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0 S TÍTULO: LINGUAGENS DA MÍDIA E A REPRESENTAÇÃO DA RAÇA NEGRA AUTORIA: FERREIRA, Janaina Carvalho (Esp. em língua portuguesa – UNIFRA – [email protected] ); BORTOLUZZI, Valeria Iensen (Doutora em Letras – UNIFRA – [email protected]) RESUMO Joaquim Barbosa, Barack Obama, entre outros, são negros e já ganharam espaço na mídia impressa e televisiva, como nos textos da revista Veja. Ela veicula uma representação social dos negros por meio de linguagens e como isso é construído e o que expõe ao representá-los é o objetivo deste estudo. Para tal, utilizamos os teóricos: van Dijk (2008), Halliday (1982), Thompson (1995), etc. A pesquisa é norteada pelo referencial metodológico da Hermenêutica de Profundidade (THOMPSON, 1995), abordando aspectos sociais, discursivos e interpretativistas do corpus, composto por sete exemplares da revista Veja, do período de 2007 a 2009, detendo-se na capa e respectiva reportagem. Consideramos como o significado ideacional e o poder representacional constroem a realidade social dos negros. Afirmamos que Veja sustenta a ideia de que no Brasil há uma democracia racial. E isso é mais enfático quando trata dos negros estrangeiros, vítimas do preconceito racial em seu próprio país. Palavras-chave: linguagem verbal; linguagem não-verbal; representação; ideologia; raça negra. ABSTRACT Joaquim Barbosa, Barack Obama, among others, are black men and have gained space in printed media and television, as the texts of the magazine Veja. It conveys a social representation of black people through language and how it is built and what it exposes to represent them to represent is the purpose of this study. For this we use the theorist: van Dijk (2008), Halliday (1982), Thompson (1995), etc. The research is guided by the methodological reference of Depth Hermeneutics (THOMPSON, 1995), addressing social, discursive and interpretativistas aspects of the corpus, composed by seven copies of the magazine Veja, from 2007 to 2009, specially the cover and its report. We considered how the ideational meaning and representational power construct the social reality of blacks. We affirm that Veja supports the idea that in Brazil there is a racial democracy. And that is more emphatic when dealing with black foreigners, victims of racial prejudice in their own country. Keywords: verbal language, non-verbal language, representation, ideology, black race.

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Page 1: 0 S TÍTULO: LINGUAGENS DA MÍDIA E A ... - ucs.br filePalavras-chave: linguagem verbal; linguagem não-verbal; representação; ideologia; raça negra. ABSTRACT Joaquim Barbosa, Barack

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S TÍTULO: LINGUAGENS DA MÍDIA E A REPRESENTAÇÃO DA RAÇA NEGRA

AUTORIA: FERREIRA, Janaina Carvalho (Esp. em língua portuguesa – UNIFRA –

[email protected]); BORTOLUZZI, Valeria Iensen (Doutora em Letras – UNIFRA –

[email protected])

RESUMO

Joaquim Barbosa, Barack Obama, entre outros, são negros e já ganharam espaço na mídia impressa e televisiva, como nos textos da revista Veja. Ela veicula uma representação social dos negros por meio de linguagens e como isso é construído e o que expõe ao representá-los é o objetivo deste estudo. Para tal, utilizamos os teóricos: van Dijk (2008), Halliday (1982), Thompson (1995), etc. A pesquisa é norteada pelo referencial metodológico da Hermenêutica de Profundidade (THOMPSON, 1995), abordando aspectos sociais, discursivos e interpretativistas do corpus, composto por sete exemplares da revista Veja, do período de 2007 a 2009, detendo-se na capa e respectiva reportagem. Consideramos como o significado ideacional e o poder representacional constroem a realidade social dos negros. Afirmamos que Veja sustenta a ideia de que no Brasil há uma democracia racial. E isso é mais enfático quando trata dos negros estrangeiros, vítimas do preconceito racial em seu próprio país.

Palavras-chave: linguagem verbal; linguagem não-verbal; representação; ideologia; raça negra.

ABSTRACT

Joaquim Barbosa, Barack Obama, among others, are black men and have gained space in printed media and television, as the texts of the magazine Veja. It conveys a social representation of black people through language and how it is built and what it exposes to represent them to represent is the purpose of this study. For this we use the theorist: van Dijk (2008), Halliday (1982), Thompson (1995), etc. The research is guided by the methodological reference of Depth Hermeneutics (THOMPSON, 1995), addressing social, discursive and interpretativistas aspects of the corpus, composed by seven copies of the magazine Veja, from 2007 to 2009, specially the cover and its report. We considered how the ideational meaning and representational power construct the social reality of blacks. We affirm that Veja supports the idea that in Brazil there is a racial democracy. And that is more emphatic when dealing with black foreigners, victims of racial prejudice in their own country. Keywords: verbal language, non-verbal language, representation, ideology, black race.

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1 INTRODUÇÃO

Joaquim Barbosa, Ronaldo Nazário, Barack Obama, entre outros, são pessoas públicas que

têm várias diferenças entre si, como faixa etária, profissão, estilo de vida e até nacionalidade,

mas em um ponto eles se assemelham: racialmente são negros. Os negros são assunto na

mídia impressa e televisiva e já estamparam as capas de várias revistas, como é o caso da

revista Veja, de circulação semanal em todo o Brasil.

De que forma essa revista apresenta essas pessoas em um país que é conhecido por não ter

discriminação racial, mas cria cotas para os negros terem acesso ao ensino superior?

Magalhães (2004, p.35) afirma que “há uma imagem do Brasil construída e divulgada dentro e

fora do país, como paraíso racial, onde não há preconceito nem discriminação racial”, mas ela

crê que está “acontecendo uma mudança discursiva na sociedade brasileira”, pois nas escolas foi

incluído no currículo o ensino de história e culturas africanas e, além disso, o governo federal

estabeleceu o sistema de cotas como já mencionado.

Silva e Rosemberg (2008, p.74) afirmam que “a mídia participa da sustentação e produção do

racismo estrutural e simbólico da sociedade brasileira uma vez que produz e veicula um

discurso que naturaliza a superioridade branca, acata o mito da democracia racial e discrimina

os negros”.

Em vista disto, indagamos de que forma a revista Veja retrata, em suas capas e respectivas

reportagens, ao articular palavra e imagem, a realidade social e ideológica dos negros.

Investigamos neste trabalho como é realizada essa construção e o que dela resulta.

