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I Congresso Pesquisa &Desenvolvimento
III Reunio de Avaliao dos Programas de Formao de Recursos Humanos (PRH 26 e PRH 28)
para o setor Petrleo e Gs da UFPE
PROPOSTA DE DIRETRIZES PARA CONTROLE DE RISCOS AMBIENTAIS
EM GASODUTOS URBANOS NA REGIO METROPOLITANA DO RECIFE
Sobral, M. C.1, Rgo Silva, J. J.2, Rosso, R. U. 3, Figueiredo, R.C.B.4, Menezes, J. R. R.5, Crecencio, B. G.6.
1 Doutora, Departamento de Engenharia Civil da UFPE, Rua Acadmico Hlio Ramos, s/n, Cidade Universitria, Recife/PE. CEP 55.740-530, [email protected]
2Doutor, Departamento de Engenharia Civil da UFPE,Rua Acadmico Hlio Ramos, s/n, Cidade Universitria, Recife/PE. CEP 55.740-530, [email protected]
3 Engenheiro, Departamento de Engenharia Civil da UFPE, Rua Acadmico Hlio Ramos, s/n, Cidade Universitria, Recife/PE. CEP 55.740-530, [email protected]
4Mestre, Departamento de Engenharia Civil da UFPE, Rua Acadmico Hlio Ramos, s/n, Cidade Universitria, Recife/PE. CEP 55.740-530, [email protected]
5 Mestrando, Departamento de Engenharia Civil da UFPE, Rua Acadmico Hlio Ramos, s/n, Cidade Universitria, Recife/PE. CEP 55.740-530, [email protected]
6 Mestrando, Departamento de Engenharia Civil da UFPE, Rua Acadmico Hlio Ramos, s/n, Cidade Universitria, Recife/PE. CEP 55.740-530 , [email protected]
Resumo: A demanda por gs natural tem aumentado significativamente no Brasil. No Estado de Pernambuco, que
apresenta grande expectativa de consumo, encontram-se diversas obras estruturadoras para o avano do gs natu-
ral, inclusive a construo de ramais de distribuio para reas industriais, comerciais e residenciais na Regio
Metropolitana do Recife (RMR). Este artigo tem como objetivo abordar aspectos relevantes necessidade do con-
trole de riscos ambientais em gasodutos urbanos da RMR. O processo de construo de gasodutos apresentado,
comentando-se seus possveis impactos ambientais e discutindo-se algumas medidas mitigadoras. O processo de
licenciamento da construo e operao da rede de distribuio de gs natural na RMR tambm discutido,
apresentando-se propostas para sua melhor adequao. Espera-se com este trabalho contribuir para a gesto ambi-
ental eficaz e responsvel na construo e operao de gasodutos.
Abstract: Demand for natural gas has increased significantly in Brazil. In the State of Pernambuco, which has
great expectations of consumption, several structuring works for advancement of natural gas are being conducted,
including the construction of distribution lines for industrial, commercial and residential areas in the Metropolitan
Region of Recife (RMR). This article aims to address issues relevant to the need of controlling environmental risks
in urban pipelines at RMR. The process of construction of gas pipelines is presented, commenting their possible
environmental impacts and some mitigating measures. The licensing process for the construction and operation of
the distribution network of natural gas in RMR is also discussed, presenting proposals to its better adequacy. It is
hoped this work contribute to the effective and responsible environmental management in the construction and op-
eration of pipelines.
Palavras-Chave: Construo de gasodutos, sistema de distribuio de gs natural, impactos ambientais, gs natural.
1. INTRODUO
medida que um pas cresce e se desenvolve, au-
menta tambm a sua demanda por energia e combust-
veis. A procura por novas fontes alternativas de energia
est, portanto estrategicamente associada ao crescimen-
to e desenvolvimento das naes. Atender esta deman-
da de forma a preservar a sustentabilidade econmica,
social e ambiental consiste um dos grandes desafios
mundiais atuais, principalmente para os pases em de-
senvolvimento, como o Brasil.
