05ª edição ano iii - número 2 2º semestre de...
TRANSCRIPT
ISSN (1981-2183) REVISTA INTERAÇÃO | Ano III número 2 2º semestre de 2009 3
A InterAção é uma publicação anual da Faculdade das Américas que tem objetivo fomentar e divulgar a produção do conteúdo acadêmico-científi co dos discentes e docentes da FAM.
Os artigos assinados são de exclusiva responsabilidade dos autores que cedem os direitos autorais para a Faculdade das Américas, o qual permite a publicação de trechos ou de sua totalidade, com prévia permissão, desde que a fonte seja citada.
EXPEDIENTEProfessores: Dr. Alan Vendrame Dr. Francisco Augustin Machado Echalar Ms. Liliam Ferreira Manocchi Dra. Luciana Gimenes Parada dos Santos Ms. Maria Bernadete TonetoMarketing: Thiago Silva Braga
CONSELHO EDITORIAL
Revista InterAçãoFaculdade das AméricasRua Augusta, 1.508 – ConsolaçãoSão Paulo/SP – 01304-001Fone: (11) 3469-7600 – (Ramal 7640)site: vemprafam.com.br
Disponibilidade virtual: Todos os artigos publicados estão disponíveis no site: www.vemprafam.com.br/aluno/biblioteca
A revista InterAção é distribuída gratuitamente.
FICHA CATALOGRÁFICA
Professora: Dra. Luciana Gimenes Parada dos Santos Doutora em Letras
REVISÃO DA LÍNGUA PORTUGUESA
Professora: Ms. Maria Bernadete TonetoEDITOR
Marketing: Larissa Pereira Barreto Wilson Baracho
CAPA E PRODUÇÃO GRÁFICA
XXXXXXXXXXXIMPRESSÃO
ISSN (1981-2183) REVISTA INTERAÇÃO | Ano III número 2 2º semestre de 2009 5
SUMÁRIOAPRESENTAÇÃO9
A RELAÇÃO ENTRE O USO DOS CONTROLES DEGESTÃO E A CONTINUIDADE DAS PEQUENAS E MÉDIAS EMPRESAS11
Rogério Massami Kita1 ........................................................................................ 11RESUMO .................................................................................................................... 13ABSTRACT .................................................................................................................. 14INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 151. REVISÃO DA LITERATURA ................................................................................... 152 ANÁLISE EMPÍRICA ................................................................................................ 19CONCLUSÃO .............................................................................................................. 21REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................... 23
GESTÃO EM SAÚDE E SAÚDE PÚBLICA125
Rogério Nazário da Silva2 ................................................................................... 25Flávia Silveira Serralvo3....................................................................................... 25
RESUMO .................................................................................................................... 271 GESTÃO EM SAÚDE NO SÉCULO XXI ................................................................ 282 SISTEMA INTEGRADO DE SERVIÇOS DE SAÚDE ........................................... 293 SAÚDE PÚBLICA ..................................................................................................... 324 SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE ................................................................................. 35CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................................... 49REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................... 50
O PAPEL DA MARCA PRÓPRIA PARA A REDE DE SUPERMERCADOS 151
Carlos Alberto Nunes Viana Junior2 .................................................................. 51Sergio dos Santos Clemente Júnior3 ................................................................ 51
RESUMO .................................................................................................................... 53ABSTRACT ................................................................................................................. 54INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 551 REVISÃO DA LITERATURA ................................................................................... 562 MATERIAIS E MÉTODOS ...................................................................................... 623 RESULTADOS E DISCUSSÃO .............................................................................. 66CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 72REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 73REFERÊNCIAS ELETRÔNICAS .............................................................................. 74
6 REVISTA INTERAÇÃO | Ano III número 2 2º semestre de 2009 ISSN (1981-2183)
OS EMPRESÁRIOS E A CRISE DO MODELO BRASILEIRODE DESENVOLVIMENTOS75
Marcos Lopes Padilha1 ........................................................................................ 75RESUMO .................................................................................................................... 77ABSTRACT ................................................................................................................. 78INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 791 REFORMAS NEOLIBERAIS E A POSIÇÃO DOS EMPRESÁRIOS ................... 812 EMPRESÁRIOS E A MUDANÇA DO PAPEL ECONÔMICO DO ESTADO ........ 843 EMPRESÁRIOS E A ABERTURA DO MERCADO ................................................ 87REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 92
OS LIMITES DA COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO PARAA EXECUÇÃO DAS CONTRIBUIÇÕES DA SEGURIDADE SOCIAL95
Reginaldo Lourenço Pierrotti Júnior1 ............................................................... 95RESUMO .................................................................................................................... 97ABSTRACT .................................................................................................................. 98INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 991 BREVE HISTÓRICO DA AMPLIAÇÃO DA COMPETÊNCIA DAJUSTIÇA DO TRABALHO .......................................................................................... 992 NATUREZA JURÍDICA DAS CONTRIBUIÇÕES PARASEGURIDADE SOCIAL .............................................................................................. 1013 CONSTITUCIONALIDADE DO INCISO VIII DO ART. 114 DACONSTITUIÇÃO FEDERAL ....................................................................................... 1024 ESTRUTURA DA NORMA JURÍDICA TRIBUTÁRIA ............................................. 1035 LIMITES À COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO ................................. 1086 PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA ............................................................................ 115CONCLUSÃO .............................................................................................................. 117REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................... 118
PESQUISA MERCADOLÓGICA DESENVOLVIDA PARA O CLIENTE“O PEDAÇO DA PIZZA” PELA AGÊNCIA EXPERIMENTALDE PROPAGANDA “QI 180” 1121
Eduardo Sani Teixeira de Andrade 2 .................................................................. 121Renan Ricardo Alves 3 ......................................................................................... 121Thiago Ransato 4 .................................................................................................. 121Sergio dos Santos Clemente Júnior5 ................................................................ 121
RESUMO .................................................................................................................... 123INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 1241 OBJETIVOS DO CLIENTE ..................................................................................... 1242 JUSTIFICATIVA ....................................................................................................... 1243 MÉTODOS E TÉCNICAS UTILIZADOS ................................................................ 1254 DESCRIÇÃO DO PRODUTO OU PROCESSO ................................................... 127CONSIDERAÇÕES ................................................................................................... 130REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 131
ISSN (1981-2183) REVISTA INTERAÇÃO | Ano III número 2 2º semestre de 2009 7
UM ESTUDO SOBRE AS PROPOSTAS DE SKINNER E AS DEVYGOTSKY: A CONTRIBUIÇÃO DE UMA APROXIMAÇÃO 1133
Marcos Antonio Lucci2 ........................................................................................ 133RESUMO .................................................................................................................... 135ABSTRACT ................................................................................................................. 136REFLEXÃO E DISCUSSÃO ...................................................................................... 137REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFIAS ............................................................................ 145
ISSN (1981-2183) REVISTA INTERAÇÃO | Ano III número 2 2º semestre de 2009 9
Este número da Revista Científi ca da Faculdade das Américas apresenta seis
artigos da área de educação. Os dois primeiros – os textos de Miranda e de Britto –
discutem a educação de uma perspectiva epistemológica. Os demais têm como pano
de fundo o tema da inclusão.
Miranda propõe uma leitura de dois momentos históricos distintos, mas que
guardam entre si uma relação: a crise do paradigma científi co moderno, em foco
principalmente a partir do fi nal do século XX, e a emergência da etnomatemática
como campo de pesquisa formal. O autor defende que é importante questionar o
papel da educação matemática nesse contexto de crise epistemológica que preconiza
a complexidade e a transdisciplinaridade na educação, bem como a aceitação de
culturas periféricas como parte integrante do conhecimento matemático.
O artigo “O Ensino de história: o saber a ser ensinado e o saber ensinado” se
propõe a discutir a transposição didática no ensino de história, a partir de estudo de
caso que buscou analisar como essa disciplina foi ministrada em um assentamento
do Movimento Sem Terra.
Os artigos orientados na perspectiva da inclusão tratam dos seguintes temas:
a educação da criança autista, das crianças e jovens residentes em abrigos, das
crianças hospitalizadas, e a educação artística numa proposta multiculturalista.
O trabalho de Santos e Guerra aborda os caminhos da inclusão do autista na escola.
Para tanto, apresenta uma descrição e uma classifi cação do transtorno do espectro
autista e aponta possibilidades e potencialidades do trabalho com a criança portadora
dessa síndrome. A pesquisa é orientada pela concepção de que é fundamental que a
criança, autista ou não, esteja sempre no centro do processo de aprendizagem.
A inclusão também é o tema do artigo de Farias, que trata da educação de crianças
residentes em abrigos. A autora aponta as mudanças positivas na legislação após a
substituição do antigo Código de Menores pelo Estatuto da Criança e do Adolescente,
mudanças essas que fortaleceram o estatuto das crianças e jovens como sujeitos
sociais portadores de uma série de direitos, obrigando a transformações nas práticas
de atendimento asilar. Destaca, porém, que ainda é preciso investimento em políticas
de formação dos profi ssionais das equipes de abrigos para que haja, de fato, uma
APRESENTAÇÃO
10 REVISTA INTERAÇÃO | Ano III número 2 2º semestre de 2009 ISSN (1981-2183)
renovação da educação que se oferece às crianças residentes em abrigos.
O trabalho de Pereira aborda a Arteterapia para crianças hospitalizadas como um recurso que permite ao paciente se expressar por meio de diferentes linguagens. Isso promove uma melhor integração da criança ao seu novo contexto e uma humanização do ambiente hospitalar. Esses benefícios destacam o valor da Arteterapia como um processo terapêutico que eleva a qualidade de vida da criança hospitalizada, contribuindo para o seu processo de recuperação.
A pesquisa de Gottsfritz aponta a necessidade de democratização do ensino de artes nas escolas. A escola vem trabalhando com uma seleção de conteúdos artísticos e códigos culturais identifi cados com os valores das camadas mais ricas da sociedade. Esse recorte resulta na exclusão daqueles alunos que, de um lado, não dominam a linguagem cultural que é imposta nessa perspectiva tradicional e, de outro, não veem os seus próprios códigos e valores contemplados pela escola. Numa perspectiva de currículo escolar crítico e pós-crítico é preciso contestar essa hegemonia cultural e promover o multiculturalismo em sala de aula.
Este volume traz ainda um artigo sobre educação corporativa e gestão do conhecimento. O autor assume que, em uma empresa, existe uma relação intrínseca entre estratégia, competitividade e conhecimento. Sendo assim, busca analisar as possíveis relações entre esses elementos, a fi m de propor maneiras de promoção de uma sintonia produtiva entre eles.
Por fi m, a Revista inclui um trabalho da área de meio ambiente. Com foco na sustentabilidade empresarial, os autores fazem um estudo da iluminação dentro das empresas, utilizando como exemplo a Companhia do Metropolitano de São Paulo. A proposta da pesquisa é verifi car o alinhamento estratégico entre as propostas fi rmadas pelas empresas em relação a sua imagem social e as ações operacionais que de fato implementam, além de demonstrar a viabilidade fi nanceira de uma oportunidade de inovação sustentável.
Editor Responsável
Ms. Maria Bernadete Toneto
ISSN (1981-2183) REVISTA INTERAÇÃO | Ano III número 2 2º semestre de 2009 11
A RELAÇÃO ENTRE O USO DOS CONTROLES DE GESTÃO E A CONTINUIDADE DAS PEQUENAS E MÉDIAS EMPRESAS
1
Rogério Massami Kita1
A RELAÇÃO ENTRE O USO DOS CONTROLES DE GESTÃO E A CONTINUIDADEDAS PEQUENAS E MÉDIAS EMPRESAS
12 REVISTA INTERAÇÃO | Ano III número 2 2º semestre de 2009 ISSN (1981-2183)
ROGÉRIO MASSAMI KITA
ISSN (1981-2183) REVISTA INTERAÇÃO | Ano III número 2 2º semestre de 2009 13
RESUMO
O artigo tem como fi nalidade a pesquisa de controles de gestão empresarial essenciais a todas as empresas, inclusive as chamadas pequenas e médias empresas, que buscam sua excelência e continuidade para um bom desempenho econômico, fi nanceiro e social. Diversos estudos já foram realizados a fi m evidenciar a importância dos controles gerenciais para as organizações, porém uma grande difi culdade encontrada nestas empresas é aplicar a teoria na prática. Sendo assim, será apresentada uma pesquisa entre pequenas e médias empresas localizadas nos municípios de São Bernardo do Campo, Santo André, São Caetano do Sul e Diadema e como estas empresas têm utilizado controles gerenciais no processo de gestão empresarial. No contexto das pequenas e médias empresas, pode-se perceber que o processo decisório é restrito e limitado a determinadas pessoas, portanto, o grau de responsabilidade nas decisões para estas empresas tem um grande teor de importância, nas empresas familiares também é possível identifi car características semelhantes ao processo decisório, por fi m, há relação do uso de controles gerenciais para garantir a continuidade dessas empresas?
Palavras-chave: 1. Controles de Gestão. 2. Continuidade. 3. Pequenas e Médias Empresas. 4. Contabilidade.
THE RELATIONSHIP BETWEEN THE USE OF CONTROLS AND MANAGEMENT CONTINUITY OF SMALL AND MEDIUM ENTERPRIS
1 Bacharel em Ciências Contábeis, Especialização em Controladoria e Mstre em Administração de Empresas. Sócio Diretor da NK Contabilidade e Professor da Faculdade das Américas (São Paulo – SP) Email: [email protected]
A RELAÇÃO ENTRE O USO DOS CONTROLES DE GESTÃO E A CONTINUIDADEDAS PEQUENAS E MÉDIAS EMPRESAS
14 REVISTA INTERAÇÃO | Ano III número 2 2º semestre de 2009 ISSN (1981-2183)
ABSTRACT
The work is to search for control of key business management for all enterprises, including so-called small businesses, seeking their excellence and continuity to good economic performance, fi nancial and social. Several studies have been conducted to highlight the importance of management controls for organizations, but a major diffi culty encountered in these companies is to apply the theory in practice. Thus, will be presented in this work, a survey among small and medium enterprises located in the municipalities of Sao Bernardo do Campo, Santo André, São Caetano do Sul and Diadema and such companies have management controls used in business management. In the context of small and medium enterprises, we can notice that the process is restricted and limited to certain people, therefore, the degree of responsibility in the decisions for these companies has a great level of importance in family businesses is also possible to identify characteristics similar to the process, fi nally, are related to the use of management controls to ensure the continuity of these companies?
Key-Words: 1. Management Control. 2. Continuity. 3. Small and Medium Enterprises. 4. Accounting.
ROGÉRIO MASSAMI KITA
ISSN (1981-2183) REVISTA INTERAÇÃO | Ano III número 2 2º semestre de 2009 15
INTRODUÇÃO
Vários autores têm publicado diversos artigos sobre a mortalidade das pequenas e médias empresas, e diagnosticam que o ciclo de vida das pequenas e médias empresas é curto, fato que levam esses autores a questionarem os motivos ou as causas para esta morte precoce.
É neste mesmo rumo que o presente trabalho parte do conceito de controle de gestão para verifi car a relação entre o uso dos controles e a continuidade das pequenas e médias empresas. Porém, não é possível afi rmar que a utilização dos controles gerenciais será fator determinante para a continuidade de uma empresa, já que existem diversos outros fatores relacionados ao sucesso e a continuidade de uma empresa. Mas espera-se nesta pesquisa que possa encontrar alguma relação entre o sucesso e gestão empresarial.
Como objetivo principal deste trabalho, estuda-se a relação entre o uso de controles de gestão com a continuidade das empresas, identifi cando através dos gestores quais os controles de gestão mais utilizados para a sobrevivência de uma pequena e média empresa.
Essas empresas estão localizadas nos municípios de São Bernardo do Campo, Santo André, São Caetano do Sul e Diadema. Sendo todas classifi cadas entre pequenas e médias empresas do setor de indústrias metalúrgicas.
O tema aborda a questão estratégica nos campos da Administração e da Contabilidade
e evidencia o papel do gestor nas empresas
baseado sempre em informações relevantes e
que possam refl etir mecanismos de controles
de gestão e seu grau de importância para a
continuidade de uma empresa.
Por se tratar de uma abordagem muito ampla
e com diversas variáveis, no fi nal da pesquisa
serão apresentado os principais controles
utilizados pelas empresas e assim será possível
identifi car quais são os controles mais utilizados
que contribuem para a continuidade de uma
empresa.
Logo, o grau de decisão deve ser ressaltado
pelos gestores de uma organização como
fundamental para a continuidade de seus
negócios e que estas informações serão
utilizadas para o comando e o direcionamento
da empresa.
1. REVISÃO DA LITERATURA
Este capítulo trata dos principais conceitos
de controles envolvidos neste artigo,
sendo fundamentais para sua defi nição e
contextualização, pois todo este entendimento
será utilizado como referencial para a condução
da pesquisa.
Os controles são essenciais à natureza
do negócio e para a empresa obter um real
conhecimento do seu estado de crescimento,
lucratividade e cumprimento das metas
estabelecidas a única forma de se obter esses
dados gerenciais são através dos controles de
gestão.
A RELAÇÃO ENTRE O USO DOS CONTROLES DE GESTÃO E A CONTINUIDADEDAS PEQUENAS E MÉDIAS EMPRESAS
16 REVISTA INTERAÇÃO | Ano III número 2 2º semestre de 2009 ISSN (1981-2183)
O controle é a maneira de garantir que as
práticas administrativas estão sendo executadas
dentro das políticas da empresa, podendo assim
corrigir eventuais falhas ou desvios que podem
estar ocorrendo no fl uxo operacional, partindo
de um procedimento padronizado e já existente
para que seja verifi cada a sua igualdade.
Gomes e Salas (2001, p.22), assim o
defi nem:
“O controle, seja muito ou pouco
formalizado, é fundamental para
assegurar que as atividades de uma
empresa se realizem de forma desejada
pelos membros da organização e
contribuam para a manutenção e
melhoria da posição competitiva e a
consecução das estratégias, planos,
programas e operações, consentâneos
com as necessidades identifi cadas
pelos clientes. Para alcançar estes
objetivos, a administração se assegura
de obter a informação e infl uenciar o
comportamento das pessoas para atuar
sobre as variáveis internas e externas
de que depende o funcionamento da
organização”.
Neste mesmo contexto, Gomes e Salas
(2001, p.116), também afi rmam que as
organizações se desenvolvem num contexto
social caracterizado por fortes mudanças e de
grande competitividade, sendo fundamental
ter a informação tanto interna como externa,
para adaptar o controle estratégico: “controle
estratégico é aquele que está orientado à
manutenção e a melhoria contínua da posição
competitiva da empresa”.
1.1 CONTROLE DE GESTÃO
Anthony e Govindaranjan (2006, p.34),
abordam o assunto como o processo em que
executivos se interagem infl uenciando outros
membros da organização para que se envolvam
e obedeçam as estratégias da organização.
Gomes e Salas (2001, p. 39-41) afi rmam
que:
O controle gerencial é o conjunto
da formulação das estratégias e dos
controles de tarefas, distinguindo cada
uma das etapas, onde, formulação
das estratégias é o processo pelo
qual são decididos os objetivos e as
formas para alcançar estes objetivos e
o controle das tarefas como o processo
de assegurar que as tarefas sejam
cumpridas de forma efi caz e efi ciente.
Flamholtz (1979) apud Gomes e Salas
(2001, p. 41), afi rma a defi ciência dos sistemas
de controle de gestão pode ser causada
pelo entendimento inadequado da natureza
do controle organizacional ou por falta de
conhecimento acerca do que seja um sistema
de controle efi caz.
Sendo assim, o sistema de controle é
defi nido como uma série de mecanismos
projetados para aumentar a probabilidade das
pessoas se comportarem de modo a alcançar
ROGÉRIO MASSAMI KITA
ISSN (1981-2183) REVISTA INTERAÇÃO | Ano III número 2 2º semestre de 2009 17
os objetivos da organização, mas infl uenciá-las
a agirem de forma consistente com os objetivos
da organização. Infelizmente a congruência
total difi cilmente será alcançada, logo, o
principal objetivo do sistema é aumentar o grau
de goal congruence.
1.2 VISÃO DE PLANEJAMENTO E CONTROLE DE GESTÃO DAS PME´S
Neste tópico são abordados os conceitos de
planejamento e controle de gestão aplicados
às PMEs, com o intuito de identifi car conceitos
fundamentais a estas empresas que possam
dar sustentabilidade e condições de atender as
práticas de boa gestão e conseqüentemente
dar uma continuidade em suas atividades.
Porém antes de trazer os dados de uma
pesquisa realizada entre em atividade e as
encerradas, é importante se conceituar o
que é um planejamento e como ele pode ser
executado.
Quando se fala em planejar, automaticamente
se associa a organizar-se, a prevenir-se de
eventuais acontecimentos que pode vir a
ocorrer. Os autores Thompson e Strickland
(2002, p. 6), afi rmam:
“o planejamento deve consistir
principalmente da coleta de informações
necessárias aos implementadores de
estratégia, elaborando análises de
situações circundantes, estabelecendo
e administrando um revisão da
estratégia anual por meio da qual os
gerentes reconsideram e refi nam seus
planos estratégicos desenvolvidos
para as várias partes da empresa”.
“eles podem fornecer dados
úteis, ajudar e analisar as condições
da indústria e da competitividade
e desenvolver avaliações de
desempenho estratégico da empresa”.
Esses mesmos autores trazem também um
conceito importante relacionado a estratégia,
chamado de vantagem competitiva. Ou seja,
através de seu planejamento, as pequenas
e médias empresas podem obter vantagens
que serão seu diferencial e sua capacidade de
superar seus principais concorrentes.
Os mesmos autores Thompson e Strickland
(2002, p. 153), conceituam vantagem
competitiva, como:
“Uma empresa tem vantagem
competitiva sempre que tiver vantagem
sobre as rivais para atrair os clientes
e defender-se contra as forças
competitivas. Existem muitas fontes
de vantagem competitiva: ter o produto
mais bem feito do mercado, ser capaz
de proporcionar serviço superior ao
cliente, obter custos mais baixos que
os rivais, estar em uma localização
geográfi ca mais conveniente, tecnologia
patenteada, características e estilos
mais atraentes para o comprador, menor
tempo de desenvolvimento e teste de
novos produtos, nome de marca bem
A RELAÇÃO ENTRE O USO DOS CONTROLES DE GESTÃO E A CONTINUIDADEDAS PEQUENAS E MÉDIAS EMPRESAS
18 REVISTA INTERAÇÃO | Ano III número 2 2º semestre de 2009 ISSN (1981-2183)
conhecido e reputação, e proporcionar
aos compradores um valor maior pelo
dinheiro (combinação de boa qualidade,
bom serviço e preço aceitável)”.
Se o assunto é estratégia e vantagem competitiva, não se pode deixar de mencionar Porter, reconhecido mundialmente por sua visão e conhecimento nesta área.
Abaixo uma visão do autor, (Porter, 1999: 47):
“Uma empresa só é capaz de superar
em desempenho os concorrentes se
conseguir estabelecer uma diferença
de ganhos. Ela precisa proporcionar
maior valor aos clientes ou gerar valor
comparável a um custo mais baixo,
ou ambos. Daí ocorre a aritmética da
rentabilidade superior: o fornecimento
de maior valor permite a empresa cobrar
preços unitários médios mais elevados;
a maior efi ciência resulta em custos
unitários médios mais baixos”.
Uma vez apresentado esses conceitos importantes para se iniciar qualquer negócio ou se planejar para que um determinado negócio possa ter boa sustentabilidade e quem sabe assim obter vantagem competitiva sobre seus
concorrentes, pode-se apresentar a seguir uma pesquisa no qual destaca a importância de se realizar um planejamento e de se estudar quais os meios de alcançar a estratégia estabelecida.
A pesquisa citada foi realizada do Sebrae/SP e foi coordenado por Bedê (2005, p. 16), através da mesma, e aponta alguns itens considerados pelo autor como relevantes para uma melhor abordagem do assunto pesquisado.
A metodologia aplicada foi de pesquisa em campo com base em um banco de dados do SEBRAE/SP entre 1999 a 2003 de mais de 12.000 empresas clientes do SEBRA/SP e de 2.000 empresas que participaram da amostra da pesquisa realizada e têm o objetivo de identifi car o grau de mortalidade das pequenas e médias empresas e suas causas para a mortalidade.
Através desta pesquisa, pode-se obter os seguintes dados apresentados na tabela 5, onde tem-se uma pesquisa do planejamento realizado entre empresas encerradas e empresas em atividade
Percebe-se que os indicares das empresas em atividade são sempre maiores do que as empresas encerradas, confi rmando a importância de um planejamento.
TABELA 1: PLANEJAMENTO DAS EMPRESASEmpresas Encerradas Empresas em Atividade
Planejamento médio antes da abertura 5,3 meses 7,4 mesesIndice médio de itens planejados 53% 55%Sempre aperfeiçou produtos 73 % sim 85 % simSempre acompanhou receitas e despesas 67 % sim 74 % simSempre fez propaganda e divulgação 21 % sim 24 % simConcorrência com grandes empresas 43 % sim 51 % sim
Fonte: Sebrae/SP -Bedê (2005, p. 16). Adaptado pelo autor.
ROGÉRIO MASSAMI KITA
ISSN (1981-2183) REVISTA INTERAÇÃO | Ano III número 2 2º semestre de 2009 19
Outro assunto bastante interessante e
de destaque na pesquisa Sebrae/SP, é a
abordagem junto com os empresários das
empresas encerradas, na tentativa de identifi car
qual ou quais os principais fatores que levaram
as empresas a encerrar suas atividades e não
manter a continuidade de seu negócio. Bedê
(2005, p. 34) juntamente com sua equipe, são
bem detalhistas para expor os motivos alegados
pelas empresas encerradas para o fechamento
do negócio como pode-se perceber do gráfi co 3.
GRÁFICO 1: PRINCIPAIS MOTIVOS DO ENCERRAMENTO
Fonte: Bedê (2005, p. 34). Adaptado pelo autor.
Diante deste cenário, pode se perceber a
importância do planejamento e dos controles
gerenciais numa organização.
2 ANÁLISE EMPÍRICA
2.1 METODOLOGIA APLICADA
A metodologia utilizada é a pesquisa
descritiva destacando-se enfoque quantitativo
para a análise dos dados.
Na pesquisa bibliográfi ca, foi levantado o
referencial teórico dos assuntos abordados
e descritos a fi m de relatar os conceitos
pesquisados e na pesquisa quantitativa, foi
aplicado o uso de questionário.
Para o uso dos questionários, foram
convidadas empresas do setor industrial,
no ramo metalúrgico, pois representada
a concentração do grande ABC, entre os
municípios de São Bernardo do Campo, Santo
André, São Caetano do Sul e Diadema.
2.1.1 MÉTODOS E TÉCNICAS DE PESQUISA
Utilizando-se da associação das
informações, buscou através de conceitos
estatísticos para identifi car as informações de
acordo com sua localização por município e
por porte empresarial e conseqüentemente
obter maiores correlações entre as variáveis
propostas entre o uso de controles de gestão e
a continuidade das empresas.
Para isso, utilizou-se a técnica de análise de
correspondência, para a verifi cação da relação
existente ou não entre o uso de controles de
gestão na continuidade das pequenas e médias
empresas.
Conforme Hair at al (2005, p. 34), a
Análise de Correspondência é uma técnica
de interdependência que tem se tornado cada
vez mais popular para a redução dimensional
e o mapeamento percentual. É uma técnica
composicional porque o mapa percentual é
baseado na associação entre objetos e um
conjunto de características descritivas ou
A RELAÇÃO ENTRE O USO DOS CONTROLES DE GESTÃO E A CONTINUIDADEDAS PEQUENAS E MÉDIAS EMPRESAS
20 REVISTA INTERAÇÃO | Ano III número 2 2º semestre de 2009 ISSN (1981-2183)
atributos especifi cados pelo pesquisador.
2.1.2 AMBIENTE DE PESQUISA E AMOSTRA
A população foi determinada pela quantidade de 71.417 empresas localizadas nos municípios citados anteriormente, conforme classifi cadas de acordo com suas áreas de atuação.
Desta população foi escolhido o setor das indústrias no qual totalizam 8.843 empresas. E do setor industrial selecionado o ramo metalúrgico, com um total de 1.219 empresas.
O setor industrial metalúrgico foi escolhido por representar a região do ABC com grande concentração de mão de obra, marcando a força das empresas junto a economia brasileira. Este setor emprega quase 14% da mão de obra do grande ABC e está distribuído entre os municípios da seguinte forma:
Uma vez determinada a população, representada pelas indústrias metalúrgicas, o próximo passo foi de identifi car o tamanho da amostra, que pode ser estabelecida através da equação abaixo.
Segundo McHugh (1961) e Volatier et al (2002), com o ajuste sugerido por Cochran (1986), pode-se adotar a seguinte fórmula, para calcular o tamanho mínimo da amostra, para a coleta de dados proposta, a fi m de cumprir os objetivos da pesquisa:
n = tamanho da amostra desejada
z = abcissa da curva Normal determinada por uma área de tamanho (alfa), que é o risco para que a margem de erro adotada seja a menor possível
d = margem de erro adotado, ou, também chamada de precisão adotada
CV = coefi ciente de variação; esse valor será estimado como sendo a relação entre a diferença do terceiro e do primeiro quartil, e, a soma desses quartis
N = tamanho da população de onde será coletada a amostra
2.1.3 ESTIMAÇÃO DE CV
O valor do coefi ciente de variação foi calculado através das informações entre o número de empresas por município, sendo que se levou em consideração o número de indústrias do setor metalúrgico e o número de colaboradores no mesmo setor metalúrgico.
Através destas informações, obteve-se aleatoriamente do catálogo geral das indústrias do grande ABC, edição 2006, da CIESP – Confederação das Indústrias do Estado de São Paulo a coleta de informações sobre 247 empresas nas quais foram identifi cadas através de uma estimação do desvio padrão o número de colaboradores de acordo com faixas por número de colaboradores.
O cálculo de quartis para dados dispostos em classes é uma informação estanque, ou seja, sempre se calculam esses quartis de um
ROGÉRIO MASSAMI KITA
ISSN (1981-2183) REVISTA INTERAÇÃO | Ano III número 2 2º semestre de 2009 21
mesmo modo, neste caso, aplicou-se o mesmo
método para os quatro municípios pesquisados.
Dessa forma foi calculado o CV dos
municípios pesquisados e coincidentemente o
valor foi o mesmo para ambos, pois a base de
cálculo estava assentada sobre as faixas dos
números de colaboradores. Como essas faixas
eram constantes para os quatro municípios,
medidas como quartis (25%, mediana e 75%)
podem ser coincidentes, o que permite afi rmar
que a distribuição das empresas, nos quatro
municípios, é semelhante.
Para cada um dos quatro municípios
estudados (São Bernardo do Campo, Santo
André, São Caetano do Sul e Diadema),
estimou-se o valor do coefi ciente de variação,
com base na relação entre a diferença e a soma
dos quartis.
A variável-base usada para essa estimação
foi o ‘número de colaboradores’. Assim,
encontrou que o Coefi ciente de Variação, nos
quatro casos, vale 0,573.
Considerando-se uma Distribuição Normal
para CV, podemos adotar z = 1,96, o que
signifi ca que a área sob a curva normal terá
tamanho aproximado de 0,050; além disso,
podemos adotar a margem de erro de 10,0%;
CV foi estimado em 0,573.
Neste caso, adotou-se uma margem de
erro de 10% e o tamanho da amostra de 350
empresas, separadas por município da seguinte
forma:
TABELA 2: MARGEM DE ERRO E TAMANHO DA AMOSTRA
São Ber-nardo Santo André São Cae-
tano Diadema Total
91 72 92 96 350
Fonte: Elaborado pelo autor
Uma vez determinada o tamanho da amostra, deu-se início a coleta dos dados, através da aplicação de um questionário e a análise dos dados foi tabulada através do método surveys, conforme descrição no item instrumentos de pesquisa.
2.2 ANÁLISE E TRATAMENTO DOS DADOS
Através de uma visão empírica, obteve-se participação de 55 empresas que responderam os questionários enviados. Logo, não foi possível atender ao cálculo do tamanho da amostra que eram de 350 empresas, já que apenas 55 empresas se prontifi caram a participar da pesquisa. Os dados foram tratados pelo programa SPSS (Statistical Package for Social Sciences), em sua versão 13.0.
CONCLUSÃO
Pode-se perceber que nas empresas pesquisas, através do nível de signifi cância (p), avaliou-se o grau de associação entre as variáveis uso de controle e importância dos controles para as questões de Faturamento Anual, Número de Colaboradores e Ano de Existência.
O que se percebeu foi que o “p” quando menor do que 5% (0,050), indicaria que a relação entre
A RELAÇÃO ENTRE O USO DOS CONTROLES DE GESTÃO E A CONTINUIDADEDAS PEQUENAS E MÉDIAS EMPRESAS
22 REVISTA INTERAÇÃO | Ano III número 2 2º semestre de 2009 ISSN (1981-2183)
ambas as variáveis formadoras de cada par
eram estatisticamente signifi cante, ou seja, suas
categorias estavam efetivamente associadas;
se a signifi cância calculada (p) fosse igual ou
maior do que 5% (0,050), então, a associação
entre as categorias se apresentavam com fraca
tendência à associação.
Na maior parte da análise, percebeu-se
pouca associação das variáveis, ou seja,
resultados estatisticamente não signifi cantes.
O que quer dizer que a associação entre estas
variáveis é muito fraca, não sendo possível
afi rmar que elas são dependentes entre si.
Logo, não é possível afi rmar que exista
uma relação direta entre o uso dos controles
de gestão com a continuidade das pequenas
e médias empresas pesquisadas no setor de
metalurgia, isto porque estatisticamente as
variáveis são independentes.
Mas não se pode concluir que o fato de não
haverem controles de gestão nas pequenas e
médias empresas pesquisadas seja fator que
irá garantir a continuidade destas empresas, já
que não há qualquer associação.
Por fi m, a pesquisa serviu para identifi car
quais os principais controles utilizados
pelas empresas, conforme pode ser melhor
observador na Tabela 3:
TABELA 3: CONTROLES DE GESTÃO MAIS UTILIZADOS
Insigni-fi cante
Pouco Signifi cante
Signifi -cante
Muito Signifi cante
Altamente Signifi cante
Orçamentário 36,36 34,55 21,82 3,64 3,64 Fluxo de Caixa 3,64 3,64 9,09 36,36 47,27 Ponto Equilíbrio 5,45 14,55 12,73 27,27 40,00 Capacidade Produção 25,45 27,27 30,91 10,91 5,45 Relatórios Contábeis 29,09 20,00 25,45 21,82 3,64
Fonte: Elaborado pelo autor
Portanto, dentre as ferramentas de
controle de gestão utilizada, pode se afi rmar
que o controle de fl uxo de caixa é o controle
mais utilizado, seguido do ponto de equilíbrio
como fator de tomada de decisão. E depois
do controle da capacidade de produção, da
análise de relatórios contábeis e o controle
orçamentário são afi rmados como os
controles menos utilizados neste segmento.
Através deste estudo, não foi possível
concluir que exista uma associação direta entre
o uso dos controles de gestão e a continuidade
das pequenas e médias empresas pesquisadas
do setor metalúrgico localizados nos municípios
de São Bernardo do Campo, São Caetano do
Sul, Santo André e Diadema.
Mas identifi cou os controles de gestão mais
utilizados das empresas pesquisadas de forma
a garantir o bom desempenho econômico das
empresas pesquisadas e assim reduzir com
ROGÉRIO MASSAMI KITA
ISSN (1981-2183) REVISTA INTERAÇÃO | Ano III número 2 2º semestre de 2009 23
o alto grau de mortalidade das pequenas e médias empresas.
A pesquisa também serviu para confi rmar o que outros pesquisadores já haviam estudado as pequenas e médias empresas, onde se verifi cou que as informações contábeis muitas vezes são atrasadas e divergentes da realidade da empresa, servindo apenas para cumprimento de obrigações acessórias, tais como legislação fi scal e trabalhista (Bio, 1985; Assaf Neto, 1997; Soares, 1998; Reske Filho, 2000; Zanotelli, 2001).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANTHONY, Robert. GOVINDARAJAN, Vijay. Sistemas de Controle Gerencial. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2006
ASSAF NETO, A. A dinâmica das decisões fi nanceiras. Cadernos de Estudos Fipecafi , São Paulo, Fipecafi , v.9, n. 16, p. 9-25, jul./dez. 1997.
BEDÊ, Marco Aurélio (coordenador). Sobrevivência e Mortalidade das empresas paulistas de 1 a 5 anos. São Paulo: SEBRAE, 2005.
BIO, S. R. Sistemas de Informação: um enfoque gerencial. São Paulo: Atlas, 1985.
COCHRAN, W. Sampling Techniques, 3rd ed., New York: John Wiley & Sons, 1986.
FLAMHOLTZ. E. G. Organizational control systems as a managerial tool. California Management Review, XXII (2) p. 50-59, Winter, 1979.
GOMES, Josir Simeone; SALAS, Joan M. Amat. Controle de Gestão: uma abordagem contextual e organizacional. São Paulo: Atlas,
2001.
HAIR, ANDERSON, TATHAM e BLACK. Análise Multivariada de Dados. 5. ed. Porto Alegre: Bookman, 2005.
MCHUGH RB Confi dence interval inference and sample size. The American Statistician, April, 1961.
PORTER, Michael E. Competição. Rio de Janeiro: Campus, 1999.
RESKE FILHO, A. O uso de relatórios contábeis-gerenciais no processo de gestão das empresas do setor de construção civil de Santa Maria/RS. 2000. 126p. Dissertação de Mestrado, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, Santa Catarina, Brasil.
SOARES, L. A. C. F. A divulgação das informações contábeis obrigatórias e as necessidades informacionais na área fi nanceira.1998. 152p. Dissertação de Mestrado, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, Santa Catarina, Brasil.
THOMPSON, Arthur A. Jr.; STRICKLAND, A. J. III. Planejamento estratégico: elaboração, implementação e execução. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2002.
VOLATIER JL; TURRINI A; WELTEN D. Some statistical aspects of food intake assessment. European Journal of Clinical Nutrition, 56(2): 546-52, 2002.
ZANOTELLI, E. J. Sistemas de Informações Gerenciais: o uso da informação contábil como apoio à tomada de decisão. 2001. 280p.
Dissertação de Mestrado, Universidade Federal
de Minas Gerais, Belo Horizonte, Minas Gerais,
Brasil.