Nosso trabalho tem como base metodológica a Hermenêutica de Profundidade (HP), proposta

por Thompson (1995), que pressupõe três momentos: a análise sócio-histórica, a análise

formal/discursiva e a interpretação/reinterpretação dos dados. Por limitações do próprio

estudo, o contexto sócio-histórico foi abordado apenas como estado da arte sobre a questão

racial no Brasil e no mundo, na seção de fundamentação teórica do presente texto. O corpus

foi analisado somente na instância formal/discursiva, tendo como base a Análise Crítica do

Discurso (van DIJK, 2008), a Linguística Sistêmico-Funcional (HALLIDAY, 1982) e a

Análise Visual (ALMEIDA e FERNADES, 2008). Para tratarmos da ideologia, apresentamos

os modos de operação ideológica e suas respectivas estratégias, conforme a proposição de

Thompson (1995). Ao final do trabalho, apresentamos uma interpretação/reinterpretação

possível das questões levantadas.

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2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 A QUESTÃO DA RAÇA E SUAS REPRESENTAÇÕES NA SOCIEDADE ATUAL

As capas da revista Veja e suas respectivas reportagens, com pessoas negras em destaque,

compõem o corpus deste trabalho e estão inseridas nos meios de comunicação de massa. Para

Thompson, elas podem ser classificadas como formas simbólicas, ou seja, são “ações e falas,

imagens e textos, que são produzidos por sujeitos e reconhecidos por eles e outros como

construtos significativos” (THOMPSON, 1995, p.79). Para analisar as formas simbólicas,

Thompson elaborou um método denominado de Hermenêutica de Profundidade (HP).

Conforme o teórico, este método evidencia o caráter significativo das formas simbólicas,

garantindo suas interpretações e para a HP “os sujeitos que constituem parte do mundo social

estão sempre inseridos em tradições históricas” (THOMPSON, 1995, p.360), ou seja, as

formas simbólicas fazem parte de um determinado contexto sócio-histórico a ser considerado

durante a análise. Para Gadamer (apud THOMPSON, 1995, p.361) “os resíduos do passado

são não apenas a base sobre a qual nós assimilamos novas experiências no futuro, esses

resíduos podem também servir, em circunstâncias específicas para esconder, obscurecer ou

mascarar o presente.”

O contexto sócio-histórico não é somente um campo-objeto como explica Thompson (1995),

ele é também um campo-sujeito, constituído de pessoas engajadas em entender e interpretar o

seu mundo e por isso, este campo já é pré-interpretado. Conforme Thompson (1995, p.363), “o

enfoque da HP deve se basear, o quanto possível, sobre uma elucidação das maneiras como as

formas simbólicas são interpretadas e compreendidas pelas pessoas que as produzem e as

recebem no decurso de suas vidas cotidianas (...).”

Em virtude da importância de considerar o contexto sócio-histórico para uma análise efetiva,

apresentaremos uma explanação das pessoas formadoras do nosso campo-sujeito. Ele é

constituído por pessoas da raça negra e conforme o senso comum são, mundialmente, alvos de

preconceitos raciais e consequentemente sociais.

Na Europa, na América do Norte ou na América Latina, o grupo étnico-racial dominante é o

dos europeus brancos. A onipotência do racismo europeu garantiu séculos de colonialismo e

“os não-europeus foram sistematicamente segregados e tratados como inferiores, uma

ideologia que serviu como legitimação da escravidão, da exploração e da marginalização” (van

DIJK, 2008, p.11). Mesmo com o fim da escravidão no século XIX, “na África e no sul da

Ásia, as mais severas formas de exploração colonial e opressão continuaram durante décadas

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após a abolição, até o período da descolonização após a Segunda Guerra Mundial” (Idem:

ibidem). Para van Dijk (2008, p.13), a respeito da discriminação racial, os “preconceitos contra

os negros aliados a uma vasta rede de práticas discriminatórias reproduziram, por

conseguinte, a pobreza, o baixo status e outras formas de desigualdade social no que concerne

ao branco dominante e às elites mestiças” e segundo ele, ninguém nasce racista, mas aprende a

ser em contato com as outras pessoas, como os pais e os meios de comunicação de massa.

O interesse em estudar o racismo na América Latina garantiu o surgimento de uma ideologia

de democracia racial na Venezuela, no Chile e no Brasil. Nesses países, o racismo foi negado

e o contato entre os discriminados (índios e negros) e a sociedade tradicional era considerado

natural. Além disso, se considerássemos “o racismo mais explícito, violento e legalizado nos

Estados Unidos” (van DIJK, 2008, p.13), as formas racistas da América Latina eram amenas,

do ponto de vista dos grupos dominantes.

Temos vários acontecimentos antirracistas espalhados pelo mundo, como o Movimento dos

Direitos Civis nos Estados Unidos, o movimento antiapartheid na África do Sul e no Brasil, a

sanção pelo presidente Getúlio Vargas, em 3 de julho de 1951, da Lei 1.390 - Lei Afonso

Arinos1, a organização em 1970 do Movimento Negro Unificado, a sanção pelo presidente

José Sarney, em 5 de janeiro de 1989, da Lei 7.716, conhecida como Lei Antir- racismo2, a

inclusão do racismo como crime inafiançável na Constituição Brasileira, entre outros.

Uma questão contemporânea sobre o fim do racismo é o fato de o presidente eleito em 2008

para a presidência dos Estados Unidos ser negro. Barack Obama deixou de lado a questão

racial em seu discurso pela presidência americana e, segundo Brust (2008, p.4), muitos o

estão “chamando de um negro da era pós-racial, o momento que estaria se desenhando na

América em que a luta racial, como se colocou nos anos 60, estaria superada.” Para Brust

(Idem:ibidem), há um otimismo contagiante dominando os continentes após a vitória de

Obama e nisso existem armadilhas, entre elas a camuflagem do racismo ainda latente nas

sociedades atuais. Melo (apud BRUST, 2008, p.4) aponta outras “duas armadilhas: 1) a

negação, “carregada de cinismo”, de Barack Obama ser negro; 2) a transformação do novo

presidente dos Estados Unidos em líder de uma hipotética Revolução Negra Mundial.”

1 Art. 1º “Constitui contravenção penal, punida nos termos desta Lei, a recusa, por parte de estabelecimento comercial ou de ensino de qualquer natureza, de hospedar, servir, atender ou receber cliente, comprador ou aluno, por preconceito de raça ou de cor.” 2 Art. 1º “Serão punidos, na forma desta Lei os crimes resultantes de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional.” Atualmente, o ato discriminatório por motivo de origem ou cor é crime e não mais uma contravenção penal, como tratava a Lei Afonso Arinos. A Constituição Federal, por sua vez, em seu artigo 5o. parágrafo XLII determina "a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito a pena de reclusão, nos termos da lei".

