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DOUTRINA DE DEUSEGUINALDO HÉLIO DE SOUZA

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Sumário

03 u Introdução 03 Os vários sentidos da palavra “teologia”

05 u Capítulo 1 q A inescrutabilidade de Deus 06 A teologia natural e a teologia bíblica

07 A auto-revelação de Deus

08 u Capítulo 2 q Concepções sobre Deus

11 u Capítulo 3 q A concepção correta sobre Deus 12 Argumentos para a crença no monoteísmo primitivo

15 A influência do evolucionismo 16 A melhor explicação

17 u Capítulo 4 q A existência de Deus 19 O impacto do pensamento científico 21 O efeito Charles Darwin 22 A espada de Karl Marx 22 Bases históricas dos ateus 23 Deus realmente existe

25 u Capítulo 5 q Os atributos de Deus 26 Natureza espiritual de Deus

26 Natureza invisível de Deus

26 Natureza imutável de Deus

27 Natureza trina de Deus

29 Atributos não-comunicáveis

33 Atributos comunicáveis

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37 u Capítulo 6 q Os nomes de Deus 37 YHWH (o tetragrama)

38 Compostos de Jeová ou Javé

39 Compostos de El

40 Adonay

41 u Capítulo 7 q A Trindade divina 42 Aspectos bíblicos da Santíssima Trindade

44 Aspectos analógicos da Santíssima Trindade

45 Aspectos históricos da Santíssima Trindade

56 u Conclusão

57 u Referências bibliográficas

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q Introdução

Os vários sentidos da palavra “teologia”

“Teologia” é uma palavra com origem na língua grega. Vem de theos, que significa Deus, e logia, que significa “estudo” ou “discurso”. Seria mais

adequadamente um discurso sobre Deus, pois afirmar que Deus é objeto de estudo do homem é um posicionamento, de certo modo, presunçoso.

Existem dois sentidos em que a palavra “teologia” é empregada. Generica-mente, é usada para se referir ao estudo geral das coisas relacionadas a Deus. Esse estudo inclui a Bíblia, o pecado, o homem, os anjos, as profecias, Jesus Cristo, o Espírito Santo, enfim, tudo o que remete a Deus e sua relação com o Universo e a humanidade. Tudo o que se relaciona a Deus e ao seu plano de salvação pode ser incluído no âmbito da teologia.

Em outro sentido, é usada em referência à pessoa do próprio Deus, ao ser de Deus.

Qual é a natureza de Deus? O que é a Trindade? Como posso saber que Deus existe? São perguntas estudadas no segundo sentido da palavra “teologia”. E esse será o viés do nosso estudo nesta primeira matéria.

É mister advertir que o conhecimento teológico a respeito de Deus jamais sig-nificará um conhecimento pleno. Na verdade, o conhecimento sistemático que pretendemos absorver é mais um conhecimento de Deus do que um conhecimento do próprio Deus, isto é, da pessoa de Deus.

Essa distinção é equivalente àquela que ocorre quando uma pessoa recebe o currículo de outra. Por meio desse tipo de documento, a primeira pessoa tem informações a respeito da outra, às vezes, contendo uma fotografia. É possível sa-ber muitas coisas a respeito da outra pessoa, mas ainda que o currículo apresente todos os detalhes possíveis e imagináveis, o conhecimento maior somente se dá com o encontro das pessoas, quando ambas estão frente a frente se comunican-do, interagindo. Nesse ponto, já se pode afirmar que há um conhecimento pessoal, mas, a bem da verdade, mesmo esse encontro não encerra as possibilidades de conhecimento, que só aumentarão à medida que as pessoas passarem a conviver uma com a outra.

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Guardadas as devidas proporções, podemos afirmar que o estudo teológico é um despretensioso “currículo de Deus”. Por meio de nossas limitações, ficamos conhecendo a respeito de suas características. Ficamos sabendo como Deus é e como ele não é. A partir daí, iniciamos um conhecimento pessoal embasado, livre de equívocos, que nos permite uma completa interação com ele. Nesse conheci-mento, cresceremos à medida que aprofundarmos o nosso relacionamento. Graças a infinitude do ser de Deus, podemos crescer cada vez mais nessa compreensão sem nunca esgotá-la. Podemos sempre avançar um pouco mais.

Nossa fonte para tal conhecimento são as Escrituras Sagradas, por serem a expressão inspirada da revelação que o próprio Deus fez de si mesmo. Qualquer conhecimento à parte da Bíblia é pura reflexão lógica que precisa de base nas Escrituras em algum ponto.

Nesse ínterim, é oportuno colocar que a noção sobre Deus se tornou algo muito vago em nossos dias. Devemos nos lembrar que o conceito de divindade sempre existiu em todos os povos. Todavia, a nossa referência é ao “Deus de Israel” e ao povo que se originou de Abraão e estabeleceu uma aliança com Deus. Enquanto os demais povos se afastaram do conhecimento do verdadeiro Deus, os israelitas guardaram a fé e a compreensão de um Deus criador e sustentador de todas as coisas. Por isso se constituíram como canal por meio do qual o conhecimento do Deus verdadeiro se espalhou pela terra.

Os homens sempre tiveram ideias erradas sobre a pessoa de Deus. Tanto ho-mens simples quanto homens de grande conhecimento e cultura pensaram e dis-seram coisas a respeito de Deus que não eram verdadeiras. Até hoje, apesar da existência da Bíblia e de profundos estudos teológicos, pensamentos enganosos continuam surgindo. E essas ideias precisam ser respondidas pelo conhecimento verdadeiro.

A teologia, conforme apresentaremos em nosso curso, é uma importante “fer-ramenta” para o conhecimento de Deus. Dizemos “ferramenta” apropriadamente, pois conhecer o próprio Deus está dentro de uma esfera muito além do que a men-te humana pode alcançar.

Falaremos de Deus destacando pontos importantes e verdades absolutas den-tro desse contexto, mas sem ignorarmos que o conhecimento real de Deus exige um relacionamento, já que Deus é um ser pessoal.

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Capítulo 1q A inescrutabilidade de Deus

Mesmo sendo Deus um ser que se auto-revelou ao homem, isso não significa que ele (Deus) seja tão conhecível quanto qualquer outro ser. Essa revela-

ção será sempre parcial. Podemos até declarar que o conhecimento do ser e dos caminhos de Deus será eternamente e completamente parcial para qualquer ser. Ninguém no Universo pode conhecer Deus completamente, a não ser ele próprio.

Jesus disse que “ninguém conhece o Filho, senão o Pai; e ninguém conhece o Pai, senão o Filho, e aquele a quem o Filho o quiser revelar” (Mt 11.27). Claro que Cristo se referia a um grau maior de conhecimento e não a qualquer dose de cog-nição. E Paulo escreveu aos coríntios em sua primeira epístola: “Porque o Espírito pe-netra todas as coisas, ainda as profundezas de Deus. Porque, qual dos homens sabe as coisas do homem, senão o espírito do homem, que nele está? Assim também ninguém sabe as coisas de Deus, senão o Espírito de Deus” (1Co 2.10,11). Assim, só o Deus Trino conhece plenamente a si mesmo. Nós, seres humanos, temos apenas um vislumbre da divindade.

Jó diria isso de uma forma simples: “Eis que isto são apenas as orlas dos seus ca-minhos; e quão pouco é o que temos ouvido dele! Quem, pois, entenderia o trovão do seu poder?” (Jó 26.14). Isaías diria de Deus que “verdadeiramente tu és o Deus que te ocultas [“Deus misterioso”, na versão Almeida Revista e Atualizada], o Deus de Israel, o Salvador” (Is 45.15). Para o apóstolo Paulo, Deus é “aquele que tem, ele só, a imortalidade, e habita na luz inacessível; a quem nenhum dos homens viu nem pode ver, ao qual seja honra e poder sempiterno” (1Tm 6.16).

Essa consciência da inescrutabilidade de Deus é muito importante ao teólogo, para que não pense que pode ou deve conhecer tudo a respeito de Deus. Os gran-des reformadores como Lutero e Calvino sempre admitiram o mistério como parte da teologia. Mas isso não significa usar desse artifício para justificar pontos difíceis de serem entendidos, antes, é uma forma de reverenciar a Deus e se aproximar do estudo desse tema com temor e respeito.

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Dizer que não podemos conhecer tudo sobre Deus não é o mesmo que dizer que não podemos conhecê-lo ou que esse conhecimento é incerto, inseguro e, portanto, inválido. Não podemos conhecer a Deus plenamente, mas podemos conhecê-lo o suficiente para alcançar a salvação e agradá-lo.

O belo hino do apóstolo Paulo, no final da epístola aos romanos, dá-nos uma ideia dessa realidade grandiosa: “Ó profundidade das riquezas, tanto da sabedo-ria, como da ciência de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão ines-crutáveis os seus caminhos! Porque, quem compreendeu a mente do Senhor? Ou quem foi seu conselheiro? Ou quem lhe deu primeiro a ele, para que lhe seja re-compensado? Porque dele e por ele, e para ele, são todas as coisas; glória, pois, a ele eternamente. Amém” (Rm 11.33-36).

A teologia natural e a teologia bíblica

Ao longo dos séculos, a questão do conhecimento de Deus geralmente foi abordada por dois aspectos. Um deles ressaltou a possibilidade de conhe-

cer Deus à parte da revelação escriturística. Isto é, apenas pela natureza. Para esse tipo de conhecimento, bastaria ao homem o exercício da razão. Todavia, outros re-jeitaram completamente essa via do conhecimento de Deus, afirmando que o úni-co meio seguro seria pela revelação. Ou seja, pelo lado espiritual. As duas posições contaram com o apoio de homens eruditos e piedosos para defendê-las. Não nos compete determinar quem estava correto em sua abordagem, mas, sim, a maneira como abordaram a questão.

A teologia natural defende que é possível ao homem ter conhecimento de Deus apenas por meios racionais. Claro que mesmo os defensores dessa corren-te reconhecem que somente pela revelação há um conhecimento mais exato. Todavia, lançando mão de recursos lógicos, julgam que é possível determinar a existência de Deus e, também, algumas características do seu ser. A razão se tor-na instrumento do conhecimento divino. Teólogos como Tomás de Aquino e Duns Scotus assumiram essa posição.

Outros afirmaram que Deus é um ser espiritual e, portanto, só poderia ser co-nhecido por meios espirituais, à parte da razão. Homens como Tertuliano e Guilher-me de Occam pensaram assim. Para eles, somente pela revelação divina haveria possibilidade de se conhecer o Deus Todo-Poderoso.

De nossa parte, construiremos o nosso discurso a partir das duas formas. Apre-sentaremos alguns pontos que se harmonizam com uma visão teísta do Universo, ao mesmo tempo em que nos aprofundaremos na revelação das Escrituras.

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A auto-revelação de Deus

É importante aprendermos que Deus é um ser que se auto-revelou, mostrou--se a si mesmo ao homem. Essa revelação ocorreu dentro da história. Isso

significa que o contato com o homem não se deu somente na dimensão interior, no coração ou no espírito humano. Deus se fez presente em eventos ocorridos no tem-po e no espaço geográfico. Quando ele apareceu a Abraão, a Moisés, ao povo de Israel no Sinai, estava, na verdade, revelando-se a essas pessoas. Quando se fez homem em Jesus Cristo, e quando apareceu em forma de línguas de fogo, no Dia de Pentecostes, estava se auto-revelando.

Deus é Deus dentro da história humana. Em tempos e locais específicos. A re-ligião bíblica é uma religião histórica. Deus apareceu a certos homens, em certos lugares, em tempos mensuráveis e se fez conhecer. Isso é revelação.

Além disso, parte dessas manifestações de Deus, dessa auto-revelação, foi re-gistrada de forma escrita. Esses registros, por sua vez, contaram com a supervisão e a providência divinas, de modo que ficaram isentos de erros humanos, da interfe-rência e da sabedoria e vontade do homem. Esses registros inspirados são as Sagra-das Escrituras, por meio das quais tomamos conhecimento do caráter e da ação divina em nosso favor.

As manifestações de Deus na natureza, na história, no registro literário inspira-do, somados a um encontro pessoal com a divindade, constituem-se no caminho a ser trilhado para o conhecimento sobre Deus. Esses três elementos colaboram com a interação entre Deus e o homem, levando o homem a uma transformação con-tínua de si mesmo pela compreensão e conhecimento divinos. Esse conhecimento se estende não apenas ao ser de Deus, mas a outras áreas desse conhecimento, abrangendo os planos e os propósitos divinos para o homem.

Ainda que esse conhecimento tenha a tendência de crescer continuamente, ele não será completo no atual estado. A eternidade é descrita na Bíblia como um estado de muito maior conhecimento de Deus, um conhecimento muito superior ao que se pode experimentar na presente situação. É algo incomparável e até mesmo incompreensível agora.

Assim, como podemos observar, a teologia é um universo do conhecimento da deidade que nos abre inúmeras reflexões e pensamentos, conduzindo-nos à plena satisfação em Deus. Portanto, como proclamou o profeta Oseias, “conheçamos, e prossigamos em conhecer ao Senhor” (Os 6.3).

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Capítulo 2q Concepções sobre Deus

Monoteísmo

É a crença em um só Deus. A divindade, nas religiões mono-teístas, é onipotente, onisciente e onipresente. O monoteísmo é a crença em um só Deus, que, além de ser considerado Todo-Poderoso, é um ícone moral para seus adeptos, reque-rendo dos fiéis observância de normas de conduta puras.

Politeísmo

Consiste na crença em mais de uma divindade de gênero masculino, feminino ou indefinido, sendo que cada uma de-las é considerada uma entidade individual e independente, com personalidade e vontade próprias, governando sobre diversas atividades, áreas, objetos, instituições, elementos na-turais e mesmo relações humanas. Ainda em relação às suas esferas de influência, nota-se que nem sempre se encontram claramente diferenciadas, podendo haver uma sobreposi-ção de funções de várias divindades.

Teísmo

Crença que pressupõe a existência de um ou de vários deu-ses como fundamento para a concepção de todas as outras crenças, não importando as formas de manifestação desta ou destas divindades.

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Henoteísmo

É a crença religiosa que postula a existência de várias divin-dades, mas que atribui a criação de todas a uma divindade suprema, que seria objeto de culto maior. Outra modalidade do culto henoteísta, mais próxima do politeísmo, defende a existência de diversos deuses, cabendo a cada grupo ou a cada tribo a eleição da sua divindade protetora, para quem prestam reverência e adoração.

Animismo

É a manifestação religiosa na qual se atribui a todos os ele-mentos do cosmos, a todos os elementos da natureza, a todos os seres vivos e a todos os fenômenos naturais um princípio vital e pessoal chamado anima (alma). Conseqüentemente, todos esses elementos são passíveis de possuir sentimentos, emoções, vontades ou desejos, e até mesmo inteligência. Re-sumidamente, os cultos animistas alegam que “todas as coi-sas são vivas”, “todas as coisas são conscientes”, ou “todas as coisas têm anima”.

FetichismoCrença (mantida particularmente nas religiões da África oci-dental) de que os espíritos são capazes de possuir objetos. Existe também a crença de que certos objetos ou “talismãs” podem afastar os espíritos maus.

Sustenta a idéia da crença em um Deus que está em tudo, ou à noção de muitos deuses representados pelos múltiplos elementos divinizados da natureza e do Universo. Sua princi-pal convicção é que Deus, ou força divina, está presente no mundo e permeia tudo o que nele existe. O divino também pode ser experimentado como algo impessoal, como a alma do mundo, ou um sistema do mundo. No panteísmo, “tudo é deus” e “deus é tudo”.

Panteísmo

Crença de que o Universo está contido em Deus (ou nos deu-ses), mas Deus (ou os deuses) é maior do que o Universo. É diferente do panteísmo, que diz que Deus e o Universo coinci-dem perfeitamente (ou seja, são o mesmo). No panenteísmo, todas as coisas estão na divindade, são abarcadas por ela, identificam-se (ponto em comum com o panteísmo), mas a di-vindade é, além disso, algo além de todas as coisas, transcen-dente a elas, sem necessariamente perder sua unidade (ou seja, a mesma divindade é todas as coisas e algo a mais).

