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Conhecimento, cultura e linguagens

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  • Conhecimento, cultura e linguagens

  • VNIA DE MORAES

    CONHECIMENTO, CULTURA E

    LINGUAGENS

    1 Edio

    Taubat

    Universidade de Taubat

    2011

  • Copyright 2013. Universidade de Taubat.

    Todos os direitos dessa edio reservados Universidade de Taubat. Nenhuma parte desta publicao pode

    ser reproduzida por qualquer meio, sem a prvia autorizao desta Universidade.

    Administrao Superior

    Reitor Prof.Dr. Jos Rui Camargo

    Vice-reitor Prof.Dr. Marcos Roberto Furlan

    Pr-reitor de Administrao Prof.Dr.Francisco Jos Grandinetti

    Pr-reitor de Economia e Finanas Prof.Dr.Luciano Ricardo Marcondes da Silva

    Pr-reitora Estudantil Profa.Dra.Nara Lcia Perondi Fortes

    Pr-reitor de Extenso e Relaes Comunitrias Prof.Dr. Jos Felcio Goussain Murade

    Pr-reitora de Graduao Profa.Dra.Ana Jlia Urias dos Santos Arajo

    Pr-reitor de Pesquisa e Ps-graduao Prof.Dr.Edson Aparecida de Arajo Querido Oliveira

    Coord. Geral EaD Profa.Dra.Patrcia Ortiz Monteiro

    Coord.Acadmica Profa.Ms.Rosana Giovanni Pires Clemente

    Coord. de Materiais Profa.Ms.Isabel Rosngela dos Santos Ferreira

    Coord. de Recursos Visuais

    Coord. da rea de Pedagogia

    Coord. da rea de Humanas

    Coord. da rea Tecnolgica

    Coord. da rea de Cincias da Nat.e Matemtica

    Reviso ortogrfica-textual

    Projeto Grfico

    Autora

    Profa.Ms.Vnia de Moraes

    Profa.Dra.Ana Maria dos Reis Taino

    Profa.Ms.Fabrina Moreira Silva

    Prof.Ms. Andr Luiz Freitas Guimares

    Profa. Ms. Rosana Giovanni Pires Clemente

    Prof.Ms.Joo de Oliveira

    Ms.Benedito Fulvio Manfredini

    Profa. Ms. Vnia de Moraes

    Unitau - Reitoria Rua Quatro de Maro, 432 - Centro

    Taubat So Paulo CEP: 12.020-270 Central de Atendimento: 0800557255

    Educao a Distncia (EaD) Avenida Marechal Deodoro, 605 Jardim Santa Clara Taubat So Paulo CEP: 12.080-000 Telefones: Coordenao Geral: (12) 3621-1530

    Secretaria: (12) 3625-4280

    Ficha catalogrfica elaborada pelo SIBi

    Sistema Integrado de Bibliotecas / UNITAU

    T134a Moraes, Vania

    Conhecimento, cultura e linguagens. Vania de Morais. Taubat:

    UNITAU, 2011. 84p. : il.

    ISBN 978-85-62326-25-7 1. Linguagens. 2. Meios de comunicao.3.Construo do

    conhecimento. 4.Formao do pesquisador. III. Universidade de Taubat. IV. Ttulo.

  • v

    PALAVRA DO REITOR

    Palavra do Reitor

    Toda forma de estudo, para que possa dar

    certo, carece de relaes saudveis, tanto de

    ordem afetiva quanto produtiva. Tambm, de

    estmulos e valorizao. Por essa razo,

    devemos tirar o mximo proveito das prticas

    educativas, visto se apresentarem como

    mxima referncia frente s mais

    diversificadas atividades humanas. Afinal, a

    obteno de conhecimentos o nosso

    diferencial de conquista frente a universo to

    competitivo.

    Pensando nisso, idealizamos o presente

    fascculo, que aborda contedo significativo e

    coerente sua formao acadmica e ao seu

    desenvolvimento social. Cuidadosamente

    redigido e ilustrado, sob a superviso de

    doutores e mestres, o resultado aqui

    apresentado visa, essencialmente, a

    orientaes de ordem prtico-formativa.

    Cientes de que pretendemos construir

    conhecimentos que se intercalem na trade

    Graduao, Pesquisa e Extenso, sempre de

    forma responsvel, porque planejados com

    seriedade e pautados no respeito, temos a

    certeza de que o presente estudo lhe ser de

    grande valia.

    Portanto, desejamos a voc, aluno, proveitosa

    leitura.

    Bons estudos!

    Prof. Dr. Jos Rui Camargo

    Reitor

  • vi

  • vii

    Apresentao

    Ao atiramos uma pedra num lago, forma-se uma sequncia de ondas que se propagam

    por toda a superfcie aqutica. Podemos fazer uma analogia desse fenmeno com as

    grandes transformaes socioculturais provocadas pelos avanos tecnolgicos. O

    mundo um grande lago; com os avanos tecnolgicos, principalmente relacionados

    tecnologia digital, as ondas alcanam os cantos mais remotos do planeta, refletindo de

    maneira direta e significativa nas questes relacionadas ao tema: Conhecimento,

    cultura e linguagem, que o ttulo deste fascculo.

    O mundo contemporneo marcado pela comunicao em rede que possibilita ampliar

    as conexes lingusticas textuais nos mais variados contextos socioculturais.

    Informaes so registradas e disseminadas em questes de segundo: tempo real,

    instantaneidade e mobilidade, caracterizam a cultura digital, trazendo grandes desafios

    para quem buscar a compreenso de novos significados dentro do processo constante de

    construo do conhecimento. Tendo em vista o panorama atual, a proposta maior deste

    fascculo discutir alguns conceitos bsicos relacionados ao conhecimento, cultura e

    linguagem, observando a estreita relao entre eles na formao do processo de

    significao e, consequentemente, aquisio de novos saberes.

    Espero que as diversas questes apresentados nas unidades deste fascculo despertem o

    seu interesse para anlises, interpretaes e intervenes. Convido voc agora, para

    atirar sua pedra e ingressar neste universo!

  • viii

  • ix

    Sobre a autora

    Vania de Morais: Doutora em Comunicao e Semitica, pela Pontifcia

    Universidade Catlica de So Paulo PUC SP; mestre em Lingustica Aplicada,

    pela Universidade de Taubat UNITAU; ps-graduada em Administrao de

    Marketing e Comrcio Exterior e em Comunicao Social, pela Universidade de

    Taubat UNITAU; graduada em Educao Artstica com Habilitao em Artes

    Plsticas, pela Faculdade de Belas Artes de So Paulo.

    Atuao profissional: Professora de Comunicao e Arte em instituies de ensino

    superior h 15 anos. Professora efetiva da Rede Pblica do Estado de So Paulo.

    Atualmente integra o corpo docente do curso de Ps-graduao em Leitura e

    Produo de Gneros Discursivos da Universidade de Taubat. Possui experincia

    no mercado na rea de propaganda, design e editorao.

  • x

  • xi

    Caros(as) alunos(as),

    Caros( as) alunos( as)

    O Programa de Educao a Distncia (EAD) da Universidade de Taubat apresenta-se

    como espao acadmico de encontros virtuais e presenciais direcionados aos mais

    diversos saberes. Alm de avanada tecnologia de informao e comunicao, conta

    com profissionais capacitados e se apoia em base slida, que advm da grande

    experincia adquirida no campo acadmico, tanto na graduao como na ps-graduao,

    ao longo de mais de 35 anos de Histria e Tradio.

    Nossa proposta se pauta na fuso do ensino a distncia e do contato humano-presencial.

    Para tanto, apresenta-se em trs momentos de formao: presenciais, fascculos e Web

    interativa. Conduzem esta proposta professores/orientadores qualificados em educao a

    distncia, apoiados por fascculos produzidos por uma equipe de profissionais preparada

    especificamente para este fim, e por contedo presente em salas virtuais.

    A estrutura interna dos fascculos formada por unidades que desenvolvem os temas e

    subtemas definidos nas ementas disciplinares aprovadas para os diversos cursos. Como

    subsidio ao aluno, durante todo o processo ensino-aprendizagem, alm de textos e

    atividades aplicadas, cada fascculo apresenta snteses das unidades, dicas de leituras e

    indicao de filmes, programas televisivos e sites, todos complementares ao contedo

    estudado.

    Os momentos virtuais ocorrem sob a orientao de professores especficos da Web. Para

    a resoluo dos exerccios, como para as comunicaes diversas, os alunos dispem de

    blog, frum, dirios e outras ferramentas tecnolgicas. Em curso, podero ser criados

    ainda outros recursos que facilitem a comunicao e a aprendizagem.

    Esperamos, caros alunos, que o presente material e outros recursos colocados sua

    disposio possam conduzi-los a novos conhecimentos, porque vocs so os principais

    atores desta formao.

    Para todos, os nossos desejos de sucesso!

    Equipe EAD-UNITAU

  • xii

  • xiii

    Sumrio

    Palavra do Reitor ............................................................................................................ v

    Apresentao ................................................................................................................. vii

    Caros(as) alunos(as) ...................................................................................................... xi

    Ementa ............................................................................................................................. 1

    Objetivos .......................................................................................................................... 2

    Introduo ....................................................................................................................... 3

    Unidade 1. As vrias formas de linguagem e sua funo social ................................ 5

    1.1 Linguagem como representao do mundo e do pensamento .................................... 5

    1.1.1 Lngua e linguagem ................................................................................................. 7

    1.2 A linguagem e os signos ........................................................................................... 12

    1.3 Linguagens como forma de ao ou interao ......................................................... 16

    1.3.1 Linguagem e cultura ............................................................................................. 20

    1.4 Sntese da unidade .................................................................................................... 23

    1.5 Para saber mais ......................................................................................................... 23

    Unidade 2. Uma questo de arte ................................................................................ 27

    2.1 Arte e tcnica ............................................................................................................ 28

    2.1.1 Arte e tcnica ......................................................................................................... 29

    2.2 O prazer da arte......................................................................................................... 33

    2.3 Realidade: uma questo filosfica ............................................................................ 36

    2.4 Sntese da unidade .................................................................................................... 41

    2.5 Para saber mais ......................................................................................................... 41

    Unidade 3. Comunicao: da oralidade informtica .............................................. 43

    3.1 Aspectos gerais do processo de comunicao .......................................................... 43

    3.1.1 Modelo de comunicao informal ......................................................................... 45

    3.1.2 Modelo de comunicao massivo .......................................................................... 45

    3.1.3 Modelo de comunicao informatizado ................................................................ 46

    3.2 Cultura de massa ....................................................................................................... 47

    3.3 Cultura e informatizao .......................................................................................... 55

    3.3.1 Cibercultura ........................................................................................................... 57

    3.3.2 As novas concepes de produo no universo virtual ......................................... 59

  • xiv

    3.4 Sntese da unidade .................................................................................................... 62

    3.5 Para saber mais ......................................................................................................... 62

    Unidade 4. A sociedade da informao e a construo do conhecimento ............... 65

    4.1 Uma questo de identidade ....................................................................................... 65

    4.2 Processo de Humanizao ........................................................................................ 68

    4.3 Conhecimento escolar............................................................................................... 71

    4.4 Sntese da unidade .................................................................................................... 74

    4.5 Para saber mais ......................................................................................................... 74

    Caderno de Atividades.................................................................................................... 77

    Referncias ..................................................................................................................... 81

  • 11

    ORGANIZE-SE!!!