O gs natural, por apresentar baixos teores de conta-
minantes, , comparativamente, considerado como o
combustvel mais adequado em relao questo da
poluio ambiental, cada vez mais se consolidando
como fonte alternativa de energia. Tecnologias recentes
contribuem para o aumento da eficincia e produtivida-
de do gs natural, e novos campos de produo so
descobertos e explorados em diversos pases, inclusive
no Brasil, o que tende a demonstrar a viabilidade tcni-
ca e econmica do gs. No Brasil a distribuio de gs
natural surge como forte indutora de desenvolvimento
econmico do pas, com grandes perspectivas de con-
sumo na co-gerao de calor e energia eltrica, na in-
dstria, no comrcio, em domiclios e em veculos au-
tomotivos, seguindo a tendncia internacional.
O meio considerado mais vivel, eficiente e seguro
de transportar o gs natural atravs de gasodutos sub-
terrneos. Milhares de quilmetros de dutos enterrados,
para distribuio de gs ou leo, esto sendo constru-
dos, em expanso, reposio ou esto previstos em fase
de elaborao de projeto em todo o mundo e represen-
tam atualmente uma significativa parcela das atividades
de construo [Tubb, 2002]. O Brasil aparece entre os
pases com grandes projetos de distribuio de gs a
exemplo dos Estados Unidos da Amrica, Reino Unido,
Espanha, Emirados rabes Unidos e outros [Pipeline,
2001].
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A dimenso dos projetos de gasodutos no Brasil co-
mea a ocupar posio de destaque na indstria da
construo. No Estado de Pernambuco, por exemplo,
lder na Regio Nordeste em consumo de gs natural
veicula (GNV), e com a estimativa de triplicar o con-
sumo de gs natural com a entrada em funcionamento
da termoeltrica TERMOPERNAMBUCO, encontram-
se diversas obras estruturadoras para o avano do gs
natural no estado, inclusive a construo de ramais de
distribuio para reas industriais, comerciais e resi-
denciais na Regio Metropolitana do Recife (RMR).
No mbito da Regio Metropolitana do Recife, entre-
tanto, algumas dificuldades tm surgido no processo de
licenciamento da construo, retardando a operao dos
gasodutos. A pouca disseminao das tcnicas de exe-
cuo e inspeo de servio, a inexistncia ou inade-
quao de legislao especfica, a falta de experincia
dos rgos pblicos envolvidos nos processos de apro-
vao e licenciamento das obras, a ausncia de proce-
dimentos padronizados para fiscalizao de gasodutos
em operao, em especial em postos de abastecimento
de GNV, os riscos e impactos ambientais ainda pouco
conhecidos e o desconhecimento e medo por parte dos
habitantes prximos da rede de distribuio so alguns
exemplos de motivos geradores destes problemas.
O exemplo da RMR no representa um problema
pontual. O desenvolvimento tcnico associado s exi-
gncias da sociedade contempornea requer constantes
adequaes s polticas de desenvolvimento em escala
mundial. Problemas similares devero surgir em outras
regies medida que o consumo do gs natural se ex-
panda, como a perspectiva no Nordeste do Brasil e
onde o gs natural ainda pouco conhecido. O desafio
consiste em atender as atuais necessidades de fontes
alternativas de energia promovendo o desenvolvimento
sustentvel do pas, considerando as suas dimenses
econmicas, sociais e ambientais, sempre mais exigen-
tes. Os setores pblico e privado no podem se eximir
de suas responsabilidades sociais e ambientais.
Neste contexto, este trabalho procura discutir o con-
trole de riscos ambientais em redes de distribuio de
gs, adotando o conceito, aceito internacionalmente, de
desenvolvimento sustentvel como um modelo de de-
senvolvimento que atende as necessidades do presente
sem comprometer a possibilidade de geraes futuras
atenderem suas prprias necessidades (Conferncias
das Naes Unidas sobre o Meio Ambiente e Desen-
volvimento, Rio 1992), onde no h coerncia no de-
senvolvimento econmico as custas da degradao am-
biental e da excluso de qualquer parte da sociedade.
