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7/28/2019 010055-3_COMPLETO.pdf http://slidepdf.com/reader/full/010055-3completopdf 1/23 III CHS rte mo dera

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III C H S r temo

d e r a

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J U L H O 1 5 1 9 2 2

k l a x o nENSARIO DE ARTE MODERNA

REDACÇÃO E ADMINISTRAÇÃO:S. PAU LO — Rua Direita, 33 - Sala 5

ASSIGNATURAS - Anno 12 $0 00Numero avulso — 1$000

REPRESENTAÇÃO:

RIO DE JANEIRO — Sérgio Buarque de HollandaRua S. Salvador, 72-A.

FRANÇA — L. Charles Baudouin (Paris) .SNISSA — Albert Ciana (Genebra Rampe de Ia Treille, 3).BÉLGICA — Roger Avermaete (Antuérpia —

Avenue d'Amèrique, n. 160)

A Redacção não se responsabiliza pelas idéias de seus collaboradores. Todosos artigos devem ser assignadòs por extenso ou pelas iniciaes. E' permitti-do o pseudonymo, uma vez que fique registrada a identidade do autor, na

redacção. Não se devolvem manuscriptos. — São nossos agentes exclusivospara annuncios os srs. Abilio Nobre Cruz e Antônio da Costa Boucinhas.

S U M M A R I O

L Y R I Q U E

N Ó SV O Y A G EB O N H E U RI N T E R I O RO S D I S C Ó B O L O S

L ' A R B R EN E N I AO R D E M E P R O G R E S S O

C H R O N I C A S :

G U I O M A R N O V A E SO H O M E N S I N H O Q U E N Ã O

P E N S O U . . ....

P E N U M B R I S M O . . .L I V R O S & R E V I S T A SC I N E M A . . . .L U Z E S & R E F R A C Ç Õ E SE X T R A T E X T O .

Antônio FerroSerge Mil l ie tManoel BandeiraRonald de CarvalhoGui lherme de Almeida

Henr i MugnierMenott i de i PicchiaRibeiro Couto

Mario de Andrade

Mario de Andrade

Motta Fi lho

Alberto Cavalcanti

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N Ó SE U

SOMOS os rel igiosos da Hora. Cada verso

— uma cruz , cada pa lavra — umagota de s angu e . Sud-expres s para ofuturo — a nossa alma rápida. Umcomboio que passa é um século queavança . Os comboios andam mais de

pressa do que os hom ens . Sejamos comboios ,

p o r t a n t o !Ser de bo je , Ser ho je ! ! ! . . . Nao t r azer r e ló gio, n e m p e r g u n t a r q u e b o r a s s ã o . . . S o m o s aHOral Não ha que t razer relógios no pulso, nosprópr ios somos r e lóg ios que pu l sam. . .

A MULTIDÃONão se ouve nada, não se ouve na

da .EU

Oxigenemos, com electr lcidade, os cabelos daÉpoca . . . Que a v ida s e ja um tea t ro a b ranco eoi ro . . Não olhemo s para t raz. Os nossos olhossão pregos no nosso ros to. Não se dobram, nãos e t o r c e m , n ã o s e v o l t a m . . . O p a s s a d o é m e n t i r a , o pas sado não ex i st e , é uma ca lu n i a . . .

A MULTIDÃONão percebemos, não percebe

mos. Endoideceram? Falem maisalto .

EU

Cheira a defuntos, cheira a defuntos. . .

Não andamos, não andamos, trasladamo-n o s . . . E' preciso gerar, crear. . . Os livrossão cemitérios de palavras. As letras negras são vermes. As telas dos pintores sãopântanos de tinta. O nosso teatro é umMuseu Grevin. Não ha escultores, ha orto-pe d i c os ! . . .

Que os nossos braços, como espanadores, sacudam a poeira desta sala de visitasque é a nossa Arte.-Que as boccas dos Poetas sejam ventres dos seus versos!. . . Queos dedos dos pintores sejam sexos na tela!...

A MULTIDÃO

Mais alto, mais alto ain da. Nãose ouve bem.

E U

A vida é a digestão da hum anida de;deixemos a vida em paz. Isolemo-nos, exi-lemo-nos. . . E? crear universos, para usopróprio, como theatros de papel talhados áthesoura. . . Sejamos rebeldes, revolucionários . . . Proclamem os, a valer, os direitosdo homem! Em cada um de nós existe omundo todo ! Façamos a volta ao nossomundo.. . Agitemos os braços como bandeir a s ! . . . Que os nossos gritos sejam aeropla-nos no espaço. . .

A MULTIDÃOMas que desejam? Falem mais cla

ro .E U

A Grande Guerra, a Grande Guerra na Arte!

Dum lado estaremos n ós, com a alma ao léu e o coração em berloque,

homens livres, homens — livros, homens de hontem, de hoje e de amanhã, carregadores do In fi n ito . . . Gabriel d'Anunzio — o Souteneur daGloria — abraçado a Fium e — cidade virgem num espasmo. Estã o osbailes Europeus — russos de alcunha — bailes em que cada corpo é umballe t, com um braço que é Nijinsky e

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2uma perna — K arsa vin a . . . Es táMarinetti — esse boxeur de ideas;Picasso — uma regua com bocas;Cocteau — o contorcionista do Poto-m ak ; Blaise Cend rars — Torre Eif-fel de azas e de versos; .Picabia —Ghristo novo, novíssimo, escanhoa-do; Stravinsky — maquina de escrever musica; Bakst — em cujos dedosha marionn ettes que pin tam ; Ber

nardo Schaw — dram aturgo dos bastidores ; Golette — o carmin da França, e vá lá, estás mesmo tu, Anatole— Homem de todas as idad es. Está Eamon Gomez de Ia Serna, palhaço, saltimbanco , cujos dedos são acro-bat as na b arr a da sua pena, estou E U— affixador de cartazes na s paredesda Hora!

A MULTIDÃO

Doidos varridos, doidos varridos...

EU

Do outro lado estão eles — ninguém a cubiçar a Terra de ninguém— embalsam ados, balsemões, reta r-datarios, tatibitates, monoculos, lu-

netas, lorgnons, cegos em te rr a dere is . Es tá Paulo B ourget — medico de aldeia com consultó rio de psicologia em Pa ri s ; Richepin, pauv re pin,sem folhas, mil folhas, nenhumas.Gyp, Gypesinha, japona; Delille,Greville, Ardei. . „ ií . elle . o velho tem a; Mareei Prev ost — buracoda fechadura de todos os "boud oirs";

Lavedan — "charmeur" profissionala tantos por volume; Geraldy — papel de ca rta das alm as, das almi-nhas ; Croisset, Croissant, pão de 16;Gapus, capindó, gabão de Aveiro...Estás tu Jacinto Benavente, ali aopé de Salvaterra de Magos; LinaresKivas — amanuense do teatr o hespa-nh ol; Hoyos que não é de hoy quantomais de Hoy os. E stá o Dantas,

coiffeur das almas medíocres — e oCarlos Reis, rainh a, foi ao m ar buscar sar din ha . E stá o Lopes deMendonça — barrete Phrygio ás trêspancadas, matrona que já foi patrono dos cavadores da Resurreição, está o Costa Mota que além de Costaé M ota. E stá s mesmo tu, leitor,orgulhoso da tua mediocridade, rindo, ás escancaras, sobre esta folha depapel que irás ler á família, á sobremesa, na atmosfera — menina Alice— dos quadro s a m issanga e dos sorrisos pirogravados das manas, tias ep r i m a s . . .

A MULTIDÃOInsolente! Insolente! Vamos ba

ter-lhe .EU

Morram, morram vocês, óetcetera s da V ida!. .. V iva eu , vivaEU, viva a Hora que passa. . .Nós somos a Hora oficial doUniverso: meio dia em pontocom o sol a prumo!

E U

Antônio Ferro

I Í I a \ o ii

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3V o y a g e sC

'est une chose dont je suis mainte-nant convaincu: quand on a lule Baedecker il est inutile de leréaliser. On n'en retire que desdésagréments.

Ces longues chenilles noiresbrésiliennes digèrente mal les küomètres.

Ohaque gare est un gros morceau qui

s'accroche à Ia gorge et 1'irrite. U N PEUD^EAU; ÇA FAIT AVALEE.

Le supplice d'entend re les voyageursraconter des anecdotes.

Ge monsieur distingue et provincial ademande un li t inféfieur parce qu 'il lecroyait meilleur marche. Mais les contrai-res s'attirênt et c'en est le cas.