    Voc dever usar de 3

    a 4 horas para realizar

    cada Unidade.

    Conhecimento, cultura e linguagens

    Ementa

    EMENTA

    As vrias formas de linguagem e sua funo social. As novas

    tecnologias como recurso didtico na sala de aula. A sociedade da

    informao e a construo do conhecimento. As novas concepes de

    arte no espao virtual. Da oralidade informtica: da idade da pedra ao

    disco ptico.

  • 22

    Objetivo Geral

    O objetivo geral deste fascculo discutir como os avanos da tecnologia

    digital influenciam diretamente nas questes relacionadas ao conhecimento,

    cultura e linguagem.

    Obj eti vos

    Objetivos Especficos

    Destacar a funo social da linguagem.

    Valorizar os aspectos artsticos e estticos na construo do processo de

    significao.

    Ressaltar como a comunicao se relaciona diretamente com a cultura e

    a construo do conhecimento.

    Discutir a necessidade de investimentos efetivos nas questes

    relacionadas ao processo de humanizao para a conquista do avano

    social de forma democrtica.

  • 33

    Introduo

    Caro aluno,

    As questes referentes ao conhecimento, cultura e linguagem so extremamente

    abrangentes, uma vez que se relacionam, de maneira direta ou indireta, a todas as

    atividades humanas. Assim, para discutirmos de maneira reflexiva sobre esses assuntos,

    podemos caminhar por diversas reas do conhecimento, entre elas: antropologia, arte,

    comunicao, filosofia, histria, psicologia, semitica e sociologia.

    Com o objetivo de viabilizar nossos estudos, nesse universo to amplo, apontaremos a

    seguir alguns caminhos que iremos trilhar, em cada uma das unidades que compem

    este fascculo:

    Na Unidade 1 As vrias formas de linguagem e sua funo social observaremos

    como a linguagem est diretamente relacionada com o processo de representao e

    significao do mundo; discutiremos questes relacionadas aos signos abordando

    conceitos da semiologia e observaremos como os aspectos culturais determinam nossa

    forma de ver e estar no mundo levantando, para isso, conceitos relacionados cultura.

    Na Unidade 2 Uma questo de arte discutiremos a arte como linguagem, ou seja, a

    arte como uma maneira sensvel de representaes simblicas, que propicia a percepo

    de diversas significaes. Destacaremos alguns conceitos referentes apreciao

    esttica e algumas questes filosficas relacionadas s representaes da realidade.

    Na Unidade 3 Comunicao: da oralidade informtica ressaltaremos que por

    meio da simbolizao que o conhecimento condensado, as informaes so

    processadas, as diversas experincias so acumuladas transmitidas e transformadas.

    Levantaremos o conceito de comunicao formal, massiva e informatizada, destacando

    as grandes mudanas culturais provocadas pela comunicao de massa e como os meios

    x

  • 44

    de comunicao digitais esto influenciando de maneira direta nosso modo de ser e

    perceber o mundo.

    Na Unidade 4 A sociedade da informao e a construo do conhecimento

    discutiremos como as grandes mudanas socioculturais provocadas pelo avano da

    tecnologia digital (que alteram as formas de comunicao, o fluxo de informao e

    consequentemente a maneira de conceber o conhecimento) influenciam de maneira direta nas

    questes relacionadas identidade cultural dos indivduos e das naes. Ressaltaremos

    a necessidade de investimentos efetivos nas questes relacionadas humanizao, para

    a concretizao da evoluo social de forma democrtica e refletiremos sobre o

    conhecimento escolar como fonte de produo, crtica, seleo, confronto e, acima de

    tudo, diversidade de valores socioculturais.

    No final das unidades, apresentaremos algumas sugestes de leitura, filmes, livros,

    assim como, um quadro contendo o perfil dos artistas que ilustram este fascculo e as

    referncias de todo o texto.

    Nesse processo de seleo das informaes apresentadas sobre o tema Conhecimento,

    cultura e linguagem, provvel que voc identifique trechos nos quais teria sido

    desejvel dizer mais. Esperamos, porm, que essas percepes estimulem voc a novas

    buscas. Caso isso ocorra, sem dvida nenhuma, atingiremos nosso maior objetivo, que

    : estimular pesquisa e, consequentemente, ampliao do conhecimento.

  • 55

    Unidade 1

    Unidade 1. As vrias formas de linguagem e sua funo social

    Nesta unidade apresentaremos a linguagem como um sistema simblico que possibilita

    variados tipos de intercmbio entre o ser humano e o universo. Aprendemos, criamos,

    expressamos, interiorizamos, comunicamos, interagimos, agimos por meio das diversas

    linguagens verbais e no-verbais.

    Conhecer as diferentes formas de linguagem entender como formamos nossas ideias e

    conceitos sobre o mundo. A compreenso do saber lingustico, que muitas vezes se

    encontra na prpria histria da linguagem, fundamental para promovermos as

    competncias indispensveis que nos possibilitam encarar os desafios sociais, culturais

    e profissionais do mundo contemporneo.

    Dentro desse quadro discutiremos, em um primeiro momento, algumas questes

    relacionadas linguagem como forma de representao do mundo e do conhecimento;

    num segundo instante, vamos discutir sobre os signos, para isso abordaremos algumas

    questes relacionadas semitica; para finalizar relacionaremos a linguagem com as

    questes culturais.

    1.1 Linguagem como representao do mundo e do pensamento

    Voc j pensou como seria o mundo sem a linguagem?

  • 66

    Considerando que para responder essa questo necessrio usarmos a prpria

    linguagem, podemos concluir que ela permeia todas as atividades humanas, e assim, o

    ser humano constitui-se como um ser de linguagem.

    Dada a importncia da linguagem em nossa vida, discutir esse tema um desafio

    interessante. Espera-se, porm, que voc use seus prprios meios para refletir sobre as

    ideias apresentadas a seguir.

    Inicialmente, importante ressaltar que a principal razo de qualquer ato de linguagem

    a produo de sentido. Somente por meio das diferentes linguagens somos capazes

    de conhecer o mundo e a ns mesmos. Com isso, a linguagem tanto objeto como meio

    de conhecimento.

    No entanto, para aprender a ler esse universo natural e cultural, necessria uma

    tomada de conscincia dos diferentes cdigos que compem a linguagem. Esses cdigos

    so verbais e no-verbais.

    Na linguagem verbal, como o prprio nome sugere, os cdigos so verbalizados por

    meio das palavras (faladas ou escritas). J a linguagem no-verbal no faz uso das

    palavras e sim das expresses corporais (o olhar, o toque, a dana, os gestos), das

    imagens (as fotografias, os desenhos, as cores, as texturas), dos sons (a msica

    instrumental, o canto dos pssaros, o bocejo, o apito do juiz) e dos odores (perfumes),

    entre outros signos.

    Em uma sociedade como a nossa, em que a tecnologia avana aceleradamente, os

    cdigos lingusticos multiplicam-se de forma dinmica em vrias instncias.

    voc est dirigindo o carro enquanto ouve um audio-livro e interrompido

    por uma ligao no celular. Ou voc est em casa sentado numa poltrona,

    com o romance que acabou de comprar enquanto na televiso ligada espera

    do noticirio passam um anncio sobre as novas funes do iPod. Voc se

    levanta e vai at o computador para ver se compreende essas novidades

    (CANCLINI 2008, p.11).

  • 77

    Atualmente comum encontrarmos a palavra lngua sendo usada como sinnimo

    de linguagem, entretanto, cabe ressaltar as seguintes definies:

    Lngua - um sistema formado por regras e valores presentes na mente dos

    falantes de uma comunidade lingustica, aprendido graas aos inmeros atos de

    fala/escrita com que eles tm contato. A lngua um cdigo que combina palavras

    e frases para formar textos.

    Linguagem a vivncia da lngua. Com base nas pesquisas desenvolvidas pelo

    filsofo russo Mikhail Bakhtin, podemos dizer que a linguagem ultrapassa os

    elementos e as normas que compem a lngua. Essa concepo apresenta como

    peas-chave a relao interpessoal, o contexto de produo dos textos, as

    diferentes situaes de comunicao, os gneros discursivos, a inteno de quem o

    produz o texto e a interpretao de quem o recebe, entre outros fatores.

    Quadro 1.1 Lngua e linguagem Disponvel em: http://revistaescola.abril.com.br/lingua-portuguesa/fundamentos/qual-diferenca-lingua-

    idioma-dialeto-427786.shtml

    Acesso em 23/12/2009.

    Para entendermos melhor a relao entre a construo do conhecimento e dos cdigos

    da linguagem, vamos abord-los num breve contexto histrico.

    Cabe ressaltar, entretanto, que a histria da linguagem a nossa prpria histria. Afinal,

    todos os conhecimentos e as experincias prticas j acumulados so vistos, contados e

    registrados por meio das diversas linguagens.

    Para contarmos um pedacinho dessa histria, iniciamos apontando a estreita relao

    entre a lngua e a linguagem.

    1.1.1 Lngua e linguagem

    Segundo o compndio Ethnologue, nos dias de hoje existem no mundo

    aproximadamente 6.909 idiomas falados. Questes relacionadas origem dessa

    diversidade tm intrigado o homem desde a remota antiguidade: como foram

  • 88

    Autor: Douglas Marques

    Na Bblia (Gneses 11:1) encontramos

    uma tentativa de explicar a origem das

    muitas lnguas faladas no mundo. O

    texto revela que na terra s havia uma

    lngua servindo-se das mesmas

    palavras. Nessa poca, alguns homens,

    com inteno de serem reconhecidos,

    resolveram construir uma cidade e uma

    enorme torre, cujo cimo atingisse os

    cus. O Deus bblico (Yahveh) no

    apreciando o projeto dos homens

    confundiu-lhes a lngua. A falta de

    comunicao provocou uma desordem

    total, assim como o cessar da

    construo. Os homens foram

    dispensados da cidade e espalharam-se

    por toda terra. Dessa forma s diversas

    lnguas foram propagadas

    .

    constitudas tantas lnguas diferentes? Qual a origem dessas lnguas? Em algum perodo

    histrico j existiu uma lngua universal?

