fácies sedimentares e estratigrafia da bacia do … · ii dissertaÇÃo de mestrado n°53 fácies...

107
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA DEPARTAMENTO DE RECURSOS MINERAIS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOCIÊNCIAS Caiubi Emanuel Souza Kuhn Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do Cambambe, Chapada dos Guimarães, Mato Grosso, Brasil. Orientador Prof. Dr. Jackson Douglas Silva da Paz

Upload: phamquynh

Post on 19-Aug-2018

215 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do … · ii DISSERTAÇÃO DE MESTRADO N°53 Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do Cambambe, Chapada dos Guimarães, Mato

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

INSTITUTO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA

DEPARTAMENTO DE RECURSOS MINERAIS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOCIÊNCIAS

Caiubi Emanuel Souza Kuhn

Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do

Cambambe, Chapada dos Guimarães, Mato

Grosso, Brasil.

Orientador

Prof. Dr. Jackson Douglas Silva da Paz

Page 2: Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do … · ii DISSERTAÇÃO DE MESTRADO N°53 Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do Cambambe, Chapada dos Guimarães, Mato

i

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

REITORIA

Reitora

Profª. Drª. Maria Lucia Cavalli Neder

Vice-Reitor

Prof. Dr. João Carlos de Souza Maia

PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO

Pró-Reitora

Profª. Drª. Leny Caselli Anzai

INSTITUTO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA

Diretor

Prof. Dr. Martinho da Costa Araújo

DEPARTAMENTO DE RECURSOS MINERAIS

Chefe

Prof. Dr. Paulo César Corrêa da Costa

Coordenador

Prof. Dr. Amarildo Salina Ruiz

Vice-Coordenadora

Profª. Drª. Ronaldo Pierosan

Page 3: Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do … · ii DISSERTAÇÃO DE MESTRADO N°53 Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do Cambambe, Chapada dos Guimarães, Mato

ii

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO

N°53

Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do Cambambe, Chapada dos

Guimarães, Mato Grosso, Brasil.

Caiubi Emanuel Souza Kuhn

Orientador

Prof. Dr. Jackson Douglas Silva da Paz

CUIABÁ

2014

Dissertação apresentada ao Programa

de Pós-Graduação em Geociências do

Instituto de Ciências Exatas e da Terra

da Universidade Federal de Mato

Grosso como requisito parcial para a

Obtenção de Título de Mestre em

Geociências.

Page 4: Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do … · ii DISSERTAÇÃO DE MESTRADO N°53 Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do Cambambe, Chapada dos Guimarães, Mato

iii

FICHA CATALOGRÁFICA

1. Argila – Bom Jesus de Goiás (GO). 2. Argilomineral. 3. Caulinita.

4. Acetato de potássio. 5. Azul de metileno. I. Título.

CDU – 553.612

Ficha elaborada por: Rosângela Aparecida Vicente Söhn – CRB-1/931

O53a Kuhn, Caiubi Emanuel Souza.

Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do Cambambe, Chapada dos Guimarães, Mato Grosso,

Brasil. Chapada dos Guimarães- MT / Caiubi Emanuel Souza. – 2014.

xvii, 100 f. : il. color.

Orientadora: Prof. Dr. Jackson Douglas Silva da Paz.

Dissertação (mestrado) – Universidade Federal de Mato Grosso,

Instituto de Ciências Exatas e da Terra, Pós-Graduação em Geociências,

2014.

Bibliografia: p. 6-8, 35-39, 72-74, 95-96.

Inclui anexos.

1. Fácies Sedimentares. 2. Minerais Pesados. 3. Petrografia.

4. Chapada dos Guimarães (MT). 5. Cretáceo.

CDU – 552.0

Page 5: Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do … · ii DISSERTAÇÃO DE MESTRADO N°53 Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do Cambambe, Chapada dos Guimarães, Mato

iv

Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do Cambambe, Chapada dos Guimarães,

Mato Grosso, Brasil.

Dissertação de mestrado aprovada em 31 de Julho de 2014.

BANCA EXAMINADORA

________________________________________

Prof. Dr. Jackson Douglas da Silva Paz

Orientador (UFMT)

________________________________________

Prof. Dr. Ronaldo Pierosan

Examinador Interno

________________________________________

Prof. Dr. Gerson Souza Saes

Examinador Externo

Page 6: Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do … · ii DISSERTAÇÃO DE MESTRADO N°53 Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do Cambambe, Chapada dos Guimarães, Mato

v

Dedico este trabalho a todos os amigos e pessoas que fazem parte da minha vida!

Page 7: Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do … · ii DISSERTAÇÃO DE MESTRADO N°53 Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do Cambambe, Chapada dos Guimarães, Mato

vi

Agradecimentos

Muitas pessoas participaram da minha vida e me ajudaram até chegar a este momento.

Agradeço a minha família, que me ajudou a me moldar a ser a pessoa que sou hoje, me deu liberdade e

me ensinou a ser guerreiro e a lutar pelo que acredito. Mesmo tendo às vezes muitas dificuldades pela

frente sempre tive liberdade para lutar e vencer barreiras que por muitas vezes pareciam quase

intransponíveis. Muito obrigado, minha mãe Maria Aparecida, meu pai Paulo Cezar, meus Avó

Romualdo Kuhn e Antônio Dias e minhas avós Dona Dalva e Neli Kuhn, e aos meus irmãos e irmãs,

Iasmim, Radharani, Hermano, Iuca, Lótus, Haloa e Ginseng.

Agradeço também a muitas outras pessoas que tenho como parte de minha família, como a

Dona Nena, Roberto, Rodrigo, Ozanah e Saulo, a toda família D’elia: Lucy, Wagner e Natalie e meu

irmão Erick. A Suzana Hirooka que incentivou na vida cientifica e profissional.

À Universidade Federal de Mato Grosso, por ter proporcionado as condições necessárias para

o desenvolvimento desta dissertação e a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoas em Nível

Superior pela bolsa concedida.

Aos meus professores, desde aqueles que estiveram comigo em momentos iniciais e até os

mestres e doutores que lecionaram durante a minha estada na universidade. Agradeço em especial ao

meu Orientador Jackson, que sempre acreditou em mim, me apoiou e me ajudou mesmo em situações

que os indicadores convencionais sempre diziam que tudo daria errado. Teve muita paciência e

compreensão, permitindo que conciliasse minhas participações em movimentos sociais e minha vida

acadêmica desde o segundo ano de faculdade até o mestrado. Não posso deixar de agradecer a

Professora Silane pelo apoio e pelas puxadas de orelha.

Às Professoras Ana Azeredo e Maria Cristina Cabral que aceitaram me orientar durante minha

estada em Portugal, na Universidade de Lisboa. Esse intercâmbio me ajudou muito na elaboração de

minha dissertação, além de ter transformado minha mente em vários aspectos e conceitos.

Aos meus colegas de mestrado em especial os que fazem parte do grupo dos sedimentos,

Danilo, Renan, Regiane e Kéttilin que me ajudaram durante o desenvolvimento da pesquisa e

discussão de dados.

A minha namorada, Sthefani por estar ao meu lado mesmo eu tendo essa vida louca com

pouco tempo e muita coisa para fazer, é bom sempre te ter junto comigo me ajudando e apoiando em

minha vida.

Muito obrigado a todos!

Page 8: Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do … · ii DISSERTAÇÃO DE MESTRADO N°53 Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do Cambambe, Chapada dos Guimarães, Mato

vii

Sumário

CAPÍTULO 1- INTRODUÇÃO ....................................................................................................................1

1.1 - Apresentação do tema....................................................................................................................1

1.2 - Objetivo geral..................................................................................................................................2

1.2.1 - Objetivos específicos............................................................................................................2

1.3 - Métodos da pesquisa......................................................................................................................3

1.4 - Contexto Geotectônico...................................................................................................................3

1.4.1 - Bacia do Paraná........................................................................................................................5

1.4.2 -Super-Sequencia Bauru ou Bacia Bauru....................................................................................5

1.4.3 -Bacia dos Parecis.......................................................................................................................5

1.4.4 -Bacia Cambambe, Bacia Poxoréu, Bacia de Itiquira e outras Bacias Cretáceas de Mato

Grosso. ................................................................................................................................................6

1.5 -Estratigrafia da Bacia Cambambe.....................................................................................................7

CAPITULO 2 – FÁCIES SEDIMENTARES. .................................................................................................11

2.1 -Fácies conglomerado polimítico.................................................................................................... 11

2.2 -Fácies conglomerado oligomitico...................................................................................................11

2.3 -Fácies arenito.................................................................................................................................13

2.4 -Fácies siltitos e pelitos....................................................................................................................15

2.5 -Modelo Paleoambiental.................................................................................................................16

2.5.1 -Paleoambiente De Fluxo De Detritos......................................................................................18

2.5.2 -Colapso De Fluxo Turbulento..................................................................................................18

2.5.3 -Paleoambiente De Paleossolos...............................................................................................19

2.5.4 -Paleoambiente De Preenchimento De Canais........................................................................20

CAPÍTULO 3 – PETROGRAFIA.................................................................................................................23

3.1 - Silexito...........................................................................................................................................23

3.1.1 -Interpretação: .........................................................................................................................23

3.2 -Carbonatos.....................................................................................................................................24

3.2.1 -Interpretação...........................................................................................................................25

3.3 -Litarenitos.......................................................................................................................................27

3.3.1 -Interpretação...........................................................................................................................29

3.4 -Sub-litarenito..................................................................................................................................31

3.4.1 -Interpretação...........................................................................................................................31

Page 9: Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do … · ii DISSERTAÇÃO DE MESTRADO N°53 Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do Cambambe, Chapada dos Guimarães, Mato

viii

3.5 -Quartzo-arenito..............................................................................................................................32

3.5.1 -Interpretação...........................................................................................................................37

3.6 -Evolução da Bacia...........................................................................................................................38

CAPÍTULO 4 – MINERAIS PESADOS........................................................................................................43

4.1 -Fração Areia Fina............................................................................................................................43

4.1.1 -Minerais Descritos...................................................................................................................45

4.1.1.1 -Opacos..............................................................................................................................45

4.1.1.2 -Alteritos............................................................................................................................45

4.1.1.3 -Estaurolita........................................................................................................................46

4.1.1.4 -Turmalina.........................................................................................................................46

4.1.1.5 -Apatita..............................................................................................................................46

4.1.1.6 -Distena..............................................................................................................................46

4.1.1.7 -Granada............................................................................................................................46

4.1.1.8 -Andaluzita.........................................................................................................................46

4.1.1.9 -Hornblenda Verde............................................................................................................46

4.1.1.10 -Rutilo..............................................................................................................................46

4.1.1.11 -Zircão..............................................................................................................................46

4.2 -fração Areia Muito Fina..................................................................................................................48

4.2.1 -Minerais Descritos...................................................................................................................48

4.2.1.1 -Opacos..............................................................................................................................48

4.2.1.2 -Estaurolita........................................................................................................................48

4.2.1.3 -Granada............................................................................................................................48

4.2.1.4 -Turmalina.........................................................................................................................49

4.2.1.5 -Zircão................................................................................................................................50

4.2.1.6 -Andaluzita.........................................................................................................................50

4.2.1.7 -Cianita...............................................................................................................................50

4.2.1.8 -Titanita.............................................................................................................................50

4.2.1.9 -Rutilo................................................................................................................................50

4.2.1.10 -Alteritos..........................................................................................................................50

4.2.1.11 -Monazita.........................................................................................................................50

4.2.1.12 -Hornblenda verde...........................................................................................................51

4.2.1.13 -Anatásio..........................................................................................................................52

4.2.1.14 -Anfibólio Cálcico (Provavelmente Tremolite) ................................................................52

4.2.1.15 -Apatita............................................................................................................................52

Page 10: Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do … · ii DISSERTAÇÃO DE MESTRADO N°53 Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do Cambambe, Chapada dos Guimarães, Mato

ix

4.3 -Interpretação..................................................................................................................................52

CAPITULO 5 - CONCLUSÕES...................................................................................................................57

BIBLIOGRAFIA .......................................................................................................................................59

ANEXOS..................................................................................................................................................64

Page 11: Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do … · ii DISSERTAÇÃO DE MESTRADO N°53 Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do Cambambe, Chapada dos Guimarães, Mato

x

Resumo

Este trabalho apresenta dados de análise fácies, minerais pesados e petrografia sedimentar de

rochas cretáceas da Bacia Cambambe, depositadas em um sistema de leques aluviais entre os andares

Santoniano e Maastrichtiano, em um paleoambiente de clima seco e quente.

Foram interpretados quatros paleoambiente: fluxo de detritos, Colapso de fluxo turbulento,

preenchimento de canais e Paleoambiente de paleossolos. A sucessão sedimentar é separada por uma

discordância entre as formações Ribeirão Boiadeiro e Cambambe

Essa discordância é também notada na petrografia, sendo a Formação Ribeirão Boiadeiro

constituída por litarenitos e horizontes de carbonatos (Calcretes) e a Formação Cambambe, constituída

por quartzo-arenitos e sub-litarenitos. A mudança na composição resulta da mudança no controle

tectônico e de alterações da porcentagem de contribuição das diferentes áreas fontes. E notável

também que na base as rochas da bacia tiveram uma relação direta com o vulcanismo da Formação

Paredão Grande, enquanto no topo do pacote rochoso essa relação é ausente.

Foram descritos grãos nas frações areia fina e areia muito fina sendo identificado minerais

opacos, alteritos, estaurolitas, andaluzitas, turmalinas e distena, zircão, granada, hornblenda verde,

apatita, rutilo, anfibólio cálcico, monazita, anatásio, cianita e a titanita sendo descritos diferentes graus

de alteração e corrosão nos minerais.

Os processos diagenéticos que predominam nas rochas são relacionados a eodiagênese,

predominando na bacia temperaturas inferiores a 80°C. O desenvolvimento da bacia ocorreu associado

a reativações ligadas ao Lineamento Transbrasiliano e a formação de um sistema de grábens e horts na

plataforma de Alto Garças.

Page 12: Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do … · ii DISSERTAÇÃO DE MESTRADO N°53 Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do Cambambe, Chapada dos Guimarães, Mato

xi

Abstract

This work presents data analysis of facies, heavy minerals and sedimentary petrography of

cretaceous rocks in the Cambambe basin, deposited on a system of alluvial fans between the Santonian

and Maastrichtian floors at a paleoenvironment of dry and hot climate.

Four paleoenvironment were interpreted: debris flow, turbulent flow collapse, canal filling and

Paleoenvironment of paleosol. The sedimentary succession is divided by a discordance between the

Ribeirão Boiadeiro and Cambambe formations.

This discordance is also noted at the petrography - while litharenites and carbonate horizons

(calcretes) constitute the Ribeirão Boiadeiro formation, the Cambembe formation is composed by

quartz arenites and sublitharenites. The change in outline implicates in change of tectonic control and

in alterations of the share of contribuiton of each source area. It is noteworthy that there is direct

relationship between the rocks and volcanism of the Paredão Grande formation at the basis of the bay

while not at the top of the rocky formation.

Grains in the fine sand and very fine sand fractions were described, while opaque minerals,

alterites, staurolites, andalusites, tourmalines and distena, zircan, granada, green hornblende, apatite,

rutile, calcica, monazite, anastasium, cianite and titanite were identified. Different levels of alteration

and corrosion were described for these minerals.

The predominant diagenetic processes in these rocks are related to eodigenesis, as the bay has

temperatures predominantly below 80°C. The bay development is associated to reactivations

connected to the Transbrazilian Lining and the formation of a sistem of grabens and horsts in the Alto

Garças platform.

Page 13: Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do … · ii DISSERTAÇÃO DE MESTRADO N°53 Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do Cambambe, Chapada dos Guimarães, Mato

1

CAPÍTULO 1

INTRODUÇÃO

1.1- APRESENTAÇÃO DO TEMA

Essa dissertação aborda a organização estratigráfica e a evolução pós-deposicional de uma

bacia sedimentar originada acerca de 84 milhões de anos no Cretaceo Superior, denominada Bacia do

Cambambe. A área de estudo deste trabalho está localizada no município de Chapada dos Guimarães,

no estado de Mato Grosso.

Durante o Cretáceo, os processos de fragmentação do continente Gondwana ocasionaram a

formação de diversas bacias sedimentares. Todavia algumas destas ainda não possuem estudos

detalhados.

Os sedimentos em estudo nesse trabalho são citados na literatura desde o século XIX, quando

foram descritos fósseis de dinossauros por Derby (1890). Diversos autores como Bauer & Largher

(1958), Almeida (1964), Oliveira & Mulhmann (1965), Weska (1987), Coimbra (1991), Gibson et al.

(1997), Weska (1996), Silva (2014) entre outros, contribuíram para a definição litoestratigráfica e

tectônica.

Os trabalhos realizados apresentam divergências sobre a constituição existente do arcabouço

litoestratigráfico a exemplo da proposta de Coimbra (1991) que dividiu em Formação Ribeirão

Boiadeiro e Formação Cambambe, no entanto, Weska (1996) propôs a organização em Formação

Paredão Grande, Formação Quilombinho, Formação Cachoeira do Bom Jardim e Formação

Cambambe.

O posicionamento desta sequência dentro de uma bacia sedimentar é ainda mais divergente, a

princípio autores como Almeida (1964) posicionaram dentro da Bacia do Paraná, Coimbra (1991)

propôs a existência de uma Bacia própria denominada Bacia do Cambambe e Weska (2006) posiciona

esta sequência dentro da Bacia do Parecis.

Na literatura além das divergências sobre a organização estratigráfica, ainda não se tem

esclarecida, os processos diagenéticos relacionados a estes sedimentos. Outra pergunta pertinente é

referente à percentagem de contribuição das áreas fontes da bacia nos diferentes momentos

estratigráfico e tectônico, e como se deu a evolução ao longo do tempo geológico.

Este trabalho utilizou-se da integração de dados de análise de fácies; de secções montadas de

minerais pesados e petrografia visando inter-relacionar as metodologias de forma complementar para

obter interpretações que auxiliem na compreensão dos problemas citados a cima.

O acesso aos afloramentos pesquisados ocorre por estradas vicinais que interligam a sede do

município de Chapada dos Guimarães (Figura 1.1) até a área de estudo localizada nas proximidades

das comunidades de Jão Carro, Jangada Roncador, Fazenda Rancho Queimado, Cachoeira Rica (Peba)

Page 14: Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do … · ii DISSERTAÇÃO DE MESTRADO N°53 Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do Cambambe, Chapada dos Guimarães, Mato

2

e Morro do Cambambe. Nestes locais, foram descritos afloramentos que apontam para um pacote

rochoso total com mais de 300 metros de espessura.

Figura 1.1 - Mapa de localização.

1.2 - OBJETIVO GERAL

Este trabalho visa auxiliar no entendimento estratigráfico, tectônico e diagenético das rochas

da sequência vulcano-sedimentar da Bacia Cambambe.

1.2.1- Objetivos específicos

Definir as fácies sedimentares existentes;

Realizar a interpretação petrográfica e contribuir para o entendimento dos processos

diagenéticos que ocorrem na bacia;

Descrever os minerais pesados existentes

Contribuir para o entendimento dos processos deposicionais e sobre área fonte dos

sedimentos.

Refinar os dados referentes à datação das unidades lito-estratigráficas existentes na

Bacia Cambambe.

Page 15: Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do … · ii DISSERTAÇÃO DE MESTRADO N°53 Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do Cambambe, Chapada dos Guimarães, Mato

3

1.3- MÉTODOS DA PESQUISA

O trabalho utilizou os métodos de análise de fácies, petrografia sedimentar e de minerais

pesados, através da confecção de perfis estratigráficos e perfis geológicos, descrição de lâminas

petrográficas e secções montadas de minerais pesados desenvolvidos ao longo de dados coletados em

109 pontos.

O método da análise de fácies consiste no mapeamento de fácies deposicionais por meio da

montagem de perfis estratigráficos que representam esquematicamente o empilhamento original das

camadas observadas nos afloramentos estudados. Este método utiliza feições mensuráveis como

espessura, litologia e textura, estruturas sedimentares, geometria, conteúdo de fóssil, direção do

paleofluxo e cor (cf. Tucker, 2003; Miall, 1990, cap.1).

A petrografia sedimentar foi realizada de acordo com o trabalho de Pettijohn et al. (1987),

observando informações sobre arcabouço, granulometria, arredondamento, seleção, características do

cimento, textura, forma cristalina e tamanho dos cristais. Também características da matriz e contato

entre os grãos e empacotamento. A confecção das lâminas ocorreu na Universidade Federal de Mato

Grosso (UFMT), na Universidade Federal do Pará (UFPA) e na Universidade Estadual São Paulo

(UNESP).

A análise de minerais pesados foi desenvolvida por meio da descrição de 26 secções montadas

de minerais pesados das amostras coletadas em campo, 13 da fração areia finas e 13 da fração areia

muito fina. Foi realizada a caracterização dos grãos minerais existentes e da morfologia dos grãos

usando como metodologia a proposta por Mange & Maurer (1992). A confecção das lâminas de

secções montadas de minerais pesados foi feita na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT).

A descrição e interpretação das lâminas petrográficas e das secções montadas de minerais

pesados foi realizada na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, durante um estágio

internacional realizado para este propósito.

1.4- CONTEXTO GEOTECTÔNICO

Durante a era Mesozóica, os esforços extensionais de ruptura do supercontinente Gondwana

levaram à reativação de falhas e instalação de diversas bacias do tipo rifte, constituídas por sucessões

vulcano-sedimentares.

A reativação Wealdeniana ou ativação Mesozóica afeta preferencialmente as rochas da

plataforma sul-americana consolidada durante o ciclo Brasiliano, originando fendilhamentos,

aulacógenos e soerguimento epirogênicos de amplos platôs conforme Zalán (2004).

Page 16: Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do … · ii DISSERTAÇÃO DE MESTRADO N°53 Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do Cambambe, Chapada dos Guimarães, Mato

4

Após a abertura inicial do oceano atlântico as placas Africana e Sul-Americana passaram por

um evento transpressional denominado Evento Romancheno, no qual ocorreu um deslizamento lateral

convergente das placas (Zalán, 2004). Há divergência entre os autores, em relação idade do evento

determinada em 98-94 Ma por Zalán (1984) e em 84 Ma por Attoh et al. (2004). Este evento possui

uma idade próxima a do surgimento da Bacia Cambambe e os esforços tectônicos geradores de ambos

os eventos tectônicos podem estar relacionados.

Os sedimentos cretáceos em estudo neste trabalho estão relacionados a esforços tectônicos que

ocorreram por volta de 84 milhões de anos. Como já citado, há divergência entre os autores (Coimbra

1991; Lacerda Filho et al., 2004; Weska 2006; Milani et al., 2007) sobre o compartimento tectônico

destes sedimentos e sobre a qual bacia eles pertencem. Esse debate ocorre devido à posição geografia

dos depósitos e por causa das similaridades, entre a sequência em estudo e outras sequências cretáceas

existentes (Figura 1.2). Para uma melhor compreensão sobre o assunto é necessário o entendimento

sobre as bacias do Paraná, Bauru, Parecis e Cambambe.

Figura 1.2: Mapa geológico modificado de Silva (2014), destacando a Plataforma de Alto Garças,

conforme Coimbra (1991) e Lacerda Filho et al. (2004), neste mapa os sedimentos em estudo neste

trabalho estão compartimentados no Grupo Bauru.

Page 17: Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do … · ii DISSERTAÇÃO DE MESTRADO N°53 Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do Cambambe, Chapada dos Guimarães, Mato

5

1.4.1- Bacia do Paraná

A Bacia do Paraná (Milani et al., 2007) é uma província sedimentar localizada no centro-leste

da América do Sul, com área de 1.500.000 km², cuja evolução ocorreu entre o período Ordoviciano da

era Paleozóica até o período Cretáceo da era Mesozóica. As rochas cretáceas aflorantes no Município

de Chapada dos Guimarães são relacionadas à Supersequência Bauru, que representa a última fase

deposicional da Bacia do Paraná (Milani, 1997).

1.4.2- Supersequência Bauru ou Bacia Bauru

A Supersequência Bauru foi definida por Milani (1997); contudo Riccominni (1997) propôs

que os sedimentos cretáceos sobrepostos a Bacia do Paraná pertencem a uma bacia própria,

denominada Bacia Bauru com extensão de cerca 370.000 km². O desenvolvimento da Bacia Bauru

ocorreu relacionado à subsidência térmica gerada pelo resfriamento dos derrames da Formação Serra

Geral (Riccominni, 1997), que teve sua principal fase de atividade por volta de 133-132 Ma (Marques

& Ernesto, 2004). A maior espessura da bacia é encontrada relacionada na região onde ocorre a maior

espessura dos derrames da formação Serra Geral.

Conforme Dias-Brito et al. (2001), a Bacia do Bauru é formada pelo Grupo Caiuá com as

formações Rio Paraná, Goio Erê e Santo Anastácio; e Grupo Bauru, com as formações Vale do Rio do

Peixe, Araçatuba, Presidente Prudente, São José do Rio Preto, Uberaba e Marília; e Analcimitos

Taiúva. A Formação Marília pode ainda ser dividida em Membro Echaporã, Membro Serra da Galga e

Membro Ponte Alta. Os depósitos cretáceos, aflorantes na região do Município de Chapada dos

Guimarães foram relacionados ao Grupo Bauru desde Bauer & Largher (1958), Weska (1996) definiu

a sequência da base para o topo como sendo constituída pelas três associações de fácies: Quilombinho,

Cachoeira do Bom Jardim e Cambambe.

1.4.3- Bacia dos Parecis

A Bacia dos Parecis uma das maiores bacias intratônicas brasileiras, e segundo Bahia (2006),

possui uma área de 500.000 km² distribuída nos estados de Rondônia e Mato Grosso, acumulando

mais de 6.000 m de sedimentos paleozoicos, mesozoicos e cenozoicos, essencialmente siliciclásticos.

