Hidratao cutnea

Para se obter sucesso ao desenvolver uma formulao hidratante, antes de tudo h que se conhecerem os mecanismos naturais de hidratao e as conseqncias de suas alteraes para a desidratao cutnea. Entendendo este mecanismo, fica muito mais fcil compreender a dinmica de formulao de um cosmtico.

A pele mantm-se hidratada graas presena de lipdeos secretados pelas glndulas sebceas, matriz lipdica intercelular na camada crnea, ao fator natural de hidratao, ou Natural Moisturizing Factor (NMF), e presena e integridade dos corneodesmossomas - complexos de protenas no envelope dos cornecitos responsveis pela coeso dos mesmos na camada crnea.

A hidratao da camada crnea varia de acordo com os seguintes fatores:

Quantidade de gua;

Transporte de gua das camadas mais inferiores da pele para a superfcie cutnea;

Velocidade de evaporao da gua;

Velocidade de queratinizao;

Quantidade e composio da emulso epicutnea formada pelos lipdeos cutneos, gua e NMF.

Lipdeos secretados pelas glndulas sebceas

O material lipdico secretado pelas glndulas sebceas, rico em cidos graxos, triglicerdeos, esqualeno e ceras distribudo sobre a camada crnea, formando um filme lipoflico que dificulta a sada de gua da superfcie da pele.

A reduo do sebo faz com que a pele se tome mais seca. Crianas tendem a apresentar pele seca at a puberdade, em parte devido menor secreo de sebo. O mesmo pode ser observado na fase do envelhecimento.

Matriz lipdica intercelular

Durante a formao da camada crnea os queratincitos, alm de se diferenciarem, formando os cornecitos - feixes empacotados de queratina contidos num envelope protico produzem e secretam para os espaos intercorneocitrios uma mistura de lipdeos formada, principalmente, por ceramidas (40%), cidos graxos (20%) e colesterol (25%). Pode-se encontrar, ainda, sulfato de colesterol, fosfolipdios e glicoceramidas. Estes lipdios, que respondem por 11% da composio da camada crnea, se organizam na forma de lamelas que unem os cornecitos, formando uma barreira passagem de gua.

A reduo dos nveis de ceramidas, colesterol e cidos graxos causada pela exposio a alguns solventes orgnicos, detergentes e fatores genticos, entre outros, interfere na formao das lamelas entre os cornecitos, alterando a propriedade de barreira. A manifestao da dermatite atpica, uma condio eczematosa seca e pruriginosa, deve-se, em grande parte, diminuio dos nveis de ceramidas na camada crnea. Estes lipdeos, bem como os nveis de cidos graxos, encontram-se reduzidos em peles envelhecidas e em peles jovens durante o inverno, comparados ao vero.

Com relao ao inverno, h que se considerar ainda o fato de nesta poca do ano a umidade relativa do ar encontrar-se baixa (ar seco), o que contribui ainda mais para a retirada de gua da pele. A hidratao da camada crnea pela gua presente na atmosfera se d quando a mesma chega a valores acima de 60%. Por outro lado, a desidratao comea ocorrer quando a umidade atinge valores abaixo de 30%. No inverno, por exemplo, a camada crnea da pele dos bebs apresenta baixo contedo de gua comparada s outras estaes do ano.

A recomposio da barreira lipdica da pele utilizando-se os materiais graxos ceramidas, cidos graxos livres e colesterol isolado, ao contrrio do que se pensa, pode prejudicar a reconstituio da barreira fisiolgica cutnea. A reposio das lamelas intercelulares deve ser feita por misturas equilibradas de colesterol, ceramidas e cidos graxos livres ou colesterol e ceramidas (Tabela 1).

Tabela 1: Influncia dos lipdeos na recuperao da barreira cutnea e

diminuio da perda transepidermal (TEWL) de gua.

Dois ativos, Cerasome e Glycosome, que consistem em uma mistura dos lipdeos naturais da pele, podem ser utilizados com a finalidade de reconstruir a barreira cutnea repondo de forma equilibrada os componentes da barreira lipdica da camada crnea. O Cerasome um lipossoma de ceramidas, composto por cidos graxos livres (palmtico e olico), ceramidas 2 e 3, colesterol e lecitina hidrogenada. O Glycosome consiste em uma soluo de fosfolipdios, esfingolipdios e colesterol.

Fator Natural de Hidratao ou Natural Moisturizing Factor(NMF)

Para aumentar a hidratao da camada crnea junta-se aos lipdeos intercorneocitrios o fator natural de hidratao, que corresponde a 30% da camada crnea. Este fator formado pela degradao das protenas intracelulares localizadas nos grnulos de querato-hialina dos queratincitos da camada granular, associados a outros componentes umectantes da pele, como a uria e o PCA-Na (Tabela 2).