Toma-se como referncia a Regio Metropolitana do
Recife (RMR), procurando observar os possveis im-
pactos ambientais e os aspectos legais no processo de
gasodutos urbanos. Algumas medidas mitigadoras dos
impactos ambientais so propostas, discutindo-se tam-
bm o processo de licenciamento dos gasodutos na
RMR. Os resultados deste trabalho podero contribuir para o
incio do desenvolvimento de um sistema integrado de gesto,
no qual os aspectos de qualidade e do meio ambiente, basea-
dos nos requisitos das normas NBR ISO 9001 e NBR ISO
14001, sejam considerados nas fases de concepo, con-
struo, operao e manuteno do sistema de distribuio de
gs.
2. GS NATURAL CONFIANA NO SISTEMA DE DISTRIBUIO
O gs natural, alm de menos poluente, apresenta
vasta aplicao como combustvel industrial, comerci-
al, residencial e automotivo ou no processo de co-
gerao de energia eltrica podendo ser usado na clima-
tizao ambiental, caldeiras, foges, chuveiros, lavado-
ras e secadoras de roupa, entre outros. Admite-se ainda
que o gs natural contribui para o aumento da vida til
de equipamentos em virtude de conter baixo teor de
gases cidos e compostos de enxofre. Estas vantagens
associadas perspectiva de grandes reservatrios brasi-
leiros e de preo competitivo, fazem aumentar cada vez
mais a expectativa de consumo do gs natural.
No Brasil, atribui-se o uso ainda restrito do gs natu-
ral a sua baixa disponibilidade e a conseqente falta de
hbito de utilizao. Entretanto, para o aumento do
consumo do gs natural em larga escala, de forma con-
solidada e eficiente, necessrio levar confiana po-
pulao no sistema de distribuio de gs. Esta afirma-
o fica evidente no Relatrio de Impacto no Meio
Ambienta (RIMA) [NE Consulte, 2002], elaborado
para a variante do gasoduto Guamar-Cabo em Per-
nambuco, que relata o receio da populao prxima ao
gasoduto quanto ao risco representado pelo empreen-
dimento, desejando a sua relocao.
O sistema de distribuio de gs natural requer que
seja dada nfase preveno dos riscos, j que a ocor-
rncia de vazamentos pode desencadear exploso e/ou
incndio [Jo e Ahn, 2002]. De acordo com o Washing-
ton Utilities and Transportation Comission, Pipeline
Safety Section [Washinton, 2003], as cinco maiores
causas de vazamentos de gs natural em dutos so:
escavaes realizadas por terceiros; corroso; defeitos de construo; defeitos de materiais; e foras externas (terremotos, congelamento, etc). No do conhecimento dos autores a existncia da
compilao destes dados no Brasil, todavia acredita-se
que as tubulaes tambm sofram efeitos da variao
de presso e das aes do trfego de veculos, aumen-
tando, potencialmente, a possibilidade de danos e aci-
dentes no sistema de distribuio de gs [Rangel,
2002].
Diversos acidentes envolvendo a distribuio de gs
natural so citados nos meios de comunicao [7,8].
Entre os acidentes mais significativos est o ocorrido
em Agosto de 2000, nos Estados Unidos da Amrica,
quando o gasoduto da El Paso explodiu matando 11
pessoas. A investigao deste acidente mostrou que,
aps 48 anos de uso, as inspees feitas ao longo deste
tempo no foram adequadas, pois no mostraram o alto
grau de corroso em que o duto se encontrava.
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Pela composio do gs natural e pelo histrico dos
acidentes, fica claro que o foco das aes para prevenir
acidentes esta centrado nos seguintes vetores:
normas rgidas de construo, que permitam o ras-treamento dos servios executados, tanto na fase
de construo como na de operao;
diretrizes (legislao) que permitam um maior con-trole sobre o uso do solo, evitando desta forma es-
cavaes e construes na rea de domnio (servi-
do) dos gasodutos; e
exigncias rgidas no tocante s inspees dos du-tos existentes e capacidades de transporte dos
mesmos.
