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A ESCOLHA

IN THE WARRIOR'S BED

Mary Wine

Esccia, 1603

Dormindo com o inimigo

Cullen Mcjames no permitir que sua honra seja manchada, muito menos pelo inimigo de seu cl, lorde Erik McQuade. Por isso, quando McQuade declara, no tribunal, que Cullen roubou a virtude de sua filha, ele decide roubar a filha propriamente dita...

Desde o casamento de seu irmo com uma mulher maravilhosa, Cullen tem pensado seriamente em encontrar uma esposa tambm. Alm disso, uma unio por matrimnio poderia acabar de vez com aquela rixa entre os dois cls. E bastou olhar uma vez para Bronwyn McQuade para que ele sonhasse com ela a semana inteira...

Bronwyn, porm, no ceder to facilmente. Ela se recusa a ser punida por algo que no fez, mas tambm no est nem um pouco disposta a conviver com o rancor de sua famlia. Por mais charmoso e corajoso que seja Cullen, ele ainda tem muito que aprender sobre a personalidade feminina e a determinao de uma mulher. No entanto, como Bronwyn est prestes a descobrir, ele tambm tem muito a lhe ensinar...

Digitalizao: Crysty

Reviso: Ana Ribeiro

Copyright 2010 by Mary Wine

Originalmente publicado em 2010 pela Kensington Publishing Corp.

PUBLICADO SOB ACORDO COM KENSINGTON PUBLISHING CORP.

NY, NY - USA Todos os direitos reservados.

Todos os personagens desta obra so fictcios. Qualquer semelhana com

pessoas vivas ou mortas ter sido mera coincidncia.

TTULO ORIGINAL: IN THE WARRIOR'S BED

EDITORA

Leonice Pomponio

ASSISTENTES EDITORIAIS

Patrcia Chaves Silvia Moreira

EDIO/TEXTO

Traduo: Elizabeth Arantes Bueno

ARTE

Mnica Maldonado

MARKETING/COMERCIAL

Andra Riccelli

PRODUO GRFICA

Snia Sassi

PGINAO

Ana Beatriz Pdua

Copyrigh 2010 Editora Nova Cultural Ltda.

Rua Butant, 500 10 andar CEP 05424-000 So Paulo - SP

www.novacultural.com.br

Impresso e acabamento: RR Donnelley

Captulo I

Castelo Red Stone, Terras McQuade, 1603

Papai diz que o rei lhe deu permisso para deixar a Corte.

Bronwyn McQuade estremeceu. Mesmo disfarando bem os sentimentos quanto ao desdm que o pai sempre lhe dirigia, a verdade era uma s. Temia sua volta.

Erik McQuade, senhor de um vasto domnio, gostava de deixar claro que cada homem, mulher e criana nascida em seus domnios tinham o dever de contribuir para a melhoria do cl. Este estava acima de tudo.

E sendo filha dele, Bronwyn sentia na pele essa expectativa.

Espero que ele faa uma boa viagem de volta para casa ela murmurou sem entusiasmo algum.

O irmo riu com ironia.

Keir McQuade no conseguia disfarar os seus sentimentos. Como terceiro filho, fora relegado tarefa mais mundana de administrar a propriedade, enquanto os irmos mais velhos estavam sempre ao lado do pai. Ele no se sentia inclinado a imitar os irmos. Liam e Sodac gostavam de saquear as terras vizinhas, um feito que os favorecia junto ao pai. Keir abominava essas pilhagens.

Balanou a cabea antes de colocar a carta novamente no envelope e guard-la dentro da escrivaninha.

Pelo menos o rei James no o mandou para casa com a neve cobrindo as estradas. A expresso no rosto dele assombreou-se. No que eu culpasse o nosso monarca se fizesse isso.

Bronwyn no respondeu. Segurou a lngua com a prtica cultivada por anos. O pai jamais demonstrara qualquer afeio por sua nica filha. Na verdade, Erik McQuade no gostava nem de v-la sua frente. Em sua concepo, uma filha no tinha qualquer utilidade. Bem ao contrrio, e ela crescera ouvindo-o lamentar o fato de que algum dia seria pressionado a favorec-la com um dote.

Havia, porm, pouca chance de isso acontecer.

Bronwyn suspirou. Nunca fizera planos de casamento, ainda assim o desdm de seu pai a magoava. No havia homem algum usando as cores do cl McQuade que ousasse flertar com ela. Liam e Sodac contribuam com isso espalhando a todos que a irm era dotada de um temperamento insuportvel.

No precisa ficar assim.

Assim como? Bronwyn voltou-se para o irmo.

Eu a conheo muito bem. Keir estalou a lngua.

Mas papai no conhece. Ele no ver nada a no ser aquilo que desejar.

O irmo resmungou algo incompreensvel, que levou Bronwyn a se lembrar de que no era a nica na famlia a ser desvalorizada pelo pai. A falta de interesse pelas guerras valera a Keir o desprezo de Erik. O rapaz no era um covarde, simplesmente se dedicava s atividades que considerava mais interessantes e no exigiam o uso de uma espada.

Voc tem razo e ainda assim vejo a dor em seus olhos.

Minha vida no assim to difcil, Keir. No mais do que as das outras pessoas de nosso cl. Um sorriso suave surgiu nos lbios de Bronwyn.

Ela no queria mostrar fraqueza nem ressentimento. Nem precisava. Mantendo o queixo erguido, pressionou o pedal do enorme tear em que trabalhava. O instrumento em si era uma posse valiosa do cl McQuade. Moderno e eficiente, produzia tecidos de qualidade igual aos melhores encontrados em Edimburgo.

Deslizando os dedos sobre o tecido, ela sorriu satisfeita com a maciez.

Seu trabalho magnfico. A voz de Keir era agradvel e ela saboreou a aprovao do elogio.

E voc um mestre em administrar as propriedades dos McQuade.

O verdadeiro valor de seu irmo estava em sua mente brilhante no que se referia s finanas. Erik tinha se casado trs vezes para aumentar assim a sua fortuna. Entretanto, vinha sendo a administrao cuidadosa do ouro da famlia que aumentara o patrimnio consideravelmente. Keir tivera a excelente viso de como renderia bem o tear que ela usava agora.

O cl possua l em abundncia, graas aos carneiros que pastavam em suas terras. Quatro outros teares estavam dispostos em uma sala maior, construda ao lado do grande salo.

Sendo a filha do senhor das terras no significava que pudesse passar o dia sem nada fazer. Agora que o inverno estava chegando, Bronwyn trabalharia ainda mais horas no tear. Quando no estivesse tecendo, outra mulher estaria. Nenhuma mquina ficava parada durante as horas do dia. Em um nico ano, os teares haviam coberto o gasto feito com sua compra e Keir pretendia comear a lucrar na prxima primavera.

Bronwyn no acreditava, porm, que os mritos de Keir fossem valorizados pelo pai. Este dava, com certeza, mais valor s pilhagens de Liam e Sodac. Ela suspirou profundamente, enquanto seus ps e mos se moviam manejando o tear. Com vinte e trs anos de idade, j era tempo de ter parado de lamentar a falta de afeio do pai.

A me, a terceira esposa de Erik, tivera uma morte prematura durante um dos partos. A criana, outra menina indesejvel, tambm morrera. Bronwyn se lembrava dela com carinho. Por sete anos, recebera amor e ateno. Talvez os homens no fossem capazes de amar. Ela ouvira as criadas comentando os dramas de muitas mulheres abandonadas por seus namorados ao engravidarem. O pai amava a terra e o dinheiro, mas no se tinha notcia que tivesse amado qualquer mulher.

Bem, ela no se interessava por homem algum, o que era mais uma bno do que um fardo. Dedicava-se a aprimorar o seu trabalho no tear. Os irmos mais velhos podiam alegar seu temperamento ruim, contudo nenhum podia cham-la de mulher fcil. Na certa a achavam tola por valorizar a castidade, j que o pai planejava mant-la solteira. Ainda assim, Bronwyn queria manter o corpo puro como sua alma. O pai poderia mudar de idia, e ela era orgulhosa o suficiente para garantir que houvesse um lenol a ser exibido na manh aps o casamento.

Lembrou-se do conselho de Keir. Sim, devia aproveitar para dar um passeio antes que o pai voltasse da Corte. Erik vetaria esses pequenos momentos de liberdade.

Bronwyn levantou-se e deixou a sala do tear. Desceu as escadas para o segundo andar, entrando em seu pequeno quarto. Era simples e modesto. Agarrou um manto de l, pegou um par de luvas e saiu depressa;

O cheiro de comida preenchia o andar inferior. Situadas em uma construo fora da rea principal do castelo, as cozinhas estavam sempre cheias de aromas de carnes sendo assadas e po no forno. Mulheres trabalhavam em longas mesas, preparando as massas. Algumas manuseavam longas facas com as quais cortavam as verduras trazidas dos celeiros.

Bronwyn no era a senhora da casa e o pai tinha deixado claro que jamais seria. A maioria das criadas no lhe dava ateno, mesmo assim, ela passou por ali para perscrutar o ambiente.

Milady...

A voz soou baixa. Voltando-se, viu Terri segurando um pequeno embrulho, que lhe ofereceu ao mesmo tempo em que olhava em volta para ver se algum as observava.

Obrigada.

Enfiando o pacote dentro do manto, Bronwyn se apressou a sair dali antes que a gentileza da criada fosse notada. A moa era um encanto e uma de suas poucas amigas. O pacote por certo continha algum lanche.

Chegar aos estbulos no representou dificuldade alguma. O vestido que ela usava era igual ao das outras mulheres. L boa tecida ali mesmo no castelo. Bronwyn no usava nada de luxo. Os nicos trajes de seda estavam trancados nos bas das falecidas esposas de Erik. Nem mesmo tinha sua prpria gua, mas os empregados dos estbulos no seriam indelicados a ponto de negar-lhe uma montaria.

Os cavalos representavam gasto de alimentao e abrigo, alm do trabalho de trat-los de forma apropriada. Se ela pedisse um animal de presente, o pai se enfureceria.

Escolheu uma sela e a colocou sobre uma gua. O velho Gilly, o chefe do estbulo, notou-a, mas no ofereceu ajuda. Um leve sorriso surgiu nos lbios dele enquanto verificava se os arreios no estavam apertando demais a barriga do animal. Quando Bronwyn olhou para ele, recebeu um aceno de aprovao.

O elogio aqueceu seu corao.

Tinha sido o velho Gilly a ensin-la a montar, lidar e cuidar dos cavalos. Ao menos ele no parecia se importar que ela fosse uma mulher. E naquele momento aquilo lhe dava um motivo a mais para cavalgar. Queria sentir a sensao da liberdade, pelo menos por uma tarde.

As colinas ofereceriam um festival de belezas a serem admiradas e saboreadas. O ar estava impregnado com o perfume de feno recm-cortado. As nuvens pesadas proporcionavam a sensao de umidade com a promessa de chuva. Depois de levar a gua para fora do estbulo, ela montou sem demora e abriu um sorriso feliz.

O inverno j dava sinais de sua chegada. Pequenos flocos brancos danavam pelo ar. Derretiam quando chegavam ao cho, dando um toque de magia ao cenrio que ela deixava para trs. Em meio paisagem no havia mais a filha indesejada e sim uma mulher com esperanas de que a vida poderia lhe proporcionar uma srie de coisas, se simplesmente ousasse sonhar.

Bronwyn aproximou a cabea do pescoo da gua, pressionando-a para ir mais depressa. O animal animou-se e comeou a trotar como se tambm entendesse que ali fora ambas no se rendiam a ningum.

Castelo Sterling, Terras McJames.

Pare de perturbar o beb, Cullen McJames!

