04,0 imprensa · nunciamento seu ameaçava abalar o pres-tígio já então adquirido pelos marinho...

8
IMPRENSA 04, 0 I s o 0 4 , kt A sc i ¥¥¥ 9 ¥ ¥ N° 92 R$ 4,00 No temp o Editorial Ano VIII Maio 9 5 f O JORNALISMO DA COMUNICAÇÃ O em qu e a Glob o era pobre Trinta anos atrás, agiotas de plantão e o Baú d e Sílvio Santos eram a salvaçã o EXCLUSIV O Alberico de Souza Cruz, diretor d e jornalismo da Globo Alberico rompe o silênci o O homem mais poderos o da mídia analisa a imprensa e o jornalismo de T V Leia o nosso time de colunista s •Alberto Dine s •Armando Nogueira •Augusto Nune s • Carlos Brickmann • Carlos Eduard o Lins da Silva • Carlos Lemo s • Josué Machad o • Lucas Mendes • Moacir Japiass u • Roberto Drummond • Washington Novaes

Upload: others

Post on 12-Feb-2021

0 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • IMPRENSA 04,0Iso 04,ktA

    sci¥¥¥ 9¥

    ¥

    N° 92 R$ 4,00

    No tempoEditorial

    Ano VIII Maio 9 5

    f

    O JORNALISMO DA COMUNICAÇÃO

    em quea Globo

    era pobreTrinta anos atrás, agiotas

    de plantão e o Baú deSílvio Santos eram a salvaçã o

    EXCLUSIVO

    Alberico de Souza Cruz, diretor d ejornalismo da Globo

    Alberico rompe o silênci oO homem mais poderos o

    da mídia analisa aimprensa e o jornalismo de TV

    Leia o nosso time de colunistas•Alberto Dines•Armando Nogueira•Augusto Nunes• Carlos Brickmann• Carlos Eduardo

    Lins da Silva

    • Carlos Lemo s• Josué Machad o• Lucas Mendes• Moacir Japiassu• Roberto Drummond• Washington Novaes

  • Capa

    A Globo,30 anos atrás

    Os tempos bicudos do começo, quando odinheiro era curto até para pagamento de salários e cachês

    porWalter Silva

    0

    C7

    -1965: a Globo chama Walter Clark, que logo depois . . .1965: a Globo chama Walter Clark, que logo depois . . . . . . chama Boni . Começa a revolução na televisã o

    Conta a lenda que RobertoMarinho, no início da TVGlobo, chegou a ser barra-

    L\ll l' 13 do pelo porteiro da emisso-0 ra, que não o conhecia . Nãodeve ser de todo mentira, uma ve zque, na época, não só o dr. Roberto, mastoda a família só tinha olhos para O Glo-bo . "O maior jornal do país" . segundo seuslogan . Televisão, para os Marinho, eracoisa menor. Meio brega, de mau gostopara quem passara a vida entre o Coun-try Club, as sociais do Jockey e as colu-nas do Ibrahim e do Swann, esta, na épo-ca, talvez ainda escrita pelo saudoso jor-nalista Esdras Passaes, que foi casad ocom uma "miss" lindíssima e termino uos seus dias doente de alcoolismo nu msanatório no bairro de Santana, em São

    Paulo, quando trabalhava na Folha .Para falar a verdade eles nem sabia m

    direito o que fazer com aquela concessã odada pelo governo para explorar umaemissora de televisão . De rádio, eles en-tendiam. A Rádio Globo já era líder deaudiência com aqueles programas poli -ciais e com aqueles "comunicadores" ;mas de televisão não sabiam nada . Tant oque apenas puseram uns amigos para co-locar a emissora no ar e deixaram paradepois a decisão sobre o que de sério fa-zer com ela .

    Acordo suspeito - O acordo de as-sistência técnica da Globo com o GrupoTime-Life (que serviria para mascarar um apossível sociedade proibida pela lei brasi-leira) era uma realidade que fazia bramir

    o furioso João Calmon, presidente da sEmissoras Associadas, que via naquel econvênio um ato de lesa-pátria ; e cada pro-nunciamento seu ameaçava abalar o pres-tígio já então adquirido pelos Marinho edefinitivamente consolidado. Nem defen -der-se pela televisão adiantava, uma vezque a TV Globo praticamente não existi aem termos de audiência : a Tupi era que mmandava no Brasil .

