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Q ual o limite para a dedicação de um tra- balhador pelo ofício? Existem leis que restringem o aspecto moral da questão Profissões de alto risco levam trabalhadores ao limite Carreiras que exigem a execução de tarefas insalubres no dia-a-dia primam por segurança e desenvolvimento AMANDA WEAVER E LEANDRO SAUDINO e responsabilizam os empregadores? Essas são perguntas frequentes de quem pretende praticar uma profissão de risco, mas o questionamento do limite no trabalho pertence à sociedade moder- na em geral. Acontece que, muitas vezes, a visão As redes de alta tensão influem na corrosão dos dutos. Por isso, é necessária a proteção catódica REPRODUÇÃO LUIZ PAULO GOMES 21

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ética profisional

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    Qual o limite para a dedicao de um tra-balhador pelo ofcio? Existem leis que restringem o aspecto moral da questo

    Profisses de alto risco levam trabalhadoresao limiteCarreiras que exigem a execuo de tarefas insalubres no dia-a-dia primam por segurana e desenvolvimento

    AmAndA WeAver e LeAndro SAudino e responsabilizam os empregadores? Essas so perguntas frequentes de quem pretende praticar uma profisso de risco, mas o questionamento do limite no trabalho pertence sociedade moder-na em geral. Acontece que, muitas vezes, a viso

    As redes de alta tenso influem na corroso dos dutos. Por isso, necessria a proteo catdica

    RepRoduo Luiz pauLo Gomes

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    coletiva se esquece daqueles que pem a vida em risco para realizar atividades fundamentais ro-tina das grandes cidades.

    Quem regula o trabalho de risco?

    Pilotos de avio, eletricistas de cabos de alta tenso e limpadores de vidros em fachadas de edi-fcios so vistos como homens de coragem e habi-lidade. Contudo, empenho no o bastante. Mui-tas dessas profisses so amparadas por normas e condutas de segurana, para que o empregado esteja seguro e atinja seus limites sem que haja risco de vida. Trata-se das Normas Regulamenta-doras de Segurana e Sade no Trabalho, as NRs, que variam de acordo com o tipo de profisso. E cabe as diferentes empresas adotar medidas espe-cficas para minimizar o risco.

    O ramo da proteo catdicaLargamente difundida no Brasil e no mundo, a

    proteo catdica um trabalho arriscado: con-

    siste no processo que protege instalaes metli-cas contra a corroso e mantm a integridade das estruturas. Essas instalaes podem ser enterradas ou submersas e abrangem navios, oleodutos, ga-sodutos, torres de alta tenso e plataformas de petrleo. Os sistemas de proteo catdica viabili-zam o funcionamento do mundo moderno, uma vez que instalaes de ao desse tipo s conse-guem operar com segurana graas ao processo anticorrosivo.

    O diretor da empresa Instalaes e Engenharia de Corroso Ltda., IEC, Luiz Paulo Gomes, ressal-ta que tcnicos em proteo catdica no necessi-tam de habilidades especficas de segurana. En-tretanto, seguem normas bsicas como a NR-10 Segurana em Instalaes e Servios em Eletrici-dade e a NR-33 Padro de Segurana e Sade em Espaos Confinados.

    Possibilidade de acidente sempre existe. Mas os riscos envolvidos nas atividades de proteo catdica so pequenos. Como, muitas vezes, as atividades so realizadas ao longo de grandes

    Tcnico em proteo catdica portando equipamento de segurana.

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    distncias 250 a 500 km, por exemplo, no caso de oleodutos e gasodutos , os maiores riscos esto relacionados conduo de veculos. H tambm riscos especficos, no que se refere realizao de servios dentro de reas industriais, reitera Luiz Paulo.

    O procedimento do tcnico em proteo catdi-ca no local de trabalho comea pela Anlise Pre-liminar de Riscos, a APR, realizada antes de qual-quer tarefa. Depois, so utilizados Equipamentos de Proteo Individual, os EPIs, que precisam ser condizentes com os resultados da anlise e com os procedimentos executivos relacionados s ati-vidades. Tudo isso para que o processo transcorra dentro de uma normalidade, minimizando poss-veis riscos.

    A escala de trabalho do engenheiro direcional

    Tanto em mar quanto em terra, o risco faz par-te da rotina de um engenheiro direcional. Ele o responsvel por perfurar poos de leo e gs e tra-

    balha em plataformas. o que vivencia Felipe de Andrade, que trabalha para a empresa Baker Hu-ghes. Ele descreve o ambiente de trabalho como bastante perigoso.