Appollinaire conte d'un vieux juif quiprésageait Ia mort prochaine des passants,parce que 1'ombre se retire du corps qui Iaprojette un móis avant sa mort.- J e ne voisplus 1'ombre de mon wagon.

Est-ce un desastre dans 30 minutes?Non, elle est ou fond de 1'abime.

On découvre parfois au tournant de Iavoie un village aux pieds d'une église.

O France des paysages inédits!Ce vi l lage t iendrai t dans ma main. . .

Mais le clocher me piq uer ait Ia paumecomme une épine de nostalgie. . . Je n'enveux pas.

L'éloquence facile des forêts impénétra-bles disparait .

Immenses sapinières. Bois de Boulogneem primitif.

IN ÉV ITA BLES SO U V EN IES D E

P R O P E I É T Ê P R T V É E . . .Le télégraphiste qui est poete me ra-

conte sa vie. Honnête. Insignifiante.Quelconques aussi les jeunes filies na-

turelles qui font Ia grande place.COESO DES BOULEVABDS.I l y a i ci u ne Ford qui ne marche qu'en

«première».Son propriétaire l 'a «ouvent faite répa-

rer. On croit qu'il va faire faillite.Mais mon hotel est le plus beau de

1'Univers carTOUS MES BÊVES TIENNENT

DANS UNE SEULE CHAMBBE!Serge MILLIET.

e

B o n h e u r l y r i q u eoeur de Phtisique,O mon coeur lyriqueton bonheur ne peut pas être comme celui des autres.II faut que tu te fabriquesun bonheur unique,— un bonheur qui soit comme le piteux lustucru en chif-

(fons d'une enfant pauvre,fait par elle même...

MANUEL BANDEIRA.

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p

4I n t e r i o r

n

oeta dos trópicos, tua sala de jantaré s imples e modesta como um tranquillo pomar;no aquário transparente, cheio de água limosa,nadam peixes vermelhos, dourados e cor de rosa,Entra pelas verdes venezianas uma poeira luminosa,uma poeira de sol , tremula e s i lenciosa,uma poeira de luz que augmenta a solidão.. .

Abre a tua janela de par em par! Lá fora, sob o céu do(verão,todas as arvores estão cantando. . . Cada folhaé uma cigarra, cada folha é um pássaro, cada folhaé um som.. . O ar das chácaras cheira a capim mellado,a ervas pisadas, a baunilha, a matto quente e abafado.. .

Poeta dos tróp icos ,dá-me no teu copo de vidro colorido um gole d'agua.(Como é linda a paizagem no cristal de um copo d'agua!)

RONALD DE CARVALHO.

O s d i s c ó b o l o sa poeira olympica do circo,sob o sol violento, e l les lançavam o disco

que ia alto e vibrava longecomo um sol de bronze .O s s e u s g e s t o seram certose os seus pés t inham força sobre a areia movei.E o pequeno sol rápido de c*obrefug ia dos seus braços te sose lus trosos de ó leos ,como a f lecha do arco forte.

k l a x o n

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5

1

Todos os o lhos

seguiam-n'o na trajectoria ephemera e aéreae f icavam accesosdo fogo metall ico do pequeno sói .E nem viam o outro sol - o verdadeiro - porque elle eraInattingivel e parecia menor.

GUILHERME DE ALMEIDA.

L A R B R Ee me souviens d'un arbre de mon enfanceQue j'ai plante, étant petit;II a poussé, poUssé en confiance,Et puis un jour il a fleuri.

Le mur de Ia maison de mon grand-père

Le préservaitDu vent mauvaisEt le gardait à Ia lumière.

Lors, devant sa première fleur j*ai fait des rêves,Des rêves ou je mangeais des fruits ,De bonnes pêchesA Ia peau fraicheAu jus sucré, à Ia chair blonde et dans laquelfeUn noyau aurait misSon goüt d'amande amère et sa couleur vermeille.

Je dus aller en viUe et quand je m*en revins,Tout avait disparu de mon ancien jardimUn blé encore en herbe et léger sous Ia briseLentement s*efforçait à grandir pour les hommes.

HENRI MUGNIER

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oN E N I A111

u amor é um beduino nômadenum deserto sem l imitese adora a som bra qu e se m ove em su a frente,

na areia ruiva,longa como uma lança...

Elle corre atrás da sombracomo nós corremos a trás do nosso dest ino.

(A voz da mulher que cantava tinha a cadênciade uma n e n ia ) .O sol arde nas suas cos ta se elle vae rum o do n asc en te.A som bra nã o pára po rque elle não pára nuncae elle ama os gestos allucinados da sombra fugitiva...Não ha mais ninguém no deserto. Só ellee o silencio. O silencio está cheio, tão cheioque elle tem medo das coisas que o silencio occulta,porque ha muitas coisas occultas no silencio.. .

(Na sombra a mulher parecia uma sombra.)

O beduino não pára. Parece que a sombra o chama.Elle corre e ella foge... Elle a tem ao alcance das magras

(mãos convulsase não attinge nunca. O sol baixa no occidentee a sombra se faz mais longa e mysteriosacomo se quizesse abarcar o deserto . . .

(A voz da can tora tinha tonalida des d e crepúsculo.)E quanto mais a sombra engrandecemais se torna esfumada e intangivel...E o beduino sen te cresc er seu amor impossível IElle tem os pés em sangue e a garganta abrasadade sed e e de ânsia e os olhos verm elhos d e febree o corpo desfallecido.E corre. . . e corre . . . E cre sce o silencio

klaxo n

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7e com elle o m ysterio. O sol, no p oente, agoniza.A sombra é tão grande! Elle vae agarrai-a!

Cáe de borco... E* já noite. A sombra se som enoutra mais densa e sem limites!(A voz da cantora agoniza.)

Só fica o silencio. E, na areia, invisível,o corpo do beduino, de bruços, com os braços abertoscomo uma cruz caida...

(de "O Homem e a Morte")

MENOTTI DEL PICCHIA.

ORDEM E PROGRESSOA Tristão de Athayde.

As pessoas cuja opinião não tem importância são em geral pessoas que d izem: «Nãoconcorda».

Que fazer, si é inútil explicar certascoisas?

Ainda são mais pittorescas as que dizem: «Não concordo» e não contentes comisso escrevem nos jornaes, escrevem criticasde apparencia inteiramente respeitável,com um desdém fraternal por tudo aquilloque não comprehendem.

EIBEIBO COUTO.

C h r o m c a sGUIOMAR

NOVAESn

(A Vi r tuose)

snha . Ouiom ar Novaes não é per-

afei ta como técnica. Al iás , acredi toque a perfeição não seja destem u n d o . . . A lé m d i ss o : F r ie d m a n n ,por exemplo, du ma hab i l idade técnica fenominal , como intérprete erainferior: Deslumbrou oa tolos dos

paul is tas por atacar um es tudo de Chopin numavelocidade Je 300 qui lômetros por hora. Não repara m que essa correr ia não só c ontrar ia va oanda men to r e l a t ivo ao pa th os do t r echo , comohão permit t ia ao executor a real ização dinâmicane ce s sá r i a . . . Mui to b r i lho , exac t idâo de m á

qu ina ; pouca vibrat i l idade, ás vezes mesmo fal tade compreensão . F r i edmann gos tava do ap lausopúbl i co , e cons tan temente malabar i s t ava .

Admiro oa malabar i s t as . Mas o malabar i s t ade ci rc o: ági l , belo de formas . Ne s te ha um acoragem convencida, proveniente da consciênciada força. Num sal to de t rapés io, a 12 metros daal tura, vejo o sorr iso i rônico dum ser que pensa.O malabar i s t a é a t r aen te , não porquê se r i a da

monte, mas porquê sabe o que pode fazer e temconf iança nos seus músculos . Nunca ul t rapassaas poss ibi l idades de seus membros . Jamais prejudica a beleza dum sal to pela vaidade de i ralem dos outros- Fr iedmann, lançando seus dedos numa rapidez de luz, não é um corajoso: éum temerár io , um sen t imenta l que abandona aintel igência e a cr i t ica, esquece-se da vida daobra, para sat is fazer uma vaidade, f iuim vaid a d e .

