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CONTROLE INTERNO: Ferramenta de Inibição da Corrupção
Campedelli, Márcia Regina da Silva1
Pereira, Leiner Marchetti (orientador)2
Resumo
O sistema de controle interno é uma ferramenta de grande importância para a administração pública. Ele tem previsão constitucional e legal, portanto todos os entes governamentais devem efetivamente instituir este controle, não somente para o cumprimento da lei, mas para que ele tenha respaldo para a realização do seu trabalho na defesa do patrimônio público e possa cumprir seu objetivo de auxiliar o gestor público na tomada de decisões através dos seus relatórios e também auxiliar os controles externos na sua fiscalização. Um controle interno confiável e eficiente, com profissionais efetivos habilitados e capacitados para a função, devidamente remunerados que trabalham de forma autônoma, garantirá que os recursos públicos sejam aplicados de forma correta, e terá papel fundamental na prevenção de erros, desvios e na redução de fraudes na administração pública, se tornando um poderoso instrumento contra a corrupção. Conforme pesquisa bibliográfica realizada, o controle interno é uma realidade em todo o mundo e foi fortalecido ainda mais após a onda de corrupção e de grandes escândalos corporativos e contábeis de grandes empresas. Quanto maior o controle, menor o risco.
Palavras-chave: Controle Interno. Gestão Pública. Inibição. Corrupção.
Abstract
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1 Acadêmica do curso gestão pública, nível pós-graduação, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sul de Minas Gerais Campus Muzambinho/MG [email protected] Mestre em Direito pela Universidade Vale do Rio Verde de Três Corações – UNINCOR. Especialista em Administração Pública pela FEAD/BH. Graduado em Direito pela Faculdade de Direito de Varginha-FADIVA. Coordenador do Núcleo de Prática Jurídica do Curso de Direito da Faculdade de Três Pontas – FATEPS. Assessor Jurídico da Associação de Municípios da Micro Região da Baixa Mogiana – AMOG [email protected]>
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The system of internal control is an important tool for public administration. It has legal and constitutional provision, therefore, all government agencies must effectively establish this control, not only for law enforcement, for it to have support by carrying out their work in defense of the public heritage and to meet its objective of helping the public manager in making decision through their reports and also assist the external controls in its supervision. A reliable and efficient internal control, with qualified professionals and trained to function, properly paid and working autonomously, ensure that public resources will be properly applied and it will have a key role in preventing errors, diversions of public money and reducing fraud in public administration, becoming a powerful instrument against corruption. As bibliographical research, internal control is a reality around the world and it was further strengthened after the wave of corruption and major corporate and accounting scandals of large corporations. The higher the control, the lower the risk.
Key words: Internal Control. Public Administration. Inhibition. Corruption.
INTRODUÇÃO
Este estudo discute sobre a importância do sistema de controle interno na gestão
pública. A ênfase é o uso do controle interno como ferramenta de inibição da corrupção na
administração pública em todas as esferas de governo.
O órgão de controle interno é instituído por lei e tem importância relevante na
administração pública. Ele faz parte da própria administração e seu objetivo é controlar os
atos administrativos, podendo agir de três maneiras dentro da administração dependendo do
momento em que atua. Dentre outras coisas, ele é responsável pela elaboração de relatórios
periódicos que servem de apoio ao gestor público nas tomadas de decisões. E quando bem
estruturado, com pessoal capacitado e ético, o tribunal de contas pode se valer do seu trabalho
para corroborar a sua fiscalização.
Como a corrupção continua sendo uma realidade na administração pública de um
modo geral, divulgada diariamente pela imprensa, fica evidenciado por vários autores citados
neste trabalho que o controle interno pode ser uma arma poderosa contra a corrupção se for
devidamente estruturado e tiver a autonomia necessária para o desempenho das suas funções.
