fabiana kac sonhos premonitorios ou sonhos...

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Fabiana Kac SONHOS PREMONITORIOS OU SONHOS SINCRONiSTICOS? Trabalho de Oissertac,;;ao apresentado ao curso de Psicologia da Faculdade de Ciencias Biologicas e da Saude da Unlversldade Tuiuti do Parana, como requisito oficial para a oblen~o do titulo de especialista em psicologia clinica. Orientador: Prof. Nelia Pereira da Silva CURITIBA 2008

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Fabiana Kac

SONHOS PREMONITORIOS OU SONHOS SINCRONiSTICOS?

Trabalho de Oissertac,;;ao apresentado aocurso de Psicologia da Faculdade deCiencias Biologicas e da Saude daUnlversldade Tuiuti do Parana, comorequisito oficial para a oblen~o do titulo deespecialista em psicologia clinica.Orientador: Prof. Nelia Pereira da Silva

CURITIBA

2008

SUMARIO

APRESENTA<;:AO ..... 7

INTRODU<;:AO .. 8

1.1 SINCRONICIDADE . 8

1.2 SONHOS .. 11

1.3 SINCRONICIDADE E OS SONHOS . 14

2 OBJETIVO .. 18

PROCEDIMENTOS METODOLOGICOS ... 18

3.1 PARTICIPANTE... 18

3.2 PROCEDIMENTO ... 18

3.3 RISCOS E BENEFic lOS ... 183.4 ANALISE DE DADOS .. 19

4 DESCRI<;:Ao DO CASO ... 20

4.1 DADOS DE IDENTIFICAC;Ao ... 204.2 QUEIXAS. 20

4.3 HISTORICO FAMllIAR. ... 204.4 HISTORICO DAS SESSOES .. 214.5 PERCEPC;OES SUBJETIVAS . 23

DISCUssAo. ................ 25

6 CONCLUsAo ... 27

REFERENCIAS .. 28

RESUMO

o objetivo deste trabalho e verificar a rela9iio ou distin9iio entre sonhopremonitorio e sonho sincronistico atraves de urn estudo de caSD. Os dadosfcram coletados a partir de sess6es de psicoterapia com uma paciente, do sexofeminin~, 31 anos, da cidade de Curitiba. A analise de dados do presentetrabalho sera feira atraves da Psicologia Analitlca, par meio de entrevistasrealizadas durante 0 proc8sso psicoterapico. Como fantes de refen§ncia, seraoutilizadas a pesquisa bibli09n;fica e a pesquisa de campo. Percebeu-se que ossonhos premonit6rios nao podem ser considerados sincronfsticos e vice-versa,ja. que urn passui relagao de causa e efeita e Dutra nao. Fica claro que apremonic;ao Qcorre no futuro devido a urn acontecimento no presente,completamente contrario a sincronicidade, que nao tern relac;ao de tempopresente e futuro.

Palavras-chave: sonho premonit6rio; sonho sincronistico

APRESENTACAO

Durante a pratica clinica, percebi que muitos pacientes relatavam sonhos que

de fato S8 concretizavam da mesma forma como haviam sido sonhados. Esse tema

passou a me chamar aten¥80, principalmente porque sempre me interessQu muito 0

conceito de sincronicidade desenvolvido par Jung.

A Psicologia Analitica sempre foi a linha de meu interesse, vista sua am pia

possibilidade de atu898o. Assim, essa e a linha de base que eu sigo em minha pr<3tica

clinica, e por essa razao optei par realizar ests estudo de casa com alguns conceitos

importantes como sonhos sincronfsticos.

Durante meus atendimentos, urn case em especial chamou minha aten980, e

passei a me questionar S8 os son has considerados premonit6rios pela paciente eram a

mesma coisa que as sonhos sincronisticos da Psicologia Analitica. E este foi 0 motivo

principal que me levou a realizar este estudo de casa, a fim de verificar se existe au nao

relayao entre estes conceit as.

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1. INTRODUCAO

1.1. SINCRONICIDADE

~A sincronicidade nos convida a olhar para nassas vidas sob um angulodiferente, no qual nossas experiencias subjetivas delerminam nosso lugar emum universo de evenlos do acaso que ocorrem conosco a nossa volta e queestao ligados atraves daquilo que representam para n6s". (HOPCKE. 2005, p.40)

Jung define 5incronicidade como Ua simultaneidade de urn estado psiqu;co com

urn ou varios acontecimentos que aparecem como paralelos significativQs de urn estado

subjetivo momentaneo" (JUNG. 1971, p. 19)

De aeordo com Hopcke (2005), coincidemcias significativas sao chamadas de

sincronisticas, e sempre carregam uma caracteristica emocional.

