· web viewpara pesquisar por assunto no word, ... tese brilhantemente construída por paulo...

106
:: Ano II – Edição Especial nº 07 :: ASSÉDIO MORAL E ASSÉDIO SEXUAL - 1ª PARTE - DECISÕES DO TRT DA 4ª REGIÃO - 26 de maio de 2006 - Excepcionalmente, a presente edição está divida em três partes: a) acórdãos, ementas e sentenças da 4ª Região (1ª parte); b) acórdão do Tribunal Superior do Trabalho e acórdãos, ementas e sentenças de outras Regiões (2ª parte); c) artigos e uma petição inicial de Ação Civil Pública sobre a matéria, além de dezenas de indicações de leitura e algumas notícias, com indicação de "sites", inclusive de outros países. A Comissão da Revista pretende que, com essa compilação, fiquem nítidas as convergências e as divergências sobre o assunto, fornecendo subsídio relativamente seguro para todos aqueles que lidam ou ainda vão lidar com esses temas. Os acórdãos e ementas contidos nesta parte da edição foram obtidos na Nova JUS4 e as sentenças foram enviadas por seus prolatores para a Comissão da Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região. Por razões de ordem prática, alguns deles foram editados e não constam na íntegra, preservando-se, porém, na parte remanescente, o texto original. Denis Marcelo de Lima Molarinho Presidente do Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região Mario Chaves Maria Helena Mallmann Ricardo Carvalho Fraga Comissão da Revista AdrianaaPooli Luís Fernando Matte Pasin Sidnei Gomes da Silva Tamira Kiszewski Pacheco Wilson da Silveira Jacques Junior Equipe Responsável Sugestões e informações: (51) 3255.2140 Contatos: [email protected] Utilize os links de navegação: volta ao índice textos 1

Upload: nguyencong

Post on 14-Jan-2019

214 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

:: Ano II – Edição Especial nº 07 ::

ASSÉDIO MORAL E ASSÉDIO SEXUAL

- 1ª PARTE -

DECISÕES DO TRT DA 4ª REGIÃO

- 26 de maio de 2006 -

Excepcionalmente, a presente edição está divida em três partes: a) acórdãos, ementas e sentenças da 4ª Região (1ª parte); b) acórdão do Tribunal Superior do Trabalho e acórdãos, ementas e sentenças de outras Regiões (2ª parte); c) artigos e uma petição inicial de Ação Civil Pública sobre a matéria, além de dezenas de indicações de leitura e algumas notícias, com indicação de "sites", inclusive de outros países. A Comissão da Revista pretende que, com essa compilação, fiquem nítidas as convergências e as divergências sobre o assunto, fornecendo subsídio relativamente seguro para todos aqueles que lidam ou ainda vão lidar com esses temas.

Os acórdãos e ementas contidos nesta parte da edição foram obtidos na Nova JUS4 e as sentenças foram enviadas por seus prolatores para a Comissão da Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região. Por razões de ordem prática, alguns deles foram editados e não constam na íntegra, preservando-se, porém, na parte remanescente, o texto original.

Denis Marcelo de Lima MolarinhoPresidente do Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região

Mario ChavesMaria Helena MallmannRicardo Carvalho Fraga

Comissão da Revista

AdrianaaPooli Luís Fernando Matte Pasin

Sidnei Gomes da Silva Tamira Kiszewski Pacheco

Wilson da Silveira Jacques JuniorEquipe Responsável

Sugestões e informações: (51) 3255.2140Contatos: [email protected]

Utilize os links de navegação: volta ao índice textos

1

:: Ano II – Edição Especial nº 7 ::

ASSÉDIO MORAL E ASSÉDIO SEXUAL 1ª PARTE: DECISÕES DO TRT DA 4ª REGIÃO

Para pesquisar por assunto no Word, clique no menu Editar/Localizar ou utilize

as teclas de atalho Ctrl+L e digite a palavra-chave ou expressão na caixa de diálogo que será aberta.

1.1. Relator o Exmo. Juiz João Alfredo Borges Antunes de Miranda. 6ª Turma. Processo nº 00440.304/00-8 RO. Publicação em 20.01.2003................................................05

1.2. Relatora a Exma. Juíza Beatriz Zoratto Sanvicente. 6ª Turma. Processo nº 00967.013/00-3 RO. Publicação em 09.06.2003.................................................06

1.3. Relator o Exmo. Juiz Leonardo Meurer Brasil. 1ª Turma. Processo nº 00015-2002-012-04-00-6 RO. Publicação em 01.09.2003.................................................................10

1.4. Relatora a Exma. Juíza Denise Maria de Barros. 1ª Turma. Processo nº 01237.016/00-2 RO. Publicação em 24.10.2003.....................................................................12

1.5. Relatora a Exma. Juíza Jane Alice de Azevedo Machado. 3ª Turma. Processo nº 00197-2004-561-04-00-8 RO. Publicação em 31.01.2005..................................................14

1.6. Relatora aExma. Juíza Vanda Krindges Marques. 2ª Turma. Processo nº 00867-2002-005-04-00-5 RO. Publicação em 17.05.2005.................................................................15

1.7. Relator o Exmo. Juiz João Pedro Silvestrin. 4ª Turma. Processo nº 00477-2004-302-04-00-2 RO. Publicação em 26.08.2005.................................................................17

1.8. Relatora a Exma. Juíza Ana Rosa Pereira Zago Sagrilo. 6ª Turma. Processo nº 00654-2004-511-04-00-8 RO. Publicação em 10.11.2005..................................................19

1.9. Relatora a Exma. Juíza Maria Beatriz Condessa Ferreira. 4ª Turma. Processo nº 00869-2003-511-04-00-8 RO. Publicação em 21.11.2005..................................................21

1.10. Relator o Exmo. Juiz José Felipe Ledur. 1ª Turma. Processo nº 01125-2002-221- 04-00-2 RO. Publicação em 28.11.2005.........................................................................25

1.11. Relator o Exmo. Juiz Flavio Portinho Sirangelo. 2ª Seção de Dissídios Individuais. Processo nº 01423-2004-000-04-00-7 AR. Publicação em 07.12.2005.............................................................................................................................26

1.12. Relator o Exmo. Juiz Mario Chaves. 6ª Turma. Processo nº 01003-2005-771-04-00-6 RO. Publicação em 07.12.2005.......................................................................................29

1.13. Relator o Exmo. Juiz Hugo Carlos Scheuermann. 3ª Turma. Processo nº 01369-2003-009-04-00-6 RO. Publicação em 19.12.2005......................................................31

1.14. Relator o Exmo. Juiz José Felipe Ledur. 1ª Turma. Processo nº 00574-2004-016-04-00-3 RO. Publicação em 13.01.2006..........................................................................32

1.15. Relator o Exma. Juíza Maria Beatriz Condessa Ferreira. 4ª Turma. Processo nº 00035-2005-761-04-00-7 RO. Publicação em 16.01.2006......................................................33

1.16. Relator o Exmo. Juiz João Ghisleni Filho. 2ª Turma. Processo nº 01005-2004-662-04-00-5 RO. Publicação em 31.01.2006..........................................................................36

1.17. Relatora a Exma. Juíza Rosane Serafini Casa Nova. 6ª Turma. Processo nº 00255-2001-026-04-00-2 RO. Publicação em 03.02.2006......................................................40

2

1.18. Relator o Exmo. Juiz Leonardo Meurer Brasil. 5ª Turma. Processo nº 00472-2005-791-04-00-2 RO. Publicação em 10.02.2006.................................................................41

1.19. Relatora a Exma. Juíza Maria Beatriz Condessa Ferreira. 4ª Turma. Processo nº 00522-2004-103-04-00-9 RO. Publicação em 17.02.2006..................................................43

1.20. Relatora a Exma. Juíza Berenice Messias Corrêa. 5ª Turma. Processo nº 00678-2003-011-04-00-5 RO. Publicação em 21.02.2006......................................................44

1.21. Relatora a Exma. Juíza Ana Luiza Heineck Kruse. 8ª Turma. Processo nº 00862-2004-662-04-00-8 RO. Publicação em 23.03.2006......................................................46

1.22. Relator o Exmo. Juiz Flavio Portinho Sirangelo. 7ª Turma. Processo nº 00231-2004-841-04-00-4 RO. Publicação em 27.03.2006.................................................................49

1.23. Relator o Exmo. Juiz Ricardo Carvalho Fraga. 3ª Turma. Processo nº 00017-2004-020-04-00-1 RO. Publicação em 10.04.2006.................................................................51

1.24. Relator o Exmo. Juiz José Felipe Ledur. 1ª Turma. Processo nº 00935-2005-771-04-00-1 RO. Publicação em 11.04.2006..........................................................................51

1.25. Relator o Exmo. Juiz Mario Chaves. 6ª Turma. Processo nº 00229-2004-017-04-00-6 RO. Publicação em 11.04.2006.................................................................................53

1.26. Relatora a Exma. Juíza Maria Helena Mallmann. 1ª Turma. Processo nº 00432-2005-015-04-00-0 RO. Publicação em 18.04.2006......................................................58

1.27. Relator o Exmo. Juiz Ricardo Carvalho Fraga. 3ª Turma. Processo nº 00229-2004-017-04-00-6 RO. Publicação em 19.04.2006.................................................................58

1.28. Relator o Exmo. Juiz Ricardo Luiz Tavares Gehling. 4ª Turma. Processo nº 01234- 2004-341-04-00-4 RO. Publicação em 10.05.2006.....................................................58

1.29. Relator o Exmo. Juiz Mario Chaves. 6ª Turma. Processo nº 00010-2005-014-04-00-9 RO. Publicação em 15.05.2006.........................................................................60

volta ao sumário

2.1. 4ª Turma (processo 01355.023/00-9 RO), Relatora a Exma. Beatriz Renck – Convocada. Publicação em 16.09.2003...................................................................................66

2.2. 8ª Turma (processo 01131-2001-402-04-00-7 RO), Relator o Exmo. Juiz Carlos Alberto Robinson. Publicação em 05.05.2004..........................................................................66

2.3. 2ª Turma (processo 00231-2003-002-04-00-5 RO), Relatora a Exma. Juíza Vanda Krindges Marques. Publicação em 14.10.2004.............................................................66

2.4. 7ª Turma (processo 01301-2003-662-04-00-5 RO), Relatora a Exma. Juíza Maria Inês Cunha Dornelles. Publicação em 22.10.2004..........................................................66

2.5. 2ª Turma (processo 00228-2003-022-04-00-6 RO), Relator o Exmo. Juiz João Ghisleni Filho. Publicação em 27.10.2004................................................................................66

2.6. 7ª Turma (processo 00926-2003-029-04-00-6 RO), Relatora a Exma. Juíza Maria Inês Cunha Dornelles. Publicação em 25.05.2005..........................................................66

2.7. 2ª Turma (processo 00173-2003-301-04-00-8 RO), Relator o Exmo. Juiz João Ghisleni Filho. Publicação em 06.07.2005................................................................................67

2.8. 1ª Turma (processo 00334-2003-203-04-00-8 RO), Relator o Exmo. Juiz Ricardo Hofmeister de Almeida Martins Costa – Convocado. Publicação em 04.08.2005..............................................................................................................................67

2.9. 6ª Turma (processo 01718-2003-402-04-00-8 RO), Relatora a Exma. Juíza Rosane Serafini Casa Nova. Publicação em 13.09.2005..........................................................67

2.10. 8ª Turma (processo 00363-2004-371-04-00-7 RO), Relatora a Exma. Juíza Flávia Lorena Pacheco. Publicação em 14.09.2005................................................................67

2.11. 7ª Turma (processo 00761-2004-203-04-00-7 RO), Relatora a Exma. Juíza Maria Inês Cunha Dornelles. Publicação em 07.10.2005........................................................67

3

2.12. 1ª Turma (processo 00178-2004-017-04-00-2 RO), Relator o Exmo. Juiz José Felipe Ledur. Publicação em 25.10.2005................................................................................67

2.13. 1ª Turma (processo 00139-2004-024-04-00-3 RO), Relator o Exmo. Juiz Marçal Henri dos Santos Figueiredo – Convocado. Publicação em 13.01.2006.............................................................................................................................68

volta ao sumário

3.1. Exmo. Juiz Lenir Heinen. Processo nº 00875-2004-007-04-00-6 – 7ª Vara do Trabalho de Porto Alegre. Publicação em 27.04.2005.........................................................65

3.2. Exmo. Juiz Lenir Heinen. Processo nº 00019-2005-007-04-00-1 – 7ª Vara do Trabalho de Porto Alegre. Publicação em 23.05.2005.........................................................66

3.3. Exmo. Juiz Ben-Hur Silveira Claus. Processo nº 00197-2004-561-04-00-8 – Vara do Trabalho de Carazinho. Publicação em 24.06.2004..................................................66

3.4. Exma. Juíza Cacilda Ribeiro Isaacsson. Processo nº 00377-2005-131-04-00-6 (apensado Processo nº 00078-2006-131-04-00-2) – Vara do Trabalho de Arroio Grande. Publicação em 27.04.2006...........................................................70

3.5. Exma. Juíza Lila Paula Flores França. Processo nº 1194-2003-411-04-00-6 – Vara do Trabalho de Viamão. Publicação em 26.05.2004...................................................71

3.6. Exmo. Juiz Luciano Ricardo Cembranel. Processo nº 00807-2005-662-04-00-9 – 2ª Vara do Trabalho de Passo Fundo. Publicação em 13.03.2006..............................................................................................................................72

3.7. Exmo. Juiz Sílvio Rogério Schneider. Processo nº 00788-020/02-1 – 20ª Vara do Trabalho de Porto Alegre. Publicação em 30.09.2005.................................................74

3.8. Exmo. Juiz Sílvio Rogério Schneider. Processo nº 00198-2005-020-04-00-7 – 20ª Vara do Trabalho de Porto Alegre. Publicação em 30.09.2005..............................................................................................................................76

3.9. Exma. Juíza Lígia Maria Belmonte Klein. Processo nº 00010-2005-015-04-00-5 – 15ª Vara do Trabalho de Porto Alegre. Publicação em 10.09.2005..............................................................................................................................77

volta ao sumário

4

:: Ano II – Edição Especial nº 7 ::

ASSÉDIO MORAL E ASSÉDIO SEXUAL 1ª PARTE: DECISÕES DO TRT DA 4ª REGIÃO

volta ao índice volta ao sumário

1.1. Relator o Exmo. Juiz João Alfredo Borges Antunes de Miranda. 6ª Turma. Processo nº 00440.304/00-8 RO. Publicação em 20.01.2003.

EMENTA: ASSÉDIO SEXUAL. NÃO CARACTERIZAÇÃO. DANO MORAL. No âmbito das relações de trabalho, o assédio sexual se caracteriza pelo comportamento do empregador ou de prepostos que, abusando da autoridade inerente à função ou condição, pressiona o(a) empregado(a) com fins de obtenção ilícita de favores. Mas galanteios ou simples comentários de admiração, ainda que impróprios, se exercidos sem qualquer tipo de pressão, promessa ou vantagem, não configuram o assédio para efeitos de sancionamento civil.(...)2. INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL.Discute-se o direito da reclamante em obter o pagamento da parcela em epígrafe. Segundo a petição inicial, o pedido em comentário decorre da autora ter sido assediada sexualmente por empregado da reclamada, cujo fato causou-lhe constrangimento e vexame perante os demais colegas de trabalho, o que a levou pedir o seu desligamento da empresa.

volta ao índiceInicialmente, cumpre assinalar que, no âmbito das relações de trabalho, o assédio sexual se caracteriza pelo comportamento do empregador ou de prepostos que, abusando da autoridade inerente à função ou condição, pressiona o(a) empregado(a) com fins de obtenção ilícita de favores. Na verdade, a caracterização do assédio sexual envolve poder, ou seja, aquele que assedia deve ter a possibilidade concreta de - utilizando sua posição hierárquica - prejudicar o assediado. Galanteios ou simples comentários de admiração, ainda que impróprios, se exercidos sem qualquer tipo de pressão, promessa ou vantagem, não configuram o assédio para efeitos de sancionamento civil. A figura do assédio se configura pelo constrangimento provocado na vítima, na busca de favor sexual, mediante o uso de poderes concedidos por situação hierárquica superior.É justamente neste sentido que o Código Penal, em seu artigo 216 A, com a redação dada pela Lei nº 10.224/2001, define a figura denominada de assédio sexual, ao dispor: Constranger alguém com o intuito de obter vantagem ou favorecimento sexual, prevalecendo-se o agente da sua condição de superior hierárquico ou ascendência inerentes ao exercício de emprego, cargo ou função.A jurisprudência trabalhista adota o conceito supra mencionado quando trata sobre questões similares ao caso em discussão, como exemplo disso a ementa ora transcrita: DANO MORAL. ASSÉDIO SEXUAL. PROVA. O assédio sexual conceitua-se como pretensões insistentes que firam a liberdade sexual de cada pessoa, no sentido de fazer aquilo que não quer, utilizando-se o agente de seu poder hierárquico sobre a vítima. Para se imputar os atos a pessoa do acusado, necessariamente há que se apresentar prova inequívoca da prática de referidos atos, porquanto a condenação deve calcar-se em prova robusta e não apenas em indícios. Logo, não havendo a certeza de que efetivamente o acusado tenha se comportado de forma imoral, ferindo a liberdade sexual da autora, não há como lhe imputar referido ato de constrangimento e dor psicológica, ante a fragilidade da prova produzida. (TRT 12ª Região, 1ª Turma, RO-5327/2000, Juíza Relatora Licélia Ribeiro, em 29/11/2000)Postas estas premissas, conclui-se não ter ocorrido a caracterização do alegado assédio sexual, pelo menos juridicamente falando e que possibilitasse a caracterização de dano moral indenizável. Na petição inicial, a reclamante alega ter sido assediada pelo Sr. Lázaro Nunes Monteiro, pois o mesmo tecia publicamente comentários indecorosos sobre os atributos físicos da empregada. Tal situação poderia caracterizar evidente situação de constrangimento que, por mais que seja condenável, não enseja a caracterização do assédio sexual.Tem-se, portanto, que os referidos comentários não se constitui assédio sexual a ponto de justificar o pagamento de indenização por dano moral.Note-se que a primeira testemunha apresentada pela reclamada refere que o Lázaro era bastante extrovertido mas que, não ouvira qualquer comentário que desabonasse sua conduta.

5

:: Ano II – Edição Especial nº 7 ::

ASSÉDIO MORAL E ASSÉDIO SEXUAL 1ª PARTE: DECISÕES DO TRT DA 4ª REGIÃO

Refere que o Lázaro não foi supervisor da reclamante, concluindo-se que esta pessoa não tinha poderes dentro da empresa pois não tinha subordinados nem poder de representação.Mesmo considerando que o depoimento da testemunha da reclamante contraria tais afirmativas, colocando o Lázaro como chefe da reclamante e afirmando que o mesmo contava de forma grosseira à reclamante, não fica configurado nos autos que a reclamante sofrera efetivamente prejuízos pela atitude do Lázaro ou que a reclamada tivesse ciência da atitude de seu empregado, sem ter tomado qualquer providência.Nega-se provimento ao recurso.(...)

volta ao índice volta ao sumário

1.2. Relatora a Exma. Juíza Beatriz Zoratto Sanvicente. 6ª Turma. Processo nº 00967.013/00-3 RO. Publicação em 09.06.2003.

EMENTA: (...) DANO MORAL. Configura-se situação de assédio moral o constrangimento de subordinada a carinhos não solicitados e indesejados, no ambiente de trabalho, associado à cobranças públicas de regularização de situação financeira particular e dissociada da empresa. Valor. Conforme parâmetros postos pelo E. STJ, o valor da indenização por danos morais deve atender não apenas a reparação, mas também o critério pedagógico e o critério punitivo. Majoração para R$ 50.000,00. (...)(...)

1. DANO MORAL. VALOR. (matéria comum a ambos os apelos)Os reclamados asseveram ser contraditória a prova produzida no presente feito, reportando-se aos depoimentos das testemunhas. Aduzem não ter a testemunha Luciana Fernandes identificado quem Tarcísio teria atacado, alegando terem as testemunhas Nara de Fátima Lima Fortuna e Cristiane Medeiros prestado depoimentos vagos. Referem os depoimentos das testemunhas Maria Zemira Bernardes, alegando desconhecer ataques por parte de Tarcísio a funcionários da empresa, e de Alexandre Oliveira, alegando desconhecer prática de assédio sexual por Tarcísio às empregadas. Sustentam não consistir a atuação de Tarcísio, de beijar, agarrar e abraçar as funcionárias como assédio sexual, por não verificada a imposição da vontade de uma parte sobre a outra e tampouco a remanescência de seqüelas dolorosas, tampouco se enquadrando no art. 216-A do Código Penal, inserido pela Lei 10.224 de 15.05.2001. Asseveram inexistir prejuízo, razão de não ser devida qualquer indenização. Sucessivamente, alegam excessiva a indenização fixada, em R$ 5.000,00, por desprovida de qualquer fundamento. Ponderam ter a reclamante trabalhado por quarto anos e três meses, recebendo, como última remuneração, R$ 435,06, consistindo referida indenização em 12 meses de salário da autora, verba alegadamente de proporções absurdas.A reclamante requer a majoração do valor da indenização por danos morais, em razão da proporção do dano sofrido e também por conta do caráter pedagógico da medida.O Juízo de origem concluiu ter ocorrido o dano moral, em razão da atitude tomada pelo funcionário Tarcísio Bandeira, de beliscar, agarrar e beijar os subordinados do sexo feminino, fundamentando ter restado evidenciado o abuso da condição de subordinada da reclamante. Fixou a indenização devida em R$ 5.000,00.a) Dano. Assédio moral.Em suma, sustentam os reclamados não ter restado comprovado o dano moral, quer pela inocorrência de atos tendentes a tanto, quer pela ausência de dano.Sem razão.A prova oral produzida no âmbito do feito permite concluir pela caracterização inequívoca de dano moral, na modalidade de assédio moral. A autora narra, na petição inicial, situação de pressão, desconforto e abuso, em razão da conduta de funcionário designado para ocupar o posto de gerente, sendo seu superior imediato, atuando de forma a constrangê-la, tanto fisicamente, forçando contatos indesejados, quanto socialmente, requerendo de forma pouco respeitosa a regularização de pendências junto à Sociedade de Proteção ao Crédito, SPC. Suas alegações restaram amplamente respaldadas na prova oral. Disse a testemunha Luciana

6

:: Ano II – Edição Especial nº 7 ::

ASSÉDIO MORAL E ASSÉDIO SEXUAL 1ª PARTE: DECISÕES DO TRT DA 4ª REGIÃO

Fernandes, fls. 479/480: “... quando a depoente tinha que comparecer à sala de Tarcísio, este vinha lhe beijar e agarrar, embora a depoente se sentisse mal com tal situação; que a depoente comentava esta situação com sua encarregada de setor, que lhe orientava a não comentar tal situação, pois não ia adiantar uma vez que era freqüente; ...” (grifamos). A seguir, perguntas do procurador da autora à testemunha, com a respectiva resposta: “se chegou a ver Tarcísio abraçar ou beijar alguma empregada ou a própria autora?” R: Sim, inclusive a autora. “se existia pressão da reclamada para que os empregados regularizassem suas situações?” “de que forma era feita a pressão?” R: na frente de todos os empregados e aos gritos; quem fazia a manifestação era Tarcísio. Perguntas do procurador dos reclamados à testemunha, com a respectiva resposta: “se havia outros empregados atrás do armário no qual se localizava Tarcísio” R: geralmente quando Tarcísio atacava não havia outros empregados por perto, pois ele não era bobo. “se assistiu Tarcísio atacando alguém” R: sim. (grifamos). É corroborada por Nara de Fátima Lima Fortuna, fls. 480-481. Respondendo perguntas do procurador da autora: “Se houve alguma situação embaraçosa entre a depoente e Tarcísio?” R: sim, ele era um velho muito tarado e vivia beijando e assediando as pessoas e dando empurrões principalmente nas mulheres que não tinham esposo. Que Tarcísio deu vários empurrões na depoente. “Se presenciou alguma vez beliscando as nádegas de alguma empregada ou tendo alguma atitude indesejada com a autora?” R: sim, isto era comum. “Se as empregadas reclamavam para a chefe do setor as atitudes de Tarcísio?” R: sim, mas como ele era

volta ao índice gerente geral, a maioria das pessoas tinha medo e se sujeitava , tendo em vista a dificuldade de arrumar emprego. “Se em alguma situação Tarcísio tentou fazer algo á força com a depoente” R: sim, estava sempre tentando . (grifamos). Não é diverso o depoimento de Cristiane Neves, fls. 481/482: “Se tem conhecimento de Tarcísio ter faltado com o respeito com alguma empregada ou ter assediado?” R: sim. “Se a depoente chegou a presenciar tais fatos?” R: sim, várias vezes. “Inclusive com a autora?” R: sim. “Se a empresa possuía uma lista dos empregados que estavam no SPC e se esta lista era mostrada par os demais empregados?” R: sim e era mostrada para todos. “Se havia pressão para que os empregados saíssem do SPC?” R: sim “Quem fazia pressão?” R: o gerente da empresa. “Se o gerente da empresa era Tarcísio Bandeira?” R: sim. (grifamos).Outrossim, também respaldam a tese da reclamante os termos do depoimento da coordenadora, a quem se subordinava o gerente, Maria Zemira Bernardes, testemunha convidada pelos reclamados, fls. 482/483: “que conheceu Tarcísio; que não sabe de incidente que envolvesse Tarcísio e os demais empregados; .... que após a saída de Tarcísio os empregados da reclamada começaram a comentar que ele assediava e beijava as empregadas, normalmente os comentários eram oriundos dos empregados que saíam da empresa; .... se tivesse ouvido tais comentários durante o período em que Tarcísio trabalhava na empresa, não acreditaria; se a depoente visse os fatos imputados a Tarcísio, apenas acreditaria, mas não tomaria qualquer atitude, pois acredita que a atitude compete à pessoa assediada; se uma das empregadas assediadas viesse pedir ajuda à depoente, esta não sabe o que faria, não havendo qualquer orientação da empresa nesse sentido; .... se a depoente tivesse ciência de que as pessoas assediadas não estavam “dando entrada” a Tarcísio, a depoente comunicaria à diretoria;” (grifamos) Perguntas do procurador da reclamante: “Se viu Tarcísio beijar as empregadas?” R: sim, ele as beijava na cabeça, carinhosamente. “Se a depoente possui relação de amizade com Tarcísio?” R: não. “Se almoçavam juntos?” R: de vez em quando sim, juntamente com mais pessoas.” (grifamos). Como visto, a superiora imediata de Tarcísio Bandeira não tomaria qualquer atitude, mesmo na hipótese de ser procurada por suas subordinadas queixosas, porquanto, como afirmou, essa atitude cabe à assediada. Paradoxalmente, a testemunha Luciana Fernandes, primeiro depoimento retro transcrito, conta ter sido desencorajada de tomar qualquer atitude pela sua encarregada de setor, muito provavelmente também subordinada à Maria Zemira Bernardes. Logo, se a empregada assediada deve tomar atitudes por si só, e não deve contar com respaldo algum da empresa, essa atitude somente pode se configurar como demissão. A perversidade é a tônica das relações contaminadas pelo assédio moral, e a presente situação se evidencia como tal. Há total aviltamento, no caso, na relação de trabalho, valendo-se o superior hierárquico dessa sua condição na empresa para suplantar, de forma perversa, a personalidade do outro e os direitos

7

:: Ano II – Edição Especial nº 7 ::

ASSÉDIO MORAL E ASSÉDIO SEXUAL 1ª PARTE: DECISÕES DO TRT DA 4ª REGIÃO

que lhe são inerentes. Nesse aspecto, os termos da brilhante exposição da MMª Juíza do Trabalho da 5ª Região, Bahia, Marcia Novaes Guedes, in Mobbing - Violência Psicológica no Trabalho, Revista LTr, Vol. 67, nº 02, Editora LTr, São Paulo, SP, 2003, pp. 162/165: “Mobbing, assédio moral ou terror psicológico no trabalho são sinônimos destinados a definir a violência pessoal, mora e psicológica, vertical, horizontal ou ascendente no ambiente de trabalho. O termo mobbing foi empregado pela primeiro vez pelo etiologista Heinz Lorenz, ao definir o comportamento de certos animais que, circundando ameaçadoramente outro membro do grupo, provocam sua fuga por medo de um ataque. (...) No mundo do trabalho, o assédio moral ou mobbing pode ser de natureza vertical - a violência parte do chefe ou superior hierárquico; horizontal - a violência é praticada por um ou vários colegas de mesmo nível hierárquico; ou ascendente - a violência é praticada pelo grupo de empregados ou funcionários contra um chefe, gerente ou supervisor hierárquico. O terror psicológico no trabalho tem origens psicológicas e sociais que ainda hoje não foram suficientemente estudadas. Sabe-se, todavia, que, na raiz dessa violência no trabalho, existe um conflito mal resolvido ou a incapacidade da direção da empresa de administrar o conflito e gerir adequadamente o poder disciplinar. Por isso mesmo não se pode mitigar a responsabilidade dos dirigentes das organizações no exercício do poder diretivo. Tanto a administração rigidamente hierarquizada, dominada pelo medo e pelo silêncio, quanto a administração frouxa, onde reina a total insensibilidade para com os valores éticos, permitem o desenvolvimento de comportamentos psicologicamente doentes, que dão azo à

volta ao índiceemulação e à criação de bodes expiatórios. (...) A violência psicológica segue uma dinâmica identificada na qual o sujeito perverso emprega várias modalidades de agressões contra a pessoa. (...) Como sabiamente já deduziu o leitor, a vítima do assédio moral ou terror psicológico é violentada no conjunto de direitos que compõem a personalidade. São os direitos fundamentais, apreciados sob o ângulo das relações entre os particulares, aviltados, achincalhados, desrespeitados no nível mais profundo. O mais terrível é que essa violência se desenrola sorrateiramente, silenciosamente - a vítima é uma caixa de ressonância das piores agressões e, por não acreditar que tudo aquilo é contra ela, por não saber como reagir diante de tamanha violência, por não encontrar apoio junto aos colegas nem na direção da empresa, por medo de perder o emprego e, finalmente, porque se considera culpada de toda a situação, dificilmente consegue escapar das garras do perverso com equilíbrio emocional e psíquico para enfrentar a situação e se defender do terrorismo ao qual foi condenada. O dano pessoal, conforme a redefinição do dano moral - tese brilhantemente construída por Paulo Eduardo Vieira de Oliveira - é a conseqüência jurídica imediata que deflui da análise do fenômeno sob o ponto de vista da defesa dos direitos e interesses da pessoa humana. (...) O assédio moral é uma violência multilateral, tanto pode ser vertical, horizontal ou ascendente (a violência que parte dos subordinados contra um chefe), é continuada e visa excluir a vítima do mundo do trabalho, seja forçando-a a demitir-se, a aposentar-se precocemente, como também a licenciar-se para tratamento de saúde. O efeito dessa espécie de violência na vítima é devastador. (...) No mobbing, o agressor pode utilizar-se de gestos obscenos, palavras de baixo calão para agredir a vítima, detratando sua auto-estima e identidade sexual; mas diferentemente do assédio sexual, cujo objetivo é dominar sexualmente a vítima, o assédio moral é uma ação estrategicamente desenvolvida para destruir psicologicamente a vítima e com isso afastá-la do mundo do trabalho. A violência é sutil, recheada de artimanhas voltadas para confundir a vítima. Conforme dissemos, os métodos empregados pelo perverso assemelham-se largamente com aqueles utilizados pelos fascistas para submeter as vítimas e conduzi-las ao cadafalso sem um protesto. Heinz Leymann definiu o mobbing como a pior espécie de estresse social e designou-o de psicoterror. (...) Mobbing não é uma ação singular, também não é um conflito generalizado. O terror psicológico é uma estratégia, uma ação sistemática, estruturada, repetida e duradoura. Em 1993, Heinz Leymann - considerado hoje o pai do mobbing - definiu o fenômeno como um conflito cuja ação visa à manipulação da pessoa no sentido não amigável; essa ação pode ser analisada em três grupos de comportamentos: um grupo de ações se desenvolve sobre a comunicação com a pessoa atacada, tendendo a levar a pessoa ao absurdo ou à interrupção da comunicação. Com ele ou ela se grita, se reprova, se critica continuamente o trabalho a sua vida privada, se faz terrorismo no telefone, não lhe é dirigida mais a palavra, se rejeita o contato, se faz de conta que a pessoa não existe, se

8

:: Ano II – Edição Especial nº 7 ::

ASSÉDIO MORAL E ASSÉDIO SEXUAL 1ª PARTE: DECISÕES DO TRT DA 4ª REGIÃO

murmura em sua presença, etc. Outro grupo e comportamento se assenta sobre a reputação da pessoa. As táticas utilizadas vão das piadinhas mentiras, ofensas, ridicularização de um defeito físico, derrissão pública, por exemplo, de suas opiniões ou idéias, humilhação geral. Enfim, as ações do terceiro grupo tendem a manipular a dignidade profissional da pessoa, por exemplo, como que para puni-la, não lhe é dado trabalho ou lhe dão trabalho sem sentido, ou humilhante, ou muito perigoso, ou, ainda, são estabelecidas metas de alcance duvidoso, levando a vítima a culpar-se e acreditar-se incapaz para o trabalho.” (grifamos)Refere-se, ainda, o depoimento da testemunha Alexandre Peres de Oliveira, também convidada pelos reclamados, fl. 483, cujos termos demonstram tanto a gravidade e perversidade da situação quanto a insensibilidade daqueles já por demais expostos a ela: “que trabalhou junto com Tarcísio; que não viu Tarcísio agarrando as empregadas; que ouviu comentários que Tarcísio beijava a testa das meninas; os comentários não incluíam manifestação acerca do desejo ou não das empregadas serem beijadas; que Tarcísio nunca beijou a testa do depoente; acredita que nunca foi beijado por não ser mulher;....”. Dessume-se do depoimento da testemunha Alexandre de Oliveira, convidada pelos reclamados que, para trabalhar para a empresa Losango a pessoa deve se submeter a muito mais do que a subordinação tratada no art. 3º da CLT. Tal situação não é normal e não é admissível e tampouco se coaduna com as exigências passíveis de serem feitas de empregador a empregado no âmbito do contrato de trabalho.Nesses termos, não merece provimento o recurso dos reclamados.

volta ao índice

b) Quantificação.Sucessivamente, os reclamados requerem a mitigação do valor da condenação.A autora, a seu turno, requer seja majorada a condenação imposta, por não ter atingido patamar suficiente para atingir o caráter punitivo e pedagógico que se espera da medida.O Juízo de origem fixou a indenização em R$ 5.000,00. Tendo em vista a remuneração outrora auferida pela autora, pode até se afigurar valor passível de apreciação.Todavia, restaram totalmente esvaziados o caráter punitivo e o caráter pedagógico. A empresa Losango, integrante de grupo econômico capitaneado pelo Lloyds TSB Bank PLC, cujo capital social remonta ao banco em mais de 80%, efetivamente detém ativo realizável para fazer frente a indenizações muito mais vultosas sem comprometer em nada sua estrutura, seu patrimônio ou até mesmo a gestão de seus negócios. Assim, impende fixar a indenização num critério de razoabilidade e proporcionalidade, atendendo tanto o caráter punitivo e pedagógico como a satisfação da reclamante em ver indenizada, por não ser possível de resolver de outra forma, a angústia e sofrimento experimentados na relação empregatícia então mantida. Não que a dor seja quantificável - discussão antiga em se tratando de dano moral -, porém, tendo em vista a impossibilidade do retorno ao status quo ante, somente o pagamento de indenização é capaz de estender à parte lesada uma espécie de pequena compensação.Tomamos como critério os parâmetros de valor jurisprudencialmente consagrados na seara das lesões aos direitos de personalidade. Nesse sentido, o seguinte aresto, oriundo do E. STJ, pretório que não apenas examina com mais freqüência a matéria, mas também é a última instância para discussão de valores de indenizações a tal título e, justamente por isso, norteia os valores a serem pagos em matéria de dano moral: “De qualquer forma, se o caso é de reexaminar a fixação do valor, estou em manter a proposta do eminente Ministro Relator. Trata-se de um engenheiro, que dirigia a obra, objeto da contratação, impedido de exercer ato da sua profissão no cumprimento do contrato. Não se tratava de um simples técnico, mas de um administrador. Em razão disso, penso eu, deve ser especialmente ponderada a condição pessoal de quem sofreu o dano e, também, a causa que determinou a proibição, isto é, indevida e abusiva represália contra quem ousou deduzir em juízo a reclamatória trabalhista. Diante disso, e das condições pessoais do lesado, não vejo nenhum absurdo em que se atribua R$ 50.000,00 (cinqüenta mil reais) a título de indenização por ter sido o autor impedido não só de exercer a sua profissão, mas também de cumprir o contrato de terceirização.” (REsp Nº 309.725 - MA (2001/0029313-1), Excerto do voto do Exmo. Ministro Ruy Rosado de Aguiar, 4ª Turma, STJ, DJU 19.12.2002) “No mais, é da jurisprudência deste Tribunal que o arbitramento do valor indenizatório por dano moral pode ser analisado em sede de recurso especial, desde que o quantum se mostre manifestamente exagerado, ou irrisório, distanciando-se das finalidades da lei. A indenização por dano moral, como tenho assinalado por diversas oportunidades, deve ser fixada em termos razoáveis, não se justificando que a reparação venha a constituir-se em enriquecimento indevido, com manifestos abusos e exageros, devendo o

9

:: Ano II – Edição Especial nº 7 ::

ASSÉDIO MORAL E ASSÉDIO SEXUAL 1ª PARTE: DECISÕES DO TRT DA 4ª REGIÃO

arbitramento operar-se com moderação, proporcionalmente ao grau de culpa, ao porte financeiro das partes e, ainda, às suas atividades profissionais. Há de orientar-se o órgão julgador pelos critérios sugeridos pela doutrina e pela jurisprudência, valendo-se de sua experiência e bom senso, atento à realidade da vida, notadamente à situação econômica atual e às peculiaridades de cada caso. A par destas considerações, e também em face dos pontos colocados em sentença (o ato praticado não teve reflexo direto de natureza econômica ou financeira, o fato ofensivo não teve ampla repercussão, além de que o autor foi demitido amigavelmente por sua empregadora), tenho que a quantia fixada pelo acórdão impugnado se mostra exagerada, notadamente em face dos precedentes deste Tribunal em casos mais graves. Assim, cuidando-se apenas de dano moral, tenho que fica bem para a espécie o valor de R$ 50.000,00 (cinqüenta mil reais), a ser corrigido a partir deste julgamento.” (REsp Nº 309.725 - MA (2001/0029313-1), Excerto do voto do Exmo. Ministro Relator, Sálvio de Figueiredo Teixeira, 4ª Turma, STJ, DJU 19.12.2002)

volta ao índiceExaminam-se, portanto, as peculiaridades do caso. A reclamante era subordinada ao gerente, e este lhe fazia carinhos não solicitados e tampouco bem vindos, tanto que ajuizou a presente ação. Além do constrangimento de ter seu corpo manipulado por terceiro, no ambiente comum de trabalho e sem seu consentimento, era submetida a cobranças relativas à suas finanças pessoais, fato também reservado à sua esfera íntima. A atitude do gerente para com a reclamante, na condição de sua subordinada direta e empregada da empresa Losango, era de evidente assédio moral, concorrendo ainda a agravante de que a reclamante necessita do emprego para sua subsistência. De outra banda, a empresa Losango, com mais de 80% de seu capital social atribuído ao segundo reclamado é, a bem dizer, uma longa manus do Lloyds Bank, atuando na área de empréstimos pessoais e afins. Conta, portanto, com patrimônio mais do que razoável para fazer frente ao patamar de indenização fixado pelo E. STJ, em R$ 50.000,00 (cinqüenta mil reais).Cabe referir o caráter punitivo e o caráter pedagógico da indenização arbitrada, razoável ao se considerar tratar-se de empresa da área financeira, integrante de grupo econômico liderado por banco como o segundo reclamado.Dá-se provimento ao recurso da reclamante, no tópico, para elevar o valor da indenização por danos morais a R$ 50.000,00.Nega-se provimento ao recurso dos reclamados.(...)

volta ao índice volta ao sumário

1.3. Relator o Exmo. Juiz Leonardo Meurer Brasil. 1ª Turma. Processo nº 00015-2002-012-04-00-6 RO. Publicação em 01.09.2003.

