02 dreamless (sem sonhos)

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Starcrossed Book 2

(Sem sonhos)

Josephine Angelini

Como a única descendente que pode entrar em

Hades fisicamente, Helen desce ao Mundo

Inferior em busca de uma maneira de derrotar as

Fúrias e terminar com o ciclo de vingança que

amaldiçoou os descendentes. Mas ela está

correndo contra o tempo. Cada descida

enfraquece tanto sua mente quanto seu espírito.

Um estranho misterioso pode ser sua única

salvação, mas o preço pode ser o seu amor por

Lucas Delos.

Quando um inesquecível triângulo amoroso

surge, a saga de Josephine Angelini torna-se

cada vez mais complexa e fascinante. A tão

esperada sequência do best-seller internacional

Starcrossed, Dreamless chega com um enorme

impacto emocional que vai deixar os leitores

satisfeitos e ansiosos por mais.

Traduzido por Polly

a segunda-feira de manhã, a escola foi cancelada. A energia ainda não tinha sido restaurada para certas partes da ilha, e várias ruas

no centro da cidade estavam intransitáveis devido a danos causados pela

tempestade. Sim, certo, Zach pensou, enquanto caminhava pela sua porta da

frente. Foi a “tempestade” que destruiu metade da cidade, não a nova família bizarra que pode correr mais que carros.

Ele correu por algumas quadras, apenas para colocar alguma distância entre ele e seu pai. Ele não podia suportar ficar em casa e ouvir seu pai reclamar sobre a equipe faltando a prática de futebol, quando

tudo o que ele realmente estava reclamando era sobre passar mais um dia separado de seus três atletas estrela — os incríveis garotos Delos.

Zach continuou pela India Street para olhar os degraus destruídos

do Atheneum, juntamente com dezenas de outros curiosos. Todo mundo estava dizendo que um fio elétrico entrou em curto no meio da rua na

noite anterior e que ficou tão quente que derreteu o asfalto. Zach viu o buraco no chão e ele viu os fios elétricos caídos, mas ele sabia que os fios não tinham feito todo esse dano.

Assim como ele sabia que a placa de saída sobre a porta do vestiário das meninas não tinha queimado um enorme pedaço de grama cinco metros longe dele.

Por que todo mundo era tão estúpido? Eles estavam tão cegos pelas crianças Delos que eles estavam dispostos a ignorar o fato de que os

degraus de mármore da biblioteca não poderiam ter sido rachados pelo maldito vento? Será que qualquer outra pessoa não via que havia algo

mais acontecendo? Era tão óbvio para Zach. Ele tentou advertir Helen, mas ela estava muito envolvida com Lucas para ver em linha reta. Zach sabia que ela era semelhante a eles de alguma forma, mas ele tentou, de

qualquer maneira. Ela era como toda a ilha sobre eles, tal como o seu pai também era. Cega.

Zach estava andando pela cidade, encarando todos os tolos em torno, surpresos e admirados, quando Matt o viu e acenou para ele.

— Olha isso — Matt disse quando Zach se juntou a ele perto da

borda da fita da polícia. — Eles estão dizendo que deve ter sido a linha principal para a ilha que fez isso. Bastante incrível, não é?

— Uau. Um buraco. Tão incrível — Zach disse sarcasticamente.

— Você não acha interessante? — Matt perguntou, arqueando uma sobrancelha.

— Eu não acho que uma torre de energia derrubada fez tudo isso. — O que mais poderia ter sido? — Matt perguntou em seu habitual

modo analítico, gesticulando para o cenário de destruição na frente deles.

N

Zach sorriu cautelosamente. Matt era mais esperto do que a maioria

das pessoas lhe dava crédito. Ele era bonito, ele usava todas as roupas certas, ele era capitão do time de golfe de todo o estado, e ele era de uma

antiga e respeitada família. Acima disso, ele sabia como jogar com calma em torno de pessoas mais importantes e falar sobre coisas interessantes, como esportes. Na verdade, Zach sempre suspeitou que Matt poderia ter

sido um dos garotos mais populares da escola se quisesse, mas por alguma razão, Matt tinha desistido de seu lugar na equipe popular e escolheu ser o Rei Nerd ao invés. Isso tinha que ter algo a ver com Helen.

Zach ainda não descobriu por que Helen escolheu sair com os nerds, considerando que ela era mais bonita do que qualquer estrela de cinema

ou supermodelo que ele já viu. Sua decisão de ser tímida era outra parte de seu mistério e sua atração. Ela era o tipo de mulher para quem os homens faziam coisas. Coisas como sacrificar sua posição social, ou

roubar, ou até mesmo lutar por... — Eu não estava aqui — Zach respondeu, finalmente respondendo

à pergunta de Matt. — Mas me parece que alguém fez isso de propósito. Como se achasse que poderia sair impune disso.

— Você acha que alguém... O quê? Despedaçou a biblioteca,

arrancou uma torre de energia de dez mil volts com as mãos nuas, e depois derreteu um buraco de um metro na rua... como uma brincadeira?

— Matt perguntou uniformemente. Ele estreitou os olhos e deu a Zach um pequeno sorriso de boca fechada.

— Eu não sei — Zach finalmente respondeu. Então, um pensamento

lhe ocorreu. — Mas talvez você saiba. Você tem saído muito com Ariadne ultimamente.

— Sim, e? — Matt disse calmamente. — Eu não vejo o seu ponto.

Será que Matt sabia? As crianças Delos disseram a ele o que estava acontecendo enquanto eles deixavam Zach fora disso? Zach estudou Matt

por um momento e decidiu que ele estava provavelmente apenas grudando na família Delos como todo mundo fazia quando Zach mencionou o quão estranho eles eram.

— Quem disse que eu tenho que ter um ponto? Eu só estou dizendo que eu nunca vi uma torre de energia cair assim antes. Você já viu?

— Então a polícia, água e energia, todas as pessoas que são treinadas para lidar com desastres naturais, estão erradas e você está certo?

A maneira que Matt colocou isso fez Zach se sentir um pouco bobo. Ele não podia vir a público e dizer que uma família de super-homens estava tentando assumir a sua ilha. Isso parecia loucura. Fingindo

desinteresse, Zach olhou para o outro lado da rua para os degraus demolidos do Atheneum e deu de ombros.

Foi quando ele notou alguém, alguém especial, como Helen — como aquelas malditas crianças Delos. Só que esse cara era diferente. Havia algo desumano sobre ele. Quando esse cara se moveu ele meio que

parecia um inseto. — Tanto faz. Eu realmente não me importo com o que aconteceu —

Zach disse, agindo como se ele estivesse entediado. — Divirta-se olhando para esse buraco.

Ele se afastou, não querendo perder mais tempo com alguém tão

obviamente do lado dos Delos. Ele queria ver onde essa aberração estava indo, e talvez descobrir o que todos eles estavam escondendo dele.

Ele seguiu o estranho até as docas, e viu um belo iate. Era algo saído de um livro de histórias. Mastros altos, plataforma de teca, casco de fibra de vidro e velas vermelhas. Zach caminhou em direção a ele com a boca

aberta. O iate era a coisa mais linda que ele já viu, com exceção de um rosto... O rosto dela.

Zach senti alguém lhe tocar nas costas de seu ombro e, quando ele

se virou, o mundo ficou escuro.

Traduzido por Polly

angue vermelho floresceu debaixo das unhas rasgadas de Helen, se agrupando nos arcos de suas cutículas, e se arrastando pelos

nós dos seus dedos em pequenos rios. Apesar da dor, ela agarrou a borda mais firmemente com a mão esquerda para que ela pudesse tentar deslizar sua mão direita para a frente. Havia cascalho e sangue sob os seus dedos, fazendo-a deslizar, e suas mãos estavam com cãibras tão gravemente que o centro de sua palma estava começando a ter espasmos. Ela estendeu a mão direita, mas não tinha a força para se puxar mais além em frente.

Helen deslizou para trás com um suspiro até que ela estava pendurada em seus rígidos dedos. Seis andares abaixo de seus pés chutando estava um canteiro de flores mortas, cheio de tijolos mofados e ardósias que deslizaram do telhado da mansão em ruínas e quebraram em pedaços. Ela não tinha que olhar para baixo para saber que o mesmo aconteceria com ela se ela perdesse o domínio sobre o parapeito da janela em ruínas. Ela tentou novamente balançar a perna para cima e se pendurar no peitoril da janela, mas quanto mais ela chutava menor o seu aperto se tornava.

Um soluço escapou de seus lábios mordidos. Ela tinha estado pendurada nessa borda desde que ela desceu ao Mundo Inferior naquela noite. Parecia para ela como se horas, talvez dias tivessem passado, e sua resistência estava decaindo. Helen gritou de frustração. Ela tinha que sair dessa borda e ir encontrar as Fúrias. Ela era Aquela que Descia — esta era a sua tarefa. Encontrar as Fúrias no Mundo Inferior, derrotá-las de alguma forma, e libertar os Descendentes da influência das Fúrias. Ela deveria estar terminando o ciclo de vingança que obrigou os Descendentes a matarem uns aos outros, mas em vez disso, ali estava ela, pendendo na borda.

Ela não queria cair, mas ela sabia que ela não iria ficar mais perto de encontrar as Fúrias se ela continuasse se agarrando aqui por uma eternidade. E no Mundo Inferior, todas as noites duram para sempre. Ela sabia que precisava terminar esta noite e começar novamente na próxima, em algum outro, esperançosamente mais produtivo, infinito. Se ela não podia se puxar para cima, isso a deixava com apenas uma opção.

Os dedos da mão esquerda de Helen começaram a se contrair e seu aperto cedeu. Ela tentou dizer a si mesma para não lutar contra isso, que seria melhor cair porque pelo menos estaria terminado. Mas ainda assim ela se agarrou a borda com cada bocado de força restante em sua mão direita. Helen estava com muito medo de se soltar. Ela mordeu o lábio sangrando em concentração, mas os dedos de sua mão direita deslizaram pelo cascalho e finalmente saíram da borda. Ela não conseguiu se segurar.

Quando ela bateu no chão ela ouviu sua perna esquerda quebrar.

S

* * *

Helen bateu com a mão sobre a boca para impedir o grito de estourar através de seu tranquilo quarto em Nantucket. Ela podia sentir o gosto

do cascalho do Mundo Inferior em seus dedos apertados. Na luz azul-estanho da madrugada, ela ouviu atentamente o som no corredor de seu pai se preparando para o dia. Felizmente, ele não pareceu ouvir qualquer

coisa fora do comum, e ele desceu para começar a preparar o café da manhã como se nada estivesse errado.

Deitada na cama, tremendo com a dor de sua perna quebrada e seus músculos puxados, Helen esperou seu corpo curar-se. Lágrimas deslizaram em cada lado seu rosto, deixando trilhas quentes em toda a

sua pele gelada. Seu quarto estava gelado. Helen sabia que tinha de comer corretamente para se curar, mas ela

não poderia ir lá para baixo com uma perna quebrada. Ela disse a si

mesma para ficar calma e esperar. Com o tempo, seu corpo ficaria forte o suficiente para se mover, em seguida, levantar, e depois andar. Ela iria

mentir e dizer que ela tinha dormido demais. Ela iria esconder a perna ferida de seu pai da melhor maneira que ela pudesse, sorrindo e tendo uma pequena conversa enquanto eles comiam. Então, com um pouco de

comida nela, ela iria curar o resto do caminho. Ela se sentiria melhor em breve, ela disse a si mesma, chorando tão

silenciosamente como pôde. Ela só tinha que aguentar firme.

* * * Alguém estava acenando com a mão no rosto de Helen.

— O que foi? — ela perguntou, surpresa. Ela virou para olhar para Matt, que estava sinalizando para ela voltar para a terra.

— Eu sinto muito, Lennie, mas eu ainda não entendo. O que é um Descendente Vadio? — ele perguntou, a testa enrugada de preocupação.

— Eu sou uma dos Vadios — ela respondeu um pouco alto demais.

Ela murchou por um segundo, e ainda não tinha pego a conversa. Helen ajeitou os ombros caídos e olhou para o resto da sala para

descobrir que todo mundo estava olhando para ela. Todos, exceto Lucas. Ele estava estudando suas mãos em seu colo, sua boca apertada.

Helen, Lucas, Ariadne e Jason estavam sentados ao redor da mesa

da cozinha Delos depois da escola, tentando colocar Matt e Claire a par de todas as coisas dos semideuses. Matt e Claire são os melhores amigos mortais de Helen, e ambos são incrivelmente inteligentes, mas algumas

coisas sobre Helen e seu passado eram muito complicadas para serem tidas como certas. Depois de tudo o que eles passaram, Matt e Claire

mereciam respostas. Eles colocaram suas vidas em risco para ajudar Helen e o resto da família Delos sete dias atrás.

Sete dias atrás, Helen pensou, contando com os dedos para ter

certeza. Todo esse tempo no Mundo Inferior fez parecer como sete semanas. Talvez tenham sido sete semanas para mim.

— Parece confuso, mas não é — Ariadne disse quando percebeu que

Helen não iria continuar. — Existem Quatro Casas, e todas as Quatro Casas devem umas às outras uma dívida de sangue da Guerra de Tróia.

É por isso que as Fúrias nos fazem querer matar alguém de outra Casa. Vingança.

— Um bilhão de anos atrás, alguém da Casa de Atreu matou alguém

da Casa de Tebas e é esperado que vocês paguem essa dívida de sangue? — Matt perguntou em dúvida.

— Praticamente, exceto que é muito mais do que apenas uma morte.

Nós estamos falando sobre a Guerra de Tróia, aqui. Um monte de pessoas morreu, tanto os Descendentes semideuses e vários mortais como vocês

— Ariadne disse com uma careta de desculpas. — Eu sei que um monte de gente morreu, mas como é que essa coisa

de sangue-por-sangue chegará em algum lugar? — Matt persistiu. — Isto

nunca acaba. É insano. Lucas riu sem alegria e ergueu os olhos de seu colo para encontrar

os de Matt. — Você está certo. As Fúrias nos deixam loucos, Matt — ele disse calmamente, pacientemente. — Elas nos assombram até quebrarmos.

Helen lembrou desse tom. Ela pensou nele como a voz de professor de Lucas. Ela podia ouvi-la durante todo o dia, exceto que ela sabia que

não deveria querer. — Elas nos fazem querer matar uns aos outros, a fim de cumprir

algum tipo de justiça perversa — Lucas continuou em seu tom medido.

— Alguém de outra Casa mata uma pessoa em nossa Casa. Matamos um dos deles em retaliação, e por aí vai por três mil anos e meio. E se um Descendente mata alguém de sua própria casa, ele se torna um Banido.

— Como Hector — Matt disse timidamente. Mesmo dizer o nome de seu irmão e primo que desencadeou a maldição das Fúrias, enfureceu o

clã Delos. Matt apenas se arriscou agora para fazer claro o seu interesse. — Ele matou seu primo Creon porque Creon matou sua tia Pandora, e agora todos vocês sentem uma vontade irresistível de matá-lo, mesmo

que vocês ainda o amem. Desculpe. Eu ainda não estou vendo como isso é até mesmo remotamente parecido com justiça.

Helen olhou ao redor e viu Ariadne, Jason e Lucas rangendo os dentes. Jason foi o primeiro a se acalmar.

— É por isso que o que Helen está fazendo é tão importante — ele

respondeu. — Ela está no Mundo Inferior para derrotar as Fúrias, e parar toda esta matança sem sentido.

Matt desistiu com relutância. Era difícil para ele aceitar as Fúrias,

mas ele podia ver que ninguém na mesa estava mais feliz sobre sua existência do que ele. Claire ainda parecia que ela precisava esclarecer

algumas coisas. — Ok. Isso é um Banido. Mas Vadios como Lennie são Descendentes

que têm pais de duas casas diferentes, mas apenas uma casa pode

reivindicá-los, certo? Então, eles ainda têm uma dívida de sangue com a outra Casa — Claire falou cuidadosamente, como se ela soubesse que o

que ela estava dizendo era difícil para Helen ouvir, mas ela tinha que dizê-

lo, de qualquer maneira. — Você foi reivindicada por sua mãe, Daphne.

Ou por sua Casa, mais exatamente. — A Casa de Atreu — Helen disse estupidamente, lembrando de

como sua mãe desaparecida havia retornado para arruinar sua vida há nove dias, com algumas notícias muito indesejáveis.

— Mas o seu verdadeiro pai, apesar de não ser Jerry, Lennie, eu

tenho que dizer que Jerry será sempre o seu verdadeiro pai para mim — Claire emendou apaixonadamente antes de retornar ao assunto. — Seu pai biológico, que você nunca conheceu e que morreu antes de você

nascer... — Era da Casa de Tebas. — Por um momento, Helen encontrou os

olhos de Lucas, em seguida, rapidamente desviou o olhar. — Ajax Delos. — Nosso tio — Jason disse, incluindo Ariadne e Lucas em seu olhar. — Certo — Claire disse desconfortavelmente. Ela olhou entre Helen

e Lucas que se recusou a encontrar seus olhos. — E uma vez que vocês dois foram reivindicados por Casas inimigas vocês dois queriam um ao

outro mortos de primeira. Até que vocês... — ela parou. — Antes de Helen e eu pagarmos a nossa dívida de sangue para cada

uma das outras Casas chegando bem perto de matar um ao outro —

Lucas terminou em um tom pesado, desafiando alguém a comentar sobre o vínculo que ele e Helen compartilhavam.

Helen queria cavar um buraco no chão de azulejos da cozinha Delos

e desaparecer. Ela podia sentir o peso de perguntas não formuladas de todos.

Todos eles estavam se perguntando: Até onde Helen e Lucas foram um com outro antes deles descobrirem que eram primos de primeiro grau? Foi apenas um pequeno beijo, ou “chegaram aos finalmentes”?

E: Será que eles querem um ao outro, mesmo sabendo que eles são primos?

E: Eu me pergunto se eles ainda fazem isso às vezes. Não seria difícil para eles, porque eles podem voar. Talvez eles se esgueirem todas as noites e...

— Helen? Precisamos voltar ao trabalho — Cassandra disse com uma borda mandona em sua voz. Ela estava na porta da cozinha com um

punho plantado em seu magro quadril. Quando Helen se levantou da mesa, Lucas capturou os seus olhos e

deu-lhe o mais ínfimo dos sorrisos, encorajando ela. Sorrindo de volta

ainda que levemente, Helen seguiu Cassandra até a biblioteca Delos se sentindo mais calma, mais autoconfiante. Cassandra fechou a porta, e as duas meninas continuaram sua busca por algum pedaço de

conhecimento que poderia ajudar Helen em sua busca.

* * *

Helen virou a esquina e viu que o caminho estava bloqueado por um arco-íris de ferrugem. Um arranha-céu tinha sido inclinado no outro lado da rua, como se uma mão gigante pressionou para baixo como um talo de milho.

Helen enxugou o suor coçando em sua testa e tentou encontrar a rota mais segura sobre o concreto rachado e ferro retorcido. Seria difícil escalar, mas a maioria dos edifícios nesta cidade abandonada estavam desmoronando em pó conforme o deserto ao seu redor invadia. Não havia nenhum ponto de ir por outro caminho. Uma obstrução ou outra bloqueava todas as ruas, e além disso, Helen não sabia para que lado ela deveria ir em primeiro lugar. A única coisa que podia fazer era seguir em frente.

Lutando ao longo de uma estrutura irregular, cercada pelo cheiro picante de decomposição de metal, Helen ouviu um profundo gemido triste. Um parafuso solto balançou de seu encaixe, e uma viga em cima dela se soltou em uma chuva de ferrugem e areia. Instintivamente, Helen levantou as mãos e tentou bloquear, mas aqui no Mundo Inferior, os braços não têm a força Descendente. Ela bateu dolorosamente sobre suas costas, estendida sobre as barras entrecruzadas embaixo dela. A viga pesada jazia sobre seu estômago, imobilizando-a para baixo através de seu meio.

Helen tentou se mexer para sair debaixo da viga, mas ela não podia mover as pernas sem a dor excruciante irradiando pelos seus quadris. Algo estava certamente quebrado — seu quadril, costas, talvez ambos.

Helen apertou os olhos e tentou proteger os olhos com a mão, engolindo em torno de sua sede. Ela estava exposta, presa, como uma tartaruga virada sobre suas costas. O céu em branco não possuía nenhuma nuvem para fornecer um momento de alívio.

Apenas uma luz ofuscante e um calor implacável...

* * *

Helen saiu da classe de estudos sociais da Srta. Bee, abafando um bocejo. Sua cabeça estava cheia e quente, como um peru de Ação de Graças no assado lento. Era quase o fim do dia na escola, mas não havia

nenhum conforto. Helen olhou para seus pés e pensou sobre o que a esperava. Toda noite ela descia ao Mundo Inferior e encontrava outra

paisagem horrenda. Ela não tinha ideia do por que ela acabava em alguns lugares algumas vezes, e outros lugares apenas uma vez, mas ela achava que tinha algo a ver com seu estado de espírito. Quanto pior o estado de

espírito que ela estava quando ela ia dormir, pior era a sua experiência no Mundo Inferior.

Se concentrando em seus pés se arrastando, Helen sentiu dedos quentes deslizarem contra os delas no agitado corredor. Olhando para cima, ela viu os olhos azul-joia de Lucas em busca dos dela. Ela puxou

uma respiração, um suspiro interior rápido de surpresa, e os olhos fixaram nos dele.

O olhar de Lucas era suave e brincalhão, e os cantos de sua boca

inclinaram para cima em um sorriso secreto. Ainda se movendo em direções opostas, eles viraram a cabeça para manter o contato visual

enquanto caminhavam, seus sorrisos idênticos crescendo a cada momento passando. Com um movimento provocante de seu cabelo, Helen abruptamente olhou para a frente e terminou o olhar fixo, um sorriso

estampado no rosto.

Um olhar de Lucas e ela se sentiu mais forte. Viva novamente. Ela

podia ouvi-lo rindo para si mesmo enquanto caminhava, quase presunçoso, como se soubesse exatamente o quanto ele afetava ela. Ela

riu, também, sacudindo a cabeça para si mesma. Então ela viu Jason. Andando alguns passos atrás de Lucas com Claire ao seu lado,

Jason tinha visto toda a troca. Sua boca estava em uma linha

preocupada, e seus olhos estavam tristes. Ele balançou a cabeça em desaprovação para Helen e ela olhou para baixo, corando furiosamente.

Eles eram primos, Helen sabia disso. Flertar era errado. Mas isso a

fez se sentir melhor quando nada mais podia. Ela deveria passar por tudo isso sem sequer o conforto do sorriso de Lucas? Helen foi a sua última

aula e se sentou atrás de sua mesa, lutando contra as lágrimas enquanto ela desempacotava seu notebook.

* * * Longas farpas envolviam Helen, forçando ela a permanecer

completamente imóvel ou se arriscar a se espetar sobre uma delas. Ela estava presa dentro do tronco de uma árvore que estava sozinha no meio de um cerrado seco e morto. Se ela respirasse profundamente, as longas farpas picavam ela. Seus braços estavam torcidos por trás dela e as pernas dobradas desconfortavelmente embaixo dela, inclinando seu torso para a frente. Uma longa farpa estava alinhada diretamente com o seu olho direito. Se a sua cabeça fosse para frente, enquanto ela lutava para se libertar — se ela até mesmo deixasse ceder um pouco de cansaço — seu olho seria esfaqueado.

— O que você espera que eu faça? — ela choramingou para ninguém. Helen sabia que ela estava completamente sozinha.

— O que eu deveria fazer? — ela de repente gritou, seu peito e costas ardendo com uma dúzia de pequenas perfurações.

Gritar não ajudou, mas ficar com raiva sim. Ajudou ela enrijeceu o suficiente para aceitar o inevitável. Ela se colocou aqui, mesmo não sendo intencional, e ela sabia como conseguir sair. A dor geralmente desencadeava a sua libertação do Mundo Inferior. Enquanto não morresse, Helen tinha certeza que ela iria deixar o Mundo Inferior e acordar em sua cama. Ela estaria ferida e com dor, mas pelo menos ela estaria fora.

Ela olhou para a longa farpa na frente de seu olho, sabendo o que a situação exigia que ela fizesse, mas não tendo certeza se ela era capaz de fazê-lo. Conforme a raiva crescia ela se afastou, lágrimas desesperadas brotaram e derramaram por suas bochechas. Ela ouviu os seus próprios constritos soluços sufocados pressionarem perto dela na prisão claustrofóbica do tronco da árvore. Minutos se passaram, e os braços e pernas de Helen começaram a clamar, torcidos como estavam em formas não naturais.

O tempo não mudaria a situação. Lágrimas não mudariam a situação. Ela tinha uma escolha, e ela sabia que podia fazer isso agora ou horas de sofrimento a partir de agora. Helen era uma Descendente, e como tal, um alvo para as Moiras. Ela nunca teve qualquer escolha, apenas uma. Com esse pensamento, a raiva voltou.

Em um único movimento certeiro, ela virou a cabeça para frente.

* * * Lucas não conseguia tirar os olhos de Helen. Mesmo do outro lado

da cozinha, ele podia ver a pele translúcida através de suas altas maças do rosto e estava tão pálida que estava manchada pelas veias azuis correndo abaixo na superfície. Ele podia jurar que, quando ela chegou

para estudar com Cassandra na casa Delos naquela manhã, os antebraços dela estavam cobertos de contusões desaparecendo.

Ela tinha um olhar assustado e fantasmagórico nela agora. Ela parecia mais assustada do que tinha estado há algumas semanas atrás, quando todos pensavam que Tantalus e os fanáticos dos Cem Primos

estavam atrás dela. Cassandra previu recentemente que os Cem estavam concentrando quase toda a sua energia em encontrar Hector e Daphne, e que Helen não tinha nada a temer. Mas se não eram os Cem assustando

Helen, então tinha que ser algo no Mundo Inferior. Lucas se perguntou se ela estava sendo perseguida, talvez até mesmo sendo torturada lá em

baixo. O pensamento o rasgou por dentro, como se houvesse um animal

selvagem subindo dentro de sua caixa torácica, roendo seus ossos

conforme ele se movimentava. Ele teve de cerrar os dentes juntos para parar o grunhido que estava tentando moer para fora dele. Ele estava com tanta raiva o tempo todo, e sua raiva o preocupava. Mas pior do que

a raiva era como ele estava preocupado sobre Helen. Observando-a saltar ao menor ruído, ou retesar-se com os olhos

arregalados, o empurrou quase ao ponto do pânico. Lucas sentiu uma necessidade física em proteger Helen. Era como um tique de corpo inteiro que o fazia querer se atirar entre ela e o mal. Mas ele não poderia ajudá-

la com isso. Ele não podia entrar no Mundo Inferior sem morrer. Lucas ainda estava trabalhando nesse problema. Não havia muitas

pessoas que poderiam ir fisicamente para dentro do Mundo Inferior como Helen poderia e sobreviver — apenas alguns em toda a história da mitologia grega. Mas ele não iria parar de tentar. Lucas sempre foi bom

em resolver problemas — bom em resolver em especial quebra-cabeças “irresolvíveis”. Provavelmente era por isso que ver Helen desse jeito

machucava ele de uma maneira tão perturbadora e odiosa. Ele não poderia resolver isso por ela. Ela estava sozinha lá em baixo,

e não havia nada que ele pudesse fazer sobre isso.

— Filho. Por que você não se senta ao meu lado? — Castor sugeriu, assustando Lucas para fora de seus pensamentos. Seu pai fez um gesto para a cadeira à sua direita quando todos eles se sentaram à mesa para

o jantar de domingo. — Esse é o lugar de Cassandra — Lucas respondeu com um aceno

afiado de sua cabeça, mas o que realmente Lucas estava pensando era na de Hector. Lucas não podia suportar pegar um lugar que nunca deveria estar desocupado. Em vez disso, ele tomou o seu lugar no lado

esquerdo de seu pai no final da mesa.

— Sim, pai — Cassandra brincou quando ela tomou o lugar que ela

tinha herdado automaticamente quando Hector tornou-se um Banido por ter matado o único filho de Tantalus, Creon. — Você está tentando me

rebaixar ou algo assim? — Você não saberia se eu estivesse? Que tipo de oráculo é você,

afinal? — Castor brincou, cutucando Cassandra na barriga até que ela

gritou. Lucas podia ver que seu pai estava aproveitando esta rara

oportunidade para brincar com Cassandra, porque essas oportunidades

estavam quase no fim. Como Oráculo, a irmãzinha de Lucas estava se retirando para longe de sua família, de toda a humanidade. Em breve, ela

iria se afastar de todas as pessoas e se tornar o instrumento frio das Moiras, não importa o quanto ela era amada por aqueles mais próximos a ela.

Castor normalmente tomava qualquer chance que podia para brincar com sua filha, mas Lucas poderia dizer que desta vez ele estava

apenas parcialmente focado em insultar Cassandra. Sua mente estava em outro lugar. Por alguma razão Lucas não pode ver imediatamente, Castor realmente não queria que Lucas sentasse em sua cadeira

habitual. Ele entendeu um momento depois quando Helen sentou ao lado

dele, no lugar que tinha, ao longo do tempo e de uso, se tornado o seu lugar na mesa. Quando ela passou por cima do banco e deslizou ao lado dele, Lucas observou a sobrancelha de seu pai enrugar.

Lucas afastou a desaprovação de seu pai e se permitiu desfrutar a sensação de Helen ao lado dele. Mesmo que ela estivesse obviamente ferida por seja o que for que estava acontecendo com ela no Mundo

Inferior, sua presença encheu Lucas com força. A forma dela, a suavidade de seu braço quando roçou no seu enquanto eles passaram pratos ao

redor da mesa, o tom claro e brilhante da sua voz quando ela entrou na conversa — tudo sobre Helen alcançou dentro dele e acalmou o animal selvagem em sua caixa torácica.

Ele desejou que ele pudesse fazer o mesmo por ela. Ao longo do jantar, Lucas se perguntou o que estava acontecendo com Helen no

Mundo Inferior, mas ele sabia que teria que esperar até que eles estivessem sozinhos para perguntar. Ela poderia mentir para a família, mas ela não podia mentir para ele.

— Ei — ele gritou mais tarde, parando Helen no corredor escuro entre o banheiro privativo e a biblioteca de seu pai. Ela ficou tensa momentaneamente e, em seguida, virou para ele, seu rosto suavizando.

— Ei — ela respirou, movendo-se mais perto dele. — Noite ruim?

Ela concordou, se inclinando ainda mais perto até que ele pudesse sentir o cheiro do sabonete com aroma de amêndoas que ela tinha acabado de usar para lavar as mãos. Lucas sabia que ela provavelmente

não estava ciente de como eles sempre se moviam em direção um ao outro, mas ele estava.

— Conte-me sobre isso.

— É muito difícil — ela disse encolhendo os ombros, tentando se

esquivar de suas perguntas. — Descreva.

— Havia esta rocha. — Ela parou de falar, esfregou seus pulsos, e balançou a cabeça com uma expressão comprimida. — Eu não posso. Eu não quero pensar mais nisso além do que eu preciso. Sinto muito, Lucas.

Eu não quero deixar você com raiva — ela disse, respondendo ao seu bufar de frustração.

Ele olhou para ela por um momento, se perguntando como ela

poderia estar tão errada sobre como ela o fazia se sentir. Ele tentou manter a calma enquanto ele lhe perguntava a pergunta seguinte, mas

ainda assim, saiu mais áspera do que ele teria gostado. — Alguém está machucando você lá embaixo? — Não há ninguém lá, apenas eu — ela respondeu. Pelo jeito que ela

disse isso, Lucas sabia que sua solidão era ainda pior do que a tortura de alguma forma.

— Você foi ferida. — Ele estendeu a mão entre os poucos centímetros separando eles brevemente e correu um dedo sobre o pulso dela, traçando o formato das contusões desaparecendo que ele tinha visto lá.

Seu rosto estava próximo. — Eu não tenho meus poderes no Mundo Inferior. Mas eu me curo quando eu acordo.

— Fale comigo — ele persuadiu. — Você sabe que você pode me dizer

qualquer coisa. — Eu sei que eu posso, mas se eu o fizer, eu vou pagar por isso mais

tarde — ela gemeu, mas com um toque de humor. Lucas continuou, sentindo seu humor iluminar, e querendo muito vê-la sorrir mais uma vez.

— O que é? Apenas me diga! — ele disse com um sorriso. — Quão doloroso pode ser falar comigo sobre isso?

Sua risada morreu e ela olhou para ele, a boca ligeiramente separada, apenas o suficiente para Lucas poder ver a borda interna vítrea do seu lábio inferior. Ele lembrou da sensação quando ele a beijou e ele

ficou tenso — parando a si mesmo antes que ele baixasse a cabeça para sentir isso de novo.

— Excruciante — ela sussurrou.

— Helen! Quanto tempo leva para usar o banheiro... — Cassandra parou abruptamente quando viu as costas de Lucas se afastando pelo

corredor, e Helen corando furiosamente quando ela disparou em direção à biblioteca.

* * *

Helen correu pela sala com o papel de parede de petúnia descascando, evitando as tábuas podres perto do sofá infestado de mofo e encharcado. Parecia encará-la quando ela passou correndo. Ela já tinha passado por ali uma dúzia de vezes, talvez mais. Em vez de tomar a porta à direita ou a porta do lado esquerdo, ambas as quais ela sabia que levava a lugar nenhum, ela decidiu que não tinha nada a perder e entrou no closet.

Um sobretudo de lã coberto de musgo apareceu no canto. Havia caspa na gola e cheirava como um velho doente. Ele se aglomerou sobre ela, como se estivesse tentando espantá-la de sua toca. Helen ignorou o casaco rabugento e procurou até que encontrou uma outra porta, escondida em um dos painéis laterais do closet. A abertura era alta o suficiente para permitir uma criança pequena passar. Ela ajoelhou-se, de repente assustada com o casaco de lã que parecia vê-la se curvar, como se ele estivesse tentando espreitar por baixo de sua blusa, e se apressou através da porta de tamanho infantil.

A sala seguinte era um vestiário empoeirado, coberto de séculos de perfume pesado, manchas amarelas e decepção. Mas pelo menos havia uma janela. Helen correu para ela, na esperança de se soltar e se libertar desta terrível armadilha. Ela empurrou a horrível cortina de tafetá cor de pêssego de lado com algo que se aproximava a esperança.

A janela foi fechada com tijolos. Ela bateu nos tijolos com os punhos, apenas golpeou de primeira, mas com o aumento da raiva bateu até que os nós dos seus dedos estavam em carne viva. Tudo estava apodrecido e em ruínas neste labirinto de salas — tudo, exceto as saídas. Essas eram tão sólidas como Fort Knox.

Helen ficou presa nisso pelo que pareciam dias. Ela ficou tão desesperada que ela até fechou os olhos e tentou dormir, na esperança de acordar na cama dela. Não funcionou. Helen ainda não tinha descoberto como controlar suas entradas e saídas no Mundo Inferior sem meio que se matar. Ela estava com medo de que ela fosse realmente morrer desta vez, e não queria pensar sobre o que ela teria que fazer para si mesma para sair.

Manchas brancas encheram sua visão, e várias vezes agora ela quase desmaiou de sede e cansaço. Ela não teve qualquer água em tanto tempo que até mesmo a gosma lenta respingando relutantemente das torneiras nessa casa do inferno estava começando a parecer atraente.

O estranho era que Helen estava mais assustada nessa parte do Mundo Inferior do que jamais ela esteve, mesmo que ela não estivesse em perigo iminente. Ela não estava segurando uma borda, ou presa no tronco de uma árvore, ou acorrentada pelos pulsos a uma rocha que estava a arrastando para uma colina e em direção a um penhasco.

Ela estava apenas dentro de uma casa, uma casa sem fim, sem saídas.

Essas visitas a partes do Mundo Inferior, onde ela não estava em perigo imediato durava mais tempo e acabava sendo mais difícil a longo prazo. Sede, fome e a solidão esmagadora que ela sofria — esse era o pior tipo de punição. O inferno não precisava de lagos de fogo para torturar. Tempo e solidão eram suficientes.

Helen se sentou sob a janela emparedada, pensando em ter que passar o resto de sua vida em uma casa onde ela não era bem-vinda.

* * *

Começou uma chuva torrencial no meio da prática de futebol, e então tudo ficou de lado. Todos os caras começaram a jogar uns aos

outros ao redor, deslizando na lama, realmente arrancando a grama. O

treinador Brant finalmente desistiu e enviou todos para casa. Lucas observou o treinador conforme todos eles arrumavam as mochilas, e

poderia dizer que ele não estava realmente na prática, para começar. Seu filho, Zach, tinha deixado a equipe no dia anterior. Pelo que todo mundo disse, o treinador não tinha aceitado isso muito bem, e Lucas se

perguntou o quão ruim a briga foi. Zach não estava na escola naquele dia.

Lucas simpatizava com Zach. Ele sabia o que era ter um pai que

estava decepcionado com você. — Luke! Vamos lá! Estou congelando — Jason gritou. Ele já estava

tirando o equipamento em seu caminho para o vestiário, e Lucas correu para alcançá-lo.

Eles correram para chegar em casa, ambos com fome e molhados, e

caminharam até a cozinha. Helen e Claire estavam lá com a mãe de Lucas. Os uniformes das meninas estavam encharcados, e elas pairavam

ansiosamente perto de Noel com olhares excitados em seus rostos enquanto elas se enxugavam com toalhas. No início, tudo que Lucas podia ver era Helen. Seu cabelo estava bagunçado e suas longas pernas

nuas brilhavam com a chuva. Então ele ouviu um sussurro em seu ouvido, e um surto de ódio

brilhou através dele. Sua mãe estava no telefone. A voz do outro lado da

linha era Hector. — Não, Lucas. Não — Helen disse em uma voz trêmula. — Noel,

desligue! Lucas e Jason correram em direção à fonte com a voz do Banido,

compelidos pelas Fúrias. Helen deu um passo à frente de Noel. Tudo o

que ela fez foi estender as mãos em um gesto de “pare”, e os primos correram em direção a mão dela como se estivessem correndo em uma

parede sólida. Eles foram jogados de costas no chão, arfando por ar. Helen não se mexeu um centímetro.

— Eu sinto muito! — Helen disse, agachando-se sobre eles com um

olhar ansioso no rosto. — Mas eu não podia deixá-los atacarem Noel. — Não se desculpe — Lucas gemeu, esfregando seu peito. Ele não

tinha ideia de que Helen era tão forte, mas ele não poderia estar mais feliz

que ela fosse. Sua mãe tinha um olhar chocado em seu rosto, mas tanto ela e Claire estavam bem. Isso era tudo o que importava.

— Uuuhh — Jason acrescentou, concordando com Lucas. Claire se agachou ao lado dele e deu um tapinha com simpatia enquanto ele rolava, tentando recuperar o fôlego.

— Eu não estava esperando que vocês estivessem em casa tão cedo — Noel gaguejou. — Ele geralmente liga quando ele sabe que vocês estão na prática...

— Não é culpa sua, mãe — Lucas disse, cortando ela. Ele puxou Jason para seus pés. — Você está bem, mano?

— Não — Jason respondeu honestamente. Ele tomou mais algumas respirações e, finalmente, levantou totalmente, a pancada em seu peito não era a coisa que estava machucando ele. — Eu odeio isso.

Os primos compartilhavam uma expressão de dor. Ambos perderam

Hector e não suportavam o que as Fúrias fizeram com eles. Jason de repente virou e saiu pela porta, na chuva.

— Jason, espere — Claire chamou, se apressando para segui-lo. — Eu achei que você não estaria em casa tão cedo — Noel repetiu,

mais para si mesma do que outra pessoa, como se ela não pudesse deixar

para lá. Lucas foi até sua mãe e lhe deu um beijo na testa. — Não se preocupe. Vai ficar tudo bem — ele disse a ela com a voz

embargada.

Ele tinha que sair de lá. Ainda lutando com o nó na garganta, ele subiu para se trocar. No meio do corredor para seu quarto e metade de

suas roupas tiradas, ele ouviu a voz de Helen atrás dele. — Eu costumava pensar que você era um bom mentiroso — ela disse

suavemente. — Mas nem mesmo eu acreditei quando você disse “vai ficar

tudo bem”. Lucas largou a camisa encharcada no chão e se virou para Helen,

esgotado demais para resistir. Ele a puxou para si e deixou o seu rosto descansar contra o pescoço dela. Ela se ajustou contra ele, tomando seu peso quando seus grandes ombros se curvaram ao redor dela, e o segurou

até que ele estava calmo o suficiente para falar. — Uma parte de mim quer ir encontrá-lo. Caçá-lo — ele

confidenciou, não sendo capaz de dizer isto a ninguém, apenas Helen. —

Toda noite eu sonho sobre como eu tentei matá-lo com minhas próprias mãos nos degraus da biblioteca. Posso me ver batendo nele

repetidamente, e eu acordo pensando que talvez desta vez eu vou ter que matar ele. E eu sinto alivio...

— Shh-shh. — Helen passou a mão em seu cabelo molhado, alisando

e segurando seu pescoço, seus ombros, os músculos agrupados de suas costas — o colocando mais perto dela. — Vou corrigir isso — ela

prometeu. — Eu juro para você, Lucas, eu vou encontrar as Fúrias e impedi-las.

Lucas se afastou para que ele pudesse olhar para Helen, balançando

a cabeça. — Não, eu não tive a intenção de colocar mais pressão sobre você. Me mata que isso tudo esteja sobre você.

— Eu sei.

Era isso. Sem culpa, sem “tenha pena de mim”. Apenas aceitação. Lucas olhou para ela, correndo os dedos sobre seu rosto perfeito.

Ele amava os olhos dela. Eles estavam sempre mudando, e Lucas gostava de catalogar todas as diferentes cores em sua mente. Quando ela ria, seus olhos ficavam âmbar pálido, como mel dentro de um frasco de

vidro em uma janela ensolarada. Quando ele a beijava, eles escureciam até que estivessem da rica cor de couro mogno, mas com tiras de fio vermelho e ouro se misturando. Agora eles estavam ficando escuros —

convidando ele a baixar os seus lábios nos dela. — Lucas! — seu pai vociferou. Helen e Lucas pularam se separando

e viraram para ver Castor no topo das escadas, o rosto branco e seu corpo rígido. — Coloque uma camisa e venha para a minha biblioteca. Helen, vá para casa.

— Pai, ela não...

— Agora! — Castor gritou. Lucas não conseguia se lembrar de ter

visto seu pai com essa raiva. Helen fugiu. Ela se apertou passando por Castor com a cabeça baixa

e correu para fora da casa antes que Noel pudesse perguntar o que tinha acontecido.

* * *

— Sente. — A culpa foi minha. Ela estava preocupada comigo — Lucas

começou, sua postura desafiadora. — Eu não me importo — Castor disse, seus olhos queimando em

Lucas. — Eu não me importo o quão inocente isso começou. Terminou

com você seminu, seus braços ao redor dela, e vocês dois a poucos passos da sua cama.

— Eu não iria... — Lucas não poderia terminar essa mentira. Ele ia

beijá-la, e ele sabia que se ele a beijasse ele teria continuado até que Helen ou um cataclismo o detivesse. A verdade realmente não incomodou

Lucas mais que algum tio que ele nunca conheceu ser o pai de Helen. Ele a amava, e isso não iria mudar, não importa como todo mundo dizia que era errado.

— Deixe-me explicar uma coisa para você. — Somos primos. Eu sei — Lucas interrompeu. — Você acha que eu

não percebo que ela está tão intimamente relacionada comigo quanto

Ariadne? Isso não parece assim. — Não minta para si mesmo — Castor disse sombriamente. —

Descendentes são atormentados com incesto desde Édipo. E houve outros nesta Casa que se apaixonaram por seus primos de primeiro grau, como você e Helen.

— O que aconteceu com eles? — Lucas perguntou cautelosamente. Ele já poderia dizer que ele não ia gostar da resposta de seu pai.

— O resultado é sempre o mesmo. — Castor olhou intensamente para Lucas. — Assim como a filha de Édipo, Electra, as crianças nascidas de Descendentes relacionados sofrem sempre a nossa maior maldição.

Insanidade. Lucas se sentou enquanto sua mente corria, tentando encontrar

uma maneira de contornar esse impasse. — Nós... não temos que ter filhos.

Não houve nenhum aviso, nenhuma notificação de que Lucas tinha

empurrado longe demais. Sem um som, seu pai correu para ele como um touro. Lucas pulou para os seus pés, mas não sabia o que fazer a seguir. Ele era duas vezes mais forte que o seu pai, mas suas mãos ficaram

passivamente ao seu lado enquanto Castor o agarrava pelos ombros e o empurrava para trás até que ele estava preso contra a parede. Castor

olhou nos olhos de seu filho, e por um momento Lucas acreditava que seu pai o odiava.

— Como você pode ser tão egoísta? — Castor rosnou, sua voz

fervendo com nojo. — Não há Descendentes suficientes para que qualquer um de vocês simplesmente decidam que não querem ter filhos.

Estamos falando de nossa espécie, Lucas! — Como se para convencer o

seu ponto, Castor bateu Lucas na parede com tanta força que começou a desintegrar atrás dele. — As Quatro Casas devem sobreviver e ficar

separadas para manter a Trégua e manter os deuses presos no Olimpo, ou todos os mortais neste planeta irão sofrer!

— Eu sei disso! — Lucas gritou. O gesso quebrado da parede

chovendo sobre eles, enchendo o ar com poeira enquanto Lucas lutava sob o aperto de seu pai. — Mas há outros Descendentes para fazer isso!

O que importa se Helen e eu não tivermos filhos? — Porque Helen e sua mãe são as últimas de sua linhagem! Helen

deve produzir um Herdeiro para preservar a Casa de Atreu e manter as

casas separadas, não apenas para esta geração, mas para as que ainda virão!

Castor estava gritando. Ele parecia cego ao pó branco e a alvenaria

quebrando. Era como se tudo o que seu pai já tinha acreditado estivesse se desmoronando no topo da cabeça de Lucas, o sufocando.

— A Trégua durou milhares de anos, e deve durar por mais milhares ou os Olimpianos vão transformar os mortais e os Descendentes em brinquedos novamente, começando guerras, estuprando mulheres e

lançando maldições terríveis como divertimento para eles — Castor continuou implacavelmente. — Você acha que algumas centenas de nós

são suficientes para preservar a nossa raça e manter a Trégua, mas isso não é o suficiente para durar mais que os deuses. Devemos resistir, e por isso que cada um de nós deve procriar.

— O que você quer de nós? — Lucas de repente gritou de volta, empurrando seu pai de cima dele e se levantando da parede curvada e quebrada. — Eu vou fazer o que eu tenho que fazer pela minha Casa, e

assim como ela. Nós vamos ter filhos com outras pessoas, se é isso que é preciso... vamos encontrar uma maneira de lidar com isso! Mas não me

peça para ficar longe de Helen, porque eu não posso. Podemos lidar com qualquer coisa menos isso.

Eles olharam um para o outro, ambos ofegante de emoção e cobertos

de poeira branca pastosa com suor. — É tão fácil para você decidir o que Helen pode e o que não pode

lidar, não é? Você já olhou para ela ultimamente? — Castor perguntou asperamente, lançando a seu filho um olhar de desgosto em seu rosto. — Ela está sofrendo, Lucas.

— Eu sei disso! Você não acha que eu faria qualquer coisa para ajudá-la?

— Qualquer coisa? Então fique longe dela. Era como se toda a raiva corresse para fora de Castor em um flash.

Em vez de gritar, ele agora estava implorando.

— Você já considerou que o que ela está tentando fazer no Mundo Inferior não só poderia trazer a paz entre as Casas, mas também trazer Hector de volta a esta família? Nós perdemos muito. Ajax, Aileen,

Pandora. — A voz de Castor quebrou quando ele disse o nome de sua irmã mais nova. Sua morte ainda era muito fresca para ambos. — Helen

está enfrentando algo que nenhum de nós pode imaginar, e ela precisa

de toda a força que ela tiver para passar por isso. Para o bem de todos

nós. — Mas eu posso ajudá-la — Lucas implorou de volta, precisando de

seu pai ao seu lado. — Eu não posso segui-la para dentro do Mundo Inferior, mas eu posso ouvi-la e apoiá-la.

— Você acha que você está ajudando ela, mas você está matando ela

— Castor disse, balançando a cabeça tristemente. — Você pode ter feito as pazes como você se sente por ela, mas ela não pode lidar com seus sentimentos por você. Você é primo dela, e a culpa a rasga em dois. Por

que você é o único que não pode ver isso? Há milhares de razões que você precisa para ficar longe, mas se nenhuma delas importa para você, pelo

menos fique longe de Helen, porque isso é a melhor coisa para ela. Lucas queria discutir, mas ele não podia. Ele lembrou de como Helen

tinha lhe dito que ela iria “pagar mais tarde” se ela falasse com ele sobre

o Mundo Inferior. Seu pai estava certo. Quanto mais próximos os dois ficavam, mais ele machucava Helen. De todos os argumentos que seu pai

tinha feito, esse foi o que mais machucou Lucas. Ele se arrastou até o sofá e se sentou novamente, assim seu pai não iria ver suas pernas tremerem.

— O que devo fazer? — Lucas estava completamente perdido. — É como água correndo ladeira abaixo. Ela simplesmente flui em direção a

mim. E eu não posso afastá-la. — Então construa uma represa. — Castor suspirou e se sentou em

frente a Lucas, esfregando o gesso do seu rosto com as mãos. Ele parecia

menor. Como se ele tivesse acabado de perder a luta, mesmo que ele tivesse ganhado, levando tudo de Lucas. — Você tem que ser o único a parar com isso. Sem confidenciar um ao outro, sem flertar na escola, e

sem conversas tranquilas em corredores escuros. Você tem que fazê-la odiar você, meu filho.

* * * Helen e Cassandra estavam trabalhando na biblioteca, tentando

encontrar alguma coisa — qualquer coisa — que poderia ajudar Helen no

Mundo Inferior. Era uma tarde frustrante. Quanto mais as duas meninas liam, mais elas estavam convencidas de que metade das coisas sobre

Hades foram escritas por escribas medievais que estavam sobre influência de drogas graves.

— Já ouviu falar em cavalos-mortos-esqueléticos-falantes em

Hades? — Cassandra perguntou ceticamente. — Não. Não há esqueletos falantes. Inclusive Cavalos — Helen

respondeu, esfregando os olhos.

— Acho que podemos colocar isso na pilha “ele estava definitivamente drogado”. — Cassandra colocou os rolos para baixo e

olhou para Helen por alguns momentos. — Como você está se sentindo? Helen deu de ombros e balançou a cabeça, sem vontade de falar

sobre isso. Desde que Castor pegou ela e Lucas do lado de fora de seu

quarto, ela tinha estado andando na ponta dos pés ao redor da casa Delos

quando ela tinha que ir estudar, e presa dentro da casa do inferno toda

a noite. Normalmente, no Mundo Inferior, Helen podia contar com pelo

menos uma ou duas noites por semana onde ela estava caminhando em uma praia infinita, que nunca levava a um oceano. A praia interminável era chata, porque ela sabia que não estava chegando a lugar nenhum,

mas em comparação com ficar presa dentro da casa do inferno era como um dia de folga. Ela não sabia quanto tempo mais ela poderia aguentar, e ela não podia falar sobre isso com ninguém. Como ela poderia explicar

o casaco de lã pervertido e as horríveis cortinas de pêssego sem soar ridícula?

— Eu acho que eu deveria ir para casa e comer alguma coisa — Helen disse, tentando não pensar sobre a noite que a aguardava.

— Mas é domingo. Você está comendo aqui, certo?

— Hum. Eu acho que o seu pai não quer que eu fique mais aqui. — Eu acho que Lucas não quer, também, ela pensou. Ele não olhou para ela

desde o dia em que Castor os pegou com seus braços um ao redor do outro, mesmo que Helen tivesse tentado várias vezes sorrir para ele no corredor da escola. Ele apenas caminhava por ela como se ela não

estivesse lá. — Isso não faz sentido — Cassandra respondeu com firmeza. — Você

é uma parte desta família. E se você não vier para o jantar, minha mãe vai ficar ofendida.

Ela caminhou ao redor da mesa e pegou a mão de Helen, levando-a

para fora da biblioteca. Helen ficou tão surpresa pelo gesto estranhamente quente de Cassandra que ela seguiu em silêncio.

Era mais tarde do que as meninas tinham pensado, e o jantar estava

começando. Jason, Ariadne, Pallas, Noel, Castor e Lucas já estavam sentados. Cassandra tomou seu lugar habitual ao lado de seu pai, e o

único lugar sobrando estava no banco entre Ariadne e Lucas. Quando Helen passou por cima do banco, ela acidentalmente

acotovelou Lucas, correndo o seu braço no dele quando ela sentou.

Lucas ficou tenso e tentou se afastar dela. — Desculpe — Helen gaguejou, tentando encolher o seu braço do

dele, mas não havia espaço para se mover sobre o banco lotado. Ela sentiu ele se eriçar, e ela alcançou debaixo da mesa e apertou sua mão como se perguntasse: — O que está errado?

Ele tirou a mão dele da dela. O olhar que ele deu a ela era tão cheio de ódio que congelou o sangue em suas veias. A sala ficou em silêncio e a conversa morreu. Todos os olhos se voltaram para Helen e Lucas.

Sem aviso, Lucas jogou o banco para trás, derrubando Helen, Ariadne e Jason no chão. Lucas se deteve sobre Helen, olhando para

baixo nela. Seu rosto estava contorcido de raiva. Mesmo quando eles estavam possuídos pelas Fúrias, e Helen e

Lucas tinham lutado amargamente, ela nunca tinha tido medo dele. Mas

agora seus olhos pareciam negros e estranhos — como se ele não estivesse mais lá. Helen sabia que não era apenas um truque da luz. Uma

sombra floresceu dentro de Lucas e apagou a luz de seus olhos azuis brilhantes.

— Nós não damos as mãos. Você não fala comigo. Você nem sequer

OLHA para mim, você entendeu? — ele continuou sem piedade. Sua voz passou de um sussurro rangendo para um grito rouco quando Helen se

mexeu para longe dele em choque. — Lucas, basta! — A voz horrorizada de Noel estava tingida com

consternação. Ela não reconheceu seu filho mais do que Helen

reconheceu. — Nós não somos amigos — Lucas rosnou, ignorando sua mãe e

continuou a se mover ameaçadoramente em direção a Helen. Ela

empurrou o corpo tremendo para longe dele com os calcanhares, seu tênis fazendo patéticos barulhos chiando quando ela se arrastou contra

o azulejo, procurando entender. — Luke, que diabos? — Jason gritou, mas Lucas ignorou ele,

também.

— Nós não saímos mais, ou brincamos, ou compartilhamos coisas um com outro. E se você SEQUER pensar que você tem o DIREITO de

sentar ao meu lado novamente... Lucas estendeu a mão para agarrar Helen, mas seu pai agarrou seu

antebraço para trás, impedindo-o de machucá-la. Então, Helen viu Lucas

fazer algo que ela nunca sonhou que ele faria. Ele girou e bateu em seu pai. O golpe foi tão pesado que enviou

Castor voando para o outro lado da cozinha para o armário de copos e

canecas em cima da pia. Noel gritou, cobrindo o rosto quando cacos de pratos quebrados

saíram voando em todas as direções. Ela era a única completa mortal, em uma sala de Descendentes lutando, e em grave perigo de se machucar.

Ariadne correu para Noel e usou seu corpo para protegê-la, enquanto Jason e Pallas saltaram sobre Lucas e tentaram prendê-lo no

chão. Sabendo que sua presença só iria enfurecer Lucas ainda mais, Helen

subiu de joelhos, deslizando através de algumas louças quebradas

enquanto ela tropeçava para a porta, e saltava para o céu. Enquanto ela voltava para casa, ela tentou ouvir o som de seu

próprio corpo no ar alto e rarefeito. Corpos são barulhentos. Tendo eles

em espaços sem som, como o Mundo Inferior ou a atmosfera, você pode ouvir todo o tipo de xingamento, batidas e murmúrios. Mas o corpo de

Helen estava tão silencioso como um túmulo. Ela não podia nem ouvir seu próprio coração batendo. Depois do que ela havia acabado de passar, deveria estar trovejando à distância, mas tudo o que ela sentia era uma

pressão intolerável, como se um joelho gigante estivesse moendo em seu peito.

Talvez não podia bater porque estivesse quebrado e parado.

* * * — É isso que você queria? — Lucas gritou para seu pai, quando ele

lutou para se libertar. — Você acha que ela me odeia agora? — Apenas soltem ele! — Castor gritou para Pallas e Jason.

Eles fizeram uma pausa, mas não o soltaram imediatamente.

Primeiro eles olharam para Castor, para ter certeza de que ele estava certo. Castor ficou de pé e acenou com a cabeça uma vez antes de julgar.

— Saia, Lucas. Saia da casa e não volte até que você possa controlar a sua força em torno de sua mãe.

Lucas ficou imóvel. Sua cabeça se virou a tempo de ver Ariadne

limpar uma gota de sangue do rosto de Noel, suas brilhantes mãos curando o corte instantaneamente.

Uma velha memória, formada de imagens antes que ele tivesse

palavras, voltou para Lucas rapidamente. Mesmo como uma criança que era mais forte que sua mãe, uma vez durante um acesso de raiva ele tinha

se empurrado contra seu rosto enquanto ela estava tentando ternamente beijá-lo para acalmá-lo. Ele fez o seu lábio sangrar.

Lucas lembrou o som ferido que ela tinha feito — um som que ainda

o enchia de vergonha. Ele lamentaria esse momento por toda a sua vida e desde então ele não tinha tocado em sua mãe mais forte do que ele

tocaria uma pétala de rosa. Mas agora ela estava sangrando de novo. Por causa dele.

Lucas puxou os braços para longe de seu tio e primo, arremessou a

porta de trás aberta, e se atirou para o céu escuro da noite. Ele não se importava onde os ventos o levariam.

Traduzido por Polly

elen tomou pequenas e ofegantes respirações. Esta era a quinta noite seguida que ela descia nesse mesmo lugar no Mundo

Inferior, e ela sabia que quanto menos ela se movesse, mais lentamente ela afundava na areia movediça. Até mesmo respirar profundamente a fazia afundar mais no buraco.

Ela estava prolongando a tortura, mas ela simplesmente não podia suportar a ideia de se afogar na sujeira novamente. Areia movediça não é limpa. É recheada com corpos mortos e apodrecidos de todas as suas ex-vítimas. Helen podia sentir os restos mortais de todos os tipos de criaturas esbarrando nela conforme ela ia lentamente se arrastando para baixo. Ontem à noite, a mão dela tinha deslizado através de um rosto — um rosto humano — em algum lugar sob a areia contaminada.

Uma carcaça borbulhou na superfície, enviando uma nuvem de fedor. Helen vomitou, incapaz de controlar a si mesma. Quando ela finalmente se afogou, a sujeira podre correu em seu nariz, seus olhos e encheu a sua boca. Mesmo que Helen estivesse somente até a cintura, ela sabia que estava chegando. Ela começou a chorar. Ela não aguentava mais.

— O que mais eu posso fazer? — ela gritou, e afundou mais para baixo.

Ela sabia que se debater não funcionava, mas talvez dessa vez ela alcançasse as hastes secas ao lado da poça e fosse capaz de agarrá-las antes da lama pesada engolir ela. Ela nadou para a frente, mas para cada centímetro de progresso ela pagava com um centímetro se afundando. Quando ela estava até o peito, ela teve que parar de se mover. O peso da areia movediça estava pressionando o ar para fora dela, como se um grande peso sentasse em seu peito — como se um joelho gigante estivesse pressionando sobre ela.

— Eu entendi, ok? — ela gritou. — Eu mesma me coloco aqui por estar

chateada quando eu vou dormir. Mas como é que eu vou mudar o que eu sinto?

A areia movediça estava até o seu pescoço. Helen inclinou a cabeça para trás e empurrou o queixo, tentando ficar mais alta.

— Eu não posso fazer isso sozinha — ela disse para o céu em branco. — Eu preciso que alguém me ajude.

— Helen! — uma voz profunda e desconhecida gritou.

Era a primeira vez que Helen ouvia outra voz no Mundo Inferior, e no início ela assumiu que ela estava tendo alucinações. Seu rosto ainda estava inclinado para cima, e ela não conseguia movê-lo para olhar ou

ela seria sugada para baixo.

H

— Estenda a mão, se você puder — o jovem disse com uma voz tensa,

como se ele estivesse lutando na margem da poça para chegar até ela. — Vamos, tente, droga! Me dê sua mão!

Naquele momento as suas orelhas encheram, e ela não podia mais ouvir o que ele gritava para ela. Tudo o que ela podia ver era um flash de ouro — um lampejo brilhante que perfurou através da luz maçante e

derrotada do Mundo Inferior como uma luz em um farol. Ela pegou um pequeno vislumbre de um queixo angular e uma boca cheia e esculpida

no limite de sua visão. Então, sob a superfície da areia movediça, Helen sentiu uma mão quente e forte pegar ela e puxar.

* * *

Helen acordou em sua cama e caiu para a frente, freneticamente raspando a sujeira de seus ouvidos. Seu corpo ainda estava correndo com

adrenalina, mas ela se forçou a ficar muito quieta e ouvir. Ela ouviu Jerry fazer um som desagradável lá embaixo na cozinha

— um agudo “WHOOP-WHOOP”, o ruído de sirene que era mais adequado

para o meio de uma pista de dança lotada do que a confortável casa em Nantucket de Helen. Jerry estava cantando. Bem, mais ou menos.

Uma gargalhada aliviada saltou de Helen. Ela estava a salvo em casa, e desta vez ela não tinha quebrado nada, apunhalado a si mesma, ou se afogado em um pântano apodrecido. Alguém a tinha salvado.

Ou isso tudo aconteceu em sua cabeça? Ela pensou na profunda voz e a mão quente que tinha puxado ela

da poça. Curadores como Jason e Ariadne podem ir lá embaixo em torno

da margem do Mundo Inferior em espírito, mas ninguém, exceto Helen poderia estar fisicamente no Mundo Inferior com o seu corpo ainda ligado

à alma. Deveria ser impossível. E Helen tinha estado no Tártaro — o mais baixo dos baixos. Até mesmo o mais baixo no Mundo Inferior do que o próprio Hades. Nem mesmo os Curadores mais fortes haviam chegado

perto disso. Ela estava tão desesperada por ajuda que ela tinha alucinado?

Confusa sobre se tinha ou não imaginado a coisa toda, Helen estava sentada em sua cama encharcada por alguns momentos e ouviu seu pai desfigurar a música “Kiss” do Prince, enquanto ele fazia o café da manhã.

Jerry estava cantando metade da letra errado — o que significava que ele estava de ótimo humor. As coisas entre ele e Kate estavam indo muito bem: tão bem que Helen não tinha visto muito o seu pai nas

últimas três semanas. Mesmo seu velho sistema de troca de semanas de quem fica na cozinha estava todo fora de ordem, mas estava tudo bem

para Helen. Ela queria que seu pai fosse feliz. Jerry repetiu a frase “você não tem que ser bonita” quatro vezes

consecutivas, provavelmente porque ele não conseguia se lembrar de

qualquer uma das outras palavras. Helen sorriu e balançou a cabeça, agradecendo suas estrelas da sorte de que ela tinha um pai como Jerry para acordar, mesmo que ele fosse um terrível cantor. Ela não tinha ideia

do por que ele nunca poderia cantar a letra das músicas certo, mas ela

suspeitava que tinha algo a ver com ser um pai. Os pais de ninguém

deveriam cantar Prince bem. Seria preocupante se o fizessem. Jogando para trás suas cobertas, Helen se lançou em modo de

limpeza. Duas semanas atrás, Claire tinha levado Helen para o continente para comprar lençóis de plástico especial que as mães usam quando têm uma criança que molha a cama, fazendo mil piadas sobre a

Princesa e o “Xixi” ao longo do caminho. Helen não se importava. Os lençóis eram desconfortáveis e super-embaraçosos para comprar, mas era uma necessidade já que uma vez a cada noite, ela voltava do Mundo

Inferior sangrando ou coberta de meleca. Ela se levantou e começou a desforrar sua cama tão rápido quanto

podia. Na lavanderia, ela tirou o short lamacento e jogou sua camiseta rasgada, colocando tudo o que poderia ser reaproveitado para lavar. Ela tomou um banho rápido, e então refez seu caminho com um pano para

limpar as pegadas sujas que ela deixou pelo chão. Poucos dias atrás, ela tinha considerado usar sua super rápida

velocidade de Descendente para passar por esse novo e irritante ritual de limpeza matinal, mas ela decidiu que isso provavelmente iria assustar seu pai até a morte se ele alguma vez pegasse ela fazendo isso. Em vez

disso, Helen tinha que se levantar ao romper da aurora ou correr freneticamente em velocidade humana normal para cobrir seus rastros, como ela estava fazendo naquela manhã. Sem tempo, Helen vestiu

alguma calça jeans antes dela estar completamente seca enquanto tentava colocar um suéter pelo seu cabelo úmido. Estava tão frio em seu

quarto que as pontas das suas orelhas estavam começando a ficar dormentes.

— Lennie! O café da manhã está ficando frio! — Jerry gritou das

escadas. — Oh, pelo amor de... Porcaria! — Helen xingou quando ela tropeçou

em sua mochila. O suéter não estava todo vestido ainda, e ainda estava cobrindo o seu rosto e fixando os braços sobre sua cabeça.

Após um momento se debatendo como um muppet, Helen recuperou

o equilíbrio e fez uma pausa para rir de si mesma, se perguntando como uma semideusa podia ser tão malditamente desajeitada. Ela assumiu que

tinha que ter algo a ver com o fato de que ela estava muito cansada. Helen endireitou sua roupa, pegou suas coisas da escola, e desceu as escadas antes que seu pai pudesse começar a cantar “Kiss” novamente.

Jerry tinha feito um monte de coisas no café da manhã. Havia ovos, bacon, salsicha, aveia com nozes e cerejas secas, e claro, panquecas de abóbora. Panquecas de abóbora são uma das favoritas de Jerry e de

Helen, mas em torno do Halloween, que estava apenas a cerca de uma semana e meia de distância, qualquer coisa com abóbora estava no

menu. Era uma espécie de competição entre os dois. Tudo começou com sementes de abóbora assadas e percorreu todo o caminho para sopas e nhoqui. Quem encontrasse uma maneira de esgueirar abóbora em um

prato sem ser pego era o vencedor. A coisa toda de abóbora começou quando Helen era uma garotinha.

Em um outubro ela tinha se queixado a seu pai que as abóboras só eram usadas como decoração, e embora ela amasse lanternas de abóbora,

ainda era um grande desperdício de comida. Jerry concordou, e os dois

resolveram começar a comer abóboras em vez de apenas esculpi-las e então jogá-las fora.

Infelizmente, eles descobriram que as abóboras sozinhas são tão sem graça que elas são praticamente intragáveis. Se eles não fossem criativos cozinhando, eles teriam desistido de sua campanha de Salvar

as Abóboras após o primeiro ano. Houveram um monte de criações nauseantes, das quais os picolés

de abóbora foram de longe o pior, mas as panquecas se destacaram como

o maior sucesso. Elas instantaneamente se tornaram uma grande parte da tradição da família Hamilton no final de outubro como o peru era para

a Ação de Graças. Helen notou que Jerry ainda havia feito chantilly fresco para colocar em cima, o que a fez se sentir tão culpada que ela mal conseguia olhar para ele. Ele estava preocupado com ela.

— Finalmente! O que você estava fazendo lá em cima? Deitada? — Jerry brincou, tentando fazer com que sua preocupação fosse sem

importância, conforme ele a olhava de cima a baixo. Por um momento, seus olhos se arregalaram com medo e seus lábios

se apertaram em uma linha dura, então ele voltou para o fogão e começou

a servir. Jerry não era de pegar no pé, mas Helen tinha ficado magra ao longo das últimas três semanas — muito assustadoramente magra — e esse café da manhã monstruoso era a sua maneira de tentar remediar

isso sem ter que dar uma grande palestra chata. Helen adorava a maneira como seu pai tratava as coisas. Ele não a incomodava do jeito que os

outros pais fariam se vissem sua filha se transformar em um espantalho, mas ele se preocupava o suficiente para tentar fazer algo sobre isso.

Helen tentou sorrir bravamente para o seu pai, pegou um prato, e

começou a encher a sua garganta com comida. Tudo tinha gosto de serragem, mas ela pelos menos empurrou as calorias para dentro. A

última coisa que Helen queria era fazer com que seu pai ficasse ansioso sobre a sua saúde, embora para ser honesta, até mesmo ela estava começando a se sentir um pouco preocupada.

Ela se recuperava rapidamente de qualquer lesão evidente que ela sofria no Mundo Inferior, mas a cada dia ela se sentia mais fraca. Ainda assim, ela não tinha escolha — ela tinha que continuar até que

encontrasse as Fúrias, não importa o quão doente o Mundo Inferior estivesse deixando-a. Ela fez uma promessa. Mesmo que Lucas a odiasse

agora, ela iria cumpri-la. — Você tem que mastigar o bacon, Lennie — seu pai disse

sarcasticamente. — Ele não se dissolve na sua boca.

— É assim que funciona? — Percebendo que ela estava ali sentada imóvel, ela se forçou a agir normal e fazer uma piada. — Agora que ele

me diz. Enquanto seu pai ria, ela arrancou seus pensamentos longe de

Lucas e considerou toda a lição de casa que ela não tinha feito. Ela não

tinha terminado de ler ainda a Odisseia, não porque ela não queria lê-la, mas porque ela não teve tempo.

Parecia que tudo na lista de Helen de tarefas precisava ser feito ontem. Além disso, seu professor favorito, Hergie, continuava tentando

pressioná-la a se juntar as classes avançadas. Como se ela precisasse

expandir sua lista de leitura. Claire cruzou a entrada no novo carro híbrido que seus pais haviam

comprado para ela e gritou: — Honk-honk! — pela janela, em vez de realmente tocar a buzina. Enquanto Jerry tentava, sem sucesso, não girar em volta, Helen enfiou a panqueca restante em sua garganta, quase

se engasgou e saiu correndo pela porta com os cadarços ainda desamarrados.

Ela desacelerou, lançando um olhar para trás para sua janela em

seu telhado, mas ela sabia que estaria vazia. Lucas havia deixado dolorosamente claro para Helen que ele não iria

se sentar novamente na sua janela. Ela não sabia por que ela se preocupou em olhar lá em cima, exceto que ela não conseguia se conter.

— Abotoe o seu casaco, está frio — Claire advertiu assim que Helen

entrou no carro. — Lennie? Você está uma maldita bagunça — ela continuou quando ela colocou o carro em marcha.

— Ah... bom dia? — Helen disse com os olhos arregalados. Claire tem sido a melhor amiga de Helen desde o nascimento, e era, portanto, autorizada a gritar com Helen sempre que sentisse vontade. Mas ela tinha

que começar tão cedo? Helen abriu a boca para explicar, mas Claire não seria detida.

— Suas roupas estão caindo do seu corpo, suas unhas estão roídas,

e seus lábios estão rachados — Claire vociferou, passando direto através dos protestos fracos de Helen quando ela rompeu fora da garagem. — E

as olheiras sob os seus olhos são tão horríveis que parece que alguém deu um soco na sua cara! Você sequer está tentando cuidar de si mesma?

— Sim, eu estou tentando — Helen gaguejou, ainda tentando fechar

o botão na frente do seu casaco, que de repente se tornou mais difícil de entender do que álgebra em chinês. Ela desistiu dos botões e enfrentou

Claire, jogando as mãos para cima em frustração. — Eu estou comendo aqui em cima, mas não há nenhum alimento no Mundo Inferior e eu não consigo me encher o suficiente quando estou no mundo real para

compensar. Confie em mim, eu estou tentando. Meu pai acabou de me alimentar com um café da manhã o suficiente para sufocar um

linebacker. — Bem, você poderia, pelo menos, colocar um pouco de blush ou

algo assim. Você está branca como papel.

— Eu sei que parece horrível. Mas eu tenho outras coisas em minha mente. Essa coisa toda de descer não é fácil, sabia.

— Então não desça todas as noites! — Claire exclamou como se fosse óbvio. — Faça uma pausa quando você precisar! Obviamente, você não irá resolver isso em algumas semanas!

— Você acha que eu deveria tratar as Fúrias como um trabalho em tempo parcial? — Helen gritou de volta, finalmente encontrando sua voz.

— Sim! — Claire gritou de volta, e desde que ela era naturalmente melhor em gritar sobre qualquer um, Helen se encolheu em seu lugar, intimidada por sua amiga minúscula. — Três semanas que eu aguento

isso e eu já tive o suficiente! Você nunca vai encontrar as Fúrias se você

estiver tão cansada que você não pode sequer ver os seus próprios pés

grandes e estúpidos! Depois de uma pequena pausa, Helen começou a rir. Claire tentou

manter uma cara séria, mas, eventualmente, ela desistiu e riu sua risada incrível quando elas entraram no estacionamento da escola.

— Ninguém pensaria menos de você se você decidisse limitar suas

viagens até lá por uma ou duas vezes por semana, você sabe — Claire disse suavemente quando elas saíram do carro e se dirigiram para a porta da frente da escola. — Eu não posso acreditar que você pode se forçar a

descer até lá. Eu acho que eu não poderia fazer isso. — Claire estremeceu, lembrando do seu próprio contato recente com a morte quando Matt

bateu em Lucas com o seu carro. Claire quase morreu no acidente, e sua alma tinha viajado pelas terras secas — nos arredores do Mundo Inferior. As lembranças daquele lugar ainda a assustava semanas mais tarde.

— Você iria se você tivesse que fazer, Risadinha. Mas isso não funciona assim, de qualquer maneira. Não é algo que eu decida fazer. —

Helen jogou um braço sobre os ombros de Claire para puxá-la para fora de suas lembranças perturbadoras da sede e solidão das terras secas. — Eu só vou dormir e acabo lá. Eu não sei como controlar ainda.

— Por que Cassandra não sabe? Ela é tão esperta e ela vem fazendo uma série de pesquisas — Claire disse maliciosamente. Helen balançou a cabeça, se perguntando se ela realmente queria ficar no meio da briga

entre Claire e Cassandra. — Não culpe Cassandra — ela disse cuidadosamente. — Não tem

exatamente um manual para descer. Pelo menos Cassandra e eu ainda não encontramos aquela pilha de grego antigo e latim que a família Delos chama de arquivos. Ela está fazendo o seu melhor.

— Então está decidido — Claire disse, cruzando os braços e apertando os olhos com convicção.

— Decidido o quê? — Helen perguntou em um tom preocupado quando ela girou o cadeado em seu armário.

— Você e Cassandra não podem fazer isso sozinhas. Você precisa de

ajuda. Se Cassandra quiser ou não, eu vou ajudar. — Claire deu de ombros como se o assunto estivesse resolvido, o que certamente não estava.

Cassandra insistiu que os arquivos eram apenas para Oráculos e as sacerdotisas e sacerdotes de Apolo, apesar do fato de que não tem

nenhum verdadeiro sacerdote ou sacerdotisa de Apolo a cerca de três mil e quinhentos anos. Matt, Claire, Jason e Ariadne se ofereceram para ajudar Cassandra um monte de vezes, mas ela não aceitaria porque isso

seria ir contra a tradição, e para um Descendente, ir contra a tradição era simplesmente inaceitável.

As Fúrias tinham uma coisa contra Descendentes em geral, mas Descendentes que quebravam a tradição geralmente se encontravam na lista de ódio extra-especial das Fúrias. Além disso, a maioria desses

arquivos foram enfeitiçados contra os não iniciados. A única razão que Cassandra deixou Helen na biblioteca foi porque ninguém poderia pensar

em um feitiço que poderia prejudicá-la. Helen estava protegida pelo

cinturão. No mundo real, ela era imune a praticamente tudo. Mas Claire

certamente não era. Helen seguiu sua amiga teimosa pelo corredor, sentindo seus

ombros caírem mais com cada passo. Ela odiava o pensamento de ir contra Cassandra, mas quando Claire colocava a sua mente em algo não havia sentido em discutir com ela. Helen só esperava que tudo o que

Claire estivesse planejando não desse a ela uma maldição permanentemente com furúnculos, piolhos ou algo igualmente horrível. Claire poderia ficar seriamente ferida.

O sinal soou justo quando Helen e Claire deslizaram para a sala de aula. O Sr. Hergesheimer, ou “Hergie”, como era chamado em suas

costas, deu a elas um de seus maiores olhares de desaprovação. Era quase como se ele pudesse sentir o cheiro de problema fermentando dentro da cabeça de Claire. Hergie atribuiu a ambas duas palavras do dia

para a manhã seguinte como castigo preventivo para seja o que for que elas tão obviamente iam fazer. Daquele momento em diante, o dia de

Helen ficou progressivamente pior. Helen nunca foi a aluna mais atenta, e agora que ela estava gastando

suas noites trabalhando duro através do Mundo Inferior, ela tinha ainda

menos interesse na escola. Ela foi repreendida em todas as aulas, mas, pelo menos, um de seus colegas estava indo ainda pior do que ela.

Quando o seu professor de física depenou Zach por não fazer

anotações em seu laboratório, Helen se perguntou o que tinha acontecido. Zach sempre foi um daqueles caras que pareciam acordados

e alertas, não importava que horas eram. Normalmente, ele era um pouco alerta demais, metendo o nariz onde não devia. Helen nunca tinha visto Zach parecer tão debilitado e desconectado. Ela tentou pegar seus olhos

e sorrir para ele em solidariedade, mas ele se virou. Helen ficou olhando para seu rosto em branco, até que finalmente

afundou em seu cérebro privado de sono que a cerca de uma semana atrás, ela tinha ouvido alguém dizer que Zach saiu do time de futebol. O pai de Zach, o Sr. Brant, era o treinador de futebol, e Helen sabia que ele

empurrava Zach para ser perfeito em tudo o que fazia. Não havia nenhuma maneira de o Sr. Brant permitir que seu filho saísse sem uma briga. Helen se perguntou o que tinha acontecido entre eles. Fosse o que

fosse, não poderia ter sido bom. Zach parecia horrível. Quando o sinal tocou no final da aula, Helen tentou tocar no braço

de Zach e perguntar se ele estava bem, mas ele agiu como se ela nem estivesse lá e saiu da sala. Houve um tempo em suas vidas quando Helen e Zach foram amigos — ele costumava compartilhar seus biscoitos de

animais com ela no parque infantil — mas agora ele nem sequer olhava para ela.

Helen tinha acabado de resolver que perguntaria para Claire sobre

Zach e sua condição misteriosa quando ela teve um vislumbre de Lucas de longe. Todo o resto se dissolveu como um desenho de giz na chuva.

Ele estava segurando a porta aberta sobre a cabeça de alguém, educadamente fazendo uma ponte para que um calouro pudesse andar debaixo do seu braço. Ele olhou de volta para o corredor para nada em

particular e a viu. Seus olhos se estreitaram em raiva.

Helen congelou. Parecia que alguém estava de joelhos em seu peito

novamente. Aquele não era Lucas, ela pensou, incapaz de respirar ou se mover.

Quando Lucas desapareceu na multidão de estudantes se apressando, Helen fez seu caminho até o vestiário para trocar de uniforme, sua mente limpa, como o céu depois de um temporal.

Quando Claire apareceu, Helen imediatamente começou a fazer perguntas. Ela usou esse truque algumas semanas atrás, quando ela

percebeu que se ela enchesse sua melhor amiga com perguntas, Claire não teria tempo para perguntar como ela própria estaria indo. Desta vez, Claire realmente tinha necessidade em conversar. Jason estava tendo um

dia ruim e Claire estava preocupada com ele. Jason e Claire não estavam oficialmente namorando, mas desde que

Jason tinha curado ela, eles eram, obviamente, mais do que apenas

amigos. Eles se tornaram muito próximos muito rapidamente, e agora ela era a confidente mais próxima de Jason.

— Você vai para a casa dele depois da corrida? — Helen perguntou em voz baixa.

— Sim, eu não quero deixá-lo sozinho agora. Especialmente desde

que Lucas ainda está sumido. — O que você quer dizer? — Helen perguntou, alarmada. — Ele não

tem estado em casa desde... — Desde que ele me disse para ir para o inferno, bateu em seu pai, colocou em perigo sua mãe, e foi expulso de sua casa? Helen terminou em sua mente.

Claire parecia saber exatamente o que Helen estava pensando, e ela apertou a mão de Helen em apoio quando ela explicou.

— Não, ele esteve em casa algumas vezes desde então. Ele pediu desculpas a seus pais e eles o perdoaram, claro. Mas ele nunca mais está por perto. Ninguém sabe onde ele está indo ou o que ele vem fazendo, e

honestamente? Todo mundo está com muito medo de lhe perguntar. Ele mudou, Lennie. Ele não fala com ninguém, exceto, talvez, com

Cassandra. Ele desaparece logo após a escola, e às vezes ele não volta para casa até uma ou duas horas da manhã, se ele vai para casa, afinal. Seus pais estão deixando ele em paz porque, bem, sem Hector ao redor,

ninguém pode realmente impedi-lo. Jason está preocupado — Claire disse antes de olhar de soslaio para Helen. — Você não o viu ultimamente, não

é? — Hoje. Mas só por um segundo, caminhando pelo corredor — Helen

disse, terminando a linha de perguntas antes de Claire poder perguntar

a ela como ela se sentia. — Olha, eu tenho que pegar o ritmo. Você está bem, ou você quer conversar mais um pouco?

— Vá em frente — Claire disse com uma carranca preocupada. Helen deu a Claire um pequeno sorriso para deixá-la saber que ela

estava bem, mesmo que ela meio que não estivesse, então ela acelerou

para terminar a corrida em um tempo que a treinadora Tar pensaria que demonstrava iniciativa.

* * *

Lucas viu Helen no final do corredor, e forçou o seu rosto em um

formato de raiva, desejando que ela o odiasse ou temesse ele — o que fosse preciso para tirá-la de perto dele. Para o seu próprio bem.

Mas Lucas não viu ódio ou medo em seus olhos. Ela não se afastou dele como ela deveria. Ela apenas parecia perdida.

Parecia como mastigar vidro, mas Lucas se forçou a virar as costas

para ela e a continuar pelo corredor. Toda a intenção que ele tinha era empurrar Helen para longe. Mas depois as coisas saíram do controle: golpear seu pai; sua mãe,

sangrando; a raiva cega que ele sentia. Lucas sabia como a raiva era. Ele e Hector tinham estado lutando com unhas e dentes uma vez que eles

eram grandes o suficiente para ficar de pé. Mas isso não era como nada que ele tinha experimentado antes. Ele tinha acordado algo dentro de si mesmo, algo que ele não tinha ideia que existia dentro dele.

O gênio estava fora da garrafa e não concordaria em voltar.

* * *

Terminando de correr muito antes que Claire, Helen decidiu que queria ir a pé para o trabalho para que ela pudesse pensar. Ela enviou a Claire uma mensagem explicando que ela não precisava de uma carona

para a News Store naquela tarde e reprimiu a suspeita de que Claire ficaria provavelmente satisfeita com a decisão de Helen ir sozinha.

Elas nunca evitaram uma a outra antes, mas as coisas tinham

mudado. Suas vidas foram puxando elas em diferentes direções, e Helen estava começando a se perguntar se a amizade delas algum dia seria a

mesma novamente. O pensamento a fez querer chorar. A temperatura começou a cair quando Helen caminhou pela Estrada

Surfside em direção ao centro da cidade. Sua jaqueta estava

desabotoada, as alças da mochila sobre um ombro e a bolsa do ginásio sobre o outro puxavam os dois lados de sua jaqueta a separando, então

ela não poderia fechar a frente corretamente. Com um som exasperado em sua língua, Helen tirou a suas bolsas. Quando ela se inclinou para colocá-las no chão, ela experimentou uma estranha vertigem. Pareceu

por um momento que a calçada não combinava muito bem com a rua, como se tivesse algo terrivelmente errado com a sua percepção de profundidade.

Endireitando-se com um suspiro, Helen colocou um braço em seu lado no caso dela cair, esperando o fluxo de sangue em sua cabeça

acabar. A vertigem foi embora em um momento, mas uma sensação ainda mais preocupante a substituiu. Helen sentiu como se estivesse sendo vigiada, como se alguém estivesse em pé bem na frente dela, olhando

diretamente em seus olhos. Ela deu um passo para trás e estendeu a mão, e tocou nada além de

ar. Olhando em volta nervosamente, Helen girou sobre seus calcanhares, pegou suas bolsas e correu para o centro da cidade. Cassandra previu que Helen estava a salvo de ataques pelos próximos dias, pelo menos,

mas ela nunca prometeu que Helen seria deixada em paz. Helen sabia que alguém dos Cem Primos estava provavelmente a observando, ela só

não esperava se sentir tão paranoica com isso. De repente, Helen

imaginou que ela podia sentir a respiração de alguém em seu pescoço. O pensamento a fez caminhar para dentro da News Store como se ela

estivesse sendo perseguida. — O que foi? — Kate perguntou. Ela olhou para trás de Helen para

o que tinha assustado ela. — Tem alguém seguindo você?

— Não é nada — Helen respondeu com um sorriso falso. — O frio me deu arrepios.

Kate deu a Helen um olhar cético, mas Helen agachou em torno dela

e depositou suas coisas por detrás da registradora antes que Kate pudesse falar sobre isso.

— Você comeu depois da corrida? — Kate perguntou. — Vá para a parte de trás e faça um sanduíche — ela ordenou quando Helen não respondeu de imediato.

— Eu realmente não estou com fome — Helen começou, mas Kate a interrompeu com raiva.

— É essa a sua resposta final? Pense com cuidado — Kate avisou enquanto ela plantava um punho polvilhado de farinha em seu quadril curvilíneo.

Helen fechou a boca e foi para a parte de trás. Ela sentia que Kate e Jerry estavam culpando-a por ficar tão magra. Mas ela não conseguia explicar o que estava realmente acontecendo para qualquer um deles.

Helen lambuzou um pouco de manteiga de amendoim em um pedaço de pão e chuviscou mel sobre ele antes dela morder um grande pedaço

com raiva. Ela mastigou mecanicamente, mal notando a bola pegajosa do pão e a noz-doce colando em sua boca. Ela sentia como se estivesse se engasgando com alguma coisa na maioria das vezes, de qualquer maneira

— como se houvesse um punhado de palavras alojadas permanentemente na parte de trás de sua garganta. O que era um pouco

de manteiga de amendoim em relação a isso? Ela engoliu um copo de leite e se arrastou de volta para frente, ainda

sentindo como se estivesse sendo acusada de algo que não era culpa dela.

Ela evitou Kate pelo resto da noite para puni-la. Depois de algumas horas desconfortáveis pisando em ovos na News

Store, Helen mentiu e disse que Claire iria pegá-la. Lá fora, no escuro, na

certeza de que ninguém pudesse vê-la, Helen saltou para a noite e voou em direção a casa. Ela subiu mais alto, empurrando-se para ir até onde

o ar rarefeito puxasse seus tímpanos e cavasse em seus pulmões. Ela tinha prometido a Lucas uma vez que ela não iria deixar a ilha

sem treinamento em viagens transoceânicas, e tecnicamente, ela

continuava cumprindo a promessa. Ela ainda estava sobre Nantucket, apenas mais alto. Helen subiu mais alto até que ela podia ver a teia

brilhante de luzes noturnas que ligava todo o continente debaixo dela. Ela voou até que seus olhos molharam e as lágrimas congelaram em seu rosto.

Ela se esticou e deixou o seu corpo flutuar até que a sua mente esvaziou. Era assim que deveria ser, nadar sem medo no oceano, mas

Helen preferiu nadar num oceano de estrelas. Ela flutuou até que o frio e a solidão se tornou intolerável, e então ela se moveu de volta à terra.

Helen pousou em seu quintal e correu pela porta da frente,

esperando que seu pai não percebesse que não havia nenhum carro na garagem para deixá-la, mas Jerry não estava na cozinha. Ela enfiou a

cabeça no quarto de seu pai apenas para ter certeza, mas ele não estava lá, também. Helen lembrou a si mesma que era sexta-feira à noite. Ele e Kate provavelmente tinham planos. Desde que ela e Kate não

conversaram na maior parte da noite, Helen não pensou em perguntar se Jerry passaria a noite na casa de Kate ou não. Agora ela se arrependeu de guardar rancor. A casa estava vazia, e o silêncio parecia pressionar

dolorosamente em seus ouvidos. Helen lavou o rosto, escovou os dentes, e foi para a cama. Ela

manteve os olhos abertos durante o tempo que pôde, se forçando a ficar acordada, apesar do fato de que ela estava tão cansada que estava à beira das lágrimas.

Se ela adormecesse, ela sabia que iria descer ao Mundo Inferior e mergulhar em uma solidão que era ainda mais completa do que a solidão

que ela sentia no mundo real. Mas quanto mais tempo ela estava deitada na cama, mais próximos seus pensamentos se desviavam para Lucas. Helen esfregou as mãos sobre o rosto e tentou empurrar as pungentes

lágrimas de volta em seus olhos. O peso insuportável começou a se estabelecer em seu peito novamente.

Ela não podia se permitir chafurdar, ou em alguns momentos ela

estaria chafurdando na imundície do poço. Em seguida, um pensamento cruzou sua mente.

Talvez desta vez ela não estaria sozinha no Mundo Inferior. Ela sabia que seu salvador era, provavelmente, uma miragem, mas

Helen estava desesperada. Até mesmo falar com uma miragem era melhor

do que vaguear pelo inferno sozinha. Conforme ela concentrou seus pensamentos sobre a voz profunda

que ela tinha ouvido, Helen se permitiu cair no sono. Ela imaginou o flash de ouro, a linda boca, e o som dele dizendo seu nome quando ele estendeu a mão para ela pegar...

* * * Helen estava em uma campina com lotes de grama morta e colinas

onduladas. Ela esteve nessa parte do Mundo Inferior antes, mas alguma

coisa tinha mudado. Ela não conseguia descobrir, mas tudo parecia um pouco diferente. Por um lado, havia barulho. Helen não conseguia se

lembrar de ter ouvido qualquer som no Mundo Inferior que não fosse feito por ela — nem mesmo o som do vento na grama.

De alguma forma, o Mundo Inferior parecia real, e não apenas parte

de um terrível pesadelo. Helen tinha experimentado isso antes, ainda que brevemente, quando ela foi milagrosamente puxada do poço. Tão

chocante como essa nova perspectiva sobre o Mundo Inferior era, também era um alívio ao mesmo tempo. Hades parecia menos infernal por algum motivo. Olhando em volta agora, Helen estava lembrando

daquele momento em O Mágico de Oz quando Dorothy vê em cores pela primeira vez.

Ela olhou para longe e viu flashes de ouro dançando, juntamente

com o som de gritos, grunhidos e golpes rítmicos. Havia uma luta acontecendo, e parecia brutal. Pelo menos Helen podia ter certeza de uma

coisa. O cara com as mãos quentes não era uma miragem. Ela correu o mais rápido que pôde em direção à comoção. Quando ela chegou em uma pequena elevação, ela viu um cara

grande coberto de cachos castanhos soltos usando uma longa adaga para cortar a coisa abutre-morcego surrada que estava batendo em torno de sua cabeça. Quando ela correu para mais perto, ela ouviu a Harpia rosnar

e praguejar, tentando rasgar o jovem com suas garras. Mesmo que ele estivesse lutando por sua vida, Helen não poderia se impedir de notar

que ele realmente precisava de um corte de cabelo. “Corte de Cabelo” ficou com a vantagem por um momento, e Helen

o viu sorrir de uma forma meio surpresa, meio auto satisfeita. Então,

quando ele percebeu que ele ainda estava perdendo, Helen observou o sorriso rapidamente se transformar em uma careta autodepreciativa.

Mesmo que ele estivesse lutando longe, ele parecia manter um bom senso de humor.

— Ei! — Helen gritou enquanto se aproximava do par lutando.

Corte de Cabelo e a Harpia pararam desajeitadamente no meio da luta, cada um deles ainda segurando a garganta um do outro. Metade da boca do Corte de Cabelo levantou em um sorriso surpreso.

— Helen — ele conseguiu grasnar, como se ele sempre tivesse um par de garras em volta do seu pescoço. Helen estava tão surpresa com

sua indiferença, que ela quase riu. Então, tudo mudou novamente. O mundo começou a abrandar e engrossar em torno dela, e Helen

sabia o que isso significava, no mundo normal o seu corpo estava

acordando. Uma parte de seu cérebro estava começando a registar um barulho irritante balindo vindo de um universo distante, e ela sabia que

ela nunca iria chegar até o Corte de Cabelo antes de acordar. Helen olhou em volta freneticamente, então se abaixou e pegou uma pedra em seus pés, endireitou-se, e jogou no monstro...

* * * ...e a pedra do Mundo Inferior passou diretamente através da janela

de seu quarto, quebrando-a em mil pedaços.

Traduzido por Polly

elen sentou na cama, ouvindo o retinir irritante do seu despertador. A única noite que ela realmente queria ficar no

Mundo Inferior, e ela tinha acordado. Ainda estava escuro, mas mesmo

na escuridão da madrugada ela podia ver a bagunça que tinha feito. Jerry iria matá-la. Não importava o quanto Kate implorasse a ele que

Helen tinha um raro “distúrbio do sono”, dessa vez Jerry realmente iria matá-la.

Seu pai tinha essa coisa com a conservação de calor — como se o

termostato da casa tivesse uma linha direta com a sua psique — e a rajada de vento frio já estava soprando diretamente através do buraco gigantesco que ela tinha feito em sua janela. Helen bateu na testa e caiu

de volta sobre o colchão. Ela estava tão boa quanto aterrada, aquela monstruosidade voando

tinha, provavelmente, comido o Corte de Cabelo, e tudo por causa que Helen tinha que acordar desagradavelmente-cedo-de-manhã para chegar em uma reunião de corrida no continente.

Esportes no ensino médio são complicados para pessoas que vivem em pequenas ilhas. Para atletas da ilha competirem com outras escolas

eles têm de viajar de barco ou de avião, e para Helen e o resto de seus companheiros de equipe, significava se levantar antes do raiar do dia. Às vezes, ela realmente odiava viver em Nantucket.

Sufocando um bocejo e tentando empurrar a imagem do Corte de Cabelo morrendo uma morte cruel de sua mente, Helen se puxou para fora da cama. Ela grudou um cobertor sobre sua janela quebrada, engoliu

um pouco de aveia instantânea, e partiu para o aeroporto da ilha. Ironicamente, ela voou para lá. Mas é claro que ela não podia voar por

todo o caminho para o continente. Perder o avião e depois aparecer na reunião a tempo levantaria todos os tipos de pergunta, assim ela fez a coisa responsável.

Aterrissando a uma distância cautelosa, ela começou a se movimentar em direção ao asfalto, assim quando o céu virou um rosa

tímido. Ela viu Claire estacionar seu carro no estacionamento e correu para que elas pudessem ir juntas esperar o avião. Helen estava animada para contar a Claire sobre o Corte de Cabelo, mas antes que ela pudesse

abrir a boca, Claire estava revirando os olhos e agarrando Helen pelos ombros.

— Oh, pelo amor de Deus! — Claire murmurou exasperada quando

ela desfez os botões desalinhados sobre a jaqueta incômoda de Helen e então refez corretamente. — Você parece uma disléxica de cinco anos de

idade. Será que vou ter que vir todas as manhãs e vesti-la agora?

H

— Hamilton! — a treinadora Tar gritou antes que Helen tivesse a

chance de pensar em uma resposta, e muito menos dizer a Claire o que tinha acontecido na noite anterior. — Você irá sentar comigo. Precisamos

falar sobre estratégias. — Eu tenho algo para te dizer — Helen deixou escapar a Claire

enquanto ela recuava em direção a treinadora. — Eu vi alguém lá, você

sabe, ontem à noite. — Os olhos de Claire se arregalaram esperançosamente quando Helen foi arrastada para longe.

O resto do voo, a treinadora tagarelou animadamente sobre como Helen deveria traçar a corrida e então puxá-la em frente — todos conselhos inúteis, considerando que se ela quisesse ela poderia quebrar

a barreira do som. Helen escutava pela metade e tentou não se preocupar muito com Corte de Cabelo.

Ele era grande, alto e corpulento, e ele parecia que sabia o que estava

fazendo com aquela longa adaga que ele estava usando para se defender. Helen tentou se convencer de que ele estava, provavelmente, muito bem,

mas ela não estava totalmente convencida. Quem quer que Corte de Cabelo fosse, ele certamente parecia um

Descendente. Mas talvez ele fosse apenas um metro e noventa cinco de

puro músculo, de incrivelmente boa aparência mortal com um grande sorriso. E se fosse esse o caso, o coitado estava definitivamente morto.

