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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 009.826/2006-0 GRUPO I – CLASSE IV – PLENÁRIO TC–009.826/2006-0 Natureza: Tomada de contas especial Unidade: Município de Palmeirândia/MA Responsável: Nilson Santos Garcia - CPF 062.067.513- 68 - ex-Prefeito Advogado constituído nos autos: não há. SUMÁRIO: TOMADA DE CONTAS ESPECIAL. CONVÊNIO. FRAUDE EM PROCEDIMENTO LICITATÓRIO. EMPRESAS PARTICIPANTES DE CONVITE GERIDAS POR UM MESMO PROCURADOR. PARENTE CONSANGUÍNEO DO EX-PREFEITO. PARTICIPAÇÃO DE EMPRESAS SEM EXISTÊNCIA FÁTICA. INEXECUÇÃO DO OBJETO PREVISTO NO CONVÊNIO. DECLARAÇÃO DE INIDONEIDADE. INABILITAÇÃO. CONTAS IRREGULARES. DÉBITO E MULTA. 1. Considera-se fraude em licitação quando não comprovada a existência fática da empresa vencedora do certame e de sua concorrente, o que leva à declaração de inidoneidade. 2. É também evidente a comprovação de fraude à licitação quando se constata que duas das três licitantes são representadas por um mesmo procurador, com mandato de poderes ilimitados, sendo esse parente consanguíneo do gestor municipal. RELATÓRIO Trata-se de tomada de contas especial instaurada em virtude do Acórdão 1.159/2005 – TCU – Plenário, que conheceu e julgou procedente denúncia na qual se noticiou diversas irregularidades praticadas no âmbito da Prefeitura Municipal de Palmeirândia/MA, quando da utilização de recursos federais transferidos por intermédio de convênios e contratos de repasse nos exercícios de 1996 a 2004, determinando a conversão dos autos em diversas Tomadas de Contas Especial e a realização de citação e audiência dos responsáveis, na forma do Parecer Secex/MA-DT, de 20/06/2005 (fls. 01/24). 2. Versa a presente TCE sobre irregularidades praticadas na execução do Convênio 1565/2002, celebrado pela Fundação Nacional de 1

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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 009.826/2006-0

GRUPO I – CLASSE IV – PLENÁRIOTC–009.826/2006-0Natureza: Tomada de contas especialUnidade: Município de Palmeirândia/MAResponsável: Nilson Santos Garcia - CPF 062.067.513-68 - ex-PrefeitoAdvogado constituído nos autos: não há.

SUMÁRIO: TOMADA DE CONTAS ESPECIAL. CONVÊNIO. FRAUDE EM PROCEDIMENTO LICITATÓRIO. EMPRESAS PARTICIPANTES DE CONVITE GERIDAS POR UM MESMO PROCURADOR. PARENTE CONSANGUÍNEO DO EX-PREFEITO. PARTICIPAÇÃO DE EMPRESAS SEM EXISTÊNCIA FÁTICA. INEXECUÇÃO DO OBJETO PREVISTO NO CONVÊNIO. DECLARAÇÃO DE INIDONEIDADE. INABILITAÇÃO. CONTAS IRREGULARES. DÉBITO E MULTA.

1. Considera-se fraude em licitação quando não comprovada a existência fática da empresa vencedora do certame e de sua concorrente, o que leva à declaração de inidoneidade.

2. É também evidente a comprovação de fraude à licitação quando se constata que duas das três licitantes são representadas por um mesmo procurador, com mandato de poderes ilimitados, sendo esse parente consanguíneo do gestor municipal.

RELATÓRIO

Trata-se de tomada de contas especial instaurada em virtude do Acórdão 1.159/2005 – TCU – Plenário, que conheceu e julgou procedente denúncia na qual se noticiou diversas irregularidades praticadas no âmbito da Prefeitura Municipal de Palmeirândia/MA, quando da utilização de recursos federais transferidos por intermédio de convênios e contratos de repasse nos exercícios de 1996 a 2004, determinando a conversão dos autos em diversas Tomadas de Contas Especial e a realização de citação e audiência dos responsáveis, na forma do Parecer Secex/MA-DT, de 20/06/2005 (fls. 01/24).2. Versa a presente TCE sobre irregularidades praticadas na execução do Convênio 1565/2002, celebrado pela Fundação Nacional de Saúde – Funasa junto à Prefeitura Municipal de Palmeirândia, tendo por objeto a execução do sistema de abastecimento de água, conforme o Plano de Trabalho especialmente elaborado (fls. 51/55 – vol. anexo), com vigência prevista para o período de 20/12/2002 a 20/12/2003, prorrogada até 15/12/2004 (cf. 1º termo “de officio” de prorrogação de vigência de convênio por atraso na liberação de recursos, fl. 45 - vol. anexo).3. Os recursos financeiros para a execução do convênio foram orçados em R$ 246.052,90, dos quais R$ 240.000,00 correndo à conta do concedente, empenhados por intermédio da Nota de empenho 2002NE003425, de 19/12/2002 e liberados através das Ordens Bancárias nsº 2003OB005573, de 02/09/2003 (fl. 50 – vol. anexo), 2003OB007996, de 16/12/2003 (fl. 49 - vol. anexo), 2004OB906918, de 8/12/2004 (fl. 100 – vol. P.), e R$ 6.052,90 a título de contrapartida da convenente.4. Apresentada a denúncia, concluiu a Secex/MA pela realização de inspeção junto à Prefeitura de Palmeirândia, na qual foram constatadas as seguintes irregularidades: a) movimentação e recebimento de recursos federais por membros do Executivo de Palmeirândia ou por pessoas estranhas à execução do objeto do convênio; b) inexecução parcial ou total do objeto previsto no

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convênio; c) contradição na cronologia dos eventos administrativos associados à execução do objeto pactuado; d) apresentação de propostas no processo licitatório com idêntica padronização gráfica ou visual; e) propostas formuladas sem data, indicação ao certame e/ou sem assinatura do responsável; f) licitantes cujo procurador e real gerente é parente do Prefeito Municipal; g) licitante não encontrada in loco pela equipe de auditoria da Secex/MA ou com endereço diverso do declarado; h) licitante com endereço igual ao de parente do gestor municipal; i) ausência de documentos que comprovariam a aptidão do fornecedor para contratar com a administração pública municipal; e j) notas fiscais de diferentes fornecedores com igual ou similar padrão manuscrito.5. Diante das ocorrências constatadas, foram adotadas as seguintes medidas saneadoras:

a) citação solidária do Sr. Nilson Santos Garcia, então Prefeito de Palmeirândia, e da empresa I. F. Terraplenagem e Construções Ltda., suposta executora do contrato, pelas importâncias de R$ 96.000,00, R$ 72.000,00 e R$ 72.000,00, a contar de, respectivamente, 4.9.2003, 18.12.2003 e 8.12.2004, ante a não comprovação da boa e regular aplicação dos recursos públicos, em face das seguintes irregularidades (fls. 62/9, 104/24 e 154/162, v.p.):

“1. movimentação e recebimento dos recursos federais efetuada por membros do Executivo de Palmeirândia ou por pessoas de qualquer modo estranhas à execução do objeto do convênio, conforme se constatou ao comparar as notas fiscais e a dinâmica bancária da conta específica [fls. 28/9, v.p., e 2/41, anexo 1], permitindo-se inferir que a empresa I. F. Terraplenagem não foi a tomadora dos cheques sacados em detrimento da conta específica do convênio, mas sim o Sr. Nilson Santos Garcia, Prefeito de Palmeirândia, além de terceiros;

2. inexecução parcial ou total do objeto previsto no convênio, caracterizando divergência entre a realidade da obra (itens de planilha sem execução, estágio de execução, existência ou não do objeto, etc.) e o que consta formalmente da prestação de contas, visto que, nos povoados de Viradouro e São Roque, os quais deveriam ter sido contemplados com obras do convênio, a equipe da Secex/MA encontrou situação diversa da que consta da prestação de contas, face à inexistência de poços nestes locais, conforme detectado em vistoria in loco [fls. 29, v.p., e 196/7, anexo 1];

3. licitante não encontrada in loco pela equipe de auditoria, visto que, em busca à casa 200 da Rua São José, ‘Trizidela’, Município de São José de Ribamar, onde pretensamente ficaria a sede da I. F. Terraplenagem, a equipe da Secex/MA encontrou um local praticamente inabitado, sem o menor sinal da procurada sociedade empresária [fls. 30 e 44, v.p.]; e

4. emissão de notas fiscais de diferentes fornecedores com igual ou similar padrão manuscrito, sendo observado que as notas emitidas pela empresa I. F. Construções apresentam a mesma grafia das emitidas pela empresa C. J. Construções, também participante de diversas licitações promovidas pela Prefeitura de Palmeirândia e que é gerida de fato pelo irmão do Prefeito Nilson Santos Garcia, o Sr. Jorge Luiz Garcia (Convênios 1.013/2001 e 2.312/2001 e Contrato de Repasse 121.009-35/2001)’ [fls. 29/30, v.p., 15/37, 170 e 187/95, anexo 1];”

b) audiência dos srs. Nilson Santos Garcia, então Prefeito, Márcio Ribeiro de Jesus Sousa, Fabiane Pinheiro Trinta e Weder Pereira Garcia, integrantes da comissão permanente de licitação, para apresentarem razões de justificativa, ante as ocorrências a seguir relatadas (fls. 50/61, v.p.):

“Indícios de irregularidades na condução do procedimento licitatório consubstanciado na Tomada de Preços 1/2003, evidenciando a prática de conluio entre as empresas participantes e fraude à licitação, subsidiada pelos seguintes fatos:

1. contradição na cronologia dos eventos administrativos associados à execução do objeto pactuado, evidenciando a falta de lisura do certame, tendo em vista que, na ata da reunião de abertura das propostas da tomada de preços, os membros da comissão permanente de licitação da prefeitura se reportam a fato que teria ocorrido ‘aos vinte dias do mês de janeiro de 2002 (...)’, destoante completamente não só da data de subscrição do documento (12 de janeiro de 2003), como dos demais atos do referido processo licitatório [fls. 29, v.p., e 128, anexo 1];