    Quadro 1.2 Torre de Babel

    Mesmo com a dedicao de muitos pesquisadores na tentativa de apresentarem

    consideraes plausveis sobre essas questes, atualmente, vrias respostas encontram-

    se abertas.

    Entre tantos temas levantados nesse terreno polmico e controverso da linguagem, um

    ponto em especial vem suscitando inmeros estudos:

  • 99

    Quadro 1.3 Instinto

    Qual a relao do pensamento humano com a lngua?

    Diferente de outros animais, o homem biologicamente apresenta a capacidade para

    produzir um nmero infinito de expresses gramaticais a partir de um conjunto finito de

    elementos e princpios lingusticos. Ao longo de nossa vida somos capazes de articular

    palavras, formar frases e uma infinidade de textos, em variados contextos.

    A mente da criana no uma folha em branco;

    nascemos com uma espcie de instinto lingustico:

    princpios universais que se aplicam a qualquer

    uma das lnguas humanas, que nos possibilita

    aprender os mais variados assuntos, assim como,

    refletir sobre os valores e fundamentos das coisas.

    Assim, a linguagem est diretamente relacionada

    ao pensar e ao agir. Mikhail Bakhtin enxergava a

    lngua como um constante processo de interao

    pelo dilogo, e no somente como um sistema autnomo de signos lingusticos.

    Segundo essa concepo, a lngua s existe em funo do uso que locutores e

    interlocutores fazem dela em situaes de comunicao, no meio social. Todo discurso

    lingustico passa, necessariamente, pelo agente das relaes sociais, o homem, que se

    vale do conhecimento de enunciados anteriores para formular novos discursos, com

    novos significados.

    Os enunciados so modulados pelo falante de acordo com o contexto social, histrico,

    cultural e ideolgico. Aquele que enuncia seleciona palavras apropriadas para formular

    uma mensagem compreensvel para seus destinatrios. Por outro lado, o interlocutor

    interpreta e responde quele enunciado, internamente (por meio de seus pensamentos)

    ou externamente (por meio de um novo enunciado oral ou escrito), conforme ressalta a

    linguista Beth Brait (2005), estudiosa de Bakhtin.

    Todo discurso requer uma escolha diferente, de palavras, de frases, de estilos, que

    determina o gnero da mensagem. Em cada esfera de produo, circulao e recepo

  • 1100

    Biografia

    Mikhail Mikhailvitch Bakhtin nasceu em Orel, ao sul de Moscou, em 1895. Aos 23 anos, formou-se em

    Histria e Filologia na Universidade de So Petersburgo, mesma poca em que iniciou encontros para

    discutir linguagem, arte e literatura com intelectuais de formaes variadas, no que se tornaria o Crculo

    de Bakhtin. Em vida, publicou poucos livros, com destaque para Problemas da Potica de Dostoivski

    (1929). At hoje, porm, paira a dvida sobre quem escreveu outras obras assinadas por colegas do

    Crculo (h tradues que as atribuem tambm a Bakhtin). Durante o regime stalinista, o grupo passou a

    ser perseguido e Bakhtin foi condenado a seis anos de exlio no Cazaquisto (s ao retornar, ele finalizou

    sua tese de doutorado sobre cultura popular na Idade Mdia e no Renascimento). Suas produes

    chegaram ao Ocidente nos anos 1970 - e, uma dcada mais tarde, ao Brasil. Mas Bakhtin j havia morrido,

    em 1975, de inflamao aguda nos ossos.

    Concepes de linguagem

    Bakhtin e seu Crculo dialogaram com as principais correntes de pensamento de seu tempo. Na Rssia da dcada de 1920, tinham destaque as teorias de Karl Marx (1818-1883), das quais o Crculo aproveitou a noo fundamental da vida vivida como origem da formao da conscincia. (...) No que tange reflexo sobre a linguagem, as teorias bakhtinianas se distanciaram da abordagem proposta pelo suo Ferdinand Saussure (1857-1913), que concebia a lngua como social apenas no que concerne s trocas entre os indivduos. Bakhtin e o Crculo, porm, viam a lngua sofrer influncias do contexto social, da ideologia dominante e da luta de classes. Por isso, a linguagem ao mesmo tempo produto e produtora de ideologias. Suas teorias fundadas no dilogo, consideram a importncia do sujeito (locutores e interlocutores), das esferas de comunicao e dos contextos histricos, sociais, culturais e ideolgicos no uso efetivo da linguagem.

    Quadro 1.4 - Mikhail Bakhtin: o filsofo do dilogo Fonte: http://revistaescola.abril.com.br/formacao/formacao-inicial/filosofo-dialogo-487608.shtml

    Acesso em 23/12/2009.

    de discursos, existem discursos apropriados. Bakhtin classifica os diversos discursos

    quanto s esferas de uso da linguagem, sendo que:

    os discursivos primrios fazem parte da comunicao cotidiana so discursos

    espontneos que podem ocorrer em espaos pblicos ou privados, tais como,

    praas, feiras, em casa ou no ambiente de trabalho;

    os discursos secundrios so produzidos com a utilizao de cdigos culturais

    elaborados e, em muitos casos, complexos e especficos, tais como a escrita (em

    romances, teses, reportagens, etc.), o discurso jurdico usado em tribunais,

    entre outros.

    Grande parte dos conceitos elaborados por Bakhtin e o seu Crculo de intelectuais (ver

    quadro abaixo) servem como base terica para os estudos lingusticos da atualidade.

  • 1111

    O ensino da Lngua Portuguesa no Brasil

    1759 A Reforma Pombalina torna obrigatrio no Brasil o ensino de Lngua Portuguesa nas

    escolas. A inteno transmitir o conhecimento da norma culta da lngua materna aos filhos das

    classes mais abastadas.

    1800 A linguagem vista como uma expresso do pensamento e a capacidade de escrever

    consequncia do pensar. Na escola, os textos literrios so valorizados e os regionalismos,

    ignorados.

    1850 A maneira unnime de ensinar a ler o mtodo sinttico. As letras, as slabas e o valor

    sonoro das letras servem de ponto de partida para o entendimento das palavras.

    1860 Desde os primeiros registros sobre o ensino da lngua, a escrita vista independentemente da

    leitura e como uma habilidade motora, que demanda treino e cpia do formato da letra por parte do

    aprendiz.

    1876 O poeta Joo de Deus (1830-1896) lana a Cartilha Maternal. Defende a palavrao, modelo

    que mostra que o aprendizado deve se basear na anlise de palavras inteiras. um dos marcos de

    criao do mtodo analtico.

    1911 O mtodo analtico se torna obrigatrio no ensino da alfabetizao no estado de So Paulo.

    A regra vlida at 1920, quando a Reforma Sampaio Dria passa a garantir autonomia didtica

    aos professores.

    1920 Inicia-se uma disputa acirrada entre os defensores dos mtodos analticos e sintticos.

    Alguns professores passam a mesclar as ideias bsicas defendidas at ento, dando origem aos

    mtodos mistos.

    1930 O termo alfabetizao usado para determinar o processo inicial de aprendizagem de leitura

    e escrita. Esta passa a ser considerada um instrumento de linguagem e ensinada junto com a

    leitura.

    1940 As primeiras edies das cartilhas Caminho Suave e Sodr so lanadas nessa dcada,

    respeitando a tcnica dos mtodos mistos, e marcam a aprendizagem de geraes.

    1970 A linguagem passa a ser vista como um instrumento de comunicao. O aluno deve respeitar

    modelos para construir textos e transmitir mensagens. Os gneros no literrios so incorporados

    s aulas.

    1984 Lanamento do livro Psicognese da Lngua Escrita, de Emilia Ferreiro e Ana Teberosky. A

    concepo de linguagem modificada nessa dcada e influencia o ensino at hoje: o foco deveria

    estar na interao entre as pessoas.

    1997 So publicados os PCN pelo governo federal para todo o Ensino Fundamental, defendendo as

    prticas sociais (interao) de linguagem no ensino da Lngua Portuguesa.

    Fontes: Os sentidos da alfabetizao, Maria do Rosrio Longo Mortatti e PCNS

    Quadro 1.5 O ensino da lngua portuguesa no Brasil Fonte:http://revistaescola.abril.com.br/lingua-portuguesa/fundamentos/papel-letras-interacao-

    social-432174.shtml

    Acesso em: 04/01/2010

  • 1122

    (...) A irregularidade do trao denuncia o tremor da mo.

    O arco de abertura do brao fica subentendido na curva da linha.

    O escorrido da tinta e a forma de sua absoro pelo papel indicam velocidade.

    A variao da espessura do trao marca a presso imprimida contra o papel.

    As gotas de tinta assinalam a indeciso ou precipitao do pincel no ar.

    Rastos de gestos (...) O atrito entre o sentido convencional das palavras

    (tal como esto no dicionrio) e as caractersticas expressivas da escritura manual

    abre um campo de experimentao potica que multiplica as camadas de significao(...).

    Sobre a caligrafia Arnaldo Antunes.

    Neste texto Arnaldo Antunes apresenta a caligrafia como a arte do desenho manual das letras, um territrio hibrido entre o verbal e o no-verbal, que multiplica o significado convencional das palavras.

    Quadro 1.6 Sobre a caligrafia Fonte: http://www.arnaldoantunes.com.br/sec_textos_list.php?page=1&id=73

    Acesso em 22/12/2009.

    DICA DE LEITURA

    BRAIT, Beth (org.). Bakhtin - Conceitos-Chave, Ed. Contexto: So Paulo, 2005.

    Em BAKHTIN: CONCEITOS-CHAVE, pesquisadores renomados explicam termos essenciais

    compreenso da arquitetura bakhtiniana diante da linguagem e da vida. Conceitos como ato,

    polifonia e ideologia so analisados e interpretados de forma pontual.

    Para entendemos melhor a importncia desses novos paradigmas no ensino da lngua

    apresentaremos no quadro abaixo as principais mudanas estruturais que ocorreram no

    ensino da Lngua Portuguesa no Brasil.

    1.2 A linguagem e os signos

    Como dissemos anteriormente, a linguagem composta por um complexo sistema de

    signos verbais e no-verbais. Para entendermos a linguagem como um processo de

    significao, importante conhecermos algumas questes relacionadas semitica.