EMENTA: INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL. O dano moral, para que se efetive a obrigação de indenizá-lo, precisa ser cabalmente provado. O ônus da prova incumbe a quem alega, nos termos do art. 818 da CLT e art. 333, I, do CPC. Na espécie vertente, obteve êxito a autora em comprovar a ocorrência de prejuízos profissionais ou morais, capazes de ensejar o pagamento da indenização pretendida. Todavia, os elementos balizadores para o arbitramento do dano moral devem levar em consideração a reprovabilidade da conduta ilícita, a intensidade e duração do dano, a capacidade econômica do causador e as condições sociais do ofendido. Tem-se, portanto, como plenamente inadequado o valor determinado porquanto o dano moral não pode ser tratado como jogo de sorte ou mesmo causa de enriquecimento sem causa. Forçosa a redução do importe deferido pelo Juízo de origem.(...)DA INEXISTÊNCIA DO DANO. DA AUSÊNCIA DE PROVAS. DA INEXISTÊNCIA DE PREVISÃO LEGAL.Releva sublinhar, em primeiro lugar, que embora, com o advento da Constituição Federal promulgada em 05.10.88, não subsistam dúvidas de que o ordenamento jurídico nacional não apenas guarnece a imagem e a moral do cidadão, como abriga, expressamente, a possibilidade de indenização por danos causados a este, que se entende ser a parte imaterial de seu

10

:: Ano II – Edição Especial nº 7 ::

ASSÉDIO MORAL E ASSÉDIO SEXUAL 1ª PARTE: DECISÕES DO TRT DA 4ª REGIÃO

patrimônio pessoal, tendo em vista o que dispõem os incisos V e X do artigo 5º da Constituição Federal, não há, na doutrina, um conceito unânime de "dano moral", mas todos os autores convergem no sentido de que a idéia de dano moral tem por essência o abalo da imagem, a dor pessoal e o sofrimento íntimo do ofendido.Não obstante o fato que autorize a indenização moral seja o mesmo decorrente do dano material, necessário que a comprovação do abalo à honra da autora seja demonstrada de forma cabal nos autos, a fim de se evitar possíveis excessos na condenação, amparados em critérios meramente subjetivos. No presente caso, o pedido fundamenta-se em assédio sexual. A autora alega na inicial ter sido alvo de assédio sexual pelo Presidente do Sindicato, logo após sua contratação, postura adotada muitas vezes na frente de outros dirigentes e funcionários do Sindicato, tendo a relação com o reclamado sido muito conturbada. Reconhece, no entanto, que nunca aconteceu qualquer contato físico entre eles.

volta ao índiceSegundo o doutrinador Wilson Mello da Silva ( em sua obra O Dano Moral e sua Reparação, pág.11), “os danos morais são lesões sofridas pelo sujeito físico ou pessoa natural de direito, em seu patrimônio ideal”. Entende-se por patrimônio ideal, em contraposição ao patrimônio material, o conjunto de tudo aquilo que não é suscetível de valor econômico. Além disso, o ordenamento jurídico brasileiro impõe a responsabilidade civil apenas quando delineada a hipótese do art. 159, do Código Civil, in verbis: “Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito, ou causar prejuízo a outrem, fica obrigado a reparar o dano”Neste contexto, não restam dúvidas de que a trabalhadora, enquanto inserida na relação de emprego, está sujeita a sofrer - e produzir - danos que se originam na forma pela qual se desenvolve este relacionamento, mormente se considerarmos a circunstância de não se encontra em situação de igualdade com o contratante-empregador, mas em condição de subordinação jurídica perante este.Nesta Especializada, tem-se que o reconhecimento da existência de dano moral possui como requisito, um evento decorrente da relação de emprego que cause dano à honra na esfera subjetiva - dor, emoção, vergonha, injúria moral... -, por assim dizer, dos titulares da relação de direito subjetivo, ou do empregado, vinculada ao agir da empregadora. Em face do exposto, conclui-se que o direito à indenização pressupõe a existência de prejuízo, ou seja, de dano, razão por que esse dano deve ser, indelevelmente, demonstrado à saciedade.No caso sob análise, há prova efetiva de que a autora sofreu abalo moral, capaz de ensejar o direito à indenização pretendida, tal como entendido pelo Juízo de origem.Cumpre destacar, inicialmente, que o próprio preposto do réu, em seu depoimento pessoal, confessa que o Presidente da entidade-reclamada, efetivamente tinha um temperamento instável, e que em decorrência de tal condição os empregados se relacionavam com ele de forma receosa, não tendo condições de aquilatar se ocorria ou não abuso de poder, além de que havia “comentários” de que o Presidente assediava a autora. Por outro lado, a testemunha da autora - Rafael Ribeiro disse, que o Presidente era ‘bastante mulherengo’, muito embora afirme jamais ter presenciado qualquer assédio em relação à autora, apenas ‘deduz’, em função do comportamento dele, que isto era possível de ocorrer, pois havia comentários no tocante à demandante e também em relação a outras empregadas.A primeira testemunha do réu - Elisabete Pereira de Oliveira, aduziu: “...que o presidente da entidade ‘tem temperamento difícil’ mas que nunca teve problemas com a depoente; que a depoente nunca sofreu assédio sexual do presidente; que a depoente nunca viu o presidente da entidade assediando a reclamante; ... que a depoente não tem conhecimento de assédio sexual do presidente com qualquer funcionária da reclamada; ...que em algumas oportunidades a depoente presenciou a reclamante chorando, mas que não era com freqüência e também não sabe a motivação...”.A par de tal depoimento, a segunda testemunha do réu asseverou: “...que a depoente nunca foi assediada sexualmente pelo Sr. Erni; que a depoente não presenciou, mas a depoente ouviu falar que a reclamante foi assediada sexualmente pelo Sr. Erni; que nos comentários não se dizia que era com freqüência o assédio. ...que dentro do sindicato a depoente não presenciou nenhum fato que possa levar a conclusão de que o Sr. Erni era ‘mulherengo’; que havia comentários que o Sr. Erni era ‘mulherengo’;...”.Depreende-se que o preposto admitiu, em seu depoimento, a existência de comentários de que o Presidente do Sindicato assediava sexualmente a autora, que era Secretária deste último. Entende-se que o assédio sexual jamais se exterioriza de forma explícita, e também quase nunca

11

:: Ano II – Edição Especial nº 7 ::

ASSÉDIO MORAL E ASSÉDIO SEXUAL 1ª PARTE: DECISÕES DO TRT DA 4ª REGIÃO

é realizado na frente de outras pessoas, todavia, a prova produzida nos autos é convergente para a ocorrência do fato - comentários no local de trabalho, no sentido de que a autora sofria tal tipo de abuso (mormente admitido no depoimento do próprio preposto) e os elementos referidos pelas testemunhas convidadas, relativamente ao caráter do acusado (mulherengo, prepotente, destemperado e ingestão de bebidas alcoólicas), levam a convicção de que, efetivamente, houve a prática do indigitado assédio cumulado a maus tratos, pelo presidente da entidade.O Sindicato demandado detém responsabilidade objetiva, mas poderá requerer o devido ressarcimento, mediante ação de regresso contra o Presidente, o qual exorbitou nitidamente dos poderes a ele conferidos e não honrou os deveres atinentes ao desempenho do cargo, conferido pelos associados.Como é elementar, a relação jurídica de emprego deve ser norteada pelo respeito à dignidade do prestador de serviços, obrigações que decorrem do princípio de boa-fé.Os elementos balizadores para o arbitramento do dano moral, no entanto, devem levar em consideração a censurabilidade da conduta ilícita, o grau de intensidade e duração do dano, a capacidade econômico-financeira do causador e as condições sociais do ofendido.Tem-se, portanto, como plenamente inadequado o valor determinado porquanto o dano moral não pode ser tratado como jogo de sorte, ou mesmo causa de enriquecimento sem causa. A intenção do valor alcançado é de reparação, para compensar de forma pecuniária um dano que não tem esta natureza, sem, no entanto, demonstrar a perda do senso da razoabilidade. Diante disso, inviável acolher-se o arbitramento procedido, razão pela qual reduz-se o valor para o importe de R$ 70.000,00 (setenta mil reais), por entender-se que este valor indeniza, de forma razoável, o ato danoso cometido pelo presidente do reclamado.(...)

volta ao índice volta ao sumário

1.4. Relatora a Exma. Juíza Denise Maria de Barros. 1ª Turma. Processo nº 01237.016/00-2 RO. Publicação em 24.10.2003.

EMENTA: (...) MATÉRIA COMUM NOS RECURSOS DAS PARTES. DANO MORAL. CORRETA A CONDENAÇÃO ORIGINAL. Prova que atesta atitude inconveniente do gerente com a reclamante. Valor arbitrado a título de indenização que é acrescido em face da capacidade financeira das reclamadas e do efeito pedagógico da pena. Negado provimento ao recurso ordinário das reclamadas e provido em parte o recurso adesivo da autora. (...)(...)Matéria comum no recurso das partes.DANO MORAL. INDENIZAÇÃO DEFERIDA.As reclamadas insurgem-se ante a condenação ao pagamento de indenização por dano moral em face da prova produzida. Aludem que não há prova robusta da ocorrência do dano moral e que não houve caracterização do que preceitua o art. 216-A do Código Penal, em relação ao abuso sexual. Sucessivamente, requerem a redução do valor arbitrado, uma vez que excessivo.A autora, por sua vez, busca a majoração do valor arbitrado. Salienta o efeito psicológico sofrido e a capacidade financeira das reclamadas, fatores a serem considerados no arbitramento do valor da indenização.Razão em parte apenas ao recurso da autora.Primordialmente, quanto ao comportamento abusivo do gerente em relação à autora, verifica-se que a prova oral é suficientemente esclarecedora acerca da situação.A primeira testemunha da autora sustenta: “...que, muitas vezes, foi presenciado pelas funcionárias o gerente Tarcísio, no meio do expediente, abraçar, ‘agarrar’ uma funcionária, beijando o pescoço e colocando a mão entre a axila e o seio; que esse comportamento era dirigido para todas as funcionárias; que o gerente sempre deixou claro que quem mandava era ele; que fazia propostas de conseguir empréstimos para as funcionárias se elas precisassem e deixava entendido que, se fossem reclamar, poderiam ser demitidas; que, quando reclamavam, recebiam como resposta o dito anteriormente e consignado na ata; que a depoente viu Tarcísio

12

:: Ano II – Edição Especial nº 7 ::

ASSÉDIO MORAL E ASSÉDIO SEXUAL 1ª PARTE: DECISÕES DO TRT DA 4ª REGIÃO

dizer para a reclamante que, se ela reclamasse, seria demitida; que a depoente tem certeza do que disse, e era um assunto sempre discutido entre as funcionárias...”.A segunda testemunha, apesar de não descrever tantos detalhes, o que é plenamente aceitável ante o pouco tempo que trabalhou no mesmo local da autora e do gerente, sustenta no mesmo sentido: “...que a depoente trabalhou com Tarcísio, nos trinta dias em que ficou em Porto Alegre; que achava que ele tinha muita intimidade com as funcionárias, especialmente com as ‘gurias’; que beijava e abraçava; que a depoente não sabe se havia reclamações...”.

volta ao índiceA terceira testemunha afirma: “...que, perguntada pelo tratamento dispensado pelo gerente Tarcísio, a depoente disse que, em relação a ela, o tratamento era normal, porque ‘não se cruzavam muito’; que o gerente tratava as outras com abraços e beijinhos; que esses abraços e beijos ocorriam sempre que ele encontrava com as funcionárias no horário de trabalho; que os beijos eram dados no pescoço e na cabeça; que as empregadas ficavam ‘meio assim’, já que ele era o gerente; que a depoente sabe que o gerente ‘falava coisas com as palavras dele’, que convidava as funcionárias para almoçar... ...que, por conversa entre as funcionárias, inclusive da reclamante, a depoente sabe que havia medo da perda de emprego, se houvesse queixa em relação ao gerente...”.A primeira testemunha da reclamada alude desconhecer a situação relatada, considerando normal o relacionamento ocorrido entre a autora e as demais funcionárias e o gerente, salientando apenas que: ...que ouvia comentários das colegas de que ele tinha maior intimidade com algumas funcionárias do que com outras; que com algumas conversava mais, saía mais para tomar lanche ou café...”.A segunda testemunha da reclamada alude: “que, perguntado se o depoente tinha conhecimento de alguma situação ou queixa em relação ao gerente Tarcísio, respondeu que nunca gostou de se envolver em tais questões; que, perguntado se tinha chegado até ele algum comentário, disse que sim; que pessoas falavam do ‘gênio terrível’ do gerente e que ele costumava se envolver emocionalmente com os funcionários, querendo ajudá-los, ao invés de tratá-los de forma mais profissional; que, perguntado porque utilizou a expressão ‘carinhoso’ com relação ao gerente Tarcísio e depois retificou, a testemunha disse que era mais relacionado com a situação de envolvimento emocional; que, como exemplo, deu a situação de que as pessoas chegavam até o gerente chorando, e ele oferecia ajuda; que, além desses comentários referidos, o depoente não sabe de nenhum outro; que foi indeferida a seguinte pergunta: se o depoente tem conhecimento de que o Sr. Tarcísio costumava abraçar e beijar as funcionárias; que, por insistência do procurador da reclamante, o juízo perguntou à testemunha se o gerente Tarcísio costumava abraçar e beijar as funcionárias; que a testemunha respondeu que sim, que costumava ver o gerente Tarcísio abraçando e beijando as funcionárias; que o depoente não adotaria tal procedimento no local de trabalho, mas não acha que as funcionárias ficassem constrangidas; que, aos ouvidos do depoente, nunca chegou situação em que o gerente Tarcísio tenha sua posição de superior para ameaçar as funcionárias em relação às suas atitudes; que também não sabe se as funcionárias reclamaram dessa situação à alguém; que o depoente foi abraçado pelo gerente Tarcísio, mas não beijado.” (grifei).Portanto, observa-se que as declarações das testemunhas da autora não são refutadas pelos depoimentos das testemunhas das reclamadas, posto que estas últimas apenas tem uma visão diferente dos fatos ou indicam não terem conhecimento da situação.Portanto, a prova oral demonstra que as atitudes inconvenientes relatadas causaram constrangimento à autora, a qual, como as demais funcionárias, via-se prejudicada a defender-se ante a posição hierarquicamente superior usufruída pelo gerente. Não se trata de análise da tipificação como assédio sexual segundo prevê o Código Penal, posto que foge da alçada desta justiça especializada o referido enquadramento. O objeto analisado através da presente ação é a existência de abalo moral ante a atitude inconveniente vinda de quem, ocupando o cargo de gerência, tem poder equivalente ao de representação da reclamada sobre os funcionários, ante a possibilidade de demissão. A existência de comentários entre os funcionários indica que o comportamento do gerente não era profissional, posto que chegava a chamar a atenção destes. Deste modo, considera-se que há prova robusta a embasar a tese da inicial. Devida, por conseguinte, a indenização por dano moral.A gravidade do ato e o abalo causado, em somatório às capacidades financeiras das partes, são os fatores a serem observados para fixação do valor da indenização.Sempre difícil a análise da extensão do abalo moral sofrido em face de circunstância constrangedora, uma vez que cada pessoa responde de forma diferente ao ato inconveniente.

13

:: Ano II – Edição Especial nº 7 ::

ASSÉDIO MORAL E ASSÉDIO SEXUAL 1ª PARTE: DECISÕES DO TRT DA 4ª REGIÃO

Inobstante, observa-se que a julgadora da origem arbitra em parco valor a indenização ante o relato constante nos autos. É notória a capacidade financeira das empresas envolvidas. O valor de R$6.000,00 (seis mil reais) apesar de não chegar a ser uma quantia ínfima, levando-se em consideração o grau de gravidade presumida em relação ao dano moral sofrido, a capacidade financeira das partes e o efeito pedagógico que a pena deve exercer, deve ser elevado. Tendo em vista os costumes observados na sociedade atual, os fatos relatados chegam até mesmo a serem confundidos por algumas pessoas, como no caso das testemunhas das reclamadas, como prática de relacionamento comum, ou pelo menos não ensejador de abalo moral profundo a ponto de elevar a pena a 50 vezes o salário básico como pretende a recorrente. Levando-se em consideração todos estes fatores, aliado ao período em que ela conviveu em tal situação, e principalmente pelo caráter pedagógico, eleva-se o valor arbitrado a título de dano moral para R$15.000,00 (quinze mil reais).Provido em parte, portanto, apenas o recurso da autora.(...)

volta ao índice volta ao sumário

1.5. Relatora a Exma. Juíza Jane Alice de Azevedo Machado. 3ª Turma. Processo nº 00197-2004-561-04-00-8 RO. Publicação em 31.01.2005.

EMENTA: (...) DANO MORAL. QUANTUM INDENIZATÓRIO. Prova oral produzida nos autos que corrobora os fatos alegados pela autora na inicial e que autorizam a condenação da empregadora ao pagamento de indenização por dano moral. Valor arbitrado à condenação que se reduz pela metade, por afigurar-se mais condizente com a situação econômica da reclamante e com o dano a ela causado. Recurso parcialmente provido. (...)(...)DANO MORAL. QUANTUM INDENIZATÓRIO.Rebela-se a recorrente contra a condenação ao pagamento de indenização por dano moral, alegando que não resultou comprovado o suposto assédio sexual, diante da fragilidade das provas, faltando nexo de causalidade entre o dano e a respectiva indenização. Sinala que a reclamante foi dispensada em face do término do contrato por prazo determinado, em 19 de setembro de 2002, e não em razão do alegado assédio, o que demonstra que se trata de mera invenção, com o intuito de auferir ganhos fáceis. Por fim, acaso mantida a condenação, requer a redução do quantum indenizatório pela metade (R$ 5.000,00), a fim de que atente aos princípios da razoabilidade, moderação e eqüidade.O Juízo de origem, com base no conjunto probatório dos autos, concluiu configurado o ato lesivo praticado pelo empregado da primeira reclamada, reconhecidamente superior hierárquico da reclamante, resultando caracterizado o dano moral alegado.Com efeito, pelo exame da prova oral produzida, tem-se como verídicos os fatos alegados na inicial. De acordo com o preposto da primeira reclamada, Sr. Vianei Lussi (fls. 66/67), “(...) o fato ocorrido verificou-se no segundo piso da loja, no estoque, segundo relatado por Estela e a reclamante; que de acordo com esse relato o segundo reclamado teria tentado abraçar e beijar a reclamante; (...) que em razão do fato ocorrido, o depoente resolveu relatar o acontecido à matriz, em Santo Cristo; que foi confeccionado um documento para esta finalidade, elaborado pelo depoente e por Estela; que o documento foi feito no dia do fato e enviado à matriz primeiro malote; (...)”. Também a primeira testemunha da reclamante, Leandro Marcelo Farias (fls. 67/68), disse que “(...) no dia do fato o depoente estava presente (...); que o depoente viu a reclamante descendo a escada em questão “bem aflita, ela estava bem nervosa”; que o depoente perguntou o que havia acontecido e a reclamante informou que o segundo reclamado havia dito algumas coisas para ela e havia tentado abraçar a reclamante; que esta tentativa ocorreu na parte superior da loja (...) que a reclamante estava lacrimejando, “meio chorando”; que o depoente foi a primeira pessoa que a reclamante encontrou ao descer da escada (...)”. Por fim, a testemunha Estela Maris de Almeida Schneider (fls. 68/69), informa que “(...) o fato comunicado à depoente pela reclamante foi o de que o segundo reclamado, na sala do depósito,

volta ao índice

14

:: Ano II – Edição Especial nº 7 ::

ASSÉDIO MORAL E ASSÉDIO SEXUAL 1ª PARTE: DECISÕES DO TRT DA 4ª REGIÃO

tentou abraçar e/ou beijar a reclamante; (...) que a reclamante não chorava enquanto relatava o fato ocorrido; que não recorda se o fato chegou ao conhecimento de outros empregados. (...)”. Conforme bem observado pelo Juízo de origem, é natural que as testemunhas ouvidas não tenham presenciado o fato em si, mas tão-somente o relato da reclamante na ocasião, em razão da natureza do fato ocorrido. Além disso, tem-se notícia nos autos de documento escrito pelo gerente das Lojas Quero-Quero, Sr. Vianei Lussi, no qual comunica a versão do fato que à época lhe foi relatado (fl. 91). Importante salientar, ainda, que o fato ocorreu no início do contrato de experiência (em 08.08), quando sequer o empregador poderia prever a contratação efetiva da reclamante. De se considerar, ainda, a alegação da reclamante de que não registrou ocorrência policial porque o gerente disse que iria tomar as providências (ata de fl. 66). Sinala-se que a indenização por dano moral se justifica quando a pessoa se vê atingida em sua esfera de valores não patrimoniais, quais sejam, a honra, a integridade física e psíquica, a intimidade, a dignidade, o nome, a imagem e também tudo aquilo que não seja suscetível de valoração econômica. Para efeitos de indenização de tal natureza, basta a dor moral causada ao indivíduo que sofre o dano. Daí nosso entendimento no sentido de que não se há de exigir desta a prova da dor moral de que foi acometida em razão da atitude do segundo reclamado. Segundo melhor doutrina, sequer há necessidade que venha a ser do conhecimento de outras pessoas o dano moral causado, sendo suficiente a dor a ela causada injustamente, por ato ou omissão do agente causador do dano. Não se olvide, ainda, o caráter instrutivo de que se reveste a condenação em indenização por dano moral, o que robustece ainda mais o entendimento de que, na espécie, a par de proporcionar à vítima a reparação pelo dano sofrido, se faz necessário o deferimento do pedido também como forma de penalizar e instruir a reclamada, para que não permita que seus empregados venham a ser novamente ofendidos em sua dignidade, haja vista que a prova produzida dá conta de que a reclamante foi vítima de assédio sexual por parte do Sr. Paulo Roberto Lemos, seu superior hierárquico à época. E levando em conta a situação pessoal da ofendida (salário de R$ 226,30, menos de dois salários mínimos à época da prestação do serviço), considera-se elevado o valor arbitrado à condenação (R$ 10.000,00), devendo ser reduzido para R$ 5.000,00, por mais condizente com o fato retratado e o dano causado, até porque a reclamante continuou laborando (seu desligamento ocorreu apenas em 19.09.02, em razão do término do contrato a prazo determinado). Recurso parcialmente provido.RECURSO ADESIVO DA RECLAMANTE:INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL. VALOR ARBITRADO.Não se conforma a reclamante com a decisão de origem no que tange ao valor arbitrado à condenação (R$ 10.000,00), salientando a dimensão da empresa reclamada, que à época possuía uma rede de lojas de aproximadamente 30 filiais e que atualmente possui mais de 150 filiais. Sendo assim, requer seja a indenização postulada fixada à razão de 100 salários mínimos, no mínimo, quantia esta compatível com a situação e principalmente pela situação econômica da reclamada.Tendo em vista o já decidido quando do exame do apelo da reclamada, tem-se que o exame do presente recurso resulta prejudicado.(...)

volta ao índice volta ao sumário

1.6. Relatora a Exma. Juíza Vanda Krindges Marques. 2ª Turma. Processo nº 00867-2002-005-04-00-5 RO. Publicação em 17.05.2005.

EMENTA: (...) DANO MORAL. CARACTERIZAÇÃO. O respeito ao empregado, como ser humano, é direito fundamental, cuja violação, nos termos do art. 5º, V e X, da Constituição Federal, assegura o direito à indenização por dano moral. No caso, restou configurado, em face da prova testemunhal, o dano moral apto a ensejar a indenização pertinente. Provimento negado.(...)

INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL.

15

:: Ano II – Edição Especial nº 7 ::

ASSÉDIO MORAL E ASSÉDIO SEXUAL 1ª PARTE: DECISÕES DO TRT DA 4ª REGIÃO

Insurgem-se os reclamados com o reconhecimento judicial da ocorrência de dano moral e com o valor arbitrado a título indenizatório. Alegam que a prova testemunhal produzida não conduz à caracterização de dano moral justificador de uma indenização pecuniária, pois, muito embora as atitudes do gerente da primeira reclamada pudessem ser tidas como inoportunas, não demonstrou a reclamante tivesse sido atingida em sua vida privada, em sua honra ou mesmo em sua imagem, não se enquadrando, portanto, a condenação, no inciso X do art. 5º da Constituição Federal e nos artigos 187 e 927 do Código Civil Brasileiro. Alega que não se configurou a situação de assédio sexual, pois, conforme define o art. 216-A do Código Penal, este se caracteriza em constranger alguém com o intuito de obter vantagem ou favorecimento sexual, prevalecendo-se o agente da sua condição de superior hierárquico ou ascendência inerentes ao exercício de emprego, cargo ou função. Entende que era da autora o ônus da prova de que sofreu danos morais, na forma do art. 818 da CLT e art. 333, I, do CPC, do qual não se desincumbiu, tendo em vista que as duas testemunhas da reclamante confirmam a tese da inicial e a testemunha dos reclamados confirma a tese da defesa. Sucessivamente, requerem a redução do valor da indenização, por entenderem excessivo.A prova testemunhal produzida nos autos demonstra, inequivocamente, a ocorrência de ato ilícito praticado pelo gerente da primeira reclamada, como se constata às fls. 916/917, no depoimento da primeira testemunha da reclamante, que informa que Tarciso "era inconveniente" com as funcionárias, dando "beijinhos no pescoço", "mão aqui, mão ali", principalmente com as solteiras; que ficou sabendo por outras colegas que o sr. Tarciso havia falado que não era para fazer comentários e nem reclamar dele; que o comportamento do Sr. Tarciso com os funcionários homens era normal; que numa oportunidade presenciou o Sr. Tarciso encurralando a reclamante num canto da cozinha, sendo que quando a depoente chegou o Sr. Tarciso deu espaço e a reclamante saiu chorando; que também presenciou o Sr. Tarciso dando beijos no pescoço da reclamante; (...); que a reclamante não consentia com as atitudes do Sr. Tarciso, inclusive fazendo reclamações ao gerente de Canoas, que era subordinado ao Sr. Tarciso; que o gerente de Canoas dizia "para não dar bola" quando havia reclamações por parte da depoente e demais colegas; que a depoente tinha medo de reclamar diretamente com o Sr. Tarciso, por medo de perder o emprego; que o Sr. Tarciso jamais fez qualquer tipo de proposta de cunho afetivo ou sexual para a depoente, apenas convites para almoçar; que os convites para almoçar era individuais; que sabe que o Sr. Tarciso também fazia convites para reclamante, em razão de esta ter comentado tal fato. Também a segunda testemunha da reclamante, à fl. 917, informa que o comportamento de Tarciso Bandeira com relação às funcionários era de "assédio"; que Tarciso dava "beijos no pescoço", abraçava por trás, "beliscão e tapas na bunda" das funcionárias; que em uma oportunidade presenciou o Sr. Tarciso abraçando a reclamante por trás, enquanto esta estava trabalhando, sendo que a reclamante o repeliu; que não presenciou nenhuma outra atitude inconveniente do Sr. Tarciso, para com a reclamante, além da já referida.Assim, tem-se, na espécie, por demonstrada a prática de ato contrário à lei, bem como o nexo de causalidade entre este e o dano sofrido pela reclamante, consistente na humilhação sofrida perante os colegas de trabalho.As repercussões da atitude dos reclamados, marcando a vida funcional da ex-empregada, bem como sua honra subjetiva, por evidente, implicam violação ao art. 5º, incisos V e X, da Constituição Federal, assegurando-se o direito à indenização por dano moral à vítima.Acerca do tema, cabe transcrever acórdão da lavra do Juiz RICARDO ALENCAR MACHADO, da 10ª Região, nos autos do processo TRT-RO 5364/98: “A conceituação de dano moral não encontra uniformidade nos doutrinadores. Para uns, entre os quais o eminente Orlando Gomes, dano moral constitui no constrangimento experimentado por alguém em conseqüência de lesão de direito personalíssimo. Para outros, como Pinho Pedreira, o conceituam como dano extrapatrimonial. Na lição de Maria Helena Diniz, 'o dano moral direto consiste na lesão a um interesse que visa a satisfação ou gozo de um bem jurídico extrapatrimonial contido nos direitos da personalidade (como a vida, a integridade corporal, a liberdade, a honra, o decoro, a intimidade, os sentimentos afetivos, a própria imagem), ou nos atributos da pessoa (como o nome, a capacidade, o estado de família). A legislação pátria não trata do instituto da indenização por dano moral de forma sistematizada. Segundo doutrinadores autorizados, a exemplo de Wilson de Melo e Silva, Aguiar Dias e Antônio Lindberg Montenegro, cabe ao juiz graduar a reparação de acordo com o caso concreto. Entende também Eduardo Gabriel Saad que o Juiz deve apreciar e atender as particularidades de cada caso, como a escolaridade das partes, sua posição na escala social, etc” (in Ltr, Suplemento Trabalhista 138/95).

volta ao índice

16

:: Ano II – Edição Especial nº 7 ::

ASSÉDIO MORAL E ASSÉDIO SEXUAL 1ª PARTE: DECISÕES DO TRT DA 4ª REGIÃO

O dano moral causado por imputação caluniosa prescinde de comprovação, por não se apresentar de forma materializada, palpável ou visível. Perceptível apenas por intuição, lógica ou percepção.Quanto ao valor a ser fixado para a indenização por dano moral, recorremos à lição vazada no v. acórdão prolatado nos autos da apelação cível nº 143.413-1, publicado na RJTESP-LEX/137, págs. 238/240, Rel. Desembargador Cezar Peluso, do C. Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, de que 'A indenização é por inteiro, posto que não predefinida. Se não os dispõe a lei, não há critérios objetivos para cálculo da reparação pecuniária do dano moral, que, por definição, nada tem com as repercussões econômicas do ilícito. A indenização é, pois, arbitrável (art. 1553, do Código Civil) e, como acentuou famoso aresto desta Câmara, tem outro sentido, como anota Windscheid, acatando opinião de Vachter: compensar a sensação de dor da vítima com uma sensação agradável em contrário (nota 31 das Pandette, trad. Fadda e Bensa). Assim, tal paga em dinheiro deve representar para a vítima uma satisfação, igualmente moral ou, que seja, psicológica, capaz de neutralizar ou 'anestesiar' em alguma parte o sofrimento impingido... A eficácia da contraprestação pecuniária está na aptidão para proporcionar tal satisfação em justa medida, de modo que tampouco signifique enriquecimento sem causa da vítima, mas está também em produzir no causador do mal impacto bastante para dissuadi-lo de igual e novo atentado. Trata-se, então, de estimulação jurisprudencial (Apelação nº 113-190-1, Rel. Desembargador Walter Moraes).Embora a indenização não tenha o condão de apagar os danos morais sofridos, oportuno o magistério de Wilson Melo da Silva: "Tristezas se compensam com alegrias. Sofrimentos e angústias se neutralizam com sensações contrárias, de euforia e contentamento. E se tais fatores de neutralização não se obtêm pela via direta do dinheiro (não se pagam tristezas e angústias), pela via indireta, contudo, ensejariam, os valores econômicos, que se propiciassem às vítimas dos danos morais, parcelas de contentamento ou euforia neutralizadoras de suas angústias e de suas dores.' (in Enciclopédia Saraiva de Direito, vol. 22, p. 275).”À luz da fundamentação e dos ensinamentos supra transcritos, que se adotam como razão de decidir, entende-se configurado o dano moral apto a ensejar a indenização.Nega-se provimento.(...)

volta ao índice volta ao sumário

1.7. Relator o Exmo. Juiz João Pedro Silvestrin. 4ª Turma. Processo nº 00477-2004-302-04-00-2 RO. Publicação em 26.08.2005.EMENTA: INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL. Não caracterizado prejuízo capaz de gerar direito à indenização por dano moral. Recurso negado.(...)ISTO POSTO:INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL.O dano moral, segundo a versão da inicial, consistiria em assédio sexual, por parte do diretor e procurador da reclamada, Sr. Renato Vanzella. Diz a reclamante que: “O proprietário da reclamada constantemente molestava sexualmente à autora dava-lhe tapas nas nádegas, lhe fez carícias íntima, forçosamente e, constantemente dizia piadas libidinosas” (sic, fl. 04).A defesa sustentou inverídicas as alegações da reclamante.Conforme Maurício Godinho Delgado, no seu “Curso de Direito do Trabalho”, 3ª ed., 2004, p. 163 e segs.: “Dano moral, como se sabe, ‘é todo sofrimento humano que não é causado por uma perda pecuniária’ (Savatier). Ou, ainda, é toda dor física ou psicológica injustamente provocada em uma pessoa humana. ... O dano moral decorrente da violação da intimidade, vida privada, honra e imagem das pessoas - e sua respectiva indenização reparadora - são situações claramente passíveis de ocorrência no âmbito empregatício (por exemplo, procedimento discriminatório, falsa acusação de cometimento de crime, tratamento fiscalizatório ou disciplinar degradante ou vexatório, etc)”.

volta ao índice

17

:: Ano II – Edição Especial nº 7 ::

ASSÉDIO MORAL E ASSÉDIO SEXUAL 1ª PARTE: DECISÕES DO TRT DA 4ª REGIÃO

Não comprovada robustamente a ocorrência de dano moral capaz de causar grave abalo à reclamante.Vejamos.A única testemunha que faz referência ao assédio sexual é a testemunha da reclamante, Cátia Maus. Esta testemunha descreve com detalhes o alegado assédio do Sr. Renato em relação à reclamante e à própria depoente. Diz a testemunha o seguinte: “que Renato Vanzela chamava a depoente na sua sala e fazia promessas de trabalho, informando que a depoente tinha tudo para crescer na empresa e fazendo insinuações e piadinhas, dizendo que a depoente poderia ser sua namorada; que Vanzela deu mais de um tapa nas nádegas da depoente e da reclamante, sendo que Vanzela pegou nos seios da reclamante; que viu Vanzela pegando nos seios da reclamante e apalpando as suas nádegas, o que ocorreu em uma janta da empresa; que tal fato ocorreu na presença da depoente e de outra funcionária chamada Angelica; que naquele instante a reclamante e a depoente foram forçadas por Vanzela a darem um beijo no rosto; que quando teve as nádegas apalpadas e os seios apertados a reclamante tentou se defender e disse que não gostava daquilo; que a partir de então Vanzela a reclamante que “vamos ver se tu gosta disto”, quando apalpou os seios da reclamante; que o fato ocorreu em uma terça-feira à noite; que uma semana depois do ocorrido, a reclamante foi despedida; que a depoente foi chamada diversas vezes por Vanzela na sua sala, quando era puxada por ele e quando Vanzela dizia para ele vir lhe dar um beijo e lhe abraçar; que a depoente dizia que não gostava daquilo, quando foi puxada por Vanzela, que lhe deu um beijo na boca; ... que diariamente Vanzela abraçava a depoente e a reclamante; que sabe de diversos outros casos de assédio sexual por parte de Vanzela, citando por exemplo a funcionária Michele; que na própria agência de empregos é dito que ninguém quer trabalhar na reclamada por causa dos assédios; que ficou sabendo do ocorrido com Michele na agência de empregos; que no dia da janta em que ocorreu os incidentes Renato Vanzela não estava usando muletas e estava “bem são”, correndo nas escadas; ... que há uma janela na sala de Vanzela, que fica encoberta por uma cortina; que não se consegue enxergar para dentro da sala de Vanzela; que havia pessoas trabalhando em uma sala na frente da sala de Vanzela” (fl. 31).O depoimento acima referido, contudo, conflita com os depoimentos da outras testemunhas.Diz a primeira testemunha da reclamada que: “Vanzela não tinha intimidade com a reclamante e com nenhum empregado da reclamada; que na maior parte do tempo ficou junto com Vanzela na mesa e inclusive jantaram juntos; ... que a reclamante e a testemunha antes ouvida foram embora bem antes do depoente; que não viu Vanzela conversando com a reclamante na festa; ... que nunca viu Vanzela assediando alguma funcionária, nem fazendo piadas; ... que Vanzela estava usando muletas no dia da janta porque tinha torcido o tornozelo ou o joelho, conseguindo caminhar com auxílio da muleta” (fl. 32).A primeira testemunha requerida pelo Juízo, Michele Adriana de Souza (fls. 47/48) informou que: “que sempre manteve com Renato Vanzella um relacionamento bem profissional; que Renato Vanzella nunca teve comportamento inadequado com a depoente, agindo sempre de forma respeitosa e profissional; ... que nunca foi vítima de assédio sexual por parte de Vanzella; que não ouviu comentários acerca comportamento de Vanzella na agência de emprego; ... que a depoente nunca viu comportamento inadequado de Vanzella com as outras empregadas da empresa; que a reclamante e nem Cátia fizeram comentários com a depoente sobre assédio sexual”.

volta ao índiceA segunda testemunha requerida pelo Juízo, Enio Osvaldo de Vargas, diz o seguinte: “que o depoente é sócio da agência de empregos Perfiline, desde julho de 2003, sendo que a empresa está em atividade desde abril de 2001; que desde o início das atividades da empresa, a Perfiline faz recrutamento e seleção de empregados para a reclamada; que o depoente nunca ouviu comentários na sua empresa a respeito do comportamento de Renato Vanzella; que nunca houve comentário pelas moças encaminhadas à reclamada de que não poderiam trabalhar lá por causa de assédio sexual; que a única moça que fez reclamação na Perfiline acerca do comportamento de Renato Vanzella foi a reclamante, depois de ter saído da empresa reclamada; que no dia em que a reclamante compareceu na Perfiline, depois de ter saído da empresa reclamada, estava acompanhada de Cátia Maus, que também comentou com o depoente que elas, reclamante e Cátia, tinham sofrido algum tipo de brincadeira por parte de Renato Vanzella em uma festividade realizada pela reclamada; que a reclamante e Cátia não foram explícitas quando as brincadeiras que teriam sofrido, e que elas não tinham gostado; que ao tomar conhecimento da reclamação o depoente questionou sua sócia, que está na empresa desde 2001, se tinha conhecimento de

18

:: Ano II – Edição Especial nº 7 ::

ASSÉDIO MORAL E ASSÉDIO SEXUAL 1ª PARTE: DECISÕES DO TRT DA 4ª REGIÃO

algum outro caso envolvendo Renato Vanzella; que a sua sócia, a qual já trabalha no ramo de recrutamento e seleção há 15 anos, disse ao depoente que jamais tomou conhecimento de fato dessa natureza envolvendo Renato Vanzella”.Observa-se do conjunto dos depoimentos acima transcritos, que a ex-empregada Michele nega que tenha sido assediada por Renato Vanzella, ao contrário do que referiu a testemunha Cátia Maus. Também restou contestado o depoimento da primeira testemunha da reclamante, relativamente à existência de comentários sobre assédio sexual na agência de empregos.Além disto, na ocorrência policial (fl. 09), somente formalizada vinte dias após o fato, consta que o assédio se deu no final da festa, enquanto que a primeira testemunha da reclamada afirma que a reclamante e Cátia saíram muito antes dele, que saiu à meia-noite.De acrescer, ainda, como bem referido pelo Julgador de origem, que embora tenha sido rejeitada a contradita da testemunha da reclamante, é preciso sopesar o depoimento por ela prestado, já que não totalmente isento, na medida em que possui reclamatória com idêntico pedido contra a reclamada.Diante de todo o exposto, tem-se que o assédio sexual não restou cabalmente provado.Por decorrência, nega-se provimento ao recurso.(...)

volta ao índice volta ao sumário

1.8. Relatora a Exma. Juíza Ana Rosa Pereira Zago Sagrilo. 6ª Turma. Processo nº 00654-2004-511-04-00-8 RO. Publicação em 10.11.2005.(...)