Para que o controle interno possa exercer o seu papel de forma a alcançar os objetivos,
é necessário que tenha liberdade de ação porque o fato de o controle ser exercido por órgão
que faz parte da administração pública e ser subordinado ao gestor público pode restringir a
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ação do controlador que fica sem liberdade de divergir de algum ato temendo retaliação, já
que seu superior hierárquico é o executor do ato examinado.
O controle interno é uma realidade em diversos países e em alguns deles, a nomeação
e exoneração do responsável por este órgão dependem da aprovação do Tribunal de Contas, o
que traz maior segurança e confiabilidade ao sistema.
2 O QUE É O CONTROLE INTERNO
Toda Administração Pública, no desempenho de suas funções, está sujeita ao controle
dos Poderes Legislativo e Judiciário, e também, ela própria exerce um controle sobre seus
atos. Este último denomina-se controle interno e é exercido por órgão integrante da própria
estrutura em que está inserido o órgão controlado. (DI PIETRO, 2001)
Este controle, que faz parte da própria administração, deve acompanhar os atos
públicos, a execução do orçamento, verifica se o recurso público está sendo aplicado de
maneira correta e também ajuda o controle externo no exercício de sua função.
2.1 Conceitos básicos do Controle Interno
O controle interno é uma ferramenta de grande importância tanto na gestão pública
quanto na administração de qualquer empresa. É um sistema ou órgão dentro da própria
entidade que atua na elaboração de normas, controles das atividades, auditorias, e cuida para
que os procedimentos sejam efetuados dentro da conformidade legal. Sua atuação de maneira
preventiva é uma medida estratégica para a redução de fraudes e irregularidades na gestão. O
sistema de controle interno não deve existir somente para atender a uma exigência legal, mas
sim, como um instrumento de gestão e promoção da defesa do patrimônio público.
Controle interno, segundo Meirelles (1997, p. 577 e 608) apud Lima (2007, p. 319), “É
todo aquele realizado pela entidade ou órgão responsável pela atividade controlada, no âmbito
da própria Administração (...). É, na sua plenitude, um controle de legalidade, conveniência,
oportunidade e eficiência”.
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Para Rocha (2004, p.126) ibid, o controle interno é um “conjunto de procedimentos
adotados no âmbito de cada um dos Poderes do Estado, ou órgãos e entidades que neles se
integrem para, resumidamente, comprovar a legalidade e avaliar os resultados”.
E ainda, segundo a definição da American Institute of Certified Public Accountants/
Instituto Americano de Contadores Públicos Certificados (AICPA) citada por Lima (2007, p.
319 e 320),O controle interno compreende o plano de organização e o conjunto coordenado dos métodos e medidas, adotados pela empresa para proteger seu patrimônio, verificar a exatidão e a fidedignidade de seus dados contábeis, promover a eficiência operacional e estimular a obediência às políticas administrativas estabelecidas.
Cabe ressaltar que os autores apontam uma grande importância do controle interno na
promoção da eficiência e qualidade das atividades, na avaliação dos processos de gestão, em
busca dos resultados esperados.
Conforme definição do Comitê de Organizações Patrocinadoras (COSO)³ citada por
Boynton, Johnson, Kell (2002, p. 320) apud Pereira (2004, p. 3),Controles internos são um processo operado pelo conselho de administração, pela administração e outras pessoas, desenhado para fornecer segurança razoável quanto à consecução de objetivos nas seguintes categorias: a) confiabilidade de informações financeiras;b) obediência (compliance) às leis e regulamentos aplicáveis; c) eficácia e eficiência de operações.
Nos objetivos estabelecidos pelo COSO, o objetivo de informação traz confiança nos
registros contábeis / financeiros que devem ser efetuados de forma a traduzir a realidade das
transações, busca a preparação de informações gerenciais e financeiras para a tomada de
decisões, elas devem ser precisas, confiáveis, completas e tempestivas; o objetivo de
compliance/conformidade traduz a necessidade de conformidade com as leis e normas da
entidade, assegura que todas as atividades sejam praticadas de acordo com as políticas e
procedimentos internos; e o objetivo da eficácia e eficiência de operações tem o intuito de
assegurar o bom desempenho operacional, os empregados devem trabalhar para alcançar os
objetivos com integridade e eficiência, com menor custo possível e colocando os interesses da
entidade acima de outros interesses (FERREIRA, 2012).