Panenteísmo

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Crença que pretende enfrentar a questão da existência de Deus pela razão em lugar dos elementos comuns das religiões teístas, tais como: “revelação divina”, dogmas e tradição. Os deístas, geralmente, questionam as religiões denominacio-nais e seu Deus dito “revelado”, argumentando que Deus é o criador do mundo, mas que não intervém, diretamente, nos afazeres do mesmo. Para os deístas, Deus se revela por meio da ciência e das leis da natureza.

Deísmo

É uma corrente filosófica que surgiu da mistura do panteísmo com o deísmo, ou seja, afirma concomitante que Deus pre-cede o Universo, sendo o seu criador e, ao mesmo tempo, sua totalidade.

Pandeísmo

Refere-se à descrença em qualquer deus, deuses ou entida-des divinas.

Ateísmo

Designa o movimento histórico e religioso cristão que flores-ceu durante os séculos 2º e 3º, cujas bases filosóficas eram da antiga Gnose (palavra grega que significa “ conhecimento”). Este movimento reivindicava a posse de conhecimentos se-cretos que, segundo seus adeptos, tornava-os diferentes dos cristãos alheios a este conhecimento. Essa crença combina-va alguns elementos da astrologia e mistérios das religiões gregas com as doutrinas do cristianismo.

Gnosticismo

O agnosticismo se opõe à possibilidade de a razão humana conhecer uma entidade concebida como “deus”. Para os agnósticos, assim como não é possível provar racionalmente a existência de Deus, é igualmente impossível provar a sua inexistência. Logo, é um labirinto sem-saída para a questão da existência de Deus, por isso não se deve colocá-la sequer como problema, já que nenhuma necessidade prática nos impele a nos embrenharmos em tal tarefa estéril. Isto porque o que determina a crença é a fé, e a fé não é baseada em racionalizações.

Agnosticismo

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Capítulo 3q A concepção correta sobre DeusPor Norman GeislerTradução do professor Elvis Brassaroto Aleixo

A Bíblia ensina que o monoteísmo foi a concepção mais antiga acerca de Deus. O primeiro versículo do livro de Gênesis é monoteísta: “No princípio

criou Deus os céus e a terra” (Gn 1.1). Todos os patriarcas, Abraão, Isaque e Jacó, apresentaram uma fé monoteísta. (Gn 12–50). Isto revela um Deus que criou o mun-do e que, portanto, é diferente do mundo. Esses são os conceitos essenciais do teísmo ou monoteísmo.

Igualmente, bem antes de Moisés, José acreditou declaradamente em um mo-noteísmo moral. Sua recusa em cometer adultério é justificada pelo seu conheci-mento de que seria um pecado contra Deus. Enquanto estava resistindo à tentação da esposa de Potifar, ele declarou: “Como, pois, posso cometer este tão grande mal, e pecar contra Deus?” (Gn 39.9).

Jó, outro livro bíblico contextualizado em um período antigo da antiguidade, revela claramente uma visão monoteísta de Deus. Existem grandes evidências de que o livro de Jó se desenvolveu em tempos patriarcais pré-mosaicos. O livro vis-lumbra um Deus Todo-Poderoso (Jó 5.17; 6.14; 8.3), um Deus pessoal (Jó 1.7-8), que criou o mundo (Jó 38.4) e é soberano sobre sua criação (Jó 42.1,2).

Encontramos na epístola de Paulo aos Romanos, no seu primeiro capítulo, a afir-mação de que o monoteísmo precedeu o animismo e o politeísmo. O texto declara: “Porquanto o que de Deus se pode conhecer, neles se manifesta, porque Deus lhes ma-nifestou. Porque as suas coisas invisíveis, desde a criação do mundo, tanto o seu eterno poder, como a sua divindade, se entendem, e claramente se vêem pelas coisas que estão criadas, para que eles fiquem inescusáveis; porquanto tendo conhecido a Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças, antes em seus discursos se des-vaneceram, e o seu coração insensato se obscureceu. Dizendo-se sábios, tornaram-se loucos, e mudaram a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem de homem corruptível, e de aves, e de quadrúpedes, e de répteis. Por isso também Deus os entregou às concupiscências de seus corações, à imundícia, para desonrarem seus corpos entre si; pois mudaram a verdade de Deus em mentira, e honraram e serviram mais a criatura do que o Criador, que é bendito eternamente. Amém” (Rm 1.19-25).

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A tese de um monoteísmo recente foi divulgada por W. Schmidt na sua obra High Gods in North America. Mas é a obra de James Frazer, The Golden Bough, que tem alcançado proeminência sobre o assunto. Sua tese não se baseia em uma confiável procura histórica e cronológica para as origens do monoteísmo, antes, advoga que as religiões evoluíram do animismo para o politeísmo, e deste para o henoteísmo, e, finalmente, chegando ao monoteísmo. Apesar de seu uso seletivo e anedótico de fontes antiquadas, as ideias do livro ainda são acreditadas ampla-mente. A resistência da tese de Frazer, de que a concepção monoteísta de Deus evoluiu recentemente, não tem fundamento por muitas razões.

Argumentos para a crença no monoteísmo primitivo

Há muitos argumentos a favor do monoteísmo primitivo. E muitos desses ar-gumentos vêm dos registros e tradições que temos das civilizações antigas,

que incluem os livros de Gênesis e Jó e o estudo das tribos pré-alfabetizadas.

A historicidade de Gênesis

Não há nenhuma dúvida de que Gênesis apresenta uma concepção monote-ísta de Deus. De igual modo, é claro, esse livro é o instrumento mais confiável que dispomos de um registro histórico da raça humana, desde os primeiros seres huma-nos. Consequentemente, os argumentos que atestem a historicidade dos primeiros capítulos de Gênesis favorecerão o monoteísmo primitivo.

O notável arqueólogo William F. Albright demonstrou que o registro patriarcal de Gênesis (Gn 12–50) é histórico. Ele declara: “Graças à pesquisa moderna, reco-nhecemos agora sua significativa historicidade [da Bíblia]. As narrativas dos patriar-cas, Moisés e o Êxodo, a conquista de Canaã, os juízes, a monarquia, o exílio e a restauração de Israel, tudo têm sido confirmado e evidenciado em uma extensão que eu julgava impossível há quarenta anos”. E acrescenta: “Não há um único historiador bíblico que não tenha se impressionado pela acumulação rápida de dados que apóiam a historicidade significativa da tradição patriarcal”.

Entretanto, o livro de Gênesis é uma unidade literária e genealógica, tendo constituído listas de descendentes familiares (Gn 5.10) acompanhadas da relevante frase literária “esta é a história de” ou “estas são as origens dos” (Gn 2.4). A frase é usada largamente em outros trechos do livro de Gênesis (2.4; 5.1; 6.9; 10.1; 11.10,27; 25.12,19; 36.1,9; 37.2).

Além disso, a importante narrativa sobre a torre de Babel (cap. 11) é referida por Jesus e pelos escritores do Novo Testamento como histórica. Também são ci-tados por Cristo e pelos escritores do Novo Testamento: Adão e Eva (Mt 19.4,5); a tentação que sofreram (1Tm 2.14); sua posterior queda (Rm 5.12); o sacrifício de

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Caim e Abel (Hb 11.4); o assassinato de Abel por Caim (1Jo 3.12); o nascimento de Sete (Lc 3.38); a trasladação de Enoque (Hb 11.5); a menção do matrimônio antes dos tempos do dilúvio (Lc 17.27); a inundação e a destruição do homem (Mt 24.39); a preservação de Noé e sua família (2Pe 2.5); a genealogia de Sem (Lc 3.35,36); e o nascimento de Abraão (Lc 3.34). Assim, a pessoa que questionar a historicida-de de Gênesis, consequentemente, terá de questionar também a autoridade das palavras de Cristo e de muitos outros escritores bíblicos que recorreram ao livro de Gênesis.

Em particular, existem fortes evidências para a historicidade dos registros bíbli-cos sobre Adão e Eva. Esses registros revelam que os pais da raça humana foram monoteístas desde o princípio (Cf. Gn 1.1,27; 2.16,17; 4.26; 5.1,2).

1) Gênesis capítulos 1 e 2 apresenta Adão e Eva como pessoas literais e narra os eventos importantes de suas vidas (entenda-se: de suas histórias, registros);

2) Eles geraram crianças reais e não fictícias (Gn 4.1,25; 5.1);

3) A mesma frase, “estas são as gerações de”, empregada para registrar his-tórias posteriores (Gn 6.9; 9.12; 10.1,32; 11.10,27; 17.7,9), é usada também no relato da criação (Gn 2.4) e na formação de Adão e Eva e seus descenden-tes (Gn 5.1);

4) As cronologias posteriores do Antigo Testamento posicionam Adão no topo da lista genealógica (1Cr 1.1);

5) O Novo Testamento cita Adão como o primeiro antepassado literal de Jesus (Lc 3.38);

6) Jesus recorreu à historicidade de Adão e Eva, o primeiro casal “macho e fêmea”, constituindo, como base para a união física, o primeiro matrimônio (Mt 19.4);

7) O livro de Romanos declara que a morte literal foi trazida ao mundo por um Adão literal (Rm 5.14);

8) A comparação de Adão (“o primeiro Adão”) com Cristo (“o último Adão”), em 1Coríntios 15.45, atrela a historicidade de Adão com a de Jesus, e autentica explicitamente a compreensão histórica de Adão como uma pessoa literal;

9) A declaração do apóstolo Paulo, de que “primeiro foi formado Adão, depois Eva” (1Tm 2.13,14), revela que ele fala de uma pessoa real;

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10) Logicamente, houve entre eles o primeiro relacionamento conjugal: “ma-cho e fêmea”. Do contrário, a raça humana não teria continuidade. A Bíblia chama este casal de Adão e Eva e não há quaisquer razões para duvidar da existência real dessas duas pessoas. E aqueles que argumentam a favor de sua historicidade consequentemente apóiam a posição bíblica de um monoteísmo primitivo.

A evidência do livro de Jó

Semelhante a Gênesis, Jó é possivelmente um dos livros mais antigos do Anti-go Testamento. Ao menos há um consenso entre os estudiosos de que sua história se originou em tempos patriarcais, sendo, portanto, pré-mosaica. De igual modo, o livro de Jó confirma o monoteísmo e a pessoalidade de Deus. Revela um Deus pessoal (1.6,21), moral (1.1; 8.3,4), soberano (42.1,2), Todo-Poderoso (5.17; 6.14; 8.3; 13.3) e criador (4.17; 9.8,9; 26.7; 38.6,7). O posicionamento da história de Jó como sendo primitiva possui vários fundamentos.

1) Sua organização familiar em clãs, adotada no período pré-mosaico e aboli-da posteriormente entre os hebreus;

2) A ausência total de qualquer referência à lei de Moisés;

3) O emprego patriarcal peculiar para o nome de Deus: Todo-Poderoso (5.17; 6.4; 8.3 cf. Gn 17.1; 28.3);

4) A comparativa raridade com que é empregado o nome SENHOR (Yahweh) (cf. Êx 6.3);

5) O oferecimento de sacrifícios pelo chefe da família em oposição ao sacer-dócio levítico;

6) A menção da cunhagem primitiva de moedas, implícita na expressão “pe-ças de dinheiro” (42.11; cf. Gn 33.19);

7) O uso da expressão “os filhos de Deus” (1.6; 2.1; 38.7), encontrada apenas em Gênesis 6.2-4;

8) A longevidade de Jó, que viveu 140 anos depois que sua família foi restabe-lecida (42.16), ajusta-se ao período patriarcal.

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Jó fala de um Deus que criou o mundo (Jó 38.4), que é soberano sobre todas as coisas (42.2), inclusive sobre Satanás (Jó 1.1,6,21). Todas essas coisas são carac-terísticas de uma concepção monoteísta de Deus. Assim, os tempos primitivos de Jó revelam que o monoteísmo não teve um desenvolvimento recente.

As religiões primitivas são monoteístasAo contrário da convicção popular, as religiões primitivas da África revelam,

por unanimidade, um explícito monoteísmo. Uma das maiores autoridades em re-ligiões africanas, John S. Mbiti, que em sua carreira já pesquisou mais de trezentas religiões tradicionais, declarou: “Em todas estas sociedades, sem uma única exce-ção, as pessoas têm uma noção de Deus como o ser supremo”. Isto é uma verdade compartilhada por outras religiões primitivas, muitas das quais crêem em um Deus altíssimo ou em um Deus celestial, assinando mais uma vez o monoteísmo primitivo.

A influência do evolucionismo

A ideia de que o monoteísmo evoluiu recentemente ganhou popularida-de após a teoria da evolução biológica de Charles Darwin, em sua obra

A origem das espécies, de 1859. Em outra de suas obras, Darwin escreveu: “Não há nenhuma evidência de que o homem tenha originalmente adotado a crença na existência de um Deus onipotente”. Pelo contrário, Darwin acreditava que “as faculdades mentais humanas [...] conduziram o homem à crença em entidades es-pirituais e, desta, para o fetichismo, o politeísmo e, por fim, ao monoteísmo...”.

A tese evolutiva de Frazer sobre a religião está baseada em várias suposições sem nenhuma prova.

Primeiro: seu apoio à evolução biológica mostra, na realidade, sua ausência de fundamentos sérios. A teoria da evolução já foi satisfatoriamente contestada por autoridades científicas.

Segundo: ainda que considerássemos a evolução biológica como uma verda-de científica, não há nenhuma razão para acreditar que tal evolução tenha sido considerada no âmbito religioso. É um engano de categoria metodológica classifi-car que o que é verdade em uma disciplina seja também verdade em outra.

O darwinismo social é outro caso em questão. Poucos darwinistas concorda-riam com Hitler em sua obra Mein Kampf, que diz que deveríamos destruir as raças inferiores, já que a evolução tem feito isto durante séculos! Ele escreveu: “Se a natureza não deseja que os indivíduos mais fracos devam se unir (misturar) com os mais fortes, ela deseja menos ainda que uma raça superior venha se misturar com uma inferior; até mesmo porque, em tal caso, todos os seus esforços, ao longo de centenas de milhares de anos, para estabelecer uma fase evolutiva mais alta, pode resultar em futilidade”.

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Assim, se muitos darwinistas concordam que a evolução não deve ser aplicada ao desenvolvimento social humano, então não há nenhuma razão para aplicá-la à religião. Dessa forma, nem a suposta prova científica de Darwin serve como base para a evolução do monoteísmo recente.

A melhor explicação

As origens do politeísmo podem ser explicadas como uma degeneração do monoteísmo original, como vimos na declaração anterior de Romanos 1.19.

Quer dizer, o paganismo se originou do monoteísmo primitivo e não o contrário. Isso é evidenciado no fato de que a maioria das religiões pré-alfabetizadas possuía uma visão monoteísta de Deus. William F. Albright reconhece, igualmente, que os respectivos deuses dessas religiões “eram considerados todo-poderosos e cridos como criadores do mundo; eram, geralmente, deidades cósmicas e seus adeptos, frequentemente, acreditavam que tais deuses residiam no céu”.

Essa concepção é claramente contrária às concepções politeístas e animistas de deidade.

Não há nenhuma razão concreta para negar o monoteísmo primitivo apresen-tado pela Bíblia. Pelo contrário, há toda evidência para acreditar que o monoteís-mo foi a primeira concepção religiosa que algumas religiões deturparam. De fato, essa é a posição que melhor se ajusta à forte evidência de que o monoteísmo reve-lado na Bíblia foi distorcido pelas tendências humanas.

Em resumo, a concepção correta de Deus, o monoteísmo primitivo, foi resga-tada e não evoluída durante séculos. Deus fez o homem conforme a sua imagem, mas os homens corromperam esta verdade (Rm 1.23).