A RELAÇÃO ENTRE O USO DOS CONTROLES DE GESTÃO E A CONTINUIDADEDAS PEQUENAS E MÉDIAS EMPRESAS
24 REVISTA INTERAÇÃO | Ano III número 2 2º semestre de 2009 ISSN (1981-2183)
ROGÉRIO NAZÁRIO DA SILVA e FLÁVIA SILVEIRA SERRALVO
ISSN (1981-2183) REVISTA INTERAÇÃO | Ano III número 2 2º semestre de 2009 25
GESTÃO EM SAÚDEE SAÚDE PÚBLICA1
2
Rogério Nazário da Silva2
Flávia Silveira Serralvo3
GESTÃO EM SAÚDE E SAÚDE PÚBLICA
26 REVISTA INTERAÇÃO | Ano III número 2 2º semestre de 2009 ISSN (1981-2183)
ROGÉRIO NAZÁRIO DA SILVA e FLÁVIA SILVEIRA SERRALVO
ISSN (1981-2183) REVISTA INTERAÇÃO | Ano III número 2 2º semestre de 2009 27
RESUMO
O presente artigo apresenta uma análise da Gestão em Saúde e Saúde Pública, a fi m de verifi car os movimentos da gestão contemporânea. Para tanto, foram estudados os principais movimentos que desencadeiam uma gestão contemporânea na área da saúde. Trabalhamos três movimentos, e a partir deles foram representados e integrados os Sistemas de Serviço da Saúde respectivo para cada modelo de Gestão. A saúde pública é parte integrante dos sistemas de saúde e a defi nição das funções essenciais apóia-se no conceito de saúde pública como uma ação coletiva do Estado e da Sociedade Civil para proteger e melhorar a saúde dos indivíduos e das comunidades. É uma noção que ultrapassa as intervenções de base populacionais ou comunitárias e que inclui a responsabilidade de garantir o acesso a cuidados de saúde de qualidade.
Palavras-chave: 1. Gestão de Saúde. 2. Saúde Pública. 3. SUS (Sistema Único de Saúde).
1 Bacharel em Ciências Contábeis, Especialização em Controladoria e Mstre em Administração de Empresas. Sócio Diretor da NK Contabilidade e Professor da Faculdade das Américas (São Paulo – SP) Email: [email protected]
GESTÃO EM SAÚDE E SAÚDE PÚBLICA
28 REVISTA INTERAÇÃO | Ano III número 2 2º semestre de 2009 ISSN (1981-2183)
INTRODUÇÃO
O presente estudo faz uma análise da Gestão em saúde e Saúde Pública, referindo-se à Gestão no século XXI, seus grandes movimentos, suas alternativas, seus sistemas integrados de saúde, suas determinantes. Finaliza este módulo de Gestão em saúde, comentando as competências e as habilidades do Gestor Contemporâneo.
Dando seqüência, apresentamos o tema Saúde Pública, onde buscamos focar a saúde das Américas, e defi nimos a Saúde Pública para um bom entendimento, além de explorar dentro deste item o Sistema único de Saúde, sua cartilha de direitos e deveres do usuário, abrangendo também a Legislação. Neste item mencionamos o comprometimento dos gestores nas três esferas do governo.
“Se você acha que investe muito
em saúde, experimente a doença”.
(Willian C. Gilson)
1 GESTÃO EM SAÚDE NO SÉCULO XXI
GRANDES MOVIMENTOS
Podemos mencionar os grandes movimentos da gestão em saúde no século XXI partindo da:
I. Da gestão das condições agudas para a gestão das condições crônicas:
II. Da gestão baseada em opiniões para a
gestão baseada em evidências;
III. Da gestão dos meios para a gestão dos
fi ns.
I - GESTÃO DAS CONDIÇÕES AGUDAS PARA A GESTÃO DAS CONDIÇÕES CRÔNICAS:
Os sistemas integrados de serviços de
saúde
O conceito de condição crônica: são
condições ou enfermidades que têm um
período de vida superior a três meses e
que não se autolimitam. Partindo destas
condições, podemos expor a carga de
Doença no Brasil, segundo fonte ENSP/
FIOCRUZ:
Doenças Infecciosas, Parasitáriae Desnutrição: 14,8%
Causas Externas 10,2%
Condições Maternas e Perinatais 8,8%
Doenças não Transmissíveis 66,2%
Total das Condições Crônicas 75,0%
1 Artigo elaborado no programa de iniciação científi ca da Faculdade das Américas no ano de 2008.
2 Aluno do curso de
Administração de Empresas da Faculdade das Américas. E-mail: [email protected] 3 Jornalista, Mestre em Comunicação
Social e Doutoranda em Língua Portuguesa. Professora da Faculdade das Américas (São Paulo – SP). E-mail: fl [email protected]
ROGÉRIO NAZÁRIO DA SILVA e FLÁVIA SILVEIRA SERRALVO
ISSN (1981-2183) REVISTA INTERAÇÃO | Ano III número 2 2º semestre de 2009 29
REPRESENTAÇÃO DESSAS ALTERNATIVAS DOS SISTEMAS DE SERVIÇOS DE SAÚDE
Fonte: Portal Fiocruz (www.fi ocruz.br)
2 SISTEMA INTEGRADO DE SERVIÇOS DE SAÚDE
Tem como conceito a constituição de uma rede integrada de pontos de atenção à saúde que permite prestar uma assistência contínua a determinada população - no tempo certo, no lugar certo, com o custo certo e com a qualidade certa - e que se responsabiliza pelos resultados sanitários e econômicos relativos a esta população.
Em outro aspecto, seus momentos da construção desses sistemas integrados são:
1. A FRAGMENTAÇÃO DO SISTEMA:
Fonte: Portal Fiocruz (www.fi ocruz.br)
2. A INTEGRAÇÃO HORIZONTAL DOS
PONTOS DE ATENÇÃO À SAÚDE:
Fonte: Portal Fiocruz (www.fi ocruz.br)
3. A DIFERENCIAÇÃO E EXPANSÃO DOS
PONTOS DE ATENÇÃO À SAÚDE:
Fonte: Portal Fiocruz (www.fi ocruz.br)
GESTÃO EM SAÚDE E SAÚDE PÚBLICA
30 REVISTA INTERAÇÃO | Ano III número 2 2º semestre de 2009 ISSN (1981-2183)
4. A INTEGRAÇÃO VERTICAL DOS PONTOS DE ATENÇÃO À SAÚDE:
Fonte: Portal Fiocruz (www.fi ocruz.br)
II - GESTÃO BASEADA EM OPINIÕES PARA A GESTÃO BASEADA EM EVIDÊNCIAS
DETERMINANTES
Podemos citar dentro desta gestão os
determinantes do incremento de custos desses
sistemas. São eles:
A Infl ação Econômica: 42%
O Volume e Intensidade dos Procedimentos Clínicos: 32%
A Infl ação Médica: 17%
O Envelhecimento da População: 9% (1993)
Os fatores decisórios nestas Políticas de
Saúde são:
VALORES;
RECURSOS;
EVIDÊNCIAS.
QUESTÕES RELACIONADAS
Podemos citar dentro desta gestão as
seguintes questões:
O que se pensa desta política?
Há recursos para implantá-la?
Ela está baseada em pesquisas
científi cas?
As políticas de saúde?
Tem como conceito da atenção à saúde
baseada em evidências:
É diferente da medicina baseada em
evidências
É a disciplina centrada em processos
decisórios sobre grupos populacionais
que se fazem com base em evidências
empíricas
A OPERACIONALIZAÇÃO
A Produção das Evidências:
Os Centros De Pesquisa
A Disponibilização Das Evidências:
O Centro De Evidência
A Utilização Das Evidências:
Os Centros De Decisão
ROGÉRIO NAZÁRIO DA SILVA e FLÁVIA SILVEIRA SERRALVO
ISSN (1981-2183) REVISTA INTERAÇÃO | Ano III número 2 2º semestre de 2009 31
III -GESTÃO DOS MEIOS PARA A GESTÃO
DOS FINS
A Gestão da clínica é a aplicação de
tecnologias de microgestão dos serviços
de saúde com a fi nalidade de assegurar
padrões clínicos ótimos e melhorar a
qualidade da atenção à saúde.
GESTÃO DOS MEIOS
A gestão dos Recursos Humanos
A gestão dos Recursos Materiais
A gestão dos Recursos Financeiros
AS TECNOLOGIAS DE GESTÃO DA CLÍNICA
As diretrizes clínicas:
– as linhas-guia (guidelines);
– os protocolos clínicos
A Gestão de patologia:
– É a gestão de processos de uma condição
ou doença que envolve intervenções na
promoção da saúde, na prevenção da
condição ou doença e no seu tratamento
e reabilitação, envolvendo o conjunto de
pontos de atenção à saúde de uma rede
assistencial, com o objetivo de melhorar
os padrões qualitativos da atenção;
-objetiva mudar comportamentos de
profi ssionais de saúde e de usuários e
programar as ações e serviços de saúde.
A Gestão de caso:
– É um processo cooperativo que se
desenvolve entre o gestor de caso e o
usuário para planejar, monitorar e avaliar
opções e serviços, de acordo com as
necessidades de saúde da pessoa, com
o objetivo de alcançar resultados custo/
efetivos e de qualidade.
A Gestão dos riscos da clínica:
– Ouvidoria das queixas dos usuários:
comunicação com os profi ssionais,
qualidade da atenção sistema de eventos
adversos.
A lista de espera:
– É uma tecnologia que normaliza o uso
dos serviços em determinados pontos de
atenção à saúde, estabelecendo critérios
de ordenamento e a promovendo a
transparência.
a Auditoria clínica:
– Consiste na análise crítica sistemática
da qualidade da atenção à saúde,
incluindo os procedimentos usados
para o diagnóstico e o tratamento, o uso
dos recursos e os resultados para os
pacientes.
AS COMPETÊNCIAS DO GESTOR CONTEMPORÂNEO
Fazer as perguntas certas;
Compreender e utilizar os critérios de
evidência;
GESTÃO EM SAÚDE E SAÚDE PÚBLICA
32 REVISTA INTERAÇÃO | Ano III número 2 2º semestre de 2009 ISSN (1981-2183)
Avaliar a qualidade das evidências apresentadas;
Avaliar a qualidade das pesquisas científi cas;
Implementar as mudanças exigidas pelas evidências.
AS HABILIDADES DO GESTOR CONTEMPORÂNEO
Discriminar uma revisão sistemática da literatura;
Compreender os resultados das avaliações tecnológicas e econômicas dos serviços de saúde;
Entender a qualidade de um ensaio clínico;
Saber incorporar em suas decisões os valores institucionais e sociais.
3 SAÚDE PÚBLICA
A SAÚDE NAS AMÉRICAS
A Saúde Pública nas Américas é uma iniciativa da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), que envolveu todas as suas unidades técnicas e as representações da organização nos países, na segunda metade da década de noventa. O seu desenvolvimento fundamenta-se na importância de fortalecer as funções essenciais que competem ao Estado na perspectiva de melhorar a prática de saúde pública e construir instrumentos capazes de avaliar a atual situação, identifi cando áreas
criticas que precisam ser fortalecidas e reforçar
a liderança das autoridades sanitárias em
relação ao sistema de saúde.
No contexto internacional a década de
1990 esta intrinsecamente ligada às reformas,
a construção dos diferentes sistemas de
saúde e ao seu fi nanciamento. Nessa década,
as reformas seguiram uma agenda única,
informadas pela lógica efi cientista. Nesse
processo surgiram questionamentos do Estado
e das instituições bem como dos serviços
públicos (SUAREZ, 2005).
Pode-se dizer que a iniqüidade crescente e
a situação desigual de saúde e do acesso da
população geraram a crise da saúde pública.
A reforma econômica neoliberal acentuou a
pobreza e a desigualdade no acesso as riquezas
e aos serviços. Um dos marcos da reforma do
Estado e a reforma da saúde que, na maioria
dos países, seguiu o paradigma predominante
baseado no denominado consenso de
Washington, que centrava suas ações no
fi nanciamento e na efi cácia do setor, mediante
enxugamento do Estado, e na ampliação do
mercado para os serviços essenciais. A reforma
dos serviços de saúde no Brasil não seguiu
esse movimento.
As questões importantes, como a equidade,
a universalidade, integralidade, modelo de
atenção e recursos humanos, foram ignoradas
ou marginalizadas.
A iniciativa “A Saúde Pública nas Américas”
teve como objetivo infl uir na agenda de
ROGÉRIO NAZÁRIO DA SILVA e FLÁVIA SILVEIRA SERRALVO
ISSN (1981-2183) REVISTA INTERAÇÃO | Ano III número 2 2º semestre de 2009 33
transformação do setor, redefi nindo e
valorizando seu papel, e operacionalizando
os conceitos que a fundamentam, sendo as
Funções Essenciais de Saúde Pública (Fesp),
um dos principais instrumentos utilizados.
Essa iniciativa gerou ainda a necessidade da
construção de categorias operacionais, que
permitiram a Opas desencadear uma avaliação
nos países das Américas, dos processos de
transformação do setor saúde, tanto por parte
do Estado como da Sociedade Civil.
Alguns projetos foram desenvolvidos e
outros estão em desenvolvimento com objetivo
de melhorar a saúde pública nos países do
hemisfério, entre os quais destacamos:
1. Desenvolvimento de um instrumento
para avaliação do exercício das Funções
Essenciais de Saúde Pública;
2. Condução de uma avaliação da prática da
saúde pública em cada país das Américas,
medindo o nível e o desempenho das
suas funções essenciais;
3. Desenvolvimento de um plano de ação
hemisférico para o fortalecimento da
infra-estrutura e a melhoria da prática da
saúde pública.
DEFINIÇÃO DE SAÚDE PÚBLICA
A saúde pública e parte integrante do
sistema de saúde e a defi nição das funções
essenciais apóiam -se no conceito de saúde
pública como uma ação coletiva do Estado e
da Sociedade Civil para proteger e melhorar
a saúde dos indivíduos e das comunidades. E uma noção que ultrapassa as intervenções de base populacionais ou comunitárias e que inclui a responsabilidade de garantir o acesso a cuidados de saúde de qualidade.
A atuação da sociedade manifesta-se nas instituições, nas práticas sociais e nos valores socialmente reconhecidos que modelam as atitudes, condutas sociais em favor da vida e da saúde.
O Estado é a instituição que coordena e mobiliza as condições para o cumprimento das Fesp, cuja responsabilidade especifi ca e atribuída perativamente ao governante ou autoridade sanitária designada para este fi m e que deve ser capaz de mobilizar os atores pertinentes, os recursos necessários e as estratégias.
Nessa iniciativa, a saúde pública não e vista como uma disciplina acadêmica, mas fundamentalmente como prática social interdisciplinar. Seus objetos são de natureza pública, tais como bens públicos e de mérito social.
Uma das funções mais importantes de saúde pública é a mobilização social (da sociedade civil) e a capacitação da população para a participação social.
Apesar de o Estado ser o principal responsável pela sua execução e operacionalização, a saúde pública não é concebida como sinônimo de responsabilidade apenas e exclusivamente do Estado: o seu desenvolvimento ultrapassa
GESTÃO EM SAÚDE E SAÚDE PÚBLICA
34 REVISTA INTERAÇÃO | Ano III número 2 2º semestre de 2009 ISSN (1981-2183)
as incumbências próprias do Estado e, alem
disso, não abrange tudo o que o Estado pode e
deve fazer no campo da saúde.
Evidentemente, o exercício adequado
dessas responsabilidades é essencial não
apenas para elevar o nível de saúde e a
qualidade de vida da população, mas por ser
parte fundamental do papel do Estado em
saúde, o qual inclui ademais a condução, a
regulamentação, o fi nanciamento, a supervisão
e a padronização da prestação de serviços.
É difícil estabelecer uma separação nítida
entre as responsabilidades próprias da saúde
pública relativas à condução dos serviços
de prevenção de doenças e a promoção da
saúde em grupos populacionais defi nidos e as
responsabilidades relativas à organização de
serviços voltados a atenção curativa individual.
No que diz respeito à suas responsabilidades
essenciais preocupam-se primordialmente com
o acesso equitativo aos serviços, a garantia de
sua qualidade e a incorporação da perspectiva
da saúde pública na orientação dos serviços
de saúde individuais. E por isso que uma das
Fesp defi nidas na iniciativa refere-se ao reforço
da capacidade da autoridade sanitária para
garantir o acesso equitativo da população aos
serviços de saúde, não considerando uma
função essencial a prestação desses serviços
No Brasil, o fundamental para desenvolver
novos conceitos e métodos para as funções é
que a saúde pública deve ser vista como um
processo social historicamente constituído de
valores, que se manifestam nas instituições e
organizações, em cada situação e cultura.
As Funções Essenciais de Saúde Pública
foram defi nidas como condições para melhorar
a prática da saúde.
Uma das decisões mais importantes para o
seu fortalecimento foi o de adotar a defi nição de
indicadores e padrões para a avaliação do seu
desempenho, tornando a sua prática consistente
e identifi cando as capacidades institucionais
necessárias para seu desempenho geral.
Para tanto, utilizou-se de uma metodologia
que inclui as funções estruturantes, garantindo
assim, a boa prática e o funcionamento
adequado das diferentes áreas de sua atuação.
ANTECEDENTES
Na década de 1990, o estudo Delphi da
Organização Mundial da Saúde (OMS) teve
como propósito redefi nir o conceito de função
essencial e atingir um consenso internacional
em relação às características centrais dessas
funções, inicialmente para apoiar a atualização
da política Saúde para Todos no ano 2000.
Nesse estudo, 145 peritos em saúde pública
de diferentes nacionalidades foram consultados
em três etapas consecutivas. Ao fi nal, o painel
defi niu nove Fesp, entre elas: 1) Prevenção,
vigilância e controle de doenças transmissíveis;
2) Monitoramento da situação de saúde; 3)
Promoção da saúde; 4) Saúde ocupacional;
5) Proteção ambiental; 6) Legislação e
regulamentação em Saúde Pública; 7) Gestão
ROGÉRIO NAZÁRIO DA SILVA e FLÁVIA SILVEIRA SERRALVO
ISSN (1981-2183) REVISTA INTERAÇÃO | Ano III número 2 2º semestre de 2009 35
em Saúde Pública; 8) Serviços de saúde
pública específi cos; e 9) Cuidados de saúde
para grupos vulneráveis e populações de alto
risco.
Nos EUA foi organizado um comitê, liderado
pelo Escritório para a Prática da Saúde Pública
e pelo Escritório de Prevenção de Doenças e
Promoção de Saúde do CDC, que em 1994
aprovou o documento “A Saúde Pública nos
Estados Unidos da América”.
Nesse documento, identifi cou-se a visão,
população saudável em comunidades
saudáveis, a missão, promover a saúde
física e mental, e prevenir as doenças e
as incapacidades, e os objetivos de saúde
pública: 1) prevenção de epidemias e da
propagação de doenças; 2) proteção contra
o dano causado por fatores ambientais; 3)
prevenção de incapacidades; 4) promoção de
condutas saudáveis; 5) resposta a desastres
e assistência a comunidades atingidas; e 6)
garantia da qualidade e acesso a serviços de
saúde.
O mesmo documento defi niu 10 “serviços
essenciais” de saúde pública, que vão desde
o “monitoramento do nível de saúde para
identifi car problemas de saúde na comunidade”
ate a “investigação de enfoques e soluções
inovadoras para os problemas de saúde”.
Esses serviços originam o Programa Nacional
de Padrões de Desempenho da Saúde Pública
(NPHPSP).
4 SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE
RE-CONCEITUAÇÃO E INOVAÇÃO DA GESTÃO DO SUS
Com as funções essenciais, o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (CONASS) introduz uma nova modalidade de cooperação com as Secretarias Estaduais de Saúde (SES), implementando novas práticas e tecnologias avaliativas.
O CONASS, com base nas necessidades crescentes das SES, desenvolve desde 2003 um projeto de fortalecimento da Gestão Estadual denominado “Progestores”. As Funções Essenciais de Saúde Pública, reconceituadas e adequadas ao SUS, ganharam espaço privilegiado nesta linha de trabalho com os estados, na medida em que se estabelece um processo particularizado e próprio de cooperação, com respeito aos processos internos da SES, sua historia e cultura organizacional, valorizando o conhecimento acumulado do seu corpo técnico, assim como sua capacidade e autonomia institucional.
Este processo permitiu identifi car os pontos fortes e os críticos do desempenho da Gestão Estadual, com participação decisiva da própria equipe dirigente e dos técnicos da SES, com vistas ao fortalecimento imediato da mesma, a partir dos resultados obtidos. Não se trata, portanto, de uma avaliação externa da gestão da saúde, nem de seus dirigentes, com fi nalidade de comparação e classifi cação entre
GESTÃO EM SAÚDE E SAÚDE PÚBLICA
36 REVISTA INTERAÇÃO | Ano III número 2 2º semestre de 2009 ISSN (1981-2183)
elas, como também não se trata da produção de
conhecimentos desvinculada do compromisso
de intervenção na realidade.
Não há preocupação em estabelecer
“médias nacionais” ou comparar resultados
entre um e outro estado, como tampouco existe
a pretensão de que as avaliações e os resultados
obtidos sejam a “medida cientifi camente aferida”
das capacidades e da infra-estrutura da Gestão
Estadual. Ao contrario, respeitado o caráter
objetivo, sistemático e metodologicamente
consistente do instrumento de avaliação, nessa
iniciativa são enfatizados os aspectos políticos
e ideológicos, desse movimento de construção
de uma nova prática social e de novos sujeitos
coletivos, direcionados a qualifi cação e a
democratização da gestão do SUS.
A iniciativa do CONASS, denominada Fesp/
SUS, foi possível graças à estreita colaboração
com a Opas e pretende apoiar a consolidação
e a melhoria dos sistemas de saúde estaduais
com base em padrões exigentes, mas
adequados as suas realidades especifi cas.
O SUS E O NOVO PAPEL DA GESTÃO ESTADUAL
A Constituição da República Federativa
do Brasil incluiu o Sistema Único de Saúde
como parte da Seguridade Social, e tem como
princípios fundamentais, a universalidade, a
equidade, a descentralização, a integralidade
e a participação da sociedade (BRASIL, 2001).
Essa defi nição ampliou o campo do direito a
saúde, a responsabilidade do Estado em relação
à proteção social, exigindo a convergência de
políticas que garantam o cuidado à coletividade
e as pessoas individualmente. A Constituição
instituiu o Sistema Único de Saúde como
política de Estado e reafi rmou a necessidade
de fortalecer o processo de descentralização
das ações e serviços de saúde, já iniciado
anteriormente, como diretriz organizativa para
garantir a equidade e a universalidade do
acesso.
As Leis n. 8080/90 e n. 8142/90 defi niram
as competências das três esferas de governo
na gestão dos sistemas de saúde (municipal,
estadual e federal), fi cando o município como
ator principal na execução e gerenciamento
dos serviços de saúde. Foram defi nidas
atribuições comuns (Art. 15 da Lei n. 8080)
e especifi cas (Art.16, 17 e 18 da Lei n. 8080)
aos três entes federativos e instituídos órgãos
de gestão colegiada (Tripartite e Bipartites),
soluções criativas para a gestão integrada do
sistema público de saúde. O artigo 17 da Lei n.
8080/90 delineou as competências da Gestão
Estadual do SUS. Apesar da defi nição das
atribuições das três esferas de governo, o fato
de haver um grande número de competências
concorrentes (comuns) favoreceu uma grande
“faixa cinzenta” de indefi nições entre elas.
A participação social foi incorporada
como principio do SUS na Constituição e na
Legislação Complementar (Leis n. 8080 e n.
8142/90) e deu lugar a criação dos Conselhos
ROGÉRIO NAZÁRIO DA SILVA e FLÁVIA SILVEIRA SERRALVO
ISSN (1981-2183) REVISTA INTERAÇÃO | Ano III número 2 2º semestre de 2009 37
de Saúde e Conferências de Saúde, em todos
os municípios brasileiros, estados e União.
Outros mecanismos formais de controle social
foram sendo incorporados ao SUS, tais como,
ouvidorias e disque-denúncia, com objetivo de
ampliar o contato e os espaços de relação dos
usuários com os serviços de saúde, criando
novas formas de expressão e de defesa dos
interesses dos indivíduos, dos grupos e da
coletividade. Esse conjunto de iniciativas
constitui outra importante inovação no âmbito
das políticas públicas e da relação Estado
-Sociedade no Brasil contemporâneo.
Na sociedade, para além dos Conselhos
e Conferências, muitos espaços são criados
e reformulados no cotidiano da vida das
comunidades, seja de refl exão, auto-ajuda,
resistência, solidariedade, sobrevivência,
reivindicação e mobilização em torno das
necessidades concretas da população e dos
diferentes grupos sociais.
No caminho percorrido para a
implementação do SUS, a descentralização,
da gestão e do modelo de atenção a saúde,
tem sido apontada como diretriz que esta de
fato favorecendo a capilarização da rede de
serviços, possibilitando o surgimento de novas
demandas e ampliando o acesso da população,
através de novos modelos e estratégias, como
exemplo, o Programa de Saúde da Família.
A municipalização da saúde foi a principal
forma adotada para o desenvolvimento da
descentralização da saúde, pelos órgãos de
gestão colegiada e pelos atores políticos mais
relevantes do SUS, ao longo da década de 1990.
Isto propiciou uma maior responsabilização dos
prefeitos e secretários municipais de saúde, no
gerenciamento do sistema local.
Considerando-se a municipalização como
a marca mais signifi cativa da política de saúde
que deu lugar de destaque aos executivos
municipais na gestão dessa política, transferindo
para o executivo municipal, na fi gura do prefeito
e do secretário municipal de saúde, as principais
decisões sobre essa política. Os prefeitos e
políticos locais passaram a perceber a saúde
como importante instância de legitimidade e
de votos, o que poderia impulsionar inovações
como também entraves, de acordo com os
interesses do executivo e dos atores políticos
preponderantes.
A municipalização autárquica propicia
a fragmentação dos sistemas municipais e
possibilita o surgimento de novas iniqüidades,
como as diferentes barreiras de acesso ao
cidadão de municípios menores e de gestão
incipiente, sem autonomia. Analisando o reforço
no poder do executivo municipal pode ter
ocorrido pela ausência das instâncias estaduais
e federais, o que difi cultou também a relação
intermunicipal, a construção de sistemas
intermunicipais (consórcios) e do próprio
sistema de saúde, porque não estabeleceu
a complementaridade e a hierarquia entre as
instituições e serviços.
As mudanças organizacionais ocorridas
GESTÃO EM SAÚDE E SAÚDE PÚBLICA
38 REVISTA INTERAÇÃO | Ano III número 2 2º semestre de 2009 ISSN (1981-2183)
no sistema público de saúde brasileiro na
década de 90 retiraram as SES da linha de
frente da prestação de serviços. O período
foi caracterizado pela indefi nição de muitas
secretarias em relação ao seu novo papel e suas
atribuições. O que evidenciou, em muitas delas,
uma crise de governabilidade em decorrência de
sua baixa capacidade institucional. A principal
conseqüência dessa situação foi o vazio político
e técnico ocorrido na maioria dos estados
brasileiros no processo de municipalização,
fi cando frágil a articulação e coordenação dos
sistemas estaduais e das redes de serviços
para além da responsabilidade municipal.
Foi no fi nal da década de 1990 que os estados
ampliaram sua capacidade de intervenção,
estabelecendo-se como atores na condução
da política estadual e da regionalização da
saúde. Isto se deve, em parte, as sucessivas
crises da assistência nos municípios de grande
porte, a pressão da demanda por serviços de
maior complexidade, e as exigências efetuadas
pelos municípios de pequeno e médio porte
para garantir as referencias especializadas
para as necessidades da sua população. Com
o esgotamento do modelo hegemônico de
descentralização em curso, tem lugar o debate
sobre a implementação do SUS e surgem
diferentes iniciativas em torno da regionalização
da saúde, recolocando as SES no papel
estratégico de coordenação dos sistemas
estaduais e regionais de saúde.
A implementação de novos modelos
assistenciais, baseados na universalidade,
equidade, integralidade e participação
popular, vem exigindo uma maior capacidade
institucional das Secretarias Estaduais de Sade,
para o exercício de inúmeras funções, entre
elas: a formulação de políticas, planejamento
fi nanciamento, regulamentação e normatização,
garantia e regulação do acesso aos serviços de
saúde, organização regionalizada da rede de
serviços de saúde, monitoramento e avaliação
do sistema estadual e articulação de esforços
e cooperação técnica com as secretarias
municipais de saúde.
Tais funções adquiriram maior relevância
com o desenvolvimento das redes de serviços
assistenciais, e das redes sociais, e com
a responsabilidade de conduzir e regular,
com freqüência, um sistema composto por
entidades públicas e privadas atuando juntas
para melhorar a saúde da população.
Um importante componente deste
processo foi a articulação política e técnica dos
gestores estaduais nos espaços da Comissão
Intergestores Bipartite (CIB) e Comissão
Intergestores Tripartite (CIT), aparecendo
o Conselho Nacional de Secretários de
Saúde (CONASS) como importante ator na
mobilização política e na capacitação dos
gestores e técnicos das SES para o seu novo
papel.
O movimento em prol do fortalecimento do
papel do estado e da regionalização, como
estratégia complementar a municipalização,
ROGÉRIO NAZÁRIO DA SILVA e FLÁVIA SILVEIRA SERRALVO
ISSN (1981-2183) REVISTA INTERAÇÃO | Ano III número 2 2º semestre de 2009 39
além de revelar novos atores, colocou novos
pactos e novos processos na agenda política,
tais como: micro regionalização dos serviços de
saúde, as bipartites regionais, a Programação
Pactuada e Integrada (PPI) com sistema de
referencia e contra-referencia, novos modelos
de contratação de serviços privados, a regulação
do acesso, os consórcios intermunicipais de
saúde, as câmaras regionais de controle e
auditoria do SUS, entre outros.
Alguns estados, como Ceará, Mato Grosso
e Paraná foram pioneiros neste processo,
e contribuíram para a criação de modelos
inovadores, que forneceram importantes
subsídios para a formulação da Norma
Operacional da Assistência (Noas 01/02)
(BRASIL, 2004). A Noas foi um esforço
institucional para transformar a agenda
emergente em diretrizes operacionais:
introduziu os Planos Regionais da Assistência
(PDR), novos parâmetros para a Programação
Pactuada e Integrada (PPI), o Plano Diretor de
Investimentos (PDI) e novos modelos de redes
integradas de serviços e planos de controle,
regulação e avaliação. Apesar da sua rigidez
normativa a NOAS contribui para ampliar o
dialogo inter-gestores, para fortalecer a instancia
estadual (SES) como protagonista na condução
da política estadual, da regionalização e para
propiciar a construção de novos saberes e
práticas para o processo de cooperação com
os municípios.
O atual momento de implementação do
SUS coloca novas demandas que passaram
a exigir novas tecnologias e metodologias
de gestão, integradoras e participativas: a
construção de redes de serviços integrados;
a qualifi cação dos serviços e a satisfação dos
usuários; o código dos direitos dos usuários; a
humanização das relações entre profi ssionais
e usuários; a integralidade da atenção e do
cuidado; a formação e educação permanente;
a co-gestão entre estados e municípios para
gerenciamento da programação pactuada
e das centrais de regulação do acesso; um
processo de avaliação permanente de serviços
e de sistemas de saúde; entre outros.
Nesse contexto, fi ca patente o esgotamento
das normas operacionais como instrumentos e
mecanismos para regular a descentralização
e a organização dos sistemas e serviços
de saúde. Evidencia-se a necessidade de
novos modelos de gestão e pactuação para
o enfrentamento dessas novas demandas e
para a superação do paradigma normativo-
instrumental. A constituição de modelos de
gestão mais democráticos e fl exíveis, sensíveis
a diversidade e as diferentes realidades
estaduais, regionais e municipais do país, é o
desafi o do momento.
Neste sentido o Pacto pela Saúde com seus
três (3) componentes, o Pacto pela Vida, o
Pacto em Defesa do SUS e o Pacto de Gestão,
aprovados em 2006, inauguram uma nova
etapa no processo de consolidação do SUS
e colocam no centro do debate a capacidade
GESTÃO EM SAÚDE E SAÚDE PÚBLICA
40 REVISTA INTERAÇÃO | Ano III número 2 2º semestre de 2009 ISSN (1981-2183)
dos entes federativos de trabalhar de modo cooperativo, e não competitivo, de conquistar a adesão dos movimentos populares e da sociedade organizada para ampliar e fortalecer a legitimidade social e política do sistema público de saúde no Brasil, universal, justo e solidário.
AS FUNÇÕES DA SAÚDE PÚBLICA PARA A GESTÃO DO SUS
A lista a seguir inclui as onze funções adequadas e adaptadas para aplicação nos estados brasileiros:
Fesp/SUS n. 1: Monitoramento, análise e avaliação da situação de saúde do estado;
Fesp/SUS n. 2: Vigilância, investigação, controle de riscos e danos a saúde;
Fesp/SUS n. 3: Promoção da saúde;
Fesp/SUS n. 4: Participação social em saúde;
Fesp/SUS n. 5: Desenvolvimento de políticas e capacidade institucional de planejamento e gestão pública da saúde;
Fesp/SUS n. 6: Capacidade de r e g u l a m e n t a ç ã o , fi scalização, controle e auditoria em saúde;
Fesp/SUS n. 7: Promoção e garantia do acesso universal e
equitativo aos serviços de saúde;
Fesp/SUS n. 8: A d m i n i s t r a ç ã o , desenvolvimento e formação de Recursos Humanos em saúde;
Fesp/SUS n. 9: Promoção e garantia da qualidade dos serviços de saúde;
Fesp/SUS n. 10: Pesquisa e incorporação tecnológica em saúde.
Fesp/SUS n. 11: Coordenação do processo de regionalização e descentralização da saúde;
ENTENDENDO O SUS
O Sistema Único de Saúde -SUS -foi criado pela Constituição Federal de 1988 e regulamentado pelas Leis nº 8080/90 e 8142/90, Leis Orgânicas da Saúde, com a fi nalidade de alterar a situação de desigualdade na assistência à Saúde da população, tornando obrigatório o atendimento público a qualquer cidadão, sendo proibidas cobranças de dinheiro sob qualquer pretexto.
Do Sistema Único de Saúde fazem parte os centros e postos de saúde, hospitais incluindo os universitários, laboratórios, hemocentros, bancos de sangue, além de fundações e institutos de pesquisa, como a FIOCRUZ -Fundação Oswaldo Cruz e o Instituto Vital Brasil. Através do Sistema Único de Saúde, todos os cidadãos têm direito a consultas, exames, internações e
ROGÉRIO NAZÁRIO DA SILVA e FLÁVIA SILVEIRA SERRALVO
ISSN (1981-2183) REVISTA INTERAÇÃO | Ano III número 2 2º semestre de 2009 41
tratamentos nas Unidades de Saúde vinculadas
ao SUS da esfera municipal, estadual e federal,
sejam públicas ou privadas, contratadas pelo
gestor público de saúde.
O SUS é destinado a todos os cidadãos e
é fi nanciado com recursos arrecadados através
de impostos e contribuições sociais pagos pela
população e compõem os recursos do governo
federal, estadual e municipal.
O Sistema Único de Saúde tem como
meta tornar-se um importante mecanismo
de promoção da eqüidade no atendimento
das necessidades de saúde da população,
ofertando serviços com qualidade adequados
às necessidades, independente do poder
aquisitivo do cidadão. O SUS se propõe a
promover a saúde, priorizando as ações
preventivas, democratizando as informações
relevantes para que a população conheça seus
direitos e os riscos à sua saúde. O controle
da ocorrência de doenças, seu aumento e
propagação Vigilância Epidemiológica são
algumas das responsabilidades de atenção do
SUS, assim como o controle da qualidade de
remédios, de exames, de alimentos, higiene
e adequação de instalações que atendem ao
público, onde atua a Vigilância Sanitária.
O setor privado participa do SUS de
forma complementar, por meio de contratos e
convênios de prestação de serviço ao Estado
quando as unidades públicas de assistência
à saúde não são sufi cientes para garantir
o atendimento a toda a população de uma
determinada região (http://portal.saude.gov.br).
DIREITOS
Existe uma carta referente aos seis princípios básicos de cidadania. Juntos, eles asseguram ao cidadão o direito básico ao ingresso digno nos sistemas de saúde, sejam eles públicos ou privados. A carta é também uma importante ferramenta para que você conheça seus direitos e possa ajudar o Brasil a ter um sistema de saúde com muito mais qualidade.
OS PRINCÍPIOS DESTA CARTA
1. Todo cidadão tem direito ao acesso ordenado e organizado aos sistemas de saúde;
2. Todo cidadão tem direito a tratamento adequado e efetivo para seu problema;
3. Todo cidadão tem direito ao atendimento humanizado, acolhedor e livre de qualquer discriminação;
4. Todo cidadão tem direito a atendimento que respeite a sua pessoa, seus valores e seus direitos;
5. Todo cidadão também tem responsabilidades para que seu tratamento aconteça da forma adequada;
6. Todo cidadão tem direito ao comprometimento dos gestores da saúde para que os princípios anteriores sejam cumpridos.
Considerando o art. 196 da Constituição Federal, que garante o acesso universal e
GESTÃO EM SAÚDE E SAÚDE PÚBLICA
42 REVISTA INTERAÇÃO | Ano III número 2 2º semestre de 2009 ISSN (1981-2183)
igualitário a ações e serviços para promoção, proteção e recuperação da saúde.
Considerando a Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990, que dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes.
Considerando a Lei nº 8.142, de 28 de dezembro de 1990, que dispõe sobre a participação da comunidade na gestão do Sistema Único de Saúde (SUS) e sobre as transferências intergovernamentais de recursos fi nanceiros na área da saúde.
Considerando a necessidade de promover mudanças de atitude em todas as práticas de atenção e gestão que fortaleçam a autonomia e o direito do cidadão.
O Ministério da Saúde, o Conselho Nacional de Saúde e a Comissão Intergestora Tripartite apresentam a Carta dos Direitos dos Usuários da Saúde e convidam todos os gestores, profi ssionais de saúde, organizações civis, instituições e pessoas interessadas para que promovam o respeito destes direitos e assegurem seu reconhecimento efetivo e sua aplicação.