O COSO estabelece critérios a partir dos quais o Sistema de Controle Interno pode ser
avaliado. De acordo com o COSO, o controle interno é um processo composto por cinco
_______________________³ COSO Comitê de Organizações Patrocinadoras (Committee of Sponsoring Organizations - Treadway Comission), sigla em inglês Coso, representa um grupo de entidades profissionais americanas entre elas: O Instituto Americano de Contadores Públicos Certificados (AICPA), a Associação Americana de Contabilidade (AAA), o Instituto de Auditores Internos (IIA), Instituto de Executivos Financeiros (FEI) e o Instituto dos Contadores Gerenciais (IMA).
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componentes: Ambiente de Controle, Avaliação de Riscos, Atividades de Controle,
Informação e Comunicação e Monitoramento (ibid):
a) Ambiente de controle interno: compreende atitude, consciência e ações globais dos gestores
e empregados com relação à importância dos controles para a empresa e à constituição e
manutenção de uma cultura de controle. Todos devem ter consciência do que é controle e ter
comprometimento de fazerem o que é correto. Envolve competência técnica e compromisso
ético;
b) Avaliação de riscos: Conjunto de ações destinado a identificar e avaliar os fatores internos
e externos que possam afetar o alcance dos objetivos da empresa;
c) Atividades de controle: Este componente é composto de políticas e procedimentos
destinados a prevenir a exposição a determinados riscos e identificar possíveis falhas na
execução das atividades assegurando que sejam promovidas as devidas correções;
d) Informação e comunicação: Contempla as atividades destinadas à identificação, elaboração
e disponibilização de informações necessárias à realização das operações em todos os níveis
hierárquicos;
e) Monitoramento: compreende as atividades destinadas a verificar a efetividade do Sistema
de Controle Interno, ou seja, se o objetivo do controle está sendo atingido.
Os componentes do COSO corroboram com as definições dos autores citados sobre a
relevância do sistema de controle interno como uma ferramenta de suma importância para o
processo de gestão e conseqüentemente para o bom desempenho de uma empresa.
Atualmente, nas grandes empresas e também no setor público, o controle interno vem
se mostrando necessário e ganhando terreno, tanto pela legislação brasileira, desde a Lei
4320/64 como também porque é um instrumento fundamental no aperfeiçoamento dos
métodos de trabalho e na prevenção e diminuição de riscos, e se tornou uma fonte essencial de
informação e suporte nas decisões dos gestores.
Conforme citado por Lima (2007), o controle interno administrativo é um conjunto de
normas, rotinas, métodos e procedimentos interligados que foram estabelecidos para assegurar
que as atividades da administração sejam executadas de forma confiável e concreta,
dificultando eventuais desvios ao longo da gestão.
O controle pode ser efetuado de três maneiras dentro da administração, quanto ao
momento em que se efetua, sendo o controle preventivo ou prévio, controle concomitante e
controle posterior. (DI PIETRO, 2001)
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Controle preventivo ou prévio é através da criação de normas e métodos de trabalho.
Estas normas devem estar de acordo com a lei e serem apresentadas de forma didática para
auxiliar na realização das tarefas prevenindo erros. A padronização dos procedimentos
melhora o desempenho e garante a eficiência na execução dos procedimentos. O órgão de
controle interno tem papel fundamental neste processo porque é o responsável pela elaboração
do manual normativo e pela garantia de que todos os setores vão seguir o que nele está
disposto.
Controle concomitante é o acompanhamento de processos e atos administrativos em
tempo real, com a verificação da conformidade e a obtenção de resultados esperados,
identificando pontos frágeis e sugerindo que as normas sejam alteradas quando necessário.