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Quanto às condições sócio-históricas brasileiras sobre a raça negra, van Dijk (2008) considera

que o Brasil foi o maior importador de escravos negros e o último a abolir essa forma de

dominação, perdendo somente para a Nigéria em termos de população negra. Para não ser

menosprezado pela Europa, o Brasil incentivou a imigração européia, concedendo aos

imigrantes as melhores terras no Sul e Sudeste e, aos negros, as piores no território

nordestino. Convivemos tanto no país quanto no exterior com o mito da igualdade racial, da

existência de cordialidade e democracia nesse âmbito, enquanto há “intensa dominação branca

sobre outros seguimentos étnico-raciais no acesso a bens materiais e simbólicos” (Idem: p.73).

Também temos, como cita van Dijk (Idem: ibidem), o crescimento público das manifestações

do movimento negro contemporâneo e do combate ao racismo.

Conforme Magalhães (2004), a respeito de questões raciais, o Brasil se difere dos Estados

Unidos por não existir segregação de brancos e negros. Representamos de forma mítica para

os Estados Unidos “uma sociedade brasileira sem preconceito ou discriminação (...) e de que o

Brasil não tem uma linha de cor e, portanto, as “pessoas de cor” teriam as mesmas

oportunidades que as brancas em relação a questões de trabalho, saúde e prestígio”

(GUIMARÃES, 2003, apud MAGALHÃES 2004, p.36).

O mito da igualdade racial pressupõe igualdade social, mas, para Silva (2000, apud van DIJK,

2008, p.77), “as diferenças de oportunidades de ascensão social e o racismo dirigido aos negros

são operantes para manter (e, em casos específicos, acentuar) as desigualdades, num processo

de ciclos de desvantagens cumulativas dos negros.” Quando se compara em separado alguns

indicadores sociais dos negros em relação aos brancos, é evidente o menor Índice de

Desenvolvimento Humano (IDH - renda, saneamento e educação) dos negros.

Há 14 anos, como menciona van Dijk (2008), nosso governo reconheceu a dívida histórica

para com os negros e se manifestou estruturalmente racista. Em 1995, após a Marcha Zumbi

contra o Racismo, pela Cidadania e a Vida, o governo federal criou um Grupo de Trabalho

Interministerial e uma de suas funções era “estimular e apoiar iniciativas públicas e privadas

que valorizem a presença do negro nos meios de comunicação” (SILVA JR., 1998 apud van

DIJK, 2008, p.110). Na administração do presidente, Lula também foram realizadas ações

contra a discriminação racial: criação da Secretaria Especial de Promoção da Igualdade

Racial, nomeação de cinco ministros negros, inauguração do primeiro museu especializado

em cultura afro-brasileira e a criação do projeto de lei 3627/2004 para instituir o “sistema

especial de reservas de vagas para estudantes egressos de escolas públicas, em especial negros

e indígenas, nas instituições públicas federais de educação superior (...)”, projeto este mais

conhecido como a lei das cotas.

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As discussões raciais nas últimas três décadas, os movimentos negros, as pesquisas do IDH,

as críticas ao mito da democracia racial e o incentivo do governo ao fim das desigualdades

sociais para com os negros “parecem ter repercutido de forma mitigada e selecionada no

discurso midiático brasileiro, que sustenta e produz a dimensão simbólica do racismo à

brasileira” (van DIJK, 2008, p.112).

2.2 O SIGNIFICADO IDEACIONAL E O PODER REPRESENTACIONAL DAS

LINGUAGENS VERBAL E NÃO-VERBAL

Neste momento, daremos atenção aos pressupostos teóricos que sustentam a análise

formal/discursiva de que trata o segundo momento do referencial metodológico da

Hermenêutica de Profundidade. Esta análise está inserida na perspectiva teórica da Análise

Crítica do Discurso (ACD). A ACD “almeja investigar criticamente como a desigualdade

social é expressa, sinalizada, constituída, legitimada, e assim por diante, através do uso da

linguagem (ou no discurso)” (WODAK, 2000, p.225). Segundo Fairclough (apud WODAK,

2000, p.230-231), por meio da linguagem, a ACD investiga as relações de poder, questões

ideológicas e “é útil para revelar a natureza discursiva de muitas das mudanças sociais e

culturais contemporâneas”. Para Chouliaraki e Fairclough (1999 apud WODAK, 2000, p.231),

a mídia de massa oferece espaço para o desenvolvimento das relações de poder e creem ser

uma inverdade o fato no qual “as instituições midiáticas costumam se considerar neutras por

que acreditam que dão espaço para o discurso público, refletem os estados de coisas de forma

desinteressada, e expressam as percepções e os argumentos dos jornalistas”

Na variedade de pesquisas realizadas em ACD, conforme Wodak (2000, p.232), “em quase

todos os estudos há referências à gramática sistêmica funcional de Halliday” e

consequentemente a sua Linguística Sistêmico-Funcional. A Linguística Sistêmico-Funcional

(LSF) de Michael Halliday preocupa-se em “compreender e descrever a linguagem em

funcionamento como um sistema de comunicação humana e não como um conjunto de regras

gerais, desvinculadas de seu contexto de uso” (CUNHA & SOUZA, 2007, p.19-20). Halliday

enfatizou, em 1970, “a relação entre o sistema gramatical e as necessidades sociais que a

linguagem precisa atender” (HALLIDAY, 1970, p.142, apud WODAK, 2000, p.232). O

teórico identificou, na língua, três metafunções linguísticas interconectadas capazes de

atender a essa relação: função ideacional, função interpessoal e função textual.

Dessas três funções, nossa pesquisa concentrará o foco na função ideacional: “é a linguagem

que expressa a experiência do mundo exterior do falante e do seu próprio mundo interior, o

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mundo de sua própria consciência”3 (HALLIDAY, 1982, p.64). Fairclough (2001, p.92)

relaciona “a função ideacional aos modos pelos quais os textos significam o mundo e seus

processos, entidades e relações.” Para Meurer (2005, p.97), nessa função, “as pessoas

representam a realidade”. Na função ideacional há “a transitividade que é um conceito

semântico fundamental em Halliday. (...) Ela é a base da representação: é o modo pelo qual a

oração é usada para analisar eventos e situações como sendo de certo tipo.” (IKEDA, 2005,

p.55). Cunha e Souza (2007, p.54) explicam esse conceito semântico:

(o) sistema de transitividade permite identificar as ações e atividades humanas que estão sendo expressas no discurso e que realidade está sendo retratada. Essa identificação se dá através dos principais papéis da transitividade: processos, participantes e circunstâncias. (...) Pelo sistema de transitividade existem seis tipos de processos (verbos): materiais, mentais, relacionais, verbais, comportamentais e existenciais. A cada um deles associam-se participantes específicos determinados pela semântica dos tipos de processos e circunstâncias variadas para expressar informações adicionais, mas relevantes ao evento discursivo, e, dessa forma, construir um domínio particular da experiência.

