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ESTUDO DA INFECÇÃO ESQUISTOSSOMÓTICA PRODUZIDA PELAS LINHAGENS HUMANA E SILVESTRE DO VALE DO RIO PARAÍBA DO SUL, SP (BRASIL), EM CAMUNDONGOS ISOGÊNICOS * Othon de Carvalho Bastos** Luiz Augusto Magalhães*** Gilda B. Pareja *** RSPUB9/477 BASTOS, O. de C. et al. Estudo da infecção esquistossomótica produzida pelas linhagens humana e silvestre do Vale do Rio Paraíba do Sul, SP (Brasil), em camundongos isogênicos. Rev. Saúde públ., S. Paulo, 13: 335-40, 1979. RESUMO: Foi estudada a influência da isogenicidade de camundongos de laboratório na capacidade de penetração de cercárias de Schistosoma mansoni de linhagem humana do Vale do Rio Paraíba do Sul, SP. Foram estudados, comparativamente, aspectos da biologia e da patogenia das linhagens humana e silvestre do S. mansoni do Vale do Rio Paraíba do Sul, SP (Brasil) em camundongos isogênicos. Foi vantajoso o uso de camundongos isogênicos devido a maior homogeneidade dos resultados e a maior penetração de cercárias pelo tegumento da cauda dos roedores. UNITERMOS: Schistosoma mansoni. Esquistossomose mansônica. Camun- dongos. * Realizado com o auxílio do CNPq. Processo TC. 7372. ** Da Universidade Federal do Maranhão Largo dos Ratos, 66 — 65000. São Luiz, MA Brasil. *** Do Departamento de Parasitologia do Instituto de Biologia da UNICAMP Caixa Postal 1170 13100 Campinas, SP Brasil. INTRODUÇÃO A maior parte dos trabalhos referentes ao estudo da infecção produzida pelo Schis- tosoma mansoni tem sido realizada utili- zando-se Mus musculus albinos. Estes animais são escolhidos por apresentarem vantagens de manuseio além de fornecerem patogenia esquistossomótica semelhante à observada no homem (Brener 1 , 1956). Entretanto, os roedores usados nestas experiências não são, na maior parte das vezes, isogênicos. Tendo em vista o re- cente emprego por vários pesquisadores (Warrens, 1969; Warren e col. 4 , 1967; Yoshimura e col. 6 , 1970) de animais iso- gênicos, avaliou-se, inicialmente numa pri- meira etapa do presente estudo, a influência da isogenicidade do hospedeiro vertebrado na capacidade de penetração e de desen- volvimento das larvas do S. mansoni da linhagem humana do Vale do Rio Paraíba

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ESTUDO DA INFECÇÃO ESQUISTOSSOMÓTICA PRODUZIDAPELAS LINHAGENS HUMANA E SILVESTRE DO VALE DO

RIO PARAÍBA DO SUL, SP (BRASIL), EMCAMUNDONGOS ISOGÊNICOS *

Othon de Carvalho Bastos**Luiz Augusto Magalhães***Gilda B. Pareja ***

RSPUB9/477

BASTOS, O. de C. et al. Estudo da infecção esquistossomótica produzidapelas linhagens humana e silvestre do Vale do Rio Paraíba do Sul,SP (Brasil), em camundongos isogênicos. Rev. Saúde públ., S. Paulo, 13:335-40, 1979.

RESUMO: Foi estudada a influência da isogenicidade de camundongos delaboratório na capacidade de penetração de cercárias de Schistosoma mansonide linhagem humana do Vale do Rio Paraíba do Sul, SP. Foram estudados,comparativamente, aspectos da biologia e da patogenia das linhagens humanae silvestre do S. mansoni do Vale do Rio Paraíba do Sul, SP (Brasil) emcamundongos isogênicos. Foi vantajoso o uso de camundongos isogênicos devidoa maior homogeneidade dos resultados e a maior penetração de cercárias pelotegumento da cauda dos roedores.

UNITERMOS: Schistosoma mansoni. Esquistossomose mansônica. Camun-dongos.