    Os maiores riscos que consideramos so os de incndio e exploso, que podem afundar plata-formas martimas. Alm disso, existem os pro-blemas de queda de objetos, trabalho com fonte radioativa e trabalho em reas de alta presso, relata.

    Para amenizar o risco Felipe passa por treina-mentos semanais de abandono das plataformas, reunies de segurana com temas variados e conscientizao dos funcionrios. O percentual de periculosidade como denominada a insa-lubridade na empresa gira em torno de 20% do salrio base.

    J presenciei dois princpios de incndio. Even-tualmente, um helicptero cai e um funcionrio se machuca gravemente. De fato, acho pouco para os perigos constantes das plataformas. Sem considerar os outros benefcios e avaliando so-

    Viso panormica de um duto. O procedimento catdico tem fases sequenciais: isolamento eltrico, revestimento do duto com material isolante e passagem de corrente eltrica.

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    Uma das profisses mais antigas da histria, com mais de 300 mil anos, a minerao oferece risco di-rio ao engenheiro de minas, responsvel por todos os es-tgios da atividade. Esse o profissional que atua na procura pelo bem mineral; na explorao das ocorrn-cias minerais e da viabilida-de das jazidas; no conjunto de operaes para extrair o mineral; no transporte do minrio at s instalaes de beneficiamento; e, por fim, na obteno de produtos de acordo com a demanda do mercado. O diretor tcnico da Ibrata Minerao Ltda., Cristiano Fonseca, descreve a etapa mais perigosa, a extra-o do minrio. Esta fase denomina-da explorao das minas.

    Inclui operaes de deca-peamento da jazida para exposio do bem mineral e o desmonte da mina, que pode ser feito com uso de explosivos ou por meio de mtodos mecnicos, como escavadeiras e carregadei-ras, esclarece. De acordo com Fonseca os maiores riscos esto vincu-lados s mineraes que trabalham com explosivos, mas h outros tipos de pe-rigo. Os mineradores usam equipamentos de gran-de porte e, s vezes, tra-balham em lugares onde existem riscos de queda do material proveniente das paredes das bancadas, ex-plica Fonseca. Questionado sobre o que o motivou a escolher a profis-

    so, Cristiano direto. Decidi ser engenheiro de minas porque nasci em uma regio com elevado potencial mineral. L, exis-tem diversos empreendi-mentos de minerao, ob-serva o engenheiro. Quanto s dvidas que podem surgir por causa do risco, ele categrico. Nunca pensei em mudar

    de profisso, afirma.Em relao insalubridade (NR-15), que assegura ao trabalhador um acrscimo de 10% a 40% no salrio base, Cristiano diz que o valor pago pela empresa no vale a pena. O que justifica o risco o amor pela profisso, ro-mantiza o engenheiro de minas.

    mente o percentual de periculosidade, no valeria a pena, expe Felipe.

    Dentre os outros benefcios a que o engenheiro se refere, est a alternncia entre trabalho e descanso.

    Normalmente, trabalho 15 dias e fico 15 dias

    em casa. Quando estou embarcado, trabalho em turnos de 12 horas, durante o dia ou de noite. Os embarques so aleatrios: todo ms, vou para dife-rentes plataformas, com diferentes equipes. No meu perodo de folga, no tenho rotina alguma de tra-balho, como ir ao escritrio ou fazer relatrios. Uso esse tempo apenas para coisas pessoais, explica.

    Felipe acrescenta que esse foi um dos fatores que impulsionaram a escolha dele pela profisso.

    Ainda durante a faculdade, fui contatado para alguns processos seletivos de empresas do setor de leo e Gs. No tinha muito conhecimento da rea, mas, ao longo das entrevistas, aprendi sobre o setor e gostei muito da ideia de ter 15 dias por ms sem trabalhar. Outro atrativo foi a falta de rotina: embarcar junto com pessoas de nacionalidades di-versas, dentro e fora do Brasil. Costumo dizer que ca de paraquedas nessa rea, mas hoje adoro o que fao, comenta.

    Apesar disso, ele admite que j pensou em mudar de carreira.

    Minha vida pessoal algumas vezes bastante afetada, observa Felipe.

    Felipe com o uniforme de proteo, em uma das plataformas de perfurao em que esteve embarcado

    Por que a minerao to perigosa?

