05. kuhn, thomas. a estrutura das revoluções científicas

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  • 8/4/2019 05. Kuhn, Thomas. A estrutura das revolues cientficas

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    C o l e ~ o DebatesDirigida por J. Guinsburg A-\JLA O ~ ~ r 1 ! ~ T [ ' ~ < Q i\jJ ~ ~

    3D (3 168/8.' 0 '

    :lE COPIAS .0 caPiAS: 111\1.0 P A S T A : ~

    thomas s. I(uhnA ESTRUTURA

    DAS REVOLUCOESCIENTiFICAS:0

    IIEqu ipe de r c a l i z a ~ 5 : o -- T,:JJlli,-:'io: Bcalriz V i a n n ~ B o e i ; ~ e Nels.onB c ~ i I a ; Revisao: Alice Kyoko Miyashiro; Prodw;:ao: Phmo MartInsF:::\o.

    fj00~ \ \ I I ~ EDITORA PERSPECTIVAm I

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    11. A RESOLUCAI) DE REVOLUCOES

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    Oe manuais que p-stivemos discutindo sao produ-zidos somente a partir des resultados de urna revolu-!;iio cientffica. Eles servem de base para urna nova tra-di9ao de ciencia normal. Ao examinarmos a questaode sua estrutura ,omitimos obviamente um problema.,. Qual e 0 processo pelo qual um novo candidato a pa-radigma substitui seu antecessor? Qualquer nova inter-preta9ao da natureza, seja eta uma descoberta ou umateeria, aparece inicialmente a mente de urn ou maisindividuos. Sao eles os primeiros a aprender a ver aciencia e 0 mundo de urna nova maneira. Sua habili-dade para fazer essa transi,ao e facilitada por duas cir-cunstancias estranhas a maioria dos mernbros de sua

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    .1 . P ar a u::: ! : : ~ ; e esboC? ~ a principals maneiras de abordar asteonas dC.J " e ; l f l c a ~ a o 1?robabLlfsllcas, vet ERNEST NAGEL, Principles 0/the . ~ h e n .. . o P r ~ J , ' 1 b f l l t y , v. I, n. '" d ~ lnfernario,-;-;: .":ne'c1oped;a ojUm/led Sc:-:::::;:::, ::;;::. 00-75.

    absolutos para a v e r i f i c a ~ a o de teorias cienUficas. Percebendo que nenhuma tcoria' pode ser submetida jl to-dos os testes relevantes posslveis, perguntam, nao se ale,?ri,:t f ? i v e ~ i f i c a d a , mas pela sua probabilidade, dada aeVlden':la eXlstente. Para responder a essa questao, UDla ,e ~ c o l a Importante e levada a compara! a habilidade das I:dlfere!1 t";S ! e o ~ a s para explicar a .evidencia. d.isponlvel. ( p bEssa lDslstencla em camparar teorJas caracterJza igual- (me?te a s i t u a ~ a o hist6rica na qual uma nova teoria e i.acelta. Muito provavelmente, ela indica uma das dire-,(ies pelas quais deverao avan

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    ra, ni o aparece com, ou simplesmente devido, a emer'; gencia de 'uma anomalia au de u exemplo que leve "!, f a l s i f i c a ~ i o . Trata-se, ao contrano, de urn processo"subseqiiente e separade, que bem poderia ser chamado'd e v e r i f i c a ~ i o , vista consistir no triunfo de urn novo: paradigma sabre urn a r ~ z r i o r . Alem disso, e nesse pro-cesso conjunto de v e r i f i c a ~ i o e f a l s i f i c a ~ i o que a com

    p a r a ~ i o probabilistica das teorias d e ~ e m p e n h a . urn, p ~ pel central. CIeio que essa f o r m u l a ~ a o em ~ 0 1 ~ mvelStern a virtude de possuir uma grande verosslmllhan

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    t que os novos paradigmas nascem dos antigos, incorporam comuinente grande parle do vocabul3rio e dos aparatos, tanto conceituais cOmo de manipnIa

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    &pernicismo fez poucos adeptos durante quase utll l o ap6s a morte de Copemico. A obr a de NewtonlIio 'a1caU9ou aceita9io ~ I ~ i a l m e n t e no