Anne encarou o cunhado enquanto ele dava uns tapinhas nas costas do sobrinho.

Ora, por que me olha desse jeito, Anne?

Porque ele um beb, no um brinquedo. Cullen deu um beijo no topo da cabea de Brendan McJames. O beb agarrou-lhe os cabelos com a mo pequenina e os levou boca.

isso a, garoto. Mostre ao seu tio Cullen como voc forte. Brodick McJames, conde de Alcaon, sorriu para q irmo.

Cullen suspirou com inveja da felicidade do irmo. Se antes nem cogitava se casar, agora comeava a mudar de idia.

Anne lanava olhares lnguidos para o marido, que erguia o filho no ar com o orgulho brilhando em seus olhos. O beb esperneou, fazendo sons curiosos com os lbios.

O beb est sempre com fome.

A felicidade iluminava as feies de Anne ao subir as escadas rumo ao quarto para amamentar Brendon, contrariando a tradio inglesa de se contratar uma ama de leite.

Brodick indicou o banco a seu lado. Com a esposa fora da sala, sua expresso se agravou. Cullen conhecia bem aquele olhar. A morte do pai jogara o peso da responsabilidade sobre os ombros dos dois irmos. Havia rumores de que a rainha da Inglaterra estava em seu leito de morte e a Esccia teria o direito de reivindicar a Coroa.

Tenho notcias do rei. Brodick estendeu a mo e pegou a caneca de cerveja. Ele ordenou que Erik McQuade e seus filhos deixassem a Corte.

Aquele bastardo ganancioso vai querer se apoderar de nossos estoques de inverno no momento em que voltar.

Era no que eu estava pensando.

Dito isso, Brodick ficou em silncio por um longo momento.

Cullen o encarou.

O que foi?

Voc anda observando demais a minha famlia. Gosta do que v, no ? '

H alguma coisa de errado nisso? Preferia que eu trouxesse uma mulher para esta casa?

Estava pensando se isso no seria bom. Brodick balanou a cabea.

No fique com rodeios e v direto ao ponto.

No concorda que j hora de pedirmos autorizao ao rei para um possvel casamento entre voc e Bronwyn?

McQuade no vai aceitar uma unio com o nosso cl, Brodick.

Se o rei aprovar o nosso pedido, ele ter de ceder. Havia grandes chances de o consentimento se concretizar, o que livraria os McJames dos problemas que tinham com os vizinhos.

O conflito entre os cls havia comeado no passado, quando Erik perdera a noiva em um jogo de dados para um McJames. Exatamente o pai de Brodick e Cullen. Erik no superara a derrota e vinha ordenando aos seus homens que saqueassem as terras de seu rival. Um casamento unindo as duas famlias poderia trazer a paz para a regio. E McQuade tinha uma nica filha que estava em idade de se casar.

Seria um casamento vantajoso, eu concordo. Vou pensar no caso, Cullen meneou a cabea.

Brodick no insistiu sobre o assunto. Cullen se levantou e atravessou o hall, sentindo o fardo da f do irmo sobre suas costas. Ele acreditava que o irmo no se negaria a fazer o melhor para a famlia. Como filho do ltimo senhor era seu dever colocar o bem do cl acima de seus prprios desejos. Mesmo que isso significasse se casar com uma vbora.

Erik McQuade havia criado a filha para odiar cada gota do sangue que corresse pelas veias dos McJames. Casar-se pelo bem do cl era uma coisa, mas levar Bronwyn para sua cama era outra bem diferente. A melhor maneira de pensar sobre aquilo seria cavalgando pela regio.

Vou selar Argyll para o senhor. Um dos jovens do estbulo j corria para pegar o cavalo antes que Cullen pedisse. Estivera to mergulhado em pensamentos que nem vira onde seus ps o haviam levado.

O rapaz logo retornou com Argyll, possivelmente o melhor cavalo de toda a Esccia. Cullen acariciou o animal, que relinchou, batendo as patas no cho.

Milorde! O rapaz do estbulo entregou-lhe uma bolsa de couro.

Obrigado. Era isso o que eu estava querendo.

Cullen manteve Argyll firme enquanto o jovem prendia a bolsa na sela. Eram provises bem simples. Aveia, vinho, e talvez po que sobrara da ltima refeio. Deixar a propriedade sem algum lanche levaria seu estmago a ficar roncando at o anoitecer.

Endireitando o corpo, Cullen sentiu o peso da espada, que estava presa para trs. Com um movimento das rdeas, ele liberou o animal para seguir direto para o porto principal do Castelo Sterling.

Logo deixavam os muros da fortaleza. O vento gelado j era sinal do inverno, mas as colinas ainda estavam verdes. Cullen deixou o garanho desfrutar de toda aquela amplido, mas subitamente puxou as rdeas.

Ele j estivera antes naquele exato lugar durante a noite para defender os fazendeiros instalados na rea mais abaixo. Seu olhar se voltou para trs novos telhados cobertos de palha, estes de um amarelo mais brilhante que os demais. Aquele era um lembrete da sede de vingana de McQuade. Ele nunca se satisfazia com os saques, seu bando costumava atear fogo nas fazendas que atacavam. A briga j durava cerca de trinta e cinco anos.

Parecia simples demais pensar que um casamento pudesse deixar de lado toda a rixa entre as duas famlias.

Esporeando Argyll, ele deixou o vale para trs sem se preocupar que o sol j se escondia no horizonte. Seguiu at a prxima colina. Puxou as rdeas, atento a qualquer barulho estranho. Apenas o vento assobiava, fazendo-lhe companhia, mas era preciso tomar cuidado. Os homens de McQuade teriam satisfao em captur-lo e lev-lo como prmio ao seu senhor. Desmontou, caminhando at o alto do morro e de l olhou para a terra do inimigo. No havia nada alm da relva alta, danando com a brisa. Ningum ousava habitar ali por ser palco de constantes batalhas. Um riacho serpenteava pelo vale, escondendo-se atrs das rochas. Era uma terra muito boa, mas um testamento do quanto o dio entre dois cls poderia custar.

Nenhum casamento acabaria com esse tipo de rancor. Mesmo porque duvidava de que um McQuade estivesse disposto a entregar sua nica filha a um McJames. Um leve sorriso surgiu nos lbios de Cullen. Pena que a moa no freqentasse a Corte. Cortej-la poderia ser muito divertido.

Os pensamentos foram afastados quando avistou um cavaleiro surgindo no vale abaixo. Argyll relinchou, erguendo e abaixando o focinho, como se pressentisse algo no ar. Batendo no pescoo do animal, Cullen riu e apressou-se a montar. Ser pego desmontado definitivamente no era uma boa idia.

O que est sentindo, meu amigo? Uma linda gua? Argyll bateu os cascos no cho, dando uns passos frente antes que Cullen o detivesse. No podia culp-lo. Alis, nem um pouco, pois seu corpo tambm reagiu ao perceber que era uma mulher que cavalgava. Olhando-a de longe era difcil distinguir o que o atraa. Talvez fosse o curioso jeito que cavalgava, desfrutando a maravilhosa sensao de liberdade.

Cullen afrouxou as rdeas, e Argyll partiu em disparada em direo gua. A desconhecida no os vira ainda. Estava entretida em seu momento nico.

Os cabelos dela se agitavam com o vento, e ela no pareceu se aborrecer quando fios cobriram o seu rosto. Um riso solto chegou aos ouvidos de Cullen, trazido pelo vento. A jovem puxara as rdeas de seu animal subitamente e passou a acariciar-lhe o pescoo com mo firme. A gua voltou a cabea para trs e comeou a danar em crculos.

Ora, o que foi, menina? Com o que est se preocupando? A voz era to bonita quanto a da moa. Cullen deixou Argyll avanar mais um pouco antes de puxar as rdeas. No podia se esquecer de que estava agora em terras dos McQuade.

Na certa, ela no ficaria muito feliz quando o notasse. Ele imaginou qual seria a reao dela ao ver um McJames assim to de perto. Bem, esperava que a moa no gritasse, pois no tinha a menor pacincia com mulheres histricas.

A gua sentiu o cheiro de Argyll. Deu um passo para o lado e relinchou alto. A jovem se voltou na sela, mas no demonstrou medo! Conseguiu controlar o animal com maestria, apesar da pequena estatura.

Calma, calma, menina. Ela ergueu finalmente a cabea, e Cullen notou que ela o avistara.

Bronwyn sentiu o corao gelar. O cavaleiro que se aproximava era enorme. A bainha da espada refletia os ltimos raios do sol. O garanho era pelo menos dois palmos mais alto que a gua dela. Poderia alcan-la sem problema algum, se tentasse escapar. Pior ainda, o cavaleiro usava o traje do cl McJames. Com o pai e os irmos invadindo as terras dos rivais, no havia razo alguma para trat-la com gentileza. Reparou nos msculos proeminentes que ressaltavam sobre o tecido da camisa. As mangas, enroladas para cima, deixavam mostra os braos fortes, evidncia clara de sua habilidade com a espada. Deu uma olhadela em torno, temendo que aquele McJames houvesse decidido se vingar dos assaltos do pai dela, provocando incndios em suas terras.

No entanto, no viu fogo algum nas redondezas, voltando, ento a ateno para ele. Nem sequer considerara a possibilidade de que um guerreiro McJames tambm pudesse desfrutar de uma cavalgada em um final de tarde.

Bom dia, milady. A voz dele era profunda e bem humorada. Ele ergueu a mo e tirou a boina de l com um sorriso maroto nos lbios. Vestia um gibo de couro sobre a camisa.

Havia alguma coisa de majestoso e hipnotizante naquele homem. Keir era um homem forte, e ela no estava acostumada a encontrar homens do mesmo tamanho. Aquele guerreiro agora rivalizava com seu irmo, irradiando fora das botas aos cabelos claros. No havia nada de pequeno ou fraco nele.

Bom dia ela respondeu, sem saber bem porque falava com um estranho. Um impulso, naturalmente. No, era algo mais, tanto que sua pele se levantou em arrepios assim que ele lhe dirigiu a palavra.

O olhar penetrante daquele homem a tocou como uma carcia, testemunhando o rubor subir-lhe s faces. Estremeceu, surpreendendo-se com as curiosas sensaes que invadiam seu corpo.

Est um belo dia para cavalgar.

As palavras dele no pareciam ter um duplo sentido, mas Bronwyn respirou fundo ao imaginar um tipo diferente de cavalgada. Seus prprios pensamentos a perturbaram profundamente. Nunca antes estivera to consciente dos efeitos da presena de um homem diante de si, porm aquele no era o momento ideal para seu corpo reagir com sensaes inconvenientes. E era como se o estranho pudesse adivinhar o que estava pensando. Pelo menos era o que sugeria o sorriso travesso dos lbios dele.

No devia me olhar desse jeito, moa.

O tom de Cullen era como se estivesse reprimindo a si mesmo, o que no a aliviou do embarao, pois sabia o quanto ele tinha razo.

O mesmo deveria valer para o senhor.

Tem razo. Mas o que posso fazer quando milady se coloca diante de mim assim to tentadora? Afinal, sou um homem.

E por alguma razo ela se sentiu mais mulher. O corao bateu mais forte. O corpo era puro sentimento, to profundos quanto a dura realidade da rejeio de seu pai.

O senhor um homem que est longe de sua casa. Por um momento, o olhar de Bronwyn se prendeu na saia kilt com as cores azul, amarela e laranja do cl McJames. Eu sou uma McQuade.

J imaginava isso, mas a luta no se mantm por nossa culpa.

Ele deixou que seu cavalo finalmente vencesse a distncia que os separava.

Acho que ns dois poderamos nos dar muito bem. Os olhos de Cullen brilharam diante da promessa.