Tabela 2: Composio do fator natural de hidratao

O NMF, por ter vrias substncias osmoticamente ativas, atua como uma "esponja" retendo a gua na camada crnea, conferindo uma sensao de suavidade.

A pele seca manifesta-se quando o contedo de gua total na camada crnea normal, que de 20% a 35%, diminui a nveis abaixo de 10%, devido ao desequilbrio existente entre a perda transepidermal e reposio de gua pelas camadas inferiores da pele.

Prurido;

Queimao;

Picamento;

Sensao de estiramento da pele;

Descamao em aglomerados de cornecitos;

Diminuio da flexibilidade da camada crnea;

Aumento das rugas e marcas de expresso;

Aspereza ao toque;

Possvel presena de vermelhido.

As formulaes cosmticas para a pele seca visam restaurar a barreira lipdica da camada crnea, repor o NMF e a secreo sebcea, o que permitir reter, por mais tempo, a gua nesta regio.

Mecanismos de hidratao cosmtica da pele

A hidratao cosmtica da pele pode ser conseguida com aplicao freqente de produtos cosmticos que iro atuar por trs mecanismos bsicos: 1. Ocluso, 2. Umectao e 3. Hidratao ativa.

As formulaes contm componentes responsveis pela formao de uma barreira superficial que evita a evaporao superficial de gua: formam um filme graxo que impede a passagem da gua, ou seja, diminui a perda transepidermal de gua.

Figura 1: Representao esquemtica da reteno de gua promovida pela formao de filme lipoflico sobre a camada crnea. Do lado esquerdo nota-se que a gua, proveniente das camadas mais profundas da pele, ao passar pela camada crnea perdida para o meio ambiente. Do lado direito, onde se encontra o filme formado por material lipoflico, a sada da gua dificultada, o que faz aumentar a reteno hdrica na camada crnea.

Relao de alguns ativos cosmticos que hidratam a pele por ocluso.

Os leos vegetais, minerais e gorduras animais so bons exemplos de ativos hidratantes oclusivos.

Derivados minerais: Petrolatum (vaselina), leo mineral, Parafina, Squaleno

Gorduras animais: Lanolina, Gordura de ema

Manteigas vegetais: Karit, Manga, Cupuau, Oliva, Ucuuba, Tucum, Cacau, Murmuru.

Silicone: Dimeticone

leos vegetais: Abacate, Macadmia, Germe de trigo, Girassol, Maracuj, Uva, Castanha do Brasil, Canola, Milho, Algodo, Babau, Pequi, Patau, Buriti, outros...

Ceras: Abelhas, Jojoba

lcoois graxos: lcool de lanolina, lcool cetlico, lcool cetoestearlico.

cidos graxos: cido esterico

lcool: Octildodecanol

Entre os vrios lipdeos mencionados na tabela acima a lanolina, uma matria graxa natural que se encontra na l das ovelhas, apresenta um mecanismo de hidratao particular.

Esta gordura animal composta de misturas complexas de steres, lcoois graxos e cidos graxos, tendo grande similaridade qumica e fsica com os lipdios da pele humana. capaz de formar estruturas multilamelares tpicas de cristais lquidos encontrados entre os cornecitos na camada crnea.

Os leos vegetais tm a vantagem de ser naturais e ricos em triglicerdeos de cidos graxos insaturados, componente da secreo sebcea, portanto, um material semelhante ao encontrado na pele. As manteigas vegetais tambm so naturais e ricas em triglicerdeos, porm com maior teor de cidos graxos saturados.

Umectao

Os hidratantes que atuam pelo mecanismo de umectao retm gua da formulao, da atmosfera e a gua que est sendo perdida pela camada crnea na superfcie da pele. So substncias que no permeiam a camada crnea (Figura 2).

Figura 2: Representao esquemtica de um hidratante umectante. Tanto a gua proveniente da frmula quanto da atmosfera e pele so retidas pelo filme hidroflico formado sobre a camada crnea, aumentando a reteno de gua na superfcie cutnea.

Qualquer hidrolisado de protena, animal ou vegetal, usado como hidratante cosmtico atuando como umectante. As diferenas entre os vrios tipos de produtos disponveis no mercado ficam por conta, principalmente, da fonte, tamanho de cadeia peptdica e teor de ativo. Os derivados proticos tm a capacidade de absorver e reter gua em ambiente mido, ou da formulao cosmtica, e ainda a gua que seria perdida pela pele.

Assim como as protenas, os polissacardeos tambm encontram aplicao em cosmticos. Alguns derivados de algas ricos em mucilagens e o cido hialurnico, um polissacardeo heterogneo, formam filme sobre a pele, absorvendo e retendo a gua na superfcie da camada crnea.