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Capítulo 4q A existência de Deus

Quem é Deus? E o que Ele fez ou faz?

Hoje, um número cada vez maior de pessoas diz não acreditar na existência de Deus. São os ateus, que afirmam que se Deus não pode ser visto, ouvido ou tocado, então não há como provar que ele existe. Se os ateus não acreditam na existência de Deus, logo, não acreditam também na Bíblia. E muito menos em Jesus Cristo.

De fato, a Bíblia não procura discutir a existência de Deus. Ela já começa nar-rando a criação de todas as coisas como se a existência de Deus fosse um fato que não pode ser colocado em dúvida. Assim lemos no livro de Gênesis: “No princípio criou Deus os céus e a terra.” (1.1). A Bíblia chama aquele que nega a existência de Deus de tolo: “Disse o néscio no seu coração: Não há Deus” (Sl 14.1).

Ainda que muitas pessoas, hoje, não acreditem na existência de Deus, o núme-ro de pessoas que acredita é muito maior. Até pessoas que não frequentam nenhu-ma igreja nem “praticam” qualquer religião acreditam que Deus existe. E por quê? Porque certas coisas apontam para um ser superior.

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Muitas pessoas não crêem na Bíblia, mas crêem na existência de Deus, por-que muitos fatos e elementos seriam impossíveis de serem explicados sem a refe-rência divina. Geralmente, os ateus são pessoas muito cultas e inteligentes. Isso se dá porque é necessário criar teorias bem engendradas para negar a existên-cia de Deus. É como estar andando em um caminho e topar com um compu-tador no meio do deserto e arrumar uma explicação lógica para aquele fato, mas sem envolver a ação humana. É preciso muita criatividade e capacidade intelectual.

Deus realmente existe! Com certeza, o conhecimento de Deus, conforme a Bíblia, é algo diferente do conhecimento científico baseado nos sentidos. A se-guir apresentaremos os argumentos em favor da existência de Deus em oposição ao ateísmo.

Uma pesquisa do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), realizada em 2000, dá conta de que aumentou o número dos ateus, pessoas que afirmam abertamente não crer na existência de algum Deus ou de um mundo sobrenatural.

A maioria desse contingente é ateia na prática, ou seja, não apresenta nenhum tipo de fé religiosa e não “perde” tempo refletindo sobre a existência de Deus. São pessoas que, de fato, assumiram um modus vivendi em que não há espaço para a religião. Mas, apesar de suas convicções, não apresentam argumentos sólidos para o seu ateísmo.

Um número mais reduzido desse grupo, tanto no Brasil quanto no exterior, pode ser classificado como ateus filosóficos, isto é, pessoas racionalmente preparadas para justificar sua descrença, pois se ocupam em formular argumentos lógicos que justifiquem a sua posição. Poderíamos, ainda, chamar os ateus filosóficos de “incrédulos conscientes”.

Também, vale destacar um outro tipo de ateu, mais agressivo, detectado pela pesquisa em pauta: o militante. Esses ateus não somente não crêem na existência de Deus como também são contra aos que crêem. Tanto é que procuram persuadir os outros para a sua “fé sem deus”. Então, criaram o site Sociedade da Terra Redonda, cujo objetivo é reunir todos os ateus em sua militância.

Salientamos que os ateus militantes parecem dirigir toda a sua animosidade principalmente aos cristãos. Seus sites estão repletos de refutações à Bíblia e, entre eles, existem pessoas que se ocupam em desmentir os milagres de cura que ocor-rem nas igrejas evangélicas e também em apontar as falhas da Igreja Cristã através da História, entre outras coisas. Além de negarem a existência de Deus de forma geral (pois ateu significa “sem Deus”), acabam se tornando, na maioria das vezes, antideus, isto é, contra Deus, ou, mais precisamente, anticristãos.

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O ateísmo, como vem sendo propagado atualmente, não se contenta apenas em não crer na existência de Deus. Prega que a religião não é só inútil, mas também é má. E, ao lado de sua crítica à religião, divulga uma crença que dá possibilidade ao homem de resolver seus próprios problemas sem necessitar de uma força exte-rior. Em verdade, é um humanismo, não um humanismo que valoriza o ser humano, mas um humanismo que opõe Deus e homem, colocando este último como senhor e salvador de si mesmo.

O Credo Americano Ateísta corrente declara: “Um ateísta ama a si mesmo e ao seu próximo ao invés de amar um deus. Um ateísta aceita que céu é uma coisa pela qual nós devemos trabalhar agora, aqui na terra, para que todos os homens possam desfrutar juntos. Um ateísta admite que ele não pode conseguir ajuda pela oração, mas que devemos encontrar em nós mesmos a convicção in-terior e a força para achar a vida, para resolver seus problemas, para subjugá-la e para desfrutá-la. Um ateísta aceita que somente no conhecimento de si mesmo e de seu próximo os homens podem encontrar o entendimento que o ajudará em uma vida de plenitude”.

Um aspecto importante que precisa ser mencionado: os ateus não negam ape-nas a existência de Deus, mas de qualquer realidade que não seja material, isto é, que não possa ser percebida pelos cinco sentidos. Para eles, não existe uma dimen-são espiritual habitada por anjos ou demônios. A única coisa que existe é o mundo físico, tangível, e nada mais além disso.

O impacto do pensamento científico

“A fundação indestrutível do edifício inteiro do ateísmo é a sua filosofia: o materialismo, ou naturalismo, como também é conhecido. Essa filosofia

considera o mundo como ele é na verdade, visto à luz dos dados providos pela ci-ência progressiva e experiência social. O materialismo ateísta é o resultado lógico de um conhecimento científico alcançado durante séculos”.

A colocação acima pertence ao artigo Materialismo versus Idealismo, de Madalyn Murray O’Hair, fundadora da organização American atheists (“Ateístas americanos”), que serve de inspiração para os ateus brasileiros. Com essa afirmação, a autora lança uma das pedras de toque do pensamento ateísta: o conhecimento científico.

Embora não signifique que todos os envolvidos com o pensamento científico sejam ateus, o contrário geralmente é verdade. Os ateus atribuem sua incredulida-de às coisas divinas e espirituais alegando que as mesmas não podem ser compro-vadas cientificamente. Basta lembrar que Yuri Gagarin, o primeiro russo a andar no espaço, fez questão de dizer “Não vi nenhum Deus”.

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Desde o período do Iluminismo, o conhecimento científico foi adquirindo mais e mais prestígio. Os benefícios trazidos pela tecnologia criaram um sentimento geral de que o homem poderia, sozinho, resolver seus próprios problemas, bastando, para isso, ter o conhecimento necessário. De repente, o Universo não era mais um objeto misterioso movido pelas mãos do Altíssimo, mas uma máquina perfeita regida por leis que podiam ser medidas e utilizadas em proveito próprio. O século 18 viu surgir a filosofia materialista de David Hume, na qual não havia lugar para quaisquer coisas que não fossem tangíveis, palpáveis. A física de Isaac Newton e a química eram ciências suficientes para explicar todos os fenômenos.

É óbvio que a descoberta das leis da física e da química não é um fundamen-to aceitável para negar a existência de Deus. Toda lei tem seu legislador e a coisa mais fácil de concluir é um Universo regido por leis estabelecidas pelo criador. Mas muitos, no afã de menosprezar a fé, lançaram mão desse instrumento e abraçaram as afirmações ateístas.

Há um site americano que divulga uma lista de “celebridades ateístas” que inclui filósofos (Thomas J. Altizer, Paul e Patrícia Churchland, Paul Edwards, Antony Flew, Michael Martin e Kai Nielsen), cientistas (Francis Crick, Richard Leakey e Ste-phen J. Gould), políticos (Fidel Castro e Tom Metzger), famosos (Woody Allen, Ingmar Berman, Bill Blass, Marlon Brando, Warren Buffett, George Carlin, Dick Cavett, George Clooney, Patrick Duffy, Katherine Hapburn, Arthur Miller, Jack Nicholson e Penn and Teller) e homens de negócio (Bill Gates, entre outros também conhecidos).

Todavia, ser cientista não obriga ninguém a ser ateu. Se isso fosse verdade, todos os cientistas seriam ateus, o que não é um fato. Inclusive, um dos maiores pensadores do século 20, autor do best-seller Uma breve história do tempo, não vê qualquer dificuldade em crer na existência de Deus. Muito pelo contrário: “O pai da cosmologia moderna, o inglês Stephen Hawking, acha fascinante a chamada hipótese teológica, a ideia de que entender Deus seria o alvo supremo da física, mas alega que o caminho para chegar lá é a ciência e não a metafísica ou o misticismo. Quando lhe perguntaram se Deus teve um papel no Universo antes do big-bang, a suposta explosão primordial que teria criado o cosmo, Hawking admitiu que sim: acho que só ele pode responder porque o Universo existe”.

Sobre este assunto, compartilhamos uma citação do teólogo Charles Hodge, que deveria ser observada por aqueles que defendem o pensamento científico: “Desde os primórdios da ciência moderna, vêm emergindo constantemente apa-rentes discrepâncias entre a natureza e a revelação, o que, por algum tempo, tem ocasionado grande escândalo a crentes zelosos; em cada exemplo, porém, sem a menor exceção, tem sido descoberto que o erro se encontra ou na generalização apressada da ciência, devido ao conhecimento imperfeito dos fatos, ou na inter-pretação tendenciosa das Escrituras”.

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O efeito Charles Darwin

“Após ter lido A origem das espécies, de Charles Darwin, Karl Marx escre-veu uma carta ao seu amigo Lassalle, na qual exulta porque Deus (pelo

menos nas ciências naturais) recebeu o golpe de misericórdia”.

Não que essa fosse a intenção do naturalista Charles Darwin, mas suas ideias foram e ainda são utilizadas pelos ateus do mundo inteiro como argumento para provar que o simples fato de o mundo existir não demanda a existência de um Cria-dor. Segundo a teoria da Evolução das espécies, o mundo é o resultado de bilhões de anos de evolução, pela qual as formas de vida mais simples evoluíram para as formas de vidas mais complexas, até chegarem ao homem.

Essa questão ferveu na Inglaterra do século 19 e, depois, no mundo inteiro. Conceber o Universo em termos evolutivos foi o padrão que, desde então, serviu para considerar a evolução como algo inerente à natureza de todas as coisas. Assim, não havia a necessidade de um agente externo, ou seja, Deus. Com sua te-oria, Darwin proporcionou aos incrédulos aquilo que ainda lhes faltava: uma “base científica” para a negação de Deus.

Isso, no entanto, não significa que Darwin estava negando a existência de Deus. Em verdade, ele estava atribuindo o fato biológico ao Criador. Mas aqueles que buscavam ensejo para anular o argumento da criação como prova da existência de Deus, usaram sua teoria como base. Logo, ser ateu por causa da evolução era uma opção de crença e não uma consequência da teoria de Darwin. Até porque havia muitos teístas (pessoas que admitem a existência de um Deus pessoal como causa do mundo) entre aqueles que acreditaram na evolução.

Nosso propósito, aqui, não é discutir sobre a teoria da Evolução das espécies. Mas é importante saber que, mais de cem anos depois, muitas dúvidas ainda pairam sobre essa teoria, insuficiente para explicar a origem do homem. Embora admita a evolução, o historiador sueco Karl Grimberg, no princípio de sua História universal, comenta o seguinte: “Se [conjunção condicional] a estrutura anatômica do ho-mem é o culminar de uma longa evolução, foi, no entanto, repentino o nascimento da sua inteligência. Tudo faz supor que o limiar por onde se ascendeu diretamente o pensamento foi transposto de uma só vez”.

Grimberg fez essa declaração em 1941. Mas é impressionante uma observação da revista Veja sobre o comentário de um dos maiores neodarwinistas da atualida-de: “... o biólogo Ernst Mayr, da Universidade de Harvard, também concorda que apenas o desenrolar das leis naturais talvez explique o surgimento da vida na terra — mas isso certamente não pode ser invocado para explicar o aparecimento de seres inteligentes. Lendário pelo ceticismo, Mayr não fala em milagre. Nem pode.

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Ele é considerado o maior neodarwinista vivo. Mas seu cálculo sobre a possibilidade de a natureza produzir seres inteligentes pelos processos evolutivos conhecidos é quase uma sugestão de que os seres humanos são mesmo produtos sobrenaturais”.

A espada de Karl Marx

De todos os movimentos que se rebelaram contra a crença em Deus, o mar-xismo foi o mais relevante. Toda a ideologia marxista e as demais que dele

se originaram (comunismo, socialismo, leninismo e maoísmo) apresentavam uma aversão profunda contra toda e qualquer religião, principalmente o cristianismo. O ateísmo foi ensinado nas escolas e inculcado nos cidadãos que viviam sob essa orientação ideológica desde a mais tenra idade e em todo o lugar. Muitos dos argumentos que os ateus atuais lançam contra Deus eram comumente utilizados pelos países comunistas e socialistas.

“O ateísmo de Marx, certamente, era de uma espécie extremamente militante. Ruge escreveu a um amigo, Bruno Bauer, Karl Marx, Christiansen e Feuerbach estão formando uma nova ‘Montagne’ e fazendo do ateísmo o seu lema. Deus, religião e imortalidade são derrubados de seu trono e o homem proclamado Deus”. E George Jung, um jovem próspero, advogado de Colônia e partidário do movimento radi-cal, escreveu a Ruge: “Se Marx, Bruno Bauer e Feuerbach, juntos, fundarem uma revista teológico-filosófica, Deus faria bem em se cercar de todos os seus anjos e se entregar à autopiedade, pois estes certamente o tirarão de seu céu [...] Para Marx, de qualquer forma, a religião cristã é uma das mais imorais que existe”.

Como podemos ver, nem sempre o ateísmo existiu como uma crença passiva, como uma indiferença à religião. Dentro do conceito marxista, o ateísmo deveria substituir a crença em Deus, nem que para isso fosse necessário usar de violência. Não precisamos registrar aqui os milhares de mártires resultantes da implantação da ideologia comunista. Como escreveu Richard Wurmbrand, fundador da missão A voz dos mártires: “Posso entender que os comunistas prendam padres e pastores como contra-revolucionários. Mas por que os padres foram forçados a dizer a missa sobre excrementos e urina, na prisão romena de Piteshti? Por que cristãos foram tor-turados para que tomassem a comunhão com esses mesmos elementos? Por que a obscena zombaria da religião?”

Bases históricas dos ateusAlguns sites, como o www.oateufeliz.com.br, por exemplo, fazem menção das

mortes efetuadas pela Inquisição católica e pela colonização protestante na Amé-rica para combater a crença em Deus. Todavia, querer provar que Deus não existe

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por esse motivo é um tanto quanto sem fundamento. Os ateus não podem esque-cer que Stálin, Lênin e Mao Tse-tung mataram milhões de pessoas inspirados no so-cialismo ateu, conforme divulgado por Karl Marx.

Da mesma forma, o Nazismo dizimou a raça judaica e milhares de outras minorias por conta de suas teorias racistas, baseadas no darwinismo e nas ideias do filósofo ateu Friederich Nietzsche. Mas não podemos negar a existência de Marx, Darwin e Nietzsche pelo fato de seus escritos terem sido utilizados de forma perversa.

Na verdade, as guerras e os massacres ocorrem motivados pelo desejo de po-der e pela ambição por riquezas. A religião apenas serve de justificativa para tais atos, assim como o ateísmo serviu de motivo para que milhares de cristãos fossem massacrados em países comunistas. Assim, se a religião, por motivos históricos, pode ser classificada como nociva, o ateísmo também pode. Se, porém, separarmos os frutos bons dos ruins, veremos que a fé em Deus produziu os melhores.

Se os homens erraram na história do cristianismo, isso apenas indica que eles estavam fora dos padrões de Deus e não que isso seja um fundamento que sirva para provar que Deus não existe. Uma coisa é dizer que Deus não existe. Outra bem diferente é mostrar que o homem não tem obedecido a Deus como deveria.

Deus realmente existeAs Escrituras não procuram, em nenhum ponto, provar a existência de Deus.

