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Plano de Pormenor da ADT 3 da Herdade da Comporta Pedro Ventura, Arqueólogo 1 1. CARACTERIZAÇÃO DA SITUAÇÃO DE REFERÊNCIA 2 1.1 INTRODUÇÃO 2 1.2 METODOLOGIA 2 1.3 ENTIDADES CONTACTADAS 3 1.4 EQUIPA TÉCNICA E PRAZO DE EXECUÇÃO 4 1.5 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA EM ESTUDO 4 1.6 CARACTERIZAÇÃO GEOLÓGICA 7 1.7 ELEMENTOS PATRIMONIAIS IDENTIFICADOS 11 2. ANÁLISE DE IMPACTES 12 3. MEDIDAS DE MINIMIZAÇÃO 12 4. LACUNAS AO CONHECIMENTO/ PROSPECÇÃO DO TERRENO 12 5. EVOLUÇÃO PREVISIVEL DA ÁREA NA AUSÊNCIA DE PROJECTO 14 6. CONCLUSÕES 15 7. RESUMO NÃO TÉCNICO 15 8. BIBLIOGRAFIA 16

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Plano de Pormenor da ADT 3 da Herdade da Comporta

Pedro Ventura, Arqueólogo

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1. CARACTERIZAÇÃO DA SITUAÇÃO DE REFERÊNCIA 2

1.1 INTRODUÇÃO 2 1.2 METODOLOGIA 2 1.3 ENTIDADES CONTACTADAS 3 1.4 EQUIPA TÉCNICA E PRAZO DE EXECUÇÃO 4 1.5 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA EM ESTUDO 4 1.6 CARACTERIZAÇÃO GEOLÓGICA 7 1.7 ELEMENTOS PATRIMONIAIS IDENTIFICADOS 11

2. ANÁLISE DE IMPACTES 12

3. MEDIDAS DE MINIMIZAÇÃO 12

4. LACUNAS AO CONHECIMENTO/ PROSPECÇÃO DO TERRENO 12

5. EVOLUÇÃO PREVISIVEL DA ÁREA NA AUSÊNCIA DE PROJECTO 14

6. CONCLUSÕES 15

7. RESUMO NÃO TÉCNICO 15

8. BIBLIOGRAFIA 16

Plano de Pormenor da ADT 3 da Herdade da Comporta

Pedro Ventura, Arqueólogo

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1. CARACTERIZAÇÃO DA SITUAÇÃO DE REFERÊNCIA

1.1 INTRODUÇÃO

A vertente patrimonial do Relatório Final do Plano de Pormenor da Área de

Desenvolvimento Turístico n.º 3 da Herdade da Comporta tem como objectivo identificar os

elementos patrimoniais, arqueológicos e edificados, que possam sofrer um impacte directo ou

indirecto decorrente da construção do empreendimento.

1.2 METODOLOGIA

O Relatório Final do Estudo de Impacte Ambiental do Plano de Pormenor da Área de

Desenvolvimento Turístico n.º3 da Herdade da Comporta para o qual foi solicitada a

realização do descritor património cultural propôs-se analisar a área de incidência directa do

projecto, ou seja, o local de construção do empreendimento e uma envolvente de 200 metros.

O relatório em causa sobre o património cultural da região foi realizado em duas fases

distintas que se complementaram: a investigação bibliográfica e a consulta das bases de dados

Endovélico e Thesaurus.

Após a análise e definição da área de incidência directa e indirecta do projecto, realizou-se

uma investigação bibliográfica e documental exaustiva. Esta pesquisa deu especial

importância aos resultados da investigação realizada no âmbito do Plano Director Municipal

de Alcácer do Sal e Grândola, às bases de dados do Instituto de Gestão do Património

Arqueológico e Arquitectónico (Endovélico e Thesaurus). Não negligenciou, naturalmente, os

artigos da especialidade, a análise toponímica, a análise fisiográfica, assim como o contacto

com as instituições que possam fornecer informações sobre o património local e a consulta

dos processos existentes no IGESPAR referentes à área de projecto.