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    Saiba mais sobre 10 profisses de risco (em ordem alfabtica)

    1. Alpinista IndustrialTrabalhador que, a servio de uma em-presa, realiza funes como limpeza ou restaurao de vidros, fachadas, telhados e caixas dgua. Em 2009, foram regula-mentadas as regras que a Associao Bra-sileira de Normas Tcnicas (ABNT) criou para este tipo de trabalho, cujo acesso por cordas. Os principais riscos da ativida-de so altura, vento forte, emisso de gases e perigo de exploso.

    2. Correspondente de guerraEnquanto o profissional estiver traba-lhando, o perigo constante. Os des-confortos em termos de alimentao, temperatura e necessidades bsicas no so nada se comparados ao risco de perder a vida. O jornalista torna-se um civil em conflitos armados e, como qualquer pessoa envolvida na guerra, est exposto a tiros, exploses e ataques de civis ou militares. O relato do correspondente de guerra passa pela experincia do risco.

    3. DublA jornada de trabalho em um set de filmagem pode exceder 14 horas. A funo dos dubls de ao fazer cenas em que h risco para os ato-res e, por isso, eles utilizam tcnicas para evitar ferimentos e acidentes. Muitas dessas tcnicas so passa-das de dubl para dubl. Alm dis-

    so, o preparo fsico essencial em condies extremas, como cenas na neve, no deserto, em montanhas e na gua gelada.

    4. Eletricista de linhas de alta tensoAlm de estarem em contato constante com cabos de alta tenso, os eletricistas trabalham nas estru-turas das redes eltricas expostos a grandes altu-ras. Tcnicos relatam que o nvel de segurana da profisso alto. No trabalho dirio, os eletricistas podem ter contato tanto com cargas de um poste comum de rua quanto com linhas de transmisso com altssimas cargas e alto nvel de complexidade.

    5. Mergulhador de petrleo O mergulhador corre risco de con-trair doenas e at de morte. H ta-belas que determinam o tempo de subida superfcie e o tempo entre um mergulho e outro. O nitrognio que fica no corpo devido ao mergu-lho leva cerca de 12 horas para ser eliminado do sangue e dos tecidos a descompresso. J o nitrognio respirado em altas profundidades pode causar narcose euforia, desorientao e atos inconsequentes.

    6. Mineiro ou mineradorO minerador o profissional que perfura o minrio com uma mquina hidrulica e o detona com ex-plosivos. O produto dessas etapas o minrio frag-mentado, que depois transportado e processado. As minas dividem-se em dois tipos: subterrneas e a cu aberto. Chama-se lavra o conjunto de opera-es da minerao, desde a extrao de minrios at a etapa de aproveitamento industrial.

    7. MotoboyGeralmente, os motoqueiros guiam veculos de baixa cilindrada, de 90 cc a 250 cc, mas isso no elimina o perigo constante. Os acidentes so comuns na profisso, devido velocidade

    que os motoboys so obrigados a atingir para cumprir entre-gas no prazo. O cansao outro motivo de acidentes a carga horria se mantm entre cinco e 10 horas dirias e varia de acordo com a quantidade de pedidos que chegam s centrais.

    8. Piloto de avioA aviao pode ser civil desportiva, comercial e experimental ou militar. A segurana na profisso engloba safety segurana de voo e security proteo contra atos ilcitos. A safety inclui aspectos como a fiscalizao das aeronaves, do

    treinamento dos funcionrios e das condies de pista e ptio dos aerdromos. J a security a preveno de atos ilcitos como ataques terroristas em aeronaves e aeroportos.

    9. PolicialO risco a prpria natureza das atividades que compem a rotina de um policial, dentro e fora do trabalho. Os policiais militares so os que apresentam maior ndice de mortalidade. A Fiocruz concluiu que, entre 1994 e 2004, a exposio desse grupo violncia cresceu. No bastasse o perigo rotineiro, pesquisas mostram que policiais so mais suscetveis ao desenvolvimento de doenas cardiovasculares.

    10. Tcnico em proteo catdicaAplica corrente eltrica em dutos car-regados, sejam eles de gs, derivados de petrleo ou com gua. A juno en-tre corrente eltrica e materiais explo-sivos eleva muito o risco da profisso. A proteo catdica a nica soluo para controlar a corroso de estruturas enterradas ou imersas. O processo tem fases sequenciais: isolamento eltrico, revestimento do duto com material isolante e, por fim, passagem de corrente eltrica.