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    um fndice da pr6pria natureza da pesquisa cientffica. ..A fonte dessa resistencia e a certeza de que 0 paradigma 'antigo acabara resolvendo todos os sens probl emas .e .que a natureza pode ser enquadrada na eslrutura pro-.porcionada pelo modelo paradigmatico. Inevitavelmente, em perfodos de r e v o l u ~ l i o , tal certeza parece sero b s t i n a ~ l i o e teimosia e em. alguns casos chega realmente a se-Io. Mas e tambem a1go mais. E essa mesmacerteza que torna passiveI a ciencia normal all solucionadora de q u e b r a - c a ~ a s . E somente atraves da den -

    i cia normal que a comunidade profissional de cientistas\ 1 oblem sucesso; primeiro, explorando 0 alcance poten'I cial e a prec is ao do velho paradigma e enllio isolandoI a dificuldade cujo estudo permite a emergencia de urn, novo paradigma.I Contudo , a fi rmar que a res is tencia e inevit avel elegitima e que a m u d a n ~ a de paradigma nlio pode serjustificada alraves de prova s nao e af irmar que nlioexistem argumentos relevantes au que os cient istas naopodem ser persuadidos a mudar de ide;a. Embora algumas vezes seja necessario uma g e r a ~ l i o para que a mud a n ~ se realize, as comunidades. cientfficas segnidamente tem sido convertidas a novos paradigmas. Alemdisso, essas convers6es nlio ocorrem apesar de OS cient istas serem humanos, mas exatamente porque eles 0sao. Embora alguns cientistas, especialmente os maisvelhos e mais experientes, possam resisti r indefinidamente, a maioria deles pode ser atingida de uma maneira ou outra. Ocorrerlio algumas converse;es de cada vel,ate que, morrendo os UItimos opositores, todos os membros da profissao passarao a orientar-se por um Uuico- mas ja agora d iferent e - parad igma; Precisamosportanto perguntar como se produz a convers ao e como se res iste a e la .

    Que especie de resposta podemos esperar? Nossaquesl lio e nova, precisamente porque se refere a teeni cas de persuaslio ou a argumentos e contra-argumentosem uma s i t u a ~ o onde olio pode haver provas, exigindoprecisamente por isso uma especie de estudo que aindanao foi empreendido. Teremos que nos contentar comum examc muito parcial e impressionista: Alem disso,a que ja foi dito combina-se com 0 resullado desse exame para suger ir que a pergunt a acerca da natureza doargumenlo c ientif ico - quando envolve a persuasao e

    --------------~ nao a prova - nlio pode ter uma resposla uDica ou"uniforme. Cientistas individuais a b r a ~ a m um novo pai radigma por toda uma sorte de razOes e normalmentepar varias delas ao mesmo tempo. Algumas dessas razOes - por exemplo, a a d o r a ~ o do Sol que ajud.ou .afazer de Kepler um copernicano - encontram-se mte,ramente fora da esfera aparente da ciencia.' Qutros c i ~ n tistas dependem de idiossincrasias de nalureza autoblOegrafica ou relat ivas a sua_ p e r s ~ n ~ l i d a d , : . Mesmo a nacionalidade au a r e p u t a ~ a o p r ~ v l a do Inovador e seusmeslres podem desempenhar algumas vezes urn papelsignificativo.tO Em ultima instancia, portanto, precisamas aprender a colocar essa quesll io de maneira diferente. Nossa p r e o c u p a ~ l i o nlio sera com os argumentosque realmentc convcrtem urn au outro indivlduo, mascom 0 t ipo de comunidade que ~ e d o ou tarde se re-forrna como urn tinico grupo. AdlO !:ontudo esse problema ate 0 capiluIo final e enquanto isso examinarei algunsdos tipos de argumentos que se revelam partlcularrnenteeficazes nas batalhas relacionadas com mudanc;as de pa-radigmas. .

    ~ v a v e l m e n t e a. a l e g a ~ l i o isoIada mais comumenteapresentada pelos defensores de um novo paradigma ea de que slio ~ a p a z e s d resolver os pr?blema& que conduziram 0 anl tgo paradlgma a uma cnse. Quando podeser feita legitimamente, essa a l e g a ~ a o e, seguidamente,a mais eficaz de'todas. Sabe-se que 0 paradigma enfrenta problemas no setor no qual tal a l e g a ~ o e fei ta. Taisproblemas, nesses casos, foram explorados repelidamente e as tentativas para remove-los revelaram-se com freqUencia inuteis, "Experiencias cruciais" - aquelas, ~ a pazes de di scr iminar de forma p a r t i c u l a ~ m e n t e mtldaentre dais paradigmas - foram reconhecldas. e atesta. das antes mesmo da i n v e n ~ l i o do novo paradlgma. Co-pernico, par exempio, alegava ler resolvido 0 proble.