A glicerina, sorbitol, propilenoglicol, glicose, butilenoglicol, entre outros glicis, por terem capacidade de formar potes de hidrognio com a gua, so utilizados como umectantes de formulaes e tambm da pele.

Hidratao ativa ou umectao ativa

Os ativos aqui includos conseguem permear a camada crnea, podendo reter gua em toda sua extenso (Figura 3).

Figura 3: Representao esquemtica de um hidratante ativo. A substncia hidratante permeia a camada crnea ligando-se a molculas de gua nesta regio, diminuindo a perda transepidermal de gua.

Umectantes

A tabela 3 mostra algumas substncias umectantes superficiais ou ativas e sua eficcia em reter gua na camada crnea.

Tabela 3: Substncias hidratantes e capacidade de

reteno de gua na camada crnea.

Sal sdico do cido 2-pirrolidona-5-carboxlico (PCA): o PCA-Na (Figura 5) funciona como um umectante ativo retendo a gua proveniente da derme e epiderme vivel no interior da camada crnea.

Figura 5: Estrutura qumica do sal sdico do cido 2-pirrolidona-5-carboxlico (PCA).

O PCA-Na tem alta capacidade de reteno de gua em condies de baixa umidade relativa, apresentando melhor resultado que a glicerina e o sorbitol. Promove, tambm, maior elasticidade da camada crnea.

Uria: a uria, uma diamida do cido carbnico, ou simplesmente carbamida (Figura 6), presente no NMF, tem maior capacidade de reteno de gua na camada crnea do que a glicerina (Tabela 4). Nos casos de dermatite atpica, a uria mais eficaz que a glicerina.

Figura 6: Estrutura qumica da uria.

A eficcia hidratante da uria se deve ao seu poder higroscpico, alta capacidade de se ligar gua por incluso nas estruturas cristalinas da camada crnea. Este mecanismo responsvel por sua hidratao ativa ou teraputica. A queratina liga-se mais gua na presena de uria do que na sua ausncia. Este fato faz com que os cornecitos fiquem mais hidratados, tornando a uria um verdadeiro hidratante, e no um umectante que ligaria a gua superfcie da pele.

A concentrao de uria em cosmticos pode chegar a no mximo 10%; porm, em produtos dermatolgicos esta concentrao pode chegar a 40%. Em cosmticos, quando a concentrao for superior a 3%, o produto final classificado como Grau 2, sendo necessrio, para fins de registro, realizar testes de segurana como irritabilidade primria, acumulada e sensibilizao. Na associao da uria a outros ativos h necessidade de realizao de ensaios de absoro cutnea.

Os produtos contendo uria classificados como Grau 2 devem obedecer a normas de rotulagem. Os mesmos devem conter os dizeres:

Manter fora do alcance de crianas;

No usar se a pele estiver irritada ou lesionada;

No utilizar durante a gravidez.

A degradao da uria nas formulaes leva alcalinizao progressiva do meio, conferindo odor de amnio no produto final. Altas concentraes podem, ainda, recristalizar a substncia na frmula.

Trehalose: a trehalose (Figura 7), um dissacardeo formado por duas molculas de glicose, encontrado naturalmente em organismos vivos capazes de sobreviver em completa ausncia de gua e altas temperaturas, fenmeno conhecido como anidrobiose.

Figura 7: Estrutura qumica da trehalose.

Em cosmticos acredita-se que a trehalose possa atuar como hidratante por um mecanismo conhecido como vitrificao, ou seja, as molculas de acar interagem com sistemas hidrobiticos, formando cristais amorfos (cristais lquidos), impedindo desta forma a ruptura e desnaturao de bioestruturas. Na pele, este acar interage com os lipdeos polares que formam a estrutura lamelar entre os cornecitos, estabilizando-os e impedindo alteraes nesta regio diminuindo, assim, a perda de gua atravs da pele.

Lactatos: os lactatos de amnio e sdio (Figura 8) so umectantes com eficcia superior glicerina. O lactato de amnio a 5%, quando usado com freqncia, confere melhoras significativas em peles secas. O problema com pH pode ser corrigido adicionando-se formulao cido lctico, que tambm higroscpico, formando tampo ao ser associado com lactatos.

Figura 8: Estrutura qumica do lactato de sdio.

Arginina: a arginina (Figura 9) um aminocido amplamente usado na indstria farmacutica e de suplementos alimentares, encontrando tambm aplicao em formulaes cosmticas hidratantes. O NMF composto por cerca de 4% de arginina, aminocido de alta hidrofilia que quando associado uria apresenta efeito sinrgico, aumentando o contedo de gua na camada crnea e melhorando, portanto, a capacidade hidratante da uria.

Figura 9: Estrutura qumica da arginina.