A Bacia está posicionada sobre a porção sudoeste do Cráton Amazônico, entre os cinturões de

cisalhamento Rondônia e Guaporé, os limites sudeste e nordeste da bacia são os arcos de Xingu

(Almeida, 1983) e Rio Guaporé, respectivamente.

A sucessão Mesozóica é constituída pelo basalto da Formação Tapirapuã datada pelo método

Ar/Ar por Marzoli et al. (1999) em 198 Milhões de anos. No cretáceo ocorreu a intrusão kimberlitos

descritos por Schobbenhaus et al. (1984) e a deposição das formações Salto das Nuvens e Utiariti,

respectivamente à porção superior e inferior designadas por Barros et al. (1982). A primeira delas foi

Page 18: Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do … · ii DISSERTAÇÃO DE MESTRADO N°53 Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do Cambambe, Chapada dos Guimarães, Mato

6

criada para agrupar conglomerados polimíticos mal selecionados intercalados com lentes de arenito

vermelho, na qual podem ser encontrados também arenito bimodais, com estratificação cruzada de

grande porte Bahia (2007). Esta unidade é posicionada por Silva et al. (2003) no Cretáceo Médio a

Superior devido à ocorrência de conteúdo fóssil de Mesosuchidae (Notosuchidae). A Formação

Utiariti foi designada por Barros et al. (1982) para agrupar sedimentos flúvio-lacustres, depositados

durante a fase de sinéclise da bacia.

Devido às características similares dos sedimentos cretáceos aflorantes na região, Weska

(2006) engloba as formações do Grupo Bauru em Chapada dos Guimarães na sequência do Grupo

Parecis, sendo constituída pelas formações Paredão Grande, Salto das Nuvens, Cachoeira do Bom

Jardim e Utiariti.

1.4.4- Bacia Cambambe, Bacia Poxoréu, Bacia de Itiquira e outras Bacias

Cretáceas de Mato Grosso.

Para Coimbra (1991) e Silva (2014) o entendimento da evolução tectônica e sedimentar das

bacias cretáceas do Cambambe, Poxoréu e Itiquira passa pela compreensão da Plataforma de Alto

Garças, que representa a parte setentrional da Bacia do Paraná, localizada no centro-sudeste do estado

de Mato Grosso. No Período Cretáceo, a evolução dos esforços tectônicos relacionados ao Lineamento

Transbrasiliano ocasionou o desenvolvimento de altos estruturais e grábens. Desta forma, se

desenvolveram diversas bacias vulcano-sedimentares cretáceas sobre as rochas da Bacia do Paraná.

Coimbra (1991) propôs para esta evolução de noroeste para sudeste, respectivamente as bacias

Cambambe e Poxoréu, que possuem o caimento para norte, e a Bacia Itiquira e outras bacias Cretáceas

menores com provável caimento para o sul. Todas elas relacionadas ao controle tectônico da Antéclise

de Rondonópolis. A Bacia Cambambe seria constituída por uma sequência sedimentar constituída da

base para o topo pelas formações Ribeirão Boiadeiro e Cambambe de idade cretácea.

A Bacia do Cambambe se posiciona na porção noroeste da Antéclise de Rondonópolis. O

embasamento é formado pelas rochas metamórficas neoproterozóicas do Grupo Cuiabá e pelas

formações Botucatu pertencente à Bacia do Paraná. A deposição na bacia teria iniciado e se

desenvolvido a partir ao magmatismo da província ígnea de Poxoréu que é representado pelas rochas

ígneas da Formação Paredão Grande.

Gibson et al., (1997) relaciona este evento magmático à chegada da Pluma de Trindade por

volta de 84 Ma, ocasionando rifteamento e vulcanismo. Ulbrich et al. (2004) relaciona a geração dos

magmas das ilhas litorâneas com a refusão de fragmentos litosféricos subcontinental, desmembrados

durante a ruptura e posteriormente remobilizados em processo de fusão. Este processo formou câmaras

magmáticas intermediárias numa estrutura complexa com a possível existência de vários magmas

Page 19: Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do … · ii DISSERTAÇÃO DE MESTRADO N°53 Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do Cambambe, Chapada dos Guimarães, Mato

7

parentais. Este processo pode também ter ocorrido na Bacia Cambambe, desta forma existe a hipótese

de o magmatismo da formação Paredão Grande estar ligado a este processo.

Curto et al. (2014) sub-dividiu a plataforma de Alto Garças em 4 domínios magnéticos, sendo

eles de leste a oeste: Arenópolis, Bom Jardim, Rondonópolis e Poxoréo. Este último indica uma região

de baixa magnetização crustal limitada ao sul pelos lineamentos São Vicente e General Carneiro.

Neste domínio estão posicionadas as Bacias Cambambe e Poxoréo.

Este trabalho utilizará o compartilhamento tectônico-estratigráfico proposto por Coimbra

(1991), contudo serão acrescidas informações dos trabalhos posteriores tais como Weska (1996);

Gibson et al., (1997); e Weska (2006). Sendo a Bacia do Cambambe (Figura 1.3), constituída da base

para o topo pelas formações Paredão Grande, Ribeirão Boiadeiro (Fácies Quilombinho e Fácies

Cachoeira do Bom Jardim), Cambambe.

Figura 1.3: Mapa geológico conforme Lacerda Filho et al. (2004), destacando os afloramentos cretáceos da

Bacia Cambambe até então relacionados ao Grupo Bauru.

1.5 - ESTRATIGRAFIA DA BACIA CAMBAMBE

As rochas cretáceas aflorantes na região de Chapada dos Guimarães foram relacionadas

inicialmente aos sedimentos da então Série Bauru por Bauer & Largher (1958). Desde então, tem sido

senso comum incluir os sedimentos cretáceos de Mato Grosso no Grupo Bauru como observado em

diversos trabalhos de detalhe e de cunho mais regional (Almeida, 1964; Oliveira & Mulhmann, 1965;

Gonçalves & Schneider, 1970; Barros et al., 1982; Weska, 1987; Coimbra, 1991; Gibson et al., 1997;

Page 20: Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do … · ii DISSERTAÇÃO DE MESTRADO N°53 Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do Cambambe, Chapada dos Guimarães, Mato

8

Silva, 2014). A Bacia Cambambe recebeu pungentes depósitos cretáceos e escassos depósitos

terciários, cuja litoestratigrafia se atribui ao Grupo Bauru (K) e à Formação Cachoeirinha (N) (Figura

1.4), que registram diferentes estágios de evolução tectônica do paleorifte Rio das Mortes dentro da

Bacia Cambambe.

As rochas cretáceas aflorantes em Chapada dos Guimarães estavam até então englobadas na

estratigrafia do Grupo Bauru. Mais recente Weska (2006), revisando Almeida (1964), cita que este foi

o primeiro a notar as semelhanças entre os sedimentos cretáceos da porção centro-sul de Mato Grosso

e os arenitos do Grupo Parecis, na porção norte do estado, na Bacia de Parecis. Com base nesta

semelhança litológica, Weska (2006) propõe que seja abandonado o termo Grupo Bauru no estado de

Mato Grosso e os sedimentos cretáceos sejam então incluídos no Grupo Parecis da Bacia de Parecis.

Por outro lado, os trabalhos de Weska (1987) e Coimbra (1991) são mais úteis ao entendimento da

estratigrafia e preenchimento da Bacia Cambambe. Este trabalho propõe, a utilização do termo Grupo

Manso para a sequência constituída da base para o topo durante o Cretáceo e terciário na Bacia

Cambambe, assim como nas demais bacias cretáceas da porção centro-sul de Mato Grosso, por

questão de prioridade, obedece a divisão proposta por Coimbra (1991) para as rochas terrígenas e

inclui a assertiva de Weska (1996) para as rochas magmáticas aflorantes na bacia. Assim, o Grupo

Manso na área de estudo se constitui de: (a) rochas magmáticas e vulcanoclásticas encerradas na

Formação Paredão Grande; esta é contemporânea e se intercala em sua porção mais basal à (b)

Formação Ribeirão Boiadeiro; sobre estas, por contato discordante paralelo, ocorre (c) a Formação

Cambambe e por fim a Formação Cachoeirinha, depositada em algum tempo após o principal episódio

de laterização da Bacia Cambambe e arredores.

Figura 1.4 – Quadro da estratigrafia da Bacia Cambambe a partir da integração dos trabalhos de

(Coimbra, 1991), (Weska, 2006) e (Silva, 2014). As fases tectônicas foram interpretadas a partir dos

conceitos de (Allen & Allen, 2005).

A Formação Paredão Grande foi proposta por Weska (1996) para agrupar rochas piroclásticas

grossas e finas, derrames e diques associados que ocorrem nos munípios de Chapada dos Guimarães,

Page 21: Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do … · ii DISSERTAÇÃO DE MESTRADO N°53 Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do Cambambe, Chapada dos Guimarães, Mato

9

Dom Aquino, Paranatinga, Poxoréu, distrito de Paredão Grande e Colônia Indígena Meruri. As

principais rochas hospedeiras destes corpos são o Grupo Cuiabá e as formações Aquidauana, Botucatu

e Ribeirão Boiadeiro. Aqueles autores propõem que a Formação Paredão Grande está relacionada à

primeira fase rúptil do rifte Rio das Mortes (Weska, 2006) e que a fase principal ocorreu por volta de

83,9 ± 0,4 Ma (método 40

Ar/39

Ar, Gibson et al., 1997). Segundo Gibson (1997), os diques e lavas são

caracterizadas por elevados teores de SiO2 (53 ± 56% do peso) e Na2O + K2O (5 ± 7% em peso)

classificadas como basalto-trachyandesitos e trachyandesitos.

A Formação Ribeirão Boiadeiro foi proposta por Coimbra (1991). Ela engloba conglomerados

polimíticos com clastos abundantes de rochas vulcânicas e arenitos mal selecionados róseos a

vermelhos. Esta descrição corresponde às fácies Quilombinho e Cachoeira do Bom Jardim,

respectivamente, identificadas por Weska (1987) que, contudo não chegaram a ser formalizadas como

unidades estratigráficas no trabalho de então. A deposição da Formação Ribeirão Boiadeiro é correlata

à atividade vulcânica da Formação Paredão Grande, uma vez que os seus sedimentos também são

cortados por diques. A fácies Quilombinho se constitui de conglomerado polimítico, argilito e arenitos

conglomerático, siltitos e arenitos conforme descrito por Weska (1996, 2006). As camadas possuem

geometria lenticular, secundariamente tabular. A fácies Cachoeira do Bom Jardim constitui-se de

conglomerados polimíticos, compostos por seixos e matacões de arenitos, quartzo, quartzarenitos e por

rochas ígneas de natureza básica. O cimento é principalmente carbonático. As estruturas primárias são

lâminações plano-paralelas e estratificações cruzadas, cruzadas acanaladas a tangenciais. As calcretes

ocorrem em bancos espessos interdigitados nos arenitos e argilitos conglomeráticos, em arenitos e

arenitos argilosos. As cores dos pacotes são vermelha, rosa e branca (Weska, 1987, 2006). Estas fácies

correspondem a um sistema de leques aluviais, na qual a Fácies Quilombinho corresponde a porções

proximais de leques aluviais, e a Fácies Cachoeira do Bom Jardim representa as porções

intermediárias de leques aluviais em clima semi-árido (Weska, 1987).

A Formação Cambambe possui contato discordante paralelo com a Formação Ribeirão

Boiadeiro, e com a Formação Botucatu e discordante angular com o Grupo Cuiabá. O contato superior

é discordante com a Formação Cachoeirinha. Esta formação é constituída por arenitos de cores

predominantes branca, creme e cinza com raros conglomerados polimíticos, e em pacotes, o arcabouço

aberto (Weska, 2006). Esses depósitos foram interpretados por Weska (1996) como porções distais de

um sistema de leques aluviais desenvolvidos em clima semi-árido a extremo árido.

Posterior à sequência cretácea ocorreu a deposição da Formação Cachoeirinha de idade do

Terciário recobrindo os sedimentos cretáceos por discordância erosiva. Coimbra (1991) relaciona esta

sedimentação a uma deposição posterior à principal atividade tectônica da Antéclise de Rondonópolis.

Schneider et al. (1974) proprôs que a Formação Cachoeirinha teve sua origem em um ambiente fluvial

sob condições climáticas oxidantes.

Page 22: Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do … · ii DISSERTAÇÃO DE MESTRADO N°53 Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do Cambambe, Chapada dos Guimarães, Mato

10

Page 23: Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do … · ii DISSERTAÇÃO DE MESTRADO N°53 Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do Cambambe, Chapada dos Guimarães, Mato

11

CAPITULO 2

FÁCIES SEDIMENTARES

Na bacia Cambambe, foram visitados mais de uma centena de pontos para se observar a

constituição física das rochas cretáceas existes. Predominam arenitos e conglomerados, pelitos são

pouco expressivos.

Os afloramentos podem chegar a poucas dezenas de metros, mas raramente ultrapassam os

dois metros de espessura. O mais comum na área de estudo foi sua ocorrência como pisos chatos e

delgados solos residuais que permitiam inferir a rocha sedimentar protolítica. Os afloramentos

descritos são esquematizados através de seções estratigráficas (Figura 2.1) e uma seção geológica

(Figura 2.2) confeccionada para retratar a geologia local. A seguir são descritas as fácies observadas

na área de estudo e sua interpretação paleoambiental.

2.1- Fácies conglomerado polimítico

Ela se constitui de blocos e matacões, bem arredondados, de composição variada em que se

destacam rochas vulcânicas diversas (p.e., tufos e ignimbritos argilizados com estruturas de vesículas e

amígdalas); e também seixos de quartzitos, arenitos (provavelmente jurássicos), quartzo leitoso e

raramente xisto ou filito (Figura 2.3). Esta fácies se distribui por toda a área de estudo, ainda que sua

fácil alteração dada a constituição do seu arcabouço torne sua distinção não tão fácil. Nos raros

afloramentos em que se pode observar o empilhamento de suas camadas, notou-se que suas espessuras

são desde centimétricas até 3 m. Não são notadas estruturas primárias. Por causa disso, não se tem

notas do paleofluxo desta fácies. A geometria é tabular com certa uniformidade na espessura e não há

uma trama que se destaque no conjunto dos clastos do conglomerado. Esta fácies é identificada na

base dos pacotes rochosos e no topo é ausente.

2.2- Fácies conglomerado oligomítico

É constituída por de blocos e matacões, bem arredondados, quartzitos e quartzo leitoso

identificados nas seções de topo na área de estudos. Nos afloramentos a qual esta fácies foi observada

ela varia de centímetros a no máximo 2 metros, a geometria pode ser lenticular ou tabular, não é

possível medir paleofluxo desta fácies.

Page 24: Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do … · ii DISSERTAÇÃO DE MESTRADO N°53 Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do Cambambe, Chapada dos Guimarães, Mato

12

Figura 2.1 – Distribuição arquitetônica dos perfis estratigráficos descritos.

Page 25: Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do … · ii DISSERTAÇÃO DE MESTRADO N°53 Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do Cambambe, Chapada dos Guimarães, Mato

13

Figura 2.2– Secção geológica entre os rios Casca e Quilombo.

Figura 2.3: (A): Blocos e matacões, bem arredondados, de composição variada de rochas vulcânicas

diversas (p.e., tufos e ignimbritos argilizados com estruturas de vesículas e amígdalas); e seixos de

quartzitos, arenitos, quartzo leitoso e raramente, xisto ou filito. (B): Em destaque a geometria é tabular

com certa uniformidade na espessura e não há uma trama que se destaque no conjunto dos clastos do

conglomerado.

2.3- Fácies arenito

Esta é a fácies mais abundante na área de estudo. Pode ser dividida em duas classes: litarenitos

e quartzarenitos.

Litarenitos: Em campo, são róseos com outras cores subordinadas, granulometria média em

matriz silto-argilosa. Contudo, são mal selecionados com presença comum de seixos e blocos

dispersos em meio ao litarenito, em geral, litoclastos de vulcânicas. Esta fácies possui estruturas

sedimentares diversas e geometria tabular com eventual espessamento e adelgaçamento lateral. Ela

Page 26: Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do … · ii DISSERTAÇÃO DE MESTRADO N°53 Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do Cambambe, Chapada dos Guimarães, Mato

14

possui restos de fósseis de dinossauros terrestres (Figura 2.4 A) e porções marcadas por cimentação

intensa de sílica e de carbonato. As espessuras são variadas: onde é possível notar o contato das

camadas de arenito, nota-se que estas têm espessuras desde centimétricas até 1 m (Figura 2.4 B); onde

não se nota o contato das camadas de arenito entre si, esta fácies podem chegar à dezena de metros de

espessura, nesta condição, em geral, possui aspecto maciço. Nas camadas mais delgadas podem ser

observadas estruturas sedimentares: 1) laminação plano paralela com linhas de minerais pesados; 2)

laminação cruzada de baixo ângulo; 3) acamamento amalgamado (camadas de 5 a 10 cm; ou ainda); 4)

estratificação cruzada tabular tangencial são raramente vistas, provavelmente por causa da alteração

da rocha e afloramentos pouco preservados; 5) formação de raras almofadas e estruturas de

sobrecarga; 6) depósitos residuais de seixos e grânulos; 7) fraturamento e brechamento por exposição

com formação de vênulas brancas; 8) superfícies de acamamento e de reativação realçadas pela

presença de filmes e lâminas de sílica em meio ao arenito maciço; e 9) vênulas horizontais e oblíquas

com textura boxwork. Ocorrem também tubos de quase 30 cm de comprimento, ornamentados,

ramificados em Y invertido e com parede espessa de ate 8 mm. O centro do tubo é preenchido com

cimento de carbonato.

Quartzoarenito: Em campo, têm cor de laranja a vermelho, são preferencialmente friáveis,

livres de matriz, moderadamente a bem selecionados e maciços. Tal qual a fácies litarenito, também

apresenta grânulos e mais raramente seixos dispersos. Estes clastos, contudo, tendem a ser de silexito

e, mais raro, apenas de quartzo (composição oligomítica). Estas camadas ocupam uma posição

estratigráfica preferencial: ocorrem nas porções mais altas da seção geológica estudada. Nestes, as

camadas são delgadas (até 10 cm), formando pacotes amalgamados ou com granodecrescência. No

topo das camadas granodecrescentes, pode ocorrer filmes de pelitos com delicadas estruturas antigas

de gretação.

A bioturbação também é notada eventualmente nas camadas de quartzarenito. Elas se

caracterizam como tubos verticais a oblíquos, de 2 a 3 cm de tamanho, difusos e quase indistintos. Ou

em camadas com aspecto mosqueado ao lado de marcas de raízes parcialmente silicificadas. Estruturas

biogênicas não são incomuns e se mostram como: tubos verticais e ramificados, silicificados, sem

ornamentação e com preenchimento idêntico à rocha hospedeira; e) como icnofósseis semelhantes aos

traços deixados por inseto (besouro ou formiga) (Figura 2.4 C).

Page 27: Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do … · ii DISSERTAÇÃO DE MESTRADO N°53 Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do Cambambe, Chapada dos Guimarães, Mato

15

Figura 2.4: (A) Restos fósseis de dinossauros terrestres encontrados na área de estudo. (B) Camadas com

espessuras variadas, onde é possível notar o contato das camadas de arenito, nota-se que estas têm

espessuras desde centimétricas até 1 m. (C) Icnofósseis semelhantes aos traços deixados por inseto

(besouro ou formiga).

2.4 - Fácies siltitos e pelitos

Siltitos e pelitos. São raras estas camadas e quando ocorreram, estiveram associadas com os

litarenitos. Apresentam cor rósea e camadas de poucos centímetros de espessura. Internamente, pode-

se notar laminação plano paralela, embora seja mais comum estas camadas serem maciças. O

fraturamento é uma estrutura comum nestas camadas e leva à disjunção estrutural da camada e

formação de estruturas do tipo peds (Figura 2.5) tanto verticais quanto horizontais. Ao longo dos

planos de fratura, ocorre intensa lixiviação. Estas camadas possuem aspecto mosqueado ao lado de

marcas de raízes parcialmente silicificadas.

Page 28: Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do … · ii DISSERTAÇÃO DE MESTRADO N°53 Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do Cambambe, Chapada dos Guimarães, Mato

16

Figura 2.5: Siltito, fragmentado e com disjunção estrutural da camada e formação de estruturas do tipo

peds tanto verticais quanto horizontais.

2.5- MODELO PALEOAMBIENTAL

Historicamente, os depósitos do Cretáceo aflorantes no município de Chapada dos Guimarães

têm sido atribuídos à evolução de ambientes continentais de um sistema aluvionar (Weska, 1987;

Coimbra, 1991).

Na área de estudo, os resultados obtidos permitem inferir uma distribuição de fácies conforme

o modelo de Stanistreet & McCarthy (1993), ou seja, os depósitos de fluxo detrítico com intercalações

de fluxo turbulento, são correspondentes aos depósitos proximais ou superiores que estão localizados

próximos à escarpa, seguidos por depósitos de fluxo turbulento e na porção mais distal, predominam

os depósitos de canais e paleossolos.

Estas fácies apresentam depósitos com geometria tabular ou lenticular em escala de campo,

ora com certa uniformidade na espessura, ora com eventual espessamento e adelgaçamento lateral,

aliado à trama livre de organização espacial dos grãos, sendo assim, sugere que seja uma porção mais

espraiada, proximal a mediana deste sistema de ambientes aluvionares. O sistema aluvionar se

caracteriza pelo ajuntamento de ambientes subaquosos, subaéreos e um misto entre ambos que se

interdigitam continuamente no tempo.

Nas associações de fácies possuem o predomínio camadas arenosas, com geometria tabular ou

lenticular, espessas, muitas vezes bioturbados, com pequenos canais. Os ambientes sedimentares

conforme Williams et al. (1970) existe durante um período de tempo considerável e por toda uma área

Page 29: Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do … · ii DISSERTAÇÃO DE MESTRADO N°53 Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do Cambambe, Chapada dos Guimarães, Mato

17

também considerável, que pode variar dentro de limites no tempo para outro ambiente. Por tanto, é

sugerido que os depósitos sobrepostos aos leques aluviais gravitacionais e fluviais sejam separados

temporalmente entre si por uma discordância.

No caso dos leques aluviais, o ambiente tende a ser raso com formação de pequenas praias

sobre barras laterais, por exemplo, o que se denota pelo registro das camadas de litarenito com

laminação plano-paralela com minerais pesados. Os minerais pesados são retrabalhados desta forma

apenas na região de espraiamento da corrente sobre a barra ao estilo depósito de placer em praias. As

estruturas de almofadas e estruturas de sobrecarga são condizentes com um ambiente subquoso, mas

sujeito a inundações repentinas que trazem pulsos bruscos de areia com densidade maior comparada

àquela dos sedimentos depositados na bacia. A deposição destes faz com que as camadas arenosas

recém-depositadas afundem no leito pré-existente e deixe como marcas as estruturas de sobrecarga. As

feições silicificadas e carbonatadas representam manisfestações diagenéticas.

A ocorrência de fósseis de dinossauros está restrita ao ambiente terrestre e isto mostra que,

além de tudo, o ambiente tendia a ter comumente o leito arenoso exposto à intempérie. Nos depósitos

de ambiente fluvial também é comum encontrar registro de exposição subaérea na qual se

proporcionou as condições para desenvolvimento de uma paleofauna registrada através icnofosseis de

tubos de inseto como aqueles encontrados na área de estudo com quase 30 cm de comprimento,

ornamentados, ramificados em Y invertido e icnofósseis semelhantes aos traços deixados por besouro

ou formiga.

Os depósitos de leques aluviais possuem um padrão de canais mais distributários que

tributário conforme Miall (1990). Esta arquitetura das fácies sugere que o leque aluvial desenvolvido

era dominado por gravidade com declividades superiores a 1,5º (Assine, 2008). Nestes depósitos a

proximidade com a área-fonte é apontada pela presença abundante de clastos extraformacionais de

rochas metamórficas tais como quartzitos, vulcânicas e filitos.

A mudança de um arcabouço com abundante presença de clastos de vulcânicas como

ignimbrito, tufos e basaltos e por litarenito mal selecionado com presença frequente de seixos e blocos

dispersos, para um arcabouço onde as rochas vulcânicas são ausentes ou muito raras e a redução da

variedade de rochas metamórficas reforça a interpretação de campo na qual foi inferida uma

discordância entre dois pacotes de rochas, sendo os pacotes inferiores atribuídos à Formação Ribeirão

Boiadeiro e os superiores à Formação Cambambe.

A deposição da Formação Ribeirão Boiadeiro ocorreu simultânea à atividade vulcânica da

Província Ígnea do Poxoréu representada pela Formação Paredão Grande com idade 83,9 +- 0,4 Ma

(Ar40/Ar39) datado por Gibson et al. (1997), com isso pode-se sugerir que estas duas formações se

desenvolveram nos andares Santoniano até o Campaniano.

Page 30: Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do … · ii DISSERTAÇÃO DE MESTRADO N°53 Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do Cambambe, Chapada dos Guimarães, Mato

18

O desenvolvimento da bacia prosseguiu no cretáceo com a deposição da Formação Cambambe

cuja litoestratigrafia permite posiciona-la nos andares Campaniano/Maastrichtiano devido à existência

de conteúdo fóssil cretáceo e por estar posicionada sobre a Formação Ribeirão Boiadeiro.

Os depositos descritos foram interpretados como associações de fácies que representam

paleoambientes de fluxo de detritos, colapso de fluxo turbulento, paleossolos e preenchimento de

canais (Figura 2.6). Estas associações estão descritas a seguir:

Figura 2.6: Relação entre unidades estratigráficas, ambientes e fácies sedimentares.