    9 Sobre 0 papel da a d o r a ~ 1 o do So l no pensllmenfo de Kepler, verE A ' BU'R'IT The Metaphyslclll FoundQjlons 01 M o d ~ r n Physical S c i ~ n c e( ~ d . ~ . Nova' York, 1932). pp, 44-4;.

    to A r espe ito do papel da r e p u t a ~ l o , I;OnsiderC1llO:! 0 seguinle: Lorde::Rayleigh, ji I;Om a r c p u t a ~ l o estabeJecida. apresenlou urn. t r a ~ a l h o aBrit ish Associat ion tratando de algut1S paradoXes d E l e t ~ o d m a ! ' l ' U c a . Seunomc(o! c::titido iDadl'crtfdamente quando 0 artlgo fOI e n v l a ~ o pe1:lprimeira va e 0 trab:;.:::-.u fo i r ei ei ta do como s endo obr a de urn amant (de paradoxos" (parodoxn). Pouco depOiS, ji com 0 nome do aUlor, 0: ra ba lho f oi a ce it o com multas descuJpas. R. J. SntUTT, 4 th Baron?ayieigh, John Wl1lfam Strut" Third Baron Rayletgh (Nova York, 1924),p. 228.

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    ,-I - ; v>, ',''\ '/ 'iL ...12. KUHN. Op. cit. pp. 219--225.13. WHITTAKER, E . T. A H is to ry of the Theories of Aether and Ele r .triciry ( 2. cd. ; Londr es , 1951) , J, p. 108.14. Ver ibid., II (1953). pp. t51-180, com rela' ;,ao ao dcsenvoivimentoda rei:ltividade geral. No tocantC! a r e a ~ i i o de : : I n s t e l l ~ 30 consta(:lr 0aco rdo per fe it o onl re a s predil::Qes da t ~ o r i a e 0 movlmen:o ~ b s e r v : l d odo p cr ic li o d c Mercurio, ver a carta cttada em P. A. S(Hlur (ctLl.AI/,crl Ei>;sfein. PhilosCJJJher-Scitntist (Evanston, 111., FMO) r 101.

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    zado com freqiiencia, haj a ou n a ~ . c o n t r i b u i ~ a o . Nesses outros setores, argumentos partlcularrnente p e ~ u a sivos podem ser desenvolvidos, caso 0 novo p a r a d l ~ aperrnita a p r e d i ~ a o de fenomenos t o t a l ~ e n t e msuspeltados pela pratlca orientada pell ' .paradlgma a n t e ~ l o r .': A teoria de Copernico, por exempio, sugena queos planetas deveriam ser como a !erra, que V e ~ u s deverla apresentar fases e que 0 Umverso necessanamente seri a muito maior do que a te entao se supunha. Emconseqiiencia disso, quando, sessenta aDOS ap6s a suamorte, 0 telesc6pio exibiu r e p e n t i ~ a m e n ~ e as montanhasda Lua as fases de Venus e urn numero Imenso de estrelas de ~ u j a existencia nao se suspeitava, numerosos adeptos especialmente entre os nao-astroDomos, foram c o n ~quistados para a nova teoria por tais ~ b s ~ r v ~ ~ o e s . , 1 2 Nocasu da teoria onduiat6ria, uma das pnnclpals fontes deco"nversao profissional teve urn c a r a t e ~ ai.uda mais dramatico. A resistencia oposta pelos Clentlstas francesesruiu subitamente e de maneira quase comp!eta quandoFresnel conseguiu demonstrar a existencia de urn pontobranco no centro da sombra projetada por urn disco circular. Tratava-se de um efeito que nem mesmo Fresnelantecipara, mas que Poisson, de i n i c i ~ . ?m. de seus ~ p . o nentes demonstrara ser uma,:' consequencIa neceSl)ana,ainda 'que absurda, da teoria',do orimeiro.13 Argumentos dessa natureza revelam-se 'particularrnente persuasivos devido a seu impacto e porque, evidentemente , naoe s t ~ v a m "inc1ufdos" na teoria desde 0 iorde. Algumasvezes essa f o r ~ a extra pode ser explorada, mesmo queo fenomeno em questao tenha sido observado ml" toantes da teoria que 0 explica. Einstein, por exemplo,parece nao ter antecipado que a Teoria Geral da Relatividade haveria de eltplicar com precisao a bern conhecida anomalia no movimento do perie lio de Mercurio,tendo experimentado uma s e n s a ~ a o de triunio quandoisso ocorreu.t4Todos os argumentos em favor de urn novo paradigma discutidos ate agora estao baseados na com-