    Numa atitude inteligente, os Marinh ooptaram por um "deixa pra lá", mas nasurdina começavam a agir. De início, cha -maram Walter Clark . Natural de Leme ,Estado de São Paulo, ex-office-boy, con -tínuo e quase menino na Rádio Tupi e n aRádio Tamoio (onde de tão rápido tinhao apelido de "Vento"), Clark já havia en -saiado tudo de televisão na TV Rio, ond e

    34 IMPRENSA - MAIO 1995

  • começou como cabo man e chegou a se ro responsável pela grade de programa-ção geral, ensinando televisão para o en-tão patrão Pipa do Amaral, também Car -valho, sócio e parente do Paulo, da TVRecord de São Paulo.

    Já experiente em televisão, Walte rClark aceitou o convite para ir para a Glo -bo sabendo que teria de descascar o aba-caxi Time-Life, que era a maior pedra n osapato dos Marinho . O sonho de Clark er ater Boni a seu lado . Sabia o que o grandeprofissional tinha realizado na publicida-de, no rádio, no disco, na TV (principal-mente na velha Excelsior, onde foi ensaia -da a TV Globo de hoje, ao lado, entre ou -tros, de Edson Leite) . Sabia também queele estava no Rio ar-mando para a Tup iuma network que, s echegasse a fica rpronta do jeito qu eele queria, acabari asendo o sistema Glo-bo de hoje . Pena par aa Tupi que os "co-munheiros associa -dos" (nome dado aosdirigentes que passa -ram a administrar oacervo 'associado 'depois que Assi sChateaubriand s eafastou, como Ed -mundo Monteiro ,em São Paulo, Joã oCalmon, no Ri oetc .) . então, só pen-sassem em seus feu -dos estaduais, ond eprendiam e manda-vam soltar . Essa fragmentação na Tup iimpediu Boni de realizar seu projeto d euma televisão nacional operando dia enoite com uma só programação (a Globofaz isso hoje e já está na hora de parar ,pois, como se sabe, a cultura regional est áindo para o espaço e o mercado de traba-lho também . Mas isso é outro assunto) .Boni não realizou seu " Telecentro ', mas ,em compensação, teve que carregar pedra spor muito e muito tempo .

    Programação esquisita - Comohavia feito na TV Rio, Walter Clark tam-bém armou uma grade de programaçãopara a novata TV Globo . Ia de novelasde Glória Magadan a mesa-redonda d efutebol (ótima por sinal, com Nélso nRodrigues . João Saldanha, José Maria

    Scassa, entre outros) ; de Chacrinha a Rau lLongras (o narrador esportivo que crio uexpressões como "pimba" para chute e"balançar o véu da noiva" para gol) . Masia de mal a pior. A Tupi e a Record eramnaquele instante imbatíveis .

    O assunto Time-Li fe preocupava . Con-ta também a lenda que Joe Wallach, entãoo homem do grupo norte-americano n oBrasil, teria sido seduzido esse mes-mo o termo, seduzido - por Walter e Bon icom argumentos que iam da persuasão("Joe, teus filhos podem ir para o Vietnã . . .fica por aqui, rapaz") a almoços e jantarescom perdizes trazidas da China, trufas vin -das da França . regadas pelo Chateau Mou-ton Rotschild da melhor safra e mulatas ,

    mulatas, mulatas, muitas mulatas num ci-nematográfico apartamento com vista parao mar . Como poderia resistir a um Rio deJaneiro de clima tropical aquele adminis-trador formado nos rígidos bancos acadê-micos norte-americanos ?

    Claro que Joe ficou e o Time-Life dan -çou . Joe Wallach virou diretor da Globo e oacordo deixou de ser a razão maior da gritade Calmon . A Globo já era legalmente bra-sileira . mas faltavam o índice de audiênci ae o dinheiro . Programas como O Homemdo Sapato Branco, Dercy Gonçalves, Cha-crinha, Raul Longras . Sílvio Santos, o boxe.a luta livre com Ted Boy Marino, com oprmtoteur Lídio de Ranieri e Renato Paco-te na produção . eram muito pouco para en-frentar as Unidas e as Associadas. Não ha -via anunciantes .

    Boni já passava a maior parte do tem-po em São Paulo, onde, subindo nas me-sas da sala de Luís Carlos Vergueiro, es-crevia com um "pincel-atômico" e grita-va ao mesmo tempo : "Chamadas, chama -das, chamadas. Sem chamadas ningué mfica conhecendo a programação . Chama -das . chamadas, chamadas . . ." . Criou umsistema de fazer com que as chamadassaíssem de graça : se um intervalo tivessecinco anunciantes, incluía no final deles ,embutido no custo total, o anúncio d aprópria Globo. O método permanece atéhoje e foi copiado por todas as outra semissoras .