Apenas a admite. Os santos do Antigo e do Novo Testamentos que falaram inspira-dos por Deus não diziam que acreditavam em sua existência, mas que o conheciam — o que depreende bem mais. Com certeza, o conhecimento de Deus, conforme a Bíblia, é algo diferente do conhecimento científico baseado nos sentidos.

Mas, então, para que tentar provar a realidade de Deus?

Em primeiro lugar, porque muitos são sinceros em suas dúvidas. É verdade que alguns não querem crer e, por isso, procuram desculpas para sua atitude. Outros querem acreditar, mas, infelizmente, encontram diversos motivos para não fazê-lo. É aí que entramos com a evidência.

Em segundo lugar, porque tudo aquilo que fortalece a nossa fé é útil. É por isso que muitos buscam provas, não para crerem, mas porque já crêem.

E, em terceiro lugar, porque esta é uma maneira de estarmos conhecendo um pouco mais da natureza de Deus e, com certeza, isso é algo bom e reco-mendável.

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Sendo assim, a seguir compartilhamos uma tabela que traz alguns argumentos em favor da existência de Deus:

Todo efeito tem uma causa apropriada. Esse argumento re-monta a Aristóteles e foi amplamente explorado por Tomás de Aquino em sua Suma teológica. Geralmente, dentro des-sa linha de argumentação, Deus é descrito como a “Causa não causada”, “o Motor não movido”.

Argumento da causa e

do efeito

Esse é o argumento teleológico. O Universo é um grande pro-jeto, tendo complexidade (muito cheio de elementos) e es-pecificidade (características nítidas e constantes). A ordem e o propósito num sistema implicam inteligência e propósito em sua causa; o Universo tem um designer transcendente, um originador e mantenedor das suas leis.

Argumento da causa da ordem e do propósito no

Universo

Esse é o argumento ontológico e defende que Deus é um ser absolutamente perfeito. Todo homem, mesmo que sufocada e vagamente, tem a ideia de um Deus infinito e perfeito. Esta noção, por ser infinitamente superior ao homem e ao Universo, não pode ter se originado no homem nem no Universo, logo, tem sua origem em Deus, que existe e é infinito e perfeito.

Argumento da causa

da ideia de Deus

Esse é o argumento antropológico. Somos seres morais. A ideia de certo e errado permeia toda a nossa vida. Uma voz “insilenciável” fala incessantemente à nossa consciência, exi-gindo obediência e apontando para um juiz que punirá cada desobediência. Essa voz que fala à consciência não é impos-ta pelo indivíduo nem pela sociedade (freqüentemente lhes é contrária!); portanto, existe alguém que fala à nossa cons-ciência, que é bom, justo juiz, Senhor, autor e mantenedor de uma lei moral permanente, absoluta e mandante: Deus. Leis morais implicam em um legislador moral.

Argumento da causa da

moral

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Capítulo 5q Os atributos de Deus

Uma pergunta que muitas crianças fazem é: “Como é Deus?”.

De seu jeito simples, elas estão perguntando a respeito da natureza de Deus, e não se trata de uma pergunta sem nenhuma importância. Não basta apenas falarmos o nome de alguém. Precisamos conhecer suas características, ou seja, aquilo que o distingue dos demais seres. Se, por exemplo, dissermos que o elefante é um animal de pernas e pescoço compridos, de cor de laranja, cheio de manchas pretas, embora usemos a palavra “elefante”, não estamos nos referindo ao mesmo animal, corpulento, com grandes orelhas e uma grande tromba. A descrição de sua natureza o identifica e não apenas o nome.

A primeira coisa que precisamos saber a respeito do Deus da Bíblia é que Ele é um Deus pessoal. Alguns falam que Deus é uma energia, uma força cósmica ou algo assim. No seriado Guerra nas estrelas, os personagens sempre repetiam uma frase muito conhecida: “Que a força esteja com você”. Era uma referência a Deus como sendo apenas uma força. Falavam ainda do lado negro dessa força. Essas opiniões sobre Deus não são verdadeiras, porque a Bíblia ensina que Deus é uma pessoa, não uma força.

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Natureza espiritual de Deus

Deus é um ser espiritual. Isso significa que ele não é material como nós. Não pode ser medido ou pesado. Não se relaciona com os seres humanos por

meio dos sentidos, como visão ou audição. Sua natureza é espiritual (Jo 4.23,24). Quando a Bíblia menciona os olhos, os ouvidos ou as mãos de Deus, está usando comparações para que possamos entender. Deus é tão diferente e superior a tudo o que conhecemos que se a sua Palavra não fosse assim, não compreenderíamos nada. Quando a Bíblia diz que o homem foi criado à imagem e semelhança de Deus, não quer referir com isso semelhanças físicas, mas, sim, semelhanças espiritu-ais. Esse tipo de linguagem simbólica para se referir a Deus é chamada “antropo-morfismo”, isto é, a atribuição de características humanas a Deus.

Natureza invisível de Deus

Uma das grandes características de Deus revelada ao povo de Israel é sua invisibilidade. Essa única característica do Deus de Israel por si só era revo-

lucionária. Os deuses das nações vizinhas a Israel eram identificados com coisas visíveis e palpáveis. Os povos geralmente pensavam que somente se um deus fosse tangível poderia ser eficaz e ajudar os seres humanos.

O Salmo 115 é uma expressão dessa admiração dos povos pagãos contra a crença dos israelitas em um Deus invisível: “Porque dirão os gentios: Onde está o seu Deus? Mas o nosso Deus está nos céus; fez tudo o que lhe agradou. Os ídolos deles são prata e ouro, obra das mãos dos homens. Têm boca, mas não falam; olhos têm, mas não vêem. Têm ouvidos, mas não ouvem; narizes têm, mas não cheiram. Têm mãos, mas não apalpam; pés têm, mas não andam; nem som algum sai da sua gar-ganta. A eles se tornem semelhantes os que os fazem, assim como todos os que ne-les confiam. Israel, confia no Senhor; ele é o seu auxílio e o seu escudo” (Sl 115.2-9).

O Deus bíblico não pode ser representado por esculturas ou pinturas. Ele está muito além daquilo que o homem pode imaginar e, portanto, tentar representá-lo de qualquer forma seria um desrespeito à sua natureza. Quando entregou seus mandamentos a Moisés no Monte Sinai, o Senhor proibiu terminantemente o povo de possuir qualquer outro Deus, bem como criar qualquer imagem dele (Êx 20.3-6).

Natureza imutável de Deus

Esse aspecto da natureza de Deus tem implicações muito importantes. Algumas teologias novas, como a Teologia do processo ou Teísmo aberto, querem atribuir

a Deus um aperfeiçoamento progressivo. A imutabilidade de Deus nos ensina que não se pode acrescentar nada a Ele. Deus é perfeito. Sua natureza e atributos não mudam.

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O Senhor sente e age sempre em coerência com sua natureza e caráter imutáveis (Ml 3.6). A base para a imutabilidade de Deus são a sua simplicidade, a sua eternida-de, a sua auto-existência e a sua perfeição.

Simplicidade, porque sendo Deus uma substância simples, indivisível, sem mistu-ra, não está sujeito à variação (Tg 1.17).

Eternidade, porque Deus não está sujeito às variações e circunstâncias do tempo, por isso Ele não muda (Hb 13.8).

Auto-existência, porque uma vez que Deus não é causado, mas existe em si mesmo, então Ele tem de existir da forma como existe, sendo sempre o mesmo. Sua resposta ao questionamento de Moisés (EU SOU O QUE SOU) demonstra sua auto-existência e imutabilidade (Êx 3.14-16).

Perfeição, porque toda mudança tem de ser para melhor ou pior e, sendo Deus absolutamente perfeito, jamais poderá ser mais sábio, mais santo, mais justo, mais misericordioso e nem menos. Deus é imutável como a rocha (Dt 32.4).

Essa imutabilidade não significa imobilidade. Durante muito tempo, por influ-ência do filósofo grego Aristóteles, a imutabilidade soou como que se referindo a um Deus imóvel, quase um ser impessoal. Todavia, claramente a Bíblia mostra que o nosso Deus é um Deus de ação (Is 43.13).

Essa imutabilidade implica impossibilidade de arrependimento. Alguns versícu-los falam de Deus como se ele se arrependesse, falam de Deus mudando de atitude em relação às ações humanas (Êx 32.14, 2Sm 24.16, Jr 18.8; Jl 2.13). Trata-se de an-tropomorfismo, ou seja, uma forma de descrever a ação de Deus, assemelhando-a as atitudes humanas. Somente dessa maneira o agir de Deus poderia ser compre-ensível ao homem, no tempo e na história.

O Senhor é imutável em suas promessas (2Co 1.20); em sua benignidade (Is 54.10); em sua justiça (Sl 119.142); em seu amor (Gn 18.25,26). Não é possível que ele se torne menos ou mais justo, misericordioso, fiel e amoroso do que ele de fato é. As manifesta-ções de tais atributos podem parecer mais ou menos intensas, conforme a nossa ma-neira limitada de ver as coisas, em nossa estreita perspectiva. Todavia, isso não repre-senta uma oscilação do caráter divino, apenas demonstra que somos seres limitados.

Natureza trina de Deus

O Antigo Testamento, documento composto em meio a um contexto (mun-do) politeísta, insiste fortemente em afirmar a questão da unidade de Deus.

No Novo Testamento, por sua vez, vemos a característica triúna de Deus, isto é, um único Deus subsistente eternamente em três pessoas. A aceitação da divindade de Cristo e do Espírito Santo, por parte dos apóstolos e dos demais crentes da Era Cris-tã, demonstra que eles reconheceram essa qualidade da natureza divina.

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Durante séculos, um relacionamento com o Pai, com o Filho e com o Espíri-to Santo, considerado um relacionamento com a divindade, desenvolveu-se sem qualquer problema. Somente mais tarde algumas colocações causaram conflitos com o contexto da Igreja, sendo necessário que homens dotados de grande ca-pacidade colocassem sua mente em favor da verdade, tentando resolver essa questão.

A verdade revelada no Novo Testamento é a de que Deus é único. Esse único Deus se revelou e se revela neste mundo por meio de três pessoas distintas, denomi-nadas regularmente de Pai, Filho e Espírito Santo. Essa é uma característica divina que, por sua importância, será estudada em um capítulo à parte.

A grandiosidade do ser de Deus nos faz lembrar, constantemente, as limita-ções do nosso conhecimento a seu respeito. Definições e conceitos sempre ficarão aquém do que verdadeiramente Deus é. No entanto, o Senhor se revelou ao ho-mem na história e por meio da inspiração das Escrituras. Dessa maneira, podemos compreender um pouco de sua natureza.

Para conhecermos um pouco sobre quem é Deus, precisamos nos aprofundar um pouco mais a respeito de suas qualidades e características. Precisamos ir além da sua espiritualidade, invisibilidade e imutabilidade. Precisamos estudar o que a teologia convencionou chamar de “os atributos de Deus”.

Os seres se distinguem entre si e se fazem conhecer por aquilo que lhes é próprio. Dizer que o céu é preto e as árvores são achatadas, é o mesmo que lhes atribuir ca-racterísticas que de fato não possuem. Dizer que o ser humano pensa, sente e tem vontade são formas de identificar e distinguir o homem dos outros seres, como as pe-dras, por exemplo, já que estas não pensam, não sentem e não têm vontade.

Alguns dos atributos divinos não podem ser encontrados em nenhum outro ser, somente em Deus. Essas qualidades ou atributos tornam Deus diferente e superior à sua criação. Os atributos divinos são chamados de “incomunicáveis”, isto é, não podem ser comunicados, não podem ser repartidos. Nenhum outro ser no Universo possui esses atributos.

Existem, portanto, outros atributos, outras qualidades divinas, que Deus deseja repartir com suas criaturas. Obviamente, essa outra categoria de atributos divinos é muito superior. Nenhum ser possui o mesmo grau de santidade que Deus, por mais perfeito que alguém seja. Nenhum ser possui amor quanto Deus, ou sabedoria ou outra qualidade qualquer. Mas as pessoas podem receber do Senhor um pouco desses atributos que, quando compartilhados, são chamados de “atributos comu-nicáveis”. Ou seja, podem ser repartidos com outros seres.

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O fato de o ser humano ter sido criado à imagem e semelhança de Deus faz que esses atributos sejam plenamente compreensíveis e, até mesmo, compartilhados. Quando se pensa no caráter de Deus se manifestando no cristão, estamos falando desses atributos que, em certo grau, nos são transmitidos. Entendemos que a restau-ração da imagem de Deus no homem está profundamente ligada ao compartilha-mento desses atributos divinos com o homem regenerado.

Essa é apenas uma das maneiras didáticas usadas para classificar as qualidades ou atributos de Deus. Sabemos que, mesmo dividindo essas qualidades dessa ma-neira, não é possível descrever Deus completamente. Trata-se apenas de um meio utilizado pela nossa mente finita para compreender Deus um pouco mais.

Vejamos, enfim, esses atributos:

Atributos não-comunicáveis A eternidade de Deus

Deus é eterno. Ele não teve princípio e nunca terá fim. Nunca houve um tempo em que Deus não existisse (Sl 90.2).

Tudo o que fazemos tem começo e fim. Estamos acostumados a fazer tudo com datas. Quando estudamos história, lemos sobre o que certas pessoas fizeram no passado, às vezes, em um passado muito distante. Mesmo assim, sabemos o ano em que determinado evento ocorreu ou pelo menos o século em que foi realizado.

No caso de Deus, não temos como marcar uma data para o início de sua exis-tência. Ainda que pensássemos em números grandes, como bilhões e trilhões, não acharíamos o ponto em que Deus começou a existir. Não podemos atingir o mo-mento em que não havia Deus pelo simples fato de que esse instante nunca existiu.

No livro de Gênesis, Deus é chamado de El Olam (na língua hebraica), que foi traduzido para a língua portuguesa como “O Deus Eterno” (Gn 21.33). Deus é in-criado. Ele nunca teve um início e nunca terá um fim. Embora a nossa mente finita jamais possa compreender isto completamente, a verdade é que Deus nunca teve uma origem (Dt 33.27).

A onipotência de Deus

Outra característica muito importante de Deus mostrada nas Escrituras Sagra-das é a sua capacidade de fazer qualquer coisa. Deus não é limitado por nada no Universo, a não ser por ele mesmo. Deus é quem fez tudo existir e quem faz tudo funcionar. Já na criação, vemos um pouco desse poder. Também vemos isso pelo fato de ele sustentar todas as coisas.

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O termo “onipotência” é oriundo do latim omni, que significa “tudo”, e potentia, que quer dizer “poder”. Logo, onipotência significa “todo poder”.

Obviamente, Deus colocou leis na sua criação que faz que ela funcione de forma regular. E, mesmo assim, quando o Senhor deseja, pode fazer que as coisas funcionem de modo diferente (Jó 42.1,2).

Nenhum outro ser, no céu ou na terra, poderia abrir o Mar Vermelho (Êx 14), ou fazer o Sol parar (Js cap.10), entre tantas outras coisas.

A Bíblia declara que os anjos são seres muito poderosos. Conseguem realizar muito mais coisas que os seres humanos. Mesmo assim, não são onipotentes. Por isso, um outro nome de Deus que aparece no Antigo Testamento é El Shadday (também hebraico), que foi traduzido para a língua portuguesa como “Deus Todo-Poderoso” (Gn 17.1). Até mesmo no livro de Apocalipse, Deus se apresenta assim para João: “Eu sou o Alfa e o Ômega, o princípio e o fim, diz o Senhor, que é, e que era, e que há de vir, o Todo-Poderoso” (1.8).

Deus só conhece um limite: o seu caráter moral. Por isso, não pode mentir nem negar sua essência. Mas, em termos de realizações, pode fazer qualquer coisa, embora essa faculdade não o obrigue a interferir, continuadamente, em tudo o que não estiver correto. Ele criou seres, como, por exemplo, os anjos e os homens, a quem deu livre-arbítrio. Por sua própria decisão, Deus não interfere gratuitamente na vontade humana ou angelical.