Nenhum mortal poderia lutar com aquela harpia. Durante toda a manhã, Helen tentou encontrar uma oportunidade

de conversar com Claire, mas ela não teve uma chance. Ela correu a

primeira corrida, tentando não ganhá-la de imediato, mas ela estava distraída, pensando se era ou não possível ser morto na terra dos mortos. O debate interno inútil arruinou sua concentração, e ela acabou correndo

muito rápido. Helen fingiu ofegar quando percebeu que todos os espectadores estavam olhando para ela com suas bocas abertas. Todos,

exceto um. Zach Brant não parecia nem um pouco surpreso quando Helen

passou correndo em velocidade de lebre. Na verdade, ele parecia quase

entediado. Helen não tinha ideia do que Zach estava fazendo na reunião — ele nunca veio a uma antes. Do jeito que seus olhos pareciam estar

colados nela, Helen só poderia supor que ele tinha vindo para vê-la, mas ela não tinha ideia do porquê. Houve um tempo em que Helen assumiria que Zach estava olhando para ela porque ele tinha uma queda por ela,

mas esse tempo estava muito longe. Ultimamente, parecia que ele não queria nada com ela.

Helen ganhou sua corrida, então ela aplaudiu quando Claire

terminou a sua antes delas finalmente se encontrarem na pista do salto triplo.

— Então, o que aconteceu? — Claire soprou, ainda sem fôlego de correr.

— Eu vi... — Helen se interrompeu. — Vamos para lá — ela

continuou, apontando para uma área vazia do campo na extremidade da pista. Havia um monte de gente em torno, e Zach estava um pouco perto

demais.

A essa altura, Helen estava quase estourando para dizer a Claire o

que tinha visto. Enquanto caminhavam, ela sussurrou baixinho: — Eu vi uma pessoa. Uma pessoa viva.

— Mas eu pensei que você era a única pessoa que podia ir até lá em seu corpo, não apenas como um espírito.

— Eu também! Mas na noite passada havia um garoto. Bem, não

um garoto. Quero dizer, ele era extremamente gigantesco. Um cara, em torno da nossa idade, eu acho.

— O que ele estava fazendo lá embaixo? — Claire perguntou. Ela não parecia convencida de que Helen tinha realmente visto alguém.

— Tendo sua bunda chutada por uma harpia? — Helen disse. —

Mas na noite de anteontem, ele me puxou da areia movediça. Um de seus braços é todo brilhante, como se ele estivesse coberto de ouro. — Claire

olhou para ela em dúvida, e Helen percebeu o quão maluca ela soava. — Você acha que eu estou ficando louca? Parece loucura, certo? E nem mesmo deveria ser possível.

— Você se importa? — Claire disse de repente. Ela olhou por cima do ombro de Helen para Zach, que estava seguindo elas. — Conversa

particular aqui. Zach deu de ombros, mas ele não se afastou. Claire levou sua

rebeldia como um desafio. Ela gritou com ele para ir embora em sua voz

mais autoritária, mas ele não se mexia. Eventualmente, ela teve que pegar a mão de Helen e guiá-la em direção à extremidade do campo aberto, onde a floresta começava. Zach não poderia segui-las sem Claire

causando uma cena sobre isso, mas ele não se afastou, também. Ele só ficava olhando para elas quando Claire arrastou Helen para o matagal.

— Isso é necessário? — Helen perguntou quando ela passou por um arbusto áspero e desembaraçou o fim da sua trança perto de um frágil galho coberto de líquen de uma pequena bétula.

— Zach está agindo muito estranho ultimamente, e eu só quero que ele não nos veja — Claire disse, com os olhos apertados.

— Você quer dizer que ele não foi embora quando você ordenou para

ele ir, e você me arrastou aqui, porque você não quer que ele vença — Helen corrigiu com uma risada.

— Isso também. Agora me diga exatamente o que aconteceu — Claire pediu, mas foram interrompidas novamente, desta vez com o som do farfalhar das folhas. Veio da profundidade da floresta.

Um homem grande saiu do mato. Helen empurrou Claire atrás dela e deu um passo em direção ao intruso, pronta para uma luta.

— Vocês idiotas não sabiam que alguns homens seriamente grosseiros passam tempo na floresta ao redor de atletas do ensino médio se encontrando? — o gigante loiro disse, irritado.

— Hector! — Helen suspirou com alívio e pulou em seus braços abertos.

— E aí, prima? — ele disse com uma risada e a abraçou com força.

Claire se juntou a eles e deu a Hector um grande aperto antes dela se afastar e lhe dar um soco no peito.

— O que você está fazendo aqui? — Claire demandou com desaprovação. — É muito perigoso.

— Relaxe, é seguro — Hector disse quando ele quebrou o contato

visual e olhou para baixo, o sorriso em seu rosto desaparecendo rapidamente. — Eu falei com a tia Noel esta manhã. Ela me disse que

ninguém da família estaria aqui. — Eles não estão, e estamos realmente felizes em vê-lo — Helen disse

rapidamente, dando a Claire um pequeno beliscão por ser tão insensível.

— É claro que estamos felizes em vê-lo! — Claire exclamou enquanto esfregava seu braço beliscado. — Eu não quis dizer isso assim, Hector, você sabe disso. — Como você está?

— Não importa — ele disse com um aceno de cabeça. — Eu quero saber como você está. E como Luke está indo depois da semana passada

— ele perguntou em voz baixa. Helen tentou não vacilar, mas era impossível. — Ruim — Claire disse tristemente.

— Sim, eu sei. Eu conversei com a tia Noel. Eu ainda não posso acreditar que Lucas fez uma coisa dessas. — A voz de Hector era dura,

mas ele olhou para Helen com simpatia. Helen tentou se concentrar na dor de Hector ao invés da dela. Ela

havia perdido Lucas, mas Hector tinha perdido toda a sua família. Ele

estava tão preocupado com eles que ele estava disposto a esperar o dia todo agachado no mato do lado de fora de uma pista de corrida estúpida apenas para fazer contato com alguém relativamente perto deles.

Além de Daphne, a quem ele mal conhecia, Hector estava sozinho. Helen percebeu que de todas as pessoas em sua vida, Hector

provavelmente tinha uma melhor ideia do que ela estava passando, o que era estranho desde que eles tinham apenas recentemente parado de desgostar um do outro.

— Como está a minha mãe? — Helen deixou escapar, com a necessidade de acabar com o silêncio triste que todos eles tinham caído.

Hector deu a Helen um olhar cauteloso. — Ela está... ocupada — foi tudo o que ele disse sobre Daphne antes

de ele virar para Claire e mudar de assunto.

Hector normalmente dizia a todos o que ele pensava, se eles queriam ouvir ou não. A maneira como ele se esquivou da pergunta de Helen fez ela se perguntar exatamente o que sua sombria mãe estava fazendo.

Helen tinha tentado entrar em contato com Daphne algumas vezes nas últimas três semanas, mas ela não teve nenhuma resposta. Talvez sua

mãe estivesse propositadamente evitando ela? Helen não teve a chance de descobrir mais. Hector estava muito ocupado brincando com Claire sobre como ela parecia estar ficando mais pequena. Mas assim que os

dois começaram a empurrar um ao outro de brincadeira, uma escuridão sinistra envolveu a floresta.

Helen estremeceu involuntariamente e olhou ao redor em pânico.

Mesmo que ela soubesse que ele estava morto, ela quase podia sentir Creon acordando no túmulo para tentar puxá-la para dentro daquela

escuridão horrível. Hector notou a mudança na luz assim que Helen notou. Ele

estendeu uma das mãos e agarrou Claire protetoramente pelo ombro.

Helen chamou a atenção de Hector. Ambos reconheceram esse fenômeno

misterioso. — Um Mestre das Sombras? — Helen sussurrou. — Eu pensei que

Creon fosse o único! — Eu também — Hector sussurrou de volta, seus olhos correndo por

todo o lugar, procurando um alvo. Mas a escuridão era como uma cortina,

fechando sobre eles. Eles não podiam ver mais longe do que alguns centímetros na frente deles. — Pegue Claire e corra.

— Eu não vou deixar você... — Helen começou.

— CORRA! — Hector gritou quando uma espada flamejante cortou através da cortina preta e formou um arco em cima dele.

Hector empurrou Claire fora do caminho quando ele se inclinou para trás e para o lado como um ginasta durante um salto. A lâmina de bronze assobiou passando no peito dele e se enterrou um metro dentro do chão

meio congelado da floresta. Hector chutou selvagemente entre as sombras invadindo, enviando o seu atacante voando pelo ar e deixando

a espada alojada no chão. Em um movimento fluido, Hector levantou o seu torso de volta à

vertical e reivindicou a espada para si. Quando ele a puxou do chão, ele

usou o controlado apoio momentâneo da lâmina liberada para cortar através do peito da próxima figura que apareceu das trevas, o tempo todo se movendo mais rápido do que a batida do coração de um beija-flor.

Helen sentiu metais estilhaçando contra sua bochecha, e na luz fraca ela viu fragmentos brilhantes de uma ponta de flecha estourando

em uma forma de dente de leão sob seu olho direito. Ela recuou instintivamente do impacto, embora ela estivesse completamente ilesa, e recuou até que bateu contra a perna de Claire com o seu calcanhar.

Helen ficou de guarda na frente de sua amiga mortal. Atordoada e sem fôlego, Claire não poderia se levantar, e ela certamente não poderia

correr. Helen plantou os pés entre Claire e os atacantes e convocou seu raio.

O som de um chicote estalando e o sabor mofado de ozônio encheu

o ar quando a luz se ramificou das mãos de Helen, criando uma parede de treliça de eletricidade que protegia ela e Claire. A escuridão não natural criada pelo Mestre das Sombras recuou na chama azul e nada

menos do que uma dúzia de Descendentes armados foram revelados. De onde todos eles vieram? Helen se perguntou freneticamente. Quantos deles haviam se deslocado furtivamente sobre eles?

No centro e na parte de trás do grupo, no lugar que Hector ensinou

a Helen que era reservado para oficiais da infantaria, Helen pegou um breve vislumbre de um rosto aterrorizante e estranho. Ele, quem quer que fosse, tinha olhos vermelhos. Ele olhou diretamente para ela e então

recuou, até que foi coberto novamente pelas trevas do Mestre das Sombras.

— Muitos! — Hector grunhiu enquanto ele lutava contra mais dois homens.

— Atrás de nós! — Helen gritou quando ela se virou e viu que quatro

lutadores estavam flanqueando eles. Ela enviou um raio fraco — apenas o suficiente para atordoar e não matá-los. Infelizmente para Helen,

segurar seu poder exigia muito mais energia do que apenas lançar os

raios. Helen se sentiu tonta. Ela forçou os olhos a se concentrarem quando

três dos quatro homens caíram em convulsão no chão. O quarto continuou vindo em sua direção. Ela tinha usado a maior parte da água em seu corpo, que já estava um pouco desidratado de correr uma longa

corrida, e ela não deixou o suficiente para criar outro raio controlado. Ela ainda podia criar um que iria matar todos eles, mas ela não teve coragem de fazer isso.

Pulando sobre Claire, que ainda estava lutando para conseguir seu controle de volta, Helen deu um soco no Descendente remanescente.

Helen nunca foi boa em atacar, e seu soco mal chamou sua atenção. Ele bateu nela com força, derrubando-a no chão em cima de Claire e fazendo suas orelhas ressoarem.

Uma forma escura listrada desceu do céu, pousou em cima do atacante de Helen, enviando ele cambaleando para as árvores. Era Lucas.

A respiração de Helen parou com a visão dele. Como ele poderia ter chegado aqui tão rapidamente? ela se perguntou freneticamente. Lucas

olhou para Helen, com o rosto impassível, e então se atirou contra o principal grupo de ataque dos Descendentes.

Helen ouviu Hector abaixo, e viu que vários homens estavam

tentando colocar correntes e algemas de metal grossas em seus braços e pernas. Ela se arrastou ao longo para ajudar ele a lutar contra as amarras enquanto Lucas lidava com os lutadores que ainda estavam de pé. Em

um borrão ofuscante de movimentos, Lucas tinha desarmado e ferido dois homens antes de Helen sequer chegar ao lado de Hector.

Vendo que o seu pequeno exército não era páreo para Helen, Hector, e Lucas, o líder assustador do grupo fez um ruído estridente, e o ataque terminou tão rápido quanto começou. Os feridos caminharam sendo

carregados, as armas foram recuperadas, e o bando de assassinos dissolveram entre as árvores antes que Helen pudesse até mesmo tirar o cabelo do rosto suado.

Helen viu Lucas virar as costas para eles e enrijecer. Hector colocou as mãos em suas têmporas e cavou suas mãos com determinação nos

lados de sua cabeça, como se ele estivesse tentando dividir o crânio dele pela metade.

— Não, Hector! Não! — Claire gritou quando ela se jogou em cima

dele. Ela colocou as mãos sobre os seus olhos e tentou bloquear a sua visão para que ele não visse Lucas. Mesmo com Claire quase o sufocando,

Helen podia ver o rosto de Hector corar com raiva. Lucas estava tremendo com o esforço para se segurar, mas,

finalmente, ele cedeu. Ele tinha um olhar enlouquecido em seus olhos

quando ele se virou para enfrentar Hector. As Fúrias o tinham, e elas estavam dizendo a ele para matar seu primo ou morrer tentando.

— Por favor, Lucas, vá embora! Vá embora! — Helen falou

asperamente através de sua garganta ressecada. Ela sabia que ele tinha ordenado que ela nunca mais tocasse nele novamente, mas ela não se

importava. Ela se levantou e colocou as mãos em seus ombros, empurrando-o para longe de Claire e Hector.

Helen bateu em seu peito, mas Lucas não conseguia tirar os olhos

de Hector. Em sua urgência para matar o Banido, Lucas jogou Helen no chão duro, e ela gritou quando ela torceu o pulso sobre a vegetação

irregular. Ouvir seu grito de dor pareceu chocar Lucas para fora de seu frenesi.

Ele olhou para baixo para ver Helen de joelhos, segurando seu pulso

machucado. — Sinto muito — ele sussurrou. Antes que Helen pudesse se

levantar, ele saltou no ar e desapareceu de vista.

Ela ficou olhando para Lucas, seu nome pendurado na parte de trás de sua garganta apertada. Ela queria chamá-lo de volta para ela exigir

algum tipo de explicação. Se Lucas a odiava, por que pedir desculpas? Por que protegê-la em primeiro lugar?

— Len, sai dessa! — Claire gritou quando ela puxou o braço de

Helen. — Há um fogo! Helen arrastou seus olhos para longe do pedaço de céu que Lucas

tinha desaparecido e olhou em volta, enquanto Claire se levantava. Havia muita fumaça ondulando acima da vegetação seca e ela podia ouvir os primeiros gritos de alarme conforme as pessoas caminhavam da pista de

corrida para a borda da floresta. — Seu relâmpago começou isso — Hector explicou brevemente. —

Eu tenho que ir. Eu não deveria estar aqui.

— O que foi aquilo? — Helen perguntou, erguendo a voz para impedir Hector de ir embora.

— Um batalhão dos Cem Primos. Nosso querido tio Tantalus quer vingança por Creon, e ele não vai parar até que eu esteja capturado. Não tenho a menor ideia de como eles me encontraram — ele respondeu,

adicionando um desagradável xingamento no final. — Fique segura, priminha. Entrarei em contato.

— Espera! — Helen gritou atrás dele, mas em seguida, várias testemunhas se empurraram por entre as árvores para ver o fogo, e Hector tinha fugido. — Eu estava falando sobre aquela coisa que estava

dando as ordens... — ela parou desajeitadamente quando as costas de Hector sumiram à distância.

Helen deixou Claire inventar alguma mentira. Foi quase fácil demais

para Claire convencer a todos que houve uma tempestade anormal. Várias testemunhas tinham visto relâmpagos e “nuvens escuras”

cobrirem misteriosamente a floresta. Tudo que Claire precisava fazer era jogar ela e Helen como espectadores inocentes que apenas aconteceram de serem as primeiras a chegar ao local. Helen não podia ter certeza, mas

ela pensou ter visto Zach fazer uma careta quando Claire contou a sua história improvável. Ela se perguntava se Zach tinha visto a coisa toda. Mas se tivesse, por que ele não disse nada?

No voo para casa, Helen e Claire tiveram tempo de sobra para se assustar com o que tinha acontecido. Elas não podiam se arriscar a

serem ouvidas por um dos companheiros de equipe, mas elas continuavam olhando uma para outra com olhos preocupados. Nenhuma das duas queriam estar sozinhas naquela noite, então fizeram planos

para Claire ir dormir na casa de Helen.

Assim que Claire desembarcou, ela e Jason correram para se

encontrar. Ele parecia pálido e tenso, e eles olharam um ao outro com tanta devoção que fez o coração de Helen se apertar.

— Luke não sabia se você foi ferida ou não — Jason engasgou quando ele enfiou a mão dentro do casaco de Claire. Sob a capa do seu casaco, ele correu o brilho suave das mãos de Curador levemente sobre

os braços e costelas de Claire, verificando se ela tinha ossos quebrados ou hemorragia interna. — Ele disse que você foi derrubada por um Descendente...

— Ela está bem — Helen disse suavemente. — Claro que você acha que ela está bem. Você não tem qualquer

noção de como é fácil que ela se machuque. Você é impenetrável — Jason retrucou de volta para Helen, elevando a voz um pouco com cada frase.

— Eu nunca deixaria nada acontecer... — Helen começou incrédula, mas Claire tocou no braço de Helen e a silenciou.

— Eu estou bem, Jason — Claire disse pacientemente quando ela

estendeu para ele sua outra mão. Ela segurou ambos Jason e Helen, como se ela estivesse tentando usar os braços para fazer a ponte entre

eles. Parecia que Jason tirou um fardo pesado quando ele concordou,

finalmente aceitando que Claire estava segura, mas quando eles se

viraram para irem até o carro de Claire, ele olhou para Helen, quase como se ele não confiasse nela.

No caminho para o estacionamento, Claire repetiu a conversa que

tiveram com Hector, mas ela não podia dar a Jason muita informação. — Passei a maior parte do tempo com a bunda no chão. Acabou

muito rápido, no entanto — ela terminou timidamente. — Havia um comandante assustador — Helen disse a Jason. — Ele

não parecia normal.

— Luke nunca disse nada sobre isso — Jason disse com um aceno de cabeça.

— Talvez ele não o viu — Helen disse, incapaz de dizer o nome de

Lucas. — Havia também um Mestre das Sombras lá. — Nós sabemos — Jason disse com um olhar preocupado sobre

Claire. — Lucas mencionou isso. — O que Lucas estava fazendo ali, afinal? — Claire perguntou. — Ele não disse — Jason respondeu com um encolher de ombros

cansado. — Lucas parece pensar que ele não precisa se explicar a mais ninguém.

— Ele está bem? — Helen perguntou em voz baixa. Jason franziu os lábios.

— Claro — ele disse, erguendo as mãos como se não houvesse mais

nada que ele pudesse dizer, mesmo que ambos soubessem que não era a verdade exata.

— Você vai ficar bem indo sozinha para casa? — Claire perguntou a Helen quando Jason saiu para ir pegar o carro. Levou um momento para Helen entender, e quando ela o fez, ela ficou atordoada. Claire estava

descartando ela por Jason.

— Hector disse que eles estavam atrás dele, não de mim. Eu não

estou em perigo — Helen disse em uma voz fria. — Não é exatamente o que eu quis dizer — Claire disse com as

sobrancelhas arqueadas. Então ela fez Helen encará-la. — Hector está sendo caçado, e Jason está louco sobre isso. Ele precisa falar com alguém agora.

Helen não respondeu. Ela não estava a ponto de dizer que ela estava bem com Claire abandonando seus planos quando ela não estava. Ela sabia que estava sendo infantil, mas ela não conseguia se conter. Uma

grande parte dela queria dizer que ela precisava de alguém agora, também. Helen esperou com Claire até que Jason parou o carro ao lado

de Claire, mas ela não disse mais nada. Quando eles foram embora ela trotou em direção a uma área isolada, olhou em volta para se certificar de que ninguém estava olhando para ela, e então decolou e voou para

casa. Helen circulou sua casa algumas vezes, olhando para a janela vazia.

Por um breve instante, Helen se deixou ter esperança de que Lucas estaria lá em cima, esperando ela voltar para casa. Era quase como se ela pudesse senti-lo lá, como se seu fantasma estivesse andando para

trás e para a frente, verificando o horizonte para ela. Procurando o mastro do seu navio...

Mas como de costume ultimamente, ela estava sozinha.

Helen pousou em seu quintal, e entrou na casa. Jerry tinha deixado um bilhete e uma caçarola para aquecer rapidamente. Ele e Kate estavam

trabalhando até tarde. Era noite de entrega, e isso significava que eles iriam passar horas abastecendo as prateleiras e fazendo inventário. Helen ficou no meio da cozinha, com apenas uma luz acesa na sala e ouviu a

casa vazia. O silêncio era esmagador. Helen olhou para a cozinha escura e pensou sobre a emboscada que

ela tinha sobrevivido apenas algumas horas antes. Isso a lembrou a vez em que ela tinha sido emboscada por Creon, exatamente onde ela estava. Lucas chegou e salvou a vida dela. Então, depois disso, ele sentou ela no

balcão e a alimentou com mel. Helen apertou seus olhos com os dedos até que ela viu manchas azuis pálidas e disse a si mesma que ela não sabia que eles eram primos naquela época, então estava tudo bem o que

ela tinha sentido. Mas ela sabia que eles eram primos agora, por isso não era bom reviver isso.

Helen não podia se permitir ficar ao redor e pensar sobre Lucas. Permanecer imóvel a levaria a pensar ainda mais, e mais pensamento a

levaria a um choro histérico, e Helen não podia se permitir chorar antes dela dormir ou ela iria sofrer por isso no Mundo Inferior.

Desligando suas memórias, Helen marchou para o andar de cima e

ficou pronta para dormir. Tudo o que ela queria era alguém para conversar antes que ela colocasse a cabeça no travesseiro, mas parecia que ninguém estava por perto, nem mesmo Jerry e Kate.

Helen viu que seu pai tinha substituído o cobertor que ela tinha colocado em cima do buraco em sua janela com uma lona azul e sorriu

para si mesma. Ele pode não estar em torno de Helen para conversar a cada momento do dia, mas pelo menos seu pai a amava o suficiente para

tentar corrigir suas bagunças. Ela verificou a fita a segurando. Era firme,

mas o quarto ainda estava tão frio que Helen podia ver sua respiração. Ela subiu na cama com relutância e puxou os miseráveis lençóis de cama

úmidos até o queixo para manter o calor. Helen olhou ao redor de seu quarto. O silêncio bateu em seus

ouvidos e as paredes espiralaram sobre ela. Ela não queria mais ser

Aquela que Desde. Durante todo o seu sofrimento, ela não tinha descoberto nada, e ela não estava nem perto de libertar os Vadios e os Banidos das Fúrias do que ela tinha estado quando ela desceu pela

primeira vez. Ela era um fracasso. Helen estava no fim de sua resistência. Ela estava além do cansaço,

mas ela não podia se deixar adormecer nesta condição. Se ela o fizesse, ela não sabia se ela teria a força para acordar novamente. Ela precisava de algo, qualquer coisa, para continuar.

Um fragmento de um pensamento passou pela sua imaginação — a imagem doce de uma mão forte que estava aberta e pronta para pegar as

dela. Por trás dessa mão amiga estava uma boca que sorriu quando ele disse o nome dela.

Helen não queria apenas um amigo, ela precisava de um. E ela não

se importava se ela tivesse que ir para o inferno para encontrá-lo.

* * * Automedon viu a Herdeira da Casa de Atreu circular a sua casa duas

vezes e permanecer alto no céu escuro antes de aterrissar em seu quintal. No início, ele pensou que ela permaneceu no ar porque ela o havia visto.

Ele afundou nos arbustos do vizinho e assumiu a quietude sobrenatural que apenas uma criatura de linhagem não-humana poderia alcançar. Ele sabia que a Herdeira era poderosa e não devia ser subestimada. Ele não

tinha visto um relâmpago como o que ela tinha feito durante a batalha na floresta há muitos anos.

Mas como a maioria dos Descendentes modernos, ela estava alheia ao seu verdadeiro potencial. Nenhuma dessas crianças dotadas sabia como o poder devia ser manejado. O forte deve governar. Isso era o que a

natureza pretendia, do menor micróbio para o grande leviatã. Os fracos morrem, e os mais fortes se tornam rei ou rainha do ninho.

Automedon desejou que a quitina em sua pele endurecesse e o mantivesse firme até que ele percebeu que o foco da Herdeira não estava sobre ele, e ele pôde relaxar sua rígida camuflagem exterior.

A Herdeira estava levando um tempo para aterrissar para que ela pudesse olhar para a plataforma que cobria o seu telhado. Estranho, ele pensou, era quase como se ela esperasse que alguém estivesse lá em

cima, e ainda assim ele nunca tinha visto alguém usar essa plataforma durante as três semanas que ele tinha estado olhando para ela. Ele fez

uma nota mental de seu interesse na janela, confiando em seu instinto que havia algo mais nesse lugar do que parecia à primeira vista.

Ela aterrissou no quintal e olhou por cima do ombro, o luar pegando

seu rosto suave. Muitos anos atrás, em um país distante, Automedon tinha visto aquele mesmo rosto elegante, beijado pela mesma adorável

lua, quando olhou para trás sobre o oceano de sangue que foi derramado

para possuí-lo. A Herdeira foi para dentro de sua casa, mas não ligou nenhuma luz.

Automedon a ouviu fazer uma pausa e ficar muito quieta dentro da cozinha na frente. Seu comportamento estranho o fez se perguntar se um dos Cem Primos havia sido incitado pela incapacidade deles de agarrar o

Banido naquela tarde para desobedecer às ordens de Tantalus. Será que tinha um deles dentro da casa? Automedon se levantou de trás dos arbustos. A Herdeira não deveria ser tocada, ainda não. Ele deu um passo

para frente e ouviu ela subir as escadas. Ela entrou no banheiro, acendeu uma luz, e começou a tomar banho como se nada estivesse errado.

Automedon recuou de volta para o seu ninho e escutou. Ele podia ouvir a Herdeira deitar em sua cama. Sua respiração

estava elevada, quase como se ela estivesse assustada. Automedon

estendeu a probóscide que estava embaixo da sua língua de aparência humana, deslizando para fora para saborear seus feromônios no ar. Ela

estava com medo, mas não havia nada mais do que apenas o medo em sua assinatura química. Havia muitas emoções conflitantes borbulhando na superfície, mudando sua química muito rapidamente para Automedon

poder identificá-las claramente. O fardo da sua tarefa estava pesando fortemente sobre ela. Ele a ouviu fungar algumas vezes, então, finalmente, ela relaxou, e ele ouviu sua respiração mudar lentamente

entrando no ritmo do sono. Enquanto ela abria o portal, o frio vazio do sobrenatural sugava os últimos vestígios de calor do seu quarto.

Durante um milésimo de segundo, seu corpo desapareceu do mundo todo, mas Automedon sabia que iria reaparecer, como todos os outros que desciam tinham feito, viva, funcionando e coberta com o pó estéril de

um outro mundo. Ela iria repousar estranhamente imóvel, e abrir os olhos horas mais tarde, apenas para lembrar que ela esteve no Mundo

Inferior e que, a partir de sua perspectiva, poderia ter sido por anos. A Herdeira poderia estar nessa postura de sono por horas, mas

depois de semanas de estudo, Automedon aprendeu que essa

Descendente nunca verdadeiramente descansava. Ele tinha se arrastado para dentro, se pendurado no seu teto, e esperou o movimento revelador dos seus olhos sob as pálpebras que sinalizavam o profundo sono

relaxante que os mortais precisam. Mas nunca veio. Sem o verdadeiro descanso, cada noite ela iria ficar mais e mais fraca

até que chegasse o momento de seu mestre atacar.

Traduzido por Polly

elen sentiu o ar estagnado do Mundo Inferior envolvê-la. Ela se encolheu e olhou em volta, meio preocupada que sua tentativa de

pensar positivamente tinha falhado, e ela iria se encontrar na poça.

— Você sempre passeia no inferno em seus pijamas? — uma voz sarcástica perguntou. Helen se virou e viu Corte de Cabelo, que estava a

poucos passos de distância. — O quê? — Helen balbuciou, olhando para si mesma. Ela estava

vestindo uma camisola e shorts com abóboras com dentes separados e

sibilando para gatos pretos em cima delas. — Não me interprete mal, eu gosto de short curtos, e a estampa do

Halloween é hilária, mas estou ficando com frio só de olhar para você.

Corte de Cabelo tirou o casaco e começou a cobrir Helen sem nem mesmo perguntar se ela estava com frio. Ela pensou por um momento

que ela deveria recusar, mas logo que ela sentiu quão aconchegante seu casaco era, ela percebeu que estava congelando sua bunda, e ela decidiu que era melhor não reclamar.

— Eu estou usando o que eu usava para dormir — Helen explicou defensivamente quando ela puxou seu cabelo de debaixo do colarinho do

casaco. Ela não tinha dado qualquer pensamento para o que ela usava quando ela desceu. — Então... você sempre adormece com esse estúpido arbusto dourado no seu braço?

Ele olhou para seu braço e riu para si mesmo. Helen não conseguia se lembrar de ter ouvido risos no Mundo Inferior, e ela quase não acreditava que ela estava ouvindo isso agora.

— Um pouco brilhante demais, hein? Que tal isso? — O galho de árvore que serpenteava em torno do seu antebraço encolheu até que não

era mais que um espesso bracelete de ouro. Gravado com um desenho de folha, circulava o seu pulso como uma algema. Helen só tinha visto um outro objeto se transformar magicamente assim: o cinturão de Afrodite,

que ela usava no pescoço sob o disfarce de um colar de coração. — Quem é você?

— Eu sou Orion Evander. Chefe da Casa de Roma, Herdeiro da Casa de Atenas, Terceiro Líder dos Descendentes Vadios e portador do Ramo Dourado de Eneias — ele disse em uma voz profunda e impressionante.

— Ooh — Helen vaiou sarcasticamente. — Eu deveria me curvar ou algo assim?

Para sua surpresa Orion riu de novo. Por todos os seus títulos altos-e-poderosos, esse cara definitivamente não era esnobe.

— Daphne disse que você era poderosa, mas ela nunca mencionou

que você era tão sabichona — Orion disse. A cara divertida de Helen murchou imediatamente.

H

— Como você conhece a minha... Daphne? — ela exigiu,

desajeitadamente evitando o uso da palavra mãe. — Eu a conheço toda a minha vida — Orion respondeu, interessado.

Ele deu um passo mais perto de Helen e olhou ela nos olhos, como se quisesse deixar claro que ele não estava mais brincando. — Daphne tomou um grande risco para me ajudar a chegar até aqui para que eu

pudesse ajudá-la. Ela não contou para você que eu estava vindo? Helen balançou a cabeça e olhou para baixo, pensando em todas as

mensagens sem retorno que ela tinha deixado no correio de voz de Daphne.

— Não conversamos muito — Helen murmurou. Ela tinha vergonha

de admitir isso para um estranho, mas Orion não olhou para ela como se ele achasse que ela era uma filha horrível ou algo assim. Na verdade, ele sorriu tristemente para si mesmo e acenou com a cabeça, como se

soubesse exatamente o que Helen estava sentindo. Ele olhou para ela com olhos bondosos.

— Bem, mesmo vocês duas não sendo próximas, Daphne queria que você... ABAIXA! — De repente, ele gritou quando ele agarrou a cabeça de Helen e empurrou para baixo.

Um cão preto rosnando navegou sobre Helen e bateu em Orion diretamente no peito. Orion absorveu o golpe e caiu para trás, sua longa

adaga já em uma mão enquanto a outra segurava o cão para trás por sua garganta. Sem saber o que deveria fazer, Helen subiu de joelhos e viu Orion ferir a cabeça da criatura. Ele estava de costas e ele não poderia

ter o impulso necessário para dar uma facada para matar. Helen se arrastou para seus pés, mas não tinha ideia de como pular em uma briga. As garras da fera passaram para o peito de Orion, deixando arranhões

irregulares e sangrentos. — Esse não é um esporte para espectador! — Orion gritou do chão.

— Chute-o nas costelas! Helen saiu do seu choque, plantou seu pé esquerdo, e chutou o

monstro com toda sua força. Não pareceu machucar o cão do inferno,

afinal. Em vez disso, tudo o que o chute conseguiu fazer foi chamar a atenção do animal. Helen tropeçou para trás. O monstro virou seus

brilhantes olhos vermelhos para ela. Ela guinchou de terror quando a besta mergulhou para ela.

— Helen! — Orion disse temerosamente, apanhando o monstro pela

cauda e puxando-o para longe. As mandíbulas salivando fecharam apenas centímetros longe do

rosto de Helen conforme ela cobriu a cabeça com os braços para se

proteger, e ela ouviu o cão do inferno gritar surpreso de dor quando Orion dirigiu a sua lâmina na parte de trás de seu crânio.

* * * Helen acordou agitada, seus braços estendidos e as pernas

chutando como se ela estivesse tentando ficar em cima de uma grande

onda. Ela estava de volta em seu quarto. — Não acredito! — ela gritou para a escuridão.

Helen não podia acreditar que tinha acontecido novamente. Ela

tinha que aprender a controlar sua passagem para dentro e para fora do Mundo Inferior, ou ela nunca seria de alguma utilidade na luta contra as

Fúrias. Especialmente agora que ela havia encontrado Orion. Ela não podia simplesmente desaparecer para ele sempre que havia perigo.

Helen não perdeu um segundo. Ela ligou para sua mãe

imediatamente com a intenção de perguntar sobre Orion, mas como de costume, ela foi enviada para o correio de voz após dois toques. Ela deixou para sua mãe uma mensagem, mas em vez de contar a ela sobre Orion,

Helen ficou tão irritada que ela acabou perguntando se Daphne estava evitando ela. Ela desligou, revoltada com o tom choroso em sua voz.

Daphne nunca tinha estado lá por Helen. Ela não sabia por que ela tinha sequer se preocupado em ligar.

Helen esfregou as mãos sobre o rosto. Ela estava bem, mas ela não

podia dizer o mesmo de Orion. Ela nunca se perdoaria se algo tivesse acontecido com ele. Helen queria subir sob suas cobertas e se enviar de

volta para o Mundo Inferior, mas ela sabia que seria um desperdício de esforços. Tempo e espaço se moviam de forma diferente lá embaixo, e mesmo que ela descesse imediatamente, ela não chegaria no mesmo

lugar ou ao mesmo tempo de onde ela saiu. Ela cruzou os braços em consternação, e quando ela fez isso, ela

percebeu que ela ainda estava vestindo o casaco de Orion. Ela bateu nos

bolsos e encontrou sua carteira. Depois de cerca de meio segundo de subterfúgio moral, Helen abriu e mexeu, curiosa.

Orion tinha duas carteiras de motorista — uma do Canadá e outra de Massachusetts. Ambas diziam que ele tinha dezoito anos e era legalmente autorizado a operar máquinas pesadas, mas nenhuma de

suas licenças listava seu sobrenome como Evander, o nome que ele deu a ela. Sua carteira de motorista americana dizia que seu sobrenome era

Tiber, e no Canadá o seu sobrenome foi listado como Attica. Ele também tinha uma carteira de estudante da Milton Academy, uma escola preparatória bem conhecida na costa sul de Massachusetts, que dizia que

seu nome era Ryan Smith. Smith. Sim, certo. Helen se perguntou se todos os Descendentes

eram debilitados criativamente quando escolhiam nomes falsos, ou se

“Smith” era uma piada correndo entre os semideuses. Ela procurou por qualquer pedaço de informação que poderia

encontrar nos bolsos restantes de seu casaco, mas tudo o que encontrou foram quatro dólares e um clipe de papel velho. Ela caminhou ao redor de seu quarto geladeira, pensando em suas opções. Ela estava

desesperada para saber se Orion estava bem, mas ela não estava muito certa de que era uma boa ideia bisbilhotar a sua vida. Com quatro sobrenomes diferentes, Orion era obviamente um cara reservado. Helen

não poderia ir procurar por ele sem danificar qualquer disfarce que ele estava tentando criar para si.

Ela brevemente se perguntou por que ele precisava de todos esses nomes falsos, então respondeu quase imediatamente à sua própria pergunta. Os Cem Primos haviam tentado matar todas as outras Casas,

e até que descobriram Helen e sua mãe, eles acreditavam que eles eram

os únicos Descendentes que sobraram no mundo. Como Chefe da Casa

de Roma e Herdeiro da Casa de Atenas, Orion provavelmente tinha passado toda a sua vida em fuga, se escondendo dos Cem Primos, a maior

facção da Casa de Tebas. Eles fizeram como a sua missão caçar Descendentes das outras três Casas e matá-los. Se Helen fosse procurar Orion, ela sabia que ela só iria denunciá-lo. Como ela tinha feito com

Hector, ela percebeu de repente. Não lhe tinha ocorrido antes, mas agora Helen estava certa de que

era culpa dela que Hector foi encontrado. Cassandra previu que os Cem

não estavam ativamente tentando matá-la no momento, mas Cassandra também tinha dito que ainda estavam vigiando ela — provavelmente

observando cada movimento dela. E Hector foi descoberto logo que ele entrou em contato com ela. Se Helen fosse a procura de Orion, ela levaria os Cem direto para ele.

Helen estremeceu, em parte por causa do frio e em parte de medo. Ela colocou o casaco de Orion um pouco mais apertado em volta dos

ombros e decidiu que ela não ia ser capaz de voltar a dormir imediatamente. Ela desceu as escadas e esquentou um pouco da caçarola que seu pai tinha deixado e, em seguida, sentou na mesa da cozinha para

comer, para se aquecer, e pensar sobre o que ela deveria fazer em seguida.

Quando ela terminou sua refeição tardia, ela voltou para a cama,

ainda debatendo se devia ou não dizer ao clã Delos sobre Orion. Uma parte dela estava começando a acreditar que quanto mais ela se

mantivesse longe de Orion, melhor seria para ele.

* * * — Ajoelhe-se, escravo — Automedon disse, e enfrentou o sol

nascente. Zach fez o que lhe foi dito. Ele ouviu seu mestre resmungando algo

em grego e o viu pegar uma bela adaga cravada com pedras preciosas da bainha em seu quadril. Automedon terminou de falar, beijou a lâmina e se virou para Zach.

— Qual é a sua mão forte? — ele perguntou quase agradavelmente. Isso assustou Zach.

— A minha esquerda.

— A marca de Ares — Automedon disse com surpresa aprovação. Zach não sabia como responder a isso. Ele não tinha nada a dizer

sobre a mão mais forte, então como poderia ser um elogio? Ele decidiu segurar a língua. Seu mestre geralmente preferia quando Zach ficava em silêncio.

— Segure — Automedon ordenou. Zach estendeu a mão esquerda, tentando impedi-la de tremer muito.

Seu mestre odiava qualquer sinal de fraqueza. — Está vendo essa adaga? — Automedon perguntou, não esperando

uma resposta. — Essa adaga foi de meu irmão de sangue. Sua mãe deu

a ele antes que ele fosse para a guerra. Bonita, não é?

Zach assentiu solenemente, sua mão estendida tremendo debaixo

da bela lâmina na madrugada fria. — Você sabia que uma parte da alma de um guerreiro é mantida

dentro de suas armas e sua armadura? E quando você morre em batalha, e seu oponente leva a sua armadura e sua espada, ele possui um pouco de sua alma?

Zach concordou. Na Ilíada houve várias brigas acaloradas sobre quem teria tal armadura. Vários dos grandes heróis morreram em

desonra sobre a armadura. Ele sabia que era realmente uma coisa importante.

— Isso acontece porque todos nós juramos sobre nossas armas. É o

juramento que coloca nossas almas dentro do metal — Automedon explicou intensamente. Zach acenou para mostrar que entendia. — Eu

jurei minha lealdade nesta adaga uma vez, como fez o meu irmão antes de mim. Eu jurei servir ou morrer.

Zach sentiu uma sensação de queimação em toda a palma de sua

mão, como uma fagulha de fogo que apenas disparou através dela. Ele olhou e viu que ele estava sangrando livremente, mas era apenas uma

ferida na carne e não lhe causaria nenhum dano permanente. Automedon agarrou seu pulso e dirigiu o sangue fluindo através da lâmina do punhal, até que ambos os lados e todas as bordas foram

banhadas com o sangue de Zach. — Jure sobre o seu sangue, derramado sobre esta lâmina, que você

vai servir ou morrer.

Que escolha ele tinha? — Eu juro.

* * * Na manhã seguinte, Helen sentou com Cassandra na biblioteca

Delos para outra sessão do que ela secretamente pensava como

“Domingos com Sibila”. Ela ainda não decidiu se vai dizer à família Delos sobre Orion ou não. Duas vezes ela abriu a boca para perguntar se

Cassandra podia “ver” ou não se Orion ainda estava vivo, e ambas as vezes ela fechou novamente. A terceira vez ela foi poupada, porque Claire veio se intrometendo na biblioteca, seguida de perto por Matt, Jason e

Ariadne. Todos os quatro estavam exigindo que eles fossem autorizados a se juntar à pesquisa.

— Nós já passamos por isso antes — Cassandra disse com firmeza.

— Nós não podemos arriscar. Alguns desses pergaminhos tem maldições embutidos neles que podem prejudicar os não iniciados.

Os outros três viraram para Claire em expectativa. — Então nos inicie — Claire disse, cruzando os braços e estreitando

os olhos em desafio. — Faça de nós sacerdotes e sacerdotisas de Apolo.

— Diga isso de novo — Jason disse, virando para Claire. Ele estava tão atordoado que não havia quase nenhuma expressão em seu rosto.

— Esse é o plano que você tem trabalhado durante os últimos dois

dias? O que você nos disse para não se preocupar? — Matt perguntou em uma voz cada vez mais aguda.

— Sim — Claire respondeu, completamente imperturbável.

— Oh, querida. De nenhuma maneira eu vou me tornar uma sacerdotisa — Ariadne disse. Ela balançou a cabeça definitivamente. —

Não me entenda mal, eu arriscaria minha vida para ajudar Helen, mas se juntar ao clero? Uh-uh. Desculpa.

— Por que não? Você ao menos sabe o que significa se tornar uma

sacerdotisa? — Claire perguntou. — Bem, eu fiz algumas leituras e eu posso te dizer, não é o que todos vocês estão pensando.

Claire explicou que os antigos gregos eram muito mais relaxados

sobre toda a coisa de sacerdote do que qualquer moderna religião. Eles tinham que permanecer sem filhos enquanto serviam o deus Apolo, mas

não era esperado ser um sacerdote ou uma sacerdotisa para sempre. Você poderia sair quando quisesse. Depois havia algumas pequenas regras sobre como manter várias partes do seu corpo limpo, fazendo

sacrifícios regulares acompanhados por alguns cânticos básicos, e respeitar um dia de jejum uma vez a cada lua nova para honrar a irmã

gêmea de Apolo, Artêmis. Era só isso. — Oh. Bem, quero me inscrever então — Ariadne disse com um

sorriso e um encolher de ombros. — Eu posso totalmente lidar em

garantir que os vincos entre os meus dedos dos pés estejam purificados antes de me juntar aos outros na mesa, só não me peçam para desistir...

— Nós entendemos, Ari — Jason interrompeu, não querendo ouvir

o que sua irmã estava prestes a dizer. — Então, como é que nós vamos fazer isso?

— É obrigado ter algum tipo de teste que temos de passar — Matt acrescentou, intrigado. Ele parecia estar se aquecendo com a ideia de se tornar um sacerdote de Apolo.

— As Moiras decidem quem fica para participar. Então o Oráculo realiza o ritual de iniciação — Claire respondeu, olhando incisivamente

para Cassandra. — Eu? — Cassandra disse, surpresa. — Eu não sei como... Cassandra se interrompeu quando Claire timidamente lhe entregou

um pergaminho velho. Obviamente havia sido roubado da biblioteca Delos, o que significava que há dias Claire tem estado invadindo a biblioteca e pesquisando através dos pergaminhos potencialmente

amaldiçoados antes dela ter encontrado. Houve um momento de silêncio enquanto todos absorviam o quão perigosas as ações de Claire tinham

sido. — Eu tinha que fazer alguma coisa! — Claire protestou a ninguém

em particular. — Helen tem se colocado no inferno, literalmente no

inferno, todas as noites... — E o que faz você pensar que Helen é mais importante do que você?

— Jason perguntou, seu rosto ficando vermelho brilhante com raiva. — Você poderia ter morrido por alguma coisa escrita nos pergaminhos!

— Eu não posso simplesmente sentar e assistir a minha melhor

amiga sofrer! Eu não vou fazer isso, mesmo eu sendo apenas uma mortal — Claire gritou de volta para ele, como se ela estivesse citando algo que

ele tinha dito a ela.

— Não foi isso que eu quis dizer, e você sabe disso — ele disse

quando ele ergueu as mãos e fez um barulho frustrado. — Pessoal — Helen disse quando tentou dar um passo entre eles,

batendo as mãos no sinal universal para “dá um tempo”. — Apenas fique fora disso! — Jason gritou. Ele passou por Helen em

seu caminho até a porta. — Você não é o centro do universo de todos,

sabia. A porta bateu atrás dele, e uma pausa desconfortável seguiu. Depois

de um momento, Claire virou para enfrentar Cassandra. — Você pode fazer isso? — Claire perguntou. Helen ficou surpresa

ao ver lágrimas brilhando em seus olhos. — Você pode nos iniciar, ou

não? Cassandra olhou para cima dos pergaminhos que ela vinha

estudando desde que Claire os havia entregado a ela, e fez uma pausa

para reunir seus pensamentos. Para Helen, parecia que Cassandra estava tão despreocupada com

a discussão emocional entre Jason e Claire como ela estaria com um programa de TV que aconteceu de estar em segundo plano enquanto ela estava tentando ler. De certa forma, isso era mais desanimador do que

tudo o que foi dito durante a briga. Jason, obviamente, mantinha algum tipo de rancor contra Helen, mas pelo menos todos eles se preocupavam

uns com outros. Helen não sabia mais se o mesmo era verdade com Cassandra.

— Sim eu posso — Cassandra disse. — Mas essa não é pergunta

certa para me perguntar. — Cassandra deveria nos iniciar, Sibila? — Matt perguntou, seus

olhos se estreitando como se estivesse testando uma teoria perigosa que poderia explodir em seu rosto.

A sala ficou fria. A brilhante aura estranha do Oráculo ultrapassou

o corpo juvenil de Cassandra, curvando os seus ombros até que ela estava inclinada e sombreando o rosto dela até ela parecer como uma mulher velha. Quando voltou a falar, sua voz era um coro conforme as três Moiras

falavam através dela. — Vocês todos são considerados dignos e não sofrerão nenhum

prejuízo do conhecimento que procuram. Mas estejam avisados. Sofrimento espera todos vocês.

O brilho púrpura-ácido da aura do Oráculo apagou, e Cassandra

caiu no chão em um amontoado. Antes que alguém pudesse se recuperar do choque de testemunhar

a presença paralisante das Moiras, de alguma forma, Lucas apareceu ao lado de sua irmã, suavemente levantando ela do chão em seus braços.

— Quando você entrou? — Ariadne perguntou a ele, olhando por

cima do ombro para a porta, e então de volta para Lucas com os olhos arregalados. Ele não se incomodou em responder. Seu foco estava

inteiramente em sua irmã mais nova. Os olhos de Cassandra se abriram e sua cabeça se contraiu

conforme ela recuperava a consciência. Lucas a estabilizou quando ela

se debateu um pouco com o choque de voltar e encontrar a si mesma sendo carregada no ar. Ele sorriu para ela e ela sorriu de volta, nenhum

deles necessitando falar para ser capaz de se comunicarem. Helen teria

dado tudo o que tinha para ver Lucas sorrir para ela assim. Seu rosto era tão bonito quando ele sorria. Ela queria tocá-lo.

Lucas passou por Matt enquanto ele carregava Cassandra para fora da biblioteca, e quando ele fez isso, Helen notou que ele não fez nenhum som enquanto caminhava. De alguma forma, ao longo das últimas

semanas, Lucas aprendeu a usar sua habilidade para manipular o ar para criar um vácuo silencioso. Era quase como se ele não estivesse realmente lá. O coração de Helen apertou com tanta força no peito que

ela pensou por um minuto que ela iria sufocar. Lucas estava se apagando, e ele provavelmente estava fazendo isso para que ele não

tivesse que aguentar realmente estar na mesma sala que ela. Ele a odiava tanto.

Claire disse a todos que eles não poderiam ler os pergaminhos com

segurança sem uma iniciação adequada primeiro. Eles teriam que esperar até que Cassandra fosse capaz de realizar o ritual. Todos os

outros saíram em silêncio, absortos em seus pensamentos, mas Helen ficou para trás na biblioteca por alguns segundos, a fim de se recompor.

Toda vez que ela via Lucas ficava pior. Ele estava mudando, mas não

para melhor. Algo de errado estava acontecendo com Lucas. Piscando os olhos ardendo, Helen repreendeu-se. Ela não tinha mais

o direito de se preocupar com ele. Ela não era sua namorada. Ela nem deveria olhar para ele.

Helen desafiadoramente sacudiu o pensamento antes que pudesse

sugar ela. Ela tinha que se manter ocupada. Se movendo. Agindo. Essa era a chave.

Quando Helen caminhou para fora da biblioteca, ela se deparou com

Claire e Jason sentados em uma das muitas escadas na parte de trás da casa Delos em expansão. Pelo que Helen pôde recolher, eles já haviam

trabalhado em passar da fase da raiva do seu argumento e estavam se movendo cada vez mais a um entendimento. Eles deram as mãos enquanto eles conversavam. Claire se sentou em um degrau mais alto

para compensar sua pequena estatura, e ambos estavam inclinados em direção um ao outro tão perto que era como se eles estivessem tentando

entrar nos olhos um do outro. Helen saiu pela porta dos fundos antes que ela tivesse que

testemunhar mais da troca emocional. Havia alguns estalidos e sons

xingando provenientes das quadras de tênis que virava arena, e ela vagou em direção a ela, se perguntando quem estava treinando. Seu primeiro pensamento foi que Castor e Pallas estavam treinando juntos, mas

quando ela entrou, viu Ariadne e Matt parecendo como um par de gladiadores com espadas de madeira. Matt caiu para trás em sua bunda,

e Helen se encolheu por ele. Ela sabia exatamente o que ele estava passando.

— Boa, Matt — Ariadne disse quando se inclinou para lhe dar uma

mão. — Mas você ainda está deixando sua guarda cair quando você... — Ariadne se calou quando viu que Helen estava olhando para ela.

— Eu não sabia que você estava ensinando Matt a lutar — Helen disse sem jeito quando percebeu que os dois estavam corando. Eles

atiraram um ao outro olhares nervosos e, em seguida, olharam para

Helen com olhares encurralados em seus rostos. — Gente? O que está acontecendo? — Helen finalmente perguntou

quando ela não conseguiu descobrir por que eles estavam agindo tão culpados.

— Meu pai não quer os mortais envolvidos em qualquer luta —

Ariadne admitiu. — Ele meio que nos proibiu de ensinar Matt como usar uma espada.

— Então por que você está fazendo isso? — Helen perguntou, mas

nenhum dos dois respondeu. Helen tentou imaginar alguém como Matt lutando com Creon, e a imagem realmente a assustou. Ela tinha que dizer

alguma coisa. — Matt, eu sei que você é um bom atleta, mas mesmo com o treinamento seria suicídio você lutar com um Descendente.

— Eu sei disso! — ele disse em uma voz estrangulada. — Mas o que

eu devo fazer se eu for pego no meio de uma briga ou bater em um de vocês com o meu carro novamente? Apenas ficar e esperar que alguém

venha me resgatar? Eu estaria morto se eu fizesse isso. Pelo menos isso me daria alguma chance.

— Descendentes não costumam atacar os mortais. Sem ofensa, mas

nós achamos que é desonroso — Helen respondeu timidamente. Ela não queria colocar Matt para baixo, mas era a verdade.

— Matt não tem de ser atacado para acabar sendo machucado. Ou

morto — Ariadne disse em uma voz vacilante. — Eu sei que ele não precisa, mas... — Helen começou suavemente

e depois se interrompeu. Ela não podia evitar de pensar que depois de algumas semanas de treinamento Matt poderia começar a acreditar que ele poderia lidar em ir contra um dos Cem, o que era loucura. — Esta é

uma ideia muito ruim, pessoal. — Eu não posso apenas ficar ao redor e não fazer nada! Eu não

tenho medo! — Matt gritou para ela. Ariadne se adiantou e tocou o braço de Matt para acalmá-lo.

— Você não está ajudando — ela disse suavemente para ele antes

dela virar para Helen com um olhar de aço em seus olhos. — Eu não acho certo ele estar em torno de Descendentes e nem sequer saber como segurar uma espada. Eu honestamente não me importo se ninguém mais

nesta família concorda comigo. Vou ensiná-lo. Então, agora, a única questão é, você vai dizer ao meu pai ou não?

— Claro que eu não vou! — Helen disse em uma voz exasperada antes de virar para Matt para implorar a ele. — Só que, Matt, por favor, não tente lutar contra um Descendente, a menos que você absolutamente

tenha que fazer para se defender! — Certo — ele respondeu com uma inclinação amarga nos lábios. —

Sabe, eu posso não ser capaz de levantar um carro sobre a minha cabeça, mas isso não significa que eu sou inútil.

Helen não conseguia lembrar de Matt ficar tão amargo sobre

qualquer coisa. Ela tentou explicar o que ela quis dizer, mas ficou estranhamente com a língua amarrada. Honestamente, ela desejou que

ele fosse um pouco mais covarde. Ele provavelmente viveria mais tempo dessa maneira, mas ela não poderia também dizer isso a ele.

Quando Helen não respondeu de imediato, Matt deixou a arena com

Ariadne seguindo de perto. Quando eles chegaram a poucos passos para fora da área fechada, Helen ouviu Ariadne dizendo algo conciliador, e

Matt cortando-a em frustração. Eles continuaram conversando enquanto se afastavam, mas Helen nem sequer tentou espionar. Ela estava muito cansada.

Helen se sentou na areia com sua cabeça em suas mãos. Não havia nenhuma pessoa que ela pudesse recorrer, mesmo apenas para conversar por alguns minutos antes dela ter de encarar sua tarefa

aparentemente impossível no Mundo Inferior. O sol começou a se pôr. Outro dia estava terminando, e outra noite

no Mundo Inferior a aguardava. Helen levantou a cabeça e tentou encontrar a energia para voar para casa, mas ela estava tão sem forças que ela mal conseguia concentrar seus olhos. Se ela ficasse lá por mais

tempo, ela iria cair no sono, e ela não queria descer enquanto ela estava no quintal dos Delos.

Ela se arrastou para seus pés, e quando ela o fez, ela sentiu aquela estranha vertigem novamente. Era como se uma parte do mundo se partiu e se transformou em uma foto enquanto seu corpo se movia em

torno dele. Helen caiu para trás sobre um joelho e tentou não vomitar. Ela viu a areia nadar na frente de seus olhos, e por um momento, ela pensou ter visto realmente se mover. Ela se manteve quieta e fechou os

olhos. Ela podia ouvir batimentos cardíacos. E não era o dela.

— Quem está aí? — ela sussurrou, seus olhos correndo por todo o lugar. Ela convocou um globo de eletricidade e segurou-o na palma da sua mão. — Chegue mais perto, e eu vou te matar.

Helen esperou mais alguns instantes, mas não houve resposta. Na verdade, não havia nada além do ar perfeitamente quieto. Estava na

verdade muito pacífico. Flexionando a mão, ela permitiu que a eletricidade se dissipasse, e uma chuva de faíscas caiu entre os seus dedos e saltaram inofensivamente na areia. Ela balançou a cabeça e riu

de si mesma, incapaz de parar uma nota de histeria se rastejando. Ela estava rindo muito e ela sabia disso.

Quando Helen chegou em casa ela começou a cozinhar o jantar para

ela e seu pai, mas na metade, ela recebeu um telefonema de Jerry. Helen podia dizer pelo tom duro de sua voz que ele realmente queria gritar com

ela por quebrar a janela de seu quarto, mas desde que ele estava ligando para lhe dizer que houve uma terrível mistura envolvendo um carregamento de balões em forma de aranha na loja e ele estaria deixando

ela sozinha outra noite, ele se sentia culpado o suficiente para deixar a coisa toda da janela para lá. Helen tentou não soar muito mal-humorada quando ela lhe disse que sentia muito que ele tinha que trabalhar até

tarde, então ela desligou o telefone e olhou para a refeição metade preparada que ela não sentia mais vontade de terminar ou comer. Ela

reembalou o que podia e comeu uma tigela de cereal de pé perto da pia da cozinha antes dela subir para ficar pronta para dormir.

Jogando o casaco de Orion sobre os ombros, Helen abriu a porta do

quarto. Ela estava prestes a entrar, mas seus pés pararam onde estavam.

Seu quarto costumava ser seu santuário, seu lugar de retiro, mas não

era mais. Era um lugar onde ela sofria todas as noites. E no topo disso, o frio de tremer. No limiar, Helen respirou fundo e, em seguida, soltou o

ar, enviando uma grande nuvem de vapor na frente dela conforme ela respirava.

— Bem, Orion seja-lá-qual-for-seu-sobrenome — ela disse a seu

quarto vazio quando ela entrou, fechou a porta, e colocou seus pés em um par de botas de borracha. — Eu espero que você esteja falando sério sobre querer me ajudar, porque eu nunca precisei de ajuda mais do que

eu preciso agora.

* * *

É claro, Orion não apareceu. Helen passou o que pareceu como um dia inteiro vagando ao redor da periferia do Campo de Asfódelo. Ela caminhou pela lama escorregadia plana em torno desse campo de flores

assustador, esperando ele aparecer a qualquer momento, mas ele nunca apareceu.

Helen não foi para o Campo porque as flores a deprimiam. Asfódelo era pálido, com flores inodoras presas no chão, rígidas e uniformemente espaçadas, como lápides. Ela tinha lido que as flores asfódelos eram a

única nutrição dos fantasmas famintos no Mundo Inferior, e embora Helen não tivesse visto nenhum fantasma, ela podia sentir todos eles ao seu redor, sentir seus olhos no ar parado.

Ela focou em Orion antes dela ir dormir, na esperança de que, ao fazer isso, ela iria aparecer ao lado dele. Ela não descobriu qualquer

extensão de imaginação no Mundo Inferior, mas ela sabia o suficiente para saber que ela só iria ver ele se ele tivesse descido para o Mundo Inferior na mesma noite. Ela andava para frente e para trás, esperando

ele aparecer, mas ela sentia que se ela não aparecesse na frente dele quando ela descesse ela não o veria, mesmo se ela esperasse para

sempre. E quanto mais pensava nisso, mais Helen tinha que admitir que ela

não tinha certeza se Orion iria se juntar a ela na noite seguinte, também.

Talvez ele tivesse decidido que ele teve o suficiente do Mundo Inferior completamente.

Ela tentou olhar para o lado positivo. Pelo menos ele deu a ela a dica

sobre se vestir melhor antes de ir dormir, e embora seria impossível explicar a Jerry por que ela estava usando um par de galochas para

dormir, era melhor do que andar descalça por toda aquela lama desagradável.

* * *

Na segunda-feira de manhã, Helen acordou e suspirou, entristecida pelo fato de que ela não teria nada para aguardar ansiosamente quando

ela fosse dormir naquela noite. Ela lembrou que Orion nunca foi uma parte da barganha. Ela sempre achou que ela teria que fazer isso sozinha.

Relutante, ela se arrastou para fora da cama para limpar a bagunça da

noite e se preparar para a escola.

Traduzido por Polly

ormiu bem? dizia a mensagem de um número desconhecido. Helen se chocou com as costas de Claire e praticamente a

derrubou.

— Que diabos, Lennie! — Claire reclamou em voz alta. Helen cambaleou para o lado e tentou recuperar o equilíbrio sem pisar na sua

pequena amiga. — Desculpe, Risa... — Helen murmurou distraidamente enquanto

ela digitava: Quem é?

— Com quem é que você está trocando mensagens? — Claire perguntou curiosamente.

Já me esqueceu? Eu estou abandonado, dizia a resposta.

Inteligente, Helen pensou. Tão inteligente, que ela decidiu dar uma chance.

Abandonado? Por que você tem 4 sobrenomes? Helen perguntou de volta, um leve sorriso subindo em seu rosto e uma grande estranha borboleta batendo em sua barriga.

— Lennie? O que está acontecendo? — Claire pegou o braço de Helen e puxou-a ao longo do corredor em direção ao almoço.

— Eu acho que pode ser aquele cara, Orion, o cara que eu conheci no Mundo Inferior. Eu só não sei como. Eu nunca dei a ele o meu número — Helen murmurou.

Claire dirigiu Helen em segurança através do refeitório enquanto Helen encarava com determinação obstinada a tela no seu telefone. Se isso era um truque, Helen sabia que ela poderia estar entregando Orion,

mas ela tinha que testar seu mensageiro misterioso e descobrir com certeza. Se alguma pessoa desconhecida tivesse seu número, podia não

ser seguro para ela, também. Finalmente, uma resposta veio. Há! 4 nomes, mas apenas 1 casaco. Congelando! Encontre-me hj

à noite? Orion escreveu, e agora Helen estava certa de que era Orion do

outro lado da linha. Ninguém mais poderia saber sobre o casaco que ela tinha acidentalmente roubado dele, e então dormido com ele uma vez,

exceto Orion. Helen ainda não teve a chance de dizer a Claire sobre isso. Claro. Hj à noite. Eu não vou abandonar você, pelo menos, ela

respondeu. Ela percebeu que a última frase era arrogante quando ela

enviou, e desesperadamente desejou que ela pudesse arrebatar a mensagem no ar antes de chegar a ele. Helen havia esperado durante horas. Não era que ela considerou a reunião com Orion um encontro. Era

só que era a primeira vez que ela estava esperando por um menino que não apareceu. Não era muito bom.

Ei, não é justo. Não pude ir para as cavernas ontem à noite. Prova hoje, foi a resposta tardia de Orion.

D

Cavernas? Helen se perguntou. Ela estava um pouco mais aliviada

do que ela deveria estar por ele ter uma boa desculpa, mas ao invés de parar e examinar o porquê, ela decidiu ficar com as coisas mais

importantes em primeiro lugar. Como Orion a tinha encontrado. Como você conseguiu meu número? Helen escreveu enquanto

Claire empurrava ela para o seu lugar de costume e começou a

desembalar o almoço de Helen para ela. Daphne.

O quê! Quando? Os polegares de Helen estavam pressionando com tanta força que ela tinha que lembrar a si mesma para pegar leve antes que ela estalasse seu telefone pela metade.

Hum... 5 minutos atrás? Tenho que ir. Você FALOU com ela? Helen esperou, olhando para a tela com a boca aberta, mas quando

ela não teve uma resposta imediata ela soube que a conversa estava encerrada.

— Então. Orion, hum? — Claire disse com os lábios franzidos. — Você não me disse que tinha conseguido o nome dele.

— Bem, você nunca perguntou sobre ele novamente.

— Desculpe — Claire disse, sabendo que ela foi a única a estragar tudo. — Eu estava inquieta... me esquivando de Cassandra e Jason,

procurando por esse pergaminho. Então o que aconteceu? — Nós conversamos. — Helen deu uma mordida distraída no

sanduíche que Claire tinha posto em sua mão.

Ela tinha uma dúzia de perguntas a fazer a Orion, mas ela sabia que teria que esperar até a noite para obter qualquer resposta. A primeira pergunta que ela iria lhe perguntar seria por que Daphne atende as suas

chamadas e não as delas. Orion tinha dito que ele conhecia Daphne por toda a sua vida. Talvez os dois fossem muito próximos. Mais próximos do

que Daphne era da sua própria filha? Helen não tinha ideia de como ela se sentia sobre isso.

— Você vai me dizer sobre esse cara, Orion, ou eu devo apenas ficar

sentada aqui e ver você mastigar? — Claire perguntou com as sobrancelhas arqueadas. — E por que você está tão ranzinza?

— Eu não estou ranzinza! — Então por que você está de cara feia? — Eu só não sei o que pensar sobre tudo isso!

— Tudo o que? — Claire quase gritou de frustração. Novamente, Helen foi confrontada com o fato de que haviam muitas

coisas que ela e Claire não compartilhavam uma com a outra mais. Falando tão rapidamente e tão calmamente quanto podia para que

ela pudesse ter toda a história antes do final do almoço, Helen disse a

Claire tudo sobre como ele tentou puxá-la para fora da areia movediça pela primeira vez. Então ela descreveu o ramo dourado no braço de Orion, e o fato que por duas vezes ele parecia estar se defendendo de algum tipo

de ataque com monstros infernais quando ela nunca tinha visto nada assim lá embaixo, e como ele tinha protegido ela durante um desses

ataques.

— Eu não quero que você diga a Jason sobre isso ainda, ok? Porque

além das mensagens de texto justo agora, eu só falei com Orion uma vez, então eu não sei o que pensar sobre ele. Ele disse que Daphne o mandou

até lá para me ajudar — Helen disse com um aceno confuso de sua cabeça. — E honestamente, Risadinha, eu não sei o que ela está fazendo. Eu sinto que ela está sempre planejando.

— Isso não significa que Orion esteja. Você não tem seus poderes no Mundo Inferior, certo? — Claire perguntou com olhos astutos. — E ele é um bom lutador?

— Ele é um lutador incrível, e pelo que tenho visto, ele não precisa de poderes extras para cuidar de si mesmo. Ele matou a coisa que estava

em cima de mim com as mãos nuas, praticamente. — Então, talvez o único esquema de Daphne seja tentar mantê-la

viva. A primeira vez que vocês dois se encontraram, ele salvou você —

Claire disse com um sorriso indulgente. Helen queria discutir, mas, como sempre, Claire tinha realmente um

bom ponto. Daphne queria se livrar das Fúrias e, de acordo com Cassandra, Helen era a única que poderia fazer isso. Além disso, Helen era a filha de Daphne e sua única herdeira. Mas, mesmo assim, Helen

duvidava que Daphne estivesse apenas tentando protegê-la. Depois de alguns momentos mordendo o lábio, tentando encontrar

um buraco no argumento de Claire, Helen teve que admitir para si mesma

que a única razão pela qual ela discordava era porque Daphne tinha abandonado ela quando bebê. Ela simplesmente não confiava nela.

Talvez ela estivesse sendo muito dura. Talvez desta vez Daphne estivesse apenas tentando ajudar.

— Tudo bem, você está certa... eu tenho grandes problemas com

Beth ou Daphne ou tanto faz como ela está chamando a si mesma nessa década. Mas eu não ficaria tão suspeita se ela apenas atendesse o maldito

telefone quando ligo de vez em quando — Helen disse com exasperação. — Eu não espero que ela me conte tudo o que ela está fazendo, mas seria bom saber em que país ela está, pelo menos.

— Você já pensou que talvez seja mais seguro para você se você não souber onde ela está ou o que está fazendo? — Claire perguntou delicadamente. Helen abriu a boca para argumentar e fechou novamente,

sabendo que ela não iria ganhar esse ponto, também. Mas ela ainda desejava que ela soubesse onde diabos estava Daphne.

* * * Daphne prendeu a respiração e ficou muito, muito imóvel. Ela

conseguiu convencer seus pulmões que eles só precisavam de uma fração

de ar para eles usarem, mas não havia muito que pudesse fazer sobre seu coração martelando. O homem que ela tinha feito um juramento de

sangue para matar estava na sala ao lado. Ela tinha que encontrar uma maneira de se acalmar, ou todo o seu sacrifício seria em vão.

De seu esconderijo em seu quarto, ela podia ouvi-lo na biblioteca

adjacente. Ele estava em sua mesa, escrevendo a legião de cartas que ele usava para dirigir o seu culto, os Cem Primos. Ela quase podia imaginar

o seu rosto uma vez cinzelado, seu cabelo loiro desbotado, e seus dentes

formigavam com o pensamento de rasgar ele em dois. Depois de tantos anos, Daphne estava apenas alguns metros longe de Tantalus, o Chefe

da Casa de Tebas e o assassino de seu amado marido, Ajax. Horas se passaram, e Tantalus ainda estava rabiscando. Daphne

sabia que cada uma das cartas que Tantalus estava trabalhando seriam

levadas pelos correios separadas e enviadas de diferentes estações de correio espalhadas acima e abaixo da costa. Ele era meticuloso sobre disfarçar sua localização, e por causa disso, levou dezenove anos dela

para localizá-lo. Ela havia sido obrigada a seguir o corpo de seu único filho de volta para Portugal, nenhuma única vez deixando o cadáver fora

de sua vista, não importa quantas vezes ela tivesse de mudar de forma. Ela sabia que mesmo Tantalus viria à tona tempo suficiente para colocar a moeda do ritual na boca do seu único filho, e ela estava certa.

Finalmente, ela ouviu Tantalus largar a caneta e levantar. Ele chamou o carregador mortal para levar as cartas aos correios. Então ele

se serviu de um copo de algo do bar bem abastecido. Levou um momento para o cheiro pairar onde ela estava de pé, e ela soube o que ele estava bebendo imediatamente. Bourbon. Não conhaque, não uísque caro,

apenas o doce Bourbon diretamente de Kentucky. Ele tomou alguns goles, saboreando o sabor, em seguida, entrou em seu quarto. Ele fechou a porta atrás dele e falou.

— Você deveria saber, Daphne, que uma dessas cartas era para o Myrmidon, eu tenho ele aninhado fora da encantadora pequena casa da

sua filha em Nantucket. Se ele não ouvir notícias minhas pessoalmente, ela será morta.

Daphne quase gemeu em voz alta. Ela sabia que Tantalus não estava

mentindo sobre o Myrmidon. Ele levou um grupo para atacar Hector na corrida de Helen. Se aquela coisa estava observando Helen e não

perseguindo Hector como ela tinha assumido, Daphne sabia que não tinha chance. Ela engoliu o coração dela e saiu de seu esconderijo.

Tantalus olhou para ela como um homem faminto em um banquete,

seus olhos saltando por todo o rosto dela e corpo. Até mesmo seu olhar fez arrepiar a pele dela, e ela tolerou e preferiu se concentrar na pequena

medida de Bourbon que ela tinha cheirado que restava no copo. Foi assim que ele soube que ela estava lá.

— Você me cheirou, não é? — ela perguntou, sua voz pegando o

caroço amargo em sua garganta. — Sim — ele respirou desesperadamente, quase se desculpando. —

Mesmo depois de todos esses anos, eu ainda me lembro do cheiro do seu cabelo.

Daphne convocou uma faísca na palma da sua mão, só para avisá-

lo. — Se você gritar pelos seus guardas, vou matá-lo onde você está e me arriscar de pegar aquela carta de volta para minha filha.

— E se você conseguir pegar a minha carta para Nantucket, então o

quê? Você honestamente acha que pode matar um Myrmidon de cinco mil anos de idade? Aquele que lutou ao lado do próprio Aquiles?

— Não sozinha — Daphne respondeu friamente, balançando a

cabeça uma vez. — Mas com os seus irmãos e seus filhos? É possível que poderíamos destruir o monstro juntos.

— Mas não é provável — Tantalus disse pesadamente. — E acabaria por nos custar muito. Você sabe que Hector seria o primeiro a lutar, e o primeiro a morrer. E eu me pergunto se você poderia perdê-lo

novamente... Ele parece muito com Ajax. Mas estou curioso, ele sente o mesmo?

— Seu animal de mente imunda! — Daphne faiscou e crepitou, mas

eventualmente se controlou. Esse era o plano dele. Fazer ela usar todos os seus raios na raiva

inútil até ela ficar sem uma moeda de troca. Foi isso que aconteceu na noite em que ela perdeu Ajax, mas agora ela era mais velha e mais sábia.

Precisava de muito mais energia para reter um raio para atordoar

um alvo e não matar, mas depois de anos de prática, Daphne tinha conseguido descobrir esse aspecto de seu modesto poder sobre

relâmpagos. Ela enviou um pequeno raio azul-bebê através de toda a sala e colocou Tantalus de joelhos.

— Você tem um Myrmidon, não um Descendente, aninhado fora da

janela da minha filha. Por quê? — ela perguntou calmamente. Quando ele não respondeu, ela atravessou a sala e tocou ele com a mão

incandescente. Tantalus suspirou de prazer, até que ela enviou uma carga através de seus dedos.

— Ela está protegida... pelo único Herdeiro vivo da minha casa —

ele bufou, todo o seu corpo se contorcendo da dor elétrica. — Não posso permitir mais... Banidos. Atlântida... já está longe demais.

Ele ainda não sabia sobre os Vadios, Daphne pensou.

— O inseto não é de nenhuma Casa Descendente, e não se tornaria um Banido se matasse Helen e todos os Delos juntos em Nantucket. O

que, por sinal, lhe pouparia um monte de problemas — Daphne continuou, ampliando a tensão. — Então porque você ainda não pediu a ele para atacar?

— Como eu poderia... impedir você... de me matar... se eu não tivesse nenhuma garantia? — ele bufou. Daphne cortou a corrente para

que ele pudesse falar claramente. — Eu quero governar Atlântida, não apenas sobreviver para vê-la. Eu devo me tornar parte da minha Casa novamente para fazer isso.

Seu peito apertou, e ele rolou de costas em dor. Um momento depois, Tantalus respirou fundo e sorriu para o hipnoticamente belo rosto de Daphne.

— Eu sabia que você ia me encontrar algum dia e que você viria até mim.

Houve uma batida insistente na porta, seguida por uma pergunta tensa em português. Tantalus olhou para a porta, e depois para Daphne. Ela balançou a cabeça para avisar para ele manter sua boca fechada.

Daphne não entendia português e ela não podia arriscar que Tantalus falasse, mesmo se o silêncio dele fosse a coisa que revelaria sua presença.

Ela ouviu o guarda na porta hesitar, e depois sair correndo,

provavelmente para obter reforços. Ela agarrou Tantalus pela camisa e

mostrou os dentes para ele. — Eu sempre vou estar por trás da porta, debaixo da cama, ou na

próxima esquina... esperando a minha chance de matá-lo. Está no meu sangue agora — ela sussurrou maldosamente em seu ouvido.

Ele entendeu o que ela quis dizer e sorriu. Daphne tinha feito um

juramento que era mais vinculativo do que qualquer contrato humano já inventado. Algum dia ela teria que matá-lo, se não o matasse ela

morreria. — Você me odeia tanto assim? — ele perguntou, quase reverente que

Daphne tenha amarrado a sua vida a ele, mesmo que fosse para a morte.

Mais guardas chegaram e começaram a bater na porta, mas Tantalus pouco reconheceu eles.

— Não. Eu amei muito Ajax, e ainda continuo amando. — Ela notou

com prazer o quão profundamente magoado Tantalus ficou ao ouvi-la dizer que ela ainda amava outro mais do que ele. — Agora me diga, o que

você quer de Helen? — O que você quer, meu amor, minha deusa, minha futura rainha

de Atlântida — Tantalus cantarolou indefeso quando ele caiu novamente sob o feitiço daquele Rosto. Os guardas começaram a derrubar a porta de aço e concreto, e Daphne foi forçada a se afastar de Tantalus.

— E o que eu quero? — ela perguntou, seus olhos lançando-se sobre as paredes de pedra de sessenta metros de espessura da sala, procurando uma rota de fuga alternativa. Não havia nenhuma.

Daphne olhou para a janela rebaixada atrás dela com a enorme queda para o oceano. Ela olhou para cima, na esperança de encontrar

um caminho para cima e sobre o parapeito da fortaleza, mas a projeção a impediu. Ela não podia voar como Helen podia. Ela também não sabia nadar. Daphne estava sem tempo, mas ela precisava ouvir o que mais

Tantalus tinha a dizer antes que ela pulasse a janela e tentasse, de alguma forma, não se afogar. Ela olhou para Tantalus e convocou a última de suas faíscas para ameaçá-lo a falar. Ele sorriu para ela com

tristeza, como se ele estivesse mais machucado em ver que ela estava prestes a deixá-lo do que ele estava por ela estar ameaçando sua vida.

— Eu quero que Helen tenha sucesso no Mundo Inferior, e livre todos nós das Fúrias — ele finalmente respondeu, apontando para a prisão aveludada que ele foi forçado a viver como um Banido. — Ela é

minha única esperança.

* * *

— Filho da puta! — Orion xingou muito alto quando ele se abaixou instintivamente e tropeçou para o lado. — Quando você desce, você simplesmente aparece no ar?

Eles estavam em alguma parte desanimada das salinas que rodeava um mar que Helen nunca foi capaz de chegar, e, portanto, suspeitava que realmente não existe. Só mais um aspecto encantador do inferno —

prometia paisagem e nunca entregava. Helen olhou para o rosto em

pânico de Orion e percebeu que ela tinha praticamente se materializado

no seu bolso de trás. — Eu sinto muito! — ela exclamou timidamente. — Eu não tive a

intenção de chegar tão perto. — Isso é realmente irritante! Existe alguma maneira de me avisar

primeiro? — Orion ainda estava apertando o peito, mas ele também tinha

começado a rir um pouco também, e o som era contagiante. — Eu acho que não — Helen riu através de suas palavras. Era uma

risada nervosa, e Helen tentou ignorar esse fato. Ela tinha estado

realmente preocupada que ele não aparecesse, e um pouco mais feliz do que ela teria esperado que ele tivesse.

— Ei, eu posso ter assustado você, mas pelo menos eu me lembrei de trazer o seu casaco. — Ela encolheu os ombros sob a gola, inclinando o rosto para baixo para esconder um rubor super empolgado.

— Sim? E o que você vai vestir? — ele perguntou, de olho em seus braços nus com ceticismo. Helen fez uma pausa durante o movimento.

Ela tinha esquecido de colocar o seu próprio casaco debaixo dele, e ela estava vestindo apenas uma camiseta.

— Hum... Opa?

— Fique com ela por enquanto — ele disse, balançando a cabeça como se tivesse esperado por isso. — É melhor me dar minha carteira, no entanto.

— Eu vou te dar o seu casaco de volta no final da noite — ela prometeu, entregando sua carteira.

— É claro que vai. — Eu vou. — Olha, você realmente quer discutir a noite toda sobre se as garotas

devolvem ou não as roupas que pedem emprestado dos caras? Porque pelo que tenho notado, uma noite pode ser realmente uma eternidade

aqui embaixo. Helen sorriu. Ela teve que lembrar a si mesma que ela não sabia

muita coisa sobre esse cara, porque ela estava começando a sentir como

se eles se conhecessem durante anos. — Quem é você? — ela perguntou, tentando não parecer muito

intimidada. Ela nunca conheceu alguém como Orion antes. Ele era,

obviamente, tão resistente quanto os garotos Delos, mas Orion era tão diferente. Às vezes os garotos Delos agiam um pouco cheios de si, mas

Orion era pé no chão, até mesmo humilde. — De onde você veio? Orion gemeu. — Nós vamos precisar da eternidade, afinal.

Originalmente? Eu sou de Terra Nova. Olha, minha história de vida é

realmente complicada, então primeiro é melhor nos movermos para algum lugar coberto antes que algo feio nos encontre.

— Sobre isso — Helen interveio quando eles viraram as costas para

o mar inexistente e fizeram o seu caminho para a grama do grande pântano. — Por que é que cada vez que estamos juntos você está sendo

mastigado por um monstro horrível? — O Ramo de Eneias — ele disse, e apontou para o punho dourado

brilhante em torno de seu pulso. — Foi feito por um dos meus

antepassados de uma árvore muito mágica que cresce na borda do

Mundo Inferior, e infelizmente para mim, os monstros são atraídos para

ele como insetos para um churrasco. — Então por que você não tira ele? — Helen perguntou, como se

fosse completamente estúpido. — Porque você, o Sua Escolhida Singularidade, pode ir e vir aqui

quando quiser. — Ele segurou separando alguns juncos altos para ela

passar entre eles. Helen estava prestes a discutir esse ponto, mas ela não teve a chance. — Eu preciso do Ramo para abrir os portões entre os mundos. Se eu não o tenho comigo, eu estaria apenas me locomovendo

dentro de um sistema de cavernas em Massachusetts agora. Totalmente perdido.

— Cavernas? — Helen perguntou conforme ela se lembrava de Orion mencionar isso antes. — O portão para o Mundo Inferior é em uma caverna em Massachusetts? — ela perguntou incrédula. Orion sorriu

para ela e explicou. — Há centenas, talvez milhares de portões para o Mundo Inferior

espalhados por todo o mundo. A maioria deles são em lugares realmente frios no fundo de cavernas. Eles estão “entre” lugares que não se tornam portões do Mundo Inferior sem algum tipo de chave. Tanto quanto eu sei, o Ramo é a única relíquia restante que pode fazer isso, e porque eu sou o Herdeiro de Eneias, eu sou praticamente a única pessoa que pode usá-

lo. Isso fez sentido para Helen. Ela usava o cinturão, uma antiga

relíquia da deusa Afrodite, e só as mulheres que nasceram na Casa de

Atreu poderiam empunhá-la. — Mas eu pensei que magia não funcionasse aqui em baixo — Helen

disse quando ela tocou automaticamente seu colar de coração. Ela sabia que a magia do cinturão não funcionava no Mundo Inferior ou ela nunca teria sido ferida aqui, e ela se machucou quase todas as vezes que ela

desceu. — Apenas magia do Mundo Inferior funciona no Mundo Inferior —

Orion respondeu. — Este é um universo diferente do nosso, e ele tem

suas próprias regras. Você deve ter notado isso. Nós nem sequer temos nossos poderes de Descendentes aqui embaixo.

— Sim, isso eu tenho notado — Helen disse. Intrigada pela sua inflexão preeminente, Orion olhou para ela quando ele colocou para baixo a alta vegetação para percorrer o caminho. Ele fez uma pausa em seus

pensamentos, e depois riu quando ele descobriu o que Helen queria dizer. — O cão do inferno! Você apenas ficou lá parada com os olhos

arregalados! Os ombros de Helen começaram a tremer com o riso envergonhado.

— Eu não sabia o que fazer! Eu não sei como lutar sem o meu raio!

— Você congelou como se estivesse tendo um ataque de asma ou algo assim — ele riu. — Por um segundo eu pensei que eu precisava ter

uma conversa com Daphne sobre se eu deveria levar um inalador de reserva...

Ele parou quando percebeu quão rapidamente o humor de Helen

mudou com a menção de sua mãe. Ela odiava como ele poderia

simplesmente chamá-la de “Daphne” assim, como se eles fossem

melhores amigos ou algo assim. — Tão ruim assim, hein? — ele perguntou em voz baixa após um

momento de silêncio tenso. — Eu não sei o que você quer dizer — Helen respondeu em um tom

monótono irritado. Ela virou com a intenção de fazer a sua própria trilha

através dos juncos, mas Orion colocou a mão em seu ombro e virou ela de volta.

— Eu sou um Vadio também — ele disse suavemente. — Eu sei como

é odiar sua família. A raiva de Helen evaporou com a visão de seus olhos tristes. Uma de

suas mãos estendeu para tocá-lo, e ela teve que arrebatá-la de volta no último segundo. Ela tinha esquecido por um momento que Vadios como ela só poderiam ser reivindicados por uma Casa. Metade da família de

Orion seria obrigada a matá-lo se eles encontrassem ele, o que eles com certeza iriam fazer. As Fúrias trabalhavam como ímãs, atraindo os lados

opostos juntos até finalmente colidirem. Helen tinha estado escondida em uma pequena ilha, e a Casa de Tebas ainda a tinha encontrado; ela só poderia assumir que algo semelhante havia acontecido com Orion.

— Você e sua família encontraram uma maneira de contornar as Fúrias? Você sabe, como eu fiz com os Delos? — ela perguntou suavemente. Helen não queria dizer especificamente o nome de Lucas ou

falar sobre como os dois haviam caído e salvado um ao outro, ela só esperava que Daphne tivesse esclarecido Orion com algumas partes de

sua história. — Não — ele disse em uma voz firme, entendendo o que Helen quis

dizer imediatamente. — Eu ainda devo a minha dívida de sangue para a

Casa da minha mãe, a Casa de Roma. — Mas você pode estar com ela, pelo menos, certo? — Helen

perguntou timidamente. — Não, eu não posso — ele disse de uma forma definitiva. Helen

lembrou que ele era o Chefe da Casa de Roma, e não o Herdeiro. Ele deve

ter herdado o título de sua mãe quando ela morreu. — Então você foi reivindicado pelo lado do seu pai? A Casa de

Atenas? — ela perguntou, fazendo um esforço para mover a conversa para longe de sua mãe.

— Isso mesmo — ele disse, afastando-se de Helen para acabar com

a linha de perguntas. — Ei, sinto muito, mas eu só estou tentando entender isso direito.

Você foi o único que trouxe a coisa toda sobre a família em primeiro lugar.

Perguntando sobre minha mãe. — Você está certa, eu toquei no assunto. — Orion ergueu as mãos e

fez um som frustrado. — Eu sou bom em ouvir, não falar, e eu não tenho ideia do que você está sentindo agora, porque eu não tenho meus poderes. Eu não posso ler o seu coração, e isso está me deixando louco.

— Ele balançou a cabeça em um pensamento. — Eu acho que essa é a maneira que os caras normais se sentem, hein? É realmente assustador,

então me dê um segundo, ok?

— Tudo bem. — Helen não podia olhar para ele. Ela não confiava em

si mesma inteiramente com Orion. — Eu vou começar de novo — ele disse, quase como se estivesse

avisando ela. Helen balançou a cabeça e se encontrou rindo nervosamente novamente.

— Certo. Comece pelo começo desta vez. — Helen firmou a voz dela,

tentando não parecer tão risonha. Isso era irritante. — Certo. Aqui vai. Eu sou Chefe da Casa de Roma, mas porque eu

fui reivindicado pela Casa de Atenas, a Casa de Roma me caça desde o dia em que nasci. Mas por outras razões muito complicadas, a Casa de Atenas nunca me aceitou, também. — Orion olhou para Helen como se

estivesse se forçando a pular de um penhasco. — Quando eu tinha dez anos, meu pai, Dédalo, se tornou um Banido para me defender dos meus primos. Ele teve que matar um dos filhos de seu próprio irmão para me

proteger. Desde então eu não tenho sido capaz de ir a qualquer lugar perto dele. As Fúrias nos fazem tentar matar...

— Sim. — Helen o interrompeu rapidamente para que ele não tivesse que explicitar o que ele tentou fazer. Orion acenou para ela, em silêncio, agradecendo-lhe por parar ele.

A imagem de tentar matar Jerry passou pela cabeça de Helen e ela empurrou para longe, incapaz de suportar a ideia de atacar seu próprio

pai. — Todo mundo que eu sou relacionado quer me matar por uma

razão ou outra, e por causa disso eu estive na clandestinidade durante a

maior parte da minha vida. Então, eu sinto muito que eu tenha sido todo agressivo com você, mas não é fácil para mim me abrir assim, porque... bem, é geralmente fatal para mim chegar perto de alguém.

— Você tem estado completamente sozinho desde que você fez dez anos, não é? — Helen perguntou em voz baixa, ainda incapaz de envolver

sua cabeça sobre tudo o que ele tinha dito a ela. — Fugindo de ambos os lados de sua família?

— E escondendo o fato de que eu existo dos Cem. — Orion olhou

para o chão para esconder o olhar sombrio em seus olhos. — Daphne me ajudou quando ela podia. Ela estava lá na primeira vez que a Casa de

Atenas veio me matar. Ela tentou ajudar o meu pai, e ela salvou a minha vida. O que pagou o seu lado da dívida de sangue com a minha Casa, embora eu ainda deva a Casa de Atreu. Daphne não lhe disse nada disso?

— Como eu disse, minha mãe e eu não conversamos muito. — Era demais pensar que Daphne deveria ter lhe dado um alerta sobre isso? Algo ainda incomodava Helen. — Como ela encontrou você e seu pai para

começar? — Daphne esteve em uma missão para ajudar os Vadios e os

Banidos por uns vinte anos agora. Ela viajou por todo o mundo, e porque as Fúrias atraem Descendentes para se juntarem, sempre que ela encontrava um Descendente ela encontrava um confronto. Ela tem uma

tonelada de histórias incríveis. Eu não posso acreditar que ela nunca lhe contou nada disso.

Mas, é claro, Helen não sabia o que Orion estava falando. Ela mal

sabia alguma coisa sobre Beth Smith-Hamilton, sua suposta mãe, mas ela sabia ainda menos sobre Daphne Atreu.

— De qualquer forma, ela salvou muitas vidas, inclusive a minha, e agora sua mãe pode estar com qualquer membro de qualquer Casa. É por isso que ela é a líder dos Vadios e Banidos.

O queixo de Helen caiu. Sua mãe era uma heroína? Sua mãe não confiável, obscura e malandra — aquela que Helen não conseguia sequer

se lembrar — era algum tipo de salvadora dos Descendente? Se isso era verdade, então alguma coisa ou não estava certa no universo, ou a forma como Helen compreendia isso não estava certa.

— Ouça, parte da razão pela qual eu disse tudo isso foi porque eu achei que poderia tornar mais fácil para você perdoar Daphne se eu contasse. E, por favor, acredite em mim sobre isso... você tem que perdoar

sua mãe, Helen. Não por causa dela, mas para o seu próprio bem. — Por que você está defendendo Daphne? — Helen perguntou a ele

com desconfiança. Ela pensou sobre a influência do cinturão e se perguntou se Daphne estava controlando ele. — Ela lhe pediu para dizer todas essas coisas para mim?

— Não! Você está entendendo mal o que eu... Daphne nunca me pediu para dizer nada — ele gaguejou. Helen fez um som de escárnio que

o impediu de continuar. Ela estava com raiva de novo, mas ela não sabia exatamente o porquê. Não sabendo o que a deixou ainda mais irritada. Ela passou por ele e começou a marchar através das ervas daninhas.

Helen atravessou a grama alta e começou a subir uma colina íngreme que estava abominável com os restos de um castelo medieval tombando. Quando ela passou uma escada de pedra que se quebrou no

ar, Helen se perguntou por que ela estava tão irritada. Ela percebeu que não era apenas uma coisa. Várias coisas foram passando por ela

simultaneamente, e ela agora estava enfrentando elas ao mesmo tempo. Primeiro, Daphne tinha enviado Orion para o Mundo Inferior sem se

preocupar em mencionar. Segundo, Cassandra estava impedido Claire e

Matt de ajudá-la quando era seu traseiro que estava se arrastando através do Mundo Inferior todas as noites, não o de Cassandra. E Lucas...

como ele poderia tratá-la tão terrivelmente? Mesmo que ele a odiasse, como ele poderia fazer isso com ela? Pela primeira vez, Helen sentiu raiva pelo que ele tinha feito, ao invés de devastada.

Enquanto ela caminhava ao longo, levando seus sentimentos sobre o chão, Helen percebeu que, acima de tudo, ela estava com raiva de si mesma. Ela estava tão paralisada de tristeza que ela havia parado de

fazer escolhas. Ela se permitiu derivar ao longo como uma garota desamparada. Isso tinha que acabar.

Quando ela estava sem ar da caminhada até o declive íngreme a um ritmo vertiginoso, Helen se inclinou contra um maciço bloco de granito com musgo que uma vez foi parte da parede exterior do castelo mofando.

Ela se virou para sorrir para Orion, que estava lutando para acompanhar ela.

— Você sequer sabe por que está aqui? — ela retrucou.

— Eu estou aqui para ajudar — ele disse através de respirações

ofegantes. — Você me disse que minha mãe mandou você. Você sabe o que o

cinturão é? — Filho de Afrodite, a propósito — ele disse apontando para si

mesmo. — O cinturão não funciona em mim. Daphne só pode influenciar

corações. Eu posso controlá-los. — Oh, uau. Isso é um poder muito aterrorizante — Helen

murmurou, momentaneamente desviada do assunto. — Mas você ainda parece muito disposto a fazer seja o que for que Daphne lhe disser para fazer. Ela tem algo contra você?

— Não! Eu não estou aqui por causa de Daphne, sua lunática! Eu estou aqui porque eu acho que o que você está tentando fazer é incrível,

e provavelmente a coisa mais importante que qualquer Descendente tem feito desde a Guerra de Tróia! As Fúrias destruíram a minha família, e não há nada que eu queira mais do que impedi-las de fazer isso para

mais alguém. Você é Aquela que Desce, e esta é a sua tarefa, mas você é uma constrangedoramente má lutadora sem seus poderes. Eu estou aqui

para tirar você de qualquer buraco fedorento que você caia para que você realmente viva tempo suficiente para fazer o que você está destinada a fazer!

Helen fechou a boca com um estalo. Era óbvio que Orion estava sendo honesto. Ele não tinha nenhum plano oculto, mesmo que ela ainda

suspeitasse que Daphne tinha. Na verdade, quanto mais fundo Helen olhava nos olhos dele, mais convencida ela ficava que ele faria qualquer coisa para ajudá-la a parar as Fúrias.

O Ramo de Eneias era um ímã para monstros, mas ela podia ver que Orion precisava ajudá-la de qualquer maneira que ele pudesse ou ele iria enlouquecer apenas observando. E Helen sabia que ela iria enlouquecer

de tristeza se ela tivesse que fazer isso sozinha. Ela precisava de ajuda, e Orion precisava lhe ajudar — de certa forma, era perfeito.

— Eu sinto muito, Orion. O que eu disse foi injusto. É só que eu sinto que muitas pessoas estão tentando me dizer o que fazer agora, mas ninguém está realmente me dizendo nada... — Helen parou, lutando para

encontrar as palavras certas. — Entendi. Você é tão crucial que todo mundo tem medo de dizer a

coisa errada para você. — Ele se sentou e descansou por um momento sobre a grama. — Mas eu não tenho medo, Helen. Vou lhe contar tudo o que sei, se você quiser que eu conte.

Um uivo sinistro ecoou pelo vale. Orion pulou e estalou a sua cabeça ao redor, buscando a fonte. Ele estendeu a mão sob a sua camisa e pegou

a longa faca que estava escondida debaixo enquanto ele segurava o ombro de Helen e começou a empurrá-la na frente dele enquanto ele se movia.

— Colina acima — ele ordenou com a voz tensa.

Helen esticou a cabeça para olhar para trás e pegou um vislumbre de uma mancha distante de juncos sendo ceifados em um golpe. A

ameaça estava esmagando seu caminho em direção a eles. Helen tinha visto o suficiente para saber que o que quer que estivesse fazendo o seu caminho através do pântano era gigantesco.

Sem sua força e velocidade de Descendente, ela sentiu como se

estivesse mal indo mais rápido do que uma caminhada. Orion forçou ela até o topo da colina íngreme, uma mão sobre a faca e uma mão na parte

inferior das suas costas para impedi-la de perder o equilíbrio. A coisa na grama estava alcançando eles.

— Vá! — Orion gritou em seu ouvido.

— O que você quer dizer com vá? Ir para aonde? — ela gritou, sem entender. Orion empurrou ela tão forte quanto podia em direção a um lugar mais alto, e ela tropeçou para frente sobre suas mãos e joelhos.

Ela olhou por cima do ombro para Orion, que estava a poucos passos de distância, de frente para a coisa que Helen podia ouvir sibilando em

direção a eles, mas não podia ver ainda. Orion olhou por cima do ombro para ela, seus olhos verdes tão intensos que quase brilhavam. Helen tinha visto aquele olhar antes e sabia o que significava. Isso significava

que ele estava se preparando. Ela não podia fugir e deixá-lo lutar com essa coisa sozinho. Ela deslizou de volta para baixo para ficar com ele.

— Saia daqui! — ele gritou. — E onde diabos eu deveria...

Traduzido por I&E BookStore

sol estava começando a surgir. Helen acordou em sua cama, congelando e estendendo a mão para agarrar-se a um menino que

nunca tinha estado em seu quarto.

— Não! — ela exclamou com a voz entrecortada. Sua respiração soprou para fora de sua boca como fumaça no quarto abaixo de zero. —

Oh, não, não, não, isso não pode estar acontecendo! Helen saiu da cama e cambaleou até sua cômoda com as pernas

dormentes para pegar o seu telefone. A luz de uma mensagem estava

piscando. Ela entrou em suas mensagens e leu: Que droga. Vou para a cama agora. Mande mensagem para mim

mais tarde.

Ela sentou-se na beira da cama. Um riso aliviado borbulhava por entre seus dentes batendo enquanto ela estremecia em seu quarto

congelando. Ela verificou a hora; Orion tinha mandado a mensagem às 4:22 da manhã. Eram 6:30 agora, e Helen se perguntou se isso era tarde o suficiente. Decidindo que era tolice não tentar entrar em contato com

ele, ela mandou de volta: Vc ainda tá inteiro?