2.5.1 - Paleoambiente De Fluxo De Detritos

Na área estudada, os conglomerados polimíticos e os litarenitos maciços com seixos e blocos

de origem variada marcam depósitos de fluxo de detritos. Nesta associação de fácies, o litarenito tende

a ser vermelho mais que róseo. Eles ocorrem ao longo de todo o depósito da Formação Ribeirão

Boiadeiro e estão restritos a esta formação. Aparentemente, são mais abundantes na sua porção

inferior onde podem alcançar até 10 m de espessura (ponto m49) com a repetição do par

conglomerado-litarenito (Figura 2.7). As fácies desta associação paleoambiental caracterizam fluxo de

alta viscosidade e energético, registrado por meio da organização granodecrescente dos pares

conglomerado-litarenito e a estrutura maciça destes pares. Nestes, o litarenito tende a apresentar seixos

e blocos de mesma composição do conglomerado dispersos dentro de suas camadas. No fluxo de

detritos, os seixos e blocos são levados por arraste, rolamento e saltação. O material arenoso, por sua

vez, corresponde à carga de suspensão aprisionada na zona basal do fluxo turbulento de mais baixa

velocidade (Giannini & Ricominni, 2000). A espessura de até 10 m pode indicar um fluxo de longa

duração ou intensa recorrência do fluxo de detritos em tempo muito curto.

2.5.2 - Colapso de fluxo turbulento

Esta associação de fácies também está restrita à Formação Ribeirão Boiadeiro. O

paleoambiente se caracterizava pela agradação de camadas (menores que 10 cm) de litarenito fino a

médio, maciço que formavam acamamento amalgamado. Ela se posiciona imediatamente acima do

depósito de fluxo de detritos e forma um pacote de até 3 metros. A inibição na formação de estruturas

sedimentares em camadas de arenitos amalgamados é uma resposta ao processo de fluxos turbulentos

Page 31: Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do … · ii DISSERTAÇÃO DE MESTRADO N°53 Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do Cambambe, Chapada dos Guimarães, Mato

19

(p.e., o fluxo de detritos) de longa duração (Kneller & Branney 1995; Camacho et al. 2002), como no

caso da área de estudo, mas com alta taxa de sedimentação. Ela representa uma zona de transição entre

o fluxo de alta viscosidade e o meio deposicional subsequente menos energético.

Figura 2.7 – Detalhe dos clastos e matacões, abundantes na sua porção inferior onde podem alcançar até

10 m com a repetição do par conglomerado-litarenito.

2.5.3 - Paleoambiente de paleossolos

A formação de paleossolos é comum em depósitos aluvionares. Na área de estudo são

encontrados nas formações Cambambe e Ribeirão Boiadeiro, contudo predominam na segunda

unidade. Dois tipos paleossolos podem ser notados hidromórfico e não hidromórfico:

O palessolo hidromórfico é uma mistura de sedimentos finos (areia muito fina e silte) sem

preservação de estruturas primárias e estrutura secundária tubular vertical impregnadas por oxi-

hidróxidos de ferro que dão destaque a estes túbulos pela cor marrom em meio a matriz cinza clara. Os

túbulos são descontínuos, mas são notados ao longo de toda camada que pode atingir até 2,2 m de

espessura. Os túbulos tem diâmetro de poucos centímetros (até 4 cm). Esta associação de paleossolo

hidromórfico é restrita e ocorreu apenas em um ponto (m49) imediatamente acima dos depósitos de

fluxo de detritos. A presença de túbulos verticais impregnados com oxi-hidróxido de ferro e o aspecto

maciço pela perda da estruturação primária atestam a condição de alteração pós-deposicional. A

formação de estruturas verticais e a impregnação são comuns em ambientes subaquoso em que o

rebaixamento do nível de base ou o deslocamento das fácies de águas mais profundas torna o ambiente

mais favorável a condições paludais. Nestas condições, é comum o Eh favorecer o deslocamento do

Page 32: Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do … · ii DISSERTAÇÃO DE MESTRADO N°53 Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do Cambambe, Chapada dos Guimarães, Mato

20

íon Fe na forma reduzida ao longo dos túbulos durante o nível mais elevado da água. Com o

rebaixamento, as condições tornam-se mais oxidantes e os túbulos são “tingidos” de marrom pela

precipitação de oxi-hidróxido de ferro. A matriz é preservada com a cor de lixiviação, ou seja, o pálido

cinza claro. A continuação deste processo leva à formação de um horizonte mosqueado e nodular de

ferro semelhante à plintita (Verrechia, 2007). A preservação deste horizonte de paleossolo

hidromórfico em fase juvenil sem evoluir para o horizonte mosqueado é atribuída à mudança na taxa

de sedimentação. Sobre os depósitos do paleossolo hidromórfico desenvolvem-se os depósitos de

preenchimento de canais o que condiz com uma mudança no estilo deposicional da bacia neste

momento.

Paleossolo não hidromórfico é o mais comum na área de estudo. Este paleoambiente é

registrado por meio do litarenito fino com estruturas tipo peds, siltito e pelito também com peds,

mosqueamento com marcas de raízes e fraturamento por dissecação. Seus depósitos são mais espessos

com espessuras que podem chegar a poucos metros. Fraturas com intensa lixiviação são atribuídas ao

processo de pedogênese. Nesta condição, o fraturamento e brechamento observados em camadas pré-

existentes de siltito e arenito são atribuídos à exposição subaérea. A formação de vênulas brancas e

calcretes (Figura 2.8) identifica em campo, com descrição petrografia realizada em laboratório

notando-se estágios de desenvolvimento de paleossolos retratados por variações nas laminas de

carbonatos. Nestas camadas faz parte do processo pedogênico e são comumente referenciados como

platy peds horizontais (Basilici & Dal’Bó., 2010); além disso, ocasionalmente estas vênulas podem

formar textura boxwork. Estruturas biogênicas não são incomuns e se mostram como: 1) tubos

verticais e ramificados, silicificados, sem ornamentação e com preenchimento idêntico à rocha

hospedeira; e 2) como icnofósseis semelhantes aos traços deixados por inseto (besouro ou formiga).

Neste caso, o lençol freático provavelmente está muito rebaixado o que favoreceria pacotes mais

espessos de paleossolos e a proliferação de animais como insetos e besouros ao longo do sedimento

em alteração. Estas fácies marcam uma parada deposicional do meio com eventual exposição a

processos intempéricos com fraturamentos, brechação, gretamento e proliferação de vegetação.

2.5.4 - Paleoambiente de preenchimento de canais

Não é fácil observar este paleoambiente na área de estudo. Embora sejam muito comuns em

sistemas aluvionares, nos depósitos cretáceos da Bacia Cambambe, eles são restritos à porção superior

das regiões de Rancho Queimado, Múcio Albernaz e ponto m49 (Figura 2.9). Formam-se nestes,

pacotes com poucos metros de espessura e a geometria de canal é apenas sugerida pela disposição das

camadas já que a continuidade lateral dos afloramentos não permitiu que fosse notada.

Page 33: Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do … · ii DISSERTAÇÃO DE MESTRADO N°53 Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do Cambambe, Chapada dos Guimarães, Mato

21

Figura 2.8: A formação de calcretes, de coloração branca, nestas camadas faz parte do processo

pedogênico.

As camadas se caracterizam como barras de areia, ora com adelgaçamento e espessamento

lateral (ponto m49), ora com bases escavadas côncavas marcadas por depósitos residuais de seixos

com topo chato (demais pontos citados). O arenito mostra estruturas plano paralelas e até

estratificação cruzada de baixo ângulo. As camadas mais delgadas de litarenito também mostram

estruturas centimétricas semelhantes às de sobrecarga. Por fim, arenito com estratificação cruzada

tabular tangencial é notada embora não seja comum. Os depósitos de preenchimento de canal ocorrem

imediatamente acima da associação de fácies de fluxo de detritos, colapso de fluxo turbulento ou

também imediatamente acima da próxima associação a ser apresentada que fora atribuída à

paleossolos. Esta posição estratigráfica sugere que os canais da área de estudo (provavelmente

entrelaçados, já que não se notaram depósitos de planície de inundação nas sucessões estudadas)

representam o retorno às condições normais de deposição após a desestabilização dos taludes aluviais

e o retrabalhamento parcial dos depósitos destes taludes. As fácies de fluxo de detritos e

preenchimento de canal se alternam ao longo da sucessão estudada, sendo que os depósitos de

preenchimento de canal tendem a ser menos expressivos.

Page 34: Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do … · ii DISSERTAÇÃO DE MESTRADO N°53 Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do Cambambe, Chapada dos Guimarães, Mato

22

Figura 2.9 – (A) As camadas se caracterizam como barras de areia litarenítica, ora com adelgaçamento e

espessamento lateral, ora com bases escavadas côncavas marcadas por depósitos residuais de seixos com

topo chato. (B) A mudança da constituição do arcabouço litológico de litarenito (II) para (I) sugere um

intervalo de tempo entre as duas deposições, ou seja, uma discordância. (C) associado ao paleoambiente

de preenchimento de canais.

Page 35: Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do … · ii DISSERTAÇÃO DE MESTRADO N°53 Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do Cambambe, Chapada dos Guimarães, Mato

23

CAPÍTULO 3

PETROGRAFIA

As lâminas descritas são de silexito, carbonatos, litarenito, sublitarenito e quartzo-arenito.

Provenientes de diversos perfis geológicos de varias porção do arcabouço estratigráfico da Bacia

Cambambe.

3.1 - SILEXITO

Foi descrita apenas uma lâmina (633-2) de silexito (Figura 3.1) composto por diversas

gerações de cimento: 1) cimento de calcedônia (Figura 3.2), com cristais cripto e microcristalino

constituindo a maior parte da lâmina, 2) cimento de oxido de ferro formando uma cutícula no entorno

dos poros ou disseminado no entorno do cimento de quartzo prismático, 3) quartzo prismático micro e

mesocristalino (Figura 3.3) preenchendo as bordas internas dos poros da lâmina, 4) quartzo

macrocristalino preenchendo o interior de parte dos poros existentes na lâmina. A lâmina apresenta

poros agigantados e em galerias (tipo “vug”) marcado por reentrâncias e contornos agudos, alguns

poros se encontram sem preenchimento. A lâmina descrita foi coletada na porção superior do

arcabouço estratigráfico da Bacia, na localidade do Morro Branco.

3.1.1 - Interpretação

O silexito é constituído na maior parte por cimento de calcedônia, que teve sua origem

provavelmente relacionada à substituição e dissolução dos grãos e da matriz pré-existentes de uma

rocha calcária. Os poros agigantados indicam que esta rocha esteve exposta em ambiente vadoso.

Williams et al. (1970) sugere que os óxidos férricos, disseminados indicam condições

fortemente oxidantes. Para entender a origem das diferentes cimentações de sílica é preciso entender

sobre como este elemento se comporta nas diferentes condições físico-químicas. A solubilidade da

sílica amorfa se modifica de acordo com o pH da solução conforme demonstrado por Friedmann &

Sanders (1978). Além disso, Bjorlykke & Egberg (1993) demonstram também que a solubilidade da

sílica é ainda controlada pela temperatura. Batezelli et al. (2005) relaciona a variedade de sílica amorfa

criptocistalina à concentração de Si dissolvido na água de formação com os processos de

palagonitização dos vidros vulcânicos com a perda de íons de Si, Al, Ca, K e Mg.

O primeiro fluido a percolar pelos poros durante a eodiagênese estava saturado com oxido de

ferro e sílica, e gerou a cimentação da cutícula de oxido de ferro. Posteriormente, as relações de

tempo, pressão, pH, temperatura e da disponibilidade de sílica no ambiente geraram o cimento de

quartzo prismático e quartzo macrocristalino. Em alguns interstícios entre os grãos, não ocorreu à

Page 36: Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do … · ii DISSERTAÇÃO DE MESTRADO N°53 Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do Cambambe, Chapada dos Guimarães, Mato

24

formação destas fases de cimento, isso pode ter ocorrido devido os fluidos, que eram responsáveis pela

cimentação, não terem percolado nestes poros.

Figura 3.1: (A) Cimento de oxído de ferro em forma de cutícula no entorno dos poros agigantados, nicóis

descruzados, objetiva de 5x. (B) Detalhe da cimentação de calcedônia, nicóis cruzados, objetiva de 10x. (C)

Poros agigantados preenchidos por cimentação de quartzo em franja prismático (I) na borda do poro e

por quartzo macrocristalino (II) preenchendo o restante do poro, nicóis cruzados, objetiva de 5x.

3.2 - CARBONATOS

Foram descritas 4 lâminas (111 A, 86, 631-2, 630-1) de carbonatos, classificadas de acordo

com Folk (1968) e Dunham (1962). Destas 3 lâminas foram classificadas de acordo com a sua textura

como wackestone (86, 631-2 e 630-1) e 1 como mudstone (111 A). Em relação à composição, foram 3

lâminas (86, 631-2 e 630-1) classificadas como extramicrite e uma das lâminas não foi possível

Page 37: Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do … · ii DISSERTAÇÃO DE MESTRADO N°53 Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do Cambambe, Chapada dos Guimarães, Mato

25

classificá-la. Estas rochas correspondem a depósitos da Formação Ribeirão Boiadeiro, porção inferior

da sequência-vulcano sedimentar.

As lâminas apresentam entre 40% e 1% da rocha proveniente da natureza a 60% e 99% de fase

de ligação, esta é constituída entre 55% e 5% de Sparite, 70% e 15% de Microsparite e 70% e 17% de

Micrite, a tabela (Figura 3.2) apresenta a proporção de cada lâmina. Nestas lâminas foram encontrados

grãos disperso de quartzo, Silexito, quartzo rutilado, quartzo com extinção ondulante, quartzo

policristalino, quartzo com inclusão de clorita, opacos, siltito, vulcânicas e quartzito. A dimensão dos

grãos varia de 0,05 à 7 mm, e predominam os grãos arredondados e sub-arredondados.

São descritas estruturas reliquiares que podem ser relacionadas à atividades biológicas durante

o inicio do processo de diagênese (eodiagênese). A distribuição dos grãos terrígenos ocorre de forma

não homogênea, são encontradas estruturas de corrosão, com dissolução das bordas dos grãos de

quartzo. Em algumas lâminas são encontrados envelopes de calcita prismática no entorno dos grãos e

também é descrito inclusão de carbonatos em forma de “displace”, ocorrendo após a solidificação a

precipitação e recristalização do carbonato em lâmina pouco espessa de sedimentos, em zona vadosa

ou exposta totalmente. Ocorre cimentação de sílica no entorno de alguns grãos ou preenchendo

fraturas (quartzo ou opala), cimentado de oxido de ferro (Figura 3.5). Podem ocorrer variações na

cristalinidade da cimentação carbonática (Figura 3.6), sendo descrito fendas circogranular, aspectos

nodular, micrito escuro, com matéria orgânica com porosidade irregular. São descritas secção

transversais de uma paleo-raiz (Figura 3.6), estruturas biogênicas reliquiares (Figuras 3.8) e a

existência de fraturas preenchidas por arenito fino a muito fino constituído por quartzo, filito,

vulcânicas, tufo, opacos e pertita.

Figura 3.2: Tabela com a proporção dos constituintes das rochas carbonáticas.

3.2.1 - Interpretação

As marcas de raízes, gretas preenchidas e estruturas biogênicas são alguns dos elementos que

possibilitam a interpretação dos carbonatos descritos neste trabalho como diferentes estágios de uma

série de paleossolos. A lâmina 111-A representa o estágio mais desenvolvido destes paleossolos e a

lâmina 86 representa o estágio menos desenvolvido. O ambiente era provavelmente de clima seco,

Page 38: Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do … · ii DISSERTAÇÃO DE MESTRADO N°53 Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do Cambambe, Chapada dos Guimarães, Mato

26

devido a intensa evaporação e mudança de pressão parcial do CO2 que leva à acumulação de CaCO3

nos solos de regiões mais secas (Batezelli et al. 2005).

Figura 3.3: Microfotografias tiradas com nicóis descruzados, objetiva de 5x. (A)Brechação, do carbonato,

com duas constituições distintas na fotografia: I) Carbonato com matriz micrítica, fase de ligação de

calcita e calcita espática; II) horizonte brechificado com grãos de rochas siliciclásticas cimentados por

oxido de ferro. (B) Inclusão de carbonatos em forma de “displace”, ocorrendo após a solidificação à

precipitação e recristalização do carbonato em lâmina pouco espessa de sedimentos, em zona vadosa ou

exposta totalmente. (C) Paleossolo, com calcrete muito bem desenvolvida, com substituição quase que total

da rocha por carbonato, com marcas de raízes (setas brancas) em perfil vertical. (D) Em destaque na

porção central, uma estrutura biogênica (seta, colônia de bactéria) desenvolvida em um perfil de calcrete

em um paleossolo.

A cimentação de óxido de ferro preenche as gretas formadas durante o período de seca. A

cimentação de calcita ocorre sob a forma de fases de ligação e como calcita espática e a calcita

micrítica, e também as diferenças de cristalinidade permitem sugerir que os paleossolos tiveram

diferentes graus recristalização durante os processos de diagênese. Esse processo se desenvolve través

da cimentação e substituição em meio com solução saturado em CaCO³ (Goudie, 1973). A textura

poiquilotópica descritas em parte da cimentação de calcita existente nos paleossolos também é descrita

em litarenitos e também pode ser encontrada em quartzarenitos da Bacia do Cambambe. Batezelli et

al. (2005) relaciona esse processo de cimentação a mesodiagenese. Ribeiro (2001) propõe que calcita

possa ser resultado de rápida precipitação a partir de soluções supersaturadas. A cimentação de

quartzo e opala preenchendo fraturas estaria relacionada aos processos diagenéticos que ocorrem

Page 39: Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do … · ii DISSERTAÇÃO DE MESTRADO N°53 Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do Cambambe, Chapada dos Guimarães, Mato

27

posterior ao momento inicial da diagênese, provavelmente na telodiagênese. Argumentam para essa

interpretação a incompatibilidade entre fluidos ricos em sílica e os fluidos carbonáticos e também o

fato de a segunda destas ocorrer preenchendo fraturas, cortando as cimentações anteriores e

demonstrando que esta foi à última fase a se constituir.

3.3 - LITARENITOS

Foram descritas 9 lâminas de litarenito (103-A, SN-1, 633-1, 631-1, 103-C, 631-3, 115-A, 49-

29, 632-1). O litarenito é constituído por 65% à 35% de litoclastos e de 65% a 35% mineraloclastos.

Em algumas lâminas ocorrem grânulos dispersos com dimensão superior a 15 mm. Os litoclastos

(Figura 3.4 A) encontrados são rochas vulcânicas, tufos, quartzo policristalino, quartzito, silexito,

siltito, filito e ignimbrito. E os mineraloclastos descritos são quartzo, pertita, opacos, albita,

microclina, turmalina e clorita. No que diz respeito à maturidade, o litarenito mostrou baixo teor de

matriz (em média menor que 2%) com valor máximo de até 7%; a seleção dos seus grãos foi moderada

a mal selecionada (nenhuma das seções delgadas se mostrou bem selecionada); e o arredondamento

dos grãos variou entre arredondados a subarredondados. Os contatos flutuantes e pontuais

predominam nas rochas de litoarenitos, conforme apresentado na tabela (Figura 3.5).

Os grãos de quartzo variam de bem arredondados a grãos angulosos. Pode ocorrer

preenchimento por quartzo microcristalino com aspecto fibroso provavelmente associado a incremento

de compactação. Foram descritos 6 tipos de cimentos distintos: 1) cimento de oxido de ferro disperso

(Figura 3.4 C) ou formando filmes e aureolas no entorno dos grãos; 2) Cimento Argilo carbonatado

(Figura 3.4 B); 3) cimento de calcita formando franjas (Figura 3.4 D) no entorno de alguns grãos; 4)

Cimento de calcita espática em forma de mosaicos macrocristalinos a microcristalinos; 5) Cimento de

opala no entorno de alguns grãos e preenchendo fraturas; e 6) Cimento de sílica. É encontrado quartzo

com extinção ondulante, as lâminas apresentam um arcabouço mal selecionado e mal calibrado. São

descritas zonas com brechação. Ocorre grãos de quartzo com inclusões de clorita ou rutilo, grãos com

extinção ondulante. Podem ocorrer lâminas com uma quantidade significativa de fase de ligação

matriz para cimento de calcita. O cimento de calcita em algumas lâminas passou por um processo de

dolomitização parcial. Quanto a matriz, ela é encontrada na forma de siltica, matriz de calcita micrítica

e matriz clástica. A tabela (Figura 3.6) mostra a relação proporcional entre cimento e matriz com o

restante dos constituintes da rocha. Entre os grãos predominam os grãos arredondados a sub-

arredondado, conforme apresenta a tabela (Figura 3.7).

Page 40: Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do … · ii DISSERTAÇÃO DE MESTRADO N°53 Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do Cambambe, Chapada dos Guimarães, Mato

28

Figura 3.4: (A) Arcabouço formado por litoclastos e mineralocastros, grãos recobertos por cutícula de

óxido de ferro e cimentação de calcita espática preenchendo os espaços entre os grãos, nicóis descruzados,

objetiva de 5x. (B) Litoclastos circundados por envelope de cimento argilo-carbonatado (seta), nicóis

descruzados, objetiva de 10x. (C) Litoclastos de rocha vulcânica, recoberto por cutícula de oxido de ferro,

nicóis descruzados, objetiva de 40x. (D) Fragmento de tufo (seta), circundado por cimento de calcita em

forma de franja, e cimento de calcita espática em forma de mosaicos, nicóis descruzados, objetiva de 5x.

Figura 3.5: Tabela com a relação da porcentagem dos contatos em cada uma das lâminas.

Page 41: Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do … · ii DISSERTAÇÃO DE MESTRADO N°53 Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do Cambambe, Chapada dos Guimarães, Mato

29

Figura 3.6: Porcentagem de cimento e matriz nas lâminas de litarenito.

Figura 3.7: Relação da porcentagem do arredondamento em cada uma das lâminas.

3.3.1 - Interpretação

O litarenito é constituído por 65% a 35% de litoclastos e de 65% a 35% minaraloclastos

sugerindo que a composição deva ter relação com processos de deposição rápida associado a ambiente

tectonicamente ativo.

A presença de minerais instáveis (Ex. albita) no arcabouço permitem sugerir que estas rochas

foram depositas de forma rápida e que os processos e fluidos que percolaram durante o processo

diagenético não alteraram a composição mineral dos grãos. Os grãos de filitos indicam uma área fonte

metamórfica. A presença de pertita, tufos, ignimbrito e fragmentos de rochas vulcânicas indicam área

fonte de origem ígnea. Os grãos de turmalina estão entre os minerais ultra estáveis sendo comumente

encontrados em rochas sedimentares policíclicas.

Os parâmetros analisados para entender a maturidade textural (i.e., teor de matriz, seleção de

grãos e arredondamento de grãos) permitiram inferir que o litarenito não apresenta evolução de

maturidade simples. Nesta análise, a seleção moderada a ruim de grãos indicaria arenitos submaturos

(cf. Folk, 1968). O arredondamento nas amostras analisadas, por outro lado, apontou para arenitos

supermaturos. Esta incongruência tem sido referida como inversão textural e sua ocorrência atribuída a

Page 42: Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do … · ii DISSERTAÇÃO DE MESTRADO N°53 Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do Cambambe, Chapada dos Guimarães, Mato

30

diferentes possibilidades (cf. Folk, 1968). Na área de estudo, a causa da inversão textural foi a

incorporação de extraclastos mais arredondados (e mais antigos) retrabalhados no ambiente

deposicional, uma vez que a área-fonte do litarenito incluía materiais do Grupo Cuiabá e Formação

Botucatu, além de silexitos e arenitos.

O arredondamento dos grãos predominante é de arredondado a sub-arredondado, essa

característica dos grãos predomina provavelmente devido a ter sido herdada de uma área fonte na qual

as partículas passaram por vários ciclos sedimentares conforme sugerido nos trabalhos de Williams et

al. (1970). Desta forma, sugere-se que cerca de 60% destes grãos tiveram sua origem através da erosão

das rochas da Bacia do Paraná devido a essa ser a província tectônica policíclica, que possui contato

discordante com a bacia do Cambambe na sua porção sul. As outras fontes sugeridas para estes

sedimentos, são as rochas ígneas da Formação Paredão Grande que forneceram os grãos de tufos e

ignimbrito. Para os mineraloclastos de origem metamórfica sugere-se como área fonte as rochas do

Grupo Cuiabá que formam o embasamento regional e possuem contato discordante com a Bacia do

Cambambe na borda oeste e norte. Os contatos flutuantes e pontuais predominando reforçam a ideia

de rápida deposição e permitem corroborar que não ocorreu um processo de compactação expressiva.

As cimentações de oxido de ferro, argilo-carbonatado, calcita em franjas e calcita espática

podem ter a origem a partir da dissolução de fragmentos de rochas (Stradioto et al. 2008) e liberação

de íons de Fe e Ca na agua de formação.

O óxido de ferro possui relação com os processos deposicionais e eodiagenéticos e indicam

condições fortemente oxidantes, pelo menos periódicamente, secos e oxigenados (Williams et al.

1970). A cimentação argilo-carbonatada esta relacionada aos momentos iniciais de soterramento sob a

influencia de fluidos que levaram a uma quantidade de argila se infiltrarem entre os grãos.

A cimentação de calcita em franja ocorre ainda em ambiente eodiagenetico, em condições

vadosas e até mesmo sub-aéreas nos quais o ar e a água coexistem (cf. Flüglel, 1982). Posteriormente,

este ambiente passa a ficar saturado em CO2 e Na+ e precipita a calcita espática em forma de mosaico.