A onisciência de Deus

Outra característica que só Deus possui é sua capacidade de conhecer todas as coisas. Deus sabe, conhece e entende tudo a respeito de tudo. Conhece o pas-sado, o presente e o futuro de cada coisa que existe no Universo. Não existe nada que ele não saiba. Deus tem ciência de tudo em todo o momento.

Como já vimos, omni vem do latim, e significa “tudo”. Ciência também veio do latim, sapiência, e significa “conhecimento”. Logo, onisciência significa “todo conhecimento”.

Deus conhece as palavras, os pensamentos e as ações de cada ser antes mes-mo que eles aconteçam (Sl 139.1-6, 15,16). Nossa mente finita também tem muita dificuldade em compreender isso. Por mais inteligente que seja um ser humano, e por mais conhecimento que tenha, haverá sempre um limite. Mesmo um compu-tador, que pode armazenar bilhões de informações, jamais conseguirá armazenar tanto conhecimento quanto Deus.

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Se imaginarmos quantas coisas já aconteceram desde que o mundo foi criado, e quantas coisas os homens já disseram, pensaram e fizeram, ficamos perplexos que Deus não apenas tenha conhecimento de tudo isso como do que acontecerá no futuro. É espantoso!

E se sabemos que o Senhor conhece todas as coisas, sabemos que não podemos esconder nada de Deus. Mesmo os nossos pensamentos mais escon-didos, que não contamos a ninguém, Deus conhece. As coisas erradas que são feitas escondidas não estão ocultas para Deus. O Senhor deu liberdade para os homens, mas um dia todos terão de prestar contas por tudo o que fizeram (Ec 12.13,14).

Temos de fazer a coisa certa, porque mesmo que ninguém veja, Deus vê. Não precisamos ter vergonha de falar qualquer coisa para Deus quando estamos oran-do, porque ele já sabe. A onisciência de Deus garante que ele está sempre olhan-do para a nossa vida.

Só Deus é onisciente. Por isso, não fazemos orações para pessoas que já morre-ram, para Maria ou para anjos, pois estes não têm como ouvir o pedido dos milhões de pessoas que estão ao redor do mundo. Somente um ser onisciente tem essa ca-pacidade. E esse ser é Deus.

Deus conhece o nosso coração (1Jo 3.20); Deus conhece tudo o que aconte-cerá (At 15.18); Deus conhece tudo o que aconteceria em todas as circunstâncias possíveis (Mt 11.23); Deus conhece o plano total dos séculos (Ef 1.9-12); Deus conhe-ce o bem e o mal (Pv 15.3); Deus conhece os homens (Sl 33.13-15); Deus conhece tudo na natureza, toda estrela, todo passarinho (Sl 147.4); Deus conhece os feitos do homem (Sl 139.2,3); Deus conhece as palavras do homem (Sl 139.4); Deus co-nhece os pensamentos e as imaginações do homem (1Rs 8.39); Deus conhece as necessidades e as tristezas do homem (Mt 6.32).

O conhecimento de Deus é total. Ele sabe todas as coisas, mesmo as coisas mínimas. E isto se estende também à questão do tempo. Tanto o eterno passado quanto o eterno futuro são de sua ciência. Nada existe ou acontece que ele não saiba (Hb 4.13).

A onipresença de Deus

Além de poder fazer qualquer coisa, de saber tudo a respeito de tudo, Deus está presente em todos os lugares. Não existe um único lugar no Universo onde Deus não se encontre. Tanto no mundo físico quanto no mundo espiritual, sua presença é certa. Ninguém pode se esconder de Deus. Não existe um lugar onde alguém possa ir que ele não esteja.

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Não é difícil entendermos o significado dessa palavra, pois já sabemos de onde vem omni. Se omni significa “tudo”, então, onipresença significa “presente em tudo”, ou que Deus está presente em todos os lugares.

Assim como no caso da onisciência de Deus, o rei Davi também falou de sua onipresença: “Para onde me irei do teu espírito, ou para onde fugirei da tua face? Se subir ao céu, lá tu estás; se fizer no inferno a minha cama, eis que tu ali estás tam-bém. Se tomar as asas da alva, se habitar nas extremidades do mar, até ali a tua mão me guiará e a tua destra me susterá. Se disser: decerto que as trevas me en-cobrirão; então a noite será luz à roda de mim. Nem ainda as trevas me encobrem de ti; mas a noite resplandece como o dia; as trevas e a luz são para ti a mesma coisa” (Sl 139.7-12).

Isso não significa que o Senhor esteja em todos os lugares em algum sentido físico. Já aprendemos que Deus é um ser espiritual e não material. Aprendemos na escola que matéria é tudo aquilo que ocupa lugar no espaço. Até o vento ocupa lugar no espaço. Mas Deus não ocupa espaço, porque, como vimos no início deste capítulo, Deus não é matéria, é espírito.

Deus não está contido no Universo. É o Universo que está contido em Deus. Deus está presente em todo o Universo, e vai ainda além dele. Isso é difícil para entendermos, mas é o que a Bíblia ensina.

A onipresença de Deus não significa que ele está em todos os lugares na mesma intensidade ou sentido. Sabemos, por exemplo, que a Bíblia fala do céu como habita-ção de Deus: “Assim diz o Senhor: O céu é o meu trono, e a terra o escabelo dos meus pés; que casa me edificaríeis vós? E qual seria o lugar do meu descanso?” (Is 66.1).

Embora esteja em todos os lugares, aprendemos que Deus “habita nos céus”. A intensidade de sua presença é diferente de lugar para lugar, mas mesmo assim não existe um lugar em que ele não esteja.

Conta-se que um filósofo que não acreditava em Deus perguntou a um cris-tão: “Onde está Deus?”. E o cristão lhe respondeu: “Primeiro, quero lhe fazer outra pergunta: “Onde Deus não está?”. Com isso, ele queria deixar bem claro que não existe um lugar, em todo o Universo, onde Deus não se encontre.

Isso é muito importante para a nossa vida. Algumas pessoas vão para certos lu-gares onde dizem que há uma imagem de escultura ou um santo que faz milagres. Andam milhares de quilômetros para chegar até esses lugares. Nós, porém, sabe-mos que o Deus que servimos está em todos os lugares.

Algumas vezes, sentimos essa presença de modo espiritual. Todavia, mesmo quando não sentimos nada, sabemos que Deus é onipresente e está conosco em

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todo o tempo e em todo lugar. Jesus, sendo o Deus Filho, depois de sua ressurrei-ção, deixou para os seus discípulos a promessa de sua presença em qualquer lugar da terra em que eles fossem (Mt 28.19,20).

É muito importante sabermos que o Deus que servimos não é limitado pelas distâncias. Isso nos dá a certeza de estarmos sempre perto dele, mesmo nos luga-res mais difíceis. No lindo Salmo 23, o rei Davi disse algo que demonstra o quanto a onipresença divina é valiosa em todos os momentos da nossa vida: “Ainda que eu andasse pelo vale da sombra da morte, não temeria mal algum, porque tu estás comigo; a tua vara e o teu cajado me consolam” (Sl 23.4).

Atributos comunicáveis

Doravante, falaremos do segundo tipo dos atributos de Deus. Até agora, comentamos sobre os atributos que Deus não pode repartir com outros se-

res. Existem, porém, outros tipos de atributos que são chamados de comunicáveis, porque Deus pode comunicá-los. Isto é, pode reparti-los conosco. São também chamados de atributos morais, porque mostram que Deus é um ser com qualidades que expressam aquilo que é certo (o bem). Como fomos criados à imagem e seme-lhança de Deus, possuímos também esses atributos morais, embora em Deus esses atributos sejam perfeitos e, em nós, imperfeitos.

O amor de Deus

O primeiro desses atributos é o amor. Deus ama. Seu amor é infinito, não tem limites. Seu amor é tão grande que o próprio Deus assim o comparou para que ti-véssemos uma ideia do quanto ele ama: “Porventura pode uma mulher esquecer-se tanto de seu filho que cria, que não se compadeça dele, do filho do seu ventre? Mas ainda que esta se esquecesse dele, contudo eu não me esquecerei de ti” (Is 49.15).

Esse é o amor de Deus: maior do que o amor de uma mãe. E, no Novo Testamen-to, encontramos ainda mais que isso. O Novo Testamento nos ensina que o amor é a essência da própria natureza divina. Deus não consegue deixar de amar, porque ele é amor: “Quem não ama não conhece a Deus, porque Deus é amor” (1Jo 4.8).

Esse amor foi demonstrado na prática. Deus não diz apenas que ama, antes, ele prova o seu amor. Para salvar a humanidade perdida, o Senhor enviou seu Filho para morrer na cruz pelos nossos pecados. Essa é a maior prova do amor de Deus (Jo 3.16).

Nem sempre conseguimos perceber o amor de Deus, assim como nem todas as pessoas aceitam esse amor. Mesmo assim, em muitas coisas Deus demonstra esse sen-timento para com a humanidade, ainda que ela tenha “virado as costas” para ele, adorando falsos deuses ou ficando indiferente à demonstração do seu amor.

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A soberania de DeusPara que possamos compreender mais de Deus, não nos basta apenas conside-

rarmos o amor como sua única qualidade. Precisamos, também, reconhecer que Deus é soberano. Ou seja, é ele quem decide todas as coisas. Deus não depende da vonta-de de ninguém para fazer qualquer coisa, somente da sua própria vontade.

Por que Deus criou o mundo? Porque quis. Por que Deus enviou seu Filho para morrer por nós? Porque quis. Por que Deus responde às nossas orações? Porque quer. Não depende do desejo nem da aprovação de ninguém, mas somente dele próprio. Isso é a soberania de Deus. Lemos assim na Bíblia: “Mas o nosso Deus está nos céus; fez tudo o que lhe agradou” (Sl 115.3).

No Novo Testamento, encontramos o apóstolo Paulo expressando a soberania de Deus por meio de um poema muito bonito: “Ó profundidade das riquezas, tan-to da sabedoria, como da ciência de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis os seus caminhos! Porque, quem compreendeu a mente do Se-nhor? Ou quem foi seu conselheiro? Ou quem lhe deu primeiro a ele, para que lhe seja recompensado? Porque dele e por ele, e para ele, são todas as coisas; glória, pois, a ele eternamente. Amém” (Rm 11.33-36).

Deus poderia escolher não fazer o que fez ou o que faz. Ele poderia não ter criado nada. Contudo, resolveu e assim fez. Deus é soberano para escolher e fazer o que bem entender e nenhuma criatura pode questionar seus motivos e decisões.

Isso significa que devemos a Deus plena obediência. Não podemos impor ao Senhor a nossa vontade. Mas temos de descobrir o que ele deseja para nós. Muitas pessoas não querem fazer a vontade de Deus, não aceitam a soberania dele sobre suas vidas. Quanto mais aprendermos a obedecer ao Senhor, mais felizes seremos, pois sua vontade é perfeita, boa e agradável (Rm12.2).

Só Deus é plenamente soberano. E dele derivam toda autoridade e poder que existem no mundo. Até mesmo o poder das hostes malignas emana de Deus. Muito do que acontece neste Universo, acontece dentro de sua vontade permissiva. Deus é o único ser no Universo que não necessita da permissão de ninguém para realizar algo. Ele faz tudo conforme o “conselho de sua própria vontade” (Ef 1.11).

C. I. Scofield, eminente teólogo da virada do século 19, deixou-nos uma expo-sição importante sobre a questão da vontade de Deus que nos ajuda a entender certas passagens das Escrituras. Scofield fala de três aspectos da vontade de Deus que podem ser observados nas Escrituras:

Aspectos da vontade de Deus

A vontade soberana de Deus. Is 46.9-11 A vontade moral de Deus, isto é, sua lei moral. Hb 13.21 Os desejos de Deus vindo de seu coração bondoso e amoroso. Mt 23.37

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A vontade de Deus certamente se cumprirá em sua totalidade, mas a lei moral é desobedecida pelos homens, e os desejos de Deus são cumpridos apenas na ex-tensão em que são incluídos em sua vontade soberana.

A santidade de Deus

Outra característica de Deus que nos ajuda a entender suas ações é a sua san-tidade. Isso significa que Deus é puro. Ele não faz nada moralmente mau. Assim está escrito no Novo Testamento: “Esta é a mensagem que dele ouvimos, e vos anuncia-mos: que Deus é luz, e nele não há treva nenhuma” (1Jo 1.5).

Isso é santidade. Deus é moralmente puro. O profeta Habacuque nos ensina que Deus é tão puro que não pode sequer olhar para aquilo que é mau (Hb 1.13). Deus é um ser moralmente perfeito. E porque ele é moralmente puro, quer que todas as pessoas que se comprometam em segui-lo sejam também moralmente puras, não se contaminem com as coisas erradas que acontecem neste mundo. Foi isso que ele ensinou aos israelitas. É isso que ele exige de seu povo. O caráter de Deus é santo, por isso, o caráter do povo de Deus também deve ser santo (1Pe 1.14-16).

O bem e o certo é o que Deus deseja. O mal é tudo aquilo que se opõe ou con-tradiz a sua vontade e resiste à sua natureza. Foi essa característica de Deus que Isaías viu os anjos exaltando quando entrou no templo, em Jerusalém (Is 6.1-3).

A justiça de Deus

Deus é justo. Esse é um dos atributos de Deus que, constantemente, é referido em sua Palavra. Alguém já disse que a justiça é a santidade em ação. Isso signi-fica que, apesar de ser soberano, Deus não faz as coisas somente porque deseja fazê-las, como aprendemos resumidamente no tópico sobre a soberania divina. O Senhor faz porque é o correto a ser feito (Gn 18.23-25).

Outra coisa que deve ser levada em conta é que, o fato de Deus ser justo, leva-o a punir o erro. O amor de Deus permite que uma pessoa alcance misericór-dia e perdão quando se arrepende. E a justiça de Deus faz que o homem receba a devida punição quando age de forma errada. As pessoas nem sempre conseguem entender certas coisas porque só aceitam que Deus é amor e não aceitam que ele também exerce a justiça.

Esses dois atributos se encontram em perfeito equilíbrio em Deus, porque ele nem pode deixar de amar, porque isso faz parte de sua natureza, nem pode deixar de ser justo, porque isso também faz parte de sua natureza. Assim como devemos aceitar a sua bondade, também devemos aceitar o seu julgamento, pois é impos-sível que ele faça qualquer coisa que não seja correto (Rm 2.4,5).

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Nem sempre conseguimos avaliar corretamente a justiça de Deus. Claro que ficamos tristes com certas coisas que acontecem a determinadas pessoas. Às ve-zes, até ficamos tristes porque pessoas que julgamos boas passam por algumas situações difíceis. A verdade é que Deus é plenamente justo, e só ele é capaz de retribuir corretamente a cada um. Muitas vezes, só nos resta aceitar essa verdade da Bíblia: Deus é justo e jamais faria qualquer coisa contrária ao seu caráter.

Quando lemos na Palavra a respeito da ira de Deus, isso não significa que ele perdeu o controle e ficou irritado, como acontece com muitas pessoas. Na verdade, a ira de Deus está ligada a três de seus atributos: soberania, santidade e justiça.

O Senhor se aborrece porque os homens desobedecem às suas ordem e fazem tudo errado. Não é maldade da parte de Deus, muito menos descontrole. Mas a correta manifestação do seu caráter, que é santo, justo e soberano.

A fidelidade de Deus

Hoje, encontramos em muitos lugares a frase: “Deus é fiel”. O que quer dizer isso? Quer dizer que quando o Senhor promete alguma coisa, ele cumpre sua promessa. E, por causa disso, podemos ficar descansados, pois não existe perigo de que Deus nos diga que fará algo e depois se esqueça de seu compromisso (Nm 23.19).