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2. apresentação de propostas de empresas diferentes com idêntica padronização gráfica ou visual, tendo em vista as propostas das licitantes C. J. Construções Ltda., I. F. Terraplenagem e A. J. Ferreira Serviços de Urbanização – ME apresentarem configuração gráfico-textual bastante similar, como, por exemplo, na formatação das tabelas, tabulação interna (apesar da ausência de divisão interna na da A. J. Ferreira), na justificação (colunas ‘ITEM’ e ‘UND’, ao centro, e ‘DISCRIMINAÇÃO’, ‘QUANT’, ‘P. UNIT’, ‘S. TOTAL’ e ‘TOTAL’, à esquerda) [fls. 29/30, v.p., e 105/25, anexo 1];

3. ausência de datação ou de local nas cartas-proposta da C. J. Construções Ltda., I. F. Terraplenagem e A. J. Ferreira Serviços de Urbanização – ME, o que não permite garantir que tais atos hajam ocorrido contemporaneamente aos demais da pretensa licitação [fls. 30, v.p., e 105/25, anexo 1];

4. participação no certame licitatório de licitantes cujo procurador e gerente é parente do Prefeito Municipal, em face de ser o Sr. Jorge Luiz Santos Garcia (irmão do Prefeito Nilson Santos Garcia) procurador com plenos poderes das empresas A. J. Ferreira Serviços de Urbanização e C. J. Construções Ltda., na tentativa de acobertar a ilicitude do resultado, que aclamaria vencedora a licitante I. F. Construções e Terraplenagem Ltda. [fls. 169/70, anexo 1];

5. parentes de representante legal de licitante com endereço igual ao de parente do gestor municipal, face à constatação segundo a qual a irmã (Eveline de Fátima Carvalho Cabral) e a mãe (Maria Raimunda Carvalho Cabral) da proprietária da fornecedora I. F. Terraplenagem, Flávia de Fátima Carvalho Cabral, a primeira dona da Promed e a segunda da EFC Cabral, ambas com presença constante em múltiplas licitações promovidas pela Prefeitura de Palmeirândia, residem na rua 14, casa 16, quadra 30, Residencial Primavera, São Luís, Maranhão, mesmo endereço do Sr. Jorge Luiz Garcia, irmão do Prefeito Nilson Garcia [fls. 31, v.p., e 171/4, anexo 1]; e

6. ausência de documentos que comprovariam a aptidão do prestador de serviços para contratar com a administração pública municipal, em face de não se apresentarem encartadas entre os elementos da prestação de contas ou do processo licitatório, as certidões negativas de débito do FGTS e do INSS exigíveis da I. F. Terraplenagem antes da celebração do contrato de empreitada.”

c) audiência das empresas C. J. Construções Ltda., I. F. Terraplenagem e Construções Ltda. e A. J. Ferreira Serviços de Urbanização, em razão das seguintes ocorrências:

“1. emissão de notas fiscais de diferentes fornecedores com igual ou similar padrão manuscrito, observando-se que as notas emitidas pela empresa I. F. Construções apresentam a mesma grafia das emitidas pela empresa C. J. Construções, também participante de diversas licitações promovidas pela Prefeitura de Palmeirândia e que é gerida de fato pelo irmão do Prefeito Nilson Santos Garcia, Sr. Jorge Luiz Garcia (Convênios 1.013/2001 e 2.312/2001 e Contrato de Repasse 121.009-35/2001);

2. apresentação de propostas de empresas diferentes com idêntica padronização gráfica ou visual, tendo em vista as propostas das licitantes C. J. Construções Ltda., I. F. Terraplenagem e A. J. Ferreira Serviços de Urbanização – ME apresentarem configuração gráfico-textual bastante similar, como, por exemplo, na formatação das tabelas, tabulação interna (apesar da ausência de divisão interna na da A. J. Ferreira), na justificação (colunas ‘ITEM’ e ‘UND’, ao centro, e ‘DISCRIMINAÇÃO’, ‘QUANT’, ‘P.UNIT’, ‘S.TOTAL’ e ‘TOTAL’, à esquerda);

3. ausência de datação ou de local nas cartas-proposta da C. J. Construções Ltda., I. F. Terraplenagem e A. J. Ferreira Serviços de Urbanização – ME, o que não permite garantir que tais atos hajam ocorrido contemporaneamente aos demais da pretensa licitação;

4. participação no certame licitatório de licitantes cujo procurador e gerente é parente do Prefeito Municipal, em face de ser o Sr. Jorge Luiz Santos Garcia (irmão do Prefeito Nilson Santos Garcia) procurador com plenos poderes das empresas A. J. Ferreira Serviços de Urbanização e C. J. Construções Ltda., na tentativa de acobertar a ilicitude do resultado, que aclamaria vencedora a licitante I. F. Construções e Terraplenagem Ltda.;

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5. parentes de representante legal de licitante com endereço igual ao de parente do gestor municipal, em face da verificação de que a irmã (Eveline de Fátima Carvalho Cabral) e a mãe (Maria Raimunda Carvalho Cabral) da proprietária da fornecedora I. F. Terraplenagem, Flávia de Fátima Carvalho Cabral, a primeira dona da Promed e a segunda da EFC Cabral, ambas com presença constante em múltiplas licitações promovidas pela Prefeitura de Palmeirândia, residem na rua 14, casa 16, quadra 30, Residencial Primavera, São Luís, Maranhão, mesmo endereço do Sr. Jorge Luiz Garcia, irmão do Prefeito Nilson Garcia.”

6. No tocante à citação e à audiência das empresas retro relacionadas, apenas a I. F. Construção e Terraplanagem Ltda. e A. J. Ferreira Serviços de Urbanização se manifestaram nos autos (fls. 208 e 209). Sobre essas manifestações, a Secex/MA assim se pronunciou, mantendo sua proposta de mérito apresentada às fls. 201/202:

“4. As alegações complementares trazidas aos autos resumem-se a informar o seguinte:IF Construções e Terraplenagem Ltda.:a) Que apenas executou o objeto contratado;b) Que recebeu do município o que foi pactuado (não informa o teor da avença);c) Que foram fiscalizados pelos engenheiros da Funasa que autorizaram a mudança dos

locais para beneficiar outras comunidades;d) Que os laudos já se encontram nos processos anteriores (não informa que processos

anteriores);e) Que, portanto, não tem nada a ressarcir à União.AJ Ferreira Serviços de Urbanização:a) Que apenas executou o objeto contratado;b) Que recebeu do município o que foi pactuado (não informa o teor da avença);c) Que os esclarecimentos das letras A, B, C, D e E (da audiência) já constam de sua

defesa apensada ao processo;d) Que não tem condições de arcar com quaisquer despesas oriunda de tal processo.5. Primeiramente diga-se que as alegações trazidas estão desprovidas de qualquer

comprovação documental. Os interessados não juntaram nenhum documento. Quanto ao mérito, nada do que foi dito nessas novas peças de defesa tem o condão de modificar a proposta meritória anteriormente formulada.”

7. Com respeito às citações e às audiências encaminhadas ao ex-prefeito, aos membros da comissão de licitação e à empresa I. F. Construções e Terraplenagem Ltda., tomando por base as alegações de defesa e as razões de justificativa trazidas aos autos, a Secex/MA manifestou-se nos seguintes termos: (fls. 194/202):

“ITENS DA CITAÇÃOIrregularidade 1: Movimentação e recebimento dos recursos federais efetuada por

membros do Executivo de Palmeirândia ou por pessoas de qualquer modo estranhas à execução do objeto do convênio, conforme se constatou ao comparar as notas fiscais e a dinâmica bancária da conta específica, permitindo-se inferir que a empresa IF Terraplenagem não foi a tomadora dos cheques sacados em detrimento da conta específica do convênio, mas sim o Sr. Nilson Santos Garcia, Prefeito de Palmeirândia, além de terceiros;

ALEGAÇÕES DE DEFESA: Sr. Nilson Santos Garcia (fls. 126): Não sacamos nenhum cheque da conta específica do

convênio para nossa conta. O que fizemos foi endossar cheques para que a referida empresa efetuassem (sic) pagamentos dos compromissos assumidos com fornecedores, isso em razão da sua conta corrente encontrar com problemas.

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I. F. Construções e terraplanagem Ltda. (fls. 125): Queremos esclarecer que alguns pagamentos foram endossados pela prefeitura por motivo de nossa conta bancária que se encontrava com problema junto à instituição.

ANÁLISE:As alegações expendidas por ambos os defendentes são genéricas e desprovidas de maiores

explicações. Nada foi dito acerca de por que razão o próprio prefeito municipal, ora defendente, Sr. Nilson dos Santos Garcia, sacou pessoalmente os recursos. Sabe-se que o normativo que regia este convênio (IN/STN 01/1997), vedava a prática.

Nenhum documento foi juntado como prova do alegado. Alegações rejeitadas. Irregularidade 2: Inexecução parcial ou total do objeto previsto no convênio,

caracterizando divergência entre a realidade da obra (itens de planilha sem execução, estágio de execução, existência ou não do objeto etc.) e o que consta formalmente da prestação de contas, visto que, nos Povoados de Viradouro e São Roque, os quais deveriam ter sido contemplados com obras do convênio, a equipe da Secex/MA encontrou situação diversa da que consta da prestação de contas, face à inexistência de poços nestes locais, conforme detectado em vistoria in loco;

ALEGAÇÕES DE DEFESASr. Nilson Santos Garcia (fls. 126): Cumprimos com todo o objeto do convênio, não sei de

onde foi inventado que os Povoados São Roque e Viradouro não foram contemplados, pois hoje pode se deslocar qualquer técnico que constatará a existência das obras do referido convênio nos povoados.

I. F. Construções e terraplanagem Ltda. (fls. 125): Executamos todo o objeto que foi licitado, inclusive nos Povoados São Roque e Viradouro.