A forma cristalina destas diferentes fases de cimentação ocorreu devido às mudanças de temperatura e

na saturação da água resultados da ampliação da profundidade do soterramento. Bjorlykke & Egberg

(1993) demonstram que a solubilidade da sílica é fortemente controlada pela temperatura. Friedmann

& Sanders (1978) relacionam a solubilidade a variação do pH entre 2 e 8. Desta forma a geração dos

cimentos pode ter relação com mudança das condições de temperatura e do PH da água de formação

durante o processo de diagênese. Já a matriz existente demostra relação com o desenvolvimento de

paleossolos ou com a deposição em ambiente raso.

As cimentações de sílica esta ligada aos processos que ocorreram durante a telodiagênese,

preenchendo as fraturas geradas pelo alívio de pressão litoestática durante fases de soerguimento. É a

Page 43: Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do … · ii DISSERTAÇÃO DE MESTRADO N°53 Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do Cambambe, Chapada dos Guimarães, Mato

31

fase mais recente da bacia que provavelmente teve origem com os processos de formação da Bacia do

Pantanal que levaram a região da Chapada dos Guimarães a se comportar como ombreira (ou talvez

até mesmo contraforte) à formação desta Ussami et al. (1999). A dolomitização representa a mistura

de diferentes aguas de formações ou então uma relação de disponibilidade de Ca++

e Mg++

no ambiente

diagenético em virtude da cristalização de cimentos conforme sugerido por Batezelli et al. (2005) para

arenitos da porção norte e Nordeste da Bacia Bauru.

Os grãos de quartzo variam de bem arredondados a grãos angulosos, demonstrando assim que

tiveram proveniência de diferentes áreas fontes, sendo alguns herdados de outras bacias sedimentares e

outros provenientes de rochas primárias, passando pelo seu primeiro ciclo sedimentar.

3.4 - SUB-LITARENITO

Uma das lâminas confeccionadas foi classificada como sub-litarenito (633-3) de granulometria

média, com grânulos dispersos (Figura 3.8), constituído por mineraloclastos (89%) de quartzo,

minerais opacos, turmalina, rutilo, albita, microclina e granada, adicionados a litoclastos (11%) de

quartzo policristalino, silexito, quartzito, siltito, grauvaca e filito. A fábrica apresenta contatos

pontuais (35%) e suturado (27%), seguidos por contatos longos (22%), flutuante (9%) e plano-

convexo (7%). Quanto ao arredondamento, predominam os grãos arredondados (32%), bem

arredondados (24%) e sub-arredondados (23%) seguidos por subangulosos (12%) e angulosos (9%).

Dimensão dos grãos varia de 0,05 à 3,5 mm, matriz siltica e cimentação de: 1) cimento argilo-

carbonatado preenchendo poros e formando auréolas no entorno dos grãos; e 2) quartzo

microcristalino no entorno dos grãos e em alguns poros. Quartzo com extinção ondulante e com

inclusão de minerais opacos. O cimento representa 6% do total da rocha e a matriz representa 12%. As

amostras que deram origem a essa lâmina são do Morro Branco, na qual afloram sedimentos da

Formação Cambambe.

3.4.1 - Interpretação

O arcabouço apresenta uma contribuição maior de minerais ultraestáveis que o descrito nas

lâminas de litarenito, os fragmentos de rochas descritos são basicamente de rochas sedimentares e

metamórficas, predominam os grãos arredondados e bem arredondados. Devido a quantidade de grãos

arredondados e bem arredondados ser mais significativa nos sub-litarenito que nos litarenito é possível

propor que a Bacia do Paraná passou a ter uma contribuição maior no arcabouço, tendo ainda uma

contribuição significativa das rochas da Faixa Paraguai e sendo pouca a contribuição de rochas de

origem vulcânica. Contudo a presença de albita e microclina ainda demonstra que estas rochas

possuíam alguma área fonte constituída de rochas ígneas, já a granada pode estar associadas à

kimberlitos ao a outras rochas ígneas ou metamórficas. A turmalina e o rutilo são minerais

Page 44: Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do … · ii DISSERTAÇÃO DE MESTRADO N°53 Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do Cambambe, Chapada dos Guimarães, Mato

32

ultraestáveis sendo comum serem encontrados em rochas sedimentares. A fábrica apresenta contatos

pontuais e suturados predominantes diferentemente dos litarenito na onde predominam os contatos

pontuais e flutuantes, isso pode significar uma mudança na seleção dos grãos durante o processo de

transporte, ou seja, uma alteração no ambiente deposicional.

As duas fases de cimentação representam dois momentos distintos. O cimento argilo-

carbonatado foi constituído durante a eodiagênese ainda em zona vadosa. A infiltração mecânica de

argila pode ocorrer durante enxurradas, águas com grande quantidade de carga em suspensão, em

condições de clima seco no ambiente deposicional (Walker et al. 1978 in Batezelli et al. 2005).

Figura 3.8: Grânulo de grauvaca, circundado por cimento argilo-carbonatado, grãos de quartzo e matriz

argilo-carbonatada, nicóis descruzados, objetiva de 5x.

Assim como na cimentação de sílica nas lâminas de litarenito, a cimentação de quartzo

microcristalino teve sua origem durante a telodiagenese, em decorrência da mudança de

disponibilidade de sílica no ambiente e mudanças das condições de pH conforme Friedmann &

Sanders (1978). A matriz síltica e a variedade granulométrica demonstra que o meio de transporte não

realizava de forma eficiente a seleção dos grãos.

3.5 - QUARTZO-ARENITO

Ao todo foram descritas 12 lâminas (92, 124-A, 114-A, 24-A, 103-B, 106, 86-A, 85, 53, M 49,

119-A e 119-B) de quartzo-arenito (Figura 3.9 A e B), fino a médio. Como fração subordinada do

arcabouço observam-se fragmentos de litoclastos (varia de 1% à 4,5%) de siltito, grauvaca, filito,

silexito (Figura 3.9 C), quartzo policristalino e quartzito e por mineraloclastos de opacos, albita,

Page 45: Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do … · ii DISSERTAÇÃO DE MESTRADO N°53 Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do Cambambe, Chapada dos Guimarães, Mato

33

turmalina (Figura 3.9 D), rutilo, microclina, zircão e clorita. Abaixo, a Tabela (Figura 3.10) apresenta

a relação de porcentagem de litoclastos e mineraloclastos em cada lâmina descrita.

O quartzo-arenito mostrou um baixo teor de matriz (em média 4%) com valor máximo de até

15%; predominam os grãos bem selecionados a moderadamente selecionados; arredondados a bem

arredondados.

Figura 3.9: (A) Lâmina de , com poros preenchidos por cimento sílica, destaca-se também a cimentação de

oxido de ferro formando aureolas dentro dos poros e também ocorrendo de forma disseminada, nicóis

descruzados, objetiva de 5x. (B) Grãos de quartzo com corrosão, nicóis cruzados, objetiva de 40x. (C)

Grânulo de Silexito de calcedônia e quartzo micro-cristalino, e grãos de quartzo cimentados por oxido de

ferro, nicóis cruzados, objetiva de 5x. (D) Grão de turmalina com inclusões de rutilo (Seta), nicóis

descruzados, objetiva de 10x.

Page 46: Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do … · ii DISSERTAÇÃO DE MESTRADO N°53 Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do Cambambe, Chapada dos Guimarães, Mato

34

Figura 3.10: Porcentagem de litoclastos e mineraloclastos nas lâminas.

Os contatos pontuais e suturados predominam nos quartzo-arenito, conforme apresentado na

Tabela (Figura 3.11).

Figura 3.11: Relação da porcentagem dos contatos em cada uma das lâminas.

Os grãos variam de arredondamento entre predominante arredondado a bem arredondados,

conforme apresentado na Tabela (Figura 3.12).

Page 47: Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do … · ii DISSERTAÇÃO DE MESTRADO N°53 Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do Cambambe, Chapada dos Guimarães, Mato

35

Figura 3.12: Relação da porcentagem dos contatos em cada uma das lâminas.

Os arenitos podem ter grânulos de siltito de até 10 mm, são maciços, com raras lâminas,

vagamente orientadas, a matriz geralmente ausente (Figura 3.13), quando presente pode ser quartzosa

e síltica, argilosa ou argilo-carbonatada (Figura 3.14 A, B e C). As lâminas possuem 9 tipos de

cimentos distintos: 1) Argilosa ferruginosa disseminado ou com oolitização do cimento formando

auréolas e envelopes no entorno dos grãos; 2) calcedônia, preenchendo poros, em alguns casos o

cimento se forma de apenas um lado do grão (Figura 3.14 D); 3) quartzo prismático no interior dos

poros em forma de franja; 4) quartzo microcristalino disperso ou preenchendo poros, nota-se também

substituição parcial (Figura 3.15 A) em alguns pontos da lâmina do cimento de calcedônia por

cimentos de quartzo microcristalino; 5) quartzo mesocristalino; e 6) cimento de oxido de ferro

disseminado; 7) cimento de calcita espática 8) cimento de calcita em forma de mosaico; e 9) cimento

de opala.

Figura 3.13: Relação entre porcentagem de cimento e matriz nas lâminas de .

Page 48: Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do … · ii DISSERTAÇÃO DE MESTRADO N°53 Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do Cambambe, Chapada dos Guimarães, Mato

36

Figura 3.14: (A) I - Destaque para a cimentação argilo-carnonatada, II - diferentes fases de cimentação da

sílica, nicóis descruzados, objetiva de 5x. (B) Poro preenchido por cimentação de calcedônia, grãos

recobertos por envelope de cimento argilo-carbonatado formando oólitos de cimento no entorno dos

grãos, nicóis cruzados, objetiva de 5x. (C) Cimento argiloso-carbonatado no entorno do litoclastos de

silexito, nicóis descruzados, objetiva de 10x. (D) Grão de quartzo com cimentação de calcedônia em parte

do seu entorno, cimentação típica de ambiente gravítico, nicóis cruzados, objetiva de 10x.

A cimentação de sílica pode ocorrer preenchendo fraturas ou contornando os grãos formando

uma fina cutícula. O cimento de oxido de ferro e argila é encontrado em forma de cutícula no entorno

dos grãos, em alguns casos em meio ao cimento de quartzo microcristalino. O cimento de quartzo

pode formar auréolas de sobrecrescimento em alguns grãos. Ocorrem grãos com filme de óxido de

ferro (Figura 3.15 B). Nódulos ferruginosos com grãos de quartzo, quartzo filoniano ou diaclasio

(Figura 3.15 C). Em algumas lâminas é possível identificar gradação granulométrica. É encontrado

quartzo com extinção ondulante, quartzo rutilado ou com inclusão de clorita e com turmalina. Ocorre a

distribuição não homogênea de cimento devido à granulotriagem existente em zonas de compactação

mecânica ou química. O cimento em algumas lâminas encontra-se mal distribuído (Figura 3.15 D).

Page 49: Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do … · ii DISSERTAÇÃO DE MESTRADO N°53 Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do Cambambe, Chapada dos Guimarães, Mato

37

Figura 3.15: (A) Vista geral de um poro agigantado onde é possível ver a relação das diferentes fases de

cimentação: Cimento argilo-carbonatado (I) no entorno dos grãos, cimento de calcedônia (II) corroído por

cimento de quartzo micro-cristalino (III) correndo a cimentação anterior, nicóis cruzados, objetiva de 5x.

(B) Arcabouço formado essencialmente por grãos de quartzo, cimentados por cimento argilo ferruginoso e

por cimento de sílica, formando estrutura reta, mostrando uma orientação preferencial da cimentação de

sílica, nicóis descruzados, objetiva de 5x. (C) Grãos de quatzo fraturados, recobertos por cutícula de óxido

de ferro e cimentados por cimentos argilo-carbonatado e cimento de sílica, nicóis descruzados, objetiva de

10x. (D) Lâmina com cimento de calcita espática em forma de mosaico e por cimento siltitico-ferroso

preenchendo fraturas e poros, nicóis descruzados, objetiva de 5x.

3.5.1 - Interpretação

A mudança de litarenito para quartzo-arenito demonstra alterações no comportamento da bacia

passando de um ambiente com declives abruptos e deposições próximas a área de erosão, para

depósitos cuja seleção dos grãos em especial quanto a resistência no transporte ocorre com uma maior

eficiência.

O arcabouço apresenta minerais-ultra estáveis e litoclastos provenientes de rochas

metamórficas e sedimentares. A existência de albita e da microclina indica uma provável contribuição

de rochas ígneas, e sugere que o clima predominante era seco e quente, com desenvolvimento de

intemperismo físico.

Page 50: Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do … · ii DISSERTAÇÃO DE MESTRADO N°53 Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do Cambambe, Chapada dos Guimarães, Mato

38

Os contatos predominantes são pontuais e suturados e indicam processos de seleção durante o

transporte e deposição. A ampliação em relação ao litarenito da quantidade de grãos arredondados a

bem-rolado indica uma maior contribuição de rochas policíclicas (cf. Williams et al., 1970).

As diferentes gerações de cimento tem relação com os processos que ocorreram na rocha

durante a eodiagênese, mesodiagênese e telodiagênese. Essa relação é identificada devido a relação de

corte e sobreposições dos cimentos existentes, predominando os cimentos relacionados eodiagênese,

demonstrando assim que estas rochas não passaram por amplos processos de soterramento profundo.

A cimentação argilo-ferruginosa disseminada já descrita nos sub-litarenitos também ocorre nas

lâminas de quartzo- arenito.

Na maioria das lâminas ainda, ocorre a cimentação de sílica sob a forma de calcedônia. Esta

cimentação sobrepõe a fase anterior, contudo, ainda é relacionada a um ambiente vadoso, o que é

depreendido da cimentação parcial em apenas um dos lados do grão, indicativo para essa

interpretação. A fonte da sílica pode estar relacionada à águas de formação.

A cimentação de calcita em franja é típica também de zonas vadosas conforme proposto por

Flüglel (1982) e espática de zonas mais profundas. Ambas foram descritas em uma lâmina, o que

sugere um soterramento progressivo da bacia.

A terceira fase de cimentação é representada pela recristalização do cimento de sílica em

forma de quartzo micro e macro cristalino. Essas diferentes cimentações ocorrem devido a mudanças

de temperatura conforme proposto por Bjorlykke & Egberg (1993) e Ph conforme Friedmann &

Sanders (1978). Devido a essas mudanças, ocorre a substituição parcial do cimento de calcedônia por

quartzo micro e macro cristalino. Essas mudanças ocorreram provavelmente em virtude do

soterramento das camadas. A última fase de cimentação é constituída pelo preenchimento de fraturas

por opala, representando a cimentação constituída durante telodiagênese, que se consolidou nas

fraturas existentes nas laminas.

As variações granulométricas e texturais possuem relação com os processos deposicionais e

podem ter também a influência da área fonte dos sedimentos, pois algumas destas características

podem ser herdadas (Williams et al. 1970).

3.6 - EVOLUÇÃO DA BACIA

A sedimentação cretácea da Bacia Cambambe foi sustentada por um sistema aluvial pontuado

por derrames magmáticos (Weska, 1987; Weska, 1996; Weska, 2006; Coimbra, 1991). Os dados da

petrografia da área de estudo corroboraram o modelo de clima seco por causa da presença de

mineraclastos de albita e microclina, além de granada e clorita na fração de componentes acessórios. A

preservação desdes minerais instáveis apontam que o clima predominante na área-fonte da bacia

Page 51: Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do … · ii DISSERTAÇÃO DE MESTRADO N°53 Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do Cambambe, Chapada dos Guimarães, Mato

39

Cambambe não favorecia a alteração de minerais. Além disso, a presença de grãos angulosos

euhedricos aponta que ocorreu contribuição de áreas-fontes cujo transporte não foi tão longo.

A presença de clorita, mineral típico de terrenos metamórficos, mostra que o Grupo Cuiabá

atuou como área-fonte da bacia, o que reforça a idéia de transporte reduzido e maturidade jovial da

bacia. Os grãos de granada podem ter origem relacionada aos kimberlitos que deram origem aos

diamantes encontrados na região em estudo ou podem ter relação com alguma outra fonte mais

distante ao entorno da bacia.

O clima quente e seco é ainda sugerido pela presença de paleossolos carbonáticos

representados pelas seções delgadas de carbonatos em que feições como: 1) gretas de ressecamento, 2)

inclusão de carbonatos em forma de “displace”; e 3) formação de calcretes; apontam para as condições

mais secas do clima. Não se pode dizer que o clima durante a deposição cretácea da Bacia Cambambe

fosse semi-árida como ocorria em diversas regiões da Bacia Bauru, nos estados de São Paulo, Minas

Gerais, Mato Grosso do Sul e Goiás (p.e., Fernandes & Basilici, 2009), porque os dados apresentados

neste trabalho não possuem tal acurácia. Contudo, a presença de marcas de raízes, estruturas de tração

subaquosa citadas em trabalhos anteriores (Kuhn & Paz, 2013) e fósseis de dinossauros que

dependiam de fontes de água constantes (Souza et. al., 2011) mostram que o clima não chegava a

provocar a seca das fontes de água. A presença escassa a rara de caulinita nos depósitos da área de

estudo é condizente com este quadro.

Estas condições climáticas parecem ter perdurado ao longo da história de deposição cretácea

da Bacia Cambambe. Trabalhos anteriores (Gonçalves & Schneider, 1970; Coimbra 1991; Weska,

1987, 1996, 2006; Silva, 2014) sugerem a existência de discordâncias ao longo da sucessão. Na área

de estudo, pelo menos duas discordâncias foram registradas. A primeira separa temporalmente os

ambientes deposicionais que deram origem às fácies litarenito e calcário daqueles que deram origem

às fácies quarto-arenito e silexito, ainda que o sistema deposicional seja o mesmo: leques aluviais. A

segunda discordância separa os depósitos cretáceos daqueles mais jovens, gerados em algum momento

do Terciário. Este trabalho se atém à seqüência cretácea e seu estudo petrográfico.

Do ponto de vista deste trabalho, a sequência (Figura 3.16) de litarenitos, sublitarenitos e

calcários representa um instante geológico em que predominou a deformação rúptil com deposição

controlada por falha e formação de grábens e horsts. Isto é sugerido por causa da associação de

litarenitos com momentos tectônicos ligados à reciclagem de materiais orogênicos antigos (cf.

Dickinson & Suczek, 1979), ou então relacionado à reativação tectônica de uma bacia (cf. González-

Acebrón et al. 2007).

As lâminas de litarenitos descritas apresentam uma importante contribuição vulcânica. Folk

(1968) chama a atenção que o vulcanismo pode ocorrer virtualmente em qualquer ambiente tectônico.

No caso da área de estudo, o vulcanismo pode ter se aproveitado da movimentação dos blocos para se

inserir nas zonas de falhas e ascender à superfície. Interpretação semelhante é reforçada pela

Page 52: Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do … · ii DISSERTAÇÃO DE MESTRADO N°53 Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do Cambambe, Chapada dos Guimarães, Mato

40

correlação entre a intrusão de corpos alcalinos cretáceos com a sismicidade e reativação de falhas no

domínio do Lineamento Transbrasiliano (Curto et al. 2014).

Figura 3.16: Classificação das lâminas conforme o ambiente tectônico segundo Dickinson & Suczek

(1979).

Neste cenário, ocorreu a deposição da primeira seqüência de sedimentos cretáceos. Durante a

eodiagênese (Figura 3.17), imediatamente após a deposição dos grãos e em ambiente vadoso, águas

pluviais de enxurradas encharcavam o terreno e se infiltravam solo adentro, carreando partículas de

argila, carbonato e colóides de óxi-hidróxidos de ferro. Estas partículas aderiram às paredes dos grãos

já depositados e, por gravidade, formavam uma micro-estruturas em apenas um lado do grão (Figura

3.21). Este fenômeno se mostrou recorrente e ocorreu tanto no tempo da deposição do litarenito

quanto no tempo de deposição do quartzo-arenito. Em condição de água freática, ocorreu a

precipitação de calcita em franja, fibrosa a prismática, conforme tem sido observado em outros

depósitos (Boggs, 2009). Localizadamente, ocorreu a formação de paleossolos por causa da presença

de marcas de raízes, gretas preenchidas e estruturas biogênicas, as quais representavam horizontes de

caliche em diferentes graus de evolução.

A compactação da sequência cretácea inferior não foi intensa, o que é baseado na

predominância de contatos pontuais e flutuantes nas seções delgadas do litarenito (Tabela II). Em

condição de subsuperfície, parte dos poros não preenchidos permitiu a precipitação de calcita espática.

Boggs (2009) aponta o soterramento em subsuperfície como uma das possibilidades para este tipo de

cimento de calcita.

Em dado momento da evolução da bacia, o nível de base é rebaixado e expõe a sequência de

litarenitos e calcários à intempérie o que permite a formação da discordância inferior que separa os

depósitos cretáceos em duas unidades genéticas.

Page 53: Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do … · ii DISSERTAÇÃO DE MESTRADO N°53 Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do Cambambe, Chapada dos Guimarães, Mato

41

A sequência de quartzo-arenitos e silexito mostra que houve uma mudança tectônica na área-

fonte da Bacia Cambambe. Deixam de ser atuante o vulcanismo (Weska, 1996; Silva, 2014) e

provavelmente os movimentos de tafrogênese (p.e., o ajustamento de blocos). Estes se tornam menos

intensos como sugerido ainda pela presença de minerais acessórios muito semelhantes àqueles

observados na sequência inferior de litarenitos, na qual estes eram apenas mais abundantes. A

peneplanização é a resposta mais clássica à instauração destas condições tectônicas (cf. Folk, 1968). O

clima não se altera. O sistema deposicional se mantém aluvial, contudo a diminuição da intensidade

epirogenética leva à diminuição do tamanho dos grãos a serem retrabalhados. A maturidade do

quartzo-arenito descrita como supermatura é condizente com um cenário quiescente e peneplanizado

para a área de estudo.

Figura 3.17: Fases de cimentação desenvolvidas nas rochas da Bacia Cambambe.

Assim como no caso da unidade inferior de litarenito e calcário subjacente, a eodiagênese da

unidade superior de quartzo-arenito e silexito também recebeu fortes águas de enxurradas. A

infiltração que seguia permitia que partículas de argila e colóides de óxi-hidróxidos de ferro fossem

infiltradas nos poros do sedimento da sequência superior ainda em ambiente vadoso. Neste momento,

não há carbonato à disposição para formação de cimento carbonático como no caso da unidade

genética inferior. Cimentos meniscados e gravitacionais (Figura 3.23) se formam no quartzo-arenito.

A precipitação de calcedônia ocorreu também em ambiente vadoso dada sua forma pendular

(pendant cement). Neste caso, provavelmente com alguma contribuição de soluções hidrotermais

percolantes em temperatura e pressão moderadas (cf. White & Corwin, 1961), ainda que na literatura

haja exemplos de calcedônia formada a temperaturas baixas de até 17 oC, mas em ambiente marinho

(p.e., Madsen & Stemmerik, 2010). Em condições continentais, as contribuições de soluções

hidrotermais favorecem francamente a cimentação por sílica (White & Corwin, 1961). Não é possível

determinar a temperatura de precipitação da calcedônia na área de estudo. A calcedônia, assim como

todas as demais formas de sílica mais solúveis (p.e., cristobalita, leutecita, opala) precipitam-se mais

facilmente que o quartzo e, normalmente, servem de caminho para a precipitação posterior do quartzo

microcristalino por meio do aumento de temperatura, ainda mais associado a sedimentos de carbonato

(Lancelot, 1973; Jeans, 1978). As fases de calcedônia até quartzo macrocristalino têm a tendência de

Page 54: Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do … · ii DISSERTAÇÃO DE MESTRADO N°53 Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do Cambambe, Chapada dos Guimarães, Mato

42

serem cimentos de preenchimento de poros (Scholle, 1979, p. 124). Não é diferente na área de estudo.

Acrescenta-se ainda que não são observados sobrecrescimentos sintaxiais de sílica sobre os grãos de

quartzo. A não observação destes não quer necessariamente dizer que eles não existam. Mas se não

existirem nos grãos da seqüência superior, isto pode significar que houve um limite de temperatura

mínima para a formação deste tipo de cimento de quartzo, que não foi atingido na área de estudo. Por

exemplo, Surdam et al. (1989) calculou em torno de 80 oC o limite para começarem a se formar

sobrecrescimentos sintaxiais de cimento de quartzo em torno dos grãos.

O soterramento da unidade superior levou à dissolução parcial do carbonato formado na

unidade inferior e sua precipitação localizada como cimento no quartzo-arenito. A principal delas é a

calcita em mosaico macrocristalina. Na literatura, esta fase tem sido a fase de soterramento mais

profundo (Boggs, 2009, p. 439). Contudo, na área de estudo, nenhuma outra característica própria de

ambiente de soterramento profundo que não seja a própria natureza cristalina da calcita está presente.

Características como (1) presença de estilólitos (stylolites) ou outras feições de solução por pressão; ou

(2) grãos compactados envoltos em calcita poiquilotópica ou poros compactados preenchidos. Além

disso, a calcita macrocristalina não preenche fraturas geradas por alívio de pressão nem poros de

dissolução na área de estudo. Embora, seja flagrante que a calcita em mosaico macrocristalina corroa

as fases de cimento de quartzo. Por causa disso, atribui-se que ela seja a última fase de precipitação em

ambiente freático.

Após a deposição da seqüência superior e o soterramento dos sedimentos cretáceos até

temperaturas que não atingiram 80 oC, a Bacia Cambambe experimentou ou um movimento

epirogenético positivo ou o nível de base da bacia rebaixou a ponto de deixar a unidade cretácea como

todo susceptível aos efeitos de alívio de pressão e preenchimento parcial de fraturas, que aqui se

atribui à telodiagênese. Soluções de oxi-hidróxidos de ferro e saturadas em opala percolaram por estas

fraturas além de poros que ainda não haviam sido preenchidos anteriormente.