Plano de Pormenor da ADT 3 da Herdade da Comporta

Pedro Ventura, Arqueólogo

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A partir desta investigação bibliográfica, o trabalho foi complementado com a identificação

dos principais elementos patrimoniais na área. Para além disso, esta pesquisa permitiu

compreender a dinâmica ocupacional da região, na sua total complexidade, de molde a avaliar

as zonas arqueologicamente sensíveis com conhecimento das particularidades da zona em

questão.

Teve-se ainda em conta o Relatório Ambiental dos Trabalhos Arqueológicos do Plano de

Pormenor da Área de Desenvolvimento Turístico n.º 3 da Herdade da Comporta produzido

em Novembro de 2007 pela empresa Terralevis, Lda.

Não se identificaram elementos patrimoniais na área de projecto. Foram preconizadas

medidas minimizadoras adequadas à fase do projecto em que nos encontramos e uma medida

geral que deverá ser aplicada em fase de obra, uma vez que decorre da aplicação da legislação

ambiental.

As medidas de minimização visam salvaguardar o valor científico e cultural dos elementos

patrimoniais directo ou indirectamente afectados pela construção do novo empreendimento.

As acções minimizadoras, sabendo que nem sempre anulam o impacte negativo de uma obra

desta envergadura, poderão contudo reduzi-lo e em alguns casos beneficiar a investigação

científica e a conservação das estações e dos monumentos. O estudo detalhado das estações

afectadas ou a sua reinstalação muitas vezes salvaguardam elementos patrimoniais em risco

de destruição.

1.3 ENTIDADES CONTACTADAS

Direcção Geral de Ordenamento do Território e Desenvolvimento Urbano

Consulta dos Plano Director Municipal do Concelho de Grândola e Alcácer do Sal.

Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico (IGESPAR, IP)

Consulta das bases de dados Endovélico e Thesaurus.

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1.4 EQUIPA TÉCNICA E PRAZO DE EXECUÇÃO

O relatório preliminar do Plano de Pormenor da ADT 3 da Herdade da Comporta foi realizado

por Pedro Ventura, durante os meses de Agosto e Setembro de 2009.

1.5 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA EM ESTUDO

A cidade de Alcácer do Sal é uma das mais antigas cidades da Europa e segundo os dados

arqueológicos existentes foi fundada antes do ano 1.000 a.C, pelos Fenícios, que assim

aproveitavam os bons terrenos agrícolas existentes, associados a um forte comercio facilitado

por uma via de comunicação facilmente navegável.

Tal como Alcácer, Lisboa e Setúbal também alimentavam o comércio deste povo, fornecendo

sal, peixe salgado, cavalos para exportação e alimentos para as tripulações dos navios. Esse

comércio está testemunhado também pela existência de numerosas pedras de lastro ao largo

de Tróia e mesmo nas praias. Um estudo geológico da composição dessas pedras de lastro

permitiu determinar que, pela sua composição, não são originárias de Portugal mas de locais

muito distantes como o Líbano, Grécia e mesmo a Líbia. Este comércio continuou durante

todo o período romano.

O período Romano caracteriza-se por uma maior fixação de comunidades romanizadas. Os

vestígios romanos existem tanto em terra (villae’s) como no rio (fragmentos de ânforas).

Durante o domínio árabe foi capital da província de Al-Kassr. Com o início da reconquista

cristã, Alcácer do Sal afirmou-se como uma importante cidade para os árabes. O seu castelo

foi reforçado mas tal não evitou que fosse conquistada por D. Afonso Henriques em 1158.

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Reconquistada pelos mouros, só no reinado de D. Afonso II, e com o auxílio de uma frota de

Cruzados, a cidade foi definitivamente conquistada, tornando-se cabeça da Ordem de

Santiago. Foi elevada a cidade a 12 de Julho de 1997.

A presença humana no território de Grândola data de tempos remotos – ao todo, são cerca de

40 as estações arqueológicas identificadas no concelho de Grândola, abarcando quase todos

os períodos da História, desde o Neolítico ao período romano. Destacam-se as ruínas romanas

da Península de Tróia e as da herdade do Pinheiro.