ANÁLISE:No presente item, vê-se o contraponto entre o que evidenciou in loco a equipe de

fiscalização da Secex/MA e as alegações dos defendentes. Os responsáveis, por seu turno, não carrearam aos autos nenhuma prova do alegado. Como a remansosa jurisprudência desta Corte de Contas já estabeleceu, cabe ao responsável na oportunidade de alegações de defesa, trazer, na forma documental, as provas de suas alegações.

Alegações improvidas.Irregularidade 3: Licitante não encontrada in loco pela equipe de auditoria, visto que, em

busca à casa 200 da Rua São José, ‘Trizidela’, Município de São José de Ribamar, onde pretensamente ficaria a sede da IF Terraplenagem, a equipe da Secex/MA encontrou um local praticamente inabitado, sem o menor sinal da procurada sociedade empresária;

ALEGAÇÕES DE DEFESA:Sr. Nilson Santos Garcia (fls. 126): Quando do cadastro da empresa junto à prefeitura a

certidão e toda documentação constava o endereço o qual esse Tribunal aponta no item 3.I. F. Construções e terraplanagem Ltda. (fls. 125): A nossa empresa quando existia sempre

funcionou no endereço que vocês dizem que não encontraram.ANÁLISE:Novamente temos a confrontação entre o que alegam os defendentes e o que constatou a

equipe de fiscalização da Secex/MA. Em face da inexistência de provas do que alegam os responsáveis, considero improcedentes as alegações.

Irregularidade 4: Emissão de notas fiscais de diferentes fornecedores com igual ou similar padrão manuscrito, sendo observado que as notas emitidas pela empresa IF Construções apresentam a mesma grafia das emitidas pela empresa CJ Construções, também participante de diversas licitações promovidas pela Prefeitura de Palmeirândia e que é gerida de fato pelo irmão do Prefeito Nilson Santos Garcia, o Sr. Jorge Luiz Garcia (Convênios nsº 1013/2001 e 2312/2001 e Contrato de Repasse nº 121.009-35/2001).

ALEGAÇÕES DE DEFESA:

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Sr. Nilson Santos Garcia (fls. 126): Quanto à emissão de notas fiscais com grafia similar não nos parece uma afirmação correta, pois torna-se impossível uma prefeitura verificar grafia de cada documento do setor de pagamento.

I. F. Construções e terraplanagem Ltda. (fls. 125): As notas fiscais sempre foram emitidas por funcionários da nossa empresa.

ANÁLISE:As alegações dos defendentes são genéricas e pouco esclarecedoras. A representante da

firma em questão diz laconicamente que eram preenchidas por funcionários da empresa, sem nominá-los.

Tal irregularidade se robustece, quando somada aos saques realizados pessoalmente pelo Sr. Nilson dos Santos Garcia, gestor dos recursos transferidos. Alegações improvidas.’

‘Análise das audiências de Fabiane Pinheiro Trinta, Márcio Ribeiro de Jesus Sousa e Weder Pereira Garcia, membros da Comissão Permanente de Licitação do Município de Palmeirândia/MA

2.4. As razões de justificativa apresentadas pelos membros da CPL de Palmeirândia às fls. 78-93, vol. principal, são idênticas, razão pela qual serão analisadas em conjunto. Preliminarmente, alegam terem sido designados para compor a CPL sem terem recebido o treinamento necessário para exercerem a função, sendo orientados pelos conhecimentos da ex-Presidente da Comissão, na época estudante universitária de Direito, sendo que não existiam motivos para contestá-la, mesmo porque não possuíam conhecimento suficiente para tanto.

2.4.1. Verifica-se que tais alegações não são suficientes a afastar as irregularidades constantes da audiência, pelo contrário, caracterizam, no mínimo, conduta culposa dos membros da CPL de Palmeirândia, evidenciada pela admissão de falta de treinamento para o exercício da função, restando caracterizado terem os responsáveis agido com imperícia, em face de atuarem com desconhecimento de normas técnicas que tinham o dever de saber.

2.5. A ocorrência motivadora das audiências em análise consiste nos indícios de irregularidades verificados durante a condução do procedimento licitatório consubstanciado na Tomada de Preços 01/2003, evidenciando a prática de conluio entre as empresas participantes e fraude à licitação, subsidiada pelos irregularidades a seguir descritas.

2.6. Irregularidade: Contradição na cronologia dos eventos administrativos associados à execução do objeto pactuado na licitação, evidenciando a falta de lisura do certame, tendo em vista que na ata da reunião de abertura das propostas, os membros da Comissão Permanente de Licitação da prefeitura se reportam a fato que teria ocorrido ‘aos vinte dias do mês de janeiro de 2002 (...)’, destoante completamente não só da data de subscrição do documento (12 de janeiro de 2003), como dos demais atos do referido processo licitatório.

2.7. Razões de justificativa: A data que está subscrita (20/01/2003) apresenta-se em perfeita ordem cronológica com os demais atos do processo, respeitando os prazos estabelecidos na legislação e os trâmites internos e externos do processo. O parecer da tomada de preços está perfeitamente datado, sendo o ocorrido apenas um lapso, advindo das facilidades proporcionadas pelo programa Microsoft Word, editor de texto do sistema operacional Windows, mais especificamente, suas ferramentas ´copiar` e ´colar`, tendo passado despercebidas certas alterações que deveriam ter sido feitas.

2.8. Análise: Segundo a documentação constante das fls. 82-135, anexo 1, os eventos associados à Tomada de Preços 01/2003 observaram a seguinte cronologia:

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DATA EVENTO30/12/2002 pedido de autorização para a formalização da licitação31/12/2002 autorização da abertura da licitação2/1/2003 designação dos membros da CPL2/1/2003 parecer da assessoria jurídica manifestando-se favorável à execução da licitação2/1/2003 edital de licitação3/1/2003 publicação do aviso de licitação no DOE20/1/2003 ata da reunião de abertura das propostas21/1/2003 termo adjudicatório24/1/2003 termo de homologação27/1/2003 assinatura do contrato de empreitada28/1/2003 assinatura da ordem de serviço

2.8.1. À fl. 128 do anexo 1, verifica-se que a ata da reunião de abertura das propostas encontra-se datada de 20/01/2003, fundando-se a irregularidade no fato de o mesmo documento encontrar-se redigido nos seguintes termos: ‘Aos vinte dias do mês de janeiro de 2002, às 08:00 horas,..., reuniu-se a Comissão Permanente de Licitação...’.

2.8.2. Tendo em vista que a ordem cronológica em que foram praticados os atos inerentes à Tomada de Preços 01/2003, demonstrados na tabela supra, não apresenta contradições aparentes, bem como ao fato da discrepância de datas referir-se tão somente ao ano em que foram praticadas (2003 – 2002), apresentando mesmos dia e mês (20 de janeiro), mostra-se aceitável a justificativa apresentada pelos responsáveis, creditando-se o ocorrido a um lapso de digitação. Portanto, resta descaracterizada a irregularidade em análise.

2.9. Irregularidade: Apresentação de propostas de empresas diferentes com idêntica padronização gráfica ou visual, tendo em vista as propostas das licitantes CJ Construções Ltda., IF Terraplenagem e AJ Ferreira – Serviços de Urbanização – ME, apresentarem configuração gráfico-textual bastante similar, como, por exemplo, na formatação das tabelas, tabulação interna (apesar da ausência de divisão interna na da AJ Ferreira), na justificação (colunas ‘ITEM’ e ‘UND’ ao centro e ‘DISCRIMINAÇÃO’, ‘QUANT’, ‘P.UNIT’, ‘S.TOTAL’ e ‘TOTAL’ à esquerda)

2.10. Razões de justificativa: Cabe à Comissão apenas receber, examinar e julgar as propostas, o que não lhe confere o dever de fiscalizar a padronização gráfica das planilhas, e sim os preços delas constantes. A padronização gráfica semelhante pode ser explicada pelo fato de o edital e seus anexos terem sido entregues tanto em via impressa quanto em disquetes, o que leva a crer que os responsáveis pelas confecções das propostas usaram o mesmo arquivo-base para desenvolverem seus trabalhos e cotarem seus preços.

2.11. Análise: O edital da Tomada de Preços 01/2003 e seus anexos (fls. 91-104, anexo 1), não preveem, em momento algum, sua entrega por meio de disquetes. No aviso de licitação publicado no DOE de 03/01/2003 (fl. 89, verso, anexo 1), consta tão somente a informação do edital se encontrar à disposição dos interessados, também nada sendo referido quanto à sua entrega por meio de disquetes. Assim, a alegação do edital e seus anexos terem sido entregues aos licitantes também por meio de tal mídia constitui fato novo, alegado e não provado pelos responsáveis, aos quais cabe o ônus da prova, não se podendo, portanto, acatar tal justificativa como esclarecedora da identidade de padronização gráfica e visual das propostas dos licitantes.

2.11.1. Também não prospera a alegação de que cabe à Comissão apenas receber, examinar e julgar as propostas, já que CPLs são formadas para, dentre outras obrigações, examinar as condições dos licitantes, verificar os representantes legais das empresas e verificar o cumprimento dos princípios que informam o procedimento licitatório. Já decidiu o TCU, no Acórdão 730/2004 – Plenário, que, aos membros da CPL ‘cumpre zelar, com eficiência, pelo estrito cumprimento dos princípios e preceitos que regem a licitação, conduzindo seus atos rumo à preservação do caráter

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competitivo do certame e ao alcance do interesse público’.2.11.2. Portanto, não podem os membros da CPL se omitirem a fiscalizar quaisquer

indícios que apontem para o conluio de licitantes ou a prática de fraude à licitação, já que devem pautar seus atos visando sempre resguardar o caráter competitivo da licitação, o que, de fato, não ocorreu na Tomada de Preços 01/2003. Ademais, a constatação da apresentação de propostas com idêntica padronização gráfica e visual por licitantes distintas não se traduz em atos que demandem exames profundos ou complexos pelos membros da CPL, sendo imediatamente perceptível a partir de mera comparação das planilhas. Deste modo, permanece a irregularidade em tela.