Page 55: Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do … · ii DISSERTAÇÃO DE MESTRADO N°53 Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do Cambambe, Chapada dos Guimarães, Mato

43

CAPÍTULO 4

MINERAIS PESADOS

Ao todo foram descritas 13 seções-montadas (Figura 4.1) da fração areia fina (entre 0,250 e

0,125 mm) e 13 lâminas da fração areia muito fina (entre 0,125 e 0,064 mm) sendo provenientes de

rochas da Bacia Cambambe (Figura 4.2).

Figura 4.1: vista geral da lâmina 76-A, com grãos de minerais opacos, zircões arredondados e angulosos,

alteritos recobertos por oxido de ferro e andaluzita, nicóis descruzados, objetiva de 10x.

4.1 - FRAÇÃO AREIA FINA

As lâminas da fração areia fina são constituídas por um arcabouço de grãos de minerais

opacos, alteritos, estaurolitas, andaluzitas, turmalinas, distena, zircão, granada, hornblenda verde,

apatita e rutilo.

Destacam-se as diferenças texturais entre algumas das lâminas descritas, na qual em alguns

casos ocorrem lâminas com forte impregnação de oxido de ferro e em outros casos a impregnação

ocorre em apenas alguns grãos de alguns minerais. É notada diferença nos grãos de uma mesma

variedade mineral no tocante a arredondamento, a forma do grão e o nível de alteração e corrosão

existente. São encontrados grãos de minerais ultraestáveis com caries de corrosão, assim como

ocorrem grãos destes minerais com formato cristalino perfeito e grãos relativamente instáveis sem

alterações. Na tabela (Figura 4.3) segue algumas informações dos minerais encontrados nas lâminas e

a (Figura 4.4) apresenta alguns dos grãos descritos.

Page 56: Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do … · ii DISSERTAÇÃO DE MESTRADO N°53 Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do Cambambe, Chapada dos Guimarães, Mato

44

Figura 4.2: A seguir o significado de cada sigla e números: AF – Areia fina (0,125-0,250 mm), AMF – Areia muito fina (0,063-0,125 mm), E – Escasso (de 1 a 5

grãos), R – Raro (de 6 a 10 grãos), PA – pouco abundante (11 a 20 grãos), A – Abundante (21 a 50 grãos), MA – Muito abundante (mais de 51 grãos); 1 – zirção, 2-

turmalina, 3-rutilo, 4-estaurolita, 5-granada, 6- andaluzita, 7-titanita, 8- monazita, 9-anfibolio cálcico, 10- hornblenda, 11- anatásio, 12- apatita, 13- cianita, 14-

distena, 15-alteritos e 16- opacos.

Page 57: Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do … · ii DISSERTAÇÃO DE MESTRADO N°53 Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do Cambambe, Chapada dos Guimarães, Mato

45

Figura 4.3: Síntese das lâminas descritas da fração areia fina.

4.1.1 - Minerais descritos

4.1.1.1- Opacos: É o grão mais abundante em todas as lâminas (96-A, 8-B, 48-A, 119-A, 76-

B, 91-A, 95-A, 113-B, 95-B, 103-D, 48 e 97-B). Varia de bem arredondado a anguloso, predominando

os grãos sub-angulosos a sub-arredondados, de anédrico a euédrico (tabular, bi piramidais, cúbico,

paralelogramo ou retangular), predominando os grãos anédricos, muito abundante a abundante.

4.1.1.2- Alteritos: Essa conotação foi dada aos grãos que não foi possível identificação devido

ao alto grau de alteração, foi descrita em 12 lâminas ( 97-B, 96-A, 8-B, 48, 91-A, 95-A, 95-B, 113-B,

103-D, 76-B, 48-A e 119-A). Variando de anédricos a euédricos, predominando os grãos anédricos.

Quanto arredondamento os grãos variam de arredondados a angulosos, predominando os grãos

Page 58: Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do … · ii DISSERTAÇÃO DE MESTRADO N°53 Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do Cambambe, Chapada dos Guimarães, Mato

46

arredondados. Muitos grãos estão recobertos por ferro. Pouco abundante a raro, com diferentes graus

de alteração e corrosão.

4.1.1.3- Estaurolita: Foi descrita em 11 lâminas (97-B, 96-A, 48-A, 95-A, 95-B, 119-A, 91-A,

113-B, 48, 103-D e 76-B), varia de anédrica, sub-euédrica a euédrica (retangular, cúbica, retangular e

bi piramidal), predominam os grãos anédricos. Varia de anguloso a bem arredondado, predominando

os grãos sub-arredondados a sub-angulosos. É encontrada em diferentes graus de corrosão e alteração

variando desde pouco alterada a muito alterada e de pouco corroída a muito corroída. Predominam os

grãos alterados, escassa. Os grãos podem estar fraturados e recobertos por cutícula de ferro, raro a

abundante, os grãos podem conter inclusões carbonáticas.

4.1.1.4- Turmalina: Encontrada em 11 lâminas (97-B, 48, 8-B, 95-B, 95-A, 119-A, 91-A, 48-

A, 96-A, 113-B e 76-B). De anédricos a sub-euédricos (retangulares), de bem arredondados a sub

angulares, grãos não alterados, pode conter inclusões de zircão, varia de verde, parda a rósea, pode ter

pleocroísmo de muito forte a fraco, grãos não alterados, com ou sem feições de corrosão, os grãos

podem estar recobertos por cutícula de óxido de ferro, de rara a abundante.

4.1.1.5- Apatita: Presente em duas lâminas (113B e 97B), varia de redonda a sub-arredondada,

parda ou cinza claro, anedrica, grãos não alterados, rara, pleocroismo fraco.

4.1.1.6- Distena: Encontrada em uma lâmina (96-A), de cor cinza claro, sub-arredondada,

anédrica, com extinção em grade e é raramente encontrada.

4.1.1.7- Granada: Encontrada em 5 lâminas (119-A, 48-A, 48, 91-A e 113-B), em geral

corroída e alterada, arredondada a angulosa, incolor, anisotrópica, raro.

4.1.1.8- Andaluzita: Foi encontrada em 9 lâminas (8-B, 91-A, 103-D, 48-A, 76-B, 48, 119-A,

113-B e 96-A), grãos não alterados, com cutícula de óxido de ferro, anédrica, sub angulosa a

arredondado, parda, cinza ou bege a róseo claro, rara a escassa.

4.1.1.9- Hornblenda verde: Encontrado em duas lâminas (91-A e 76-B), sub-euédrico (bi

piramidal), anguloso, verde, pouco alterado, raro.

4.1.1.10- Rutilo: encontrado em 3 lâminas (48-A, 76-B e 8-B), arredondados a sub-angulosos,

anédrico, vermelho, pouco alterado a grãos não alterados, com cutícula de óxido de ferro, raro.

4.1.1.11- Zircão: Encontrado em 8 lâminas (76-B, 48, 91-A, 95-B, 8-B, 119-A, 48-A e 95-A)

grãos variando de bem arredondados a sub-angulosos predominando os grãos arredondados. Os grãos

podem ser anédricos, sub-euédricos ou euédricos (tabular, retangular e prismático), cor de

interferência de rósea a incolor, recobertos por cutícula de óxido de ferro, e podem ser encontrados

Page 59: Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do … · ii DISSERTAÇÃO DE MESTRADO N°53 Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do Cambambe, Chapada dos Guimarães, Mato

47

grãos não alterados ou pouco alterados, com ou sem sinais de corrosão, podem ocorrer inclusões de

outros minerais, raros a escasso.

Figura 4.4: Microfotografia dos minerais encontrados na fração areia fina.

Page 60: Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do … · ii DISSERTAÇÃO DE MESTRADO N°53 Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do Cambambe, Chapada dos Guimarães, Mato

48

4.2 - FRAÇÃO AREIA MUITO FINA

Nas lâminas da fração areia muito fina foram encontrados grãos de minerais opacos, zircão,

estaurolita, turmalina, alteritos, rutilo, hornblenda verde, andaluzita, granada, anfibolio calcica

(provavelmente tremolite), apatita, monazita, anatásio, cianita e titanita. Assim como na fração areia

fina, são notadas grandes diferenças texturais, os grãos apresentam diferentes graus de trabalhamento

de uma mesma variedade mineral, com grãos desde euédrico, anguloso e prismático a anédricos e

muito bem arredondado. São visualizados grãos desde pouco alterados a muito alterados, com caries e

feições de corrosão. Em algumas lâminas quase a totalidade dos grãos estão recobertos por oxido de

ferro, contudo nota-se a presença de minerais instáveis também sem o recobrimento, relacionando

assim, o oxida de ferro a processos anteriores a deposição dos grãos e diagênese. Ocorrem grãos

fraturados. Na tabela (Figura 4.5) segue algumas informações sobre os grãos descritos nas lâminas que

podem ser observados na Figura 4.6.

4.2.1- Minerais descritos

4.2.1.1- Opacos: os minerais opacos representam a maioria dos grãos encontrados nas lâminas,

e estão presentes em todas as seções montadas. Variam de anédrico a euédrico (retangulares,

prismáticos, tabular, cúbicos, bi piramidal e paralelogramo) predominando os grãos anédricos, varia de

angulosos a bem arredondados, na maioria das lâminas predominam os grãos arredondados. Muito

abundante.

4.2.1.2- Estaurolita: Foi descrita em todas as lâminas, e varia de rara a abundante, são

encontrados grãos não alterados a muito alterados e com sinais de corrosão, em algumas lâminas

predominam os grãos não alterados, contudo em outras lâminas os grãos alterados ou muito alterados

representam a maioria. A angulosidade varia de bem arredondada a angulosa predominando os grãos

sub-angulosos. De anédrica a euédrica (cúbica, retangular e tabular), predominando os grãos sub

euédricos, podem ser encontradas cutículas de óxido de ferro recobrindo os grãos, podem ocorrer

grãos fraturados. A coloração varia de amarela, róseo alaranjado a azul conforme o grau de alteração e

corrosão dos minerais.

4.2.1.3- Granada: Os grãos de granada foram descritos em 7 lâminas (103, 119-A, 97-B, 95-

A, 76-A, 018 e 113-B). Os grãos variam de anédricos, sub-euédricos e euédricos (cúbicos,

retangulares e bi piramidais), predominando os grãos euédricos a sub-euédrica. A angulosidade varia

de bem arredondados a angulosos, predominando os grãos angulosos e sub-angulosos. Alguns grãos

apresentam feições de corrosão, contudo, predominam os grãos não alterados. Pode ser encontrado o

mineral incolor a rósea claro, em alguns casos ocorrem grãos fraturados ou com inclusões de outros

minerais.

Page 61: Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do … · ii DISSERTAÇÃO DE MESTRADO N°53 Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do Cambambe, Chapada dos Guimarães, Mato

49

Figura 4.5: Síntese das lâminas descritas da fração areia muito fina.

4.2.1.4- Turmalina: Os grãos de turmalina foram descritos em 10 lâminas (113-B, 08, 76-A,

48-A, 018, 76-D, 95-B, 119-A, 97-B e 95-A), os minerais podem apresentar coloração verde, parda,

rósea, azul ou bege. O pleocroismo varia de fraco a forte, os grãos variam de bem arredondado a

Page 62: Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do … · ii DISSERTAÇÃO DE MESTRADO N°53 Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do Cambambe, Chapada dos Guimarães, Mato

50

anguloso, predominando os grãos arredondados. Ocorrem grãos recobertos por cutícula de óxido de

ferro, com inclusões fluidas, grãos fraturados ou com marcas de corrosão. Contudo predominam os

grãos não alterados. De anédricos a euédricos (retangulares e prismáticos) predominando os grãos

anédricos. Varia de raro a abundante.

4.2.1.5- Zircão: Foi encontrado em todas as lâminas, varia de abundante a raro, pode ser

encontrado com forma anédrico, sub-euédricos a euédrico prismático, retangular, bi-piramidal e

retangular. De bem arredondado a anguloso predominando os sub-arredondados a arredondados.

Alguns grãos se apresentam muito alterados, apresentando feições caries e feições corrosão, contudo a

maioria dos grãos não apresentam alterações. São encontrados grãos com fraturas e inclusões. A cor

de interferência pode ser incolor a rósea. Em algumas lâminas ocorrem muitos grãos recobertos por

cutícula de óxido de ferro, isso pode dar uma coloração avermelhada ao grão.

4.2.1.6- Andaluzita: Foram descritas em 9 lâminas (48-A, 119-A, 95-A, 113-B, 48, 018, 76-D,

91-A e 76-A), o formato dos grãos varia de sub-euédrica a anédrica, o arredondamento varia de

anguloso a arredondado, predominando os grãos sub-angulosos a sub-arredondados. Os minerais

podem apresentar coloração parda a bege, acinzentada. Alguns grãos estão pouco alterados, contudo

predominam os grãos grãos não alterados. Em algumas lâminas são encontrados grãos com cutícula de

óxido de ferro.

4.2.1.7- Cianita: Foi encontrada apenas na lâmina 113-B, possui grãos de forma euédrica, sub-

arredondado, incolor, um pouco alterado, os grãos eram raros.

4.2.1.8- Titanita: Foi descrita apenas na lâmina 113B, possui grãos com forma euédrica, sub-

arredondado, incolor raro.

4.2.1.9- Rutilo: foi descrito em 11 lâminas (95-B, 48-A, 76-A, 95-A, 018, 48, 08, 76-D, 119-

A, 113-B e 103), raros ou escassos, os grãos possuem forma anédrica a euédrica, coloração vermelha,

com arredondamento de arredondado a sub-angulosos. Grãos de grãos não alterados a muito alterados.

Ocorrem grãos fraturados e também grão recoberto com cutícula de ferro.

4.2.1.10- Alteritos: Essa conotação foi dada aos grãos que não foi possível identificação

devido ao alto grau de alteração, foi descrita em 12 lâminas (018, 119-A, 76-A, 76-D, 48, 91-A, 08,

95-A, 97-B, 103, 48-A e 95-B), possuem forma anédrica, arredondamento predominante de sub-

angulosos a sub-arredondados, em geral recobertos por cutícula de óxido de ferro, a disponibilidade

nas lâminas varia de raro pouco abundante.

4.2.1.11- Monazita: Foi descrita nas lâminas 103 e 018, incolor a rósea claro, sub-arredondada

a arredondada, sub-euédrica, pouco alterada a grãos não alterados, pode ser encontrada recoberta por

cutícula de óxido de ferro, a disponibilidade nas lâminas é rara.

Page 63: Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do … · ii DISSERTAÇÃO DE MESTRADO N°53 Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do Cambambe, Chapada dos Guimarães, Mato

51

Figura 4.6: Microfotografia dos minerais encontrados na fração areia muito fina.

4.2.1.12- Hornblenda verde: Foi descrita nas lâminas 95-B e 76-D, a forma dos grãos é sub-

euédrico a anédrico, anguloso, os grãos se encontram um pouco alterados, verde extinção 60°, e são

raramente encontrados nas secções montadas.

Page 64: Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do … · ii DISSERTAÇÃO DE MESTRADO N°53 Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do Cambambe, Chapada dos Guimarães, Mato

52

4.2.1.13- Anatásio: Foi descrita nas lâminas 76-D e 95-A, os grãos são sub-angulosos, com

forma sub-euédrico a euédrico tabular, de coloração parda a incolor, sem alteração, contudo alguns

grãos estão recobertos por cutícula de óxido de ferro, são raramente encontrados nas lâminas.

4.2.1.14- Anfibólio Cálcico (Provavelmente Tremolite): Foi descrita apenas na lâmina 119-A,

os grãos possuem forma sub-euédrica, são angulosos, com clivagem definidas 90°/115°, incolor,

relevo médio, cor de interferência azul, não possuem alteração e são raramente encontrados nas

lâminas.

4.2.1.15- Apatita: Foi descrita apenas na lâmina 103, os grãos possuem forma euédrica

retangular, quanto a angulosidade são classificados como sub-arredondados. Possuem fraturas, e a

coloração é cinza, alguns grãos estão recobertos por cutícula de óxido de ferro, contudo não

apresentam alteração. São raramente encontrados na lâmina.

4.3 - INTERPRETAÇÃO

A assembleia é constituída de minerais ultra-estáveis e minerais relativamente instáveis. Isso

permite propor que ocorreu uma deposição rápida dos sedimentos e que a condição climática favorecia

a preservação mineral, além disso, a preservação dos minerais instáveis sugere que durante o processo

diagenético estas rochas não sofreram grandes alterações.

As corrosões em minerais pesados durante o intemperismo e diagênese são facilmente

interpretadas. Segundo Ando et al. (2012) é possível determinar o índice de corrosão dos minerais

pesados, levando em consideração o meio ao qual estes minerais foram expostos. Ambientes

sedimentares proporcionam facilmente a exposição dos minerais detríticos (Brantley, 2003)

sujeitando-os ao intemperismo. A corrosão atinge desde minerais instáveis até ultra-estáveis e

variando de corrosão incipiente à profunda, que continuam atuando durante o processo diagenético

(Turner & Morton, 2007). Os estudos de corrosões em minerais pesados funcionam como uma

importante ferramenta no âmbito da investigação e identificação de climas no registro estratigráfico e

verificação das possíveis mudanças que pudessem ocorrer na assembleia detritica original durante a

diagenese. Morton & Hallsworth (2007) afirmam que apesar das diferentes condições geoquímicas,

existem grandes semelhanças entre texturas produzidas pela dissolução durante o intemperismo e

durante a compactação na diagênese. As morfologias de corrosão dependem da estrutura cristalina dos

minerais, para tanto, existe uma classificação das texturas de corrosão (Mange & Maurer, 1992 p. 9;

Morton & Hallsworth, 2007; Turner & Morton, 2007), baseado no aparecimento de caracteres

texturais diagnósticos, sedo elas: resistente (U), corroído (C), gravado (E), profundamente gravado (D)

e esquelético (K) com quatro graus de corrosão progressiva distintas. Para entender melhor como

funciona a análise das texturas de corrosão é preciso conhecer cada fase. A fase resistente (U) se trata

de um momento onde a superfície do grão não foi corroída e este se apresenta com contorno contínuo

Page 65: Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do … · ii DISSERTAÇÃO DE MESTRADO N°53 Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do Cambambe, Chapada dos Guimarães, Mato

53

sem sulcos de corrosão. Na fase de corrosão (C) A superfície original do grão é reconhecida, mas a

cavidade de corrosão e reentrâncias caracteriza todo o contorno, e tornam-se progressivamente mais

profunda com o aumento do grau de corrosão. A fase gravada (E) é caracterizada pela superfície do

grão original ainda pode ser reconhecida, mas terminações em serrote aparecem inicialmente na

extremidade de cristais prismáticos ao longo de direções cristalográficas preferenciais. Inicialmente

isolados, sulcos de corrosão e dentículos são dispostos em linhas e grupos em graus mais elevados de

corrosão. Finalmente, alargamento e coalescência dos sulcos adjacentes lateralmente produzindo

texturas em forma de losango que afetam uma parte significativa do grão. Na fase gravada

profundamente (D) todo o contorno do grão é afetado pela extensa corrosão. Sulcos gravados são

significativamente maiores e mais profundos do que na fase anterior. Bainhas angulares tornam-se

evidentes. E por fim, na fase esquelética (K) a forma dos grãos é completamente transformada pela

corrosão. Todas essas fases são marcadas por graus de corrosões, sendo eles: inicial (1), leve (2),

avançado (3) e final (4) definido por Andó et al. (2012). No mesmo exemplo, grãos de minerais

podem apresentar ainda um conjunto completo de estágios de intemperismo, isso pode refletir

proveniência de múltiplas (Nesbitt et al. , 1997), incluindo a rocha e perfis de solo de vários tipos e

maturidade, corroída pela diversidade de processos.

Tendo por base este catálogo e as análises ópticas dos minerais pesados detríticos dos arenitos

da Bacia Cambambe é possível fazer estas considerações. A fração areia fina é composta por minerais

opacos, estaurolita, andaluzita, turmalina, distena, zircão, granada, hornblenda verde, apatita e rutilo; e

a fração areia muito fina se observa os mesmos minerais pesados observados na fração areia fina,

acrescentando apenas o anfibólio cálcico, monazita, anatásio, cianita e a titanita.

Os minerais opacos e os alteritos são pouco determinantes, pois não se sabe ao certo a que

mineral se referem. Os demais minerais podem ser classificados dentro do índice de corrosão de Andó

et al. (2012). A estaurolita se enquadra em fase resistente de corrosão (U4); A turmalina apresenta-se

em fase resistente á fase de corrosão (C1), a andaluzita apresenta-se em fase resistente (U4); o zircão

está em fase resistente á fase de corrosão (C1) e (C2); a granada está em fase resistente á fase de

corrosão (C1), (C2) e (C3); a hornbleda verde apresenta-se em fase resistente á fase de corrosão (C1);

a apatita, o rutilo, monazita, anatásio, e a distena apresentam-se em fase resistente (U4).

De modo geral a corrosão existente nestas rochas ocasionadas por processos intempéricos ou

diagenéticos, obsevadas nos minerais pesados, é bastante atenuada. Ressaltando que a proveniência de

minerais em rochas sedimentares é de fontes variadas. Na area de estudo ao menos uma das fontes de

sedimentos que compuseram os arenitos é próxima à deposição, pois ocorrem grãos angulosos e estes

se apresentam pouco alterados ou inalterados (Figura 4.7).

Page 66: Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do … · ii DISSERTAÇÃO DE MESTRADO N°53 Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do Cambambe, Chapada dos Guimarães, Mato

54

Figura 4.7: Análise óptica dos minerais pesado da Formação Ribeirão baseada no catálogo de Ando et al.

(2012). A maioria dos minerais pesados se apresentam e grande parte na fase resistente (U) e fase de

corrosão (C) inicial (C1), leve (C2) e raramente avançada (C3). Estes não atingirão as demais fases de

corrosão.

Os minerais estáveis são frequentemente arredondados em arenitos antigos, porque eles

geralmente sobrevivem por mais de um ciclo sedimentar. Estes minerais podem resistir a ataques

Page 67: Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do … · ii DISSERTAÇÃO DE MESTRADO N°53 Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do Cambambe, Chapada dos Guimarães, Mato

55

químicos e ter uma resposta melhor à abrasão mecânica. Grãos resistentes quimicamente, em solo

podem ser arredondados mecanicamente, mais tarde, por exemplo, durante o transporte eólico e vice-

versa, grãos arredondados por processos mecânicos de abrasão podem ser quimicamente gravados

desde as fases iniciais de soterramento (Pye & Mazzullo, 1994), ou as irregularidades da superfície do

grão produzido pelos processos mecânicos podem ser melhoradas com características de corrosão

desenvolvidas durante subsequente intemperismo ou diagênese (Mange & Maurer, 1992). Os minerais

mais estáveis são o zircão, rutilo e a turmalina. E a partir da definição do arredondamento dos grãos

destes minerais, seguindo a terminologia de Powers (1953), é possível inferir o grau de transporte e

consequentemente a distância dos sedimentos da área fonte até o local de deposição. Sendo Euédrico

(e), angular (a), subarredondado (s), arredondado (r) e quebrado os graus de arredondamento.

Os grãos de zircão, rutilo e turmalina encontrados nos arenitos da Bacia Cambambe se

apresentam com seus hábitos bem preservados. O zircão se encontra euédrico, prismático, bi-

piramidal; o rutilo e a turmalina se apresentam de subarredondado à arredondado evidenciando que

estes sobreviveram o pelo menos mais de um ciclo sedimentar ou que sua área fonte seja mais distante

que a do zircão e os demais minerais pesados que compusesse essa assembleia mineralógica (Figura

4.8).

Figura 4.8: Fotos que ilustram o grau de arredondamento o zircão, rutilo e turmalina que dizem respeito

ao transporte e área fonte dos sedimentos que constituíram os arenitos da Formação Ribeirão.

As diferenças no grau de alteração das variedades minerais sugerem-se vários processos

relacionados, como por exemplo: o desenvolvimento de um ambiente corrosivo durante o processo de

intemperismo das rochas somados a uma rápida erosão e deposição, isso permite dentro de uma

mesma sessão-montada encontrar grãos de uma mesma variedade mineral com diferentes graus de

Page 68: Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do … · ii DISSERTAÇÃO DE MESTRADO N°53 Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do Cambambe, Chapada dos Guimarães, Mato

56

alteração. Williams et al. (1970) propôs que a velocidade da erosão controla em partes a quantidade

de sedimentos fornecidos e por consequência a velocidade da deposição. Além disso, regiões onde se

tenha encostas íngremes e/ou precipitações pluviais pesadas o material pode ser removido sem que

tenha passado por longo processo de intemperismo, nestas condições independente do clima a

composição mineral dos depósitos será muito parecida as das rochas matriz. Estes três fatores atuaram

durantes a deposição dos sedimentos, tendo como resultado a ampla variação no grau de corrosão, em

grãos de um mineral, em uma mesma sessão-montada.

A existência de grãos recobertos e não recobertos por óxido de ferro sugere que o processo de

oxidação ocorreu na área fonte dos sedimentos e que pode estar relacionado ao desenvolvimento de

crosta laterítica durante o Cretáceo.

Os diferentes graus de arredondamento e esfericidade de uma mesma variedade mineral sugere

que os grãos tiveram varias áreas fontes distintas. Os grãos euédricos, estão relacionados à erosão de

rochas ígneas e metamórficas e apresentam um grau elevado de angulosidade devido a terem passado

apenas pelo ciclo sedimentar que os levou a deposição na área de estudo.