  • 1133

    Figura 1.1 ndios

    Semitica uma palavra de origem grega semeiotik, que significa "a arte dos sinais";

    um campo de estudo que envolve diversas posies tericas e instrumentos

    metodolgicos. Uma das definies mais amplas para semitica a de Eco (1976, p. 7),

    que afirma que "a semitica se preocupa com tudo o que pode ser tomado como um

    sinal. Em um sentido semitico, sinal considerado tudo o que significa algo mais. Os

    sinais podem assumir a forma de palavras, imagens, sons, gestos e objetos.

    Para Peirce (1931, p.58) "um sinal (...) algo que est para algum por algo em algum

    aspecto ou capacidade. Os signos atendem necessidade humana de representar e

    interpretar ideias e conceitos, facilitando o processo de comunicao. Pereira (2001,

    p.44) ressalta que no podemos nos comunicar fazendo uso das prprias coisas a que

    estamos nos referindo. Assim, as palavras so signos que substituem as coisas, as

    palavras no tm peso, esto na nossa cabea e ns as levamos conosco para todo lugar.

    As palavras representam as coisas. Todo signo representa ou significa alguma coisa

    que exterior a ele.

    Para ilustrarmos melhor essa ideia vamos observar alguns exemplos:

    Geralmente quando avistamos fumaa no cu, pressupomos que ela oriunda do

    fogo, mesmo quando no vemos as labaredas. Neste caso a fumaa o signo do

    fogo.

    Gostamos de matar a saudade

    de uma pessoa que est

    distante olhando sua imagem

    por fotografia ou desenho.

    Nesse caso a imagem uma

    representao, ou seja, o

    signo da pessoa representada.

  • 1144

    Figura 1.2 Saudades

    Figura 1.3 Cafezinho

    importante destacar que o signo algo que

    se v, ouve, toca, cheira, ou sente o sabor;

    em suma, algo perceptvel. Todo signo

    transporta ideias, conceitos, contedos para

    algum, conforme Pereira (2001).

    Agora, abordaremos a estrutura bsica do

    signo que composta pelo significante e pelo

    significado.

    O significante considerado o aspecto

    semntico ou sensvel do signo, enquanto

    que o significado est relacionado ao aspecto

    inteligvel.

    Para exemplificarmos melhor essa relao entre o significante e o significado, vamos

    usar como exemplo a palavra mala. O som da palavra mala e sua grafia o significante,

    enquanto que a ideia de mala como um objeto que serve para carregar, entre outras

    coisas, roupas, sapatos, objetos de higiene pessoal o significado.

    Observaremos agora um exemplo relacionado ao no-verbal: quando sentimos cheiro de

    caf, o odor o significante, e a ideia de que h caf por perto o significado.

    importante destacar que determinado

    significante pode assumir significados

    diferentes de acordo com os variados

    contextos culturais. Para o significante

    barulho de fogos, por exemplo, em um

    contexto de jogo de futebol, o

    significado pode ser gol de algum time,

    entretanto esse mesmo significante no

    dia 31 de dezembro pode adquirir o

    significado relacionado comemorao

    da passagem do ano.

  • 1155

    Figura 1.4 Fogos

    Tais exemplos nos mostram que o

    signo, em geral, atua onde existem

    seres capazes de atribuir

    significados. importante frisar

    tambm que os significados

    variam de pessoa para pessoa, de

    acordo com suas vivncias e

    experincias, num dado contexto

    sociocultural.

    Olhe para a imagem ao lado e perceba do que ela o fez lembrar:

    uma moa?

    uma velha?

    Ser velha e moa?

    Quem moa pode ser velha, quem

    velha pode ser moa?

    Ser que j vi essa imagem antes?

    Quando voc observou a referida imagem,

    provavelmente vrias sensaes foram

    provocadas: dvidas, lembranas,

    questionamentos, julgamentos e at mesmo

    indiferena. Voc pode ter visto primeiro a

    velha ou primeiro a moa. Se voc estava distrado, provvel que nem tenha notado

    que na imagem h um jogo de forma que nos possibilita visualizar uma velha e uma

    moa.

    Douglas Marques Figura 1.5 Quem ela?

  • 1166

    DICA DE LEITURA

    SANTAELLA, Lcia. O que Semitica, Brasiliense. So Paulo, 2003.

    O QUE SEMITICA proporcionar uma viso panormica dos principais

    fundamentos, particularidades e fronteiras da teoria geral dos signos, tendo sempre como

    guia Charles Sanders Peirce.

    Independente de quais foram suas sensaes ao observar a imagem, uma coisa certa:

    elas so o reflexo de suas experincias e conhecimentos. Assim, podemos dizer que os

    significados que atribumos a tudo que nos rodeia, mesmo quando no nos damos conta,

    so frutos de nossa histria pessoal, nica e intransfervel.

    Nosso conhecimento nosso repertrio, nossa memria, nossa imaginao so

    determinados por meio das aes, das interaes, das experincias, dos sentimentos, das

    ideias, das emoes, dos valores, enfim, de tudo que vivenciamos e compartilhamos no

    nosso dia a dia, nos mais variados contextos sociais e culturais.

    Sob essa lgica, podemos concluir que somente por meio do contato com os diversos

    cdigos que formam a linguagem que construmos ao longo de nossas vidas os

    diversos significados, que nos possibilitam expandir o conhecimento.

    Para entendermos melhor essa questo, vamos apresentar a seguir algumas definies de

    cultura, assim como a relao entre cultura e linguagem.

    1.3 Linguagens como forma de ao ou interao

    As discusses voltadas para as questes culturais esto assumindo um papel de

    destaque, entre profissionais ligados a diversas reas do conhecimento, no mundo.

  • 1177

    "Por bem ou por mal, a cultura agora um dos

    elementos mais dinmicos e mais

    imprevisveis da mudana histrica no novo

    milnio. No deve nos surpreender, ento, que

    as lutas pelo poder sejam, crescentemente,

    simblicas e discursivas, ao invs de tomar,

    simplesmente, uma forma fsica e compulsiva,

    e que as prprias polticas assumam

    progressivamente a feio de uma poltica

    cultural".

    Mas afinal, o que cultura?

    Se voc j fez alguma pesquisa sobre cultura, provavelmente observou a enorme

    quantidade de definies para essa palavra. Para entendermos melhor a complexidade

    desse termo, que tal colocarmos em prtica alguns conceitos que vimos sobre o signo?

    Vamos l!

    A palavra cultura o significante e dependendo da rea do conhecimento ela pode

    adquirir significados diferentes. Assim, quando relacionamos culturas s cincias

    agrrias, essa palavra pode adquirir um significado relacionado ideia de cultivo. Nas

    cincias sociais, os significados do termo cultura so abrangentes; conforme Santos

    (1994), podemos destacar: todos os aspectos de uma realidade social, todo

    conhecimento que aprendido e partilhado dentro de um determinado grupo (as

    crenas, os valores, as formas de comunicao e expresso).

    Esses diversos significados abrem um leque que liga a cultura aos vrios elementos que

    governam os grupos sociais: educao, religio, direito, culinria, arte, esttica,

    filosofia, rituais de casamento, formas de parentesco enfim: podemos relacionar

    cultura as inmeras atividades humanas, cada uma valiosa em si.

    Como o significado de cultura apresenta variaes ao longo da histria,

    (HALL 1997, p.97). Quadro 1.7 - Cultura

  • 1188

    particularmente no perodo da transio de formaes sociais tradicionais para a

    modernidade, abordaremos a seguir, de maneira didtica, cinco concepes relacionadas

    ao termo, conforme Moreira e Candau (2007):

    I. Na literatura do sculo XV, o significado da palavra cultura aparece diretamente

    relacionado ao ato de cultivo da terra a cultura era vista como uma forma de

    manter a subsistncia.

    II. No sculo XVI, amplia-se o uso do termo relacionando-o com a ideia de cultivo da

    mente humana. Com esse novo significado, o termo adquire um carter

    classificatrio, no qual, a mente humana cultivada privilgio de alguns indivduos,

    grupos ou classes sociais. Nesse perodo difundiu-se, tambm, a ideia de que

    somente algumas naes so capazes de atingir elevados padres culturais. O carter

    elitista do termo consolida-se no sculo XVIII, com a identificao das camadas

    privilegiadas da sociedade europeia aos atributos de refinamento e bom gosto: o bem

    apreciar msica, poesia, dana literatura, teatro, entre outras expresses artsticas. A

    cultura passa a ser vista como um ideal a ser atingido. A noo de cultura popular

    integra-se ao termo cultura somente no sculo XX. Essa integrao marcada por

    avaliaes preconceituosas.

    III. O termo cultura por vezes associado ao processo de desenvolvimento social. Nesse

    sentido toda sociedade, para ser considerada desenvolvida, deve passar por um

    processo linear de desenvolvimento, marcado por etapas previamente definidas at

    atingir o grau mximo idealizado.

    IV. A cultura tambm associada s vises e s representaes do mundo adotadas por

    determinados grupos ao longo da histria identificando, assim, uma forma geral de

    importante ficarmos atentos aos termos: cultura superior, cultura erudita, alta cultura; existe uma tendncia de relacionarmos esses termos a parmetros de conhecimento e prtica da vida dados como ideais. Essa viso preconceituosa do termo muitas vezes desmerece outros significado. Cabe ressaltar que nos mais primitivos grupamentos humanos um simples rito religioso, ou mesmo um conto popular, integram a cultura daquele grupo, podendo adquirir um importante papel social, principalmente, quando carregam a respeitvel tarefa de transmitir valores.

    Quadro 1.8 Preconceito cultural

  • 1199

    vida que caracteriza os diversos grupos sociais, entre eles, os grupos tnicos,

    religiosos, familiares, artsticos. Sob essa perspectiva, a palavra cultura adquire um

    significado plural correspondente aos valores e aos significados que os grupos

    compartilham.

    V. Diferente dos pontos de vista anteriormente citados, h uma concepo para cultura

    que vem ganhando espao nas vrias reas do conhecimento a cultura

    compreendida como uma prtica social, na qual diversos significados so produzidos

    e compartilhados. Derivada da antropologia social, essa viso de cultura est

    centrada na ideia de que:

    coisas e eventos do mundo natural existem, mas no apresentam sentidos

    intrnsecos: os significados so atribudos a partir da linguagem. Quando um

    grupo compartilha uma cultura, compartilha um conjunto de significados,

    construdos, ensinados e aprendidos nas prticas de utilizao da linguagem

    (...) a cultura representa um conjunto de prticas significantes (MOREIRA e

    CANDAU, 2007, p.27).