As primeiras escavações em Tróia realizaram-se no séc. XVIII, por iniciativa da futura rainha

D. Maria I. Foi contudo no séc. XIX que o arqueólogo Inácio Marques da Costa realizou

grandes trabalhos no terreno, descobrindo as estruturas fabris e religiosas. O complexo

industrial em Tróia começou a funcionar na época da dinastia dos Júlios-Cláudios e foi

abandonado aquando do fim do império e do declínio das rotas comerciais e dos mercados

consumidores. São ainda hoje visíveis núcleos de fábricas que eram formadas por tanques

(cetarias) de diferentes dimensões. Vêem-se também os poços para o fornecimento de água

doce e as caldeiras distribuídas ao longo do complexo. Dos edifícios públicos, está

identificado o conjunto termal.

Integrada na Ordem Militar de Santiago, Grândola foi uma comenda normalmente

organizada, com uma população distribuída por vários núcleos, ocupando quase toda a

extensão territorial. Embora ainda não haja muitos dados sobre a população no que se refere à

época medieval, sabe-se que, em 1492, a aldeia teria cerca de 135 pessoas e a comenda, no

seu conjunto, 810 habitantes, distribuídos por cerca de 180 fogos.

O mais antigo selo de Grândola conhecido apresenta como elemento principal uma cruz de

Cristo, o que prova a importância que os cavaleiros professos naquela ordem detinham no

senado municipal.

A sua dependência em relação a Alcácer do Sal levou a que os moradores pedissem a D. João

III a carta de foral de vila, que lhes foi concedida a 22 de Outubro de 1544. Com esta

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alteração de estatuto, e em virtude de uma delimitação geográfica aquando da criação da

comenda, o novo concelho passou a representar uma área territorial que abrangia, além da

freguesia de Grândola, as freguesias de Azinheira dos Bairros, São Mamede do Sádão e Santa

Margarida da Serra.

O que se refere à sua organização político-administrativa, Grândola dependia da comarca de

Setúbal. Economicamente, a população dedicava-se à agricultura e à pecuária, sendo

actividades importantes a moagem, a produção do vinho, a olaria, a tecelagem e a caça.

Em 1679 fundou-se em Grândola um celeiro comum para fazer empréstimos de trigo a

lavradores pobres, passando a celeiro municipal aquando da implantação da República.

O séc. XIX, em Grândola, foi um século de progresso. Em 1890 beneficiou da elevação a

comarca. Em finais do séc. XX, em virtude de uma nova reorganização administrativa

territorial, passou a integrar a freguesia de Melides, que abrangia os territórios de Melides,

Carvalhal e Tróia.

Entre 1864 e 1950, a evolução económica e demográfica concelhia pautou-se por um

crescimento, ainda que diferenciado. Até ao início do séc. XX o crescimento foi residual,

baseando-se essencialmente na proliferação de pequenas indústrias de transformação da

cortiça, situadas na sua maioria na vila de Grândola. Paralelamente, outras zonas do concelho

registaram um desenvolvimento económico significativo; tal foi o caso do surgimento da

exploração mineira em Canal Caveira (l863) e Lousal (1900).

O início do séc. XX ficou ainda marcado pelo desenvolvimento das vias de comunicação,

destacando-se o aparecimento do comboio em 1926. Na década de 30, Grândola apresentou

um novo impulso de crescimento demográfico e económico, correspondente à campanha do

trigo integrada na política ruralista e agrícola do Estado Novo.

Foi neste contexto que surgiu a expressão "Celeiro de Portugal" para classificar o Alentejo,

enquanto terreno apto para a produção de cereais. Em conjunto, surgiu uma nova cultura, a do

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arroz, que se desenvolveu sobretudo na zona do Carvalhal. Esta nova fase originou, na região

alentejana, uma fixação populacional de pessoas oriundas de várias partes do País. Até ao

final da década de 40, a população de Grândola aumentou, atingindo nessa altura o valor mais

alto até hoje registado (21.375 habitantes, em 1950).

