03 paixão sublime - lisa kleypas
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Greg Ellis
a Kleypas é autora de 21 romances traduzidos para 12 línguas. Licenciada em Ciências Políticas, publicou o primeiro livro co
s. Os seus livros figuram constantemente em listas de bestsellers como o NYTimes e a Publishers Weekly e conquistaram vário
mios RITA, o prestigiado galardão da RWA (Romance Writers of America).
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ma contadora de histórias francamente talentosa.”
Publishers
eypas nunca falha. (…) Tem um especial talento para fazer os leitores rir, chorar e aplaudir, normalmente logo nas páginas de
rtura.”
Romanti
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xão Sublime
a Kleypas
licado em Portugal por:
e ntidos®isão Editorial Literária – Porto
mail: [email protected]
lo original:il in Winter
yright © 2006 by Lisa Kleypas
ign da capa: Nor267gens da capa: © Allan Jenkins/ Trevillion Images
dição em papel: junho de 2013
entidos® é uma marca registada da
to Editora, Lda.
ervados todos os direitos. Esta publicação não pode ser reproduzida, nem transmitida, no todo ou em parte, por qualquer procerónico, mecânico, fotocópia, gravação ou outros, sem prévia autorização escrita da Editora.
e livro respeita as regras do Acordo Ortográfico da Lí ngua Port uguesa.
978-989-745-005-1
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z que Miss Jenner era conhecida por viver constantemente retirada em cantos escuros. Nem s
ham alguma vez conversado diretamente – circunstância que a ambos parecia ag
bremaneira.
Mas agora não havia como evitá-la. Por uma estranha razão, Miss Jenner tinha decidido v
bastian em sua casa – sem ser convidada, e a horas absolutamente indecorosas. E para to
uação ainda mais comprometedora, viera sozinha – e qualquer meia hora passada sozinha
bastian era o suficiente para arruinar a reputação de uma rapariga. Ele era debochado, am
rversamente orgulhoso do seu estatuto. St. Vincent distinguia-se notavelmente na ocupaçã
colhera – a de degenerado sedutor – e estabelecera um padrão de conduta a que poucos libe
deriam aspirar.
Recostando-se descontraidamente, numa postura de falsa indolência, Sebastian ficou
angeline Jenner aproximar-se. A biblioteca tinha pouca luz, à exceção da oriunda de uma pe
eira no centro da sala, e as chamas débeis brincavam agora com o rosto bonito da jovem
arentava ter mais de vinte anos, a tez fresquíssima e os olhos cheios de uma inocência que a
via para intensificar o desdém do visconde. Sebastian jamais conseguira valorizar ou smirar a inocência.
Ainda que o seu cavalheirismo o incitasse a erguer-se da cadeira, parecia não fazer g
ntido, dadas as circunstâncias, prestar-se a quaisquer gestos de polidez. Assim, limitou-se a in
a cadeira à sua frente com um indolente gesto de mão.
– Sente-se, se quiser – disse-lhe, secamente. – Ainda que, em minha opinião, não deva demor
orreço-me facilmente, e a sua reputação não é propriamente a de uma conversadora brilhante
Evangeline não reagiu àquela grosseria. Sebastian não pôde deixar de pensar que tipucação a poderia levar a mostrar-se imune ao insulto, quando qualquer outra jovem da sua
ia corado ou desatado num pranto incontido. Das duas, uma: ou ela tinha a sensibilidade de
vilha ou uns admiráveis nervos de aço.
Despindo a sua capa, Evangeline poisou-a num dos braços da cadeira for rada a veludo, e se
sem a menor delicadeza ou hesitação. Encalhada, pensou Sebastian, lembrando-se de que e
iga não só de Lillian Bowman, como da sua irmã mais nova, Daisy, e de Annabelle Peyt
upinho de jovens convivera lado a lado em inúmeros bailes e soirées da última tempo
mando um desinteressante agregado de eternas Encalhadas. Contudo, tudo indicava que a
via mudado para duas delas, já que Annabelle tinha finalmente conseguido casar-se, e L
abara de ficar noiva de Lord Westcliff. Sebastian duvidava seriamente que aquela maré de
uma vez se estendesse à criatura desastrada que se encontrava à sua frente.
Embora se visse tentado a perguntar-lhe a razão da sua visita, Sebastian também temeu qu
sencadeasse um momento de prolongada gaguez que os atormentaria a ambos. Aguardou
disfarçada impaciência, enquanto Evangeline parecia considerar o que tinha para dizer. Debai
silêncio cada vez mais desconfortável, Sebastian ficou a vê-la sob a ténue luz da lareira, e no
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o sem alguma surpresa – que ela era até… bastante atraente. Nunca tinha olhado par
etamente, tendo apenas a vaga ideia de uma ruivinha apagada e com péssima postura. M
rdade é que era… encantadora.
À medida que a observava, Sebastian apercebeu-se de uma certa tensão nos músculos, e sen
os da nuca a eriçarem-se. Manteve-se recostado, mas fincou inconscientemente as ponta
dos nos braços aveludados da cadeira. Achou estranho nunca ter reparado naquela jovem, j
nítido que ela tinha uma imensidão de atributos dignos de nota… O cabelo, do mais pálido t
vo que ele alguma vez vira, parecia alimentar-se das chamas, reluzindo num calor incandes
esbeltos contornos das sobrancelhas e a forte espessura das pestanas eram de um acobreado
uro, enquanto a pele era, essa sim, a de uma verdadeira ruiva: muito branca e levemente sa
nariz e nas bochechas. Sebastian deu por si a encantar-se com aquele alegre salpicado de
uradas, como que pulverizadas pela mão de uma fada amiga. Evangeline tinha lábios che
selegantes e fora de moda – de um rosado natural, e uns enormes olhos azuis… bonitos
uco emotivos, como os de uma boneca de cera.
– Soube que a minha amiga Miss Bowman aca-cabou de se tornar Lady Westcliff – obsangeline, pausadamente. – Ela e o conde viajaram até Gre-Gretna Green pouco depois de
… confrontado.
– De me ter dado uma sova das antigas seria uma escolha de palavras mais correta –
bastian, bem-humorado, sabendo que ainda eram bem visíveis, no seu queixo, as marcas do p
teiro de Westcliff. – Afigura-se-me que ele não aceitou muito bem eu ter levado emprestada
ada.
– O se-senhor raptou-a – contrapôs ela, calmamente. – Levar emprestada implicariacionava devolvê-la.
Sebastian sentiu os lábios aflorarem-se num sorriso genuíno, algo que já quase se esqu
mo fazer. A mocinha não era assim tão simplór ia, pelos vistos…
– Seja… Raptei-a. E é essa, então, a razão da sua visita, Miss Jenner? Para me fazer um rel
bre o feliz casalinho? Eu estou a par da situação. É bom que tenha algo de realmente intere
ra me dizer, ou terei de lhe pedir que saia.
– O senhor apenas desejou Miss Bowman por sabê-la herdeira. E por ne-necessitar de casa
uém de posses.
– É verdade – acedeu Sebastian, sem vacilar. – O meu pai, o Duque de Kingston, falhou na
ponsabilidade que tinha na vida: manter a fortuna da família intacta para que eu a pudesse
dar. A minha responsabilidade, por outro lado, sempre foi passar calmamente os meus
omover a ociosidade e a aguardar que ele morra. E tenho desempenhado esse papel na perfeiç
smo já não se pode dizer do Duque, lamentavelmente. Tem feito um péssimo trabalho na g
s finanças da família e, presentemente, encontra-se imperdoavelmente falido. E o que é pio
mo um pero.
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– O meu pai é abastado – disse Evangeline, sem quaisquer rodeios. – E às por tas da morte.
– Dou-lhe os meus parabéns.
Sebastian estudou-a intensamente. Não tinha dúvidas de que Ivo Jenner reunira uma fo
nsiderável com o clube de jogo. O Jenner’s era frequentemente visitado pelos cavalheiros
astados de Londres para jogarem, comerem e beberem bem, e com fácil acesso a rameiras ba
ambiente era extravagante, com um confortável toque de decadência. Vinte anos antes, o Jen
resentara até uma alternativa de segunda ao lendário Craven’s – o mais famoso e bem-suc
be de jogo de toda a Inglaterra.
Contudo, depois de o Craven’s ter sido devastado por um incêndio, o seu proprietário recusa
reconstruí-lo, tornando o Jenner’s a única alternativa viável, e elevando-o a uma posiç
oeminência. Não que alguma vez pudesse ser comparado ao velho e grandioso Craven’s. Um
, antes de mais, o reflexo do estilo e personalidade do seu proprietário – algo de que Ivo J
nifestamente carecia. Derek Craven fora, indiscutivelmente, o Senhor Espetáculo, enquant
nner não passava de um rude e simplório brutamontes, um antigo boxeur que nunca se des
coisa alguma, mas que, por um milagroso golpe do destino, se tornara num homem de negremamente bem-sucedido.
E ali estava a sua única filha – e se, por acaso, ela se estava a preparar para lhe fazer a pro
e Sebastian desconfiava, isso era algo que ele não poderia recusar.
– Não vim cá para ser f-felicitada – disse ela, secamente, em resposta ao seu comentário irón
– O que pretende afinal, filhinha? – indagou ele, docemente. – Vá direita ao assunto, sim?
o já começa a aborrecer-me.
– Quero poder acompanhar o meu pai nos seus últimos dias. A minha fa-família não me aulo. Tentei fugir para o clube dele, mas fui sempre apa-apanhada – e posteriormente punida.
z não vou voltar. Eles têm planos para mim que não tenciono se-seguir – nem que isso me c
ópria vi-vida.
– E que planos são esses?
– Querem forçar-me a ca-casar com um dos meus primos, Mr. Eustace Stubbins. Ele não m
u mal o conheço… mas sei que ele é um peão bastante solícito no esquema da mi-minha famí
– Esquema esse que implica controlar a fortuna do seu pai quando ele falecer?
– Sim. De início até considerei a ideia… porque pensava que Mr. Stubbins e eu ir íamos ter a
ópria ca-casa. A minha vida seria bem mais suportável vivendo afastada de to-todos eles. Ma
ubbins acabou por me confessar não ter intenção de se mudar para parte alguma. Quer contin
ver sob o teto da fa-família… e eu sei que não vou suportar isso por muito mais tem-tempo.
Confrontada com o silêncio aparentemente desinteressado de Sebastian, acrescentou em
uteloso:
– Estou em crer que eles tencionam ma-matar-me assim que deitarem mãos ao dinheiro d
.
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O olhar de Sebastian não se desviou do rosto dela, ainda que o seu tom de voz revelasse al
riosidade:
– Mas que falta de consideração da parte deles… E diga-me em que é que isso me
motamente interessar?
Evangeline não reagiu ao desprezo dele, limitando-se a olhá-lo diretamente nos olhos – o
pensar que nunca tinha visto uma tal dureza e tenacidade numa mulher.
– Estou a propor-lhe que case comigo – disse ela. – Preciso da sua proteção. O meu pa
masiado enfermo… demasiado fra-fraco para me poder ajudar, e eu não quero ser um fardo
mi-minhas amigas. Sei que me acolheriam de bom grado, mas ainda assim eu teria de viv
rmanente estado de alerta, com me-medo que os meus parentes me encontrassem e me força
s seus intentos. Uma mulher solteira tem poucos recursos, so-social ou legalmente. Não
to… mas eu não posso dar-me ao luxo de lutar contra moinhos de vento. Preciso de um
rido. E o senhor precisa de uma esposa com posses. Estamos ambos em situação de desesp
e me leva a crer que aceitará a mi-minha pro-proposta. Nesse caso, gostaria de partir para G
een ainda esta noite… Agora seria ainda melhor. Sei que os meus familiares já andam à mi-mocura.
O silêncio tornou-se pesado e tenso, enquanto Sebastian a observava com cara de poucos am
o confiava nela. E depois do fiasco do seu plano de rapto da semana passada, ele não tenci
tamente repetir a experiência.
No entanto, Evangeline tinha razão numa coisa: ele estava, de facto, desesperado. Com
deria facilmente comprovar pelo seu extenso rol de credores. Sebastian era um homem
stava de vestir bem, comer bem, viver bem. A mesada miserável que recebia do pai estava pre-lhe cortada, e ele não tinha dinheiro suficiente na sua conta para se aguentar até ao fim do
ra um homem que não via a menor objeção em optar pela saída mais fácil, aquela propos
a verdadeira bênção dos céus. Isto se a jovem ruivinha pretendesse realmente levar o seu
ante.
– Bem sei que a cavalo dado não se olha o dente – disse ele, cautelosamente –, mas quanto t
ta exatamente ao seu pai? É que há quem se deixe ficar eternamente no leito da morte… o
anto a mim, resulta extremamente problemático para quem está à espera.
– Não terá de esperar muito tempo – foi a resposta crispada da jovem. – Fui informada q
rtirá em menos de quinze di-dias.
– E que garantias tenho eu de que não vai mudar de ideias antes de chegarmos a Gretna G
be perfeitamente que tipo de homem sou, Miss Jenner. Não preciso lembrar-lhe que ain
mana passada tentei raptar e violar uma das suas amigas…
Evangeline fulminou-o com o olhar. Ao contrário dos olhos dele, de um pálido tom de az
a eram duas verdadeiras safiras escuras.
– Tentou violar a Lillian? – indagou ela, nervosamente.
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– Ameacei fazê-lo, sim.
– E teria levado a ca-cabo a ameaça?
– Não sei. Nunca o fiz, mas, como fez notar e muito bem, estou, de facto, desesperado. E
orda o assunto… o nosso casamento será exclusivamente de conveniência ou poderei espera
rmamos juntos, ocasionalmente?
Evangeline ignorou a questão, insistindo:
– Tê-la-ia violado ou n-não?
Sebastian olhou-a com uma expressão de escárnio.
– Se lhe disser que não, Miss Jenner… como poderá saber que estou a falar verdade? Não…
ia capaz de a violar. É a resposta que queria ouvir? Acredite, então, se isso a faz sentir
gura. E quanto à pergunta que lhe fiz?
– Dormirei consigo uma vez – disse ela. – E apenas para legalizarmos o casamento. Mas ja
pois disso.
– Que maravilha… – murmurou ele. – Eu raramente durmo com uma mulher duas vezes.
rfeito e absoluto tédio, depois de passada a novidade. Além de que jamais seria pequeno-burgunto de cobiçar a minha própria esposa. Isso significaria não ter talento para manter uma ama
aro que existe a questão de a menina ter de me presentear com um herdeiro, mas… desde qu
creta, estou-me pouco ralando para quem possa ser o pai da criança.
Evangeline nem sequer pestanejou.
– Exijo ape-apenas que uma parte da herança me seja destinada, numa conta fiduciár ia. Uma
nerosa, claro. Os juros destinam-se para meu uso exclusivo e gastá-los-ei como muito
ender – sem ter de lhe responder por isso.Sebastian percebeu que ela não era nada lerda, ainda que a sua gaguez pudesse indic
ntrário. Via-se que estava habituada a ser ignorada, subestimada… e ele percebeu que e
roveitava disso para mérito próprio sempre que podia. A constatação aumentou-lhe o interess
– Confiar em si será uma enorme tolice da minha parte – disse-lhe. – Pode bem roer-me a c
alquer momento. Quanto a si, seria ainda mais tola em confiar em mim, visto que, depo
ados, poderei facilmente fazê-la passar por um inferno bem maior do que o que tem
rpetrado pela sua família.
– Bem sei. Mas prefiro ser eu a escolher o meu próprio carrasco – respondeu-lhe ela, ple
casmo. – Antes o senhor que o Eustace.
O comentário arrancou-lhe uma gargalhada.
– Isso não abona muito a favor dele…
Evangeline não lhe devolveu o sorriso, limitando-se a recostar-se ligeiramente na cadeira –
tivesse sido aliviada de uma forte tensão – e fitou-o com uma resignação obstinada. Os olha
bos prenderam-se um no outro e Sebastian experienciou um estranho surto de consciência
estremecer dos pés à cabeça.
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Para ele não era novidade sentir-se facilmente excitado por uma mulher. Há muito que se
m mais físico do que a maioria dos homens, sendo-lhe facílimo deixar-se inflamar sexual
r determinadas mulheres – a um grau por vezes alarmante. E por alguma razão, aquela rap
ranha e gaga parecia ser esse tipo de mulher. Estava louco para a levar para a cama.
A sua fértil e sensual imaginação disparou-lhe imagens do corpo nu da ruivinha, a pele cla
rvas que ainda não vira e a dureza curvilínea do seu traseiro assim que ele o aninhasse en
os. Quis o cheiro dela inundando-lhe as narinas e a própria pele… o suave roçar do cabelo
garganta e no peito dele. Quis fazer inconfessáveis loucuras com a boca dela e com a dele.
– Está decidido, então – murmurou ele. – Aceito a sua proposta. Temos ainda muita c
bater, claro está, mas ainda levaremos dois dias a chegar a Gretna Green. Temos tempo para i
Sebastian levantou-se da cadeira e estirou-se ligeiramente, satisfeito por perceber que o olha
percorria o corpo. Após uma bem ensaiada pausa, acrescentou:
– Terei a carruagem pronta e mandarei o meu criado fazer -me as malas imediatamente. Par
ntro de uma hora. Ah, já agora… caso decida quebrar o nosso acordo em qualquer momen
ssa viagem, aviso-a que conto estrangulá-la.A jovem ofereceu-lhe um sorr iso desdenhoso:
– Não estaria tão nervoso acaso não tivesse já tentado isto na semana passada… com uma v
u-pouco colaborante.
– Touché . Isso faz de si uma vítima colaborante?
– Digamos… uma vítima ávida – disse ela, olhando-o como se desejasse partir naquele m
tante.
– Ah… as minhas prefer idas – comentou ele, oferecendo-lhe uma breve vénia antes de delioteca.
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Capítulo 2
Assim que Lord St. Vincent deixou a biblioteca, Evie soltou um suspiro trémulo e fech
hos. O visconde não precisava preocupar-se com a eventualidade de ela mudar de ideias. Agor
cordo estava consumado, a jovem sentia-se mil vezes mais impaciente do que ele para inicia
gem. A simples ideia de ter o tio Brook e o tio Peregrine, naquele preciso instante, à sua pr
xava-a aterror izada.
Quando conseguira fugir de casa, perto do final do verão passado, tinha sido apanhada à po
be do pai. E poucos minutos depois de o tio Peregrine a ter enfiado na carruagem de regre
a, tinha-a espancado até a deixar com um lábio aberto, um olho negro e os braços e
bertos de hematomas. Duas semanas trancada no quarto, a pão e água, completaram o p
nitivo.Ninguém sabia da verdadeira extensão do martírio pelo qual tinha passado, nem mesmo a
igas Annabelle, Lillian e Daisy. A vida no seio da família Maybrick tornara-se um verda
plício. Os Maybrick, a sua família materna – e sobretudo o casalinho Stubbins, Florence, a ir
e e Peregrine, o marido – haviam reunido esforços para combater a vontade dela. Mostrar
iosos e perplexos perante os problemas que ela naturalmente levantou… e a própria Evie
da mais perplexa. Nunca pensou poder vir a ser vítima de uma tal indiferença, de tanto ódio,
veras punições e, mais importante ainda, tudo isto sem se deixar ir abaixo. Talvez tivesse hepai muito mais particularidades e atributos do que se imaginaria. Ivo Jenner tinha sid
gilista de fibra e o segredo do seu sucesso, dentro e fora do ringue, não residia no talento, m
rseverança. E Evie herdara dele a mesma teimosia e tenacidade.
Evie queria muito ver o pai. Tanto que a demora e o anseio a magoavam fisicamente. Acred
e ele era a única pessoa no mundo que a amava. Um amor negligente, talvez, mas era mais d
alguma vez recebera de quem quer que fosse. Entendia perfeitamente os motivos que o leva
regá-la aos Maybricks, logo após a mãe ter morrido no parto. Um clube de jogo não era o m
biente para criar uma filha. E ainda que os Maybricks não pertencessem à nobreza, tinham
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hagem. Contudo, Evie não podia deixar de pensar se… acaso o pai soubesse como a iriam
ia feito a mesma escolha? Tivesse ele a menor suspeita do ódio visceral que aquela família
a sua única filha, será que… Mas era inútil pensar nisso agora.
A mãe estava morta e o pai muito em breve se lhe juntaria… e havia muitas coisas que
sejava ardentemente perguntar-lhe antes de o deixar partir. E agora, a sua melhor oportun
ra escapar às garras dos Maybricks estava ali… personificada naquele insuportável aristocrat
em estava prestes a contrair matrimónio.
Evie ficara espantada perante a facilidade com que conseguira comunicar com St. Vincent
s seres mais intimidantes que ela jamais conhecera –, com a sua beleza dourada e gélidos
uis, e uma boca concebida para beijar e mentir. Ele parecia um anjo caído do céu, dono de um
beleza máscula tão temível que só o próprio Lúcifer poderia conceber. Era igualmente ego
m escrúpulos – como ficara facilmente comprovado por aquela tentativa de estupro à noiv
lhor amigo. No entanto, ocorrera desde logo a Evie que um homem daqueles poderia facil
presentar um adversário à altura dos Maybricks.
St. Vincent seria um péssimo marido, sem dúvida. Mas desde que Evie não alimentasse quaisões quanto a ele, ficaria bem. Desde que continuasse a desprezá-lo, conseguiria facil
nter-se cega às suas indiscrições e surda aos seus insultos.
Que diferente seria o seu casamento quando comparado aos das amigas… Ao pensa
calhadas teve vontade de chorar. Não era plausível que Annabelle, Daisy ou Lillian – especial
lian – se mantivessem suas amigas depois de contrair matrimónio com St. Vincent. Piscan
hos com força, para expulsar as lágrimas, engoliu em seco a dor aguda que lhe apert
rganta. Não lhe servia de nada chorar. Ainda que aquela estivesse longe de ser a solução pera o seu dilema, a verdade é que não tinha alternativa.
Antecipando com algum prazer a fúria dos tios e tias ao saberem que ela – e a fortuna d
avam eternamente longe do seu alcance, Evie sentiu-se um pouco mais consolada. Tudo v
na desde que deixasse de viver sob o domínio deles. E qualquer sacrifício valia bem não ter
r resignada num casamento com o fraco e cobarde Eustace – que se confortava a si pr
mendo e bebendo alarvemente até quase não passar pela porta do próprio quarto. E m
ando os pais tanto quanto Evie, a verdade é que Eustace jamais se atreveria a desafiá-los.
Ironicamente, fora o próprio primo a incentivar Evie a fugir naquela noite. Tinha-lhe apar
go de manhã, exibindo um anel de noivado vulgaríssimo: uma fina anilha de ouro com uma
jade.
– Tome – dissera-lhe, algo timidamente. – A Mãe mandou-me dar-lhe isto e avisá-la de qu
será permitido sentar-se à mesa das refeições sem o ter posto. Os banhos serão anunciad
óxima semana, disse ela.
Nada daquilo apanhara Evie de surpresa. Após três malogradas temporadas na tentativa d
anjarem um noivo aristocrata, a família chegara finalmente à conclusão de que não seria at
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a que conseguiriam escalar socialmente. E à luz do facto de ela estar prestes a herdar uma fo
nsiderável, haviam engendrado um esquema simples para preservarem a herança nas suas
ando-a com um primo direito.
Ao ouvir as palavras de Eustace, Evie sentira um assomo de fúria tal que a de
ontrolavelmente enrubescida. E o primo tinha tido a ousadia de se rir dela, comentando
cárnio:
– C’um caneco, a Evie fica de mais quando cora! O seu cabelo fica… literalmente cor de lara
Engolindo uma resposta cáustica, Evie forçara-se a acalmar-se, concentrando-se ante
avras que redemoinhavam dentro dela como folhas secas num turbilhão. Finalmente cons
lorosamente ordená-las e indagar, sem gaguejar:
– Primo Eustace… se eu aceitar casar consigo… apoiar-me-á, mesmo indo contra o dese
us pais? Vai permitir-me visitar o meu pai e cuidar dele?
O sorriso imbecil esmoreceu do rosto do jovem gordalhufo, as bochechas balofas descaind
har a prima. Desviou o olhar e disse, de forma evasiva:
– Ora, primita, sabe bem que eles não seriam tão duros consigo se não fosse assim… temo uma mula!
Perdendo a pouca paciência que lhe restava, Evie sentiu a gaguez levar-lhe a melhor ao reag
– Quer fi-ficar com a minha for -fortuna sem me dar qual-qualquer retorno?!
– E para que diabos precisa da sua for tuna, não me dirá? – indagara ele, desdenhoso. – Não
uma criatura tímida e gaguejante, que vive escondida de tudo e de todos. Não tem necessida
upas elegantes ou joias caras. Não serve sequer para conversar e… tem ar de ser um tédio na
via estar grata por eu me predispor a casar consigo, mas é demasiado estúpida para sender isso!
– E-eu… Eu n-n-não…
A frustração deixara-a impotente. Não conseguira articular as palavras certas para sua d
enas conseguindo gaguejar e corar ainda mais pelo esforço inglório.
– Que perfeita idiota você me saiu, c’os diabos! – praguejou Eustace. Num rasgo de impaci
rou o anel ao chão, que rolou para debaixo de uma pesada cómoda. – Vê?! Perdeu-se! E a cul
da sua por me ter humilhado! Acho bem que o encontre, ou morrerá à fome. E vou dizer à M
fiz a minha parte ao entregar-lho.
Nessa noite Evie não desceu para jantar e, ao invés de procurar o anel, juntou uns qu
rtences numa malinha pequena. Fugindo por uma janela do segundo andar e escorregando po
ha de chuvas, conseguiu atravessar o pátio a correr e, num rasgo de sorte, deparar-se co
che de aluguer que ia a passar, assim que saiu pelo portão.
Aquela seria provavelmente a última vez que veria Eustace, pensou ela, com enorme satis
o era habitual encontrá-lo em eventos sociais – já que à medida que ia engordando se conf
da vez mais às paredes de Maybrick House. E qualquer que fosse o seu destino, ela jam
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ependeria de ter escapado à tortuosa sina de se tornar sua mulher. Evie duvidava seque
stace alguma vez se aventurasse a tentar levá-la para a cama… Não parecia possuir sufi
antidade daquilo a que vulgarmente se chamava instinto animal. A sua paixão reserva
clusivamente à comida e ao vinho.
Lord St. Vincent, pelo seu lado, já havia seduzido e comprometido demasiadas mulhe
quanto muitas delas consideravam irresistível aquele tipo de talento, a Evie enojava-a. Ainda a
o poderiam restar quaisquer dúvidas de que o casamento entre eles fora completam
nsumado.
Sentiu um nó nervoso no estômago só de pensar naquela inevitabilidade. Nos seus sonhos,
-se casada com um homem bondoso e sensível, de preferência com alma de rapazinho, que j
mbaria dela por gaguejar. Seria meigo e delicado para com ela.
Sebastian era completamente oposto ao noivo dos seus sonhos. Nada tinha de bondo
nsível… ou de remotamente inocente. Não passava de um predador que certamente adoraria b
m a sua presa antes de a matar. Olhando para a cadeira vazia que ele há pouco ocupara, Ev
r si a recordar-se da aparência do futuro marido à luz da lareira. Era alto e esguio, o seu a moldura perfeita para as vestes elegantemente simples que apenas lhe realçavam ainda m
eza fulva. O cabelo, num tom ouro velho de um ícone medieval, era espesso e levem
dulado, com discretas e belíssimas madeixas âmbar. Os olhos, de um azul-pálido gelida
netrante, não espelhavam a menor emoção quando sorria. O próprio sorriso era o suficiente
xar sem respiração quem o recebia… a boca sensual e cínica, a centelha luminosa dos d
anquíssimos… Oh, St. Vincent era um homem deslumbrante. E ele sabia-o bem.
Estranhamente, contudo, Evie não o temia. O belo visconde era sem dúvida demasiado intelira optar pela violência – quando uma acertada escolha de palavras era mais que suficiente
ir as suas vítimas com total serenidade. Aquilo que Evie realmente mais temia era a bruta
mária do tio Peregrine, para não falar nas mãos impiedosas da tia Florence – que ad
entar-lhe estaladas impetuosas e dolorosos beliscões.
Nunca mais, jurou Evie a si mesma, esfregando com expressão ausente as manchas do v
xadas pela fuligem do cano de drenagem. Sentiu-se tentada a mudar de vestido, bastando-
scar um novo à malinha que deixara no átrio de entrada. Contudo, os r igores da viagem em b
xariam amarrotada e cheia de pó, pelo que não viu nisso qualquer utilidade.
Um som vindo da porta de entrada despertou-lhe a atenção. Da porta da biblioteca deixada a
ie viu uma governanta rubicunda sorrir-lhe timidamente e perguntar-lhe se desejaria refres
m dos quartos de visitas. Pensando que a mulher parecia perfeitamente acostumada à presen
nhoras desacompanhadas naquela casa, Evie deixou que a criada lhe indicasse o caminho a
queno quarto do andar de cima. Tal como as outras divisões que lhe tinha sido permitido
arto estava limpo, bem arrumado e agradavelmente mobilado. As paredes eram forradas
pel de parede claro, com pagodes e passarinhos chineses pintados à mão. Para seu enorme p
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ie viu uma antecâmara contendo um lavatório com água corrente, com torneiras em form
lfinho e uma pequena cabina que se abria para uma retrete.
Depois de satisfazer as necessidades íntimas, Evie dirigiu-se ao lavatór io – onde lavou as m
osto e de onde bebeu sofregamente de um copo de prata. Entrou no quarto e procurou um pe
ma escova, mas como não encontrou, limitou-se a ajeitar com as mãos a massa de caracóis
anhados na nuca.
Não ouviu qualquer som, nada que anunciasse qualquer presença, mas sentiu algo que
tar-se. À porta deparou-se com a bela figura de St. Vincent, de postura descontraída, com a c
emente inclinada, a observá-la. Uma sensação estranha trespassou-a, uma suave onda de calo
deixou subitamente fraca e trémula das pernas. Apercebeu-se de que estava estafada. E a si
ia de tudo o que ainda a esperava… a longa viagem até à Escócia, o casamento precipita
nsumação do dito, pouco depois… tudo isso lhe parecia extenuante. Endireitou os omb
ançou um passo, mas ao fazê-lo, uma chuva de faíscas surgiu-lhe à frente dos olhos faze
acar e estremecer.
Abanando a cabeça para aclarar a visão, Evie foi tomando lentamente consciência de qncent se encontrava à sua frente, as mãos segurando-lhe firmemente os cotovelos. Ela nunca
ado tão perto dele… e os seus sentidos viram-se desde logo impregnados pelo cheiro dele
nsação dele… o subtil apontamento a colónia cara, a pele lavada e coberta por camadas do
ro linho, da mais suave lã. Ele irradiava saúde e virilidade. Profundamente enervada, Evie p
olhos com mais força, apercebendo-se de que os dele se encontravam bem mais acima do q
deria esperar. Surpreendeu-a ele ser tão alto – uma estatura que só era realmente percetível à
rta distância.– Quando foi a última vez que comeu alguma coisa? – perguntou ele.
– Ontem de ma-manhã, creio eu…
Ele ergueu um sobrolho:
– Não me diga que a sua família também a fez passar fome? – Olhou-a intensamente ao
entir. – Caramba, a sua história revela-se mais e mais assombrosa a cada minuto que passa
dir à cozinheira que prepare um cesto com sanduíches. Tome o meu braço… deixe-me cond
ra baixo.
– Não preciso de ajuda, obriga-gada.
– Tome o meu braço – insistiu ele, num tom agradável, ainda que algo frio. – Não vou de
atelar-se e partir esse belo pescoço ainda antes de entrarmos na carruagem. Herdeiras dispo
o peças raras hoje em dia. Teria uma trabalheira dos diabos para arranjar uma que a substituís
Evie devia estar bem mais fraca do que supunha, já que ao descer as escadas de braço dado c
conde, sentiu-se grata pelo apoio. A meio das escadas, St. Vincent passou o braço pelas costa
com a mão livre, segurou a dela, ajudando-a nos restantes degraus. Ela viu-lhe umas qu
oriações nos nós dos dedos – sem dúvida resultado da luta com Lord Westcliff. Visualiza
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ste figura que aquele pomposo aristocrata certamente faria quando confrontado com o p
rpanzil do seu tio Peregr ine, Evie estremeceu ligeiramente, desejando estarem já em Gretna G
Sentindo-lhe o tremor, St. Vincent estreitou-lhe o abraço nas costas, até alcançarem o patama
– Sente frio? – quis saber. – Ou é dos nervos?
– Só quero ver-me fo-fora de Londres – respondeu ela –, antes que os meus familiar
contrem.
– Têm algum motivo para suspeitar que a Evie veio ao meu encontro?
– Oh, n-n-ão! – exclamou ela. – Ninguém jamais me julgaria demente a esse ponto.
Ele não conteve uma gargalhadinha bem-disposta:
– Graças a Deus que a minha autoestima está em alta. Caso contrário, tê-la-ia reduzida a
r esta altura.
– Estou certa de que já terá tido inúmeras mu-mulheres a alimentar-lhe a autoestima
cessita de mais uma.
– Engana-se, minha linda… Preciso sempre de mais uma. É esse o meu problema.
Ele levou-a de volta à biblioteca e fê-la sentar-se à lareira, por mais uns breves momecisamente no momento em que Evie se sentia já prestes a adormecer na cadeira, St. V
gressou para a levar para o exterior. Meio atarantada, Evie dirigiu-se com ele para uma
ruagem lacada a preto, estacionada à porta de casa, e deixou que ele lhe tomasse a mão, p
er entrar para o espaçoso interior. Os felpudos estofos de veludo, em tom creme, eram p
áticos, mas sublimes reluzindo sob a luz ténue do pequeno candeeiro interior. Evie experie
ma sensação pouco familiar de bem-estar ao recostar-se sobre uma almofada com franjas de s
mília materna vivia segundo regras de bom gosto extremamente estritas, desprezando tudo denciasse excessos ou pretensiosismo. Mas no mundo de St. Vincent, os excessos estavam se
ordem do dia, sobretudo no respeitante ao confor to físico.
Um cesto feito de finas tiras de couro entrançadas havia sido deixado no chão da carru
capaz de lhe resistir, Evie pegou nele e abriu-o – para se deparar com a abençoada visão de
ie de sanduíches primorosamente embrulhadas em guardanapos. Desembrulhou uma
eitando-se com as delgadas fatias de pão de brioche, cobertas de finas fatias de queijo e fiamb
eiro do fiambre fresquíssimo aguçou-lhe a fome de vários dias e a jovem devorou vorazm
as sanduíches, quase se engasgando com tamanha sofreguidão.
Ao entrar na carruagem, St. Vincent sentou-se no assento à frente dela, estirando o corpo lo
gado, sor rindo à visão da jovem ruivinha devorando as últimas migalhas da segunda sanduíc
– Sente-se melhor?
– Sem du-dúvida, obrigada.
St. Vincent abriu um pequeno compartimento, engenhosamente concebido na parte interi
ma das por tas, de onde retirou um pequeno copo de cristal e uma garrafa de vinho branco fres
xada momentos antes por um criado. Encheu o copo e estendeu-lho. Depois de um breve g
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gustação na bebida fresca e agradavelmente adocicada, Evie bebeu-a de um trago só.
Não era comum às jovens senhoras terem o privilégio de beber um vinho puro… regra ger
mpre diluído em água. Assim que esvaziou o copo, mal teve tempo de desejar outro, já
conde tratou logo de voltar a servi-la. Foi então que a carruagem arrancou com um
avanco, e os dentes dela bateram levemente no rebordo do copo – deixando-a visivel
gustiada por temer entornar a bebida nos estofos de veludo. Suspirando, bebeu o segundo co
a vez só, despertando em St. Vincent uma risadinha contida.
– Beba devagar, minha linda. Temos uma longa viagem à nossa frente.
Vendo-o recostar-se descontraidamente contra as almofadas de seda, Evie sentiu estar na pre
um verdadeiro paxá dos tórr idos romances que Daisy Bowman tanto adorava. Após uma pau
dagou:
– Diga-me, o que teria feito se eu tivesse recusado a sua proposta? Para onde ir ia?
– Suponho que não me restaria alternativa senão ficar com a Annabelle e Mr. Hunt – murm
, pensativa.
A verdade é que pedir abrigo a Lillian e Lord Westcliff estava fora de questão, já qcontravam atualmente em plena lua de mel. E teria sido inútil tentar abordar as Bowmans.
e imaginasse a sua querida amiga Daisy a interceder fervorosamente a seu favor, os pais del
veriam de querer ter nada que ver com toda aquela lamentável situação.
– E por que razão não foi essa a sua pr imeira opção?
Evie encolheu os ombros:
– Ter ia sido difícil, para não dizer impossível, os Hunts conseguirem evitar que os meus ti
assem de volta. Estou bem mais se-segura como sua mulher do que como hóspede em ca-casquem for.
O vinho estava a deixá-la agradavelmente entorpecida e ela afundou-se indolentemente no as
e olhou-a com um sorriso gentil e inclinou-se para a descalçar.
– Fica bem mais confortável sem isto… – murmurou-lhe. – Não se acanhe, rapariga! Cuidar
vou violar dentro da carruagem? – Desapertou-lhe os cordões do sapato e prosseguiu, num
loso: – E convém recordar-se que em breve estaremos casados, por isso… descontraia.
Ela suspirou e deixou-o descalçar-lhe o outro sapato, sentindo-se relaxar aos poucos – aind
oçar dos dedos dele no seu tornozelo a tivesse feito estremecer.
– Porque não afrouxa um pouco as fitas do corpete? Tornará a sua viagem bem mais agra
ia-me.
– Não tenho cor-corpete – disse ela, sem olhar para ele.
– Não?… Bom Deus! – Percorreu-lhe o corpo com olhos de espanto. – Mas que flausina
oporcionada você me saiu!
– Não me agrada essa expressão.
– Flausina? Peço desculpa… é a força do hábito. Eu trato sempre as senhoras como flausina
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flausinas como senhoras.
– E tem sucesso nesse tipo de abordagem? – indagou ela, com um tom cético.
– Oh sim! – retorquiu ele, num tom alegre e arrogante que a fez sorrir.
– O senhor é um homem ho-horrível.
– Verdade. Mas é um facto sabido que as pessoas horríveis conseguem sempre bem mais d
uilo que merecem. Enquanto as decentes, como a Evie…
Apontou para ela e para o interior da carruagem, como se a atual situação dela fosse a
efutável da sua teoria.
– Tal-talvez eu não seja tão decente como su-supõe…
– A esperança é a última a morrer – disse ele, alegremente.
Os seus olhos brilhavam de divertimento e Evie reparou que as pestanas dele
decentemente longas para um homem e uns tons acima do louro do cabelo. Não obstante
ura e a estrutura de ombros largos, havia qualquer coisa de felino nele… fazendo-o parec
re pachorrento, mas potencialmente perigoso.
– De que padece o seu pai, afinal? – perguntou-lhe ele. – Ouvi rumores, mas nada de ncreto.
– Sofre de tuberculose – murmurou ela. – Foi-lhe diagnosticada há seis meses e n-não o
sde então. Nu-nunca estive tanto tempo sem o visitar. Os Maybricks sempre me deixaram vi-v
por não verem nenhum mal nisso. Mas no ano passado, a Tia Florence de-decidiu que as m
óteses de arranjar marido diminuíam bastante devido à associação com o meu pai e, logo, q
devia distanciar dele. Qui-quiseram simplesmente que eu me esquecesse que ele existia.
– Quem havia de dizer… – murmurou ele, num tom sarcástico, cruzando as pernas. – E pe seu súbito desejo de querer velá-lo no leito da morte? Pretende assegurar a sua inclus
tamento, é isso?
Ignorando-lhe o toque de malícia inerente à pergunta, Evie ponderou a resposta e falou num
o e desprendido:
– Em menina era-me permitido vê-lo com frequência. Éramos muito próximos. Ele foi – ain
único homem que se preocupou comigo. Eu… amo-o. E não quero que morra só. Pode escar
que quiser, se isso o diverte, m-mas pouco me importa. A sua opinião não me int
nimamente.
– Calma, boneca… – A sua voz doce indiciava que a conversa o diver tia. – Deteto em
mperamento forte, algo que, sem dúvida, terá herdado do senhor seu pai. Já tive ocasião de lh
e mesmo brilho no olhar quando lhe chega a mostarda ao nariz…
– Conhece o meu pai? – perguntou ela, surpreendida.
– Obviamente. Todo o homem amante do prazer já foi ao Jenner’s em busca de um ou ou
ímulo. O seu pai é um tipo decente, ainda que tão fiável quanto um barril de pólvora. E perdo
s não posso deixar de lhe perguntar… como diabos é que uma Maybrick foi casar com um
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alariado?
– Bom, tenho para mim que, entre outras coisas, a minha mãe tê-lo-á visto como um m
capar às garras da família.
– Tal como nós, agora… – comentou St. Vincent, pensativo. – Há uma certa simetria nisto
o acha?
– Espero, sinceramente, que a si-simetria acabe aqui – retorquiu a jovem. – Uma vez que
ncebida logo após eles terem casado e a minha mãe morreu no parto.
– Não conto encher-lhe o ventre se não o desejar – disse ele, em tom alegre. – Hoje em
ílimo evitar uma gravidez: camisas de vénus, esponjas contracetivas, irr igadores vaginais, j
o falar naqueles amuletos de prata que se compram nos… – Calou-se ao ver-lhe a expr
rmada e não conteve uma gargalhada: – Meu Deus, os seus olhos parecem pratos! Assustei-a?
diga que nunca ouviu falar nestas coisas? Nem da boca das suas amigas casadas?
Evie abanou a cabeça lentamente. Ainda que Annabelle Hunt a tivesse, ocasionalm
clarecido quanto a determinados mistérios da relação conjugal, jamais havia referido aq
todos de evitar uma gravidez, para ela absolutamente estranhos.– Duvido até que elas os conheçam – disse a jovem, fazendo-o rir novamente.
– Terei o maior prazer em esclarecê-la, assim que chegarmos à Escócia.
Os seus lábios curvaram-se naquele sorriso que as irmãs Bowman consideravam encanta
s que agora se sombreava de um certo pendor calculista.
– Minha querida, terá já considerado a possibilidade de vir a gostar da nossa… consumaçã
nto de vir a querer repetir a experiência?
Ela deu por si a pensar quão espantosa era a leviandade com que os termos carinhosos lhe ca fora.
– Não – disse, asser tivamente. – Isso não irá acontecer.
– Hmm… – O som assemelhou-se ao ronronar de um gato. – Eu adoro desafios.
– Não nego a possibilidade de vir a gostar de me deitar consigo – disse-lhe ela, tentand
sviar os olhos dele ainda que se sentisse a enrubescer de desconforto. – Aliás, espero sincera
e sim. Mas isso não irá alterar em nada a minha decisão. Porque sei bem do que o senhor
paz.
– Minha querida… – disse ele, num tom quase terno – Creia que não faz a mais pálida
quilo de que eu sou realmente capaz.
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Capítulo 3
Para Evie, que ainda não se recompusera totalmente das doze horas de viagem de regres
ny Cross – a propriedade de Lord Westcliff em Hampshire –, os dois dias da jornada até à E
resentaram uma verdadeira tortura. Tivessem podido ir com mais tempo, mais calmamente
o bem mais suportável. Contudo, e por insistência da própria Evie, foram diretos para G
een, parando apenas de três em três horas para mudança de cavalos e cocheiro. Evie temia q
miliares lhe descobrissem o rasto, que estivessem na sua peugada… E, tendo em conta o res
briga entre St. Vincent e Lord Westcliff, ela tinha poucas esperanças de que o visconde
orioso num eventual confronto físico com o seu tio Peregrine.
Ainda que instalados numa carruagem veloz e bem equipada, viajar àquela velocidade fa
culo abanar e dar tais sacudidelas e solavancos que a deixavam profundamente nauseada. Senausta e não arranjava posição confortável para conseguir dormir. A cabeça batia constante
ntra a porta e, por mais que tentasse dormitar, via-se incessantemente despertada pelos aban
avancos.
St. Vincent, obviamente, mostrava-se bem menos desconfortável do que ela, ainda que osten
sua aparência, algum cansaço da viagem. Quaisquer tentativas de conversa tinham sido há
tadas, prosseguindo ambos num silêncio estoico. Curiosamente, o visconde não soltara um
urmúrio de protesto ao longo daquele insuportável martírio, ainda que fosse nítida a sua urgchegar ao destino. Evie apercebeu-se de que St. Vicent tinha mesma urgência em cheg
stino. Era do seu primordial interesse, talvez mais ainda do que do dela, certificar-se d
ariam legalmente casados o mais rapidamente possível.
A carruagem seguia, seguia e seguia… abanando e estremecendo, saltando por estradas em
ado, por vezes quase atirando Evie ao chão. O constante dormitar e despertar deixava-a exten
cada vez que a porta se abria – com o visconde indo inspecionar a nova equipa de cav
cheiro – uma brisa gélida enchia o interior do veículo. Enregelada, dorida e enfraquecida,
colhia-se no seu canto, rezando para que tudo aquilo terminasse em breve.
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Passou a noite, seguindo-se-lhe um dia de temperaturas desumanamente glaciais e de c
tes, que deixaram Evie encharcada ao sair da carruagem para atravessar o pátio de uma peq
ergaria de estrada. O visconde deu-lhe o braço e conduziu-a a um quarto privado, ond
vorou uma malga de sopa quente, depois de se ter refrescado e servido do bacio do q
quanto ele supervisionava um novo turno de cocheiro e montadas. Só a simples visão da
da que modesta e estreita, deixou Evie morta de vontade de se enfiar dentro dela para não
r. Mas o sono podia esperar até chegarem a Gretna Green – onde se veria para sempre liber
go da sua perniciosa família.
No total, aquela estadia na albergaria durou menos de meia hora. De volta à carruagem,
tou ver-se livre dos sapatos enlameados sem sujar os estofos de veludo da carruagem. St. V
biu atrás dela e ajudou-a. Enquanto ele a descalçava, aliviando-a das cãibras dolorosas, Evie r
chapéu encharcado e atirou-o para o assento à sua frente. O cabelo caiu-lhe sobre os om
pesso e macio, os cachos ostentando todas as matizes, do âmbar ao champanhe.
Sentando-se ao lado dela, St. Vincent contemplou-lhe o rosto cansado e triste, e levou uma m
dutora covinha da sua face.– É uma mulher espantosa, sabia…? Qualquer outra já teria dado comigo em doido com que
mentações.
– Não tenho co-como me queixar… – disse ela, tremendo violentamente. – Tendo sido eu a p
para viajarmos diretamente até à Escócia.
– Já estamos a meio caminho. Só mais uma noite e um dia… e amanhã à noite já esta
ados. – Os seus lábios esboçaram um sorriso amável. – Aposto que jamais se viu uma noiv
sesperada por se lançar no leito nupcial.Os lábios trémulos de Evie curvaram-se num sorriso resignado, confirmando-lhe a ideia d
ava realmente ansiosa e necessitada de sono e não de sexo. Ao olhar o rosto dele, tão próxim
u, perguntou-se como era possível que aqueles sinais de cansaço no rosto e aqueles papos de
s olhos o tornassem tão atraente. Talvez por o fazer parecer mais humano, e já não tanto um b
piedoso Deus romano. Muita da sua aura aristocrática havia esmorecido, certamente pa
parecer em breve, assim que obtivesse o tão desejado descanso. Por agora, contudo, o vis
recia descontraído e acessível. Dava a ideia de se ter estabelecido um delicado vínculo en
is, ao longo daquela viagem infernal.
O momento foi interrompido por um bater na porta da carruagem. St. Vincent abriu-a p
parar com uma camareira, toda enlameada e debaixo de uma chuva intensa.
– Aqui tem, my lord – disse ela, espreitando sob o capuz do casaco ensopado e estendend
s objetos. – A bebida e o esquenta-pés, tal como pediu.
St. Vincent procurou uma moeda na algibeira e deu-a à mulher, que agradeceu com uma
es de correr para o interior da pousada. Evie estranhou quando o visconde lhe estendeu uma
barro cheia de um líquido fumegante.
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– O que é isto?
– Algo para a aquecer por dentro – disse ele, mostrando-lhe depois um tijolo envolvido
nela cinzenta. – E isto é para os seus pés… Estenda as pernas sobre o banco, vamos.
Noutras circunstâncias, Evie ter-se-ia recusado a deixá-lo manusear-lhes as pernas com um
ntade, mas naquele momento permitiu-lhe subir-lhe as saias e colocar-lhe o tijolo quente sob
s.
– Ohhhh… – murmurou, estremecendo de puro conforto ao sentir um calor delicioso env
os dedos enregelados e moídos. – Ohhh… nunca senti nada tão maravilhoso!
– É comum e frequente as mulheres dizerem-me isso – brincou ele. – Venha cá, encost
m… assim…
Ela obedeceu, ficando meia recostada nele e sentindo-lhe os braços à volta dos ombro
ncent tinha um peito sólido e duríssimo, mas que representava uma almofada perfeita para a c
a. Levando a malga aos lábios, provou do caldo fumegante. Tratava-se de uma qualquer b
pirituosa, diluída em água, adoçada e com um leve travo a limão. Ao bebê-la lentamente,
ntiu-se a ficar quente por dentro e soltou um longo e prazeroso suspiro. A carruagem arrm um solavanco, e St. Vincent desde logo a amparou nos braços, mantendo-a confortavel
ostada no seu peito. A jovem deu por si a pensar como era possível que um tamanho infer
esse tão abruptamente transformado num pedaço de céu.
Evie jamais experienciara uma tal proximidade física com um homem – e parec
rivelmente errado retirar disso tanto deleite. Por outro lado, teria de estar inconsciente par
ntir prazer. A natureza fornecera uma quantidade insensata de beleza masculina à
smerecedora criatura. E, melhor ainda, ele era inacreditavelmente quente. A jovem resistsejo de se aconchegar ainda mais contra aquele corpo. As suas roupas eram todas de te
uintados: um casaco da mais pura lã, um colete de seda pesada e fresca, uma camisa de
avíssimo. A combinação de odores a goma e a colónia cara misturava-se com o cheiro lav
emente salgado da sua pele.
Temendo que ele quisesse afastá-la de si assim que ela acabasse a bebida, Evie esforçou-se
er durar o mais possível. Mas, infelizmente para ela, acabou por dar o último gole e ele re
o recipiente das mãos e colocou-o no chão da carruagem. Evie ficou profundamente alivia
nti-lo recostar-se e aconchegá-la novamente de encontro ao peito. Ouviu-o bocejar e murmur
ouvido:
– Veja se dorme. Ainda temos três horas até à próxima muda de cavalos.
Empurrando os dedos dos pés contra a pedra quente, Evie voltou-se ligeiramente e aninh
is profundamente nele, deixando-se cair nas convidativas profundezas de um sono leve.
A restante viagem revelou-se uma mancha nebulosa de movimento, cansaço e rudes despe
medida que sentia a sua exaustão agravar-se, Evie tornava-se mais e mais dependente d
ncent: a cada nova paragem ele conseguia sempre trazer-lhe uma caneca de chá ou de ca
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quecia-lhe o aquece-pés sempre que lhe era possível. Chegou mesmo a desencantar-lhe uma m
olchoada, sabe Deus de onde, proibindo-a de lhe perguntar como a obtivera. Plenam
nvencida de que sem ele já estaria há muito congelada, Evie foi rapidamente perdendo t
bição de se aconchegar a St. Vincent assim que o sentia entrar na carruagem.
– Eu n-n-não estou a tentar seduzi-lo – disse-lhe, ao senti-lo estreitá-la pela enésima v
contro ao peito. – O senhor representa apenas uma fonte de calor disponível, nada mais.
– Se a Evie o diz… – retorquiu ele, com ironia, estreitando mais a manta contra os dois. –
e no último quarto de hora eu a tenha sentido roçar por partes da minha anatomia que nin
sou jamais tocar.
– Du-duvido seriamente disso – disse ela, aconchegando-se mais contra o casaco
escentando em tom abafado: – Aposto que já foi mais ma-manuseado que um cesto de comp
rtnum and Mason.
– E a um preço bem mais razoável – br incou ele, estremecendo ao senti-la aconchegar-se.
nha aí o joelho, querida… ou os seus planos de consumação do casamento podem vir a
iamente comprometidos.Evie dormitou até à paragem seguinte e precisamente quando se sentia no melhor do seu e
árgico, St. Vincent acordou-a, abanando-a suavemente:
– Evangeline… – murmurou-lhe, retirando-lhe uma madeixa do rosto. – Acorde… Chegám
ima pousada. É altura de entrarmos por uns momentos.
– Não quero – murmurou ela, mal-humorada, empurrando-o.
– Tem de ser – insistiu ele, gentilmente. – Depois desta paragem espera-nos um longo e
nvém refrescar-se e utilizar os sanitários, porque tão cedo não terá acesso a nada disso.Evie preparava-se para protestar, alegando não precisar de nenhum sanitário, quand
ercebeu de que efetivamente precisava. Mas só a ideia de se levantar e ter de enfrentar a
ada e chuvosa quase a levou às lágrimas. Resignada e infeliz, endireitou-se, calçou os sa
lhados e nojentos e tratou de os apertar. St. Vincent precipitou-se para tratar ele do assunto
guida, ajudou-a a sair da carruagem. Estava um frio de morte lá fora e Evie não conseguiu
remecer e bater os dentes no curto percurso até à pousada. Com um braço rodeando-lhe os om
mulos, St. Vincent amparou-a, e comentou:
– Creia-me, é prefer ível entrar aqui por uns minutos do que ter mais tarde de se aliviar à be
rada. E sabendo o que sei sobre as mulheres e as suas canalizações…
– Conheço bem as minhas canalizações, muito obrigada. Não preciso que mas descreva.
– Mas é claro. Perdoe-me se falo de mais, mas é apenas para tentar manter-me acordado. A
i, diga-se.
Apoiando-se na magra cintura dele, Evie percorreu o caminho enregelado e lamacento, ten
trair-se pensando no primo Eustace e na felicidade que sentia por já não ter de casar
melhante criatura. Jamais voltaria a viver sob o teto da família Maybrick. Aquele pensamento
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um novo alento. Assim que se visse casada, terminaria definitivamente o jugo de todos eles
Bom Deus, como ela ansiava por esse momento…
Depois de tratar do arrendamento temporário de um quarto, St. Vincent predispôs-se a con
ie pelas escadas, observando-a ao enlaçá-la pela cintura.
– Caramba, parece poder desfalecer a qualquer momento – comentou. – Minha querida, ain
mpo para podermos repousar aqui uma ou duas horas. Porque não…
– Não – interrompeu-o ela, friamente. – Prefiro prosseguir.
Ele olhou-a com visível desagrado, comentando sem qualquer rancor:
– É sempre assim tão teimosa?
Levou-a até à porta do quarto e recomendou-lhe que se trancasse por dentro .
– E tente não adormecer no bacio – aconselhou-a.
Quando regressaram à carruagem, Evie seguiu o ritual que já começava a ser-lhe fam
scalçou-se e deixou que o visconde lhe aconchegasse o tijolo aquecido sobre os pés. Ele
talar-se entre as suas pernas afastadas e Evie sentiu literalmente o coração parar-lhe quando e
gurou uma mão entre as suas e tratou de lhe massajar docemente os dedos enregelados. A mãtão quente, as pontas dos dedos veludo puro, as unhas curtas e bem cuidadas… Uma mão
s sem dúvida pertencente a um homem que vivia apenas do lazer e do prazer.
Enquanto St. Vincent lhe massajava as mãos ela reparou que, ainda que ele tivesse uma tez
arentava absorver facilmente o sol já que ostentava um ligeiro bronzeado. Assim que lhe sen
os quentes, ele deu por finda a suave massagem e manteve os dedos entrelaçados nos dela.
Aquela não podia ser… a encalhada Evangeline Jenner, sozinha numa carruagem com
rigoso libertino, numa veloz corrida com destino a Gretna Green. Vejam só no que me tnsou ela, atordoada. Voltou a cabeça de lado e repousou a face no linho fresco da camisa
dagando:
– Como é a sua família? Tem irmãos ou irmãs?
Os lábios dele brincaram com as ondas do cabelo dela, antes de responder:
– Já não me resta ninguém, para além do meu pai. Não guardo quaisquer memórias da minh
morreu de cólera, era eu ainda um bebé. Tive quatro irmãs mais velhas. Sendo o filho mais n
ico rapaz fui mimado para lá dos limites do razoável. Mas ainda em criança, perdi três irm
ma vez só, num surto de escarlatina. Recordo-me que me mandaram para o campo qu
oeceram e quando regressei… já elas tinham partido. A única que ficou – a minha irmã mais
asou, mas tal como a sua mãe, morreu no parto. E o bebé também não sobreviveu.
Evie manteve-se praticamente imóvel ao longo daquele monólogo, algo recitado mas clara
gustiado. Estranhamente sentiu uma pena profunda do rapazinho inocente que Sebastian fo
mpos. A mãe e quatro irmãs, desaparecendo-lhe abrupta e cruelmente da jovem vida… Teri
uito duro para um adulto assimilar uma perda tão desumana, quanto mais para uma criança.
– Alguma vez se perguntou como teria sido a sua vida – deu por ela a perguntar-lhe –, se t
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e?
– Não.
– Pois eu penso nisso amiúde, e pergunto-me que conselhos me teria dado.
A resposta sarcástica dele não tardou a ouvir-se:
– Uma vez que a sua mãe acabou casada com um rufião como o Ivo Jenner, eu não daria
dito aos seus conselhos. Como se conheceram eles, afinal? Não é comum uma menina de
mílias cruzar o seu destino com alguém da laia do Jenner.
– É verdade… A minha mãe seguia com a minha tia numa carruagem – num daqueles d
verno em que o nevoeiro de Londres é de tal forma espesso que não se vê um palmo à f
carruagem desviou-se para evitar a carroça de um vendedor ambulante e acabou por atrop
u pai, que estava, por acaso, no passeio naquele momento. A pedido da minha mãe, o coc
sceu para se inteirar do estado dele. Estava apenas um pouco amachucado, nada mais. Cr
io que o meu pai lhe deve ter despertado o interesse, uma vez que, no dia seguinte, a minh
ndou-lhe uma carta a perguntar novamente pelo seu estado de saúde. Começou aí a tro
rrespondência entre eles – sendo que o meu pai pedia a outra pessoa que escrevesse por ele,profundamente iletrado. Desconheço outros pormenores… à exceção de que os dois acab
r fugir para casar.
Evie fez uma breve pausa e um sorriso de satisfação desenhou-se-lhe nos lábios ao imag
ia dos Maybrick ao descobrirem que a sua mãe havia fugido com Ivo Jenner.
– Tinha apenas dezanove anos quando morreu – acrescentou, num tom triste. – E eu tenho v
s. Parece-me tão estranho eu ter vivido mais do que ela… – Movendo-se entre os braços
ncent, ergueu o olhar para ele. – Que idade tem, my lord? Trinta e quatro?… Trinta e cinco?– Trinta e dois… Ainda que neste momento me sinta com não menos que cento e dois. – Ol
m curiosidade: – Que diabos aconteceu à sua gaguez, queridinha? Desde que passámos Tee
e praticamente desapareceu.
– Deveras? – inquiriu ela, notoriamente surpresa. – Julgo que… me sinto confortável a
nsigo. Tendo a gaguejar menos com determinadas pessoas.
Que estranho, pensou ela. A sua gaguez nunca desaparecia assim, tão completamente, a nã
ando conversava com crianças.
O peito dele moveu-se sob a orelha dela, num sopro de divertimento.
– Nunca ninguém me chamou confortável. E não sei porquê, não me agrada. Terei
idamente de fazer algo de diabólico para lhe corrigir essa impressão.
– Não duvido nada que o faça. – Evie fechou os olhos e aconchegou-se mais contra ele. –
ar demasiado cansada para gaguejar.
Sentiu a mão dele acariciar-lhe a fronte, as pontas dos dedos massajando-lhe as têmporas.
– Durma – sussur rou-lhe. – Estamos quase lá. E uma vez que nos aproximamos do inferno
or, aposto que em breve se sentirá bem mais quente.
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Infelizmente para ela, essa profecia não se realizou. Quanto mais para nor te seguiam, mais f
ia sentir, até Evie desejar ardentemente ver-se entrar pelas portas do inferno. O povoado de G
een situava-se no condado de Dumfriesshire, a norte da fronteira entre a Inglaterra e a Es
ma atitude de puro desafio contra as estritas leis inglesas do casamento, centenas de casais ha
percorrido a estrada para carruagens que saía de Londres para Gretna Green, passando
rlisle. Muitos também vinham a pé, ou a cavalo, em busca de um qualquer santuário
dessem profer ir os seus votos de casamento e regressarem a Inglaterra como marido e mulhe
Depois de atravessar a ponte sobre o rio Sark e entrar na Escócia, um casal poderia co
trimónio em qualquer ponto do país. Uma declaração perante testemunhas era o que bastava.
ucos, Gretna Green tornara-se palco de um verdadeiro comércio de casamentos, com os resid
mpetindo entre si para providenciar cerimónias em casas particulares, estalagens ou até fo
rtas. O mais famoso – e infame – local para um casamento Gretna era a ferraria, que tin
oporcionado tantas cerimónias precipitadas e impulsivas que os seus enlaces eram apelidad
samentos-bigorna. Esta tradição começara em inícios de mil e setecentos, quando um ferrad
abelecera como o primeiro de uma longa linha de padres-ferreiros.Finalmente, a carruagem de St. Vincent chegou ao seu destino: uma estalagem que ficava par
ias com a ferraria. Parecendo temer que Evie pudesse desfalecer de fraqueza, o visconde ro
os ombros com o braço, enquanto ambos aguardavam que os instalassem. O dono da estal
tal Mr. Findley, rejubilou de alegria ao saber que estava perante um casalinho fugitivo, e gar
s – sob piscadelas de olho cúmplices – que mantinha sempre um quartinho livre para situ
quelas.
