai, um parceiro, um filho, uma doena oua morte. O que aqui est no centro da ateno no tanto 0 emaranhamento ou avinculao ao destino que abrange toda a famlia, quanto as foras que atuam sobre a almade algum com respeito a certos relacionamentos ou a temas como culpa pessoal,ressentimento e morte.

    O terapeuta pede ao cliente que escolha e posicione em relao recproca representantespara as poucas pessoas que importam ou para as foras que atuam. A seguir, confia osrepresentantes dinmica que os move na representao, sem interferir no processo. Osrepresentantes expressam com o corpo e sem palavras aquilo que move sua alma.

    O terapeuta geralmente no interfere. Desta forma coloca-se muitas vezes em movimentoum processo muito impressionante, que mostra tanto o problema e a necessidade quando asoluo. A pessoa envolvida presencia geralmente de fora e se entrega ao que ela v, quese comunica a ela e a toca.

    Esse tipo de representao especialmente recomendado quando uma constelao familiarpoderia desviar de algo que est imediatamente desafiando a alma. Quando algum estgravemente doente, pesquisar um emaranhamento no ajuda muito ou, em todo caso, sajudar depois que essa pessoa se defrontou com sua doena.

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    Um homem que sofria de cncer queria saber em que contexto familiar poderia entendersua doena. Entretanto, o terapeuta lhe pediu que colocasse apenas a si mesmo, suadoena e sua morte. No decurso da constelao, o representante escolhido evitava adoena e a morte e no queria encar-las. A morte dava uma impresso de desamparo e a

    doena se postava de braos abertos. Quando o representante, depois de algum tempo, sevoltou para a doena -- representada por uma mulher mais velha -- e caminhou ao seuencontro, aconteceu um abrao terno entre ambos. A morte se retirou um pouco,permaneceu ligada e deu a impresso de tranqilidade.

    O terapeuta no interrogou o representante e tambm no comentou o trabalho realizado.O homem pareceu muito tocado e tranqilo. Apenas numa rodada seguinte ele se declaroudecepcionado por no saber o que fazer com aquela representao. Mas quando oterapeuta lhe perguntou: "Que peso teria o saber que voc busca, em confronto com aquiloque voc viu?", vieram-lhe lgrimas de novo e ele concordou com a cabea. Numaencenao como esta, ningum sabe exatamente o que acontece e o que atua. Contudo,

    algo de essencial surge diante dos olhos.

    s vezes, sobretudo quando se trata de um movimento interrompido, o terapeuta podetambm fazer com que a pessoa envolvida se coloque pessoalmente na relao,dispensando o representante, e se exponha diretamente ao processo da encenao. Isto indicado quando o que est em primeiro plano menos o que o cliente "v" e mais o queele sente, por exemplo, a fora liberadora do movimento para a me. Se a representaono progride, o terapeuta pode interferir com cuidado para que o cliente ou umrepresentante ultrapasse algum limiar, deixando-os ento entregues continuao doprocesso at sua concluso. Se o cliente ou os representantes, apesar de sensibilizados, nose colocam em movimento, o terapeuta pode tambm interrog-los em busca de novainformao. Talvez seja ainda preciso introduzir outra pessoa ou fora personificada, outambm se possa ampliar a representao at que se transforme numa constelaofamiliar. O terapeuta simplesmente se entrega ao que v e sente, e progride com a forada alma.

    Mais ainda do que a constelao familiar, a representao condensada escapa de qualquerrotina teraputica e de qualquer "fazer" que pretenda ajudar. Embora transcorra de formasimples e singela, ela exige dos representantes uma entrega completa e do terapeuta - queaparentemente s deixa as coisas acontecerem - alto grau de ateno e concentrao.Justamente quando se trata de doena, morte e culpa, os participantes se defrontam comas zonas limtrofes da vida e com a necessidade de uma profunda sintonia com a realidade.

    15. Durao e trmino de uma constelao familiar

    Durao

    Uma constelao breve e concentrada geralmente a mais eficiente. Pode-se gastar cincoa dez minutos numa representao condensada, ou vinte a trinta minutos numa constelaofamiliar. Porm j tive constelaes que duraram quase uma hora, porque precisaram de

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    todo esse tempo. Isso acontece sobretudo quando, ao final de uma constelao, apareceuma informao importante que exige a continuao do processo, quando precisoprocurar soluo tambm para outras pessoas da famlia, quando se deve aliviarrepresentantes muito sobrecarregados. O mesmo acontece em confrontos entre

    perpetradores e vtimas, onde preciso lutar intensamente por uma soluo, e tambmquando um movimento interrompido precisa ser resgatado dentro da constelao.

    essencial que a energia e a ateno sejam mantidas durante toda a constelao. Se osrepresentantes ficam cansados, o grupo inquieto e o cliente confuso, ento geralmente aconstelao j durou um tempo excessivo. O risco de prolong-la demais existeprincipalmente quando o terapeuta se desvia numa interpretao, deixa os representantesexcessivamente entregues prpria dinmica ou pretende resolver de uma vez todos osproblemas que surgem numa famlia. A fora de uma constelao reside no seu mnimo.

