nilviapantaleoni.files.wordpress.com  · web viewcompreende-se o turno como a produção de um...

13
ENCANTO E DESENCANTO: ANÁLISE DA CONVERSAÇÃO EM ENTREVISTAS DISTINTAS ANTÔNIO EDILMAR LEITE MONTEIRO DOS SANTOS WILLIAN ALVES DA SILVA FRANCISCO Considerações iniciais O interesse pelo texto falado tem crescido desde a década de 50, partindo de várias áreas como a filosofia, a sociologia, a psicologia, a linguística entre outras. Nesse sentido, as transcrições do corpora deste trabalho buscam peculiaridades nos tópicos discursivos abordados por ambos entrevistados mostrando dois supertópicos distintos: o discurso amoroso/familiar e o pedagógico/político causa do título “encanto e desencanto” por meio de um levantamento contextual do objeto de análise. Além disso, buscar o princípio de polidez presente nos textos por meio da organização dos turnos de fala entre entrevistador e entrevistado como também se apropriar de exemplos do objeto de análise para construção de sentidos em alguns marcadores conversacionais presentes nos dois textos. (...) Esta pesquisa baseada nos autores: Marcuschi, Fávero, Andrade, Aquino e Orecchioni (2010) tem por objetivo apresentar as relações entre as modalidades: fala e escrita e o processo de produção de cada uma delas sob um olhar no ensino Buscar nas entrevistas a construção das faces dos interlocutores como também detectar os princípios de polidez com seus mecanismos linguísticos e atentar para o uso dos marcadores conversacionais para fluidez dos textos e organização dos tópicos discursivos e turnos de fala, uma vez que esta permeia todas as relações humanas. Capítulo 1 Fala e Escrita: códigos? Nas últimas décadas do século XX houve um grande interesse pela língua falada em várias áreas do conhecimento, porém, esse número ainda é bem pequeno comparado à língua escrita segundo alguns estudiosos, se considerarmos que na educação básica apenas 2% do material didático e dedicado ao texto falado. Embora cada modalidade

Upload: lamtuyen

Post on 26-Nov-2018

219 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: nilviapantaleoni.files.wordpress.com  · Web viewCompreende-se o turno como a produção de um falante enquanto ele está com a palavra, incluindo a possibilidade de silêncio. Sacks,

ENCANTO E DESENCANTO:

ANÁLISE DA CONVERSAÇÃO EM ENTREVISTAS DISTINTAS

ANTÔNIO EDILMAR LEITE MONTEIRO DOS SANTOS

WILLIAN ALVES DA SILVA FRANCISCO

Considerações iniciaisO interesse pelo texto falado tem crescido desde a década de 50, partindo de várias áreas

como a filosofia, a sociologia, a psicologia, a linguística entre outras. Nesse sentido, as transcrições do corpora deste trabalho buscam peculiaridades nos tópicos discursivos abordados por ambos entrevistados mostrando dois supertópicos distintos: o discurso amoroso/familiar e o pedagógico/político causa do título “encanto e desencanto” por meio de um levantamento contextual do objeto de análise. Além disso, buscar o princípio de polidez presente nos textos por meio da organização dos turnos de fala entre entrevistador e entrevistado como também se apropriar de exemplos do objeto de análise para construção de sentidos em alguns marcadores conversacionais presentes nos dois textos.

(...)

Esta pesquisa baseada nos autores: Marcuschi, Fávero, Andrade, Aquino e Orecchioni (2010) tem por objetivo apresentar as relações entre as modalidades: fala e escrita e o processo de produção de cada uma delas sob um olhar no ensino

Buscar nas entrevistas a construção das faces dos interlocutores como também detectar os princípios de polidez com seus mecanismos linguísticos e atentar para o uso dos marcadores conversacionais para fluidez dos textos e organização dos tópicos discursivos e turnos de fala, uma vez que esta permeia todas as relações humanas.

 

Capítulo 1Fala e Escrita: códigos?