Davi era uma homem que conhecia muito dos atributos de Deus. Mas ele não conhecia apenas porque leu ou viu alguém dizer. Ele próprio experimentou muitas vezes o quanto Deus cumpria as promessas que lhe fazia. Dessa forma, Davi sabia que Deus era completamente confiável, que jamais seria envergonhado ou ficaria decepcionado por ter confiado em Deus: “Benignidade minha e fortaleza minha; alto retiro meu e meu libertador és tu; escudo meu, em quem eu confio, e que me sujeita o meu povo” (Sl 144.2).

Outra coisa que aprendemos é que a fidelidade de Deus não depende da nossa. Nós, às vezes, falhamos, apesar da sinceridade com que fazemos nossos propósitos diante do Senhor. Se a fidelidade de Deus dependesse da nossa, estarí-amos perdidos. Por isso, a Bíblia diz: “Se formos infiéis, ele permanece fiel; não pode negar-se a si mesmo” (2Tm 2.13).

Isto não é uma justificativa para os nossos erros, mas uma demonstração do quanto Deus é fiel para conosco.

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Capítulo 6q Os nomes de Deus

Nas Escrituras Sagradas, o nome é muito mais que uma identificação. É uma identidade, uma descrição do caráter. Foi por esse motivo que, ao se ma-

nifestar a Moisés, este quis saber quem era o Deus que falava com ele. Assim lemos: “Então disse Moisés a Deus: Eis que quando eu for aos filhos de Israel, e lhes disser: O Deus de vossos pais me enviou a vós; e eles me disserem: Qual é o seu nome? Que lhes direi? E disse Deus a Moisés: EU SOU O QUE SOU. Disse mais: Assim dirás aos filhos de Israel: EU SOU me enviou a vós” (Êx 3.13,14).

Na maioria das vezes, referimo-nos à divindade como Deus ou, quando não, por um de seus títulos: “Pai” ou “Senhor”. Para os judeus e os crentes do Antigo Testamen-to, Deus, era (mais que um conceito) um ser completamente pessoal. Assim, nada mais justo que se relacionar com ele usando seus nomes que, compostos ou não, aparecem na Bíblia, e cada um deles revelando um ponto da natureza divina.

A seguir, os nomes de Deus:

YHWH (o tetragrama)Traduzido para Jeová, em português, YHWH, ou Yaweh, significa “aquele que

existe”. Ou seja, é o nome próprio do único Deus verdadeiro. Um nome impronun-ciável. Normalmente, esse tetragrama hebraico é considerado um dos elementos mais sagrados da fé judaica. E isso por causa da advertência de Êxodo 20.7 (o ter-ceiro mandamento), que diz: “Não tomarás o nome de YHWH teu Deus em vão, por-que o Senhor não terá por inocente o que tomar o seu nome em vão”. Esse nome é o mais empregado na Bíblia em referência à divindade. Só para se ter uma ideia, aparece 5.321 vezes somente em sua forma não-composta.

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Sua pronúncia se perdeu com o passar dos anos. E isso porque não era fala-do. As pessoas tinham medo de pronunciá-lo em vão. Na Septuaginta, tradução para o grego do Antigo Testamento, o vocábulo foi substituído por Senhor, pois os judeus tinham o costume de pronunciar a palavra Adonay (Senhor) onde aparecia o tetragrama.

A forma Jeová foi dada pelos judeus massoretas, embora estudos posteriores tenham determinado que a pronúncia Javé ou Yaweh seria a mais correta. Geral-mente, crê-se assim por causa do uso do nome Jah, no Salmo 89.8 (texto em he-braico), e por causa das formas Yeho, Yo, Yah e Yahu, que ocorrem constantemen-te na formação dos nomes próprios, como, por exemplo, Jehosaphat, Joshaphat, Shepthatiah, por serem derivados de Yaweh, conforme as leis da filologia.

Alguns filólogos acreditam que o nome tenha sua raiz no verbo hawah, que, posteriormente, tomou a forma de hayah, cujo significado é: “ser” ou “fazer-se”. Se assim for, o significado do nome seria algo como “aquele que existe absolutamente e que manifesta a sua existência e o seu caráter”.

Compostos de Jeová ou JavéComo vimos, o nome de Deus, expresso pelo tetragrama, é muito rico em seu

significado. Quando associado com outras palavras, expressa toda a suficiência do nome ao qual está associado. Esses nomes compostos são:

JEOVÁJIRÉ

O SENHOR PROVERÁ. Termo presente na passagem de Gênesis 22.13-14. Expressa Deus aquele que provi-dencia o necessário: o Deus provedor.

JEOVÁMIKADISKIM

O SENHOR QUE VOS SANTIFICA. Mencionado em Êxo-do 31.13. Expressa a ação de Deus em prol da santifi-cação do seu povo.

JEOVÁNISSI

O SENHOR É MINHA BANDEIRA. Termo presente em Êxo-do 17.15. Está relacionado à vitória de Israel contra os amalequitas, quando saíram do Egito em direção a Canaã. Representa Deus como fonte de vitória.

JEOVÁRAAH

O SENHOR É O MEU PASTOR. Nome ligado ao Salmo 23.1. Mostra sua ação completa na vida do ser humano, guardando, guiando, protegendo e nutrindo.

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Compostos de ElA primeira menção de Deus na Bíblia é Elohim, um substantivo no plural. “Ao pé

da letra”, poderia ser traduzido para o português como “deuses”. Todavia, quando usado em referência ao Deus verdadeiro, é acompanhado de verbos conjugados no singular, o que qualifica não se tratar de uma multiplicidade de deuses, mas, sim, de um único Deus. Elohim é empregado sempre que se descreve o poder criativo e a onipotência de Deus. Logo, está-se falando do Deus criador. A forma plural signi-fica a plenitude de poder e representa a Santíssima Trindade.

O singular de Elohim é El ou Eloah, que também é usado nas Escrituras para se referir a Deus, ainda que com bem menos frequência. Enquanto Eloah aparece 57 vezes no Antigo Testamento, Elohim, a forma plural, aparece 2498, em referência ao Deus verdadeiro.

Além disso, o termo El, singular de Elohim, apresenta composições no Antigo Testamento, mas sempre manifestando o caráter de Deus e estão ligadas, principal-mente, aos seus atributos não comunicáveis.

JEOVÁRAFA

O SENHOR QUE TE SARA. Este composto se refere à cura física, uma das promessas feitas ao povo quan-do deixou o Egito (Êx 15.26).

JEOVÁSABAOTE

O SENHOR DOS EXÉRCITOS ou SENHOR DAS HOSTES, é um dos nomes compostos mais utilizados nas Escri-turas. Evoca o poder e a força de Deus agindo em meio aos homens (1Sm 1.3).

JEOVÁSHALOM

O SENHOR É PAZ. Esse nome se refere a Deus como sendo a nossa Paz (Jz 6.24). Paz com Deus e paz de Deus.

JEOVÁSHAMÁ

O SENHOR ESTÁ ALI. É uma forma de se referir ao ca-ráter onipresente de Deus (Ez 48.35).

JEOVÁTSIDEKENU

O SENHOR JUSTIÇA NOSSA. Esse nome tem um signifi-cado muito mais claro no Novo Testamento, quando, pela imputação da justiça de Cristo em nós, somos declarados justos. Todavia, é revelado primeiramen-te no Antigo Testamento (Jr 23.6).

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Adonay

Significa “Senhor” e substituía a pronuncia de Deus todas as vezes em que surgia o tetragrama. Por esse motivo, foi traduzido para o grego como Kyrios,

cujo significado é “Senhor”. Assim sendo, “Senhor” se tornou referência ao nome divino e, em boa parte das traduções, é o termo mais utilizado, seguindo a tradição da Septuaginta.

EL ELION

O DEUS ALTÍSSIMO. Mencionado em Gênesis 14.22. Elion deriva de Alyáh, que significa “subir”, “mais ele-vado”, “superior”, “no ponto mais alto”. Este nome aparece ligado ao sacerdócio de Melquisedeque, um sacerdote e rei do Deus verdadeiro, que não ti-nha nenhum parentesco com Abraão.

EL OLAM

O DEUS ETERNO. Mencionado a primeira vez em Gê-nesis 21.33, está ligado à sua natureza sempiterna e foi invocado por Abraão. Esse Deus nunca cansa de cuidar dos seus.

EL ROI

O DEUS QUE VÊ. Mencionado em Gênesis 16.13, onde o nome de Deus está relacionado à sua onisciência. Foi esse o sentimento de Agar ao ser alcançada e salva por esse Deus.

EL SHADDAY

O DEUS TODO-PODEROSO. Um dos nomes compostos com El mais significativos das Escrituras (Gn 17.1). Re-trata a onipotência divina. Aparece no Antigo Testa-mento 48 vezes e, em algumas ocasiões, precedido pelo prefixo El, outras não. É muito comum no livro de Jó.

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Capítulo 7q A Trindade divina

A questão da Trindade nunca foi um problema para os apóstolos. Embora eles nunca tenham utilizado essa palavra, o seu relacionamento com o Pai, com o Filho e com o Espírito Santo não apresentava qualquer problema. Somente no terceiro século, quando começaram a surgir algumas ideias erradas, foi que se tornou ne-cessário algumas definições mais específicas para esclarecer os pontos mais difíceis.

Toda a discussão posterior ocorreu devido à racionalização de um fato aceito passivamente e de forma prática pela comunidade cristã. Mais que um ponto de debates e discussões, tratava-se de uma vivência espiritual e de um fato consuma-do, não gerando qualquer desconforto ou dúvida.

Na Bíblia Scofield, temos a seguinte exposição sobre Mateus 28.19 que trata justamente da questão trinitária nas Escrituras: “No progresso da revelação divina, o único Deus verdadeiro aparece claramente no Novo Testamento, existindo em três pessoas divinas, chamadas de ‘Pai’, ‘Filho’ e ‘Espírito Santo’. Como, por exemplo, em Mt 3.16, 17; 1Co 12.4-6; 2Co 13.14; Ef 2.18; 4.4-6; 5.18-20; 1Pe 1.2”. Scofield pros-segue tecendo cinco considerações importantes:

“1) Cada uma dessas pessoas divinas possui suas próprias características pes-soais e se distingue claramente das outras duas pessoas (Jo 14.16,17, 26; 15.26; 16.7-15). Contudo, as três pessoas são iguais no ser, no poder e na glória: cada uma sendo chamada de Deus (Jo 6.27; Hb 1.8; At 5.3,4); cada uma possuindo todos os atributos divinos (Tg 1.17; Hb 13.8; 9.14); cada uma realizando as obras divinas (Jo 5.21; Rm 8.11) e cada uma recebendo hon-ras divinas (Jo 5.23; 2Co 13.13).

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“2) Com referência à ordem de suas atividades, o Pai é o primeiro, o Filho, o segundo e o Espírito Santo, o terceiro; a fórmula geral é a seguinte: do Pai (1Co 8.6), pelo Filho (Jo 3.17), pelo Espírito Santo (Ef 3.5) e para o Pai (Ef 2.18). Mesmo assim, entretanto, nenhuma das pessoas age independente das ou-tras. Pelo contrário, sempre há uma concorrência mútua, como disse o nosso Senhor: “Meu Pai trabalha até agora, e eu trabalho também” (Jo 5.17); “O Filho nada pode fazer por si mesmo” (Jo 5.19); e novamente: “Eu e o Pai so-mos um” (Jo 10. 30).

“3) Na revelação de Deus no Novo Testamento como um ser tri-pessoal, não há nenhum afastamento do rigoroso monoteísmo do Antigo Testamento (cf. Dt 6.4,5 com Mc 12.29,30 e Rm 3.30). As três pessoas divinas são um Deus e não três deuses. Foi preciso que o Antigo Testamento enfatizasse primeira-mente a unidade divina, a fim de resguardar a essência divina contra as tendências politeístas. Mas, mesmo no Antigo Testamento, quando lido à luz do Novo Testamento, surge a pluralidade de pessoas em um único Deus verdadeiro (cf. Is 6.8; 48.12 com 48.16).

“4) A Trindade de Deus é reconhecidamente um grande mistério, algo total-mente além da possibilidade de uma explicação completa. Mas podemos nos resguardar do erro nos apegando firmemente aos fatos da revelação divina: a) quanto ao seu ser ou essência, Deus é um; b) quanto à sua perso-nalidade, Deus é três; e c) não devemos dividir a essência, nem confundir as pessoas. E, apesar de seu mistério, a doutrina da divina Trindade sempre provou ser rica em valores espirituais e práticos.

“5) A importância atribuída à divina Trindade na revelação do Novo Testa-mento aparece no fato de que a doutrina está firmemente embebida em duas fórmulas constantemente repetidas para o povo ouvir na igreja: a) a fórmula batismal em Mateus 28.19 e b) a fórmula da bênção em 2Coríntios 13.13”.

Aspectos bíblicos da Santíssima Trindade

Conhecemos Deus por meio daquilo que ele revelou em sua Palavra, onde en-contramos Deus como Pai (Ef 1.3), Filho (Jo 1.1,18) e Espírito Santo (At 5.3,4).

Como conciliar isso com a crença em um único Deus?

Quando olhamos as páginas do Antigo Testamento, vemos indicações dessa característica triúnica. Embora a doutrina de um único Deus seja inquestionável, encontramos:

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Um termo plural para Deus, Elohim (Gn 1.1), diferente de El, singular.

Deus se referindo a si mesmo em um sentido plural (Gn 1.26).

O texto de Deuteronômio 6.4 declara que Yaveh é único. A palavra “úni-co” no original hebraico é echad e está no construto. Se essa unidade fosse absoluta, como querem os judeus, a palavra correta seria yachid, a mesma utilizada em Gênesis 22.2. Acontece que echad é uma unidade composta, é a trinunidade de Deus. Como pode marido e mulher serem uma só carne? (Gn 2.24). A palavra “uma”, nesta passagem, é echad, a mesma de Deutero-nômio 6.4. O fato é que a doutrina da Trindade não foi bem esclarecida nos tempos do Antigo Testamento para não confundir o povo com os deuses das religiões politeístas das nações vizinhas de Israel; todavia, ela está implícita no Antigo Testamento. Ela só pôde ser ensinada explicitamente com o ad-vento da segunda Pessoa, o Senhor Jesus, e com a manifestação do Espírito Santo (Silva, 1991).

Quando chegamos ao Novo Testamento, o ensino de que há um único Deus não é negado, mas encontramos Jesus, o Filho, descrito como sendo Deus, bem como o próprio Espírito Santo. Em inúmeras passagens, a citação das três pessoas juntas dá a entender sua igualdade (Mt 3.16,17; 28.18,19; Jo 14.16; 1Co 12.4-6; 2Co 13.13).

No quadro a seguir, podemos ver algumas comparações que provam a natu-reza triúnica de Deus:

Realização

Chamado de Deus

Pai Filho Espírito Santo

Chamado de Senhor

Chamado de Criador

Onipresente

Onipotente

Eterno

Onisciente

O Santo

Ressuscitou Jesus

Doador de vida eterna

Romanos 1.7

Atos 17.24

Gênesis 1.1

Salmo 139.7-10

Gênesis 17.1

Salmo 90.2

Salmo 139.1-5

1Pedro 1.16

Atos 3.26

1João 5.11

João 1.1,18

Atos 10.36

João 1.2,3

Mateus 28.20

João 5.19

Isaías 9.6

Apocalipse 2.23

Atos 3.14

João 10.17,18

João 10.28

Atos 5.3,4

2Coríntios 3.18

Salmo 104.30

Salmo 139.7

Lucas 1.35

Hebreus 9.14

1Coríntios 2.10

1Tessalonissenses 4.8

Romanos 8.11

Gálatas 6.8

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Aspectos analógicos da Santíssima Trindade

Analogias são pontos semelhantes entre coisas diferentes. Podemos usar de analogias ou comparações para tornar a ideia da Trindade divina algo mais

claro. A analogia não pretende resolver todas as questões envolvidas nesse ensino, mas apenas deixar um pouco mais compreensível os pontos principais.