Assim, Todos os cidadãos têm direito ao acesso às ações e aos serviços de promoção, proteção e recuperação da saúde promovidos pelo Sistema Único de Saúde:
I. O acesso se dará prioritariamente pelos Serviços de Saúde da Atenção Básica próximos ao local de moradia;
II. Nas situações de urgência/emergência,
o atendimento se dará de forma
incondicional, em qualquer unidade do
sistema;
III. Em caso de risco de vida ou lesão
grave, deverá ser assegurada a
remoção do usuário em condições
seguras, que não implique maiores
danos, para um estabelecimento de
saúde com capacidade para recebê-lo;
IV. O encaminhamento à Atenção
Especializada e Hospitalar será
estabelecido em função da necessidade
de saúde e indicação clínica, levando-
se em conta critérios de vulnerabilidade
e risco com apoio de centrais de
regulação ou outros mecanismos
que facilitem o acesso a serviços de
retaguarda;
V. Quando houver limitação circunstancial
na capacidade de atendimento do serviço
de saúde, fi ca sob responsabilidade
do gestor local a pronta resolução das
condições para o acolhimento e devido
encaminhamento do usuário do SUS,
devendo ser prestadas informações
claras ao usuário sobre os critérios de
priorização do acesso na localidade por
ora indisponível. A prioridade deve ser
baseada em critérios de vulnerabilidade
clínica e social, sem qualquer tipo de
discriminação ou privilégio;
ROGÉRIO NAZÁRIO DA SILVA e FLÁVIA SILVEIRA SERRALVO
ISSN (1981-2183) REVISTA INTERAÇÃO | Ano III número 2 2º semestre de 2009 43
VI. As informações sobre os serviços de saúde contendo critérios de acesso, endereços, telefones, horários de funcionamento, nome e horário de trabalho dos profi ssionais das equipes assistenciais devem estar disponíveis aos cidadãos nos locais onde a assistência é prestada e nos espaços de controle social;
VII. O acesso de que trata o caput inclui as ações de proteção e prevenção relativas a riscos e agravos à saúde e ao meio ambiente, as devidas informações relativas às ações de vigilância sanitária e epidemiológica e os determinantes da saúde individual e coletiva;
VIII. A garantia à acessibilidade implica o fi m das barreiras arquitetônicas e de comunicabilidade, oferecendo condições de atendimento adequadas, especialmente a pessoas que vivem com defi ciências, idosos e gestantes;
É direito dos cidadãos ter atendimento resolutivo com qualidade, em função da natureza do agravo, com garantia de continuidade da atenção, sempre que necessário, tendo garantidos:
I. Atendimento com presteza, tecnologia apropriada e condições de trabalho adequadas para os profi ssionais da saúde;
II. Informações sobre o seu estado de
saúde, extensivas aos seus familiares e
/ ou acompanhantes, de maneira clara,
objetiva, respeitosa, compreensível
e adaptada à condição cultural,
respeitados os limites éticos por parte
da equipe de saúde sobre, entre outras:
a) Hipóteses diagnósticas;
b) Diagnósticos confi rmados;
c) Exames solicitados;
d) Objetivos dos procedimentos
diagnósticos, cirúrgicos, preventivos ou
terapêuticos;
e) Riscos, benefícios e inconvenientes das
medidas diagnósticas e terapêuticas
propostas;
f) Duração prevista do tratamento
proposto;
g) No caso de procedimentos diagnósticos
e terapêuticos invasivos ou cirúrgicos, a
necessidade ou não de anestesia e seu
tipo e duração, partes do corpo afetadas
pelos procedimentos, instrumental a ser
utilizado, efeitos colaterais, riscos ou
conseqüências indesejáveis, duração
prevista dos procedimentos e tempo de
recuperação;
h) fi nalidade dos materiais coletados para
exames;
i) evolução provável do problema de
saúde;
j) informações sobre o custo das interven-
ções das quais se benefi ciou o usuário.
GESTÃO EM SAÚDE E SAÚDE PÚBLICA
44 REVISTA INTERAÇÃO | Ano III número 2 2º semestre de 2009 ISSN (1981-2183)
III. Registro em seu prontuário, entre
outras, das seguintes informações, de
modo legível e atualizado:
a) Motivo do atendimento e/ou
internação, dados de observação
clínica, evolução clínica, prescrição
terapêutica, avaliações da equipe
multiprofi ssional, procedimentos e
cuidados de enfermagem e, quando
for o caso, procedimentos cirúrgicos
e anestésicos, odontológicos,
resultados de exames complementares
laboratoriais e radiológicos;
b) Registro da quantidade de sangue
recebida e dados que permitam
identifi car sua origem, sorologias
efetuadas e prazo de validade;
c) Identifi cação do responsável pelas
anotações.
IV. O acesso à anestesia em todas as
situações em que for indicada, bem
como a medicações e procedimentos
que possam aliviar a dor e o sofrimento;
V. O recebimento das receitas e
prescrições terapêuticas, que devem
conter:
a) O nome genérico das substâncias
prescritas;
b) Clara indicação da posologia e
dosagem;
c) Escrita impressa, datilografadas ou
digitadas, ou em caligrafi a legível;
d) Textos sem códigos ou abreviaturas;
e) O nome legível do profi ssional e seu
número de registro no órgão de controle
e regulamentação da profi ssão;
f) A assinatura do profi ssional e data.
VI. O acesso à continuidade da atenção
com o apoio domiciliar, quando
pertinente, treinamento em auto
cuidado que maximize sua autonomia
ou acompanhamento em centros de
reabilitação psicossocial ou em serviços
de menor ou maior complexidade
assistencial;
VII. Encaminhamentos para outras
unidades de saúde, observando:
a) Caligrafi a legível ou datilografados /
digitados ou por meio eletrônico;
b) Resumo da história clínica,
hipóteses diagnósticas, tratamento
realizado, evolução e o motivo do
encaminhamento;
c) A não utilização de códigos ou
abreviaturas;
d) Nome legível do profi ssional e seu
número de registro no órgão de controle
e regulamentação da profi ssão,
assinado e datado;
e) Identifi cação da unidade de referência
e da unidade referenciada.
É direito dos cidadãos atendimento
acolhedor na rede de serviços de saúde de forma
humanizada, livre de qualquer discriminação,
ROGÉRIO NAZÁRIO DA SILVA e FLÁVIA SILVEIRA SERRALVO
ISSN (1981-2183) REVISTA INTERAÇÃO | Ano III número 2 2º semestre de 2009 45
restrição ou negação em função de idade, raça,
cor, etnia, orientação sexual, identidade de
gênero, características genéticas, condições
econômicas ou sociais, estado de saúde, ser
portador de patologia ou pessoa vivendo com
defi ciência, garantindo-lhes:
I. A identifi cação pelo nome e sobrenome,
devendo existir em todo documento de
identifi cação do usuário um campo para
se registrar o nome pelo qual prefere
ser chamado, independentemente do
registro civil, não podendo ser tratado
por número, nome da doença, códigos,
de modo genérico, desrespeitoso ou
preconceituoso;
II. Profi ssionais que se responsabilizem
por sua atenção, identifi cados por meio
de crachás visíveis, legíveis ou por
outras formas de identifi cação de fácil
percepção;
III. Nas consultas, procedimentos diagnós-
ticos, preventivos, cirúrgicos, terapêuti-
cos e internações, o respeito a:
a) Integridade física;
b) Privacidade e conforto;
c) Individualidade;
d) Seus valores éticos, culturais e
religiosos;
e) Confi dencialidade de toda e qualquer
informação pessoal;
f) Segurança do procedimento;
g) Bem-estar psíquico e emocional.
IV. O direito ao acompanhamento por pessoa de sua livre escolha nas consultas, exames e internações, no momento do pré-parto, parto e pós-parto e em todas as situações previstas em lei (criança, adolescente, pessoas vivendo com defi ciências ou idoso). Nas demais situações, ter direito a acompanhante e / ou visita diária, não inferior a duas horas durante as internações, ressalvadas as situações técnicas não indicadas;
V. Se criança ou adolescente, em casos de internação, continuidade das atividades escolares, bem como desfrutar de alguma forma de recreação;
VI. A informação a respeito de diferentes possibilidades terapêuticas de acordo com sua condição clínica, considerando as evidências científi cas e a relação custo-benefício das alternativas de tratamento, com direito à recusa, atestado na presença de testemunha;
VII. A opção pelo local de morte;
VIII. O recebimento, quando internado, de visita de médico de sua referência, que não pertença àquela unidade hospitalar, sendo facultado a esse profi ssional o acesso ao prontuário.
O respeito à cidadania no Sistema de Saúde deve ainda observar os seguintes direitos:
I. Escolher o tipo de plano de saúde que melhor lhe convier, de acordo com
GESTÃO EM SAÚDE E SAÚDE PÚBLICA
46 REVISTA INTERAÇÃO | Ano III número 2 2º semestre de 2009 ISSN (1981-2183)
as exigências mínimas constantes na legislação, e ter sido informado pela operadora da existência e disponibilidade do plano referência;
II. O sigilo e a confi dencialidade de todas as informações pessoais, mesmo após a morte, salvo quando houver expressa autorização do usuário ou em caso de imposição legal, como situações de risco à saúde pública;
III. Acesso a qualquer momento, do paciente ou terceiro por ele autorizado, a seu prontuário e aos dados nele registrados, bem como ter garantido o encaminhamento de cópia a outra unidade de saúde, em caso de transferência;
IV. Recebimento de laudo médico, quando solicitar;
V. Consentimento ou recusa de forma livre, voluntária e esclarecida, depois de adequada informação, a quaisquer procedimentos diagnósticos, preventivos ou terapêuticos, salvo se isso acarretar risco à saúde pública. O consentimento ou a recusa dados anteriormente poderão ser revogados a qualquer instante, por decisão livre e esclarecida, sem que lhe sejam imputadas sanções morais, administrativas ou legais;
VI. Não ser submetido a nenhum exame, sem conhecimento e consentimento, nos locais de trabalho (pré-admissionais ou periódicos), nos estabelecimentos
prisionais e de ensino, públicos ou
privados;
VII. A indicação de um representante
legal de sua livre escolha, a quem
confi ará a tomada de decisões para a
eventualidade de tornar-se incapaz de
exercer sua autonomia;
VIII. Receber ou recusar assistência
religiosa, psicológica e social;
IX. Ter liberdade de procurar segunda
opinião ou parecer de outro profi ssional
ou serviço sobre seu estado de saúde ou
sobre procedimentos recomendados,
em qualquer fase do tratamento;
X. Ser prévia e expressamente informado
quando o tratamento proposto for
experimental ou fi zer parte de pesquisa,
decidindo de forma livre e esclarecida,
sobre sua participação;
XI. Saber o nome dos profi ssionais que
trabalham nas unidades de saúde, bem
como dos gerentes e / ou diretores e
gestor responsável pelo serviço;
XII. Ter acesso aos mecanismos de
escuta para apresentar sugestões,
reclamações e denúncias aos gestores e
às gerências das unidades prestadoras
de serviços de saúde e às ouvidorias,
sendo respeitada a privacidade, o sigilo
e a confi dencialidade;
XIII. Participar dos processos de indicação e/
ou eleição de seus representantes nas
conferências, nos conselhos nacional,
estadual, do Distrito Federal, municipal
ROGÉRIO NAZÁRIO DA SILVA e FLÁVIA SILVEIRA SERRALVO
ISSN (1981-2183) REVISTA INTERAÇÃO | Ano III número 2 2º semestre de 2009 47
e regional ou distrital de saúde e
conselhos gestores de serviços.
DEVERES DOS USUÁRIOS
I. Prestar informações apropriadas
nos atendimentos, nas consultas
e nas internações sobre queixas,
enfermidades e hospitalizações
anteriores, história de uso de
medicamentos e / ou drogas, reações
alérgicas e demais indicadores de sua
situação de saúde;
II. Manifestar a compreensão sobre
as informações e/ou orientações
recebidas e, caso subsistam dúvidas,
solicitar esclarecimentos sobre elas;
III. Seguir o plano de tratamento
recomendado pelo profi ssional e pela
equipe de saúde responsável pelo seu
cuidado, se compreendido e aceito,
participando ativamente do projeto
terapêutico;
IV. Informar ao profi ssional de saúde e/ou
à equipe responsável sobre qualquer
mudança inesperada de sua condição
de saúde;
V. Assumir responsabilidades pela recusa
a procedimentos ou tratamentos
recomendados e pela inobservância
das orientações fornecidas pela equipe
de saúde;
VI. Contribuir para o bem-estar de todos
que circulam no ambiente de saúde,
evitando principalmente ruídos, uso de
fumo, derivados do tabaco e bebidas
alcoólicas, colaborando com a limpeza
do ambiente;
VII. Adotar comportamento respeitoso
e cordial com os demais usuários e
trabalhadores da saúde;
VIII. Ter sempre disponíveis para
apresentação seus documentos e
resultados de exames que permanecem
em seu poder;
IX. Observar e cumprir o estatuto, o
regimento geral ou outros regulamentos
do espaço de saúde, desde que estejam
em consonância com esta carta;
X. Atentar para situações da sua vida
cotidiana em que sua saúde esteja em
risco e as possibilidades de redução da
vulnerabilidade ao adoecimento;
XI. Comunicar aos serviços de saúde ou
à vigilância sanitária irregularidades
relacionadas ao uso e à oferta de
produtos e serviços que afetem a saúde
em ambientes públicos e privados;
XII. Participar de eventos de promoção de
saúde e desenvolver hábitos e atitudes
saudáveis que melhorem a qualidade
de vida.
OS GESTORES
Os gestores do SUS, das três esferas de
governo, para observância desses princípios,
se comprometem a:
I. Promover o respeito e o cumprimento
desses direitos e deveres com a
GESTÃO EM SAÚDE E SAÚDE PÚBLICA
48 REVISTA INTERAÇÃO | Ano III número 2 2º semestre de 2009 ISSN (1981-2183)
adoção de medidas progressivas para sua efetivação;
II. Adotar as providências necessárias para subsidiar a divulgação desta carta, inserindo em suas ações as diretrizes relativas aos direitos e deveres dos usuários, ora formalizada;
III. Incentivar e implementar formas de participação dos trabalhadores e usuários nas instâncias e nos órgãos de controle social do SUS;
IV. Promover atualizações necessárias nos regimentos e estatutos dos serviços de saúde, adequando-os a esta carta;
V. Adotar formas para o cumprimento efetivo da legislação e normatizações do sistema de saúde;
RESPONSABILIDADE PELA SAÚDE DO CIDADÃO
Compete ao município “prestar, com a cooperação técnica e fi nanceira da União e do estado, serviços de atendimento à saúde da população” – Constituição da República Federativa do Brasil, art. 30, item VII.
Das responsabilidades:
1. Gerenciar e executar os serviços públicos de saúde;
2. Celebrar contratos com entidades prestadoras de serviços privados de saúde, bem como avaliar sua execução;
3. Participar do planejamento, programação e organização do SUS em articulação com o gestor estadual;
4. Executar serviços de vigilância epidemiológica, sanitária, de alimentação e nutrição, de saneamento básico e de saúde do trabalhador;
5. Gerir laboratórios públicos de saúde e hemocentros;
6. Celebrar contratos e convênios com entidades prestadoras de serviços privados de saúde, assim como controlar e avaliar sua execução;
7. Participar do fi nanciamento e garantir o fornecimento de medicamentos básicos;
As responsabilidades dos Governos Estaduais e do Distrito Federal:
1. Acompanhar, controlar e avaliar as redes assistenciais do SUS;
2. Prestar apoio técnico e fi nanceiro aos municípios;
3. Executar diretamente ações e serviços de saúde na rede própria;
4. Gerir sistemas públicos de alta complexidade de referência estadual e regional;
5. Acompanhar, avaliar e divulgar os seus indicadores de morbidade e mortalidade;
6. Participar do fi nanciamento da assistência farmacêutica básica e adquirir e distribuir os medicamentos de alto custo em parceria com o governo federal;
7. Coordenar e, em caráter complementar, executar ações e serviços de vigilância
ROGÉRIO NAZÁRIO DA SILVA e FLÁVIA SILVEIRA SERRALVO
ISSN (1981-2183) REVISTA INTERAÇÃO | Ano III número 2 2º semestre de 2009 49
epidemiológica, vigilância sanitária, alimentação e nutrição e saúde do trabalhador;
8. Implementar o Sistema Nacional de Sangue, Componentes e Derivados juntamente com a União e municípios;
9. Coordenar a rede estadual de laboratórios de saúde pública e hemocentros.
As responsabilidades do Governo Federal:
1. Prestar cooperação técnica e fi nanceira aos estados, municípios e Distrito Federal;
2. Controlar e fi scalizar procedimentos, produtos e substâncias de interesse para a saúde;
3. Formular, avaliar e apoiar políticas nacionais no campo da saúde;
4. Defi nir e coordenar os sistemas de redes integradas de alta complexidade de rede de laboratórios de saúde pública, de vigilância sanitária e epidemiológica;
5. Estabelecer normas e executar a vigilância sanitária de portos, aeroportos e fronteiras em parceria com estados e municípios;
6. Participar do fi nanciamento da assistência farmacêutica básica e adquirir e distribuir para os estados os medicamentos de alto custo;
7. Implementar o Sistema Nacional de Sangue, Componentes e Derivados juntamente com estados e municípios;
8. Participar na implementação das políticas de controle das agressões ao meio ambiente, de saneamento básico e relativas às condições e aos ambientes de trabalho;
9. Elaborar normas para regular as relações entre o SUS e os serviços privados contratados de assistência à saúde;
10. Auditar, acompanhar, controlar e avaliar as ações e os serviços de saúde, respeitadas as competências estaduais e municipais.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho, baseado na literatura, vem agregar conhecimento para uma consciência contemporânea de gestão na área de atuação em saúde, focando os movimentos mais importantes deste novo século para a área em questão.
Trabalhar com a gestão das condições agudas para a gestão das condições crônicas, da gestão baseada em opiniões para a gestão baseada em evidências e da gestão dos meios para a gestão dos fi ns, foi de grande importância para se pensar em quais rumos o gestor contemporâneo tem que se guiar. Relatar as habilidades e competências de um novo gestor é um papel importante a ser discutido e avaliado neste novo período em que vivemos. Temos que nos aprimorar cada vez mais, visando sempre à qualidade de um resultado.
No item Saúde Pública foi muito interessante trabalhar o todo, partindo da saúde nas
GESTÃO EM SAÚDE E SAÚDE PÚBLICA
50 REVISTA INTERAÇÃO | Ano III número 2 2º semestre de 2009 ISSN (1981-2183)
Américas, indo pra sua defi nição e ao mesmo
tempo englobando suas funções com a Gestão
do SUS, que por sinal foi outro item de grande
importância no trabalho, defi nir o Sistema Único
de Saúde, seu papel na Gestão Estadual,
sua re-conceituação e inovação, deixando
registrados os direitos, os deveres dos usuários
deste sistema e também dos gestores.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRASIL. Conselho Nacional de Secretários
de Saúde. Convergências e divergências sobre
gestão e regionalização do SUS. Brasília: 2004.
(Conass Documenta, 6).
BRASIL. Conselho Nacional de Secretários
de Saúde. Legislação do SUS. Brasília: 2003.
Conass Progestores.
BRASIL. Conselho Nacional de Secretários
de Saúde. Para entender o pacto pela saúde:
legislação e notas do Conass. In: SEMINARIO
DO CONASS, Brasília, 2006. Anais Brasília:
Conass, 2006.
BRASIL. Defi nição de prioridades em
saúde: os Conselhos Municipais de Saúde e
os critérios para hierarquização de prioridades.
Porto Alegre: Dacasa, 2002. (Programa de
Desenvolvimento da Gestão em Saúde – PDG
Saúde).
CECILIO, Luiz Carlos de Oliveira. Uma
sistematização e discussão de tecnologia leve
de planejamento estratégico aplicada ao setor
governamental. In: MERHY, Emerson Elias;
ONOCKO, Rosana. (Org.). Agir em saúde: um desafi o para o público. 2. ed. São Paulo: Hucitec, 2002. p. 151-67. (Serie Didática -Saúde em Debate, 108).
MEDINA, Maria Guadalupe et al. Uso de modelos teóricos na avaliação em saúde: aspectos conceituais e operacionais. In: HARTZ, Zulmira Maria de Araújo; SILVA, Ligia Maria Vieira da. (Org.). Avaliação em saúde: dos modelos teóricos à prática na avaliação de programas e sistemas de saúde. Salvador: EDUFBA, Rio de Janeiro, ano 2003.
Ministério da Saúde, 2003. (Serie Técnica Projeto de Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde, 2).
Portal da Saúde. Disponível em http://portal.saude.gov.br/saude.
Portal FIOCRUZ. Disponível em www.fi ocruz.br.
(PP&G) e políticas de saúde no Brasil (1974-2000). Brasília: Organização Pan-Americana da Saúde; BRASIL.
CARLOS ALBERTO NUNES VIANA JUNIOR e SERGIO DOS SANTOS CLEMENTE JÚNIOR
ISSN (1981-2183) REVISTA INTERAÇÃO | Ano III número 2 2º semestre de 2009 51
O PAPEL DA MARCA PRÓPRIA PARA A REDE DESUPERMERCADOS1
3
Carlos Alberto Nunes Viana Junior2
Sergio dos Santos Clemente Júnior3
O PAPEL DA MARCA PRÓPRIA PARA A REDE DE SUPERMERCADOS
52 REVISTA INTERAÇÃO | Ano III número 2 2º semestre de 2009 ISSN (1981-2183)
CARLOS ALBERTO NUNES VIANA JUNIOR e SERGIO DOS SANTOS CLEMENTE JÚNIOR
ISSN (1981-2183) REVISTA INTERAÇÃO | Ano III número 2 2º semestre de 2009 53
RESUMO
O setor varejista no Brasil é altamente competitivo e vem se consolidando nos últimos anos. Este crescimento continuará ocorrendo não somente nesse setor, mas também nos outros segmentos. As marcas próprias vieram com o intuito de aumentar o leque de possibilidades do consumidor e melhorar a qualidade dos produtos oferecidos pelos supermercados. Este estudo propõe identifi car o crescimento das estratégias utilizadas pelos supermercados, no processo de conquista e fi delização de clientes. O trabalho está estruturado com o referencial bibliográfi co, seguido da análise dos supermercados em relação à satisfação dos consumidores, e também como o consumidor se relaciona com a imagem que se procura passar de uma determinada marca, preço, e lealdade ao produto. A metodologia utilizada se compõe de um variado referencial bibliográfi co, e análise dos supermercados em relação à satisfação dos consumidores. O resultado foi bastante gratifi cante e atendeu às expectativas do tema proposto. As conclusões correspondem de modo satisfatório, aos objetivos gerais.
Palavras-chave: 1. Marketing. 2. Marcas Próprias. 3. Supermercado.4. Fornecedor. 5. Cliente.
1 Artigo originado do Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à coordenação do Curso de Administração de Empresas da Faculdade das Américas em Dezembro de 2009.
2 Aluno do Curso de Administração de Empresas da Faculdade das Américas. E-mail: [email protected] 3 Orientador do Trabalho de Conclusão de Curso. Mestre em Hospitalidade e Professor da Faculdade das Américas
(São Paulo - SP). E-mail: [email protected]
O PAPEL DA MARCA PRÓPRIA PARA A REDE DE SUPERMERCADOS
54 REVISTA INTERAÇÃO | Ano III número 2 2º semestre de 2009 ISSN (1981-2183)
ABSTRACT
The retail sector in Brazil is highly competitive and had become consolidated for the past years. This steady growth will continue not only in this sector, but in the other segments as well. Private labeled brand products were developed and introduced into the market as an attempt to increase customer’s options and choices; in addition to improve the quality of products offered by the supermarkets. The purpose of this study is to identify the growth strategy, used by the supermarkets, on building a customer-store’s relationship strong enough to guarantee customer’s loyalty. This report is structured with a bibliographical reference followed by supermarkets analysis in regards to customer’s satisfaction and how the consumer relates himself with the brand’s image, price and product loyalty. The methodology applied comprises an array of references and a deep analysis of customer’s contentment when it comes to supermarkets. The results have been rewarding and fulfi lled the expectations of the discussion of the proposed subject. Overall, conclusions have been satisfactorily concerning the general objectives of the study.
Palavras-chave: 1. Marketing. 2. Private Brand Products.3. Supermarket. 4. Supplies. 5. Customer.
CARLOS ALBERTO NUNES VIANA JUNIOR e SERGIO DOS SANTOS CLEMENTE JÚNIOR
ISSN (1981-2183) REVISTA INTERAÇÃO | Ano III número 2 2º semestre de 2009 55
INTRODUÇÃO
Este trabalho de conclusão de curso apresentado à Faculdade das Américas, tem como exigência parcial para obtenção do grau de Bacharel em Administração de Empresas, orientado pelo Professor Ms. Sergio dos Santos Clemente Júnior.
O tema proposto foi o Papel da Marca Própria para a rede de Supermercados. A Justifi cativa é que o reconhecimento da marca própria para o negócio gerou um empenho maior no controle dos processos, e a prática da melhoria contínua na qualidade e entrega dos produtos e serviços oferecidos.
O seu Objetivo Geral é a consistência da personalidade de uma marca, trabalhada em todos os pontos de contato com o mercado e o fator “surpreender e encantar”, trazem à marca própria maior respaldo, tornando-a mais próxima, aceita e desejada pelo público em geral.
O Objetivo Específi co deste tema é de que as marcas próprias representam uma oportunidade de aproveitar melhor a capacidade fabril sem destinar investimentos de marketing e mídia para ampliar a participação de suas marcas no mercado.
A grande importância para o fornecedor da marca própria é o relacionamento que passa a ter com as grandes cadeias do varejo e do atacado, permitindo que gradativamente a marca tenha também seu espaço garantido na gôndola.
A marca própria consolidou-se como uma ótima alternativa de economia para o consumidor, principalmente agora em tempos de crise. Com a mudança de cenário, há uma tendência ainda maior de o consumidor experimentar itens com a marca do varejista e do atacadista e comprovar a relação custo-benefício. Portanto o setor de marcas próprias devem se benefi ciar com a crise.
O trabalho conjunto entre indústria e varejo será fundamental para entender o comportamento e as necessidades do consumidor e fazer com que a marca própria cresça cada vez mais. A grande pergunta que se faz é se a marca própria agrega valor à rede de supermercados?
A Hipótese sugerida é de que o fortalecimento da imagem, o desenvolvimento de fi delidade à loja, com um maior poder de barganha junto à indústria, o aumento de força competitiva, uma melhora considerável na margem de lucro e um maior poder de gestão trazem a marca própria como uma das melhores situações para a rede de supermercados.
A metodologia de pesquisa para o trabalho foi à utilização de pesquisas bibliográfi cas e análises do comportamento organizacional, ou seja, a metodologia utilizada para a realização deste estudo foi à pesquisa qualitativa.
Além disso, estão sendo utilizadas matérias de jornais, sites e revistas especializadas e entrevistas com pesquisadores desta área.
No capítulo 1, mostramos as partes
O PAPEL DA MARCA PRÓPRIA PARA A REDE DE SUPERMERCADOS
56 REVISTA INTERAÇÃO | Ano III número 2 2º semestre de 2009 ISSN (1981-2183)
envolvidas neste assunto, com citações de
vários autores conceituados neste assunto. Já
no capítulo 2, é citada a metodologia do trabalho
científi co. O capítulo 3 é colocado à opinião do
autor, e mostra exemplos e situações reais que
complementam a sua hipótese.
Tenham uma boa leitura.
1 REVISÃO DA LITERATURA
Existe uma grande preocupação com a
valorização das marcas como resultado de
um esforço de marketing. As atividades de
marketing devem ser conduzidas sob a égide
de uma fi losofi a bem pensada de marketing
efi ciente, efetivo e socialmente responsável.
Gerentes de marketing precisam
tomar inúmeras decisões, desde decisões
fundamentais, como que características
projetar em um novo produto, quanto
profi ssionais de vendas contratar ou quanto
gastar em propaganda, até decisões de menor
importância, como texto e a cor de uma nova
embalagem (KOTLER, 2000).
A marca própria busca não apenas oferecer
uma opção de menor preço, ela precisa criar
valor à marca, seja pela qualidade similar a da
líder, pelo diferencial competitivo, por criar valor,
ou simplesmente por inovar em determinados
segmentos de mercado.
A prática do varejo em lançar marcas
próprias explodiu na Europa e nos Estados
Unidos nas últimas décadas. No Brasil, esse
mercado foi aquecido nos últimos anos com o
ingresso dos principais distribuidores varejistas.
Para se ter uma idéia, segundo a
ABMAPRO (Associação Brasileira de Marcas
Próprias e Terceirização), em países europeus
a participação dos artigos de marca própria
nas vendas é de no mínimo 13%, como é o
caso da Itália, podendo chegar a 40,8%, como
acontece no Reino Unido. A porcentagem nas
vendas de varejo das marcas próprias nos
Estados Unidos (19,8%) e Argentina (8,5%)
também são superiores à do Brasil. O estudo
foi feito com base num mapeamento completo
que acompanhou a evolução das categorias e
itens comercializados por supermercadistas,
atacadistas e drogarias. O segmento das
marcas próprias continua apostando no
crescimento do número de itens dentro das
categorias já atuantes como bazar, bebidas
alcoólicas, bebidas não alcoólicas, higiene
e beleza, limpeza caseira, mercearia doce,
mercearia salgada e perecíveis de auto-serviço.
Entre os supermercados envolvidos no
estudo, 40% possuem marcas próprias. A cesta
de produtos que mais trabalha com marcas
próprias nesse canal é a Alimentar, seguida
por Bazar e Higiene e Saúde. O número total
de itens de marcas próprias cresceu 63% no
último ano no canal Supermercado. No canal
atacadista, 50% das empresas participantes do
estudo possuem marcas próprias. Em relação
às drogarias, esse índice atinge 35%.
CARLOS ALBERTO NUNES VIANA JUNIOR e SERGIO DOS SANTOS CLEMENTE JÚNIOR
ISSN (1981-2183) REVISTA INTERAÇÃO | Ano III número 2 2º semestre de 2009 57
SUPERMERCADO
O supermercado do futuro será mais fragmentado por especialidades. Um dado importante é que o tempo, como recurso mais escasso das pessoas, sobretudo das grandes cidades, indica que a oferta de alimentos deverá ser cada dia mais elaborada. Os supermercados em determinados locais deverão atuar como verdadeiras praças de alimentação, com comida para ser degustada no local ou levar para casa ou ainda para entrega domiciliar.
O novo varejo está ávido para conquistar o consumidor a qualquer preço, ou melhor, por um preço competitivo por isso são lançadas macas próprias para reduzir custos e manter uma posição de mando no mercado (COBRA, 2003).
Especifi camente o setor supermercadista do varejo passou por grandes transformações na década de 90, acentuadas com a estabilização econômica decorrente da implantação do Plano Real, em 1994. Mudanças no comportamento do consumidor, utilização de novas tecnologias que modernizaram o setor, crescimento das empresas nacionais e entrada de empresas estrangeiras (SESSO FILHO, 2001).
Caracterizado pelo auto-atendimento e possibilidade de compra de produtos em unidades, os supermercados respondem por mais de 85% dos alimentos adquiridos pelos brasileiros. A estabilização econômica pós Plano Real fez aumentar a demanda por alimentos e também aumentou o interesse
de empresas americanas e européias pelo mercado interno. Ocorreu então, um processo de fusões e aquisições que fi zeram aumentar a força do varejista na relação com a indústria.
O aumento do poder do varejista, concentração do mercado, o grande fl uxo de informações sobre vendas e as marcas próprias, gerou o crescimento e desempenho de redes de supermercado na década de 90 (SESSO FILHO, 2001).
FORNECEDOR
A maior preocupação dos compradores é a de obter mercadorias de vendedores honestos de for-ma regular. Há vários fornecedores de varejistas.
Devem-se selecionar aqueles que tenham melhores condições de fornecimento a um custo reduzido, considerando-se também as seguintes condições: reputação; localização; serviços; políticas de trabalho; disponibilidade; termos de compra; vendas e experiência. Todos estes aspectos interferem na determinação e seleção das fontes (LAS CASAS, 1992).
Os produtos são de 15% a 30% mais baratos, porque o custo de distribuição para o fornecedor é mais barato, o que gera redução no custo fi nal, que é repassado ao consumidor.
As estratégias de marca segundo Kotler (2000) dividem-se:
Extensões de Linha: Permanecer com os nomes de marcas existentes a quando de um upgrade (novos tamanhos e sabores);
O PAPEL DA MARCA PRÓPRIA PARA A REDE DE SUPERMERCADOS
58 REVISTA INTERAÇÃO | Ano III número 2 2º semestre de 2009 ISSN (1981-2183)
Extensões de marca: nomes de marca aplicados a categorias de novos produtos.
Multimarcas: Novos nomes de marcas lançados na mesma categoria de produtos;
Novas marcas: Novo nome de marca para nova categoria de produtos. Pode acontecer que nenhum nome existente seja apropriado; , Marcas combinadas ou duplas: Marcas que trazem dois ou mais nomes de marcas bem conhecidos.
MARCA PRÓPRIA
Uma marca é um nome diferenciado, símbolo (tal como logotipo, marca registrada, ou desenho de embalagem) destinado a identifi car os bens ou serviços de um vendedor ou de um grupo de vendedores e a diferenciar esses bens e serviços daqueles concorrentes (AAKER, 1998). Assim, uma marca sinaliza a origem do produto e protege tanto o consumidor quanto o fabricante, dos concorrentes que oferecem produtos que pareçam idênticos.
As ações estratégicas de marketing devem ser defi nidas em cima de forças das marcas da empresa, mas outras ações devem ser traçadas para inibir as suas fraquezas. Assim, é importante agir sob forças, mas ter as fraquezas sob controle (COBRA, 2003). Posicionar uma marca é conferir uma personalidade de tal modo distinta das outras que ela irá ocupar um lugar próprio na cabeça e no coração do consumidor.
Portanto, se é defi nido uma personalidade para uma marca, a empresa não pode deixar que o consumidor confunda as marcas que pertencem às mesmas categorias de produtos (RIES e TROUT,1992).
Um novo design de um produto pode signifi car redução de custos pela simplifi cação dos métodos e processos de produção. (COBRA, 2003)
Já a solidez de uma marca, segundo Kotler (2000), depende do desenvolvimento de um produto superior, com uma embalagem adequada, sustentado por uma propaganda contínua e atendimento confi ável.
O posicionamento de um produto, só é possível com a construção de uma imagem da marca na mente do consumidor.
Em um mundo altamente competitivo, é essencial que preços corretos sejam fi xados às marcas. É importante contar com as ferramentas adequadas para posicionar uma marca, considerando que os varejistas focam de maneira crescente em “preços baixo todos os dias”.
A mente do consumidor é como uma enorme caixa postal que arquiva marcas, associando-as a realização de desejos explícitos e desejos ocultos (COBRA, 2003).
As emoções teriam um papel fundamental na escolha da marca de um produto. A construção de marcas é um processo intrincado, doloroso, mas inevitável. Muita gente tenta evitar esse problema buscando a saída mais fácil:
CARLOS ALBERTO NUNES VIANA JUNIOR e SERGIO DOS SANTOS CLEMENTE JÚNIOR
ISSN (1981-2183) REVISTA INTERAÇÃO | Ano III número 2 2º semestre de 2009 59
estender as marcas que já existem. Essa é uma oportunidade essencial nos negócios, mas é necessário critério para utilizá-la.
Cobra (2003) acredita que a percepção da importância produto deriva das características intrínsecas à natureza do produto e também das características relativas ao seu uso, além das características do próprio consumidor.
A decisão de TER ou NÃO TER uma marca, hoje em dia, é algo tão poderoso que praticamente nada fi ca sem marca. As frutas e verduras são carimbadas com o nome do local do plantio/origem, o queijo fresco vem carimbado com o nome do produtor e assim por diante.
A Colgate abandonou a organização por marca (creme dental colgate) para a organização por categoria de produtos (creme dental) e, recentemente, para organização orientada para o consumidor (saúde oral). Finalmente, esta última etapa levou a empresa a focar sobre uma necessidade do consumidor (KOTLER, 2000).
A Decisão de Posicionamento e Reposicionamento para Kotler (2000), mesmo uma marca bem posicionada no mercado, pode vir a ter que reposicionar-se, por mudanças nas preferências dos consumidores ou pela entrada de novas concorrentes, ou por outros fatores internos ou externos.
A qualidade de um produto está intrinsecamente associada, na mente do consumidor. A performance, a qualidade dos
serviços está, por sua própria natureza, ligada unicamente aos atributos intangíveis, o design age com a mesma intensidade em todas as variáveis do brand equity, razão pela qual tem-se tornado cada vez mais importante na construção de uma marca, não somente para as indústrias de produtos como também para as empresas de serviços (COBRA, 2003).
O investimento em produtos de marca própria tem como principais objetivos: obter uma maior fi delização dos clientes, aumentar a rentabilidade e reforçar a marca da loja.
Las Casas (1992) acredita que a marca própria têm como maior vantagem o controle sobre o produto. Não depende de um fornecedor, uma vez que o produto pode ser manufaturado sob especifi cação. Marcas individuais dão certo prestígio para a loja que a comercializa. Para Maximiano (2006) a parte mais importante do planejamento de um projeto é a defi nição do produto. O produto, fornecido como resultado do projeto é o meio para o atendimento de uma necessidade. Para defi nir com precisão o produto ou serviço, é preciso saber quais necessidades deverão ser atendidas.
O fornecimento do produto é o objetivo central dessa hierarquia. O produto permite realizar um ou mais objetivos de ordem superior, chamados objetivos intermediários e fi nais (MAXIMIANO, 2006).
Atualmente as marcas próprias estão se direcionando para duas vertentes. A primeira é a da valorização das marcas próprias, que
O PAPEL DA MARCA PRÓPRIA PARA A REDE DE SUPERMERCADOS
60 REVISTA INTERAÇÃO | Ano III número 2 2º semestre de 2009 ISSN (1981-2183)
concorrem diretamente com as marcas líderes,
inclusive na faixa de preço (com preços iguais ou
um pouco menores). A segunda é a dos preços
baixos, com produtos que não concorrem com
as marcas líderes de mercado.
CLIENTE
A compreensão do perfi l do consumidor e
de como ele correspondem aos dados sócio-
gráfi cos da categoria permitirá a aplicação de
esforços de marketing ainda mais estratégicos.
Segundo Cobra (2003) quando há
similaridade entre produtos, o consumidor tenta
barganhar para se proteger de produtos de
qualidade baixa e preço alto. Quando a oferta
de produtos similares é grande, a barganha
tende a ser maior.
O cliente sempre busca o consumo com
maior ou menor moderação em função de suas
preocupações de vida social, e por ser gregário,
ou seja, por gostar de viver em tribos busca
possuir bens que o tornem aceito e respeitado
socialmente, e consome tudo aquilo que pode
de acordo com sua condição fi nanceira e
econômica (COBRA, 2003).
A eqüidade da marca, sua retidão, seu
caráter, são ativos e têm valor. A marca carrega
uma imagem, uma personalidade, o que
diminui o estresse. Os consumidores usufruem
os benefícios da marca, por meio da confi ança
(emoção) que conferem a ela.