Nas últimas décadas do século XX houve um grande interesse pela língua falada em várias áreas do conhecimento, porém, esse número ainda é bem pequeno comparado à língua escrita segundo alguns estudiosos, se considerarmos que na educação básica apenas 2% do material didático e dedicado ao texto falado. Embora cada modalidade da língua (fala e escrita) tenha características específicas que constituem um continuum, nem sempre foi assim, conforme observado em autores do século XX, como: Sapir: “a escrita é o simbolismo visual da fala” (1921, p.21); Bloomfield: “a escrita não é a linguagem, mas uma forma de gravar a linguagem por marcas visíveis” (1933, p.21); Fillmore: “a comunicação escrita é derivada da norma conversacional face a face” (1981, p.153); Mattoso Câmara: “a escrita decorre da fala e é secundária em referência a esta” (1969, p.11). Para Marcuschi (1986) as regras de sua efetivação, bem como os meios empregados, são diversos e específicos, o que acaba por evidenciar produtos diferenciados.

Hoje, as gramáticas ainda tratam a escrita como o lugar da ordem e a fala como “lugar do caos”, o que por vezes, contribui para uma postura preconceituosa em relação à fala. Marcuschi aponta que essa primazia da escrita em detrimento da fala está diretamente ligada à relação de poder do Estado por meio dos seus aparelhos ideológicos. Assim, os subitens a seguir tratarão das contribuições nessa área, principalmente da Análise da Conversação.

Page 2: nilviapantaleoni.files.wordpress.com  · Web viewCompreende-se o turno como a produção de um falante enquanto ele está com a palavra, incluindo a possibilidade de silêncio. Sacks,

Veremos no trabalho em questão que a linguagem vai além de “um sistema de signos”, pois a interação faz da linguagem objeto não estanque, e sim, em um espaço de manifestação de diferentes papeis sociais como também levantamento de sentidos promovido pela interação.

Pausas, hesitações, alongamentos de vogais e consoantes, repetições, ênfases, truncamentos eram fatores que entardeceram a sistematização desse gigante aspecto da comunicação humana: a conversação.  A partir de meados da década de 1960, surgem os estudos do texto e muda-se o enfoque, digamos, do “produto” para o “processo” a iniciar da Linguística Textual. Nessa perspectiva, a linguagem passa a ser vista não apenas como verbalização, mas a partir de algumas reflexões chega-se a dar valor às “condições de produção” de sentidos nas atividades interacionais, isto é, o contexto (aglutinação em nossa língua de “com o texto”) deixar de ser periférico – agora é construído pela interação, inclusive, texto como é comumente empregado passa a ser conhecido como enunciado – construção entre enunciadores, interlocutores.   

Assim, para analisar enunciados falados é necessário compreender como se instaura a conversação: processo no qual interagem dois ou mais interlocutores que se alternam constantemente, falando sobre temas próprios do cotidiano. Os interactantes (termo muito usado na corrente pragmática da Linguística) organizam sua fala em turnos, que se alteram sem uma disposição fixa, o que caracteriza o encontro em relativamente simétrico (conversação em que ambos os interactantes têm o mesmo direito não só de tomar a palavra, mas também de escolher o tópico discursivo) ou relativamente assimétrico (conversação com “privilegiamento” no que diz respeito ao uso da palavra).

Para Schegloff (1981, p.73, apud Fávero, 2012), há três elementos fundamentais na conversação: realização (produção), interação e organização (ordem). Para este autor, o discurso conversacional é um processo que se realiza concomitante à interação e só assim é identificável. A interação por sua vez, gera um processo de criação de sentidos que constitui o fluxo de produção textual sistematizado.

Vetola (1979), por sua vez, apresenta um modelo de organização conversacional, a partir de conversações espontâneas, considerando as seguintes variáveis: o tópico, a situação, os papéis dos participantes, o modo e o meio.  De acordo com estas variáveis, não se trabalha apenas com os elementos linguísticos do texto falado, mas também o aspecto interacional que define a estrutura da conversação.  Para exemplificar melhor essa questão, observemos os exemplos de acordo com Fávero (2012,  p. 20-21).

(1) Contextualização: momentos de interação entre um oftalmologista (L1) e sua paciente (L2).

L1 dona M...como vai a senhora?

L2 bem... obrigada...

L1 então hoje vamos testar as lentes... não é? bem... eu já disse a senhora que pouca pessoas conseguem adaptar-se às lentes Varilux... especialmente às de contato...

L2 certo... mas vamos tentar...

L1 por favor... então me acompanhe até a salinha ao lado... minha auxiliar irá ajudá-la...