2.12. Irregularidade: Ausência de datação ou de local nas cartas-proposta da CJ Construções Ltda., IF Terraplenagem e AJ Ferreira - Serviços de Urbanização – ME, o que não permite garantir que tais atos hajam ocorridos contemporaneamente aos demais da pretensa licitação.

2.13. Razões de justificativa: Embora as propostas não tenham sido datadas, fazem referência à Tomada de Preços 01/2003 e cumprem as exigências do edital, que, por sua vez, não prevê que as propostas tenham de ser datadas.

2.14. Análise: As propostas das licitantes encontram-se às fls. 105-125 do anexo 1 e não apresentam data. Embora realmente não haja comando no edital que obrigue a datação das propostas, causa estranheza o fato de nenhuma licitante que participou da Tomada de Preços 01/2003 ter datado sua proposta e que tal ausência tenha passado completamente despercebida pela CPL, o que reforça, em conjunto com as demais irregularidades verificadas nesta TCE, não só os indícios de conluio entre as licitantes, como também a conivência dos membros da CPL de Palmeirândia com os procedimentos escusos adotados nas licitações promovidas pelo município.

2.15. Irregularidades: 2.15.1. Participação no certame licitatório de licitantes cujo procurador e gerente é parente

do Prefeito Municipal, em face de ser o Sr. Jorge Luiz Santos Garcia (irmão do Prefeito Nilson Santos Garcia) procurador com plenos poderes das empresas A. J. Ferreira Serviços de Urbanização e CJ Construções Ltda., na tentativa de acobertar a ilicitude do resultado, que aclamaria vencedora a licitante IF Construções e Terraplenagem Ltda.

2.15.2. Parentes de representante legal de licitante com endereço igual ao de parente do gestor municipal, face à constatação segundo a qual a irmã (Eveline de Fátima Carvalho Cabral) e a mãe (Maria Raimunda Carvalho Cabral) da proprietária da fornecedora IF Terraplenagem, Flávia de Fátima Carvalho Cabral, a primeira dona da Promed e a segunda da EFC Cabral, ambas com presença constante em múltiplas licitações promovidas pela Prefeitura de Palmeirândia, residem na rua 14, casa 16, quadra 30, Residencial Primavera, São Luís, Maranhão, mesmo endereço do Sr. Jorge Luiz Garcia, irmão do Prefeito Nilson Garcia.

2.16. Razões de justificativa: Cabe à Comissão apenas receber, examinar e julgar as propostas, segundo critérios pré-estabelecidos no edital, e não procurar saber quem são os procuradores, donos e os endereços das empresas participantes, uma vez que, se foi apresentada a documentação exigida por lei para a realização do cadastro, é porque estão aptas a participar dos processos, bem como não pertencem ao mesmo proprietário, conforme consta nos contratos sociais apresentados ao setor de cadastro. O Tribunal deveria questionar a legislação em vigor e não os atos da comissão, que apenas analisa documentos, como exige a lei, e não situações e parentescos.

2.17. Análise: Às fls. 169 e 170 do anexo 1, têm-se as procurações das empresas A.J. Ferreira Serviços de Urbanização ME e C.J. Construções Ltda., nas quais são outorgados ‘amplos e ilimitados poderes’ à Jorge Luiz Santos Garcia, irmão do Prefeito Municipal Nilson Santos Garcia, para gerir e administrar ambas as empresas outorgantes, que, teoricamente, concorreram entre si na Tomada de Preços 01/2003. Às fls. 171, 173 e 174 do anexo 1, verifica-se que o já citado Jorge Luiz Santos Garcia reside no mesmo endereço de Eveline de Fátima Carvalho Cabral, irmã de Flávia de Fátima Carvalho Cabral, proprietária da empresa IF Terraplenagem, a qual sagrou-se

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vencedora da Tomada de Preços 01/2003, após ‘competir’ com as também licitantes A.J. Ferreira e C.J. Construções.

2.17.1. É inegável a existência de estreitos vínculos entre as três empresas que participaram da tomada de preços em análise, duas delas geridas pelo irmão do Prefeito Municipal de Palmeirândia e a terceira, de propriedade da provável cunhada do mesmo irmão do Prefeito. Conclui-se, portanto, pela clara existência de conluio entre as licitantes, bem como pela total ausência do caráter competitivo do certame.

2.17.2. As alegações dos membros da CPL não podem ser aceitas para afastar sua responsabilidade pela irregularidade em análise, já que, dentre as funções básicas da comissão de licitação, destaca-se a observância dos princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência, sendo facultada à comissão, nos termos do § 3º do art. 43 da Lei 8.666/93, em qualquer fase da licitação, a promoção de diligência destinada a esclarecer ou a complementar a instrução do processo. Desta forma, caberia à CPL procurar, ao menos, conhecer os procuradores, proprietários e endereços das licitantes, a fim de evitar a ocorrência de fraude à licitação e conluio entre os participantes, observando-se, assim, os princípios norteadores da administração pública. No mais, reiteram-se os argumentos expendidos nos subitens 2.11.1 e 2.11.2 desta instrução.

2.17.3. Deve-se ressaltar que, além da legislação em vigor, existe farta doutrina e jurisprudência acerca de licitações no âmbito da administração pública, voltada a orientar não só os operadores do direito, mas também os gestores e servidores públicos que possuem entre suas atribuições o ônus de ter de lidar com a condução de certames licitatórios. Portanto, cabe a tais servidores não apenas conhecer a literalidade da lei de licitações, mas também as interpretações dela decorrentes, expressas na doutrina de diversos autores e também na jurisprudência dos Tribunais de Contas e do Poder Judiciário, a fim de que possam ter plena ciência da amplitude de atribuições e responsabilidades que possuem e não se omitirem a fiscalizar a existência de indícios que apontem para o conluio de licitantes ou a prática de fraude à licitação, sob o argumento de que cabe à comissão apenas a mera análise da regularidade formal da documentação apresentada pelas licitantes.

2.18. Irregularidade: Ausência de documentos que comprovariam a aptidão do prestador de serviços para contratar com a administração pública municipal, em face de não se apresentarem encartadas entre os elementos da prestação de contas ou do processo licitatório, as certidões negativas de débito do FGTS e do INSS exigíveis da IF Terraplenagem antes da celebração do contrato de empreitada.

2.19. Razões de justificativa: As obrigações da comissão se encerram no ato da adjudicação, cabendo os atos de homologação, contrato e execução do objeto a outrem, que não a CPL.

2.20. Análise: Não constam nos autos as certidões negativas de débito expedidas pelo INSS e a de situação regular perante o FGTS, documentação exigida como requisito para habilitação nos subitens 11.1.1 e 11.1.3 do edital da Tomada de Preços 01/2003 (fl. 93, anexo 1). Verifica-se, portanto, que a empresa IF Terraplenagem sequer poderia ter sido considerada habilitada no certame, quanto mais declarada vencedora pela CPL. Era obrigação da comissão conferir a documentação apresentada pelas licitantes, o que ocorre ainda na fase de habilitação, bem anterior ao ato de adjudicação do objeto, não cabendo a alegação de já se encontrarem encerradas as obrigações da comissão.

Análise da audiência de Nilson Santos Garcia, Prefeito Municipal de Palmeirândia/MA

2.21. Irregularidades: Indícios verificados na condução do procedimento licitatório consubstanciado na Tomada de Preços 01/2003, evidenciando a prática de conluio entre as empresas participantes e fraude à licitação, subsidiada pelos seguintes fatos:

contradição na cronologia dos eventos administrativos associados à execução do objeto pactuado evidenciando a falta de lisura do certame, tendo em vista que na ata da reunião de abertura

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das propostas da Tomada de Preços, os membros da Comissão Permanente de Licitação da prefeitura se reportam a fato que teria ocorrido ‘aos vinte dias do mês de janeiro de 2002 (...)’, destoante completamente não só da data de subscrição do documento (12 de janeiro de 2003), como dos demais atos do referido processo licitatório;

apresentação de propostas de empresas diferentes com idêntica padronização gráfica ou visual, tendo em vista as propostas das licitantes CJ Construções Ltda., IF Terraplenagem e AJ Ferreira – Serviços de Urbanização – ME, apresentarem configuração gráfico-textual bastante similar, como, por exemplo, na formatação das tabelas, tabulação interna (apesar da ausência de divisão interna na da AJ Ferreira), na justificação (colunas ‘ITEM’ e ‘UND’ ao centro e ‘DISCRIMINAÇÃO’, ‘QUANT’, ‘P.UNIT’, ‘S.TOTAL’ e ‘TOTAL’ à esquerda);

ausência de datação ou de local nas cartas-proposta da CJ Construções Ltda., IF Terraplenagem e AJ Ferreira - Serviços de Urbanização – ME, o que não permite garantir que tais atos hajam ocorridos contemporaneamente aos demais da pretensa licitação;

participação no certame licitatório de licitantes cujo procurador e gerente é parente do Prefeito Municipal, em face de ser o Sr. Jorge Luiz Santos Garcia (irmão do Prefeito Nilson Santos Garcia) procurador com plenos poderes das empresas A. J. Ferreira Serviços de Urbanização e CJ Construções Ltda., na tentativa de acobertar a ilicitude do resultado, que aclamaria vencedora a licitante IF Construções e Terraplenagem Ltda.;

parentes de representante legal de licitante com endereço igual ao de parente do gestor municipal, face à constatação segundo a qual a irmã (Eveline de Fátima Carvalho Cabral) e a mãe (Maria Raimunda Carvalho Cabral) da proprietária da fornecedora IF Terraplenagem, Flávia de Fátima Carvalho Cabral, a primeira dona da Promed e a segunda da EFC Cabral, ambas com presença constante em múltiplas licitações promovidas pela Prefeitura de Palmeirândia, residem na rua 14, casa 16, quadra 30, Residencial Primavera, São Luís, Maranhão, mesmo endereço do Sr. Jorge Luiz Garcia, irmão do Prefeito Nilson Garcia; e

ausência de documentos que comprovariam a aptidão do prestador de serviços para contratar com a administração pública municipal, em face de não se apresentarem encartadas entre os elementos da prestação de contas ou do processo licitatório, as certidões negativas de débito do FGTS e do INSS exigíveis da IF Terraplenagem antes da celebração do contrato de empreitada.