* Realizado com o auxílio do CNPq. Processo TC. 7372.** Da Universidade Federal do Maranhão — Largo dos Ratos, 66 — 65000. São Luiz, MA —

Brasil.*** Do Departamento de Parasitologia do Instituto de Biologia da UNICAMP — Caixa Postal

1170 — 13100 — Campinas, SP — Brasil.

I N T R O D U Ç Ã O

A maior parte dos trabalhos referentesao estudo da infecção produzida pelo Schis-tosoma mansoni tem sido realizada utili-zando-se Mus musculus albinos. Estesanimais são escolhidos por apresentaremvantagens de manuseio além de fornecerempatogenia esquistossomótica semelhante àobservada no homem (Brener1 , 1956).Entretanto, os roedores usados nestasexperiências não são, na maior parte das

vezes, isogênicos. Tendo em vista o re-cente emprego por vários pesquisadores(Warrens, 1969; Warren e col.4, 1967;Yoshimura e col.6, 1970) de animais iso-gênicos, avaliou-se, inicialmente numa pri-meira etapa do presente estudo, a influênciada isogenicidade do hospedeiro vertebradona capacidade de penetração e de desen-volvimento das larvas do S. mansoni dalinhagem humana do Vale do Rio Paraíba

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do Sul, SP. Em uma segunda etapa, estu-dou-se comparativamente, em camundongosisogênicos, aspectos da biologia e da pato-genicidade das linhagens humana e silves-tre do S. mansoni do Vale do Rio Paraíbado Sul, SP.

MATERIAL E MÉTODOS

Camundongos albinos não isogênicosforam expostos à infecção por linhagemhumana (H) do S. mansoni isolada defezes de doentes autóctones do Vale doRio Paraíba do Sul, SP. Cada roedor foiexposto a cem cercárias, utilizando-se ométodo de infecção pela cauda. Este expe-rimento foi realizado em nove grupos dedez camundongos.

Utilizando-se a mesma linhagem H e amesma técnica, expuseram-se à infecçãotrês grupos de cinco camundongos isogê-nicos.

Outros três grupos de cinco camundon-gos, também isogênicos, foram submetidosà infecção por cem cercárias de linhagemde S. mansoni isolada de fígados de roedo-res silvestres naturalmente infectados ecapturados no Vale do Rio Paraíba doSul (l inhagem silvestre, S).

Em todos os grupos utilizados no expe-rimento, após um período de duas horasdurante o qual a suspensão cercariana,mantida a 28°C, esteve em contato com acauda dos roedores, calculou-se a taxa depenetração das larvas, utilizando-se o mé-todo descrito por Magalhães2 (1969).

Sessenta dias após a infecção os camun-dongos foram sacrificados e seu plexo portae mesentérico perfundidos para obtenção econtagem dos vermes adultos (Yolles ecol.5 1947).

Os lotes de roedores isogênicos eramconstituídos pelas linhagens C3H/B10A doInstituto Biomédico da Universidade Fede-ral Fluminense, Niterói, RJ.

Os resultados foram submetidos a trata-mento estatístico mediante a utilização detestes de homogeneidade de variâncias. Aanálise de variância entre os roedoresisogênicos realizou-se segundo uma estru-tura de "split-plot", sendo que as obser-vações oriundas do mesmo camundongoforam correlacionadas. Foram feitas provast para a comparação das médias e F parase testar a heterogeneidade das variâncias.Como as variâncias das diferentes locali-zações dos vermes mostraram-se hetero-gêneas, utilizamos teste aproximado deCochran para testar as diferenças entre asmédias.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Comparando-se os resultados contidosnas Tabelas de l a 3 tratou-se, inicial-mente, de estudar a influência da isogeni-cidade do hospedeiro definitivo na capaci-dade de penetração das cercárias pelo tegu-mento da cauda.

Testando-se a homogenicidade das va-riâncias, verificou-se que a variação dosdados, de penetração das cercárias daslinhagens H e S pelo tegumento da caudados camundongos isogênicos não é signifi-cativamente diferente. Entretanto, a va-riância de penetração das cercárias dalinhagem H foi significativamente maiornos camundongos não isogênicos.

Quanto ao número de cercárias que pe-netraram, a análise estatística dos dadosmostrou que com relação ao fator isoge-nicidade, as cercárias da linhagem H pene-traram significativamente mais no tegu-mento dos camundongos isogênicos.