4. DANOS MORAIS.A reclamante pede a reforma da decisão para que seja a reclamada condenada ao pagamento de indenização por dano moral, tendo em vista os fatos narrados na inicial que lhe geraram grave dano emocional. Obtempera que foi contratada para exercer cargo de advogada o qual exigia relação de confiança. Quanto à prova testemunhal produzida, entende óbvio que os empregados que mantém seus contratos em vigor não admitiriam os fatos narrados, pena de sofrerem represália.Examina-se.Na inicial a reclamante refere que sofreu “assédio moral” dos prepostos da empresa que a desrespeitaram como ser humano e profissional. Invoca a Lei 8.906/94 (estatuto da Advocacia), artigos 6º, 7º, 18º e 21º. Traz vários argumentos a embasar seu pedido, dentre os quais a falta de liberdade no exercício da profissão dentro das dependências da reclamada, porque seus trabalhos eram passados para a sra. Elaine tomar conhecimento e opinar a respeito; o sigilo profissional de seu escritório e arquivos foram violados, porque constantemente “mexiam” em seu computador; que foi advertida que não poderia manter arquivos de processos particulares na empresa; que havia escuta telefônica e as conversas feitas ao telefone eram comentadas nos corredores da empresa; que não foi oferecido um ambiente de trabalho adequado à reclamante que sentava em uma cadeira rasgada e uma mesa em más condições e compartilhava a sala com o Diretor Zico sendo que este possuía uma cadeira confortável e uma mesa compatível com suas necessidades; que em junho de 2002 foi contratado um estagiário de direito para colaborar

volta ao índice nas tarefas jurídicas da empresa, e como o diretor mudou de sala, entendeu a reclamante que poderia ocupar sua mesa, entretanto quem a ocupou foi o estagiário, ficando constrangida e desconfortável; que a sra. Elaine passou a tratar assuntos jurídicos diretamente com o estagiário chamando-o em sua sala e não passando os assuntos à autora, sentindo-se desrespeitada; que a sra. Elaine dirigia-se à autora de forma ríspida e tom de voz alterado; que laborou para as demais empresas do mesmo grupo econômico sem receber a devida contraprestação; que foi feito acordo e estabelecido honorários de sucumbência para a reclamante entretanto os diretores trataram o assunto em reunião e advertiram-na de que a empresa não autorizaria os pagamentos; que à época da demissão foi comunicada pelo sr. Sergio Matiello que a empresa não necessitaria mais de seus serviços, mas que daquele momento até a saída da reclamante da empresa não poderia mais ficar sozinha, e o mesmo a acompanharia; que houve determinação de que não poderiam sair os disquetes da empresa, tendo a reclamante se negado em deixá-los

19

:: Ano II – Edição Especial nº 7 ::

ASSÉDIO MORAL E ASSÉDIO SEXUAL 1ª PARTE: DECISÕES DO TRT DA 4ª REGIÃO

uma vez que os comprou e continham peças processuais de sua autoria; que após a demissão o assédio continuou uma vez que a empresa não informara seu telefone aos servidores dos cartórios que a procuravam. Argumenta, ainda, que trabalhou por seis anos para a reclamada e em algumas situações quando estava de atestado por motivo de saúde ou licença maternidade ainda assim exerceu suas funções, oportunidade em que recebia visitas dos prepostos para tratarem de assuntos profissionais. Que os fatos narrados lhe trouxeram muita angústia, humilhação e desconforto, tendo a reclamada adotado a postura de “terrorismo moral”, tendo sido isolada de outros colegas, o que culminou com a sua demissão.A reclamada na defesa (fls. 286-91) nega todos os fatos, alegando que o objetivo da reclamante é o locupletamento ilícito. Argumenta que não estão presentes os requisitos ensejadores da indenização pleiteada tais como a existência do dano, nexo de causalidade e culpa, no caso, a responsabilidade subjetiva. Entende que não descumpriu qualquer cláusula avençada no contrato não desrespeitando a reclamante. Que a reclamante era subordinada hierarquicamente à diretora. Que eventual consulta de dados em seu computador não acarretaria violação ao serviço profissional da autora, o mesmo com relação ao material utilizado na empresa. Que a alegação de que sua mesa era mal cuidada é inverídica e falaciosa. Que não ofendeu a honra e a dignidade da reclamante em momento algum.Na sentença (fls. 293-4) o julgador considera que mesmo sem a necessidade de prova do abalo moral, posto que presumível, necessária a prova da prática pelo ofensor dos atos em tese hábeis a acarretar o dano, bem assim que os atos praticados pelo ofensor devem ser ilícitos não podendo resultar do exercício regular de um direito. Ainda que admissível no direito brasileiro o “dano moral puro”, considera indispensável a prova do dolo ou a culpa do ofensor e do nexo causal. Fundamenta com respeito aos sentimentos da reclamante que a levaram a formulação do pedido não visualizar nos fatos narrados circunstância a acarretar a reparação por dano moral. Considera direito do empregador em se utilizar modelos de petições confeccionados pela reclamante, sendo que o conteúdo do contrato de trabalho da reclamante era precisamente fornecer ao empregador os meios necessários à defesa judicial, não havendo nada de “anormal” que outros empregados relatassem que procuraram no computador da reclamante modelos. Considera, ainda, direito do empregador exigir da reclamante que não se valesse da estrutura material disponibilizada para a confecção de trabalhos estranhos e de interesse particular da autora, não indicando humilhação a necessidade de utilização de protetor de tela, a cadeira ou a mesa ocupados. Por fim, conclui que não há prova de que no ato da dispensa foi levantada qualquer suspeita leviana sobre seu comportamento profissional no sentido de que retiraria da empresa objetos de propriedade do empregador, e sobre o mau tratamento da sra. Elaine ou desrespeito ou humilhação diante de outros colegas.Decide-se.Prevê a norma jurídica, quem cause algum tipo de dano a outrem, proceda a sua indenização. Se for um dano material, possível será a restituição ao status quo ante. Caso o dano atinja a moral, esta causará uma dor insuportável, somente passível de compensação. O dano significa prejuízo sofrido pelo patrimônio econômico ou moral de alguém. É um termo com grande amplitude para significar qualquer prejuízo material ou moral causado a uma pessoa. A moral diz respeito aos "costumes", significando ao mesmo tempo, "comportamento".

volta ao índiceO dano moral é uma forma mais significativa de dano, o qual configura-se, a priori, imensurável, ou seja, aquele que atinge a moral, esta que representa o maior valor extra patrimonial do ser humano. Carlos Alberto Bittar preleciona: "...danos morais são aqueles suportados na esfera dos valores da moralidade pessoal ou social, e, como tais, reparáveis, em sua integralidade, no âmbito jurídico. Perceptíveis pelo senso comum - porque ligados à natureza humana - podem ser identificados, em concreto, pelo juiz, à luz das circunstâncias fáticas e das peculiaridades da hipótese sub item, respeitado o critério básico da repercussão do dano na esfera do lesado."Prossegue o conceituado autor: "Qualificam-se como morais os danos em razão da esfera da subjetividade, ou do plano valorativo da pessoa na sociedade, em que repercute o fato violador, havendo-se, portanto, como tais, aqueles que atingem os aspectos mais íntimos da personalidade humana (o da intimidade e da consideração pessoal), ou o da própria valoração da pessoa no meio em que vive e atua (o da reputação ou da consideração social)." (in "Reparação Civil por Danos Morais").No âmbito do Direito podemos afirmar que o dano moral representa todo tormento humano resultante de lesões de direitos incomuns ao patrimônio, encarado este último como complexo de relações jurídicas com valor econômico. Ao falar-se em dano moral, falar-se-á em atentado a

20

:: Ano II – Edição Especial nº 7 ::

ASSÉDIO MORAL E ASSÉDIO SEXUAL 1ª PARTE: DECISÕES DO TRT DA 4ª REGIÃO

valores extrapatrimoniais, quais sejam, lesão à honra do homem, à individualidade e ao caráter pessoal, valores maiores de cada um de nós.A caracterização que configura o direito à reparação depende do ato praticado ou deixado de praticar, do resultado lesivo deste ato em relação à vítima e de que tenha havido nexo causal entre ambos, ou seja, devem existir os seguintes elementos: ilicitude (ato omissivo ou comissivo), o dano e o nexo causal entre ambos.Do exame detalhado dos autos, muito embora seja verossímil a configuração de assédio moral cometido pela reclamada, principalmente quando se trata do “boicote” à autora relatado por ela em seu depoimento pessoal, não há qualquer demonstração no sentido de que efetivamente tenha ocorrido.O assédio moral no trabalho, cujo instituto também conhecido como hostilização ou assédio psicológico no trabalho, se configura na medida em que o empregado é exposto a situações humilhantes e constrangedoras ao longo da jornada laboral, vindo a se sentir ofendido, humilhado, menosprezado e sem qualquer valor. Geralmente, inicia-se através de atitudes e palavras proferidas por superiores hierárquicos, subjugando o empregado a ponto de os demais colegas também o destratarem. Tamanha humilhação reflete-se na vida pessoal do trabalhador, tanto no âmbito de sua dignidade quanto de suas relações afetivas e sociais, ocasionando graves danos à saúde física e mental, hipótese relatada pela reclamante, podendo até evoluir para a incapacidade laborativa.Ocorre que a discussão não transcendeu às alegações da reclamante, que sequer indício de prova trouxe aos autos para escorar sua tese.O depoimento da reclamada, embora parcial, não compromete a defesa, tampouco das testemunhas convidadas pela própria recorrente. Ambos, ao que se denota, trabalharam em departamento distinto na reclamada, um como motorista, o sr. David Lucas Moutinho Neto, e o outro na portaria da empresa. O último chegou a afirmar que já acompanhou muitas admissões e dispensas no período em que trabalha para a reclamada mas não lembra de nenhum empregado que trabalhasse no escritório que teria sido dispensado e também não sabe se é prática usual da reclamada acompanhar os funcionários dispensados até a saída da empresa (fl. 573). A testemunha David, por sua vez, também nunca presenciou a sra. Elaine falando em voz alta ou gritando com a reclamante, ou brigando com outro empregado. Muito embora seja possível testemunhas omitirem informações, muitas vezes valiosas para a busca da verdade real, não há qualquer vestígio neste processo dos fatos alegados pela autora. Importante referir ainda que as mesmas prestaram compromisso frente ao Magistrado, sujeitando-se às penas da lei.Afora isso, não restou demonstrado também que havia escutas telefônicas e que as conversas eram comentadas nos corredores, que a mesa e cadeira da reclamante eram de fato incompatíveis com a sua função desempenhada ou rasgadas para lhe provocar humilhação, tendo a reclamada referido que eram iguais as mesas da reclamante e estagiário. Também o fato de mexerem em seu computador, para a busca de arquivos não configura violação à sua intimidade, de vez que a própria reclamante admite que não poderia manter arquivos particulares na empresa, por determinação desta última, presumindo-se, portanto, que só havia informações da ordem da empresa ré. Por fim, as satisfações que a reclamante devia à diretora, de outra parte, estão dentro do poder diretivo do empregador, e o fato desta ter “gritado” com ela ou a humilhado não restou demonstrado.Nessa esteira, à míngua de qualquer prova que embasasse a pretensão da recorrente, é mantida a decisão de origem que indeferiu a indenização por dano moral.(...)

volta ao índice volta ao sumário

1.9. Relatora a Exma. Juíza Maria Beatriz Condessa Ferreira. 4ª Turma. Processo nº 00869-2003-511-04-00-8 RO. Publicação em 21.11.2005.

EMENTA: RECURSO ORDINÁRIO DA RECLAMADA. ASSÉDIO MORAL. Hipótese em que a prova testemunhal revela a existência de diversos elementos que, minando a auto-estima da reclamante, contribuíram para que o ambiente de trabalho se tornasse insuportável. O dano moral decorre do fato em si (damnum in re ipsa), não se cogitando de prova da lesão extrapatrimonial, porquanto impossível ingressar na psique da vítima. Responsabilidade da

21

:: Ano II – Edição Especial nº 7 ::

ASSÉDIO MORAL E ASSÉDIO SEXUAL 1ª PARTE: DECISÕES DO TRT DA 4ª REGIÃO

reclamada que subsiste, mesmo na hipótese de ter o assédio moral natureza horizontal. Inteligência dos arts. 5º, V e X, da CF e 186 do CC/2002. Recurso ao qual se nega provimento no tópico.(...)

6. INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL.O magistrado de origem, entendendo que a autora sofreu assédio moral, condena a reclamada ao pagamento de indenização de R$ 1.000,00 por mês de contrato de trabalho.Insurge-se a demandada. Afirma que o conjunto probatório não fornece qualquer elemento que indique ter a autora sofrido dano moral. Entende que o valor arbitrado pelo Juízo a quo é excessivo.Não assiste razão à recorrente.Nas palavras de Marie-France Hirigoyen, o assédio moral corresponde a “qualquer conduta abusiva (gesto, palavra, comportamento, atitude...) que atente, por sua repetição ou sistematização, contra a dignidade ou integridade psíquica ou física de uma pessoa, ameaçando seu emprego ou degradando o clima de trabalho” (apud, Cláudio Armando Couce de Menezes. Assédio Moral e seus Efeitos Jurídicos, in Revista Justiça do Trabalho, Porto Alegre: HS, 2002, nº 228, p. 16). O assédio moral caracteriza-se pela repetição de condutas tendentes a expor a vítima a situações incômodas ou humilhantes - por exemplo, criticar em público, expor ao ridículo, tratar com rigor excessivo, confiar tarefas inúteis, divulgar problemas pessoais. Conforme Cláudio Armando Couce de Menezes, “a preferência pela comunicação não-verbal (suspiros, erguer de ombros, olhares de desprezo, silêncio, ignorar a existência do agente passivo), ou pela fofoca, zombaria, ironias e sarcasmos, de mais fácil negação em caso de reação” (op. cit., p. 17).A prova testemunhal revela a existência de diversos elementos que, minando a auto-estima da reclamante, contribuíram para que o ambiente de trabalho se tornasse insuportável. Eram feitos comentários, entre os colegas de trabalho, de que a reclamante era “relaxada”, “não fazia o serviço direito”. Havia a obrigação de realizar tarefas inúteis, como juntar moedas propositadamente atiradas ao solo. Criavam-se obstáculos à convivência da autora com os demais empregados.

volta ao índiceDiz a reclamante, em seu depoimento, que “a superior hierárquica da depoente era a Sra. Rita que foi substituída por Andréa Brambilla; (…) que a depoente se sentiu humilhada pela Sra. Andréia desde o primeiro dia de trabalho; que a Sra. Andréia procurava constranger e humilhar a depoente pois considerava que a depoente era culpada pela dispensa da empregada que foi substituída pela depoente que era amiga da Sra. Andréa, que as ofensas da Sra. Andréa iniciaram antes mesmo de passar ao ocupar função hierarquicamente superior a da depoente; que a Sra. Andréia chamava de depoente de velha louca, de louca, de idiota e de relaxada, e dizia que a depoente era muito burra; que a Sra. Andréia passava para a depoente serviços ‘por empreitada’ e ‘dizia tudo o que era tipo de nome’; que a Sra. Andréia proibia a depoente de contar sobre as ofensas para o Sr. Vânio que era o superior hierárquico da Sra. Andréia; que a depoente suportou todo o tempo de serviço mesmo com a humilhações a que era submetida porque precisava muito do emprego; (…) que a Sra. Andréia sempre xingava a depoente quando a depoente estava na cozinha para que os demais empregados não vissem; que ‘quantas vezes chegava gente e ela estava me xingando’; que a Sra. Andréia comentava com os demais empregados que a depoente estava chorando na cozinha por problemas familiares, o que não é verdade; perguntado se houve algum episódio que a depoente considerou mais grave responde que ‘ela mandava jogar as moedas para eu ajuntar;’ que este último fato foi comentado pela depoente com o Sr. Vânio; que ‘eu nunca fui maltratada e humilhada como nos dois anos de trabalho;’ que a Sra. Andréia retirava as coisas da geladeira e dizia para os demais empregados que era a depoente que havia pego (…)” (fls. 274/275).O depoimento da testemunha Eliane Maria Berto deixa clara a situação a que foi exposta à reclamante: “perguntada se presenciou a Reclamante sendo ofendida pela Sra. Andréia ou tendo algum desentendimento com referida pessoa responde que via muitas vezes a Reclamante chorando na cozinha ou no banheiro; que ouvia comentários de que Reclamante estava chorando porque ‘ela tinha problemas em casa e vinha descarregar aqui;’ que a depoente presenciou a Sra. Andréia comentando com a depoente e as demais empregadas que a Reclamante era relaxada, preguiçosa, velha coroca e ignorante;

22

:: Ano II – Edição Especial nº 7 ::

ASSÉDIO MORAL E ASSÉDIO SEXUAL 1ª PARTE: DECISÕES DO TRT DA 4ª REGIÃO

que a depoente apenas viu os comentários da Sra. Andréia com as gurias mas não presenciou a Sra. Andréia ofendendo a Reclamante; que acontecia de propositalmente deixar as moedas cair no chão para que a Reclamante juntasse; que a depoente presenciou suas colegas e inclusive a Sra. Andréia praticando o ato relatado; que a Reclamante é responsável por fazer a limpeza nas cabines e juntar as moedas que caíam; perguntado quem dava ordens diretas à Reclamante responde que a Reclamante sabia o que tinha que fazer e muitas vezes a Sra. Andréia dava ordens à Reclamante; que era mais a Sra. Andréia quem dirigia diretamente o trabalho da Reclamante e dava ordens à autora; que raramente o Sr. Vânio dava ordens à Reclamante; que normalmente o Sr. Vânio não se encontrava no local; que a Sra. Tânia que foi substituída pela Reclamante é ‘unha e carne’ com a Sra. Andréia; que a Sra. Tânia foi dispensada em razão de atestados; que a depoente ouviu da Sra. Andréia comentários responsabilizando a Reclamante pela dispensa da Sra. Tânia; (…) a Sra. Andréia falou para a depoente se a depoente fosse ‘da laia’ da Reclamante era para se afastar dos demais empregados e ficar junto com ela; que a depoente ficava um pouco com a Reclamante para não ficar sozinha e um pouco com os demais empregados; (…) a Sra. Rita exercia a função de supervisora; que quem substituiu foi a Sra. Andréia” (fls. 276/278).A testemunha Ademir Luiz Civa, embora não tenha presenciado discussões da reclamante com a Sra. Andréia, revela um ambiente de trabalho onde as críticas e a pressão psicológica sobre a autora eram constantes: “que o depoente não presenciou a Reclamante discutindo com a Sra. Andréia ou a Sra. Andréia ofendendo a Reclamante; o que o depoente presenciou diversas vezes foi a Sra. Andréia falando mal da Reclamante para o próprio depoente; que a Reclamante ‘era relaxada, não fazia o serviço direito, era velha boba;’ (…) que o depoente chegou ver a Reclamante chorando no trabalho mas não sabe o motivo” (fl. 278).O depoimento de Vânio Brambilla afasta qualquer dúvida sobre ter a empregada Andréia uma posição hierarquicamente superior à da reclamante. Ainda que isso não seja importante para a caracterização do assédio moral, uma vez que ele pode se dar horizontalmente, demonstra por que a reclamante se sentida obrigada a realizar as tarefas inúteis impostas pela colega de trabalho. Diz a testemunha que “quem está imediatamente abaixo do depoente na hierarquia da praça de pedágio são os controladores; (…) que o controlador da turno da manhã era a Sra. Andréia; (…) que o depoente falava para a Sra. Andréia o que deveria ser feito para limpeza e asseio do local e a Sra. Andréia passava as ordens à Reclamante; (…) que o depoente teve conhecimento houve um discussão entre a Reclamante e a Sra. Andréia; (…) que o depoente não presenciou a discussão entre a Reclamante e a Sra. Andréia e esta procurou o depoente relatando que tinha discutido com a Reclamante e o depoente não se recorda do motivo; (…) que após a discussão o depoente procurou a Reclamante e esta estava chorando e foi dispensada de cumprir o restante da jornada pelo depoente” (fls. 278/280).

volta ao índiceAnte a presença física do julgador de primeiro grau, assume destaque a sua impressão quando da colheita dos depoimentos, que nem sempre é transmitida pela simples transcrição do que foi dito por partes e testemunhas. Na hipótese dos autos, o juiz teve a preocupação em revelar o que sentiu quando da produção da prova, trazendo importante subsídio para a sua valoração, in verbis: “Para que no caso de eventual recurso o E. Tribunal possa melhor avaliar a prova é digno de registro que a reclamante é uma senhora de 46 anos, criada em pequena cidade da serra, de parca instrução e que chorou copiosamente durante todo o depoimento pessoal ao lembrar dos fatos ocorridos no curso do contrato de trabalho. O Juízo formou convencimento claro da sinceridade na manifestação da autora e que não se tratava de mero teatro, evidenciando com absoluta clareza as máculas deixadas pelo tratamento humilhante que sofreu durante o contrato de trabalho” (fl. 291).A situação a que foi exposta a autora, evidenciada pela prova oral, afasta por completo as alegações da reclamada no sentido de que a reclamante estaria fazendo “teatro” e de que teria chorado no trabalho em virtude da “difícil situação financeira que atravessava” (fls. 305 e 308).A reclamante sofreu assédio moral decorrente da conduta de colegas de trabalho que levaram o ambiente de trabalho a se tornar insuportável. Importante que se deixe claro, ante os argumentos da recorrente no sentido de que a Sra. Andréia não era chefe da autora, que o assédio moral pode partir tanto dos superiores (descendente), quanto dos colegas de trabalho (horizontal) ou, mais raramente, dos subordinados (ascendente). Nas palavras de Márcia Novaes Guedes, “o assédio moral ou mobbing pode ser de natureza vertical - a violência parte do chefe ou superior hierárquico; horizontal - a violência é praticada por um ou vários colegas de mesmo nível hierárquico; ou ascendente - a violência é praticada pelo grupo de empregados ou

23

:: Ano II – Edição Especial nº 7 ::

ASSÉDIO MORAL E ASSÉDIO SEXUAL 1ª PARTE: DECISÕES DO TRT DA 4ª REGIÃO

funcionários contra o chefe, gerente ou superior hierárquico” (Mobbing - Violência Psicológica no Trabalho, in Revista LTr, São Paulo: LTr, 2003, nº 2, p. 162)O assédio moral, violência de natureza psicológica sofrida pela trabalhadora, implica a lesão de um interesse extrapatrimonial (sem equivalência econômica), porém juridicamente protegido, ou seja, dano moral.Em virtude da própria natureza do dano, é desnecessária a prova do prejuízo, sendo a responsabilidade decorrente do simples fato da violação. Melhor dizendo, “o dano moral está ínsito na ilicitude do ato praticado, decorre da gravidade do ilícito em si, sendo desnecessária sua efetiva demonstração, ou seja, como já sublinhado: o dano moral existe in re ipsa” (STJ, 1ª Turma, REsp 608.918/RS, Rel. Ministro José Delgado, julgado em 20.05.04, DJ 21.06.04, p. 176).A reparação do dano moral, por sua vez, atende a um duplo aspecto, compensar o lesado pelo prejuízo sofrido e sancionar o lesante. Conforme Xisto Tiago de Medeiros Neto, “Enquanto no dano patrimonial o dinheiro assume preponderante função de equivalência, ou seja, com alguma exatidão cumpre o objetivo de restabelecer o patrimônio afetado, no dano moral o dinheiro presta-se a outra finalidade, pois, não sendo o equivalente econômico da recomposição do bem lesado, corresponderá a uma satisfação de ordem compensatória para a vítima” (Dano Moral Coletivo. São Paulo: LTr, 2004, p. 79).A compensação de natureza econômica, já que o bem atingido não possui equivalência em dinheiro, se sujeita à prudência do julgador, conforme um critério de razoabilidade.Atualmente, não mais se admite a tarifação do dano. Abandonando os critérios adotados pela legislação anterior, que buscavam encontrar uma fórmula matemática capaz de resolver o problema (art. 1.547, parágrafo único, do Código Civil de 1916) - o Código Civil de 2002 fala, em seu art. 953, que o juiz fixará “eqüitativamente” o valor da indenização nas hipóteses de injúria, difamação ou calúnia.No entanto, não só é possível como também é desejável o controle dos valores fixados pelos Juízos de primeiro grau, a fim de que se formem paradigmas capazes de orientar o julgamento de casos análogos.

volta ao índiceNa hipótese dos autos, o magistrado de origem arbitrou a indenização por dano moral em R$ 1.000,00 por mês durante o contrato de trabalho, o que resulta o total de cerca de R$ 24.000,00. O valor se mostra adequado se tomarmos como parâmetro decisões proferidas por este Regional referentes a situações semelhantes, por exemplo, RO 00394-2003-027-04-00-4, Rel. Hugo Carlos Scheuermann, DJE 14.10.04, e RO 01131-2001-402-04-00-7, Rel. Carlos Alberto Robinson, DJE 05.05.04.Insubsistente a alegação da recorrente de que o valor da indenização deve se ater ao valor atribuído à causa pela autora na petição inicial, uma vez que a sua função, no processo trabalhista, limita-se a estabelecer o procedimento a ser adotado, bem como a possibilidade de interposição de recurso (caso superior ao valor de alçada).De outra parte, a reclamada possui inegável responsabilidade pela indenização devida à autora, conforme arts. 5º, V e X, da CF e 186 do CC/2002.O terror psicológico enfrentado pela trabalhadora, em grande parte, teve origem no comportamento da Sra. Andréia que, pelo menos em parte do contrato, ocupava posição hierarquicamente superior a da autora (depoimento da testemunha Vânio Brambilla).De qualquer forma, mesmo que assim não fosse, os fatos em análise ocorreram no estabelecimento da reclamada, sob os olhos do supervisor, sem que qualquer atitude fosse tomada para impedir a ocorrência do dano. Assim, mesmo que se admita a ocorrência de assédio moral horizontal, é a empregadora responsável pela indenização, em virtude de sua omissão.Também não se mostram relevantes os motivos - inveja, ciúme, desprezo, antipatia, preconceito - que levaram a superiora ou os colegas de trabalho a assediarem a trabalhadora, ou, ainda, se esses motivos surgiram dentro ou fora do contexto da relação de trabalho. O fato é que a reclamante sofreu o abalo moral em virtude de procedimento adotado no curso do contrato, por superior hierárquico ou colegas de trabalho, não tendo a empregadora tomado qualquer atitude para evitá-lo.Por fim, não se diga que a recorrente não tinha conhecimento do assédio moral. Se não tinha, deveria ter, pois tem a obrigação de saber o que se passa dentro de seu estabelecimento.Pelo exposto, nega-se provimento ao apelo da reclamada no tópico.(...)

volta ao índice volta ao sumário

24

:: Ano II – Edição Especial nº 7 ::

ASSÉDIO MORAL E ASSÉDIO SEXUAL 1ª PARTE: DECISÕES DO TRT DA 4ª REGIÃO

1.10. Relator o Exmo. Juiz José Felipe Ledur. 1ª Turma. Processo nº 01125-2002-221-04-00-2 RO. Publicação em 28.11.2005.

EMENTA: DANO MORAL. ASSÉDIO SEXUAL. VALOR DA INDENIZAÇÃO. O assédio sexual, além de tipificado como crime, constitui espécie de assédio moral mais grave em vista da natureza da motivação do agressor, ou seja, a lascívia. Valor da indenização aumentado a fim de punir o infrator e compensar a vítima em valor razoável.(...)RECURSO DA RECLAMANTE E DA RECLAMADA. MATÉRIA COMUMDANO MORAL. ASSÉDIO SEXUAL. VALOR DA INDENIZAÇÃOA sentença considerou verdadeiros os fatos alegados pela autora no tocante ao dano moral decorrente de assédio sexual e condenou a reclamada ao pagamento de indenização no valor de R$ 4.680,00. As partes recorrem. A reclamante afirma que o valor fixado não repara os danos causados e não impinge efeito pedagógico à condenação. A ré diz que a autora não teria provado o assédio, sendo imprestáveis para tanto os depoimentos das testemunhas. Alega que em nenhum momento admitiu ter se consumado o assédio e que Tarso não poderia admitir ou despedir empregados nem conceder ou retirar benefícios dos empregados sem o consentimento dos diretores da empresa.

volta ao índiceSem razão a reclamada. Com o advento da Constituição Federal de 1988, o direito à indenização por dano moral foi consagrado em seu art. 5º, incisos V e X. A inviolabilidade da intimidade, vida privada, honra e imagem das pessoas foi erigida à categoria dos direitos fundamentais. O direito à reparação por dano moral já estava previsto nos arts. 159 e 1.518 do Código Civil de 1916, vindo a ser disciplinado no art. 186 do Código Civil de 2002, verbis: “Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito”. A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça encontra-se sedimentada quanto à existência de dano moral presumido quanto à reputação do indivíduo para causa de comportamento inquinado de danoso. Além disso, tem aceito o dano moral interno, também presumido, diante da dificuldade de produção da correspondente prova. Entretanto, deve ser provado o fato alegado como gerador do dano moral e estabelecido o nexo causal, ainda que as conseqüências possam ser presumidas.No presente caso, contudo, os fatos narrados pela reclamante na petição inicial não foram negados na contestação da reclamada, como dito na sentença. Apenas foi perquirido se os fatos caracterizariam ou não assédio sexual. Ademais, a ré não ataca a decisão quanto à confissão ficta decorrente do desconhecimento dos fatos pela preposta. No recurso, se limita a sustentar que a reclamante não teria provado suas alegações, em lugar de buscar desconstituir a decisão quanto à confissão declarada e seus efeitos. Ampara tal argumentação na não-ouvida das fitas cassete mencionadas na inicial (item 16.2, fl. 09) embora tenha desistido da produção de tal prova (fl. 382).De qualquer modo, os fatos geradores do dano moral, o nexo causal e o sofrimento da reclamante estão comprovados pelos depoimentos das testemunhas Janaína e Hélio (fls. 378-80), as quais informam inclusive ter visto a reclamante “quase chorando” (Janaína) e “diferente”, ”abalada” e “chorando” (Hélio). Além disso, comprovam a ousadia de Tarso ao tornar públicas suas intenções libidinosas, utilizando-se da condição de sobrinho do diretor de operações da empresa (depoimento da preposta) para intimidar a reclamante a não denunciá-lo. Também demonstram que as investidas de Tarso não se davam somente na tesouraria. Pouco importa se Tarso tinha ou não o poder de despedir a reclamante porquanto o que interessa é o efeito causado pela ameaça do despedimento (Janaína). Por outro lado, o reduzido horário de trabalho concomitante das testemunhas com a reclamante não significa que as mesmas não tenham presenciado os fatos narrados nos seus depoimentos.O assédio sexual, além de tipificado como crime, constitui espécie de assédio moral mais grave em vista da natureza da motivação do agressor, ou seja, a lascívia. A omissão do empregador por não tomar atitudes que previnam a ocorrência de situações que expõem a empregada a situações constrangedoras, inclusive no que diz com a punição do assediador, define o descaso do empregador e a gravidade dos fatos. A despedida do assediador, sem a apuração dos fatos ocorridos, ou seja, no exercício do poder potestativo de despedir, não pode ser vista como a solução do problema, conforme a defesa; antes, comprova a intenção de acobertá-los.