    Podemos observar que, ao ressaltar a dimenso simblica da cultura, o foco voltou-se

    para o que a cultura faz em vez de acentuar o que a cultura . Nesse sentido, a cultura

    adquire o importante papel de contribuir, por meio das diversas representaes

    simblicas contidas nas variadas prticas sociais, para a compreenso, a reproduo e

    consequentemente a transformao do sistema social. Canclini (2000) considera que a

    cultura diz respeito s prticas e instituies dedicadas administrao, renovao e

    reestruturao do sentido.

    Sob essa perspectiva, podemos dizer que a cultura formada por meio dos muitos

    fazeres, pelos encontros e desencontros do dia-a-dia. A cultura marcada pela

    habilidade que o homem possui para usar a linguagem, ou seja, para usar todas as

    formas e sistemas de signos; assim, grande parte dos estudos culturais na atualidade

    busca entender e defender os muitos significados.

    Mediante diversas concepes apresentadas podemos observar que a cultura

    dinmica, uma vez que est diretamente relacionada s experincias e aos saberes

    humanos e esses transformam-se constantemente.

  • 2200

    Quadro 1.9 Homem e signo

    1.3.1 Linguagem e cultura

    Graas concepo da cultura baseada na antropologia social, as questes relacionadas

    linguagem passaram a ser analisadas a partir dos diversos textos culturais: mito,

    religio, literatura, teatro, artes, arquitetura, msica, cinema, moda, ritos,

    comportamentos, enfim os cdigos e os sistemas semiticos da cultura. Ao mesmo

    tempo, as questes culturais s podem ser compartilhadas por meio da linguagem e do

    contexto social.

    A cultura um texto na medida em que toda forma de atividade humana que inclui a

    troca e o armazenamento de informao sempre pode ser lida. Nesse sentido, a noo de

    texto refere-se a todas as linguagens portadoras de significado. Segundo Bakhtin (1995,

    p. 107) onde no h texto, no h objeto de investigao nem de pensamento.

    ''... quando estudamos o homem, procuramos e

    encontramos signos por toda parte e tratamos de

    compreender seus significados.''

    (BAKHTIN, 1995, p. 114).

    Tal concepo propiciou ao autor sintetizar a mxima de seu pensamento, relacionando

    o signo linguagem:

    A linguagem pode ser vista como um complexo dispositivo formado por uma infinidade

    de cdigos culturais, que geram e transmitem mensagens num sistema dinmico. Por

    meio da linguagem construmos contedos e expresses manifestados na cultura; em

    contrapartida, a linguagem carrega elementos socioculturais. Machado (2007, p.17)

    ressalta que essa dinmica propicia a construo de sistemas de signos que mesmo

  • 2211

    Quadro 1.10 Ideologia

    marcados pela diversidade apresentam-se inter-relacionados num mesmo espao

    cultural estabelecendo entre si diferentes dilogos.

    O signo algo que faz parte de uma realidade sociocultural e, portanto,

    essencialmente ideolgico:

    cada signo ideolgico no apenas um reflexo, uma

    sombra da realidade, mas tambm um fragmento

    material dessa realidade. Todo fenmeno que funciona

    como signo ideolgico tem uma encarnao material

    (BAKHTIN, 1995, p.33).

    Ao mesmo tempo em que um signo representa parte de uma realidade, ele tambm

    reflete outras representaes.

    Podemos concluir que o signo um fragmento material que possibilita o reflexo de

    imagens semelhantes e ao mesmo tempo alteradas da realidade representada. Assim, os

    signos usados nas mais variadas formas de linguagem dos diversos contextos sociais

    tanto podem refletir como alterar determinada realidade cultural.

    Os encontros Culturais desempenham movimentos que so a base formadora

    de toda cultura. So movimentos capazes de redirecionar o campo de fora

    em todos os nveis da conjuntura social (MACHADO, 2007, p.17).

    No mundo moderno, com a ampliao dos espaos culturais em redes de comunicao,

    a cultura relaciona-se a uma democracia de signos cabendo a ns desvendar os possveis

    significados.

  • 2222

    DICA DE LEITURA

    MACHADO, Irene (Org). Semitica da cultura e semiosfera, So Paulo: Annablume,

    2007.

    SEMITICA DA CULTURA E SEMIOSFERA uma publicao cientfica, resultante

    de uma cooperao e compartilhamento entre pesquisadores nacionais e internacional,

    coordenado pelo Grupo de Pesquisa para o Estudo da Semiosfera, que aborda temas da

    semitica e da cultura.

    Douglas Marques

    Douglas Marques, artista plstico

    brasileiro nascido em Taubat So

    Paulo. Formado em Artes Plsticas.

    Atua como professor de desenho em

    escolas pblicas e particulares, alm

    de desenvolver projetos de arte

    educao em diversas comunidades

    da Regio do Vale do Paraba.

    Profissional na rea de ilustrao de

    2000, apresenta um excelente

    domnio da linguagem do desenho.

    Seus trabalhos variam do hiper

    realismo abstrao.

    Dilogos

    Antes de aprender a escrever

    eu j usava o desenho para registrar

    meu modo de ver o mundo.

    Hoje, percebo a arte como

    uma lngua universal,

    que ultrapassa as barreiras do tempo

    e do espao, possibilitando tanto

    o registro como a leitura

    de infinitos significados.

    Douglas Marques

    Quadro 1.11 Perfil do ilustrador Douglas Marques

  • 2233

    1.4 Sntese da unidade

    Nos textos anteriores discutimos a relao da linguagem com o conhecimento humano,

    enfocando o carter textual da cultura. Assim, vimos que a linguagem representa o

    pensamento humano e por meio dela podemos conhecer e nos comunicar com o mundo

    que nos rodeia.

    Destacamos a diferena da linguagem verbal com seus cdigos verbalizados atravs da

    fala ou da escrita e a no-verbal; esta caracterizada pelo no uso da palavra e

    manifestada por meio de expresses corporais, imagens, sons, odores, etc.

    No decorrer desta apresentao, procuramos distinguir a lngua da linguagem. Lngua se

    refere a uma gama imensa de idiomas entre os vrios povos que habitam este planeta; j

    a linguagem propicia ao ser humano uma infinita particularidade para expressar

    pensamentos e ao mesmo tempo produzir uma infinidade de textos e significados.

    Ressaltamos a importncia dos conceitos lingusticos e textuais elaborados por Bakhtin

    e o seu Crculo de intelectuais para os estudos lingusticos da atualidade.

    Estudamos, com base nos conceitos semiticos, algumas caractersticas do sistema

    sgnico que representa os cdigos expressos na linguagem e nos faz entender o processo

    de significao e representao de ideias e, para finalizar, abordamos a estreita relao

    entre cultura e linguagem - na construo dos diversos significados.

    1.5 Para saber mais

    Filmes

    A interao por meio da linguagem

    Neste vdeo, Cludio Bazzoni trata das diferentes concepes de linguagem que

    pautaram o ensino de Lngua Portuguesa no sculo 20 e explica como as prticas

    de leitura e de escrita devem ser ensinadas na escola.

    Disponvel na rede:

  • 2244

    http://revistaescola.abril.com.br/lingua-portuguesa/fundamentos/interacao-meio-linguagem-

    496665.shtml

    Lngua - Vidas em Portugus

    um documentrio (105 min), com direo de Victor Lopes, lanado em 2004 -

    co-produzido por Brasil e Portugal. O longa-metragem uma viagem nas muitas

    histrias da lngua portuguesa e na sua permanncia entre diferentes culturas.

    Todo dia duzentos milhes de pessoas levam suas vidas em portugus. Fazem

    negcios e escrevem poemas. Brigam no trnsito, contam piadas e declaram

    amor. Todo dia a lngua portuguesa renasce em bocas brasileiras,

    moambicanas, goesas, angolanas, japonesas, cabo-verdianas, portuguesas,

    guineenses. Novas lnguas mestias, temperadas por melodias de todos os

    continentes, habitadas por deuses muito mais antigos e que ela acolhe como

    filhos. Lngua da qual povos colonizados se apropriaram e que devolvem agora,

    reinventada. Lngua que novos e velhos imigrantes levam consigo para dizer

    certas coisas que nas outras no cabe. http://www.adorocinema.com/filmes/lingua

    Sites

    http://www.ethnologue.com: O principal objetivo do Ethnologue fornecer uma

    lista detalhada das lnguas vivas. O Ethnologue funciona como um catlogo com

    as principais informaes sobre questes relacionadas ao estudo da lngua, assim

    como as principais publicaes relacionadas ao tema.

    http://portal.mec.gov.br/: Em cumprimento ao Artigo 210 da Constituio

    Federal de 1988, que determina como dever do Estado para com a educao

    fixar contedo mnimos, foram elaborados e distribudos pelo MEC, a partir

    de 1995, os Referenciais Curriculares Nacionais para a Educao

    Infantil/RCNEI, os Parmetros Curriculares Nacionais/ PCN para o Ensino

    Fundamental, e os Referenciais Curriculares para o Ensino Mdio.

    Posteriormente, o Conselho Nacional de Educao definiu as Diretrizes

    Curriculares para a Educao Bsica. Conhea esses documentos que se

    encontram disponveis no portal do MEC.

  • 2255

    http://revistaescola.abril.com.br: O site da Revista Nova Escola apresenta

    contedos sobre Educao, que foram publicados nas edies impressas, com o

    objetivo de fornecer materiais pedaggicos, pesquisas e projetos que auxiliem na

    capacitao dos professores, gesto, processo educacional e melhoria da

    qualidade da Educao no Brasil.

    Livros

    FOUCAULT, Michel. A Ordem do Discurso. So Paulo: Loyola, 1998.

    A ordem do Discurso consiste na aula inaugural de Michael Foucault presidida

    no Collge de France. No livro, Foucault procura mostrar que os discursos que

    permeiam a sociedade so controlados, perpassados por formas de poder e de

    represso.

    BURKE, Peter. Histria Social da Linguagem. So Paulo: UNESP 1997

    Cobrindo o perodo que vai do sculo XVI ao sculo XX, os vrios estudos

    apontam para a perspectiva da linguagem como rica fonte para os historiadores e

    oferecem significativas sugestes para os lingistas. Mostram como numerosas

    batalhas foram travadas no apenas na linguagem, mas tambm sobre a

    linguagem.