Ela esperou alguns minutos, mas não obteve resposta. Helen queria voar para o continente e verificar Orion na Milton Academy, mas a última coisa que ela precisava era entrar em apuros por faltar aula. Finalmente,

ela teve que deixá-lo e começar a se preparar para a escola. Helen levantou-se, e quando ela o fez, ela viu que ela ainda estava

vestindo a jaqueta de Orion. Ela já podia ouvi-lo brincando com ela sobre

isso, embora desta vez, roubar sua jaqueta não tinha sido culpa dela. Ela inclinou o rosto para baixo, deslizando lentamente sua bochecha e lábio

inferior através da gola. Ela cheirava como ele — fresca e um pouco selvagem, mas ainda segura de alguma forma.

Encolhendo os ombros com impaciência para fora das mangas e

dizendo a si mesma para não ser tão tola, Helen entrou no banheiro para tomar um banho. Ela levou o telefone com ela, no caso de Orion tentar

entrar em contato com ela, e lembrou-se de lavar o cabelo. Ela ainda teve tempo para condicioná-lo.

Quando ela se enxugou com a toalha e escovou os dentes ela pensou

sobre como ela precisava parar de ficar à mercê do Mundo Inferior. Ela tinha estado vagando sem rumo por... bem, por muito mais tempo do que o tempo do mundo real refletia. Ela devia a Orion fazer um plano melhor.

Na escola, a primeira coisa que Helen fez foi rastrear Cassandra. — Precisamos nos encontrar esta noite — Helen disse a ela.

— Ok — Cassandra respondeu calmamente. — Alguma coisa aconteceu na noite passada?

O

— Há algo que eu preciso dizer a toda a família. E eu estou

convidando a todos. Claire, Jason, Matt e Ari — Helen adicionou quando ela recuou para o corredor lotado.

— Eles não estão prontos — Cassandra gritou em protesto, mas Helen a cortou.

— Então faça eles ficarem prontos. Estou cansada de perder tempo.

— Helen não deu a Cassandra uma chance de discutir. — Vocês estão a fim de um pouco de grego antigo hoje à noite? —

Helen perguntou a Matt e Claire na sala de aula. — Sim! — Matt respondeu animadamente, como o supernerd que

ele era. — Precisamos levar alguma coisa?

— Claire? — Helen perguntou com um encolher de ombros, compreendendo que Matt estava perguntando sobre o que era necessário para que se tornassem ordenados. — Você foi a pessoa que encontrou o

livro. — Eu não saberia — ela disse. — Eu não li a coisa toda. Eu não sou

ativamente suicida. — Tenho certeza que Cassandra vai saber. Nós vamos descobrir isso

hoje à noite — disse Helen, confiante.

— Por que a grande mudança? — perguntou Matt. — Da última vez que verifiquei, você estava em cima do muro sobre nós nos juntarmos ao

“grupo de estudo”. — E olha como isso tem funcionado para mim — disse Helen. —

Vamos encarar, Matt, você e Claire estiveram me ajudando a preparar

para testes desde que estávamos no jardim de infância. Ontem à noite eu percebi que eu tenho tentado fazer este teste por conta própria, e é provavelmente por isso que eu continuo falhando.

Ela teria dito a Matt sobre Orion, mas ela notou Zach olhando para ela, e decidiu esperar até a noite para dizer a todos juntos. O sinal tocou

e encerrou a conversa. Helen partiu para sua primeira aula se perguntando o que Zach tinha ouvido, e o quanto ele seria capaz de entender.

Orion não entrou em contato com Helen novamente até o almoço, e quando ele o fez tudo o que ele enviou foram pequenas rajadas de

palavras como zzz e taco e H2O. Helen conseguiu relacionar. Ela não sabia quanto tempo ela e Orion tinham passado no Mundo Inferior na noite anterior, mas como de costume ele a tinha deixado cansada, com

fome e incrivelmente sedenta. Pelo menos agora havia alguém em sua vida que sabia o que ela estava realmente passando lá em baixo. Ela se

perguntou como ele conseguia sair do inferno com todas as suas partes do corpo ainda ligadas, mas sua resposta foi: “Vai me dar uma cãibra no polegar”. Depois disso, Helen percebeu que ele estava planejando dizer a

ela em pessoa, ou ele queria evitar uma repetição por completo, de modo que ela deixou para lá.

Naquela noite, Cassandra concordou em ordenar Matt, Claire, Jason

e Ariadne na arena com Castor, Pallas, Helen e Lucas como testemunhas. Ela recitou algumas coisas em grego antigo, enquanto ela queimava

algumas lenhas resinosas em um disco de bronze que Jason lhe disse que era chamado de braseiro. Então Castor pegou uma gaiola cheia de

pássaros pequenos que começaram a piar assim que eles foram

descobertos. — Espera, para quê são eles? — Claire disse em uma voz que

pareceu perigosamente perto de um guincho. — Fique feliz que a cerimônia não pediu algo grande, como um

cavalo ou uma vaca — disse Jason como um comentário à parte para

Claire. Ele não estava brincando. Cassandra curvou-se gravemente ao pai e estendeu as mãos como

um prato. Castor pegou uma pequena lâmina do cinto e colocou-a sobre

as palmas das mãos de Cassandra. Quando ele fez isso, ela começou a brilhar verde, roxo e azul com os tons gelados da aura incalculavelmente

antiga e tripla do Oráculo. Possuída pelas três Moiras, Cassandra se virou para Matt e ofereceu a lâmina a ele primeiro.

— Corte a cabeça da oferta e jogue a carcaça no fogo, mortal. Você

foi achado digno — as três vozes soaram com uma beleza harmônica assustadora.

Após um momento de hesitação, Matt enfiou a mão na gaiola e pegou um pássaro lutando em uma mão e pegou a pequena faca na outra. À luz do fogo, Helen podia ver que o rosto de Matt era uma máscara de

desgosto, e suas mãos tremiam terrivelmente quando ele cortou. Felizmente, ele não vacilou, e o sacrifício acabou rapidamente.

Ariadne e Jason seguiram Matt de forma eficiente, como se tivessem feito

esse tipo de coisa antes, o que Helen assumiu que provavelmente tinham. Claire foi a única que empacou, e Jason teve de firmar suas mãos durante

toda a coisa. Quando todos os quatro tinham sido iniciados, as Moiras deixaram

Cassandra rapidamente, e o fogo apagou como se tivesse sido encharcado

com um balde de água. Cassandra cambaleou por um momento, oscilando em direção a Lucas, e depois finalmente conseguiu ficar de pé.

Quando todos eles fizeram o seu caminho de volta para a biblioteca, Claire começou a chorar um pouco, abalada com o que ela tinha feito. Helen queria ir até ela e confortá-la, mas Jason puxou Claire perto e se

inclinou para sussurrar algo reconfortante em seu ouvido. Por um momento, Claire escondeu o rosto contra o peito de Jason e o deixou guiá-la enquanto ela caminhava cegamente.

Com esse show de ternura, Helen não podia deixar de olhar para Lucas, que estava andando no outro lado do grupo. Ele estava tão longe

dela como ele poderia conseguir, e ele nunca olhou para nenhum deles. Helen olhou para longe. Ela sentiu um peso se estabelecer em seu peito novamente, mas desta vez a opressão que ela sentia estava se tornando

tão familiarizada que foi acoplada com outra coisa. Frustração. Ela tinha que parar de cair aos pedaços cada vez que ela olhava para Lucas e concentrar-se. Coisas demais estavam em jogo.

Quando todos eles voltaram para a biblioteca, Matt ainda estava um pouco verde. Helen começou a falar imediatamente para desviar

quaisquer dúvidas bem-intencionadas, mas provavelmente embaraçosas sobre se ele precisava ou não vomitar.

Ela contou a todos sobre Orion, suas lutas no Mundo Inferior, e sua

conexão com a mãe dela. Havia algumas dúvidas sobre como ele entrou

no Mundo Inferior, e mais do que uma explosão descrente de que

ninguém além dela poderia sobreviver lá. Helen explicou que Orion tinha o Ramo de Eneias, e ele lhe permitia viajar entre os mundos.

— E ele definitivamente não é apenas um espírito — disse Helen com certeza. — Ele me emprestou sua jaqueta, e ela ainda estava em mim quando eu acordei de manhã.

— E aquele arrombamento no Met? — disse Castor urgentemente a seu irmão assim que Helen mencionou o Ramo.

— Tem que ter sido. Tudo o que foi roubado foi uma peça antiga de

metal. A folha de ouro — respondeu Pallas. — E ela foi roubada por uma mulher desconhecida que andou direto até ela, atravessou a mão pela

placa de vidro e saiu. Uma mulher que não se preocupou em usar uma máscara, não usou nada além de suas mãos, e, aparentemente, não derramou uma gota de sangue.

— Deixe-me adivinhar — disse Helen pesadamente. — Minha mãe, certo?

— Mas por que Daphne roubaria o Ramo e depois simplesmente entregaria a Orion? — perguntou Jason. — É um objeto tão poderoso.

— Orion me disse que ele é descendente de Eneias, de modo que ele é o único que pode fazê-lo funcionar — respondeu Helen.

— Então ele é Herdeiro da Casa de Roma — Castor disse em uma

voz um pouco intimidada. — Ele é, na verdade, o Chefe dessa Casa. Como você sabe? —

perguntou Helen. — Você não leu a Eneida ainda, não é? — disse Castor, sem

reprovação. — Eneida era o melhor general de Hector na Guerra de Tróia,

e um dos poucos sobreviventes quando Tróia caiu. Ele também foi o fundador de Roma e o fundador da Casa dos Descendentes de Roma

— E ele era o filho de Afrodite. — Ariadne sorriu sugestivamente para

Helen. — Então esse Orion é tão gostoso como... Ai! Jason tinha chutado sua gêmea rudemente debaixo da mesa.

Quando ela olhou para ele, ele sacudiu a cabeça para ela para se certificar de que ela não continuasse. Enquanto isso, Helen sentiu como se seu rosto estivesse tentando explodir em chamas, embora ela não soubesse

exatamente o porquê. Ela não tinha feito nada para se envergonhar. — Você disse “dessa” Casa há pouco, quase como se ele estivesse

conectado a mais de uma — disse Lucas, sem levantar os olhos para encontrar os de Helen.

— Ele está — Helen gaguejou, olhando para qualquer lugar menos

para Lucas. — Orion é o Chefe da Casa de Roma, mas ele também é Herdeiro da Casa de Atenas.

A sala irrompeu em várias conversas ao mesmo tempo. Aparentemente, Orion era o primeiro Descendente a herdar duas casas, o que fazia sentido, Helen pensou, já que as Fúrias trabalharam tão duro

para manter as Casas separadas. Enquanto Helen pegava trechos de conversas da turbulência, tornou-se claro que havia uma profecia sobre Orion, e não era uma boa.

— Esperem! Acalmem-se — Helen interrompeu quando ela começou

a ouvir as pessoas falarem sobre Orion de uma forma que ela não gostava. — Será que alguém poderia por favor explicar isso para mim?

— Não há muito para explicar — disse Cassandra rapidamente. — Houve uma profecia feita antes da Guerra de Tróia por Cassandra de Tróia. Ela previu que haveria um Herdeiro Múltiplo, e achamos que

significa um Descendente que herda mais de uma Casa. Este Herdeiro Múltiplo, ou o “Receptáculo Onde Sangue Real de Descendente Foi Misturado” para ser exata, é uma das trindades de Descendentes que

achamos que supostamente devem substituir os três principais deuses — Zeus, Poseidon e Hades. Os três Descendentes poderão governar o céu,

os oceanos, a terra dos mortos, se eles conseguirem derrubar os deuses e tomar seus lugares, é isso. A existência do Herdeiro Múltiplo é um sinal de que o fim dos tempos está chegando ao fim. A batalha final está prestes

a começar. — Ele é conhecido como o Tirano — Lucas disse em voz baixa, e

todos os olhos se voltaram para ele na sala imóvel. — Ele é descrito como sendo “nascido da amargura”, e ele supostamente é capaz de “reduzir todas as cidades a escombros mortais”.

— Como um Descendente Anticristo? — Claire sussurrou para Jason, mas em uma sala abafada como essa, todo mundo ouviu a pergunta desesperada.

— Não, querida, não é exatamente o mesmo — disse Pallas suavemente enquanto ele estendia a mão para Claire e brevemente

apertou a mão dela. — No nosso entendimento, isso é quando nós Descendentes temos a chance de lutar por nossa imortalidade. Não é destinado a ser o fim do mundo. Dito isto, se a batalha final acabar mal,

a maioria dos mortais não vão sobreviver. A vinda do Tirano é um dos sinais de que tudo está começando.

— A profecia diz que as escolhas que o Tirano faz que antecedem a Batalha Final pode decidir todos os nossos destinos, dos deuses, dos Descendentes e dos mortais, igualmente. Isso é realmente tudo o que

sabemos — acrescentou Castor. — Lembrem-se, esta é apenas uma seção de uma profecia muito

longa e muito complicada. A maioria dela está desaparecida — Ariadne

explicou a Helen, Matt e Claire. — E há um pouco de debate sobre se o que temos foi escrito literalmente, ou se partes são apenas poesia, como

na Ilíada. — Então essa profecia poderia ser nada mais do que um monte de

palavras bonitas, mas vocês já decidiram que Orion é esse Tirano? — perguntou Helen, incrédula. Quando ninguém falou para negar isso, Helen continuou. — Isso é tão injusto.

Lucas deu de ombros, sua mandíbula apertada, mas manteve os olhos grudados no chão. O resto do clã Delos lançou olhares uns aos outros. Helen olhou de rosto em rosto, e, em seguida, jogou as mãos para

cima em frustração. — Vocês não o conhecem — ela anunciou na defensiva para todos.

— Nem você — Lucas rebateu duramente. Ele olhou para cima e encontrou seus olhos pela primeira vez em uma semana, e a força de seu

olhar puxou o ar direto para fora dos pulmões de Helen. Houve um

momento tenso, e todo mundo endureceu, observando Lucas. Ele baixou o olhar.

— Mas ele não é assim — disse Helen em quase um sussurro, e balançou a cabeça. — Orion nunca poderia ser um tirano. Ele é muito doce e, bem, compassivo.

— Assim como Hades — Cassandra disse, quase como se ela estivesse falando de um amigo desaparecido. — De todos os deuses,

Hades é o mais compassivo. Afinal, ele disse ser a pessoa que está observando com você quando a vida passa diante de seus olhos. Talvez seja a compaixão de Orion que faz dele o substituto certo para Hades.

Helen não tinha ideia de como argumentar contra isso, mas ela sabia em seu coração que era errado Cassandra comparar Orion com Hades, ou chamá-lo de tirano. Orion era tão cheio de vitalidade e otimismo — ele

até mesmo fez ela rir no inferno. Como pode um cara como ele tomar o lugar de Hades e se tornar a versão Descendente do deus dos mortos?

Isso não se encaixava. — Nada disto é uma verdade absoluta, Helen — Ariadne disse

quando ela viu quão irritada Helen estava ficando. — Se você diz que Orion é um cara bom, eu acredito em você.

— Orion tem passado por um monte de coisas por causa das Fúrias,

e ele está disposto a arriscar sua vida para me ajudar a se livrar delas, de modo que ninguém mais sofre como ele. Isso não é algo que uma pessoa ruim faria — Helen insistiu.

— Parece que você o conhece melhor do que você disse — Lucas disse rigidamente.

— Eu só falei com ele duas vezes, mas o tempo é diferente lá em baixo. Era como se dias tivessem passado. Eu não estou dizendo que eu sei tudo sobre ele, porque eu não sei. Mas eu confio nele.

Helen podia sentir ondas de irritação irradiando a partir de Lucas, mas ele não disse uma palavra. De certa forma, ela teria preferido que ele tivesse começado a gritar com ela novamente. Pelo menos então ela

saberia o que ele estava pensando. — Vamos esperar que você esteja certa, Helen. Para o bem de todos

nós — disse Cassandra, pensativa. Então ela se levantou e foi para os pergaminhos, essencialmente dispensando a todos. Tomando a dica, todos eles saíram da biblioteca e se dirigiram para a cozinha.

Noel tinha preparado uma minifesta para celebrar a ordenação dos primeiros novos sacerdotes e sacerdotisas de Apolo em provavelmente

cerca de um milhão de anos. Helen teve que sorrir para a refeição, apreciando o fato de que a família Delos fazia praticamente tudo com comida. Lutas, celebrações, convalescenças — cada ponto de viragem

importante e às vezes apenas manhãs de domingo mereciam um grande banquete. Isso tornava sua casa um lar. Helen sabia que ela era uma prima e que ela era uma parte desta família, mas ela não se sentia mais

bem-vinda. Se ela ficasse, ela sabia que Lucas iria embora. Helen ficou para trás, não querendo entrar na cozinha.

— Entre aqui e coma! — Claire ordenou alegremente, vindo por trás dela.

— Há! Eu pareço tão magra?

— Magérrima. — Eu não posso fazer isso, Claire — Helen disse com a voz rouca.

— Ele já foi embora, sabia. Ele simplesmente se foi. Mas eu entendo. — Claire deu de ombros. — É chato você não ficar e comemorar, mas eu não posso culpá-la. Eu não me sentiria confortável, também.

— Isso foi realmente corajoso da sua parte, sabe — Helen disse a ela a sério. — Foi preciso muita coragem para se juntar ao sacerdócio.

— Eu deveria ter feito isso antes — disse Claire calmamente. — Eu

deixei você passear lá em baixo sem qualquer ajuda por muito tempo e... bem, olhe para você. Sinto muito, Lennie.

— Estou tão ruim assim, hein? — Sim — Claire disse sem rodeios. — Você parece muito triste. Helen assentiu receptivamente. Ela sabia que sua amiga não estava

sendo cruel, apenas honesta. Ela deu em Claire um abraço e escapou antes que alguém pudesse dizer-lhe para entrar e se sentar. Helen estava

prestes a voar para fora quando ouviu alguém se aproximando do lado, movendo-se pelo gramado em direção a ela.

— Apenas me diga que você não está deixando ele no comando lá

embaixo — disse Lucas, em voz baixa. Ele parou quando ele estava a cerca de três metros longe dela, mas ainda assim ela se afastou dele. Havia algo sobre sua postura combativa que Helen não gostou.

— Eu não estou — ela disse. — Orion não é o que você pensa. Eu te disse, ele só quer me ajudar.

— Certo. Tenho certeza de que isso é tudo o que ele quer. — Lucas manteve sua voz monótona e fria. — Você pode brincar com ele tanto quanto você quiser, mas você sabe que você não pode realmente estar

com ele, não é? O queixo de Helen caiu. — Eu não estou com ele — ela bufou, quase

sem fôlego com o choque. — A questão toda é manter as Casas separadas — disse Lucas

amargamente, ignorando sua negação. — Não importa o quão charmoso

esse Orion seja ou quantas vezes ele lhe empreste o casaco, não se esqueça que ele é o Herdeiro de duas Casas e você é a Herdeira de outra.

Vocês nunca podem se comprometer um com o outro. — Ok. Vou tentar resistir a me casar com ele naquela pequena

capela bonita no inferno. Sabe, aquela mesma ao lado da poça podre

cheia de cadáveres? — Helen fervia. Ela queria gritar com ele, mas se obrigou a manter a voz baixa. — Isso é ridículo! Por que você sequer está

dizendo tudo isso para mim? — Porque eu não quero que você se desvie por algum Romano inútil

de olhos doces.

— Não fale sobre Orion desse jeito — disse Helen em voz baixa, advertindo-o. — Ele é meu amigo.

Helen tinha visto Lucas começar a ficar com raiva várias vezes antes, mas ela nunca tinha ouvido ele colocar ninguém para baixo tão insensivelmente. Isso era indigno dele. Ele pareceu sentir sua decepção

e teve que desviar o olhar por um momento, como se ele estivesse decepcionado com ele mesmo, também.

— Bem. Fique com o seu amigo — disse Lucas calmamente, seu

rosto controlado novamente. — Apenas se lembre que esta é a sua tarefa. O Oráculo disse que você era a única que tinha que concluí-la. Não fique

confusa. O que você está tentando fazer no Mundo Inferior é tão difícil que o Tirano pode não precisar lutar com você para fazer você falhar. Talvez tudo o que ele precise fazer seja distraí-la.

De repente, Helen estava cansada de ser repreendida por Lucas. Ele não tinha o direito de dizer a ela como se comportar, e ele certamente não

tinha que lembrá-la qual era seu dever. Ela deu um passo mais perto dele.

— Eu não estou distraída, e eu sei que esta é a minha tarefa. Mas

eu não vou para nenhum lugar lá sozinha. Você não tem ideia de como é a sensação de estar lá embaixo!

— Sim, eu tenho — ele sussurrou asperamente, quase antes de Helen ter parado de falar. Então Helen lembrou. Lucas tinha estado no Mundo Inferior também, na noite que eles caíram. Ela estava perto o

suficiente dele agora para ver os seus olhos, e eles estavam tão azul escuro que eles eram quase pretos e submersos. Seu rosto parecia mais

magro e muito pálido, como se ele não tivesse visto o sol em semanas. — Então você deve saber que é quase impossível andar por aquele

lugar sem alguém lá para ajudar — disse Helen, sua voz falhando um

pouco com a ideia de quão doente ele parecia. Mas ela não recuou. — E Orion está me ajudando, não me distraindo. Ele tomou uma série de riscos para estar lá comigo, e eu sei em meu coração que ele quer parar

as Fúrias tanto quanto nós, talvez até mais do que nós. Eu não acredito que ele seja o Tirano mau que todo mundo está falando. E eu não vou

julgar meu amigo com base em alguma antiga profecia que pode ou não ser um monte de bobagens poéticas.

— Isso é muito justo da sua parte, Helen, mas lembre-se que sempre

há um grão de verdade nas profecias, não importa o quanto a poesia seja fosca superficialmente.

— O que há de errado com você? Você nunca costumava falar assim!

— exclamou Helen, erguendo a voz para um grito pela primeira vez. Ela não se importava se toda a família viesse correndo e os visse a sós. Ela

deu mais um passo em direção a ele, e desta vez, ele foi o único a dar um passo atrás. — Você costumava rir de toda essa baboseira de “destino inevitável”!

— Exatamente. Ele não teve que terminar seu pensamento em voz alta. Ela sabia

que ele estava falando sobre eles dois. Lágrimas começaram a aquecer os olhos de Helen. Helen sabia que não podia se emocionar na frente dele ou ela iria realmente enlouquecer. Antes que ela pudesse começar a

chorar, ela saltou para o céu da noite e voltou para casa.

* * *

O amanhecer estava próximo. O céu começou a desaparecer de um preto mais profundo para um azul da meia-noite, e em breve ele iria iluminar com a cor do nascer do sol. Daphne não sabia se isso era uma

coisa boa ou não. Ela tinha parado de tremer horas atrás, o que

significava que ela estava se tornando hipotérmica. O sol iria aquecê-la, mas também iria desidratá-la ainda mais. Ela tinha usado a maior parte

da água em seu corpo gerando raios não-letais para usar em Tantalus, e isso foi antes de ela mesma ter se jogado no oceano mais de vinte e sete horas atrás.

Ela mudou de posição nos pedaços de destroços que ela agarrou depois de arremessar seu corpo para fora da janela. Ela havia caído bem mais de trintas metros nas ondas revoltas, e em seguida, chocou-se

repetidamente contra as rochas. O corte em sua testa havia fechado, e três de suas quatro costelas quebradas foram consertadas, mas a quarta

não curaria até que ela comesse e bebesse. Seu pulso esquerdo ainda estava quebrado também, mas suas costelas a atormentavam mais. Cada respiração, cada ascensão e queda da água, quase parecia como a última.

Mas não era bem assim. Daphne levantou a cabeça e esticou-a ao redor dolorosamente para

encontrar terra. A maré estava mudando. Ela a traria de volta para mais perto da costa, como ela fez na manhã anterior. Ela só podia esperar que os guardas de Tantalus ou tivessem abandonado sua busca por ela pela

praia ou que ela tivesse sido levada longe o suficiente para que ela pudesse permitir que ela chegasse na sua coleção patética de rede de pesca inútil, isopor e os galhos à deriva em terra. Ela sabia que não

poderia durar para sempre na água. Sua jangada estava começando a afundar. Com guardas ou não, Daphne teria de ir para a terra em breve

ou se afogaria. Ela permaneceu abaixo, olhando para a praia cada vez que as ondas

permitiam. Ela viu um grande homem correndo em direção a borda da

água mais rápido do que os olhos de um mortal podiam ver. Ele se despiu até a cintura enquanto ele corria pela areia, seus cachos loiros brilhando

dourados nos primeiros raios da aurora piscando. Seu amado Ajax, um verdadeiro filho do sol, tinha vindo com o

amanhecer para resgatá-la.

Daphne tentou gritar com alegria e descobriu que ela não podia fazer mais do que soltar um chiado através de sua garganta inchada. Apesar de ter feito os lábios rachados sangrarem, ela sorriu com a visão de seu

belo marido, que estava prestes a pegá-la em seus braços e levá-la para longe de todos os perigos. Assim como sempre fazia, antes de ser

assassinado. Se Daphne pudesse ter chorado nesse momento, ela teria. Ajax

estava morto, ela lembrou-se de novo, e doeu tanto quanto naquele

primeiro momento. Por que lutar tanto para viver quando seu amado estava esperando por ela perto do rio Styx? Ela pensou na terrível mentira que havia dito a sua filha e por um momento ela se arrependeu de deixar

Helen acreditar que ela era prima de Lucas, agora que ela ia morrer. Seu corpo ferido relaxou, com os olhos ainda fixos no gêmeo de seu marido.

As coxas grossas do homem bateram na água, de alguma forma resistindo ao arrastar normal. Deslizando sob a superfície, ela o viu dobrando-se como um canivete através das ondas. Quando suas orelhas

ficaram submersas, Daphne ouviu Hector, filho de Pallas, falar com o mar

e pedir-lhe para apoiar seu corpo rendido. Daphne sentiu seu rosto inclinado para trás em direção ao ar, e

tomou uma respiração irregular e engasgada. Ela tossiu a água salgada vil borbulhando para fora de seus pulmões, tentando e falhando em dizer as palavras Myrmidon e Helen. Mas tudo o que ela podia ver era o rosto

preocupado de Hector. No final de sua resistência, Daphne finalmente perdeu a consciência.

Traduzido por I&E BookStore

elen não viu Orion nos próximos dias. Ela teve que descer a cada noite se queria ou não, mas ela lhe disse para não desperdiçar

seu tempo se encontrando com ela até que eles tivessem um plano.

Eu estou melhor sozinha, por enquanto, ela mandou uma mensagem enquanto Claire dirigia para a escola. Afinal de contas, os

monstros acham que você é o delicioso. Monstros inteligentes. Eu sou saboroso. Quem disse?

Não acredita em mim? Veja por si mesma. É? Como? Me morda.

Helen começou a rir. Claire olhou para ela enquanto caminhavam em frente ao estacionamento.

— Sobre o que vocês dois estão falando? — Claire perguntou. — Nada importante — Helen murmurou, escondendo o telefone na

bolsa.

Enquanto ela e Orion mandavam mensagem ao longo do dia, fazendo piadas sobre quão exaustivo era levar uma vida dupla, Helen começou a

ter a sensação de que ele estava um pouco aliviado demais por ter dado uma pausa.

Você não tem que pular de alegria com o pensamento de não me

ver esta noite, sabia, ela digitou irritada em seu caminho para o almoço. NÃO estou feliz por que eu não vou vê-la. Tô feliz pq eu preciso

estudar. Não posso pagar minha hospedagem sem bolsa integral, e minha bunda quebrada não tem outro lugar para ir. Notas ruins =

Orion desabrigado. ☹

Helen olhou para a mensagem dele, com a sobrancelha franzida. Ela

podia dizer que ele tinha colocado o rosto triste no final para tornar claro o que ele escreveu, mas não funcionou. Ela pensou sobre o que significava não ter nenhum lugar para viver além do internato.

Onde você fica durante as férias de verão? Férias de natal? Você fica nos dormitórios sozinho?

Oh, cara. Isso é um problema... ele mandou uma mensagem após uma longa pausa. No verão eu trabalho. No natal sou voluntário.

E quando você era criança? Quando você só tinha 10 anos?

Helen lembrou que ele tinha dito a ela que ele tinha estado por si próprio desde então. Você não poderia ter tido um emprego tão jovem.

Não neste país. Olha, apenas esqueça isso, ok? A aula está começando.

— Helen? — Matt perguntou, reprimindo um sorriso. — Você vai

trocar mensagens com Orion durante todo o almoço?

H

— Desculpa — disse Helen com uma expressão sombria. Ela colocou

o telefone longe, se perguntando que país Orion quis dizer. Ela o imaginou como um garotinho, tendo que trabalhar em algum

estabelecimento escravizante horrendo que tolerava a utilização de trabalho infantil, e começou a ficar com raiva.

— Aconteceu alguma coisa entre vocês dois? — perguntou Ariadne.

— Você parece triste. — Não. Está tudo bem — disse Helen tão alegremente quanto podia.

Todo mundo estava olhando para ela como se eles não acreditassem nela,

mas ela não poderia dizer a eles sobre o que a mensagem era. Era particular.

Orion enviou-lhe uma mensagem com “boa sorte no mundo inferior” naquela noite, mas ele mandou tão tarde que Helen não recebeu até a manhã seguinte. Era óbvio que ele estava se esquivando dela —

provavelmente porque ele não queria falar sobre sua infância. Helen decidiu deixá-lo em paz até que ele confiasse mais nela. Isso não era algo

que ela poderia apressar, mas ela ficou surpresa ao descobrir que ela não se importava de esperar. E daí se ela teria que trabalhar um pouco mais para ganhar sua confiança? Ele valia o esforço extra.

— Isso é Orion? — Claire perguntou, seus olhos se estreitando quando Helen saltou para pegar seu telefone vibrando.

— Ele disse que encontrou alguma coisa — disse Helen, ignorando

a inquietação de Claire. Sua melhor amiga lhe lançou um olhar preocupado, e Helen

esperava que Claire fosse deixar para lá. Ela não tinha a energia para lidar com um interrogatório de “Você gosta deste menino, ou gosta deste menino?” da sua melhor amiga, especialmente quando muita coisa

estava em jogo. — O que é? — perguntou Cassandra.

— Uma página do diário privado de Marco Antônio, que fala muito sobre a vida após a morte. Ele quer saber se você quer que ele digitalize e envie por e-mail para você.

Cassandra esfregou os olhos. Eles haviam estado trancados na biblioteca dos Delos todos os dias depois da escola por três noites

seguidas, procurando por algum tipo de pista que poderia levá-los a um plano. Até agora nada tinha aparecido.

— Espera, Marco Antônio? Tipo o Antônio e Cleópatra? — perguntou

Ariadne com estrelas em seus olhos. — Ela era fodona. Helen sorriu, concordando, e digitou a pergunta para Orion. Ela fez

uma pausa para ler a sua resposta. — Sim, o mesmo romano. Acho que ele é um parente do lado do primo da mãe dele. Parece muito complicado, mas a mãe de Orion está relacionada tanto com Marco Antônio como com

Júlio César se você voltar longe o suficiente. — Sim, mas voltando longe o suficiente e até mesmo você e eu

poderíamos estar relacionadas, Len — disse Claire ironicamente. Ela

afofou o cabelo preto para apontar quão geneticamente diferentes ela e a loira Helen eram.

— Hum. Eu nunca tinha pensado nisso desse jeito, mas provavelmente você está certa, Risadinha — Helen meditou. Uma ideia

perturbadora começou a brotar em sua mente, mas Cassandra

interrompeu o pensamento meio-formado de Helen. — Helen, diga a Orion para não se incomodar. Marco Antônio estava

tentando se tornar faraó, então ele só teria estado interessado na vida após a morte egípcia. — A frustração crescente de Cassandra era óbvia.

Helen começou a digitar a resposta de Cassandra, acrescentando o

“muito obrigada” que Cassandra tão flagrantemente omitiu. — Espere um segundo, Len — Matt disse antes que ela pudesse

enviá-la. — Só porque as informações de Orion são de uma cultura

diferente não significa que estejam incorretas. — Eu concordo com Matt — disse Jason, se recuperando de seu

estupor de estudo. — Os egípcios eram obcecados com a vida após a morte. É possível que eles sabiam mais sobre o Mundo Inferior do que os gregos. Eles poderiam ter exatamente a informação que Helen precisa

para navegar para lá. Nós poderíamos ignorar isso se estivermos inclinados a favorecer os gregos.

— Claro, é possível que os egípcios tinham um mapa tridimensional do Mundo Inferior completo com senhas mágicas! — Cassandra respondeu sarcasticamente quando sua frustração transbordou. — Mas

Marco Antônio era um invasor romano. Um sacerdote egípcio iniciado com o nível de conhecimento que Helen precisa teria morrido antes de

dizer a um conquistador até mesmo um dos segredos sagrados do Mundo Inferior!

Todo mundo sabia que Cassandra estava lembrando-lhes que o

mesmo nível de devoção era esperado dos novos sacerdotes e sacerdotisas de Apolo. Jason e Ariadne tinham sido criados para lidar com esses tipos

de expectativas. Matt e Claire pararam para pensar sobre isso. Helen viu seus dois amigos mais antigos dando-se olhares preocupados. Quando ambos pareciam preparar-se, ela não podia evitar de se sentir orgulhosa.

Helen olhou ao redor da sala, pensando por si mesma quão impressionantes seus amigos eram, quando seus olhos pousaram em Jason. Ele estava olhando para Claire como se ela tivesse acabado de

cancelar o Natal. Quando ele viu que Helen estava olhando para ele, ele desviou o olhar rapidamente, mas ele ainda parecia pálido para Helen.

— O que realmente precisamos são as Profecias Perdidas. — Cassandra começou a andar.

— O que não iria fazê-las ser as Profecias “Encontradas”? — Matt

brincou. — Ok, eu vou morder a isca — disse Claire, ignorando o trocadilho

ruim. — O que são as Profecias Perdidas? — É um mistério — Jason respondeu com um aceno de cabeça. —

Elas deveriam ser uma coleção das profecias que Cassandra de Tróia fez

imediatamente antes e durante os dez anos da Guerra de Tróia. Mas ninguém sabe o que tem nelas.

— Isso é grande. Como elas se perderam? — perguntou Claire.

— Cassandra de Tróia foi amaldiçoada por Apolo para profetizar sempre com perfeita clareza — o que não é fácil, a propósito — mas nunca

foi acreditado — disse Cassandra distraidamente.

Helen se lembrou da história, apesar de ter sido apenas uma

pequena parte da Ilíada. Apolo se apaixonou por Cassandra de Tróia bem antes da guerra. Quando ela lhe disse que queria permanecer virgem e

rejeitou seus avanços, ele a amaldiçoou. Uma jogada idiota, se alguma vez houve uma.

— A maldição de Apolo fez todo mundo achar que Cassandra estava

louca. Os sacerdotes ainda mantinham registros do que ela previu durante a guerra, mas não acho que eles eram muito importantes. A

maioria deles foi extraviado ou apenas partes deles sobreviveram — disse Ariadne de olhos baixos como se seus antepassados a envergonhassem. — É por isso que todas as profecias sobre o Tirano são tão irregulares.

Nenhum descendente moderno foi capaz de encontrar todas. — Que desperdício — Matt disse sombriamente. — Eu me pergunto

quantas vezes os deuses se safaram de algo criminoso como isso, só

porque eles podiam. A cabeça de Ariadne girou ao tom agudo de Matt. Ela ficou surpresa

ao ouvi-lo falar tão apaixonadamente, mas Helen tinha visto esse lado de Matt antes. Ele sempre tinha odiado valentões. Ele tinha aversão a caras

durões mostrando sua força ao redor desde que Helen conseguia se lembrar. Era uma das principais razões que ele queria ser advogado. Matt achava que pessoas poderosas deveriam proteger os mais fracos, não

bater neles, e Helen podia ver a mesma raiva da infância contra a injustiça fervendo em Matt novamente com o pensamento de Apolo amaldiçoando uma menina porque ela não teria relações sexuais com ele.

Helen teve que admitir que Matt tinha razão. Na maioria das vezes, os deuses pareciam sobrenaturais grandes e intimidadores. Helen se

perguntou por que os seres humanos já os tinha adorado. Enquanto ela estava intrigada com isso, seu telefone tocou novamente.

— Orion diz que ele descobrir o diário foi um tiro no escuro porque

é realmente estúpido — Helen leu em voz alta. Sua próxima mensagem a fez desatar a rir. — Ele acabou de chamar Marco Antônio de idiota chato.

— Ah, sério? Que pena — disse Ariadne, batendo seus cílios

incrivelmente longos em decepção. — Antônio sempre parecia tão romântico no papel.

— Shakespeare pode fazer qualquer um parecer bom — disse Matt, sorrindo ao ver que o desenvolvimento da paixão de Ariadne por um cara morto tinha sido reprimido. Ele se virou para Helen. — Sabe, é muito

bom ver você rir, Lennie. — Bem, é sexta-feira. E eu pensei, que se dane — brincou Helen,

mas ninguém riu. Todos menos Cassandra estavam olhando para ela com expectativa. — O que foi? — ela perguntou, finalmente, quando o silêncio se arrastou por muito tempo.

— Nada — respondeu Claire, um pouco irritada. Ela se levantou e se espreguiçou, sinalizando que a noite estava terminada pelo menos para ela. Tomando sua sugestão, Cassandra saiu da sala sem sequer

dizer adeus. Todos se levantaram e começaram a juntar suas coisas. — Você quer ficar e assistir a um filme? — Jason perguntou a Claire,

esperançoso. Ele olhou em volta para incluir todos em seu convite. — É sexta-feira.

Matt olhou para Ariadne. Ela sorriu e encorajou-o a ficar, e, em

seguida, todos olharam para Helen. Ela não queria ir para casa sozinha, mas ela sabia que não podia suportar ficar sentada em uma sala escura

com dois não-inteiramente-casais hormonalmente carregados. — Eu vou estar dormindo antes da pipoca estar fora do micro-ondas

— Helen mentiu, e forçou um riso. — Vocês se divirtam, mas eu acho que

eu deveria descansar. Ninguém discutiu com ela ou tentou convencê-la a ficar. Enquanto

Helen caminhava para fora, ela se perguntava se eles não insistiram mais

porque eles sabiam que ela precisava dormir, ou porque não queriam ela em volta. Ela não poderia culpá-los se eles queriam que ela fosse embora

— ninguém gosta de uma segura vela, e uma segura vela com o coração partido é ainda pior.

Tomando uma lufada de ar fresco do outono, ela virou o rosto para

o céu claro com a intenção de tomar o voo. Seus olhos foram atraídos para as três estrelas brilhantes do Cinturão de Orion, e ela sorriu para a

constelação, pensando: — Ei, cara — em sua mente. Ela teve a súbita vontade de caminhar para casa, em vez de voar.

Era longe, quase toda a extensão da ilha de Sconset para a casa dela,

mas esses dias ela estava acostumada a passar horas andando no escuro. Helen colocou seus punhos em seus bolsos e começou a marchar pela estrada sem um segundo pensamento. Olhando para o céu, ela percebeu

que o que ela realmente queria era estar com Orion, mesmo que esse Orion fosse apenas um monte de estrelas frias. Ela sentia falta dele.

Helen estava a meio caminho da Estrada Milestone, se perguntando se alguém poderia pensar que ela era louca se a pegasse caminhando através do escuro da ilha no meio da noite, quando o telefone tocou. O

número era bloqueado. Por um momento ela se perguntou se era Orion. Ela atendeu rapidamente, esperando que fosse ele. Quando ela ouviu a

voz de Hector do outro lado ela ficou tão assustada que mal conseguia balbuciar uma saudação.

— Helen? Cale a boca e me escute — Hector interrompeu com sua

franqueza habitual. — Onde você está? — Bem, eu estou andando para casa agora. Por que, o que foi? —

ela perguntou, mais curiosa do que ofendida por seu tom brusco. — Andando? De onde? — Da sua casa. Quer dizer, da sua antiga casa. — Ela mordeu o

lábio inferior, esperando que ela não tivesse dito algo estúpido. — Por que você não está voando? — Ele estava praticamente

gritando com ela. — Porque eu queria ter um... Espera, o que diabos está

acontecendo?

Hector explicou rapidamente que Daphne tinha confrontado Tantalus e, em seguida, foi ferida e ficou perdida no mar por mais de um dia. Ele disse a ela que Daphne tinha levado três dias para se recuperar

o suficiente para ser capaz de dizer a Hector sobre o Myrmidon estacionado em frente a porta da frente de Helen.

Helen sabia que ela deveria ter se preocupado com sua mãe, mas ela

ouviu a palavra mur-ma-don e teve que parar Hector para perguntar o que era.

— Você leu mesmo a Ilíada? Você não leu, não é? — Hector advertiu, levantando a voz novamente. Helen podia imaginar o rosto de Hector

ficando roxo com frustração. — Claro que eu li! — ela insistiu. Hector xingou em voz alta e, em seguida, explicou tão calmamente

quanto pôde que os Myrmidons eram os guerreiros de elite que lutaram com Aquiles durante a Guerra de Tróia, e Helen juntou tudo. Ela estava familiarizada com o arrepiante esquadrão especial de soldados de

Aquiles; ela simplesmente nunca tinha ouvido a palavra pronunciada corretamente antes. Myrmidons não eram humanos, mas sim formigas

transformadas em homens por Zeus. — O cara assustador que nos atacou em minha corrida! — exclamou

Helen, cobrindo a boca com a mão. Ela finalmente entendeu por que o

líder do grupo, o comandante, Helen de repente percebeu, tinha incomodado tanto, porque ele era na verdade uma formiga. — Eu pensei

que soldados formigas eram todas do sexo feminino — acrescentou Helen, confusa.

— Sim, e eu pensei que formigas pareciam formigas e os humanos pareciam humanos — disse Hector secamente. — Não se deixe enganar, Helen. Essa coisa não é um homem, e ele definitivamente não tem os

mesmos sentimentos que nós temos. Sem mencionar o fato de que é extremamente forte e tem milhares de anos de experiência de batalha.

Helen pensou em um programa que tinha visto na TV sobre

formigas. Elas poderiam andar por dias, levantar cargas de centenas de vezes o seu peso, e algumas delas eram incrivelmente agressivas.

Olhando para cima e para baixo da estrada fria e escura, Helen de repente desejou que Hector estivesse com ela, mesmo que ele fosse um ranzinza pé no saco 90 por cento do tempo. Ela também desejou que ela

tivesse prestado mais atenção a ele quando ele estava esmurrando seu rosto. Pelo menos assim ela saberia como lutar.

— Então, o que eu faço? — Helen perguntou enquanto ela tentava olhar em todos os lugares ao mesmo tempo.

— Fique no ar. Ele não pode voar. Você geralmente está mais segura

no ar, Helen. Tente lembrar-se disso a partir de agora, está bem? — ele instruiu. — Volte para a família e diga a eles o que eu lhe disse. Então fique lá com Ariadne. Ela vai mantê-la segura. Lucas e Jason vão

encontrar o ninho, e meu pai e tio, provavelmente, terão de ir a Nova York para levar esta questão aos Cem. Depois disso, Cassandra vai tomar as

decisões. Você deve ficar bem. Como o grande general que ele sempre quis ser, Hector poderia

planejar cada momento de um confronto. Ainda assim, Helen não achou

que ele soou muito convincente quando ele prometeu a sua segurança. — Você está realmente com medo deste Myrmidon, não é? — Helen

perguntou quando ela foi para o ar.

O pensamento de que Hector tinha medo de algo assustava Helen

mais do que a estrada vazia em frente a ela. Ela o ouviu suspirar pesadamente.

— Myrmidons têm sido utilizados como assassinos contratados para os Descendentes a milhares de anos. Além da Casa de Roma, que tem sua própria brecha para a morte de parentes, se um Descendente quer

matar um parente, sem se tornar um Banido, ele ou ela vai até um Myrmidon. Claro, isso não é algo sobre o qual gostaríamos de falar. Myrmidons são uma parte do nosso mundo, e nem todos eles são

assassinos infames. Mas alguns são. Eles são fisicamente mais fortes do que nós, e eles não têm as Fúrias para se preocupar. Usar um para

espionar sua própria família é uma bandeira vermelha de que alguém está prestes a ser assassinado, e dá ao meu pai e ao meu tio o direito de convocar uma reunião formal e fechada com os Cem. Algo chamado de

Conclave. — Mas isso é bom, certo? — perguntou Helen nervosamente. —

Castor e Pallas podem convocar esta coisa, Conclave, e se livrar dele, certo?

— Se eles puderem provar que você é a filha de Ajax e parte da

família, os Cem fariam Tantalus se livrar do Myrmidon. Se eles não puderem, bem, então você é apenas um membro da Casa de Atreu para

os Cem, e em suas mentes você é um alvo. Mas eu não sei o que vou fazer. Eu não estou lá, não é? — Ele parecia mais pesaroso do que amargo, como se ele sentisse que precisava se desculpar com Helen por

deixá-la sozinha, quando ela estava em perigo, o que era totalmente insano. Ele estava no exílio. Antes que ela pudesse argumentar, Hector continuou em uma voz incomodada. — Basta fazer exatamente o que eu

digo, e então eu vou ficar menos receoso. Certo? — Certo — ela prometeu, já se sentindo culpada porque ela sabia

que não iria manter essa promessa. Ela e Hector falaram brevemente sobre Daphne, embora ele não

fosse dizer a ela onde eles estavam. Ele assegurou Helen que sua mãe

iria ter uma recuperação completa e, em seguida, prometeu entrar em contato novamente quando pudesse.

Depois de desligar a chamada, Helen voou para o lado dela da ilha para procurar o “ninho” por conta própria. Ela queria, pelo menos, localizá-lo e se certificar de que seu pai estivesse bem. Então ela queria

ser a única a decidir se era perigoso ou não. Helen não tinha cinco anos. Ela era competente o suficiente para espiar a situação e decidir por si mesma se valia a pena o acionamento do alarme. Além disso, ela não era

exatamente impotente. Ela tinha o cinturão para impedi-la de se machucar e seu raio para lançar se a coisa ficasse feia. Se aquele homem-

formiga chegasse perto dela ou de Jerry, ela o torraria primeiro e pensaria em uma desculpa para dizer ao seu pai mais tarde.

Vasculhando a vizinhança, Helen imaginou o ninho como uma

grande estrutura emaranhada, e assumiu que iria avistá-la facilmente. Nada chamou sua atenção. Ela estava prestes a desistir quando ela

percebeu que até a metade do lado da casa de seu vizinho e parcialmente obscurecida por trás de um arbusto do rododentro gigantesco, parecia

haver uma pequena protuberância, como se a parede sempre foi

ligeiramente inchada. Era tão sutil que Helen sabia que seus vizinhos mortais não seriam

capazes de ver a diferença. O ninho estava perfeitamente camuflado para parecer exatamente como um grande pedaço de telha ladeando a casa, logo abaixo da textura e da cor. O Myrmidon tinha até mesmo mascarado

a protuberância fazendo um espaçamento colocando telhas falsas para criar uma ilusão de ótica.

Helen olhou para o ninho por alguns momentos, seu pulso batendo

em seus ouvidos, esperando para ver se ele se movia. Quando ela não ouviu nem mesmo o leve som de um ocupante respirando dentro do lugar

pequeno, ela decidiu que era seguro verificá-lo. Ela soprou suas palmas das mãos suadas para secá-las, disse a si mesma para deixar de ser um bebê, e se aproximou, até que ela estava bem ao lado dele. O ninho foi

feito de algum tipo de material como cimento e foi projetado com vários pequenos olhos mágicos. Como suspeitava, a maioria desses buracos

estavam de frente para sua casa diretamente. A partir desse ângulo, ela podia até mesmo ver a parte de dentro de seu quarto.

Os cabelos na parte de trás do pescoço dela estavam começando a

formigar com o pensamento de algum inseto gigante assistindo ela se despir, quando ela ouviu um barulho abaixo dela.

Helen subiu a uma altura mais segura. Como uma flecha voando

para trás, ela ganhou altitude, mantendo os olhos colados ao chão, para ver de onde o barulho tinha vindo. Olhando para ela do gramado do seu

vizinho estava o mesmo rosto esquelético e vermelho, os olhos esbugalhados que ela tinha visto na batalha na floresta. Sua cabeça se moveu extremamente rápido, como se ele girasse o topo de uma haste em

vez de um pescoço, e esse ligeiro, mas surpreendente movimento foi suficiente para assustar Helen. Ela voou através da ilha e pousou no

terreno dos Delos um momento mais tarde. Caminhando rapidamente para a porta escura da frente, Helen

percebeu que era muito tarde. Todos tinham ido dormir. Ela olhou pelas

janelas silenciosas e trocou de pé para pé, se sentindo estranha sobre tocar a campainha e acordar toda a casa às duas horas da manhã. Afinal, ela não estava em nenhum perigo imediato. Pelo que Hector tinha dito, o

Myrmidon tinha estado observando-a por semanas e ainda não tinha atacado. Helen se perguntou se ela não deveria apenas ir para casa, lidar

com o ninho por conta própria, e dizer aos seus primos sobre isso na parte da manhã.

Ela ouviu um barulho atrás dela e virou-se, com o coração na

garganta. — O que você está fazendo aqui? — perguntou Lucas em um

sussurro rouco, ajustando a força da gravidade em seu corpo enquanto

ele mudava de estado. Ele imediatamente começou a caminhar em direção a ela com força. Seu rosto se transformou em uma máscara

congelada de surpresa quando ele registrou o estado de ansiedade de Helen. Pelo jeito que ela estava olhando em volta, torcendo as mãos, ele poderia dizer que não tinha nada a ver com ele. — O que aconteceu? —

ele perguntou.

— Eu... — ela começou sem fôlego, então se interrompeu quando

um pensamento inquietante a distraiu. — Você está chegando em casa agora? Onde você estava?

— Eu estava fora — ele disse laconicamente. Lucas deu mais alguns passos em sua direção até que ele estava perto o suficiente para que ela tivesse de inclinar a cabeça para olhar para ele, mas ela recusou-se a

dar-lhe qualquer terreno. Ela estava cansada de ter medo dele. — Agora responda à minha pergunta. O que aconteceu com você?

— Hector ligou. Daphne soube que Tantalus mandou um Myrmidon para me espionar. A coisa acabou de me pegar bisbilhotando seu ninho, tipo, a dois segundos atrás.

Sem aviso, Lucas estendeu a mão e agarrou Helen pela cintura e atirou-a para cima no ar. Ela soltou-se da gravidade como um reflexo, e

sobre o ímpeto do lançamento de Lucas, ela subiu cinco, depois dez, depois quinze metros para cima. Lucas disparou ao lado dela, pegando-a pela mão. Ele a puxou a uma velocidade inacreditável. As orelhas de

Helen estalaram com a pressão do barulho minisônico que ela e Lucas criaram.

— Onde está o ninho? Perto da minha casa? — ele gritou freneticamente sobre o vento impetuoso.

— Na do meu vizinho. Lucas, pare! — Helen estava assustada, não

com ele, mas que eles estavam se movendo rápido demais. Ele diminuiu a velocidade e olhou para ela, mas ele não parou completamente ou soltou sua mão. Voando perto, ele a olhou diretamente nos olhos, em

busca de uma mentira. — Ele picou você?

— Não. — Hector disse para você ir procurar o ninho por conta própria? —

Suas palavras saíram tão rápido que ela mal teve tempo para processar

o que ele estava dizendo. A cabeça de Helen doía e sua visão estava nebulosa. Eles estavam

tão alto que o ar estava perigosamente fino. Nem mesmo semideuses

poderiam sobreviver no espaço, e Lucas tinha trazido Helen direto até a borda.

— Hector não disse para chegar perto dele... mas eu queria ver por mim mesma antes que eu deixasse todos em pânico. Lucas, temos que descer! — ela implorou.

Lucas olhou para o peito de Helen e o viu berrando para dentro e para fora enquanto ela lutava por oxigênio. Ele flutuou mais perto, e ela

sentiu que ele compartilhava o deslizamento de ar que ele tinha envolvido em torno de si mesmo com ela. Uma rajada de oxigênio passou suavemente por seu rosto. Ela inalou, e imediatamente se sentiu melhor.

— Podemos trazer mais ar respirável para nós mesmos, mas você precisa relaxar primeiro — disse Lucas. Ele soou como ele mesmo novamente.

— Quão alto nós estamos? — Ela olhou para ele, chocada que ele estava sendo gentil com ela. Ela não sabia mais o que dizer.

— Olhe para baixo, Helen. Oprimida, ela seguiu seu olhar para a vista abaixo deles.

Por um momento, ela e Lucas flutuaram sem peso acima da Terra

girando lentamente, apenas olhando para ela. O céu preto demarcava a névoa branca e azul da atmosfera envolvendo o planeta. O silêncio e a

desolação do espaço só serviram para enfatizar o quão preciosa, o quão milagrosa a sua pequena ilha de vida realmente era.

Era a coisa mais linda que Helen já tinha visto, mas ela não podia

desfrutar plenamente. Se alguma vez ela viesse a essa altura novamente, ela sabia que iria sempre lembrar que Lucas tinha trazido ela aqui primeiro. Agora, isso também era algo que eles compartilharam. Ela

estava tão confusa que ela queria chorar. Totalmente por acaso, Lucas reivindicou outro pedaço da sua mente, e ele era o único que tinha

ordenado que ela ficasse longe dele. — Por que se preocupar em me mostrar isso? Ou me ensinar alguma

coisa? — disse Helen, engasgando com as palavras. — Você me odeia. — Eu nunca disse isso. — Sua voz não tinha nenhuma emoção. — Devíamos descer — ela disse, forçando seus olhos para longe de

seu rosto. Isso não era justo. Ela não podia deixá-lo brincar com ela assim.

Lucas balançou a cabeça e agarrou a mão de Helen firmemente. Ela tentou puxá-la para longe, mas Lucas resistiu.

— Não, Helen — ele disse. — Eu sei que você não quer me tocar,

mas você ainda pode passar mal aqui em cima. Helen queria gritar que ele não poderia estar mais errado.

Praticamente a única coisa que ela queria era tocá-lo, e isso estava

comendo-a por dentro. Naquele momento, ela imaginou-se derivando para perto e deslizando contra ele até que ela podia sentir o calor do seu

corpo vazando através das lacunas em suas roupas. Ela imaginou como o cheiro dele iria atingi-la em uma onda, surfando na onda desse calor. Ela sabia que pensamentos como esse não deveriam sequer cruzar sua

mente, mas eles vieram. Certo ou errado, se ela estava autorizada a agir sobre isso ou não, era o que ela realmente queria.

O que ela não queria era ser empurrada e puxada em tantas direções diferentes que ela não sabia como se comportar. Ela nem sabia se ela deveria estar perto dele mais. Ela se ressentia dele por isso, mas pior, ela

estava decepcionada consigo mesma por querer ele mesmo depois que ele a tinha tratado tão mal.

Com vergonha de seus próprios pensamentos, Helen não se permitiu olhar para Lucas enquanto voavam a uma altitude inferior. Quando ela pôde respirar facilmente fora de seu deslizamento de ar, Helen percebeu

que eles estavam sobre alguma parte escura do continente. Ela procurou as redes brilhantes familiares que ela reconhecia como Boston, em

Manhattan, e D.C. à noite, e não pôde acreditar quando ela as encontrou. Pela estimativa de Helen eles estavam a centenas de quilômetros de distância.

— O quão rápido estamos? — ela perguntou a Lucas em reverência. — Bem, eu não fui capaz de vencer a luz... ainda — ele disse com

um brilho malicioso em seus olhos. Helen virou a cabeça e olhou para

ele, espantada que ele estivesse agindo como ele mesmo novamente. Isso parecia certo. Este era o Lucas que ela conhecia. Ele sorriu por um

instante, depois pareceu se conter. Ainda olhando para ela, seus lábios

lentamente afrouxaram e caíram. Helen sentiu como se estivesse caindo em direção a ele. Ela percebeu

que Lucas era um buraco negro emocional para ela. Se ela estava perto dele, seu coração simplesmente não podia fugir. Helen largou a mão de Lucas e derivou na frente dele. Ela precisava de um momento para conter

a si mesma. Ela voltou sua atenção para a situação, obrigando-se a concentrar-

se e assumir o controle. Ela tinha que manter sua mente ocupada ou ela estava perdida.

— Eu entendi a partir de ambas as suas reações que este Myrmidon

é realmente um grande problema — ela disse. — Sim, é grande, Helen. Myrmidons são mais rápidos e mais fortes

do que os Descendentes, mas pior do que isso, eles não sentem emoções

como nós. Ter um espionando você é um grande problema. E eu nem sequer sabia que ele estava lá. — Ele suspirou, como se isso fosse de

alguma maneira culpa dele. — Mas como você poderia possivelmente ter sabido? Nós não

estivemos em qualquer lugar perto um do outro há mais de uma semana.

— Vamos — ele disse. Lucas começou a derivar em direção à Costa Leste, ignorando o último comentário de Helen. — Nós precisamos voltar

e dizer à família. Ela assentiu com a cabeça e assumiu a liderança. Eles não deram

as mãos no caminho para baixo, mas Helen ainda podia sentir Lucas

perto dela, perturbadoramente quente e sólido. Ela continuou dizendo a si mesma que ela só estava imaginando que eles estavam em sincronia, mas suas ações provaram que ela estava errada. Eles desceram em

uníssono, em transição, e continuaram até a casa, sem nunca perder o passo com o outro.

Lucas entrou pela porta da frente audivelmente, acendeu as luzes no corredor, e começou a chamar o resto da família. Momentos depois, todos estavam na cozinha, e Helen estava repetindo tudo o que tinha

acontecido com ela naquela noite, menos sobre a visita à atmosfera exterior com Lucas.

— Isso é motivo de um Conclave — Castor disse ao seu irmão. — Trazer um Myrmidon na equação poderia ser considerado um ato de guerra dentro da Casa.

— Você conseguiu dar uma boa olhada no rosto do Myrmidon? — perguntou Cassandra. Helen balançou a cabeça e tentou não estremecer com o pensamento de como a cabeça tinha girado ao redor como algo

estranho. — Ele tinha os olhos vermelhos — Helen respondeu com nojo.

— Hector mencionou o nome do Myrmidon? — Pallas perguntou a Helen calmamente. — Seria bom se soubéssemos com qual estamos lidando.

— Não. Mas da próxima vez que ele ligar, eu posso perguntar — Helen respondeu gentilmente, ciente de que mesmo dizer o nome de

Hector perturbava Pallas. Helen poderia dizer que Pallas desejava nada mais do que ser capaz de falar diretamente com seu filho. Não era certo

que Hector não podia estar ali, ela pensou com raiva. Eles precisavam

dele. Cassandra levou todos para a biblioteca. Ela foi diretamente para

um livro que estava tão frágil que Castor e Pallas o tinha desmanchado e colocado cada página individual em uma cobertura de plástico separada. Helen se aproximou de Cassandra enquanto ela gentilmente folheava a

pilha de páginas, e notei que o livro era muito velho — tanto como a idade do Rei Arthur.

— Isso é um códice do tempo das Cruzadas — disse Cassandra,

segurando uma página pintada de um cavaleiro em uma armadura negra. Assim como o Myrmidon, ele tinha olhos vermelhos esbugalhados e um

rosto esquelético. — Ele se parece muito com ele — disse Helen quando ela olhou para

a página. Era uma bela obra de arte, mas ainda era uma pintura, não

uma foto. Helen deu de ombros. — Eu não posso dizer com certeza a partir disso. Será que todos os Myrmidons parecem ser o mesmo?

— Não, alguns deles tinham olhos negros e facetados, e alguns tinham a pele levemente avermelhada. Havia rumores de alguns terem tido antenas que eles escondiam sob seus capacetes — Castor respondeu

pensativo. — Helen, tem certeza que o que você viu tinha olhos vermelhos?

— Oh, sim, não tenho dúvida disso — disse Helen positivamente. —

Eles eram realmente brilhantes, também. — Automedon — Pallas disse, olhando para Castor. Pela primeira

vez que Helen conseguia se lembrar, Castor usou um palavrão em inglês, e com essa infração, ele concordou com a cabeça com seu irmão.

— Faz sentido — disse Cassandra. — Nenhum Descendente nunca

alegou tê-lo matado. — Porque ninguém pode. — Lucas olhou para Helen, balançando a

cabeça lentamente, como se ele não pudesse acreditar que aquilo estava acontecendo. — Ele é imortal.

— Ok, vejam, isso eu não entendo — disse Helen nervosamente. Ela

estava à procura de uma falha, algo lógico que tornaria a situação um pouco menos terrível. — Se Myrmidons são imortais, então por que o

mundo não está rastejando com eles? — Oh, eles podem ser mortos em batalha. E a maioria deles foram

mortos em algum momento da história. Mas, veja, isso é uma espécie de

vantagem de Automedon — Ariadne disse com olhos arregalados e apologéticos. — Há histórias de soldados que literalmente cortaram a cabeça de Automedon, e ele só a pegou, colocou-a de volta novamente, e

continuou lutando. — Você tem que estar brincando comigo — disse Helen com uma

sobrancelha levantada. — Como isso pode ser possível? Ele não é um deus. Espere, ele é um deus? — ela perguntou a Ariadne rapidamente à parte, no caso de ela ter perdido alguma coisa.

— Não, ele não é um deus — respondeu Cassandra para ela. — Mas ele poderia ter compartilhado o sangue de um. Este é apenas o meu

palpite, mas se Automedon tornou-se irmão de sangue de um dos imortais milhares de anos atrás, antes de todos eles serem trancados no

Olimpo, então Automedon não pode ser morto, nem mesmo no campo de

batalha. — Irmãos de sangue? Você está falando sério? — perguntou Helen

em dúvida. Ela imaginou duas crianças em uma casa na árvore picando os dedos com um alfinete de segurança.

— Para os Descendentes, tornar-se irmãos de sangue é um rito

sagrado, e é muito difícil de fazer fora de combate — disse Jason com um sorriso, parecendo entender a má interpretação de Helen. — Você tem

que estar disposto a morrer por alguém, e essa pessoa tem que estar disposta a morrer por você. Então você tem que trocar sangue, enquanto você está no processo de salvar a vida um do outro.

Os olhos de Helen correram até Lucas. Ela não podia deixar de pensar em como eles tinha quebrado a maldição das Fúrias por quase morrer um pelo outro. Pelo olhar nos olhos de Lucas, Helen sabia que ele

estava pensando exatamente a mesma coisa. Eles não tinham compartilhado o sangue na noite em que caíram, mas ambos tinham

salvado a vida um do outro e eles estavam vinculados para sempre. — Você não pode fazer isso acontecer ou planejar. É algo que

acontece em uma situação extrema — disse Lucas diretamente para

Helen. — E se os dois irmãos vivem, às vezes eles compartilham alguns dos poderes de cada um dos dois Descendentes. Agora imagine fazer isso

com um deus. Teoricamente, isso poderia torná-lo imortal. — Mas você não sabe com certeza se esse é o caso com Automedon

— Helen desafiou. — Cassandra disse que ela estava apenas supondo.

— Sim, mas os palpites de Cassandra são geralmente muito perto da verdade — ele retrucou, seu temperamento elevando rapidamente.

— Você tem estado colocando isso fora de proporção desde o segundo que eu te disse! Quanto mais penso nisso, mais eu duvido que eu esteja em algum perigo real — ela continuou na defensiva.

O rosto de Lucas empalideceu de raiva. — Chega! — Noel gritou da porta. — Lucas, suba as escadas e vá

para a cama. — Lucas girou ao redor para enfrentar a sua mãe, mas Noel

não lhe deu a chance de contrariar ela. — Eu estou cansada de ver vocês dois brigarem! Vocês dois estão tão cansados que não estão nem mesmo

fazendo mais sentido. Helen, suba as escadas com Ariadne. Você vai dormir aqui.

— Eu não posso deixar o meu pai sozinho com essa coisa

praticamente ao lado — disse Helen, caindo na beira da mesa de Castor. Noel estava certa. Toda a corrida sem fim ao redor, juntamente com o

campo minado emocional que ela tinha que navegar sempre que Lucas estava perto, de repente a atingiu como um tijolo. Ela estava exausta.

— Confie em mim, se você está aqui, então essa criatura não estará longe. Eu sei que vai ser difícil para você aceitar isso, mas tanto o seu pai quanto Kate estarão mais seguros se você manter distância a partir de

agora. — Noel disse isso tão gentilmente quanto podia, mas suas palavras ainda eram duras. — Lucas, eu quero que você vá com o seu pai e seu tio ao Conclave. Eu acho que seria melhor para você passar um pouco de

tempo em Nova York.

— Noel! Ele não tem dezoito anos ainda — Castor começou a

discutir. — Mas ele é o Herdeiro da Casa de Tebas, Caz — Pallas rebateu

suavemente. — Creon está morto. Depois de Tantalus, você é o próximo na linhagem. Isso faz o seu mais velho ser o Herdeiro. Lucas tem todo o direito de participar do Conclave antes que ele tenha idade.

— Tantalus poderia ter outro filho — disse Castor impaciente. — O Banido, marcado para morrer, não dará à luz a mais filhos —

Cassandra falou em várias vozes do canto da sala.

O som fez a coluna de Helen recuar e endireitar, como se alguém tivesse derramado água gelada pelas suas costas. Como um só, a sala se

virou para ver a aura misteriosa do Oráculo tremulando no rosto de Cassandra e luzes roxas, azuis e verdes delineando como espíritos ao longo das bordas de seu corpo. Seu rosto geralmente bonito estava muito

enrugado como de uma velha mulher. — Lucas, filho do sol, sempre foi o herdeiro pretendido para a Casa

de Tebas. Por isso, isso tem que acontecer. — O Oráculo gargalhou, e seu corpo estremeceu violentamente.

A luz se foi de repente e Cassandra se encolheu. Ela olhou ao redor

com os olhos aterrorizados e apertou os braços ao redor de seu corpo, encolhida dentro de suas roupas. Helen queria confortar Cassandra, mas havia um frio em torno dela que Helen não podia ignorar. Ela

simplesmente não podia obrigar-se a dar um passo mais perto da menina assustada.

— Agora, todos vocês, vão para a cama — disse Noel com uma voz trêmula, quebrando o silêncio.

Ela empurrou todos em direção à porta e encurralou o pequeno

rebanho na direção da escada, deixando Cassandra na biblioteca sozinha. Helen arrastou-se para o andar de cima e desabou sobre a cama

de hóspedes, sem despir-se ou até mesmo puxar o cobertor para baixo primeiro.

Quando ela acordou na manhã seguinte, ela estava coberta de lama

seca. Helen tinha adormecido em um humor tão ruim que quando ela chegou ao Mundo Inferior, ela encontrou-se profundamente até o peito em um pântano pré-histórico. Não era a poça de areia movediça, o que

foi um enorme alívio, mas ainda fedia. Precisou de todo o seu esforço para manter a água barrenta fora da sua boca enquanto ela nadava

através dele, sempre apenas um passo longe do afogamento. Após uma noite de metade pânico, Helen acordou para encontrar-se ainda mais cansada do que estivera no dia anterior.

Ela arrastou-se para fora da cama e percebeu que sua blusa estava quase arrancada, havia galhos estranhos e folhas mortas emaranhados

em seus cabelos, e ela tinha perdido um sapato. Claro, ela correu para Lucas em seu caminho para o banheiro. Ele olhou para ela por um momento, os olhos correndo de cima a baixo de seu corpo sujo, enquanto

o resto de seu corpo permaneceu rígido. — O quê? Você vai gritar comigo de novo? — Helen desafiou, cansada

demais para ser cuidadosa.

— Não. — Sua voz falhou. — Eu estou cansado de brigar com você.

Obviamente não está ajudando. — Então o que foi?

— Eu não posso fazer isso — ele disse, mais para si mesmo do que para Helen. — Meu pai estava errado.

Seu cérebro turvo ainda estava processando suas palavras quando

ele abriu a janela mais próxima e pulou para fora dela. Helen observou-o voar para longe, cansada demais para ser

surpreendida. Ela seguiu para o banheiro, polvilhando sujeira por todo o chão a cada passo. Ela olhou para a bagunça que ela estava fazendo e pensou sobre o quão pior iria ficar quando ela se despiu. A única solução

que surgiu em seu processo de pensamento parcialmente paralisado foi entrar no chuveiro, ainda totalmente vestida. Enquanto esfregava uma barra de sabonete com cheiro de limão sobre sua blusa rasgada, ela

começou a rir. Foi uma risada instável, do tipo que ameaça se transformar em um soluço.

Ariadne bateu na porta. Helen colocou uma mão sobre a boca, mas era tarde demais. Ariadne tomou o silêncio de Helen como um sinal de que algo ruim estava acontecendo, e invadiu o banheiro.

— Helen! Você está... Oh, uou. — O tom de Ariadne mudou de preocupado a boquiaberto em um segundo. Ela viu que Helen ainda

estava completamente vestida através da porta de vidro do chuveiro. — Hum, você sabe que você esqueceu um passo, certo?

Helen começou a rir de novo. A situação era tão ridícula que não

havia nada a fazer senão rir. — Você ainda está usando um sapato? — Ariadne engasgou.

— Eu acordei... com apenas um! — Helen levantou seu pé descalço e apontou para ele. Ambas as meninas riram histericamente dos dedos balançando de Helen.

Ariadne ajudou Helen a se limpar e, juntas, elas arrastaram a roupa de cama suja e roupas encharcadas para a lavanderia. Até o momento que elas fizeram isso e foram para baixo para o café da manhã, todo

mundo estava quase pronto. — Onde está Lucas? — perguntou Noel, esticando a cabeça para

olhar ansiosamente para trás de Helen. — Pulou pela janela — respondeu Helen. Ela pegou uma caneca e

serviu-se de um pouco de café. Erguendo a cabeça, ela notou que todos

estavam olhando para ela. — Eu não estou brincando. Nós esbarramos no corredor e quando ele me viu, ele literalmente pulou de uma janela.

Alguém quer café? — Ele disse para onde ele estava indo? — Jason perguntou com

preocupação óbvia.

— Não — ela disse uniformemente. As mãos de Helen estavam tremendo, mas ela mexeu um pouco de

creme em sua caneca e tomou um gole, mesmo assim. No estado que ela

estava, ela imaginou que poderia realmente estabilizá-la. Ela se sentia como se todo o seu corpo estivesse quente e frio ao mesmo tempo.

— Helen? Você está se sentindo mal? — Noel perguntou com os olhos apertados.

Helen balançou a cabeça, incerta. Era impossível para um

Descendente ter uma doença mortal, no entanto, quando ela passou a mão pela testa, voltou molhada de suor. Ainda olhando para a mão dela,

Helen ouviu um carro elétrico cruzar silenciosamente até a casa e parar. — Lennie! Traga seu traseiro aqui e nos ajude com esses livros! —

Claire gritou da calçada.

Helen se virou para olhar para fora da janela atrás dela e viu Claire e Matt saírem do carro de Claire. Grata pela interrupção, Helen correu para fora sob o olhar penetrante de Noel para ajudá-los.

— Nós ouvimos que você tem um problema de formigas — disse Claire através de um sorriso, e começou a empilhar livros sobre os braços

estendidos de Helen. — Porque isso é exatamente o que eu preciso, certo? — Helen riu

com tristeza. — Mais problemas.

— Não se preocupe, Len. Vamos nos separar em grupos e cuidar disso em turnos. Nós vamos solucionar isso. — Matt parecia tão certo.

Ele colocou nos ombros uma mochila cheia de livros, fechou o porta-malas e colocou um braço sobre os ombros de Helen enquanto caminhavam juntos para a casa. — Claire e eu não aderimos à lista dos

mais procurados da PETA (Pessoas Pelo Tratamento Ético de Animais) por nada, sabia.

Quando Helen, Claire e Matt estavam prestes a voltar para dentro,

eles ouviram Castor e Pallas se despedindo e decidiram deixar a família Delos ter um momento a sós. Pelo que Helen pôde perceber, o Conclave

era uma coisa importante, como um julgamento do Supremo Tribunal e uma reunião de cúpula internacional combinada. Uma vez que começasse, ninguém estava autorizado a sair até que um curso de ação

fosse decidido, por isso às vezes essas reuniões poderiam levar semanas. Helen tentou não ouvir muito enquanto eles se abraçavam e diziam

suas despedidas, mas ela não se conteve quando ela ouviu Castor puxando Noel privadamente de lado para perguntar se Lucas viria ou não.

— Eu não sei para onde ele foi. Ele poderia estar no Tibet agora — Noel respondeu, soando como se ela estivesse no limite. — Eu estava esperando que ele fosse com você para Nova York por algumas semanas.

Tirá-lo daqui e dar-lhe uma chance... — Uma chance de quê? — Castor perguntou tristemente quando

Noel se apressou para dizer. — Apenas deixe ele quieto. — Eu deixei ele quieto, e isso, obviamente, não está ajudando! —

disse Noel. — Ele está tão irritado o tempo todo agora, Caz, e eu acho que

ele está ficando pior, não melhor. — Eu sei. Ele mudou, Noel, e eu acho que nós vamos ter que aceitar

que pode ser permanente. Eu estava esperando que ele apenas me

odiasse, mas parece que ele odeia o mundo todo — disse Castor pesadamente. — E eu honestamente não o culpo. Você poderia imaginar

se alguém nos separasse como eu separei eles? — Você não tinha escolha. Eles são primos. Isso não é algo que vai

mudar — disse Noel enfaticamente. — Ainda assim, se o seu pai fizesse conosco o que você fez com Lucas...

— Eu não sei o que eu teria feito com ele — disse Castor como se ele

não pudesse sequer pensar nisso. Helen ouviu eles se beijarem e imediatamente desligou sua audição de Descendente.

— Vamos para a biblioteca e começar a trabalhar! — ela sugeriu em voz alta para Claire e Matt, e começou a caminhar ao redor da casa para usar outra entrada. Sua mente estava correndo.

Castor realmente tinha separado ela e Lucas, e se sim, como? Helen pensou sobre a explosão no jantar, e percebeu que Lucas tinha estado tão zangado com Castor como estava com ela — talvez mais. Lucas a

tinha machucado porque seu pai lhe havia ordenado que ele o fizesse? — Len? Você sabe que eu te amo, mas você realmente precisa parar

de divagar — disse Claire com uma careta engraçada. Helen olhou em volta e percebeu que ela havia feito uma pausa no meio do corredor no caminho para a biblioteca, como se as pernas dela tivessem

simplesmente desistido ou algo assim. — Desculpe! — ela disse, e correu para acompanhar seus amigos.

* * * Lucas circulou o Museu Getty, um prédio branco reluzente

elegantemente empoleirado no topo de uma das colinas mais

desalinhadas de Los Angeles. A estrutura de pedra branca cobrindo a colina rochosa e seca era notavelmente semelhante ao Parthenon. O

Parthenon era originalmente um tesouro, por isso Lucas sentiu que era apropriado que ele estivesse indo para o Getty fazer uma retirada de moedas.

Ele estava à procura de um local que iria escondê-lo por um momento de sua aterrissagem quando ele teria de abrandar o suficiente caso ele pudesse ser visto. Lucas moveu-se mais rápido do que um

humano poderia ver, pousando muito levemente no chão para deixar pegadas. No instante em que tocou o chão, Lucas metade correu, metade

voou para a porta tão rapidamente que tudo que uma câmera de segurança pegaria seria um leve borrão. Parando junto à porta, Lucas congelou e desapareceu.

Nas últimas semanas, ele havia aprendido que, se ele não se movimentasse muito ele poderia dispersar a luz de modo que a superfície

de seu corpo parecia com o que estivesse detrás dele. No início, antes de ele aperfeiçoar sua capa de invisibilidade, ainda era possível para um Descendente distinguir uma leve fenda entre a imagem que ele criou e

seus arredores. Felizmente, apenas um Descendente já tinha notado, e isso tinha sido culpa do próprio Lucas.

Depois de meia hora esperando, um homem da manutenção finalmente saiu pela porta com um ancinho em uma mão e sua garrafa térmica de café da manhã na outra. Lucas simplesmente deslizou em

torno dele e caminhou sem tropeçar em um único alarme. Ele poderia ter arrancado a porta de suas dobradiças, mas ele não queria atrair muita atenção para si mesmo. Lucas não sabia se seu plano iria funcionar, mas

ele não queria que sua família ficasse desconfiado e interferisse.

Ele tinha sido sempre ensinado que os museus eram lugares

sagrados porque eles abrigavam muitas relíquias dos Descendentes, mas ele nunca imaginou que um dia ele seria empurrado para um ponto onde

ele iria considerar invadir um. Agora ele estava desesperado. Ele tinha que fazer algo para ajudar Helen.

Seu pai tinha estado errado. Bastou um olhar para Helen — suas

roupas rasgadas e cobertas da lama negra do Mundo Inferior — e Lucas sabia com certeza que ele não era o problema de Helen. Ele tinha feito o

que seu pai tinha ordenado, mas ela ainda estava sofrendo. Ficar longe dela não era suficiente.

Lucas sabia que Helen era forte, e ele confiava nela para tomar boas

decisões mesmo quando ele discordava dela. Ela tinha insistido que Orion estava ajudando ela, então não importava o quanto comia ele por dentro pensar nos dois sozinhos, Lucas tinha recuado.

Ele prometeu a si mesmo depois da noite que Pandora morreu enquanto observava o amanhecer da varanda de Helen que ele sofreria

qualquer coisa contanto que Helen se mudasse e vivesse uma vida plena e significativa. Ele se transformou em algo tortuoso em uma tentativa de terminar as coisas entre eles. No entanto, naquela manhã ela parecia pior

do que ela tinha estado antes de Lucas ter se afastado dela. O que quer que estivesse acontecendo com ela estava muito além de

seus sentimentos sobre seu relacionamento condenado. Lucas se moveu tão rapidamente pelos corredores do museu que seu

rosto não pôde ser gravado. Mesmo que o seu entorno mude por

nanossegundo, Lucas sabia para onde estava indo. Havia uma abundância de placas apontando na direção certa. Os tesouros da antiga Grécia era um enorme prazer para todos, e esta famosa exposição de

artefatos de ouro recentemente desenterrados já tinha viajado por todo o mundo. Este mês foi a vez do Getty, e eles tinham enchido o local com

bandeiras de seda brilhantes na celebração. Eles também iam colocar um monte de fotos dos artefatos online. No

verdadeiro estilo do sul da Califórnia, as pequenas e menos

impressionantes peças de ouro que tinham sido deixadas de fora das fotos promocionais de outros museus foram aglutinadas em grupos de

fotos enormes e cintilantes. Los Angeles simplesmente amava receber tanto deslumbramento quanto podia em um quadro, e depois de mais de duas semanas de voar por todo o mundo, procurando em cada museu,

foi assim que Lucas tinha finalmente encontrado o que estava procurando. Na internet.

Em comparação com as outras peças da coleção, o pequeno

punhado de moedas de ouro não valiam estar em exposição. Ele teve que ir a uma das caixas de trás para encontrá-las, mas quando o fez, ele não

perdeu tempo. Tanto quanto ele sabia sobre essas três moedas — cada uma com uma flor de papoula gravada de um lado — eram os últimos óbolos restantes que haviam sido forjados em homenagem a Morfeu, o

deus dos sonhos. Lucas roubou todas elas.

* * *

— Nós estamos andando em círculos! — Helen gemeu ao teto

antipático da biblioteca. — Eu sei que não faz muito sentido, mas confiem em mim, não há tal coisa como um progresso geográfico lá em baixo. Eu

mencionei a praia que não conduz a um oceano? É apenas areia molhada como uma praia na maré baixa, exceto que não há oceano. Nunca. É apenas uma praia!

Ela estava tão cansada que sentiu como se estivesse começando a se quebrar, e de vez em quando ela tremia de forma inesperada, o que estava começando a preocupá-la. Ela não podia ficar doente. Era

impossível e chato. O telefone de Helen tocou, interrompendo seus pensamentos dispersos. Orion estava perguntando se os “Nerds Gregos”

tinham descoberto alguma coisa. Ela sorriu do apelido dele para seu grupo de estudo e mandou uma mensagem de volta que eles não tinham. Ela perguntou o que ele estava lendo sobre os romanos.

Guerra, orgia, lavagem, repetição. Ficando chato, ele mandou em uma mensagem. Quase ;)

— Isso é Orion de novo? — Ariadne perguntou com uma cara comprimida. Helen olhou para ela e balançou a cabeça de um modo incomodado enquanto ela digitava.

Ela entendia por que todo mundo estava preocupado — eles tinham que ter certeza que as Casas ficariam separadas — mas, por vezes, Helen sentia-se insultada. Claro, Orion era lindo. E valente. E hilário. Mas isso

não significava que eles estavam namorando ou coisa assim. — Espera! Você pode encontrar Orion! — exclamou Claire,

descarrilando os pensamentos errantes de Helen. — Sim, eu já lhe disse. Concentro-me no rosto dele e eu apareço ao

lado dele, assim como Jason e Ariadne fazem quando eles trazem as

pessoas de volta a partir da beira do Mundo Inferior. Mas só posso encontrá-lo se ele estiver no mesmo infinito que eu — respondeu Helen.

— Porque se ele não estiver, eu nunca vou encontrá-lo, mesmo que ele desça a próxima... Oh, esqueça.

— Helen, eu entendo tudo isso — Claire se queixou em frustração.

— O que eu não sei é se Orion é a única pessoa que você pode encontrar apenas pensando nele.

— Eu já tentei encontrar as Fúrias dessa forma, Risadinha, um monte de vezes. Isso nunca funciona.

— Elas não são pessoas — disse Claire muito claramente, tentando

conter sua excitação. — E se você focar em alguém que vive lá em baixo? Você acha que você poderia usar essa pessoa como uma espécie de farol?

— É a terra dos mortos, Risadinha. Procurar por alguém que vive lá é meio oxímoro, não é? — perguntou Helen, perdendo-se na lógica de Claire.

— Não se ela foi sequestrada, de corpo e alma, pelo próprio chefe — disse Claire. Ela cruzou os braços sobre o peito e sorriu como se soubesse

um segredo. Jason fez um som de surpresa na parte traseira de sua garganta. —

Como você ficou tão inteligente? — ele perguntou, olhando com

admiração para Claire. — Apenas para sua sorte, eu acho — ela respondeu com um sorriso.

Ariadne, Helen e Matt compartilharam olhares confusos enquanto

Jason e Claire sorriam um para o outro, esquecendo-se que havia outras pessoas na sala.

— Hum, gente? Odeio interromper, mas do que vocês estão falando? — perguntou Matt.

Jason levantou-se e foi para as pilhas. Ele trouxe de volta um velho

livro e colocou-o aberto na frente de Helen. Ela viu uma pintura de uma jovem negra, andando para longe do observador, mas olhando para trás por cima do ombro como se ela não quisesse ir. Ela estava vestida com

um vestido de flores e usava uma coroa que brilhava com joias grandes como uvas. Seu corpo era tão gracioso como o de uma bailarina, e até

mesmo a visualização de perfil do rosto dela era belíssima. No entanto, apesar de sua grande beleza e riqueza, ela irradiava uma tristeza esmagadora.

— Oh, sim — Ariadne disse calmamente. — Eu me lembro agora. — Quem é ela? — Helen perguntou, impressionada com a imagem

dessa mulher triste e bonita. — Perséfone, deusa das flores, e a rainha do Mundo Inferior —

respondeu Jason. — Ela é na verdade uma Descendente. A única filha da

Olimpiana Demetra, deusa da terra. Hades sequestrou Perséfone e a enganou para se casar com ele. Agora, ela é forçada a passar os meses do outono e inverno no Mundo Inferior. Eles dizem que Hades construiu

para ela um jardim ao lado de seu palácio. O Jardim de Perséfone. — Ela só está autorizada a deixar o Mundo Inferior para visitar sua

mãe na primavera e no verão. Quando ela volta para a Terra ela faz as flores desabrocharem em todos os lugares que vai. — Ariadne parecia sonhadora, como se ela se encantasse com o pensamento de Perséfone

fazendo o mundo florescer. — É outubro. Ela estaria lá agora — acrescentou Matt com

esperança cautelosa. — E você tem certeza que ela não é uma imortal? — Helen apertou

as sobrancelhas juntas em dúvida. — Como ela pode ainda estar viva?

— Hades fechou um acordo com Tanatos, o deus da morte. Perséfone não pode morrer até que Hades permita que ela morra — Cassandra falou através da sala, fazendo Helen saltar.

Ela tinha esquecido que Cassandra estava sentada lá, escrevendo uma carta para seu pai, que ainda estava na Cidade de Nova York. Castor

e Pallas só foram autorizados a receber mensagens escritas enquanto estavam no Conclave, e eles tinha solicitado algumas informações específicas sobre o Myrmidon. Cassandra sempre teve a capacidade

perturbadora de permanecer imóvel como uma estátua, e, ultimamente, essa capacidade tornou-se tão pronunciada que estava ficando francamente assustadora. Ela se juntou ao resto do grupo e olhou para

a foto de Perséfone com o cenho franzido. — Então, ela está presa lá embaixo — disse Helen, direcionando seu

foco de volta para a figura triste de Perséfone. — Mas ela ainda podia ajudá-la — disse Cassandra. — Ela sabe tudo

sobre o Mundo Inferior.

— Ela é uma prisioneira — Helen respondeu com uma careta

irritada. — Nós deveríamos ajudar ela. Orion e eu deveríamos, eu quero dizer.

— Impossível — disse Cassandra. — Nem mesmo Zeus conseguiu fazer Hades abrir mão de Perséfone quando Demetra exigiu sua filha de volta. Demetra enviou o mundo em uma era do gelo, quase matando a

humanidade com isso. — Ele é um sequestrador! — Matt exclamou, indignado. — Por que

Hades não está trancado no Olimpo com o resto deles? Ele é um dos três grandes deuses. Ele não deveria ser parte da Trégua?

— Hades é o irmão mais velho dos três grandes, então eu acho que,

tecnicamente, ele é um Olimpiano, mas ele sempre foi diferente. Não me lembro de nenhuma literatura dizer que ele sequer esteve no Monte

Olimpo — disse Cassandra com uma pequena careta zombeteira. — O Mundo Inferior também é chamado de “Hades” porque é inteiramente seu reino. Não é parte da trégua, ou mesmo parte deste mundo, aliás.

— O Mundo Inferior tem suas próprias regras — disse Helen. Ela entendia isso um pouco melhor do que qualquer um. — E eu estou

supondo que todos acham que Perséfone poderia estar disposta a quebrar algumas delas?

— Eu não quero prometer nada, mas se alguém fosse mesmo ser

capaz de ajudar você lá em baixo, provavelmente seria ela — disse Jason. — Ela é a rainha.

O telefone de Helen tocou.

Quer saber a piada suja favorita de Júlio César? Orion mandou em uma mensagem.

Encontre-me esta noite, Helen mandou uma mensagem de volta. Acho que encontramos algo.

Traduzido por I&E BookStore

elen olhou para o croissant e desejou que um de seus talentos fosse a visão de raio-X. Ela queria muito saber o que estava sob

aquela casca em camadas. Se fosse espinafre, ele tinha que continuar no

final da bandeja. Se fosse presunto e queijo, bem, então, tinha que ir para sua barriga.

— Lennie? Você esteve olhando para aquele salgado por dez minutos — disse Kate, prosaica. — Nem mais um minuto e ele vai ficar estragado antes de você colocá-lo em sua boca.

Helen endireitou-se e focou os olhos, tentando rir como se nada estivesse errado. A risada saiu tão forçada e prolongada que soou quase assustadora. Kate deu-lhe um olhar estranho e olhou incisivamente para

o croissant. Helen deu a mordida esperada e se arrependeu. Espinafre. Ainda assim, ele deu-lhe algo para fazer para que ela pudesse ficar

acordada, e Helen tinha que ficar acordada para o resto do seu turno, não importava o que ela tivesse que colocar em sua boca.

Sua visão tinha estado borrada a cada poucos minutos durante toda

a noite, e se ela acidentalmente caísse no sono e descesse sem o rosto de Orion em sua mente, ela sabia que ela não iria se encontrar com ele no

Mundo Inferior como eles haviam planejado. Mas ainda mais importante, ela não podia permitir-se adormecer e um microssegundo depois aparecer na News Store, coberta da gosma louca do Mundo Inferior.

Os últimos dias de Helen tinham sido temerosos de que ela poderia cair no sono na sala de aula ou no trabalho, descer, e acordar na frente

de todo mundo que conhecia coberta de uma sujeira inexplicável. Especialmente esta noite. Ela estava mais cansada do que ela nunca tinha estado em sua vida, e Zach estava sentado em uma mesa na parte

de trás da News Store, na seção de Bolos da Kate. Onde Helen estava parada.

Várias vezes Helen tentou iniciar uma conversa, tentando descobrir

o que ele estava fazendo lá sozinho em um sábado à noite, mas ele quase não reconheceu ela. Ele continuou a pedir comida e café, digitando em

seu laptop de maneira distraída, quase como se ele estivesse apenas rabiscando. Nenhuma vez ele fez contato com os olhos. Quando ela o pegava olhando para ela, o que aconteceu mais do que Helen gostava, ele

geralmente tinha um olhar de desgosto em seu rosto, como se tivesse acabado de pegá-la mexendo no nariz ou algo assim.

Limpando a bancada pela milésima vez para manter-se acordada, Helen ouviu os sinos na porta da frente badalarem quando alguém entrou. Ela queria gritar. Era tão tarde, tão tentadoramente perto do

fechamento. A única coisa que ela queria era que a noite terminasse para que ela pudesse contar o dinheiro do caixa, ir para casa e cair na cama.

H

Ela poderia dizer a Zach para dar o fora às dez horas em ponto, mas um

novo cliente poderia demorar uma eternidade. Ela ouviu Kate guinchar com surpresa e felicidade.

— Hector! Helen foi para a frente, pulando nos braços de Hector junto com

Kate, em cerca de meio segundo.

Hector pegou as duas facilmente, uma menina em cada braço. Embora geralmente levava cerca de cinco minutos para Hector dizer algo que irritava Helen bastante, quando ele sorriu e estendeu os braços para

um abraço ela esqueceu o quão chato ele geralmente era. Estar pendurada no pescoço de Hector era como estender a mão e abraçar o

sol — nada além de calor protetor e luz. — Eu poderia me acostumar com isso! — Hector riu, segurando

ambas no ar e espremendo-as até que elas estavam sem fôlego.

— Mas Noel e eu acabamos de conversar algumas horas atrás! Ela me disse que você ainda estava na Europa, estudando. O que você está

fazendo em Nantucket? — Kate perguntou quando Hector as colocou para baixo.

— Eu fiquei com saudades de casa — ele disse com um encolher de

ombros. Helen sabia que ele estava dizendo a verdade, mesmo que toda a história sobre estudar na Europa fosse uma mentira. — É apenas uma rápida visita. Eu não vou ficar muito tempo.

Os três conversaram agradavelmente por mais alguns minutos, embora Hector se manteve lançando a Helen olhares preocupados. Se

Hector estava preocupado com ela, então Helen sabia que ela devia parecer assustadora. Desculpando-se, ela foi para a parte de trás para jogar um pouco de água no rosto.

Quando Helen voltou para a seção de bolos de Kate, Zach não estava em seu assento, mas correndo de volta para ele. Ele recolheu suas coisas

rapidamente e correu para fora do café, com os olhos colados no chão. Helen seguiu-o hesitante para a frente, observando-o abrir caminho, passar por Hector e sair pela porta. Hector ergueu as sobrancelhas para

o comportamento estranho. — Vamos sentir falta dele terrivelmente — disse Kate

sarcasticamente. Então, ela olhou para o relógio. — Sabem de uma coisa? Se eu me apressar, eu posso dar uma passada no banco antes da última coleta. Você pode fechar sozinha, Lennie?

— Eu vou ajudá-la — Hector ofereceu, fazendo Kate sorrir. — Você tem certeza? Você sabe que eu só posso pagá-lo com comida,

certo? — Kate avisou de brincadeira.

— Combinado. — Você é o melhor! Certifique-se de embalar tantas sobras quanto

você quiser para a sua família, também — disse Kate quando ela juntou suas coisas e se dirigiu para a porta.

— Eu vou fazer isso — Hector falou quando ela correu para fora da

porta. Ele parecia alegre o suficiente quando ele gritou adeus, mas seu rosto murchou assim que Kate tinha ido embora.

Não importava o quanto ele teria adorado fazer o que Kate pediu, não havia nenhuma maneira de Hector poder levar nada para sua família.

Helen tocou em seu braço como consolo e, em seguida, puxou-o para um

abraço quando o viu balançar a cabeça. — Eu não podia ficar longe. Eu tinha que ver alguém relacionado a

mim. — Ele apertou Helen apertado, como se ele pudesse abraçar toda a sua família através dela. — Eu estou feliz que eu posso pelo menos estar com você, Princesa.

Quando Helen o abraçou de volta, uma raiva obscura começou a elevar-se da ternura que ela sentia, e não tinha nada a ver com o fato de que ele ainda estava chamando-a de “Princesa” mesmo que ela lhe pediu

um milhão de vezes para não chamar. Como as Fúrias se atrevem a separar Hector das pessoas que ele amava? Ele estava mais

comprometido com a família do que qualquer um que Helen conhecia. Agora, mais do que nunca, a família Delos precisava da força de Hector para motivá-los, mas ele era um Banido. Helen tinha que encontrar

Perséfone e pedir-lhe ajuda. Ela precisava acabar com isso. — Então você só passou por aqui porque você precisava de um

abraço? — Helen perguntou com ironia quando eles se separaram, tentando aliviar o clima.

— Não — ele disse, sério. — Não que um abraço seu não valha a

pena, mas há algo mais. Você ouviu alguma coisa sobre uma invasão no Getty?

Helen balançou a cabeça, e Hector puxou um pedaço de papel do

bolso da jaqueta e mostrou para Helen. — Foi obviamente um Descendente — Helen disse quando ela leu a

descrição do arrombamento impossível e dos artefatos roubados. — Quem fez isso?

— Nós não sabemos. Daphne perguntou a todos os Vadios e Banidos

que ela conhece, mas até agora ninguém admitiu isso. — Hector esfregou seu lábio inferior com o polegar. Foi um gesto que Helen tinha visto seu

pai fazer quando ele estava pensando. — Nós não podemos descobrir por que estas moedas de ouro, e apenas estas moedas, foram roubadas. Tanto quanto sabemos, elas não têm nenhuma mágica que seja especial

para qualquer uma das Quatro Casas. — Vou perguntar a família — disse Helen, levando o pedaço de papel

e colocando-o no bolso de trás da calça jeans. Em seguida, ela cobriu a boca quando um bocejo gigante escapou. — Desculpa, Hector. Mas eu mal posso manter meus olhos abertos.

— Eu vim aqui sentindo pena de mim mesmo, mas sabe de uma coisa? Agora que estou aqui, estou mais preocupado com você. Você parece bem mal.

— Sim, sim, eu estou um desastre total. — Helen riu com tristeza enquanto tentava ajeitar o cabelo e endireitar suas roupas. — O Mundo

Inferior é, bem, é exatamente tão ruim quanto você pensa. Mas pelo menos eu não estou mais sozinha lá... o que é alguma coisa.

— Orion. Ele é bom — disse Hector com um aceno de cabeça grave.

Helen deu-lhe um olhar surpreso, e ele continuou: — Eu nunca o conheci pessoalmente, é claro. As Fúrias. Mas Daphne colocou nós dois em certo

contato depois que eu tive que sair daqui. Nós mandamos mensagens um ao outro, ocasionalmente, e ele realmente tem estado me ajudando. Ele

teve uma vida difícil, e ele sabe o que eu estou passando. Eu sinto que

eu posso falar com ele. — Orion é realmente fácil de falar — Helen concordou, pensativa.

Ela se perguntou se Hector sabia mais sobre a infância de Orion do que ela. O pensamento a incomodava. Ela queria ser a única a ouvir os segredos de Orion, e ela não tinha ideia do que isso significava.

— E ele é confiável. Ele me ajudou a encontrar Daphne quando ela se perdeu no mar. Ele é um Descendente poderoso, Helen. Mas eu acho que ele é um amigo ainda melhor.

— Uau. Você está entusiasmado — disse Helen, perturbada por todos os elogios vindo de Hector, de todas as pessoas. — O que está

acontecendo? Você tem uma quedinha-masculina por Orion? — Não importa. — Hector rebateu as provocações de Helen. — Olha,

eu só estou dizendo que eu gosto dele. É isso.

— Bem, eu também — disse Helen em voz baixa, sem saber o que mais Hector queria que ela dissesse.

— E eu não vejo uma razão para que você não gostasse. Na verdade, eu não vejo uma razão para que você não faria mais do que apenas gostar dele. E está tudo bem — disse Hector. — Mas ele é herdeiro tanto de Atenas como de Roma, e você é a herdeira da Casa de Atreu. Você sabe o que isso significa?

— Nós dois juntos uniríamos três das quatro Casas — disse Helen, franzindo a testa.