A vantagem de atuar em nichos de mercados
é, inicialmente, a redução de poder de barganha
dos clientes, uma vez que a concorrência é
menos infl uente nesses segmentos. E em
segundo lugar, quando a empresa foca seus
esforços de marketing mais compactamente
nesses nichos de mercado, podendo dessa
maneira melhor atender às necessidades e
expectativas dos clientes desses segmentos
(COBRA, 2003).
A experiência de uso é o principal fator e
um pressuposto obrigatório para a formação da
lealdade do consumidor à marca. Aaker (1998)
distinguiu cinco tipos de atitude do cliente em
relação a sua marca, sendo o último o de
máxima lealdade, como podemos verifi car na
fi gura 1.
FIGURA 1-PIRÂMIDE DA LEALDADE.
Fonte: Churchill, 2000.
Sem lealdade à marca, qualquer produto
é percebido como satisfatório, a marca não
constitui elemento de poder de decisão de
compra, um dos fatores de preferência é o
preço ou a própria conveniência do consumidor.
CARLOS ALBERTO NUNES VIANA JUNIOR e SERGIO DOS SANTOS CLEMENTE JÚNIOR
ISSN (1981-2183) REVISTA INTERAÇÃO | Ano III número 2 2º semestre de 2009 61
Possui pouco conhecimento da marca e é um comprador mutável:
Satisfeito e habitual: não existe ponto negativo que o faça mudar de marca, principalmente se isso não é conveniente para ele. Não procuram alternativas e possuem bom nível de conscientização;
Satisfeitos: são aqueles que conhecem o produto por experiência de uso, seus atributos e suas necessidades são satisfeitas. O concorrente só o conquistará caso apresente qualidades similares e um diferencial no qual haja vantagens sobre o custo benefício., são suscetíveis às mudanças. Possui alto grau de aceitabilidade;
Valoriza a marca: grupo de clientes satisfeitos com vínculo longo de consumo, o qual transforma em sentimento afetivo. Vê a marca como uma amiga, é um apreciador da marca e possui alto grau de preferência;
Devotado à marca: este é um comprador comprometido com a marca, que percebe todo o benefício obtido por ele através da marca e recomenda o seu uso a pessoas do seu círculo de relação. A marca defi ne seu estilo de vida. É um defensor da marca e possui alto grau de lealdade.
O consumidor do século 21 sente que os recursos tornam-se escassos diante de tantas demandas fi nanceiras, por isso precisa ser mais
exigente, ou seja, exigir mais pelo seu dinheiro.
O consumidor reclama mais, protesta mais,
economiza mais para poder gastar mais. E a
distorção entre o maior nível de consumo e o
menor de renda no Censo 2000 é explicada por
maior acesso ao crédito e redução de preços
pelo aumento da competição empresarial.
Vale a pena oferecer marcas próprias nas
categorias em que a marca não é um diferencial
na decisão do consumidor. Ao comprar marcas
próprias, o consumidor reduz o ticket médio
fi nal e tem a sensação de que economizou.
Para Cobra (2003) o mundo da tecnologia
parece que não tem fi m. Basta identifi car uma
necessidade ou um desejo latente de consumo
para que novas e diferenciadas tecnologias
surjam para atender a demandas ainda não
caracterizada. Aliás, Akio Morita, fundador da
Sony, certa vez em um entrevista para a revista
Playboy, disse: “A pesquisa de mercado está
em minha cabeça”, porque o consumidor não
sabe o que quer. Um novo produto cria um
desejo.
Por isso, Maximiano (2006) acredita que
defi nir necessidades e objetivos com clareza,
é preciso esclarecer as expectativas do
cliente. Todo projeto tem clientes implícitos ou
explícitos. Pode ser um cliente impessoal, como
o mercado consumidor, cujas necessidades
são pesquisadas pelo pessoal de marketing.
A maturidade do consumidor valoriza
consistentemente o peso da marca do varejo
na decisão de compra (MOURA, 2007).
O PAPEL DA MARCA PRÓPRIA PARA A REDE DE SUPERMERCADOS
62 REVISTA INTERAÇÃO | Ano III número 2 2º semestre de 2009 ISSN (1981-2183)
Embora seja possível falar muito sobre o
consumidor brasileiro, a principal conclusão
refere-se à necessidade de observá-lo
sempre de forma particularizada, segundo
suas características demográfi cas, regionais,
comportamentais e, principalmente, com ênfase
na categoria de serviços ou produtos que se
pretende conhecer. Da mesma forma, o padrão
médio do brasileiro se diferencia, e muito, da
média mundial, pelas suas peculiaridades de
comportamento, o que obriga as empresas
globais a aprofundar suas pesquisas para o
desenvolvimento de produtos adaptados a
essa realidade.
Nos últimos anos, a classe C esteve em
evidência no mercado de consumo. E esse
movimento de expansão não é uma bolha, mas
algo que se manterá por um longo período em
razão de um conjunto de fatores.
Tal consistência da personalidade da marca
trabalhada em todos os pontos de contato com
o mercado e o fator “surpreender e encantar”,
trazem a marca própria maior respaldo,
tornando-a mais próxima, aceita e desejada
pelo público em geral (KOTLER, 2000).
Analisando as marcas próprias mais bem
sucedidas na Europa, é possível concluir que
a vantagem estratégica é o sucesso suportado
pela coerência entre a promessa e a entrega
da marca institucional, por meio de um
relacionamento forte e transparente seja com o
consumidor, o fornecedor, o trade, bem como a
comunidade.
2 MATERIAIS E MÉTODOS
2.1 METODOLOGIA DO TRABALHO CIENTÍFICO
Em seu sentido mais geral, método é a ordem que se deve impor aos diferentes processos necessários para atingir certo fi m ou um resultado desejado. Nas ciências, entende-se por método o conjunto de processos empregados na investigação e na demonstração da verdade (CERVO, 2007).
Para Fachin (2006) na obra Tratado de Lógica, de Francisco Romero, o problema de método acompanha todo saber que pretenda ir além das experiências vulgares. O método outorga ao saber a sua fi rmeza, a sua coerência, a sua validade, é como o princípio organizador e a sua garantia. Contudo, para proporcionar tais benefícios, o método deve ser analisado e fundamentado.
É preciso estabelecer algumas métricas. Deve-se ter em mente uma fórmula e um caminho a serem seguidos para atingir o objetivo da pesquisa, o de responder ao questionamento dentro do tema e confi rmar ou não as hipóteses inicialmente levantadas (VELOSO, 2005). Deve-se traçar a trilha possível e defi nir o sistema de pesquisa que será levado a efeito são tarefas que devem ser expostas no item em estudo. Dentro deste título, deverá ser especifi cado qual o sistema de pesquisa que será experimentado, dentre as várias classifi cações:
CARLOS ALBERTO NUNES VIANA JUNIOR e SERGIO DOS SANTOS CLEMENTE JÚNIOR
ISSN (1981-2183) REVISTA INTERAÇÃO | Ano III número 2 2º semestre de 2009 63
Descritiva;
De campo;
Exploratória;
Explicativa;
De laboratório;
Ainda se haverá um misto entre as que
permitem o entrelaçamento.
Veloso (2005) ressalta ainda que deve-se
expor se serão levados em consideração os
seguintes métodos:
Indutivo;
Dedutivo;
Empírico.
Complementa se o caráter especial do
campo em que se pretende pesquisar detém
métodos próprios como os da Matemática
(com seus axiomas e postulados). Economia
(histórico, econométrico, estatístico etc.) e outras
Ciências. Pode ser também que o investigador
descreva que usará das suas observações
próprias ou que fará um estudo de caso. Ainda
devem ser descritas quais as modalidades
de questionamentos serão empregadas para
obtenção das respostas, como os questionários,
entrevistas gravadas ou fi lmadas, observações
e anotações diretamente no campo ou junto
ao objeto ou pessoa em estudo ou ao se tratar
de pesquisa unicamente bibliográfi ca. Embora
possa parecer questão de delimitação de tema
e de problema, deve aparecer no subitem
metodologia uma referência ao local em que
será desenvolvida a pesquisa.
Cervo (2007) deixa bem claro a diferença de
método e técnica. Por método, entende-se
o dispositivo ordenado, o procedimento
sistemático, em plano geral. A técnica, por sua
vez, é a aplicação do plano metodológico e a
forma especial de executá-lo. Comparando,
pode-se dizer que a relação existente entre
método e técnica é a mesma que existe entre
estratégia e tática. A técnica está subordinada
ao método, sendo sua auxiliar imprescindível.
Os métodos racionais são aqueles que
fazem parte da estrutura do raciocínio, pois
o raciocínio é um procedimento coerente
que coleta elementos relativos de faculdade
espiritual própria do homem, qual seja, a razão
(FACHIN, 2006).
Esses elementos se processam pelos
seguintes métodos:
Indutivo (análise);
Dedutivo (síntese).
Estes dois elementos são fundamentais para
a compreensão de fatos por meio da ciência.
Para Fachin (2006) é necessário mencionar
que o método dedutivo pode demonstrar
que um fenômeno é conseqüência de outro
fenômeno. No caso das hipóteses científi cas,
elas precisam ser demonstradas, quando então
se transformam em leis.
Na lógica, a evidência é denominada
premissa. O pensamento lógico divide o
raciocínio em duas grandes classes: os
indutivos e os dedutivos. A evidência, que são
O PAPEL DA MARCA PRÓPRIA PARA A REDE DE SUPERMERCADOS
64 REVISTA INTERAÇÃO | Ano III número 2 2º semestre de 2009 ISSN (1981-2183)
premissas, e a conclusão formam um conjunto
denominadas argumento. A lógica preocupa-
se com o argumento. Na lógica, o raciocínio
é representado por um argumento (FACHIN,
2006). Segundo Fachin (2006) ela aponta
alguns métodos que são muito relevantes para
a explicação e montagem de uma pesquisa
científi ca, são eles:
Método Observacional;
Método Comparativo;
Método Histórico;
Método Experimental;
Método Estudo de Caso;
Método Funcionalista;
Método Estatístico.
O método observacional é o início de toda
pesquisa científi ca, pois serve de base para
qualquer área de ciências. Ele fundamenta-se
em procedimentos de natureza sensorial, como
produto do processo em que se empenha
o pesquisador no mundo dos fenômenos
empíricos. É a busca deliberada, levada o efeito
com cautela e predeterminação, em contraste
com as percepções do senso comum.
O Método Comparativo consiste em
investigar coisas ou fatos e explicá-los segundo
suas semelhanças e suas diferenças.
Geralmente, o método comparativo aborda
duas séries ou fatos de natureza análoga,
tomados de meios sociais ou de outra área do
saber, a fi m de se detectar o que é comum a
ambos.
Já o método histórico compreende a passagem da descrição para a explicação de uma situação do passado, segundo paradigmas e categorias políticas, econômicas, culturais, psicológicas, sociais, entre outras.
Ele consiste na investigação de fatos e acontecimentos ocorridos no passado para se verifi car possíveis projeções de sua infl uência na sociedade contemporânea (FACHIN, 2006).
O método experimental é aquele em que as variáveis são manipuladas de maneira preestabelecida e seus efeitos sufi cientemente controlados e conhecidos pelo pesquisador para observação do estudo. Através dele, o pesquisador consegue estabelecer uma relação do que se pretende experimentar e chegar a um resultado considerável.
Para Fachin (2006), no método do estudo de caso, leva-se em consideração, principalmente, a compreensão, como um todo, do assunto investigado.
Todos os aspectos do caso são investigados. Quando o estudo é intensivo, podem até parecerem relações que, de outra forma, não seriam descobertas. Por isso, cada item escolhido tem a sua importância para o contexto fi nal.
O direcionamento desse método dá-se com a obtenção de uma descrição e compreensão completas das relações dos fatores em cada caso, sem contar o número de casos envolvidos.
Conforme o objetivo da investigação, o número de casos pode ser reduzido a
CARLOS ALBERTO NUNES VIANA JUNIOR e SERGIO DOS SANTOS CLEMENTE JÚNIOR
ISSN (1981-2183) REVISTA INTERAÇÃO | Ano III número 2 2º semestre de 2009 65
um elemento caso ou abranger inúmeros
elementos como grupos, subgrupos, empresas,
comunidades, instituições e outros. Às
vezes, uma análise detalhada desses casos
selecionados pode contribuir para a obtenção
de idéias sobre possíveis relações.
O método funcionalista baseia-se mais em
uma interpretação dos objetos (fatos) do que
propriamente em uma coleta de dados para
investigação.
Tais necessidades básicas passam a
prescindir das formações sociais que as
satisfaçam efetivamente. Assim, o enfoque
funcionalista leva a admitir que toda a
atividade humana sociocultural é funcional e
indispensável para a existência e permanência
da sociedade (FACHIN, 2006).
Segundo a teoria de Bronislaw Malinowski
(1922) os homens têm necessidades contínuas
uns com os outros, em razão de sua composição
biológica e psíquica.
O método estatístico aplica-se ao estudo
dos fenômenos aleatórios, e praticamente
todos os fenômenos que ocorrem na
natureza são aleatórios, como as pessoas,
o divórcio, um rebanho de gado, a atividade
profi ssional, um bairro residencial, os produtos
eletrodomésticos, a opinião pública etc. Esses
fenômenos se destacam porque se repetem e
estão associados a uma variabilidade (FACHIN,
2006).
2.2 TÉCNICAS DO TRABALHO CIENTÍFICO
As técnicas em uma ciência são os meios
corretos de executar as operações de interesse
de tal ciência. O treinamento científi co reside,
em grande parte, no domínio dessas técnicas.
Ocorre, entretanto, que certas técnicas são
utilizadas por inúmeras ciências ou, ainda,
por todas elas. O conjunto dessas técnicas
gerais constitui o método. Portanto, métodos
são técnicas sufi cientemente gerais para se
tornarem procedimento comum a uma área das
ciências ou a todas as ciências.
Cervo (2007) ressalta ainda que descrição
deva ser sufi cientemente precisa para que o
interlocutor ou o leitor seja capaz de visualizar
exatamente aquilo que o pesquisador observou.
A descrição se presta ainda para descrever,
metodologicamente, cada um dos passos
dados na realização da pesquisa e na
aplicação das técnicas de pesquisa. Assim, a
replicabilidade consiste na possibilidade de
qualquer outro pesquisador, orientando-se
pelo mesmo método, empregando as mesmas
técnicas e inserido nas mesmas circunstâncias,
chegar aos mesmos resultados obtidos por
determinado pesquisador.
A idéia é poder favorecer qualquer
pesquisador para que tenha uma orientação
quando se inicia a pesquisa do mesmo assunto,
e chegar ao resultado esperado através da
mesma técnica utilizada anteriormente.
A comparação é a técnica científi ca aplicável
O PAPEL DA MARCA PRÓPRIA PARA A REDE DE SUPERMERCADOS
66 REVISTA INTERAÇÃO | Ano III número 2 2º semestre de 2009 ISSN (1981-2183)
sempre que houver dois ou mais termos com as
mesmas propriedades gerais ou características
particulares. Da comparação, importa abstrair as
semelhanças e destacar as diferenças. Homem
e mulher, por exemplo, são comparáveis na
maioria de suas propriedades gerais, mas não
em suas características específi cas (CERVO,
2007).
2.3 MÉTODOS E TÉCNICAS DO TRABALHO CIENTÍFICO
O projeto de pesquisa utiliza o método
qualitativo, pois visa um conhecimento mais
profundo do tema proposto, seu caráter é
exploratório analítico, pois busca informações
através de levantamentos bibliográfi cos e
relatos de pessoas experientes no assunto.
O tipo de pesquisa a ser utilizada é a pesquisa
bibliográfi ca, na qual é feito o levantamento de
dados através de livros e artigos científi cos do
tema em questão.
Não se trata apenas de pesquisar
documentos, ela se propões a buscar
conhecimento sobre as diferentes pesquisas
realizadas sobre determinado fenômeno. Para
elaborar o projeto,
o pesquisador pode se valer de obras
encontradas em bibliotecas, acervos, centros
de pesquisa, entre outros. O conhecimento é
importante para comprovar a existência ou não
de uma hipótese.
A coleta de informações e o resumo dos
dados proporcionam um conhecimento prévio
do conteúdo das obras. Ela pode ser informativa,
critica ou critica -informativa.
O estabelecimento de um roteiro é importante
para delimitar a pesquisa bibliográfi ca, defi nir o
fenômeno e o objeto estudado.
Existem obras como enciclopédias, manuais
e dicionários especializados que podem auxiliar
o pesquisador no início de seus estudos,
pois esse tipo de publicação remete às obras
originais ou à obras que abordam de forma
mais completa o assunto, o que proporcionará
ao leitor maior compreensão do assunto a ser
pesquisado.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Diante de um mercado cada vez mais
competitivo, as empresas vêm buscando
reestruturar suas atuações no mercado por
meio de estratégias que levem em conta uma
maior interação empresa-mercado, e otimizar o
atendimento das necessidades e dos desejos
dos consumidores. Estas estratégias produzem
efeitos sobre o que está sendo vendido, sobre
o que está sendo comprado e sobre como e em
que condições competitiva é realizada a venda.
A competição é constante para as empresas.
É mediante o processo de competição que
as empresas buscam estabelecer estratégias
de crescimento, de conquista, de participação
de mercado e de aumento da lucratividade.
Pensando em vantagem competitiva, as marcas
próprias vieram com o intuito de propiciar
uma vantagem sobre as marcas nacionais,
CARLOS ALBERTO NUNES VIANA JUNIOR e SERGIO DOS SANTOS CLEMENTE JÚNIOR
ISSN (1981-2183) REVISTA INTERAÇÃO | Ano III número 2 2º semestre de 2009 67
concorrendo em aumento de lealdade dos
clientes ás lojas, diversidades de produtos e
qualidade em excelência. Além disso, o sucesso
de uma linha de produtos comercializados com
marcas próprias, seja pela sua qualidade, seja
pelos preços, trazem benefícios á imagem do
supermercado e um diferencial a mais no mix
de produtos ofertados.
Há algum tempo, produtos de marca própria
eram automaticamente associados a um
produto simples, geralmente mais barato que
as marcas tradicionais, e algumas vezes, até
de qualidade inferior aos outros da prateleira.
Aparentemente, os dias em que a marca própria
era percebida apenas como uma imitação, se
foram. De acordo com uma pesquisa divulgada
pela Nielsen em 2005, a penetração das marcas
próprias no mercado global tem crescido 5% ao
ano, enquanto as marcas tradicionais crescem
2%.
O mercado europeu mostrou-se muito mais
desenvolvido e acostumado com a marca
própria, pois o 14º Estudo de Marcas Próprias da
Nielsen, publicado em 2008, comprovou que a
Europa é a região onde tem a maior participação
da marca própria. Em alguns casos, chegam a
40% de participação e em países como a Suíça
49% e Reino Unido 41,8%.
FIGURA 2 – PARTICIPAÇÃO DA MP
Fonte: ACNIELSEN, 2008
Os itens de marca própria estão cada vez
mais presentes nos lares brasileiros, alcançando
quase metade das residências do País (48,9%),
o que equivale a aproximadamente 12 milhões
de domicílios. O 14º Estudo de Marcas Próprias
da Nielsen aponta que, apesar de 81% do
setor estar posicionado como low price (preço
baixo), os produtos premium (produtos de
posicionamento de preço mais alto) também
têm destaque. Além disso, a penetração das
marcas próprias é maior nas classes A e B
(54,7%), mas também ocupa espaço nas
classes C, D e E (47,5%). O perfi l dos maiores
consumidores de marcas próprias é “maduro
bem-sucedido”, uma das seis classifi cações
por estilo de vida, utilizadas pela Nielsen, nível
sócio-econômico alto e médio-alto, e lares com
quatro ou cinco pessoas.
O PAPEL DA MARCA PRÓPRIA PARA A REDE DE SUPERMERCADOS
68 REVISTA INTERAÇÃO | Ano III número 2 2º semestre de 2009 ISSN (1981-2183)
FIGURA 3 – NÍVEL SÓCIO-ECONÔMICO
Fonte: ACNIELSEN, 2008.
A marca própria consolidou-se como uma ótima alternativa de economia para o consumidor, principalmente agora em tempos de crise. A marca própria é uma opção que contribui para que o poder aquisitivo do consumidor não seja tão afetado, pois os produtos mantêm a qualidade esperada com um diferencial de preço de até 20%. Com a mudança de cenário, há uma tendência ainda maior de o consumidor experimentar itens com a marca do varejista e do atacadista e comprovar a relação custo-benefício. Portanto, o setor de marcas próprias devem se benefi ciar com a crise. Este ano, estima-se um crescimento de 15%.
O mercado brasileiro de marcas próprias tem a partir de agora um dos únicos e mais respeitados processos de certifi cação de qualidade de produtos do mundo. Acaba de ser lançada, em São Paulo, a Certifi cação Abmapro, inédita no país, em evento com a participação de mais de 150 convidados representantes de empresas industriais e varejistas, entidades setoriais e de órgãos reguladores como Anvisa, Inmetro e Procon.
A certifi cação que leva o nome da Associação Brasileira de Marcas Próprias e Terceirização
(www.abmapro.com.br) foi desenvolvida pelo grupo técnico da entidade, com a participação de profi ssionais de empresas como Carrefour, Wal-Mart, Grupo Pão de Açúcar, Bureau Veritas e SGS, além de indústrias que participaram de pilotos. Todo o programa é baseado nas principais e mais exigentes normas nacionais e internacionais de auditoria de processos de fabricação de produtos cujas marcas levam o nome do próprio estabelecimento ou são de sua propriedade. Além de garantir ao consumidor que foram produzidos com o mais alto padrão de qualidade, a certifi cação diminui a burocracia para os fornecedores e fabricantes terceirizados e reduz os custos de produção, cuja economia pode até chegar ao preço fi nal. Todos esses benefícios aumentam ainda mais a competitividade do setor de marcas próprias, que cresce ano a ano no País.
Antes da Certifi cação Abmapro, as indústrias passavam por auditorias específi cas de cada varejista. A partir de agora, elas serão visitadas apenas uma vez, periodicamente, e avaliadas por meio de um check-list único e, ao receber a aprovação, terão seus processos de produção reconhecidos por todos os integrantes da cadeia de abastecimento brasileira. “Com isso, a Abmapro marca uma nova fase no controle de qualidade na fabricação de marca própria. O credenciamento dos fabricantes inclui, entre outros vários critérios, responsabilidade social, meio ambiente, saúde e segurança do trabalho”, afi rma a presidente da Abmapro, Neide Montesano.
CARLOS ALBERTO NUNES VIANA JUNIOR e SERGIO DOS SANTOS CLEMENTE JÚNIOR
ISSN (1981-2183) REVISTA INTERAÇÃO | Ano III número 2 2º semestre de 2009 69
SUPERMERCADO
No Brasil a intensifi cação do processo de
fusões e aquisições de empresas entre as
redes de supermercados fez com que o país
registrasse, ainda no início de 1999, um índice
recorde de concentração de mercado no setor
varejista. Analisando o setor em vários países
e o aumento da concentração e a participação
de mercado em marcas próprias, as empresas
sentiram-se estimuladas a buscar alternativas
de diferenciação em suas estratégias de
comercialização.
Qualidade tem que ser o item mais
importante da marca própria e precisa ter valor
percebido para o consumidor. Partindo desse
conceito, grandes redes de varejo e atacado,
no Brasil e no mundo, norteiam o lançamento
de seus produtos e o gerenciamento deles, que
também precisam estar perfeitamente afi nados
com o perfi l dos clientes de cada formato de
loja.
Hoje para entrar no mercado de marca
própria, as empresas precisam defi nir
estratégias para saber exatamente onde estão,
por onde desejam caminhar e aonde querem
chegar. E é muito importante saber o que
pretendem ser quando crescerem.
No Brasil, grandes redes de varejo
começam a adotar a estratégia de expor seus
produtos de marca própria exatamente da
mesma forma que expõem produtos de marcas
líderes da indústria, prática que já é comum nas
principais redes de varejo norte-americanas
e canadenses. Ao percorrer as gôndolas dos
supermercados, o consumidor canadense
ou norte-americano encontra, por exemplo,
aspirina e enxaguatório bucal da marca líder ao
lado de aspirina e enxaguatório bucal da marca
do varejista.
FORNECEDOR
De acordo com a ABRAS (Associação
Brasileira de Supermercados), Revista Gôndola-
Maio/2008 nº.153 p.24 e 32 -a participação do
Grupo Pão de Açúcar foi de 13,3% das vendas
do setor de marcas próprias. Segundo eles, este
crescimento continuará ocorrendo, não somente
no setor varejista de alimentos, mas também
em outros segmentos do setor de varejo. Por
exemplo, os hipermercados devem ganhar terreno
nos campos de vestuário, bazar, eletrônicos,
móveis, produtos para o lar e de outras categorias
não-alimentícias devido à carência de lojas
especializadas no Brasil. O grande foco do grupo
é em regiões onde eles possam fortalecer sua
marca, como parte de sua estratégia, eles têm
se concentrado nas necessidades e expectativas
dos diversos consumidores, desenvolvendo
formatos de lojas adequados aos diferentes níveis
de renda dos consumidores.
Dentre as estratégias usadas pelo grupo Pão
de Açúcar, a que mais tem se destacado é a de
fi delizar clientes, com utilidades que só podem
ser encontradas nas lojas do grupo. Esta é a
forma de oferecer aos clientes mais uma opção
de compra com total garantia de satisfação.
O PAPEL DA MARCA PRÓPRIA PARA A REDE DE SUPERMERCADOS
70 REVISTA INTERAÇÃO | Ano III número 2 2º semestre de 2009 ISSN (1981-2183)
FIGURA 4 – PARA ENTENDER O MERCADO DE MARCAS PRÓPRIAS
Fonte: Compro, Guia MP 2008
CARLOS ALBERTO NUNES VIANA JUNIOR e SERGIO DOS SANTOS CLEMENTE JÚNIOR
ISSN (1981-2183) REVISTA INTERAÇÃO | Ano III número 2 2º semestre de 2009 71
Para o Grupo o que garante o retorno do cliente à loja é a oferta da melhor qualidade. Com essa mudança de estratégia as vendas dos produtos cresceram 50%, e alguns produtos de marca própria já conquistaram a preferência do consumidor e estão vendendo mais do que os produtos líderes. É o caso da geléia que responde 71% das vendas na categoria, o mesmo tem acontecido com os ovos (60%) e ervilha (37%).
A Compro (Comitê Abras de Marcas Próprias) recomenda em seu guia, um fl uxograma de como proceder para entrar no mercado com as suas respectivas marcas próprias (fi gura 4).
MARCA PRÓPRIA
Elas invadiram os grandes supermercados e estão á disposição do consumidor em grandes variedades.
As marcas de sucesso são aquelas que criam imagem ou personalidade. Elas existem com o intuito de levar o consumidor a perceber que os atributos a que ele tanto deseja e aspira estão fortemente associados á marca. Esses atributos podem ser objetivos e reais, (tais como qualidade ou relação custo/benefício) ou emocionais e abstratos (como status, juventude etc.).
Hoje, o aspecto para aceitação da marca própria se dá principalmente à busca de fi delização do cliente num mercado cada vez mais competitivo. E ela, a aceitação não se restringe aos supermercados e produtos
alimentícios, abarca também a bandeira de produtos de cosméticos até vestuário e eletroeletrônicos. Todos esses aspectos positivos fi zeram as marcas próprias serem vistas por muitos como uma panacéia para as vendas, mas com sua adoção verifi cou-se que é preciso ter um planejamento que contemple todos os aspectos da aceitação dessa estratégia de marketing.
As marcas próprias desempenham papéis diferentes aos olhos do consumidor, quando ele se depara com um mix de determinada categoria de produto que também contem produtos nacionais. O consumidor tende a adquirir bens de ambas as marcas, porque tem diferentes desejos e necessidades que requerem soluções diferentes.
CLIENTES
As marcas próprias desempenham papéis diferentes aos olhos do consumidor, quando ele se depara com um mix de determinada categoria de produto que também contem produtos nacionais. O consumidor tende a adquirir bens de ambas as marcas, porque tem diferentes desejos e necessidades que requerem soluções diferentes.
O PAPEL DA MARCA PRÓPRIA PARA A REDE DE SUPERMERCADOS
72 REVISTA INTERAÇÃO | Ano III número 2 2º semestre de 2009 ISSN (1981-2183)
Como em todos os produtos, o mercado e
os consumidores é que determinam o preço da
marca própria, que é menor que os das marcas
líderes porque não tem custos de marketing
nem de mídia. Mas é preciso muito cuidado
para manter o consumidor fi el a esses produtos.
Porque, se ele perceber alguma diferença de
qualidade, passa a não comprá-los mais.
O brasileiro é muito mais orientado a
marcas, procura por elas e é relutante a fazer
mudanças. Mas já é um consumidor disposto a
testar marcas próprias.
Quem trabalha com marca própria precisa
saber exatamente o que o seu consumidor
deseja e ter ao longo do tempo todas as garantias
de manutenção dos padrões de produção
que foram defi nidos com o fornecedor. Vários
estudos e avaliações são feitos para saber
como o consumidor reage diante das diferentes
categorias de produtos. Isso é o que vai defi nir o
que o varejista quer para a sua marca, o padrão
de qualidade, a embalagem, etc.
Consumidor não compra só o produto.
Compra serviços e soluções. As marcas
próprias ainda não estão tão afi nadas quanto à
da indústria. O maior problema do varejo, hoje,
é a falta de foco, de enxergar a marca própria
de forma mais ampla, completa, como faz a
indústria. O varejo precisa aprender a trabalhar
o marketing de forma mais completa.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O valor de uma marca vai muito além de uma cifra fi nanceira. As marcas são os mais poderosos ativos de uma empresa. O valor de uma marca é hoje fator de sucesso em mercados competitivos. Para criar uma marca de sucesso não basta investir em marketing, é preciso ter estratégia de branding. As marcas estão registradas no consciente e inconsciente das pessoas. As empresas líderes conseguem ter poder de mercado e com isso alavancar preços mais elevados e maior lucratividade. A marca tem magia especial na mente e no coração das pessoas, por isso pode-se dizer que a marca é um fator mais emocional do que racional.
Atualmente, as marcas próprias passam por uma nova fase de evolução, defi nida por alguns especialistas como a quarta geração. O foco maior dos varejistas é ter uma marca própria com qualidade igual ou até superior a das marcas de referência. Em vez de preço, hoje
o maior diferencial é o de melhor produto.
O aumento das vendas e do volume das marcas próprias no varejo é refl exo do aumento de sua presença nos domicílios brasileiros.
Na contramão da crise fi nanceira mundial, as vendas de produtos de marca própria no país devem crescer 15% este ano. A redução do preconceito em relação a essas mercadorias que levam o nome do supermercado ou da loja que as comercializam e o maior controle do orçamento doméstico servem de alavanca para o incremento dos negócios.
CARLOS ALBERTO NUNES VIANA JUNIOR e SERGIO DOS SANTOS CLEMENTE JÚNIOR
ISSN (1981-2183) REVISTA INTERAÇÃO | Ano III número 2 2º semestre de 2009 73
Produtos de marca própria são um ótimo negócio para fabricantes, varejistas e consumidores. O trabalho conjunto entre indústria e varejo será fundamental para entender o comportamento e as necessidades do consumidor e fazer com que a marca própria cresça cada vez mais.
Além disso, a penetração das marcas próprias é maior nas classes A e B (54,7%), mas também ocupa espaço nas classes C, D e E (47,5%). O perfi l dos maiores consumidores de marcas próprias é “maduro bem-sucedido”, uma das seis classifi cações por estilo de vida utilizadas pela Nielsen, nível sócio-econômico alto e médio-alto, e lares com quatro ou cinco pessoas.
A tendência mundial é que cada vez mais as marcas dos supermercados, não sejam somente a ponte entre a mercadoria e o cliente, mas que faça parte da vida dele,utilizando a sua marca própria nos seus lares.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AAKER, David A. Marcas: Brand Equity, Gerenciando o Valor da Marca. 2º Ed. Negócio Editora. 1998.
CERVO, Amado Luiz, Pedro Alcino Bervian e Roberto da Silva. Metodologia Científi ca. 6º Ed. SP. Pearson Prentice Hall. 2007.
CHURCHILL, Gilbert A. Marketing: Criando valor para o cliente. 2º Ed. Ed. Saraiva. São Paulo. 2000.
COBRA, Marcos. Administração de
Marketing no Brasil. 1º Ed. SP. Marketing. 2003.
FACHIN, Odília. Fundamentos de Metodologia. 5º Ed. SP. Saraiva. 2006.
KOTLER, Philip. Administração de Marketing: A Edição do Novo Milênio. 10º Ed. SP. Pearson Prentice Hall. 2000.
______.______. Marketing para o século XXI: Como criar, conquistar e dominar mercados. 14º Ed. SP. Editora Futura – 2003.
LAS CASAS, Alexandre Luzzi. Marketing de Varejo. 2º Ed. SP. Atlas. 1992.
MAXIMIANO, Antônio César Amaru. Administração de Projetos: Como Transformar Idéias em Resultados. 2º Ed. SP. Atlas. 2006.
RIES, Al ; TROUT, Jack. Posicionamento: Uma Batalha pela sua mente. 3º Ed. Makron Books. São Paulo.1992.
SESSO FILHO, Umberto Antonio. Crescimento e desempenho de redes de supermercados na década de 90. In: ANGELO, Cláudio Felisoni de; SILVEIRA, José Augusto Geisbrecht da (Orgs.) Varejo Competitivo. São Paulo: Atlas. 2001.
VELOSO, Waldir de Pinho. Como Redigir Trabalhos Científi cos: Monografi as, Dissertações, Teses e TCC. 1º Ed. SP. Iob Thomson. 2005.
O PAPEL DA MARCA PRÓPRIA PARA A REDE DE SUPERMERCADOS
74 REVISTA INTERAÇÃO | Ano III número 2 2º semestre de 2009 ISSN (1981-2183)
REFERÊNCIAS ELETRÔNICAS
14º ESTUDO ANUAL DE MARCAS PRÓPRIAS, DA NIELSEN Assessoria de Imprensa da ABMAPRO e NIELSEN Versátil Comunicação Estratégica (www.versatilcomunicacao.com.br) -Acesso em: 10 jul. 2009.
ABMPRO. Disponível em: http://www.abmapro.org.br/page/noticias_clipping_detalhes.asp?id=666 – Acesso em 21 abr. 2009.
Brand News – Novas Estratégias de Crescimento das Marcas Próprias, HSM. Abril de 2009.
Empreendedor. Disponível em: Http://WWW.empreendedor.com.br -Acesso em 24 abr. 2009.
Entendendo o consumidor. Dados ACNielsen. Disponível em: http://br.nielsen.com/issues/consumer.shtml -Acesso em: 11 jul. 2009.
Gerenciamento de Marcas. Disponível em: http://hermes.ucs.br/ccsa/dead/mnichele/Arquivos/gerenciamarcas.htm -Acesso em: 11 jul. 2009.
Marca Própria e Mercado – Disponível em:
http://www.abmapro.org.br/page/noticias_clipping_detalhes.asp?id=666
Marcas Próprias Como Estratégia Varejista -Centro Universitário de Belo Horizonte/ Pró-Reitoria de Pós-graduação, Pesquisa e Extensão GÔNDOLA. Belo Horizonte: Maio. 2008, n.153, n.24 e 32 . Maio 2008 Marketing.
Disponível em:http://www.marketingpower.com/live/content -Acesso em 14 mar. 2009.
Revista Supervarejo – ”A crise e o consumo popular” Março de 2009, pgs 24 a 32. Setor de Marcas Próprias se Benefi cia com a Crise, e deve Crescer 15% EM 2009 -Abmapro Disponível em: (www.abmapro.org.br)
Supermercados apostam em Marcas Próprias . Disponível em:
http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EDG55711-6012,00 SUPERMERCADOS+DECIDEM+APOSTAR+NOS+PRODUTOS+DE+MARCA+PROPRI A.html -Acesso em: 10 jul. 2009.
Via 6 -Marcas Próprias ganham espaço nas gôndolas. Disponível em: http://www.via6.com/topico.php?tid=131227 -Acesso em: 10 jul. 2009.
Wikipédia – Vida e Obra. Malinowski, Bronisław. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Bronis%C5%82aw_Malinowski – Acesso em: 10 jul.2009.
MARCOS LOPES PADILHA
ISSN (1981-2183) REVISTA INTERAÇÃO | Ano III número 2 2º semestre de 2009 75
OS EMPRESÁRIOS E A CRISE DO MODELO BRASILEIRO DE DESENVOLVIMENTOS
4
Marcos Lopes Padilha1
OS EMPRESÁRIOS E A CRISE DO MODELO BRASILEIRO DE DESENVOLVIMENTO
76 REVISTA INTERAÇÃO | Ano III número 2 2º semestre de 2009 ISSN (1981-2183)
MARCOS LOPES PADILHA
ISSN (1981-2183) REVISTA INTERAÇÃO | Ano III número 2 2º semestre de 2009 77
RESUMO
Este artigo discute o posicionamento político do empresariado industrial brasileiro a respeito da crise e dos futuros caminhos do modelo de desenvolvimento econômico durante o governo Sarney (1985-89). Na época, o dito modelo tinha entrado em crise e cogitava-se de eventuais remédios ou de modelos alternativos, mas ainda não tinham sido aplicadas as políticas neoliberais que marcariam o governo Collor (1990-1992). O texto discute as posições do empresariado ante a crise e as alternativas de reforma do Estado e sobre a conveniência de uma maior abertura do mercado nacional às importações. Conclui-se que, diferentemente do que foi assinalado pela maior parte da literatura que tratou do assunto, o empresariado não adotou postura de defesa incondicional ou de oposição às reformas liberalizantes, mas direcionou seu comportamento pela necessidade de redefi nir seu papel no modelo econômico.
Palavras-chave: 1. Empresariado Industrial. 2. Estado. 3. Crise Econômica.
1 Doutor. em Sociologia, Mestre em Sociologia, Graduado em Ciências Sociais. Professor da Faculdade das Américas (São Paulo – SP). Email: [email protected]
OS EMPRESÁRIOS E A CRISE DO MODELO BRASILEIRO DE DESENVOLVIMENTO
78 REVISTA INTERAÇÃO | Ano III número 2 2º semestre de 2009 ISSN (1981-2183)
ABSTRACT
This thesis investigates the political positioning of the Brazilian industrial entrepreneurs regarding the crisis and of the future roads of the model of economic development during the government Sarney (1985-89), when the model entered in crisis, in that was cogitated of eventual medicines or of alternative models, but before they were applied the neoliberal politics during the government Collor (1990-1992). The work discusses the positions of the entrepreneurs in the face of the crisis and the alternatives of reform of the State and on the convenience of a larger opening of the national market to the imports. It is ended that, differently than it was marked by most of the pertinent literature, the entrepreneurs didn’t adopt posture of unconditional defense or of opposition to the neoliberals reforms, but they addressed their behavior for the need of changing their role in the economic model.