    O fato é que a programação era muit oclasse C-D e os anunciantes de maio r

    poder de fogo freqüentemente prefere mdifundir sua publicidade entre consumi -dores de maior poder aquisitivo .

    Caixa baixa - O dinheiro era escas-so até para cobrir a folha de pagament odos funcionários . Os cachês, esses entã otinham que esperar e muito . Eram peque -nos - 20, 30 ou 50 cruzeiros ou que nometivesse a moeda naquele tempo - e fica-vam esperando até que os artistas desistis -sem de recebê-los . O tesoureiro José Le-mes, da Globo de São Paulo, guardava atépouco tempo uma pilha de cachês em pa-pel de seda como lembrança daqueles tem-pos bicudos, quando o diretor financeiro ,Orlando de Carvalho, ia com muita fre-qüência pegar dinheiro emprestado comMário Del Giudice, dono de uma agênci a

    Leila Diniz e Henrique Martins: alimentando o ibope Maria Claudia : ao vivo

    IMPRENSA - MAIO 1995 15

  • de automóveis da "boca" . na Avenida Ri oBranco, para acudir desesperadamente afolha de pagamento.

    Francisco de Abreu . diretor da Rádi oNacional de São Paulo . também do mes-mo grupo (que junto com a Rádio Excel-sior. Cultura. TV Paulista e TV Baum foicomprado pela Globo), todos os mese sentrava com dinheiro da rádio para ajudara pagar a folha da TV Globo . E SfIvio San-tos, que já ganhava bastante dinheiro comseu Baú da Felicidade, negociava sempremais espaço para o seu programa, pagan -do o preço que a TV Globo pedia. até che-gar a ter seis horas semanais na televisão ,além da programação na rádio, que ia deduas a três horas diárias .

    Claro que Boni não via com bons olhosnem o programa de Silvio Santos nem asituação que se via obrigado a aceitar, emque quase todos os meses crescia justa -mente o programa que ele queria cortar,por achá-lo em desacordo com sua filo-sofia de programação . Audiência que ébom, nada . Só Sílvio aos domingos, al -guns pontinhos aqui e acolá, e só .

    Saco sem fundo - Para reverter ta lsituação Boni . mais em São Paulo d oque no Rio . e Walter Clark, mais no Rio ,tiveram que lutar muito . Acredita-se qu eo jornal O Globo também tenha con-tribuído com muito dinheiro para aju-dar a parceira TV Globo. mas ela eramesmo um saco sem fundo. Não fos-sem os primeiros lugares das rádios em

    São Paulo e no Rio e o barco teria afun-dado com todos dentro .

    Mudavam-se nomes, programas ,idéias, mas nada de novo acontecia com arapidez desejada em televisão . Saíam no-mes de várias áreas . No jornalismo . Mau-ro Guimarães . Paulo Mario Mansur: na ad -ministração . Roberto Montoro, legad odeixado por Victor Costa . Na parte artísti -ca, na musical, na técnica, enfim em todo sos setores foram saindo e entrando nomese mais nomes . Era uma revolução de cos-tumes . Impossível não lembrar de Fran -cisco de Abreu . sempre britanicament evestido, olhando da grande janela de su asala na Rádio Nacional para o pessoal d atelevisão, lá embaixo. Via Boni vestindo

    calça azul turquesa e camisa laranja,apressado como sempre, às voltas sabe -se lá com quê . e comentava : "Esses me-ninos são uns loucos . Pensam que é assi mque se dirige uma empresa . . ." Na verda-de, era assim, velho Abreu querido .

    Subindo no Ibope - Já na semanaseguinte vinha o Ibope do mês, em quepela primeira vez um programa da Glo-bo figurava em primeiro lugar. Era a Ses-são Zas-Trás . que ia ao ar pela manhã . Afesta do primeiro aniversário desse pri-meiro "campeão de audiência" superlo-tou o Pacaembu e a foto que tenho dess edia com Boni e nossos filhos não poderi amostrar alegria maior. Meu programa naRádio Nacional também estava em pri-meiro e comemoramos juntos. Lembro-

    me de certas palavras de Boni sobre oprimeiro lugar da Sessão Zas-Trás, alg omais ou menos assim: "Agora começa -mos pelo lado certo . E pela manhã que sevai subindo no Ibope e depois, como umafileira de dominós, iremos até a meia -noite e depois pela madrugada afora" .Não deu outra. A Globo, pelo menos e mSão Paulo, começava a crescer, substi-tuindo suas peças no tabuleiro da progra -mação .