3. CONSTRUO DE GASODUTOS
No mbito deste trabalho entende-se por construo
de gasodutos o conjunto de atividades de colocao e
montagem da tubulao, enterrada ou no, destinada a
composio do sistema de transporte de gs canalizado
para consumo. O processo de construo concludo
com a entrada em funcionamento do gasoduto, inserin-
do-o no sistema de distribuio de gs. A partir da
inicia-se a fase de operao do gasoduto. A construo de gasodutos consiste em uma ativida-
de fundamental criao da infra-estrutura necessria ao desenvolvimento econmico do pas. Entretanto, as exigncias atuais de desenvolvimento sustentvel obri-gam a insero desta atividade no contexto tambm social e ambiental, devendo ser considerada a influn-cia de todos os aspectos dos ambientes macro e micro.
A partir do processo de construo de gasodutos,
tendo como referncia as atividades executadas na re-
gio metropolitana do Recife, procura-se identificar
alguns dos possveis impactos ambientais decorrentes
das atividades envolvidas, no contexto do macro ambi-
ente e com nfase no meio ambiente natural.
Em seguida, so comentados alguns aspectos legais
referentes construo de gasodutos e apresentado o
quadro geral do atual processo de aprovao e licenci-
amento das obras de construo de gasodutos no muni-
cpio do Recife.
A caracterizao do processo construtivo e a identifi-
cao de seus impactos ambientais devero contribuir
para a concepo de um Sistema Integrado de Gesto
da Qualidade e do Meio Ambiente, bem como para a
regulao do processo de construo e operao de
gasodutos na regio metropolitana do Recife.
3.1 Enfoque ambiental
possvel antever alguns dos possveis impactos
ambientais decorrentes do processo de construo de
gasodutos que envolve as etapas de: preparao do tra-
jeto; abertura da vala; soldagem da tubulao; coloca-
o da tubulao; fechamento da vala; teste hidrostti-
co, limpeza e secagem da tubulao; recomposio da
superfcie e sinalizao; e, construo de ERP, interli-
gao ao sistema de distribuio e operao do gasodu-
to.
A correta interpretao destes impactos ser de
grande importncia para a concepo e desenvolvimen-
to de um Sistema de Gesto Ambiental, com base no
modelo ISO 14.000, aplicado a esta atividade.
Alguns dos possveis impactos ambientais nos meios
fsico, biolgico e scio-econmico, originados do pro-
cesso de construo de gasodutos, so:
i. ASSOREAMENTO DE CURSOS DGUA As escavaes para abertura das valas para colocao
da tubulao podem resultar em assoreamento e obstru-
o dos cursos naturais de gua. A retirada da cobertura
vegetal pode dar inicio a processos erosivos, contribu-
indo para o agravamento do assoreamento.
ii. GERAO DE RESDUOS O material retirado durante a execuo das valas
constitui o maior volume de resduos na construo. A
destinao inadequada dos resduos de cosnturo pode
gerar assoreamento de cursos dgua, alterao de e-cossistemas, alm de outros desequilbrios ambientais.
iii. ALTERAO DAS CARACTERSTICAS FSICAS E QU-MICAS DO SOLO/SUBSOLO
Os trabalhos de abertura e fechamento das valas alte-
ram a estrutura fsica natural da do solo. As caracters-
ticas qumicas do solo podem ser alteradas em funo
de contaminao decorrente do descarte inadequado
dos resduos slidos e lquidos.
iv. GERAO DE RUDOS A operao de mquinas a principal fonte dos ru-
dos durante a execuo do gasoduto. Outros impactos
sonoros significativos decorrem da utilizao de explo-
sivos para desmonte de rochas, caso necessrio, na a-
bertura da vala.
v. ALTERAO DA QUALIDADE DA GUA SUPERFICIAL E PROFUNDA
Este impacto significativo nas reas de travessia de
cursos dgua. Processos erosivos e assoreamentos po-dero alterar a qualidade da gua superficial. Os recur-
sos hdricos subterrneos podero ser alterados no caso
de perfurao horizontal a profundidades mais eleva-
das.
vi. ALTERAO DA QUALIDADE DO AR As principais alteraes na qualidade do ar consistem
na quantidade de material particulado em suspenso,
gases e fumaas.
vii. INSTABILIDADE DE ENCOSTAS A retirada da vegetao superficial e a escavao em
encostas pode originar processos erosivos que, agrava-
dos em decorrncia da declividade e caractersticas do
solo, podem resultar na instabilidade dos taludes.
viii. ALTERAO DOS ECOSSISTEMAS A travessia de regies de matas florestais, mangues,
rios ou audes podem alterar a fauna e flora locais e
prejudicar o equilbrio do ecossistema existente. Alm
da construo do gasoduto, a movimentao de pesso-
as e veculos pode contribuir para esta perturbao.