2.22. Razões de justificativa: A tomada de preços foi divulgada no Diário Oficial de 03/01/ 2003, as duas empresas participantes estavam amplamente credenciadas quanto à parte trabalhista e previdenciária, sendo que a abertura se deu no dia 20/01/2003, a adjudicação no dia 21/01/2003, a homologação no dia 24/01/2003, o contrato no dia 27/01/2003 e a ordem de serviço no dia 28/01/2003. Todos esses documentos encontram-se apensados aos autos, não se sabendo onde os analistas encontraram a data de 12 de janeiro de 2003 subscrita nos documentos. Todas as empresas participantes se encontravam amplamente regularizadas no processo quanto às suas certidões para participarem do certame. Os auditores foram em todos os povoados e comprovaram a efetiva realização do objeto licitado sem nenhum prejuízo ao erário.

2.23. Análise: As alegações do Prefeito de Palmeirândia à fl. 84 do vol. principal dos autos não visaram ilidir as irregularidades constantes do Ofício 1211/2007-TCU/Secex/MA, optando o gestor por se limitar a historiar a cronologia dos atos praticados na condução da Tomada de Preços 01/2003, bem como fazendo alguns comentários genéricos sobre a idoneidade do certame licitatório.

2.23.1. Deve-se ressaltar que, contrariamente ao que alega o Prefeito, foram três empresas que participaram da tomada de preços, e não duas, também não constando suas respectivas certidões negativa de débito expedida pelo INSS e a de situação regular perante o FGTS apensadas aos autos. Quanto à alegação de comprovação da efetiva realização do objeto licitado, a equipe da Secex/MA encontrou situação diversa da que consta da prestação de contas, face à inexistência de poços nos Povoados de Viradouro e São Roque, conforme detectado em vistoria in loco (excerto do relatório à fl. 29, vol. principal), caracterizando a inexecução parcial ou total do objeto licitado.

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2.23.2. Por fim, frise-se que o responsável sequer tentou justificar o fato de seu irmão ser, além de procurador de duas licitantes da Tomada de Preços 01/2003, cunhado da proprietária da licitante vencedora do certame, o que retira integralmente o caráter competitivo da licitação promovida pela Prefeitura de Palmeirândia.”

8. Finalmente, a unidade técnica apresentou a seguinte Proposta de encaminhamento:

“Diante do exposto, considerando que as irregularidades aqui destacadas persistem; que não se pode inferir a boa-fé dos responsáveis e tendo em vista que as alegações de defesa e razões de justificativa são passíveis de serem rejeitadas; submetemos os autos à consideração superior, propondo que:

a) as presentes contas sejam julgadas IRREGULARES, e em débito o Sr Nilson dos Santos Garcia em solidariedade com IF Terraplenagem e Construções Ltda., nos termos dos arts. 1º, I, 16, III, ‘c’ e ‘d’, e 19, caput, da Lei 8.443/92, c/c os arts. 202, § 6º e 209, III, do Regimento Interno do Tribunal de Contas da União, condenando-os ao pagamento das importâncias abaixo especificadas, atualizadas monetariamente e acrescidas de juros de mora, calculadas a partir das datas discriminadas até a efetiva quitação do débito, fixando-lhes o prazo de quinze dias, para que comprovem, perante este Tribunal, o recolhimento da referida quantia aos cofres da Fundação Nacional de Saúde – Funasa, nos termos do art. 23, III, ‘a’, da citada lei c/c o art. 214, III, ‘a’, do Regimento Interno/TCU:

VALOR ORIGINAL

DATA DA OCORRÊNCIA

R$ 96.000,00 04/09/2003R$ 72.000,00 18/12/2003R$ 72.000,00 08/12/2004

b) seja aplicada a multa prevista no art. 57 da Lei 8.443/92 a Nilson Santos Garcia, Prefeito Municipal de Palmeirândia/MA e à empresa IF Terraplenagem e Construções Ltda., contratada para a execução das obras do convênio, individualmente, fixando-lhes o prazo de quinze dias, a contar da notificação, para que comprovem, perante este Tribunal, o recolhimento da referida quantia aos cofres do Tesouro Nacional, atualizada monetariamente e acrescida de juros de mora a partir do dia seguinte ao do término do prazo estabelecido, até a data do efetivo recolhimento, na forma da legislação em vigor;

c) seja aplicada a multa prevista no art. 58, II, da Lei 8.443/92 a Weder Pereira Garcia, Márcio Ribeiro de Jesus Sousa e Fabiane Pinheiro Trinta, membros da Comissão Permanente de Licitação do Município de Palmeirândia/MA, fixando-lhes o prazo de quinze dias, a contar da notificação, para que comprovem, perante este Tribunal, o recolhimento da referida quantia aos cofres do Tesouro Nacional, atualizada monetariamente e acrescida de juros de mora a partir do dia seguinte ao do término do prazo estabelecido, até a data do efetivo recolhimento, na forma da legislação em vigor;

d) nos termos do art. 46 da Lei 8.443/92, considerando suas participações em conluios que visavam a frustrar o caráter competitivo de licitações realizadas pela Prefeitura Municipal de Palmeirândia/MA, declarar pelo prazo de 05 (cinco) anos a contar da publicação deste acórdão, a inidoneidade das empresas I.F. Terraplenagem e Construções Ltda., CNPJ Nº 05.149.148/0001-06; C.F. Construções Ltda., CNPJ Nº 04.445.928/0001-30; e A.J. Ferreira Serviços de Urbanização, CNPJ Nº 00.887.274/0001-44; para participarem de licitação na Administração Pública Federal;

e) autorize, desde logo, a cobrança judicial da dívida, nos termos do art. 28, inciso II, da Lei 8.443/92, caso não atendida a notificação; e

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f) remeta cópia da deliberação que vier a ser adotada à Procuradoria da República no Estado do Maranhão, para ajuizamento das ações cíveis e penais cabíveis, nos termos do art. 16, § 3º, da Lei 8.443/92.”

9. Em seu pronunciamento, o Ministério Público manifestou-se nos seguintes termos:

“IIO presente processo cuida de uma das tomadas de contas especial instaurada por força do

Acórdão 1.159/2005 – Plenário. Outras TCEs autuadas por força desta decisão já foram julgadas pelo Tribunal (ACs 778/2009, 858/2009, 637/2010, 771/2010, 890/2010, 893/2010, 894/2010, 1298/2010, todos do Plenário, entre outros).

Ao analisar todos estes processos é possível verificar que as empresas I. F. Terraplenagem e Construções Ltda., C. J. Construções Ltda. e A.J. Ferreira e Serviços de Urbanização agiam em conluio com o ex-Prefeito para fraudar licitações promovidas pelo Município de Palmeirândia/MA.

É certo que fraude alguma ocorreria sem a facilitação da comissão de licitação, considerando o seu dever de receber, examinar e julgar todos os documentos e procedimentos da licitação, o que inclui atestar a idoneidade de toda a documentação apresentada (artigo 6º, inciso XVI, da Lei 8.666/1993). As suas responsabilidades estão igualmente previstas no § 3º do artigo 51 da mesma lei. Nos casos relatados, a responsabilidade pela combinação que resultou na fraude abrange não apenas os licitantes mas, também, os membros da comissão permanente de licitação, aos quais competia o dever legal de conduzir as licitações com idoneidade, dentro dos parâmetros de isonomia, legalidade, impessoalidade, moralidade, competitividade, e não o fizeram, pelo menos no caso em comento.

A propósito, o modus operandi de algumas das fraudes identificadas nestes autos não é inédito, ao contrário. Na monografia intitulada ‘Auditoria de Fraudes: detecção e apuração de fraudes nos convênios federais’ 1, Júnio César Gonçalves Queiroz, Auditor Federal de Controle Externo, servidor desta Casa, assim aborda a matéria:

‘2.7 A fraude dificilmente tem um só culpadoÉ muito difícil que o fraudador efetue uma fraude sem que haja a participação de outras

pessoas, ainda que indiretamente. Quase sempre existe, ao menos, a conivência das pessoas que cercam o fraudador, sendo que a sua contribuição normalmente pode ser avaliada tanto em termos de participação dolosa como culposa, por negligência, imprudência, imperícia, omissão ou mesmo por incapacidade.

Sá (1982, p. 25) afirma que as fraudes, de uma maneira geral, possuem como corresponsáveis aqueles que negligenciam na supervisão ou no controle e que os resultados da fraude chegam a inspirar em certos autores a crença de que toda fraude se realiza dentro de um ambiente de conivência ativa ou passiva.

Na ausência de segregação de funções, a fraude torna-se mais fácil e o fraudador tem meios para encobri-la. No entanto, quando isso não ocorre, o fraudador procura meios de envolver ativamente um grupo ou executa sabendo que os controles são baixos. Portanto, quem realiza trabalhos de auditoria envolvendo procedimentos fraudulentos não pode se esquivar de avaliar a hipótese de conivência mediante atuação ativa ou passiva.

2.8 As fraudes e os artifícios para burlar os controles da Administração Pública (...)Sobre as fraudes em licitações, Trevisan et al (2003, p.35) comentam que um dos meios

utilizados pelos fraudadores para justificar a aquisição fraudulenta de materiais e serviços é a montagem de licitações fictícias. Nesse caso, mesmo existindo vício no procedimento, do qual já se sabe de antemão quem será o vencedor do certame, faz-se todo o possível para dar a aparência de

1 Monografia aprovada como requisito parcial à obtenção do título de Especialista em Controle Externo – Área de Auditoria Governamental, Curso de Pós-Graduação em Controle Externo, Instituto Serzedello Corrêa, Tribunal de Contas da União. 2004.

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legalidade à disputa. A simulação tem início com a instituição de uma comissão de licitação cujos funcionários nomeados normalmente estão envolvidos no esquema e, por vezes, as empresas participantes são familiarizadas com o esquema, algumas delas fornecendo propostas já sabidas de antemão perdedoras, apenas para aparentar legitimidade do processo.