    Mas, para que tudo isso acontecesse ,houve lances de verdadeira estratégia deguerra . Por exemplo, para conquistar ointerior de São Paulo - o segundo mer -cado nacional de publicidade (e de espec -tadores , é claro) - seria preciso conquis -

    tar cada um do smunicípios que . porcontrato com a sprefeituras, repe -tiam a programaçã oda TV Tupi desd emuitos anos . Com omudar esse quadro?Não foi fácil . Com oa Tupi já começas-se a mostrar sinai sde desmoronamen-to administrativo, aGlobo aproveitou -se da situação e co-meçou a contratarhomens-chave d aTupi . Juracy Magroda Silva, que era dodepartamento dointerior das Asso -ciadas, foi um do sprimeiros . Ele sa -bia, assim como o

    diretor-superintendente José Arrabal ,quando e onde venceriam os contrato scom as prefeituras do interior. Como aTupi já não conseguia preocupar-se comesses "detalhes", era só mandar um ho -mem da Globo para a cidade em questã oe transferir o referido contrato . E assim ,em três tempos, emissoras da Rede As -sociada do Interior (sofrida e brilhante -mente implantada por Humberto Bury eseus homens), passaram a mostrar quasede graça as imagens da Globo . Conta alenda, também, que a Globo contratou apeso de ouro um funcionário das Asso -ciadas que tinha a incumbência de guar -dar as chaves do cofre de um banco ond eestavam documentos importantes de Joã oCalmon sobre o "acordo" Globo-Time -Life . E consta que esse funcionário está

    Chacrinha : buzinando e conquistando audiência Darcy : salário em dia

    36 IMPRENSA - MAIO 1995

  • 0 homem que é a alma da Glob ona Globo até hoje . junto com a chave d otal cofre, é claro .

    Dupla brilhante - Muitas são a shistórias sobre a Globo e nem todas fo-ram contadas . O fato é que, para sorte d aemissora (e da própria televisão brasilei-ra), juntaram-se pela primeira vez doi sprofissionais de comunicação da enver-gadura de Walter Clark Bueno e José Bo -nifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni .Foram esses dois empregados com car-teira assinada e não os donos, ou filho sde donos, que deram à televisão brasilei-ra o padrão de melhor do mundo em vá -rios aspectos . Não fossem esses funcio-nários geniais e estaríamos hoje send oobrigados a ver programações como a sde países da Europa, por exemplo, qu eainda não chegaram ao nível da TV Tup ide São Paulo nos anos 50 . Que dizer en -tão da programação latino-americana,México, por exemplo (argh!), e das esta -tais de todo o mundo? Há quem diga que ,no dia em que Boni sair (se é que sairá) ,a TV Globo já começará a cair.

    Nos seus trinta anos de existência, aGlobo é a prova maior de que televisão écoisa para profissionais . Hoje, 1 bilhãode dólares é o faturamento esperado est eano pelo Departamento Comercial d aemissora . Mais de 70% saem de São Pau -lo (SP-l e SP-2) capital e interior . O res-tante é dividido pelo Rio de Janeiro e oresto, que é resto mesmo .

    Parabéns, TV Globo, pelos 30 ano sque tive o privilégio de acompanhar d eperto junto com tantos companheiros vi -vos ainda e outros que já se foram, com oo humorista Geraldo Alves, a quem dedi-co estas mal traçadas linhas .

    Gal e Sílvio : início de carreira

    José Bonifácio de Oliveira Sobrinho ,59 anos, nascido em Presidente Alti-no (subúrbio da Sorocabana, zona Oes -te de São Paulo, bairro hoje pertencen-te ao município de Osasco), é filho d eum músico que tocou violão e cavaqui-nho no regional de Armandinho, n aRádio Record, ainda na Rua Quintin oBocaiúva . Orlando de Oliveira, mais co-nhecido pelo apelido de "Caçula", mor-reu quando seu filho Boni tinha 7 anos .Dona Quina (Joaquina) lutou muito par aformar os dois filhos, Boni e Carlos Au-gusto (Guga) .