A aplicao tpica deste aminocido aumenta a sntese de uria endgena intraqueratincito, aumentando a hidratao cutnea. Nos casos de dermatite atpica o uso de arginina a 0,25% aumenta continuamente a hidratao na camada crnea, melhorando os sintomas, clnicos da dermatite.

Tensoativos em formulaes hidratantes

Um produto hidratante ideal aquele que combina um bom sensorial na aplicao com a capacidade de impedir a sada de gua, ao mesmo tempo em que atrai e retm a gua na camada crnea. Assim sendo, os melhores produtos so formulados com substncias oclusivas e umectantes/higroscpicas.

A forma mais funcional dos produtos hidratantes a emulso, que tem a propriedade de combinar substncias hidrossolveis e lipossolveis, portanto, oclusivas e umectantes ativos ou no.

A escolha certa do tipo de emulso utilizada para elaborar um hidratante importante para aumentar o desempenho do produto. Os emulsionantes que formam as emulses (cremes, loes, gel-creme ou creme-gel) podem ser aninicos, catinicos ou no-inicos.

Os emulsionantes aninicos, como por exemplo, o cetilestearil sulfato de sdio e lauril sulfato de sdio e os estearatos, so altamente irritantes. Isto se deve a sua capacidade de permear a camada crnea, dissolver lamelas, ligar-se s protenas induzindo intumescimento, o que aumenta a perda transepidermal de gua. Os tradicionais tensoativos catinicos podem igualmente danificar a barreira cutnea e irritar a pele, no sendo usados em cosmticos hidratantes.

Entre os tensoativos aninicos, os steres de fosfatos orgnicos so os mais indicados para emulses hidratantes. Estes so suaves e compatveis com a pele, no oferecendo toxicidade e irritao para este rgo.

Os tensoativos no-inicos em geral, quando em concentraes adequadas, so bem seguros e tolerados para pele, no causando danos s lamelas formadas entre os cornecitos, portanto adequados para a composio de formulaes de emulses hidratantes.

A escolha de uma formulao inadequada para a incorporao de ativos hidratantes, bem como a escolha de ativos inadequados, pode exacerbar reaes cutneas indesejveis em indivduos com peles sensveis, que so aquelas que podem apresentar resposta elevada a estmulo cutneo, resposta imunolgica exacerbada e/ou funo de barreira reduzida.

Quanto ao tipo de emulso usada, se gua em leo (A/O) ou leo em gua (O/A), no se pode afirmar que uma seja melhor do que a outra para a hidratao da pele.

No entanto, de nada adianta uma boa formulao se o uso do produto for inadequado. A eficcia de um cosmtico hidratante deve-se em grande parte ao uso correto, o que vale dizer freqncia de aplicao. O mesmo deve ser usado mais de uma vez ao dia e por vrios dias sucessivos para que os resultados comecem a aparecer.

Tabela 3: Alguns hidratantes comumente utilizados,

mecanismo de ao e concentraes usuais

Hidratao dos lbios

Os lbios so uma zona de transio entre a pele facial e a mucosa bucal. Possuem uma epiderme com uma fina camada de clulas de queratina que permite mostrar a derme vascularizada, responsvel por sua cor rosada. No possuem glndulas sebceas e sudorparas, caractersticas que confere baixa proteo perda de gua.

uma regio do corpo que merece cuidados especiais, uma vez que a pele neste local encontra-se mais exposta s influncias ambientais, tais como ventos frios, sol, baixas temperaturas e umidade, condies que levam desidratao. Como resposta, a pele dos lbios se toma spera e seca, podendo lesionar facilmente e formar crostas.

O problema se agrava quando as pessoas passam a mordiscar a pele seca que comea a se desprender. As fissuras se aprofundam, os lbios comeam a doer e pode at ocorrer sangramento. O ato de passar a lngua para umedecer a regio resulta uma melhora temporria, todavia, o contato com a mucosa oral pode agravar o problema. As mulheres, comparadas aos homens, esto menos sujeitas a este tipo de problema, uma vez que so usurias de batons. Por outro lado, durante a noite, devido ausncia desta maquiagem a pele dos lbios pode sofrer desidratao.

A preveno a melhor forma de evitar problemas nos lbios. Os batons podem ser incrementados com hidratantes e substncias que aceleram a regenerao cutnea. Para os no usurios de batons o melhor fazer uso de cosmticos lipoflicos, que so capazes de formar uma pelcula aderente e flexvel sobre a regio. A lipofilia desejvel, uma vez que assegura a permanncia do produto no local por um maior perodo de tempo. Se os lbios j se encontram com leses, alguns ativos podem ser acrescentados para acelerar a regenerao da pele.

Os melhores ativos para as formulaes labiais so os leos, ceras e manteigas. Independentemente da origem, esta classe de ativos forma um filme protegendo a regio ao mesmo tempo em que aumenta a hidratao local e a emolincia, fatores que aceleram a regenerao.