Algumas dicas aparentemente óbvias e banais para a investigação da fraude são plenamente aplicáveis na obtenção de indícios e vestígios deixados pelos fraudadores, consoante já verificado em caso prático pelos mencionados autores:

‘Na investigação sobre possíveis embustes em licitações, uma importante pista pode estar nos termos empregados e mesmo nos caracteres gráficos das propostas entregues pelas empresas. Muitas prefeituras ainda se utilizam de formulários que precisam ser preenchidos à máquina. Um exame minucioso permite constatar se uma mesma máquina de datilografia foi usada no preenchimento de propostas apresentadas por diferentes participantes do processo. O exame estilístico dos textos, em busca de termos, frases e parágrafos que se repetem em diferentes propostas, também fornece subsídios.

Se na lista de participantes das licitações aparecerem os nomes de firmas idôneas ou conhecidas, é essencial que, por meio de um contato direto, se confirme a sua participação no processo. Isso porque alguns empresários se surpreenderam ao serem informados de que haviam tomado parte em concorrências sobre as quais não tinham conhecimento. Suas empresas foram incluídas pelos fraudadores que, para isso, empregaram documentos falsificados. Essa operação de inserir empresas com boa reputação tem o objetivo de ‘branquear’ o processo licitatório.’ ‘

Os responsáveis chamados aos autos não admitiram as irregularidades, nem confessaram a prática das fraudes. A declaração de inidoneidade para licitar e a aplicação de multa, portanto, devem ter lastro nos fortes indícios colhidos pela equipe de inspeção do TCU.

A respeito da força e da validade da prova indiciária e de sua aplicação nos processos do Tribunal de Contas da União, veja-se o trecho do voto do Relator, Ministro Benjamin Zymler, nos autos do TC-011.241/1999-3, no qual foi prolatado o Acórdão 331/2002 – Plenário:

‘Como seria de se esperar, não há documento formal autorizando o pagamento de cheques sem a devida provisão de fundos. O bom senso indica que os responsáveis pelo ilícito, conhecedores das normas que regem a matéria, teriam o cuidado de evitar a produção de evidências documentais dos seus atos. Cabe aqui relembrar a tese defendida por este Relator na sessão Plenária de 7 de agosto do corrente. Na ocasião, apresentei declaração de voto em relação ao TC-008.291/1999-3, na qual pugnei pela validade da prova por meio indiciário no sistema jurídico brasileiro, aplicável, portanto, aos processos desta Corte.

Transcrevo, por relevante, excerto da aludida Declaração de Voto:‘Indício é meio de prova amplamente utilizado em nosso País, tanto no processo penal -

com expressa previsão no art. 239 do Código de Processo Penal - quanto no processo civil - neste caso, em decorrência de construção jurisprudencial, tendo por fulcro os arts. 332 do Código de Processo Civil, bem assim o art. 136 do Código Civil.

Indício é meio de prova indireto. É uma circunstância certa, da qual se pode extrair, por construção lógica, uma conclusão do fato que se pretende provar.

Nesse ponto, cumpre relembrar ensinamento do renomado processualista E. Magalhães Noronha (in Curso de Direito Processual Penal, Saraiva, 21ª ed., pág. 133):

‘Raciocínio indiciário é um silogismo: premissa maior - a proposição geral; premissa menor - o fato ocorrido; conclusão lógica - a prática do delito. Os autores, em geral, exemplificam com o furto - crime em que a prova frequentemente é indiciária. Um homem, que não é da casa, é visto sair, de madrugada, sobraçando um objeto que não se distingue bem. No dia seguinte descobre-se que dali furtaram uma bandeja. Há indícios de que seja ele o autor. Premissa maior: a experiência, o quod plerumque accidit, mostra que o estranho que desse modo sai de uma casa é ladrão. Essa premissa, como se vê, é abstrata e genérica. Premissa menor: foi aquele homem visto

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nessa situação. É essa premissa concreta, real e particular. Conclusão lógica: é ele o autor do furto praticado naquela madrugada.’

Farta é a jurisprudência em nossos Tribunais superiores quanto à validade da utilização de prova indiciária. Assim se manifestou o Ministro Décio Miranda do Supremo Tribunal Federal (Ag. 73.847-9/RJ):

‘O criticado voto, que espelha o entendimento do acórdão recorrido, embora tenha referido, ‘en passant’, não se poder decidir com fundamento em ‘simples indícios’, na verdade mais se apoiou na inconsitência dos indícios analisados, que não lhe permitiram fazer luz na complexidade dos negócios entre as partes (...).

Assim, em resumo, não se negou em tese valor probatório a indícios, senão que se considerou seriam, no caso concreto, incapazes de proporcionar convencimento contrário à expressão literal dos contratos.’

Ao apreciar recurso de apelação, o Desembargador Dácio Vieira, do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, ao proferir o Voto condutor em apelação cível em ação de investigação de paternidade (AC 34.773/95 - Acórdão 86.523):

‘Nas ações de investigação de paternidade, conforme anteriormente salientado, deve o julgador examinar com acuidade o conjunto probatório, sendo certo que tanto a doutrina, quanto a jurisprudência, contentam-se com os elementos de convicção indiciários e circunstanciais, afirmando o juiz sentencialmente que ‘há indícios suficientes que levam à conclusão de que houve a relação sexual’.’

Sobre esse mesmo tema, o renomado jurista Washington de Barros Monteiro assim se manifestou (in Direito de Família, 1964):

‘Nessas causas, segundo preleciona a doutrina e a jurisprudência, não deve o juiz ater-se a um rigor exagerado no exame dos elementos de convicção carreados para os autos. Ele não deve ser instrumento de aventuras audaciosas, mas, também, não deve faltar à alta missão social que lhe incumbe ao amparar as pretensões justas. Por exemplo, no tocante às relações sexuais, deve o juiz exigir prova direta? Não, evidentemente, porque ela é, na maior parte dos casos, absolutamente impossível.’

Por essas razões, acolho os pareceres concordes da unidade técnica e do Ministério Público, no sentido de ser aplicada multa aos srs. Jalaertem de Souza Campos Júnior, João Alberto Moretto e Irlandi Paiva Santos, pela participação no acolhimento de cheque sem fundos emitidos pela empresa denunciante, em desacordo com as normas exaradas pelo Conselho Monetário Nacional.’

O nobre Ministro Ubiratan Aguiar abordou, com pertinência, no voto condutor do Acórdão 57/2003 - Plenário, a questão da existência de fraudes à licitação e da aplicação das sanções referidas no artigo 46 da Lei 8.443/1992:

‘Entendo que prova inequívoca de conluio entre licitantes é algo extremamente difícil de ser obtido, uma vez que, quando ‘acertos’ desse tipo ocorrem, não se faz, por óbvio, qualquer tipo de registro escrito. Uma outra forma de comprovação seria a escuta telefônica, procedimento que não é utilizado nas atividades deste Tribunal. Assim, possivelmente, se o Tribunal só fosse declarar a inidoneidade de empresas a partir de ‘provas inquestionáveis’, como defende o Analista, o art. 46 se tornaria praticamente ‘letra morta’ ‘.

O egrégio Supremo Tribunal Federal, no âmbito do Recurso Extraordinário 68.006/MG, decidiu que ‘indícios vários e concordantes são prova’ (STF – Revista Trimestral de Jurisprudência 52, fls. 140/1).

Também já deliberou esta Corte de Contas no sentido de que:a) ‘conluio para fraudar licitação autoriza declaração de inidoneidade dos participantes

para licitar, ainda que inexistente débito decorrente de prejuízo ao erário’ (Acórdão 785/2008 – Plenário);

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b) ‘é possível afirmar-se da existência de conluio entre licitantes a partir de prova indiciária. (...) Indícios são provas, se vários, convergentes e concordantes’ (Acórdão 2.143/2007 – Plenário).

Desse modo, considerando a revelia das empresas A. J. Ferreira Serviços de Urbanização e C. J. Construções Ltda. e que as razões de justificativa apresentadas pelos demais responsáveis chamados ao processo não elidiram as ilegalidades verificadas pela equipe de inspeção do TCU, mostra-se correta a proposta da Secex/MA de aplicar multa aos membros da comissão permanente de licitação do Município de Palmeirândia, bem como de declarar, pelo prazo de cinco anos, a inidoneidade das empresas I. F. Terraplenagem e Construções Ltda., C. J. Construções Ltda. e A. J. Ferreira e Serviços de Urbanização para participarem de licitação na Administração Pública.

IIIOutrossim, a fraude à licitação, no caso em apreço, leva à imputação de débito solidários

ao Sr. Nilson Santos Garcia, ex-Prefeito, e à empresa I. F. Terraplenagem e Construções Ltda., no valor total repassado ao Município de Palmeirândia, por força do Convênio Funasa 1.565/2002 (R$ 240.000,00), ao se levar em conta que o dano não teria se concretizado sem a participação da empresa na fraude.

Os documentos carreados aos autos demonstram que houve tão somente uma montagem de licitação para dar aparência de legalidade aos pagamentos efetuados à empresa I. F. Terraplenagem e Construções Ltda.

A I. F. Terraplenagem e Construções Ltda. não foi localizada no endereço onde deveria funcionar, ou seja, tratava-se de uma empresa de fachada destinada a fraudar licitações.

Se a construtora não existia de fato, não poderia executar obra alguma. Assim, em que pese haver cheques nominais à mencionada empresa debitados na conta específica do convênio, estes não se destinavam ao pagamento de obras de execução do objeto do Convênio Funasa 1.565/2002.

Além disso, os demais cheques debitados na conta específica do convênio não tinham a empresa contratada como beneficiária, impossibilitando estabelecer nexo causal entre os recursos federais e qualquer obra realizada.

A eventual existência física do objeto pactuado, por si só, não constitui elemento apto a comprovar a regular aplicação dos recursos federais repassados por meio de convênio ou congênere, visto que o objeto pode ter sido executado com recursos de outras fontes (v.g., Decisão 225/2000, Acórdãos 701/2008 e 1.826/2008, todos da 2ª Câmara, e Acórdão 1.385/2008 - Plenário).