– Num é legal inté os xenhores conchumarem a cousa, sabiam? – informou-os, numa pronralmente incompreensível. – Xá tive de fazer uns pombinhos saírem pla porta de trách inqu
melg’ós pursseguia pla por ta da freinte! O noibo inté fugiu descalço e tudo!
O homenzinho riu-se alarvemente ao recordar o momento.
– O que é que ele disse? – segredou Evie ao ouvido do visconde.
– Não faço ideia – sussurrou-lhe ele de volta. – E o melhor é não perguntar mais nada. – Erg
har para o estalajadeiro e exigiu-lhe: – Quero um banho quente no quarto assim que regressa
casa do ferr eiro.
– Cum cheteza, my lod – disse o homem, recebendo as moedas que St. Vincent lhe esten
regando-lhe uma pesada chave antiga. – D’sêja tamém uma bandeija c’o jantar?
St. Vincent olhou para Evie com expressão inquisitór ia e ao vê-la negar com a cabeça respon
– Não. Mas conto com um primeiro-almoço reforçado amanhã de manhã.
– Cum cheteza, my lod… Ides casar na ferraria, num ides? Si sanhôr! Num arranja milhor
Gretna Green c’o Paisley MacPhee! Um home letrado cumá pôcos… Vai fazer-lhes uma
imónia e dar-lhes um certificado qué uma maravilha!
– Obrigado.
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Sem deixar de rodear os ombros de Evie com o braço, St. Vincent conduziu-a para fo
alagem, até à residência do ferreiro. Um rápido olhar pela rua revelou uma fileira de casin
ecas, bonitas e bem preservadas, com os candeeiros de rua já acesos para aliviar o lusco-fusc
fazia sentir. À medida que se aproximavam da bonita ferraria caiada, St. Vincent murmurou-l
– Veja se se aguenta em pé só mais um instante, querida. Estamos quase.
Aconchegando-se mais a ele, com o rosto parcialmente oculto sob o seu casaco, Evie ficou
bater à porta. Segundos depois, a porta abriu-se para revelar um homem corpulento, de
donda, grandes rosáceas e um elegante bigode que se unia a umas profusas e bem aparadas s
lizmente, o seu sotaque escocês não era tão carregado quanto o do estalajadeiro e Evie cons
mpreender o que ele lhes foi dizendo.
– Mr. MacPhee? – perguntou St. Vincent fr iamente.
– Ao seu dispor.
O visconde tratou rapidamente das apresentações e explicou-lhe os seus intentos. O fe
boçou um amplo sorriso, convidando-os de imediato a entrar:
– Intão desejam casar, hã? Entrem, entrem, por quem sois!Ao entrarem, o homem indicou-lhes as suas duas filhas, um par de moreninhas rechonchud
us nomes Florag e Gavenia, e conduziu-os para o interior da loja anexa à residência. Os Mac
resentavam a mesma jovialidade incessante do estalajadeiro – o que contrariava em muito t
e Evie ouvira dizer sobre a natureza reservada e macambúzia dos escoceses.
– Importam-se que as’nhas mininas sirvam de testemunhas? – indagou o ferreiro.
– Claro que não – disse St. Vincent, aproveitando para apreciar melhor a fer raria.
A loja estava cheia de ferraduras, ferramentas de toda a ordem, equipamentos para carruagnsílios de quinta. A luz for te de um candeeiro a óleo realçava os traços belos e elegantes do j
conde, que se dirigiu ao ferreiro num tom frio e cortante:
– Como pode, sem dúvida, verificar, a minha… – Fez uma pausa como que ponderando
erir-se a Evie – noiva… e eu estamos extremamente fatigados. Viajámos de Londres direta
ra cá e como tal desejamos apressar ao máximo os procedimentos.
– De Londres, hein? – inquiriu o ferreiro, com visível interesse, dirigindo-se a Evie co
riso simpático: – E por que razão veio casar a Gretna Green, ‘nha filha? Os seus paizinho
deram ótorização p’ró matrimónio, foi?
Ela sorriu-lhe de volta ao responder:
– Infelizmente as coisas não são assim tão simples, senhor.
– Nunca são – concordou ele, acenando sabiamente com a cabeça. – Mas tenho d’adverti-la
vem… nem sempre é bom casar às pressas… e os votos de casamento escoceses são um elo e
ue num pode ser quebrado. Certifique-se de que o seu amor é puro e verdadeiro antes de…
Interrompendo o que se previa ser um longo e sentencioso monólogo, St. Vincent proferiu
m assertivo:
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– Não se trata de um casamento por amor, mas antes por conveniência – e entre nós não
ama suficiente para sequer acender um fósforo. Avie-se com isto, por favor. Nenhum d
rmiu convenientemente nos últimos dois dias.
Fez-se silêncio, com MacPhee e as duas filhas visivelmente melindrados pela brusquidã
mentário. Por fim, as sobrancelhas espessas do ferreiro franziram-se numa expressã
sagrado:
– Nã gosto d’si – declarou.
St. Vincent olhou-o, sem esconder a exasperação:
– A minha noiva também não. Mas uma vez que isso não a impede de casar comigo, gostar
seguisse o exemplo. Vamos a isto.
MacPhee dedicou a Evie um vago olhar de comiseração, comentando:
– A noiva nã tem flores – declarou, já determinado em criar um ambiente romântico p
imónia. – Florag, corre a colher um raminho d’ urze branca.
– Ela não precisa de flores – atirou St. Vincent, mas a rapariga saiu a correr sem o ouvir.
– É‘ma velha tradiçã escocesa, a noiva trazer um raminho d’urze branca – explicou MacPie. – Quer saber perquê, filhinha?
Evie assentiu, esforçando-se por disfarçar o seu divertimento. Não obstante o extremo cans
talvez por causa dele – a jovem começava a sentir um certo prazer malévolo por St. V
recer tão inábil em controlar a sua irritação. Naquele momento, o homem mal-humorado
rbeado e mal dormido que se apresentava à sua frente não ostentava a menor semelhança c
tensioso aristocrata que ela conhecera na temporada festiva de Hampshire, proporcionad
rd Westcliff.– Há munto, munto tempo… – começou MacPhee, ignorando o grunhido impaciente do vis
viveu ‘ma noiva de sê nome Malvina. ‘Tava prometida a um jovem e brabo guerreiro cha
car, q’havia conquistado o sê coração. Oscar pediu à sua amada q’aguardasse o sê regress
rtiu à cunquista de fortuna. Mas num dia ‘maldiçoado, Malvina recebeu notícia de c’o seu a
a morto em batalha. Repousava agora em eterno descanso nas montanhas longínquas…
– Deus, como eu o invejo… – resmungou St. Vincent, esfregando os olhos cansados e carre
olheiras.
– Quando as lágrimas choradas de Malvina molharam a erva, qual gotas de orvalho
osseguiu o ferreiro – a urze roxa, ós sês pés, tornou-se branca. E é por isso c’as noivas esco
zem urze branca no dia do casamento.
– É essa a explicação? – perguntou St. Vincent com expressão de escárnio. – A urze nasc
r imas derramadas de uma noiva pelo amante morto?
– Sim.
– Então por que diabos é isso considerado um bom presságio? MacPhee abriu a boca
ponder, mas foi interrompido pela entrada de Florag, que entregou a Evie um ramo seco de
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anca. Agradecendo-lhe com um sorriso, a jovem permitiu que o ferreiro a conduzisse até um
ocado no meio da loja.
– Temos aliança p’rá prometida? – quis saber o velhote, olhando para St. Vincent. Ao vê-lo
m a cabeça, suspirou, acrescentando: – Gavenia, filha, traz a caixa das alianças. – Dirigind
ie, explicou: – Trabalho em metais p’ciosos, pr’além do ferro… tenho lindas peças em ouro e
– Ela não precisa de…
Um olhar desagradado de Evie fez St. Vicent calar-se. Soltando outro longo suspiro, o vis
uiesceu:
– Seja… escolha uma, mas seja breve.
Retirando uma pequena bolsa de lã do interior da caixa, MacPhee abriu-a sobre o
palhando uma boa meia dúzia de alianças sobre o tecido. Evie inclinou-se ligeiramente para m
observar. As alianças, todas em ouro e nos mais diversos tamanhos e padrões, eram
quintadas e delicadas que parecia quase impossível terem sido criadas pelos dedos ru
ejados do velho ferreiro.
– Esta… é toda ent’laçada… – disse MacPhee, pegando num anel para que ela o observassa é uma verdadeira obra d’arte, munto, munto apreciada. Tem o desenho de uma rosa Shetla
a…
Evie pegou na aliança mais pequena de todas e experimentou-a no anelar da mão esq
rvia-lhe perfeitamente. Erguendo a mão aos olhos, inspecionou atentamente a linda aliança.
is simples, lisa e em ouro polido, com uma inscrição dizendoTha Gad Agam Ort .
– Que significa esta frase? – perguntou ao ferreiro.
– Significa tão simplesmente «Amo-te».St. Vincent não pareceu reagir. Evie sentiu-se corar perante o embaraçante silêncio que se s
retirando a aliança, arrependeu-se amargamente de ter demonstrado algum interesse por aq
ças. O sentido daquela simples frase era de tal forma desfasado da realidade, da cerimónia
cipitada que ali iria ter lugar, que apenas lograva acentuar ainda mais o grotesco da situação.
– Creio… que não quero nenhuma, pensando melhor – murmurou, colocando a aliança no
s outras.
– Ficamos com ela – disse St. Vincent, deixando-a incrédula. Pegou na aliança e ao
pressão confusa de Evie, acrescentou: – São apenas palavras… sem qualquer significado.
Evie limitou-se a assentir timidamente com a cabeça, sentido acentuar-se-lhe o rubor nas fac
MacPhee observou-os a ambos, lenta e atentamente, cofiando o bigode bem desenhado.
– ‘Ninas – disse, dirigindo-se às filhas com marcada alegria – queremos ouvi-las cantar.
– Cantar? – protestou St. Vincent, levando desde logo uma cotovelada de Evie.
– Deixemo-las – murmurou-lhe ela. – Quanto mais discutir, mais tempo tudo isto levará.
Praguejando em silêncio, o visconde ergueu os olhos para o altar com visível impaciência,
irmãs pigarrear antes de entoarem em harmonia:
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Oh, o meu amor é uma rosa vermelha
Que floresce no mês de junho
Oh, o meu amor é uma melodia
Por anjos docemente entoada
Que bela és, minha amada,
Quão enamorado estou por ti…
E amar-te-ei assim, meu amor,
Até secarem todos os oceanos… Ouvindo as filhas com visível orgulho, o ferreiro aguardou
al do cântico antes de as elogiar e aplaudir fervorosamente. Depois voltou-se para o cas
nte ao altar e proferiu em tom solene:
– E agora t’rei de vos perguntar: sois ambos pessoas solteiras?
– Sim – disse St. Vincent rapidamente.
– E tem aliança p’rá noiva?
– Acabámos de…O olhar pleno de expectativa de MacPhee fê-lo interromper-se. Era óbvio que se quisessem
imónia fosse consumada, teriam de seguir as orientações do ferreiro.
– Sim – grunhiu ele, exibindo a aliança que ainda segurava. – Tenho-a aqui.
– Intão coloque-a no dedo da mecinha e dê-lhe a mão.
Evie sentiu-se estranha e algo enjoada ao enfrentar St. Vincent. No momento em que ele l
slizar a aliança pelo dedo, o coração bateu-lhe mais forte e mais rápido, desencadeando
rrente elétrica que lhe trespassou o corpo e que ela não conseguiu identificar: podia ser msiedade ou pura excitação. Não havia uma palavra que a pudesse descrever. As mãos de a
ntaram-se, os seus dedos bem mais longos que os dela, a palma da mão dele suave e quente.
Ele inclinou ligeir amente a cabeça, ficando com o rosto a escassos centímetros do dela. Aind
mostrasse inexpressivo, um ligeiro rubor aflorava-lhe as maçãs do rosto e a cana do nariz. E
piração parecia mais acelerada que o habitual. Surpreendida por ter conseguido identifica
o tão íntimo quanto o ritmo normal da sua respiração, Evie desviou o olhar. Viu o velho fe
eber, das mãos de uma das filhas, uma fita de seda branca e estremeceu ligeiramente quan
u os pulsos de ambos com ela.
Um murmúrio surdo comichou-lhe a orelha e ela sentiu a mão livre de St. Vincent afagar
ca, esfregando-lha como se ela fosse um animal assustado. Sentiu-se relaxar ao toque
sfrutando do contacto ligeiro e sedoso dos seus dedos.
MacPhee tratou rapidamente de dar um laço na fita que lhes unia os pulsos e declarou:
– Pronto… Agora repita comigo, ‘nha filha… «Tomo-o como mê esposo.»
– «Tomo-o como meu esposo.» – murmurou Evie.
– M’lord? – instigou o ferreiro.
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St. Vincent baixou o olhar para ela, os olhos frios e brilhantes como diamantes, revelando
nhuma. E contudo, ela pressentiu-lhe igualmente uma certa tensão e uma carga elétric
parou entre ambos, forte como um relâmpago.
A voz dele soou baixa e serena:
– «Tomo-a como minha esposa.»
O tom do ferreiro denotava grande satisfação:
– Perante Deus e estas testemunhas, declaro-vos mar ido e melher. O que Deus juntou ne
me há de separar. São oitenta e duas libras, três croas e um xelim, fachavôr. St. Vincent desv
m visível dificuldade – o seu olhar do de Evie e encarou o ferreiro com um franzir de sobrol
– Cinquenta libras d’aliança… – esclareceu-o MacPhee, perante a pergunta velada.
– Cinquenta libras por um simples anel de ouro?!
– Ouro escocês – retorquiu o homem, parecendo indignado por o preço estar a ser post
usa.
– E o restante?
– Trinta libras p’los ritos, uma libra pelo uso da nha loja, um guinéu p’lo c’tificado de casamque terei prontinho amanhã de manhã – uma croa por cada testemunha… – O ferreiro indic
has, que fizeram uma vénia por entre risadinhas tímidas. – Maizuma croa plas flores…
– Uma coroa por um ramo de urze seca?! – exclamou St. Vincent, ultrajado.
– Nã cobrei nada pla canção – concedeu o ferreiro, amavelmente. – Ah, e maizum xelim pla
e nã podem tirar inté o casamento ser consumado… ou as trevas do azar irão perseg
rnamente…
St. Vincent abriu a boca para ripostar, mas um breve olhar para o rosto exausto de Evieudar de ideias. Suspirando, levou a mão ao casaco para tirar o dinheiro. Os seus movimentos
ranhos e algo torpes, visto ele ser destro e a única mão livre ser a esquerda. Retirou algumas
moedas da algibeira do casaco e deixou-as sobre o altar.
– Aqui tem – resmungou, mal-humorado. – Não… Dê o troco às suas filhas. – E acrescento
m pleno de ironia: – Juntamente com o nosso profundo agradecimento pela linda canção
noro coro de agradecimentos irrompeu das bocas do pai e das filhas – que se sentiram inspi
ra os acompanhar até à porta entoando uns versinhos extra do tema do casamento:
E amar-te-ei assim, meu amor,
Até secarem todos os oceanos…
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Capítulo 4
A chuva caía às catadupas, em lençóis de prata e negro, no momento em que o parzinho casa
sco saiu da casa do ferreiro. Evie apressou o passo, reunindo o pouco que lhe restava das f
ra regressar ao aconchego da estalagem. Sentia-se como se estivesse dentro de um sonho. Tu
recia desproporcionado – tinha dificuldades em fixar a visão, e o chão lamacento fazia-a resv
da passo. Para seu enorme desagrado, St. Vincent deteve-a junto à fachada de um edifício, faz
brigar-se sob o beiral encharcado.
– O que foi? – perguntou-lhe, em tom débil.
Ele levou a mão esquerda aos pulsos de ambos e tratou de desatar o laço da fita que os unia.
– Vou livrar-nos disto.
– Não! Espere…O capuz do casaco dela caiu-lhe sobre os ombros quando ela se inclinou para trás, que
pedi-lo. Com uma mão prendeu a dele.
– Esperar?… Porquê? O tom impaciente da voz dele traía-lhe o extremo cansaço. Gotas go
adas caíam-lhe do beiral sobre o chapéu, enquanto olhava para ela. Caíra a noite, e a
minação provinha das chamas débeis dos escassos candeeiros de gás existentes na rua. Aind
ida, a luz dos candeeiros acentuava-lhe o azul dos olhos, fazendo-os brilhar – como que pro
iluminação própria.– Ouviu o que disse o Mr. MacPhee: dá azar desatar a fita.
– É supersticiosa? – inquiriu ele, em tom incrédulo. Evie assentiu, quase lhe pedindo des
m o olhar.
Não era difícil perceber que o temperamento dele estava preso por um fio bem mais ténue d
ita que unia os seus pulsos. Ali de pé, tão próximos, no frio e no escuro, os braços erg
mavam um ângulo estranho e algo sinistro. Evie sentiu-lhe os dedos da mão presa cravare
no pulso. Era a única zona do corpo que sentia quente, o ponto onde a mão dele apertava a su
St. Vincent falou num tom de exagerada paciência e, estivesse ela na plena posse das
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uldades, teria certamente cedido de imediato aos intentos dele.
– Pretende mesmo entrar assim na estalagem?
Tudo aquilo era irracional, e Evie sentia-se demasiado exausta para procurar algum sentid
as emoções. Tudo o que sabia era que já havia tido má sorte suficiente na vida para ago
iscar a atrair mais uma dose.
– Estamos em Gretna Green, ninguém vai fazer julgamentos seja de que ordem forem.
so, cuidei que não se importasse com o que os outros pensam.
– Nunca me impor tei em parecer depravado ou infame. Mas agrada-me pouco fazer figu
rfeito idiota.
– Não! Por favor… – pediu-lhe ela num tom suplicante, ao vê-lo tentar desatar a fita.
Desde logo se travou uma breve luta de mãos, os dedos dela enredando-se nos dele. Até
bitamente, a boca dele tomou a dela, empurrando-a de encontro à fachada do ed
obilizando-a com o próprio corpo. Com a mão livre, ele envolveu-lhe a nuca, os
ndendo-se na humidade espessa do cabelo dela. A pressão inebriante da boca dele provocou
ma descarga que lhe trespassou o corpo todo. Não sabia como beijar, o que fazer com a rplexa e trémula, pressionou os lábios fechados contra os dele, sentindo o coração
scompassado e as pernas fraquejarem.
Ele queria coisas que ela não sabia dar-lhe. Apercebendo-se do seu estado confuso, ele afa
beça e encheu-lhe os lábios de beijos curtos e persistentes, a barba de dois dias arranhand
avemente o rosto. Os dedos dele afloraram-lhe a frágil estrutura dos maxilares, afagando-
eixo, o polegar apartando gentilmente o lábio inferior do superior. Assim que ele anteviu
ve abertura, selou a boca na dela. Evie conseguiu prová-lo, uma essência subtil e fascinante tou como uma droga poderosa. A língua dele explorou-lhe a boca, brincando, provoc
netrando mais profundamente ao perceber que ela já não oferecia resistência.
Após um beijo exploratório assaz lascivo, ele recuou até que só as duas bocas se tocavam: o
itos misturados em nuvenzinhas de vapor eram visíveis no ar gelado da noite. Ele fez de
tro beijo de boca semiaberta contra a dela… e mais outro, enchendo-a com sua exalação t
ueles beijos delicados estenderam-se pela face dela até ao orifício intrincado da orelha
gou, trémula, ao sentir a língua dele seguir a fímbria frágil, até que os dentes segu
emente o lóbulo macio. Evie contorceu-se de prazer e a sensação alongou-se até aos seios e
is baixo, crescendo até sítios mais íntimos.
Retorcendo-se contra ele, Evie procurava cegamente a sua boca quente e provocadora, o
doso daquela língua. Ele deu-lha, num beijo terno, mas seguro. Ela enrolou o braço livre à vo
scoço dele para não cair, enquanto ele segurava firmemente o outro pulso contra a parede, e a
ntiram os pulsos juntos a latejar com força sob o atilho da fita branca. Mais um beijo profund
smo tempo rude e reconfortante… comendo-lhe a boca, provocando-a e lambendo-a por den
uele prazer ameaçava fazê-la perder a consciência. Não admira… pensava ela, aturdida.
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mirava que tantas mulheres tivessem sucumbido àquele homem, tivessem abandonado ho
utação por ele… e até mesmo – a crer nos rumores – tentado matar-se quando ele as deixar
a encarnação da sensualidade.
Quando St. Vincent afastou o corpo do dela, Evie ficou surpreendida por não se sentir esbo
até ao chão. Ele arfava tanto como ela; mais ainda: o peito dele subia e descia visivelmente. A
aram em silêncio enquanto ele desmanchava o atilho, o seu olhar azul de gelo completam
cado na sua tarefa. Tremiam-lhe as mãos e não conseguia olhá-la de frente; ela não cons
rceber se era para não lhe ver a expressão ou para evitar que ela visse a dele. Já a fita branca
chão e Evie sentia que ainda estavam ligados, já que o seu pulso retinha ainda a sensação de
do ao dele.
Finalmente, lançando-lhe um olhar intenso, St. Vincent desafiou-a, em silêncio, a protesta
rdeu a língua, tomou-lhe o braço e ambos dirigiram-se à hospedaria. Sentindo a cabeça a an
da, ela mal ouviu os parabéns joviais de Mr. Findley quando entraram no pequeno edifício.
m as pernas pesadas que ela subiu um patamar de degraus estreitos e escuros. E ali estava
orço de dentes cerrados para pôr um pé diante do outro, na esperança de não se ir abaixrnas.
Chegaram a uma pequena porta no átrio do primeiro andar. Encostando-se à parede, Evie v
ncent debater-se com a fechadura. A chave deu a volta com um rangido e ela titubeou até à
erta.
– Espere – disse ele, fazendo menção de a pegar ao colo.
Ela sentiu-se sem fôlego.
– Não precisa de…– Por respeito à sua natureza supersticiosa – afirmou ele, erguendo-a como se de uma cria
tasse –, sugiro que respeitemos uma última tradição. – Voltando-se de lado, transpôs a porta.
ar a noiva tropeçar à entrada do lar. E eu já vi homens regressados de um bacanal de trê
nos trôpegos do que a Evie está agora.
– Obrigadinha… – resmungou ela, quando ele a poisou no chão.
– Meia croa, faxavôr… – brincou ele, fazendo-a sorrir, ao recordar o pároco-ferreiro que ac
os casar.
Mas o sorriso desde logo lhe esmoreceu ao olhar em volta do pequeno quarto que lhe
stinado. A cama, suficientemente grande para dois, parecia limpa e confortável, ainda que com
cha visivelmente gasta de constantes lavagens. A cabeceira era toda em ferro e latão, com b
eras douradas nas pontas. Uma luz levemente rosada emanava de um candeeiro de vidro
ocado sobre a mesinha de cabeceira. Sentindo-se gelada, enlameada e entorpecida, Evie fic
hos fixos na banheira envelhecida de latão bordeada a madeira, que fora deixada em fre
quena e tremeluzente lareira.
St. Vincent trancou a porta e dirigiu-se a ela, estendendo a mão para o alfinete que lhe sujei
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pa. Evie pôde ler-lhe a consternação no rosto ao verificar que ela tremia de fraqueza.
– Deixe-me ajudá-la – murmurou-lhe, tirando-lhe a capa dos ombros e deixando-a sobre
deira junto à lareira.
Evie engoliu em seco e tentou endireitar os joelhos que teimavam em vergar-se. Sentiu o a
medo no estômago, ao olhar para a cama.
– Vamos ter de… – murmurou, sentindo a garganta seca.
St. Vincent começou a desabotoar-lhe a frente do vestido, com gestos lentos e suaves.
– Vamos ter de…? – repetiu ele, seguindo o olhar dela até à cama.
– Bom Deus, é claro que não. – Os dedos ágeis moveram-se rapidamente pelo corpete, liber
ileira de pequenos botões. – Por deliciosa que seja, minha querida, a verdade é que eu
solutamente esgotado. E sempre julguei impossível vir a dizer isto, mas… neste momento p
rmir a fornicar.
Sentindo um profundo e infinito alívio, Evie soltou um suspiro trémulo. Viu-se forçada a ag
a ele para não cair, quando o sentiu despir-lhe o vestido pelas ancas.
– Detesto essa palavra… – disse, num murmúrio abafado.– Pois é bom que se habitue – foi a cáustica resposta dele. – É uma palavra vulgarmente pro
clube do seu pai. Nem acredito que nunca a tenha ouvido antes.
– É claro que ouvi – disse ela, indignada, despindo o vestido pelos pés. – Só que não lhe con
ignificado… até agora. St. Vincent baixou-se para lhe desapertar os sapatos e ela ouviu-lhe
ranha fungadela, que a deixou preocupada cuidando que ele poderia estar a sentir-se mal. Ma
u grande espanto, depressa se apercebeu que ele estava a rir. Era a primeira gargalhada genuín
ouvia, e ela não fazia a menor ideia da razão. De pé em frente dele, de camisa e ceroulas, cbraços e olhou-o com expressão desconfiada.
Sem deixar de rir, ele descalçou-lhe um sapato, depois o outro, e desenrolou-lhe as meias a
lhos com notável eficiência.
– Desfrute do seu banho, minha linda – conseguiu finalmente dizer. – Esta noite está s
migo. Sou capaz de olhar, mas não toco. Vamos…
Nunca tendo sido em toda a sua vida despida por um homem, Evie sentiu o rubor da ti
rcor rer-lhe o corpo todo ao desatar os atilhos da camisa. Sensatamente, o visconde desviou o
oltou-lhe costas, dirigindo-se ao lavatório com um jarro de água fervente que havia sido de
lado da lareira. Vendo-o retirar do seu baú de viagem os utensílios de barbear, Evie trat
abar de se despir para rapidamente se enfiar na banheira. A água estava quente, maravilhosa
ente e, ao imergir, ela sentiu as pernas geladas e entorpecidas serem picadas por um milh
ulhas.
Num banquinho ao lado da banheira havia um frasco de sabão castanho e gelatinoso
palhou-o pelos braços e seios, deliciando-se com a textura suave e a essência agridoce. Sen
os trôpegas… não conseguia manusear os dedos eficazmente. Depois de mergulhar a cabe
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ua estendeu novamente a mão para o frasco de sabão, quase derrubando-o. Ensaboou o c
tou um gemido de desconforto ao sentir os olhos arder e lançou mãos-cheias de água no rost
Rapidamente, St. Vincent aproximou-se da banheira com um jarro esmaltado de água limpa.
– Deite a cabeça para trás… – disse-lhe.
Ele enxaguou-lhe a cabeça com a água, limpou-lhe o rosto com uma toalha áspera e
antar-se. Tomando-lhe a mão, Evie deixou-se ajudar. Deveria ter ficado mortificada de verg
expor-se assim, completamente nua, perante os olhos de um homem, mas a verdade é que ti
ançado um tal estado de exaustão que não podia dar-se ao luxo de se mostrar tímida. Enerv
mendo de frio, deixou que ele a retirasse da banheira, incapaz de fazer outra coisa que não d
estar – não se importando, ou parecendo nem sequer reparar, se ele a observava.
St. Vincent revelou-se bem mais eficiente que qualquer camareira pessoal, secando
ntímetro do corpo dela antes de lhe vestir a camisa de noite de flanela, que encontrara n
quena mala. Depois serviu-se de outra toalha seca para lhe retirar o excesso de água do cab
almente, conduziu-a até ao lavatório. Evie constatou que ele lhe descobrira na mala a esco
ntes e que a tinha já preparada com pó dentífrico. Ainda algo trémula, Evie esdadosamente os dentes, bochechando com água limpa, sem parecer importar-se quando a e
caiu dos dedos insensíveis.
– A cama…? – murmurou, de olhos fechados.
– Venha, minha querida, dê-me a sua mão – disse ele, conduzindo-a até à cama, onde
ressou a aninhar-se, qual animal ferido. A cama apresentava-se quente e seca, o colchão sua
so do lençol e da coberta de lã cobrindo-lhe os braços e as pernas dormentes. Enterrando a c
almofada, Evie deixou escapar um longo suspiro. Sentiu uma ligeira pressão na cabeça e pere St. Vincent tratava de lhe desenredar os nós do cabelo húmido. Aceitando passivamente o
dados, deixou que ele a voltasse para lhe desembaraçar o outro lado. Quando acabou, St. V
igiu-se à banheira para finalmente poder lavar-se. Evie conseguiu manter-se acordada mai
gundos, tempo suficiente para conseguir admirar, de olhos esbugalhados, a perfeição da
ico. Era uma visão deslumbrante, os maravilhosos contornos daquele corpo à ténue luz da la
olhos fecharam-se-lhe precisamente no momento em que ele entrou para a banheira…
mento em que ele se sentou, já ela adormecera.
Não teve sonhos que lhe perturbassem o tão merecido repouso. Nada havia que não a d
ofunda escuridão, e uma cama macia, na quietude de uma vilazinha escocesa numa fria no
tono. A única vez que ela se moveu foi ao nascer do dia, quando os sons lá de fora entraram
arto… os alegres pregões do padeiro e do trapeiro, os cascos dos cavalos puxando carroças
as. Evie entreabriu os olhos e, à luz difusa que entrava pelas cortinas pardas e gastas, aperceb
m espanto, de que alguém partilhava a sua cama.
St. Vincent. O seu marido… Estava nu, ou, pelo menos, de tronco nu. Dormia de barrig
xo, os braços, suavemente musculados, curvados sobre a almofada debaixo da cabeça. As
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plas dos ombros e das costas eram tão perfeitas que pareciam ter sido esculpidas diretame
a pedra de âmbar báltico. O seu rosto em repouso era bastante mais suave do que qu
ordado… os olhos fr ios fechados e a boca relaxada numa linha inocentemente sensual.
Fechando os olhos, Evie deleitou-se com a ideia de ser agora uma mulher casada, e que mu
ve iria poder ver o pai – e ficar com ele o tempo que desejasse. E era muito pouco prováv
Vincent se ralasse sequer com o que ela fazia ou onde estava – permitindo-lhe ser senhora d
ópria liberdade. Apesar das preocupações que insistiam em ocupar-lhe a mente, Evie sen
vadida por algo muito parecido com uma onda de felicidade, que a fez suspirar, espreguiça
ormecer novamente.
Desta vez, sonhou. Caminhava por um trilho inundado de sol, ladeado por arbustos de á
rpura e espigas douradas de arnica-do-mato. Era um caminho de Hampshire que ela hav
rcorrido diversas vezes, com prados inundados e verdejantes, carregados de rainhas-dos-p
arelas e de esvoaçantes espigas de solidago. Caminhou sozinha pelo prado húmido até s
óxima do poço dos desejos, onde ela e as outras Encalhadas haviam lançado alfinetes, formu
seus desejos. Sabendo da lenda local acerca do espírito do poço que vivia nas profundezasha pânico de se aproximar demasiado daquele buraco no chão. Rezava a lenda que o es
uardava conseguir capturar uma jovem inocente e arrastá-la consigo para o fundo, para
rnamente como sua consorte. Todavia, no seu sonho, Evie era audaz e temerária, atrevendo-
escalçar-se e mergulhar os pés nas águas turvas e revoltas. E surpreendeu-a constatar que a
ava deliciosamente tépida.
Sentada na margem do poço, Evie enfiou as pernas nas águas mornas, erguendo o rosto p
. Sentindo uma ligeira pressão nos tornozelos, deixou-se ficar muito quieta e sem o menor rmesmo ao pressentir algo a mover-se por entre os seus pés. Outro toque… uma mão…
ngos acariciando-lhe ternamente os dedos, massajando-lhe as plantas doridas e fazendo-a su
prazer. As mãos grandes e másculas foram subindo ligeiramente, afagando-lhe a barrig
rnas, os joelhos… até que um corpo forte e brilhante emergiu das profundezas do poço. O es
umira a forma de um homem para a conquistar. Os seus braços fortes envolveram-na,
nsação estranha mas adorável que a fez manter os olhos fechados, temendo que ao olhar pa
desse fazê-lo desaparecer. Tinha a pele macia e quente, os músculos das costas ondulando en
dos dela.
O seu amante sonhado murmurava-lhe palavras ternas, enquanto ela o abraçava, a boca
ncando suavemente sobre a garganta. Cada toque daquelas mãos firmes e suaves deix
asiada de prazer.
– Posso levar -te comigo? – sussur rou-lhe, despindo-lhe cuidadosamente as roupas, expo
e dela à luz, ao ar e à água. – Nada temas, meu amor…
E sentindo-a tremer e agarrar-se cegamente a ele, beijou-lhe a garganta, os seios, passa
gua pelos mamilos. As mãos dele deslizaram-lhe pelo regaço, tomando-lhe os seios, enquan
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tava um suspiro pelos lábios entreabertos. A língua dele fê-la gemer e Evie enfiou-lhe os
r entre as madeixas de cabelo espesso. Abocanhando-lhe docemente um mamilo, ele provoc
mbendo e mordiscando, num círculo ritmado e experiente. Ela arqueava-se, arquejava
nseguindo impedir-se de abrir as coxas à medida que o sentia aos poucos instalar-se entre e
que…
Evie abriu subitamente os olhos. Sentiu a mente num turbilhão ao acordar num misto de de
nfusão, ofegando violentamente. O sonho esmoreceu e ela apercebeu-se de que não estav
mpshire, mas num quarto alugado de uma estalagem de Gretna e os sons da água não provi
um poço de desejos, mas sim da chuva que caía lá fora em catadupa. Não havia sol, apen
amas crepitantes de uma lareira acabada de acender. E o corpo por cima dela não era o d
pírito, mas sim o de um homem verdadeiro… e quente. A cabeça dele sobre o seu estômago, a
rcorrendo lentamente os trilhos da sua pele. Evie reagiu, subitamente tensa, ao perceber que
a… e que St. Vincent se dedicava a fazer amor com ela – e ao que parecia, há já uns bons min
St. Vincent ergueu os olhos para ela. Com o ligeiro rubor que lhe aflorava as faces, os seus
reciam maiores e mais brilhantes do que o habitual. O esboço de um sorriso relaxadotuoso, desenhou-se-lhe nos cantos da boca.
– Estava difícil acordá-la… – disse-lhe num tom rouco, antes de baixar novamente a cab
m uma mão, acariciar-lhe a coxa.
Chocada, ela soltou um gemido rouco de protesto e tentou esquivar-se, mas ele acariciou-
bas as mãos, afagando-lhe as pernas e as ancas, pressionando-as contra o colchão.
– Deixe-se ficar quieta… Não tem de fazer nada, meu amor. Deixe-me tratar de si. Sim…
ar-me, se… oh, sim…Ele pareceu ronronar ao sentir os dedos dela afagarem-lhe o cabelo, depois a nuca, a
rvatura dos ombros.
Ele desceu sobre ela, as pernas fortes deslizando pelo interior das dela, fazendo-a aperceber
e ele tinha a cara sobre o triângulo de pequenos caracóis ruivos. Ardendo de vergon
nstrangimento, Evie levou instintivamente a mão à zona púbica, como que querendo protegê-
A boca erótica dele desceu-lhe até à anca, e ela sentiu-lhe o sorriso contra a pele sensível.
– Não devia fazer isso – sussur rou-lhe. – Quanto mais esconde uma coisa de mim, mai
sejo. Temo dizer-lhe que acabou de me encher a cabeça com os mais lascivos pensamentos
lhor tirar a mão daí, queridinha, ou ainda faço algo realmente depravado.
Sentindo-a retirar a mão trémula, ele deixou que um dedo brincasse com o delicado tufo
ovocando-a delicadamente:
– Isso mesmo… obedeça ao seu marido – sussur rou-lhe perversamente, massajando-a
ensamente. – Sobretudo na cama. Que bonita que é… Abra as pernas, meu amor. Quero toc
r dentro. Não, não tenha medo. Será que ajuda se eu a beijar… aqui? Fique quietinha, vamos…
Evie teve um súbito frémito ao sentir a boca dele esquadrinhando o triângulo de pelo de um
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enso. Aquela boca quente, de uma tenacidade impiedosa, cedo encontrou o pequeno
condido por baixo da coifa vulnerável. O seu dedo, comprido e ágil, tenteou a entrada do
a, mas foi momentaneamente desalojado pela convulsão sobressaltada de Evie.
Segredando murmúrios apaziguantes junto da sua carne inchada, St. Vincent deslizou de n
do para dentro dela, mais fundo desta vez.
– Tão inocente, meu amor… – murmurou ele, e a sua língua titilou uma zona tão sensível
estremecer, gemendo.
Ao mesmo tempo o dedo dele continuava a acariciar aquela macieza tão íntima num
guido. Ela bem tentava manter silêncio, rangendo os dentes, mas pequenos sons continuav
capar-lhe da garganta.
– O que é que pensa que poderia acontecer – ouviu ela perguntar, num tom indolente –
ntinuasse a fazer isto sem parar…?
Por cima do plano palpitante do seu ventre, o olhar toldado de Evie cruzou-se com o dele.
Ela sentia as faces contorcidas e congestionadas… sentia fogo espalhar-se por cada centíme
a pele. Ele parecia esperar uma resposta, mas ela mal conseguia fazer passar as palavrarganta constrangida.
– N-n-não sei… – acabou por murmurar.
– Vamos experimentar, está bem?
Ela não pôde responder, apenas esperar, atónita, enquanto ele apertava a boca contra a grenh
fogo. A cabeça descaiu-lhe para trás, ao sentir a língua dele bailando habilmente sobre a
ejante. O coração batia-lhe, quase dolorosamente. Sentiu um ardor quando ele lhe enfio
gundo dedo dentro dela, esticando-a docemente, e a seguir começou a chupar o pequeno ido no sexo dela, aumentando o ritmo enquanto ela se torcia debaixo dele. Ele acompanha
balhando-a com os dedos em investidas controladas, com a boca compulsiva e exigente… a
prazer a inundou em ímpetos cada vez mais rápidos, e de repente ela ficou incapaz de se m
ticada contra a boca dele, Evie gritou, arquejou e voltou a gritar. A boca dele abrandou
ntinuou no seu jogo habilidoso, guiando-a durante os prolongamentos da sensação, embala
xo dela com afagos até a ver estremecer violentamente.
Ela sentia-se inundada de fadiga e, ao mesmo tempo, possuída por uma euforia física, co
ivesse embriagada. Sem poder controlar-se, contorceu-se tremulamente debaixo dele – e
recer resistência quando St. Vincent a virou de barriga para baixo. A mão dele deslizou-lhe
coxas e os seus dedos entraram de novo nela. A boca do seu corpo estava dorida e, par
xame, abundantemente húmida. Contudo ele pareceu excitado, respirando avidamente contra
ca sensível. Mantendo os dedos dentro dela, começou a beijá-la, mordiscando-a pelas
aixo.
Evie sentiu o sexo dele roçar-lhe pelas pernas… estava duro e inchado, a sua pele queimava
ou surpreendida por aquela mudança nele… Annabelle tinha-lhe confidenciado o bastante pa
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r a entender o que se passava no corpo de um homem durante um ato de amor. Mas a amiga
dissera sobre a centena de outras intimidades que tornavam a experiência não só física, mas
mudar a própria alquimia da sua alma.
Curvado sobre ela, St. Vincent afagou-a, titilando-a até sentir as ancas dela arqueando-se de d
enso contra a mão dele.
– Quero entrar dentro de ti… – murmurou ele, beijando-lhe o lado do pescoço sobre a ore
ero entrar bem fundo no teu corpo… vou ter cuidado, minha pomba… deixa-me voltar-te
us, como és bonita…
Voltou-a de costas na cama e instalou-se entre as coxas dela, amplamente abertas. O seu mur
nara-se desgastado e pouco firme:
– Toca-me, querida… põe a tua mão aqui…
Inspirou profundamente quando os dedos dela se curvaram suavemente à volta da extensão
seu sexo. Evie afagou-o, hesitante, mas depreendendo que a carícia lhe dava prazer, pelo s
elerar da respiração. Ele cerrara os olhos, as espessas pestanas tremiam-lhe ligeiramente con
es, os lábios abriam-se sob a força da respiração ofegante.Constrangida, Evie agarrou na pesada haste guiando-a para entre as suas coxas. A c
corregou sobre a humidade do sexo dela e St. Vincent gemeu de frustração dolorosa. Tentan
vo, Evie posicionou-o, hesitante. Uma vez no caminho certo, ele acutilou com força o a
nerável. Doeu bastante mais do que os dedos dele e Evie retesou-se sob a dor. Embalando no
aços o corpo dela, o visconde aplicou-lhe uma investida poderosa… e outra e mais ou
bitamente estava todo dentro dela. A jovem contorcia-se na tentativa de escapar àquela dol
vasão, mas parecia que cada movimento só o fazia penetrar mais fundo.Atestada, esticada e aberta, Evie forçou-se a ficar imóvel nos braços dele. Agarrou-se-lh
mbros, cravando os dentes no duro revestimento de músculos e tendões, e permitiu que
almasse com as mãos e a boca. Quando, de olhos semicerrados, ele se inclinou para a beija
olheu com inesperado prazer a humidade quente da sua língua, que ela chupou para dent
ópria boca com uma súbita volúpia que a ambos surpreendeu. Ele emitiu um som de surpre
u membro agitou-se violentamente dentro dela numa série de espasmos ritmados. Um ge
uco vibrou-lhe no peito, enquanto se vinha dentro dela e o fôlego lhe saía entre os dentes cerr
As mãos dela deslizaram para o peito dele, tateando a superfície firme coberta de uma
nugem dourada. Ainda dentro dela, St. Vincent manteve-se imóvel sob aqueles dedos explora
e em breve deslizaram até aos seus flancos enxutos, palpando o arqueado firme das costel
no acetinado das costas. Os seus olhos azuis ampliaram-se largamente e ele deixou cair a c
almofada ao lado dela, gemendo enquanto o seu corpo se animava dentro dela, num ímpeto n
não pôde impedir-se de estremecer em dobrados tremores de êxtase.
A boca dele juntou-se à dela com uma sofreguidão primitiva. Ela abriu mais as pernas, puxa
as costas para lhe sentir o peso mais fundo e mais duro, apesar da dor. Apoiado nos coto
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ra evitar esmagá-la, St. Vincent descansou a cabeça sobre o peito dela e o seu bafo quente afl
um mamilo. O pelo da sua barba picou-a ligeiramente e a sensação contraiu-lhe os bico
os. O sexo dele estava ainda dentro dela, embora mais brando. Ele estava calado, mas
ordado, e as longas pestanas faziam-lhe sedosas cócegas sobre a pele.
Evia mantinha-se também calada, os braços à volta da cabeça dele, os dedos brincando c
belo dourado. Sentiu mudar-se o peso dele e o calor húmido da sua boca procurando-lhe o se
ios dele fecharam-se-lhe em volta do mamilo e a sua língua traçava agora vagarosamente o
erior da auréola intumescida, à volta e à volta, até que ele a sentiu agitar-se, inquieta, debaixo
antendo dentro da boca aquele tenso botão, Sebastian lambia firmemente, docemente, enqua
sejo se acendia nos seios dela… e no ventre e nas entranhas… e a dor se dissolvia numa nova
desejo. Deliberadamente, ele mudou para o outro seio, mordiscando, lambendo, suge
mentar-se do prazer dela. Alçou-se um pouco para poder escorregar a mão entre os dois cor
seus dedos experientes deslizaram para dentro do ninho húmido de pelos, achando a vib
sta feminina e provocando-a habilmente. Ela sentiu-se conduzir para um novo clímax, e todo
rpo se entregou com volúpia à carne quente que se insinuava profundamente dentro dela.Arfando de surpresa, St. Vincent levantou a cabeça para a olhar como se ela fosse uma vari
criatura que ele nunca vira antes.
– Meu Deus… – murmurou ele.
E a sua expressão não era tanto de agrado, mas de algo muito parecido com alarme.
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Capítulo 5
Sebastian levantou-se e dirig iu-se, de pernas trémulas, ao lavatór io. Sentia-se tonto, pouco
mo se tivesse sido ele e não Evangeline a perder a virgindade. Há muito que desistira de
sfrutar de uma experiência nova. Enganara-se. Para um homem para quem fazer amor se resu
m misto de técnica e coreografia, chocara-o o modo verdadeiramente apaixonado com q
regara àquele momento. Ainda considerara retirar-se no último segundo, mas sentira-se
ma acometido de desejo que lhe fora impossível controlar-se. Raios! Tal nunca lhe
ontecido…
Com mãos trémulas, pegou numa toalha de linho lavada e tratou de a embeber em água lim
piração já tinha recuperado o ritmo normal, mas ele não se sentia minimamente calm
axado. Depois do que se passara, seria expectável sentir-se satisfeito por longas horas. Mas uilo não fora suficiente. Sebastian havia experienciado o mais longo… o mais viole
ebatador orgasmo da sua vida… e ainda assim, a necessidade desesperada de a possuir de no
brir e se enterrar dentro dela, não havia desaparecido. Era uma loucura. Mas porquê? Porq
m ela?
Evie tinha o tipo de figura amplamente feminina que ele sempre adorara: firme e voluptuosa
xas roliças e aconchegantes. E a sua pele era macia como veludo, salpicada de sardas doirada
belo… tão ruivo e ondulado, tanto em cima quanto no pequeno triângulo púbico… sim, tambéirresistível. Mas todas as opulências físicas de Evangeline Jenner não se comparava
raordinário efeito que ela surtia nele.
Sentindo uma nova e urgentíssima pontada de desejo, Sebastian esfregou-se violentamente c
lha molhada e pegou noutra, seca e engomada. Levou-a até Evangeline que conti
iciosamente aninhada no seu lado da cama. Para seu profundo alívio, não havia nela o m
stígio de lágrimas ou lamentos virginais… olhava-o intensamente, como que a tentar decifr
alquer quebra-cabeças. Murmurando-lhe palavras doces, ele fê-la voltar-se de costas e lavou
stura de sangue e fluidos de entre as coxas.
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– Esperam-na dias difíceis, Evie. Ter-me como marido já é provação suficiente. E tratar
co em fim de vida… vai exigir-lhe todas as forças. Não me parece razoável querer consum
es sequer de chegar junto dele.
Evie fitou-o com uma intensidade tal que o deixou desconfortável. Que olhos os seus… co
uém tivesse pegado num pedaço de vidro azul para fazer refletir através dele os mais brilh
os de sol.
– Preocupa-o o meu bem-estar? – perguntou-lhe ela.
Ele esforçou-se por soar o mais imperturbável possível, fixando-a com olhos frios.
– Mas é claro, minha bichinha. É do meu maior interesse mantê-la viva e com saúde até
olher o seu dote. Evie desde logo descobriu que St. Vincent – Sebastian – se mostrava t
ntade nu como completamente vestido. Esforçou-se por reagir descontraidamente à visão da
mem todo nu movimentando-se livremente pelo quarto. Mas lançou-lhe olhares subtis sempr
ssível, até o ver retirar do baú uma nova toilette. Ele era alto e esbelto, de pernas compridas e
neadas, e músculos adoravelmente tonificados, muito provavelmente fruto de intenso exe
sculino como a equitação, o pugilismo e a esgrima. Tinha as costas e os ompressionantemente desenvolvidos, com os músculos ondeando sobre a pele flexível. Mas o
cinante era sem dúvida o seu torso, o peito que não era imberbe – como os que vulgarmente
s estátuas de bronze – mas ligeiramente coberto de pelos. Os pelos do peito – e de outras zo
viam-na deixado surpresa. Representava apenas mais um dos múltiplos mistérios do
sculino – que agora lhe estavam a ser literalmente revelados.
Profundamente incapaz de se movimentar pelo quarto de um modo tão livremente exposto
brulhou-se num lençol da cama antes de se levantar. Dirigiu-se à sua pequena mala e dela rm vestido de lã castanho-escuro, bem como um conjunto lavado de roupa interior e – maravilh
ravilhas! – um novo par de sapatos. Os que ela trouxera calçados ao longo da interminável v
contravam-se num estado tão deplorável – gastos, encharcados e cheios de lama – que só a id
ltar a calçá-los lhe dava arrepios. Enquanto se vestia, sentiu o peso do olhar de Sebastian sob
ressou-se a enfiar-se na camisa interior, escondendo o corpo que, uma vez mais, começ
rubescer.
– É linda, Evie, sabia…? – ouviu-lhe o suave comentário.
Tendo sido criada por familiares que sempre lhe haviam criticado o tom vivo do cabel
ofusão de sardas, Evie dirigiu-lhe um sorriso cético.
– A minha Tia Florence fazia questão de que eu esfregasse diar iamente o corpo com uma
ra combater as sardas. Mas isso sempre se revelou ineficaz.
Sebastian esboçou um sorriso prazenteiro enquanto se dirigia a ela. Levando as mãos aos om
a, lançou um longo olhar por aquele corpo, parcialmente oculto pela roupa interior.
– Não quero que faça desaparecer uma sarda que seja, querida. Descobri-as nos locais
cantadores… e até já elegi as minhas favoritas. Quer saber onde estão?
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Desarmada e desconcertada, Evie abanou a cabeça e tentou esquivar-se dele. Mas ele não a d
xando-a para si, baixou a cabeça dourada e beijou-lhe o pescoço.
– Que desmancha-prazeres… – sussurrou-lhe, sorrindo. – Mas eu digo-lhe na mesma.
Os dedos dele fecharam-se em garra sobre a camisa, puxando-a para cima. Ela sentiu-s
ego ao sentir-lhe os dedos acariciarem-lhe ternamente as coxas nuas.
– Se bem me recordo… – disse ele, com a boca encostada à garganta dela – há um trilho de
interior da sua coxa direita, que sobe pela…
Um bater na porta interrompeu-os, e Sebastian ergueu a cabeça com um grunhido de desagra
– O primeiro-almoço – murmurou. – E nem me arrisco a dar-lhe a escolher entre o sexo
eição quente, já que a resposta não abonaria a meu favor. Vista-se enquanto eu abro a porta.
Evie correu a obedecer-lhe e Sebastian abriu a porta a duas criadas que traziam bandejas c
is diversas iguarias. Assim que deitaram o olho ao hóspede de rosto seráfico e cabelo c
go, as duas entreolharam-se e soltaram uma risadinha incontrolável. E o seu nervosism
lhorou em nada ao constatarem que ele estava apenas meio vestido, os pés nus debaixo das c
sbraguilhadas, a camisa branca aberta até ao peito e a gravata de seda displicentemente pendpescoço. As criaditas enamoradas quase deixaram cair as bandejas sobre a mesa. Reparan
ma revolta, dificilmente controlaram uma nova onda de risinhos e olhares cúmplices – sem d
peculando sobre o que poderia ali ter ocorrido durante a noite. Aborrecida, Evie enxot
eralmente do quarto, atirando com a porta.
Pelo canto do olho, tentou aperceber-se da reação de Sebastian àquela histérica manifestação
pareceu-lhe imperturbável. Era óbvio que aquele tipo de atitude já lhe era tão familiar qu
ssava despercebida. Um homem com os seus atributos e posição era uma eterna presa da cminina. Evie não tinha a menor dúvida de que isso seria extremamente perturbador para
ulher que o amasse. Contudo, ela jamais se permitiria vir a sofrer de ciúmes ou do medo
ída.
Convidando-a a sentar-se à mesa, Sebastian juntou-se a ela, e tratou de a servir primeiro.
pas de aveia fumegantes, com sal e uma noz de manteiga, já que para os escoceses er
crilégio adoçá-las com melaço. Havia também uns pãezinhos chamados bannocks, finas fati
con, arenque fumado, uma taça grande de ostras fumadas e fatias de pão torrado barrado
rmelada. Absolutamente faminta, Evie devorou aquilo tudo, devidamente empurrado com div
ávenas de chá forte. A refeição até era simples, quando comparada com o fabuloso En
eakfast , servido na propriedade de Hampshire de Lord Westcliff, mas estava quente e sabor
ie estava demasiado esfaimada para se fazer de esquisita. Deixou-se ficar à mesa, plena
isfeita e de expressão sonhadora, enquanto Sebastian se barbeava e acabava de vestir. Guarda
ojo de barba no seu baú de viagem, fechou-o e dirigiu-se a Evie em tom casual:
– Emale as suas coisas, lindinha. Vou descer e certificar-me de que a carruagem está pront
rtir.
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– E o certificado de casamento que o Mr. MacPhee…
– Também tenciono tratar disso. Tranque a porta quando eu sair.
Precisamente uma hora depois, St. Vincent regressou para buscar Evie, enquanto um rapa
te e musculado lhes carregava as malas para a carruagem. Sebastian não evitou um sorri
arar que Evie se servira de uma das suas gravatas de seda para apanhar o cabelo num ele
o de cavalo. A jovem tinha perdido a maioria dos ganchos na longa viagem desde Londres
a urgência de partir, nem lhe tinha ocorrido trazer alguns a mais.
– Com o cabelo assim parece demasiado nova para casar – murmurou-lhe ele, visivel
ravilhado. – Acrescenta um toquezinho de deboche à situação e… isso agrada-me.
Começando a habituar-se àquele tipo de comentários indecentes, Evie dedicou-lhe um olh
ignada contenção e seguiu-o para fora do quarto. Desceram até à receção, onde se despedira
alajadeiro, Mr. Findley. Quando os viu à porta da rua, o homenzinho acrescentou, alegrement
– Desêjo-lhe‘ma xlente biagem, Lady St. Vincent!
Perplexa ao compreender que era agora uma viscondessa, Evie gaguejou-lhe um agradecime
Sebastian conduziu-a até a carruagem que os esperava, com os cavalos resfolegando e batencos, ansiosos por exercício.
– Sim – comentou Sebastian, em tom irónico – ainda que algo desacreditado, o título, a
mbém é seu.
Ajudando-a subir para o pequeno degrau amovível e para o interior do veículo, acrescentou
– Além disso, um dia ainda viremos a escalar mais alto, visto eu ser o primeiro na linha com
ducado… ainda que lhe sugira que não espere ansiosamente por esse dia. Os homens da m
mília tendem, lamentavelmente, a viver até tardíssimo, o que implica que nós dois não venhardar o título antes de estarmos já demasiado decrépitos para o gozar devidamente.
– Se julga que… – começou Evie, calando-se subitamente.
Estranhando, deparou-se com um objeto estranho no chão da carruagem. Tratava-se d
ipiente de cerâmica, amplo, e com uma abertura rolhada numa das pontas. De formato red
plano de um dos lados, por forma a garantir a estabilidade quando colocado no chão. Evie l
olhar inquisitivo a Sebastian, antes de lhe tocar com a ponta do sapato – sendo recompensad
ma onda de calor que lhe subiu pela perna.
– Um aquece-pés! – exclamou, perplexa.
O calor da água a ferver que o recipiente continha duraria muito mais tempo do que o tijol
experimentara anteriormente.
– Onde foi desencantar esta maravilha? – quis saber, encantada.
– Comprei-o ao MacPhee depois de o ver em casa dele – retorquiu o visconde, pare
vertido com a excitação da jovem. – Naturalmente que ficou encantado com a ideia de me
brar mais qualquer coisinha…
Impulsivamente, Evie soergueu-se do assento para o beijar na face, que sentiu suave fresca s
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ios.
– Obrigada. Foi extremamente gentil da sua parte.
As mãos dele ampararam-lhe a cintura, impedindo-a de cair para trás. Depois, fê-la sen
avemente ao seu colo, até os rostos de ambos ficarem tão próximos que os narizes qua
avam. O hálito dele acariciou-lhe a boca, ao murmurar:
– Certamente que mereço um agradecimento mais… substancial.
– Ora, não passa de um aquece-pés – protestou ela, diver tida.
Ele sorr iu-lhe.
– Devo adverti-la, minha querida, de que esta coisa acabará eventualmente por arrefecer. E
ma vez mais, serei a sua única fonte de calor disponível. E eu não sou homem de par
discriminadamente do meu calor corporal.
– Não é isso que consta – disse Evie, descobrindo um inesperado prazer naquela cumplic
bita.
Ela nunca tinha brincado com um homem daquela maneira, muito menos experienciado o p
lhe negar algo que ele desejava e provocá-lo com isso. E verificou, pelo brilho no seu olhambém ele parecia encantado com a brincadeira. Parecia querer saltar-lhe para cima… literalm
– Saberei aguardar o momento oportuno – disse ele. – O raio desta coisa não há de dura
mpre.
Ele permitiu-lhe sair do colo e ficou a vê-la recostar-se e baixar a saia sobre o aquec
chando os olhos de prazer enquanto sentia a carruagem arrancar com um solavanco,
sfrutou de um prazeiroso arrepio à medida que o calor lhe subia pelas coxas.
– Deus do céu… isto é tão… Sebastian?– Sim, querida? – disse ele, de olhos vivos e br ilhantes.
– Se o seu pai é duque, por que razão o Sebastian é visconde? Não deveria antes ser marqu
mínimo, conde?
– Não necessariamente. É uma prática relativamente comum acrescentar-se um número de
nores quando é criado um novo. Como regra, quanto mais antigo for o Ducado, m
obabilidades há de o filho mais velho vir a ser marquês. E o meu pai, como é óbvio, adora
so uma virtude. Desaconselho-a seriamente a falar-lhe nesse assunto, sobretudo se o vir co
ãozinho na asa, ou arrisca-se a levar com um entediante sermão sobre o quão afeminado e
o é o termo «marquês» e como o título em si não é mais do que um embaraçante meio-degra
ducado.
– É um homem arrogante, o seu pai?
Um sorr iso amargo desenhou-se-lhe nos lábios, antes de responder:
– Sempre cuidei que fosse arrogância, sim. Mas acabei por me aperceber de que trata mais
ofundo alheamento ao mundo exterior ao seu. Que eu saiba, ele nunca calçou as próprias me
ocou pó dentífrico na sua escova de dentes. Duvido até que sobrevivesse a uma vida sem h
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m privilégios. Aliás, estou em crer que morreria à fome num salão de banquete acaso
ivessem presentes criados para o servirem à sua mesa. Para ele, fazer tiro ao alvo com um j
valor inestimável ou atiçar o fogo de uma lareira com um casaco de peles são
rfeitamente naturais… Chega a manter os bosques em torno da sua propriedade permanentem
minados com tochas e candeeiros – não vá apetecer-lhe desfrutar de um passeio a meio da no
– Não admira que ele esteja falido, Sebastian – disse ela, impressionada com tal esbanjame
espero que não seja assim tão perdulário.
Ele abanou a cabeça:
– Se há coisa de que não me podem acusar é de excessos financeiros irrazoáveis. Raramente
não sustento amantes. O que não me impede de ter a minha dose de credores a farejarem-m
canhares.
– E alguma vez considerou dedicar -se a uma profissão?
Ele olhou-a inexpressivamente.
– E para quê?
– Para ganhar dinheiro…?– Deus seja louvado, nem pensar! Trabalhar revelar-se-ia uma distração extrema
onveniente sobre a minha vida pessoal. Além de que raramente me levanto antes do meio-dia
– O meu pai não vai gostar de si.
– Se a minha ambição na vida fosse cair nas boas graças dos outros, ficaria tristíssimo ao
o. Felizmente, não é.
À medida que a viagem foi decorrendo – em amena cavaqueira e agradável companhia –
mou, ainda assim, consciência de um misto contraditório de emoções em relação ao maridm que fosse dono de um encanto desmesurado, a verdade é que não via nele muita coisa dig
peito. Era nítido que ele dispunha de um espírito ardente e entusiasta, mas que não era emp
objetivos minimamente válidos. Além disso, o facto de ela saber que ele havia raptado Lil
ído o seu melhor amigo nesse processo, deixava claro que ele não era digno de conf
ntudo… era capaz de atos ocasionais de bondade e gentileza que ela muito apreciava.
A cada paragem Sebastian tratou de suprir toda e cada uma das necessidades de Evie e
stante a ameaça de deixar arrefecer o aquece-pés, nunca deixou de o reabastecer de água fer
mpre que a via mais cansada, deixava-a repousar sobre o seu peito, amparando-a sempre
ruagem abanava ou resvalava. Repousando nos braços dele, Evie concluiu que, para ela, a
mem não representava senão a ilusão de algo que jamais havia tido. Um refúgio. Um po
rigo. As mãos dele acariciavam-lhe constantemente o cabelo, em afagos doces e proteto
radou-lhe imenso ouvi-lo murmurar, naquela sua voz de anjo das trevas:
– Descanse, meu amor. Estou aqui para protegê-la.
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Capítulo 6
Ainda que Sebastian estivesse ansioso por regressar a Londres para avaliar e pon
mamente, as novas circunstâncias da sua vida, não lamentou a decisão de viajar mais lenta
caminho de regresso. Agora, caída a noite, Evie mostrava-se cansada, pálida e p
municativa – esgotadas as suas reservas de força, após as agruras dos últimos dias. Ela prec
descansar.
Tendo encontrado uma pousada agradável onde passar a noite, Sebastian reservou para e
lhor quarto disponível, exigindo que uma boa refeição e um banho quente lhes fo
ediatamente providenciados. Evie tomou banho numa pequena banheira vitoriana, lindís
quanto Sebastian tratava das acomodações para o cocheiro e da muda de cavalos para a m
guinte. De regresso ao quarto, pequeno, mas imaculado, com cortinas azuis, um tanto pbrindo as janelas, o visconde pôde constatar que a sua mulher terminara o banho e tinha já v
amisa de noite.
Dirigiu-se à mesa de aspeto frágil, ergueu o guardanapo que cobria o seu prato e deparou-s
ma perna de frango assada, uma porção de legumes miniatura e um pequeno pudim – na
arência particularmente apetitosa. Notando que o prato de Evie estava vazio, ele dirigiu-se-lh
rriso irónico:
– Que tal estava?– Melhor que nada.
– Agrada-me saber que terei uma nova apreciadora dos talentos do meu chef de Lond
mentou, sentando-se à mesa e desdobrando o guardanapo no colo. – Estou em crer que irá ap
suas imaginativas criações.
– Não conto vir a desfrutar de muitas refeições em sua casa – disse ela, em tom cauteloso.