Os três principais papéis da transitividade podem ser explicados como: 1) processos – se

realizam por meio de verbos e indicam ações; 2) participantes – se realizam por sintagmas

nominais e podem estar associados aos processos e 3) circunstâncias – se realizam por

sintagmas adverbiais e adicionam informações aos processos.

De acordo com as explicações de Cunha e Souza (2007, p.56-60) para os seis tipos de

processos, há, conforme a seguir, os três primeiros como principais e os outros três como

secundários: 1) processos materiais caracterizam ações, ou seja, algo é realizado como

estudar, votar, ler, dançar, comer, etc; 2) processos mentais são representados por verbos

como ver, sentir, amar, perceber, são indicadores de desejos, valores, sentimentos,

percepções. 3) processos relacionais “são aqueles que estabelecem uma conexão entre

entidades, identificando-as ou classificando-as.”, representados pelos verbos de ligação (ser,

estar, permanecer, continuar, ficar, tornar, parecer, etc); 4) processos verbais representam a

oralidade, ou em linguagem escrita, nesse momento o verbo dizer é recorrente; 5) processos

comportamentais “são os responsáveis pela construção de comportamentos humanos”, incluindo

atividades psicológicas e fisiológicas e 6) processos existenciais “representam algo que existe

ou acontece”.

Além de identificarmos qual processo se desenvolve em uma oração, é necessário conhecer os

principais participantes de cada processo:

3 “el lenguaje que expressa la experiencia del hablante del mundo exterior, y de su proprio mundo interior el mundo de su propria conciencia.”

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1) processos materiais: ator, meta, extensão e beneficiário. O ator faz a ação e está

presente tanto em orações transitivas como intransitivas. Aquelas são orações com mais de

um participante e também são conhecidas como orações efetivas, já estas são as também

conhecidas como orações médias e possuem um único participante. Meta, extensão e

beneficiário são participantes opcionais. A meta é o participante para quem a ação se

direciona, a extensão especifica o processo e o beneficiário se beneficia do processo.

2) processos mentais: experienciador e fenômeno. Aquele é o participante que sente e

deseja e este é o desejo do experienciador.

3) processos relacionais: estes processos podem ser de dois tipos: atributivos ou

identificadores e cada um deles têm participantes diferentes. Nos atributivos, o atributo é “uma

qualidade dada ao participante classificado como portador” (CUNHA e SOUZA, 2007, p.59). Nos

identificadores, o identificado é a entidade recebedora de um identificador. A diferença entre

esses processos está no fato de que nos atributivos não há identificação dos elementos entre

uma classe, já nos identificadores, há essa classe e os participantes recebem identificadores

para apresentar a suas classificações em um grupo.

4) processos verbais: dizente, receptor e verbiagem como participantes. Cunha e Souza

(2007, p.59) os descrevem da seguinte foram: dizente é o “participante inerente que diz,

comunica, aponta algo”; receptor é o “participante opcional para quem o processo verbal se

dirige” e verbiagem é o participante codificador do que é dito ou comunicado.”

5) processos existenciais: possuem só um participante, o Existente, que é o que existe.

6)processos comportamentais: comportante é o participante obrigatório e o

participante opcional que estende o processo é denominado behaviour.

O escopo de análise desta pesquisa também são os elementos não verbais do corpus. Como

afirma Thompson (1995, p.79), “as formas simbólicas podem também ser não-lingüísticas ou

quase-lingüísticas em sua natureza (por exemplo, uma imagem visual ou um construto que

combina imagens e palavras)”. Para Kress et al (1997, apud BALOCCO, 2005, p.65), “a

linguagem sozinha não é mais suficiente como foco de atenção para aqueles interessados na

construção e reconstrução social do significado.” Afirmam, também, ser “preciso analisar a

forma como linguagem e elementos visuais articulam-se num texto, funcionando como

ancoragens para leituras ideologicamente marcadas.” (Idem: ibidem)

Dessa forma, também é possível representar a realidade por meio de elementos não-verbais.

Quanto à análise não-verbal temos a gramática do design visual de Kress e van Leeuwen, a

qual também postula metafunções para a linguagem, assim como faz a Linguística Sistêmico-

Funcional. A Gramática do design visual apresenta as metafunções: representacional,

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interacional e composicional. Como a pesquisa tem o foco na metafunção ideacional,

concentraremos os esforços na metafunção representacional que, no campo visual,

corresponde à função ideacional de Halliday. Para Almeida e Fernandes (2008, p.12), a

metafunção representacional é

responsável pelas estruturas que constroem visualmente a natureza dos eventos, objetos e participantes envolvidos, e as circunstâncias em que ocorrem. Indica, em outras palavras, o que nos está sendo mostrado, o que se supõe esteja “ali”, o que está acontecendo, ou quais relações estão sendo construídas entre os elementos apresentados.

Almeida e Fernandes (2008) mencionam a divisão da metafunção representacional por Kress

e van Leeuwen (2000) em narrativa ou conceitual. Na narrativa “há a presença de vetores

indicando que ações estão sendo realizadas” (ALMEIDA e FERNANDES, 2008, p.13) e na

conceitual estão representados os participantes “em termos de suas particularidades: de sua

classe, estrutura ou significado. Definem, analisam ou classificam pessoas, objetos ou lugares”

(Idem: ibidem).

Assim como tínhamos os processos e participantes de Halliday, para Almeida e Fernandes

(2008, idem), baseados em Kress e van Leeuwen, conforme o tipo de vetor e número de

participantes, pode-se perceber os processos narrativos de ação, reação, verbal e mental. O

vetor em uma imagem é um artifício utilizado para apresentar um processo de ação. A direção

do vetor determina quem faz a ação (ator) e a quem ela é dirigida (meta). Existem dois tipos

de estruturas visuais, considerando ator e meta: estrutura não-transacional e transacional. Na

primeira, há apenas um ator e a ação é dirigida a nada ou ninguém, ou seja, não há meta. Já na

outra estrutura, há mais de um participante e consequentemente uma meta e, muitas vezes, há

bidirecionalidade, ou seja, ator e meta invertem os papéis.