Por pertinente, transcreve-se trecho do voto condutor do Acórdão 778/2009 – Plenário, exarado por Vossa Excelência em situação análoga a que ora se examina:

‘5. Ademais, as cópias dos cheques, obtidas por equipe de inspeção deste Tribunal (Anexo 1, fls. 242/6, Anexo 1) e extratos bancários (fls. 184/241, Anexo 1), demonstram que os recursos não tiveram como destino a empresa formalmente encarregada da realização das obras. Conforme já consignado ao início do relatório precedente, os reais recebedores dos recursos sacados da conta corrente correspondem aos agentes públicos da própria prefeitura (prefeito e secretário), ou pessoas completamente estranhas à execução do convênio, como é o caso do Sr. Adgelson Pinheiro Moreira, motorista do ex-prefeito. Outrossim, mesmo quando constatadas, nas cópias dos cheques coletados durante as apurações do processo de denúncia, a aposição do nome Jacinto de Jesus Costa (suposto representante da empresa C. J. Construções Ltda.) como beneficiário da ordem de pagamento, verifica-se a compensação em conta compartilhada pela empreiteira A. J. Ferreira. Frise-se, a propósito, que ambas as empresas eram geridas por Jorge Luiz Santos Garcia, irmão do prefeito Nilson Santos Garcia, conforme documentos de fls. 247/8 do anexo 1 e fls. 37/8, v.p.

6. Os documentos coletados pela equipe de inspeção deste Tribunal revelam, conforme depreendo, a prática de conluio entre os agentes públicos e particulares próximos ao gestor municipal, que se utilizaram de pessoas jurídicas de direito privado não localizadas em seu endereço pelos analistas desta Corte, para o desvio do dinheiro transferido. A toda evidência, constata-se que se perdeu o nexo de causalidade entre o montante transferido e a construção das

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unidades sanitárias visitadas pela equipe, as quais foram declaradas como concluídas pelo gestor municipal com recursos do convênio, conforme documentação da prestação de contas apresentada à Funasa. Penso que a essas obras não se pode mais atribuir o emprego dos recursos federais, vez que podem ter sido construídas com recursos de outra fonte pública, como, por exemplo, com recursos do próprio caixa da prefeitura, haja vista não haver correspondência entre a origem e a aplicação dos recursos declarados na relação de pagamentos efetuados, especialmente quando confrontadas com os movimentos bancários.’

Enfim, os responsáveis não trouxeram aos autos, por meio de suas alegações de defesa, documento algum capaz de demonstrar a consecução do objeto do Convênio Funasa 1.565/2002, nos termos pactuados, ou que os poços vistoriados pela equipe do TCU tenham sido realizados com os recursos federais repassados ao município por meio do citado acordo.

A jurisprudência deste Tribunal estabelece que a congruência entre a movimentação bancária e os comprovantes de despesas é elemento crucial para o estabelecimento do nexo de causalidade entre as despesas realizadas e os recursos transferidos, indispensável para a comprovação da boa e regular aplicação dos recursos públicos:

Acórdão 1.019/2009 - Primeira Câmara‘SumárioTOMADA DE CONTAS ESPECIAL. APROVAÇÃO PARCIAL DA PRESTAÇÃO DE

CONTAS. CITAÇÃO. NÃO COMPROVAÇÃO DO NEXO CAUSAL ENTRE OS SAQUES DE RECURSOS E A EXECUÇÃO DO CONVÊNIO. IRREGULARIDADE. DÉBITO. MULTA.

- É essencial para a regularidade das contas e elisão do débito a comprovação do nexo de causalidade entre a movimentação dos recursos públicos federais, depositados em conta específica, e o pagamento das despesas derivadas do convênio.

- A mera execução do objeto do convênio não implica o julgamento pela regularidade das contas, pois os recursos utilizados na sua execução podem provir de fontes municipais, tendo sido integralmente desviados os recursos federais.’

Acórdão 3.589/2009 - Primeira Câmara‘SumárioTOMADA DE CONTAS ESPECIAL. FALTA DE NEXO DE CAUSALIDADE ENTRE

OS RECURSOS PÚBLICOS ORIUNDOS DE CONVÊNIO E A REALIZAÇÃO DAS DESPESAS. CONTAS IRREGULARES, COM DÉBITO E MULTA.

1. Julgam-se irregulares as contas do responsável que não apresenta documentos hábeis a comprovar o liame de causalidade entre a verba transferida e a execução do objeto do convênio, condenando-o ao pagamento do débito apurado e da multa prevista no art. 57 da Lei 8.443/1992.

2. A aplicação de recursos federais é considerada regular quando se certifica a execução do objeto pactuado e se comprova o seu custeio com os valores determinados, como se marcados fossem, provenientes do ajuste específico, de modo a deixar claro o nexo de causalidade entre a importância repassada e o fim a que ela se destina.’

Pelo exposto, o Ministério Público manifesta-se no sentido de que o Tribunal de Contas da União:

a) julgue irregulares as contas do Nilson Santos Garcia, ex-Prefeito do Município de Palmeirândia/MA, com fundamento nos artigos 1º, inciso I, 16, inciso III, alíneas ‘b’, ‘c’ e ‘d’, da Lei 8.443/1992;

b) condene o Sr. Nilson Santos Garcia, solidariamente com a empresa I. F. Terraplenagem e Construções Ltda., ao pagamento das quantias a seguir discriminadas, com espeque nos arts. 16, § 2º, 19, caput, e 23, inciso III, da Lei 8.443/1992, fixando-lhes o prazo de quinze dias, a contar da notificação, para que comprovem, perante este Tribunal (artigo 214, inciso III, alínea ‘a’, do Regimento Interno/TCU), o recolhimento da dívida aos cofres da Fundação Nacional de Saúde - Funasa, acrescida de atualização monetária e juros de mora, calculados a partir das datas indicadas, até a data do efetivo pagamento, na forma da legislação em vigor:

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VALOR ORIGINAL

DATA DA OCORRÊNCIA

R$ 96.000,00 4.9.2003R$ 72.000,00 18.12.2003R$ 72.000,00 8.12.2004

c) aplique aos responsáveis mencionados no item anterior, individualmente, a multa ínsita no artigo 57 da Lei 8.443/1992;

d) julgue irregulares as contas dos srs. Márcio Ribeiro de Jesus Sousa, Fabiane Pinheiro Trinta e Weder Pereira Garcia, integrantes da comissão permanente de licitação, com base nos arts. 1º, inciso I, 16, inciso III, alínea ‘b’, da Lei 8.443/1992, e, com fundamento no art. 19, parágrafo único da mesma lei, aplique-lhes a multa prevista no art. 58, inciso II, da Lei Orgânica do TCU;

e) autorize, desde logo, com fulcro no artigo 28, inciso II, da Lei 8.443/1992, a cobrança judicial das dívidas, caso não atendidas as notificações;

f) declare a inidoneidade das sociedades empresárias C. J. Construções Ltda., I. F. Terraplenagem e Construções Ltda. e A. J. Ferreira Serviços de Urbanização, para participarem, por até cinco anos, de licitações na Administração Pública Federal, nos termos do art. 46 da Lei 8.443/1992 c/c o art. 271 do RI/TCU;

g) encaminhe cópia da deliberação que vier a ser proferida, bem como do relatório e do voto que a fundamentarem, ao Procurador Chefe da Procuradoria da República no Estado do Maranhão, visando à adoção das providências que aquele órgão julgar cabíveis, nos termos do art. 16, § 3º, da Lei 8.443/1992.”

É o relatório.

VOTO

Consoante registrado no Relatório retro, tratam os presentes autos de um dos 35 apartados de Tomada de Contas Especial constituídos em cumprimento à determinação constante do item 9.3 do Acórdão 1.159/2005 – TCU – Plenário, proferido sobre a Denúncia constante do TC-019.888/2003-1, decorrendo este feito, especificamente, de irregularidades identificadas na aplicação dos recursos repassados por força do Convênio 1565/2002, no valor de R$ 240.000,00 (fls. 136 e 139 (anexo) e 100 (vol. P), firmado entre a Fundação Nacional de Saúde – Funasa - e a Prefeitura Municipal de Palmeirândia/MA, tendo por objeto a execução do sistema de abastecimento de água, conforme o Plano de Trabalho especialmente elaborado (fls. 51/55 – vol. anexo), com vigência prevista para o período de 20/12/2002 a 20/12/2003, prorrogada até 15/12/2004 (cf. 1º termo “de officio” de prorrogação de vigência de convênio por atraso na liberação de recursos, fl. 45 - vol. anexo).2. Conforme fls. 27/32, foram as seguintes as irregularidades detectadas: a) movimentação e recebimento de recursos federais por membros do Executivo de Palmeirândia ou por pessoas estranhas à execução do objeto do convênio; b) inexecução parcial ou total do objeto previsto no convênio; c) contradição na cronologia dos eventos administrativos associados à execução do objeto pactuado; d) apresentação de propostas no processo licitatório com idêntica padronização gráfica ou visual; e) propostas formuladas sem data, indicação ao certame e/ou sem assinatura do responsável; f) licitantes cujo procurador e real gerente é parente do Prefeito Municipal; g) licitante não encontrada in loco pela equipe de auditoria da Secex/MA ou com endereço diverso do declarado; h) licitante com endereço igual ao de parente do gestor municipal; i) ausência de documentos que comprovariam a aptidão do fornecedor para contratar com a administração pública municipal; e j) notas fiscais de diferentes fornecedores com igual ou similar padrão manuscrito.3. Após instrução do processo, a unidade técnica encaminhou ofícios de citação (fls. 62/71) ao ex-Prefeito e à empresa supostamente contratada para a execução dos serviços (Nilson Santos Garcia e I. F. Terraplenagem e Construções Ltda.) nos valores de R$ 96.000,00, R$ 72.000,00 e