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ix. INTERFERNCIA NO COTIDIANO DA POPULAO A gerao de empregos um impacto positivo im-
portante, mas, por outro lado, incmodos em conse-
qncia de rudos, poeira, impedimento do fluxo do
trnsito e riscos de acidentes so alguns dos impactos
negativos mais significativos na qualidade de vida, sa-
de e bem estar da populao durante a construo de
gasodutos, principalmente em reas urbanas.
x. DESCOBERTA OU PERDA DE BENS ARQUEOLGICOS A escavao e remoo de camadas do subsolo po-
dem promover a descoberta ou ocasionar perda de ma-
terial de interesse arqueolgico e cientfico.
xi. OUTROS IMPACTOS AMBIENTAIS Um outro impacto ambiental negativo que decorre
das Centrais de Reduo e Medio (CRMs), Estaes
Redutoras de Presso (ERPs) e Estaes Redutoras
Distritais (ERDs), usualmente construdas no Brasil,
alto nvel de rudo produzido durante o funcionamento,
a ponto de incomodar moradores prximos rea de
instalao dos equipamentos. Tambm h de se desta-
car a exposio destas estaes a ataques de vndalos,
colocando em risco no s o fornecimento do gs como
tambm a vida de pessoas em razo de algum acidente.
Uma alternativa de projeto que minimiza estes pro-
blemas a construo destas estaes tambm enterra-
das, Underground Stations. Este tipo de estao, apesar
de largamente empregada, principalmente na Europa,
no comumente adotada no Brasil. Cavalheiro Filho
[Cavalheiro Filho, 2002] apresenta algumas vantagens
das estaes subterrneas na reduo dos impactos am-
bientais.
3.2 Aspectos Legais
Construo em maior escala de gasodutos subterr-
neos uma atividade relativamente recente no Estado
de Pernambuco e mais ainda na regio metropolitana
do Recife. Entre os municpios que compem a RMR,
apenas o Recife dispe de alguma legislao especfica
para a construo de gasodutos, que comeou a ser ela-
borada em conseqncia do surgimento da demanda.
Por ser uma atividade com grande potencial de im-
pactos ambientais, principalmente em regies urbanas,
natural que surjam dvidas referentes a todo o pro-
cesso legal de aprovao dos projetos, licenciamento e
fiscalizao da atividade de construo por parte das
instituies pblicas responsveis pelo uso e ocupao
do solo, pela segurana e preservao do meio ambien-
te.
Segundo a Diretoria Geral de Coordenao e Contro-
le Urbano Ambiental (DIRCON), integrante da Secre-
taria de Planejamento, Urbanismo e Meio Ambiente
(SEPLAM), rgo municipal responsvel pela aprova-
o e licenciamento das construes no Recife, o cen-
rio existente antes do ano de 2001 era o seguinte:
i. inexistncia de disciplinamento das atividades das concessionrias usurias de vias pblicas para pres-
tao de servio de interesse pblico;
ii. desconhecimento tcnico, por parte dos funcion-rios da DIRCON, sobre os aspectos construtivos de
gasodutos e emprego de gs canalizado;
iii. receio, por parte do pblico em geral, sobre os ris-cos urbanos que o emprego de gs canalizado repre-
senta;
iv. falta de entendimento das legislaes federais e es-taduais para regulao do uso do solo especfico pa-
ra distribuio de gs;
v. desconhecimento das instalaes j existentes no subsolo, aumentando os riscos de conflitos e aciden-
tes nas novas intervenes.