Espantado, Sebastian poisou o garfo que ia já a meio caminho da boca:
– Como assim?
– Pretendo instalar-me no clube do meu pai – prosseguiu ela. – Como já lhe refer i, gostaria
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poder cuidar dele.
– Durante o dia, claro que sim. Mas não quero que passe lá as noites. Ao fim do dia regres
nha… nossa casa.
Ela fixou-o com expressão imperturbável, insistindo:
– A doença do meu pai não se retira à noite para reaparecer de manhã. Ele precisa de cui
nstantes.
Sebastian mastigou um pedaço de frango e respondeu, sem disfarçar alguma irritação:
– É para essas coisas que os cr iados servem. Podemos perfeitamente contratar alguém para c
e.
Evie abanou a cabeça com uma firme teimosia que ainda o deixou mais irritado.
– Não é o mesmo que desfrutar dos cuidados de um ente querido.
– E porque diabos a preocupa tanto a qualidade dos seus cuidados? Que fez ele por si, a
m sequer conhece o safado assim tão bem…
– Não me agrada esse termo.
– É uma pena. Porque é um dos meus favoritos e tenciono continuar a usá-lo sempre que m me aprouver!
– Então será uma bênção vermo-nos assim tão raramente quando regressarmos a Londres.
Olhando para a mulher, cujo rosto doce e angelical ocultava uma inesperada dispo
murra, Sebastian lembrou-se de que ela se dispunha facilmente a tomar medidas drásticas
ter o que queria. Só Deus e o diabo saberiam do que ela era capaz se ele a pressionasse dema
rçando as mãos a não tremer enquanto empunhava o garfo e a faca, continuou a sua refeiç
ngo bem podia ser sensaborão; nem que tivesse sido envolvido no mais apetitoso molho, paia indiferente. A sua mente ardilosa fervilhava agora a um ritmo insano, procurando a m
ratégia a adotar para lidar com Evie.
Por fim, e adotando uma expressão de genuína preocupação, murmurou-lhe:
– Meu amor… entenda que eu não posso permitir-lhe pernoitar num antro de bêbados, joga
mulherengos. Certamente que verá os perigos inerentes a uma tal situação.
– Tratarei de que receba o meu dote o mais brevemente possível. E aí deixará de ter motivo
preocupar comigo.
A sólida contenção tão característica de Sebastian evaporou-se como água quente dentro d
no.
– Eu não estou preocupado consigo, c’os diabos! Apenas… raios, Evie, não é normal
scondessa St. Vincent durma num clube de jogo nem sequer uma noite!
– Não é normal? Nunca o julguei tão convencional – limitou-se ela a r esponder.
Por uma estranha razão, a expressão feroz no rosto dele provocou-lhe um sorris
vertimento.
Ainda que subtil, o sorriso dela não passou despercebido a Sebastian, que passou automaticam
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raiva para a perplexidade. Era só o que lhe faltava, ver-se gozado por uma virgem de vinte
os – ou quase virgem – que se mostrava ingénua ao ponto de acreditar que era minimam
portante para ele!
O seu olhar de gélido desprezo deveria tê-la intimidado.
– Nessa sua linda fantasia de enfermeira doce, angelical e protetora, acaso lhe ocorreu
dará de si naquela espelunca? Passar lá a noite sozinha é um convite expresso a ser viola
bos me levem se lá fico consigo – tenho muito mais que fazer do que ficar sentado num clu
go de segunda à espera que o velho Jenner bata a pataleta!
– Nem nunca me ouviu pedir-lhe que me acompanhasse – respondeu-lhe ela no mesmo t
sembaraço-me muito bem sozinha.
– Imagino… – murmurou Sebastian, pleno de sarcasmo.
Poisou o garfo, tendo perdido completamente o pouco apetite que lhe restava. Lançan
ardanapo sobre o prato por acabar, levantou-se e tratou de despir o casaco e o colete. Sen
o, moído e ansiava por um banho. Com sor te, a água ainda estaria quente.
Enquanto se despia, não pode deixar de pensar em todas as mulheres que, ao longo dos viam desejado casar com ele – todas lindas e bem dotadas, tanto física como financeiramen
m capazes de assassinar para lhe agradarem. Mas ele andara sempre demasiado ocupado nas
vassas conquistas para sequer considerar uma relação séria com qualquer delas. E agora, dev
conjunto de circunstâncias – e também à falta de sentido de oportunidade – acabara casado
a criatura socialmente desajeitada, de linhagem muito duvidosa e temperamento obstinado.
Reparando no modo como Evie evitava olhar-lhe o corpo nu, Sebastian mal conteve um s
rverso. Dirigiu-se à pequena banheira e imergiu na água morna, as longas pernas penduradaa, uma para cada lado. Ensaboando-se indolentemente, lançando mãos-cheias de água no p
aços ensaboados, observou a sua mulher com olhos semicerrados. Agradou-lhe notar que pa
mpostura dela se perdera enquanto ele se banhava. E viu-a ruborizar enquanto dedicav
rticular – e muito suspeito – interesse pelo padrão da colcha da cama.
O olhar de Sebastian recaiu então sobre a aliança de ouro escocês que ela exibia no anelar.
ma reação estranha àquela visão, uma necessidade quase incontrolável de se precipitar sobr
obilizá-la na cama e possuí-la sem cerimónias. Quis dominá-la, rendê-la, forçá-la a admitir q
rtencia. Aqueles ímpetos de luxúria animalesca eram, no mínimo, alarmantes para um home
mpre se considerara civilizado. Perturbado e excitado, acabou de se lavar, levou a mão a
lha seca e enxugou-se vigorosamente. Os sinais mais do que óbvios da sua excitação não pas
spercebidos a Evie – que ele ouviu soltar um arquejo do fundo do quarto. O mais displicente
e lhe foi possível, enrolou a toalha à cintura e dirig iu-se ao baú de viagem.
Procurou um pente, dirigiu-se ao espelho sobre o lavatório e penteou o cabelo ainda leve
lhado.
O espelho ofereceu-lhe também uma visão parcial da cama e ele reparou, com agrado, que E
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servava.
Sem se voltar, murmurou:
– Será que me espera o mesmo destino do cão do açougueiro, esta noite?
– O cão do açougueiro? – repetiu ela, confusa.
– O cão que vive à porta do açougue e a quem não é permitido o menor naco de carne.
– Essa com-comparação não é propr iamente lisonjeira a nenhum de nós.
Uma pausa praticamente impercetível no ato de pentear mostrou que Sebastian regist
gresso da gaguez. Ótimo, pensou. Afinal, ela não estava assim tão controlada como aparentava
– E não vai responder à minha pergunta?
– Eu… peço desculpa, mas pre-prefer ia não voltar a ter relações ín-íntimas consigo.
Perplexo e ofendido, Sebastian pousou o pente e voltou-se para a encarar. Jamais, em t
um, uma mulher o havia rejeitado. E o facto de Evie conseguir fazê-lo depois dos prazeres q
proporcionara naquela manhã, parecia-lhe impossível de acreditar.
– Disse-me que não lhe agradava dormir duas vezes com a mesma mulher – lembrou-lhe
m levemente pesaroso. – Recordo-me de ter dito que resultava… extremamente entediante.– E, por acaso, pareço-lhe entediado? – indagou ele, notoriamente irritado, a toalha
nseguindo esconder os contornos de uma ereção cada vez mais acesa.
– Julgo que… isso depende de que parte do seu corpo se observa – balbuciou ela, desvia
har para a colcha. – Cuido não ser necessário recordar-lhe que fizemos um acordo,my lord.
– E tem todo o direito a mudar de ideias.
– Mas não vou fazê-lo.
– Essa sua recusa tresanda a hipocrisia, minha linda. Já a possuí uma vez, que diferença lhetude que eu a possua de novo?
– Não estou a recusá-lo a bem da virtude. – A gaguez desapareceu-lhe ao recuperar a compo
Tenho uma razão bem diferente.
– Estou louco para a ouvir…
– Autodefesa – disse ela, voltando o olhar para ele com manifesta dificuldade. – Não me opo
e tenha amantes, se isso o deixa mais descansado. Mas eu não quero ser uma delas. O ato s
da significa para si, ao contrário do que acontece comigo. Não tenciono sofrer por sua ca
go que isso seria inevitável se estivesse de acordo em continuar a dormir consigo.
Lutando para se manter aparentemente calmo, Sebastian fervilhava por dentro, num mis
sejo e ressentimento.
– Não conto pedir desculpa pelo meu passado. Um homem que é homem deve ter experiência
– Pelo que me é dado a observar, já adquir iu a suficiente paradez homens.
– E por que razão isso a incomoda?
– Porque a sua… história romântica, para usar um eufemismo, é como a de um cão que g
das as portas traseiras, recolhendo os restos de cada lar. E eu não serei mais uma porta. Não é
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ser fiel a uma única mulher – já o provou variadíssimas vezes.
– Lá por nunca ter tentado não significa que não consiga, sua cachorra sentenciosa! Sig
enas que nunca o quis!
O termo cachorra fê-la retesar-se instintivamente.
– Gostaria que não usasse esse tipo de linguagem grosseira.
– Pois a mim parece-me mais do que apropriada, tendo em conta a sua profusão de ana
ninas! – lançou-lhe ele. – O que, devo dizer-lhe, nem sequer se aplica a mim, visto que s
ulheres que me lambem os pés e não o oposto.
– Então deve procurar uma delas.
– Pode crer que o farei! – disse ele, num tom exasperado. – Assim que chegarmos a Lo
nto embarcar numa orgia selvática e debochada que apenas terminará com a prisão de alg
as até lá… espera realmente que partilhemos a mesma cama esta noite – e amanhã à noite –
as freiras numa visita turística?
– Para mim isso não constituirá o menor problema – disse ela, cautelosamente, bem conscie
star a insultar gravemente.O olhar incrédulo que ele lhe lançou poderia ter incendiado a roupa da cama. Balbuciando u
impropérios que deixaria o mais reles carroceiro corado de vergonha, Sebastian deixou
lha e foi apagar o candeeiro. Ciente do olhar dela sobre a sua insistente ereção, lançou-lhe
rada desdenhosa, antes de declarar:
– A partir deste momento, tenho altíssimas esperanças de que qualquer proximidade a si me
zonas privadas do mesmo modo que um prolongado banho num lago siberiano.
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Capítulo 7
O tempo melhorou substancialmente ao longo da viagem de regresso a Londres, com a ch
r finalmente tréguas. Ainda assim, as baixas temperaturas no exterior da carruagem vir
gamente ultrapassadas pelo gélido ambiente que se estabeleceu no interior entre o casa
ém-casado. Ainda que Sebastian continuasse a esforçar-se por manter quente o aquece-pés
ie, deixou de a convidar para se enroscar nos seus braços ou dormir recostada no seu peito.
feria as coisas assim. Quanto mais profundamente o ia conhecendo, a jovem sabia que qua
imidade entre os dois resultaria num autêntico desastre. Evie sabia-o perigoso para ela, em a
que nem sequer tinha consciência.
Tranquilizou-a o facto de saber que, assim que chegassem à cidade, iriam, de algum m
parar-se. Ela ficaria instalada no clube, enquanto ele iria para casa – dedicar-se às suas habnquistas até ficar a saber do falecimento do sogro. E quando chegasse esse momento, o
ovável seria ele querer vender o clube de jogo e servir-se desse dinheiro – juntamente c
tante herança – para encher os depauperados cofres da família.
A ideia de venderem o Jenner’s, que sempre representara a menina dos olhos do seu pai, e
ie de melancolia. Contudo, tinha de admitir que seria essa a opção mais razoável. Poucos ho
inham o talento necessário para gerir com êxito um clube noturno. O dono de um clube de
ha de possuir um tipo de magnetismo muito particular, para atrair clientes para abelecimento, e a astúcia e imaginação necessárias para conseguir manter-lhes a assiduidade
ferência com altas despesas. Já para não referir o sentido de negócio para reinvestir sensatam
lucros.
Ivo Jenner toda a vida possuíra as duas primeiras qualidades, mas quanto à terceira… de
uitíssimo a desejar. Nos últimos tempos ele perdera uma fortuna em Newmarket, tornando-s
sa fácil – na sua proveta idade! – para os rufiões cheios de lábia do submundo das corrid
valos. Felizmente, o clube representava uma máquina tão poderosa a nível financeiro qu
rmitiu absorver as terríveis perdas.
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A insultuosa opinião de Sebastian de que o Jenner’s não passava de um clube de jogo de se
apenas parcialmente correta. De conversas passadas com o pai – que não era parco em pala
ie sabia que, ainda que o clube fosse bastante bem-sucedido, jamais havia atingido os altos pa
e ele toda a vida almejara. Ivo Jenner sempre sonhara conseguir rivalizar com o Craven
dário clube de jogo que ardera há muitos anos, mas jamais havia conseguido obter o talen
úcia absolutamente diabólica de Derek Craven. Dizia-se que o velho Craven conseguira apro
da fortuna de toda uma geração de ingleses. E o facto de o clube ter desaparecido em pleno
seu esplendor, só servira para lhe consolidar ainda mais o estatuto lendário, na memória co
sociedade britânica.
Mas se o Jenner’s não chegara aos calcanhares da glória do seu famoso antecessor não
tamente por falta de esforço. Ivo Jenner chegara mesmo a mudar as instalações do seu club
vent Garden para a King Street – que na época não passava de uma ruazinha de passagem p
is distinta zona comercial e residencial da cidade, mas que atualmente representava uma da
is importantes artérias. Tendo adquirido uma significativa parte da avenida e demolido q
fícios, Jenner construiu então um clube amplo e extremamente elegante – podendo gabar-se maior banca de apostas de Londres. Quando um cavalheiro pretendia jogar alto, ia para o Jenn
Evie recordava-se do clube na sua infância, nas raras ocasiões em que a autorizavam a vis
. Retinha-o na memória como um local sofisticado, ainda que algo pretensioso, e a m
orava sentar-se com o pai na varanda interior do segundo piso e assistir à frenética atividad
ha lugar lá em baixo. De sorriso orgulhoso, Jenner gostava de levar a filha a passear pe
mes Street e de a deixar entrar em qualquer loja que ela desejasse. Visitavam a perfuma
apelaria, a loja de livros e estampas e a padaria de bolos e pãezinhos onde era sempre oferenina um pão doce ainda quente, tão fresco que o açúcar da cobertura lhe derretia para os ded
Ao longo dos anos, as visitas de Evie à King Street foram rareando cada vez mais. E ainda q
passe os Maybricks por isso, percebia agora que o pai fora também parcialmente responsáv
e distanciamento. Tinha sido extremamente fácil para ele amá-la em criança, quando podia a
ar e apanhá-la nos braços, despentear-lhe carinhosamente os caracóis ruivos, do mesmo tom
us, ou limpar-lhe as lágrimas, sempre recorrentes no momento da despedida, presenteando-a
xelim enfiado à socapa na palma da mão. Mas quando a filha cresceu e se tornou uma j
nhora, Jenner deixou de poder tratá-la com tanta intimidade – o que resultou num relacionam
tuo bem mais embaraçoso e distante.
– Este clube não é lugar p’ra ti, princesa – dissera-lhe um dia, muito ternamente. – Deves m
a milhas de um velho burgesso como eu e encontrar um rapazinho decente p’ra casar.
– Papá… – tinha-lhe ela implorado, gaguejando terrivelmente. – Não me man-mandes em
ixa-me fi-ficar contigo, por fa-favor!
– Fofinha, o teu lugar é com os Maybricks. E nem penses em fugir p’ra cá, que eu mando-te
volta.
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As lágrimas dela não foram suficientes para o convencer. Nos anos que se seguiram, Evie v
pai de seis em seis meses, ou mais. Quer fosse ou não para o seu bem, a jovem não cons
tar sentir-se repelida e indesejada. E esse sentimento eterno e crescente fez com que se se
remamente desconfortável junto dos homens – ciente de que também eles se haveria
orrecer dela, mais cedo ou mais tarde. A sua gaguez agravou-se – quanto mais lutava
avras mais incoerente ela soava – até concluir que era bem menos penoso remeter-se ao silê
saparecer de vista. E tornou-se uma Encalhada exímia. Nunca ninguém lhe pediu para dançar,
ube o que era beijar um rapaz, nunca foi cortejada ou sequer abordada por alguém. A
oposta que recebeu foi aquele relutante pedido do primo Eustace.
Absolutamente encantada por aquele bendito revés de fortuna, Evie olhou para o marido
rgulhara num silêncio total nas últimas duas horas. Ele semicerrou os olhos quando encont
har dela. Com aquela expressão fria e boca cínica, parecia completamente distinto do deli
dutor que com ela partilhara o leito dois dias antes.
Evie desviou o olhar para a janela, vendo o cenário de Londres passar por ela. Dentro de b
mentos chegariam ao clube e ela poderia finalmente ver o pai. Já lá iam seis meses desde o úcontro e Evie estava preparada para se deparar com grandes mudanças no pai. A tuberculo
a doença comum e toda a gente tinha consciência dos seus terríveis danos.
A doença consistia na morte lenta do tecido pulmonar, acompanhada de febres altas e
lenta, significativa perda de peso e suores terríveis durante a noite. Quando a morte chegav
ralmente considerada uma bênção para as vítimas, assim como para os seus entes queridos, j
presentava o fim de um hediondo suplício. Evie não conseguia imaginar o seu robusto pai red
m tão sinistro definhamento. Sentia-se dividida entre o desejo de cuidar dele e o pânico de rer. Contudo não partilhou esse estado de espírito com Sebastian, temendo que ele zombass
as angústias.
Sentiu a pulsação acelerar assim que a carruagem saiu da St. James e virou na King Str
pla fachada do Jenner’s, toda em mármore e tijolo cru, surgiu-lhe à frente, formando uma sil
r entre os amarelos e vermelhos vivos de um pôr do sol magnífico. Olhando pela jane
ruagem, Evie soltou um suspiro ansioso enquanto passavam por um dos muitos becos que i
ncipal via pública até às cavalariças e pátios traseiros da linha de edifícios.
A carruagem deteve-se na entrada das traseiras, que representava uma alternativa bem
nsata à porta principal do clube. O Jenner’s não era propriamente o local mais adequado a
nhora decente. Um cavalheiro podia entrar no clube com a amante ou mesmo com uma pro
interesse puramente passageiro, mas jamais poderia ousar levar uma senhora respeitável p
u interior. Evie apercebeu-se de que Sebastian a olhava com o mesmo interesse desapaixona
entomologista observando uma nova espécie de besouro. A súbita palidez dela, e os vi
mores, não lhe passaram certamente despercebidos, mas ele optou por não lhe dirigir uma p
gesto de conforto.
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Ajudando-a a sair da carruagem, Sebastian envolveu-lhe a cintura com um braço enquan
sceu o pequeno degrau. O cheiro daquele beco traseiro era o mesmo que ela retinha na mem
o e estrume misturados com o odor a álcool, a tabaco e fumo de carvão. Sem dúvida que
ia a única jovem senhora da alta sociedade londrina a reconhecer aquele cheiro como o se
as, pelo menos, invadia-lhe as narinas de modo mais agradável do que o ambiente da cas
aybricks, que fedia a alcatifas bolorentas e colónia barata.
Tolhida de dores musculares, devido à longa imobilização dentro da carruagem, Evie dirigi
rta. As entradas para a cozinha e outras áreas de serviço localizavam-se mais adiante, ao lon
fício, mas esta abria-se para umas escadas que davam diretamente para os aposentos do p
cheiro tinha já chamado um empregado do clube – através de uns sonoros murros na por
ora aguardavam.
Um jovem surgiu à porta e Evie suspirou de alívio ao reconhecê-lo. Tratava-se de Joss Bu
ma figura bem familiar no clube, que lá trabalhava há muito anos como porteiro e colet
vidas. Era enorme, maciço e moreno, com a cabeça em forma de bala e um maxilar
nhecido pelo seu mau-génio e aspereza no trato, sempre tratara Evie com o mínimo de coando ela visitava o clube. No entanto, ela sempre havia ouvido o pai elogiá-lo pela sua lealdad
r isso lhe estava grata.
– Mr. Bullard – disse –, vim ver o me-meu pai. Permita-me que entre.
O jovem corpulento e sério não se moveu.
– Ele nã a mandou chamar – disse-lhe, num tom pouco amistoso. Desviou o olhar para Seb
tando-lhe as roupas caras. – Sendo sócio, pode entrar p’la frente.
– Idiota… – Evie ouviu o marido murmurar e, antes que ele pudesse continuar, interromuscamente.
– E quanto a Mr. Egan?… Está dis-disponível? – indagou, algo nervosa.
Referia-se ao «faz-tudo» do clube, que trabalhava para a família há mais de uma d
nfarrão e presunçoso, Egan também não era uma criatura particularmente simpática, mas
bia que ele jamais se recusaria a deixá-la entrar no clube do próprio pai. – Nah…
– O Mr. Rohan, então? – insistiu ela, já visivelmente desesperada. – Por favor, diga-lhe que
Jenner está aqui.
– Já lhe disse que…
– Vá chamar o Rohan – silvou-lhe Sebastian, num tom que não admitia recusas, pondo um
porta de forma a impedir que o outro a fechasse. – Aguardamos cá dentro. A minha mulhe
certamente ficar aqui, no meio da rua!
Parecendo perplexo pela expressão quase assassina daquele jovem de ar distinto, o empre
buciou um assentimento e desapareceu.
Sebastian conduziu Evie para dentro de casa e olhou para as escadas no átrio de entrada:
– Subimos?
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Ela abanou a cabeça.
– Achava prefer ível falar pri-pr imeiro com Mr. Rohan. Estou certa de que ele me porá a p
ado de saúde do meu p-pai.
Alertado pelo regresso da sua gaguez, Sebastian levou uma mão tranquilizadora à nuca da m
cariciou-a docemente. Ainda que mantendo uma expressão quase gélida, a sua mão estava qu
orosa e Evie sentiu-se relaxar quase involuntariamente.
– Quem é esse Rohan? – perguntou ele.
– O chefe dos croupiers, que trabalha cá desde garotinho. O meu pai contratou-o inicial
mo mensageiro. Estou certa de que se lembrará dele, caso o tenha conhecido. É um suje
ito difícil de esquecer.
Sebastian pareceu ponderar no comentário e murmurou:
– É de raça cigana, cer to?
– Sim, é meio cigano, julgo eu. Da parte da mãe.
– E a outra metade?
– Ninguém sabe. – Evie lançou-lhe um olhar esquivo e acrescentou, num tom mais bampre acreditei que pudesse ser meu meio-irmão. A expressão dele espelhou um súbito interes
– Alguma vez falou nisso ao seu pai?
– Sim… e ele negou.
A verdade é que Evie nunca ficara realmente convencida. O pai sempre havia mostrado
dência levemente paternal por Cam Rohan. E ela não era ingénua ao ponto de acreditar que
o teria por aí uns quantos filhos ilegítimos. Era um homem famoso pelos seus apetites se
ra além de jamais se importar minimamente com as consequências dos seus atos. Dbitamente por ela a pensar se o próprio marido não seria também assim, perguntou-lhe em
uteloso:
– Sebastian… será que também tem…
– Não que eu tenha conhecimento – disse ele, percebendo de imediato onde ela queria che
da a vida fiz questão de usar camisas de Vénus – não apenas para evitar a conceção, mas tam
ra prevenir o contágio de certas doenças.
Perplexa perante a declaração, Evie murmurou:
– Ca-camisas de Vénus? O que são? E como assim, certas doenças? Está a querer dizer q
ermos… aquilo… podemos ficar doentes? Mas como é que…
– Louvado seja Deus! – murmurou Sebastian, num tom incrédulo. Levou-lhe os dedos aos
ra impedir um chorrilho de perguntas e disse apenas: – Explico-lhe tudo mais tarde. N
opriamente um assunto digno de ser discutido à porta de estranhos.
A aparição de Cam Rohan impediu Evie de fazer mais perguntas. Ao vê-la, um subtil s
giu na cara dele e fez uma vénia cortês. Mesmo sendo os seus movimentos e atitudes disc
recia haver nele um certo rasgo, uma sugestão de carisma físico. Era de longe o melhor cro
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Jenner’s, embora o seu aspeto – o de um jovem pirata – não levasse ninguém a suspeitá-lo. T
is ou menos, vinte e cinco anos e um corpo que apresentava a esbelteza de um jovem adulto.
mpleição escura e a cor do cabelo, de um negro profundo, traíam a sua etnia, para já não fa
meiro nome, muito vulgar nos ciganos. Evie sempre gostara daquele rapaz insinuante,
voção feroz ao seu pai tinha sido demonstrada muitas vezes ao longo dos anos.
Cam estava bem vestido, de fato escuro e sapatos engraxados, mas, como de costume,
belo estava comprido de mais, com os espessos caracóis negros ondeando sobre o r
arinho branco. E os dedos finos e compridos ostentavam alguns anéis de ouro. Quando ele e
osto para ela, Evie viu brilhar um diamante numa das orelhas – um toque exótico que lhe ass
m. Cam olhava-a com aqueles extraordinários olhos dourados que, por vezes, levavam
ssoas a não contarem com o espírito sagaz por trás deles. Outras vezes, o seu olhar er
netrante que parecia trespassar as pessoas, como se estivesse a ler o que lhes ia na mente.
– Gadji – disse Cam baixinho, numa versão carinhosa do termo que os ciganos davam a
ulher não cigana. Cam tinha um sotaque peculiar: culto, mas com traços de londrino popular
pécie de r itmo diferente, tudo misturado num resultado invulgar.– Bem-vinda – disse ele, com um sorriso curto mas radioso. – O seu pai vai ficar feliz por v
– Obrigada, Cam. Eu estava… com medo que ele já ti-tivesse…
– Não – murmurou Cam, entristecido. – Ainda está vivo. – Hesitou antes de acrescentar: – E
ormir a maior parte do tempo. Não quer comer. Julgo que não vai durar muito… Tem pergu
r si. Tentei mandá-la chamar, mas…
– Os Maybricks não deixaram – murmurou Evie, com a boca tensa de raiva.
Não se tinham dado ao trabalho de lhe dizer que o pai chamara por ela. E Joss Bullard tinhntido.
– Sabes… eu afastei-me deles, Cam. Casei. E aqui hei de fi-fi-ficar até ao meu pai… não
cisar mais de mim. O olhar de Cam desviou-se para a expressão impassível de Sebastian
ro que o reconhecera. E murmurou:
– Lord St. Vincent…
Se tinha alguma opinião acerca da união de Evie com um homem daqueles, não a re
nimamente.
Evie tocou na manga de Cam.
– O meu pai estará acordado? Posso subir para o ver?
– Claro.
O cigano tomou ambas as mãos dela nas suas; os anéis de ouro estavam tépidos nas suas mã
– Vou assegurar-me de que ninguém interfir a.
– Obrigada.
De repente, Sebastian estendeu a mão entre eles e puxou para si umas das mãos de
usando-a resolutamente sobre o seu próprio braço. Embora tudo se tivesse passado de um
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ural, a pressão firme dos seus dedos garantia que ela não iria tentar esquivar-se.
Admirada por aquela demonstração de posse, Evie franziu o sobrolho.
– Eu conheço o Cam desde a minha infância – disse ela, incisivamente. – Sempre foi com
mão para mim.
– Um marido gosta sempre de saber dos gestos de amizade para com a sua mulher –
bastian, calmamente. – Até certo ponto, é claro.
– Claro – murmurou Cam. E dirigindo-se a Evie: – Quer que eu a acompanhe lá acima,my la
– Não é ne-necessário, eu conheço o ca-caminho. Podes voltar ao que estavas a fa-fazer.
Cam fez nova vénia, trocando um olhar rápido com Evie, ambos fazendo entender, tacitam
e iriam encontrar uma oportunidade para falarem mais tarde.
– Não gosta dele por ser cigano? – perguntou Evie ao marido, a caminho das escadas.
– Só raramente não gosto das pessoas por coisas que elas não podem mudar – diss
cástico. – Mas, em geral, elas fornecem-me motivos suficientes para não me agradarem
tras razões. Ela tirou a mão do braço dele para segurar na saia.
– Onde estará o gerente? – continuou Sebastian, pondo a mão na parte de trás da cintura dmeçarem a subir as escadas. – Já estamos no princípio da noite. A sala de jogos e a sala de
ão abertas – ele devia andar por aí.
– Ele… tem um problema com a bebida – comentou Evie.
– Isso explica tudo acerca do modo como este clube é gerido.
Sensível a qualquer comentário desagradável acerca do clube do pai – e desconfortáve
ssão da mão dele nas suas costas – Evie mordeu a língua para não responder rispidamente
il para um fidalgo mimado criticar o modo como agia um profissional. Se tivesse de geróprio um sítio daqueles – longe vá o agouro! – teria mais respeito pelo que o seu pai consegu
Subiram até ao segundo andar e seguiram por uma galeria que dava a volta completa à
paço. Olhando sobre a balaustrada tinha-se uma vista completa do andar principal. Essa á
ior do clube, estava dedicada inteiramente aos jogos de azar. Três mesas ovais, cobertas de
rde, marcado com riscas amarelas estavam rodeadas por dezenas de homens. Os son
egavam lá acima – o constante chocalhar dos dados, as exclamações baixas, mas intensa
gadores e croupiers, o deslizar suave das pazinhas de madeira recolhendo o dinheiro da m
m algumas das recordações mais antigas e vívidas da infância de Evie. Ela voltou a
gnífica secretária esculpida no canto da sala onde o pai costumava sentar-se, aprovando cré
ncedendo cartões de sócio temporários e engrossando a banca de apostas, quando as jogad
a noite excediam o expectável. Naquele momento a secretária estava ocupada por um home
to maltrapilho que ela nunca tinha visto. Ao olhar para o canto oposto, viu outro desconhecid
a como supervisor geral, regulando os pagamentos e controlando o ritmo do jogo.
Sebastian parou, olhando para baixo com uma expressão invulgarmente atenta. Ansiosa por
, Evie puxou-lhe o braço com impaciência. Mas ele não se mexeu. De facto, parecia mal d
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, absorto nas atividades do piso inferior.
– O que foi? – indagou Evie. – Está a ver qualquer coisa de estranho? Algo de errado?
Abanando levemente a cabeça, Sebastian deixou de observar o salão principal. Olhou em
parando nos painéis desbotados nas paredes, os fr isos esbeiçados, os tapetes puídos. Em tem
nner’s apresentara-se luxuosamente decorado, mas à medida que os anos tinham passado, pe
uito do seu brilho.
– Quantos sócios tem o clube atualmente, faz ideia? – perguntou. – Não contando co
mbros temporários.
– Costumava haver à volta de dois mil – respondeu Evie. – Não sei como é agora. – Puxou-
vo pelo braço: – Quero ver o meu pai. Se tiver de ir sozinha…
– Não vai sozinha a parte alguma – disse ele, fulminando-a com um olhar que a assusto
hos dele eram como pedras de lua reluzentes. – Podia ser arrastada para um dos quart
aldaria por um bêbedo qualquer – ou um empregado, porque não? – e ser violada ante
uém se apercebesse da sua ausência.
– Aqui estou em completa segurança – respondeu ela, irritada. – Ainda reconheço muitopregados e conheço as entradas e saídas desta casa muito melhor do que o senhor!
– Não por muito tempo – murmurou ele, e o seu olhar regressou quase compulsivamen
dar de baixo. – Vou esquadrinhar esta casa polegada a polegada. Hei de ficar a conhecer tod
us segredos.
Surpreendida por aquela declaração, Evie olhou-o, perplexa, apercebendo-se de subtis mud
e desde que haviam entrado no clube… mas não sabendo como interpretar aquela estranha re
seu habitual modo lânguido fora substituído por uma inusitada vigilância, como se estiveservar a energia da atmosfera do clube.
– Está a olhar o clube como se nunca o tivesse visto – observou ela.
St. Vincent passou os dedos pelo corrimão, olhou a nódoa de pó resultante e sacudiu-a com
pressão agora mais contemplativa do que crítica, respondendo:
– Parece diferente, agora que é meu.
– Ainda não é seu – respondeu Evie, r ispidamente.
Percebeu que ele devia estar a avaliar o espaço para uma venda futura. Era mesmo típico
nsar em dinheiro enquanto o pai dela jazia no seu leito de morte!
– Nunca pensa em ninguém que não em si?
A pergunta pareceu tirá-lo da sua absorção e o seu olhar tornou-se inescrutável.
– Raramente, minha linda.
Olharam-se um ao outro, os olhos de Evie acusatórios, os dele opacos, e ela percebeu que e
e um pouco de decência seria expor-se a um desapontamento constante. Aquela alma dani
mais poderia ser restaurada por nenhuma benevolência ou compreensão da parte dela. Ele nu
naria num daqueles libertinos convertidos que figuravam nos romances escandalosos que
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wman secretamente colecionava.
– Espero que entre na posse de tudo o que lhe interessa o mais breve possível – disse ela
eza. – Entretanto, vou ao quarto do meu pai.
Desandou galeria fora sem esperar por ele, forçando-o a dar alguns passos largos para se ju
.
Ao chegarem ao apartamento privado que Ivo Jenner ocupava, Evie ouvia o seu sangue a ci
ucamente nos ouvidos. O medo e a saudade, em partes iguais, faziam-na sentir as palmas das
midas e um vazio no estômago. Ao levar a mão à maçaneta da porta, a palma escorregou-l
onze baço.
– Dê-me licença – disse Sebastian, bruscamente, empurrando a mão dela para o lado.
Abriu a por ta, segurando-a para ela entrar, e seguiu-a pelo pequeno átrio de entrada, às escu
ica luz vinha da porta aberta do quarto, onde uma pequena lamparina fornecia uma clar
ática. Ao chegar à porta do quarto Evie parou, piscando os olhos para se adaptar àquela atmo
mbria. Mal dando conta da presença do homem a seu lado, aproximou-se da cama.
O pai dormia, de boca entreaberta, a pele pálida brilhando com uma estranha delicadeza, cofosse uma figura de cera. Linhas profundas cruzavam-lhe o rosto, dando às suas faces a apa
persianas. Tinha metade do tamanho que outrora tivera, os braços apresentav
pressionantemente esqueléticos e toda a sua forma parecia mirrada. Evie lutou para recon
quele estranho vulto franzino a imponente forma corpulenta que ela sempre conhecera.
nura misturada de desgosto invadiu-a ao ver aquele cabelo ruivo, agora fortemente invadido
r de prata, por vezes espetado no ar como as penas eriçadas de um passarinho recém-nascido
O quarto cheirava a velas queimadas, a remédio e a pele mal lavada. Cheirava a doença e a óxima. Ela viu a um canto uma pilha de roupa de cama enxovalhada e um monte de l
achucados e sujos de sangue no chão. A mesa de cabeceira estava coberta por uma porç
heres sujas e frascos de remédio de vidro colorido. Evie baixou-se para apanhar do chão al
upa suja, mas Sebastian agarrou-lhe no braço.
– Não tem de fazer isso – sussur rou-lhe. – Uma das criadas encarregar-se-á do que há a fa
is – murmurou Evie, amargurada. – Estou a ver o belo trabalho que elas têm estado a fazer.
Sacando abruptamente o braço da mão dele, apanhou do chão os lenços e largou-os sobre a
roupa suja.
Sebastian aproximou-se da cama e olhou o vulto definhado de Jenner. Pegou num dos frasc
médio, passou-o sob o nariz e murmurou:
– Morfina…
Por qualquer razão obscura, Evie irritou-se ao vê-lo junto do pai indefeso, examinando os
dicamentos.
– Tenho tudo sob controlo – disse ela, em voz baixa. – Agora gostava que me deixasse só.
– O que é que pretende fazer?
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– Vou arrumar o quarto e mudar a roupa de cama. E a seguir vou… ficar aqui sentada junto d
Aqueles olhos de um azul pálido estreitaram-se.
– Deixe dormir esse pobre diabo. A senhora precisa de comer e de mudar essas roupas de vi
e bem pensa que lhe está a fazer ao ficar aqui sentada às escuras e… – Calou-se, murmurand
aga ao ver a expressão obstinada dela. – Muito bem. Dou-lhe uma hora e depois vai partilha
eição comigo.
– Quero ficar com o meu pai – disse ela, sem rodeios.
– Evie…
A voz dele era baixa, mas continha uma nota inflexível de aviso que fez os nervos
migarem de receio. Ele aproximou-se, virou-lhe o corpo rígido para si com o mais leve toq
vertência, obrigando-a a olhá-lo.
– Quando eu a mandar chamar, a senhora vem. Estamos entendidos?
Evie sentiu-se estremecer de afronta. Ele pronunciara aquela ordem como se fosse dono
eu Deus, ela, que tinha passado a vida inteira a ter de obedecer às ordens de tias e tios, tinha
se submeter ao marido?!Contudo, para ser justa, Sebastian ainda estava longe de igualar os esforços combinado
aybricks e dos Stubbins para lhe tornar a vida insuportável. E não se podia chamar disparatad
uel à sua exigência de que ela tomasse uma refeição com ele. Engolindo a sua revolta,
nseguiu esboçar um aceno de cabeça afirmativo. No olhar que ele lançou sobre o rosto exten
a, havia um estranho brilho, como as chispas que saltam do martelo de um ferreiro ao encon
apa de metal fundido.
– Bonita menina… – murmurou ele, com um sorriso trocista, saindo do quarto.
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Capítulo 8
Por instantes, Sebastian sentiu-se tentado a deixar Evie no clube e dirigir-se à sua própria mo
pouca distância a pé da St. James. Era difícil resistir à tentação da sua casa confortável
nalização moderna, copa e despensa bem abastecidas. Só desejava jantar na sua mesa e desc
nte da lareira, vestido com um dos seus roupões de seda, forrados a veludo, que o esperava
upeiro do seu quarto. Raios partissem aquela mulher teimosa! Deixá-la-ia decidir pela sua cab
render a viver com as consequências…
Contudo, ao vaguear discretamente pela galeria do segundo andar, tendo o cuidado de evit
to pelos que se movimentavam no atarefado andar principal, Sebastian apercebeu-se de estar
minado por uma curiosidade inoportuna que ele não podia negar. De mãos negligente
fiadas nos bolsos, encostado a uma coluna, observou os croupiers em plena ação, dando-se s esforços displicentes do supervisor geral para dirigir o jogo e fazer seguir tudo a um
isfatório. Em todas as mesas de jogo, a atividade parecia um tanto apática. Era necessário
uém que mexesse as coisas e criasse uma atmosfera própria para animar os hóspedes a um
is alto e mais rápido.
As desmazeladas raparigas da casa passeavam-se preguiçosamente pela sala, parando
nversar com os frequentadores. Tal como as refeições no bufete da sala de jantar e o consum
etaria sala de café do andar inferior, as mulheres constituíam uma prerrogativa grátimbros do clube. Sempre que um homem precisava de uma acompanhante para o conso
tejar, as prostitutas acompanhavam-no a um dos vários quartos dos andares superiores, reser
ra esse efeito.
Descendo até à sala de jogos de cartas, junto à cafetaria, Sebastian examinou o amb
ercebendo-se de que havia pequenos mas reveladores sinais de declínio daquele negóc
conde calculou que quando Jenner adoecera, não tivera ocasião de nomear um substitu
nfiança. O seu faz-tudo, Clive Egan, revelara-se inapto ou desonesto – ou ambas as c
bastian tencionava ver os livros de contabilidade, os registos de despesas e receitas, as
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nfidenciais dos membros, onde constavam os seus registos financeiros, e inteirar-se, igualm
s valores das rendas, hipotecas, empréstimos, créditos e dívidas daquela casa – tudo o que pu
ntribuir para um retrato completo do estado de saúde do clube. Ou falta dela.
Ao dirigir-se de novo à escada, viu Rohan, o cigano, à espera num canto sombrio, assum
a expressão descontraída. Sebastian permaneceu estrategicamente calado, forçando o rapaz a
meiro.
Rohan aguentou o olhar, dizendo com meticulosa cor tesia:
– Em que posso ajudá-lo, my lord?
– Pode começar por me dizer onde está o Egan.
– Está no quarto, my lord.
– No quar to?… Em que circunstâncias?
– Indisposto.
– Ah – disse Sebastian, num tom calmo. – E ele está… indisposto com frequência, Rohan?
O cigano não respondeu e os seus olhos amendoados mantinham-se na expectativa.
– Quero a chave do escr itório dele – disse Sebastian. – Tenciono dar uma olhadela pelos livntabilidade.
– Há apenas uma chave, my lord – disse Rohan, observando-lhe a reação. – E é Mr. Egan que
mpre consigo. – Então vá-ma buscar.
As sobrancelhas do rapaz ergueram-se quase impercetivelmente.
– Deseja que eu vá… roubar um homem que está bêbado?
– É muito mais fácil do que esperar que ele esteja sóbrio – salientou St. Vincent, ironicamen
o se trata de roubo, já que a chave é, para todos os efeitos, minha.O rosto do jovem endureceu:
– A minha lealdade está com Mr. Jenner. E com a filha dele.
– O mesmo se passa comigo – declarou Sebastian.
O que não era verdade, claro. A maior parte da lealdade dele estava reservada para si pr
ie e o pai eram, respetivamente, um distante segundo e terceiro nome na lista.
– Traga-me a chave ou prepare-se para seguir as pegadas do Egan, quando ele sair daqui am
manhã.
O ar estava carregado de desafio masculino. Após um momento, Rohan lançou-lhe um olh
ersão, misturado com uma curiosidade relutante. Quando cedeu, dirigindo-se às escadas
ssos largos e fluidos, não foi por obediência medrosa, mas pelo desejo de observar
bastian ia fazer a seguir.
Quando Sebastian despachou Cam Rohan com a ordem de trazer Evie para baixo, ela já arru
quarto do pai e assegurara-se do auxílio relutante de uma criada para mudarem a roupa de
lençóis estavam húmidos de suores noturnos. Embora o pai se movesse resmungando quand
izeram rolar cuidadosamente, primeiro para um lado e depois para o outro, não acordou d
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argia, induzida pela morfina. O seu corpo de pele e osso, embrulhado nas pregas da cam
te, espantou Evie pela sua leveza. Dominava-a um sentimento de proteção e piedade angus
quanto puxava os lençóis e cobertores lavados até ao peito do pai. Com uma toalha humed
rescou-lhe a testa. Ele suspirou, abrindo finalmente os olhos – que não passavam de fendas es
rilhantes entre os sulcos do seu rosto. Durante algum tempo o pai olhou-a sem compreende
e um sorriso lhe esticou os lábios gretados, revelando os dentes manchados de tabaco.
– Evie… – murmurou, numa espécie de grasnido lúgubre.
Evie inclinou-se até ele, sorrindo enquanto o nariz e os olhos lhe ardiam com lágrimas q
orçava por reter.
– Estou aqui, pai – sussur rou-lhe ela. E depois, as palavras que desejara poder dizer durante
da: – Estou aqui e nunca o vou deixar.
Ele soltou um murmúrio satisfeito e fechou os olhos. Quando Evie julgava que ele adorm
urmurou:
– Para onde vamos passear hoje, querida? Vamos à padar ia, aposto…
Percebendo que o pai imaginava tratar-se de uma das suas longínquas visitas de criança,pondeu baixinho:
– Oh sim… – E, limpando rapidamente os olhos com as costas da mão, acrescentou: –
erer um pãozinho doce… e um saquinho de biscoitos… e depois quero voltar para aqui e jog
dos consigo.
Uma risadinha saiu-lhe da garganta e ele tossiu um pouco.
– Deixa o papá dormir um bocadinho antes de sairmos… e depois…
– Sim, papá, durma… – murmurou ela. – Eu posso esperar.Ao vê-lo cair de novo no seu sono de drogado, ela engoliu as lágrimas que lhe restava
rganta e procurou relaxar-se na cadeira ao lado da cama. Não havia outro lugar no mundo on
sejasse estar. Deixou-se descair um pouco e os ombros afundaram-se-lhe como se fosse
rioneta cujos fios tivessem sido cortados. Era a primeira vez que ela se sentia útil e que
sença parecia ser importante para alguém. Embora o estado do seu pai a angustiasse terr ivelm
ntia-se grata por poder estar com ele naquelas últimas horas de vida. Não haveria tempo
egar a conhecê-lo – seriam sempre estranhos um para o outro – mas era mais do que ela se
perara ter.
Um bater à porta veio interromper os seus pensamentos. Levantou os olhos para ver Cam.
braços cruzados no peito, numa falsa postura de ociosidade. Evie ofereceu-lhe uma breve im
um sorriso, dizendo:
– Su-suponho que foi ele que te mandou bus-buscar-me?
Não havia necessidade de definir quem era ele.
– Quer que vá jantar com ele numa das salas de jantar privadas.
Evie abanou a cabeça com um sorriso cínico.
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– Ouço e obedeço – murmurou ela, numa paródia de esposa obediente e submissa.
Levantou-se e foi ajustar os cobertores sobre os ombros do pai.
Cam não se afastou da porta quando ela se aproximou. Era mais alto do que o comum
mens, mas não tão alto quanto Sebastian.
– Como acabou casada com Lord St. Vincent? – perguntou ele. – Eu conheço a sua sit
anceira – estivemos quase a recusar-lhe crédito na última vez que cá esteve. Foi ter consigo
gociar o casamento?
– Como sabes que não é um casamento por amor? – troçou Evie.
Ele respondeu com um olhar cínico:
– A única histór ia de amor é entre St. Vincent e ele própr io.
Evie fez um esforço para disfarçar um sor riso ao responder, algo nervosa:
– A verdade é que fui eu que f-fui ter com ele. Era a única ma-maneira de escapar aos May
uma v-v-vez por todas. – O sorriso desapareceu-lhe com a menção dos seus parentes. – Ele
ram des-desde que eu desapareci, Cam?
– Sim. Vieram ambos os seus tios. Tivemos de os deixar revistar o clube de uma ponta àra se convencerem de que não estava aqui escondida.
– C’um caneco! – disse Evie, adaptando a praga favor ita de Daisy Bowman. – A seguir apos
o ter com os meus amigos… Os Hunts, os Bowmans… E a no-notícia de que eu desapare
ocupá-los.
Contudo, saber a verdade do que ela fizera ainda os preocuparia mais. Angustiada, puxou
s o cabelo despenteado e abraçou-se a si mesma, desanimada. Ia ter de mandar recado a Ann
Daisy, dizendo que estava bem. Quanto a Lillian, que andava em viagem pelo Continente, nãovido certamente a notícia do seu desaparecimento.
Fica para amanhã, pensou. No dia seguinte resolveria o problema das repercussões d
gonhosa evasão. Pensou em atrever-se a mandar alguém a casa dos tios buscar o resto da
upas… ou se haveria alguma hipótese de eles a deixarem recuperá-las. Provavelmente não.
sas para a sua crescente lista de assuntos pendentes… teria de arranjar roupa e calçado o
ve possível.
– Assim que os meus tios descobrirem que eu estou aqui – disse ela –, vão apa-parecer pa
arem. Até podem tentar anular o ca-casamento e eu… – Evie parou para engolir em seco. – R
uito o que me po-possa acontecer, se for obrigada a ir c-com eles,
– Mas… St. Vincent irá opor-se, certamente? – disse Cam, pousando uma mão no ombro del
ossegar.
Era um gesto inocente, a palma da mão dele tocando na curva frágil da clavícula dela, mas b
ra a acalmar um pouco.
– Sim, se cá estiver. Se não estiver em-embriagado. Se conseguir… – Ela olhou-o co
riso triste. – Se… e se…
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– Eu estarei cá – murmurou Cam. – E estarei sóbrio e vou conseguir. Mas porque cuida qu
derá confiar em St. Vincent?
– Trata-se de um casamento de conveniência. Não tenho ilusões de se-sequer lhe pôr a vis
ma, assim que ele entrar na po-posse do meu dote. Já me disse, até, que tem ma-mais que faz
e ficar num clube de meia ti-tigela a aguardar que… que…
Hesitou, olhando por cima do ombro para a cama do pai.
– Quem sabe não terá mudado de ideias? – sugeriu Cam, levemente trocista. – Assim que
ovidenciei a chave do escritório, tratou logo de sacar dos livros-razão para os examinar, pág
gina. Assim que terminar, terá certamente analisado minuciosamente o clube inteiro.
Evie arregalou os olhos perante aquela informação.
– Mas de que diabo andará ele à procura? – indagou, mais a si própria do que a ele.
Sebastian estava a comportar-se de forma inexplicável. Não havia razão para ele q
rscrutar a contabilidade do clube com tanta urgência, tendo acabado de chegar de uma lo
enuante viagem. Nada iria mudar durante a noite. Ela lembrou-se da expressão compulsiva d
har quando ambos observavam a atividade do salão de jogo, bem como o seu murmúrioquadrinhar esta casa polegada a polegada. Hei de ficar a conhecer todos os seus segredos. Com
uilo fosse mais do que um mero edifício cheio de tapetes desbotados e mesas de jogo.
Intrigada, Evie seguiu Cam através de uma série de átrios e corredores mal iluminados que d
esso às salas de jantar dos andares inferiores. Como era hábito na maior parte dos clubes de
Jenner’s tinha a sua cota parte de locais secretos – onde esconder-se, onde observar sem ser
de fazer passar, clandestinamente, pessoas e objetos. Cam conduziu-a a uma saleta privada,
a porta e retirou-se com uma vénia quando ela se voltou para lhe agradecer.Ao entrar na sala, Evie ouviu a porta fechar-se subtilmente atrás de si. Sebastian estava inst
ma cadeira de braços – com a confiança relaxada de Lúcifer no seu trono – e servia-se de um
ra tomar notas nas margens de um livro de contabilidade. Estava sentado a uma mesa carrega
quenas travessas do bufete da sala de jantar.
Desviando o olhar do livro-razão, Sebastian pô-lo de lado e levantou-se, afastando da mesa
gunda cadeira.
– Como está o seu pai?
Evie respondeu cautelosamente, sentando-se na cadeira que ele lhe oferecia:
– Acordou por um momento. Pareceu pensar que eu era uma menina pequena novamente…
Ao ver uma travessa cheia de pedaços de aves de caça assados e outra com pêssegos e uv
ufa, estendeu a mão para se servir. A sua fome avassaladora, acompanhada de cansaço, f
mer as mãos. Ao vê-la em dificuldade, Sebastian transferiu para o prato dela alguns pet
inhos de codorniz, uma concha de aboborinhas cozidas, uma fatia de queijo, carnes frias, p
o fresco.
– Obrigada – disse Evie, cansada de mais para saber o que comia.
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Levou o garfo à boca, mastigou qualquer coisa, fechando os olhos enquanto saboreava e en
ando abriu os olhos, deu com o olhar de Sebastian fixo nela.
Parecia tão exausto quanto ela, com olheiras profundas sob os olhos azuis. A pele sob
lares parecia esticada e ele estava pálido sob a pele bronzeada pelo sol. A barba da noite
ralmente crescia depressa, era uma sombra dourada. De certa maneira, o estado bruto d
peto tornava-o ainda mais sedutor, emprestando uma textura máscula ao que, de outro modo
ssaria da perfeição gélida de uma estátua de mármore.
– Ainda continua agarrada à ideia de ficar aqui? – perguntou ele, descascando habilmen
ssego e retirando-lhe o caroço. Estendeu-lhe uma metade perfeita e dourada.
– Oh, claro!
Evie aceitou o pêssego e mordeu-o, sentindo o sumo agridoce escorrendo-lhe pela língua.
– Era o que eu temia – replicou ele, secamente. – Mas sabe que é um disparate? Não tem
quilo a que vai ficar exposta… as obscenidades e comentários soezes, os olhares libidinos
alpadelas e beliscões… e isso em minha casa! Imagine o que seria aqui.
Sem saber se havia de franzir a testa ou sorrir, Evie olhou-o com curiosidade.– Cá me hei de arranjar.
– Com certeza, minha linda.
Levando aos lábios um cálice com vinho, Evie bebeu-o sem tirar os olhos dele.
– O que há nesse livro de contas?
– Hmm… É uma verdadeira lição de registo criativo. Não ficará certamente surpreendida ao
e o Egan tem exaurido as contas do clube. Vai rapando incrementos aqui e ali, em quanti
icientemente pequenas para que os roubos passem despercebidos. Mas, no total, chegam ama considerável. Deus sabe há quantos anos ele anda a fazê-lo. Até agora, todos os livros-
e observei contêm inexatidões deliberadas.
– Como pode ter a certeza de que são deliberadas?
– Existe um padrão bem claro. – Folheou um dos livros e empurrou-o para junto dela. – O
e um lucro de aproximadamente vinte mil libras na terça-feira passada. Se se cruzar os nú
m o registo de créditos, depósitos bancários e gastos em numerário, logo se constata
crepâncias.
Evie seguiu o dedo dele correndo ao longo das notas que tomara na margem.
– Está a ver? Isto é o que deviam ser as quantias reais. Ele inflacionou as despesas generosam
preço dos dados de marfim, por exemplo. Mesmo contando com o facto de que os dado
enas usados por uma noite e nunca mais, a despesa anual não deveria ultrapassar as duas mil l
gundo o Rohan.
A prática de utilizar dados novos em cada noite era comum em todos os clubes de jogo, de
fastar qualquer dúvida de poderem estar viciados.
– E aqui… diz que se gastaram quase três mil libras em dados – murmurou Evie, apontand
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gisto.
– Exatamente – disse ele, recostando-se na cadeira e sorrindo preguiçosamente. – Eu enga
u pai da mesma maneira durante a minha juventude, quando ele me pagava uma mesada
cisava de mais dinheiro de bolso do que o que ele estava disposto a dispensar-me.
– E para que é que precisava de mais dinheiro? – Evie não resistiu a perguntar.
O sorriso alargou-se nos lábios dele.
– Receio que a explicação necessite de uma dose de palavras que lhe seriam desagradáv
vir.
Espetando um ovinho no garfo, Evie meteu-o na boca.
– E o que é que há a fazer com Mr. Egan?
Ele encolheu leve e elegantemente os ombros.
– Assim que estiver sóbrio bastante para conseguir andar, será dispensado.
Evie afastou da face um fio de cabelo.
– Mas… não temos ninguém para o substituir !
– Temos sim. Até encontrarmos um gerente apropriado, serei eu a dirigir o clube.O ovo de codorniz atravessou-se-lhe na garganta e ela teve de pegar no copo e beber um p
vinho para o fazer escorregar. Finalmente olhou o marido, estupefacta. Como é que ele
er uma coisa tão disparatada?
– Isso não é possível!
– Claro que é. Não posso ser pior do que o Egan. Há meses que ele não tem gerido coisí
nhuma… Em menos de um fósforo esta casa iria desmoronar-se sobre as nossas cabeças.
– Mas… sempre me disse que detestava a ideia de trabalhar !– É verdade. Mas penso que devo experimentar pelo menos uma vez para ter a certeza.
Ela estava tão aflita que começou a gaguejar:
– Vai br in-br incar com isto durante uns di-dias e depois vai fi-fi-ficar farto!
– Não posso dar-me ao luxo de me fartar, minha querida. Este clube ainda dá lucro, mas es
clínio. E o seu pai tem dívidas significativas a receber. Se as pessoas que lhe devem
nseguirem pagar em dinheiro, teremos de lhes extorquir propriedades, joias, obras de arte…
s tiverem disponível. E uma vez que detenho uma boa ideia do valor de todas essas coisas, p
gociar os modos de pagamento. Mas há outros problemas… O seu pai apostou numa sé
ros-sangues em Newmarket e perdeu uma fortuna. E também fez uns investimentos de louc
r exemplo, investiu dez mil libras numa suposta mina de ouro em Flintshire – uma falcatrua q
ma criança teria descoberto.
– Oh meu Deus… – murmurou Evie, esfregando a testa. – Ele tem estado doente, as pe
roveitam-se…
– Pois. E agora, mesmo que quiséssemos vender o clube, não poderíamos – nunca antes de
sas em ordem. Se existisse uma alternativa, creia que a encontrava. Mas este clube é uma p
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m ninguém que seja capaz, ou tenha vontade, de tapar os buracos. Exceto eu.
– O senhor não sabe nada sobre tapar buracos! – exclamou ela, estarrecida perante a arrog
e.
Sebastian respondeu com um sorriso afável e um ligeiríssimo arquear de sobrancelha. Mas
e pudesse abrir a boca para responder, Evie tapou as orelhas com as mãos.
– Ah! Não diga mais nada, por favor!
Ao ver que ele se mantinha cortesmente calado, embora com um brilhozinho mefistofélic
hos, ela baixou, a medo, as mãos e indagou com um suspiro:
– E se dirigisse este clube, onde é que contava dormir?
– Aqui, evidentemente – foi a resposta prosaica.
– Como assim, se eu fiquei com o único quarto de hóspedes disponível? – disse ela. – Tod
tros estão ocupados. E não, não vou partilhar a minha cama consigo.
– Vários quar tos vão ficar disponíveis a par tir de amanhã. Tenciono mandar embora as rap
casa.
A situação estava a mudar demasiado depressa para o titubeante cérebro dela poder seguumir de autoridade de Sebastian sobre o negócio do pai dela – e pelos vistos sobre todos o
pregados – estava a tomar uma velocidade alarmante. Evie tinha a sensação enervante d
zido para o Jenner’s um gatinho domesticado e estava a vê-lo a transformar-se num possante
udo o que ela podia fazer era observar, impotente, enquanto ele investia a torto e a direito.
Mas talvez – pensou ela, desesperada –, se lhe permitisse agir à vontade durante uns dias,
nsasse da novidade. Entretanto, nada mais podia fazer senão tentar minimizar os estragos.
– Está a pensar atirar para a rua as raparigas da casa? – perguntou ela, com uma calma força– Vão ser dispensadas com uma soma generosa, como forma de recompensa pelo seu tra
prol do clube.
– E pensa contratar novas raparigas?
Sebastian abanou a cabeça.
– Conquanto não tenha qualquer aversão moral pelo conceito de prostituição – de facto a
mpletamente a favor – raios me partam se vou passar a ser conhecido como chulo!
– Como… quê?
– Chulo! Proxeneta! Alcoviteiro macho! Por amor de Deus, rapariga, enfiaram-lhe algodã
vidos em criança? Nunca ouviu nada, nunca perguntou por que razão mulheres mal vestida
peto ordinário se pavoneavam pelo clube escada abaixo, escada acima a toda a hora?
– Eu… só cá vinha durante o dia – disse Evie, com ar digno. – E apenas muito raramente
balhar. Mais tarde, quando era suficientemente crescida para perceber o que elas faziam, o m
tou de restringir ao máximo as minhas visitas.
– Essa foi provavelmente uma das raras coisas acertadas que ele fez por si. – Sebastian mud
unto com um gesto impaciente. – Mas voltemos ao assunto em mãos… Não só não quero m
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ostitutas medíocres, como também não temos quartos para as acomodar. Em certas noites, qu
das as camas estão ocupadas, os sócios do clube são forçados a gozar os seus prazeres lá for
ábulos, c’os diabos!
– A sério? – indagou ela, estarrecida. – Fa-fazem isso?
– Pode crer. E naquele estábulo… arranha imenso. E tem muitas correntes de ar. Acredite.
r experiência própria.
– Oh!
– Contudo, há um bordel excelente duas ruas mais adiante. Tenho esperanças bem fundad
nseguir chegar a um acordo com Madame Bradshaw, a patroa… Sempre que um membro do
be desejar companhia feminina, só tem de se dirigir ao Bradshaw’s, aproveitar os seus ser
m desconto no preço e regressar aqui quando estiver… refrescado.
Ele olhou-a, erguendo as sobrancelhas com um sorriso, como se esperasse que ela aprov
ia.
– O que é que acha?
– Acho que continuaria a ser um… chulo – disse ela. – Só que por interposta pessoa.– A moralidade restringe-se à classe média, minha linda. As classes baixas não podem da
e luxo e as classes altas têm demasiado tempo livre para preencher.
Evie abanava a cabeça lentamente, olhando para ele de olhos esgazeados. E nem sequer se m
ando ele se inclinou para lhe introduzir uma uva na boca aberta.
– Não tem de dizer nada – murmurou ele, sorrindo. – É óbvio que está muda de gratidão c
ia de me ter aqui para a proteger.
Ela franziu o sobrolho, irritadíssima, o que o fez rir baixinho.– Se a sua preocupação é que eu possa ser dominado por um ardor masculino e violá-la
mento de fraqueza… tem razão. Posso. Se me pedir com bons modos.
Evie espetou os dentes na polpa doce da uva e deitou fora as grainhas com um trejeito dos d
da língua. Observando a boca dela trabalhando sobre o fruto, o sorriso de Sebastian esmo
eiramente e ele recostou-se para trás.
– Neste momento, é demasiado inexper iente para eu me dar a esse trabalho – continuo
amente. – Talvez eu queira seduzi-la no futuro, depois de outros homens se darem ao trabalh
ucar.
– Duvido – disse ela, mal-humorada. – Jamais seria burguesa ao ponto de dormir com o
óprio marido.
Ele soltou uma gargalhada:
– Meu Deus! Deve ter estado à espera durante dias para poder atirar-me com essa…! Par
ança. Ainda não estamos casados há uma semana e já está a aprender a lutar.
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Capítulo 9
Evie nunca soube onde o marido tinha dormido naquela primeira noite, mas suspeitava qu
esse sido num lugar confortável. Quanto a ela, o sono tinha sido tudo menos repousan
ocupação tinha-a acordado com a regularidade de um relógio. Fora ver o pai várias vezes, d
de beber, endireitando-lhe a roupa da cama, administrando remédios quando a tosse piorav
da vez que acordava, Jenner olhava a filha com uma surpresa renovada.
– Estarei a sonhar? Estás aqui, princesinha? – perguntava ele. Ela respondia-lhe com
urmúrio, afagando-lhe o cabelo.
Ao primeiro sinal da alvorada, Evie lavou-se, vestiu-se e prendeu o cabelo numa tranç
rolou na nuca. Chamou uma camareira e mandou vir ovos mexidos, caldo, chá e várias
midas de doente de que se lembrou, numa tentativa de vencer a falta de apetite do pai. As manhbe eram calmas e silenciosas, pois a maior parte dos empregados dormia, após ter trabalha
madrugada. Mas havia sempre uma pequena equipa de criados para serviços ligeiros.
zinheira ficava na cozinha após a partida do chef , preparando comida simples sempre
cessário.