  • 2266

  • 2277

    Unidade 2

    Unidade 2. Uma questo de arte

    Como vimos na Unidade 1, nossa penetrao na realidade sempre mediada por

    diversas linguagens. O mundo, por sua vez, tem o significado que construmos para ele.

    Essa construo se realiza pela representao de objetos, ideias e conceitos, por meio

    dos diferentes signos lingusticos.

    A linguagem um sistema de representao pelo qual olhamos, agimos e nos tornamos

    conscientes da realidade. Nesta unidade vamos abordar a arte como uma forma de

    linguagem, uma maneira sensvel de representaes simblicas, que propicia a

    percepo de diversas significaes. Podemos dizer que os signos artsticos apresentam

    metforas aos nossos sentidos e como interpretes somos impulsionados pela emoo a

    traduzir e identificar significados, estabelecendo analogias a partir das nossas memrias

    pessoais e culturais.

    Em diferentes perodos histricos, verificamos que sempre houve mutaes nos critrios

    artisticos; cada poca procurou melhor representar o contexto sociocultural vivido.

    Cabe ressaltar que existem diversos caminhos possveis para o estudo da arte;

    apresentaremos a seguir algumas consideraes referentes cultura ocidental. Num

    primeiro momento, vamos abordar alguns conceitos gerais da arte; num segundo

    momento, iremos discutir a questo do belo nas diversas manifestaes artsticas e; logo

    depois, de acordo com Charles Feitosa (2004), observaremos duas posturas filosficas

    distintas em relao construo do sentido: o realismo e o relativismo.

  • 2288

    Milhes de pessoas lem livros, ouvem msica, vo ao teatro e ao cinema. Por qu? Dizer que procuram

    distrao, divertimento, a relaxao, no resolver o problema. Por que distrai, diverte e relaxa o mergulhar

    nos problemas e na vida dos outros, o identificar-se com uma pintura ou msica, o identificar-se com os tipos

    de um romance, de uma pea ou de um filme? Por que reagimos em face dessas "irrealidades" como se elas

    fossem a realidade intensificada? Que estranho, misterioso divertimento esse? E, se algum nos responde

    que almejamos escapar de uma existncia insatisfatria para uma existncia mais rica atravs de uma

    experincia sem riscos, ento uma nova pergunta se apresenta: por que nossa prpria existncia no nos

    basta? Por que esse desejo de completar a nossa vida incompleta atravs de outras figuras e outras formas?

    Por que, da penumbra do auditrio, fixamos o nosso olhar admirado em um palco iluminado, onde acontece

    algo que fictcio e que to completamente absorve a nossa ateno?

    claro que o homem quer ser mais do que apenas ele mesmo. Quer ser um homem total. No lhe basta ser

    um indivduo separado; alm da parcialidade da sua vida individual, anseia uma "plenitude" que sente e tenta

    alcanar, uma plenitude de vida que lhe fraudada pela individualidade e todas as suas limitaes; uma

    plenitude na direo da qual se orienta quando busca um mundo mais compreensvel e mais justo, um mundo

    que tenha significao.

    Quadro 2.1 - Cultura

    2.1 Arte e tcnica

    O texto de Fischer, apresentado no quadro nmero 2.1, ressalta a importncia da arte na

    construo de significados, considerando que o convvio com diversas representaes

    artsticas um dos fatores primordiais para alcanarmos a plenitude da vida.

    As linguagens artsticas, em todas as modalidades (arte digital, arquitetura, cinema,

    dana, desenho, expresso corporal, escultura, fotografia, instalaes, moda, msica,

    performance, pintura, teatro, entre outras), refletem diversas experincias humanas. o

    convvio com a arte que nos possibilita desenvolver a percepo esttica, com isso,

    tornamo-nos sensveis a inmeros significados do mundo.

    De quantas decises de carter esttico so feitas as mais simples escolhas? A

    cor que nos identifica, o balano do corpo com que nos locomovemos, a

    msica que embala nossos sonhos, a entonao que damos voz quando

    queremos nos aproximar de algum, a maneira como desfilamos por entre as

    pessoas, tudo isso constitui um mundo de significados e smbolos estticos

    que possibilitam a expresso de mil mensagens que trazemos dentro de ns.

    (COSTA, 2004, p. 135).

    Podemos dizer que a arte um grande elo do indivduo com o todo. Por meio das

    diversas manifestaes artsticas, o homem desperta para a amplitude de seu potencial

    criativo ou, at mesmo, para suas limitaes e medo.

  • 2299

    por meio da linguagem artstica que podemos articular expresses e ideias.

    Conceitos complexos como: amor, dio, alegria, dor, podem ser compartilhados pela

    arte.

    Com que prazer percebemos na poesia ou na msica que os nossos mais singulares

    pensamentos e sentimentos encontram eco na criao alheia, mantendo com ela um

    universo de comunicao e troca! (COSTA, 2004, p. 135).

    Quadro 2.2 - Percepo

    A identificao com as linguagens artsticas no devem ocorrer de maneira passiva, mas

    sim por meio de contemplaes que propiciem a reflexo. Conforme ressalta Bertolt

    (1976), em todas as suas formas de desenvolvimento artstico na dignidade e

    comicidade, na persuaso e na exagerao, na fantasia e na realidade a arte relaciona-

    se com a magia, a magia de atribuir significado ao mundo. A arte necessria para que

    o homem se torne capaz de conhecer e mudar o mundo, tanto quanto necessria em

    virtude da magia que lhe inerente.

    2.1.1 Arte e tcnica

    O homem tornou-se homem, diferenciou-se dos outros animais, atravs da utilizao de

    ferramentas. Assim, no existiria ferramenta sem a interferncia humana, nem homem

    sem a criao de ferramentas homem e ferramenta esto intrinsecamente ligados.

  • 3300

    Quadro 2.3 Habilidade

    tcnica

    Quadro 2.4 Concepo de natureza

    Foi o desenvolvimento da habilidade tcnica para

    criao e uso de ferramentas produzidas

    pelas mos que marcou o

    inicio da humanizao.

    Para so Tomaz de Aquino (apud FICHER, 1983, p. 22

    e 23) o homem possui razo e mo.

    Podemos entender a tcnica como a inveno de ferramentas e instrumentos, juntamente

    com o desenvolvimento de um conjunto de procedimentos que possibilitou ao homem

    interferir e controlar a natureza e com isso aumentar a capacidade de produo

    modificando, assim, suas condies de vida.

    Atualmente, a imagem que fazemos da natureza

    est ligada a florestas virgens, ilhas desrticas, mar

    cristalino, ar puro e muita tranqilidade. Para o

    homem contemporneo dos grandes centros

    urbanos, a natureza se tornou um refgio contra as

    correrias e as preocupaes (FEITOSA, 2004, p.84);

    entretanto, essa ideia de natureza como um lugar

    de paz recente. No passado, ela foi considerada um obstculo cheio de mistrios e

    ameaas.

    Provavelmente foi a ideia mgica de controlar a natureza por meio de instrumentos que

    levou o homem a buscar incessantemente entender a magia do infinito. Percebendo que

    as coisas que existiam apenas na sua mente poderiam de fato ter existncia material, o

    homem passou ento a desenvolver atividades sociais e a considerar os acontecimentos

    por meio dos signos.

  • 3311

    Nesse sentido, a arte pode ser vista como um instrumento mgico, um caminho que

    propiciava o domnio da natureza, a expanso das relaes sociais, assim como o

    desenvolvimento das significaes.

    A relao da arte com a tcnica pode ser observada na acepo original e etimolgica da

    palavra tcnica tekhn, que podemos traduzir como arte. Para os gregos, todo ato

    humano tekhn e toda tekhn tem por caracterstica fazer nascer uma obra. Assim, a

    tekhn envolve diversas atividades prticas, entre elas: a elaborao de leis; habilidade

    para medir e contar; habilidades mdicas; habilidades culinrias; habilidades para as

    artes plsticas, a msica, a oratria (LEMOS, 2007, p.26).

    Na Grcia antiga, a arte era vista como uma tcnica de imitao (mimisis). Plato

    associava a arte a uma espcie de excesso, sobra de energia, uma ameaa

    epistemolgica e tica, uma vez que est ligada ao mundo dos sentidos. O artista era

    considerado um imitador, que por meio da tcnica fabrica imagens falsas e ilusrias,

    levando os cidados a desviarem os olhos do mundo das ideias, no qual se encontra o

    verdadeiro conhecimento. A obra no apenas uma reproduo, mas algo inadequado

    e inferior, tanto em relao aos objetos quanto s ideias representadas.

    Na viso depreciativa de Plato, a arte estimula as emoes (a alegria, a tristeza, a

    raiva), as quais, se deixadas sem controle, podem conduzir em ltima instncia guerra

    e catstrofe. A arte pouco ou nada tem a ver com a verdade. Essa viso negativa de

    Plato em relao arte tem uma explicao poltica, uma vez que:

    Plato pretendia despertar o senso crtico de seus concidados, que

    consideravam a obra potica de Homero uma enorme enciclopdia, um

    manual de conduta para questes tanto de ordem cotidiana, como moral,

    administrativa ou religiosa. Se Plato vivesse no sculo XXI, talvez

    expulsasse a mdia de massa da sua cidade ideal, pois ela que serve

    atualmente como a principal fonte das informaes, que costumam ser

    recebidas como se fossem fatos acabados e no como interpretaes

    (FEITOSA, 2004, p.119).

    Para Aristteles, ao contrrio de Plato, a arte pode ser observada como uma tendncia

    imitativa, instintiva aos seres humanos. As manifestaes artsticas possibilitam ao

  • 3322

    DICA DE LEITURA

    MARTINS Mirian Celeste Ferreira Dias (org.). Didtica do ensino da arte: a lngua do

    mundo - poetizar, fruir e conhecer arte. (Mirian Celeste Martins, Gisa Picosque, M

    Terezinha Telles Guerra). So Paulo: FTD, 1998.

    um livro que possibilita um encontro com a linguagem da arte e seu ensino. As autoras

    discutem as diferentes linguagens artsticas e o processo de execuo, fruio esttica e

    contextualizao da obra de arte atravs de sua histria.

    homem adquirir experincias e, por meio delas, desenvolver as atividades intelectuais,

    uma vez que no possvel imitar sem imaginar e comparar. Aristteles, ressalta ainda

    que contemplamos com prazer as imagens exatas daquelas mesmas coisas que olhamos

    com repugnncia, como exemplo ele cita as representaes de animais ferozes e de

    cadveres. Nesse sentido, a arte no pode ser vista somente como uma reproduo do

    real. Como exemplo, podemos destacar as representaes teatrais: na comdia grega, os

    modelos ressaltavam defeitos como feiura, ignorncia, teimosia; na tragdia,

    endossavam atitudes nobres, herosmo, vitria. Acentuando-se essas caractersticas,

    acreditava-se que o sentido moral tornava-se mais contundente.