Key Words: 1. Industrial Entrepreneurs. 2. State. 3. Economic Crisis.
MARCOS LOPES PADILHA
ISSN (1981-2183) REVISTA INTERAÇÃO | Ano III número 2 2º semestre de 2009 79
INTRODUÇÃO
O presente artigo aborda o posicionamento político do empresariado industrial brasileiro a respeito da crise e dos futuros caminhos do modelo de desenvolvimento econômico no Brasil, durante o governo Sarney, quando se processava a transição de um padrão de desenvolvimento “estatista” e “autarcizante”, vigente desde os anos trinta do século XX e que se encontrava em um impasse em meados dos anos oitenta, para um modelo privatizado e internacionalizado, que começou a ser implantado a partir dos anos noventa.
O foco da análise no governo Sarney (1985-89) permite averiguar a posição do empresariado industrial no momento em que o modelo vigente de desenvolvimento econômico entrou em crise, em que se cogitava de eventuais remédios ou de modelos alternativos, mas antes de se consolidar a saída liberal, privatizante e internacionalista dos anos noventa, quando a discussão de alternativas perde força.
O Brasil tinha chegado, ao fi nal dos anos setenta com um sistema industrial complexo e integrado, encontrando-se entre as maiores economias industriais do Ocidente. Este sistema industrial fora construído com base em vastos esquemas de fomento estatal, com crédito dirigido e subsidiado às empresas, com evidente privilégio a setores considerados estratégicos, enquanto o próprio Estado investia pesadamente em infra-estrutura e indústrias de base.
O caminho “nacional-estatista” de
desenvolvimento vinha sendo seguido desde
os anos trinta, com ativa atuação do Estado
na transformação da economia nacional,
promovendo o estudo das condições do país,
coordenando os empreendimentos, garantindo
e orientando os investimentos, ou investindo
diretamente e articulando os papéis de
empresas governamentais e do capital privado
(nacional e internacional). Além disso, alterou o
perfi l da demanda interna de modo a favorecer a
indústria nacional, criou órgãos de planejamento
e execução, efetuou as reformas institucionais
necessárias e participou diretamente da
produção de insumos estratégicos.
Este modelo atingiu seu apogeu durante
o governo Geisel (1974-1979), tendo sido
completadas as etapas da chamada “Segunda
Revolução Industrial”. O início do período de
apogeu coincidiu com o chamado “milagre
econômico brasileiro” que se iniciou em 1968.
Na época, a expansão da indústria foi liderada
pelos setores de bens de consumo durável e
construção civil. O setor de bens de produção
nacional, que deveria crescer na mesma
proporção para sustentar o crescimento,
não pôde acompanhar o desempenho dos
demais setores, mas, até 1973, o crescente
desequilíbrio entre os setores da economia foi
contornado com importações.
A partir de 1973, a crise do “primeiro choque do
petróleo” ameaçou estrangular a continuidade do
desenvolvimento. A resposta do governo Geisel
OS EMPRESÁRIOS E A CRISE DO MODELO BRASILEIRO DE DESENVOLVIMENTO
80 REVISTA INTERAÇÃO | Ano III número 2 2º semestre de 2009 ISSN (1981-2183)
foi o II Plano Nacional de Desenvolvimento (II
PND) , lançado ao fi nal de 1974, com o qual
pretendia realizar o sonho do “Brasil Potência
Emergente”, completando sua industrialização,
consolidando no País uma economia capitalista
dinâmica, aumentando sua autonomia frente
ao centro hegemônico do capitalismo mundial
e a crises econômicas de origem internacional
e reduzindo os desequilíbrios entre os
diversos setores econômicos. A estratégia
visava, simultaneamente, manter a economia
crescendo à taxa média anual de 10% e
internalizar os principais itens que pesavam
na pauta de importações e que ameaçavam
estrangular o crescimento econômico.
O II PND prescrevia “grande ênfase nas
indústrias básicas, notadamente no setor de
bens de capital, e o da eletrônica pesada,
assim como no campo dos insumos básicos,
a fi m de substituir importações e, se possível,
abrir novas frentes de exportação” (texto do II
PND), diretriz que indicava, nas palavras de
Lessa, “a montagem de um novo Padrão de
Industrialização”. Previa também a “correção
dos desbalanceamentos da Organização
Industrial, mediante o fortalecimento
progressivo do capital privado nacional, de
molde a inicialmente ‘reequilibrar’ o tripé para
posteriormente constituir sua hegemonia”.
O plano obteve êxito parcial, mas as
taxas de crescimento foram menores do que
as do tempo do “milagre”. Paralelamente,
começavam a surgir problemas com o
crescimento da infl ação e desequilíbrio na
balança de pagamentos. Entretanto, já no início
da década de oitenta, o País mergulhava numa
profunda crise fi nanceira. O governo Figueiredo
(1979 1985) iniciou-se com uma estratégia
de contenção do crescimento com vistas a
estabilizar a economia. Todavia, necessidades
políticas forçaram a tentativa de retomada do
crescimento econômico em 1980.
No entanto, por essa época ocorria novo
choque do petróleo e substancial elevação das
taxas internacionais de juros. Não só a esperança
de retomada do desenvolvimento esvaiu-se,
como o país mergulhou na estagnação. Como
complicador, esgotava-se em 1982 o farto
crédito internacional que sustentara o II PND.
As dívidas externa (quase toda estatizada) e
interna (decorrência da externa) e a infl ação
se tornaram os principais problemas a serem
resolvidos. Ao longo da década de oitenta, o
País mergulhou em uma das mais graves crises
econômicas de sua história.
A crise teve como conseqüência a
paralisação dos investimentos, a estagnação
da economia e o crescimento descontrolado da
infl ação. Seu epicentro era o estrangulamento
do fi nanciamento externo, base do
crescimento desde o fi nal dos anos sessenta.
Este crescimento viera acompanhado de
considerável endividamento externo. A crise
da dívida pôs termo ao modelo econômico,
na medida em que inviabilizou a continuidade
do papel do Estado como agente de fomento
MARCOS LOPES PADILHA
ISSN (1981-2183) REVISTA INTERAÇÃO | Ano III número 2 2º semestre de 2009 81
e de investidor direto nos segmentos de infra-
estrutura e indústrias de base.
Mais do que o mero controle da infl ação,
discutia-se entre o empresariado a necessidade
do afastamento do Estado da atuação direta
na economia e a abertura da economia
nacional para o aumento da concorrência com
mercadorias e empresas multinacionais. Boa
parte destas reformas foi efetivada nos anos
noventa.
Discutiam-se a crise econômica e as
soluções alternativas num cenário nacional
de consolidação da democracia, declínio dos
investimentos públicos, estagnação econômica
e descontrole da infl ação, e, num cenário
internacional marcado pela retomada da
hegemonia mundial dos Estados Unidos, pelo
início do que veio a ser chamado de “globalização”
da economia, pela escassez de fi nanciamento
destinado aos países subdesenvolvidos e por
uma nova revolução tecnológica (nas áreas de
eletrônica, telecomunicações e informática).
O posicionamento do empresariado durante
o governo Sarney teria sido favorável ou
contrário às reformas? Ou teria sido favorável
a algumas reformas e contrários a outras?
O conjunto de líderes industriais chegou a
formular alguma posição consensual a respeito
do modelo de desenvolvimento desejável para
o País?
Os empresários são, acredita-se, favoráveis
à estabilização da economia. Seria esta a
razão, então, das manifestações de apoio à
adoção de políticas neoliberais, que implicam
taxas elevadas de juros, abertura do mercado
nacional à ampliação da concorrência com
empresas e mercadorias estrangeiras, redução
dos gastos públicos e mesmo eventual redução
da atividade econômica? É por isso que o apoio
a essas medidas teria crescido exatamente a
partir da segunda metade dos anos oitenta?
O problema é que todas essas políticas
implicaram rompimento com o padrão de
acumulação que vigorava desde os anos trinta,
em que a substituição de importações e o
crescimento econômico eram o objetivo número
um -mesmo apesar de eventuais distorções
nos principais indicadores macroeconômicos
-; com forte presença do Estado na economia,
através de planejamento econômico, atuação
de empresas públicas em setores estratégicos
e elevados níveis de encomendas estatais;
proteção do mercado nacional e aparente
equilíbrio na distribuição dos papéis para os
capitais privados nacional, internacional e
estatal. Por que o abandono de um modelo
que, supostamente, protegia a empresa privada
nacional?
1 REFORMAS NEOLIBERAIS E A POSIÇÃO DOS EMPRESÁRIOS
Vários autores realizaram nos últimos anos
estudos em que comparam o processo de
adoção de políticas de estabilização da economia
implementado em diversos países, procurando
correlações entre os resultados alcançados por
OS EMPRESÁRIOS E A CRISE DO MODELO BRASILEIRO DE DESENVOLVIMENTO
82 REVISTA INTERAÇÃO | Ano III número 2 2º semestre de 2009 ISSN (1981-2183)
estas políticas e determinadas confi gurações
estruturais e arranjos de poder nas sociedades
em estudo. A literatura tem discutido os fatores
que favorecem e que obstaculizam a realização
das referidas reformas.
O enfoque de boa parte destes estudos a
respeito do posicionamento dos empresários nas
etapas de decisão de mudança na orientação
da política de estabilização econômica,
implementação das medidas e consolidação
da nova orientação da política econômica, tem
sido variado. De todo modo, é possível agrupar
essas discussões em dois grandes conjuntos
de temas. O primeiro diz respeito às condições
técnicas e políticas existentes em países
periféricos que atravessaram aguda crise
econômica nos anos oitenta e que se viram
na contingência de ter que adotar reformas
liberalizantes.
Por condições técnicas entenda-
se a capacitação do Estado, ou mais
especifi camente, de seu quadro burocrático,
uma vez decidida a realização das reformas
liberalizantes, de adotar e implementar as
medidas econômicas inerentes à reestruturação
do Estado e de abertura da economia. Já
a discussão das condições políticas para
a realização das reformas envolvem todas
as etapas do processo, desde a percepção
da conveniência, ou não, de sua adoção,
passando pela elaboração e a implementação
das medidas.
O segundo conjunto de temas refere-se
às discussões em torno da predominância de
fatores “externos” ou “internos” na decisão dos
países de adotar as reformas liberalizantes.
Por fatores “externos” entenda-se variáveis
internacionais nas políticas de ajuste das
economias latino-americanas. Os fatores
“internos” referem-se às origens “internas”, ou
variáveis domésticas dos países em questão.
Pois bem. Os mais importantes trabalhos
que abordam as condições de realização
das reformas foram convincentes em
mostrar a inviabilidade do modelo nacional-
desenvolvimentista, ante o peso de uma aguda
crise econômica. Diante da impossibilidade de
manter o velho modelo de desenvolvimento, o
desafi o que se colocava era que tipo de solução
seria buscada, que tipo de reforma deveria ser
feita no velho modelo.
Os textos relacionados discutem as razões
das difi culdades na implantação de reformas
neoliberais, e especialmente seus fracassos
na segunda metade dos anos oitenta. A
literatura também estabelece o que considera
como condições favoráveis e desfavoráveis às
mudanças de modelos econômicos “nacional-
desenvolvimentistas-populistas” para modelos
“internacionalistas-ortodoxos-liberais”, e mostra
ainda que atores sociais relevantes, como
os empresários, são importantes, se não no
processo de elaboração, pelo menos no de
posterior apoio às reformas.
Com relação ao apoio dos empresários às
mudanças, apesar de considerá-lo importante,
MARCOS LOPES PADILHA
ISSN (1981-2183) REVISTA INTERAÇÃO | Ano III número 2 2º semestre de 2009 83
a literatura examinada apresenta-se dividida.
Parte dos autores considera que os empresários
atuaram negativamente, opondo-se às reformas
neoliberais. Outra parte dos textos examinados
admitiu que, pelo menos no fi nal da década, os
empresários tinham fi nalmente abandonado o
velho modelo desenvolvimentista.
Sobre o primeiro conjunto de autores, as
condições favoráveis teriam sido os elementos
externos (novas condições ideológicas,
mudança da matriz tecnológica, esgotamento
dos fi nanceiros do exterior e pressão dos
Estados Unidos) e o agravamento da crise
econômica no País. Em contrapartida, os
empresários são vistos como opositores das
reformas e aliados dos setores populistas.
A impressão que se tem é que nos anos oitenta
os empresários colocaram tantos obstáculos
às reformas, que se torna simplesmente
inacreditável que essas mesmas reformas
pudessem ter sido implantadas poucos anos
depois, nos anos oitenta. Ora, por que aceitar
que a única saída possível fosse uma adesão
plena ao modelo alternativo neoliberal? Se o
modelo antigo tinha se tornado inviável, por
que não manter, pelo menos, alguns de seus
elementos, reformá-lo em vez de abandoná-lo
totalmente? Por exemplo, considerando que
os empresários tivessem se convencido da
necessidade das privatizações e do abandono
do papel do Estado como produtor, deve-se
então inferir que, para os empresários o Estado
não deveria mais ter qualquer papel importante
na Economia, senão como órgão fi scalizador e
garantia da propriedade privada?
Por outro lado, mesmo que os empresários
desejassem que o Estado, após as
privatizações, continuasse desempenhando um
papel ativo na economia, como, por exemplo,
coordenador e estimulador dos investimentos
na indústria, enfi m, um papel não “liberalizante”,
deveriam estes mesmos empresários ser
considerados como um entrave às reformas,
como “populistas”?
Voltemos nossa atenção agora para
o segundo conjunto de autores, para os
quais, embora os empresários tivessem
se mantido fi éis ao velho modelo nacional-
desenvolvimentista, ao longo da maior parte
dos anos oitenta, começaram a mudar de
posição no fi nal da década.
Mesmo aqui, encontramos uma série de
questões que não fi cam esclarecidas. Estes
autores não deixaram claro que mudanças no
modelo os empresários defendiam, que tipo
de modelo os empresários queriam no lugar
do velho modelo que criticavam. Quando parte
destes autores afi rmou que, a partir de 1987, se
abandonava a posição tradicional de distinção
entre capital nacional e capital estrangeiro
como núcleo privilegiado do desenvolvimento,
certamente não se quer dizer que o capital
nacional deixou de se considerar importante
para o desenvolvimento.
Ademais, se os empresários foram
benefi ciários no modelo econômico anterior com
OS EMPRESÁRIOS E A CRISE DO MODELO BRASILEIRO DE DESENVOLVIMENTO
84 REVISTA INTERAÇÃO | Ano III número 2 2º semestre de 2009 ISSN (1981-2183)
a proteção do Estado, encomendas públicas, garantia de oferta de insumos estratégicos por parte de empresas estatais e proteção contra a concorrência estrangeira, por que teriam apoiado a adoção de medidas neoliberais já no fi nal dos anos oitenta?
Partilho com estes autores a idéia de que os empresários passaram a defender mudanças no modelo em meados dos anos oitenta. A questão é: que tipo de mudança? Quanto de mudança?
Tudo indica que análises com foco nas mudanças conjunturais de percepção sobre o agravamento da crise, ou em governos presumivelmente fortalecidos diante de segmentos sociais arcaicos enfraquecidos, não podem oferecer explicações completas sobre a mudança de orientação do empresariado brasileiro na segunda metade dos anos oitenta, quando teriam abandonado o apoio ao modelo estatal-desenvolvimentista em favor de reformas privatizantes e de abertura do mercado nacional.
Por fi m, resta observar que, em geral, os textos examinados tratam do “empresariado” como um segmento homogêneo, descartando como irrelevantes as diferenças relacionadas como área de atuação, porte, origem de capital e distinções regionais.
2 EMPRESÁRIOS E A MUDANÇA DO PAPEL ECONÔMICO DO ESTADO
A respeito da posição do empresariado
sobre a reforma do papel econômico do Estado, há que relativizar algumas linhas de interpretação apresentadas pela literatura pertinente. A primeira delas diz respeito aos efeitos nocivos da interrupção dos fl uxos fi nanceiros externos, que presumivelmente teriam levado o empresariado a abandonar o modelo nacional desenvolvimentista. Aliás, também se acreditava que o agravamento da crise econômica levaria o empresariado a apoiar a realização das reformas liberalizantes. Outra linha de interpretação discute a questão da autonomia do Estado necessária para a execução das reformas.
O agravamento da crise econômica é normalmente relacionado como uma das principais causas para o apoio do empresariado à reforma do Estado. O fator decisivo aqui seria a interrupção dos fl uxos fi nanceiros externos, fator que teria levado o empresariado a abandonar o modelo nacional-desenvolvimentista. No entanto, mesmo diante de um cenário tão adverso, foi somente no fi nal do governo Sarney que o empresariado teria efetuado uma infl exão em sua posição, rompendo com o antigo modelo protecionista e passando a apoiar a renegociação da dívida externa e aproximação com bancos e credores implementadas
2.
No entanto, julgamos necessário ressaltar que, para o empresariado, o Estado tinha que ser reformado, não apenas porque as condições de fi nanciamento do modelo tinham entrado
MARCOS LOPES PADILHA
ISSN (1981-2183) REVISTA INTERAÇÃO | Ano III número 2 2º semestre de 2009 85
em colapso, mas também porque rejeitavam
o crescente intervencionismo do Estado na
economia. Ademais, para os líderes da indústria
nacional, o próprio Estado desenvolvimentista
tinha se tornado um foco da crise.3.
Já observamos que, para uma parte da
literatura pertinente, as percepções e ações
dos diversos atores relevantes que poderiam
levar à adoção e implementação de políticas
de estabilização dependeriam da avaliação
da relação custo-benefício em relação à
estabilização ou à continuidade da crise
econômica. O apoio dos agentes à adoção
de medidas de estabilização só aconteceria
quando os custos da continuidade da crise se
tornassem superiores aos custos da adoção
das políticas estabilizantes4.
No entanto, a pesquisa que realizamos5
demonstrou que, no Brasil, o agravamento da
crise econômica não conduziu, de maneira
linear, à percepção de uma redução dos
custos líquidos da mudança de uma política
econômica para outra. Em outras palavras, a
crise econômica não levou automaticamente ao
apoio a um tipo qualquer ajuste que o governo
procure implementar.
O agravamento da crise, se realmente
pode conduzir os empresários a defender
ações do governo para estabilizar a economia,
pode também trazer à tona novos motivos de
oposição à política de estabilização econômica,
por exemplo, oposição às terapias de “choque”
e ao congelamento de preços.
Para um conjunto signifi cativo de autores,
a realização das reformas liberalizantes
dependeria, além da percepção pela sociedade
da oportunidade (timing) de sua implementação,
também da capacidade do Estado de formular
e colocar em prática as reformas. Esta
capacidade, por sua vez, seria condicionada
pelo nível de autonomia e de consenso da
equipe econômica sobre as reformas, e do
papel que os funcionários e as corporações
estatais exercem como grupos de interesse6.
Todavia, em nosso entendimento não
se verifi cou no Brasil a necessidade de
“autonomia do Estado” na proposição de
medidas liberalizantes, como assinalado por
parte da literatura especializada. O governo
Sarney certamente era politicamente fraco
e amplamente permeado por interesses
corporativos. Mesmo assim, havia disposição
favorável dos empresários pelas reformas.
Acreditamos que a literatura mencionada
subestimou a importância da participação
do empresariado na defi nição das reformas
durante o governo Sarney, e essa participação
não comprometeu a natureza “liberalizante”
2 Cf. Fiori, 1995. Veja também Goldenstein, 1994, p. 94-5, e Sallum, 1996, p. 68-71 e 159.
3 Mas foi somente em 1987 que
se situou a “virada neoliberal” do empresariado, após o fracasso do Plano Cruzado, que veio acompanhado de um estatismo exacerbado e infringiu violentamente dogmas consagrados da economia de mercadoCruz, 1997, p. 82 e 131-4 e Sallum, 1996, p. 186-7.
4 Cf. Bresser Pereira, 1993 e 1994.
OS EMPRESÁRIOS E A CRISE DO MODELO BRASILEIRO DE DESENVOLVIMENTO
86 REVISTA INTERAÇÃO | Ano III número 2 2º semestre de 2009 ISSN (1981-2183)
das medidas propostas, ainda que estas não
tenham saído do papel. Na defi nição da política
industrial, por exemplo, essa participação foi
importante e intensa. Mesmo que a política
industrial do governo Sarney não tenha saído do
papel, isso não aconteceu porque a autonomia
do Estado tivesse sido comprometida por
essa intensa participação do empresariado
em sua elaboração. A política industrial não
foi plenamente posta em prática ainda durante
o governo Sarney devido ao agravamento da
crise econômica.
Há, pelo menos, um ponto observado pela
literatura a respeito da questão da “autonomia
do Estado” que esteve entre as principais
preocupações do empresariado na época.
Trata-se da percepção de resistência à reforma
a partir do interior do aparato do Estado, na linha
referida por Miles Kahler. Assim, por exemplo,
os empresários percebiam que o programa de
privatização anunciado pelo governo Sarney
não era para valer, não passando de peça de
retórica. Mas é preciso observar que a questão
do corporativismo não aparece no discurso
do empresariado na maior parte do período
examinado. Começando a despontar somente
no fi nal do governo Sarney e fi rmando-se,
sobretudo, a partir do governo Collor.
Finalmente, os diversos textos examinados
não deixaram claro qual seria exatamente a
posição dos empresários com relação ao papel
do Estado, uma vez que o modelo anterior tinha
que ser abandonado. Na avaliação de Francisco
de Oliveira, a crise fi nanceira teria transformado
o Estado em um “estorvo” para o empresariado,
daí a defesa de sua privatização7.
Entretanto, mesmo considerando que
os empresários tivessem se convencido da
necessidade das privatizações e do abandono
do papel do Estado como produtor, deve-se
então inferir que, para os empresários o Estado
não deveria mais ter qualquer papel importante
na Economia, senão como órgão fi scalizador e
garantia da propriedade privada?
Na verdade, ao longo do governo Sarney,
o empresariado passou de uma reação
contrária ao congelamento, a uma posição
mais genérica contrária à atuação do Estado na
economia. No entanto, daí não se segue que,
para o empresariado, o Estado não devesse
desempenhar nenhum papel econômico. As
críticas ao intervencionismo do Estado não
podem ser interpretadas como sinal de que o
empresariado tivesse se convertido ao credo
liberal.
Na verdade, os empresários apoiavam
reformas no Estado, como privatizações e
restrição de sua atuação na economia, mas
5 Cf. em Padilha, 2002, especialmente Capítulo 2.
6 Veja discussão detalhada destes pontos no tópico I e nos seguintes
textos: Kahler, 1989, p. 55 e 56, Haggard & Kaufman, 1992, p. 25, Malloy, 1994, p.14, Diniz, 1995, p. 401 a 403, Olson, 1982, Caps. 1-3, Kaufman, 1989, p. 408, Evans, 1992, p. 142-149 e 176-181, Bresser Pereira, Maravall & Przeworski, 1993, Smith, 1993, p. 220, IEDI, 2000 e Sola 1993, p. 268 e 1994, p. 199 e 200.
MARCOS LOPES PADILHA
ISSN (1981-2183) REVISTA INTERAÇÃO | Ano III número 2 2º semestre de 2009 87
ainda atribuíam papel econômico para o Estado.
Novamente, não podem ser considerados nem
populistas nem liberais. Em alguns campos,
defendiam até mesmo uma ampliação da
atuação do Estado. Basicamente, a liderança
industrial defendia:
Ampliação da ação do Estado na
capacitação tecnológica da empresa
nacional, sobretudo através da
elaboração de política específi ca e
também através da concessão de
incentivos fi scais para os investimentos
em ciência e tecnologia (C&T);
Elaboração de uma política industrial;
Obtenção de fi nanciamento para as
empresas privadas, sobretudo através
da concessão de incentivos; e
Estabilização da economia.
Não menos importante, para boa parcela
da liderança empresarial o Estado continuava
a ser um decisivo canal de acesso a partir de
onde podiam infl uenciar favoravelmente as
políticas públicas.
3 EMPRESÁRIOS E A ABERTURA DO MERCADO
Vários analistas do processo de implantação
de “reformas liberalizantes” em países
de Terceiro Mundo discutiram o papel do
empresariado como agente de apoio ou de
oposição a políticas de uma maior abertura
do mercado nacional ao capital estrangeiro,
inclusive quebra de barreiras alfandegárias
tarifárias e não-tarifárias, entrada de capital
estrangeiro em setores tradicionalmente
dominados por empresas estatais ou privadas
nacionais, e normalização das relações com o
sistema fi nanceiro internacional.
A pesquisa realizada nos levou a relativizar
as seguintes linhas de interpretação correntes:
Efeito do “êxito” do desenvolvimento
econômico no Brasil sobre a disposição
do empresário em apoiar mudanças no
modelo vigente;
A necessidade de consenso social e
prévio e de superação da oposição
“populista”; e
A infl uência de variáveis “externas” na
realização das reformas liberalizantes.
Quanto ao primeiro ponto, parte da literatura
atribui, em boa medida, o presumível “atraso”
na realização das reformas neoliberais no
Brasil, em comparação com outros países da
América Latina, ao “êxito” do modelo nacional-
desenvolvimentista8.
Todavia, as evidências mostram que, no
caso da abertura do mercado no Brasil, a
visão do “êxito” do modelo não teria levado
7 Oliveira, Francisco. 1997, p. 166, e Oliveira, F & Comin, A. 1998, p.8.
8 Cf. Almeida, M. H. T., 1996, p. 217. Veja também O´Donnell, G. 1988, Almeida, M. H. T., 1996, p. 221 2, e Almeida, M.
H. T., 1996, p. 222-3.
OS EMPRESÁRIOS E A CRISE DO MODELO BRASILEIRO DE DESENVOLVIMENTO
88 REVISTA INTERAÇÃO | Ano III número 2 2º semestre de 2009 ISSN (1981-2183)
o empresariado a rejeitar sua reforma. Pelo
contrário, teria deixado nos empresários
a impressão de que, devido à magnitude
do desenvolvimento industrial logrado nos
decênios anteriores, a empresa privada nacional
já seria sufi cientemente forte para competir
em um mercado mais aberto, desde que a
abertura tivesse sua amplitude e velocidade
devidamente controladas. Em outras palavras,
o efeito parece ter sido o oposto daquela
assinalado pela literatura especializada.
Com relação às condições iniciais de edição
de um pacote liberalizante, parte da literatura
estava convencida da necessidade de um
consenso social prévio para o êxito das novas
medidas, pois reformas necessariamente
envolveriam um período de recessão que
desencadearia e fortaleceria a oposição às
reformas9.
Entretanto, entre o empresariado brasileiro
havia consenso quanto aos objetivos principais
das reformas (abertura, privatizações,
normalização das relações com a banca
internacional, necessidade de atração do capital
estrangeiro). Não havia consenso com relação
à forma de execução das reformas. Parte da
liderança empresarial, sobretudo a concentrada
em São Paulo, temia por um ritmo “excessivo”
na abertura do mercado. Estas considerações
mostram a importância de se levar em conta
na análise as diferenças entre empresariado
relacionadas como área de atuação, porte,
origem de capital e distinções regionais, o que
nem sempre é feito pela literatura especializada,
que tendem a retratar o “empresariado” como
um segmento homogêneo, descartando as
diferentes setoriais e regionais.
Também boa parte da literatura pertinente
tem tentado fazer crer que, assim como
nenhuma reforma podia ser introduzida sem
alguma autonomia em relação às pressões
dos grupos que vivem de ganhos fi nanceiros,
nenhuma reforma poderia ter sucesso a não ser
que se apelasse para o apoio de uma coalizão
de benefi ciários, incluindo o empresariado
nacional.
A esse respeito, parte dos autores
considera que os empresários adotaram uma
postura “populista”, opondo-se às reformas
liberalizantes. Para estes autores, o que
explicaria o “atraso” das reformas econômicas
neoliberais na região seria a força política da
oposição “populista” e a fraqueza da base de
apoio “neoliberal”. O corolário deste enfoque
é que a adoção de políticas econômicas não-
populistas só poderia ocorrer devido a um
enfraquecimento dos segmentos sociais que
davam apoio ao modelo populista10
.
9 Veja discussão desta questão no tópico I e nos artigos reunidos em Williamson, J. 1994, sobretudo os de Williamson,
J. & Haggard, S., p. 575-7, Haggard, S., Nelson, J., Sachs, J. e Bresser Pereira, L. C. 10
Veja discussão desta questão no tópico I e nos seguintes textos: Sola, 1988 e 1994, p. 199 e 200, Haggard & Kaufman, 1993, p. 332 a 341, 393 e 404, Lal, D. & Maxfi eld, S., 1993. p 27, Kaufman, R. & Stallings, B., 1992, p. 24-5, O´Donnell, 1990, Roxborough, I., 1992, p. 639-64.
MARCOS LOPES PADILHA
ISSN (1981-2183) REVISTA INTERAÇÃO | Ano III número 2 2º semestre de 2009 89
No entanto, a pesquisa realizada revelou que, em primeiro lugar, não há evidências empíricas da existência de um empresariado “populista”, que teria se oposto à abertura do mercado, nem de um “neoliberal”, defensor de uma abertura “incondicional”. Mesmo o empresariado que se benefi ciou com o velho modelo nacional-desenvolvimentista defendeu reformas liberalizantes. Em segundo lugar, a fraqueza do governo Sarney não o levou a rejeitar a abertura do mercado e a revisão do velho modelo nacional-desenvolvimentista, como revelam não só o conteúdo da política industrial editada em 1988, como também declarações de membros do governo nesse sentido.
Finalmente, o posicionamento do empresariado a respeito das reformas neoliberais deve ser entendido no contexto da discussão entre autores que sustentam que as variáveis domésticas são mais importantes nas políticas de ajuste das economias latino-americanas e os que defendem a primazia das variáveis internacionais. Segundo alguns autores, embora seja desejável um contexto externo favorável (por exemplo, se as reformas são iniciadas quando os preços do principal produto de exportação estão altos no mercado internacional), o apoio político interno às reformas econômicas
garantiriam mais possibilidade de êxito e sustentabilidade do que quando o ímpeto da mudança são condições externas favoráveis (tais como uma crise cambial, ou a possível oposição a pacotes impostos pelo FMI, Banco Mundial, etc.)
11 .
No entanto, em nossa avaliação, o caso brasileiro parece trazer algum reforço ao “enfoque interno”, pelo menos no que se refere a um aspecto das reformas liberalizantes: a abertura do mercado. Em primeiro lugar, os empresários brasileiros tiveram ativa participação na elaboração das políticas liberalizantes do governo, tanto na fase de consultas, quanto de posterior regulamentação e ajuste, e sem procurar obstruí-las, apenas, calibrando sua amplitude e ritmo. Em segundo lugar, o empresariado defendeu a normalização das relações com os credores e com os organismos fi nanceiros internacionais, porém, desde que vinculada à não imposição de pacotes econômicos recessivos e como garantia da volta dos investimentos estrangeiros no País. Em terceiro lugar, o empresariado defendeu a abertura do mercado nacional, contudo, não como uma posição de princípio ou de maneira incondicional, mas uma abertura controlada, balizada em seu escopo, amplitude e em seu ritmo.
11 Cf. discussão em Bates, R. H. & Krueger, A. O., 1993. p. 9-10, Almeida, idem, p. 215, e Stallings,
1992, p. 85.
OS EMPRESÁRIOS E A CRISE DO MODELO BRASILEIRO DE DESENVOLVIMENTO
90 REVISTA INTERAÇÃO | Ano III número 2 2º semestre de 2009 ISSN (1981-2183)
CONCLUSÕES
Mas, afi nal, admitindo que as manifestações
do empresariado a respeito das reformas
liberalizantes não pudessem ser consideradas
“neoliberais”, nem muito menos “populistas”,
como entender o sentido de seu posicionamento
com relação à crise e transformações do modelo
nacional-desenvolvimentista?
Em nossa opinião, a redefi nição do modelo
pretendida pelas industriais, na segunda metade
dos anos oitenta, tinha como propósito refazer
as relações da empresa privada nacional com
as multinacionais presentes no País e com
o Estado, enquanto ator econômico – um
esquema conhecido como “tripé”. Vale relembrar
que o período de “industrialização de transição
ao capitalismo avançado”, caracterizado como
o período de “constituição das forças produtivas
especifi camente capitalistas no País”, resultou
numa divisão/especialização da produção
brasileira entre os três tipos de capital –
privado nacional, privado estrangeiro e estatal.
Lessa referiu-se a esta divisão como o tripé
de sustentação da industrialização brasileira,
responsável pelo auge do crescimento da
economia no “milagre”.
Para o empresariado, era necessário
refazer relações que estavam sendo
comprometidas pela crise econômica. O “tripé”
não se sustentava mais com a paralisia de
uma de suas “pernas”: as empresas estatais,
com sua situação fi nanceira seriamente
comprometida pelo endividamento e sem
mais recursos para investir.
Quando, em meados dos anos oitenta,
os empresários se posicionaram a respeito
das reformas no modelo econômico, da
necessidade de abertura do mercado e de
redefi nição do papel econômico do Estado, suas
manifestações devem ser entendidas a partir
da ótica da crise do modelo descrito, pela qual é
possível entender porque o posicionamento dos
empresários não foi nem de defesa do antigo
modelo, nem de adesão plena ao receituário
neoliberal.
Concretamente, frente às empresas
multinacionais, os representantes da empresa
nacional manifestaram a preocupação
de reconstruir relações que tinham sido
comprometidas pela crise econômica, que,
além da retração dos investimentos, estava
provocando fuga do capital estrangeiro do país,
e pela transformação da matriz tecnológica pela
revolução da “telemática” (a convergência entre
as indústrias da eletrônica, de telecomunicações
e da informática).
Com relação ao Estado, a posição dos
empresários era ambígua, pois, embora
defendendo genericamente a privatização,
assumiam que o Estado ainda tinha relevante
papel a desempenhar como coordenador e
estimulador dos investimentos (sobretudo na
forma de incentivos fi scais), o que não pode ser
visto como muito bem encaixado nos ditames
do “Consenso de Washington”. Assim, por
exemplo, embora defendendo a privatização
MARCOS LOPES PADILHA
ISSN (1981-2183) REVISTA INTERAÇÃO | Ano III número 2 2º semestre de 2009 91
das estatais, ainda admitiam a preservação
da Petrobrás como estatal. Apesar de criticar
fortemente a presença do Estado na economia,
ainda pediam política industrial do governo, que
se promovesse a desregulamentação paulatina
e gradativa.
Nesse sentido, o Estado deixava de ser
visto como “protetor” da empresa nacional,
como rezava a ideologia desenvolvimentista
que sustentava o modelo. Na verdade, o
empresariado optou conscientemente por se
livrar da tutela do Estado (descaracterizando
qualquer possibilidade de desenvolvimentismo
nos moldes até então vigentes), acreditando
ter atingido um estágio de diversifi cação que
lhe permitiria negociar, em boas condições, sua
inserção no capitalismo mundial e sua relação
com o capital multinacional. Acreditava que o
Estado tolhia sua liberdade de crescer.
Entretanto, a posição dos empresários a
respeito da abertura do mercado nacional não
era tão abrangente, referindo-se, sobretudo, a
matérias-primas e componentes, que até então
tinham que comprar no mercado nacional a
preço maior e agregando menos tecnologia,
mas não, propriamente, a bens de consumo
fi nais, destinados ao mercado interno, que
concentrava a participação da empresa
nacional.
Enfi m, em nossa opinião, a mencionada
“redefi nição” do modelo pretendida pela
liderança empresarial implicava, na prática, a
reafi rmação do papel subordinado e dependente
que a empresa privada nacional já exercia no
velho modelo nacional desenvolvimentista
frente ao capital multinacional, na medida
em que seu posicionamento, no período em
estudo, implicava que a fonte de investimentos
e tecnologia continuaria sendo externa. A
empresa nacional continuaria como “sócia
menor” de empreendimentos que dependeriam
das iniciativas das companhias multinacionais.
Aliás, esta foi a orientação que começou a ser
imprimida à economia brasileira, a partir dos
anos oitenta.
Naturalmente, a referência aos
“posicionamentos” do empresariado depende
da existência de “opções” entre diferentes
escolhas. Assim, entendemos que os
empresários puderam optar por reformas no
modelo que, não necessariamente, implicariam
a reafi rmação de seu papel tradicionalmente
associado e dependente, mas que fortalecesse
a empresa privada nacional de um modo que
ela se tornasse sua própria fonte de recursos
para investimentos e de tecnologia. Em países
ditos “em desenvolvimento”, o único modelo
que preenche os requisitos assinalados é o
modelo “asiático”, ou, mais precisamente, o
seguido pela Coréia do Sul.
Ademais, o posicionamento do empresário
na direção que indicamos dependia de
uma estimativa favorável a respeito de sua
viabilidade. No nosso entendimento, esta
estimativa existia, foi manifestada por diversas
lideranças empresariais e se baseava em dois
OS EMPRESÁRIOS E A CRISE DO MODELO BRASILEIRO DE DESENVOLVIMENTO
92 REVISTA INTERAÇÃO | Ano III número 2 2º semestre de 2009 ISSN (1981-2183)
elementos. Primeiro, a crença de que, apesar da crise econômica e da drástica redução de investimentos ao longo dos anos oitenta, a empresa privada nacional tinha atingido um patamar de desenvolvimento que, mesmo numa economia aberta, poderia continuar mantendo uma presença importante no mercado nacional, embora dependente e subordinada ao capital multinacional.
Em segundo lugar, a expectativa de que seria possível controlar a forma de abertura da economia, tendo como base as necessidades da empresa nacional, o que implicaria ritmo gradual de abertura, graus diferenciados de abertura por produtos, e não abertura brusca e indiscriminada, direcionada para controlar os preços internos.
Em síntese, em nossa visão, o posicionamento da liderança empresarial a respeito do que chamamos aqui de “reformas liberalizantes” só pode ser compreendido a partir da autopercepção de seu papel no modelo nacional-desenvolvimentista em crise e num futuro modelo alternativo.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALMEIDA, Maria Hermínia Tavares.
Pragmatismo por necessidade: os rumos da
reforma econômica no Brasil. In: Dados -Revista
de Ciências Sociais. Rio de Janeiro. vol. 39 nº
2. 1996.
BATES, R. H. & Krueger, A. O. (ed.) Political
and Economic Interactions in Economic Policy
Reform. Blackwell Publishers. Cambridge.
Massachusetts. 1993.
Bresser PEREIRA, “Brazil”, In: WILLIAMSON,
John. (ed.) The Political Economy of Policy
Reforms. Institute for International Economics.