O processo narrativo de reação se configura quando “um participante toma por ponto de

partida, o seu olhar rumo a alguém ou alguma coisa” (ALMEIDA e FERNANDES, 2008,

p.15). O participante é denominado de reator e tem necessariamente traços humanos. As

reações também podem ser transacionais ou não-transacionais. Nas primeiras, “é possível

visualizar o alvo do olhar” chamado de fenômeno e pode ser outro participante ou outra

imagem qualquer. Já se o reator olhar para algo fora do campo imagético a reação é não-

transacional.

Nos processos verbais, há um participante com uma fala sinalizada em um balão. O

participante é denominado dizente e se o processo é mental esse nome é trocado para

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experienciador. “O que é falado é enunciado. O que é pensado é fenômeno” (ALMEIDA e

FERNADES, 2008, p.16).

A outra classificação da função representacional é a conceitual com ausência de vetores, pois

nenhuma ação é executada, neste caso os participantes são descritos em termos de classe,

estrutura ou significação e essas representações podem ser processo classificacional, analítico

ou simbólico.

A representação conceitual classificacional tem participantes (subordinados e superordinados)

pertencentes ao mesmo grupo ou classe, pelas características por eles apresentadas. No

processo analítico, estruturado ou desestruturado, são apresentadas partes (atributos

possessivos) relacionadas com um todo (portador), significando a apresentação dos atributos

de um portador. No processo conceitual simbólico, os participantes são representados pelo seu

significado e isto é feito por meio dos efeitos de cores, tamanhos, luz, etc. Os participantes

são os portadores enquanto os seus significados são os seus atributos possessivos. Essa

categoria conceitual ainda pode ser dividida em atributivos e sugestivos. Nos atributivos, a

inserção de elementos visuais que o diferenciam é nítida, enquanto nos sugestivos, “a

identidade ou significado é apresentado como um traço intrínseco ao portador, como sua

essência” (ALMEIDA e FERNANDES, 2008, p.17).

Os conceitos apresentados para a investigação lingüística e visual do nosso corpus

possibilitam apresentarmos um conceito fundamental para concretizar o resultado destes

levantamentos: o conceito de ideologia. Na perspectiva teórica da ACD, a ideologia “é vista

como um importante aspecto da criação e manutenção de relações desiguais de poder”

(WODAK, 2000, p.235). Para Thompson (1990 apud WODAK, 2000, p.235) a “ideologia é o

estudo ‘de como o significado é construído e transmitido através de formas simbólicas de

vários tipos’” e ele afirma ainda que “vivemos hoje num mundo em que a circulação

generalizada de formas simbólicas desempenha um papel fundamental e sempre crescente”

(THOMPSON, 1995, p.9).

Thompson apresenta modos de operação da ideologia e “algumas das maneiras como eles

podem estar ligados, em circunstâncias particulares, com estratégias de construção simbólica”

(Idem, p. 80). Os modos são: legitimação, dissimulação, unificação, fragmentação e

reificação. Respectivamente a eles estão associadas algumas estratégias simbólicas de

natureza lingüística, conforme mostra tabela a seguir:

Tabela 1 - Modos de operação da ideologia (THOMPSON, 1995, p.81)

Modos Gerais Algumas estratégias típicas de construção simbólica

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Legitimação Racionalização Universalização Narrativização

Dissimulação Deslocamento Eufemização Tropo (sinédoque, metonímia, metáfora)

Unificação Estandardização Simbolização da unidade

Fragmentação Diferenciação Expurgo do outro

Reificação Naturalização Eternalização Nominalização/passivização

Para o autor, esses modos e suas classificações não são verdades universais e nem sempre são

independentes umas das outras. Passamos a considerar os pressupostos de Thompson (1995)

sobre cada um dos modos e suas respectivas estratégias:

a) legitimação: é uma forma simbólica apresentada como justa e digna de apoio. Isto toma

força, segundo Weber (apud THOMPSON, 1995, p.82), por fundamentos racionais,

tradicionais ou carismáticos. Para assim acontecer, temos a estratégia da racionalização,

“através da qual o produtor de uma forma simbólica constrói uma cadeia de raciocínio que

procura defender, ou justificar, um conjunto de relações, ou instituições sociais, e com

isso persuadir uma audiência de que isso é digno de apoio” (THOMPSON, 1995, p. 83). A

universalização é outra estratégia desse modo de operação ideológica, em que “acordos

institucionais que servem aos interesses de alguns indivíduos são apresentados como

servindo aos interesses de todos (...)” (Idem: ibidem). A última estratégia da legitimação é

a narrativização apresentada por “histórias que contam o passado e tratam o presente como

parte de uma tradição eterna e aceitável.” (Idem: ibidem).

b) dissimulação: nesse modo de operação ideológica as “relações de dominação podem ser

estabelecidas e sustentadas pelo fato de serem ocultadas, negadas ou obscurecidas”

(THOMPSON, 1995, p. 83). As estratégias possibilitadoras da dissimulação são:

deslocamento – um termo caracterizador de um objeto ou pessoa é empregado em outro

objeto ou pessoa; eufemização – valorização positiva de ações, instituições ou relações

sociais (Idem: p.84); tropo – uso da sinédoque, da metonímia e da metáfora para

dissimular relações de dominação.

c) unificação: nela há “uma forma de unidade que interliga os indivíduos numa identidade

coletiva, independente das diferenças e divisões que possam separá-los” (THOMPSON,

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1995, p.86). Na estratégia de padronização há um referencial padrão, ela é utilizada

muitas vezes pelas autoridades para, por meio de uma linguagem nacional, atingir

diversos grupos lingüísticos. Já a simbolização da unidade é uma estratégia desenvolvida

com a “construção de símbolos de unidade, de identidade e de identificação coletiva, que

são difundidas através de um grupo, ou de uma pluralidade de grupos” (Idem: ibidem).

d) fragmentação: nesse modo de operação ideológica ocorre a segmentação dos indivíduos

identificados como uma ameaça aos indivíduos dominantes, conforme Thompson (1995).