25

:: Ano II – Edição Especial nº 7 ::

ASSÉDIO MORAL E ASSÉDIO SEXUAL 1ª PARTE: DECISÕES DO TRT DA 4ª REGIÃO

Por tudo isso, conclui-se que há dano a ser reparado, pois violado o art. 5º, X, da CF/88. As conseqüências negativas na estrutura psíquica da vítima, no caso a reclamante, foram provadas. Ou seja, o constrangimento e a dor a que foi submetida atingiram diretamente a percepção de si mesma e do seu valor enquanto ser humano trabalhador, enfim, a composição de sua personalidade.Assim, pelas razões expendidas, os fatos que se extraem dos autos confortam a conclusão de que houve assédio sexual praticado pelo superior hierárquico Tarso Gasparim à reclamante.Nega-se provimento ao recurso da reclamada.Fixadas tais premissas fáticas, parte-se para o exame do montante indenizatório objeto do recurso da reclamante. Inicialmente, rejeita-se a fixação da indenização em número de salários mínimos em atenção à norma constitucional que afasta essa referência para fins de vinculação de obrigações. Assim, o parâmetro que será utilizado é o salário contratual da reclamante (R$ 560, fl. 21). O valor arbitrado a título de dano moral deve levar em conta duas finalidades: punir o infrator e compensar a vítima, em valor razoável e suficiente para que se reprima a atitude lesiva, sem que seja um valor inócuo ou que propicie o enriquecimento sem causa. E para tal balizamento, utilizam-se critérios de eqüidade. O contexto de fragilidade do trabalhador na própria forma em que entrega sua energia produtiva, ou seja, enquanto cumpre o objeto principal do contrato de trabalho, origina efeitos conexos que dizem respeito justamente à dignidade humana, princípio que, por ser o núcleo central dos direitos fundamentais, deve ser o primeiro a compor a fórmula que o julgador utiliza na atividade de concreção jurídica. Assim, considerando o assédio sexual que causou-lhe sério dano à honra, abalo emocional e sensação de impotência à pessoa assediada, que a reclamada é empresa aparentemente sólida no ramo das concessionárias de rodovias, o que denota capacidade econômica plena na atuação no mercado, e sopesados os elementos já referidos, considera-se razoável o valor de R$ 30.000,00, que corresponde aproximadamente à indenização de 100 salários mínimos pretendida na inicial.Por todo o exposto, dá-se provimento ao recurso da autora, para aumentar o valor da indenização por danos morais para R$ 30.000,00 reajustáveis pelos mesmos critérios dos débitos trabalhistas.Determina-se a remessa de ofício ao Ministério Público do Trabalho para ciência da presente decisão.(...)

volta ao índice volta ao sumário

1.11. Relator o Exmo. Juiz Flavio Portinho Sirangelo. 2ª Seção de Dissídios Individuais. Processo nº 01423-2004-000-04-00-7 AR. Publicação em 07.12.2005.(...)MÉRITO1. CPC, ARTIGO 485, INC. VITrata-se de ação rescisória ajuizada com fundamento no artigo 485, inc, VI do CPC: Art. 485 - A sentença de mérito, transitada em julgado, pode ser rescindida quando: [...] VI - se fundar em prova, cuja falsidade tenha sido apurada em processo criminal ou seja provada na própria ação rescisória;Alega a autora que, na reclamatória trabalhista nº 00416.005/02-0, ajuizada por Renate D’Angelo Schiller, as testemunhas por ela apresentadas - Camila Borges Pereira e Caroline Gautério dos Santos - prestaram depoimentos falsos no sentido de que a então reclamante teria sofrido assédio sexual por parte de seus empregadores, induzindo em erro o juízo que culminou por condenar a empresa, ora autora, no pagamento de indenização por dano moral, com base única e exclusivamente na prova testemunhal falsa. Nesse sentido, refere que Caroline Gautério dos Santos mentiu ao prestar juramento, pois que negou intimidade com a reclamante quando os formulários de pedido de emprego ora anexados comprovam que ambas dividiam a mesma residência. Diz que, recentemente, foi procurada por ex-funcionária - Grace Ribeiro da Silva, contemporânea da ré - que afirmou ter sido reiteradamente assediada pela última, por outro reclamante e pelas testemunhas Camila e Caroline, para que prestasse informações falsas juntamente com elas, no intuito de promoverem ação por ‘assédio sexual’ do sócio da autora (reclamada), Marco Aurélio Scherer Pinto, inclusive mediante o recebimento de uma gratificação. Aduz que, igualmente, outra ex-funcionária, Gisele Almeida de Souza, afirmou conhecer a

26

:: Ano II – Edição Especial nº 7 ::

ASSÉDIO MORAL E ASSÉDIO SEXUAL 1ª PARTE: DECISÕES DO TRT DA 4ª REGIÃO

estratégia de aliciamento da ré/reclamante, comprometendo-se a depor perante qualquer autoridade e confirmar tais fatos.Ao contestar a ação, a ré sustenta, em síntese: que a autora busca, em verdade, o reexame de fatos e provas, suscitando aspectos que deixou de contrapor na reclamatória trabalhista no momento oportuno; que ela e a testemunha Camila nunca foram íntimas, em que pese tenham residido no mesmo endereço como inquilinas da pensão mantida por uma tia da ré, fato conhecido pela autora (então demandada), e sobre o qual silenciou quando da produção da prova testemunhal; que jamais convidou a Sra. Grace para servir-lhe de testemunha e, muito menos, ofereceu-lhe bonificação para tanto. Salienta que a autora tenta, tão-somente procrastinar a execução trabalhista que contra si está em curso e que provas colhidas em outros feitos ajuizados contra a empresa denotam que, efetivamente, era habitual seus sócios destratarem os empregados, mediante o emprego de expressões humilhantes e desrespeitosas.O sócio da autora foi ouvido (fl. 470) e disse ter sido procurado por sua ex-funcionária, Sra. Grace, que achou um absurdo que a Sra. Renate houvesse ajuizado uma ação trabalhista,

volta ao índice pedindo indenização por dano moral relacionado a assédio sexual - sublinhei. A referida Sra. Grace, ouvida como testemunha da autora, esclareceu que nunca teve conhecimento de nenhum tipo de menção de assédio sexual a funcionárias da empresa ou comentários jocosos e de interpretação dúbia ou obscena; informou ter sido procurada pela ré, que pretendia propor ação trabalhista contra a empresa, em que mencionaria ter sofrido assédio sexual (sublinhei), convidando a depoente para servir-lhe de testemunha. Acrescentou desconhecer qualquer comentário sobre as Sras. Camila e Caroline no sentido de terem mentido ou omitido a verdade no processo em que depuseram como testemunha. Confirmou que a ré, e depois a Sra. Caroline, telefonaram convidando-a para depor como testemunha, mas recusou porque não queria se envolver nessa confusão. Disse, ainda, que a Sra. Renate sugeriu que a depoente podia ganhar dinheiro com isso, enquanto que a Sra. Caroline não chegou a mencionar valores (fl. 471). A segunda testemunha da empresa autora, Sra. Gisele (fl. 472), trabalhava em turno distinto da ré e disse que, em certa ocasião, no refeitório, ouviu a Sra. Renate comentar que quando fosse despedida iria ‘ferrar’ a empresa, mas que nunca presenciou nenhum tipo de tratamento jocoso ou que induzisse assédio sexual contra a Sra. Renate.Por sua vez, Camila e Carolina, testemunhas da ré no processo nº 00416.005/02-0, ouvidas como consta às fls. 481/482 e 486, confirmaram integralmente os depoimentos que prestaram na ação trabalhista promovida por Renate D’Angelo Schiller contra a ora autora. Carolina, especialmente, esclareceu que jamais “morou” com a ré, apenas tendo alugado uma peça, pelo período de seis meses, na pensão cuja proprietária era a tia da ré, que lá também residiu por algum tempo, e que o preposto da reclamada tinha pleno conhecimento de que ambas alugavam peças na mesma pensão. Afirmou que nunca se considerou íntima de Renate, porque só alugavam peças (separadas) na mesma pensão, razão pela qual não mentiu em juízo ao negar intimidade ou amizade com a ré. Também Camila, ao depor, ratifica o depoimento já prestado por ocasião da instrução da reclamatória trabalhista, inclusive referindo, em reforço, situação constrangedora que vivenciou em face do comportamento do sócio Marco Aurélio.A análise da prova produzida não autoriza o acolhimento da pretensão rescisória.Primeiramente, o documento juntado pela autora às fls. 524/526 e impugnado pela ré não tem maior relevância para o deslinde da presente ação. Trata-se de “Pedido de Instauração de Inquérito Policial”, encaminhado pela autora ao Superintendente de Polícia Federal do Estado do Rio Grande do Sul, referente à “Evidência de crime de falso testemunho perante a Justiça do Trabalho”. Ora, simples pedido de instauração de inquérito, formulado pela empresa que é também autora no presente feito, não faz prova alguma contra a ré. Sequer há notícia de que tal pedido tenha sido aceito (o mero protocolo de recebimento da petição desserve como tal). Mesmo porque, há indícios nos autos de que a autora já decaiu do direito de ajuizar a ação penal correspondente (docs. de fls. 343 e 344).Outrossim, o fato da ré e de sua testemunha Caroline residirem no mesmo endereço não implica que Caroline tenha mentido em juízo. A explicação ofertada é razoável e não restou desconstituída pela autora. De salientar que, conforme documentos de fls. 16 e 17 (pedidos de emprego), era do conhecimento da empresa que suas funcionárias residiam no mesmo local, não tendo suscitado tal fato como causa de suspeição e contradita quando da produção da prova testemunhal. A alegação de que a empresa desconhecia esse fato porque tais documentos se encontravam na posse de seu contador, não altera esse entendimento, porquanto, conforme a autora esclareceu ao depor na fl. 470, referido contador atuava como preposto da empresa na

27

:: Ano II – Edição Especial nº 7 ::

ASSÉDIO MORAL E ASSÉDIO SEXUAL 1ª PARTE: DECISÕES DO TRT DA 4ª REGIÃO

maioria das reclamatórias trabalhistas, tendo sido quem forneceu os documentos à empresa para instruir a ação promovida pela ora ré.Tampouco a prova oral produzida pela autora é capaz de ensejar o entendimento de que as testemunhas da ré mentiram ao depor em juízo. E, nesse sentido, é necessário não perder de vista a tese da petição inicial, qual seja, que as testemunhas apresentadas pela demandante na reclamatória trabalhista foram por ela “aliciadas” para mentir em juízo acusando o sócio da empresa reclamada, ora autora, de assédio sexual, gerando a condenação da empresa por dano moral.

volta ao índiceEntretanto, como demonstra a cópia da petição inicial que instruiu a reclamatória trabalhista nº 00416.005/02-0, a ora ré não lançou contra os sócios da ex-empregadora qualquer acusação de assédio sexual. De fato, ao pleitear indenização por danos morais, alegou que: (a) era tratada como uma escrava, humilhada na frente dos colegas e de pessoas estranhas ao serviço, espalhando os sócios da empresa que ela era “vagabunda e preguiçosa, e só faltava se atirar em cima dos médicos”; (b) tendo sido contratada como caixa digitadora, era obrigada a fazer a faxina nos banheiros da reclamada; (c) em função da atividade de digitação contraiu doença profissional (LER) e, quando requereu à empresa o encaminhamento da CAT, foi demitida. A prova oral produzida naquele feito não se afastou dessa linha. A então reclamante, ao prestar depoimento, nada alegou acerca de assédio sexual. A testemunha Camila informou que muitas vezes o sócio da reclamada presente em audiência dizia coisas que não deveriam ser ditas aos empregados e que presenciou o sócio da reclamada presente em audiência chamar a reclamante de bonita (fl. 315). Já Caroline declarou que muitas vezes os sócios da reclamada faltaram com o respeito à depoente; que o chefe da depoente costumava chamar os empregados de vagabundos e outros termos desrespeitosos. Acrescentou que viu muitas vezes se referirem à reclamante com aquele tipo de brincadeira besta como ‘como tu tá gostosa’ ou deboches e, mais adiante, que os sócios da reclamada tinham como hábito chamar os funcionários de filhos da p..., desgraçados, mortos de fome (fls. 315/316).A decisão rescindenda, apreciando o pedido de indenização por dano moral, rejeitou a pretensão enquanto calcada na obrigação de realizar a limpeza dos banheiros e na alegação de ter adquirido doença profissional; acolheu-a, entretanto, na parte em que fundada no tratamento desrespeitoso e humilhante por parte dos sócios proprietários da empresa em relação à demandante. Decidiu o julgador: O conjunto da prova testemunhal produzida atesta que o sócio da reclamada presente à audiência de prosseguimento (Sr. Marco Aurélio) se utilizava de procedimentos pouco recomendáveis à dignidade das suas empregadas ouvidas em Juízo. [...] Na relação de emprego, [o dano moral] se caracteriza pelos abusos cometidos pelos sujeitos desta. No caso, vislumbra-se pelo tratamento humilhante propiciado pela empregadora, por intermédio do seu sócio Marco Aurélio, no curso da contratualidade. A acionada não se limitou ao simples exercício do legítimo direito de comandar seus empregados e de tratá-los com urbanidade, porém adotou comportamento temerário no trato com os mesmos. [...] a demandada, via expressões adotadas pelo seu sócio Marco Aurélio, impingiu considerável e induvidoso abalo moral à demandante, causando-lhe um constrangimento de ordem psíquico-mental, a exigir reparo, ainda que parcial. - fl. 325.Novamente, como se observa, não há qualquer menção a possível assédio sexual, mas à utilização de expressões constrangedoras e humilhantes. E, quanto ao aspecto, não há indícios de que as testemunhas tenham mentido em juízo.Nesse sentido, inclusive, o parecer do Ministério Público do Trabalho: De ressaltar que as informações prestadas pelas testemunhas não se limitaram ao assédio sexual, tendo também confirmado outras formas de tratamento desrespeitoso aos empregados da reclamada, conforme alegado na inicial da reclamatória trabalhista. O depoimento de Grace Ribeiro da Silva, perante o Juízo trabalhista, em instrução no decorrer da presente ação rescisória (fls. 470/471), não se mostra capaz de informar as informações prestadas por Caroline e Camila ou comprovar o falto testemunho. Grace, em momento algum, ao depor, informa expressamente que Renate, Caroline ou Camila lhe tenham oferecido quantia em dinheiro para mentir em juízo. De outra parte, afirma peremptoriamente que Renate iria acionar a empresa em decorrência de assédio sexual sofrido durante a vigência do contrato de trabalho, fato este, repita-se, que não integrou a causa de pedir da reclamatória proposta por Renate. -fl. 542.Destarte, em face da ausência de prova que convença quanto à falta de credibilidade dos depoimentos prestados, não há como se rescindir a sentença com fulcro no inciso VI do artigo

28

:: Ano II – Edição Especial nº 7 ::

ASSÉDIO MORAL E ASSÉDIO SEXUAL 1ª PARTE: DECISÕES DO TRT DA 4ª REGIÃO

485 do CPC. De fato, constato que a autora, no aspecto, faz uso da ação rescisória como simples meio recursal, pretendendo rediscutir fatos e provas.Julgo improcedente a ação rescisória.(...)

volta ao índice volta ao sumário

1.12. Relator o Exmo. Juiz Mario Chaves. 6ª Turma. Processo nº 01003-2005-771-04-00-6 RO. Publicação em 07.12.2005.

EMENTA: DANO MORAL. INOCORRÊNCIA. NECESSIDADE, PARA A SUA CARACTERIZAÇÃO, DE ILICITUDE E GRAVIDADE DOS EFEITOS DECORRENTES DA CONDUTA DO EMPREGADOR. Para a configuração do dano moral, que gera direito à indenização, hão de estar presentes a ilicitude da conduta e a gravidade de suas conseqüências para o empregado.(...)2. INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL.Insurge-se o recorrente, ainda, contra o entendimento do Juízo a quo de que não restou configurado, no caso, dano moral suscetível de reparação. Aponta para dissonância entre a sentença e o contexto probatório, em especial a prova oral, que teria confirmado o assédio moral a que teria sido submetido. Diz demonstradas as palavras de baixo calão e as ofensas diretas verbalizadas por expressões vulgares que lhe teriam sido dirigidas por parte do encarregado de setor. Alega comprovado, também, o fato de ter apresentado a sua inconformidade ao Departamento de Pessoal da recorrida, que não teria adotado providência alguma. Sustenta ter sido humilhado e ofendido em sua honra, tendo de submeter-se em virtude da necessidade do salário para o seu sustento. Nesse sentido, assevera: “A instrução comprovou a ocorrência de lesão, a ciência destas pelo empregador, a sua omissão em tomar providências. O dano moral é cristalino, o trabalhador foi humilhado e ofendido em sua honra e como subordinado teve que se submeter, pois vive de seu salário. A responsabilização do empregador se impõe” (fl. 311).Não vinga, contudo, o apelo.O Exmo. Desembargador Humberto Theodoro Júnior, aposentado do Tribunal de Justiça de Minas Gerais, em sua obra Dano Moral, preleciona: “Viver em sociedade e sob o impacto constante de direitos e deveres, tanto jurídicos como éticos e sociais, provoca, sem dúvida, freqüentes e inevitáveis conflitos e aborrecimentos, com evidentes reflexos psicológicos, que, em muitos casos, chegam mesmo a provocar abalos e danos de monta. Para, no entanto, chegar-se à configuração de dever de indenizar, não será suficiente ao ofendido demonstrar sua dor. Somente ocorrerá a responsabilidade civil se se reunirem todos os seus elementos essenciais: dano, ilicitude e nexo causal". Mais adiante, acrescenta: “Enfim, entre os elementos essenciais à caracterização da responsabilidade civil por dano moral, hão de incluir-se, necessariamente, a ilicitude da conduta do agente e a gravidade da lesão suportada pela vítima... Quanto à prova, a lesão ou dor moral é fenômeno que se passa no psiquismo da pessoa e, como tal, não pode ser concretamente pesquisado. Daí porque não se exige do autor da pretensão indenizatória que prove o dano extrapatrimonial. Cabe-lhe apenas comprovar a ocorrência do fato lesivo, de cujo contexto o juiz extrairá a idoneidade, ou não, para gerar dano grave e relevante, segundo a sensibilidade do homem médio e a experiência da vida” (obra citada, 4ª edição, 2001, Ed. Juarez de Oliveira, pp. 6 e 8).A prova oral, se bem examinada, apenas em parte conforta a alegação, feita na petição inicial, de conduta reprovável por parte do superior hierárquico que teria ofendido o recorrente com palavras de baixo calão e expressões vulgares.O Sr. Romaldo Kilian, colega de trabalho do recorrente, informa (fl. 292): “atualmente o supervisor de graxaria é o Sr. Osvaldo e anteriormente era o Sr. Egídio; o depoente em uma oportunidade foi pedir orientação sobre um serviço ao Sr. Egídio sendo que este foi agressivo com o depoente usando palavras como ‘burro’, ‘corno’ e ‘filho da p...’; em relação a reclamante o depoente não pode afirmar uma vez que nunca ouviu ou presenciou o Sr. Egídio dirigindo-se

volta ao índicecom palavras de baixo calão (...) todos os empregados do setor de graxaria faziam queixa do tratamento recebido do supervisor Egídio; o depoente ouviu conversas de que alguns

29

:: Ano II – Edição Especial nº 7 ::

ASSÉDIO MORAL E ASSÉDIO SEXUAL 1ª PARTE: DECISÕES DO TRT DA 4ª REGIÃO

empregados fizeram reclamação junto à direção da empresa; Romildo dos Santos e Pedrinho da Silva comentaram que Egídio teria sido desligado da empresa em razão dos palavrões que falava no setor de trabalho; Egídio foi supervisor da graxaria por um período aproximado de dois a três anos; no início Egídio não tinha muito conhecimento do setor, sendo que com o passar do tempo começou a dizer que era ele quem mandava e passou a adotar um tratamento mais desrespeitoso; nos últimos meses de trabalho de Egídio a situação era cada vez pior; Egídio costumava jogar carta com os empregados do setor no intervalo, sendo que então também falava palavrão, mas com menos freqüência; o reclamante também jogava carta” (sic - grifou-se).Nesse sentido, também, o depoimento do Sr. Gerson Padilha (fl. 293): “era uma situação constante o uso de palavrões pelo supervisor Egídio quando se dirigia aos empregados como: ‘filho da p...’, ‘corno’ e ‘vagabundo’; Egídio usava essas expressões quando dava ordens e quando ficava irritado; o tom usado nesses palavrões não era de brincadeira; houve uma queixa de empregados junto à direção da empresa envolvendo a conduta de Egídio, sendo que o próprio confessou para o depoente de que provavelmente seria demitido em razão de denúncia; Osvaldo, atual supervisor, também comentou que Egídio foi desligado principalmente em razão da forma como tratava os empregados no setor; o depoente não fez nenhuma queixa à direção da empresa envolvendo Egídio; em relação ao depoente Egídio não usava esses palavrões; o depoente até comentou com Egídio de que eram muito pesadas as palavras usadas em relação aos empregados do setor; essa conduta de Egídio passou a ser mais freqüente no último ano de trabalho na empresa; a empresa reclamada através de sua direção não estimula condutas como a do Sr. Egídio; em casos de agressões físicas ocorreram demissões por justa causa, mas que não lembra de nenhum caso de demissão por agressão verbal; Romildo dos Santos é dirigente sindical, sendo que foi o primeiro a fazer queixa à administração; depois também foi chamado o reclamante para ser ouvido a respeito; não lembra de outros empregados que tenham feito queixa perante à direção da empresa” (grifou-se).Não obstante comprovado o fato alegado pelo recorrente, tendo havido o uso de expressões impróprias, de baixo calão no tratamento dispensado ao recorrente e seus colegas, não se entende configurado dano capaz de ensejar direito à indenização. O comportamento do aludido supervisor, embora reprovável, não se reveste de ilicitude. A situação descrita pelas testemunhas, outrossim, não revela gravidade suficiente à configuração do dano moral, ainda que possa ter sido constrangedora. Pelos elementos trazidos aos autos, não se pode concluir que o vocabulário chulo utilizado pelo supervisor tenha tido o fim específico de atingir a moral do recorrente. O comportamento descrito decorre, provavelmente, de formação precária adquirida no núcleo familiar. Restou claro pelo depoimento das testemunhas que o linguajar inadequado era utilizado, não apenas em horário de trabalho, mas também nos intervalos, ocasião em que todos participavam de jogos de cartas. Pela análise do contexto onde se sucederam os fatos, não se pode atribuir ao supervisor, além da sua evidente falta de capacidade de integração social, e conseqüentemente ao empregador, a intenção de atingir à honra e a imagem do recorrente; o vocabulário vulgar e inadequado empregado não era direcionado exclusivamente ao recorrente, mas a todos os colegas do setor. Ademais, mesmo que a empresa tenha tomado providências com certa demora, após ter sido comunicada da má-conduta do seu supervisor, é certo que não agiu com benevolência porquanto o supervisor foi demitido pela ora recorrida.O Julgador de origem bem fundamentou a sentença, asseverando: “Desde logo, trata-se de um ambiente de trabalho onde apenas atuam empregados do sexo masculino (setor de graxaria) e onde não existe contato direto com clientes, compradores e com público em geral, como ocorre no caso de um balconista de loja comercial ou de um bancário que atende clientes. O linguajar no ambiente de trabalho do reclamante não é, com certeza, refinado, culto. Como salientado pelas testemunhas, o supervisor que proferia as palavras apontadas como ofensivas ‘jogava cartas’ com o reclamante e os demais empregados no intervalo para os repousos. E com certeza isto fazia com que o próprio tratamento entre o supervisor e os subordinados ficassem bem informal, até mesmo vulgar. O linguajar usado no decorrer do jogo de cartas se transferia para o serviço visto que tudo era feito no mesmo ambiente. Cumpre ter presente que o supervisor acusado usava expressões impróprias, de baixo calão não apenas em relação ao reclamante. E as usava, acima de tudo, sem qualquer motivo específico e sem refletir sobre o verdadeiro sentido das expressões proferidas. (...) Aliás do contrário, não usaria este tipo de palavras para se dirigir aos demais empregados. As palavras eram usadas sem maior reflexão e sem intenção de efetivamente atingir a honra e a imagem do reclamante” (fl. 304).

30

:: Ano II – Edição Especial nº 7 ::

ASSÉDIO MORAL E ASSÉDIO SEXUAL 1ª PARTE: DECISÕES DO TRT DA 4ª REGIÃO

Nega-se, pois, provimento ao recurso, no aspecto.(...)

volta ao índice volta ao sumário

1.13. Relator o Exmo. Juiz Hugo Carlos Scheuermann. 3ª Turma. Processo nº 01369-2003-009-04-00-6 RO. Publicação em 19.12.2005.(...)3. DA INDENIZAÇÃO POR DANO MORALEntendeu o Juízo de origem que a autora não se desincumbiu de seu ônus de prova, não tendo demonstrado nos autos terem realmente acontecido os fatos que dão sustentação ao pedido de indenização por dano moral.Inconformada com a decisão, recorre a reclamante. Sustenta que a prova produzida autoriza a condenação ao pagamento da indenização vindicada na inicial. Diz que restou evidenciado que o Sr. Branco era seu superior hierárquico e que a assediava, convidando-a para jantar e para passar a noite com ele, tendo afirmado em seu depoimento pessoal que tinha medo de perder o emprego. Diz que, ao comunicar o assédio à empresa, foi trocada de setor o que, três meses após, acarretou sua despedida. Assevera que o assédio normalmente ocorre quando a vítima se encontra sozinha com o empregador, sendo normal que os demais empregados da reclamada não o tenham presenciado, o que não quer dizer que este não tenha ocorrido. Destaca que, pela prova oral colhida, restou demonstrado que havia um comentário geral na empresa a respeito do assédio que vinha sofrendo, de modo que, mesmo não ocorrendo na presença de seus colegas, era conhecido por todos, devido até mesmo aos comentários que o próprio Sr. Branco fazia, como demonstrado no depoimento de sua primeira testemunha. Entende, pois, demonstrado o constrangimento sofrido, sendo devida a pretendida indenização por dano moral.Sem razão.O pedido de indenização por dano moral vem amparado no fato alegado de a autora em diversas oportunidades ter sido assediada sexualmente por seu superior direto, Sr. Branco.A respeito do dano moral, antes de se passar à apreciação da prova produzida, cumpre referir que a Constituição Federal, em seu art. 5º, inciso X, dispõe que "São invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurando o direito à indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação." O dano que a reclamante pretende ver reparado é aquele definido doutrinariamente como dano moral direto, que na conceituação de Maria Helena Diniz (Responsabilidade Civil, SP, Saraiva, 1988, p. 73), citada por Glaci de Oliveira Pinto Vargas (in Reparação do Dano Moral - Controvérsias e Perspectivas, Porto Alegre, Ed. Síntese, p.17), "Consiste na lesão a um interesse que visa à satisfação ou ao gozo de um bem jurídico extrapatrimonial contido nos direitos da personalidade (a vida, a integridade corporal, a liberdade, a honra, o decoro, a intimidade, os sentimentos afetivos, a própria imagem) ou nos atributos da pessoa (o nome, a capacidade, o estado de família)". Entende-se, assim, por dano moral todo sofrimento humano que não resulta de uma perda pecuniária, ou seja, é decorrente de lesão de direito estranho ao patrimônio, de difícil mensuração pecuniária, sendo que, na vida profissional, o maior patrimônio ideal do trabalhador é a sua capacidade laborativa que deriva da reputação conquistada no mercado, profissionalismo, dedicação, produção, assiduidade, capacidade, entre outros fatores. Não é esta, no entanto, a situação que ora se verifica, como se depreende da prova testemunhal produzida.A reclamante, em depoimento pessoal, contrariando o que afirmara na inicial, disse que Branco era diretor e não foi seu chefe imediato. Acrescentou que “nunca houve ameaça direta por parte do Sr. Branco no sentido de que se a dpte não fizesse tal coisa seria despedida; que o Sr. Branco nunca exigiu favores sexuais da dpte com a ameaça de despedi-la; que o Sr. Branco convidava a dpte para jantar, o que era recusado por ela, fazendo referencia que tinha medo de perder o emprego; que Branco também dizia que gostaria de passar a noite com a dpte; que quando o problema chegou aos ouvidos de um diretor da empresa, por ter a dpte contado a uma colega, a dpte foi trocada de setor, mudando de gerência, não ficando mais subordinada ao Sr. Branco, mas sim ao Sr. Peter; que após a troca de setor a dpte foi despedida em três ou quatro meses; que Branco, no dia em que foi comunicar a dpte que ela iria trocar de setor, teria dito a ela “já que tu não me quer, vai trocar de setor e agora é por tua conta.” (fls. 931-2).

31

:: Ano II – Edição Especial nº 7 ::

ASSÉDIO MORAL E ASSÉDIO SEXUAL 1ª PARTE: DECISÕES DO TRT DA 4ª REGIÃO

volta ao índiceA primeira testemunha da reclamante afirma que “nunca viu o Sr. Branco assediando a rte; que num determinado dia a autora chegou muito nervosa, chorando e disse para a dpte que tinha sido assediada por Branco, que este teria dito à autora que queria transar com ela; que a dpte ouviu comentário nos corredores de que o Sr. Branco teria dito que iria “comer” a veterinária; que essa veterinária no caso seria a autora, que era a única veterinária do laboratório; que a rte comentou o fato com um colega que levou ao conhecimento do gerente de fomento e este comunicou a um diretor da empresa; que a dpte sabe disso pois o gerente de fomento comentou com ela” (fl. 933).A segunda testemunha da autora, por sua vez, afirma que “ouviu comentários de colegas de trabalho que um diretor da ré, o qual o dpte nem chegou a conhecer, teria assediado a autora sexualmente” (fl. 934).Ora, apesar de afirmarem as testemunhas a ocorrência de comentários de colegas de trabalho acerca da ocorrência de assédio sexual à autora - segundo a primeira testemunha de parte do Sr. Branco e da segunda testemunha apenas de um diretor da empresa, que sequer conheceu -, entende-se, da mesma forma que em primeiro grau, que não restou cabalmente comprovado o alegado assédio sexual sofrido pela autora, destacando-se que os “detalhes” informados pela sua primeira testemunha, emanam de comentários efetuados pela própria autora. Por outro lado, também não há sequer indícios de que a autora tenha sido violada em sua intimidade, vida privada, honra ou imagem, de modo que nenhuma das alegações nas quais a reclamante ampara o pedido de indenização por dano moral restaram comprovadas. Portanto, não se denota dos fatos narrados tenha a reclamada, na pessoa do Sr. Branco, denegrido ou insultado, de forma leviana, a imagem profissional da reclamante.Nesta senda e considerando que o dever de indenizar decorre do nexo de causalidade entre o ato ilícito - não caracterizado -, e a existência de dano - não demonstrado -, impõe-se negar provimento ao recurso ordinário da reclamante no particular.(...)

volta ao índice volta ao sumário

1.14. Relator o Exmo. Juiz José Felipe Ledur. 1ª Turma. Processo nº 00574-2004-016-04-00-3 RO. Publicação em 13.01.2006.

EMENTA: INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL. REVISTA ÍNTIMA VEXATÓRIA. A prática de revista íntima de empregados é vexatória e configura censurável assédio moral no meio ambiente do trabalho e que deve ser indenizado. (...)(...)

2. INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL. REVISTA ÍNTIMA VEXATÓRIA. VALOR ARBITRADOA sentença condenou a reclamada ao pagamento de indenização por dano moral ao fundamento de que a prova oral confirmou a alegação de que eram realizadas revistas íntimas vexatórias no período em que a reclamante trabalhava no cofre, arbitrando o valor em R$ 10.000,00.A reclamada nega a realização de revistas vexatórias e busca a absolvição da condenação ao pagamento de indenização por dano moral.A reclamante sustenta que o valor arbitrado pela sentença não atinge os objetivos da indenização por dano moral, uma vez que insuficiente para reparar o dano e também para punir a agressora. Alega que a prática de revista íntima é vedada pela legislação municipal e que configura mobbing. Pede a majoração para R$ 100.000,00 (cem mil reais).Por partes.Em relação à ocorrência da revista íntima, não há como acolher a tese da reclamada, pois todas as testemunhas corroboraram a tese da reclamante, inclusive a testemunha trazida pela reclamada informou que “Há uma revista específica para os funcionários que trabalham no cofre.” (sic, fl. 384). A negativa por parte da reclamada de ocorrência de revistas no cofre beira a litigância de má-fé.

volta ao índiceTal prática por parte da empregadora configura censurável assédio moral no meio ambiente do trabalho. A esse respeito, bem abordado o tema no acórdão 00064-2003-015-04-00-9, julgado

32

:: Ano II – Edição Especial nº 7 ::

ASSÉDIO MORAL E ASSÉDIO SEXUAL 1ª PARTE: DECISÕES DO TRT DA 4ª REGIÃO

em 20-10-04, em que foi relator o Exmo. Juiz Carlos Alberto Robinson, in verbis: “O assédio moral, embora não se constitua em fato novo, uma vez que é tão antigo quanto o próprio trabalho, somente recentemente vem sendo estudado. É também conhecido como hostilização no trabalho, ou assédio psicológico no trabalho ou também, ainda, como ‘psicoterror, mobbing ou bullying’. Considera-se assédio moral no trabalho a exposição de empregados a situações humilhantes e constrangedoras ao longo da jornada laboral. Humilha-se o empregado fazendo-o sentir-se ofendido, menosprezado, rebaixado, magoado, envergonhado, etc. O empregado passa a sentir-se um ninguém, um inútil, sem qualquer valor.”Superada a questão relativa à ocorrência do dano, passa-se à avaliação do valor da indenização. O juízo do arbitramento da indenização do dano moral segue critério de eqüidade posto que, ao contrário do dano material, é inviável de ser aferido pelo que efetivamente se perdeu e o que se deixou de lucrar. Certo é que o valor arbitrado a título de dano moral deve levar em conta duas finalidades: punir o infrator e compensar a vítima, em valor razoável, o suficiente para que se reprima a atitude lesiva, sem ser um valor inócuo ou que propicie o enriquecimento sem causa. E para tal balizamento utilizam-se critérios de eqüidade. O contexto de fragilidade do trabalhador na própria forma em que entrega sua energia produtiva, ou seja, enquanto cumpre o objeto principal do contrato de trabalho, origina efeitos conexos que dizem respeito justamente à dignidade humana, princípio que, por ser o núcleo central dos direitos fundamentais, deve ser o primeiro a compor a fórmula que o julgador utiliza na atividade de concreção jurídica (arts. 1º, III, e 5º, X, da CF/88).As conseqüências negativas na esfera pessoal da vítima, vale dizer, o dano, são presumíveis, já que atingiram diretamente a honra subjetiva e objetiva da reclamante. De fato, a existência de prejuízo, de dor e indignidade se originou do abalo à honra subjetiva da autora enquanto revistada e “apalpada” diariamente, o que acabou por atingir sua honra objetiva, já que a situação de constrangimento é evidente.A sentença abordou muito bem os critérios a serem considerados para o arbitramento de um valor, porém o fixou aquém do razoável (fl. 395). Assim, considerados o elevado grau de sujeição econômica de trabalhadora mal remunerada (salário de R$ 390,00), o dano à honra, o abalo emocional e a sensação de constrangimento; ainda, que a reclamada é empresa de grande porte do ramo de supermercados (fl. 434), e bem assim as finalidades punitivo-educativo e de compensação à vítima da indenização, considera-se razoável o valor de R$ 25.000,00. Por aproximação, o montante resulta do valor do salário - R$ 390,00 por mês - multiplicado por 10, atendendo-se, ainda, para o fato de que o trabalho no cofre com submissão à situação vexatória ter durado, aproximadamente, 07 (sete) meses (de junho a dezembro de 2003).Por todo o exposto, nega-se provimento ao recurso da reclamada e dá-se provimento parcial ao recurso da autora, para aumentar o valor da indenização por dano moral para R$ 25.000,00.(...)

volta ao índice volta ao sumário

1.15. Relatora a Exma. Juíza Maria Beatriz Condessa Ferreira. 4ª Turma. Processo nº 00035-2005-761-04-00-7 RO. Publicação em 16.01.2006.

EMENTA: RECURSO ORDINÁRIO DO RECLAMANTE. ASSÉDIO MORAL. Hipótese em que a prova testemunhal revela a existência de diversos elementos que, minando a auto-estima do reclamante, contribuíram para que o ambiente de trabalho se tornasse insuportável. O dano moral decorre do fato em si (damnum in re ipsa), não se cogitando de prova da lesão extrapatrimonial, porquanto impossível ingressar na psique da vítima. Recurso provido no tópico.(...)

2. DANO MORALInsurge-se o autor contra o indeferimento do pedido de indenização por dano moral. Sustenta que o reclamante era membro da CIPA e, como não podia ser despedido, passou a ser assediado pela empregadora, a fim de que pedisse demissão.O julgador de origem entende que não há prova de atitudes da reclamada no sentido de desmoralizar ou humilhar o autor.

volta ao índiceAo exame.

33

:: Ano II – Edição Especial nº 7 ::

ASSÉDIO MORAL E ASSÉDIO SEXUAL 1ª PARTE: DECISÕES DO TRT DA 4ª REGIÃO

A testemunha Sidnei Barbosa dos Santos informa que “era supervisor do autor; que o autor era trabalhador e disposto a trabalhar e nunca teve ausências; que o autor tinha o cargo de encarregado e estava sempre trabalhando; que o autor teve um tempo parado porque foi reduzido o número de encarregados e ele não podia ser demitido porque era da CIPA; que então o autor ficou no mesmo setor de trabalho fazendo coisas mas que não eram da função dele, mas ficava trabalhando; que às vezes o autor ficava sentado porque não tinha o que fazer; que o depoente passava as ordens para o autor; que o gerente forçou o depoente a forçar o autor pedir demissão; que o gerente operacional disse que o depoente “tinha que ir lá e demitir aquele vagabundo”; que não tinha nenhum outro problema de relacionamento com os demais colegas do autor; que chegou a comunicar o fato ao autor mas não da forma que o gerente havia pedido; que o fato ficou restrito ao depoente e ao gerente; que os encarregados usavam capacete azul, supervisor capacete branco e os demais hierarquicamente inferior capacete laranja; que não tem certeza se foi na época que foi tirado o capacete azul do autor, mas soube do fato; que o autor chegou a fazer limpeza nessa época no prédio onde o depoente trabalhava, a mando das próprias pessoas dos setores terceirizados; que o autor ficava sentado no lugar onde as pessoas iam fumar quando não tinha atividades, local por onde passavam as pessoas quando iam ao refeitório; que neste lugar o autor ficava por vontade própria; que não lembra se o autor almoçava no refeitório em que o depoente almoçava quando perdeu o cargo de encarregado, mas que o fazia quando era encarregado; que não ouviu hostilidade dos colegas na passagem ao refeitório, em relação ao autor; que não sabe de intervenção do Sindicato nesse caso (…)”.A testemunha Antônio Batista Machado, por sua vez, relata que “via o autor todos os dias lá; que via o autor varrendo por lá; que não presenciou o autor sentado; que desde que o depoente começou lá via o autor varrendo; que acha que era o supervisor dele que o mandava varrer; que não sabe de problemas do autor lá; que o capacete do autor era azul e depois passou para capacete igual ao do depoente, de serviços gerais; que isso ocorreu porque trocaram o setor do autor; que o autor passou de chefe para ajudante; que foi o chefe do autor que trocou ele de função, mas o autor sempre trabalhou e não ficou parado; que não viu ninguém xingar o autor, mas ultimamente ele estava humilhado pela troca de função (…)”.Já a testemunha Vanderlei Nascimento informa que “sabia o autor era encarregado, chegando lá usando capacete azul depois passou para capacete laranja; que o capacete laranja é de hierarquia inferior ao azul; (…) viu várias vezes o autor parado ou sentado lá, mas todo mundo tinha o que fazer; que o autor ficava parado por espontânea vontade”.O depoimento da testemunha Juliano de Morais Fernandes pouco acrescenta, referindo que “o autor usava uniforme padrão, da cor cinza e capacete azul num período e depois passou a usar laranja; que o capacete cor de laranja determina hierarquia inferior ao do azul; que o autor não teve problemas lá naquele setor; que o depoente não sabe de fatos anteriores; que no período do trabalho com o depoente o autor nunca foi mal tratado; que na área do depoente o autor não foi mandado ficar sentado sem trabalho”.O fato de o empregador deixar o empregado sem trabalho, significa dizer que ele não serve mais para a empresa, sendo preferível tê-lo parado do que em atividade. Não se compartilha do entendimento externado pelo magistrado de primeiro grau ao considerar esse fato irrelevante, afirmando que o autor “só ficava sentado quando não havia serviço” (fl. 160). A prova oral indica que apenas o autor ficava sem serviço e, ainda, que os demais empregados presenciavam a sua inação.A testemunha Sidnei Barbosa dos Santos chega a afirmar que o reclamante ficava no caminho do refeitório porque queria. Ora, o reclamante certamente não poderia ficar em outro lugar, ou, pelo menos, não se sentiria bem nesses locais, uma vez que neles havia pessoas trabalhando.Note-se que a testemunha Vanderlei Nascimento diz que todos tinham o que fazer e que o reclamante ficava parado “por espontânea vontade”. A conclusão da testemunha é reflexo da situação a que o reclamante estava submetido. A inação forçada fazia com que todos o vissem como um mau empregado, o que certamente contribuiu para a degradação do ambiente de trabalho e tinha como objetivo fazer com que ele pedisse demissão.

volta ao índiceA relação de emprego abrange não só a obrigação de o empregador pagar o salário, mas também a de o indivíduo prestar trabalho. O reclamante tem direito, pois, de laborar. A empresa ao pagar os salários tão-somente coloca o trabalhador em situação de inferioridade com relação aos demais. Não se acolhe o argumento ventilado no contra-arrazoado de que “tal situação não gerou qualquer prejuízo ao autor que recebeu corretamente seus salários” (fl. 263).