A snha . Novaes não possu i es sa hab i l idade : émuito mais musical porém. B é poss ível queessa menor habi l idade tenha inf luído na sua ar t e ; pois creio ver na pianis ta (mais uma cara-

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§cter ísca românt ica) uma predi leção pelo efei to .A prova es tá em cer t as peças , que lhe vão marav i lhosamente para os dedos , e que r epe te In

cansave lmente em seus concer tos . Não l embrarei o Hino Nacional porque tenho cer teza queesse fogo de artif ício de festa do Divino repu-gna á consciência ar t ís t ica da grande vir tuose. B 'a es tupidez patr iót ica de par te do seu audi tór ioque a obr iga a repet i r ainda e cada vez pior( jus t i f ico calorosamente essa decadência) a fa

migerada p i ro tecn la .Quando porém disse que a snha. Novaes não

tem técnica perfei ta , não quis de modo algumadia n tar que es t a fosse Insuf ic i en te. Oh , n ão !Fal ta- lhe força, fal ta- lhe mui tas vezes ni t idez. . .Em compensação que e las t i c idade , que f i rmeza ,que qua l idad e de som ! Não terá o perolado le

Viana da Morta, nem o planíss imo de Ris ler ;mas que peda l i zaçâo exac ta , que can tan te !Mas a técnica é coisa de pouco interesse sob

o ponto de vis ta cr í t ico. Ter ou não ter técnicaé ques tão de t rabalho, ques tão de professor edotes f ís icos pessoais . Tudo o que faz lembrarcozinha do of ício contrar ia a comoção do ouvinte . A técnica é um melo que impor ta ao execu-tante adquir i r , mas indiferente para o espectador-

A snha. Novaes possui uma técnica mais quesuf iciente. Si não tem o for te relat ivo necessár io para os largos ambientes , consegue todavia assenções dinâmicas impress ionantes e é ext r aord inár i a nas no tas ásperas ( l .o t empo, op .35 , Chopin) . S i nas pas sagens exces s ivamente

harmonizadas é por vezes confusa, consegue como ninguém as sextas da Barcarola, as oi tavasda Jongleuse .

Ver i f icada pois a abas tança técnica da i lust r e p ian i s t a , cons idero-a imed ia tam ente comoin térpre te .

Como tal 2 aspectos especiais apresenta: at ransborda em excessos sent imentais Nãotransborda em excessos , sent imentais . Nãoaponto defei tos . V er if ico tendê ncias . Um a tendência pode não ser actual , i sso não impl ica serdefei tuosa.

A snha. Novaes ou é duma fantas ia adorávelou duma sens ibi l idade sem pelas . O qüe não lhe

vai bem para o temperamento é a discreção comovida mas serena dos clássicos e o impresslo-nismo intelectual dos modernis tas . (E para oBras i l Debussy ainda é um modernis ta , helas! )Nestes como naqueles , não encontrando campolargo para sua sens ibi l idade exal tada, encara-oscomo s i fosse cada qual um outro Liszt de rapsódias em que tudo es tá em procurar o efei to .E ' engano . Inegável : in t e rpre ta p r imorosamente certos* t rechos de Bach ou a "Soirée dan sgrenade"- Mas es tas obras não saem vividas dosseus dedos . São pretextos para efei to e não padrões em que se l imite uma sens ibi l idade con-

dus ida por uma al t íss ima sabedor ia. A I ronia de" M i n s T el s" e n t ã o p a s s o u -l h e d e s p e r c e b i d a . . .E a snha. Novaes que tanto se sens ibi l izara com

a caçoada fei ta a Chopin no pr imeiro Sarau daSem ana de Arte Mo derna não deve r ia incluirnum dos seus programas a car icatura, fMta porDebUssy, desses ingênuos menes treis medievais ,cujo cantar t rovadoresco é o pr imeiro vagido dámús ica s ens íve l .

Os românt icos legí t imos , nascidos no decênioque va i de 1803 a 1813 , apresen tam duas t endênc ias que s e to rnaram as carac te r i t t i cas In confundíveis do grupo: a fantas ia exal tada e asens ibi l idade sem controle Intelectual . Será poiso maior intérprete desses mestres quem milhor-mente carac te r i zar - lhes es sas duas t endências .A snha. Novaes tendo, num máximo impress io

nante, esse poder é , a meu ver , de todos os pian i s t as que ouv i , a mi lhor in té rpre te do romant ismo musical .

Chopin, Schumann e Liszt eis o campo emque é excelsa.

O própr io Liszt , cujo valor m usical é pequeno,consegue ser ouvido com agrado quando ela oexecuta. B ' que a vi r tuose percebeu a Inexis tência ás vezes total de sent im ento no qualquer is -mo sonoro do aba de, m as comp reendeu- lhe aimensa fantas ia . Só mesmo a snha. Novaes ai r i -da tem direi to de executar essas gas tas rapsódia onde uma falsa saudade se espevi ta mascarad a (é ler o que diz Ba r tok sob re os tem as nacionais hún garo s correctos e aum entad os porLiszt ) entre his ter ismos de cadências f laut ís t i -cas , t r inados , t i ros insul tantes no grave e outrascoisas de inda menor val ia . A 10.a Rapsódia érojão que só tem direi to de exis t i r quando acélebre vi r tuose se incumbe de lhe real izar osgl issandos . Mas onde a fantas ia da intérpretepermite- lhe uma legí t ima e total cr iação é naDansa dos Duendes . Eu vi os el fos saí rem emgi rándolas esverd inh adas do negro S te tnway-Formaram em to rno da p ian i s t a uma ronda ver t iginosa em que poisou, fur t ivo, um rálò delu a r . . . Sempre dese ja ra conhecer es ses e lfospequenino s . . . Acon se lharam-m e a l e i tu ra deLeoonte . . . Sa í da l i ção como Jacobus Tourne-

broche da exper iência do Senhor D'Astarac, contada por Anatol io Fr an co : Incrédulo como f in-t rara. Um dia, ao ler shakespeare, sent i ra duend e s em r e d or d e m i m . . . M a s qu a n d o a s n h a . N o vaes executou o trecho de Liszt eu vi os enteai*nhos t rans lúcidos . A i lus t re pianis ta , pelo poderde sua fantasia, criara o inexistente, Devo-tyHÁesta comoção l inda de minha vida.

No "Carnava l " r eunem-se em Igua l po tênc iaa fantas ia e a sens ibi l idade. Considero esse monumento o t r echo mais descabe la4amente ro mâ nt ico da mú sica. Infel izm ente nã o m e foi poss ível ass is t i r ao recente concer to em que a anha.

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9Novaes tornou a executar a op. 9 . B, dada avar iação con s tante de suas interpre taçõe s (out ra carac te r í s t i ca rom ânt ica ) , causou-me verda-

léi ra dor essa pr ivação. Mas me é inesquecíveli e x e c u ç ã o a n t e r i o r d o " C a r n a v a l " . . . A s n h a .Novais par t ia para os Es tados Unidos . Concerto de despe dida. Eu es tav a no gal inheiro.Suava, ensa rdinha do num a compan sar ia boquiaber t a , e t e rna e incondic iona lmente en tus iasma-la an te qua lquer in te rpre tação , boa ou má, quesaísse das mãos da grande ar t is ta . Sensação demal-es tar e desprêso- Mas Guiomar sacudira osr i tmos iniciais da peça com uma energia, umaconvicção, uma verdade t n e x c e d í v e i s . . . O q u er i ! O que ouvi! A vir tuose, sob o ponto de vis ta escolar , dáva-nos a interpretação mais fal sa, mais exagerada poss ível . Que rubatos f renéticos ! Que p laníss imo s esp am ôdico s! Que ^dina-mismos f raseológicos es t ranhos! Mas foi s implesmente subl ime. Acredi to que duas vezes nãotere icom essa peça a mesma comoção. Eu depos i to na glór ia da snha. Novaes a lágr ima quenessa noi te chorei . E ' o presente dum homemque não t em pe la in té rpre te nem s impat i a , nemant ip at ia . Um homem insens ível á glór ia que aacom panha . Um homem i sen to de pa t r io tadasque não se orgulha da snha. Novaes ser bras i lei ra porquê cons idera os gran des ar t is ta s , quercr iadores , quer intérpretes , seres de que nto impor ta conhecer a nacional idade, mas aos quaistodos nos humanos , devemos ser reconhecidos .Na minha l ágr ima va i a homenagem dum ser ,

não sem preconcei tos (é coisa ext ra-h um ana )ma s o ma is l ivre poss ível de prejuízos sent i m e n t a i s .