A água é uma só, mas se apresenta em três estados:

Sólido Líquido Gasoso

A eletricidade é uma só, mas produz:

Movimento Luz Calor

O Sol é um só, mas manifesta:

Luz Calor Fogo

O homem é um só, mas é:

Corpo Alma Espírito

Um feixe de luz apresenta três tipos de emanações:

Actínico (invisível) Luminoso (visível) Calorífico

O tempo é um só, mas compreende:

Passado Presente Futuro

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Aspectos históricos da Santíssima TrindadeO arianismo foi a principal heresia que envolveu a identificação da natureza

do Filho e seu relacionamento com a pessoa do Pai. Tinha suas raízes nas controvér-sias cristológicas precedentes, mas por ter surgido em um período de oficialização da Igreja, foi a que mais agitou o cristianismo nos tempos primitivos e que, de certo modo, deu origem à dogmatização da fé e à tradição conciliar da Igreja para re-solver questões teológicas.

Como Constantino, por meio do Edito de Milão, tinha dado ao cristianismo um caráter oficial, as disputas eclesiásticas afetaram diretamente o império. Uma Igreja dividida enfraqueceria Roma e, por isso, o imperador teve de intervir para resolver a questão ariana, que ameaçava dividir o império ao meio.

A grande questão envolvida neste embate, que se arrastou pelos séculos 4o

e 5o, refere-se à relação entre a pessoa de Cristo e a divindade. Jesus poderia ser chamado de Deus, no mesmo sentido que o Deus do Antigo Testamento? Se a res-posta fosse afirmativa, não comprometeria a doutrina da unicidade de Deus? Por outro lado, se ele não era Deus, por que as Escrituras se referem a ele nos mesmos termos que a Deus, e ainda lhe confere os mesmos atributos?

Já desde o final do 2o século, algumas correntes teológicas, denominadas “mo-narquianismo”, haviam se desviado da ortodoxia, negando a divindade plena ao Filho de Deus. Por conta disso, foram condenadas como heréticas. Tertuliano, que teve grande influência na teologia ocidental, foi muito claro em sua concepção da divindade como sendo uma unidade de três pessoas (unidade composta). Mas, após o período de perseguição, a questão se centralizou principalmente na área oriental do império.

Raízes do conflito ariano

Por volta do 318 d.C., um bispo da cidade de Alexandria, chamado Alexan-dre, discutiu com seus presbíteros sobre “a unidade da Trindade”. Entre eles, esta-va Ário, um erudito asceta e pregador popular, provavelmente nascido na Líbia, por volta de 258 d.C., que viria a ser o grande pivô desta discussão que duraria séculos.

Ário foi discípulo de Luciano de Antioquia, bispo que já estivera envolvido com outros falsos conceitos cristológicos. Ele foi ordenado sacerdote e encarregado pelo bispo de Alexandria da Igreja de Baucalis. Aparentemente, era uma pessoa carismática e atraiu tantos seguidores devotos que desafiou abertamente o bispo alexandrino a respeito da sua teologia sobre Cristo e a Trindade. Muitos cristãos de Alexandria tomaram o seu partido.

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Baseando-se em um texto isolado de Provérbios 8.22, onde diz que Deus “criou” a sabedoria desde o princípio (a tradução mais aceita, seria “possuiu”) e identi-ficando a sabedoria com o Logos (o Verbo), Ário classificou o Filho como sendo uma mera criatura, ainda que fosse a maior das criações de Deus. Desejando evitar uma posição que parecesse um politeísmo, acabou negando a divindade do Filho de Deus.

Na verdade, o presbítero alexandrino estava imbuído de um conceito filosófico de Deus que recusava a possibilidade de Deus conferir a qualquer outro sua essên-cia, pelo fato de ser uno e indivisível. Sendo assim, o Logos só poderia vir a existir por meio de um ato criador. Concluindo, Cristo não poderia ser Deus, em sua opinião. Como resultado desta concepção, o Filho acabou adquirindo uma natureza inter-mediária, sendo um ser menor que Deus e maior que os homens e os anjos. Ele teria sido criado junto com o tempo, ou mesmo antes do tempo.

Seu credo foi assim expresso: “O Filho não existiu sempre, pois quando todas as coisas emergiram do nada e todas as essências criadas chegaram a existir, foi en-tão que o Logos de Deus procedeu do nada. Houve um tempo em que ele não era (een pote hote ouk een) e não existiu até ser produzido, pois mesmo ele teve um princípio quando foi criado. Pois Deus estava só e, naquele tempo, não havia nem Logos nem sabedoria. Quando Deus decidiu nos criar, produziu, em primeiro lugar, alguém que denominou Logos e Sabedoria e Filho, e nós fomos criados por meio dele” (Atanásio, Orationes contra Arianos, I, 5).

A reação do bispo Alexandre

O bispo Alexandre era, segundo se relata a seu respeito, um ministro meigo e tolerante que não tinha prazer nos conflitos, mas que, finalmente, resolveu respon-der às críticas de Ário a respeito de Deus e de Jesus Cristo, tentando corrigi-lo por meio de correspondências e sermões. Ao perceber que essas coisas mais brandas não surtiam efeito, o bispo Alexandre convocou um sínodo de bispos em Alexan-dria, a fim de examinar as opiniões de Ário e de tomar uma decisão sobre sua orto-doxia ou pela falta dela.

Antes, porém, de o sínodo se reunir, Ário convocou seus seguidores cristãos e começou a marchar pelas ruas da cidade, passando pela grande igreja e pela casa do bispo, levando cartazes e entoando lemas como: “Tempo houve em que o Filho não existia”. Utilizando cânticos com este conteúdo doutrinário, conseguiu atingir a camada operária de Alexandria. Logo, os que seguiram Ário fizeram isso por questões emotivas, atraídos pela música e pelo carisma, pois não compreen-diam plenamente as questões teológicas que estavam envolvidas.

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Alexandre convocou um sínodo que se reuniu em 318 d.C., com cerca de cem bispos de vários lugares do lado oriental do império. Alexandre acusou Ário de res-suscitar a heresia de Paulo de Samósata, negando a Trindade e a divindade do Filho. Para o bispo, esta negação comprometia a salvação, uma vez que aquele que efetuara a salvação não era o próprio Deus.

Ário respondeu na mesma altura, alegando que era impossível a divindade e a humanidade se unirem em um único ser.

Os cento e tantos bispos reunidos em Alexandria condenaram Ário e seus ensinos a respeito de Cristo como heréticos e o depuseram de sua condição de presbítero. Ele foi obrigado a deixar a cidade, mas não considerou o assunto como encerrado. Foi refugiar-se com seu amigo, Eusébio da Nicomédia, que, nesta época, já era um bispo importante e o recebeu amigavelmente. Juntos, começaram um trabalho de persuasão, correspondendo-se com os bispos que não fizeram parte do sínodo.

Esta extensa correspondência se perdeu, não restando senão aquilo que se pode retomar dos escritos de seus oponentes. Ário também pretendia escrever uma grande obra em verso, chamada de Thalia (Banquete), de fácil recitação para os simples. Uma de suas declarações típicas referente à relação entre o Pai e o Filho foi esta: “E Cristo é o Verbo de Deus, mas por participação [...] até ele foi feito Deus [...]. O Filho não conhece o Pai com exatidão e o Logos não vê o Pai com perfeição e ele não percebe o Pai com exatidão nem o Logos o compreende; isto porque ele não é o verdadeiro e único Logos do Pai, mas somente em nome: é chamado Logos e Sabedoria. E, pela graça, é chamado Filho e Poder”.

Como vemos, sua noção do Logos envolvia profundas questões filosóficas e es-tava em clara oposição ao que Jesus disse com respeito ao relacionamento entre o Pai e o Filho em Mateus 11.27.

Ário, contraditoriamente, reconhecia três seres divinos: Pai, Filho e Espírito San-to, sendo que somente um deles é o verdadeiro Deus. Continuou, na sua profissão de fé, afirmando que somente o Pai é sem princípio e que o Filho, embora criatura grandiosa que compartilha de muitos atributos de Deus, não existia antes de ser ge-rado pelo Pai. Era uma posição um tanto ambígua para quem pretendia defender a unidade de Deus, pois, neste caso, o Filho seria uma espécie de semideus, o que era completamente contrário à doutrina cristã.

Quando Alexandre, bispo de Alexandria, soube das maquinações de Ário, es-creveu para o bispo de Roma, Silvestre, a fim de que este se resguardasse das da-nosas heresias de Ário e se esforçasse em combatê-lo. Para combater as heresias arianas, escreveu um trabalho intitulado Deposição de Ário, onde buscava explicar os motivos de sua excomunhão. Exortava a que ninguém o recebesse, pois se trata-va de um herege com o qual ninguém deveria ter comunhão.

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Em sua exposição dos falsos ensinos de Ário, Alexandre fez um resumo de seu erro teológico que bem sintetiza o arianismo: “E as novidades que inventaram e pu-blicaram contra as Escrituras são as seguintes: Deus não foi sempre o Pai, mas houve um tempo em que Deus não foi Pai. O Verbo de Deus não existiu sempre, mas se originou de coisas que não existiam; porque o Deus que existe, fez aquele que não existia, a partir daquele que não existia; portanto, houve um tempo em que ele não existia; pois o Filho é uma criatura e uma obra. Ele não é igual ao Pai em essência, não é o verdadeiro e natural Logos do Pai nem é sua verdadeira Sabedoria; mas ele é uma das coisas feitas e criadas, e é chamado Verbo e Sabedoria por um abuso de termos, pois ele mesmo se originou do verdadeiro Verbo de Deus, e pela Sabe-doria que existe em Deus, mediante o qual Deus, não apenas criou todas as coisas, mas ele também. Portanto, ele é, por natureza, sujeito a mudanças e variações, assim como todas as criaturas racionais”.

Para termos ideia da contaminação e do entusiasmo que suscitaram as ideias de Ário, basta-nos pensar que tudo se deu no prazo de um ano. Tanto a Palestina quanto a Síria, a Ásia Menor e o Egito estavam tomados por suas ideias, surgindo uma comunidade ariana ao lado da Igreja ortodoxa.

Bispos reunidos em um sínodo em Cesareia da Palestina se puseram ao lado de Ário, e o autorizaram a reassumir suas funções sacerdotais em Alexandria. Ale-xandre, porém, recusava-se a aceitá-lo novamente em sua diocese. Incentivado por seus adeptos, Ário desembarcou em Alexandria. Sua chegada provocou gran-de agitação, pois molineiros, marinheiros, viajantes, mercadores, camponeses e o povo mais simples cantavam suas canções pelas ruas e praças. O arianismo se tor-nou, então, uma questão popular.

A entrada de Constantino no conflito

Constantino ficou sabendo do conflito pelo seu capelão, o bispo Ósio, que o informou a respeito e relatou que os bispos do oriente estavam se dividindo, devido a uma rixa entre Ário e Alexandre. Como o conflito estava concentrado mais na parte oriental do império, os bispos do ocidente não estavam completamente a par do que estava acontecendo.

Tendo nas mãos as correspondências de Eusébio de Nicomédia e de Alexandre, em que cada um apresenta uma apologia de seu ponto de vista da melhor maneira possível, a questão parecia um tanto confusa, deixando os bispos ocidentais intei-ramente perplexos. Quase de forma invisível, a Igreja se encontrava à beira de um cisma, e se uma providência não fosse tomada, em breve isto seria uma realidade. Ninguém queria isto e o imperador Constantino seria o último a desejar tal coisa. Para ele, o cristianismo seria o cimento que haveria de dar ao império a unidade e a esta-bilidade que ele tanto desejava. Dividir a Igreja seria o equivalente a dividir o império.

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Não era nada agradável ver os bispos se tornarem inimigos devido a questões meta-físicas a respeito de Deus.

Para resolver a questão, o imperador Constantino convocou um concílio, na cidade de Niceia, que pudesse resolver, de forma definitiva, esta controvérsia. Reu-nindo, aproximadamente, 318 bispos, tanto do oriente quanto do ocidente, esse Concílio marcou para sempre a história da Igreja. Era um acontecimento até en-tão único na história eclesiástica. Os líderes cristãos, perseguidos e martirizados por Roma, eram, agora, convocados pelo próprio imperador, e à custa do mesmo, para resolverem questões relativas à fé cristã.

Constantino escolheu a cidade de Niceia porque já há muito estabelecera residência nela, quando a nova capital do império, Constantinopla, estava sendo construída. Desta cidade, ele administrava as questões do Estado e da Igreja. Ha-via trazido grande número de súditos e conselheiros, estando, assim, cercado por toda a sua corte.

É importante destacar o fato de que até mesmo o bispo da cidade de Ni-ceia, Teogno, estava inclinado à causa de Ário, principalmente devido à influên-cia de Eusébio de Nicomédia. Com isso, é possível perceber que o conselho já estava, de certa forma, dividido. A questão estava demasiadamente arraigada entre o povo e a Igreja para poder ser resolvida de forma definitiva em um único Concílio.

Embora Eusébio de Cesaréia tenha feito um relato do Concílio, não temos infor-mações detalhadas de suas atas e relatórios. Ao que parece, Constantino estava assentado em um trono acima da sala onde os bispos se reuniam e, daquele local, interferia como mediador quando achava necessário. Essa atitude desagradou al-guns, porque estavam vendo o imperador se intrometendo em questões que, para eles, não eram da alçada do poder temporal. Mas o imperador não pensava desta forma e, com certeza, não ousariam desafiá-lo.

O Concílio durou cerca de dois meses e tratou de muitas questões que con-frontavam a Igreja. Cerca de vinte decretos diferentes foram promulgados, os quais trataram de diversas questões, que abordavam desde a deposição de bispos re-lapsos até a ordenação de eunucos. Também foi em Niceia que foi concedido ao bispo de Roma uma posição de liderança na Igreja do ocidente, mostrando que este privilégio não era originário da época apostólica.

Todos estes assuntos, porém, eram de importância secundária. A questão cen-tral e motivadora da reunião foi a controvérsia ariana. E era a respeito disso que os bispos queriam debater.

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Os partidos de Niceia

Formaram-se três partidos diferentes em Niceia.

O primeiro partido pode ser chamado de arianismo puro e era apoiado por Eusébio de Nicomédia e mais uma minoria de presentes. No total, não passavam de uns 28 bispos, mas, mesmo assim, tinham esperança de convencer a maioria e, também, o próprio Constantino. Até mesmo Ário foi proibido de participar do Con-cílio. Este grupo insistia em definir Cristo como um ser criado antes do tempo. Para eles, Cristo seria de essência ou substância diferente do Pai. Era divino, mas não era Deus, nem co-igual, nem co-eterno.

O segundo grupo teve a liderança de Alexandre, auxiliado por seu jovem assis-tente Atanásio, e defendia aquilo que até hoje é considerada a posição ortodoxa. Para ele e seu grupo,Cristo era co-igual e co-eterno, da mesma substância e essên-cia que o Pai, embora fossem personalidades distintas.

Atanásio era uma dessas raras personalidades que deriva, incomparavel-mente, mais de seus próprios dons naturais de intelecto que do fortuito da des-cendência ou dos que o rodeiam. Sua carreira quase personifica uma crise na história da cristandade, e pode-se dizer dele que mais deu forma aos aconteci-mentos em que tomou parte que foi moldado por eles. A esta descrição psicoló-gica devemos acrescentar sua fé profunda e inabalável, a serviço da qual colo-cou suas qualidades naturais. De estatura abaixo da média (pelo que foi objeto de zombaria do apóstata Juliano), segundo seus biógrafos, era de compleição magra, mas forte e enérgico. Tinha uma inteligência aguda, rápida intuição, era bondoso, acolhedor, afável, agradável na conversação, mas alerta e afiado no debate. A história não guardou o nome de seus pais. Pela alta formação intelec-tual que ele demonstra ainda jovem, julga-se que pertencia à classe mais ele-vada. Por sua firme posição contra as afirmações de Ário, a vida desse grande defensor da fé se tornou uma história de exílio (cinco ao todo) e perseguição, da qual sairia, por fim, vitorioso.