A esfericidade é em grande escala herdada e tem relação com a forma dos minerais nas rochas

matrizes ou de seus hábitos de fraturas e com as modificações que ocorrem durante o transporte.

Essas mudanças influenciam no comportamento hidrodinâmico de uma partícula, e afeta a velocidade

de deposição e transporte, passando a afetar o transporte seletivo devido à forma, tamanho e

densidade. Já o arredondamento tem relação com o comportamento da partícula em um fluido, tempo

e tipo de transporte (Williams et al. 1970).

Nas sessões-montadas descritas nota-se uma classe de grãos arredondados e esféricos, são

representados principalmente pelos minerais mais resistentes zircão, turmalina e rutilo, que possuem

características herdadas de outros ciclos sedimentares anteriores. Sugere-se como área-fonte destes

grãos as rochas da Bacia do Paraná. Contudo também se encontra grãos destas variedades minerais

euhedricos (a exemplo zircão), portanto com uma origem em área-fonte próxima. O Granito de São

Vicente pode ser a provável fonte dos grãos de zircão euhedrico e da titanita e apatita devido a

apresentar estes minerais em sua composição. O hornfels formado no contato do granito com o Grupo

Cuiabá pode ter fornecido os grãos de andaluzita, cianita e estaurolita. Grãos de anfíbolas são descritos

nas rochas da Formação Paredão Grande, sendo assim, os grãos encontrados nos arenitos podem ter

sua origem no vulcanismo que ocorreu relacionado ao inicio da Bacia Cambambe.

Resalta-se que os grãos de minerais mais resistentes ao processo intemperico podem ter sido

preservados de ciclos sedimentares anteriores e devido ao clima seco que dominou durante a formação

da Bacia Cambambe estes minerais podem resistir ao processo de erosão e transporte.

Page 69: Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do … · ii DISSERTAÇÃO DE MESTRADO N°53 Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do Cambambe, Chapada dos Guimarães, Mato

57

CAPITULO 5

CONCLUSÕES

Foram interpretadas 4 associações de fácies nas rochas Cretáceas da Bacia Cambambe sendo

elas: Paleoambiente de fluxo de detritos, Colapso de fluxo turbulento, Paleoambiente de

preenchimento de canais e Paleoambiente de paleossolos representando a evolução de um ambiente de

leques aluviais, no cretáceo superior entre os andares Santoniano e Maastrichtiano (Figura 5.1). Os

pacotes rochosos existentes são separados por uma discordância em duas unidades litológicas, sendo

elas as formações Ribeirão Boiadeiro e Cambambe. Ambas as unidades foram depositadas em um

sistema de leques aluviais.

Figura 5.1 – Modelo de evolução da Bacia Cambambe entre o final do Andar Santoniano e o andar

Maastrichtiano.

A distinção entre as formações existentes fica clara na petrografia, na qual a formação

Ribeirão Boiadeiro é constituída por litarenidos e por horizontes de carbonatos (Calcretes), a segunda

delas é constituída por sub-litarenitos e predominantemente por s, os horizontes de silexitos podem ser

encontrados em ambas as unidades. Essas diferenças no arcabouço entre as formações Ribeirão

Boiadeiro e Cambambe resultam da mudança no controle tectônico da bacia e na alteração da

porcentagem de contribuição das diferentes áreas fontes. No primeiro momento o controle tectônico

era mais incisivo, sendo esta a fase mais ativa da bacia, com a instalação de um sistema de leques

aluviais controlado por gravidade. Os sedimentos proviam principalmente da Bacia do Paraná (fonte

sedimentar), Faixa Paraguai (fonte metamórfica) e da Formação Paredão Grande, Granito São Vicente

e Kimberlitos (fonte ígnea). No Segundo momento o sistema de leques aluviais já estava mais maduro

e o vulcanismo já tinha cessado, desta forma a área fonte dos sedimentos passou a ser quase na

Page 70: Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do … · ii DISSERTAÇÃO DE MESTRADO N°53 Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do Cambambe, Chapada dos Guimarães, Mato

58

totalidade representada pela Bacia do Paraná (fonte sedimentar) e secundariamente pela Faixa

Paraguai (fonte metamórfica). O controle tectônico da bacia está associado a reativação de falhas no

domínio do Lineamento Transbrasiliano, que influenciou a Plataforma de Alto Garças fortemente

durante o Cretáceo desenvolvendo um sistema de grábens e horts.

A diferença de espessura da Formação Ribeirão Boiadeiro entre a borda sul (menos espessa)

nas proximidades da comunidade de Cachoeira Rica (Peba), e na borda norte (mais espessa) próximo

ao assentamento Jangada Roncador sugerem o desenvolvimento de uma estrutura hemigraben no

Santoniano com depocentro NE para a sucessão vulcano-sedimentar cretácea da Bacia do Cambambe.

As estruturas nas lâminas petrográficas e o arcabouço mineral existem nas secções montadas

de minerais pesados e indicam um paleoclima predominante quente e seco.

A existência de minerais pesados instáveis nas seções montadas, e a predominância de fases

de eodiageneticas, indicam que os processos diagenéticos não tiveram uma atuação muito forte,

provavelmente devido a um soterramento relativamente raso da bacia, nas quais predominaram

temperaturas inferiores a 80°C.

Com base no exposto neste trabalho e na literatura, é proposto que a Formação Paredão

Grande, da Província Ígnea do Poxoréu e as formações Ribeirão Boiadeiro e Cambambe sejam

agrupadas dentro uma nova unidade litoestratigrafica, o Grupo Manso, criado para agrupar a sequência

vulcano-sedimentar da Bacia do Cambambe. É necessário em trabalhos posteriores esclarecer as

relações entre as Bacias Cambambe e Poxoréu, devido à similaridade existente entre ambas, podendo

elas durante o período cretáceo estar interligadas. Além disso, sugere-se que trabalhos posteriores

aprofundem os estudos referentes aos minerais pesados, através de análise geocronológica e da

porcentagem de zircão, turmalina e rutilo (ZTR).

Page 71: Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do … · ii DISSERTAÇÃO DE MESTRADO N°53 Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do Cambambe, Chapada dos Guimarães, Mato

59

REFERÊNCIAS

1. Allen P. A., Allen J. R. 2005. Basin analysis, principles and applications, Second edition: Wiley-

Blackwell, Hoboken, New Jersey, 500p.

2. Almeida F. F. 1964. M. Geologia do Centro-Oeste Matogrossense. Bol. Div. de Geol. e Mineralogia,

Rio de Janeiro, n.215, 137p.

3. Almeida F. F. M. 1983. Relações tectônicas das rochas alcalinas Mesozóicas da região meridional da

Plataforma Sul-Americana. Revista Brasileira de Geociências, 13:139-158.

4. Andò S., Eduardo G., Padoan M., Limonta M. 2012. Corrosion of heavy minerals during weathering

and diagenesis: A catalog for optical analysis. Sedimentary Geology, 280: 165-178.

5. Assine M. L. 2008. Bacia do Araripe. Boletim de Geociências da Petrobras, 15 (2): 371-389.

6. Attork K., Brown L., Guo J., Heanlein J. 2004. Seismic stratigraphic recordo f transpression and uplift

on the Romanche transform margln: offshore Ghana. Tectonophysics, 378: 1-16.

7. Bahia R. B. C., Martins-Neto M. A., Barbosa M. S. C., Pedreira A. J. 2006. Revisão estratigráfica da

Bacia dos Parecis – Amazônia. Revista Brasileira de Geociências. 36 (4): 692-703.

8. Bahia R. B. C., Martins-Neto M. A., Barbosa, M. S. C., Pedreira, A. J. 2007. Análise de evolução

tectonossedimentar da Bacia dos Parecis através de métodos potenciais. Revista Brasileira de

Geociências. 37(4): 639-649.

9. Barros, A. M., Da Silva R. H., Cardoso O. R F. A., Freire F. A., Souza Junior, J. J., De Rivetti, M., Da

Luz D. S., Palmeira R. C. De B., Tassinari C. C. G. 1982. Projeto Radam Brasil, levantamento de

recursos naturais. Folha Cuiabá, SD-21. Rio de Janeiro: Ministério de Minas e Energia.

10. Basilici, G; Dal’bó, P. F. 2010. Anatomy and controlling factors of a Late Cretaceous Aeolian sand

sheet: The Marília and the Adamantina formations, NW Bauru Basin, Brazil. Sedimentary Geology,

226: 71–93.

11. Batezelli A., Gomes N. S., Perinotto J. A. de J. 2005. Petrografia e Evolução Diagenética dos Arenitos

da Porção Norte e Nordeste da Bacia Bauru (Cretáceo Superior). Revista Brasileira de Geociências,

35:311-322.

12. Bauer A. M., & Largher G. N. A. 1958. Preliminary report of the eastern central part of the State of

Mato Grosso and a portion of the western part of the State of Goiás, Brasil. Ponta Grossa:

Petrobras/DEBSP, Relatório Técnico Interno, n. 837.

13. Bjorlykke K., & Egberg P.K. 1993. Quartz cementation in sedimentary basins. AAPG, Bull., 77:1358-

1398.

14. Boggs, S. Jr. Sedimentary Textures. In: Boggs, S. Jr. 2009. Petrology of Sedimentary Rocks. Nova

York: Cambridge University Press, p.21-62.

15. Brantley S.L., 2003. In: Drever J. I., Holland H. D., Turekian, K. K. (Eds.), Reaction kinetics of

primary rock-forming minerals under ambient conditions: Treatise on Geochemistry, 5. Elsevier,

Amsterdam, pp. 73–117.

Page 72: Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do … · ii DISSERTAÇÃO DE MESTRADO N°53 Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do Cambambe, Chapada dos Guimarães, Mato

60

16. Camacho, H., Busby, C. J., Kneller, B. A. 2002. New depositional model for the classical turbidite

locality at San Clemente State Beach, California. A.A.P.G. Bulletin. Vol. 86. No 9. p 1543-1560.

17. Coimbra, A. M. 1991. Sistematização crítica da obra. São Paulo. Universidade de São Paulo. (Tese de

Livre-Docência, Instituto de Geociências/USP). 54p

18. Curto J. B., Vidotti R. M., Fuck R. A., Blakely R. J; Alvarenga C. J. S., Dantas E. L. 2014. The

tectonic evolution of the Transbrasiliano Lineament in northern Paraná Basin, Brazil, as inferred from

aeromagnetic data. Journal of Geophysical Research: Solid Earth, 119: 1544-1562.

19. De Min. A., Hendriks. B., Slejko F., Comin-Chiaramonti P., Girardi. V., Ruberti. E., Gomes. C. B.,

Neder R. D. Pinho F. C., 2013, Age of ultramafic high-k rocks from Planalto da Serra (Mato Grosso,

Brazil), Journal of South American Earth Sciences, 41, p 57-64.

20. Derby, A. 1890. O. Nota sobre a geologia e paleontologia de Mato-Grosso. Arquivos do Museu

Nacional. 9, 59-88 p.

21. Dias-Brito D., Musacchio E. A., Castro J. C., Maranhão M. S. A. S., Suarez J. M. & Rodrigues R.

2001. Grupo Bauru: uma unidade continental do Cretáceo no Brasil – concepções baseadas em dados

micropaleonotológicos, isotópicos e estratigráficos. Rèvue Paléobiologie, 20(1): 245–304.

22. Dickinson W. R., Suczek C. 1979. Plate tectonics and sandstone compositions: Am. Assoc. Pet. Geol.

Bull., 63: 2164–2182.

23. Dunham, R. J. 1962. Classification of carbonate rocks according to depositional texture. American

Associated of Petroleum Geologic, Tulsa, v. 1, p. 108-121.

24. Fernandes L.A. & Basilici G. 2009. Transition of ephemeral palustrine to aeolian deposits in arid–

semi-arid environment of the intracratonic Bauru Basin (Upper Cretaceous, Brazil). Creatceous

Research, 30:605-614

25. Fernandes L. A., & Coimbra A. M. 2000. Revisão estratigráfica da parte oriental da Bacia Bauru

(Neocretáceo). Revista Brasileira de Geociências, v. 4, n. 30, p. 717-728.

26. Flüglel, E. 1982. Microfacies analysis of limestones. Springer Verlag, Berlin-Heidelberg, 633 p.

27. Folk, R. L. 1968. Petrology of sedimentar rocks. Austin, Texas, Hemphill’s, Pub., 107p.

28. Friedman G.M. & Sanders J.E. 1978. Principles of sedimentology. J. Willey & Sons (eds). New York.

792 p.

29. Giannini P. C. F. & Riccomini C. 2000. Sedimentos e processos sedimentares. In: Teixeira, W.;

Toledo, M. C. M.; Fairchild, T. R.; Taioli, F.. (Org.). Decifrando a Terra. 1 ed. São Paulo: Oficina de

Textos, v. , p. 167-190.

30. Gibson S. A., Thompson R. N., Weska R. K., Dickin, A. P.; Leonardos, O. H. 1997. Late Cretaceous

riftrelated upwelling and melting of the Trindade starting mantle plume head beneath western Brazil.

Contributions to Mineralogy and Petrology, v. 126, p. 303-314.

31. Gonçalves, A., & Schneider R. L. 1970. Geologia do Centro-Leste de Mato Grosso. Ponta Grossa:

Petrobras-Desul, Relatório Técnico Interno 394,43p.

32. González-Acebrón L., Arribas J., Mas R. 2007. Provenance of fluvial sandstones at the start of late

Jurassic–Early Cretaceous rifting in the Cameros Basin (N. Spain). Sedimentary Geology, pp.138–157

Page 73: Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do … · ii DISSERTAÇÃO DE MESTRADO N°53 Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do Cambambe, Chapada dos Guimarães, Mato

61

33. Goudie, A. 1973. Duricrusts in tropical and subtropical landscapes.Claredon Press. Oxford. 174 p.

34. Jeans C. V. 1978. The origin of the Triassic clay assemblages of Europe with special reference to the

Keuper Marl and Rhaetic of parts of England. Phil. Trans. R. Soc. series B, 289: 549-636.

35. Kneller B., & Branney M. 1995. Sustained high-density turbidity currents and the deposition of thick

massive sands. Sedimentology. 42. p. 607-616.

36. Kuhn C. E. S & Paz J. D. S. 2013. Fácies do Grupo Bauru, município de Chapada dos Guimarães –

MT. In: Latin American Congress Of Sedimentology, São Paulo, São Paulo, 6p.

37. Lacerda Filho J. V., Abreu Filho W., Valente C. R., De Oliveira C. C., Albuquerque M. C. 2004.

Geologia e recursos minerais do Estado de Mato Grosso, Escala 1:1000.000., (1ª ed..) CPRM.

Convênio CPRM/SIMCE, Goiânia, Brasil, 252p.

38. Lancelot Y. 1973. Chert and silica diagenesis in sediments from the Central Pacific. In Winterer, E. L.,

and Ewing, J. I., Init. Repts. DSDP, Washington (U.S. Govt. Printing Office), 17:377-405.

39. Madsen B. H., Stemmerik L. 2010 Diagenesis of Flint and Porcellanite in the Maastrichtian Chalk at

Stevns Klint, Denmark. Journal of Sedimentary Research, Vol. 80, 578-588 p.

40. Mange M. A., & Maurer Heinz F. W. 1992. Heavy Minerals in colour. Chapman & Hall. London,

p:230.

41. Marques L. S. & Ernesto M. 2004. O magmatismo Toleítico da Bacia do Paraná. In: V. Mantesso-

Neto, A. Bartorelli, C.D.R. Carneiro, B.B. Brito-Neves (Coordenadores), Geologia do Continente Sul-

Americano: Evolução da obra de Fernando Flávio Marques de Almeida. São Paulo, SBG-SP, 1a ed.,

Editora Beca, p. 245-263.

42. Marzoli A., Renne P. R., Piccirillo E. M., Ernesto M., Bellieni G., De Min A. 1999. Extensive 200-

million-year-old continental flood basalts of the Central Atlantic Magmatic Province. Science,

284:616-618.

43. Miall A. D. 1990. Principles of sedimentary basin analysis. 2ª edição, Springer Verlag, 668 p.

44. Milani E. J. 1997. Evolução tectono-estratigráfica da Bacia do Paraná e seu relacionamento com a

geodinâmica fanerozóica do Gondwana sul-ocidental. Instituto de Geociências, Universidade Federal

do Rio Grande do Sul, Tese de Doutoramento, 255 p

45. Milani E. J., Melo J. H. G., Souza P. A., Fernandes L. A., França A. B. 2007. Bacia do Paraná. In

Cartas Estratigráficas. Boletim de Geociências da Petrobrás v.15. n.2.

46. Morton A. C., Hallsworth, C., 2007. Stability of detrital heavy minerals during burial diagenesis. In:

Mange, M.A., Wright, D.T. (Eds.), Heavy Minerals in Use. :Developments in Sedimentology

Series, 58. Elsevier, Amsterdam, pp. 215–245.

47. Nesbitt H. W., Fedo C. M., Young G. M., 1997. Quartz and feldspar stability, steady and non-steady-

state weathering, and petrogenesis of siliciclastic sands and muds. Journal of Geology 105: 173–191.

48. Oliveira M. A. M. de & Muhlmann, H. 1965. Geologia de semi-detalhe da região de Mutum, Jaciara,

São Vicente e Chapada dos Guimarães. Relatório técnico da PETROBRAS, (Documento interno,

N.o 300.) 63 p.

Page 74: Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do … · ii DISSERTAÇÃO DE MESTRADO N°53 Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do Cambambe, Chapada dos Guimarães, Mato

62

49. Pettijohn P. J., Potter P. E., Siever R. 1987. Sand and Sandstone. Springer-Verlag, New York. 553p.

50. Powers M. C., 1953. A new roundness scale for sedimentary particles. Journal of Sedimentary

Petrology 23:117–119.

51. Pye K., Mazzullo J., 1994. Effects of tropical weathering on quartz grain shape: anexample from

northeastern Australia. Journal of Sedimentary Research A 64:500–507.

52. Ribeiro D. T. P. 2001. Diagênese das rochas do membro Serra da Galga, Formação Marília, Grupo

Bauru (Cretáceo da Bacia do Paraná), na região de Uberaba, Minas Gerais. Revista Brasileira de

Geociências, 31: 7-12 .

53. Riccomini C. 1997. Arcabouço estrutural e aspectos do tectonismo gerador e deformador da Bacia do

Bauru no estado de São Paulo. Revista Brasileira de Geociências, v. 2, n. 27, p. 153-162.

54. Roxo M. G. O. 1937. Notas geológicas sobre a Chapada do Mato Grosso. Rio de Janeiro, Serviço

Geológico e Mineralógico, Notas Preliminares e Estudos, v. 15, p. 4-7,

55. Schneider R. L., Muhlmann H., Tommasi E., Medeiros R. A., Daemon R. F., Nogueira A. A. 1974.

Revisão estatigráfica da Bacia do Paraná. In: Congresso Brasileiro de Geologia, 28., Porto Alegre.

Anais...Porto Alegre: SBG p. 41-65.

56. Schobbenhaus C., Campos D. de A., Derze G. R., Asmus H. E. 1984. (eds.) Geologia do Brasil; texto

explicativo do mapa geológico do Brasil e da área oceânica adjacente incluindo depósitos minerais.

Brasília, MME/DNPM, 501 p.

57. Scholle P. A., 1979. A Color Illustrated Guide to Carbonate Rock Constituents, Textures, Cements,

and Porosities: Tulsa, OK, American Association of Petroleum Geologists Memoir 27: 241 p.

58. Silva, D. G. Q. R. 2014. A Bacia Cretácea de Poxoréo, porção centro-sul do Estado de Mato Grosso,

Dissertação (Mestrado) – Instituto de Ciências Exatas e da Terra, Universidade Federal de Mato

Grosso. 54 p.

59. Silva, G.D.; Rubert, R.R.; Barros, A.J.P. De. 2003. Projeto Caulim do Xingu: mapeamento geológico,

escala 1: 100.000. Cuiabá: Companhia Mato-Grossense de Mineração (METAMAT), Relatório

Técnico, 88 p.

60. Souza, A. B. S., Kuhn, C. E. S., Hirooka, S. H. 2011. Sauropodes e Teropode da Chapada dos

Guimarães, Mato Grosso, Brasil. In: Congresso Brasileiro De Paleontologia, Natal, Rio Grande do

Norte, 22p.

61. Stanistreet I. G & Mccarthy T. S. 1993. The Okavango Fan and the classification of fan systems.

Sedimentary Geology, v. 85, p. 115–133.

62. Stradioto M. R., Chang H. K., Caetano-Chang M. R. 2008. Caracterizaçāo petrográfica e aspectos

diagenéticos dos arenitos do Grupo Bauru na regiāo sudoeste do Estado de Sāo Paulo. Revista Escola

de Minas, v. 61, n. 4, p. 433-441.

63. Surdam R. C., Crossey L. J., Hagen, E. S., Heasler, H. P. 1989. Organic–inorganic interactions and

sandstone diagenesis: American Association of Petroleum Geologists Bulletin, 73: 1–23.

Page 75: Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do … · ii DISSERTAÇÃO DE MESTRADO N°53 Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do Cambambe, Chapada dos Guimarães, Mato

63

64. Tucker M. E. 2003. Sedimentary Rocks in the Field (Geological Field Guide). Blackwell Science, 244

p.

65. Turner G., Morton A. C., 2007. The effects of burial diagenesis on detrital heavy mineral grain surface

textures. In: Mange, M.A., Wright, D.T. (Eds.), Heavy Minerals in Use. : Developments in

Sedimentology Series, 58. Elsevier, Amsterdam, pp. 393–412.

66. Ulbrich, M. N. C., Marques, L. S., Lopes, R. P. As ilhas vulcânicas brasileiras: Fernando de Noronha e

Trindade. In: V. Mantesso-Neto, A. Bartorelli, C. D. R. Carneiro, B. B. de B. Neves, coords. Geologia

do Continente Sul-Americano: Evolução da Obra de Fernando Flávio Marques de Almeida. São Paulo:

Beca.p. 555-573. 2004.

67. Ussami N., Shiraiwa S., Dominguez J. M. L. 1999. Basement reactivation in a sub-Andean foreland

flexural bulge: The Pantanal wetland, SW Brazil. Tectonics, 18: 25-39.

68. Verrechia, E. P. 2007. Lacustrine and palustrine geochemical sediments. In: Geochemical sediments

and landscapes (Edited by David J. Nash and Sue J. McLaren), Oxford, Blackwell Publishing Ltd. p.

298-329.

69. Walker T. R., Waugh B., Crone A. J. 1978. Diagenesys in first cycle desert alluvium of /Cenozoic age,

South western United States and nortwesthern Mexico. GSA Bull., 89:19–32.

70. Weska R. K. 1987. Placers Diamantíferos da Região de Água Fria, Chapada dos Guimarães - MT.

Dissertação de Mestrado, Instituto de Geociências, Universidade de Brasília, Brasília, DF. 170 p.

71. Weska, R. K. 1996. A Geologia e a Evolução Geológica de Região Diamantífera compreendida entre

os Municípios de Dom Aquino e General Carneiro, Mato Grosso. Tese de Doutoramento, Instituto de

Geociências, Universidade de São Paulo, São Paulo, SP. 219 p.

72. Weska R. K. 2006. Uma síntese do Cretáceo superior matogrossense. Geociências, UNESP, v. 25, n.

1, p. 71-81.

73. White J. F., Corwin J. F. 1961. Synthesis and origin of chalcedony: Am. Mineralogist, v. 46, p 112-

119.

74. Williams H., Turner F. J., Gilbert C. M. 1970. Petrografia- Uma Introdução ao Estudo das Rochas em

Seções Delgadas. Universidade de São Paulo, São Paulo, Brasil, 445 pp.

75. Zalán P. V. 1984. Tectonics and sedimentation of the Piauí-Camocim sub-Basin Ceará Basin offshore

northeastern Brazil (unpubl. Ph. D. thesis). Golden, Colorado, Colorado School of Mines, 128 p.

76. Zalán P. V. 2004. Evolução fanerozóica das bacias sedimentares brasileiras. In: V. Mantesso-Neto; A.

Bartorelli; C. D. R. Carneiro; B. B. Brito-Neves, (Coords.) Geologia do continente sul-

americano. Evolução da obra de Fernando Flávio Marques de Almeida. São Paulo: Ed. Beca, p. 245-

263.

Page 76: Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do … · ii DISSERTAÇÃO DE MESTRADO N°53 Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do Cambambe, Chapada dos Guimarães, Mato

64

ANEXO

MAPA DE PONTOS

Page 77: Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do … · ii DISSERTAÇÃO DE MESTRADO N°53 Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do Cambambe, Chapada dos Guimarães, Mato

65

ARTIGO SUBMETIDO

SUCESSÃO CRETÁCEO-TERCIARIA, BACIA CAMBAMBE, NO

MUNICÍPIO DE CHAPADA DOS GUIMARÃES, MATO GROSSO.

Caiubi Emanuel Souza Kuhn¹ & Jackson Douglas Silva da Paz²

¹ Discente do Programa de Pós-Graduação em Geociências, Departamento de Recursos

Minerais, Instituto de Ciências Exatas e da Terra, Universidade Federal de Mato Grosso.