Controle subseqüente é a auditoria nos processos com apontamento das falhas e das
ações que deverão ser executadas para a correção dos erros. Nas auditorias é possível também
a identificação de pontos com indícios de fraudes. A prioridade do trabalho deverá ser
naquelas áreas onde o controle é deficiente com alto risco para a administração.
Seja em qualquer momento em que os controles ocorram, são de grande importância
para a detecção de falhas e até de indícios de fraudes.
De acordo com Citadini (1998, p. 6) conforme palestra proferida no Seminário
Nacional “O Controle Interno no Contexto da Modernização do Estado” publicada em seu
site, O sistema de Controle Interno faz parte da administração, subordina-se ao
administrador, tendo por função acompanhar a execução dos atos, indicando, em caráter opinativo, preventiva ou corretivamente, ações a serem desempenhadas com vistas ao atendimento da legislação.
É obrigação do controle interno, a emissão de relatórios gerenciais mensais de
acompanhamento das atividades dos setores verificados, para uso próprio e também da
administração. Tais documentos devem conter o resultado da verificação, com apontamentos
de eventuais falhas e possíveis indícios de fraudes e também devem indicar ações para
correção dos erros e de distorções que possam gerar danos ao patrimônio. Cabe lembrar que o
administrador pode ou não se valer da proposta do controle interno para alterar algum
procedimento para a prática de determinado ato, e neste caso, ele estará assumindo o risco de
sua decisão.
2.2 Princípios de Controles Internos
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Para estar alinhado aos objetivos da administração, o controle interno deve seguir um
conjunto de princípios adotados pela empresa/entidade. A seguir, alguns destes princípios
publicados pelo Senado Federal (2003) em seu site:
a) Relação custo x benefício: consiste na diminuição da probabilidade de falhas no
atendimento dos objetivos e metas. Deve ser mensurado o custo de um controle para que ele
não seja maior do que o benefício que ele possa trazer;
b) Qualificação adequada, treinamento e rodízio de funcionários: para que o controle interno
seja eficaz é necessário que seu pessoal seja competente e íntegro. Desta maneira, é
imprescindível que a política de pessoal tenha critérios na seleção e treinamento dos
empregados buscando um alto grau de eficiência, promova rotatividade de funções para
reduzir a possibilidade de fraudes, obrigatoriedade do gozo de férias regularmente e ênfase na
postura ética;
c) Delegação de poderes e determinação de responsabilidades: traz maior rapidez e agilidade
às decisões. Deve trazer uma clareza de papéis, através de um regimento/estatuto e
organograma adequado, em que a definição de autoridade e conseqüentes responsabilidades
sejam claras e devidamente determinadas nos manuais, considerando as funções de todos os
setores da organização;
d) Segregação de funções: a separação entre funções de autorização de operações, execução,
controle e contabilização deve estar prevista na estrutura do controle interno, de maneira que
ninguém detenha atribuições em desacordo com este princípio. O objetivo é evitar que
qualquer empregado possa praticar e ao mesmo tempo consiga esconder os erros ou
irregularidades cometidas em suas funções;
e) Formalização dos procedimentos: para se obter um grau de segurança satisfatório é
indispensável que as atividades estejam descritas, normatizadas através de instrumentos de
fácil acesso, de maneira clara e bastante objetiva, e sejam emitidos por autoridade
competente;
f) Controles sobre as transações: os fatos contábeis, financeiros e operacionais devem ser
acompanhados para que sejam legítimos e relacionados com a finalidade da organização e
devem ser autorizados pelo responsável;
g) Aderência às diretrizes e normas legais: através de sistemas próprios, a organização deve
ordenar e assegurar a obediência e observância das leis e dos instrumentos normativos
internos.
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Estes princípios foram elaborados para que os órgãos de controles internos tenham
uma referência e uma base para desenvolver os seus trabalhos. Neste caso, terão maior
credibilidade perante os órgãos de controles externos e levarão maior segurança aos gestores
nas tomadas de decisões.