UUm mesma incidente, Dcorrido com duas pessoas, pade muito bern gerar duas

experiencias completamente diferentes, uma sincronistica e significativa, outra nao"

(HOPCKE, 2005, p. 31) Em todos as eventos sincronisticos a ligayao entre interior e

exterior e 0 significado do acontecimento para duas pessoas.

-As vezes, somente 0 profundo encontro simb6lico entre interior e exterior naforma de uma coincidencia significativa pode trazer 0 tipo de impulsopsicol6gico que talvez se necessite para virar a pagina e partir para um novoepis6dio na hist6ria que devemos viver". (HOPCKE, 2005, p. 57)

o principio da sincronicidade se torna regra quando urn acontecimento interior

ocorre simultaneamente a outro exterior. (JUNG, 1971)

"Fenomenos internos como sentimentos, valores, pensamentos, sonhos,intuit;:oes, desejos e assim por diante, podem muitas vezes estar ligados deuma forma decisiva a aconlecimentos 'eJdernos' como telefonemas, presentes,vida social, casas de amor e afins." (HOPCKE, 2005, p. 39)

A sincronicidade e totalmente contriuia a causalidade. Esta mostra como os

acontecimentos ocorrem uns atraves dos outros, enquanto para aquela (coincidemcia

dos acontecimentos) significa mais que acaso, exatamente uma interdependencia de

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eventos objetivos e estados subjetivos. "Assim como a causalidade descreve a

seqOencia dos acontecimentos, a sincronicidade, (...) lida com a coincidencia de

eventos". (WILHELM, 1997, p. 17)

Os acontecimentos sincronisticos sao ligados par uma conexao acausal, sao

acompanhados de uma forte experiemcia emocional, a conteudo e sempre de natureza

simb61ica e geralmente Qeorre em momentos de grande transi98o.

~Ah3m de desafiar a sensac;:ao de centrale que 0 pensamento de causa e efeitonos proporciona, admitir conexoes nao-casuais entre acontecimentos significatambem reconhecer que 0 mundo fisico nae esta separado dos acontecimentospsiquicos interiores" (HOPCKE, 2005. p. 39)

De acordo cam 0 mesma auter, cada experi€mcia sincronistica e mistica, ou

seja, algo misterioso e desconhecido e, assim, desafia a forma como normalmente

entendemos nossas vidas em uma corrente de causa e efeito.

As coincidencias significativas vao de dentro para fora quando ocorre um fato

interne que, acontecendo, coincide com uma circunstancia externa de uma maneira

importante e transformadora. Quando existe um evento externa, isso implica na

participac;:ao ou nao de outra pessoa na experiencia, enquanto 0 evento interno

depende somente de uma pessoa. Como tende a ocorrer num evento sincronistico, a

linha entre subjetivo e objetivo, interior e exterior e eu e 0 outro, se torna urn ponto de

encontro.

Sincronicidade tern rela«ao com simultaneidade. "E uma coincidencia

significativa de dois au mais acontecimentos, em que se trata de algo rna is do que uma

probabilidade de acasos". (JUNG, 1971, p. 84)

De acordo com Jung (1971), existem acontecimentas que estao relacionados

significativamente, sem a probabilidade de provar que exista uma rela~a causal. Sena

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impasslvel aceitar que uma situ8gao ainda nao existente que acontecera no futuro

possa S9 transferir como fen6meno de energia para urn individuo no presente. E

impassivel explicar uma coincidencia significativa como urn fen6meno energetico, 0 que

elimina a explica9iio causal.

"Nem 0 espat:;:o nem 0 tempo (...) influenclam a sincronicidade. ( ...) Nao e facitentender a siocronicidade no tempo como espacial, porque nao podemosimaginar um espBlfo em que acontecimentos futuros ja estejam objetivamentepresentes e possam ser experimentados como tais, mediante a redU(;:ao destadistancia espacial. Mas como em determinadas circunsUmcias a tempo e 0

espago parecem reduzidos quase a zero, (...) tambem a causalidadedesaparece com eles, porque a causalidade esta ligada a existencia do espa90e do tempo e as mudan9as fisicas do corpo, pais consisle essencialmenle emuma sucessao de causas e de efeitos. (...) A conexao entre fatoressignificativamente coincidentes deve ser necessariamenle concebida comoacausal" (JUNG,1971, p. 23)

A sincronicidade pode ocorrer em algumas situac;oes como, por exemplo, uma

coincidencia de um estado psiquico do observador com um acontecimento objetivo

extemo e simultaneo, onde nao he evidencia de relayao causal entre eles. Tambem

pode ocorrer como uma coincidencia de um estado psfquico com um acontecimento

exterior correspondente, que nao se encontra no campo de percep9ao do observador e

s6 se pode perceber posteriormente. 0 ultimo caso pode ocorrer como uma

coincidencia de um estado psiquico futuro e que so pode ser verificado em seguida.

