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1 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO 2 2 CONCEITO DE INDENIZAÇÃO 3 3 CONCEITO DE HOMICÍDIO 4 4 DANO E INDENIZAÇÃO 5 5 CÓDIGO CIVIL 1916 x CÓDIGO CIVIL 2002 6 6 DA INDENIZAÇÃO POR HOMICÍDIO 8 6.1 Despesas com tratamento 9 6.2 Despesas com funeral 9 6.3 Luto da família 9 6.4 Cálculo do valor do dano moral 10 7 DA INDENIZAÇÃO POR HOMICÍDIO DO FILHO MENOR 11 7.1 Da indenização por homicídio do filho menor que contribuía para o sustento do lar 11 7.2 Da indenização por homicídio do filho menor que não contribuía para o sustento do lar 11 7.3 Menor de tenra idade 12 8 DA INDENIZAÇÃO POR HOMICÍDIO DO FILHO MAIOR 13 9 DA INDENIZAÇÃO POR HOMICÍDIO DO PAI 14 10 DA INDENIZAÇÃO POR HOMICÍDIO DA MÃE 15 1

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 2

2 CONCEITO DE INDENIZAÇÃO 3

3 CONCEITO DE HOMICÍDIO 4

4 DANO E INDENIZAÇÃO 5

5 CÓDIGO CIVIL 1916 x CÓDIGO CIVIL 2002 6

6 DA INDENIZAÇÃO POR HOMICÍDIO 8

6.1 Despesas com tratamento 9

6.2 Despesas com funeral 9

6.3 Luto da família 9

6.4 Cálculo do valor do dano moral 10

7 DA INDENIZAÇÃO POR HOMICÍDIO DO FILHO

MENOR

11

7.1 Da indenização por homicídio do filho menor que

contribuía para o sustento do lar

11

7.2 Da indenização por homicídio do filho menor que não

contribuía para o sustento do lar

11

7.3 Menor de tenra idade 12

8 DA INDENIZAÇÃO POR HOMICÍDIO DO FILHO

MAIOR

13

9 DA INDENIZAÇÃO POR HOMICÍDIO DO PAI 14

10 DA INDENIZAÇÃO POR HOMICÍDIO DA MÃE 15

11 DA INDENIZAÇÃO POR HOMICÍDIO DO MARIDO 16

12 DA INDENIZAÇÃO POR HOMICÍDIO DA ESPOSA 17

13 JURISPRUDENCIAS 18

14 CONCLUSÃO 116

15 BIBLIOGRAFIA 117

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1. INTRODUÇÃO

O estudo a ser desenvolvido terá como foco principal a indenização

por homicídio, onde abordaremos o estudo da indenização por homicídio

do pai, da mãe, do filho menor, do filho maior, do marido e da esposa.

Analisaremos também as mudanças havidas na transição do Código

Civil de 1916 para o Código Civil de 2002, o que essas mudanças

acarretaram na vida das pessoas alcançadas pelo fato, e o que elas puderam

pleitear a partir do momento desta transição.

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2. CONCEITO DE INDENIZAÇÃO

Com relação à origem histórica da obrigação de indenizar, é sabido que no

processo de desenvolvimento da sociedade fez-se necessária a criação de

um sistema que regulamentasse as condutas e estabelecesse as regras de

convívio, uma vez que o atributo racional dos homens, quando não

controlado geraria o caos.

A transgressão dos elementos mantenedores do equilíbrio social deveria

implicar em sanções aos infratores, de modo a coibir a repetição de tais

atos. O não cumprimento das normas geraria ao infrator o ônus da

reparação.

Assim como magistralmente definiu Rui Stoco, “ indenizar significa

reparar o dano causado à vitima, integralmente. Se possível, restaurando o

stau quo ante, isto é, devolvendo-a ao estado em que se encontrava antes da

ocorrência do ato ilícito”.1

1 STOCO, Rui. Tratado de Responsabilidade Civil. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004.p.11813

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3. CONCEITO DE HOMICÍDIO

Segundo Rui Stoco, “ para efeito de indenização, o homicídio se identifica

como a destruição da vida de um ser humano, causada por ação direta ou

indireta de outro homem”2

2 STOCO, Rui. Tratado de Responsabilidade Civil. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004.p.1207

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4. DANO E INDENIZAÇÃO

Art. 186 - Código Civil – “ Aquele que, por ação ou omissão voluntária,

negligencia ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda

que exclusivamente moral, comete ato ilícito.”

Art. 927 – Código Civil – “ Aquele que por ato ilícito, causar dano a

outrem, fica obrigado a repará-lo.”

Parágrafo único – “ Haverá obrigação de reparar o dano,

independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a

atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua

natureza, risco para os direitos de outrem.”

Quando se trata de responsabilidade civil, considera-se o dano como

elemento indispensável para gerar a obrigação de indenizar. Assim, não

basta somente que ocorra a conduta ilícita, no que tange a indenização, é

preciso que haja resultado danoso, lembrando que, o que determina o

alcance da indenização é a dimensão do dano.

“Sem dano pode haver responsabilidade penal, mas não há

responsabilidade civil, pois indenização sem dano importaria em

enriquecimento ilícito” (CAVALIERI, S. Programa de Responsabilidade

Civil. Apud Stoco, 2007. p.1.180). Logo, o simples fato de a conduta ser

reconhecida como antijurídica, não é suficiente para que o autor tenha a

obrigação de indenizar. Esse dano, não pode ser incerto ou improvável, a

prova do dano é fundamento da indenização.

Quem tem a obrigação de indenizar é o agente causador do dano,

sendo que, caso haja impossibilidade financeira deste, não poderá o lesado

transferir tal responsabilidade ao Estado, pois se trata esta única e

exclusivamente de responsabilidade do agente causador.

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5. CÓDIGO CIVIL 1916 x CÓDIGO CIVIL 2002

Código Civil de 1916 - Art. 1.537 – “ A indenização, no caso de

homicídio, consiste:

I – no pagamento das despesas com o tratamento da vitima, seu funeral e o

luto da família;

II – na prestação de alimentos as pessoas a quem o defunto os devia.”

Código Civil de 2002 – Art. 948 – “ No caso de homicídio, a indenização

consiste sem excluir outras reparações:

I – no pagamento das despesas com o tratamento da vitima, seu funeral e o

luto da família;

II – na prestação de alimentos as pessoas a quem o morto os devia,

levando-se em conta a duração provável da vida da vitima

O código civil de 1916 determinava taxativamente quais parcelas

deveriam compor a indenização em caso de homicídio. Não era possível

pleitear danos morais, uma vez que o artigo supracitado somente

mencionava despesas com o tratamento, despesas com o funeral, o luto da

família (que consistia ao pagamento pelas vestes fúnebres, atualmente em

desuso, e serviços religiosos), e prestação de alimentos às pessoas

dependentes do defunto.

Com o avanço jurisprudencial e o advento da Constituição de 1988, a

interpretação tornou-se menos restritiva, e com o novo Código de 2002,

nova redação foi dada ao artigo, acrescentando “sem excluir outras

reparações”. Tal acréscimo trouxe ampla e nova interpretação, tornando

possível a reparação do dano moral, do sentimento de tristeza pela perda.

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Outra mudança significativa na redação da lei, em seu segundo

inciso, foi a inserção de : “ levando-se em conta a duração provável da vida

da vitima”. Isso possibilitou que a indenização alcançasse de forma efetiva

o período ainda estimado de vida do morto.

Em suma, tem-se hoje o artigo 948 do Código Civil, como um

direcionador e não como um agente limitador.

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6. DA INDENIZAÇÃO POR HOMICÍDIO

Em caso de homicídio tanto por ato doloso, como por ato culposo, surge a

obrigação de indenizar para o agente causador do dano. O morto, no

sentido jurídico não é sujeito de direito, não sofre dano por sua morte.

Contudo, se sua vida significava valor econômico para alguém, estes

sobreviventes, serão os verdadeiros lesados pelo homicídio.

A indenização por homicídio consiste na reparação, pelo agente causador, à

família do morto em tudo o que for necessário imediata e mediatamente.

Como já exposto, o objetivo da indenização é reparar integralmente o dano

causado a vitima. Contudo, via de regra a integralização do reparo não

pode ser efetuada, “ sendo impossível devolver a vida à vitima de um crime

de homicídio, a lei procura remediar a situação impondo ao homicida a

obrigação de pagar uma pensão mensal as pessoas a quem o defunto

sustentava, além das despesas de tratamento da vitima, seu funeral e luto da

família.”3

Questão de suma importância é a definição de quem tem prerrogativa para

pleitear a indenização. Se o artigo 948, Inciso II, fala das pessoas a quem o

morto devia alimentos, entende-se que só poderá ser agraciado com a

pensão quem possuir efetivamente dependência econômica do morto. Não

há dúvidas com relação a cônjuge e filhos menores. Os demais, como por

exemplo, filhos maiores, e pais, precisarão provar a dependência, caso

contrário, falar-se-á apenas em dano moral.

A indenização em caso de homicídio será composta pelas seguintes

parcelas:

I – Despesas com o tratamento, que incluem ambulância, cirurgia,

medicamentos, exames, e todos os demais dispêndios;3 STOCO, Rui. Tratado de Responsabilidade Civil. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004.p.1181

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II – Despesas com o funeral, inclusive aquisição de jazigo perpétuo,

remoção do corpo; A jurisprudência tem determinado o valor de cinco

salários mínimos para as despesas com o funeral;

III – Luto da família, que hoje, além das despesas com o sufrágio da alma,

inclui também, a tristeza decorrente da perda do ente querido.

6.1 Despesas com Tratamento

As despesas com o tratamento da vitima inclui, internação, despesas com

remédios, hospital, ambulância, transferência hospitalar, tratamento

psicológico, transporte em caso de morte, e tudo mais que a vitima possa

ter dispêndio médico hospitalar.

“ Nas despesas de tratamento, incluem-se todas as necessárias para obter a

cura, bem como as imprescindíveis para a devolução da vitima ao estado

anterior ...”4

6.2 Despesas com o funeral

São as despesas relacionadas ao rituais, homenagens, velório, aquisição de

túmulo ou jazigo perpétuo ( de acordo com os costumes crenças

professados pela família da vitima)

6.3 Luto da Família

“ Em realidade cuida-se da reparação do dano moral produzido em

detrimento de uma feição legitima, à causa do sofrimento experimentado

pela perda de um familiar querido...” “cuida-se de propiciar aos familiares

ainda uma compensação pecuniária reparatória do dano moral, que lhes

possibilite para satisfação pessoal e conforto espiritual, tributar à memória

4 RODRIGUES, Silvio. Responsabilidade Civil. São Paulo: Editora Atlas, 2002.p.221.9

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do falecido o preito de saudade em reverência póstuma.” (CAHALI, Y.

Dano e Indenização. Apud Stoco, 2004.p.1204).

6.4 Cálculo do valor do dano moral

Para efeito de cálculo do dano moral, segundo aponta Maria Helena Diniz,

o magistrado deverá analisar quatro fatores: 1) a gravidade da lesão,

baseada na conduta dolosa ou culposa do agente; 2) situação econômica do

agente; 3) circunstancias do fato; 4) situação individual e social da vitima,

ou dos lesados.

7. DA INDENIZAÇÃO POR HOMICÍDIO DO FILHO MENOR

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No que tange a indenização por homicídio do filho menor, deve-se analisar

o fato sob três aspectos: 1) se o filho menor contribuía para o sustento do

lar; 2) se o filho menor não contribuía para o sustento do lar; e 3) menor de

tenra idade

7.1. Filho menor que contribuía para o sustento do lar

No tocante ao filho menor que contribuía para o sustento do lar, ocorre

certa divergência jurisprudencial. É fato que os lesados pela morte devem

receber a pensão mensal até o tempo presumido de vida da vitima, tempo

este que tem sido estimado entre 65 e 70 anos. A dúvida reside na variação

do valor. O fato de que ao completar 24 ou 25 anos a vitima possivelmente

se casaria ou deixaria o lar justifica, em alguns entendimentos, a redução

do valor pago a metade ou um terço, assim como há também decisões

segundo as quais, o valor deve permanecer inalterado.

7.2. Filho menor que não contribuía para o sustento do lar -

Súmula 491 do STF – “é indenizável o acidente que cause a morte de filho

menor, ainda que não exerça trabalho remunerado”.

Com relação ao filho menor que não exercia atividade remunerada,

entendia-se originalmente que a pensão não seria devida, mas apenas o

dano moral. A jurisprudência evoluiu nesse sentido, partindo do

pressuposto de que no futuro este filho contribuiria para o sustento do lar.

Dessa forma, determinou-se que a pensão é devida até a data em que o filho

completaria 24/25 anos, idade em que provavelmente deixaria o lar

paterno. Entretanto, existem entendimentos jurisprudenciais que

determinam que a duração do benefício deve se estender até a duração

provável de vida da vitima.

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A indenização por dano moral deve ser paga integralmente em uma só vez,

não admitindo parcelamento do valor.

7.3.Menor de tenra idade

No caso do menor de tenra idade, deve-se observar a situação econômica

da família. Em famílias de pouco poder aquisitivo, a que se falar em

recebimento de pensão, pois a vitima, ao completar a idade de trabalho (16

anos), possivelmente contribuiria para o montante pecuniário do lar. Esta

pensão teria como termo inicial a data em que a vitima completaria 16 anos

e como termo final a data em que completaria 25 anos. Já em famílias que

usufruem de poder aquisitivo maior, de forma que não fosse essencial a

contribuição financeira do menor, não há que se falar em pensão.

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8. DA INDENIZAÇÃO POR HOMICÍDIO DO FILHO MAIOR

Se filho maior vivia com seus pais e lhes auxiliava economicamente,

haverá o pagamento de pensão. O beneficio se estenderá pelo tempo em

que a vitima certificadamente contribuiria para a economia doméstica.

Partindo do pressuposto de que os filhos deixam o lar por volta dos 25

anos, cessará neste tempo o auxilio aos pais. É importante ressaltar que o

valor pago não será integral e sim reduzido a dois terços do salário que era

recebido, pois entende-se que um terço, seria destinado as despesas do

próprio de cujus.

Se ao tempo do falecimento a vitima não trabalhava, a base para o valor da

pensão será o salário mínimo ou o mínimo profissional.

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9. DA INDENIZAÇÃO POR HOMICÍDIO DO PAI

Não se questiona a possibilidade do pagamento de pensão aos filhos

menores pela morte do alimentante. O termo final desta prestação deverá

ser fixado com observância ao fato de que, presumivelmente, o auxilio do

pai ao filho cessa não necessariamente como a maioridade, mas até os 24

ou 25 anos, quando se casam ou concluem curso superior, estabelecendo-se

fora do lar.

Tem-se entendido que a pensão deve ser manter integra, de forma que

havendo vários beneficiários, quando esta cessar para um deles, deve ser

transferida de forma cumulativa ao que permanece como beneficiário.

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10. DA INDENIZAÇÃO POR HOMICÍDIO DA MÃE

No tocante a indenização por homicídio da mãe, deve-se analisar a questão

sob dois aspectos: a) mãe que contribuía para a manutenção do lar; e b)

mãe que não contribuía para a manutenção do lar.

A) Mãe que contribuía para a manutenção do lar – no caso da mãe que

contribuía para a manutenção do lar, serão aplicadas as mesmas regras

pertinentes ao pai (item tal);

B) No que concerne a mãe que não contribuía para a manutenção do lar,

tradicionalmente a pensão não seria devida, uma vez que esta mãe não

exercia atividade lucrativa. Contudo, a jurisprudência passou a entender

que deve se considerar a contribuição da mãe com os serviços domésticos e

seu imprescindível auxílio para com a família. Assim, a pensão pela morte

da mãe que não exercia atividade remunerada, tem sido concedida.

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11. DA INDENIZAÇÃO POR HOMICÍDIO DO MARIDO

A morte do marido representa perda indenizável. A pensão paga a viúva

terá como termo inicial o momento da morte e deverá permanecer pelo

provável período de vida da vitima (65/70 anos). No caso da viúva contrair

novas núpcias, não há duvidas de que a pensão cessará. É preciso lembrar

que a morte do companheiro também torna possível o recebimento de

pensão, principalmente após o reconhecimento da união estável pela

Constituição Federal de 1988.

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12. DA INDENIZAÇÃO POR HOMICÍDIO DA ESPOSA

A visão tradicional pregava que uma vez que quem deve alimentos é o

marido, não caberá a ele, no caso de morte da esposa, o recebimento de

pensão.

“ com relação à morte da mulher que não trabalha, havia a orientação

tradicional: ao marido não cabia direito à indenização, chegando-se mesmo

a entender que a perda dos trabalhos domésticos, que eram feitos pela

mulher seria compensada pelas despesas que o marido deixaria ter”.

( GONÇALVES, C.R. Responsabilidade Civil. Apud Stoco, 2007.p.1803).

É inegável que a perda da esposa ou da companheira, ainda que esta não

exerça trabalho remunerado, abala a estrutura familiar, muitas vezes

acrescendo despesas com a manutenção doméstica. Sendo assim, justifica-

se a existência de uma pensão mensal como reparação do dano patrimonial.

O pagamento do valor referente ao dano moral pode ser realizado de forma

cumulativa com o dano patrimonial.

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13. JURISPRUDÊNCIAS

Número do processo: 2.0000.00.415532-8/000(1)Relator: DOMINGOS COELHO Relator do Acordão: Não informadoData do Julgamento: 17/12/2003Data da Publicação: 07/02/2004 Inteiro Teor:   EMENTA: AÇÃO DE INDENIZAÇÃO - HOMICÍDIO - CONDENAÇÃO CRIMINAL - DANOS MORAIS E MATERIAIS - PENSÃO ALIMENTÍCIA.

Na hipótese de HOMICÍDIO, com sentença penal condenatória transitada em julgado, o acusado fica obrigado a indenizar os filhos e esposa da vítima os danos materiais e morais, bem como pagamento de pensão mensal. Inteligência do art. 1537 do Código Civil/1916.

A C Ó R D Ã O

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível nº 415.532-8, da Comarca de MIRADOURO, sendo Apelante (s): ANTÔNIO RIBEIRO BANI e Apelado (a) (os) (as): ROSÂNGELA MAIA SOARES GALARANE, por si e representando sua filha menor, LARA JOANA MAIA SOARES GALARANE,

ACORDA, em Turma, a Quarta Câmara Civil do Tribunal de Alçada do Estado de Minas Gerais, NEGAR PROVIMENTO.

Presidiu o julgamento o Juiz SALDANHA DA FONSECA e dele participaram os Juízes DOMINGOS COELHO (Relator), ANTÔNIO SÉRVULO (Revisor) e BATISTA FRANCO (Vogal).

O voto proferido pelo Juiz Relator foi acompanhado na íntegra pelos demais componentes da Turma Julgadora.

Belo Horizonte, 17 de dezembro de 2003.

JUIZ DOMINGOS COELHO

Relator

V O T O

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O SR. JUIZ DOMINGOS COELHO:

Cuida-se de recurso de apelação interposto por Antônio Ribeiro Bani em face da r. sentença de f. 106-110 que julgou parcialmente procedentes os pedidos formulados nos autos da ação de INDENIZAÇÃO que lhe move Rosângela Soares Galarane e Lara Joana Maia Soares Galarane.

Insurge o apelante sustentando que as apeladas não produziram prova cabal de suas alegações, tanto as concernentes aos danos materiais, quanto morais; que não possui bens materiais; que não possui condições de prestar alimentos à sua família, quanto mais a família da vítima; requerendo por fim a reforma da r. sentença primeva.

Contra razões e parecer do Ministério Público respectivamente às f. 117/119 e f.121/132, rebatendo os argumentos do recurso e requerendo a manutenção da r. sentença.

Os autos por equívoco foram remetidos ao Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, tendo sido publicado em 22 de fevereiro de 2003 o acórdão, declinando da competência para este Sodalício.

A Douta Procuradora, às f. 139-147, ofertou parecer, opinando pelo conhecimento e improvimento do recurso para ser mantida a sentença guerreada.

Recurso próprio, tempestivo, regularmente processado e ausente o preparo por litigar a parte sob a benesse da assistência judiciária. Dele conheço eis que presentes todos os pressupostos de sua admissibilidade.

A meu sentir, não assiste razão ao apelante.

O apelante foi condenado, conforme certidão de f. 36, portanto, quanto ao fato, a culpa e o nexo causal, nada há que se discutir, não restando qualquer dúvida quanto ao dever de indenizar.

Tem inteira aplicação à hipótese o artigo 1537 do Código Civil/1916:

"Art. 1537. A INDENIZAÇÃO, no caso de HOMICÍDIO, consiste:

I - no pagamento das despesas com o tratamento da vítima, seu funeral e o luto da família;

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II - na prestação de alimentos às pessoa a quem o defunto devia"

A obrigação de indenizar, na hipótese de HOMICÍDIO, além dos benefícios assegurados no artigo acima descrito, é ainda assegurado nos termos do art.5º, inciso V da Constituição Federal, o direito à INDENIZAÇÃO pelo dano moral, ressaindo este direito do comprovado sofrimento gerado pela perda do ente querido.

No caso em exame, as conseqüências causadas às apeladas são de fácil percepção, dispensando qualquer prova a respeito.

Vejamos o norte jurisprudencial:

"O dano simplesmente moral, sem repercussão no patrimônio, não há como ser provado. Ele existe tão-somente pela ofensa, e dela é presumido, sendo o bastante para justificar a INDENIZAÇÃO." (TJPR - 4ª C. - Ap. - Rel. Wilson Reback - j. 12.12.90)

APELAÇÃO CÍVEL - INDENIZAÇÃO - HOMICÍDIO DOLOSO - ALEGAÇÃO DE INEXISTÊNCIA DE RESPONSABILIDADE EM INDENIZAR POR NÃO SER O AUTOR DO FATO - ART. 1525, CÓDIGO CIVIL - PENSÃO MENSAL AOS FILHOS DA VÍTIMA - OBRIGATORIEDADE - ART. 1537, II DO CÓDIGO CIVIL - TERMO FINAL DO PENSIONAMENTO - DECISÃO ACERTADA - DANOS MORAIS - INSURGÊNCIA QUANTO AO VALOR - IMPROCEDÊNCIA - SENTENÇA MANTIDA - RECURSO IMPROVIDO - SEGUNDO O ARTIGO 1.525 DO CÓDIGO CIVIL, NÃO SE PODERÁ QUESTIONAR MAIS SOBRE QUEM TENHA SIDO O AUTOR DO FATO DELITUOSO QUANDO ESTA QUESTÃO JÁ SE ACHAR DECIDIDA NO CRIME. POR ISSO, TENDO SIDO O APELANTE CONDENADO NA ESFERA PENAL PELA MORTE DO PAI DOS APELADOS, COM SENTENÇA TRANSITADA EM JULGADO, NÃO PODE UTILIZAR-SE DA NEGATIVA DE AUTORIA PARA TENTAR EXIMIR-SE DA RESPONSABILIDADE CIVIL - A INDENIZAÇÃO no caso de HOMICÍDIO consiste na prestação de alimentos às pessoas a quem o defunto devia (Código Civil, art. 1.537, II), razão por que bem fixada a pensão em um salário mínimo mensal, quantia prestada pelo falecido aos apelados. Prevalece o entendimento de que a pensão aos filhos pela morte dos pais estende-se até que eles completem 25 anos de idade. Mantém-se a condenação em danos morais cujo quantum foi bem arbitrado pelo magistrado a quo, de forma a atender seu duplo papel (punitivo para o réu e compensatório para os autores). (TJMS - AC

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1000.065014-2 - 2ª T.Cív. - Rel. Des. Divoncir Schreiner Maran - J. 10.12.2001)

APELAÇÃO CÍVEL Nº 318.146-2 - CURVELO - 30.11.2000 EMENTA - AÇÃO INDENIZATÓRIA - DANO MATERIAL - CUMULAÇÃO COM DANO MORAL - ADMISSIBILIDADE QUANTIFICAÇÃO DA CONDENAÇÃO - A Súmula 137 do STJ admite a cumulação de INDENIZAÇÃO por danos material e moral: a primeira, como visto, sob forma de pensionamento mensal temporário, e a segunda, em valor certo, para compensar, nos limites do razoável, a dor moral que o prematuro e trágico falecimento da vítima causou aos autores. A fixação da quantum indenizatório a título de danos morais em cem salários mínimos para cada um dos autores traduz todas as peculiaridades do caso concreto, sendo, ao mesmo tempo, meio de punição e forma de compensação ao dano sofrido, sem, contudo, permitir o enriquecimento da parte. À luz do disposto no artigo 1.537 do Código Civil., o quantum indenizatório referente à morte, por HOMICÍDIO, do devedor de alimentos, deve ser fixado na forma de prestação pecuniária mensal, que tenha por base a renda líquida que a vítima recebia na época do acidente. (TAMG - AC 0318146-2 - 6ª C.Cív. - Relª Juíza Beatriz Pinheiro Caires - J. 30.11.2000)

Ressalte-se que a contestação apresentada pelo apelante se restringiu tão-somente à ausência de culpa e que a ação civil de INDENIZAÇÃO só poderia ser requerida quando o processo criminal fosse julgado, vez que vigia a seu favor o preceito constitucional de que "Ninguém será considerado culpado até o trânsito da sentença penal condenatória." (art. 5º. LVII da Constituição Federal de 1988).

O requerimento de suspensão do processo civil até que o apelante fosse julgado na esfera criminal foi atendido pelo MM. Juiz, como se vê da decisão de f.32v.

Posteriormente, o processo teve regular andamento, após o requerimento de f. 35 e a juntada da certidão de f. 36, atestando a condenação do apelante e o trânsito em julgado da decisão.

Ora, após a juntada da referida certidão, toda a matéria ventilada na contestação ficou superada.

É de se observar que, na referida contestação o apelante em momento algum, sequer en passant insurgiu quanto aos valores pleiteados, não podendo fazê-lo agora, pena de ofensa ao princípio consagrado no nosso

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direito da preclusão.

A preclusão consoante entendimento doutrinário é:

"A preclusão indica perda da faculdade processual, pelo seu não uso dentro do prazo peremptório previsto pela lei (preclusão temporal), ou, pelo fato de já havê-la exercido (preclusão consumativa), ou, ainda, pela prática de ato incompatível com aquele que se pretenda exercitar no processo (preclusão lógica). ( Nelson Nery Junior, Código de Processo Civil Anotado e Legislação Extravagante, 7ª edição, Editora Revista dos Tribunais, p. 809).

Não obstante, tem inteira aplicação o artigo 302 do Código de Processo Civil que de forma clara dispõe:

"Art. 302. Cabe também ao réu manifestar-se precisamente sobre os fatos narrados na petição inicial. Presumem-se verdadeiros os fatos não impugnados, salvo:

I - se não for admissível, a seu respeito, a confissão;

II - se a petição inicial não estiver acompanhada do instrumento público que a lei considerar da substância do ato;

III - se estiverem em contradição com a defesa, considerada em seu conjunto.

Parágrafo único. Esta regra, quanto ao ônus da impugnação especificada dos fatos, não se aplica ao advogado dativo, ao curador especial e ao órgão do Ministério Público."(grifei)

Neste sentido, Nelson Nery Junior in Código de Processo Civil Anotado e Legislação Extravagante, 7ª edição, Editora Revista dos Tribunais, p.689:

"No processo civil é proibida a contestação genérica, isto é, por negação geral. Pelo princípio do ônus da impugnação especificada, cabe ao réu impugnar um a um os fatos articulados pelo autor na petição inicial. Deixando de impugnar um fato, por exemplo, será revel quando a ele, incidindo os efeitos da revelia. (presunção de veracidade - CPC 319)"

O recibo de f. 10 comprova que as apeladas gastaram R$1.830,00 ( um mil oitocentos e trinta reais), com despesa funeral, e o referido documento não sofreu impugnação específica. E a prova testemunhal colhida em audiência

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demonstra que com a morte da vítima restou prejudicada a fonte de renda da família.