Avenida Fernando Correa, s/n – Boa Esperança. CEP 78060-900. Cuiabá, MT. Endereço

eletrônico: [email protected]

² Docente do Departamento de Recurso Minerais, Instituto de Ciências Exatas e da Terra,

Universidade Federal de Mato Grosso. Avenida Fernando Correa, s/n – Boa Esperança. CEP

78060-900. Cuiabá, MT. Endereço eletrônico: [email protected]

ABSTRACT

This paper presents data analysis of facies rocks of Cretaceous Basin Cambambe, outcropping

in the municipality of Chapada dos Guimarães, in which were interpreted from the four

paleoenvironment data: debris flow, collapse of turbulent flow and paleoenvironment fill

channel, paleoenvironment of paleosols representing the evolution of an environment of

alluvial fans in the upper Cretaceous between the Santonian and Maastrichtian floors. The

differences between the lithological framework facies associations suggests a discrepancy

between the Cretaceous deposition, represented respectively by sediment formations Ribeirão

Boiadeiro Cambambe the base and the top.

RESUMO

O presente trabalho apresenta dados de análise de fácies, de rochas cretáceas da Bacia

Cambambe, aflorante no município de Chapada dos Guimarães, na qual foram interpretados a

partir dos dados quatro paleoambiente: fluxo de detritos, Colapso de fluxo turbulento e

Paleoambiente de preenchimento de canais, Paleoambiente de paleossolos representando a

evolução de um ambiente de leques aluviais, no cretáceo superior entre os andares Santoniano

e Maastrichtiano. As diferenças do arcabouço litológico entre as associações de fácies sugere

uma discordância entre a deposição cretácea, representada respectivamente pelos sedimentos

das formações Ribeirão Boiadeiro na base e Cambambe no topo.

Palavras chaves: Bacia Cambambe, fácies sedimentares, Chapada dos Guimarães.

Page 78: Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do … · ii DISSERTAÇÃO DE MESTRADO N°53 Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do Cambambe, Chapada dos Guimarães, Mato

66

INTRODUÇÃO

Os sedimentos cretáceos do Município de Chapada dos Guimarães - MT são conhecidos

desde século XIX devido à ocorrência de registros fósseis de dinossauros (Derby, 1890;

Roxo, 1937). Em Mato Grosso, diamante também se integrou ao rol de interesses que as

rochas originadas no Cretáceo despertaram na sociedade (Weska, 1987). Há o vulcanismo

associado às rochas cretáceas que as tornam uma sucessão vulcano-sedimentar que pode levar

a entender as diversas possibilidades de evolução de terrenos localizadas na porção mais

interior das placas tectônicas. Uma destas contribuições tem sido o trabalho de Gibson et al.,

(1997) em que, pela análise litogeoquímica dos corpos intrusivos presentes na região do

entorno do município de Poxoréo, se interpretou a formação de um rifte intracontinental

(conhecido por rifte Rio das Mortes) no final do Cretáceo com mobilização de material

mantélico para a porção supracrustal. A partir de então, poucos trabalhos de detalhe foram

realizados nas rochas cretáceas de Mato Grosso. Diversos esforços foram recentemente

empreendidos novamente a fim de entender a complexidade da geologia do Cretáceo. Teses

de doutorado (Rogério Rupert, informação oral) e mestrado (Silva, 2014) estão em fase de

apresentação de resultados o que mostra o interesse que estas rochas despertam.

Não é para menos. A região conhecida por centro-sul do estado de Mato Grosso em que se

insere o município de Chapada dos Guimarães é rica em contextos geológicos diversos que se

entrecruzam ao longo do tempo e permitem à região uma configuração única sobre a evolução

de terrenos plataformais interiores. Esta configuração reúne a atuação temporal de falhas

continentais e regionais, orógenos antigos e bacias sedimentares em diversos estágios de

evolução. Aqui se resgata o trabalho de Coimbra (1991), que individualizou diversas bacias

cretáceas na região centro-sul de Mato Grosso, a saber: Cambambe, Poxoréo, Itiquira, as

quais apresentam dimensões de poucos milhares de quilômetros quadrados, entre outras

bacias menores referenciadas apenas como grábens. A exumação destas bacias cretáceas por

Page 79: Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do … · ii DISSERTAÇÃO DE MESTRADO N°53 Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do Cambambe, Chapada dos Guimarães, Mato

67

causa de erosão diferencial e/ou mesmo tectonismo cenozóico permite mensurar diversos

parâmetros geológicos úteis ao entendimento do contexto geotectônico, da gênese e da

evolução destas bacias e da Plataforma Sul-americana, em última instância. Parâmetros como

sedimentação, vulcanismo, deslocamento de massas rochosas, formação de novas paisagens e

rearranjo de bacias hidrográficas são alguns destes (Allen & Allen, 2005). Não é uma tarefa

fácil discorrer sobre as mudanças ocorridas em uma bacia sedimentar sem causar

controvérsia. Mas algumas bacias são tão características que suas particularidades precisam

ser entendidas em profundidade e descritas em detalhe para que as mudanças tectônicas que a

tocaram ao longo do tempo sejam testadas e comprovadas. Para esta tarefa, foi escolhida a

bacia sedimentar Cambambe com vista a sua caracterização litológica, sedimentar e tectônica.

Nota-se, na literatura, uma grande divergência entre os autores sobre a compartimentação

tectônica e sedimentar dos depósitos cretáceos (Milani et al., 2007; Coimbra, 1991; Weska,

2006). Para contribuir nesta discussão, este trabalho visa à análise de fácies e arranjo

estratigráfico dos depósitos cretáceos da Bacia Cambambe com a intenção de interpretar o

antigo meio ambiente que deu origem a estes depósitos. Por fim, se propõe um modelo

deposicional com base nesta interpretação. Os estudos deste trabalho foram realizados nas

proximidades das comunidades de Jão Carro, Jangada Roncador, Fazenda Rancho Queimado,

Cachoeira Rica (também conhecida por Peba) e Morro do Cambambe (Figura 1).

BACIAS CRETÁCEAS DE MATO GROSSO

Existe uma divergência sobre a que compartimento tectônico os sedimentos cretáceos de

Mato Grosso pertencem. A princípio, dada a escala continental da Bacia do Paraná, com cerca

de 1,5 milhão de quilômetros quadrados e quase 7 mil metros de espessura, toda sedimentação

mesozóica da porção centro-sul de Mato Grosso foi considerada como depósitos tardios de

evolução da Bacia do Paraná (Almeida, 1964; Milani et al., 2007). Contudo, a evolução

tectônica e sedimentar da porção mais setentrional da Bacia do Paraná é muito diferente das

Page 80: Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do … · ii DISSERTAÇÃO DE MESTRADO N°53 Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do Cambambe, Chapada dos Guimarães, Mato

68

demais porções da Bacia do Paraná. Por isso, ela tem sido considerada como uma estrutura

tectônica subordinada denominada Plataforma de Alto Garças (Zalán, 2004), semelhante à

uma sub-bacia.

Figura 1 - Mapa de localização.

Como citado ainda na introdução, (Coimbra, 1991) notou-se e individualizou-se a presença

de diversas bacias instaladas sobre a Plataforma de Alto Garças cuja idade cretácea era

comum a todas (Figura 2). Para efeito de comparação, note que mais tarde Riccominni (1997)

demonstrou que os sedimentos cretáceos nos estados de São Paulo e Minas Gerais formam

uma estrutura à parte da Bacia do Paraná, condicionada por esforços mecânicos e de

subsidência termal associada com os derrames da Formação Serra Geral. A Formação Serra

Geral tem derrames e intrusões magmáticas mais antigas que aquelas observadas em Mato

Grosso (Gibson et al., 1997; Marques & Ernesto, 2004). É possível depreender dos trabalhos

de Ricominni (1997) e Fernandes & Coimbra (2000) que o Cretáceo possui estilo tectônico e

Page 81: Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do … · ii DISSERTAÇÃO DE MESTRADO N°53 Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do Cambambe, Chapada dos Guimarães, Mato

69

evolução térmica tão diferenciada da Bacia do Paraná que a melhor explicação é a

sobreposição geográfica de bacias sedimentares com idades distintas: a Bacia Bauru nos

estados de São Paulo, Minas Gerais, Paraná e Goiás e as bacias Cambambe, Poxoréo, Itiquira,

Diamantino e General Carneiro em Mato Grosso (cf. Coimbra, 1991; Lacerda Filho et al.,

2004), todas encaixadas sobre a Bacia do Paraná.

Figura 2: Mapa geológico modificado de Silva (2014), destacando a plataforma de alto

Plataforma de Alto Garças, conforme Coimbra (1991) e Lacerda Filho et al. (2004).

Individualizadas por Coimbra (1991) e localizada a noroeste da Antéclise de

Rondonópolis, às Bacias Cambambe e Poxoréo não possuem um limite claro entre si, devido

as duas estarem contidas na mesma estrutura, limitada ao norte e noroeste pelas rochas

Page 82: Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do … · ii DISSERTAÇÃO DE MESTRADO N°53 Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do Cambambe, Chapada dos Guimarães, Mato

70

metamórficas da Faixa Paraguai, ao sudoeste pelo Arco de São Vicente, a noroeste, sul e leste

pela Bacia do Paraná sendo que a falha de Poxoréo se apresente com limite estrutural a

sudeste. O preenchimento de ambas as bacias se deu com uma sequência vulcano-sedimentar.

O embasamento da Bacia do Cambambe (Figura 3) é formado pelas rochas metamórficas

neoproterozóicas do Grupo Cuiabá e pelas formações Ponta Grossa, Furnas e Botucatu

pertencentes à Bacia do Paraná. A origem das bacias cretáceas de Mato Grosso é assim

entendida: Coimbra (1991) sugere que esforços tectônicos, relacionados ao Lineamento

Transbrasiliano, levaram à formação do que o autor chamou de Antéclise de Rondonópolis. A

movimentação desta antéclise propiciou a instalação de altos estruturais e grábens, onde

ocorreu a deposição preferencial dos sedimentos cretáceos. A estes se associou o vulcanismo

pertinente. No caso da Bacia Cambambe, a atividade magmática da província ígnea de

Poxoréo. Este evento magmático marca a chegada da Pluma de Trindade por volta de 84 Ma

sob a placa Sul-americana e seu registro geológico são as rochas ígneas da Formação Paredão

Grande (Weska, 1987; Gibson et al., 1997). Ulbrich et al. (2004), ao estudar as rochas

magmáticas nas ilhas litorâneas da plataforma continental brasileira, explica o processo de

vulcanismo cretáceo por meio de refusão de fragmentos litosféricos subcontinentais,

desmembrados durante a ruptura e posteriormente remobilizados em processo de fusão.

Assim, formavam-se câmaras magmáticas intermediárias numa estrutura complexa com a

possível existência de vários magmas parentais. Contudo, a predominância de magmas com

identidade geoquímica semelhante àquela de magmas de ilha oceânica (tipo OIB) em que são

notadas razão de elementos-traços incompatíveis e razões isotópicas de 87

Sr/86

Sr iguais a

0,704 e 143

Nd/144

Nd iguais a 0,51274 (Gibson et al., 1997) têm sido fortes argumentos a favor

de um contexto tectônico de extensão litosférica e extrusão de material mantélico por meio de

um rifte. Posteriormente, com a migração da Placa Sul-americana para o oeste, após o

impacto da pluma, a província ígnea de Poxoréo estaria localizada fora da zona do manto de

Page 83: Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do … · ii DISSERTAÇÃO DE MESTRADO N°53 Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do Cambambe, Chapada dos Guimarães, Mato

71

ressurgência, o que levou à extinção do rifteamento na região (Gibson et al., 1997). Existem

com tudo, autores que discordam da hipótese de que sugere uma relação entre o magmatismo

com uma pluma. Rochas ultramáficas-alcalinas aflorantes no município de Planalto da Serra

foram datadas por De Min et al. (2013) em 600 Ma e devido as características do magma

semelhantes entre os eventos magmáticos de 600 Ma e 84 Ma sugere que seja improvável a

hipótese de envolvimento da pluma proposta por Gibson et al. (1997).

Figura 3: Mapa geológico conforme Lacerda Filho et al. (2004), destacando os afloramentos

cretáceos da Bacia Cambambe até então relacionados ao Grupo Bauru.

ESTRATIGRAFIA DA BACIA CAMBAMBE

As rochas cretáceas aflorantes na região de Chapada dos Guimarães foram relacionadas

inicialmente aos sedimentos da então Série Bauru por Bauer & Largher (1958). Desde então,

tem sido senso comum incluir os sedimentos cretáceos de Mato Grosso no Grupo Bauru como

observado em diversos trabalhos de detalhe e de cunho mais regional (Almeida, 1964;

Oliveira & Mulhmann, 1965; Gonçalves & Schneider, 1970; Barros et al., 1982; Weska,

1987; Coimbra, 1991; Gibson et al., 1997; Silva, 2014). A Bacia Cambambe recebeu

Page 84: Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do … · ii DISSERTAÇÃO DE MESTRADO N°53 Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do Cambambe, Chapada dos Guimarães, Mato

72

pungentes depósitos cretáceos e escassos depósitos terciários, cuja litoestratigrafia se atribui

ao Grupo Bauru (K) e à Formação Cachoeirinha (N) (Figura 4), que registram diferentes

estágios de evolução tectônica do paleorifte Rio das Mortes dentro da Bacia Cambambe.

Figura 4 – Quadro da estratigrafia da Bacia Cambambe a partir da integração dos trabalhos de

(Coimbra, 1991), (Weska, 2006) e (Silva, 2014). As fases tectônicas foram interpretadas a

partir dos conceitos de (Allen & Allen, 2005).

As rochas cretáceas aflorantes em Chapada dos Guimarães estavam até então englobadas

na estratigrafia do Grupo Bauru. Mais recente Weska (2006), revisando Almeida (1964), cita

que este foi o primeiro a notar as semelhanças entre os sedimentos cretáceos da porção centro-

sul de Mato Grosso e os arenitos do Grupo Parecis, na porção norte do estado, na Bacia de

Parecis. Com base nesta semelhança litológica, Weska (2006) propõe que seja abandonado o

termo Grupo Bauru no estado de Mato Grosso e os sedimentos cretáceos sejam então

incluídos no Grupo Parecis da Bacia de Parecis. Por outro lado, os trabalhos de Weska (1987)

e Coimbra (1991) são mais úteis ao entendimento da estratigrafia e preenchimento da Bacia

Cambambe. Este trabalho propõe, a utilização do termo Grupo Manso para a sequência

constituída da base para o topo durante o Cretáceo e terciário na Bacia Cambambe, assim

como nas demais bacias cretáceas da porção centro-sul de Mato Grosso, por questão de

prioridade, obedece a divisão proposta por Coimbra (1991) para as rochas terrígenas e inclui a

assertiva de Weska (1996) para as rochas magmáticas aflorantes na bacia. Assim, o Grupo

Manso na área de estudo se constitui de: (a) rochas magmáticas e vulcanoclásticas encerradas

na Formação Paredão Grande; esta é contemporânea e se intercala em sua porção mais basal à

Page 85: Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do … · ii DISSERTAÇÃO DE MESTRADO N°53 Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do Cambambe, Chapada dos Guimarães, Mato

73

(b) Formação Ribeirão Boiadeiro; sobre estas, por contato discordante paralelo, ocorre (c) a

Formação Cambambe e por fim a Formação Cachoeirinha, depositada em algum tempo após

o principal episódio de laterização da Bacia Cambambe e arredores.

A Formação Paredão Grande foi proposta por Weska (1996) para agrupar rochas

piroclásticas grossas e finas, derrames e diques associados que ocorrem nos munípios de

Chapada dos Guimarães, Dom Aquino, Paranatinga, Poxoréu, distrito de Paredão Grande e

Colônia Indígena Meruri. As principais rochas hospedeiras destes corpos são o Grupo Cuiabá

e as formações Aquidauana, Botucatu e Ribeirão Boiadeiro. Aqueles autores propõem que a

Formação Paredão Grande está relacionada à primeira fase rúptil do rifte Rio das Mortes

(Weska, 2006) e que a fase principal ocorreu por volta de 83,9 ± 0,4 Ma (método 40

Ar/39

Ar,

Gibson et al., 1997). Segundo Gibson (1997), os diques e lavas são caracterizadas por

elevados teores de SiO2 (53 ± 56% do peso) e Na2O + K2O (5 ± 7% em peso) classificadas

como basalto-trachyandesitos e trachyandesitos.

A Formação Ribeirão Boiadeiro foi proposta por Coimbra (1991). Ela engloba

conglomerados polimíticos com clastos abundantes de rochas vulcânicas e arenitos mal

selecionados róseos a vermelhos. Esta descrição corresponde às fácies Quilombinho e

Cachoeira do Bom Jardim, respectivamente, identificadas por Weska (1987) que, contudo não

chegaram a ser formalizadas como unidades estratigráficas no trabalho de então. A deposição

da Formação Ribeirão Boiadeiro é correlata à atividade vulcânica da Formação Paredão

Grande, uma vez que os seus sedimentos também são cortados por diques. A fácies

Quilombinho se constitui de conglomerado polimítico, argilito e arenitos conglomerático,

siltitos e arenitos conforme descrito por Weska (1996, 2006). As camadas possuem geometria

lenticular, secundariamente tabular. A fácies Cachoeira do Bom Jardim constitui-se de

conglomerados polimíticos, compostos por seixos e matacões de arenitos, quartzo,

quartzarenitos e por rochas ígneas de natureza básica. O cimento é principalmente

Page 86: Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do … · ii DISSERTAÇÃO DE MESTRADO N°53 Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do Cambambe, Chapada dos Guimarães, Mato

74

carbonático. As estruturas primárias são lâminações plano-paralelas e estratificações cruzadas,

cruzadas acanaladas a tangenciais. As calcretes ocorrem em bancos espessos interdigitados

nos arenitos e argilitos conglomeráticos, em arenitos e arenitos argilosos. As cores dos

pacotes são vermelha, rosa e branca (Weska, 1987, 2006). Estas fácies correspondem a um

sistema de leques aluviais, na qual a Fácies Quilombinho corresponde a porções proximais de

leques aluviais, e a Fácies Cachoeira do Bom Jardim representa as porções intermediárias de

leques aluviais em clima semi-árido (Weska, 1987).

A Formação Cambambe possui contato discordante paralelo com a Formação Ribeirão

Boiadeiro, e com a Formação Botucatu e discordante angular com o Grupo Cuiabá. O contato

superior é discordante com a Formação Cachoeirinha. Esta formação é constituída por

arenitos de cores predominantes branca, creme e cinza com raros conglomerados polimíticos,

e em pacotes, o arcabouço aberto (Weska, 2006). Esses depósitos foram interpretados por

Weska (1996) como porções distais de um sistema de leques aluviais desenvolvidos em clima

semi-árido a extremo árido.

Posterior à sequência cretácea ocorreu a deposição da Formação Cachoeirinha de idade do

Terciário recobrindo os sedimentos cretáceos por discordância erosiva. Coimbra (1991)

relaciona esta sedimentação a uma deposição posterior à principal atividade tectônica da

Antéclise de Rondonópolis. Schneider et al. (1974) proprôs que a Formação Cachoeirinha

teve sua origem em um ambiente fluvial sob condições climáticas oxidantes.

RESULTADOS

Na bacia Cambambe, foram visitados mais de uma centena de pontos para se observar a

constituição física das rochas cretáceas existes. Predominam arenitos e conglomerados,

pelitos são pouco expressivos.

Page 87: Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do … · ii DISSERTAÇÃO DE MESTRADO N°53 Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do Cambambe, Chapada dos Guimarães, Mato

75

Os afloramentos podem chegar a poucas dezenas de metros, mas raramente ultrapassam os

dois metros de espessura. O mais comum na área de estudo foi sua ocorrência como pisos

chatos e delgados solos residuais que permitiam inferir a rocha sedimentar protolítica. Os

afloramentos descritos são esquematizados através de seções estratigráficas (Figura 5) e uma

seção geológica (Figura 6)confeccionadas para retratar a geologia local. A seguir são descritas

as fácies observadas na área de estudo e sua interpretação paleoambiental.

FÁCIES CONGLOMERADO POLIMÍTICO

Ela se constitui de blocos e matacões, bem arredondados, de composição variada em que se

destacam rochas vulcânicas diversas (p.e., tufos e ignimbritos argilizados com estruturas de

vesículas e amígdalas); e também seixos de quartzitos, arenitos (provavelmente jurássicos),

quartzo leitoso e raramente xisto ou filito (Figura 7). Esta fácies se distribui por toda a área de

estudo, ainda que sua fácil alteração dada a constituição do seu arcabouço torne sua distinção

não tão fácil. Nos raros afloramentos em que se pode observar o empilhamento de suas

camadas, notou-se que suas espessuras são desde centimétricas até 3 m. Não são notadas

estruturas primárias. Por causa disso, não se tem notas do paleofluxo desta fácies. A

geometria é tabular com certa uniformidade na espessura e não há uma trama que se destaque

no conjunto dos clastos do conglomerado (Figura 8). Esta fácies é identificada na base dos

pacotes rochosos e no topo é ausente.

FÁCIES CONGLOMERADO OLIGOMÍTICO

É constituída por de blocos e matacões, bem arredondados, quartzitos e quartzo leitoso

identificados nas seções de topo na área de estudos. Nos afloramentos a qual esta fácies foi

observada ela varia de centímetros a no máximo 2 metros, a geometria pode ser lenticular ou

tabular, não é possível medir paleofluxo desta fácies.

Page 88: Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do … · ii DISSERTAÇÃO DE MESTRADO N°53 Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do Cambambe, Chapada dos Guimarães, Mato

76

Figura 5 – Distribuição arquitetônica dos perfis estratigráficos descritos.

Page 89: Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do … · ii DISSERTAÇÃO DE MESTRADO N°53 Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do Cambambe, Chapada dos Guimarães, Mato

77

Figura 6– Secção geológica entre os rios Casca e Quilombo.

Figura 7: Blocos e matacões, bem arredondados, de composição variada de rochas vulcânicas

diversas (p.e., tufos e ignimbritos argilizados com estruturas de vesículas e amígdalas); e

seixos de quartzitos, arenitos, quartzo leitoso e raramente, xisto ou filito.

Page 90: Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do … · ii DISSERTAÇÃO DE MESTRADO N°53 Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do Cambambe, Chapada dos Guimarães, Mato

78

Figura 8: Em destaque a geometria é tabular com certa uniformidade na espessura e não há

uma trama que se destaque no conjunto dos clastos do conglomerado.

FÁCIES ARENITO

Esta é a fácies mais abundante na área de estudo. Pode ser dividida em duas classes:

litarenitos e quartzarenitos.

Litarenitos: Em campo, são róseos com outras cores subordinadas, granulometria média

em matriz silto-argilosa. Contudo, são mal selecionados com presença comum de seixos e

blocos dispersos em meio ao litarenito, em geral, litoclastos de vulcânicas. Esta fácies possui

estruturas sedimentares diversas e geometria tabular com eventual espessamento e

adelgaçamento lateral. Ela possui restos de fósseis de dinossauros terrestres (Figura 9) e

porções marcadas por cimentação intensa de sílica e de carbonato. As espessuras são variadas:

onde é possível notar o contato das camadas de arenito, nota-se que estas têm espessuras

desde centimétricas até 1 m (Figura 10); onde não se nota o contato das camadas de arenito

entre si, esta fácies podem chegar à dezena de metros de espessura, nesta condição, em geral,

possui aspecto maciço. Nas camadas mais delgadas podem ser observadas estruturas

sedimentares: 1) laminação plano paralela com linhas de minerais pesados; 2) laminação

Page 91: Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do … · ii DISSERTAÇÃO DE MESTRADO N°53 Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do Cambambe, Chapada dos Guimarães, Mato

79

cruzada de baixo ângulo; 3) acamamento amalgamado (camadas de 5 a 10 cm; ou ainda); 4)

estratificação cruzada tabular tangencial são raramente vistas, provavelmente por causa da

alteração da rocha e afloramentos pouco preservados; 5) formação de raras almofadas e

estruturas de sobrecarga; 6) depósitos residuais de seixos e grânulos; 7) fraturamento e

brechamento por exposição com formação de vênulas brancas; 8) superfícies de acamamento

e de reativação realçadas pela presença de filmes e lâminas de sílica em meio ao arenito

maciço; e 9) vênulas horizontais e oblíquas com textura boxwork. Ocorrem também tubos de

quase 30 cm de comprimento, ornamentados, ramificados em Y invertido e com parede

espessa de ate 8 mm. O centro do tubo é preenchido com cimento de carbonato.

Figura 9: Restos fósseis de dinossauros terrestres encontrados na área de estudo.

Quartzoarenito: Em campo, têm cor de laranja a vermelho, são preferencialmente friáveis,

livres de matriz, moderadamente a bem selecionados e maciços. Tal qual a fácies litarenito,

também apresenta grânulos e mais raramente seixos dispersos. Estes clastos, contudo, tendem

a ser de silexito e, mais raro, apenas de quartzo (composição oligomítica). Estas camadas

ocupam uma posição estratigráfica preferencial: ocorrem nas porções mais altas da seção

Page 92: Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do … · ii DISSERTAÇÃO DE MESTRADO N°53 Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do Cambambe, Chapada dos Guimarães, Mato

80

geológica estudada. Nestes, as camadas são delgadas (até 10 cm), formando pacotes

amalgamados ou com granodecrescência. No topo das camadas granodecrescentes, pode

ocorrer filmes de pelitos com delicadas estruturas antigas de gretação.

Figura 10: Camadas com espessuras variadas, onde é possível notar o contato das camadas de

arenito, nota-se que estas têm espessuras desde centimétricas até 1 m.

A bioturbação também é notada eventualmente nas camadas de quartzarenito. Elas se

caracterizam como tubos verticais a oblíquos, de 2 a 3 cm de tamanho, difusos e quase

indistintos. Ou em camadas com aspecto mosqueado ao lado de marcas de raízes parcialmente

silicificadas. Estruturas biogênicas não são incomuns e se mostram como: tubos verticais e

ramificados, silicificados, sem ornamentação e com preenchimento idêntico à rocha

hospedeira; e) como icnofósseis semelhantes aos traços deixados por inseto (besouro ou

formiga) (Figura 11).