34

:: Ano II – Edição Especial nº 7 ::

ASSÉDIO MORAL E ASSÉDIO SEXUAL 1ª PARTE: DECISÕES DO TRT DA 4ª REGIÃO

A intenção da reclamada, de forçar o seu afastamento do emprego, se torna evidente e é agravada pelo fato de o empregador ter sugerido o pedido de demissão, como referido pela testemunha Sidnei Barbosa dos Santos. Ainda que a testemunha afirme não ter mencionado ao reclamante as palavras do gerente, que o chamou de “vagabundo”, não há como deixar de ver que isso humilha e desestimula o trabalhador.Aliado a todos esses fatos, foi o reclamante “rebaixado”. Em circunstâncias normais, a reversão do reclamante para a função anterior, deixando de ser supervisor para voltar a trabalhar como ajudante, se enquadraria no exercício do jus variandi do empregador. Na presente situação, no entanto, diante de todas as circunstâncias que se verifica, é mais um elemento que serve para dar o recado ao trabalhador de que ele não serve para a empresa e que melhor seria se ele pedisse demissão.Essa atitude do reclamado, que expõe o reclamante a situação incômoda e humilhante, a fim de buscar a saída espontânea de quem possui garantia no emprego, configura o assédio moral.A vítima, nesse caso, não é apenas o trabalhador individualmente considerado, mas também a coletividade. O reclamante era membro da CIPA e, por esse motivo, possuía garantia no emprego. A permanência dele no ambiente de trabalho era assegurada não como um benefício individual, mas como uma garantia para o livre exercício de suas atribuições. A garantia conferida ao membro da CIPA tem o objetivo de resguardar quem exerce essa importante função das pressões do empregador. A atitude do reclamado, portanto, foi contra o autor e também contra o conjunto dos trabalhadores que laboravam na empresa.

Nas palavras de Marie-France Hirigoyen, o assédio moral corresponde a “qualquer conduta abusiva (gesto, palavra, comportamento, atitude...) que atente, por sua repetição ou sistematização, contra a dignidade ou integridade psíquica ou física de uma pessoa, ameaçando seu emprego ou degradando o clima de trabalho” (apud, Cláudio A. C. de Menezes, Assédio Moral e seus Efeitos Jurídicos, in Revista do TST, vol. 68, nº 3, jul./dez. 2002, p. 190). Nessa senda, a inação forçada, o rebaixamento e todas as condutas tendentes a fazer com que o reclamante pedisse demissão configuram assédio moral, passível de indenização, conforme a jurisprudência: Assédio Moral. Contrato de Inação. Indenização por Dano Moral. A tortura psicológica, destinada a golpear a auto-estima do empregado, visando forçar sua demissão ou apressar a sua dispensa através de métodos que resultem em sobrecarregar o empregado de tarefas inúteis, sonegar-lhe informações e fingir que não o vê, resultam em assédio moral, cujo efeito é o direito à indenização por dano moral, porque ultrapassada o âmbito profissional, eis que minam a saúde física e mental da vítima e corrói a sua auto-estima. No caso dos autos, o assédio foi além, porque a empresa transformou o contrato de atividade em contrato de inação, quebrando o caráter sinalagmático do contrato de trabalho, e por conseqüência, descumprindo a sua principal que é a de fornecer trabalho, fonte de dignidade ao empregado. Recurso improvido. (TRT 17a R., RO 1315.2000.00.17.00-1, apud, Cláudio A. C. de Menezes, op. cit., p. 195)

volta ao índiceEm virtude da natureza do dano, é desnecessária a prova do prejuízo, sendo a responsabilidade decorrente do simples fato da violação. Melhor dizendo, “o dano moral está ínsito na ilicitude do ato praticado, decorre da gravidade do ilícito em si, sendo desnecessária sua efetiva demonstração, ou seja, como já sublinhado: o dano moral existe in re ipsa” (STJ, 1ª Turma, REsp 608.918/RS, Rel. Ministro José Delgado, julgado em 20.05.04, DJ 21.06.04, p. 176).A indenização pelo dano moral, por sua vez, busca compensar a lesão a um interesse extrapatrimonial, sem equivalência econômica. Portanto, a indenização consiste em compensar, no plano econômico, a lesão sofrida, buscando dar uma sensação de satisfação à vítima do dano, que deve corresponder, também, a uma sanção para o ofensor, a fim de desencorajar a reincidência. Conforme Xisto Tiago de Medeiros Neto, “Enquanto no dano patrimonial o dinheiro assume preponderante função de equivalência, ou seja, com alguma exatidão cumpre o objetivo de restabelecer o patrimônio afetado, no dano moral o dinheiro presta-se a outra finalidade, pois, não sendo o equivalente econômico da recomposição do bem lesado, corresponderá a uma satisfação de ordem compensatória para a vítima” (Dano Moral Coletivo. São Paulo: LTr, 2004, p. 79).A compensação de natureza econômica, já que o bem atingido não possui equivalência em dinheiro, se sujeita à prudência do julgador, conforme um critério de razoabilidade.Atualmente, não mais se admite a tarifação do dano. Abandonando os critérios adotados pela legislação anterior, que buscavam encontrar uma fórmula matemática capaz de resolver o problema (art. 1.547, parágrafo único, do Código Civil de 1916) - o Código Civil de 2002 fala, em

35

:: Ano II – Edição Especial nº 7 ::

ASSÉDIO MORAL E ASSÉDIO SEXUAL 1ª PARTE: DECISÕES DO TRT DA 4ª REGIÃO

seu art. 953, que o juiz fixará “eqüitativamente” o valor da indenização nas hipóteses de injúria, difamação ou calúnia.Tomando como base os valores deferidos por este Regional em casos semelhantes - p. ex., RO 00394-2003-027-04-00-4, Relator Juiz Hugo Carlos Scheuermann, DJE 14.10.04, e RO 01131-2001-402-04-00-7, Relator Juiz Carlos Alberto Robinson, DJE 05.05.04 - não se mostra excessiva a quantia postulada pelo reclamante na petição inicial (trinta salários mínimos, item “f” da fl. 8).Condena-se a reclamada, pois, ao pagamento de R$ 7.800,00 a título de indenização por dano moral.

(...)

volta ao índice volta ao sumário

1.16. Relator o Exmo. Juiz João Ghisleni Filho. 2ª Turma. Processo nº 01005-2004-662-04-00-5 RO. Publicação em 31.01.2006.

EMENTA: (...) RECURSO ORDINÁRIO DA RECLAMANTE. RECURSO ORDINÁRIO DA RECLAMADA. MATÉRIA COMUM. ASSÉDIO MORAL CONFIGURADO. QUANTUM INDENIZATÓRIO. MAJORAÇÃO. Assédio moral é toda e qualquer conduta abusiva (comportamentos, jeitos, atos ou palavras) que pode trazer dano à personalidade, à integridade física ou psíquica, à dignidade do trabalhador, colocando o emprego em perigo ou degradando o meio ambiente de trabalho. Hipótese em que os exemplos de assédio moral estão perfeitamente caracterizados nos autos: supervisão excessiva, críticas cegas e genéricas, perseguição, ofensas, enfim, desvalorização total do trabalho realizado. Provimento negado ao recurso ordinário da reclamada e concedido parcialmente ao apelo da reclamante para, frente à natureza do abalo moral sofrido, a gravidade e a extensão (por anos) do referido dano e, ainda, a boa capacidade econômica da ofensora, elevar a reparação devida, de caráter pedagógico e razoável, para R$ 20.000,00. Diante da generalidade da conduta patronal atestada nos comunicados das fls. 25/30, determina-se, ainda, a expedição de ofício ao Ministério Público do Trabalho.(...)

III - RECURSO ORDINÁRIO DA RECLAMANTE. RECURSO ORDINÁRIO DA RECLAMADA. MATÉRIA COMUM. ASSÉDIO MORAL. QUANTUM INDENIZATÓRIO.A sentença reconheceu o dano (assédio moral) e condenou a DIMED S.A. Distribuidora de Medicamentos a pagar à obreira o montante reparatório de R$ 5.000,00, arbitramento feito em razão da boa condição social da vendedora e no intuito pedagógico de prevenir condutas semelhantes.Ambas as partes mostram-se inconformadas com o decisum.A reclamante busca majoração do valor; a ré, ao seu turno, a exclusão desta condenação.A autora ressalta que ficou exposta à agressão durante toda a contratualidade, que a reclamada é empresa de grande porte (pertencente ao Grupo PANVEL de farmácias) e que a quantia deferida não contempla de forma adequada o binômio punição/compensação. Postula uma reparação na ordem de 3 salários médios (cerca de R$ 3.000,00 mensais) por ano (mais de sete) de trabalho.

volta ao índiceA ré destaca que as comunicações eram remetidas, em igual teor, a todos os vendedores , de forma generalizada, de sorte que em nenhum momento ficou provado que as “lembranças” da chefia dirigiam-se especialmente à reclamante, empregada que sempre atingia suas metas e, portanto, tinha comprovadamente desempenho satisfatório. Aduz que, ao longo de muitos anos, apenas quatro correspondências enérgicas foram “pinçadas”, amostragem que não refletiria o verdadeiro tom das correspondências, feitas mensalmente por cerca de 8 a 10 vezes sem qualquer redação infeliz. Pretende absolvição no particular.

36

:: Ano II – Edição Especial nº 7 ::

ASSÉDIO MORAL E ASSÉDIO SEXUAL 1ª PARTE: DECISÕES DO TRT DA 4ª REGIÃO

Examina-se.Recentemente, agora em 2005, o C. TST esclareceu de vez, nos autos do RR nº 40829/2002-900-02-00.8, os requisitos indispensáveis para a configuração do dano moral, a saber, nos dizeres do Ministro Relator Gélson de Azevedo: “A responsabilidade civil do empregador pela indenização decorrente de dano moral pressupõe a existência de três requisitos: a prática de ato ilícito ou com abuso de direito (culpa ou dolo), o dano propriamente dito (prejuízo material ou o sofrimento moral) e o nexo causal entre o ato praticado pelo empregador ou por seus prepostos e o dano sofrido pelo trabalhador”.A teor dos arts. 932 e 933 do Código Civil pátrio vigente, são também responsáveis pela reparação civil “o empregador ou comitente, por seus empregados, serviçais e prepostos, no exercício do trabalho que lhes competir, ou em razão dele” (inciso III do art. 932), respondendo pelos atos praticados pelos terceiros ali referidos “as pessoas indicadas nos incisos I a V do artigo antecedente, ainda que não haja culpa de sua parte” (grifos nossos).Hodiernamente, portanto, não há que falar mais nem na culpa presumida, antes consagrada na Súmula nº 341 do E. STF, verbis: “É presumida a culpa do patrão ou comitente pelo ato culposo do empregado ou preposto”: a responsabilidade, agora, é objetiva por força legal.O nexo de causalidade e o dano, por sua vez, estão estampados no processo.Note-se, resumidamente, o teor da correspondências “motivacionais” comprovadamente recebidas pela reclamante: “Vá trabalhar na concorrência [...] Só que trabalhar não é passar o dia entregando mercadoria”; “Você pode ser tudo na vida, menos vendedor, é melhor procurar outra profissão”; “Semana retrasada demitimos o vendedor da Zona 51, semana passada demitimos o vendedor da Zona 02, quem será o próximo ?” “Com tantas promoções, ofertas e oportunidades, sair do cliente sem vender nada é o mais absoluto atestado de incompetência” “Não entendo!!! Entendo menos ainda que ainda continuo encontrando vendedor “barata tonta” (observem que nossa equipe está mudando algumas “caras” e não é por acaso)” “Vamos ver quem é quem? [...] Quem avisa amigo é” (fls. 25/30)O empregado responsável pela instauração do terror, Sr. Luis Eduardo Nôbrega da Silva, ouvido em reclamatória similar (prova emprestada às fls. 171/172), confessa que a criação dos comunicados foi mesmo autoria sua, bem como que “eram direcionados a todos os integrantes das equipes de venda”.A reclamante, em seu depoimento pessoal, igualmente admite que recebia as aludidas comunicações, tendo ressaltado que “sentia o seu emprego ameaçado em razão do conteúdo” (fl. 172).Ora, com efeito, ao contrário do quanto sustentado no apelo patronal, bastaria uma única “lembrança ameaçadora” nos termos em que levado a cabo pela ré para que a vida da trabalhadora restasse frontalmente abalada ao longo da contratualidade.O assédio moral havido apresenta-se, pois, inegável.A empregada, como se sabe, está subordinada ao jus variandi e ao poder diretivo do empregador, o que não quer dizer que estes não encontrem limites justamente na dignidade da pessoa humana, consagrada, desde 1988, como fundamento primeiro da nossa Carta Ápice.Assédio moral, segundo a melhor doutrina, é toda e qualquer conduta abusiva (comportamentos, jeitos, atos ou palavras) que pode trazer dano à personalidade, à integridade física ou psíquica, à dignidade do trabalhador, colocando o emprego em perigo ou degradando o meio ambiente de trabalho.Os exemplos de assédio moral estão perfeitamente descritos nestes autos: supervisão excessiva, críticas cegas e genéricas, perseguição, ofensas, enfim, desvalorização total do trabalho realizado.

volta ao índiceA matéria não é nova neste Tribunal, conforma se depreende da ementa infra: “Dano Moral. Configura-se situação de assédio moral o constrangimento de subordinada a carinhos não solicitados e indesejados, no ambiente de trabalho, associado à cobranças públicas de regularização de situação financeira particular e dissociada da empresa. Valor. Conforme parâmetros postos pelo E. STJ, o valor da indenização por danos morais deve atender não apenas a reparação, mas também o critério pedagógico e o critério punitivo. Majoração para R$ 50.000,00.” (Rel. Drª Beatriz Zoratto Sanvicente, RO nº 00967.013/00-3, publicado em 09/06/2003).Vale reproduzir, porque emblemática, trechos da exposição dos motivos do PROJETO DE LEI nº 4.742, DE 2001, ainda em trâmite no Congresso Nacional, que acrescenta o art. 136-A ao

37

:: Ano II – Edição Especial nº 7 ::

ASSÉDIO MORAL E ASSÉDIO SEXUAL 1ª PARTE: DECISÕES DO TRT DA 4ª REGIÃO

Código Penal Brasileiro, instituindo o crime de assédio moral no trabalho: "Art. 136-A. Depreciar, de qualquer forma e reiteradamente a imagem ou o desempenho de servidor público ou empregado, em razão de subordinação hierárquica funcional ou laboral, sem justa causa, ou tratá-lo com rigor excessivo , colocando em risco ou afetando sua saúde física ou psíquica. Pena - detenção de um a dois anos.” “Com o passar dos tempos e a visualização humanística do ser humano a força do trabalho, ao lado do capital, recursos naturais e tecnologia, passou a ser considerada fator nobre de produção. A lendária figura do feitor, que chegava até a impor sanções físicas, foi substituída pelo líder administrativo, pessoa com conhecimentos de organização e relações humanas. Ao trabalhador foi assinada jornada determinada de trabalho, previdência, descanso e lazer, integrados de modo a assegurar-lhe qualidade de vida. Políticas de incentivos buscam reconhecer-lhe o mérito e dar-lhe prestígio integrando-o cada vez mais na organização. Ocorre, muitas vezes, na prática, que até a saúde do trabalhador é destruída pela violência cometida por alguns empregadores ou chefes, inclusive no serviço público. Não cogitamos da violência corporal ostensiva, já devidamente contemplada na lei penal. Referimo-nos à violência consubstanciada no comportamento abusivo que atinge o psicológico e emocional do cidadão. É a prática reiterada que é temperada o mais das vezes pela ironia, mordacidade e capricho, com evidente desvio de poder. Ditados por razões de ordem interna, mas sob a aparente máscara de exercer a autoridade ditada pelo serviço, o chefe passa a tomar atitudes tendenciosas e discriminatórias contra o indigitado empregado, submetendo-o a um verdadeiro festival de torturas. E este, por temor de perder o emprego ou sofrer outro gravame, deixa-se crucificar. As conseqüências afloram posteriormente, sob a forma de doenças psicossomáticas, inclusive. A gravíssima situação já foi diagnosticada pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) e os estudos por ela apresentados demonstram que, na União Européia 9% (nove por cento) dos trabalhadores, o que correspondem a 13.000,000 (trezentos milhões) de pessoas, convivem com o tratamentos tirânicos de seus patrões. Estima-se que entre 10% (dez por cento) e 15% (quinze por cento) dos suicídios na Suécia sejam decorrentes desse comportamento abusivo. No Brasil, o fato foi comprovado por estudos científicos elaborados pela Dra. Margarida Barreto, médica do trabalho e pesquisadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, conforme nos noticia a revista Cláudia/abril/2001/p.116. Em estudo preparado em dois anos e meio de pesquisas constatou, a referida médica, que nas consultas por ela realizadas em sindicatos, as pessoas queixavam-se de males generalizados. Aprofundando suas análises verificou que 80% (oitenta por cento) dos entrevistados sofriam dores generalizadas, 45% (quarenta e cinco por cento) apresentavam aumento de pressão arterial, mais de 60% (sessenta por cento) queixavam-se das palpitações e tremores e 40% (quarenta por cento) sofriam redução da libido. Vale a pena transcrever quadro tabulado, originado ainda dessa pesquisa, que demonstra a maneira como o homem e a mulher respondem à provocação dos seus chefes, provocação esta já denominada assédio moral.

volta ao índice

Sintomas Mulheres HomensCrises de choro 100 -Dores generalizadas 80 80Palpitações, tremores 80 40Sentimento de inutilidade 72 40Insônia ou sonolência excessiva 69,6 63,6Depressão 60 70Diminuição da libido 60 15Sede de vingança 50 100Aumento da pressão arterial 40 51,6Dor de cabeça 40 33,2Distúrbios digestivos 40 15Tonturas 22,3 3,2Idéia de suicídio 16,2 100Falta de apetite 13,6 2,1Falta de ar 10 30Passa a beber 5 63Tentativa de suicídio - 18,3

38

:: Ano II – Edição Especial nº 7 ::

ASSÉDIO MORAL E ASSÉDIO SEXUAL 1ª PARTE: DECISÕES DO TRT DA 4ª REGIÃO

A conduta que pretendemos tipificar como crime caracteriza-se pela reiteração de atos vexatórios e agressivos à imagem e a auto-estima da pessoa. Cite-se, como exemplo, marcar tarefas impossíveis ou assinalar tarefas elementares para a pessoa que desempenha satisfatoriamente papel mais complexo; ignorar o empregado, só se dirigindo a ele através de terceiros; sobrecarregá-lo com tarefas que são repetidamente desprezadas; mudar o local físico, sala, mesa de trabalho para outro de precárias instalações, como depósito, garagens, etc. Acreditamos ter demonstrado, com elementos concretos, a existência de uma conduta nociva e perigosa que urge coibir. Tivemos, recentemente, a aprovação pelo Congresso da lei do assédio sexual, que busca coibir comportamento que tem estritas relações de semelhança com o crime que pretendemos catalogar (Lei nº 10.224, de 15 de maio de 2001). Essa manifestação do Legislativo demonstra sua disposição inequívoca de coibir atos aos quais, até bem pouco tempo, não era dada a devida importância. De todo o exposto, temos certeza de que os nobres colegas, sensíveis à grave situação descrita, hipotecarão total solidariedade à aprovação do presente PL.”. (http://www.assediomoral.org/).Ainda, importante referir que são inúmeros os valores inerentes à personalidade do homem, imateriais, que merecem reparação quando afetados. A tutela dos interesses morais está hoje definitivamente consagrada no ordenamento jurídico pátrio, através do art. 5º, inciso V e X da Constituição da República, editada em 1988: "V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material moral ou à imagem; (...) X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação."Como se vê, os indigitados incisos do dispositivo constitucional supra citado, efetivamente, consagram "o direito à reparação de ofensa a interesses morais, sem qualquer exigência à eventual necessidade de repercussão econômica para a respectiva indenizabilidade, contentando-se, pois, com o simples fato da violação" (in Instituições Civis no Direito do Trabalho, Alexandre A. Belmonte, 2ª edição, Ed. Renovar).De outra parte, a conceituação do dano moral é matéria examinada com profundidade na doutrina civil. Inúmeros são os conceitos, destacando-se, todavia, devido à sua consistência, aquele adotado por JOSÉ DE AGUIAR DIAS segundo o qual o dano moral consiste "na penosa sensação da ofensa, na humilhação perante terceiros, na dor sofrida, enfim, nos efeitos puramente psíquicos e sensoriais experimentados pela vítima do dano, em conseqüência deste, seja provocada pela recordação do defeito ou da lesão, quando não tenha deixado resíduo mais concreto, seja pela atitude de repugnância ou de reação ao ridículo tomada pelas pessoas que o defrontam." (citação feita por Beatriz Della Giustina, no artigo Dano Moral: Reparação e Competência Trabalhista, Rev. Trabalho & Doutrina, Ed. Saraiva, setembro/96, pág. 5).

volta ao índice

Como se vê, o dano moral surte efeitos na órbita interna do ser humano, causando-lhe uma dor, uma tristeza ou qualquer outro sentimento capaz de lhe afetar o lado psicológico, atingindo a esfera íntima e valorativa do lesado. Consiste na afronta ao código de ética de cada indivíduo, com repercussão na ordem social.Desta forma, tem-se que as ameaças promovidas pela reclamada, principalmente a partir de julho de 2001, momento em que o agressor passou à condição de gerente comercial em Passo Fundo (depoimento à fl. 171), ofenderam a autora - comprovadamente boa vendedora - na sua honra e dignidade, mesmo porque a ré a colocava em pé de igualdade com outros colegas com desempenho inferior (e que, como já referido, nem por isso assim poderiam ser tratados), causando-lhe, a toda evidência, conforme muito bem apanhado pelo d. magistrado de primeiro grau, um escorreito abalo moral.Caracterizado, assim, o dano moral, impõe-se a manutenção da sentença que responsabilizou a reclamada pelo dano causado.Contudo, quanto à fixação da indenização, entende-se que, frente à natureza do abalo moral sofrido, a gravidade e a extensão (por anos) do referido dano e, ainda, a boa capacidade econômica da ofensora, afigura-se razoável uma majoração condenatória, de caráter pedagógico, para R$ 20.000,00.Assim, nega-se provimento ao recurso ordinário da reclamada e dá-se parcial provimento ao recurso ordinário da reclamante para estabelecer em R$ 20.000,00 a reparação moral devida no caso dos autos.

39

:: Ano II – Edição Especial nº 7 ::

ASSÉDIO MORAL E ASSÉDIO SEXUAL 1ª PARTE: DECISÕES DO TRT DA 4ª REGIÃO

Diante da generalidade da conduta patronal atestada tanto nos comunicados das fls. 25/30 como também na prova emprestada de fls. 171/173, e forte nos art. 127 da Carta Maior, 82, III, do CPC e 83, II, da LC 75/93, determina-se, ainda, a expedição de ofício ao Ministério Público do Trabalho para que tome as providências que entender de direito.(...)

volta ao índice volta ao sumário

1.17. Relatora a Exma. Juíza Rosane Serafini Casa Nova. 6ª Turma. Processo nº 00255-2001-026-04-00-2 RO. Publicação em 03.02.2006.

EMENTA: (...) INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL. MAJORAÇÃO. Frente a gravidade da conduta do superior hierárquico das reclamadas, submetendo a autora a constrangimentos e humilhações e, ainda, considerando o caráter punitivo e pedagógico da indenização imposta, majora-se o valor da indenização para R$ 50.000,00. (...)(...)

1. INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL. MAJORAÇÃO.Busca a recorrente a majoração do valor fixado a título de indenização por danos morais decorrente de assédio sexual. Sustenta que o valor fixado, de R$ 5.000,00 não tem valor pedagógico, haja vista a condição de empresa multinacional das reclamadas. Requer a observância dos parâmetros utilizados pelo STJ para fixação do montante da indenização.Merece prosperar o recurso.Ficou demonstrado nos autos que a autora sofreu assédio sexual em razão da conduta abusiva e imprópria do superior hierárquico, consistente em “tentativas de tocar o seio”, fazer “sentar no colo”, “convites para sair”, submetendo a autora a constrangimentos e humilhações. Tais atitudes, segundo revelam as cópias das sentenças das fls. 464/568, ocorriam com outras funcionárias, não havendo notícias nos autos de providências das reclamadas para solucionar o problema.

volta ao índice

Assim, levando em consideração a gravidade do dano, bem como o caráter punitivo e pedagógico dessas indenizações, haja vista que tem por escopo forçar as empresas a tomarem providências no sentido de evitar tais atitudes no ambiente de trabalho, tem-se que o valor arbitrado à indenização, sem dúvida, é insuficiente frente ao dano moral sofrido. Majora-se o valor arbitrado para R$ 50.000,00. A propósito da matéria, cita-se trecho do acórdão nº 00967.013/00-3, julgado por esta Turma, da lavra da Juíza Beatriz Zoratto Sanvicente, em processo que envolveu as mesmas reclamadas “O Juízo de origem fixou a indenização em R$ 5.000,00. Tendo em vista a remuneração outrora auferida pela autora, pode até se afigurar valor passível de apreciação. Todavia, restaram totalmente esvaziados o caráter punitivo e o caráter pedagógico. A empresa Losango, integrante de grupo econômico capitaneado pelo Lloyds TSB Bank PLC, cujo capital social remonta ao banco em mais de 80%, efetivamente detém ativo realizável para fazer frente a indenizações muito mais vultosas sem comprometer em nada sua estrutura, seu patrimônio ou até mesmo a gestão de seus negócios. Assim, impende fixar a indenização num critério de razoabilidade e proporcionalidade, atendendo tanto o caráter punitivo e pedagógico como a satisfação da reclamante em ver indenizada, por não ser possível de resolver de outra forma, a angústia e sofrimento experimentados na relação empregatícia então mantida. Não que a dor seja quantificável - discussão antiga em se tratando de dano moral -, porém, tendo em vista a impossibilidade do retorno ao status quo ante, somente o pagamento de indenização é capaz de estender à parte lesada uma espécie de pequena compensação. Tomamos como critério os parâmetros de valor jurisprudencialmente consagrados na seara das lesões aos direitos de personalidade. Nesse sentido, o seguinte aresto, oriundo do E. STJ, pretório que não apenas examina com mais freqüência a matéria, mas também é a última instância para discussão de valores de indenizações a tal título e, justamente por isso, norteia os valores a serem pagos em matéria de dano moral: “De qualquer forma, se o caso é de reexaminar a fixação do valor, estou em manter a proposta do eminente Ministro Relator. Trata-se de um engenheiro, que dirigia a obra, objeto da contratação, impedido de exercer ato da sua profissão

40

:: Ano II – Edição Especial nº 7 ::

ASSÉDIO MORAL E ASSÉDIO SEXUAL 1ª PARTE: DECISÕES DO TRT DA 4ª REGIÃO

no cumprimento do contrato. Não se tratava de um simples técnico, mas de um administrador. Em razão disso, penso eu, deve ser especialmente ponderada a condição pessoal de quem sofreu o dano e, também, a causa que determinou a proibição, isto é, indevida e abusiva represália contra quem ousou deduzir em juízo a reclamatória trabalhista. Diante disso, e das condições pessoais do lesado, não vejo nenhum absurdo em que se atribua R$ 50.000,00 (cinqüenta mil reais) a título de indenização por ter sido o autor impedido não só de exercer a sua profissão, mas também de cumprir o contrato de terceirização.” (REsp Nº 309.725 - MA (2001/0029313-1), Excerto do voto do Exmo. Ministro Ruy Rosado de Aguiar, 4ª Turma, STJ, DJU 19.12.2002). “No mais, é da jurisprudência deste Tribunal que o arbitramento do valor indenizatório por dano moral pode ser analisado em sede de recurso especial, desde que o quantum se mostre manifestamente exagerado, ou irrisório, distanciando-se das finalidades da lei. A indenização por dano moral, como tenho assinalado por diversas oportunidades, deve ser fixada em termos razoáveis, não se justificando que a reparação venha a constituir-se em enriquecimento indevido, com manifestos abusos e exageros, devendo o arbitramento operar-se com moderação, proporcionalmente ao grau de culpa, ao porte financeiro das partes e, ainda, às suas atividades profissionais. Há de orientar-se o órgão julgador pelos critérios sugeridos pela doutrina e pela jurisprudência, valendo-se de sua experiência e bom senso, atento à realidade da vida, notadamente à situação econômica atual e às peculiaridades de cada caso. A par destas considerações, e também em face dos pontos colocados em sentença (o ato praticado não teve reflexo direto de natureza econômica ou financeira, o fato ofensivo não teve ampla repercussão, além de que o autor foi demitido amigavelmente por sua empregadora), tenho que a quantia fixada pelo acórdão impugnado se mostra exagerada, notadamente em face dos precedentes deste Tribunal em casos mais graves. Assim, cuidando-se apenas de dano moral, tenho que fica bem para a espécie o valor de R$ 50.000,00 (cinqüenta mil reais), a ser corrigido a partir deste julgamento.” (REsp Nº 309.725 - MA (2001/0029313-1), Excerto do voto do Exmo. Ministro Relator, Sálvio de Figueiredo Teixeira, 4ª Turma, STJ, DJU 19.12.2002)Examinam-se, portanto, as peculiaridades do caso. A reclamante era subordinada ao gerente, e este lhe fazia carinhos não solicitados e tampouco bem vindos, tanto que ajuizou a presente ação. Além do constrangimento de ter seu corpo manipulado por terceiro, no ambiente comum de trabalho e sem seu consentimento, era submetida a cobranças relativas à suas finanças pessoais, fato também reservado à sua esfera íntima. A atitude do gerente para com a reclamante, na condição de sua subordinada direta e empregada da empresa Losango, era de evidente assédio moral, concorrendo ainda a agravante de que a reclamante necessita do emprego para sua subsistência. De outra banda, a empresa Losango, com mais de 80% de seu capital social atribuído ao segundo reclamado é, a bem dizer, uma longa manus do Lloyds Bank, atuando na área de empréstimos pessoais e afins. Conta, portanto, com patrimônio mais do que razoável para fazer frente da indenização fixado pelo E. STJ, em R$ 50.000,00 (cinqüenta mil reais).Cabe referir o caráter punitivo e o caráter pedagógico da indenização arbitrada, razoável ao se considerar tratar-se de empresa da área financeira, integrante de grupo econômico liderado por banco como o segundo reclamado.Dá-se provimento ao recurso da reclamante, no tópico, para elevar o valor da indenização por danos morais a R$ 50.000,00.”Considerando todas as razões expostas acima, provê-se o recurso para fixar o valor da indenização por danos morais em R$ 50.000,00.(...)

volta ao índice volta ao sumário

1.18. Relator o Exmo. Juiz Leonardo Meurer Brasil. 5ª Turma. Processo nº 00472-2005-791-04-00-2 RO. Publicação em 10.02.2006.

(...)MATÉRIA REMANESCENTE EM AMBOS OS RECURSOSDA INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS

41

:: Ano II – Edição Especial nº 7 ::

ASSÉDIO MORAL E ASSÉDIO SEXUAL 1ª PARTE: DECISÕES DO TRT DA 4ª REGIÃO

A reclamada alega que em momento algum ficou caracterizado de forma efetiva o dano moral sofrido pelo reclamante. Reafirma que o reclamante mudou de setor a seu próprio pedido, eis que seu estado de saúde não permitia que trabalhasse no setor em que estava lotado. Alega que não foi comunicada acerca de qualquer recomendação médica para que o reclamante trocasse de setor, mas que tal troca se deu assim que solicitado pelo autor, para o único setor em ambiente seco com vagas disponíveis, não podendo o desempenho de tal função ser considerado uma ofensa à integridade moral do reclamante, já que contratado para desempenhar a função de serviços gerais, que permaneceu desempenhando. Ressalta os depoimentos das testemunhas, no sentido de que as palavras dirigidas ao reclamante eram mera brincadeira entre os funcionários, sequer sabendo ela, reclamada, deste fato, não tendo, pois, a intenção de ofender moralmente o reclamante. Ressalta que é empresa sólida e bem conceituada no mercado correeiro, que emprega atualmente mais de 3.000 funcionários, sendo-lhe impossível exigir que seus funcionários não conversem entre si. Alega que sequer o reclamante trouxe ao seu conhecimento que estava se sentindo incomodado com as brincadeiras feitas pelos funcionários, sequer tendo pedido aos colegas que parassem com elas. Diz que certamente tal fato não lhe causou constrangimento algum, até porque as duas pessoas que faziam as brincadeiras, estranhamente vieram prestar depoimento a seu favor, sem que tenha ficado qualquer mágoa entre os mesmos. Refere que a testemunha José Nilo Fraporti disse que “nunca presenciou algum empregado fazendo brincadeira em razão do trabalho executado pelo A.”. Conclui que não praticou ato ilícito algum quando transferiu o reclamante de setor, a seu próprio pedido, não tendo havido qualquer ofensa à sua imagem ou dignidade quando passou a trabalhar no setor de recolhimento de lixo, uma vez que contratado para desempenhar a função de serviços gerais, objetando que “não é admissível que os funcionários contratados para desempenhar funções de serviços gerais passem a estipular quais os setores em que querem trabalhar, sob pena de se tornar inviável a prestação de certos serviços dentro da empresa”. Requer a reforma da sentença.Já o reclamante alega que o valor fixado a título de indenização por danos morais não se coaduna com a gravidade da falta cometida pelo empregador. Destaca o disposto nos artigos 1º, III, IV, 5º, XXIII, 170, III e 193, todos da CF. Diz que o texto constitucional valorou sobremaneira a dignidade da pessoa, bem como enalteceu o valor social do trabalho, contexto em que consagrou a possibilidade de buscar indenização decorrente de dano moral, material ou da imagem (art. 5º, V, da CF). Em apertada síntese, diz que o dano moral é aquele que atinge os direitos personalíssimos do indivíduo, ou seja, os bens de foro íntimo (honra, liberdade, intimidade e imagem). Transcreve conceitos de assédio moral, concluindo que aquele ocorrido dentro do seu ambiente de trabalho lhe causou graves prejuízos práticos e emocionais, já que foi inferiorizado, hostilizado, ridicularizado e desacreditado perante os demais trabalhadores, conforme prova produzida. Não concorda, pois, com o valor fixado a título de indenização pelo dano moral que sofreu, cujo valor, R$ 2.000,00, alega ser inexpressivo, afirmando que deve ser exemplar e de conteúdo profilático/pedagógico e apreciado, pois, à luz dos artigos 186 do CC, c/c o art. 8º, da CLT. Ressalta que os fatos narrados e provados são graves e exigem reparação eficaz, de tal modo que represente uma sanção suficiente para coibir a repetição desse tipo de ofensa, sugerindo o valor correspondente a 40 (quarenta) salários mínimos, levando-se em conta que a empresa reclamada possui mais de dez filiais, estabelecidas em todo o território nacional. Requer a reforma da sentença.

volta ao índiceSem razão as partes.Cabe ressaltar, inicialmente, que não é o fato de o reclamante ter se sentido incomodado com as brincadeiras feitas pelos funcionários, o fundamento do pedido de indenização por dano moral, mas sim, o de ter passado da função de trinchador e recortador a faxineiro. Apenas posteriormente, e por conta desta alteração na função, é que foi alegado que “... passou a ser alvo de ‘chacotas’, gozações e humilhações de seus colegas de trabalho”, como explicitado na inicial (fl. 03, item 4º).Por outro lado, ainda que não seja o caso, nem de longe, de se admitir que os funcionários contratados para desempenhar funções de serviços gerais passem a estipular quais os setores em que querem trabalhar, é inviável admitir-se que o fato de o empregado ter sido contratado para desempenhar a função de serviços gerais, autoriza que lhe possam ser impostas atividades genéricas, tais como varrer e limpar a área externa e interna da empresa reclamada; recolher o lixo nesta mesma área e recolher o lixo dos banheiros utilizados pelos empregados da empresa reclamada e limpá-los.