O som de uma farfalheira terrível vinha do quarto do pai. Evie correu para a cama e encont
sindo espasmodicamente para um lenço. Evie sentiu doerem-lhe os seus próprios pulmõ
vir as convulsões aflitivas do peito dele. Procurando entre os frascos sobre a mesa de cabecontrou o xarope de morfina, com o que encheu uma colher. Enfiou um braço por trás da c
ada e quente do pai, levantando-o para uma posição meio sentada. Chocada de novo, ao aperc
de como ele estava leve, sentiu o corpo dele retesar-se quando tentava evitar um novo ataq
se, o que resultou num estremecimento da colher na sua mão e no derrame do xarope nas r
cama.
– Oh pai, desculpe… – murmurou Evie, limpando o líquido pegajoso e enchendo de n
her. – Vamos tentar outra vez, papá.
Ele conseguiu engolir o remédio, deixando ver o movimento das veias do pescoço sob a
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angue. A seguir, depois de alguma tosse residual, esperou, enquanto ela lhe entalava atrá
stas mais uma ou duas das almofadas de apoio.
Evie fê-lo recostar-se, metendo-lhe na mão um lenço dobrado. Ao olhar para aquela
aciada, com a sua barba encanecida, tentava encontrar algum sinal do pai naquele desconh
econhecível. Sempre tivera um rosto largo, robusto, corado… nunca conseguira manter
nversa sem o uso expressivo das mãos, formando punhos, socando o ar, gesticulando do
rticular dos antigos boxeurs. Agora era uma pálida sombra do que fora, a pele das faces cinz
cida, pela rápida perda de peso. Contudo, aqueles olhos azuis estavam na mesma… redon
ofundos, da cor do mar da Irlanda. Tranquilizada pela familiaridade daqueles olhos, Evie sorr
– Mandei vir o pequeno-almoço – murmurou. – Deve estar a chegar.
Jenner sacudiu ligeiramente a cabeça, indicando que não desejava comer.
– Oh sim, papá… – insistiu Evie, sentando-se na cama ao lado dele. – Tem de comer a
sa.
Pegando na ponta de uma toalha, limpou uma gota de sangue no canto da boca dele.
Uma ruga acentuou-se-lhe entre as sobrancelhas.– E os Maybricks? – disse ele, num tom irritado. – E se eles te vêm buscar, Evie?
Ela sorr iu com uma satisfação implacável:
– Deixei-os de vez. Há alguns dias fugi para Gretna Green e ca-casei-me. Agora já não têm
nhum sobre mim.
– Com quem? – perguntou Jenner, de olhos esbugalhados.
– Lord St. Vin-Vincent.
Ouviu-se bater à porta e entrou a camareira, com um tabuleiro cheio de iguarias várias.Evie levantou-se e foi ajudá-la, libertando a mesa de cabeceira de algumas coisas. Viu
sviar a cara ao cheiro da comida e reagiu por simpatia:
– Desculpe, papá. Vai ter de tomar um pouco de caldo, pelo menos.
Pôs-lhe um guardanapo por cima do peito e levou uma chávena de caldo quente aos lábios
e bebeu uns goles e voltou a recostar-se, estudando o rosto dela, enquanto lhe limpava a
rcebendo que o pai esperava que ela o pusesse a par da situação, Evie sorriu pedindo des
ecipadamente. Já tinha pensado no assunto e concluído que não precisava inventar um ca
or para seu benefício. O pai era um homem prático a quem, provavelmente, nunca ocorrera
ha casasse por amor. Do seu ponto de vista, uma pessoa levava a vida como ela era, fazendo
necessário para sobreviver. Se, pelo caminho, encontrasse qualquer coisa de agradável, dev
roveitar e não queixar-se mais tarde, quando chegasse a altura de pagar o preço.
– Quase ninguém sabe do casamento, ainda – disse ela. – Não é um mau partido. Entendem
zoavelmente e… eu não tenho ilusões acerca dele.
Jenner abriu a boca e ela enfiou-lhe uma colher de gemada. O pai ficou a meditar na
ormação, enquanto engolia, e a seguir arriscou:
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– O pai dele, o Duque, é um cabeça de vento que não sabe onde tem a cara.
– Lord St. Vincent, contudo, é um homem bastante inteligente, pai.
– Um tipo frio… – observou Jenner.
– Sim. Mas nem sempre. Quer dizer…
Ela parou de repente, corando ao lembrar-se de Sebastian erguendo-se sobre ela na cama, d
rpo rijo e quente, dos músculos das costas movendo-se sob os seus dedos…
– É um mulherengo inveterado, isso sim – comentou Jenner, num tom desprendido.
– Isso não me interessa – replicou Evie, no mesmo tom. – Nunca lhe pedir ia fi-fidelidade. Já
ue quero do casamento. E quanto ao que ele quer…
– O que ele quer sei eu… – disse o pai, sem rancor. – Onde é que ele está agora?
Evie deu-lhe mais uma colherada.
– Ainda está na cama, de certeza.
A criada, que ia a sair do quarto, parou à porta.
– Perdão, mas não ‘tá a dormir, Miss… quer dizer, my lady. Lord St. Vincent acordou Mr. R
go ao romper do dia e anda com ele d’um lado pró outro, a fazer perguntas e a dar-lhe lisados. Mr. Rohan está pior c’uma barata!
– Lord St. Vincent tem esse efeito sobre as pessoas – disse Evie, secamente.
– Listas de quê? – perguntou Jenner.
Evie não se atrevera a admitir que Sebastian se propusera interferir na gerência do clube
e ela sabia que iria irritar o pai. Saber que a filha casara sem amor era algo que ele admiti
ervas, mas qualquer coisa que tivesse relacionado com o seu negócio, iria ser motivo de
ocupação.– Oh – disse ela, vagamente –, acho que encontrou um pedaço de carpete que precisa d
bstituída. E teve uma ideia para melhorar o menu. Esse género de coisas…
– Hmm… – Jenner franziu o sobrolho, enquanto Evie lhe levava novamente à boca uma colh
caldo.
– Diz-lhe para não tocar em nada sem autor ização do Egan.
– Sim, papá…
Evie trocou disfarçadamente um olhar com a criada, avisando-a de que não desse
ormações. Compreendendo a ordem, a criada fez uma vénia e saiu.
– Não estás tão gaga como dantes – disse o pai. – Porque será, cabecinha de cenoura?
Evie considerou a pergunta, consciente de que a sua gaguez tinha, de facto, melh
nsideravelmente durante a última semana.
– Não sei bem. Acho que talvez o facto de estar afastada dos Maybricks pode ter-me feito se
is calma. Reparei nisso logo que saímos de Londres.
Passou depois a fornecer-lhe uma versão expurgada da sua viagem de ida e volta a Gretna G
ovocando no pai algumas risadas que o fizeram tossir. À medida que iam conversando, ela a
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relaxamento da face do pai, graças ao efeito benéfico da morfina sobre as dores. Ela comeu
rada em que ele não tocara, bebeu uma chávena de chá e colocou a bandeja do pequeno-al
nto à porta.
– Papá – disse ela, resoluta – antes de adormecer vou ajudá-lo a lavar -se e a fazer a barba.
– Não é preciso – disse ele, com uma expressão vaga, já do efeito da morfina.
– Deixe-me cuidar de si – insistiu ela, dir igindo-se ao lavatório onde a cr iada deixara um jar
ua quente.
– Verá que vai dormir melhor, com cer teza.
Mas ele estava demasiado cansado para discutir. Apenas suspirou e tossiu, vendo-a traze
ipiente de porcelana e os objetos para a barba até à mesa de cabeceira. Evie entalou-lhe uma
redor do peito e da base do pescoço. Nunca tendo barbeado um homem e começou por peg
cel, humedeceu-o na água e mergulhou-o, hesitante, na tigela com sabão.
– Uma toalha quente antes, princesa – murmurou Jenner. – Para amolecer esta lanugem.
Seguindo as instruções do pai, Evie molhou outra toalha na água quente e espremeu-a, aplic
uavemente sobre as faces e pescoço dele. Após um minuto, levantou a toalha e usou o pincel bão de um lado do queixo. Decidindo barbear-lhe a cara secção por secção, abriu a nav
servou-a com alguma desconfiança e curvou-se, cuidadosamente, sobre o pai. Antes que a na
tocasse no rosto, ouviu-se uma voz trocista vinda da porta.
– Santo Deus!
Olhando sobre o ombro, Evie descobriu Sebastian, que não se dirigia a ela, mas ao pai.
– Hesito entre louvar a sua coragem ou perguntar se o senhor está bom da cabeça, ao deixa
se aproxime de si com essa lâmina! – Aproximou-se da cama e estendeu a mão para Evie: cá isso, minha linda. Da próxima vez que o seu pai tossir, vai decepar-lhe o nariz.
Evie entregou-lhe a navalha, sem hesitação. Apesar da falta de sono, o marido parecia-lhe
ito mais em forma. Estava imaculadamente barbeado, cabelo lavado e penteado em cam
lhantes. O corpo esbelto estava vestido com um fato de corte impecável, o casaco feito de
enda negro-antracite que lhe valorizava o tom de pele dourado. E, tal como ela notara na
erior, desprendia-se dele uma sensação de energia vital, como se ele estivesse animado a
o facto de estar no clube. O contraste entre os dois homens, um tão mirrado e doente, o out
busto e saudável, era chocante. À medida que Sebastian se aproximava do seu pai,
perimentava uma vontade instintiva de se colocar entre os dois. O seu marido lembrava-lh
dador aproximando-se da sua presa indefesa para acabar com ela.
– Alcance-me o assentador de navalhas, quer ida – disse-lhe Sebastian, com um leve sor riso.
Ela virou-se para obedecer ao pedido e, quando voltou do lavatório, já ele tinha tomado o
a à beira do leito.
– Devemos sempre afiar a navalha antes e depois do escanhoar – murmurou Sebastian, mo
âmina aberta sobre a tira de couro, para cá e para lá.
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mbreira, olhando para o marido com uma expressão preocupada:
– Já despediu Mr. Egan?
Sebastian assentiu, apoiando uma mão na ombreira, por cima dela e inclinando-se um p
mbora a sua postura fosse solta e descontraída, Evie não deixou de se sentir subtilmente dom
para seu espanto, não foi uma sensação totalmente desagradável.
– Inicialmente mostrou-se hostil – disse Sebastian. – Mas só até eu lhe dizer que tinha exam
alhadamente os livros de contabilidade. Depois disso, ficou manso como um cordeiro, sab
e tem muita sorte por termos decidido não apresentar queixa contra ele. O Rohan está a ajud
er as malas, assegurando-se de que ele partirá imediatamente.
– Porque é que decidiu não apresentar queixa contra Mr. Egan?
– Seria má publicidade. A mais pequena suspeita de dificuldade financeira iria criar dúvidas
stabilidade do clube. É melhor, de longe, absorver as perdas e continuar daqui para diante.
O olhar dele atentou nos traços fatigados dela enquanto disse, baixinho:
– Volte-se de costas.
– O quê? P-p-porquê? – respondeu ela, espantada.– Volte-se – repetiu Sebastian, esperando até ela obedecer, devagar.
O coração dela começou a bater quando ele lhe agarrou os pulsos por trás e lhe levou as mã
mbreira.
– Segure-se aí, quer ida.
Aturdida, ela esperou, perguntando-se nervosamente o que iria ele fazer. Fechou os olhos e
sa, ao sentir as mãos dele apoiarem-se nos seus ombros. Os seus dedos acariciaram-lhe leve
omoplatas, como se procurassem alguma coisa… e então começou a massajar-lhe as costasvimentos suaves e seguros, aliviando o desconforto dos seus ombros. Dedos capciosos sond
nas de tensão dolorosa, obrigando-a a inspirar mais fundo. A pressão das mãos dele intensi
enquanto as palmas rolavam sobre as costas, os polegares deslizavam profundamente de cad
sua coluna. E Evie, vexada, deu por si a arquear as costas como um gato. Continuando ag
minho para cima, Sebastian encontrou os músculos enovelados nas ligações entre omb
scoço e neles se concentrou, amassando e pressionando, até ela sentir um doce gemido qu
bia da garganta.
Uma mulher podia ficar escrava daquelas mãos experientes. Ele tocava-a com uma sensua
rfeita, tirando um enorme prazer da sua carne magoada. Descaindo todo o seu peso co
mbreira, Evie sentiu a sua respiração tornar-se mais lenta e mais profunda, enquanto os mús
s costas ficavam menos tensos e se alongavam sob aquela manipulação insinuante; e ela sen
maravilhosamente bem que só receava o momento em que aquilo parasse.
Quando, finalmente, as mãos de Sebastian se afastaram do seu corpo, Evie ficou surpreendid
o se ter derretido num charco no chão. Voltou-se e olhou o rosto dele, esperando um s
carninho ou uma observação sarcástica. Mas pelo contrário, embora estivesse mais corado,
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pressão era impassível.
– Tenho uma coisa para lhe dizer – murmurou ele. – Em privado.
Pegando-lhe por um braço, Sebastian levou-a dos aposentos do seu pai, conduzindo-a a
arto mais próximo que, por acaso, era o que Evie havia ocupado na noite anterior. Seb
hou a porta e cresceu sobre ela. O seu rosto estava impassível.
– O Rohan tinha razão – disse ele, bruscamente. – O seu pai não tem muito mais tempo de vi
r um milagre durará mais um dia.
– Sim. Penso… que isso é uma coisa óbvia para toda a gente.
– Esta manhã tive uma longa conversa com o Rohan acerca do seu pai e ele mostrou-m
heto que o médico deixou após fazer o diagnóstico.
Sebastian tirou do bolso um pequeno papel dobrado, com letra miudinha impressa, e entr
o.
Evie leu no topo do folheto as palavras «Uma nova teoria sobre a tuberculose.» Como estav
olhos cansados e a única luz daquele quarto provinha de uma pequena janela, ela abanou a ca
– Posso ler mais tarde?– Pode. Mas eu vou pô-la a par do cerne da teor ia: A tuberculose é provocada por organ
vos, tão minúsculos que são invisíveis a olho nu. Vivem nos pulmões doentes. E a doe
nsmitida quando uma pessoa saudável respira parte do ar que o doente expira pelos pulmões.
– Criaturas minúsculas nos pulmões? – repetiu Evie, sem expressão. – Isso é absurd
erculose é causada por uma predisposição natural para a doença… ou por se ficar dema
mpo ao frio ou à humidade.
– Como nenhum de nós é médico ou cientista, um debate sobre esse assunto seria um tanto as, pelo seguro… receio ter de limitar a proximidade e o tempo que conta passar com o seu p
O folheto caiu-lhe da mão. Chocada com aquela declaração, Evie sentiu o coração bater
ocidade furiosa. Depois de tudo o que ela suportara para estar com o pai, Sebastian estava a
usar-lhe os últimos, poucos, dias que ela voltaria a ter com ele – tudo por causa de uma
dica não provada, impressa num folheto?!
– Não! – disse ela, violentamente.
A garganta apertara-se-lhe e as palavras saiam-lhe depressa de mais para a boca as cons
primir.
– Absolutamente, não! Vou passar com ele o tempo que me aprouver! O senhor não quer sab
m nem dele para nada! Só quer ser… c-cruel p-para m-m-mostrar que tem poder so-sobre…
– Eu vi a roupa da cama – disse Sebastian, secamente. – Ele está a cuspir sangue, muco e s
bo mais o quê… E quanto mais tempo a senhora passar com ele, maior a probabilidade de ap
mbém o raio da doença que o está a matar!
– Não acredito nessa teor ia idiota. Consigo encontrar uma dúzia de m-m-médicos que o fari
ssar p-pelo ridículo!
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– Não posso deixá-la correr esse risco. Raios a partam, quer achar-se numa cama daqui
ses com os pulmões a apodrecerem?!
– Se isso ac-contecer, não tem nada que ver com isso.
Ao confrontarem-se um contra o outro, no silêncio carregado de ira que se seguiu, Evie tev
ga suspeita de que as suas palavras amargas o haviam atingido mais fundo do que ela
aginado.
– Tem razão – disse Sebastian, no auge da ira. – Se quer tornar-se numa tuberculosa, avanc
do. Mas não se admire que eu me recuse a ficar sentado à sua cabeceira, torcendo as mã
sespero. Nada farei para a ajudar. E quando ficar para aí a cuspir fora os pulmões, eu f
diante como o diabo, a lembrar -lhe que a culpa é só sua, por ser tão teimosa e tão idiota!
Concluiu o seu inflamado discurso com um gesto irritado com as mãos.
Infelizmente, Evie tinha sido condicionada por demasiados embates com o tio Peregrine
nseguir distinguir entre gestos de cólera e prenúncios de um ataque físico. Instintiva
remeceu e estendeu os braços para proteger a cabeça. Quando o golpe esperado não surgi
colheu-se e baixou os braços lentamente, para encontrar Sebastian, na sua frente, olhando-a atA seguir, a face dele como que se ensombrou.
– Evie… – disse ele, com uma espécie de ferocidade reprimida que a assustou. – Pensou q
… Meu Deus! Alguém lhe bateu. Alguém lhe bateu no passado – quem diabo foi?
Teve um gesto súbito em direção a ela – demasiado súbito – e ela recuou, tropeçando e ba
m força contra a parede. Sebastian ficou imóvel.
– Merda… – murmurou.
Parecendo lutar contra uma poderosa emoção, olhou-a, absorto. Após um longo momento xinho:
– Eu nunca bateria numa mulher. Jamais seria capaz de a magoar. Sabe isso, não sabe?
Trespassada pelo brilho dos olhos claros que sustentavam os seus com tanta intensidade,
hou-se incapaz de se mover ou produzir qualquer som. Estremeceu, enquanto ele se aprox
a, lentamente.
– Está tudo bem – murmurou ele. – Deixe-me aproximar… Calma… Está tudo bem. Envo
m um dos braços, servindo-se da mão livre para lhe afagar o cabelo e, de súbito, ela res
pirando de alívio. Sebastian aproximou-a mais, a boca junto à têmpora dela.
– Quem foi? – perguntou.
– O m-m-eu tio – conseguiu ela dizer.
O movimento da mão dele nas suas costas parou ao ouvi-la gaguejar.
– Maybrick? – perguntou, pacientemente.
– N-n-não, o outro.
– Stubbins.
– Sim.
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Evie fechou os olhos de prazer, ao sentir-se enlaçada pelo outro braço. Apertada contra o
me de Sebastian, a face encostada contra o seu ombro, ela aspirou o cheiro lavado da
sculina e o toque subtil da água-de-colónia com odor a sândalo.
– Quantas vezes? – ouviu ela perguntar. – Mais do que uma?
– Agora já não importa…
– Quantas vezes, Evie?
Percebendo que ele iria insistir até responder, Evie balbuciou:
– Não tantas vezes c-c-como isso, mas… às vezes, quando eu lhe de-desagradava ou desobe
ia Florence, ele perdia a cabeça. Da última vez que eu t-t-tentei fugir, ele pôs-me um olho n
b-riu-me um lábio.
– Ah sim…?
Sebastian ficou silencioso durante muito tempo e depois disse, com uma suavidade gelada:
– Vou arrancar-lhe os braços e as pernas.
– Oh, não que-quero isso! – disse Evie, muito a sério. – Só q-q-quero estar livre dele. De
s.Sebastian afastou a cabeça para poder olhar a face corada dela.
– Está a salvo, está livre…
Levou uma das mãos ao rosto dela, afagando a linha do malar, deixando um dedo seguir o
sardas doiradas que lhe atravessavam a cana do nariz. As pestanas dela vibraram para baixo, d
asião a que ele afagasse os arcos delgados das sobrancelhas e aninhasse o seu rosto na palm
a mão.
– Evie… – murmurou. – Juro pela minha vida que nunca sentirá dor vinda das minhas sso vir a ser um marido dos diabos sob vários outros pontos de vista… mas nunca a mag
ssa maneira. Tem de acreditar nisto.
Os nervos delicados do seu rosto absorviam sensações avidamente… o toque dele, o bafo e
sua respiração nos lábios dela… Evie temia abrir os olhos ou fazer qualquer coisa que pu
erromper aquele momento.
– Sim… – conseguiu ela murmurar. – Sim… eu…
Houve um doce choque de uma tentativa de beijo contra a boca dela… e outra… Com um l
piro, ela abriu-se para ele. A boca dele era como seda quente, como fogo terno, invadindo-a
ma leve pressão, uma demanda suave. Os dedos dele procuraram-lhe o rosto, ajustando o â
re eles.
Ao senti-la vacilar, Sebastian tomou uma das mãos dela e levou-a à sua própria
ediatamente ela levantou a outra mão, agarrando-se ao seu pescoço e respondendo aos t
jos que só afloravam a pele. Ele começou a respirar mais depressa e os movimentos do seu
çavam sedutoramente os seios dela. De um momento para o outro, os beijos dele tornaram-se
ofundos, mais imperiosos, levando a paixão a uma urgência ardente que a fez roçar-se contr
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sesperada por uma proximidade maior com a dura forma masculina.
Um som doloroso saiu da garganta de Sebastian, que afastou a boca da dela.
– Não! – murmurou ele, desesperado. – Não… espere, meu amor… não era isto… eu só que
Os dedos de Evie cravaram-se no casaco dele e ela escondeu a cara na brilhante seda cinze
a gravata. A mão dele agarrou-lhe a nuca, suportando o peso incerto do corpo dela.
– Eu não mudei de ideias quanto ao que disse antes. Se quer tratar do seu pai, tem que de seg
nhas regras. Manter o quarto arejado – quero aquelas janelas e aquelas portas abertas to
mpo. E não se sente demasiado perto dele. Além disso, sempre que estiver com ele, exijo que a
ço sobre a boca e o nariz.
– O quê?! – Evie afastou-se subitamente dele, lançando-lhe um olhar incrédulo. – Para que aq
aturinhas invisíveis não voem para os meus pulmões? – perguntou ela, sarcástica.
Ele semicerrou os olhos.
– Não me ponha à prova, Evie. Estou quase a proibi-la de o visitar. De todo!
– Sentir-me-ia ridícula com um lenço atado à cara – protestou ela. – Iria ofender os sentim
meu pai.– Não me ralo um chavo! Mas tenha em linha de conta que se me desobedecer não torna a vê
Evie afastou-se com ímpeto, dominada por uma nova onda de raiva.
– O senhor não é melhor do que os Maybricks – disse ela, com amargura. – Eu só me
nsigo para ganhar a minha liberdade. E, em vez disso, parece que troquei um carcereiro por o
– Nenhum de nós tem completa liberdade, minha menina. Nem sequer eu.
Cerrando os punhos, ela olhou-o com ódio.
– Mas o senhor tem, pelo menos, o direito de fazer as suas próprias escolhas!– Sim. E as suas também – troçou ele, parecendo apreciar a chama de ódio que provocara n
eu Deus, que espetáculo! Todo esse desafio tempestuoso… até me dá vontade de a levar p
ma.
– Não volte a tocar-me! – rosnou ela. – Nunca mais!
Irritantemente, ele começou a rir, dir igindo-se para a porta.
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Capítulo 10
Quando Evie voltou ao quarto do pai, naquela tarde, percebeu, de imediato, que tinha cheg
ra dele. A pele estava cor de cera e os lábios azuis, pois os seus pulmões torturados j
nseguiam armazenar oxigénio suficiente. Como ela desejou poder respirar por ele! Pegand
s mãos frias, esfregou-lhe os dedos como se os pudesse aquecer e olhou-o com um sorriso fi
– Papá… – murmurou. – Diga-me o que fazer. Diga-me o que quer…
Ele olhou-a com afeto, enquanto os lábios sumidos na face enrugada lhe responderam com
rriso.
– O Cam… – murmurou ele.
– Sim, vou mandar chamá-lo. – Evie passou os dedos pelo cabelo. – Papá… – perguntou baix
O Cam é meu irmão?– Ahhhh… – gemeu ele, enrugando os olhos. – Não, minha pequenina. E eu bem gostava…
m rapaz.
Evie curvou-se para lhe beijar a mão e levantou-se. Alcançou a campainha e puxou várias v
trou uma criada, com uma rapidez pouco usual.
– Sim, my lady?
– Corre a chamar Mr. Rohan – disse ela, a voz levemente trémula.
Evie hesitou, considerando se deveria ou não mandar chamar Sebastian também… Mas o paara nele. E a ideia da presença calma e cerebral de Sebastian, em contraste chocante com a
óprias emoções… não! Havia ocasiões em que ela podia apoiar-se nele, mas esta não era
as.
– Vai depressa! – disse para a cr iada e voltou para junto do pai.
Algum do seu pânico deve ter transparecido apesar do esforço para manter uma fa
nquilizadora, porque o pai agarrou-lhe numa mão e puxou-a levemente para a aproximar de s
– Evie… – disse, num sussur ro. – Eu… vou ter com a tua mãe, sabes… Ela convenceu
xarem aberta uma porta das traseiras… para eu poder entrar no céu.
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Ela riu baixinho, derramando algumas lágrimas.
Cam entrou logo a seguir. O seu cabelo de azeviche estava em desalinho e as roupas amarro
contrário do que era habitual, como se se tivesse vestido à pressa. Embora com um ar ca
ntrolado, havia nos seus olhos dourados um brilho húmido quando encarou Evie. Ela levanto
cuou um pouco, tomando tempo para engolir em seco antes de falar:
– Tens de te curvar sobre ele p-para ouvires o que ele diz. – disse ela, em voz rouca.
Cam curvou-se sobre o leito, agarrando nas suas as mãos de Jenner, tal como fizera Evie.
– Pai do meu coração… – disse baixinho o jovem cigano. – Fique em paz com todas as alm
xa atrás de si. E saiba que Deus abrirá um caminho novo… na sua nova vida.
Como Jenner lhe murmurasse qualquer coisa, o rapaz inclinou a cabeça e esfregou doceme
os do velho.
– Pois sim… – disse Cam, a certa altura.
Evie sentiu, pela tensão que via nos seus ombros, que não lhe agradou o que quer que fosse
dela lhe estava a pedir.
– Eu velarei para que isso seja feito.Logo a seguir, Jenner como que se descontraiu e fechou os olhos. Cam desviou-se da ca
purrou levemente Evie na direção do pai.
– Está tudo bem, vá… – murmurou o rapaz, sentindo-a a tremer. – A minha avó sempre
unca tentes recuar ao chegares a uma estrada nova – não sabes que aventuras te esperam.»
Evie tentou encontrar conforto naquelas palavras, mas toldaram-se-lhe os olhos de lágrim
ía-lhe a garganta. Sentando-se ao lado do pai, pôs-lhe um braço à volta dos ombros e a outra
inhosamente sobre o peito. O estertor dele acalmou e ele fez um ligeiro som, comoradecendo o toque da filha. Ao sentir a vida gradualmente retirar-se do seu corpo, a mão de
arrou-lhe o antebraço, num toque amigo.
No quarto reinava um silêncio doloroso. O coração de Evie batia quase audivelmente. N
frentara a morte antes e ter de enfrentá-la agora, perdendo a única pessoa que a amara, enche
ror. Lançando um olhar para a porta, viu a figura alta de Sebastian ali em pé, com uma expr
decifrável; e percebeu que, afinal, precisava mesmo que ele ali estivesse. Ao olhar pa
amente, com os seus olhos de pedra da lua, Evie sentiu qualquer coisa que, efetivamente, a aj
entir-se em paz.
Uma ténue exalação saiu dos lábios de Jenner… e a seguir não houve mais nada.
Percebendo que tudo estava acabado, Evie encostou a cara à cabeça do pai, fechando os olho
– Adeus… – murmurou ela, enquanto as suas lágrimas corriam sobre aquele cabelo outro
oso.
Após um momento, Evie sentiu as mãos fortes de Cam afastando-a da cama.
– Evie… – disse o rapaz, sem conseguir olhá-la. – Tenho de … tenho de preparar o corpo.
m o seu marido.
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Evie assentiu e tentou mover-se, mas as suas pernas pareciam presas uma à outra.
Sentiu Cam afagar-lhe o cabelo com a mão e a seguir o toque ligeiro dos lábios dele na sua
m beijo doce e casto. Ela virou-se e dir igiu-se cegamente para o marido. Sebastian avançou a
idamente e meteu-lhe um lenço na mão, que ela aceitou com gratidão. Demasiado perturbada
ber – ou sequer querer saber – para onde iam, limpou os olhos e assoou-se, enquanto Sebas
irava dos aposentos de Ivo Jenner. O braço dele segurava-a firmemente por trás das costas,
a na cintura dela.
– Ele tinha dores constantes – disse Sebastian. – Assim foi melhor para ele.
– Sim… – conseguiu responder Evie, entorpecida. – Sim, claro.
– Ele disse-lhe alguma coisa?
– Mencionou… a minha mãe. – Aquele pensamento trouxe-lhe nova dor, mas conseguiu
orar um débil sor riso. – Disse que ela ia ajudá-lo a entrar no céu… pela porta das traseiras.
Sebastian levou-a até ao quarto. Afundada na cama, Evie enterrou o nariz no lenço e enrosc
ra o lado. Nunca tinha chorado assim antes, aos soluços, numa desolação que lhe saía da gar
quanto a pressão do desgosto no seu peito se recusava a diminuir. Apercebeu-se vagamente qrtinas se fechavam e Sebastian mandava uma criada trazer vinho e um jarro com água fresca.
Embora Sebastian se mantivesse no quarto, nunca se aproximou; andou para lá e para cá
uns minutos, e eventualmente deixou-se cair numa cadeira perto da cama. Via-se bem qu
sejava abraçar Evie enquanto ela chorava, recusando-se a uma tal intimidade emotiva. Ela
andonar-se nos seus braços na paixão, mas não no desgosto. Contudo, era óbvio que não
enções de a abandonar.
Quando a criada trouxe o vinho, Sebastian fez Evie sentar-se na cama e deu-lhe a beber umiberadamente cheio. Enquanto ela bebia, ele pegou numa toalha e molhou-a na água
icando-lha docemente sobre os olhos inchados. Os seus modos eram carinhosos,
ranhamente cautelosos, como se estivesse a lidar com uma criança muito pequena.
– Os empregados… – murmurou Evie, após um momento. – O clube, o funeral…
– Eu trato de tudo. – disse Sebastian, calmamente. – Vamos fechar o clube por umas sema
tarei do funeral, sossegue. Quer que mande chamar alguma das suas amigas?
Evie abanou a cabeça imediatamente.
– Ia pô-las numa situação difícil. E não me apetece falar com ninguém.
– Compreendo.
Sebastian ficou com Evie até ela beber um segundo copo de vinho. Vendo que ele estava à e
uma indicação da sua parte, Evie pousou o copo na mesa de cabeceira. Sentiu a língua p
quanto dizia:
– Acho que agora posso descansar um pouco. Não há necessidade de me vigiar quando há
ra fazer.
Ele lançou-lhe um olhar avaliador e levantou-se da cadeira.
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– Mande-me chamar quando acordar.
Jazendo na cama, meio tonta, meio adormecida e sozinha, Evie perguntou-se a si própria p
ue as pessoas diziam sempre que a morte de um ente querido era mais fácil de suportar quan
ha tido tempo para se preparar. Porque a situação não parecia fácil. Essas mesmas pessoas p
acrescentado que o seu desgosto deveria ser menor, pelo facto de ela nunca ter conh
lmente o seu pai. Novo erro: esse facto tornava o seu desgosto maior ainda. Havia tão p
ordações com que se reconfortar, fora tão pouco o tempo que haviam passado juntos…
uela tristeza, veio uma sensação infeliz de privação… e, logo depois, até um pouco de re
ia ela tão indigna de amor, para ter encontrado tão pouco disso na sua vida?
Faltar-lhe-ia um qualquer dom essencial para atrair para si o sentimento de amor de
ssoas?
Consciente de que aqueles pensamentos a conduziam perigosamente para a autocomiseração
hou os olhos e concedeu-se um suspiro trémulo.
Logo que Cam saiu dos aposentos de Ivo Jenner, St. Vincent veio ao seu encontro no hall.
har era carrancudo e havia na sua voz um tom de gélida arrogância.– Se a minha mulher encontra conforto em patetices ciganas de mau gosto, não ponho qua
eção a que lhas proporcione, mas se a beijar outra vez, por mais platónica que seja a f
ranto que lhe corto os tomates.
O facto de St. Vincent se rebaixar a uma manifestação de ciúme tão reles, quando Ivo Jenner
o tinha arrefecido no seu leito de morte, podia ter ultrajado qualquer homem. Cam, con
servou o autocrático visconde com um interesse estudioso.
Calibrando deliberadamente a sua resposta, no intuito de testar o outro , o jovem cigano limimamente a declarar :
– Se jamais eu a tivesse desejado dessa forma, por esta altura ela já seria minha.
Nos gélidos olhos azuis de St. Vincent houve um instante de aviso, que revelava um sentime
a profundidade que ele se recusava a admitir. Cam nunca vira nada como o desejo mudo q
ncent sentia pela sua própria mulher. Ninguém podia deixar de notar que, quando Evie entra
a, St. Vincent vibrava positivamente como um diapasão.
– Saiba, Sir, que é possível ter afeição por uma mulher sem querer levá-la para a cama – exp
m. – Ao que parece, o senhor não acredita, ou está tão obcecado por ela que não con
mpreender que outro homem possa não sentir o mesmo.
– Eu não estou obcecado por ela! – retrucou St. Vincent.
Encostando um ombro contra a parede, Cam olhou fixamente nos olhos do homem à sua f
a habitual reserva de autodomínio estava prestes a esgotar-se.
– Claro que está. Qualquer pessoa consegue vê-lo.
St. Vincent lançou-lhe um novo olhar de aviso, este mais intenso:
– Mais uma palavra – disse ele, com esforço – e segues o mesmo caminho que o Egan.
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No primeiro ano de luto, as mulheres eram obrigadas a vestir-se apenas de crepe, um tecido
goso e áspero, feito de fios colados. Ninguém considerava agradável tal escolha, visto o crep
rigosamente inflamável e tender a encolher e quase desfazer-se com a chuva. Sebastian, no en
ndara fazer um vestido de voluptuoso veludo preto, outro de cambraia de lã e outro de cache
– Não posso usar isto – disse Evie, de sobrolho franzido, afagando os vestidos com as
locara-os em cima da cama, sobre a colcha, onde jaziam como flores da meia-noite.
Sebastian trouxera-os para cima ele próprio, logo que foram entregues no clube. Postara-
nto da cama, negligentemente encostado à coluna da cabeceira fortemente esculpida. Com ex
camisa e colarinho brancos de neve, estava vestido de negro dos pés à cabeça. Como se
perar, ficava espantosamente bem-parecido naquelas roupas severas, cujo fundo sombrio faz
ntraste exótico com a sua pele clara e cabelo dourado. Mais uma vez, Evie perguntou-se s
mem com um aspeto tão notável poderia ter um caráter decente – sem dúvida teria sido estra
m mimos desde a mais tenra infância.
– Qual é a sua objeção a estes vestidos? – perguntou ele. – São pretos, não são?
– Bom, claro… mas não são em crepe.– Quer por força usar crepe?
– Não é que queira, claro que não, ninguém gosta. Mas se as pessoas me vissem usar outra
veria uma onda de má-língua terr ível.
Sebastian arqueou uma sobrancelha.
– Evie – disse ele, secamente –, a senhora fugiu de casa contra a vontade da sua família, cas
m um conhecido libertino e está a viver num clube de jogos de azar. Que mais raio de má-l
nsa que pode gerar?Ela lançou um olhar sobre o vestido que usava, um dos três que levara com ela na noite em
gira de casa dos Maybricks. Embora ela e as criadas tivessem feito o possível para o limpa
tanha estava suja da viagem e encolhida nos sítios onde apanhara chuva e lama. E faz
michão. Evie ansiava por usar qualquer coisa fresca, macia e limpa. Aproximou-se do vesti
udo e acariciou-o, sentindo os dedos a traçarem sulcos no felpo macio.
– Tem de aprender a não fazer caso do que dizem as pessoas. – murmurou Seb
roximando-se.
De pé, por trás dela, pousou-lhe ligeiramente os dedos nos ombros, fazendo-a tremer um po
– Assim será muito mais feliz – disse ele, diver tido. – Fique sabendo que, enquanto a má-
erca dos outros é muitas vezes verdade, nunca o é quando é a nosso r espeito.
Evie estremeceu nervosamente ao sentir as mãos dele movendo-se pela fila de botões nas c
vestido castanho.
– O que está a fazer?
– A ajudá-la a mudar de vestido.
– Não quero. Agora não. Eu… oh, por favor, não!
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– Não tinha! Nem tenho!
– Gostou de me encurralar, a mim, um libertino famoso, na minha própria casa, com
oposta que eu não podia recusar. Não tente negar – por esta altura já a conheço suficiente
m.
Por incrível que parecesse, apesar do seu desgosto e preocupação, Evie sentiu um sorri
bir-lhe aos lábios.
– Talvez eu tenha gostado, sim… por um momento – admitiu ela. – Claro que gostei de pens
ão furiosa ficaria a minha família ao saber do caso.
A sombra do sorriso desapareceu e ela acrescentou, taciturna:
– Como eu detestava viver com eles! Se ao menos o meu pai me tivesse quer ido a viver com
dia ter pagado a alguém para tomar conta de mim.
– Meu Deus! – exclamou Sebastian, pouco compreensivo. – Por que raio haveria ele de quer
a criança pequena no seu mundo?
– Porque eu era a família dele. Porque era tudo o que ele tinha!
Aquela ideia foi recebida com um decidido abanar de cabeça.– Os homens não pensam assim, amor. O seu pai achou – e com toda a razão – que seria m
ra si viver afastada dele. Sabia que jamais faria um bom casamento se não fosse educada
biente respeitável.
– Mas se ele tivesse sabido como os Maybricks ir iam ser para mim, o modo com
ltratada…
– E o que a faz pensar que o seu pai não a teria tratado da mesma maneira? – perguntou Seb
ra enorme choque dela.– Ele era um ex-boxeur, por amor de Deus!… – acrescentou ele. – Não era conhecido p
medido. Provavelmente teria tido contacto familiar com as mãos dele na sua cara, acaso tiv
nvivido mais.
– Não acredito! – gr itou Evie, indignada.
– Não se exalte – murmurou Sebastian, pegando no vestido de veludo que estava sobre a ca
mo já lhe disse, eu nunca poderia considerar bater numa mulher, fosse por que pretexto fosse
mundo está cheio de homens que não têm esse escrúpulo particular e é muito provável que
fosse um deles. Discuta, se quiser – mas não seja tão ingénua ao ponto de colocar Ivo Jenne
destal. No mundo em que ele vivia, das espeluncas, dos infernos do jogo, dos malandro
minosos, dos vigaristas, era considerado um homem suficientemente decente; estou certo d
acharia essa expressão um elogio merecido… Levante os braços.
Habilmente colocou-lhe o vestido de veludo acima da cabeça, puxou a saia que caiu numa
cia sobre as ancas e ajudou-a a enfiar os braços nas mangas.
– Mas essa vida não é para si – acrescentou, não sem simpatia. – A Evie ficaria bem numa g
opriedade no campo, sentada numa manta estendida sobre um relvado verde, comendo mor
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m chantilly. Desfrutando de longos e prazerosos passeios de carruagem… Visitando as
igas. Provavelmente um dia permitir-me-ia que lhe desse um bebé. Seria uma coisa agradáve
cupar. E seria algo em comum com as suas amigas, que, sem dúvida, já começaram a procria
Alarmada com a despreocupação com que surgira aquela sugestão, Evie olhou o belo ros
rido, tão perto do seu. Quase se poderia pensar que ele acabava de lhe propor ir compr
ozinho para lhe oferecer! Seria ele realmente tão empedernido como parecia ser?
– Teria qualquer interesse para si, um bebé? – Evie conseguiu fazer esta pergunta após en
rias vezes em seco.
– Não, minha linda. Sou tão pouco feito para ter mulher e filhos como era o seu pai. Mas v
ra que uma criança minha fosse sempre muito bem estimada. E com um brilhozinho malandr
hos, continuou: – E participaria entusiasticamente na procriação das crianças, ainda que men
a educação.
Deslocou-se para trás dela para lhe apertar o vestido.
– Pense no que realmente quer – aconselhou ele. – Há muito poucas coisas que não possa
… desde que se atreva a estender a mão para elas.
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Capítulo 11
Qualquer sentimento amistoso que Evie pudesse ter sentido pelo marido desapareceu rapidam
manhã seguinte, quando Sebastian saiu do clube pouco antes do meio-dia, ostensivamente
a missão junto de Madame Bradshaw. Acabara de acordar os detalhes para o funeral de Ivo J
e deveria ter lugar no dia seguinte, e agora a sua atenção voltava-se para assuntos e neg
volvendo o clube. O Jenner’s ficaria encerrado por quinze dias, durante os quais haveria
vasão maciça de carpinteiros, pedreiros e pintores, todos ocupados com obras de vulto no edi
Sebastian tinha também começado a fazer mudanças decisivas no regime interno do
meçando por promover Cam para uma posição de factotum. À luz da ascendência mesti
az, isto iria, certamente, constituir uma decisão controversa. Os ciganos eram universalm
usados de serem mãos-leves e trapaceiros. Colocar Cam como responsável por, entre oefas, cobranças e pagamentos envolvendo largas somas de dinheiro, bem como agir como á
mpre que uma jogada levantava dúvidas de legalidade, seria visto por alguns como pedir a um
ra tomar conta de um ninho de passarinhos recém-nascidos. A importância dessa posição e
e ninguém, nem mesmo Sebastian, poderia pôr em dúvida a sua opinião sobre uma jogada.
Contudo, Cam era uma figura familiar e simpática e Sebastian estava pronto a apostar em c
pularidade dele levaria os membros do clube a aceitá-lo neste novo posto. Além disso, nenhu
tros trinta empregados do clube era minimamente qualificado para dirigir a sala de jogos de Agora que as meninas da casa tinham partido, era urgente fazer qualquer coisa para que, qu
clube reabrisse, os membros pudessem desfrutar de companhia feminina. Para irritação de
m concordara com Sebastian que um entendimento com Madame Bradshaw seria uma exc
ução para o problema. E claro, Sebastian tomara a seu cargo fazer a proposta à famig
adame. Conhecedora do famoso apetite sexual do marido, Evie tinha a certeza de que aquela
luiria, certamente, mais do que uma simples proposta de negócio. Sebastian não dormira
is ninguém desde a estadia em Gretna Green. Com certeza estaria pronto, e ansioso, p
mprazer com qualquer fêmea de virtude fácil.
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Evie dizia repetidamente para consigo que não queria saber. Ele podia dormir com
lheres… cem… mil… que ela pouco se ralava. Seria tola, aliás, se se ralasse. Sebastian e
paz de fidelidade como um gato vadio correndo as ruas, ansioso por folgar com qualquer ga
a vontade que encontrasse no seu caminho.
Fumegando de ira, por trás da sua fachada estoica, Evie escovou e prendeu o cabelo
rapito complicado de tranças. Virando costas ao espelho sobre o toucador, Evie pousou a es
brilho da sua aliança de ouro prendeu-lhe o olhar; as palavras gravadas em gaélico par
çar dela.
– Amo-te… – murmurou amargamente, arrancando o anel do dedo. Não tinha lógica usa
ança de um falso casamento.
Ia colocá-la sobre o toucador, mas pensou melhor e meteu-a no bolso, tencionando pedir a
e a guardasse no cofre do clube. Mesmo quando ia a sair, alguém bateu à porta.
Não podia ser Sebastian, que nunca se dava ao trabalho de bater. Ao abrir a porta,
conheceu as feições rudes de Joss Bullard.
Conquanto Bullard não fosse ativamente detestado pelos outros empregados, era óbvio quepularidade estava longe de se aproximar da de Cam. O infortúnio de Bullard era que, visto
m Rohan serem da mesma idade, sempre tinham sido comparados um com o outro. Já teri
sleal comparar a maior parte dos homens com o belo moreno Cam, cujo subtil encanto e h
nico faziam dele o favorito não só entre os outros empregados, como os clientes do clube
rar a imagem, Bullard era um homem sem graça, insatisfeito com a sua sorte na vida, invejo
dos aqueles a quem havia sido concedido mais. Sentindo que para ele era difícil tratá-la
nsideração, Evie tratava-o com uma simples polidez bem medida.O olhar duro de Bullard cruzou-se com o dela.
– V’sita na por ta das traseiras. Qué falar consigo, my lady.
– Uma visita?! – Evie sentiu um nó no estômago, suspeitando que os seus tios pud
almente ter descoberto o seu paradeiro. As notícias da morte de Jenner, do encerramento do
a sua presença ali deviam ter viajado rapidamente através de Londres.
– Quem? Q-q-que nome deu?
– Mandaram’m d’zer c’o nome era Mrs. Hunt,my lady.
Annabelle! O nome daquela amiga tão querida fez o coração de Evie bater mais depres
vio e ânsia, embora se admirasse por Annabelle se atrever a vir a um clube de jogo.
– Que bela notícia! – exclamou. – Por favor, leva-a lá acima ao primeiro andar, ao escritó
u pai.
– Mandaram’m d’zer c’a s’nhora é que tem qu’ir lá abaixo, à porta das traseir as,my lady.
– Ah…
Mas não podia ser! Uma menina tão recatada como Annabelle não deveria ser obrigada a es
s traseiras de um clube. Preocupada, Evie saiu do quarto e afastou-se, não pensando senão em
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m Annabelle o mais depressa possível. Com Bullard nos calcanhares, desceu os dois longos
escada com a rapidez que podia, agarrando-se ao corrimão a espaços regulares. Quando ch
fundo, tinha o coração aos saltos. Lutando contra a pesada porta, abriu-a… e recuou surpree
ver, não a figura airosa de Annabelle, mas o vulto pesado do tio Peregrine.
Na mente de Evie fez-se um enorme vazio. Deitou-lhe um olhar sobressaltado que durou a
ma fração de segundo, depois recuou, dominada pelo terror. Peregrine sempre fora dado a re
s punhos para a obrigar a obedecer. De nada lhe valia ser agora Lady St. Vincent e, por
almente fora do alcance do tio. Ele iria vingar-se da pior maneira possível, começando po
va valente.
Cega de pânico, Evie voltou-se para fugir, mas, para seu espanto, Bullard deu um pa
queou-lhe o caminho.
– Ele deu-m’uma libra d’ouro p’rá ir buscar. É mais do qu’ó qu’eu ganho num mês.
– Não! – arquejou ela, empurrando-lhe o peito. – Não… Eu dou-te o que quiseres… não o
ar-me!
– O velho Jenner fê-la estar co’eles todos estes anos – zombou o rapaz. – Não a qu’ria aquinguém quer!
Mau grado o grito de protesto de Evie, Bullard empurrou-a inexoravelmente para o tio, cuj
anhuda luzia de triunfo.
– Pronto, já fiz o qu’pediu, – disse Bullard bruscamente para um homem atrás de Peregrin
ie reconheceu, de repente, como sendo o seu tio Brook. – Agora passe p’ra cá a massa!
Com um ar desconfortável e vagamente envergonhado pela transação, Brook entregou-
eda de ouro.Peregrine agarrou Evie com mão firme, tornando-a tão indefesa como um coelho agarrado
e do cachaço. A sua cara quadrada estava rubra de raiva:
– Sua estúpida, sua rameira sem préstimo! – gritava ele, sacudindo-a com força. – Se já n
visses para nada, deitava-te fora, como um monte de lixo. Quanto tempo é que julgavas q
dias esconder? Vais ver como elas te mordem!
– Bullard, acode-me por favor! – gr itava Evie, debatendo-se como podia, enquanto Pereg
astava para a carruagem que os esperava. – Não!
Mas Bullard não se mexeu, observando tudo da porta, com um olhar cheio de ódio. El
nseguia compreender o que poderia ter feito para ele a odiar tanto. E porque é que não ap
nguém para a defender? Seria possível que ninguém ouvisse os seus gritos? Lu
sesperadamente, Evie tentava arranhar e acotovelar o tio, mas os seus esforços eram prejudi
o peso das saias: estava perdida. Furioso com a resistência dela, Peregr ine rosnava:
– Cala-te e obedece, cr iatura endiabrada!
Pelo canto do olho, Evie viu um rapazito que saía da cocheira e que parou, surpreendido c
e se passava na viela. Evie gritou-lhe:
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– Chama o Cam! Depre…
Mas o seu grito foi abafado pela palma da mão de Peregrine, que se abateu sobre a sua bo
u nariz. Ela mordeu-lhe a mão, que sabia a pó, fazendo-o retirá-la com um gr ito de dor.
– Cam! – gritou Evie, de novo, antes de ser silenciada por um for te murro na boca.
Peregrine empurrou-a para o tio Brook, cuja face macilenta passou vagamente pela sua
dada.
– Mete-a na carruagem – ordenou Peregrine, procurando no casaco um lenço para atar a mã
ngrava.
Evie debatia-se em poder de Brook. Enquanto ele a empurrava com força para dent
ruagem, ela contorceu-se e conseguiu acertar-lhe um golpe de raspão, mas eficaz, no pesco
pacto fez Brook ficar sem respiração e largá-la.
Peregrine agarrou em Evie com as suas mãos enormes e atirou-a contra um dos lad
ruagem. A sua cabeça embateu no duro apainelamento lacado e ela sentiu uma explos
ntelhas diante dos olhos e uma dor aguda no crânio. Estonteada pelo impacto, só pôde deba
camente, enquanto era atirada para dentro do veículo.Para seu espanto, o primo Eustace esperava-a lá dentro, corpulento e flácido, como se uma c
chalote tivesse sido carregada para cima do assento. Agarrou-a contra as triplas banha
eirosas e maciças do seu tronco, mostrando uma força surpreendente ao apertar um ante
nudo à volta do pescoço dela.
– Agarrei-te! – sibilou ele, arquejando do esforço. – Cabra impertinente, quebraste a prome
ar comigo. Mas os meus pais já me disseram que eu é que fico com a tua fortuna e vão da
es farão o que tem de ser feito!– Já sou casada – murmurou Evie, meio sufocada pela montanha de carne humana que a c
mo se estivesse a ser engolida inteira por uma qualquer exótica criatura mar inha.
– O casamento não vale. Vamos mandar anulá-lo. Por isso , como vês, o teu plano de estr
nha vida não resultou.
Eustace parecia um rapazinho malcriado ao continuar:
– É melhor não me contrariares, pr ima. O meu pai disse-me que posso fazer o que quiser co
ando estivermos casados. Que tal se eu te fechar num armário durante uma semana inteira?
Evie não conseguia respirar ar suficiente para lhe responder. Os pesados braços
mprimiam-na contra a massa enorme do seu estômago e barriga. Lágrimas de dor e dese
diam-lhe nos cantos dos olhos, enquanto tentava desvairadamente soltar-se da prisão à vol
scoço.
Através dos zumbidos nos seus ouvidos, ela ouviu novos sons no exterior, gritos e praga
ente a porta da carruagem foi arrancada dos gonzos – literalmente! – e alguém saltou lá
ntro. Evie contorceu-se para ver quem era. O fôlego que lhe restava foi expelido numa espé
uço, ao reconhecer o brilho familiar de um cabelo loiro.
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Era Sebastian, como ela nunca o vira antes. Não desprendido e senhor de si, mas em poder d
va que lhe estremecia os ossos. Os olhos estavam pálidos como os de um réptil e um
assino focava-se em Eustace, cuja respiração começou a tremer nervosamente por trás das p
chonchudas do seu queixo.
– Larga-a! – disse Sebastian, com voz rouca de fúria. – Já, meu monte de merda, ou arranc
beça!
Parecendo acreditar que Sebastian estava ansioso por cumprir a ameaça, Eustace larg
scoço de Evie, que se precipitou para os braços de Sebastian, aspirando ar com sofreguidã
parou-a com um murmúrio tranquilizador.
– Pronto, querida, já está em segurança.
Evie sentiu os frémitos de raiva que perpassavam continuamente pelo corpo dele.
Sebastian lançou novo olhar assassino a Eustace, que tentava encolher a sua gelatinosa m
rporal na parte mais afastada do assento.
– Da próxima vez que te vir – disse Sebastian, com ferocidade –, sejam quais fore
cunstâncias, mato-te! Não há leis, nem armas, nem o próprio Deus que consigam evrtanto, se tens algum amor à vida, não deixes que o teu caminho se volte a cruzar com o meu
Deixando Eustace num estado trémulo de pavor mudo, Sebastian tirou Evie do veículo. Ela
arrada a ele, tentando normalizar a respiração, olhando ainda apreensivamente à sua volta. A
recia, Cam fora alertado pelo barulho e mantinha agora os dois tios em sentido: Brook
endido no chão, enquanto Peregrine, vermelho de raiva e de surpresa, recuava aos trope
do sido visivelmente empurrado com violência.
Evie voltou a cara sobre o ombro do marido. Sebastian parecia literalmente fumegar de ragelado batendo contra a sua face ao rubro, transformava-lhe a respiração em jatos de
anco. Olhou-a atentamente numa inspeção rápida, mas meticulosa, as mãos percorre
emente, o olhar concentrado na sua face pálida. E, num tom de voz espantosamente
urmurou:
– Está bem, Evie? Olhe para mim, meu amor… isso. Querida, fizeram-lhe algum mal?
– N-n-não – Evie não tirava os olhos dele. – O meu tio Peregrine… – sussur rou – … é
te.
– Eu trato dele – assegurou Sebastian. E, chamando Cam: – Rohan! Vem buscá-la.
O rapaz obedeceu imediatamente, aproximando-se de Evie com passos longos e fl
meçou a falar-lhe numa língua desconhecida, numa voz que lhe acalmava os nervos. Ela h
es de o seguir, lançando um olhar preocupado para Sebastian.
– Está tudo bem – disse ele, sem a olhar, fixando com os olhos gélidos a figura bovi
regrine. – Vá…
Mordendo o lábio, Evie tomou o braço de Cam, deixando que ele a afastasse dali.
– Que amável em fazer -nos uma visita, tio… – disse Sebastian. – Veio felicitar-nos,
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rdade?
– Eu vim buscar a minha sobrinha – rosnou Peregrine. – Está prometida ao meu filho. O
amento ilícito não vai aguentar-se.
– Ela é minha! – exclamou Sebastian. – E você não pode ser tão estúpido ao ponto de pensa
a deixaria ir sem retaliar.
– Eu vou mandar anular esse casamento – assegurou Peregrine.
– Isso só seria possível se o casamento não tivesse sido consumado. E eu posso garantir-lh
.
– Temos um médico que se comprometeu em testemunhar que o hímen dela ainda está intact
– P’ró diabo que o carregue! – disse Sebastian, num tom arrepiante e jocoso. – Calcula o g
comentários que isso ia acarretar a meu respeito? Trabalhei muito para cultivar a minha repu
abos me levem se permitir qualquer sugestão de impotência que me prejudique!
Sacudiu fora o casaco com um movimento de ombros e atirou-o a Cam, que o apanhou com
mão. O olhar assassino de Sebastian nunca largara o rosto lívido de Peregrine.
– Já lhe ocorreu que eu a possa ter engravidado?– Nesse caso, isso também tem remédio.
Sem compreender totalmente o que o tio queria dizer com aquilo, Evie recuou para o
otetor de Cam que a cingiu, olhando Peregrine com um raro brilho de ódio nos seus
urados.
– Não se preocupe, minha quer ida – murmurou ele para Evie.
À vil sugestão de Peregrine, Sebastian corou e os seus olhos brilharam como vidro estilhaça
– Encantador… – disse ele. – Pois saiba que prefer ia matá-la a deixá-lo ficar com ela.Perdendo qualquer vestígio de autocontrolo, Peregrine precipitou-se contra ele com um rugi
– Eu atravesso-te de lado a lado se for preciso, seu filho de uma rameira gabarolas!
Evie estremeceu quando Sebastian se afastou do tio que avançava como um touro, esperand
invertesse a marcha.
– Que estúpido… – ouviu ela Cam murmurar. – Devia ter-lhe passado uma rasteira.
Mas o rapaz calou-se, enquanto Sebastian conseguia a custo bloquear o golpe do punho mac
regrine, para a seguir lhe lançar um soco rápido e certeiro no maxilar. Demolidor como pa
o golpe, resultou ter pouco efeito sobre o volumoso tio de Evie. Horrorizada, ela assistiu à
cando uma série de golpes e murros rápidos. Embora Sebastian fosse muito mais ágil, Pere
nseguiu acertar uns tantos golpes duríssimos, obrigando Sebastian a recuar sob o impacto.
Os empregados começaram a sair do clube, soltando gritos de encorajamento a Seba
quanto alguns transeuntes curiosos se aproximavam da origem do barulho. À volta dos br
mou-se um vasto círculo e o ar ressoava com gritos e apupos.
Evie agarrou-se com força ao braço de Cam, que lhe rodeava cintura.
– Cam, faz qualquer coisa! – pediu ela.
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– Não posso.
– Tu sabes lutar. O meu pai sempre disse…
– Não! – disse Cam, severo. – A luta é dele. Se eu me intrometesse agora, iria parecer que e
nsegue bater-se sozinho contra o seu tio.
– Mas é que não consegue mesmo!
Evie estremeceu ao ver Sebastian tropeçar para trás após outra brutal revoada de soc
regrine.
– Não lhe está a fazer justiça – disse Cam, que não tirava os olhos da luta, vendo Seb
ançar de novo. – Ele… ora aí está! Grande gancho de direita! E um bom jogo de pés, també
mens daquela altura não costumam mexer-se tão depressa! Se ele ao menos conseguisse…
se foi uma opor tunidade perfeita!
De repente soltou um grito de aprovação, vendo Sebastian abater Peregrine com uma
querda no queixo.
– Ora aí está! – exclamou. – Ele tem força e tem pontaria… o que lhe falta é um treino decen
Reduzido a um monte de gemidos no meio do chão, Peregrine parecia nem se apercebmem de expressão dura que se encontrava de pé, junto dele.
Apercebendo-se de que a luta acabara, os empregados do clube ousaram avançar com grit
rovação e palmadas nas costas de Sebastian, dizendo-lhe que, afinal, ele não era o peralvilh
dos julgavam.
Sebastian recebeu aquele duplo elogio com uma expressão sardónica e despachou rapidame
regamento dos seus contendores vencidos para dentro da carruagem.
Cam aproveitou para virar Evie para si.– Diga-me como começou tudo isto. Já, antes que o seu marido aqui chegue.
Rapidamente, Evie explicou como Bullard a tinha levado a descer as escadas e, literalme
ha entregado nas mãos dos tios a troco de uma libra de ouro. O seu relato tomou a forma d
guejar intermitente, mas Cam conseguiu seguir a atabalhoada explicação.
– Pronto, está bem – murmurou ele, sem expressão no rosto. – Eu trato do Bullard. E agora
m St. Vincent. Ele precisa de si… Os homens sentem-se sempre cheios de seiva depois de um
mbate.
Evie, confusa, sacudiu a cabeça:
– Seiva? Como assim? Não faço ideia do que estás a falar.
Um súbito ar divertido brilhou nos olhos dele:
– Mas vai fazer… creia-me.
Antes que ela pudesse pedir mais explicações, Sebastian chegou junto deles. Ao que pareci
ava satisfeito por ver Evie nos braços de Cam. A sua expressão era carrancuda.
– Quero saber o que aconteceu – disse ele, furibundo, puxando Evie para si com um
ssessivo. – Ausento-me por duas horas numa calma manhã de domingo e dou com isto?
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e…
– My lady pode explicar – interrompeu Cam, olhando por cima do ombro de Sebastian e v
uém no pátio da cavalariça. – Com a vossa licença, tenho de ir tratar de uma coisa…
Saltou habilmente por cima da cerca baixa e desapareceu no meio da multidão.
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Capítulo 12
Cam encontrou Joss Bullard perto do pátio do estábulo e aproximou-se dele cautelosam
llard arfava, de narinas abertas, o branco dos olhos exagerado. Os dois homens nunca haviam
igos. A relação entre eles fora sempre mais de irmãos-inimigos vivendo sob o mesmo teto
nner como figura parental. Enquanto crianças, tinham brincado e brigado juntos. Como ad
ham trabalhado lado a lado. Depois dos muitos atos de generosidade que Jenner tivera
llard, Cam jamais teria esperado que ele se comportasse assim. Uma fúria confusa enreda
ntro de si e abanava a cabeça ao olhar Bullard.
– Não percebo como foste capaz de a entregar aos tios – começou Cam –, ou o que é que jul
nhar com isso…
– Ganhei uma libra de ouro – disparou Bullard. – E ainda bem q’ue nos livrámos daquelaota.
– Tu estarás doido?! – perguntou Cam, enraivecido. – Estamos a falar da filha do Jenner
has o direito de o fazer, nem por uma for tuna!
– Ela nunca fez nada p’lo Jenner – interrompeu Bullard, furioso – nem p’lo clube. Chega aq
imo momento, pr’ó ver bater as botas e depois fica com tudo p’ra ela! Rai’s partam essa
proada, mais o palerma do marido!
Cam ouvira com atenção, mas não conseguia entender o motivo da inveja de Bullard. Um camente entendia o ressentimento contra os bens dos outros. O dinheiro só servia para o p
mporário de o gastar. Na tribo errante a que Cam pertencera até aos doze anos de idade, ningu
mbrara de desejar mais do que aquilo que lhe era necessário. Um homem só podia usar um f
valgar um cavalo de cada vez.
– Ela era a única filha do Jenner – respondeu Cam. – Nem tu nem eu temos nada que ver c
e ele lhe deu. Mas nada é pior do que trair a confiança de uma pessoa que depende da
oteção. Traí-la… ajudar alguém a levá-la contra vontade…
– Voltaria a fazê-lo! – disse Bullard, cuspindo para o chão entre os dois.