"Os fenomenos sincronislicos sao a prova da presen9a simultanea deequivalencias significativas em processos helerogeneos sem liga9ao causal;( ...) eles provam que um conleudo percebido pelo observador pode serrepresentado, ao mesmo tempo, por um aconlecimenlo exterior, sem nenhumaconexao causal". (JUNG, 1971, p. 94)

Os acontecimentos futuros sao sincronisticos, ou seja, independente de tempo

cronol6gico, porque sao experimentados como imagens psiquicas no presente, como

se 0 acontecimento objetivo je existisse. Um conteudo inesperado, ligado a um episodio

objetivo exterior, coincide com 0 estado psiquico comum.

"Para a psique inconsciente, 0 espa90 e 0 tempo parecem relativos, isla e, aconhecimento se acha em uma especie de continuo espa90-tempo na qual 0

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espa~o ja nao e mais espar,;:o e 0 tempo ja nao e mais tempo. Se, portanto, 0inconsciente desenvolve e mantem urn certo potencial em dire((ao aconsciencia, ha a possibilidade de se perceber e 'conhecer' acontecimentosparalelos. (...) Se nao se pode explicar causalmente a coincidencia au 'conexaocruzada' significativa de certos acontecimentos, entaD 0 principia de ligar;aoconsiste na equival~ncia de sentidos dos acontecimentos pararelos.~ (JUNG,1971, p. 52)

Com as ideias e estudos de Jung, porem, comeC;8 a haver uma modific8C;80 de

paradigm as:

~Nossa ciemcia, entretanto, e baseada no principia da causalidade, a quat econsiderado uma verdade axiomatica. Mas uma grande mudanr,;:8 estaocorrendo em nossa ponto de vista. (, ..) Os axiomas da causalidade estaosendo abalados em seus fundamentos: sabemos agora que 0 quedenominamos leis naturais sao meramente verdades estatlsticas que supoem,necessariamente, excet:;oes. (...) Se deixarmos a natureza agir, veremos umquadro muito diferente: 0 acaso vai interferir total ou parcialmente em todo 0processo, tanto assim que, em circunstancias natura is, uma seqUencia de fatosque esteja em absoluta concord~mcia com leis especfficas constitui quase umaexce~o~. (WILHELM, 1997, p. 16)

1.2. SONHOS

De acordo com Jung (1987), 0 objetivo da analise dos sonhos nao consiste em

urn exercicio intelectual qualquer, mas a descoberta e a conscientizac;ao de conteudas

ate entao inconscientes, considerados de grande interesse para a explicac;ao au a

tratarnento de uma neurose.

A interpretac;ao toma-se mais segura numa serie de sonhos, aonde as sonhos

que vao ocorrendo cOlTigem as incorrec;6es cometidas nas interpretac;6es anteriares.

De acordo com Mahrer (1998), 0 processo de sonhar e terapeutico, porque

efetua a func;ao de regular, equilibrar, integrar, curar au adaptar alguns aspectos da

psique.

"Na psicologia anaJitica, 0 sonho e considerado um processo psiquico natural,

regulador, analogo aos mecanismos compensat6rios do funcionamento corporal".

(HALL, 1993, P 30)

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Segundo Hall (2003), e importante levantar os detalhes do sonho, para que se

evite cair no reducionismo. Em primeiro lugar, deve-s8 procurar as associ8c;oes

pessoais do paciente. Em seguida, pode-s8 partir para as ampliac;oes culturais, se 0

paciente concordar. Se necessaria, ainda, faz-s8 a amplia9ao arquetipic8.

As imagens arquetipicas mostraram ser muito significativas para urn grande

numero de pessoas, e se tomaram aceitas em alguns sistemas simb6licos. "as sonhos

arquetipicos tern significados simb6licos, representados par uma imagem au atividade

comum que tem fun,ao didlitica e qualidade espiritual." (MAHRER, 1998, p. 50)

Jung (1971) nao reconhece significados fixos dos sfmbolos, tornando as

imagens onfricas importantes. Cada uma delas tern seu proprio significado para 0

sonhador, de acordo com a forma pela qual apareee nos sonhos.

Segundo Jung (2003), 0 sonho retrata a situa,ao intema do sonhador, cuja

realidade 0 eonseiente reluta em aeeitar ou nao aeeita eompletamente.

"Os sonhos nos comunicam, numa linguagem flgurada - isto e, par meio derepresenta90es sensoriais e imaginosas - pensamentos, julgamentos,concep90es, diretrizes, tendEmcias que se achavam em estado de inconsciencia,por terem side recalcados ou simplesmente ignorados". (JUNG, p. 186)

De acordo com Hall (2003), 0 sonho e considerado uma representa,ao

simb61ica do estado da psique. Os eonteudos pertencentes a sua parte mais profunda

as vezes se manifestam nos sonhos.