A partir de 1950 iniciou-se um processo de êxodo rural, sobretudo em direcção à Península de

Setúbal e a Lisboa, devido à profunda estagnação económica resultante da depressão na

agricultura e da ausência de industrialização. Apenas nos anos 70 registou-se um

restabelecimento do nível de vida e, com ele, o desenvolvimento do sector terciário.

1.6 CARACTERIZAÇÃO GEOLÓGICA

A Herdade da Comporta integra uma das unidades morfo-estruturais do território português

designada por Bacia Terciária do Tejo e Sado, e dentro desta, a Bacia Terciária do Sado.

Consiste numa bacia de subsidência que entrou em funcionamento durante o ciclo orogénico

alpino, por rejogo de estruturas hercínicas de orientação NE-SW que bascularam a base desta

bacia para Oeste, na qual ocorreu uma sedimentação intensa, compensatória dos grandes

movimentos de subsidência.

Como consequência dos movimentos subsidentes e de alterações do nível do mar decorrentes

nas últimas quatro glaciações do quaternário, desde o oligocénico foi sendo afectada por

alternância de ambientes continentais e marinhos. Deste modo, a área em estudo localizada na

zona do baixo Sado na sua planície litoral, apresenta uma sequência cronológica recente,

desde formações da era Cenozóica (depositadas desde a transição do miocénico ao pliocénico

(terciário)) até à actualidade. A série inicia-se por afloramentos da formação da Marateca

datada do Miocénico Superior, constituída por areias, pelitos e alguns conglomerados, de

fácies continental, sucede-lhe por ordem cronológica, e já no Quaternário, a identificação de

um terraço do Pliocénico (a NE da área de estudo), e por fim as formações do Holocénico

constituídas essencialmente por uma grande extensão de depósitos designados por solos

arenosos, que confinam igualmente com materiais holocénicos, a Oeste com as formações de

dunas e a Norte com as acumulações aluvionares do Estuário do Sado e afluentes, compostas

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essencialmente por areias e alguns lodos. As areias de praia e as turfas completam o conjunto

de materiais Holocénicos identificados.

A deriva litoral, que na costa ocidental portuguesa é normalmente de Norte para Sul, devido à

orientação das ortogonais das ondas se processar predominantemente de NW/SE, inverte o

seu sentido para S/N, neste litoral, por refracção a Sul do cabo Espichel, sendo um dos

factores mais importantes para a forte sedimentação de areias por ela transportada, dando

origem a um litoral arenoso e ao cordão dunar, paralelo à linha de costa, cuja consequente

evolução, formou a restinga de Tróia, a Norte da área de estudo, “protegida” pela localização

saliente da cadeia da Arrábida e do Cabo Espichel.

Como resultado da influência das condições morfogenéticas, a região apresenta um relevo

pouco expressivo, sendo a sua maior área ocupada pela planície litoral do baixo Sado,

formada na sua maioria por areias Holocénicas, onde principalmente em alguns vales e

altitudes mais elevadas, aflora por erosão dos materiais mais recentes, a Formação Marateca

(Miocénico superior). As altitudes, que se intensificam para Sudeste e Leste, não ultrapassam

os 90 m.

A rede hidrográfica, pouco densa, constituída na sua maioria por valas e ribeiras pouco

encaixadas com drenagem para o Estuário do Sado, é muitas vezes de carácter temporário,

assentando sobre materiais arenosos, muito permeáveis. A única linha de água é a ribeira do

Carvalhal. Esta linha de água, cujo traçado tem sido modificado por obras ligadas ao regadio

apresenta um traçado sinuoso provavelmente condicionado por acidentes tectónicos.

A faixa costeira é constituída por areias de praia e um extenso cordão dunar, que a NW da

área de estudo forma uma restinga que separa do mar o estuário do Sado, diminuindo de

largura para Sul desta, e constituindo nesta direcção, a transição entre as areias de praia e as

areias mais interiores, ou envolvendo a zona vestibular do vale resultante da inflexão para

Norte da linha de água que desagua próximo da Comporta, notando-se ainda algumas

manchas, testemunhos de ocupações avançadas do mar, a N e NE.