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Cam olhou atentamente para o outro e percebeu que ele não parecia estar nada bem. Estava p
xausto, os olhos baços…
– Estás doente? – perguntou Cam. – Se estás diz-me. Eu falo com Lord St. Vincent a teu
vez consiga…
– Rai´s te par tam! Ainda bem q’ue estou livre de ti, meu cigano de merda! Livre de ti e de
nte!
O ódio violento na voz de Bullard não deixava espaço para dúvidas. Quanto a ele, não havia
uar. Agora, a única questão era se o devia agarrar pelos colarinhos e arrastá-lo para o clu
xá-lo fugir. Lembrando-se do brilho sinistro no olhar de St. Vincent, Cam percebeu qu
meira oportunidade, o visconde poderia inclusivamente chegar a matar Bullard, o que acarr
ma série de sarilhos para toda a gente, especialmente para Evie. Não, o melhor a fazer seria d
e Bullard desaparecesse.
Ao olhar para a cara plena de ódio do rapaz que ele tinha conhecido durante tantos anos,
anou a cabeça, irado e desapontado. A sua gente chamava àquilo uma alma perdida… a essên
m homem apanhado na armadilha de um reino sombrio. Mas como podia ter aquilo acontecllard? E quando?
– É melhor que não te aproximes do clube – murmurou Cam. – Se St. Vincent te apanha…
– Esse canalha pode apodrecer no inferno! – rosnou Bullard, tentando dar -lhe um soco de ra
Evitando o punho com um reflexo surpreendido, Cam encostou-se à parede do estábulo e
tro virar-se e fugir.
A sua atenção foi desperta pelo relinchar nervoso de um cavalo preso a um poste ali perto e
endeu a mão, afagando o pescoço acetinado do baio. Os anéis de ouro nos seus dedos cintilada tarde.
– Era um homem tonto – disse Cam suavemente ao cavalo , acalmando o animal com a vo
ue.
Mas um suspiro escapou-lhe ao pensar mais além.
– Jenner deixou-lhe uma herança… e prometi que me encarregaria de lha entregar. E agora,
ue eu vou fazer?
Sebastian puxou Evie para dentro do clube, onde reinava um silêncio inquietante, após o tu
rua. Ela esforçava-se por acompanhar as passadas dele, ao ponto de ter a respiração entreco
ando subiram à sala de leitura no andar principal. As prateleiras de mogno embutidas est
eias de volumes encadernados em pele. Encostados à parede, os mais variados jornais e re
ndiam de armações feitas com filas de cavilhas amovíveis. Empurrando Evie para dent
arto, Sebastian fechou-se com ela com um bater de por ta decisivo.
– Alguém a magoou? – perguntou, áspero.
– Não. – Evie tentou refrear as suas palavras, mas elas saíram-lhe num jato de ressentime
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r que razão se ausentou durante tanto tempo? Eu precisei de si e o senhor não estava!
– A senhora tinha trinta empregados para a proteger. E para começar, porque é que desce
us aposentos? Devia ter permanecido lá até saber de certeza quem é que estava lá fora!
– O Bullard disse-me que a Annabelle Hunt estava à minha espera. E quando me apercebi d
o meu tio, o Bullard não me deixou voltar para dentro de casa. Foi ele que me empu
eralmente, para os braços do meu tio!
– Meu Deus! – exclamou Sebastian, atónito. – Vou estripá-lo, esse raio desse…
– … e enquanto tudo isso acontecia, – continuou Evie, enfurecida – o senhor estava na cam
a prostituta!
Mal aquelas palavras lhe saíram da boca, ela percebeu que isto era o mais grave de tudo…
portante até do que a cilada de Bullard ou o ataque do tio: as suas emoções explodiam pera
to de Sebastian a ter traído tão cedo com outra mulher.
Sebastian olhou-a com uma súbita intensidade:
– Como? Mas eu não estava…
– Não minta! – disse Evie. E a fúria de ambos cruzou-se no ar. – Eu sei que estava!– E como raio pode ter a certeza?
– Porque o senhor esteve em casa de Madame Bradshaw durante mais de duas horas!
– Estivemos a tratar de negócios. A falar, Evie! Se não acredita pode ir para o raio que a
rque se eu tivesse realmente dormido com alguém, garanto-lhe que estaria muito
scontraído do que estou agora.
Ao olhar para os olhos de Sebastian, que estavam tão duros como um lago gelado, Evie se
a indignação começar a desaparecer. Não tinha remédio senão acreditar nele – a sua indido era óbvia.
– Oh… – murmurou ela.
– Oh? É tudo o que tem a dizer?
– Acho que… suponho que não devia ter tirado conclusões precipitadas. Mas conhecendo
ssado, calculei…
Aquele pedido de desculpas tão desastrado pareceu gastar os últimos restos de autodomín
bastian.
– Pois os seus cálculos estavam errados! Se é que ainda não reparou, estou com um trabalh
bos a cada minuto de cada dia. Não tenho o raio do tempo para uma fornicadela. E se tivesse…
Parou abruptamente. Qualquer parecença com o elegante visconde que Evie em tempos obs
longe no salão de Lord Westcliff, desaparecera. Ele estava amarrotado, magoado e fu
recia respirar com dificuldade.
– Se tivesse… – Parou de novo e uma vaga de rubor atravessou-lhe as maçãs do rosto e o na
Evie viu o momento exato em que em que o autodomínio dele lhe escapava. Alar
cipitou-se para a porta fechada, mas, mesmo antes de dar um passo, achou-se agarrada e cr
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ntra a parede pelas mãos e pelo corpo de Sebastian. O cheiro a suor da roupa interior d
mem excitado encheu-lhe as narinas.
Assim que a apanhou, Sebastian encostou a boca entreaberta contra a pele fina da têmpora d
piração dele alterava-se. Após um instante de pausa, Evie sentiu o toque elétrico da língua d
nta da sua sobrancelha. Aquele arfar contra o pequeno ponto húmido provocou nela uma on
o e calor que lhe causou arrepios por todo o corpo. Devagar, ele levou a boca até à orelha
rcorrendo-a com a língua.
O murmúrio dele pareceu vir dos recantos mais escuros do pensamento dela.
– Nesse caso… eu já teria despedaçado as suas roupas com as mãos e com os dentes, até
a… Por esta altura, já a teria empurrado contra o tapete e posto as minhas mãos nos seus se
ra os levar à minha boca. Estaria agora a beijá-los… a lambê-los… até os bicos ficarem
mo pequenas framboesas e então ir ia mordê-las com muito jeito… com tanta meiguice…
Evie sentiu que se abandonava num doce esvair, enquanto ele continuava num murmúrio
– … ir ia beijá-la por aí abaixo, pelas suas coxas, pouco a pouco… e quando chegasse àq
ces caracóis ruivos… continuaria a lambê-la mais fundo e mais fundo… até encontrar a perola do seu clítoris… onde descansaria a minha língua até o sentir latejar. E faria círculos c
gua… até me suplicar… então começaria a chupar. Mas não com força… Não lhe faria
rcê… Seria tão leve e tão terno… que a faria gritar de necessidade de se vir… então enfi
nha língua toda dentro de si… saboreando-a… comendo-a. Não iria parar até todo o seu
ar molhado e a tremer. E quando a tivesse torturado a meu contento… iria abri-lhe as per
rar ia dentro de si, possuindo-a… possuindo-a…
Sebastian calou-se, colando-a contra a parede, ambos gelados, excitados, ofegantes. Porguntou-lhe, numa voz quase inaudível:
– Está molhada, não está?
Se fosse fisicamente possível corar mais, Evie teria rebentado. A sua pele ardia de pudor vi
compreender o que ele estava a perguntar. Inclinou o queixo numa confissão o mais t
ssível.
– Desejo-a mais do que jamais desejei fosse o que fosse à face da terra… – Sebastian tev
piração trémula. – Diga-me o que eu tenho de fazer para me deixar entrar na sua cama.
Evie empurrou-o sem resultado, incapaz de aliviar o peso estimulante do corpo dele.
– N-n-não há nada que possa fazer. O que eu quero é aquilo que não me pode dar. Q-quero q
a fiel e nunca poderia sê-lo…
– Posso, sim!
Mas aquela afirmação soou fácil de mais. Tresandava a insinceridade.
– Não me parece – murmurou ela.
As longas mãos dele curvaram-se à volta do seu rosto, os polegares afagando-lhe as faces.
ca quase tocava a dela:
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– Evie… não posso prestar-me à nossa combinação. Não posso viver consigo, vê-la todo
… não a possuir. Não posso…
Ao sentir as pequenas tremuras que passavam pelo corpo dela, ele baixou a cabeça e beijou
scoço. Os sentidos dela responderam ao calor persuasivo da boca dele, tão erótico e tão te
s dedos inquiridores que roçavam a curva dos seus seios.
Ao ouvir o seu gemido, St. Vincent tomou-lhe a boca num beijo fogoso. Debilmente, ela afa
a, com os lábios a tremer daquela fricção deliciosa.
– Sebastian, não…
Ele esfregou a cara no cabelo dela, contra o topo da cabeça. Qualquer coisa naquela situação
a própria reação, deve ter despertado o seu sentido de humor, porque ele deixou escapar um
o sardónico.
– Vai ter de pensar como resolver isto, Evie. E pense depressa… porque de outra maneira…
ma pausa para lhe mordiscar a orelha. – …de outra maneira estou prestes a forn
saustinadamente!
Ela abriu os olhos de repente:– Essa palavra… – começou ela, indignada, mas ele calou-a com um beijo violento.
Ao afastar-se, Sebastian olhou-a, exasperado e divertido:
– É a palavra em si que objeta ou a ação a que ela se refere?
Aliviada ao ver que ele tinha retomado pelo menos parte da sua sanidade mental, Evie retorc
ra se libertar da pressão entre a parede e o corpo dele.
– Objeto o facto de o senhor me desejar unicamente porque não estou disponível – e isso, p
ma novidade…– Essa não é a razão – interrompeu ele.
Evie lançou-lhe um olhar de dúvida:
– Além d-d-disso, não quero fazer parte de um estábulo de mulheres que o senhor visita q
dá na veneta.
Subitamente Sebastian ficou calado, sem a ver, com o olhar perdido. Evie esperou, mo
paciência por vê-lo admitir que ela tinha razão. Esperou e esperou, até ele erguer lentam
beça e os seus olhos de um azul-inverno fitarem os dela.
– Muito bem – disse Sebastian, em voz baixa. – Aceito as suas condições. Serei…
onógamo.
Pareceu ter dificuldade com a última palavra, como se estivesse tentando falar uma l
rangeira.
– Não acredito – afirmou ela.
– Meu Deus, Evie! Imagina quantas mulheres têm tentado obter de mim essa promessa? E
e, pela primeira vez, me sinto preparado para experimentar a fidelidade, atira-me isso à
mito que tenho tido um passado prolixo com as mulheres…
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– Promíscuo – emendou-o Evie.
Ele fungou impaciente.
– Promíscuo, debochado, o que quiser chamar-lhe. Tenho-me diver tido à grande e Deus me
dizer que estou arrependido. Nunca levei para a cama uma mulher relutante, nem, que eu
xei alguma insatisfeita.
– Essa não é a questão – uma ruga cruzava a testa de Evie. – Eu não o censuro pelo seu pass
pelo menos… não estou a querer castigá-lo por isso.
Ele fez um gesto de dúvida que ela ignorou, continuando:
– Mas a verdade é que isso não o torna um candidato muito credível à fidelidade, não acha?
Ele respondeu mal-humorado:
– Mas o que quer de mim, afinal? Que peça desculpa por ser homem? Um voto de castida
e decida se sou digno dos seus favores?
Impressionada com aquela ideia, Evie olhou para ele. As mulheres sempre haviam sido
bastian, presas demasiado fáceis. Se ela o fizesse esperar, poderia ele perder o interesse? Ou
ssível que pudessem vir a conhecer-se um ao outro, compreenderem-se mutuamente de uma mpletamente nova? Evie precisava de saber se ele viria a apreciá-la para lá do interesse s
eria ter a oportunidade de ser algo mais do que uma simples parceira na cama.
– Sebastian – perguntou ela, cautelosamente –, alguma vez fez um sacr ifício por uma mulher
Ele parecia um anjo triste, assim virado para ela, encostado à parede, com um joelho ligeira
tido.
– Que género de sacr ifício?
Ela lançou-lhe um olhar irónico.– De qualquer género.
– Não.
– Qual foi o tempo máximo que esteve sem… sem… – Evie procurou uma palavra aceitáve
er amor?
– Eu nunca lhe chamo isso. O amor não é tido nem achado neste contexto.
– Quanto tempo? – insistiu ela.
– Talvez… um mês.
Ela pensou por um momento.
– Então, se conseguir não ter relações sexuais com uma mulher durante seis meses… aí si
rmo consigo.
– Seis meses?! – Sebastian esbugalhou os olhos e a seguir lançou-lhe um olhar de desa
erida, o que é que a faz pensar que vale meio ano de celibato?
– Talvez não valha – disse Evie. – Mas… o senhor é a única pessoa que pode responder
rgunta.
Sebastian, obviamente, teria adorado poder informá-la de que ela não valia a espera. Mas a
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ra ela um choque aperceber-se do quanto desejava tê-lo de novo ali.
Evie gemeu quando ele se descolou dela, criando em ambos uma terrível sensação de frustra
– Não disse que eu não podia beijá-la… – declarou Sebastian, com olhos brilhantes de p
bólico. – E é o que eu vou fazer, tantas vezes e durante o tempo que me aprouver… e a se
o vai soltar nem uma palavra de protesto. É essa a concessão que me vai dar em troca do cel
i’s a partam!
Sem lhe dar tempo para concordar ou objetar, ele largou-a e dirigiu-se a passos largos p
rta. – E agora, se me permite, vou matar o Joss Bullard.
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Capítulo 13
Sebastian encontrou Cam no hall de entrada para a sala de leitura.
– Onde está ele? – perguntou o visconde, sem mais preâmbulo.
Cam parou diante dele e disse secamente:
– Foi-se.
– Porque não o seguiste?!
Sebastian estava lívido de raiva. Aquela notícia, acrescida do seu forçado voto de castidade,
ima gota.
Cam, habituado a anos de convívio com o temperamento explosivo de Jenner, manteve-se se
– Não vi necessidade, na minha opinião. Ele não vai voltar.
– Eu não te pago para agires segundo o raio da tua opinião! Pago-te para obedeceres ao quego. Devias tê-lo arrastado pelos cabelos até aqui e deixar-me a mim decidir o que fazer a
nalha!
Cam manteve o silêncio, após ter deitado uma olhadela subtil a Evie que, no seu íntimo, se
stante aliviada com o rumo dos acontecimentos. Ambos sabiam que, se Cam tivesse arra
llard de volta para o clube, haveria uma verdadeira possibilidade de Sebastian efetivame
tar – e a última coisa que Evie desejava era uma acusação de assassínio sobre a cabeça do ma
– Quero que mo encontres! – disse Sebastian, com veemência, caminhando para cá e paraa de leitura. – Exijo, no mínimo, dois homens contratados para o procurar dia e noite a
zerem! Faço questão que ele sirva de exemplo para quem quer que seja que sequer pens
antar um dedo contra a minha mulher!
Levantou o braço, apontando para a porta:
– Traz-me uma lista de nomes dentro de uma hora! Quero os melhores detetives possíve
vados! – Não quero cá nenhum idiota da Polícia que estrague isto, como é hábito! Vai!
Embora Cam tivesse, sem dúvida alguma, opinião para sugerir a este respeito, não o fez. S
a imediatamente, seguido pelo olhar feroz de Sebastian.
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Tentando acalmar aquela ira crescente, Evie aventurou-se:
– Não precisa descar regar a sua cólera sobre o Cam. Ele apenas…
– Não tente defendê-lo! – disse Sebastian. – Sabe tão bem quanto eu que ele poderia perfeita
apanhado aquela ratazana, se quisesse. E raios me partam se vou continuar a tolerar que o
o nome próprio! Ele não é seu irmão, nem tão pouco um amigo da nossa intimidade. Não pa
m empregado e de hoje em diante a senhora vai passar a tratá-lo por Mr. Rohan. Entendido?!
– Mas engana-se! O Cam é, efetivamente, um amigo – replicou Evie, indignada. – E já o
uitos anos!
– As mulheres casadas não fazem amizade com rapazes solteiros.
– O senhor at-t-reve-se a insultar a minha honra com suspeitas que…?
Evie viu-se incapaz de continuar, dada a quantidade de protestos que se levantaram dentro de
– Nada fiz para merecer essa sua falta de c-c-confiança!…
– Eu confio em si. A questão é que não confio em mais ninguém.
Suspeitando que ele estivesse a fazer troça dela, Evie enfrentou-o, indignada:
– O senhor está a comportar-se como se eu fosse habitualmente perseguida por uma procissmens, o que não é, manifestamente, o caso! Devo recordá-lo que em Stony Cross Park os ho
giam de mim como o diabo da cruz – e o senhor era um deles!
A acusação – se bem que verdadeira – pareceu chocar Sebastian. As suas feições endurece
olhou-a com um silêncio oco e pesado.
– A Evie não deixava que fosse propr iamente fácil aos outros aproximarem-se de si… – diss
ós um momento. – A vaidade de um homem é mais frágil do que se pensa. Para nós é mai
nfundir timidez com frieza – e silêncio com indiferença. E também poderia ter feito um esbe? Um encontro breve entre nós… um sorriso seu… era todo o encorajamento de qu
cisava para saltar sobre si como um gato.
Evie olhou-o espantada, pois nunca considerara o assunto visto àquela luz. Seria possível qu
ópria fosse, em parte, responsável pela sua eterna sina de encalhada?
– Suponho… – disse ela, pensativa –… que realmente poderia fazer um esforço para dom
nha timidez, sim.
– Faça como bem entender. Mas quando se vir na presença do Rohan – ou qualquer outro h
melhor que não esqueça que me pertence completamente.
Tentando interpretar aquele comentário, Evie olhou-o com espanto.
– O senhor tem… Será possível… que tenha ciúmes de mim?!
Um súbito desconcerto passou pelo rosto de Sebastian.
– Sim – concedeu, ainda que muito contrar iado. – Tudo parece indicar que sim.
E lançando sobre Evie um olhar meio perplexo, meio de desagradado, saiu da sala.
O funeral decorreu na manhã seguinte. Sebastian preparara o evento da melhor forma pos
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do conseguido alcançar o equilíbrio perfeito entre uma dignidade sóbria e uma ligeira p
tral. Era o género de desfile que Jenner teria, sem dúvida, adorado, tão extenso que ocupava
gura de St. James Street.
A carruagem fúnebre era preta e dourada, puxada por quatro cavalos, seguida por dois coch
o, igualmente puxados por quatro cavalos, com as bridas ornamentadas com grandes plum
estruz tingidas de preto. O belíssimo caixão de carvalho, adornado com pregos de latão e
trosa placa inscrita, era forrado de chumbo e soldado, para impedir a intrusão dos ladrõ
mbas, um problema grave e muito comum nos cemitérios londrinos. Antes de fechar a tampa
orpo do pai, Evie vira nos dedos dele um dos anéis de Cam, uma oferta de despedida que m
ocionou. Mas o que realmente a tocara fora ver Sebastian rapidamente a alisar com um pe
belo do pai, quando cuidava não estar a ser visto.
O frio era terrível. Um vento gelado penetrava no pesado casaco de lã de Evie, que seg
valo, enquanto Sebastian, a pé, se mantinha a seu lado, segurando as rédeas. Duas dúzias de ho
vindo de pajens, cavalariços e cocheiros seguiam no fim do cortejo, os seus bafos como peq
vens brancas no ar frio do princípio do inverno. Eram seguidos por um extenso corteompanhantes, numa curiosa mistura de gente abastada, negociantes, fidalguia duvido
inquentes sortidos. Estavam presentes amigos e inimigos. Fosse qual fosse a ocupação
posição, a tradição do enterro tinha de ser cumprida.
Esperava-se que Evie não assistisse ao funeral, pois a natureza feminina era consid
masiado delicada para aguentar tão dura realidade. Mas Evie insistira em participar. Seb
meçara por opor-se, até Cam intervir:
– O Ivo Jenner necessita ser libertado dos grilhões do desgosto da sua filha – explicara o cigbastian, quando a discussão se tornara mais acesa. – Os Romani acreditam que se alguém
masiado por um ente querido morto, este será forçado a regressar para tentar consolá-l
istir ao funeral ajudar a sua esposa a deixá-lo partir… – calou-se, encolhendo os ombros.
Sebastian fulminara-o com o olhar.
– Lá vêm novamente os fantasmas… – resmungou, irritado. Mas deixou cair o assunto, ce
desejo de Evie.
Tendo chorado tudo o que havia para chorar, Evie conseguiu manter-se estoica durante o fu
smo quando a terra foi lançada sobre o caixão. Apenas derramou algumas lágrimas teimos
mento em que Cam se aproximou do caixão, com um pequeno frasco de prata. De acordo
dição da etnia cigana, verteu solenemente uma porção de brandy sobre a sepultura.
Irado com aquele gesto, o velho clérigo que conduzia a cerimónia avançou um passo, ralhan
– Pare com isso! Não queremos aqui essas práticas pagãs! A conspurcar um local sagrado
ool barato…por Deus!
– Sir… – interrompeu Sebastian, dando um passo em frente e pousando a mão no ombro do
Não me parece que o nosso amigo Jenner se tivesse importado. – E deixou que um s
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nspirador lhe assomasse aos lábios ao acrescentar: – Trata-se de brandy francês de uma exc
heita. Permita-me mandar entregar algumas garrafas à sua residência, para que
perimentá-lo?
Apaziguado pelo derrame de charme e gentileza do visconde, o clérigo sorr iu-lhe também:
– É muita bondade sua, my lord. Agradeço-lhe.
Quando a maior parte dos acompanhantes tinha já partido, Evie lançou um olhar sobre as lo
as e a fábrica que rodeavam a praça. A sua atenção foi subitamente captada pelo rosto d
mem, de pé, sob um candeeiro, do outro lado da praça.
Vestido com um casaco escuro e com um sujo gorro cinzento, não era reconhecível, até qu
riso lento lhe descobriu as faces.
Era Joss Bullard, verificou ela, alarmada. Poderia parecer que pretendia prestar uma ú
menagem a Ivo Jenner, mesmo que só à distância, mas a sua expressão não era de luto. P
sitivamente uma visão de maldade, o rosto torcendo-se numa expressão de malícia que fez a j
ntir um arrepio na espinha. Olhando-a diretamente, passou um dedo na horizontal traçan
scoço – um gesto inequívoco, que a fez dar, involuntariamente, um passo para trás.Ao reparar naquele movimento, Sebastian voltou-se instintivamente para ela, segurando-l
mbros nas mãos enluvadas de preto.
– Evie?… – murmurou, preocupado ao reparar na palidez dela. – O que foi? Sente-se bem?
Evie acenou afirmativamente, deixando que o olhar se voltasse de novo para o candeeiro. B
saparecera.
– Só t-tenho um pouco de f-frio… – respondeu, tremendo, enquanto uma rajada de ven
rava para trás o capuz do casaco.Sebastian puxou-lhe imediatamente o capuz para cima, cingindo-lhe mais o casaco jun
scoço.
– Vou levá-la para casa – disse. – Preciso apenas de distribuir rapidamente umas moedas
cheiros e cavalariços e depois vamos para casa.
Tirou do sobretudo uma pequena bolsa de cabedal e dirigiu-se ao grupo de homen
uardavam respeitosamente perto do túmulo.
Reparando no ar angustiado de Evie, Cam aproximou-se dela, ainda com um traço de lágrim
to. Ela agarrou-lhe a manga e murmurou:
– Acabo de ver o Bullard… Ali, junto ao candeeiro.
Os olhos de Cam abriram-se de apreensão e acenou afirmativamente. Não houve oportunida
er mais nada. Sebastian regressou, pondo a mão ao redor dos ombros de Evie.
– A carruagem espera-nos, minha querida – disse ele.
– Não era necessário carruagem alguma – protestou ela. – Eu podia ir a pé.
– Disse-lhes para prepararem o aquecedor de pés – disse ele, sorrindo ao ver a reação d
pois para Cam: – Acompanha-nos na carruagem.
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– Obrigado, sir – disse o rapaz, num tom frio, mas cortês. – Prefiro ir a pé.
– Vemo-nos no clube, então.
– Sim, my lord.
Enquanto acompanhava Sebastian até à carruagem, Evie fez questão de não olhar para
rguntava a si própria se Cam conseguiria encontrar Bullard e o que aconteceria se o encont
biu para a carruagem e dispôs rapidamente as saias à volta do aquecedor, estremecendo de p
sentir as vagas de calor subirem até aos joelhos. Sebastian sentou-se junto dela com um
riso nos lábios.
Recordando aquela louca viagem até Gretna Green – que não tivera lugar há tanto tempo q
o – Evie pensou que parecia já ter passado uma eternidade desde então. Encostou-se a Sebas
ou grata por ele não se desviar.
– Aguentou-se bem, apesar de tudo – disse-lhe ele, docemente, quando a carruagem come
dar.
– Foi o funeral mais bonito e refinado que jamais vi – respondeu ela. – O Pai teria adorado.
Sebastian respondeu, num tom levemente divertido:– Na dúvida, resolvi errar para o lado do excesso, esperando que lhe agradasse, a ele. H
es de continuar: – Amanhã vou mandar esvaziar completamente os aposentos do seu
scascar e revestir as paredes. Só assim nos veremos livres do cheiro a quarto de doente.
– Uma excelente ideia.
– O clube reabre dentro de quinze dias. Vou deixá-la ficar até lá, para ter tempo de se habi
rte do seu pai. Mas assim que o Jenner’s reabrir, faço questão que se instale confortavelmen
nha casa da cidade.– Como? – Surpreendida com aquela declaração, Evie endireitou-se para o olhar de fre
uela em Mayfair?
– Sim. Está bem equipada e completamente fornecida de pessoal. Se não lhe agradar, pod
ocurar outra coisa, mas entretanto vai ter mesmo de lá ficar.
– E está a pensar… ir viver comigo?
– Não. Eu mantenho-me no clube. É muito mais prático para tratar de todos os assuntos.
Evie tentou interpretar aquela aparente indiferença. Qual seria a razão desta súbita frieza? El
havia incomodado… tinha feito muito poucas exigências, não obstante o luto. Confusa e zan
xou os olhos, torcendo os dedos enluvados.
– Eu… quero ficar – disse ela, em voz baixa.
Sebastian abanou a cabeça.
– Não há qualquer razão para isso. Não é precisa aqui. É melhor para todos que vá viver par
a normal, onde poderá receber as suas amigas e não ser acordada a altas horas pelo ba
ernal das salas de jogo.
– Eu durmo bem. O barulho não me in-incomoda. E posso perfeitamente receber as mi-m
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igas no clube.
– Não abertamente…
Ele tinha razão, mas isso não fazia diferença. Evie ficou calada, enquanto aquela frase
ecisa aqui, lhe fazia um eco terrível na cabeça.
– Quero que viva num ambiente seguro e respeitável – prosseguiu Sebastian. – O Jenner’s
gar para uma senhora e a Evie sabe disso.
– Eu não sou… uma senhora – contestou Evie, optando por um tom de leve ironia. – Sou fi
m jogador profissional e… esposa de um salafrário.
– Mais uma razão para a afastar da minha influência.
– Mesmo assim… não estou disposta a ir embora. Talvez possamos discutir essa hipótese lá
ra a primavera, mas até lá…
– Evie – disse ele, calmamente. – Não lhe pedi a sua opinião.
Ela ficou rígida e afastou-se dele ligeiramente. Um quarto inteiro cheio de aquecedores não
o suficiente para derreter o gelo que lhe cobria as veias. O seu espírito proc
sesperadamente argumentos que o pudessem dissuadir… mas ela tinha de admitir que elezão: não havia motivos para ela permanecer no clube.
Apertava-se-lhe a garganta ao pensar que, por esta altura, já deveria estar habituada a isto…
er falta a ninguém, a estar só. Mas então, por que diabo aquilo ainda a magoava tanto? Com
sejava ser como Sebastian, com uma placa de gelo a proteger-lhe o coração…
– E o nosso acordo? – perguntou ela, abatida. – Pretende ignorá-lo ou…
– Oh não! Vou viver casto como um monge, até chegar a altura de reclamar a minha recom
as será mais fácil para mim resistir à tentação consigo fora do meu alcance.– Talvez eu não resista à tentação – ouviu-se Evie murmurar. – Quem sabe não encontr
valheiro prestável para me fazer companhia… Não se importava, pois não?
Até aquelas palavras lhe saírem da boca, nunca teria pensado ser capaz de as proferir. M
cessidade desesperada de o magoar, de o irritar, de o atingir nas suas emoções, revelara-se
te. Mas a tentativa falhara. Após um instante de silêncio, ela ouviu a resposta dele, num tom
mo seda:
– Absolutamente nada, minha querida. Seria deveras egoísta da minha parte negar-lhe
vertimento no seu tempo privado. Faça como melhor lhe aprouver… contanto que esteja
ando eu precisar de si.
*
Por trás das ruas modernas e elegantes, das praças respeitáveis das áreas opulentas de Lon
via um mundo oculto de vielas escuras e pardieiros em declínio, onde parte da humanidade
total sordidez. O crime e a prostituição eram os únicos meios de sobrevivência naqueles lu
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ar fedia a lixo e canos de esgoto e os edifícios estavam tão apertados uns contra os outros, qu
zes só se conseguia passar entre eles caminhando de lado.
Cam aventurava-se cuidadosamente entre o intrincado labirinto de ruas, atento à infinida
adas e perigos que esperavam qualquer visitante incauto. Passando um arco escuro, entrou
io com cerca de quarenta metros de comprimento por três de largura, limitado por gr
ruturas de madeira, cujos botaréus superiores se inclinavam para dentro, confundindo-se c
rdo céu de inverno. Os edifícios eram meras choças remendadas, pardieiros de ladr
gabundos, ou reles quartos de aluguer, onde as gentes sem lar dormiam amontoadas,
dáveres numa vala comum. Pedaços de cortinas apodrecidas pendiam dos botaréus. As rata
mexiam-se e corriam ao longo das paredes, desaparecendo nos buracos dos alicerces. No
mum não se via vivalma, à exceção de duas raparigas sentadas num degrau e umas tantas cri
queléticas que procuravam no lixo algum osso ou trapo perdidos. Ao verem Cam, lançara
hares curiosos e desconfiados, desaparecendo num ápice pelo canto mais afastado do pátio.
Uma das jovens prostitutas, de cabelo ruivo e encrespado, riu-se para ele, revelando rest
ntes partidos, e disse:– Qu’é q’um gajo alto e bem-parecido como tu vem fazer a Hangman’s Court ?
– Procuro um homem mais ou menos desta altura – Cam indicou um metro e setenta. –
belo preto. Entrou neste pátio há menos de um minuto.
As raparigas cacarejaram em uníssono, deliciadas.
– Olha só prá conversa deste… – disse uma delas, trocista.
– Lindo! – concordou a outra. – Vá lá, querido, p’ra que quer ’s tu um homem quando te
tar aqui com a Lulu Luxúria?Puxou a blusa para baixo, revelando um peito esquelético e uns seios descaídos.
– Não queres dar uma voltinha c’migo? Aposto q’até gostas.
Cam tirou do bolso uma moeda de prata, que ela seguiu com olhos esfaimados.
– Diz-me para onde é que ele foi.
– Digo-te, pois! Por duas dessas – disse ela. – Tens uns olhos bonitos, sabes? Nunca dei uma
um rapaz com olhos assim bonitos…
Uma gargalhada desagradável ecoou pelo pátio, seguida da voz trocista de Joss Bullard:
– Nunca me hás de apanhar, mestiço nojento!
Cam virou-se rapidamente, observando os edifícios onde dezenas de rostos sujos de fu
omavam a portas e janelas, ou espreitavam dos alpendres sem telhas. Não lhe foi po
onhecer ninguém.
– Bullard… – disse Cam, cautelosamente, voltando-se lentamente de modo a cobrir toda a c
que é que tu queres com a filha do Jenner?
Ouviu-se nova risada desagradável, esta parecendo vir de outra direção. Cam avançou p
ntro do pátio, incapaz de localizar Bullard.
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– Quero dar cabo dela!
– Porquê?
– Porqu’ela é uma sanguessuga q’me tirou tudo o qu’é meu! Quero vê-la morta! Quero
azanas a comam até não haver s’não ossos!
– Mas porquê?! – perguntou Cam, espantado. – Ela pediu-me para te ajudar, homem de
esmo depois de a teres traído daquela maneira. Quer honrar o pedido do pai de te deixar o ba
ra…
– Rai’s partam aquela cabra!
Cam abanava a cabeça, incapaz de compreender de onde vinha tanta hostilidade e o motivo
al Bullard mostrava uma raiva tão tresloucada para com Evie.
Ao ouvir um rangido atrás de si, o jovem cigano esquivou-se a tempo, no preciso instante e
ma tábua voava pelo ar e rasava o local onde, um segundo antes, estivera a sua cabeça. Porém,
cante não fora Bullard, mas sim um varredor de rua que resolvera, num impulso, experime
a sorte como assaltante de transeuntes indefesos. Tinha o aspeto peculiar de um jovem avelhe
e vivera na rua desde que nascera. Cam despachou-o em escassos e eficientes golpes, atirandoão como a um fardo. Uns quantos outros varredores surgiram do outro lado do pátio,
cidido, aparentemente, que o melhor seria atacar em grupo. Apercebendo-se do perigo,
irou-se para o arco por onde entrara, seguido pela voz de Bullard:
– Hei de apanhá-la, vais ver!
– Nem lhe hás de tocar com a ponta de um dedo – respondeu Cam, pleno de raiva impoten
çar uma última olhadela para o Pátio do Enforcado.
– Mando-te para o inferno antes que lhe toques com um dedo, sequer!– E eu arrasto-te comigo! – foi a resposta maldosa de Bullard, que continuava a r ir, enquanto
afastava.
Mais tarde, Cam procurou Evie, aproveitando o facto de Sebastian se encontrar ocupado co
upo de carpinteiros que restauravam o parqué de padrão intrincado da sala de jantar. Encon
vem no salão de jogo, remexendo, meio absorta, nas fichas de jogo, separando-as em pilh
smo valor. Cam aproximou-se dela com o seu felídeo passo, leve e silencioso.
Ela estremeceu ao ligeiro toque no braço e sorriu aliviada ao ver que era ele. Era ra
parar-se com Cam visivelmente perturbado; um rapaz da sua natureza prosaica não era d
siedades e ao torcer de mãos. Cam recebia cada momento quando ele chegava, vivendo no pr
mpre que possível. Contudo, os acontecimentos daquele dia tinham deixado marcas, revelando
são que o envelhecia momentaneamente.
– Não consegui apanhá-lo – disse Cam. – Desapareceu num pardieiro e falou-me lá de dent
curo. O que ele disse não faz o menor sentido. Parece ter um sentimento for te contra si,gadji,
endo porquê. Uma espécie de insanidade. Vou ter mesmo de alertar o St. Vincent.
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– Não, não faças isso! Por favor! – respondeu Evie, imediatamente. – Só serviria p
ocupar e enfurecer. Já tem bastante com que se preocupar, neste momento.
– Mas se o Bullard tentar fazer-lhe mal…
– Aqui eu estou segura, não é verdade? Ele não se atreveria a vir ao clube, Cam. Nunca
beça a prémio, como o meu marido prometeu.
– Existem entradas secretas no edifício.
– Não podes… trancá-las? Tapá-las?
Cam considerou a hipótese, de testa franzida.
– Sim, algumas delas. Mas não se trata apenas de eu andar a vaguear por aí noite após noite
m molho de chaves…
– Eu sei. Mas… faz o que puderes – disse Evie, passando um dedo desanimado por uma f
has. – No fundo, até nem tem importância, visto eu estar prestes a sair daqui. Lord St. Vincen
e eu vá na próxima semana. Não vê necessidade que viva aqui no clube, agora que o meu Pai…
E fechou-se num silêncio desolado.
– Talvez ele tenha razão – disse Cam, suprimindo do seu tom de voz qualquer réstia de piedte não é o sítio mais adequado para si. Muito menos o mais seguro.
– Ele não o faz por razões de segurança.
Os dedos de Evie torceram-se à volta de uma ficha preta e ela fê-la girar como um pião so
mpo da mesa.
– Fá-lo para… manter uma distância entre nós.
Evie sentiu-se ao mesmo tempo frustrada e animada pelo sor riso de Cam.
– Tenha paciência com ele… – aconselhou o jovem.E deixou-a a olhar para a ficha que girava, até o impulso se esgotar em imobilidade.
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Capítulo 14
Evie sentiu-se muito satisfeita com a atividade frenética e constante no clube durante os q
s que se seguiram, já que a ajudava a distrair-se do seu desgosto. Quando disse a Sebastia
staria de se tornar útil, foi imediatamente remetida para o escritório, onde a correspondênci
ros de contabilidade se apresentavam em pilhas desorganizadas. Foi também incumbida de or
ntores, decoradores, carpinteiros e pedreiros nas suas várias tarefas, uma responsabilidade qu
mpos, a teria aterrorizado. Falar com tantos estranhos revelou-se de início algo esgotante –
meiros dias viu-se forçada a lutar contra a sua gaguez. Contudo, quanto maior foi o esforço
il se tornou. Beneficiou do facto de todos os trabalhadores a escutarem com um misto de pac
espeito que nunca lhe haviam sido concedidos.
A primeira coisa que Sebastian fez imediatamente após o enterro de Ivo Jenner, foi reunir-scomissário da polícia, para debaterem o recente aperto das leis do jogo. Usando o seu n
canto persuasivo, Sebastian fez prevalecer a ideia de que o Jenner’s era um clube socia
ntrário de um clube especialmente dedicado aos jogos de azar. E por isso mesmo, não repres
género de local que devesse ser sujeito aos raids da polícia, visto os seus membros,
bastian solenemente os classificou, serem cavalheiros da máxima integridade. Influenciado
bil raciocínio de Sebastian, o comissário prometeu que não haveria inspeções ao Jenner’s enq
lube mantivesse uma aparência de respeitabilidade.Ao saber do sucesso de Sebastian junto do Comissário, Cam Rohan comentou, com admiraç
– Isso é que foi um truque catita, my lord! Começo a pensar que é capaz de persuadir seja
a fazer praticamente o que quer que seja.
Sebastian sorriu, divertido, e olhou para Evie, que estava sentada ali perto.
– Penso que Lady St. Vincent é a melhor prova disso mesmo.
Tudo se passava como se Sebastian e Cam tivessem decidido formar uma aliança com o pro
relançar o clube. As relações entre eles não eram propriamente amistosas, mas também j
m hostis. Cam teria certamente tomado nota das qualidades de chefia de Sebastian que, a b
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rdade, haviam sido preciosas naqueles dias após a morte de Ivo Jenner. Sebastian, por seu
andonara os seus ares de indolência típicos das classes superiores e tomara nas suas m
eção do clube, com autor idade e espírito de decisão.
Tal como seria de esperar, Sebastian era o género de homem que os empregados do
sprezavam, vendo-o, inicialmente, como um daqueles anjinhos ou pacóvios que frequent
inos. Um aristocrata mimado e auto-complacente que não fazia a mais pálida ideia do que
balho. Provavelmente, todos tinham partido do princípio, tal como Evie, de que Sebastian dep
cansaria das responsabilidades que a direção de um clube de jogo acarretava. Mas ningu
evia a desafiá-lo, quando era evidente que ele não hesitaria em despedir quem quer que foss
desobedecesse. Não podia ter havido declaração de autoridade mais clara do que o modo
despedira sumariamente Clive Egan.
Para além disso, a forte dedicação e o empenho sincero de Sebastian para com o club
diam ser postos em causa. Interessava-se vivamente por tudo, desde o funcionamento da co
aos problemas específicos que poderiam advir da exploração da sala de jogos. Apercebendo
e tinha ainda muito que aprender sobre o funcionamento dos jogos, Sebastian empenhou-mpreender a matemática dos jogos de aposta. Uma noite Evie entrou, por acaso, no salão de
ra se deparar com Sebastian e Cam junto da mesa central, enquanto o jovem cigano forne
rido uma explicação detalhada do sistema de probabilidades.
– … há apenas tr inta e seis combinações possíveis entre os dois dados e claro, cada dado tem
es. Quando se lançam dois dados simultaneamente, qualquer combinação a que se chegue ch
probabilidade acumulada – e as hipóteses de acertar são de trinta e cinco para um.
Cam parou de falar e olhou para Sebastian, que fez um sinal com a cabeça, dizendo:– Continua.
– Como qualquer jogador de jogos de azar sabe, à soma dos lados dos dois dados que
ados para cima chama-se um ponto. À laia de exemplo: dois uns somados são um ponto de
is seis somados, um ponto de doze. Mas as hipóteses de se obter uma certa soma variam, um
e só existe uma maneira de obter um dois e seis maneiras de obter um sete.
– E o sete é um natural – murmurou Sebastian, concentrado. – E visto a maior part
mbinações resultarem num natural, as probabilidades de se obter um sete com um só lance sã
– De dezasseis por cento – concluiu Cam, pegando nos dados.
Os anéis de ouro nos seus dedos morenos captaram um reflexo de luz quando ele lançou os
e foram rolando até ao outro extremo da mesa. Ricocheteando na base da mesa, os cub
rfim pararam na baeta verde. Ambas as faces voltadas para cima mostravam um seis.
– Por outro lado, a probabilidade de se obter um doze com uma jogada é de apenas três por
E, naturalmente, quanto mais vezes se lançarem os dados, mais crescem as probabilidades
do que, quando se lançam os dados cento e sessenta e seis vezes, as probabilidades de se ter o
m doze são de noventa e nove por cento. Mas é óbvio que, com outros pontos, as probabili
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– Estou feliz com esta opor tunidade de trabalhar um pouco – conseguiu dizer. – Impede-m
nsar em… em…
– Bem sei… E foi precisamente por isso que lho permiti.
Os dedos longos de Sebastian curvaram-se à volta da nuca dela. A respiração de Evie torn
is ofegante ao sentir o calor da mão dele passar para a sua pele.
– Precisa de ir para a cama – continuou ele, e a sua voz era menos firme ao apertá-la um pou
O seu olhar flutuou por momentos do rosto dela para o contorno redondo dos seus se
vamente para o rosto, escapando-lhe um risinho leve e sem humor. – E eu também precisava
ra lá consigo, diabos me levem! Mas como não me é possível… venha cá.
– Para quê? – perguntou ela, inquieta ao senti-lo pressioná-la contra a mesa e as perna
ançarem entre as pregas da sua saia.
– Apetece-me torturá-la um pouco…
Evie fitou-o com os olhos redondos de apreensão, enquanto o coração parecia bombear
uido nas veias.
– Ao usar… – teve de tossicar um pouco e começar de novo: – Quando usa esse termo…torpero que seja em sentido figurado…
Ele abanou a cabeça.
– Receio… que seja em sentido literal.
– Como?
– Meu amor – disse ele, com ternura –, espero, sinceramente, que não tenha partido do prin
que os próximos três meses de sofrimento seriam só da minha parte… Ponha as suas mãos
m.– O-onde?
– Onde quiser
Ele esperou, enquanto ela, hesitante, colocava as mãos nos ombros dele, por cima da lã fi
aco. Olhando-a nos olhos, disse:
– Enquanto este fogo arder em mim, Evie… vou atiçá-lo em si.
– Sebastian… – ela procurou libertar-se, mas ele fincou-a firmemente contra a mesa.
– Tenho pleno direito de a beijar – lembrou-lhe ele. – Sempre que me aprouver e durante o
e desejar. Foi esse o nosso acordo.
Ela lançou em redor um olhar angustiado, que ele interpretou facilmente.
– Não me ralo um chavelho que alguém nos veja! Estou com a minha mulher. – Um s
nico atravessou-lhe os lábios: – A minha cara-metade… a melhor parte de mim mesmo.
Curvando-se sobre ela, passou a boca nos finos cabelos despenteados sobre a testa dela,
ito quente e macio sobre a sua pele.
– O meu galardão… o meu prazer e a minha dor… o meu desejo sem fim. Nunca co
guém assim, Evie… Nem jamais senti… isto.
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da mal…
Um dos adversários de Sebastian conseguiu soltar um poderoso golpe. Mas Sebastian esquiv
tingiu-o com um golpe fulminante.
– Cam, por favor! – P-p-por que diabo não fazes nada para o ajudar?
– Não posso.
– Claro que podes! Tu estás habituado a andar à pancada muito mais do que…
– Temos de lhe permitir desenrascar -se por si mesmo – A voz de Cam soou calma e fir
vido dela. – De outro modo não terá autoridade. Os homens que aqui trabalham têm uma noç
erança que requer ação tanto como palavras. St. Vincent não pode exigir deles nada que não
posto a fazer ele próprio. E ele sabe-o. De outro modo não estaria a fazer o que está a fazer
mento.
Evie tapou os olhos quando um dos adversários se atreveu a aproximar-se do marido por
quanto o outro o atacava com uma rajada de golpes.
– Queres dizer que eles só lhe serão leais se ele estiver d-disposto a usar os p-unhos
bição de força bruta sem sentido?!– Basicamente, é isso mesmo. Eles querem saber de que cepa ele é feito. – Cam puxou-a
lso. – Repare bem, Evie… – disse ele, com um súbito tremor de riso. – Ele vai ganhar isto.
Mas ela não conseguia olhar. Voltou-se contra o peito de Cam, estremecendo a cada so
nhos em contacto com a carne, a cada gemido de dor.
– Isto é int-t-tolerável – gemeu ela. – Cam…!
– Ninguém o obrigou a despedir o Egan e a encarregar-se, ele própr io, de dir igir o clube
tar Cam, inexorável. – Isto faz parte do trabalho, minha querida.Ela entendeu: sabia perfeitamente que o seu próprio pai tinha posto termo a infinitas rixas al
até tomado parte em grande parte delas, durante toda a sua vida. Mas Sebastian não nascera
uilo. Não tinha a brutalidade necessária, nem o apego à violência, que caracterizavam Ivo Jenn
Mas quando outro homem foi derrubado e Sebastian começou a circular cautelosamente à
seu último adversário, tornou-se evidente que, estivesse ou não na sua natureza, ele
posto a fazer o que era necessário para provar a sua fibra. O bêbado correu para ele e Seb
ateu-o com uma súbita combinação de dois ganchos esquerdos e um direito. Desabando no c
eliz apagou-se com um gemido. O grupo de empregados sancionou a vitória do patrão
tos de aprovação e uma sonora salva de palmas. Aceitando a aclamação com um gesto somb
beça, Sebastian olhou para Evie, envolta no semicírculo protetor do braço de Cam e lançou
m olhar sombrio.
Os contendores vencidos foram ajudados a sair pelos espetadores entusiasmados. Desde
giram baldes e vassouras para limparem os escombros, enquanto vários membros da assis
çaram a Sebastian olhares muito mais amistosos do que antes. Limpando à manga da cami
queno rasto de sangue no canto da boca, Sebastian curvou-se para endireitar uma cadeira tom
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olocá-la no sítio.
Cam largou Evie e aproximou-se de Sebastian, enquanto a sala ia ficando vazia.
– Luta como um cavalheiro, my lord – comentou.
Sebastian lançou-lhe um olhar sardónico:
– Porque será que isso não me soa a elogio?
Enfiando as mãos nos bolsos, Cam observou, mansamente:
– Resulta bem contra um par de borrachões idiotas…
– Eram três, para começar – resmungou Sebastian.
– Três borrachões idiotas, então. Mas para a próxima vez, talvez não tenha tanta sorte.
– A próxima vez?! Se cuidas que eu vou fazer disto um hábito…
– O Jenner fazia-o – respondeu Cam, serenamente. – O Egan fazia-o. Quase todas as noi
ilho lá fora no beco, nos estábulos, nas salas de jogo, quando os nossos clientes já desfrutara
icientes horas de estímulo de jogo, de álcool e de mulheres. Todos nós fazemos turnos para
sses assuntos. E, a não ser que esteja disposto a levar uma carga de pancada uma vez por sem
o menos –, terá de aprender uns certos truques para acabar rapidamente com uma briga. nos danos, tanto para o senhor como para os frequentadores, e mantém a polícia afastada.
– Se te estás a refer ir ao género de táticas usadas em rixas de espeluncas e em brigas de
re gatos assanhados…
– Creia-me, sir, que não lhe é bastante a meia hora semanal de exercício leve no clube de b
mentou Cam, azedamente.
Sebastian ia ripostar no mesmo tom, mas ao ver Evie, que se aproximava, qualquer coisa n
to se alterou. Foi uma reação à ansiedade que ela não conseguia esconder; a preocupaçãoalou a hostilidade dele, amansando-o. Olhando de um para o outro, Cam observava aquela
cíproca com interessada astúcia.
– Feriu-se? – perguntava Evie, observando o marido de perto.
Para seu alívio, Sebastian parecia enervado e esguedelhado, mas sem estragos de maior.
Ele abanou a cabeça, parando quando a viu erguer a mão para lhe afastar alguns fios de c
mido que ameaçavam tapar-lhe os olhos.
– Estou ótimo – murmurou ele. – Isto não é nada comparado com a bordoada que lev
estcliff.
Cam interrompeu com firmeza:
– Vai haver mais bordoada, my lord, se não aceitar uns conselhos sobre como andar realme
ncada.
Sem esperar pelo assentimento de Sebastian, dirigiu-se à por ta e chamou:
– Dawson! Vem cá um instante… Não, não é para trabalhar. Precisamos que venhas aqui e
s sopapos em Lord St. Vincent. – Voltando-se para Sebastian observou, com ar inocente: – Ó
o pareceu interessá-lo… Já aí vem.
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Reprimindo um sorriso súbito, Evie afastou-se para um canto, compreendendo que a intenç
m era ajudar o seu marido; se Sebastian insistisse em lutar conforme as regras da aristocraci
nseguiria defender-se eternamente dos ataques impiedosos com que, certamente, vi
nfrontar-se no futuro.
Dawson, um empregado jovem e encorpado, entrou na sala.
– O Dawson é o nosso melhor lutador – esclareceu-os Cam. – Vai demonstrar-lhe umas q
nobras básicas para abater um homem rapidamente… Vamos, Dawson, aplica a Lord St. V
golpe de cruzes. Mas com cuidado… não vás partir-lhe a espinha.
Radiante com a ideia de praticar um golpe sobre Sebastian, Dawson aproximou-se dele em
sadas passadas, enroscou-lhe o braço musculado à volta do pescoço, agarrou-lhe no braço l
çou-o sobre o ombro, fazendo Sebastian voar, qual boneco de trapos, sobre a sua cabeça. A
lentamente de costas no chão, soltando um gemido de dor. Dawson preparava-se para lhe sa
s juntos para cima da barriga, quando Cam intercedeu rapidamente, curvando-se para aga
paz pelo ombro.
– Bravo, Dawson. Muito bem… Mas por ora chega. Afasta-te, por favor.Evie assistiu a tudo com um punho cerrado contra a boca.
Cam baixou a mão para ajudar Sebastian a levantar-se. Desdenhando o auxílio, Sebastian re
lmente e pôs-se de pé, olhando-o com uma expressão de tal forma carrancuda que faria hes
is corajoso. Mas Cam tratou de lhe ignorar a ira, começando desde logo a instruí-lo na teoria
– É realmente um golpe muito simples, sir. Ao encontrarem-se ambos de perfil, enrole o br
lta do pescoço do outro, agarre-lhe no braço mais afastado e rode o seu corpo assim… faze
ssar por cima da cabeça, até ele se estatelar de costas no chão… Dependendo da força com ce ao chão, ele pode ver-se incapaz de se mover durante alguns segundos. Venha, experi
migo…
Verdade seja dita, Sebastian exerceu bastante moderação quando experimentou o movimen
m. O visconde aprendia depressa, atirando o cigano ao chão com uma estranha mistura de ef
elutância.
– Não posso lutar assim – murmurou ele.
Cam ignorou-lhe o comentário.
– Agora, se for agarrado pelas costas, pode contrapor-lhe uma cabeçada para trás. Comece
beça baixa, queixo encostado ao peito. Cerre os dentes, feche a boca e atire com a cabeça par
m golpe rápido e forte, direito à cara do outro. Verá que nem necessita fazer pontaria. Qua
beçada para a frente… já alguma vez o fez, my lord? Não?… Bem, a astúcia reside em não ti
hos do seu adversário durante todo o procedimento. Aponte à parte mais macia do rosto… ev
todo o custo a testa ou o crânio. Utilize todo o seu peso para tentar atingir a zona
roximadamente dois centímetros acima das sobrancelhas do outro.
Sebastian tolerava a lição com uma relutância reprovadora, enquanto os dois jovens
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monstrando golpes ao pescoço, pisadelas arrasadoras e outras técnicas para atingir as partes
lneráveis do corpo humano. Incitado a fazer o mesmo, ele participou, mostrando uma ap
ica que pareceu deixar Cam sobremaneira agradado. Contudo, quando um deles se p
monstrar os vários métodos para aplicar um pontapé nas partes baixas, desde logo deixou
ro que a sua tolerância chegara ao fim.
– Basta! – rosnou ele. – Isto acaba aqui, Rohan.
– Mas ainda há uns truques que…
– Quero lá saber!
Cam trocou um olhar com Evie, que encolheu os ombros e abanou a cabeça; nenhum
endera a razão daquela explosão de raiva. Sem perder mais tempo, Cam dispensou Dawson
agradecimento e enxotou-o dali. Voltando-se para Sebastian, que sacudia o casaco com
lência inusitada, Cam perguntou calmamente:
– Permita-me perguntar… qual é o problema, my lord?
Sebastian fungou o seu desprezo:
– Nunca pretendi ser um modelo de vir tudes. E fiz coisas no meu passado que far iam o ar-se do avesso. Mas há certas coisas que nem eu me aviltaria a fazer! Os homens da m
sição não pisam pés, não dão joelhadas nas virilhas do adversário, nem cabeçadas quando an
ncada. Tão pouco dão murros na garganta, passam rasteiras ou… puxam pelos cabelos, por
Deus!
Embora Evie nunca pensasse ser possível ver os olhos de Cam tornarem-se frios, subitam
naram-se duros como pedaços de âmbar gelado.
– E qual é exatamente a sua… posição, se me permite a pergunta? – disse o cigano, emrdaz. – É membro da nobreza? É que não está a viver como se fosse um deles. Dorme num
jogo, num quarto que foi recentemente desocupado por um par de rameiras. É um cavalhei
o e da boa vida? Acaba de terminar a sua noite desbaratando uma luta entre dois bêbados im
go ser já um pouco tarde para tantos prur idos, não será?
– Culpas-me por ter princípios? – r ipostou Sebastian, num tom gélido.
– Não, sir, de todo. Culpo-o por ter dois tipos de princípios, contraditórios. A minha raça te
ado antigo que diz: «Com um só rabo, não se montam dois cavalos.» Se pretender viver aqu
que mudar, temo dizer-lhe. Não pode comportar-se como um aristocrata ocioso que se
ma deste género de coisas. Que diabo, o senhor está a tentar assumir uma função que ne
deria desempenhar! Terá de lidar com jogadores profissionais, bêbados, ladrões, aldra
nhores do cr ime, advogados, polícias e mais de trinta empregados firmemente crentes –todos
de que vai acabar por desistir e bater em retirada dentro de um mês. Agora que o Ivo J
rreu, o senhor assumiu o lugar dele, como um dos homens mais poderosos de Londres. T
o querer favores, ou tentar tirar vantagem de si, ou provar que lhes são superiores. E ningué
contar a verdade completa seja do que for. Vai ter de aguçar os seus instintos, my lord. Vai
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er com que as pessoas tenham medo de o contrariar. Sem isso, as suas hipóteses de sucesso
escassas como…
Não acabou a frase. Era óbvio que Cam gostaria de ter dito mais, mas um olhar de soslaio p
to de Sebastian pareceu indicar-lhe que mais palavras seria inúteis. Passando bruscamen
dos pelo seu cabelo negro em desordem, Cam saiu da sala.
Um longo minuto passou antes que Evie se atrevesse a aproximar-se do marido. Sebastian o
amente a parede, em pesada contemplação. Ela notou que, enquanto a maioria das pessoas ti
dência a parecerem mais velhas quando cansadas ou sob pressão, Sebastian tendia a parecer
is jovem. Olhando-o nos olhos, ela murmurou:
– Porque resolveu fazer isto? Não foi só pelo dinheiro, certamente. O que espera encontrar
gar?
Inesperadamente, a pergunta de Evie acendeu um raio de divertimento sardónico pelo ros
bastian:
– Assim que descobrir… tratarei de lhe dizer.
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Capítulo 15
Na tarde do dia seguinte, Sebastian foi encontrar Evie no escritório, onde ela se dedicava a s
ibos e a anotar números num livro-razão.
– Tem uma visita – disse ele, sem mais preâmbulo. Os seus olhares cruzaram-se por cima d
ha de papéis. – Mrs. Hunt.
Evie olhou-o admirada, com o coração aos pulos. Andara a debater-se com a dúvida de esc
não a Annabelle. Tinha saudades da amiga, mas duvidava da forma como seria rec
vantou-se lentamente.
– Está seguro de que não é outro engano?
– Seguríssimo – disse Sebastian, com uma leve ironia no tom de voz. – Ainda tenho as ore
der com acusações e invetivas. Nem Mrs. Hunt, nem Miss Bowman acreditam que a senhora nptada, violada e forçada a casar sob a ameaça de um punhal encostado à garganta.
– Miss Bowman?… – repetiu Evie, um pouco alheada, pensando, por instantes, que não pod
lian.
Pelo casamento a amiga deixara de ser Miss Bowman e a juntar a isso, ainda se encontrava e
mel com Lord Westcliff.
– A Daisy também cá está?
– É pior que uma cobra! – confirmou ele. – Será de bom tom adverti-las de que agiu por suantade, uma vez que me parece que estão prestes a mandar chamar o polícia mais próximo pa
astar para os calabouços!
Com a excitação, os dedos de Evie apertaram o braço dele.
– Não posso acreditar que se atreveram a vir aqui! E estou certa de que Mr. Hunt não sa
da de Annabelle. Impossível!
– Nesse ponto estamos de acordo. O Hunt jamais permitiria que a mulher se aproximass
lhas de mim. E os Bowman nunca aprovariam que a filha mais nova pusesse os pés num clu
go. Mas, se bem conheço as suas amigas, não duvido que tenham engendrado uma hábil artim
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ra conseguirem os seus propósitos.
– Onde é que elas estão? Não me diga que as deixou à espera na porta das traseir as!
– Foram convidadas a esperar na biblioteca.
Evie estava tão ansiosa por ver as amigas que só a custo não desatou a correr mal sa
critório. Em passo acelerado, com Sebastian no seu encalço, chegou à sala de leitura e par
miar, hesitante.
Lá estava Annabelle e o seu cabelo cor de mel penteado ao alto em caracóis resplandecen
uela pele tão fresca, como a das pastoras pintadas nas latas de bombons. Quando se h
nhecido, a beleza de Annabelle, que sugeria a de uma rosa inglesa, tinha conseguido intimid
ponto que Evie receara dirigir-se-lhe com receio de ser recebida com desdém por aquela cr
ravilhosa. Mas eventualmente descobrira que Annabelle era afetuosa, afável e até dotada d
ntido de humor que não hesitava em usar contra si própria.
Daisy Bowman, a irmã mais nova de Lillian, tinha uma personalidade fortíssima, inesperad
a constituição física tão leve, quase etérea. Idealista e possuidora de uma tendência decidida
prichosa, devorava romances sentimentalões, povoados de patifes e gente malvada. Contuhada diáfana de Daisy escondia uma inteligência perspicaz que a maior parte das pe
sconhecia. Era muito branca, de cabelo escuro e olhos cor de canela… olhos travessos, com l
stanas sempre em riste.
À chegada de Evie, as amigas precipitaram-se para ela, com gritinhos muito pouco elega
e Evie respondeu com uma gargalhada guinchada, ao chocarem entre si num círculo de ab
ertados e beijos exuberantes. E, na excitação geral, as três raparigas continuaram em ri
clamações, até que alguém irrompeu na sala.Era Cam, de olhos arregalados e respiração rápida, como se tivesse vindo a mata-cavalos.
har percor reu a sala, avaliando a situação e a pouco e pouco o seu corpo magro descontraiu-s
– Irr a… – murmurou. – Julguei que tinha acontecido alguma coisa!
– Está tudo bem, Cam – disse Evie, sorrindo, com um braço de Annabelle à volta dos
mbros. – Foi a chegada das minhas amigas, apenas isso…
Com uma olhadela para Sebastian, Cam comentou:
– Tenho ouvido menos guinchos dos porcos no dia da matança…
Verificou-se uma certa tensão suspeita à roda dos maxilares de Sebastian, como se se estiv
orçar por suprimir uma risada.
– Mrs. Hunt, Miss Bowman, deixem-me que lhes apresente Mr. Rohan. Devem perdoar-lhe
tato pois, na verdade, ele…
– É um rufia? – sugeriu Daisy, candidamente.
Desta vez Sebastian não pôde deixar de sorrir.
– Na verdade ele não está habituado à presença de senhoras no clube.
– Ah! É isso que elas são? – perguntou Cam, lançando um olhar duvidoso sobre as visi
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morando-se sobretudo no rostinho inocente de Daisy.
Ignorando-o ostensivamente, Daisy dirigiu-se a Annabelle:
– Sempre ouvi dizer que os ciganos são conhecidos pelo seu encanto… Um mito sem qua
ndamento, pelo que me é dado a constatar.
Os olhos dourados de Cam estreitaram-se como os de um tigre estudando a sua presa.
– Somos igualmente conhecidos por raptarmos donzelas gadji.
Antes que a conversa azedasse mais, Evie interveio rapidamente:
– My lord – disse ela, dirigindo-se ao marido. – Se não tiver objeções, gostaria de fal
vado com as minhas amigas.