"Os sonhos sao uma auto-representar;:ao do estado da psique, apresentados

sob uma forma simb6Iica". (HALL, 2003, p. 122) Os sonhos estao a servir;:o do proeesso

de individuayao, ajudando 0 ego vigil a enearar-se de forma mais objetiva e eonsciente.

AS son has costumam acontecer atraves de construy6es dramaticas que

oferecem ao ego onfrico a possibHidade de lidar com problemas nBo resolvidos pelo

ego vigil.

A funyBo do sonho constitui um ajustarnento psicol6gico, uma compensayao

indispensavel a atividade orden ada, pais em sua maioria, as son has tern uma funC;Bo

compensadora em relaC;Bo aos conteudos conscientes.

"Quanto mais unilateral for sua atitude consciente e quanto mais ela se afastardas possibilidades vitais 6timas, tanto maior sera 1ambem a possibilidade de queapare9am sonhos vivos de con1eudos forte mente contrastantes como expressaoda auto-regula9ao psicologica do indivfduo" (JUNG, p. 190)

De acordo com Jung (2003), a alma, por ser urn sistema de auto-regula98o,

equilibra sua vida. Todos as processos excessivos desencadeiam suas compensay6es.

Esta teo ria e a regra basica do comportamento psiquico em geral. 0 que falta de um

lado, cria um excesso do outro. Da mesma forma, a relaC;Bo entre consciente e

inconsciente tambem e compensat6ria. Sendo assim, e importante investigar com a

paciente qual atitude consciente esta sendo compensada pelo sonho.

De acordo com Pieri (2002), 0 sonho e uma auto-representaC;Bo espontanea e

simb6lica da situac;ao atual do inconsciente, sendo visto como 6rgao de informaC;Bo e

controle da atividade imaginativa da psique.

UNos falamos a linguagem de uma realidade exterior, uma linguagem que 0

outro escuta e entende, e ao mesmo tempo nos temos nossa Hnguagem interiorpropria e particular, uma linguagem que nos temos que escutar de uma maneiraespecial para podennos compreender inteiramente. Essa linguagem, alinguagem dos sonhos, tern sido sempre compreendida como de naturezasimb6lica" (HOPCKE, 2005, p. 156)

Segundo Jung (2003), as imagens vindas da natureza mais primitiva e as

impulsos mais arcaicos falam atraves do sonho. Atraves da assimila9Bo de conteudos

inconscientes, a vida consciente atual e ajustada nova mente a lei natural da qual se

desvia facilmente.

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o sonho e algo muito pessoal, pais apenas quem sonha ve, ouve e sente aquila

que sonha, ah~m de ser algo muito significativo para 0 sujeito,

"Nossa interpretat;:8o dos sonhos deve sempre levar em conta tambem nossaexperi€mcia subjetiva. Urna interpretac;ao que leve em conta as imagens masignore a experiencia intema au 0 significado dela para quem sonhou nao e urnainterpretac;ao que valha muito, nao importa qUaD elegante ou compreensfvelseja" (HOPCKE, 2005, p. 187)

1.3. SINCRONICIDADE E OS SONHOS

Segundo Hopcke (2005), da mesma forma que as son has, a sincronicidade tern

urn carnter simb61ico, e funciona para tamar consciente 0 inconsciente. Nem lodos os

sonhos sao sincronisticos, pais a maioria deles sao sabre estados que nunca ocorreram

e podem nao vir a acontecer no mundo extemo. Qutras vezes, porem, son ham os com

algo que acontece, pois 0 sonho expressa Ilteralmente ou de forma simb6lica 0 fato

ocorrido.

~O canceita de sincronicidade de Jung ern relay80 a esses sonhos enfoca essasexperiencias de fanna completamente diferente. Em vez de recorrer a urnaexplica~o objetiva causal (...), ela enfatiza que a sentido da coincidencia entreurna irnagem de sonho e 0 subsequente acontecimento externo esm nosignificado subjetiva que experirnentamos corn 0 acontecirnenta, a seu efeitoemocional, au no papel que representa na hist6ria de nossas vidas." (HOPCKE,2005, p. 160)

Perceber 0 sonho como premonit6rio seria como percebe-Io atraves dos

sentidos normais, sem a perspectiva do acaso. Dizer que 0 sonho e premonit6rio

significa considera-Io dentro de uma relaC;8o de causa e efeito, on de algo ocorre em

decorreneia de um fato. Como os sonhos sao muito pessoais, sentimo-nos tentados a

aehar que somas responsaveis pelo que eles retratam, e esta realidade e muito dura.

Na verdade, 0 que ocorreu foi uma eoincidencia, urn aconteeimento extemo fora do

com urn, sabre 0 qual nao temos controle. Q perigo de ver tais son has como

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premonit6rios e que naD S8 pede nem se deve culpar-se par naD ter interferido em uma

situac;ao que, atraves da experiencia propria subjetiva, ainda nao ocorreu.