Plano de Pormenor da ADT 3 da Herdade da Comporta

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O sistema dunar apresenta de Oeste para Leste, uma faixa antedunal constituída por areias de

praia, e de um modo geral, manifesta variações de altitude que atingem numa primeira faixa

dunas, sensivelmente 10 m, seguida de uma depressão e posteriormente, numa nova elevação,

alcança em média 20 m de altitude, por vezes com alguns corredores provocados pela acção

do vento em superfícies sujeitas a deflação.

A colmatagem produzida por estes relevos de acumulação, ao impedir que os cursos de água

atinjam a linha de costa é, responsável pelo significativo número de turfeiras existentes no

espaço estudado. Nalguns casos, encontram-se em zonas aluvionares, noutros submersos por

albufeiras e açudes, como é o do Paul de Murta e açude da Carrasqueira (a Norte), ou ainda

por extensas áreas de arrozais (Vala Real, paralela à linha de costa), e noutros, com

demarcação na carta geológica, a Sul de Carvalhal e no açude do Vale de Coelheiros.

À escala local, na ADT3 da Herdade da Comporta, na zona de implantação do campo de golfe

ocorrem as seguintes unidades geológicas:

a) Holocénico

Do Holocénico ocorrem dunas (d), no local de implantação do campo de golfe

Dunas

Na folha de Alcácer do Sal há uma das coberturas de dunas mais importantes do País. Está

particularmente desenvolvida na margem esquerda do Sado. A cobertura de dunas está

particularmente desenvolvida na margem esquerda do Sado. Esta cobertura terá sido mais

extensa, a julgar pelos vestígios de dunas degradadas, às vezes reduzidos a uma película, nem

sempre de fácil distinção. Com efeito, é frequente a mistura com outros sedimentos arenosos,

consequente, nomeadamente, da lavra.

Podem admitir-se, portanto, como restos de dunas, ainda que não sejam reconhecíveis os

edifícios de que fizeram parte. As dunas atingem na Herdade da Comporta cotas da ordem de

30 m. Nos depósitos dunares têm sido implantados importantes povoamentos de sobro,

pinheiro manso e eucaliptos. A cobertura dunar nem sempre é facilmente distinguível da

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Formação da Marateca que lhe está subjacente. Esta advertência é particularmente relevante

no caso da análise de cuttings das sondagens, mas é válida também para o caso das zonas

aflorantes.

b) Miocénico

Do Miocénico ocorrem afloramentos da Formação de Marateca (M4-5), no local de

implantação do projecto

A Formação da Marateca é atribuída ao Miocénico Superior, porém alguns autores

atribuem-lhe idade Pliocénica. Esta unidade está largamente representada na folha da carta

geológica, à escala 1/50 000 de Alcácer do Sal. Na ADT3 aflora em retalhos reduzidos

cobertos sobretudo pela cobertura dunar.

Do ponto de vista litológico, caracteriza-se por englobar conglomerados (com seixos mais ou

menos boleados, de calibre não excedendo, no geral, pouco centímetros); areias grosseiras,

sobretudo em níveis inferiores, com frequências feldspáticas, a que sucedem areias médias e

finas, geralmente argilosas, e argilas acinzentadas ou esverdeadas com predomínio de

montmorilonite sobre ilites e caulinite. Não há praticamente fracção carbonatada. De fácies

fluvial, estes depósitos preenchem canais orientados aparentemente a partir do soco, cuja

erosão fundamentalmente resultaram. O carácter mais ou menos argiloso, bastante constante,

contrasta com a pobreza de argilas da Formação infrajacente e das areias de dunas. Na

Herdade da cComporta assenta sobre depósitos marinhos da Formação de Alcácer do Sal, mas

noutras áreas pode ocorrer em discordância sobre as formações continentais da Formação de

Vale de Guizo, ou sobre o soco.