Rea l i zara po i s o "C arn av a l " o mai s rom ânt ica -m e n t e q u e é d a d o i m a g i n a r - s e . . . H a v e r á n i s so um erro? Não. E ' cos tume de cr i t icalhos repet i r o seg uinte lugar-com um , com ma is def i ciência de es t i lo porém: "O snr . Tal interpretouChopin sem os exageros a que nos acos tumaramcer tos pianis tas de impor tação. A sua execuçãos ó b ri a d e u - n o s o v e r d ad e i ro C h o p i n . . . e t c . "Que es tupidez! Qual o verdadeiro Chopin? SI éo que a t radição nos conservou dum homem queem Viena fo i ape l idado "p ian i s t a de mulheres " ,

que t inha ter rores e alucinações junto da mat e r n a a m a n t e e m M a i o r c a , q u e m o r r e u t í s i c o . . .Dum homem que espan tou , pe la sua l iberdadein te rpre ta t iva , ao p rópr io Ber l ioz . . . Qual o ver dadeiro Sçnumann? Si o que a t radição nos conta como um ser fantás t ico, vár io, des igual , ar rebatando a mão por exagero de es tudo, escrevendo peças noc turnas porque sen te , de longe ,que um ser quer ido lhe mo rre, Carn avai3 eRreis ler iauas por excessos de entus iasmo e deódio e acaba louco . . . Po i s a l eg í t ima compreensão des ses homens es t a rá em corrigi-los e t r ans por ta- los para a serenidade cláss ica que não t i veram a energia a serenidade cláss ica que nlo t i -

t 0 es tá a exact idão das interpretações da snha.Novaes- Dá-nos Schumann, Chopin, não encurr a lados numa cer t a fô rma in te rpre ta t iva , nemmesm o como exis t i ram no espaço e no tem p o . . . Vai mai s a l em: Dá-nos o "an imal" Schumann o "an imal" Chopin como te r i am ex i s t ido(real idades ideais ) s i não houvessem essas famosas ci rcumstáneias que Taine fez a tol ice dedescobr i r , e mais preconcei tos de métr icas mus icais e rés-maiores .

E a r espe i to de Chopin . . . Out ro lugar comum engraçadíss imo dos cr í t icos cons is te emdizer , a cada novo pianis ta que pisa es tas abençoadas e ignaras plagas de Paul ioéa, que esse éo ins igne intérprete de Chopin. Nada mais er rado. Rubins tein, a não ser na valsa pós tuma,num a ou noutra mazu rca, assass ina va o pola

co . Talvez ques tão de ód io de r a ç a . . . R i s l er?Ruinzinho , bem ruinzinho mesm o. Ainda melembro com arrepios da execução do nocturnoe m f á s u s t e n i d o . . . F r i e d m a n n c o m p r ee n d iaChopin como uma cadência de concer to, em quetudo consisitia em bri lha r. . . Só me satisfizeraimno românt ico : Paderewski , a enra . Car re ras e asnha . Novaes .

E es ta mais que nenhu m outro. Porq uê?Chopin, sabemos, t rabalhava como um La Fon-taine, um Da Vinci , um Beethowen da úl t imafase. Sempre incontentado e incansável no cor-g i r. No en ta n t o : nada mais desnor tean te que oes t i lo de Chopin. Bala das como Berceuse ouBarcarola, nocturnos como sonatas , prelúdios co

mo es tudos apresen tam um carac te r de in te i r aimprovisação, em que, no entanto, o mestre deixou qualquer coisa de seu, inconfundível , mesmo sob o ponto de vis ta da cons trucçâo. A forma de Chopin é inat ingível . Imitam-se- lhe certos processos técnicos, o arpejado, os melismas.- .Toda gente pode ser l ivre no desenvolcimentocon struc tivo du m prelúdio, como Chopin o foi. . .Mas ninguém consegue imita- lo , tal o cunho depersonal idade que imprimiu ás formas musicaisde que se apossou. A snha. Novaes é jus tamentenotável no autor da Berceuse porquê crea Chopin. Ela é Chopin. Suas interpretações , acredi toque cu idadosamente p reparadas , as sumem um ta lcarac ter de inspiração , de impulsâo l í r ica, delaisser«al ler , que se tem a impressão duma obranova, formidável . Como que improvisa Chopin.E o faz como nenhum outro intérprete que tenhapassado por nos . Ora, na música imita t iva (empregado o termo no sent ido ar is totél ico) essaimprovisação é, não só necessár ia , mas imprescindível para que a obra de ar te correspondaps ico log icamente ao que p re tende r epresen tar .D'aí assum irem as interp retaçõ es de Chopinpela snha. Novaes essa força de realidade, essaveemência comotiva poucas vezes por outremat ingida. E é tão integral a sua compreensãodo mestre que, sendo geralmente rebuscadora

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10de efei tos par t iculares ( indo ás vezes mesmo amudar a música escr i ta , a longando notas , cont r a r i ando in te rpre tações de te rminadas pe lo au

tor) a snha. Novaes desdenha, ao executar Chopin, par t icu lar idad es e efei tos qu e boq uiab ramseus adoradores , para a t acar d i r ec tamente a r eal ização de conjuncto desses recon tos mu sicaisque o doloroso músico deixou. Por isso escreviat rás que "a snha. Novaes crea Chopin"

E termino. Sigo com admiração e cur ios idadea carrei ra da grande ar t is ta- A' medida que suasforças se concentram ela se torna inais profunda e mais pessoal . Var ia e cresce de concer to para concer to. Talvez seja mesmo uma cer ta âns iade fazer milhor que a leve a repet i r e repet i r asmesmas peças . E ' um er ro . A snha . Novaes , mes mo no cí rculo de seus autores prefer idos , podia,dev ia var i a r mai s s eus p rogramas .

E na l inda evolução que segue acendra cadavez mais as propensões românt icas que aponte i. In fe li zmente para a op in ião K la x i s t a . . .Mas é verdade que por elas se tornou a Intérprete genial de iSchumann e de Chopin.

M A R I O D B A N D R A D E .

O HOMENZINHOQUE NÃO PENSOU

ELA rev i s t a "O Mundo L i t e rá r io" um

Panônimo da r edacção desesperada-mente car ioqu iza para p rovar queKLAXON é pas sad le ta .

Leu e não comp reendeu; nãopensou e escreveu.

P r o v a s : " M a u g r a d o o s s e u s a r e sde modern i smo ex t r emo KLAXON mos t r a - se emmatér i a de a r t e f r ancamente conservadora , r eac-c ionar i a mesmo" .

Escrevêramos : "KLAXON não se p reoocuparáde ser novo, mas de ser actual . Essa é a grandele i da nov idade . Terá t ambém o desp lan te de negar ac tua l idade a KLAXON o homenzinho que 'não pensou?

Ainda: "A apresen tação é uma repe t i ção syn-thefcica do manifesto futurista de Marinettl , cou-sa que já vem creando bolor , ha não menos deq u i n z e a n n o s . . . " E ' m e n t i r a . O a n ô n i m o e s t á n aobr igação de publ icar na sua revis ta o manifes tode 1909 e a nossa apresentação. Provará ass im oseu asserto. Si o não fizer, afirmo que é covarde , poi s não concede a KLAXON as a rmas quereclama para se defender .

Dos 11 parágrafos que formam o manifes to futur is ta , não acei tamos na total idade s lnão o 5.0e o 6.o. KLAXON não canta " l 'amor dei per i -colo" porque cons idera a temer idade um sent l -me ntal ismo . Não cons idera "11 coraggio, l 'aud a-

da, Ia rebel l ione" elementos essenciais da poes ia . Não ach a qu e at é hoje a l i tera tura "esal tó1 ' immobil i tá pensosa, 1'estasi e 11 so nn o" , porqu e a própr ia dor como eleme nto es tét ico não énada d i s so .

KLAXON admira a beleza t rans i tór ia tal comofoi real izada em todas as épocas e em todos ospaíse s , e sabe que nã o é so "nel la l ot ta " que e-x i s t e be leza .

Em formidável maior ia os escr iptores de KLAXON são esp ir i tua l is tas . Eu sou catól ico. Poder íamos pois acei tar o 8.o parágrafo do manifes tofu tur i s t a?

Pe lo 9.o glo rificar- se-h a, além do patriotismo,o mi l i t a r i smo e a guer ra . Não o f a r í amos .