Assim, apreender a sonho de forma sincronistica e reconhecer seu significado

subjetivo de uma coincidencia entre a mundo intemo simb6lico e 0 acontecimento

extemo real. De forma am3loga, perceber a sonho de forma premonit6ria significa

entender seu significado de forma menes subjetiva, pais, se 0 sonho pode predizer 0

futuro, entaD a sujeito deve possuir alguma habilidade especial, au seja, tern a

capacidade de preyer 0 futuro (premoniy8o).

Muitas pessoas que encaram as sonhos como premoni90es sentem-se

culpadas au responsaveis petos acontecimentos subsequentes aos sonhos. E muito

comum que essas pessoas evitem talar 0 que sonharam, na tentativa de nao OCOJTer0

que viram em seus sonhos, ou mesmo para nao ouvirem os outros falando que vai

ocorrer algo em decorrencia do que eles sonharam

Os sonhos sincronisticos refletem acontecimentos extemos de forma

significativa:

"A natureza sincronfstica de certos sonhos nao se encontra necessariamente nairnagern literal do sonho que subseqOenternente acontece na realidade externa,mas pode encontrar seu paralelo nurna conexao simb61ica significativa entre aimagem interiore urn aconlecimento exlerno~. (HOPCKE, 2005, p. 162)

Segundo Jung (1971), 0 sentirnento de deja-vu se baseia em urna precogni~iio

do sonho ou do estado de vigilia. Aqui 0 acaso se tom a improv8vel, pois a coincidencia

ja e conhecida anteriormente, perdendo seu carater casual. Neste caso esta situa<;ao

toma-se uma coincid€mcia significativa, nao existindo uma explicayao causal para a

mesma.

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A sincronicidade possui dais fatores: uma imagem inconsciente chega aconsciemcia direta ou indiretamente atraves de sonhos, associa90es ou premonic;6es e

uma Situ8C;80 objetiva coincide com isto.

A fungao prospectiva do sonho e uma antecipayao, surgida no inconsciente, de

atividades conscientes futuras, como urn exercfcio preparat6rio. Nao e justificavel

chama-los de profeticos, pais sao apenas uma combinac;ao de possibilidades que

podem condizer, em algumas situ8c;oes, com a realidade dos acontecimentos.

"A fun980 prospectiva e muilas vezes francamente superior a combina9aoconsciente e precoce das probabilidades, do que nao devemos admirar-nos,porque 0 sonho resulta da fusao dos elementos 5ubliminares, sendo, portanto,uma combinag8o de perce~oes, pensamentos e sentimentos que, em virtudede seu fraco relevo, escaparam a consciEmcia". (JUNG, p. 193)

Lideres religiosos e homens sabios gastaram suas vidas interpretando sonhos

no antigo Egito. Enquanto dormia, 0 Fara6 teve um sonho perturbador. Sete vacas

gordas e forrnosas subiam do rio Nilo para se alimentarem. E ap6s elas, subiam sete

vacas magras e feias que as devoravam. Entretanto, era chocante notar que elas nao

engordaram nem um pouco. Os son has se repetiram novamente, so que em vez de

vacas, agora eram espigas.

Ap6s anos de escravidao, Jose e colocado diante do Farao, e explicou que

ambos as sonhos tin ham a mesma interpretatyao. Deus estava mostrando ao Fara6 0

que Ele estava prestes a fazer. As sete vacas gordas e as sete espigas boas

representavam sete anos de fartura. As sete vacas magras e as sete espigas miudas

representavam sete an os de fame. Assim, a Egito conseguiu se preparar durante os

anos de fartura para a epoca de fame.

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Considerando 0 sonho como premonit6rio, temos uma relac;ao de presente e

futuro. Considerando-o como sincronistico, entendemos tempo e espac;o reduzidos

quase a zero, pais futuro e presente caminham juntos.

Perceber 0 sonho como premonitorio sena como percebs-Io atrav8S dos

sentidos nonnais, sem a perspectiva do acaso, contrario ao que ocorre com 0 sonho

sincronistico.

1B

2. OBJETIVO

Verificar a relaC;:8o au distinyao entre sonho premonit6rio e sonho sincronistico

atraves de urn estudo de casc.

3. PROCEDIMENTOS METODOLOGICOS

3.1. PARTICIPANTE

Paciente, do sexo feminin~, com 32 anos, da cidade de Curitiba.

3.2. PROCEDIMENTO

o trabalho sera ilustrado a partir de urn estudo de casc.

3.3. RISCOS E BENEFic lOS

A participante estara contribuindo para urn estudo, trazendo conhecimento S8 hit

ou nao relayao entre sonho premonitorio e sonho sincronistico, al8m da possibilidade

de fomecer subsidios para Qutros trabalhos nesta area. Cantu do, e prioritario pensar no

bern estar da participante, que estara correndo 0 risco de exposiC;:80 de suas emoc;:oes e

quest6es pessoais de sua vida.