Ainda segundo a DIRCON, algumas aes no mbito
do municpio do Recife como a definio e a atribuio
de responsabilidades tcnicas e legais, e informaes
transmitidas ao corpo tcnico atravs de palestras edu-
cativas com apoio da companhia estadual de distribui-
o de gs, foram importantes para o incio do esclare-
cimento de alguns dos pontos relacionados acima e a
conseqente elaborao das primeiras portarias muni-
cipais para a regulao da atividade de construo de
gasodutos.
Atualmente, o procedimento para aprovao de pro-
jetos relativos a instalao de dutos subterrneos para a
distribuio de gs combustvel no municpio do Recife
segue o fluxograma indicado a seguir, conforme a Por-
taria Municipal N 68/2001 [SEPLAN, 2001]. Entretan-
to, segundo a DIRCON, a discusso sobre estes proce-
dimentos ainda no est encerrada.
Apesar dos avanos obtidos na regulao da constru-
o de gasoduto no municpio do Recife vrios ramais
j construdos ainda no esto em funcionamento, es-
tando a espera do licenciamento municipal. Segundo a
DIRCON, uma das razes deste impasse consiste no
atendimento ao Cdigo Florestal Brasileiro (Lei n
4.771) que apresenta pontos discutveis, conforme aler-
ta do Ministrio Pblico.
Ainda segundo a DIRCON, atualmente esto em an-
lise no rgo legislativo municipal, as leis que regula-
mentaro definitivamente a construo de ramais de
distribuio e de instalao de GNV em postos de abas-
tecimento de combustveis, que geraro procedimentos
sistematizados de licenciamento, alm do decreto que
regulamenta a Lei n 16.737/2001 de cobrana de uso
do espao urbano.
Para que o mercado de distribuio de gs se desen-
volva de forma segura imprescindvel que as instala-
es sejam projetadas e construdas de acordo com os
melhores procedimentos de engenharia. Para isso
fundamental a elaborao de normas tcnicas consis-
tentes, que sirvam tambm de referncia para que os
rgos pblicos faam as avaliaes necessrias. Gou-
va [Gouva, 2002] comenta alguns pontos importantes
a serem considerados no projeto e construo de postos
de abastecimento de GNV, que precisam ser normati-
zados para fornecer subsdios regularizao da ativi-
dade junto aos rgos competentes.
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A necessidade de adequaes das leis que regula-
mentam a distribuio de gs uma exigncia no s
dos novos mercados. Em pases onde o consumo de gs
j ocorre a muito mais tempo novas regras so constan-
temente adaptadas para a melhor regulamentao do
setor. Nos Estados Unidos, por exemplo, o Federal
Natural Gas Pipeline Safety Act, de 1968, estabelece
padres de segurana mnimos para gasodutos em toda
a federao, direcionados a projeto, instalao, inspe-
o, ensaios, construo, extenso, operao, reposio
e manuteno das instalaes de gasodutos e permite
que qualquer agncia estadual adote, alm destes, ou-
tros padres de segurana mais exigentes, que so re-
vistos regularmente.
O processo de licenciamento das obras de construo
de gasodutos dentro da RMR precisa ser reformulado.
Entre os municpios que compem a RMR apenas a
cidade do Recife iniciou a discusso para a regulamen-
tao deste processo, com entendimentos diferentes nos
diversos rgos municipais envolvidos. A capacitao
dos tcnicos das prefeituras e a centralizao das aes
em um nico rgo so algumas aes que podero
contribuir para a regulamentao eficaz do processo de
licenciamento de gasodutos na RMR, dando maior ve-
locidade e sem prescindir da credibilidade do mesmo.
4. MEDIDAS MITIGADORAS
A construo e operao de gasodutos consistem, de
fato, em atividades de ocupao e uso do solo e subsolo
urbano e rural. Com o aumento da demanda de gs na-
tural so necessrias grandes extenses de gasodutos
para leva-lo aos consumidores sejam eles industriais,
comerciais, residenciais e ainda postos de abastecimen-
to de veculos.
Alm da colocao e montagem da tubulao, a
construo de Centrais de Reduo e Medio (CRMs),
Estaes Redutoras de Presso (ERPs) e Estaes Re-
dutoras Distritais (ERDs), imprescindveis ao sistema
de distribuio de gs, so responsveis pela alterao
do espao urbano e rural, e podem, se planejadas de
forma inadequada, provocar impactos que resultem em
desequilbrio do meio ambiente.