    Naque-les anos de1967/68 ,a Globo vi apassar talvezseus piore smomentos .Em 1967 ,Boni assu-miu a dire-ção artístic ada TV Glob odo Rio, ond eficou até1980, quan-do foi guin-dado ao car-go que at éhoje ocupa ,o de vice-pre-sidente d eoperações .E autor d otrabalho Vio-lência Urba-na nos Mei-os de Comunicação, por ele mesm oapresentado no Senado Federal . Fo iconselheiro da Democracia Corintiana .

    Boni, que aos 17 anos já fazi atextos comerciais e humorístico spara o programa Manoel de Nóbre-ga, na Rádio Nacional de São Paulo ,iniciou-se ainda menino na Linta sPropaganda, com Rodolfo Lima Mar-tensen, trabalhando ao lado de Guta ,que recentemente morreu idolatra -da por todos os artistas da Globo ,onde cuidava do elenco . Criou paraa Lintas um programa radiofônic ochamado Caixa de Surpresas Levere participou, como redator, de váriosprogramas daquela agência, qu eapresentava na Rádio Mayrink Veiga ,do Rio, o programa humorístico Le-vertimentos, de grande sucesso n aépoca . Trabalhou também na Multi

    Propaganda, tendo como colega Jor-ge Adib, hoje diretor internacional daGlobo . No departamento de propa-ganda da Varig criou a Ponte Aérea ,batizou o avião Electra-II (forma d edistingui-lo do Electra, exatament eigual, que havia explodido na Euro-pa) e é autor da assinatura "Varig ,Varig, Varig" para todos os spots d aempresa aérea . Depois trabalhou naRGE, onde lançou o primeiro disc ode Juca Chaves, e chegou a posa rpara uma capa do LP Viva a Vida ; ena Linx Filmes, com César Mêmo-

    lo, Robert oSantos, Gali-leu Garcia ,Eli Barbosa ,João Carlo sMagaldi eWalter Carva-lho, que eraoffice-boy .Passou pel aTV Record ,onde crio uum tigrecomo marca ;pela Bandei-rantes, ond eJoão Saa dnunca enten-deu bem oque ele que -ria dizer ; emseguida, fo ipara o Rio ,onde inicio uo Telecentrona TV Tup i

    (quando as vinhetas sonoras já es-tavam compostas e gravadas por Se-verino Filho, de Os Cariocas, foi paraa TV Globo) .

    Na sua passagem pela TV Excelsior ,ensaiou o que viria a ser a TV Globo d ehoje . Tudo começou lá, da grade da pro-gramação artística e comercial à tele-dramaturgia . A Globo de hoje é a Excel-sior de ontem, com mais perfume e di -nheiro . Boni as fez .

    Sua sensibilidade para a comuni-cação fez dele um profissional dispu-tado pelas maiores redes de TV domundo . Sua passagem à frente da semissoras brasileiras teve o efeito d euma revolução - talvez a última - no snossos meios de comunicação . Aplica-do a Boni, o termo "génio" signific apouco . Que o digam os que conhecemo seu trabalho . (W.S . )

    U1PRE\i¥ V1_AIO 1,495 37

  • Haroldo Evelyn : época gostosa Abreu : sócio do doutor Robert o

    A aventura dos pioneirosMesmo com os salários atrasados, ele s

    trabalharam para a Globo chegar ao primeiro luga r

    por Deborah Bresser

    O crachá prateado fazia bri -lhar os olhos de quem comele cruzasse . Valia mais ,

    S

    muito mais, do que qualquer0 documento de identidade .

    Revelava que o possuidor era membro deum privilegiado grupo social : funcionário,da TV Globo. O fenômeno, levado às te-las pelo humorista Chico Anísio . tomou aforma de Bozó, personagem que . acimade qualquer coisa, era "da Globo" . Masnem sempre foi assim . Antes de virar si-nônimo de status, trabalhar na emissorachegou a ser uma aventura . Pequena e se mdinheiro, a Globo, em São Paulo, contavacom o romantismo e a integração de seu sfuncionários para sobreviver. E com osagiotas . "Os atrasos de salário eram cons-tantes, mas nós acreditávamos no projeto,

    bíamos que poderia ser uma situaçã opassageira", relata o publicitário Celso deCastro, que lá começou a trabalhar em1968, como contato comercial, saindo e m1979, como diretor do departamento . "Era -mos uma verdadeira equipe, todos muit ojovens e dispostos a fazer a emissora cres-cer" . lembra . O terreno era fértil . Naquel emomento, o mercado televisivo paulistaassistia à derrocada da TV Excelsior, pa -

    ralelamente ao sucesso das novelas daTup ie dos shows da Record . "A Globo preci-sava faturar e ter audiência", conta Cas-tro . Hoje soa óbvio, mas há trinta anos eraum verdadeiro desafio. A emissora tinhaum pouco de tudo, com programas de au-ditório (Chacrinha, Longras), shows (Der-cy Gonçalves), filmes (aos sábados, 2 1horas) e novelas . Apesar de variada, a pro-gramação era popularesca, o que não agra-dava os clientes .