    Naturalmente existem constelaes que estacam de repente ou cuja energia no se

    mantm sempre num nvel elevado. s vezes, o terapeuta precisa buscar e experimentar oque faz progredir e nessa tentativa nem sempre encontra o caminho certo. Ele tem odireito de se dar o tempo de que precisa para que a constelao possa chegar a um bomresultado. melhor pagar o preo de uma baixa de energia durante a representao do queinterromp-la prematuramente e forar uma soluo no confivel. Enquanto 0 terapeutaestiver agindo em consonncia com a alma da famlia que est sendo configurada, ele nopoder cometer muitos erros. Caso perca o contato com a alma da famlia, ou esta seesquive, ou a busca da soluo se torne muito trabalhosa e cansativa, a constelao precisaser interrompida. A interrupo

    A interrupo de uma constelao familiar uma interveno de poderoso efeito, que deveabsolutamente resultar do que acontece na prpria representao. Com freqncia ainterrupo alivia o cliente, porque ele mesmo percebe que ela no progride ou que entrouem pista errada. Talvez ele tenha mais tarde nova oportunidade de colocar sua famliaquando isto se torne possvel em virtude de uma nova informao, de um novodirecionamento ou da melhora de sua conexo interna com a famlia.

    s vezes, porm, o cliente foi muito mobilizado e reage at com ressentimento contra ainterrupo. O terapeuta deve mant-la e no debit-la a si mesmo, a no ser que a tenhainterrompido por estar fora de sintonia com o que estava acontecendo. Freqentementeuma interrupo incentiva a alma do cliente a buscar informaes importantes ou oconfronta com a prpria impotncia em querer algo sem condies. Ou ainda, a interrupopode mostrar que se buscou a soluo no lugar errado, por exemplo, no sistema de origem,embora a fora da soluo aponte para o sistema atual. Sejam quais forem as razes parauma interrupo, ela precisa estar sempre a servio da alma de quem buscou conselho eno deve ser dirigida contra ele.

    A maioria das interrupes resulta da falta de informaes importantes. A responsabilidadepelo fato deve pertencer ao cliente ou sua famlia. Freqentemente, porm, asinterrupes so necessrias quando a pessoa se depara com uma fronteira difcil que elano quer ou no pode ultrapassar. O terapeuta renuncia ento ao processo que resolveria aconstelao, para que essa fronteira seja plenamente encarada. Muitos clientes, queinicialmente ficam chocados, mostram-se depois muito agradecidos. Pode acontecer, por

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    exemplo, que algum seja deixado junto de pessoas mortas de quem no queiradesprender-se. H pouco tempo, recebi uma carta de uma mulher gravemente enferma. Eua tinha confrontado com a morte numa representao e deixei a morte junto dela, semceder a seu pedido de uma soluo melhor. Agora, passados trs anos, ela me escreveu:

    "Agradeo. A morte continua a meu lado e estou viva". O trmino

    O melhor momento para terminar uma constelao familiar quando aparece a soluo echegam ao auge a fora e a energia. A pessoa envolvida pode ento abandonar aconstelao "carregada de soluo". O fim da constelao realmente um comeo, queproduz algo que leva adiante na vida e que alimentado por uma nova fora da alma.

    Isto no significa, porm, que s se deva encerrar uma constelao no seu auge. Muitasvezes preciso que se faa um pequeno acrscimo ou um fecho harmonioso. E embora oauge da constelao tenha sido alcanado com uma emocionante reverncia a um dos pais,o processo precisa ser arredondado com o encontro com o outro progenitor, com o

    alinhamento dos irmos ou com alguma frase de soluo que seja dita a outras pessoas dafamlia que passaram a ser importantes. Para muitas pessoas, muito liberadorexperimentar como, ao sair de um emaranhamento, o olhar fica livre para outros membrosda famlia e a pessoa sente o impulso de ir at elas para dizer-lhes algo ou abra-las.Sobretudo em constelaes muito liberadoras, nas quais tambm os representantes, quecostumam ficar margem do processo da soluo, estiveram muito presentes, existe umanecessidade de terminar a constelao como uma festa e expressar solidariedade e alegriana despedida.