Washington DC, January 1994.
Bresser PEREIRA, L. C., Maravall, J. M.
e Przeworski, A. Reformas econômicas em
democracias recentes: uma abordagem social-
democrata. In: Dados -Revista de Ciências
Sociais.v. 36, n. 2. Rio de Janeiro: Iuperj. 1993.
CRUZ, Sebastião C. S. Estado e economia
em tempo de crise: política industrial e transição
política. Rio de Janeiro: Relume Dumará;
Campinas, SP: Editora da Universidade de
Campinas, 1997.
DINIZ, E. Governabilidade, democracia e
reforma do estado: o desafi o da construção
de uma nova ordem no Brasil dos anos 90. In:
Dados-Revista de Ciências Sociais, v. 38, n. 3.
Rio de Janeiro: Iuperj. 1995.
EVANS, P. The State as Problem and
Solution: Predation, Embedded Autonomy
and Structural Change. In: HAGGARD, S. e
MARCOS LOPES PADILHA
ISSN (1981-2183) REVISTA INTERAÇÃO | Ano III número 2 2º semestre de 2009 93
KAUFMAN, R. (eds), The Politics of Economic Adjustment: international constraints, distributive confl icts and the state. Princeton University Press, Princeton, NJ. 1992.
FIORI, José Luís. Em busca do dissenso perdido: ensaios críticos sobre a festejada crise do estado. Rio de Janeiro, Insight, 1995.
GOLDENSTEIN, Lídia. Repensando a Dependência. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1994.
HAGGARD, S. e KAUFMAN, R. O Estado no início e na consolidação da reforma orientada para o mercado. In: SOLA, L. (org.). Estado, mercado e democracia. São Paulo: Paz e Terra.
HAGGARD, S. e KAUFMAN, R. Economic adjustment and the prospects for democracy. In: HAGGARD, S. e KAUFMAN, R. (eds), The Politics of Economic Adjustment: international constraints, distributive confl icts and the state. Princeton University Press, Princeton, NJ. 1992.
HAGGARD, S. e KAUFMAN, R. The prospects for democracy. In: HAGGARD, S. e KAUFMAN, R. (eds), The Politics of Economic Adjustment: international constraints, distributive confl icts and the state. Princeton University Press, Princeton, NJ. 1992.
IEDI -Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial. Indústria, Organização do Estado e Parceria Público-Privado, Novembro de 2000.
KAHLER, M. Orthodoxy and its alternatives: explaining approaches to stabilization and adjustment. In: NELSON, J. (org.). Economic
crisis and policy choice. Princeton University
Press, 1989.
KAUFMAN, Robert. The politics of economic
adjustment in Argentina, Brazil and Mexico:
experiences in the 1980s and challenges for the
future. In: Policy Sciences, v. 22, n. 3-4, 1989.
KAUFMAN, R. & STALLINGS, B. La economía
política del populismo latinoamericano, In:
Macroeconomía del populismo en la América
Latina. DORNBUSCH, R. EDWARDS, S
(comp.). Fondo de Cultura Económica, México,
1992.
LAL, D. MAXFIELD, S. The Political
Economy of Stabilization in Brazil, In: BATES,
R. H. KRUGER, A. O. (ed.) Political and
Economic Interactions In: Economic Policy
Reform. Blackwell Publishers. Cambridge.
Massachusetts. 1993.
MALLOY, James M. Política econômica e o
problema da governabilidade democrática nos
Andes Centrais. In: SOLA, L. (org.). Estado,
mercado e democracia. São Paulo: Paz e Terra,
1993.
O´DONNELL, G. Delegative Democracy?
paper para o encontro do East and South
System Transformation, Project, Budapest.
mimeo, 1990.
O´DONNELL, G. Transições, continuidades
e alguns paradoxos. In: REIS, F. W. &
O’DONNELL, G. A democracia no Brasil:
dilemas e perspectivas. Vértice/ERT. São
Paulo. 1988.
OS EMPRESÁRIOS E A CRISE DO MODELO BRASILEIRO DE DESENVOLVIMENTO
94 REVISTA INTERAÇÃO | Ano III número 2 2º semestre de 2009 ISSN (1981-2183)
OLIVEIRA, F e COMIN, A. (orgs.). Os Cavaleiros do Antiapocalipse: trabalho e política na indústria automobilística. Cebrap e Editora Entrelinhas. São Paulo. 1998.
OLIVEIRA, Francisco. Os direitos do antivalor. Petrópolis. Vozes. 1997.
OLSON, M. The rise and decline of nations: economic growth, stagfl ation, and social rigidities. New Haven and London: Yale University Press. 1982.
PADILHA, Marcos Lopes -Os Empresários e a Crise do Modelo Brasileiro de Desenvolvimento – Tese de Doutoramento – Departamento de Sociologia – USP – São Paulo. 2002.
ROXBOROUGH, Ian. Infl ation and Social Pacts in Brazil and Mexico. Journal of Latin American Studies. no. 24, 1992.
SALLUM JR., B. Labirintos: dos generais à nova república. São Paulo: Hucitec. 1996.
SMITH, W. C. Reestruturação neoliberal e cenários de consolidação democrática na América Latina. In: Dados, v. 36, n. 2, Rio de Janeiro: Iuperj. 1993.
SOLA, L. Estado, reforma fi scal e governabilidade democrática: qual estado? In: Novos Estudos CEBRAP, n. 38, São Paulo. 1994.
SOLA L. Estado, transformação econômica e democratização no Brasil. In: SOLA, L. (org.). Estado, mercado e democracia. Rio de Janeiro: Paz e Terra. 1993
SOLA, L. 1988. Choque heterodoxo e
transição democrática sem ruptura: uma abordagem transdiciplinar. In: SOLA, Lourdes (org.). O estado da transição: política e economia na nova república. São Paulo. Vértice/Editora Revista dos Tribunais.
STALLINGS, B. International infl uence on economic policy: debt, stabilization, and structural reform. In: HAGGARD, S. e KAUFMAN, R. (ed.) The politics of economic adjustment: international constraints, distributive confl icts and the state. New Jersey: Princeton University Press. 1992
STALLINGS, B. e KAUFMAN, R. Debt and democracy in the 80’s, In: STALLINGS, B. e KAUFMAN, R (eds.). Debt and democracy in Latin America. Westview Press. 1989
WILLIAMSON, J. & Haggard, S. The political conditions for economic reform. In: WILLIAMSON, John. (ed.) The Political Economy of Policy Reforms. Institute for International Economics. Washington DC, January 1994.
REGINALDO LOURENÇO PIERROTTI JÚNIOR
ISSN (1981-2183) REVISTA INTERAÇÃO | Ano III número 2 2º semestre de 2009 95
OS LIMITES DA COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO PARAA EXECUÇÃO DAS CONTRIBUIÇÕES DA SEGURIDADE SOCIAL
5
Reginaldo Lourenço Pierrotti Júnior1
OS LIMITES DA COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO PARAA EXECUÇÃO DAS CONTRIBUIÇÕES DA SEGURIDADE SOCIAL
9696 REVISTA INTERAÇÃO | Ano III número 2 2º semestre de 2009 ISSN (1981-2183)
REGINALDO LOURENÇO PIERROTTI JÚNIOR
ISSN (1981-2183) REVISTA INTERAÇÃO | Ano III número 2 2º semestre de 2009 97
RESUMO
A busca incessante de meios hábeis para gerar aumento de arrecadação de tributos por parte do Estado fez com que, a partir da EC 20/1998, a Justiça do Trabalho além de resolver os confl itos trabalhistas, passasse a fi scalizar e executar as contribuições sociais provenientes da relação de trabalho. O cerne do presente estudo, em um primeiro momento, consistirá na análise da constitucionalidade da execução de ofício das contribuições sociais e, em um segundo momento, na análise da ocorrência do fato jurídico tributário como limitador da execução das contribuições sociais pela justiça especializada do trabalho.
Palavras-chave: : 1. Tributos. 2. Arrecadação. 3. Justiça do trabalho. 4.
Ampliação. 5. Competência. 6. Relação de trabalho. 7. Limites. 8. Execução. 9. Fato gerador.
THE LIMITS OF COMPETENCE FOR THE LABOUR COURT TO EXECUTE CONTRIBUTIONS OF SOCIAL SECURITY
1 Advogado (OAB-SP – Nº 257118, Bacharel em Direito, Mestrando em Direito do Trabalho e Professor da Faculdade das Américas (São Paulo – SP) – E-mail: [email protected]
OS LIMITES DA COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO PARAA EXECUÇÃO DAS CONTRIBUIÇÕES DA SEGURIDADE SOCIAL
9898 REVISTA INTERAÇÃO | Ano III número 2 2º semestre de 2009 ISSN (1981-2183)
ABSTRACT
The Government keeps seeking alternative ways to improve its revenue from taxes. As so, the EC 20/1998 was issued with the intent that the Labor Court, besides resolving labor confl icts, supervises and executes social security contributions from labor relatioships. The purpouse of the present study is to, at fi rst, analyse the legality of social security execution procedure under the Constitution and, at second, analyse the taxing legal event that limits the executions from Labor Justice.
Key Words: 1. Taxes. 2. Revenue. 3. Labor justice. 4. Expansion. 5. Power. 6. Employment relationship. 7. Limits. 8. Implementation. 9. Fact generator.
REGINALDO LOURENÇO PIERROTTI JÚNIOR
ISSN (1981-2183) REVISTA INTERAÇÃO | Ano III número 2 2º semestre de 2009 99
INTRODUÇÃO
A ampliação da competência da justiça do
trabalho, através da EC 45/2002, aproximou
ainda mais a relação entre o direito do trabalho
e o direito previdenciário, trazendo importantes
transformações no que toca ao custeio da
seguridade social.
Isso porque através da EC 45/2002,
regulamentada pela Lei 10.035/2000 e pela
Lei 2007, a justiça especializada passou a ser
obrigada a executar de ofício as contribuições
previdenciárias sobre as sentenças que proferir.
Com efeito, a inovação constitucional
outorgou competência à justiça do trabalho para
a execução das contribuições previdenciárias
previstas no art. 195, I, a e II da CF/1988 quais
sejam: contribuições incidentes sobre a folha
de salário e demais rendimentos pagos ou
creditados, a qualquer título, à pessoa física
que lhe preste serviço, mesmo sem vínculo de
emprego e contribuição do trabalhador e dos
demais segurados da previdência social.
O centro do trabalho consistirá em dois
pontos especiais: em um primeiro momento
será analisada a execução de ofício, sua
constitucionalidade e limites e em um segundo
momento a ocorrência do fato jurídico tributário.
De fato, a importância sobre o tema da
constitucionalidade ou inconstitucionalidade
da competência da justiça do trabalho para
execução das contribuições sociais dispensa
maiores comentários.
Quanto à defi nição do momento da
ocorrência do fato jurídico tributário haverá
resultado prático tanto para o empregado, que
sofrerá efetivo desconto das contribuições
sociais, para a empresa, pois há discussão no
que toca aos juros e multa e também para o
INSS, ao se falar da prescrição e decadência.
Além disso, outros temas ganham relevo,
na medida em que as parcelas devidas a título
de contribuição social infl uenciam diretamente
nas realizações dos acordos trabalhistas em
audiência de conciliação.
Por fi m, cumpre ressaltar que o Brasil é
o único país no qual a justiça especializada
também é competente para executar divida
tributária, razão pela qual será feita análise
apenas da experiência brasileira.
1 BREVE HISTÓRICO DA AMPLIAÇÃO DA COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO
Como se sabe, a Justiça do Trabalho nasceu
com objetivo de conciliar e julgar os confl itos
individuais e coletivos entre trabalhadores
e empregadores, cuja condenação, via de
regra, restringia-se ao pagamento de verbas
trabalhistas.
Já em 1989, pela Lei 7.787/89, através
de seu art. 12, já havia a previsão de que as
contribuições devidas à Previdência Social
seriam devidas em casos de “extinção
de processos trabalhistas”, sendo que o
parágrafo único expressamente determinava
OS LIMITES DA COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO PARAA EXECUÇÃO DAS CONTRIBUIÇÕES DA SEGURIDADE SOCIAL
100100 REVISTA INTERAÇÃO | Ano III número 2 2º semestre de 2009 ISSN (1981-2183)
que “a autoridade judiciária velará pelo fi el
cumprimento do disposto nesse artigo”
Os art. 43 e 44 da Lei 8.212/1991 também
trataram do tema, determinando o recolhimento
das contribuições devidas à Previdência Social,
mediante fi scalização da autoridade judicial.
Emenda Constitucional nº 20, de 15 de
dezembro de 1998, introduziu o art. 3º no
Art. 114 da Constituição Federal, ampliando
consideravelmente a competência material da
Justiça do Trabalho, abarcando, inclusive, a
execução das contribuições sociais, pois assim
dispõe:
Compete ainda à justiça do trabalho executar,
de ofício, as contribuições sociais previstas no
art. 195, I, a, e II, e seus acréscimos legais,
decorrentes das sentenças que proferir.
A Emenda Constitucional nº 45, de 8 de
dezembro de 2004, conhecida como reforma
do judiciário, em nada alterou a redação do
texto supracitado, apenas o deslocou para o
inciso VIII do art. 114 da Constituição.
Verifi ca-se, portanto, que a partir de 1998 a
Justiça do Trabalho passou a ter competência
também para executas as contribuições da
seguridade social, que possuem natureza
tributária. Destarte, o juiz trabalhista passará,
não só a iniciar a execução das contribuições,
mas também a decidir sobre temas tributários,
exigindo maiores refl exões dos magistrados
sobre a matéria.
1.1 RAZÕES DA AMPLIAÇÃO DA COMPETÊNCIA: AUMENTO DA ARRECADAÇÃO TRIBUTÁRIA
Não é difícil concluir que a principal razão
para a alteração e ampliação da competência
da justiça do trabalho nesse sentido está
intimamente ligada ao potencial aumento da
arrecadação tributária.
De fato, antes mesmo da EC 20/1998,
alguns textos normativos já tinham o condão de
prescrever que o juiz trabalhista exercesse certa
“fi scalização” sobre o crédito previdenciário, v.g
art. 12, parágrafo único da Lei 7.787/1989, art.
43 e 44 da Lei 8.212/1991 e a Lei 8.620/1993
chegou a determinar que o juiz deveria de
imediato mandar recolher as importâncias
devidas à seguridade social, inclusive sob pena
de responsabilidade.
Apenas com essa legislação
infraconstitucional o recolhimento previdenciário
decorrente dos créditos reconhecidos na justiça
do trabalho teve considerável aumento.
Nesse sentido, ressalta Antonio ÁLVARES
da Silva:
A experiência em Minas Gerais é
altamente positiva. Alguns milhões de
reais já estão entrando para os cofres
da Previdência, sem nomeação de
fi scais e sem quaisquer outros gastos
adicionais. Um exemplo de que se
pode arrecadar tributos sem aumentar
a máquina burocrática para cobrá-los.2
REGINALDO LOURENÇO PIERROTTI JÚNIOR
ISSN (1981-2183) REVISTA INTERAÇÃO | Ano III número 2 2º semestre de 2009 101
De outro lado, não se pode olvidar de que
existe “a motivação política da própria justiça
do trabalho que, além de ver acrescida sua
competência material, poderá ratifi car sua
grande importância social, arrecadando verbas
para os combalidos cofres previdenciários”.3
Nesse ponto, importante apenas fazer a
ressalva de que com a criação da Receita
Federal do Brasil, a receita proveniente da
cobrança das contribuições para a seguridade
social não vão mais para cofres previdenciários,
mas para o cofre único da União.
2 NATUREZA JURÍDICA DAS
CONTRIBUIÇÕES PARA SEGURIDADE
SOCIAL
Atualmente não ganha relevo a discussão
acerca da natureza jurídica da contribuição para
seguridade social, pois está pacifi cado tanto na
doutrina, quanto na jurisprudência, marcada
pelo entendimento predominante no STF.
Com efeito, as contribuições para a
seguridade social apresentam todas as
características de tributo, pois se trata de uma
prestação pecuniária de pagamento obrigatório,
que não representa sanção por ato ilícito,
prevista e instituída por lei, e cobrada mediante
atividade estatal.
Enquadra, portanto, na defi nição de tributo
prevista no art. 3º do Código Tributário Nacional,
in verbis:
Art. 3º Tributo é toda prestação
pecuniária compulsória, em moeda
ou cujo valor nela se possa exprimir,
que não constitua sanção de ato ilícito,
instituída em lei e cobrada mediante
atividade administrativa plenamente
vinculada.
Colocando fi m a qualquer discussão,
evitando-se maiores delongas nesse tema,
impende transcrever a súmula nº 8 do Supremo
Tribunal Federal, ipsis litteris:
Súmula Vinculante nº 8.
SÃO INCONSTITUCIONAIS O
PARÁGRAFO ÚNICO DO ARTIGO
5º DO DECRETO-LEI Nº 1.569/1977
E OS ARTIGOS 45 E 46 DA LEI
Nº 8.212/1991, QUE TRATAM DE
PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA DE
CRÉDITO TRIBUTÁRIO.
Defi nido, portanto, a natureza jurídica de
tributo, o regime jurídico das contribuições
sociais é o mesmo previsto para o Direito
Tributário, com seus princípios norteadores,
observando as especifi cidades que lhe são
aplicáveis.
2 SILVA, Antonio Álvares da. A justiça do trabalho e o recolhimento de contribuições previdenciárias. São Paulo: LTr.
1999. 3 CASTILHO, Paulo Cesar Baria de. Execução de Contribuição Previdenciária pela Justiça do Trabalho. São Paulo:
RT, 2005. p.34.
OS LIMITES DA COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO PARAA EXECUÇÃO DAS CONTRIBUIÇÕES DA SEGURIDADE SOCIAL
102102 REVISTA INTERAÇÃO | Ano III número 2 2º semestre de 2009 ISSN (1981-2183)
3 CONSTITUCIONALIDADE DO INCISO VIII DO ART. 114 DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL
Não raras vezes encontramos afi rmações no sentido de que o inciso VIII do art. 114 da CF/1988 é inconstitucional, na medida em que traz tratamentos distintos para efeito de execução das contribuições sociais, já que uma se dá na Justiça Federal, mediante prévia inscrição na dívida ativa da contribuição devida e outra na Justiça do Trabalho, na qual prescinde de prévia inscrição na divida ativa.
A inconstitucionalidade se daria pela violação ao princípio da igualdade, consagrado no art. 5º da Lei Magna, cláusula pétrea que não pode ser atingida por Emenda Constitucional.
Todavia, essa tese não é a tese mais aceita seja pela doutrina seja pela jurisprudência. Com efeito, existem dois mecanismos de execução das contribuições sociais em virtude de se apresentarem no mundo fenomênico duas situações diversas: uma é a exigência da contribuição previdenciária decorrente de sentença proferida pela Justiça do Trabalho, outra é a execução fi scal da contribuição previdenciária na Justiça Federal, decorrente do não pagamento a tempo.
De fato, situações distintas devem obter tratamentos diversos. Essa é a essência da isonomia prescrita no art. 5º da Lei Maior.
De outro lado, também não há que se falar em lesão ao princípio do contraditório em virtude da prescindibilidade de prévia inscrição na divida
ativa, mormente porque o contraditório e a ampla
defesa foram exaustivamente exercitados
no curso do processo de conhecimento da
reclamação trabalhista.
Além disso, o contraditório será diferido para
o momento da apresentação dos embargos
à execução previdenciária, momento em que
serão discutidas tanto a incidência quanto o
montante executado.
3.1 A Efetividade do Direito de Arrecadação
Podemos defi nir como “efetivo” aquilo que
se materialize como instrumento hábil a produzir
os efeitos a que foi destinado. No dicionário
Aurélio lê-se: “Efetivo -que se manifesta por um
efeito real; positivo.” (grifo nosso).
Por conseguinte, um instrumento efetivo
é aquele que alcança os resultados a que se
destina, de forma positiva.
Não raras vezes ouvimos dizer que a pouca
arrecadação tributária, devido à sua difi culdade
de cobrança, é a responsável pela criação cada
vez maior de tributos.
Recorde-se que a maior crítica que se faz
em matéria tributária é exatamente sobre
o crescimento, dia a dia, de novos tributos,
aumentando-se a carga tributária sobre os
contribuintes de sempre (aqueles que pagam),
quando seria salutar que se cobrassem os
tributos que já existem, apertando o cerco dos
sonegadores. Esse, talvez, o maior mérito da
emenda.4
REGINALDO LOURENÇO PIERROTTI JÚNIOR
ISSN (1981-2183) REVISTA INTERAÇÃO | Ano III número 2 2º semestre de 2009 103
Nessa seara, o direito deve criar instrumentos que possibilitem aumentar a arrecadação não por meio de criação de novos tributos, mas por meios que impeçam que aqueles que devem pagar deixem de pagar.
Nesse rumo, faz-se necessária a aplicação do princípio da máxima efi cácia da norma constitucional e da máxima efetividade das normas constitucionais, segundo os quais “não se interpreta a Lei Maior de forma isolada, mas de acordo com sua unidade. A máxima efetividade das normas constitucionais pressupõe que a Lei Magna tem normas, em princípio, de efi cácia imediata.”5
Nesses termos, pode-se concluir que a ampliação da competência da Justiça do Trabalho vai ao encontro dos ideais de efetividade dos direitos, uma vez que nela se verifi ca o direito atuando sobre a realidade alterando-a signifi cativamente, garantindo a maior arrecadação do Estado com o menor custo possível na medida em que se economiza com fi scais, aproveitando-se a movimentação da máquina judiciária com o início do processo trabalhista.
4 ESTRUTURA DA NORMA JURÍDICA TRIBUTÁRIA
A estrutura da norma jurídica tributária / previdenciária é de suma importância para
a melhor compreensão do nascimento da obrigação de pagar a contribuição social, e a conseqüente possibilidade de sua cobrança pela Justiça do Trabalho, que é objeto do presente trabalho.
Nesse sentido, leciona Geraldo Ataliba que “as questões práticas que a chamada ciência do direito tributário material se propõe a resolver são: se se deve pagar tributo, a quem se de vê pagar, quem deve pagar, quando nasce o dever de pagar e quanto deve ser pago”.
6
A norma tributária é composta por um antecedente, integrada por 3 aspectos (material, temporal e espacial) e também e também pelo conseqüente, também chamado de descritor, integrado por 2 aspectos (critério pessoal e critério quantitativo).
A hipótese, também conhecida como descritor, uma vez ocorrida no mundo fenomênico, irá acarretar refl exos jurídicos ao envolvidos.
O delineamento da norma jurídica tributária/previdenciária no presente trabalho tem por embasamento os estudos do professor Paulo de Barros Carvalho, que apresenta a estrutura da norma jurídica tributária, baseado nos ensinamentos de Noberto Bobbio e Hans Kelsen.
De acordo com Paulo de Barros Carvalho, “os termos hipótese e conseqüência representam
4 CASTILHO, Paulo Cesar Baria de. Execução de Contribuição Previdenciária pela Justiça do Trabalho. São Paulo: RT,
p. 43. 5 MARTINS, Sérgio Pinto. Execução da Contribuição Previdenciária na Justiça do Trabalho. São Paulo: Atlas, 2008.
p. 21.
OS LIMITES DA COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO PARAA EXECUÇÃO DAS CONTRIBUIÇÕES DA SEGURIDADE SOCIAL
104104 REVISTA INTERAÇÃO | Ano III número 2 2º semestre de 2009 ISSN (1981-2183)
na norma jurídica, a mesma função da prótase e da apódase na composição do juízo hipotético segundo os ensinamentos da lógica”.
7
4.1 HIPÓTESE DE INCIDÊNCIA
A hipótese de incidência pode ser entendida como o fato descrito pela lei que pode ser capaz de gerar obrigações. Nos dizeres do professor Marcos de Queiroz Ramalho, “Torna-se assim um fato imponível, com sujeito ativo, modo e local já determinado”.
8
Nos dizeres de Paulo de Barros Carvalho,
A hipótese, como proposição
descritiva de situação objetiva rela, na
lição rigorosamente correta de Lourival
Vilanova, é construída pela vontade
do legislador, que recolhe os dados de
fato da realidade que deseja disciplinar
(realidade social), qualifi cando-os,
normativamente, como fatos jurídicos.9
A hipótese de incidência é composta por três critérios, que auxiliam na descrição completa do fato previsto na lei. São eles: critério material, critério temporal e critério espacial.
4.1.1 CRITÉRIO MATERIAL
O critério material é o primeiro que deve ser encontrado na norma jurídica a ser analisada, constituí-se como o fato juridicamente relevante
para o direito.
O critério material faz referencia há um comportamento de pessoas, físicas ou jurídicas.
O critério material, embora muitas vezes assim denominado, não é a descrição objetiva do fato, pois que isso é a própria hipótese de incidência, a qual é composta pelo critério material delimitado no espaço (critério espacial) e tempo (critério temporal).
Como supramencionado, o critério material descreve um comportamento de pessoas, assim, o critério material é composto por um verbo e seu complemento, como por exemplo: vender (verbo) mercadorias (complemento), transportar (verbo) pessoas (complemento).
As contribuições sociais que serão executadas na justiça do trabalho são aquelas previstas no art. 195, I, a, da Constituição Federal, que reza:
Art. 195. A seguridade social será
fi nanciada por toda a sociedade, de
forma direta e indireta, nos termos da
lei, mediante recursos provenientes dos
orçamentos da União, dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios, e das
seguintes contribuições sociais:
I - do empregador, da empresa e da
entidade a ela equiparada na forma da
lei, incidentes sobre:
6 ATALIBA, Geraldo. Hipótese de Incidência Tributária. 5ª ed. São Paulo: Malheiros, 1993. p.117.
7 CARVALHO, Paulo de
Barros. Teoria da Norma Tributária, 4ª ed., São Paulo: Editora Max Limonad, 2002. p. 49. 8 RAMALHO, Marcos de Queiros.
A Pensão Por Morte No Regime Geral da Previdência Social. São Paulo: LTr, 2006. p.57. 9 CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de Direito Tributário. São Paulo: Saraiva. 17ª. Ed. 2005. p. 255.
REGINALDO LOURENÇO PIERROTTI JÚNIOR
ISSN (1981-2183) REVISTA INTERAÇÃO | Ano III número 2 2º semestre de 2009 105
a) a folha de salários e demais
rendimentos do trabalho pagos ou
creditados, a qualquer título, à pessoa
física que lhe preste serviço, mesmo
sem vínculo empregatício;
Analisando a norma jurídica que trata
da contribuição devida pelo empregador,
constata-se que o critério material da hipótese
de incidência é composto pelos verbos pagar/
creditar e pelo complemento pessoa física que
lhe preste serviço.
4.1.2 CRITÉRIO ESPACIAL
O critério espacial delimita o território
onde incidirá a relação jurídica tributária,
determinando o local onde o fato tem relevância
jurídica.
Com efeito, o legislador não apontou
especifi camente um local especifi co para a
ocorrência do fato. Assim, em qualquer parte
do território nacional em que ocorra pagamento
ou crédito de remuneração, confi gurada estará
a obrigação de pagar.
Há casos, por exemplo, em que a empresa
faz o crédito de pagamento de salários ou
remuneração fora do território nacional.
Contudo, tal atitude não inibirá o nascimento
da obrigação, tendo em vista que o pagamento
deveria se dar no território nacional.
Assim, para análise do critério espacial, mais
importará o local onde o fato deveria ocorrer do
que onde efetivamente ocorreu.
4.1.3 CRITÉRIO TEMPORAL
Através do critério temporal defi ne-se o
momento exato em que nasce a obrigação
tributária.
Nesse sentido, leciona Paulo Cesar Baria de
Castilho que “a lei tributante deve trazer em seu
bojo, de forma explícita ou implícita, o momento
exato em que deve ser considerado realizado o
fato jurídico tributário”.10
Analisando a norma jurídica em comento
(art. 195, I, a da CF/1988), verifi ca-se que não
há previsão expressa do momento em que
nasce a obrigação tributária, porém, pode-s
concluir que o critério temporal da contribuição
ali prevista é o momento em que se dá o
pagamento ou crédito de remuneração, ainda
que a Lei prorrogue o pagamento da prestação
pecuniária.
Assim, no momento em que há o pagamento
ou crédito de remuneração, tem-se por realizado
o fato jurídico tributário.
Todavia, ao se falar em processo judicial, no
qual há condenação ao pagamento de verbas
salariais, considerar-se-á realizado o fato jurídico
tributário no momento em que a sentença
transitar em julgado, pois é o momento em que
se terá a certeza de que é devido rendimento
10 CASTILHO, Paulo Cesar Baria de. Execução de Contribuição Previdenciária pela Justiça do Trabalho. São Paulo: RT,
p.81.
OS LIMITES DA COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO PARAA EXECUÇÃO DAS CONTRIBUIÇÕES DA SEGURIDADE SOCIAL
106106 REVISTA INTERAÇÃO | Ano III número 2 2º semestre de 2009 ISSN (1981-2183)
ao segurado e, por conseguinte, será devida a
contribuição social.11
Nesse rumo, ensina Paulo Cesar Baria de
Castilho:
Dentro de um processo judicial
trabalhista não vislumbramos a
possibilidade de ser em qualquer
momento anterior. Isto porque para
ser creditado (terceira hipótese legal),
é preciso primeiro ser devido. Se for
pago (primeira hipótese legal) antes
do transito em julgado, mediante
depósito judicial nos autos ou acordo
extrajudicial com juntada do recibo
no processo, tal pagamento fi cará
condicionado à homologação do juízo
e, até então, não haverá a certeza
jurídica de ser ou não devido este ou
aquele valor. 12
Aqui se faz a mesma ressalva acima, no
sentido de que o critério temporal é o trânsito
em julgado da sentença trabalhista, ainda que
o pagamento seja postergado para momento
posterior, depois de apresentados os cálculos
de liquidação.
4.2 CONSEQÜENTE NORMATIVO - PRESCRITOR
O conseqüente, ou prescritor da norma, traz
critérios para identifi cação do vínculo jurídico
que nasce com a ocorrência do fato imponível,
da hipótese de incidência, desenhando “a
previsão de uma relação jurídica, que se
instala, automática e infalivelmente, assim que
se concretize o fato”.13
Paulo de Barros Carvalho ensina que
a hipótese, funcionando como
descritor, anuncia os critérios
conceptuais para o reconhecimento
de um fato, o conseqüente, como
prescritor, nos dá, também, critérios
para identifi cação do vínculo jurídico
que nasce, facultando-nos saber quem
é o sujeito portador do direito subjetivo;
a quem foi cometido o dever jurídico
de cumprir certa prestação; e seu
objeto, vale dizer, o comportamento
que a ordem jurídica espera do sujeito
passivo e que satisfaz, a um só tempo,
o dever que lhe fora atribuído e o direito
subjetivo de que era titular o sujeito
pretensor.14
Em outras palavras, o prescritor identifi ca
quem deve pagar e quem tem o direito de
receber, além de defi nir o montante do tributo
a ser exigido.
O conseqüente normativo (prescritor) é
composto pelo critério pessoal e pelo critério
quantitativo.
11 Idem. p. 82.
12 Idem. p. 82.
13 CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de Direito Tributário. São Paulo: Saraiva, 2005. 17ª
Ed. p.285. 14 Idem. p. 285.
REGINALDO LOURENÇO PIERROTTI JÚNIOR
ISSN (1981-2183) REVISTA INTERAÇÃO | Ano III número 2 2º semestre de 2009 107
4.2.1 CRITÉRIO PESSOAL
O critério pessoal determina a quem a Lei
é destinada, ou seja, identifi ca o sujeito ativo
e o sujeito passivo da relação jurídica a ser
desencadeada.
Através desse critério se determinará quem
tem direito ao crédito, depois de ocorrido
o critério material, e quem tem o dever de
pagar o valor devido.
Assim, o critério pessoal subdivide-se em
sujeito ativo e sujeito passivo.
O sujeito ativo é o titular do direito subjetivo,
ou seja, é aquele que tem direito de exigir a
prestação pecuniária, que no objeto de nosso
estudo é a União, antes representada pela
autarquia Instituto Nacional de Seguridade
Social.
Já o sujeito passivo é o contribuinte, ou seja,
aquele que praticou o fato prescrito na hipótese
de incidência. É a pessoa de quem se pode
exigir a prestação pecuniária que, em nosso
objeto de estudo é tanto o empregado quanto
o empregador.
4.2.2 CRITÉRIO QUANTITATIVO
O critério quantitativo identifi ca o valor da
dívida tributária, em outras palavras, o critério
quantitativo é quem determina o montante do
tributo devido.
A bem da verdade, refl ete o quantum
debeatur devido pelo sujeito passivo ao sujeito
ativo.
O critério quantitativo é composto por duas
variáveis: 1) base de cálculo e 2) alíquota.
Nas lições do Professor Geraldo Ataliba,
base de cálculo é
base imponível é uma perspectiva
dimensível do aspecto material da
hipótese de incidência que a lei
qualifi ca, com a fi nalidade de fi xar
critério para a determinação, em
cada obrigação tributária concreta, do
quantum debeatur 15.
A base de cálculo confi rma o critério
material, isto é, está ligada ao critério material
da hipótese de incidência e revela a grandeza
a ser tributada daquele fato jurídico descrito na
norma. Diz-se que a base de cálculo é o núcleo
da hipótese de incidência.16
Na regra jurídica da relação de custeio,
a base de cálculo é denominada de salário-
de contribuição, que é toda a remuneração
efetivamente auferida pelo empregado,
compreendendo o salário (devendo ser
entendidas como parcelas salariais, como
gratifi cações habituais) e as gorjetas.
À base de cálculo será aplicada a alíquota
correspondente, alcançando-se, com isso, o
valor do tributo a ser pago.
15 ATALIBA, Geraldo, Hipótese de Incidência Tributária, 6ª edição, São Paulo: Ed. Malheiros, 2001.
16 CASTILHO, Paulo
Cesar Baria de. Execução de Contribuição Previdenciária pela Justiça do Trabalho. São Paulo: RT, p. 85.
OS LIMITES DA COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO PARAA EXECUÇÃO DAS CONTRIBUIÇÕES DA SEGURIDADE SOCIAL
108108 REVISTA INTERAÇÃO | Ano III número 2 2º semestre de 2009 ISSN (1981-2183)
No caso da parte que cabe ao empregador,
a alíquota é de 20%. Os empregados possuem
alíquotas variáveis, conforme o valor do salário-
de-contribuição, podendo ser de 8% a 11%.
5 LIMITES À COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO
Como visto, a competência da Justiça do
Trabalho para a execução das contribuições
sociais decorre do disposto no inciso VIII do art.
114 da Constituição Federal, in verbis:
Art. 114. Compete à Justiça do
Trabalho processar e julgar:
(.)
VIII a execução, de ofício, das
contribuições sociais previstas no
art. 195, I, a , e II, e seus acréscimos
legais, decorrentes das sentenças que
proferir;
Todavia, há limites traçados pelo próprio art.
114, VIII, da CF, na medida em que a Justiça
do Trabalho não é competente para a execução
de toda e qualquer execução de contribuições
sociais.
5.1 SENTENÇA CONDENATÓRIA E DECLARATÓRIA?
Com efeito, a competência trabalhista
se limita a executar as contribuições sociais
decorrentes das sentenças que proferir, ou
seja, aquelas incidentes sobre o valor da
condenação.
Nesse rumo, não há competência da Justiça
do Trabalho para determinar a execução de
contribuição social devida a terceiros, bem como
em virtude de decisão apenas declaratória de
vínculo empregatício, sobre parcelas quitadas
durante a vigência da relação jurídica havida
entre as partes.
Nossa discussão será centrada no que diz
respeito à possibilidade ou não da execução
de contribuições para a seguridade social
decorrentes de sentença judicial prolatada pela
Justiça do Trabalho, de natureza meramente
declaratória, mais especifi camente sentença
que reconhece a existência da relação de emprego e determina a anotação da CTPS,
sem determinar qualquer pagamento ao
Demandante.
A bem da verdade, buscar-se-á demonstrar
que a Justiça Especializada não detém
competência para execução de contribuições
sociais decorrentes de sentença declaratória de
reconhecimento de vínculo de emprego.
Nesse desiderato, inicialmente cabe ressaltar
que não há mais dúvidas quanto à natureza
tributária da contribuição previdenciária,
conforme pacífi co entendimento doutrinário e
jurisprudencial, anteriormente enfrentado.
Não havendo dúvidas quanto à natureza
tributária da contribuição social, o estudo
da regra matriz de incidência, já explicada
anteriormente, torna-se fundamental para
examinar qualquer aspecto que envolva
o estudo da norma tributária, inclusive a
REGINALDO LOURENÇO PIERROTTI JÚNIOR
ISSN (1981-2183) REVISTA INTERAÇÃO | Ano III número 2 2º semestre de 2009 109
competência para sua execução e cobrança.
Nesse sentido, de acordo com o doutrinador Paulo de Barros Carvalho, o advento da regra-matriz de incidência estabelece um marco decisivo no rumo dos estudos tributários, ao menos no que concerne ao caminho metodológico a ser desenvolvido. Segundo o autor, é o estudo da regra-matriz tributária um recurso metodológico de estudo da norma tributária, que permite a visualização de toda a conformação tributária.
17
Como já explanado, a norma tributária que enseja a execução das contribuições na Justiça do Trabalho é a prescrita no artigo 195, inciso I, alínea a, da CF/88, in verbis:
Art. 195. A seguridade social será
fi nanciada por toda a sociedade, de
forma direta e indireta, nos termos da
lei, mediante recursos provenientes dos
orçamentos da União, dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios, e das
seguintes contribuições sociais:
I -do empregador, da empresa e da
entidade a ela equiparada na forma da
lei, incidentes sobre:
a) a folha de salários e demais
rendimentos do trabalho pagos ou
creditados, a qualquer título, à pessoa
física que lhe preste serviço, mesmo
sem vínculo empregatício;
Note-se que o referido dispositivo deixa bem
claro que a seguridade social será fi nanciada pela contribuição incidente sobre a folha de salários e demais rendimentos pagos ou creditados, a qualquer título, à pessoa física que lhe preste serviço, mesmo sem vínculo empregatício.
Analisando a estrutura da supracitada norma, pode-se depreender que o critério material da hipótese de incidência é pagar ou
creditar salário ou rendimento.
Como explicado, o critério material é representado por um verbo e um complemento, que nesse caso notamos os verbos pagar ou creditar, sendo seu complemento, salário ou rendimento.
Assim, a obrigação tributária tem nascimento com a ocorrência no mundo fenomênico do fato descrito no critério material da hipótese. Isto é, o fato da empresa ao pagar ou creditar salário ou rendimento faz surgir a obrigação tributária de pagar contribuição para a seguridade social.