Ela tinha secretamente esperado que fosse ciúme que tinha virado

Lucas contra Orion, mas agora que ela considerava, ela não tinha tanta certeza. Talvez ele não se importasse se Helen estava com outro cara ou

não. Talvez tudo o que importava era manter as Casas separadas. — Não que vocês dois não poderiam ficar juntos por um tempo —

disse Hector rapidamente, interpretando mal o olhar aflito de Helen. —

Mas vocês não podiam realmente... — Realmente o quê, exatamente? — Helen olhou para Hector

bruscamente e cruzou os braços. — Não, vá em frente. Estou morrendo de vontade de ouvir o que o livro de regras dos Descendentes diz que eu posso e não posso fazer com Orion.

— Você pode se divertir... você pode ter um monte de diversão, se você quiser. Não é por nada, mas ouvi dizer que os Descendentes da Casa

de Roma são particularmente bons nisso. Mas não fique muito perto dele emocionalmente, Helen — ele disse, sério. — Sem filhos, sem compromisso de longo prazo, e pelo amor de Deus não se apaixone por

ele. As Casas devem ficar separadas. Era quase estranho demais falar sobre isso com Hector, mas ao

mesmo tempo não era. Helen sabia que ele não estava julgando-a ou dando-lhe um sermão; ele só queria o que era melhor para todos.

— Somos apenas amigos — Helen respondeu certamente com o que

ela não sentia inteiramente. — Nenhum de nós quer qualquer outra coisa. Hector estudou-a por um momento, quase como se ele tivesse pena

dela.

— O mundo inteiro poderia estar apaixonado por você e você não

iria nem perceber, não é? Como aquele garoto estranho, sentado aqui para que ele possa olhar para você por horas a fio.

— Você quer dizer Zach? — Helen balançou a cabeça. — Talvez dois anos atrás, eu teria concordado com você, mas não mais. Zach me odeia.

— Então por que ele estava acampando aqui em um sábado à noite?

— perguntou Hector, em dúvida. Um pensamento lhe ocorreu e seus olhos começaram a girar ao

redor, até que finalmente pousaram no balcão. Seu rosto congelou.

— Ele sabe — Hector sussurrou. — Isso é impossível. Eu nunca lhe disse nada.

— Você sempre deixa o seu telefone desse jeito? Hector fez um gesto para a bancada, e de fato, o telefone de Helen

estava pousado ao lado do pano que ela estava usando. Ela nunca deixou

seu telefone largado no trabalho, especialmente desde que Orion tinha começado a mandar mensagens de texto para ela.

Helen andou até ele e o arrebatou, percorrendo a primeira tela que se iluminou. Eram todas as mensagens com Orion, incluindo o seu plano para se encontrar no Mundo Inferior.

Zach deve ter roubado seu telefone de sua bolsa e olhou suas mensagens. Helen olhou para a tela, sua mente congelada com

descrença. Como Zach poderia traí-la assim? — Ele estava naquele encontro na corrida também, não foi? — O

rosto de Hector estava sombrio e seus olhos eram duas fendas astutas.

— Eu o vi na borda da floresta, seguindo você e Claire. Logo antes dos Cem “misteriosamente” aparecerem das árvores.

— Sim, ele estava lá — ela murmurou, ainda estupefata. — Eu

confiei nele! Não o suficiente para dizer-lhe sobre os meus poderes, mas eu nunca pensei que ele faria qualquer coisa para me machucar.

— Bem, ele sabe, e ele tem que estar dando informações aos Cem. Essa é a única maneira que eles poderiam ter me encontrado. — Hector olhou para as mensagens e suspirou profundamente. — E agora os Cem

vão saber sobre Orion também. O pensamento não tinha ocorrido a Helen, mas agora que Hector

trouxe isso à tona, ela sentiu uma onda de pânico. Como um Vadio, Orion tinha passado toda a sua vida escondendo sua existência da Casa de Tebas, e Helen tinha inadvertidamente levado eles até ele. Ela começou a

digitar uma mensagem frenética. — Certifique-se de dizer a ele para largar o seu telefone —

acrescentou Hector quando ele começou a se mover ao redor da News

Store, verificando se havia qualquer sinal de um ataque iminente. Helen explicou a situação para Orion tão rapidamente quanto seus polegares

permitiriam. Orion não parecia surpreso. Antes de eu sequer entrar em contato com você eu sabia que

eles iam descobrir sobre mim, eventualmente. Não entre em pânico. Eu me preparei para isso.

Helen não podia acreditar que ele estava tão calmo. Ela repassou a as mensagens comprometedoras para ele, mas ele respondeu que tudo o

que eles tinham mandado em mensagem era indecifrável para os outros.

Ele ressaltou que não havia nenhuma maneira para qualquer pessoa rastrear o número de telefone que ele estava usando de volta à sua

localização e lhe disse várias vezes que ele estava seguro. Eles são fanáticos. Eles vão matar você, ela digitou, incapaz de

acreditar que ele não fez as malas ainda.

Olha, eu não tenho 4 sobrenomes (que você saiba) para nada. Confie em mim, Ok? Vejo vc hj à noite como planejado.

Helen sorriu para o telefone dela, aliviada de que ele ainda estava

disposto a ajudá-la. Então ela ficou com raiva. Orion mal tinha se encolhido quando ela lhe disse que ele tinha sido descoberto. Ele não

sabia o quão perigoso os Cem Primos eram? — Qual é o problema? — Hector perguntou quando ele voltou de

verificar o beco e viu sua expressão tempestuosa.

— Ele diz que tem tudo resolvido. — Então não se preocupe com ele. Orion vem manobrando

conspirações de assassinato desde que ele era velho o suficiente para andar. Se ele diz que tomou as devidas precauções, então ele o fez. — Hector falou com tanta fé perfeita nas habilidades de Orion para proteger

a si mesmo que Helen ficou sem fala. — Você apenas se concentre no que você precisa fazer — ele disse sobre seu ombro enquanto ele olhava de um lado para o outro na rua vazia. — Eu tenho que voltar para Daphne

e contar a ela sobre isso. — Você vai lá para fora? — Helen gritou em descrença, pulando para

detê-lo. — Mas eles poderiam estar se escondendo! Há um novo Mestre das Sombras, você sabe.

— Pense estrategicamente, Helen. Se os Cem não fizeram algum

movimento minutos atrás, quando eu estava alheio e vulnerável, isso significa que eles não vão atacar esta noite. A verdadeira questão que um

bom general iria perguntar a si mesmo é, porque eles não estão vindo até mim quando eles sabem que eu estou aqui? — Ele olhou para ela, pensativo.

— Por que você está me olhando assim? — ela perguntou, apontando o dedo para Hector e estreitando os olhos, desconfiado. — O que você

sabe que eu não sei? Hector sorriu e balançou a cabeça, como se Helen não tivesse

entendido totalmente o que ele quis dizer.

— Eu sei que há um monte de pessoas que contam com o seu sucesso. É tão importante, que eles estão dispostos a me deixar em paz sem uma luta para se certificar que a sua descida esta noite não seja

interrompida. — Ele abriu a porta do beco e beijou-a na testa. — Só não se esqueça que as pessoas que realmente a amam precisam muito mais

de você do que eles precisam de seu sucesso. Seja lá o que você e Orion estejam planejando para hoje à noite, tenha cuidado no Mundo Inferior, Princesa.

* * * — Droga! — Helen gritou.

— Algo deveria acontecer? — perguntou Orion em expectativa.

Ela tinha acabado de tentar imaginar o rosto de Perséfone e teletransportar ela e Orion para a presença da rainha. Eles não se

moveram um milímetro. Helen andava ao redor em círculo, chutando pequenos ramos até que ela percebeu que eles eram, na verdade, pequenos ossos amarelados.

— Por que não pode simplesmente funcionar? — ela gemeu. — Apenas uma vez eu quero armar um plano e fazê-lo dar certo. Isso é pedir

demais? Orion abriu a boca, prestes a dizer algo para acalmar Helen. — Claro que não é! — Helen interrompeu, seu discurso ganhando

força. — Mas nada funciona aqui em baixo! Nem nossos talentos, nem mesmo a geografia funciona. Aquele lago ali é inclinado! Deveria tornar-

se um rio, mas oh, não, não aqui em baixo! Isso faria muito sentido! — Está bem, está bem! Você ganhou! É ridículo — Orion disse, rindo.

Ele colocou as mãos em seus braços, fazendo-a ficar quieta e enfrentá-lo.

— Não se preocupe. Vamos pensar em outra coisa. — É só que todo mundo está contando comigo. E eu realmente

pensei que tinha um plano, sabe? — Helen suspirou, sua raiva passando. Ela deixou cair a cabeça na frente e bateu contra o peito de Orion. Ela estava tão cansada. Orion a deixou se encostar contra ele enquanto ele

acariciava suas costas confortavelmente. — Quer saber a verdade? Eu nunca pensei que isso iria funcionar

— disse Orion com cautela. — Sério? — Helen olhou para ele, deflacionada. — Por que não? — Bem, você ainda não viu o rosto de Perséfone, apenas uma foto

dela. — Mas daquela primeira vez que eu apareci perto de você eu nunca

vi o seu rosto todo, também. Tudo o que eu imaginei foi a sua voz, suas

mãos e sua... boca. — Helen tropeçou um pouco, seus olhos caindo para admirar os lábios involuntariamente.

— Bem, isso ainda são verdadeiras partes de mim... não apenas imagens — Orion disse baixinho, olhando para longe. — De qualquer forma, você nem sabe com certeza se aquela foto que você viu de

Perséfone é precisa. — E você iria mencionar isso... quando? — Helen disse, batendo em

seu ombro para dissipar a tensão com algum humor. — Por que você não

disse alguma coisa? — Porque o que diabos eu sei? — ele disse, como se fosse óbvio. —

Olha, até encontrarmos o que funcionará, eu digo que nenhuma ideia deve estar fora de cogitação. Nós vamos desvendar isso, mas só se não ficarmos com a visão limitada.

Helen sentiu o coração ficar um pouco mais leve. Orion sabia exatamente como lidar com suas mudanças de humor pela privação de

sono. De alguma forma, era bom ser ela mesma com ele, não importava como ela se sentia irritada.

— Obrigada. — Ela sorriu para ele, agradecida.

Helen podia sentir seu coração sob sua mão, batendo forte. Sua respiração acelerou, cada respiração ficando alta e apertada em seus

pulmões. Helen ficou subitamente muito consciente do fato de que ele

estava segurando-a, e a parte baixa de suas costas se apertaram com sensibilidade sob o peso de suas mãos. Um intenso momento passou.

Helen tinha a sensação de que Orion estava esperando por ela de alguma forma. Ela riu nervosamente para encobrir o fato de que ela estava respirando tão rápido como ele estava e saiu de seus braços.

— Você está certo. Devemos permanecer abertos a todas as ideias — ela disse enquanto se movia um passo para longe.

Que diabos estou fazendo? ela pensou, cerrando os punhos até que

suas unhas se enterraram na palma da sua mão. O que ela estava fazendo era tentar não pensar muito sobre o que

Hector tinha dito sobre como ela poderia ter “muita diversão” com um Descendente da Casa de Roma. O que isso significava exatamente? Era a Casa de Afrodite, afinal de contas...

— Você por acaso não teria nenhuma, não é? Ideias, eu quero dizer — ela continuou, afastando seus pensamentos sobre quanta diversão ela

estava autorizada a ter com Orion. — Na verdade, eu acho que tenho — ele disse, mudando as

engrenagens tão rápido que Helen se perguntou se ela havia interpretado

a situação corretamente. Orion estava olhando fixamente para o lago inclinado, mordendo o lábio inferior.

— Eu estou ouvindo — ela disse, só para lembrá-lo de que ela ainda estava lá.

Ele estava pensando em beijá-la, ou ela estava apenas lisonjeando

a si mesma? Helen observou-o gentilmente puxar o lábio inferior entre os dentes e não sabia qual das duas opções que ela esperava que fosse

verdade. Por que Orion tinha que ser um Herdeiro? Por que ele não poderia

ser um cara incrível que ela tinha acabado de conhecer, de preferência

um mortal completo, por isso ele estaria completamente fora desse absurdo de Trégua? Seria muito mais fácil se Orion fosse apenas um cara normal.

— Sabe, em toda a minha leitura sobre o Mundo Inferior houve apenas algumas coisas que foram mencionadas repetitivamente — ele

continuou, alheio aos pensamentos de Helen. — É como se elas fossem as únicas coisas que os historiadores concordam que estão realmente aqui cem por cento do tempo.

Helen começou a fazer uma lista em seus dedos, fazendo um inventário de todas as coisas diferentes que poderiam caber na descrição

de Orion. — Bem, estamos em Erebus agora, este lugar nenhum sem-graça.

Depois, há os Campos de Asfódelo: assustador. E o Tártaro: eca.

— Só fui para o Tártaro uma vez... quando nós nos encontramos, ah, da primeira vez — disse Orion, referindo-se a vez que ele a tinha puxado

para fora da areia movediça. — E isso foi o suficiente. — É onde todos os Titãs estão presos também. Definitivamente não

é um lugar agradável para passar a eternidade — ela disse severamente.

— Então, há o Tártaro, Erebus, o Asfódelo, os Campos Elísios — também conhecido como céu. Eu tenho certeza que eu não o encontrei ainda. O

que eu estou esquecendo? Oh, sim, há os cinco rios. Os rios! — exclamou

Helen, captando no último segundo. — Tudo aqui é sobre os rios, não é? Como algo recordado de um sonho agitado — mais emoção do que

imagem — Helen tinha uma sensação desconfortável sobre um rio, mas ela não tinha certeza de qual deles. Assim que ela tentou virar os olhos da mente diretamente sobre isso, sua memória nadou para longe como

um peixe pálido. — O Estige, o Aqueronte, todos eles. Eles meio que definem o espaço

aqui, não é? — Orion meditou enquanto ele processava esta nova linha de pensamento. — Eles poderiam nos levar, como caminhos.

— E como é que surgiu este pequeno pedaço de genialidade? —

Helen perguntou com admiração, seu antigo pensamento perdido, como se nunca tivesse existido.

— Desde que você disse que seu lago favorito estava lá — ele disse

com um sorriso irônico. — Deve ser um rio, mas não é. Isso me fez pensar que os rios devem ser diferentes. O resto das paisagens aqui embaixo

estão sempre alternando em torno como se elas fossem intercambiáveis. Mas os rios ficam parados. Eles estão sempre aqui. Quero dizer, mesmo os mortais mais completos sabem sobre o rio Estige, certo? Os rios estão

em cada relato confiável do Mundo Inferior que eu já li, e a maioria dos livros dizem que em algum momento ou outro todos os rios se encontram.

— Então, nós encontramos qualquer rio e o seguimos, e, eventualmente, ele vai encontrar-se com o que precisamos — disse Helen,

olhando fixamente sem piscar os olhos para Orion, como se algum movimento fosse arruinar a nova esperança que ela sentia. — O Jardim de Perséfone fica ao lado do Palácio de Hades, e o palácio deve ser perto

de um rio. Nós achamos esse rio, e podemos encontrar Perséfone. — Sim, mas isso é todo um tipo diferente de dor de cabeça. O rio em

torno do Palácio de Hades é o Flegetonte, o Rio do Fogo Eterno. Não é

agradável passear ao longo de suas margens, eu tenho certeza. — A testa de Orion franziu em pensamento. — E então nós ainda precisamos

convencer Perséfone a nos ajudar a se livrar das Fúrias. Orion de repente quebrou o contato visual e começou a olhar ao

redor de uma forma tensa, como se ele tivesse ouvido alguma coisa.

— O que foi? — perguntou Helen. Ela olhou por cima do ombro, mas ela não viu nada.

— Nada. Vamos lá — ele disse, inquieto. Orion puxou o braço de

Helen, chamando ela para a frente. — Ei, qual é a pressa? Você viu alguma coisa? — Helen perguntou

quando ela trotou ao lado de Orion, mas ele permaneceu em silêncio. — Olha, só me diga se isso tem presas, ok?

— Você ouviu falar de um roubo no Getty? — ele perguntou de

repente. — Ah, sim — disse Helen, surpresa com a súbita mudança de

assunto. — Você acha que tem algo a ver com o que você acabou de ver? — Eu não sei o que vi, mas independentemente disso, temos estado

parados em um lugar por muito tempo — ele disse, parecendo irritado.

— Eu não deveria ter deixado isso acontecer. Eu não posso acreditar que eu...

Helen esperou que ele terminasse a frase, mas ele não o fez. Em vez

disso, ele manteve o cenho franzido, como se algo estivesse errado, enquanto caminhava ao lado dela. Helen ficou olhando ao redor, mas ela

não viu ou ouviu qualquer tipo de ameaça. Os minúsculos ossos que cobriam o chão, os que Helen tinha tão

descuidadamente chutado anteriormente, foram ficando cada vez

maiores a cada poucos passos. Enquanto ela e Orion caminhavam alguns metros, os esqueletos cresciam do tamanho de ratos para gatos, e depois de elefantes. Logo eles estavam vagando em meio a esqueletos que eram

muitas vezes maiores do que qualquer dinossauro. Olhando para as estruturas calcificadas maciças que saíam da terra, Helen sentiu como

se estivessem caminhando por uma floresta de ossos. Costelas arqueadas subiam acima como os pilares de uma catedral

gótica. Articulações grumosas, cobertas de ramificações de colônias de

líquens mortos e poeirentos, jaziam como pedras enormes em seu caminho. Helen notou que muitos tipos diferentes de anatomias estavam

desordenados, como se centenas de seres do tamanho de arranha-céus tivessem morrido amontoados em cima uns dos outros. A escala foi aumentada a tal ponto que era como se Helen estivesse procurando

através de um microscópio. Na sua perspectiva, cada poro no interior dos ossos do tamanho de uma sequoia era tão grande que parecia que eles eram feitos de camadas de renda. Ela passou a mão sobre uma das

superfícies treliçadas e olhou para Orion. — Você sabe o que essas criaturas eram? — ela sussurrou. Orion

baixou os olhos e engoliu em seco. — Os Gigantes de Gelo. Eu li histórias sobre isso, mas nunca

acreditei que era real. Este é um lugar amaldiçoado, Helen.

— O que aconteceu aqui? — ela sussurrou, tão impressionada com o que ela estava olhando como pela reação emocional de Orion.

— É um campo de batalha inteiro levado diretamente para o Mundo Inferior. Isso só pode acontecer quando cada último soldado luta até a morte. Os Gigantes de Gelo estão extintos agora — ele disse em um tom

monótono e sem esperança que era muito diferente do dele. — Eu tive pesadelos sobre um outro campo como este, transportado para o Mundo Inferior. Exceto que em vez de Gigantes de Gelo, todos os ossos

pertenciam aos Descendentes. Sua boca geralmente sorridente estava comprimida e severa, e Helen

foi lembrada do que Hector tinha dito. Orion tinha vivido uma vida difícil. Ela podia sentir isso dentro dele agora, como uma nota triste que foi concebida para ser uma canção alegre.

Ela inclinou o rosto sob o dele até que ela encontrou seus olhos. Puxando-o para mais perto dela, ela balançou o braço suavemente, como para acordá-lo.

— Ei — ela disse suavemente. — Você sabe o que sempre me incomoda nas aulas de história?

— O quê? — Orion foi tirado de seu devaneio melancólico pela pergunta aparentemente aleatória de Helen, assim como ela pretendia.

— É tudo sobre guerras, batalhas e quem conquistou quem. — Helen

envolveu as duas mãos em torno de um de seus antebraços grossos e começou a conduzi-lo novamente. — Você sabe o que eu acho?

— O quê? Seu rosto abriu-se num sorriso enquanto ele lhe permitiu liderar.

Helen ficou encantada ao ver as nuvens de tempestade que haviam

escurecido seu rosto clarear tão rapidamente, como se ela tivesse o poder de bani-las à vontade.

— Eu acho que a cada data de batalha que nos fazem memorizar na

aula de história, eles deveriam nos fazer aprender pelo menos duas coisas impressionantes. Como, quantas pessoas são salvas todos os anos pelos

bombeiros, ou o número de pessoas que já caminharam sobre a lua. Você sabe o que é horrível? Eu nem sei a resposta para isso.

— Nem eu — Orion disse com um sorriso tranquilo.

— E nós devíamos saber isso! Somos americanos! — Bem, eu sou oficialmente canadense.

— Quase a mesma coisa! — disse Helen, acenando uma mão entusiástica no ar. — Meu ponto é que, considerando todas as coisas incríveis que as pessoas são capazes de fazer, por que vamos nos

concentrar na guerra? Os seres humanos deviam ser melhores do que isso.

— Mas você não é humana, não realmente, não totalmente humana. Bela semideusa — sussurrou uma voz escorregadia e sedutora.

Helen ouviu um rangido, e um flash brilhante chamou sua atenção

quando Orion desembainhou uma das muitas lâminas que ele mantinha presa sob suas roupas. Ele a empurrou para trás e enfiou os dedos em

seu quadril, sua mão grande prendendo-a no lugar caso ela tentasse fazer algo idiota, como saltar e começar a balançar.

— Venha e me enfrente — Orion desafiou seu adversário. Sua voz

era calma, fria, quase como se ele estivesse esperando por isso. Frustrada consigo mesma por ser tão indefesa sem seu relâmpago,

Helen decidiu aprender a lutar como uma mortal logo que ela estivesse

de volta ao mundo real. Se ela ao menos conseguisse voltar. Uma risada fina e ondulada ecoou pela floresta de ossos, e uma

quase-canção assustadora teceu o seu caminho em direção a eles. — Semideus bebezão! Maior do que a maioria, como o caçador que

ele foi nomeado! Quer lutar comigo, insensato Sky Hunter? Cuidado! Eu

inventei a guerra. Guerra, belezuras, eu inventei isso. Mas, não, Sky Hunter não vai prestar atenção. Ele vai lutar! E ele irá para sempre

persegui-la através da noite! Por quão bonitabonitabonita ela é! A voz melodiosa deslizou em gargalhadas infantis que fizeram os

dentes de Helen moerem juntos até guincharem. Quando Orion circulou

na defensiva, Helen teve um vislumbre de uma figura longa e desengonçada caminhando através do cemitério dos Gigantes de Gelo. Ele era magro, quase nu, e todo pintado com arabescos com tinta azul,

como um homem selvagem da Idade da Pedra. — Assim como a minha irmã, minha amante. Assim como O Rosto!

Oh! O Rosto que amava, que mandava, que derramou tanto sanguesanguesangue! De novo e de novo! Eu quero jogar o jogo com a

bela semideusa novamente! — Rindo, ele correu para perto, tentando

atrair Orion para longe de Helen, mas Orion não caiu na dele. Quando o homem selvagem chegou mais perto, Helen deu uma

olhada melhor nele. Horrorizada, ela apertou-se mais apertado contra as costas de Orion. O homem selvagem tinha olhos cinzentos esbugalhados e longos dreadlocks que pareciam que poderiam ter sido loiros platinados

ou brancos antes de serem emaranhados com corante azul e sangue coagulado. Sangue parecia borbulhar para fora de sua pele. Ele escorria de seu nariz e ouvidos — até mesmo a partir de seu couro cabeludo, como

se seu cérebro apodrecido vazasse sangue coagulado de qualquer buraco próximo.

Em sua mão estava uma espada esfarrapada, suas bordas laranja com ferrugem. Girando em torno enquanto Orion interceptava uma das fintas do homem selvagem, Helen sentiu o cheiro dele. Seu estômago

revirou com o fedor necrosado. Ele cheirava a suor azedo e carne podre. — Ares — Orion sussurrou para Helen por cima do ombro quando o

deus pulou, rindo histericamente, se escondendo entre os ossos. — Não tenha medo, Helen. Ele é um covarde.

— Ele é louco! — Helen sussurrou de volta freneticamente. — Ele é

completamente e totalmente insano! — A maioria dos deuses são, apesar de eu ter ouvido que Ares é de

longe o pior — Orion disse com um sorriso reconfortante. — Não tenha medo. Eu não vou deixá-lo chegar perto de você.

— Hum, Orion? Se ele é um deus, ele não pode praticamente

esmagá-lo? — ela perguntou delicadamente. — Não temos os nossos poderes de semideuses aqui, então por que

ele deveria ter seus poderes de deus? — ele disse com um encolher de

ombros, como se estivesse lançando uma ideia. — E ele é o único fugindo de nós. Isso é geralmente um sinal muito bom.

Orion tinha um ponto, mas Helen ainda não relaxou. Ela podia ouvir o deus louco cantarolando para si mesmo enquanto trotava à distância. Ele não parecia com muito medo deles.

— Você aí, pequeno semideus! Se escondendo dos outros? — Ares de repente gritou de algumas centenas de metros de distância. — Tão

inconveniente, quando eu preciso de vocês três juntos para começar o meu jogo favorito! Logo, logo. Por agora eu vou ficar quieto. Eu vou assistir você brincar com o animal de estimação do meu tio ao invés. Aí

vem ele, pequeno semideus! — De quem ele está falando? — Orion sussurrou por cima do ombro

para Helen. — Eu não sei, mas eu não acho que somos nós. Talvez ele esteja

vendo coisas? — ela adivinhou.

— Talvez não. No início, eu pensei que eu tinha visto... — A sentença de Orion foi abruptamente interrompida.

Um grande uivo soou através da floresta óssea. Foi tão profundo e

alto que Helen podia senti-lo vibrando dentro de seu peito. Um segundo uivo, depois um terceiro se seguiu, cada um mais perto do que o último.

Helen congelou por puro instinto, como um coelho branco na neve.

— Cerberus. — A voz de Orion falhou. Ele se recuperou de seu medo

rapidamente. — Corre! Ele agarrou o braço de Helen e arrastou-a junto, tirando-a de seu

transe apavorado. Os dois correram para salvar suas vidas com a risada de Ares zumbido nos seus ouvidos.

Eles saltaram sobre os ossos frágeis, tentando manter os uivos atrás

deles, enquanto tomavam cuidado para não entrar em um beco sem saída. Felizmente, os ossos continuaram ficando menores e menores à medida que ziguezagueavam para fora da floresta.

— Você sabe onde você está indo? — ela ofegou. Orion torceu o pulso para fora sob a manga da jaqueta e olhou para o punho de ouro.

— Ele brilha quando estou perto de uma porta — ele gritou de volta para ela.

Helen desviou de uma pélvis particularmente afiada e, em seguida,

olhou para o punho de Orion. Não estava brilhante, nem mesmo um pouco. O uivo do cão infernal de três cabeças de Hades estava chegando

mais perto a cada segundo. — Helen. Você tem que acordar — Orion disse severamente. — Eu não vou a lugar nenhum.

— Isso não está em debate! — ele gritou para ela com raiva real. — Acorda!

Helen balançou a cabeça teimosamente. Orion pegou Helen

rudemente pelo braço, forçando-a a parar. Ele balançou seus ombros e olhou nos olhos dela.

— Acorde. Suba. — Não. — Ela olhou para ele. — Vamos embora juntos ou não

vamos.

Outro uivo de chocalhar o peito atravessou o ar. Ambos se viraram e viram Cerberus, a menos de um campo de futebol de distância, pulando

através da cobertura decrescente do cemitério. Um estranho guincho saiu do fundo da garganta de Helen com a

visão dele. Ela não sabia o que ela estava esperando, talvez um pit bull

ou um mastim com a cabeça de um Doberman acionada para completar o trio. A visão de qualquer raça reconhecível teria sido um conforto. Mas não. Ela deveria ter sabido que nenhum desses cães domesticados

familiares existiam há milhares de anos, quando esta besta foi parida. Cerberus era um lobo. Um lobo de seis metros de altura de três

cabeças com mandíbulas salivando, e ele não tinha um cromossomo manso em seu corpo. Quando uma das cabeças viraram para ela, seus olhos reviraram para mostrar a parte branca. Uma cabeça girou para

Helen, as outras duas para Orion. Os pêlos se levantaram em suas costas compartilhadas, e todas as três cabeças abaixaram ameaçadoramente. Uma pata se estendeu para frente, depois outra, quando um rosnado

baixo retumbou em todas as três gargantas. — EEEYAYAYA!!

Um grito agudo quebrou a concentração mortal de Cerberus, seguido por uma chuva de pedaços de ossos que foram atirados na cabeça mais à esquerda.

Todas as três cabeças reagiram imediatamente. Cerberus virou-se e

correu atrás do yodeler misterioso, abandonando Helen e Orion. Helen tentou ver quem os salvou, mas ela só conseguia ver uma sombra fraca

entre os pedaços retorcidos de osso. — Vai-vai-vai! — Orion ordenou otimista quando ele girou em torno

de Helen. Tomando-lhe a mão e segurando-a forte, ele correu em direção

a uma parede de pedra que tinha aparecido à distância. Helen resistiu. — Nós temos que voltar! Nós não podemos sair... — Não desperdice um ato de heroísmo perfeitamente bom com um

ruim de si própria! — ele gritou quando ele a arrastou junto. — Você não tem que salvar a todos, sabia.

— Eu não estou tentando... — Helen começou a discutir, mas uma outra série de rosnados de Cerberus a fez mudar de ideia. O cão infernal tinha aparentemente terminado com o herói yodel e estava no caminho

deles novamente. Era hora de calar a boca e correr. Helen e Orion correram desordenadamente em direção à parede com

as mãos entrelaçadas enquanto eles encorajavam um ao outro a ir adiante. Ambos estavam além de cansados. Helen tinha perdido a conta de quantas horas eles tinham estado no Mundo Inferior, e quantos

quilômetros eles haviam percorrido nessa quantidade incalculável de tempo. Sua boca estava tão seca que suas gengivas doíam, e seus pés

estavam inchados e machucados dentro de suas botas. Orion chiou dolorosamente a seu lado como se cada respiração fosse como lixas em seus pulmões.

Olhando para a mão de Orion ligada firmemente a dela, Helen viu o punho da manga no pulso começar a brilhar. Com cada passo mais perto da parede, a névoa dourada que vinha do punho aumentava até que

cercou seu corpo em um halo de luz dourada. Helen desviou os olhos da forma iluminada de Orion para olhar uma fenda incandescente entre as

rochas escuras da parede à frente. — Não tenha medo! Apenas continue indo — ele gritou enquanto

corriam em direção a ela em rota de colisão.

Ela podia ouvir o bater das patas maciças alcançando eles enquanto o cão do inferno fechava a distância. O chão tremeu e o ar ficou quente e

úmido quando Cerberus literalmente respirou no pescoço de Helen. As rochas não separaram. Elas não se mexeram

tranquilizadoramente de lado para dar a Helen e Orion uma abertura

clara. Colada ao lado de Orion, Helen foi em frente sem hesitação. Eles pularam através da parede sólida, dispararam através de um

abismo de ar vazio, e acertaram o que parecia ser uma outra parede.

Helen ouviu um ruído doentio quando sua têmpora atingiu a superfície dura. Sem conseguir recuperar o fôlego, Helen esperou para deslizar para

baixo da parede e cair no chão, mas ela nunca o fez. Levou um momento para ela perceber que a gravidade tinha invertido, e que ela já estava no chão. Ela estava deitada em um piso gelado em um lugar muito frio e

muito escuro. — Helen? — A voz preocupada de Orion veio do escuro e ecoou

através de muitas passagens separadas.

Ela tentou responder a ele, mas tudo o que saiu de sua boca foi um

som chiado. Quando ela tentou pegar na cabeça, seu estômago girou fracamente. Não havia nada em sua barriga para vomitar.

— Oh, não — ela ouviu Orion arfar quando ele andou em direção a ela no escuro. Ela ouviu um som de estalo e rangido, seguido por uma chama laranja brilhante quando ele acendeu um isqueiro. Ela teve que

fechar os olhos ou ela sabia que ia vomitar com certeza. — Oh, Helen, sua cabeça...

— F... frio — ela conseguiu gemer, e ela estava. Estava ainda mais

frio aqui do que estava em seu quarto, e ela não conseguia levantar-se para longe dele. Ela contraiu os dedos e eles pareciam funcionar, mas

por alguma razão os braços não se moviam. — Eu sei, Helen, eu sei. — Ele se moveu em torno dela

freneticamente, mas falou em um sussurro suave, como se ele estivesse

tentando acalmar uma criança ou um animal ferido. — Você bateu a cabeça muito forte e nós ainda estamos no portal — nem aqui nem lá.

Você não pode curar a si mesma a menos que eu mova você, ok? — Ok — ela conseguiu lamentar. Ela estava começando a ficar

apavorada que seus membros não estavam respondendo corretamente.

Ela sentiu Orion colocar as mãos sob o corpo de bruços, sentiu ele preparar-se por um breve momento, e então ela sentiu ondas de dor atravessarem de sua têmpora até os dedos dos seus pés.

Orion estava murmurando para ela enquanto a levava para fora da zona de frio para algum lugar um pouco mais quente, mas Helen não

tinha ideia do que ele estava dizendo. Ela estava muito ocupada tentando não vomitar. O mundo inteiro estava inclinando e cambaleando, e ela estava desesperada para os passos bruscos de Orion pararem. Toda vez

que ele plantava um pé parecia que ele estava pisando em sua cabeça. Finalmente, ele se agachou, embalando-a em seu colo, e ela ouviu o estalo

de seu isqueiro novamente. Ela podia sentir um brilho quente por trás de suas pálpebras

fechadas quando Orion acendeu uma vela. Helen sentiu-o afastar seu

cabelo para trás de sua têmpora e tentar do melhor jeito envolvê-la dentro de sua jaqueta, perto de sua pele. Depois de um momento ela começou a se sentir um pouco melhor.

— Por que me sinto tão doente? — ela perguntou quando a voz dela tinha ficado mais forte.

— Nunca teve uma concussão? — ele perguntou em troca, parecendo quase divertido. Ele apertou com mais força em um breve abraço. — Está tudo bem. Você está curando rápido agora que estamos

longe do portal. Você tem seus poderes de Descendente de volta nesta parte da caverna, então você vai ficar melhor em breve.

— Ótimo — ela disse com fé completa. Se Orion disse que ela ia ficar

bem, Helen sabia que ela ficaria. Depois de apenas mais alguns segundos, ela se sentiu quase de volta ao normal e ela relaxou em seus

braços. Mas, quando ela o fez, ela sentiu ele endurecer. — Eu tenho que deixá-la agora — ele disse em uma voz suave. — Hum? — Helen disse, levantando os olhos para Orion. Ele olhou

para ela com tristeza.

— Estamos de volta ao mundo dos vivos, Helen. Elas vão vir até nós.

Assim que ele terminou de falar, um gemido lamentável veio de toda parte ao mesmo tempo. Orion baixou a cabeça com uma expressão de

dor e suspirou profundamente. Em um movimento repentino e violento, ele chutou para cima a vela ao lado deles, jogando-a para frente. Ele tentou empurrar Helen para fora de seu colo para que ele pudesse ficar

de pé e soltar ela dele na escuridão repentina. Todos os músculos do corpo de Helen ficaram rígidos, impedindo-a

de inclinar para frente e levantar-se. Ela colocou uma mão firme contra

o peito de Orion, o empurrou para trás, e jogou uma perna sobre ele para fixá-lo no chão. Uma onda de fúria veio sobre ela enquanto ela apertava

seus quadris entre as coxas. — Você não vai a lugar nenhum — ela disse. Sua voz era baixa e

cheia de ódio.

— Não, Helen. Não — Orion implorou, mas ele sabia que era tarde demais.

As Fúrias pegaram Helen, e elas estavam ordenando-lhe para matar Orion.

Traduzido por I&E BookStore

ach dirigiu ao redor da ilha uma última vez apenas para se certificar de que Hector não o estava seguindo, e depois voltou para

o navio de seu mestre. Hector pode ser um Banido, mas ele ainda estava

canalizando informações à família Delos, e Zach não podia se dar ao luxo de fracassar. Automedon faria muito mais do que matá-lo se ele

acidentalmente levasse Hector à sua base no navio com as velas vermelhas.

Desligando o motor, Zach olhou para a doca que levava ao iate

gracioso, balançando suavemente sobre as ondas noturnas. Suas palmas começaram a suar e seu estômago vibrou com a ideia de andar abaixo dessa linha de pranchas e entregar o seu relatório completo para

Automedon. O relatório cara a cara era apenas uma formalidade — Zach tinha enviado todas as mensagens para o seu senhor logo que ele as tinha

roubado — mas Automedon gostava de lembrar a seu assecla que cada segundo de seu dia pertencia ao seu mestre.

Não havia maneira de Zach sair dessa. E era tudo culpa de Helen.

Aquela vaca. Ele só queria saber o que ela estava escondendo todos esses anos.

Ele havia tentado falar com ela sobre isso em particular, mas não importava quão gentil ele agia, ela não contava nada. Se ela tivesse dado atenção para ele, talvez saído com ele algumas vezes, nada disto teria

acontecido. Zach acabou recebendo todas as respostas que ele queria — e muito

mais que ele não queria. Automedon veio de uma época em que a única

diferença entre um homem livre e um escravo era o timing, e Zach estava no lugar errado na hora errada.

Zach saiu de seu carro e começou a descer a prancha, lembrando-se que, pelo menos, seu mestre lhe tinha respeitado o suficiente para ser honesto. Ele tinha até mesmo lhe dado um trabalho importante. Ele

estava espionando seus antigos amigos, especialmente Helen, e dando a seu mestre qualquer informação que pudesse reunir sobre sua missão no

Mundo Inferior. Desonroso, mas ei, era um caminho para este mundo, pelo menos. Helen era uma esnobe. E os garotos Delos? Eles estavam todos muito ocupados lustrando seus músculos bonitos e dormindo com

cada menina gostosa na ilha para notar um ser humano normal e humilde como ele.

Hoje à noite ele tinha servido bem ao seu mestre, mesmo que a informação que ele tinha fornecido não fosse bem-vinda. Zach tinha provado que havia outro Vadio sobrevivente, e se haviam dois — Helen e

esse cara novo, Orion — então poderiam haver muitos, muitos mais.

Z

Zach não era um idiota. Não levou muito tempo para entender a

política ou o prêmio final envolvido. Levantar Atlântida daria a imortalidade aos Descendentes, e depois de milhares de anos presos em

um impasse com os deuses, os Cem Primos estavam determinados a reclamar o seu prêmio.

Houve algum debate, vindo da facção chorosa dos Delos, sobre uma

grande guerra começando como resultado disso, mas o mestre de Zach tinha explicado tudo a ele. Guerra seria uma escolha muito ruim para os deuses. Os Cem, imortais assim que levantassem Atlântida, seriam mais

numerosos que os Doze Olimpianos por pelo menos oitenta e oito, e todos sabiam que havia mais de uma centena de primos nos Cem.

Se os Olimpianos tentassem lutar, eles seriam obrigados a render-se quase imediatamente. A humanidade finalmente teria deuses que poderiam realmente entendê-los, deuses que uma vez tinham sido

mortais. Talvez, para variar, as orações das pessoas seriam respondidas em vez de ignoradas.

Fazia sentido para Zach. Ele sabia que estava no lado certo. É só que, às vezes, Zach ouvia seu mestre dizer coisas horríveis,

como a forma como ele desejava que toda a humanidade morresse ou fosse transformada em escravos estúpidos, como em uma colônia de formigas. Em mais de uma ocasião, Automedon tinha dito que ele queria

que seu mestre “limpasse o mundo.” Zach nunca conheceu o mestre do seu mestre, e pelo que ele tinha ouvido, ele não queria. Nunca.

Caminhando para o iate, Zach ouviu múltiplas vozes abaixo no convés e sentiu um cheiro rançoso e ácido, como leite azedo. Seu corpo recuou do cheiro dos visitantes, mas ele disse a si mesmo para ignorar

isso. Às vezes, seu mestre não cheirava bem, também. Mesmo que ele parecesse na maior parte humano do lado de fora, Automedon tinha um exoesqueleto em vez de pele e ele não respirava pela boca, mas através

de pequenos orifícios escondidos por toda a sua superfície exterior. Ele não tinha cheiro humano — era mais como almíscar misturado com

folhas secas. Zach tomou um assento no convés superior agora vago. Os outros

membros dos Cem que vieram com Automedon para a ilha tinham sido

chamados de volta por Tantalus logo após o confronto com Hector, Lucas, e Helen nos bosques. Zach não tinha certeza exatamente por que, mas ele achou que tinha algo a ver com Tantalus sendo atacado. O que quer

que tivesse acontecido deve ter sido grande para que a guarda de elite de Tantalus tenha circulado os vagões da maneira que eles fizeram. Tudo

que Zach sabia era que agora um batalhão inteiro dos Cem Primos estava comprometido em perseguir uma mulher misteriosa através do mundo.

As vozes abaixo no convés aumentaram ligeiramente em desacordo,

e então rapidamente suavizaram enquanto um ou outro lado recuou. Zach sabia que não devia interromper, então ele esperou em um dos

bancos de teca. Eles sabiam que ele estava lá, claro. Zach tinha aprendido que seu

mestre podia ouvi-lo não importava o quão suavemente ele tentava andar.

Quem quer que estivesse lá com ele era igualmente dotado — quer seja um Descendente de alto escalão, ou qualquer outra coisa ainda mais

poderosa. Seu mestre não usava esse tom reverente de voz em qualquer

ser que ele considerava menos do que ele, e havia poucos seres no planeta que Automedon não classificava como abaixo dele.

Quando ouviu o grupo no convés começar a subir, Zach levantou respeitosamente. Seguindo seu mestre até as escadas estava uma mulher alta e um jovem pálido. Eles pareciam modelos de moda com sua beleza

delicada e olhos cinzentos luminosos, e eles se moviam como se estivessem flutuando.

Mas, em uma inspeção mais próxima, havia muito branco nos olhos

cinzentos, e eles pareciam ofegar em vez de respirar. Zach se afastou, e pelo olhar descontente no rosto de seu mestre ele soube que ele tinha

feito algo terrivelmente errado. A mulher ofegante balançou a cabeça para Zach, como uma cobra concentrando-se em seu alvo.

— Ajoelhe-se, escravo! — Automedon ordenou.

Zach caiu de joelhos, mas continuou olhando para a mulher hipnoticamente feia. Levara um momento para ele perceber, mas mesmo

com toda a sua altura e características nítidas, ela não era uma modelo bonita. Ela era repulsiva, e assim como o garoto inclinando e cambaleando ao lado dela.

Eles eram a fonte daquele cheiro horrível — leite estragado misturado com enxofre. Isso fez seus olhos lacrimejarem, então ele os

fechou. Emoções violentas e caóticas começaram a borbulhar dentro dele. Ele queria bater em alguém ou colocar algo em chamas.

— Finalmente, alguma reverência — a mulher assobiou.

— Ele é ignorante — disse Automedon com desdém. — Ele é muito estúpido para cumprir o seu dever? — De modo algum. Ele é nativo deste lugar e muito ligado ao Rosto

— Automedon respondeu suavemente. — Se estes são os Três Herdeiros da profecia, espero que meu escravo se comporte do jeito que nós

precisamos que ele faça. Como um ser humano invejoso. — Ótimo. Zach não ouviu a mulher e o jovem irem embora, mas quando ele

abriu os olhos, eles se foram. Apenas o cheiro medonho persistiu. A sensação imprudente tomou conta dele, e ele olhou ao redor do convés

do navio procurando algo para quebrar.

* * * As Fúrias sussurraram nomes e soluçaram soluços lamentáveis.

Helen disse a si mesma para tirar a mão do peito de Orion e se afastar. Ela podia senti-lo entre as pernas dela, mas ela não podia vê-lo

no meio da escuridão da caverna. Isso ajudou. Se ela pudesse apenas parar de tocá-lo, ela seria capaz de se acalmar, e ela precisava se acalmar. Ela estava com tanta raiva que ela podia jurar que sentiu a terra tremer.

Mas ela não recuou. Sem nunca tomar uma decisão, ela se viu cavando seus dedos nele, agarrando a camisa dele e puxando-o mais

perto dela enquanto ele tentava se afastar. Outro tremor abalou o chão da caverna embaixo dela, e dessa vez

ela sabia que não era sua imaginação. O tremor foi tão forte que afastou

ela de Orion. Um grande estrondo retumbante trovejou através da

caverna quando o chão levantou-se e caiu de volta para baixo. Ela ouviu a respiração de Orion parar em sua garganta enquanto ele tentava e não

conseguia dizer o nome dela. De alguma forma, ele tinha saído de debaixo dela, mas Helen sabia que ele ainda estava perto.

Desesperada por um pouco de luz, Helen pensou em convocar um

raio. Ela estava severamente desidratada depois de passar tanto tempo no Mundo Inferior, e ela sabia que a desidratação deixaria o raio altamente instável. Se ela não tivesse controle total sobre seus raios, eles

poderiam explodir para fora dela em pleno vigor e desmoronar a caverna já danificada pelo terremoto. O cinturão protegia Helen de armas, não de

julgamento ruim, e a terra poderia sufocá-la tão rapidamente quanto o mar poderia afogá-la.

— Helen. Corre — Orion conseguiu dizer em uma voz rouca. — Por favor.

Sua voz arranhou seus nervos como pregos em um quadro, mas pelo

menos ele a guiou de volta à sua posição. Ela mergulhou em cima dele, sentando em cima dele novamente e

prendendo-o para baixo firmemente entre os joelhos. Ela sentiu as mãos

dele agarrarem seus antebraços, impedindo-a de lançar golpes em sua cabeça. Cada uma de suas mãos estava envolvida em torno de cada um

de seus pulsos no escuro. Enquanto lutavam, Helen sentiu uma terceira mão, insubstancial

como o ar, mas inconfundivelmente de Orion. Ele a estendeu até tocar

seu peito. Ela balançou e tremeu convulsivamente, longe do choque de seu toque impossível.

Com infinita ternura, a terceira mão de Orion passou por suas roupas, sua pele e seus ossos. Ele dedilhou os nervos ramificados enjaulados dentro de sua espinha dorsal, em seguida, cavou aquele lugar

atrás de seu esterno onde sua risada começava — o mesmo lugar que tinha doído terrivelmente desde que ela tinha perdido Lucas.

Enquanto Helen sabia que um órgão em seu peito não era

responsável por suas emoções, parecia como se Orion segurasse o centro de seu coração em sua mão invisível.

Ela congelou, esmagada por esta nova sensação. Orion se sentou debaixo dela, seus rostos a centímetros de distância no escuro.

— Não temos que machucar um ao outro, Helen — ele respirou

suavemente. Seus lábios roçaram a parte hipersensibilidade da pele entre a orelha e o osso do maxilar. Os pêlos em todo o rosto de Helen

levantaram-se e estenderam para tocar a boca de Orion como se ele estivesse convocando-os. Seus punhos relaxaram e caíram de sua postura combativa, descendo incertamente, até que as palmas das mãos

pousaram sobre os ombros quentes e grossos de Orion. Dentro dela, a terceira mão de Orion flexionou e correu para fora em

cinco direções, como cinco dedos se estendendo. Seu toque interior

inundou para baixo de cada um dos seus quatro membros e, por último, o quinto dedo se estendeu para encher a cabeça dela.

— Eu nunca poderia machucá-la. — Sua voz falhou, e suas mãos reais correram pelas suas costas para embalar seus quadris.

— Eu não sei o que você está fazendo comigo — Helen sussurrou,

mantendo a voz quase inaudível para que ela não gemesse, chorasse ou gritasse por acidente. Ela não conseguia decidir se o toque íntimo de

Orion era a coisa mais incrível que ela já tinha sentido, ou se era tão íntimo que passou do prazer e se tornou dor. — Mas eu não quero machucar você, também.

— Eles não devem! Um sussurro insistente inundou a caverna, e o som rapidamente

elevou-se para um grito. As Fúrias estavam febris, e pela primeira vez que Helen conseguia se lembrar, elas realmente a tocaram.

Batendo suas testas úmidas e seus frágeis membros em cinzas

contra as costas de Helen, as Fúrias se aproximaram dela. Tropeçando para frente, elas arranharam seu rosto e puxaram seu cabelo, rasgando Helen com suas unhas afiadas para tirá-la do domínio de Orion.

Mil assassinatos sem vingança brilharam em vermelho nos pensamentos de Helen.

— Mate ele! Mate-o agora! — elas sibilaram. — Ele ainda tem uma dívida com a Casa de Atreu. Faça-o pagar com sangue!

Sobrepujada pelas Fúrias, o coração de Helen saiu da mão invisível de Orion e encheu de raiva. Ela recuou e bateu nele tão forte quanto ela conseguia — tentando forçar seu punho para baixo de sua garganta.

Qualquer que seja o controle que Orion tinha estado exercendo sobre si mesmo estava perdido. As Fúrias foram rápidas em possuí-lo. Ele grunhiu como um animal e disparou para frente, agarrando os braços de

Helen e empurrando-a bruscamente de costas. Com seus poderes de Descendente restaurados, ele estava mais rápido e mais forte do que ela

poderia ter imaginado. Hector estava certo. Orion era extremamente poderoso. Helen tentou lutar para sair de debaixo dele, mas já era tarde demais. Ele tinha a vantagem agora, e com o seu tamanho e habilidade

ele poderia facilmente mantê-la presa embaixo. Arriscando uma catastrófica erupção de eletricidade, Helen permitiu

uma corrente correr através de sua pele. Ela estava esperando deixar

Orion inconsciente, mas a fadiga fez com que não saísse como o esperado, e o choque doloroso que ela lançou só o fez ficar mais irritado. Orion

gritou e se contorceu em agonia, mas ele não a soltou. Quando se recuperou da tempestade elétrica em sua cabeça, ele se inclinou para baixo com força sobre seus ombros, empurrando-a de volta para o chão

molhado da caverna até que um suspiro de dor escapou de seus lábios. Helen percebeu então que ela havia julgado Orion mal

horrivelmente, e que ela iria pagar por isso. Ela ainda não podia vê-lo, mas ela podia sentir a massa total dele pairando acima dela. Ela nunca tinha percebido o quão grande ele era, até agora, provavelmente porque

ela nunca teve razões para temê-lo antes. Quando ela empurrou inutilmente contra sua face e garganta, ela sabia que ela não iria ganhar

essa luta. Ela estava ferida, desidratada e além de esgotada. Orion iria matá-la.

Helen não tinha sequer que pensar nisso. Ela sabia que ela preferia

morrer enterrada sob mil toneladas de escombros do que submeter-se a ele. Ela relaxou e começou a convocar um verdadeiro raio — um que iria

matá-lo facilmente e mais provavelmente desmoronar a caverna e matá-

la também. Mas ela não teria a chance de se soltar. De repente, Orion a soltou e empurrou-se para cima, como se

estivesse acordando de um sonho. Ela ouviu-o lutando freneticamente para longe dela no escuro. Não saber onde ele tinha ido a deixou desesperada por um pouco de luz. Esticando as orelhas contra o silêncio,

Helen esperou o som de outro ataque. As botas de Orion rangeram em algum lugar lá fora. As Fúrias

assobiaram, chamando por Helen do esconderijo de Orion. Elas estavam

direcionando ela, querendo que ela terminasse a luta. Mas agora que ela já não estava tocando ele, Helen se sentia incerta.

Orion não era seu inimigo, ou era? Na verdade, ela se importava com ele — tanto que ela estava começando a se preocupar se ela tinha realmente machucado ele. Mas a escuridão impenetrável da caverna não revelou

nada, não importava o quão duro Helen tentava olhar através dela. Ela decidiu que ela precisava saber duas coisas. Primeira, ele estava

bem? Segunda, se ele estava, ele estava prestes a atacá-la? Concentrando toda a sua força restante em manter uma carga

equilibrada, Helen conjurou um pequeno globo de eletricidade brilhante

em sua mão esquerda e levantou-o acima de sua cabeça. Seus olhos percorreram as estalactites e estalagmites dentadas até que ela viu Orion. Ele estava apoiado contra a parede do outro lado da caverna pequena, os

olhos bem fechados. Sangue estava escorrendo pelo seu queixo. — Se você vai me matar, faça isso agora, enquanto meus olhos estão

fechados. — Sua voz profunda soou firme e segura, ecoando nas passagens vazias. — Eu não vou lutar com você.

A geração de luz tinha sido um erro. Agora Helen podia ver as Três

Fúrias rangendo os dentes e raspando seus dedos para baixo de seus corpos nas sombras. Elas rasgaram suas roupas e deixaram profundas

marcas vermelhas em sua pele pegajosa e branqueada. Helen levantou-se e caminhou em direção a Orion roboticamente,

como uma assassina mecânica cheia de engrenagens em vez de

pensamentos. Num êxtase de ódio, ela caiu de joelhos na frente dele e colocou a mão direita sob sua camisa.

Deslizando a mão ao longo do cinto de Órion, Helen sentiu a faca

que ela sabia que ele mantinha amarrada nas costas. Ele deve ter sabido o que ela estava fazendo, mas ele não tentou impedi-la. Helen

desembainhou sua faca e segurou a ponta da lâmina contra seu peito. — Eu não quero isso — ela disse. Sua voz tremia e seus olhos

estavam borrados com lágrimas que se reuniram, entornando, e, em

seguida, caindo em suas bochechas quentes. — Mas eu preciso fazer. Orion manteve os olhos fechados, as mãos segurando a parede da

caverna. Na luz gelada e errática de sua eletricidade mal controlada,

Helen viu ele acalmar-se, como se ele tivesse feito isso muitas vezes antes. Os membros brancos de fantasma e cabelos cinza das Fúrias piscaram

pelo canto do olho de Helen. — Eu sinto isso, também. A sede de sangue — ele sussurrou, tão

baixinho que Helen compreendeu o seu significado mais do que ouviu as

palavras dele. — Está tudo bem. Estou pronto agora.

— Olhe para mim.

Orion abriu os olhos verdes brilhantes. As Fúrias gritaram. Uma expressão de menino surpreso atravessou seu rosto. Ele

começou a dar poucas respirações e sua cabeça caiu com indiferença em direção a Helen, centímetro a centímetro, até que seus lábios roçaram levemente contra os dela. Sua boca estava muito quente e macia. Como

um novo sabor que ela não conseguia identificar, mas que queria engolir todo, Helen puxou seu lábio inferior em sua boca para tomar um gole maior dele. Pegando seu rosto em uma de suas mãos para que ela

pudesse inclinar a boca seca em direção à dela, ela notou algo pegajoso entre seus dedos. Helen se afastou e olhou para baixo.

Havia sangue em suas mãos. Atordoada fora de seu transe, Helen olhou para baixo e viu um

círculo escuro e molhado em expansão na camisa de Orion. Seu olhar

surpreso. Ela o havia esfaqueado. E então ela continuou empurrando a ponta da lâmina para ele um pouquinho de cada vez que eles se

inclinaram em direção ao outro. E ele tinha lhe permitido fazer isso sem se queixar.

Vendo o que ela tinha feito, Helen puxou a lâmina para fora do peito

de Orion e enviou-o contra o chão atrás dela. Ele caiu para frente com um pequeno suspiro e caiu em cima dos

joelhos.

Horrorizada, Helen cravou os calcanhares no chão escorregadio e foi para longe do corpo quieto de Orion, extinguindo seu globo de luz no

processo. Suas costas bateram em uma estalagmite e ela permaneceu imóvel, tentando ouvir qualquer som dele. As Fúrias sussurraram para ela se levantar e terminar o que havia começado, mas ela estava muito

atordoada para obedecer. — Orion? — ela chamou do outro lado da caverna.

Ela iria levá-lo para fora, ela pensou consigo mesma. A lâmina não tinha ido tão profundo, então ele estava apenas inconsciente. Certo? Certo, ela disse a si mesma com firmeza. Se ele estava longe demais para

curar a si mesmo, ela o levaria para Jason e Ariadne, e eles poderiam salvá-lo, ela sabia que eles poderiam curá-lo. Ela não se importava o quão

exausta ela estava, quão grande ele era, ou quão longe ela teria que carregá-lo. Orion iria viver, não importava o que ela tivesse que fazer.

Mas as Fúrias... elas fariam até mesmo os gêmeos compassivos

quererem matar Orion. Isto é, se Helen pudesse resistir as Fúrias quando ela o levasse de volta para Nantucket. Como ela podia confiar em si

mesma com ele depois do que ela tinha acabado de fazer com ele? — Orion, me responda! — Helen gritou para a escuridão. — Você

não pode morrer!

— Bem, um dia, eu vou. Mas ainda não — ele gemeu. Os sussurros das Fúrias aumentaram. — Você tem que sair daqui.

— Eu não quero deixá-lo. Você está ferido.

— Eu estou quase curado. Siga a água morro acima. Ela vai levar você para fora. — Orion engoliu dolorosamente. — Por favor, fique longe

de mim!

As Fúrias estavam conversando com Orion agora, guiando-o em

direção a Helen. Ela podia ouvi-las implorando-lhe para matá-la. Ele fez um som desesperado e Helen sentiu ele se lançando em direção a ela.

Evitando seu ataque, Helen desligou a gravidade e disparou para o ar. Assim que ela estava voando ela podia sentir o movimento mais fraco de ar, fluindo em torno das estalactites que pendiam do teto. As correntes

de ar a ajudaram a descobrir o caminho que levava para cima e para fora da caverna.

Ela também podia sentir rajadas de ar que estavam sendo agitadas

por Orion, que estava agitando os braços abaixo enquanto ele procurava por ela no escuro. Ferido ou não, Helen sabia que tinha que deixá-lo

imediatamente ou nenhum deles iria sobreviver à essa noite. Ela subiu para fora da caverna e através das passagens sinuosas até que ela pudesse ver o brilho ofuscante da luz antes do amanhecer na boca da

caverna. Helen flutuou mais alto para se orientar. Olhando para a paisagem

ainda escura, ela viu que estava perto da costa sul de Massachusetts e relativamente perto da costa. Ela virou-se para os primeiros raios do nascer do sol, e dirigiu-se para o leste sobre a água aberta.

Em algum lugar sobre Martha’s Vineyard, Helen começou a chorar. Ela se manteve imaginando o olhar atordoado no rosto de Orion quando ela o esfaqueou — o esfaqueou, ela repetia para si mesma em estado de

choque. Um soluço irrompeu dela e ela cobriu a boca com a mão. Ela provou

algo muito ruim em seus lábios e olhou para a mão dela em desgosto. Ela estava coberta do sangue de Orion. Ela realmente tinha quase matado ele, e a prova disso estava colorindo sua pele. Se ele não a tivesse beijado,

ele estaria morto agora. Helen voou perigosamente no ar acima de sua casa. Ela tentou

limpar os cílios das lágrimas que estavam congelando tão logo brotaram, mas elas apenas continuaram vindo. Quanto mais ela tentava engolir os soluços para baixo, mais violentamente eles pareciam estourar para fora

dela. O que Orion tinha feito com seu coração? O controle de Helen sobre o vento começou a vacilar, e ela caiu no

meio do ar como um saco de plástico em uma tempestade. Ela caiu do céu e foi direto para a lona azul cobrindo a janela de seu quarto.

Afastando a lona de lado, ela mergulhou na cama e enterrou a

cabeça debaixo do travesseiro frio para abafar o som de suas lágrimas. Ela podia ouvir seu pai roncando no quarto ao lado, felizmente sem saber que sua filha tinha quase se tornado uma assassina.

Helen chorou tão silenciosamente quanto pôde, mas não importava quão cansada ela estava, ela se recusou a adormecer. Ela não podia

suportar a ideia de descer de volta para o Mundo Inferior tão cedo, embora ela soubesse que não faria nenhuma diferença. Este ciclo que ela estava presa parecia nunca terminar. Se ela dormisse, se ficasse

acordada, o que isso importaria? Não havia descanso para ela, não importava o que ela fizesse.

* * *

Zach viu Helen levantar a lona azul sobre sua janela e voar sob ela.

Ele tinha visto seu mestre fazer um monte de coisas que eram fisicamente impossíveis, mas ver uma garota que ele havia conhecido toda a sua vida

voar era difícil para ele processar. Ela sempre foi como um anjo, tão bela que era quase doloroso de se olhar, mas em voo Helen realmente parecia

uma deusa. Ela também parecia chateada. Ele se perguntou o que tinha acontecido com ela. Fosse o que fosse, não era bom. Zach assumiu que ela ainda não tinha sido bem-sucedida no Mundo Inferior.

E como diabos ela tinha saído da casa em primeiro lugar? ele se perguntou. Então ele começou a suar. De alguma forma, Helen tinha

mudado as luzes em seu quarto, e, em seguida, cerca de meia hora mais tarde apareceu atrás dele no ar. Ela poderia se teletransportar agora? O que ele iria dizer a seu mestre?

Zach sabia que tinha que fazer um relatório. Ele se virou para ir em direção ao seu carro, estacionado na rua, e pulou. Automedon estava de pé atrás dele, tão silencioso como um túmulo.

— Como é que a Herdeira saiu? — ele perguntou calmamente. — Ela simplesmente adormeceu... Ela não saiu, eu juro.

— Eu posso cheirar seu medo — disse Automedon, seus olhos vermelhos brilhando no escuro. — Seus olhos são muito lentos para vê-la. Eu não posso mais confiar em você com esta tarefa.

— Mestre, eu... Automedon balançou a cabeça. Isso foi o suficiente para silenciar

Zach. — A irmã do meu mestre teve notícias do irmão dela. Eles estão

quase prontos — Automedon continuou do seu jeito inexpressivo e sem

emoção. — Temos de fazer os preparativos para capturar o Rosto. — A irmã do seu mestre? — perguntou Zach astutamente. — Mas

Pandora está morta. Você não quer dizer a esposa de Tantalus, Mildred?

— Zach caiu de joelhos, todo o ar correndo para fora de seus pulmões. Automedon lhe deu um soco no estômago tão rápido que ele nunca o viu

chegando. — Você faz perguntas demais — disse Automedon. Zach suspirou e apertou seu estômago, tendo certeza agora que

Automedon tinha um mestre diferente. Ele não estava trabalhando para Tantalus mais, e Zach tinha a sensação de que tinha algo a ver com aquela mulher alta e desumana e o menino disforme com ela. Quem quer

que fossem, ela estava dando as ordens agora por seu irmão, e o seu irmão que era o verdadeiro mestre de Automedon. Zach sabia que

Automedon não confiava nele o suficiente para dizer-lhe para quem ele estava trabalhando, mas isso não significava que ele não podia descobrir. Ele só tinha que ter cuidado.

— Perdoe-me, senhor — Zach ofegava enquanto se levantava, inclinando-se ainda com dor e fervendo com amargura. — Eu vou lhe dar

o que você precisa. Me instrua. A boca de Automedon se contraiu, como se ele pudesse sentir o

cheiro da intenção dissimulada de Zach. Zach tentou pensar em

pensamentos leais. Sua vida literalmente dependia disso.

— Corda, uma estaca e um braseiro de bronze. Você sabe o que é

um braseiro? — Uma panela de bronze cerimonial. Usada para manter brasas ou

fogo — Zach repetiu sem vida. Seu mestre acenou com a cabeça uma vez. — Mantenha todas essas coisas em mãos. Quando chegar a hora

tudo vai acontecer muito rapidamente.

* * * Sentando-se, Helen esfregou a cabeça latejante e percebeu que ela

ainda estava coberta de sangue e sujeira. Sua pele estava oleosa e sensível por não dormir e seu rosto estava quente, embora ela soubesse que seu quarto estava literalmente frio. O vidro em sua mesa de cabeceira

tinha uma película afiada de gelo no topo. Obrigando-se a sair da cama, ela cambaleou para o chuveiro e ficou

lá, tentando esquecer a maneira que Orion tinha olhado para ela, quão perdido ele tinha parecido. A palavra esfaqueado continuou ecoando no interior de sua mente em mal funcionamento, confusamente junto com a

memória de como ele a havia tocado. Helen sabia que Orion podia controlar corações, mas nada poderia

tê-la preparado para o que ela sentiu quando ele chegou em seu interior. Meio que doeu, mas de um jeito bom — do melhor jeito, Helen percebeu. Seu rosto quente ficou ainda mais quente e ela apertou seus olhos bem

fechados e virou-se diretamente para a ducha ardente. Por um momento, parecia que Orion poderia ter feito o que quisesse com ela, e Helen sabia

que ela o teria deixado. Pior, ela suspeitava que não importava o que ele pedisse dela, ele poderia ter feito ela apreciar também.

— Helen! — Jerry gritou, sacudindo-a para fora de seus

pensamentos vívidos. Ele só a chamava de Helen quando ele estava realmente aborrecido. — Por que está um frio maldito nesta maldita

casa... caramba! É isso, Helen pensou. Eu finalmente fiz o meu pai ficar com tanta

raiva que ele realmente esqueceu como falar em inglês. Jerry veio até a porta do banheiro e começou a gritar com ela através

da madeira. Ela quase podia imaginá-lo lá fora, apontando seu dedo com

veemência na porta enquanto ele ficava tão agitado que ele começou a misturar palavras como irresponsável e impensada e disse coisas como

irrespons-sada. Helen fechou a torneira e vestiu um robe, ainda molhada. Ela abriu

a porta e nivelou seu pai com um olhar. O que quer que Jerry fosse gritar

em seguida morreu com um gemido logo que ele viu o rosto de Helen. — Papai — ela disse com cuidado, pois ela balançava precariamente

no final de sua corda emocional. — Esta é a situação. Já liguei para o Sr. Tanis na loja de ferragens e ele veio na sexta-feira para medir a janela. Em seguida, ele fez o pedido em uma loja de vidro em Cape porque esta

casa é tão velha que nenhuma dos nossos ornamentos são do tamanho padrão. Temos de esperar que a loja em Cape Cod faça a janela, envie de

volta para nós, e o Sr. Tanis virá instalá-la. Mas até lá, vai estar frio pra caramba no meu quarto, ok!

— Ok! — ele disse, inclinando-se para longe do ataque maluco

repentino de Helen. — Contanto que você esteja cuidando disso. — Eu estou!

— Ótimo! — Ele se mexeu desajeitadamente em seus pés e olhou para Helen com uma expressão penitente. — Agora, o que você quer para o café da manhã?

Helen sorriu para ele, agradecida que de todas as casas que Daphne poderia ter deixado ela, ela tinha escolhido a de Jerry.

— Panquecas de abóbora? — ela disse com uma fungada. Ela

esfregou o nariz escorrendo na manga de seu robe como uma criança. — Você está doente? O que há de errado com você, Len? Você parece

que foi ao inferno e voltou. Helen riu, resistindo à tentação de dizer-lhe quão preciso seu palpite

era. Sua súbita risada confundiu Jerry ainda mais. Ele afastou-se com

um olhar um pouco estranho no rosto e desceu para fazer suas panquecas.

Quando Helen estava enrolada em um suéter de lã grosso e até mesmo as mais grossas meias de lã, ela se juntou a ele na cozinha e o ajudou. Por cerca de uma hora ela e seu pai apenas conversaram,

comeram e compartilharam o jornal de domingo. Toda vez que o pensamento de Orion surgia, ela tentava deixá-lo de lado.

Ela não podia permitir-se se tornar muito ligada a ele. Ela sabia

disso. Mas pequenos detalhes continuavam nadando até encher os olhos da sua mente — a bela marca única que pairava como uma lágrima

escura na inclinação da sua bochecha direita; a forma afiada como um diamante de seus incisivos quando ele sorria.

Por que ele não mandou uma mensagem ainda?

— Você vai para a casa de Kate mais tarde? — ela perguntou ao seu pai para manter sua mente longe de Orion.

— Bem, eu queria perguntar a você primeiro — ele respondeu. — Você vai para a de Luke?

Helen parou de respirar por um momento, se recompôs e tentou

fingir que seu estômago não tinha caído no chão. Por um momento, ela tentou argumentar com a voz em sua cabeça que estava sussurrando a palavra infiel. Ela e Lucas não estavam juntos. O que importava se ela

pensava sobre Orion? — Eu vou para a casa de Ariadne, pai. Ela e eu temos uma coisa

para fazer; então vá para a casa de Kate. Eu não vou estar aqui. — Outro projeto para a escola? — ele perguntou tão inocentemente

que Helen sabia que ele não acreditava nisso. — Na verdade, não — admitiu Helen. Ela estava cansada demais

para continuar com todas as mentiras e decidiu que iria tentar um toque

de verdade para variar. — Ela está me ensinando autodefesa. — Sério! — ele exclamou, completamente chocado. — Por quê? — Eu quero aprender a me proteger.

Helen percebeu o quão verdadeiro isso era quando ela disse isso. Ela não poderia passar o resto de sua vida se escondendo atrás de outras

pessoas. Eventualmente, ela iria ficar sem campeões — especialmente se ela continuasse esfaqueando-os no peito.

Orion deveria ter lhe mandado uma mensagem por agora. Onde ele

estava? — Oh. Ok. — Jerry fez uma careta quando ele recolheu seus

pensamentos. — Lennie, eu desisto. Você e Lucas estão namorando ou não? Porque eu não consigo descobrir isso, Kate não consegue descobrir isso, e você parece realmente miserável. Eu estou supondo que vocês dois

se separaram, mas se foi isso, então por quê? Ele fez alguma coisa para você?

— Ele não fez nada, pai. Não é nada disso — murmurou Helen. Ela

ainda era incapaz de dizer o nome de Lucas. — Nós somos apenas amigos. — Amigos. Mesmo? Lennie, você parece como um zumbi.

Helen abafou um riso amargo e deu de ombros. — Talvez eu esteja com uma gripe ou algo assim. Não se preocupe. Eu vou superar isso.

— Estamos falando sobre a gripe ou Lucas?

O telefone de Helen tocou. Ela mergulhou para ele — Orion! — mas era Claire, perguntando onde ela estava.

— O que há de errado agora? — perguntou Jerry. — Hum? Nada — Helen respondeu, ainda olhando para o seu

telefone. Por que Orion não tinha mandado uma mensagem para ela?

— Você parece decepcionada. — Eu tenho que ir. Claire está chegando na rua — ela mentiu,

ignorando o comentário de seu pai sobre estar decepcionada — o que ela não estava, ela disse a si mesma. Ela estava preocupada, e isso era diferente.

O que Orion tinha feito com ela? Ela sabia que isso não era normal. Ela sentia como se seu cérebro tivesse sido sequestrado e, aparentemente, sua pele tinha ido dar um passeio também. Ela ainda

podia sentir suas mãos sobre ela, e ela sabia que não estava apenas imaginando. Ela podia sentir pontos de pressão na parte inferior das

costas, assim quando seus dedos estavam pressionando dentro dela. Ela sentiu o puxão em seus quadris, puxando-a para mais perto dele, embora ela soubesse que ele estava a quilômetros de distância no continente.

Ela estendeu a mão para firmar-se e contou até três. A sensação de que ele estava segurando seus quadris em suas mãos recuou, mas não

foi totalmente embora. Apressando-se para ficar longe de tantas sensações impossíveis, ela beijou seu pai com um adeus, colocou seus sapatos e casaco, e correu para fora da casa.

Os degraus nadaram na frente dela e um aroma familiar permaneceu na brisa. Helen girou nos calcanhares e torceu a cabeça para encontrar a fonte do mesmo. Desorientada, ela caiu de joelhos e estendeu

os braços, tateando como se tivesse estado com os olhos vendados. Algo estava terrivelmente errado com seus olhos. O céu em frente a ela parecia

incompatível, como se tivesse sido rasgado e depois apressadamente juntado com um milímetro ou dois tortos.

Helen sentiu o calor — o calor maravilhoso e reconfortante em um

mar de frio. Algum sol invisível estava aquecendo-a levemente. Ela fechou os olhos e estendeu a mão para tocar o calor que estava pendurado em

uma sombra à distância, mas quando ela estendeu a mão para tocá-lo, ela deslizou no ar frio de outubro e desapareceu.

Lágrimas quentes deixaram os olhos de Helen fora de foco. Ela sentia

como se tivesse acabado de lhe ser negado algo que ela precisava tão desesperadamente. Helen deu um tapa no ar vazio com as mãos, mas

não havia nada lá. Venha a mim, Sem Sonhos. Eu sinto falta de segurá-la em meus

braços. Helen congelou e olhou em volta. Ela tinha ouvido um homem

sussurrar — mas de onde? O som vinha de dentro de sua própria mente, mas a voz

definitivamente não tinha sido dela. Ele tinha soado tão calmante. Helen queria ouvi-lo novamente.

Levantando-se de seus joelhos, Helen olhou ao redor consciente das janelas dos vizinhos, esperando que nenhum deles tivesse visto. Ela não sabia como explicar seu surto momentâneo a ninguém, muito menos

para si mesma. Um pensamento terrível passou por sua cabeça. Visão embaçada, equilíbrio interrompido, e ondas de calor e de frio eram todos

efeitos colaterais conhecidos da privação do sono. Assim como da demência. Era possível que ela tivesse imaginado a coisa toda, incluindo a voz.

Helen sabia que não podia se dar ao luxo de entrar em pânico. Ela sacudiu o medo. Movendo-se pela rua, ela se certificou de que ninguém estava olhando e, em seguida, subiu para o ar. Momentos depois, ela

desembarcou na arena dos Delos, ao lado de Ariadne e Matt, que já estavam no meio de uma sessão de treinamento. Matt gritou como uma

menina. — Que diabos, Lennie! — Ele se mexeu através da areia para

recuperar o equilíbrio perdido. — Você acabou de cair do maldito céu!

— Desculpa! Eu nem pensei nisso — Helen pediu desculpas. Ela tinha esquecido que Matt nunca tinha visto ela voar, mas ela

tinha estado tão surpresa que Matt e Ariadne estavam praticando abertamente que ela tinha esquecido de fazer um pouso tranquilo. Ela estava prestes a perguntar se Matt tinha de alguma forma convencido o

pai de Ariadne que ele deveria ser treinado quando ela ouviu Claire rir no canto.

— Nossa, Matt! Eu não ouvi você atingir uma nota alta desde a

quinta série. — Claire segurou o livro com capa de couro que estava lendo em seu peito enquanto ela sacudia com o riso.

— Ha. Ha. — Aparentemente, Matt não estava a fim de ser provocado naquele momento. Ele se virou para Helen com um rosto severo. — O que você está fazendo aqui fora, Len? Você não deveria estar na biblioteca

com Cassandra? — Qual é o propósito? Claire é dez vezes a pesquisadora que eu sou.

Eu apenas fico em seu caminho, pegando livros da biblioteca que eu não

entendo metade do que ela poderia. — Helen fez um gesto expressivo para Claire, que de alguma forma conseguiu se curvar magnanimamente,

enquanto ela ainda estava sentada. — Neste momento, estudar não é o que eu preciso. Eu preciso que Ariadne me treine.

Ariadne olhou para Helen em dúvida. — Helen? Você sabe que eu te

adoro e tudo mais, mas não tanto a ponto de ser eletrocutada. Por que

você não voa para o continente e encontra uma árvore grande e legal para

incendiar e nós ficamos quite? — Você não está me entendendo — disse Helen vigorosamente.

Todos os olhos se voltaram para ela e ela congelou. Helen fugazmente percebeu que ela poderia soar muito forte, talvez até um pouco assustadora quando ela perdia a paciência. Ela olhou para baixo

e viu que as mãos dela estavam azuis com estática e extinguiu o raio crescente imediatamente. Sacudindo a cabeça para clareá-la, Helen redirecionou sua atenção perambulante e se acalmou. Ela sabia que sua

mente não estava mais inteiramente fundamentada e que ela precisava ter cuidado.

— Então explique-me. O que não entendemos? — disse Ariadne razoavelmente.

— Eu preciso aprender a lutar corpo a corpo sem os meus poderes.

Eu preciso ser capaz de bater em alguém pelo menos tão grande e tão forte como Matt sem o uso de uma pitada da minha força de Descendente

ou qualquer um dos meus outros talentos. — Existe uma razão para isso? — perguntou Claire sem rodeios. — Ontem à noite no Mundo Inferior, Orion e eu nos deparamos com

Ares. Olhares chocados saltaram ao redor da arena. O cérebro distorcido

de Helen registrou algumas horas tarde demais que ela provavelmente deveria ter ligado para alguém ou dado a alguém uma alerta sobre a coisa toda com Ares. Encontrar com um deus era realmente uma grande coisa.

Ela tinha estado tão preocupada com o que tinha acontecido entre ela e Orion na caverna que ela ainda não tinha considerado as ramificações do que tinha acontecido antes disso, quando os dois ainda estavam no

Mundo Inferior. O que tinha acontecido entre eles era mais importante para Helen

que um deus, especialmente agora que ela estava começando a suspeitar que Orion estava propositadamente a evitando. Ainda assim, ela deveria ter lembrado de dizer a alguém sobre Ares. Por que eu não posso controlar mais os meus pensamentos? Helen perguntou com os olhos turvos.

Porque você precisa de mim. Venha. Posso dar-lhe o mais doce dos sonhos.

Helen virou-se em um círculo e olhou para a fonte da voz. Depois de

uma rotação, tornou-se claro que a voz estava em sua mente novamente. Ela tomou algumas respirações e balançou a cabeça para clareá-la de todas as teias de aranha agitadas que estavam traçando caminhos

brilhantes e fantasmagóricos sobre seus olhos. — Helen? Você está bem? — perguntou Ariadne, tocando o cotovelo

de Helen delicadamente com as mãos de Curadora. Helen sorriu para a bondade de Ariadne, mas afastou o braço.

— Ares correu de Orion porque é óbvio que, com ou sem seus

poderes, Orion sabe lutar. Mas eu não — disse Helen, controlando seu foco por pura força de vontade. — Eu preciso aprender a me defender de Ares por conta própria.

Especialmente se Orion a odiava agora e nunca mais queria vê-la

novamente. Quando ela pensou em voltar para o Mundo Inferior sem Orion, ela teve que se impedir de cair no choro.

— Ares. Tipo o Ares, o deus da guerra? — Claire parecia que queria ter absolutamente certeza de que todos estavam pensando a mesma coisa.

— Sim — Helen disse, balançando a cabeça com pesar. — Bem, o que aconteceu? — Matt gritou em frustração. — Você falou

com ele?

— Não foi como uma conversa normal ou coisa assim. Ele é louco, Matt, e eu quero dizer realmente louco. Ele falou como se estivesse

recitando poesia ou algo assim e vazava sangue dele dos lugares mais estranhos. Até mesmo seu cabelo sangrava, se vocês puderem imaginar,

e eu não acho que aquele sangue era dele. — Helen olhou para baixo e viu os dedos vibrarem. Ela estava tremendo toda.

À luz dura do dia, Helen de repente se perguntou se ela tinha

imaginado todo o encontro com Ares. Tudo ao seu redor parecia tão real, mas isso parecia falso. As cores eram supersaturadas, e vozes raspavam

nas orelhas de Helen como se elas fossem todas muito altas e dissonantes. Era como se seus arredores de repente se transformaram em um set de um musical da Broadway, e Helen era a única que estava

longe o suficiente do palco para ver que o mundo era inteiramente feito de tinta e madeira compensada.

— Pelo que podemos perceber, Ares é tão mortal no Mundo Inferior

como nós somos. — Ela estava tentando gritar mais alto que todos os pensamentos em sua cabeça. — Mas ele ainda é um homem grande e ele

sabe como lutar. Eu não posso me defender dele sem mais treinamento. Eu preciso que você me ensine, Ari. Você vai fazer isso?

— Você que vai lutar com ela para que eu possa ensinar — Ariadne

disse a Matt em voz baixa. — Você está pronto para isso? — Provavelmente não. Mas vamos fazer isso, de qualquer maneira

— ele respondeu.

— Para a gaiola — Ariadne disse solenemente. — Matt. Você vai ter que se trocar para um quimono. Eu não quero que você encha de sangue

toda a sua roupa de rua. Enquanto Helen e Matt treinavam, Claire entrou para dizer ao resto

da família Delos sobre o encontro de Helen com Ares e talvez tentar

chegar a algum tipo de plano. Matt e Helen trabalharam por horas, e Ariadne não foi gentil. Mais de uma vez, Helen sentiu como se sua amiga

doce e delicada estivesse realmente canalizando Hector em toda a sua glória de instrutor sargento.

Ganhar de Matt não foi fácil. Ele estava usando equipamento de

proteção para que ele não se machucasse, mas mesmo assim, Helen empacou com mais frequência do que deveria. Cada vez ela se

preocupava sobre ferir Matt. Esse pensamento a levava de volta para como ela tinha machucado Orion, e a culpa a dominava.

As Fúrias a fizeram fazer isso. Ela não tinha realmente intenção de

fazer isso quando ela esfaqueou Orion, ela recordou-se repetidamente. Mesmo que no momento em que ela se ajoelhou na frente dele ela

quisesse matá-lo. Na verdade, houve apenas uma outra pessoa para

quem ela já havia sentido uma emoção tão avassaladora. São as Fúrias, Helen pensou com firmeza. É o instinto, a emoção não

é real. Mas se seu instinto era tão terrível, como ela poderia confiar em si

mesma? Parecia que tudo o que ela queria instintivamente era imoral,

doloroso, ou apenas absolutamente errado. Ela não tinha ideia do que fazer a seguir.

Muito cansada para levantar os braços, Helen deixou as mãos caírem. Matt deu um soco em seu rosto.

— Caramba, Lennie! Você realmente é horrível sem o seu relâmpago

— Claire gritou quando ela entrou pela porta. — Obrigada, Risadinha — disse Helen sarcasticamente, levantando-

se relutantemente de seu bumbum. — O que Cassandra e Jason

disseram? — Que eles iriam tentar descobrir sobre isso. — Claire fez uma

careta. — Honestamente? Eu acho que ninguém tem a menor ideia sobre o que fazer a seguir.

— Ótimo — disse Helen, enquanto Matt a puxava pelo braço e a

ajudava a ficar de pé. — Vamos lá — ele disse para incentivá-la. — De volta ao trabalho.

Helen não queria mais treinar, mas ela sabia que Matt estava certo. O tempo era curto. Todos sabiam que Helen teria que ir para a cama, eventualmente, e parecia que ela precisava de tudo de uma vez... treinar

habilidades, planejar sobre como lidar com Ares, teorizar sobre o que ele estava fazendo lá em baixo. Ela precisava que todos se unissem e descobrissem certas coisas para ela ou isso nunca acabaria. Ainda assim,

Helen se sentia responsável, como se ela devesse ser a única a lidar com isso.

Uma voz em sua cabeça que soou suspeitosamente como a de Hector lembrou-lhe que a delegação era uma das habilidades mais importantes que um general precisava aprender.

Desde quando eu sou um general? ela pensou com tristeza. Naquele momento, Helen teria dado qualquer coisa para ser capaz de ligar para

Hector e pedir-lhe um conselho, ou mandar uma mensagem para Orion e fazer piadas. E Lucas... Helen parou aqui. Havia milhares de coisas que ela precisava de Lucas, nenhuma das quais ela nunca teria. Por que ela

não podia simplesmente tê-los em sua vida? Por que tudo era tão complicado?

— Concentre-se! — Ariadne gritou. Matt viu uma vantagem e atacou, derrubando Helen. Suas costas

bateram no tatame, e Helen olhou para a lâmpada sobre a gaiola,

pensando onde ela havia se desencaminhado. Em um flash brilhante, ela enumerou todos os erros que a levaram a este lugar.

Primeiro: Hector — ela sabia que era culpa dela que ele era um

Banido. Ela deveria tê-lo impedido de matar Creon. Mas como ela tinha muito medo da escuridão do Mestre das Sombras, Hector tinha sido

forçado a matar seu inimigo para ela. Agora Hector foi banido.

Segundo: Orion — ele tinha resistido as Fúrias quando ele poderia

facilmente ter matado ela. Em pagamento ela o tinha esfaqueado no peito. Agora estava começando a parecer como se ela o tivesse perdido. O

pensamento a machucou tão profundamente que ela engasgou e recuou para longe dele.

Último: Lucas. Sempre Lucas.

Só de pensar em seu nome parecia deter os pensamentos giratórios de Helen. Nenhum outro pensamento se atreveu a vir depois. Por um breve momento de lucidez, não havia nada além do seu nome, abrindo

um caminho brilhante através de sua mente cheia. — Lennie? Você está bem? — perguntou Matt nervosamente. Helen

percebeu que ela ainda estava de costas, pensando. — Ótima — ela disse, enxugando o lábio inchado que ele tinha

acabado de dar a ela. Ela olhou para Matt de pé sobre ela com os punhos

ainda prontos. — Sabe de uma coisa, Matt? Você está se tornando bastante fodão.

Matt revirou os olhos e se afastou com um olhar de desgosto em seu rosto, como se ele pensasse que Helen estava brincando com ele. Mas ela não estava. Ele tinha ganhado alguns músculos nas últimas semanas, e

ele parecia como um lutador agora em vez de um jogador de golfe. Se Helen apertasse os olhos e esquecesse que era Matt quem ela estava olhando, ele pareceria quase durão. E meio gostoso, ela teve que admitir,

mesmo que fosse grosseiro pensar em Matt de outro jeito além de um irmão.

— Você vai se levantar, ou você vai parar? — Claire gritou alegremente para a forma deitada de Helen.

— Sim, eu acho que eu vou parar — disse Helen para o teto.

— Ótimo, porque você tem um monte de mensagens de Orion — disse Claire, descaradamente lendo através delas. — Uau, ele parece

realmente chateado. O que aconteceu? Claire não teve a chance de terminar a pergunta. Helen voou para

fora da gaiola e pegou seu telefone.

Orion tinha deixado cerca de meia dúzia de mensagens. Elas começaram engraçadas, como se ele quisesse difundir a situação, e então elas ficaram cada vez mais sérias. A penúltima mensagem que ele enviou-

lhe dizia, Nós podemos superar isso, não é? E dez minutos depois ele tinha enviado, Eu acho que a noite

passada foi um empecilho. — O que aconteceu ontem à noite? — perguntou Claire, lendo sobre

o ombro de Helen. — Vocês dois...? — Ela parou quando ela viu os olhos

de Helen incendiarem com raiva. — O quê? O que você gostaria de perguntar, Risadinha? — disse

Helen, principalmente para esconder seu constrangimento. Helen não

queria falar sobre como Orion tinha tocado nela, nem mesmo com Claire. Isso era pessoal, mas mais importante, isso poderia colocá-los contra

Orion. Todos sabiam as regras que cercavam a Trégua. Eles não gostariam

que ela visse Orion novamente se eles achassem que ela estava muito

ligada a ele. Mas ligada ou não, Helen não sabia se ela poderia continuar

no Mundo Inferior sem ele. Ela precisava dele. Ela só esperava que, para

o bem deles, que ela não precisasse muito dele. — Claire não quis dizer nada, Helen — Matt disse calmamente. —

Nós estamos apenas preocupados. É óbvio pela sua reação a mensagem que vocês dois têm ficado próximos.

— Vocês sabem de uma coisa? Estou farta de todos os olhares que

recebo toda vez que Orion me manda mensagens — disse Helen defensivamente. — É claro que estamos ficando próximos! Ele e eu

estamos passando por um inferno juntos. Inferno de verdade, entenderam? E ontem à noite foi ruim, realmente ruim. Depois do que eu fiz, eu não sabia se eu falaria com ele novamente.

— O que aconteceu? — Matt perguntou calmamente quando ouviu a voz de Helen se romper de emoção. Ela recuperou o controle e

continuou. Helen disse-lhes tudo sobre Cerberus, a pessoa misteriosa que tinha

causado uma distração, e como ela e Orion tinham corrido pelas suas

vidas para o portal. Então, em um tom monótono e obscuro, ela descreveu como eles tinham visto as Fúrias.

— Ele estava resistindo a elas, mas eu acho que eu não fui forte o suficiente — ela admitiu. — Eu olhei nos olhos dele e o apunhalei com sua própria faca. E eu fiz isso lentamente.

Enquanto eu estava beijando-o, Helen acrescentou em sua mente, mas nunca diria em voz alta.

Todos olharam para Helen em choque total. Lágrimas de culpa brotaram dos olhos dela e ela as limpou com raiva, desejando que ela pudesse facilmente afastar a imagem do rosto de Orion. Ele parecia tão

surpreso e magoado. E foi porque ela o havia traído. — Sim, eu sei. Eu sou uma pessoa horrível. Agora vocês todos vão

me dar um segundo para eu responder para ele?

Os três tentaram dizer a Helen que não pensavam menos dela, que não era culpa dela que ela tinha atacado Orion, mas Helen virou as costas

para eles e focou em seu telefone. Ela precisava se reconectar com Orion muito mais do que ela precisava ter sua culpa acalmada por seus amigos bem-intencionados.

Sinto muito, Helen escreveu. Por favor, por favor, por favor, me perdoe?

Ela esperou. Nada mais voltou. Ela começou a percorrer as outras

mensagens que ele havia mandado, e pelo que ela leu, ela não achava que ele parecia irritado, mas talvez ele teve algum tempo para pensar

sobre o que tinha acontecido e mudou de ideia. Ela poderia nunca mais vê-lo novamente. Em desespero, ela enviou uma enxurrada de mensagens:

Se você não me perdoar, eu juro que nunca vou dormir novamente.

Orion? Pelo menos me responda. Por favor, fale comigo. Helen olhou para a tela depois de cada mensagem, à espera de uma

resposta, mas nenhuma veio. Depois de alguns minutos de pausa, ela sentou-se no chão, exausta. Todo o seu corpo estava quente e instável, e

sua cabeça parecia como se alguém com mãos enormes a tivesse

agarrado pelo rosto. — Ainda nada de Orion? — perguntou Ariadne. Helen balançou a

cabeça e esfregou os olhos. Quanto tempo ela tinha estado olhando para a tela? Olhando em volta, Helen notou que Jason e Cassandra se juntaram a eles na sala de prática. Ela esfregou o rosto e estremeceu, de

repente muito fria. — Nós precisamos que você nos diga sobre essa distração que você

mencionou; a que desviou Cerberus — disse Cassandra.

— Nós não vimos quem era — respondeu Helen. — Mas eu vou te dizer, quem quer que fosse podia realmente cantar em yodel.

— Parece impossível — disse Cassandra em dúvida. — Talvez tenha sido uma daquelas harpias? — Jason ofereceu

gentilmente.

— Não era uma harpia, Jason. Era a voz de uma pessoa, uma pessoa viva que arriscou ser comida por um lobo muito grande de três cabeças

para nos ajudar. Eu sei, parece loucura, mas Orion viu, também. Não foi uma ilusão.

Eu não sou nenhuma ilusão também, Linda. Eu estou esperando por você.

Helen sentou-se ereta, com a cabeça inclinada para o lado, tentando

localizar a fonte da voz. Era óbvio que ninguém mais tinha ouvido ela. — Você vem com a gente para a biblioteca, Helen? — A forma como

Cassandra perguntou fez parecer quase como uma ordem. — Jason e eu

queremos falar com você. Jason assentiu curtamente para Ariadne ao passar por ela. Seus

lábios estavam apertados em aborrecimento. Helen notou que ele nem

sequer olhou para Claire ou Matt; ele só passou por eles friamente. Olhando para trás, por cima do ombro, Helen viu Claire olhando para

Jason enquanto ele se afastava dela. Parecia que ela queria ou chamá-lo ou começar a chorar. Helen poderia dizer que algo tinha acontecido entre os três, e ela tinha a sensação de que tinha algo a ver com o quão

abertamente Ariadne estava treinando Matt agora. Eles subiram para a biblioteca. Através das grandes portas de vidro

que davam para o mar, Helen podia ver que estava anoitecendo. Outro dia estava acabando, mas para Helen era apenas uma mudança de luz.

Ela olhou para o horizonte azul-acinzentado enquanto ele se tornava

mais escuro, em seguida, mais claro e escuro de novo, mudando em bandas do mar ao céu, e pensou o quão semelhantes os gradientes de tons de cinza eram com a sua experiência de dia e de noite. Tudo parecia

uma mistura de preto e branco. Ela teria que ir dormir cedo. Mesmo que Orion se recusasse a vê-la

novamente, eventualmente Helen sabia que ela iria fechar os olhos e voltar para lá. Sozinha.

— Helen? — Cassandra parecia preocupada.

Helen percebeu que sua mente tinha se afastado novamente e ela se perguntou quanto tempo ela estava olhando para fora da janela.

— Você queria falar comigo? — ela perguntou, tentando soar normal. Seu nariz estava entupido e começando a escorrer novamente. Jason e

Cassandra olharam de um para o outro, como se não tivessem decidido

quem ia falar primeiro. — Nós queríamos saber como você estava se sentindo — Cassandra

disse finalmente. — Eu me sinto melhor. — Helen olhou entre os dois, sentindo algo

suspeito.

— Você gostaria que eu verificasse você? — disse Jason timidamente. — Eu posso ser capaz de ajudar.

— Isso é ótimo, mas a menos que você possa tirar uma soneca por

mim, eu não acho que há muito que você possa fazer. — Por que você não deixa ele tentar? — Cassandra pediu um pouco

docemente. — Ok, o que está acontecendo? — disse Helen de forma prosaica.

Novamente, eles trocaram um olhar conspirador. — Ei. Estou sentada

aqui. Eu posso ver vocês dois olhando um para o outro, sabia. — Tudo bem. Eu quero que Jason verifique você porque nós

queremos saber se a descida causou algum dano ao seu cérebro. — Cassandra tinha claramente cansado de ser educada.

— O que ela quer dizer é que temos notado que você parece distraída,

e sua saúde está falhando — Jason a acalmou. — Chega, Jason. Ela quer que nós sejamos francos, por isso eu vou

ser, mesmo se você estiver muito sensível. — O gesto imperioso de

Cassandra a fazia parecer como uma mulher décadas mais velha do que ela. — Descendentes são suscetíveis a apenas um tipo de doença, Helen.

Doença mental. Semideuses não pegam gripe ou dão fungadas. Eles ficam loucos.

— Ou você pode simplesmente revelar isso, Cass. Assim como nós

planejamos não fazer — disse Jason, revirando os olhos em frustração. — Helen, nós não estamos dizendo que você está louca...

— Não, mas vocês acham que eu estou chegando lá. Não acham? — Helen e Cassandra trocaram olhares, cada uma medindo a outra.

Cassandra tinha mudado. O que restava daquela menina amável

que Helen encontrou uma vez ou se foi ou estava enterrada tão profundamente que Helen achava que ela nunca mais a veria. Helen teve

que admitir que não era uma fã da mulher que estava substituindo a irmãzinha de Lucas. Na verdade, ela achava que esta nova Cassandra era uma vaca, e ela estava prestes a dizer isso.

— O que precisamos saber é se você é capaz de terminar o que você começou no Mundo Inferior — continuou Cassandra, sem se intimidar

com o olhar desafiador de Helen. — E se eu disser que não, o que você faria? O que qualquer um

poderia fazer? — disse Helen com um encolher de ombros. — A profecia

disse que eu sou a única que pode se livrar das Fúrias e toda noite eu desço quer eu queira ou não. Então, que diferença faz se eu posso lidar com isso ou não?

— Honestamente? Nenhuma. Mas isso não muda a forma como vemos a informação que você nos traz — disse Jason razoavelmente. —

Nós estamos tentando acreditar que o que você nos disse sobre a sua descida na noite passada é verdade, mas...

— Você tem que estar brincando comigo!

— Você disse que viu um deus, um deus que foi preso no Olimpo há milhares de anos! Então, você disse que havia uma outra pessoa viva no

Mundo Inferior com você e Orion, alguém que apareceu do nada e milagrosamente salvou suas vidas — disse Cassandra com uma voz elevada. — Como é que essa outra pessoa chegou lá?

— Eu não sei! Olha, eu ainda tinha dúvidas de que era real por um segundo lá, mas eu não fui a única que viu tudo isso, ok? Perguntem a

Orion. Ele vai lhes dizer exatamente a mesma coisa. — Quem vai dizer que seus delírios não estão afetando a experiência

de Orion do Mundo Inferior, bem como a sua própria? — Cassandra

gritou para Helen. — Você é Aquela que Desce, não ele! Você nos disse muitas vezes que se você for para a cama sentindo-se miserável, você acaba em um lugar miserável. E se você for para a cama ouvindo vozes

que não estão lá, o que acontece então? — Como você sabe que eu estou ouvindo vozes? — Helen sussurrou.

Jason olhou para ela com simpatia, como se todo mundo pudesse ver algo que Helen não podia.

— Tudo o que estamos dizendo é que você parece ser capaz de controlar a paisagem do Mundo Inferior até certo ponto. Você tem que considerar a possibilidade de que você pode ser capaz de criar

experiências inteiras. Helen balançou a cabeça com medo, incapaz de aceitar o que eles

estavam dizendo. Se eles estivessem certos, então o que era real? Ela não

podia permitir-se ceder a este pensamento insidioso. Ela precisava acreditar em algumas coisas, ou ela poderia muito bem desistir. E ela

não podia desistir, mesmo se quisesse. Havia pessoas demais que estavam contando com ela. Pessoas como Hector e Orion. Pessoas que ela amava muito.

— Cass, você é o Oráculo — disse Helen, agarrando-se a qualquer coisa. — Por que você não pode simplesmente olhar para o meu futuro e me dizer se eu estou ficando louca?