Isto pode ser posto em prática pela diferenciação, a qual enfatiza as diferenças entre

pessoas e grupos. Essas diferenças podem ser raciais, sociais, econômicas, culturais e elas

tendem a garantir o poder ao grupo tido como ideal. O expurgo do outro também

possibilita fragmentação e cria “um inimigo, seja ele interno ou externo, que é retratado

como mau, perigoso e ameaçador e contra o qual os indivíduos são chamados a resistir

coletivamente ou expurgá-lo” (Idem:ibidem).

e) reificação: esse modo de ideologia apresenta a “eliminação, ou a ofuscação, do caráter

sócio-histórico dos fenômenos (...)” (Idem: ibidem). Faz-se presente por três estratégias:

naturalização “um estado de coisas que é uma criação social e histórica pode ser tratado

como um acontecimento natural ou como resultado inevitável de características naturais

(...)” (THOMPSON, 1995, p.88); eternalização - “fenômenos sócio-históricos são

esvaziados de seu caráter histórico ao serem apresentados como permanentes, imutáveis e

recorrentes” (Idem: ibidem); nominalização - as sentenças ou parte delas são

transformadas em nomes; e passivização - é a colocação dos verbos na voz passiva.

Esses dois últimos modos utilizadores da gramática normativa, conforme Thompson

(Idem: ibidem) “concentram a atenção do ouvinte ou leitor em certos temas com prejuízo

de outros.”

É com os referenciais apresentados acima que analisamos nosso corpus de modo a tentar

encontrar respostas para os seguintes questionamentos: a) como a revista Veja articula a

linguagem verbal e não-verbal para representar a raça negra na sociedade atual? e b) qual

ideologia resulta dessa representação?

3 METODOLOGIA

A pesquisa foi orientada pela Hermenêutica de Profundidade (HP) de Thompson (1995), que

é constituída por 3 fases: 1) análise sócio-histórica; 2) análise formal/discursiva; 3)

interpretação/reinterpretação.

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O corpus de estudo foi composto por 7 edições da revista Veja da Editora Abril. Os

exemplares pertencem ao período de 2007 (junho – ed. 2011 e setembro – ed. 2024), 2008 (maio

– ed. 2059, junho – ed. 2064, novembro – ed.2086 e dezembro – ed.2092) e 2009 (fevereiro -

ed.2098). Desses exemplares, selecionamos dois (junho de 2007 e junho de 2008) que estão

presentes nas análises e discussões deste artigo.

Na fase 1, a partir dos referenciais teóricos de van Dijk (2008), Magalhães (2004), Brust

(2008) e trechos de leis brasileiras, foi apresentada a condição social e representacional da

raça negra no Brasil e no mundo. Na fase seguinte, para uma análise linguística, fizemos uso

da Análise Crítica do Discurso (van DIJK, 2008) e do sistema de transitividade de Halliday

(1982), na releitura de Cunha e Souza (2007) e, para a análise não-linguística, a releitura de

Almeida e Fernandes (2008), da gramática do design visual de Kress e van Leeuwen (2000).

Depois de identificados os elementos verbais e não-verbais que tratavam da raça negra, eles

foram relacionados com os modos de operação ideológica de Thompson (1995) e suas

respectivas estratégias. Para finalizar, a terceira fase interpretou os resultados obtidos,

acarretando nas considerações finais da pesquisa.

Para desenvolver o trabalho, analisamos as capas e respectivas reportagens de capa do nosso

corpus. Destacamos frases e imagens significativas, além de outros elementos lingüísticos que

asseguraram as interpretações. Apresentamos os processos mais recorrentes e capazes de

apontar a ideologia proposta pela revista Veja quanto aos negros do Brasil e do exterior.

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

Com base nos pressupostos teóricos necessários para análise do corpus, passamos aos

resultados e discussões de nossa pesquisa.

4.1 REVISTA VEJA DE 6 DE JUNHO DE 2007

Na capa desta edição, destacamos a frase: “Gêmeos idênticos, Alex e Alan foram

considerados pelo sistema de cotas como branco e negro.” Temos um processo mental em que

Alex e Alan sofreram uma apreciação que acarretou a classificação pelo sistema de cotas de

branco e negro e isso é apresentado também de forma visual, já que a página está dividida em

branco e preto, o que identifica cada um dos participantes representados, conforme a figura 1:

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Figura 1 - Capa

Quanto à análise visual, temos a função representacional de um processo conceitual simbólico

atributivo, já que não temos ações sendo executadas, e sim atributos que identificam os

participantes. Esses atributos são as cores branco e preto, que dividem a capa e identificam os

gêmeos, sinalizando quem é Alex e quem é Alan. Isso ocorre tanto pelo fundo de capa quanto

pelas camisetas dos participantes. Ocorre nesta capa o modo de operação ideológica da

fragmentação que opera pela estratégia da diferenciação (um branco e outro negro). É

estabelecida, intuitivamente, uma relação de dominação de poder dos negros sobre os brancos,

pois, nas cotas, os negros têm mais facilidades para ingressarem em uma instituição de ensino

superior, diminuindo as vagas de acesso dos brancos às universidades e há uma relação de

poder superior a essa que é a de quem determina (‘os juízes da raça’ olharam as fotografias e

decidiram: Alex é branco e Alan não) que um deles seja branco e outro negro.

Na segunda frase da capa: “É mais uma prova de que raça4 não existe”, temos um processo

existencial sendo negado pela circunstância ‘não’. Isso assegurara que a discriminação racial

não existe no Brasil. O que ocorreu foi uma classificação quanto à cor da pele para ingresso

no sistema de cotas, mas tanto branco quanto negro pertencem à única raça, que é a humana e

não a branca ou preta.

Destacamos nesta reportagem a seguinte frase: “Eles são gêmeos idênticos”. Há um processo

relacional identificador, em que o leitor tem a informação de que Alex e Alan são gêmeos

(grande grupo) e, além disso, são idênticos. Essa identificação é importante porque, na

sequência do texto, há uma contradição em que mesmo iguais eles são classificados pela UnB

4 Veja traz a seguinte definição científica da biologia para raça: “subespécies e definidas como grupos de pessoas

– ou animais – que são fisiológica e geneticamente distintos de outros grupos”. Também afirma que “são da

mesma raça os indivíduos que podem cruzar entre si e produzir descendentes férteis” (2007, p.82).

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de formas diferentes. Essa contradição é expressa em “(...) mas, segundo a UnB, este é branco

e este é negro”.Cada irmão, dentro do grande grupo dos gêmeos idênticos, diferencia-se do

outro pelo ‘branco’ e ‘negro’, há então uma classificação realizada através de um processo

relacional identificador. Quanto à imagem, ocorre o mesmo processo representacional

atributivo simbólico da capa. Existe uma diferença quanto às cores das camisetas dos gêmeos

da capa para a reportagem, mas, mesmo assim, quem é classificado como branco veste uma

camiseta de cor mais clara do que o classificado como negro.