O senhor deveria ir embora. Tem razo quando afirma que so os McQuade que procuram briga com os McJames. melhor no sermos motivo de uma nova briga.

E milady no gostaria de ver isso acontecer? Estou agradavelmente surpreso.

Cullen continuava a rode-la, tanto que para encar-lo, ela precisava virar a cabea.

Surpresa que eu no tenha desejo de ver derramamento de sangue? Sendo um McJames no significa que eu seja cruel. Qual o seu nome? ele quis saber.

Bronwyn sentiu medo. Ser filha de Erik McQuade significava que ela era um prmio que valia a pena ser conquistado. Cavalgar sozinha at longe do castelo havia sido um erro que talvez tivesse que pagar com o corpo. Obviamente, seu pai no pagaria qualquer resgate para recuper-la. Alm do dinheiro, muitos homens considerariam a perda de sua virtude como a melhor vingana.

No lhe direi o meu nome. Basta saber que sou uma McQuade.

Discordo. formal demais saber apenas o nome de seu cl. Quero saber qual seu nome de batismo.

Ter de se contentar com isso, pois no direi mais nada. Ele franziu a testa, mas Bronwyn forou-se a se manter firme. Aquele era um flerte perigoso. Seu corao batia descompassado. Se o senhor for pego em terras McQuade, no serei de grande ajuda.

E isso a entristece, milady?

No. Mas arruinaria o meu jantar, pois a conversa giraria apenas no fascinante relato de como um McJames foi obrigado a voltar para suas terras.

Cullen arqueou a sobrancelha, movendo o cavalo para mais perto dela, passou uma perna por cima da sela e desmontou. Bronwyn sentiu o corpo estremecer. Talvez por constatar que estava certa sobre o tamanho daquele homem.

Tem certeza? Poderia estar disposto a pressionar a minha sorte se pensar que sente alguma coisa por mim.

Isso bobagem. No vou lhe dizer o meu nome. um estranho para mim.

Ele abriu um sorriso cheio de segundas intenes.

Teme que eu possa entrar s escondidas em sua casa e roub-la se souber de quem filha?

Cullen deu um passo frente, mantendo nas mos as rdeas de seu cavalo. A expresso de seu rosto exibia autoridade e determinao. Teria coragem de rapt-la se decidisse.

Chega de provocaes disse ela. No somos crianas.

Ah, sim. Isso eu j tinha notado.

Os olhares de ambos se encontraram, e o rosto de Cullen se contraiu. Talvez ela nunca tivesse sido observada por um homem daquela maneira, mas seu corpo entendia perfeitamente o significado de uma centelha do desejo. Sem reao, ficou parada ali como se tivesse hipnotizada.

Diga-me o seu nome, moa.

A voz dele ressoou profunda e baixa, porm no havia como deixar de perceber a determinao que havia nela. Bronwyn balanou a cabea, temendo que a voz no sasse. No podia deixar evidente o quanto estava perturbada. Afinal estava diante de um caador.

No direi. Conjecturar sobre o roubo de uma mulher pode ser divertido quando contado em uma roda de amigos, tomando cerveja, mas no resulta em boas unies. No nos conhecemos.

Ah... mas se eu a jogasse sobre minha sela, isso mudaria tudo. Em minha casa teramos bastante tempo para nos conhecer.

Bronwyn ficou chocada, porm o que a alarmara era justamente aquela centelha que se acendera no momento em que ele se aproximara. O estranho estendeu o brao e acariciou-a no rosto com as costas das mos.

Est ruborizada por minha causa?

Ela afastou o rosto, acanhada por ter gostado do carinho. E mais envergonhada ainda por querer mais do que aquilo.

No nada disso! ela respondeu, contrafeita. Cullen se aproximou novamente.

Discordo, moa. Sou experiente o suficiente para dizer que h mais por trs disso.

A persistncia dele comeou a irrit-la.

Seria capaz de arruinar a minha honra apenas para satisfazer um impulso de momento? Mulheres raptadas no so mais respeitadas quando voltam para suas casas. O seu desejo to importante que no se importa com isso?

O que a faz pensar que eu a devolveria? Talvez eu esteja pensando em casamento.

Bronwyn no conseguiu conter o riso.

Diz isso como se um homem devesse se casar baseado apenas na atrao fsica. O senhor seria um tolo e sua famlia o reprovaria por ter tomado uma deciso baseado na luxria.

Talvez, mas ainda assim a idia me atrai com suas possibilidades...

O garanho subitamente se ergueu no ar. A gua pulou assustada, danando em crculos. Bronwyn viu homens de seu pai se aproximando. Ouviu os gritos de reconhecimento quando a perceberam acompanhada. Tentou esporear a gua, aps firmar o p no estribo. Contudo, viu-se empurrada para cima. Cullen no s a tocou, como ainda apertou-lhe a ndega.

Mas quanto atrevimento!

O sorriso no rosto de Cullen deixava claro que ele no estava nem um pouco arrependido.

algo para se lembrar de mim j que no tive a chance de lhe roubar um beijo.

: Ora, eu no lhe daria essa chance!

Ele arqueou a sobrancelha, sorrindo levemente.

Por essa razo mesmo que eu planejava lhe roubar o beijo.

A gua continuava agitada. Agarrando as rdeas com firmeza, Bronwyn procurou dominar o animal. Percebeu que agora no havia mais descontrao no rosto daquele McJames enquanto observava os homens de seu cl se aproximando. Em uma frao de segundos, ele montou na sela, apertando as coxas contra o animal com confiana.

Parece que terei de esperar para descobrir quem voc . A expresso dele mudou quando a olhou mais uma vez. Isto algo de que vou me arrepender.

V embora, ou pensarei que um tolo.

O que importa que se lembre de mim. At logo, doce McQuade. Cullen tocou na boina mais uma vez.

O olhar dele se deteve um pouco mais nos lbios de Bronwyn, antes de partir de volta para suas terras. Homem e animal emanavam a fora de uma lenda viva. As pontas da saia kilt esvoaavam conforme ele galopava colina acima. Ao chegar no topo, parou para virar o rosto em direo a ela mais uma vez.

Bronwyn teve a impresso de que ele sorria, mas no podia ter certeza naquela distncia. Os homens de seu pai a rodearam, o linguajar rude quebrando o encanto do momento e fazendo-a voltar realidade.

Perdeu o juzo? O que fazia em companhia de um McJames? E Cullen McJames, ainda por cima. Liam lhe apontou um dedo.

Cullen McJames?

No pode ser... ela murmurou, olhando para o cavaleiro que sumia distncia. Outro arrepio a envolveu. Desta vez percorrendo seus braos e pernas. O irmo do chefe do cl McJames era um homem ousado, e isso ningum podia negar. Deixar de lhe dizer o nome dela havia sido o melhor a fazer.

Nunca pensei que voc trairia o seu prprio cl. Bronwyn deixou de lado os pensamentos e olhou para o irmo.

No tra ningum! No conheo aquele homem. Nem sequer sabia seu nome at voc diz-lo. Como eu poderia saber qual era a aparncia de Cullen McJames?

No me pareceu que vocs no se conheciam. Liam cuspiu de lado, o olhar a conden-la.

Ela sentiu-se atingida em seu orgulho, mas de nada adiantaria argumentar com Liam e os outros. Estes sempre o seguiriam, fosse l o que ele dissesse ou fizesse teria sempre razo por ser o filho primognito e destinado a se tornar o chefe do cl algum dia.

E ela era simplesmente a filha rejeitada. Entretanto, isso no era, ao menos no naquele dia, razo para mant-la calada. Talvez estivesse influenciada pela magnificncia do homem que acabara de conhecer ou pela cortesia com que fora tratada.

Eu no estava me encontrando com ele.

Liam aproximou-se da irm e a esmurrou no queixo.

Poupe-me de suas mentiras.

Dito isso, ele tirou as rdeas da gua das mos dela e a conduziu at onde estavam alinhados os homens de seu pai. Os olhares de todos eram duros e brutais como o de Liam. Mas a nica coisa que ela sentiu foi raiva. Subitamente tomou conscincia de como Cullen McJames era mais forte que todos os homens que estavam sua volta. Uma fora que nada tinha a ver com a largura de seus ombros, mas com o sorriso e o olhar, este limpo de qualquer acusao.

Vagabunda!

O pai no a espancou. Jogou-lhe no corpo a cerveja que tomava naquele momento. O hall do castelo ficou em silncio; Ningum se moveu quando o senhor do cl condenou Sua filha.

Esse o agradecimento que recebo por sustent-la desde que sua me me presenteou com uma filha?

Eu no fui me encontrar com Cullen McJames!

O pai lhe apontou um dedo acusatrio.

Est tentando me dizer que ele simplesmente apareceu em minhas terras quando jamais ousara pisar por aqui antes?

Ouviram-se sons de indignao por parte de Liam e Sodac.

Quer me convencer de que no estava se encontrando com ele, aproveitando-se de minha ausncia?

Eu no minto, papai. No h nada entre mim e Cullen McJames!

Erik soltou uma gargalhada cheia de amargura.

Ento me explique por que ele passava a mo em voc? Liam a interrogou, aumentando a culpa dela.

H quanto tempo tem deixado McJames us-la, sua vadia? Erik exigiu, olhando-a de cima a baixo como se ela fosse um verme.

Nunca deixei! No dormi com ele. Bronwyn enfureceu-se diante das acusaes contra ela. Mesmo acostumada com a falta de carinho do pai, no esperava que ele a acusasse de coisas to baixas. Envergonh-la dessa forma era o mesmo que humilhar o cl inteiro.

Keir deu um passo frente.

Bronwyn no mente, pai. Jamais a ouvi dizendo uma inverdade.

Como ousa levantar a voz contra mim? Erik encarou o filho mais novo.

Keir sequer pestanejou. Seguiu at onde estava o pai sem se importar com os olhares de todos voltados para ele. Parou diante do pai, curvando-se rapidamente em sinal de respeito.

Eu apenas apresento um fato, meu pai. Jamais ouvi Bronwyn mentir. Se ela diz que no estava em um encontro com o mais jovem dos McJames, eu acredito. Tambm verdade jamais a vi se conduzindo como uma mulher vadia.

Erik levantou-se da cadeira aos berros. Jogou a caneca, agora vazia, em cima do filho. Keir no se acovardou diante do ataque de fria, mantendo-se firme e sem se perturbar com descontrole do pai.

- Por que o destino me amaldioou tanto assim? Erik ergueu o punho para o alto. J me entristeceu com uma filha intil e com um filho que tem a coragem de Aquiles, mas o temperamento de uma mulher. Respirou fundo e olhou para os seus homens. -Vamos voltar Corte. Ele apontou para Bronwyn. Voc vai comigo. At o amanhecer, algum mantenha essa vagabunda fora da minha vista.

Ouviu-se o barulho de botas contra o cho de pedra enquanto Vrios dos homens se moviam em direo a ela. Keir procurou no se descontrolar.

Homem algum ouse tocar em minha irm! Ele se voltou em direo ao pai. Eu discordo do senhor.

Erik o olhou como se Keir o tivesse esmurrado. A expresso de seu rosto era de total surpresa, tanto que no conseguia sequer falar. Keir segurou Bronwyn pelo ombro, em um gesto firme, mas gentil, e a conduziu para fora dali.

A situao s tende a piorar, minha irm.

Sei disso.

E no havia nada a fazer. Bronwyn se sentiu como se fosse uma folha sendo lanada pela correnteza contra as pedras sem o menor cuidado. Contava apenas com Keir, que por sua vez, jamais teria o perdo do pai por ter tomado partido da irm. No devia ter me defendido.