42

:: Ano II – Edição Especial nº 7 ::

ASSÉDIO MORAL E ASSÉDIO SEXUAL 1ª PARTE: DECISÕES DO TRT DA 4ª REGIÃO

Quanto ao fato em si, “...o A., ao retornar ao serviço, em 01/03/2005, deveria, por recomendação médica, abster-se de realizar esforços físicos e laborar em setores úmidos; apesar das recomendações médicas, a R. manteve o A. trabalhando em setores com umidade excessiva e sujeito a grande esforço físico; e, em virtude de o A. ter argumentado, com seu superior hierárquico, a impossibilidade de permanecer trabalhando sujeito àquelas condições, lhe foi atribuída a execução de tarefas de varrer e limpar áreas externa e interna do estabelecimento, recolher lixo e limpar banheiros utilizados por outros empregados (...) Tal comportamento, por si só, revela conduta afrontosa à dignidade do A. (...) Ainda que a circunstância de a R. ter atribuído ao A. a execução de tarefas de limpeza e recolhimento de lixo não traduza, por si só, a prática de ato não fundado em exercício regular de direito, os elementos trazidos aos autos revelam que a R. poderia ter optado por lotar o A. em outros setores, certamente mais compatíveis com a função até então desempenhada pelo A. (...) Em decorrência dos referidos atos ilícitos, é certo que o A. teve violados ao menos dois dos bens juridicamente protegidos pela norma constitucional, quais sejam, a sua dignidade e a sua imagem (...)” (sentença, fls. 146-48).Já quanto ao valor fixado a título de indenização, de R$ 2.000,00, que o reclamante alega que não se coaduna com a gravidade da falta cometida pelo empregador, é entendimento deste Relator que o mesmo deve servir de exemplo, com conteúdo profilático e pedagógico, como é o caso, não se prestando a alegação de que a empresa reclamada possui mais de dez filiais, estabelecidas em todo o território nacional, para aumentar referido valor ao equivalente a 40 (quarenta) salários mínimos. Não é porque a empresa reclamada é uma empresa de grande porte, que ela tem que pagar valores mais elevados. O que se discute no processo não é o poderio econômico de uma das partes, mas sim, a existência ou não de dano moral.Nega-se, pois, provimento a ambos os recursos ordinários.(...)

volta ao índice volta ao sumário

1.19. Relatora a Exma. Juíza Maria Beatriz Condessa Ferreira. 4ª Turma. Processo nº 00522-2004-103-04-00-9 RO. Publicação em 17.02.2006.

(...)1. DA INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E MORAIS.O Juízo a quo, entendendo que a autora não provou ter sido vítima de assédio sexual, nem o nexo de causalidade entre a conduta do preposto do reclamado e o tratamento psiquiátrico a que esteve submetida, indeferiu o pleito atinente à indenização por danos materiais e morais.A autora recorre da decisão. Alega que o constrangimento no local de trabalho, mediante carinhos indesejados e cobranças públicas para que regularizasse a sua situação financeira particular, configurou o assédio moral/sexual, causando abalo que a forçou a buscar tratamento psiquiátrico, consoante laudo à fl. 17 e recibo de despesas à fl. 16. Assevera que o presidente do sindicato-reclamado, durante o depoimento das fls. 599/600, admitiu que tinha algumas divergências com a ora recorrente e, quando perguntado a respeito do assédio, foi tomado por absoluto descontrole emocional. Frente a isso, sinala que as testemunhas ouvidas não serviram para infirmar a sua tese, seja porque obviamente a má-conduta do presidente do sindicato-reclamado jamais foi praticada na frente de terceiros, seja porque, estando ainda a trabalhar para a entidade, tiveram medo de sofrer represálias caso denunciassem tal conduta.Não prospera.Na inicial, a autora disse que, no exercício da atividade, era alvo de constante assédio sexual pelo seu chefe imediato, que lhe solicitava fotos e a convidava para viagens, fazia gestos e tentativas de toques, sendo que restou despedida por não ter se rendido aos ataques. Alegou inclusive que, em razão desses, se encontra desde março/02 em tratamento psiquiátrico. Posto isso, pediu fosse o reclamado condenado a indenizar os danos morais, assim como as despesas médicas. Já de plano, pois, por inovatórias à lide, ficam afastadas as alegações recursais que buscam alicerçar o direito à indenização também na ocorrência de assédio moral, configurado pelas “cobranças públicas de regularização de situação financeira particular e dissociada da empresa” (fl. 644).

43

:: Ano II – Edição Especial nº 7 ::

ASSÉDIO MORAL E ASSÉDIO SEXUAL 1ª PARTE: DECISÕES DO TRT DA 4ª REGIÃO

Feita a ressalva, observa-se que o presidente do sindicato-reclamado foi claro ao afirmar que “tinha algumas divergências com a reclamante, principalmente quanto ao imposto de renda que achava que tinha de ser descontado na fonte quando dos pagamentos dela; que nunca convidou a reclamante para viagens e nem contou sonhos; que nunca pediu fotos da reclamante” (fl. 600). Assim, e uma vez que a ata da audiência não consigna registro do alegado descontrole emocional do depoente quando inquirido sobre a prática de assédio (ocorrência tampouco ventilada na sentença proferida pelo juiz que tomara o depoimento), nada se extrai das declarações do presidente do sindicato-reclamado que seja capaz de levar à conclusão de que as divergências desse com a autora não se limitavam às questões de trabalho. Logo, se as divergências também decorriam do “fato da reclamante não atender aos anseios do preposto do reclamado nas suas investidas”, como insinuado à fl. 644 do apelo, a necessidade de a autora produzir prova a respeito manteve-se inalterada.Trazida pelo reclamado, a testemunha Carlos Rodnei Ribeiro Jacondino disse “que o presidente do sindicato é pessoa conceituada na comunidade, estando sempre cheia a sala dele, que atende a comunidade de forma aberta; que não tem conhecimento de ele ter tido algum problema com alguma funcionária” (fl. 601). Já a testemunha Neusa Maria Bohns Blaas, trazida pela autora, afirmou “que nunca nenhum dos dirigentes teve conduta inadequada com a depoente” e que, embora tenha lhe comentado “uma vez (...) que estava sendo assediada pelo presidente do sindicato”, “não sabe se a reclamante teve problemas com algum dos dirigentes do sindicato” (grifa-se) (fl. 600). Não fosse o suficiente, a testemunha Maria Terezinha Schiavon, trazida pelo reclamado e que a autora identificara à fl. 584 como funcionária que também sofria assédio do presidente do sindicato, atestou à fl. 601 “que trabalhou para o reclamado por dois meses (...); que nesse período não teve problemas com o Sr. Geraldo Pegoraro, que não tem conhecimento de que o Sr. Geraldo tenha tido conduta inadequada com alguma funcionária”. Vale destacar que essa última testemunha não mais trabalhava para o reclamado à data em que prestou o depoimento, com o que cai por terra a alegação recursal de que tal prova teria sido contaminada pelo temor de represálias. Na contramão da prova testemunhal que foi uníssona no sentido de que o presidente do sindicato-reclamado não se portou de maneira inadequada, seja com a autora ou com quaisquer funcionárias, entende-se que o laudo psiquiátrico da fl. 17 é insuficiente para, sozinho, autorizar a conclusão em contrário, tanto mais que a opinião da profissional que firmou o documento se baseou nas declarações unilaterais da ora recorrente.Enfim, não tendo a autora produzido prova convincente do fato que atribuiu ao reclamado como fundamento da sua responsabilidade por danos morais e pelo ressarcimento das despesas havidas com tratamento psiquiátrico, está correta a sentença que não acolheu a pretensão.Nega-se provimento.(...)

volta ao índice volta ao sumário

1.20. Relatora a Exma. Juíza Berenice Messias Corrêa. 5ª Turma. Processo nº 00678-2003-011-04-00-5 RO. Publicação em 21.02.2006.

EMENTA: RECURSO ORDINÁRIO INTERPOSTO PELA RECLAMADA. INDENIZAÇÃO DECORRENTE DOS DANOS SOFRIDOS EM RAZÃO DE ASSÉDIO MORAL. Hipótese em que não restou configurado qualquer dano moral, carecendo os autos de elementos probatórios que autorizem concluir pela sua existência, inexistindo relação de causa e efeito entre possíveis atos ou omissões da ex-empregadora e a doença da qual é portadora a reclamante. Recurso provido.(...)1. INDENIZAÇÃO DECORRENTE DOS DANOS SOFRIDOS EM RAZÃO DE ASSÉDIO MORALNão se conforma a reclamada com sua condenação ao pagamento de indenização decorrente dos danos sofridos em razão de assédio moral. Argumenta que não estão presentes os elementos necessários à sua caracterização. Sustenta não ter sido demonstrada sua culpa, nem o alegado dano moral. Reitera pedido de confissão, pela ausência da reclamante à audiência. Sucessivamente, requer que seja diminuído o valor indenizatório, ficando limitado proporcionalmente ao valores auferidos mensalmente pela autora.Com razão.

44

:: Ano II – Edição Especial nº 7 ::

ASSÉDIO MORAL E ASSÉDIO SEXUAL 1ª PARTE: DECISÕES DO TRT DA 4ª REGIÃO

Na petição inicial, pleiteou a reclamante que fosse reconhecida a existência de assédio moral, com o pagamento de uma indenização “pela doença adquirida do trabalho, em função da produção de trabalho, cumprimento de metas, controle por parte de uma equipe, etc”.O MM. Juízo “a quo” deferiu o postulando, arbitrando em R$ 3.000,00 a indenização, pelo fato de que a doença da autora, pelas suas características e implicações no seu estado de humor, conduzia a um superdimencionamento de problemas que, para os outros empregados, talvez passassem desapercebidos, não justificando, contudo o tratamento ríspido que lhe era dispensado pela supervisora de produção (fl. 206).Incontroverso nos autos que a autora sofre de grave problema psiquiátrico, tendo realizado tratamento em razão de transtorno afetivo bipolar em 24.01.03.No caso dos autos buscou a reclamante que fosse caracterizada a sua doença como ocupacional, equiparada ao acidente de trabalho, o que restou afastado pela MM. Juízo de origem, diante, principalmente, do documento da fl. 163, onde a Previdência Social respondeu negativamente ao fato de a doença poder ter sido adquirida no trabalho. Observe-se não ter havido recurso da autora, transitando, pois, em julgado a decisão, neste aspecto.Dano é o prejuízo sofrido por alguém, em conseqüência da violação de um direito. A teor do preceituado no art. 5º, incisos V e X, da Constituição Federal de 1988, é assegurada indenização por dano moral quando violadas a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas. O dano moral incide sobre bens de ordem não material, quando afeta direitos relacionados à personalidade. É o dano sofrido nos sentimentos de alguém, em sua honra, em sua consideração social ou laboral. Os autores costumam enumerar como bens desta natureza a liberdade, a honra, a reputação, a integridade psíquica, a segurança, a intimidade, a imagem, o nome.PINHO PEDREIRA, conceituando dano moral, assim refere: “(...) a única maneira aceitável de conceituar dano moral é fazê-lo de modo negativo, como tal considerando o dano não patrimonial. Está, hoje, bastante generalizada a definição do dano moral como todo e qualquer dano extrapatrimonial”. (O destaque é da Relatora).

volta ao índiceJOÃO ORESTE DALAZEN, citando ROBERTO BRECAI, assim considera dano moral: “aquela espécie de agravo constituída pela violação de algum dos direitos inerentes à personalidade”.Segundo JÚLIO BERNARDO DO CARMO, “in” O Dano Moral e sua Reparação no Âmbito do Direito Civil e do Trabalho, Rev. TRT 3ª R - Belo Horizonte - 25 (54), jul.94/jun.95, págs. 67/115: “São materiais os danos consistentes em prejuízos de ordem econômica suportados pelo ofendido, enquanto os morais se traduzem em turbações de ânimo, em reações desagradáveis, desconfortáveis, ou constrangedoras, produzidas na esfera do lesado. Atingem a conformação física, a psíquica e o patrimônio do lesado, ou seu espírito, com diferentes repercussões possíveis”.O direito à indenização por dano moral está inscrito nos incisos V e X do art. 5º da Constituição Federal de 1988.Todavia, a caracterização do dano moral está ligada à ação culposa ou dolosa do agente, à intenção de prejudicar, imputando-se a responsabilidade civil somente quando configurada a hipótese do artigo 927 do Código Civil vigente, que assim dispõe, “in verbis”: “Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo”.Necessário se faz a comprovação da responsabilidade do agente, pela ofensa ao bem jurídico protegido. Quer se trate de dano moral, quer de dano material, a obrigação de indenizar somente pode existir quando demonstrado o nexo de causalidade entre o dano e o comportamento do agente. O ilícito importa invasão da esfera jurídica alheia, sem o consentimento do titular ou autorização do ordenamento jurídico.Ademais, a indenização pelo dano moral decorre da lesão sofrida pela pessoa natural (ou jurídica no entender de FRANCISCO ANTÔNIO DE OLIVEIRA, “in” Do Dano Moral, Revista GENESIS, nº 56, agosto de 1997, p. 194), em sua esfera de valores eminentemente ideais, como a dignidade, a honra, a boa fama, a integridade física e psíquica, a imagem.Na forma do disposto nos arts. 818 da CLT e 333 do CPC, a prova incumbe à parte que alega o fato.Resguardadas as peculiaridades, todas as definições encontram em comum a idéia de que o dano moral caracteriza-se pelo abalo ao sentimento pessoal e, nesta trilha, não resta a menor dúvida de que a pessoa do trabalhador pode sofrer danos que decorram diretamente da prática de atos provenientes da relação de emprego.Consideradas tais assertivas doutrinárias, o caso sob exame não traz configurado qualquer dano moral, carecendo os autos de elementos probatórios que autorizem concluir pela sua existência,

45

:: Ano II – Edição Especial nº 7 ::

ASSÉDIO MORAL E ASSÉDIO SEXUAL 1ª PARTE: DECISÕES DO TRT DA 4ª REGIÃO

inexistindo relação de causa e efeito entre possíveis atos ou omissões da ex-empregadora e a doença da qual é portadora a reclamante. Ressalte-se que o suposto fato danoso, bem como os abalos psíquicos e morais resultantes, sequer restaram comprovados no caso dos autos. Desta forma, não preenchidos os pressupostos da responsabilidade jurídica, é de se afastar o dever de indenizar, eis que, no particular, não se constata injusta invasão da esfera moral alheia. Não há fundamento, portanto, para a indenização postulada, o que afasta a pretensão.Entende-se que o fato de a empregadora cobrar produção por parte da reclamante é direito que lhe assiste, de vez que esta exercia a função de passadeira.Além do mais, não restou demonstrada a relação de causalidade entre o trabalho desenvolvido e a doença da autora, nos termos do pedido de indenização constante da petição inicial.Conclui-se, pois, que os supostos danos, na verdade, constituem-se em meros sentimentos subjetivos, insuficientes para autorizar a indenização pretendida pela reclamante.Assim, dá-se provimento ao recurso ordinário interposto pela reclamada, no aspecto, para absolvê-la da condenação ao pagamento de indenização decorrente dos danos sofridos em razão de assédio moral.(...)

volta ao índice volta ao sumário

1.21. Relatora a Exma. Juíza Ana Luiza Heineck Kruse. 8ª Turma. Processo nº 00862-2004-662-04-00-8 RO. Publicação em 23.03.2006.

EMENTA: DO ASSÉDIO MORAL E INJUSTA DESPEDIDA. Hipótese em que não havia impedimento contratual ou legal para a despedida sem justa causa. Também não se tem como configurado o alegado assédio moral. A prova testemunhal aponta para a total ausência de afinidades entre a coordenadora e a reclamante, porém não a define como causa específica da rescisão contratual, tampouco há comprovação de que a reclamante tenha tido dificuldades maiores que aquelas inerentes à execução do contrato de trabalho em que a relação caracteriza-se pela subordinação do empregado. Provimento negado.(...)

DO ASSÉDIO MORAL E INJUSTA DESPEDIDA.A recorrente sustenta ter sido vítima de assédio moral por parte da reclamada. Relata que prestou concurso público para ingresso no quadro docente da reclamada - Universidade de Passo Fundo - em junho de 2003; que foi classificada em primeiro lugar para área/disciplina de Desenvolvimento Ambiental e Tecnologia da Informação Geográfica - Curso de Geografia, Instituto de Ciências Exatas, com carga horária de 20h/semanais; que a recorrida fez um edital público de concurso para preenchimento de vaga, vinculado em todo território nacional; que, após ser aprovada, mudou-se e constituiu residência na cidade de Passo Fundo; que, menos de um ano depois, foi dispensada pelo fato de ser considerada prescindível no contrato laboral. Invoca o princípio da boa-fé objetiva, que a seu entender, restou violado. Salienta que, no mês de março, pouco mais de seis meses do contrato em vigor, a reclamada determinou que ficasse sem alunos, impondo-lhe severa e ilícita alteração na base contratual, a teor do que dispõem os artigos 9º e 468 da CLT. Destaca o depoimento da primeira testemunha, quando fica expressa a conduta equivocada da preposta da reclamada que afirmou em reuniões da congregação do Curso de Geografia “que a reclamante não iria esquentar o banco na reclamada” e “que a reclamante não preenchia o perfil profissional desejado pelo departamento não obstante tivesse qualificação acadêmica”, afirmando também que o alunos tiveram conhecimento dos fatos; que alguns até se manifestaram protestando contra o tratamento recebido pela reclamante. Diz ainda que, na semana de 27 a 29 de janeiro de 2004, foram realizadas reuniões, sem ser convocada, quando a Coordenadora do Curso de Geografia sustentou a sua disponibilidade, argumento construído sob o pretexto de “não possuir o perfil profissional da instituição”, fato comprovado pela prova testemunhal. Invoca os artigos 1º, incisos III e IV, combinado com o artigo 5º, inciso X, da Constituição Federal.O conceito do dano moral foi muito bem definido na obra de Antonio Jeová Santos, “Dano moral indenizável”. Entre as várias definições, fica-se com a de “lesão de razoável envergadura

46

:: Ano II – Edição Especial nº 7 ::

ASSÉDIO MORAL E ASSÉDIO SEXUAL 1ª PARTE: DECISÕES DO TRT DA 4ª REGIÃO

produzida no equilíbrio espiritual, cuja existência a lei presume - e tutela - que pertence a uma pessoa” (por Cipriano, in Daño Moral. Concepto. La Ley, l982).Os episódios narrados pela reclamante, em tese, podem se adequar perfeitamente à hipótese de assédio moral - fato social há muito conhecido, novo apenas enquanto fenômeno juslaboralista - que Marie-France Hirigoyen, em “Assédio Moral: violência perversa no cotidiano”, assim conceitua: “toda e qualquer conduta abusiva manifestando-se sobretudo por comportamentos, palavras, atos, gesto, escritos que possam trazer dano à personalidade, à dignidade ou à integridade física ou psíquica de uma pessoa, põe em perigo seu emprego ou degradar o ambiente de trabalho” e, no conceito de Margarida Barreto, em “Uma Jornada de Humilhações”, é caracterizado pela “exposição dos trabalhadores e trabalhadoras a situações humilhantes e constrangedoras, repetitivas e prolongadas durante a jornada de trabalho e no exercício de suas funções, sendo mais comuns em relações hierárquicas autoritárias e assimétricas, em que predominam condutas negativas, relações desumanas e aéticas de longa duração, de um ou mais chefes dirigida a um ou mais subordinado(s), desestabilizando a relação da vítima com o ambiente de trabalho e a organização, forçando-o a desistir do emprego” (www.assédiomoral.org.br). Uma das características do assédio moral é que visa justamente a conduzir a vítima à demissão. Segundo Marie-France “a pessoa atacada é colocada numa posição de debilidade e agredida direta ou indiretamente por uma ou mais pessoas de modo sistemático, freqüentemente por largo tempo, com o objetivo e/ou conseqüência da sua demissão do mundo do trabalho”. Essa análise é, contudo, apenas no plano em abstrato.

volta ao índiceNo caso em concreto, exige-se que a apreciação dos fatos observe os elementos subjetivos que envolvem o pedido de indenização por dano moral. É que para a responsabilização do empregador por conduta ilícita devem ser atendidos requisitos clássicos: dano, nexo causal e culpa do empregador. A análise dos dois primeiros é particularmente importante no caso dos autos. “No tocante ao dano alegado, é necessária a evidenciação de sua existência. Ainda que se saiba não ser essa evidência necessariamente material, ela tem de ser aferida, no caso concreto, com consistente segurança. (...) No dano moral, “torna-se mais subjetiva a aferição do dano e, desse modo, sua própria evidenciação processual. De todo modo, essa evidência tem de emergir do processo, sob pena de faltar um requisito essencial à incidência da indenização viabilizada pela ordem jurídica.” Quanto ao nexo causal, é também “decisivo que haja evidência bastante da relação de causalidade entre a conduta do empregador ou de seus prepostos e o dano sofrido pelo empregado.” (DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho, 3.ed. São Paulo, LTr, 2004).Justamente porque é subjetiva a aferição do dano moral deve se pautar essencialmente nos fatos trazidos pelo autor da demanda, pois revelam a sua inconformidade e informam o dano alegado. Fala-se aqui da causa de pedir. Veja-se que a pretensão da autora é de “indenização pelo dano moral sofrido, em decorrência da tristeza e danos tanto físicos, espirituais como financeiros”.Essa é a dimensão do dano reclamado pela autora e que deve ser considerada na apreciação do feito. A observância da causa de pedir como definidora dos limites da lide é relevante, reitera-se, justamente porque o dano é subjetivo.Conforme Contrato de Trabalho datado de 11.8.2003, juntado nas fls. 18/19, a reclamante foi contratada, como docente, no cargo de Professor Iniciante II, pela Fundação Universidade de Passo Fundo, para desempenhar suas atividades junto ao Setor Direção - ICEG, com carga horária de 20 (vinte) horas semanais, a ser cumprida mediante o ministério de aulas em cursos de graduação, pós-graduação e extensão, atividades de pesquisa e em outras atividades inerentes à Universidade (ensino, pesquisa e extensão). Referido contrato encontra-se registrado na Certeira de Trabalho da reclamante (fl. 28), assim como atestado pelo “Registro de Empregado” (fls. 101/103).Nos termos do Regulamento de Administração de Pessoal Docente da UPF (fls. 118/121), a admissão de docentes far-se-á mediante aprovação em processo de seleção; os professores serão admitidos em regime de trabalho nos termos da legislação trabalhista, que regulará as rescisões de contratos e demais condições de trabalho dos docentes, competindo ao Conselho da Unidade na qual estiver lotado o professor deliberar sobre a sua demissão.Segundo consta do Termo de Compromisso da fl. 30, as provas de seleção de docentes para o magistério na Universidade de Passo Fundo são regulamentadas pelo artigo 14 da Resolução CONSUN nº 4/2002 (Regulamento do ingresso e da promoção dos professores no quadro de carreira do magistério da Universidade de Passo Fundo - fls. 122/124). O documento da fl. 74, da Coordenação do Curso de Geografia para Comissão de Seleção Docente, comprova que a

47

:: Ano II – Edição Especial nº 7 ::

ASSÉDIO MORAL E ASSÉDIO SEXUAL 1ª PARTE: DECISÕES DO TRT DA 4ª REGIÃO

reclamante obteve o primeiro lugar no processo seletivo na área de Desenvolvimento Ambiental e Tecnologia da Informação Geográfica, e aponta o interesse do Curso de Geografia e a aquiescência dos professores selecionados na respectiva contratação.A reclamante participou de Seleção Interna de Docente para a área de Pedagogia Anos Iniciais do Ensino Fundamental (fls. 31). Nas fls. 36/38 e 47/49, constam, respectivamente, as Fichas de Avaliação do Professor e Programa de Avaliação Institucional.Nas fls. 57/61, a reclamante junta cópia do requerimento encaminhado ao setor jurídico da Universidade, no qual relata as “pressões” e “perseguições” a que estava sendo submetida pela coordenadora do curso professora Ana Maria Radaelli da Silva. Em 03 de março de 2004 (fl. 65), a Coordenadora do Curso de Geografia - Ana Maria Radaelli da Silva - convocou uma reunião referente ao processo no qual foi tratada a demissão da reclamante em razão da solicitação pela Coordenadoria.Conforme Ata 174 (fls. 135/137), do Conselho de Unidade do Instituto de Ciências Exatas e Geociências, em sessão realizada no dia 23 de junho de 2004, foi aprovado o desligamento da reclamante de suas atividades por prescindibilidade, tendo em vista que a carga horária docente já estava completa pelo quadro institucional. O desligamento foi aprovado por 13 dos 15 conselheiros presentes, com abstenção dos demais. Observa-se que, na mesma sessão, também foi aprovado, com uma abstenção, o desligamento de outra professora da área de química, igualmente por prescindibilidade.

volta ao índiceEm 12.8.2004, a reclamante recebeu aviso prévio da rescisão de seu contrato de trabalho, com o qual não concordou em face de ser concursada e estar sendo dispensada sem justa causa, fazendo constar no verso do Termo Rescisório, dentre outras ressalvas, que iria discutir a reintegração judicialmente tendo em vista ter sido vítima de assédio moral (fls. 55 e 56).A testemunha da reclamante - Teresinha Naujorks (fls. 207/208) -, que trabalhou para a reclamada no período de março de 1969 a agosto de 2004, na função de professora, no Instituto de Ciências Exatas e Geociências, diz que lembra que na primeira reunião do conselho de departamento, a coordenadora Ana Maria Radaelli da Silva afirmou a todos que a reclamante não “iria esquentar o banco” na reclamada; que lembra ocorreram outras reuniões; que a reclamante participou de algumas delas, mas sempre que assuntos envolvendo seu nome estavam em pauta, ela não era convocada para as reuniões; que nas outras reuniões a coordenadora Ana Maria Radaelli da Silva objetou o nome da reclamante; que ela sempre afirmou que a reclamante não preenchia o perfil profissional desejado pelo departamento, não obstante tivesse qualificação acadêmica; que não lembra de ter ouvido ou sabido qual o perfil desejado pela coordenadora; que houve repercussão do tratamento dado à reclamante no âmbito do curso; que os alunos tiveram conhecimento dos fatos; que alguns até se manifestaram protestando contra o tratamento recebido pela reclamante; que numa reunião tumultuada foi colocada em votação a dispensabilidade da reclamante; que não sabe se tais atitudes foram levadas ao conhecimento da administração através de procedimento formal; que sabe apenas que foi convocada algumas vezes pelas vice-reitorias (principalmente a acadêmica) para falar sobre os fatos que envolviam a reclamante. Já a testemunha Luiz Carlos Naujorks (fl. 208), salienta que no processo de desligamento de professor, a avaliação institucional é apenas um dos elementos que balizam a decisão.A reclamante não gozava de qualquer estabilidade no emprego, à luz do que dispõe a legislação que regrou seu contrato de trabalho (CLT e Regulamento da Universidade). A contração seguiu as normas estabelecidas no Estatuto da Universidade. O processo de seleção de docentes não se equipara ao certame do concurso público, previsto no inciso II do artigo 37 da Constituição Federal, sendo aquele a forma pela qual a Universidade seleciona os professores aptos a exercerem as atividades exigidas, porém sem a garantia de estabilidade no emprego.Não se vislumbra hipótese de impedimento para a despedida sem justa causa, que inclusive foi precedida de discussão pelos órgãos competentes da Universidade, muito embora possa ser indagado porquê a reclamante foi contratada se, pouco depois, de assumir a entidade concluiu que o quadro institucional estava completo. De outra parte, as restrições impostas à reclamante não extrapolaram o poder potestativo do empregador. Desta sorte, conclui-se que a despedida seguiu interesses da entidade, não se podendo creditar a rescisão contratual à ação individual, mesmo que o processo tenha sido deflagrado pela Coordenadora do Curso, o que por si só, não autoriza concluir de que se tratava de perseguição e tivesse por objetivo puramente o desligamento da autora. Da mesma forma quanto ao alegado assédio moral, não se tem como configurado. A prova testemunhal aponta para a total ausência de afinidades entre a

48

:: Ano II – Edição Especial nº 7 ::

ASSÉDIO MORAL E ASSÉDIO SEXUAL 1ª PARTE: DECISÕES DO TRT DA 4ª REGIÃO

coordenadora e a reclamante, porém não a define como causa específica da rescisão contratual, tampouco há a comprovação de que a reclamante tenha tido dificuldades (...) maiores que aqueles naturais à execução do contrato de trabalho em que a relação caracteriza-se pela subordinação do empregado.Nega-se provimento.(...)

volta ao índice volta ao sumário

1.22. Relator o Exmo. Juiz Flavio Portinho Sirangelo. 7ª Turma. Processo nº 00231-2004-841-04-00-4 RO. Publicação em 27.03.2006.

EMENTA: Dano moral. Não configuração. Hipótese em que o conjunto da prova não se mostra hábil a gerar o convencimento acerca da veracidade das alegações do autor no sentido de que tem sido vítima de assédio moral por parte do empregador com a finalidade de pedir demissão, desistindo da estabilidade provisória a que faz jus, em face de sua condição de delegado sindical. Ônus da prova que cabia ao autor, do qual não se desincumbiu. Mantém-se a sentença que entendeu não configurado o dano moral. Recurso não provido.(...)

NO MÉRITO.Não assiste razão ao recorrente.Trata-se, na espécie, de empregado admitido em 01.09.99, para exercer a função de cobrador de ônibus, sendo demitido em 26.08.03 e reintegrado no emprego em 20.02.2004, por força de acordo estabelecido nos autos da reclamatória trabalhista nº 00047-2004-841-04-00-4, em face do qual o autor outorgou à reclamada quitação da inicial e do contrato de trabalho mantido até a data da reintegração no emprego, ocorrido no dia 20.02.2004 (sic), fl. 19. O contrato de trabalho permanece em vigor, atuando o autor como delegado sindical, eleito para o período abril/2004-abril/2008. Os fatos alegados na inicial como caracterizadores do assédio moral denunciado são, basicamente, os seguintes: (a) advertência injusta recebida em julho de 2003; (b) proibição aos demais funcionários de conversarem com o autor, sob pena de perderem o emprego; (c) não convocação do autor para participar de reuniões de trabalho e eventos que reúnem os funcionários da empresa; (d) obrigação de pagar passagem, quando os demais funcionários são isentos desse pagamento; (e) ausência de permissão para que o reclamante participasse do convênio firmado com o Banrisul e adquirisse o cartão Tchê.A sentença, preliminarmente, declarou a existência de coisa julgada com relação aos pedidos iniciais que dizem respeito ao período contratual que foi até 20.02.2004 (inclusive indenização por dano moral decorrente dos fatos supostamente ocorridos no período em questão). No mérito, julgou improcedente o pedido de indenização por dano moral (considerados os fatos que teriam ocorrido posteriormente a 20.4.2004), entendendo que: O conjunto da prova dos autos não autoriza a conclusão de ter ocorrido inviolabilidade da intimidade, imagem e honra do demandante, capaz de permitir as reparações de que trata o art. 5º, X, da CF. Veja-se, num primeiro momento, que as perseguições relatadas na inicial, desde quando publicada uma nota na imprensa sobre os valores das passagens, é referida pela 1ª testemunha do autor, Magna Susuna, fls. 125/126, no sentido de que era proibido os demais funcionários de conversarem com o reclamante (sic). Porém, a testemunha da reclamada, Antonio Carlos, fls. 127/128, refere o contrário, de que não ocorreu orientação da empresa. A par dessa divergência, verifico, por exemplo, que a testemunha Magna Susuna faz referência de que o reclamante não era convidado para os eventos realizados, porém ficou comprovado que as convocações ou convites para reuniões e outros eventos eram feitos mediante aviso colocado no mural. Não há prova quanto a inocorrência de convite ao autor para participar de convênios estabelecidos pela empresa, como aquele referido em relação ao BANRISUL (cartão Tchê). Quanto ao caixa, o próprio reclamante em seu depoimento diz que a prestação de contas diária, mesmo que implique em deslocamento até a sede da empresa, deixa-o mais tranqüilo no tocante a segurança e a impossibilidade de eventual desconto por falta de numerário. Em relação ao pagamento de passagens pelo autor é certo que estava ele isento, mediante o uso de crachá,

49

:: Ano II – Edição Especial nº 7 ::

ASSÉDIO MORAL E ASSÉDIO SEXUAL 1ª PARTE: DECISÕES DO TRT DA 4ª REGIÃO

que o reclamante não usava fora do horário de trabalho como ele relata em seu depoimento. Refiro, por demasia, que as gravações realizadas pelo autor e transcritas - fls. 26/33, não são suficientes para amparar o pleito inicial [...] máxime quando produzida a gravação sem o conhecimento da outra parte, a atrair a incidência do art. 5º, XII, da Constituição Federal. - fl. 132.Como se observa da transcrição supra, a sentença procedeu a análise acurada de cada uma das alegações nas quais o autor amparava o pedido de indenização por dano moral, assim como da prova testemunhal produzida. Ressalto que a valoração da prova testemunhal, nos termos em que procedida pelo juiz que a colheu, deve ser, em princípio, privilegiada pelo juízo recursal, em face da proximidade que aquele juiz manteve com as partes e testemunhas no momento da produção da prova, o que lhe confere melhores condições de analisar a convicção e a sinceridade com que prestadas as informações. Conforme já tive oportunidade de afirmar em outros julgados, é preciso valorar a circunstância de que o juiz da instância originária, por ter colhido o depoimento das partes e a prova oral, reúne melhores condições para proferir o julgamento, pois esse contato direto lhe permite examinar reações e extrair impressões que a leitura fria da transcrição dos depoimentos normalmente não revela.

volta ao índiceNo caso ora em exame, o recorrente não traz, a rigor, qualquer elemento de convicção que leve esta instância recursal a entender a prova de modo diverso daquele com que foi ela interpretada pelo julgador de origem. Reforçando a convicção deste Relator quanto ao acerto da decisão recorrida, está o depoimento do próprio autor que, às fls. 124/125, declara: [...] lembra que as convocações na empresa para participação em reuniões e outros eventos era mediante colocação de aviso em mural e após era passada uma planilha onde cada funcionário confirmava ou não a sua presença, assinando; sabe da existência de um caixinha na empresa, da qual o depoente não participou [...] lembra que a não participação do depoente foi em razão da carência para obter o empréstimo, pois foi fixado pelo proprietário da reclamada o prazo de seis meses; [...] fora do horário de trabalho o depoente não usa o crachá da empresa; lembra que a partir da sua reintegração o depoente foi colocado em um turno fixo de trabalho, inicialmente por um mês na parte da manhã e no mês seguinte na parte da tarde, porém quando o depoente exigiu a conferência do caixa na sua presença, a empresa colocou o depoente apenas no turno da manhã; [...]a partir da exigência do depoente a conferência do caixa do depoente é feita na presença do depoente, ao final do turno de trabalho; [...] lembra que o depoente passou a exigir a conferência do caixa no próprio dia quando em determinada ocasião faltou R$5,00 e apareceu duas moedas falsas no caixa [...] pode dizer que não tem problema familiar ou de ordem pessoal permanecer trabalhando no turno da manhã, sendo que o único fato, talvez adverso, seja a da prestação de contas do caixa e o tempo que ocorre, cerca de duas horas após o depoente encerrar a última viagem, porém a prestação de contas diária deixa o depoente tranqüilo; sabe que logo que o sócio da empresa chegou, ele fez um elogio ao depoente em reunião realizada.Os documentos acostados apontam na mesma direção, qual seja, de que não havia ‘perseguição’ por parte da empresa contra o autor. Vê-se, por exemplo, que o autor foi advertido (fl. 100) por não ter entregue o caixa no horário previsto na Ordem de Serviço nº 01 (fl. 99). Inconformado, justificou seu procedimento, conforme correspondência que encaminhou à empresa (fl. 101), que acolheu suas alegações, alterando seu turno de trabalho para que pudesse entregar o caixa mediante a conferência do mesmo em sua presença (fl. 102). Os termos do comunicado encaminhado ao autor não denotam qualquer perseguição ou intenção de prejudicá-lo, mas antes a intenção de estabelecer um relacionamento no mínimo civilizado e pacífico: [...] a empresa comunica que a partir desta data o senhor fará seu turno somente pela manhã, para que possa durante o horário comercial, após sua jornada de trabalho entregar seu caixa e aguardar a conferência do mesmo. Tal decisão é a fim de evitar problemas com o funcionário. Solicitamos ainda que em qualquer modificação em que o senhor se achar prejudicado, nos informe por escrito com antecedência, para evitarmos transtorno ao bom andamento do trabalho.Assim, considerando que a reparação por dano moral encontra respaldo no art. 5º, inciso X, da Constituição Federal, segundo o qual “são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito de indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação”, e que, na espécie, não restou demonstrado que quaisquer desses valores tenham sido violados pela reclamada, mantenho a sentença e nego provimento ao recurso.

50

:: Ano II – Edição Especial nº 7 ::

ASSÉDIO MORAL E ASSÉDIO SEXUAL 1ª PARTE: DECISÕES DO TRT DA 4ª REGIÃO

(...)volta ao índice

volta ao sumário

1.23. Relator o Exmo. Juiz Ricardo Carvalho Fraga. 3ª Turma. Processo nº 00017-2004-020-04-00-1 RO. Publicação em 10.04.2006.

EMENTA: DANO MORAL. Valor fixado para fins de indenização por dano moral que serve como compensação pelo sofrimento da obreira assim como de repreensão do ofensor a fim de desencorajá-lo na reincidência.(...)

DANO MORAL. VALOR FIXADO.Objetiva a reclamante a reforma da Sentença a fim de que seja majorada a condenação aplicada à reclamada referente a indenização por danos morais. Sustenta que a indenização deve atender não somente ao caráter reparador da ofensa como também ao caráter punitivo a ser aplicado ao ofensor. Assevera que a Decisão observou que os danos causados à autora foram realmente relevantes e merecem reparos. Aduz que o assédio sexual é crime assim como a acusação infundada de furtos.Examina-se.A Sentença, considerando as acusações de desaparecimento de objetos da empresa, bem como frente a exigência de sair juntamente com amigos do sócio da reclamada, reconheceu ter a reclamante sofrido constrangimento e humilhação, sendo atingida em sua honra. Considerou, ainda, o atestado juntado a fl. 33, emitido por psiquiatra, o qual atesta a necessidade da reclamante permanecer em repouso por dois dias a contar de 11/12/2003. Fixou como valor da indenização o montante de R$ 6.000,00, contra o qual se insurge a reclamante.No presente caso, o abalo psicológico da autora restou comprovado pelo conjunto da prova dos autos, conforme já referido. Não se pode olvidar que, efetivamente, o valor fixado para fins de indenização por dano moral deve ter também caráter pedagógico, servindo como meio para coibir a prática destes atos por parte da reclamada. Outrossim, a gravidade do dano devem ser considerada.Neste contexto, levando em consideração as condições econômicas do ofensor, o qual se trata de empresa de pequeno porte, sendo a reclamante a única empregada (a obreira trabalhava nas dependências da residência do reclamado, sede final da empresa), a gravidade da lesão causada a autora, depois da prestação de trabalho à reclamada por dois anos e cinco meses, concorda-se com o valor arbitrado pela Sentença em R$ R$ 6.000,00. O salário percebido pela reclamante era de R$331,00.Entende-se que o valor fixado serve como a reparação necessária da obreira, vista nestes autos, assim como de desestímulo do ofensor a fim de desencorajá-lo na mesma prática.Sentença mantida.(...)

volta ao índice volta ao sumário

1.24. Relator o Exmo. Juiz José Felipe Ledur. 1ª Turma. Processo nº 00935-2005-771-04-00-1 RO. Publicação em 11.04.2006.

EMENTA: INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. MAJORAÇÃO DO VALOR. Hipótese na qual evidenciado o assédio moral. Ainda que no contrato de trabalho a subordinação do empregado seja elemento necessário ao próprio reconhecimento da relação jurídica de emprego, isso não confere ao empregador e seus prepostos a prerrogativa de submeter o empregado, dispensando-lhe tratamento que importe o vilipêndio do ser em si mesmo. São presumíveis as conseqüências negativas em sua estrutura psíquica, atingida sua honra subjetiva e objetiva. Violação aos preceitos do art. 5º, inciso X, da Constituição Federal. Reparação por danos morais que deve atender às finalidades punitivo-educativas e de compensação à vítima.