    Aristteles ressalta ainda que o poder benfico da catarse seja provocado muitas vezes

    por meio da arte. A catarse um termo oriundo da medicina, que se refere ao processo

    de purgao do corpo. As manifestaes artsticas podem levar a um efeito de

    purificao do corpo, graas descarga emocional provocada pelo prazer da

    contemplao. Por meio da arte, o espectador estimulado a sentir fortes emoes, tais

    como medo, piedade ou entusiasmo. Aps a cartase, vem o alvio e a sensao de

    equilbrio.

    Podemos observar que a arte, na concepo de Aristteles, deve exercer uma funo

    edificante, que serve como suporte para mensagens educativas, religiosas e polticas de

    Cunho moral. Agora cabe perguntar: a arte s verdadeira quando atende a um fim que

    a transcenda? E o que discutiremos a seguir.

  • 3333

    Quadro 2.5 Contemplao

    2.2 O prazer da arte

    Quem me dera, ao menos uma vez,

    Acreditar por um instante em tudo que existe

    E acreditar que o mundo perfeito

    E que todas as pessoas so felizes..

    Legio Urbana.

    Dentre as caractersticas mais importantes da arte, podemos destacar o prazer e a

    emoo que ela desperta, a que alguns filsofos identificam como o prazer do belo ou

    prazer esttico. Segundo Costa, isso se refere ao:

    Prazer que sentimos ao apreciar uma msica, uma pintura, uma foto, uma

    dana.... Um prazer diferente daquele que sentimos quando dormimos bem,

    comemos uma comida especial ou fazemos amor. O prazer que a arte

    desperta vem da forma das coisas, do som, do colorido, do ritmo, da maneira

    como ns percebemos essas coisas (COSTA, 2004, p.21).

    O belo o prazer esttico resultante da contemplao ou fruio de uma obra de arte.

    Quando atribumos de maneira sensvel significado a uma manifestao artstica,

    estimulamos nossa imaginao, e nossa viso de mundo.

    O belo envolve uma mistura entre o senso, ou melhor, aquilo que se relaciona ao

    pensamento, racionalidade e a significao e o sensvel aquilo que se refere aos

    sentidos, aos afetos e aos sentimentos.

    A arte e o belo no possuem conceitos universais. Estes variam, de acordo com o

    contexto histrico, entre diversas questes socioculturais. Alm disso, devemos

  • 3344

    considerar que a contemplao de uma obra uma experincia nica e intransfervel.

    Por isso, a apreciao do belo depende da sensibilidade e dos valores atribudos

    individualmente s obras.

    Como toda e qualquer linguagem, a arte tem cdigos, ou seja, um sistema estruturado de

    signos. Cabe ao artista no seu fazer explorar de maneira criativa os vrios signos

    dessa linguagem. Assim, evidente que a obra depende efetivamente do criador; mas,

    conforme ressalta Costa (2004, p.27): tanto a inteno do autor como a qualidade de

    sua obra se realizam de forma definitiva naquele que a contempla. no ato de

    apreciao que os significados so atribudos.

    comum o belo ser associado s representaes alegres, bonitas e agradveis.

    Entretanto, podemos ver beleza nas obras dramticas, desagradveis, tristes e feias. As

    produes artsticas so inspiradas nos diversos contextos socioculturais.

    Muitas vezes uma imagem ou uma msica emocionam justamente porque so

    fortes e violentas. As cenas de medo de um filme de terror no so as que

    mais emocionam? No so elas que nos fazem entrar no clima do filme e

    viv-lo intensamente? Pois ento, elas so belas, elas so artsticas (COSTA,

    2004, p.24).

    Certas obras nos emocionam no somente pela sensao de tristeza, melancolia e medo

    que causam, mas tambm por meio dos significados que so despertados por essas

    emoes. Assim, podemos dizer que a beleza vem da significao despertada pela

    apreciao das obras. Sem a interpretao e a construo de sentido por aquele que

    percebe, no existe beleza, nem tampouco arte.

    A ideia de beleza relacionada s coisas bonitas e harmoniosas teve origem na Grcia.

    Na Antiguidade clssica, por volta do sculo V a.C., segundo a concepo grega, as

    obras artsticas deveriam imitar o que belo, tanto no sentido esttico como no moral

    os belos corpos, as belas aes para estimular os indivduos prtica das virtudes, por

    meio da contemplao (do perfeito e excelente).

    A Teoria do Belo baseada nas concepes gregas fundamenta-se em trs princpios

    bsicos: o esttico, que depende de condies formais, tais como simetria, proporo,

  • 3355

    DICA DE LEITURA

    Costa, Cristina. Questes de Arte. Moderna: So Paulo, 2004.

    O livro oferece conceitos fundamentais em relao Arte, tais como: o papel da arte na

    sociedade, a funo social do artista, o sentido dos signos das linguagens artsticas num

    determinado contexto social, o processo de consagrao artstica, a dinmica do processo

    artstico e outros relacionados ao belo, da antiguidade at a arte contempornea.

    equilbrio, entre outras; o moral, que remete ao estado da alma, ou seja, tudo que

    belo bom e nobre e por isso constitui objetos de imitao; o intelectual, que se

    relaciona com o conhecimento. As concepes estticas gregas influenciaram diversos

    perodos artsticos da arte ocidental e o fazem at os dias de hoje.

    Podemos destacar a influncia do padro clssico de beleza nos meios de comunicao

    de massa, que insistem em perpetuar uma beleza estereotipada em muitas produes,

    mesmo quando j ultrapassada em relao arte e ao gosto da crtica. Observando o

    cinema como exemplo, vemos que os contos de fadas, reproduzidos em forma de

    desenho animado, geralmente retratam um padro de beleza que endossa as concepes

    clssicas: a princesa branca, magra, bonita, gentil e bondosa. O prncipe apresenta

    traos delicados, elegncia e valentia. Os personagens feios geralmente so

    relacionados a atitudes desastradas e deselegantes, de inveja e crueldade.

    Na arte publicitria, a ideia de perpetuar padres de beleza idealizados vista como

    uma estratgia mercadolgica: em um mercado, no qual produtos e servios so

    equivalentes em preo e qualidade; necessrio estabelecer com o consumidor uma

    relao emocional e porque no dizer ideolgica. Por isso, a escolha de pessoas

    famosas, lugares bonitos ou relacionamentos felizes, para anunciar determinado produto

    ou servio, estratgia para induzir o consumidor a identificar-se com a marca.

    Pesquisas comprovam que o consumidor ao comprar determinado produto passa a

    estabelecer com ele relaes afetivas; assim, quando determinada marca nos transmitir

    valores com os quais nos identificamos ou que gostaramos de possuir, nossa relao de

    confiana ou fidelidade em relao a ela se aprofunda e passamos a ser consumidores

    fieis.

  • 3366

    Quadro 2.6 Sonho ou realidade

    Quadro 2.7 Ponto de vista Imagem disponvel

    em:http://pt.wikipedia.org/wiki/Je

    an-Baptiste_Debret

    Acesso em 23/12/2009

    2.3 Realidade: uma questo filosfica

    Existe uma realidade absoluta a ser descoberta?

    Se um pobre agricultor sonhasse todos os dias

    durante doze horas ser um rei, viveria to intensamente

    quanto um rei que sonhasse todos os dias durante doze

    horas ser um campons (FEITOSA, 2004, p. 42).

    Talvez o nico critrio disponvel para distinguirmos o sonho da vida cotidiana seja a

    conexo contnua dos fatos.

    De acordo com Feitosa (2004), levantaremos a seguir dois pensamentos filosficos

    fundamentais para reflexo dessa indagao: o realismo e o relativismo.

    O realismo prope que existe uma realidade nica, objetiva, concreta e absoluta. As

    coisas tm autonomia, subsistem em si e por si, independentes do contexto histrico ou

    social e das interpretaes individuais; nesse sentido, as

    palavras e as aes devem ser adequadas para serem

    consideradas verdadeiras. Caso contrrio, ser considerado

    erro e precisam ser corrigidas.

    Nessa teoria, o universo apresenta uma ordem, um certo e

    um errado absoluto, atuando como referncia para nossas

    decises. O erro s acontece quando no nos adequamos ao

    real; mas o real existe e pode responder nossas dvidas

    cientficas ou existenciais.

    Na viso realista, uma pintura pode ser considerada

  • 3377

    imperfeita, se no reproduzir as formas e propores do seu objeto de maneira

    fotogrfica. A tcnica fator primordial.

    Durante o Brasil Colnia, vrios pintores europeus vieram para retratar o pas. Entre

    eles, podemos citar Debret (1768-1848) que chegou em 1816 com a Misso Artstica

    Francesa. Pautado nas concepes estticas do neoclssicismo, o artista aborda o

    panorama histrico e cultural brasileiro

    Feitosa (2004, p.44) destaca que a grande desvantagem do realismo o carter

    dogmtico que muitas vezes ele pode adquirir (dogma uma palavra de origem grega e

    refere-se a uma opinio interpretada como verdade inquestionvel). No realismo todo

    discurso considerado inadequado ao real precisa ser corrigido, excludo; aquilo que for

    diferente da norma pode ser visto como desvio ou erro.

    Um exemplo negativo do realismo dogmtico o pensamento nazista, uma vez que

    colocava a raa ariana como uma supremacia, um modelo ideal de ser humano. Esse

    pensamento gerou violentos conflitos contra todos os que no se enquadravam nele.

    Por outro lado, as concepes pautadas no relativismo propem que no existe uma

    realidade nica e acabada, porm muitas e diversas realidades. O homem atribui

    diversos significados ao mundo dependendo do contexto histrico, espacial, cultural e

    social. A realidade est em eterna construo, uma vez que as interpretaes do

    pensamento e da linguagem so dinmicas.

    Para um realista, as frases isso belo ou isso bom so juzos de valor. As frases

    isso branco ou isso mede 10 m so juzos de fato. Para um relativista, as duas

    frases remetem a juzos de valores, uma vez que as cores e as medidas tambm so

    convenes criadas pelo homem, do mesmo modo que critrios de beleza ou utilidade.

    Segundo Nietzsche (1911, p. 481), no existem fatos s interpretaes. Para Feitosa

    (2004):

    A cincia acredita que opera exclusivamente com juzos de fato e por isso

    capaz de olhar para a realidade como um mero observador, alm que se

    coloca de fora ou diante de seu objeto, registrando-o de forma neutra. Para o

    relativismo, entretanto, a cincia apenas mais um entre vrios modos de

    interpretao do mundo (FEITOSA, 2004, p.48).