A honra no pode ser ignorada no esforo de fazer o que certo. O irmo a encarou. Seus olhos eram to escuros quanto a noite, herana de sua me. Bronwyn sentiu como se ele a olhasse diretamente na alma, se que isso fosse possvel. Mesmo assim, no desviou a ateno dele. Nosso pai est cego pelo dio.

As palavras de Keir soaram pesadas. Ele comeou a andar de um lado a outro, enquanto Bronwyn fazia o mesmo. De repente ela sentiu-se como uma estranha ali, mesmo tendo crescido em Red Stone.

E por isso que acho que temos de permanecer em silncio.

No! O tom de voz de Keir soou custico.

Voc no precisa se desentender com papai por minha causa.

No quero ser um animal de estimao dele, assim como Liam e Sodac. Se ele desgostar de mim porque me recuso a lamber suas botas, ento que seja. Ele jamais ser capaz de dizer que no sou dono de mim mesmo.

Bronwyn sorriu levemente. No conseguiu evitar, apesar de tantas coisas ruins estarem pairando sobre eles. Mas ao sorrir, os lbios machucados doeram e ela estremeceu. Keir notou a marca que Liam deixara no rosto da irm.

Creio que a Corte ser um bom lugar para voc ficar. O rosto dele estava srio. J. era hora de voc deixar este castelo.

Mas a que custo? No ajudarei papai a acusar um McJames de alguma falsa conduta.

Voc conhece bem o nosso pai, Bronwyn. Creio que seja exatamente isso o que ele planeja, arrastando-a at a Corte. Keir riu amargamente.

Bronwyn lanou-lhe um olhar inquiridor, mas o irmo permaneceu calado. Ela no conseguiu afastar o tremor de frio, causado pelos maus pressentimentos, mesmo j estando de frente ao pequeno fogo que ardia em seu quarto. O vento se infiltrava pelas frestas da janela, assobiando e contribuindo para a sensao gelada. Ela tirou as botas sentindo a friagem do cho, que no possua tapete algum. Notou que uma das criadas trouxera duas vasilhas com gua quente e sorriu. Pelo menos poderia tirar o cheiro de cerveja da roupa.

Despiu-se junto ao fogo para no congelar. Lavou as roupas e as colocou perto da lareira para que secassem. Acomodou-se na cama e comeou a comer o lanche que tinha ganhado antes do passeio. Estava grata por ter alguma comida, j que ningum ousaria lhe trazer o jantar.

Um curioso pensamento lhe passou pela cabea. Talvez fosse bastante agradvel jantar ao lado de Cullen McJames.

Bronwyn estremeceu quando a imagem do inimigo de seu pai surgiu em sua mente como se ele estivesse ali no quarto. Lembrava-se perfeitamente dele. Jamais conhecera um homem que a impressionasse tanto. Por um momento, distraiu-se revivendo o encontro.

Quem que podia ter certeza do que o amanh poderia oferecer?

Sentia-se um tolo.

Cullen voltou colina no dia seguinte no mesmo horrio. O sol estava quase se pondo quando do alto da colina ele espreitou o Vale que pertencia aos McQuade.

Estava vazio.

Deveria ter esperado por isso. Deixara-se levar pelo impulso, mesmo tendo tantas outras coisas que exigiam sua ateno. Contudo, queria ver a moa de novo.

Nem mesmo sabia quem ela era. Somente que era uma McQuade e que o seu senhor deveria t-la punido por ter conversado com um McJames.

A doura do rosto dela o mantivera acordado boa parte da noite. E isso no o deixava nada feliz. No quando a jovem estava to fora de seu alcance.

Puxou as rdeas, levando Argyll de volta a Sterling. Deu uma ltima olhada em direo ao vale. Mesmo que a encontrasse, no arrefeceria a vontade de toc-la. Vislumbrou o rosto dela e sentiu o desejo correr por suas veias. Restou apenas o gosto amargo do inatingvel. Por mais incrvel que pudesse parecer, aquela moa havia sido a nica a despertar um sentimento to intenso. E acima de tudo, ela era uma McQuade.

O destino pregava peas, s vezes. Tentava um homem com coisas que ele no podia ter. No entanto, contava com a determinao de um McJames para obter algo que lhe haviam dito impossvel.

Prometeu-se a si mesmo que descobriria o nome dela.

Algum esmurrava a porta de seu quarto. Bronwyn esfregou os olhos e se sentou na cama quando a porta se abriu. O irmo, Sodac, entrou no quarto sem sequer pedir licena.

Mandaram-me avis-la para se vestir e ir aos estbulos. Vamos sair to logo os cavalos estejam prontos. Ele a olhou com claro desprezo. Keir vai ficar aqui, por ordem de nosso pai. Melhor pensar bem sobre o que poder acontecer com ele se decidir se impor contra a vontade de nosso pai. Um terceiro filho precisa contar com a boa vontade da famlia em sua vida.

Bronwyn gemeu e o irmo sorriu por v-la assim perturbada.

No espero que uma mulher entenda o modo como o mundo funciona. Assim escolha suas palavras com muito cuidado, ou melhor, mantenha a boca fechada. Os McJames nos devem e conseguiremos dobr-los de qualquer modo.

Sodac saiu do quarto e Bronwyn sentiu um arrepio. No estava com frio, mas horrorizada com a maldade que acabara de testemunhar. No mesmo instante, o rosto de Cullen surgiu em sua mente e lhe pareceu muito diferente de seus irmos. No houvera malcia alguma nos olhos dele, somente bom humor naquele momento.

Ela sentiu o estmago revirar enquanto deixava a cama. Sim, havia uma enorme diferena entre Cullen e Sodac.

Lembrou-se de que Keir precisava da boa vontade de sua famlia. Com apurado senso de honra, ele manteria a cabea erguida, mesmo sendo posto de lado. Cabia a ela proteg-lo. No mentiria, mas no havia nada de errado em permanecer em silncio. O pai estivera na Corte por oito meses, banido da presena do rei, proibido de entrar no salo real porque enfurecera Sua Majestade com acusaes contra os McJames. Talvez tivesse sorte e James Stuart se recusasse a receb-lo novamente.

De qualquer forma, tentaria manter o pensamento positivo. No havia razo para enfrentar as coisas ruins que o pai poderia lhe infringir. O castelo Red Stone prometia ser o lugar mais frio agora que ele a chamara de vadia. Mesmo se ningum acreditasse que ela fosse uma mulher fcil, no ousariam contrariar o senhor dali.

No, ela no pensaria na vida que a estaria esperando quando deixasse a Corte. Nem afastaria da memria o encontro com Cullen McJames. No o encontraria de novo, j que podia apostar que no lhe seria permitido cavalgar. Ento, desfrutaria do que tinha no momento. Alm do mais, vivenciara mais emoo durante os poucos minutos em que haviam ficado juntos do que em um ano no castelo.

Cullen lhe despertara algo de estranho e diferente. Fizera seu corao bater mais forte. Talvez fosse uma fraqueza agir assim. Entretanto, no lhe pareceu justo colocar as fortes sensaes de lado em favor de um pai que a chamara de vagabunda.

Assim a viagem pareceu rpida, perdida que estava em seus pensamentos. Os olhares frios dos homens de seu pai no a perturbavam. Estava absorvida demais pensando em um modo de satisfazer o pai sem prejudicar Cullen McJames.

Tinha de evitar qualquer outro encontro, pois seu pai usaria o fato para prejudicar seu irmo mais novo. Alm do mais, Cullen no desejaria mais se encontrar com ela to logo soubesse com quem estivera conversando.

Devia t-lo deixado roubar aquele beijo.

A Corte estava repleta de sditos. Bronwyn estudou o rosto da maioria deles, enquanto era conduzida at o salo nobre, onde o rei estava sentado. Guardas armados mantinham a multido, que aguardava um chamado do rei, para trs dos cordes vermelhos aveludados. Todos olhavam para ela, calculando o que poderia dizer em sua defesa.

Percebeu que cochichavam comentando sobre seu vestido simples demais para ser usado em um ambiente requintado. As mulheres que esperavam para serem admitidas no salo real usavam trajes de veludo e seda, adornados com prolas e todo o tipo de jias.

Eric levantou um pergaminho e, para surpresa de todos, os guardas permitiram que os McQuade passassem para a antessala. Houve um burburinho daqueles que aguardavam havia mais tempo. Bronwyn, no entanto, no mais prestava ateno a nenhuma daquelas pessoas, pois outros pares de olhos a aguardava no salo nobre.

O rei estava sentado em seu trono no canto oposto da sala. Msicos entretinham os crculos de pessoas que haviam se formado no gigantesco salo nobre. Algumas moas entremeavam os presentes, danando passos que Bronwyn no conhecia. A msica lhe acariciou os ouvidos, j quem em Red Stone seu pai no gastava uma moeda sequer com divertimento.

McQuade. A voz do monarca soou e todos silenciaram.

Erik foi o nico que no deu mostras de ter se acanhado com o tom de voz real e marchou frente, curvando-se diante do rei.

James Stuart no pareceu impressionado.

Eu lhe dei permisso para voltar para casa.

McQuade empurrou Bronwyn para a frente. Ela estremeceu ao ser tocada. Havia se passado anos sem que o pai colocasse um dedo nela.

- Sim, eu voltei para casa para descobrir que Cullen McJames vem usando minha filha como sua prostituta.

Ouviu-se um murmrio pela sala. Bronwyn observou o mar de rostos encarando-a, os olhos semicerrados, condenando-a por debaixo dos leques. Vrios homens sorriram para ela, num convite claro em seus rostos. O suor cobriu sua testa e o corao disparou.

O rei se levantou de imediato.

Para meus aposentos particulares, McQuade! Agora!

O rei se aborrecera, deixando a sala a passos largos, seguido de perto pelos guardas e pelos McQuade. Mais uma vez, Bronwyn sentiu os olhares punitivos conforme passava pelos sditos.

Agora voc vai saber das penalidades por ter se tornado uma filha traidora.

Erik agarrou-lhe o brao e a empurrou para trs do trono. Portas foram abertas e fechadas no momento em que eles passaram. O rei estava andando de um lado para o outro, os criados acuados em um canto.

Voc deve ter uma boa explicao para a sua grave acusao, McQuade. Minha pacincia j ultrapassou o limite quanto a esses seus esquemas para sujar o nome dos McJames.

Pois lhe digo, Majestade. Eu cheguei em casa e encontrei Cullen McJames em minhas terras.

O rei parou de andar. Voltou-se para Erik McQuade.

Ento foi isso.

Na verdade, ele estava com minha filha. O bandido. Meus filhos presenciaram a cena no momento em que pusemos os ps em nossa terra.

O rei se voltou para Bronwyn, mas Erik a empurrou para trs de si.

Eu a trouxe aqui para que Vossa Majestade pudesse ver o olhar de culpa em seu rosto. Jamais permitiria que ela dissesse suas vis mentiras em vossa presena.

Serei o juiz disso. O rei sentou-se em uma cadeira ornamentada, mas no deu permisso para que os demais se sentassem tambm. Em seguida, observou os dois irmos, Liam e Sodac. Estes estufaram os peitos, a sede de vingana brilhando em seus olhos. Eram a imagem do pai. James voltou-se ento para Bronwyn.

O que tem a dizer, milady?

Eu j lhe disse, Majestade. Ela uma vagabunda mentirosa...

E eu terei de repetir, McQuade, que no permitirei que me diga o que fazer. James suspirou, exasperado. Estou ficando cansado de ouvi-lo reclamar de seus vizinhos, e estes queixando-se dos roubos que andam sofrendo de sua parte. Tenho trs peties deles exigindo que voc seja colocado em correntes como um ladro comum, e este um fato que no pesa a seu favor.

Cullen McJames estava com minha filha! McQuade gritou. Faz cara de inocente para Vossa Majestade, mas uma alma prfida que desgraou a minha filha.