3 BASE LEGAL DO CONTROLE INTERNO
A Lei Federal nº 4.320/64 instituiu o sistema de controle interno da administração
federal.
Do Controle InternoArt. 76. O Poder Executivo exercerá os três tipos de controle a que se refere o artigo 75, sem prejuízo das atribuições do Tribunal de Contas ou órgão equivalente.Art. 77. A verificação da legalidade dos atos de execução orçamentária será prévia, concomitante e subseqüente.Art. 78. Além da prestação ou tomada de contas anual, quando instituída em lei, ou por fim de gestão, poderá haver, a qualquer tempo, levantamento, prestação ou tomada de contas de todos os responsáveis por bens ou valores públicos.
A Constituição Federal de 1988, nos artigos 31, 70 ao75 dispõe sobre a fiscalização
contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial da União, Estados e Municípios,
quanto à legalidade, legitimidade, economicidade, aplicação de subvenções e renúncia de
receitas. O artigo 74 da Constituição Federal prescreve:Art. 74 - Os Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário manterão, de forma integrada, sistema de controle interno com a finalidade de:I - avaliar o cumprimento das metas previstas no plano plurianual, a execução dos programas de governo e dos orçamentos da União;II - comprovar a legalidade e avaliar os resultados, quanto à eficácia e eficiência, da gestão orçamentária, financeira e patrimonial nos órgãos e entidades da administração federal, bem como da aplicação de recursos públicos por entidades de direito privado;III - exercer o controle das operações de crédito, avais e garantias, bem como dos direitos e haveres da União;IV - apoiar o controle externo no exercício de sua missão institucional.§ 1º Os responsáveis pelo controle interno, ao tomarem conhecimento de qualquer irregularidade ou ilegalidade, dela darão ciência ao Tribunal de Contas da União, sob pena de responsabilidade solidária.
Conforme disposto no § 1º acima, apesar de o órgão de controle interno ser
subordinado ao administrador, ele tem a obrigatoriedade de levar ao conhecimento do
controle externo, qualquer ato administrativo irregular ou fora dos princípios legais, sob pena
de ser responsabilizado junto com o gestor. Diante do descrito, o administrador deve dar
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maior liberdade de ação a este órgão e dele se valer para ter maior segurança na tomada de
decisão.
A Lei de Responsabilidade Fiscal LC 101/00, no seu artigo 54, estabelece que os
relatórios de gestão fiscal quadrimestrais serão assinados pelos titulares dos Poderes e órgãos
mencionados no seu artigo 20, e conforme o parágrafo único a seguir, eles serão assinados
também, pelas autoridades responsáveis pela administração financeira e pelo controle
interno:“ Parágrafo único. O relatório também será assinado pelas autoridades responsáveis
pela administração financeira e pelo controle interno, bem como por outras definidas por ato
próprio de cada Poder ou órgão referido no art. 20”.
No âmbito do Estado de Minas Gerais, a Lei Complementar 102/2008 Lei Orgânica do
TCEMG, no seu artigo 4º parágrafo 1º, estabelece: “§ 1º O Tribunal observará fielmente os
princípios e as normas relativos ao controle interno, no âmbito da sua gestão administrativa
financeira, operacional e patrimonial”. E também nos artigos 40, § 3º, 42, § 3º, faz menção ao
relatório/parecer conclusivo do órgão central do sistema de controle interno.
Há ainda, a Lei Orgânica do Município e as Instruções Normativas dos Tribunais de
Contas, notadamente, a Instrução Normativa 12/2011 do TCEMG que cita as ações do
controle interno: TÍTULO III DO CONTROLE INTERNO Art. 12 Os órgãos de controle interno dos Poderes Executivo e Legislativo e das entidades da administração indireta municipal atuarão de forma integrada, visando à fiscalização do cumprimento dos programas e metas estabelecidos no Plano Plurianual, na Lei de Diretrizes Orçamentárias e na Lei Orçamentária Anual do Município, bem como à observância das normas estabelecidas pela Lei Complementar nº 101/00.