    ,

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    rna, de ha muito irritante, relativo A extenslio do anodo calendario,,Newton ter reconciliado a MecAnica T e r ~restre com a Celeste, Lavoisier ter resolvido os p r o b l ~ :mas da identidade dos gases e das r e l a ~ de peso e' ,Einstein ter tornado a EletrodinAmica c o m p a ~ v e l com;uma ciencia reelaborada do inovimento. ' "

    A 1 e g a ~ 6 e s dessa natureza, tem grande probabilidade de exito, casu 0 novo paradigma apresente uma pre- "cisao quantitativa notavelmente superior Ade seu compet idor mais ant igo. A superioridade quant itat iva dasTabulae rudolphinae de Kepler sobre todas as computadas com base na teoria ptolomaica foi urn fator importante na conversao de astronomos ao 'copernicismo. 0sucesso de Newton na p r e d i ~ a o de o b s e r v a ~ 6 e s astronomicas quantitativas foi prcivavelmente a razao isolada mais importante para 0 triunfo de sua teoria sobresuas competidoras, que, embora razoaveis, eram invariavelmente qualitativas. Neste se.::ulo, 0 impressionanteexito quantitativa tanto da Lei da R a d i a ~ a o de Planck,como do atomo de Bohr, persuadiram rapidamente muitos cientistas a adotar essas t e o r i ~ s , embora, tomando-sea ciencia f is ica' como um todo, ambas c o n t r i b u i ~ 6 e scriassem muito mais problemas do que s o l u ~ 6 e s . 1 1 '

    Contudo, a a 1 e g a ~ a o de ter resolvido os problemasque provocam crises raras vezes e suficiente par si mesrna. A1em disso, nem sempre pode ser legit imamenteaplesentada. Na verdade, a teo ria de Copern ic o naoera mais precisa que a de Ptolomeu e nao conduziu imediatamente a nenhum a p e r f e i ~ o a m e n t o do calendario. Ateoria ondulat6riada luz , no per iodo imediatoa sua primeira a p a r i ~ a o , nao foi t ao bem sucedida como sua rival corpuscular na r e s o l u ~ a o do problema relat ivo aosefeitos de p o l a r i z a ~ a o , que e ra uma das princ ipai s causas da crise existente na Optica. AlgUmas vezes, a pratica rna is livre que caracteriza a pesquisa extraordinariaproduzira urn candidato a paradigma que, inicialmente,nao contribuira absolutamente para a r e s o l u ~ a o dos problemas que provocaram crise. Quando isso ocorre, torna-se necessario buscar evidencias em outros setores daarea

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    p a r a ~ l i o entre a habil idade dos competidores para re- .s ~ l v e r problemas. Para os cientistas , tais argumentos sao comumente os mais significativos e persuasivos. Osexemp10s precedentes nlio dever iam deixar duvidasq ~ a n t o a orige?1 d e sua imensa a t r a ~ l i ( l . Mas, por razoes que examIDaremos dentro em breve, eles nlio slioargumentos que forcem ades5es individuais ou coletiv.as. F e ~ i z m e n t e existe ainda uma Dutra especie de cons I d e r a ~ a o q',e pode levar as cientistas a r e j e i ~ l i o deurn velho paradigma em favor de urn novo. Refiro-meaDs argumentos, raras vezes completamente explicitados, que. apelam, no . individuo, 30 sentimento do quee apropnado au estellco - a nova teeria e "mais clar ~ " , "mais adeguada" .Oll "mais simples" que a antenor. Provavelmente tats argumentos sao menos ef icazeg ~ a c i e n c i ~ s ~ que na ~ a t e m a t i c a . As primeirasversoes da ffi31On3 dos paradlgmas sao gi'Gsseiras. Ateque sua atrar;ao estetica possa ser plenamente desenv.olvida, a m ~ i o r parte da comunidade cienufica ja terasldo persuadlda por outros meios. Nlio obstante aimportancia ~ a . s c o n s i d e r a ~ 5 e s esteticas pode a l g u ~ a svezes ser d t 7 1 S ! ~ a . Embora seguidamente atraiam apenas alguns clentistas para a nova teori a, 0 t riunfo finaldesta pode depender desses poucos. Se esses cient is tasnunca t ~ v e s ~ e m . ~ c e i t ? rapidamente 0 novo paradigmapar razoes mdlVlduals, este nunca teria se desenvolvido suficientemente pam atrair a adeslio da comunidade cienti fi ca como um todo.