Destarte, enquanto não houver o efetivo pagamento ou realização de crédito de salário ou rendimento, não há que se falar em fato imponível e, portanto, em nascimento da relação jurídico-tributária, com a conseqüente obrigação tributária.
Outrossim, logo que verifi cado o crédito ou pagamento de rendimentos ou salários, nasce a obrigação tributária primária.
Note-se, portanto, que independentemente
17 CARVALHO, Paulo de Barros. Teoria da Norma Tributária. São Paulo: Editora Max Limonad, 1998.
OS LIMITES DA COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO PARAA EXECUÇÃO DAS CONTRIBUIÇÕES DA SEGURIDADE SOCIAL
110110 REVISTA INTERAÇÃO | Ano III número 2 2º semestre de 2009 ISSN (1981-2183)
da relação empregatícia ser formalizada ou
não, é o fato de pagar ou creditar salários
ou rendimentos que faz nascer a obrigação
tributária. Com efeito, a sentença declaratória
que eventualmente vier a reconhecer existência
de vínculo de emprego não terá o condão
de estabelecer o fato imponível à cobrança
tributária, pois esse já foi anteriormente
realizado como se demonstrará com a análise
do próximo critério.
Avançando no estudo da estrutura da
norma em comento, partindo da premissa de
ser o fato imponível o ato de creditar ou pagar
rendimentos, impõe-se a análise do critério
temporal da hipótese de incidência da norma
tributária, compreendendo-se como tal o grupo
de indicações, contidas no suposto da regra, e
que nos oferecem elementos para saber, com
exatidão, em que preciso instante acontece o
fato descrito, passando a existir o liame jurídico
que amarra devedor e credor, em função de
um objeto: o pagamento de certa obrigação
pecuniária.18
Como já enfatizado, o critério temporal
permite identifi car o exato momento da
ocorrência do fato imponível ou fato tributário.
Através de sua análise é possível identifi car o
exato instante em que nasce a relação jurídico-
tributária e, conseqüentemente, a obrigação
tributária.
Como fi cou defi nido como critério material o
ato de pagar ou creditar rendimentos, conclui-
se o critério temporal é o momento em que
ocorre o pagamento ou crédito, ou seja, é nesse
momento que nasce a obrigação de recolher a
contribuição previdenciária.
Esta conclusão pode ser extraída também
das lições de Wladimir Novaes Martines que,
analisando o art. 28, I da Lei 8.212/1991, afi rma
ser o direito ao título remuneratório o fato
gerador da obrigação tributária, in verbis:
Levando em conta a lei falar em
‘remuneração efetivamente paga ou
creditada’ (pouco importando acontecer
a primeira dessas fases contábeis),
não se tem estabelecida a quitação
do valor ser o ato aperfeiçoador da
obrigação fi scal. O pagamento, per se,
não é [necessariamente] o fato gerador
do dever de contribuir. É, todavia, a
situação mais comum, principalmente
quando o contrato de trabalho fl ui
naturalmente. Coincidem, então, o
trabalho, o direito à remuneração e o
seu pagamento.
(..)
Pode suceder de o obreiro, por
variados motivos, jamais receber
a remuneração devida (v.g., deixar
espontaneamente de fazê-lo, falência
da empresa, renúncia em acordo
trabalhista ou outra impossibilidade
18 CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de Direito Tributário. São Paulo: Saraiva. 11ª Ed. pág. 185
REGINALDO LOURENÇO PIERROTTI JÚNIOR
ISSN (1981-2183) REVISTA INTERAÇÃO | Ano III número 2 2º semestre de 2009 111
material ou formal). (.) A hipótese de
incidência — direito à remuneração
relativa ao esforço desenvolvido no
mês de competência — realiza-se
fundamentalmente, dispensando-se
a quitação da retribuição. Basta-lhe
o crédito, mesmo não contabilizado,
melhor dizendo, o direito, prescindindo-
se da efetiva integração do valor no
patrimônio do obreiro ao tempo da
prestação de serviços. Com base
nisso, dir-se-ia que o fato gerador
das contribuições sociais, mesmo
nos dissídios individuais trabalhistas,
seria a aquisição do direito ao título
remuneratório (dado, e.g., no quinto
dia útil subseqüente ao mês em
que o empregado desempenhou
sobrejornadas).19
Portanto, pela análise do critério temporal,
não há dúvida de que a ocorrência do fato
imponível deu-se fora da competência da Justiça
do Trabalho, e não decorreu da prolação da
sentença declaratória, porque o fato imponível
aconteceu em momento anterior, já sendo,
por conseguinte, devido o tributo, mesmo que
em relação jurídica diversa da estabelecida na
sentença trabalhista.
Nesse exato sentido preleciona o doutrinador
Paulo Cesar Bária de Castilho, verbo ad verbum:
inicialmente, e para se evitar
qualquer dúvida, é bom recordar que
a justiça do trabalho tem competência
para executar as contribuições
previdenciárias decorrentes das
sentenças condenatórias que proferir”.
Assim, o tributo devido em razão
de salário pago ‘por fora’ deve ser
executado na justiça federal, pois
a sentença trabalhista, neste caso,
é meramente declaratória de um
fato que já ocorreu no passado (o
pagamento).20
Em sentido contrário se posiciona o
professor Sérgio Pinto Martins, para quem
...se a Justiça do Trabalho proferir
sentença meramente declaratória, em
que se reconhece apenas o vínculo
de emprego entre as partes, sem
a condenação do empregador em
pagamento de verbas ao empregado,
serão devidas contribuições
previdenciárias. Nesse caso, elas
são devidas pelo fato de que o
vínculo de emprego foi reconhecido
e deveria a empresa ter recolhido as
contribuições previdenciárias de todo
o período trabalhado pelo empregado.
19 MARTINEZ, Wladimir Novaes. Comentários à Lei Básica da Previdência Social, t. I, 3ª ed., São Paulo, LTr, 1998, p.
537.
OS LIMITES DA COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO PARAA EXECUÇÃO DAS CONTRIBUIÇÕES DA SEGURIDADE SOCIAL
112112 REVISTA INTERAÇÃO | Ano III número 2 2º semestre de 2009 ISSN (1981-2183)
A sentença reconhece a remuneração,
que é o fato gerador da contribuição
previdenciária. Logo, elas serão
executadas na Justiça do Trabalho,
pois decorrem da sentença proferida
por essa Justiça Especializada.21
Todavia, discordamos desse posicionamento, pois que o artigo 114, VIII, da CF/88, ao preceituar que compete ainda a Justiça do Trabalho executar as contribuições sociais decorrentes das sentenças que proferir, deixa patente que as contribuições devidas que não sejam decorrentes das decisões emanadas da Justiça do Trabalho estão fora do âmbito de sua competência.
Como o próprio Sérgio Pinto Martins menciona, a remuneração é o fato gerador da contribuição previdenciária e não a sentença trabalhista, assim, tendo fato gerador diverso da sentença proferida pela Justiça Especializada, essa não possui competência para execução da obrigação.
Aliás, o supracitado doutrinador ensina que “declara a sentença o crédito trabalhista que já existia, pois mesmo que a contribuição não tivesse sido paga ela era devida (art. 22 Lei nº 8.212). O fato gerador já ocorreu”.
22
Destarte, pelas lições do próprio autor, mas em sentido contrário, depreende-se que a contribuição não se tornou devida em função
da sentença trabalhista, mas já era devida antes e, sendo assim, não pode ser executada na Justiça do Trabalho, já que não decorre da sentença por esta proferida.
Com efeito, a sentença declaratória que simplesmente reconheceu a relação de emprego não gera qualquer crédito ou pagamento de valores ao empregado. Por conseguinte, qualquer valor que devido à título de contribuição social já era devidos preteritamente, em razão do pagamento de remuneração já ocorrido, razão pela qual a competência para sua execução é da Justiça Federal.
Conseqüentemente, pela análise do critério temporal da hipótese de incidência não permite outra conclusão que não de que a obrigação tributária não se deu por força da sentença meramente declaratória, mas sim foi estabelecida anteriormente.
Por outro giro, não nem se poderia argumentar que essa conclusão vai de encontro à proteção do obreiro, pela não-execução das contribuições devidas em virtude do reconhecimento do vínculo, já que o Enunciado 18 do Conselho de Recursos da Previdência Social é no sentido de que não se indefere benefício sob o fundamento da falta de recolhimento de contribuição previdenciária, se esta era devida pelo empregador.
20 CASTILHO, Paulo Cesar Baria de. Execução de Contribuição Previdenciária pela Justiça do Trabalho. São Paulo: RT,
p. 115-116. 21
MARTINS, Sérgio Pinto. Execução da Contribuição Previdenciária na Justiça do Trabalho. 3ª ed. São Paulo: Atlas, 2008.
22 Idem.
REGINALDO LOURENÇO PIERROTTI JÚNIOR
ISSN (1981-2183) REVISTA INTERAÇÃO | Ano III número 2 2º semestre de 2009 113
Além disso, é sabido e consabido que o
INSS não reconhece o tempo de serviço do
empregado com base na sentença declaratória
trabalhista, sob o argumento de que não
integrou a relação processual que reconheceu
a relação de emprego, tenha ou não havido
contribuição previdenciária, não restando
alternativa ao segurado senão o ajuizamento
de ação ordinária na Justiça Federal para tanto.
Note-se que a autarquia previdenciária age
em plena contradição, pois ao mesmo tempo
em que pretende cobrar as contribuições
previdenciárias relativas a todo o período de
trabalho reconhecido, não reconhece esse
período para fi ns de concessão do benefício de
aposentadoria, o que é um inaceitável contra-
senso.
Por fi m, cumpre destacar que a fi xação
da competência da Justiça do Trabalho
para cobrança de contribuições relativas
a reconhecimento de vínculo de emprego,
sobrecarregaria o judiciário com debates
estranhos à função especializada da Justiça
do Trabalho, que fundamentalmente é a de
resolver os confl itos trabalhistas.
Na mesma linha delineada acima, o Tribunal
Pleno do TST, por meio da Res. 138/2005
(publicada no DJ 23.11.2005), alterou a redação
do item I de sua Súmula 368, e estabeleceu
que a competência da Justiça do Trabalho
não alcança a execução das contribuições
previdenciárias em virtude de reconhecimento
de vínculo empregatício, mas limita-se às
sentenças condenatórias em pecúnia que proferir, vejamos:
I. A Justiça do Trabalho é
competente para determinar o
recolhimento das contribuições fi scais.
A competência da Justiça do Trabalho,
quanto à execução das contribuições
previdenciárias, limita-se às sentenças
condenatórias em pecúnia que proferir
e aos valores, objeto de acordo
homologado, que integrem o salário-
de-contribuição (grifo nosso). Acresça-
se, ainda, os fundamentos proferidos
em Vista Regimental pelo Exmo.
Ministro Vantuil Abdala, a que peço
vênia para reproduzí-los:
Poder-se-ia argumentar que tal súmula estaria derrogada pelo parágrafo único do art. 876 da CLT, com redação alterada pelo art. 42 da Lei nº11.457/2007 (Lei da Super Receita), que dispõe:
Art. 876.
Parágrafo único. Serão executadas
ex-offi cio as contribuições sociais
devidas em decorrência de decisão
proferida pelos Juízes e Tribunais do
Trabalho, resultantes de condenação
ou homologação de acordo, inclusive
sobre os salários pagos durante o
período contratual reconhecido.
A constitucionalidade de tal dispositivo é muito debatida e grande parte da doutrina o entendo como inconstitucional.
OS LIMITES DA COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO PARAA EXECUÇÃO DAS CONTRIBUIÇÕES DA SEGURIDADE SOCIAL
114114 REVISTA INTERAÇÃO | Ano III número 2 2º semestre de 2009 ISSN (1981-2183)
Nesse sentido, leciona os doutrinadores Jorge Pinheiro Castelo e Nelson Albino Neto, in verbis:
De qualquer forma, a inserção
do novo texto é inconstitucional,
ilegal, ilógica e atenta contra a
natureza das coisas (restando
impossível jurídica e faticamente), o que já responde da questão no sentido de que a execução de contribuição previdenciária de salários que não integraram o processo é inconstitucional, ilegal e injustifi cável, sobe pena de ofensa à coisa julgada e caracterização de excesso de execução.23
Para que tal dispositivo não se esbarre na inconstitucionalidade, merece ser interpretado conforme a Constituição. Assim, deve-se entender que a parte fi nal do supramencionado dispositivo, inclusive sobre os salários pagos durante o período contratual reconhecido, apenas se através da decisão ou do acordo venha a ser feito algum pagamento ao reclamante de verba salarial, como diferenças salariais, comissões não pagas etc.
Portanto, a competência da justiça do trabalho está limitada a executar as contribuições para a seguridade social que tenham como fato gerador a sentença trabalhista, mas de maneira alguma àquelas que anteriormente já eram devidas.
5.2 SENTENÇA HOMOLOGATÓRIAS
Não raras vezes, na Justiça do Trabalho o processo fi nda-se antes mesmo de apresentação da defesa da parte adversa, em virtude de acordo formulado em audiência de conciliação.
Como antes relatado, a Justiça do trabalho é competente apenas para executar as contribuições provenientes apenas das sentenças condenatórias, ou seja, àquelas que determinam o pagamento de valores pecuniários ao reclamante.
Sabe-se, porém, que a realização de acordo importa no pagamento de valores pecuniários por uma das partes às outras, razão pela qual poderá haver incidência da contribuição social dependendo da natureza jurídica das verbas acordadas.
Certamente, sendo pagas verbas salariais em virtude de acordo, haverá incidência da contribuição social. Nesse caso, a competência da justiça do trabalho para execução advém da sentença homologatória do acordo, a qual fi xa o montante salarial e o montante indenizatório.
Assim, no caso de celebração de acordo, também poderá incidir contribuição previdenciária e conseqüente execução já esfera trabalhista.
As partes na justiça do trabalho são totalmente livres para transacionar acerca de
23 CASTELO, Jorge Pinheiro. ALBINO NETO, Nelson. Execução das contribuições previdenciárias na Justiça do Trabalho
– Execução de contribuição previdenciária de decisão declaratória. 72-04/427, 2008. p. 429.
REGINALDO LOURENÇO PIERROTTI JÚNIOR
ISSN (1981-2183) REVISTA INTERAÇÃO | Ano III número 2 2º semestre de 2009 115
seu direito, inclusive discriminando as verbas que estão sendo pagas e as de que se abre mão.
Nesse sentido, entendemos que as partes são totalmente livres para discriminar as verbas que fazem parte do acordo, de modo que a União em nada pode interferir, independentemente do momento de realização do mesmo.
De fato, as partes podem transacionar e discriminar as verbas recebidas apenas como indenizatórias, antes de transitada em julgado a sentença, pois que aqui está se falando em acordo evitando-se o risco processual.
Após o trânsito em julgado também poderá haver discriminação de verbas, é claro que com limites no que a sentença determina, porém não haverá incidência de contribuição com base na sentença, mas sim com base no acordo, pois é o que efetivamente será pago ao trabalhador pela empresa.
Como alhures destacado, é a remuneração que gera a contribuição. Se há sentença, mas em virtude de realização de acordo não haverá pagamento, não se pode falar em pagamento de contribuições.
Por último, cumpre destacar que não é vantajoso seja para sociedade seja para o Estado permitir a intervenção da União na realização de acordo entre as parte, como comumente vem ocorrendo, pois que isso trará difi culdades e empecilhos para a realização de acordos.
Certamente, a função primordial da justiça
do trabalho é conciliar e julgar, mas não a
execução de contribuições sociais. Nesse
rumo, deve-se valorizar a conciliação, sob pena
de sua considerável redução.
5.3 CONTRIBUIÇÕES DO CHAMADO SISTEMA “S”
Com efeito, as contribuições que não são
destinadas à seguridade social não podem ser
cobradas na esfera da Justiça do Trabalho,
na medida em que o texto constitucional
expressamente delimita a competência para
execução das contribuições sociais previstas
no art. 195, I, a, e II e seus acréscimos legais.
Dessa forma, as contribuições sociais
destinadas a entidades privadas, v.g SENAI,
SESI, SESC, SENAC, SEBRAE, SENAR,
SENAT, etc., ainda que compulsórias, não
podem ser executadas na justiça do trabalho,
sendo que a competência continua sendo da
justiça federal.
6 PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA
Como se sabe, o prazo de decadência deve
ser contado a partir do nascimento da obrigação
tributária, que ocorre com a realização do fato
“gerador”.
Assim, ainda que se entendesse que a
justiça do trabalho fosse competente para
executar as contribuições sociais decorrentes
de reconhecimento de vínculo essas estariam
limitadas ao período de 5 anos a contar do fato
gerador da contribuição, qual seja: o pagamento
OS LIMITES DA COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO PARAA EXECUÇÃO DAS CONTRIBUIÇÕES DA SEGURIDADE SOCIAL
116116 REVISTA INTERAÇÃO | Ano III número 2 2º semestre de 2009 ISSN (1981-2183)
ou crédito de remuneração.
Nesse exato sentido preleciona o professor
Paulo Cesar Baria de Castilho, verbo ad verbum:
Neste caso específi co, a sentença
trabalhista, quando transita em julgado
(data da certeza jurídica do pagamento
feito ‘por fora’), não ‘cria’ o fato gerador
da contribuição previdenciária. Apenas
reconhece sua existência no passado.
O pagamento já ocorreu e com ele
o fato imponível tributário. Então, é
daquele fato antigo que se conta o
prazo decadencial. Se ainda não se
passaram cinco anos, deve a autarquia
inscrever o seu crédito em dívida ativa
e executa-lo na justiça federal, que é
competente para tanto, neste caso”.24
Excluída essa hipótese, pois a execução de
tais contribuições não pode ser realizada na
Justiça do Trabalho, tem-se que o fato gerador
das contribuições para a seguridade social é o
trânsito em julgado da sentença condenatória
trabalhista.
Assim, o prazo de 5 anos é contado da
data do trânsito em julgado da sentença ou
da homologação do acordo. Trata-se de prazo
prescricional, porque nesse caso não há que
se falar em decadência, pois a execução
da contribuição nessa justiça especializada
prescinde de lançamento.
Nesse sentido são as lições do professor Paulo Cesar Baria de Castilho:
Do ponto de vista lógico-judírico, é impossível que ocorra a decadência da contribuição previdenciária incidente sobre as verbas decorrentes da sentença condenatória trabalhista, pois, com o trânsito em julgado nascerá a obrigação tributária (pois as verbas são devidas) e, no mesmo instante, o devedor terá a ciência da existência do débito previdenciário (ainda que seu valor seja ilíquido), e este fato, de notifi car o sujeito passivo de medida preparatória para exigência do tributo, extirpa-se de vez a possibilidade de decadência, nos exatos termos do art. 173, parágrafo único do CTN, cabendo indagar, a partir disso, somente a possibilidade de prescrição. 25
Dessa forma, passados mais de 5 anos da intimação da União da conta de liquidação, sem que tenha se iniciado a execução, haverá prescrição, o que será raro ocorrer, pois o próprio juiz determina, de ofício, o recolhimento dos valores aos cofres públicos.
6.1 PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE
A prescrição intercorrente é aquela que ocorre no curso da execução.
Nesse cenário, o TST entende que não é cabível a prescrição intercorrente na Justiça do Trabalho (súmula 114), enquanto que o STF admite que o direito trabalhista sofra prescrição
24 CASTILHO, Paulo Cesar Baria de. Execução de Contribuição Previdenciária pela Justiça do Trabalho. São Paulo: RT, p. 116. 25 Idem. p.117.
REGINALDO LOURENÇO PIERROTTI JÚNIOR
ISSN (1981-2183) REVISTA INTERAÇÃO | Ano III número 2 2º semestre de 2009 117
intercorrente (súmula 327).
Sobre a prescrição intercorrente ensina Sergio Pinto Martins, in verbis:
A prescrição mencionada no §1º
do art. 884 da CLT só pode ser, porém,
a intercorrente quando a parte alegá-
la nos embargos. Assim, se a própria
CLT regula a matéria, não há como se
aplicar a Lei nº 6.830/1980. (.)
Se não forem localizados bens, o
processo fi cará no arquivo aguardando
provocação, porém irá correr o prazo
de prescrição da execução.
De fato, a prescrição intercorrente é admitida sob o fundamento de que se deve dar segurança às relações jurídicas, impedindo a eternização no tempo.
Assim sendo, caso a União permaneça inerte por mais de 5 anos, contados da data de arquivamento do processo, não há dúvidas de que deverá ser declarada a prescrição da execução.
CONCLUSÃO
No decorrer de cada capítulo procuramos enfatizar a importância da análise da ampliação da competência da justiça do trabalho, dando destaque aos limites impostos pela própria Constituição Federal. Diante das disposições traçadas, podem-se extrair as seguintes conclusões:
a) Através da Emenda Constitucional nº 20 de 1998 foi ampliada a competência
material da Justiça do Trabalho, que
além de conciliar e resolver os litígios
trabalhistas, passou a executar as
contribuições devidas à seguridade social
decorrentes das sentenças que proferir;
b) Essa ampliação foi motivada pelo
incremente da arrecadação tributária,
“apertando o cerco” contra o não
pagamento de tributos;
c) A Emenda Constitucional nº 20/1998
é integralmente compatível com o
ordenamento jurídico pátrio, não havendo
que se falar em inconstitucionalidade;
d) As contribuições sociais possuem
natureza tributária, estando sujeitas ao
regime do direito tributário;
e) A análise da estrutura da norma jurídica
tributária é de fundamental importância
para a compreensão do tema;
f) A competência da justiça do trabalho para
execução das contribuições sociais se
limita àquelas que possuem a sentença
como fato gerador;
g) Somente as contribuições previstas no
art. 195, I, a e II da Constituição Federal
é que são executáveis na Justiça do
Trabalho;
h) As sentenças meramente declaratórias,
como a de reconhecimento de vínculo,
não geram contribuições sociais;
i) Não há que se falar em execução
de contribuição social decorrente do
OS LIMITES DA COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO PARAA EXECUÇÃO DAS CONTRIBUIÇÕES DA SEGURIDADE SOCIAL
118118 REVISTA INTERAÇÃO | Ano III número 2 2º semestre de 2009 ISSN (1981-2183)
reconhecimento de vínculo de emprego, pois nesse caso o fato gerador da contribuição é anterior à sentença;
j) mesmo com a realização de acordo poderá haver incidência e conseqüente execução das contribuições para seguridade social;
k) as partes são livres para transacionar e discriminar as verbas trabalhistas que serão pagas;
l) havendo trânsito em julgado permanecerá a liberdade da discriminação de verbas, porém limitadas pelos pedidos deferidos na sentença;
m) as contribuições devidas a terceiros não podem ser executadas na Justiça do Trabalho, permanecendo a Justiça Federal o foro competente;
n) o prazo de prescrição para execução das contribuições sociais é de 5 anos e conta-se a partir da intimação da União a respeito da conta de liquidação;
o) é aplicável a prescrição intercorrente na execução das contribuições na justiça do trabalho.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALMEIDA, Fernanda Dias Menezes de.
Competência na Constituição de 1988. 2. ed.
São Paulo: Atlas, 2000.
ATALIBA, Geraldo, Hipótese de Incidência
Tributária, 6ª edição, São Paulo: Ed. Malheiros,
2001.
BARROS, Alice Monteiro de. CARMO, Júlio
Bernardo do (coords). Processo de execução
trabalhista aplicado. São Paulo: LTr, 2000.
BARROSO, Luís Roberto. O Direito
Constitucional e a Efetividade de suas Normas
– limites e possibilidades da Constituição
Brasileira. 7ª ed. atual., Rio de Janeiro: Editora
Renovar, 2003.
CARVALHO, Paulo de Barros. Teoria da
Norma Tributária. São Paulo: Editora Max
Limonad, 1998.
Carvalho, Paulo de Barros. Curso de
Direito Tributário. São Paulo: Saraiva. 11ª
Ed. CASTELO, Jorge Pinheiro. ALBINO
NETO, Nelson. Execução das contribuições
previdenciárias na Justiça do Trabalho –
Execução de contribuição previdenciária de
decisão declaratória. 72-04/427, 2008.
CASTILHO, Paulo Cesar Baria de. Execução
de Contribuição Previdenciária pela Justiça do
Trabalho. São Paulo: RT, 2005. CASTRO,
Carlos Alberto Pereira de. A regulamentação
da execução de contribuições sociais. LTr 65-
07/787.
REGINALDO LOURENÇO PIERROTTI JÚNIOR
ISSN (1981-2183) REVISTA INTERAÇÃO | Ano III número 2 2º semestre de 2009 119
CASTRO, Carlos Alberto Pereira de. LAZZARI, João Batista. Contribuição à seguridade social em razão das decisões proferidas pela Justiça do Trabalho e sua execução. Revista LTr, São Paulo, nº 63-02/178, fev. 1999.
DALAZEN, João Oreste. Competência material da justiça do trabalho. São Paulo: LTr, 1994.
MARTINEZ, Wladimir Novaes. Comentários à Lei Básica da Previdência Social, t. I, 3ª ed., São Paulo, LTr, 1998. MARTINS, Sérgio Pinto. Execução da Contribuição Previdenciária na Justiça do Trabalho. 3ª ed. São Paulo: Atlas, 2008. MARTINS, Sérgio Pinto. Direito Processual do Trabalho. 27. ed. São Paulo: Atlas, 2007. OLIVEIRA, Francisco Antonio de. Comentários aos enunciados do TST. 5. ed. São Paulo: RT, 2001.
RAMALHO, Marcos de Queiros. A Pensão Por Morte No Regime Geral da Previdência Social. São Paulo: LTr, 2006. SILVA, Antonio Álvares da. A justiça do trabalho e o recolhimento de contribuições previdenciárias. São Paulo: LTr. 1999. SILVA, José Afonso. Aplicabilidade das normas constitucionais. São Paulo: RT, 1982.
OS LIMITES DA COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO PARAA EXECUÇÃO DAS CONTRIBUIÇÕES DA SEGURIDADE SOCIAL
120120 REVISTA INTERAÇÃO | Ano III número 2 2º semestre de 2009 ISSN (1981-2183)
EDUARDO SANI TEIXEIRA DE ANDRAD, RENAN RICARDO ALVES,THIAGO RANSATO e SERGIO DOS SANTOS CLEMENTE JÚNIOR
ISSN (1981-2183) REVISTA INTERAÇÃO | Ano III número 2 2º semestre de 2009 121
PESQUISA MERCADOLÓGICA DESENVOLVIDA PARA O CLIENTE “O PEDAÇO DA PIZZA” PELA AGÊNCIA EXPERIMENTAL DE PROPAGANDA “QI 180” 1
6
Eduardo Sani Teixeira de Andrade 2
Renan Ricardo Alves 3
Thiago Ransato 4
Sergio dos Santos Clemente Júnior5
PESQUISA MERCADOLÓGICA DESENVOLVIDA PARA O CLIENTE “O PEDAÇO DA PIZZA”PELA AGÊNCIA EXPERIMENTAL DE PROPAGANDA “QI 180”
122 REVISTA INTERAÇÃO | Ano III número 2 2º semestre de 2009 ISSN (1981-2183)
EDUARDO SANI TEIXEIRA DE ANDRAD, RENAN RICARDO ALVES,THIAGO RANSATO e SERGIO DOS SANTOS CLEMENTE JÚNIOR
ISSN (1981-2183) REVISTA INTERAÇÃO | Ano III número 2 2º semestre de 2009 123
RESUMO
O presente artigo foi desenvolvido a partir do Projeto de TCC desenvolvido pela Agência Experimental de Propaganda “QI 180”, formada por alunos da Faculdade das Américas (SP) e defendido perante a banca julgadora do XVII Prêmio Expocom 2010 (categoria Publicidade e Propaganda – Modalidade Pesquisa Mercadológica) da Intercom Regional Sudeste, no mês de maio na cidade de Vitória / ES. A Campanha Publicitária ora apresentada faz parte de um planejamento de comunicação baseado no estudo de mercado completo para o cliente “O Pedaço da Pizza”. Neste texto é apresentada a síntese das ações desenvolvidas para o referido cliente em Pesquisa Mercadológica. O Projeto de TCC foi apresentado, defendido e aprovado (por banca de professores e profi ssionais do mercado publicitário) em dezembro de 2009 nas instalações da Faculdade.
Palavras-chave: 1. Comunicação. 2. Publicidade. 3. Propaganda. 4. Pesquisa Mercadológica. 5. Cliente: “O Pedaço da Pizza”.
1 Artigo originário do Projeto de Conclusão de Curso apresentado à coordenação do Curso de Comunicação Social da Faculdade das Américas e submetido ao XVII Prêmio Expocom 2010, na Categoria Publicidade e Propaganda, modalidade Pesquisa Mercadológica. 2 Aluno do 8º semestre do Curso de Comunicação Social com Habilitação em Publicidade e Propaganda em 2009, e-mail: [email protected] 3 Aluno do 8º semestre do Curso de Comunicação Social com Habilitação em Publicidade e Propaganda em 2009, e-mail: [email protected] 4 Aluno do 8º semestre do Curso de Comunicação Social com Habilitação em Publicidade e Propaganda em 2009, e-mail: [email protected] 5 Orientador do Trabalho. Mestre em Hospitalidade e Professor do Curso de Comunicação Social com Habilitação em Publicidade e Propaganda da Faculdade das Américas, e-mail: [email protected]
PESQUISA MERCADOLÓGICA DESENVOLVIDA PARA O CLIENTE “O PEDAÇO DA PIZZA”PELA AGÊNCIA EXPERIMENTAL DE PROPAGANDA “QI 180”
124 REVISTA INTERAÇÃO | Ano III número 2 2º semestre de 2009 ISSN (1981-2183)
INTRODUÇÃO
O Pedaço da Pizza é um estabelecimento que oferece em sua essência um serviço de alimentação de forma rápida, prática e saborosa. Da sua fundação e até hoje, a proposta tem sido apresentar aos seus consumidores um serviço de alimentação clássica - a Pizza, mas de maneira a ser conhecida pelo público, porém de uma forma diferenciada.
A proposta de servir a pizza em pedaços já não era novidade no Brasil, bares e padarias já faziam uso deste serviço, e em outros países também já se comercializavam pizza dessa forma, nos EUA e na Itália já existia o slice ea pizza al taglo, respectivamente.
Essa busca pela forma inusitada de servir o produto infl uenciou na defi nição de um público-alvo: os jovens que buscavam um produto que fosse de qualidade, porém rápido no preparo e prático no consumo, evitando fi las indesejáveis.
Atualmente, com um produto já conhecido e reconhecido na cidade de São Paulo, tanto pelo público quanto por importantes veículos de comunicação especializados em Gastronomia e Entretenimento (como a Veja São Paulo e o Guia da Semana), constitui uma camada relevante de aceitação dentro daqueles que apreciam seu principal produto: a pizza.
A rede possui quatro lojas na cidade São Paulo, duas na Rua Augusta (na região da Av. Paulista), uma loja no bairro do Itaim Bibi e a primeira franquia localizada no bairro do
Paraíso.
1 OBJETIVOS DO CLIENTE
Foram defi nidos dois objetivos pelo cliente nos quais a campanha publicitária planejada foi baseada.
Objetivo de Marketing - Atingir 70% de reconhecimento de marca (branding) dos clientes já freqüentadores do “O Pedaço da Pizza”.
Objetivo Financeiro - Referindo-se ao PDV (Ponto de Venda), consiste em aumentar em 26% o faturamento líquido, o que representa R$60 mil/mês.
2 JUSTIFICATIVA
Com base nas orientações do cliente a agência desenvolveu uma pesquisa de mercado que embasou toda a criação de conceito e peças que formatam a campanha, cujo principal objetivo foi a busca do reforço da marca junto aos clientes já freqüentadores da casa e também os que circulam no entorno das lojas.
Nesse artigo é apresentado o detalhamento das Pesquisas realizadas para o cliente, que complementa e dá embasamento para todas as ações propostas pela agência na Campanha Publicitária desenvolvida.
Para melhor embasar as ações propostas pela agência, foram desenvolvidas três Pesquisas de Campo para melhor conhecimento do público alvo do cliente: 1) Pesquisa sobre
EDUARDO SANI TEIXEIRA DE ANDRAD, RENAN RICARDO ALVES,THIAGO RANSATO e SERGIO DOS SANTOS CLEMENTE JÚNIOR
ISSN (1981-2183) REVISTA INTERAÇÃO | Ano III número 2 2º semestre de 2009 125
os Concorrentes; 2) Pesquisa interna com os consumidores das lojas; e 3) Pesquisa com público potencial.
3 MÉTODOS E TÉCNICAS UTILIZADOS
a) Pesquisa sobre os Concorrentes - A pesquisa foi realizada em setembro de 2009 com o total de 86 concorrentes diretos e indiretos do “O Pedaço da Pizza”, usando-se como critério para classifi car como concorrentes diretos os locais que comercializam pizza e como indiretos outros tipos de alimento pronto para o consumo. Objetivo – Diagnosticar e caracterizar os concorrentes diretos e indiretos das quatro lojas (Paraíso, Itaim Bibi, Bela Vista e Jardins). Método de Pesquisa Utilizado – Utilizamos o método de pesquisa observatória humana, que consiste no registro do observado apenas dispondo o observador de papel e caneta. A observação foi feita de maneira não disfarçada, para desta forma a pesquisa não sofrer infl uência devido à presença do observador.
b) Pesquisa interna com os consumidores das lojas - Realizada em Setembro de 2009, essa pesquisa teve como elemento observado os consumidores dos serviços de alimentação fornecidos pelo “O Pedaço da Pizza” nas quatro lojas principais da rede.
Objetivo - Identifi car o perfi l do público do “O Pedaço da Pizza”, seus hábitos de consumo e de mídia, além de identifi car qual o conhecimento que eles têm da marca e a sua
avaliação quanto aos serviços prestados pelas lojas.
Método de Pesquisa Utilizado - Esse pro-jeto foi realizado através do método de pesqui-sa conclusiva descritiva, sendo o questionário aplicado dentro das lojas do O Pedaço da Pizza visando uma maior versatilidade pelo contato pessoal entre o entrevistador e o entrevistado, não deixando assim, dúvidas em questões mais complexas, com isso obtendo maior qualidade nos dados obtidos. A amostragem da pesquisa foi feita utilizando o tipo de amostragem não pro-babilística, em que a seleção dos elementos da população para compor a amostra depende, ao menos em parte, do julgamento do pesquisador ou do entrevistador no campo. Optamos pelo método não probabilístico por entender que é inviável identifi car quais são os consumidores do “O pedaço da pizza” (população) dentro de um universo geral e com isso sortear a amostra para que pudesse ser probabilística, tendo como solução realizar a pesquisa com uma amostra não probabilística. (MATTAR, 2005). Quanto ao tipo de amostra não probabilística foi utilizado o método por cotas que constitui em um tipo es-pecial de amostra intencional, onde se procura obter uma amostra que seja similar, sob alguns aspectos, a população. Dessa forma optamos por realizar a pesquisa dentro das lojas dividin-do a população amostral igualmente entre as 4 lojas da rede. Para reduzir a possibilidade de viés na pesquisa foi feita à divisão também por horários e dias da semana, ao todo foram entrevistadas 100 pessoas, sendo 25 por loja.
PESQUISA MERCADOLÓGICA DESENVOLVIDA PARA O CLIENTE “O PEDAÇO DA PIZZA”PELA AGÊNCIA EXPERIMENTAL DE PROPAGANDA “QI 180”
126 REVISTA INTERAÇÃO | Ano III número 2 2º semestre de 2009 ISSN (1981-2183)
c) Pesquisa com público potencial - Essa pesquisa teve como principal motivo a análise do comportamento do público freqüentador das regiões das lojas, levando em consideração aspectos de estrutura comercial de cada região, proximidade com casas de cultura e espetáculos, proximidade com o sistema público de transporte do Metrô, acesso fácil à loja e possíveis infl uencias de redes de fast food na escolha do local de refeição.
Objetivo - O objetivo da pesquisa externa foi identifi car quais são as características principais do público potencial do “O Pedaço da Pizza” e com posse dessas informações direcionar para esse público uma comunicação efetiva a fi m de atraí-los as lojas da rede.
Método de Pesquisa Utilizado - A pesquisa foi realizada através do método conclusivo-descritiva. Afi m de buscar um menor índice de dispersão em relação ao perfi l do público potencial do “O Pedaço da Pizza”, o questionário aplicado próximo às lojas da rede, o que pôde verifi car que o público freqüentador não percorre grandes distâncias para ir até as lojas.
A pesquisa foi realizada utilizando o método de amostragem probabilística, (também conhecida de randômica ou aleatória) que é caracterizada pelo conhecimento da probabilidade de cada elemento da população possa ser selecionado para compor a amostra.(MATTAR, 2007). Para determinar o tamanho da amostra utilizamos a amostragem aleatória simples que segundo
Mattar (2007), caracteriza-se pelo fato de cada elemento da população ter probabilidade conhecida, diferente de zero, e idêntica à dos outros elementos de ser selecionado para fazer parte da amostra. Considerando a população infi nita e com distribuição dicotômica, ou seja, dividida em duas partes (consomem e não consomem) determinamos a amostra utilizando a seguinte fórmula, com um nível de confi abilidade de 95%:
n= 4NPQ e
2 (N-1) + Z
2PQ
Onde:
n = número de elementos da amostra a ser pesquisada
4 = Z2, onde Z é o valor padrão determinado
para os casos particulares de confi abilidade, sendo esse de 95% o valor de Z=2.
N = número de elementos da população (para populações fi nitas). Não se aplica.
P= proporção de ocorrência da variável em estudo na população (consome no o pedaço da pizza). Devido ao não conhecimento desse valor determina-se 50%.
Q = proporção de não-ocorrência da variável em estudo na população (não consome no o pedaço da pizza). Devido ao não conhecimento desse valor determina-se 50%.
EDUARDO SANI TEIXEIRA DE ANDRAD, RENAN RICARDO ALVES,THIAGO RANSATO e SERGIO DOS SANTOS CLEMENTE JÚNIOR
ISSN (1981-2183) REVISTA INTERAÇÃO | Ano III número 2 2º semestre de 2009 127
e = precisão da amostra ou erro
máximo admitido (valor absoluto).