– Por quem sois – respondeu ele, com impecável cortesia. – Quer que mande servir um chá
or?
– Pois sim, fico-lhe muito grata.
Assim que os homens se retiraram e as portas se fecharam sobre eles, Daisy explodiu:
– Evie! Como pode falar assim com o St. Vincent depois do que ele fez?
– Daisy… – começou Evie, em tom pesaroso. – Lamento tanto o que sucedeu a Lillian…– Não é só isso! – interrompeu Daisy, impetuosa. – Refiro-me ao que ele lhe feza si! Abusan
forçando-a a casar com ele e depois…
– Ele não me forçou a rigorosamente nada, queridas amigas.
Evie desviou o olhar do rosto indignado de Daisy para a expressão preocupada de Annabelle
– É verdade! Não me forçou a nada! Eu é que fui ter com ele e propus… Mas porque nã
ntamos calmamente e eu conto-lhes tudo o que se passou…? Mas digam-me, antes de mais,
nseguiram chegar até ao clube?– Mr. Hunt ausentou-se em negócios – explicou Annabelle, com um sorriso matreiro. – E eu
Mr. e Mrs. Bowman que ia levar Daisy às compras em St. James Street. Ou seja, sou a sua da
mpanhia.
– E é verdade que fomos às compras! – exclamou Daisy, entrando no jogo. – Só que dep
emos um ligeiro desvio para estes lados.
Nos minutos que se seguiram, as três sentaram-se bem juntas, com Annabelle e Evie no s
isy numa cadeira muito próxima. Gaguejando ligeiramente, de pura excitação, Evie encade
ontecimentos que haviam ocorrido após a sua evasão da casa dos Maybrick. Para seu alív
igas não a condenaram pelos seus atos. Pelo contrário, mostraram-se preocupadas e solid
bora fosse claro que não estavam de acordo com as decisões que ela tomara.
– Perdoem… – disse Evie a certa altura, ao ver a ruga implantada na testa de alabast
nabelle. – Bem sei que nenhuma de vós aprova o meu casamento com Lord St. Vincent.
– Não é importante que eu aprove ou não – disse Annabelle. – Serei sempre sua amiga, faça
er. A Evie até podia ter casado com o diabo em pessoa, que eu não me ralaria.
– Que é sem dúvida parente próximo de St. Vincent – comentou Daisy.
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Lançando um rápido olhar de censura a Daisy, Annabelle prosseguiu:
– A questão é que, agora que estamos perante o facto consumado, tudo o que ansiamos é sab
e é que podemos ajudá-la.
– Só preciso da vossa amizade – disse Evie, com um sorriso de gratidão. – Estava com
eio de a perder…
– Isso é que nunca! – disse Annabelle, passando-lhe a mão pelos caracóis ruivos em desalinh
– Minha querida, espero que isto não lhe pareça presunçoso, mas como saiu de casa em g
oroço, estou certa de que não deve ter trazido muita roupa consigo. Por isso, trouxe-lhe alg
sas… Como está de luto, tive de cingir-me a uns quantos vestidos pretos, cinzentos e castan
ro umas camisas de dormir, luvas… esse tipo de coisas… Se concordar, basta mandar trazê-
ruagem. Somos praticamente da mesma altura e com um arranjo ou outro, estou certa de que
– Oh, Annabelle! – exclamou Evie, lançando-lhe os braços ao pescoço. – Como é possível
boa? Mas não quero que sacrifique seja o que for do seu enxoval de recém-casada por m
usa…
– Não é sacr ifício algum – disse Annabelle, com um sorriso. – Muito em breve deixarão vir…
Evie lembrou-se subitamente que, no mês anterior, Annabelle lhe confiara a sua suspeita d
deria estar de esperanças.
– Oh, pois claro! Ah, Annabelle, tenho andado tão p-preocupada com os meus p-problema
esqueci de perguntar como se sentia! Então é mesmo verdade? Confirmada pelo médico?
– É verdade! – interrompeu Daisy, levantando-se para executar uma pequena dança de v
mo se lhe fosse impossível estar quieta por mais tempo.– Agora é que as Encalhadas vão literalmente… ficar para tias!
Evie também se levantou de um salto e ambas cabriolaram abraçadas, enquanto Annabe
hava, divertida.
– Meu Deus, olhem-me só para isto – disse ela. – Se a Lillian aqui estivesse já teriam ouvid
mentário demolidor às vossas macacadas.
À menção de Lillian, Evie reagiu como se tivesse levado com um balde de água fria. Fo
ntar-se no sofá, olhando para Annabelle com crescente preocupação.
– Cuida que ela alguma vez me p-perdoará por ter ca-casado com o St. Vincent, depois do q
fez?
– Claro que sim… Bem sabe como ela é amiga das suas amigas. É capaz de lhe perdoar seja
. Mas quanto a perdoar o St. Vincent, já é algo completamente diferente…
De testa franzida, Daisy puxou pelas saias para as endireitar.
– Do que não restam dúvidas é que ele fez de Lord Westcliff um inimigo figadal o que n
nar a vida difícil a todas…
Uma criada entrou, trazendo o chá e interrompendo a conversa. Evie serviu Annabelle
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ópria, mas Daisy preferiu deambular pela sala, passando os olhos pelas estantes carregad
ros de alto a baixo. Inclinou-se sobre os títulos gravados nas lombadas de pergaminho de div
res.
– Há uma profunda camada de pó sobre estes livros! – exclamou. – Dir-se-ia que ninguém o
culos!
– Eu até me atreveria a dizer que muito poucos – ou nenhuns – foram alguma vez lidos,
erida. Não é provável que os cavalheiros que frequentam este clube se tenham jamais da
balho de pensar em livros quando há tantas outras… ocupações estimulantes à mão de semear
– Mas que sentido faz ter uma sala de leitura se ninguém gosta de ler? – disse Daisy, indign
is eu não consigo imaginar atividade mais estimulante do que a leitura. Por vezes c
eralmente a sentir o coração aos pulos quando leio uma histór ia particularmente cativante.
– Há uma coisa… – murmurou Annabelle, com um sorriso maroto.
Mas Daisy, que continuara a avançar ao longo das prateleiras com livros, nem a ouviu. Sem
olhos de Evie, Annabelle baixou a voz, dizendo:
– Já que estamos a falar neste assunto, Evie… preocupa-me um pouco o facto de a menina no ninguém com quem falar antes da sua noite de núpcias. O St. Vincent foi… atencioso contig
De faces em brasa, Evie respondeu com um aceno rápido:
– Como já era de esperar, foi muito… competente.
– Mas foi cuidadoso?
– Sim… cuido que sim.
– É um assunto delicado, não é verdade? – disse Annabelle, baixinho. – Mas se tiver al
vida acerca dessa matéria, espero sinceramente que venha ter comigo. Sinto-me como se fosmã mais velha, sabe?
– E eu sinto o mesmo – respondeu Evie, apertando-lhe a mão. – Creio que tenho algumas
e gostaria de perguntar, mas é tudo tão…
– C’um caneco! – foi a exclamação de Daisy da outra ponta da sala. Evie e Annabelle olh
ra ela e viram-na agarrada a uma das prateleiras de mogno.
– Encostei-me a esta prateleira, ouvi uma espécie de estalido e esta coisa toda desatou a o
ra fora…!
– É uma porta secreta – explicou Evie. – Há várias por tas escondidas e passagens secretas
be, para ocultar coisas no caso de uma inspeção da polícia. Ou para o caso de alguém preci
r de repente…
– E esta, para onde dará?
Receando que mais explicações encorajassem a curiosa Daisy, sempre aventureira, a arris
ma exploração, Evie comentou em tom vago:
– Ora, para lado nenhum de interessante… Um quar to de ar rumações, quer-me parecer. É m
har isso, querida.
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– Hmm…
E Daisy continuou a examinar os livros das prateleiras, enquanto Evie e Annabelle retomav
a conversa íntima.
– A verdade – disse Evie –, é que Lord St. Vincent concordou em passar por um perío
ibato para me agradar. E se ele conseguir esse feito, retomaremos então as nossas relaçõ
rido e mulher.
– O quê?! – murmurou Annabelle, de olhos esgazeados. – Meu Deus, não acredito que o nom
ncent e a palavra celibato tenham alguma vez feito parte da mesma frase! Como diabos cons
nvencê-lo a concordar com uma coisa dessas, Evie?!
– Ele disse-me… enfim, deu a entender… que me deseja suficientemente para tentar.
Annabelle abanou a cabeça com um sor riso aturdido.
– Isso não parece dele. Nem por sombras! Vai certamente fazer batota.
– Pois… talvez. Mas eu creio mesmo que as intenções dele são sinceras – disse Evie.
– O St. Vincent jamais será sincero. Nunca – retorquiu Annabelle.
Evie não pôde deixar de recordar o anseio desesperado do abraço de St. Vincent, ali, nasma sala. O modo como a respiração lhe tremia na garganta. A ternura apaixonada da boca d
a pele. E a verdadeira paixão na voz dele quando murmurara: Desejo-a mais do que algum
sejei fosse o que fosse na vida…
Como podia ela explicar tudo aquilo a Annabelle? Com que palavras poderia justificar
tinto ao acreditar nele? Era ridículo pensar que ela, a desajeitada Evie Jenner, poderia subita
-se tornado o objeto de desejo definitivo de um homem como Sebastian que poderia ter
posição e escolha as mais belas e prendadas mulheres de Inglaterra.E, contudo, Sebastian já não era o mesmo homem que outrora deambulara tão arrogante
a mansão de Lord Westcliff, no Hampshire. Qualquer coisa nele tinha mudado… e conti
da a mudar. Teria o incentivo sido a sua tentativa falhada de raptar Lillian? Ou teria acont
is tarde, durante aquela deplorável viagem até Gretna Green? Ou, quem sabe, tivesse tão-so
e ver com o clube; o seu comportamento tornara-se estranho desde o momento em que ali p
pés. Parecia empenhado em qualquer coisa, algo sem nome que nem ele conseguia explicar…
– Oh, não!… – disse Annabelle, desolada, olhando por cima do ombro de Evie.
– Que foi?! – Evie voltou-se para seguir o olhar de Annabelle.
Mas não foi necessária qualquer explicação: na sala estavam agora apenas ela e Annabelle
s estantes havia girado para fora do alinhamento das restantes. Não seria certamente de estr
isy seguira os apelos da sua insaciável curiosidade e desaparecera através da passagem secret
– Aonde é que a passagem leva? – suspirou Annabelle, pousando relutantemente a sua cháve
á.
– Depende da direção que ela seguiu – respondeu Evie preocupada. – Aquilo é como em lab
cada passagem dá para direções distintas e… há escadas secretas que levam ao segundo
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aças a Deus, o clube está encerrado a esta hora, o que minimiza os sarilhos em que ela se
ter.
– Lembre-se que é da Daisy Bowman que estamos a falar – disse Annabelle, secamente
uver a mínima hipótese de sarilho, ela descobre-a de certeza.
Tateando ao longo da passagem escura, Daisy sentia a mesma excitação de criança, quando
lian brincavam aos piratas na sua mansão da Quinta Avenida. Terminadas as lições, corriam p
dim como um par de diabretes, fazendo rolar os arcos com as suas ganchetas, cavando bu
s canteiros de flores. Uma vez tinham metido na cabeça criar uma cave secreta dos pir
ssaram o verão inteiro a escavar um túnel por dentro da sebe que limitava o jardim em fre
a. Tinham furado e aparado diligentemente a sebe, até criarem um longo canal por dentro
de circulavam de um lado para o outro, como dois ratinhos. Tinham marcado assembleias se
«cave dos piratas», claro, e levado para lá um caixote de madeira que enchiam de tesou
condiam num buraco escavado nas traseiras da casa. Quando aquela travessura foi descobert
m jardineiro irado, que ficara horrorizado ao ver a profanação da sua sebe, Daisy e Lillian ficcastigo durante várias semanas.
Pensando, com um sorriso melancólico, na sua querida irmã mais velha, Daisy, sentiu-se l
r uma onda de saudade. Lillian e ela tinham estado sempre juntas, discutindo, rindo, cau
ilhos uma à outra e safando-se uma à outra sempre que possível. Sem dúvida que estava fel
lian ter encontrado o seu par perfeito no voluntarioso Westcliff… mas isso não impedia que
ntisse terrivelmente a falta da irmã. E agora que todas as outras Encalhadas, incluindo Evie, ti
anjado marido, passando a fazer parte integrante do misterioso universo dos casados, ntia-se excluída. Tinha de arranjar marido e depressa. Um cavalheiro simpático e sincer
rtilhasse o seu gosto pela leitura. Um homem que usasse óculos e gostasse de cães e de crianç
Tateando o caminho escuro, Daisy quase caiu por uns poucos degraus que, inesperadament
giram à frente. Uns passos mais além, uma luz ténue guiou-a em frente. Ao aproximar-se, v
uz desenhava a forma retangular de uma pequena porta. Curiosa sobre o que estava do outro
isy parou e ouviu um estranho som abafado de batidas repetitivas. Uma pausa… e novas batid
A curiosidade levou-lhe a melhor. Colocando ambas as mãos contra a porta, Daisy empur
m determinação e sentiu-a ceder. Fez-se luz na passagem e ela achou-se num quarto que con
mas poucas mesas e cadeiras vazias e um aparador com duas enormes urnas de prata. Espreito
rta e entendeu a origem das marteladas. Um homem reparava parte de uma moldura numa p
ocorado, enquanto cravava pregos com hábeis golpes de martelo na estreita tira de madeira.
rir-se a porta, levantou-se rapidamente e a sua mão mudou de posição, empunhando o m
mo se pretendesse servir-se dele como arma.
Era o cigano, aquele rapaz com olhos de pantera esfomeada. Despira o casaco e o colete…
gravata também… de modo que o seu torso estava apenas coberto por uma fina camisa b
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io enfiada no cós das calças justas. Aquela perturbante visão máscula provocou em Daisy a m
ação que ela sentira lá em cima – uma rápida picada no peito, seguida pelo bater descompassa
ração. Paralisada pela noção de que se encontrava sozinha no quarto com ele, Daisy ol
amente, enquanto o via aproximar-se lentamente.
Ela jamais havia visto um ser humano dotado de uma tal beleza morena, exótica… a pele d
mel… os olhos cor de avelã, com pesadas pestanas pretas e um cabelo de azeviche que lhe p
bre a testa.
– O que faz aqui? – indagou Rohan, em tom rouco e áspero.
Avançou até estar tão perto dela que a jovem, instintivamente, recuou até sentir a parede toc
s omoplatas. Ao longo da limitada experiência de Daisy, nenhum homem se aproximara de
etamente.
Obviamente, ele não tinha a mínima noção das boas maneiras em sociedade.
– Ando em explorações… – balbuciou.
– E quem lhe indicou a passagem?
Daisy teve um ligeiro sobressalto quando ele se inclinou ligeiramente, apoiando as mãrede, uma de cada lado dela. Era alto, ainda que não excessivamente, e o seu pescoço bron
o sol ficava ao nível dos olhos dela. Tentando disfarçar a sua perturbação, ela respirou fu
se:
– Ninguém. Encontrei-a sozinha… O seu sotaque é estranho.
– O seu também. Americana?
Daisy assentiu, com um aceno de cabeça. O controlo da voz abandonou-a ao ver um peq
mante cravado no lóbulo da orelha dele. Teve uma estranha sensação no estômago, quaulsa, mas ao mesmo tempo uma vaga de calor que a fez, para sua consternação, aperceber-
e corava intensamente. Ele estava tão perto que ela podia sentir-lhe o cheiro a lavado, a s
sturado com uma sugestão a couro e a cavalos. Era um cheiro agradável, uma fragr
temente máscula, muito diferente da do seu pai, que cheirava sempre a água-de-colónia, a gr
patos e a notas acabadas de imprimir.
Constrangida, desviou os olhos para os braços dele, expostos pelas mangas arregaçad
misa… e parou subitamente, à vista de uma imagem que parecia ter sido desenhada à pena n
ebraço. Era um pequeno cavalo preto com asas.
Reparando no olhar fascinado dela, Rohan aproximou o braço para lhe facilitar a observaçã
– É um símbolo ir landês – murmurou ele. – Um cavalo da mitologia a que se chama um pook
Aquela palavra absurda trouxe um vago sorriso aos lábios de Daisy.
– E lavando, sai? – perguntou ela, hesitante.
Ele abanou a cabeça, baixando as pálpebras sobre aqueles olhos extraordinários.
– É um pooka, como Pégaso dos mitos gregos? – perguntou ela, apoiando o mais possív
stas contra a parede.
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Rohan baixou o olhar sobre o corpo dela, numa espécie de inventário minucioso, como ela
cebera de nenhum homem.
– Não. É bastante mais perigoso. Tem olhos cor de fogo, uma passada que transpõe monta
a numa voz de homem, profunda como uma caverna. À meia-noite para em frente de sua c
ama-a pelo nome, se desejar levá-la numa cavalgada. Se o montar, fá-la-á voar sobre a t
bre o mar… e se alguma vez voltar a sua vida nunca mais será a mesma.
Daisy sentiu um arrepio por todo o corpo. Todos os seus sentidos a avisavam de que seria m
r fim àquela conversa enervante e afastar-se dele o mais depressa possível.
– Que interessante… – murmurou.
E deu uma reviravolta dentro do círculo dos braços dele, procurando avistar a porta. Par
nsternação, verificou que ele a tinha fechado e a por ta estava, agora, habilmente escondida en
néis verticais da parede. Em pânico, começou a empurrar a parede em vários sítios, ten
scobrir o mecanismo que a abria.
Espalmou as mãos contra a parede ao sentir Rohan encostar-se a ela por trás, a
ervantemente próxima do seu ouvido.– Não conseguirá descobri-la… Só há um ponto onde carregar para soltar o trinco… Um
nto.
A respiração dele roçava-lhe o pescoço de lado, enquanto a leve pressão do seu corpo a aq
de quer que lhe tocasse.
– Porque não me mostra? – sugeriu Daisy, numa tentativa de imitar o tom sarcástico de L
s consternada ao verificar que a sua voz não podia soar mais desorientada e insegura.
– Que favor pensa poder conceder-me em troca?Daisy esforçou-se por se mostrar indignada, mas o seu coração batia-lhe contra as costelas
e bravia numa gaiola.
Voltou-se para o enfrentar, lançando-lhe um assalto verbal que esperava que o fizesse desisti
– Oiça, Mr. Rohan, se está a insinuar que eu poderia… Bom, o senhor é o homem m
delicado que eu alguma vez encontrei.
Ele nem estremeceu. Num sorriso largo, de dentes muito brancos, disse:
– Mas eu sei onde fica a porta.
– Quer dinheiro pela informação? É disso que se trata? – perguntou ela, arrogante.
– Não.
Daisy engoliu em seco.
– Uma… liberdade, talvez? – Vendo que ele não compreendia, explicou, corando: – Toma
erdade é… um abraço, ou um beijo…
Nos olhos dourados dele perpassou algo de perigoso.
– Seja… – murmurou ele. – Quero tomar uma liberdade.
Daisy mal podia acreditar. O seu primeiro beijo… Sempre o imaginara como um mom
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mântico, num jardim inglês… haveria luar, claro… e um homem loiro, com um rosto fres
az – que diria algo de belo, um trecho de um poema, antes que os seus lábios se juntasse
a… Não era suposto acontecer na cave de um clube de jogo e com um criado cigano! Ma
tro lado, já tinha vinte anos e talvez fosse altura de começar a acumular alguma experiência.
Respirando fundo, tentou controlar o ritmo galopante do seu coração, fixando os olhos na
pescoço dele revelada pela camisa parcialmente aberta. A sua pele brilhava como um cetim c
bar, tensamente esticado. Quando ele se aproximou, o seu odor invadiu-lhe as narinas, numa
ante de especiarias. Quando ele ergueu a mão, lentamente, até ao queixo dela, os nós dos d
dentalmente, roçaram a ponta dos seus seios. Foi sem intenção, certamente, pensou ela eston
ntindo os mamilos contraírem-se subitamente sob o corpete de veludo. Os dedos dele alongar
o queixo dela, fazendo-o erguer-se para si.
Fitando os poços escuros que eram agora os olhos dela, dilatadíssimos, ele levou os dedos
a boca, afagando a superfície macia dos lábios, até eles se afastarem, trémulos. A outra
slizou até à nuca, começando a acariciá-la, depois segurando-a, para supor tar o peso da cabe
e só trouxe vantagens, porque a coluna dela parecia ter-se dissolvido como açúcar derretica dele juntou-se à dela, numa pressão terna, explorando-a com passagens rápidas e repetida
azer quente parecia derramar-se-lhe nas veias, percorrendo-a até que ela não conseguiu resis
pulso de apertar o corpo contra o dele. Em bicos de pés, agarrou os ombros dele com amb
os e quase desmaiou quando sentiu os braços dele deslizarem à sua volta.
Quando, finalmente, ele levantou a cabeça, Daisy percebeu, vexada, que estava agarrada
mo se estivesse a salvar-se de morrer afogada. Largou-o subitamente, recuando até embater c
parede. Confusa e envergonhada pela sua reação àquele beijo olhou, furiosa, para aqueles vagens do cigano.
– Não senti nada – disse, friamente. – Embora creia que merece algum crédito pela ten
ora diga-me onde fica a…
Interrompeu-se com um grito de surpresa quando ele a agarrou de novo e ela percebeu, tar
is, que ele tomara aquela sua observação de repúdio como um desafio. Desta vez a boca de
gente e as mãos agarraram-na pela nuca. Com a surpresa da iniciação, sentiu o toque sedo
gua dele, uma sensação que a fez contorcer de prazer. Estremeceu, enquanto ele lhe explor
ca, intensamente, intimamente… como se o seu sabor fosse qualquer coisa de delicioso.
Terminando o beijo com um último roçar de lábios, Rohan afastou-se para a olhar nos o
safiando-a silenciosamente a negar a sua atração por ele.
Ela reuniu os seus últimos farrapos de altivez ao responder:
– Ainda nada… – sussurrou.
Desta vez ele puxou-a vigorosamente contra o seu corpo, mergulhando a boca na dela.
mais imaginara que um beijo que pudesse ser tão profundo; aquela boca alimentava-se da s
os puxavam-na para cima, contra ele, sentiu os pés dele enfiarem-se entre os seus, o peit
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ntra os pequenos seios dela, os beijos dele provocando-a, acariciantes, até ela ceder, trémula,
m animal preso nos seus braços. Quando ele a libertou, ela ficou muda e passiva, toda
nsciência concentrada nas sensações que a empurravam para um fim desconhecido.
Abrindo os olhos, Daisy olhou-o através de um véu de sensualidade.
– Agora melhorou bastante… – conseguiu dizer, com alguma dignidade. – Ainda bem
nsegui ensinar-lhe alguma coisa.
Virou-lhe as costas, não sem antes lhe ter visto um riso divertido na cara. Ele estendeu a
regando no botão escondido na parede e a por ta abriu-se.
Mas, para embaraço de Daisy, ele acompanhou-a pela passagem escura e seguiu-a pelas es
cadas acima, guiando-a como se conseguisse ver no escuro, como os gatos. Chegados ao
de já era visível a luz que vinha da porta que dava para a biblioteca, pararam um atrás do
ntindo-se de certo modo compelida a dizer qualquer coisa, ela murmurou:
– Adeus, Mr. Rohan. Provavelmente, nunca nos tornaremos a ver.
Era o que ela mais desejava – porque, sem sombra de dúvida, jamais seria capaz de o enfren
Ele inclinou-se sobre o ombro dela, até a sua boca quase lhe tocar a orelha, que zumbia.– Quem sabe eu lhe surja à janela um dia destes, à meia-noite… – murmurou ele. – Para a de
ra uma cavalgada por terras e por mares…
Com isto abriu a porta, empurrou Daisy ligeiramente para dentro da sala e fechou-a de
cando os olhos, meio confusa, ela reconheceu Annabelle e Evie e ouviu a voz da primeira em
censura:
– Eu bem sabia que a menina não era capaz de resistir a uma porta secreta. Onde é qu
demos saber?– A Evie tinha razão – disse Daisy, sentindo ondas de rubor queimando-lhe as faces. – Para
nhum de interessante…
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Capítulo 16
Embora as roupas que Annabelle lhe trouxera fossem mais próprias para um luto aliviado d
ra um luto pesado, Evie optou por usá-las. Já tinha ido contra as convenções sociais, u
idos diferentes do crepe, mas pouca gente no clube estaria disposta a criticá-la por isso não
erença se vestisse preto, castanho ou cinzento. Além disso, estava certa de que o pai n
omodaria.
Pegando na mensagem que Annabelle colocara nas roupas, Evie leu-a de novo, com um so
udo isto foi mandado fazer em Paris», escrevia Annabelle, com o seu habitual sentido de h
em ter tomado em consideração a virilidade do meu marido. Quando chegar a altura de me ser
novo, já estarão fora de moda. É o meu presente, querida amiga…»
Evie experimentou um vestido de lã macia e forrado de seda, e descobriu que lhe rfeitamente. Mas sentiu o seu prazer levemente perturbado por uma onda de melancolia ao p
pai. Saindo do quarto, avistou Sebastian que falava com dois pedreiros cobertos de caliça. C
bastante mais alto do que eles inclinava a cabeça para ouvir a resposta. A seguir disse um gr
alquer que suscitou gargalhadas entre os três.
Ao olhar, fortuitamente, na direção de Evie, a sua expressão alterou-se, tornando-se mais
spediu-se dos operários e aproximou-se dela, a passos lentos. Evie dominou-se para não c
ra ele, receando revelar-se tontamente apaixonada, mas por mais que ela tentasse calcar osntimentos para os fazer desaparecer, eles elevavam-se de novo no ar, como uma poei
mantes brilhando visivelmente na atmosfera à sua volta. Mas o estranho é que ele p
ualmente agradado pela sua presença, tendo abandonado por uma vez o seu ar de infle
ertino e sorrindo-lhe com genuína cordialidade.
– Evie… – A sua cabeça dourada inclinou-se sobre a face erguida para si. – Está bem?
– Estou… não. – Ela esfregou a testa, impaciente. – Estou cansada, aborrecida e esfomeada.
Ele soltou um risinho:
– Isso eu posso remediar.
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– Não quero interromper o seu trabalho.
– O Rohan pode tratar de tudo por agora. Venha, vamos ver se a sala de bilhar está livre.
– Bilhar? – repetiu ela, relutante. – Que ir íamos lá fazer?
Ele lançou-lhe um olhar provocador:
– Jogar, claro.
– Mas as mulheres não jogam bilhar.
– Em França jogam.
– Segundo diz a Annabelle – replicou Evie –, em França as mulheres fazem muitas coisas qu
em aqui. – É um facto. Os franceses são um povo muito evoluído. Enquanto que nós, ing
demos a encarar o prazer com profunda suspeita.
A sala de bilhar estava, efetivamente, vazia. Sebastian mandou vir da cozinha uma refeição
uleiro e distraiu Evie com conversa, enquanto a via comer. Ela não entendia por que razão
va ao trabalho de a entreter, quando havia tantas responsabilidades a exigir-lhe a atenção. E a
tantos anos a ver nos olhos dos homens um ar vidrado de aborrecimento quando ela lhes dir
avra, a confiança em si mesma estava reduzida a escassas migalhas do que deveria ser.Contudo, Sebastian escutava, atento e interessado, tudo o que ela dizia, como se a conside
initamente interessante. Encorajava-a a dizer coisas audaciosas e parecia encantado com as
tativas de se bater com ele de igual para igual.
Quando Evie acabou de almoçar, Sebastian levou-a até à mesa de bilhar e entregou-lhe um
m a ponta em cabedal. Ignorando as suas tentativas iniciais de recusa, tratou de a instruir nas
sicas do jogo.
– E não tente alegar que isto é demasiado escandaloso para si – disse ele, com fingida serenDepois de fugir comigo para Gretna Green, nada lhe é impossível. Ainda para mais tratando
ma simples partidinha de bilhar… Incline-se sobre a mesa.
Ela obedeceu, pouco à vontade, corando ao senti-lo curvar-se sobre ela. O corpo dele for
ma excitante gaiola, enquanto as suas mãos posicionavam as dela sobre o taco.
– Agora – ouviu-o dizer –, curve o seu dedo indicador à volta da ponta do taco. Isso mes
o aperte com tanta força, querida… relaxe… perfeito.
A cabeça dele quase tocava na dela, da sua pele quente subia um leve aroma a sândalo e águ
ónia.
– Tente imaginar um caminho entre aquela bola branca… e a encarnada. Vai ter de bater m
nos aqui… – E apontou para um sítio ligeiramente acima do centro da bola branca –
purrar a bola encarnada para aquela bolsa de lado. É uma tacada a direito, está a ver? Baix
uco a cabeça. Puxe o taco para trás e tente bater num só movimento.
Evie tentou, mas sentiu que a ponta do taco não fez um contacto limpo com a bola br
viando-a desastradamente para o lado.
– Tacada em falso – disse Sebastian, apanhando habilmente a bola branca e voltando a posic
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– Sempre que isto acontecer, pegue de novo no giz e aplique-o na ponta do taco, com ar pens
que dar sempre a entender que a culpa é do equipamento e nunca da nossa habilidade.
Evie sentiu um sorriso chegar-lhe aos lábios e curvou-se de novo sobre a mesa. Talvez aquil
se correto, tendo o pai falecido tão recentemente, mas pela primeira vez desde há muito t
ava a divertir-se.
Sebastian curvou-se novamente por trás dela, deslizando as mãos sobre as suas.
– Deixe-me mostrar-lhe o movimento própr io do taco. Mantenha-o direito, assim…
Juntos concentraram-se no deslizar firme e repetido do taco por dentro do apertado cí
mado pelos dedos de Evie. A alusão sexual do movimento não escapou a Evie que senti
rava violentamente desde o decote até às orelhas.
– Que vergonha… – ouviu-o ela murmurar. – Uma menina bem-educada não dev
nsamentos desses…
Um risinho reprimido escapou-lhe dos lábios e Sebastian afastou-a para o lado, observa
m um sorr iso lento.
– Experimente de novo, vamos.Focando a bola branca, Evie apontou e bateu com firmeza. Desta vez a bola encarnada merg
eta e certeira na bolsa lateral.
– Consegui! – gritou ela.
Sebastian sorriu pelo seu triunfo e continuou a orientá-la em variados tipos de tac
sicionando-lhe o corpo e ajustando-lhe as mãos… recorrendo a todas as desculpas possívei
ocar os braços à volta dela. Extremamente divertida, Evie fingiu não notar as audaciosas ca
ntudo, quando ele a fez falhar uma jogada pela quarta vez, ela virou-se para ele, acusadora:– Como é que alguém consegue dar uma boa tacada quando o senhor insiste em pôr a sua
ui?!
– Estava apenas a tentar cor rigir a sua postura – disse ele, prestimoso.
Em resposta ao olhar dela, falsamente furioso, ele sorriu, sentando-se no rebordo da me
har.
– A culpa de eu me ver reduzido a este género de comportamento é sua – continuou
ranto-lhe que eu próprio me sinto consternado, porque o único prazer que retiro destes d
ossá-la, como se não passasse de um jovem palaciano perseguindo uma criadita.
– E o senhor perseguia as criadas quando era rapaz?
– Meu Deus, claro que não! Como é que pode sugerir uma coisa dessas?!
Sebastian parecia tão indignado que Evie começara a sentir-se culpada de injustiça, quando
tante ele acrescentou, num tom falsamente presunçoso:
– Elas é que corriam atrás de mim.
Evie ergueu o taco, como que para lhe aplicar uma traulitada.
Ele segurou-lho o pulso rapidamente com a mão e tirou-lhe o taco dos dedos.
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– Calma…! Não vá tirar-me o pouco juízo que ainda tenho. E depois, para que é que e
via?
– Seria puramente ornamental – respondeu Evie, r indo.
– Ah, bom… suponho que isso também tem o seu valor. Deus me livre e guarde de jamais p
minha boa aparência.
– Eu não me importava…
– Como assim?! – disse ele, zombeteiro.
– Se, por acaso… – Evie parou, subitamente embaraçada. – Se alguma coisa lhe sucedesse…
deixasse… menos bem-parecido… a sua aparência não me faria diferença. De qualquer modo
ez uma pausa e concluiu, hesitante: – eu… ainda haver ia de o querer por marido.
O sorriso escarninho de Sebastian desfez-se lentamente. Lançou-lhe um longo olhar, ple
enção, com o pulso dela ainda firmemente seguro na mão. Pela sua expressão passou al
ranho… uma emoção indecifrável, feita de calor e vulnerabilidade. Quando lhe respondeu, n
na voz o esforço para manter o tom brincalhão e arrogante do costume:
– Não há dúvida de que é a primeira pessoa que me diz uma coisa dessas. Espero, para seue não seja tão ingénua ao ponto de me querer dotar de características que eu não possuo.
– Oh não, o senhor é bastante dotado… – respondeu Evie, antes de lhe ocor rer o duplo s
quela afirmação.
De repente sentiu um rubor subir-lhe até às orelhas.
– Q-quer dizer… eu não queria dizer…
Mas, entretanto, já Sebastian recuperara da súbita tensão e ria calmamente, puxando-a pa
mo ela correspondeu avidamente, a brincadeira dissolveu-se como açúcar num líquido quecomeçou a beijá-la longamente, roçando-lhe a face em afagos mais rápidos.
– Evie… – murmurou ele. – É tão quente, tão bela… oh que raio… ainda tenho dois meses
s e seis horas pela frente até poder arrastá-la para a cama… Sua diabinha! Isto ainda vai
nha morte.
Subitamente arrependida do acordo que fizera com ele, Evie estreitou os braços em volta d
scoço e procurou-lhe a boca com a dela. Ele soltou um gemido rouco, beijando-a, estende
aço para fechar a porta da sala de bilhar. Encontrou a fechadura às apalpadelas, deu a volta à
aiu de joelhos diante dela. As costas de Evie ficaram de repente coladas à porta fechada
almente imóvel, de espírito perdido em confusão e excitação. Ele levantou-lhe as saias, as
os tateando entre as camadas de tecido, encontrando finalmente os atilhos das calcinhas…
– Não, Sebastian… Não! – disse Evie, trémula, consciente de que se encontravam numa sala
público. – Por favor, não podemos… Ignorando-lhe os protestos, Sebastian aprofundava a
r baixo das saias dela e finalmente puxou-lhe as calcinhas até aos joelhos.
– Eu enlouqueço, se não tiver ao menos… isto!
– Não… – murmurou Evie, mas ele já não a ouvia.
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A mão dele segurava-a por um tornozelo e a sua boca chegara-lhe ao joelho, mordisca
mbendo-a através da meia de seda.
De repente, Evie sentiu uma sacudidela de desejo, com o coração batendo violentamente e a
esa de uma fome irresistível. Sebastian puxou-lhe a parte da frente das saias até à cintura e co
os dela por cima do monte de tecido.
– Segure… – murmurou ele.
Ela não devia ter obedecido, mas as suas mãos pareciam ter vontade própria, agarrando as p
tecido contra a cintura. Sentiu as calcinhas serem puxadas até aos tornozelos, a boca
vagando para cima e a respiração como bafos quentes de vapor contra a sua pele tenra. Evie e
m som ávido e profundo quando ele afastou os caracóis íntimos entre as coxas dela. Os dois
e ele fez escorregar para dentro dela foram instantaneamente agarrados e acariciado
úsculos internos que se movimentavam para o fazer avançar mais profundamente. Evie semic
olhos e um rubor de paixão percorreu todo o seu corpo, em várias ondas cor de carmim.
– Sebastian…
– Shhh…Os dedos dele subiram mais, permitindo que a boca avançasse para lá das pregas inchad
xo dela. Ele atacava a protuberância tensa, lambendo-a num ritmo astuto contra a suave penet
s seus dedos. Evie arqueava-se contra a porta, num esforço doloroso para não gritar. Ele n
rou nem hesitou, não lhe dando espaço, nem por um momento, para tomar fôlego; só afag
rmentava a sua pele quente e trémula, elevando a sensação cada vez mais alto até que, por fi
ocou um grito, estremecendo de prazer. A boca dele manteve-se nela aproveitando a última
gozo, até que finalmente ela se aquietou, com a sua carne exausta e vazia de sensações. bastian levantou-se, encostando ao dela o seu corpo ainda excitado, apoiando a testa à port
s dela. Evie lançou-lhe os braços à volta da cintura estreita, de olhos fechados, repousando a
bril no ombro dele.
– O nosso pacto… – murmurou ela.
– Disse que podia beijá-la… – comentou ele, amável e traiçoeiro ao ouvido dela. – Ma
pecificou onde, meu amor.
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rvilíneo cingido no vestido de veludo preto, era o bastante para o pôr doido. O negro lúgub
o era suposto tornar as mulheres banais e pouco atraentes, mas pelo contrário, o preto torn
a pele fresca como leite e o cabelo escaldante como fogo. Só desejava levá-la para a cama e
até que aquela atração diabólica se consumisse pelo seu próprio calor. Sentia-se invadid
alquer coisa de incontrolável, possuído por uma espécie de inquietação ardente que funci
mo uma doença… qualquer coisa que o fazia andar de sala em sala, esquecendo aquil
ocurava. Jamais se sentira assim… aturdido, impaciente, numa agonia de desejo.
Tinha urgentemente de se ver livre dela. Evie tinha de ser protegida dos perigos e deprav
quele clube, tanto como dele próprio. Se ele pudesse mantê-la segura e vê-la dentro de
mites… era a única solução.
– Quero-a fora daqui o mais brevemente possível – disse ele. – Está tudo preparado para
ssa casa. Ficará lá muito mais confortável. E não terei de me preocupar com qualquer géne
ilho em que possa meter-se.
Levantou-se e foi até à porta, tendo o cuidado de manter a necessária distância física entre am
– Vou mandar vir uma car ruagem. Quero vê-la lá instalada dentro de um quarto de hora.– Mas… ainda não jantei. Será demais pedir que me seja concedida uma última refeição?
Sem a olhar, Sebastian conseguiu perceber a nota de desafio quase infantil na voz dela
usou-lhe um aperto no coração… aquele coração que ele sempre julgara ser apenas um mú
ciente.
Não teve tempo para decidir se havia de a deixar ficar para a ceia ou não porque, na
mento, viu que Cam se aproximava… acompanhado pela inconfundível silhueta do C
stcliff. Voltando-se de lado, Sebastian arrastou os dedos pelo cabelo.– Raios do inferno! – praguejou, entredentes.
Evie aproximou-se imediatamente.
– Que foi?
Sebastian apagou do seu rosto qualquer expressão.
– É melhor ir embora, Evie – disse, com secura. – Westcliff vem lá.
– Eu não vou a parte nenhuma, – contrapôs ela, prontamente. – Lord Westcliff é dema
valheiro para armar uma briga em frente de uma senhora.
Sebastian largou uma gargalhada trocista.
– Eu não preciso de me esconder atrás das suas saias, minha linda. E duvido que ele estej
ra armar contenda. Isso ficou arrumado na noite em que sequestrei Miss Bowman.
– O que quererá ele, então?
– Ou vem deixar um aviso ou vem verificar se a senhora necessita ser salva… Ou amb
sas.
Evie ficou ao lado de Sebastian quando Westcliff entrou no escritório.
Cam foi o primeiro a falar.
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– My lord – disse ele –, eu mandei o conde aguardar, mas…
– Ninguém manda o Westcliff fazer coisa alguma – disse Sebastian, secamente. – Está tudo
m. Volta para as mesas de jogo, para não haver sar ilhos. E leva contigo Lady St. Vincent.
– Não! – disse Evie, imediatamente, olhando do rosto trocista de Sebastian para a cara impa
ura de Westcliff. – Eu fico.
Voltou-se para o conde, estendendo-lhe a mão.
– My lord… tenho pensado tanto na Lillian! Encontra-se bem, como espero?
Westcliff curvou-se sobre a mão dela, dizendo:
– Está ótima. E desejando ardentemente que a senhora nos dê o prazer de passar uma temp
nnosco, se lhe aprouver.
Apesar de ter, minutos antes, exigido que Evie abandonasse rapidamente o clube, Sebastian v
entinamente possuído por uma fúria violenta. Mas que cabrão arrogante! Se ele imaginava
resentar-se assim e levar Evie debaixo do seu nariz…!
– Muito agradecida, my lord – disse Evie, com uma doçura firme, olhando-o de frente.
Westcliff tinha cabelo preto e olhos tão escuros que era quase impossível distinguir as írpilas.
– É muita bondade sua – acrescentou ela, cordialmente. – E desejo visitá-los muito em breve
o necessito da vossa hospitalidade neste momento.
– Muito bem. Mas saiba que o convite se mantém em aberto… Deixe-me exprimir as m
ndolências pela sua perda recente.
– Obrigada.
Evie sorriu com afeto para Westcliff, o que produziu em Sebastian uma nova e fortíssima onme.
Como dono de um dos mais antigos e poderosos condados de Inglaterra, Marcus, Lord Wes
zava da aura de um homem habituado a ver as suas opiniões escutadas e levadas em conta. Em
o fosse dotado de uma beleza clássica, Westcliff possuía uma vitalidade morena e um
sculino que o fazia sobressair em qualquer assembleia. Era um desportista exímio, em
valeiro, conhecido por exigir de si próprio o máximo dos seus limites físicos – e até para
so. De facto, Westcliff enfrentava desse mesmo modo tudo na vida, não se permitindo a si p
nos do que a excelência em tudo o que se prestava fazer.
Westcliff e Sebastian haviam sido amigos desde os dez anos de idade, tendo frequentado o m
égio durante os seus anos de formação. Mesmo enquanto rapazes, a sua amizade havia
ranha, pois Westcliff acreditava, por natureza, em princípios morais absolutos e não tinha qua
iculdade em distinguir o bem do mal. Sebastian, por outro lado, adorava pegar nos casos
mples e torcê-los, até retirar deles qualquer coisa de exasperantemente complexo, como
ercício mental. Westcliff escolhia sempre o caminho mais eficiente e direto, enquanto Seb
guia a rota tortuosa e mal cartografada que havia de conduzir a todo o género de sarilhos, an
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almente chegar ao seu destino.
Havia, contudo, entre os dois amigos muito em comum, tendo ambos crescido sob a influên
s manipuladores e indiferentes. Haviam partilhado uma opinião pouco romântica acerc
ndo, constatando, desde cedo, que não havia muita gente em quem confiar. E agora, pe
bastian, desolado, destruíra a confiança de Westcliff para além de qualquer esperança de a
cuperar. Pela primeira vez na vida, sentia uma angústia dolorosa que apenas podia identificar
morso.
Por que raio teria focado a sua atenção em Lillian Bowman? Quando percebera que We
ava interessado na rapariga, por que razão não se dera ao trabalho de procurar outra herdeira
em casar? E tinha sido um perfeito imbecil ao não reparar em Evie. Vistas agora as coisas, L
o valera a sabotagem de uma amizade. Sebastian era obrigado a reconhecer que a ausênc
estcliff na sua vida era como uma bolha num pé que o incomodava frequentemente e não
neira de sarar.
O visconde aguardou que a porta se fechasse sobre Cam antes de passar um braço posse
bre os ombros de Evie. Finalmente, dirigiu-se ao seu ex-amigo.– E então… como foi a lua de mel? – perguntou, com expressão trocista.
Westcliff ignorou-lhe a pergunta.
– Em vista das circunstâncias – disse ele a Evie –, parece-me imperativo perguntar: houve co
seu casamento?
– Não! – disse Evie, veementemente, aproximando-se de Sebastian como se o quisesse prote
verdade, my lord, a ideia foi minha. Dirigi-me a casa de Lord St. Vincent pedindo-lhe auxíli
concedeu-mo.Sem parecer minimamente convencido, Westcliff comentou, secamente:
– Haveria decerto outras soluções para si.
– Nenhuma que conseguisse enxergar na altura.
O braço dela deslizou, cingindo a cintura de Sebastian que, subitamente atónito, suspen
piração.
– E não lamento a minha decisão – ouviu ele Evie acrescentar, em tom firme. – Fá-lo-ia de
m hesitar. Lord St. Vincent não podia ter sido mais gentil para comigo.
– É claro que ela está a mentir – disse Sebastian, com uma gargalhada cínica, sentindo
imento cardíaco a vibrar mais furiosamente.
Com o corpo suave de Evie aconchegado ao seu lado, sentia-lhe o calor e o cheiro da pele
o conseguia entender porque é que ela o defendia.
– Tenho-a tratado da pior maneira possível – prosseguiu ele, categoricamente. – Felizment
m, Lady St. Vincent tem sido maltratada pela família desde há tanto tempo que não faz a
ida ideia do que é ser bem tratada.
– Isso não é verdade – disse Evie a Westcliff.
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Nem um nem outro olhavam para Sebastian, dando-lhe a ideia enfurecedora de estar a ser co
conversa.
– Têm sido tempos difíceis, como calcula – continuou ela –, e eu não conseguiria ter sobrev
m o apoio do meu marido. Tem velado pela minha saúde e tem-me protegido tanto quanto po
ém disso, tem trabalhado seriamente para manter o negócio do meu pai… E defende
ozmente quando os meus tios tentaram forçar-me a acompanhá-los contra minha vontade…
– Agora está mesmo a exagerar, meu amor – interrompeu Sebastian, com uma satisfação per
Westcliff conhece-me o bastante para saber que trabalhar não é comigo. Ou def
uém desinteressadamente. Eu só me ocupo dos meus próprios interesses.
Mas, para sua irritação, ninguém parecia dar atenção às suas palavras.
– My lord – prosseguiu Evie, sem parecer escutar Sebastian –, pelo que conheço do meu m
o creio que tivesse agido da forma que agiu com a Lillian acaso se tivesse apercebido de
nhor estava apaixonado por ela. Claro que isto não chega para desculpar o seu comportam
s…
– Balelas, ele não está apaixonado por ela! – rosnou Sebastian, empurrando Evie para longe Subitamente pareceu-lhe que a sala estava a encolher, as paredes aproximavam-se ten
magá-lo num aperto fatal. Maldita mulher, a tentar justificá-lo! E maldita também por invent
mulacro de afeição entre ambos! Com um olhar fr io como o gelo, voltou-se para Westcliff:
– Quantas vezes me disseste que o amor é uma ilusão dos homens que desejam tornar
portável a necessidade de constituírem matrimónio?
– Eu estava enganado – disse Westcliff. – Mas por que diabos te vejo tão irritado?
– Eu não estou…Sebastian interrompeu-se ao constatar que não dizia coisa com coisa. Olhou para Evie e
ustado ao ver a total inversão das suas posições… ela, a encalhada gaguejante, agora seg
me… e ele, sempre tão calmo e senhor de si, reduzido a uma figura de idiota. E tudo na pre
Westcliff, que observava aquele curioso casal com visível interesse.
– Mas o que será preciso para me ver livre de si, não me diz? – perguntou o visconde a Evie
usquidão. – Vá com Westcliff se não lhe apraz ir para a casa de Londres. Eu não quero saber,
e não lhe ponha mais a vista em cima!
Os olhos dela abriram-se mais e Evie estremeceu como se tivesse sido atingida por um d
ntudo, permaneceu composta: inspirou fundo e deixou o ar sair controladamente.
Sebastian, que a observava intensamente, sentiu-se quase dominado pela vontade de ca
lhos diante dela, pedindo-lhe perdão. Mas permaneceu gelado, enquanto a via dirigir-se p
rta.
– Evie… – murmurou ele, por fim.
Ela endireitou os ombros e saiu, sem o olhar.
Sebastian seguiu-a com os olhos, de punhos dolorosamente cerrados. Vários segundos depo
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m esforço para encarar Westcliff. O seu velho amigo olhava-o, não com ódio, mas com algo
melhante a compaixão.
– Eu não esperava isto, Sebastian – disse ele, em voz baixa. – Tu não estás em ti, rapaz.
Havia anos que Westcliff não o tratava pelo nome próprio. Os homens, mesmo parent
igos próximos, quase sempre se tratavam entre si pelo sobrenome ou pelo título.
– Vai para o inferno! – rosnou Sebastian. – Era isso , sem dúvida, que vinhas dizer -me aqu
te. Se assim é, vens com um mês de atraso.
– Era de facto a minha intenção – admitiu Westcliff. – Mas agora decidi ficar e beber um b
quanto aguardo que me expliques o que raio andas a fazer. Para começar, podes dizer-me po
zão embarcaste na aventura de administrar um clube de jogo?
Com o clube tão cheio, era a pior ocasião para se sentarem a conversar. Mas subitam
bastian não quis saber! Passara-se já uma eternidade desde que ele havia tido oportunidade de
m alguém que o conhecesse bem. E embora ele não tivesse ilusões quanto ao facto de a
izade entre eles estar agora reduzida a farrapos, a perspetiva de conversar com Westcliff, m
m um Westcliff pouco amistoso, surgia-lhe como um alívio ir recusável.– Muito bem – murmurou. – Sim, vamos conversar. Não saias, eu volto já. Não posso de
nha mulher atravessar o clube sozinha.
Saiu do escritório a passos largos e entrou no átrio. Não vendo sinal da silhueta de Evie, n
stido negro, deduziu que ela teria seguido por outro caminho, talvez pelo salão central. Paro
ma das portas em arco e lançou uma olhadela pelo mar de cabeças. Graças ao cabelo flamejan
ie, pôde localizá-la facilmente: ela dirigia-se para o canto onde Cam estava sentado. Quand
ançou, vários membros do clube deram-lhe passagem, respeitosamente.Sebastian seguiu-a, primeiro devagar, depois com crescente velocidade. Sentia-se num esta
pírito peculiar e lutava por entender o que se passava consigo. Tinha sido sempre tão hábil a
m as mulheres… Por que diabos lhe fora impossível permanecer desprendido em relação a
tava separado daquilo que mais desejava, não por uma distância real, mas por um passa
boche. Criar uma relação com ela…? Não, era impossível. A sua própria depravação iria sat
mo tinta negra espalhada num pergaminho imaculado, até que todo o espaço em branco
literado. Ela tornar-se-ia cínica, azeda… e, à medida que o fosse conhecendo, ir ia desprezá-lo
Cam estava sentado num banco alto dominando as mesas de jogo e viu que Evie se aproxi
rou-se no banco, em direção a ela, pondo um pé no chão. Levantou a cabeça e lançou uma
ida em volta da sala. Vendo Sebastian à entrada, fez-lhe um curto aceno de cabeça, para in
e iria manter Evie debaixo de olho até que ele chegasse junto dela.
A seguir, Cam deu uma nova vista de olhos pela sala, com uma ruga entre as sobrancelha
us ombros estremeceram ligeiramente, como se sentisse uma comichão na nuca e vol
pidamente para olhar sobre o ombro. Vendo que não havia ninguém atrás de si instalou-se de
banco alto. Contudo, um instinto importuno fê-lo examinar melhor a multidão, como se
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har fosse atraído por um íman… Ergueu o olhar para as galerias do segundo andar e Sebastia
stacar subitamente, como se tivesse sido ferido com uma punhalada.
Libertando-se da multidão, Sebastian seguiu o olhar do rapaz, descobrindo um homem mor
rracado, encostado ao balcão que dominava todo o salão central. Estava desgrenhado, suj
belo preto colava-se à cabeça, com a característica forma de bala. Sebastian reconhe
ediatamente: Joss Bullard! Mas como poderia ele ter entrado no clube sem ser notado? Dev
ado uma entrada secreta. O clube tinha mais passagens e aberturas do que uma toca de coelh
guém conhecia aquele lugar como Bullard e Cam que lá tinham vivido desde a infância.
Os pensamentos de Sebastian explodiram quando ele viu o brilho de luz, refletido no ca
tola na mão de Bullard. Mesmo daquele ângulo, o objetivo da sua pontaria era nítido. O seu
Evie que ainda estava a uns bons cinco metros de Cam.
Levado por puro instinto, Sebastian saltou para a frente com a velocidade de um relâmp
spassado pelo terror. As formas de Evie tornaram-se tão nítidas e detalhadas na sua visão que
nugem do vestido de veludo era percetível para ele. Todos os seus nervos e múscul
orçavam por alcançá-la, cada batimento do seu coração trabalhava para enviar sangue aosúsculos. Agarrando-a com as mãos frenéticas, Sebastian virou o seu próprio corpo para a pro
roveitando o impulso para a obrigar a cair no chão.
O tiro ecoou estrondosamente na sala. Sebastian sentiu um impacto no flanco, como se t
ado um soco, a que se seguiu uma explosão de dor ardente, à medida que o chumbo rasgava
ne cortando, pelo caminho, uma rede de artérias. O duro impacto no chão atordoou Seb
mentaneamente. Ficou meio deitado sobre Evie, tentando cobrir-lhe a cabeça com os b
quanto ela se debatia debaixo dele.– Quieta – arquejou ele, mantendo-a no chão, receoso que Bullard atirasse de novo. – E
ie.
Ela cedeu, obediente, enquanto o ar se enchia de barulho… um clamor de gritos e de pass
rreria.
Alçando-se de cima do corpo de Evie, Sebastian arriscou um olhar para o balcão do seg
dar. Bullard desaparecera. Com um gemido de dor, deixou-se rolar para o lado, verifican
ado de Evie, aterrado com a ideia de que a bala também a pudesse ter ferido.
– Evie, meu amor… está fer ida?
– Porque é que me empurrou? – perguntou ela, em voz sumida. – Não, não estou ferida. O q
uele barulho?
Com a mão trémula, ele tocou-lhe no rosto, desviando o cabelo que lhe caía sobre os olhos.
Espantada, Evie conseguiu sair debaixo dele, ficando sentada no chão. Sebastian perma
tado de lado, arquejando, sentido o sangue quente que lhe inundava o peito e a cintura.
Tomadas pelo pânico, as pessoas precipitavam-se para fora do edifício, deixando o casal,
chão, em risco de ser pisado. De repente, um homem agachou-se junto deles, tendo lutado co
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mo é que ele e Evie pareciam naquele momento, ele agarrando com força à mão dela e deix
embalar tão ternamente como uma cr iança ferida nos braços de sua mãe. Tudo o que ele sab
e a ferida no seu flanco começava a doer insuportavelmente. Apoderara-se dele um tr
placável que o fazia bater os dentes. Apercebeu-se vagamente de que Westcliff se afastou, ber
dens e voltando com um monte de casacos: não era evidente se os seus proprietários os t
dido de bom grado ou não. Os casacos foram todos colocados por cima do corpo trému
bastian e Westcliff recomeçou a fazer pressão sobre o ferimento.
Por momentos, Sebastian perdeu os sentidos e, quando voltou à realidade, sentiu a mão quen
ie acariciando a sua face gelada e com suores frios.
– O médico já aí vem – murmurou ela. – Quando o sangue estancar um pouco, vamos levá
ra cima.
A respiração dele estremecia entre os dentes cerrados.
– Onde está o Rohan?
– Vi-o a perseguir o Bullard imediatamente após o disparo – replicou Westcliff. – De facto
par por uma coluna até ao segundo andar.– Se ele não conseguir apanhar aquele patife, apanho-o eu. E então…
– Shhh… – soprou Evie, e a sua mão livre insinuou-se por baixo do monte de casacos até c
peito nu de Sebastian.
A palma da mão dela parou sobre o bater fraco do coração do marido e os seus
contraram a fina corrente de ouro que ele trazia ao pescoço. Percorrendo a corrente, ela desc
liança do casamento ali pendurada.
Sebastian não quisera que Evie descobrisse que ele usava a aliança por debaixo das suas roitado, murmurou:
– Isto… não tem nenhum significado especial. Queria apenas que… que ela não se perdesse.
– Compreendo – murmurou Evie, continuando a afagar-lhe o peito.
Ele sentiu a boca dela passar ao de leve sobre a sua testa. Evie sorriu-lhe:
– Já terá certamente percebido, espero, que me forneceu um pretexto perfeito para eu aqui
u tomar conta de si até que esteja suficientemente forte para me mandar embora pessoalmente
Sebastian não pôde corresponder ao sorriso dela. Sufocava-o a inquietação de saber que Ev
ava em segurança nem ali, nem em parte alguma, enquanto Bullard não fosse apanhado.
– Westcliff… – suplicou ele. – Alguém tem de proteger a minha mulher…
– Nada de mal lhe acontecerá, garanto-te – respondeu Westcliff, com firmeza.
Ao olhar o seu velho amigo, o único homem verdadeiramente honesto que havia conhecid
e o rosto dele se mantinha cuidadosamente impassível. Ambos sabiam aquilo que Evie não
periência para perceber: que, embora a bala não tivesse atingido nenhum órgão vital, era
to que a ferida iria infetar. Sebastian não morreria com a perda de sangue, mas era prováv
cumbisse a uma febre fatal. E se assim fosse, Evie ficaria sozinha e indefesa, num mundo repl
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dadores. Homens idênticos a ele.
Tremendo de frio e do choque traumático, Sebastian esforçou-se por proferir algumas pal
desespero, chegando à conclusão de que precisava de recuperar o fôlego por diversas vezes
der prosseguir.
– Westcliff… o que eu te fiz… perdoa-me… perdão, meu amigo.
Sentiu que os olhos já não se aguentavam abertos e olhando em frente lutou para não per
nsciência.
– A Evie… protege-a. Por favor…
Mergulhou num oceano de ondas reluzentes, cada vez mais fundo, até que as luzes se apaga
se perdeu na escuridão.
– Sebastian… – murmurou Evie, levando a mão iner te dele ao seu rosto, enquanto as lágrim
rriam pelo rosto.
– Sossegue… – dizia Westcliff. – Ele perdeu os sentidos, só isso. Vai voltar a si dentro em po
Ela deixou escapar mais um pequeno soluço, antes de retomar o controlo.
– Ele pôs-se deliberadamente à minha frente – disse ela, após um momento. – Recebeu aquer mim.
– Também me pareceu.
Westcliff observava-a especulativamente pensado, entre outras coisas, que várias modific
eressantes haviam ocorrido, tanto em Sebastian como na sua insólita noiva, desde aquel
nos insólito casamento.
Quando Lillian soubera que St. Vincent havia desposado Evangeline Jenner, tinha tido um a
fúria, horror izada com a desgraça que podia ter atingido a sua amiga.– Esse monstro! – gritara Lillian, ao voltar a Londres, vinda de Itália. – Fazer uma coisa de
ie, logo à Evie!… Ele não sabe como ela é frágil! Deve ter sido tão cruel para ela… que nã
fesas e é tão inocente… Meu Deus, eu mato-o!
– A sua irmã garantiu que ela não parecia ter sido maltratada – disse Westcliff, usando da
bora ele próprio tivesse ficado preocupado ao imaginar uma criatura tão indefesa como
nner à mercê de St. Vincent.
– Provavelmente teve medo das consequências – retorquira Lillian, andando furiosa de um
ra o outro. – Ele violou-a, com certeza! Ameaçou-a. Talvez até lhe tenha batido… Deus meu!
– Não, não… – acalmara-a Westcliff, tomando nos braços o seu corpo tenso. – Segundo a D
Annabelle, houve ampla oportunidade para Evie lhes dizer se havia sido violada, mas ela não
a deixar mais sossegada irei ter com ela ao Jenner’s, para lhe propor apoio… e refúgio.
ar connosco no Hampshire, se quiser.
– Durante quanto tempo? – murmurou Lillian, aninhando-se no abraço dele.
– Indefinidamente, claro.
– Oh, Marcus… – os seus olhos castanhos começaram a toldar-se de lágrimas. – Era cap
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er isso por mim?
– Tudo, meu amor – respondera ele. – Tudo para a ver feliz.
E, assim, Westcliff aparecera no Jenner’s naquela noite, para se certificar se Evangeline e
o, uma cativa relutante. Mas, ao contrário das expectativas, deparou-se com uma mulhe
recia feliz por ali estar e, mais importante ainda, que parecia ter uma evidente afeição p
ncent.
Quanto a St. Vincent, tão eternamente altivo e indiferente… era difícil acreditar que o homem
tava as mulheres com uma frieza tão arrogante, pudesse ser o mesmo que acabava de arri
ópria vida. Ao receber o pedido de perdão de um homem que jamais exprimira o mais peq
morso e depois de o ouvir praticamente a suplicar proteção para a sua mulher, Westcliff che
a inegável conclusão: St. Vincent aprendera, contra todas as expectativas, a preocupar-me
m outra pessoa do que consigo próprio.
Era uma situação extraordinária! Como era possível que alguém como Evangeline Jenner ti
erado uma tal mudança em St. Vincent, o mais cínico dos homens? Era difícil de compre
ntudo, Westcliff já aprendera que os mistérios da atração nem sempre podiam ser expliavés da lógica. Por vezes, as fraturas entre duas almas podem vir a ser a charneira que as m
ntas.
– My lady – disse ele, cautelosamente.
– Evie, por favor – disse ela, aninhando a mão do marido contra o rosto.
– Evie, tenho de perguntar… O que a levou a abordar o St. Vincent, entre todos os homens
a oferta de casamento?
Pousando a mão de Sebastian, Evie exibiu um sorriso algo confuso.– Eu precisava de um meio para escapar à minha família de modo legal e permanente
amento como a única solução. E, como certamente se terá apercebido, os pretendentes à m
o não faziam fila no Hampshire… Quando soube o que o St. Vincent fizera à Lillian,
arrecida, mas também me ocorreu que ele era a única pessoa que conhecia que parecia est
sesperada quanto eu. Suficientemente desesperado para aceitar fosse o que fosse.
– E também fazia parte dos seus planos que ele tomasse conta do clube do seu pai?
– Não. Isso foi ele que decidiu, para minha grande surpresa. Para dizer a verdade, ele te
preendido, em todos os sentidos, desde que casámos.
– Como assim?
– Tem feito todos os possíveis para cuidar de mim, embora nunca deixe de proclamar
diferença… – Evie desviou os olhos para o rosto inconsciente do marido. – Sebastian
ensível, por mais que tente provar o contrário.
– Pois não – concordou Westcliff. – Não é de facto insensível… embora eu próprio tive
nhas dúvidas até esta noite.