— Eu não posso vê-la — Cassandra disse um pouco mais alto do que era necessário. Ela fez um som abafado na parte traseira de sua

garganta e começou a andar ao redor. — Eu não posso ver você e eu nunca fui capaz de ver Orion. Eu não sei por quê. Talvez seja porque vocês dois só se encontram no Mundo Inferior, e eu só posso ver o futuro

deste universo, ou talvez... — O quê? — Helen desafiou. — Você começou esta conversa,

Cassandra. É melhor você terminá-la. — Talvez você e Orion ficaram loucos e não têm futuros coerentes

que eu possa ler — disse Cassandra, cansada, olhando com incerteza

para Jason, que estava olhando-a de volta, avisando-a com os olhos. — Não. — Helen levantou-se. Ela sentiu uma pressão dentro da

cabeça dela ceder e seu nariz começar a escorrer novamente. — Eu ouvi

o que você está dizendo, mas você está errada. Eu estou sendo empurrada para o meu limite, e eu sei que isso está tomando muito de

mim, mas eu não estou ficando louca.

Jason suspirou e baixou a cabeça em suas mãos como se ele

estivesse tão cansado e farto como Helen. Uma súbita explosão de energia sobrepujou ele. Ele deu três passos rápidos até a mesa de seu pai e puxou

um punhado de tecidos da caixa que estava pousada em cima. — Toma — ele disse com uma voz intensa quando ele gesticulou

para o rosto de Helen com os tecidos.

Helen levantou a mão e tocou o nariz. Quando ela retirou a mão ela estava coberta de sangue.

— Descendentes não têm sangramentos espontâneos. — A

expressão de Cassandra estava ilegível. — Jason e eu achamos que esse problema é muito pior do que qualquer um está disposto a admitir.

Helen se limpou da melhor forma que pôde e olhou primeiro para Cassandra, depois para Jason. Nenhum deles iria encontrar seus olhos.

— Jason — disse Helen, uma nota de súplica rastejando sobre seu

tom frustrado. — Apenas desembucha. Quão pior? — Nós achamos que você está morrendo — ele respondeu

calmamente. — Nós não sabemos exatamente por quê, e por causa disso, não temos ideia de como ajudá-la.

Traduzido por I&E BookStore

att enrolou uma toalha na cintura e sentou-se no banco de madeira do lado de fora dos chuveiros dos meninos na câmara

de tortura no andar de baixo, ou como a família Delos gostava de chamá-

la, a sala de “exercícios”. Sair com os semideuses não era fácil, mas ele não podia mais simplesmente enfiar a cabeça na areia e fingir que o

mundo era um lugar seguro e previsível. Toda a vida de Matt, todo o seu futuro, havia mudado no segundo em que ele atropelou Lucas com seu carro a menos de um mês atrás.

Ele olhou para a mão direita e fez uma careta. Ele tinha certeza de que os nós dos dedos não deviam ser tão grandes, ou tão roxos. Ele tentou ignorá-los. A última vez que ele tinha dito a Ariadne que ele tinha

quebrado algo ela consertou, e então ela virou uma sombra terrível de cinza. Matt não queria ver Ariadne assim novamente, especialmente não

por causa dele. Matt só precisava de um minuto para relaxar no vapor residual de

seu chuveiro, e, em seguida, ele iria até o pequeno congelador no canto e

colocaria um pouco de gelo em sua mão. Ele estaria bem, e se ele não estivesse bem, ele era canhoto, de qualquer maneira. Seu telefone tocou

e ele estremeceu quando ele estendeu a mão para ele, agarrando seu lado. — Sim? — ele respondeu distraidamente enquanto ele caminhava

para o espelho. Havia um grande vergão vermelho subindo em suas

costelas. Ótimo, ele pensou. Agora vou ter algo preto e azul na metade superior do meu corpo para corresponder com essa adorável contusão óssea na minha canela.

— Ei, cara. — Zach? — Matt assobiou. Esquecendo imediatamente suas dores,

ele se virou e se certificou de que Jason ou Lucas não tinham entrado. — Que diabos!

— Eu sei, eu sei. Eu apenas preciso...

— Não me peça um favor — advertiu Matt. — Eu já fiz o suficiente por você ao longo dos anos.

— Eu não vou pedir um favor, eu só quero... Você não pode, pelo menos, se encontrar comigo? — Zach parecia desesperado. — Você sabe, para conversar? Eu só quero falar com você!

— Eu não sei, cara. — Matt suspirou com verdadeiro arrependimento. — Nós meio que ultrapassamos esse ponto. Quero dizer,

nós escolhemos nossos lados, certo? Depois que você dedurou Hector, cada membro da família Delos está à procura de uma razão para chutar o seu traseiro. Apenas fique longe, certo?

M

— Certo — disse Zach tão baixinho que Matt mal pôde ouvi-lo. Sua

voz tremia, como se ele estivesse apavorado. — Eu só precisava de um amigo.

— Zach... — Matt começou a dizer, mas a linha ficou muda. Ele não ligou de volta para Zach.

* * *

Vc tá na cama? Helen quase deixou cair o telefone quando ela viu que a mensagem

era de Orion, o que teria sido muito ruim, considerando que ela estava a dezenas de metros no ar e ele não tinha outra maneira de entrar em contato com ela. Recuperando-se da trapalhada quase desastrosa, ela

pairou no ar e disse a si mesma para se acalmar enquanto ela digitava uma resposta.

Quase. Você vai me encontrar? ela escreveu, querendo saber se

seu telefone tinha um emoticon para “esperançosa”. Sim. Preciso ver vc. Dirigindo p/ 2 cavernas agora.

Te vejo em breve. Helen estava incrivelmente feliz que Orion tinha finalmente entrado

em contato com ela, mas ela ainda se sentia desconfortável. Não parecia

como se ele a tivesse perdoado. Ela teria dado qualquer coisa para ser capaz de ver seu rosto ou ouvir a sua voz em vez de se contentar com o que tinha de ser uma mensagem escrita às pressas, enquanto ele estava

dirigindo. Ela pousou rapidamente em seu quintal e correu para dentro da

casa. — Você tem alguma ideia de que horas são? — Jerry gritou quando

ela passou por ele, dirigindo-se para as escadas.

— Quatro minutos para as onze — Helen gritou de volta enquanto ela subia as escadas correndo e indo direto para o banheiro. — Me puna

amanhã, ok? Eu realmente preciso ir para a cama! Ela podia ouvir seu pai resmungando com raiva para si mesmo no

térreo sobre quão boas as coisas eram quando Helen tinha nove anos.

Em uma voz bastante alta, ele lembrou do quão pensativa ela era naquela idade, como ela fazia tudo o que ela deveria fazer, e então ele perguntou ao teto porque filhas não podiam simplesmente ter nove anos para

sempre. Helen o ignorou enquanto ela lavava o rosto e escovava os dentes.

Helen não conseguia parar de pensar em nada além de se encontrar com Orion. Ela não tinha ideia do que ela ia dizer a ele, mas isso não importava. Ela só tinha que vê-lo.

Antes de entrar em seu quarto, ela vestiu meias quentes e botas que ela guardava no corredor, apenas no caso de estar muito frio lá como

estava lá fora. A porta emperrou. Ela empurrou-a violentamente, fazendo a madeira do lintel gemer quando ela atingiu o meio da passagem. Seus primeiros passos trituraram, como se ela tivesse pisado em um tapete de

flocos de milho. Olhando em volta, Helen viu por quê.

O quarto inteiro estava coberto de geada. A cômoda, a cama, o chão,

até mesmo as paredes brilhavam com pedaços branco com camadas de gelo mole. Sua respiração soprou para fora na frente dela como uma

nuvem de fumaça ondulante. Inclinando a cabeça para trás, incrédula, Helen viu os pequenos dedos de sincelos pendurados para baixo como botões cristalinos acima de sua cama. Tinha que estar, pelo menos, dez

ou quinze graus mais frio em seu quarto do que estava lá fora. Como isso poderia ser possível? Ela suspeitava que tinha algo a ver com o Mundo

Inferior. Helen lembrou que a caverna que levava ao portal de Orion tinha estado fria.

Fechando a porta atrás dela e esperando desesperadamente que seu

quarto derretesse pela manhã, Helen estremeceu e puxou as cobertas para trás em sua cama. Flocos de gelo levantaram-se e dançaram ao

redor do quarto, como punhados de glitter jogado no ar. O relógio na sua mesa de cabeceira mostrava 11:11. Fechando o casaco para cima tão alto quanto ele iria, Helen rangeu os dentes batendo em determinação e subiu

entre os lençóis duros e frios.

* * *

Quando Helen apareceu ao lado dele, Orion já estava andando pela praia infinita, que nunca conduzia a nenhum mar.

— Oi — ele disse timidamente, como se fosse a primeira vez que eles

se encontravam. — Oi, você também — disse Helen de volta pelo que ela esperava que

fosse uma maneira corajosa. Ela estava muito nervosa e desesperada

para aliviar o clima entre eles. — Então, somos amigos novamente ou você só veio até aqui para me dizer onde eu posso enfiar minha busca?

Em vez de rir, Orion sorriu tristemente para ela. Helen engoliu o sentimento apertado que estava sendo construído em sua garganta. Ela não sabia o que ela faria se Orion parasse de ajudá-la. Ela poderia nunca

vê-lo novamente. — Sinto muito! Eu realmente, realmente sinto muito, ok? Eu não tive

a intenção de te esfaquear! Isso soou terrível. Helen sentiu seus olhos começarem a lacrimejar.

Orion ficou absolutamente em pânico com a visão de suas lágrimas. Se

Helen não estivesse tão chateada, a expressão em seu rosto teria sido engraçada.

— Uou! Espera aí, eu não estou bravo com você. Na verdade, você deveria estar com raiva de mim.

— Por que eu estaria com raiva de você? — Helen perguntou,

confusa. Ela limpou um olho molhado com as costas da mão e tentou ver seu rosto. Ele não olhou para ela.

— Eu forcei você, Helen. Eu estava tentando... — Ele parou e tomou um momento antes de começar de novo. — Houveram Descendentes da Casa de Roma que podiam controlar corações tão bem que até mesmo

membros das Casas inimigas poderiam estar juntos e falar uns com os outros, como se as Fúrias nem estivessem lá. Eu sei que sou forte o

suficiente para fazer isso também, mas eu nunca tive ninguém para me

ensinar. Eu estava tentando fazer isso na caverna com você, mas em vez

disso eu fiz uma coisa que eu prometi a mim mesmo que eu nunca faria com outra pessoa. Eu manipulei você. Eu fiz você me beijar, e eu sinto

muito. — Eu não sinto — Helen respondeu tão rapidamente que quase o

cortou. Ele abriu a boca para discutir com ela, mas ela continuou. — Se

você não tivesse feito isso, eu teria matado você. Eu não acho que eu poderia ter vivido comigo mesma se eu fizesse isso. Eu quase matei você

— Helen repetiu. Ela estava sufocando novamente, sentindo quão perto ela tinha chegado de fazer algo que ela sabia que sua consciência não poderia aguentar.

— Ei. Eu estou bem, então não chore, ok? — Ele pegou seus ombros e puxou-a para um grande abraço caloroso. Helen relaxou agradecidamente contra ele. — Acredite em mim, eu fiz coisas que são

muito piores. É por isso que eu quero que você pare e pense realmente se você quer ou não me ter junto de você.

— Você é meio lento, hein? — ela disse, suas palavras abafadas no seu peito. Ela o puxou de volta em seus braços, rindo agora que o pior já tinha passado. — Claro que eu quero você aqui. Eu preciso de você. Eu

não quero ser atacada por monstros hoje à noite. — Helen, isso não é uma piada. Eu poderia fazer muito pior do que

apenas matar você. — O que você quer dizer? — Helen pensou nele estendendo a mão

dentro dela, como isso meio que tinha doído, mesmo que parecesse tão

bom. Ele era tão gentil. Ela imaginou o quão horrível teria sido se ele não tivesse sido. — É quanto a mão invisível?

— Minha o quê? — perguntou Orion, confuso. Então, de repente ele corou e olhou para baixo.

Ele andou para longe de Helen e colocou alguma distância entre eles. Ela arrastou os pés por um momento, sem saber o que fazer com seus braços.

— Sinto muito, eu não sei mais do que chamá-la — ela gaguejou desculpando-se, pensando que ela poderia ter dito algo bobo. — Parecia que você estendeu uma mão no meu peito. Eu imaginei uma mão.

— Não, não se desculpe. Chame do que quiser. Eu apenas nunca ouvi ser descrito dessa forma, isso é tudo. Não que eu tenha feito muito

isso — ele acrescentou rapidamente. — Eu sempre soube que não é o tipo de amor que eu quero. Forçado.

— Não, eu não iria querer isso também. Esse é um talento e tanto

que você tem — disse Helen com cautela. Ela não queria ofendê-lo, mas a verdade era que ele a assustava um pouco. — Todo mundo da Casa de

Roma pode fazer isso? — Não — Orion assegurou. — Mas eles podem influenciar você, e

não ache que isso não é ruim o suficiente, porque é. Às vezes, a diferença

entre fazer a coisa certa e a coisa errada precisa menos que uma cotovelada, mas eu sou o único que eu conheço que pode transformar completamente um coração. Ou parti-lo para sempre. E isso não é o pior

que eu posso fazer.

Helen não podia imaginar muitas coisas que eram piores do que ter

um coração que foi partido para sempre, mas algo na forma em que seus olhos se arregalaram e afundaram com medo disse-lhe que ele podia.

— Então, qual é a pior coisa que você pode fazer? — ela perguntou suavemente. Orion apertou a mandíbula e falou por entre os dentes.

— Eu sou um Criador de Terremotos.

Ele disse “Criador de Terremotos” como a maioria das pessoas diria “machado assassino”.

— Tudo bem — ela disse inexpressivamente. — Espera, eu não

entendo. O que é tão horrível sobre isso? Ele olhou para ela sem acreditar por um momento. — Helen... você

já ouviu falar de um terremoto benéfico? Um onde todos voltaram mais tarde dizendo: “Puxa! É muita sorte que tivemos esse terremoto devastador! Estou tão feliz por todos que eu conheço estarem mortos e

toda a cidade estar uma pilha de escombros agora!” Helen não queria rir, mas saiu, de qualquer maneira. Frustrado,

Orion tentou afastar-se dela, mas ela não iria deixá-lo ir. Ela agarrou um dos seus antebraços grossos com as duas mãos e puxou até que ele se virou e olhou para ela.

— Não vá embora. Fale comigo — ela insistiu, querendo chutar-se por rir. — Explique essa coisa toda de Criador de Terremotos.

Orion baixou a cabeça e pegou a mão dela. Enquanto falava, ele brincava nervosamente com seus dedos, rolando-os entre os seus próprios, como se a pressão o acalmasse. O gesto a fez lembrar de outro

momento em que Lucas tinha pegado sua mão. Ela quase se afastou, mas ela não o fez. Orion precisava dela, e ela percebeu que ela queria estar lá por ele. Sempre. Com Trégua ou sem Trégua, Helen não podia convencer-

se de que cuidar de Orion era errado. — Você sabe que o lado do meu pai, a Casa de Atenas, é descendente

de Teseu, um Descendente de Poseidon — ele começou com cuidado. — Bem, é muito raro, mas eu nasci com todos os talentos de Poseidon, incluindo a capacidade de causar terremotos. Quando um Descendente

nasce com esse talento em particular, a lei da nossa casa é que o bebê deve ser exposto. Mas meu pai não faria isso.

— O que você quer dizer com “exposto”? — Algo sobre a maneira obscura que ele disse a palavra lhe deu arrepios.

— Ser deixado em uma montanha para morrer de exposição aos

elementos. — Orion levantou os olhos para encontrar o seu olhar. — Era considerado sagrado o dever de um pai fazer isso com bebês nascidos com o poder de causar terremotos, a fim de proteger a comunidade como

um todo. — Dever sagrado? Isso é bárbaro! Sua Casa realmente esperava que

seu pai o deixasse para morrer em uma montanha? — Minha Casa leva essa lei muito a sério, Helen, e meu pai a

quebrou. Quando eu tinha dez anos e eles descobriram que eu ainda

estava vivo, eles vieram atrás de nós. Três dos meus primos foram mortos por causa da escolha que meu pai fez. E eles? Todos eles tinham pais que

os amavam, alguns deles tinham mulheres e filhos que os amavam, e eles estão mortos agora, por minha causa.

Ele tinha um ponto. Seu pai tinha matado para protegê-lo, mas

aqueles homens que vieram atrás deles, eles perderam exatamente o que Dédalo tinha matado para proteger. E um outro ciclo de matança e

vingança tinha começado de novo. — Foi assim que o seu pai... Dédalo, certo?... se tornou um Banido?

— ela fez a pergunta em voz baixa, com cuidado para não pressioná-lo

demais. Quando Orion acenou com a cabeça, mas não olhou para cima a partir do chão, um pensamento chocante ocorreu a ela. — Você concorda com eles! Você acha que seu pai deveria ter deixado você

morrer. — Eu não sei o que ele deveria ter feito, eu só sei o que ele realmente

fez. E eu sei como isso acabou — disse Orion sombriamente. — Antes de julgar as leis da Casa de meu pai, apenas pense em quantos mortais, não apenas Descendentes, mas inocentes, pessoas normais, como seu pai,

Jerry, poderiam ser mortos por mim. Você sentiu os tremores na caverna? Sabe quantas pessoas sentiram aquele terremoto que fiz na

outra noite, ou se alguém se machucou? Porque eu não sei. Helen recordou sua luta na caverna, como a terra tinha rolado

debaixo dela. Ela começou a ter uma noção do quão poderoso ele

realmente era, e era assustador. Mas também era emocionante. Orion era perigoso, mas não da maneira como ele pensava.

— E eu poderia ter feito muito pior do que isso. — Sua voz estava

baixa e trêmula. — Helen, eu posso derrubar cidades inteiras, desmoronar ilhas inteiras no oceano, ou até mesmo destruir a borda

desse continente se eu realmente me empenhar nisso. Helen viu uma faísca de luz desesperada em seus olhos, e ela

colocou a mão em seu braço para detê-lo. Seu corpo inteiro estava

tremendo. Ela podia ver que ele estava completamente apavorado com o que ele poderia fazer, e que ele achava até mesmo o pensamento de causar

tanta dor abominável. Isso disse a ela tudo o que ela precisava saber sobre ele.

— Você é capaz de coisas monstruosas, por isso você deve ser um

monstro. Eu nem sei por que eu saio com você — disse Helen duramente. Orion olhou para ela, ferido, até que viu o sorriso se espalhando em

seu rosto. Ela balançou a cabeça com simpatia, como se ela achasse que ele era tolo por pensar que suas palavras cruéis foram ditas a sério. Ele fez um som frustrado e esfregou a testa com a palma da sua mão.

— Eu sou perigoso quando estou fora de controle. E você e eu juntos com as Fúrias... — ele parou, hesitante, desesperado para encontrar as palavras que fariam Helen entendê-lo. — Eu poderia ferir um monte de

gente, Helen. — Eu entendo. — E ela entendia. — Na caverna você poderia ter me

ferido de um milhão de maneiras, e talvez matado um milhão de pessoas enquanto você estava fazendo isso. Mas você não o fez. Você é uma pessoa melhor do que você pensa que é. Eu confio em você completamente.

— Sério? — ele perguntou em voz baixa. — Você realmente não tem medo de mim?

— Talvez eu devesse ter. Mas eu não tenho — ela respondeu suavemente. — Sabe, quando a família Delos viu pela primeira vez o meu

relâmpago, por um segundo lá eles me olharam como se eu fosse uma

arma de destruição em massa. Mas eu não incendiei grandes cidades. Não são nossos talentos que nos tornam seguros ou perigosos, são

nossas escolhas. Você de todas as pessoas deveria saber disso. Orion balançou a cabeça. — Há uma profecia — ele disse. — Ahh! Não essas tolices novamente! — disse Helen com veemência.

— Você quer saber o que eu acho? Eu acho que todas essas antigas profecias são tão cheias de bobagem poética que a metade do tempo

ninguém entende o que elas significam. Você não é o Tirano grande e mau, Orion. E você nunca será.

— Eu espero que você esteja certa — ele murmurou tão baixinho

que Helen mal o ouviu. — Você está com tanto medo de si mesmo — ela comentou,

verdadeiramente triste que ele não podia ver que isso era um crime.

— Sim, bem. Tenho razão de estar. — Ok, eu não ia perguntar, mas agora eu meio que preciso. Você

disse anteriormente que tinha feito coisas muito piores do que eu, e isso foi logo depois que eu tinha esfaqueado um dos meus melhores amigos no peito. Então o que você considera pior do que isso?

Orion sorriu, pensativo, enquanto andava pensando sobre sua questão com cuidado. Helen observou seu rosto e sorriu. Ele era um cara

tão pensativo, e quando alguma coisa era importante para ele, ele tomava um tempo para pensar sobre isso antes de ele abrir a boca. Ela realmente gostava disso nele. Isso meio que a lembrava de Matt.

— Podemos ter essa conversa mais tarde? — ele disse finalmente. — Eu prometo dizer-lhe algum dia, mas não agora, ok?

— Certo. Assim que você estiver pronto.

Ele olhou para ela com os lábios apertados, tentando ser forte, mas seus olhos estavam vulneráveis e isso o fazia parecer muito jovem.

— Eu sou realmente um dos seus melhores amigos? — ele perguntou em voz baixa.

— Bem, sim — respondeu Helen, se sentindo nervosa, como se talvez

ela não devesse admitir que se importava muito com ele. Mas ela só estava admitindo a amizade, não fazendo nenhum compromisso que

poderia prejudicar a Trégua, certo? — Não sou uma de suas melhoras amigas?

Orion assentiu, mas havia uma expressão de dor no seu rosto. —

Eu não tive muitos amigos — ele admitiu. — Eu nunca sabia quando eu teria que desaparecer, então eu nunca via o propósito disso, entende?

Ele sorriu alegremente o suficiente, mas por baixo ele ainda parecia

incomodado, como se estivesse pensando mil coisas ao mesmo tempo. Helen não o pressionou. Ele deve ter sido terrivelmente solitário toda a

sua vida. Seu coração apertou com o pensamento. Ela sabia que deveria manter algum tipo de barreira entre ela e

Orion. Mas cada vez que ela o via ela se sentia mais próxima dele. E ela

queria bloqueá-lo mais. O que importa, de qualquer maneira? ela pensou com rebeldia. Eu

não vou estar viva tempo suficiente para me comprometer com qualquer um, de qualquer maneira. A Trégua não está em perigo.

Eles continuaram andando sem nenhuma direção específica, onde

quer que seus pés decidissem vagar. Não era como se tivessem um limite de tempo ou um prazo a cumprir. Tecnicamente, eles poderiam ficar lá

enquanto eles pudessem suportar estar longe de comida e bebida, e, embora Helen já sentisse o início de uma sede séria, ela tinha ficado muito boa em ficar sem.

Enquanto caminhavam, Helen fez mais do que falar, dizendo a Orion tudo sobre Claire, Matt e seu pai, Jerry. Ela deveria ter se sentido mais pressionada a fazer progressos, mas não sentia. Ela confiava que,

eventualmente, ela e Orion iriam encontrar o maldito rio que eles estavam procurando, e ele iria levá-los para o Jardim de Perséfone.

Helen considerou contar a Orion sobre como ela estava meio que morrendo, mas ela não teve coragem de estragar o momento. Ela estava se divertindo muito. E, além disso, o que Orion poderia fazer para impedi-

la de morrer, de qualquer maneira? O que qualquer um poderia fazer a respeito? Ela não tinha nenhuma garantia de que encontrar as Fúrias

acabaria suas descidas para o Mundo Inferior e salvaria sua vida. Helen tinha que aceitar o fato de que esta tarefa poderia ser a última que ela concluiria.

Pelo menos é alguma coisa pela qual valia a pena morrer, Helen pensou.

Ela olhou para Orion e sabia que havia coisas piores que poderiam ter acontecido com ela. Hades não era nenhum piquenique, mas pelo menos ela tinha encontrado Orion aqui embaixo. Isso só mostra que o Destino é um absurdo, ela pensou ironicamente. Mesmo se alguém lhe disser o futuro, você nunca sabe o que você vai encontrar até chegar lá.

Uma ideia lunática passou pela cabeça de Helen, e ela riu alto. — O que foi? — Orion perguntou quando ele lhe lançou um olhar. — Não, não é nada — ela respondeu, ainda rindo. Não olhando para

onde estava indo, ela tropeçou em algumas rochas soltas na areia e teve de agarrar o braço de Orion para recuperar o equilíbrio. — Eu só estava

pensando que não seria ótimo se você e eu tropeçássemos aleatoriamente sobre o que estamos procurando?

— Sim, isso seria ótimo — ele disse enquanto ajudava a estabilizá-

la. — A maioria das pessoas gostaria de sair daqui o mais rápido possível. — Não é isso — ela disse, subjugada. — Eu não estou pensando que

eu quero que nossa busca acabe neste segundo. Mas eu queria que o

Jardim de Perséfone aparecesse magicamente na nossa frente. O cenário mudou.

Sem nenhum aviso, sem nenhuma rajada de vento, e sem nenhum estranho se dissolvendo como em um filme antigo. Um segundo eles

estavam andando pela praia infinita durante o dia, e no outro eles estavam em outro lugar. Em algum lugar escuro e aterrorizante.

Justo à sua esquerda, uma estrutura maciça, feita inteiramente de

uma rocha preta e metálica estranha, se elevava para o céu morto e sem estrelas. Os parapeitos encaravam eles como olhos malignos, e a parede mais externa parecia mudar e mudar de posição na bruma à distância,

como se ressentisse de ser olhada diretamente.

Atrás do castelo negro, uma fina cortina de fogo disparou em linha

reta para cima, iluminando a planície árida em torno dele. Seguindo as chamas lambendo para baixo para a sua fonte, Helen percebeu que ela

devia estar olhando para o Flegetonte, o Rio do Fogo Eterno que cercava o Palácio de Hades.

Diretamente na frente de Orion e Helen elevou-se o que parecia ser

uma cúpula de ferro do tamanho de um estádio de futebol. Era feita do mesmo material preto como o castelo, exceto que em vez de ser formado por enormes blocos sólidos, a substância era torcida em arabescos

decorativos. Sob a abóbada arqueada estava um vasto jardim. Era como se o construtor estivesse tentando esconder o fato de que ele ou ela tinha

construído uma gaiola gigante sobre o jardim, fazendo-o parecer elegante. O material preto nadava com cores. Azuis e roxos e até mesmo tons

quentes, como vermelho e laranja surgiram e desapareceram em ondas

como fumaça. Era como olhar para um arco-íris enterrado em fuligem — uma maravilha da luz, para sempre presa dentro da escuridão.

— Uau — Orion arfou. Ele estava olhando em volta, tão espantado com o castelo ameaçador e a gaiola ao lado dele como Helen estava. Então ele olhou para suas mãos, ainda segurando seu braço, e sorriu

maliciosamente. — Obrigado por me levar com você. — Não me agradeça ainda — Helen sussurrou. Ela estava olhando para o portão principal da gaiola em horror. A

fechadura sobre ele era maior do que seu torso, mas não havia nenhum buraco na fechadura.

— Isso não está certo — Orion sussurrou quando seus olhos finalmente registraram a fechadura que Helen estava encarando tão intensamente.

— Não, não está — disse Helen com raiva. A coisa toda a irritou. Esta estrutura bonita era nada mais do que

uma prisão para prender uma jovem que tinha sido raptada de sua casa e, em seguida, levada a um casamento detestável. Helen andou até o portão sem buraco na fechadura e chutou-a com toda a força.

— Perséfone! — Helen gritou. — Eu sei que você está aí! — Você está louca? — Orion correu atrás de Helen e tentou apertar

a mão sobre sua boca, mas ela a afastou.

— Deixe-me entrar! — ela gritou imperiosamente, como se estivesse canalizando alguma rainha francesa pré-revolucionária. — Eu exijo ser

permitida no Jardim de Perséfone nesse instante! O portão estalou e se abriu com um gemido sinistro. Orion virou a

cabeça para olhar para Helen, sua mandíbula caindo aberta em estado de choque.

— Se você disser o que você quer, você pode fazer isso acontecer.

Helen concordou com a cabeça, ainda tentando descobrir como ela tinha feito isso. Ela pensou em voltar no início da conversa e como ela tinha dito em tom de brincadeira para Orion que ela “não queria ser

atacada” naquela noite. Eles tinham caminhado por muito tempo sem encontrar nenhum monstro. Então ela pediu para o Jardim de Perséfone

aparecer magicamente, e ele tinha aparecido.

— Mas eu tenho que saber exatamente o que eu quero, e então eu

tenho que pedir por isso em voz alta — ela disse. Seu rosto se contorceu numa careta triste e um gemido aflito

irrompeu dela quando ela se lembrou de suas torturas. Pendurada no parapeito. Aprisionada na árvore. Presa dentro da casa do inferno. Pior — se afogando na poça. Sua força escapou de suas pernas, mas ela não

iria cair. Agora não. — Tantas vezes eu sofri aqui e eu poderia ter acabado com isso

sempre que eu quisesse — ela continuou no mesmo tom amargo, necessitando dizer isso para acreditar. — Tudo o que eu tinha que fazer era dizer o que eu queria que acontecesse em voz alta e eu teria isso. É

quase fácil demais. — Como você é jovem! — Uma voz musical, mas melancólica veio até

eles em algum lugar dentro da gaiola gigante e dourada. — Saber o que

você realmente quer e ter a confiança para dizer são duas das coisas mais difíceis de fazer na vida, jovem princesa.

Helen pensou nisso por um momento, e a contragosto admitiu para si mesma que ela concordava. Se ela pedisse por Lucas, e conseguisse ele, ela seria culpada de algo que a faria se sentir muito pior do que

qualquer corte ou osso quebrado. — Venha e converse comigo. Eu prometo que você não será

prejudicada — continuou a voz, convidando-os suavemente. Helen e Orion trocaram um olhar e caminharam juntos pelo portão

aberto para o Jardim de Perséfone.

Luzes coloridas se estendiam do chão ao teto em raios rendados. A luz fraca que filtrava através da gaiola e do dossel superior da vegetação estranha batia nas folhas verde escuras que brilhavam e reluziam por

toda parte, e a luz dançante deu a ilusão de uma brisa suave. Helen passou perto de um aglomerado do que ela achava que eram

lilases, e prendeu a respiração em estado de choque quando os sentiu. Inclinando-se perto para inspecionar o aglomerado, Helen viu que eles eram, na verdade, joias roxas, delicadamente esculpidas e entremeadas

juntas para criar réplicas quase perfeitas de flores reais. Em uma inspeção mais próxima, Helen viu que as folhas não eram reais também,

mas sim prolongações de fios de seda. Nada era real. Nada crescia aqui. — Tão bonita — disse Orion sob sua respiração. De primeira, Helen achou que ele estava falando sobre as joias em

forma de flor, mas quando ela olhou para ele, viu que ele estava olhando através do caminho para a mulher mais elegante que Helen já tinha visto.

Ela tinha quase um metro e oitenta de altura, graciosa como um

cisne, com a pele em um tom tão profundo de preto que era quase azul. Ela não parecia muito mais velha do que Helen, mas havia algo sobre a

maneira como ela se movia, paciente e precisa, que a fazia parecer muito mais velha. Seu longo pescoço estava envolto com cordões de enormes diamantes brilhantes que eram, francamente, envergonhados pelo

tamanho e brilho de seus olhos. Em cima de seu lustroso cabelo na altura do joelho havia uma coroa feita de camadas de cada tipo de joia que Helen

poderia nomear, e muito poucas que ela não podia. Ela usava um vestido de pétalas de rosa perfumadas que brilhavam com o orvalho. As pétalas

eram brancas na parte superior e então se aprofundavam e escureciam

para corar em rosa e, em seguida, ainda mais escuras, até que seus pés pareciam estar cercados por uma nuvem de ricas rosas vermelhas.

Sob os pés descalços, que brilhavam com muitos anéis nos dedos, um tapete interminável de flores silvestres brotava, florescia, e em seguida, secava. Cada passo que ela dava causava uma inundação de

flores da primavera vindo à vida, apenas para murchar e morrer assim que tocava o solo árido do Mundo Inferior. Era como assistir a centenas de lindas flores se jogando de um penhasco como lêmingues, e Helen

queria que isso parasse. — Horrível, não é? — disse Perséfone em sua voz musical quando

ela olhou para as flores morrendo debaixo de seus pés. — Minha essência as cria, mas no Mundo Inferior eu não tenho o poder de mantê-las. Nenhuma flor pode sobreviver aqui por muito tempo.

Ela olhou diretamente para Helen enquanto falava, seus olhos se comunicando com mais significado do que suas palavras. Ela sabe que eu estou morrendo, Helen pensou.

Helen olhou rapidamente para Orion, que parecia alheio ao silêncio

da menina faladeira. Helen sorriu para a rainha, transmitindo a sua gratidão. Ela não queria que Orion soubesse que ela não tinha muito mais tempo. Se ele soubesse que ela estava morrendo, ele poderia mudar

a maneira como ele agia com ela. Como se obedecendo a um protocolo consagrado pelo tempo, Orion

adiantou-se e inclinou a cabeça e os ombros em uma reverência

respeitosa. — Lady Perséfone, a rainha de Hades, viemos pedir um favor — disse

ele em uma voz formal. Parecia estranho, mas certo para a situação. Helen ficou surpresa ao perceber que, como os filhos dos Delos, Orion tinha sido criado como um Descendente, e ele poderia facilmente alternar

entre o calão moderno e os costumes do velho mundo. — Podemos nos juntar a você? — ele perguntou. — Venham, sentem-se e sejam bem-vindos — ela disse, apontando

para um banco de ônix ao lado do caminho. — Por que você é bem-vindo aqui no meu jardim, como em nenhum outro lugar, jovem Herdeiro de

duas Casas inimigas. — Ela executou uma reverência tão suave que teria deixado uma bailarina com vergonha.

A boca de Orion ficou tensa. De primeira, Helen achou que era de

raiva por trazer à tona a sua infância menos-que-ideal, mas quando ela olhou mais de perto, percebeu que era porque ele estava sobrecarregado

com emoção. Helen finalmente entendeu algo sobre Orion que ela não tinha

entendido completamente antes. Orion nunca tinha sido aceito por

ninguém. Metade de sua família o odiava porque ele não havia sido deixado para morrer em uma montanha, e a outra metade o odiava porque as Fúrias os obrigava. Sua mãe estava morta, e a mera visão dele

deixava seu pai com uma raiva induzida pelas Fúrias. Além de Daphne, que tinha um motivo para tudo o que fazia, nenhum Descendente nunca

convidou Orion para realmente sentar-se ao lado deles com tanta bondade?

Estudando a expressão séria de Orion, Helen sentiu que o único

lugar em que ele já tinha sido formalmente recebido em presença de um Descendente era bem aqui, agora, por Perséfone.

Ele apenas era bem-vindo no inferno, Helen pensou. Isso fez seu peito doer até mesmo ao considerar a ideia.

Percebendo que Helen estava lá observando com admiração,

Perséfone estendeu a mão, generosamente convidando-a para se juntar a eles no banco.

Helen corou e balançou a cabeça de um modo estranho. Ela havia sido pega divagando como uma pessoa louca de novo, e ela não conseguia se lembrar quando ela se sentiu como uma grande caipira. Ela queria

muito que ela tivesse prestado atenção a todas aquelas estrofes de cortesia que ela tinha pulado na Ilíada. Perséfone pareceu sentir o

desconforto de Helen e lhe deu um sorriso acolhedor e caloroso. — Não há necessidade de fazer cerimônia. Pensando bem sobre isso,

talvez eu deveria ser a única a me curvar para você — disse Perséfone

com a simples sugestão de uma provocação em seu tom. — Ei, não sou eu quem usa uma coroa — disse Helen com uma

risada, percebendo que estava tudo bem fazer uma piada. Perséfone sorriu graciosamente, mas, em seguida, sua expressão tornou-se séria.

— Ainda não — ela disse enigmaticamente, e depois continuou em

uma voz segura. — Você procura uma maneira de matar as Fúrias. Orion e Helen se entreolharam, chocados com uma declaração tão

evidente.

— Sim — disse Orion com convicção. — Eu quero matá-las. — Não, você não quer. — Perséfone virou seus olhos de chocolate

espumante para Orion, derretendo-o instantaneamente. — Você quer ajudá-las. Elas precisam desesperadamente que você as salve de seu sofrimento, meu querido. Vocês sabem quem são as Fúrias?

— Nós não sabemos — disse Helen, não gostando do quão familiar a deusa linda estava sendo com Orion. — Por favor, explique-nos isso.

— As Fúrias são três jovens irmãs, nascidas a partir do sangue de Urano quando seu filho, o Titã Cronus, o atacou. As Fúrias foram raptadas por Moiras no momento de sua criação e forçadas a

desempenhar o seu papel no grande drama. A dor que elas sentem é real, e o fardo que elas carregam... — Perséfone parou e olhou suplicante nos olhos de Orion. — Elas ainda são pouco mais do que crianças e elas

nunca tinham experimentado sequer um único momento de alegria. Você sabe o que quero dizer, príncipe. Você sabe o que elas sofrem.

— Ódio — ele disse, olhando para Helen. Ela lembrou como era horrível sentir ódio de Orion na caverna, e ela sabia que ele estava

pensando o mesmo sobre ela. — Nós temos que ajudá-las — Helen sussurrou para ele, e ele sorriu

em resposta. Os dois estavam inteiramente em sintonia. — Temos que

libertá-las. — As Fúrias e os Descendentes — disse Orion, determinado. — Sim — Helen concordou. — E eu prometo que eu vou lhe libertar

também, Sua Alteza.

— Não, não! — Perséfone exclamou de repente. Ela se apressou para

falar. — Se apresse, Helen, você não vai sobreviver muito mais tempo sem sonhar! Você deve trazer as Fúrias para a água do Rio...

O nome do rio foi abafado por uma voz grande e retumbante. — HELEN, VOCÊ ESTÁ BANIDA. Helen sentiu todo o seu corpo sendo arremessado para cima e para

fora do Mundo Inferior como se estivesse sendo pego e lançado por uma mão de quilômetros de largura. Por um momento, ela pensou ter visto um rosto enorme dominando sua visão. Parecia familiar. Seus brilhantes

olhos verdes eram tão tristes...

* * *

Helen acordou em sua cama. Sentando-se, ela desalojou a fina camada de cristais de gelo que estavam sobre suas cobertas como farinha peneirada, enviando alguns dos flocos brilhantes para dançar no ar seco

abaixo de zero. Seu rosto parecia duro, então ela puxou a mão de debaixo dos cobertores e levantou-a ao rosto dormente. Embora seus dedos

estivessem quase sem sensação com o frio, ela poderia dizer que todo o seu rosto estava coberto por uma camada de geada pontiaguda. Ela moveu a mão para sentir o cabelo dela e ela descobriu que ele, também,

estava congelado em cordas grossas de gelo. Respirando rápido e enviando nuvens de vapor na frente dela, Helen

olhou em volta, tentando controlar seu tremor. Tudo em seu quarto

parecia um pouco azul, mas o frio profundo era pior em torno de sua cama. Helen pegou o relógio na sua mesa de cabeceira e teve que esfregar

uma camada de gelo com seu polegar para ver seu visor. A hora passou de 11:11 para 11:12 quando ela olhou para ele.

Embora ela e Orion tivessem estado lá em baixo no Mundo Inferior

pelo que pareciam dias para eles, no mundo real ela fechou os olhos meros segundos atrás e ela já estava quase congelada completamente. O

frio estava definitivamente ficando pior. Helen se perguntou se seu corpo iria congelar da próxima vez que ela descesse.

Em seguida, ela se perguntou se ela nunca iria descer novamente.

Ela havia sido banida pelo próprio Hades. Isso não soava muito promissor.

Helen saiu da cama e caminhou através de seu chão gelado para

pegar o seu telefone, mas não havia nenhuma mensagem de Orion ainda. Ele provavelmente ainda estava chegando das cavernas. O tempo não

passou enquanto eles estavam no Mundo Inferior, o que significava que no segundo que Orion entrou no portal seria o segundo que ele saiu, não importa quanto tempo ele tivesse “passado” no outro lado. Se tivessem

sorte, Orion estava voltando agora depois de ter sido autorizado a permanecer no Mundo Inferior tempo suficiente para ouvir o que

Perséfone tinha a dizer. Helen só podia esperar que Orion tivesse sucedido onde ela tinha tão obviamente falhado.

Helen estremeceu violentamente e percebeu que ela tinha que sair

de seu quarto e se aquecer de alguma forma. Ela lembrou-se do sermão de Hector na praia, logo depois que ele tinha quase afogado ela. Helen

podia ser impenetrável às armas, mas ela não era completamente

invulnerável, e o frio extremo poderia matá-la, tão certo como um afogamento.

Impulsionando sua porta gelada e abrindo-a o mais silenciosamente que pôde, Helen enfiou a cabeça para fora de seu quarto e olhou em volta. Felizmente, seu pai ainda estava lá embaixo assistindo TV. Ela fechou a

porta firmemente atrás dela, empurrou um saco de feijão em forma de rolo contra a fenda na parte inferior para esconder o frio irreal em seu quarto do pai dela, e gritou para Jerry que ela iria tomar um banho para

ajudá-la a dormir. Ele resmungou alguma coisa sobre como ela deveria simplesmente fechar os olhos e dar mais de um segundo, mas ele não fez

nenhuma pergunta ou a impediu. Enquanto se dirigia para o banheiro, Helen deu um tapa na testa

com seu telefone algumas vezes como punição por seu terrível erro no

Mundo Inferior. Ela não podia acreditar que ela tinha sido tão estúpida. Hades provavelmente não era o melhor lugar para falar sobre libertar a

rainha cativa, enquanto “o chefe” estava, provavelmente, ouvindo o tempo todo. E Helen tinha abertamente ameaçado tirar a única coisa em todo o multiverso que Hades se preocupava — sua rainha. Estúpida! Agora

Helen foi banida. Como diabos ela deveria cumprir sua tarefa se ela não poderia descer?

Enquanto ela tirava a roupa e enchia a banheira com água quente, ela pensou em seu encontro com Perséfone. Lhe pareceu estranho que Hades não tivesse intervindo de uma forma ou de outra quando ela e

Orion falaram sobre libertar as Fúrias. Só quando Helen abriu a grande boca sobre libertar a sua rainha que Hades tinha usado sua autoridade para interferir.

Helen cautelosamente abaixou-se para a água quente, com o telefone ainda na mão, e arquivou aquele pedaço de informação à

distância. Em seguida, ela suspirou e mergulhou, tentando descobrir como ela iria descongelar seu quarto antes que seu pai descobrisse sobre ele. Seu celular vibrou.

Você está acordada? Orion mandou uma mensagem. OMD, você ouviu o nome do rio? Helen enviou de volta.

Do que vc tá falando? Eu fui chutado de lá logo após P dizer que você ia morrer.

Oh. Houve mais, Helen respondeu, ignorando a coisa toda de morte

e esperando que Orion o fizesse, também. Ela me disse que nós precisamos dar as Fúrias água do Rio... Eu não ouvi o nome pq eu fui chutada de lá também.

Ainda assim é uma boa informação. Eu vou encontrar o caminho certo, eventualmente.

Espera, “você vai” encontrar? E quanto a “nós vamos” encontrar?

Que parte do “você não sobreviverá” você não entendeu?

Só se eu não sonhar. Você não sonha?

Não quando eu desço. Então você não vai descer mais.

Helen achou que ele era um pouco mandão.

NÃO é realmente sua decisão, ela mandou uma mensagem de volta.

NÃO vou discutir veio sua resposta desafiadora. Espera. Você não controla isso. NÃO. Agora pare. Eu tenho que dirigir.

Durante dez minutos, Helen se agitou em torno da banheira, murmurando para si mesma. Havia algo que ele estava deixando passar — um ponto que ela sabia que tinha que fazer — mas ela não podia vê-lo

ainda. Ela tentou convencê-lo a voltar para a discussão com todos os tipos de mensagens. Ela até ameaçou deitar-se e descer imediatamente.

Depois disso, ele voltou com uma longa resposta, uma daquelas mensagens que você tem que estacionar para digitar.

Se você voltar para a cama, eu te juro, eu vou nadar para

Nantucket, chutar sua porta, e dizer tudo a Jerry. Você pode explicar a ele por que você quer morrer. Fique longe do MI. Eu não estou

brincando mais. Ameaçar contar ao pai dela era simplesmente baixo — ela tinha dito

a Orion que Jerry era uma “zona de exclusão aérea” e ele prometeu nunca

violar isso. Mas ela teve que admitir, se ela estava realmente pensando em fazer isso, dizer a seu pai era a única ameaça que teria parado ela. Orion a conhecia muito bem. Ela se perguntou como ele conseguiu isso

em um período relativamente curto de tempo. Helen sorriu para o telefone por um momento, e então se forçou a parar. Ela não gostava que lhe

dissessem o que fazer, mas ela gostava que ele se importava o suficiente para tentar.

Eu não posso descer, de qualquer maneira, ela finalmente admitiu

depois de uma longa pausa na sua troca de mensagens. Hades me baniu e chutou nós dois para fora do MI porque eu ameacei tirar P de lá.

Você ainda pode descer? Com certeza. Você está banida? Uau. Nada como um bom deus.

Estranho que seja Hades.

Ela sabia que ele estava apenas preocupado com a segurança dela, mas havia algo de muito errado com sua lógica. Helen começou a digitar antes mesmo que ela soubesse o que ela ia dizer. Seu cérebro disperso

finalmente descobriu por que ela estava tão chateada por ter sido banida, e por que ela tinha discutido com Orion tão agressivamente para

começar. Mas lembre-se da profecia, ela digitou freneticamente. Eu sou

Aquela que Desce — a única que deveria ser capaz de se livrar das

Fúrias. Se eu não fizer isso, quantos mais vão sofrer? Você nunca veria seu pai novamente.

Helen mordeu o lábio, agonizando sobre se ela deveria ou não dizer

a ele o que ela estava realmente pensando. Nós nunca seríamos capazes de nos ver outra vez. Eu não acho

que eu poderia lidar com isso, ela finalmente enviou, adicionando em seus pensamentos, pelo pouco tempo que me resta, de qualquer maneira.

Houve uma longa pausa em que Orion não respondeu, e Helen se perguntou se ela tinha acabado de cometer um erro enorme. Para afastar

sua mente dele, ela enviou um e-mail para Cassandra e o resto dos Nerds

Gregos, explicando tudo o que aconteceu no Mundo Inferior. Então, ela olhou para a tela escura de seu telefone até que ela ouviu o pai dela subir,

deitar na cama, e começar a roncar. Ainda assim, Orion não mandou uma mensagem de volta.

Helen saiu da banheira e se secou. Ela realmente não sabia o que

ela ia fazer a seguir, mas ela sabia que não poderia voltar para o quarto congelado dela. Havia o sofá no andar de baixo, mas ela decidiu que se ela se deitasse ou não, isso realmente não importava. Ela tinha perdido

o controle de quantas semanas ela tinha passado sem ter um verdadeiro descanso, de qualquer maneira.

Ela passou muito tempo no banheiro quente recuperando o atraso na preparação ritual que ela tinha negligenciado por eras. Ela aparou coisas que precisavam ser aparadas e esfregou todas as suas partes

flexíveis com óleos pegajosos. Quando ela terminou, Helen limpou o vapor do espelho sobre a pia e, pela primeira vez em muito tempo, ela deu uma

boa olhada em si mesma. A primeira coisa que ela notou foi o colar de sua mãe. Ele se destacava em relevo acentuado contra sua pele corada, brilhando em sua garganta como se tivesse sugado energia de todo o seu

auto-mimo. Então, ela olhou para o rosto dela. Era o mesmo rosto pelo qual tantas pessoas morreram eras atrás,

pelo qual muitos ainda estavam morrendo. Descendentes ainda estavam

matando uns aos outros para vingar as mortes dos tempos das muralhas de Tróia, dos tempos da primeira mulher a usar o rosto exato que Helen

estava olhando no espelho. Algum rosto valia a pena tudo isso? Não fazia qualquer sentido.

Tinha que haver mais nessa história. Todo esse sofrimento não poderia

ser por causa de uma menina, não importa o quão bonita ela fosse. Outra coisa tinha que estar acontecendo que não estava nos livros.

Ela ouviu seu telefone zumbido e correu para agarrá-lo, derrubando mais de metade dos produtos de higiene pessoal na pia quando ela fez isso. Ela pegou as garrafas e tubos variados no ar antes que eles tivessem

uma chance de cair ruidosamente contra o chão e acordar o pai dela. Suprimindo uma risadinha nervosa, ela os colocou de volta em silêncio

em seus devidos lugares, em seguida, olhou para a mensagem. Eu tenho pensado sobre isso. Se isso é o que é preciso para

mantê-la viva, então eu estou pronto para isso, Orion respondeu,

quase meia hora depois que eles pararam de mandar mensagens de texto. Eu vou deixar você ir, eu vou largar toda essa busca, mas eu não posso deixar você morrer.

Helen caiu para baixo na borda da banheira, incrédula. Desistir condenaria Orion a uma vida em fuga, sem uma casa ou uma família. Ele

estava disposto a sofrer tudo isso — por ela. Ou era por seu rosto estúpido? Afinal, eles mal se conheciam. O que

poderia inspirar esse tipo de auto-sacrifício?

Daphne tinha chamado seus rostos quase idênticos de amaldiçoados, e Helen sempre tinha assumido que sua mãe quis dizer

que seus rostos tinham amaldiçoado elas. Pela primeira vez, Helen considerou a possibilidade de que sua mãe tinha querido dizer que ele

amaldiçoava as pessoas que olhavam para eles. O pensamento de Orion

sacrificar tudo o que ele sempre quis apenas porque era perigoso para ela não caiu bem com Helen. Havia muito mais em jogo do que a vida de

apenas uma pessoa, mesmo que a vida fosse dela própria. Helen sentiu alguma coisa desistir dentro dela — e daí se ela tinha

uma queda por ele, ou se ele tinha uma queda por ela? Orion não podia

desistir agora. Não apenas por causa do que lhe custaria, mas por causa do que custaria a todos. Se ninguém se livrasse das Fúrias, o que

aconteceria com Hector e os outros Banidos? O que aconteceria com todos os Descendentes? Helen lembrou de Orion dizendo-lhe sobre o seu sonho de um campo de ossos de Descendentes em Hades, e percebeu que

tinha sido mais do que apenas um pesadelo. Orion tinha recebido um aviso nesse sonho, Helen tinha certeza disso. O ciclo tinha que acabar ou sua espécie acabaria por se tornar extinta, assim como os Gigantes de

Gelo. Seu idiota. Ela golpeou as teclas com os dedos, como se estivesse

tentando empurrar suas palavras diretamente em seu grande e gordo auto-sacrifício e sua cabeça incrivelmente corajosa. Se você desistir de nossa busca eu vou te caçar! Eu vou encontrar uma maneira de

corrigir este problema de sonhar/ser-banida-por-Hades, e quando eu fizer isso vamos libertar as Fúrias juntos. Nesse meio tempo, você

vai CONTINUAR. Entendeu? Ela apertou em enviar e esperou. Houve uma longa pausa. Várias

vezes Helen começou a escrever uma mensagem, mas ela acabou

apagando cada uma. Ela estava tão cansada que seus olhos lacrimejavam e suas orelhas continuavam sendo tapadas, forçando-a a bocejar várias vezes para clareá-las.

No meio de um bocejo Helen sentiu algo estalar atrás de seus olhos, e notou que seu lábio superior de repente ficou muito úmido. Ela tocou

a boca e encontrou sangue em seus dedos. Ela colocou um lenço no nariz antes que ela tivesse uma chance de manchar algo e pressionou com força, esperando que o sangramento parasse. Finalmente, depois de

esfregar o rosto ensanguentado e olhar para o seu telefone como se isso fosse fazer Orion responder mais rápido, ele se iluminou novamente.

Você pode me caçar o quanto você quiser, Hamilton, mas você sabe que nunca vai me encontrar, certo?

Ele estava brincando de novo, o que era um sinal muito bom. Helen

sabia que essa decisão tinha sido difícil para ele, então ela precisava ter certeza. Ela precisava de algo que se assemelhava a uma promessa, no caso de ela não resistir até o final de sua busca.

Nós temos um acordo? Você vai continuar, não importa o quê? ela mandou em uma mensagem. Ele não respondeu imediatamente,

então ela acrescentou: Olá? Combinado? Desculpe. Estou indo para a cama. Sim, eu vou continuar. Helen sorriu e deslizou para fora da borda da banheira para se

apoiar contra a parede. Ela enrolou-se em seu robe e colocou seus pés em seus sapatos enquanto ela descia ao andar de baixo em um ninho

improvisado de toalhas quentes e úmidas. Ela imaginou ele deslizando sob as cobertas em seu quarto, levando o seu telefone com ele. Ele

adormeceria assim, ela pensou, com a sua conversa em concha na sua

mão. Sabia que podia contar com você, ela enviou, embalando as

mensagens dele perto dela. Para todo o sempre. Onde você está? Cama, ela escreveu, mesmo que fosse mais como “sofá”.

Ótimo, eu também. Você pode finalmente descansar. E eu também! Exausto.

Helen não queria parar de trocar mensagens com ele. Ela poderia ter

ficado a noite toda trocando pequenas histórias no escuro, mas ela finalmente estava aquecida novamente depois do que pareceu anos de

tremores. Seus olhos estavam começando a se fechar por conta própria. Boa noite, Orion. Bons sonhos.

Traduzido por Polly

elen abriu os olhos. Ela não sentia como se estivesse acordando, e ela suspeitava que fosse porque ela realmente não estava

dormindo. Parecia mais como se tivesse batido a cabeça e perdido a

consciência por algumas horas, e agora estava voltando. Como um pulo em uma cena de um filme, em um momento Helen estava olhando para

a última mensagem de Orion e no outro ela estava olhando para o tapete de banheiro no chão. O sol estava alto, o cabelo dela estava seco, e ela podia ouvir seu pai sair da cama.

Helen poderia dizer a partir da sensação nervosa e úmida por todo o corpo que, embora seu cérebro tivesse desligado por algumas horas, ela não tinha conseguido o que ela precisava. Ela não tinha descido, o que

foi um alívio, mas ela também não tinha sonhado. Isso era muito ruim. Perséfone tinha dito a ela que ela não tinha muito tempo, e Helen não

sabia quanto tempo mais ela poderia durar sem sonhar. Ouvir Jerry abrir seu guarda-roupa estimulou Helen a agir. Ela

pulou e desmontou o ninho que ela fez para si mesma na noite anterior,

em seguida, começou a escovar os dentes às pressas para dar a seu pai a ilusão de que ela tinha acabado de vencer ele no banheiro.

Era segunda-feira, uma nova semana, e a vez de Helen cozinhar. Ela correu para o quarto dela congelado temendo o que ela iria encontrar, mas ficou agradavelmente surpreendida que a maior parte tinha se

descongelado. Algo clicou em sua cabeça. O frio intenso devia ter algo a ver com ela ter estado transformando sua cama em um portal para o Mundo Inferior. Como ela não tinha descido na noite anterior, o frio tinha

se dissipado um pouco. Ainda era um depósito de carne lá dentro e tudo estava úmido com o gelo derretendo, mas pelo menos ela não teve que

pegar um secador de cabelo para sua cômoda para conseguir abrir as gavetas, como ela teve que fazer no dia anterior.

Até agora, ela foi capaz de esconder o quão frio estava o seu quarto

de seu pai, mas ela sabia que não seria capaz de mantê-lo longe dele por muito mais tempo. Helen decidiu que não havia nada que pudesse fazer

sobre isso. Ela só esperava que ele ficasse fora de seu quarto. Ela tinha outras coisas para se preocupar, uma das não menos importantes era o Myrmidon que provavelmente estava observando ela naquele momento.

Helen ignorou esse pensamento perturbador o melhor que pôde, mas ainda assim entrou em seu closet antes dela tirar a roupa.

Ela se vestiu o mais rápido possível, tremendo nos poucos segundos

que ela foi forçada a ficar exposta, e então correu para baixo para se aquecer junto ao fogão enquanto preparava o café da manhã. Por um

tempo, ela ficou ao redor da chama no fogão como se fosse uma fogueira. Quando o ar ao redor dela oscilou com o calor, ela suspirou feliz e fechou

H

os olhos, mas alguma coisa estava errada. Ela não sentia como se

estivesse sozinha. Seus olhos se abriram, e ela olhou em volta. O ar continuou a dançar na frente dela por alguns momentos, e então se

estabeleceu. A dúvida começou a insinuar-se. Ela não estava ouvindo vozes, mas

ela ainda sentia como se houvesse uma outra presença na cozinha, o que

era, obviamente, impossível. Helen sabia que ela estava enlouquecendo. Ela não tinha muito tempo, mas não havia nada que pudesse fazer sobre

isso até aquela noite. Ela voltou para o fogão e começou a trabalhar no café da manhã.

Quando ela terminou de fazer as panquecas de abóbora, ela olhou

para o relógio. Seu pai estava um pouco atrasado, então ela colocou um esforço extra e polvilhou açúcar de confeiteiro em cima das pilhas de panquecas através de um velho recorte em forma de bastão, como eles

costumavam fazer quando Helen era uma criança. Quando ela terminou, ela olhou para o relógio novamente. Ela estava prestes a ir para o fim das

escadas para chamar Jerry quando o ouviu descer. — Você demorou tanto... — Helen parou quando viu seu pai. Ele estava usando um vestido preto esfarrapado com meias listradas

de vermelho e branco, uma peruca preta, e seu rosto estava pintado de verde. Em sua mão estava um tradicional chapéu de bruxa pontudo, com

uma grande faixa de seda na parte da frente. Por um momento ela só olhou para ele com a boca aberta.

— Eu perdi uma aposta com Kate — ele disse timidamente.

— Oh, cara. Eu tenho que tirar uma foto disso. — Seus ombros estavam tremendo com o riso quando ela pegou o telefone dela. Ela tirou uma foto rápida de seu pai antes que ele pudesse fugir, e enviou

imediatamente para quase todo mundo que ela conhecia. — O Halloween é hoje? Eu perdi a noção.

— Amanhã — ele disse, sentando para comer suas panquecas. — Eu tenho dois dias inteiros fantasiado e então eu nunca vou comemorar o Halloween outra vez.

Halloween sempre foi um momento movimentado na News Store, e apesar dos resmungos de Jerry sobre ter que usar um vestido, Helen

sabia que ele gostava de comemorar todos os feriados. Helen perguntou a seu pai se ele precisava de ajuda na loja, mas ele disse que de nenhuma maneira ele iria deixá-la ir.

— Você parece mais verde do que eu — ele disse com preocupação. — Você precisa ficar em casa depois da escola hoje?

— Eu vou ficar bem — Helen disse com um encolher de ombros e

olhou para seu café da manhã para esconder a culpa que sentia. Ela honestamente não sabia se ela ia ficar bem ou não, e ela não conseguia

olhar para seu pai e mentir. Claire cruzou para a casa em seu carro quase em silêncio, baixou a

janela do passageiro, e aumentou a canção no rádio, em vez de buzinar.

— É melhor eu ir antes que os vizinhos chamem a polícia — Helen disse a seu pai enquanto recolhia suas coisas e corria para fora da casa.

— Venha para casa logo após a escola; você precisa descansar! — Jerry gritou atrás dela. Helen acenou de forma evasiva da porta, sabendo

que ela não podia. Ela tinha que treinar com Ariadne para seu retorno ao

Mundo Inferior. O tempo estava passando para Helen, e ela tinha um monte de promessas para cumprir antes de isso acabar.

* * * Lucas observou Helen correr pela porta da frente e saltar para o

carro de Claire. Ela parecia exausta e magra, mas, mesmo assim, seu

sorriso para Claire era brilhante, bonito e cheio de amor. Essa era Helen. Não importava o que ela estava passando, ela tinha um jeito quase

mágico de abrir seu coração para os outros. Só de estar perto dela o fez se sentir amado, mesmo ele sabendo que seu amor não era mais dirigido em direção a ele.

Ela quase o pegou de novo naquela manhã, e ele estava começando a suspeitar que ele estava assustando ela. De alguma forma, ela ainda podia senti-lo. Lucas tinha que descobrir o porquê, porque ele certamente

não iria parar de proteger ela. Não até que ele estivesse certo de que Automedon tinha ido embora para sempre.

Claire e Helen começaram a gritar conforme elas dirigiam para fora, assassinando uma das canções favoritas de Lucas de Bob Marley. Helen tinha a pior voz para cantar. Era uma das coisas que ele mais gostava

sobre ela. Toda vez que ela gorjeava como um gato que acabou de ser pisado, ele queria pegá-la e... sim.

Lembrando a si mesmo que Helen era sua prima, ele deixou cair a sua capa de luz e disparou para o ar para que ele pudesse ligar o telefone e começar o seu dia. Ele tinha uma mensagem de texto esperando.

Eu sei que você estava lá em baixo conosco. E eu acho que sei como você fez isso, dizia a mensagem. Nós precisamos conversar.

Quem é? Lucas respondeu, já sabendo quem era. Quem mais

poderia ser, afinal de contas? Mas ele não queria dar uma chance. Ele não podia. Ele estava muito zangado.

Orion. Fazer ele escrever isso foi ainda pior. Ver o nome do cara e imaginar

Helen dizê-lo simplesmente comia ele por dentro. A raiva estava ficando

pior a cada dia, e ele tinha que ter um momento para impedir a si mesmo de lançar seu telefone através do Atlântico.

Ótimo. O que você quer? Lucas respondeu quando suas mãos afrouxaram o suficiente para digitar. Já era ruim o suficiente ele ter que deixar Helen, mas ele também tinha que receber mensagens do cara que

tem passado cada noite com ela? Você precisa ser um idiota — eu entendo. Mas não há tempo.

Helen está morrendo.

* * *

— Você está de bom humor! — Helen gorjeou.

— Eu estou! — Claire praticamente gritou.

— Ooh, não me diga! Bochechas coradas, olhos brilhando... Poderia ser amor? Oh, sim!

Helen cantou a parte final da música do Bob Marley que Claire tinha

estado uivando. Resumia perfeitamente o humor extático de Claire, e Claire se juntou a ela na parte “oh, yeah” respondendo à pergunta tácita de Helen.

— O que posso dizer? Ele realmente é uma espécie de deus. — Claire suspirou e deu uma risadinha gloriosamente conforme ela adernou no

final da rua. — O que aconteceu? — Helen gritou, vicariamente tonta. Foi tão bom

rir de novo que Helen esqueceu tudo mais em sua vida, menos o rosto

brilhante de Claire. — Ele FINALMENTE me beijou! Noite passada — ela praticamente

cantou. — Ele subiu pelo lado da minha casa! Você consegue acreditar?

— Hum, sim? — Helen sorriu e deu de ombros. — Oh, certo, eu acho que você pode — Claire disse, acenando, bem-

humorada. — Então, de qualquer maneira, eu abri minha janela para gritar com ele e lhe dizer que ele iria acordar a minha avó... você sabe

como ela pode ouvir o peido de um cão a duas casas. Mas ele disse que tinha que me ver. Que ele não poderia ficar longe de mim mais, e então ele me beijou! E não é o melhor primeiro beijo de todos?

— Finalmente! Por que ele demorou tanto? — Helen riu. O riso se transformou em um grito quando Claire pisou no freio para obedecer uma

placa de pare. Buzinas soaram de ambos os lados da rua. — Oh, eu não sei. — Claire seguiu em frente, ignorando o fato de

que ela tinha quase causado um acidente de trânsito horrendo. — Ele

acha que eu sou muito frágil, que eu não conheço o perigo que eu estou, blá, blá. Como se eu não tivesse passado minha vida inteira em torno de

uma Descendente. Ridículo, certo? — Sim. Ridículo — Helen disse quando ela fez uma careta de medo,

tanto pela atitude indiferente de Claire em relação aos Descendentes

como pela sua condução audaciosa. — Sabe de uma coisa, Risadinha? O amor não faz você imune a acidentes de carro.

— Eu sei disso! Deus, você soa exatamente como Jason — Claire

respondeu, todo o seu ser derretendo um pouco quando ela disse o nome dele. Ela parou na sua vaga do estacionamento da escola, desligou o carro

dela, e se virou para Helen com um suspiro. — Eu estou tão apaixonada. — Aparentemente! — Helen sorriu. Ela sabia que não era mais a

pessoa favorita de Jason, mas independentemente de como ele tinha

estado tratando Helen, ela podia ver que Claire precisava de seu apoio neste processo. — Jason é realmente um grande cara, Risadinha. Estou

tão feliz por vocês dois. — Mas ele não é japonês — ela disse, seu rosto caindo. — Como é

que eu vou trazê-lo para a casa dos meus pais?

— Talvez eles não se importem tanto — Helen disse com um encolher de ombros. — Ei, eles se acostumaram comigo, certo?

Claire lhe deu um olhar duvidoso, estendeu a sua mão e inclinou da esquerda para a direita, como se dissesse “mais ou menos”.

— Sério? — Helen exclamou. Ela não podia acreditar. — Nós somos

amigas durante nossas vidas inteiras e seus pais ainda não gostam de mim?

— Minha mãe te ama! Mas, Lennie, você tem que entender, você é muito alta e você sorri muito. Isso não é legal para a vovó.

— Eu não posso acreditar — Helen murmurou irritadiça quando ela saiu do carro e se dirigiu para a frente do estacionamento. — Eu passei mais tempo com aquela mulher chata...

— Ela é tradicional! — Claire disse em defesa. — Ela é racista! — Helen respondeu, e Claire recuou porque ela

sabia que Helen estava meio certa. — Jason é perfeito para você,

Risadinha. Não se atreva a deixar o fato de que ele não é japonês arruinar isto! Esse cara estava disposto a morrer por você.

— Eu sei — Claire disse, sua voz ficando rouca com emoção. Ela parou, mesmo que todo mundo estivesse correndo para a escola para evitar de chegar atrasado. Helen parou com ela, movida pela rara

demonstração de vulnerabilidade de Claire. — Eu estava tão assustada lá em baixo, Len. Tão perdida e com sede, sabe? E então... ele estava lá.

Eu ainda não consigo acreditar que ele realmente surgiu para me pegar naquele lugar horrível.

Helen esperou Claire se acalmar. A crueza das emoções que

cercavam a experiência de quase-morte de Claire lembrou Helen de quão terrível o Mundo Inferior realmente era. Orion tinha mudado tão drasticamente o Mundo Inferior para ela que ela não considerava mais

uma punição estar lá. Enquanto ela estava com ele, ela quase podia apreciar.

— Mas eu não amo ele só porque ele me salvou — Claire continuou, tirando Helen de seus pensamentos sobre Orion. — Jason é uma das melhores pessoas que eu já conheci. Eu o admiraria independentemente

disso. — Então esqueça o que sua avó pensa — Helen disse com um aceno

de cabeça firme.

— Ah, eu queria que eu pudesse! Mas a velha nunca se cala — Claire gemeu quando ela puxou a porta e entrou com Helen, ambas rindo

novamente. Helen tinha esquecido o quão bom era a sensação de apenas brincar com Claire. Ela começou seu dia em alto astral.

O resto da manhã, no entanto, foi como um mergulho lento em um

estado de exaustão. Helen tinha que se manter se agitando para ficar acordada, e várias vezes seus professores a repreenderam por quase

cochilar. De alguma forma ela conseguiu tropeçar através da manhã e se encontrou com Claire de volta na hora do almoço.

Sentada em sua mesa de sempre, Helen viu Matt do outro lado do

refeitório e sinalizou para ele se juntar a elas. Conforme ele fazia o seu caminho, Claire deu uma cotovelada em Helen e salientou todas as meninas que olhavam fixamente e sussurravam quando Matt passou.

Ele tinha um corte no lábio e arranhões sobre os nós dos dedos que eram obviamente de uma luta. Sua camisa, que tinha estado um pouco

frouxa um mês atrás, parecia um pouco apertada agora. Através do material ligeiramente esticado, era fácil ver que seus músculos do peito

e ombro estavam positivamente definidos. Ele havia perdido a gordura de

bebê em seu rosto, fazendo-o parecer mais esculpido e adulto; ele até mesmo andava diferente, como se ele estivesse pronto para qualquer

coisa. — Oh meu Deus — Claire disse com um olhar de descrença no rosto.

— Lennie, Matt é um garanhão?

Helen quase expeliu seu sanduíche e teve que engolir apressadamente sua mordida para responder. — Não é? Matt está, tipo,

todo bonitão, de repente! Claire e Helen fizeram uma pausa, olharam uma para outra, e

disseram “EEECAA!” exatamente ao mesmo tempo antes de cair na

risada. — O que foi? — Matt perguntou quando ele chegou à mesa, dando a

elas duas olhares estranhos. Ele apontou para o sanduíche de Helen e

tentou adivinhar. — Pepino e vegemite? — Não, ding-dong, não é o sanduíche — Claire disse, enxugando os

olhos e encerrando a risada. — É você! Você é oficialmente um gostoso agora!

— Oh, cale a boca — ele disse quando instantaneamente seu rosto

e pescoço coraram. Seus olhos dispararam para onde Ariadne tinha parado para conversar com outro colega de classe, e então rapidamente

desviou o olhar. — Você devia fazer um avanço — Helen disse em voz baixa para Matt

enquanto Claire estava ocupada acenando para Ariadne.

— E conseguir um não? — ele respondeu com tristeza, e balançou a cabeça. — Acho que não.

— Você não sabe... — Helen começou, mas Matt cortou ela com

firmeza. — Sim, eu sei.

Quando Ariadne se juntou a eles, Helen não tinha escolha a não ser deixar para lá, mas ela honestamente não podia ver qual era o problema de Matt. Ela sabia com certeza que Ariadne se preocupava com ele, e

talvez tudo o que Matt precisava fazer era dar uma chance e apenas beijá-la, como Jason tinha feito com Claire. Novamente Helen foi lembrada de

Orion e a memória de como os seus lábios eram. — Helen? — Ariadne disse. Helen ergueu o olhar e viu todos olhando para ela. — Sim? — ela

disse, desnorteada e um pouco assustada. — Você não ouviu nenhuma palavra que nós acabamos de dizer, não

é? — Cassandra perguntou.

— Desculpa — Helen respondeu defensivamente. Quando Cassandra chegou aqui? Ela se perguntou.

— Você sonhou na noite passada? — Cassandra perguntou, como se estivesse repetindo a si mesma. Helen balançou a cabeça. Cassandra

se sentou em sua cadeira e cruzou os braços, seus lábios vermelhos naturalmente brilhantes franziram em pensamentos preocupados.

— Por que você não disse nada? — Claire disse para Helen,

parecendo preocupada e culpada.

— Eu não sei — Helen murmurou. — Eu não tenho sonhado há

tanto tempo que eu acho que eu esqueci de mencionar isso. — Bem, Orion não — Cassandra disse em sua maneira

estranhamente calma. Em seguida, seu rosto mudou dramaticamente e ela se inclinou para Helen, parecendo exatamente como uma menina normal por um segundo. — Orion é sempre tão... — Ela parou de falar,

incapaz de enquadrar a sua pergunta corretamente. — Engraçado? Teimoso? Enorme? — Helen disparou em rápida

sucessão, tentando responder à pergunta de Cassandra com qualquer

palavra com as características de Orion que estouravam em sua cabeça confusa.

— Ele é realmente grande? — Ariadne perguntou curiosamente. — Como o Orion original?

— Ele é enorme — Helen respondeu rapidamente, tentando não

corar. Algumas palavras mais descritivas borbulharam dentro de sua cabeça enquanto ela pensava sobre Orion, mas ela manteve para si

mesma. — Ajude-me aqui, Cass. Ele é sempre assim o que? — Imprevisível — Cassandra finalmente decidiu. — Sim. Isso é realmente uma boa palavra para descrevê-lo. Espere,

como você pode saber disso? — Eu não o vi chegando — ela disse, mais para si mesma do

qualquer outra pessoa. — Do que você está falando? Ele te enviou uma mensagem ou algo

assim? — Helen perguntou, ficando mais e mais confusa. — Eu nunca

dei a ele o seu número. — Lucas deu. — Cassandra agiu como se todo mundo soubesse

disso.

— O quê? — Orion mandou uma mensagem para o meu irmão bem cedo esta

manhã. — Como Orion conseguiu... — Helen tropeçou horrivelmente, e

parou de respirar. Ela não podia dizer os nomes de Orion e Lucas numa

mesma frase. O sinal tocou, e todos os outros reuniram suas coisas enquanto

Helen olhava para o espaço, incapaz de superar o pensamento de Lucas. Helen sabia que ela estava tão privada de sono que ela havia se tornado cerebralmente prejudicada, mas mesmo assim, ela sabia que foi o nome

de Lucas e não o de Orion que tinha dado o nocaute em seu sistema nervoso.

— Por que você não disse nada, Len? — Claire perguntou em uma

voz magoada. Ela automaticamente agarrou o braço pendente de Helen e a arrastou ao longo para sua próxima aula, quando Helen não reagiu ao

sinal. — Dizer o quê? — Helen murmurou, ainda em transe. — Esta manhã! Você não disse nada sobre como você está, você

sabe... você me deixou continuar e falar sobre Jason, como se não fosse nada.

— Risadinha, não — Helen disse gentilmente. — Eu gosto muito mais de ouvir sobre como você está feliz do que falar sobre quão

bagunçada eu estou. Sério. Me ajuda a saber que coisas boas estão

acontecendo no mundo, especialmente quando elas estão acontecendo para você. Eu quero que você seja insultuosamente feliz pelo resto de sua

vida, não importa o que aconteça comigo. Você sabe disso, certo? — Deus, você realmente está morrendo, não é? — Claire suspirou

baixinho. — Jason disse isso, mas eu não acreditei nele.

— Eu ainda não estou morta — Helen disse através de um riso fraco quando ela voltou para a sala. — Vá para a aula, Risadinha. Eu tenho certeza que vou sobreviver a estudos sociais, pelo menos.

Claire acenou tristemente para ela e depois trotou pelo corredor, enquanto Helen entrava e sentava em seu lugar de costume. Ela assistiu

em choque quando Zach veio e se sentou ao lado dela. Ele tentou dizer algo, mas ela o cortou.

— Eu não posso acreditar que você realmente tem coragem — Helen

disse. Ela se levantou e pegou suas coisas, mas Zach a agarrou pelo braço quando ela passou.

— Por favor, Helen, você está em perigo. Amanhã... — ele disse num sussurro urgente.

— Não me toque — Helen sibilou, puxando seu pulso de seu aperto.

O rosto de Zach caiu e seus olhos olharam para ela desesperadamente. Por um momento, Helen se sentiu mal por ele. Então ela pensou em como ele quase fez com que Hector fosse morto na pista

de corrida e seu coração mole virou pedra. Ela podia conhecer Zach desde a escola primária, mas esses dias estavam muito longe. Helen se moveu

para outra mesa e não olhou para ele novamente. Depois da escola, Helen e Claire correram na pista, e em seguida,

foram juntas para a mansão dos Delos. Quando chegaram lá ninguém

estava por perto. Nem mesmo Noel, que tinha deixado uma mensagem gravada na geladeira informando que qualquer pessoa com fome que

entrasse na cozinha não havia nada para comer e ela estaria de volta em algumas horas com mantimentos. Claire e Helen fizeram uma careta uma para outra quando leram o bilhete, e então elas invadiram os armários

procurando qualquer coisa que pudessem encontrar para acalmar suas barrigas com fome. Terminado os seus lanches roubados, elas resolveram sair porque a casa estava malditamente vazia.

Pallas e Castor ainda estavam em Nova York, na briga interminável do Conclave. De acordo com a sua última carta, não havia ainda

nenhuma decisão sobre se livrar definitivamente do Myrmidon, embora tivessem decidido que ele não foi autorizado a fixar residência na ilha. O que era inútil, de qualquer maneira, porque se descobriu que todo este

tempo ele estava morando em um iate. Jason e Lucas estavam na prática de futebol, e uma vez que o violoncelo de Cassandra estava ausente da biblioteca, Helen e Claire assumiram que ela e Ariadne estavam na escola

ensaiando para a peça. De alguma forma, as duas meninas Delos tinham conseguido se

envolver em tocar a música para a produção de inverno de Sonho de Uma Noite de Verão. Nenhuma delas tinha tempo, mas Cassandra estava

especialmente irritada com isso. Ela não via o propósito em tentar parecer normal quando seu corpo subdesenvolvido e sua quietude estranha tão

obviamente sinalizavam que ela não era. Helen sabia que manter as

aparências era importante, mas ela teve que concordar. Nenhuma quantidade de trabalho voluntário poderia fazer Cassandra parecer uma

menina normal com quatorze anos indo para os quinze, então por que torturar a pobre menina com o teatro?

— Ei, Risadinha? — Helen refletiu enquanto ela e Claire limpavam o

último esconderijo secreto de Jason de biscoitos de chocolate. — Quanto você pesa?

— Agora? Provavelmente uns 45 kg — Claire disse, limpando

migalhas do bolinho de seu colo. — Por que? — Eu quero tentar algo que pode ser meio perigoso. Você está no

jogo? — Estou tanto no jogo que eu deveria mudar meu nome para

Yahtzee — Claire respondeu suavemente com um sorriso maléfico.

Montando ela ao redor de todo o caminho, Helen carregou ela para a arena enquanto Claire tentava continuamente e falhava em bater em

seu quadril, derrubá-la ou jogá-la por cima do ombro, mesmo ela sendo muito maior e sobrenaturalmente mais forte do que ela. Quando elas finalmente chegaram no meio da areia, depois de muito vacilo e risos,

Helen ficou séria, dizendo para Claire continuar segurando. Ela ficou perto de Claire, e se concentrou na massa pequena de sua amiga.

— Len, faz cócegas! — Claire deu uma risadinha. — O que você está fazendo?

— Eu estou tentando fazer você ficar leve para que eu possa

finalmente mostrar qual é a sensação de voar — Helen murmurou, com os olhos ainda fechados. — Talvez se você colocar suas mãos sobre meus ombros?

Claire fez ansiosamente conforme Helen pediu. Ela sempre quis saber o que Helen e Lucas experimentavam quando eles disparavam para

o ar sem esforço, mas até agora, Helen tinha estado muito incerta de sua capacidade para concordar em experimentar em Claire. Lucas tinha avisado que transportar um passageiro seria difícil, mas isso não

assustava mais tanto Helen. Ela imaginou que se ela não experimentasse isso agora, ela nunca podia ter a chance novamente.

Assim que Claire se inclinou em Helen, as duas flutuaram para cima cerca de 3 metros no ar. Claire engasgou com admiração.

— Eu sinto... É incrível! — A voz de Claire vacilou com júbilo, e,

embora Helen ainda estivesse se concentrando em todas as variáveis que mantinham as duas no alto, ela teve de sorrir.

Voar era realmente incrível, e apesar do que Lucas havia dito, Helen ficou surpresa ao descobrir que levantar Claire foi complicado, mas não o voo. Ela sabia que Lucas não iria enganar ela sobre algo como isso,

então ela não teve escolha senão admitir para si mesma o que ele estava dizendo a ela o tempo todo. Ela era mais forte do que ele. Encorajada,

Helen subiu ainda mais alto. — O que diabos você está fazendo? — Jason gritou do chão abaixo

delas, surpreendendo as duas.

Claire gritou, e a concentração de Helen vacilou. Antes que ela pudesse se recuperar, as duas começaram a cair rapidamente. Olhando

adiante, Helen podia ver que elas tinham subido mais alto do que ela

pensava. Mesmo que ela e Claire tivessem caído um longo caminho, elas ainda estavam cerca de 9 metros acima de Jason, Cassandra, Ariadne e

Matt, que estavam todos olhando para elas com rostos apavorados. — Solte ela agora! — Jason ordenou furiosamente. — Jason, eu estou bem — Claire falou com uma voz suave, mas ele

não quis ouvir. — Agora, Helen — ele rosnou. Mesmo de tão alto, Helen podia ver

que Jason estava vermelho de raiva. Ela decidiu que era melhor fazer o que ele disse antes que ele estourasse uma veia ou algo assim, e ela começou a baixar Claire suavemente para ele.

Ela ainda estava cerca de três metros longe do chão quando Jason pulou e agarrou Claire no ar, forçando Helen a soltá-la por completo. Ele estava tão irritado que ele não podia sequer olhar para Claire quando ele

a colocou para baixo em seus próprios pés. Ele virou para Helen assim que ela tocou o chão na frente dele.

— Como você pode ser tão egoísta? — ele perguntou em uma voz estrangulada.

— Egoísta? — Helen guinchou, incrédula. — Eu sou egoísta?

— Você sequer considerou o quanto você poderia ter machucado Claire se você deixasse ela cair? — Ele falou mais alto e mais tenso com

cada palavra. — Você tem um conceito de quanto tempo uma perna quebrada doí para um mortal completo mesmo depois de curada? Pode

causar dor para eles para o resto das suas vidas! — Jason — Claire tentou interromper, mas Helen já estava gritando

de volta para ele.

— Ela é minha melhor amiga! — Helen rugiu. — Eu nunca iria deixar que alguma coisa de ruim acontecesse com ela!

— Você não pode prometer isso. Nenhum de nós pode prometer a ela

isso, por causa do que somos! — ele gritou de volta. — Jase... — Ariadne colocou uma mão calmante sobre o braço de

seu irmão gêmeo. Ele se sacudiu rudemente e, em seguida, se virou para ela.

— Você não é melhor, Ari. Você não vai sair com Matt, mas você

acha que treiná-lo vai ajudar? — Condenação fervia para fora dele. — Quantas vezes nós temos que ver isto antes de finalmente aceitar a

verdade? Mortais completos não vivem por muito tempo em torno de Descendentes. Ou você ainda não percebeu que não temos uma mãe?

— Jason! Já chega! — Ariadne exclamou. Lágrimas chocadas

brotaram de seus olhos. Mas Jason já tinha ido. Em um movimento rápido, ele se virou, se

esquivou das mãos de Claire, e foi direto para a praia escurecendo. Claire recuou atrás dele, dando a Helen um olhar suplicante. Helen murmurou a palavra “desculpa” e, em resposta, Claire suspirou e encolheu os

ombros, como se não houve nada que qualquer um deles pudesse fazer. Então ela saiu para perseguir Jason, que estava recuando rapidamente

para o recolhimento das sombras na praia.

* * *

— Esta é a minha mãe, Aileen, e a tia Noel quando elas estavam

juntas na faculdade em Nova York — Ariadne disse. Ela tirou uma foto que estava imprensada entre as páginas de um livro em uma prateleira

sobre a cama, e pulou para entregá-la a Helen. A foto mostrava duas jovens mulheres deslumbrantes atrás de um

bar lotado, servindo bebidas. Elas tinham uma maneira atrevida sobre

elas que Helen admirou imediatamente, e elas estavam rindo ruidosamente conforme elas serviam coquetéis coloridos para as ondas borradas de pessoas na frente delas.

— Olhe para Noel! — Helen explodiu em surpresa. — Ela está vestindo calças de couro?

— Ela com certeza está — Ariadne disse com uma careta dolorosa. — Eu acho que ela e minha mãe foram um pouco para o lado selvagem quando eram mais jovens. Elas costumavam trabalhar em casas

noturnas e restaurantes da moda em toda a cidade para pagar suas mensalidades. Foi assim na verdade que elas conheceram meu pai e meu

tio Castor. Em uma boate. — Sua mãe era muito bonita — Helen disse, e ela falou sério. Aileen

era magra, mas ainda assim cheia de curvas e ultrafeminina. Ela tinha o

cabelo preto e um profunda pele marrom-dourado de um latino-americano. — Mas ela não...

— Parece com qualquer um de nós? Não. Descendentes parecem com outros Descendentes da história. Nós não herdamos nada de nossos pais mortais — Ariadne disse com tristeza. — Eu acho que teria sido mais

fácil para meu pai se ele pudesse olhar para nós e ver algo dela em sua vida. Ele a amava muito... ainda ama até hoje.

— Sim, eu sei — Helen murmurou, e ela se surpreendeu ao perceber

que ela sabia. De alguma forma, ela podia sentir o quão profundamente essa estranha na foto tinha sido amada. Olhando para a maneira que

Aileen e Noel estavam rompendo em gargalhadas uma para outra, Helen não podia deixar de pensar em si mesma e Claire. — Elas eram muito próximas, hein?

— Melhores amigas desde que eram bebês — Ariadne disse intencionalmente. — Há um padrão, um ciclo, em tudo em nossas vidas,

Helen. Certos temas aparecem repetidamente para os Descendentes. Dois irmãos, ou primos que foram criados como irmãos, apaixonando-se por duas irmãs, ou quase irmãs, é um desses ciclos.

— E só uma dessas mulheres continua viva — Helen disse calmamente, finalmente entendendo a superproteção de Jason. — Bem, Jason não tem nada com o que se preocupar. Eu morreria antes de eu

deixar alguma coisa acontecer com Claire. — Infelizmente, Descendentes não conseguem escolher coisas como

essa — Ariadne disse com os olhos apertados. — Meu pai teria morrido por minha mãe, mas nem sempre o final de alguma batalha heroica salva a pessoa que você ama, você sabe. Às vezes, as pessoas apenas morrerem.

Especialmente em torno da nossa espécie. — O que aconteceu com sua mãe? — Todo esse tempo, e Helen

nunca perguntou a qualquer umas das crianças Delos essa pergunta. Talvez Jason estivesse certo, pensou Helen. Talvez ela fosse egoísta.

— Lugar errado, hora errada — Ariadne respondeu quando ela

recuperou a foto de sua mãe rindo e enfiou carinhosamente de volta entre as páginas de Anne de Green Gables. — A maioria dos Descendentes

fariam qualquer coisa para evitar a morte de um mortal completo. Mas, mais frequentemente dos que não fariam, um mortal completo vai ser morto completamente por acidente apenas porque ele ou ela está perto

de um Descendente. É por isso que meu pai e meu irmão acham que devemos ficar longe de qualquer um que pode se machucar.

— Mas você está treinando Matt. — Eu nunca conheci a minha mãe. Todo mundo me diz que ela tinha

uma boca grande e um temperamento ardente de Latina. — Ariadne

balançou a cabeça com remorso. — Mas ser resistente não é suficiente. Meu pai nunca ensinou minha mãe nada sobre como os Descendentes

lutam, e eu acho que deve ter tido algo a ver com o porquê ela morreu. Eu não sou louca. Eu sei que Matt nunca poderia derrotar um Descendente, mas não é disso que isso se trata. Se eu não der a ele, pelo

menos, um conjunto de habilidades, então eu nunca seria capaz de me perdoar se ele se machucasse. Isso faz algum sentido?

Helen balançou a cabeça e tomou as mãos trêmulas de Ariadne entre as delas. — Sim, faz. Eu não tinha ideia que as coisas eram tão sérias entre você e Matt.

— Não é desse jeito — Ariadne disse rapidamente, mas, em seguida, ela jogou a cabeça para trás e suspirou em exaspero para o teto. Era um gesto que Helen tinha visto muitas vezes em Jason quando ele brigava

com Claire. — Honestamente? Eu não sei o que há entre nós. Eu não posso decidir se estou insultada porque ele não tentou alguma coisa ou

se eu deveria estar feliz que ele não tenha tentado algo comigo. Era óbvio como Ariadne estava dilacerada. Helen não sabia o que

dizer, e, eventualmente, decidiu que talvez Ariadne não precisasse de

ninguém dizendo a ela o que fazer. Em vez de tentar dar conselhos, Helen ficou ali sentada, segurando a mão dela enquanto ela pensava por si mesma.

— Ari, você sabe onde... — Lucas disse enquanto abria a porta do quarto. Ele congelou quando viu Helen. — Desculpe. Eu deveria ter

batido. — Quem é que você está procurando? — Ariadne disse, quase como

se ela estivesse testando-o.

Lucas baixou os olhos e fechou a porta sem responder a sua pergunta. Helen disse a si mesma para respirar e se obrigou a mover seu

corpo de alguma forma para que ela não parecesse tão emudecida, mas Ariadne notou, de qualquer maneira.

— Você também? Ainda? — ela perguntou de uma forma

ligeiramente enojada. — Helen. Ele é seu primo. — Eu sei disso — Helen disse em uma voz tensa, estendendo as

mãos em um gesto de súplica. — Você acha que eu quero sentir isso? Você sabe que eu realmente prefiro estar no Mundo Inferior agora porque pelo menos lá eu sei que eu estou longe desta doença? O quão errado é

isso!

— Tudo isso é muito, muito errado — Ariadne disse com compaixão,

mas quase implorando a Helen. — Eu sinto muito por vocês dois, mas você tem que parar com isso. Incesto, mesmo que seja um incesto

involuntário onde os dois Descendentes não sabem que estão relacionados, é outro tema que se repete uma e outra vez. Sempre termina da pior maneira possível. Você sabe disso, certo?

— Sim. Eu li Édipo Rei... eu sei como essa história termina... mas quais são as minhas opções? Você tem remédios caseiros antigos que vão

me fazer desapaixonar por ele? — Helen perguntou, sendo apenas parcialmente sarcástica.

— Fiquem longe um do outro! — Ariadne retrucou.

— Você estava lá quando ele perdeu a cabeça e me disse que eu não tinha permissão para olhar para ele — Helen gritou de volta. — E isso

durou por quanto tempo? Nove dias? Não podemos ficar longe um do outro. As circunstâncias sempre nos levam um para o outro, não importa o que fazemos um ao outro.

Uma grande bolha de desespero estava subindo e inchando no peito de Helen, e o olhar de pena de Ariadne foi o suficiente para fazer isso

explodir. Ela se levantou e começou a andar. — Eu literalmente vou para o inferno e volto à procura de um lugar para descarregar esses sentimentos que eu tenho por ele, mas eu não encontrei um buraco

grande o suficiente ou fundo o suficiente. Então, por favor, me diga que você tem uma ideia, porque eu estou sem teorias, e se o que Cassandra diz for verdade, eu estou sem tempo, também.

Helen sentiu um estouro por detrás de seus olhos e levantou a mão para cobrir o jorro de sangue quente encharcando seus lábios. Ariadne

se sentou em silêncio atordoado à beira de sua cama enquanto Helen corria para a janela, abria ela e pulava para fora.

Helen acelerou para cima. Ela queria ver a linha azul fina de ar ao

redor da Terra, enquanto desaparecia no céu negro mais uma vez. Ela queria sua mente fresca quando ela deitasse a cabeça naquela noite. Ela tinha certeza de que, se ela não tivesse algum tipo de epifania milagrosa,

ela nunca iria focar a cabeça de novo. Limpando o sangue congelando em seu rosto o melhor que podia

com a borda da sua blusa, Helen olhou para a Terra girando lentamente. Era anoitecer no seu lado do planeta, mas ela ainda podia ver a camada de diáfano da atmosfera. Era apenas uma pequena fatia de quase nada

que mantinha a vida de um lado e o esquecimento gelado do outro. Helen ficou maravilhada que algo que parecia tão delicado poderia ser tão

poderoso. Outro presente de Lucas, ela pensou, sorrindo para a vista arrebatadora.

Helen fechou os olhos e se deixou flutuar. Ela foi para o alto, mais

alto do que ela já tinha ido antes, e a força da terra era tão leve que por um momento ela se perguntou se ela poderia cortar o fio final da

gravidade que amarrava ela ao mundo e derivar todo o caminho para a lua.

Uma mão de aço prendeu na parte de trás de sua jaqueta, puxando-

a para baixo e quase rasgando a roupa dela. Helen virou conforme ela

caiu de volta à Terra, e viu o rosto torturado de Lucas quando ele a puxou

contra ele. — O que você está fazendo? — ele engasgou em seu ouvido,

apertando ela com força contra o seu peito esculpido quando ele rapidamente afundou os dois de volta para baixo. Sua garganta estava tão comprimida com emoção que sua voz quebrou repetidamente

enquanto ele tentava falar. — Você estava tentando deslizar para o espaço? Você sabe que iria matá-la, certo?

— Eu sei, Lucas. Eu... É bom apenas se deixar ir. — Ela percebeu

que havia dito em voz alta o seu nome pela primeira vez em muito tempo. Foi um alívio tão grande finalmente ter o seu nome em sua boca outra

vez que ela riu. — Eu gosto de fazer isso às vezes. Você nunca fez? — Sim. Eu fiz — ele admitiu, ainda segurando ela e enterrando o seu

rosto mais e mais profundamente em seu pescoço enquanto ele flutuava

eles para baixo do céu na noite fria. Ele sussurrou em seu ouvido. — Mas seus olhos estavam fechados. Eu pensei que você tinha desmaiado.

— Sinto muito. Eu pensei que estava sozinha — ela sussurrou de volta.

Ela sabia que deveria perguntar, mas ela honestamente não se

importava como Lucas chegou lá. Ela se agarrou a ele mais ainda, como se ela estivesse tentando empurrá-lo para dentro de seu peito e envolver

sua pele ao redor dele. Esse era Lucas, e ela queria segurá-lo, segurar a pessoa que ele era

neste momento, antes que ele tivesse a chance de se transformar em um

estranho com raiva de novo. Ele suspirou profundamente e disse o nome dela antes de se afastar de seu abraço e procurar a janela de Helen.

— Onde está Jerry? — ele perguntou enquanto eles pairavam sobre sua casa. O Pig, o antigo Jeep Wrangler de Jerry, estava visivelmente ausente da entrada de automóveis e nenhuma das luzes de dentro estava

ligada. — Provavelmente ainda está trabalhando — Helen disse, sem tirar

os olhos dele. — Você vai entrar? Ou isso está prestes a ficar feio de novo?

— Eu prometi a você, sem mais brigas. Não funcionou, de qualquer maneira — Lucas disse, e puxou Helen para baixo para pousar com ela

na janela. — Você fez isso de propósito, não foi? — Por um momento, eles

ficaram ali olhando um para o outro através do silêncio pesado. — O seu

pai tem alguma coisa a ver com isso? — Foi minha escolha — ele disse pesadamente.

Ela esperou que ele se explicasse, mas ele não o fez. Ele não tentou dar qualquer desculpa ou empurrar a culpa para outra pessoa. Em vez disso, Lucas deixou para Helen decidir o que iria acontecer entre eles a

seguir. Ela deu um soco no peito dele em frustração, não tão forte quanto podia, mas com força suficiente para fazê-lo sentir alguma coisa. Ele não

tentou impedi-la. — Como você pôde fazer isso comigo! — ela gritou, apenas um

pequeno berro.

— Helen. — Ele pegou os seus punhos apertados e pressionou-os no local em seu peito que ela tinha batido. — O que mais eu poderia fazer?

Estávamos juntos o tempo todo de novo. Sentando juntos, dizendo um

ao outro os nossos segredos mais profundos, e isso estava confundindo você. Você tem coisas mais importantes para pensar do que eu.

— Você tem alguma ideia do quanto isso dói? — ela perguntou com a voz estrangulada, querendo bater nele de novo, mas encontrando suas mãos relaxadas por vontade própria e suaves sobre a dele ao invés.

— Sim. — Ele falou com tanta ternura que Helen sabia que ele estava tão machucado por sua separação quanto ela. — E as consequências ficarão comigo pelo resto da minha vida.

Sua testa enrugou de preocupação. Ela sabia que ele não estava exagerando — Lucas tinha mudado. Seu rosto estava tão pálido que

refletia a luz da lua, e seus olhos eram de um azul escuro que beirava a preto. Era como olhar para o gêmeo da meia-noite do seu Lucas ensolarado. Ele ainda era bonito, mas tão triste que era doloroso para ela

olhar para ele. Depois de tudo o que ele fez ela passar, Helen sabia que ela deveria

puni-lo, mas não o fez. Em algum lugar ao longo do caminho ela havia atado os seus braços ao redor do pescoço dele e ele começou a correr as mãos para cima e para baixo em suas costas, e ela não estava nem um

pouco mais com raiva. Olhando em seus olhos, ela podia ver uma escuridão estranha

rastejando em torno de lá, tentando extinguir o brilho que ela sempre

tinha encontrado dentro dele. Mas antes que ela pudesse descobrir como perguntar o que ele quis dizer com “consequências” Lucas mudou de

assunto e se afastou dela. — Tive uma longa conversa com Orion hoje — ele disse, abrindo a

janela que levava para baixo da casa e segurando aberta para Helen. —

Ele tinha uma sensação de que você não estava nos contando tudo sobre o que estava acontecendo no Mundo Inferior. Ele me pediu ajudar. Ele se

preocupa muito com você. — Eu sei disso. — Helen levou ele para dentro de casa e para seu

quarto frio. — Mas ele está errado. Eu não estou escondendo nada de

ninguém. É só que eu percebi que não há nenhuma ajuda para mim, então por que entrar em detalhes? Eu não estou sonhando, Lucas. Como

Orion acha que você ou qualquer outra pessoa pode corrigir isso? Lucas se deixou cair na beira da cama de Helen, tirou a jaqueta e os

sapatos enquanto ele pensava. Ele estava tão confortável em seu quarto,

que era como se ele pertencesse ali. Cada instinto de Helen gritava que Lucas pertencia ao seu quarto, apesar do fato de que ambos sabiam que ele não deveria estar lá.