Figura 2 - Reportagem

Temos, também, o seguinte trecho, que tem relação com a imagem acima, como processo

relacional identificador: “Alan foi classificado como preto na subcategoria dos pardos e pode

se beneficiar do sistema de cotas. Alex foi recusado”. As identificações dos dois irmãos fazem

parte de uma classe, Alan está classificado dentro de uma classe para cores de pele e Alex é,

dentre os vestibulandos, o que foi recusado pelo sistema de cotas. Esse processo faz uso da

ideologia da fragmentação pela estratégia da diferenciação, em que não há

classificação/exclusão de alguém de um determinado grupo.

A revista Veja corrobora com os pressupostos de Chouliaraki e Fairclough (1999, apud

WODAK, 2000, p.231), que não acreditam na neutralidade dos meios de massa, e é contrária

a essa ideologia da fragmentação, tratando essa questão de classificação racial como ‘um

absurdo’. Isso pode ser percebido conforme os trechos a seguir: “(...) o Brasil está enveredando

pelo perigoso caminho de tentar avaliar as pessoas não pelo conteúdo de seu caráter, mas pela

cor de sua pele”; “A avaliação divergente dos irmãos Alan e Alex pela UnB é uma prova dos

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perigos de tentar classificar as pessoas por critério racial. Em todas as partes onde isso foi

tentado, mesmo com as mais sólidas justificativas, deu em desastre (...)”

Para assegurar ser contrária à ideologia da fragmentação, pela diferenciação, Veja,

novamente, por um processo relacional identificador, cita: “A lei de cotas e o estatuto racial

são monstruosidades jurídicas (...)”. Neste momento, há uma classificação que identifica

dentro de um grande grupo de leis, duas que, para Veja, são negativas, no sentido de afirmar o

racismo no país. Para assegurar que há uma miscigenação entre os povos, que é positiva, a

revista apresenta nove personalidades negras e suas origens genéticas, citando que “várias

celebridades negras brasileiras também têm forte ascendência européia”. Essa frase marca uma

contradição, já que fica a indagação de que, para ser celebridade, é necessário ter genes

europeus. As duas imagens a seguir são exemplos disso:

Figura 3 – Daiane dos Santos, ginasta

Figura 4 – Seu Jorge, músico e compositor

Veja quer apresentar-se contrária à ideologia da fragmentação e favorável à ideologia da

legitimação, pela estratégia da universalização de que não há racismo no Brasil e isso deve ser

aceito e tratado como natural. Confirmamos isso em: “Após a abolição da escravatura, em

1888, nunca houve barreiras institucionais aos negros no país. O racismo não conta com o

aval de nenhum órgão público. Pelo contrário, as eventuais manifestações racistas são punidas

na letra da lei.” Quanto às imagens, há novamente um processo conceitual atributivo em que os

participantes têm sua vida identificada pelos elementos que fazem parte da cena. Na imagem

de Daiane, ela veste uma malha de ginástica que caracteriza sua profissão e está sentada em

um local de treino. Já Seu Jorge está em um ambiente com instrumentos musicais, o que

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indica que ele é um profissional do ramo da música. A legitimação pela universalização pode

ser concluída considerando-se que esses negros são pessoas bem sucedidas e, portanto, não é

válida a prática do racismo em nosso país.

Nesta revista, destacamos o predomínio de processos relacionais com imagens conceituais a

eles associadas. Nessa união, Veja quer marcar sua ideologia, que é a ideologia da legitimação

pela universalização, já que ela condena a fragmentação pela diferenciação. Veja é totalmente

contrária à prática do racismo, pois apresenta as pessoas, ações e feitos associados a isso com

atributos negativos, sinalizando que temos origens de diversos povos.

4.4 REVISTA VEJA DE 11 DE JUNHO DE 2008

Na capa desta edição, destacamos a seguinte frase: “Ele pode ser o homem mais poderoso do

mundo”, que está relacionada à imagem do rosto de Barack Obama, o que garante reconhecer

como é este homem. O verbo ‘ser’ caracteriza o processo relacional identificador, já que, entre

todos os homens do mundo, Obama pode ser o mais poderoso deles. O rosto de Obama,

identificado como o portador da imagem, está relacionado aos atributos possessivos que são

sua pele, seu cabelo e nariz, os quais remetem a traços físicos da raça negra, seu sorriso e seu

olhar, que expressam confiança, serenidade e felicidade, e isso possibilita que a figura 5

caracterize a representação conceitual analítica estruturada. Também, associamos a imagem

feliz do candidato ao poder que ele terá, caso seja eleito.

Figura 5 - Capa

Temos, a partir desses levantamentos, a ideologia da legitimação pela estratégia da

racionalização, pois os traços físicos mencionados acima são aqueles que encontramos no

rosto daquele que pode ser o homem mais poderoso do mundo e, com essa estratégia, ele

passa a ser digno de aceitação.

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Figura 6 - Reportagem

Junto à figura 6, temos as seguintes frases, com processos materiais transformativos: “Obama

entra para a história”; “A escolha do primeiro presidente negro para concorrer à presidência

dos Estados Unidos por um dos dois grandes partidos quebra um tabu de séculos e manda ao

mundo uma mensagem de tolerância.” A imagem em questão também denota ação, é uma

estrutura narrativa transacional bidirecional, em que ora Obama é o ator e o povo é a meta, e

ora o contrário também ocorre. Nessa ação, Obama simboliza a mensagem de tolerância, pois

é aceito e cumprimentado por brancos. A ideologia empregada por Veja é a unificação pela

estratégia da simbolização da unidade, porque ele representa os princípios da sociedade norte

americana nas oportunidades iguais para todos, já que Obama é negro e terá a possibilidade de

ser eleito o presidente do país que dita as regras econômicas mundiais. Dessa forma,

confirma-se a mensagem de tolerância de que trata a frase apresentada.

Apesar de Obama não “levantar a bandeira” de que, por ser negro, merece uma chance, em toda

a reportagem, Veja traz latente a questão racial, como notamos nas seguintes frases:

1) “(...) Barack Hussein Obama, 47 anos em agosto, acordou para viver seu

primeiríssimo dia como o primeiríssimo negro na história dos Estados Unidos a virar

candidato à Casa Branca por um partido grande e, portanto, com chance de ser eleito

presidente do país.” Temos, respectivamente aos verbos sinalizados, os seguintes processos:

‘acordou’ - processo material criativo; ‘viver’ e ‘virar’ - processos materiais transformativos e a

oração transitiva ‘com chance de ser eleito presidente do país’, na voz passiva analítica -

processo material transformativo. Esses processos indicam ações e estas, por consequência,

possibilitarão a ascensão de um negro nos EUA, que é definido pelo último processo.