Alguns destes compostos tm caractersticas peculiares, promovendo mais que emolincia e hidratao. Os leos vegetais ricos em fitoesteris aceleram a cicatrizao das ulceraes formadas nos lbios. Com a mesma finalidade podem ser empregados os leos ricos em carotenides.

Vitaminas, a exemplo da vitamina F, previnem o ressecamento e estimulam regenerao celular, assim como a vitamina C, A e o D-pantenol. O Aloe vera, por acelerar a cicatrizao, pode ser empregado nos casos de fissuras. Com a mesma finalidade podem ser utilizadas a Centella asitica, a Mimosa tenuiflora (Tepescohuite) e a Calendula officinalis (calndula).

O peptdeo biomimtico, Maxilip, hidrata esta regio da pele e estimula a produo de colgeno e glucosaminoglucanas, contribuindo para o aumento do volume destes.

Os leos para o corpo so preparaes cosmticas destinadas a repor filme lipdico sobre a pele, principalmente aps o banho, e com isto promover maciez ao toque e hidratao por mecanismo oclusivo.

Estes produtos so formulaes extremamente simples, podendo ser consideradas solues lipoflicas. Pode ser usado um nico leo, mistura de diferentes tipos de leos ou, ainda, de ativos lipoflicos e leos.

A associao de steres emolientes e silicones podem melhorar o sensorial do produto final, por aumentar a espalhabilidade dos mesmos na pele e diminuir a viscosidade.

Os leos ps-banho aplicados sobre a pele mida, normalmente, vem acrescidos de um tensoativo com baixo equilbrio hidroflico lipoflico (EHL) para formar uma emulso do tipo gua em leo (A/O) in loco, melhorando o fator sensorial do produto labial.

Os leos bifsicos so elaborados a partir da mistura de duas solues imiscveis, quase sempre uma aquosa e outra oleosa, e os trifsicos so obtidos a partir da associao de trs solues imiscveis. Algumas tcnicas gerais para se obter leos trifsicos so:

Soluo aquosa + soluo oleosa + hexilenoglicol + sal.

Soluo sorbitol + ster de cido graxo com poliol (PEG-7 glyceryl cocoate) + soluo oleosa.

Solues de oleosa + silicone (imiscvel em leo)+ glicol.

Emolientes

Os leos e outras substncias emolientes vm sendo freqentemente adicionados aos veculos cosmticos porque podem melhorar a espalhabilidade da formulao, melhorar o sensorial e at mesmo apresentar algum efeito benfico para o tecido cutneo, uma vez que na pele humana existe uma srie de lipdios, os quais so importantes para a manuteno das condies fisiolgicas adequadas; fato que tambm favorece o emprego dos leos e de seus derivados em formulaes dermatolgicas.

A presena dos lipdios endgenos na pele fundamental porque ajudam a manter o nvel adequado de gua no estrato crneo, o que permite flexibilidade cutnea. Alm disso, os lipdios desempenham uma grande variedade de funes celulares. Eles so a forma principal de armazenamento de energia na maioria dos organismos, bem como os principais constituintes das membranas celulares.

A presena de umidade no interior das clulas crneas mantm a maciez e a elasticidade da pele jovem e sadia. O envelhecimento e as agresses ambientais resultam numa reduo da capacidade do estrato crneo em reter seu contedo de umidade ideal, tornando a pele seca e rugosa. Certamente, o envelhecimento um processo natural e inevitvel, mas a incorporao de componentes emolientes em formulaes tpicas pode ser eficaz na preveno deste. Os leos vegetais so emolientes comumente empregados em formulaes cosmticas.

O estrato crneo, camada externa da epiderme, composto de clulas chamadas queratincitos e lipdios, principalmente localizados no espao intercelular, formando as camadas multilamelares. Essas camadas promovem a funo de barreira, sendo constitudas predominantemente de ceramidas, cidos graxos livres e colesterol.

A incorporao de substncias ativas hidratantes e de emolientes, em formulaes cosmticas, tem sido empregada numa tentativa de prevenir o declnio do contedo de umidade da pele.

Ceramidas

A presena de ceramidas na epiderme humana foi registrada em 1975. Em 1987, as ceramidas encontradas no estrato crneo foram classificadas em 6 classes. As ceramidas naturais da pele possuem uma configurao estereoqumica especfica.

Anomalias nas ceramidas endgenas podem estar relacionadas com o aparecimento de eczemas e psorase e a quantidade de ceramidas na pele diminui com o aumento da idade.