No lO.o manda Mar ine t t i que s e des t ruam museus e bibl iotecas . Con sideram os ape nas a re-cons trucção de obras que o tempo des t roe "uma

enronia sen t im en tal" . Resp ei tam os o passadosem o qua l KLAXO N hão ser i a KLAXON.Além dos temas indicados (é subentendidos)

no der rade i ro ma ndam ento fu tu r i s t a vemos muitos outros . Não despresamos a mulher e cantamos o amor . E Gui lherme de Almeida, de maneira nova, num es t i lo afeiçoado ao assumto reviveua Grécia, num momento de inspiração tão l indocomo jam ais nen hum dos anônim os do MundoLi te rá r io pos su i r á .

B saiba o pagão que não é preciso ser futurist a para s e r pa t r io ta .

B saiba ma is qu e adm iram os Veneza pelo quefoi, e que resta de passado, pois, além "dos cic<~

rones loquazes , da água suja e dos mosqui tos a-gui lhoantes" ha lá um palácio Vendramini , ha láquadros de Ticiano e Tintoret to e outras manifes tações de gênios imortaes .

B se em outras coisas acei tamos o manifes tofutur is ta , nã o é pa ra segui- lo , m as por compreender o espir i to de modernidade universal .

Quando ia pelo meio das nevoas , começou ahes i tar o homenzinho que não pensou. Do t remorproveio ver na ext i rpação da s glând ulas lacr i-maes r eminkencia do "ve lho R lchep in" e no es t i lo do "grav e ar t igo de fundo Sn r . M. de A."sem elha nça s com a dicção de cer ta personagemde Dickens .

O anônimo será outra vez covarde s i não ci tarna sua revis ta o conhecidiss imo t recho de Riche-pln (que naturalmente os lei tores do Mundo Literár io desconhecerão) e a f rase de KLAXON.Ma s não ci t ar capc iosam ente como lhe ordenar iam as tendências naturaes , mas com s icer idadee no bre za: n a in tegr a. V er iam os lei tores dagrande ( cen to e t an tas pag inas ) r ev i s t a como a-provel tamos "a boutade sobre as glândulas la-c r i m a e s " .

Qua nto ao meu es t i lo : per t ence-me. P rova?Diz Colombo : "a r t ig o de fundo do Snr . M. deA." Ora nos poucos exemplares que ainda res tamde KLAXON n.o I , procurei m i n h a a s s i n a t u r a

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1 1nesse ar t igo. Só encontrei o seguinte e modes toaviso: A Redacção. Mas o es t i lo de M. de A. da"P iano la t r i a" ê "Luzes e Ref racções" poude serident i f icado pela adversár io com o ar t igo de fundo . Mas o tão anônimo quanto falso ar t icul is taconhece o Ivan Gol l do manifes to Zemith? Conhece Cocteau de "Le Coq et 1'Arlequin"? Sat ie dos"Cahier s d 'un M amifere"? e ou t ro s t an to s " su j e i tos de impor tânc ia em v i r tude e l e t r as " modernas? Se os conhecera ver ia em meu es t i louma adaptação l i terár ia da rapidez vi tal contemporânea . Po i s s a iba que p lag io mani fes tamenteo telégrafo o telephonio, o jornal , o cinema e oaeroplano.

B na verdade o homenzinho que não pensou éde uma f ineza única em julga r es t i los . No snr .Baudouin vê Samain . Em Samain vê Musse t e

( ! ! ! ) Tibul lo . Como técnica saiba o sem-bat is -mo que Car los Baudouin é cons tructor de métr icaprópr ia m ui to cur iosa. Sam ain u niu ás vezesme tros conhecidos , i sso m esmo com muito menos coragem e valor que La Fon taine . B precisoque o nob re ar t icu l is ta de hoje em dia nte nãoconfunda suavidade com penumbrismo. B s i conhecera cer tos f rancezes contemporâneos , Duha-mel , Rom alns e espec ialme nte Vi ldrae (encont rei edições num erad as de Vi ldrae e Rom alns jogadas por Inúteis em baixo de uma meza em l i v rar i a car ioca! ) , a e l l es I rmanar ia com mais e lo qüência e talvez me nos f ineza cr i t ica o nossocolaborador Car los Baudouin. No desenho de Bre-cheret o catecum eno vê inf luencia fendeia! B '

enorme! , A Fen ic ia não t eve p ro pr iamen te umaar te . Copiou assírios, egípcios e gregos. Quandonão imitava ainda esculpia as pí f ias f igur inhasdo museu Cagl iar i . Talvez também tenha qual i f icado de fenicio o desenho para dar milhor quilate á I ronia. Infel izm ente sai - lhe def iciente aclareza da graça e o espir i to assem elhou-se áignorância. B saiba a inda o f ino descobr idor dees t i los que os verdadeiros esculptores modernis tas , quando nã o a fas tados to ta lm ente da na tu r eza imi tam reso lu tam ente os p r imi t ivos paraneles enc ontra r a resolução dos proble ma s queora ag i t am o t r aba lho do vo lume. Ass im Bour -delle (francês) assim Milles (sueco) assim Des-• tovich ( tcheco) ass im Durr io (espanhol) .

E t e rmina o agora ba t i zado homenzinho quenão pensou: "KLAXON" represen ta exac tamen-te aqul l lo que tanto horror iza os seus talentososcreadores : um "pas sad i sm o" . Ao con t r a r io doque as severava o s enhor M. de A. , KLAXON nãoé k l a x i s t a : é c l a s s i c i t a . . . " L i n d o t r o c a d i l h o ! Bo ar t icul is ta tomou o «uidado de despargir pelaverr ina algumas doçuras de elogio. Infel izmentea minha s incer idade não me permi te r e t r ibu i - l aspelo ar t ig o. Vejo no néo- cr is tão u m hom em despei tado, invejoso, Ins incero e ruim. Quando multo reconhecerei no argu to quã o erud i to cr i ticosclencia bas tante para descobr i r Inf luencias nor

t e -am er icana s nas g ravuras de Utam aro ou deS h u n t a i .

Quanto a 0 nosso "passadismo" é cotejar a a-presentação de KLAXON com a apresentação doMundo Li terár io: "A toi -qui que tu sois" com osoneto "Sabiás" , ~As visões de Cr í ton" com o"Vendedor de Pás saros" , "Sobre a Saudade" com"Appar ição" , "P iano la t r i a" com "Mus ica" , "Lestendences actuel les de Ia peinture" com "A propós i to de um a gra vu ra" ( inédi tos mau s de bonse s c r i t o r e s j á m o r t o s ) . . .

E KLAXON inicia a cr i t ica de ar te per iódicado Cinema. O Mun do Li terár io desconhece "OGAROTO" em que Car l i to a l cança uma a l tu ra aq u e s ó o s g r a n d e s a l c a n ç a r a m . . .

Es t e é o pas sad i smo de KLA XON : co i sasboas ou más que ainda não per turbaram a so-

nolencia " leda e cega" do Bras i l .Es te ar t ig o es tá ma is longo que a "Ras te i raem Trevas" , f i lm i t a l i ano por Za- la -Mor t . . . E 'que nele vai a resposta a todos aqueles que pelojornal ou no segredo nem sempre hones to das o-r e lhas amigas v ivem a en toar con t r a nos madr i -gaes , s i rvantes e sát i ras de mal-dizer . Si não: fôra dar demasiada impor tância ás invejas act ivasdum homenzinho que não pensou.

MARIO DB ANDRADE

PENUMBRISMO"Mas do que ereis , e do quesois, passemos ao que Unheis ,e ao que t endes . "

P . VIEIRA, SERMÕES"E as s igna las com chammas

o c a m i n h o . "B . DA GAMA, URUQUAY

OM a gomm a do sarcas mo , alguém no

C

Rio ro tu lou de "penumbr i smo" astendências novas de nossa l i teratura.O rotulo soffre o mal de todos os rótulos e o defei to maior de abrangera quem não deve .

Ha, ev iden temente , en t r e nós , u -ma l i teratu ra de penu mb ra, garoen ta, chorona,que ref lecte, com tardio remate, a poes ia decaden te, o symíbolismo de Ve rlaine , Po eta s r icosde vida, r icos de inspiração, r icos de talento, torcem a natu ral ida de, forçam -n'a , para e ncolherem-se jururús , dentro do roupão regional e pessoa l dos poe tas de França .