Para evitar que 1550 ocorra, serao usadas apenas as iniciais da paciente. Alern

disso, nao sera citado a nome de ninguem ligado a ela, bem como de nenhum lugar

que possa com pro mete-la, visto que 0 sigilo e essencial na relaC;Eloterapeutica.

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3.4. ANALISE DE DADOS

A analise de dados do presente trabaJho sera feita atraves da Psicologia

Analitica, par meio de entrevistas realizadas durante 0 processo psicoterapico.

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4. DESCRICAo DO CASO

4.1. Dadas de identificacao:

Paciente: V. S.

Idade: 32 an os

Profissao: psic610ga

Estado civil: solteira

4.2. Queixas:

Depresseo, comportamento de arranhar 0 rosto, medo da solidi3o, ansiedade,

dificuldade em estabelecer relacionamentos afetivQs, dependencia da mae, apatia e

cans890.

4.3. Hist6rico familiar:

v.s. tern uma irma mais velha, a qual foi fruto de uma relayao da sua mae com

Dutro homem, quando ela tinha 15 anos. Seus pais a mandaram embora de casa, tendo

ida morar na rua. Depois de urn tempo foi trabalhar em uma casa de familia e la

conheceu 0 pai de V.S., que a levou para morar com ele e registrou sua filha como

sendo dele.

o pai da paciente era militar e tinha TOe (transtomo obsessivo compulsivo),

anotando tude 0 que fazia em urn cademo. Era muitos anos mais velhos que a espos8,

e par is so a relacyao entre eles era distante. V.S. tinha uma relacyao muito forte com 0

pai, e quando esie faleceu em 1996, foi muito dificil para ela lidar com esta perda.

A irma mais velha tern 35 anos e e casada. V. S. mora com a mae e tern uma

rela9aO difiei!, visto que ela depende finance ira e emocionalmente da mae. Eras

possuem um salao de beleza junto a casa onde moram e algumas vezes V. S. trabalha

18como depiladora.

4.4. Hist6rico das sess6es:

V.S. procurou a terapia com queixa de depressao. Na epoca estava em uso de

Fluoxetina 20mg, mas sem apresentar melhora. Aproximadamente 8 meses depois do

inicio do tratamento, a medicac;:ao foi dobrada.

A paciente relatou que, na inf~mcia, tinha pensamentos obsessiv~s e sentia

necessidade de realiza-Ios. Alem disso, teve tricotilomania e chegou a ficar careca.

Quando fica nervosa, mexe no rosto e acaba se machucando.

o pai e a mae tinham uma relac;:ao estranha, principalmenle porque ele era 37

anos mais velho que a mae. Eles tinham os papeis invertidos, ja que ela exercia 0 papel

da Lei enquanto 0 pai era muito bonzinho. Acredita que eles tinham uma relal'ao de pai

e filha por causa da diferen98 de idade, mas nunca se amaram.

Pai teve alzheimer e V.S. cuidou dele p~r 4 anos. Eram muito proximos, e esta

perda for muito dura para ela, apesar de ter se sentido aliviada por nao ve-[o rna is

sofrer.

Formou-se em 2001 como psicologa, trabalhou em hospital psiquiatrico por 6

meses e ficou urn [ongo perlodo sem aluar na area. Durante 0 processo psicoterapico,

comec;ou a trabalhar como pSicologa escolar e abriu urn consult6rio, mas enquanto isso

fazia bicos como depiladora no salEIOda mae para poder auxiliar nas despesas.

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Namorou durante 8 anos, ficou naiva durante 4 anos, casau-se e separou-se 1

ano depois. Como 0 marido naD tinha salaria fixD, tirou todD 0 dinheiro que tinha na

poupanc;a para sustenta-Io. Quando S8 separou, sentiu como sa 0 pai a tivesse deixado

nova mente, ja que a morte dele e a separayao ocorreram muito proximas. Ficou sem

falar com ele par alguns meses, ate que ele voltou a procura-Ia. No inicic ainda estav8

muito ligada a ale, mas durante 0 processo percebeu que 0 relacionamento nao fazia

bem a ela e conseguiu terminar definitivamente. Acredita que vai ser muito difici!

conseguir ter urn novo relacionamento, pois cresceu achando que naD existe amor,

vista que esse era 0 padrao de relacionamento da sua familia. Tern muito medo de tiear

sDzinha,

Um pouco antes de encerrar 0 processo psicoterapico, V.S. comec;ou a

namorar. Devido ao ciume do namorado, ela parou de trabalhar na escola e fez

empestimos para ele, repetindo 0 padrao de seu relacionamento anterior.