Na situação acima, há certa preparação, uma vez que o médico mantém um diálogo de rotina com sua paciente, porém, algumas falas podem ser específicas para essa paciente, devido à necessidade de andamento da consulta. Percebe-se ainda que  se trata de uma conversação assimétrica, pois o médico conduz a conversa por meio do canal face a face.   

Diferentemente do texto falado, o texto escrito constitui-se por meio do parágrafo, no entanto, a compreensão deste não diz respeito apenas ao conteúdo semântico, mas as marcas (um ou mais períodos reunidos em torno de ideias estritamente relacionadas) de seu processo de produção.

Page 3: nilviapantaleoni.files.wordpress.com  · Web viewCompreende-se o turno como a produção de um falante enquanto ele está com a palavra, incluindo a possibilidade de silêncio. Sacks,

1.1Coesão e Coerência Textuais na LinguagemA coesão e a coerência constituem fatores básicos de textualidade ao lado de outros de

acordo com os postulados de Beaugrande e Dressler de 1981. Mesmo assim, há divergência entre os pesquisadores quanto à definição de coerência e coesão, alguns deles não fazem distinção entre elas, inclusive.  Para Tannen (1984, apud Fávero 2012, p.33), a coesão corrobora para o estabelecimento da coerência, mas não garante sua obtenção.

Considerando as características do texto falado, a análise dos elementos de coesão deve ser feita de modo específico. Fávero (2012) aponta os recursos empregados com maior frequência no que se refere à coesão referencial (a reiteração do mesmo item lexical ou assalto ao turno), recorrencial ou sequencial (presença de paráfrase ou a partir de conectores). 

Observemos estes exemplos:(11)   L2 ele já ia à escola da manhã que eu comecei quando eu comecei trabalhar ... comecei a trabalhar há dois anos... só antes eu não trabalhava... e quer dizer então... ele já ia à escola de manhã porque eles dormem sete e meia e acordam seis e meia... é o horário normal deles

(NURC-SP D2 360:374-379, p.145).(13)     L2 mesmo porque aí que vai procurar ajuda né?                                          ]L1                                      aí .... vai procurar terapia né?

(NURC-SP D2 343:206-207, p.22).

Em (11), a coesão referencial ocorre por meio da repetição dos mesmos itens lexicais revelando lentidão na busca de melhor expressão ou um recurso para continuar o turno.  Já em (13), a coesão recorrencial se constitui por meio da paráfrase ao L1 reformular a fala de L2.

A coerência pode ser definida como um princípio de interpretabilidade do texto, envolvendo fatores de ordem cognitiva, linguística e interacional (Fávero, 2012, 36).  Dessa forma, para que os interlocutores se comuniquem com clareza, é necessário que eles sejam coerentes no que dizem e principalmente, saibam sobre o que dizem (tópico discursivo).

No texto conversacional, verifica-se a presença de quatro elementos básicos que são responsáveis pela organização – o turno, o tópico discursivo, os marcadores conversacionais e o par adjacente. Dessa forma, considerando o contexto do texto oral recorremos a um outro aspecto estreitamente ligado a esse: o turno de fala.

1.2Turno de fala

Compreende-se o turno como a produção de um falante enquanto ele está com a palavra, incluindo a possibilidade de silêncio.

Sacks, Schegloff e Jefferson (1974, p.701-702), sugeriram um sistema de tomadas de turnos, válido para conversações espontâneas, informais, casuais, sem hierarquias de falantes.  Para esses estudiosos, qualquer conversação deve apresentar as seguintes propriedades:a)      a troca de falantes recorre ou pelo menos ocorre;b)      em qualquer turno,  fala um de cada vez;c)      ocorrências com  mais de um falante por vez são comuns, mas breves;d)     transições de um turno a outro sem intervalo e sem sobreposição são comuns; longas pausas e sobreposições extensas são minorias;e)      a ordem dos turnos não é fixa, mas variável;f)       o tamanho do turno não é fixo, mas variável;g)       a extensão da conversação não é fixa nem previamente especificada;h)      o que cada falante dirá não é fixo nem previamente especificado;i)        a distribuição dos turnos não é fixa;j)        o número de participantes é variável;

Page 4: nilviapantaleoni.files.wordpress.com  · Web viewCompreende-se o turno como a produção de um falante enquanto ele está com a palavra, incluindo a possibilidade de silêncio. Sacks,

k)      a fala pode ser contínua ou descontínua;l)        são usadas técnicas de atribuição de turnos;m)    são empregadas diversas unidades para construir o turno: lexema, sintagma, sentença etc.;n)      certos mecanismos de reparação resolvem falhas ou violações nas tomadas de turnos, como por exemplo: “desculpe... mas você estava dizendo”.