— Eu desci ao Mundo Inferior na outra noite. No início, era para ver se eu poderia ajudá-la de alguma maneira... sem interferir, claro. E,

depois de algumas horas era só para ver vocês dois juntos. Por uma série de razões — Lucas finalmente admitiu, deixando todas as suas cartas na mesa. — De qualquer forma, eu fiquei desleixado. Orion me viu lá e

descobriu como eu fiz isso. Ele entrou em contato comigo hoje para me dizer por que você está morrendo, e juntos percebemos que eu poderia ter

a única coisa que você precisa para ficar bem novamente. Então eu acho

que eu encontrei uma maneira de ajudá-la, afinal. — Ele balançou as

pernas para cima da cama e se acomodou contra os travesseiros. Helen parou. Ela queria olhar para ele a noite toda, deitado em sua

cama assim, tão perfeito como poderia ser, mas ela não pôde deixar passar o que ele tinha acabado de dizer a ela.

— Você desceu ao Mundo Inferior? Quando? Como? — ela

perguntou, tentando não chiar. — Sábado à noite. Ares viu eu me esconder no cemitério e falou

comigo. Eu era o outro “pequeno semideus.” Lembra? Então eu distraí

Cerberus quando ela perseguiu você. — O cantor? — Helen perguntou, incrédula. — Espere, ela é uma

ela? — Sim — ele disse através de uma risada. — Eu era o cantor e

Cerberus é uma loba. Agora vá tomar banho. Eu estarei bem aqui.

— Mas... — Depressa — ele insistiu. — Eu tive que esperar até que você

estivesse longe de nossa família para trazer-lhe isso, mas eu não suporto ver você tão doente por muito mais tempo.

Helen se trancou no banheiro e quase lavou a boca com sabão e

limpou o rosto com creme dental, ela estava tremendo tanto. Ela se despiu e passou o fio dental e se penteou praticamente tudo ao mesmo

tempo antes de vestir pijamas limpos e correr de volta para o quarto. Ele ainda estava lá, exatamente como ele havia prometido, e as

últimas dúvidas persistentes de Helen evaporaram. A separação

antinatural acabou, e eles não iriam mais começar a gritar um com o outro ou empurrar um ao outro.

— Oh, Deus. Eu não estou alucinando — ela disse, apenas metade

brincando. — Ou sonhando. — Mas você precisa sonhar — ele disse suavemente do outro lado do

quarto, olhando para ela. Helen balançou a cabeça. — Isso é melhor — ela disse com certeza. — Mesmo se isso me matar,

permanecer acordada e vê-lo na minha cama é melhor do que qualquer

sonho. — Você não deveria dizer coisas como essa — ele lembrou a ela.

Ele fechou os olhos por um segundo. Quando os abriu, ele sorriu firmemente e levantou a borda das cobertas. Helen correu e mergulhou dentro delas, fora de si de felicidade. Ela não se importava mais com certo

ou errado. Ela estava morrendo, ela raciocinou; ela não deveria, pelo menos, morrer feliz? Helen se virou de costas e levantou os braços para ele convidativamente, mas ele capturou o seu rosto entre as mãos e fez

ela deitar de volta na cama. Ele pairou sobre ela, em cima das cobertas, fixando-a em segurança debaixo delas.

— Isso é um óbolo — ele disse, segurando uma pequena moeda de ouro. — Nós, Descendentes, colocamos eles sob as línguas dos nossos entes queridos falecidos antes de queimar seus corpos na pira. O óbolo é

o dinheiro que o morto usa para pagar Charon, o barqueiro, para deixar a terra das sombras, atravessar o rio Styx e entrar no Mundo Inferior.

Mas esse óbolo é especial, e muito raro. Não foi feito para o barqueiro. É para um outro habitante da terra das sombras.

Lucas levantou a moeda, assim Helen podia vê-la claramente. De

um lado tinha estrelas e do outro lado tinha uma flor. — Isso é uma papoula? — Helen perguntou, tentando lembrar onde

tinha visto esta pequena moeda de ouro antes. Uma manchete de jornal brilhou em seus pensamentos. — Você roubou isso do Getty! Lucas, você invadiu um museu!

— Isso é parte da razão pela qual eu não posso deixar que minha família saiba que estou aqui, tentando isso. Mas você sabe o meu verdadeiro motivo... prima — Lucas disse.

De repente, ele se inclinou e roçou os lábios em sua bochecha, mas ele não a beijou. Era mais como se ele estivesse inalando ela. Sentir seus

lábios quentes tão perto fez sua pele estremecer. Helen sabia exatamente por que ele teve que esconder isso de sua

família. Roubo não era nada comparado com a imoralidade do que eles

estavam fazendo. Helen sabia que ela deveria estar desgostosa que ela estava na cama com alguém que estava tão intimamente relacionado com

ela, mas ela não conseguia convencer o seu corpo que ele não deveria querer Lucas. Ela sentia Matt como um irmão, Orion parecia novo e estranho e tão intenso que era um pouco perigoso, mas Lucas parecia

certo. Se os outros homens são casas, Lucas era o seu lar. Como ela poderia estar tão confusa? Ela empurrou contra ele com

cuidado para fazê-lo inclinar para trás e olhar para ela. Ela ainda precisava de respostas, e ela não conseguia pensar com o seu rosto tão perto do dela.

— Lucas, por que você roubou eles? — Esse óbolo não é para Charon. Foi forjado por Morfeu, o deus dos

sonhos. Isso fará com que todo o seu corpo vá para a terra dos sonhos

quando você cair no sono. — A terra dos sonhos e a terra dos mortos são bem próximas umas

das outras — Helen disse, finalmente entendendo por que ele fez isso. — Você roubou eles para me acompanhar para baixo, não é?

Ele concordou e passou os dedos em seu rosto. — Há uma antiga

lenda que diz que se você der a Morfeu um óbolo de papoula ele pode deixar você visitar a terra dos sonhos ainda em seu corpo. Eu pensei que

se eu oferecesse a ele um negócio ele poderia me deixar atravessar suas terras e percorrer todo o caminho para o Mundo Inferior. Eu não sabia se isso iria funcionar, mas que escolha eu tinha? Quando eu vi você

sábado de manhã no corredor... — Você pulou uma janela — Helen o lembrou. Um sorriso apareceu

em seu rosto quando ela percebeu que ela tinha acabado de fazer praticamente a mesma coisa com Ariadne.

— Para ir roubar isso — ele disse, sorrindo para ela. — Eu sabia que

você estava doente, eu sabia que te afastar não tinha ajudado, e eu não podia mais sentar e assistir. Eu tinha que ir para dentro do Mundo Inferior e descobrir o porquê. Orion pegou um vislumbre de mim seguindo

vocês dois e descobriu por conta própria quem eu devia ser. Então ele descobriu principalmente como eu era capaz de entrar no Mundo Inferior.

— Principalmente? — Helen perguntou.

— Ele pensou que já que eu sou um filho de Apolo, tinha algo a ver

com a música. O que não foi um palpite ruim — Lucas admitiu a contragosto.

— Você tem uma linda voz — Helen disse. Ela queria manter Lucas falando, só para ouvir aquela voz e senti-lo estirado ao lado dela na cama dela por tanto tempo quanto podia. — Mas por que música?

— Orion pensou originalmente que eu estava fazendo o que Orfeu fez quando ele seguiu sua esposa morta no Mundo Inferior para tentar e cantar para fazer ela voltar à vida. Mas, eventualmente, ele colocou os

óbolos roubados junto comigo, e mudou de Orfeu para Morfeu, e adivinhou como eu fiz isso. Então ele me disse por que você estava tão

doente e me pediu para tentar isso com você — Lucas disse de tal forma que levou Helen a suspeitar que havia acontecido muito mais nessas conversas do que Lucas estava dizendo. — Ele é um cara inteligente.

— O quê? Vocês dois são melhores amigos agora? — Helen perguntou com as sobrancelhas arqueadas. Lucas engoliu dolorosamente

como se ela tivesse machucado ele. Preocupada, Helen estendeu a mão e correu pelo rosto dele, tentando apagar a tristeza que tinha aparecido lá tão rápido.

— Eu respeito ele. Mesmo se ele não for fazer o que eu peço. — Sua voz saiu áspera e grossa. — É hora de você dormir.

— Eu não estou cansada — ela disse rapidamente, ganhando uma risadinha de Lucas.

— Você está exausta! Sem mais discussão — ele advertiu

severamente, embora seu olhar brincalhão roubou as palavras de sua veemência. — Peça a Morfeu para lhe dar seus sonhos novamente. Ele foi muito gentil comigo. Não tenho dúvidas de que ele vai ajudá-la se ele

puder. — Você vai ficar? — Helen perguntou. Ela olhou para ele, adorando

ele. — Por favor, fica comigo? — Contanto que eu possa suportar isso — ele prometeu, tremendo.

— Eu nunca fico com frio, mas caramba! Está congelando aqui.

— Nem me fale — Helen disse, revirando os olhos. — Venha e me mantenha quente. — Lucas deu uma pequena risada e sacudiu a cabeça,

como se ele não soubesse o que fazer com ela. Ficando em cima das cobertas, ele se acomodou, permitindo Helen

deslizar dentro em uma posição confortável. Ele cruzou os braços dela

em um X sobre o peito e alisou o cabelo dela para trás como se estivesse colocando ela em seu túmulo. Ele olhou para ela intensamente.

— Abra sua boca — Lucas sussurrou.

Helen podia sentir ele tremendo e viu uma miríade de emoções tocar em seu rosto quando ele enfiou a moeda de ouro pesada sob sua língua.

Ainda estava quente com o calor do corpo dele, ligeiramente salgada, e o peso disso na boca dela era incrivelmente reconfortante. Lucas estendeu a mão e gentilmente fechou suas pálpebras. Mantendo sua mão em

concha sobre seus olhos, e Helen sentiu ele deslizar os lábios em sua bochecha quando ele se inclinou perto de seu ouvido.

— Não deixe que Morfeu seduza você...

* * * Céus estrelados e faixas escuras de seda cercavam Helen. Ela estava

dentro de uma tenda que não tinha topo, apenas ondulantes paredes de folhas escuras e escorregadias que pareciam respirar lentamente

conforme elas eram capturadas e soltas em uma brisa suave e em constante mudança. Aqui e ali, entre as faixas de tecido estavam colunas dóricas austeras esculpidas em mármore preto pérola. Luzes escuras de

sinalização dançavam entre as passagens, pairando no ar da noite. Conforme uma se aproximava de Helen, ela viu de perto que pareciam

pequenas chamas de velas brilhantes dentro de bolhas iridescentes. A grama sob seus pés estava coberta por um campo de papoulas,

seus bulbos balançando embriagados com os ventos passando. Apesar

da escuridão, Helen podia sentir o orvalho fresco das flores e ver o pólen dourado que brilhava dentro das flores vermelho-sangue.

Cerca de uma dúzia de passos longe de onde ela tinha surgido dentro

desse mundo-noturno, lençóis de seda e almofadas volumosas de um azul meia-noite, cinza carvão e o mais profundo roxo derramavam sobre

a borda da maior e mais luxuosa cama que Helen já viu. As estrelas brilhavam acima e as pilhas de seda pareciam piscar de volta para elas como manchas de óleo brilhando à luz azul fantasmagórica. Um par de

braços branco marfim, seguido pelo peito nu de um homem, se levantou da massa escura do tecido da cama enquanto dava uma boa e longa espreguiçada.

— Eu venho chamando por você, Bela. Estou tão feliz que você esteja finalmente aqui. — Sua voz era familiar. — Bela e Sono. A Bela

Adormecida. Nós fomos feitos um para o outro, sabia. Todos os provérbios dizem isso. Agora venha e deite-se comigo.

Seu tom contagiante e brincalhão chamou Helen para a beira da

cama. Havia algo sobre aquela voz que era tão reconfortante e doce que Helen sabia que tinha de ser a alma gentil neste ou em qualquer outro

universo. Ela olhou para a cama gigantesca, e viu Morfeu, o deus dos sonhos.

Ele tinha a pele mais branca que Helen já viu, massas brilhantes

onduladas de cabelo preto e longos membros esguios de músculos delicadamente esculpidos. Despido até a cintura, ele usava calças de pijama de seda de um vermelho vinho tão profundo que, como todas as

outras cores do seu palácio adormecido, beirava ao preto, mas nunca chegou a ele.

Morfeu olhou para Helen com olhos surpreendentemente azuis-branco que pareciam quase como mercúrio líquido. Ele se aconchegou nos lençóis de seda não completamente pretos. Pois tu mentiste sobre as asas da noite, Mais brancas do que a neve nova sobre as costas de um corvo, Helen pensou quando viu o contraste de sua pele sobre os lençóis,

querendo saber onde ela tinha ouvido essas frases de poesia. Quem as escreveu, ela pensou, deve ter passado muitas noites com Morfeu.

— É a sua voz que eu tenho ouvido na minha cabeça. Sorrateiro —

Helen disse, sorrindo para o requintado homem seminu. — Eu pensei que eu estava ficando louca.

— Você estava, Bela. É por isso que você podia me ouvir tão

claramente. Eu chamei e chamei por você, mas você me ignorou, então eu finalmente fui embora. Agora venha e se deite — ele reclamou

lindamente, estendendo uma das mãos brancas como leite. — Faz muito tempo desde que eu a segurei.

Helen não teve sequer que pensar nisso. Ela nunca tinha posto os

olhos sobre esse deus antes, mas ela o conhecia. Afinal, ela tinha passado todas as noites da sua vida em seus braços. Não havia nada que Morfeu não soubesse sobre ela, nenhum segredo perverso que ela fosse capaz de

esconder dele, e ele pareceu amá-la de qualquer maneira. Na verdade, a partir da maneira como seus olhos estrelados olhavam para ela, Helen

poderia dizer que ele a adorava. Ela sorriu com alívio, enfiou a mão na dele, e suspirou quando ela

deixou cair a sua cabeça contra seu peito liso ao raio lunar brilhante.

Cada músculo em seu corpo se deixou ir enquanto onda após onda de relaxamento calmante rolou através de seus membros exaustos. Pela

primeira vez em meses, Helen experimentou o verdadeiro descanso. Apenas momentos nos braços do deus compensou todas aquelas semanas de sonos sem sonhos.

Morfeu fez um som em seu peito, um zumbido profundo e estrondoso de prazer, e acariciou seu rosto. Gentilmente persuadindo os seus lábios a abrir, ele deslizou dois dedos em sua boca e reivindicou sua moeda.

— Mas você não precisa trazer pagamento para me visitar. Nas muitas horas que você gasta com os olhos fechados antes ou depois de

descer ao Mundo Inferior, você é livre para sonhar. Você poderia ter flutuado com qualquer uma das outras mentes dormindo sempre que você quisesse — ele disse, gesticulando para os ventos lúdicos que

constantemente fustigavam a tenda, ocasionalmente derivando para despentear o seu cabelo comprido e macio. — Você tem mais controle do

que você sabe, Helen. Você pode até mesmo me visitar em corpo sem um óbolo, se quiser.

— Mas eu não posso visitá-lo — Helen protestou, um pouco confusa.

— Mesmo quando eu não desço ao Mundo Inferior, eu não tenho sido capaz de sonhar.

— Porque você tem medo do que você vai encontrar em seus sonhos,

não por causa de alguma força externa que está impedindo você. Você sente tanta culpa pelo que você quer, que você não pode sequer enfrentar

isso em seu sono. — Morfeu levantou Helen, e colocou ela em cima dele para que ela estivesse olhando diretamente sobre ele. Ele enfiou os dedos em seu cabelo e fez abanar ao redor deles como uma cortina de ouro que

aproximou eles. — Eu posso sonhar sempre que eu quiser? — Helen perguntou, já

sabendo a resposta. No momento em que Helen descobriu que Lucas era

seu primo, ela havia parado de sonhar por opção. Ela apenas nunca admitiu para si mesma antes.

— Minha perturbada Bela. Eu odeio ver alguém sofrer, você acima de todos. Fique aqui comigo e seja a minha rainha e vou cumprir todos os seus sonhos.

O rosto e o corpo debaixo dela mudou e se transformou em uma

forma muito familiar. Helen engasgou e se afastou. Era Lucas quem sentava e gentilmente agarrava os seus braços.

— Eu posso ser esse aqui quantas vezes você gostar, e você não precisa se sentir culpada porque eu não sou realmente ele — Lucas disse. Helen sentiu ele puxá-la para perto e não resistiu. Era tudo um sonho,

certo? Ela passou as mãos sobre o peito dele e permitiu que ele a beijasse levemente enquanto falava. — Ou, eu posso ser outros. O outro que você quer tanto. Talvez mais...

Helen sentiu a boca contra a dela ficar mais cheia e suave, e sentiu os ombros nus sob suas mãos engrossarem. Ela abriu os olhos e

encontrou Orion beijando ela. Afastando-se, Helen perguntou ansiosamente o que Morfeu quis dizer com isso. Ele conhecia seus sonhos mais profundos, então por que ele transformou Lucas em Orion?

Orion empurrou ela de costas, e ela não podia deixar de rir quando ele pulou em cima dela com um sorriso travesso. Ele era tão divertido, e

estar com ele era tão simples. Com Lucas, ela poderia ser completamente ela mesma, mas com Orion ela poderia ser quem ela se sentia ser no momento. O pensamento era intoxicante.

Orion deslizou as mãos delas em cima da cabeça, prendendo-a sob ele. O humor vertiginoso dissipou tão rapidamente quando ela se

levantou, e o rosto de Orion ficou sério. Helen compreendeu de repente o último aviso de Lucas. Ela não se

deixaria ser seduzida ou ela nunca iria deixar essa cama. Embora ela não

quisesse, Helen balançou a cabeça, impedindo Orion de se inclinar para beijá-la. Morfeu tomou sua própria forma de novo e se apoiou em seus cotovelos sobre ela com um suspiro de menino.

— Você é absolutamente viciante — Helen disse tristemente. Ela se permitiu considerar como seria viver para sempre neste

palácio de sonhos com este deus. Ela passou os dedos pelo cabelo dele, fazendo uma tenda com suas longas madeixas meia-noite ao redor de seus rostos, o inverso do que ele havia feito alguns momentos atrás com

o seu cabelo loiro sol. — Mas eu não posso ficar aqui — ela disse, empurrando-o para trás

e sentando-se. — Há muitas coisas que tenho que realizar no mundo. — Coisas perigosas — ele respondeu com preocupação genuína. —

Ares tem procurado você na terra das sombras.

— Você sabe por que ele está me procurando? — Você sabe porquê. — Morfeu riu suavemente. — Ele está

observando o seu progresso. O que você faz aqui no Mundo Inferior vai

mudar muitas vidas, incluindo a de vários imortais. Mas, para melhor ou pior, ninguém pode dizer.

— Como Ares chega aqui, Morfeu? Hades está ajudando ele a quebrar a trégua? — Helen sabia de alguma forma que Morfeu seria honesto com ela.

— O Mundo Inferior, as terras áridas, e a terra das sombras não são parte da trégua. Os Deuses Olimpianos não podem ir para a Terra, e essa

é a única regra que eles juraram seguir. Vários pequenos deuses vagam pela Terra a vontade, e todos os deuses vem e vão daqui para o Olimpo

e... outros lugares. — Morfeu franziu a testa para seus pensamentos e,

em seguida, abordou Helen, rolando ela de costas novamente, e segurando-a em seus braços. — Fique comigo. Eu posso mantê-la segura

aqui no meu reino, mas não fora dele. Eu vejo todos os sonhos, você sabe, até mesmo os sonhos dos outros deuses, e eu sei que Ares é pouco mais do que um animal. Seu único objetivo é causar tanto sofrimento e

destruição como ele pode, e ele quer muito te machucar. — Ele é mau, eu concordo. Mas eu ainda não posso ficar aqui e me

esconder em sua cama. — Helen gemeu, sabendo que ela estaria provavelmente se chutando por isso mais tarde. — Não importa quão perigoso é, eu tenho que voltar.

— Bela corajosa. — O deus dos sonhos olhou para ela com um sorriso de admiração. — Agora eu quero você ainda mais.

— Você vai me ajudar, Morfeu? — Helen perguntou, acariciando seu

cabelo brilhante. — Eu preciso voltar para o Mundo Inferior. Muitos sofreram por muito tempo.

— Eu sei. — Morfeu desviou o olhar como se ele considerasse o pedido de Helen. — Não cabe a mim dizer se sua busca é boa ou ruim, só posso te dizer que eu admiro a sua coragem em concordar em se

responsabilizar com isso. Eu odeio perder você, mas eu amo as suas razões em escolher ir.

Sabendo que ela poderia estar empurrando sua sorte, Helen decidiu arriscar e pedir mais um favor.

— Você sabe qual rio Perséfone quis dizer? O que eu preciso pegar

água para libertar as Fúrias? — ela perguntou. Morfeu inclinou a cabeça para o lado, como se estivesse tentando lembrar alguma coisa.

— Algo me diz que eu costumava saber — ele disse com uma

expressão intrigada. — Mas não. Sinto muito, Bela, mas eu esqueci. Você vai ter que descobrir isso por si mesma.

Morfeu beijou a ponta do seu nariz e rolou para fora da cama. Ele se virou e facilmente ergueu ela dos lençóis torcidos antes de colocá-la para baixo na grama fresca com um olhar de arrependimento. De mãos dadas,

eles caminhavam em um ritmo sem pressa através de seu palácio. Eles passaram por muitas salas maravilhosos cheias de imagens de

sonhos fantásticos. Helen pegou vislumbres de cachoeiras que jorravam líquidos espumantes de todas as cores, dragões armados em cima de riquezas acumuladas, suas narinas fumaçantes em brasas, e duendes

dançando com as luzes de indicação. Mas a sala mais espetacular era uma grande caverna cintilando, preenchida com pilha após pilha de

moedas amontoadas. Acima de cada pilha um grande cilindro pairava sem peso no céu

noturno. Os cilindros eram feitos de tijolo, pedra ou concreto. Alguns

pareciam ser milhares de anos velhos e estavam desmoronando com musgo; outros pareciam recém-construídos e muito modernos. Um ou dois até tinham baldes pendurados em cordas no fundo, que Helen achou

estranhamente cafona. — Que lugar é esse? — ela perguntou com admiração. O espaço

parecia continuar sem parar, tão longe na distância escura que ela não podia ver um fim nisso.

— Sabe quando jogam uma moeda em um poço e fazem um desejo?

— Morfeu perguntou. — Todos os poços de desejo, passado e presente, terminam aqui, na terra dos sonhos. É tudo um mal-entendido, na

verdade. Eu não posso transformar sonhos em realidade na vida real, não importa quanto dinheiro as pessoas joguem para mim. A única coisa que posso fazer é dar-lhes visões vívidas de seus desejos mais profundos em

seu sono. Tento tornar o mais real possível. — Muito atencioso da sua parte. — Bem, não parece certo tirar dinheiro das pessoas sem lhes dar

algo em troca — ele disse com um sorriso malicioso. — E tudo isso poderia ser seu, você sabe.

— Honestamente? — Helen disse com uma sobrancelha arqueada. — Sua cama quente é mais tentadora do que todas as moedas frias do mundo.

Como se fosse uma sugestão, Helen ouviu um som silvando e viu um brilho distante quando uma das enormes pilhas se deslocou para

saudar outro desejo brilhante. — Estou profundamente lisonjeado. Morfeu levou-a para longe da sala de poços de desejos e para fora do

palácio. De pé sob um toldo, Helen olhou para os jardins do palácio e viu uma grande árvore que estava sozinha no meio de uma vasta planície.

— Além dessa árvore é a terra dos mortos. Fique sob os galhos e diga

a Hades que você não vai tentar capturar sua rainha. Se você disser isso, ele não vai prejudicar suas descidas para o Mundo Inferior.

— Como ele vai saber se eu estou falando a verdade? — Helen perguntou, surpresa. — Hades é um Descobridor de Mentiras?

— Sim, de certo modo. Ele pode ver nos corações das pessoas... um

talento necessário para aquele que governaria o Mundo Inferior. Aquele que governaria devia ser capaz de julgar as almas dos mortos e decidir

para onde as almas seriam enviadas. — A resposta de Morfeu veio com um pequeno sorriso quixotesco.

— O que foi? — Helen perguntou, confusa com o olhar peculiar em

seu rosto. Mas Morfeu apenas balançou a cabeça e sorriu para si mesmo em resposta à sua pergunta. Ele caminhou com ela através do campo, direto para a borda dos galhos arqueados da grande árvore, e virou para

ela. — Quando você estiver diretamente sob a árvore, não importa o que

você faça, não olhe para os galhos — ele avisou solenemente. — Por que não? — Helen disse, temendo a resposta. — O que tem

eles?

— Pesadelos. Não dê a eles nenhum problema e eles não podem te machucar. — Ele gentilmente soltou sua mão. — Eu tenho que deixá-la agora.

— Sério? — Helen perguntou com um olhar temeroso por cima do ombro para a árvore dos pesadelos. Morfeu concordou com a cabeça e

começou a se afastar. — Mas como eu chego em casa? — ela perguntou antes que ele pudesse ir para muito longe.

— Tudo o que você tem a fazer é acordar. E Helen — ele gritou, quase

como se estivesse avisando ela, — nos próximos dias, tente se lembrar de que os sonhos se tornam realidade, mas eles não vêm facilmente.

Morfeu desapareceu na mistura de estrelas e luzes cintilantes no gramado escuro, e sem ele Helen se sentiu muito sozinha. Ela enfrentou a árvore dos pesadelos e cerrou os punhos para firmar a si mesma,

sabendo que quanto mais cedo ela acabasse com isso, melhor. Mantendo os olhos para baixo, ela caminhou sob os galhos.

Imediatamente, Helen sentiu uma pilha de coisas se moverem em

cima dela. Havia gritos estranhos e ela podia ouvir o arrastar de garras através da casca conforme as criaturas sombrias corriam ao redor. Os

galhos farfalharam, e então balançaram, então rangeram sinistramente quando os pesadelos pularam para cima e para baixo sobre eles em um frenesi crescente para chamar sua atenção.

Precisou de toda a força de vontade de Helen para não olhar para cima. Por um momento, ela sentiu um se inclinar para a direita ao lado

de seu rosto. Ela podia sentir sua presença se agigantar por perto, olhando para ela. Helen disse a si mesma para não olhar e apertou os dentes para impedi-los de tagarelar com medo. Respirando fundo, ela

enfrentou o Mundo Inferior. — Hades! Eu prometo que não vou tentar libertar Perséfone — Helen

gritou através da terra árida. Enquanto ela odiava a ideia de abandonar qualquer pessoa, Helen

sabia o que tinha que fazer. Perséfone era uma princesa que ia ter que

descobrir como sair da torre do castelo sem um cavaleiro de armadura brilhante para resgatá-la. Isso não queria dizer que Helen tinha que gostar disso.

— Mas eu sugiro que você faça a coisa certa e deixe ela ir — ela adicionou.

Os pesadelos se calaram. Helen ouviu passos na frente dela conforme alguém se aproximava, mas manteve os olhos no chão empoeirado do Mundo Inferior ao lado da árvore caso isso fosse um

truque. — O que você sabe de certo e errado? — perguntou uma voz

surpreendentemente suave. Helen se atreveu a levantar os olhos, sentindo que os pesadelos

tinham fugido. Ela viu uma figura robusta muito alta em pé na frente

dela. As sombras se agarrando que perseguiam ao redor dele eram como grandes mãos se estendendo. Helen tinha visto essa escuridão antes. Era

o mesmo manto malévolo criado pelos Mestres das Sombras. Ele dispersou e Helen pôde ver Hades, o senhor dos mortos.

Ele estava envolto em uma toga preta simples. Um capuz obscurecia

seus olhos e sob isso, um capacete de prata brilhante e preto cobria todo o seu rosto, menos a parte inferior de seu nariz e sua boca. Helen lembrou de seus estudos que o capacete era chamado de Elmo da Escuridão e

tornava Hades invisível à vontade. Seus olhos rapidamente pularam de onde ela não podia ver para

olhar o resto dele. Hades era poderosamente grande e ele se moveu com uma graça fácil. Sua toga estava envolta elegantemente sobre seu braço

musculoso e nu, e seus lábios eram cheios, vermelhos e muito bonitos.

Embora seu rosto estivesse em maior parte escondido, o resto dele parecia saudável e jovem — e incrivelmente sensual. Helen não conseguia

tirar os olhos de cima dele. — O que alguém tão jovem pode saber de justiça? — ele perguntou

enquanto Helen olhava com admiração.

— Não muito, eu acho — ela finalmente respondeu com uma voz vacilante, ainda tentando processar o deus enigmático na frente dela. — Mas até mesmo eu sei que é errado manter uma mulher trancada longe

do mundo. Especialmente nesses dias e época. Surpreendentemente, a boca cheia se separou em algo que era quase

como uma risada, e Helen relaxou. O gesto o fez parecer acessível e humano.

— Eu não sou o monstro que você acha que eu sou, sobrinha — ele

disse com sinceridade. — Eu concordei em honrar meu juramento e ser o senhor dos mortos, mas este lugar é totalmente contra a natureza da

minha esposa. Ela só pode sobreviver aqui alguns meses de cada vez. Helen sabia que isso era verdade. Sua posição como senhor dos

mortos foi forçada sobre ele por acaso. Hades teve que fazer o trabalho

desagradável, e enquanto seus irmãos reivindicaram o mar e o céu como seus reinos, ele havia sido condenado ao Mundo Inferior. O único lugar

que o amor de sua vida não sobreviveria por muito tempo. Foi trágico, uma terrível ironia, mas ainda assim era a sua escolha aprisionar Perséfone — independentemente de quão ruim fosse o que as Moiras

tinham lhe dado. — Então por que você forçou ela a ficar afinal, se você sabe que isso

causa dor nela?

— Todos nós precisamos de alegria em nossas vidas, uma razão para continuar. Perséfone é a minha única alegria, e quando estamos juntos

eu sou dela. Você é jovem, mas eu acho que você sabe qual a sensação de ser separada da pessoa que você ama por causa de suas obrigações.

— Eu sinto muito por vocês dois — Helen disse tristemente. — Mas

eu ainda acho que você deve deixá-la ir. Permitir a ela a dignidade de escolher por si mesma se ela quer estar aqui com você ou não.

O engraçado era que Helen podia sentir que Hades havia seguido cada volta e reviravolta de suas emoções enquanto falava. Ela sabia que ele poderia ler seu coração, e ela não sabia se ela deveria estar com medo

ou feliz que ele iria estar esperando julgar seu coração novamente no dia de sua morte.

— Você pode descer à vontade, sobrinha — ele disse de um modo

gentil. — Mas eu sugiro que você pergunte ao seu Oráculo o que ela pensa dessa busca.

Helen sentiu que estava sendo pega pela grande mão dele, e então foi gentilmente colocada de volta em sua cama. Mais tarde, ela acordou em seu quarto frio e polvilhado com cristais de gelo, mas alerta e

revigorada pela primeira vez em um longo tempo. O espaço na cama ao lado dela estava vazio.

Lucas se foi, mas de alguma forma Helen ficou aliviada. Acordar ao

lado dele seria muito duro para os dois, especialmente depois do que ela tinha experimentado com Morfeu.

Conforme Helen lembrou, a culpa dominou ela, embora ela tentou dizer a si mesma que se sentir culpada não fazia qualquer sentido. Ela não poderia estar traindo Lucas com Orion porque ela não deveria sequer

estar com Lucas, em primeiro lugar. Não importava quem parecia com um lar ou uma casa ou um maldito motel para ela. Ela e Lucas nunca poderiam ficar juntos. Ponto final.

Ela tinha que endurecer, ela percebeu. Algumas pessoas não foram feitas para viver felizes para sempre, não importa o que elas sentiam uma

pela outra. Hades e Perséfone são um exemplo perfeito disso. Hades tinha dito a Helen que ele e Perséfone são a alegria um do outro, mas ambos são miseráveis. Seu “amor” mantinha eles trancados dentro de prisões

que deixava um deles metade morto quando estavam juntos e a outra metade morta quando eles estavam separados. Isso não era alegria.

Alegria era o oposto de uma prisão. Abrir o coração em vez de trancá-lo longe. Alegria era liberdade — liberdade de tristeza, amargura e ódio....

Helen teve uma ideia repentina.

Jogando os rígidos cobertores para longe dela, ela correu desajeitadamente pelas pernas perigosamente geladas para sua penteadeira e pegou seu telefone.

Eu acho que sei o que as Fúrias precisam, ela enviou a mensagem para Orion. Alegria. Precisamos chegar ao Rio da Alegria. Encontre-

me hoje à noite.

* * * Daphne serviu o vinho e lembrou a si mesma a ficar em ambos os

pés, como a mulher grande e musculosa que ela atualmente se parecia, em vez da pose de modelo, do jeito que ela faria normalmente. Ela podia

sentir o corpo pesado pesando sobre ela, fazendo sua lombar doer ligeiramente. Ela tinha mais de 1,82 de altura e cerca de noventa quilos, e reajustar sua percepção interna e explicar todo esse músculo e osso

extra era complicado. Ela tentou não bocejar. O Conclave nunca era divertido, mas fazer

isso enquanto estava vestida da musculosa guarda-costas de Mildred

Delos era francamente desgastante — não apenas por causa de todo o peso extra, mas porque Mildred Delos era uma vadia certinha. Ela

exagerava em tudo, como um cãozinho ansioso que late e rosna constantemente porque ele sabe que está cercado por animais mais fortes que ficariam felizes em comê-lo como um lanche.

— Scylla! Você abriu os pinot gris? — Mildred retrucou irritada. — Eu disse grigio, não gris. Pinot grigio. É uma uva totalmente diferente.

— Meu erro — Daphne-como-Scylla respondeu calmamente. Ela sabia a diferença entre os dois vinhos, e tinha feito isso de propósito. Ela

não podia resistir em atiçar Mildred. — Devo abrir o grigio?

— Não, eu faço isso — Mildred disse com desdém. — Vá ficar por ali

em algum lugar. Eu não posso suportar você pairando sobre mim o tempo todo.

Daphne foi e se escorou contra a parede. Mildred poderia rosnar tudo o que ela queria, mas ela não estava enganando ninguém. Ela era inútil agora que Creon estava morto. Ela não tinha filhos Descendentes

para dar a ela algo a dizer entre os Cem, e se ela não tivesse outro filho com Tantalus ela permaneceria impotente — não mais do que uma nota

de rodapé esquecível na longa história da Casa de Tebas. Mildred era uma mulher ambiciosa, e Daphne confiava que ela iria tentar engravidar novamente em breve. Isso exigia a presença de seu marido.

Se havia qualquer outra maneira de encontrar Tantalus novamente, Daphne iria cordialmente aproveitá-la, mas se infiltrar no Conclave como guarda-costas de Mildred matou dois coelhos com uma cajadada só.

Daphne precisava estar presente no caso de haver qualquer coisa que ela pudesse fazer para ajudar Castor e Pallas em sua tentativa de conseguir

manter Automedon longe de sua filha. Castor e Pallas não sabiam que ela estava lá, é claro, ou que Hector

estava hospedado algumas noites por semana em uma das casas seguras

de Daphne na Baixa Manhattan, mas isso não importava. Livre das Fúrias há mais de uma década, e capaz de usar o rosto de qualquer

mulher que ela precisava, Daphne sempre foi capaz de influenciar as outras Casas a partir de dentro para realizar os seus objetivos. Uma vez que Castor e Pallas tirassem Automedon da cola de sua filha, Daphne

finalmente seria capaz de matar Tantalus. O celular de Mildred tocou. Ela olhou para a tela e, em seguida,

atendeu apressadamente.

— Tantalus. Você recebeu minhas mensagens de voz? — Mildred disse em uma voz ligeiramente mais alta do que o habitual.

Ela tinha enviado mensagens de voz das reuniões diárias a Tantalus, e mesmo que as chamadas telefônicas fossem proibidas, ele ligava com instruções detalhadas para ela todas as noites. Daphne podia ouvir

ambas as extremidades de suas conversas noturnas porque Tantalus tinha que falar alto o suficiente para sua esposa humana ouvir, o que era

alto o suficiente para qualquer Descendente ouvir, até mesmo do outro lado da sala. Até agora, Tantalus não havia revelado sua localização à sua mulher, e ela não perguntou. Aparentemente, nenhum deles confiava

em qualquer pessoa com essa informação, nem mesmo os guarda-costas de Mildred.

— Eu escutei — ele respondeu friamente. Daphne se imaginou se digitalizando para que ela pudesse se conduzir através do telefone de Mildred e saltar para o de Tantalus — suas mãos se formando sólidas

para fora de uns e zeros para sufocá-lo. — Eles ainda me chamam de Banido. Você deveria corrigir isso.

— Como? Os Cem não me ouvem mais. Todo mundo agora escuta

Castor, e uma vez que ele descobriu que você é um Banido ele vem dizendo isso abertamente. Você perdeu muito apoio — ela respondeu com

uma cortada, sua voz acusadora. — E não há nada que eu possa fazer sobre isso, do jeito que as coisas estão.

— Isso de novo não — ele suspirou. — Nosso filho não está morto

nem há um mês e você já deseja substituí-lo. Um longo silêncio desconfortável seguiu.

— Automedon tem estado lento para atender às minhas chamadas — Tantalus disse conciso, quebrando o impasse frio. — E quando ele atende, ele sempre tem uma desculpa pouco satisfatória.

— Não — Mildred disse, meio levantando de seu assento. — O que isto significa?

Daphne teve que trabalhar para manter o rosto impassível.

Myrmidons são soldados consumados. Eles nunca ignoraram seus mestres.

— Eu não tenho certeza — Tantalus suspirou. — Pode não ser nada, ou pode ser que ele esteja trabalhando para mais alguém. Talvez ele já estivesse prometido a outro mestre antes de eu contratá-lo. De qualquer

forma, eu acho que eu não o controlo mais, e se for isso, então não posso impedi-lo de matar Helen, se é isso que o seu outro mestre quer. Isso não pode acontecer, ou eu sou um homem morto. Daphne jurou a si mesma...

— Você tem alguma obrigação em sempre encontrar uma maneira

de fazê-la aparecer? — Mildred disse, um sorriso de escárnio amargo curvando em seu lábio. — Você faz isso apenas para dizer o nome dela?

— Mantenha seus olhos e ouvidos abertos, esposa — Tantalus

advertiu, seu tom sombrio. — Ou eu não vou estar vivo tempo o suficiente para dar-lhe o bebê Descendente que você precisa para conseguir o seu

trono de volta.

Traduzido por Polly

manhã do Halloween estava nublada e sombria, como deveria ser. As ameaçadoras nuvens de tempestade acima adicionavam o tom

certo de cinza pérola no ar, fazendo as cores do outono estourarem como

manchas de tinta em uma tela perfeita. Estava frio lá fora. Não tão frio que estar ao ar livre fosse intolerável, mas apenas frio o suficiente para

fazer com que todos quisessem sopa no almoço e doces no jantar. Helen enviou aos Nerds Gregos uma mensagem em massa, dizendo

a eles que Hades tinha concordado em deixá-la voltar ao Mundo Inferior

e que ela estava fora de perigo. Ela não mencionou o óbolo de Lucas e ela não deu nenhum detalhe de seu encontro com Morfeu. Ela queria deixar que Lucas decidisse o que eles iriam dizer a família.

Ela recebeu algumas mensagens de volta, pedindo a ela para explicar como ela conseguiu descer depois de ser banida, mas ela ignorou

elas e fez uma pergunta ela mesma. Ela queria saber de onde o talento do Mestre das Sombras veio.

Se desenvolveu nos tempos medievais, e tem sido uma parte da

Casa de Tebas desde então, Cassandra respondeu. Isso significava que o talento tinha cerca de mil anos de idade. Mil

anos era muito tempo, mas não para os Descendentes que traçaram sua ascendência quase quatro vezes mais tempo que isso. Tudo bem. Mas de onde veio? Helen persistiu.

Ninguém tinha uma resposta. Helen se vestiu e ficou pronta para a escola, em seguida, desceu

para o café da manhã do seu pai, a bruxa. Depois de ter passado o dia

anterior em um vestido, Jerry tinha rapidamente aprendido que a única vergonha em seu traje era que não era elaborado o suficiente. Depois de

responder as múltiplas sugestões dos clientes de como ele poderia melhorar o seu espirito do feriado, ele decidiu usar tudo o que fosse necessário. Ele adicionou um espartilho no vestido, e usava batom azul,

brincos de encaixe e botas de bico fino para adicionar algum glamour extra.

— Pai. Eu acho que você e eu precisamos ter uma pequena conversa sobre a sua fantasia — Helen disse em tom falso sério enquanto ela servia um pouco de café. — Só porque todas as outras crianças estão fazendo

isso... — Eu sei, eu sei — ele disse, sorrindo ao seu bacon. — Eu

simplesmente não consigo vencer o Sr. Tanis da loja de ferragens. Ele é um pirata este ano, e você deveria ver a peruca dele! Ele deve ter gastado uma fortuna com aquilo! E nem sequer me fale sobre o cinema na

esquina. Eles estão distribuindo trinta sacos de pipoca cristalizadas para

A

uma das exibições noturnas. As de Kate são muito melhores, é claro, mas

temos que cobrar. Helen comeu suas panquecas de abóbora — o último lote do ano —

e tomou um gole de café, ouvindo seu pai reclamar, mesmo que ela soubesse que ele estava amando cada minuto disso. Ela se sentia quase bem. Sua cabeça não estava latejando, seus olhos não estavam

molhando, e pela primeira vez em semanas ela não estava toda dolorida. Mesmo que ela não estivesse exatamente feliz, ela sentia uma sensação de paz.

Esta sensação tinha, em parte, a ver com o fato de que Helen estava convencida de que havia outra presença na sala. Isso não a assustava

mais ou a enlouquecia. Na verdade, isso a acalmou. Ela havia esquecido de perguntar a Morfeu se ele era o “sol invisível” que ela vinha sentindo, mas da última vez que ela havia sentido essa presença ela tinha também

ouvido a sua voz, então, quem mais poderia ser? — Helen? — Jerry disse, olhando para ela com expectativa.

— Sim, papai? — Ela não estava prestando atenção novamente. — Você pode trabalhar na loja depois da escola hoje? — ele

perguntou novamente. — Tudo bem se você não puder, é só que Luis

realmente quer levar Juan e o pequeno Marivi para pegar doces. Vai ser a sua primeira vez...

— Claro! Sem problema! — Helen respondeu, culpada. — Diga a Luis

para se divertir com seus filhos. Eu estarei lá. Ela tinha estado sonhando com Morfeu. Ou ela estava apenas

pensando nele como Lucas... Ou Orion? Suas bochechas pulsaram com um rubor, e ela se levantou abruptamente e começou a juntar suas coisas para a escola.

— Tem certeza que você se sente melhor? — Jerry perguntou em dúvida, enquanto ela observava seus livros na sua bolsa e verificava seu

telefone. Claire tinha deixado uma mensagem. — Sim, eu estou bem — Helen respondeu distraidamente, lendo.

Claire não estava vindo buscá-la, ela tinha se comprometido em ir para

a escola cedo para decorar para o Halloween. — Droga. Vou ter que pegar a minha estúpida bicicleta. — Helen gemeu quando ela fez meia-volta e se dirigiu para a porta dos fundos.

— Tem certeza que você pode... — Sim! Vou estar lá — Helen o interrompeu, irritada. Ela

relutantemente pedalou seu antigo equipamento para fora da garagem, percebendo que tinha crescido mais ferrugem ao longo do mês passado do que era cientificamente possível.

— Tenha um bom dia — seu pai gritou para ela. Helen revirou os olhos, pensando sim, certo, e pedalou para fora. Ela

não estava a mais do que um quarteirão de distância da escola quando ela quase saiu da estrada por causa de um motorista em alta velocidade. Ela teve que desviar o ombro, colidir através do chão de terra batida, e

chapinhar através da avó de todas as poças de lama para evitar ser atropelada.

Grandes gotas de água oleosa e túrgida espirraram para cima em suas pernas e encharcaram ela da cintura para baixo. Helen pisou nos

freios, e teve de tomar um momento para deixar a catástrofe entrar em

sua cabeça, atordoada que tanta meleca congelante foi expelida em cima dela.

Ela olhou para a poça. Havia um animal morto flutuando. Ela cheirou a sua roupa, e com certeza elas cheiravam vagamente a esquilo em putrefação.

— Inacreditável — Helen murmurou para si mesma. Ela não era geralmente uma pessoa desajeitada, pelo menos não quando ela teve uma noite cheia de sonhos atrás dela, e ela não podia acreditar que isso tinha

acontecido. Ela viu a hora em seu telefone, e viu que ela não podia ir para casa

se trocar. Se ela fosse, com certeza ela iria ganhar uma detenção de Hergie por estar atrasada, e ela já tinha prometido que ela iria trabalhar por Luis logo após a escola. Helen decidiu que passar um dia com cheiro

de esquilo morto era melhor do que passar o resto de sua vida sabendo que ela tinha roubado o pai de duas crianças impressionáveis no

Halloween. Além disso, ela realmente gostava dos filhos de Luis. Eles eram tão pequenos, e Juan tinha a mais adorável voz áspera de garotinho.

Suspirando para sua sorte podre, Helen ficou pronta para pedalar

para a escola, apenas para descobrir que ela não podia. Seu pneu dianteiro murchou. Ela girou sua perna por cima para sair de sua

bicicleta, e ouviu um ruído rasgando. De alguma forma, a bainha da sua calça jeans tinha ficado presa na

corrente e ela quase arrancou a sua perna inteira. Reajustando sua

postura para se parar antes que ela pudesse rasgar sua calça jeans ainda mais, Helen deslizou sobre algumas pedrinhas sob os seus pés e caiu de cabeça na lama infestada com o roedor morto, com a sua velha bicicleta

ainda presa na perna da sua calça. A bicicleta caiu em cima dela antes que ela pudesse levantar, o quadro se torceu e dobrou conforme se

enroscou com o forte corpo de Helen. — O que diabos está acontecendo? — Helen gritou em voz alta. Ela

ouviu uma risada contida e olhou através da estrada para ver uma

mulher alta e magra sorrindo para ela. Imediatamente, Helen soube que havia algo não muito certo sobre a

mulher. Ela era alta, com arqueadas maças do rosto e onda após onda de um longo cabelo branco-loiro que atingia a parte de trás de seus joelhos. De primeira Helen achou que ela era uma estrela de cinema ou

algo assim, porque com as suas características e todo aquele cabelo ela deveria ter sido bonita. Mas o sorriso de escárnio nos lábios e o olhar

vazio e serpentino em seus olhos a tornava muito feia. Não importava o quão bonito o corpo dela deveria ser, seu espírito poluído fazia ela parecer hedionda.

— O que você é? — Helen gritou. Arrepios enrugaram sua pele, mais em reação ao encontro misterioso do que ao frio.

A mulher macabra balançou a cabeça para Helen, se mexendo para

frente da esquerda para direita, como uma cobra inexpressivamente concentrada em um rato infeliz. Então ela quebrou o contato visual e

saltou de repente. Helen ficou olhando para ela em choque, pensando para si mesma, Quem diabos salta?

Com muito cuidado, no caso de também passar a ser uma armadilha

de urso que estava prestes a ser acionada ou algo assim, Helen se levantou da desagradável poça fedorenta e se sentou ao lado da sua

destruída bicicleta. Ela sabia que o que ela tinha acabado de ver não era uma fantasia, e que o seu pequeno desentendimento com a Lei de Murphy não era uma coincidência. Algo estranho tinha acontecido, mas

ela não tinha ideia do quê. Pegando sua destruída bicicleta e colocando por cima do ombro,

Helen andou o resto do caminho para a escola. Ela largou sua ex-bicicleta

em algum lugar no bicicletário e andou para a sala de aula exatamente repugnante e rasgada como a poça tinha deixado ela.

Havia um grupo de pessoas vestindo fantasias, e mais de uma usava roupas rasgadas e maquiagem de falsa-sujeira. Mesmo assim, era óbvio que Helen estava toda molhada, tremendo e coberta de lama verdadeira.

Olhares de choque a seguiram conforme ela caminhava pela sala de aula. Matt e Claire sentaram eretos em alarme. Ela murmurou as palavras: —

Eu estou bem — e Matt se recostou em seu assento, menos alarmado, mas ainda carrancudo, se perguntando o que tinha acontecido.

— Senhorita Hamilton? Devo presumir que a emanação malcheirosa

que eu detectei é uma parte integrante de sua fantasia de Halloween? — Hergie perguntou com sua indiferença habitual. — Algo da persuasão de zumbis, eu espero?

— Estou pensando em chamar isso de “eau de pum de morto” — ela respondeu, tão controlada quanto ele. Normalmente, Helen era muito

mais respeitosa, mas ela preferiu empurrar Hergie um pouco. — Por favor, visite o banheiro e remova isso. Embora eu aprecie seu

espírito do feriado, eu não posso permitir tal distração. Há alguns alunos

desta instituição que desejam aprender — ele repreendeu do seu jeito heroico. Helen sorriu para ele. Hergie realmente era desse jeito. — Vou

escrever para você um passe livre... — Mas, Sr. Hergesheimer, eu não tenho uma muda de roupa. Vou

precisar de ajuda...

— Eu não esperaria nada mais. Um passe para você, e um para sua amiga, senhorita Aoki. — Ele rasgou duas folhas de papel preciosas que

praticamente davam a Helen e Claire controle completo ao longo dos corredores pelos próximos dois períodos.

Claire olhou para Helen animadamente, tentando não gritar para

fora de seus globos oculares, e as duas melhores amigos se levantaram de suas mesas e pegaram seus passes com cabeças humildemente abaixadas. Conseguir um passe livre de Hergie era como ganhar um título

de cavaleiro. Não faz você ficar mais rico, mas dava-lhe direito de se gabar pelo resto do ano.

— Lennie, você fede — Claire murmurou conforme elas faziam o seu caminho até a porta.

— Você não tem ideia do que acabou de acontecer comigo — Helen

sussurrou de volta, e passou a explicar toda a sua conversa com a mulher macabra do lado da estrada. Claire ouviu atentamente enquanto ela as

levava para o teatro. — Espere, por que estamos aqui?

— Você precisa de algo para vestir — Claire disse com um encolher

de ombros quando ela as levou para dentro da sala de adereços. Ela foi diretamente para uma prateleira de diáfanos, de trajes brilhantes de

fadas e começou a segurar um após outro para Helen, comparando o tamanho. — Tem certeza de que não era apenas alguma turista louca em uma fantasia do Dia das Bruxas? Esse vai caber em você. Tem asas, no

entanto. — Eu estou bem com asas. E não há nenhuma maneira de aquela

mulher ser humana. Ela tinha, tipo, dois metros de altura e ela saltou —

Helen respondeu, mudando facilmente as engrenagens da conversa. — Será que nós não vamos ficar em apuros?

— Estou no comitê dos figurinos. Além disso, nós vamos devolver a eles. — Claire deu um sorriso travesso a Helen quando ela pegou um para si. — Agora, vestiário. Você está tão profanamente fedorenta que está

fazendo meus olhos lacrimejarem. Helen tomou banho e lavou o seu cabelo enquanto Claire se trocava

para a sua própria fantasia roubada e ficava em frente de um espelho para colocar uma maquiagem brilhante para combinar. Claire pediu para Helen descrever o espírito mau com muito cuidado, mas ela não podia

acrescentar muito além de sua primeira impressão inicial. — Foi difícil conseguir dar uma boa olhada nela, Risadinha. Eu

estava muito ocupada fazendo nado de peito em uma poça com um roedor morto flutuando ao meu lado. — Helen se enxugou e mexeu em um fio iridescente do vestido enquanto tentava não furar os seus olhos sobre as

asas pontiagudas. — Eu vou dizer a Matt e Ari sobre isso na aula hoje, ver se eles têm

alguma ideia. Agora saia e deixe-me ver!

— Quais personagens do Sonho de uma Noite de Verão devemos ser? — O queixo de Helen caiu quando ela viu o traje de Claire. — Ooh, eu

adorei isso! O desenho de teia de aranha está incrível! — Eu sou a Teia de Aranha, obviamente, e você é a Traça. Elas são

boas, não é? Minha avó fez os pedaços de lantejoula.

— Estas asas são insanamente bonitas. — Helen flutuou no ar e fingiu estar surpresa por ela estar voando. — E elas funcionam, também!

Claire agarrou o pé de Helen e puxou-a de volta à terra com uma cara emburrada. — Jason me fez prometer nunca voar com você novamente. E agora que eu sei o que eu estou perdendo, é ainda mais

difícil ver você fazer isso. — Eu vou ter uma conversa com ele — Helen ofereceu. — Talvez se

eu lhe mostrar como é fácil para mim transportar um passageiro, ele vai ver que não é tão perigoso e vai mudar de ideia.

— Eu duvido — Claire disse. Ela balançou a cabeça e fez uma careta.

— Não que isso importe. Eu acho que hoje nós estamos tecnicamente terminados, mas como eu iria saber?

— O que isso quer dizer? — Helen perguntou, colocando um punho no quadril e franzindo a testa.

— Isso significa que em um segundo ele está me dizendo que ele não

pode me ver mais, e no seguinte ele está ultrapassando o meu carro e me

implorando para voltar. Em seguida, dez minutos depois, ele me deixa de

novo. — Noite passada? — Helen adivinhou.

— Então, quando eu estava indo embora, ele me beijou. — Ela suspirou e fechou os punhos, exasperada. — Jason continua fazendo isso comigo. Eu acho que isso está me deixando um pouco louca.

Claire descartou seus pensamentos confusos com um aceno de sua mão, agarrou Helen pelo ombro e começou a empurrar ela para o secador de mão. Ela apertou o botão do secador e fez Helen inclinar a cabeça

sobre o bico, abafando a tentativa de Helen em fazer mais perguntas sobre Jason. Helen pegou a dica de que Claire não queria falar sobre isso

e deixou que sua amiga zangada “modelasse” seu cabelo. O resultado foi um bufante louco que Claire insistiu em revestir com

spray dourado. Helen normalmente teria dito não a tudo que brilhava,

mas ela teve que admitir que meio que funcionou com a fantasia. E, além disso, era Halloween.

Havia toneladas de pessoas na escola naquele mesmo dia vestindo fantasias mais ostensivas. Helen nunca tinha visto tantas pessoas em fantasias antes. A energia no ar beirava a imprudência. As crianças

estavam, na verdade, saltando sobre as paredes, e os professores estavam deixando-os.

— Isso é Parkour? — Helen perguntou a Claire quando um

estudante do segundo ano correu até uma parede e fez um salto para trás nela.

— Sim — Claire respondeu, inquieta. — Hum... ninguém vai impedi-lo?

— Acho que não — Helen disse, e as duas se entreolharam e

desataram a rir. Por que elas se importariam? Elas tinham um passe livre de Hergie. Elas estavam malditamente à prova de balas.

No momento que elas acabaram de fazer os retoques e adicionaram outra camada de glitter, foram embora da sala de adereços para seus armários e a máquina de refrigerante conforme elas vinham com mais e

mais desculpas para passear pelos corredores, até que era quase hora do almoço. Horas depois, elas estavam passeando passando pela aula de estudos sociais da Senhoria Bee em suas fantasias fodonas, quando o

sinal tocou. Todas as crianças da aula avançada saíram do que teria sido a aula de Claire, se ela se preocupasse em aparecer.

— Ops. Eu acho que estamos atrasadas — Claire disse com um sorriso insolente.

Helen estava em uma meia risada quando sentiu alguém agarrar seu

braço com força e puxá-la para trás. O ar ao redor dela turvou e refratou, como se ela tivesse sido encolhida e colocada dentro de um diamante. Quando suas pupilas se ajustaram, ela viu que ela estava do outro lado

do corredor, e Lucas estava usando seu corpo para barricá-la contra um armário.

— Onde você esteve? — ele perguntou em voz baixa, perto de sua orelha. — Não se mexa ou eles vão ser capazes de nos ver. Fique muito quieta e me diga o que aconteceu com você esta manhã.

— Essa manhã? — Helen repetiu, atordoada.

— Matt disse que parecia que você tinha sido atacada. Então você e

Claire simplesmente desapareceram pelo resto do dia. A escola está quase acabando. Estávamos muito preocupados.

— Eu tinha que tomar banho e me trocar. Perdemos a noção do tempo. — Sua desculpa soou fraca, até para si mesma. Ela não tinha ideia do porquê nem ela nem Claire tinham pensado em voltar para a

aula. Ela olhou por cima do ombro de Lucas, tentando descobrir o que

estava acontecendo, e viu um olhar assustado no rosto de Jason. Ele pegou a mão de Claire e levou ela pelo corredor, puxando-a para perto dele. Ninguém parecia prestar atenção em Helen e Lucas afinal. Eles

estavam tão perto — literalmente em cima um do outro — mas Matt caminhou por eles como se não tivesse notado, assim como Ariadne. Alguma coisa estava errada. Não havia nenhuma maneira de Ariadne

poder olhar para Helen e Lucas pressionados um contra o outro e não atirar a eles um olhar enojado.

— O que está acontecendo? — Helen sussurrou. — Eu estou modificando a luz para que ninguém possa nos ver —

Lucas disse suavemente.

— Nós estamos invisíveis agora? — Helen inspirou. — Sim.

Uma dúzia de momentos confusos finalmente clicaram em sua cabeça. A visão turva de Helen, a estranha sensação de outra presença na sala, os desaparecimentos de Lucas, e como ele poderia aparecer de

repente, do nada — era porque ele estava lá o tempo todo. — Você é o meu sol invisível, não é?

Ela sentiu seu estômago, pressionado firmemente contra o dela, tenso em um silencioso riso assustado. Ela viu seus lábios se moverem silenciosamente em torno das palavras “sol invisível”. Ela forçou seu

olhar para longe de sua boca para encontrar seus olhos. — Lucas — Helen gentilmente repreendeu. — Você realmente me

assustou. Primeiro eu pensei que havia algo de errado com a minha visão,

e então eu pensei que eu estava ficando louca. — Eu sinto muito. Eu sabia que eu estava enlouquecendo você e eu

tentei parar, mas eu não podia — ele admitiu, envergonhado. — Por que não? — Olha, só porque eu empurrei você para longe de mim, isso não

significa que eu posso ficar longe de você — ele disse, rindo para si mesmo um pouco. — Tudo começou comigo aprendendo a modificar a luz, mas

isso se transformou em outra coisa agora. Algo que eu nunca pensei que eu poderia fazer. — Ele se afastou com um olhar de dor no rosto. — Eu aprendi a me tornar invisível para que eu pudesse ficar perto de você e

deixá-la seguir em frente com sua vida ao mesmo tempo. — Você sempre esteve lá? — Helen perguntou com uma voz

preocupada, pensando em mil coisas particulares que ele poderia ter

testemunhado. — Claro que não. Eu sinto falta de você, mas eu não sou um

pervertido — ele disse, desviando o olhar e corando um pouco.

— Você sempre soube quando eu estive lá, Helen. Ao contrário de

todos os outros, você ainda pode sentir a minha presença quando estou invisível. Ninguém sabe que eu posso fazer isso, a não ser você.

Helen não sabia como responder. A única coisa que ela queria fazer era beijá-lo, mas ela sabia que não podia. Tudo o que podia fazer era ficar parada e olhar para ele.

O sinal tocou e dezenas de portas fecharam em simultâneo, mas nem Helen nem Lucas fizeram um movimento. Algumas crianças

aleatórias ainda estavam vagando pelos corredores, procurando problemas. Estranhamente, não havia professores aparecendo para parar eles. Era como um dia sem regras. Helen certamente não se

importava se ela ficasse em apuros. De repente, ela sentiu como se estivesse destruindo algo. Ela não conseguia se lembrar de ter se sentido assim antes.

Sobre o ombro de Lucas, Helen teve um vislumbre da mulher macabra que tinha visto ao lado da estrada, andando pelo corredor.

— Logo atrás de você — Helen arquejou baixinho. Lucas se moveu muito lentamente para virar e olhar. — Eu a vi esta manhã, e era como se tudo desse errado ao mesmo tempo. É por isso que eu parecia que

tinha sido atacada. — Ela não é mortal — Lucas sussurrou para Helen quando a mulher

macabra passou por eles. — Ela pode nos ver? — Helen perguntou, mas Lucas apenas

balançou a cabeça distraidamente. Helen viu as narinas dele se

alargarem, e apenas um momento depois ela sentiu o cheiro do porquê. A mulher macabra cheirava a ovos podres e leite estragado. Era o

cheiro que Helen tinha confundido com esquilo morto — o fedor que tinha

se agarrado a ela até que ela o tinha esfregado nos chuveiros naquela manhã.

O cheiro parecia permear as paredes, e comoções começaram dentro de cada sala de aula que a mulher macabra passava. Houveram vozes altas e gritos primeiro, e então colisões seguidas de gritos, como se todos

tivessem de repente começado a jogar os móveis ao redor. Cadernos e livros escolares estavam sendo atirado para o ar. Em pouco tempo, as

portas começaram a abrir e os alunos começaram a sair, seguidos de perto pelos professores. Mas os professores não estavam tentando restaurar a ordem. Eles estavam tão rebeldes como as crianças.

Envoltos em seu casulo de invisibilidade, Helen e Lucas assistiram com admiração quando a Srta. Bee, sua impassível e lógica professora de estudos sociais, chutou brutalmente uma porta do armário com seus

sensíveis sapatos. Helen olhou para Lucas e poderia dizer que ele estava lutando contra o desejo de participar da destruição. Ela sentiu isso

também. Ela estava sentindo isso durante todo o dia, ela percebeu. Foi por isso que ela concordou com a fantasia e o brilho, e o por que ela esteve tão disposta a ignorar as cinco aulas em vez de apenas uma ou

duas. Helen sentiu como se criasse algum inferno. — Nem sequer pense sobre isso — Lucas sussurrou com os olhos

apertados.

— O quê? — Helen sussurrou de volta. Ela mordeu o lábio inferior,

fingindo inocência. — Você não sente vontade de fazer algo ruim? — Sim, eu sinto — ele disse, e puxou Helen um pouco mais apertado

para ele. Ela sentiu o corpo dele gerar uma onda de calor, como se ela tivesse acabado de abrir a porta de um forno quente, e se pressionou com mais força contra ele. Ele prendeu a respiração e fez a si mesmo olhar

para longe dela. — Nós temos que sair daqui. Lucas agarrou a mão de Helen e puxou ela para uma corrida. Ela

entendeu o porquê imediatamente. Se eles se movessem rápido o suficiente, eles ainda poderiam permanecer invisíveis enquanto eles estivessem se escondendo atrás da capa de luz de Lucas se movendo mais

rápido do que um mortal poderia ver. Foi tão emocionante correr pelos corredores de sua escola em sua velocidade de Descendente que ela quase assobiou de alegria.

Uma vez lá fora, Helen e Lucas pegaram o ar e dispararam para o alto sobre a ilha, longe da influência de seja o que for que estava

transformando sua escola na jaula dos macacos do zoológico. Flutuando muito acima do oceano, Lucas se virou para ela com um meio sorriso no rosto.

— Talvez a adição de asas naquelas pinturas não foram uma ideia tão ruim.

Ela soube imediatamente sobre o que ele estava falando. Da primeira vez que ele lhe ensinou a pousar após voar, ela pairou sobre ele enquanto ele estava no chão. Ela disse a ele que ela tinha visto uma pintura que se

parecia com eles, mas a pessoa voando na pintura era um anjo. Ele disse a ela que as asas de anjo são uma besteira. Agora, ele não parecia tão convencido.

Helen sentiu como se fizesse um tempão desde o dia em que Lucas tinha ensinado ela a voar, mas cada segundo daquele tempo veio à tona

em detalhes completos. Ela ficou maravilhada com o quanto ainda doía. Helen decidiu que o ditado “o tempo cura todas as feridas” era um

monte de abobrinhas, e provavelmente só funcionava com pessoas com

as memórias muito pobres. O tempo que ela passou longe de Lucas não tinha curado nada. A distância só fez ela sentir ainda mais saudade dele.

Mesmo os poucos metros entre eles naquele momento eram excruciantes. Incapaz de suportar isso, Helen disparou para mais perto e tentou segurá-lo.

— Lucas, eu... — Helen estendeu a mão, mas ele se afastou dela com um olhar meio apavorado em seu rosto antes que ela pudesse terminar a frase ou colocar uma mão sobre ele.

— Envie uma mensagem para Orion e diga a ele o que aconteceu — ele disse em uma voz alta e nervosa. Ele levou um momento para baixar

a voz antes de continuar. — Ele tem estado em torno, viu um monte de coisas. Talvez ele saiba quem é essa mulher, ou pelo menos com o que estamos lidando.

— Tudo bem. — Helen deixou as mãos caírem desajeitadamente para os lados. Ela disse a si mesma para não agir tão devastada como se

sentia. — Eu devia ir. Eu prometi ao meu pai que eu iria trabalhar na loja hoje.

— Eu tenho que encontrar minha irmã, me certificar de que estamos

todos bem — Lucas disse por entre os lábios apertados. Ele nem mesmo olhou para ela. — Eu vou dizer a todos o que vimos no corredor e ver se

podemos chegar a uma teoria. E Helen? — Sim? — ela respondeu com uma voz fina. — Vamos manter a coisa da invisibilidade quieta por agora. Vamos

apenas dizer que você e eu nos escondemos em toda a comoção. — E quanto aos óbolos? — ela perguntou de forma remota, tentando

separar a si mesma dele, agindo muito mais calma do que se sentia. —

Eu tenho me esquivado das perguntas de todos sobre como entrei no Mundo Inferior na noite passada, mas eu não posso deixar Cassandra de

fora para sempre. Ela não pode ver o meu futuro agora, mas mais cedo ou mais tarde ela vai prever algo sobre você e aqueles óbolos.

— Eu acho que eu vou ter que falar sobre ter roubado eles — ele

disse, suspirando. — Mas nós provavelmente não devemos dizer a nossa família como eu lhe dei um na cama na noite passada.

Helen sabia que ele tinha acrescentado a última parte só para lembrá-la de que ele tinha feito a coisa certa ao se afastar. Helen sabia que ele tinha acabado de salvar ela de uma situação potencialmente

desastrosa, mas ainda doía. Eles se separaram e Helen voltou para a escola para pegar suas

coisas, tentando tirar Lucas de seus pensamentos. Ele é meu primo, ela

falou baixinho até que o sentimento de rejeição foi substituído com a culpa. Ela se sentia como uma idiota por estender a mão para ele desse

jeito. O que ela estava esperando que acontecesse? Helen tinha a vaga sensação de que Lucas disse a ela para enviar

uma mensagem a Orion só para fazê-la pensar sobre ele, como um cara

perguntando a uma menina se o seu namorado sabia que eles estavam sozinhos. Quanto mais pensava sobre isso, mais ofendida ela se tornava.

Será que Lucas achava que ela e Orion estavam namorando ou algo assim? Helen se perguntou exatamente o que os dois tinham estado falando sobre ela.

Jogando sua bicicleta destruída na lixeira com um pouco mais de hostilidade do que o necessário, Helen entrou na entrada lateral da escola

e caminhou rapidamente pelos corredores desertos. Havia mesas quebradas, cadeiras viradas e latas de lixo abertas em todos os lugares. O lugar todo era uma bagunça confusa, e fedia como aquela mulher

maligna. Helen correu para seu armário, pegou sua bolsa, e colocou um suéter sobre os braços para combater o frio o melhor que pôde sem esmagar sua fantasia emprestada, e depois foi direto para a News Store.

Ela não queria ficar por perto e ter a chance de ver aquela mulher desprezível novamente.

Nas ruas, Helen sentiu um humor estridente e quase perigoso em fogo brando. A luz pálida do outono acrescentou uma vibração crepitante nas ruas já festivamente decoradas. No cento da cidade, faixas laranja e

preta do Halloween estalavam com o vento frio e lanternas de abóbora piscavam, lançando sombras assustadoras nas portas das velhas casas

de estilo baleeiro e nas estradas de paralelepípedos. Helen agarrou seu

suéter e olhou em volta, desconfiada, procurando a fonte da ameaça que

ela sentia. Dezenas de grupos já estavam fora no “doces ou travessuras”. Nessa

hora mais cedo era principalmente pais com crianças pequenas, mas um ou dois nas hordas dos fantasiados não estavam certamente à procura de doces. Esses grupos tinham uma intensa energia agressiva, como se

as suas máscaras de monstros dessem às pessoas vestindo elas a alma dos personagens que eles representavam. Durante o caminho, Helen não conseguiu reconhecer qualquer um dos jovens nesses grupos, o que era

muito estranho. Normalmente, ela teria passado por metade do pessoal do ensino médio neste ponto, mas as ruas pareciam estar preenchidas

com estranhos, o que era quase impossível. Não era mais época turística. Algo estava definitivamente errado. Helen não tinha medo pela sua

própria segurança, mas ela ainda estava em preocupada. Era tão cedo, e

havia tantas crianças pequenas ainda em busca de guloseimas que ela desejou que as pessoas mais interessadas em travessura tivessem

esperado um pouco mais. Ela entrou na News Store com uma carranca preocupada, pensando se deveria ligar para Luis e dizer-lhe para levar Juan e Marivi para casa mais cedo este ano.

— Belas asas, Princesa — um homem falou devagar. — Hector! — Helen exclamou quando ela se jogou direto em um de

seus abraços fantásticos, apesar do fato de que ele estava usando seu

apelido menos favorito. Ele a pegou sem esforço e ela enforcou o seu pescoço um pouco. — Um dia desses eu vou fazer você parar de me

chamar assim. — Não nesta vida. — Ele tentou soar como se ele estivesse

brincando, mas ela poderia dizer imediatamente que algo estava errado.

Ele parecia tenso. Ela se afastou e deu uma boa olhada nele. — O que aconteceu com você? — ela perguntou, e correu o dedo ao

longo de uma fina cicatriz rosa que ainda estava se curando na sua maçã do rosto.

— Família — ele disse com um sorriso triste.

— Os Cem ainda estão perseguindo você? — É claro que estão — ele disse, encolhendo os ombros. — Você é a

única pessoa com quem eu tenho certeza que eu estou seguro. Tantalus

não correrá o risco de prejudicar a sua primeira e única chance de ficar livre das Fúrias.

Helen franziu a testa e se perguntou se ela deveria estar feliz com isso ou não. Uma parte dela não queria fazer nada que fizesse Tantalus e os Cem felizes, mas o que mais ela poderia fazer? Não ajudar Hector

porque isso também ajudaria Tantalus? Ela estava presa e ela sabia disso.

— Você está congelando! — ele disse, esfregando as mãos sobre sua pele para aquecê-la. — Normalmente eu prefiro quando as mulheres usam o mínimo possível, mas não você. Onde estão o resto de suas

roupas, priminha? — Longa história — ela riu. — Então, fique confortável, porque eu

tenho que lhe contar tudo.

— Eu tenho algo para lhe contar, também — ele disse seriamente

quando ela despejou as suas coisas atrás do balcão. Ela olhou para Hector, e foi atingida novamente pela forma como ele parecia desgastado.

— Você está bem? — ela perguntou, realmente preocupada com a saúde dele.

— Vá em frente — ele disse. — Nós temos um pouco de tempo, mas

não tanto assim. Helen correu para cumprimentar Kate e seu pai, e então teve que

contar o dinheiro da caixa registradora antes que ela pudesse vir e

conversar. Kate instalou Hector com sidra quente e com muitos bolos de avelã pegajosos o quanto ele poderia comer, enquanto Helen checava o

dinheiro e organizava os recibos de cartão de crédito na parte da frente relativamente deserta da loja.

Quando tudo estava em ordem e Kate se apressou para cuidar dos

clientes ruidosos na parte de trás, Helen colocou Hector a par de tudo o que aconteceu recentemente no Mundo Inferior. Ela alterou a história dos

óbolos roubados para fazer parecer que Lucas os havia roubado estritamente para o uso dela e não para o uso dele, e terminou com o tumulto na escola. Ele escutou sem interromper, com um olhar pensativo

no rosto. — O nome dela é Eris — ele disse. — Ela é a deusa da discórdia, ou

do caos, dependendo de qual tradução você usa. Onde quer que ela vá,

desordem, brigas, até mesmo motins entram em erupção. Tudo o que pode dar errado dará. Ela é a irmã e companheira de Ares, e ela é muito,

muito perigosa. — Hector. O que está acontecendo? — Eu vim aqui para te avisar. Cerca de duas horas atrás eu vi

Tânatos andando na Madison Avenue, em Nova York, em frente ao prédio onde a Casa de Tebas está realizando o Conclave.

— Quem é Tânatos? — Helen perguntou, embora o nome soava familiar.

— Tânatos é o deus da morte — Hector explicou. Helen concordou,

lembrando que Cassandra tinha dito a ela isso. — Ele é o Anjo da Morte original com o manto negro e os ossos, menos a foice. Esse pedaço de equipamento agrícola foi adicionado durante a Idade Média. Felizmente,

a maioria das pessoas na rua pensaram que era apenas um cara em uma fantasia incrível, embora houvesse algumas pessoas mais sensíveis lá

que entenderam o que estava realmente acontecendo e correram gritando.

— O que ele estava fazendo lá?

— Não parou para conversar. Tânatos só tem que tocar em você para matá-lo, então eu deixei ele para sua mãe e seus raios. — Hector deu de ombros, expressivo. — Nós não sabemos por que os deuses menores

estão por aí. Daphne me mandou de volta aqui imediatamente para que você pergunte ao Oráculo se ela viu alguma coisa.

— Vou ligar para ela agora. — Helen pegou o telefone. — Há mais uma coisa — Hector disse relutantemente. — Nós

achamos que Automedon não está mais trabalhando para Tantalus. Nós

não sabemos quem está dando as ordens agora. Pode ser que ele

observou você por um tempo, viu o que você pode fazer, e decidiu que

não valia a pena. Ele não atacou você, por isso não entre em pânico ainda. Apenas mantenha seus olhos abertos.

— Ótimo — Helen disse com uma risada sem alegria. — Há mais alguma coisa que você queira me dizer? Porque eu acabei de começar a sonhar de novo e eu poderia realmente usar mais algum material para

meus pesadelos. Hector riu com ela quando ela discou o número de Cassandra e

ouviu o telefone tocar. Ela estendeu a mão e colocou a mão sobre a de

Hector, dando-lhe um sorriso simpático. Ela notou que ele tinha evitado dizer o nome de Cassandra, e optou ao invés em chamá-la por seu título.

Ele sentia muitas saudades de todos eles. Hector sorriu para Helen com tristeza e baixou os olhos.

— Não vai ser por muito mais tempo — Helen prometeu a ele

suavemente, ouvindo o telefone tocar e tocar. — Você vai estar de volta para sua família em breve.

— Você encontrou alguma coisa, não é? — ele disse, animando-se. — Por que você não me disse imediatamente?

— Orion e eu estamos bem certos de que sabemos o que precisamos.

O único problema é que eu ainda não sei como encontrar as Fúrias uma vez que tivermos isso — ela respondeu quando ela desligou o telefone e discou ao invés o número de Matt. — Eu não queria dizer nada, apenas

no caso de isso tudo falhar completamente, mas nós vamos fazer a nossa primeira tentativa disso hoje à noite.

O telefone de Matt foi diretamente para o correio de voz. Ela tentou o de Claire, Jason, Ariadne e finalmente o de Lucas, mas em todos os casos ela também foi desviada diretamente para o correio de voz ou a

chamada foi completamente descartada. — Ninguém está atendendo? — Hector perguntou com crescente

alarme conforme chamada após chamada falhava após ligar. — É a coisa mais estranha! — Helen bufou, e começou a escrever

um e-mail. Hector estendeu a mão e a impediu, pegando o telefone e

excluindo o e-mail. — Helen, vá para casa — ele disse em uma voz baixa e tensa. Ele

entregou o telefone dela, se levantou, e começou a olhar ao redor em

alarme. — Vá agora para casa e desça. A mesa do laboratório do departamento de ciências de Nantucket

High veio voando pela janela da frente da loja, estilhaçando o vidro e enviando vitrines caindo pelo chão. O cheiro rançoso de Eris veio flutuando em seguida. Helen lutou contra o desejo de iluminar alguma

coisa em chamas, sabendo que suas emoções não eram reais e que ela estava sendo manipulada por uma deusa malévola. Ela ouviu os clientes gritarem da sala de trás e isso trouxe ela para fora do seu humor perigoso.

Ela saltou sobre o balcão, mas Hector estendeu um braço e a impediu de correr para a parte de trás.

— Eu vou proteger Kate e Jerry... de si mesmos, se necessário. Você desce — ele disse em uma voz firme, mas abençoadamente calmo. Helen deu a ele um olhar nivelado e acenou com a cabeça uma vez para mostrar

que entendia suas ordens.

— Não seja um herói — ela ordenou a ele de volta. — Se os Cem ou

sua família vierem, você corre. — Depressa, Princesa — Hector disse, e a beijou na testa. — Nós

estamos contando com você. Helen correu para fora da News Store. Atrás dela, ela ouviu Hector

explicando a seu pai que ela estava indo à polícia. Evitando a multidão

estridente, ela disparou para um beco escuro, onde não podia ser vista e disparou para o ar. Voando sob a lona azul que ainda cobria a sua janela, Helen pousou diretamente na cama, esperando que ela eventualmente se

acalmasse o suficiente para adormecer.

* * *

Seus pés bateram com força entre fileira após fileira de flores estéreis e brancas. Era a primeira vez que Helen conseguia se lembrar de ter um pouso forçado no Mundo Inferior, e foi provavelmente porque ela tinha

estado tão desesperada para chegar lá. Helen se virou em um círculo e descobriu que ela estava nos terríveis Campos de Asfódelos. Felizmente,

ela não estava sozinha. Ela não tinha percebido até que ela viu a forma sólida de Orion alguns metros de distância, mas ela tinha estado preocupada com ele.

— Orion! — Helen disse com alívio. Ela correu os últimos passos em direção a ele através das flores de lápide. Ele se virou e pegou ela em seus braços com uma expressão preocupada.

— Qual é o problema? — ele disse em seu pescoço quando ele a abraçou. — Você está machucada?

— Estou bem — ela disse, rindo um pouco com a reação excessivamente emocional dela, mas ainda agarrada a ele com força. Finalmente, quando ela se sentiu calma o suficiente, ela se afastou e

olhou nos olhos de Orion. — Eu tenho muita coisa para dizer. — E eu quero ouvir, mas você pode fazer algo primeiro? Diga em voz

alta que você não quer que nada nos ataque novamente enquanto estamos aqui? — ele pediu com expectativa.

— Eu não quero que nada nos ataque novamente enquanto estamos

aqui! — Helen repetiu enfaticamente. — Bem pensado. — Obrigado. Eu gostei do seu vestido. Mas sabe de uma coisa? Na

verdade, eu acho que você ficaria mais aquecida naqueles shortinhos com

os gatos sibilantes. Eles cobriam mais. Helen se virou para ele com um olhar chocado em seu rosto. Ela não

podia acreditar que ele se lembrava de vê-la em seus pijamas de abóbora. — Você não tem ideia do que aconteceu comigo esta manhã! Eu tive

que vestir isso — ela disse na defensiva, tentando não corar.

— Você está bonita. Não que isso seja nada de novo — ele disse suavemente.

Helen olhou para ele, completamente impressionada, e então, puxou os seus olhos para longe e olhou para uma chata flor asfódelo como se ela estivesse realmente interessada. Ela sentiu Orion se aproximar dela

e disse a si mesma para relaxar. Ela não tinha beijado Orion ontem à noite, ela se lembrou. Aquele era Morfeu como Orion. Grande diferença.

E o verdadeiro Orion nem sabia nada sobre isso, então não havia

nenhuma razão para ela se sentir tímida em torno dele. Só que ela ficou. Em sua cabeça, Helen ouviu Hector dizer que ela poderia ter um monte

de diversão com Orion se ela quisesse, e ela perdeu a trilha dos seus pensamentos.

— Agora, me diga o que aconteceu com você esta manhã — ele disse,

a preocupação vincando sua testa. Helen estalou de volta à realidade e rapidamente relatou seu

acidente, a revolta estudantil que Eris causou na escola, Tânatos

andando pelas ruas de Manhattan, e o tumulto que irrompeu na News Store antes que ela descesse. Orion ouviu silenciosamente, apertando

sua mandíbula mais e mais firmemente conforme Helen continuava. — Você está bem? — ele perguntou em uma voz controlada. — Sim, mas eu me sinto horrível! — Helen deixou escapar. — Eu

deixei Kate e meu pai no meio de um tumulto! Como eu pôde fazer isso? — Hector não vai deixar nada acontecer com eles — Orion dizer com

certeza. — Ele vai proteger eles com sua vida. — Eu sei que ele vai, mas de alguma maneira é ainda pior — Helen

disse, quase suplicante. — Orion, e se a família Delos for me checar na

loja e eles acharem Hector? — Você quer dizer se Lucas for checar você e encontrar Hector. Você

não está realmente preocupada com Jason ou Ariadne — ele esclareceu, frustração afiando seu tom.

— Os gêmeos são diferentes. Mesmo antes de Hector se tornar um

Banido, ele e Lucas costumavam brigar um monte, e as vezes ficava realmente ruim — ela disse em uma voz trêmula. — É como se eles estivessem sempre indo em direção a algo violento, e eu continuo

pensando que talvez seja mais um desses ciclos de Descendentes que está fadado a acontecer.

— Lucas e Hector são praticamente irmãos, e irmãos sempre brigam — Orion disse, como se fosse óbvio. — Nem tudo em nossas vidas é parte de um ciclo.

— Eu sei. Mas as Fúrias! Eles não serão capazes de parar a si mesmos.

— É por isso que estamos aqui. Temos todo o tempo que precisamos agora, e, esperançosamente, nós vamos cuidar das Fúrias esta noite — ele disse. Ele a fez parar e roçou o seu pulso com as pontas dos dedos.

Foi um toque leve, quase inexistente, mas ordenou sua atenção. — Se eu sequer puder encontrá-las — Helen admitiu com um olhar

suplicante. — Orion. Eu não tenho nenhuma ideia de onde as Fúrias estão.

Orion se afastou de Helen e ajustou sua mochila, avaliando ela.

— Você está prestes a entrar em pânico, não é? Não faça isso. — Ele estava extremamente sério. — Este é o lugar onde você precisa estar, aqui no Mundo Inferior, não no mundo real lutando contra uma multidão

histérica. Qualquer membro da família Delos pode fazer aquilo, mas você é a única pessoa que pode fazer isso. Vamos começar primeiro na água e

continuar de lá.

Ele estava certo. Eles tinham que fazer o possível aqui no Mundo

Inferior ou nada no mundo real iria ficar melhor. — Tudo bem. Vamos fazer isso. — Ela estendeu a mão e colocou os

braços em volta do pescoço de Orion, e sentiu ele colocar as suas mãos pesadas em seus quadris. — Eu quero que a gente apareça nas margens do Rio da Alegria nos Campos Elísios — ela disse em uma voz clara e

autoritária. Um raio de sol suave filtrou através de um dossel de árvores

gigantescas de salgueiro. Um gramado espesso, verde e de grama viva

amorteceu seus pés, e Helen podia ouvir o barulho sibilante de água sobre rochas nas proximidades. Não muito longe à distância, Helen podia

ver um grande campo aberto de grama na altura do joelho e flores silvestres em tons pastel que serviam como pequenas estrelas para as abelhas e borboletas orbitando.

Não havia sol diretamente acima. Em vez disso, a luz parecia irradiar a partir do próprio ar, criando a sensação de diferentes momentos do dia

em cada área. A luz que ficava dentro das árvores de salgueiro que sombreava Helen e Orion parecia estar no ponto, uma longa luz do final da tarde, mas no prado havia uma luz de manhã cedo, ainda inocente e

úmida. Orion soltou os seus quadris, mas pegou uma de suas mãos,

mantendo frouxamente entrelaçada na sua conforme ele virava e olhava em volta. Uma brisa brincou em seu rosto e deslizou pelos seus cachos soltos de sua testa. Helen viu ele virar o rosto diretamente na rajada

suave, fechar os olhos e respirar profundamente. Ela copiou ele e descobriu que o ar estava fresco e energizante, como se estivesse cheio de oxigênio. Helen não se lembrava de algo tão básico parecer tão

agradável. Quando ela abriu os olhos, Orion estava olhando para ela com um

olhar terno em seu rosto. Ele tocou a borda de sua fantasia, balançando a cabeça.

— Você planejou as asas para isso, não é? — ele disse, brincando.

Helen começou a rir. — Desculpe, mas eu não sou tão inteligente.

— Hum-hum. Vamos, Sininho. Acho que ouvi o nosso riacho balbuciando. — Orion a levou em direção ao som.

— Como saberemos se é o Rio da Alegria? — ela perguntou. Antes

dela terminar de falar, ela percebeu que ela já sabia. Quando eles chegaram às margens das águas cristalinas, Helen

sentiu um borbulhamento vertiginoso em seu peito. Ela teve que lutar

contra o desejo de começar a dançar, se perguntou por que ela estava lutando, e cedeu. Ela estendeu os braços abertos e começou a rodopiar;

Orion colocou sua mochila no chão. Ele se ajoelhou e abriu o zíper na parte superior e, em seguida, parou

de repente. Ele colocou a mão sobre o próprio peito e apertou com força,

como se ele estivesse tentando empurrar seu coração de volta onde pertencia. Olhando para ela, Orion riu silenciosamente, mas para Helen

parecia mais com se ele quisesse chorar. Ela parou de dançar e se juntou a ele.

— Eu nunca senti isso antes — ele disse, quase se desculpando. —

Eu achei que jamais poderia. — Você não acha que você poderia sempre sentir alegria?

Helen se ajoelhou em frente a ele, olhando para seu rosto oprimido. Orion balançou a cabeça e engoliu em seco, e, em seguida, estendeu de repente ambos os braços e abraçou Helen firmemente.

— Eu tenho isso agora — ele sussurrou, e então a soltou tão rapidamente quanto ele a abraçou. Ela não sabia o que era que ele “tinha”

mas ele não lhe deu a chance de perguntar. Entregando a Helen um cantil vazio, Orion foi até a margem do rio e mergulhou os outros dois que ele tinha tirado de sua mochila no rio cintilante.

Assim que os dedos dele tocaram a água, lágrimas tão grandes como pingos de chuva derramaram pelo seu rosto e seu peito estremeceu com um soluço assustado. Juntando-se a ele à beira da água, Helen baixou o

cantil abaixo da superfície e tocou a alegria. Não foi a primeira vez para ela como foi para Orion, mas depois de tanta tristeza e perda ao longo

das últimas semanas, ela chorou como se fosse. Quando tinham enchido seus cantis, ambos fecharam eles. Ela nem

sequer considerou em beber a água, e ela podia dizer pela maneira

inabalável que ele colocava as tampas sobre os topos de seus dois cantis que Orion não estava considerando isso, tampouco. Helen sabia, no

fundo de seu coração, que, se ela tomasse um gole, ela nunca iria deixar este lugar. De certo modo, ela sentiu um profundo desejo começando a se construir, sabendo que este momento perfeito tinha quase passado.

Ela desejou que pudesse ficar aqui para sempre, mergulhando os dedos no Rio da Alegria.

— Você vai voltar algum dia.

Tirando ela de seu devaneio, Helen olhou para Orion e o viu sorrindo para ela, estendendo a mão para ajudá-la. A luz filtrada brilhava sobre

ele e fez um halo em seu cabelo. Seus olhos verdes estavam brilhantes e com cílios que estavam espetados e escuros de tanto chorar. Ela deslizou a mão na mão molhada dele e ficou ao lado dele, ainda fungando um

pouco depois que a tempestade de êxtase tinha passado. — Assim como você — ela disse a ele através de um soluço choroso.

Ele baixou o olhar. — Foi o suficiente para mim experimentar, mesmo que apenas uma

vez. Eu nunca vou esquecer isso, Helen. E eu nunca vou esquecer que

você foi a pessoa que me trouxe aqui. — Você realmente acha que você não voltará, não é? — Helen

perguntou, incrédula, observando Orion arrumar os cantis em sua

mochila. Ele não respondeu.

— Eu vou vê-lo aqui novamente em cerca de oito ou nove décadas — ela disse resolutamente. Orion riu e enfiou os braços através das correias de sua bolsa com um sorriso irônico.

— Oito ou nove? Você percebe que somos Descendentes, certo? — ele disse quando ele puxou sua mão e a levou para o prado matinal. Nós

temos notoriamente uma vida útil curta.

— Nós vamos ser diferentes — ela disse. — Não só você e eu, mas

toda a nossa geração. — Nós vamos ser — Orion disse calmamente, inclinando a cabeça

para baixo em contemplação. Helen olhou para ele, esperando descobrir que ele tinha caído em

um de seus humores melancólicos, mas ele não tinha. Ele estava sorrindo

para si mesmo com um olhar que Helen só conseguia pensar como esperançoso. Ela sorriu, também, feliz em apenas caminhar através do prado de mãos dadas com ele. A felicidade que sentia não era como o

arrebatamento do rio, mas o arrebatamento seria demais para suportar por muito mais tempo. Ela percebeu que teria partido seu coração se ela

tivesse ficado. Quanto mais eles se moviam do Rio da Alegria, mais a cabeça de

Helen clareava. Ela olhou para uma de suas mãos. Tinha ficado tanto

tempo na água que tinha ficado enrugada. Quanto tempo eles estiveram ajoelhados lá?

A cada passo, ela estava cada vez mais grata que Orion tinha puxado ela para longe. Ele provavelmente tinha estado tão extasiado como ela tinha estado. Mas de alguma forma, ele se controlou, e então, encontrou

a força extra para ajudá-la a fugir também. — Como você fez isso? — Helen perguntou em voz baixa. — Como é

que você se puxou para longe da água?

— Há algo que eu quero mais — ele respondeu simplesmente. — O que alguém poderia desejar mais do que alegria sem fim?

— Justiça. — Ele se virou para Helen e pegou as duas mãos dela firmemente nas suas. — Há três irmãs inocentes que sofreram por eras, não por causa de qualquer coisa que elas fizeram, mas porque no

momento em que nasceram, as Moiras decidiram que o sofrimento era seu destino de vida. Isso não está certo. Nenhum de nós merece nascer

para sofrer, e eu pretendo defender aqueles que têm estado. Isso é mais importante para mim do que alegria. Me ajude. Você sabe onde estão as Fúrias... eu sei que você sabe. Pense, Helen.

Ele falou com tanta convicção, tanta paixão, que Helen só podia olhar para ele com a boca aberta. Sua mente ficou absolutamente em

branco por alguns batimentos cardíacos e, em seguida, uma pequena voz em sua cabeça começou a gritar com ela, enumerando todos os lugares onde ela falhou como uma pessoa.

Ela não era tão obstinadamente persistente como Claire era, ou tão paciente como Matt. Ela não tinha instintos impecáveis como Hector, ou até mesmo metade da inteligência bruta de Lucas. Ela certamente não

era tão generosa como os gêmeos ou tão compassiva e altruísta como Orion. Helen era apenas Helen. Ela não tinha ideia do porque ela era

Aquela que Descia, em vez de uma dessas outras pessoas, muito mais dignas.

Como diabos ela tinha sequer conseguido o trabalho e terminado aqui no Mundo Inferior para começar? ela se perguntou. Tudo o que ela sabia era que uma noite ela tinha adormecido e se encontrou vagando pelo

deserto.

Um deserto tão seco, com pedras e espinhos afiados conforme eu deixava um rastro de pegadas de sangue atrás de mim enquanto eu caminhava, ela se lembrou claramente. Um deserto com uma única árvore torturada agarrada a uma encosta e debaixo daquela árvore estavam três irmãs desesperadas que pareciam velhas e garotinhas ao mesmo tempo. Elas estenderam a mão para mim, soluçando.

Helen suspirou e segurou as mãos de Orion firmemente nas dela. Ela sempre soube onde encontrar as Fúrias. Elas haviam estado pedindo

a ela para ajudá-las desde o início. — Eu quero que a gente apareça perto da árvore no lado da colina

nas terras áridas — ela anunciou, olhando diretamente nos olhos

surpresos de Orion.

Traduzido por Polly

ucas tinha pairado sobre a água e viu Helen voar para longe dele enquanto se dirigia de volta para o centro da cidade. Aquele vestido

e aquelas malditas asas tinham quase acabado com ele. Ele se perguntou, não pela primeira vez, como todos os mortais completos que haviam crescido com Helen não suspeitavam que havia algo sobrenatural

sobre ela. Não importava o quão ela era sensível no interior, a beleza de Helen era realmente desumana. Especialmente quando ela estendeu os

braços para ele e disse seu nome como só ela fazia. Ele quase perdeu isso. E o pensamento do que ele teria feito se

tivesse perdido isso revirou seu estômago, somente porque ele queria

tanto isso. Eles estavam apenas centímetros de cruzar uma linha perigosa, e a menos que ela pare de tentar ele da sua maneira

irritantemente inocente, Lucas sabia que isso iria acontecer eventualmente.

Lucas havia mentido para Helen. A verdade é que houveram noites,

mais do que apenas uma, onde ele se escondeu sob aquela lona azul cobrindo a sua janela quebrada e observou ela dormir. Ele sempre se sentia mal depois que ele fazia isso, mas ele não conseguia parar. Não

importava o quão duro ele tentava ficar longe dela, ele eventualmente acabava em seu quarto e se odiando por isso mais tarde. Lucas sabia que

um dia desses ele ia ser fraco demais para ir embora, e ele iria rastejar na cama com ela e fazer mais do que apenas abraçá-la. É por isso que ele tinha que ter certeza que, se esse dia sequer chegasse, Helen ia chutá-lo

para fora novamente. Lucas tinha tentado de tudo, até mesmo assustá-la para longe, mas

nada funcionou. Orion era sua última chance. Ele fechou os olhos por um momento e esperou que Orion apenas fizesse o que ele era bom. Lucas pediu que Orion fizesse Helen deixar de amá-lo. Então, ela nunca

iria tentar tocá-lo de novo, nunca olharia para ele de novo, como só ela fazia. Lucas tentou convencer a si mesmo que era melhor se ela seguisse em frente, mesmo que isso significasse que ela seguiria em frente com

um outro cara. Mas aí ele parou. Helen não poderia estar com Orion, também — pelo menos não para

sempre. Essa era a única coisa que estava impedindo Lucas de enlouquecer. Eles nunca poderiam ter uma vida juntos. Mas isso não significava que eles não podiam...

Ele abruptamente desligou seus pensamentos antes que eles pudessem dominá-lo. Os tentáculos escuros já estavam rodando ele,

cobrindo o céu. Ele tentou se acalmar e não imaginar Orion e Helen juntos, porque ele podia imaginar isso — muito facilmente.

L

Mesmo que Lucas nunca tivesse posto os olhos em Orion em pessoa,

ele tinha uma boa ideia de como ele era. Ele era descendente de Adonis — o amante favorito de todos os tempos de Afrodite. Porque Afrodite

favoreceu esse cara acima de todos os outros, a Casa de Roma transmitia aproximações do arquétipo de Adonis em uma base regular, da mesma forma como a Casa de Tebas repetia o arquétipo de Hector

repetitivamente. Metade das pinturas e esculturas que surgiram na Renascença pareciam com ele, porque os velhos mestres como Caravaggio, Michelangelo e Raphael tinham pintado e esculpido

ancestrais de Orion obsessivamente. Florença estava literalmente repleta de imagens dos filhos da Casa de Roma.

Mas era mais do que apenas uma boa aparência que fazia uma lenda, especialmente os conjuntos de genes dos Descendentes geneticamente dotados. Havia uma razão pela qual tanto Casanova e

Romeo, sem dúvida os dois amantes mais famosos da história, surgiram na Itália. Chamar Orion de um “bastardo bonito”, ainda que preciso, nem

mesmo começava a cobrir o efeito ele que poderia ter sobre uma mulher. As crianças de Afrodite eram sexualmente irresistíveis e a maioria delas poderiam influenciar as emoções das pessoas até certo ponto, mas Orion

disse a Lucas que seu dom era muito mais poderoso do que isso. Orion tinha uma habilidade rara. Ele poderia fazer Helen se

desapaixonar por Lucas com um leve toque. Se isso não fosse ruim o

suficiente, depois que os sentimentos que Helen tinha por Lucas fossem cortados, Orion podia controlar o coração de Helen para que ele pudesse

ter o tipo de relacionamento casual que não violaria a Trégua — nenhum compromisso, nenhuma amarra, apenas sexo. O idiota poderia fazer o que quisesse com Helen, e não haveria nada que Lucas poderia dizer

contra ele. O pensamento fez Lucas querer socar alguma coisa, mas em vez

disso ele se lembrou que sua família estava provavelmente preocupada com ele e se forçou a ir para casa.