A testemunha Rosa Doadro Galarani, f.77 relatou:

"...que , a confecção que era mantida por Maurílio e Rosângela teve que paralisar-se por cerca de dois meses; que, como Maurílio era que fazia as vendas, da firma, a empresa restou prejudicada, já que Rosângela só cuidava da parte administrativa interna; que Rosângela teve que vender umas cinco máquinas para apurar capital e continuar o negócio; que a confecção não mais existe..."

Assim, não há que se falar em abusos quanto aos valores pretendidos a título de danos materiais e acolhidos pela r. sentença, muito menos da falta de provas, pois da análise dos autos, dos documentos juntados na inicial e da prova testemunhal, os danos materiais restaram devidamente comprovados, tanto com relação às despesas do funeral, quanto as decorrentes da diminuição da renda familiar.

No que pertine aos danos morais e o quantum indenizatório fixado pela r.sentença, tenho que deve ser mantido.

Carlos Alberto Bittar, estudando os critérios para a fixação dos danos morais, ensina que:

"ainda se debate a propósito de critérios de fixação de valor para os danos em causa, uma vez que somente em poucas hipóteses o legislador traça nortes para a respectiva estipulação, como no próprio Código Civil (art. 1.537 e ss.), na lei de imprensa, na lei sobre comunicações, na lei sobre direitos autorais, e assim mesmo para situações específicas nelas indicadas."

Ensina ainda o ilustre professor:

"Tem a doutrina, todavia, bem como algumas leis no exterior, delineado parâmetros para a efetiva determinação do quantum, nos sistemas a que denominaremos abertos, ou seja, que deixam ao juiz a atribuição. Opõem-se-lhes os sistemas tarifados, em que os valores são pré-determinados na lei ou na jurisprudência.

Levam-se, em conta, basicamente, as circunstâncias do caso, a gravidade do dano, a situação do lesante, a condição do lesado, preponderando, a nível de orientação central, a idéia de sancionamento ao lesado (ou

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punitive damages, como no direito norte-americano)." (grifos nossos)

No caso em comento, entendo terem sido observados os parâmetros acima apontados na fixação do quantum indenizatório, eis que a condição pessoal das ofendidas, que alegam não possuir sequer condições de arcar com as custas processuais, não autoriza uma condenação em patamar muito elevado, e mesmo porque a condição do apelante também não favorece, sendo plenamente justificável ainda, diante das circunstâncias do caso, da gravidade do dano, que se mantenha o montante fixado a título de danos morais no patamar de R$ 15.000,00 (quinze mil reais), corrigidos da data da prolação da sentença e juros a contar da citação, para facilitar a liquidação, como vimos procedendo em outros casos. Na verdade, juros e correção monetária são devidos por força da própria condenação. ( art. 293 do CPC).

No que se refere aos danos materiais e a pensão mensal, mantenho na íntegra a r. sentença.

Ademais, o fato de o apelante atualmente não possuir bens materiais, questão não comprovada (art.333, II, CPC), e a alegação de que não tem condições de manter sua própria família não deve interferir na condenação civil ao pagamento da INDENIZAÇÃO pelos danos materiais e morais causados, até porque já serviu de base para o arbitramento do valor dos alimentos, como também entendeu a Douta Procuradora de Justiça, no seu pronunciamento de f. 139/147.

Isto posto, nego provimento ao recurso para manter na íntegra a bem lançada sentença recorrenda, da lavra do MM. Juiz Antonio Augusto Pavel Toledo.

Custas recursais pelo apelante, suspensa sua exigibilidade nos termos do art. 12 da Lei 1060/50.

JUIZ DOMINGOS COELHO

ACF

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Número do processo: 2.0000.00.476433-2/000(1)Relator: LUCIANO PINTO Relator do Acordão: Não informadoData do Julgamento: 03/12/2004Data da Publicação: 30/12/2004 Inteiro Teor:   APELAÇÃO CÍVEL - REPONSABILIDADE CIVIL - HOMICÍDIO - DANO MORAL - JULGAMENTO EXTRA-PETITA - NÃO OCORRÊNCIA - VALOR DA CONDENAÇÃO.

A INDENIZAÇÃO para ressarcir o dano sofrido pelo filho pela morte do pai compreende, sobretudo, a reparação do dano moral, dando-se, a ele, compensação pecuniária pela perda sofrida.

É fato notório, e independe de prova, que o filho que vê a vida do seu pai ceifada de forma violenta é acometido de dor e revolta, sentimentos que não podem ser ignorados e merecem reparação.

Na valoração da verba indenizatória a título de danos morais, deve-se levar em conta a dupla finalidade da reparação, buscando propiciar à vítima uma satisfação, sem que isso represente um enriquecimento sem causa, não se afastando, contudo, do caráter repressivo e pedagógico a ela inerente.

A C Ó R D Ã O

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível Nº 476.433-2 da Comarca de MARIANA, sendo Apelante (s): AMÉRICO GONÇALVES CARNEIRO e Apelado (a) (os) (as): JULBERTO LOPES DA SILVA e Interessado: HERMENEGILDO NORBERTO DA SILVA,

ACORDA, em Turma, a Nona Câmara Cível do Tribunal de Alçada do Estado de Minas Gerais REJEITAR A PRELIMINAR E NEGAR PROVIMENTO AO RECURSO.

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Presidiu o julgamento o Juiz WALTER PINTO DA ROCHA e dele participaram os Juízes LUCIANO PINTO (Relator), MÁRCIA DE PAOLI BALBINO (Revisora) e MARINÉ DA CUNHA (Vogal).

O voto proferido pelo Juiz Relator foi acompanhado, na íntegra, pelos demais componentes da Turma Julgadora.

Belo Horizonte, 03 de dezembro de 2004.

JUIZ LUCIANO PINTO

Relator

V O T O

O SR. JUIZ LUCIANO PINTO:

Ao relatório da sentença acresço que se trata de ação indenizatória ajuizada por Julberto Lopes da Silva, ora apelado, e também pelo espólio de Miguel Lopes da Silva, em face de Américo Gonçalves Carneiro e Hermenegildo Norberto da Silva, em razão da morte de seu pai, Miguel Lopes da Silva, assassinado pelos ora apelante e interessado.

Aduziu que, em razão da morte violenta do pai, a fazenda e os negócios da família ficaram abandonados, o que lhe gerou diversos prejuízos de ordem material.

Via da presente, pleiteia ressarcimento pelos prejuízos de ordem material e o pagamento de INDENIZAÇÃO pelos danos morais.

Vieram as contestações, batendo-se ambos os requeridos pela improcedência do pedido porque, sob suas óticas, não existe relação entre a morte do pai do autor e os prejuízos de ordem material citados na inicial.

Seguiu-se a dilação probatória requerida pelas partes e o julgamento do incidente de impugnação ao pedido de assistência judiciária manejado por Américo Gonçalves Carneiro, mantendo-se o benefício deferido ao autor.

Sobreveio sentença, f. 240/243, que, inicialmente, esclareceu que ambos os requeridos foram julgados pelo Tribunal do Júri, e as condenações pelo crime de assassinato do pai do autor já transitaram em julgado.

Prosseguiu a sentença aludindo, em síntese, que os prejuízos de ordem

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material não foram satisfatoriamente comprovados, razão pela qual negou provimento a tal pedido.

Quanto aos danos morais considerou-os inafastáveis, em razão do vínculo de filiação e afetividade existente entre o requerente e a vítima e a gravidade da ofensa.

Por fim, julgou parcialmente procedente a ação e condenou os requerentes, solidariamente, no pagamento de INDENIZAÇÃO pelos danos morais no importe de R$ 40.000,00, com correção monetária, devida a contar da data do HOMICÍDIO e acrescida de juros de mora de 1,0% ao mês a contar da data da última citação.

Note-se que a sentença excluiu o espólio de Miguel Lopes da Silva, de modo que o vencedor da ação foi somente o autor Julberto Lopes da Silva, pessoa física.

Custas e honorários, de 10% sobre o valor da condenação, pelos requeridos.

Sobrevieram embargos de declaração que foram acolhidos parcialmente, fixou as custas em 50% pelo autor e em 25% por cada requerido e deixou de condenar as partes em honorários em razão da sucumbência recíproca.

Inconformado, manejou o réu Américo Gonçalves Carneiro, recurso de apelação, f. 254/264, insurgindo-se contra a condenação, ao argumento, em síntese, de que não houve pedido de INDENIZAÇÃO na peça inicial, por danos materiais e morais, tratando de sentença extra-petita, e que o valor em que foi estabelecida a INDENIZAÇÃO é exorbitante.

Alegou que houve má-fé do requerente, ao argumento de que ele teria mentido em juízo.

Requereu o reconhecimento da litigância de má-fé, o provimento do recurso e a cassação da condenação por danos morais, e, por fim, a condenação do autor nas custas processuais.

Posteriormente, aditou a peça recursal, f. 273/276, batendo-se pela impossibilidade de compensação dos honorários advocatícios, porque, sob sua ótica, as custas e honorários devem ser suportados tão somente pelo apelado, em razão do reconhecimento da sucumbência integral, que, espera, a ele virá em razão do acatamento pelo Tribunal de suas razões de

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recurso.

Vieram as contra-razões, f. 281/283, pugnando pela manutenção do julgado.

Presentes os pressupostos de admissibilidade, conheço do recurso.

PRELIMINAR - JULGAMENTO EXTRA PETITA

Em que pese à levantada no mérito da apelação, apreciarei em sede de preliminar, a argüição de julgamento extra petita da sentença, haja vista que, em se acatando, dará causa à nulidade absoluta da sentença.

Bate-se o apelante em que a sentença extrapolou os limites da lide ao condená-lo no pagamento de INDENIZAÇÃO por danos morais, ao argumento de que não houve requerimento expresso nesse sentido.

Não assiste razão ao apelante.

Simples leitura da peça de ingresso é suficiente para comprovar que o autor/apelado levantou a questão dos danos morais, e disse

"...que o pedido de INDENIZAÇÃO por morte tem caráter de verdadeira reparação de danos, em face dos prejuízos causados à família da vítima, devendo, ser reparados".

Veja-se à f. 03, na petição inicial, o seguinte:

"chamados agora para responder pela reparação civil, em decorrência do dano moral causado ao peticionário..."

Isso posto, desnecessárias maiores explanações sobre o tema, mostrando-se insubsistente a tese esposada pelo apelante diante do requerimento expresso de INDENIZAÇÃO pelos danos causados pelo apelante ao ora apelado, de modo que rejeito a preliminar.

MÉRITO

Quanto ao mérito, conforme relatado, constata-se ser fato incontroverso nos presentes autos a autoria do crime que vitimou Miguel Lopes da Silva, pai do autor, versando a irresignação recursal tão-somente quanto à existência de dano moral indenizável.

Em tal passo, a sentença reconheceu resultar o mesmo inquestionável 28

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diante da natureza do crime praticado pelo ora apelante, arbitrando o ressarcimento a título de dano moral no valor equivalente a R$40.000,00, acrescidos de juros e correção monetária.

Após análise da frágil argumentação recursal à luz do conjunto probatório coletado, parece-me que a decisão monocrática merece prevalecer.

Cabe aqui a pronta rejeição, antes da análise do quantum debeatur, da argumentação expendida pelo apelante no sentido da inadmissibilidade do ressarcimento do dano moral na hipótese em tela.

A tese por ele defendida encontra-se plenamente superada, como bem reconhece Yussef Said Cahali :

"Seria até mesmo afrontoso aos mais sublimes sentimentos humanos negar-se que a morte de um ente querido, familiar ou companheiro, desencadeia naturalmente uma sensação dolorosa de fácil e objetiva percepção. Por ser de senso comum, a verdade desta assertiva dispensa demonstração: a morte antecipada em razão de ato ilícito de um ser humano de nossas relações afetivas, mesmo nascituro, causa-nos um profundo sentimento de dor, de pesar, de frustração, de ausência, de saudade, de desestímulo, de irresignação.

No estágio atual de nosso direito, com a consagração definitiva, até constitucional, do princípio da reparabilidade do dano moral, não mais se questiona que esses sentimentos feridos pela dor moral comportam ser indenizados; não se trata de ressarcir o prejuízo material representado pela perda de um familiar economicamente proveitoso, mas de reparar a dor com bens de natureza distinta, de caráter compensatório e que, de alguma forma, servem como lenitivo" (Dano Moral, 2 ed., 1999, p. 111).

No mesmo sentido é a firme e reiterada a orientação jurisprudencial:

"Responsabilidade Civil. Dano moral. HOMICÍDIO. Dor pela perda de filho. Presunção de caráter absoluto. Verba devida.

- O art. 1.537 do CC não prevê INDENIZAÇÃO por dano moral, em caso de HOMICÍDIO, pela razão simples de que seu alcance está em disciplinar só a INDENIZAÇÃO por danos materiais. A reparação do dano imaterial, que, sendo dor, não há como nem precisa provar, donde se lhe presume, de modo absoluto (iuris et de iure), a existência, quando se trate da morte de um filho (art. 335 do CPC), essa é objeto doutra norma jurídica, que manda arbitrá-la (art. 1.553 do CC). Exegese diversa seria,

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aliás, contrária à Constituição da República: se, por regra clara, é indenizável o dano moral decorrente da mera violação da intimidade, da vida privada, da honra ou da imagem da pessoa (art. 5º, inc. X), as quais constituem expressões invioláveis da personalidade humana, a fortiori há de sê-lo, à luz da mesma regra, o decorrente da destruição da personalidade em si, enquanto supressão da vida, a qual , posto que alheia, é sempre o valor supremo e o fundamento último da ordem jurídica. Fora deveras absurdo que ordenamento assegurasse a restituição do dano imaterial derivado da afronta a alguns atributos elementares da pessoa humana (chamados direitos da personalidade), mas o excluísse na hipótese de o dano provir da perda da vida mesmo" (TJSP, 2ª Câmara, Apelação, Embargos Infringentes, relator Desembargador César Peluzo, j. 21.03.95, JTJ-Lex 169/253);

"Responsabilidade Civil. Morte de uma filha - Atropelamento. Concessão de INDENIZAÇÃO específica do dano moral, além das pensões correspondentes ao lucro cessante" (TARJ; RT 589/216);

A INDENIZAÇÃO para ressarcir o dano sofrido pelos pais pela morte de filho menor compreende não só o dano econômico, mas, sobretudo, a reparação do dano moral, dando-se, a eles, compensação pecuniária pela perda da vítima que, no futuro, poderia vir a ajudá-los" (TJSP; RT 604/51);

"Responsabilidade civil - Acidente ferroviário - Vítima fatal - INDENIZAÇÃO - Pretensão à inclusão do dano moral - Art. 5º, IV, da CF-88" (RT 155/231);

"A construção jurisprudencial do STF, no sentido de INDENIZAÇÃO pela morte de filhos menores em decorrência de ato ilícito, inspirou-se no princípio da reparação do dano moral, ainda que se considere também o dano econômico potencial" (RT 580/201);

"Responsabilidade civil - Dano moral - Morte de filho menor - Ato ilícito - INDENIZAÇÃO devida" (RT 580/201);

"O Direito Positivo Brasileiro admite a reparabilidade do dano moral, inclusive quando pleiteada pelos pais da vítima morta em acidente, sem ter em conta a idade desta ou a situação econômica financeira daquelas" (RT 641/230).

Assim, torna-se inarredável concluir como cabível a reparação pretendida a título de dano moral.

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Sendo assim, resta apenas o exame do valor ressarcitório fixado - R$40.000,00 - tendo a sentença a quo determinado que tal valor fosse acrescido de correção monetária a contar da ocorrência do evento e juros de mora de 1% ao mês a contar da última citação.

No tocante ao quantum da INDENIZAÇÃO, tenho que não tem o condão de provocar o enriquecimento do ofendido, devendo ser equitativa para que se não converta o sofrimento em forma de obtenção de lucro.

Oportuna, também, a lição de Humberto Theodoro Júnior, para quem:

"... Nunca poderá, o juiz, arbitrar a INDENIZAÇÃO do dano moral, tomando por base tão somente o patrimônio do devedor. Sendo, a dor moral, insuscetível de uma equivalência com qualquer padrão financeiro, há uma universal recomendação, nos ensinamentos dos doutos e nos arestos dos tribunais, no sentido de que 'o montante da INDENIZAÇÃO será fixado eqüitativamente pelo Tribunal' (Código Civil Português, art. 496, inc. 3). Por isso, lembra, R. Limongi França, a advertência segundo a qual 'muito importante é o juiz na matéria, pois a equilibrada fixação do quantum da INDENIZAÇÃO muito depende de sua ponderação e critério' (Reparação do Dano Moral, RT 631/36)" - Dano Moral, Oliveira Mendes, 1ª edição, 1.998, São Paulo, p. 44).

Não deve ser esquecido, porém, que:

"A INDENIZAÇÃO não haverá de ser inexpressiva, uma vez que ela carrega consigo a idéia de dissuadir o autor da ofensa de igual e novo atentado" (TAMG, 7ª Câmara Cível, Apelação Cível n. 260.136-7/Belo Horizonte, relator Juiz Lauro Bracarense).

Assim, na valoração da verba indenizatória a título de danos morais, deve-se levar em conta a dupla finalidade da reparação, buscando um efeito repressivo e pedagógico e propiciar à vítima uma satisfação, sem que isto represente um enriquecimento sem causa.

Na hipótese dos autos, parece-me que a fixação do valor em R$40.000,00 para ressarcimento do dano moral sofrido traduz todas as peculiaridades do caso concreto, sendo forma de compensação ao dano sofrido, sem, contudo, permitir o enriquecimento da parte.

Considere-se, ainda, que restou demonstrado desde a inicial que o réu/apelante detém considerável patrimônio, vejam-se as certidões juntadas às f. 41/45, o que lhe permitirá cumprir, sem sacrifício, com o pagamento

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da INDENIZAÇÃO.

Por fim, quanto à compensação dos honorários, deve ser mantida, eis que a sucumbência foi recíproca.

Veja-se a respeito:

"EMENTA: PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO RECEBIDOS COMO AGRAVO REGIMENTAL. CONTRATO DE ARRENDAMENTO MERCANTIL. CORREÇÃO MONETÁRIA. INPC EM SUBSTITUIÇÃO À VARIAÇÃO CAMBIAL. AUSÊNCIA DE RECURSO. EXCLUSÃO DO DECISUM. SUCUMBÊNCIA RECÍPROCA. HONORÁRIOS. COMPENSAÇÃO. POSSIBILIDADE. CPC, ART. 21.

I. Ausente recurso específico da instituição financeira, prevalece o indexador para a correção monetária eleito de ofício em substituição à variação do dólar.

II. Restando a agravada vencedora em expressão econômica superior, cabe aos agravantes a condenação majoritária no ônus sucumbencial, considerada a reciprocidade e a compensação (art. 21, caput, do CPC)."

Processo AgRg no RESP 540500/RS, Relator(a) Ministro Aldir Passarinho Junior, Órgão Julgador Quarta Turma, Data do Julgamento 10/08/2004, Data da Publicação/Fonte DJ 08.11.2004 p.00239. (Destacamos).

Destarte, nego provimento ao apelo interposto, mantendo a sentença monocrática em todos os seus termos.

JUIZ LUCIANO PINTO

ap/em

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Número do processo: 1.0194.05.047849-5/001(1)Relator: HELOISA COMBAT Relator do Acordão: HELOISA COMBATData do Julgamento: 31/08/2006Data da Publicação: 11/10/2006 Inteiro Teor:   EMENTA: AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E MATERIAIS - HOMICÍDIO - INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS - PENSÃO DECORRENTE DE ATO ILÍCITO E PENSÃO PREVIDENCIÁRIA - ACUMULABILIDADE - CORRESPONDÊNCIA COM OS VALORES QUE O DE CUJUS DESPENDIA EM VIDA - INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS - REDUÇÃO DO QUANTUM FIXADO EM PRIMEIRA INSTÂNCIA - CABIMENTO. Tratando-se de INDENIZAÇÃO decorrente de HOMICÍDIO, cabe ao réu a prestação de alimentos a quem o defunto os devia, no mesmo valor que era despendido em vida. O recebimento de pensão previdenciária não obsta o recebimento de pensão devida em decorrência de ato ilícito, uma vez que esta tem a finalidade de reparar o prejuízo provocado injustamente, ao passo que a primeira decorreu de contribuição pelo de cujus e tem a finalidade de garantir a subsistência dos beneficiários, não havendo falar em bis in idem. Não existindo critério objetivo a dimensionar a fixação do dano moral, o juiz, ao seu prudente arbítrio, após balancear as condições dos envolvidos e as circunstâncias e conseqüências do evento danoso, fará a fixação do quantum, que não deverá ser nem inócuo nem absurdo, atentando-se para a situação financeira de ambas as partes. Os honorários advocatícios devem ser fixados objetivando a compensação do advogado pelo esforço profissional despendido na causa, atendendo-se ao princípio da razoabilidade. Devem ser considerados os requisitos previstos no art. art. 20, § 3º, "a", "b" e "c" do CPC, impositivo de observância do grau de zelo

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do profissional, do lugar da prestação do serviço, da natureza e importância da causa, do trabalho desenvolvido pelo profissional e do tempo exigido para seu serviço.

APELAÇÃO CÍVEL N° 1.0194.05.047849-5/001 - COMARCA DE CORONEL FABRICIANO - APELANTE(S): JOÃO DIAS DE CARVALHO - APTE(S) ADESIV: ALINHY CARLA DE CARVALHO E OUTRO(A)(S) - APELADO(A)(S): OS MESMOS - RELATORA: EXMª. SRª. DESª. HELOISA COMBAT

ACÓRDÃO

Vistos etc., acorda, em Turma, a 14ª CÂMARA CÍVEL do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, incorporando neste o relatório de fls., na conformidade da ata dos julgamentos e das notas taquigráficas, à unanimidade de votos, EM DAR PARCIAL PROVIMENTO AO PRIMEIRO RECURSO E NEGAR PROVIMENTO AO RECURSO ADESIVO.

Belo Horizonte, 31 de agosto de 2006.

DESª. HELOISA COMBAT - Relatora

NOTAS TAQUIGRÁFICAS

A SRª. DESª. HELOISA COMBAT:

VOTO

Conheço dos recursos, presentes os pressupostos de sua admissibilidade.

Trata-se de recurso de apelação interposto por João Dias de Carvalho e de recurso adesivo interposto por Alinhy Carla de Carvalho e outra, contra a r. sentença proferida pelo MM. Juiz de Direito da 2ª Vara Cível da Comarca de Coronel Fabriciano, de f. 184/189, que julgou parcialmente procedente os pedidos formulados na Ação de INDENIZAÇÃO por danos morais e materiais ajuizada por Alinhy Carla de Carvalho e outra contra João Dias de Carvalho.

Alegaram as autoras, na inicial, que o requerido, seu pai, foi condenado criminalmente pelo crime de HOMICÍDIO duplamente qualificado, praticado contra a MÃE das mesmas. Requereram a sua condenação ao pagamento de INDENIZAÇÃO por danos materiais consistente em pensão mensal de três salários mínimos, para cada, até a data em que

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completarem 25 anos de idade; despesas com tratamento psicológico, no valor de R$3.120,00, para cada, bem como INDENIZAÇÃO por danos morais em valor equivalente a 500 salários mínimos, para cada uma.

O pedido foi julgado parcialmente procedente, para condenar o réu ao pagamento de pensão mensal de 1 e 1/2 salários mínimos vigentes à época do pagamento, correspondente a 50% do valor pleiteado na inicial, para cada autora, a partir do evento danoso e até completarem 25 anos de idade, sendo que as parcelas vencidas deverão ser pagas de uma só vez, com juros de 12% ao ano, a contar do fato danoso; ao pagamento da quantia de R$3.120,00 para cada autora, referente às despesas com tratamento psicológico, com correção monetária pelos índices da Corregedoria de Justiça, a partir do ajuizamento da ação e juros de mora de 1% ao mês a partir da citação; ao pagamento de INDENIZAÇÃO por danos morais, no valor de R$70.000,00 para cada autora, com correção monetária pelos índices da Corregedoria de Justiça a partir do ajuizamento da ação e juros de 1% ao mês a partir do evento danoso. Foi determinada a constituição de capital para assegurar o pagamento da INDENIZAÇÃO.

Argumentou o MM. Juiz singular que a obrigação alimentar compete ao pai e à MÃE, conjuntamente, de forma que a pensão requerida na inicial deve ser deferida à razão de 50% e não em sua totalidade. Considerando a sucumbência mínima das autoras, o réu foi condenado ao pagamento das custas processuais e honorários advocatícios de 10% sobre o valor das parcelas vencidas e 12 parcelas vincendas, bem como sobre o valor da INDENIZAÇÃO por danos morais.

Não havendo preliminares a serem apreciadas, passa-se ao exame do mérito.

I - PRIMEIRO RECURSO: JOÃO DIAS DE CARVALHO

Em suas razões recursais (f. 192/198), o réu/primeiro apelante alegou que não procede a alegação de total dependência financeira em relação à MÃE, uma vez que os seus rendimentos, no valor aproximado de R$1.600,00, não seria suficiente para cobrir todas as despesas pessoais das duas filhas, manutenção exclusiva da casa e ainda as próprias despesas; que era ele quem contribuía para o sustento de suas filhas e não sua falecida esposa, não havendo de se imputar a ele pensionamento mensal.

Argumentou que não tem condições de pagar pensão mensal às autoras, uma vez que se encontra preso, estando impedido de exercer seu trabalho e

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auferir o necessário para as despesas, devendo ser considerada, ainda, a ausência de necessidade das apeladas, posto que uma delas se encontra totalmente inserida no mercado de trabalho e a outra está concluindo o curso superior.

Insurgiu-se contra o valor da INDENIZAÇÃO por danos morais, alegando que a ação de INDENIZAÇÃO não pode ser utilizada como instrumento de punição, usado para que as filhas concretizem a vingança contra o pai; que a punição por ato ilícito cabe ao Estado e não às vítimas; que a condenação ao pagamento de INDENIZAÇÃO no valor deferido na r. sentença configura bis in idem, uma vez que impõe ao apelante duas punições pelas mesma conduta; que seu patrimônio é de aproximadamente R$125.000,00, inferior ao valor pedido pelas autoras; que o Direito repugna que qualquer pessoa seja desprovida de todos os bens necessários à sua sobrevivência e dignidade.

Restou incontroversa nos autos a responsabilidade do apelante pelo evento que vitimou a MÃE das autoras, bem como os danos materiais e morais decorrentes da conduta lesiva.

Impende registrar que a sentença penal condenatória proferida pelo Juízo da Vara Criminal da Comarca de Mesquita (f. 48/50) e confirmada parcialmente por acórdão da 2ª Câmara Criminal deste eg. Tribunal de Justiça (f. 54/61), afasta qualquer dúvida quanto à materialidade e autoria do crime debatido nestes autos, aplicando-se a norma contida no art. 1.525, do Código Civil de 1916, vigente à época dos fatos (art. 935 do novo Código), que assim dispõe:

"A responsabilidade civil é independente da criminal; não se poderá, porém, questionar mais sobre a existência do fato, ou quem seja o seu autor, quando estas questões se acharem decididas no crime".

Portanto, superada a questão da culpa do réu, resta analisar a ocorrência do dano material relativo à pensão mensal, bem como a possibilidade de redução do quantum indenizatório, tanto no que pertine ao valor da pensão, quanto no que se refere ao valor da INDENIZAÇÃO por danos morais.