Quem conhece a nossa his tor ia l i terár ia , sabeque, em su as diversas épocas , houv e sem preuma mania, uma repet ição de imagens , um idealc o m m u m . . . O s p o e m a s d e B a s il io d a G a m a e

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12Durão buscaram uma poes ia nova, na n a t u r e z aa m b i e n t e da pát r i a . E isso fez moda. Depois , osp o e t a s da escola mineira f icaram presos ás con

venções arcadicas . Nise, as pas tor inhas , v inhamem scena, nas r i m a s dos poetais de) en tão . Gonçalves Dias botou fogo nas imaginações , can tand o os indios no l ir ismo dos " T y m b i r a s " e "Y-Juca-P i r ama" . Cas t ro Alves a l çou o vôo condo-rei ro e o " in f in i to" foi o delirio de sua geração .E, d 'outro lado, Byron e L a m a r t i n e v i n h a m comAlvares de Azevedo e Fagundes Vare l l a choraro infor túnio da vida e os casos l as t imávei s da" m u l h e r f a t a l " . O parnaz ian i smo, no verso aca-badinho cantou com Raymundo Cor rêa e Bilac,— os deuses do Olympo, f açanhas da velhaGréc ia .

M a s é diverso o caso dos p e n u m b r í s t a s .

São perfe i tame nte jus t i f icáveisos

pr imeirosm o v i m e n t o s de nossa l i t t e r a tu ra . E'-o t a m b é m ,a inf luencia arcadica em Gonzaga que al iazsoube muito bem sen t i r sua p á t r i a . A pleiadecondoreira, os can tores da t e r r a , os inf luenciados pelo romant ismo europeu podiam ser perfeit amente s inceros e serem as s im grandes poe tas .

O mal originou-se com o parnaz ian i smo pos tiço, com o hellenismo falsif icado e desandou ,l amecha , em a j uven tude penumbr i s t a . Mas par a os p a r n a z i a n o s / h a v i a uma j us t i f i ca t iva : — oobject ivismo poét ico, a intenção mais descr ipt i -va que sen t imenta l .

E para os jovens poetas patr ícios enve nena dos de "morbus" ver l ameano? Qual a jus t i f ica

t iva? Ignoro .O que caracter ísou a pleiade decadente emF r a n ç a foi uma reacçâo for t íss ima, dentro deum sub jec t iv i sm 0 intenso, contra a ar t e impos ta .A obscur idade de Laforgue era a expansão s incera de sua i nd iv idua l idade ; a obscur idade deVerlaine era o alivio de sua a lma to r tu radaQuem os lê, como quem lê Villiers de 1'Isle Adamou Saint-Pol-Roux- le Magnif ique, sente uma intens idade individual , ref lect indo, por sua vez, aalma f rancesa, que assim se t o r n a :

"P lus vague et plus soluble dans 1'alr"Cra , nada mais despropos i t ado do que nós,

brasileiros, tão longe pelos mares , tão diversospela civi l isação, repet i rmos sensações e c a n t a r o -

l ices surgidas num período de reacçâo l i terár ia .Teodor Wizewa, jus t i f icando a razão porqueTols toi não compreendia os decaden tes , d iz i a : —" E u não conheço nada mais r idículo que a admiração dos jovens es thetas Ingleses ou alle-m ã e s por tal poeta francês, Verlaine, por exemplo, ou Tsle Adam."

O eymbol ismo revigorou a Arte , que parec iacah i r num a impass ibi l idade de mor te . Hered iafez da poesia uma sciencia; do sen t imento r ac io cínio. Verlaine reagiu. A's poes ias dedi lhadas de"Les Trophées", oPPÔz ás suas , a t i r ando a s incer idade contra o ar t i f icio . François Copée disse:

— "El le creou uma poes ia bem sua, uma poesiade insp i r ação a 0 mesmo tempo ingênua e sub tü ,toda de nuançae , evocadora das mais del icadas

v ibrações dos nervos , dos mais fugitivos ecos doc o r a ç ã o " .

M a s , os novos do Bras i l esqueceram es se car a c t e r p r e p o n d e r a n t e do poeta infel iz . Tomaramde Ver laine a pa r te pessoal , ul t r a exclus ivista ,as suas visões cheias de tédio, cheias de dôr, com o a sua vida angus t iosa de A s h a v e r u s ; e aband o n a r a m a grande l ição que elle offerecla de ampla l iberdade na a r t e , de e s p o n t a n e i d a d e no sent imento es the t i co .

Ver la ine não podia se r imi tado , porque suaa r t e era r es t r i c t a e, ao mesmo tempo, exagerada ,como a de todo revolucionár io. Eu leio seus versos e vejo apenas sua alma, t r is te como seu» amo

res , t r ág ica comoos

seus Pier rots . Agora mesmo acabo de lêr um poeta nosso de fina sensibi l idade, que diz s i n c e r a m e n t e :

. . Ver laine eu bem te s intoNesta ter ra que m o r r e aos poucos pelo poenteE m que o j a rd im parece embebido em a b s y n t h o . "

B esse o mal da phalange . E l l a t r aduz e repete o poeta f racêês .

O "v ieux pare so l i t a i r e" , "le j a rd in aban-d o n n é " , " 1 ' a u t o m n e " , "les feui l les mortes" , estã o ahi, l ogares communs de todos os penumbr í s t as .

Cho ram desgraças a lhe ias , p rega m ideaes a-lheios , imi tam nos mínimos de ta lhes , o que diss e o pobre t rovador de l i r an te dos nostálgicos ou-t omnos de F r a n ç a .

A guer ra ao p e n u m b r i s m o não é o despeito davelh ice caduca , como querem mui tos . A guerraao penumbr i smo é uma guer ra ao ridículo, aopredomín io do espir i to s imiesco, ao irreflectldop a p a g a i a r dos a m i g o s das novidade i r i ces .

T o d o s os macaimibuisios, sob a acçâo de uma b s y n t h o de m e n t i r a , que passe iam em a lamedassol i tár ias , sob um céo de outomn o, todo " gr is" ,todo tédio, — precisam levar sacudidelas , paraverem céo azul , a paizagem r ica de sol e de luz, avida intensa, bulhenta, enérgica, elect r ica, parad o x a l . . .

B ' preciso reagir . E nesse sent ido applaudo aclass i f icação.

M as ha nella uma par te in jus ta . Ao l ado dospoetas do " s p l e e n " , dos " m o n t m a r t r e s " i n d í g e n a s ,cresce uma geração for te que, de Verlaine, t irouuma profunda admi ração por Rimbaud, poeta dean imo v i r i l ; — cresce uma geração l ivre quep r e g a uma a r t e sã, s incera, que sabe rir a quesabe crer .

S. Paulo, Maio de 1922.

M O T T A F I L H O

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13LIVROS

& REVISTAS" C a s a d o P a v o r " p o r M .Deabreu — Monte i ro Lobato& Cio. , edi tores — S. Paulo.

Cur ioso escr i to r que surge . Fan tas ia es t r anha .Ima gina t iva r iquíssima. O snr . Dea breu co nt inuaa poét ica alemtumulis ta do sec. XIX. Choca umpouco nes ta época de noções exactas . I sso nãoimpede que o au tor t enha mui to t a l en to . "Sombra de Minha Mãe" é de g rande poder suges t ivo .Horror iza. "Os 3 ci r ios do Tr iângulo da Morte"

é um t r aba lho magní f i co .Como l íngu a : Ha descu idos l amen táve i s .

Aquela "N ota" do f i m . . . nem um jorna l i s t a re digir ia tão mal . Mas como em todas as páginas

. pululam expre ssões inv ulgare s , adject ivos prest igiosos , não tenho dúvida em af i rmar que o est reante será breve um es t i l i s ta .

0 snr . Deabreu não quer que Deus exis ta . Temmesmo uma raiva infant i l da Divindade. Atéescreve Deus com d pequeno! B, passeando pelassuas per sonagens , à todo mom ento a f i rma aInexis tência do Cr iador . Processo de cr iança. —M a m a i , q u e r o m a i s u m c h o c o l a t e . . . — A c a b o u ,meu f i lho. — Mas eu quero! e bate o pezinhono chão . O snr . Deabreu sen te , s abe que Deusexis te . Mas Deus é uma coisa cacete. Impl icacer tos deveres , obr igações ou r emorsos . . . S i nãoex i s t is s e . oh! l iberdade g os to sa ! . . . Por i s soo escr i tor bate o pézinho pelas páginas da "Casado Pavor" . — Mas eu quero mai s um chocola t e ! . . . B ' Inú t i l , sn r , Deabreu . O choco la teacabou e Deus exis te .