  • 3388

    Quadro 2.8 Liberdade de expresso

    No discurso relativista no existe erro ou desvio, uma vez que a diversidde de

    perspectivas inerente ao mundo humano. Nenhum conceito ou ideia mais verdadeira

    do que a outra, somente mais apropriada num dado contexto sociocultural.

    Somente a partir da modernidade, que o discurso artstico assume caracterstica relativista,

    conjugando racionalidade e emotividade apostando nas mltiplas possibilidades de significao.

    Neste sentido as manifestaes artsticas rompem com a postura realista, pautada no

    compromisso de imitar a realidade, e provocar prazer ou satisfao.

    A postura relativista exige a busca e a anlise constante dos fatos, com conscincia e

    responsabilidade; no aceitar uma realidade absoluta, entretanto, no significa defender

    uma atitude niilista (do latim nihil nada) de negao de todas as verdades. H limites

    para o relativismo, e um deles a completa recusa de todos os discursos que arroguem

    para si o direito de ser o nico, principalmente quando o nada for o valor absoluto

    Feitosa (2004, p. 54). Nesse sentido, o relativismo um ato de resistncia contra

    qualquer pensamento que se imponha como uma verdade indiscutvel, seja na poltica,

    na cincia ou na arte.

    Para sintetizar, Feitosa (2004) destaca que no realismo as coisas existem por si e podem

    ser representadas de maneira adequada ou no, por meio das palavras e das imagens.

  • 3399

    DICA DE LEITURA

    Feitosa, Charles. Explicando a arte com filosofia. Rio de Janeiro: Ediouro, 2004.

    Explicando a arte com filosofia uma aproximao ao pensar filosfico, atravs de

    temas, questes e problemas, com o apoio de obras de arte. Os pressupostos tericos

    apresentados pautam-se na ideia de uma "filosofia pop", que associa conceitos com

    imagens, em uma linguagem acessvel e bem-humorada, sem perder contudo o rigor e a

    densidade inerentes filosofia.

    No relativismo as coisas s existem por meio da linguagem e das significaes. As

    palavras e as imagens no representam as coisas, elas constituem as coisas. Sem

    palavras e imagens, o mundo no teria significado.

  • 4400

    Andruchak - Arte &Cultura

    Marcos Andruchak, artista plstico

    brasileiro nascido em Capanema no

    Paran. Muralista e Professor do

    Departamento de Artes da UFRN -

    DEART, com Doutorado pela Escola de

    Comunicao e Artes da USP na rea de

    design grfico animado, tem formao em

    Matemtica pela UNIOESTE e mestrado

    em Computao Grfica pela POLI - USP.

    Profissional na rea das artes desde 1985

    tem em sua pintura grande

    reconhecimento, com trabalhos em

    Portugal, Espanha, Frana, Holanda,

    Blgica, Sua, Itlia, Alemanha, Estados

    Unidos e Japo. Os murais de Andruchak

    se espalham por diferentes estados

    brasileiros, alguns dos quais, realizados a

    pedido do Ministrio da Cultura,

    produzidos atravs do Projeto de Extenso

    Andruchak Arte Brasil, (UFRN - Proex), sob sua coordenao, com a participao

    de alunos e pessoas das comunidades onde

    a obra executada.

    Indagaes

    Descontinuidades, anti-simetria,

    Persistncia ao desigual.

    O trao segue a imaginao,

    E a busca pelo diferente contrastante.

    Estilo, unicidade , arte!

    A sede pela pintura enlouquece.

    Cada risco e rabisco estudado.

    As indagaes perturbam a alma.

    A procura pela auto superao corri,

    Dia aps dia, incessante.

    Qual lado segue melhor?

    Como incrementar a percepo?

    So questes exaustivamente estudadas,

    Revistas, investigadas...

    Mas o que vale cumprir,

    Seguir os passos predestinados pela deciso

    E tomar para si o gosto.

    Fabricar vida atravs das cores.

    Criar mensagens implcitas, intrnsecas,

    Aproveitar os ares da conseqncia,

    Atingindo independente

    Um toque de maestria...

    Andruchak

    http://www.andruchak.com.br/

    www.flickr.com/andruchak

    Quadro 2.9 Perfil do artista plstico Marcos Andruchak

  • 4411

    2.4 Sntese da unidade

    Observamos nesta unidade que as obras de arte so metforas que no trazem respostas

    prontas; mas provocam em ns uma profuso de perguntas que nos fazem extrair delas

    novos, diferentes e profundos significados.

    Ressaltamos que a arte est presente desde quando o homem comeou a inventar e

    produzir ferramentas, permitindo a ele expandir suas relaes sociais e at dominar a

    natureza. Neste sentido, a arte se funde com a tcnica, isto , a habilidade de executar

    vrios procedimentos necessrios para o desenvolvimento do homem. Vimos, tambm,

    que comum associarmos s representaes artsticas as coisas bonitas e agradveis;

    entretanto, as produes artsticas so inspiradas nos diversos contextos socioculturais,

    assim, podemos ver beleza nas obras dramticas e feias.

    Para finalizar a unidade, discutimos duas concepes filosficas fundamentais para a

    construo do processo de significao: o realismo, que prope realidades absolutas e o

    relativismo, que considera que o homem pode atribuir diversos significados ao mundo

    de acordo com o contexto histrico e cultural em que est inserido.

    2.5 Para saber mais

    Filmes

    O sorriso de Monalisa, com direo de Mike Newell, lanado nos EUA em

    2003, um drama, cujo principal enfoque est na educao libertadora,

    esclarecedora, em que se pretende que os estudantes percebam a riqueza da arte

    como elementos definidores da essncia da humanidade. A professora de

    histria da arte vivida por Julia Roberts mais do que uma profissional em

    busca de renovao em seu trabalho pedaggico, o prottipo de mulher

    moderna, livre, desimpedida, disposta a romper os preconceitos sociais da

    dcada de 50 (perodo em que se passa a narrativa).

  • 4422

    Palavras de amor (titulo original: Bee Season) um drama, com direo de

    David Siegel, Scott McGehee, produzido nos EUA em 2005, que conta a histria

    de Eliza (Flora Cross), uma jovem que tem grande facilidade em soletrar. Ela

    a filha caula de Saul (Richard Gere) e Miriam (Juliette Binoche); medida que

    Eliza melhora sua capacidade de soletrar a comunicao entre seus pais e seu

    irmo (Max Minghella) piora, cabendo a ela reunir os fragmentos de sua famlia.

    http://www.adorocinema.com/filmes/lingua

    Arquitetura da destruio (Undergangens Arkiektur) um documentrio

    alemo, com durao de 121 minutos, lanado em 1989, direo de Peter Cohen.

    Enfoca a pretenso de Hitler de se tornar o senhor do universo e o veio artstico

    do arquiteto da destruio que tinha a grande pretenso de dar uma dimenso

    absoluta sua megalomania. O nazismo tinha como um dos seus princpios

    fundamentais a misso de embelezar o mundo, ainda que para isso o destrusse.

    Livros

    O Mundo de Sofia um romance escrito por Jostein Gaarder, publicado pela primeira

    vez em 1991. De forma natural e didtica, o romance introduz a Histria da Filosofia

    dando rpidas pinceladas sobre o seu desenrolar no Ocidente. Levanta as principais

    questes estudadas pelos pensadores de todos os tempos.

    Sites

    http://www.artenaescola.org.br/ O site mantido pela Fundao Iochpe fornece

    sugestes de livros, com fichas tcnicas e sinopses, artigos, monografias, e teses

    sobre educao e arte-educao e permite que o usurio envie o seu artigo ou a

    sua resenha, acompanhada ou no do arquivo contendo o trabalho na ntegra.

    Divulga informaes de interesse do professor de arte em todo o Brasil, sejam elas

    referentes a aes promovidas no mbito da Rede Arte na Escola ou fora dele.

    http://www.itaucultural.org.br/ Informaes sobre o Instituto e seus projetos. A

    Enciclopdia de Artes Visuais um rico acervo de informaes nas reas

    artstico-culturais.

  • 4433

    Unidade 3

    Unidade 3. Comunicao: da oralidade informtica

    Como vimos nas unidades anteriores, as diversas linguagens formam a representao

    simblica que nos possibilita experimentar o mundo e, consequentemente, ampliar

    nossos horizontes socioculturais. por meio da simbolizao que o conhecimento

    condensado, as informaes so processadas, as diversas experincias so acumuladas

    transmitidas e transformadas.

    Para entendermos melhor essa dinmica, nesta unidade vamos abordar alguns aspectos

    relacionados comunicao e transmisso dos signos. Abordaremos o conceito de

    comunicao formal, massivo e informatizado. Vamos discutir tambm alguns aspectos

    da sociedade contempornea, ressaltando as grandes mudanas culturais provocadas

    pela comunicao midiatizada. Observaremos como os meios de comunicao digitais

    esto influenciando de maneira direta nosso modo de ser e de perceber o mundo.

    3.1 Aspectos gerais do processo de comunicao

    A palavra comunicao tem origem no latim communicare, que significa "tornar

    comum", "partilhar", "conferenciar". Assim, a comunicao pode ser vista como a troca

    de algo entre indivduos.

    Quando eu comunico alguma coisa a algum essa coisa se torna comum a

    ambos. Quando se publica uma notcia ela passa a fazer parte da comunidade.

    Comunicao, comunho, comunidade, etc. so palavras que tem a mesma

    raiz e esto relacionadas mesma ideia de algo compartilhado (PEREIRA,

    2001, p.10).

    comum encontrarmos o conceito de comunicao relacionado troca de informaes

    por meio de mensagens. Entretanto, se considerarmos que comunicar pode englobar

    tambm o ato de compartilhar experincias, emoes, sensaes, conhecimentos, ideias,

    valores, bens, servios, etc., esse conceito pode ser ampliado. Para alguns, tudo no

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    universo e na vida seria, em ltima instncia, comunicao, na medida em que h

    sempre o deslocamento de uma forma ou outra de informao, conforme Pereira (2001,

    p.11).

    Somente quando a comunicao ocorre de maneira significativa que os indivduos

    adquirem conscincia de si e do contexto sociocultural em que esto inseridos. Nesse

    sentido, podemos observar que as atividades comunicacionais esto relacionadas

    diretamente linguagem e cultura.

    Dada a ntima ligao existente entre a cultura e a linguagem, uma das