    Plano Cica - "Quando a emissoracomeçou a crescer em audiência e a bri-gar pelo primeiro lugar, vivia com umfaturamento de quem está em quarto lu -gar", revela Castro. Para complicar, nã ohavia mecanismos eficazes de análise d operfil sócio-econômico dos telespectado-res . Ainda assim, o Ibope anunciava queo público da Globo era formado por um aclasse social baixa (CID) . o que afastav aos prováveis anunciantes . A saída foi u mplano de vendas apelidado de 4 em 1 ,nome emprestado de um doce da Cicalançado no mesmo período (em uma s ólata os gulosos encontravam quatro do-ces diferentes) . "Oferecíamos aos clien-tes quatro vezes mais anúncios do que os

    que tivessem em outras emissoras . Seveiculavam dez comerciais na Tupi, naGlobo, pelo mesmo preço, teriam direit oa quarenta" . diz Castro, acrescentandoque . naqueles tempos, as relações com a sagências eram mais de amizade do queprofissionais, o que facilitava alguma scoisas . "Por exemplo . a gente comia depermuta . Como recebíamos apenas umvale semanal para o combustível, não tí-nhamos dinheiro para comer. Trocávamo srefeições por anúncios", diverte-se o ex -diretor comercial .

    Cofre vazio - Não eram só eles, dodepartamento comercial, que tinham quese virar. Dobrado maior cortava o direto radministrativo, que era o homem do di-nheiro . Ou da falta deste . Haroldo Evely nfoi incumbido de administrar o cofre va-zio da emissora nos idos de 68 . Cariocada gema. foi deslocado para São Paulo coma promessa de que . dali a seis meses, teri alugar garantido na sede da emissora . Dal ia seis meses, porém, trouxe mulher e fi-lhos para viver com ele na capital paulis-ta, de onde nunca mais saiu, nem preten-de . "Esta terra é boa", diz ao se referir àcidade que adotou . O convite partiu de

    38 IMPRENSA - MAIO 1995

  • Luiz Eduardo Borgueti . "Lulu para os ín -timos" - ressalva Evelyn, então direto rregional da emissora . "Vim para conserta ras finanças . A coisa estava ruim por aqui .Dizer que a Globo era pobre é bondade . AGlobo não tinha dinheiro nenhum, ne-nhum, nenhum . Quem sustentava a emis-sora eram as rádios (Nacional, hoje Glo-bo, Excelsior e FM Excelsior, dirigidas po rFrancisco de Abreu)", lembra o atual con-sultor da Sapia Corretora de Seguros . Ha-roldo, como era chamado na emissora ,confirma os constantes atrasos salariais ."Pagávamos os salários por faixas, só qu eisso durava até o fim do mês seguinte . Nin -guém reclamava", admite, lembrando qu esó não podia atrasaro pagamento da Der-cy Gonçalves . "Ess asim dava show" .Famoso também fi-cou o episódio noqual o pessoal do Te-lecatch foi exigir se upagamento . José Le -mos, o "Zé do Cai-xa", encarregado ,trancou-se em su asala armado de re-vólver, que de nadaadiantou quando o srapazes da luta livrederrubaram a frági lportinha . Antes d evirar pastel, Zé doCaixa arrumou a gra-na da rapaziada ."Quando alguém di-zia que precisava d edinheiro, dávamo ssempre um jeito, pa-gávamos o adianta -mento do adianta -mento", informa Haroldo . Saudoso, ele éenfático ao adjetivar aqueles tempos : "Erauma época muito gostosa . Não tínhamosum tostão, mas todos se juntaram, nu mesforço enorme para manter a firma an -dando" .