Nos camundongos isogênicos houve dife-rença significante no número de cercáriaspenetradas das linhagens H e S, penetrandomais as da linhagem humana.

As cercárias da linhagem H mostrarammaior capacidade de desenvolvimento (rela-ção número de cercárias penetradas enúmero de vermes adultos).

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Os dados das Tabelas 4 e 5 forneceram,após analisados, os resultados a seguir:

A linhagem humana apresentou númerosignificativamente maior de vermes do quea linhagem silvestre, e isto aconteceu quercom o total de vermes, quer com vermesde cada sexo tomados separadamente.

O número de vermes no mesentério foisignificativamente maior na linhagem hu-mana do que na silvestre, enquanto queo número de vermes na veia porta e nofígado não foi significativamente diferentenas duas linhagens,

Na linhagem humana obteve-se númerosignificativamente maior de vermes no me-sentério do que na veia porta e no fígado,enquanto que na linhagem silvestre o nú-mero de vermes no mesentério, na veiaporta e fígado não foi significativamentediferente.

Na linhagem humana, tanto os machosquanto as fêmeas situavam-se significativa-mente em maior número no mesentério doque na veia porta e fígado, enquanto quena linhagem silvestre os machos situavam-se significativamente em maior número na

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veia porta e fígado do que no mesentériosendo que as fêmeas se distribuiram porigual.

Tanto na linhagem "H" como "S", onúmero de vermes machos e fêmeas nãofoi significativamente diferente no mesen-tério enquanto que na veia porta e fígadocontou-se signif icat ivamente mais machosdo que fêmeas.

Houve maior número de esquistossomosmachos que fêmeas, e isto observou-setanto na l inhagem silvestre quanto nahumana.

Analisando-se comparativamente os dadossobre o número de granulomas hepáticos enúmero de vermes das linhagens "H" e "S",verificamos que a l inhagem humana apre-sentou maior número de granulomas hepá-ticos do que a l inhagem silvestre.

CONCLUSÃO

Verif icamos ser vantajoso o uso de ca-mundongo isogênico não só devido a maiorhomogeneidade dos dados obtidos comotambém a maior penetração de cercáriaspelo tegumento da cauda dos roedores.

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BASTOS, O. de C. et al. [Some results of schistosomiasis mansoni in inbredmice infected with human and wild rodent strains from the Paraiba doSul River Valley, S. Paulo, Brazil] Rev. Saúde públ., S. Paulo, 13:335-40, 1979.

ABSTRACT : The behavior of a human S. mansoni strain was studied ininfected, outbred mice. A comparative study was carried out to evaluate theeffects of the infection in inbred mice, employing human and wild rodent strainsof S. mansoni. The use of inbred mice was advantageous in that it allowedgreater uniformity in the results as well as greater penetration of surroundingareas through the caudal tegmentum.

UNITERMS: Schistosoma mansoni. Schistosomiasis. Mice.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. BRENER, Z. Observações sobre a infecçãodo camundongo pelo Schistosoma man-soni. Rev. bras. Malar., 8:565-75, 1956.

2. MAGALHÃES, L. A. Técnica para avaliaçãoda viabilidade de penetração de cer-

cárias de Schistosoma mansoni em Musmusculus. Hospital, Rio de Janeiro,75:137-40. 1969.

3. WARREN, K. S. Inhibition of granulomaformation around Schistosoma man-soni eggs. V. "Hodgkin's-Like Lesion"in SJL/J mice. Amer. J. Path., 36:293-303. 1969.

4. WARREN, K. S. et al. Granuloma forma-tion around schistosome eggs as a

manifestation of delayed hypersensi-tivity. Amer. J. Path., 51:735-56, 1967.

5. YOLLES, T. K. et al. A technique for theperfusion of laboratory animals forthe recovery of schistosomes. J. Para-sit., 33:419-26. 1947.

6. YOSHIMURA. K. et al. Further studies onthe differences in susceptibility forfour strains of inbred mice to infectionwith Schistosoma japonicum. Res.Bull. Meguro Parasit. Mus., 4:21-5.1970

Recebido para publicação em 20/06/1979

Aprovado para publicação em 30/07/1979