Ressalte-se que o requerido não se insurgiu contra a condenação ao pagamento da quantia de R$3.120,00 para cada autora, relativa às despesas com tratamento psicológico, bem como não discordou da ocorrência do dano moral, tendo havido divergência apenas no que tange ao quantum.

No que concerne à pensão mensal, tenho que não merece reparos a r. 36

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sentença monocrática, quanto a ser devida uma pensão mensal, uma vez que as autoras comprovaram que dependiam de seus pais para o pagamento de suas despesas escolares, transporte, alimentação, vestuário, saúde, lazer.

Tendo em vista a idade das autoras quando da falecimento da MÃE, de 20 e 18 anos de idade, pode-se afirmar que elas dependiam de seus pais para sobreviver.

Todavia, houve conflito quanto às provas produzidas nos autos e as autoras não comprovaram que sua MÃE arcava com a totalidade das despesas domésticas, nem o réu provou que sua falecida esposa com nada contribuía.

O réu, embora não tivesse emprego fixo, trabalhava com comércio de veículos, podendo-se presumir que auferia alguma renda e que contribuía com metade das despesas. A MÃE, por sua vez, percebia remuneração mensal de aproximadamente R$1.600,00 e, por certo, também contribuía com as despesas das filhas.

Portanto, do conjunto probatório, infere-se que o requerido pagava metade das despesas das autoras, e que a outra metade era suportada pela MÃE. Dessa forma, caberá ao réu pagar pensão relativa à parte que cabia à MÃE das autoras.

Com efeito, dispõe o art. 948, do novo Código Civil, que:

"No caso de HOMICÍDIO, a INDENIZAÇÃO consiste, sem excluir outras reparações:

I - no pagamento das despesas com o tratamento da vítima, seu funeral e o luto da família;

II - na prestação de alimentos às pessoas a quem o morto os devia, levando-se em conta a duração provável da vida da vítima."

No que tange ao quantum indenizatório, tenho que não merece reparos a r. sentença.

Constou na inicial que as despesas mensais da autora Lívia são no importe de R$865,98 (f. 06), incluindo o valor da Faculdade, de forma que a pensão fixada na r. sentença, de 1 e 1/2 salário mínimo é razoável e adequada para pagar as despesas da autora, na parte que cabia à MÃE.

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Ressalte-se que o fato de a autora Lívia estar recebendo pensão do INSS não isenta o requerido de pagar os danos materiais ocasionados à vítima, tendo em vista serem de natureza diversa as verbas de caráter alimentar, devida pelo réu à autora em decorrência do falecimento da MÃE, e a de caráter previdenciário.

Data venia, não há falar em bis in idem, tendo em vista que a pensão devida em decorrência de ato ilícito tem a finalidade de reparar o prejuízo provocado injustamente, ao passo que a pensão previdenciária foi deixada pela MÃE da autora, como garantia de sua subsistência, sendo fruto de contribuição previdenciária paga pela de cujus, não podendo o réu se beneficiar da pensão por morte que vem recebendo a autora.

No que tange à primeira autora, Alinhy, pelo que deflui dos autos, ela jamais recebeu pensão por morte, no entanto, está trabalhando e auferindo uma renda mensal de R$450,00, como informou ela em seu depoimento pessoal.

Suas despesas são de aproximadamente R$800,00, podendo-se aproveitar o valor apontado na inicial (f. 06), uma vez que, embora já tenha se formado, está fazendo pós-graduação e o valor das mensalidades de um (graduação) e de outro (pós-graduação) não discrepam muito.

Se as despesas são de aproximadamente R$800,00, pode-se dizer que o valor da pensão seria de aproximadamente três salários mínimos, sendo 1 e 1/2 para o pai e 1 e 1/2 para a MÃE.

Assim, correta a pensão fixada na r. sentença. Não há falar em abatimento da quantia que a autora Alinhy vem recebendo em decorrência da atividade remunerada quem vem exercendo, uma vez que, por certo, mesmo estando trabalhando, o falecimento da MÃE provou uma queda no nível de vida da autora, que ingressou precocemente no mercado de trabalho para garantir sua subsistência.

Data venia, não pode o requerido se beneficiar do fato de a autora estar trabalhando, pois, se a sua MÃE estivesse viva, por certo que o valor que vem recebendo como professora de educação física não estaria sendo utilizado para pagar despesas domésticas, que estariam sendo custeadas pela MÃE, até a data em que a autora completar 25 anos de idade.

Em suma, é irrelevante, para fins de condenação ao pagamento de pensão mensal por responsabilidade civil, o beneficiária tornar-se, com a morte da MÃE, pensionista do INSS, posto que a pensão previdenciária e aquela

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decorrente do ato ilícito são acumuláveis.

Assim, no que tange ao valor da pensão mensal, não merece reparos a r. sentença monocrática.

A parte que cabe ao pai, para garantir a subsistência das autoras, poderá ser pleiteada por elas através de ação de alimentos.

A propósito, os v. acórdãos:

"CIVIL E PROCESSUAL - AÇÃO DE INDENIZAÇÃO - ACIDENTE RODOVIÁRIO - INICIAL QUE ESTIMA SUPERFICIALMENTE O GRAU DA LESÃO INCAPACITANTE NOS PASSAGEIROS DO ÔNIBUS - PERCENTUAL MERAMENTE ENUNCIATIVO - PEDIDO INCERTO - JULGAMENTO EXTRA PETITA - INOCORRÊNCIA - PENSÃO PREVIDENCIÁRIA - COMPENSAÇÃO INCABÍVEL - PISO MÍNIMO - PROVA - REEXAME - IMPOSSIBILIDADE - SÚMULA Nº 7-STJ - IDADE LIMITE - VÍTIMAS SOBREVIVENTES - PAGAMENTO DURANTE A LONGEVIDADE REAL - CORREÇÃO MONETÁRIA - I. Considera-se meramente enunciativo o percentual de incapacidade estimada pelos autores na exordial, dada a impossibilidade, no caso específico dos autos, de conhecerem o grau da invalidez permanente em face das seqüelas advindas do acidente rodoviário que sofreram quando transportados em ônibus da empresa ré. Inocorrência, por tais motivos, de julgamento extra petita pela fixação, pelo acórdão, de percentual mais elevado que o assinalado na inicial. II. O entendimento dominante no STJ é no sentido de que a pensão previdenciária não pode ser abatida daquela advinda da responsabilidade civil por ato ilícito, em face da diversidade da origem. III. Incidência da Súmula nº 7 no tocante ao valor da pensão arbitrada em favor de litisconsortes que, alegadamente, não teriam comprovado a auferição de renda própria, mesmo porque o quantitativo base de um salário mínimo representa, apenas, em tese, o montante mensal indispensável ao custeio da vida de uma pessoa no Brasil. IV. O limite da pensão, no caso de vítimas sobreviventes ao sinistro, é pautado pela longevidade real das mesmas. V. Duplicidade de correção monetária não configurada, em face da automática atualidade do valor da pensão na forma como fixada pelo acórdão estadual. VI. Recurso especial não conhecido." (STJ - RESP 263223 - SP - 4ª T. - Rel. Min. Aldir Passarinho Junior - DJU 25.02.2002).

"EMBARGOS INFRINGENTES - ACIDENTE DE TRÂNSITO - PENSIONAMENTO - Redução do montante ou compensação com a

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pensão previdenciária. Casamento ou união estável. Termo final em relação a viúva. 1. O pensionamento fixado tem natureza indenizatória, decorrente de ato ilícito, ao passo que a pensão previdenciária tem caráter assistencial e deriva da contribuição pecuniária da vítima. Assim, descabe a compensação ou abatimento entre esses valores. 2. Valor do pensionamento adequadamente estabelecido, a vista dos demonstrativos dos últimos salários percebidos pela vítima, com as deduções cabíveis. 3. O casamento da viúva ou estabelecimento de união estável, por seu caráter eventualmente transitório, não extingue o pensionamento, pois que trata de INDENIZAÇÃO decorrente de ilícito. Embargos infringentes desacolhidos." (TJRS - EMI 70002907103 - 6º G.C.Cív. - Rel. Des. Orlando Heemann Júnior - J. 22.03.2002).

No que pertine ao pedido de redução da INDENIZAÇÃO por danos morais, assiste razão ao apelante.

Não existindo critério objetivo a dimensionar a fixação do dano moral, o juiz, ao seu prudente arbítrio, após balancear as condições dos envolvidos e as circunstâncias e conseqüências do evento danoso, fará a fixação do quantum, que não deverá ser nem inócuo nem absurdo.

Na verdade, a fixação deve, ao mesmo tempo, compensar o sofrimento do lesado e servir de punição ao ofensor, não podendo configurar fonte de enriquecimento ou apresentar-se inexpressiva, valendo ressaltar que é importante atentar para o grau de culpa do agente e a situação econômico-financeira das partes.

No caso concreto, a INDENIZAÇÃO não teria o condão de compensar inteiramente o dano moral vivenciado pelas autoras com o assassinato da MÃE pelo próprio pai, uma vez que isso é impossível, bem como porque dinheiro algum trará de volta a presença materna, devendo se objetivar, no caso, a punição do ofensor, com observância da situação econômico-financeira das partes. E, com base nesses parâmetros, tenho que a quantia fixada pelo MM. Juiz singular ficou além do que o recomendam as circunstâncias no caso concreto.

Tenho que, para melhor adequar a INDENIZAÇÃO à repercussão gerada pela conduta do réu, a condenação deve ser reduzida ao montante de R$50.000,00 para cada uma das autoras, tendo em conta que o réu não é pessoa com fartos recursos, com patrimônio de aproximadamente R$125.000,00, como ele próprio informou.

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Ressalte-se que a INDENIZAÇÃO por dano moral não tem por escopo ensejar o enriquecimento da vítima e nem a total incapacidade financeira do culpado.

Com tais considerações, DOU PARCIAL PROVIMENTO ao primeiro apelo, para reduzir a INDENIZAÇÃO por danos morais para R$50.000,00 (cinqüenta mil reais) para cada autora.

O termo final do pagamento da pensão alimentícia fica sendo aquele fixado na r. sentença, qual seja, 25 anos de idade, uma vez que o recurso interposto pelo requerido não abrangeu este aspecto da r. sentença.

II - RECURSO ADESIVO: ALINHY CARLA DE CARVALHO E OUTRA

Em seu recurso de apelação (f. 200/203), as autoras/apelantes adesivas requereram a majoração da INDENIZAÇÃO por danos morais para valor não inferior a 500 salários mínimos e da pensão mensal para 3 salários mínimos para cada. Pugnaram pela majoração dos honorários advocatícios de 10% para 20% sobre o valor da condenação.

Reporto-me aos argumentos contidos na primeira apelação, para decidir que a INDENIZAÇÃO por danos morais não merece alteração para mais, mas, sim, para menos, bem como para decidir que não deve haver redução no valor fixado a título de pensão mensal.

No que tange aos honorários advocatícios, tenho que não merece reparos a r. sentença.

Por ter a r. sentença caráter condenatório, o arbitramento dos honorários de sucumbência devem ocorrer em conformidade com § 3º do art. 20 do CPC, ou seja, deve se limitar ao percentual de 10% e 20% sobre o valor da condenação, atendidas as normas das alíneas "a", "b" e "c" do mesmo dispositivo legal.

A verba honorária deve ser fixada objetivando a compensação do advogado pelo esforço profissional despendido na causa, atendendo-se ao princípio da razoabilidade. Devem ser considerados os requisitos previstos no art. art. 20, § 3º, "a", "b" e "c" do CPC, impositivo de observância do grau de zelo do profissional, do lugar da prestação do serviço, da natureza e importância da causa, do trabalho desenvolvido pelo profissional e do tempo exigido para seu serviço.

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No caso em comento, a questão não é de grande complexidade e não exigiu do Advogado um estudo mais profundo sobre a matéria que suscitou, de forma que, data venia, tenho que é razoável o percentual fixado r. sentença, de 10%.

Nesse sentido, orienta-se a jurisprudência:

"O patrocínio profissional deve encontrar remuneração condizente com a nobre e elevada função exercida pelo advogado, devendo o juiz fixar seus honorários de acordo com a complexidade da causa, o conteúdo do trabalho jurídico apresentado e a maior ou menor atuação no processo. Se a causa é julgada antecipadamente, pela ausência de contestação, não é aconselhável sejam os honorários fixados no seu percentual máximo, vez que reduzido foi o trabalho profissional do advogado na causa" (Ap. cív. 5823, rel. Des. Oto Sponholz, Primeira Câm. Cível do TJPR, JUIS - Jurisprudência Informatizada Saraiva - CdRom nº 15).

Posto isso, NEGO PROVIMENTO ao recurso adesivo.

Em suma, DOU PARCIAL PROVIMENTO ao primeiro apelo, para reduzir a INDENIZAÇÃO por danos morais para R$50.000,00 (cinqüenta mil reais) para cada autora e NEGO PROVIMENTO ao recurso adesivo.

Tendo sido fixado agora o valor da INDENIZAÇÃO por danos morais, a correção monetária deverá incidir a partir da data da publicação desta decisão, uma vez que atualizada a quantia, e os juros de mora de 1% ao mês incidirão a partir da data do evento danoso, conforme preleciona a Súmula 54 do STJ.

Tendo em vista a sucumbência mínima sofrida pelas autoras, as custas processuais e os honorários advocatícios deverão ser suportados pelo réu em sua integralidade, suspensa a exigibilidade da cobrança, uma vez que ele litiga sob o pálio da justiça gratuita.

As custas recursais do primeiro apelo deverão ser rateadas igualmente entre as partes, ficando suspensa a exigibilidade do pagamento para ambas as partes, nos termos do art. 12, da Lei 1060/50.

Custas recursais do apelo adesivo pelas apelantes, suspensa a exigibilidade do pagamento para ambas as partes, nos termos do art. 12, da Lei 1060/50.

Votaram de acordo com o(a) Relator(a) os Desembargador(es): RENATO

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MARTINS JACOB e VALDEZ LEITE MACHADO.

SÚMULA :      DERAM PARCIAL PROVIMENTO AO PRIMEIRO RECURSO E NEGARAM PROVIMENTO AO RECURSO ADESIVO.

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MINAS GERAIS

APELAÇÃO CÍVEL Nº 1.0194.05.047849-5/001

Número do processo: 1.0210.05.028383-2/001(1)Relator: MÁRCIA DE PAOLI BALBINO Relator do Acordão: MÁRCIA DE PAOLI BALBINOData do Julgamento: 31/08/2006Data da Publicação: 28/09/2006 Inteiro Teor:   EMENTA: PROCESSUAL CIVIL - LIQUIDAÇÃO DE SENTENÇA POR ARBITRAMENTO - AÇÃO PENAL CONDENATÓRIA - ACIDENTE DE TRÂNSITO COM VÍTIMA FATAL - HOMICÍDIO CULPOSO - CONDENAÇÃO NO JUÍZO CRIMINAL - DANO MORAL CONFIGURADO - VALOR DA INDENIZAÇÃO- RAZOABILIDADE E PROPORCIONALIDADE- MAJORAÇÃO- CABIMENTO - APELO PRINCIPAL NÃO PROVIDO E APELO ADEVISO PROVIDO.Para a fixação da INDENIZAÇÃO por danos morais, deve-se levar em consideração as particularidades de cada caso, como por exemplo, o valor da vida e a profunda dor de quem perde o convívio afetivo com a MÃE em circunstâncias anormais e violentas. A fixação da INDENIZAÇÃO por danos morais deve se dar com prudente arbítrio, para que não haja enriquecimento à custa do empobrecimento alheio, mas também para que o

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valor não seja irrisório.

APELAÇÃO CÍVEL N° 1.0210.05.028383-2/001 - COMARCA DE PEDRO LEOPOLDO - APELANTE(S): ROBSON MARTINS PEREIRA - APTE(S) ADESIV: MARIA DOS ANJOS PEREIRA E OUTRO(A)(S), JOSÉ GERALDO PEREIRA - APELADO(A)(S): MARIA DOS ANJOS PEREIRA E OUTRO(A)(S), MARIA BEATRIZ DINIZ PINTO, ROBSON MARTINS PEREIRA - RELATORA: EXMª. SRª. DESª. MÁRCIA DE PAOLI BALBINO

ACÓRDÃO

Vistos etc., acorda, em Turma, a 17ª CÂMARA CÍVEL do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, na conformidade da ata dos julgamentos e das notas taquigráficas, à unanimidade de votos, EM NEGAR PROVIMENTO À APELAÇÃO PRINCIPAL E DAR PROVIMENTO À APELAÇÃO ADESIVA.

Belo Horizonte, 31 de agosto de 2006.

DESª. MÁRCIA DE PAOLI BALBINO - Relatora

NOTAS TAQUIGRÁFICAS

A SRª. DESª. MÁRCIA DE PAOLI BALBINO:

VOTO

Conheço do recurso em face da presença de todos os requisitos que o autorizam.

PRELIMINARES

Não há preliminares a serem apreciadas em sede de recurso.

MÉRITO

APELAÇÃO PRINCIPAL DO RÉU

Trata-se de processo autônomo de liquidação de sentença por arbitramento ajuizada por Maria dos Anjos Pereira e outros, na qual os autores pretendem que seja arbitrado o quantum debeatur da sentença penal condenatória em razão de HOMICÍDIO culposo de sua MÃE, praticado pelo requerido, levando-se em consideração o ilícito cometido e a dor

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moral sofrida.

Foi julgado parcialmente procedente o pedido inicial, sendo o requerido condenado a pagar aos autores a INDENIZAÇÃO no valor total de R$ 12.000,00 (doze mil reais). O requerido recorre da referida sentença, pugnando pela redução da verba indenizatória.

Examinando tudo o que dos autos consta e os princípios de direito, tenho que razão não assiste ao recorrente.

Da análise dos autos, verifica-se que o valor da INDENIZAÇÃO a título de danos morais, de R$ 12.000,00 (doze mil reais), foi arbitrado de maneira módica, inclusive desproporcional às circunstâncias do caso.

Demais disso, a referida verba indenizatória fixada pelo MM Juiz a quo, não está em conformidade com os parâmetros de arbitramento deste Tribunal para casos semelhantes, permissa venia, como adiante será demonstrado.

Portanto, não há se falar em redução da verba indenizatória como pretende o apelante.

Isto posto, deve ser negado provimento ao recurso do réu.

APELAÇÃO ADESIVA DOS AUTORES

Os autores apresentaram recurso adesivo, pugnando pela majoração do valor da INDENIZAÇÃO em razão do falecimento de sua MÃE, vítima de atropelamento causado pelo requerido.

Do que emerge dos autos, tenho que razão assiste aos apelantes.

Inicialmente, é de se ressaltar que o dano moral decorrente da MORTE violenta da MÃE é de extenso efeito na vida dos FILHOS, mesmo que maiores e casados.

Com efeito, a INDENIZAÇÃO a ser paga a esse título deve guardar perfeita correspondência com a gravidade objetiva do fato e do seu efeito lesivo, bem assim com as condições sociais e econômicas da vítima e do autor da ofensa. Deve revelar-se ajustado ao princípio da equidade e à orientação pretoriana segundo a qual a eficácia da contrapartida pecuniária está na aptidão para proporcionar tal satisfação em justa medida.

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Neste sentido dispõe Yussef Said Cahali:

"Inexistem parâmetros legais para arbitramento do valor da reparação do dano moral, a sua fixação se faz mediante arbitramento nos termos do art. 1.553 do Código Civil/1916.

À falta de indicação do legislador, os elementos informativos a serem observados nesse arbitramento serão aqueles enunciados a respeito da INDENIZAÇÃO do dano moral no caso de MORTE de pessoa da família, de abalo da credibilidade e da ofensa à honra da pessoa, bem como do dote a ser constituído em favor da mulher agravada em sua honra, e que se aproveitam para os demais casos." (CAHALI, Yussef Said, Dano Moral. 2ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, p.701 e 705.1998)

Neste sentido:

"Na avaliação da INDENIZAÇÃO por danos morais cumpre ao magistrado atentar para as condições da vítima e do ofensor, bem como para o grau do dolo ou culpa presentes na espécie, não devendo descuidar-se da extensão dos prejuízos causados à vítima e da dupla finalidade da condenação, qual seja, a de desestimular o causador do dano a prática futura de atos assemelhados."

(Ap. 382.214-2/Ipatinga, 3ª CCível/TAMG, Rel. Juíza Teresa Cristina da Cunha Peixoto, 10/12/2003).

"Na valoração da verba indenizatória a título de danos morais, deve-se levar em conta a dupla finalidade da reparação, buscando um efeito repressivo e pedagógico, e ainda propiciar à vítima uma satisfação, sem que isto represente um enriquecimento sem causa."

(Ap. 397.367-1/Belo Horizonte, 6ª CCível/TAMG, Rel. Juiz Dárcio Lopardi Mendes, 04/03/2004).

Apesar de o dano moral ser de difícil apuração, dada a sua subjetividade, e embora inexista parâmetro legal para o arbitramento da INDENIZAÇÃO a ser paga a esse título, o Juiz deve atentar, quando da fixação, para a sua extensão, para o comportamento da vítima, para o grau de culpabilidade do ofensor, os efeitos do ato lesivo e para a condição econômica de ambas as partes, de modo que o ofensor se veja punido por sua ação ofensiva e compelido a não repetir o ato, e a vítima se veja compensada pelo prejuízo experimentado, sem, contudo, ultrapassar a medida desta compensação,

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sob pena de provocar enriquecimento sem causa.

Nesse sentido:

"Na fixação do valor do dano moral prevalecerá o prudente arbítrio do julgador, levando-se em conta as circunstâncias do caso, evitando que a condenação se traduza em indevida captação de vantagem, sob pena de se perder o parâmetro para situações de maior relevância e gravidade." (Ap. 365.245-3/Alpinópolis, 1ª CCível/TAMG, Rel. Juiz Gouvêa Rios, 01/10/2002).

In casu, o grau de culpabilidade do ofensor foi elevado, como apurado no processo criminal, tendo sido graves as conseqüências da ação do agente.

Demais disso, como bem asseverado pelo MM Juiz a quo, a vítima em nada contribuiu para o acontecimento do indigitado acidente, sendo certo que as causas e a autoria do referido acidente já foram apreciados de maneira exaustiva no juízo criminal, cuja sentença encontra-se transitada em julgado.

Assim, diante do trânsito em julgado da sentença penal condenatória, resta ao juízo cível fixar a verba indenizatória condizente às circunstâncias do fato, o que não foi observado no presente caso, permissa venia.

É verdade que o apelante não possui vasta renda, e tem despesas e obrigações a cumprir.

É verdade, também, que as partes vivem em condições modestas no meio social.

Todavia, o valor da vida, o mais precioso entre todos os outros, e a profunda dor de quem perde o convívio afetivo com a MÃE em circunstâncias anormais e violenta, não podem ser menosprezados.

No caso, oito são os autores na presente ação, FILHOS da vítima fatalmente abatida pelo veículo do apelante, em razão do atropelamento por este causado.

Neste Tribunal, o parâmetro que tem sido adotado para arbitramento de INDENIZAÇÃO por dano moral por MORTE é de 100 salários mínimos aproximadamente para cada requerente.

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Veja-se como se pronunciou este Tribunal:

'Ação de INDENIZAÇÃO por danos morais e materiais. Acidente de trânsito com vítima fatal. Legitimidade passiva tanto do proprietário do cavalo mecânico, quanto do proprietário da carreta. Culpa do condutor do veículo demonstrada. Dever de indenizar do condutor e dos proprietários dos veículos envolvidos. MORTE de marido e pai dos autores. Dano moral. INDENIZAÇÃO devida. Fixação com prudente arbítrio. Obrigatoriedade de constituição de capital cuja renda assegure o pagamento das prestações vincendas. Sucumbência. Honorários advocatícios.

(...)

3-A MORTE do pai e marido dos autores lhes ensejou dor e sofrimento, fazendo eles jus ao recebimento de INDENIZAÇÃO por danos morais.

4-A fixação do "quantum" indenizatório deve se dar com prudente arbítrio, observadas as circunstâncias do caso, para que não haja enriquecimento à custa do empobrecimento alheio, mas também para que o valor não seja irrisório.

5-Em face da MORTE do pai e marido dos autores, é razoável a fixação da INDENIZAÇÃO por danos morais em montante equivalente a 100 salários mínimos para cada. (...)' (Ap. Cív. 418.326-2/Piumhi, 1ª Ccível/TAMG, Rel. Juiz Pedro Bernardes.d.j. 28/09/2004).

'(...)Pelos danos morais sofridos em decorrência de MORTE, a jurisprudência do TAMG, de uma forma geral, tem fixado uma quantia em torno de 100 salários mínimos, respeitando os parâmetros que devem ser observados para a fixação do valor indenizatório.'

(Ap. Cív. 415.866-9/Pitangui, 5ª CCível/TAMG, Rel Juiz Marine da Cunha, d.j. 11/12/2003).

'(...)Embora tenha a INDENIZAÇÃO o objetivo de reparar o sofrimento pela perda da filha, e se possa reconhecer que nenhum valor é suficiente para tal, não se pode permitir que seja transformada a INDENIZAÇÃO em fator de enriquecimento. O valor de 100 salários mínimos atende ao critério da razoabilidade e não merece ser majorado.'

(Ap. Cív. 342.103-2/Belo Horizonte, 7ª CCível/TAMG, Rel. Juiz Antônio

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Carlos Cruvinel, d.j. 27/09/2001).

O MM Juiz, no caso, para os oito autores fixou o total de apenas R$ 12.000,00 (doze mil reais), que equivale a pouco mais de 4 (quatro) salários mínimos para cada requerente.

Ora, o valor de R$12.000,00 (doze mil reais) foi arbitrado, permissa venia, sem a observância dos princípios da razoabilidade e da proporcionalidade, e dos parâmetros doutrinários e jurisprudenciais que balizam o arbitramento e vinculam o Juiz, não condizendo com as circunstâncias do fato, embora a INDENIZAÇÃO por dano moral não seja para enriquecimento sem causa do ofendido.

Demais disso, para a fixação da verba indenizatória a título de danos morais deve-se levar em consideração as particularidades de cada caso, como por exemplo, o valor da vida e a profunda dor de quem perde o convívio afetivo com a MÃE em circunstâncias anormais e violentas.

É de se ressaltar que para simples negativação de nome, este Tribunal também tem fixado o mínimo de 10 (dez) salários mínimos por requerente.

Então, vê-se certa desproporção entre a gravidade da lesão, no caso dos autos, e o arbitramento sentencial havido, e por essa razão a r. sentença merece reforma, permissa venia.

Na inicial os autores, ora apelantes, não apontaram o valor da INDENIZAÇÃO que pretendiam. Já no presente recurso eles pedem a majoração da INDENIZAÇÃO de R$ 12.000,00 (doze mil) para R$ 30.000,00 (trinta mil), que representa R$ 3.750,00 (três mil e setecentos e cinqüenta reais) ou pouco mais de 10 (dez) salários mínimos para cada dos requerentes.

Assim, tenho que para tal INDENIZAÇÃO, o valor de R$30.000,00 obedece ao parâmetro adotado por este Tribunal em caso de óbito, é proporcional às circunstâncias dos autos, levando-se, ainda, em consideração, a condição financeira do apelado e dos apelantes, valor que atende a razoabilidade e a proporcionalidade que devem informar todo o arbitramento judicial, além de não dar margem à configuração de enriquecimento indevido dos apelantes às custas do apelado.

Portanto, a pretensão dos apelantes adesivo é justa, em razão dos elementos e circunstâncias anteriormente expostas, merecendo provimento o apelo.