Conforme amparo legal mencionado nesta seção, o órgão de controle interno deve agir
livremente, dentro da lei, para que suas ações surtam o efeito desejado e alcancem os
resultados esperados, quais seja inibição de erros operacionais que causem danos ao erário, e
principalmente a inibição da corrupção e fraudes na gestão pública.
4 A IMPORTÂNCIA DO CONTROLE INTERNO NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Como observado, um controle eficiente e eficaz se faz necessário em qualquer
administração. Neste texto será ressaltada a importância deste órgão no setor público, ele
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deve estar presente em todos os níveis da administração pública para atuação na correção de
erros e procedimentos e principalmente na inibição de fraudes.
A diferença básica da administração pública para a de uma empresa privada é a
obediência aos princípios constitucionais da legalidade, impessoalidade, moralidade,
publicidade e eficiência e pela supremacia do interesse público. Cabe ressaltar que o fato de o
poder público não possuir dinheiro, que todos os recursos administrados pelo Estado são do
povo, a responsabilidade do órgão de controle interno é ainda maior, conforme citado pelo
Conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Paraná, Exmo. Senhor João Féder, apud
Flores e Cavalheiro (2007, p. 19) “O Estado não tem dinheiro. Nenhum dinheiro é do Estado.
O dinheiro, antes e depois de entrar nos cofres públicos, é do povo e, como tal, o seu controle
paira acima de qualquer outro direito (grifo do autor)”.
É ressaltada também (ibid, p. 15) a importância de instrumentos de controle para o uso
dos recursos públicos de maneira correta,Nas organizações públicas, todos os que guardam e administram bensou rendas têm o dever de prestar contas sobre essa responsabilidade. Forte é, portanto, a necessidade de instrumentos de controle para aferir a correta utilização dessa responsabilidade, analisada por unidade administrativa de governo, programas e ações de governo, bem como pelos seus gerentes. Mais do que uma necessidade, o controle sobre as prestações de contas na Administração Pública é um dever.
É orientado que os entes governamentais adotem o modelo COSO, conforme citado
pela professora Shirley (informação verbal)4. O controle será efetuado de maneira efetiva com
um melhor desempenho e conseqüentemente trará maiores resultados e confiança à gestão, já
que o gestor público deve tomar decisões baseadas em informações confiáveis e isto somente
será possível se o órgão de controle interno da entidade for confiável e tiver abertura para
trabalhar com liberdade.
Como a própria Constituição prevê, é também papel do controle interno detectar
qualquer irregularidade seja por erro ou fraude, dando ciência ao Tribunal de Contas, que
exerce o controle externo, prevenindo a corrupção, sob pena de responsabilidade solidária.
Se o órgão de controle de uma entidade é confiável e eficiente, pois ele também é
avaliado pelo controle externo, ele acaba auxiliando e apoiando o controle externo nas suas
atividades. Este pode utilizar os trabalhos do controle interno para corroborar sua fiscalização.
Na entidade onde o controle interno trabalha de forma autônoma e eficiente, o grau de ________________________________
4 IGNÁCIO, Shirley Morais Souza de Paiva. Informação dada em aula de Controles Internos em 25/11/2011 no curso de pós-graduação em Gestão Pública no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sul de Minas.
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confiabilidade desta administração é bem maior e transmite credibilidade e segurança à
sociedade.
Na percepção de Citadini (1998, p. 2),Quando bem exercido, com seus mecanismos de ação compreendendo a boa aplicação das técnicas apropriadas, precedido de adequado planejamento, o sistema de Controle Interno mostra-se fator de grande contribuição para que o Controle Externo, constitucionalmente atribuído ao Tribunal de Contas, possa ser levado a efeito com maior profundidade, revelando-se, assim, de grande utilidade para a Administração e para toda a sociedade.