Page 93: Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do … · ii DISSERTAÇÃO DE MESTRADO N°53 Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do Cambambe, Chapada dos Guimarães, Mato

81

Figura 11: Icnofósseis semelhantes aos traços deixados por inseto (besouro ou formiga).

FÁCIES SILTITOS E PELITOS

Siltitos e pelitos. São raras estas camadas e quando ocorreram, estiveram associadas com

os litarenitos. Apresentam cor rósea e camadas de poucos centímetros de espessura.

Internamente, pode-se notar laminação plano paralela, embora seja mais comum estas

camadas serem maciças. O fraturamento é uma estrutura comum nestas camadas e leva à

disjunção estrutural da camada e formação de estruturas do tipo peds (Figura 12) tanto

verticais quanto horizontais. Ao longo dos planos de fratura, ocorre intensa lixiviação. Estas

camadas possuem aspecto mosqueado ao lado de marcas de raízes parcialmente silicificadas.

MODELO PALEOAMBIENTAL

Historicamente, os depósitos do Cretáceo aflorantes no município de Chapada dos

Guimarães têm sido atribuídos à evolução de ambientes continentais de um sistema aluvionar

(Weska, 1987; Coimbra, 1991).

Page 94: Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do … · ii DISSERTAÇÃO DE MESTRADO N°53 Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do Cambambe, Chapada dos Guimarães, Mato

82

Figura 12: Siltito, fragmentado e com disjunção estrutural da camada e formação de estruturas

do tipo peds tanto verticais quanto horizontais.

Na área de estudo, os resultados obtidos permitem inferir uma distribuição de fácies

conforme o modelo de Stanistreet & McCarthy (1993), ou seja, os depósitos de fluxo detrítico

com intercalações de fluxo turbulento, são correspondentes aos depósitos proximais ou

superiores que estão localizados próximos à escarpa, seguidos por depósitos de fluxo

turbulento e na porção mais distal, predominam os depósitos de canais e paleossolos.

Estas fácies apresentam depósitos com geometria tabular ou lenticulares em escala de

campo, ora com certa uniformidade na espessura, ora com eventual espessamento e

adelgaçamento lateral, aliada à trama livre de organização espacial dos grãos, sugerem a

porção mais espraiada proximal a mediana deste sistema de ambientes aluvionares. O sistema

aluvionar se caracteriza pelo ajuntamento de ambientes subaquosos, subaéreos e um misto

entre ambos que se interdigitam continuamente no tempo.

Nas associações de fácies possuem o predomínio camadas arenosas, com geometria tabular

ou lenticular, espessas, muitas vezes bioturbados, com pequenos canais. Os ambientes

sedimentares conforme Williams et al. (1970) existe durante um período de tempo

Page 95: Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do … · ii DISSERTAÇÃO DE MESTRADO N°53 Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do Cambambe, Chapada dos Guimarães, Mato

83

considerável e por toda uma área também considerável, que pode variar dentro de limites no

tempo para outro ambiente. Por tanto, é sugerido que os depósitos sobrepostos aos leques

aluviais gravitacionais e fluviais sejam separados temporalmente entre si por uma

discordância.

No caso dos leques aluviais, o ambiente tende a ser raso com formação de pequenas praias

sobre barras laterais, por exemplo, o que se denota pelo registro das camadas de litarenito com

laminação plano-paralela com minerais pesados. Os minerais pesados são retrabalhados desta

forma apenas na região de espraiamento da corrente sobre a barra ao estilo depósito de placer

em praias. As estruturas de almofadas e estruturas de sobrecarga são condizentes com um

ambiente subquoso, mas sujeito a inundações repentinas que trazem pulsos bruscos de areia

com densidade maior comparada àquela dos sedimentos depositados na bacia. A deposição

destes faz com que as camadas arenosas recém-depositadas afundem no leito pré-existente e

deixe como marcas as estruturas de sobrecarga. As feições silicificadas e carbonatadas

representam manisfestações diagenéticas.

A ocorrência de fósseis de dinossauros está restrita ao ambiente terrestre e isto mostra que,

além de tudo, o ambiente tendia a ter comumente o leito arenoso exposto à intempérie. Nos

depósitos de ambiente fluvial também é comum encontrar registro de exposição subaérea na

qual se proporcionou as condições para desenvolvimento de uma paleofauna registrada

através icnofosseis de tubos de inseto como aqueles encontrados na área de estudo com quase

30 cm de comprimento, ornamentados, ramificados em Y invertido e icnofósseis semelhantes

aos traços deixados por besouro ou formiga.

Os depósitos de leques aluviais possuem um padrão de canais mais distributários que

tributário conforme Miall (1990). Esta arquitetura das fácies sugere que o leque aluvial

desenvolvido era dominado por gravidade com declividades superiores a 1,5º (Assine, 2008).

Page 96: Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do … · ii DISSERTAÇÃO DE MESTRADO N°53 Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do Cambambe, Chapada dos Guimarães, Mato

84

Nestes depósitos a proximidade com a área-fonte é apontada pela presença abundante de

clastos extraformacionais de rochas metamórficas tais como quartzitos, vulcânicas e filitos.

A mudança de um arcabouço com abundante presença de clastos de vulcânicas como

ignimbrito, tufos e basaltos e por litarenito mal selecionado com presença frequente de seixos

e blocos dispersos, para um arcabouço onde as rochas vulcânicas é ausentes ou muito rara e a

redução da variedade de rochas metamórficas reforça a interpretação de campo na qual foi

inferida um discordância entre dois pacotes de rochas, sendo os pacotes inferiores atribuídos à

Formação Ribeirão Boiadeiro e os superiores à Formação Cambambe.

A deposição da Formação Ribeirão Boiadeiro ocorreu simultânea à atividade vulcânica da

Província Ígnea do Poxoréu representada pela Formação Paredão Grande com idade 83,9 +-

0,4 Ma (Ar40/Ar39) datado por Gibson et al. (1997), com isso pode-se sugerir que estas duas

formações se desenvolveram nos andares Santoniano até o Campaniano.

O desenvolvimento da bacia prosseguiu no cretáceo com a deposição da Formação

Cambambe cuja litoestratigrafia permite posiciona-la nos andares Campaniano/Maastrichtiano

devido à existência de conteúdo fóssil cretáceo e por estar posicionada sobre a Formação

Ribeirão Boiadeiro.

Os depositos descritos foram interpretados como associações de fácies que representam

paleoambientes de fluxo de detritos, colapso de fluxo turbulento, paleossolos e preenchimento

de canais (Figura 13). Estas associações estão descritas a seguir:

Page 97: Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do … · ii DISSERTAÇÃO DE MESTRADO N°53 Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do Cambambe, Chapada dos Guimarães, Mato

85

Figura 13: Relação entre unidades estratigráficas, ambientes e fácies sedimentares.

PALEOAMBIENTE DE FLUXO DE DETRITOS

Na área estudada, os conglomerados polimíticos e os litarenitos maciços com seixos e

blocos de origem variada marcam depósitos de fluxo de detritos. Nesta associação de fácies, o

litarenito tende a ser vermelho mais que róseo. Eles ocorrem ao longo de todo o depósito da

Formação Ribeirão Boiadeiro e estão restritos a esta formação. Aparentemente, são mais

abundantes na sua porção inferior onde podem alcançar até 10 m de espessura (ponto m49)

com a repetição do par conglomerado-litarenito (Figura 14). As fácies desta associação

paleoambiental caracterizam fluxo de alta viscosidade e energético, registrado por meio da

organização granodecrescente dos pares conglomerado-litarenito e a estrutura maciça destes

pares. Nestes, o litarenito tende a apresentar seixos e blocos de mesma composição do

conglomerado dispersos dentro de suas camadas. No fluxo de detritos, os seixos e blocos são

levados por arraste, rolamento e saltação. O material arenoso, por sua vez, corresponde à

carga de suspensão aprisionada na zona basal do fluxo turbulento de mais baixa velocidade

(Giannini & Ricominni, 2000). A espessura de até 10 m pode indicar um fluxo de longa

duração ou intensa recorrência do fluxo de detritos em tempo muito curto.

COLAPSO DE FLUXO TURBULENTO

Esta associação de fácies também está restrita à Formação Ribeirão Boiadeiro. O

paleoambiente se caracterizava pela agradação de camadas (menores que 10 cm) de litarenito

fino a médio, maciço que formavam acamamento amalgamado. Ela se posiciona

Page 98: Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do … · ii DISSERTAÇÃO DE MESTRADO N°53 Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do Cambambe, Chapada dos Guimarães, Mato

86

imediatamente acima do depósito de fluxo de detritos e forma um pacote de até 3 metros. A

inibição na formação de estruturas sedimentares em camadas de arenitos amalgamados é uma

resposta ao processo de fluxos turbulentos (p.e., o fluxo de detritos) de longa duração (Kneller

& Branney 1995; Camacho et al. 2002), como no caso da área de estudo, mas com alta taxa

de sedimentação. Ela representa uma zona de transição entre o fluxo de alta viscosidade e o

meio deposicional subsequente menos energético.

PALEOAMBIENTE DE PALEOSSOLOS

A formação de paleossolos é comum em depósitos aluvionares. Na área de estudo são

encontrados nas formações Cambambe e Ribeirão Boiadeiro, contudo predominam na

segunda unidade. Dois tipos paleossolos podem ser notados hidromórfico e não

hidromórfico:

O palessolo hidromórfico é uma mistura de sedimentos finos (areia muito fina e silte) sem

preservação de estruturas primárias e estrutura secundária tubular vertical impregnadas por

oxi-hidróxidos de ferro que dão destaque a estes túbulos pela cor marrom em meio a matriz

cinza clara. Os túbulos são descontínuos, mas são notados ao longo de toda camada que pode

atingir até 2,2 m de espessura. Os túbulos tem diâmetro de poucos centímetros (até 4 cm).

Esta associação de paleossolo hidromórfico é restrita e ocorreu apenas em um ponto (m49)

imediatamente acima dos depósitos de fluxo de detritos. A presença de túbulos verticais

impregnados com oxi-hidróxido de ferro e o aspecto maciço pela perda da estruturação

primária atestam a condição de alteração pós-deposicional. A formação de estruturas verticais

e a impregnação são comuns em ambientes subaquoso em que o rebaixamento do nível de

base ou o deslocamento das fácies de águas mais profundas torna o ambiente mais favorável a

condições paludais. Nestas condições, é comum o Eh favorecer o deslocamento do íon Fe na

forma reduzida ao longo dos túbulos durante o nível mais elevado da água. Com o

Page 99: Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do … · ii DISSERTAÇÃO DE MESTRADO N°53 Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do Cambambe, Chapada dos Guimarães, Mato

87

rebaixamento, as condições tornam-se mais oxidantes e os túbulos são “tingidos” de marrom

pela precipitação de oxi-hidróxido de ferro. A matriz é preservada com a cor de lixiviação, ou

seja, o pálido cinza claro. A continuação deste processo leva à formação de um horizonte

mosqueado e nodular de ferro semelhante à plintita (Verrechia, 2007). A preservação deste

horizonte de paleossolo hidromórfico em fase juvenil sem evoluir para o horizonte

mosqueado é atribuída à mudança na taxa de sedimentação. Sobre os depósitos do paleossolo

hidromórfico desenvolvem-se os depósitos de preenchimento de canais o que condiz com uma

mudança no estilo deposicional da bacia neste momento.

Figura 14 – Detalhe dos clastos e matacões, abundantes na sua porção inferior onde podem

alcançar até 10 m (ponto m49) com a repetição do par conglomerado-litarenito.

Paleossolo não hidromórfico é o mais comum na área de estudo. Este paleoambiente é

registrado por meio do litarenito fino com estruturas tipo peds, siltito e pelito também com

peds, mosqueamento com marcas de raízes e fraturamento por dissecação. Seus depósitos são

mais espessos com espessuras que podem chegar a poucos metros. Fraturas com intensa

lixiviação são atribuídas ao processo de pedogênese. Nesta condição, o fraturamento e

brechamento observados em camadas pré-existentes de siltito e arenito são atribuídos à

Page 100: Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do … · ii DISSERTAÇÃO DE MESTRADO N°53 Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do Cambambe, Chapada dos Guimarães, Mato

88

exposição subaérea. A formação de vênulas brancas e calcretes (Figura 15) identificas em

campo, com descrição petrografia realizada em laboratório notando-se estágios de

desenvolvimento de paleossolos retratados por variações nas laminas de carbonatos. Nestas

camadas faz parte do processo pedogênico e são comumente referenciados como platy peds

horizontais (Basilici & Dal’Bó., 2010); além disso, ocasionalmente estas vênulas podem

formar textura boxwork. Estruturas biogênicas não são incomuns e se mostram como: 1) tubos

verticais e ramificados, silicificados, sem ornamentação e com preenchimento idêntico à

rocha hospedeira; e 2) como icnofósseis semelhantes aos traços deixados por inseto (besouro

ou formiga). Neste caso, o lençol freático provavelmente está muito rebaixado o que

favoreceria pacotes mais espessos de paleossolos e a proliferação de animais como insetos e

besouros ao longo do sedimento em alteração. Estas fácies marcam uma parada deposicional

do meio com eventual exposição a processos intempéricos com fraturamentos, brechação,

gretamento e proliferação de vegetação.

Figura 15: A formação de calcretes, de coloração branca, nestas camadas faz parte do

processo pedogênico.

Page 101: Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do … · ii DISSERTAÇÃO DE MESTRADO N°53 Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do Cambambe, Chapada dos Guimarães, Mato

89

PALEOAMBIENTE DE PREENCHIMENTO DE CANAIS

Não é fácil observar este paleoambiente na área de estudo. Embora sejam muito comuns

em sistemas aluvionares, nos depósitos cretáceos da Bacia Cambambe, eles são restritos à

porção superior das regiões de Rancho Queimado, Múcio Albernaz e ponto m49. Formam-se

nestes, pacotes com poucos metros de espessura e a geometria de canal é apenas sugerida pela

disposição das camadas já que a continuidade lateral dos afloramentos não permitiu que fosse

notada. As camadas se caracterizam como barras de areia litarenítica, ora com adelgaçamento

e espessamento lateral (ponto m49) (Figura 16 e 17), ora com bases escavadas côncavas

marcadas por depósitos residuais de seixos com topo chato (demais pontos citados). O arenito

mostra estruturas plano paralelas e até estratificação cruzada de baixo ângulo. As camadas

mais delgadas de litarenito também mostram estruturas centimétricas semelhantes às de

sobrecarga. Por fim, litarenito com estratificação cruzada tabular tangencial é notada embora

não seja comum. Os depósitos de preenchimento de canal ocorrem imediatamente acima da

associação de fácies de fluxo de detritos, colapso de fluxo turbulento ou também

imediatamente acima da próxima associação a ser apresentada que fora atribuída à

paleossolos. Esta posição estratigráfica sugere que os canais da área de estudo (provavelmente

entrelaçados, já que não se notaram depósitos de planície de inundação nas sucessões

estudadas) representam o retorno às condições normais de deposição após a desestabilização

dos taludes aluviais e o retrabalhamento parcial dos depósitos destes taludes. As fácies de

fluxo de detritos e preenchimento de canal se alternam ao longo da sucessão estudada, sendo

que os depósitos de preenchimento de canal tendem a ser menos expressivos.

Page 102: Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do … · ii DISSERTAÇÃO DE MESTRADO N°53 Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do Cambambe, Chapada dos Guimarães, Mato

90

Figura 16: As camadas se caracterizam como barras de areia litarenítica, ora com

adelgaçamento e espessamento lateral, ora com bases escavadas côncavas marcadas por

depósitos residuais de seixos com topo chato.

Figura 17 - A mudança da constituição do arcabouço litológico de litarenito (B) para (A)

sugere um intervalo de tempo entre as duas deposições, ou seja, uma discordância.

CONCLUSÕES

Foram identificadas interpretados 4 paleoambientes sendo eles: fluxo de detritos, Colapso

de fluxo turbulento, preenchimento de canais e paleoambiente de paleossolos. Este conjunto

Page 103: Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do … · ii DISSERTAÇÃO DE MESTRADO N°53 Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do Cambambe, Chapada dos Guimarães, Mato

91

representa a evolução de um ambiente de leques aluviais, no cretáceo superior entre os

andares Santoniano e Maastrichtiano (Figura 18). As rochas cretáceas sedimentares da área de

estudo são subdividas em duas unidades separadas por uma discordância. Os contatos

inferiores são com as rochas da Bacia do Paraná e com a rochas do Grupo Cuiabá e o contato

superior é com a Formação Cachoeirinha. As associações de fácies apresentam a típica

formatação de um sistema de leques aluviais.

Figura 18 – Modelo de evolução da Bacia Cambambe entre o final do Andar Santoniano e o

andar Maastrichtiano.

AGRADECIMENTOS

Agradeço a Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) pela estrutura disponibilizada

ao longo da realização de todas as etapas do trabalho e a Coordenação de Aperfeiçoamento

em Nível superior pela bolsa concedida (CAPES).

Page 104: Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do … · ii DISSERTAÇÃO DE MESTRADO N°53 Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do Cambambe, Chapada dos Guimarães, Mato

92

REFERÊNCIAS

1. ALLEN, P. A.; ALLEN, J. R., 2005, Basin analysis, principles and applications, Second

edition: Wiley-Blackwell, Hoboken, New Jersey, 500p.

2. ASSINE, M.L. Bacia do Araripe. Boletim de Geociências da Petrobras, 15 (2): 371-389.

2008.

3. ALMEIDA, F. F. M. Geologia do Centro-Oeste Matogrossense. Bol. Div. de Geol. e

Mineralogia, Rio de Janeiro, n.215, 137p., 1964.

4. BARROS, A. M., Da Silva R. H., CARDOSO O. R F. A., FREIRE F. A., SOUZA Junior, J.

J., DE RIVETTI, M., DA LUZ D. S., PALMEIRA R. C. DE B., TASSINARI C. C. G.

Projeto Radam Brasil, levantamento de recursos naturais. Folha Cuiabá, SD-21. Rio de

Janeiro: Ministério de Minas e Energia. 1982.

5. BASILICI, G; DAL’BÓ, P.F. Anatomy and controlling factors of a Late Cretaceous

Aeolian sand sheet: The Marília and the Adamantina formations, NW Bauru Basin, Brazil.

Sedimentary Geology, 226: 71–93, 2010.

6. BAUER, A. M. & LARGHER, G. N. A preliminary report of the eastern central part of the

State of Mato Grosso and a portion of the western part of the State of Goiás, Brasil. Ponta

Grossa: Petrobras/DEBSP, Relatório Técnico Interno, n. 837, 1958.

7. CAMACHO, H., BUSBY, C. J., KNELLER, B. A new depositional model for the classical

turbidite locality at San Clemente State Beach, California. A.A.P.G. Bulletin. Vol. 86. No 9. p

1543-1560. 2002.

8. COIMBRA, A.M. Sistematização crítica da obra. São Paulo, 54p. (Tese de Livre-docência,

Instituto de Geociências da Universidade de São Paulo), 1991.

9. DE MIN. A., HENDRIKS. B., SLEJKO F., COMIN-CHIARAMONTI P., GIRARDI. V.,

RUBERTI. E., GOMES. C. B., NEDER R. D. PINHO F. C., Age of ultramafic high-k rocks

Page 105: Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do … · ii DISSERTAÇÃO DE MESTRADO N°53 Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do Cambambe, Chapada dos Guimarães, Mato

93

from Planalto da Serra (Mato Grosso, Brazil), Journal of South American Earth Sciences, 41,

p 57-64, 2013.

10. DERBY, A. O. Nota sobre a geologia e paleontologia de Mato-Grosso. Arquivos do Museu

Nacional. 9, 59-88 p, 1896.

11. FERNANDES, L. A. & COIMBRA, A. M. Revisão estratigráfica da parte oriental da Bacia

Bauru (Neocretáceo). Revista Brasileira de Geociências, v. 4, n. 30, p. 717-728, 2000.

12. GIANNINI, P. C. F. & RICCOMINI, C. Sedimentos e processos sedimentares. In: Teixeira,

W.; Toledo, M.C.M.; Fairchild, T.R.; Taioli, F.. (Org.). Decifrando a Terra. 1 ed. São Paulo:

Oficina de Textos, p. 167-190. 2000.

13. GIBSON, S.A.; THOMPSON, R.N.; WESKA, R.K.; DICKIN, A.P.; LEONARDOS, O.H.

Late Cretaceous riftrelated upwelling and melting of the Trindade starting mantle plume head

beneath western Brazil. Contributions to Mineralogy and Petrology, v. 126, p. 303-314, 1997.

14. LACERDA FILHO, J. V., ABREU FILHO, W., VALENTE, C. R., DE OLIVEIRA, C. C.,

ALBUQUERQUE, M. C. 2004. Geologia e recursos minerais do Estado de Mato Grosso,

Escala 1:1000.000., (1ª ed..) CPRM. Convênio CPRM/SIMCE, Goiânia, Brasil, 252p.

15. MARQUES L.S. & ERNESTO M. O magmatismo Toleítico da Bacia do Paraná. In: V.

MANTESSO-NETO, A. BARTORELLI, C.D.R. CARNEIRO, B.B. BRITO-NEVES

(Coordenadores), Geologia do Continente Sul-Americano: Evolução da obra de Fernando

Flávio Marques de Almeida. São Paulo, SBG-SP, 1a ed., Editora Beca, p. 245-263. 2004.

16. MIALL, A. D. Principles of sedimentary basin analysis. 2ª edição, Springer Verlag, 668 p.,

1990.

17. MILANI, E.J., MELO, J.H.G., SOUZA, P.A., FERNANDES, L.A., FRANÇA, A.B. Bacia do

Paraná. In Cartas Estratigráficas. Boletim de Geociências da Petrobrás v.15. n.2, 2007.

Page 106: Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do … · ii DISSERTAÇÃO DE MESTRADO N°53 Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do Cambambe, Chapada dos Guimarães, Mato

94

18. OLIVEIRA, M. A. M. de & MUHLMANN, H. Geologia de semi-detalhe da região de

Mutum, Jaciara, São Vicente e Chapada dos Guimarães. Relatório técnico da PETROBRAS,

63p. 1965. (Documento interno, N.o 300.)

19. SILVA, D. G. Q. R., A Bacia Cretácea de Poxoréo, porção centro-sul do Estado de Mato

Grosso, 54 p. Dissertação (Mestrado) – Instituto de Ciências Exatas e da Terra, Universidade

Federal de Mato Grosso. 2014.

20. RICCOMINI, C., Arcabouço estrutural e aspectos do tectonismo gerador e deformador da

Bacia do Bauru no estado de São Paulo. Revista Brasileira de Geociências, v. 2, n. 27, p. 153-

162, 1997.

21. ROXO, M.G.O. Notas geológicas sobre a Chapada do Mato Grosso. Rio de Janeiro, Serviço

Geológico e Mineralógico, Notas Preliminares e Estudos, v. 15, p. 4-7, 1937.

22. SCHNEIDER, R.L.; MUHLMANN, H.; TOMMASI, E.; MEDEIROS, R. A.; DAEMON,

R.F.; NOGUEIRA, A.A. Revisão estatigráfica da Bacia do Paraná. In: Congresso Brasileiro

de Geologia, 28., 1974, Porto Alegre. Anais...Porto Alegre: SBG, 1974 p. 41-65.

23. STANISTREET, I. G & McCARTHY, T. S. The Okavango Fan and the classification of fan

systems. Sedimentary Geology, v. 85, p. 115–133. 1993.

24. ULBRICH, M. N.C., MARQUES, L. S., LOPES, R. P. As ilhas vulcânicas brasileiras:

Fernando de Noronha e Trindade. In: V. Mantesso-Neto, A. Bartorelli, C. D. R. Carneiro, B.

B. de B. Neves, coords. Geologia do Continente Sul-Americano: Evolução da Obra de

Fernando Flávio Marques de Almeida. São Paulo: Beca.p. 555-573. 2004.

25. VERRECHIA, E.P. Lacustrine and palustrine geochemical sediments. In: Geochemical

sediments and landscapes (Edited by David J. Nash and Sue J. McLaren), Oxford, Blackwell

Publishing Ltd. p. 298-329. 2007.

Page 107: Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do … · ii DISSERTAÇÃO DE MESTRADO N°53 Fácies sedimentares e estratigrafia da Bacia do Cambambe, Chapada dos Guimarães, Mato

95

26. WESKA, R. K. Placers Diamantíferos da Região de Água Fria, Chapada dos Guimarães -

MT. Dissertação de Mestrado, Instituto de Geociências, Universidade de Brasília, 170 p,

Brasília, DF. 1987.

27. WESKA, R. K. A Geologia e a Evolução Geológica de Região Diamantífera compreendida

entre os Municípios de Dom Aquino e General Carneiro, Mato Grosso, Tese de

Doutoramento, Instituto de Geociências, Universidade de São Paulo, 219 p, São Paulo, SP.

1996.

28. WESKA, R. K. Uma síntese do Cretáceo superior matogrossense. Geociências, UNESP, v.

25, n. 1, p. 71-81, 2006.

29. Williams, H.; Turner, F. J.; Gilbert C. M. 1970. Petrografia- Uma Introdução ao Estudo das

Rochas em Seções Delgadas. Universidade de São Paulo, São Paulo, Brasil, 445 pp.

30. ZALÁN, P.V. Evolução fanerozóica das bacias sedimentares brasileiras. In: V. MANTESSO-

NETO; A. BARTORELLI; C.D.R. CARNEIRO; B.B. BRITO-NEVES, (Coords.) Geologia

do continente sul-americano. Evolução da obra de Fernando Flávio Marques de Almeida. São

Paulo: Ed. Beca, p. 245-263, 2004.