Os guardas se puseram de prontido.

Isso verdade, milady?

Ela no podia se recusar a responder. No para o rei da Esccia. Mas a posio de Keir pesava em sua mente. Permaneceu em silncio sem saber escolher as palavras. Pareceu-lhe impossvel dizer alguma coisa sem enfurecer o pai.

Est vendo? Ela engasga em sua prpria culpa.

Eu j lhe disse que escutei demais de voc! O rei fez um gesto com a mo. Tirem-no e aos seus filhos daqui. A moa fica.

Ela minha filha!

E minha sdita. Eu ouvirei o que ela tem a dizer, mesmo que precise obrig-la a falar. Ela deve ter aprendido os bons modos de algum que no foi voc, pois sabe se comportar sem perder a calma diante de minha presena.

voz do rei interrompeu os protestos de McQuade. Os guardas tinham as mos sobre as espadas, as pontas afiadas voltadas para o Erik e os filhos. Todos os trs a olharam, culpando-a pela irritao do rei.

Vossa Majestade, peo-lhe que permita que minha famlia fique.

Os guardas esperaram pela resposta do monarca.

No!

No houve mais hesitao por parte da guarda real. A famlia foi obrigada a sair sem qualquer outro protesto.

Agora, responda minha pergunta. O que Cullen McJames representa para voc?

- Um estranho, Majestade.

O rei se acomodou em seu trono e fixou nela um olhar serio.

Seu pai clama que a pegou com McJames.

Eu estava cavalgando, e ele estava no topo da colina. Trocamos algumas palavras, mas foi apenas isso. Nem sabia o nome dele at meu pai me dizer.

Mas isso aconteceu nas terras McQuade?

Na divisa, Majestade. Cada um de ns estava no limite de nossa terra.

O rei suspirou, frustrado.

Quantos homens estavam com ele?

Nenhum.

James Stuart soltou uma risada. Um brilho especial surgiu em seus olhos e ele a observou da cabea aos ps.

Cullen sabia quem voc era?

O calor tomou conta do rosto de Bronwyn.

Eu me recusei a dizer meu nome, Majestade. Ele estava usando o traje com as cores dos McJames.

O rei balanou a cabea.

Cullen sempre usa as cores de sua famlia. O homem um escocs puro e tem orgulho do nome que carrega. Ele atrevido, tambm, cavalgando perto das terras dos McQuade sem ningum para lhe dar cobertura.

Sim, ele era...

Levantando os olhos brevemente, Bronwyn viu que o rei a observava, assim decidiu mant-los abaixados para que a alegria evidente no fosse notada.

Por acaso ele a tocou?

No, Majestade! exclamou ela, intempestiva demais por estar na presena real.

Milady ainda virgem?

Bronwyn arregalou os olhos. James Stuart podia ser o rei, mas no esperava uma pergunta to ntima de sua parte. A revolta surgiu, porque nunca antes haviam levantado suspeita sobre sua conduta.

Claro que sim.

Um leve sorriso cobriu o rosto do rei, mas isso no a acalmou. Ao contrrio, pois, do mesmo modo como o sorriso de Sullen prometia alguma coisa a mais, o agradvel olhar do rei fazia seu estmago doer de antecipao.

Seu pai j escolheu um noivo para milady?

A pergunta a surpreendeu. No devia, mas ela abaixou o olhar por um momento.

Papai, vim pedir a sua bno. Uma cortina por trs do balco se moveu e uma menininha surgiu dali. Vestida com uma linda camisola e touca de dormir. Um traje de princesa.

Elizabeth, minha flor, onde est sua bab?

O rei se transformou em um pai amoroso diante dos olhos de Bronwyn. Ele pegou a garotinha nos braos, que o enlaou o pescoo.

Bronwyn observou o rei beijar a testa da criana. No conseguia afastar o olhar. O rei notou sua ateno, e ela precisou esconder suas emoes mais uma vez.

Esta minha filha, Elizabeth. Que j devia estar na cama. Ele ps a menina no cho. Um dos guardas deu a mo para a pequena Elizabeth, e ela se deixou conduzir sem problemas.

Noto pela expresso de seu rosto que seu pai no tem sido bondoso com voc.

O rei se sentou, estudando Bronwyn atentamente. Ela, porm, se manteve em silncio.

No h razo para negar. Vi como olhou para minha filha, como se jamais pensasse que um pai pudesse demonstrar sua afeio.

Era uma verdade to dura que ela sentiu o ar lhe fugir.

Meu pai ama muito os seus filhos, Majestade. Isso no era uma coisa incomum.

Quantos anos tem agora?

Vinte e trs.

O rei sacudiu a cabea.

Ningum parece saber exatamente a sua idade. Seu pai tem feito um servio e tanto a escondendo. James Stuart olhou em direo aos guardas. Tragam de volta a famlia dela. Bronwyn, voc pode esperar l fora. Preciso conversar com seu pai a ss.

Ela se curvou respeitosamente e deixou a sala. Os guardas abriram as portas e ela saiu, enquanto o pai e os irmos entravam. Suspirou ao ouvir as folhas de madeira se fechando. O alvio, porm, durou muito pouco, j que tinha um mar de olhos a encarando.

Bronwyn manteve o queixo erguido com a prtica adquirida por anos de desafio. Estremeceu, porm, quando ouviu uma mulher murmurar...

Pombinha suja...

Voc um homem cruel, McQuade.

James Stuart estava sentado em seu trono, deixando clara a sua posio. Desta vez McQuade no gritou em protesto. Na verdade, estava quieto demais, o que deixou o monarca desconfiado.

Preciso pensar. Voc ficar na Corte at que eu lhe d permisso para partir.

inverno, Majestade.

Oh, sim. James deu uma tossidela. Foi voc quem decidiu voltar. Agora fique, j que parece ser o que deseja. Tem a minha permisso de entrar no grande salo se trouxer junto a sua filha. Caso contrrio, ficar na rea de fora. Grave bem minhas palavras, McQuade, melhor me atender quando eu lhe der uma ordem.

McQuade abriu a boca, mas a fechou quando o guarda real tirou a espada da bainha. Curvou-se ento e deixou a sala. Ao ver a filha olhando para as pessoas da sala apressou o passo. Os homens tiraram o chapu sua passagem, as mulheres se curvaram em respeito sua posio.

Sim, ele era o senhor de um vasto domnio. Um homem a ser temido e respeitado. Afinal, tratava-se de um McQuade.

A casa dos McQuade na cidade sempre ficava fechada no inverno como tantas outras casas de nobres. O que deixou os criados surpresos, ao ver o patro voltar to logo havia partido. Rapidamente trataram de tirar os panos que cobriam a moblia para evitar que se enchessem de p. Lmpadas foram acesas no hall de entrada enquanto algumas criadas enfiaram toucas de linho nas cabeas.

Saia da minha vista, Bronwyn.

Ela jamais ficara to feliz em obedecer ao pai. Ele fez um gesto para uma criada.

Coloquem-na em um quarto pequeno.

Sim, meu senhor. A criada atrapalhou-se toda ao fazer uma reverncia. Parecia confusa com as ordens, mas no perdeu tempo, pegou uma vela e conduziu Bronwyn em direo ao p das escadas.

As duas seguiram at o segundo andar. Havia mais um andar acima, porm a moa a levou para um pequeno quarto no final do corredor.

A maioria das famlias apresentava suas filhas Corte na esperana de cas-las com algum nobre de fortes influncias. Ela, ao contrrio, havia sido desmoralizada pelo pai em frente a todos da Corte real escocesa. Como se no bastasse ainda a colocara em um quarto minsculo.

Bronwyn percebeu que a criada a observava, mesmo estando cabisbaixa. Todos na casa deveriam estar intrigados, pois aquela era a primeira vez em que vinha at ali. Ela tambm no sabia o que pensar.

O quarto era muito pequeno e no tinha sequer uma lareira. Havia uma pequena janela com uma madeira que deslizava para abrir ou fechar. A criada usou a vela para acender o pavio da lamparina, deixando-a sobre a mesa.

O colcho estava enrolado junto parede para mant-la limpa. Bronwyn localizou um ba junto janela e dentro dele encontrou roupas de cama. Arrumou-a, ocupando as mos enquanto a mente continuava abismada.

Suja...

Nunca pensara que uma simples palavra pudesse mago-la tanto. No era uma mulher suja... Gostaria de gritar a verdade, mas quem acreditaria em suas palavras?

Lgrimas surgiram em seus olhos, mas ela as secou antes de lhe escorrerem pelo rosto. Recusava-se a chorar por causa da crueldade do pai. Assim, terminou de arrumar a cama, e comeou a se despir.

Ficando apenas com a combinao de baixo, apagou a lamparina. Havia uma vantagem em estar em um quarto to pequeno, no precisaria se preocupar em errar o caminho para a cama. Sem uma lareira o aposento estava gelado. Os ps pareciam congelar ao pisar no cho de madeira. Ao se deitar cobriu-se com a saia para amenizar o frio. Contudo, no havia um modo de quebrar o gelo que se formara em torno de seu corao.

Erik McQuade olhou para os filhos.

Vocs me acham muito cruel?

Liam no ousou olhar para o pai, mas Sodac o fez. Havia indeciso em seus olhos.

A terra a nica coisa que torna um homem rico. Nunca permita que ela escape de suas mos. Sempre se case para conseguir mais terra. O dinheiro pode ser gerado pelos arrendatrios. Erik parou por um momento, certificando-se de que no eram ouvidos por nenhum criado bisbilhoteiro. Escutem, meus filhos, a herana que um dia tero ser melhor do que a que ganhei de meu pai. Trabalhei demais para suportar ver qualquer terra deixar de ter o nome McQuade. Bronwyn uma mulher, feita para servir as necessidades dos homens. O fato de ser minha filha no muda isso. Os filhos balanaram a cabea concordando.

Mas era necessrio sujar o nome dela em pblico? Liam perguntou.

Sim, era. Agora o rei no vai me pressionar para v-la casada. A terra que ela tem de dote est legalmente ligada me e a qualquer filha que ela possa ter. Isso no pode ser alterado. Bronwyn no deve jamais se casar ou perderemos essa terra. Espero firmeza por parte de vocs. J recebi muitas propostas de casamento para ela neste ano. McQuade grunhiu, irritado, antes de continuar: Mas ela uma mulher, e eu no sou tolo para esperar que ela tivesse foras para permanecer inocente. Mulheres so criaturas fracas. Elas buscam um amante na calada da noite quando esto no tempo de procriar. por esta razo que eu deixei claro que nenhum homem usando as nossas cores olhasse para minha filha. Se ela gerar uma filha, a terra passar para a criana, seja bastarda ou no.

Os rapazes permaneceram em silncio, mas as expresses de seus rostos j no mostravam qualquer sinal de culpa. Fazia muito tempo que Erik deixara de sentir qualquer emoo em relao filha. Havia se casado com a me dela para ficar com a terra que ela trazia com seu nobre nome. Contudo, para seu infortnio descobrira que o dote estava ligado aos descendentes femininos depois da morte dela. Ele consultara alguns dos melhores advogados do pas e todos concordavam que a vontade no poderia ser quebrada. Mesmo que fosse raro, as mulheres descendentes de sangue real algumas vezes possuam heranas que eram passadas para outra mulher.

Desse modo, Bronwyn jamais poderia se casar. Se permanecesse solteira, a terra se tornaria propriedade McQuade. Cham-la de vagabunda em plena Corte faria com que cessassem quaisquer futuros pedidos de casamento.

Quando eu me for, caber a vocs dois providenciarem para que ela no se case jamais.

Sim, pai.