Felizmente, Orion parecia reticente sobre o uso de seu talento por

qualquer motivo — mesmo para autodefesa. Ele ficou profundamente ofendido quando Lucas tinha sugerido que ele havia tocado o coração de Helen na caverna para uma excitação barata. E depois de ver os dois

juntos no Mundo Inferior, Lucas sabia que Orion nunca iria forçar Helen a nada. Na verdade, Lucas estava certo de que ele iria protegê-la com sua

vida. Isso fez com que ele odiasse Orion menos, o que só tornava as coisas ainda mais difíceis. Lucas queria odiar Orion, mas já que ele não podia, não havia mais ninguém para odiar além de si mesmo.

Indo em direção à costa leste, Lucas ficou sobre a água para que ele não tivesse que voar muito alto e congelar a bunda. Ele havia deixado sua jaqueta em seu armário, mas isso realmente não importava. Ele

poderia se aquecer sempre que ele precisasse. Na verdade, Lucas estava começando a acreditar que ele poderia se fazer ficar quente — realmente

quente — quase como se ele estivesse em chamas. Mas ele não tinha tempo para lidar com esse novo talento estranho agora. Ele apenas tomou um segundo antes de pousar em seu quintal.

A culpa acertou ele assim que ele pousou, e ele começou a procurar

por sua irmã mais nova. Ele não deveria tê-la deixado sozinha na escola por causa de Helen. Agora que as Moiras a atormentavam quase todos os

dias, Cassandra estava ainda mais frágil do que uma criança completamente mortal. Precisava de toda a sua força apenas para sobreviver a cada possessão, e o fato de que ela tenha sobrevivido quando

tantos Oráculos antigos tinham morrido fez Lucas suspeitar que ela era provavelmente mais forte do que ele. Mesmo sendo tão forte como ela era, depois de uma possessão ela mal tinha força suficiente para respirar.

No outro dia ele havia encontrado Cassandra sentada no meio da escada, caída e ofegante. Depois de uma dúzia de degraus, ela estava tão

desgastada que ela teve que descansar um minuto e recuperar o fôlego. Lucas tinha carregado ela para o seu quarto, mas foi uma luta para ele chegar perto dela. Ela ainda tinha a aura das Moiras se agarrando a ela

e, embora Lucas amasse a sua irmãzinha afetuosamente, as Moiras enviavam um frio em sua espinha.

Até mesmo Cassandra estava com medo delas, e ela tinha que sofrer com a presença delas dentro dela várias vezes por semana agora. Lucas não podia saber exatamente como esse tipo de intrusão física e mental

parecia, mas do jeito que ela parecia depois, ele assumiu que tinha que ser como um estupro.

O fato de que isso estava acontecendo com sua irmãzinha, e que não

havia nada que ele pudesse fazer para parar isso, o fez ficar com muita raiva.

Avançando pelo gramado na parte de trás da casa, Lucas lutou para controlar sua raiva, lembrando-se de que ele precisava ser mais cuidadoso. Tantas coisas o deixava com raiva nesses dias. Desde aquele

jantar desastroso quando ele bateu no seu pai, ele tinha desenvolvido um “efeito colateral” que estava amarrado a sua raiva.

Ele descobriu sobre isso completamente na corrida de Helen quando ele a viu cercada pelos Cem, mas não começou aí. Tinha começado com seu pai, apenas uma pequena semente no começo. Mas foi crescendo.

Parte dele se perguntava se seria mais fácil se ele falasse com Jason ou Cassandra sobre isso, mas ele não teve coragem de fazer isso ainda.

Só preocuparia mais ainda sua família se eles soubessem. Inferno, isso o preocupava.

Lucas quase disse para Helen no corredor mais cedo naquele dia,

mas ele não conseguiu cuspir as palavras para fora. Helen tinha tanto medo de Creon, e Lucas não sabia se poderia suportar se Helen

começasse a olhar para ele desse jeito. Ele ainda não tinha decidido se ele deveria falar sobre isso com alguém, mesmo que a realidade era que, eventualmente, a sua onisciente irmãzinha que tudo vê iria descobrir.

— Cassandra? — Lucas gritou quando ele entrou na cozinha. — Jase?

— Nós estamos aqui — Jason falou da biblioteca.

A voz de Jason não parecia certa. Ele estava tenso, mas Lucas assumiu que era porque ele ainda estava zangado com Claire por

desaparecer com Helen durante todo o dia e fazê-los se preocupar. A forma como Jason estava lidando com a situação com Claire realmente

frustrava Lucas. Ele queria que seu primo acordasse e percebesse que ele

tinha recebido um presente. Ele se apaixonou por alguém que ele realmente poderia ter.

As pesadas portas duplas para a biblioteca estavam inclinadamente abertas, e mesmo antes de Lucas entrar na sala, ele podia sentir a tensão e ouvir a raiva mal contida na voz educada de todos.

— Onde você estava? — Cassandra perguntou com os olhos apertados. Ela tinha estado interrogando ele demais sobre seu paradeiro ultimamente, apesar da metade do tempo ela já saber a resposta.

— O que está acontecendo? — Lucas perguntou ao invés de responder ela.

— Matt finalmente decidiu compartilhar algo com a gente — Jason disse severamente. Ele estava tão furioso que suas bochechas estavam vermelhas. Lucas tinha visto esse determinado tom de vermelho antes, e

ele sabia em primeira mão o quão difícil era deixar Jason irritado. Ele olhou para Matt e ergueu as sobrancelhas interrogativamente.

— Eu estive em contato com Zach. Ele me ligou na noite de anteontem, e me advertiu de que algo estava para acontecer hoje, mas ele não sabia o que, exatamente — Matt respondeu severamente.

— Por que você não disse nada, Matt? — Ariadne perguntou em uma voz magoada. — Mesmo que Zach não soubesse os detalhes, por que você não nos avisou?

Há um outro problema apenas esperando para acontecer, Lucas pensou. Mas não havia maneira de contornar isso. Descendentes

tendiam a se apaixonar jovens, porque eles tendiam a morrer jovens. Pelo menos Lucas não poderia encontrar qualquer falha na escolha de Ariadne. Matt havia provado sua lealdade para a Casa de Tebas muitas

vezes. O que tornava esta situação intrigante. Matt geralmente fazia as melhores escolhas e mostrava mais bom senso do que isso.

— Vocês não entenderiam — Matt respondeu de mau humor. — Faça uma tentativa — disse Lucas, sua temperatura interna

aumentando. Ele odiava quando mortais completos agiam como se

fossem muito diferentes dos Descendentes, como se todos não tivéssemos os mesmos sentimentos.

— Se eu lhes dissesse o que ele me disse, o que vocês teriam feito com ele? Questionado ele? Batido nele? — Matt explodiu. — O cara é um mentiroso compulsivo. A maioria das coisas que ele diz é besteira, e foi

isso que eu pensei que era sua advertência. Ele não tem ideia no que ele se meteu!

— E isso deveria tornar tudo bem? — Jason disse.

A discussão continuou, ficando mais e mais dolorosa a cada troca. Lucas não tinha estado em Nantucket por muito tempo, mas ele ainda

tinha pelo menos uma aula com Matt na escola. Ele passou mais tempo com o cara do que ele passou com o seu próprio pai, e ele não conseguia se lembrar de ter visto ele ficar com raiva antes. Como Jason, Matt era

sensato, mas agora ambos os indivíduos geralmente calmos estavam tão irritados que mal conseguiam enxergar direito. Todo mundo estava

irritado.

Essa discórdia não é natural, Lucas pensou. Discórdia. Os tumultos,

a raiva incontrolável — até mesmo a angelical e boazinha Helen queria fazer algo ruim. Tudo isso fazia sentido.

— Eris — eu disse alto. Ele sentiu como se chutasse a si mesmo. — Todos me escutem. Se Ares tentou instigar algum tipo de conflito com

Helen no Mundo Inferior, então faz sentido que sua irmã iria tentar fazer o mesmo no mundo real. A trégua não inclui ela... ela não é um dos Doze. Ela pode usar seus poderes aqui na Terra.

— Oh, Deus! É claro! — Cassandra passou a mão em seu rosto e sorriu para ele. — Como eu não percebi isso?

— Bem, eu sabia mais coisas que você. Na verdade, eu a vi — ele

explicou. — No corredor com Helen, enquanto estávamos nos escondendo. Eris e Ares são muito semelhantes, como se eles fossem

gêmeos ou coisa assim, exceto que Ares é coberto de tinta azul. Isso é o que me fez perceber.

— Como você pode saber como Ares parece? — Claire perguntou,

com os olhos perfurando Lucas. — Os gregos o detestavam tanto que quase não escreveram nenhum mito sobre ele, muito menos um que

descreva sua aparência de forma autoritária. Parecia que Claire seria a única a descobrir isso, Lucas pensou. Ele

suspirou e confessou tudo.

— Eu vi Ares. Eu encontrei um caminho para o Mundo Inferior e eu estava lá quando Ares confrontou Helen e Orion.

Quando todo mundo olhou para ele com queixo caído, e ele passou a explicar sobre o roubo no Getty, o que os óbolos poderiam fazer, e como ele tinha dado um para Helen. Ele não pediu desculpas por nada disso.

— E você não nos contou sobre isso por quê? — Ariadne perguntou com os dentes cerrados.

— Vocês não teriam entendido — ele disse, conscientemente

ecoando o que Matt tinha dito há poucos momentos atrás. — Tudo o que importa é que Helen pode sonhar de novo.

— Olha, estamos todos empenhados em proteger Helen, e se você viesse até nós com essa ideia, você sabe que nós teríamos concordado com o roubo para salvar sua vida. Então por que você fez isso sozinho?

Luke, e se você tivesse sido visto? — Jason perguntou seriamente. — O Getty é coberto com câmeras de vigilância.

— Isso não foi um problema — Lucas respondeu com certeza.

Jason lhe deu um olhar duvidoso, mas Lucas balançou a cabeça uma vez em advertência. Jason o conhecia bem o suficiente para saber

que Lucas estava tentando lhe dizer alguma coisa. Ele entendeu o recado e deixou para lá por agora, mas Lucas sabia que seu segredo da invisibilidade provavelmente não duraria até de noite agora que Jason

estava desconfiado. Ele estava disposto a revelar esse segredo, desde que ninguém suspeitasse do outro, muito mais assustadoramente secreto.

— Crianças! — Noel gritou ansiosamente pela porta da frente. Todo mundo reagiu ao tom alarmante em sua voz.

— Mãe? — Lucas gritou de volta quando ele se levantou da cadeira.

Um momento depois, ela apareceu na porta sem fôlego e olhando em volta

freneticamente enquanto ela contava as cabeças. Ela não conseguiu o

número que ela estava esperando. — Onde está Helen? — ela perguntou, sua tensão aumentando.

— Eu a deixei no trabalho — Lucas respondeu rapidamente. — Oh, não — Noel sussurrou para si mesma, se atrapalhado com o

seu celular quando ela discou um número. O número de seu pai, Lucas

percebeu. Castor ainda estava no Conclave com os Cem. Deixar a reunião poderia ser visto como uma violação. Cada decisão do Conclave que tinha sido tomada até esse ponto poderia ser desfeita, e sua mãe sabia disso.

— Mãe! Tem certeza de que quer fazer isso? — Foda-se o Conclave! Castor e Pallas precisam vir para casa agora.

Há um enorme tumulto no centro da cidade, Lucas. Bem no lado de fora da News Store!

* * * Calor invadiu a pele de Helen, fazendo picar e formigar com o suor.

O ar árido cheirava a queimado e se movia como a superfície de um lago.

Luz a cegou, embora parecesse não haver nenhum verdadeiro sol. Orion liberou as mãos de Helen para que ele pudesse virar e

enfrentar a única árvore nas terras áridas. Três meninas pequenas

estavam à sua sombra, os seus ombros magros tremendo conforme elas choravam. Orion fez um gesto para Helen se juntar a ele para que eles

pudessem abordar as Fúrias juntos. As três irmãs estenderam a mão uma para outra com medo. Quando Orion deu um passo mais perto, elas envolveram seus braços em torno umas das outras em um amontoado

miserável. — Espera. — Helen colocou uma mão hesitante no braço de Orion.

— Eu não quero assustá-las.

— Você veio para nos matar, Descendente? — a do meio perguntou. Sua voz ainda era de uma criança, apesar de estar grossa com as

lágrimas. Agora que Helen podia vê-las claramente, sem sentir a sua influência, ela se perguntou como ela poderia ter pensado que eram mulheres adultas. Elas eram apenas crianças.

— Sabemos como vocês Descendentes nos odeiam e nos querem mortas — lamentou outra à esquerda. — Mas isso não vai funcionar.

— Nós não queremos machucar vocês. Nós viemos para ajudar. — Helen levantou as mãos em um gesto de paz. — Não é isso que vocês queriam na primeira vez que vocês me trouxeram aqui? Para mim voltar

algum dia para ajudá-las? As Fúrias fungaram e se encolheram quando elas agarraram umas

nas outras, ainda aterrorizadas. Orion pegou lentamente sua mochila e

colocou no chão, olhando para elas suavemente conforme ele fazia isso para se certificar de que nenhuma delas ficariam assustadas. Helen

pensou que parecia como se ele estivesse se aproximando de uma manada de veados ariscos, mas suas táticas pareciam estar funcionando. As Fúrias observaram ele cuidadosamente com os olhos arregalados e os

lábios franzidos, mas elas pareciam estar mais à vontade.

— Trouxemos algo para vocês beberem — ele disse suavemente

quando ele abriu o zíper da mochila e tirou os três cantis. — Veneno? — perguntou a chorosa da esquerda. — Um truque para

nos enviar para o Tártaro, sem dúvida. Eu já disse a vocês. Não vai funcionar.

— Irmãs. Talvez isso seja melhor — a menor da direita disse em uma

voz fina e rala que mal podia ser ouvida. — Estou tão cansada. — Eu sei que você está — Helen disse, seu coração acelerando pelas

três meninas. — E eu sei como é estar realmente cansada.

— Nós só queremos ajudar a aliviar o seu sofrimento — Orion disse. Ele parecia tão amável que a da esquerda vacilou e deu um meio passo

na direção dele. — Não há fim para o nosso sofrimento — disse a líder no meio,

restringindo sua irmã. — Vocês, Descendentes, podem encontrar a paz,

até mesmo a felicidade de tempo em tempo, mas nós, Erínias, somos atormentadas para sempre. Nós nascemos do sangue derramado de um

filho que atacou o próprio pai. Estamos fadadas a vingar a morte injusta. A líder olhou para Orion acusadoramente, e ele olhou para as Fúrias

com olhos suplicantes. Helen deu um passo reconfortante para mais

perto dele. Ele estava começando a perder o foco sobre o motivo que eles estavam lá. Orion não era assim, afinal.

— Eu não matei o meu pai, não importa o quanto as Moiras teriam gostado disso — ele declarou em uma voz forte. — Eu nasci da amargura, mas eu não optei por ser amargo.

— Mas não é uma escolha para nós, príncipe — sussurrou a menor. — Os assassinatos estão sempre dentro de nossas cabeças.

— Nós, Erínias, nunca podemos esquecer o sangue que foi

derramado da sua espécie. Nós lembramos a cada momento — a líder disse com uma tristeza profunda. As três meninas começaram a chorar

novamente. — E é por isso que estamos aqui. A minha amiga e eu achamos que

vocês já sofreram o suficiente pelos pecados dos Descendentes — Orion

disse com sua voz suave. — Nós só queremos dar a vocês um pouco de água para beber. Vocês não estão com sede?

— Nós não tomamos nem uma única gota de água em mais de três mil anos — disse a da esquerda.

Todas as três estavam tentadas, isso era óbvio. Era tão quente e

seco, mesmo na sombra de sua miserável árvore, que Helen, que tinha se acostumado à privação, estava desesperada apenas para molhar o interior de sua boca por um momento. Finalmente, a irmã caçula se

adiantou com as pernas tão finas e frágeis que quase se dobraram debaixo dela.

— Eu estou com muita sede. Eu gostaria de beber — ela disse em sua pequena voz, sussurrando.

Seus braços finos tremiam quando ela estendeu as mãos. Orion

abriu a tampa e ajudou ela a firmar o cantil e elevá-lo aos lábios. Ela engoliu um pequeno gole, e depois olhou para Orion em estado de

choque. Ela agarrou o cantil e inclinou de volta, engolindo todo o

conteúdo em uma série de altos goles antes de desmaiar contra Orion.

Ele a pegou e a segurou, olhando para Helen tranquilizadoramente. — Você a matou! — a única chorona engasgou.

— Ele não pode matar nenhuma de nós — a líder disse. — Veja. Ela despertou.

A menor agarrou na bainha da camisa de Orion, escondendo o rosto

em seu peito. Ele acariciou o cabelo dela com a mão livre e falou baixinho em seu ouvido enquanto seus ombros começaram a tremer. Helen poderia dizer pelo seu tom que ele estava dizendo a ela que estava tudo

bem e que ela estava segura. A Fúria menor de repente jogou a cabeça para trás e revelou que ela não estava com dor ou chorando. Ela estava

rindo. — Irmãs — ela suspirou. — É o... paraíso! Os Herdeiros nos

trouxeram o paraíso para beber!

Helen rapidamente entregou as outras duas Fúrias seus cantis, e viu quando elas se juntaram a sua irmã em sua euforia. A menor beijou

a bochecha de Orion em gratidão e, em seguida, se atirou nos braços de suas duas irmãs maiores. A três garotas gritaram com alegria quando elas se abraçaram, saltando, guinchando e rindo ao mesmo tempo.

Pareciam três jovens pulando em uma festa do pijama. Olhando de relance para Orion, Helen viu ele olhando para as três

meninas com emoções intensas, mas aparentemente conflitantes. Ela

andou para perto dele, tentando oferecer a ele qualquer garantia que ela pudesse. Ele pareceu abalado com a menção de seu pai, e ela queria que

ele soubesse que nada disso importava agora. Os Descendentes estavam livres das Fúrias, e logo ele e seu pai poderia estar juntos novamente.

— Você estava certo — disse Helen. Ele olhou para ela com um

sorriso interrogativo. — Libertá-las foi muito melhor do que a alegria eterna.

Ambos voltaram sua atenção para as meninas, e viu a sua alegria. Em seguida, Helen deu de ombros e fez um barulho de “ah”, fingindo que ela ainda estava debatendo isso. Orion riu de sua piada, mas ele não

disse nada. Ele só passou um braço sobre os ombros dela enquanto observavam o abraço das três irmãs e a dança.

A menor foi a primeira a romper o abraço. No início, parecia que ela

tinha ficado cansada de toda a emoção e precisava ir sentar por um momento. Ela cambaleou para longe do grupo e cobriu os olhos com a

mão. Orion rapidamente soltou Helen para ir em seu auxílio quando ela vacilou como se ela estivesse prestes a cair. Ela inclinou a cabeça. Gotas vermelhas manchavam seu vestido branco quando ela chorou lágrimas

de sangue. Suas irmãs tiraram ela de Orion, perguntando o que estava errado. Não muito tempo depois, as outras duas começaram a chorar também.

— O que aconteceu? — Helen perguntou a Orion. — Eu não sei. Tudo o que ela disse foi que ela não conseguia

confrontar sua consciência — ele respondeu com uma expressão preocupada, enquanto observava as meninas se amontoarem e conversarem em privado. Elas pareceram chegar a algum tipo de

consenso, e a líder se aproximou de Helen e Orion.

— Parece que essa alegria não foi feita para durar — ela disse.

As outras duas meninas continuaram a se agarrar uma na outra conforme elas choravam, e Helen queria desesperadamente ajudá-las.

Orion se agachou e pegou os cantis descartados, freneticamente verificando por qualquer gota de água sobrando, mas todos os cantis estavam vazios.

— Nós vamos conseguir mais para vocês — ele prometeu, mas a líder apenas balançou a cabeça.

— Por mais que eu queira sentir isso de novo, eu receio que nunca

vai durar — ela disse tristemente. — Nós não podemos pagar por esse presente, mas queremos lhe dar algo em troca pelos poucos momentos

abençoados que vocês nos deram. — Um presente por um presente que nós lembraremos para sempre

— gemeu a chorona.

— Nós liberamos vocês dois de todas as dívidas de sangue — a líder disse, e acenou com a mão no ar em bênção. — Nós nunca vamos

atormentar qualquer um de vocês de novo. Ela deu um passo para trás e se juntou a suas irmãs, em seguida,

as três começaram a recuar para as sombras de sua árvore.

— Espera! Não desistam ainda — Orion implorou. — Talvez a gente não trouxe o suficiente. Se nós pegarmos mais...

— Orion, não — Helen disse, colocando a mão em seu braço para

impedi-lo de perseguir elas. — Elas estão certas. Podemos passar a eternidade trazendo água para elas, mas a alegria a longo prazo é apenas

uma experiência, não deveria durar. Eu vejo isso agora. Perséfone devia querer dizer um rio diferente.

— E se ela não quis? — Orion perguntou, frustração quebrando sua

voz. — E se esta é a nossa melhor chance de ajudá-las? Helen olhou em seus olhos verdes brilhantes e balançou a cabeça

em silêncio. Ela não sabia o que fazer a seguir. A menor enfiou a cabeça para fora de algum lugar profundo nas sombras.

— Obrigada — ela sussurrou antes de abaixar de volta para o

extremo escuro no outro lado do tronco da árvore. — Nós temos que ajudá-las — ele disse urgentemente. — Nós não

podemos deixá-las sofrer assim para sempre!

— Nós não vamos! E eu juro para você, vamos continuar tentando até chegarmos ao rio certo! — Os olhos de Helen subitamente ficaram

fora de foco, e ela pegou um punhado da camisa de Orion para não cair. — O que está acontecendo? — Orion perguntou, se preparando. A

paisagem desfocou e Helen sentiu o mundo desacelerar, como se ela

estivesse prestes a acordar. — Eu acho que elas estão tentando nos fazer sair — ela disse para

ele. Ela colocou os braços ao redor do pescoço de Orion e segurou firme...

* * * Matt e Claire abandonaram o carro quando eles descobriram que o

tráfego estava parado naquela noite, e em vez disso começaram a correr no escuro pós pôr do sol da rua deserta, em direção ao centro da cidade.

Tecnicamente, eles não deveriam estar fazendo isso, mas nenhum

deles estava disposto a ficar sentado em segurança na mansão Delos, enquanto os Descendentes saíam para lutar. Matt ficou mais do que um

pouco insultado quando Ariadne lhe pedira para ficar para trás, como se ele fosse uma criança que não pudesse se defender. Ele tentou argumentar, mas Ariadne, Lucas e Jason simplesmente correram tão

rápido que Matt mal podia vê-los se mover, e muito menos expressar a sua opinião. Realmente o irritou quando eles fizeram isso.

Cassandra avisou para eles não irem. O senso comum disse a ela

que seria mais provável que isso deixasse todo mundo com raiva. Matt preferia muito mais quando Cassandra usava sua fonte

extraordinariamente profunda de senso comum, ao contrário de seu talento como Oráculo para desvendar o futuro. Ele não poderia mais se forçar a assistir quando as Moiras vinham sobre ela, como se elas

estivessem cavando o seu caminho por debaixo da pele dela. Era uma das muitas coisas que fazia Matt questionar o valor dos

“dons” dos Descendente e os supostos deuses que deram eles aos Descendentes para começar. O quão boas as Moiras eram se elas somente usavam as pessoas como corpos a serem preenchidos e depois

esvaziados, e finalmente os jogavam fora? Por mais que Matt abominasse a violência, o pensamento do que as Moiras faziam para os Descendentes fazia ele querer fazer algo atlético, de preferência enquanto usava um par

de soqueiras. Conforme ele e Claire se aproximavam do centro da cidade, eles

podiam ouvir gritos e mais gritos, mas as vozes eram incoerentes. Em um ponto, houve gritos de medo, e em outros havia gritos de prazer turbulento. Parecia que diferentes partes da multidão estavam assistindo

filmes diferentes. — Fique perto, Claire — Matt disse quando eles rodaram em um

canto mal iluminado. — As luzes da rua estão desligadas nesse caminho. — Mas a News Store é nesse caminho — ela protestou. — Eu sei, mas vamos circular ao redor e ir pelo beco. Eu quero ter

uma ideia do que está acontecendo antes de irmos para o tumulto no meio da rua.

Claire concordou, e ela e Matt deslizaram ao redor da parte de trás

da News Store. Estava tranquilo na parte de trás do beco, embora eles pudessem ouvir as vozes da multidão, como se eles estivessem se

esgueirado pelo corredor lateral de um estádio enquanto uma banda de rock se apresentava. Eles tiveram a sensação de que algo grande estava acontecendo por perto, mas eles se sentiam estranhamente separados

disso. — Meu Deus, está escuro — Claire disse, sua voz vacilante com

medo.

— Sim, e não é uma escuridão normal, tampouco — Matt murmurou nervosamente enquanto iam para a entrada na parte de trás da News

Store. — Eu acho que já vi isso antes — Claire sussurrou enquanto

esfregava os braços em frio ou medo. — Quando Hector foi atacado por

Automedon e os Cem em minha corrida, essa mesma escuridão

ameaçadora cobriu tudo. Eu acho que isso significa que um Mestre das

Sombras esteve aqui. Lá dentro, a loja estava uma bagunça. Mesas foram derrubadas,

potes de doces de cristal estavam quebrados sobre chão, e tudo estava coberto de uma camada de farinha que deveria ter sido deliberadamente atirada para fora de vários sacos rasgados. Matt e Claire escolheram o

seu caminho até a frente, à procura de pessoas feridas que podiam ter sido deixadas inconscientes, esperando como loucos que eles não encontrassem Jerry ou Kate. Felizmente, a News Store estava

inteiramente vazia. A escuridão parecia estar ficando mais espessa conforme eles

fizeram o seu caminho para frente, e Matt e Claire tropeçaram cegamente para a rua. Eles fizeram uma pausa enquanto seus olhos se adaptaram à escuridão como-névoa deixada pelo Mestre das Sombras. Descendo a

rua estava uma multidão de pessoas em fantasias, lideradas por uma mulher alta. Quando a escuridão se dissipou, Matt instintivamente se

encolheu. — Tem que ser Eris — ele disse em voz baixa para Claire. — Então, quem é esse? — ela perguntou, encarando o lado oposto

da rua. Ela estava apontando para um rapaz alto e magro que parecia ser feito de peças de reposição. Seus braços eram longos demais para seu corpo, e ele caminhava com um passo de pernas tortas, até mesmo seus

ombros arredondados eram curvados. Apesar de sua altura elevada, ele parecia se rastejar em vez de andar. Ainda apontando com um medo

mudo, Claire se apoiou contra Matt. Ele podia sentir todo o seu corpo tremendo, e as respirações ofegantes que ela tomou ameaçaram se transformar em gritos em sua garganta.

Matt a conhecia desde o jardim de infância, e se havia uma coisa que ele estava absolutamente certo, era que Claire Aoki não se assustava

fácil. Olhando em volta o comportamento da multidão, Matt podia ver as pessoas correndo em volta, assustados muito além de qualquer medida normal. Era como se cada pessoa estivesse sendo perseguido por seu

próprio pior pesadelo. — Tem que ser um outro deus, como Eris. — Sua voz tremia

enquanto falava. — Pense, Claire! Eris é irmã de Ares, e ela é a

personificação do caos... ela faz as pessoas se sentirem criando caos. Então o que nós sentimos quando olhamos para aquele garoto

assustador? — Pânico? — Claire ofegou, tentando não hiperventilar. — Mas eu

pensei que o deus Pan era uma cabra!

— Não, não, não é o maldito sátiro! Havia um outro — Matt resmungou, escavando profundamente sua memória. A complicada árvore genealógica inata dos deuses surgiu em sua mente. — Ares, o deus

da guerra, anda com Eris, a deusa da discórdia, e com eles está seu filho, Terror. Aquele garoto esquisito tem de ser Terror.

— Matt — Claire engasgou, usando um braço para apontar para um lado e o outro braço para apontar para o outro. — Os dois tumultos estão se dirigindo direto em direção um ao outro!

O coração de Matt afundou. Eris e seu sobrinho estavam reunindo

seus grupos enlouquecidos pelas ruas adjacentes que se encontravam em um grande cruzamento e no canto estava a News Store.

A cada passo, os deuses horríveis chamavam seus seguidores indefesos para mais perto de um confronto inevitável. Até mesmo Matt e Claire estavam fazendo um esforço consciente para controlar suas

reações, e se sentiam mais enlouquecidos conforme os deuses se aproximavam. Finalmente, como uma rolha explodindo de uma garrafa de champanhe agitado, o grupo em torno de Terror se reuniu com o

tumulto em torno de Eris, e um tumulto completo começou. No meio de tudo isso, Matt viu Eris gargalhando e seu sobrinho deformado rindo com

satisfação a seu lado. Pessoas aterrorizadas entraram em confronto com manifestantes em

fantasias, rasgando uns aos outros para além de um frenesi de destruição

e medo. Não havia nada que Matt e Claire pudessem fazer, apenas ficar fora do caminho. Segurando a mão de Claire com força, Matt a puxou

para trás de um carro estacionado, abaixou-se, e usou seu corpo para protegê-la do vidro voando e detritos.

Os dois abraçaram um ao outro, tentando controlar suas emoções

de modo que eles não se juntassem a briga. O ar cheirava mal com o cheiro de leite podre e plástico queimado, e Matt notou que os cheiros pareciam jogar com as emoções das pessoas — quanto mais intenso o

cheiro, maior a onda de sentimentos tanto em si mesmo como no meio da multidão.

O brilho da iluminação da rua acima deles escureceu e, em seguida, desapareceu quando uma nuvem escura caiu sobre o cruzamento. Matt descobriu que não podia ver mais do que meio metro na frente de seu

rosto. — O que vocês dois estão fazendo aqui? — rosnou uma voz de dentro

do elo da escuridão. A voz de Lucas, Matt percebeu com um sobressalto. — Vamos — Lucas disse, estendendo a mão para eles a partir das

dobras ondulantes de seu manto de sombras, fazendo sinal para que o seguissem. — Eu vou esconder vocês aqui até que eu possa levá-los a

algum lugar seguro. Matt e Claire hesitaram, nenhum deles querendo chegar perto dele.

Quando eles recusaram, as sombras se separaram e se afastaram de

Lucas. Havia algo ameaçador sobre o som de sua voz e a forma como as pontas esfarrapadas das trevas se agarravam a ele. Seus olhos azuis estavam negros e ele parecia muito irritado.

— Ah, Lucas? — Claire perguntou de uma forma estranhamente tímida. — Você é, tipo, um Mestre das Sombras?

O rosto de Lucas caiu e ele balançou a cabeça tristemente. — Quantos segredos você tem estado escondendo do resto de nós?

— Matt perguntou, abalando o silêncio.

Lucas abriu a boca e olhou para trás e para frente de Matt para Claire suplicantemente, mas seja o que for que ele ia dizer foi

interrompido. Movendo-se mais rápido do que Matt poderia focar os seus olhos, Jason e Ariadne apareceram ao lado deles, perguntando uma dúzia

de perguntas de uma só vez. Lucas ergueu as mãos e tentou explicar que

ele tinha apenas recentemente descoberto o seu talento como um Mestre das Sombras quando todos foram interrompidos pela segunda vez.

— Crianças! Onde está Helen? — Kate gritou freneticamente. Todos eles giraram para ver Kate, meio correndo, meio mancando de volta para a vandalizada News Store. Suas roupas estavam rasgadas, o cabelo

estava desgrenhado, e ela estava coberta de sujeira e farinha como se ela tivesse estado rolando no chão, lutando.

Hector estava ao lado dela carregando Jerry que estava inconsciente

e sangrando muito de um ferimento na cabeça. Os olhos de Hector estavam arregalados e sua boca abriu-se em

surpresa. Matt se virou e viu Lucas, Ariadne e Jason eriçados de tensão. Ele não podia ouvir o que eles ouviam, mas Matt sabia desde os olhares em seus rostos que todos os Descendentes estavam sendo tomados pelas

Fúrias. — Jason, não! — Claire gritou, atirando-se na frente dele antes que

ele pudesse atacar seu irmão. — Eu peguei Ari! — Matt gritou quando ele a agarrou. Ariadne assobiou para ele e arranhou o seu pescoço e peito, mas

rapidamente se conteve quando viu o sangue de Matt começando a fluir. Ignorando seus ferimentos, Matt cobriu os olhos dela com a mão e colocou-a perto dele enquanto ela tremia de raiva. Olhando para cima,

Matt viu Lucas inclinar a cabeça como um leão em caça e dar um passo em direção a Hector.

Não sobrou ninguém para contê-lo.

Traduzido por Polly

elen abriu os olhos e ela viu o travesseiro gelado ao lado dela, então ela sabia que tinha que estar de volta em seu quarto. Estava

escuro, mas era um escuro azul-marinho de fim de tarde, e não o escuro como breu da noite passada. Ela estava deitada de bruços em cima de algo irregular e quente — esse algo definitivamente não era o seu colchão.

Apoiando-se nos cotovelos, Helen olhou para o rosto adormecido de Orion. Ela disse a si mesma para sair de cima dele, mas hesitou. Ele

estava franzindo a testa ligeiramente em seu sono e, por algum motivo Helen descobriu que era adorável.

No Mundo Inferior, seu rosto tinha estado apenas lindo, mas de volta

ao mundo real, era francamente hipnótico. Tudo sobre o jeito que ele parecia trabalhavam juntos em equilíbrio harmonioso, como uma

sinfonia visual. A curva de sua bochecha brincava com o comprimento do seu pescoço, o que levava as elevações amplas do seu peito. Ele era um filho de Afrodite, e tanto quanto Helen sabia da atração irresistível

que era um de seus dons de Descendente, saber desse fato não tornava ele menos magnético. Ele ainda precisava de um corte de cabelo, mas mesmo assim ele era verdadeiramente um Adônis, o auge da beleza

masculina. Ele sempre tinha sido, ela percebeu, e quanto mais tempo ela olhava para ele, mais difícil era para ela até mesmo pensar em olhar para

longe. Incapaz de se conter, Helen correu um dedo curioso em seu lábio

inferior. Ela só queria ver se era tão suave como ela se lembrava, tão

suave como Morfeu havia simulado. O corpo de Orion se contraiu debaixo dela, e seus olhos se abriram

em reação a seu toque. Antes que ele tivesse plena consciência de seus arredores, ele agarrou Helen e quase jogou ela de cima dele.

— Sou eu! — Helen guinchou, agarrando-se a seus ombros para que

ele não mandasse ela navegando através da parede mais próxima. Subindo de joelhos, Orion olhou ao redor por um momento com um

olhar chocado e um pouco perplexo no rosto. Ele soltou o seu controle

apertado sobre ela e estendeu a mão com as pontas dos dedos para tocar o gelo derretido que estava em cima da cama. Um sorriso divertido puxou

seus lábios enquanto ele esfregava o último dos cristais se dissolvendo entre os seus dedos.

Helen poderia dizer só de olhar para ele que ele estava fazendo a

conexão em sua mente entre o frio diminuindo rapidamente em seu quarto e o constante frio sobrenatural do portal da caverna. Ela ficou

espantada que ela estava tão familiarizada com as expressões de Orion que ela praticamente podia ler seus pensamentos. Era como se ela o

H

conhecesse a sua vida toda. Ou mais do que isso, ela pensou com um

arrepio. — Este é o seu quarto? — ele perguntou. Helen sorriu e concordou.

Ele deu-lhe um olhar dúbio. — Então... e esses lençóis anti-molhado? Ambos caíram na gargalhada. — Eu tive que colocá-los! Eu estava destruindo meus lençóis

normais com lama do Mundo Inferior! — ela disse, batendo na perna de Orion. Ele capturou sua mão e a manteve lá contra sua coxa.

— Helen, seja honesta — ele brincou. — Você ainda faz xixi na cama, não é?

Ela sorriu e balançou a cabeça, dando-lhe um olhar que o advertiu

para não brincar com isso. O riso brincalhão morreu rapidamente, e a diversão foi substituída por uma tensão delicada. Por alguma razão inexplicável Helen ainda estava tocando a coxa de Orion. Ela agarrou a

mão dela, mas descobriu que ela acabou imediatamente substituindo a mesma mão sobre a panturrilha dele.

Orion se recostou contra os travesseiros e estendeu a mão para tocar no braço dela ao mesmo tempo, como se ele precisasse se assegurar de que Helen estava realmente lá.

— Eu não estou atacando você — ele sussurrou com um olhar distante em seus olhos. Ele correu os dedos por seu braço e segurou seu

cotovelo na palma da mão. — As Fúrias realmente nos libertaram. — Elas libertaram — ela sussurrou de volta. — Agora você pode ir

para casa.

O olhar maravilhado em seu rosto se desintegrou. — Você e eu podemos estar libertados, mas ainda não acabou, você sabe — ele disse.

— Não ainda — ela concordou, sua voz rompendo um pouco acima

de um sussurro. — Mas eu entendo se você tem coisas mais importantes que você queira fazer agora.

— Do que você está falando? — ele perguntou com um olhar curioso em seu rosto.

— Você está livre. Você pode estar com seu pai. — Helen não podia

olhar para ele. Olhando em volta por algo para fazer com as mãos, ela percebeu que ela ainda estava usando as asas de fada. Ela encolheu os

ombros sobre elas e falou com uma voz tão calma que conseguiu reunir. — Eu entendo se você não quiser mais ir para o Mundo Inferior comigo.

Os lábios de Orion se separaram em surpresa e ele estreitou os olhos

para Helen. — Inacreditável — ele disse em voz baixa. — Depois de tudo o que eu te disse sobre mim mesmo.

Orion atirou rapidamente as cobertas emaranhadas do seu caminho

com raiva e tentou se levantar, mas Helen agarrou seus braços e o parou. — Ei. Você não tem sido capaz de ver seu pai desde que tinha dez

anos, e isso não é realmente o seu fardo, para começar. É meu. Eu tinha que pelo menos tentar.

— Eu já te disse. Eu estou nessa com você até o fim, não importa o

quê. — Eu estava esperando que você dissesse isso — ela sussurrou,

sorrindo para ele com gratidão. Seu olhar severo suavizou em um sorriso, e ele permitiu que Helen o cutucasse suavemente de volta para sua cama.

Ela não conseguia parar de tocá-lo. Orion provavelmente passou

toda a sua vida afastando as meninas que ficavam querendo estar perto dele, e era embaraçoso saber que ela não era diferente de qualquer uma

delas. — Portanto, não descarte isso por enquanto, ok? — ela disse,

abaixando a mão para tocar o Ramo de Enéias, ainda sob o disfarce de

uma pulseira de ouro em torno de seu pulso. Ela se permitiu arrastar uma pequena carícia através das costas de seus dedos e, em seguida, forçou-se a retirar as mãos de seu corpo completamente.

— Eu acho que não dá para escapar, de qualquer maneira — ele disse suavemente.

Sua respiração acelerou enquanto olhavam um para o outro. Ele pareceu relaxar em sua cama e ficar mais alerta ao mesmo tempo, e ela se perguntou se ele poderia ver o coração dela batendo em seu peito. Por

apenas um momento, Helen tinha certeza que ele ia se inclinar e beijá-la.

Ela entrou em pânico, imaginando o que ela faria se ele fizesse. Isto não era um sonho, e Helen não tinha certeza se ela estava realmente pronta para qualquer coisa física, não importa o quanto ela quisesse ele

nesse momento. Os olhos de Orion desviaram para o peito dela, e sua expressão expectante caiu.

— Está tudo bem. Eu não estou com pressa, Helen — ele disse a ela

com uma voz grossa. — Na verdade, eu prefiro que nós demos um tempo. À menção de tempo, uma onda de pânico apertou todos os músculos

do corpo de Helen. Ela pulou da cama, correu para a janela dela, e levantou a lona azul. Ela podia ouvir ruídos excepcionalmente altos na rua que vinham do centro da cidade.

— Oh meu Deus, eu não acredito que eu esqueci! — ela gritou histericamente, virando para trás para agarrar o braço de Orion e

puxando-o com ela quando ela pulou da janela quebrada. — Deixei minha família no meio de um tumulto!

Eles pousaram juntos e saíram correndo com Helen liderando o

caminho. Um momento depois, eles chegaram no centro da cidade e pararam. Helen mal podia acreditar em seus olhos. Pessoas que ela via todos os dias, pessoas que ela conversava enquanto ela servia bolos e

lattes, estavam tentando rasgar uns aos outros em pedaços. Até mesmo policiais fardados e bombeiros estavam correndo ao redor, quebrando

janelas de carros e brigando na rua. — O que você quer fazer? — Orion perguntou, pronto para uma luta.

— Eu não conheço este lugar ou essas pessoas. Quem é o vilão?

Helen deu de ombros, impotente, enquanto ela assistia as brigas. Girando em torno em um círculo, ela tentou decidir quem proteger e contra quem lutar. Mas todos eles eram os seus vizinhos, e pelo que ela

podia ver, a grande maioria deles estavam machucando uns aos outros por puro pânico. Ela notou um caminho sendo descongestionado através

da multidão aleatória e se dirigiu para ele. Automedon, seguido de perto por seu velho amigo Zach, estava

descuidadamente sacudindo pessoas indefesas para fora do seu

caminho. Com sua força sobre-humana, ele enviava qualquer um que

pisasse em seu caminho voando pelo ar como pipas que tinham sido

cortadas de suas cordas. O Myrmidon não estava intencionalmente tentando machucar as pessoas — ele simplesmente não se importava se

alguém em torno dele viveria ou morreria. Um homem estava deitado no chão, diretamente no caminho de

Automedon. Uma menina em uma fantasia de princesa e um rapaz

vestido como um urso estavam ao lado dele, de pé em uma pilha de doces de Halloween derramados. A menina estava gritando inconsolavelmente e empurrando as costas do homem, tentando inutilmente acordá-lo. O

menino pequeno e bravo se virou para Automedon, com os punhos cerrados dentro das patas de urso peludo, pronto para defender o homem

caído e a pequena menina indefesa. O homem era Luis, Helen percebeu enquanto ela se aproximava, e as crianças eram Marivi e Juan.

Automedon nem sequer olhou para baixo. Ele bateu em Juan para

fora do caminho como uma reflexão tardia, e enviou seu corpo minúsculo subindo molemente sobre a multidão. Orion se transformou em um

borrão ao seu lado, mas Helen ficou enraizada no chão em estado de choque. O rosto de Zach congelou em uma máscara de medo, e ele mergulhou para se proteger quando um raio de gelo branco iluminado se

arqueou para fora do peito de Helen e se conectou com Automedon. Ela não pensou. Ela não considerou se pessoas estavam assistindo,

ou se ela queria poupar o inseto para fins estratégicos. No olho da sua

mente, Helen não podia ver nada além da imagem de Juan em sua fofa fantasia de ursinho, flutuando molemente através do ar. Ela levantou a

mão esquerda, com foco no fluxo de pura energia, e transformou Automedon em uma tocha flamejante e vagamente em forma de homem enquanto ela caminhava em direção a ele.

Automedon se contorceu em agonia como um inseto esmagado pela metade. Quando sua pele passou de laranja para vermelho ardente

maçante, ele caiu de joelhos, e depois de lado, e, em seguida — carbonizado — ele finalmente ficou imóvel.

— Helen, pare! — Orion gritou para ela. — Ele está morto!

Cortando o fluxo com um som nítido estalando, Helen retraiu sua mão esquerda e olhou para baixo sobre a casca de carvão que costumava ser Automedon. Zach ficou de pé e fugiu. Helen deixou ele ir, e ao invés

se virou para enfrentar Orion. Ele estava segurando Juan. Em seus braços grandes o menino

parecia um urso de pelúcia de brinquedo. Helen cobriu a boca com uma mão, sem vontade de perguntar em voz alta o quão ruim era.

— Está tudo bem, eu o peguei antes de bater no chão — Orion disse

confortavelmente enquanto ele caminhava em direção a ela. — Mas devemos tirar essas crianças da rua.

Eles olharam para Marivi. Ela estava olhando para Helen com os

olhos arregalados e sua boca aberta em admiração. — Você se lembra de mim? — perguntou Helen. Marivi acenou com

a cabeça, sua expressão congelada em choque. — Você vem com a gente? — Marivi concordou novamente, seus olhos ainda arregalados.

Helen estendeu um braço para a menina e ela pulou, agarrando-se

ao pescoço de Helen e envolvendo suas pernas em volta da sua cintura

tão apertado como uma craca. Orion equilibrou Juan cuidadosamente no

outro quadril de Helen e, em seguida, ele se inclinou para estudar Luis, que ainda parecia estar respirando.

— Ele está desmaiado, mas ele vai ficar bem — Orion disse, levantando ele sem demora. — Existe um lugar seguro aqui perto? Os hospitais estarão transbordando hoje à noite.

— Ah... a News Store? — Helen disse, depois de um tempo. — Há um kit de primeiros socorros, e talvez a minha família esteja lá.

— Perfeito — Orion respondeu, fazendo sinal para Helen guiar.

À medida que eles iam, o corpo enegrecido de Automedon se moveu. Eles ouviram um frágil barulho rachando, e um rasgão abrir em suas

costas, expondo a úmida pele rosa embaixo. Ele respirava. Marivi enterrou o rosto no pescoço de Helen, escondendo os olhos.

Orion e Helen trocaram olhares chocados. De repente, a casca em

torno de Automedon dividiu ao meio, e ele saiu de sua própria pele queimada como um caranguejo saindo do seu invólucro exterior. Coberto

de muco, e se agachando ao lado do seu resto descartado, Automedon olhou para Helen com olhos leitosos cobertos por película e sorriu.

— Isso doeu — ele disse a ela de uma forma desinteressada e quase

robótica enquanto ele babava saliva viscosa. Ele olhou para Orion e, em seguida, para baixo, para a braçadeira de ouro no pulso de Orion,

estreitando os olhos leitosos. — O Terceiro Herdeiro. É bom ver você de novo, General Enéias.

Um longo tubo pegajoso desenrolou debaixo da língua humana de

Automedon e parecia pulsar em direção a Orion. Em seguida, ele rolou de volta e recolheu em um movimento de deglutição dentro da boca de Automedon. Por um momento, Helen pensou que ela ia vomitar.

— Vamos! Antes que ele esteja forte o suficiente para levantar — Orion rosnou em seu ouvido, e os dois fugiram tão rápido quanto eles se

atreveram enquanto carregavam passageiros feridos. Antes da News Store estar à vista, Helen sabia que algo estava

terrivelmente errado. Ela podia sentir o chão tremendo, e olhou para

Orion. — Não sou eu! — ele disse. — Esses são tremores de impacto.

Virando a esquina final, eles foram fechados em uma mortalha escura.

— Mestre das Sombras! — Helen gritou para Orion. — Os Cem

devem estar aqui em algum lugar. Eles têm um novo. Eu vi isso na minha corrida...

Os pés de Helen abrandaram quando a escuridão começou a se

dissipar ligeiramente. Ela conhecia essa escuridão; ela tinha visto mais de uma vez. Através das sombras se agarrando que chegaram como mãos

fumarentas, ela viu Hector batendo em alguém — a fonte da escuridão, Helen percebeu — contra a calçada repetidamente. Era Lucas. Em um flash, Lucas trocou de posição, ganhando vantagem, e abordou Hector,

socando-o selvagemente. Tirando-se de seu torpor atordoado, Helen gritou algo ininteligível, e correu o resto do caminho com Orion logo atrás.

— Helen! — Kate gritou, e Helen parou de repente.

Seguindo o som da voz de Kate, Helen olhou e viu ela agachada sobre

Jerry, que estava inconsciente e sangrando muito. Ao lado deles, Claire e Matt mantinham Jason e Ariadne envoltos para que eles não pudessem

ver ou ouvir. Helen deu as crianças para Kate enquanto Orion colocava Luis para baixo ao lado de Jerry. Helen poupou ao seu pai um olhar preocupado, e, em seguida, atirou-se em Lucas.

Quando ela tirou Lucas de cima de Hector, ela viu Orion ir para atrás deles para embrulhar um braço ao redor da garganta de Hector em um estrangulamento. Helen usou sua força superior para empurrar Lucas

para o chão. Ela tentou imobilizá-lo debaixo dela, mas ele sempre tinha sido melhor na luta corpo a corpo e facilmente escorregou de debaixo

dela, revertendo suas posições. Ele segurou as mãos dela sobre a cabeça, e mesmo que ela fosse mais forte, ela sabia que estava presa. Helen considerou eletrocutar ele, mas ela estava desidratada de queimar

Automedon e sabia que não poderia controlar totalmente os seus raios. — Por favor, Lucas, não faça isso! — Helen implorou como um último

recurso. Ao som de sua voz, ele fez uma pausa e pareceu acordar de seu transe. Um olhar confuso atravessou seu rosto e ele pulou de cima dela.

— Eu vou tirar Hector daqui — Orion gritou enquanto ele lutava

para impedir Hector de se libertar. — Vamos lá, grandalhão. Hora de um banho!

Em um borrão de velocidade, Orion conseguiu quebrar a posição de

Hector e levá-lo em direção ao oceano. Assim que o Banido estava longe demais para afetar a família Delos, seus comportamentos mudaram de

raiva para pesar doloroso. Claire e Matt liberaram Jason e Ariadne, e Lucas baixou a cabeça em suas mãos sangrentas, cobrindo os olhos. Helen queria estender a mão e confortá-lo, mas ela sabia que não deveria

tocá-lo. Em vez disso, ela apenas olhou para Lucas com o coração na garganta.

— Eu sempre soube que havia mais em você. Algo escondido, mas eu nunca... O que está acontecendo? — Kate perguntou, sua voz um sussurro rouco. Helen se virou para olhar para ela, e viu que ela mal

podia ficar em pé. — Seu pai sabe? — Não, Kate. Por favor — Helen gaguejou. Olhando para a cabeça

sangrando de Jerry, ela foi superada pela preocupação. Ela não tinha ideia do que ela precisava, ou queria, dizer.

— Vamos todos para dentro — Matt disse calmamente, olhando para

os rostos em estado de choque ao redor dele para o tumulto que ainda estava consumindo a cidade. — Primeiro as prioridades. Precisamos entrar.

Eles levaram os feridos para os sofás na área de café na parte de trás da News Store, e os gêmeos imediatamente começaram a trabalhar

para avaliar a gravidade dos ferimentos de todos. Luis só tinha uma concussão, mas o pequeno Juan tinha quatro costelas quebradas, um braço quebrado e um crânio rachado. Os gêmeos se olharam solenemente

e se prepararam para o seu trabalho. — Apenas fiquem para trás — Claire alertou Kate e Marivi quando

elas engasgaram com as mãos brilhantes dos gêmeos. — Está tudo bem, sério. A cura é um dos seus talentos.

— O que você quer dizer com talentos? — Kate implorou. — Helen,

você tem que me dizer o que está acontecendo! Helen não sabia o que dizer. Ela olhou para seu pai e, em seguida,

de volta para Kate, sobrecarregada. — Eu sou uma semideusa — ela finalmente cuspiu. — Eu sinto muito, mas eu não tenho tempo para explicar isso para você agora.

— Está bem, então! — Claire disse em voz alta quando ela viu a reação petrificada de Kate. — Eu faço isso, Helen. Você não é tão boa em

dar uma notícia gentilmente, afinal. Kate, prepare-se. Isto vai ficar confuso.

Claire começou a dar a pobre Kate um curso intensivo sobre

mitologia antiga, enquanto Helen murmurou a palavra “obrigada” e fez um gesto para Matt e Lucas se juntarem a ela. Ela disse-lhes sobre seu encontro com Automedon, descrevendo como ela o tinha fritado e como

ele havia se livrado disso, trocando sua pele queimada em frente a ela no processo.

— Zach está bem? — Matt perguntou a Helen. — Da última vez que vi ele estava indo para Surfside — Helen

respondeu, realmente não se importando. — Ele estava com Automedon,

Matt, não sendo atropelado por ele como Luis e seus filhos, então eu acho que ele vai ficar bem.

Matt virou para Lucas. — Myrmidons podem normalmente suportar relâmpagos, ou raios jogados?

— Não — Lucas disse. — Eles não têm talentos como Descendentes

têm, mas eles são fortes. Mais fortes do que a maioria dos Descendentes. — Mesmo que ele fosse dez vezes mais forte do que você, ele não

poderia ter sobrevivido a isso — Helen disse sombriamente. — Automedon deve ter se tornado imortal de alguma forma. Talvez ele se tornou irmão de sangue de um deus, como Cassandra disse. Lucas, eu

bati nele com um raio que poderia derreter chumbo. Lucas franziu a testa em pensamento. Havia um milhão de coisas

que ela queria perguntar a ele, a maior parte centrada no fato dele ser um Mestre das Sombras, mas um flash brilhante chamou sua atenção e ela decidiu que teria que esperar. Ela, Matt e Lucas foram verificar os

feridos. Os gêmeos tinham decidido curar o menino primeiro, para que Juan pudesse acordar sem então ficar assustado depois. Ariadne e Jason

passaram alguns momentos monitorando Luis, e decidiram que ele estava bem.

Vacilante, mas não permanentemente danificado, Luis pegou as

crianças e saiu correndo da News Store, desesperado para ver se sua esposa ainda estava em casa. Antes de seu pai a levar para fora pela porta

traseira, Marivi levantou seu dedo indicador aos lábios, como se dissesse “Shhh” prometendo nunca contar.

Já exaustos e ficando cinzas de fazer tanto trabalho em Juan, os

gêmeos voltaram sua atenção para Jerry. Após uma avaliação rápida, eles compartilharam um desses olhares que Helen estava convencida que significava que eles estavam lendo a mente um do outro. Mas antes que

Helen pudesse começar a perguntar-lhes quão ruim o dano era, Orion voltou do mar. Obviamente conturbado, ele fazia barulhos enquanto

caminhava em direção a eles, sacudindo gotas de água de seu cabelo. Ele

deixou de estar encharcado para seco completamente em poucos segundos.

— Como Hector está? — Lucas perguntou, com a voz trêmula. — Ele está chateado, mas seguro — Orion respondeu. Lucas baixou a cabeça e concordou.

— Como você pode estar aqui? — Jason lhe perguntou, incrédulo. — Por que não estamos atacando você?

— Bem, a versão curta é que Helen e eu calculamos errado, mas da

melhor maneira possível. Acabamos conseguindo... eu acho que você poderia chamar isso de um perdão das Fúrias. Certo, Helen?

— Mas nós não resolvemos o problema maior. Ainda — Helen disse, incapaz de encontrar o olhar de alguém. Ela se sentia culpada que ela e Orion estavam livres das Fúrias, mas o resto de sua família ainda tinha

que sofrer. — Você é irmã de Hector? — Orion perguntou, sorrindo para Ariadne

calorosamente. — Ele me disse para dizer a você, em especial, para não se preocupar. Ele disse que você se preocupa muito com as outras pessoas.

Ariadne tentou sorrir para Orion, mas em vez disso começou a se engasgar. Ela virou-se para Jerry, enxugando as lágrimas com as costas da mão. Helen olhou para a expressão devastada de Lucas.

Ele foi o único que tinha atacado Hector. Os outros tinham resistido quando ele não pôde. A carga seria sempre mais pesada sobre ele. Lucas

era da geração de Paris, e ele estava destinado a ser o bode expiatório nesta epopeia. As cartas sempre estão empilhadas contra ele, e agora que ele também tinha de suportar o estigma de ser um Mestre das Sombras,

isso só iria piorar. Havia uma escuridão crescendo nele. Helen se perguntou se sempre

esteve lá — esperando para sair — ou se o que tinha acontecido entre eles havia plantado isso. Ela podia ver que ele estava mal se segurando. Ele costumava ser tão confiante, tão vivo. Ele costumava brilhar, e agora

ele estava nas sombras. Algo se partiu em Helen. Ela estava cansada de ver as pessoas que

amava sofrer por coisas que estavam fora de seu controle. Não havia nada que ela pudesse fazer para ajudar seu pai, mas havia algo que ela poderia fazer para ajudar o resto de sua família.

— Eu estou cansada disso. E você? — ela perguntou a Orion. — Oh, sim. Tão cansado — ele respondeu, entendendo o significado

de Helen imediatamente. Seus olhos perfuraram nos dele, jurando simultaneamente uma praga e demandando sobre dele.

— Nós vamos descer. Nós vamos ficar lá embaixo até encontrar o rio

certo — Helen disse com certeza absoluta. — Não importa quanto tempo você e eu tenhamos que gastar no Mundo Inferior, isso acaba para o resto

da nossa espécie hoje à noite. Os cantos dos lábios de Orion inclinaram-se no mais fraco dos

sorrisos e sua mandíbula apertada relaxou.

— Eu não posso correr em velocidade Descendente através das cavernas, ou corro o risco de desmoroná-las. Vai levar alguns minutos

para eu chegar até as cavernas no continente, mas, então, leva meia hora

para mim chegar até o portal — ele disse, abaixando o queixo como se estivesse se preparando para invadir a cidadela. — Eu encontro você

depois. — Orion se virou e saiu em disparada. — Cuide do meu pai — Helen disse aos gêmeos e Kate, e, em seguida,

ela se dirigiu para a porta.

— Aonde você está indo? — Lucas perguntou, agarrando seu braço quando ela passou por ele.

— Para casa. Para cama. Para o Mundo Inferior — Helen enumerou

em ordem, como se ela estivesse dando-lhe uma lista de armas mortais. — Você vai simplesmente se deitar em uma cama, num quarto que

tem uma janela quebrada, depois de chatear um Myrmidon? — Seus olhos flamejaram com a frustração. — Isso soa perfeitamente seguro para você?

— Bem, eu... — Helen gaguejou, perguntando-se como ela tinha esquecido esses grandes detalhes.

Lucas a cortou, resmungando para si mesmo sobre como ela ia dar a ele um distúrbio nervoso. Ainda firmemente agarrando seu braço, ele virou-a e levou-a até a porta.

— Eu vou tomar conta de Helen enquanto ela desce — ele falou para Jason. — Se alguma coisa acontecer, me ligue no meu celular.

— Certo. — Jason estava claramente tentando o seu melhor para se recuperar. — Vamos mover todos para a nossa casa. Podemos cuidar de Jerry melhor lá enquanto nós protegemos o resto.

— Boa ideia — Lucas respondeu. — Mantenha-nos informados, irmão — Jason adicionou,

propositadamente usando a palavra irmão. Lucas desviou os olhos, mas

sorriu agradecido antes de voltar para a porta. Helen e Lucas mergulharam nas ruas caóticas e saltaram no ar,

olhando para baixo sobre os enxames de pessoas. Ela sentiu Lucas parar, e dirigiu os seus olhos para o que chamou a atenção dele. Eris estava correndo em uma rua secundária, perseguida por dois grandes homens

com espadas. — Meu pai e meu tio — Lucas gritou por cima do vento frio.

— Devemos ajudá-los? — Helen perguntou com os dentes batendo. Lucas passou um braço ao redor dela e começou a esfregar seus ombros nus com as mãos quentes. Não pela primeira vez, Helen se perguntou

como ele sempre parecia irradiar calor. — Eles podem lidar com isso — ele disse, puxando-a contra ele para

mantê-la aquecida e levando-os para a frente em direção a sua casa. — Mantenha-se focada em sua tarefa, não na deles.

Helen não tinha ideia de como ele poderia compartimentar suas

emoções assim. Seu pai estava lá lutando contra uma deusa, mas ele ainda se mantinha preso a sua tarefa. Como um soldado, Helen pensou.

Lhe ocorreu quanta autodisciplina Lucas tinha, e ela tentou seguir o seu exemplo, mas ela não podia. Sua mente continuava desviando para Jerry, para os gêmeos, para Hector, mas acima de tudo para o fato de que Lucas

tinha seu braço ao redor dela.

Helen seguiu Lucas sob a lona azul e pousou em seu quarto. Ele a

levou direto para a cama bagunçada e tentou fazer com que ela se deitasse.

— Eu não sei o que fazer — Helen disse, não querendo ficar na cama. — Por que você não começa se sentando? — ele sugeriu calmamente. — Toda aquela conversa admirável sobre terminar esta noite, e eu

estou completamente sem a mínima ideia. Eu não tenho ideia de como acabar com isso. — Ela estava tentando não chorar.

— Venha aqui — ele disse, pegando a mão dela e puxando-a para o

lado dele. — Você sabe qual é a pior parte disso?

— Qual é? — Eu meio que não me importo com nada disso no momento — ela

disse, lágrimas escorrendo pelos lados de seus olhos. — Eu não me

importo que você seja um Mestre das Sombras, e que você esteja guardando segredos de novo.

— Eu tentei contar a você no corredor hoje, eu realmente tentei. Eu simplesmente não consegui. Eu acho que eu não podia enfrentar a mim mesmo, e dizer a você tornaria isso real.

— Mas eu não me importo com o que você é! — ela disse, mal capaz de manter a voz baixa. — Eu não me importo que você seja um Mestre

das Sombras, ou que você seja meu primo. Eu não me importo até mesmo que eu devo descer e salvar os Descendentes em cerca de dez minutos. Lucas, o mundo inteiro poderia estar pegando fogo agora, mas a única

coisa que eu estou pensando é como estou feliz de estar sozinha com você. Quão doente é isso?

Lucas apertou os olhos e suspirou profundamente. — O que nós

vamos fazer? — Eu não sei — ela murmurou de um jeito perdido quando eles se

aproximaram e envolveram seus braços em volta um do outro. — Nada ajuda.

— Você tem que seguir em frente, Helen — ele disse

desesperadamente. — Eu sei disso! — ela gritou, descansando o queixo em seu ombro.

Quanto mais ela pensava em deixá-lo ir, mais apertado ela apertava ele. — Mas eu não posso.

— Me esqueça — ele insistiu. — Essa é a única maneira de qualquer

um de nós sobreviver a isso. — Como é que eu vou te esquecer? — Helen perguntou, rindo

fracamente da sugestão boba. — Você é uma grande parte de mim. Eu teria que esquecer quem eu sou para te esquecer.

Segurando Lucas do jeito que ela estava, ela teve um vislumbre de

seu reflexo no espelho de maquiagem no lado oposto da cama. Isso a surpreendeu. Da mesma forma que ela estava dizendo a palavra

esquecer, ela estava encarando a palavra LEMBRAR. Ela tinha esquecido totalmente que ela ainda tinha uma

penteadeira.

Ela não tinha olhado para ela ou até mesmo reconhecido que estava em seu quarto há mais de um mês agora. Escrito no espelho em

delineador verde-víbora estavam as palavras O RIO QUE NÃO CONSIGO LEMBRAR e E EU O VI NOVAMENTE. Que engraçado. Ela e Orion estavam procurando um rio, certo?

— Espere — Helen disse, se afastando e olhando para Lucas. — Há um rio no Mundo Inferior que faz você esquecer tudo?

— Lete — Lucas respondeu imediatamente. — As almas dos mortos Descendentes bebem do rio Lete para esquecer suas vidas anteriores antes de renascerem.

— As Fúrias se definem como “as que nunca podem perdoar e nunca se esquecer”, certo? Mas e se elas forem forçadas a esquecer de tudo, até

mesmo quem elas são? — Elas iriam esquecer todas as dívidas de sangue. Os Descendentes

estariam livre — Lucas disse, tão baixinho que foi como um suspiro.

Um momento depois, ambos estavam olhando ao redor do quarto, confusos. Toda a linha de pensamento de Helen tinha descarrilado e foi derrapando para fora dos trilhos.

— Qual era o rio mesmo? — ela perguntou através de um sorriso envergonhado. — É essa coisa que eu naveguei lá embaixo. Eu tenho que

ser muito específica, ou eu nunca vou chegar lá. — Ah... Eu sei... — Lucas hesitou por um momento, rindo de si

mesmo por ser tão distraído. — Lete! Você quer chegar ao rio Lete! — Lete. Certo! Tudo bem... então. O que devo fazer quando eu chegar

lá?

— Eu não sei — ele disse, um indício de medo aparecendo em sua voz. — Você está vendo o que está acontecendo?

— Sim — Helen disse, cerrando os punhos e tentando ficar atenta.

— Este rio não vai me deixar lembrar de nada quando eu começar a pensar nisso. Isso significa que eu não devo tentar pensar sobre isso,

certo? — Isso mesmo. Não pense sobre isso, basta fazer o que você precisa

fazer. — Lucas se virou e pescou através da cabeceira de Helen, tirando

uma caneta velha. Ele rabiscou as palavras Lete e Fúrias em seu antebraço e, em seguida, ele se sentou e olhou para ela em confusão. —

Eu não tenho ideia do por que eu fiz isso. — Tudo bem. Ótimo. Vou descer agora — Helen anunciou

laconicamente já ficando confusa e decidiu que ela deveria agir antes que

ela tivesse uma chance de pensar muito sobre isso. — E no caso de eu esquecer de tudo, de inclusive voltar, eu quero que você saiba que eu

ainda te amo. — Eu ainda amo você, também. — Um sorriu surgiu em seus lábios.

— Você está atrasada para alguma coisa?

— Acho que sim. É melhor eu ir. Helen se deitou, olhando para Lucas, que estava sorrindo

pacificamente para ela. Não havia nada a temer aqui, mas Helen tinha

uma leve suspeita de que ela deveria ter medo. — Não diga a Orion! — Lucas disse com urgência, como se isso

tivesse acabado de lhe ocorrer. — Vai fazê-lo esquecer. Você apenas lembre para onde ir e, em seguida, deixe ele lembrar o que você precisa fazer quando você chegar lá.

— Tudo bem — Helen suspirou quando ela se aconchegou dentro

das cobertas. Ela estava com tanto frio. — Compartimentalizar. Essa é a chave para vencer a batalha.

— Isso — ele disse em uma voz distante. Ele olhou para seu rosto, sorrindo suavemente.

— Por que nós ainda estamos tentando ficar longe um do outro? —

Helen perguntou em voz alta, tentando manter os olhos pesados abertos. — Nós somos perfeitos juntos.

— Nós somos — ele meditou. Lucas estremeceu de repente. — Está

ficando mais frio, a temperatura caiu de repente. — É sempre tão frio aqui. — Ela fez beicinho, roçando os cristais de

gelo que formaram em seu cobertor. — Por que você não fica sob as cobertas e me mantém aquecida?

— Tudo bem — ele disse, e apesar dele franzir a testa como se algo

o incomodasse de ir para a cama com Helen, ele fez isso de qualquer maneira. Ele ficou de conchinha contra suas costas, e Helen suspirou

quando ele a puxou com força contra seu peito. Ela tentou se virar e beijá-lo, mas ele a deteve, batendo os dentes enquanto ele falava. — Você está cansada. Vá dormir, Helen.

Ela estava cansada — realmente cansada. Ela já estava meio dormindo. Por mais que ela quisesse ficar com Lucas enquanto ele segurava ela, os olhos de Helen começaram a se fechar sob a pressão

suave de seus braços. O mundo se dissipou, e ela tropeçou de cabeça no Mundo Inferior.

Eu não deveria encontrar alguém? ela pensou. Oh, sim! Orion...

Traduzido por Polly

utomedon se arrastou para fundo do oceano, deslizando como uma aranha nas mãos e pés tão rápido quanto podia para

alcançar o terceiro Herdeiro. Em baixo d’água, o grande Descendente era rápido, o mais rápido que Automedon já tinha visto, e isso era tudo o que ele podia fazer para não perdê-lo. Ele tinha o cheiro dele, e agora

Automedon poderia segui-lo em qualquer lugar sobre a terra, mas em baixo d’água seu cheiro sumia em um instante. Ele não podia deixar

Orion escapar. Automedon precisava encontrar o portal que ele usava para cumprir

a ordem de seu mestre — não importa o quão caprichoso isso parecia

para Automedon. Seu mestre tinha uma queda por situações que lhe pareciam “poéticas”. Pelo que Automedon ouviu na loja enquanto os

herdeiros estavam tão valentemente se comprometendo em completar a sua missão ou morrer (já não era sem tempo, na opinião de Automedon), o jovem príncipe estava a caminho de lá agora.

Eles são tão jovens, tão confiantes, que eles tiveram toda a sua conversa sobre o seu sucesso parcial com as Fúrias a céu aberto. Eles nem sequer verificaram para ver se alguém estava ouvindo. O Rosto era

tão aberta e desacostumada a trapaça, muito ao contrário de sua mãe astuta. Aquela mudava a sua aparência, seu cheiro, tudo, ao primeiro

sinal de perigo. Ela era impossível de rastrear — duplamente, agora que tinha o novo Hector para treinar. Era como se ter um filhote aumentasse seus instintos de tigre.

O novo Hector era formidável, e pela primeira vez em três mil e quinhentos anos, Automedon não zombava do Descendente que levava o

nome do grande guerreiro. Ele foi o primeiro a merecer, embora ele ainda tivesse muito a aprender.

O príncipe não estava pegando levemente, também. E a amante.

Bem. Com o senhor morto, ele tinha a mão de Nyx sobre ele, e como tal, ele exercia a mais antiga mágica dos deuses, até mais velha que os titãs. Ele era perigoso, aquele cara. Quanto mais Automedon observava a este

grupo de heróis, mais ele se convencia de que seu mestre estava certo. Toda essa geração tinha de ser detida antes que eles entrassem em seu

pleno potencial. Eles eram como ninguém que tinha vindo antes deles, especialmente o Rosto.

Ela era muito mais talentosa que os outros. A pequena fração do

poder que esta nova Helen tinha usado nele apenas alguns minutos antes tinha sido uma maravilha de agonia — verdadeiramente um momento de

despertar para Automedon. Ele esperava voltar a ter essa sensação em breve.

A

Correndo para a praia arenosa do continente de Massachusetts,

praticamente o local exato onde os europeus construíram sua colonização e começaram sua invasão, Automedon encontrou o cheiro de Orion e logo

em seguida perdeu novamente. A trilha simplesmente acabou. Automedon tentou manter a calma enquanto ele procurava.

Ele não pode voar, não é? Automedon saltou no ar, e depois de um

desconcertante longo tempo, finalmente provou vestígios do jovem príncipe na brisa. Estendendo seu salto por tanto tempo quanto pôde,

Automedon descobriu que a trilha esboçava um amplo arco que levava de volta para o chão.

Orion tinha saltado para o ar assim que ele surgiu na praia. A única

razão pela qual ele teria feito isso era porque ele sabia que estava sendo seguido. Muito inteligente, Automedon pensou, impressionado. Ele foi

obviamente perseguido antes. Mas nunca por mim. Uma vez em terra novamente, Automedon se viu tendo que lutar

para continuar, mas, pelo menos, a trilha era mais fácil de seguir do que

tinha sido em baixo da água. O jovem príncipe fez muitas tentativas de voltar para o mesmo lugar e confundir quem poderia estar atrás dele. Um

cão de caça poderia ter caído em qualquer um dos truques de Orion, mas Myrmidons não são cães de caça. Eles eram muito melhores em rastreamento do que qualquer cão jamais poderia ser.

O jovem príncipe levou Automedon para uma caverna escura, deixando a água guiá-lo, e Automedon teve que ficar para trás de forma a não ser ouvido nas passagens ecoando. Ele não estava preocupado com

o escuro. Ele provou o seu caminho, seguindo o rastro químico que o príncipe tinha carimbado no chão.

O ar de repente se tornou estranhamente frio, sinalizando que um portal estava próximo. Automedon disparou para perto de Orion e se manteve perfeitamente imóvel, silenciosamente chamando o seu mestre

com uma antiga oração. Sua mente se encheu com as disputas dos abutres, e ele sabia que seu mestre escutou ele falar.

O Herdeiro abriu o portal e saltou para a terra do senhor dos mortos.

Uma fração de segundo antes de ser fechado novamente, Automedon disparou para frente e puxou seu mestre através dele para a zona neutra.

* * * Helen pousou com um baque ao lado de Orion. Eles estavam

andando por uma praia profunda que parecia durar para sempre —

nunca encontrando o mar ou a terra em qualquer direção. Ela olhou ao redor, esperando por algumas pistas que iriam dizer a ela o que ela

precisava fazer a seguir. Algo sobre um rio continuava aparecendo em sua mente. Pareceu-lhe que ela não tinha ideia do que estava fazendo, andando em uma praia deserta com um rapaz, quando não havia mais

ninguém em qualquer lugar à vista. Lucas era o único que caminhava em praias desertas com ela. Era uma “coisa” deles.

Ela estava traindo Lucas? Impossível! Nem mesmo o cara quente ao lado dela (seu nome de

repente deslizou de sua mente, embora ela estivesse vagamente

consciente de que ela o conhecia) poderia fazê-la se sentir como Lucas

fazia. Embora ela não conseguisse se lembrar exatamente como Lucas a fazia se sentir naquele momento em particular, porque ela não conseguia

imaginar o rosto dele. E onde diabos estava o sol, ou a lua, ou as estrelas para começar?

Não deveria ter alguma coisa no céu?

— Eu acho que alguém me seguiu, mas eu acho que ele não apareceu através do portal — seu belo companheiro disse. — Eu não dei

uma boa olhada nele, mas seja quem for esse cara, ele é bem assustador. Eu estou no Mundo Inferior, Helen lembrou, pouco antes dela se

apavorar completamente. E eu estou aqui porque eu tenho algumas compartimentalizações muito importantes a fazer.

— Oi — ela disse, hesitante.

— Oi — o Cara Quente respondeu, inquieto. — Helen? Qual o problema?

— Eu não sei o que estou fazendo aqui com você — ela disse

honestamente, aliviada que pelo menos ele a reconheceu e chamou-a pelo nome. — Mas você sabe, certo?

— Sim, eu sei — o Cara Quente disse, um pouco ofendido. — Nós estamos aqui para...

— Não diga! — Helen exclamou, pulando para cima para cobrir a

boca dele com a mão antes que ele pudesse dizer outra palavra. — Temos de compartimentalizar, ou algo assim. Eu meio que sei para onde

estamos indo, mas você tem que lembrar o que precisamos fazer quando chegarmos lá, ou nós nunca vamos fazer seja o que for que devemos fazer. Eu acho que foi isso que Lucas disse, de qualquer maneira.

— Tudo bem, eu posso fazer isso. Mas por que você está agindo assim? Algo de ruim aconteceu com você? Por favor, me diga... — O Cara

Quente implorou. — Você está ferida? — Eu não me lembro! — Helen riu, vagamente consciente de que ela

parecia terrivelmente tola, enquanto ele parecia profundamente

preocupado. Ele estava realmente preocupado com ela, e foi tão doce que atingiu Helen. — Tudo vai ficar bem. Você lembra da sua parte, mas não

me diga o que é, e eu vou fazer a outra coisa. Você sabe, a coisa que eu deveria fazer porque esta é a minha pequena missão especial?

— Porque você é Aquela que Desce? — ele adivinhou.

— Sim eu sou! — Helen disse como um campista-feliz e entusiasmado. — Mas o que exatamente que eu posso fazer que ninguém

mais pode? — Você pode nos fazer aparecer magicamente no rio que precisamos

chegar apenas dizendo o nome em voz alta — ele disse cautelosamente.

— Certo! Seguindo um instinto, Helen colocou os braços ao redor do pescoço

do Cara Quente, mas ela não tinha ideia do que fazer a seguir. Olhando para longe da boca distraidamente atraente dele, ela viu, bem na frente de seu rosto, as palavras Lete e Fúrias escritos em um de seus

antebraços. Por um capricho, ela decidiu apenas seguir com isso. Ela percebeu que, diabos, era uma chance de cinquenta por cento.

— Eu quero aparecer magicamente no rio... Lete?

Helen encontrou-se na margem de um rio no meio de um deserto

estéril, olhando para um homem impressionante. Ela tinha os braços em volta dele, e ele estava com as mãos na cintura dela, mas ela não

conseguia se lembrar de como eles haviam chegado nesse lugar. — Você é tão bonito — ela disse a ele, porque ela não conseguia

pensar em uma razão para não fazer.

— Assim como você — ele respondeu, surpreso. — Por alguma razão eu acho que conheço você, mas eu não me lembro onde nos conhecemos. Você já foi para a Suécia?

— Eu não sei! — Helen riu. — Talvez eu fui. — Não, não é isso — ele disse, uma carranca conturbada apertando

sua testa. — Há algo que precisamos fazer. A água! — ele exclamou, liberando Helen e tirando sua mochila. Helen sabia que ela tinha visto esse gesto antes, mesmo que ela não conseguisse se lembrar do menino

que tinha feito isso. — Eu sinto que eu estou tendo o caso mais forte de déjà vu de todos

— Helen disse ansiosamente. — É como se eu conhecesse você, ou algo assim.

— Você me conhece. Você só não lembra porque é disso que tudo

isso se trata. Esquecer — ele disse em uma voz rouca e preocupada, quando ele pegou três cantis da mochila. — Sabe, Helen, se essa sua ideia não fosse tão terrível eu estaria dizendo que era a coisa mais

brilhante que eu já ouvir falar. — Ele olhou para ela intensamente. — Eu sou Orion e você é Helen e nós estamos aqui para recolher essa água

especial e levá-la para três meninas com muita sede. — Eu não sei por que, mas isso soa exatamente certo. Espera — ela

disse, alcançando os cantis. Ela estendeu a mão até que ele deu a ela. —

Eu acho que eu tenho que fazer isso. — Você está certa, esta é a sua tarefa. Minha parte está chegando.

— Ele apertou a mandíbula em concentração. — Eu só tenho que lembrar disso.

Helen olhou para as turvas águas do rio duvidoso. Peixes pálidos

colidiam ao redor sob a superfície, como fantasmas desajeitados. Eles não pareciam suficientemente inteligentes para terem medo dela, e Helen

sabia que ela poderia acariciar um com a mão nua se ela quisesse, mas a ideia de tocar a água era abominável para ela.

Ela sabia que tinha de encher os cantis, ela simplesmente não

conseguia imaginar alguém querendo beber deles, não importa o quanto estivessem com sede. Segurando os cantis por suas correias, Helen

abaixou eles na água e deixou eles encherem antes de levantar. O Cara Quente estendeu a mão para pegar um deles para que ele pudesse colocar a tampa de volta, mas ela puxou-o para fora de seu alcance.

— Não toque! Não toque na água! — Helen praticamente gritou quando uma gota quase fez contato com a mão dele. Ela viu o olhar assustado no rosto de seu companheiro e se sentiu um pouco tola por

sua explosão. — Desculpa. Eu só acho que não é sanitário — ela disse em um tom mais reservado.

— Nós precisamos para a viagem, Helen — ele disse em uma voz muito razoável. — Temos de fechar as tampas.

— Eu vou fazer isso.

Ela fechou as tampas e colocou na mochila que ele mantinha aberta para ela, esfregando uma gota de água para longe entre os seus dedos.

Ele fechou o zíper da mochila, enfiou os braços nas correias, e, em seguida, colocou as mãos na cintura dela com expectativa. Ela se esquivou dele.

Ele era incrivelmente lindo, mas ainda assim. Ele não deveria, pelo menos, se apresentar primeiro?

— Sinto muito, mas quem é você? — ela perguntou, desconfiada. — Orion — ele disse, como se estivesse esperando que tivesse que

se apresentar, e então seus olhos ficaram tristes e intensos. — Pergunta

rápida. Você sabe quem você é? A menina parou, assustada.

— Que estranho — ela disse. — Eu acho que eu esqueci o meu nome.

* * * — Claire, vá ajudar Kate — Matt disse, movendo Jerry para baixo

para que ele transportasse mais do seu peso. — Ela está tendo problemas.

Claire foi e pegou uma das pernas de Jerry de Kate, compartilhando o fardo. Estavam mais longe do carro de Claire do que Matt lembrava. Se tivessem sorte, ele ainda estaria estacionado onde eles tinham deixado.

Ele sinceramente esperava que ninguém tivesse ateado fogo ou cortado os pneus. Se não estivesse dirigível, ele sabia que iria acabar tendo que carregar Jerry de volta para a News Store sozinho. Kate e Claire estavam

desfalecendo, e os gêmeos estavam tão exaustos que mal conseguiam andar.

Ariadne e Jason tinham trabalhado um pouco em Jerry, o suficiente para deixá-lo estável, mas as coisas não pareciam boas para o pai de Helen. Eles precisavam levá-lo de volta para a mansão Delos, onde os

gêmeos poderiam trabalhar com ele aos poucos em vez de tentar curá-lo em instantes, o que os drenavam terrivelmente.

O rosto de Ariadne já estava uma máscara assustadora de pálido. Matt queria tanto ajudá-la que parecia como uma cãibra dentro dele, mas ele não sabia o que ela precisava. Se ele fosse um Descendente, talvez ele

pudesse ser mais útil. Durante a caminhada de vinte minutos para o carro de Claire, os

gêmeos se inclinaram um contra o outro, falando baixinho como se

estivessem encorajando um ao outro com frases pequenas, privadas, que só eles podiam entender. Pareceu levar uma eternidade para carregar

todos para dentro, e, em seguida, Matt teve que andar até a frente e fechar a porta de Claire para ela porque ela mal conseguia levantar os braços.

— Ligue-me se você precisar de alguma coisa — Matt disse a ela.

— Do que diabos você está falando? — Claire se largou sobre o volante, completamente exausta. — Você não vai voltar com a gente?

— Não. Eu estou indo encontrar Zach.

— O quê? — Ariadne protestou fracamente do banco traseiro. — Matt, ele é um traidor.

— Um traidor que estendeu a mão para mim, tentando me dizer que

isso ia acontecer, e eu virei as costas para ele. Zach é meu amigo, Ari — Matt disse uniformemente. — Eu não posso deixá-lo entrar em algo mais

profundo. Eu tenho que ajudá-lo. — Isso não é culpa sua — Ariadne começou a argumentar, mas

Jason puxou-a para trás suavemente.

— Guarde suas forças. Você sabe que nós precisamos ter cuidado agora — ele sussurrou para ela, suas cabeças pendendo perto uma da outra. Ariadne encontrou os olhos dele e imediatamente se aquietou.

Jason olhou de volta para Matt. — Vá buscar o seu amigo. Boa sorte, Matt.

Acenando um adeus rápido quando ele bateu levemente no teto do carro de Claire, Matt se virou e correu de volta para o centro da cidade. Sua cidade, não do deus louco, ele se lembrou ferozmente, antes de

procurar através das multidões frenéticas e mascaradas por Zach.

* * *

— Coloque seus braços em volta de mim — o jovem alto disse. — Por que? — ela perguntou nervosamente, tentando não rir. Ele

sorriu para ela.

— Apenas coloque seus braços em volta do meu pescoço — ele seduziu. Ela colocou. — Agora. Repita depois de mim... Quero que a gente

apareça... hum — ele parou, mordendo o lábio inferior, pensando. — Quero que a gente apareça... hum — ela repetiu de volta para

provocá-lo.

— Eu não me lembro o que eu deveria dizer — ele disse através de um riso envergonhado.

— Então não deve ter sido muito importante, certo? — ela disse

logicamente. — O que estamos fazendo aqui, afinal? — Eu não sei. Mas seja qual for o motivo, obrigada. — Ele moveu as

mãos da sua cintura para cima em suas costas, pressionando-a para mais perto dele quando ele sentiu sua forma sob suas mãos.

— Será que estamos namorando? — perguntou a menina.

— Eu não sei, mas parece que sim — ele disse, apontando para seu abraço apertado. — Vamos dar uma checada. — Ele abaixou a boca para

a dela e a beijou. Seus joelhos derreteram. Esse cara era um bom beijador. O único

problema era que a menina não tinha ideia de quem ele era. Ela se

afastou e piscou algumas vezes para clarear sua visão, sentindo que algo estava errado.

— Espere. O seu nome é Lucas? — ela perguntou.

— Não. Eu sou... espere. Eu conheço esse. Eu sou Orion — ele finalmente decidiu.

— Eu provavelmente vou me chutar por isso mais tarde, mas eu acho que você não é meu namorado.

— Sério? — ele perguntou, em dúvida. — Porque isso pareceu muito

bom.

— Sim, pareceu — ela meditou. — Você sabe de uma coisa? Eu

odiaria estar errada sobre isso, então talvez nós devêssemos verificar de novo? — Ela o beijou, e desta vez ela se soltou completamente só para ter

certeza. Uma pequena voz em sua cabeça continuava dizendo, Esse não é ele, mas o resto dela estava realmente gostando de beijar esse Orion.

Ele guiou-a para o chão, cuidando para não esmagá-la debaixo dele. A pequena voz começou a gritar. Ela tentou ignorá-la porque esse cara parecia incrível, mas não importava o que o resto de seu corpo estava

dizendo, a voz maldita não iria calar a boca até que ela se afastasse dele. — Me desculpe, mas eu acho que isso não é certo — ela disse

relutantemente, incapaz de se impedir de correr os dedos por seus cachos

macios uma última vez. O gesto parecia estranhamente familiar. Ela olhou para o rosto confuso dele e notou que ele tinha algo preso às costas,

e a menina pensou que era estranho, considerando o que eles estavam fazendo e tudo mais.

— Por que você está usando uma mochila?

— Eu não sei — ele disse, alcançando as suas costas para tocar, como se ele mesmo tivesse acabado de notar isso. Seus olhos queimaram

e ele respirou fundo quando sua mão sentiu as formas através do lado de fora. Os conteúdos fizeram um som espirrando. — A água! Helen, me deixe ver seu braço! — ele disse, se inclinando de volta e lendo do seu

braço. Ela ouviu o nome Helen e se lembrou que era dela. — Sinto muito. Eu quase me esqueci — ele disse em uma voz

trêmula quando ele saiu de cima dela e a ajudou a levantar. Ele colocou os braços dela ao redor de seu pescoço e, em seguida, colocou as mãos nos quadris de uma forma superficial, e toda a sedução se foi. — Diga

isso. Quero que a gente apareça perto das Fúrias. Helen viu uma árvore torcida em sua mente, e uma encosta de

pedras afiadas e espinhos. Algo lhe dizia que isso era importante e que

ela deveria incluir isso. — Quero que a gente apareça na encosta sob a árvore das Fúrias —

ela disse claramente. O calor era insuportável, mas a luz fixa e ofuscante era ainda pior.

Helen protegeu o rosto com a mão e piscou várias vezes, tentando relaxar

a sensação de aperto em seus olhos quando suas pupilas se rebelaram contra o insultante brilho. O ar estava tão seco que o gosto era amargo e cáustico, como se ele estivesse tentando vasculhar a umidade na boca de

Helen. Ela lambeu os lábios secos e olhou em volta. A uma curta caminhada

estava uma árvore que era tão velha e faminta que mais parecia uma corda torcida do que uma planta. Sob a sombra dessa árvore estavam três meninas trêmulas.

— Nós dissemos a vocês para não desperdiçarem seu tempo — a do meio falou. — Nós somos uma causa perdida.

— Bobagem — Orion disse alegremente. Ele pegou a mão de Helen e a levou para a árvore. As três Fúrias se afastaram deles.

— Não, você não entende! Eu acho que eu não posso suportar a

sensação dessa alegria, apenas para perdê-la novamente — a menor

sussurrou urgentemente, com a voz mais silenciosa do que o farfalhar

das folhas. — Eu também não posso — a líder disse, tristemente.

— Nem eu — concordou a terceira. — Eu acho que não devemos beber, irmãs — decidiu a menor. —

Nossa carga já é pesada o suficiente.

As Fúrias começaram se encolher para longe de Helen e Orion, de volta para a sombra escura de sua árvore. Helen percebeu que elas estavam se encolhendo para longe de algo que poderia torná-las felizes,

mesmo que fosse apenas por alguns momentos. Ela reconheceu nela esta abnegação, e algo dentro dela se iluminou.

Lucas. Será que ela realmente preferiria esquecer Lucas completamente? As comportas se abriram, e todas as memórias de Helen voltaram correndo em 3-D. Ela viu o farol no Great Point, seu ponto de encontro

com Lucas. Ela também viu um outro farol, do tamanho de um arranha-céu, e em forma de um octógono. Lucas estava esperando por ela lá,

prestes a lhe pedir para fugir com ele. De pé na luz oblíqua de inverno, ele brilhava como o sol em sua armadura. Armadura?

— Eu sei exatamente o que você quer dizer. Eu sei — ela disse para a menor, tentando livrar da sua cabeça a imagem de Lucas decolando de uma armadura de bronze. — E no que me diz respeito, o júri ainda

continua nesse argumento todo de “é melhor ter amado e perdido”. Mas desta vez é diferente. Isso não vai engolir vocês inteiras e depois abandoná-las, como a alegria sempre fez. Nós trouxemos uma coisa que

vai durar para sempre. — O que é isso? — a líder perguntou com esperança cautelosa.

— É a felicidade. Orion olhou para ela bruscamente, e ela concordou para ele ir em

frente. Ainda incerto, mas seguindo seu exemplo, Orion se adiantou e

tirou a mochila. Quando ele tirou os três cantis as Fúrias podiam ouvir o líquido se movendo dentro de seus recipientes, e foi demais para elas resistirem.

— Estou tão sedenta — a terceira choramingou, tropeçando para frente desesperadamente para pegar um cantil. Suas duas irmãs

rapidamente desistiram e seguiram o exemplo, e as três Fúrias engoliram a água.

— Você realmente acredita nisso? Ignorância é uma benção? —

Orion disse baixinho para Helen. Pelo olhar complicado que ele lhe deu, ela poderia dizer que ele tinha todas as suas memórias de volta também.

— Para elas? Definitivamente. — E para você? — ele persistiu, mas Helen não tinha uma resposta.

Ele olhou para longe dela e ficou tenso. — Eu não quero esquecer nada

sobre hoje à noite. Ou sobre você. — Não, eu não quis dizer isso — Helen começou a dizer, percebendo

que ela tinha machucado ele. Ela estava prestes a explicar que ela não

estava falando sobre esquecer o beijo, mesmo que apenas o pensamento disso fazia todo o seu corpo esquenta e corar da cabeça aos pés, mas

Orion balançou a cabeça e fez um gesto para as Fúrias. Elas haviam terminado seus cantis, e estavam olhando ao redor timidamente, rindo e

encolhendo os ombros uma para a outra como se estivessem esperando

algo acontecer. — Oi — Helen disse. As Fúrias se entreolharam com um rápido

medo. — Tudo bem — Orion disse em sua voz domadora de animais

selvagens. — Nós somos seus amigos.

— Olá, amigos? — a líder disse, e então virou as palmas das mãos para cima em um gesto interrogativo. — Perdoem a minha confusão. Não é que eu não acredite que vocês sejam nossos amigos, eu apenas não sei

quem nós somos. Suas irmãs sorriram e olharam para o chão com alívio, agora que a

razão de sua ansiedade estava a céu aberto. — Vocês são três irmãs que se amam muito. Vocês são conhecidas

como as Euménides. As bondosas — Helen disse a elas, lembrando o

pouco que podia da Oresteia escrita por Ésquilo. Foi a primeira coisa da literatura grega que ela tinha lido, antes mesmo dela saber que ela era

uma Descendente. Parecia há tanto tempo atrás. — Vocês têm um trabalho muito importante. Que é...

— Vocês escutam as pessoas que foram acusadas de crimes terríveis

e se elas forem inocentes, vocês oferecem proteção a elas — Orion terminou por Helen quando ela tropeçou.

As três Euménides se entreolharam e sorriram, sentindo que essa era a verdade. Elas se abraçaram e se cumprimentaram como irmãs, ainda sem compreender plenamente tudo o que tinha acontecido com

elas, e que preocupava Helen. — Eu meio que pulei um monte dessa parte. Eu não sei muito sobre

as Euménides — Helen admitiu baixinho para Orion.

— Nem eu — ele sussurrou de volta. — O que nós vamos fazer? Não podemos deixá-las assim.

— Eu posso levá-las para alguém que possa explicar isso melhor — ela disse, erguendo a voz para incluir as meninas. — Todo mundo juntem as mãos. Vou levá-las para a rainha.

As três meninas coraram timidamente ao pensamento de ficarem diante de uma rainha, mas elas obedeceram Helen e as mãos se juntaram

ao grupo em um círculo completo. Helen nunca tentou mover tantas pessoas de uma só vez, mas ela sabia que poderia fazer.

Perséfone parecia estar esperando por eles. Ou talvez ela só estivesse

sentada em seu jardim, olhando para o espaço — Helen não podia ter certeza. Seja o que for que Perséfone estivesse fazendo, ela não se surpreendeu com a chegada de Helen e Orion e as três Euménides recém-

criadas. Ela saudou a todos com sua característica gentileza. Sem perder o

ritmo ou precisar de uma explicação de Helen e Orion, Perséfone assumiu o comando das três irmãs e prometeu prepará-las para a sua nova vida que seria algo como advogadas de defesa dos sobrenaturais. A primeira

coisa que ela ofereceu para as Euménides foi refúgio em seu palácio, e a segunda foi um banho. As três irmãs quase suspiraram de felicidade com

a ideia de se livrarem do pó da terra seca.

Perséfone levou o grupo para a parte de trás na beira do jardim onde

ele terminava em uma grande escadaria que levava ao preto Palácio de Hades. Na parte inferior dos degraus de adamantino, Perséfone parou e

educadamente informou que Helen e Orion não poderiam ir mais longe. No meio da escada ela se virou para enfrentá-los de uma maneira formal. Helen tinha a sensação de que se tratava de algum tipo de ritual, como

uma bênção, ou talvez até mesmo uma maldição. — Ao longo dos milênios, muitos descobriram que seu destino era

tentar fazer o que você fez. Todos eles falharam. A maioria d’Aqueles que

Descem e seus Protetores queriam apenas matar as Fúrias, ou quebrar a maldição usando truques de mágica e até chantagem. Vocês dois foram

os únicos que foram humildes o suficiente para ouvirem a minha sugestão e então corajosos o suficiente para usarem a compaixão como uma cura, ao invés da força. Com sorte, vocês vão se lembrar destas

lições nos dias que estão por vir. De repente, ela levantou a voz, como se estivesse fazendo um

anúncio para um grande público. — Eu tenho testemunhado essa encarnação dos Dois Herdeiros, e

eu digo que eles foram bem-sucedidos. Como rainha do Mundo Inferior,

eu acho que ambos são dignos. As palavras de Perséfone caíram como pedras. Helen teve a estranha sensação de que milhões de olhos

fantasmagóricos estavam assistindo e presenciando este juramento. Pegando a sugestão de Orion, Helen cruzou os braços em um X sobre o

peito e fez uma reverência para a rainha. Uma onda de mentes fluindo ultrapassou-os como um vento sussurrando, deixando fragmentos de sonhos mortos, dúvidas e esperanças que penduravam no ar como

questões meio-acabadas. O ritual estava completo. — Dignos de quê? — Helen sussurrou para Orion, mas ele deu de

ombros distraidamente, sua atenção captada pela porta escura que dava para o palácio. Um vulto em um manto apareceu de trás da porta trancada no topo das escadas. Apesar de ter sido proibida a entrada no

palácio, Orion começou a subir as escadas como se ele fosse atraído pela aparição.

— Não, Orion! — Helen repreendeu com medo quando ela agarrou

seu braço e puxou-o para trás. — É Hades. Não vá a nenhum lugar perto dele.

Ela se agarrou a Orion, certa de que algo terrível aconteceria se o homem e o deus ficassem cara a cara. Ouvindo a nota de desespero na voz de Helen, Orion cedeu e voltou a descer as escadas para se juntar a

Helen na parte inferior. — Aquela que Desce — Hades disse em uma voz gentil, não

perturbado pelo comportamento agressivo de Orion. Ele falou

suavemente, mas o som fluiu em todos os lugares e seu tom era de desaprovação. — Você não fez como eu sugeri.

— Peço desculpas, senhor. — Helen atormentou o seu cérebro pelo que ele havia sugerido. Havia um monte de imagens confusas nadando lá dentro. Um passeio na balsa de Nantucket para o continente estava

misturado com o deque de madeira de um navio de guerra gigante e o

som de remos rangendo. Uma caminhada em uma praia de areia branca

se transformou em uma praia manchada de vermelho com sangue debaixo dos seus pés. Ela piscou e tentou se livrar das imagens mentais.

Ela sabia que ela as tinha visto antes, mas não sabia como ou onde. — Certifique-se de remediar isso, sobrinha. Os Descendentes estão

correndo contra o tempo — Hades advertiu tristemente quando ele e sua

rainha desapareceram nas sombras de seu palácio. — O que significa isso? — perguntou Orion, virando para Helen

urgentemente. — Sobre os “Descendentes correndo contra o tempo”?

— Eu... eu não sei! — ela gaguejou. — Bem, o que Hades lhe sugeriu? — Orion estava tentando manter

a calma, mas ela podia ver que ele estava realmente frustrado com ela. — Helen, pense.

— Era para eu pedir ao Oráculo alguma coisa! — ela deixou escapar

em uma voz estridente. — Algo sobre a missão. — O que era?