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Isto posto, nego provimento à apelação principal e dou provimento à apelação adesiva, para majorar o valor total da INDENIZAÇÃO para R$ 30.000,00 (trinta mil), como pedido, com correção monetária da data da publicação deste acórdão, e juros como fixado na sentença.

Custas e honorários conforme a sentença.

Custas recursais pelo apelante principal.

Votaram de acordo com o(a) Relator(a) os Desembargador(es): LUCAS PEREIRA e EDUARDO MARINÉ DA CUNHA.

SÚMULA :      NEGARAM PROVIMENTO À APELAÇÃO PRINCIPAL E DERAM PROVIMENTO À APELAÇÃO ADESIVA.

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MINAS GERAIS

APELAÇÃO CÍVEL Nº 1.0210.05.028383-2/001

Número do processo: 2.0000.00.488641-5/000(1)Relator: GUILHERME LUCIANO BAETA NUNES Relator do Acordão: Não informadoData do Julgamento: 01/12/2005Data da Publicação: 25/01/2006 Inteiro Teor:   EMENTA: INDENIZAÇÃO - HOMICÍDIO - CULPA CARACTERIZADA - INDENIZAÇÃO DEVIDA - RESPONSABILIDADE PATERNA - DANO MORAL - FIXAÇÃO

É responsável pela reparação dos danos o indivíduo que pratica

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HOMICÍDIO doloso, sendo legitimados para o ressarcimento os pais da vítima.

Sendo o autor do ilícito menor à época do evento danoso, seus pais possuem responsabilidade solidária para a reparação dos danos.

O juiz, ao fixar o valor da INDENIZAÇÃO por danos morais, deve estar atento aos critérios da proporcionalidade e razoabilidade, observando a extensão do dano, o grau da culpabilidade do ofensor e o caráter pedagógico da condenação, evitando estipular valor irrisório, que não desestimule a reiteração, ou propiciar enriquecimento sem causa.

Nos caso de INDENIZAÇÃO por dano moral, a correção monetária e os juros de mora devem incidir a partir da condenação.

A C Ó R D Ã O

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível Nº 2.0000.00.488641-5/000 da Comarca de JUIZ DE FORA, sendo Apelante (s): JOSÉ ROBERTO DE ARAÚJO E OUTROS e Apelado (a) (s): RAIMUNDO CORREA BRÁZ E OUTRO,

ACORDA, em Turma, a Décima Quinta Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais REJEITAR A PRELIMINAR E NEGAR PROVIMENTO.

Presidiu o julgamento o Desembargador JOSÉ AFFONSO DA COSTA CÔRTES e dele participaram os Desembargadores GUILHERME LUCIANO BAETA NUNES (Relator), UNIAS SILVA (Revisor) e D. VIÇOSO RODRIGUES (Vogal).

O voto proferido pelo Desembargador Relator foi acompanhado, na íntegra, pelos demais componentes da Turma Julgadora.

Belo Horizonte, 01 de dezembro de 2005.

DESEMBARGADOR GUILHERME LUCIANO BAETA NUNES

Relator

V O T O

O SR. DESEMBARGADOR GUILHERME LUCIANO BAETA NUNES:

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Os autores, Raimundo Correa Braz e Sônia Gonçalves Braz, propuseram, em desfavor de José Wellison de Araujo - por ato próprio - e José Roberto de Araújo e Maria Lúcia Pereira - por ato do filho menor púbere -, ação de INDENIZAÇÃO por danos materiais e morais em virtude do HOMICÍDIO, perpetrado pelo primeiro dos réus, contra André da Silva Braz, filho dos autores.

Pela sentença de f. 317-323, o ilustre juiz singular julgou procedente o pedido, sendo os réus condenados ao pagamento das despesas de funeral de R$455,00 (quatrocentos e cinqüenta cinco reais), mais 100 (cem) salários mínimos pelo dano moral sofrido, condenando-os, ainda, ao pagamento das custas processuais e honorários advocatícios fixados em 20% sobre o valor da condenação, mas neste caso suspensa a exigibilidade, por força do art. 12 da Lei 1060/50.

Irresignados, os réus interpuseram a apelação de f. 331-339, aduzindo, preliminarmente, inocorrência do trânsito em julgado da sentença, que impôs ao réu José Wellinson de Araújo medida sócio educativa pela morte do filho dos autores, argumento usado na sentença para apurar a culpa no evento danoso. Meritoriamente, argumenta que a vítima André foi a causadora do evento, por ter agredido o réu José Wellison; que os pais do suposto homicida devem ser excluídos da lide por não terem culpa pelo evento danoso. Requerem, alternativamente, caso mantida a condenação, a redução do valor fixado pelo dano moral.

Houve oferecimento de contra-razões às f. 343-349.

Recurso próprio, tempestivo e dispensado de preparo, por serem os réus beneficiários da Justiça Gratuita.

Dele conheço.

Pelo exame dos autos, adianto que não merecem provimento os argumentos aduzidos pelos réus.

A preliminar de erro na sentença, pela inexistência de trânsito em julgado da sentença que impôs ao réu José Wellison medida sócio educativa pela morte do filho dos autores, reconhecendo, assim, a prática do HOMICÍDIO, se confunde com o mérito, por versar sobre a culpa do primeiro réu pelo evento morte, e com ele será analisada.

Quanto à preliminar de ilegitimidade passiva dos pais do réu, ante a

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inexistência de culpa deles no evento danoso, não merece guarida.

Pelo Boletim de Ocorrência de f. 27, verifica-se que o autor dos disparos contava, em 21.03.2000, data da morte, 15 anos de idade, sendo, assim, menor impúbere.

Destarte, conforme art. 1521, I, do CCB/1916, seus pais, primeiro e segundo réus, possuem responsabilidade pelos atos danosos causados pelo menor, que vivia sob o pátrio poder, hoje poder familiar.

Entendo que a legislação aplicável ao caso é a vigente à época de ocorrência do fato, e não a da época de julgamento da ação.

O art. 2035 do CCB/2002 assim dispõe:

"A validade dos negócios e demais atos jurídicos, constituídos antes da entrada em vigor deste Código, obedece ao disposto nas leis anteriores, referidas no art. 2045, mas os seus efeitos, produzidos após vigência deste Código, aos preceitos dele se subordinam (...)".

O ato jurídico morte ocorreu antes da vigência do CCB/2002, e seus efeitos se operam desde a morte da vítima, que foi imediata aos disparos da arma.

Assim, impossível, por expressa afronta a texto literal de lei, a aplicação da maioridade do CCB/2002 ao caso em comento.

De outro monta, não verifico nos autos comprovação de que o primeiro réu seria emancipado à época do evento danoso.

Também não restou demonstrado que o menor tinha economia própria e se mantinha por negócio próprio na data da morte.

Não tendo o menor renda fixa, economia própria ou negócio próprio, não há que se afastar a responsabilidade de seus pais pelas decorrências do evento.

Destarte, rejeito a argüição de ilegitimidade passiva dos pais do primeiro réu.

No recurso, invoca-se ausência de culpa do primeiro réu, que teria agido em legítima defesa a injusta agressão perpetrada pela vítima. Porém, não é esta a conclusão que pode ser extraída do conjunto probatório.

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Incontroverso que a vítima faleceu em decorrência de tiros desferidos pelo primeiro réu.

Verifico que o próprio autor dos disparos afasta as elementares da legítima defesa: ser a ameaça atual e ser o meio usado para repelir a ameaça proporcional à ameaça sofrida.

Confessa ele que, após um mero desentendimento com a vítima, que resultou apenas e tão somente em agressões físicas de natureza leve, vias de fato, saiu do local, buscou a arma e matou a vítima.

Daí se infere que a ameaça já havia cessado, vez que o terceiro réu foi buscar a arma após a agressão, que o meio usado é totalmente desproporcional à alegada agressão sofrida.

Eis seu depoimento na Sétima Delegacia Regional de Segurança Pública de Juiz de Fora:

"Que em dado momento um colega do informante no meio de uma conversa falou alguma coisa que André não gostou, em seguida André e o informante passaram para a agressão física, sendo separado pelos presentes. Que o informante foi para a sua casa, retornando em seguida com um revolver (...) sacando seu revolver e disparando três ou quatro tiros em direção a André (...)" (f. 27).

O douto Juiz da Infância e Juventude da Comarca de Juiz de Fora, em sua sentença, chega a mesma conclusão:

"(...) A excludente de ilicitude, consistente na legítima defesa própria, que o apelante diz lhe socorrer e por isto importar em sua absolvição, não encontra nenhum respaldo na prova existente nos autos.

Contrariamente, restou devidamente provado que o apelante praticou o HOMICÍDIO que vitimou André da Silva Braz impelido por vingança contra este, em razão de o ofendido ter, momentos antes de ser fatalmente alvejado pelo recorrente com os disparos da arma de fogo que provocaram sua morte, revidado a uma agressão injusta e inopinada do apelante contra aquele". (f. 172).

O fato de a sentença, que impôs medida sócio-educativa ao terceiro réu, não ter ainda transitado em julgado, com redobrada vênia, não implica em irresponsabilidade civil, vez que se tratam de decorrências autônomas e independentes do evento danoso, exceto quando no âmbito criminal restar

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comprovada a ausência de autoria ou inexistência do fato, conforme art. 935 do CCB/2002, o que não ocorre no caso dos autos.

Ademais, o único depoimento de testemunha ocular ao HOMICÍDIO, Claudiney José de Oliveira, f. 232-233, também comprova a prática do crime, afastando a legítima defesa, sendo os demais depoimentos de nenhuma valia, vez que os depoentes não viram o fato, apenas tecendo considerações sobre a conduta social da vítima e do autor dos disparos.

Destarte, restou suficientemente demonstrado que referido réu, por torpe vingança, praticou HOMICÍDIO vitimando o filho dos autores.

Logo, presentes estão os elementos ensejadores da obrigação de indenizar, ou seja, a culpa, o evento danoso e o nexo causal entre este e o respectivo resultado.

Verificados tais elementos, impõe-se ao homicida e a seus pais o dever de indenizar, conforme ressai dos artigos 159 e 1521, I, ambos do antigo Código Civil, em vigor ao tempo do fato, dispositivos equivalentes aos art. 186, 932, I, e 948 do atual.

Quanto ao valor dos danos morais, sem razão os apelantes.

A tormentosa questão do arbitramento do valor do dano moral vem desafiando o estabelecimento de critérios menos subjetivos, mas, enquanto não editadas normas específicas, prevalece o prudente arbítrio do julgador.

Rui Stoco, em sua obra Responsabilidade Civil e sua Interpretação Jurisprudencial, Ed. Revista dos Tribunais , 3a. ed., 1997, p. 497, sustenta:

"O eventual dano moral que ainda se possa interferir, isolada ou cumulativamente, há de merecer arbitramento tarifado, atribuindo-se valor fixo e único para compensar a ofensa moral perpetrada".

Daí caber ao Juiz a tarefa de arbitrar o valor da reparação, sem que possibilite lucro fácil para o autor, nem se reduza a reparação a valor ínfimo ou simbólico.

A doutrina e a jurisprudência têm procurado estabelecer parâmetros para o arbitramento do valor da INDENIZAÇÃO, traduzidos, v.g., nas circunstâncias do fato, bem como nas condições do lesante e do ofendido, devendo a condenação corresponder a uma sanção ao autor do fato, para que não volte a cometê-lo. Também há de se levar em consideração que o

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valor da INDENIZAÇÃO não deve ser excessivo a ponto de constituir fonte de enriquecimento do ofendido, nem apresentar-se irrisório, posto que, segundo observa Maria Helena Diniz:

"Na reparação do dano moral, o juiz determina, por equidade, levando em conta as circunstâncias de cada caso, o 'quantum' da INDENIZAÇÃO devida, que deverá corresponder à lesão e não ser equivalente, por ser impossível, tal equivalência. A reparação pecuniária do dano moral é um misto de pena e satisfação compensatória. Não se pode negar sua função: penal, constituindo uma sanção imposta ao ofensor; e compensatória. sendo uma satisfação que atenue a ofensa causada, proporcionando uma vantagem ao ofendido, que poderá, com a soma de dinheiro recebida, procurar atender a necessidades materiais ou ideais que repute convenientes, diminuindo, assim, seu sofrimento" ("A Responsabilidade Civil por Dano Moral", in Revista Literária de Direito, ano II, n. 9, jan./fev/ de 1996, p. 9).

Ao arbitrar a INDENIZAÇÃO, o julgador deve levar em conta o grau de constrangimento e as conseqüências advindas para a vítima, bem como o caráter preventivo para coibir novas ocorrências, mas evitando possibilitar lucro fácil ou reduzir a reparação a valor irrisório.

Nesse sentido, a jurisprudência do Colendo STJ:

"DIREITO CIVIL. AGRAVO NO AGRAVO DE INSTRUMENTO. DANO MORAL E DANO À IMAGEM. REEXAME DE PROVAS. CRITÉRIO PARA FIXAÇÃO DO VALOR DA INDENIZAÇÃO. A pretensão de simples reexame de prova não enseja Recurso Especial. Para a fixação do valor da INDENIZAÇÃO por danos morais deve-se considerar as condições pessoais e econômicas das partes e as peculiaridades de cada caso, de forma a não haver o enriquecimento indevido do ofendido e que sirva para desestimular o ofensor a repetir o ato ilícito." (STJ, 3ª T., AGA 425317/RS, Relª. Minª. Nancy Andrighi, j. 24/06/2002).

Pacificado, portanto, que, além da reparação, a condenação por danos morais tem a função intimidatória e pedagógica, visando a que o infrator se precavenha para que o fato ilícito não seja repetido.

Destarte, entendo que a fixação do dano moral no valor de 100 (cem) salários mínimos está de acordo com as circunstâncias do caso e leva em consideração o grande grau de culpa do terceiro réu no evento danoso,

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conforme art. 944 do CCB/02, e o caráter pedagógico da penalidade.

Contudo, pela impossibilidade legal de se arbitrar a INDENIZAÇÃO em salários mínimos, converto a INDENIZAÇÃO para o valor certo de R$30.000,00 (trinta mil reais), ao qual deverão ser acrescidos juros de 1% (um por cento) ao mês e correção monetária, esta segundo os índices divulgados pela Corregedoria de Justiça, ambos a partir da data de publicação do acórdão, até o efetivo pagamento, vez que aquele valor já se encontra atualizado até o momento em que houve a conversão dos salários.

Esse é o entendimento do C. STJ:

"DANO MORAL - CORREÇÃO MONETÁRIA - TERMO INICIAL - PRECEDENTES DA CORTE. 1 - Na forma de precedente da corte, a correção monetária em casos de responsabilidade civil, tem o seu termo inicial na data do evento danoso. Todavia, em se tratando de dano moral, o termo inicial é, logicamente, a data em que o valor for fixado. 2 - Recurso especial conhecido e provido". (STJ - RESP 204677/ES - 4ª T - Rel. Min. Carlos Alberto Meneses Direito - j. 6.12.1999, DJU d. 28.02.2000, pág. 77).

Ante o exposto, REJEITO A PRELIMINAR E NEGO PROVIMENTO AO RECURSO, APENAS CONVERTENDO O VALOR DA INDENIZAÇÃO, conforme acima definido.

Custas recursais a cargo dos apelantes, mas suspensa a exigência, nos termos do art. 12 da Lei 1060/50.

sol/mc

Número do processo: 1.0089.06.001016-5/001(1)Relator: TARCISIO MARTINS COSTA Relator do Acordão: TARCISIO MARTINS COSTA

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Data do Julgamento: 02/10/2007Data da Publicação: 16/10/2007 Inteiro Teor:   EMENTA: SENTENÇA PENAL CONDENATÓRIA TRANSITADA EM JULGADO - OBRIGAÇÃO DE INDENIZAR OS DANOS CAUSADOS - LIQUIDAÇÃO - TÍTULO EXECUTIVO JUDICIAL - MORTE DE FILHO MENOR - PENSIONAMENTO - SÚMULA 491 DO STJ - JUROS COMPOSTOS - INCIDÊNCIA - ART. 1544 DO CC/ 1916. A sentença penal condenatória transitada em julgado, além de 'tornar certa a obrigação de indenizar o dano causado pelo crime' (CP, art. 91, I), constitui título executivo judicial (CPC, art. 584, II), podendo 'promover-lhe a execução, no juízo cível, para efeito de reparação do dano, o ofendido, seu representante legal ou seus herdeiros' (CPP, art. 63). Em tema de INDENIZAÇÃO por morte de filho menor, a jurisprudência dominante, inclusive do STJ, tem fixado o pensionamento mensal em 2/3 do salário mínimo, até a data em que a vítima completaria 25 anos, reduzindo-o a 1/3, a partir daí, diante da presunção de provável matrimônio e constituição de família própria, limitada à sobrevida dos autores ou até quando a vítima completaria 65 anos de idade. É cabível a incidência de juros compostos sobre o valor indenizatório, se o réu cometeu delito penal, nos termos do art. 1544 do Código Civil de 1916.

APELAÇÃO CÍVEL N° 1.0089.06.001016-5/001 - COMARCA DE BRASÓPOLIS - APELANTE(S): JOÃO BOSCO DE SOUZA E SUA MULHER, PRIMEIROS, JOSÉ CLARET FARIA SEGUNDO(A)(S) - RELATOR: EXMO. SR. DES. TARCISIO MARTINS COSTA

ACÓRDÃO

Vistos etc., acorda, em Turma, a 9ª CÂMARA CÍVEL do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, na conformidade da ata dos julgamentos e das notas taquigráficas, à unanimidade de votos, EM DAR PARCIAL PROVIMENTO AO PRIMEIRO RECURSO E NEGAR PROVIMENTO AO SEGUNDO.

Belo Horizonte, 02 de outubro de 2007.

DES. TARCISIO MARTINS COSTA - Relator

NOTAS TAQUIGRÁFICAS

O SR. DES. TARCISIO MARTINS COSTA:

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VOTO

Trata-se de duas apelações interpostas contra a sentença de f. 135-143, proferida pelo MM. Juiz da Vara Única da comarca de Brasópolis, que, nos autos da ação de liquidação de sentença movida por João Bosco de Souza e outra, em face de José Claret Faria, julgou parcialmente procedentes os pedidos, condenando o réu ao pagamento da importância de R$ 686,00 (seiscentos e oitenta e seis reais), a título de dano material, e R$ 42.000,00 (quarenta e dois mil reais), por danos morais, incidindo sobre tais verbas correção monetária e juros moratórios, a partir do evento danoso.

Consubstanciado o seu inconformismo nas razões recursais de f. 146-157, buscam o autores, aqui primeiro apelantes, a reforma do r. decisum, argumentando, em suma, que a condenação do apelado, transitada em julgado no âmbito penal, pelo HOMICÍDIO do seu filho, Tadeu Oséias de Souza, que à época dos fatos contava com dezessete anos, lhe assegura o direito ao recebimento de pensão mensal, no valor de R$ 260,00, consoante o disposto no art. 1537 do antigo Código Civil, até que a vítima completasse 25 anos, idade presumida do seu casamento, reduzindo-se à metade a partir de então, quando completaria 65 anos, levando-se em conta a estimativa de vida do brasileiro.

Neste ponto, afirmam que o STF firmou entendimento no sentido de que a morte de filho menor, ainda que não exercesse atividade remunerada, frustra, para o núcleo familiar, a expectativa de possibilidade de ajuda que a vítima pudesse vir a prestar, mormente em se tratando de famílias de baixa renda (Súmula 491 do STF).

Esclarecem que a pensão deve ser calculada com base no salário mínimo vigente ao tempo da sentença e ajustar-se às variações posteriores, consoante dispõe a Súmula 490 do STF.

Requerem, ainda, a incidência de juros compostos sobre as verbas indenizatórias, nos termos do art. 1544 do Código Civil de 1916, além da constituição de capital, a fim de que se assegure o pagamento da pensão mensal, nos moldes do art. 475-Q do CPC e da Súmula 562 do STF.

Por fim, pleiteiam a majoração da INDENIZAÇÃO, a título de danos morais, à consideração de que a morte do seu filho lhes acarretou dor e padecimentos psíquicos ainda mais penosos, por se tratar de um filho exemplar, que trabalhava como ajudante de pedreiro, auxiliava o pai na lavoura e, ainda , estudava durante a noite.

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Regularmente intimado, o apelado não ofertou contra-razões ao primeiro recurso (f. 188).

Irresignado, recorre também o réu (f. 165-173), ora segundo apelante, sustentando, em síntese, que a sua condenação no âmbito penal não implica, necessariamente, no reconhecimento da responsabilidade na esfera cível, assim como a absolvição na área criminal não afasta a sua eventual obrigação de indenizar no cível, tratando-se, portanto, de esferas independentes.

Assim, afirma que a sua culpa, pela morte do filho dos apelados não restou comprovada, mas, ao contrário, o conjunto probatório demonstra que o acidente se deu por culpa exclusiva da vítima que, mesmo depois de advertida, manteve-se em local perigoso, razão pela qual não pode prevalecer qualquer dever indenizatório.

Contraminuta, em óbvia infirmação, pugnando pelo desprovimento do segundo recurso (f. 179-187).

Presentes os pressupostos que regem sua admissibilidade, conheço dos recursos.

Cumpre, inicialmente, esclarecer que ambos os apelos serão analisados conjuntamente, em virtude de sua estreita relação, e a necessidade de um estudo uniforme, visando o melhor deslinde da controvérsia.

Versam os autos sobre liquidação por artigos de sentença penal condenatória transitada em julgado, buscando os autores se verem ressarcidos dos danos advindos da morte de seu filho, Tadeu Oséias de Souza, que foi vítima de HOMICÍDIO culposo praticado pelo réu.

O digno Juiz de primeiro grau julgou parcialmente procedentes os pedidos, condenando o réu ao pagamento da importância de R$ 686,00 (seiscentos e oitenta e seis reais), por dano material, e R$ 42.000,00 (quarenta e dois mil reais), a título de danos morais, incidindo sobre tais quantias correção monetária e juros moratórios, a partir do evento danoso.

Em exame, observa-se que os fatos relatados foram apurados na esfera criminal, na qual proferiu-se sentença, reconhecendo a culpa do réu, aqui segundo apelante, condenando-o pelo crime de HOMICÍDIO culposo de que foi vítima o filho dos autores, tipificado no artigo 121, § 3º do Código Penal (f. 39-43), improvido o recurso de apelação (f. 44-56).

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Estatui o artigo 1525, do Código Civil de 1916, diploma vigente à época dos fatos, que:

"A responsabilidade civil é independente da criminal; não se poderá, porém, questionar mais sobre a existência do fato, ou quem seja o seu autor, quando estas questões se acharem decididas no crime".

A sua vez, o Código de Processo Penal, ao tratar da Ação Civil, no Título IV, em seus artigo 63, preceitua, litteris:

"Art. 63. Transitada em julgado a sentença condenatória, poderão promover-lhe a execução, no juízo cível, para efeito de reparação do dano, o ofendido, seu representante legal ou seus herdeiros".

A sua vez, o artigo 91, I, do Código Penal, considera, como um dos efeitos da condenação criminal, "tornar certa a obrigação de indenizar o dano causado pelo crime".

E, finalmente, o Digesto Processual Civil, em seu art. 584, do inciso II, estabelece que são títulos judiciais, entre outros, "a sentença penal condenatória transitada em julgado".

Sendo assim, na hipótese de HOMICÍDIO culposo, com sentença penal condenatória transitada em julgado, o réu fica obrigado a indenizar os pais da vítima os danos materiais e morais, bem como pagamento de pensão mensal.

No tema, disserta SÍLVIO SALVO VENOSA:

"A condenação criminal com o trânsito em julgado estabelece o dever de indenizar a vítima. O Código de Processo Civil de 1939 nada dispunha sobre a matéria, mas a sentença penal condenatória podia ser executada por força do artigo 63, do CPP. O artigo 584, II, do estatuto processual vigente, reforçou esse entendimento, declarando expressamente que a sentença penal condenatória é título executivo judicial. Como se trata de título ilíquido, o quantum debeatur deve ser apurado no juízo de execução, por arbitramento ou por artigos, quando há necessidade de provar fato novo (artigo 608, do CPC). É o que ordinariamente ocorre na liquidação de danos decorrente de ato ilícito." (Direito Civil - Responsabilidade Civil, Ed. Atlas, 2ª ed, vol. 4, 2002, pág. 126).

NELSON NERY JÚNIOR e ROSA MARIA DE ANDRADE NERY, a sua

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vez, assinalam que:

"Somente quando tiver transitado em julgado é que a sentença penal condenatória se constitui como título executivo judicial. Mesmo assim, há de ser líquida (CPC 586 e 618 I). Faltando à sentença penal o requisito da liquidez, terá de, primeiramente, ser liquidada por meio de ação de liquidação de sentença, processada e julgada no juízo cível. Com a sentença de liquidação integrando a sentença penal condenatória, abre-se oportunidade para que ela aparelhe processo de execução, servindo-lhe de fundamento". (Código de Processo Civil Comentado e Legislação Processual Civil Extravagante em Vigor, São Paulo: Ed. RT, 3ª ed., p. 951).

Da mesma forma, TEORI ALBINO ZAVASCHI doutrina que:

"A sentença penal condenatória transitada em julgado, além do efeito principal de sujeitar o réu a determinada pena, produz efeitos secundários extrapenais, nomeadamente o de "tornar certa a obrigação de indenizar o dano causado pelo crime" (CP, art. 91, I). É efeito automático, que se opera independentemente de menção expressa na sentença e que subsiste ainda que, posteriormente ao trânsito em julgado da condenação, ocorra a extinção da pretensão penal executória. É pormenor saber se, relativamente a esse efeito civil, a sentença penal tem natureza condenatória ou simplesmente declaratória. O que importa é saber se em seu conteúdo estão presentes os elementos indispensáveis de um título executivo. Ora "tornar certa a obrigação de indenizar o dano", não constitui por si só, definição integral de norma jurídica individualizada. Para que a execução seja viável é necessária a identificação de mais um complemento: o valor do dano, que deve ser apurado em ação de liquidação (CPC, art. 603), pelo procedimento de liquidação por artigos (art. 608)". (Comentários ao Código de Processo Civil, vol. 8, Do Processo de Execução, arts., 566 a 645, p. 193).

Confira-se o trato pretoriano:

"Ao condenado no processo criminal não é dado opor-se quando no juízo cível. Proferido o veredicto condenatório, já a Justiça Civil não poderá mais examinar o problema ligado à sua culpabilidade" (RT 520/140)

"Um dos efeitos da condenação é tornar certa a obrigação de indenizar. A responsabilidade civil é independente da criminal; não se poderá, porém, questionar mais sobre a existência do fato quando esta já se acha decidida

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no crime" (RT 513/205).

"Reconhecida na esfera criminal a culpa do preposto causador do acidente por decisão transitada em julgado, vedado é o reexame dessa culpabilidade no juízo cível, como resulta da norma do art. 1.525 do CC" - RT -580/153."

Tem, ainda, inteira aplicação à espécie o artigo 1537 do Código Civil de 1916:

"Art. 1537. A INDENIZAÇÃO, no caso de HOMICÍDIO, consiste:

I - no pagamento das despesas com o tratamento da vítima, seu funeral e o luto da família;

II - na prestação de alimentos às pessoa a quem o defunto devia"

A obrigação de indenizar, em se tratando de HOMICÍDIO, além dos benefícios assegurados no dispositivo em evidência, se estende à INDENIZAÇÃO pelo dano moral, na forma do art. 5º, inciso V da Constituição Federal, ressaindo este direito do comprovado sofrimento acarretado pela perda irreparável do ente querido.

No caso em exame, as conseqüências causadas aos apelados são de fácil percepção, dispensando qualquer prova a respeito.

Estabelecido, assim, o dever indenizatório do requerido, aqui segundo apelante, passo à análise das parcelas devidas.