    Fogueira santa - Em qualquer em-presa . um incêndio em sua sede signific aprejuízos . Não para a Globo paulista d e1969 . "Felizmente o prédio pegou fogo, oque nos deu a oportunidade de chamar to -dos os credores e renegociar nossas dívi-das", diz Haroldo, que na época comemo-rou a moratória . Esse aperto durou bas-tante . Não foram poucas as vezes que paraapagar os incêndios financeiros a emisso-

    ra recorreu a agiotas . "Tinha um do qua leu já era freguês . Usava uma loja de car-ros usados como fachada, mas seu negó-cio era emprestar dinheiro . E como cobra-va caro!", conta . O fogo - real - alivio uas dívidas : mas faturamento que é bom ,nada . "O único programa que gerava fatu-ramento era o do Sílvio Santos. Ele era fun-cionário da rádio e comprava o espaço n aTV. Esse realmente se fez, é um exempl ode self-made-man . Ele é extremamente tra-balhador e tem uma simpatia fantástica .Não sei como o sorriso dele funcionav ano rádio, mas na TV todo mundo conhe-ce . . .", brinca. Quem também não mede elo-gios ao atual dono do SBT é Francisco d e

    Abreu . Diretor-geral das rádios do GrupoGlobo por 23 anos, Abreu hoje se manté mcomo procurador da TV, no cargo de dire -tor executivo da diretoria geral em Sã oPaulo, e lembra que Sílvio . quando traba-lhava como locutor, vendia sanduíche ecafé para os colegas da rádio . "Ele é umtrabalhador e merece tudo o que tem", diz .

    Incompetência alheia - Ao contrá-rio de Haroldo. que trocou o Rio por Sã oPaulo, Abreu até hoje eive na ponte-aé-rea . Aos 85 anos, ele mantém-se carioca."Vim para dirigir a Rádio Nacional até oDito Costa (que foi diretor da Rádio Nacio-nal do Rio de Janeiro, posto que perde ucom o fim do governo Vargas) arrumar ou-

    tra coisa no Rio . Mas ele morreu e eu fu ificando ." Abreu era uma das poucas pes-soas que Roberto Marinho conhecia emSão Paulo e fez dele seu procurador. "Aempresa era uma S .A. e precisava de trê ssócios, que éramos eu, o doutor Roberto eseu irmão Ricardo . Isso quando os filhosdele eram menores", conta, informandoque sua participação na TV se restringia aassinar contratos . "Nunca interferi na pro-gramação. Meu negócio era com as rádi-os", faz questão de frisar.

    Esses homens, que acompanharam o sprimeiros passos de uma emissora que hoj eé a maior do país, são unânimes em afir-mar que a Globo teve como aliada no se u

    processo de crescimento a má administra-ção de emissoras contemporâneas . com oTupi e Record . E teve o Boni - José Bo-nifácio de Oliveira Sobrinho -, que. paraHaroldo, fez a diferença . "A Globo foi be madministrada', acredita Abreu . Já Celsode Castro, além de apontar o fracasso da sconcorrentes na área administrativo-finan-ceira como motor do sucesso da emisso-ra, diz que foi graças à Globo que o mer-cado publicitário para a mídia eletrônic ase profissionalizou . E que ninguém duvi-de : todos, sem exceção . um dia colocara ma mão no peito e tiveram orgulho de ter,pendurado no bolso da camisa ou do pale-tó, um tal crachá prateado (ou azul), qu efazia milagres onde quer que fosse visto .

    300 mil m2 de estúdiosCom a intenção de concentrar em um único loca l

    toda a produção de novelas, minisséries, programa sespeciais e shows, a Rede Globo investiu 120 mi-lhões de dólares, só neste ano, na primeira fase d eampliação do complexo de produção do Projac, que ,desde 1989, vinh asendo construídoem Jacarepaguá ,zona Oeste do Ri ode Janeiro .

    Situado e muma área de 1, 3milhão de metrosquadrados, dosquais 300 mil es-tão destinados à snovas instala-ções, o Projac reú-ne há seis anos aslocações das cida-des cenográfica sem que são filma-das as cenas ex-

    ternas das telenovelas da emissora . A novidade éque no dia V de julho será inaugurado o primeir oestúdio "multi-uso" de uma série de quatro estú -dios que devem ser construídos até o final do ano .Cada estúdio, com 1 000 metros quadrados de áre a

    e 11 metros dealtura, será equi -pado com alt atecnologi adigital .A segun -da fase, que deveconcluir-se e m1997, prevê ainauguração d eum estúdio s ópara shows, umacentral de pós-pro-dução, um res-taurante e um pré-dio administrati-vo . A Globo pro-mete mais estú-dios para o futuro.