    P a r ~ que se perceba a razlio da importancia dessas c o n s l d e r a ~ 5 e s de natureza mais esteti ca e subje ti va, recordemos 0 que esta envolvido em urn debatee n t ~ e parad igmas. Quando , :m novo cand idat o a paradlgma e proposto pela pnrne ir a vez, mui to dificilmente ~ e s o l v e mais do que alguns dos problemas comos qua, s se def ront a e a rnaioria dessas s o l u ~ 5 e s estal o n g ~ de ser perfe ita. Ate Kepler, a teoria copernicanaprallcamente nlio a p e r f e i ~ o o u as p r e d i ~ 5 e s sobre as pos i ~ 5 e s planetarias fei tas por Ptolomeu. Quando Lavoisier c o n ~ e b e u 0 oxigenio como "0 proprio ar, inteiro",sua teona de forma alguma podia fazer f rente aos prob ~ e m a s apresentados pela proliferac;ao de nOVDS gases,ponto este que Pries tl ey utilizou com grande sucessono seu contra-ataque. Casas como 0 do ponto brancode Fresnel :.50 cxtrem::lmcntc raras. Em geral e 50-196

    mente muito mais tarde, ap6s 0 dcsenvolvimento, aa c e i t a ~ l i o e a e x p l o r a ~ o do novo paradigma, que asargumentos aparentemente decisivos - 0 pendulo deFoucault para demonstrar a r o t a ~ l i o da Te rr a o u ae x p e r i ~ n c i a de Fizeau para mostrar que a luz se movimenta mais rapidamente no ar do que na agua slio desenvolvidos. Produzi-Ios e par te da tarefa da \ciencia norma\. Tais argumentos desernpenham seu pacpel DaD oa dencia normal, mas nos textos revoluciomirios.

    Durante 0 desenvolvimento do debate, quandotais textos ainda DaD foram escritos, a situac;ao e berndiversa. Habitualmente as oposi tores de urn novo paradigma podem alegar legitimamente que mesmo naarea em crise ele e poueo superior a seu rival tradicional. Nlio ha duvidas de que t ra ta de alguns problemas e revela algumas novas regular idades. Mas provavelmente 0 paradigma mais antigo pade sec rearticulada para cufrcntar esses desafios da mesma formaque ja cnfrentou outros anteriormente. Tanto a sistema astronomico geocentrico de TychoBrahe, comoas. uItimas versoes da teoria flogfstica foram respostasaos desafios apresentados por urn novo candi dato aparadigma e ambas foram bas tante bern sucedidas ."Alem disso, os defensores da teoria e dos procedimentos tradicionais podem quase sempre apontar problemas que seu novo rival nao resolveu, embora nao sejam absolutamente problemas na c o n c e ~ l i o desse ultimo. Ate a descoberta da c o m p o s i ~ l i o da agua, a combl!,tlio do hidrogenio representava urn forte argumento em favor da teor ia !loglstica e contr a a teori a deLavoisier. Ap6s seu triunfo, a teoria do oxigenio aindanlio era capaz de explicar a p r e p a r a ~ l i o de urn gas combustivel a par ti r do carbono, fenomeno que as defensores da teoria flogfstica apontavam cemo urn apoioimportante para sua c o n c e p ~ a o . 1 6 Mesmo na area da

    1 5. S ab re 0 s is tema de Brahe , quc era in te i ramento equivalente 30de Co-pemi co no p lano g e o m ~ t r i e o . 'Vcr J. L. E. DREYER, A His to ry ojAstronomy from Tha lt:s to Kepler (2. cd., Non York, 1953) . pp. 359-371.A r espe it o das u lt imas ver sOes da Teorla do F lo gi st o c se u s ue es so . v crJ. R. P ~ k l ' N G T O N e D. McKJ, Historical Studies of the PhlogistonTheory. em Annals of Science, (1939). IV, pp. 113-149.16. No q ue di z r es pc it o ao problema apre,sentadO pelo hidrogenio.vcr J. R. PARTINGTON, A S ho rt H is tor y of Chemistry (2. cd.; Londrcs.1951) , p . 134. Quanto ao mon6x ido de car bono . vcr H. Kopp, Ges,!li,,';;cde r Chemi e, (Braunschweig. 1845). III. pp. 294-296.