Pretendem os primeiros apelantes a reforma da r. decisão primeva no que se refere ao pensionamento mensal, ao argumento de que o mesmo é cabível, mesmo que a vítima não exercesse trabalho remunerado à época de seu falecimento, a teor do disposto na Súmula 491 do STF.

Penso que cobertos de razão, posto que, para a concessão de pensionamento em caso de morte do filho menor, não se exige a prova de que ele exercia atividade remunerada ou prestava ajuda aos pais, sendo tal entendimento consolidado na jurisprudência, conforme se extrai dos arestos abaixo transcritos, como tantos outros.

Tal pensionamento se assenta no dever que têm os filhos de prestar auxílio aos pais, mormente em se tratando os autores de pessoas de origem humilde, presumindo-se que o menor viria contribuir para as despesas de sustento e manutenção de seus genitores, como acontece na maioria dos

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lares mais desfavorecidos deste País.

Quanto ao período devido, a jurisprudência do Colendo Superior Tribunal de Justiça, de há muito, se firmou no sentido de que a pensão deverá ser paga até quando a vítima completaria 65 (sessenta e cinco) anos, devendo o montante ser reduzido a partir dos 25 (vinte e cinco) anos, por se presumir que parte da renda por ela auferida seria destinada à sua própria manutenção e da família que viria constituir.

"CIVIL E PROCESSUAL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. MORTE DE MENOR. PENSIONAMENTO DEVIDO. PARÂMETROS. ACÓRDÃO ESTADUAL HARMÔNICO COM O ENTENDIMENTO DO STJ. SÚMULA N. 83-STJ. INCIDÊNCIA.

I - Em se tratando de família de baixa renda, é de se presumir que o menor falecido viria a contribuir ao sustento do grupo, pelo que devida a pensão, a partir da idade constitucional, no equivalente a 2/3 do salário mínimo, até a idade de 25 anos da vítima, reduzida para 1/3 desde então, a findar quando a vítima alcançasse 65 anos de longevidade presumida. II. Incidência, na espécie, da Súmula n. 83 do STJ. III. Agravo improvido." (STJ, AGA nº 498.372/SP, rel. Min. Aldir Passarinho Júnior, j. em 16.9.2003, DJ 20.10.2003, p. 280).

"RESPONSABILIDADE CIVIL. ACIDENTE DE TRABALHO. PENSÃO EM FAVOR DA MÃE. DEPENDÊNCIA ECONÔMICA. ANÁLISE PROBATÓRIA. SÚMULA 07/STJ. FIXAÇÃO EM DOIS TERÇOS. VINTE E CINCO ANOS. REDUÇÃO PARA CINQÜENTA POR CENTO. (...) 4. Segundo entendimento da Segunda Seção desta Corte, o pensionamento em favor dos genitores decorrente do falecimento de filho deve ser de dois terços da renda auferida pela vítima já que, por presunção, esta consumiria pelo menos um terço com o próprio sustento. 5. Está pacificado na jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça que, após o momento em que a vítima completaria 25 anos, o pensionamento fixado em favor de seus pais deve ser reduzido à metade de sua renda, diante da presunção de provável matrimônio e constituição de família própria, sendo devido até a data em que completaria 65 anos. (...)". (STJ, REsp 435157 / MG; 4ª T, Rel. Ministro Fernando Gonçalves, j. 10/6/2003, DJ 18/8/2003, p. 210).

E desta Eg. Corte de Justiça:

"INDENIZAÇÃO - ACIDENTE DE TRÂNSITO - CULPA - VÍTIMA

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MENOR - PENSÃO - DANO MORAL - FIXAÇÃO.

- Em se tratando de vítima menor, a reiterada jurisprudência tem fixado a pensão indenizatória em 2/3 do salário até a data em que viria a completar 25 anos, e, a partir daí, reduzindo-a para 1/3, até quando completaria 65 anos de idade, como conseqüência de seus possíveis gastos próprios e com a família que viesse a constituir." Ap nº 1.0194.04.036544-8/001, 15ª CC, Re. Guilherme Luciano Baeta Nunes, j. 07.12.2005).

Responderá, portanto, o réu/apelado pelo pagamento de pensionamento mensal aos autores/apelantes, no valor de 2/3 de um salário mínimo, até a data em que a vítima completaria 25 anos, idade que se presume a constituição de uma nova família e diminui o auxílio aos pais, devendo, em conseqüência, ser reduzida para 1/3, a partir daí.

O pagamento retroage à data da ocorrência do evento danoso, quitadas as prestações vencidas em uma única parcela, corrigida pela tabela divulgada da Corregedoria-Geral de Justiça do Estado de Minas Gerais, acrescida de juros moratório de 1%, ao mês, contados do evento danoso (Súmula 54 do STJ).

Quanto às prestações vincendas, conforme pretendem os apelantes, serão garantidas pela constituição do capital necessário, nos termos do art. 602, § 1º, do CPC.

A matéria, inclusive, já foi objeto da súmula 313, editada pelo STJ e publicada no D.U. em 17.06.2005, com o seguinte enunciado:

"Em ação de INDENIZAÇÃO, procedente o pedido, é necessária a constituição de capital ou caução fidejussória para garantia de pagamento da pensão, independentemente da situação financeira do demandado".

É certo que a constituição de capital visa garantir o cumprimento da obrigação, mormente quando se trata de pensão alimentícia.

Sendo assim, toda vez que a INDENIZAÇÃO por ato ilícito incluir prestação de alimentos, impõe-se, nesta parte, a condenação do devedor a constituir um capital, cuja renda possa assegurar o seu cabal cumprimento.

No tocante ao pedido indenizatório, a título de danos morais, nenhuma dúvida pode ser oposta ao ressarcimento, em razão da imensa dor sofrida com a perda do ente querido por seus pais.

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Sem dúvida que o patrimônio moral (mental, emocional, sentimental) dos apelados restou gravemente atingido, com a perda prematura do filho, de apenas dezessete anos de idade, e uma compensação específica se impõe para mitigar esse desequilíbrio.

Entretanto, entendo que desmerece acolhimento a insurgência dos primeiros apelantes, quanto a sua majoração, porquanto arbitrado em R$ 42.000,00 (quarenta e dois mil reais), cabendo, aqui, registrar que não houve postulação de sua redução no recurso interposto pelo segundo apelante, devendo, assim, ser mantido o quantum estabelecido na primeira instância.

Por fim, quanto almejada incidência de juros compostos, penso que com razão os primeiros apelantes, uma vez que expressamente previstos no art. 1544 do Código Civil/1916, inserto no Título IV, Capítulo II, que trata da liquidação das obrigações resultantes de atos ilícitos, restando indiscutível que o crime foi praticado pelo réu.

Tal entendimento se encontra cristalizado na Súmula 186 do colendo STJ, ao dispor que:

"Nas indenizações por ato ilícito, os juros compostos somente são devidos por aquele que praticou o crime".

A respeito, o trato pretoriano:

RESPONSABILIDADE CIVIL - Morte de filho. Menor com seis anos de idade. Pensionamento vitalício aos pais. Ausência de prova da necessidade. Recurso improvido. JUROS COMPOSTOS - Responsabilidade civil. ex delito. Devidos somente por aquele que praticou o crime. Inteligência da Súmula nº 186 do STJ. Recurso improvido" (1º TACSP - AP 977.165-3 - (41642) - Monte Alto - 7ª C.Fér. - Rel. Juiz Sebastião Alves Junqueira - J. 31.7.2001).

Com tais considerações, NEGA-SE PROVIMENTO ao segundo recurso e DÁ-SE PARCIAL PROVIMENTO ao primeiro, para condenar o requerido:

1) Ao pagamento de INDENIZAÇÃO aos autores, consistente em pensão mensal equivalente a 2/3 (dois terços), do salário mínimo à época do efetivo pagamento, inclusive o 13º salário, desde a data do evento danoso até aquela em que a vítima completaria 25 (vinte e cinco) anos de idade, a partir de quando se reduzirá o percentual para 1/3 (um terço), do mínimo,

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limitada à sobrevida dos autores ou até quando a vítima completaria 65 (sessenta e cinco) anos de idade;

2) As parcelas vencidas serão pagas de uma só vez, atualizadas e acrescidas de juros de mora de 0,5%, ao mês, desde o evento danoso, consoante o disposto nas Súmulas 43 e 54 do STJ, estes majorados para 1%, a contar de 11.01.2003, nos termos do art. 406 do NCCB c/c art. 161, parágrafo 1º, do Código Tributário Nacional, incidindo juros composto, na forma do art. 1544 do Código Civil de 1016;

3) As prestações vincendas serão garantidas pela constituição do capital necessário, de acordo com o art. 602, § 1º, do CPC.

Mantém-se, quanto ao mais, o r. trabalho decisório de primeiro grau, por seus e por estes fundamentos.

Tendo havido alteração no decaimento das partes e, em face do decaimento mínimo dos autores (CPC, art. 21, parágrafo único), o réu responderá pela totalidade das custas processuais, além dos honorários advocatícios do procurador dos requerentes, que arbitro em 10% sobre o valor da condenação, considerando-se a soma das importâncias vencidas, a título de danos morais e materiais, e da importância correspondente a 12 (doze) parcelas vincendas do pensionamento.

Custas do primeiro recurso, à razão de 30% (trinta por cento), pelos apelantes, e os restantes 70% (setenta por cento), pelo apelado, suspensa a exigibilidade quanto àqueles, nos termos do art. 12 da Lei 1060/50. Custas do segundo recurso, pelo apelante.

Votaram de acordo com o(a) Relator(a) os Desembargador(es): JOSÉ ANTÔNIO BRAGA e OSMANDO ALMEIDA.

SÚMULA :      DERAM PARCIAL PROVIMENTO AO PRIMEIRO RECURSO E NEGARAM PROVIMENTO AO SEGUNDO.

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MINAS GERAIS

APELAÇÃO CÍVEL Nº 1.0089.06.001016-5/001

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Número do processo: 2.0000.00.394389-5/000(1)Relator: BEATRIZ PINHEIRO CAIRES Relator do Acordão: Não informadoData do Julgamento: 15/05/2003Data da Publicação: 28/05/2003 Inteiro Teor:   APELAÇÃO CÍVEL N. 394.389-5 - MANTENA - 15.5.2003

EMENTA - APELAÇÃO CÍVEL - REPONSABILIDADE CIVIL - HOMICÍDIO (ART. 1537 DO CC) - DANO MORAL. QUANTUM.

- A INDENIZAÇÃO para ressarcir o dano sofrido pelos pais pela morte de filho compreende não só o dano econômico, mas, sobretudo, a reparação do dano moral, dando-se, a eles, compensação pecuniária pela perda sofrida.

- É fato notório, e independe de prova, que a mãe que vê a vida de sua filha ceifada de forma covarde e violenta é acometida de dor e revolta, sentimentos que não podem ser ignorados e merecem reparação.

- Na valoração da verba indenizatória a título de danos morais, deve-se levar em conta a dupla finalidade da reparação, buscando um efeito repressivo e pedagógico e propiciar à vítima uma satisfação, sem que isto represente um enriquecimento sem causa.

- A fixação do valor equivalente a cem salários mínimos para ressarcimento do dano moral sofrido pela mãe, em virtude do assassinato de sua filha é, ao mesmo tempo, meio de punição e forma de compensação ao dano sofrido, sem, contudo, permitir o enriquecimento da parte, não discrepando tal valor do quantum usualmente fixado por esta Câmara em julgamento de hipóteses semelhantes.

A C Ó R D Ã O

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Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível n. 394.389-5, da Comarca de MANTENA, sendo Apelante (s): OLGA CEZAR DIAS E OUTROS e Apelado (a) (os) (as): OLDECINA MARIA DE FARIA,

ACORDA, em Turma, a Sexta Câmara Civil do Tribunal de Alçada do Estado de Minas Gerais, REJEITAR PRELIMINAR E NEGAR PROVIMENTO.

Presidiu o julgamento o Juiz BELIZÁRIO DE LACERDA (Vogal) e dele participaram os Juízes BEATRIZ PINHEIRO CAIRES (Relatora) e DÍDIMO INOCÊNCIO DE PAULA (Revisor).

O voto proferido pela Juíza Relatora foi acompanhado na íntegra pelos demais componentes da Turma Julgadora.

Belo Horizonte, 15 de maio de 2003.

JUÍZA BEATRIZ PINHEIRO CAIRES

Relatora

V O T O

JUÍZA BEATRIZ PINHEIRO CAIRES:

Cuida-se de apelo interposto por Olga Cezar Dias e outros, sucessores de Sebastião Gouveia Dias, inconformados com o teor da r. sentença proferida às f. 179/115, que julgou parcialmente procedente o pedido indenizatório que lhes foi endereçado por Oldecina Maria de Faria, em decorrência do HOMICÍDIO de sua filha Patrícia Lopes de Faria, condenando-os ao pagamento da importância equivalente a 100 salários mínimos a título de ressarcimento dos danos morais sofridos, acrescidos de juros e correção monetária, a contar da ocorrência do evento.

Ao justificar seu inconformismo, os recorrentes sustentam não ter ocorrido o alegado dano moral decorrente da morte da filha da apelada, em razão de ser ela "uma prostituta de baixo nível, sem personalidade, péssima imagem, e sem nenhuma honradez", além de argumentarem no sentido de ser elevado o quantum indenizatório fixado na sentença.

O recurso foi respondido, conforme se vê às f. 203/204, encontrando-se sem preparo por estar a autora litigando sob o pálio da assistência

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judiciária.

Porque presentes os pressupostos de admissibilidade, conheço do recurso interposto.

De início, observa-se que os apelantes fazem menção, no preâmbulo de suas razões recursais, ao fato de que a douta Juíza sentenciante, "com a finalidade de limpar a Secretaria da Segunda Vara", (sic), teria decidido o feito sem que se completasse a instrução.

Apesar de tal questão ter sido suscitada sem qualquer técnica, parece-me conveniente analisá-la como preliminar de cerceamento de defesa, para que nenhuma argumentação recursal fique sem resposta.

E assim o fazendo, impõe-se a sua rejeição, já que as provas pretendidas pelos ora recorrentes já haviam sido coletadas, com a realização de audiência destinada à conciliação, (f. 49) e instrução e julgamento, com a oitiva de cinco testemunhas, além de ter a autora prestado depoimento pessoal, (f. 55/61). Ocorre que, conforme acórdão postado às f. 112/114, o processo foi anulado para o fim de que fosse regularmente habilitado o espólio de Sebastião Gouveia Dias no pólo passivo da relação processual, em obediência ao disposto no artigo 1.056, I do CPC.

Sanada a irregularidade de representação dos ora apelantes, foi proferida outra sentença, (f. 179/115), com idênticos fundamentos constantes da que fora anteriormente cassada.

A meu sentir, para o correto desate da vexata quaestio deve a mesma ser vista e examinada sob a perspectiva da instrumentalidade do direito processual e do caráter das normas processuais.

"O processo é instrumento ético de soluções das lides, profundamente vinculado aos valores fundamentais que informam a cultura de que participam. Assim, o processo deve absorver os princípios básicos de ordem ética e política que orientam o ordenamento jurídico por ele integrado para constituir-se em meio para a justa resolução da lide. Dessa forma, o caráter da norma processual fica subordinado à sua adequação, à finalidade geral do processo de resolver a lide com justiça" (Antônio Carlos Araújo Cintra, Ada Pellegrini Grinover e Cândido Rangel Dinamarco, Teoria Geral do Processo, p. 55, n. 30).

Com efeito, as nulidade processuais têm sua mecânica de funcionamento inspiradas num sistema formado pelas normas do direito positivo e por

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uma série de princípios, que possuem importância equivalente e devem ser levados em conta na análise das hipóteses concretas, procurando-se, sempre que possível, o aproveitamento dos atos processuais. Não se pode olvidar que o sistema de nulidades do direito processual civil brasileiro encaixa-se na categoria daqueles sistemas em que se confere razoável liberdade ao juiz para o exame do caso concreto, obedecendo a tendência do processo civil moderno.

Deve o processo ser suprimido do cenário jurídico com a maior brevidade possível, aplicando-se sempre o princípio da economia processual, outro importante princípio informativo do processo civil moderno, que faz com que não deva haver desperdício de atividade jurisdicional.

Ao fazer profunda análise da função dos princípios que inspiraram o legislador a criar o sistema de nulidade processuais, no plano pragmático, adverte, com muita propriedade, Teresa Arruda Alvim Wambier (in Nulidades do processo e da sentença, RT, 4a edição revista e ampliada, 1998, p. 193), que

"A decretação do vício pode não acontecer, ainda que se trate de nulidade absoluta, pois, como se viu, a sanabilidade pode existir, no processo, até no que concerne a nulidade ipso jure (até mesmo no que tange à inexistência jurídica, v. art. 37, parágrafo único do CPC)." (Grifos no original).

Atenta a tais diretrizes, impõe-se reconhecer ter inocorrido qualquer nulidade na tramitação do feito, já que permitiu a douta prolatora do decisum impugnado pudessem as partes exercer amplamente a sua defesa, colhendo a prova sob o crivo do contraditório.

Tal entendimento afigura-se em consonância com a orientação doutrinária autorizada, afigurando-se, mais uma vez, oportuno o magistério de Teresa Arruda Alvim Wambier, (0bra citada, p. 146):

"Importantíssimo, todavia, é observar-se que o princípio da convalidação deve ser entendido não só como o que se aplica no caso de a possibilidade de levantar o vício ficar acobertada pela preclusão, mas principalmente como a regra de que os vícios processuais, ainda que gravíssimos, podem convalidar-se, aproveitar-se: podem, no fundo, ser 'consertados'. (grifos no original).

Como bem observou Pontes de Miranda, "o legislador traduziu bem o seu propósito político de salvar os processos" (Comentários ao CPC (de 1973),

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Forense, 1975, p. 3).

E esclarece o eminente processualista:

"Grande foi a mudança que se operou no direito processual brasileiro com o apagamento de quase toda a distinção, existente no Código de Processo Civil de 1939, entre nulidades insanáveis e nulidades sanáveis. Mais uma vez se caracterizou a influência do direito processual austríaco (Ordenação processual civil austríaca, parágrafos 6o e 7o). Todas as nulidades resultantes da falta de representação dos absolutamente incapazes, da assistência aos relativamente incapazes, dos assentimentos entre cônjuges, da intervenção dos órgãos do Ministério Público, do representante judicial de incapazes e do curador à lide, passaram a ser, sem qualquer graduação, sanáveis. Observa-se, ainda mais, que a sanação pode se dar, ou por provocação da parte, ou por deliberação do juiz, do seu próprio ofício. Quer se trate de falta de capacidade processual, quer da autorização especial, quer, além disso, da ilegitimidade do representante, manda o Código que o juiz, 'verificando a incapacidade processual ou a irregularidade da representação das partes', marque prazo razoável para que se corrija a falta ou se integre a representação ou a apresentação" (Obra citada, Tomo I, p. 358).

Há que se concluir, portanto, diante das peculiaridades do caso em tela e atenta aos fins instrumentais do processo, que o feito encontrava-se mesmo pronto para julgamento, não se justificando a reabertura da fase de instrução após terem os herdeiros do requerido formalizado sua habilitação nos autos, em obediência ao acórdão postado às f. 112/114.

Rejeito, assim, a preliminar.

Quanto ao mérito, conforme relatado, constata-se ser fato incontroverso nos presentes autos a autoria do crime que vitimou Patrícia Lopes de Faria, filha da autora, que se encontrava grávida, versando a irresignação recursal tão-somente quanto à existência de dano indenizável.

Entendeu a douta Julgadora de primeiro grau que o dano material alegado na exordial não restou demonstrado, asseverando que "se deferimento dependeria das provas a serem produzidas pela autora, cujo ônus não fora desincumbido, já que embora alegasse que a vítima contribuía mensalmente com a quantia de um salário mínimo, não existem nos autos provas de que ela percebesse salário mensal, ou muito menos que contribuísse financeiramente para a mantença de sua mãe", (f. 182).

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Já no que diz respeito ao dano moral reclamado, a sentença reconheceu resultar o mesmo inquestionável diante da natureza do crime praticado por Sebastião Gouveia Dias, praticado de "maneira violenta e até brutal", arbitrando o ressarcimento a título de dano moral no valor equivalente a cem salários, acrescidos de juros e correção monetária.

Após detida análise da frágil argumentação recursal à luz do conjunto probatório coletado, parece-me que a decisão monocrática merece prevalecer.

Cabe aqui a pronta rejeição, antes da análise do quantum debeatur, da argumentação expendida pelos apelantes no sentido da inadmissibilidade do ressarcimento do dano moral na hipótese em tela.

A tese por eles defendida encontra-se plenamente superada, como bem reconhece Yussef Said Cahali:

"Seria até mesmo afrontoso aos mais sublimes sentimentos humanos negar-se que a morte de um ente querido, familiar ou companheiro, desencadeia naturalmente uma sensação dolorosa de fácil e objetiva percepção. Por ser de senso comum, a verdade desta assertiva dispensa demonstração: a morte antecipada em razão de ato ilícito de um ser humano de nossas relações afetivas, mesmo nascituro, causa-nos um profundo sentimento de dor, de pesar, de frustração, de ausência, de saudade, de desestímulo, de irresignação.

No estágio atual de nosso direito, com a consagração definitiva, até constitucional, do princípio da reparabilidade do dano moral, não mais se questiona que esses sentimentos feridos pela dor moral comportam ser indenizados; não se trata de ressarcir o prejuízo material representado pela perda de um familiar economicamente proveitoso, mas de reparar a dor com bens de natureza distinta, de caráter compensatório e que, de alguma forma, servem como lenitivo" (in Dano Moral, 2a ed., 1999, p. 111).

No mesmo sentido é a firme orientação jurisprudencial:

"Responsabilidade Civil. Dano moral. HOMICÍDIO. Dor pela perda de filho. Presunção de caráter absoluto. Verba devida.

- O art. 1.537 do CC não prevê INDENIZAÇÃO por dano moral, em caso de HOMICÍDIO, pela razão simples de que seu alcance está em disciplinar só a INDENIZAÇÃO por danos materiais. A reparação do dano imaterial, que, sendo dor, não há como nem precisa provar, donde se

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lhe presume, de modo absoluto (iuris et de iure), a existência, quando se trate da morte de um filho (art. 335 do CPC), essa é objeto doutra norma jurídica, que manda arbitrá-la (art. 1.553 do CC). Exegese diversa seria, aliás, contrária à Constituição da República: se, por regra clara, é indenizável o dano moral decorrente da mera violação da intimidade, da vida privada, da honra ou da imagem da pessoa (art. 5º, inc. X), as quais constituem expressões invioláveis da personalidade humana, a fortiori há de sê-lo, à luz da mesma regra, o decorrente da destruição da personalidade em si, enquanto supressão da vida, a qual , posto que alheia, é sempre o valor supremo e o fundamento último da ordem jurídica. Fora deveras absurdo que ordenamento assegurasse a restituição do dano imaterial derivado da afronta a alguns atributos elementares da pessoa humana (chamados direitos da personalidade), mas o excluísse na hipótese de o dano provir da perda da vida mesmo" (TJSP, 2ª Câmara, Apelação, Embargos Infringentes, relator Desembargador César Peluzo, j. 21.03.95, JTJ-Lex 169/253);

"Responsabilidade Civil. Morte de uma filha - Atropelamento. Concessão de INDENIZAÇÃO específica do dano moral, além das pensões correspondentes ao lucro cessante" (TARJ; RT 589/216);

"A INDENIZAÇÃO para ressarcir o dano sofrido pelos pais pela morte de filho menor compreende não só o dano econômico, mas, sobretudo, a reparação do dano moral, dando-se, a eles, compensação pecuniária pela perda da vítima que, no futuro, poderia vir a ajudá-los" (TJSP; RT 604/51);

"Responsabilidade civil - Acidente ferroviário - Vítima fatal - INDENIZAÇÃO - Pretensão à inclusão do dano moral - Art. 5º, IV, da CF-88" (RT 155/231);

"A construção jurisprudencial do STF, no sentido de INDENIZAÇÃO pela morte de filhos menores em decorrência de ato ilícito, inspirou-se no princípio da reparação do dano moral, ainda que se considere também o dano econômico potencial" (RT 580/201);

"Responsabilidade civil - Dano moral - Morte de filho menor - Ato ilícito - INDENIZAÇÃO devida" (RT 580/201);

"O Direito Positivo Brasileiro admite a reparabilidade do dano moral, inclusive quando pleiteada pelos pais da vítima morta em acidente, sem ter em conta a idade desta ou a situação econômica financeira daquelas" (RT 641/230).

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A própria expressão "luto da família" contida no artigo 1537 do CC abrange a INDENIZAÇÃO de natureza moral, já que a palavra luto vem do latim, luctus (dor, mágoa, nojo), exprimindo o sentimento de pesar ou de dor decorrente de falecimento de pessoa da família.

Azevedo Marques, ao fazer uma interpretação contemporânea da mencionada expressão, observa:

"Tomada à letra essa expressão, provocará absurdos e desigualdades injustas, eximindo muitas vezes o devedor de satisfazer qualquer INDENIZAÇÃO. Luto, na linguagem popular mais corrente, se limita às vestimentas lúgubres, quando são usadas. Mas, no meu sentir, não deve ser essa a verdadeira e única significação, quando a lei manda indenizar o luto da família. Este é mais amplo; é também, no dizer dos léxicos 'o profundo sentimento de tristeza causadas pela perdas de pessoa cara; ou, genericamente, 'a tristeza profunda causada por desgostos e sofrimentos'. Pode haver luto sem haver morte; alguém pode estar de luto, sem vestir roupas especiais. O luto não é somente o sinal de dor, é a própria dor; é o sofrimento moral íntimo; donde surge para logo, necessariamente, logicamente, a idéia de dano, ou melhor, de dor moral, esteja ou não escrito nas leis" (Comentários, RF 78/548).

A tal respeito, afigura-se oportuna a lição de Aguiar Dias:

"Toda e qualquer lesão que transforma e desassossega a própria ordem social e individual, quebrando a harmonia e a tranqüilidade que deve reinar entre os homens, acarreta o dever de corrigir ou remediar" (Da responsabilidade civil, Rio de Janeiro, Forense, 1944, vol. II, p. 25).

Em casos como o dos autos, o dano é a própria ofensa. Há que prevalecer o princípio geral da presunção do dano moral em tais casos, sendo desnecessário uma demonstração específica, porquanto ele é inerente ao próprio evento.

É fato notório e independe de prova, já que é um dado de experiência comum, que a mãe que vê a vida de sua filha ceifada de forma covarde e violenta como a estampada nos autos é acometida de dor e revolta, sentimentos que não podem ser ignorados e merecem reparação.

Adverte Wladimir Valler que vem-se observando "cada vez mais a tendência de ampliar o alcance da INDENIZAÇÃO pelo dano moral, prevista na Constituição da República de 1988.

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E acrescenta:

"Entendemos que o dano moral deve ser reparado em todos os casos, ainda que, para isso, seja necessário que os juízes, pondo de lado a interpretação literal e restrita das regras disciplinadoras da matéria, encontrem mecanismos indispensáveis para que a reparação do dano extrapatrimonial seja a mais ampla possível, ainda que o mecanismo seja a interpretação extensiva do art. 5o V e X da Constituição Federal" (A reparação do dano moral no Direito Brasileiro, 2a ed., p. 45).

O fundamento da reparabilidade do dano moral, segundo esclarece Caio Mário (Responsabilidade Civil, Forense, p.54), está em que, a par do patrimônio em sentido técnico, o indivíduo é titular de direitos integrantes de sua personalidade, não podendo conformar-se a ordem jurídica em que sejam impunemente atingidos.