    IMPRENSA - MAIO 1995 39

  • ó

    Ficção e jornalismo são ele -mentos difíceis de combina re quase sempre resultam emuma mistura perigosa . Poi sé com essa fórmula que a

    Central Globo de Jornalismo está apostan -do todas as suas fichas na minissérie Con-tagem Regressiva, qualificada na emisso-ra como um programa diferente de todosos que existem ou já existiram, mesclan-do dramaturgia e jornalismo sem que aparte ficcional interfira no rigor da infor-mação . Criada para assinalar a passage mdos 30 anos da Rede Globo, a minissérieserá levada ao ar a partir do próximo di a13 de junho. em doze capítulos a seremapresentados de terça a sexta a partir da s22h30 . focalizando, em reportagens espe -ciais, os temas que marcaram a vida da spessoas nesse período, vistos pelo ângul odas câmeras de televisão .

    A minissérie polariza hoje as maiore sexpectativas do Telejornalismo da Glo -

    Pedro Bial : comandando o jornalismo

    bo. "Podemos estar traçando uma pers-pectiva fantástica para o jornalismo d etelevisão, abrindo um espaço que, depen-dendo dos resultados, poderá se tornardefinitivo", diz Alberico de Souza Cruz ,idealizador da nova fórmula.

    O fato, explica ele, é que toda a Cen-tral de Telejornalismo está envolvida noprojeto, em apoio ao grupo encarregad oespecificamente da minissérie : o editor-chefe Pedro Bial, que apresentará o pro-grama (além de ser o autor de alguma sreportagens) ; o editor regional da Globoem São Paulo . Paulo Roberto Leandro.coordenando uma equipe de onze repór-teres especiais, quatro dos editores mai sexperientes da emissora e seis produto-res : e os comentaristas Paulo Francis ,Joelmir Beting e Alexandre Garcia .

    O grupo de dramaturgia estará sob ocomando do ator e diretor Paulo José, a olado de uma equipe de roteiristas chefia -'da por Walter George Durst . Basicamen-

    te . essa parte retratará cenas do dia-a-di ados membros de uma família, que vive mou comentam situações relacionadas comos temas das reportagens que entram e mseguida .

    "A Globo, que sempre esteve na fren-te, estará sendo mais pioneira do que nun -ca com a minissérie, um projeto inova -dor, que, além da dramaturgia . vai usarefeitos especiais e recursos da cibernéti-ca", comentaAlberico, entusiasmado co mo apoio dado à idéia pelo diretor de ope-rações Boni .

    Temas da vida Ele diz que a mi-nissérie não se confunde com as retros-pectivas tradicionais porque focaliza o sfatos dentro de determinados temas -violência, sexo, culto ao corpo, porexemplo - e não segundo uma orde mcronológica . No programa sobre as guer-ras . provavelmente o quinto a ser leva-do ao ar, o repórter José Hamilton Ri -beiro volta ao Vietnã, onde perdeu a per -na ao pisar numa mina, na cobertura doconflito, para recapitular acontecimen-tos e reencontrar pessoas com quem cru-zou naquele tempo .

    O primeiro programa começará co mum painel do mundo nesses trinta anos :as novas fronteiras, a nova Rússia, a con-quista do espaço, o homem na Lua . . . Emseguida, uma reportagem de Renato Ma-chado sobre a vida brasileira durante ess eperíodo . tendo como fio condutor o pro-blema da inflação, os vários planos eco-nômicos, as sucessivas trocas de moedas .Uma reportagem de Pedro Bial sobre a sdramáticas mudanças no mundo depoi sda queda do Muro de Berlim completa oprimeiro programa . O segundo, provavel-mente (a ordem pode ser alterada se mprejuízo da compreensão dos fatos), tra-tará de sexo. amor e medo . focalizando arevolução sexual e a nova realidade co mo advento da Aids . Esse programa deve-rá ter a participação de Regina Duarte .que ao longo dessa época foi, primeiro ,a "namoradinha do Brasil" e depois fez asérie Malu Mulher . Para o terceiro dia estáprevisto o tema "fama eterna, fama eté-rea e solidariedade" abordando persona-gens como Ayrton Senna e Pelé, que par-ticipará diretamente do programa .Outros temas escolhidos : violência, dro-gas e impunidade: a revolução trazidapelo computador na vida das pessoas : eterrorismo, fanatismo e religião . A séri edeverá encerrar-se com um programa so-bre vida urbana .

    X

    Paulo José: comandando a ficção

    A fórmula explosivada minissérie jornalística

    Contagem regressiv amistura reportagem e dramaturgi a

    40 I \1PRF \' C a _ kl .1 In IOQÇ