— Algo sobre perguntar a Cassandra o que ela pensava sobre libertar as Fúrias. Eu deveria perguntar se ela achava que era uma boa ideia. Mas isso é bobagem, porque ela está me ajudando a fazer isso, então é

claro que ela está bem com isso! Orion franziu o cenho sombriamente, e Helen sabia que ela tinha

realmente feito besteira. Agora que ela pensava nisso, não aceitar os conselhos de um deus pareceu uma coisa incrivelmente estúpida de se fazer.

— Sinto muito — ela murmurou, sentindo-se como uma idiota. — Bem, é tarde demais, de qualquer maneira. Além disso, eu não

ponho muita fé em Oráculos. Não se preocupe sobre isso — ele disse com

desdém. Mas ele ainda não olhava para ela. Helen pediu desculpas novamente e prometeu perguntar a Cassandra logo que pudesse, mas

Orion continuou franzindo a testa para o chão, imerso em pensamentos. Ela estendeu a mão para tocar o braço dele e chamar sua atenção.

Mas antes que pudesse fazer isso, Helen se sentiu ser pega por mãos

enormes. Ela cambaleou contra Orion, agarrando-se a ele.

* * *

Matt levantou uma mulher inconsciente na rua, abriu a porta de um carro abandonado, e deixou-a no banco. Felizmente, ela estaria mais segura lá do que deitada no chão. Havia um monte de pessoas que

voltaram aos seus sentidos depois de serem pisoteadas pelas hordas em pânico, e elas o chamavam para ajudar. Matt fez o que pôde, mas assim que os mais vulneráveis foram cuidados ele fugiu, sentindo-se como se

estivesse traindo todo mundo que ele deixou para trás. Ele queria ajudar a todos, mas ele sabia que primeiro ele tinha que

encontrar Zach, e ele tinha que fazer isso enquanto ele ainda tinha um pouco de força. Cada músculo em seu peito e braços estava doendo, e alguns deles estavam começando a se contorcer, só para deixá-lo saber o

quão infelizes eles estavam com o novo hobby do chefe de arrastar pessoas inconscientes ao redor.

Matt esfregou um de seus muitos pontos doloridos e girou em um

círculo. Ele não tinha ideia de qual caminho seguir. Ele lembrou-se que Helen disse que ela tinha visto Zach pela última vez indo para Surfside.

Fazendo uma tentativa inútil, Matt arrancou para uma direção não específica, e acabou seguindo um palpite que o levou direto para o terreno da escola.

Alguém estava no campo de futebol, jogando passes em espiral perfeitos por uma rede de futebol. Matt correu através da dura grama gelada a tempo de ver Zach enterrar uma no fundo da rede.

— Você viu aquilo? — Zach perguntou, mal olhando para Matt. — Foi bonito.

— Sim, foi. Mas você sempre teve um bom braço. Você poderia jogar como aquele primeiro ano — Matt respondeu, perto o suficiente agora para ver Zach à luz da lua brilhante. Ele parecia horrível — pálido, suado

e assombrado. Se Matt não conhecesse ele melhor, ele teria pensado que Zach estava usando drogas pesadas. — É sobre isso que tudo se trata?

Futebol? — Como você faz isso? — Zach perguntou com uma carranca amarga

em seu rosto. — Como você sai com eles? Vê eles fazendo as coisas que

podem fazer e não os odeia? — É difícil às vezes — Matt admitiu. — Droga. Eu queria poder voar. — Não é? — Zach disse através de uma risada. Havia lágrimas por

trás desse som, no entanto, e Matt ouviu elas ameaçando sair. — É como se você acordasse um dia e há todos esses invasores, levando suas

oportunidades para longe. Eles não são daqui, mas nós devemos tentar competir com eles? Não é justo.

Havia um tom perigoso na voz de Zach. Ele parecia calmo quando

Matt sabia que ele não estava. Matt se afastou da sua posição, apenas no caso de Zach fazer algo louco.

— Eu sei que um monte de Descendentes diria o mesmo sobre o que está acontecendo com eles — Matt disse uniformemente. — Eu entendo como você se sente, Zach, eu entendo. Várias vezes eu os invejei, até

mesmo me ressenti deles um pouco. Mas então eu me lembro que eles não escolhem ser Descendentes, e eu não encontrei um que não sofreu por isso. Eu não posso culpá-los por terem nascido o que eles são,

especialmente quando todos eles perderam tanto por causa disso. — Bem, você sempre foi uma pessoa melhor, não foi? — Zach

zombou, e se virou para ir embora. — Volte comigo. Venha para a mansão Delos. Vamos resolver tudo

— Matt disse, agarrando seu braço e fazendo Zach encará-lo.

— Você está louco? Olhe para mim, cara! — Zach disse, empurrando Matt para longe dele violentamente e puxando sua camisa para Matt poder ver claramente que suas costelas estavam cobertas de enormes

contusões pretas. — Esta é a forma como ele me trata quando eu sou leal.

— Eles vão protegê-lo. Todos eles vão — Matt prometeu, horrorizado com o que tinha acontecido a seu amigo, mas tentando manter a voz

calma. Os olhos de Zach se estreitaram e ele colocou sua camisa para baixo.

— Ah, então agora você se sente mal. Agora você quer me ajudar.

Deixe-me adivinhar, você precisa de alguma coisa. — Eu só quero mantê-lo vivo! — Matt estava tão insultado que ele

queria bater em Zach, mas ele gritou com ele em vez disso. — Eu estava errado. Eu deveria ter estado lá por você na primeira vez que você veio até mim. Eu entendo isso agora, e eu realmente sinto muito. Mas mesmo

se você nunca me perdoar e você ainda estiver jogando isso na minha cara cinquenta malditos anos a partir de agora, eu ainda não quero que você morra, seu bastardo idiota! Eu realmente preciso de outra razão

para querer ajudá-lo? — Não — Zach respondeu, humilde. — Você é a única pessoa no

mundo que eu acredito que estaria disposto a me ajudar. Mas não adianta. Mais cedo ou mais tarde ele vai me matar. — Ele se virou e começou a andar pelo campo.

— Então nós vamos ter que matá-lo primeiro — Matt ergueu a voz atrás de Zach.

— Você não tem ideia de como — Zach reagiu com ironia sobre seu ombro.

— Por quê? Porque ele é irmão de sangue de um deus?

As costas de Zach endureceram e seu passo ficou mais lento. — Qual? — Matt pressionou, dando vários passos para mais perto

de Zach. — Diga-me que deus e talvez possamos encontrar uma maneira

de se livrar dele! Zach virou, mas levantou as mãos em um gesto de parada,

advertindo Matt para não segui-lo. Ele recuou enquanto falava, e o olhar que ele deu a Matt era duro e sem esperança.

— Vá para casa, cara. E pare de ajudar os Descendentes! O tumulto

de hoje à noite não é nada comparado com o que está por vir, e eu não quero que nada de ruim aconteça com você. Os deuses têm um lugar

especial escolhido no inferno para os completos mortais que lutaram contra eles, você sabe.

— Como você pode saber o que os deuses têm planejado? — Matt

gritou atrás dele. — Automedon não trabalha para Tantalus? Zach, me responda! Qual deus é irmão de sangue de Automedon?

Mas Zach tinha desaparecido na escuridão.

Traduzido por I&E BookStore

elen? — Orion disse de longe, muito longe.

— Deuses, você é pesado — Lucas gemeu.

Helen não conseguia descobrir por que eles estavam fazendo tanto barulho quando ela estava tentando dormir. Isso era rude.

— Desculpe, mas eu não estava esperando que estivesse tão cheio

aqui — Orion respondeu com uma voz irritada. Helen tentou se lembrar onde “aqui” era.

— Não é o que você pensa. Eu vim para protegê-la enquanto ela descia — Lucas grunhiu. — Sabe de uma coisa? Se ela não acordar,

afasta ela para o lado. — Por que vocês dois estão sendo tão barulhentos? — Helen

murmurou irritada, finalmente abrindo os olhos.

Ela viu que ela estava de bruços em cima de Orion, e ele, por sua vez, tinha Lucas preso debaixo dele. Todos eles estavam empilhados em sua cama minúscula, em um emaranhado de cobertores polvilhados com

gelo, como o glacê sobre um bolo de camadas. Depois de tudo o que tinha acontecido no Mundo Inferior, tinha escorregado da mente de Helen que

ela havia descido enquanto Lucas a segurava em seus braços, e mesmo que um monte havia acontecido nesse outro universo, apenas milissegundos tinham passado antes de ela reaparecer de volta em sua

cama com Orion em seus braços. Helen olhou para o sanduíche de Descendentes e tentou não corar.

Não havia nenhuma razão para ela estar envergonhada com nada disso,

certo? — Por que você é tão pesada? — perguntou Lucas sem fôlego

enquanto o ar estava pressionado fora de seus pulmões. — Eu levantei ônibus escolares com menos esforço.

— Eu não sei — Helen murmurou, e tentou liberar a gravidade. Não

funcionou inteiramente, embora ela se sentiu ficar um pouco mais leve. — O que diabos está acontecendo?

— O que há de errado? — Orion perguntou. — Eu não consigo flutuar! — Ela estremeceu quando o gelo em seu

cabelo derreteu e transformou-se em água fria que desceu na parte de

trás de seu pescoço. — Acalme-se e tente novamente — disse Lucas suavemente. Ela o fez, e depois de alguns momentos funcionou. Ela pairou sobre

Orion enquanto ela desenrolava os cobertores constritivos, e, em seguida, flutuava para longe dele.

— Isso é tão incrível — Orion disse, olhando para Helen com admiração enquanto ele saía de cima de Lucas e da cama.

—H

— Você nunca viu Helen voar? — disse Lucas, e então ele balançou

a cabeça quando a razão do porquê lhe ocorreu. — Não há poder no Mundo Inferior. Hum — ele murmurou para si mesmo, olhando para o

gelo em rápida fusão na cama de Helen, imerso em pensamentos. — Lucas, nós conseguimos — disse Helen. Ele olhou para ela,

descartando rapidamente seus pensamentos absorventes. — Estamos

todos livres... os Descendentes, as Fúrias. Todos nós. — Tem certeza? — ele perguntou, quase se atrevendo a sorrir. — Só há uma maneira de descobrir — disse Orion. Ele pegou seu

telefone, discou e esperou até que alguém do outro lado respondeu. — Hector. Nós achamos que acabou. Venha na casa de Helen tão rápido

quanto você puder. — Ele terminou a chamada e olhou para Helen e Lucas, impassível. Os olhos de Lucas se arregalaram de preocupação.

— Você tem certeza que foi uma boa ideia? — Helen perguntou a

Orion, incerta. — Não, ele está certo — disse Lucas, e pareceu preparar-se para um

outro encontro com seu primo. — É melhor testar isso com apenas nós quatro. É mais seguro.

— Ok. Mas podemos fazer isso lá fora? — Helen perguntou

timidamente. — Meu pai ama de verdade esta casa. Assim que Helen disse isso, ela foi esmagada por uma preocupação

com Jerry. Ela colocou o pensamento nele em segundo plano para que

ela pudesse se concentrar no que ela precisava fazer, mas agora que ela não estava correndo como uma louca pela primeira vez no que tinha que

ser o dia mais longo de sua vida, Helen estava desesperada para descobrir o que havia acontecido com seu pai.

Ela levou Lucas e Orion até seu quintal da frente e, em seguida,

pegou o telefone para ligar para Claire. — Como está o meu pai? — perguntou Helen, logo que ela

respondeu. — Ahh. Vivo — Claire disse timidamente. — Olha, Lennie, eu não

vou mentir para você. É ruim. Nós estamos no caminho de volta para a

mansão agora. Jason e Ari vão trabalhar nele lá, mas além disso, eu não sei o que te dizer. Eu estou dirigindo, então é melhor eu desligar. Eu ligo mais tarde se acontecer alguma coisa, ok?

— Ok — Helen tentou dizer, mas saiu um sussurro. Ela clicou no botão de finalizar e limpou suas bochechas molhadas rapidamente antes

que ela olhasse para cima. Orion e Lucas estavam olhando para ela. — Jerry está...? — Orion começou. — Ele não está bem — disse Helen em uma voz estranhamente alta.

Helen começou a andar, e ela não sabia o que fazer com as mãos ou os pés. Ela tocou em seus bolsos inexistentes, correu os dedos pelos cabelos bagunçados e puxou a roupa. Era como se todas as suas

extremidades tivessem acabado de levantar e começado a voar na brisa, como um daqueles bonecos infláveis dançando fora de uma

concessionária de carros. Sem Jerry, ela era apenas uma grande ponta solta.

— Jason e Ariadne são muito talentosos, Helen — disse Lucas, em

voz baixa. — Eles vão lutar por ele. Você sabe disso, certo?

— Sim — Helen disse de maneira distraída, ainda andando. — E se

eles não puderem salvá-lo, eu vou descer e eu vou... — Não diga isso, Helen — Orion a interrompeu com urgência. —

Você pode ser Aquela que Desce, mas Hades ainda é o senhor dos mortos. Lembra o que aconteceu quando você disse que iria libertar Perséfone? O quão facilmente ele lidou com você? Nem sequer pensou sobre a tentativa

de você roubá-la. — Ele não pode ter o meu pai — ela disse, de repente muito quieta.

Ela olhou para cima e olhou para Orion, desafiando-o a desafiá-la. — Vou virar o Mundo Inferior de cabeça para baixo e agitá-lo até que Jerry caia fora dele se eu tiver que fazer isso, mas ele não pode ter o meu pai.

— Helen — Lucas disse, seu rosto como uma máscara de medo, — nenhum mortal pode enganá-lo ou vencê-lo. Por favor, escute...

— Luke? — a voz questionadora veio do outro lado do pátio escuro.

Lucas girou ao redor para enfrentar Hector, que estava caminhando em direção a eles pelo gramado de Helen. Tudo o que ele ia dizer a Helen

foi imediatamente esquecido. Hector parou a poucos passos de distância de Lucas, e eles se encararam de forma tensa, ambos esperando as Fúrias. Que não vieram.

— Filha da mãe — Lucas sussurrou, atordoado demais para se mover por um momento. Ele olhou para Helen, chocado. — Você

realmente conseguiu. Os primos se reuniram e apertaram um ao outro em um abraço

feroz, ambos pedindo desculpas ao mesmo tempo. Enquanto Helen

olhava, ela sentiu Orion olhando para ela. Ela olhou para ele e encontrou-o olhando para ela com preocupação.

— Princesa! — disse Hector quando ele soltou Lucas e pegou Helen

em um de seus abraços. — Eu sabia que você poderia fazer isso. — Eu tive um monte de ajuda. — Helen riu quando Hector levantou-

a do chão e apertou-lhe. — Eu ouvi — disse Hector, colocando-a para baixo para enfrentar

Orion. Ele puxou Orion em um de seus abraços viris enormes, e então se

voltou para Lucas. — Onde está o resto da família? — Quase todos eles estão em nossa casa, mas menos de uma hora

atrás eu vi nossos pais lutando com Eris no tumulto. Parecia que a tinham encurralado, mas eu não vi ninguém lutar com Terror. Ele ainda pode estar à solta. — Lucas deu este relatório com precisão marcial.

— Eu só gostaria de saber por que todos estes pequenos deuses estão fazendo camafeus hoje, depois de tantas décadas de silêncio. — Hector mordeu o lábio. Seus olhos levantaram e encontraram Helen, e

seus ombros caíram quando ela entendeu o que ele quis dizer. Por que tudo sempre era culpa dela?

— Espera. Onde mais os pequenos deuses foram vistos hoje? — perguntou Orion, compartilhando um olhar confuso com Lucas. Hector informou Orion e Lucas sobre Tanatos ter invadido o Conclave em Nova

York, e o fato de que Automedon poder ter quebrado seu contrato com Tantalus.

— Onde está Daphne? — Orion perguntou, preocupado com ela.

— Da última vez que a vi ela estava eletrocutando Skeletor. Por quê?

Você está procurando uma luta para si próprio? — Hector perguntou a Orion com um sorriso diabólico.

— É isso aí — Orion replicou imediatamente, sorrindo de volta para Hector. Helen achou que eles estavam curtindo a perspectiva de um confronto com os pequenos deuses um pouco demais.

Helen teve de sacudir a cabeça para clareá-la. Por alguma razão ela ficava vendo Orion e Hector de armadura. Quando Hector voltou-se para incluir Lucas, seu déjà vu ficou ainda pior. Por um momento, parecia que

Lucas usava algo que parecia uma toga. — Espera, pessoal. O pai de Helen ficou ferido. E eu não tenho

certeza se eu gosto da ideia de ela estar no meio do tumulto com Automedon à solta — Lucas interrompeu antes que pudessem ir. Ele olhou para ela e sua testa enrugou com preocupação quando viu seu

rosto. — Ah, Helen? Você está bem? — Sim — ela disse, balançando-se e esfregando as têmporas. — Eu

estou tão cansada que eu acho que estou começando a ver coisas. — Como um palácio de mármore iluminado por tochas e todos vestidos com couro e bronze.

— Então vá para o seu pai — disse Hector. — Pessoalmente, eu acho que você pode derrotar o Myrmidon, mas tanto faz. Fique segura. Nós três podemos lidar com isso sem você.

— Não, eu deveria ajudar. — Vá — disse Orion, revirando os olhos para ela. — Se entrarmos

em apuros, você pode vir nos resgatar com seu raio todo-poderoso, ok? — Tem certeza? — ela disse com um sorriso agradecido, já se

levantando ao ar.

— Isso é malditamente impressionante — Orion arfou, esquecendo tudo para se maravilhar com Helen enquanto ela flutuava acima dele.

Agindo por impulso, ele estendeu a mão e correu a parte de trás dos seus dedos ao longo da parte de trás da panturrilha dela. Helen engoliu em seco ao redor do nó na garganta e olhou para Lucas, que estava

propositadamente olhando para outro lugar. Orion seguiu os olhos de Helen e deixou cair sua mão, percebendo o que ele estava fazendo.

— Dê o fora daqui, princesa — disse Hector com conhecimento de

causa. — Vá cuidar de Jerry. Helen não podia deixar de olhar para Lucas e balbuciar as palavras

Tenha cuidado para ele quando Hector e Orion voltaram-se para o centro da cidade.

— Você também — ele sussurrou de volta, seus olhos quentes. Seu

estômago já estava cheio de borboletas do toque íntimo de Orion, e agora elas aumentaram ainda mais. Lucas se virou e começou a correr para

manter o ritmo com Hector e Orion, deixando-a sem fôlego pendurada em pleno ar. Enquanto ela os observava ir em alta velocidade para fora, ela não podia decidir mais para quem ela queria olhar — Lucas ou Orion.

Sua atenção estava tão dividida entre os dois que ela sentiu como se estivesse assistindo a uma partida de tênis.

Profundamente confusa, Helen voou para Nantucket, pousou no quintal da família Delos, e se obrigou a mudar de marcha e se concentrar

em seu pai. Ela correu para dentro da casa e foi direto para Noel, que

estava na cozinha, cozinhando energicamente. — Helen! — ela disse, mal olhando para cima a partir da panela de

setenta e cinco litros que ela estava mexendo. — Desça as escadas, passe pela sala de ginástica e vá para o porão. Você vai encontrar três freezers. Abra o menor e pegue o grande assado. Rápido, rápido! Todo mundo vai

estar com fome. — O menor. Grande assado. Entendi — disse Helen, e correu para

realizar a tarefa de Noel. Ela nem sequer tentou argumentar. Ela podia

não ter estado em torno da família Delos por muito tempo, mas sabia o suficiente para saber que quando ela estava na cozinha de Noel era

melhor fazer como lhe foi dito. Ela voltou em meio segundo e colocou um assado congelado do tamanho de um boi na pia que Noel estava apontando de forma incomodada.

— Eles estão trabalhando em Jerry no quarto de hóspedes que normalmente colocamos você — disse Noel, finalmente voltando-se para

Helen com um olhar simpático. — Vá silenciosamente. Se um ou ambos os gêmeos estiverem dormindo, não os acorde. Pode prejudicá-los.

— Ok. Obrigada — disse Helen.

Ela torceu as mãos e arrastou os pés, não sabendo o que fazer com ela mesma. Ela sabia que deveria ir lá para cima e verificar seu pai, mas ela não queria vê-lo ferido. Ela sentiu as pontas soltas começando a bater

de novo. Olhando para o ataque de inquietações de Helen, os olhos de Noel

se arregalaram e ela imediatamente largou a colher de madeira queimada, limpou os dedos no avental e puxou Helen em um abraço grande e macio. De primeira Helen ficou assustada e dura, mas depois

ela apenas se soltou e realmente se inclinou para ela. Noel cheirava a massa de pão e pó de bebê. Helen não poderia se lembrar de ninguém

além de Kate que sempre parecia tão fofa e relaxante. Era como abraçar um muffin quente.

— Melhor? — Noel perguntou quando ela se inclinou para trás e

olhou para Helen avaliadoramente. — Você parece exausta. Você parou de sonhar de novo?

— Não, eu consigo sonhar — disse Helen, rindo um pouco quando

ela alisou o vestido agora amassado e sujo e se perguntou como Noel sabia sobre a coisa toda de não sonhar. — Tem sido um dia muito longo.

— Eu sei, querida. E você já fez muito — disse Noel, colocando o rosto de Helen em suas mãos e olhando-a fixamente com olhos arregalados e amorosos. — Obrigada por trazer meu Hector de volta para

nós. — Noel beijou-a na testa, o gesto lembrando Helen de Lucas. Que lembrou Helen...

— Espera. Como você poderia saber sobre Hector? Isso aconteceu, tipo, há cinco minutos atrás.

— Todos os meus meninos me ligam primeiro sempre que eles têm

notícias realmente boas ou realmente ruins. São as notícias entre essas que os meninos não são tão bons — disse Noel com um sorriso e os olhos

apertados. — Você vai ver por si mesma algum dia. — Então ela se voltou

para o balcão, pegou uma faca gigante, picou algo como se a tivesse

insultado e jogou seus pedaços pesarosos em uma panela borbulhante. Surpreendendo a si mesma, Helen colocou os braços ao redor de

Noel de lado e roubou um rápido abraço. Noel distraidamente beijou o topo da cabeça de Helen e acariciou seu cabelo enquanto ela se mexia, como se ela fosse acostumada a dar e receber afeto aleatório em qualquer

momento a partir de qualquer criança em seu círculo interno. Mais relaxada agora e pronta para lidar com as coisas, Helen subiu as escadas para encontrar seu pai.

* * * Automedon deixou seu mestre no estranho meio da terra na parte

inferior da caverna, acima do solo, e chamou seu escravo. O menino mortal não estava acostumado à sua nova vida de servidão, mas felizmente para ele, ele era moderadamente inteligente e não cometia

muitos erros. Assim que Automedon retransmitiu instruções para a caverna e questionou após as disposições arranjadas, ele não correu de

volta para Nantucket, ainda sem certeza se a maldição das Fúrias tinha sido inteiramente suspensa ou não. Ele estava disposto a aproveitar a oportunidade e avançar com o plano de uma ou outra maneira, mas levou

um total de trinta e oito minutos para voltar e localizar o Rosto. De primeira, Automedon tinha olhado para ela em casa, mas

encontrou apenas seu aroma persistente fortemente no jardim da frente.

Ele pôde provar que ela não estava sozinha, e que mesmo o Banido tinha estado com ela na casa dela. Um breve olhar para o chão disse a

Automedon que não tinha havido nenhum confronto, nenhuma luta induzida pelas Fúrias. Havia apenas uma explicação para isso.

Aquela que Desce tinha sido bem-sucedida! Depois de tanto esperar

e vigiar, depois de tantas gerações provarem-se indignas, era finalmente a hora. Seu mestre estava certo. Tudo o que ela precisava era de um

pequeno empurrão, um pouco de incentivo para desvendar tudo, e ela conseguiu. Esta não era uma sósia. Esta Descendente era a princesa que ele estava esperando — a verdadeira Helena.

Empolgado por esta nova vitória, Automedon provou os caminhos. Eles ainda estavam tão frescos que ele podia sentir as emoções dos Descendentes. Não havia nada além de fraternidade no ar — fraternidade

e amor eterno. O sabor do amor elevou-se, e, em seguida, desapareceu nos ventos turbulentos da atmosfera. Ela deve ter voado para longe. Os

homens tinham definitivamente fugido juntos para o centro da cidade, em direção à distração que havia sido cuidadosamente orquestrada para ocupar o pequeno exército de Descendentes poderosos que guardavam

esta nova e — Automedon poderia jurar diante dos deuses — verdadeira Helena. Até agora, tudo estava indo conforme o planejado, exceto pela

parte mais importante. Automedon continuaria muito quieto. Ele não podia se dar ao luxo

de desperdiçar um movimento. Este era o evento que três mil anos e meio

havia construído. Tudo estava em ordem, tudo estava, finalmente, como

sempre esteve destinado a ser, exceto por uma coisa. Ele tinha que

encontrar Helen. Ela não estava na casa de seu pai mortal. Ela não estava com o

amante. Ela não estava na escola. A menos que Helen tenha deixado a ilha, o que ela quase nunca fez, havia apenas um lugar sobrando: a habitação satélite da Casa de Tebas em Nantucket.

* * * Ambos os gêmeos estavam dormindo, um de cada lado de Jerry na

grande cama branca que Helen tinha se curado depois de sua queda com Lucas. Jerry parecia pálido e afundado, como se tivesse sido esvaziado. Deitados em cima das cobertas e enrolados como gatos na parte inferior

da cama, os gêmeos tinham os olhos fechados no sono agitado. Eles estavam ofegantes e seus dedos se mantiveram tensos em

garras, franzindo as sobrancelhas em uníssono, como se estivessem

compartilhando o mesmo pesadelo. O ar no quarto estava seco como em um deserto. Helen sabia que significava que eles estavam seguindo Jerry

em torno da borda das terras áridas, bem além do Mundo Inferior, tentando pastorear seu espírito assustado de volta para seu corpo. Eles estavam lutando como loucos, isso era óbvio, mas ambos estavam

cobertos de suor e mais pálidos do que folhas de papel. Helen sabia que não iriam durar muito mais tempo.

Kate se levantou de uma cadeira no canto e correu para abraçar

Helen quando ela entrou no quarto. Quando elas se abraçaram, Helen viu Claire sentada no chão do lado de Jason da cama. Claire deu a Helen

um olhar triste e levantou-se cautelosamente, como se suas pernas tivessem adormecido há muito tempo. As três silenciosamente concordaram em ir para o corredor para outro quarto antes de terem sua

conversa, de modo a não perturbar o trio no leito do doente. Por acaso, Kate aconteceu de escolher o quarto de Lucas. Helen

quase recuou, mas depois ela descobriu que ela não podia resistir à tentação de estar perto de tudo o que lhe pertencia.

— O que está acontecendo? — perguntou Helen.

— Jason disse que Jerry se perdeu lá em baixo. Ele disse que tudo isso deveria ter acabado antes mesmo de nós entrarmos no carro e virmos aqui — disse Claire calmamente.

Kate saltou, incapaz de conter-se. — Mas havia algum deus horrível interferindo. Ele deve ter levado o espírito de Jerry na direção errada

enquanto estávamos levando-o para o carro — disse Kate com uma voz trêmula. — E agora os gêmeos não conseguem encontrá-lo.

— Morfeu encontrou-se com Ariadne na fronteira das suas terras

para dizer a ela que foi Ares quem enganou seu pai — disse Claire em voz baixa, e olhou para Kate por comprovação.

— Helen. Por que o deus da guerra está tentando matar seu pai? — perguntou Kate, sua voz tremendo e à beira da histeria. Kate era uma mulher prática e não acostumada a explosões emocionais, mas ela ainda

estava tentando envolver seu cérebro em torno do fato de que tudo o que

ela conhecia como mito era realmente verdade. Helen pegou sua mão e

apertou-a. — Eu deveria ter dito a você — disse Helen, mal capaz de olhar nos

olhos de Kate. — Eu achei que eu poderia protegê-lo se eu mantivesse vocês longe disso, que você e meu pai poderiam continuar com suas vidas se vocês simplesmente não soubessem. Parece tão estúpido agora quando

eu digo em voz alta, mas eu realmente acreditava que poderia dar certo, e eu sinto muito. Ares está tentando chegar até mim. Eu não sei por que ele está fazendo isso, mas eu sei que ele está usando o papai como isca.

— Tudo bem — disse Kate, enxugando uma lágrima vazando e apertando os lábios com determinação. — Então, o que podemos fazer

sobre isso? Como é que vamos salvar Jerry? — Não nós — Helen sussurrou sombriamente, lembrando o aviso de

Morfeu de que Ares sonhava em machucá-la. — Eu. Ares me quer.

— E você simplesmente vai correndo direto até lá para enfrentá-lo, não é? — Cassandra perguntou da porta. Helen se virou para ver

Cassandra de pé atrás dela com seus braços cruzados em raiva. — Mesmo que você saiba que esta é provavelmente uma armadilha?

— Sim. E eu tenho que ir agora.

— Lennie, isso é simplesmente a coisa mais estúpida que eu já ouvi você dizer — disse Claire, a descrença limpando toda a expressão do seu rosto. — Matt é um lutador melhor do que você e ele não é nem mesmo

um Descendente. E você acha que você pode lidar com Ares sozinha? — Sim — disse Helen, olhando ao redor impassivelmente para os

rostos chocados de todos. — Eu sou Aquela que Desce. Eu posso controlar o Mundo Inferior e Ares não pode. Eu não sei o que isso diz sobre mim, que tenho poder sobre esse lugar, mas ele está lá. Aqui, eu

não teria muito poder contra ele, com certeza. Mas no Mundo Inferior eu posso vencê-lo, pelo menos tempo suficiente para pegar o meu pai de

volta. Eu sei disso. Helen caminhou para a cama de Lucas e puxou as cobertas para

baixo.

— Helen. Seu pai não gostaria que você se pusesse em perigo por ele — disse Claire firmemente quando ela colocou a mão no ombro de Helen

e virou-a. Helen não conseguia se lembrar da última vez que Claire a tinha chamado pelo nome completo. Ela, Kate e Cassandra estavam prontas para detê-la, o que elas poderiam fazer facilmente. A menos que

ela as convencesse, tudo o que tinham que fazer era mantê-la acordada. — Eu sei que meu pai não iria querer isso, mas... bem, é uma pena!

— Helen finalmente explodiu em um sussurro áspero, tentando manter

a voz baixa e quase falhando. — Ele vai morrer se eu não levá-lo para longe de Ares, e se os gêmeos ficarem lá por muito mais tempo, eles vão

morrer também. Você sabe que eu estou certa, Claire. Você sabe como cada segundo na fronteira das terras das sombras parece uma eternidade para a alma tropeçando nelas.

Claire baixou os olhos e virou a cabeça, balançando a cabeça dolorosamente. Ela sabia, e a memória ainda a assustava.

— Apenas espere para Orion ir com você — implorou Cassandra, atravessando a sala para a cama de Lucas quando Helen subiu nela.

— Eu não posso. Levaria meia hora para Orion chegar até onde o

portal está no continente de Nantucket. No Mundo Inferior, o tempo se move de forma diferente, mas o espírito do meu pai não está no Mundo

Inferior ainda. O tempo não parou, está se arrastando para ele e para os gêmeos, e cada segundo que eu perder aqui parecerá como dias e dias para eles lá em baixo. Jason, Ari e o meu pai não vão durar naquele

deserto mais meia hora. Eu tenho que ir agora. Kate, Claire e Cassandra olharam umas para as outras com tristeza.

Elas sabiam que Helen estava certa. — Eu gostaria de poder dizer que tudo vai ficar bem, mas eu não

tenho sido capaz de ver o seu futuro há algum tempo. Sinto muito —

disse Cassandra, inclinando-se impulsivamente para beijá-la na bochecha. — Boa sorte, prima — ela sussurrou com ternura, colada ao

pescoço de Helen. Helen estendeu seu outro braço e trouxe Kate e Claire para o abraço

também.

— É melhor vocês saírem agora e fecharem a porta atrás de vocês — ela disse resolutamente enquanto deixava as três irem. — Está prestes a

ficar perigosamente frio aqui.

* * * O Oráculo estava próximo. Isso era um problema. Suas queridas

fêmeas mortais poderiam morrer e não atrapalhar os planos dos Doze, mas o Oráculo era quase tão importante quanto a própria Helen, e, infelizmente, ela era muito mais frágil.

Oráculos verdadeiras que eram fortes o suficiente para suportar o peso esmagador do futuro eram preciosas, e, embora os deuses

estivessem sujeitos à Moiras assim como os mortais eram, eles nunca tinham tido uma Oráculo própria. Procurar uma tinha sido sempre uma prioridade. Esta Cassandra em particular era uma das favoritas de Apolo.

Ele havia esperado por ela há milênios. Ouvindo a conversa entre a princesa e o Oráculo, ele podia ouvi-la

mordendo a isca. Não importava o quão perigoso fosse para ela, ela iria seguir seu pai até as terras das sombras, assim como seu mestre havia previsto.

Automedon tinha uma pequena janela de oportunidade. Ele só podia atacar depois que ela criasse um portal, mas antes que ela descesse. Se ele não a atacasse nesse momento, o amuleto da deusa que ela sempre

usava no pescoço impediria qualquer penetração. Pior do que isso, ela seria capaz de incapacitá-lo com seu raio tempo suficiente para voar para

longe. Ela apenas era vulnerável por um momento — o frio do Vazio era o sinal — e, em seguida, ele teria uma fração de segundo para agir.

Andando em torno do exterior da mansão, Automedon provou o ar

procurando o cheiro de qualquer um de seus protetores. Felizmente, eles estavam com as mãos ocupadas no centro da cidade. Automedon ouviu a Herdeira, a verdadeira princesa da lenda, descartar suas servas com

um abraço carinhoso, e relaxar em um transe de sono, o estado mental de que ela preferia para conjurar o portal. Havia chegado a hora.

Automedon saltou para frente, derrubando a porta da frente, e

correndo pelas escadas sobre as quatro. A mãe mortal levantou a mão para lançar a maldição de Hestia em cima dele, mas ela era muito lenta.

Pulando sobre a preciosa Oráculo para poupá-la, Automedon empurrou as duas servas bonitas, mas inúteis de lado. Ele quebrou a porta do amante em pedaços, saltou sobre a cama, e segurou a cabeça

da princesa adormecida em sua mão direita meio segundo antes que ela descesse, o momento em que ela estava mais vulnerável. Seus lindos olhos cor de âmbar se abriram. De dentro de seu pulso esquerdo,

Automedon deslizou seu ferrão da bainha e perfurou a garganta frouxa da princesa. Seus olhos se agitaram e seus lábios tremeram quando seu

veneno inundou seu sangue. Ele ouviu gritos do corredor e do fundo das escadas, mas o ruído era inconsequente. Ele tinha o seu prêmio, e nenhuma delas era forte o suficiente para impedi-lo de tomá-lo.

A princesa ficou imóvel. Automedon pegou-a e carregou seu corpo paralisado para fora da janela do amante e para fora da ilha.

* * * Lucas assistiu Hector em um borrão enquanto ele saía em disparada

para encontrar seu pai, enquanto ele e Orion ficavam para trás para

ajudar um grupo de pessoas feridas sobre a calçada. Um centro de triagem estava se formando, e as pessoas que viviam na área estavam saindo de suas casas com água, ataduras e kits de primeiros socorros

para ajudar os feridos. Lucas e Orion tinham incitado Hector a ir em frente, mas tiveram que parar quando eles próprios não puderam ignorar

os gritos de socorro. — Devemos verificar o próximo bloco, também — disse Orion quando

eles tinham ajudado o último dos feridos, e os dois começaram a correr

em um ritmo humano no beco mais próximo. — Espera — Lucas chamou Orion enquanto ele pegava seu telefone

zumbindo da calça jeans. Lucas olhou para a tela e viu que era sua mãe. Ele atendeu

imediatamente, já sentindo uma sensação ruim e escorregadia em seu

intestino. — Lucas, ele a levou — ela disse em um tom monótono cortado e

urgente. — Helen estava prestes a descer para ajudar o pai e os gêmeos

quando Automedon arrombou a porta, picou-a, e, em seguida, pulou a janela com ela.

— Quanto tempo atrás? — perguntou Lucas friamente. Os olhos de Orion queimaram enquanto captava as emoções

caóticas de Lucas.

— Há alguns minutos atrás. Claire e Kate foram derrubadas por aquela criatura, e eu acabei de me certificar de que elas ainda estão vivas

— sua mãe respondeu em um tom de desgosto. — Eu não entendo isso, Lucas. Como ele pôde picar Helen? O cinturão...

— Eu tenho que ir. — Lucas desligou na cara de sua mãe, não

porque ele estava com raiva, mas para que ele pudesse pensar. Depois de retransmitir a informação para Orion, ele ficou em silêncio.

— Devemos voltar para a sua casa? Tentar encontrar uma trilha? —

Orion sugeriu. — Não haverá uma — disse Lucas calmamente, desejando que Orion

calasse a boca. — Então o que você sugere? — Orion continuou enquanto ele

examinava Lucas cuidadosamente. Quando Lucas não respondeu ele

levantou as sobrancelhas e repetiu. — Lucas. Eu posso ler seus sentimentos, você sabe. Diga-me o que você está pensando, para que possamos resolver isso juntos.

— Eu estou tentando descobrir como diabos alguém seria capaz de capturar Helen! Alguma vez você já tentou lutar contra ela? Mesmo

quando ela se retém ela é uma besta! — Lucas estava oscilando à beira da violência. Ele queria bater em Orion, mas ele se estabeleceu em gritar. — Eu mal posso lidar com ela e eu não acho que ela me mostrou sequer

uma fração do que ela é capaz. Você pode imaginar o que ela faria com alguém, se eles tentassem sequestrá-la e a mantivessem contra sua

vontade? Metade de Massachusetts estaria pegando fogo! Orion olhou para o peito de Lucas com preocupação. — Você está pirando. Eu preciso que você se acalme agora. Por

Helen. — Orion pegou Lucas pelo ombro, e Lucas sentiu-se inundado com calor. Seu coração abrandou, e uma onda de sentimentos suaves

alcançou-o. Ele sabia que Orion era um filho de Afrodite e poderia manipular as

emoções, mas Lucas nunca tinha realmente experimentado nada

parecido antes. Foi uma mudança física, como uma droga instantânea trabalhando em seu corpo e mente, e por um momento Lucas se perguntou o quanto Orion poderia afetá-lo, e de que forma. Se Orion

podia fazê-lo se sentir assim tão bem, era razoável supor que ele poderia fazê-lo se sentir muito ruim também. As implicações eram

surpreendentes. — Sinto muito — disse Orion, liberando Lucas. — Eu não gosto de

fazer isso sem perguntar primeiro.

— Não, está tudo bem. Eu precisava disso — Lucas disse gentilmente, sabendo que não gostava que Orion usasse seu talento para

controlar corações em qualquer circunstância, mesmo quando poderia beneficiá-lo significativamente. Ele continuou com uma voz muito mais calma. — Você notou o gelo na cama de Helen quando ela o trouxe de

volta do Mundo Inferior hoje à noite? Como ela não pôde flutuar de imediato, e como eu não pude levantar vocês dois de cima de mim? Essa perda de poderes de Descendente é normal quando Helen desce?

— É normal em torno de todos os portais para o Mundo Inferior. Eles são zonas mortas. Não há calor, não há organismos vivos crescendo nas

paredes, e nenhum talento de Descendente. Acho que Helen cria um portal temporário quando ela desce, e deve demorar alguns segundos para dissipar depois que ela o desmancha — disse Orion com uma

carranca pensativa. — Você acha que Automedon saberia tudo isso sobre os portais?

— Eu não duvido. Houveram outros que desciam, e ele é três dias mais velho do que a terra. Esse monstro provavelmente já viu de tudo —

disse Orion. — Ele não teria muito tempo, no entanto. Lembre-se, depois

de alguns segundos, ela poderia voar novamente. — Não é um monte de tempo, com certeza. Mas se ele estivesse

esperando por isso, seria suficiente. Ele esteve de olho nela por algumas semanas. Ele saberia que ela definitivamente iria seguir seu pai para dentro do Mundo Inferior — disse Lucas, sentindo que ele estava no

caminho certo. Isso tinha que ter sido planejado. — Automedon só tinha de se certificar de que Jerry ficasse terrivelmente ferido, bastante fácil de

fazer em um tumulto e, em seguida, quando cada Descendente na ilha estivesse fora perseguindo Eris e Terror...

— Não haveria Descendentes ao redor para protegê-la enquanto ela

ia atrás de seu pai — Orion terminou. Em seguida, ele balançou a cabeça quando ele percebeu uma falha em sua lógica. — Mas Automedon poderia ter feito isso a qualquer momento ao longo dos últimos meses. Ela desceu

a cada noite, e ninguém estava guardando ela. Por que esperar? — Bem — disse Lucas, desviando o olhar, embaraçado. — Eu estive

quase sempre com ela à noite, geralmente em seu telhado. Mas ninguém, nem mesmo Automedon teria sido capaz de me ver.

— Como você pode saber disso?

— Eu sou um Mestre das Sombras. E eu também posso me tornar invisível. — Os olhos de Orion se arregalaram. Lucas continuou

impacientemente antes que eles pudessem sair do tópico. — Mas esse não é o ponto. Automedon teve de esperar que Helen completasse sua tarefa no Mundo Inferior antes de levá-la. Tantalus não ousaria fazer um

movimento contra Helen antes disso. — Mas por que levá-la agora? Tantalus sabe sobre mim e,

provavelmente, as dezenas de outros Vadios também. Ele não pode

esperar alcançar Atlântida, a menos que ele nos mate. Você acha que ele tem a intenção de começar com Helen?

O mundo inclinou sobre seu eixo por um momento quando Lucas considerou isso. E se Helen já estivesse morta? Seria possível que metade do seu coração poderia morrer sem ele sentir isso? Lucas passou a mão

no bolso e sentiu a última moeda grega antiga que sobrou no mundo, esfregando-a entre o polegar e o indicador. Ele já sabia o que ele faria se

Helen morresse. — Eu não sei — ele sussurrou, banindo esse pensamento por

enquanto. Ele olhou para Orion atentamente. — Você está certo. Não faz

sentido Tantalus tê-la raptado agora, mas lembre-se, ele provavelmente não é o único dando as ordens mais. O novo mestre de Automedon deve ter querido as Fúrias fora do caminho bem antes que ele desse a ordem

para levar Helen. Independentemente do motivo pelo qual Automedon esperou, só há um lugar que eu posso imaginar que qualquer pessoa

seria fisicamente capaz de manter Helen prisioneira. — Um portal permanente. Meu portal é o mais próximo e eu fui

seguido até lá mais cedo esta noite — disse Orion com tristeza, como se

ele quisesse chutar a si mesmo. Ele começou a se mover em direção ao oeste. — Você quer esperar aqui pela sua família enquanto eu vou atrás

dela?

Lucas sorriu para Orion, não se preocupando em responder à

pergunta. Ele sabia que a única coisa inteligente seria entrar em contato com

Hector e tornar uma luta de três contra um contra o Myrmidon muito mais forte, mas não havia nenhuma maneira de ele poder ficar parado tempo suficiente para fazer isso. Ele seguiu atrás de Orion, e metade de

um momento depois, eles estavam na borda da ilha.

* * *

— Oh, Deus, Matt! Você tem que vir aqui — Zach arfou no telefone. Sua respiração estava irregular e o receptor se mantinha roçando em seu queixo, como se ele estivesse correndo ou andando rápido. — Ele está

com Helen e ele vai machucá-la! — Espera. Onde é aqui? — Matt interrompeu. Ele acenou com um

braço freneticamente para Hector, Pallas, Castor — todo mundo que passou a estar de pé em torno da cozinha Delos, tentando descobrir onde Automedon poderia ter levado Helen. Zach continuou a falar, as palavras

saindo de sua boca rapidamente, como gema de um ovo rachado. — Era para eu ligar para Lucas e aquele cara, Orion — Zach

gaguejou. — Era isso que eu deveria estar fazendo agora, o que eu sempre

deveria fazer, e eu vou, porque ele vai me matar se eu não o fizer, mas eu sei que esse é o plano dele, então eu não posso segui-lo inteiramente,

certo? Eu pensei que se eu lhe dissesse, então poderíamos descobrir alguma coisa.

— Fala mais devagar! O que você quer dizer com “plano”?

— O plano para iniciar a guerra! Ele precisa de todos os três para fazer isso!

Traduzido por I&E BookStore

rosto de Helen estava quente — muito quente.

Mas o resto dela estava congelando, ela percebeu enquanto

ela arranhava na escuridão se arrastando de volta à consciência. Ela estava mais fria do que ela nunca tinha estado e algo próximo a ela cheirava horrível, como ferrugem e podridão.

— Aí está ela, ela veio para jogar! Faltam mais dois virem, então tudo começará! — uma voz aduladora disse rindo. — Belabelabela semideusa.

Ares. Helen ficou muito quieta e tentou não começar a gritar. Ela

precisava pensar. A última coisa que ela se lembrava era do rosto de

Automedon sobre o dela, uma picada em seu pescoço, e então um líquido doloroso bombeando através de seu corpo até que seu cérebro desligou-

se em autodefesa. — Vejo você aí, meu pequeno e belo animal de estimação — Ares

disse, não mais rindo. — Você não pode se esconder atrás de suas

pálpebras. Venha. Abra-as. Deixe-me ver os olhos de nosso pai. Ela ouviu o tom de raiva na voz, ouviu a ameaça em seu movimento

em direção a ela. Ele a desafiou a abri-los, e seus olhos se abriram em

terror. Ela desligou a gravidade para voar para longe, mas não funcionou, e ela de imediatamente viu o porquê. Mesmo o ar estava saturado com

cristais de gelo. O frio era tão completo que estendeu os sentidos para além do seu limite e os torceu de volta no sentido inverso até o gelo queimar como fogo.

À luz bruxuleante de um braseiro de bronze, Helen podia ver que Ares tinha prendido ela com cordas grossas, no chão na entrada de um

portal. Helen olhou em volta desesperadamente, mas em seu coração, ela já sabia que ela estava na prisão perfeita. No Mundo Inferior ela poderia transportar-se para longe de Ares com algumas palavras. Na Terra, ela

poderia, pelo menos, iniciar uma luta, e talvez fugir. Mas em um portal, quando ela não estava nem aqui nem lá, ela era apenas uma adolescente amarrada e à mercê de um maníaco. Isso foi planejado, Helen sabia. Isso

provavelmente tinha sido planejado, literalmente, a eras. — Lágrimas! Eu amo lágrimas! — Ares jorrou como se ele estivesse

falando de cachorros. — Olha como a pequena semideusa chora... Ainda assim ela é linda, ela é! Vamos mudar isso.

Ares bateu nela através da boca e Helen sentiu algo estalar. Ela

respirou fundo. Então era isso. Ela cuspiu e olhou para ele, não mais chorando. Agora que ele tinha começado ela sabia que não iria demorar,

e de alguma forma isso era melhor do que esperar. Pelo menos se Ares estivesse aqui torturando-a, isso significava que ele não estava

O

desencaminhando o espírito de seu pai no Mundo Inferior. Este não era

o resultado que ela estava esperando quando ela fechou os olhos para acompanhar seu pai para dentro do Mundo Inferior, mas era melhor que

nada. Helen olhou para Ares e acenou para ele, pronta para o que ele tinha planejado agora que ela sabia que seu pai estava a salvo.

Ares bateu em seu rosto novamente e, em seguida, levantou-se para

que ele pudesse chutá-la no estômago. Sua respiração saiu entre os músculos em seu abdômen até que ela fez um barulho estranho de zurro, como um burro. Ele chutou novamente e novamente. Se ela tentasse

evitar os golpes se enrolando e virando as costas para ele, ele pisava em vez de chutar. Ela sentiu o antebraço estalar e tentou trazer a perna para

cima para proteger o lado dela, mas isso só o fez atacá-la mais violentamente. Quando ela parou de tentar evitar os golpes e apenas os deixou vir, ele recuou.

Helen rolou no chão, lutando para encontrar uma posição que tornaria possível para ela respirar com várias costelas quebradas e as

mãos amarradas atrás das costas. Com o peito chiando e se contorcendo, ela finalmente descobriu que ajoelhar-se e inclinar-se com a testa encostada ao gelo ardente do chão era melhor. O ruído de asfixia e tosse

que ela fez quando ela forçou o ar em torno de um de seus pulmões furados soou quase como uma risada.

— Divertido, não é? — Ares gritou, e começou a pular ao redor em

um círculo. — Mas eu não deveria ter chutado sua barriga tanto assim, porque agora você não pode gritar. E isso é o que nós precisamos, certo?

Que bobagem minha! Bem, podemos esperar um pouco antes de jogar novamente.

Ele se ajoelhou ao lado de sua forma encolhida e passou o dedo pelo

cabelo dela. A parte de trás de seu pescoço exposto rastejou quando ele escolheu um cacho da nuca.

Ele vai arrancá-lo em um momento, ela disse a si mesma. Apenas relaxe e não lute. Será mais fácil dessa maneira.

— Você está muito quieta — Ares suspirou quando ele começou a

trançar lentamente o cacho escolhido. — Isso é um problema. Como os outros Herdeiros a encontrarão se você não gritar e gritar como você

deveria? Você deveria gritar SALVE-ME, LUCAS! OH, SALVE-ME, ORION! — Ele momentaneamente adotou o tom soprano de uma donzela em perigo, antes de voltar imediatamente a sua voz normal. — Bem desse

jeito. Vá em frente. Experimente. Helen balançou a cabeça. Ares se inclinou sobre ela, colocando os

lábios contra a pele encolhendo-se de seu pescoço. Ele soprou sua respiração suja e podre através de seu couro cabeludo e a parte de trás de suas orelhas. Mesmo no frio do portal, Ares ainda a subjugou com o

cheiro de morte e decadência. — Grite — ele disse em voz baixa, não mais soando como um louco.

Pela primeira vez que ela podia se lembrar, Ares tinha abandonado sua

usual maneira monótona de falar. Ele parecia são, e para Helen isso o tornava infinitamente mais terrível. — Chame eles para salvarem a sua

vida. Clame eles, Helen, ou eu vou te matar.

— Você está tentando prendê-los em uma armadilha — disse Helen

entre as respirações ofegantes. — Eu não vou cair nessa. — Como eu posso prendê-los? Eu sou tão impotente como um

mortal neste lugar, e eles são dois contra um — ele disse, parecendo lógico. — Eles podem até ganhar.

Ele não estava mentindo. Seus socos e pontapés haviam machucado

bastante suas entranhas, mas ela não sentia a força de um deus por trás desses golpes. Ela olhou para os nós dos dedos dele na mão esquerda, a mão que ele tinha usado para golpeá-la, e viu que o ichor, o sangue de

ouro dos deuses, escorria dos arranhões profundos em seu punho. Isso a fez sorrir ao saber que, embora ela tenha perdido alguns dentes e ela

não podia ver pelo seu olho direito mais, Ares tinha provavelmente quebrado sua mão no processo.

— Chame eles — ele suplicou, como se tudo isso fosse para seu

próprio bem. — Por que você não gritagritagrita, pequena semideusa quebrada? Eles querem salvá-la.

Helen sabia que ele estava certo. Lucas e Orion estavam procurando por ela, e eles não precisavam de seus poderes de Descendentes para lutarem contra Ares como ela precisava. Ambos eram homens fortes. Ela

era apenas uma garota magra, exausta, amarrada e envenenada por um Myrmidon indo contra um bruto gigantesco do dobro do tamanho dela. Eles eram guerreiros por natureza. Deixe-os lutarem. Eles gostavam

disso. Não muito longe, ela ouviu Orion chamando por Lucas, levando-o

através do labirinto de cavernas. — Você ouviu isso, Helen? Sua salvação está tão perto. — Ares torceu

os dedos para apertar seu aperto e arrancou o cacho de cabelo de sua cabeça, rasgando uma ampla faixa de couro cabeludo junto com ele. Helen não conseguiu impedir um chiado estridente de escapar da parte

de trás de sua garganta, mas ela conseguiu manter o volume mais baixo que um sussurro. Ela não iria gritar. Ares pegou outro, um cacho maior — um que era menor e anexado a uma pele mais sensível.

Pelo seu olho bom, Helen viu sangue na parte de trás de sua cabeça rolando em um fluxo do queixo e manchando o gelo abaixo de sua face.

Ele se espalhou em uma poça, brilhante e vibrante, enquanto ele escalou através da rede cristalina como se ele estivesse enchendo as fibras sedentas de um tecido.

— Eles não vão simplesmente encontrá-la, se é isso que você está esperando. Existem dezenas de portais nestas cavernas. Orion conhece

a maioria deles, mas ainda assim, poderia levar toda a noite para eles encontrarem o caminho certo. — Parecia que Ares estava ficando cansado deste jogo. — Chame por eles agora e salve o que restou de sua pele.

Olhando fixamente para uma poça de seu próprio sangue, Helen viu dois exércitos. Ela viu eles se reunirem em um flash brilhante de metal contra metal. Ela viu uma baía azul-celeste suja da imundice de um

campo de batalha, e, em seguida, ao longo do tempo, ela viu aquelas águas claras turvas e entupidas com as cinzas de corpos queimados.

Finalmente, ela viu Lucas deitado sem vida em uma sala queimando e cheia de fumaça.

Isso foi o que aconteceu da última vez que eu deixei que outros lutassem por mim.

— Eu não vou gritar — Helen sussurrou enquanto lágrimas quentes

se juntavam ao sangue sob seu rosto. — Eu preferiria morrer. — Você ama tanto Orion e Lucas que você morreria por eles? Ambos

eles? — Ares perguntou calmamente. Ele empurrou-a para o lado para

que ele pudesse olhar para o rosto destruído. Ela trabalhou para focar seu olho bom nele e respondeu sem hesitar:

— Sim. Eu amo os dois. E eu morreria pelos dois.

Ares ficou em silêncio. Assistindo os músculos do seu rosto em contração, Helen pensou por um momento que ele estava lutando para

ter algo a dizer. Em seguida, ele respirou fundo e soltou uma gargalhada. — Uma já foi, faltam dois! — disse Ares, quase como se não pudesse

acreditar. — Automedon estava certo! Tão pronta para sangrar e morrer,

e não é só você, também. A única coisa que realmente me surpreende é que ele disse que seus dois defensores nobres iriam sangrar e morrer por

você também. Sabe o que isso significa, pequena semideusa quebrada? Você sabe o que significa se eu misturar todo esse sangue que você e os outros dois Herdeiros de bom grado derramariam um pelo outro? Quatro

Casas, convenientemente embaladas em três Herdeiros apaixonados, corajosos, e, graças a Zeus, ingênuos.

A mente de Helen correu. Ela lutou para levantar de joelhos e olhou para o sangue congelando no chão. Ela pensou sobre o quão especial as condições tinham que ser para sua pele normalmente impermeável

sangrar, e quanto Ares deve ter passado para trazê-la aqui para que ela pudesse fazer exatamente isso. Então ela pensou sobre o quanto tinha de acontecer para fazer Lucas e Orion trabalharem juntos quando apenas

algumas horas atrás eles teriam sido impedidos de até mesmo estar no mesmo lugar por causa das Fúrias. Havia apenas uma coisa que os uniu,

e apenas uma coisa que ela sabia de fato pela qual ambos iriam lutar, sangrar e morrer. Ela. E ela já tinha sangrado e comprometido esse sangue para fazer o mesmo por eles.

— Irmãos de sangue. Nós vamos ser irmãos de sangue — ela engasgou através de seus lábios cortados. — Todas as Quatro Casas

serão unidas. — E nós deuses estaremos livres de nossa prisão no Olimpo — Ares

disse solenemente. — Eu esperei três mil e quinhentos anos! — Suas palavras terminaram abruptamente quando sua garganta se fechou em um som abafado.

— Não. Eu não vou deixar isso acontecer — ela gaguejou, incapaz de aceitar isso.

— Você sabe qual a parte mais saborosa de tudo isso para mim? Exceto pela parte onde eu começo a torturá-la, é claro — ele continuou, ignorando a ameaça fraca dela. — É que, mais uma vez, é tudo pelo amor de Helena! Eu nunca teria acreditado que não uma, mas duas guerras mundiais poderiam ser iniciadas pelo amor de uma mulher. Você

pensaria isso por dinheiro, com certeza. Terras, é claro. Milhares de guerras foram travadas por causa de dinheiro e terra, mas por AMOR? E ainda assim aqui estamos. Afrodite vence novamente! Outra guerra para

acabar com todas as guerras começa por seu amor, e por causa de seu

amor por dois homens e três Fúrias patéticas também! E amoramoramor será a razão do mundo desmoronar em guerraguerraguerra. É pura

poesia! Enquanto Ares borbulhava com um riso insano, a enormidade dos

vários erros de Helen caiu sobre ela, um por um, esmagando-a debaixo

deles. Morfeu tinha manifestado dúvidas sobre sua busca, mas ela nunca perguntou por quê. Hades tinha avisado a ela explicitamente não uma, mas duas vezes, que ela deveria perguntar ao Oráculo — não a

Cassandra, a irmã mais nova, mas o Oráculo, porta-voz das Três Moiras — se libertar as Fúrias era a coisa certa a fazer. Até mesmo Zach tinha

tentado lhe dizer que ela estava em perigo, mas ela não lhe tinha dado uma chance para explicar.

E o maior de todos foi o aviso que ela tinha obtido de Hector. Ele

disse a ela que a coisa mais importante era que ela não se apaixonasse por Orion. Hector sempre soubera, embora Helen não soubesse, que essa

luta era sobre amor. Quando ele disse a ela para não se apaixonar por Orion, o que ele estava tentando dizer a ela era esse amor, amor

verdadeiro, que sempre formava uma família — mesmo que ela não fosse uma tradicional. O amor era o que importava, e não as leis, as regras ou os deuses.

Helen poderia reclamar e gritar que tinha sido enganada, que nada daquilo era culpa dela, mas ela sabia melhor das coisas. Ela tinha

entrado de cabeça nesta missão sem nunca parar para pensar sobre o que poderia dar errado. Ao longo de tudo ela estava tão convencida de que ela estava certa, porque ela estava fazendo uma boa ação, que nunca

nenhuma vez ela deu ouvidos a quem discordou dela. Lucas tinha avisado a ela que a arrogância era o maior perigo para os Descendentes, mas ela realmente não tinha entendido o porquê até aquele momento.

Ser uma boa pessoa e fazer boas ações não necessariamente a tornava certa o tempo todo.

Na próxima caverna, Helen ouviu Orion e Lucas falando um com o outro em sussurros frenéticos, encorajando um ao outro em direção à luz bruxuleante do braseiro.

— Por favor — ela chorou baixinho. — Apenas mate-me agora. — Logo, logo, animal de estimação. Shhh — Ares murmurou

enquanto puxava um pequeno punhal de bronze de seu cinto e ajoelhava ao lado dela. Helen sentiu um calor deslizando e traçando através de seu pescoço. Com um movimento eficiente, Ares tinha cortado sua garganta.

— Você vai morrer, mas o corte é superficial o suficiente para que você não morra imediatamente. Eu receio que você não seja capaz de falar, no

entanto. Eu não posso deixar você compartilhar o plano com os outros dois Herdeiros antes deles lutarem um pouco e sangrarem, posso? Não quero arruinar isso.

Ela tentou gritar, mas ao invés disso uma membrana fina de sangue disparou para fora de seu pescoço e pulverizou no rosto de Ares. Ele sorriu e lambeu os lábios.

— Quem é uma boa garota? — ele disse em uma conversa de bebê,

fazendo rostos amorosos grotescos para ela. Então ele se levantou, foi até a parede de rocha, e sussurrou para ela.

Helen tinha quase se afogado uma vez quando ela era uma criança. Desde então ela sempre temeu a água, mesmo que ela tivesse crescido em uma ilha perpetuamente cercada por ela. Agora, parecia que depois

de toda a perturbação e receio sobre a água ela ia se afogar em terra seca. Enquanto o sangue espumava em seus pulmões e queimava seus ouvidos internos, ela pensou consigo mesma quão semelhante o sabor de seu

sangue salgado era com a água salgada do mar. Ela podia ouvir o pequeno oceano dentro dela, pulsando e correndo, vazando para fora dela

com cada batida de seu coração. Ou eram estes passos batendo no chão da caverna congelada?

— Tio! Deixe-me passar — Ares assobiou mais alto na parede de

pedra. Nada aconteceu. O olhar no rosto de Ares ficou frenético.

— Helen! Não! — Lucas gritou do outro lado da caverna escancarada. Seu grito ecoou pelas paredes, enchendo os cantos escuros das cavernas e multiplicando dentro deles.

Ares girou e colocou a mão sobre a faca. Quando ele olhou para Helen, ela poderia dizer que ele estava contemplando um cenário de refém.

O chão levantou-se e caiu de volta, fazendo Ares tropeçar longe de Helen e se agarrar à parede. — Fique longe dela — Orion rosnou.

Incapaz de rolar o olhar para eles, Helen olhou para o rosto petrificado de Ares através de seu olho bom. Seus olhos estavam voando de um lado para outro entre Orion e Lucas enquanto Ares se apoiava

contra a parede do portal. Orion estava certo. O deus da guerra era um covarde.

— Hades! Você tem suas ordens! — Ares gritou histericamente quando ele bateu com a mão várias vezes contra a parede de rocha congelada. — Deixe-me passar! — O portal o sugou e Ares tinha ido

embora. Após uma breve pausa, Helen ouviu passos apressados atrás dela.

— Luke. Oh, não — Orion gemeu.

— Ela não está morta — disse Lucas com os dentes cerrados. — Ela não pode estar morta.

Helen sentiu tanto Lucas quanto Orion se ajoelharem ao lado dela. Ela sentiu as mãos tocarem seu ombro e quadril para incliná-la suavemente em direção a eles. Ela se encolheu, tentando livrar-se deles.

Ela teria se levantado e fugido deles se pudesse. Até mesmo seus toques delicados pareciam como chicotes através de sua pele, mas a dor não era a razão que ela queria que eles parassem de tocá-la. Ela não podia deixá-

los ter seu sangue em suas mãos. — Calma, calma. Está tudo bem, Helen — Lucas disse em um alto

sussurro. — Eu sei que dói, eu sei, mas temos que movê-la. Não. O que eles tinham que fazer era se afastar dela. Ela tentou

dizer-lhes para ir, mas tudo o que saiu dela foi um jorro de sangue de

seu pescoço.

— Eu tenho uma faca — Orion disse, e Helen sentiu as amarras em

seus pulsos serem cortadas. Lucas pegou-a em seus braços e ela lutou contra ele sem jeito,

lutando para fazê-lo soltá-la. Ela queria morrer no portal antes que o ritual de irmãos de sangue pudesse ser concluído. Mas, quando ela se debateu e tossiu ela só fez piorar. Ela estava literalmente coberta do

sangue de seu pescoço, cobrindo Lucas e Orion. Ares podia ser um covarde, Helen pensou, mas sabia tudo que havia para saber sobre

machucar as pessoas. A ferida que ele lhe dera tinha sido feita para se certificar que qualquer pessoa que ficasse a um metro e meio de Helen ficasse banhada em seu sangue.

— Eu vou liderar o caminho — Orion disse em uma voz urgente. Helen sentiu um movimento oscilante e vago, e viu o feixe

balançando da lanterna de Orion a frente enquanto eles começaram sua

ascensão. Ela podia ouvir muito bem, e sua visão não era muito ruim, mas não podia se mover ou falar. Ela tentou mexer os dedos dos pés ou

mover um dedo. Nenhum de seus membros respondeu. Ela disse a si mesma para piscar, mas ela não conseguia nem fechar seu olho bom. Helen estava trancada dentro de si mesma e completamente consciente.

Ela sabia que teria que ver como os acontecimentos se desdobrariam e se perguntou se isso era alguma tortura especial que Ares tinha

planejado para ela. Talvez ele tivesse envenenado a lâmina para paralisá-la?

Ou talvez eu só esteja morrendo, ela pensou esperançosamente. Se eu me apressar, talvez eu ainda possa parar isso.

— Há uma saída — Orion falou por cima do ombro com alívio. Helen

podia ver seu belo perfil, iluminado por uma lua brilhante e milhares de estrelas piscando através do aperto escuro da boca da caverna.

Ela viu o rosto de Orion murchar quando algo fora da caverna

chamou sua atenção. Ele virou-se para enfrentar Helen e Lucas, aglomerando-os de volta para a caverna enquanto ele encolhia os ombros grandes sobre os dois protetoramente. Helen viu a sua boca cair aberta

em um suspiro e seus olhos brilhantes ficarem amplos quando a ponta de uma espada apareceu sob seu esterno. O chão tremeu. Sobre o ombro

de Orion, Helen viu os brilhantes olhos vermelhos de inseto de Automedon olhando para ela.

— Orion! — exclamou Lucas. Ele estendeu a mão debaixo de Helen

e agarrou o ombro de Orion, tentando segurá-lo enquanto Orion e Lucas caíam de joelhos junto com Helen pressionada entre eles. A ponta da

lâmina desapareceu quando ela foi arrancada, e o metal brilhante foi substituído por um fluxo de sangue escuro. Helen observou como se estivesse em câmera lenta quando uma gota de sangue de Orion caiu em

uma de suas muitas feridas e misturou com o dela. Um já foi, Helen pensou impotente. Um trovão rolou pelo céu claro,

sem nuvens. — Minha faca — Orion arfou. Lucas balançou a cabeça quase imperceptivelmente, entendendo o

que Orion quis dizer. Helen tentou falar, esperando que ela tivesse se

curado o suficiente para, pelo menos, alertar Lucas a não lutar, mas em

vez disso tudo o que saiu dela foi uma tosse ofegante. — Você pode segurá-la? — Lucas sussurrou, olhando nos olhos de

Orion e implorando-lhe para ser honesto. Em resposta, Orion deslizou os braços sob Helen e pegou seu peso.

Lucas estendeu a mão sob a camisa de Orion para desembainhar a

lâmina comprida. Em um movimento extremamente rápido, ele ficou de pé, saltou sobre Orion e Helen, e empurrou Automedon longe do par ferido.

Orion manteve Helen perto de seu peito enquanto ele ofegava por alguns momentos, como se ele estivesse querendo se curar mais

rapidamente. Com um gemido doloroso, ele finalmente se arrastou de pé e para fora da caverna com Helen em seus braços.

Lá fora, pressionado contra a parede ao lado da boca da caverna,

Helen viu Zach — seus olhos arregalados e fixos. Ainda paralisado, ela gritou por dentro, mas nada saiu. Zach olhou para o rosto arruinado de

Helen e fez um som desesperado, chamando a atenção de Orion. Orion olhou para ele, e Zach olhou para Orion em terror.

Helen sentiu a cabeça de Orion inclinar para baixo para olhar a

espada nas mãos de Zach, e, em seguida, voltou a olhar nos olhos de Zach. Sem pausar, Zach segurou o punho da espada para Orion, oferecendo-lhe a arma.

— Eu sou um amigo de Helen. Você luta. Eu fico e protejo ela — ele disse em uma voz equilibrada. Orion olhou para Lucas, em uma luta

corpo a corpo e levando uma joelhada no estômago de Automedon, e se decidiu rapidamente.

Helen tentou lutar quando Orion a colocou no chão, aos pés de Zach.

Ela tentou cuspir para fora a palavra traidor, mas tudo o que ela pôde fazer foi gaguejar a letra T algumas vezes e se contorcer.

— Eu vou me certificar que ele volte para você — Orion prometeu baixinho, e beijou a testa de Helen. Pressionando em seu peito ferido como se isso pudesse fazê-lo parar de doer, Orion pegou a espada de Zach

e caminhou para a briga para lutar ao lado de Lucas. — Não se preocupe, Helen, eu acabei de ligar para Matt. Todos eles

estão chegando. Hector disse que sua mãe está a caminho também. — Zach tentou deixá-la mais confortável puxando ineficazmente os rasgões em seu vestido e alisando seu cabelo encharcado de sangue. Quando ele

olhou-a, suas mãos começaram a tremer e lágrimas começaram a se reunir em seus olhos. — Eu sinto muito, Lennie. Jesus, olha o que ele fez

com o seu rosto! Respirando com dificuldade e tossindo sangue inalado, ela olhou

para Zach e concentrou toda sua energia em fazer sua língua congelada

se mover. — Mat... me — ela falou incompreensivelmente. Zach estreitou os

olhos, tentando descobrir se ela tinha dito o que parecia que ela disse.

Helen se preparou e tentou novamente. — M... mate-me. Finalmente capaz de mover seus dedos, ela levantou a mão para sua

garganta cortada, querendo arrancar seu colar de coração para que Zach fosse capaz de matá-la. Zach balançou lentamente a cabeça para Helen,

escolhendo interpretar mal o que ele tinha ouvido ela dizer. Ele pegou

suas mãos e segurou-as, tirou a camisa, e apertou contra a ferida em sua garganta.

Enfurecida com frustração, Helen assistiu impotente a partir do chão enquanto Lucas e Orion lutavam com Automedon, todos os três se movendo tão rápido que mal se podia ver suas formas separadas.

Automedon ficou entre os dois, mecânico e preciso, cada movimento começado e completado com precisão cirúrgica.

Helen sabia apenas o suficiente sobre luta para saber que ela estava

olhando o guerreiro perfeito. Ele era mais forte, mais rápido e mais paciente do que qualquer lutador que Helen já tinha visto. Se Orion ou

Lucas o ferissem, ele pegaria a lâmina de si mesmo e a tiraria sem preocupação. Ele vazava um fluido vagamente esverdeado e branco de vários lugares, mas Helen já sabia que ele não poderia ser morto desta

maneira. Ele estava apenas esperando que eles ficassem cansados. Ainda sangrando do peito, Orion vacilou e ganhou outra ferida no

estômago. Quando ele caiu para trás, Automedon viu seu momento. Ao invés de atacar Orion no chão, ele se ocupou de Lucas. Com um movimento hábil, Automedon tirou a lâmina menor de Lucas da mão dele,

fazendo-a voar. Então ele fez um movimento para ir atrás de Lucas enquanto ele estava desarmado.

— Luke! — Orion gritou, sua voz rompendo com exaustão. Ele jogou

para Lucas a espada e deixou-se indefeso. Automedon deixou Lucas pegá-la.

Lucas sobrevoou Automedon e pousou na frente de Orion que estava fazendo caretas e segurando sua mais recente lesão. Ele tentou se levantar, e caiu de volta para baixo com um grunhido, o sangue

derramando para fora dele assustadoramente rápido. Lucas se posicionou, deixando claro que se Automedon queria chegar a Orion, ele

teria que passar por ele primeiro. Helen viu Automedon sorrir e sentiu um arrepio de pânico irradiar

para fora de sua barriga e abater seus braços e pernas. Isto é exatamente

o que Automedon queria. Ele estava contando com eles serem valentes e altruístas. Isso seria a queda deles. Sua pele crepitava com estática

desesperada, mas ela não tinha força suficiente para gerar um raio. Ignorando a dor ardente que isso causou a ela, Helen conseguiu levantar-se sobre seus braços quebrados e começou a arrastar-se em direção a

eles. — Helen, não! — disse Zach com surpresa. Ele tentou impedi-la,

mas assim que ele a tocou, ele pulou para trás, levando um leve choque.

— Pare de lutar com ele! — ela tentou gritar enquanto ela se arrastava, mas mesmo que ela estivesse se curando rápido, suas cordas

vocais ainda estavam cortadas. O único som que ela poderia fazer era um sussurro áspero e rangido. Automedon ergueu sua espada com confiança e levantou sobre sua cabeça.

— Se segura — Orion advertiu a Lucas, e antes que Automedon pudesse trazer sua espada para baixo sobre eles, a terra tremeu

violentamente.

Um ruído em expansão soou através da escuridão, e um abismo

gigante abriu entre Automedon e Lucas quando Orion separava a terra. Automedon caiu de joelhos e se mexeu freneticamente enquanto o chão

debaixo dele cedia. Lucas desligou a gravidade e flutuou, enquanto Automedon pareceu recuperar magicamente o equilíbrio. Seu senso de equilíbrio era tão bom que ele poderia se manter de pé em um terremoto

como um surfista que surfa em uma onda grande. Vendo isso, as esperanças de Lucas e de Orion enfraqueceram.

Quando o tremor diminuiu, Lucas pousou na frente de Orion,

ajustando o controle sobre a espada, e enfrentou Automedon severamente. Ambos pareciam saber que eles não poderiam vencer essa

luta, mas nenhum deles iria desistir. Automedon enfrentou Lucas e Orion, cada um por vez, e depois inclinou-se para eles com cortesia.

— Claramente, vocês são os Três que eu esperei milhares de anos —

disse Automedon em frente ao rasgo grande de três metros no chão. — Agradeço a Ares por eu ter tido milhares de anos de batalhas para me

preparar para vocês ou eu não estaria pronto. Mas a hora chegou, e eu estou pronto.

Automedon saltou facilmente sobre o abismo, pousando e virando-

se para Lucas e Orion. Em três movimentos, ele havia desarmado Lucas. Em mais dois movimentos, ele tinha Lucas de joelhos, protegendo Orion

com seu corpo e sangrando de um corte profundo em seu ombro. Helen ouviu Lucas gritar e sua dor desapareceu. Ela se levantou,

sua pele brilhando azul e fluindo com o poder.

— Não toque nele! — ela sussurrou com a voz rouca, seus lábios curvando com raiva. Ela estendeu a mão esquerda e um raio branco ofuscante se arqueou para fora de sua palma e conectou com Automedon.

Ele caiu no chão, convulsionando em agonia. Helen deixou cair o braço e cambaleou para o lado.

Finalmente capaz de ficar de pé novamente após o terremoto de Orion, Zach tropeçou atrás de Helen e conseguiu sustentá-la quando ela cambaleou, quase desmaiando com o esforço de gerar um raio. Ele levou

outro choque desagradável, mas ele cerrou os dentes e se agarrou a ela enquanto eles cambaleavam em direção a Lucas.

Ela caiu ao lado dele, estendendo a mão e pressionando em seu ombro como se ela pudesse segurá-lo junto com as mãos nuas. Ela estava vagamente consciente do trovão retumbando e ela sabia que seu sangue

estava misturando com o dela, mas ela não se importava. Ela não podia se impedir de tocá-lo. Tudo o que ela tinha que fazer era levá-lo para longe de Orion antes que seu sangue misturasse, e o ritual seria

interrompido. Helen sentiu algo agarrar seu tornozelo nu, e olhou para trás para

ver Automedon quando ele puxou-a para ele pelo chão para impedi-la de interferir.

— É tarde demais, Princesa — ele disse calmamente.

Helen olhou e viu Orion levantando Lucas enquanto os dois estendiam a mão para ela, tentando arrancá-la de Automedon. O peito

ferido de Orion foi pressionado contra o sangramento no ombro de Lucas. Um trovão retumbou pelo céu pela terceira e última vez.

— Está feito — disse Automedon, fechando os olhos por um

momento de alívio. Helen olhou para Lucas e Orion. Pelas suas expressões

interrogativas e confusas, ela podia dizer que eles podiam sentir que alguma coisa tinha acontecido com todos eles — eles simplesmente não sabiam ainda o quer era.

— E agora vou lidar com você, escravo — disse Automedon quando ele saltou habilmente de pé, completamente recuperado do raio de Helen. — Você jurou neste punhal servir ou morrer. E no final você não serviu.

Ele pegou um punhal de bronze adornado da bainha em seu cinto. Antes de Helen poder levantar seu corpo quebrado de joelhos para

protegê-lo, Automedon enfiou a lâmina direto no peito de Zach. Helen pegou Zach quando ele caiu ao lado dela no chão. Ela teve um

flash de uma memória de um momento na segunda série, quando Zach

caiu do trepa-trepa e torceu o tornozelo. Ele tinha o mesmo olhar de olhos arregalados e perplexos no rosto, e por um momento parecia que ele tinha

sete anos de novo e eles eram amigos, trocando guloseimas de suas lancheiras.

— Oh não, Zach — Helen sussurrou, colocando-o para baixo tão

delicadamente quanto podia. Automedon afastou-se da carnificina que havia causado e levantou as mãos para o início azul do amanhecer no horizonte.

— Eu cumpri a minha parte no trato, Ares — ele disse com entusiasmo. — Agora me dê o que eu peço. Reúna-me com o meu irmão.

— Helen — Zach ofegou urgentemente, enquanto Automedon se dirigia ao céu. — Seu irmão de sangue... não era um deus, como Matt pensava. — Ele agarrou a lâmina que perfurava seu peito e começou a

puxá-la, ferindo-se ainda mais. — Não, deixe-a aí. Você poderia sangrar até a morte! — Ela tentou

argumentar com sua voz falhando e sussurrando, mas Zach não iria parar até que Helen ajudasse a retirá-la. Ele passou as mãos ao redor da pequena lâmina significativamente.

— Era Aquiles. Zach deixou cair a cabeça para trás e virou o rosto para os pés de

Automedon, que estavam apenas centímetros longe de seus olhos moribundos. Sem sequer pensar mais, Helen virou a lâmina na mão, agarrou o punho firmemente, e esfaqueou o calcanhar de Automedon.

Sua cabeça girou para olhar para Helen. Choque total e descrença congelou seu rosto em um O. Em poucos segundos, ele endureceu em uma estátua de pedra que começou a rachar, então desintegrou-se em

seguida em uma pilha de cinzas. Helen olhou para Zach e viu que ele estava sorrindo.

— Espera — Helen resmungou enquanto olhava em volta procurando algo para colocar sobre a ferida de Zach. Ela viu sua camisa sangrenta que encontrava-se a alguns centímetros e começou a se

arrastar em direção a ela. — Não vá — Zach implorou, segurando o braço de Helen. Com a

outra mão, ele enfiou a mão no monte de pó que tinha sido Automedon,

e pegou a bela adaga, entregando-a a Helen. — Diga a Matt que eu disse

que ele era um grande amigo. Seu corpo relaxou e seus olhos esvaziaram, e Helen sabia que ele

estava morto. — Veja, Eris, eu não traí ele, o Myrmidon teve seu desejo — falou

uma voz que fez parar o coração de Helen por um momento. — Ele está

reunido com Aquiles. Apenas não na Terra, onde ele teria gostado! — Pelo menos o seu escravo estará lá para cuidar dele no Mundo

Inferior — sussurrou uma voz feminina.

Helen fechou os olhos de Zach, prometendo silenciosamente que ela iria se certificar de que Zach fosse para os Campos Elísios, bebesse do

rio da alegria, e nunca tivesse de servir a ninguém. Então ela virou-se para olhar para o que ela já podia sentir o cheiro.

Ares estava do outro lado do abismo, flanqueado de cada lado por

sua irmã Eris e seu filho Terror. Helen baixou a cabeça e ofegou, sabendo que era verdade. Os Olimpianos estavam livres. Ela sentiu uma mão em

seu ombro e olhou para cima para ver Lucas e Orion agachados ao lado dela.

— Como? — Orion engasgou, apontando para Ares.

— Nós três — Helen respondeu. — Nós nos tornamos irmãos de sangue.

Lucas e Orion trocaram um olhar de dor, percebendo tarde demais

como suas melhores naturezas tinham sido usadas contra eles. — Você pode voar? — Lucas sussurrou, segurando seu braço ferido

de lado. Orion estava ao seu lado, pálido e tremendo com a perda de sangue. Nenhum deles estava em condições de lutar. Helen olhou através do rasgo no fundo da terra para Ares.

Ela sentiu raiva antes, mas isso era diferente. Ela pensou em quão indefesa que ela se sentiu quando ela estava amarrada e completamente

à sua mercê enquanto ele batia nela. Ele provavelmente tinha feito isso com incontáveis milhares de pessoas, ela pensou. E agora ele estava livre novamente. Era responsabilidade de Helen se certificar de que ele nunca

torturasse mais ninguém. Ela tinha soltado esse monstro no mundo. Agora ela tinha que acabar com ele.

— Eu não vou a lugar nenhum. — Ela levantou-se rigidamente. Uma

de suas pernas ainda não estava respondendo muito bem, mas para o que ela tinha planejado, ela não precisaria dela.

— Você está louca? — Orion cuspiu, puxando levemente seu braço, tentando fazê-la se abaixar. Helen colocou a mão sobre a dele até que ele parou.

— Helen, você não pode esperar ganhar isso — disse Lucas, resignado, como se soubesse que ele já tinha perdido esse argumento. Ele levantou-se ao lado dela, pegou a mão dela, e olhou para Orion. —

Como você está? — ele perguntou. — Terrível — Orion estremeceu quando ele cambaleou aos seus pés

também. — E eu tenho certeza que eu estou a ponto de me sentir ainda pior.

Helen tentou sorrir para os dois e dizer-lhes o quanto ela amava

ambos, mas seu rosto doía pra caramba e ela mal conseguia falar, então ela apenas apertou suas mãos com gratidão.

— Temos um plano? — Lucas perguntou a Helen, como se ele imaginasse que a resposta era não, mas ele podia muito bem perguntar, de qualquer maneira.

— Vocês vão realmente tentar lutar comigo, pequenos semideuses? — Ares gritou através do abismo, incrédulo. Helen o ignorou.

— Quão profunda é aquela fenda, Orion? — ela perguntou em voz

baixa. — Qual a profundidade que você precisa que ela seja?

— Ela vai para baixo para as cavernas? Aquelas com os portais? — ela continuou. Orion assentiu, ainda confuso. — E você pode torná-la maior quando eu lhe pedir?

— Claro, mas... — Orion interrompeu-se enquanto de repente ocorreu-lhe o que Helen pretendia. Ele franziu a testa e começou a

sacudir a cabeça para ela, mas ele nunca teve a chance de expressar suas preocupações.

Ares levantou a espada enferrujada e serrilhada sobre sua cabeça e

explodiu em chamas. Mas se Ares esperava que ela tivesse medo de fogo, ele estava muito enganado. Helen lançou-se sobre o abismo e aterrissou

sobre ele em seu estado supermassivo antes mesmo que ele pudesse terminar o seu grito de guerra.

Ela o puxou meio metro para baixo na sujeira direto para a beira do

abismo. Ele tentou cortar sua cabeça, mas ela bateu na lâmina de sua espada com as costas da mão impermeáveis como se estivesse espantando uma mosca. A espada abominável caiu sobre a borda do

abismo. Ares assistiu-a afastando-se dele com a boca aberta. Antes que ele pudesse se recuperar do choque, Helen apertou os

joelhos em torno de suas costelas e enterrou os dedos em sua garganta, sufocando-o com todos os seus quatro membros golpeados e feridos. Suas chamas ficaram mais brilhantes, como se ele estivesse tentando

queimá-la, mas Helen apenas apertou com mais força. Seu relâmpago era dez vezes mais quente do que qualquer chama, e para mostrar a ele, ela

enviou dois raios diretamente em seu pescoço com ambas as mãos. Quando Ares convulsionou sob o ataque implacável de Helen, Lucas

e Orion se jogaram em Eris e Terror, abordando os deuses assustados e

bateram neles repetidamente. Nenhum dos Descendentes poderia realmente matar qualquer um dos imortais, mas Helen não se importava. A morte era boa demais para Ares, de qualquer maneira.

— Orion! Agora! — ela gritou, apertando Ares em um abraço de urso e assumindo mais massa do que ela nunca tinha tentado antes. Ela

sentiu Ares crescendo em tamanho, ficando maior e maior enquanto ele gritava com fúria, e ela o segurou desesperadamente. Por um momento, ela pensou que Orion não seria capaz de fazê-lo.

O chão sob eles rugiu e balançou, e então ele cedeu. Travados juntos, Helen e Ares caíram no abismo profundo, caindo e girando em

direção ao portal de gelo que brilhava levemente na parte inferior.

Helen não sabia se iria dar certo ou não. Ela podia ir e vir de todos

os níveis do Mundo Inferior enquanto ela estava dormindo, mas esta era a primeira vez que ela tentava fazê-lo acordada. Ela não sabia se ela

poderia abrir um portal de pé, ou se ela poderia criar novos enquanto ela dormia. Ela se concentrou em ficar calma, como ela fazia quando ela relaxava no sono quando ela descia, e esperou pelo melhor. Justo antes

de atingir o chão, Helen falou. — Abra, Tártaro, leve Ares e o sele para sempre com todas as almas

do mal que ele tenha traído — ela disse.

Ela não podia matar um imortal, mas ela tinha certeza que se ela pudesse levar Ares através de um portal, ela poderia prendê-lo no Tártaro

para sempre. Helen sabia por experiência própria que era muito pior do que a morte.

O gelo se dividiu e ela e Ares pararam de cair e começaram a pairar.

Uma centena de mãos vieram através das rochas e do gelo e agarraram uma parte diferente de Ares.

— Impossível — ele arfou, seus olhos se encontrando com os de Helen.

— Vá para o inferno — ela sussurrou.

E então ela o soltou. Com um grito ensurdecedor, Ares foi arrastado para o buraco escuro do Tártaro pelas centenas de mãos. Um número incalculável de braços se contorcendo se fecharam sobre ele até que,

finalmente, Ares, o deus da guerra, desapareceu debaixo deles para sempre.

O portal foi fechado, deixando Helen pairando no fundo da fenda escura. O único som era dela, ofegando com exaustão.

Sua visão ficou turva. Mal capaz de flutuar, ela usou as mãos para

guiá-la até a parede do abismo. Seu corpo começou a tremer violentamente e sua cabeça pendeu em cima de seu pescoço. Quando ela

subiu mais alto, ela ouviu seu nome sendo chamado repetidamente por várias vozes. Ela se atrapalhou em seu caminho em direção ao som, soluçando com fadiga e dor.

Assim que a sua força falhou, duas mãos diferentes, mas muito amadas se estenderam ao longo da borda do abismo e puxaram-na para o ar rosado de um novo amanhecer.

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u o esfaqueei, mas foi graças a Zach, na verdade. Foi ele quem descobriu como matar Automedon. — Helen arrancou a mão de Matt do pulso de Zach e substituiu-a

com a bela adaga. — Ele queria que eu lhe desse isso e dissesse que você era um grande amigo. O que, naturalmente, você é.

Matt olhou para o artefato antigo e balançou a cabeça. — Eu não

quero isso. — Pegue — disse Helen. — Foi o seu último desejo, e minha garganta

dói demais para discutir. Matt deu um sorriso triste e um abraço de lado. Ele olhou fixamente

para a adaga por um momento, em seguida, enfiou-a no cinto por baixo

da camisa. Ambos pareciam horríveis sobre a decisão de deixar o corpo de Zach nas ruas em Nantucket, mas eles sabiam que não havia melhor

maneira de dissimular a verdadeira causa da sua morte do que culpar o tumulto.

— Eu não vou deixá-lo em um lugar desrespeitoso, eu prometo.

Sinto muito sobre o seu amigo, Matt — disse Pallas em uma voz surpreendentemente suave. Ele colocou a mão no ombro de Matt e apertou tranquilizadoramente até Matt olhá-lo nos olhos e acenar com a

cabeça, sinalizando que ele estava pronto para deixá-lo ir. Pallas pegou Zach gentilmente e fugiu tão rápido que Helen sabia que quase parecia

para Matt como se eles tivessem desaparecido. Sem perguntar a ela, Matt pegou o braço de Helen e colocou sobre

seus ombros, meio carregando-a de volta para a principal reunião que

estava ocorrendo na borda do abismo. Sua perna tinha sido quebrada em vários lugares quando Ares a chutou, e ela ainda não conseguia andar

sobre ela, mas, como o resto dela, iria curar. Ela podia ver através de seus dois olhos de novo, pelo menos, mesmo que o direito estivesse monstruosamente inchado. Mesmo assim Helen tinha muito para ser

grata. Eris e Terror tinham fugido assim que Ares foi derrotado, e logo que Helen tinha aberto os olhos, Daphne tinha dito a ela que seu pai e os gêmeos ainda estavam vivos. Ao contrário de Zach. Matt a colocou entre

Orion e Lucas, e olhei para baixo para o buraco como Hector e Daphne. — Eu já disse a vocês — disse Orion, pressionando delicadamente

compressas de gaze em suas duas feridas. — O portal está fechado. Olhem para o meu pulso. — Ele levantou o Ramo de Enéias. — Quando ele não está brilhando assim? Isso significa que ele não está perto de um

portal. Posso fechar a brecha agora para que os fazendeiros que possuem este lugar não caiam acidentalmente?

Lucas começou a rir do tom de Orion, em seguida, rapidamente parou de rir e se agarrou no ombro que seu pai estava enfaixando. Helen

—E

poderia dizer que Orion estava cansado de responder perguntas. Ele

tendia a ficar mais sarcástico quando ele estava incomodado. Ela decidiu que era hora de intervir e livrá-lo da enrascada.

— Eu fechei o portal, e eu o fechei para sempre — ela respondeu asperamente através de suas cordas vocais delicadas. — Ares não sairá por esse caminho de maneira nenhuma. Vá em frente e feche a brecha,

Orion. — Mas como você pode saber disso? — Daphne interveio com leve

exasperação. — Existe alguma maneira de você descer e verificar, Helen?

— Daphne, olhe para ela. Ela sofreu o suficiente por uma noite. Pare de pressioná-la — disse Castor com seu bom senso de costume, enquanto

ele terminava de envolver o ombro de Lucas. — Se Helen e Orion dizem que está tudo bem fechar a brecha, então deixe ele fechá-la.

Daphne levantou as mãos e virou-se, soprando ar através de seus

lábios ruidosamente, apenas para que todos soubessem que mesmo que ela tivesse sido vencida, ela ainda não concordava. Hector revirou os

olhos e trocou um olhar com Orion. Aparentemente, os dois estavam familiarizados com esta pequena exibição de Daphne, embora tenha sido a primeira vez que Helen tinha visto isso.

— Feche-a — disse Hector para Orion. O chão comprimiu junto com um rangido, e fechou com um pequeno estrondo.

— Bem, parece que nós nunca vamos saber agora — disse Daphne

em um tom arrogante. Helen realmente queria esbofeteá-la, mas ela não conseguia ficar de

pé sem Matt, e ele se afastou para algum lugar. Ela esticou a cabeça e encontrou-o no chão à procura de algo. De repente, ele se agachou, vasculhando as cinzas de Automedon, e pegou algo brilhante. A bainha

da lâmina, Helen percebeu, perguntando por que ele a queria. — Ei. Você está bem? — Orion perguntou a ela, sacudindo-a de seus

pensamentos. Orion colocou um dedo em seu queixo para fazê-la ficar parada e olhou para seu olho ferido. Ainda olhando para ele, ele se inclinou para o lado e por cima do ombro. — Ei, Luke. Você viu isso?

— Sim — Lucas disse pesadamente, olhando para baixo e balançando a cabeça. — Você notou o formato?

— Sim. Muito apropriado.

— Do que vocês estão falando? — disse Helen, com a voz embargada. — Há uma cicatriz azul e branca correndo por sua íris direita, Helen.

O tipo de cicatriz que os Descendentes não se livram — disse Lucas calmamente. — É o formato de um raio.

— É, tipo, estranho de olhar? — ela perguntou a Orion, paranoica

que ninguém jamais quisesse olhar no olho direito dela novamente. Ele começou a rir e, em seguida, parou abruptamente, agarrando suas feridas e fazendo caretas assim como Lucas fez momentos antes.

— Na verdade, eu acho que parece meio incrível. Não que eu esteja feliz de como você a conseguiu, no entanto — ele disse em um tom triste.

— Nem eu. — Com ou sem uma cicatriz, Helen sabia que ela iria pensar sobre essa noite pelo resto de sua vida. Ela só esperava que Morfeu fosse gentil e não mandasse pesadelos sobre isso.

— Nós vamos ter que convocar uma reunião de cúpula — disse

Daphne a Castor. — Com todas as Casas. Atreu, Tebas, Atenas e Roma. — Eu sei — disse Castor, acenando com a cabeça. Ele olhou para

Orion e deu de ombros. — Quando é bom para vocês? Helen, Lucas e Orion riram, mas o momento de leveza morreu rápido

quando consideraram por que eles tinham que ter uma reunião das

Casas para começar. Eles precisavam dizer a todos os Descendentes que a guerra tinha começado e formar um plano para lidar com isso.

— Enquanto isso, eu acho que nós deveríamos ligar para todos que nós pudermos. Dizer a eles para terem cuidado — Hector aconselhou.

— Você acha que os deuses realmente tentarão nos pegar um de

cada vez? — perguntou Lucas em dúvida. — Não — disse Matt, reunindo o grupo. — Eu acho que eles querem

uma guerra de verdade. Algo grande e heroico.

— Mais divertido dessa forma — disse Helen remotamente, pensando em Ares e sua ideia distorcida de diversão.

— Isso não é um jogo — Hector lembrou a Helen e Matt gentilmente. — Os deuses viram o que Helen pode fazer, e o que eles enfrentam é pior do que morrer. Eu não sei sobre vocês, mas eu prefiro passar a eternidade

nos Campos Elísios do que no Tártaro. Se eu fosse Zeus, eu faria de Helen minha primeira meta, mas eu não acho que Orion e Lucas estão muito

mais abaixo na lista de alvos dos deuses. Gostem ou não, as Casas estão unidas. Vamos ficar juntos de agora em diante. Ninguém se afasta do aprisco.

Todos concordaram com o decreto de Hector. Ele era, e sempre seria, o herói deles.

Por um momento, Helen viu Hector vestindo uma couraça e

segurando uma lança enquanto ele se dirigia aos soldados. Jason estava atrás dele, segurando o capacete emplumado de Heitor com orgulho. Na

base das muralhas do castelo, leva após leva de bravos soldados gritavam o nome de Hector, banhando-o na glória.

— Conseguir as condições adequadas para trancar Ares no Tártaro

foi um golpe de sorte — disse Helen, piscando até que a visão de Hector, brilhando em vermelho e dourado na luz do sol, foi embora. — Não é algo

que acontece o tempo todo. — Mas isso não aconteceu — disse Daphne, voltando-se para Hector

com um toque de emoção. — E agora todos os deuses devem saber que,

se isso pode acontecer com Ares, poderia acontecer com eles. Eles devem nos temer. Para variar.

Helen observava sua mãe se preocupar com o lábio inferior entre seus dedos enquanto ela andava, imersa em pensamentos. Era quase como se Daphne quisesse esta guerra, mas por quê? Daphne era um

monte de coisas, mas suicida não era uma delas. Helen baniu a ideia, convencendo-se de que Daphne estava feliz só porque havia uma chance de que os deuses pudessem tentar evitar uma guerra agora que eles

foram ameaçados com o Tártaro. Tinha que ser isso. Fechando seus olhos inchados enquanto tentava clarear a cabeça latejante, Helen sentiu Lucas

pegar a mão dela e apertá-la brevemente para chamar sua atenção.

— Meu pai disse que Jerry e os gêmeos estão acordados agora — ele

disse suavemente. Sua testa enrugou quando ele viu os olhos de Helen flutuarem. — Você está bem?

Helen sorriu para ele e balançou a cabeça. Ela não estava bem. Nenhum deles estava. Ela estendeu a outra mão e pegou a de Orion.

— Quer conhecer o meu pai? — ela perguntou a ele.

— Sim. Eu acho que você deve conhecer o meu também — ele disse, mas ele não parecia muito animado com isso. Ele parecia triste. A cabeça de Orion balançava para frente e ele piscou algumas vezes, tentando ficar

consciente. — Ok. Hora de ir — disse Castor, o rosto franzido de preocupação.

— Vocês três estão em muito mau estado. Precisamos levá-los de volta para Nantucket. Daphne? Hector? Vamos lá.

Helen, Lucas e Orion ainda estavam fracos demais para ficar de pé,

e precisaram ser carregados de volta para Nantucket. Helen lutou em um primeiro momento, mas, em seguida, momentos depois que Daphne a

pegou, Helen foi superada com a exaustão. Ela não esperava isso, mas os braços de Daphne eram muito mais familiares do que ela poderia ter imaginado.

Olhando primeiro para Orion e, em seguida, deixando seus olhos pousarem em Lucas, Helen deixou sua cabeça descansar contra o ombro de Daphne e adormeceu ao ritmo suave do coração de sua mãe.

Sinopse: Depois de acidentalmente libertar os Deuses de seu

cativeiro no Olimpo, Helen deve encontrar uma maneira de

prendê-los de volta, sem iniciar uma guerra devastadora. Mas

os deuses estão zangados, e sua sede de sangue já começa a

acumular corpos pelo caminho.

Para piorar a situação, o Oráculo revela que um Tirano

diabólico está à espreita entre eles, o que leva um

distanciamento entre o grupo, outrora sólido, de amigos. Então,

enquanto os Deuses usam os descendentes uns contra os

outros, a vida de Lucas corre perigo. Ainda sem ter certeza se

ama ele ou Orion, Helen é forçada a tomar uma decisão

terrível, pois a guerra está cada vez mais próxima.