Assim, torna-se inarredável concluir, como corolário lógico, cabível a reparação pretendida a título de dano moral.

Sendo assim, atenta ao efeito devolutivo do recurso interposto, resta apenas o exame do valor ressarcitório fixado - cem salários mínimos - tendo a Julgadora a quo determinado que tal valor fosse acrescido "de juros e correção monetária, a contar da ocorrência do evento".

No tocante ao quantum da INDENIZAÇÃO, Caio Mário da Silva Pereira observa:

"É certo, como visto acima, que a INDENIZAÇÃO em termos gerais, não pode ter o objetivo de provocar o enriquecimento ou proporcionar, ao ofendido, um avantajamento, por mais forte razão deve ser equitativa a reparação do dano moral, para que se não converta o sofrimento em móvel de captação de lucro (de lucro capiendo)" - Responsabilidade Civil, 2ª edição, Rio de Janeiro, Editora Forense, 1.990, n. 252, p. 339.

Oportuna, também, a lição de Humberto Theodoro Júnior, para quem

"... Nunca poderá, o juiz, arbitrar a INDENIZAÇÃO do dano moral, tomando por base tão somente o patrimônio do devedor. Sendo, a dor moral, insuscetível de uma equivalência com qualquer padrão financeiro, há uma universal recomendação, nos ensinamentos dos doutos e nos arestos dos tribunais, no sentido de que 'o montante da INDENIZAÇÃO será fixado eqüitativamente pelo Tribunal' (Código Civil Português, art. 496, inc. 3). Por isso, lembra, R. Limongi França, a advertência segundo a

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qual 'muito importante é o juiz na matéria, pois a equilibrada fixação do quantum da INDENIZAÇÃO muito depende de sua ponderação e critério' (Reparação do Dano Moral, RT 631/36)" - Dano Moral, Oliveira Mendes, 1ª edição, 1.998, São Paulo, p. 44).

Não deve ser olvidado, porém, que:

"A INDENIZAÇÃO não haverá de ser inexpressiva, uma vez que ela carrega consigo a idéia de dissuadir o autor da ofensa de igual e novo atentado" (TAMG, 7ª Câmara Cível, Apelação Cível n. 260.136-7/Belo Horizonte, relator Juiz Lauro Bracarense).

Assim, na valoração da verba indenizatória a título de danos morais, deve-se levar em conta a dupla finalidade da reparação, buscando um efeito repressivo e pedagógico e propiciar à vítima uma satisfação, sem que isto represente um enriquecimento sem causa.

Na hipótese dos autos, parece-me que a fixação do valor equivalente a cem salários mínimos para ressarcimento do dano moral sofrido traduz todas as peculiaridades do caso concreto, sendo forma de compensação ao dano sofrido, sem, contudo, permitir o enriquecimento da parte, não discrepando tal valor do quantum usualmente fixado por esta Câmara em julgamento de hipóteses semelhantes.

Ao impulso de tais razões é que nego provimento ao apelo interposto, mantendo a lúcida decisão monocrática.

Custas, ex lege.

JUÍZA BEATRIZ PINHEIRO CAIRES

Sap

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Número do processo: 2.0000.00.394389-5/000(1)Relator: BEATRIZ PINHEIRO CAIRES Relator do Acordão: Não informadoData do Julgamento: 15/05/2003Data da Publicação: 28/05/2003 Inteiro Teor:   APELAÇÃO CÍVEL N. 394.389-5 - MANTENA - 15.5.2003

EMENTA - APELAÇÃO CÍVEL - REPONSABILIDADE CIVIL - HOMICÍDIO (ART. 1537 DO CC) - DANO MORAL. QUANTUM.

- A INDENIZAÇÃO para ressarcir o dano sofrido pelos pais pela morte de filho compreende não só o dano econômico, mas, sobretudo, a reparação do dano moral, dando-se, a eles, compensação pecuniária pela perda sofrida.

- É fato notório, e independe de prova, que a mãe que vê a vida de sua filha ceifada de forma covarde e violenta é acometida de dor e revolta, sentimentos que não podem ser ignorados e merecem reparação.

- Na valoração da verba indenizatória a título de danos morais, deve-se levar em conta a dupla finalidade da reparação, buscando um efeito repressivo e pedagógico e propiciar à vítima uma satisfação, sem que isto

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represente um enriquecimento sem causa.

- A fixação do valor equivalente a cem salários mínimos para ressarcimento do dano moral sofrido pela mãe, em virtude do assassinato de sua filha é, ao mesmo tempo, meio de punição e forma de compensação ao dano sofrido, sem, contudo, permitir o enriquecimento da parte, não discrepando tal valor do quantum usualmente fixado por esta Câmara em julgamento de hipóteses semelhantes.

A C Ó R D Ã O

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível n. 394.389-5, da Comarca de MANTENA, sendo Apelante (s): OLGA CEZAR DIAS E OUTROS e Apelado (a) (os) (as): OLDECINA MARIA DE FARIA,

ACORDA, em Turma, a Sexta Câmara Civil do Tribunal de Alçada do Estado de Minas Gerais, REJEITAR PRELIMINAR E NEGAR PROVIMENTO.

Presidiu o julgamento o Juiz BELIZÁRIO DE LACERDA (Vogal) e dele participaram os Juízes BEATRIZ PINHEIRO CAIRES (Relatora) e DÍDIMO INOCÊNCIO DE PAULA (Revisor).

O voto proferido pela Juíza Relatora foi acompanhado na íntegra pelos demais componentes da Turma Julgadora.

Belo Horizonte, 15 de maio de 2003.

JUÍZA BEATRIZ PINHEIRO CAIRES

Relatora

V O T O

JUÍZA BEATRIZ PINHEIRO CAIRES:

Cuida-se de apelo interposto por Olga Cezar Dias e outros, sucessores de Sebastião Gouveia Dias, inconformados com o teor da r. sentença proferida às f. 179/115, que julgou parcialmente procedente o pedido indenizatório que lhes foi endereçado por Oldecina Maria de Faria, em decorrência do HOMICÍDIO de sua filha Patrícia Lopes de Faria, condenando-os ao pagamento da importância equivalente a 100 salários mínimos a título de ressarcimento dos danos morais sofridos, acrescidos de juros e correção

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monetária, a contar da ocorrência do evento.

Ao justificar seu inconformismo, os recorrentes sustentam não ter ocorrido o alegado dano moral decorrente da morte da filha da apelada, em razão de ser ela "uma prostituta de baixo nível, sem personalidade, péssima imagem, e sem nenhuma honradez", além de argumentarem no sentido de ser elevado o quantum indenizatório fixado na sentença.

O recurso foi respondido, conforme se vê às f. 203/204, encontrando-se sem preparo por estar a autora litigando sob o pálio da assistência judiciária.

Porque presentes os pressupostos de admissibilidade, conheço do recurso interposto.

De início, observa-se que os apelantes fazem menção, no preâmbulo de suas razões recursais, ao fato de que a douta Juíza sentenciante, "com a finalidade de limpar a Secretaria da Segunda Vara", (sic), teria decidido o feito sem que se completasse a instrução.

Apesar de tal questão ter sido suscitada sem qualquer técnica, parece-me conveniente analisá-la como preliminar de cerceamento de defesa, para que nenhuma argumentação recursal fique sem resposta.

E assim o fazendo, impõe-se a sua rejeição, já que as provas pretendidas pelos ora recorrentes já haviam sido coletadas, com a realização de audiência destinada à conciliação, (f. 49) e instrução e julgamento, com a oitiva de cinco testemunhas, além de ter a autora prestado depoimento pessoal, (f. 55/61). Ocorre que, conforme acórdão postado às f. 112/114, o processo foi anulado para o fim de que fosse regularmente habilitado o espólio de Sebastião Gouveia Dias no pólo passivo da relação processual, em obediência ao disposto no artigo 1.056, I do CPC.

Sanada a irregularidade de representação dos ora apelantes, foi proferida outra sentença, (f. 179/115), com idênticos fundamentos constantes da que fora anteriormente cassada.

A meu sentir, para o correto desate da vexata quaestio deve a mesma ser vista e examinada sob a perspectiva da instrumentalidade do direito processual e do caráter das normas processuais.

"O processo é instrumento ético de soluções das lides, profundamente vinculado aos valores fundamentais que informam a cultura de que

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participam. Assim, o processo deve absorver os princípios básicos de ordem ética e política que orientam o ordenamento jurídico por ele integrado para constituir-se em meio para a justa resolução da lide. Dessa forma, o caráter da norma processual fica subordinado à sua adequação, à finalidade geral do processo de resolver a lide com justiça" (Antônio Carlos Araújo Cintra, Ada Pellegrini Grinover e Cândido Rangel Dinamarco, Teoria Geral do Processo, p. 55, n. 30).

Com efeito, as nulidade processuais têm sua mecânica de funcionamento inspiradas num sistema formado pelas normas do direito positivo e por uma série de princípios, que possuem importância equivalente e devem ser levados em conta na análise das hipóteses concretas, procurando-se, sempre que possível, o aproveitamento dos atos processuais. Não se pode olvidar que o sistema de nulidades do direito processual civil brasileiro encaixa-se na categoria daqueles sistemas em que se confere razoável liberdade ao juiz para o exame do caso concreto, obedecendo a tendência do processo civil moderno.

Deve o processo ser suprimido do cenário jurídico com a maior brevidade possível, aplicando-se sempre o princípio da economia processual, outro importante princípio informativo do processo civil moderno, que faz com que não deva haver desperdício de atividade jurisdicional.

Ao fazer profunda análise da função dos princípios que inspiraram o legislador a criar o sistema de nulidade processuais, no plano pragmático, adverte, com muita propriedade, Teresa Arruda Alvim Wambier (in Nulidades do processo e da sentença, RT, 4a edição revista e ampliada, 1998, p. 193), que

"A decretação do vício pode não acontecer, ainda que se trate de nulidade absoluta, pois, como se viu, a sanabilidade pode existir, no processo, até no que concerne a nulidade ipso jure (até mesmo no que tange à inexistência jurídica, v. art. 37, parágrafo único do CPC)." (Grifos no original).

Atenta a tais diretrizes, impõe-se reconhecer ter inocorrido qualquer nulidade na tramitação do feito, já que permitiu a douta prolatora do decisum impugnado pudessem as partes exercer amplamente a sua defesa, colhendo a prova sob o crivo do contraditório.

Tal entendimento afigura-se em consonância com a orientação doutrinária autorizada, afigurando-se, mais uma vez, oportuno o magistério de Teresa Arruda Alvim Wambier, (0bra citada, p. 146):

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"Importantíssimo, todavia, é observar-se que o princípio da convalidação deve ser entendido não só como o que se aplica no caso de a possibilidade de levantar o vício ficar acobertada pela preclusão, mas principalmente como a regra de que os vícios processuais, ainda que gravíssimos, podem convalidar-se, aproveitar-se: podem, no fundo, ser 'consertados'. (grifos no original).

Como bem observou Pontes de Miranda, "o legislador traduziu bem o seu propósito político de salvar os processos" (Comentários ao CPC (de 1973), Forense, 1975, p. 3).

E esclarece o eminente processualista:

"Grande foi a mudança que se operou no direito processual brasileiro com o apagamento de quase toda a distinção, existente no Código de Processo Civil de 1939, entre nulidades insanáveis e nulidades sanáveis. Mais uma vez se caracterizou a influência do direito processual austríaco (Ordenação processual civil austríaca, parágrafos 6o e 7o). Todas as nulidades resultantes da falta de representação dos absolutamente incapazes, da assistência aos relativamente incapazes, dos assentimentos entre cônjuges, da intervenção dos órgãos do Ministério Público, do representante judicial de incapazes e do curador à lide, passaram a ser, sem qualquer graduação, sanáveis. Observa-se, ainda mais, que a sanação pode se dar, ou por provocação da parte, ou por deliberação do juiz, do seu próprio ofício. Quer se trate de falta de capacidade processual, quer da autorização especial, quer, além disso, da ilegitimidade do representante, manda o Código que o juiz, 'verificando a incapacidade processual ou a irregularidade da representação das partes', marque prazo razoável para que se corrija a falta ou se integre a representação ou a apresentação" (Obra citada, Tomo I, p. 358).

Há que se concluir, portanto, diante das peculiaridades do caso em tela e atenta aos fins instrumentais do processo, que o feito encontrava-se mesmo pronto para julgamento, não se justificando a reabertura da fase de instrução após terem os herdeiros do requerido formalizado sua habilitação nos autos, em obediência ao acórdão postado às f. 112/114.

Rejeito, assim, a preliminar.

Quanto ao mérito, conforme relatado, constata-se ser fato incontroverso nos presentes autos a autoria do crime que vitimou Patrícia Lopes de Faria, filha da autora, que se encontrava grávida, versando a irresignação recursal

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tão-somente quanto à existência de dano indenizável.

Entendeu a douta Julgadora de primeiro grau que o dano material alegado na exordial não restou demonstrado, asseverando que "se deferimento dependeria das provas a serem produzidas pela autora, cujo ônus não fora desincumbido, já que embora alegasse que a vítima contribuía mensalmente com a quantia de um salário mínimo, não existem nos autos provas de que ela percebesse salário mensal, ou muito menos que contribuísse financeiramente para a mantença de sua mãe", (f. 182).

Já no que diz respeito ao dano moral reclamado, a sentença reconheceu resultar o mesmo inquestionável diante da natureza do crime praticado por Sebastião Gouveia Dias, praticado de "maneira violenta e até brutal", arbitrando o ressarcimento a título de dano moral no valor equivalente a cem salários, acrescidos de juros e correção monetária.

Após detida análise da frágil argumentação recursal à luz do conjunto probatório coletado, parece-me que a decisão monocrática merece prevalecer.

Cabe aqui a pronta rejeição, antes da análise do quantum debeatur, da argumentação expendida pelos apelantes no sentido da inadmissibilidade do ressarcimento do dano moral na hipótese em tela.

A tese por eles defendida encontra-se plenamente superada, como bem reconhece Yussef Said Cahali:

"Seria até mesmo afrontoso aos mais sublimes sentimentos humanos negar-se que a morte de um ente querido, familiar ou companheiro, desencadeia naturalmente uma sensação dolorosa de fácil e objetiva percepção. Por ser de senso comum, a verdade desta assertiva dispensa demonstração: a morte antecipada em razão de ato ilícito de um ser humano de nossas relações afetivas, mesmo nascituro, causa-nos um profundo sentimento de dor, de pesar, de frustração, de ausência, de saudade, de desestímulo, de irresignação.

No estágio atual de nosso direito, com a consagração definitiva, até constitucional, do princípio da reparabilidade do dano moral, não mais se questiona que esses sentimentos feridos pela dor moral comportam ser indenizados; não se trata de ressarcir o prejuízo material representado pela perda de um familiar economicamente proveitoso, mas de reparar a dor com bens de natureza distinta, de caráter compensatório e que, de alguma

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forma, servem como lenitivo" (in Dano Moral, 2a ed., 1999, p. 111).

No mesmo sentido é a firme orientação jurisprudencial:

"Responsabilidade Civil. Dano moral. HOMICÍDIO. Dor pela perda de filho. Presunção de caráter absoluto. Verba devida.

- O art. 1.537 do CC não prevê INDENIZAÇÃO por dano moral, em caso de HOMICÍDIO, pela razão simples de que seu alcance está em disciplinar só a INDENIZAÇÃO por danos materiais. A reparação do dano imaterial, que, sendo dor, não há como nem precisa provar, donde se lhe presume, de modo absoluto (iuris et de iure), a existência, quando se trate da morte de um filho (art. 335 do CPC), essa é objeto doutra norma jurídica, que manda arbitrá-la (art. 1.553 do CC). Exegese diversa seria, aliás, contrária à Constituição da República: se, por regra clara, é indenizável o dano moral decorrente da mera violação da intimidade, da vida privada, da honra ou da imagem da pessoa (art. 5º, inc. X), as quais constituem expressões invioláveis da personalidade humana, a fortiori há de sê-lo, à luz da mesma regra, o decorrente da destruição da personalidade em si, enquanto supressão da vida, a qual , posto que alheia, é sempre o valor supremo e o fundamento último da ordem jurídica. Fora deveras absurdo que ordenamento assegurasse a restituição do dano imaterial derivado da afronta a alguns atributos elementares da pessoa humana (chamados direitos da personalidade), mas o excluísse na hipótese de o dano provir da perda da vida mesmo" (TJSP, 2ª Câmara, Apelação, Embargos Infringentes, relator Desembargador César Peluzo, j. 21.03.95, JTJ-Lex 169/253);

"Responsabilidade Civil. Morte de uma filha - Atropelamento. Concessão de INDENIZAÇÃO específica do dano moral, além das pensões correspondentes ao lucro cessante" (TARJ; RT 589/216);

"A INDENIZAÇÃO para ressarcir o dano sofrido pelos pais pela morte de filho menor compreende não só o dano econômico, mas, sobretudo, a reparação do dano moral, dando-se, a eles, compensação pecuniária pela perda da vítima que, no futuro, poderia vir a ajudá-los" (TJSP; RT 604/51);

"Responsabilidade civil - Acidente ferroviário - Vítima fatal - INDENIZAÇÃO - Pretensão à inclusão do dano moral - Art. 5º, IV, da CF-88" (RT 155/231);

"A construção jurisprudencial do STF, no sentido de INDENIZAÇÃO pela morte de filhos menores em decorrência de ato ilícito, inspirou-se no

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princípio da reparação do dano moral, ainda que se considere também o dano econômico potencial" (RT 580/201);

"Responsabilidade civil - Dano moral - Morte de filho menor - Ato ilícito - INDENIZAÇÃO devida" (RT 580/201);

"O Direito Positivo Brasileiro admite a reparabilidade do dano moral, inclusive quando pleiteada pelos pais da vítima morta em acidente, sem ter em conta a idade desta ou a situação econômica financeira daquelas" (RT 641/230).

A própria expressão "luto da família" contida no artigo 1537 do CC abrange a INDENIZAÇÃO de natureza moral, já que a palavra luto vem do latim, luctus (dor, mágoa, nojo), exprimindo o sentimento de pesar ou de dor decorrente de falecimento de pessoa da família.

Azevedo Marques, ao fazer uma interpretação contemporânea da mencionada expressão, observa:

"Tomada à letra essa expressão, provocará absurdos e desigualdades injustas, eximindo muitas vezes o devedor de satisfazer qualquer INDENIZAÇÃO. Luto, na linguagem popular mais corrente, se limita às vestimentas lúgubres, quando são usadas. Mas, no meu sentir, não deve ser essa a verdadeira e única significação, quando a lei manda indenizar o luto da família. Este é mais amplo; é também, no dizer dos léxicos 'o profundo sentimento de tristeza causadas pela perdas de pessoa cara; ou, genericamente, 'a tristeza profunda causada por desgostos e sofrimentos'. Pode haver luto sem haver morte; alguém pode estar de luto, sem vestir roupas especiais. O luto não é somente o sinal de dor, é a própria dor; é o sofrimento moral íntimo; donde surge para logo, necessariamente, logicamente, a idéia de dano, ou melhor, de dor moral, esteja ou não escrito nas leis" (Comentários, RF 78/548).

A tal respeito, afigura-se oportuna a lição de Aguiar Dias:

"Toda e qualquer lesão que transforma e desassossega a própria ordem social e individual, quebrando a harmonia e a tranqüilidade que deve reinar entre os homens, acarreta o dever de corrigir ou remediar" (Da responsabilidade civil, Rio de Janeiro, Forense, 1944, vol. II, p. 25).

Em casos como o dos autos, o dano é a própria ofensa. Há que prevalecer o princípio geral da presunção do dano moral em tais casos, sendo desnecessário uma demonstração específica, porquanto ele é inerente ao

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próprio evento.

É fato notório e independe de prova, já que é um dado de experiência comum, que a mãe que vê a vida de sua filha ceifada de forma covarde e violenta como a estampada nos autos é acometida de dor e revolta, sentimentos que não podem ser ignorados e merecem reparação.

Adverte Wladimir Valler que vem-se observando "cada vez mais a tendência de ampliar o alcance da INDENIZAÇÃO pelo dano moral, prevista na Constituição da República de 1988.

E acrescenta:

"Entendemos que o dano moral deve ser reparado em todos os casos, ainda que, para isso, seja necessário que os juízes, pondo de lado a interpretação literal e restrita das regras disciplinadoras da matéria, encontrem mecanismos indispensáveis para que a reparação do dano extrapatrimonial seja a mais ampla possível, ainda que o mecanismo seja a interpretação extensiva do art. 5o V e X da Constituição Federal" (A reparação do dano moral no Direito Brasileiro, 2a ed., p. 45).

O fundamento da reparabilidade do dano moral, segundo esclarece Caio Mário (Responsabilidade Civil, Forense, p.54), está em que, a par do patrimônio em sentido técnico, o indivíduo é titular de direitos integrantes de sua personalidade, não podendo conformar-se a ordem jurídica em que sejam impunemente atingidos.

Assim, torna-se inarredável concluir, como corolário lógico, cabível a reparação pretendida a título de dano moral.

Sendo assim, atenta ao efeito devolutivo do recurso interposto, resta apenas o exame do valor ressarcitório fixado - cem salários mínimos - tendo a Julgadora a quo determinado que tal valor fosse acrescido "de juros e correção monetária, a contar da ocorrência do evento".

No tocante ao quantum da INDENIZAÇÃO, Caio Mário da Silva Pereira observa:

"É certo, como visto acima, que a INDENIZAÇÃO em termos gerais, não pode ter o objetivo de provocar o enriquecimento ou proporcionar, ao ofendido, um avantajamento, por mais forte razão deve ser equitativa a reparação do dano moral, para que se não converta o sofrimento em móvel de captação de lucro (de lucro capiendo)" - Responsabilidade Civil, 2ª

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edição, Rio de Janeiro, Editora Forense, 1.990, n. 252, p. 339.

Oportuna, também, a lição de Humberto Theodoro Júnior, para quem

"... Nunca poderá, o juiz, arbitrar a INDENIZAÇÃO do dano moral, tomando por base tão somente o patrimônio do devedor. Sendo, a dor moral, insuscetível de uma equivalência com qualquer padrão financeiro, há uma universal recomendação, nos ensinamentos dos doutos e nos arestos dos tribunais, no sentido de que 'o montante da INDENIZAÇÃO será fixado eqüitativamente pelo Tribunal' (Código Civil Português, art. 496, inc. 3). Por isso, lembra, R. Limongi França, a advertência segundo a qual 'muito importante é o juiz na matéria, pois a equilibrada fixação do quantum da INDENIZAÇÃO muito depende de sua ponderação e critério' (Reparação do Dano Moral, RT 631/36)" - Dano Moral, Oliveira Mendes, 1ª edição, 1.998, São Paulo, p. 44).

Não deve ser olvidado, porém, que:

"A INDENIZAÇÃO não haverá de ser inexpressiva, uma vez que ela carrega consigo a idéia de dissuadir o autor da ofensa de igual e novo atentado" (TAMG, 7ª Câmara Cível, Apelação Cível n. 260.136-7/Belo Horizonte, relator Juiz Lauro Bracarense).

Assim, na valoração da verba indenizatória a título de danos morais, deve-se levar em conta a dupla finalidade da reparação, buscando um efeito repressivo e pedagógico e propiciar à vítima uma satisfação, sem que isto represente um enriquecimento sem causa.

Na hipótese dos autos, parece-me que a fixação do valor equivalente a cem salários mínimos para ressarcimento do dano moral sofrido traduz todas as peculiaridades do caso concreto, sendo forma de compensação ao dano sofrido, sem, contudo, permitir o enriquecimento da parte, não discrepando tal valor do quantum usualmente fixado por esta Câmara em julgamento de hipóteses semelhantes.

Ao impulso de tais razões é que nego provimento ao apelo interposto, mantendo a lúcida decisão monocrática.

Custas, ex lege.

JUÍZA BEATRIZ PINHEIRO CAIRES

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Número do processo: 2.0000.00.364028-8/000(1)Relator: FRANCISCO KUPIDLOWSKI Relator do Acordão: Não informadoData do Julgamento: 22/08/2002Data da Publicação: 04/09/2002 Inteiro Teor:   DANO MORAL. INDENIZAÇÃO PELA PERDA DE PARENTES. VALOR ESTIPULADO EM QUANTIA CERTA. JURISPRUDÊNCIA ATUAL DO STJ. ELEVAÇÃO QUANTO À MORTE DO MARIDO. CORREÇÃO MONETÁRIA QUE SE DEFERE A PARTIR DA DATA DO ATO ILÍCITO. DISTRIBUIÇÃO DE CUSTAS E HONORÁRIOS DE FORMA RECÍPROCA.

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"1- INDENIZAÇÃO por morte de marido deve ser dosada com maior intensidade que aquela destinada a cobrir o falecimento de sogros e outros parentes. Valor que se eleva a R$40.000,00, estipulando-se os mesmos em quantias certas conforme Jurisprudência atual do STJ.

2- A correção monetária incide sempre a partir do evento danoso conforme Súmula 43 do STJ.

3- Honorários e despesas devem ser compensados toda vez que as vitórias sejam recíprocas".

A C Ó R D Ã O

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível nº 364.028-8 da Comarca de BELO HORIZONTE, sendo Apelante (s): MARLENE ALVES FREIRE e Apelado (a) (os) (as): EMPRESA GONTIJO DE TRANSPORTES LTDA. E OUTRA,

ACORDA, em Turma, a Quinta Câmara Civil do Tribunal de Alçada do Estado de Minas Gerais, NEGAR PROVIMENTO À APELAÇÃO, VENCIDO PARCIALMENTE O RELATOR EM RELAÇÃO AO QUANTUM INDENIZATÓRIO.

(continua o Acórdão)

Presidiu o julgamento o Juiz ERNANE FIDÉLIS (Revisor) e dele participaram os Juízes FRANCISCO KUPIDLOWSKI (Relator vencido parcialmente) e ARMANDO FREIRE (Vogal).

Assistiu ao julgamento pela apelante o Dr. Luiz Milton de Souza Júnior.

Belo Horizonte, 22 de agosto de 2002.

JUIZ FRANCISCO KUPIDLOWSKI

Relator vencido parcialmente

JUIZ ERNANE FIDÉLIS

Revisor

JUIZ ARMANDO FREIRE

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Vogal

V O T O S

O SR. JUIZ FRANCISCO KUPIDLOWSKI:

Pressupostos presentes. Conhece-se do recurso.

Mesmo vencedora em pleito judicial para obtenção de INDENIZAÇÃO a danos morais, na Comarca de Belo Horizonte, 4ª V. Cível, apela Marlene Alves Freire buscando majorar os valores que lhe foram deferidos, tanto quanto os honorários de condenação, com o marco inicial para a correção monetária a partir da data do evento, ou, como seja: da data das perdas dos parentes.

As indenizações, à exceção da quantia escolhida para o ressarcimento aos danos morais sofridos com a morte do marido da autora são bem dosadas. Entretanto, deverão sofrer transformação para quantias certas, na esteira da melhor Jurisprudência do STJ.

A perda do marido causadora de maior sofrimento e dor pode e deve ser ressarcida com a importância de R$ 40.000,00 (quarenta mil reais), mantendo-se R$ 8.000,00 (oito mil reais) pela perda de cada sogro, R$ 4.000,00 (quatro mil reais) pela perda da cunhada e R$ 2.000,00 ( dois mil reais) pela perda da sobrinha.

Este Relator está provendo parcialmente o recurso para elevar de R$ 20.000,00 (vinte mil reais) para R$ 40.000,00 (quarenta mil reais) a INDENIZAÇÃO pela morte do marido, mantidos os demais valores, convertidos, no entanto, para quantias certas, como deve ser.