McQuade lanou um olhar de aprovao aos filhos. Ele era o senhor do cl e sua meta maior seria sempre visando a prpria famlia. De alguma forma ele at se tornaria mais poderoso do qUe os McJames. Bronwyn era somente um elo na cadeia para alcanar este objetivo.

Bronwyn se debatia na cama. Cullen cavalgava em sua direo. Ela o via com clareza em sua mente enquanto dormia. Que homem maravilhoso, no podia ser real. Ao vislumbr-lo, seus olhares se cruzaram, e ela sentiu-se hipnotizada pelo desejo que viu ali.

Sentiu o calor invadir-lhe o corpo, espalhando-se pelos seios. Chutou as cobertas, virando a cabea de um lado a outro, enquanto o sonho continuava.

Ele estava se aproximando...

Nenhum homem jamais a olhara daquele jeito to provocante e sedutor. O desejo profundo passou a reger seus movimentos, impulsionando-a na direo dele, pois precisava descobrir o que poderia ser feito para aplacar aquele anseio. Sentiu a pele em brasa, o corao em descompasso. Sem pensar, esticou a mo na esperana de tocar aquela que procurava lhe alcanar...

Acordou em um repente. Sentou-se, assustando-se pelo modo como o corao batia forte em seu peito. A sensao era a mesma que se tivesse corrido quilmetros. Sentiu na pele uma fina camada de suor. A. combinao lhe feria a pele, que de repente se tornara sensvel demais. Os mamilos enrijecidos saltavam como dois pequenos botes sob o tecido fino. A sensao era to inusitada que a fez passar a palma da mo sobre a camisola, certificando-se de que no estava sonhando. Uma sensao estranha tomou conta de todo o seu corpo diante do simples toque. Era doce, mas perturbador.

O vento insinuou-se pela janela com mais fora, levando-a a puxar a saia que servia de coberta at o queixo. Dobrou bem as pernas para que a pea de roupa pudesse cobri-la por inteiro.

Como um sonho podia ser to real?

Melhor ainda, como um homem que encontrara apenas uma vez podia fazer seu corpo reagir dessa forma? Estranhou tambm por o encontro ter coincidido com a hora em que o destino resolvera amaldio-la. Antes de desfrutar daquele ltimo momento de liberdade sua vida era bem mais simples.

As lgrimas que tentara evitar voltaram cobrindo-lhe o rosto, enquanto o vento fazia a folha de madeira da janela vibrar.

Desejou nunca ter conhecido Cullen McJames.

Captulo II

Cullen sentou-se ao lado do irmo cabeceira da mesa em Sterling.

A idia de casamento no lhe saa da cabea. O rosto da jovem McQuade lhe veio mente. Deixou a imaginao reinar por alguns instantes enquanto comia. Riu ao pensar no que aconteceria se levasse a moa para a cama. J que ela era uma McQuade, ele teria de rapt-la. Isso em parte o excitava, mas por outro lado, a idia no parecia muito sensata. Se a jovem fosse uma McKorey ou uma McAlister, coloc-la em cima de sua sela poderia at terminar em felicidade para as duas famlias.

Mas no para uma McQuade.

Balanou a cabea para afastar a idia. Ela estava usando um vestido muito comum. E havia mais uma coisa. Nenhuma mulher se aventurava a cavalgar sozinha para longe de sua casa, no em uma terra onde era comum aparecer cavaleiros de outros cls.

E ela se recusara a lhe dizer seu nome.

Como a aparncia de Bronwyn McQuade?

Todos mesa ficaram em silncio, surpresos com sua pergunta. O primo dele, Druce, olhou para Brodick e este deu de ombros.

Suponho que nenhum de ns saiba lhe responder isso Druce falou. Os rumores ora dizem que ela assustadoramente feia, ora afirmam ter ela uma beleza digna de uma princesa.

O irmo parou de comer e o encarou.

Por que quer saber, Cullen?

Eu estava apenas pensando. Mas j que todos aqui acham que eu deveria me casar com ela, pensei em perguntar como ela .

Druce quase engasgou de rir.

Bem, aposta certa de que voc no vai ter chance de cortej-la.

Cullen olhou para o primo.

McKorey tem duas irms tambm. Qualquer uma seria uma boa esposa, aproximando os McKorey da nossa famlia,

Sim, se voc gostar de damas refinadas. As duas so acompanhantes da rainha Anne. Melhor comear a treinar a danar e colocar a leitura em dia se planeja se casar com uma delas.

Cullen resolveu revidar.

Mas j no hora de voc se casar, Druce? Voc no assim to novo. No sou o nico que deveria pensar em assegurar uma nova conexo para nosso cl.

O primo fez uma careta de desagrado, e Brodick caiu na risada.

Isto verdade.

Druce resmungou e todos riram, enquanto davam continuidade refeio.

O apetite de Cullen, no entanto, diminuiu e a imagem de Bronwyn mais uma vez lhe voltou mente. O rosto dela parecia to ntido, que ele pensou em estender a mo e toc-lo. Havia milhares de mulheres usando as cores dos McQuade, mas ele tinha certeza de que aquela jovem era Bronwyn. Afinal, no era privilgio de muitas cavalgar apenas por prazer. O pai dela tinha dinheiro ou ela jamais cavalgaria em um cavalo to bom. Sentiu uma necessidade urgente de encontr-la novamente. Levantou-se, olhando para o irmo e para o primo.

Vou at a Corte. Talvez eu volte com a permisso de me casar com Bronwyn McQuade.

Isso no lhe serviria de nada. Ouvi dizer que o pai jamais abrir mos da terra que ela teria como dote Druce argumentou.

Cullen meneou a cabea.

Ento, suponho que esta seja mais uma razo para perguntar ao rei o que ele acha disso tudo. justo apostar que no ganharei as bnos do pai quanto ao casamento.

Erik no s no consentiria como ficaria enfurecido. Cullen j estava cansado de tanta disputa. Casar-se com a filha do inimigo era uma tradio que remontava de muitos anos.

Naturalmente, ele teria de rapt-la.

Brodick ergueu a mo e a apontou para Cullen.

Conversaremos sobre isso depois que voc obtiver a permisso do rei. No quero que Sua Majestade fique irritado comigo porque voc decidiu revidar as pilhagens de McQuade.

Druce ficou desapontado, porm Cullen sentiu-se ainda mais incentivado. Brodick lanou-lhe um olhar severo, mas no era nada pessoal, pois tudo o que fazia era para que o cl dos McJames prosperasse. Ideal que era compartilhado por todos.

Cullen tomara sua deciso e voltaria para casa com a permisso de se casar com Bronwyn McQuade.

O pai dela que fosse para o diabo.

Cullen no planejava esperar. Sua mente estava agitada demais para sequer considerar dormir e seguir somente ao amanhecer para a Corte. No era a primeira vez que ele viajava noite. Seu sangue fervia exigindo movimentao.

Forou-se a examinar a espada sem muita pressa. Tirou-a da bainha de couro, observando-a com olhar crtico. A arma lhe servira bem durante muitas batalhas. Certificar-se de que estava em excelente estado era uma prioridade.

Sentia-se como se estivesse partindo para um conflito. Os msculos tensos e a mente focada. Podia escutar as batidas de seu corao.

Depois de examinar a arma, devolveu-a a bainha e prendeu-a s costas. Vestia uma roupa justa, assim a lmina no poderia lhe ferir a pele. Naquela noite serviria tambm para mant-lo aquecido. A saia kilt estava bem presa cintura e as pernas protegidas pelas botas altas.

Apagou a vela e caminhou pelo corredor. Um lance de escadas o levou ao pavimento inferior da fortaleza. Sterling tinha seis torres todas elas com paredes grossas ligadas umas nas outras. Lamparinas eram mantidas sempre acesas no primeiro andar e dispostas nas paredes a cada dez metros.

Viu que seu cavalo j estava pronto no ptio. Ao lado do animal estava seu primo Druce, segurando as rdeas.

Quando eu o convidei a ir comigo?

Voc no me convidou. Eu sempre disse que voc meio lento nessas coisas. Druce montou no prprio cavalo.

- E voc fala demais.

Druce esporeou o animal para seguir em frente quando Cullen tomou a estrada. A guarda pessoal de ambos os seguiram. O irmo podia ser um conde, mas Cullen tambm ostentava alguns ttulos.

No foi surpresa encontrar, o primo ali. Seu pai e o irmo haviam criado os filhos com o mesmo senso de dever familiar. Eram todos McJames e juntos constituam uma fora maior.

Voc ir Corte conosco hoje Liam anunciou os desejos do pai.

Bronwyn estava em Edimburgo j fazia quinze dias e vinha sendo ignorada por todos. Preferia assim. Voltar Corte no oferecia atrativo algum. Tudo o que esperava que o pai finalmente se sentisse satisfeito com sua vingana.

Mas Erik ainda no se sentia assim.

Esteja pronta em uma hora.

Por um instante, Bronwyn pensou em recusar.

Em uma hora Liam repetiu, deixando a sala de refeies.

Bronwyn parou de comer e voltou para o quarto. Encontrou uma escova sobre a mesa de canto, um jarro e uma bacia. As toalhas e sabo estavam colocados ao lado da vasilha. Pensou em agradecer a criada pelas gentilezas. Tinha certeza de que no havia sido idia do pai.

Com um suspiro resignado, jogou gua na vasilha. No havia razo para ser to amarga, apesar de que sua me tinha lhe ensinado que a vida no era justa, e os homens eram gananciosos. Podia constatar isso por seu pai que no dividia o ouro nem mesmo com a filha.

Depois de lavar o rosto, ela se ps a sec-lo com a toalha impa. O sabonete era simples, mas serviu para promover-lhe uma sensao de frescor. Pegando a escova, cuidou dos cabelos, penteando-os e traando-os. J pronta, decidiu que no ficaria esperando ali em seu quarto. Seu pai podia blasfemar a seu respeito, mas Bronwyn McQuade no era covarde. Sabia a verdade sobre sua prpria virtude, assim iria manter o queixo bem erguido.

Cullen no perdeu tempo. Parou na residncia que mantinham em Edimburgo apenas o tempo suficiente para tirar a poeira da viagem de seu corpo. Em seguida rumou para o castelo de James.

Quando ele entrou no salo real lembrou-se a razo de nunca querer estar l. Os nobres o olhavam, seus lbios se movendo enquanto murmuravam alguma coisa para quem estivesse a seu lado. Na certa no lhe faziam qualquer elogio. Essa era a Corte das intrigas. Pareciam atores em um palco, usando aqueles trajes de seda e jias que nada tinham a ver com um verdadeiro escocs.

Ele estava satisfeito com seu kilt de l xadrez. Enfeites eram para as mulheres, no para um homem que freqentemente tinha de usar uma espada para defender sua terra. Alguns homens usavam cales estufados, outros balanavam seus lenos com a ponta dos dedos enluvados.

As damas tambm lhe causavam repulsa. P de arroz lhes cobria os rostos de forma que no se podia ver a cor da pele.

Ruge vermelho coloria as bochechas e os lbios. Algumas usavam pintas pretas na pele em formato de pequenas estrelas ou lua crescente. Os vestidos eram rebuscados e elas usavam tantas armaes que no se sabia qual o formato dos corpos.

Ele preferia muito mais Bronwyn com o traje simples que usava quando a conhecera. A lembrana o fez cerrar os dentes. At agora nenhuma mulher conseguira comandar seu pensamentos quando nem mesmo testara seu beijo.

No entanto...

Resmungou, frustrado. A situao toda estava ficando irritante demais. Havia outras mulheres que poderiam se tornar timas esposas para ele. J que estava na Corte, talvez pudesse avaliar outras oportunidades.