Estes elementos apontados acima permitem afirmar que a tomada de turno é uma operação fundamental na conversação e o turno é a peça chave desse modelo. Adiante, vamos tratar do plano de conteúdo das conversações e sua organização em tópicos discursivos.

1.4 Tópico discursivo

No sentido geral, o tópico discursivo é “aquilo sobre o que se está falando”. Ele se estabelece num dado contexto em que dois ou mais interlocutores, engajados numa atividade, negociam o assunto de sua conversação como mostra este exemplo sugerido por Fávero (2012), de um casal que se preparava para ir à praia.(15)     L1 perdeu alguma coisa?            L2 não... por quê? tá com muita pressa?             L1 eu só:: queria te ajudar...              L2  só se eu não o conhecesse...

(Conversação espontânea)

No trecho acima, percebe-se que os interlocutores recorrem aos pressupostos para expressar o que de fato pretendiam: a reclamação do marido em relação à demora da esposa, e a resposta desta ao esposo, ao ser chamada a atenção.  De acordo com os pesquisadores do Projeto da Gramática do Português Falado no Brasil, o tópico discursivo apresenta as seguintes propriedades: a) Centração - considera-se o conteúdo em si, o falar acerca de algo, seja pelo uso de referentes explícitos ou inferidos que contribuem para o desenvolvimento textual. b) Organicidade – o tópico se estabelece a partir de uma relação de interdependência em dois planos: sequencial e hierárquica. c) Delimitação local - o tópico é marcado por inicio, desenvolvimento e fecho.

1.5Marcadores ConversacionaisNo sentido amplo, marcador conversacional serve para indicar não só elementos

verbais, mas também prosódicos e não linguísticos que desempenham uma função interacional qualquer na fala. Eles podem ser produzidos tanto pelo falante quanto pelo ouvinte e divido da seguinte maneira:

         marcadores prosódicos - abrangem os contornos entonacionais (ascendente, descendente, constante, as pausas, o tom da voz, o ritmo, a velocidade, os alongamentos de vogais, etc.);         marcadores não linguísticos ou paralinguísticos – exercem  uma função fundamental na interação face a face (o riso, o olhar, a gesticulação);

Há uma gama de marcadores conversacionais verbais: palavras, sintagmas, expressões estereotipadas e orações de diversos tipos. Marcuschi (1987) apresenta uma subdivisão em quatro grupos:

1-      marcadores simples -  realiza-se por meio de uma só palavras : interjeição, advérbio, verbo, adjetivo, conjunção, pronome, etc.(agora, então, aí, entende, claro)2-      marcadores composto - apresenta um caráter sintagmático com tendência á cristalização.(então daí, aí depois, quer dizer, etc.) 

Page 5: nilviapantaleoni.files.wordpress.com  · Web viewCompreende-se o turno como a produção de um falante enquanto ele está com a palavra, incluindo a possibilidade de silêncio. Sacks,

3-      marcadores oracionais – são pequenas orações que se apresentam nos diversos tempos e formas verbais e modos oracionais (assertivo, indagativo, exclamativo).  (eu acho que, quer dizer)4-      marcadores prosódicos – associa-se a algum marcador verbal, mas realiza-se por meio de marcadores prosódicos.( a entonação, a pausa, a hesitação, o tom da voz, entre outros).

Considerando todos esses conceitos no próximo capítulo apresentaremos o corpora de análise para no terceiro procuramos articular essas teorias com as conversações em questão.

1.6 Polidez na linguagemA Análise da Conversação é uma teoria assim como a Análise do Discurso que nasce

em uma perspectiva interdisciplinar acoplando muitos conceitos, inclusive os da Psicologia Social. Considerando que o homem é um ser social por excelência a autora Catherine Orecchioni em sua obra Análise da Conversação: princípios e métodos (1996) trata do conceito de faces (representações) entre enunciadores, pois a teoria já conta com contribuições da Teoria da Enunciação de linha francesa principalmente com os postulados teóricos de Émile Benveniste. Nesse contexto, enunciadores no momento de interação são levados a realizar um certo número de atos verbais e não-verbais a partir dessas representações (faces) que os interlocutores fazem entre si constituindo com ameaças potenciais uma e outras dessas “quatro faces”: a face positiva (construída pelo discurso) do interlocutor e sua face negativa – perguntas indiscretas, por exemplo – que equivalem a uma invasão ao território de determinado interlocutor.