M. de A.

" U m a V i a g e m M o v i m e n t a d a "por Théo-F i iho . — Livrar i aS c h e t t i n o , 1 9 2 2 .

Théo-F l lho , por qua lquer as sumpto que pa l

milhe seu espír i to i r requieto, tem o dom de encan tar . Leem-se dum a as sen tad a as t r ezen taspáginas do seu novo l ivro. "Uma Viagem Mov imentada" s ão r ecordações f inas e l eves , r ap i damente color idas de comoção ás vezes , de i roniaf reqüentemente. Na maior ia das vezes Théo-Fllho borboleteia apenas sobre as f lores humanasque depara , r a ro lhes suga o mel e o amargor elhes penetra o âmago. Nem esse era o seu f im.Qulz con tar e con tou , em l inguagem la rgada masexpres s iva . Mas sabe desen har fo r t e quandoquer . A Impagável f igura de poeta Josephus Al-banus o p rova suf i c i en temente .

M. de A.

Mar io P in to Serva , "A Próx ima Guer ra" , ed ição da Casa Edi to ra "O L ivro" , SãoPaulo , 1922 .

Mais um l ivro do fecundo escr iptor . Livro desen i t t aen ta l i smo in te rnac iona l . O au tor commo-ve-se co m bas tan te faci l idade ante scena s pavorosas que imagina pas sarem-se l á na Europa . E 'um gr i to de indigna ção contra o ma r tyr io duvidoso da Al lemanha e, ao mesmo tempo, de a-l a rma para o "mu ndo c lv i l is ado" Exal t ação . Excessos. Visões.

Livro de grande fé, e que por isso tem a inef-favel va nta ge m de não boi Ir com o raciocínio dolei tor . Ex em plo : "A fome sô diminu irá na Europa com um a renunc ia geral da s divid as d e

guerra dos al iados , com o rápido desarmamentode todas as nações , com uma at t i tude intei ramente diversa para com a Allemanha, com o esque cim ento dos ódios e das ving anç as , com umeespirito novo de solidariedade entre r todos ospovos do Velho Cnt inente, com um commerclol iber ta do de pêas que o coarc tam . Só ass im see v i ta r á a p ró x im a g u e r r a . . . "

Taes e ou t r as inducções p rophet i eas , ex t r ah i -das de pr incípios dogmáticos e apreciações ter r i ve lmente abso lu tas , deno tam no au tor uma candura suav í s s ima.

R E C E B E M O S :"L es va inc us" , de Romain Rol l and , ed ição

"Lum ière" , Anver s , Avenue d 'Amer ique . Pub l i cação tardia do pr imeiro drama do magníf ico escr iptor- Já se percebem nessa obra o for te valorl i terár io do autor e as suas tendências social is tasmais t a rde ev idenc iadas . Oppor tunamente es tu daremos o l ivro como merece.

"Nouvel l e Revue França i se" . Mais um numero dessa interessant íss ima, revis ta , onde col la-boram escr lptore s de indiscut ível valor , comoAndré Gide, André Suarés , BJaise Cendrars , Ra-b indra na th Tagore , Valery Larbaud , Maree iProus t , e t c .

"Lu mi ère" . Números de abr i l e maio . F inosar t igos e bel los poem as de Róger Averm aete.Char les Baudo uin, Ivan Gol l, Vi ldrae, MareeiMil let , Bob Claessens . Gra vura s sobre madeirade Van Strat ten, Jor is Mine, Maaserel etc . Umart igo de Serge Miüiet commentando com espir i to a Semana de Arte Moderna em São Paulo.

"F an far e" . Rev i s t a ing leza de Ar te ' moderna .Esplendida publ icação com col laboraçâo escolhida. Entre outros nomes os de Jean Cocteau, Ro-ger Avermaete , e t c . Um av i so : Gui lherme de Al meida é bras i lei ro, senhor redactor , e não por-tuguez .

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14CINEMAS

UMA LICÇÃO DE CARLITO

A evolução de Char l ie Chapl in demonstramais uma vez que por mai s novas que as fo rmasse apresen tem o fundo da humanidade será s empre um só. Car l i to já se tornara grande cr iandosen tipo burlesco, t ipo clássico que reflectla, soba car icatura leviana, o homem do século vinte.Mas Car l i to , com seus exageros magníf icos , compreendera a vida como uma es tes ia . Es tes ia burl esca , na tu ra lmente . E ra um er ro . Cr ia ra umavida fora da vida. Sofr ia de es tet ismo; porven tura o maior mal dos a r t i s t as modern i s t as .Mas um d ia o gen ia l c r i ador apresen tou "O Va

gabundo" . Pouco t empo depoi s "O Garo to" . Btornou-se imenso e imor tal . Porquê? Porquê sobaparênc ias novas as a lmas s ão e te rnas . E ' ver dade que per tence a todos os séculos . O genialinovador hum aniza va-se . Sofr ia . Cr iemos comoCar l i to uma ar t e de a l egr i a ! R iamos ás gargalhadas ! Mas donde vem que a garga lhada parecete rminar "numa espéc ie de gemido"? Da v ida ,que embora s empre nova nas suas fo rmas , émonótona nos seus pr incípios : o bem e o mal .Não ca iamos no "es te t i smo" de que j á f a l avaBrunschwig! E a g rande coragem do homem-seculo-20 es ta rá em ver i f icar desa ssom brada -mente a dor , sem por isso se tornar sent imental .No entanto, sob a roupagem do mais al to cô

mico, Char l ie at ingiu a eloqüência vi tal das maisal tas t ragédias . Char l ie é o professor do século20. KLAXON desfoíha louros sobre o homem quelhe dá tão eterna e tão nova Ucção;

J . M .

LUZES &REFRACÇÕES

Um snr . João Pinto da Si lva, pela "AméricaBras i le i ra" de Maio, af i rm a: "An ul lados pelo

fiasco, os cubistas, os futuristas, todos os delirantes da cr ise poét ica da actual ldade, cederãoe m fi m o l u g a r a o s q u e r e s t a b e l e c e r ã o . . . e t c . "Si o snr . Pinto soubesse o que lá vai pela Europa não profet izar ia essa anulação. Em vez deanulação o que ha é desenvolvimento. Cubis tase futur is tas serão continuados por homens que ,não necess i tando mais , como aqueles , de des-t ruiçôes e exageros , lhes desenvolverão class i -camente as inovações . E saiba o snr . Pinto quea Nova Poes ia cada vez tem maior número deadep tos . O ar t i cu l i s t a ignora Alemanh a e Fran

ça, Rúss ia e Áustr ia , I tál ia e Espanha, Bélgicae Es tados Unidos . Na própr ia Ing la te r r a «quede neve borea l s empre abunda" o g r i to de "Fan-f a r e " congraça as novas forças poét icas do país .O snr . Pinto não dever ia ser tão r ico em profecias mortuár ias sobre o que desconhece. Mandebuscar l ivros . Ass ine revis tas . Es tude. B vol te .

* * *Ho uve quem dissesse qu e copiamos Papini ,

M a r i n e t t i , C o c t e a u . . . E n t r e copiar e seguir adiferença é grande. O snr . Ronald de Carvalhoaind a ha. pouco pelo " Jo rn al " d e 21. de Abr ilpassad o, jus t i f icav a os s nrs . Álvaro Moreyra,Manoel Bandeira, Ribeiro Couto por se terem

educado na escola dos f ranceses . Ora KLAXONvai mais além. Não se educa só na escola dumCocteau f rancês e dum Pa pin i i tal iano, mastambém lê a car t i lha dum Uidobro espanhol ,dum Blox russo, dum Avermaete belga, dumSandburg amer icano, dum Leigh inglês . E porquê não Looz um aus tr íaco, ou Becher um alemão? Dizer de KLAXON qu e cop iamos um,quando seguimos a mui tos e querer diminuir agrandeza dum vôo que persegue a rota indicada pelo 1922 universal . KLAXON não copiaPap in i nem Cocteau , mas r epresen tando ás vezes tendências que se aparentam ás desse grandei tal iano e desse interessante f rancês , prega oespír i to da modernidade, que o Bras i l descon h e c i a .

» * *Ao sr . J . Câmara, autor de um ar t igo sobre

futur ismo, no pr imeiro numero da revis ta "Cáe L á " :

"11 a deux espêces d 'imbéci les parm i " lesconnaisseurs" . Ceux qui vous disent , devant untab leau : "Non, mai s , avez-vous j amais vu pa-

rellles couleurs ã un arbre, ou un ciei , ou unvlsage" . Et ceux qui poussent des gloussementad 'admirat ion devant des toi les qu*üs ne com-prennen t pas . " — (Roger Avermaete — "Lum i è r e " ) .