Salientemos, ainda, o adjetivo ‘primeiríssimo’, dado aos substantivos ‘dia’ e ‘negro’. É com esse

adjetivo que Veja marca a questão racial, sinalizando que é a primeira vez na história que um

homem da raça negra poderá ser o presidente dos EUA.

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2) “Obama é o primeiro negro a chegar a essa posição depois de 389 anos do

desembarque da leva inaugural de escravos africanos na América inglesa.” Temos um processo

relacional identificador, pois Obama se destaca entre os negros. O destaque dado ao adjetivo

‘primeiro’, na frase anterior, repete-se nesta frase, já que Veja deixa claro quem é racialmente

Obama e o que os negros representavam para os EUA, ou seja, eram escravos.

3) “Agora, o anfitrião pode vir a ser um negro – na verdade, metade branco e

metade negro, mas, para os padrões americanos, inteiramente negro.” Há um processo

relacional atributivo, em que é apresentada a raça do ‘anfitrião’. Obama não deixa de ser visto

como um negro, por mais que sua mãe seja branca, pois, para os padrões americanos, ele é

visto como um negro e é isso que choca: um negro ser o presidente de uma nação racista.

4) “A primeira jornada foi vencer os Clintons, e a segunda não será vencer

McCain, mas tentar superar a barreira da raça.” Os verbos configuram processos materiais

transformativos, pois todos denotam ações que acarretam significativas mudanças mundiais.

Superar a barreira da raça é o que Veja representa quanto à questão racial, o que significa que

o mais importante é mostrar que um negro pode ser o presidente dos EUA.

5) “Obama jamais se apresentou como um candidato negro (...)”. Há um processo

comportamental, que expõe o comportamento de Obama durante a campanha, que foi mostrar

suas idéias e não levantar questões raciais, destacando sua raça.

6) “Obama queria estar acima da questão racial.” Presença de um processo mental

de afeição, que mostra como Obama queria ser apreciado pelo mundo, não como um negro,

mas como um candidato capaz de mudar os EUA.

7) “Tem algo, no tom do discurso, na entonação sermonária, de um Luther King,

mas não quer ser um líder negro. Quer ser um líder americano.” O verbo ‘quer’ apresenta um

processo mental, que é o desejo de Obama, e, através do verbo ‘ser’, temos o processo

relacional identificador, que identifica o que o candidato tem a intenção de ser. Mais uma vez,

a questão racial aparece quando cita Luther King associando Obama a ele pela cor da pele e

pelo tom do discurso, mas o candidato, que não quis levantar questões raciais, ‘quer ser um

líder americano’, independente de raça.

Barack Obama possui uma forte aliada, sua esposa Michelle e Veja aponta sobre ela: “Quando

os negros desconfiavam da negritude de Obama, chamaram Michelle. Crescida no degradado

sul de Chicago, onde morou com os pais e o irmão num apartamento de apenas um quarto, ela

parecia mais autenticamente negra que o marido. Subiu nos palanques exuberante, e deu o

recado. Negra e vitoriosa.” As palavras sublinhadas nessas frases não deixam dúvidas de que a

esposa do candidato à presidência dos EUA é negra e já foi pobre, mas conseguiu superar as

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adversidades. Michelle conseguiu algo difícil para os padrões americanos: ter sucesso sendo

negra. Sua exuberância e vitória podem ser verificadas no processo representacional

conceitual atributivo simbólico abaixo em que os atributos são: a bandeira dos EUA ao fundo,

a pose de Michelle, desinibida, bem vestida, sua cor de pele e inferimos que as pessoas na

imagem estão interessadas no que ela tem para dizer.

Figura 7 – Michelle Obama

Os processos nas frases 1 a 4 trabalham com a ideologia da fragmentação pela estratégia da

diferenciação, já que Veja deixa claro o lugar dos negros na sociedade, e Obama é o marco

para a transformação de um passado de escravidão e intolerância para ocupar o cargo mais

elevado de poder no país. Já nas frases 5 a 7, a revista faz uso da ideologia da unificação pela

estratégia da simbolização da unidade, em que deixa claro a possibilidade dos negros de terem

oportunidades iguais, como, por exemplo, concorrer à presidência do país.O próprio candidato

não tratou de questões raciais durante a campanha, ele quis se apresentar como um cidadão

americano que tem direitos e deveres iguais aos demais, independente da cor da pele.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS – INTERPRETAÇÃO/REINTERPRETAÇÃO DOS

DADOS

Após nossa análise, apresentaremos considerações sobre como a revista Veja apresenta a raça

negra, tanto no Brasil como no exterior.

Na reportagem sobre os gêmeos, Veja faz uso da democracia racial e critica tudo o que venha

ser criado quanto à questão de diferenciar as pessoas pela cor da pele. Para a revista, a

diferenciação é desnecessária no país da democracia racial.

Diferente disso, temos na edição de Veja que trata de Barack Obama. Ela foi explícita ao

relatar a questão racial dos EUA.

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Obviamente que Veja trata de diversos assuntos, mas os negros só estiveram em destaque

quando algum escândalo ou feito a eles foi associado. Não há incidência de qualquer outra

capa, ao longo destes quase três anos, de negros associados a assuntos quaisquer, sempre

foram modelos brancos que ilustraram as demais capas.

O contexto sócio-histórico que Thompson apresenta como fundamento para entender o

presente se desenvolve de formas diferentes para cada análise realizada: é alvo da revista para

promulgar a inexistência de raças e é revolucionado com a candidatura de Barack Obama. A

mídia confere espaços aos negros exaltando-os pelos seus feitos: “homem mais poderoso do

mundo” ou pelo sentimento de pena: discriminação racial. Mas, a baixa incidência de destaque

dos negros revela que o lugar que eles ocupam na sociedade brasileira ainda é muito pequeno.

A ausência de racismo no Brasil é uma máscara que serve para criar um protecionismo aos

negros e dessa forma não discutir questões mais pontuais quanto à raça negra, como o baixo

IDH.

Já no exterior, Veja não tem como manipular os eleitores, apenas informa o que acontece na

campanha de Barack Obama como o primeiríssimo negro a ter possibilidade de tornar-se

presidente dos EUA. Obama não tratou de questões raciais em sua campanha, mas sim de

soluções para a crise econômica mundial, mas Veja fez questão de destacar, a questão racial

nos EUA. Desse modo, assegura a democracia racial que existe aqui e não existe lá,

sedimentando a premissa de que no Brasil não há racismo.

A revista Veja escolhe como mostrar a raça negra em suas formas simbólicas e dessa forma

cumpre o papel da mídia de massa na manutenção do poder.

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