Um exemplo a qual a autora Orecchioni cita é de que nas línguas ocidentais, inclusive no português, temos ao estudar Morfologia desde as séries iniciais do ciclo II do Ensino Fundamental o estudo dos modos verbais. Um deles, o imperativo, chega a ser modalizado com a função de “dar ordem, pedido, conselho, súplica”. No entanto, pouco usamos essa forma no nosso dia a dia em comparação às manifestações linguísticas da polidez. Em uma situação em que uma porta precise ser fechada, por exemplo, ouvirmos: Nossa, estou com um frio! Tem uma corrente de ar nessa sala! A finalidade é de que haja cooperação entre as partes que, apenas em última instância, se usaria: Feche a porta!

Os postulados teóricos de Orecchioni (op. cit.) aprofundam essas questões com nomenclaturas bem específicas dos usos linguísticos que caracterizam a polidez positiva e polidez negativa, logo, optamos em apenas deixar evidente a questão das faces projetadas nas conversações com um prerrogativa fundamental para o trabalho em questão.

(...)

3.2 Tópico DiscursivoPode-se dizer que o supertópico discursivo das primeiras transcrições são Como Telma

e Willian se casaram e seu relacionamento hoje e O relacionamento de Willian e família com respectivos tópicos como também subtópicos conforme descrição das próximas páginas. No segundo momento, A concepção de ensino do professor Ricardo da escola pública, e a partir desse supertópico, vários tópicos vão surgindo como: a escolha da carreira docente, os desafios de lecionar a disciplina Filosofia, o ingresso na universidade, seu posicionamento acerca das avaliações externas, etc, e,  dos tópicos surgem os subtópicos: a diferença entre a EJA (Educação de Jovens e Adultos) e ensino regular, a

Page 6: nilviapantaleoni.files.wordpress.com  · Web viewCompreende-se o turno como a produção de um falante enquanto ele está com a palavra, incluindo a possibilidade de silêncio. Sacks,

falta de recurso da unidade escolar, ausência de um Projeto Político Pedagógico, o modelo das avaliações externas, entre outros, conforme os quadros (próximas páginas).

3.3 Polidez: relações de simetria e assimetria

Nas transcrições apresentadas no segundo capítulo, verifica-se o discurso pedagógico/político e o discurso amoroso/familiar realizados na situação face a face e os falantes desempenham papeis sociais, nesse caso, por se tratar de uma gravação que seria apresentada a turma do curso de pós graduação em Língua Portuguesa, razão também pela qual se percebe certo grau de formalidade.  A interação é simétrica, uma vez que não há o “privilegiamento” da fala por um dos interlocutores, mesmo assim, a polidez é notória conforme dito pela quantidade de informações tanto dos entrevistadores – são até mesmo prolixos para evitar ambiguidades – e também dos entrevistados que são geralmente mais meticulosos ainda ao responderem com o máximo de informações dado ao grau de formalidade por se tratar, como dissemos.

3.4 Coesão e Coerência textuais – marcadores conversacionaisEm relação à coesão dos textos, ela se estabelece, principalmente, por meio da coesão

referencial, repetição do mesmo item lexical, conforme verifica-se nestes fragmentos:

quando ele levou na igreja dele a primeira vez... indo lá pro Jardim Rainha... que é um bairro... e... a gente... ele me convidou e a gente se encontrou no centro e a gente foi para lá... que foi o ensaio da orquestra da igreja dele e eu... compareci lá... e ele também... eu tenho a recordação de quando ele me deu o jornalzinho dele... o jornalzinho da RÁdio de quando ele:::... fazia um programa de rádio... ele foi e me deu... eu tenho até hoje guardado esse jornalzinho... (Telma)

bom... assim como   você sa-bi ...  eu sou militante da educação... éh::: com relação à estrutura... éh::: assim como você também sabe... é bem evidente que... a maior parte das escolas públicas não tem uma estrutura capaz de comportar...a quantidade de alunos que ela recebe...(Professor Ricardo)

Já a coerência, assim como postula Marcuschi (1988) “não é uma unidade de sentido, mas uma possibilidade interpretativa resultante localmente.” Dessa forma, para que haja entendimento entre os interlocutores é necessário que eles sejam coerentes no que dizem e saibam sobre o que dizem. Nesse trecho, vemos ainda, o emprego dos marcadores conversacionais simples: “bom... éh:::”   com a finalidade de manter a interação entre os interlocutores.