Em termos de capacidade de uso do solo, verifica-se que área de implantação do campo de

golfe apresenta solos incluídos na classe E, não susceptíveis de utilização agrícola,

apresentando limitações para a exploração florestal, nomeadamente, severas limitações do

solo radicular e limitações resultantes da erosão e escorrimento superficial que são mais

importantes nas áreas de declives mais acentuados. Os destinos mais adequados para a

utilização destes solos são a ocupação com vegetação natural, floresta de protecção ou

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recuperação. Os solos da ADT3 e simultaneamente do projecto de campo de golfe não estão

incluídos na Reserva Agrícola Nacional (RAN).

Na várzea da Vala Real, a Norte da ADT3 estão presentes solos aptos para utilização agrícola

pouco intensiva, que apresentam limitações devido a excesso de água. As valas de drenagem

existentes nesta área permite melhorar estes solos, potenciando um uso mais intensivo. É

ainda de referir que os solos de capacidade de uso da classe E identificados na área de

implantação do projecto prevalecem na Herdade da Comporta.

Os solos da zona de implantação do campo de golfe inserem-se nas Áreas de

Desenvolvimento Turístico (ADTs), que constituem áreas a desenvolver em conformidade

com programa próprio, mas que incluem a preservação de núcleos importantes de habitats

naturais e, localmente de espécies classificadas.

À escala da análise do local, verifica-se que a ADT3 “é atravessada por dois destes sistemas

estruturantes – cordão dunar e pinhal – e confina com zonas húmidas onde actualmente se

desenvolvem actividades humanas – horticultura e arrozal – nomeadamente da Lagoa

Formosa e Lagoa de Fuzis e Várzea. O cordão dunar constitui o limite poente da propriedade;

que dista cerca de mil metros da linha de costa, e o pinhal ocupa a maior parte de área,

confinando na ADT3 a nordeste com a Várzea e a noroeste com as Lagoas de Fuzis e

Formosa” (Estudos de Paisagismo, Relatório do PP da ADT3).

1.7 ELEMENTOS PATRIMONIAIS IDENTIFICADOS

Através da pesquisa documental, bibliográfica e das bases de dados não foram identificados

elementos patrimoniais na área de projecto. Poderá contribuir para esta situação o facto de se

tratarem de terrenos muito arenosos (dunas), em mutação constante e de difícil implantação

humana.

Plano de Pormenor da ADT 3 da Herdade da Comporta

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2. ANÁLISE DE IMPACTES

Não se identificaram impactes ao nível do descritor do património arqueológico, uma vez que

não se localizou nenhum elemento patrimonial. Contudo, deverão acautelar-se medidas

mínimas de minimização de impactes.

3. MEDIDAS DE MINIMIZAÇÃO

Preconiza-se como medidas gerais de minimização do impacte da construção do projecto

sobre o património:

O acompanhamento das obras por um arqueólogo (por frente de obra) durante a

fase de construção do empreendimento.

4. LACUNAS AO CONHECIMENTO/ PROSPECÇÃO DO TERRENO

Como é perceptível pela caracterização geológica da área, predominam as zonas de duna.

Assim, a prospecção foi dificultada uma vez que a progressão era difícil. Acresce a esta

situação o facto dos terrenos terem sido alvo de surribas profundas em resultado de

actividades silvículas.

Plano de Pormenor da ADT 3 da Herdade da Comporta

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Relativamente à prospecção do terreno, a totalidade da área onde o campo de golfe vai ser

instalado foi percorrida. Observou-se ainda no terreno, que a zona é frequentemente lavrada,

verificando-se ainda revolvimentos de solos profundos recentemente. Não foi possível

prospectar algumas áreas, que seguem indicadas na figura em anexo. Assinalam-se a verde as

Plano de Pormenor da ADT 3 da Herdade da Comporta

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áreas onde a cobertura vegetal do solo permitia uma visibilidade acima a 60%, a amarelo uma

visibilidade entre 40% e 60% e a vermelho uma visibilidade abaixo de 40%.