As ceramidas so fundamentais para a manuteno da barreira lipdica presente no estrato crneo da epiderme, a qual tem a capacidade de reter a gua na pele. As ceramidas so ricas em cido linolico (C18:2), importante para manter a funo de barreira da epiderme pois controla a perda transepidrmica de gua. A presena de umidade nas clulas do estrato crneo responsvel pela maciez e elasticidade da pele jovem e sadia. O envelhecimento, a luz solar e as variaes climticas resultam numa reduo da capacidade do estrato crneo em reter seu contedo de umidade ideal, tornando a pele seca e rugosa.

Alm dos lipdios lamelares situados no estrato crneo e provenientes da sntese lipdica que ocorre nos queratincitos durante a renovao celular, existe tambm, na superfcie da pele humana, uma emulso natural, ou seja, uma pelcula hidrolipdica superficial, a qual formada pela mistura da secreo sudorpara com os lipdios provenientes das glndulas sebceas. A presena dessa emulso protege a pele das agresses ambientais, como por exemplo, sol, vento, radiao ultravioleta, baixa umidade, etc.

Logo, pode-se dizer que os lipdios apresentam diferentes finalidades nos produtos cosmticos. Alguns dentre eles, podem misturar-se pelcula hidrolipdica da superfcie cutnea formada pela mistura do suor e do sebo e outros podem adicionar-se aos lipdios presentes entre os queratincitos das camadas superficiais da epiderme. Muitos ainda podem favorecer o toque e, portanto proporcionar um sensorial agradvel.

Segundo RIEGER (1992) fazem parte dos lipdios sebceos os triglicrides (50-60%, steres graxos (26%), esqualeno (12-14%), cidos graxos livres (11%), colesterol (2%) e steres de esteris (3%). Pode-se observar que aproximadamente 50% dos lipdios sebceos so triglicrides, um grupo que vem sendo muito usado em formulaes cosmticas.

cidos graxos

Os cidos graxos so hidrocarbonetos (compostos formados por um esqueleto de tomos de carbono ligados covalentemente entre si e aos quais esto ligados apenas tomos de hidrognio) de cadeia longa com terminaes carboxiladas. Os esqueletos carbnicos desses compostos so muito estveis.

O conhecimento do cido graxo importante, pois este precursor de muitas matrias-primas cosmticas. Estes possuem cadeias hidrocarbonadas de 4 a 36 tomos de carbono. Em alguns cidos graxos esta cadeia totalmente saturada (no contm duplas ligaes), outros contm uma ou mais duplas ligaes.

RIEGER em 1987 relatou que vrios cidos graxos foram identificados na secreo sebcea (Tabela 4)

Tabela 4: Porcentagem de alguns cidos graxos encontrados na superfcie da pele humana

NOMEFRMULA%

cido palmtico n-C1625,3

cido cis-hexadecano-6-enico n-C16:1, n-1021,7

cido cis-octadecano-8-enico n-C18:1, n-10 8,8

cido mirstico n-C14 6,9

cido cis-14-metilpentadecano-6-enico iso-C16:1, n-9 4,0

cido pentadecanico n-C15 4,0

cido esterico n-C18 2,9

cido cis-octadecano-6-enico n-C18:1, n-12 1,9

cido olico n-C18:1, n-9 1,9

Segundo COSTA (1975), o leo de amndoas contm 75-80% de cido olico, 10-17% de cido linolico, 5-8% de cido palmtico e 1% de cido mirstico, enquanto o leo de amendoim contm 54-76% de cido olico, 12-34% de cido linolico, 5-12% de cido palmtico, 4-6% de cido esterico, 3-4% de cido araqudico, 2-3% de cido behnico. Pode-se verificar que os leos vegetais apresentam, cidos graxos semelhantes aos encontrados na epiderme humana e por isso vm sendo constantemente empregados em formulaes de uso tpico.

As propriedades fsicas dos cidos graxos e dos compostos que os contenham so largamente determinadas pelo comprimento e pelo grau de insaturao da cadeia hidrocarbnica dos mesmos. A cadeia hidrocarbnica no-polar a responsvel pela pequena solubilidade dos cidos graxos na gua. Quanto maior a cadeia carbnica do cido graxo e menor o nmero de duplas ligaes, menor a sua solubilidade em gua. Os pontos de fuso dos cidos graxos e dos compostos que os contenham so tambm, fortemente influenciados pelo comprimento e grau de insaturao da cadeia hidrocarbnica. temperatura ambiente (25C), os cidos graxos saturados que tm 12 a 24 tomos de carbonos tm consistncia cerosa, enquanto os cidos graxos insaturados do mesmo comprimento de cadeia carbnica so lquidos oleosos.