A data de começo da correção monetária é outro pedido que merece ser provido, pois, em se tratando de ato ilícito, na forma da Súmula 43 do STJ, incide correção a partir do evento.

Não há pertinência nos demais pedidos, pois:

a) o arbitramento em 15% sobre o valor da condenação para os honorários da vencedora é confirmável porque não houve vitória integral;

b) a condenação da autora ao pagamento de honorários é simples cumprimento ao que dispõe o art. 21 do CPC, imerecendo retificação; e,

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c) como o triunfo não foi total, está justificada a atribuição de responsabilidade por parcela das custas à autora.

Com o exposto, dá-se parcial provimento à apelação para majorar a INDENIZAÇÃO pela perda do marido para R$ 40.000,00 mantidos os demais valores em quantia certa e, ainda, determinar que a correção monetária incida a partir da data do evento danoso.

Custas do recurso em proporção: 20% pela apelante e 80% pela apelada, declarada a isenção da apelante.

O SR. JUIZ ERNANE FIDÉLIS:

Com a devida vênia, estou divergindo quanto à elevação apenas da verba de INDENIZAÇÃO e o faço pelos seguintes motivos. Inclusive, é orientação agora do novo Código Civil Brasileiro, que as indenizações devem ser proporcionais às próprias circunstâncias do fato e, no caso, em se tratando de HOMICÍDIO culposo, onde evidentemente não ocorre o dolo, essa Câmara tem se orientado no sentido da fixação na base de 100 salários mínimos. É orientação da Câmara. Se fosse HOMICÍDIO doloso, evidentemente, que a questão tomaria outra conjectura, outra feição, porque, na realidade, a morte não pode servir, absolutamente, de recompensa, não pode servir de enriquecimento da parte. Então há de se fazer uma INDENIZAÇÃO razoável, exatamente a título moral, e essa INDENIZAÇÃO é avaliada em dinheiro, exatamente para permitir que a parte, com o dinheiro recebido, tenha uma forma de criar uma situação de conforto ao lado de uma situação de desconforto.

Quando se trata de HOMICÍDIO culposo, principalmente HOMICÍDIO de desastre de veículo, a revolta não é tanta, como se fosse no doloso. Então, esse critério dos 100 salários, orientados pela Câmara, já em outras ocasiões, e é a nossa posição, não sei dos nossos colegas de agora, essa posição é a que tomo nesse exato momento. Acho que, em casos como tais, inclusive por antecedentes, o ideal é a condenação em 100 salários. Peço vênia ao ilustre Relator para deixar que a condenação seja na base de R$ 20.000,00 (vinte mil reais) por danos morais.

Quanto ao mais, confirmo a sentença de acordo com Vossa Excelência.

O SR. JUIZ ARMANDO FREIRE:

Na consideração de que, por um único evento, a apelante já se vê beneficiada da INDENIZAÇÃO referente à perda do seu sogro, sua sogra,

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da cunhada e da sobrinha, estou, nessa oportunidade, com a vênia devida, aderindo aos fundamentos do voto de Vossa Excelência para manter, também, a INDENIZAÇÃO no patamar de R$ 20.000,00 (vinte mil reais), referente à perda do marido, entendendo que, em meio a tais circunstâncias, o somatório da INDENIZAÇÃO se presta a minimizar, no sentido de que se deve prestar à reparação dessa natureza, a dor suportada pela apelante, sem, evidentemente, como bem acentuado no voto de Vossa Excelência, querer, com isso, dizer que a reparação não esteja no mesmo patamar do sofrimento por ela suportado.

Então, com esses adminículos, e rendendo vênia ao eminente Juiz Relator, nesse particular, estou mantendo, também, o arbitramento em R$ 20.000,00 (vinte mil reais) e acompanhando-o, quanto ao mais, na confirmação da respeitável decisão de primeiro grau.

am.

Número do processo: 2.0000.00.366723-6/000(1)Relator: EDIWAL JOSÉ DE MORAIS Relator do Acordão: Não informadoData do Julgamento: 08/04/2003Data da Publicação: 24/05/2003 Inteiro Teor:   EMENTA: INDENIZAÇÃO - HOMICÍDIO DOLOSO - MORTE DA VÍTIMA - DANO MORAL - DANO MATERIAL - INDENIZAÇÃO

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FIXADA EM QUANTIA CERTA.

     Na ação de INDENIZAÇÃO por dano moral e material devido a HOMICÍDIO doloso, comprovados a culpa da ré e o sustento da fa-mília pela vítima, impõe-se o pagamento de pensão a quem a ví-tima devia alimentos e INDENIZAÇÃO por danos morais.

     Por expressa vedação constitucional (art. 7º, IV, CF), não se po-de vincular a INDENIZAÇÃO ao salário mínimo, devendo ser fixada em quantia certa.

- Preliminares rejeitadas e recurso parcialmente provido.

A C Ó R D Ã O

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Ape-lação Cível Nº 366.723-6, da Comarca de SÃO JOÃO EVANGELISTA, sendo Apelante (s): UBIRAJARA MEDINA FILHO e A-pelado (a) (os) (as): LEILA REGINA AMARAL ANDRADE VIEIRA, POR SI, E REPRESENTANDO SUAS FILHAS MENORES,

ACORDA, em Turma, a Segunda Câmara Cível do Tribunal de Alçada do Estado de Minas Gerais, CONCEDER OS BENEFÍCIOS DE ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA GRATUITA AO APELANTE, REJEITAR AS PRELIMINARES E DAR PARCIAL PROVIMENTO À APELAÇÃO.

Presidiu o julgamento o Juiz ALBERTO VILAS BOAS (Vogal) e dele participaram os Juízes EDIWAL JOSÉ DE MORAIS (Relator convocado) e EDGARD PENNA AMORIM (Revisor).

O voto proferido pelo Juiz Relator foi acompanhado na íntegra pelos demais componentes da Turma Julgadora.

Belo Horizonte, 08 de abril de 2003.

JUIZ EDIWAL JOSÉ DE MORAIS

Relator convocado

V O T O

O SR. JUIZ EDIWAL JOSÉ DE MORAIS:

Estes autos se referem à ação de indeniza-ção por danos morais e materiais

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em decorrência da morte de Carlos Umberto Vieira, interposta por Leila Regina Amaral Andrade Vieira, Bárbara Letícia Andrade Vieira e Karla Carolina Andrade Vieira, as duas últimas menores impúbe-res, em face de Ubirajara Medina Filho, visando ao paga-mento de INDENIZAÇÃO devido à morte prematura do marido e pai das autoras, causada por HOMICÍDIO doloso praticado pelo requerido.

O pedido foi julgado parcialmente proce-dente, condenando-se o réu ao pagamento de INDENIZAÇÃO por dano material às autoras Bárbara Letícia Andrade Vieira e Karla Carolina Andrade Vieira no valor de 2,5 (dois e meio) salários mínimos para cada uma, totalizando cinco salários mínimos mensais, depositados em conta corrente em nome da genitora, até que as menores completem 21 (vinte e um) ou 24 (vinte e quatro) anos, se estudantes uni-versitárias; bem como ao pagamento de INDENIZAÇÃO por dano moral às autoras no valor de cem salários mínimos para cada uma, totalizando trezentos salários mínimos, de uma só vez, devendo o valor das menores ser depositado em conta-poupança sob a fiscalização do MP e do juízo. O pedido da autora Leila Regina Amaral Vieira relativo aos danos materiais foi julgado improcedente.

O requerido foi condenado ainda ao paga-mento das custas processuais e honorários advocatícios, à base de 20% (vinte por cento) do valor da condenação. In-deferidos os benefícios da justiça gratuita requeridos pelo réu.

Conheço da apelação, pois presentes os pressupostos de admissibilidade.

Com vistas, o i. representante do Ministério Público em segunda instância apresentou seu parecer às fls. 251-256, nas quais opina pelo conhecimento e desprovimen-to do recurso.

Insurge-se o apelante contra a sentença de primeiro grau alegando, em síntese, que o valor fixado a tí-tulo de dano material deveria se basear nos rendimentos auferidos pelo apelante, e não nos proventos de sua espo-sa, visto que esta não foi parte no processo; que não se pode falar em inconstitucionalidade do art. 270, II, do CC; bem como que o valor arbitrado deveria ser reduzido para um salário mínimo mensal para cada apelante. Quanto ao dano moral fixado, alega que é elevado demais para ser suportado pelo apelante, pois possui patrimônio irrisório. In-surge-se, ainda, contra o deferimento da justiça gratuita à primeira autora-apelada e o indeferimento ao réu-apelado, requerendo seja-lhe deferida a isenção do

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pagamento dos ônus sucumbenciais.

Preliminar de carência de ação

Segundo o apelante, os autores são carece-dores da ação, visto que o réu teria agido "motivado por forte emoção e pela provocação maliciosa da vítima" (f. 42), fato que ensejaria a extinção do processo, pela impos-sibilidade jurídica do pedido.

Sem razão, o recorrente.

Nem mesmo na esfera penal, haveria como se excluir a imputabilidade do réu em face da aludida emoção, de acordo com o art. 28, I, do CP.

In casu, já existe, inclusive, sentença penal condenatória transitada em julgado (certidão à f. 165), es-tando o requerido a cumprir a pena.

Portanto, configurados estariam, em tese, os motivos ensejadores da propositura da presente ação, ins-culpidos no art. 159 do Código Civil de 1916 (art. 186 do atual Código Civil), motivo pelo qual, rejeito a preliminar avençada.

Preliminar de ilegitimidade de parte

A preliminar de ilegitimidade ativa da esposa da vítima, Sra. Leila Regina Amaral Andrade Vieira, também não pode prosperar.

Não há como lhe imputar a co-responsabilidade pelo fato, uma vez que, ao contrário, mili-ta em seu favor a presunção do dano sofrido, por ter perdi-do, precocemente, o seu esposo e pai de suas filhas.

Assim, rejeito a preliminar de ilegitimidade ativa.

Preliminar de nulidade de prova

Apesar de alegada em meio aos demais ar-gumentos apresentados no recurso, preliminarmente, cum-pre-me registrar que a quebra de sigilo bancário da esposa do apelante, prova requerida por ambas as partes, não constitui nulidade do processo e nem da decisão, visto se tratar de terceiro interessado no desate da lide. Aliás, o Código de Processo Civil, em seus arts. 56 e 499, permite a intervenção de terceiros, tanto antes da sentença, como para dela recorrer.

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Mérito

Do exposto no art. 1.525 do Código Civil de 1916, pode-se concluir que a sentença condenatória no juí-zo criminal faz coisa julgada no cível. Portanto, não caberá nestes autos qualquer discussão acerca da autoria e mate-rialidade do crime. In casu, o requerido já se encontra cum-prindo pena na penitenciária.

Analisando-se a alegação de que o valor arbitrado a título de dano moral não poderia ser calculado com base nos rendimentos de sua esposa, e sim do próprio apelante, entendo que não lhe assiste razão. Isto porque o critério adotado quanto à capacidade pagadora do réu baseia-se nas regras referentes ao casamento vigente sob o regime da comunhão parcial de bens, quais sejam, os arts. 274 e 275 do CC de 1916. Ademais, adotou também o i. Ma-gistrado o critério que utiliza o valor dos rendimentos da ví-tima quando ainda viva, presumindo-se que gastasse um terço deles com suas filhas menores.

Ademais, conforme bem asseverado na sen-tença, não se pode negar que houve ganho real da esposa do apelante com a morte da vítima, visto que se tornou ti-tular do cartório de registro de imóveis do qual era escre-vente. Não significa dizer que a cônjuge contribuiu de qual-quer maneira para o resultado danoso, como quer o ape-lante, mas, sem sombra de dúvida, lucrou com a morte da vítima.

Quanto à aplicabilidade ou não do art. 270, II, do CC de 1916 ao caso, entendo que merece ser trazida à baila a lição de Carlos Roberto Gonçalves, eminente De-sembargador do Tribunal de Justiça de São Paulo, em sua obra Direito de Família, Sinopses Jurídicas, vol. 2, 7ª edição, 2000, p. 62

:

"Portanto, no regime da comunhão parcial é maior o número de bens excluídos da comu-nhão. Não se comunicam, ainda, as dívidas anteriores ao casamento, mesmo contraídas com seus preparativos, nem as provenientes de atos ilícitos (art. 270), salvo se tiver advin-do lucro para ambos, quando respondem na proporção do ganho de cada um (art. 274)." (Grifo nosso).

Portanto, não se configura o caso de se ne-gar vigência ao art. 270, II, do Código Civil de 1916, mas de se aplicar a exceção a este dispositivo insculpida no art. 274 do mesmo diploma legal. Assim, correta foi a

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aplicação constante da sentença monocrática quanto ao pagamento de lucros cessantes às menores.

Ademais, de acordo com o art. 1659, IV, da Lei 10.406/2002, atual Código Civil, são excluídas da comu-nhão as obrigações provenientes de atos ilícitos, salvo se revertidas em proveito do casal.

A redução do valor atribuído a título de in-denização por danos morais pleiteada pelo apelante, en-tendo que também não caberia, no caso dos autos. Res-tando presumido o sofrimento das autores com a morte de seu esposo e pai, impõe-se o dever de indenizar.

A meu ver, a fixação dos valores devidos a tí-tulo de danos morais decorre dos princípios da proporcio-nalidade e razoabilidade, a serem aferidos pelo Julgador. Incumbe-lhe sopesar três requisitos: a capacidade das par-tes, a extensão do dano e a intensidade da culpa, não po-dendo se esquecer de que o objetivo da reparação moral é o seu caráter punitivo ao infrator e compensatório à víti-ma.

Por isto, concluo que a condenação da ré ao pagamento de INDENIZAÇÃO por dano moral na impor-tância fixada na sentença, isto é, 300 (trezentos) salários mínimos, é razoável para o caso dos autos, cumprindo-se o objetivo da reparação moral de educar a requerida e mini-mizar o sofrimento dos autores. No entanto, por entender que a fixação da INDENIZAÇÃO com base no salário mínimo possui expressa vedação constitucional, nos termos do art. 7º, IV, da CF, venho adotando o entendimento no sentido de fixar o dano moral em quantia certa.

Nesse diapasão, a INDENIZAÇÃO por danos morais, in casu, corresponde à importância de R$ 33.600,00 (trinta e três mil e seiscentos reais), considerando que, à época do crime, o salário mínimo era fixado em R$112,00 (cento e doze reais), quantia a ser corrigida desde a data da morte, ou seja, 12 de fevereiro de 1997, pela tabela da Justiça Estadual, mais juros de 6% ao ano, devidos a partir da mesma data, conforme súmula 54 do STJ.

Finalmente, em face da declaração apresen-tada à f. 48, defiro ao apelante os benefícios da assistência judiciária.

Diante de todo o exposto, dou parcial provi-mento ao apelo, apenas para condenar as partes ao pa-gamento das custas processuais à base de 1/3 (um terço) para a autora Leila e 2/3 (dois terços) para o apelante, e honorários advocatícios à base de 10% (dez por cento) so-bre a condenação,

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distribuídos entre os procuradores das partes, na mesma proporção das custas processuais, fican-do, porém suspensa a cobrança de tais verbas, por terem litigado sob o pálio da justiça gratuita.

Custas recursais ex lege.

JUIZ EDIWAL JOSÉ DE MORAIS

SCSO

Número do processo: 1.0433.06.200827-4/001(1)Relator: JOSÉ AMANCIO Relator do Acordão: JOSÉ AMANCIO

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Data do Julgamento: 31/10/2007Data da Publicação: 11/01/2008 Inteiro Teor:   EMENTA: INDENIZAÇÃO POR MORTE - CONCESSÃO DA GRATUIDADE DE JUSTIÇA - PEDIDO GENÉRICO NÃO COMPROVADO - REVELIA CARACTERIZADA - NOMEAÇÃO DE DEFENSOR - IMPOSSIBILIDADE - PENSÃO E INDENIZAÇÃO DEVIDAS AO CÔNJUGE - PENSÃO DEVIDA AOS FILHOS - TERMO FINAL MANTIDO - 'QUANTUM' INDENIZATÓRIO - REDUÇÃO - SUCUMBÊNCIA RECÍPROCA - INEXISTÊNCIAAo postulante que atravessa, ainda que momentânea dificuldade financeira, concede-se a gratuidade de justiça.A petição inicial não se torna inepta, por ser o pedido genérico, se o autor define claramente a sua pretensão.Os efeitos da revelia atingem aquele que instado a regularizar a representação processual, não o faz no prazo assinado.Não compete ao Juiz nomear defensor, se a parte comparece à audiência desacompanhada do procurador, exceto nos casos previstos na legislação processual civil.Ao cônjuge sobrevivente é assegurada pensão por morte daquele que era arrimo da família.A pensão por morte é devida aos filhos da vítima até a idade que concluírem a formação educacional, subsistindo até completarem vinte e cinco anos de idade, quando presumidamente cessa a dependência econômica.O valor da INDENIZAÇÃO deve ser suficiente para reparar o dano sofrido pelo ofendido, e inibidor da reiteração da conduta ilícita do ofensor.Ao ser meramente estimativo o valor da INDENIZAÇÃO pleiteado com a inicial, e sendo o valor fixado na sentença aquém do pedido, não há que se falar em sucumbência recíproca.

APELAÇÃO CÍVEL N° 1.0433.06.200827-4/001 - COMARCA DE MONTES CLAROS - APELANTE(S): VALDEIR QUIRINO - APELADO(A)(S): ADÃO JOSÉ DE SOUZA E OUTRO(A)(S) - RELATOR: EXMO. SR. DES. JOSÉ AMANCIO

ACÓRDÃO

Vistos etc., acorda, em Turma, a 16ª CÂMARA CÍVEL do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, incorporando neste o relatório de fls., na conformidade da ata dos julgamentos e das notas taquigráficas, EM NEGAR PROVIMENTO AO RECURSO, VENCIDO PARCIALMENTE O RELATOR.

Belo Horizonte, 31 de outubro de 2007.

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DES. JOSÉ AMANCIO - Relator

NOTAS TAQUIGRÁFICAS

Produziu sustentação oral, pelo apelante, o Dr. Leno Ferreira.

O SR. DES. JOSÉ AMANCIO:

VOTO

Valdeir Quirino apela da r. sentença do MM. Juiz de Direito da 5ª Vara Cível, da Comarca de Montes Claros - MG, julgando procedente os pedidos na ação de INDENIZAÇÃO por danos morais e por danos materiais c/c pedido liminar de sustação de registro e de novas transações, bem como o pedido de conservação de bens, aforada por Adão José de Souza e outros, condenando-o ao pagamento da pensão mensal de R$ 380,00 (trezentos e oitenta reais); à quitação de uma só vez das prestações pretéritas, ficando as já vencidas ou vincendas, sujeitas a juros de mora a contar da data do fato, não incluídos o 13º salário e as férias.

Condenou-o ao pagamento por danos morais, em R$152.000,00 (cento e cinqüenta e dois mil reais), além de confirmar a liminar anteriormente deferida (fl. 33); mantendo o impedimento sobre os veículos de sua propriedade, negando lhe o pedido de assistência judiciária; condenando-o ao pagamento das despesas do processo e dos honorários de advogado, fixados em 10% (dez por cento) do valor da condenação, resultante do somatório das prestações vencidas até o trânsito em julgado e doze prestações vincendas, mais danos morais.

Determinou ao devedor que efetue, no prazo de 15 (quinze) dias, o pagamento do montante da condenação, sob pena de multa de 10% (dez por cento), conforme artigo 475-J, caput do Código de Processo Civil, devendo ser expedido quando requerida a execução, o competente mandado de penhora e avaliação, dos bens já indicados pelos autores, nos termos do artigo 475-J, §3° do Código de Processo Civil.

O apelante requer preliminarmente a concessão da gratuidade de justiça, por não ter condições, no momento, de arcar com as despesas do processo e com os honorários de advogado.

Sustenta ser a inicial inepta por conter pedido genérico e implícito (artigo 295, parágrafo único, incisos I e II do Código de Processo Civil) e a r.

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sentença ultra petita.

Pugna pela desconsideração da sua revelia, tentando justificar o atraso na juntada da procuração aos autos, dizendo estar devidamente representado, trazendo a cópia instrumento do mandato com a peça de defesa; alternativamente pleiteia a nulidade do processo desde a audiência de instrução e julgamento, por não ter-lhe o MM. Juiz de Direito nomeado defensor ou curador especial ao réu, em não comparecendo o seu procurador naquela oportunidade.

Valdeir Quirino alega a impossibilidade de pagamento de pensão ao autor Adão José de Souza, afirmando que este e a vítima não viviam juntos há cerca de 6 (seis) anos antes da ocorrência do crime; recusando também a percepção de pensão pelos filhos, por já terem alcançado a maioridade, não mais detendo a condição de alimentados ou de beneficiários, tanto em relação à pensão alimentícia, quanto em relação à pensão previdenciária.

Em sendo mantida a r. sentença, que o quantum indenizatório por danos morais seja reduzido, e sejam os apelados condenados ao pagamento das custas do processo e dos honorários do advogado, ante a sucumbência recíproca.

Contra-razões às fls. 162-170.

Tendo em vista a declaração de hipossuficiencia (fls.185-188), concedo-lhe o benefício de gratuidade de justiça, considerando as dificuldades financeiras as quais atravessa, em virtude do bloqueio dos caminhões de sua propriedade, e do processo a que responde pelo pretenso crime cometido.

Conheço do recurso, presentes os pressupostos de admissibilidade.

Adão José de Souza e seus filhos André Viana de Souza, Paula Cristina Viana de Souza e Júlia Renata Viana de Souza ajuizaram ação de INDENIZAÇÃO por danos materiais e por danos morais c/c pedido liminar de sustação de registro, novas transações e de conservação de bens, contra Valdeir Quirino, por haver assassinado a Raquel Viana de Souza, ESPOSA e mãe dos autores, no dia 09 de outubro de 2006, confessando haver mantido um "caso" por três anos e meio, sendo o ciúme o móvel do crime.

A vítima possuía um comércio informal, em frente à empresa Nestlé, no distrito industrial de Montes Claros-MG, fornecendo almoço e lanches aos

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caminhoneiros, auferindo renda mensal em torno de três salários mínimos, e o réu, proprietário de caminhões, fazia transportes para a empresa Nestlé, conforme depoimentos do autor e das testemunhas às fls. 126; 128-129.

O pedido inicial é detalhista e preciso, descrevendo os fatos e expondo os autores as suas pretensões, não podendo dizer-se ser ele genérico, ao ponto de ensejar a extinção do processo sem que o mérito seja apreciado, assim como a sentença limitou-se a conceder tão-somente o pretendido pelos autores.

A revelia do réu foi decretada pelo fato de não fazer-se acompanhar, a defesa, do instrumento de procuração e o procurador não ter comparecido à audiência.

O apelante, no entanto, acha suficiente a juntada da cópia da procuração, cujo original fora enviado via Sedex, juntamente com a contestação, tendo sido extraviada pelos Correios, ao ser transportada em veículo que foi roubado.

Pleiteia ainda a nulidade do processo a partir da audiência de instrução e julgamento, por ter sido o réu tolhido do direito ao contraditório, por ter deixado o MM. Juiz de nomear-lhe defensor dativo.

A cópia de instrumento de mandato enviada por fac-símile não regulariza a representação da parte, considerando que a lei n. 9.800 de 26 de maio de 1999, autoriza a utilização de fax para a prática de atos processuais, desde que o original seja apresentado dentro de cinco dias após a transmissão da cópia, conforme caput do artigo 2º, in verbis:

"Art. 2o A utilização de sistema de transmissão de dados e imagens não prejudica o cumprimento dos prazos, devendo os originais ser entregues em juízo, necessariamente, até cinco dias da data de seu término."

Para sanar o defeito da representação processual, faz-se necessário o anexo aos autos, do original do mandato, o que deveria ser providenciado, mas não foi.

A nomeação de defensor dativo pleiteada pelo apelante torna-se descabida, considerando-se ter sido ele citado por oficial de justiça(fl.38) e intimado, juntamente com seu procurador, para a audiência, não tendo este comparecido e nem justificado a ausência, tornando-se imponível a nomeação de defensor dativo na área cível, a não ser nos casos do artigo 9

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do Código de Processo Civil, in verbis:

"O juiz dará curador especial:

I - ao incapaz, se não tiver representante legal, ou se os interesses deste colidirem com os daquele;

II - ao réu preso, bem como ao revel citado por edital ou com hora certa.

Parágrafo único. Nas comarcas onde houver representante judicial de incapazes ou de ausentes, a este competirá a função de curador especial."

Nesse sentido:

"RESPONSABILIDADE CIVIL - ACIDENTE DO TRABALHO - AUDIÊNCIA DE INSTRUÇÃO - NÃO-COMPARECIMENTO DE ADVOGADO, EMBORA INTIMADO PARA O ATO - AUSÊNCIA DE JUSTIFICAÇÃO DE FATO IMPEDITIVO ATÉ O ATO DE REALIZAÇÃO DA AUDIÊNCIA - REALIZAÇÃO DO ATO PROCESSUAL - NULIDADE AFASTADA - AUDIÊNCIA - AUSÊNCIA DO PATRONO REGULARMENTE INTIMADO - DISPENSA DAS TESTEMUNHAS DA PARTE PELO JUIZ - LEGALIDADE - CERCEAMENTO DE DEFESA - INOCORRÊNCIA - (...). I - Se o procurador da parte não comprova, até o ato da abertura da audiência, o justo impedimento para o seu não comparecimento, torna-se inviável a redesignação de outra data para a repetição do ato processual, sobretudo para a coleta das provas pretendidas. II - Não há falar-se em cerceamento de defesa quando o Juiz dispensa a produção da prova testemunhal requerida pela parte, em razão do não comparecimento de seu advogado, regularmente intimado, à audiência de instrução e julgamento, conforme lhe autoriza o art. 453, § 2º, do CPC. III (...)" (ap. cível nº2.0000.00.406489-3/000(1); relator: Osmando Almeida; j. 09/12/2003).

"AUDIÊNCIA DE JUSTIFICAÇÃO - COMPARECIMENTO DO RÉU DESACOMPANHADO DE ADVOGADO - NOMEAÇÃO DE DEFENSOR - INCABÍVEL (...) Citado para comparecer em audiência de justificação, cabe ao réu constituir advogado ou procurar a Defensoria Pública, não cabendo ao juiz nomear a ele defensor, o que somente ocorre nas hipóteses do art. 9º, CPC(...)" (ap. cível nº 1.0024.06.034628-5/002(1); relator: Mota e Silva; j. 14/12/2006).

A realização da audiência sem estar o réu devidamente representado, não

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configura cerceamento de defesa e nem restrição ao contraditório.

Quanto à impossibilidade do pagamento da pensão e de INDENIZAÇÃO ao autor Adão José de Souza, o apelante afirma que a vítima e o MARIDO não viviam juntos há cerca de 06(seis) anos antes da ocorrência do crime, mas não prova nem mesmo pelo depoimento das testemunhas.

O autor comprovou o seu estado civil pela certidão de casamento (fl.26), cabendo ao réu o ônus da prova da existência de fato extintivo do direito do autor, conforme artigo 333, inciso II do Código de Processo Civil, e não o fazendo, são devidas tanto a pensão quanto INDENIZAÇÃO, sendo que a pensão terá como termo final a data em que a vítima viesse a completar 65(sessenta e cinco) anos, idade média presumida de sobrevida, conforme a jurisprudência brasileira.

Quanto ao termo final do pensionamento dos filhos da vítima, não há motivo para antecipá-lo, devendo prevalecer até quando vierem a completar vinte e cinco anos de idade, como fixado na r. sentença monocrática, pois de modo geral, antes daquela idade, não se conclui a plena formação escolar, não existindo qualquer relação entre o limite da pensão por morte concedida pelo Instituto Nacional de Segurança Social, com a pensão advinda da responsabilidade civil.