Atualmente mora com a mae e tem uma relaC;ao diffcil com ela, pois esta emuito "mandona" (SIC). Alem dela, tambem mora junto urn primo de 14 anos. Percebeu

que e muito dependente da mae, pais nao con segue tazer nada sem talar antes com

ela. Ao mesmo tempo em que quer que ela se torne mais independente e saia de casa,

quer controlar sua vida, e V.S. aceita assumir este papel.

Ao ser questionada sobre sua religiao, relatou neo ter nenhuma definida, mas

tem freqOentado um centro espirita. Assim, contou que tern sonhos premonit6rios e

descreveu alguns desses sonhos junta mente com 0 que ocorreu em seguida:

Sonho 1: namorava urn rapaz que nao conhecia, e estava muito feliz neste

sonho.

23

Aproximadamente 3 seman as depois do sonho, ela foi para a praia com a mae,

viu urn rapaz passar e 0 corac;ao disparou, porque era ele quem estava no seu sonho,

No dia seguinte S8 encontraram na praia e ele a convidou para sair. Foi busca-Ia na

casa dela e acabaram ficando juntos Iii mesma. Foi urn sonho bastante significativo

para ela, tendo a feito olhar para ele de urna forma diferente.

Apos 0 acontecimento da praia, acreditou que 0 sonho foi urn aviso do que viria

acontecer depois.

Sonho 2: estava arrumando as malas e indo embora de casa.

Alguns dias depois descobriu que a prima havia se separado, arrumou as malas

e foi embera.

Novamente acreditou que 0 sonho tinha sido urn aviso de que a prima iria

embera

Sonho 3: a vizinha cortou a arvore que ficava em frente a sua casa, po is estava

atrapalhando a vista.

Quando acordou na manha seguinte, olhou para a casa da vizinha e viu que era

isso que tinha acontecido.

Depois de um periodo, interrompeu 0 processo de psicoterapia repentinamente

e nao quis fazer sessao de fechamento.

4.5. PercepcQes subjetivas:

A paciente mostrava-se ansiosa, senslvel, insegura, exigente e de pendente. Ela

apresentava-se cabisbaixa na maior parte do tempo durante as sessoes, mostrando-se

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introvertida. Alem disso, mostrav8-Se limpa e zelosa com a aparemcia, estando sempre

arrumada, com roupas justas, e maquiada as vezes em excesso.

A expressao corporal de V.S. correspondia ao conteudo emocional do seu

discurso, eo cantata visual variava entre othar para a terapeuta e evita-Ia.

A paciente ralava bastante durante as sessoes, rapidamente e

espontaneamente. Seu discurso apresentava-se coerente, e seu humor era congruente

com 0 seu areto.

V.S. apresentava disturbios do sona e labilidade emocional, sendo muito

exigente. Mostrava desempenho intelectual normal e boa concentrac;ao.

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5. DISCUssiio

Na analise de urn mesma sonho, pode-s8 considera-Io como premonit6rio ou

sincronfstico. Se for vista como premonitorio, ha uma relac;ao de presente e futuro.

Considerando-o como sincronistico, 0 vemos como acausal, entendendo tempo e

espac;o reduzidos quase a zero, pois futuro e presente caminham juntos.

Perceber 0 sonho como premonit6rio sena como percebe-Io atraves dos

sentidos normais, ou seja, par meio da funyao sensayao, sem considerar a perspectiva

do aeaso, que ocorre sob uma perspectiva consciente.

E importante ressaltar que dave representar algo significativo para quem sonha

ou vive aquila que Deon-eu, para que a coincidencia seja significativa, senae sla toma-

sa apenas uma coincidemcia. E e isto que caracteriza 0 sonho sincronistico. Nestes

casos, a linha entre subjetivo e objetivo, interior e exterior e eu e 0 outro se toma urn

ponlo de encontro. (HOPCKE, 2005)

Neste estudo de caso, em todos os sonhos que V.S. teve ela fieou

impressionada que as eoisas vieram a oeorrer depois que ela vivenciou-as

inleriorrnente, por eslar focada na linearidade da consciencia. Segundo Jung (2003), 0

sonho retrata a situac;ao intern a do sonhador, euja realidade 0 eonseiente reluta em

aeeitar ou nao aceita eompletamente.

Os sonhos que ela tinha, seguidos de acontecimentos simi lares, tinham urn

valor muito importante, caracteristica essa essencial da sincronicidade. Porem, muitas

vezes, ela acreditava que os fatos ocorriam porque ela havia sonhado, 0 que

descaraeteriza 0 sonho sincronistico, tornando-o assim premonit6rio para ela, po is e a

maneira como ela 0 percebia. De acordo com Wilhelm (1997), a sincronicidade e

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totalmente contraria a causalidade 8, da mesma forma que esta descreve a sequencia

de acontecimentos, aquela mostra a coincidemcia dos eventos.