Jovem McJames, no esperava v-lo aqui de volta neste ano. Alarik McKorey estendeu a mo para Cullen. Vizinho do lado sul da propriedade McJames, Alarik era um aliado contra os McQuade. Ele tambm se vestia com o simples traje escocs sem os enfeites e jias. Era uma imagem bem-vinda naquele mar de arrogncia.

Decidi que suas duas adorveis irms estavam longe demais de mim.

Raelin, uma das irms de McKorey, abaixou de leve o leque e olhou para Cullen. Seu rosto no estava maquiado, somente um batom nos lbios. Sim, ali estava uma mulher que poderia trazer uma boa conexo se ele a escolhesse como esposa.

Bom dia, Raelin.

Ela semicerrou os olhos em sinal de desdm antes de agarrar a irm pelo brao e afast-la de Cullen. Alarik lanou-lhe um olhar duro.

O que acontece por aqui, Alarik? Por acaso fiz algo que tenha ofendido suas irms?

Estranho que todos o estivessem tratando da mesma maneira distante. A impresso era que o que quer que tivesse feito, j era do conhecimento de todos, uma vez que sussurravam entre si.

Eu disse a elas que guardassem os seus julgamentos at ouvirem o seu lado da histria Alarik informou. Sei que os McQuade tm sido um espinho encravado em seu corpo por muito tempo.

Do que est falando? No fiz nada que me levasse a precisar que meus amigos ficassem arranjando desculpas para mim.

Alarik no respondeu. Os murmrios recomearam e todos os olhares se voltavam a um grupo de pessoas que abriam caminho por entre a multido. Cullen sentiu uma satisfao enorme quando viu que suas suspeitas se confirmavam. A moa que vinha ocupando tanto lugar em seus pensamentos estava ao lado de Erik McQuade, confirmando que era filha dele.

No entanto, o rosto dela estava plido demais...

Cullen olhou para os lbios que ela mantinha comprimidos. O queixo tremia muito discretamente, tanto que ele no teria notado se no a estivesse olhando com tanta ateno. Era um grande contraste com a lembrana que tinha dela.

Ela no usava maquiagem alguma. Somente um simples vestido de l, abotoado at o pescoo.

O burburinho pelo salo aumentou quando as pessoas notaram que Cullen estava com a ateno presa nela. Bronwyn se voltou e seus olhos se encontraram. Pareceu surpresa ao v-lo. Cullen sentiu um inegvel calor invadir o seu corpo. Os murmrios aumentaram, interrompendo o momento de fascinao que o envolvia.

Talvez o rei os force a se casar...

Ela est desonrada...

Por que ele se casaria se j...

O que est acontecendo por aqui? ele questionou Alarik.

McQuade acusou voc de abusar da filha dele.

O olhar de Cullen se voltou para Bronwyn. Sentiu a raiva surgir junto com um desejo to forte, que ele precisou de muita fora de vontade para se controlar.

Tal pai... tal filha...

Ser que ela o odiava tanto assim que no se importasse em arruinar a prpria reputao com uma mentira torpe? Os irmos o fariam, disso ele no tinha dvidas.

Abram caminho para o rei!

Os murmrios cessaram abruptamente. Cullen se voltou e viu James se aproximando. Todos se curvaram em reverncia. Quando o rei passou ao lado de Cullen, ele inclinou a cabea, tambm.

Cullen McJames, meu amigo. Estou feliz em v-lo.

As lnguas no voltaram a matraquear at que o rei e Cullen McJames estivessem distantes o suficiente para no serem mais ouvidos.

Bronwyn procurou no se importar, mas o orgulho se recusava a obedecer aos seus desejos. Sentia-se muito magoada. O pai era incapaz de sentir pena dela. Estava parado ao lado dela, forando-a a enfrentar o desprezo pblico.

Voc pode voltar para a casa da cidade. Providenciarei para que seja levada de volta a Red Stone amanh.

Deus que a perdoasse, mas mesmo se as escrituras sagradas dissessem que os filhos deviam pedir a bno dos pais, ela no conseguia fazer isso. No via um pai diante dela, somente um homem que legalmente tinha direitos sobre ela. E era isso mesmo. No havia ningum que pudesse interferir, tirar esse poder dele. At a roupa que ela usava pertencia ao pai, segundo a lei.

Sua ambio no conhece limites. Bronwyn abaixou a voz para que apenas o pai e os irmos a ouvissem. Surgiu nos olhos de Erik um brilho de fria. Negue e ser um mentiroso, meu pai. Acusou-me em vo para no ter de dar meu dote a ningum. Sou inteligente o suficiente para perceber isso.

Um raro ar de incerteza apareceu no olhar de Erik McQuade.

Sou o senhor das nossas terras e farei o que for melhor para o cl. E no ouse me amaldioar.

Sua ganncia chega a ser uma maldio.

Bronwyn deu as costas ao pai. As cabeas todas se voltaram enquanto ela caminhava com o queixo erguido pelo salo real.

No havia perdido sua virtude. Nem todos os mexericos do mundo mudariam essa verdade.

Erik olhou para Sodac e Liam.

Sigam sua irm e se assegurem de que ela fique trancada em seu quarto. Usem alguns homens para vigi-la.

Sodac pode lidar sozinho com Bronwyn. Liam pareceu confuso.

Eu o estou avisando, rapaz. No pense que ela esteja segura. Parou de falar quando percebeu que todos voltavam a ateno em sua direo. Assim, empurrou os filhos na direo de uma sala vazia. Faam com que Bronwyn seja vigiada. No quero que ela tente escapar. Os mercadores vo querer aproveitar a chance de se casar com a filha de um chefe de cl. Ela pode estar vigiada, mas no se esqueam de que so vocs que tm alguma coisa a ganhar evitando que ela fuja.

Acho que no corremos esse risco. Liam deu de ombros.

Pois deveria pensar. Ontem noite, eu disse a vocs que devem manter sua irm solteira ou perdero parte de nossas terras. McQuade olhou para os filhos. No se esqueam disso. Devem lev-la de volta ao castelo amanh e mant-la trancada.

Talvez ela possa cair do cavalo. Sodac arqueou a sobrancelha com a sugesto.

No Ela possui um par de mos que ganha ouro para os nossos cofres. H outra coisa que precisa aprender... no se deve desperdiar nada. Bronwyn pode ser til como qualquer outra criada. Eu teria me livrado dela quando ainda era um beb se o assassinato estivesse em minha mente.

Mas a terra...Liam persistiu.

nossa enquanto ela no procriar. McQuade encarou os dois filhos. Envergonhar Bronwyn em frente Corte far com que no aconteam mais pedidos de casamento minha porta. Nenhum dos meus homens se aproximar dela. Uma vez que ela volte a Red Stone, a Esccia logo se esquecer de que eu tenho uma filha. - Ele comeou a rir. E o melhor disso tudo que joguei a culpa em Cullen McJames. Se o que ela diz for verdade, ele arcar com a culpa sem sequer ter tocado nela. Uma bela vingana por todos os problemas que eles tm me causado.

Liam e Sodac se uniram ao pai no riso. Mas Erik foi o primeiro a ficar srio.

No a percam de vista, meus filhos.

Os dois correram em direo porta, ansiosos em seguir os passos do pai, fariam o que fosse preciso para no perder os bens do cl.

Erik sorriu satisfeito com os filhos. O que no percebeu foi que a conversa que acabara de ter com ambos tivera uma testemunha.

Escondida na aleova, Raelin McKorey balanou a cabea bem devagar. Afinal, ela deveria mesmo ter escutado o irmo. Estava mais do que feliz em ouvir que Cullen era um bom homem. Uma pena que ele s tivesse olhos para Bronwyn. O interesse estava evidente no rosto dele para quem quisesse ver.

Raelin sentiu uma pontada de inveja. Nenhum homem jamais, olhara para ela com tanto desejo como Cullen tinha encarado Bronwyn. Pelo menos as fofocas cessariam se os dois se casassem. Esta agora era a nica soluo possvel.

Ela igual ao pai. Nada mais do que uma maldio para os McJames Cullen reclamou para o rei. Eu no toquei na moa com nada alm de minha mo.

Foi o que ela alegou.

As palavras de James apagaram a raiva dele. Cullen meneou a cabea, tentando entender a situao.

Ela disse isso?...

Sim. Foi o pai que clamou ter acontecido outra coisa.

Cullen praguejou.

Bem, suponho que Vossa Majestade j esteja habituado com as mentiras de Erik McQuade.

Sei disso, James sentou-se, indicando uma cadeira a Cullen. Era um privilgio ser convidado a se sentar na presena de seu rei, mas ele no tiraria vantagem disso. McQuade acusou a moca no meio do salo. As fofocas se espalharam. Ele a chamou de vadia.

Cullen blasfemou, irado. De repente, o rosto plido de Bronwyn fazia sentido para ele. A Corte toda falava dela.

No entendo por que um pai arruinaria o nome da prpria filha.

Ele um porco ganancioso. As filhas precisam ter um dote para caso se casarem bem.

Cullen olhou para o rei por um longo momento. Acabou perdendo a pacincia com a situao, levantou-se e comeou a andar de um lado para o outro.

McQuade uma ameaa.

O rei riu.

E eu no sei disso? Pensa que somente os McJames acusam McQuade de pilhagem? McKorey vem me atormentando desde que permiti que McQuade e os filhos fossem autorizados a entrarem no salo real. McAllister est, sem dvida, me escrevendo uma carta onde expressar todo o seu desprazer por McQuade continuar com os benefcios de um lorde, quando invade as propriedades vizinhas como um ladro comum. J lhe mencionei que no tenho desejo algum de ser rei?

H dias em que sinto o mesmo. James fez um gesto lhe oferecendo o trono, mas Cullen recusou rapidamente. O rei voltou a rir. Melhor tomar cuidado. Parece que a jovem o fisgou.

Cullen resmungou.

Impossvel no ficar irado ao ver meu nome jogado na lama com este esquema srdido!

Claro que sim, mas esta no a nica razo de voc querer punir o sujeito. Voc estava despindo a jovem com seus olhos.

Cullen no respondeu. Se no entendia os prprios pensamentos, como iria explic-los ao rei?

verdade que a achei interessante quando a conheci. Agora entendo porque ela se negou a dizer seu nome. Ele se esqueceu do rei por um momento, enquanto considerara como seria bom ter Bronwyn em suas mos sem o pai e os irmos por perto.

Nem quero saber o que est passando por sua cabea. James sacudiu a mo. Apenas lembre-se de que assassinato um crime grave. Nem mesmo eu posso alterar isso. Tem de encontrar um modo de lidar com McQuade sem mat-lo. Tem permisso para deixar a Corte.

Cullen inclinou a cabea para o rei antes de se dirigir sada.

Eu poderia ordenar ao pai dela que a deixe aqui na Corte James sugeriu.

No faa isso Cullen pediu com voz embargada. Contudo, sabia que gostaria de lidar com Bronwyn a ss.

Mas dessa forma, eu poderia saber que tipo de filha McQuade criou o rei disse, sorrindo.

J que todos pensam que dormi com a moa, talvez fosse melhor silenciar as ms-lnguas. Isso se no tiver objeo ao casamento entre ns dois.

O rei calou-se. Era difcil saber o que ele estava pensando. Aprendera a esconder as emoes com os anos de prtica no trono.

Faa uma boa viagem, Cullen.

Sim, Vossa Majestade.

O rei ergueu um dedo, e Cullen parou. A respirao presa no peito enquanto esperava ouvir a deciso do monarca.

Tem a minha permisso para se casar com a moa, mas somente no caso de ela ir ao altar por vontade prpria. Ela no como o pai e os irmos, portanto no deve ser forada a se casar.

Est me dizendo que tenho a vossa permisso?

Tem, junto com minhas bnos. Mas me prometa que no dar o meu nome ao primeiro filho. J temos James demais atualmente na Esccia.