* * *Antônio Orl iac, acaba de publ icar uma "pla-

quefcte" que int i tulou: "Metabol ismo". Entreoutras cousas , escreve, na prefacio demasiada-mente obscuro, que, até hoje, e com isso quer dizer até elle, os poetas foram simples traducto-res . Nada crearam, Nada inven taram . Os mais

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15hábei s consegui r am apenas mis tu rar harmoniosamente a acçáo do mundo exter ior e a reacçâo

— sensação, com ar t i f ícios eubt is . Segundo o s r .Or llac o verdad eiro p oeta é um inve ntor quecons t rôe sobre p lanos puramente mentaes .

Confes samos não comprehender c l a ramente oque nos quer dizer o autor de "Métabol isme" eainda menos o com prehend emo s apôs a lei turade seu poema metaphysico. No entanto esse poema contem es t rep es adm iráveis . B s i o auto rnão t ivesse tomado a resolução de prov ar umeystema que se sente composto "a pr ior i" , ter iaescripto bellos versos.

Não queremso perder a occas iâo de ci tar al guns interessantes . Quando o poeta fala dos ar t is tas , diz:

*On por te1'effroi d'une grftcequi prepare presque â pleurer" .

E o s i lencio inspira- lhe es tes versos :. . "Car le silence c'est Ia voixde mille choses Inconnuesque s 'efforcent vere le reèle t j amais n 'y son t parvenues .

Assim, pois, os melhores pedaços desse poe

ma são jus ta m en te aquel les em que o poeta sedeixou levar pela inspiração commum a todos ospredecessores que soffrem o seu quas i -desdem .Mas é poss ivel que sejam esses pedaços que os r . O r l i a c a c h e m e n o s b o n s . . .

Como qualif icar essa pretenção de Ser o primeiro poeta verdadeiro?! Isso depois de Baude-lal re , de Ver laine, de Rimbaud, de Laforgue, deCendrar s !

Delxemo-nos de s en t lmen ta l i smo! Sacadura

Cabral e Gago Cout lnh a desceram f inalm entenas águas do Rio de Janeiro. Eis tudo. Mas nãoserá então es ta uma ocas ião para que nos rego-s i jemos?

Sem duvida. Regosi jemo-nos . Eis tudo. Es t eregosijo porém não deve incluir em si frases sent imenta i s , mai s insu l tosas que verdade i r amentede elogio. Todas essas comparações entre os doisaviadores e os heróis da Lus i tânia avi ta dos séculos XV , XSF7 e XnX , incluem em si a lembrança do longo letargo que Po r tug al dormiu

durante alguns séculos . Es ta lembrança deve ser

penosa mesmo num tempo de r enovação . Sacadura Cabral e Gago Cout lnho desceram f inal

men te nas águas do R io d e J ane i ro . E i s tudo .Fizeram Uma obra bela e uma obra út i l . Os kla-xls ta s seguiram com entu s iasm o a p rova. Torceram . Os klax ls tas vibra ram com a victor ia .Aplaudem. Um bravo enérg ico daqui l ançamosaos dois aviad ores . Mas es te brav o não se ar -reia de memórias saudos is tas . Vai s imples . Comovido. Sem enfei tes . Rep resenta ape nas um aver i f icação s ingular e presente. Gago Cout lnhoe Sacadura Cabral são dois homens invulgares .Como tais , a humanidade se orgulha de os possuir . Eis tudo.

• * • *

O Con servatór io de Par iz acab a de concedero pr imeiro prêm io de piano ao nosso patr ieloJoão de Souza Lima.

Esse ex t r ange i ro moço j á o anuo pas sado merecera aque l l a consagração ; mas Par i z , que in ven tou o t e rmo "m etêq ue" , in t lmidou- se umpouco, teve esse receio, que é mui to humano, defazer jus t iça. Fel-a agora, e bem. KLAXON seen ternece eom i s so , porque KLAXON també más vezes faz "patr iotada" . E sabe que, ao lado de

Souza Lima, es tá também em Par iz, como umpedacinho de nós mesmos, esse desnor teante Bre-cheret , a fazer jue, com o "Tem plo da minh aRaça" , á di f f lci l consagração par iziense. E el lavirá: vi rá colmo veio para o pianis ta patr ício.

S. Paulo, com o seu pens lonato ar t ís t ico, es támantendo no es t rangeiro a mais digna e nobi l i -t an te embaixada . E es ses embaixadores d 0 se uespirito e da sua cultura, porque são nósisos, porque são paul is tas , hão de se impor glor iosamente , "par d ro i t de conquête e t de na l s sance"

• • •Uma das fontes imals r icas e menos explora

das para as ar tes do pensamento é a conclusão.Digo menos explorada porque até agora, levadospela pobreza da. ima ginat iv a, ou por encarare mas a r t es com 0 um depar tamento da real idade, ospoetas e os prosadores , expos tos os dad os dumproblema, t i raram na grande general idade conclusões. Ora os problemas da vida monótona e comum, são sempre tão mesmos quê o lei tor , multa s vezes ante s do meio da obra que folheia já

conhece por exper iência própr ia 0 u de jornal a

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16conclusão que o a r t i s t a t i r a r á . Es ta mono ton ia , éuma das pandémias que mais inva l idam a l i t e r a tura un iversal . Os seus dois pon tos , culmin ante ssão: o romance ps icológico e o soneto de comparação. Resum idam ente eis Bou rget : . dados o caracte r dum homem e uma s i tuação afect iva emque esse homem se vê envolvido como procederáo pro tagoni s t a? E a arte, par a o au tor do Discí pulo, cons is te em respond er é perg unta . O ra:qualquer lei tor medianamente burro responde coma mesm a f i rmeza do ar t is t a improv isado. Nas" P o m b a s " tamb ém , depois dos dois pr ime iros versos do l .o terceto: "Ass im do coração, onde abo-toam, 0s sonhos, um a um, cé le res _ v o a m . . . " o

lei tor já sabe, por exper iência própr ia, que es tesmesmos sonhos gera lmente "não vo l t am mais " .O que al iás nem é toda a real idade . H á sonho sque retorna m com uma cons tância Verdadeiramente pa to lóg ic a . . Mas , podem-se inc lu i r comjus t iça tais sonetos e romances entre as obras def icção? Não. O que a obra de ficção tem dê explorar e pouco o fez até agora é o que es tet icamente se chamaria "a surpresa da conclusão" . E 'na l i teratura popular , tão sábia como express iva

e br inca lhona , que vam os enc on trar o milhoremprego des sa " surpresa da conc lusão" . Es tude

mo-la pa ra for t i f icar a verdadeira ar te que ébr inquedo e fantas ia sob o manto diáfano da real idade. As quadras populares es tão cheias da surpresa de conc lusão . Uma, ao acaso :

B a t a t i n h a q u a n d o n a s c eDei ta r ama pe lo chão ;M u l a t i n h a q u a n d o d o r m eBota a mão no coraçlo.

È ' l ind o. Expre ss ivo e inespe rado. Is to é ar te .Já porém, quando não se t rata de f icção, o pensador üeVè t i rar conclusões cer tas . B é todavia

jus tàmet t fce nes tas obras sérias que vemos o pensador chegar ás mais impagáveis conseqüências .Inda ha pouco um sociólogo, ou coisa que honestamente valha um sociólogo, ao observar com car inho urs ídeo o desenvolvimento dos espor tes noBras i l , de alguns raciocínios acer tados t i rou es taconclusão surpreendente: O espor te es tá deseducando a mocidade do Bras i l . KLAXON perguntaagora: Como è pass ível deseducar uma colect ivi -

"dade que nunca t eve educação?

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B R E V E M E N T E

Natalika,ou

Da Naturezae da ArteXJxxi - v o l i x ra i e d e G V L Í -

E d i c ç ã o K l a x o n

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BrevementePAllilCEA DESVAIRADA

M ario de Andrade

OSCONDEMNf IDOS

O sw ald de Andrade

( D E S S I D O R , poemas d e Guilherme de

A l m e i d a , t r a d u c ç ã o de f rancesa de Serge

M l l l i e t , edicção " L u m i è r e " , i l n u e r s , Bélgica.

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