"INDENIZAÇÃO - ACIDENTE DE TRÂNSITO - VEÍCULO AUTOMOTOR E MOTOCICLETA - MORTE DA VÍTIMA - PENSÃO MENSAL - IDADE LIMITE - RELAÇÃO DE DEPENDÊNCIA E NECESSIDADE PRESUMIDAS - SENTENÇA JULGANDO PROCEDENTE O PEDIDO INICIAL - RECURSO DESPROVIDO. - Consoante iterativa jurisprudência, a pensão devida ao filho menor, em decorrência do falecimento do pai, vítima de acidente de trânsito, deve estender-se além da maioridade até quando o beneficiário venha completar 25 (vinte e cinco) anos de idade, ocasião em que se presume esteja o mesmo exercendo atividade profissional." (ap.cível nº2.0000.00.487119-4/000(1); relator: Antônio de Pádua; j. 03/05/05)

No que tange à análise do quantum indenizatório, a título de danos morais, a r. sentença merece reparo.

O apelante foi condenado ao pagamento de R$152.000,00 (cento e cinqüenta e dois mil reais), por danos morais, estrapolando o princípio da razoabilidade e circunstâncias fáticas, uma vez que para fixar o "quantum" indenizatório, deve-se atentar para a gravidade objetiva do dano, seu efeito

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lesivo, sua natureza e extensão, as condições sociais e econômicas da vítima e do ofensor, de forma que não haja enriquecimento do ofendido, mas que a INDENIZAÇÃO corresponda a um desestímulo a novas agressões por parte do ofensor.

O valor fixado na r. sentença propicia o enriquecimento ilícito dos autores, em descompasso com a renda mensal, de alegaram, três salários mínimos, equivalente a cerca de R$1.200,00 (um mil e duzentos reais), como alegado, devendo o "quantum" indenizatório ser reduzido, sob pena de afastar-se do princípio da razoabilidade e do objetivo da reparação dos danos morais.

Analisadas as particularidades do caso, fixo o valor indenizatório em R$ 80.000,00 (oitenta mil reais), representando uma PERDA patrimonial significativa para o apelante, e em se tratando de 4 (quatro) apelados, torna-se o valor razoável para o rateio, o que amenizará o sofrimento pela morte da ESPOSA e mãe dos apelados, atentando-se também para a garantia do pagamento, o qual pode ser feito com veículos de propriedade do apelante, garantidores da obrigação (fl.134).

Não há que se falar em sucumbência recíproca, porquanto embora o dano moral tenha sido arbitrado em valor inferior ao pretendido na petição inicial, os pedidos pleiteados foram julgados procedentes, inclusive o de INDENIZAÇÃO, cujo "quantum" foi arbitrado pelo MM. Juiz.

"Sendo meramente estimativo o valor da INDENIZAÇÃO pedida na inicial, não ocorre a sucumbência parcial se a condenação fixada na sentença é inferior àquele montante" (STJ - 3ª Turma, Resp 21.696-9 SP, rel. Min. Cláudio Santos. No mesmo sentido: RSTJ 111/181; STJ - 4ª Turma, Resp 113.398- DF, rel. Min. Barros Monteiro).

Conclusão:

Dou parcial provimento ao recurso, para reduzir o "quantum" indenizatório por danos morais, para R$80.000,00 (oitenta mil reais), mantendo quanto ao mais a r. sentença.

Custas do recurso, na proporção de 80% para o apelante, cujo pedido foi parcialmente provido, e de 20% para os apelados, ressalvadas as concessões da gratuidade de justiça ao apelante e aos apelados.

O SR. DES. SEBASTIÃO PEREIRA DE SOUZA:

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VOTO

A autoria e materialidade do crime de HOMICÍDIO praticado contra a vítima, ESPOSA e mãe dos apelados, é questão incontroversa. Provado o ilícito, decorre daí a abrigação de indenizar por danos morais segundo reiterada jurisprudência.

Peço vênia para acolher integralmente os fundamentos do judicioso voto do em. Des. Relator, só que, no caso, para negar provimento ao recurso. É que não consigo antever enriquecimento sem causa dos apelados por receber, em compensação, pela lamentável PERDA da ESPOSA e mãe de tão trágico incidente.

À míngua de qualquer razão plausível para reduzir o quantum indenizatório e, tendo em vista a gravidade do ato praticado pelo apelante, é que nego provimento ao recurso.

Custas recursais, pelo apelante.

O SR. DES. OTÁVIO PORTES:

VOTO

Peço vênia ao eminente Desembargador José Amancio para divergir de seu judicioso voto apenas no que concerne ao "quantum" dos danos morais.

É que entendo que, no caso dos autos, deverá ser mantida integralmente a sentença proferida em primeiro grau, que bem analisou o feito.

Nota-se que o apelante, Valdeir Quirirno, movido a ciúme, assassinou a ESPOSA e mãe dos apelados, Sra. Raquel Viana de Souza, o que motivou a presente demanda, sendo o recorrente condenado em primeiro grau no pagamento de R$152.000,00 (cento e cinqüenta e dois mil reais) a título de danos morais.

O certo é que, em se tratando de danos morais, como no caso dos autos, o que se busca não é colocar o dinheiro ao lado da angústia ou da dor, mas tão-somente propiciar-se aos ofendidos uma situação positiva, capaz de amenizar e atenuar a negativa sensação de sofrimento, daqueles que perdem um ente querido, assassinado brutalmente, por motivo torpe, sendo que a sua fixação deve corresponder a um denominador comum, competindo ao julgador levar em conta o grau de ofensa, sua repercussão, e as condições das partes, sem se esquecer que o objetivo não é tarifar o

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preço da dor, nem o enriquecimento ilícito do ofendido, mas compensar o sofrimento e desestimular o ofensor a novas práticas do delito.

A propósito, elucida Maria Helena Diniz em sua obra, Curso de Direito Civil - Responsabilidade Civil -, que:

"Realmente, na reparação do dano moral o juiz deverá apelar para o que lhe parecer eqüitativo ou justo, mas ele agirá sempre com um prudente arbítrio, ouvindo as razões das partes, verificando os elementos probatórios, fixando moderadamente uma INDENIZAÇÃO. Portanto, ao fixar o 'quantum' da INDENIZAÇÃO, o juiz não procederá a seu bel-prazer, mas como um homem de responsabilidade, examinando as circunstâncias de cada caso, decidindo com fundamento e moderação".

A referida jurista ainda observa que:

"A reparação pecuniária do dano moral não pretende refazer o patrimônio, visto que este, em certos casos, não sofreu nenhuma diminuição, mas dar ao lesado uma compensação, que lhe é devida, pelo que sofreu, amenizando as agruras oriundas do dano não patrimonial" (07/77).

O mestre Caio Mário da Silva Pereira ensina que:

"O problema de sua reparação deve ser posto em termos de que a reparação do dano moral, a par do caráter punitivo imposto ao agente, tem de assumir sentido compensatório. Sem a noção de equivalência. que é próprio da INDENIZAÇÃO por dano material, corresponderá à função compensaria pelo que tiver sofrido. Somente assumindo uma concepção desta ordem é que se compreenderá que o direito positivo estabelece o princípio da reparação do dano moral. A isso é de se acrescer que na reparação do dano moral, insere-se uma atitude de solidariedade á vítima (Aguiar Dias).

A vítima de uma lesão a algum daqueles direitos sem cunho patrimonial efetivo, mas ofendida em um bem jurídico que em certos casos pode ser mesmo mais valioso do que os integrantes de seu patrimônio, deve receber uma soma que lhe compense a dor ou o sofrimento, a ser arbitrada pelo juiz, atendendo ás circunstâncias de cada caso, e tendo em vista as posses do ofensor a situação pessoal do ofendido. Nem tão grande que se converta em fonte de enriquecimento, nem tão pequena que se torne inexpressiva" ("in" Responsabilidade Civil, nº 49, p. 67).

A jurisprudência tem assentado entendimento no sentido de que:

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"A INDENIZAÇÃO por dano moral é arbitrável, mediante estimativa prudencial que leve em conta a necessidade de, com a quantia, satisfazer a dor da vítima e dissuadir, de igual e novo atentado, o autor da ofensa" (RT 706/67).

Entende-se, destarte, que, em casos como o dos autos, a reparação deve ser a mais ampla possível, sendo justo o valor apontado na r. sentença, ou seja, R$152.000,00 (cento e cinqüenta e dois mil reais), o que se afigura bastante razoável e satisfatório, à vista das circunstâncias do fato, e segundo os parâmetros mencionados "in retro".

Assinala-se que o fato de os cônjuges não possuírem um relacionamento perfeito, ou de os filhos da vítima serem maiores, não nulifica ou torna irrisória a tristeza sentida em razão da sua PERDA, como pretende fazer crer o apelante, não só pela inevitável dor que acarreta o falecimento do ente querido como pela estreita convivência que possuíam com a ESPOSA e mãe.

Mediante tais considerações, renovando vênia ao eminente Desembargador relator, nega-se provimento ao recurso, mantendo integralmente a bem lançada sentença proferida em primeiro grau.

Custas recursais, pelo apelante, suspensa a exigibilidade, nos termos do artigo 12, da Lei 1.060/50.

SÚMULA :      NEGARAM PROVIMENTO AO RECURSO, VENCIDO PARCIALMENTE O RELATOR.

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MINAS GERAIS

APELAÇÃO CÍVEL Nº 1.0433.06.200827-4/001

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Número do processo: 2.0000.00.429229-5/000(1)Relator: D. VIÇOSO RODRIGUES Relator do Acordão: Não informadoData do Julgamento: 23/09/2004Data da Publicação: 15/10/2004 Inteiro Teor:   EMENTA: AÇÃO DE REPARAÇÃO DE DANOS - ACIDENTE AUTOMOBILÍSTICO - MORTE DA VÍTIMA - LEGITIMIDADE DO ESPOSO E DOS FILHOS - IRREGULARIDADE DAS CITAÇÕES - AUSÊNCIA DE PREJUÍZO - DANOS MORAIS E MATERIAIS CONFIGURADOS.

O esposo e os filhos da vítima de ilícito civil, que faleceu em decorrência de acidente de trânsito, são partes legítimas para pleitear INDENIZAÇÃO por danos morais e materiais que pessoalmente sofreram.

A INDENIZAÇÃO devida a título de danos materiais por morte decorrente de acidente de trânsito implica no pagamento de pensão aos filhos e ao esposo, sendo que, nesses casos, dispensável é a comprovação do prejuízo, já que a dependência econômica é presumida, bastando a ocorrência do fato para que possa surgir o dever de indenizar.

Para que seja deferido o ressarcimento por despesas de funeral com a vítima, deve ser efetivamente comprovado o gasto, o que também deve ocorrer com os valores despendidos para reparos no muro da residência da vítima.

Os danos morais são cumuláveis com os materiais (Súmula 37 do STJ), devendo a fixação obedecer a um critério justo e razoável, condizente com a repercussão do fato e a capacidade financeira do autor do ilícito.

A C Ó R D Ã O

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível Nº 429.229-5 da Comarca de POMPÉU, sendo Apelante(s): SEBASTIÃO DARCI VALADARES DE ABREU E OUTRO e Apelado (a)(s): VICENTE DOS

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SANTOS E OUTROS,

ACORDA, em Turma, a Sétima Câmara Cível do Tribunal de Alçada do Estado de Minas Gerais REJEITAR AS PRELIMINARES E DAR PARCIAL PROVIMENTO.

Presidiu o julgamento o Juiz JOSÉ AFFONSO DA COSTA CÔRTES (Vogal) e dele participaram os Juízes D. VIÇOSO RODRIGUES (Relator) e MOTA E SILVA (Revisor).

O voto proferido pelo Juiz Relator foi acompanhado, na íntegra, pelos demais componentes da Turma Julgadora.

Belo Horizonte, 23 de setembro de 2004.

JUIZ D. VIÇOSO RODRIGUES

Relator

V O T O

O SR. JUIZ D. VIÇOSO RODRIGUES:

Trata-se de Recurso de Apelação interposto por SEBASTIÃO DARCI VALADARES DE ABREU E OUTRO contra a r. sentença, que julgou parcialmente procedente o pedido constante da ação de INDENIZAÇÃO ajuizada por VICENTE DOS SANTOS E OUTROS, buscando reverter a decisão, através do recurso de apelação de f. 204/214 -TA.

Aduzem os apelantes em suas razões recursais, preliminarmente, ilegitimidade dos autores para figurarem no pólo ativo da demanda, bem como nulidade da citação de ambos os réus.

No mérito, argumentam que a r. decisão de primeiro grau merece ser reformada, para que seja julgada improcedente a demanda, posto que o menor teria saído no veículo dos apelantes, sem que tivessem consentido.

Além disso, afirmam que das provas apresentadas, principalmente a testemunhal, não poderia se inferir qualquer culpa dos apelantes, nem mesmo do condutor do veículo, já que o acidente teria sido causado por uma moto, conduzida também por uma menor inabilitada.

Por fim, insurgem-se contra as parcelas condenatórias da sentença,

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afirmando que todas seriam indevidas, posto que não teria sido comprovado que a vítima auferia qualquer salário, para que fosse deferida pensão mensal, não havendo comprovação dos gastos com o muro da casa da vítima derrubado no acidente, devendo, ainda, ser afastado o dano moral, que não teria se configurado com a morte da vítima, sendo sua condenação abusiva.

Pugnam pelo provimento do recurso, para que seja reformada a r. sentença, julgando-se improcedente a ação indenizatória, ou para que sejam reduzidas as parcelas indenizatórias a parâmetros justos.

Contra-razões às f. 218/225,TA, buscando os apelados a manutenção da r. sentença.

Conheço do recurso, porque presentes os pressupostos objetivos e subjetivos de admissibilidade.

Insta analisar primeiramente as preliminares suscitadas pelos recorrentes, posto que seu acatamento importa em não conhecimento do mérito recursal.

PRELIMINARES

DA ILEGITIMIDADE ATIVA DOS AUTORES.

Argumentam os recorrentes que a r. decisão deverá ser reformada por ter, equivocadamente, considerado como partes legítimas, no pólo ativo, os autores Vicente dos Santos, Izabel Élina dos Santos e Hélen Mérci dos Santos, pois em caso de HOMICÍDIO é devida INDENIZAÇÃO somente às pessoas a quem o falecido devia alimentos, nos termos do art. 1537, II, do CC/1916.

A embasar referida tese, aduzem que Vicente dos Santos era MARIDO da falecida, não estando entre as pessoas que tinham direito a alimentos, assim como as filhas, conforme comprovam as certidões de nascimento em anexo, por serem pessoas maiores e capazes, não tendo direito ao recebimento dos alimentos pela falecida, razão porque, apresentam-se os autores como partes ilegítimas ativas.

Razão alguma assiste aos recorrentes, pois não me parece, em situações como a presente, em que a vítima de acidente por ato ilícito veio a falecer, se deva afastar o cabimento de reparação, a mesmo título, a familiar ou familiares também atingidos pela dor e pelo sofrimento decorrentes da

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fatalidade ocorrida.

Com efeito, é possível que, diante do acidente sofrido pela mãe, resultando a morte da vítima, pai e filhos sintam-se furtados de bens extrapatrimoniais, sofrendo angústias em face das conseqüências, tudo a refletir no convívio diuturno da família.

Ao meu entender, será facultado à família o acesso à Justiça, nos casos como o presente, para o fim de reparar o ilícito civil, posto que nos casos em que há o resultado morte de ente familiar, não há possibilidade da vítima pleitear a reparação, ocasião em que os familiares devem buscar em juízo a reparação, por serem os maiores envolvidos em decorrência do resultado do acidente.

Assim, não há falar-se em ilegitimidade do esposo e dos filhos da vítima, para pleitear a presente reparação.

Rejeito, portanto, a preliminar de ilegitimidade ativa.

DA NULIDADE DAS CITAÇÕES.

Não merece também qualquer respaldo, a tese de nulidade da citação, posto que as irregularidades apontadas não tem o condão de acarretar qualquer prejuízo às partes.

Tanto é verdade, que foram apresentadas as peças de defesa, tendo o processo tramitado dentro da norma processual, ou seja, relação processual devidamente constituída, atenção aos princípios do contraditório e da ampla defesa.

Portanto, eventual irregularidade restou sanada no curso dos autos com o comparecimento espontâneo dos apelantes.

Por estas razões, rejeito a preliminar.

MÉRITO

Insurgem-se os recorrentes contra a r. sentença que julgou parcialmente procedente o pedido inicial, para condenar os requeridos a pagarem aos autores uma INDENIZAÇÃO mensal, fixada em 50% do salário mínimo, tendo como termo inicial a data do evento danoso, e como termo final o tempo provável de vida da falecida, fixado em 65 anos de idade, devidamente corrigidas; despesas correspondentes ao funeral da vítima e

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conserto do muro danificado, corrigida da data do ajuizamento da ação até o efetivo pagamento, com os acréscimos legais; INDENIZAÇÃO por danos morais no valor correspondente a 150 salários mínimos vigentes ao tempo do pagamento, sendo 30 salários mínimos para cada um dos autores, devidamente corrigidos; constituição por parte dos requeridos, de capital suficiente para assegurar o pagamento de todas as parcelas devidas.

No entanto, melhor sorte não assiste aos recorrentes em seu inconformismo em relação ao mérito de seu recurso, pois, analisando o conjunto probatório presente nos autos, vislumbra-se que não há motivos para reformar a r. sentença, porquanto proferida em estrita observância aos fatos e os elementos probatórios.

Isto porque conforme fundamentado pelo Magistrado singular tem-se que:

"ficou claro que a caminhonete dirigida por Tiago estava além da velocidade normal e transitando sem os cuidados necessários, pois em zig-zag e no meio da pista. Assim, não teria como a motocicleta desviar-se, ocasionando a colisão por culpa de Tiago que ainda descontrolou-se e acabou chocando a caminhonete contra o muro onde estava a vítima Marlene, tendo Tiago deixado o local sem prestar qualquer tipo de socorro à vítima."

A prova coligida aos autos demonstrou de forma inegável a responsabilidade do condutor da caminhonete, para a produção do evento danoso, circunstância que torna certo o dever de indenizar os autores pelos prejuízos materiais e morais suportados em virtude do evento, em virtude de serem proprietários do veículo e terem sobre o mesmo responsabilidade de guarda.

Neste sentido, vem decidindo a jurisprudência:

"Contra o proprietário de veículo dirigido por terceiro considerado culpado pelo acidente conspira a presunção iuris tantum de culpa in eligendo e in vigilando, em razão do que sobre ele recai a responsabilidade pelo ressarcimento do dano que a outrem possa ter sido causado." (STJ 18/17)

"Responsabilidade Civil. Acidente de trânsito. Condenação do proprietário pelo fato da coisa perigosa. Responsabilidade presumida do proprietário que entrega o veículo à direção de terceiro." (RJTJSP 32/61)

"Farta é a jurisprudência no sentido de que o dono do veículo responde sempre pelo ato de terceiro a quem entregou, seja preposto seu ou não. É

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que a responsabilidade integra-se pelo princípio da causalidade na culpa da guarda da coisa." (RT 585/116)

In casu, a meu sentir, o acidente poderia ter sido evitado, desde que o condutor do veículo tivesse adotado postura mais cautelosa na condução de seu automotor.

Assim, demonstrada a sua culpa e provado o nexo de causalidade com os danos verificados, persiste o dever de indenizar os autores pelos prejuízos verificados em virtude do malsinado acidente que vitimou, infelizmente, a mãe e ESPOSA dos aqui requerentes, posto que não comprovaram nos autos que o veículo teria sido retirado da guarda dos mesmos sem que tivessem autorizado.

Examino, agora, as parcelas indenizatórias deferidas pela sentença afrontada.

Primeiro, voltam-se os apelantes contra o pagamento da pensão mensal aos filhos e esposo da falecida, notadamente no que tange ao limite da pensão, bem como o seu valor.

De fato, não veio aos autos a prova do ganho exato da vítima, o que, todavia, não impede que o Juiz possa arbitrá-lo, posto que, conforme entendimento da jurisprudência:

"é indenizável o acidente que cause a morte da mulher casada e da mãe, ainda que não exerça trabalho remunerado. O dano material, consistente no desfalque correspondente aos trabalhos domésticos desempenhados pela vítima, deve ser indenizado." (RT 561/121)

Quanto ao período, incensurável mostra-se o decisório.

Isto porque, em se tratando de descendente da vítima, tem-se que a dependência econômica é presumida, tornando-se, em conseqüência, desnecessária a comprovação do sustento alimentar pela mãe.

Essa tese, predominante tanto na doutrina como na jurisprudência, tem como argumento principal a própria realidade vivida pelo homem médio brasileiro, já que incumbe aos pais manter a prole até que possa alcançar a idade de 65 anos.

Colhe-se, a esse respeito, o escólio de RUI STOCO:

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"Aos parentes também assiste o direito de pleitear a INDENIZAÇÃO. Mas a expressão 'parentes' é vaga e imprecisa.

Segundo Caio Mário, melhor seria substitui-la por 'herdeiros'. Segundo este autor, o que deve, em princípio, orientar a legitimação ativa é a ordem de vocação hereditária. Os filhos, como diretamente prejudicados, são os titulares natos para a ação. Em seguida os ascendentes, e em último lugar os colaterais. Ajuizado o pedido pelo cônjuge e pelos filhos, não será necessário demonstrar o prejuízo, uma vez que o só fato da morte já induz a presunção do dano" (in "Responsabilidade Civil e sua Interpretação Jurisprudencial", RT, 2ª ed., 1996, 82) (grifou-se).

Coerente com esse entendimento, salienta o insuperável AGUIAR DIAS que:

"Quanto aos parentes próximos, nenhuma dificuldade ocorre e é precisamente a dificuldade que se evita, conscientemente, ou não, quando se resvala para a comodidade da teoria alimentar. As dúvidas e das mais intrincadas, surgem do abandono desse círculo limitado que se considera a família propriamente dita. Em relação a ela, o prejuízo se presume, de modo que o dano, tanto material como moral, dispensa qualquer demonstração, além da do fato puro e simples da morte do parente" ("Da Responsabilidade Civil", Forense, p. 491).

Inquestionável, portanto, que os requerentes têm direito ao recebimento da INDENIZAÇÃO pelos danos materiais, mostrando-se correta a sua fixação nos termos da sentença hostilizada, até a data em que completaria a vítima 65 anos de idade.

Quanto aos danos morais, tenho que, de igual modo, a sentença não merece ser reformada.

Os autores, nitidamente, passaram e ainda passam por um verdadeiro calvário, tendo que conviver com a realidade de que a suas vidas passaram a ser vistas com uma outra perspectiva, haja vista a irreparável PERDA da mãe e da ESPOSA em circunstâncias trágicas.

Ora, tarefa árdua para quem julga é definir a fixação dos danos morais, pois, como bem adverte WALTER MORAES:

"(...) o dano moral não se avalia mediante cálculo matemático-econômico das repercussões patrimoniais negativas da violação - como se tem feito às vezes - porque tal cálculo já seria a busca exatamente do minus ou do

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deferimento patrimonial, ainda que por aproximativa estimação".

Assim, a fixação dos danos morais deve seguir três parâmetros, alicerçando-se a condenação no caráter punitivo para que o causador do dano sofra uma reprimenda pelo ato ilícito praticado, assim como deve haver também um caráter de compensação para que a vítima possa, ainda que precariamente, se recompor do mal sofrido e da dor moral suportada, considerando-se, ainda, a capacidade financeira do autor do ilícito.

Nesse diapasão, tem-se decidido que:

"No arbitramento do valor do dano moral é preciso ter em conta o grau em que o prejuízo causado terá influído no ânimo, no sentimento daquele que pleiteia a reparação. A intensidade da culpa, a violência, as circunstâncias em que ocorreu o evento danoso poderão informar o critério a ser adotado em tal arbitramento, árduo e delicado, porque entranhado de subjetividade" ("RT", 602/180).

Em vista disso, e considerando ainda que a INDENIZAÇÃO não pode constituir uma fonte de enriquecimento ilícito, entendo que o valor de 30 salários mínimos para cada autor mostra-se justo como forma de compensação pelo sofrimento suportado, devendo seu quantum ser convertido em valor certo, equivalente a R$7.800,00 (sete mil e oitocentos reais), em razão da vedação constitucional de vinculação do salário mínimo a qualquer fim constante do art. 7o, inc. IV, da CF.

Quanto às despesas com o funeral da vítima, bem como com o muro danificado, com razão os apelantes ao pedirem a exclusão de tal condenação, na medida em que não foi apresentado qualquer elemento hábil capaz de comprovar as despesas alegadas pelos autores, razão porque mostra-se necessária a exclusão de tal condenação, conforme orientação da jurisprudência neste sentido:

"Não comprovada a alegada realização de despesas com luto e funeral, inadmissível a concessão de verba indenizatória a este título." (RSTJ 63/212).

Por todo o exposto, REJEITO AS PRELIMINARES E DOU PARCIAL PROVIMENTO AO RECURSO, tão-somente para determinar a exclusão da condenação em despesas com o muro danificado e com o funeral da vítima, mantendo, no mais, inalterada a r. decisão de primeiro grau, por seus próprios e jurídicos fundamentos.

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Custas recursais, 70% pelos apelantes e 30% pelos apelados, suspensas por litigarem sob o pálio da assistência judiciária gratuita.

ed/MPs

14. CONCLUSÃO

No tocante à indenização por homicídio, é importante ressaltar o fato de

que se trata de um tema jurisprudencialmente controverso.

Como é sabido o direito é sensível às mudanças histórico-sociais, e o

estudo da indenização em caso de homicídio reflete exatamente isto. A

própria interpretação do artigo 948 do Código Civil 2002, que, feita de

forma extensiva, torna possível que a indenização englobe não apenas as

verbas descritas pela lei, mas qualquer outro prejuízo que

comprovadamente tenha decorrido do fato.

Contudo, vê-se como maior indicador de avanço a possibilidade de se aliar

a reparação do dano material a compensação pelo sofrimento decorrente da

perda de um ente querido: como dano moral

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15. BIBLIOGRAFIA

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Civil. 21.ed. São Paulo: Saraiva, 2007.

CAVALIERI, Sérgio. Programa de Responsabilidade Civil. 5. Ed. São

Paulo: Malheiros, 2004.

RODRIGUES, Silvio. Direito Civil: Responsabilidade Civil. 19. ed. São

Paulo: Saraiva, 2002.

STOCO, Rui. Tratado de Responsabilidade Civil. 7. ed. São Paulo: Revista

dos Tribunais, 2007.

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VENOSA, Silvio Salvo. Direito Civil: Responsabilidade Civil. 3. ed. São

Paulo: Atlas, 2003.

BRASIL. Código Civil. Organização dos textos, notas remissivas e índices

por Obra coletiva de autoria da Editora Saraiva com a colaboração de

Antônio Luiz de Toledo Pinto, Márcia Cristina Vaz dos Santos Windt e

Lívia Céspedes. 5 ed. São Paulo: Saraiva, 2008.

BRASIL. Código Civil Anotado.Organização dos textos, notas remissivas e

índices por Maria Helena Diniz. 13 ed. São Paulo: Saraiva, 2008.

BRASIL. Constituição Federal. Organização dos textos, notas remissivas e

índices por Obra coletiva de autoria da Editora Saraiva com a colaboração

de Antônio Luiz de Toledo Pinto, Márcia Cristina Vaz dos Santos Windt e

Lívia Céspedes. 5 ed. São Paulo: Saraiva, 2008.

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