O terceiro partido foi liderado pelo célebre historiador eclesiástico Eusébio de Cesaréia. Por sua natureza branda e avessa a controvérsias, tentou uma posição conciliatória que agregasse a opinião de ambos e pudesse ser aceita pelos dois grupos. Mais de duzentos participantes seguiram, de início, suas colocações. Para ele, Cristo não foi criado do nada, como dizia Ário, mas gerado antes da eternida-de. A proposição de Eusébio de Cesaréia foi aceita pelo Concílio.

A verdade é que nem todos os presentes estavam profundamente inteirados das questões que envolviam o conflito que, como observamos, concentrou-se na região oriental. Nem mesmo o imperador tinha conhecimento teológico para tal.

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Sobre isso observou Justo Gonzales, historiador eclesiástico: “A vasta maioria dos bispos parece não ter entendido a importância da questão em pauta e o receio do sabelianismo deixou todos relutantes para condenarem o subordinacionismo de forma contundente. Além disso, o imperador, que se interessava mais pela unidade do império que pela unidade de Deus, mostrou-se disposto a encontrar uma fórmu-la que fosse aceitável ao maior número possível de bispos”.

É bom lembrar que, embora nos sínodos e decisões anteriores tenha se busca-do combater qualquer posição de inferioridade do Filho (tanto em natureza quanto em posição), e que pais como Tertuliano já tivessem formulado certo conceito de Trindade, não havia, ainda, uma formulação definitiva. De certa forma, a questão estava aberta e muitos temiam pender para posições que já haviam sido conside-radas heréticas. Isso enfraqueceu um pouco as posições dos bispos.

Portanto, Niceia não criou a doutrina da Trindade. Apenas se repetiu aquilo que havia acontecido diversas vezes na história do cristianismo, inclusive no próprio Concílio de Jerusalém, narrado em Atos 15, onde uma questão que estava contur-bando a Igreja foi analisada de forma ampla e detalhada, para então se chegar a uma posição ortodoxa. Conceitos aceitos eram definitivamente reunidos e es-clarecidos dentro de uma fórmula doutrinária, que tinha por objetivo refutar falsos ensinos e simplificar os verdadeiros.

A primeira reação

Alguém sugeriu que o primeiro passo fosse ler as proposições de Ário. E o partido ariano fez isso de maneira tal que perturbou a todos os presentes ao afirmar que Je-sus era mera criatura. Foi uma declaração que negava, de forma direta, a divinda-de do Filho de Deus e afirmava que Cristo não era, de modo nenhum, igual ao Pai.

Antes mesmo que Eusébio de Nicomédia terminasse a leitura, alguns bispos taparam seus ouvidos com as mãos e pediram que se calassem, pois não queriam escutar aquela blasfêmia. Um bispo que estava próximo a Eusébio deu um pas-so à frente, arrancou o manuscrito de sua mão, lançou-o no chão e pisoteou-o. Houve grande tumulto entre os bispos, que só foi interrompido pela intervenção do imperador.

Esta reação se deve ao fato de que, até então, as cartas escritas, tanto por Ário quanto por Eusébio, não eram explícitas em suas posições, e foram redigidas com a intenção de atrair adeptos para seu partido. Não era o caso agora, em que a afir-mação simples e clara de Jesus como uma mera criatura ofendia toda a teologia da Igreja. Esta era uma proposição claramente herética e, com certeza, nenhum bispo a aceitaria.

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O credo de Niceia

Pouco a pouco, foi surgindo a ideia de escrever um credo que exprimisse a “fé antiga da Igreja”. O termo escolhido para descrever a relação entre o Pai e o Filho foi homoousios – consubstancial – que deriva de duas palavras gregas: “uma” e “substância”. Os arianos ficaram horrorizados com essa posição e os partidários de Alexandre e Atanásio ficaram jubilosos. Somente alguns manifestaram a preocupa-ção de que Pai e Filho fossem confundidos com a mesma pessoa, tal qual ensinava o modalismo. Este primeiro credo de Niceia foi assim redigido:

Cremos em um só Deus, Pai onipotente, criador de todas as coisas visíveis e invisíveis; e em um só Senhor, Jesus Cristo, o Filho de Deus, gerado pelo Pai, unigênito, isto é, sendo da mesma substância do Pai, Deus de Deus, Luz da Luz, Deus verdadeiro do Deus verdadeiro, gerado, não feito, de uma só subs-tância com o Pai (homoousios), pelo qual foram feitas todas as coisas, as que estão no céu e as que estão na terra; o qual, por nós homens e por nossa sal-vação, desceu, encarnou-se e se fez homem. Sofreu, ressuscitou ao terceiro dia, subiu ao céu, e novamente virá para julgar os vivos e os mortos.

Cremos no Espírito Santo. E a todos que dizem: Ele era quando não era, e antes de nascer, Ele não era, ou que foi feito do não existente, bem como aqueles que alegam ser o Filho de Deus de outra substância ou essência, ou feito, ou mutável, ou alterável a todos esses a Igreja católica e apostólica anatematiza”.

Ao utilizar a expressão “gerado e não feito”, este credo atingia, em cheio, o arianismo, uma vez que este se apoiava muito na palavra “gerado”, utilizada pelo apóstolo João, para justificar uma origem para o Filho de Deus. O credo mostrava que, embora o termo “gerado” fosse aplicado, nunca foi utilizado o vocábulo “cria-do”, que fora tão comumente usado para as demais coisas. Portanto, a palavra “gerado” não podia, por si só, justificar uma origem ao Filho.

Existe também o Credo de Atanásio, derivado deste, porém, mais detalhado, que busca evitar interpretações errôneas. Ao usar a expressão “mesma substân-cia”, corria-se o risco de cair no sabelianismo, por falta de distinguir as pessoas na Trindade.

Por fim, foi acrescentado um “anátema” para aqueles que ensinassem o oposto.

Isto, definitivamente, colocava Ário como herege e depunha contra ele e os bispos que o apoiavam. Pela primeira vez, um herege cristão era condenado e de-posto por um governante secular.

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O imperador exigiu que todos os bispos assinassem o credo. Apenas Eusébio de Nicomédia e Teogno de Niceia se recusaram. Devido à sua influência, fica-va patente que a questão não fora resolvida definitivamente. Esse primeiro credo de Niceia era um tanto ambíguo, portanto, deixava possibilidade de contestação, como de fato ocorreu. A ortodoxia teve uma vitória temporária em Niceia, com a afirmação da eternidade de Cristo e a identidade de sua substância com o Pai. Mas o conhecido Credo Niceno só seria definitivamente formulado tempos depois, baseado nas decisões do Concílio de Niceia.

Como resultado, haveria mais meio século de combate ariano. Imperadores arianos e semi-arianos tornariam a causa em uma questão política e, por vezes, pa-recia que a doutrina da Trindade estava destinada a mergulhar no esquecimento. Isso só não aconteceu devido à corajosa posição de homens como Atanásio que, de forma quase épica, lutaram para que a ortodoxia prevalecesse.

O retorno do arianismo e o triunfo de Atanásio

O imperador Constantino tinha uma irmã chamada Constança que, devido à amizade com Eusébio de Nicomédia, sensibilizou-se com a causa dos arianos. Ba-talhou junto a seu irmão até que conseguiu a suspensão do exílio do bispo Eusébio. Uma vez na corte, Eusébio trabalhou juntamente com Constança para convencer o imperador a trazer de volta o próprio Ário. A partir disso, começa uma campanha ao lado da irmã do imperador, atacando os principais bispos que ficaram contra Ário.

Sua vingança caiu fortemente sobre Atanásio de Alexandria, que fora o princi-pal expositor da posição ortodoxa, conseguindo autorização, junto ao imperador, para exilá-lo. Em seguida, consegue também o exílio de Eustácio de Antioquia e de Marcelo de Ancira. Muitos sacerdotes tiveram a mesma sorte e foram obrigados a substituir as fórmulas de fé de Niceia pelas proposições dos arianos.

Eusébio de Nicomédia conseguiu trazer Ário de volta em 331 d.C. Na ocasião, apresentou uma fórmula ambígua e amorfa ao imperador, a fim de ser isento do exílio. Tal era a situação quando o imperador Constantino morreu, em 337. Após a morte de seu filho Constantino II, o império foi dividido em Constante no ocidente e Constâncio no oriente.

Sob Constâncio, a perseguição contra os ortodoxos foi interrompida, e Ataná-sio pôde retornar do exílio, quando as sentenças que o condenaram foram anula-das, em 340. O Credo de Niceia foi substituído por quatro fórmulas diferentes, nas quais não aparecia, de forma alguma, a palavra “consubstancial”.

Em um de seus últimos exílios, Atanásio viveu durante cinco ou seis anos entre os monges no deserto, até que a situação se acalmasse. Conseguiu convocar um Concílio em Alexandria, embora não pudesse ser o evento considerado ecumênico.

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Não teve o apoio nem do imperador nem dos principais bispos da Igreja, mas abriu o caminho para o segundo Concílio Ecumênico em Constantinopla, que seria realizado após a sua morte. Seu sínodo se reuniu em Alexandria em 362 d.C., reafirmando homoousios como a única descrição válida para o relacionamento entre o Filho e o Pai. O homoiousios dos semi-arianos foi rejeitado como heresia pelagiana.

Atanásio morreu em 373 d.C., na cidade de Alexandria. Passou os últimos sete anos de sua vida em sua cidade natal, como seu bispo, em relativa paz e quietude. O imperador Valente, embora fosse ariano e o condenasse ao exílio, teve, depois, compaixão e permitiu que ele voltasse para casa. Em seguida, o próprio imperador também morreu.

Os três capadocianos

Fundamental para a vitória da fórmula trinitária foi a contribuição dos chama-dos “Três capadocianos”.

Basílio, o Grande, arcebispo de Cesaréia, foi o principal artífice da assim cha-mada “teologia protonicena” que, finalmente, derrotou o arianismo. Seu irmão mais novo, Gregório de Nissa, desenvolveu o mesmo ponto de vista ortodoxo de modo mais especulativo, e Gregório de Nazianzo interpretou-o de maneira retórica, em sua obra Orationes.

Enquanto Atanásio salientava vigorosamente a ideia de “uma substância” e partia deste ponto para a descrição da Trindade, os capadocianos partiam da ideia de “três pessoas distintas” e desenvolviam uma terminologia que descrevia tanto a unidade como a Trindade. Assim fazendo, aceitaram a teologia grega anterior que concebia três pessoas em níveis distintos no ser divino, conforme de-fendera Orígenes.

Com sua colocação teológica, era possível rejeitar o arianismo pela fórmula “o Filho é da mesma substância que o Pai”, sem cair no modalismo, que não dei-xava espaço para distinguir o Pai do Filho. Para isso, era necessário deixar claro que, embora Pai, Filho e Espírito Santo fossem da mesma substância una (homoou-sios), não eram a mesma pessoa. São três pessoas (hypostases) distintas e não três máscaras ou três manifestações do único Deus, sendo esta última assertiva o que o sabelianismo afirmava.

Com isso, finalmente a Igreja tinha chegado à fórmula trinitária latina de Ter-tuliano, apresentada contra Práxeas um século e meio antes: una substantia, tres personae. Mas, em 362 d.C., esta fórmula ainda estava longe de ser universalmente aceita.

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A solução definitiva no Concílio de Constantinopla

Em 381 d.C., aconteceu o Concílio de Constantinopla, que colocou as deci-sões de Niceia como posição ortodoxa. Era o segundo concílio de caráter ecumê-nico, por reunir bispos de todas as partes do império. O credo que naquela ocasião se originou mais o Credo de Atanásio e o Credo dos Apóstolos são os grandes cre-dos universais da Igreja. O arianismo foi completamente rejeitado como heresia e a divindade de Cristo se estabeleceu como artigo de fé. Eis o credo, chamado de Credo Niceno:

Cremos em um Deus, Pai Todo-Poderoso, criador do céu e da terra, de todas as coisas visíveis e invisíveis; e em um Senhor, Jesus Cristo, o unigê-nito Filho de Deus, gerado pelo Pai antes de todos os séculos, Luz da Luz, Deus verdadeiro do Deus verdadeiro, gerado, não feito, de uma só subs-tância com o Pai, pelo qual todas as coisas foram feitas; o qual, por nós homens e por nossa salvação, desceu dos céus, foi feito carne por meio do Espírito Santo e da Virgem Maria, e tornou-se homem. Foi crucificado por nós sob o poder de Pôncio Pilatos, padeceu, foi sepultado, ressuscitou ao terceiro dia conforme as Escrituras, subiu aos céus, assentou-se à direita do Pai. Novamente há de vir com glória para julgar os vivos e os mortos e seu reino não terá fim.

Cremos no Espírito Santo, Senhor e Vivificador, que procede do Pai, que com o Pai e o Filho conjuntamente é adorado e glorificado, que falou pe-los profetas.

Cremos na Igreja una, santa, católica e apostólica.

Confessamos um só batismo para remissão dos pecados. Esperamos a ressurreição dos mortos e a vida no século vindouro. Amém.

Com isso, o arianismo estaria para sempre banido da doutrina ortodoxa da Igreja.

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q ConclusãoDizer que a teologia, isto é, o estudo da natureza e da obra de Deus, é o pon-

to nevrálgico de todo o estudo da Bíblia não é exagero. Se a pergunta “quem é Deus?” não for corretamente respondida, todas as demais áreas do conhecimento teológico serão afetadas.

A própria religiosidade humana, aliada à carência da revelação divina e à natureza decaída do ser humano, produziu uma infinidade de conceitos referentes à deidade que séculos de ensino não conseguiram corrigir. Mesmo em religiões e ramificações politeístas, como o islamismo e o catolicismo, por exemplo, ideias e práticas distorcidas têm levado seus adeptos à idolatria aberta ou disfarçada. Nos casos mais grosseiros, falsos deuses têm composto tranquilamente o panteão das religiões e verdades imprescindíveis sobre Deus permanecem desconhecidas.

Em face dessa situação, cabe ao teólogo cristão contextualizar culturalmente o conceito de Deus sem, contudo, “sincretizar” as verdades reveladas das Escritu-ras, a ponto de torná-las irreconhecíveis. A limitação do conhecimento de Deus por parte do ser humano não pode ser justificativa para se aceitar falsidades evi-dentes. Não conhecemos todas as coisas a respeito do planeta Terra, porque ain-da há muito o que pesquisar. Nem por isso seria coerente dizer que ele é quadrado e totalmente gelatinoso. Limite de conhecimento e completa ignorância não são a mesma coisa.

Para que distorções ocorridas sejam evitadas, cabe insistir em aspectos já defini-dos e aceitos sobre Deus. Sua imutabilidade, seu amor, sua soberania, por exemplo, não podem voltar a ser questionados quando alguém acha que tais atributos não se encaixam com o atual estágio de desenvolvimento humano. Os conceitos teoló-gicos concernentes a Deus não são fruto de escolhas arbitrárias. São resultados de séculos de debate sobre a revelação das Escrituras e, portanto, seu valor é resultado tanto da inspiração da Bíblia quanto do temor e do cuidado em interpretá-la.

Mesmo as dificuldades em certos assuntos, como, por exemplo, a divindade de Cristo e a triunidade divina, não devem servir de espanto e confusão. Se, de alguma forma, adquirem o status de mistérios da fé, isso nada mais demonstra que o conceito de infinitude e inescrutabilidade de Deus é razoável. O conhecimento deficiente e o desprezo pelo empenho das gerações anteriores nesses assuntos podem levar muitos a pensar que possuem o direito de simplesmente negar o que foi aceito e confirmado após amplo debate. Alguém disse que só conseguimos ver longe porque somos anões nos ombros de gigantes. E isso é verdade também em teologia. Como disse Jesus: “Outros trabalharam e vós entrastes no seu trabalho” (Jo 4.38). Não podemos destruir as escadas que nos fizeram chegar até aqui. Pode-mos e devemos tomá-las para continuar subindo mais alto.

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