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Capítulo 18
Embora Cam e Westcliff tivessem tomado todas as precauções, o processo de mudan
bastian para o andar superior enfraqueceu-o seriamente. Evie seguiu-os de perto, numa agon
ocupação ao observar a palidez extrema do marido. Cam parecia atormentado, embora mant
ntroladas as suas emoções, mantendo-se focado em fazer o que era necessário.
– Não sei como é que ele entrou – murmurava o rapaz. Evie percebeu que ele se refer ia a Bu
– Conheço todos os pontos de entrada e de saída desta casa. Pensei que tinha tomado cuidado
– A culpa não é tua, Cam – interrompeu Evie, em voz baixa.
– Alguém o deve ter deixado entrar, embora eu tenha recomendado aos empregados que…
– A culpa não é tua – repetiu ela; e o rapaz calou-se, embora fosse óbvio que não estaordo.
Westcliff manteve-se em silêncio, exceto quando murmurou algumas instruções ao passarem
quina estreita. Ele carregava o tronco de Sebastian, enquanto Cam segurava as pernas. Em
bastian fosse um homem grande, ambos estavam em boa forma física e carregaram-no a
arto principal sem dificuldade. O quarto havia sido restaurado não há muito tempo e as pa
tadas de cor creme. A velha cama fora substituída por uma nova, trazida de casa de Seba
nguém teria imaginado que este voltaria a ser novamente o quarto de um acamado, sobretuddo após a morte do pai de Evie
Sob as indicações de Evie, duas criadas cor riam de um lado para o outro, trazendo toalhas e
asgando lençóis para fazer ligaduras. O corpo inerte de Sebastian foi colocado na cama e
scalçou-lhe as botas, enquanto Cam e Westcliff tratavam de lhe despir as roupas ensopad
ngue. Por acordo tácito, deixaram-lhe as bragas interiores de linho branco.
Molhando um pano limpo na água morna, Evie lavou o sangue do corpo do marido; as ma
sangue seco entre os pelos loiros pareciam ferrugem. Como se afigurava indefeso aquele
deroso e elegante, agora reduzido a uma forma inerte de músculos trabalhados por uma con
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– Se o meu amor conseguir segurá-lo, ficará comigo.
Sebastian acordou numa intensa névoa de dor, não só no fer imento, mas também na cabeça,
articulações. Sentia-se seco e febril, como se lhe tivesse entrado fogo para debaixo da p
ntorcia-se numa inútil tentativa de escapar àquele calor abrasador. De repente, duas mãos s
sceram sobre ele e sentiu uma toalha molhada passar-lhe pelo rosto. Um sopro de alívio esc
dos lábios e ele estendeu a mão para aquela fonte de frescura, enclavinhando os dedos numa
cia.
– Não, Sebastian, não! Esteja quieto, deixe-me ajudá-lo.
Era a voz de Evie, transpondo aquela vaga de loucura. Arquejando, ele forçou-se a larg
xou-se cair de novo sobre o colchão. A toalha fresca movia-se sobre ele em gestos la
viando, momentaneamente, o seu tormento; cada passagem acalmava-o até que final
nseguiu manter-se quieto sob os cuidados dela.
– Evie… – disse ele, em voz rouca.
Ela deteve-se para lhe colocar entre os lábios algumas lâminas de gelo esmagado.– Sim, meu querido. Estou aqui.
Surpreendido pela palavra carinhosa, ele ergueu as pálpebras e viu-a inclinada sobre ele. O
breve se dissolveu na sua boca seca e, antes que ele tivesse de pedir, ela deu-lhe mais. Molha
cendo a toalha, Evie lavou-lhe o peito, os flancos, os braços… O quarto estava na penu
minado apenas pela luz proveniente de uma janela tapada, em parte, por um reposteiro. Uma
sca soprava entre os caixilhos semiabertos.
Notando a direção do olhar dele, Evie murmurou:– O médico disse para manter a janela fechada, mas pareceu-me que r epousa melhor quand
erta.
Sebastian sentiu-se inundado de gratidão, enquanto Evie continuava a lavá-lo com a toalha f
robe branco e a pele clara davam-lhe a aparência de um benevolente espírito antigo, tecendo
, no escuro, um feitiço benfazejo.
– Há quanto tempo…? – murmurou ele.
– Este é o terceiro dia. Sebastian, meu amor… se conseguisse voltar-se um pouco sobre o
o… Deixe-me entalar aí uma almofada… assim.
Com as costas dele expostas de lado, Evie pôde banhar-lhe a espinha e os ombros doridos,
fez gemer docemente. Sebastian lembrou-se vagamente das outras vezes em que ela lhe
uilo… das suas mãos leves… da sua face serena à luz do candeeiro. No meio de todo a
sadelo de dor e confusão, ele estivera consciente de como ela o havia tratado, zelando pela
cessidades com uma intimidade assombrosa. Quando ele tremia de febre, ela cobria-o
bertores e segurava nos seus braços o seu corpo tiritando de frio. Estava sempre presente,
smo que ele precisasse de a chamar… compreendia tudo, como se pudesse penetr
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aranhado dos seus pensamentos. O seu maior receio sempre fora poder vir a ficar depende
uém daquela maneira. Sentia-se cada vez mais fraco, à medida que a ferida infetava e a febre
vosamente. Sentia a morte pairando, como um espetro impaciente, ávido por reclamá-lo assi
visse desprovido de todas as suas defesas. Recuava quando Evie estava presente… sempre ate
uardando, mas bem menos ameaçador.
Sebastian só agora compreendia a força que Evie tinha. Mesmo quando assistira aos cuidado
dispensara ao pai, ele jamais suspeitara o que seria confiar nela, precisar dela… Nada lhe ca
o, nada que lhe pedisse era, para ela, demasiado. Ela era o seu apoio, o seu escudo… e ao m
mpo, esforçava-se por mimá-lo com uma amizade terna – pela qual ele começava a ansiar
mo a pretender escapar-lhe.
Os braços delgados, mas fortes, de Evie ampararam-no enquanto o deslizava, de novo, p
chão.
– Um golinho de água… – sugeriu ela, soerguendo-lhe a cabeça.
Sebastian recusou porque, embora sentisse a boca seca e pegajosa, estava igualmente cien
e a menor gota de água o faria vomitar.– Por mim, vamos… – insistiu ela, levando-lhe o copo à boca.
Sebastian lançou-lhe um olhar desagradado, mas obedeceu… e ficou chocado ao constatar
auso dela lhe causou um frémito de prazer.
– É um anjo… – murmurou ela, sorrindo. – Assim é que é. Agora descanse enquanto eu trat
rescar mais um pouco.
Ele relaxou-se num suspiro prazeroso, enquanto o pano húmido deslizava suavemente sobre
sto e pescoço.Afundou-se num oceano espesso e asfixiante de trevas, em sonhos que não lhe davam desc
fim do que poderiam ter sido minutos, horas ou dias, acordou num pico máximo de dor
utilava no flanco e que ardia e doía como se lhe tivessem cravado uma lança envenenada.
A voz suave de Evie acalmou aquele seu desespero.
– Sebastian, por favor… deite-se. O Dr. Hammond está aqui. Deixe-o examiná-lo.
Sebastian apercebeu-se de que estava demasiado fraco para fazer qualquer gesto. Era com
ivesse imobilizado, atado com pesos de chumbo.
– Ajude-me – murmurou, recusando-se a ficar deitado de costas. Evie, que o ente
ediatamente, apressou-se a levantar-lhe a cabeça, colocando uma almofada por baixo.
– Boa tarde, my lord – soou uma voz de barítono.
O corpulento doutor surgiu diante dele, com um ligeiro sorriso entre a barba prateada qu
mava a face rubicunda.
– Eu esperava por algumas melhoras – disse ele a Evie. – A febre não baixou?
Ela abanou a cabeça tristemente.
– Alguns sinais de apetite ou sede?
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– Por vezes bebe um pouco de água, mas não consegue manter no estômago nem um pou
do.
– Muito bem. Vou agora examinar a fer ida.
Sebastian sentiu a roupa da cama ser-lhe puxada até às ancas e a ligadura totalmente ret
mo se tentasse protestar contra a indignidade de ser exposto sem cerimónia, Evie pousou
o sobre o peito, murmurando:
– Não tem importância, meu querido. O Dr. Hammond só pretende ajudar.
Fraco de mais para sequer levantar a cabeça, Sebastian fixou os olhos no rosto de Evie, enq
e o médico olhavam a ferida exposta. A expressão de Evie não se alterou, mas ele percebeu
plo pestanejar dela, que o seu estado não havia melhorado.
– Tal como eu receava – disse Hammond, calmamente – o ferimento infetou. Vê aqueles
rmelhos estendendo-se em direção ao coração? Vou ter de retirar parte daquele sangue estra
corpo dele. Vamos esperar que isso reduza parte da infeção.
– Mas ele já perdeu tanto sangue… – disse Evie, insegura e angustiada.
– Não vou retirar mais de um litro – replicou Hammond, em tom tranquilizador mas firme. vou fazer mal, my lady, pelo contrário, vai aliviar a compressão dos vasos sanguíneos dev
umulação dos venenos.
Sebastian sempre considerara duvidoso o processo da sangria, mas nunca como ago
mento em que estava prestes a ser vítima de uma. Sentiu a pulsação acelerar até um fraco
sesperado, tamborilar nas suas veias e puxou pela mão de Evie.
– Não…! – murmurou, com a respir ação galopante.
Uma tontura dominou-o numa nuvem de faíscas e ele deixou de ver. Não deu conta de ter pesentidos, mas quando abriu de novo os olhos, descobriu que o seu braço esquerdo lhe havia
do às costas de uma cadeira ao lado da cama, com uma taça de porcelana colocada no assento
via sangue dentro da taça, ainda, mas Hammond aproximava-se dele com um dispo
melhante a uma pequena caixa.
– O que é isso? – quis saber Evie.
Sebastian reuniu todas as suas forças para virar a cabeça na almofada e olhar para ela.
– Chama-se escar ificador – respondeu o médico – e é, de longe, o método mais eficaz
oceder a uma sangria, ao invés da antiga lanceta.
– Evie… – murmurou Sebastian.
Ela pareceu não o ouvir, com o seu olhar desconfiado fixo no médico, que continuava a exp
– A caixa contém doze lâminas presas a uma rotativa. Com um toque no mecanismo, as lâ
oduzem uma série de golpes que induzem a saída do sangue.
– Evie…!
Ela olhou Sebastian e o que viu no seu rosto fê-la contornar a cama para se aproximar dele.
– Sim, meu querido, isto vai cer tamente fazer -lhe bem…
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– Não!
Aquilo ia matá-lo. Já era suficientemente difícil para ele lutar contra a febre e a dor. Enfraqu
r uma sangria demorada, não seria capaz de resistir mais tempo. Sebastian puxava, como
o braço esticado, mas a ligadura resistia e a cadeira nem estremecia.
– Rai’s part’ó diabo…! – lançou a Evie um olhar angustiado, lutando contra uma nova sen
desmaio. – Não… – gemeu ele. – Não permita…
– Meu querido – murmurou Evie, curvando-se para o beijar, de olhos rasos de lágrim
tenda que isto pode ser a solução… a sua última hipótese…
– Eu vou morrer, Evie…!
O terror toldava-lhe a visão, mas esforçava-se por manter os olhos abertos. O rosto
meçava a desvanecer-se.
– Eu morro, Evie… – murmurou de novo.
– Lady St. Vincent – soou a voz calma e firme do médico – a ansiedade do seu mar
rfeitamente compreensível. Contudo, o seu bom senso está afetado pela doença. Nesta alt
nhora é a pessoa mais indicada para tomar decisões em seu benefício. Eu não recomendaritamento se não acreditasse na sua eficácia. Deve deixar-me prosseguir. Duvido que Lo
ncent venha sequer a lembrar-se desta conversa.
Sebastian fechou os olhos com um gemido de desespero. Se ao menos Hammond foss
ático evidente, com uma triunfante gargalhada de maníaco… Mas Hammond era um c
peitável, com a firme convicção de alguém que acredita que está a proceder da melhor mane
rasco, ao que parecia, podia apresentar-se das mais variadas maneiras.
Evie era a sua única esperança, o seu único paladino. Sebastian mal podia acreditar que isdesse acontecer… a sua vida a depender de uma jovem inexperiente que iria provavelmente d
convencer pela autoridade do venerável doutor Hammond… Mas não havia mais ninguém a
bastian pudesse apelar.
Sentindo os dedos dela na sua face febril, olhou-a suplicante, incapaz de dizer uma só palavr
u Deus, Evie, não deixe que ele…
– Está bem – disse ela, baixinho, olhando-o nos olhos. O coração de Sebastian parou, jul
e ela se estava a dirigir ao médico, dando-lhe permissão para o sangrar. Mas Evie dirigiu
deira e rapidamente desatou o pulso de Sebastian, começando a massajar a pele seca e enrubes
Não pôde deixar de gaguejar ao dirigir-se ao médico:
– Dou-doutor Hammond, Lord St. Vincent não de-deseja esse tratamento. Eu tenho de acatar
a vontade.
Para sua eterna humilhação, Sebastian não conseguiu reter um soluço de alívio.
– My lady – replicou o médico, seriamente preocupado – rogo-lhe que reconsidere. A
dência aos desejos de um homem que está febril e fora de si pode significar a sua mor te! Deix
jude. Tem de confiar na minha opinião, visto eu ter, infinitamente, mais experiência no assun
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Evie sentou-se calmamente na beira da cama, segurando no colo a mão de Sebastian.
– Eu respeito, obviamente, a sua opi-pinião. – Parou, abanando a cabeça de impaciência
uele seu gaguejar. – Mas o meu ma-marido tem o direito de tomar esta decisão sozinho.
Sebastian torcia-lhe a saia com os dedos. Gaguejar era um claro sintoma da sua íntima ansie
s ela não iria ceder. Apoiá-lo-ia. Soltou um suspiro trémulo e sossegou, como se a sua
caminosa tivesse sido confiada à guarda de Evie.
Hammond começou então a arrumar os seus pertences, abanando a cabeça.
– Já que não permite que eu use os meus conhecimentos – disse, com calma e dignida
usando-se a ter em conta a minha opinião profissional, receio não poder ser de utilidade p
nhora e para o seu marido. Não prevejo senão um final desastroso para esta situação, se nã
sto em prática o tratamento adequado. Que Deus vos ajude.
E o doutor saiu do quarto, deixando atrás de si um rasto de firme desaprovação. Extremam
viado, Sebastian estendeu os dedos sobre o colo de Evie.
– Bons ventos o levem… – murmurou ele, enquanto a porta se fechava nas costas do doutor.
Evie olhou para ele sem saber se havia de rir ou de chorar.– O senhor é teimoso como uma mula! – disse ela, com os olhos húmidos. – Conseguiu m
bora um dos mais reputados médicos de Londres! Seja quem for que chamemos agor
tamente querer sangrá-lo também. Quem é que havemos de chamar? Uma benzedeira? Um m
randeiro? Uma cartomante?
Com esforço, Sebastian conseguiu levar a mão dela aos seus lábios.
– Não preciso de ninguém… – murmurou, beijando os dedos dela. – A não ser de si.
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Capítulo 19
Mas Evie debatia-se com uma multitude de dúvidas acerca da sua decisão em não deixar
utor Hammond tratasse de Sebastian. Após a partida do médico, o estado dele piorara visivelm
erida inchara e inflamara, e a febre insistia em subir. À meia-noite a lucidez abandonou-o. O
hos ardiam-lhe diabolicamente na face afogueada e ele olhava para Evie sem a reconh
urmurando palavras incoerentes que ela nem sempre entendia, mas que, por vezes, expri
velações sombrias que a enchiam de compaixão.
– Shhh… – murmurava ela, por vezes. – Shhh, Sebastian, sossegue…
Mas ele persistia naquele terrível desespero, o seu espírito mais e mais atormentado a
nuto, até que, finalmente, ela parou de tentar acalmá-lo e agarrou as mãos dele nas suas, escu
cientemente aquela amarga litania. No seu estado consciente, Sebastian jamais teria permse a quem fosse, um olhar sobre o seu íntimo desprotegido. Mas Evie sabia, talvez melhor d
nguém, o que era viver numa desesperada solidão… ansiando por ligar-se a alguém
mpletar-se. E também intuía os abismos para onde a sua solidão o levava.
Ao fim de algum tempo, quando a sua voz rouca se perdeu em murmúrios irregulares,
cou-lhe a toalha fria na testa e aplicou pomada sobre os seus lábios gretados, mantendo uma
bre a dele, deixando que a barba crescente lhe arranhasse os dedos. No seu delírio, Sebastian
osto para aquela palma de mão macia com um vago murmúrio. Bela, atormentada e pecamatura… pensou Evie. Haveria quem considerasse errado amar um homem assim, m
ntemplar aquele corpo inerte, ela sabia que nenhum outro homem jamais significaria para
e aquele significava… pois apesar de tudo, ele tinha querido dar a sua vida por ela.
Evie deitou-se na cama ao lado dele; encontrando sobre o seu peito a corrente de ouro, co
ança com a palma da mão e deixou-se adormecer por umas horas.
Ao romper a manhã deu por ele imóvel, perdido numa letargia.
– Sebastian…?
Apalpou-lhe a cara e o pescoço. A febre estava no auge. Parecia impossível que a pele hu
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desse ficar tão escaldante. Saltando da cama, correu para o cordão da campainha e puxou-o
da a força.
Com o auxílio de Cam e das criadas, Evie cobriu a cama com um oleado e colocou sac
usselina cheios de gelo em volta do corpo dele. Sebastian permaneceu imóvel e silencioso du
do aquele tempo. A esperança de Evie aumentou um pouco ao verificar que a febre pareceu b
s em breve tudo voltou ao mesmo.
Cam, que assumira as tarefas de Sebastian na administração do clube, acumulando-as com as
recia tão exausto quanto Evie. Ainda vestido com o fato da véspera, aproximou-se dela que e
ntada numa cadeira ao lado da cama do marido. Evie nunca se havia tinha sentido tão desesp
mo agora. Mesmo no pior dos seus tempos com os Maybricks, sempre acalentara al
perança.
Mas se Sebastian não sobrevivesse, ela sentia que jamais voltaria a ter prazer na vida.
Sebastian fora o primeiro a penetrar a sua prisão de timidez. E, desde o início, tomara cont
mo ninguém antes o fizera. Pensando no primeiro tijolo quente que ele lhe colocara debaix
s, durante aquela louca viagem de comboio carruagem até à Escócia, Evie esboço um sorrisom desviar o olhar da face lívida de Sebastian, murmurou:
– Não sei o que mais possa fazer por ele… Qualquer médico que eu mande chamar há de q
ngrá-lo… e eu prometi-lhe que não o permitiria.
Cam estendeu a mão para ela e alisou-lhe o cabelo sujo e emaranhado.
– A minha avó era curandeira – disse ele, pensativo. – Recordo-me de que ela costumava la
idas com água salgada e depois aplicar-lhes musgo de turfa seco. E quando eu tinha febre,
mastigar as raízes da planta maravilha.– Planta maravilha? Nunca ouvi falar…
Ele pôs-lhe para trás da orelha uns fios de cabelo em desalinho.
– Uma planta conhecida pelos seus poderes medicinais que cresce nas turfeiras.
Evie afastou a cabeça, envergonhada, especialmente por saber a grande importância q
anos atribuem ao aprumo pessoal; ao contrário do que se dizia, havia entre os ciganos um g
mero de rituais referentes à limpeza e higiene.
– E cuidas ser possível encontrar isso?
– A planta maravilha?
– E o musgo.
– Creio que sim, se me der algum tempo.
– Receio que ele não tenha muito tempo, Cam – disse Evie, com a voz entrecortada.
Aterrada com a ideia de ter perdido o controlo, endireitou-se na cadeira, afastando-se da
nsoladora de Cam.
– Eu… estou bem. Só te peço que tragas… seja o que for que julgues útil…
– Regresso em breve, descanse – ouviu ela dizer baixinho; e num instante ele desaparecera.
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Evie permaneceu sentada junto à cama, num estado de incerteza e exaustão, consciente d
ovavelmente, deveria fazer algumas concessões ao seu próprio corpo quanto a desc
mentação e outros cuidados. Mas receava abandonar Sebastian, ainda que por poucos minutos
eria correr o risco de regressar para descobrir que ele se fora para sempre durante a sua ausê
Tentou afastar aquela névoa de cansaço apenas o tempo necessário para tomar uma decisão
eu cérebro parecia ter-se desligado. Encolhida na cadeira, olhava fixamente o marido morib
m lhe vislumbrar qualquer movimento, a não ser o quase indetetável subir e descer do peito
adualmente, apercebeu-se da presença, junto dela, de um homem cuja vitalidade e forç
ovocaram uma reação na atmosfera sonolenta daquele quarto. Erguendo os olhos, encont
to preocupado de Lord Westcliff.
Sem uma palavra, ele inclinou-se e fê-la pôr -se de pé, amparando-a quando ela vacilou.
– Trouxe-lhe uma pessoa – disse ele, baixinho.
O olhar de Evie percor reu o quarto até encontrar a outra visita.
Era Lillian Bowman – agora Lady Westcliff – r adiosa e elegante, num vestido vermelho escu
a tez clara estava ligeiramente corada pelo sol do sul de Itália e o cabelo, negro, gantemente na nuca, com uma rede de seda e contas.
Lillian era alta e delgada, aquele género de rapariga destemida que poderíamos imaginar
pitã do seu navio pirata – nitidamente talhada para atividades perigosas e pouco convenci
mbora não possuísse a beleza romântica de Annabelle Hunt, Lillian gozava de uma at
discutível e de feições corretas que a denunciavam como sendo americana, mesmo antes
vir o seu sotaque distintamente novaiorquino.
Do seu círculo de amigas, Lillian era aquela de quem Evie se sentia menos próxima. Elssuía a ternura maternal de Annabelle, nem a alegria esfusiante de Daisy… Além disso, sem
imidara com a sua língua afiada e vivacidade picante. Contudo, Lillian era alguém em qu
deria sempre confiar em caso de sarilho.
Após um primeiro olhar ao aspeto abatido de Evie, Lillian aproximou-se dela sem hesita
volveu-a nos braços.
– Oh, Evie… – disse ela, com ternura. – Em que é que a menina se foi meter?
A surpresa e o alívio por se sentir abraçada com tanta firmeza por uma amiga que não esp
r desarmaram completamente Evie. Sentiu os olhos a arder e a garganta apertada, até qu
nseguiu mais conter as lágr imas. Lillian apertou-a nos braços com mais força.
– Devia ter visto a minha reação quando a Annabelle e a Daisy me contaram o que tinha f
se ela. – Ia caindo redonda e a seguir roguei todo o género de pragas a St. Vincent por
questrado daquela maneira. Estive seriamente tentada a vir cá e abatê-lo, eu própria, com um
as, ao que parece, alguém me poupou esse trabalho.
– Mas eu amo-o, minha amiga… – murmurou Evie, entre soluços.
– Não pode! – declarou Lillian, categoricamente.
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– É verdade, amo-o e vou perdê-lo justamente como perdi o meu pai. Eu não aguento
is… sinto-me enlouquecer.
Lillian suspirou, resmungando:
– Só mesmo a menina para se apaixonar por este… pavão, egoísta e odioso, Evie. Oh, admi
astante atraente, mas faria melhor em se apaixonar por alguém capaz de amá-la também.
– Lillian… – protestou Evie, em lágrimas.
– Está certo, admito que não é bonito insultar um homem ferido e em desvantagem. Não vou
is nada… para já.
Afastou-se, para olhar a cara afogueada de Evie, e suspirou, antes de prosseguir:
– As outras também queriam vir, claro. Mas a Daisy é solteira e não pode sequer espirrar
ar acompanhada… e a Annabelle cansa-se facilmente, grávida como está. Mas aqui estamos n
estcliff e eu, e vamos tratar de pôr tudo bem.
– Não podem – fungou Evie. – Aquela ferida… ele está tão mal… Cuido até que já terá en
coma.
Sempre com um braço à roda de Evie, Lillian voltou-se para o marido e perguntou comte, pouco própria para um quarto de doente:
– Isto é cer to, Westcliff? Ele… está em coma?
O conde, que se encontrava debruçado sobre o corpo prostrado de Sebastian, lançou-lhe um
esguelha:
– Duvido que alguém pudesse estar em coma com o alar ido que para aí vai… – resmungo
brolho erguido. – Não… Acaso estivesse em coma não conseguiria acordar e decididament
xer-se um pouco ainda agora… quando vocês gritavam.– Eu não gr itei, só elevei a voz – corrigiu Lillian. – Há uma diferença.
– Haverá? – perguntou calmamente Westcliff, puxando para baixo a roupa de cama até às an
bastian. – Eleva a voz com tanta frequência minha querida que, confesso, já não sei distinguir.
Lillian soltou uma gargalhada e largou Evie.
– Sendo casada consigo, my lord, qualquer mulher… Meu Deus, que horror!
Esta exclamação de Lillian coincidiu com o facto de Lord Westcliff ter retirado o penso da
Sebastian.
– De facto… – concordou o conde, visivelmente apreensivo ao ver a carne supurando san
s, com raios vermelhos estendendo-se para fora.
Evie aproximou-se da cama, limpando as faces molhadas. Westcliff, cavalheiro e eficiente
mpre, tirou um lenço limpo da algibeira e estendeu-lho. Ela limpou os olhos e assoou-se, olh
marido.
– Desde ontem à tarde que não dá sinal de si… Eu não permiti ao doutor Hammond sangrá
bastian não queria. Mas agora estou arrependida. Quem sabe não lhe teria feito bem. Mas
enas… eu não podia permitir que lhe fizessem o que quer que fosse contra a sua vontade! O
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– Eu trato do St. Vincent.
Sem entender por que razão a amiga se oferecia para tratar do homem que a havia sequestr
ltratado, Evie olhou-a, duvidosa. Lillian não era do género de perdoar facilmente e Evie – em
ivesse certa de que a amiga não faria mal a um homem indefeso e doente, prostrado numa c
ntia-se um tanto inquieta por abandonar Sebastian às mãos da amiga.
– Não posso acreditar que far ia isso… depois do que ele lhe fez?
Lillian esboçou um sorriso quase cínico.
– Não o faço por ele, querida. Mas por si. E pelo Westcliff que, por qualquer razã
sconheço, se recusa a considerá-lo como uma causa perdida – disse. E continuou, reviran
hos de impaciência: – Por amor de Deus, vá lá tomar banho. E faça alguma coisa a esse cabel
us… Não se aflija com o St. Vincent. Vou tratá-lo com o mesmo cuidado com que trataria
rido.
– Obrigada – murmurou Evie, sentindo de novo as lágr imas assomarem-lhe aos olhos.
– Oh, Evie…
O rosto de Lillian tornou-se mais brando, com uma expressão de ternura que Evie nunca lheto. Puxando Evie para si, abraçou-a novamente, falando-lhe para o cabelo emaranhado.
– Ele não vai morrer, sabe? Só os santos e as pessoas boazinhas é que morrem cedo de ma
ifes egoístas como St. Vincent vivem para atormentar os outros durante décadas!
Com o auxílio de uma camareira, Evie tomou banho e enfiou-se num vestido de dia, larg
o necessitava de corpete. Penteou o cabelo lavado numa longa trança que lhe descia pelas co
fiou os pés nuns chinelos de tricot. Voltando ao quarto de Sebastian, reparou que Lillian umado tudo e aberto as cortinas. Atara uma toalha à cintura, em jeito de avental, mas tanto a
mo o peitilho do seu vestido estavam sujos e manchados.
– Fi-lo tomar um pouco de caldo – esclareceu-a Lillian. – Foi o cabo dos trabalhos para o
golir – a verdade é que ele não estava totalmente consciente, por assim dizer, mas eu teimei, a
nseguir enfiar mais ou menos um quarto de chávena pela goela abaixo. Creio até que ele só a
r consentir por pensar que eu era um pesadelo que talvez desaparecesse se me fizesse a vontad
Evie ficou incrédula. Ela tinha sido incapaz de convencer Sebastian a beber fosse o que
sde a manhã anterior.
– É a mulher mais maravilhosa…
– Sim, sim, bem sei – interrompeu Lillian, desconfortável como sempre ao ouvir elog
abaram de trazer um tabuleiro para si. Está ali na mesinha ao pé da janela. Torradas e
xidos. Coma tudo, querida, ouviu bem? Não me obrigue também a usar a força.
Enquanto Evie se sentava obedientemente e trincava uma torrada, Lillian mudou o pano hú
bre a testa de Sebastian.
– Tenho de confessar que é difícil odiar uma pessoa que se apresenta tão mal – continuou L
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E também tem a seu favor o facto de ser ele quem está ali deitado, em seu lugar.
Sentando-se à beira da cama, olhou Evie com franca curiosidade.
– Gostava de perceber porque o fez. Egoísta como é… Não é de todo o género de criatura
crificar por alguém.
– Ele não é totalmente egoísta, acredite – murmurou Evie, bebendo o seu chá.
– O Westcliff acredita que o St. Vincent está apaixonado por si. Sabia disso?
Evie engasgou-se um pouco e não ousou levantar os olhos para a amiga.
– P-p-por que razão pensa ele assim?
– Conhece o St. Vincent desde a infância e sabe ler nas entrelinhas… Ele até vê uma certa l
facto de ser a Evie a conquistar finalmente o coração dele. Disse que uma rapariga como
abaria por agradar… Hmm… como é que ele disse…? Não me recordo exatamente das pal
e usou, mas era algo como… a Evie acabaria, fatalmente, por encarnar a fantasia mais sec
is íntima de St. Vincent.
Evie sentiu-se corar, enquanto uma mistura de dor e de esperança batalhavam no mais fun
u ser. Esforçou-se por responder com algum sarcasmo:– Pois eu diria que a sua maior fantasia era ter relações com o máximo de mulheres possíve
Lillian respondeu-lhe com um sorr iso irónico:
– Minha querida, isso não é a fantasia de St. Vincent, é a sua realidade. A meni
ovavelmente, a primeira rapariguinha doce e decente com quem ele jamais se relacionou.
– Mas ele passou bastante tempo consigo e com a Daisy no Hampshire – retorquiu Evie.
Aquilo pareceu divertir ainda mais Lillian.
– E eu sou tudo menos doce, querida. E a minha irmã tão-pouco… Não me diga que tem vm essa ideia absurda durante todo este tempo?!
No momento em que Evie acabava a sua refeição, Lord Westcliff e Cam entraram no q
zendo uma parafernália incrível de potes, garrafas, frascos com poções e vários outros ar
as camareiras seguiam-nos, trazendo jarros de metal fumegantes e uma quantidade enorm
lhas dobradas. Conquanto Evie se oferecesse prestamente para ajudar, ordenaram-lhe que rec
quanto dispunham os objetos à volta da cama e estendiam toalhas sobre os flancos, ancas e p
Sebastian, deixando exposta apenas e unicamente a zona da ferida.
– Seria melhor ele tomar alguma mor fina antes – disse Westcliff.
Espantada, Evie viu-o enrolar firmemente uma tira de tecido à volta de uma haste de ma
mando uma espécie de espátula forrada, antes de prosseguir:
– Este tratamento vai, provavelmente, ser muito mais doloroso do que o tiro em si.
– Cuido ser possível obr igá-lo a engolir uma colher de remédio – disse Lillian, decididame
ie, posso?
– Não, deixe que o faça.
Evie aproximou-se da cama e mediu uma dose de xarope de morfina para dentro de um
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m surgiu a seu lado e estendeu-lhe um pequeno cartucho de papel dobrado, cheio com
recia ser uma cinza verde escura.
– São raízes moídas de planta maravilha – esclareceu ele. – Encontrei-as no primeiro botic
e me dirigi. O musgo de turfa foi algo um pouco mais difícil de encontrar, mas também
ter um pouco.
Evie tocou-lhe no ombro, num agradecimento mudo.
– Que quantidade de pó lhe hei de dar?
– Para um homem da sua envergadura… cuido que duas colheres de chá, pelo menos.
Evie misturou o pó com o líquido do copo que imediatamente se tornou preto. Sem dúvid
ber ainda pior do que o aspeto que tinha. Evie só pedia que, se Sebastian consentisse em eng
grasse manter aquela horrível mistela no estômago. Trepando para cima da cama ao lado
ariciou-lhe o cabelo húmido e a face ardente.
– Sebastian… – murmurou, docemente. – Acorde. Tem de tomar o remédio…
Ele não reagiu, nem mesmo quando ela passou o braço por trás dos ombros dele, ten
guer-lhe a cabeça.– Não, não, não! – ouviu-se a voz firme de Lillian. – Está a ser demasiado meiga, Evie. Eu t
acudir com força para o ver suficientemente desperto de modo a engolir um pouco de cald
stro-lhe como se faz. Com licença…
Subiu para a cama, ao lado de Evie, e abanou vigorosamente o homem semiconsciente a
mer, entreabrir os olhos e fixar as duas mulheres sem as reconhecer.
– Sebastian… – disse Evie, com ternura. – Tenho um remédio para si.
Ele tentou voltar-lhe as costas, mas o esforço causou pressão sobre o lado ferido e ovocou-lhe uma reação violenta. Evie e Lillian viram-se, de repente, varridas da cama co
ico movimento de um braço possante.
– Ai! – disse Lillian ao cair no chão, por cima de Evie que só por milagre conseguiu sa
nteúdo do copo.
Arquejante, gemendo em pleno delírio, Sebastian afundou-se na cama, todo o seu corpo ab
m tremores. Evie, ainda que consternada pela resistência dele, ficou extremamente satisfeita
uele sinal de força – mil vezes preferível à imobilidade funesta das últimas horas.
Mas Lillian não parecia partilhar do mesmo sentimento.
– Vamos ter de o amarrar – afirmou, com firmeza. – Jamais conseguiremos mantê-lo quiet
tratarmos do ferimento.
– Não! Não quero que… – começou Evie, mas Cam surpreendeu-a ao concordar:
– Lady Westcliff tem razão.
Evie levantou-se do chão em silêncio. Ajudou Lillian a pôr-se de pé e ficou a olhar para o
tante de Sebastian. Estava de novo de olhos fechados e os dedos agitavam-se convulsivam
mo se quisessem agarrar qualquer coisa. Era incrível como um homem tão forte e sau
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desse ver-se reduzido a esta figura exânime e lívida, de lábios gretados e olhos cercados de n
Ela faria o que fosse preciso para o ajudar. Decidida, rasgou algumas tiras de um pano lim
regou-as a Cam, do outro lado do leito.
Resolutamente, o rapaz atou rapidamente os braços e as pernas de Sebastian à armação da ca
– Deseja que eu própr io lhe administre o remédio, my lady? – perguntou a Evie.
– Deixa comigo, obrigada – respondeu ela, trepando novamente para cima da cama, ao la
bastian.
Após lhe colocar uma almofada debaixo da cabeça, apertou-lhe o nariz com os dedos. Log
bastian entreabriu os lábios e começou a arquejar, ela deitou-lhe o espesso remédio pela
aixo. Ele resistiu, debatendo-se, mas para satisfação dela, o xarope desceu pela garganta c
nimo de perda. Impressionado pela eficiência dela, Cam ergueu as sobrancelhas, enquanto
bastian praguejar, agitando-se, mas debalde. Curvando-se sobre ele, Evie acariciou-o, murmu
iguices, bafejada pelas emanações de ópio provenientes da respiração dele.
Quando, finalmente, ele acalmou, Evie levantou os olhos para Lillian que observava a cena
presa, semicerrando os olhos e sacudindo ligeiramente a cabeça – como que pasmada cuação.
Evie calculou que Lillian só conhecera Sebastian como aquele peralvilho arrogante, se
stido de forma sublime, que perambulava pela propriedade de Westcliff – o que tornava
vida, assombroso encontrá-lo agora nestas circunstâncias.
Entretanto, Westcliff despira o casaco e arregaçara as mangas da camisa. Dedicava-se ag
parar uma mistela que empestava o quarto com um horrível cheiro cáustico. Lillian, qu
rticularmente sensível aos cheiros, fez uma careta, arrepiando-se.– Esta é a combinação de cheiros mais horrível que eu alguma vez senti!
– Essência de terebintina, alho, vinagre e mais uns quantos ingredientes que o boticário su
luindo óleo de rosas – explicou Cam.
– Recomendou também que, de seguida, se aplicasse uma cataplasma de mel, para impedir
ida infete.
De olhos arregalados, Evie viu Cam abrir uma pequena caixa de madeira e retirar um fu
ão e um objeto cilíndrico com uma pega de lado e uma ponta bicuda do outro .
– O que é isso? – perguntou.
– É igualmente uma sugestão do boticário – disse Cam, levantando o objeto no ar e observa
m olho crítico. – Uma seringa. Quando lhe descrevi o que iríamos fazer, ele afirmou que com
ida tão profunda a única forma de a irrigar de forma satisfatória seria com isto.
Dispôs, então, em ordem uma série de objetos, frascos com substâncias químicas e uma pi
lhas e panos dobrados. De seguida, Westcliff aproximou-se da cama e dirigiu-se às duas mulh
– Todo este processo irá revelar -se bastante desagradável – disse ele. – Assim sendo, se al
s senhoras tem estômago frágil…
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O seu olhar demorou-se significativamente sobre Lillian que fez uma careta.
– É o meu caso, como muito bem sabe – admitiu ela. – Mas consigo dominar-me, se necessá
Um sorriso súbito surgiu na face impassível do marido.
– Vamos poupá-la por ora, meu amor. Não prefere ir para outro quarto?
– Vou sentar-me à janela – disse Lillian, afastando-se da cama.
Westcliff olhou para Evie, com olhar interrogativo.
– Onde quer que eu fique? – perguntou ela.
– À minha esquerda. Vamos necessitar de bastantes toalhas e panos, por isso, pedia-lhe que
bstituindo as sujas, sempre que necessário…
– Com certeza.
Colocou-se à esquerda dele, enquanto Cam se instalava à direita. Ao olhar o perfil resolu
estcliff, Evie subitamente achou admirável que aquele homem poderoso – e que ela sempre a
intimidante – estivesse disposto a fazer tudo para ajudar um amigo que o havia traído. Uma
gratidão apoderou-se dela e não pôde deixar de lhe puxar ligeiramente pela manga.
– My lord, antes de começarmos, queria dizer-lhe…Westcliff inclinou a cabeça para ela:
– Sim?
Como ele não era tão alto como Sebastian, foi relativamente fácil para Evie pôr-se em bic
s e beijar-lhe a face.
– O meu eterno agradecimento por ajudá-lo – disse ela, olhando firmemente para aqueles
presos. – My lord é o homem mais nobre que alguma vez conheci.
Aquelas palavras fizeram subir o sangue às faces douradas pelo sol e pela primeira vez desdo conhecera, o conde pareceu não encontrar palavras.
Lillian que os observava sorriu do outro extremo do quarto.
– Os motivos dele não são apenas beneméritos, Evie, querida – disse ela. – Estou mais d
ta de que lhe agrada, literalmente, ter a oportunidade de deitar sal nas feridas do St. Vincent.
Ainda que notoriamente bem-disposta, Lillian empalideceu subitamente, agarrando com fo
aços da cadeira onde estava instalada, quando Westcliff pegou numa fina lanceta e pro
bilmente à abertura e drenagem da ferida.
Apesar de ter ingerido uma dose forte de morfina, a dor fez Sebastian contorcer-se, enq
otestos incoerentes lhe saíam, balbuciantes, da garganta. Cam ajudava a segurá-lo, para q
nimo movimento fosse impossível. Mas a maior dificuldade surgiu quando Westcliff come
ar a ferida com água salgada. Sebastian gritou, debatendo-se qual fera enjaulada, enqua
inga era usada repetidamente, até que a solução salina que ia ensopando as toalhas debaixo
meçou finalmente a sair rosada, com sangue fresco e limpo. Westcliff trabalhava com pre
meza e com uma eficácia enérgica que qualquer cirurgião teria invejado. De certo modo,
nseguiu dominar a sua própria angústia, enterrando-a sob camadas e camadas de entorpecim
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quanto trabalhava com o mesmo desprendimento aparente de Westcliff e Cam. Metodicament
tirando para fora as toalhas ensopadas de sangue, substituindo-as por toalhas limpas que col
baixo do flanco do marido. E para seu enorme alívio Sebastian acabou por desmaiar, ficando
em reação ao tratamento.
Uma vez a ferida limpa, para total satisfação de Westcliff, ele serviu-se da espátula ensopa
ução de terebintina e saturou bem a ferida. De seguida, deu lugar a Cam, que enrolou um p
musgo de turfa num quadrado de musselina, ensopou-o em mel e, cuidadosamente, cobriu
ida.
– Acabei – disse o rapaz, satisfeito consigo próprio, enquanto desaper tava as ligaduras com
ra as mãos e os pés de Sebastian. – Agora resta-nos aguardar. A ferida vai começar a sara
ntro. Teremos de repetir todo este processo durante alguns dias e depois dispensamos o mu
xamos que a ferida se feche.
Foram necessários os esforços de todos para colocar uma ligadura de linho à volta da cintu
bastian e para mudar os lençóis, até a cama ficar limpa e seca.
Quando aquilo finalmente acabou, Evie sentiu a autodisciplina que se impusera a abandoalmente e começou a tremer dos pés à cabeça.
Verificou, não sem surpresa, que mesmo Westcliff parecia esgotado; com um longo su
mpou o suor da cara com um pano limpo, enquanto Lillian acorria junto dele e o apertava
raço rápido, murmurando-lhe ao ouvido uma palavra carinhosa.
– Devemos mudar o penso duas vezes por dia, creio eu – comentou Cam para ningué
rticular, enquanto lavava as mãos com água e sabão. – Se a febre não abrandar até à noite, v
orçar a dose das raízes de planta maravilha.Fazendo sinal a Evie para se aproximar, lavou-lhe também as mãos e os braços.
– Ele vai ficar bom, Evie, acredite… – disse-lhe ele, docemente. – Enquanto o conde lav
ida, eu achei-a com bastante melhor aspeto do que aquilo que francamente esperava.
Evie abanou a cabeça exausta consentindo, com uma passividade infantil, que ele lhe seca
os.
– Não quero ter demasiada esperança em nada. Eu…
A voz faltou-lhe, o chão pareceu ondular sob os seus pés e ela teria caído por terra se Cam
esse agarrado e amparado contra o peito.
– Para si, my lady, é a cama, e já! – anunciou ele, levando-a até à porta.
– Sebastian… – murmurou ela.
– Nós cuidaremos dele enquanto descansa.
Nem ela tinha outra escolha, pois o seu corpo, privado de sono, recusava-se a funcionar ma
nuto que fosse. A sua última recordação foi a de Cam a conduzi-la até ao seu quarto, deitand
ma, puxando-lhe os cobertores e entalando-os dos lados, como se ela fosse uma criança. Log
alor do seu próprio corpo a envolveu debaixo dos lençóis gelados, a jovem afundou-se num
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m sonhos.
Evie acordou e sentiu o calor estimulante de uma pequena chama. Uma vela ardia sobre a m
beceira. Alguém estava sentado na beira da cama…
Lillian… que parecia descomposta e extenuada com o cabelo atado na nuca.
Evie soergueu-se, lentamente, esfregando os olhos.
– Já é noite? – balbuciou ela. – Devo ter dormido durante toda a tarde, cer tamente.
Lillian sorriu-lhe, trocista:
– Dormiu durante um dia e meio, minha amiga. O Westcliff e eu tratámos do St. Vincent, enq
. Rohan tem dirigido o clube.
Evie engoliu em seco. O seu coração começou a bater mais forte enquanto se forçava a perg
– E Sebastian? Como é que ele…?
Lillian pegou-lhe nas mãos com ternura e indagou:
– O que é que prefere ouvir primeiro… a boa ou a má notícia?
Sem conseguir falar, Evie abanou a cabeça, olhando fixamente a amiga, os lábios tremengústia.
– A boa notícia – disse Lillian – é que a febre desapareceu totalmente e a fer ida está a cica
rmalmente. – E acrescentou, com um sorriso pícaro: – E a má notícia é que… vai ter de su
ar casada com ele para o resto da sua vida.
Evie largou-se num pranto incontido. Os ombros tremiam-lhe com os soluços violentos
ou os olhos com uma mão, enquanto sentiu que a outra era apertada com força pela amiga.
– Pois é… – disse a voz trocista de Lillian. – Chorar era também o que far ia, fosse elerido – mas por razões bem diferentes.
Isto provocou um soluço de riso entre o choro abafado de Evie que abanou a cabeça, limpan
rimas.
– E ele está consciente? Já fala?
– Sim. Perguntou por si repetidamente e ficou muito aborrecido quando me recusei a aco
is cedo.
Evie olhou a amiga com os olhos ainda enevoados:
– Estou certa de que foi sem intenção de parecer ingrato, depois de tudo o que vocês fizeram
– Não tem de pedir desculpa por ele – disse Lillian, diver tida. – Eu conheço-o bem…
cisamente por isso que ainda não creio que ele consiga gostar de alguém a não ser dele próp
vez um pouco – muito pouco – de si. Mas se ele a faz feliz, querida, creio que vamos ter
erar.
Franziu o nariz e começou a fungar, como se procurasse a origem de um cheiro desagradáv
e o encontrou nas mangas do seu vestido.
– Uff!… Ainda bem que a minha família é dona de uma companhia de sabonetes, porqu
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cisar de uma dúzia deles para tirar este horrível cheiro do cataplasma…
– Nunca vou poder agradecer-lhe o suficiente por ter tomado conta dele, Lillian – disse
vorosamente.
Lillian levantou-se, espreguiçando-se.
– Não pense mais nisso. Por um lado até valeu a pena, para ter o St. Vincent em eterna dívid
migo. Nunca mais vai poder olhar para mim sem a recordação humilhante de eu o ter visto
onsciente no seu leito de dor.
– Lillian! Não me diga que… Viu-o nu?! – perguntou Evie, de sobrancelhas levantadas.
Lillian já se dirigia para a porta:
– Ora, vi-o de relance, de quando em vez – disse ela, com desembaraço. – Era impossível ev
da a zona do corpo onde estava a ferida…
Parando à porta, lançou a Evie um olhar malicioso.
– Tenho de admitir, dados os rumores que correm por aí… que nem por sombras lhe é
tiça.
– Que rumores? – perguntou Evie, alarmada.Mas Lillian já saía do quarto, com um risinho cínico.
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erente de uma necessidade sexual… era uma espécie de vício total e absoluto para o qua
recia haver cura.
Além disso, havia outro tormento para Sebastian que consistia na obsessão de pensar que
llard tinha tentado matar Evie. E, com isso, a sua reação crescia num lugar primitivo no seu í
e a razão não conseguia dominar. Sebastian queria o sangue de Bullard. Queria estraçalhar a
ldito em mil bocados. O facto de se encontrar impotente numa cama, enquanto Bullard se pas
ontade por Londres era o bastante para o pôr doido. De nada serviam as declarações do ins
polícia que fora encarregue do caso, de que estavam a ser feitos todos os possíveis para enc
s Bullard. E posto isto, Sebastian tinha chamado Cam ao seu quarto para lhe ordena
ntratasse mais investigadores privados – incluindo um antigo elemento dos Bow Street Runn
meira força policial profissional de Londres, cujo único encargo era perseguir e pr
minosos – a fim de conduzirem uma operação de busca intensiva. Mas, entretanto, não havia
da que Sebastian pudesse fazer e ele fervia em lume brando na sua forçada incapacidade.
Cinco dias pós a febre ter desaparecido, Evie mandou vir uma meia-banheira para o q
diante com a possibilidade de poder tomar banho, Sebastian consolou-se na água quente, enqie o barbeava e o ajudava a lavar a cabeça. Uma vez limpo e seco, regressou à cama feita de l
permitiu que Evie lhe tratasse a ferida. O buraco da bala estava a fechar tão rapidamente qu
ha deixado de aplicar o musgo de turfa, limitando-se agora a tapar a ferida com um penso li
a ainda fonte de frequente comichão e picadas dolorosas, mas Sebastian sabia que, dentro de u
is dias, poderia regressar à maior parte das suas atividades. Exceto a suaatividade favorita qu
tude do acordo infernal feito com Evie, permanecia interdita.
Evie retirara-se temporariamente do quarto para mudar de vestido – visto que o seu charcado com o banho – e, movido por uma pura perversidade, Sebastian fez soar a sineta de
e tinha na mesa de cabeceira, aproximadamente dois minutos após ela ter saído.
Ouvindo-o, Evie enfiou um robe à pressa e voltou a entrar no quarto.
– O que foi? Aconteceu alguma coisa?
– Não…
– É a fer ida? Está a doer?
– Não…
Mudando de expressão, Evie aproximou-se da cama, tirou a sineta da mão do marido e vo
ocá-la na mesa de cabeceira.
– Sabe que mais? Estou a pensar seriamente em retirar o batente desta sineta até que apre
á-la mais criteriosamente…
– Toquei porque precisei de si – disse ele, com mau humor.
– Sim… o que foi? – perguntou ela, num tom de infinita paciência.
– Os r eposteiros, as cortinas! Quero-os aber tos.
– E não podia ter esperado que eu me mudasse?
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– Está demasiado escuro. Preciso de luz.
Evie dirigiu-se à janela e afastou ao máximo os panos de veludo, ficando em silhueta co
ensão pálida de um sol de inverno. Com o cabelo solto, os caracóis largos de cabelo ruivo q
egavam quase à cintura, lembrava uma figura de um quadro de Ticiano.
– Mais alguma coisa?
– Está um mosquito no meu copo de água.
Caminhando descalça até à cama, Evie levantou o copo, meio cheio de água, e examinou-o
ho clínico.
– Não vejo mosquito algum.
– Mas está! – insistiu Sebastian, rabugento. – Vamos ter de discutir o assunto, ou vai busc
ua limpa?
Engolindo uma resposta torta com um notável controlo de si própria, Evie foi até ao lava
spejou a água e voltou a encher o copo. Trouxe-o de volta, colocou-o sobre a mesa de cabec
hou Sebastian com solicitude.
– Mais alguma coisa?– Sim. A minha ligadura está apertada de mais. E a ponta solta está dobrada nas costas. E
ego lá.
Quanto mais exigente ele se mostrava, mais enervantemente solícita Evie se tornava. Curvan
bre ele, murmurou-lhe que se voltasse um pouco e ele sentiu-a soltar cuidadosamente a lig
ra voltar a entalar as pontas. O roçar dos dedos dela nas suas costas, tão frescos e tão delic
-lhe acelerar a pulsação. Um caracol de cabelo sedoso deslizou sobre o seu ombro. Deita
vo de costas, Sebastian lutava contra a alegria desesperada que sentia com aquela proximidadNo auge da frustração, ele ergueu os olhos para ela, a poucos centímetros daquela linda bo
ma de coração, daquela pele de cetim, daquele irresistível salpico de sardas. Ela pouso
emente a mão sobre o peito, sentindo-lhe o bater descompassado do coração, e pôs-se a b
m a aliança que ele trazia pendurada ao pescoço.
– Tire-me isto! – rezingou ele. – O raio dessa coisa incomoda-me… impede-me de…
– Impede-o de quê? – sussurrou Evie.
Sebastian podia sentir o cheiro da pele dela, um cheiro quente e aromático… a mulhe
ntidos despertos, agitou-se sobre o colchão.
– Tire-ma do pescoço e ponha-a em cima da cómoda – disse ele, com esforço.
Ignorando aquela ordem, Evie sentou-se na cama e inclinou-se, até as pontas do seu cabelo
çarem o peito dele. Ele ficou como que petrificado, mas estremeceu por dentro ao senti-la p
m dedo pela curva do seu queixo.
– Fiz um bom trabalho quando o escanhoei – disse ela, satisfeita consigo própria. – Talvez
hado um pouco aqui ou ali… mas, pelo menos, não lhe fiz o mínimo corte. O que valeu tam
ter estado tão quieto…
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– Senti-me demasiado aterror izado para me mexer – disse ele, ao que ela respondeu co
inho de satisfação.
Incapaz de continuar a evitar o olhar dela, Sebastian forçou-se a procurar-lhe os olhos…
minosos, tão espantosamente azuis…
– Mas por que que toca tão insistentemente aquela sineta? – sussur rou Evie. – Sente-se só?
er…
– Eu nunca me sinto só – conseguiu ele dizer, com convicção.
Mas, para sua consternação, Evie não fez menção de se afastar e o seu sorriso parece
eiramente trocista.
– Então deseja que eu saia, é isso? – perguntou ela, solícita.
Sebastian sentiu um calor traiçoeiro subindo dentro de si, desenrolando-se, alastran
palhando-se por toda a parte.
– Sim, é isso… saia – disse ele, fechando os olhos, absorvendo avidamente o cheir
oximidade dela.
Mas Evie deixou-se ficar. O silêncio tornou-se tão intenso que parecia a Sebastian que o bau coração ameaçava tornar-se audível.
– Quer saber o que eu penso, Sebastian? – perguntou ela, finalmente. Foi-lhe necessári
orço hercúleo para manter a voz controlada.
– Não especialmente.
– Penso que assim que eu sair deste quarto, vai voltar a tocar essa bendita sineta… Mas, por
e toque, por mais vezes que eu acorra, nunca há de ser capaz de me dizer o que quer realment
Sebastian entreabriu os olhos… o que foi um erro. O rosto dela estava muito perto, a sua ba distância pecaminosa da dele.
– Neste momento, o que eu quero é apenas paz e sossego – resmungou. – Por isso, se n
porta…
A boca dela roçou a dele, sedosa, macia e quente… e ele sentiu o estonteante toque da sua lí
endeu-se-lhe, desde logo, a chama do desejo e ele deixou-se afogar num prazer imode
deroso, como nunca havia sentido. Ergueu as mãos para afastá-la, mas os seus dedos, trém
rvaram-se à volta da cabeça dela, agarrando-a para si. As ondas fogosas do seu cabelo fi
mprimidas entre as palmas das mãos dele, enquanto a beijava com uma urgência v
ocurando com a língua a delícia cativante da sua boca.
Sebastian ficou vexado ao perceber que estava a arquejar como um rapazinho inexpe
ando Evie terminou o beijo. A boca dela revelou-se rosada e húmida, as sardas brilhando
eira de ouro sobre as suas faces rosadas.
– E também penso… – disse ela, com a voz mal controlada – … que está prestes a perder a
osta.
Chamado à realidade por um rasgo de indignação, Sebastian abespinhou-se:
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– Cuidará a senhora que estou em condições de perseguir outra mulher? A não ser que es
nsar em trazer-me alguém para a minha cama, não vejo como possa…
– Não vai perder a aposta por dormir com outra mulher – disse Evie, interrompendo-o.
E, com um brilho diabólico nos olhos, levou as mãos ao decote para, lenta e deliberadam
meçar a desabotoar a fila de botões, as mãos tremendo-lhe ligeiramente.
– Vai perdê-la comigo.
Incrédulo, Sebastian viu-a levantar-se e deixar cair o robe. Estava nua, as pontas dos
guiam-se, rosadas, no ar fresco. Perdera algum peso, mas os seus seios estavam ainda firm
dondos, lindos… e as ancas ainda sobressaíam generosamente das curvas pronunciadas da ci
baixar os olhos para o triângulo de pelo ruivo entre as coxas dela, uma vaga de desejo ar
spassou-o dos pés à cabeça.
– Não pode fazer-me perder a aposta – sentiu-se ele próprio balbuciar. – Isso é… batota!
– E eu nunca lhe prometi não fazer batota – disse Evie, com um sorriso travesso, enfiando-s
entre os cobertores.
– Que raio, eu não vou colaborar…A respiração chiou-lhe entre os dentes ao sentir o suave corpo de Evie deslizar contra o s
orar elástico do corpo dela contra a sua anca, quando fez escorregar uma perna entre as
astou a cabeça quando ela tentou beijá-lo.
– Evie, não posso… – Procurava astutamente um modo de a dissuadir. – Sinto-me tão fraco…
Ardente e determinada, Evie agarrou-lhe na cabeça e voltou-lhe o rosto para o seu:
– Meu pobre querido… – murmurava ela. – Sossegue que vou ser meiguinha consigo.
– Evie… – disse ele, rouco, excitado, furioso e suplicante. – Tenho de provar que consigos meses sem… oh, não, não faça isso… Raios a partam, Evie!
Ela desapareceu entre os lençóis, espalhando beijos ao longo da linha rija do peito a
dómen, tendo o cuidado de não deslocar a ligadura. Sebastian tentou levantar-se, mas um
uda na ferida obrigou-o a cair de costas, com um gemido de dor. E a seguir voltou a geme
r uma razão totalmente diferente: Evie alcançou a extensão dorida do seu membro retes
meçou a lamber delicadamente a ponta.
Tornou-se desde logo óbvio que Evie jamais fizera aquilo… desconhecia totalmente a técn
bia muito pouco acerca da anatomia masculina, mas isso não a impediu de continuar, com
dor inocente, imprimindo pequenos beijos ao longo do membro sensível, demorando-se qua
via gemer. As mãos quentes brincavam com os testículos; então experimentou de novo co
ios e a língua, progredindo até à ponta latejante do órgão, para logo tentar descobrir quant
podia caber na boca. Sebastian agarrava a roupa da cama em punhados, o corpo arqueado,
estivesse estirado e imobilizado num estrado de tortura. O prazer percorria-lhe cada n
viando ao cérebro desvairadas mensagens, tornando-lhe impossível pensar claramente.
Todas as memórias de outras mulheres desapareceram, permanentemente banidas do
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O mundo inteiro reduziu-se ao lugar onde ele a invadia, onde os seus pontos mais sensív
contravam. As longas pestanas de Evie baixaram-lhe às faces, escondendo o seu olhar desfo
bastian contemplou a onda rosa que invadia o rosto dela. Sentia-se suspenso e maravil
undado de uma ternura veemente ao servir-se do seu corpo para dar prazer ao dela.
– Beija-me – murmurou ele, guiando a boca dela até à sua para a violar com a língua.
Ela estremeceu, soluçando na libertação do clímax, colando sofregamente as suas ancas às
recebê-lo plenamente. A orla do seu sexo encaixou-se firmemente no dele e então Seb
regou-se àquela carne envolvente, enleante, latejante, deixando-a arrancar de si o êxtas
andes vagas de volúpia. Ao senti-la relaxar-se sobre ele, tentando recuperar o fôlego, ele lev
os às costas dela e os seus dedos viajaram suavemente até à curva roliça do seu traseiro,
dagação cor tês. E, para seu regozijo, sentiu-a contorcer-se, apertando-o à sua volta, numa ren
ondicional. Se ele estivesse na posse do seu vigor habitual… oh, as coisas que ele lhe teria fe
Mas, pelo contrário, a exaustão fê-lo cair de novo, com a cabeça à roda. Evie separou-se del
iculdade e repousou a seu lado. Com as forças que lhe restavam, Sebastian encheu uma mão c
belo dela, esfregando nas faces os caracóis flamejantes.– Tu matas-me… – murmurou ele, e sentiu o toque da boca dela no seu ombro.
– Agora que perdeste a aposta – disse Evie, em voz baixa – vamos ter de pensar n
nalidade, visto que já pediste desculpa a Lord Westcliff.
Com efeito – e com enorme custo – Sebastian já tinha dirigido um discurso de arrependim
to a Westcliff como a Lillian, antes de os ver partir, descobrindo, na mesma ocasião, que a
sa mais humilhante do que pedir perdão era ser-se perdoado. E, por isso mesmo, havia esco
opositadamente uma ocasião em que Evie não estava presente para apresentar a Westcliff asculpas.
– A Lillian contou-me – disse Evie, lendo-lhe os pensamentos. E, num tom sonolento: – Perg
qual poderá ser, então, a tua próxima penalidade…
– Não duvido que há de pensar em alguma coisa… – disse ele, em tom lúgubre.
E em poucos segundos tinha fechado os olhos e caído num sono profundo e reconfortante.
Westcliff apareceu no clube na noite seguinte, manifestando surpresa ao saber que Sebast
ha visitado a sala de jogos principal pela primeira vez depois do tiroteio.
– É um tanto cedo, não será? – perguntou, enquanto se deslocava, acompanhado por Evi
us aposentos privados até à galeria do segundo andar.
Foram cuidadosamente examinados por um empregado que Cam colocara na galeria,
dida extra de precaução. Até que Bullard fosse apanhado, todos os visitantes, sem exceção,
giados com a mais discreta das atenções.
– Ele abusa das própr ias forças, Marcus – disse Evie, preocupada. – Não suporta a ide
recer diminuído – e além disso acha que nada pode ser feito cor retamente sem a sua supervisã
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Capítulo 21
Enquanto Westcliff foi falar com Sebastian, Evie retirou-se para o quarto, para tomar um b
emperador, acrescentando uma porção generosa de óleo perfumado na água, a fim de a sua
ós algum tempo, a sua pele estava macia e perfumada. Vestiu um dos roupões de seda de Seba
rolando as mangas várias vezes para cima. Enroscada num cadeirão diante da lareira, pente
gamente, enquanto as criadas retiravam a banheira. Uma delas, uma moreninha de nome Fr
ara para trás, arrumando o quarto. Abriu a cama e passou uma escalfeta entre os lençóis p
uecer.
– Devo… preparar o seu quar to, my lady? – perguntou a rapariguinha, cautelosamente.
Evie considerou a resposta. Era sabido entre a criadagem que ela e Sebastian mantinham q
parados antes do incidente. Até então, nunca haviam partilhado a cama durante uma noite. Emda não soubesse bem como iria entabular este assunto com Sebastian, após tudo o que
ontecido, ela não queria usar de mais artifícios óbvios com ele. A vida era demasiado incerta
rder tempo. Não havia garantias de que Sebastian lhe fosse fiel.
Ela não tinha senão esperança – e o seu instinto dizia-lhe que embora o homem com quem
o merecesse essa esperança, o homem em que ele se tinha tornado poderia vir a merecê-la.