Já a coerência, assim como postula Marcuschi (1988) “não é uma unidade de sentido, mas uma possibilidade interpretativa resultante localmente.” Dessa forma, para que haja entendimento entre os interlocutores é necessário que eles sejam coerentes no que dizem e saibam sobre o que dizem. Nesse trecho, vemos ainda, o emprego dos marcadores conversacionais simples: “bom... éh:::, e:::”   com a finalidade de manter a interação entre os interlocutores como de acrescentar novas informações assim como marcar a inserção de mais um tópico discursivo ou subtópico.

Considerações finaisDiante da análise realizada até aqui, percebe-se que o estudo do texto falado é um

campo fértil que tem muito a contribuir na área de Língua Portuguesa e afins, percebe-se também o quanto educadores perdem em sua sala de aula ao não notarem a dinâmica e mecanismos usados para esta modalidade da comunicação humana.

Por outro lado, obras como as apreciadas aqui, de forma didática e com atividades concretas para se trabalhar em sala de aula, nos motiva e acima de tudo, nos capacita para esta “empreitada educacional”, pois sabemos que o deslocamento do ensino da gramática pela

Page 7: nilviapantaleoni.files.wordpress.com  · Web viewCompreende-se o turno como a produção de um falante enquanto ele está com a palavra, incluindo a possibilidade de silêncio. Sacks,

gramática  foi substituído há algum tempo pelo ensino com foco na base Linguística, assim como propõe  os PCN dentre outras contribuições para o ensino de língua materna. No entanto, há algumas barreiras que impedem que essa proposta se concretize, entre elas, a falta de conhecimento destes referencias ou distorção da proposta apresentada.

Aí temos a questão: onde está o encanto e o desencanto no corpora? Ele está presente em toda a fala de Telma – sua fala é carregada de adjetivos refletindo afeto, carinho, amor... para ela o relacionamento com Willian foi e é importante e a família constituída se trata de um presente de Deus e de um verdadeiro amor com o esposo. Já o professor Ricardo fala de seu ingresso para educação, da forma a qual foi cativado para esta área de atuação. Embora seja militante da educação não vislumbra mais atuar nela profissionalmente migrando para outro campo – Sistemas de Comunicação. A fala do docente é carregada de discursos de autoridade mostrando sua indignação com a gestão educacional principalmente do Estado de São Paulo. Se fôssemos abordar a questão sob o olhar da Linguística Textual, as tipologias predominantes nas duas abordagens seriam a descrição nas falas de Telma (dona de casa) e a dissertação na fala do professor Ricardo – marcando fatores extralinguísticos materializados na linguagem.

Dessa forma constatamos, esperando também que nosso leitor compartilhou conosco disso, que trabalhar a modalidade da fala na sala de aula significa tomar consciência dos diversos papéis sociais que exercemos diariamente na sociedade e como essas relações se estabelecem. É oferecer condições para que o aluno saia do lugar de assujeitamento e ocupe o lugar de sujeito social por meio da riqueza e mecanismos que o texto falado nos possibilita.

 

Page 8: nilviapantaleoni.files.wordpress.com  · Web viewCompreende-se o turno como a produção de um falante enquanto ele está com a palavra, incluindo a possibilidade de silêncio. Sacks,

ANEXOS

Page 9: nilviapantaleoni.files.wordpress.com  · Web viewCompreende-se o turno como a produção de um falante enquanto ele está com a palavra, incluindo a possibilidade de silêncio. Sacks,

A família Francisco em uma colação de grau promovida pela Secretaria da Educação do Município de Barueri no Centro de Convenções da cidade em dezembro de 2014: encanto.

Page 10: nilviapantaleoni.files.wordpress.com  · Web viewCompreende-se o turno como a produção de um falante enquanto ele está com a palavra, incluindo a possibilidade de silêncio. Sacks,

Professores em manifesto assim como Ricardo: desencanto.