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    If9N tNt : ' ' \ - -0t=-\",,1 ei\U b K ~ \ . . ..6f---

    rn ni o p.recise sec, nem racional, nem correta . Devehaver algo que pclo menos f a ~ a alguns cientistas seniircm quc a nova proposta es ta no caminho cer to e emiiJguns .casos somcnte c o i t s i d e r a ~ ~ e s estetieas pessoais.e inart iculadas podem real.zar 1SS0. Homens foram'cOnvertidos por essas c o n s i d e r a ~ a e s em epocas nas'quais a maioria dos argur:nentos t c : n i ~ o s a p o n t a v ~ o.ou:: tra d i r c ~ a o . Nem a teona astronornlea de C o p e r n l c ~ ,

    -: nern a teoTia da mater ia de De Broglie possufam rnUI~ tos OlItros atrativos sigoificativos quando foram apre~ , s e n t a d a s . Mesmo hoje a teo ria geral de Einstein at raiadeptos principalmentc por Tazoes "esteticas" ~ t r a ~ a o.. cssa que poueas pcssoas c?tranhas a Matematlca fo-ram cnpazcs de sentir.Nao qucrcmos c ~ isso sugcrir que, no f i das

    . ~ contas: as .JJPYOS paradigmas triunfem por melO de. . alguma esteHca mfstica. Ao contnirio, muito poucosdesertam uma t r a d i ~ a o somente por essas razoes. Os:} que assim procedem foram, com freqtiencia, engana'dos. Mas para que 0 paradigma possa triunlar e ne0. ccssario que ele conquiste alguns adeptos iniciais, q ~ !, 0 desenvolverao ate 0 ponto em que argumentos obJe~ tivos possam ser produzidos e m U l ~ p b c ~ d o . s . ,M;tsIifo. esses argumentos, quando surgem, nao sao lOdlVldual-

    mente decisivos. Visto que os cientistas sio homens'rawaveis urn, au outro a r g u m e r : . ~ o acabara persuadindo muitd,; de!es. Mas nao existe urn unieo argumentoque paSsa cu dcva, persuadi-los todos. MJliJ;_'l!!o

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    tistas, _convencidos da fecundidade da nova c o n c e ~ i ~ ladotarao a nova manelra de praticar a ciSncia normiljate que restem apenas alguns pouens opositores malSvelhos. E mesmo estes nio podemos dizer queestejamerrados. Embora o. historiador sempre possa encon-',Itar hODlens -: - P n e s t l ~ y , por exemplo - que nao::foram razoavels ao resIstirem per tanto tempo nao'e n c o n t r a ~ a u.!t! ponto onde a resistSncia torna-se'i16gica ou aClentillca. Quando muito ele podera querer dizer 9ue 0 homem que continua a r e s i ~ t k - a p 6 s - - a ~ o n versao d to?a a sua prolissio dei;(clU ipso facto deser urn clentJsta. ~ - - - _ _ - - - c ~ : : : : . . : - /

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    201

    Nas paginas precedentes apresentei uma d e s c r i ~ a oesquematica do desenvolvimento cientffico, de maneira tao elaborada quanta era possivel neste ensaio.Entretanto, essas paginas nao podem proporcionar omaconclusao. Se essa d , e s c r i ~ i o captou a estrutura essencial da e v o l u ~ i o continua da ciSncia, colocou ao mesmo tempo um problema especial: por que 0 empreendimento cientlfico progride regularmente utilizandomeios que a Arte, a Tenria Politica-ou a Filosolia naopodem empregar? Por que sera 0 progre.", urn pre-requisito reservado quase exclusivamente para a atividade que chamamos ciencia? As respostas mai usuaispara eSS?, ' . ~ ; , e s t a o fcram rec.':-?'" T';) deste

    12. 0 PROGRESSO ATRAVES DE REVOLUCOES

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