Como as sonhos sao muito pessoais, sentimo~nos tentados a aehar que somas

responsaveis pelo que eles retratam, e esta realidade e muito dura. Se V.S. percebe a

sonho em uma relac;ao de causa e efeita, sla passa a acreditar que as eventos futures

estao ocorrendo porque sla teve 0 sonho, OU seja, ela foi a causadora destes. Na

verdade, ocorreu com V.S. uma coincidencia significativa, alias, Vari8S coincidemcias

significativas chamadas sincronicidade, porque Uos fen6menos sincronisticos (... )

provam que um conteudo percebido pelo observador pode ser representado ( ..) por um

acontecimento exterior, sem nenhuma conexiio causal". (JUNG, 1971, p. 74)

Urn exemplo disso eo sonho 1, 0 qual teve um valor significativo para V.S., que

realmente acreditou que ele poderia tomar-se seu namorado, dando uma abertura para

se conhecerem. Segundo Hopcke (2005), alguns fen6menos internos como as son has

podem estar ligados a acontecimentos externos como encontros e casos de amor,

dentre outras possibilidades.

Se ela olhar para este sonho de maneira consciente, ela 0 percebe como um

sinal de que a encontro entre eles ocorreria. Mas, se ela olhar para este sonho de uma

outra forma, ela pode perceber que na verdade ocorreu uma coincid€mcia importante,

porque de acordo com Jung (1971) 0 principio da sincronicidade se toma regra quando

um acontecimento interior ocorre simultaneamente a um exterior.

De acordo com Hopcke (2005), ao lnves de recorrer a uma explicayao causal,

as sonhos sincronisticos enfatizam que a coincidemcia entre a imagem do sonho e 0

acontecimento extemo subsequente esta no significado subjetivo que experimentamos

ou no seu efeito emocional.

6. CONCLUsAo

De acordo com a que foi exposto aeirna, pods-s8 perceber que os sonhos

premonit6rios naD podem ser considerados sincronfsticos e vice-versa, mas slm

podemos othar para urn me sma sonho de forma sincronistica ou premonit6ria, ja que

urn passui relaC;8o de causa e efelto e a outro nao.

Ficou claro que 0 evento que ocorre no futuro devido a urn acontecimento no

presente e completamente contn3rio a sincronicidade, que naD tern rel8c;ao de tempo

presente e futuro e nem de causa e sfeito.

Para V.S. os sonhos eram considerados premonitorios, pois ela realmente

acreditava que as eventos futuros estavam ocorrendo porque ela teve as sonhos

anteriormente. Assim, pode-s8 perceber que a mesma 56 conseguia enxergar este

processo simb61ieD que e sonhar atraves de uma perspectiva consciente, linear,

racional. Porem, se ela conseguisse perceber que estes sonhos erarn processos

interiores ligados a eventos futures pela coincidencia e importancia que tiveram para a

mesma, eles passariam a ser percebidos como sonhos sincronisticos.

Na realidade, urn mesmo sonho pode ser percebido de qualquer uma destas

duas fonnas, dependendo de como 0 paciente olha para eles. Mas e importante

ressaltar que sonho premonit6rio e sonho sincronistico nao sao a mesma coisa, e a

principal diferen9a entre eles esta na noc;ao de como a tempo e percebido.

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REFERENCIAS

HALL, James A Jung e a interpretaqao dos sonhos: manual de teoria e pnitica. 3. ed.

Sao Paulo: Cultrix, 1993.

HALL, James A. A experiencia junguiana: analise e individuayao. 12. ed. Sao Paulo:

Cultrix, 2003.

HOPCKE, R. H. Sincronicidade au porque nada e par acaso. 3. ed. Rio de Janeiro:

Nova Era, 2005.

JUNG, Can Gustav. Sincronicidade. 14. ed. Petropolis: Vozes, 1971. Obras completas

de C. G. Jung. Volume V111/3.

JUNG, Can Gustav. A natureza da psique. 6. ed. Petropolis: Vozes, 1971. Obras

completas de C. G. Jung. Volume V11I/2.

JUNG, Carl Gustav. Ab-reaqao, analise dos sonhos, transferencia. Petropolis: Vozes,

1987. Obras completas de C. G. Jung. Volume XV1/2.

JUNG, Can Gustav. Prefacio. In: WILHELM, R. I Ching: a livro das muta,oes. Sao

Paulo: Pensamento, 1997.

PIERI, P. F. Dicionario junguiano. Sao Paulo: Paulus, 2002.

MAHRER, A R. 0 papel dos sonhos na psicoterapia. In: KRIPPNER, S. Decifrando a

linguagem dos sonhos: a tempo do sonho e a trabalho com as sonhos. ed. 10. Sao

Paulo: Cultrix, 1998.