Na regio metropolitana do Recife, a inexistncia de
legislao municipal especfica que trate da gesto am-
biental tende a gerar dvidas e conflitos. Esta dificul-
dade no especfica da construo de gasodutos e sim
de toda a atividade de construo, que carece de melhor
entendimento quanto gesto ambiental como exign-
cia moderna de sustentabilidade do desenvolvimento. O
problema se agrava no caso de gasodutos, por tratar-se
de um tipo de obra que gera grandes preocupaes
quanto preservao da vida.
Com o objetivo de contribuir para a melhoria da ges-
to ambiental na indstria da construo, algumas a-
es so aqui propostas como medidas mitigadoras dos
impactos ambientais decorrentes do processo de cons-
truo de gasodutos em regies urbanas.
Inicialmente, seguindo as orientaes para elabora-
o de RIMA, estas medidas sero apresentadas distin-
tamente para as fases de planejamento e implantao de
gasodutos. Em seguida algumas sugestes para o pro-
cesso de licenciamento de gasodutos na RMR sero
tambm apresentadas.
4.1 Fase de planejamento e de implantao
Adequar o traado do gasoduto evitando gran-des intervenes em reas com alta densidade popu-
lacional e de preservao ambiental (fauna, flora e
recursos hdricos);
Orientar o projeto do gasoduto s recomenda-es da legislao referente ao uso e ocupao do
solo, inserindo-o nos planos diretores municipais e
observando a legislao ambiental e normas tcni-
cas pertinentes;
Estabelecer tcnicas operacionais que minimi-zem os impactos ambientais identificados no pro-
cesso de construo do gasoduto;
Prever destinao adequada dos resduos da construo considerando as exigncias de confina-
mento, tratamento e reutilizao estabelecidas pela
legislao pertinente;
Planejar procedimentos de execuo e inspe-o de servios que reduzam a possibilidade de ris-
cos acidentais durante a construo e operao do
gasoduto;
Obter informaes junto aos rgos pblicos e a outras companhias que faam uso de dutos subter-
rneos sobre a existncia de outras instalaes no
traado previsto para o gasoduto.
Verificar in loco a adequao do traado pre-visto para o gasoduto antes do incio da sua cons-
truo;
Sinalizar adequadamente toda a rea de cons-truo;
Executar abertura e fechamento de vala de modo a minimizar os impactos ambientais previstos
na construo;
Executar abertura e fechamento de vala de modo a minimizar a interveno nas reas constru-
das e a reduzir a gerao de resduos, poeira e ru-
dos;
Estabelecer locais provisrios e seguros para circulao de pessoas e veculos no perodo de exe-
cuo da obra;
Receber a armazenar materiais, em especial tubulaes, em hora e local adequado de modo a e-
vitar congestionamento de trnsito e permitir a cir-
culao de pedestres;
Executar atividades geradoras de rudos, ga-ses, calor ou qualquer outro agente agressor, em ho-
rrios e locais especficos e pr-programados, evi-
tando possveis distrbios as pessoas;
Coletar, transportar e destinar os resduos ge-rados na construo de forma coerente com a pre-
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servao do meio ambiente e de acordo com as exi-
gncias legais;
Informar as outras concessionrias de servio pblico (luz, gua, telefone, etc) qualquer dano nas
suas instalaes decorrente das atividades de cons-
truo e contribuir para a imediata reparao do
mesmo.
importante acrescentar ainda que no caso de passa-
gem por rios, mangues ou matas a construo (e opera-
o) do gasoduto no deve alterar de forma permanente
o equilbrio do ecossistema nem a utilizao racional
dos recursos naturais e econmicos existentes nestas
reas. Nestes casos, tcnicas especiais de construo de
gasodutos, como a execuo de furo horizontal, devem
ser previstas, como tambm possveis desvios horizon-
tais aumentando a profundidade de colocao do gaso-
duto nestas reas.