5. EVOLUÇÃO PREVISIVEL DA ÁREA NA AUSÊNCIA DE PROJECTO

Do ponto de vista do património edificado podemos afirmar que a não implementação do

projecto não contribuiria para o melhoramento da sitiução actual, uma vez que não existem

impactes associados.

No que concerne ao património arqueológico, não obstante os impactes que eventualmente a

implementação do projecto em estudo determinará em elementos desconhecidos,

recomendara-se acompanhamento arqueológico dos trabalhos que permitirá, possivelmente,

detectar vestígios arqueológicos que, desde que devidamente estudados, beneficiarão o

conhecimento da dinâmica ocupacional da região.

Em suma, a não implementação do projecto não contribuiria para a identificação e estudo de

novos sítios arqueológicos.

Plano de Pormenor da ADT 3 da Herdade da Comporta

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6. CONCLUSÕES

Não foram identificados elementos arqueológicos, arquitectónicos ou etnográficos na área em

estudo. Trata-se de uma zona em que predominam as dunas e vastos areais onde se cultivou

pinhal intensivo. A área foi sempre e continua a ser alvo de surribas. Recomendou-se a

medida mínima de minimização: o acompanhamento arqueológico dos trabalhos.

7. RESUMO NÃO TÉCNICO

O Relatório Final do Estudo de Impacte Ambiental do Plano de Pormenor da Área de

Desenvolvimento Turístico n.º3 da Herdade da Comporta, na vertente do património cultural,

procurou analisar a área de incidência directa do projecto, ou seja, o local de construção do

empreendimento e uma envolvente de 250 metros.

O EIA em causa sobre o património cultural da região foi realizado em duas fases distintas

que se complementaram: a investigação bibliográfica e o reconhecimento do terreno, segundo

as indicações do IGESPAR (Circular – Termos de Referência para o Descritor Património

Arqueológico em Estudos de Impacte Ambiental).

Após a análise e definição da área de incidência directa e indirecta do projecto, realizou-se

uma investigação bibliográfica e documental exaustiva. Esta pesquisa deu especial

importância aos resultados da investigação realizada no âmbito dos Planos Directores

Municipais de Alcácer do Sal e Grândola, às bases de dados do Instituto de Gestão do

Património Arqueológico e Arquitectónico (Endovélico). Não negligenciou, naturalmente, os

artigos da especialidade, a análise toponímica, a análise fisiográfica, assim como o contacto

com as instituições que possam fornecer informações sobre o património local e a consulta

dos processos existentes no IGESPAR referentes à área de projecto.

Plano de Pormenor da ADT 3 da Herdade da Comporta

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Deu-se ainda uma particular atenção ao Relatório Ambiental dos Trabalhos Arqueológicos do

Plano de Pormenor da Área de Desenvolvimento Turístico n.º 3 da Herdade da Comporta

produzido em Novembro de 2007 pela empresa Terralevis, Lda.

A partir desta investigação bibliográfica, o trabalho foi complementado com o

reconhecimento do terreno. Para além disso, esta pesquisa permitiu compreender a dinâmica

ocupacional da região, na sua total complexidade, de molde a avaliar as zonas

arqueologicamente sensíveis com conhecimento das particularidades da zona em questão.

Foi realizada a prospecção sistemática das áreas a afectar pela implementação das infra-

estruturas projectadas. Os trabalhos de prospecção arqueológica foram articulados com os

trabalhos topográficos e de implantação cartográfica do projecto de forma a identificar

elementos arqueológicos antes da definição do projecto final, garantindo desta forma a

preservação dos elementos arqueológicos no terreno. Não se identificaram vestígios

arqueológicos, arquitectónicos ou etnográficos.

Preconizou-se o acompanhamento arqueológico efectivo, continuado e directo de todas as

mobilizações de solo, tendo em consideração a necessidade dum arqueólogo ou assistente de

arqueólogo (no caso de frentes muito próximas) por frente de obra.

8. BIBLIOGRAFIA

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