Tabela 5: Ponto de fuso (C) de alguns cidos graxos

NOME COMUMESTRUTURAPONTO DE FUSO (C)

cido luricoCH3(CH2) 10COOH44,2

cido mirsticoCH3(CH2) 12COOH53,9

cido palmticoCH3(CH2) 14COOH63,1

cido estericoCH3(CH2) 16COOH69,6

cido palmitolicoCH3(CH2)5CH=CH(CH2) 7COOH-0,5

steres graxos

Os steres lipdicos (ex: triglicrides) saponificam-se com facilidade. Basta aquec-los com uma base: assim resultam nos sais respectivos dos cidos graxos, os sabes, que geralmente se separam solubilizados na gua. Porm, alguns lipdios so insaponificveis, ou seja, no so transformados em sabes, e, portanto normalmente so separados quando dissolvidos em solventes orgnicos. Exemplo de insaponificveis: lecitinas, esteris, esqualeno, tocoferis.

Os sabes alcalinos dissolvem-se na gua e so insolveis nos solventes orgnicos mais comuns (ter, clorofrmio, benzeno). Os cidos decompem-nos, libertando os cidos graxos.

leos, gorduras e ceras empregadas em formulaes cosmticas

As substncias graxas empregadas em formulaes podem ter origem vegetal, animal ou mineral. Essas substncias so insolveis na gua e apresentam densidade inferior da gua. Solubilizam-se nos solventes orgnicos e em geral, nas solues aquosas alcalinas, em virtude de se transformarem em sabes.

A distino usual de leos, gorduras e ceras baseiam-se no seu estado fsico: os primeiros, lquidos a temperatura ambiente, as gorduras, de consistncia mole, fundem abaixo de 45C, as ceras apresentam-se em massas slidas, em geral fusveis a temperaturas superiores a 60C.

Cera de abelha uma cera purificada do favo de mel de abelhas: Apis mellifera. Comercialmente h 2 tipos de ceras: a cera amarela, natural, e a branca, obtida por descolorao da primeira. Este branqueamento da cera pode ser conseguido por via qumica, por meio de oxidantes, ou por simples exposio luz, umidade e ar (processo que origina a cera branca de melhor qualidade). Os ndices analticos das 2 ceras podem ser considerados idnticos, exceto o ponto de fuso e a densidade, que para a cera branca so, respectivamente, de 65- 66C e 0,815 - 0,820 (a 100C).

A cera branca a mais usada. Dado ao elevado contedo em cidos livres, a cera pode servir para preparar emulgentes do tipo O/A, bastando que lhe seja adicionada uma substncia alcalina, como o bicarbonato de sdio ou o borato de sdio, que originar um sabo alcalino. Quando pura, a cera de abelhas apresenta poder emulsivo A/O, muito fraco. Ela pode ser usada para aumentar a viscosidade de formulaes ou para estabilizar emulses.

Esqualeno

O esqualeno contm cadeia insaturada, e encontrado no leo de fgado de tubaro, e tambm em alguns vegetais. Ex: azeite, e quantidade pequena nos leos de amendoim e soja.

Na Cosmetologia usualmente emprega-se em formulaes o esqualeno, que possui cadeia saturada e, portanto maior estabilidade.

Esteris

Os esteris representam um grupo particular de lcoois, caracterizado pelo seu ncleo tetracclico fundamental (ou seja 4 anis fechados).

Todos os esteris possuem, ligados ao C17, e em posio Beta, uma cadeia ramificada, saturada ou insaturada, de estrutura particular. A presena de uma hidroxila (OH) no C 3 origina o colesterol.

Hoje j foram detectados vrios esteris, graas aos novos mtodos de isolamento. Existem os esteris livres e os steres de esteris.

Podem classificar-se pelas suas caractersticas estruturais, mas, usualmente, distinguem-se pela origem animal e vegetal (zooesteris e fitoesteris). O esterol caracterstico do reino animal o colesterol que, pode-se dizer, existe em todas as clulas animais, em maiores porcentagens no crebro e espinha medular. O sangue contm 1,5 a 2 gramas por litro.

A matria-prima usada pela indstria qumica para a sua extrao extrada da medula de animais abatidos nos matadouros, ou a partir da lanolina.

Os fitoesteris (so vrios, mas os mais conhecidos so o ergostano e o estigmastano) so extrados principalmente da soja e na levedura de cerveja.

Alguns esteris so pr-vitamina D.

Colesterol

O colesterol o esterol caracterstico das clulas animais. Os vegetais, fungos e protistas sintetizam outros esteris (Ex: estigmasterol nos vegetais e ergosterol nos fungos). Todos os tecidos animais em crescimento necessitam de colesterol para a sntese de membranas; alguns rgos (glndula adrenal e gnadas, por exemplo) usam o colesterol como um precursor para a produo dos hormnios esterides. O colesterol tambm um precursor da vitamina D.

Lanolina

Muitos dos lipdios encontrados naturalmente na pele humana constantemente tm feito parte das formulaes de uso tpico.