Determinado 0,1
Substituindo as variáveis pelos valores
determinado chegamos à seguinte estrutura:
n= 4X0,50X0,50 0,10
2
Chegamos ao seguinte resultado para
amostragem:
n= 1 = 100 pessoas 0.01
4 DESCRIÇÃO DO PRODUTO OU PROCESSO
a) Pesquisa sobre os Concorrentes - O
primeiro passo para a realização da pesquisa
foi defi nirmos como concorrentes todos os
estabelecimentos com a distância dentro do um
raio de 1 km em relação às lojas do “O pedaço
da Pizza”, para estabelecer este critério foram
utilizados os seguintes itens:
Tempo de horário de almoço;
Distância a ser percorrida em relação ao
local de partida;
Diversidade de outros locais para
alimentação;
Proximidade dos pontos turísticos;
Proximidade dos pontos comerciais;
Proximidade as casas noturnas.
O resultado da pesquisa foi apresentado
de forma consolidada e segmentada por loja,
sendo esclarecedor para visualizar a situação detalhada de cada loja da rede, conforme resumo abaixo:
Análise da Loja - Paraíso - Nesta avaliação foi possível observar que a região conta com 28 (82%) concorrentes, avaliados entre ótimo e bom, isso demonstra a concorrência acirrada na região e a necessidade de uma comunicação assertiva.
Análise da Loja - Itaim Bibi -São 29 estabelecimentos avaliados entre ótimo e bom, que representam 85% dos concorrentes da região. Esse alto percentual demonstra que o consumidor tem diversas opções em gastronomia, característica dessa região de São Paulo, com isso a necessidade de uma comunicação direcionada para a região.
Análise da Loja - Bela Vista - Localizada na rua augusta, região de grande movimento e sendo a loja que tem maior representatividade no faturamento do cliente, por isso é uma loja estratégica para empresa. Diferente das outras regiões foi possível perceber que esta é a loja que possui o maior número de concorrentes diretos, além da boa avaliação, já que 9 estão
PESQUISA MERCADOLÓGICA DESENVOLVIDA PARA O CLIENTE “O PEDAÇO DA PIZZA”PELA AGÊNCIA EXPERIMENTAL DE PROPAGANDA “QI 180”
128 REVISTA INTERAÇÃO | Ano III número 2 2º semestre de 2009 ISSN (1981-2183)
classifi cados como ótimos e bons e nenhum
como péssimo.
Análise da Loja - Jardins - Esta região
foi a que apresentou o menor número de
concorrentes apenas 4, que foram classifi cados
como indiretos por não venderem pizzas. Dos
estabelecimentos avaliados, 3 se enquadraram
entre ótimo e bom e 1 foi classifi cado como
péssimo. Podemos ver que esta região é carente
de estabelecimentos no setor alimentício, pois
é mais voltada ao segmento vestuário, por
isso a comunicação pode tornar a loja referência
da região.
Análise geral dos concorrentes - Concluímos que no total das 4 regiões existem
19 concorrentes diretos e 67 indiretos. A
avaliação geral dos concorrentes apresentou
quase 80% de classifi cação entre ótimo e
bom, ou seja, uma concorrência altamente
qualifi cada, considerando os parâmetros
avaliados.
b) Pesquisa interna com os consumidores das lojas - Com a interpretação geral da pesquisa chegamos aos seguintes resultados:
Quem é o público - alvo? O público que freqüenta as lojas tem idade de 16 a 36 anos, com auto poder aquisitivo e altamente instruído;
O que gosta de fazer? As atividades de lazer mais realizadas pelo público-alvo são: ir ao cinema, ouvir músicas e ler livros, com destaque também a ir a bares, shoppings, museus e teatros;
Quais são as mídias mais utilizadas? Os meios de comunicação estão presentes no cotidiano do público alvo e os canais mais utilizados são: internet, rádio e televisão;
Qual é o conhecimento da marca do O Pedaço da Pizza? Do total entrevistado 61% dos freqüentadores da loja reconheceram o logo da rede e 39% não conheciam ou não reconheceram a marca.
Por que freqüentam as lojas? Duas razões tiveram destaque entre todas que levam o público a freqüentar as lojas, são elas: Indicação de amigos e vontade de comer pizza.
O que o cliente espera do serviço e qual sua avaliação? Sobre o que o cliente espera do serviço ao ir ao pedaço da pizza o item mais importante foi a qualidade e o sabor dos produtos, seguido pelo atendimento de qualidade e ambiente e estrutura da loja. O Pedaço da Pizza teve como ponto forte a qualidade da pizza, horário de atendimento e localização, itens avaliados entre bom e ótimo.
EDUARDO SANI TEIXEIRA DE ANDRAD, RENAN RICARDO ALVES,THIAGO RANSATO e SERGIO DOS SANTOS CLEMENTE JÚNIOR
ISSN (1981-2183) REVISTA INTERAÇÃO | Ano III número 2 2º semestre de 2009 129
Porém, a forma de pagamento não agrada,
e a forma de comer com as mãos têm uma
avaliação ruim, principalmente entre o público
feminino.
c) Pesquisa com público potencial -Com
a interpretação geral da pesquisa realizado com
o público potencial chegamos aos seguintes
resultados:
Quem é o público potencial? O público
que freqüenta a região das lojas tem idade entre
16 a 34 anos, com grande grau de instrução e
cultura, sendo em sua maioria masculino com
alto poder aquisitivo.
De onde são e como chegam até a região onde estão as lojas? Esses potenciais
consumidores estão concentrados em sua
maioria nas regiões Sul e Leste de São Paulo.
O meio de transporte mais utilizado para
freqüentarem a região das lojas são Metrô e
carro.
Quais são as mídias mais utilizadas? Os meios de comunicação estão presentes
no cotidiano do público alvo e os canais mais
utilizados são: internet, rádio e celular;
O que fazem como lazer? Este público tem
como principal atividade de lazer ir a shoppings,
cinema e ouvir música.
E na internet, o que fazem? Na internet
esse público busca informações de interesse
pessoal e também lêem notícias nacionais e
internacionais. A maior parte desses usuários
acessa sites de busca, como o Google.
Conhecem a marca? O público freqüentador
da região não conhece o logo da marca O
Pedaço da Pizza, entretanto eles o associaram
como sendo de uma pizzaria.
Por que nunca consumiram na loja? Foi identifi cado que a maior parte dos
pesquisados não conhecem a loja, por isso,
nunca consumiram no O Pedaço da Pizza. Já
os que conhecem a loja não tiveram interesse
em consumir o produto e também avaliaram o
preço como um fator decisivo em não consumir
na loja.
O que o público avalia como um serviço de qualidade? Sobre o que o público espera
para se ter um serviço de qualidade o item
mais importante foi à qualidade e o sabor
dos alimentos, seguido pelo atendimento de
qualidade e ambiente e estrutura da loja.
Alimenta-se nessa região (questão realizada próxima as lojas)? Grande maioria
dos entrevistados possui o hábito de se alimentar
nessa região sendo que os principais locais
de preferência são restaurantes, lanchonetes
e padarias. Este mesmo público não tem o
costume de freqüentar o mesmo local e gastam
em média de R$ 10,00 a R$ 20,00.
Qual o motivo de se alimentar nessa região (questão realizada próxima as lojas)? Os freqüentadores das regiões próximas ao
O Pedaço da Pizza consomem pizza quando
estão trabalhando ou estudando, tendo como
preferência sexta-feira no período noturno.
Essa preferência se dá porque gostam muito
PESQUISA MERCADOLÓGICA DESENVOLVIDA PARA O CLIENTE “O PEDAÇO DA PIZZA”PELA AGÊNCIA EXPERIMENTAL DE PROPAGANDA “QI 180”
130 REVISTA INTERAÇÃO | Ano III número 2 2º semestre de 2009 ISSN (1981-2183)
de pizza e também para mudar a rotina em sua
alimentação. Este consumo ocorre em grande
parte uma vez por semana;
O que come nessa região? Identifi camos
que a maioria dos freqüentadores não
consomem pizza nas regiões da loja, tendo
como preferência refeições tradicionais e
lanches.
CONSIDERAÇÕES
A partir dos objetivos defi nidos pelo cliente e
o plano de comunicação, desenvolvemos todo
o planejamento baseado em ações para atingir
os resultados esperados mensurando cada
etapa do projeto.
Conhecimento da marca e crescimento
de receita são os dois propósitos desse plano
e para isso utilizamos mais do que apenas a
escolha de meios e canais, mas sim explorando
todas as possibilidades e o modo de utilizar
determinados meios de divulgação na busca de
um melhor resultado. Cada etapa da campanha
é sustentada pela etapa anterior, com o objetivo
de mantê-la amarrada do inicio ao fi m e
presente na lembrança do consumidor durante
todo o período de sua veiculação.
Para impactarmos o target na hora certa e
no momento certo, resolvemos dividir o público
em três grupos, funcionários, clientes e público
potencial, assim conseguimos desenvolver
ações voltadas para cada público citado e com
isso mais direcionamento e menor dispersão da
mensagem.
Para termos a precisão de quem era cada
grupo, recorremos às pesquisas realizadas
na internet, no interior das lojas e na região
que a circunda. Com isso descobrimos seus
comportamentos, preferências, costumes e
consumo de mídia, então a partir desses dados
escolhemos os locais e formas mais pertinentes
para impactar cada grupo, tendo assim uma
comunicação direcionada e segmentada.
Após realizarmos as três pesquisas de
campo foi possível mapear as principais
fraquezas e oportunidades do cliente, utilizando
essas informações como premissa para todas
as ações propostas no plano de comunicação,
garantindo assim ao projeto de campanha uma
base sólida e segura. Com isso transmitimos
ao cliente a segurança necessária para investir
seu budget tendo a visão clara do propósito e o
retorno esperado em cada ação.
No total foram desenvolvidas 16 ações
dividas entre os três grupos. As primeiras ações
serão direcionadas aos funcionários, onde
trabalharemos o endomarketing, previstas para
Janeiro a Março, na seqüência, logo após o
trabalho de qualifi cação dos funcionários e
previstas para o mês de Abril, seguem as ações
no ponto de venda visando a fi delização dos
clientes das lojas, ações essas que seguem
até Dezembro. As ações de mídia buscando o
público potencial foram previstas para serem
executadas em datas sazonais entre o período
de Julho e Dezembro. Algumas ações serão
executadas no mesmo período que outras,
EDUARDO SANI TEIXEIRA DE ANDRAD, RENAN RICARDO ALVES,THIAGO RANSATO e SERGIO DOS SANTOS CLEMENTE JÚNIOR
ISSN (1981-2183) REVISTA INTERAÇÃO | Ano III número 2 2º semestre de 2009 131
mas foram planejadas não vão interferir nos resultados umas das outras, mas sim se complementar.
As ações foram desenvolvidas seguindo o conceito que a agência QI180 preza, que é tornar a publicidade um fato relevante e marcante na vida das pessoas, seja com emoção, alegria ou curiosidade. Por isso todas as ações são diferenciadas e ao mesmo tempo com grande valor agregado, são extremamente segmentadas e com baixa dispersão.
Após toda a campanha ainda faremos uma nova pesquisa com o público interno para avaliar o resultado das ações e mensurar se o recall de marca aumentou, que é um objetivos iniciais do cliente.
Acreditamos que com a verba disponível e a oportunidade oferecida pelo “O Pedaço da Pizza”, desenvolvemos esse planejamento de forma ousada e certeira, esperando que os resultados obtidos serão melhores do que os estimados e que mais do que receita e recall de marca, com essa campanha vamos atender às expectativas de nosso cliente, para o qual aqui registramos o nosso profundo agradecimento por nos confi ar a sua marca para o estudo ora apresentado.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
DIAS, Edson de Paiva. Projeto Experimental de Propaganda. São Paulo: Editora Iglu, 2005.
KOTLER, Philip. Administração de Marketing 10º ed. São Paulo: Editora Pearson, 2002.
MATTAR, Fauze Najib. Pesquisa de Marketing 4°edição. São Paulo editora Atlas, 2007.
TOMANARI, Silvia Assumpção do Amaral. Segmentação de mercado com enfoque em valores e estilo de vida, 2003
PESQUISA MERCADOLÓGICA DESENVOLVIDA PARA O CLIENTE “O PEDAÇO DA PIZZA”PELA AGÊNCIA EXPERIMENTAL DE PROPAGANDA “QI 180”
132 REVISTA INTERAÇÃO | Ano III número 2 2º semestre de 2009 ISSN (1981-2183)
MARCOS ANTONIO LUCCI
ISSN (1981-2183) REVISTA INTERAÇÃO | Ano III número 2 2º semestre de 2009 133
UM ESTUDO SOBRE AS PROPOSTAS DE SKINNERE AS DE VYGOTSKY:A CONTRIBUIÇÃO DE UMA APROXIMAÇÃO 1
7
Marcos Antonio Lucci2
UM ESTUDO SOBRE AS PROPOSTAS DE SKINNER E AS DE VYGOTSKY: A CONTRIBUIÇÃO DE UMA APROXIMAÇÃO
134 REVISTA INTERAÇÃO | Ano III número 2 2º semestre de 2009 ISSN (1981-2183)
MARCOS ANTONIO LUCCI
ISSN (1981-2183) REVISTA INTERAÇÃO | Ano III número 2 2º semestre de 2009 135
RESUMO
Formar profi ssionais que possam atuar de forma ética no atendimento a população, proporcionando-lhes saberes que os habilitem a promover transformações sociais, sempre norteou nossa prática docente. Na busca de subsídios para nossas aulas, deparamos com semelhanças entre os postulados teóricos de Skinner e Vygotsky, o que nos suscitou uma refl exão sobre pontos de aproximação entre eles. Essa possibilidade de aproximação nos levou ao seguinte questionamento: em que a aproximação entre as abordagens de Skinner e de Vygotsky poderá contribuir para enriquecer e aprimorar os conhecimentos da psicologia da educação? Por constituir um estudo teórico recorremos à bibliografi a disponível dos autores estudados e de outros estudiosos que desenvolveram trabalhos sobre as propostas analisadas. Os dados encontrados sobre as suas teorias revelam que elas se aproximam em vários pontos, mas o principal deles, sem dúvida, consiste em que os autores abordados consideram que é por meio da interação entre o homem e seu meio, isto é, com o social, mediada pela linguagem, que ele se constrói como tal. Os resultados apontam para a necessidade de que mais estudos deste tipo sejam realizados, oportunizando, desse modo, maior amplitude na compreensão das teorias da psicologia da educação, visando à melhor fundamentação do trabalho educacional.
Palavras-chave: 1. Psicologia da Educação; 2. Formação de professores; 3. Fundamentação do trabalho educacional; 4. Behaviorismo Radical; 5. Teoria Sócio-histórica.
A STUDY ON THE PROPOUSED SKINNER AND VYGOTSKY: THE CONTRIBUTION OF NA APPROACH
1 Texto elaborado com base na tese de doutorado do autor em Psicologia da Educação, sob a orientação da Profª Drª Maria Laura Puglisi Barbosa Franco. 2 Doutor em Psicologia da Educação. Professor da Faculdade das Américas (São Paulo – SP). E-mail: [email protected]
UM ESTUDO SOBRE AS PROPOSTAS DE SKINNER E AS DE VYGOTSKY: A CONTRIBUIÇÃO DE UMA APROXIMAÇÃO
136 REVISTA INTERAÇÃO | Ano III número 2 2º semestre de 2009 ISSN (1981-2183)
ABSTRACT
To graduate useful professionals to society that can act in an ethic way for attending the most part of the population offering them knowledge that enables them to promote social changes, always guided our teaching practice. In searching aids for our lessons, we came across resemblances between Skinner and Vygotsky’s theorical postulates that raised us a refl exion on the points of approaches between them. This led us to the following inquiry: in which aspects could these mentioned authors collaborate to enrich and to improve of the educational psychology? Our study is theoretical and for us to reach the proposed objectives we ran over the authours’ available bibliography and of others studious that developed works on the analyzed proposals. The data found in their theories reveal that though they come close in several aspects, the most important one, however, is, what the authours consider: it is through the interaction between the man and your social ambient, mediated by language, that man constitutes himself. The results point out for the need of accomplishing more of this kind of studies so that we could have better background for educational purpose.
Key-Words: 1. Educacional psychology; 2. Theacer training; 3. Grounds of educational work; 4. Radical Behaviorism; 5. Socio-historical theory.
MARCOS ANTONIO LUCCI
ISSN (1981-2183) REVISTA INTERAÇÃO | Ano III número 2 2º semestre de 2009 137
REFLEXÃO E DISCUSSÃO
Ao entramos em contato com o universo teórico de Skinner e Vygotsky, nos deparamos com semelhanças entre seus postulados. Ainda que de forma não tão clara, percebíamos semelhanças entre eles, o que nos suscitou uma refl exão sobre pontos de contato entre esses dois autores. Ao aprofundar nossa refl exão, detectamos aspectos em seus postulados que, ao nosso ver os aproximavam: ambos, por exemplo, admitem que o social é um dos principais determinantes do indivíduo; que é a partir das interações com o meio que o indivíduo é determinado, e que a linguagem é o principal mediador dessas interações. Tais convergências geraram nosso interesse pelo que consideramos “aproximação” entre esses autores, representantes da psicologia contemporânea, que, descontentes com os rumos dessa disciplina em sua época, defenderam a adoção de uma psicologia cujo destaque são os processos sociais.
A partir de tal refl exão, foi surgindo o corpo deste trabalho: uma análise aproximativa entre as teorias. Essa análise teve por objetivo contribuir para a ampliação das possibilidades teóricas na fundamentação do trabalho educacional, funcionando como um elemento a mais para a refl exão crítica sobre a coexistência de vários paradigmas que permeiam o campo da psicologia educacional e, também, o aprimoramento da formação de profi ssionais da educação, por trazer à mesa de discussões
uma outra leitura das propostas em tela.
Esclarecemos que, quando nos propomos fazer uma análise aproximativa entre os autores em questão, não estamos igualando suas teorias, nem tampouco superando suas diferenças ou unifi cando as propostas. Temos claro que elas não são iguais, pois foram geradas e gestadas em épocas diferentes e por homens pertencentes a culturas distintas. Vale, ainda, salientar que, neste estudo, aproximação é entendida como o ato de pôr lado a lado, tornar próximo ou mais próximo, pensamentos aparentemente diferentes. É, também, entendida como o estabelecimento de relações ou pontos de semelhança entre pensamentos aparentemente díspares.
Quanto à escolha desses autores em particular e, conseqüentemente, de suas teorias, prendeu-se, além das razões ligadas à origem do presente estudo, ao fato da importância de cada um deles para a área da psicologia da educação.
Por ser um estudo de cunho teórico, para atingir os objetivos propostos recorremos a bibliografi a disponível dos próprios autores e de outros que desenvolveram trabalhos sobre as propostas analisadas, bem como de nossas anotações particulares de cursos que freqüentamos, para complementar as idéias desenvolvidas no presente estudo. A seleção do material do qual foram extraídos os dados para análise pretendida, obedeceu ao critério de abordar os aspectos gerais e relevantes das
UM ESTUDO SOBRE AS PROPOSTAS DE SKINNER E AS DE VYGOTSKY: A CONTRIBUIÇÃO DE UMA APROXIMAÇÃO
138 REVISTA INTERAÇÃO | Ano III número 2 2º semestre de 2009 ISSN (1981-2183)
teorias. Como resultado, foram selecionadas, como material principal, cinco teses de doutorado; duas dissertações de mestrado; dois artigos e seis livros que versam sobre as teorias envolvidas neste estudo. O material selecionado foi assim distribuído:
a) Sobre a proposta de Skinner foram selecionadas quatro teses de doutoramento que abordam: as raízes fi losófi cas de seu pensamento; a trajetória da construção do seu sistema explicativo; as propostas metodológicas que orientam seu sistema explicativo, e uma análise que o aproxima de Bakhtin na questão do estudo da linguagem. Foram também selecionados dois artigos do próprio autor. Um deles apresenta, de forma sistematizada, a sua proposta para a compreensão do comportamento. O outro, é um artigo autobiográfi co. Quanto aos livros, foram escolhidos dois, um que apresenta seus estudos sobre o comportamento e os eventos privados e, um segundo, que explicita os fundamentos de sua proposta de uma Ciência do Comportamento;
b) Sobre a proposta de Vygotsky destacamos a escolha de duas dissertações de mestrado que, respectivamente, tratam da função do fator social nos processos de desenvolvimento e de aprendizagem, numa perspectiva interacionista, e de uma refl exão, a partir da obra do autor, sobre a
questão da subjetividade e a constituição do sujeito. Foi também selecionada uma tese de doutoramento que analisa as relações entre os processos biológicos e os culturais, mediados pela fala, na teoria histórico-cultural. Foram escolhidos três livros, sendo dois do próprio autor. Tais livros abordam a história pessoal do autor; a contribuição da abordagem sócio-histórica vygotskyana para a psicologia da educação; a formação e o desenvolvimento das funções psicológicas superiores, e os problemas teórico-metodológicos da psicologia, bem como uma análise histórica da psicologia.
Selecionadas as obras segundo o critério descrito, passamos a leitura e ao fi chamento das mesmas. A partir da leitura foram identifi cados e transcritos trechos que discutiam as concepções sobre a proposta teórica dos autores e seus objetos de estudo. Tais trechos, que são compostos por parte de parágrafos, parágrafos completos ou um conjunto de parágrafos, constituíram a fonte de dados para nossas análises, bem como de material para citações no corpo de nossa comunicação fi nal.
Os dados analisados foram categorizados em dados pessoais e dados teóricos, os quais geraram aproximações em três níveis: no pessoal, no da ancoragem epistemológica e no das propostas teóricas, estruturados em quatro partes, assim distribuídas:
a) Uma parte na qual é explorada uma
MARCOS ANTONIO LUCCI
ISSN (1981-2183) REVISTA INTERAÇÃO | Ano III número 2 2º semestre de 2009 139
pequena biografi a dos autores com o objetivo de contextualizá-los no tempo e espaço, para que suas propostas teórico-metodológicas possam ser melhor compreendidas. Esta parte é concluída com a análise aproximativa de nível pessoal;
b) Uma segunda parte em que é apresentada a proposta teórica de cada um dos autores;
c) Uma outra parte, na qual são discutidas três concepções epistemológicas – o objetivismo, o subjetivismo e o interacionismo. Como fi nalização, temos a segunda análise aproximativa, a do nível de ancoragem epistemológica;
d) Finalizando, elaboramos uma parte que aborda as aproximações no nível das propostas teóricas e as considerações acerca das possíveis contribuições deste estudo.
Como resultado fi nal, temos que no plano pessoal, apesar da distância temporal e, principalmente, cultural entre eles, visualizamos que tanto Skinner quanto Vygotsky produziram, literalmente, até seus últimos dias de vida. Skinner, um dia antes de falecer, encerra aquele que seria seu último artigo “Can psychology be a science of mind?”,e Vygotsky, em seu leito de morte, ainda ditava suas idéias para seus colaboradores. Ambos são oriundos de famílias que valorizavam o hábito da leitura, permitindo-lhes, com isso, adquirir uma boa bagagem
cultural. Consta que o pai de Skinner era um fanático por livros e mantinha em sua casa uma vasta biblioteca que incluía desde livros sobre jogos, literatura, história mundial, até fi losofi a, direito e alguns volumes de psicologia que, na lembrança de Skinner, eram graciosamente encadernados e tinham capas azuis. Já a família de Vygotsky tinha por objetivo tornar-se uma das mais cultas das famílias da cidade onde vivam e, para o atingimento desta meta, organizaram uma biblioteca pública que era utilizada por seus fi lhos e colegas. São dois autores que partilham da mesma formação inicial – formam-se na área de Letras: Skinner, em Inglês e Vygotsky, em Literatura – antes de migrarem para os estudos de psicologia. Exerceram igualmente a função de professor, assim como pertenceram a movimentos intelectuais de vanguarda, com propostas avançadas sobre uma nova psicologia: Skinner com sua Ciência do Comportamento e Vygotsky com sua Psicologia Sócio-histórica.
Com relação ao plano epistemológico, entendemos, diante dos dados levantados, que os autores têm como ponto de ancoragem a matriz epistemológica interacionista – aqui entendida como ação recíproca ou reciprocidade que implica troca ou permuta, ou seja, é a conexão (ligação/relação) entre dois termos, que resulta em um todo organizado -, salvaguardando que cada um dos autores entende o materialismo
3, que dá consistência e
sustentação a essa matriz, de forma diferente. Vygotsky entende como um materialismo
UM ESTUDO SOBRE AS PROPOSTAS DE SKINNER E AS DE VYGOTSKY: A CONTRIBUIÇÃO DE UMA APROXIMAÇÃO
140 REVISTA INTERAÇÃO | Ano III número 2 2º semestre de 2009 ISSN (1981-2183)
histórico dialético4, já Skinner adota o
materialismo que tem por base o empirismo
lógico ou fi sicalista5, cuja idéia central é a de que
a linguagem da física constitui um paradigma
para todas as ciências naturais6, mas que não
implica na afi rmação da existência da matéria e
nem na dedução das leis psicológicas.
Pelos dados levantados, notamos que
a proposta de Skinner caminha no sentido
do interacionismo, isto é, o seu objeto de
estudo, o comportamento, refl ete exatamente
essa idéia de troca, de relação. Para esse
autor, comportamento é uma atividade do
organismo (animal, incluindo os homens), que
mantém trocas/relações com o ambiente, ou
seja, o comportamento é produto da relação
organismo-ambiente, segundo a qual não
está nem no pólo do organismo (sujeito), nem
no do ambiente a sua determinação, mas nas
relações contextuais ou sociais, que o faz
emergir, como produto. Já, a obra de Vygotsky
nasce sobre a égide do interacionismo. Por
entender que o homem é quem constrói a sua
própria cultura, ele pondera que os processos
psicológicos são de origem e natureza social.
Na sua visão, o homem é moldado pela cultura
que ele próprio cria. Nesse sentido, o homem é
determinado nas e pelas interações. É por meio
da relação com o outro e por ela que o indivíduo
é determinado.
Vale ressalvar que a postura interacionista
de Vygotsky não é partilhada por todos os
seus seguidores. Há autores, tal como Davis
(1993)7
que aponta que no sentido estrito do
termo interacionismo, Vygotsky não pode
ser qualifi cado como tal por não ter defi nido
em seus estudos a contribuição do sujeito
para a transformação do seu meio, o que,
conseqüentemente, levou-o a não elaborar
adequadamente o papel do sujeito na sua
teoria. Nesse mesmo sentido, poderíamos
dizer que Skinner também não se enquadra
neste modelo, em função de sua crença
de que o organismo age sobre o ambiente,
modifi cando-o e, por sua vez, é modifi cado pelas
conseqüências de sua ação. Nesta perspectiva,
3 Doutrina que reduz toda a realidade à materialidade das coisas, que somente passam a ter existência a partir das
relações que são estabelecidas entre o homem e o seu meio. Ou seja, o materialismo nega a existência de uma alma ou uma substância pensante que dê existência às coisas à priori.
4 Doutrina que tem por base o pensamento de Marx e
Engels. Segundo essa postura, o homem é fruto das relações dinâmicas que são estabelecidas entre ele e o seu meio. Os indivíduos e o meio são partes integrantes da mesma dinâmica, que é marcada pelas condições do contexto no qual essas relações ocorrem.
5 Skinner parte de um materialismo não-histórico e não dialético para explicar o seu objeto de estudo, o
comportamento, como sendo resultado de interações que ocorrem num ambiente externo ou interno – os quais considera como sendo material ou físico – e não num plano metafísico, que é como ele entende o plano mental.
6 Vale lembrar que a
Ciência do Comportamento proposta por Skinner pertence ao ramo das ciências naturais. 7 DAVIS, C. O construtivismo de
Piaget e o sócio-interacionismo de Vygotsky. In Anais do Seminário Internacional de Alfabetização & Educação. UNIJUI, RS, 1993. p. 35-52.
MARCOS ANTONIO LUCCI
ISSN (1981-2183) REVISTA INTERAÇÃO | Ano III número 2 2º semestre de 2009 141
e, já que o mesmo não adota o materialismo
histórico-dialético, podemos afi rmar que ele
não esclarece qual a participação e o papel do
ambiente na interação. Da forma como está
colocada, a proposição sugere que a ação
do organismo prepondera sobre o ambiente
e a relação é praticamente ponto a ponto:
organismo-organismo. Isto é, o organismo gera
modifi cações que, por sua vez, modifi carão o
próprio organismo. Esse movimento, ao nosso
ver, apenas coloca o ambiente no papel e na
função de depositário de modifi cações que, em
última instância, modifi carão o organismo que
gerou a sua própria modifi cação, eliminando
qualquer ação do próprio ambiente. Quanto a
seus postulados teóricos, eles se aproximam
em vários pontos, dos quais destacamos:
a) Iniciam suas produções partindo do
mesmo questionamento: a determinação
do homem. Consta que eles discordam da
crença, de suas épocas, da existência de
uma natureza humana. Isto é, o homem
não é determinado aprioristicamente,
com uma essência universal e abstrata.
O máximo que consideravam é que
o homem possui uma constituição
biológica cuja ação se limita ao campo
da determinação da espécie e suas
possibilidades, ou seja, se limita ao nível
fi logenético. Quanto a esse aspecto, para
justifi car tal posicionamento, os autores
buscam embasamento na mesma fonte:
os postulados darwinianos. Para eles
o que existe é uma condição humana,
na qual as condições biológicas,
enquanto espécie, constituem a base
de sustentação para o desenvolvimento
social, ou seja, não há nada em termos
de aptidões, tendências, habilidades,
valores, faculdades mentais que nasçam
com o ser humano. O biológico permitirá
que a espécie estabeleça trocas com o
ambiente, se torne homem e adquira
as habilidades, aptidões, valores
construídos pela humanidade e que
se encontram sintetizados nas formas
culturais desenvolvidas pelos homens
em sociedade.
b) Partilham da idéia de que o homem
é um ser criado pelo próprio homem.
Para eles não há uma natureza humana
pronta, mas, apenas, a possibilidade de
desenvolvimento a partir do contato com
a cultura e com os outros homens, que
ocorre por meio das interações mediadas
pela linguagem8, em suas mais variadas
formas de expressão. Desse modo, a
linguagem constitui, para eles, o principal
mediador na determinação do homem.
c) Os autores consideram igualmente
que a subjetividade (eventos privados,
para Skinner, e funções psicológicas
8 Para Skinner o termo linguagem é entendido como comportamento verbal.
UM ESTUDO SOBRE AS PROPOSTAS DE SKINNER E AS DE VYGOTSKY: A CONTRIBUIÇÃO DE UMA APROXIMAÇÃO
142 REVISTA INTERAÇÃO | Ano III número 2 2º semestre de 2009 ISSN (1981-2183)
superiores, para Vygotsky) é determinada
socialmente;
d) Ponderam que a cultura e suas práticas
não são imutáveis, assim como não são
fruto de uma mente que as estabeleça,
bem como as suas mudanças. Em
verdade, a cultura e suas práticas, estão
submetidas a um processo constante
de transformação, desencadeado
socialmente por meio das interações
entre o indivíduo e o ambiente;
e) consideram que o homem é um ser ativo
e, como tal, é o agente direcionador
de suas próprias ações. Ou seja, é ele
quem constrói o mundo à sua volta, o
transforma e se constrói como sujeito;
f) enfatizam que esse papel de agente
e reagente assumido pelo homem,
descrito no item anterior, só acontece
na interação com o ambiente, sendo
que nesta interação não há privilégio
ou absolutismo, nem do homem e nem
do ambiente, pois o mais importante e
determinante da situação como um todo é
a interação. Nesta perspectiva, o homem
é entendido como um ser ativo, que se
constrói homem na e pela interação.
g) preconizam que a determinação humana
obedece a um movimento evolutivo que
congrega a espécie, o indivíduo e o social.
Para Skinner esse movimento segue o
curso da espécie para o social e para
Vygotsky, da espécie para o indivíduo
único. Isto é, em Skinner o movimento
segue da espécie (fi logênese) para o
indivíduo (ontogênese) e deste para o
social (cultura) e em Vygotsky, da espécie
(fi logênese) para o social (sociogênese) e
deste para o indivíduo (ontogênese) que,
por sua vez continua rumo ao indivíduo
único (microgênese);
h) aproximam-se, também, quanto à opção
fi losófi ca: ambos são materialistas,
guardadas as devidas proporções de
que cada um segue uma tendência
diferente do materialismo: Skinner é um
materialista fi sicalista e Vygotsky, um
materialista histórico-dialético.
i) são alvos de constante crítica quanto à
presença/ausência do social em suas
obras. Vygotsky é criticado pela ênfase
que dá ao social em sua obra, o que o
colocaria, para alguns estudiosos, como
um teórico social e não da psicologia, e
Skinner pela desconsideração da ação
do social na determinação do indivíduo, o
que o colocaria como um desumanizador
do homem. Em síntese, podemos dizer
que um é criticado por atribuir excessiva
importância ao social em sua obra e o
outro, por reduzi-la. Se nossa análise
estiver correta, o que este estudo aponta
é que as críticas formuladas aos autores
não se sustentam. A ênfase dada ao
social na obra de Vygotsky justifi ca-se
pelo fato de que, na sua visão, o social é
MARCOS ANTONIO LUCCI
ISSN (1981-2183) REVISTA INTERAÇÃO | Ano III número 2 2º semestre de 2009 143
o responsável pela determinação de seu
objeto de estudo: as funções psicológicas
tipicamente humanas. Em sendo esse
seu objeto de estudo, e não o social, ao
nosso ver, ele já o credencia como um
teórico da psicologia e não do social.
Já para Skinner, a determinação do
comportamento e do indivíduo, é fruto de
múltiplas variáveis que estão dispostas
tanto no ambiente externo quanto
no ambiente interno do indivíduo. As
variáveis dispostas no ambiente externo,
por sua vez, são relativas às práticas
culturais. Desse modo, o social tem
papel preponderante na determinação
mencionada.
Com referência às contribuições que esse
estudo traz para a psicologia da educação,
esta não reside unicamente em demonstrar
a possibilidade de aproximação entre os
pensamentos dos autores estudados. No
nosso entender, esse tipo de estudo abre a
possibilidade de uma discussão acerca de
teorias que, em princípio, parecem tão díspares,
criando, desse modo, um espaço privilegiado
para que:
a) possam ser dirimidas as interpretações
equivocadas sobre as teorias;
b) haja a possibilidade de aprofundamento
das teorias da psicologia da educação; e
c) por meio da releitura teórica que este
tipo de estudo propicia, seja feita uma
revisão, por exemplo, dos pressupostos
teóricos da psicologia que embasam a
ação pedagógica, a fi m de escapar de
polarizações teóricas na fundamentação
do trabalho educacional.
Outra contribuição que este estudo traz é o
resgate do pensamento de Skinner, ao ressaltar,
entre outras coisas:
a) o peso que o social adquire em sua teoria;
b) a negação de que sua visão sobre o
homem se assemelha à de uma máquina,
como muitos acreditavam que fosse;
c) a complexidade da determinação do
comportamento humano revela que
sua teoria é muito diferente das idéias
do reducionismo e simplismo que a ela
atribuem;
d) o seu olhar sobre o homem e o mundo,
bem como sobre os problemas que os
afetam, é o mesmo que o olhar de outros
autores, diferenciando-se apenas na
forma de acessá los.
Esse resgate enfocando tais aspectos da
obra de Skinner demonstra que suas propostas
não apresentam tantas divergências, como
se pensa, em relação às atuais teorias que
embasam as estratégias pedagógicas em
curso atualmente. Ele contribui também para
uma refl exão crítica sobre suas propostas e a
viabilidade de tê-las, novamente, como base
para o trabalho educacional.
UM ESTUDO SOBRE AS PROPOSTAS DE SKINNER E AS DE VYGOTSKY: A CONTRIBUIÇÃO DE UMA APROXIMAÇÃO
144 REVISTA INTERAÇÃO | Ano III número 2 2º semestre de 2009 ISSN (1981-2183)
Os resultados desse nosso trabalho, na
nossa visão, em muito se assemelha as
seguintes palavras do escritor e poeta Fernando
Sabino,
De tudo fi caram três coisas: a
certeza de que estamos sempre
começando; ...a certeza de que é
preciso continuar; ...a certeza de que
podemos ser interrompidos antes de
terminar... façamos da interrupção um
novo caminho; ...do sonho uma ponte;
e da procura...um encontro,
por ter-nos deixado três certezas:
1) A de que ele é apenas um começo,
pois, à medida que forem aprofundados
aspectos específi cos do pensamento
de Skinner e de Vygotsky, mais e mais
pontos de aproximação entre eles serão
encontrados;
2) A de que é preciso dar continuidade, não
somente a este estudo em particular, mas
a outros também, visando a promover o
avanço e o aprimoramento da psicologia
da educação e das áreas que, direta
ou indiretamente, dependem de seus
conhecimentos; e
3) A de que ele é um estudo que foi
interrompido para que seu fi nal não possa
ser atingido, pois o queremos como um
constante iniciar; um constante caminho;
uma ponte entre a procura e o encontro de
novos caminhos para novas procuras.
Além dessas três certezas, no nosso
entender este estudo vai mais além. Ele sinaliza
a necessidade de novos estudos desse tipo,
bem como o aprofundamento dos já existentes,
para que haja uma melhor compreensão de
teorias que formam o universo de respaldo ao
pensamento educacional e para que sejam
dirimidas as interpretações equivocadas sobre
elas, como já afi rmado anteriormente.
A releitura teórica que este tipo de
estudo propicia poderá resultar na revisão,
por exemplo, dos parâmetros para a ação
pedagógica, a fi m de escapar das polarizações
e dos modismos teóricos. Ela poderá trazer,
também, subsídios para que possam ser
revistas posturas assumidas diante de teorias
que, mesmo apresentando diferenças em
conceitos básicos, tais como concepção do
sujeito, papel da linguagem e sua articulação
com o pensamento, e a visão da relação
entre ensino-aprendizagem, são entendidas
como complementares, passando a formar,
desse modo, um todo teórico, apesar das
incompatibilidades entre as mesmas.
Reconhecemos que este trabalho não foi
uma empreitada fácil. Ele exigiu muita refl exão
e análise, o que, no nosso entender, o torna
uma leitura que realizamos sobre os autores
e suas propostas e, como tal, é um trabalho
aberto às críticas e complementações. Talvez
a maior contribuição que este estudo possa
trazer resida exatamente em colocar todas as
idéias aqui apresentadas em discussão, para
MARCOS ANTONIO LUCCI
ISSN (1981-2183) REVISTA INTERAÇÃO | Ano III número 2 2º semestre de 2009 145
que sejam analisadas e passadas pelo crivo da veracidade.
No nosso entender, colocar em discussão as idéias apresentadas é uma forma de contribuir para o desenvolvimento da produção de conhecimento na área da psicologia, com refl exos diretos na área educacional.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFIAS
LUCCI, Marcos Atonio. Um estudo sobre as propostas de B.F.Skinner e as de L. S. Vygotsky: a contribuição de uma aproximação. 2004. Tese de doutorado. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, SP: PUCSP. 189 p.