– Creio que não será necessár io – disse ela à cr iada, continuando a passar a escova pelo cab
ta noite fico neste quarto, Frannie.– Sim, my lady. Mas caso deseje, posso…
Frannie interrompeu-se ao aperceber-se da entrada no quarto da figura imponente de Seba
e parou logo à entrada, de costas apoiadas na parede, contemplando a sua mulher em silêncio
stante o calor da lareira, Evie sentiu um arrepio por todo o corpo e um estremecimento e
rcor reu-lhe a espinha.
Sebastian apresentava-se totalmente relaxado, de colarinho aberto e a gravata preta por aper
da lareira dançava sobre o seu vulto elegante e fazia incidir um brilho dourado sobre aq
ções que poderiam ter pertencido a um antigo Deus idolatrado. Embora ainda não t
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uperado todo o seu vigor, ele irradiava uma perigosa potência masculina que lhe fazia trem
lhos. E não melhorava em nada a situação ele manter-se totalmente silencioso, enquanto
har intenso a percorria com um vagar enervante. Sentindo-se indefesa ao recordar o
etinado da pele dele sob os seus dedos e os músculos rijos debaixo da roupa folgada, Evie
às orelhas.
Frannie apanhou à pressa o vestido que Evie tirara e saiu do quarto, em marcha acelerada.
Sebastian continuava a olhar intensamente Evie que pousara a escova endireitando-se com
urmúrio inarticulado. Avançou até ela e agarrou-a pelos braços, palpando-os através da espe
roupão. O coração de Evie começou a bater descompassado, a sua pele formigando s
madas de seda. Fechou os olhos quando os lábios dele lhe roçaram a sobrancelha, a têmp
e… Aquelas carícias delicadas, no estado de excitação em que tanto ele como ela se encontr
reciam envolvê-los numa névoa abrasadora. Ficaram assim durante muito tempo, mal se toc
ntindo simplesmente a excitante proximidade um do outro.
– Evie… – o murmúrio dele agitou ao de leve os fiozinhos de cabelo na fronte dela. – Q
er amor consigo.O sangue dela transformou-se em mel ardente. A custo, conseguiu exprimir uma res
ubeante:
– Pen-pensei que n-nunca lhe chamava assim…
Ele agarrou-lhe o rosto com ambas as mãos, explorando-a delicadamente com os dedo
rmaneceu dócil sob as mãos dele, enquanto o odor da sua pele, a lavado e a cravo-da-ín
ogava como incenso.
Levando a mão ao peito, Sebastian procurou debaixo da camisa, de onde tirou a alianamento presa na sua corrente finíssima. Puxou por ela, quebrando os frágeis elos e deixa
r no chão, segurando a aliança. A seguir, procurou a mão esquerda de Evie e fez deslizar o a
ro pelo seu anelar. As suas mãos uniram-se, palma com palma, pulso com pulso, tal
ontecera na cerimónia de casamento. E ele encostou a cabeça à dela, murmurando:
– Quero enchê-la, cada parte de si… respir ar o ar dos seus pulmões… deixar a marca da
o na sua alma. Quero dar-lhe mais prazer do que possa suportar. Quero fazer amor consigo,
mo nunca fiz com ninguém.
Ela tremia tão violentamente que mal se tinha em pé.
– Mas a sua fe-ferida… temos de ter cuidado.
– Deixe isso comigo.
A boca dele tomou a dela num beijo em combustão lenta. Largando-lhe a mão, ele apertou m
rpo dela, fazendo pressões explícitas contra os ombros, as costas, as ancas, até a
mpletamente moldada contra ele.
Evie desejava-o com um desespero tal que quase a assustou. Com a sua boca tentou agarrar a
ante dele e começou a puxar-lhe pelas roupas com uma urgência tão desastrada que o f
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persensível e Evie lutou para se ver livre dele, frustrada, tentando arr ancar de si as pregas do
istente. Com um murmúrio apaziguador, Sebastian curvou-se sobre ela para a ajudar, puxand
mangas dos braços, libertando as costas e as ancas daquele tecido renitente. Com um susp
vio, ela enroscou-se nele, envolvendo-lhe os ombros nus com os seus braços. As mãos
slizaram suavemente sobre o corpo dela, induzindo novos arrepios nos nervos sensíveis. El
nseguia falar ou sequer pensar, só anuir, indefesa, enquanto Sebastian a acariciava e dispun
u corpo em posições cada vez mais reveladoras e com a boca percorria lentamente toda a sua
Dedos másculos e inquisitórios deslizaram entre as coxas dela, à procura do elixir da sua
imulada. Evie corava e gemia, enquanto ele espalhava aquela humidade em círculos erótic
ntas dos dedos mergulhando ligeiramente na entrada do seu corpo.
– Sebastian… por favor, não posso esperar mais…
Calou-se ao sentir que ele a voltava contra si, puxando-lhe as ancas para trás e para cim
arem de lado, encaixados um no outro. Os braços dele, fechados em torno dela, faziam-na s
segura e protegida, mesmo quando ele lhe separou as coxas, com uma mão suave, mas firme
Evie moveu-se, confusa, ao sentir a pressão do sexo dele e perceber que ele estava a pener trás. Ofegante, voltou o rosto para o braço musculado que a segurava pelo pescoço.
– Calma… – sussur rou Sebastian, afastando o cabelo que lhe tapava o pescoço e a orelha p
jar. – Deixa-me amar-te assim, querida.
Os seus dedos acariciaram-lhe o sexo, massajando-a docemente até ela condescender.
meçou a provocá-la com a ponta do seu pénis, ameaçando entrar nela, para logo a seguir se r
ando ela cuidava que ia entrar completamente. Então, ela começou a baloiçar-se contra ele, fa
ssão para trás com as ancas. Quando ele finalmente entrou todo dentro dela, Evie comemer alto. Como aquela posição não permitia uma grande amplitude de movimentos, ele come
car com estocadas firmes e profundas que ela acolhia arqueando-se freneticamente.
Com um riso terno, ele começou a guiá-la carinhosamente.
– Não sejas impaciente, amor – murmurava. – Não te debatas, deixa que o prazer ven
ntigo. Espera… descansa comigo.
Agarrando-lhe numa coxa, puxou-a para cima dele, de modo que as pernas dela fi
almente abertas, as ancas coladas às dele. Evie gemeu ao senti-lo penetrá-la mais fundo, enq
dedos dele a acariciavam num contraponto rítmico aos impulsos do seu membro.
Alucinada, Evie contraiu todos os músculos, aguardando, enquanto ele construía o prazer d
m ritmo calmo. Ele levava-a até ao limite, a seguir batia em retirada, depois fazia-a chegar
rto do clímax… cada vez mais perto… fazendo-a esperar e esperar e esperar… até que finalm
eixou explodir, numa série de convulsões que fizeram abanar a cama.
Sebastian tinha ainda o seu sexo hirto quando se r etirou dela. O seu cabelo revolto brilhava
ro, quando ele a estendeu de costas na cama e passou a boca aberta pela barriga dela. Evie sa
abeça numa recusa estonteada quando ele, subitamente, lhe dobrou os joelhos, puxando-os
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ma.
– Estou cansada… – balbuciou ela. – Eu… espere, Sebastian…
A língua dele esquadrinhou a intimidade dela com lambidelas estranhamente tranquiliz
rsistindo até que acabaram os seus protestos e o seu coração abrandou para um batimento no
fim de longos minutos de paciência, Sebastian sugou de repente o botão inchado do clítori
ra dentro da boca e começou a mordiscá-lo, a chupá-lo e a lambê-lo. Ela estremeceu com a
ressão delicada da boca dele. Ele levou-a mais longe, agitando e revolvendo a língua,
quema deliberado, os braços estreitamente apertados à volta das coxas dela. Pareceu a Evie
u corpo já não lhe pertencia, que existia apenas para suportar aquela tortura voluptuosa.
Sebastian… ela não conseguiu pronunciar o seu nome, mas ele ouviu-lhe o apelo mudo e,
posta, fez algo com a boca que a lançou numa série de clímax incandescentes. Sempre que
nsava que aquilo ia acabar, outra vaga de sensações abatia-se sobre ela, até estar tão exaust
e de lhe suplicar que parasse.
Sebastian soergueu-se sobre ela. Os seus olhos brilhavam no rosto escondido na sombr
parou-se para o receber, abrindo as pernas e estreitando os braços em volta das costas delvalou, docemente, para dentro da sua carne inchada, preenchendo-a completamente. Qu
roximou a boca do ouvido dela, Evie mal conseguiu distinguir o murmúrio dele por cim
rtelar do seu coração.
– Evie… – disse ele, numa voz rouca. – Quero uma coisa de ti… Quero que tenhas um
max… só mais uma vez.
– Não… – balbuciou ela.
– Sim. Preciso que o sintas… comigo dentro de ti.A cabeça dela rolou na almofada, lentamente, numa negação desesperada.
– Não posso… não posso mais…!
– Podes, sim. Eu ajudo-te.
A mão dele vagueou até ao ponto onde os dois corpos estavam unidos.
– Deixa-me entrar mais fundo dentro de ti… mais fundo…
Ela gemeu, indefesa, ao sentir os dedos dele no seu sexo, manipulando habilmente os seus n
austos. E subitamente ela sentiu-o entrar ainda mais fundo e o seu corpo excitado a abrir-se p
eitar.
– Hmm… – murmurou ele. – Sim, é isso mesmo… oh, meu amor, és tão doce…
Sebastian instalou-se entre os joelhos erguidos dela, no berço das suas ancas, movendo-se d
me dentro dela. Ela apertou-o completamente com os braços e as pernas, enterrando a cara n
scoço quente e gritou mais uma vez, enquanto a sua carne tremia e lhe estreitava o me
ando-o ao êxtase mais avassalador. Ele estremeceu intensamente nos braços dela, mergulhan
os no mar quente dos seus cabelos, entregando-se a ela com cada parte do seu corpo e d
pírito.
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ma certa compostura junto dele após as intimidades da noite anterior. Ele parou a meio de uma
olhou-a longamente, parecendo esquecido do que estava a dizer a Cam. Nenhum deles se
da confortável com os sentimentos demasiado recentes e fortes. Murmurando um bom
bos, Evie pediu-lhes que ficassem sentados e foi pôr-se ao lado da cadeira de Sebastian.
– Já tomou o pequeno-almoço, my lord? – perguntou.
Sebastian abanou a cabeça, com um sorriso.
– Ainda não.
– Vou então até à cozinha ver o que está previsto.
– Espere só mais um momento – pediu ele. – Estamos mesmo a terminar.
Enquanto os dois homens discutiam os últimos pormenores do ofício que visava o pot
vestimento num futuro bazar a ser construído na St. James Street, Sebastian pegou na mão de
e ela pousara sobre a secretária. Absorto, passou as costas da mão dela pela curva do seu qu
nto à orelha, enquanto observava a proposta escrita. Embora Sebastian não se tivesse apercebi
au de intimidade revelado por aquele gesto, Evie sentiu-se corar ao enfrentar o olhar de Cam
ma da cabeça inclinada do marido. O rapaz lançou-lhe um olhar cómico de reprovação, comma precetora que apanhou duas crianças a brincar aos beijos, e sorriu abertamente ao vê-la
da mais.
Inconsciente daquele aparte, Sebastian entregou a proposta a Cam que ficou instantanea
io.
– Não me agrada lá muito tudo isto – comentou Sebastian. – Duvido que haja na região ne
iciente para suportar um bazar inteiro, especialmente com rendas a este preço. Temo que, d
um ano, isto se possa tornar num elefante branco.– Um elefante branco?… – perguntou Evie.
Da porta chegou uma nova voz, pertencente a Lord Westcliff:
– Um elefante branco é um animal raríssimo – disse o conde, sorrindo. – Não só dispen
mo também complicado de manter. Historicamente, quando um rei desejava arruinar al
recia-lhe um elefante branco.
Westcliff entrou na sala, curvou-se sobre a mão de Evie e dirigiu-se a Sebastian.
– A tua avaliação acerca do bazar está correta, na minha opinião. Foi-me dir igida a m
oposta em tempos e eu rejeitei-a, pelas mesmas razões.
– E sem dúvida que se vai provar que não tínhamos razão – disse Sebastian, irónico. – Nu
vem fazer previsões que se refiram às mulheres e às suas compras.
Levantou-se para apertar a mão do amigo.
– A minha mulher e eu íamos justamente agora tomar o pequeno-almoço. Não queres faze
mpanhia?
– Posso tomar café, com certeza – disse Westcliff, agradecendo. – Perdoem-me a
sperada, mas tenho notícias a dar.
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va que Westcliff lhe dera, contribuíra para aclarar os ares e as desculpas apresen
bsequentemente por Sebastian também tinham ajudado. E agora, parecia que o casamento com
a vontade inequivocamente demonstrada em sacrificar a sua vida por ela haviam predispo
nde a olhá-lo com uma aprovação cautelosa que, com o tempo, os faria voltar à antiga amizad
Para um homem que, em tempos, se dedicara a viver numa ausência total de comprom
bastian estava a ter indesejáveis dúvidas acerca de certos aspetos do seu passado. Os seus ato
ação a Lillian Bowman tinham sido um erro a todos os níveis. Que idiota fora, sacrificando
izade preciosa por causa de uma mulher que ele nunca sequer desejara! Se se tivesse da
balho de considerar alternativas, poderia logo ter descoberto Evie que sempre estivera debai
u nariz…
Mas, para alívio de Sebastian, a conversa com Westcliff revelara-se animada e amigável, enq
carruagem atravessava a parte oeste de Londres, até aos arredores, onde se desenvo
bitações para a classe média mais elegante, inseridas em vastos espaços verdes.
A morada de Clive Egan era manifestamente a de um homem possuidor de sólidos
anceiros. Refletindo azedamente sobre quanto dinheiro Egan teria ganho durante anos a desvorquir os proveitos do clube, Sebastian contou a Westcliff tudo o que sabia acerca do a
rente. O assunto levou a uma troca de impressões sobre a atual situação financeira do clube
cessária reestruturação dos investimentos.
Foi um prazer confiar em Westcliff, dono de um dos melhores cérebros financeiros do país
necia as perspetivas mais brilhantes no mundo dos negócios. E a nenhum dos dois escapou o
que aquela conversa celebrava uma drástica despedida do passado, dos tempos em que Seb
arelava sobre escândalos e ligações amorosas – perambulações que terminavam, sempremões um tanto condescendentes da parte de Westcliff.
A carruagem parou numa nova praça residencial, com pequenos pátios empedrados por
das as casas tinham três andares e eram muito estreitas, nenhuma delas mais larga dos qu
atro metros. Uma decrépita e muito usada criada para todo o serviço abriu-lhes a por ta, afast
com um resmungo quando eles irromperam pela casa dentro. A casa pertencia àquele géne
es mobilados e decorados ao acaso, frequentemente arrendados a cavalheiros da classe médi
da não haviam casado.
Uma vez que toda a residência consistia em três salas e uma área de serviço, não foi
contrar Egan. O antigo gerente estava instalado num cadeirão junto à lareira, numa sal
eirava fortemente a álcool e urina. Uma série de garrafas ornamentava os peitoris de amb
elas e algumas mais jaziam vazias no chão, junto à lareira. Com a habitual expressão de
drados de eterno bêbado, Egan olhou os visitantes sem surpresa. Mantinha exatamente o m
peto de há dois meses, quando Sebastian o despedira, inchado e de higiene duvidosa, com os d
iados, um grande matacão encarnado no lugar do nariz e uma cara avermelhada, sulcada po
a de veias azuladas. Levou um copo à boca, bebeu longamente e sorriu, observando-os com
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elidava de peste. – De que tipo?
Egan olhou-o, com desdém.
– Do piorio… Sifles… Da que leva à loucura. Mesmo antes d’ele sair do clube já havia sina
a atrasada, as tremuras… as mossas na cara, o nariz a cair ós bocados. Só um cego é qu’não
reparar.
– Não tenho por hábito examinar o rosto dos meus empregados tão de perto – disse Seba
cástico, enquanto vários pensamentos lhe acudiam ao espírito.
A sífilis era uma doença tenebrosa, transmitida por contacto sexual – e não só – e alta
ntagiosa. Resultava em loucura, por vezes paralisia parcial e uma horrorosa perda de tecid
rtes moles do corpo, incluindo as faces e o nariz. Se Bullard fosse, de facto, vítima de sífilis
ença havia já progredido até este ponto, não havia esperança para ele. Mas por que razão é qu
rras da demência, ele se fixara em Evie?
– A esta hora o infeliz já deve ter perdido o tino por completo – disse Egan.
Levou a garrafa aos lábios para mais um trago entorpecedor, piscou os olhos contra o fo
uardente e deixou cair o queixo sobre o peito. Olhando para Sebastian, prosseguiu numnsado:
– O desgraçado veio cá na noite do tiro, a delirar, a gabar-se de o ter matado. Tremia como
rdes e queixava-se d’óvir muito barulho e de dores cabeça. Vinha cheio d’ideias loucas. J
via nada a fazer. De modo qu’eu paguei a um tipo pró levar para uma ala de incuráveis – a
rto da barreira da portagem, à entrada de Knightsbridge. E deve lá‘tar agora… morto ou
ado em que mais valia‘tar morto.
Sebastian falou com uma impaciência em que não havia a mínima compaixão.– Mas por que é que ele tentou matar a minha mulher? Deus sabe que ela nunca lhe fe
nhum.
Egan respondeu, taciturno:
– Ele sempre a detestou… o pobre bastardo. Logo desde criança, quando ela vinha ao club
itar o pai e o Bullard via a alegria com que o velho a recebia… ficava maldisposto e a prag
rante dias. Fazia troça dela…
Egan fez uma pausa e um sorriso reminiscente passou-lhe pelos lábios:
– Era uma criaturinha engraçada, a pequena… sardenta, tímida e redonda com’uma maçã.
er qu’hoje é uma beleza, mas não estou a ver como…
– O Bullard era filho do Jenner? – interrompeu-o Westcliff, de expressão impassível.
Aquela pergunta inesperada surpreendeu Sebastian. Ouviu atentamente a resposta de Egan.
– Talvez… A mãe dele, a Mary, jurava a pés juntos que sim.
Cautelosamente, Egan aconchegou a garrafa no bolso do casaco e descansou os
clavinhados sobre a plataforma bojuda da barr iga.
– Ela era uma rameira de bordel e a sorte dela foi ter calhado uma noite ao Ivo Jenner. Ela
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no goto e pagou à dona do bordel p’ra lha guardar p’ra seu uso exclusivo. Um belo dia, a
ter com ele, disse-lhe que estava prenhe e que a criança era dele. E o Jenner, qu’até tinha
ração, deu-lhe o benefício da dúvida… Sustentou-a durante o resto da vida e deixou c’o g
balhasse no clube quando já tinha idade p’ra isso. A Mary já morreu há muitos anos, mas an
r o triste pio, disse ó Bullard qu’o Jenner era o seu pai. Quando o rapaz foi ter c’o pai, p’ra
isfações, o Jenner disse-lhe que, fosse verdade ou mentira, era p’ra ficar em segredo. Ele
is reconhecer o Bullard como seu filho. Por um lado, o fedelho nunca foi coisa que prestasse
tro… o velho danado nunca quis saber de ninguém a não ser da filha. Queria que a Evie fi
m tudo, quando ele batesse as botas. E Bullard, claro, ficou-lhe cá com uma osga…! Dizia q
o fosse ela o velho o teria reconhecido como filho e teria feito mais por ele, tinha-lhe dado
is. E não deixava de ter razão, cá na minha…
Egan suspirou, tristemente, concluindo o seu relato a o lhar para Sebastian:
– Quando ela o levou até ao clube, my lord, o Bullard já‘tava doente com aquilo… e foi entã
ucura começou. Um triste fim para uma triste vida.
E, com júbilo malévolo, Egan acrescentou:– Podem encontrá-lo no Hospital de Tottenham, se desejam mesmo vingar-se de um
nático. Gozem o que desejarem, my lords, mas, na minha opinião, o patrão lá de cima já maq
a ele o pior castigo qu’um corpo pode suportar.
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Capítulo 22
Durante a ausência de Sebastian, Evie ocupou-se com tarefas menores relacionadas com o
ganizando recibos e faturas, atendendo à correspondência e finalmente separando as pilh
tas por abrir dirigidas a Sebastian – de cariz pessoal. Claro que não resistira à tentação de
as quantas. Vinham plenas de propostas galantes e de insinuações imbecis, e, em duas
egava a insinuar-se que por esta altura, Sebastian já se teria fartado da sua nova esposa. A int
tão descarada que Evie chegou a sentir vergonha pelas autoras das cartas. Mas serv
ualmente, para lhe fazer recordar o passado promíscuo do marido, quando a sua prin
upação constituíra em dedicar-se a jogos de perseguições e conquistas amorosas.
Não lhe era fácil depositar a sua confiança num homem daqueles sem experimentar a sensaç
e a sua ingenuidade tocava as raias da estupidez. Especialmente à luz da certeza de que Sebia sempre admirado e cobiçado pelas outras mulheres. Mas Evie sentia que Sebastian mer
ortunidade de demonstrar quem era realmente. Estava em poder dela proporcionar-lhe o ense
meçar de novo – e se a aposta que ela lhe propusera fosse coroada de sucesso, as recomp
ra ambos seriam infinitas. Evie sentia ter força suficiente para se arriscar a amá-lo, a faz
gências, a esperar do marido coisas que ele talvez considerasse difíceis de conseguir. E Seb
recia desejar ser tratado como um homem normal – ter alguém que enxergasse para além da b
rtal daquela fachada e pedir-lhe algo mais do que as suas proezas eróticas. Se bem que – pie com um sor riso discreto – ela também fosse apreciadora da beleza dele e da sua perícia sex
Após ter assistido – com um arrepio de satisfação – ao espetáculo daquelas cartas a
duzidas a cinzas na lareira, Evie sentiu-se sonolenta e dirigiu-se ao quarto principal para des
uma sesta. Mas não obstante a fadiga, foi-lhe difícil relaxar enquanto pensava em Sebastia
us pensamentos giraram em espiral até o cérebro, cansado, pôr fim àquela preocupação in
xar-se cair no sono.
Quando acordou, uma hora depois, Sebastian estava sentado na cama ao lado dela, revolven
s seus caracóis flamejantes entre o indicador e o polegar. Olhava-a atentamente e os seus
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m do azul celeste de uma manhã de primavera. Evie sentou-se na cama, sor rindo, embaraçad
Sebastian afastou-lhe da testa o cabelo revolto.
– Parece uma menina pequena quando dorme – murmurou. – Faz-me ter vontade de velar
nuto a minuto.
– Encontraram Mr. Bullard?
– Sim e não. Mas, antes de mais, conte-me tudo o que fez na minha ausência.
– Ajudei o Cam a arrumar o escritório… Ah, e queimei todas as cartas que lhe eram endere
senhoras perdidas de amor. A chama era tão grande que só me admira ninguém ter chama
mbeiros.
Ele sorriu, mas o seu olhar perscrutava-a, atentamente.
– Leu alguma?
Evie ergueu um ombro despreocupado.
– Uma ou outra. Havia quem quisesse saber se já estava cansado da sua nova esposa.
– Não – disse ele, passando-lhe a mão pela coxa. – Estou cansado, isso sim, de noites inteir
smas coscuvilhices e conversas ocas. Estou far to de encontros inúteis e sem sentido com mue me aborrecem de morte. Para mim são todas o mesmo, não vê? Nunca me interessei foss
em fosse – a não ser por si.
– Eu não as censuro por o desejarem, sabe… – disse Evie, lançando-lhe os braços ao pesc
as não me apraz partilhá-lo.
– Nunca terá de o fazer.
Tomou-lhe o rosto entre as mãos e plantou-lhe um beijo rápido na testa.
– Conte-me o que se passou com Mr. Bullard – pediu ela, erguendo as mãos para lhe acariclsos.
Sebastian descreveu-lhe o encontro com Clive Egan e as revelações acerca de Joss Bullard e
e. Evie não pôde deixar de sentir piedade: o pobre Bullard não tinha culpa das suas origens
desamor paterno que lhe causara tamanha dor e ressentimento.
– Que estranho… – murmurou ela. – Em pequena sempre desejei e até esperei que o Cam
u irmão. Mas jamais me passou pela cabeça que o Joss Bullard pudesse sê-lo.
Joss Bullard fora sempre tão esquivo e desagradável… e contudo talvez isso fosse o resulta
Jenner o ter, desde sempre, repudiado. Sentiu-se indesejado, considerado um segredo vergo
o homem que bem podia ser o seu pai… é claro que isso tornaria amargo quem quer que fos
– Estivemos no hospital de Tottenham – prosseguiu Sebastian –, onde ele foi internado na a
uráveis. Um local pavoroso, em absoluta necessidade de financiamento. Vi lá mulheres e cri
e… – Interrompeu-se com uma expressão de repulsa. – Enfim, prefiro não falar nisso. Mas u
ministradores do hospital afiançou-me que o Bullard foi admitido já no último grau da doenç
– Quero ajudá-lo – disse Evie, resoluta. – Podemos certamente transferi-lo para um ho
lhor, não é verdade?
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– Não, meu amor… – Sebastian passou gentilmente os dedos pelos finos contornos da m
ulher. – Ele morreu há dois dias. Mostraram-nos o local onde ele e um outro doente
errados… na mesma cova.
Evie desviou a cabeça, assimilando aquela informação. Ficou admirada por sentir c
rimas aos olhos e apertar-se-lhe a garganta.
– Pobre rapaz… – disse ela, em voz baixa. – Tenho pena dele.
– Pois eu não – disse Sebastian, categoricamente. – Se é verdade que cresceu sem a afeiçã
s, não é diferente de milhares de outros que se viram forçados a singrar sozinhos na vid
tamente mais fácil do que para o Rohan, cujo sangue cigano sempre o tornou vítim
conceito… Não chore, Evie. O Bullard não é digno de uma única lágrima sua.
Evie suspirou, tremulamente.
– Perdoe-me… não queria ser tão piegas. Mas a verdade é que estas últimas semanas têm
íceis para mim. Tenho os sentimentos à flor da pele e parece que não consigo dominá-los
via.
Ele estreitou-a contra o seu corpo quente e ela sentiu-se rodeada pelos músculos dele, aqueave perpassando pelos seus cabelos.
– Evie, meu amor, não peça perdão por se emocionar. Acaba de passar por um verda
plício… E só um brutamontes como eu consegue apreciar devidamente a coragem que é p
ra não disfarçar os seus sentimentos.
A voz de Evie soou abafada contra o ombro dele:
– Não é nenhum brutamontes… E custa-me dizer isto, mas… embora tenha pena de Mr. Bull
rdade é que me sinto aliviada por ele ter desaparecido. Por causa dele quase o perdi!A boca dele procurou por entre o cabelo dela até lhe encontrar o frágil lóbulo da orelha.
– Não vai ter essa sor te, por enquanto…
Mas Evie não conseguiu sorrir àquele gracejo. Afastou a cabeça para o olhar de frente.
– Não brinque com essas coisas, peço-lhe… – E a sua voz vacilou, ao continuar: – Agora…
e já não viveria sem si.
Sebastian empurrou-lhe suavemente a cabeça contra o ombro, enterrando por momentos a
cabelo dela.
– Ah, Evie… afinal de contas sempre devo ter um coração – ouviu-o ela dizer. – Porque
mento dói-me como o diabo…
– Só o seu coração? – perguntou-lhe ela, falsamente ingénua, fazendo-o rir.
– E também outras par tes de mim – confessou ele, fazendo-a reclinar-se na cama. – E como
posa o seu dever é aliviar-me de todas as dores.
Ela ergueu os braços e puxou-o para si.
*
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eu lado, de um cavalheiro de certa idade. Ela voltou-se, reconhecendo-o como Lord Haldan
bastian lhe apresentara há cerca de uma semana.
– My lord – murmurou Evie, enquanto ele se curvava sobre a mão dela –, que prazer vê
vo por cá.
Ele sorriu, agradado.
– Creia que o prazer é todo meu, Lady St. Vincent.
Ambos desviaram o olhar para a mesa principal, onde Sebastian acabava de soltar um grace
ma a aligeirar a tensão do jogo. Um murmúrio de riso percorreu o grupo de jogadores e
mirou, em silêncio, quão natural o marido parecia neste seu recente papel – como se t
scido para aquilo. Estranhamente, parecia até mais à vontade do que o pai dela no passado
nner, com a sua natureza excitável, sempre tinha tido sérias dificuldades em esconder
ocupação quando algum membro do clube gozava de uma onda de sorte extraordinári
eaçava fazer estoirar a banca. Sebastian, pelo contrário, permanecia impávido e sereno, fo
ais fossem as circunstâncias.
Lord Haldane ocupava-se, sem dúvida, das mesmas reflexões, já que, olhando a figura distabastian, murmurou pensativamente:
– Jamais pensei ver de novo alguém da mesma cepa…
– My lord?… – indagou Evie, com um meio sorriso, enquanto Sebastian, dando pela sua pre
cidiu juntar-se-lhe.
Haldane parecia perdido em longínquas recordações.
– Em toda a minha vida apenas conheci outro homem movimentando-se por um clube de
sta maneira… – O seu olhar prendeu-se em Sebastian que se aproximava. – Como se se tratau terreno de caça e ele o mais nobre e sedutor dos predadores…
– Refere-se a meu Pai, presumo? – quis saber Evie, intrigada.
Haldane sorriu, abanando a cabeça.
– Oh, valha-me Deus, não! Seu pai…? Não, não…
– Mas então, quem… – começou Evie, mas a conversa foi interrompida pela chega
bastian.
– My lady… – disse ele, repousando uma mão na cintura dela. – E, olhando fixamente
ldane com um leve sorriso, continuou a dirigir-se à mulher: – Tudo indica ter de alertá-la, m
erida… para o facto de este senhor ser um lobo na pele de um cordeiro.
Para surpresa de Evie, Haldane esboçou um sorr iso vaidoso e satisfeito.
– Tivesse eu vinte anos menos, seu rapazote descarado, roubava-lha sem mais aquelas… A
seu charme tão gabado, não pode ser minimamente comparável ao que eu era então.
– E pelo que me é possível constatar, a idade não o domesticou nem um pouco – resp
bastian, com um sorriso largo, puxando Evie para si. – Perdoe-nos, my lord, enquanto eu l
nha esposa para território mais seguro.
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– É notório que este rapaz tão… invulgar foi firmemente apanhado na sua teia, my la
mentou Haldane, dirigindo-se a Evie. – Vá, pois, tentar apaziguar este caráter tão ciumento.
– V-vou ten-tentar – balbuciou Evie, embaraçada e – sabe-se lá porquê – ambos os homens r
quanto Sebastian abandonava o salão, sempre com Evie pela cintura.
Enquanto caminhavam, ele baixou a cabeça para lhe perguntar:
– Está tudo bem, minha querida?
– S-sim… Eu… – Evie interrompeu-se com um sorriso e disse, atrapalhada: – Eu só qu
ar consigo.
Sebastian estacou de repente por trás de uma coluna e não resistiu a roubar-lhe um beijo. Fit
de olhos cintilantes, murmurou:
– Que tal uma partidinha de bilhar?
E soltou uma gargalhada rouca ao vê-la corar.
A popularidade do clube aumentou ainda mais quando os jornais começaram a gabá-lo n
osa empolada:
Finalmente o Jenner’s pode assumir o seu lugar entre os locai
de eleição da elite londrina, distinguindo-se como um venerad
pavilhão onde cada vergôntea e rebento da aristocracia aspira
figurar entre os seletos. A cuisine satisfaz os palatos mai
argutos e a ampla seleção de vinhos regozija o mais exigente do
paladares…
Ou, noutro editorial:
Nada consegue fazer justiça à qualidade dos salõe
recentemente remodelados que fornecem uma elegante tela de fund
às reuniões de clientes caracterizados pela sua superioridad
intelectual e pessoal. Não será pois surpresa saber que o númer
de candidatos ao quadro de membros do Jenner’s excede já, e
muito, o número de vagas…
Ou ainda noutro:
Muitos têm sugerido – e poucos discordado – que o renasciment
do Jenner’s só podia ter sido conseguido por certo cavalheir
que, com o seu encanto demoníaco, consegue estar a par de todo
os mundos da moda, da política, da literatura e da aristocracia
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Referimo-nos, claro, ao a todos os títulos famigerado Lord St
Vincent, atual detentor de um clube de excelência que promet
vir a ser uma instituição relevante na vida do West End…
Instalada no escritório, Evie dedicava-se a ler os editoriais. Nunca esperara aquele nív
nção pública que Sebastian e o clube estavam a despertar. Embora satisfeita pelo facto de ele
ornar o Jenner’s num estrondoso êxito, não podia deixar de se sentir apreensiva com o que po
ontecer quando ela deixasse o luto e ambos começassem a fazer parte da sociedade londrina
via dúvida de que seriam convidados para muitos eventos. Mas o facto é que, sendo ela
calhada, não tinha tido grandes oportunidades para praticar a vida em sociedade. Ter
ntrolar a sua timidez e desconforto, de aprender a dominar a arte da resposta pronta… d
cantadora e plena de confiança em si mesma…
– Parece-me preocupada, minha querida – observou Sebastian, vindo sentar-se sobre a secr
lhando para ela. – Leu alguma coisa desagradável?
– Pelo contrário – respondeu Evie, desalentada. – Toda a gente parece radiante com o clube.– Estou a ver.
O dedo dele afagou, com ternura, os contornos do maxilar da sua jovem esposa.
– E isso preocupa-a porque…?
A explicação dela veio num jato:
– Porque o senhor está a tornar-se famoso por razões distintas das habituais… de andar at
as… e, por isso, prevejo que vá ser muito solicitado e muito em breve eu sairei do luto
nifica que teremos de frequentar bailes e soirées… e eu não consigo evitar esconder-mntos! – Suspirou para recuperar o fôlego e prosseguiu: – Porque a verdade é que ainda sou
calhada sabe e vou ter de aprender a ser espirituosa e sofisticada, a saber conversar co
ssoas, ou ainda me arrisco a que se zangue comigo ou ainda pior que tenha vergonha de m
…
– Evie! Meu Deus, acalme-se…
Sebastian puxou com o pé uma cadeira próxima e sentou-se em frente dela, cingindo-l
lhos com os seus. Agarrou-lhe as mãos, olhando-a com um sorriso.
– Não consegue estar vinte minutos sem encontrar um motivo para se preocupar, não é ver
as não vai ter de mudar r igorosamente nada daquilo que é, não vê?
Baixou a cabeça para lhe beijar as mãos e quando a reergueu o sorriso desaparecera e os
velavam preocupação.
– Como poderia eu sentir vergonha de si…? – prosseguiu ele. – Sou eu o vilão desta his
nha querida. A Evie nunca fez nada de censurável em toda a sua vida. E quanto a esses truq
aças de salão… só espero, sinceramente, que jamais se transforme numa dessas tolinha
arelam sem parar e nunca logram dizer o que quer que seja que tenha um mínimo de interess
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Puxou-a para mais perto e mordiscou-a no pescoço, onde o decote do vestido tocava a
boreou-a levemente e de seguida sussurrou junto do ponto húmido que provocara, causand
epios:
– A Evie não é uma encalhada. Mas saiba que lhe dou licença para se esconder num canto se
e sinta necessidade… desde que me leve consigo. Aliás, até insisto que o faça. Advirto-a de qu
rto sempre muito mal nessas ocasiões – vou muito provavelmente acometê-la em mir
cões, em vãos de escada e atrás de vasos com plantas. E se se queixar limitar-me-ei a reco
e foi muito imprudente em casar com um devasso sem consciência.
Evie arqueou o pescoço ao toque dos dedos dele.
– Eu nunca me queixar ia…
Sorrindo, Sebastian mordiscou-lhe ternamente o pescoço, murmurando:
– Oh… que esposa tão cumpridora dos seus deveres… Vou ter sobre si uma influência terrí
ora dê-me um beijo e suba ao quarto. Tome banho e assim que tiver terminado lá estarei
pera.
*
A meia-banheira estava apenas meio cheia quando Evie entrou no quarto. Frannie e outra cr
viam já pegado nos grandes jarros de água com pegas de madeira e preparavam-se para mai
gem ao andar de baixo. Sentindo-se quente e consolada em consequência dos beijos de Seba
ie tratou de desabotoar as mangas do seu vestido.
– Logo que regresse com mais água quente tratarei de a ajudar a despir,my lady – disse Fran– Obrigada –respondeu Evie, com um sorriso.
Vagueando até ao toucador, pegou num frasco de perfume que Lillian lhe havia recentem
recido. Com o seu olfato invulgarmente sensível, Lillian adorava ocupar-se com essên
rfumes e tinha recentemente começado a experimentar as suas próprias combinações. Este pe
particular era equilibrado e luxuriante, com essências de rosas e especiarias pungentes fi
m âmbar. Evie verteu cuidadosamente umas gotas douradas na água do banho e aspirou com p
vapor aromático que se erguia no ar.
Regressando ao toucador, sentou-se numa cadeirinha baixa e começou a descalçar sapa
ias, procurando por baixo das saias para desapertar as ligas. Com a cabeça baixa não lh
rmitido ver grande coisa… quando um súbito arrepio gelado lhe percorreu a espinha e um
afado pela carpete lhe pôs em pé todos os pelos do corpo. Viu uma sombra deslizante pa
rta rapidamente. Evie endireitou-se, seguindo com o olhar o percurso da sombra, e um gemi
to escapou-se-lhe dos lábios ao deparar-se com uma figura andrajosa dirigindo-se para ela. S
cadeira que se estatelou atrás de si e voltou-se rapidamente para enfrentar o homem qu
rava pelo quarto – e que lhe falou numa voz sinistra:
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– Nem uma palavra. Ou racho-te dos pés à cabeça.
O homem empunhava uma longa faca ameaçadora. Estava muito próximo dela – poderia es
com um só golpe, se quisesse.
Nenhuma imagem repescada aos pesadelos, nenhum monstro criado pelos terrores in
deria competir com a visão da figura horripilantemente corroída do intruso. Evie aproxim
limetricamente da banheira, tentando colocá-la entre si e aquela demente criatura. A roupa q
vergava pouco mais era do que um monte de trapos.
Virava estranhamente para a frente o lado esquerdo do rosto, como se se tratasse de
rioneta em desequilíbrio. Cada centímetro da pele exposta – mãos, rosto, pescoço – era uma
erta exsudando líquido, como se a sua carne estivesse a apodrecer, separando-se dos ossos. O
rrível, contudo, eram os restos esfarrapados do que outrora fora um nariz. Ele parecia
imera, uma coleção de carne e membros e feições sem qualquer relação uns com os outros.
Não obstante a imundície, as chagas e o estado ruinoso do seu rosto, Evie reconheceu-o. Fo
um esforço hercúleo conseguir manter-se calma, quando todas as suas veias se esvaziava
nico.– Mr. Bullard… – murmurou ela. – No hospital di-disseram que tinha falecido.
A cabeça de Bullard balouçava estranhamente sobre os ombros, enquanto ele continuava a f
ensamente.
– Fugi daquele poço do inferno – resmungou. – Parti uma janela a safei-me de noite. ‘Tava
queles demónios a qu’rerem entornar-me mistelas p’la garganta abaixo!
Começou a aproximar-se dela, coxeando. Muito lentamente, Evie rodeou a banheira, c
ração a querer saltar-lhe pela boca.– Mas eu não ia bater as botas naquele maldito lugar sem primeiro vos mandar a todo
erno! Oh, não!
– Mas… porquê? – perguntou Evie, baixinho.
Empregou todos os seus esforços para não olhar para a porta, onde acabara de vislumbr
vimento pelo canto do olho. Era Frannie, certamente, pensou, febrilmente. A figura indi
sapareceu silenciosamente e Evie rezou para que a criada tivesse ido a correr pedir au
trementes, o seu único recurso era manter-se o mais possível afastada de Joss Bullard.
– Despojaste-me de tudo – rosnou ele, rodando os ombros como uma fera encostada às bar
a jaula. – Ele deu-te tudo, o velho maldito… só queria umas horas conversa fiada, quando e
u filho! Seu filho! E escondia-me como a um penico cheio de merda… Eu fazia tudo o q
ndava! Teria matado p’ra lhe agradar… mas isso nunca teve importância. Foste sempre tu qu
is, parasita de um raio!
– Lamento tanto… – disse Evie.
O genuíno pesar na voz dela pareceu desorientá-lo momentaneamente. Parou, olhando-a c
beça inclinada daquela estranha maneira.
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– Mr. Bullard… Joss… – prosseguiu ela. – O meu pai apreciava-o muito, creia-me. O seu ú
dido foi, aliás, que o auxiliássemos, que tomássemos conta de si.
– Tarde de mais p’ra isso!
De súbito, ele arquejou, levando ambas as mão à cabeça, incluindo a que segurava a faca, co
ntisse uma dor insuportável dentro do crânio.
Apercebendo-se de uma hipótese de fuga, Evie lançou-se para a porta. Mas Bullard agarrou
ediato, lançando-a violentamente contra a parede. Ao bater com a cabeça, pareceu-lhe que
vido uma explosão dentro do seu cérebro e a visão fragmentou-se num milhar de p
minosos. Gemeu, esforçando-se por focar a vista, pestanejando, numa luta contra si própria.
ma pressão desagradável no alto do peito e uma arranhadela aguda a um lado da garganta. Po
uco apercebeu-se de que Bullard tinha um braço à roda do seu pescoço, com a longa f
mpletar o círculo sobre a pele. O frio do aço comprimia-a mais a cada nova inspiração. B
pirava com esforço, soltando um rasto de morte e podridão. Ela sentia-o tremer e os esforço
fazia para dominar os músculos.
– Vamos… juntinhos… fazer-lhe uma visita – sussurrou ele ao ouvido dela.– Uma visita…? A… q-quem? – murmurou Evie, recuperando lentamente a visão.
– Ao nosso pai. Vamos visitá-lo ao inferno, tu e eu. – Soltou uma gargalhada rouca: – Ele va
gar à bisca c’o velho Grão-Tinhoso em pessoa!
Picou-a ligeiramente com a ponta da faca, parecendo radiante com o modo como ela estrem
– Vou t’abrir a goela – murmurou ele – e depois abro a minha. O velho Jenner é que va
ntente, a ver-nos entrar de braço dado p’la porta do inferno.
Enquanto Evie tentava, desesperadamente, encontrar palavras que pudessem aindamporariamente chamá-lo à razão, ouviu uma voz calma vinda da porta:
– Bullard…
Era Sebastian, parecendo surpreendentemente calmo e imperturbável. Embora o perigo
esse abrandado, Evie sentiu uma profunda onda de alívio com a sua presença. Ele entrou no q
ito lentamente:
– Aparentemente, os registos no Tottenham deixam um tanto a desejar – comentou, sem
rada para Evie.
O olhar dele estava fixo sobre o rosto de Bullard, os seus olhos muito claros e hipnótico
gando o outro nem por um segundo.
– Julguei que lhe tinha metido uma bala nos costados – disse Bullard, rudemente.
Sebastian limitou-se a encolher os ombros, numa atitude desprendida:
– Um ferimento sem importância… Mas diz-me, como conseguiste entrar no clube? T
mens em todas as entradas.
– P’lo depósito do carvão. Tem um respiradouro que dá direitinho a Roger ’s Lane. Ninguém
e, nem sequer aquele mestiço do Rohan. Saia daqui ou eu pico-a cum’um frango no espeto!
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Esta última frase resultou do facto de Sebastian ter avançado um passo.
O olhar do visconde saltou para a faca que Bullard esgrimia como se intentasse cravá-la no
Evie.
– Está bem… calma… – disse Sebastian, recuando um passo. – Eu faço o que quiseres.
A voz dele era calma e amigável, conquanto pequenas bagas de suor tivessem começ
correr-lhe pela fronte.
– Bullard… – continuou ele, em voz calma – Joss… ouve-me. Não tens nada a perder em d
falar. Estás entre amigos. Tudo o que a… tua irmã e eu queremos é respeitar a vontade do
em ajudar-te. Diz-me o que pretendes. Posso providenciar-te morfina para as dores… e
ar aqui o tempo que desejares, com uma cama confortável onde dormir… boa comida e gent
dar de ti. Basta dizeres-me o que queres.
– Você‘tá a querer enganar-me, mas’é! – disse Bullard, desconfiado.
– Não estou. Juro-to. Posso dar-te o que quiseres… A não ser que faças mal a Evie – nesse
da poderei fazer por ti.
Enquanto ia falando, Sebastian deslocara-se devagar em direção à janela, forçando Bullar-se.
– Vamos, deixa-a afastar-se de ti e…
– Cale-se! – gr itou Bullard, irado, com uma sacudidela brusca da cabeça. Começou a tre
gou uma espécie de grunhido: – Maldito seja este barulho nos ouvidos…
– Eu posso ajudar -te – disse Sebastian, pacientemente. – Necessitas de ser medicado.
scansar. Baixa os braços, Joss… Não é preciso magoares ninguém… Estás em casa. Bai
aços, vamos… eu posso ajudar-te.Incrédula, Evie sentiu o braço de Bullard começar a afrouxar à medida que ouvia
nquilizante de Sebastian. Ao mesmo tempo, o sinistro homem voltou-se de frente para o visco
Um estampido ensurdecedor rasgou o ar. Evie sentiu-se libertada com uma força que
mbalear para trás. E teve apenas um breve instante para registar a figura de Cam à porta, baix
a pistola fumegante. Mudando subitamente de posição, Sebastian obrigara Bullard a mover-
resentar-se a Cam como um alvo limpo.
Antes que Evie pudesse olhar para o monte amarfanhado no chão, sentiu-se agarrada
dopio e esmagada contra o peito de Sebastian. Toda a tensão que ela conseguira domin
mpletamente durante aqueles minutos soltou-se repentinamente em arrepios intensos, enquan
ingia violentamente contra si, agarrando-a pelas costas, pelos braços, por grandes mãos-che
belo que se soltavam dos ganchos. Ela não conseguia falar, apenas ficar ali, de pé, impo
quanto ele praguejava e gemia no cabelo dela. Pareceu-lhe uma eternidade antes que a sua pul
aproximasse do normal.
– Foi a Frannie… que o aler tou? – conseguiu, finalmente, proferir.
Sebastian acenou afirmativamente, metendo-lhe os dedos trémulos pelo cabelo até lhe ape
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beça toda entre as mãos.
– Ela disse-me que havia um homem no seu quar to. Mas não o reconheceu.
Virando-lhe a cabeça para trás, viu o pequeno corte que o gume da faca lhe fizera no pesco
u rosto pareceu exaurir-se de cor ao ver quão perto Bullard estivera da carótida. Curvou-se
jar a estreita marca e logo passou a boca febrilmente por todo o rosto dela.
– Diabos do inferno! – murmurou. – Oh, Evie… Evie… eu não consigo suportar isto…
Ela voltou-se nos braços dele para encarar Cam, que acabara justamente de lançar o seu c
bre a cabeça de Bullard, no intuito de esconder aquela sinistra visão.
– Cam… não tinhas de o matar – murmurou ela. – Ele ia largar-me, senti-o a baixar o braço
– Pois sim, mas eu é que não tinha a certeza – disse o rapaz, num tom sem expressão. –
smo de disparar assim que o tive na mira.
Isto foi dito sem o menor sentimento, mas os seus olhos brilhavam com lágrimas por verter
rcebeu que Cam tinha sido forçado a abater um homem que conhecera desde a infância.
– Oh, Cam… – começou ela, compassiva, mas ele fez-lhe sinal para que parasse, abana
beça.– Foi melhor para ele assim – disse ele, sem a olhar. – Nenhum ser humano devia ser obrig
rer daquela maneira.
– Sim, mas tu…
– Eu estou bem – declarou ele, de maxilas cerradas.
Mas não estava. A sua palidez era visível sob o tom da pele tisnada do sol e parecia tão ab
e Evie não pôde evitar aproximar-se dele e pôr-lhe os braços à volta dos ombros,
nsolação maternal.Ele permitiu o abraço – embora não o devolvesse – e gradualmente o seu tremor abrandou
de sentir a brevíssima pressão dos lábios dela no seu cabelo.
Mas tornou-se desde logo evidente que aquilo era tudo o que Sebastian podia permitir. Avan
ra eles, recuperou Evie por um braço e falou bruscamente para Cam:
– Trata de mandar chamar o homem da casa mor tuária.
– Com certeza – murmurou o rapaz, hesitante. – Mas alguém há de ter ouvido o barulho
xo… O disparo… Temos de ter preparada alguma explicação.
– Diz-lhes que estavas a limpar uma arma que disparou acidentalmente – disse Sebastian.
e ninguém se feriu e, assim que o cangalheiro chegar, trá-lo cá acima pela porta de serventia
aga-lhe para manter a boca fechada.
– Sim, my lord. Mas se algum polícia pretender investigar…
– Manda-o falar comigo no meu escritório. Eu trato dele.
Cam assentiu e desapareceu.
Levando Evie para longe daquele cenário arrasador, Sebastian fechou a porta com a ch
ardou-a no bolso. Depois, conduziu lentamente a mulher até a um pequeno quarto de hósped
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ndo do corredor. Ela deixou-se levar, meio atordoada, tentando compreender tudo o que acab
passar. Sebastian mantinha-se silencioso, no seu perfil duro como granito, tentando ao má
nter a compostura. Com todos os cuidados, fê-la entrar no quarto e sentar-se na cama.
– Fique aqui – disse ele. – Vou mandar -lhe uma criada para cuidar de si. E um copo de bra
e faço questão que beba até ao fim.
Evie ergueu os olhos para ele, ansiosa:
– E… vem ter comigo mais tarde?
Ele assentiu, com um sinal breve.
– Mas antes tenho de tratar de umas coisas.
Mas naquela noite não regressou ao quarto. Evie esperou-o em vão e finalmente foi para a
zinha. O seu sono foi interrompido por despertares frequentes, tateando, com a mão, o espaço
re eles, procurando o corpo quente de Sebastian. A manhã chegou por fim encontra
ocupada e exausta, de olhos inchados, olhando a criada que acabara de entrar para acen
eira.
– Viste Lord St. Vincent esta manhã? – perguntou Evie, abatida.– Vi sim, my lady. My lord e Mr. Rohan estiveram a pé quase toda a noite, conversando.
– Vai dizer-lhe que desejo vê-lo.
– Sim, my lady.
A criadita pousou um jarro com água quente sobre o lavatório e saiu.
Saltando da cama, Evie executou as suas abluções matinais e alisou com as mãos os ca
scos do seu cabelo. Escova, pente e ganchos haviam ficado no outro quarto, onde…
Estremeceu de repulsa e piedade ao recordar os acontecimentos da véspera. Consolava-a aque o pai não vivera para ver o que acontecera ao pobre Joss Bullard. Tentava imaginar
iam sido os seus verdadeiros sentimentos acerca do rapaz, ou sequer se alguma vez se perm
nsar que Bullard era seu filho.
– Papá… – deu por si a murmurar, olhando no espelho os seus olhos azuis.
Os olhos de Ivo Jenner… Levara tantos segredos para a sepultura e deixara tanto por expli
ie haveria de lamentar até ao fim dos seus dias o facto de não o ter conhecido melhor
nsolava-a a ideia de que ele ficaria feliz por saber que o Jenner’s haveria finalmente de conq
nível a que ele sempre aspirara… e que fora a própria filha a provocar os acontecimento
ultariam na gloriosa salvação do clube.
No momento em que os seus pensamentos se voltavam para Sebastian, ele entrou no quarto,
m a mesma roupa que usara na noite anterior. O seu cabelo era uma massa desordenada de o
bar e sombras escuras velavam os seus olhos claros. Parecia exausto, mas resoluto, c
pressão de um homem que teve de tomar decisões desagradáveis, mas determinado a cumpri-
egra.
O olhar dele envolveu-a.
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erminou ele, desalentado.
Evie acariciou-lhe o peito com a palma da mão, num círculo reconfortante. Ela compreendi
uele desespero, aquelas emoções tão poderosas e desconhecidas para ele que o subjuga
cordava-se de algo que Annabelle lhe confiara: que, no início do seu casamento, Mr.
perimentara uma inquietação nervosa, devida à intensidade dos seus sentimentos para com
ha levado ainda algum tempo para ele se acostumar àquele novo torvelinho de emoções.
– Sebastian… – arriscou ela. – Não vai ser assim para sempre, sabe? Vai parecer… mais n
is seguro e confortável, ao fim de uns tempos.
– Eu sei que não vai.
Ele parecia tão apaixonado, tão obstinado que ela se viu forçada a esconder um sorriso no o
e.
– Eu amo-o, Sebastian… – disse, de novo, sentindo um tremor de desejo que a fez gague
de man-mandar-me embora, para longe de si… mas não conseguirá evitar que eu volte a c
ero gastar consigo todas as horas do dia… Quero vê-lo a escanhoar-se de manhã… quero
ampanhe e dançar nos seus braços. Quero dormir consigo na mesma cama… noite após noifilhos seus. Creia que eu também tenho receio… que acorde uma be-bela manhã e me dig
á farto de mim. Quem sabe se todas aquelas co-coisas que agora lhe agradam em mim… n
nham a tornar exasperantes, insuportáveis… a minha ga-gaguez, as minhas sardas…
– Não diga despautérios! – interrompeu-a ele, ir ritado. – A sua gaguez nunca me há de incom
o contrário, considero-a encantadora… E adoro as suas sardas. Sou louco por elas… – Falto
voz e ele agarrou-se a ela com violência. – Diabo… – murmurou ele. E após um mom
escentou com desespero: – Desejava tanto não ser quem sou!– Porquê? – quis saber Evie, num murmúrio abafado.
– Porquê?! O meu passado é um desastre, Evie.
– Isso para mim não é novidade…
– Mas jamais conseguirei pagar pelas coisas que fiz. Cristo, como eu desejava poder voltar
ntaria ser um homem melhor… só para si. Queria tanto poder…
– Não tem de ser em nada diferente daquilo que é – interrompeu-o ela. Erguendo a cabeça, o
com doçura, através do brilho das suas lágrimas. – Não foi isso que me disse em tempo
nsegue amar-me sem condições, meu querido, não poderei eu amá-lo da mesma maneira
em é… Creio até que nos conhecemos um ao outro melhor do que nos conhecemos a nós me
o se atreva a mandar-me embora, seu co-cobarde… Quem ficaria então para gostar das m
das? Quem iria preocupar-se por me sentir com os pés frios? Que outro homem haveria
… acometer sobre a mesa de bilhar?
A resistência de Sebastian refluía pouco a pouco. Evie sentiu a mudança no corpo dele, o re
tensão, os ombros curvando-se à volta dela, como se pretendesse incorporá-la dentro de si.
– Todo o meu amor está em si… – murmurou ele.
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E nesse momento ela soube que tinha ganho. Aquele homem tão imperfeito, tão extraordi
apaixonado, pertencia-lhe. Entregara-lhe totalmente o seu coração para que ela o guardas
ia um encargo que ela jamais trairia. Assoberbada de alívio e ternura, Evie agarrou-se
ntindo deslizar uma lágrima. Sebastian limpou-a com um dedo, olhando-a intencionalmente
e ela viu naquele olhar cintilante cor tou-lhe a respiração.
– Bom… – disse ele, com voz pouco firme. – Creio que marcou um ponto, meu amor… com
ia da mesa de bilhar.
E ela sorr iu quando ele a ergueu nos braços e a levou para a cama.
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Epílogo
Estava-se quase no fim do inverno. Uma vez que o período de luto de Evie coincidia c
imo período de gravidez de Annabelle, ambas haviam passado juntas grande parte do t
tavam as duas impedidas, pelas convenções, de participar em eventos sociais tais como bai
tares de cerimónia – algo que agradava às duas, visto o tempo ter estado muito fr io desde o
primavera parecer querer tardar a chegar. Ao invés de passearem pela cidade, juntavam-se
grande lareira na luxuosa suite de hotel dos Hunts ou, a maior parte das vezes, reuniam-se
lian e Daisy numa das aprazíveis salas de Marsden Terrace, a residência londrina de
estcliff. Liam, tagarelavam ou dedicavam-se aos trabalhos manuais ou ao desenho, consum
meras chávenas de chá.
Uma tarde, Lillian, sentada a uma escrivaninha num canto, compunha laboriosamente umara uma das suas cunhadas, enquanto Daisy se reclinava num canapé, com um romance nas
volta num xaile de cachemira. Annabelle ocupara um cadeirão de braços junto à lareira flame
a das mãos repousando sobre a curva impante do ventre, enquanto Evie, sentada num banq
frente dela, lhe massajava os pés inchados e doloridos. Estremecendo e suspirando de p
nabelle murmurou:
– Oh… que sensação agradável! Por que razão ninguém me alertou para o facto da gravidez
er os pés desta maneira?… Embora fosse de desconfiar, com todo este peso a mais que tenregar… Obrigada, minha doce Evie. É a melhor amiga do mundo.
Vinda do canto, ouviu-se a voz trocista de Lillian:
– Ela disse-me a mesmíssima coisa, Evie, na última vez que lhe massajei os pés. A sinceridad
us elogios duram apenas de uma massagem para a outra. Confesse, Annabelle, que é uma levia
Annabelle sor riu, preguiçosamente.
– Espere só até também se ver grávida. Vai suplicar a quem quer que se encontre disponív
massaje os pés.
Lillian abriu a boca para responder, mas pensou melhor e bebericou de um cálice de vinh
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ha sobre a mesa.
Sem tirar os olhos do seu livro , Daisy comentou:
– Oh, irmãzinha, vamos… conta-lhes também. Não supor to a expectativa!
Annabelle e Evie voltaram-se simultaneamente para Lillian.
– Contar-nos o quê? – disseram em coro.
Lillian reagiu com um rápido e embaraçado encolher de ombros, lançando às amiga
risinho por cima do ombro:
– Oh… lá mais para o verão, o Westcliff irá finalmente ter o seu herdeiro…
– A não ser que seja uma menina – acrescentou a irmã.
– Oh, Lillian… muitos parabéns! – exclamou Evie, abandonando temporariamente Annabell
abraçar a amiga com exuberância. – Que boa notícia!
– O Westcliff não se tem em si de felicidade, embora se esforce por não o demonstrar –
lian. – Poderia apostar a cabeça em como ele está, neste preciso momento, a contar tudo
nt e Lord St. Vincent. Até parece acreditar que a façanha é unicamente dele.
– Bom, a verdade é que a sua contribuição foi essencial, não é verdade? – comentou Annavertida.
– Pois sim, mas a parte substancial do… empreendimento é obviamente minha.
Do seu canto, Annabelle lançou-lhe um sor riso:
– Será certamente um sucesso, minha boa amiga. Perdoe-me não ir até aí aos pulos e aos
s baste-lhe saber que me sinto verdadeiramente radiante! Espero que venha a gerar o opos
e eu tenho aqui…para que possamos arranjar um casamento perfeito! – E mudando rapidam
ra uma vozinha de mimo: – Evie… volte para aqui, sim? Não me pode deixar com um pé tratro por tratar…
Abanando a cabeça com um sorriso de cómica de paciência, Evie regressou para junto da a
hou para Daisy, notando-lhe a expressão pensativa que dedicava à irmã mais velha e disse:
– No meio de toda esta conversa sobre maridos e bebés, não podemos esquecer -nos de enc
cavalheiro para Daisy.
– É uma querida, Evie – disse Daisy –, mas eu não me importo de aguardar serenament
nha vez. Alguma de nós teria de ser a última a desencalhar-se…
Se bem que comece a duvidar se alguma vez hei de encontrar o homem ideal para casar com
– Com certeza que esse dia chegará! – exclamou Annabelle. – Não prevejo nenhuma dificu
isy. A verdade é que alargámos consideravelmente o nosso círculo de relações e asseguro-l
e faremos o necessário para encontrar o marido perfeito para si.
– Mas por favor… não se esqueçam de que eu não quero desposar um homem como
estcliff – disse Daisy. – É demasiado autoritário para meu gosto. E ainda menos como Lo
ncent; esse é demasiado imprevisível.
– E que tal um como Mr. Hunt? – indagou Annabelle, dengosa.
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Daisy abanou a cabeça decididamente.
– Demasiado alto.
– A menina está a ficar demasiado exigente, não acha?
– Nem pouco mais ou menos! As minhas expetativas são muito razoáveis. Quero um h
mpático que goste de livros e de longos passeios… e que seja adorado por crianças, por cães e
– … e por todas as formas superiores da vida aquática e florestal – completou a irmã por
as diz-me cá, querida, onde vamos nós desencantar esse modelo de perfeição?
– Em nenhum dos bailes onde tenho ido até agora, isso sem dúvida – disse Daisy, melancó
nca pensei que fosse possível, mas a verdade é que a seleção este ano é ainda pior do que
ssado. Começo a acreditar que os futuros maridos dignos de o serem não serão encontrados
nero de eventos.
– Creio que tens toda a razão – observou Lillian. – Há demasiada competição nessas ocasiõ
melhores presas já foram caçadas. Chegou a hora de caçar noutros terrenos.
– A secretaria do Jenner’s tem fichas detalhadas de todos os seus membros – lembrou
usiasmada. – São aproximadamente dois mil e quinhentos cavalheiros com algo de seu! Clarmaior parte são casados, mas estou certa de que poderia compor uma lista de vários candi
alificados.
– E cuida que Lord St. Vincent lhe permitiria ter acesso a uma informação tão privada? – in
isy, em tom cético.
– E porventura alguma vez o viste recusar-lhe seja o que for? – zombou Lillian.
Evie, que suportava frequentemente gracejos relativos à devoção óbvia que Sebastia
dicava, sorriu, à luz da lareira.– Raramente… – admitiu a ruivinha.
O que arrancou a Lillian uma gargalhada sarcástica.
– Alguém devia avisar St. Vincent que ele se tornou num verdadeiro cliché personificado: to
a encarnação de tudo o que se costuma afirmar dos libertinos reconvertidos.
Annabelle recostou-se no cadeirão e voltou-se para Evie:
– E ele já se reconverteu completamente, querida?
Pensando no marido terno, apaixonado e depravado que a esperava lá em baixo, Evie sentiu
riso alargar-se despudoradamente.
– Só o bastante – replicou de mansinho. E mais não disse.
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