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R$ 72.000,00 com datas base de 4/9/2003, 18/12/2003 e 8/12/2004, respectivamente, em razão das ocorrências descritas no relatório que antecede esta proposta de deliberação.4. Em resposta à citação, o ex-dirigente, Sr. Nilson Santos Garcia, e a empresa I. F. Terraplenagem e Construções Ltda. apresentaram alegações de defesa que foram rejeitadas pela Secex/MA e pelo MP/TCU.5. A meu ver, os exames realizados pela unidade técnica e pelo Parquet chegaram a conclusões adequadas, motivo por que cumpre adotá-los como razões de decidir.6. A divergência entre os reais beneficiários dos saques da conta do convênio e os supostos destinatários dos pagamentos, conforme indicado nos documentos levantados pela Secex/MA, retira o nexo de causalidade entre os recursos, as obras e os elementos constantes da prestação de contas. Nessa situação, conclui-se pela ausência de comprovação da boa e regular aplicação dos recursos do convênio.7. As irregularidades relativas à suposta promoção de licitação motivaram a audiência do referido ex-gestor municipal e dos integrantes da Comissão Permanente de Licitação, bem como das empresas que supostamente teriam apresentado propostas visando participar de certame licitatório (C. J. Construções Ltda. e A. J. Ferreira, ambas geridas por Jorge Luiz Santos Garcia, irmão do prefeito Nilson Santos Garcia, conforme procurações de fls. 169/170 do anexo), para que apresentassem razões de justificativa acerca das irregularidades verificadas na condução da Tomada de Preços 01/2003 e discriminadas no relatório retro.8. Mais uma vez a Secex/MA e o MP/TCU analisaram e rejeitaram as justificativas dos responsáveis em instrução e parecer que também adoto como razões de decidir.9. A identidade de características e erros constatados indica que as propostas de preço e demais documentos formulados pelas licitantes provieram de fonte comum. Não bastassem essas evidências, observou-se que duas licitantes eram administradas pelo irmão do ex-prefeito, conforme formalmente atestado em procurações lavradas em cartório.10. Caracteriza-se, dessa forma, evidente o intento de simular a ocorrência de licitação.11. Oportuno salientar que vários são os processos de tomada de contas especial instaurados em razão da denúncia apreciada pelo Acórdão 1.159/2005 - Plenário e que revelou a reiterada utilização das empresas mencionadas (A. J. e C. J.) na montagem de processos licitatórios com vistas a conferir ares de legalidade ao emprego dos recursos federais transferidos e a obter o número mínimo de três licitantes na modalidade convite. Diferentemente do que ocorre em outro processo decorrente do mesmo acórdão (TC-009.516/2006-8), nestes autos os pareceres são coincidentes no sentido de concentrar a responsabilidade pelo débito sobre a empresa supostamente vencedora da licitação juntamente com o ex-prefeito. Assim, não foram citadas outras pessoas responsáveis pelo recebimento dos cheques.12. As graves irregularidades praticadas pelos responsáveis no âmbito do Convênio 1565/2002 levam-me a acolher o encaminhamento sugerido e a propor o julgamento pela irregularidade das contas, a condenação em débito do Sr. Nilson Santos Garcia e da empresa I. F. Terraplenagem e Construções Ltda., a aplicação de multa a todos responsáveis ouvidos nestes autos e a declaração de inidoneidade das empresas I. F. Terraplenagem e Construções Ltda., C. J. Construções Ltda. e A. J. Ferreira para licitar, nos termos sugeridos pelo MP/TCU.13. Penso também que a gravidade dos atos de gestão praticados pelo Sr. Nilson Santos Garcia indicam a necessidade de aplicar a sanção de inabilitação desse dirigente para o exercício de cargo em comissão ou função de confiança na Administração Pública Federal.14. Finalmente, consigno que o fundamento legal para as condenações deve ser, segundo meu entendimento sobre os fatos apurados, as alíneas “c” e “d” do inciso III do art. 16 da Lei 8.443/1992.

Assim, com essas considerações, e acolhendo a essência dos pareceres da unidade técnica e do Ministério Público, com os acréscimos ora sugeridos, manifesto-me por que o Tribunal aprove o acórdão que ora submeto à apreciação deste Colegiado.

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TCU, Sala das Sessões Ministro Luciano Brandão Alves de Souza, em 18 de maio de 2011.

AUGUSTO SHERMAN CAVALCANTI Relator

ACÓRDÃO Nº 1292/2011 – TCU – Plenário

1. Processo TC-009.826/2006-0.2. Grupo: I – Classe de assunto: IV – Tomada de Contas Especial.3. Responsável: Nilson Santos Garcia - CPF 062.067.513-68 - ex-Prefeito.4. Unidade: Município de Palmeirândia/MA.5. Relator: Ministro-Substituto Augusto Sherman Cavalcanti.6. Representante do Ministério Público: Procurador Júlio Marcelo de Oliveira.7. Unidade técnica: Secex/MA.8. Advogado constituído nos autos: não há.

9. Acórdão:

VISTOS, relatados e discutidos estes autos de tomada de contas especial instaurada em decorrência de irregularidades praticadas na execução do Convênio 1565/2002, celebrado pela Fundação Nacional de Saúde – Funasa junto à Prefeitura Municipal de Palmeirândia, tendo por objeto a execução do sistema de abastecimento de água, conforme o Plano de Trabalho especialmente elaborado (fls. 51/55 – vol. anexo), com vigência prevista para o período de 20/12/2002 a 20/12/2003.

ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em sessão de Plenário, ante as razões expostas pelo Relator, em:

9.1. nos termos dos arts. 1º, inciso I, 16, inciso III, alíneas “c” e “d” e 19, caput, todos da Lei 8.443/92, julgar as presentes contas irregulares e condenar o Sr Nilson dos Santos Garcia (CPF 062.067.513-68) em solidariedade com a empresa I. F. Terraplenagem e Construções Ltda. (CNPJ 05.149.148/0001-06) ao pagamento das importâncias abaixo especificadas, atualizadas monetariamente e acrescidas de juros de mora, calculadas a partir das datas discriminadas até a efetiva quitação do débito, fixando-lhes o prazo de quinze dias, para que comprovem, perante este Tribunal, o recolhimento da referida quantia aos cofres da Fundação Nacional de Saúde – Funasa, nos termos do art. 23, III, “a”, da citada lei c/c o art. 214, III, “a”, do Regimento Interno/TCU:

VALOR ORIGINAL

DATA DA OCORRÊNCIA

R$ 96.000,00 04/09/2003R$ 72.000,00 18/12/2003R$ 72.000,00 08/12/2004

9.2. aplicar ao Sr. Nilson Santos Garcia, ex-Prefeito Municipal de Palmeirândia/MA, e à empresa I. F. Terraplenagem e Construções Ltda., supostamente contratada para a execução das obras do convênio 1565/2002, individualmente, a multa prevista no art. 57 da Lei 8.443/92, no valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais), fixando-lhes o prazo de quinze dias, a contar da notificação, para que comprove, perante este Tribunal, nos termos do art. 214, inciso III, alínea “a”, do Regimento Interno, o recolhimento da referida quantia ao Tesouro Nacional, atualizada monetariamente desde a data do

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presente acórdão até a do efetivo recolhimento, se for paga após o vencimento, na forma da legislação em vigor;

9.3. aplicar aos Srs. Weder Pereira Garcia, Márcio Ribeiro de Jesus Sousa e Fabiane Pinheiro Trinta, membros da Comissão Permanente de Licitação do Município de Palmeirândia/MA, individualmente, a multa prevista no art. 58, II, da Lei 8.443/92, no valor de R$ 3.000,00 (três mil reais), fixando-lhes o prazo de quinze dias, a contar da notificação, para que comprove, perante este Tribunal, nos termos do art. 214, inciso III, alínea “a”, do Regimento Interno, o recolhimento da referida quantia ao Tesouro Nacional, atualizada monetariamente desde a data do presente acórdão até a do efetivo recolhimento, se for paga após o vencimento, na forma da legislação em vigor;

9.4. autorizar, desde logo, nos termos do art. 28, inciso II, da Lei 8.443/92, a cobrança judicial das dívidas, caso não atendidas as notificações;

9.5. declarar, nos termos do art. 46 da Lei 8.443/92 c/c art. 271 do RI/TCU, pelo prazo de 05 (cinco) anos a contar da publicação deste acórdão, a inidoneidade das empresas I.F. Terraplenagem e Construções Ltda., CNPJ Nº 05.149.148/0001-06; C.F. Construções Ltda., CNPJ Nº 04.445.928/0001-30; e A.J. Ferreira Serviços de Urbanização, CNPJ Nº 00.887.274/0001-44, para participarem de licitação na Administração Pública Federal, tendo em vista suas participações em conluios que visavam a frustrar o caráter competitivo de licitações realizadas pela Prefeitura Municipal de Palmeirândia/MA;

9.6. inabilitar, com fundamento no art. 60 da Lei 8.443/1992, c/c o artigo 270 do RI/TCU, o responsável, Sr. Nilson Santos Garcia, pelo prazo de cinco anos, para o exercício de cargo em comissão ou função de confiança no âmbito da Administração Pública Federal;

9.7. remeter cópia deste acórdão, bem como das peças que o fundamentam à Procuradoria da República no Estado do Maranhão para ajuizamento das ações civis e penais que entender cabíveis com fundamento no disposto no art. 16, § 3º, da Lei 8.443/92.

10. Ata n° 18/2011 – Plenário.11. Data da Sessão: 18/5/2011 – Ordinária.12. Código eletrônico para localização na página do TCU na Internet: AC-1292-18/11-P.13. Especificação do quorum:13.1. Ministros presentes: Augusto Nardes (na Presidência), Valmir Campelo, Walton Alencar Rodrigues, Ubiratan Aguiar, Raimundo Carreiro, José Jorge e José Múcio Monteiro.13.2. Ministro-Substituto convocado: Augusto Sherman Cavalcanti (Relator).13.3. Ministro-Substituto presente: André Luís de Carvalho.

(Assinado Eletronicamente)AUGUSTO NARDES

(Assinado Eletronicamente)AUGUSTO SHERMAN CAVALCANTI

na Presidência Relator

Fui presente:

(Assinado Eletronicamente)LUCAS ROCHA FURTADO

Procurador-Geral

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