Ela no era como o pai e os irmos.

Bem, isso ele ainda teria de comprovar. Cullen rangeu os dentes, ouvindo os sussurros provocados por sua passagem pelos sales reais. Sendo assim, apressou o passo antes de perder a pacincia. Uma palavra lhe chegou aos ouvidos.

Patife...

Ele assumiu uma expresso sria, seu orgulho ferido.

A honra exigia ao agora. Erik se enganara pensando que podia atacar sem esperar retaliaes.

Um McJames jamais aceitava a desgraa sem uma luta. Cullen estava disposto a fazer algo que McQuade jamais se esqueceria. Tinha chegado o momento de agir.

Est fora de si. Druce segurou a caneca com cerveja no alto por um longo momento. Mas suponho que seja culpa minha por t-lo provocado quanto moa.

Eu a conheci, de fato.

Passou a perna em mim. No queria acreditar que as acusaes fossem verdadeiras. Druce no escondeu sua surpresa.

No aconteceu nada do que est pensando. A irritao de Cullen era evidente. Uma vez que sua honra havia sido questionada tantas vezes em um nico dia, quela altura, era difcil manter o senso de humor. Trocamos apenas algumas palavras quando fomos surpreendidos pelos irmos dela. Ele no se importou com o olhar que o primo lhe dirigiu. No toquei nela.

Mesmo assim...

Cullen no era homem de mentir. Ele desejava tanto aquela moa que chegaria a ponto de rapt-la.

: apenas o seu orgulho ferido que o est pressionando a fazer aquilo de que foi acusado?

Druce fizera uma boa pergunta, tanto que Cullen no sabia bem a resposta. Foi ento que entendeu que s havia uma maneira de resolver tudo, partiria em busca de Bronwyn ou morreria tentando.

Haver derramamento de sangue se voc raptar a moa.

Isso j vem acontecendo desde que o pai dela insiste em dizer que o meu pai roubou sua noiva.

McQuade ficar enfurecido se voc raptar a filha tambm.

Cullen lanou ao primo um olhar mortal.

Ele deveria ter pensado nisso antes de me acusar diante de toda a Corte de ter deflorado a filha dele. direito meu agora lev-la ao altar, j que o pai disse que eu lhe tirei a inocncia. Esta a nica atitude que impedir que eu continue sendo chamado de patife.

Isso verdade, mas no se esquea de que ter de agentar a moa como sua esposa pelo resto da vida. Seus amigos entendero se voc optar por no carregar esse fardo.

No creio que grande parte dos nobres escoceses sejam meus amigos. Nesse momento cartas devem estar sendo escritas, falando de mim e da minha falta de honra.

Ele olhou pra a sua espada, a ateno voltada para verificar se a lmina estava perfeita. Druce ficou em silncio, apenas observando a cena.

Se esta for sua deciso, saiba que estarei a seu lado. Druce tocou em sua prpria espada. McKorey mencionou que ele e alguns poucos homens estariam nos esperando do lado de fora da casa de McQuade. Ele deu de ombros quando Cullen o olhou confuso. - Os McKorey tm muitos motivos para odiar McQuade tanto quanto ns. Suas terras tambm vm sendo pilhadas h anos. Ouvi dizer que Alarik estava pensando em pressionar o rei para lhe dar permisso para se casar com Bronwyn.

Ela minha.

E o restante da Esccia podia se esquecer que Bronwyn McQuade nascera de um pai bastardo e mentiroso, que talvez nem se lembrasse que perdera a noiva havia trinta e cinco, anos por culpa de suas prprias aes. Cullen sabia que sua me jamais lamentara ter se casado com um McJames. Amara o marido at que um ferimento em uma batalha lhe tirara a vida.

Cullen se recusava a acreditar que o casamento dele e Bronwyn no desse certo. Brodick tinha se casado com uma inglesa e conseguira encontrar o amor. Alm do mais, Druce estava certo, era seu orgulho que falava mais alto nesse momento. E essa era uma ofensa que s se sanaria se alguma atitude fosse tomada. Erik o havia acusado de roubar a virtude de uma moa inocente, ento seria benfeito se o fato se consumasse. Isso era o mnimo que quele vigarista merecia.

Quanto Bronwyn... Bem, ela se ajustaria. Uma vez que era preciso tomar uma atitude, ento ele resolveria o caso a seu favor. Tinha certeza de que os mexericos se transformariam em elogios quando raptasse Bronwyn e se casasse com ela. Alm do mais, depois que sua reputao fora manchada, seria difcil que qualquer famlia decente o desejasse como genro.

Ento, Bronwyn era sua nica sada...

Trancada.

Bronwyn sentiu a boca seca ao perceber como estava sendo vigiada. Nunca pensara antes em escapar de sua famlia, e aquele no era o momento propcio para considerar a possibilidade.

Com um suspiro desceu sala de refeies. Por alguma razo que desconhecia, estava inquieta e ansiosa. Dormir seria um tormento que deveria ser evitado o mximo possvel. Mesmo assim, ela preferiu voltar ao minsculo quarto para escapar dos irmos. O olhar deles lhe remetia a ratazanas famintas.

No entanto o quarto era pequeno demais at para se mover dentro dele. No podia dar oito passos e j se via contra a parede e tinha de dar meia-volta. A janela estava aberta para permitir que entrasse ar fresco na casa durante o dia.

Bronwyn ficou na ponta dos ps e olhou para os fundos da casa. gua brilhava luz de tochas. Dois tocheiros de ferro tinham sido fixados em cada lado da porta da cozinha. Em vez de degraus, havia uma rampa que levava para a porta dos fundos. Era mais prtico porque permitia que carrinhos de mo subissem carregando pesados barris. A rampa servia tambm para escoar a gua do banho para fora da cozinha e fluir para dentro do ralo.

Um banho seria bom naquele momento. Pelo menos seria melhor do que tentar dormir.

Cullen estaria sua espera em seus sonhos.

Sentiu o rosto ruborizar diante de seus pensamentos. Era absurdo o modo como sua pele reagia ao cogitar o nome dele, mesmo sabendo-o distante. Com um gemido, ela pegou a escova de cabelo e comeou a desfazer a trana. Precisava forar a mente a esquec-lo. Os guardas eram um sinal de que o pai tinha intenes de mant-la presa entre quatro paredes at sua morte.

Conforme as mechas de cabelo iam caindo sobre os ombros uma sensao de tristeza a envolveu como uma nvoa de seda. Na tentativa de afast-la, Bronwyn buscou em seu pequeno ba uma camisola limpa e meias. Seria to bom se pudesse se banhar. Caso fosse possvel, no teria problemas para adormecer.

Abrindo a porta, espiou o corredor. Procurou ouvir o ranger de madeira, sinal de que algum poderia estar subindo, mas tudo estava silencioso. Na ponta dos ps, seguiu para as escadas que levavam aos fundos por onde as criadas costumavam trazer comida das cozinhas. Os degraus estreitos e escuros eram iluminados apenas por um pequeno lampio. No havia sequer uma porta e as escadas chegavam direto na cozinha.

Duas criadas estavam sentadas a uma pequena mesa. Suas vozes soavam baixo enquanto conversavam. Uma lidava com massa de pastel e a outra picava alho. Ambas se levantaram quando Bronwyn entrou.

Boa noite, milady.

Somente a criada mais velha falou, a mais jovem apenas a olhou e continuou a lidar com a massa.

Pensei em tomar um banho.

A criada mais nova limpou as mos usando o avental. Virou-se e empurrou a barra de ferro que segurava enormes caldeires com gua quente.

Devo atiar o fogo?

No precisa desperdiar lenha. Bronwyn fez que no com a cabea.

De certa forma, as brasas alaranjadas melhoravam seu humor. Alm do mais no queria chamar a ateno para sua presena ali. Saber que no estava sendo vigiada era um alvio.

Ao ouvir o barulho de gua corrente, ela voltou-se e viu que escorria de um tacho de madeira e caa em uma banheira colocada perto da porta. A criada esperou at que esta enchesse at o meio, para empurrar uma tora de madeira e estancar o fluxo vindo de fora.

Bastava apenas acrescentar a gua-quente para que o banho fosse perfeito. Bronwyn comeou a se despir. Tirou a saia, depois a roupa de baixo, as meias e as botas. Colocou sua escova sobre a mesa e pegou uma barra de sabo de uma caixa.

As criadas retomaram suas tarefas sem se importar com algum na cozinha. Ou seja, o banho era feito sem qualquer privacidade.

Bronwyn entrou na banheira e passou o sabo pelo corpo. Ao enxaguar-se sentiu a gua escorrer pela pele alva como se fosse uma carcia. Percebeu os mamilos mais trgidos do que o normal. Por ltimo lavou os cabelos, desfrutando outra sensao de prazer ao virar a caneca de gua sobre o rosto.

Ao se levantar da banheira, o ar da noite envolveu seu corpo nu, mas ela no sentiu frio. Sentiu-se livre. Enrubesceu pela ousadia e procurou pela toalha.

Mesmo envolta pelo tecido, sua pele continuava quente. Era a presena de Cullen em seus pensamentos que a levavam a fantasiar sobre como seria se estivessem juntos.

J que havia sido acusada e condenada, ela imaginou como seria pecar. Bem, mas tambm, o que poderia ganhar com isso.

Jogando os cabelos molhados para a frente, aproveitou o momento para desviar os pensamentos, enquanto procurava secar os fios. Em seguida, ergueu os braos para cima e permitiu que o tecido macio da camisola lhe cobrisse o corpo nu.

Adorava estar limpa. A Igreja podia chamar isso um pecado, mas ela no podia negar que adorava o modo como a pele reagia depois do banho. Com um suspiro, procurou pelas meias e esticou-as at as coxas. Calou as botas para voltar para o quarto.

O ar frio a fez arrepiar quando a porta foi aberta. Um gemido vindo da criada chamou-lhe a ateno. Um corpo forte colidiu com o seu. Mos fortes a giraram, forando-a contra o peito largo. O medo se apoderou de suas reaes, impelindo-a a gritar.

A mo enorme do invasor tapou-lhe a boca. Havia ali uma demonstrao de fora que ela jamais imaginara existir.

No faa som algum, minha bela jovem.

Bronwyn reconheceu a voz grave de Cullen no mesmo instante. O medo inicial deu lugar raiva, tornando-a mais forte. Assim, lutou para se livrar. Quando ele afrouxou o aperto, ela no perdeu tempo e o mordeu.

Cullen gemeu baixinho, no sem antes segur-la pelos cabelos. Foi ento que Bronwyn viu uma nova chance de gritar, porm antes que pudesse tomar flego, ele lhe enfiou na boca uma tira de couro, abafando o som. Em seguida, forou-a a se deitar sobre a mesa, pressionando-a com o peso do corpo viril.

Imagine a minha surpresa em encontr-la aqui na cozinha.

Bronwyn tentou responder, mas a mordaa a impedia.

E eu que pensei que tivesse de fazer uma busca pela casa inteira.

Ela quis murmurar alguma coisa, e Cullen se inclinou, deixando-a sentir a sua fora. A respirao quente acariciou-lhe o ouvido, enraivecendo-a por se encontrar vencida com tamanha facilidade.

Calma... calma. No tenho inteno de feri-la.

As paredes da cozinha foram tomadas por sombras que moviam-se com rapidez. Virando o rosto para o lado, ela observou quando os homens dominaram as duas criadas. A facilidade com que conseguiam o que queriam a enfureceu ainda mais. Tentou se debater. Houve uma palavra suave falada em gals vindo de seu captor, antes que os braos dela fossem presos para trs.

Eu a avisei, Bronwyn.

Havia determinao na voz de Cullen, ao vir-la de braos e