O controle exercido sobre as atividades assegura que os recursos recebidos de
qualquer órgão governamental sejam aplicados de maneira econômica, eficiente e eficaz para
a realização dos objetivos e das diretrizes do setor público. O órgão de controle interno, além
da verificação das atividades operacionais, tem como foco também o acompanhamento da
aplicação dos recursos públicos, verificando se estão sendo aplicados corretamente tanto na
quantidade quanto na qualidade dos investimentos.
Os processos que envolvem um volume maior de recursos devem ter atenção especial
do órgão de controle interno, pois valores relevantes apresentam maior risco. Deve ser
assegurado que tais recursos públicos estejam protegidos de ações que resultem em perdas,
uso indevido e roubo.
4.1 Autonomia na atuação do Controle Interno
É de extrema importância que o órgão de controle interno de uma entidade seja
autônomo e tenha liberdade de atuação. O seu resultado está diretamente ligado ao grau de
liberdade que lhe é dado junto aos outros órgãos da administração.
Flores e Cavalheiro (2007, p. 57) afirmam que “os profissionais que integram a
Unidade de Controle Interno, seja como unidade central ou ainda na Controladoria e na
Auditoria, devem possuir autonomia profissional”. Basicamente, os servidores devem ter
acesso aos documentos e informações necessárias à execução de suas atividades, e ter o
direito de efetuar levantamentos, organizar, verificar irregularidades e dar o andamento
necessário ao cumprimento da lei.
O controle interno atuante e competente, como parte da gestão pública é de
fundamental importância para o êxito da Administração. Contribui para o alcance dos
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objetivos de eficácia, eficiência, economicidade e efetividade, que devem ser perseguidos
pelos gestores da administração em todas as esferas governamentais.
Como o órgão de controle interno é instituído por lei, a controladoria deve ter
liberdade na execução dos procedimentos e apontamentos efetuados. Um controle bem
instituído funciona como aliado do gestor público e não como fiscalizador.
A integração e bom relacionamento entre os diversos setores se fazem necessária para
que haja clareza de objetivos e entendimento da função do controle interno para cada servidor
e com isto evitar qualquer empecilho ou que seja colocado qualquer tipo de barreira
impedindo o bom andamento dos trabalhos.
O objetivo é assegurar que todos os procedimentos e atos administrativos sejam feitos
dentro da legislação, porque o administrador público somente pode fazer o que é permitido
por lei. Um ponto importante a ser questionado é que, o fato de o controle ser exercido por
órgão que fica dentro da administração e está subordinado ao gestor público, executor do ato
examinado, pode restringir a ação do controlador, que fica sem liberdade de divergir de algum
ato, até mesmo com preocupação de retaliação por parte de seu superior hierárquico.
De acordo com Citadini (1998, p. 5), Em alguns países, como na Alemanha, por exemplo, a nomeação e exoneração dos responsáveis pelo sistema de controle interno, dependem de aprovação do Tribunal de Contas. Esta é uma prática interessante que tem a vantagem de tornar complexos os respectivos atos administrativos, dando ao ocupante do cargo maior tranqüilidade para exercê-lo, na medida em que sua permanência não está adstrita à vontade de uma só pessoa e sim a um colegiado.
Esta prática, se implantada também no Brasil, traria muitos benefícios e seria uma
ferramenta muito poderosa contra os corruptores. O órgão de controle interno seria
fortalecido. O país teria maior credibilidade no cenário internacional e a sociedade brasileira
teria ganhos relevantes com um governo que adota a liberdade de ação como regra para o
desempenho das funções.
4.2 Equipe ideal de profissionais do Sistema de Controle
Para que o sistema de controle interno tenha condições de atuar de fato na inibição da
corrupção e cumpra sua importante missão, é defendido que seja “devidamente aparelhado,
com servidores de carreira, adequadamente remunerados e motivados” conforme citado por
Lima (2007, p. 338).
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Ainda na defesa de uma equipe estruturada, com empregados capacitados e que
tenham condições de realizar um trabalho de qualidade, se faz necessário que seja composta
de profissionais habilitados, ou seja, pelo menos um engenheiro, um advogado, um técnico
em contabilidade, além do controlador, conforme mencionado pela profª Shirley (informação
verbal)5.