4.2 Licenciamento de gasodutos
Ainda dentro do contexto de aes mitigadoras de
impactos ambientais, o processo de licenciamento das
obras de construo de gasodutos dentro da RMR pre-
cisa ser repensado, de forma a proporcionar maior con-
fiabilidade, facilidade e eficcia ao processo de cons-
truo e operao do sistema de distribuio de gs
natural.
Dentro do processo de municipalizao da fiscaliza-
o ambiental, hoje ainda sobre o controle estadual,
faz-se necessrio uniformizar as diretrizes para o licen-
ciamento da construo e operao de gasodutos, de
modo a se ter uma s sistemtica em toda a RMR. En-
tende-se que necessrio um estudo mais amplo para o
estabelecimento destas diretrizes, entretanto algumas
sugestes so apresentadas:
estabelecer condies para exigncias de Estudo de Impactos Ambientais (EIA), Relatrio de Im-
pactos no Meio Ambiente (RIMA) e Anlise de
Riscos;
definir especificaes mnimas para construo e operao de gasodutos, baseadas na legislao e
nas normas tcnicas existentes;
requerer programas de segurana para constru-o e operao da rede de distribuio de gs; e
estabelecer procedimentos de inspeo e fiscali-zao para construo e operao do sistema de
distribuio de gs.
A operao do gasoduto dentro da RMR de respon-
sabilidade da companhia distribuidora de gs natural do
estado, contudo, as exigncias feitas hoje, pelos rgos
municipais e estaduais, para esta etapa do processo no
so precisas, devendo ser foco das exigncias para a
licena de operao e posterior fiscalizao do sistema
de distribuio de gs. A seguir algumas destas exign-
cias so propostas:
estabelecer presses mximas de operao dos gasodutos dentro da RMR;
definir volumes mximos contidos entre vlvulas de bloqueio; requerer programas de inspeo de ro-
tina, pela operadora do sistema de distribuio de
gs, para identificao de vazamentos de gs e das
condies de operao da rede, incluindo, por e-
xemplo:
(a) Intervalos para inspees da tubulao via passagem de pig instrumentados ou outra tcnica no destrutiva e a conseqente
emisso de relatrios;
(b) Intervalos para inspeo dos sistemas de proteo contra corroso e a conseqente
emisso de relatrios;
definir o tempo de vida til dos ramais, e os pr-requisitos para sua retirada de operao e sua desa-
tivao.
requerer Planos de Emergncias para combater acidentes, com envolvimento dos rgos de gover-
no, companhia distribuidora de gs natural e da so-
ciedade civil representativa da rea contida entre
cada malha de distribuio passvel de bloqueio
por vlvulas, elaborados e coordenados pela ope-
radora do sistema; e
designar entidades especializadas, tipo universi-dades, institutos de pesquisa, ou mesmo consulto-
rias especializadas, para anlise e emisso de lau-
dos relativos aos relatrios de inspeo.
5. CONCLUSO
Neste trabalho procurou-se discutir a processo de
construo de gasodutos no contexto do gerenciamento
de riscos ambientais em sistemas de distribuio de
gs. Por ser uma atividade com alto potencial de riscos,
mas importante para o crescimento econmico, a distri-
buio de gs necessita de um gerenciamento eficaz
que possibilite a garantia da sustentabilidade do desen-
volvimento.
Aspectos importantes promoo da confiana no
sistema de distribuio de gs foram apresentadas, bem
como alguns possveis impactos ambientais e aes
mitigadoras. Algumas diretrizes para o processo de
licenciamento das obras de construo de gasodutos
foram tambm apresentadas, de modo a contribuir para
o desenvolvimento de uma regulamentao da ativida-
de que permita a rpida expanso da rede de distribui-
o sem comprometer a segurana, a viabilidade tcni-
ca e econmica e o meio ambiente.
O resultado deste trabalho dever contribuir para o
desenvolvimento de um sistema integrado de gesto da
qualidade e do meio ambiente, direcionado a constru-
o de gasodutos, que, no entendimento dos autores,
consiste numa ferramenta eficaz ao gerenciamento dos
riscos ambientais das redes de distribuio de gs.
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