    Se, entretanto, alguns representantes j querem voltar aos seus lugares enquanto outroscomeam a conversar durante o processo, seguramente no se chegou a um finalconcentrado e a constelao se desmancha. Por outro lado, se os representantes aabandonam contra a vontade e sentem o impulso de prolong-la posteriormente com suasreaes, ela provavelmente foi encerrada antes da hora. O encontro do final correto talvezseja a maior arte. O final tem o melhor xito quando permanece ligado ao incio daconstelao, inteno que o cliente expressou e fora que sustentou o processo.

    O trmino de uma constelao exige tambm que, concludo o trabalho, o terapeuta e ogrupo deixem em paz a pessoa envolvida e sua alma. Muitas vezes, na melhor dasintenes, os representantes ainda querem acrescentar alguma coisa ou ocorre algo aoterapeuta que ele ainda queira comunicar, e talvez o prprio cliente ainda no estejasatisfeito. Ceder a tais impulsos prejudica a alma e compromete o efeito da constelao.Caso haja um complemento importante do cliente, dos representantes ou do terapeuta, eledeve ser feito a servio do cliente e do que foi conseguido durante o trabalho. O que importante no se perde e encontra seu momento adequado.

    Para que uma constelao possa ser eficaz, seu efeito precisa ficar visvel no prpriodecorrer do processo. A prpria pessoa que colocou a famlia mostra algo desse efeito, oterapeuta se assegura dele na soluo e tambm o grupo pode perceb-lo. Esse efeitopermanece ento confiado alma. Em ltima instncia, no sabemos o que realmenteresolve. J presenciei constelaes muito satisfatrias que a longo prazo se revelarampouco eficazes. E j presenciei constelaes "ms" que posteriormente se mostraramextremamente eficazes. O terapeuta s pode confiar naquilo que v na constelao e ento

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    entreg-lo aonde pertence e onde seguir seu prprio caminho. No podemos assegurar oxito de uma constelao, por mais experimentados e seguros que sejamos no trato comesse trabalho. O terapeuta colabora com pouca coisa para o seu sucesso. Mas esse poucocompensa a coragem, o exerccio, a experincia e o esforo da compreenso crescente do

    terapeuta e o recompensa com um trabalho muito satisfatrio.

    16. Das ordens do amor aos movimentos da almaNos ltimos tempos, existe nas constelaes de Bert Hellinger uma evoluo das "ordens doamor" para os "movimentos da alma". Tal evoluo j se manifestou na "constelaocondensada". Sobretudo em casos onde os destinos familiares esto envolvidos emcontextos maiores e onde as solues no podem mais provir da alma da famlia mas apenas

    do espao da "alma maior", por exemplo, em destinos de vtimas e agressores,especialmente em conexo com acontecimentos polticos e sociais, Bert Hellinger muitasvezes deixa que os representantes, freqentemente colocados por ele mesmo, se movamlivremente sem palavras, sem interferir em seu processo interno e externo. Ento sedesenvolve um drama sem palavras, com uma dinmica espantosamente profunda. s vezesHellinger permite que os representantes relatem posteriormente seus processos interiores,outras vezes no. Em tais contextos to amplos, nenhum terapeuta pode proporcionar uma"viso geral" e o encaminhamento para uma soluo. Ele prprio, como os demais quepresenciam o processo, limita-se a contemplar e acolher o que, no espao dessa "almamaior", se manifesta em termos de movimento e de soluo.

    Tais representaes ultrapassam os limites da constelao familiar. Muitas vezes orepresentantes relatam depois vivncias e insights que os surpreenderam totalmente e queeles no teriam podido imaginar. Mesmo quando trabalha com famlias, Bert Hellinger vemconfiando totalmente na manifestao dos movimentos da alma. Ainda Jakob RobertSchneider, Sobre a 'Tcnica (Ias Constelaes Familiares 27 mais fortemente do que antes,o olhar se converte das solues procuradas dentro das ordens do amor sintonia da almacom a realidade, da forma como esta se revela.

    Minha inteno aqui apenas de aludir a esse desenvolvimento no trabalho de BertHellinger com as constelaes. Tal desenvolvimento no exclui o procedimento apresentadoneste artigo sobre as constelaes familiares, mas vai alm dele, mostrando em que medida

    permanece ainda aberto e inconcluso o trabalho que se faz a servio dos movimentos daalma.

    Trabalho apresentado pelo autor para o 1 Mdulo do ]'Treinamento Sul-americano emTerapia sistmica fenomenolgica de Bert Hellinger, Rio de Janeiro, setembro de 2001

    Do original alemo: Zur Technik des Familienstellens

    Traduo de Newton Queiroz

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    Referncias:

    (1) Ver Martin Heidegger, berlieferte Sprache zcnd technische Sprache (Linguagem

    transmitida e linguagem tcnica), Erker-Tterlag, St. Gallen, 1989.(2) Martin Heidegger, op. cit. p. 25

    (3) Martin Heidegger, op. cit. p. 27