Esta atitude dificultaria diversos tipos de fraudes, como em licitações, obras, balanços
e superfaturamento em compras diversas. O foco seria a verificação proativa, isto é, antes do
acontecimento e não somente reativa, este com cunho de auditoria. Além da verificação dos
processos, o acompanhamento durante a execução é primordial para que não fiquem lacunas
que propiciem a ação de fraudadores.
4.3 Fatores que facilitam a fraude
Conforme citado por Anjos (2011, p. 6), Segundo o manual de Deterrence do Fraud (Dissuasão da Fraude) da lei Sarbanes-Oxlei/2002 (SOX), a detenção da fraude é baseada na premissa que a fraude não é uma ocorrência aleatória; ela ocorre onde as circunstâncias são propícias para que aconteçam. É o que se chama de triângulo da fraude.
Este triângulo (ibid) é composto pelos seguintes elementos: motivo, oportunidade e
racionalização.
1) Motivo: Necessidade financeira, alto padrão de vida incompatível com remuneração do
fraudador, ganância;
2) Oportunidade: Insuficiência nos controles. Conforme pesquisa citada pelo autor, 64 % dos
entrevistados disse que o principal facilitador do ato fraudulento é a ausência ou falha dos
controles internos;
3) Racionalização: É a auto justificativa para a ação fraudulenta.
O bloqueio de pelo menos um dos três elementos já reduziria sobremaneira a
probabilidade de ocorrência de fraude no setor público. Como o desvio de caráter e a ganância
extrema não são controláveis através de gestão, estes adjetivos somente são percebidos
quando um ato ilícito já foi concretizado, fica evidente a necessidade de fortalecimento do
controle interno, que causaria uma quebra neste triângulo, dificultando a fraude.
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5 IGNÁCIO, Shirley Morais Souza de Paiva. Informação dada em aula de Controles Internos em 10/12/2011 no curso de pós-graduação em Gestão Pública no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sul de Minas.
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CONCLUSÃO
A corrupção paira sobre o país. Todos os dias a população é bombardeada com
notícias de desvios e roubos do dinheiro público. Ficou constatado neste artigo, que o sistema
de controle interno é uma ferramenta muito importante de gestão publica, instituído por lei, e
se devidamente fortalecido, autônomo e com liberdade de ação pode ser um forte aliado do
administrador publico que dá valor a ética e a honestidade, e pode ser também um
instrumento muito poderoso de inibição da corrupção.
Conforme citado por Born (2005, p. 1) ”para que a sociedade brasileira não seja mais
penalizada com o ônus da corrupção, a Administração Publica deve fortalecer o Controle
Interno, que exerce papel fundamental na prevenção dos desvios, na correção das
irregularidades e na inibição das fraudes.”
É reconhecido que o controle interno tem atuação relevante também na orientação e
vigilância das ações dos administradores com o objetivo de assegurar a correta aplicação dos
recursos públicos, representando uma importante ferramenta contra a corrupção (REVISTA
CGU, 2008).
Para que este órgão possa exercer a sua função plenamente e cumprir seu papel
perante a sociedade, é prudente que não haja subordinação ao gestor praticante do ato público,
como meio de evitar qualquer temor de retaliação quando no desempenho das funções.
Por fim, quando bem estruturado, composto por profissionais éticos, capacitados e
com liberdade de ação, o Controle Interno pode ser uma ferramenta valiosa, senão para
acabar, pelo menos para diminuir a ação de fraudadores em todas as esferas de governo
trazendo grandes benefícios à sociedade brasileira.
REFERÊNCIAS
ANJOS, Gersino José dos. Artigo “O Controle Interno e a Corrupção: Uma Nova Matriz”. Artigos. 2011. 18 p. Disponível em <http://www.tce.ms.gov.br/portal/admin/uploads/O%20CONTROLE%20INT%20Gersino(2).pdf Acesso em 24 abr 2012.
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