O conhecimento dos constituintes da pele permite ao formulador desenvolver formulaes tpicas biocompatveis. Dentre os vrios lipdios empregados em formulaes cosmticas e dermatolgicas destaca-se a lanolina e seus derivados.

A lanolina uma conseqncia da tosagem da l dos carneiros (que no vero passariam muito calor com toda esta cobertura). A l vai para os lanifcios onde lavada. Esta gua de lavagem contm a graxa de l.

Segundo o CTFA, a lanolina um material graxo obtido da secreo sebcea do carneiro. Consistem de uma mistura complexa de steres de alto peso molecular, esteris e cidos graxos.

PRISTA (1981) relata que a lanolina constituda de 96% de steres, 3% de lcoois livres, cidos graxos livres e hidrocarbonetos. Entre os cidos graxos os principais so o mirstico e o palmtico e em quantidade menor, o cprico e o certico. E ainda pode conter gua (aproximadamente 25-30%) ou ser anidra (tem menos que 1% de umidade).

A presena de esteris (como ex: colesterol) confere lanolina propriedades emulgentes A/O, incorporando aprecivel quantidade de gua (cerca de 2x o seu peso).

Dentre os inconvenientes do uso da lanolina pode-se mencionar o cheiro desagradvel, o poder de provocar alergias e a dificuldade de manipulao pelo fato de ser muito viscosa. Tais inconvenientes tm levado ao desenvolvimento de vrios derivados da lanolina.

Alm disso, o fato do mercado cosmtico haver se tornado mais exigente e interessado em modificaes, surgiram variaes de lanolinas; ou seja surgiram os derivados da lanolina com aparncia muito mais agradvel e sem odor.

A lanolina e seus derivados (exs: lcool de lanolina, lanolina acetilada, lanolina etoxilada ...) so substncias que, geralmente, aumentam o deslizamento de loes e cremes durante a aplicao e recuperam a lubrificao da pele.

Essas substncias vm sendo muito empregadas em formulaes de uso tpico porque possuem excelente desempenho na substituio do sebo humano, proporcionando vrias funes desejadas.

Tabela 10: Lanolina e seus derivados com suas respectivas funes em formulaes cosmticas

COMPONENTESFUNES

LanolinaAgente condicionante da pele e dos cabelos, emoliente, agente emulsionante (tensoativo)

lcool de lanolina uma mistura de lcoois graxos obtidos da hidrlise da lanolina.

Atua como estabilizante de emulses, agente condicionante dos cabelos, aumenta a viscosidade de formulaes no aquosas.

Apresenta a vantagem de no provocar alergias cutneas.

Normalmente possuem alta concentrao de colesterol (aproximadamente 28%). um bom emulgente A/O.

Lanolina acetilada um ster acetilado de lanolina. Atua como agente condicionante dos cabelos, emoliente, oclusivo, agente condicionante da pele.

A acetilao dos lcoois livres presentes na lanolina reduz o risco desta causar alergia.

Lanolina etoxilada formada quando se reagem lcoois de lanolina e xido de etileno, podendo formar steres e teres dos polietilenoglicis.

Para obter isso aquece o lcool de lanolina com o xido de etileno, a 137 -170C, e usa-se o metilato de sdio como catalisador.

Pode-se produzir lanolinas com um equilbrio hidrfilo/lipfilo dependente do nmero de grupos oxietilnicos fixados, sendo algumas delas apenas hidrodispersveis, enquanto outras so hidrossolveis (cerca de 20 a 40 moles de xido de etileno). Logo a introduo de cadeias hidrfila na lanolina pode alterar as suas propriedades emulgentes de A/O, podendo tomar-se um emulgente O/A.

Outros emolientes

Dentre outros vrios emolientes comumente usados em formulaes cosmticas, tem-se o miristato de isopropila, oleato de decila e miristato de miristila.

Miristato de isopropila

O miristato de isopropila (C17H3402) um ster formado pela reao do lcool isoproplico (C3H8O) e do cido mirstico (C14H2802), e tem ao emoliente, ou seja, confere emolincia, maciez e espalhamento a emulses e preparaes anidras, como alguns batons e sticks.

Oleato de decila

O oleato de decila (C28H5402) um ster formado pela reao do lcool decil (C10H220) e do cido olico (C18H3402) e tem ao emoliente.

Miristato de miristila

Miristato de miristila (C28H5602) um ster formado pela reao do lcool mirstico (C14H30O) e do cido mirstico (C14H2802), tem ao emoliente e um agente oclusivo. slido e por isso pode ajudar na consistncia final do produto.

Fonte:

LEONARDI, G.R. Cosmetologia aplicada. So Paulo, Medfarma Livraria e Editora, 2004.

RIBEIRO, C.J. Cosmetologia aplicada a dermoesttica. So Paulo, Pharmabooks, 1ed. 2006.