51

:: Ano II – Edição Especial nº 7 ::

ASSÉDIO MORAL E ASSÉDIO SEXUAL 1ª PARTE: DECISÕES DO TRT DA 4ª REGIÃO

(...)

INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. MAJORAÇÃO DO VALORA sentença condenou a reclamada ao pagamento de indenização no valor 03 (três) salários básicos do reclamante do mês de abril/2005 em decorrência de dano moral sofrido no curso do contrato. Considerou que o tratamento ofensivo dispensado pelo supervisor da reclamada ao reclamante atingiu diretamente a honra subjetiva do autor.Em suas razões recursais, a reclamada defende que não restou configurada agressão pessoal capaz de ensejar a condenação. Menciona que em processos anteriores, que tiveram o mesmo objeto deste feito, não se constatou agressão capaz de justificar a condenação. Alega que em nenhum momento compactuou com os fatos ou tomou conhecimento dos mesmos.O reclamante, a seu turno, não se conforma com a indenização arbitrada. Sustenta que o valor nada representa em matéria financeira para uma empresa do porte da reclamada. Salienta que a indenização deve ter duplo caráter: sancionatório e compensatório.

volta ao índiceNa inicial, o reclamante narra que recebia tratamento ofensivo do supervisor do setor de graxaria, Sr. Egídio, sendo ofendido com palavras e expressões de baixo calão, tais como “vai a p... que pariu”, “sai daqui seu corno”, “filho-da-p...”, “veado”, “burro”, entre outras. Afirma que o procedimento do supervisor gerou uma reclamação dos funcionários junto ao setor de Recursos Humanos, que não tomou providências para fazer cessar as agressões. Refere, também, que o presidente do Sindicato teve uma reunião com a gerente de Recursos Humanos da empresa, mas nenhuma atitude foi tomada.A reclamada, em contestação, alegou não ter conhecimento da situação, na época.A prova testemunhal confirma o tratamento ofensivo do supervisor em relação aos subordinados e confirma, também, que a reclamada tinha ciência de tal fato.A testemunha Romildo dos Santos diz que: “...o depoente e o reclamante eram subordinados ao Egídio; que o Egídio tinha um tratamento inadequado com os funcionários do setor, pois costumava chamar todos ali de ‘corno, filho da p..., vai pra p... que pariu’, etc; que o

depoente reclamou para a direção da empresa por 3 vezes, sendo que sempre diziam que iriam resolver mas nunca resolveram nada; que em uma oportunidade o depoente se lembra de que estar no horário de intervalo, assim como outros funcionários que estavam ali, sendo que Egídio estava jogando cartas com o pessoal; que nessa oportunidade o reclamante entrou para pegar sacos plásticos de lixo; que esses sacos cheiram mal e, em razão disso, o Egídio começou a gritar com o reclamante, dizendo para ele ‘ir a p... que o pariu e se mandar dali com aquele saco’; que Egídio já vinha ofendendo o pessoal a longo tempo, sendo que começou a pegar mais pesado com o pessoal no final do ano de 2004 em diante; que esses palavrões passaram a ser utilizados pelo Egídio de forma reiterada no tratamento de seus subordinados ali do setor; que o Egídio não respeitava se tivesse alguém de outro setor ou não, ou algum vendedor ou servente.” (grifou-se, fl. 236)A prova emprestada dos processos 01002-2005-771-04-00-1 e 01003-2005-771-04-00-6 confirma as ofensas do supervisor Egídio contra seus subordinados, a partir de 2004, e confirma, também, que a reclamada tinha ciência da situação, mas demitiu o supervisor somente no mês de maio de 2005 (fls. 260-4). A testemunha Romaldo Kilian afirma que todos os empregados do setor de graxaria faziam queixa do Sr. Egídio (fl. 263). A testemunha Gerson Padilha refere que era uma situação constante o uso de palavrões pelo supervisor Egídio quando se dirigia aos empregados e informa que houve uma queixa de empregados junto à direção da empresa, envolvendo a conduta de Egídio (fl. 264). A testemunha Romildo dos Santos acrescenta que o Sr. Egídio não respeitava se tivesse alguém de outro setor ou não, ou algum vendedor ou servente (fl. 236).

volta ao índiceO tratamento desrespeitoso que o supervisor dispensou ao reclamante é “assédio moral”, também conhecido como ato de menoscabo à dignidade do empregado, praticado por superiores hierárquicos. Cuida-se de cadeia de atitudes que têm sido alvo de estudos e de repúdio, vez que consubstanciam atitudes nocivas no ambiente de trabalho, pois sem relação com o objeto do contrato de trabalho - a prestação de serviços em si -, atingindo a dignidade da pessoa do trabalhador. Ainda que no contrato de trabalho a subordinação do empregado seja elemento necessário ao próprio reconhecimento da relação jurídica de emprego, isso não confere ao

52

:: Ano II – Edição Especial nº 7 ::

ASSÉDIO MORAL E ASSÉDIO SEXUAL 1ª PARTE: DECISÕES DO TRT DA 4ª REGIÃO

empregador e seus prepostos a prerrogativa de submeter o empregado, dispensando-lhe tratamento que importe o vilipêndio do ser em si mesmo. É direito jusfundamental da pessoa a inviolabilidade da honra e imagem, assegurado o direito à indenização pelo dano moral decorrente de sua violação (art. 5º, inciso X, da Constituição Federal).Trata-se de empregado que labora para a ré desde 20-11-95, e à época do ajuizamento da reclamatória, em 03-05-05, ainda permanecia trabalhando. O assédio moral causou sensação de impotência ao reclamante. As habituais ofensas às quais o autor era submetido traduziram agressão à sua dignidade. Há lesão de natureza moral; o assédio moral praticado no curso do tempo, bem como o nexo causal, estão comprovados. As conseqüências negativas na esfera pessoal da vítima e na sua estrutura psíquica, vale dizer, o dano, são presumíveis, já que atingiram diretamente a honra subjetiva e objetiva do reclamante.A reclamada é empresa de grande porte, contando com centenas de empregados em organização bem estruturada e, por certo, bem assessorada juridicamente, assim como assistida por consultorias em sua atividade-fim, o que denota capacidade econômica plena na atuação no mercado. Considera-se, portanto, que a indenização arbitrada em primeiro grau é insuficiente tanto no sentido reparatório do dano, quanto no sentido punitivo.Assim, dá-se provimento ao recurso do reclamante para majorar a indenização por danos morais para R$ 15.000,00, considerando a gravidade do dano, o porte da empresa reclamada e o caráter punitivo-educativo da medida.(...)

volta ao índice volta ao sumário

1.25. Relator o Exmo. Juiz Mario Chaves. 6ª Turma. Processo nº 00229-2004-017-04-00-6 RO. Publicação em 11.04.2006.

EMENTA: INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL. GARANTIA CONSTITUCIONAL. A todos é assegurado, por força de norma constitucional, o respeito à sua honra (art. 5º, incisos V e X). Exposto o empregado a reiteradas ameaças em virtude do comportamento da empregadora, afetando-lhe seu lado psicológico, configura-se a ofensa ensejadora de reparação indenizatória.(...)

A) ANÁLISE CONJUNTA DA MATÉRIA COMUM AOS RECURSOS ORDINÁRIOS DAS PARTES - Indenização por dano moral.O reclamante não se conforma com o valor fixado à indenização por dano moral. Diz que a importância de R$ 5.000,00 é insuficiente para reparar a gravidade do dano e coibir os atos praticados pela reclamada. Aduz (fl. 185): “não está em consonância com a noção de razoabilidade, ou seja, não apresenta equilíbrio entre o abalo comprovadamente sofrido pelo reclamante, o tempo em que o abalo persistiu, e a condição financeira da reclamada”. Tece considerações acerca dos critérios conhecidos para a fixação do dano moral, destacando a sua condição de hipossuficiência econômica e a capacidade financeira da empregadora. Objetiva, assim, a majoração do valor arbitrado, sugerindo a quantia de sessenta salários médios por ele recebidos.

volta ao índice

A reclamada, por sua vez, alega insubsistente a condenação que lhe foi imposta. Confirma o teor das comunicações emitidas por um de seus gerentes aos vendedores, alegando, entretanto, que não teriam o condão de constituir o direito vindicado. Sugere a má-fé do empregado ao utilizar a expressão “vendedor zona 8”, insinuando que as comunicações destinavam-se especificamente para ele, quando, na realidade, eram genéricas. Reporta-se ao esclarecimento das testemunhas no sentido de que, das oito ou dez comunicações recebidas por mês, “nem todas eram em tom ameaçador”. Traça comparação entre o tempo trabalhado pelo reclamante e o número de comunicações colacionadas, concluindo (fl. 196): “o recorrido escolheu estrategicamente QUATRO comunicações em mais de DUZENTAS, para buscar o dano moral”. Elogia o reclamante,

53

:: Ano II – Edição Especial nº 7 ::

ASSÉDIO MORAL E ASSÉDIO SEXUAL 1ª PARTE: DECISÕES DO TRT DA 4ª REGIÃO

referindo-se a ele como um “excelente vendedor”. Assegura que o teor das comunicações não poderia atingi-lo, porquanto cumpridor de suas metas. Transcreve trechos dos depoimentos das testemunhas. Pugna pela improcedência do pedido.Merece reforma parcial a sentença.Narra o reclamante na petição inicial (fl. 09): “A empresa tratava o reclamante de forma sistemática, impingindo-lhe diariamente, quer através de comunicados pessoais, quer em reuniões, quer através de escritos nominados, desrespeitos, pressões, humilhações, ameaças, de forma sistemática e institucionalizada”. Cita exemplos de expressões contidas nas comunicações que recebia do gerente de vendas responsável por sua equipe (fls. 09-14): “Se vendedor da Dimed, para vender precisa a mesma condição da concorrência, por favor: VÁ TRABALHAR NA CONCORRÊNCIA”; “SÓ QUE TRABALHAR NÃO É PASSAR O DIA ENTREGANDO MERCADORIA”; “É MUITA INCOMPETÊNCIA NÃO CONSEGUIR COM TUDO ISSO ACIMA, VENDER PELO MENOS R$ 12,00 PARA UNS 15 A 20 CLIENTES”; “Pelo amor de deus, reflitam. Parem e pensem. No mínimo por dia vcs devem visitar mais de 30 clientes. Não é possível que vendedor não saiba vender”; “VENDEDOR QUE SABE TODAS AS CONDIÇÕES DA CONCORRÊNCIA E NÃO SABE AS DA DIMED; “VENDEDOR QUE VISTO COMO ‘COITADINHO’ PELOS CLIENTES; “VENDEDOR QUE NÃO É VENDEDOR, É ENTREGADOR DE LUXO”; “VENDEDOR QUE NÃO SE PLANEJA NUNCA”; “VENDEDOR QUE NÃO VENDE NEM EM CONDIÇÕES DIFERENCIADAS”, “VENDEDOR QUE NÃO QUER VENDER”; “SEMANA RETRASADA DEMITIDOS O VENDEDOR DA ZONA 51, SEMANA PASSADA O VENDEDOR DA ZONA 02. QUEM SERÁ O PRÓXIMO? A RESPOSTA ESTÁ NO SEU DESEMPENHO”; MESMA CARGA DE TRABALHO, ENTÃO NÃO ACEITAMOS ÊXITOS PARCIAIS, SE ALGUNS NÃO ESTÃO CONSEGUINDO É PORQUE NÃO ESTÃO FAZENDO AS COISAS CERTAS E PARA ISSO HAVERÃO CORREÇÕES; “COM TANTAS PROMOÇÕES, OFERTAS E OPORTUNIDADES, SAIR DO CLIENTE SEM VENDER NADA É O MAIS ABSOLUTO ATESTADO DE INCOMPETÊNCIA”; “NÃO ENTENDO!!! ENTENDO MENOS AINDA QUE AINDA CONTINUO ENCONTRANDO VENDEDOR ‘BARATA TONTA’ (OBSERVEM QUE NOSSA EQUIPE ESTÁ MUDANDO ALGUMAS ‘CARAS’ E NÃO É POR ACASO)”; “O QUE SERÁ FEITO COM A CAMISETA DEPOIS NÃO ME INTERESSA”. Acrescenta (fl. 16): “Com esse procedimento institucionalizado, a empresa submetia o reclamante a constante assédio moral, valendo-se do terror psicológico para minar a auto-estima do reclamante, mantendo uma espécie de monitoramento moral, causando-lhe constante ansiedade, depressão, baixa auto-estima, sentimento de incapacidade, submissão”.A defesa não nega a existência das comunicações citadas, argumentando, entretanto, que elas eram esporádicas e não se destinavam especificamente ao reclamante.Considerando o contexto de prova dos autos, o Juízo “a quo” reconheceu a responsabilidade civil da reclamada por ato de seu gerente. Entendeu, entretanto, que a culpa é leve por não se constituir prática institucionalizada, referir-se a pequeno lapso temporal e inexistir punição concreta ao reclamante pelo seu desempenho. Fixou, assim, a indenização por dano moral no valor de R$ 5.000,00. Compartilha-se parcialmente desse entendimento.A Constituição Federal assegura, em seu art. 5º, inciso V, indenização por dano material, moral ou à imagem; o inciso X do mesmo artigo prevê como invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito à indenização por dano material ou moral decorrente de sua violação. O dano moral é aquele que atinge bens incorpóreos, gerando efeitos na ordem interna do ser humano, causando-lhe dor, vergonha, tristeza, angústia, perda ou qualquer outro sentimento capaz de afetar-lhe o lado psicológico. O trabalhador, como sujeito de direitos, possui o de ver respeitada sua própria imagem, especificamente profissional (dignidade profissional).

volta ao índiceO Desembargador Humberto Theodoro Júnior, aposentado do Tribunal de Justiça de Minas Gerais, em sua obra Dano Moral, preleciona: "Viver em sociedade e sob o impacto constante de direitos e deveres, tanto jurídicos como éticos e sociais, provoca, sem dúvida, freqüentes e inevitáveis conflitos e aborrecimentos, com evidentes reflexos psicológicos, que, em muitos casos, chegam mesmo a provocar abalos e danos de monta. Para, no entanto, chegar-se à configuração de dever de indenizar, não será suficiente ao ofendido demonstrar sua dor. Somente ocorrerá a responsabilidade civil se se reunirem todos os seus elementos essenciais: dano, ilicitude e nexo causal". Mais adiante, acrescenta: "Enfim, entre os elementos essenciais à caracterização da responsabilidade civil por dano moral, hão de incluir-se, necessariamente, a ilicitude da conduta do agente e a gravidade da lesão suportada pela vítima (...) Quanto à prova, a lesão ou dor moral é fenômeno que se passa no psiquismo da pessoa e, como tal, não pode ser concretamente pesquisado. Daí porque não se exige do autor da pretensão indenizatória que

54

:: Ano II – Edição Especial nº 7 ::

ASSÉDIO MORAL E ASSÉDIO SEXUAL 1ª PARTE: DECISÕES DO TRT DA 4ª REGIÃO

prove o dano extrapatrimonial. Cabe-lhe apenas comprovar a ocorrência do fato lesivo, de cujo contexto o juiz extrairá a idoneidade, ou não, para gerar dano grave e relevante, segundo a sensibilidade do homem médio e a experiência da vida" (obra citada, 4ª edição, 2001, ed. Juarez de Oliveira, pp. 6 e 8).No caso, as comunicações citadas na petição inicial foram colacionadas às fls. 27-32. Não resta qualquer dúvida sobre a sua procedência, ressaltando-se que o preposto da reclamada e o próprio gerente (primeira testemunha convidada pelo reclamante) confirmam a autoria. O gerente responsável pela equipe de vendedores do reclamante agia, por óbvio, sob a recomendação e responsabilidade da reclamada. O art. 932, III, do Código Civil dispõe sobre a responsabilidade do empregador por seus empregados, serviçais e prepostos, no exercício do trabalho que lhes competir.O depoimento da segunda testemunha trazida pelo reclamante confirma o sentimento despertado nos vendedores pelo tom ameaçador das comunicações (fl. 164): “a forma mais veemente no emprego das palavras nestes comunicados era exclusiva desse gerente; que outros gerentes da depoente não empregavam tais expressões; que a despedida de vendedores da equipe era sempre comunicada pelo gerente através de memorandos; que a depoente sentia seu emprego ameaçado em razão do conteúdo (...) as comunicações das fls. 27/32 eram distribuídas indistintamente para todos os vendedores da equipe; que os comunicados institucionalmente serviam para que a reclamada comunicasse os vendedores de promoções, descontos, produtos

novos e também para fazer cobranças de metas; que os comunicados, na forma como eram feitos pela primeira testemunha do reclamante, embutiam ainda mensagens com caráter de ameaça; que a depoente estima que recebesse cerca de oito ou dez memorandos mensais do gerente; que nem todos os memorandos continham conteúdo que a depoente entende como ameaçador; que normalmente o reclamante atingia suas metas”.Inegável, portanto, a ilicitude da conduta da empregadora, por meio de seu gerente, dispensando aos empregados tratamento ameaçador. Desnecessária, nesse caso, a comprovação inequívoca de prejuízo, porquanto presumido, especialmente nas circunstâncias postas no caso concreto. Os memorandos, ao contrário do que afirma a recorrente, não se destinavam somente à cobrança de metas e comunicação aos vendedores sobre as promoções, descontos e lançamento de produtos novos. A expressão “NÃO ENTENDO!!! ENTENDO MENOS AINDA QUE AINDA CONTINUO ENCONTRANDO VENDEDOR ‘BARATA TONTA’ (OBSERVEM QUE NOSSA EQUIPE ESTÁ MUDANDO ALGUMAS ‘CARAS’ E NÃO É POR ACASO)”, utilizada na fl. 31, por exemplo, evidencia o tom intimidador e sarcástico dos comunicados. Essa mensagem, sem sombra de dúvidas, afeta o lado psicológico do empregado frente ao empregador e seu posto de trabalho, não havendo a necessidade que isso ocorra diariamente para resultar no dano moral, ainda que cumpridor de seus deveres.Por esses fundamentos, tem-se pela correção da sentença ao reconhecer o direito do reclamante à percepção de indenização por dano moral.

volta ao índiceQuanto à fixação do valor da indenização, entretanto, tem-se que o valor deferido é singelo para o fim pretendido. O ordenamento jurídico pátrio adota o sistema aberto e não o tarifário, ficando, portanto, ao arbítrio responsável do julgador. Sobre o assunto, merece transcrição a doutrina do Exmo. Juiz do Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região Francisco Antonio de Oliveira: "O arbitramento para aferir em pecúnia a lesão do dano moral deverá fazer âncora na razoabilidade, levando-se em conta fatores outros tais como as seqüelas psíquicas impostas à vítima bem assim a posse patrimonial do agressor. Temos na doutrina que 'a vítima de uma lesão a alguns daqueles direitos sem cunho patrimonial efetivo, ofendida em um bem jurídico que em certos casos pode ser mesmo mais valioso do que os integrantes do seu patrimônio, deve receber uma soma que lhe compense a dor ou o sofrimento, a ser arbitrada pelo juiz, atendendo às circunstâncias de cada caso, e tendo em vista as posses do ofensor e a situação pessoal do ofendido. Nem tão grande que se converta em fonte de enriquecimento, nem tão pequena que se torne inexpressiva', Caio Mário da Silva Pereira (Instituições, Ed. Forense, Rio, 1.972, vol. II, n. 176)... não mais encontram lugar no mundo atual as condenações simplesmente pedagógicas, em valores inexpressivos que, em última análise, resultariam em mais uma ofensa moral ao ofendido, posto que diante de tais condenações era inevitável a conclusão de que o seu sofrimento, a sua angústia, a sua tristeza pelo ato do agressor nada valiam ou valiam quase nada" (in Revista LTr. 62-01, p. 28).

55

:: Ano II – Edição Especial nº 7 ::

ASSÉDIO MORAL E ASSÉDIO SEXUAL 1ª PARTE: DECISÕES DO TRT DA 4ª REGIÃO

Assim, tem-se que o valor arbitrado à indenização pelo Juízo de origem, de R$ 5.000,00, não está em consonância com os parâmetros de razoabilidade para atender aos critérios pedagógico, punitivo e reparador, balizadores da reparação do dano moral. O valor pretendido pelo reclamante, contudo, é demasiado para o fim pretendido. Considerada a ponderação feita na sentença quanto à culpa leve, à prática não-institucionalizada, ao pequeno lapso temporal e à inexistência de punição concreta ao reclamante pelo seu desempenho, tem-se como compatível a importância de R$ 10.000,00 para o pagamento da indenização deferida.Pelos motivos expostos, dá-se provimento parcial ao apelo do reclamante para majorar o valor da indenização por dano moral para R$ 10.000,00.

(...)volta ao índice

volta ao sumário

1.26. Relatora a Exma. Juíza Maria Helena Mallmann. 1ª Turma. Processo nº 00432-2005-015-04-00-0 RO. Publicação em 18.04.2006.EMENTA: (...) ASSÉDIO MORAL. DANOS MORAIS. A prática empresarial de castigar o empregado infligindo-lhe vexações e constrangimentos representa ilícito causador de prejuízo à esfera individual do trabalhador, configurando repugnante conduta que viola o princípio da dignidade humana, norte da Constituição da República, o que enseja ao prejudicado o direito a danos de natureza extrapatrimonial. (...)

(...)

1. DANO MORALInconformada com a condenação ao pagamento de indenização por danos morais no montante de R$30.000,00, recorre a empregadora.A pretensão da inicial está fundamenta na conduta arbitrária dos prepostos da recorrente. Segundo narrado na inicial, os gerentes regionais da empresa implantaram um “castigo” para o vendedor que realizasse no dia as menores vendas que consistia na realização da faxina da loja (aspirando a loja), em meio a outros colegas de trabalho e clientes, fato que perdurava até às 24h00min do dia. Diz que foi vítima do castigo por trinta dias consecutivos, pena essa aplicada pelo gerente em virtude de uma reclamação de cliente pelo descumprimento do prazo de entrega de mercadoria estabelecido em uma venda por ele realizada. Relata ainda ter havido uma mensagem ao gerente regional com recomendação de sua despendida por justa causa, adjetivando seu desempenho como péssimo. Outro episódio também é mencionado, ou seja, acusação de ter acionado o sindicato de sua categoria para fiscalizar a carga e descarga de caminhões. Narra que havia reuniões das quais era obrigado a participar em que um dos palestrantes - que falava sobre a venda de consórcios - “(...) ofendia moralmente a todos os vendedores chamando-os de burros, incompetentes, fracassados (...)”, isso pelo não-atingimento das metas fixadas.A reclamada, em contestação, em resumo, nega genericamente tenha havido as agressões e castigos e sustenta que o tratamento sempre foi cordial.Decide-se.Tal como bem salienta a sentença de primeira instância, a prova testemunhal produzida corrobora os fatos delineados na petição inicial, quanto às atitudes persecutórias da reclamada, que importam em dano moral, precisamente por assédio moral ao empregado, ora reclamante.Depôs a testemunha Celso Nunes dos Santos, fl. 802, in verbis: “(...) nas reuniões de consorcio, eram chamados pelo Sr. Teles de ignorantes, burros, parasitas; ouviu Teles chamar o autor de burro, ignorante e parasita; participavam em torno de 10 vendedores nas reuniões e o gerente Adilson; também havia ameaça de perda de emprego por falta de fechamento de cotas; (...)”. (grifamos).

volta ao índiceDa mesma forma, a testemunha Gabriel de Sousa Dal Pra, confirma as agressões dirigidas ao autor, bem assim os castigos relatados em primeira instância. Veja-se o depoimento, in verbis, fls. 804-805: “(...) nunca viu em reuniões ninguém chamar o autor de burro, incompetente,

56

:: Ano II – Edição Especial nº 7 ::

ASSÉDIO MORAL E ASSÉDIO SEXUAL 1ª PARTE: DECISÕES DO TRT DA 4ª REGIÃO

parasita ou fracassado; nas reuniões havia ameaças de demissão por não cumprimento de metas; castigo era uma punição criada pelo gerente e consistia em que o vendedor que menos tivesse vendido no dia deveria passar o aspirador em toda a loja, depois do horário; isso era presenciado pelos demais empregados e até mesmo pelos clientes; muitas vezes isso ocorreu com o autor; lembra de o autor ter ficado aspirando a loja por um bom tempo, mas não sabe o motivo; o depoente não participou de nenhuma reunião de consórcio com o supervisor Teles; tem conhecimento de um e-mail enviado pelo gerente regional que dizia que o reclamante só causava problemas para a loja, era um péssimo vendedor e deveria ser demitido por justa causa; (...) “. Grifamos.Por óbvio que as condutas supradescritas possuem caráter intimidatório, repressivo, persecutório e - independente da finalidade visada pelo gerente da empresa em cumprimento de suas metas - representam verdadeiro atentado à dignidade do trabalhador (causadores de danos a sua saúde física e psíquica) e tem como conseqüência jurídica a violação de diversos direitos de personalidade, tais como a liberdade, honra, intimidade, imagem.Esse conjunto de condutas é que a doutrina tem caracterizado como assédio moral, caraterizado pelo “(...) tratamento vexatório, constrangedor ou humilhante, inflingido ao empregado através de insinuações, ameaças, insultos, isolamento, ou empecilhos ao adequado desempenho de tarefas, com fins persecutórios que visam ao enquadramento do empregado, prejuízos funcionais (...) ou sua saída da empresa, e que desencadeia um estado de ansiedade na vítima que, segundo HIRIGOYEN, provoca-lha uma atitude defensiva geradora de novas agressões que vão se multiplicando, produzindo um fenômeno circular em que o medo gera ‘comportamentos patológicos, que servirão de álibis para justificar retroativamente a agressão’. Desse modo, surgem na vítima e no agressor fenômenos de fobia recíproca: o perseguidor atua tomado de uma raiva fria, o que surte na vítima uma reação de medo capaz de levá-la a total confusão que a faz cometer erros. (...)”, em Assédio Moral no Trabalho, Maria Luíza Pinheiro Coutinho, Revista Justiça do Trabalho, HS Editora, v. 248, p. 73, citando HIRIGOYEN, Marie-France. Assédio Moral, pp. 66 e 67.O atentado contra direitos de personalidade também representa “danos morais”, ou simplesmente danos de origem extrapatrimonial, plenamente guarnecidos pela Carta Magna (artigo 5º, V, X). E o direito à saúde, à intimidade à liberdade são garantias fundamentais e decorem do princípio da dignidade humana, que ao fim e ao cabo é maculado pela prática empresarial.Por tais razões, conclui-se que a prática empresarial de castigar o empregado infligindo-lhe vexações e constrangimentos, independente da finalidade almejada representa ilícito causador de prejuízo à esfera individual do trabalhador, configurando repugnante conduta que viola o princípio da dignidade humana, norte da Constituição da República, o que enseja aos prejudicado o direito a danos de natureza extrapatrimonial.A responsabilidade civil do empregador em virtude dos fatos de que o autor fora vítima encontra respaldo no artigo 186, c/c, com o artigo 932, III (ato do preposto) do Código Civil Brasileiro.Sob outra visão, a reação à conduta empresarial - configura de abuso do seu poder diretivo e disciplinar - também encontra respaldo no direito positivo brasileiro com o princípio da princípio da boa-fé objetiva, inserido nos dispositivos do Código Civil Brasileiro - artigos, 113, 187 e 422, entre outros - (de aplicação autorizada pelo artigo 8º da Consolidação das Leis do Trabalho) e ainda pela aplicação do princípio da função social do contrato, e ainda da vedação ao abuso de direito, conforme disposto na redação do precitado artigo 187, in verbis: “Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes.”Resta o exame da insurgência quanto ao valor da indenização. Nesse ponto, partindo das funções desempenhadas pela responsabilidade civil - reparar, compensar a vítima, além de punir o agressor e dissuadi-lo a cometer novos ilícitos -, sem, no entanto, gerar enriquecimento sem causa com indenização excessiva, e considerando a capacidade financeira da reclamada, considera-se razoável a indenização fixada em primeira instância no valor de R$ 30.000,00 (trinta mil reais).Nesse contexto, nega-se provimento ao recurso ordinário.(...)

volta ao índice volta ao sumário

57

:: Ano II – Edição Especial nº 7 ::

ASSÉDIO MORAL E ASSÉDIO SEXUAL 1ª PARTE: DECISÕES DO TRT DA 4ª REGIÃO

1.27. Relator o Exmo. Juiz Ricardo Carvalho Fraga. 3ª Turma. Processo nº 00229-2004-017-04-00-6 RO. Publicação em 19.04.2006.(...)Por tratar de matéria comum ao recurso das partes, analisa-se em conjunto o tópico abaixo.9. DANO MORAL. VALOR ATRIBUÍDO.Insurge-se a reclamada com a decisão que determinou o pagamento de uma indenização no valor de R$ 1.500,00 por dano moral. Afirma que a prova constante nos autos não conduz, de maneira alguma, a existência de dano moral. Diz que tratamento dispensado pela reclamada é um tratamento absolutamente normal, não havendo que falar em dano moral.Não se conforma a reclamante com a fixação do valor de R$ 1.500,00, a título de indenização por dano moral. Diz a autora, em síntese que foi humilhada no ambiente de trabalho e que a agressividade do sócio da reclamada e os impropérios proferidos pelo mesmo são incontestes.Examina-se.A Sentença fixou o valor de r$ 1.500,00, levando em conta o dano, o período do contrato efetivamente reconhecido e o valor proporcional ao dano, observando que não restou demonstrado nos autos a ocorrência de todos os atos e referências especificadas na inicial. Passamos a análise da matéria por tópicos.9a. Dano moral. A autora informa na inicial que sofreu, durante toda contratualidade, inúmeras humilhações com tratamento pérfido, sendo ofendida pelo empregador constantemente com gestos e comportamento obsessivos e vexatórios e demais práticas acima arroladas, sendo vítima constante de assédio moral, razão pela qual faz jus a indenização por dano moral no valor de 50 vezes o salário contratual (folha 04).No caso dos autos, a Juíza “a quo” formou sua convicção com base na contestação e no depoimento da testemunha Roberta. No tocante a contestação, restou admitido pela reclamada que o sócio Breno dirigiu algum impropério à autora para se livrar, de uma vez, de sua intromissão. Diz a reclamada na contestação: “Em virtude de tal intromissão e cansaço da presença da reclamante não é de se estranhar que tenha proferido algum impropério, para ver se livrava-se de uma vez de tal intromissão.” A testemunha Roberta, por sua vez, aduz que “que o tratamento do sócio Breno para com os funcionários é um tratamento normal para um chefe, nunca passando do limite nem sendo ofensivo, mesmo quando tenha que xingar por algum motivo, sempre sendo instrutivo e educativo; (...); que o tratamento do sócio Breno tinha a maior paciência com a autora, porque esta entrava lá e se metia em funções que não eram dela;”Conforme bem fundamentou a Juíza de origem (folha 123): “A utilização de tratamentos depreciativos, com impropérios como disse a reclamada, atinge a dignidade do trabalhador e caracteriza hipótese de assédio moral no trabalho, estando, pois constituído o nexo causa para a ocorrência do dano moral apontado na inicial, que restou demonstrado no feito, ainda que não tenham sido demonstrados todos os atos descritos na inicial.” (grifos atuais). Neste contexto, sentença mantida.9b. Valor fixado. Considerando-se que foi reconhecido o vínculo de emprego no período de 0/09/03 a 16/12/03, tão-somente, sendo o valor do salário fixado em R$ 300,00, entende-se que o valor da indenização, de R$ 1.500,00, está compatível com a situação retratada nos autos. Sentença mantida.(...)

volta ao índice volta ao sumário

1.28. Relator o Exmo. Juiz Ricardo Luiz Tavares Gehling. 4ª Turma. Processo nº 01234-2004-341-04-00-4 RO. Publicação em 10.05.2006.(...)

DANO MORAL. ASSÉDIO SEXUAL. FIXAÇÃO DO VALOR.O juízo de origem reconheceu a existência de assédio sexual e condenou a reclamada ao pagamento de indenização por dano moral, no valor de R$ 10.000,00, com o que não se conformam as partes.

58

:: Ano II – Edição Especial nº 7 ::

ASSÉDIO MORAL E ASSÉDIO SEXUAL 1ª PARTE: DECISÕES DO TRT DA 4ª REGIÃO

A reclamada registra, inicialmente, que a prova atesta que a autora não mantinha um comportamento adequado para a sua idade, tanto que foi impossível a continuidade da prestação de trabalho, antes mesmo do término do contrato de experiência.Em segundo lugar, destaca a reclamada a fragilidade da prova testemunhal e o fato de as testemunhas da autora serem amigas íntimas, “companheiras de festinhas”, o que as torna suspeitas. Descreve parte dos depoimentos na tentativa de demonstrar o comportamento censurável da autora e comportamento normal de seu chefe de seção, Bráulio, acusado de ser o autor do assédio sexual. Aduz que, ao contrário do decidido na origem, a menoridade da autora não autoriza a conclusão de que era ingênua e não possuía discernimento completo, porquanto “tinha experiência suficiente e discernimento capaz de arquitetar planos e ‘armações’ que a pudessem levar à obtenção de rendosas vantagens pecuniárias”. Afirma, ainda, que a defesa não admite a existência de assédio sexual, mas sim que “no caso em tela não há nenhuma prova concreta de que o relacionamento com o suposto assediador tenha passado de sedução funcional recíproca, nada mais é do que negar que houve relação sexual”.Por fim, pretende a redução do “quantum indenizatório, a fim de que atente aos princípios da razoabilidade, moderação e eqüidade”.A reclamante, por sua vez, pretende a majoração do valor fixado a título de indenização. Aduz que o juízo fixou em R$10.000,00, sendo que a pretensão inicial era de R$50.000,00. Sustenta que o preposto da reclamada utilizou de sua condição de superior hierárquico para constranger a autora, menor de idade (15 anos), para manter relações sexuais. Desta forma, com base em jurisprudência referida e considerando a capacidade econômica da empresa, bem como a necessidade da imposição de valor que atenda ao caráter pedagógico a fim de inibir reincidências desta natureza, busca majorar o valor fixado.Afirmou a reclamante na petição inicial que, desde o início do contrato de emprego, em 08.06.2004, passou a sofrer assédio sexual do chefe da sua seção (esteira) de nome Bráulio, conhecido como “Brau”, que a constrangia dizendo “que estava interessado no ‘corpo’ dela, que a Rte. somente iria passar o contrato se fosse mostrar o que tinha ‘neste corpo’. O assédio era ostensivo, de forma que outras colegas presenciaram as cantadas e a chantagem que o preposto da Rda. lhe fazia”. Admite, ainda, que “cedeu às cantadas e pressões do seu chefe, uma vez que estava com medo de ser despedida e saiu com o preposto da reclamada com o qual manteve relações sexuais, fato que se tornou público na empresa”. Quando despedida, em 06.07.2004, afirma “que o proprietário da Rda. deu à Rte. um cheque de R$ 150,00 (cento e cinqüenta reais) para que não fosse relatar ao Sindicato o ocorrido”, com a clara intenção de comprar “seu silêncio”. Juntou cópia do cheque à fl. 19.

volta ao índiceO juízo de origem, diante da ausência de impugnação específica da defesa, acolheu as informações das testemunhas quanto ao relacionamento sexual alegado na inicial. Referiu que, por ser a autora menor de dezesseis anos de idade à época do contrato de trabalho, visualizava a possibilidade de enquadramento dos fatos nas hipóteses dos artigos 215, parágrafo único, ou 217, do Código Penal. Referiu, ainda, que a legislação protege os menores de idade, presumindo que estes não possuem discernimento completo, razão pela qual desconsiderou as teses da defesa no tocante ao comportamento “liberal” da autora. Por fim, concluiu “em que pesem os depoimentos das testemunhas trazidas a juízo pela reclamada terem afirmado que o comportamento do Sr. Bráulio ‘é de respeito’ para com as colegas, o conjunto probatório existente nos autos, inclusive os termos expressos na contestação, formaram o convencimento deste juízo no sentido de que, diante das atitudes do Sr. Bráulio, chefe imediato da reclamante, esta sofreu grave constrangimento moral, o qual independe de prova, pois, em vista de sua natureza, é presumível”.As testemunhas da autora (a primeira ouvida como mera informante), apenas afirmam a existência de tratamento diferenciado que o Sr. Bráulio dava à autora, bem como que o viram buscar a reclamante em sua casa de automóvel no final do expediente, consoante depoimentos às fls. 51-52. Todavia, estas afirmações não se mostram suficientes para comprovar a tese da inicial, porquanto não demonstrado que, efetivamente, tenha a reclamante sido assediada em troca de benefícios no local de trabalho, obrigação probatória que lhe incumbia.Soma-se, ainda, em desfavor da autora, o depoimento das testemunhas trazidas pela ré (fls. 52-53), que atestam comportamento respeitoso e sem rigor excessivo do Sr. Bráulio com seus subordinados, inclusive a reclamante. A primeira testemunha arrolada pela ré afirmou “que o Sr. Bráulio era um dos chefes da reclamante e como chefe, não deixava fazer brincadeiras e não

59

:: Ano II – Edição Especial nº 7 ::

ASSÉDIO MORAL E ASSÉDIO SEXUAL 1ª PARTE: DECISÕES DO TRT DA 4ª REGIÃO

fazia brincadeiras; que o depoente só via a reclamante e o Sr. Bráulio conversarem sobre o serviço”.O cheque juntado à fl. 19 foi emitido no mesmo dia do pagamento das parcelas rescisórias, demonstrando que se destinava ao pagamento destas. Ainda que o valor nele consignado (R$ 150,00) seja superior ao constante do termo de rescisão da fl. 43 (R$ 127,23), tal fato, por si, não corrobora a tese da inicial.Nesse contexto, era ônus da reclamante demonstrar o suposto assédio sexual, nos termos do artigo 818 da CLT, obrigação probatória da qual não se desincumbiu a contento. Não constitui a menoridade da autora, considerado o contexto social contemporâneo, fato suficiente para ensejar o deferimento da pretensão.Pelo exposto, entendo que os fatos narrados não se traduzem em invasão da esfera jurídica alheia, sem o consentimento do titular ou autorização do ordenamento jurídico. Ou seja, não verifico a prática de ato ilícito, tampouco a ocorrência de dano aos direitos inerentes à personalidade da reclamante. Necessária se faz a comprovação da responsabilidade do agente, pela ofensa ao bem jurídico protegido. Quer se trate de dano moral ou assédio sexual, quer de dano material, a obrigação de indenizar somente pode existir quando demonstrado o nexo de causalidade entre o dano e o comportamento do agente, o que não ocorre no caso sob exame.Assim, dou provimento ao recurso da reclamada para absolvê-la da condenação imposta, prejudicado o recurso da reclamante.(...)

volta ao índice volta ao sumário

1.29. Relator o Exmo. Juiz Mario Chaves. 6ª Turma. Processo nº 00010-2005-014-04-00-9 RO. Publicação em 15.05.2006.EMENTA: INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL. GARANTIA CONSTITUCIONAL. A todos é assegurado, por força de norma constitucional, o respeito à sua honra (art. 5º, incisos V e X). Exposto o empregado a reiteradas ofensas por parte de seu superior hierárquico, afetando-lhe seu lado psicológico, configura-se o dano ensejador de reparação indenizatória.(...)

3. INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL.Insurge-se o recorrente, ainda, contra o entendimento do Juízo a quo de que não restou configurado, no caso, dano moral suscetível de reparação. Aponta para dissonância entre a sentença e o contexto probatório, em especial a prova oral, que teria confirmado o assédio moral a que teria sido submetido. Sustenta que ao ter sido chamado de “burro” e “incompetente” pelo supervisor de vendas na frente dos outros colegas de trabalho teria sofrido humilhação, ofensa, menosprezo, sentindo-se não somente envergonhado, mas, também, magoado, ficando psicologicamente abalado. Nesse sentido, assevera: “Salvo melhor juízo, aceitar a decisão do juízo a quo, que indeferiu o pedido de condenação da reclamada ao pagamento de indenização por danos morais, como justa e adequada ao caso dos autos, é prestigiar condutas ofensivas e inadequadas como a verificada no caso dos autos, é colaborar para a proliferação do desrespeito, da intolerância, do fracasso das relações interpessoais” (sic - fl. 360).Vinga o apelo.Narra o reclamante na petição inicial (fl. 09): “Em todas as segundas-feiras, religiosamente, ocorriam reuniões de todos os vendedores com o supervisor / gerente de vendas, para fins de verificação do atingimento das metas estipuladas, bem como para determinação das novas metas a serem atingidas Ocorre que nas duas últimas reuniões, o Autor foi ofendido diretamente pelo gerente / supervisor, que o chamou de ‘burro’, ‘idiota’, ‘incompetente’, na presença dos outros colegas devido ao fato de o Demandante não ter conseguido atingir as metas, para ele determinadas” (sic). Acrescenta: “Tal situação, trouxe sérios gravames psíquicos para o Autor, que após a rescisão do seu contrato de trabalho com a reclamada, acabou perdendo a autoestima e a autoconfiança, passando por enormes dificuldades para reabilitar-se pessoal e profissionalmente”.

volta ao índiceA reclamada nega tenha o empregado sido ofendido por seus superiores hierárquicos e alega não adotar o tipo de tratamento mencionado na exordial.

60

:: Ano II – Edição Especial nº 7 ::

ASSÉDIO MORAL E ASSÉDIO SEXUAL 1ª PARTE: DECISÕES DO TRT DA 4ª REGIÃO

Considerando o contexto de prova dos autos, o Juízo “a quo” não reconheceu a responsabilidade civil da reclamada por ato de seu gerente. Entendeu que as palavras proferidas pelo supervisor “ocorreram no calor da reunião semanal, no afã do cumprimento de metas”, mas não tiveram “a conotação dolosa de humilhar o reclamante, de menosprezar diretamente a sua capacidade de trabalho, até porque as palavras proferidas ocorreram no transcurso de uma discussão sobre os procedimentos e objetivos da empresa quanto a vendas” (fls. 346-7).Não se compartilha desse entendimento.A Constituição Federal assegura, em seu art. 5º, inciso V, indenização por dano material, moral ou à imagem; o inciso X do mesmo artigo prevê como invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito à indenização por dano material ou moral decorrente de sua violação. O dano moral é aquele que atinge bens incorpóreos, gerando efeitos na ordem interna do ser humano, causando-lhe dor, vergonha, tristeza, angústia, perda ou qualquer outro sentimento capaz de afetar-lhe o lado psicológico. O trabalhador, como sujeito de direitos, possui o de ver respeitada sua própria imagem, especificamente profissional (dignidade profissional).O Desembargador Humberto Theodoro Júnior, aposentado do Tribunal de Justiça de Minas Gerais, em sua obra Dano Moral, preleciona: "Viver em sociedade e sob o impacto constante de direitos e deveres, tanto jurídicos como éticos e sociais, provoca, sem dúvida, freqüentes e inevitáveis conflitos e aborrecimentos, com evidentes reflexos psicológicos, que, em muitos casos, chegam mesmo a provocar abalos e danos de monta. Para, no entanto, chegar-se à configuração de dever de indenizar, não será suficiente ao ofendido demonstrar sua dor. Somente ocorrerá a responsabilidade civil se se reunirem todos os seus elementos essenciais: dano, ilicitude e nexo causal". Mais adiante, acrescenta: "Enfim, entre os elementos essenciais à caracterização da responsabilidade civil por dano moral, hão de incluir-se, necessariamente, a ilicitude da conduta do agente e a gravidade da lesão suportada pela vítima (...) Quanto à prova, a lesão ou dor moral é fenômeno que se passa no psiquismo da pessoa e, como tal, não pode ser concretamente pesquisado. Daí porque não se exige do autor da pretensão indenizatória que prove o dano extrapatrimonial. Cabe-lhe apenas comprovar a ocorrência do fato lesivo, de cujo contexto o juiz extrairá a idoneidade, ou não, para gerar dano grave e relevante, segundo a sensibilidade do homem médio e a experiência da vida" (obra citada, 4ª edição, 2001, ed. Juarez de Oliveira, pp. 6 e 8).

volta ao índiceNo caso, os termos ofensivos dirigidos pelo supervisor/gerente de vendas da empresa ao ora recorrente foram comprovadas pela prova testemunhal.O Sr. Wladimir Nunes Carvalho, colega de trabalho do recorrente, informa (fl. 331): “o Eduardo, supervisor tinha uma certa empatia com alguns vendedores e com outros não; dentro da equipe há funcionários que se consegue ter uma boa comunicação e às vezes não, e às vezes o Eduardo ficava um pouco agressivo comercialmente, com cobranças de metas a até o ponto de dizer que o vendedor não era bom para a situação que estava e alegando a falta de inteligência; não eram mencionadas palavras obscenas, mas ofensivas; havia uma cobrança específica quanto ao atingimento de metas e da forma com a qual o reclamante deveria trabalhar, que presenciou o Eduardo chamar de ‘burro’ o autor, no mínimo na frente de 18 vendedores; quer deixar claro que não está falando mal de Eduardo, mas às vezes na reunião, de sangue quente, recordando da palavra “burro”, mas havia outras bem mais agressivas; o próprio autor colocava as suas posições a respeito da área comercial, que não estavam em sintonia com as do supervisor; lembra também de ‘incompetente’ como mencionado pelo supervisor com relação ao autor; isto acontece às vezes dentro do contexto da reunião comercial; no seu entender as palavras burro ou incompetente foram proferidas pelo supervisor de forma maldosa uma vez que estava sendo controvertido pelo autor quanto à área comercial; se lembra de um outro colega ter encaminhado esta situação com relação as palavras usadas pelo supervisor à direção da empresa, mas não recorda que o autor tenha feito isto ” (sic - grifou-se).O supervisor, responsável pela equipe de vendedores do reclamante, agia, por certo, sob a responsabilidade da reclamada. O art. 932, III, do Código Civil dispõe sobre a responsabilidade do empregador por seus empregados, serviçais e prepostos, no exercício do trabalho que lhes competir.O depoimento da testemunha acima transcrito confirma, também, que as palavras ofensivas dirigidas pelo supervisor despertavam sentimentos desagradáveis não só no recorrente, mas em outros vendedores pelo tom “maldoso” e “agressivo” da sua forma de tratar seus subordinados.

61

:: Ano II – Edição Especial nº 7 ::

ASSÉDIO MORAL E ASSÉDIO SEXUAL 1ª PARTE: DECISÕES DO TRT DA 4ª REGIÃO

Inegável, portanto, a ilicitude da conduta da empregadora, por meio de seu gerente, dispensando ao empregado tratamento desonroso. Desnecessária, nesse caso, a comprovação inequívoca de prejuízo, porquanto presumido, especialmente nas circunstâncias postas no caso concreto.Por esses fundamentos, reconhece-se o direito do recorrente à percepção de indenização por dano moral.Quanto à fixação do valor da indenização, entretanto, tem-se que ordenamento jurídico pátrio adota o sistema aberto e não o tarifário, ficando, portanto, ao arbítrio responsável do julgador. Sobre o assunto, merece transcrição a doutrina do Exmo. Juiz do Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região Francisco Antonio de Oliveira: "O arbitramento para aferir em pecúnia a lesão do dano moral deverá fazer âncora na razoabilidade, levando-se em conta fatores outros tais como as seqüelas psíquicas impostas à vítima bem assim a posse patrimonial do agressor. Temos na doutrina que 'a vítima de uma lesão a alguns daqueles direitos sem cunho patrimonial efetivo, ofendida em um bem jurídico que em certos casos pode ser mesmo mais valioso do que os integrantes do seu patrimônio, deve receber uma soma que lhe compense a dor ou o sofrimento, a ser arbitrada pelo juiz, atendendo às circunstâncias de cada caso, e tendo em vista as posses do ofensor e a situação pessoal do ofendido. Nem tão grande que se converta em fonte de enriquecimento, nem tão pequena que se torne inexpressiva', Caio Mário da Silva Pereira (Instituições, Ed. Forense, Rio, 1.972, vol. II, n. 176) (...) não mais encontram lugar no mundo atual as condenações simplesmente pedagógicas, em valores inexpressivos que, em última análise, resultariam em mais uma ofensa moral ao ofendido, posto que diante de tais condenações era inevitável a conclusão de que o seu sofrimento, a sua angústia, a sua tristeza pelo ato do agressor nada valiam ou valiam quase nada" (in Revista LTr. 62-01, p. 28).Assim, considerando-se os parâmetros de razoabilidade para atender aos critérios pedagógico, punitivo e reparador, balizadores da reparação do dano moral, arbitra-se o valor de R$ 5.000,00 para o pagamento da indenização pretendida.Dá-se provimento parcial ao apelo do recorrente para acrescer à condenação o pagamento de indenização por dano moral no valor de R$ 5.000,00.(...)

volta ao índice volta ao sumário

62

:: Ano II – Edição Especial nº 7 ::

ASSÉDIO MORAL E ASSÉDIO SEXUAL 1ª PARTE: DECISÕES DO TRT DA 4ª REGIÃO

volta ao índice volta ao sumário

2.1. EMENTA: DANO MORAL. FATO CARACTERIZADOR. As circunstâncias capazes de atingir a honra, a boa fama e dignidade do empregado devem ser descritas minuciosamente na inicial, sob pena de ser violado o princípio da ampla defesa da parte contrária. (...) – 4ª Turma (processo 01355.023/00-9 RO), Relatora a Exma. Beatriz Renck – Convocada. Publicação em 16.09.2003.

2.2. EMENTA: RECURSO ORDINÁRIO INTERPOSTO PELO RECLAMANTE. DANO MORAL. Espécie em que os elementos trazidos permitem concluir que a autora, efetivamente, sofreu ações constrangedoras por parte do diretor de escola mantida pela reclamada, ao qual estava subordinada, violando valores abstratos, humanos e sociais. A indenização arbitrada na origem, em valor equivalente à mais de duas vezes (2,135) a maior remuneração percebida, durante a vigência do contrato, por ano de serviço prestado, revela-se incompatível com a magnitude do dano moral reconhecido, merecendo ser majorada para R$ 30.000,00. Recurso provido. (...) – 8ª Turma (processo 01131-2001-402-04-00-7 RO), Relator o Exmo. Juiz Carlos Alberto Robinson. Publicação em 05.05.2004.

2.3. EMENTA: RECURSO ORDINÁRIO DA RECLAMANTE. INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. ASSÉDIO SEXUAL. Constituindo as alegações de assédio sexual narradas na inicial matéria de fato, e sendo a reclamada confessa em relação a esta, merece reforma a sentença, a fim de deferir à reclamante o pagamento de indenização por danos morais, arbitrada em cinco salários mínimos. Apelo provido no aspecto. (...) – 2ª Turma (processo 00231-2003-002-04-00-5 RO), Relatora a Exma. Juíza Vanda Krindges Marques. Publicação em 14.10.2004.

volta ao índice2.4 . EMENTA: DANO MORAL. ASSÉDIO SEXUAL. ASSÉDIO MORAL. Prova dos autos que confirma o assédio sexual de que a reclamante acusa ter sido vítima. Testemunhas que não deixam dúvidas quanto aos constrangimentos a que eram submetidas as funcionárias (entre elas a autora) pelo gerente de produção da reclamada em razão de sua conduta, tal como a de passar a mão em seus ombros e rostos, fazer brincadeiras com conotações sexuais, referir-se à beleza das mesmas e dirigir-se a elas com expressões do tipo “vovó enxuta”. Ainda que assim não se entendesse, seria o caso de assédio moral. Condenação ao pagamento de indenização por dano moral que se mantém. – 7ª Turma (processo 01301-2003-662-04-00-5 RO), Relatora a Exma. Juíza Maria Inês Cunha Dornelles. Publicação em 22.10.2004.

2.5. EMENTA: (...) INDENIZAÇÃO. DANO MORAL. ASSÉDIO MORAL. Espécie em que devidamente demonstrados os constrangimentos e humilhações morais impostos ao reclamante no curso do contrato de trabalho. Dano moral configurado. Valor arbitrado compatível com o grau da culpa e o porte econômico das partes. Recurso não provido. – 2ª Turma (processo 00228-2003-022-04-00-6 RO), Relator o Exmo. Juiz João Ghisleni Filho. Publicação em 27.10.2004.

2.6. EMENTA: DANO MORAL. ASSÉDIO SEXUAL. Hipótese em que o conjunto probatório não corrobora a versão da inicial de que teria a reclamante sofrido assédio sexual do zelador do condomínio em que prestava atividades. Prova cabal deveria ter sido produzida, o que não ocorreu. Em conseqüência, não faz jus a suplicante à indenização decorrente de dano moral. Recurso desprovido. –

2.7. EMENTA: (...) INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. Hipótese em que efetivamente os fatos ocorridos atingiram o autor que, como não poderia deixar de ser, sentiu-se constrangido e

63

:: Ano II – Edição Especial nº 7 ::

ASSÉDIO MORAL E ASSÉDIO SEXUAL 1ª PARTE: DECISÕES DO TRT DA 4ª REGIÃO

agredido em sua honra e dignidade, na medida que a reclamada o colocou deliberadamente em situação vexatória perante seus colegas, causando-lhe, a toda evidência, um abalo moral em decorrência da imputação de assédio sexual. Nega-se provimento. (...) – 2ª Turma (processo 00173-2003-301-04-00-8 RO), Relator o Exmo. Juiz João Ghisleni Filho. Publicação em 06.07.2005.

2.8. EMENTA: DANO MORAL. Hipótese em que a reclamante, na função de auxiliar de cozinha, sofria ofensa à sua honra, pela prática de insinuações e atos de cunho sexual por parte do cozinheiro da reclamada. Resta clara a existência de ato ilegal ou abusivo do empregador, a ensejar reparação, porquanto o referido cozinheiro era chefe imediato da obreira, não tendo sido tomadas medidas efetivas pela reclamada para coibir a referida conduta. Recurso desprovido. – 1ª Turma (processo 00334-2003-203-04-00-8 RO), Relator o Exmo. Juiz Ricardo Hofmeister de Almeida Martins Costa – Convocado. Publicação em 04.08.2005.

2.9. EMENTA: (...) DANO MORAL. O dano moral se materializa através de profundo abalo moral ou sentimento de dor e humilhação gerado por ato direcionado a atingir a honra do trabalhador, ou para desmoralizá-lo perante a família e a sociedade. Não evidenciado qualquer ato discriminatório por parte do empregador direcionado a prejudicar moralmente o empregado ou capaz de afrontar sua dignidade, honra ou imagem, tem-se descartada a hipótese de dano moral. Negado provimento. (...) – 6ª Turma (processo 01718-2003-402-04-00-8 RO), Relatora a Exma. Juíza Rosane Serafini Casa Nova. Publicação em 13.09.2005.

volta ao índice

2.10. EMENTA: DANO MORAL - PROVA. A prova do dano moral sofrido pela empregada durante o contrato de trabalho a ela incumbe. Hipótese em que nada foi comprovado a tal título, sendo indevida a indenização postulada. – 8ª Turma (processo 00363-2004-371-04-00-7 RO), Relatora a Exma. Juíza Flávia Lorena Pacheco. Publicação em 14.09.2005.

2.11. EMENTA: INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL. A prova produzida conforta a condenação imposta relativamente ao dano moral por sujeição da reclamante a situações humilhantes decorrentes de agressões verbais de colegas no ambiente de trabalho, não coibidas pelo empregador, o que inclusive a levou a abalo psicológico, tendo como conseqüência a suspensão do contrato de trabalho por mais de oito meses e seu encaminhamento ao órgão previdenciário. Sentença mantida. – 7ª Turma (processo 00761-2004-203-04-00-7 RO), Relatora a Exma. Juíza Maria Inês Cunha Dornelles. Publicação em 07.10.2005.

2.12. EMENTA: DANO MORAL. ASSÉDIO SEXUAL. Inviável se exigir da trabalhadora a prova substancial dos fatos ante a impossibilidade probatória direta do assédio sexual. A prova da perseguição à empregada se faz à luz da verossimilhança das alegações, por meio de fatos pontuais que, ligados, demonstram uma teia de perseguição. Cabe ao empregador, por conta das obrigações acessórias do contrato de trabalho como a urbanidade, o respeito e a custódia, zelar pela segurança e pelo saudável ambiente de trabalho, coibindo a prática de constrangimentos de seus prepostos contra os demais empregados. – 1ª Turma (processo 00178-2004-017-04-00-2 RO), Relator o Exmo. Juiz José Felipe Ledur. Publicação em 25.10.2005.

2.13. EMENTA: (...) INDENIZAÇÃO POR ASSÉDIO MORAL. Em atenção às regras processuais atinentes à distribuição do ônus da prova, positivada no artigo 818 da CLT, incumbia à reclamante a comprovação do fato constitutivo do direito perseguido, do qual não se desincumbiu. – 1ª Turma (processo 00139-2004-024-04-00-3 RO), Relator o Exmo. Juiz Marçal Henri dos Santos Figueiredo – Convocado. Publicação em 13.01.2006.

volta ao índice volta ao sumário

64

:: Ano II – Edição Especial nº 7 ::

ASSÉDIO MORAL E ASSÉDIO SEXUAL 1ª PARTE: DECISÕES DO TRT DA 4ª REGIÃO

volta ao índice volta ao sumário

3.1. Exmo. Juiz Lenir Heinen. Processo nº 00875-2004-007-04-00-6 – 7ª Vara do Trabalho de Porto Alegre. Publicação em 27.04.2005.(...)2. INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E MATERIAISAlegam os Reclamantes terem sido arbitrariamente dispensados da empresa em 05.04.2004 por manterem relacionamento afetivo entre si, vindo inclusive a contrair matrimônio quando eram funcionários da Reclamada.Esclarecem que “quando estavam quase casando” a gerente chamou-os em sua sala e disse que “um dos dois devia pedir demissão, pois caso contrário iria ter que demitir o casal”. Asseveram que não aceitaram a coação, pois o relacionamento era anterior e não havia motivo justificável para tanto e, desta sorte permaneceram no serviço até casarem.Afirmam que após o matrimônio, ocorrido em 2 de abril, quando retornaram ao trabalho no dia 5 de abril, foram demitidos, e, com o ato a Reclamada infringiu um preceito constitucional, atingindo a vida privada, a intimidade e a honra dos Reclamantes, causando-lhes dano moral, além de deixar-lhes em situação financeira precária, perpetrando também dano patrimonial.Sustentam não ser possível que uma empresa entre na esfera privada de seus funcionários e determine quem pode casar ou não, ressaltando que os superiores constrangeram os Autores para que não se relacionassem e quando não aceitaram a coação foram demitidos.Postulam indenização a título de danos patrimoniais equivalente a 18 meses do salário de cada um, que é o tempo médio informado pelo IBGE para se conseguir novo emprego, permitindo que se reestruturem nesse período.

volta ao índiceA título de danos morais postulam “não menos que 100 salários mínimos”, sustentando, ainda, terem sido discriminados por seu estado civil.A defesa nega a prática de qualquer ato arbitrário, em especial a alegação de que os Reclamantes foram chamados pela gerente e compelidos a que um dos dois pedisse demissão sob pena de ambos serem demitidos, ao argumento de que “uma empresa do porte da Reclamada não faria qualquer espécie de ameaça para não demitir dois empregados”.Assevera apenas ter usado de seus direito potestativo de rescindir o contrato dos empregados e, contrariamente às alegações da inicial, somente tomou conhecimento do matrimônio um dia antes do mesmo, pois dois dias antes do casamento (31 de março) a Autora comunicou que se afastaria em licença gala, e no outro dia (1º de abril) o Autor avisou que se afastaria pelo mesmo motivo, afirmando que se casaria com a Autora. Reafirma que a gerente em momento algum entrou em contato com os Reclamantes, mormente em conversa privada.Esclarece, ainda, que a demissão dos mesmos já estava previamente programada, e antes da empresa tomar conhecimento do casamento já havia iniciado os procedimentos para a despedida. Afirma que tal fato é notório uma vez que a demissão foi realizada já no dia 5 de abril, quando todos os tramites demissionais (cálculos rescisórios, solicitação de extratos de FGTS à CEF, exclusão da folha de pagamento) já haviam sido realizados, o que em uma empresa do porte da Reclamada, que processa tais atos em sua sede administrativa no Rio de janeiro, demanda vários dias.Em derradeiro, diz a contestação que a despedida dos Autores ocorreu por reformulação de quadro de pessoal, fato natural em qualquer empresa, ressaltando que os mesmos não foram os únicos desligados no período.Argumenta, de igual sorte, haver na Reclamada exemplos de empregados que namoram ou vivem em união estável, comprovadamente sabido por todos os empregados, prepostos e gerentes e que continuam laborando normalmente.Negado o fato constitutivo do direito postulado, incumbia aos Reclamantes a prova de suas alegações, qual seja, de que o fato ensejador da demissão foi a existência de relação afetiva entre ambos, que culminou em matrimônio, coibido pela empresa, caracterizando o tratamento discriminatório dos trabalhadores em face do estado civil.

65

:: Ano II – Edição Especial nº 7 ::

ASSÉDIO MORAL E ASSÉDIO SEXUAL 1ª PARTE: DECISÕES DO TRT DA 4ª REGIÃO

De tal ônus, contudo, não lograram se desincumbir a contento, por via de testemunha única, cujo depoimento vai de encontro aos três depoimentos prestados pelas testemunhas trazidas pela Reclamada, que, por sua vez, confirmam a existência de pessoas trabalhando na loja que casaram enquanto empregados e igualmente pessoas dentro da loja que namoram ou mantém união estável. A 1º testemunha cita o exemplo dos casais Aline e Renato e Lisiane e Luciano, todos empregados da Reclamada. A 3ª testemunha, Renato, é inclusive uma das pessoas que começou o namoro com uma colega e que atualmente mantém união estável, permanecendo ambos laborando para a Reclamada.De igual sorte, a 1ªtestemunha confirma que a demissão dos Reclamantes já estava previamente programada.Releva salientar, ainda, que as 3 testemunhas da Reclamada desconhecem ter havido reunião da gerente da loja com os seguranças comunicando que a razão da despedida dos reclamantes foi o fato de terem casado, fato este declarado pela única testemunha dos reclamantes.Destarte, não comprovada a alegada dispensa arbitrária, não há falar em indenização por abalo moral ou patrimonial, tendo-se por certo que as dispensas ocorreram por legítimo exercício do direito potestativo de rescindir os contratos de trabalho.Outro desiderato, na consonância dos fundamentos supra, não seria adequado nem razoável.Julgo improcedente.(...)

volta ao índice volta ao sumário

3.2. Exmo. Juiz Lenir Heinen. Processo nº 00019-2005-007-04-00-1 – 7ª Vara do Trabalho de Porto Alegre. Publicação em 23.05.2005.(...)

5. INDENIZAÇÃO POR DANO MORALAlega a Autora ter sido assediada sexualmente em diversas oportunidades pelo gerente geral da empresa, sr. João Antonio Felippe, acenando com propostas de promoção, além de “investir em outras funcionárias da Reclamada...”O assédio sexual se caracteriza quando demonstrado que a ascendência do superior hierárquico sobre o subordinado, ou seja, o poder de comando do chefe, é utilizada para impor ao empregado o constrangimento ilegal de submeter-se a determinadas atitudes sob pena de perder o emprego.Trata-se de critério objetivo, e cujos sujeitos, necessariamente, são o empregado e seu chefe imediato, com poder direto para punir, promover e demitir.De tanto não há qualquer prova nos autos, eis que se conclui da prova oral que o gerente geral da Reclamada, alegadamente assediador, era, em verdade, superintendente da empresa.A alegada subordinação direta não restou comprovada, bem como o poder do mesmo para promover ou demitir a reclamante. Ressalta-se que a 2ª testemunha trazida pela Reclamante (Paulo Roberto) declarou ser seu superior hierárquico.Em síntese, não restou caracterizada a condição de superior hierárquico da pessoa acusada de assédio para, valendo-se de sua condição, obter favorecimento da Reclamante.Neste diapasão, para os fins colimados pela reclamante resta irrelevante a prova quanto aos fatos propriamente ditos.Julgo improcedente.(...)

volta ao índice volta ao sumário

3.3. Exmo. Juiz Ben-Hur Silveira Claus. Processo nº 00197-2004-561-04-00-8 – Vara do Trabalho de Carazinho. Publicação em 24.06.2004.(...)

2. INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL.66

:: Ano II – Edição Especial nº 7 ::

ASSÉDIO MORAL E ASSÉDIO SEXUAL 1ª PARTE: DECISÕES DO TRT DA 4ª REGIÃO

A reclamante postula indenização por dano moral em valor equivalente a 100 salários-mínimos, sustentando ter sido vítima de assédio sexual por parte de Paulo Roberto Lemos, supervisor e auditor da reclamada. Esclarece que trabalhava há poucos dias quando foi convidada por Paulo Roberto Lemos para ir até o depósito da empresa, localizado em andar superior ao da loja. Aduz que, lá chegando, Paulo Roberto Lemos chaveou a porta e passou a fazer perguntas de caráter íntimo - se a reclamante era casada, se não queria ser promovida e ganhar salário melhor. Prossegue referindo que, em seguida, Paulo Roberto Lemos a agarrou pelos braços e tentou beijá-la, dizendo que, se cedesse, seria promovida. Refere que resistiu ao assédio, tentando desvencilhar-se enquanto Paulo Roberto Lemos insistia, tentando convencê-la a manter relação sexual em troca de vantagens profissionais. Informa que, quando conseguiu se afastar de Paulo Roberto Lemos, abriu a porta e desceu as escadas aos prantos, tendo se dirigido até os colegas Estela e Leandro, os quais lhe recomendaram falar com o gerente. Diz que esse, visando abafar o caso e não criar repercussão acerca do fato, ignorou a situação. Noticia que Paulo Roberto Lemos não trabalhava apenas em Carazinho, atuava como auditor e supervisor em todas as filiais, o que, argumenta, poderia justificar sua ousadia e irresponsabilidade. Sustenta estar caracterizada a hipótese de assédio sexual praticada por superior hierárquico, o que enseja indenização pecuniária como forma de reparar o dano moral sofrido. Alega ser pessoa trabalhadora, casada e que restou com a saúde abalada pelo fato de, após poucos dias de trabalho, ter sido assediada por um superior, como se fosse uma "garota de programa" ou de "vida fácil".

volta ao índiceA reclamada contesta. Refere que a responsabilidade civil pressupõe a existência de conduta danosa ou ilícita por parte do agente, argumentado que nada teria ficado provado contra a empresa, não tendo ocorrido o fato gerador da responsabilidade civil. Sustenta que Paulo Roberto Lemos não era superior hierárquico da reclamante, não era empregado da empresa e não detinha mandato de chefia ou confiança, de modo que, se os fatos alegados ocorreram, não guardam qualquer relação com a empresa. Pondera que a indenização pressupõe a existência de efetivo dano e a identificação do autor do ato. Discorre acerca da dificuldade existente na fixação do valor da indenização e impugna o valor postulado a tal título.Paulo Roberto Lemos nega a ocorrência dos fatos alegados. Refere que o contrato de trabalho da reclamante não foi extinto em razão de assédio, mas por força do término do período de experiência. Refere ser pessoa correta, de boa índole, respeitado e respeitador. Reconhece ter sido superior hierárquico da reclamante junto à reclamada. Argumenta que, se tivesse ocorrido o suposto assédio sexual, a ação teria sido proposta anteriormente, sendo questionável o fato de ter a reclamante demorado tanto tempo para propor a ação. Impugna o valor postulado, referindo que a indenização deve ser fixada pelo Juiz.Razão parcial assiste à reclamante.A Constituição Federal de 1988 diz serem invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurando, quando tais direitos são violados, indenização por dano material ou moral decorrente (artigo 5º, incisos V e X).Configura-se o dano moral, no dizer de José Francisco Siqueira Neto, "...quando se ferem os componentes da subjetividade e da consideração pessoal e social do titular de direitos..." (Direito do Trabalho & Democracia - Apontamentos e Pareceres, LTr, São Paulo, 1996, p. 106). No âmbito do Direito do Trabalho, caracteriza-se quando presente um abuso desta ordem praticado pelo empregador ou um seu preposto.No caso em exame, a prova oral produzida confirma a veracidade dos fatos alegados na inicial, restando caracterizada lesão à honra e à imagem da autora.A testemunha Leandro Marcelo Farias declara "...que no dia do fato... estava presente, trabalhando junto a um terminal de computador que fica próximo à escada de acesso à sala do estoque; que... viu a reclamante descendo a escada em questão 'bem aflita, ela estava bem nervosa'; que... perguntou o que havia acontecido e a reclamante informou que o segundo reclamado havia dito algumas coisas para ela e havia tentado abraçar a reclamante; que esta tentativa ocorreu na parte superior da loja; mas... não sabe se foi na cozinha ou na sala do estoque; que a reclamante estava lacrimejando, 'meio chorando'; que o depoente foi a primeira pessoa que a reclamante encontrou ao descer da escada; que... pediu para que a reclamante fosse falar com o gerente Vianei 'porque ele certamente iria resolver'; que a reclamante falou com mais uma outra empregada que lhe deu o mesmo conselho e então a reclamante foi falar

67

:: Ano II – Edição Especial nº 7 ::

ASSÉDIO MORAL E ASSÉDIO SEXUAL 1ª PARTE: DECISÕES DO TRT DA 4ª REGIÃO

com o gerente;...; que o segundo reclamado não estava na parte térrea da loja; que em razão deste fato e em razão do relato da reclamante...acredita que o segundo reclamado estava no depósito nessa ocasião;...; que o fato gerou comentário entre todos os empregados; que o comentário era acerca do fato ocorrido e da pergunta que todos faziam: 'se ele - o segundo reclamado - iria continuar na empresa ou não" (ata de fl. 68).Destaque-se que, não obstante a testemunha Leandro informe ter trabalhado para a primeira reclamada antes de ocorrer a contratação da reclamante - diz que "...trabalhou para a reclamada durante uma semana, num período de teste, na função de vendedor; ... trabalhou para a primeira reclamada neste período de teste na parte final do mês de julho..." (ata de fls. 67/68) - , evidencia-se seu equívoco, na medida em que o preposto da empresa confirma sua presença na empresa, no dia do fato (fl. 67 - "...que no dia do fato Leandro estava fazendo a ficha para candidatar-se ao emprego...").

volta ao índiceA testemunha Estela Maris de Almeida Schneider diz que "...estava trabalhando no dia do fato; que a reclamante comunicou à depoente o fato ocorrido no mesmo dia; que o fato comunicado à depoente pela reclamante foi o de que o segundo reclamado, na sala do depósito, tentou abraçar e/ou beijar a reclamante; que o estado de ânimo da reclamante estava normal por ocasião do relato; que acredita que o gerente tomou conhecimento do fato mais tarde, mas não recorda se foi no mesmo dia;...; que a reclamante não chorava enquanto relatava o fato ocorrido; que não recorda se o fato chegou ao conhecimento de outros empregados" (ata de fl. 69).O preposto da reclamada, gerente da loja em que a autora prestou serviços, declara que "...estava na loja no dia em que ocorreu o fato; que o fato foi relatado para o depoente pela subgerente Estela e pela reclamante; que o fato ocorrido verificou-se no segundo piso da loja, no estoque, segundo relatado por Estela e a reclamante; que de acordo com esse relato o segundo reclamado teria tentado abraçar a reclamante;...; que em razão do fato ocorrido, o depoente resolveu relatar o acontecido à matriz, em Santo Cristo; que foi confeccionado um documento para esta finalidade, elaborado pelo depoente e por Estela; que o documento foi feito no dia do fato e enviado à matriz no primeiro malote; que o documento foi feito sem cópia para a filial local; que a matriz recebeu o documento e disse que o depoente havia agido corretamente ao comunicar o fato à matriz; que no dia do fato o segundo reclamado estava na filial local fazendo auditoria de crédito;...; que o depoente comunicou o fato ocorrido à supervisão do segundo reclamado, na matriz da reclamada em Santo Cristo; que não conversou com o segundo reclamado a respeito do fato relatado naquele documento..." (ata de fls. 66/67).O testemunho de Leandro Marcelo Farias, primeira pessoa a quem a reclamante se dirigiu após descer as escadas, confirma as declarações da reclamante, comprovando a alegação da petição inicial quanto à ocorrência do assédio sexual sofrido pela empregada, praticado pelo reclamado Paulo Roberto Lemos.Além do testemunho de Paulo Roberto Lemos, as declarações da testemunha Estela Maris de Almeida Schneider e do preposto também militam no sentido de corroborar a ocorrência do assédio. Não obstante a condição de empregados detentores de cargo de chefia os tenha levado a um natural retraimento, tanto o preposto (gerente) quanto a testemunha Estela Maris de Almeida Schneider (coordenadora administrativa) confirmam ter sido comunicados - tal qual a testemunha Leandro Marcelo Farias - pela reclamante do assédio por ela sofrido, imediatamente após o fato. Tratando-se de assédio sexual, é natural que o fato tenha ocorrido sem a presença de testemunhas. Paulo Roberto Lemos induziu a reclamante a acompanhá-lo ao andar superior, para ficar a sós com ela na sala do estoque. Lá aconteceu o assédio sexual.Em razão da natureza do fato ocorrido, a ausência de testemunhas presenciais não impede o reconhecimento do assédio ocorrido, até porque se trata de uma circunstância assim deliberadamente planejada pelo autor do assédio sexual, que não poderia levar adiante o seu escuso desiderato senão na ausência de terceiros, como, aliás, costuma ocorrer nestas situações. Daí porque merece crédito a palavra da mulher vítima do assédio sexual. E, no caso em exame, o crédito que a palavra da reclamante merece resulta fortalecido sobremaneira pelo conjunto da prova produzida, assim a prova oral e o documento em que relatado o assédio sexual, conquanto sonegado ao Juízo.Observe-se que é o próprio autor do documento - trata-se do gerente (preposto) - quem confirma sua confecção. A primeira conclusão que daí se infere é que o fato narrado pela reclamante ao

68

:: Ano II – Edição Especial nº 7 ::

ASSÉDIO MORAL E ASSÉDIO SEXUAL 1ª PARTE: DECISÕES DO TRT DA 4ª REGIÃO

gerente da filial ficou de tal forma evidenciado que ele decidiu levá-lo ao conhecimento dos seus superiores. Certamente não tomaria tal atitude levianamente, ou seja, sem antes se certificar de que o relatado não se tratava de uma invenção da autora. A lavratura do documento evidencia, portanto, que a ocorrência narrada pela reclamante verificou-se e que a gravidade do ocorrido foi reconhecida pelo gerente à época (o preposto), a ponto deste adotar a diretriz administrativa de comunicar à matriz. E assim procedeu certamente em face da atribuição funcional de pessoa responsável pela filial e tendo em consideração as conseqüências e responsabilidades emergentes da ocorrência havida.Note-se que a lavratura do documento que a reclamada sonega ao Juízo - dizendo tê-lo destruído, porque nada foi provado (fl. 91) - não foi solicitada pela reclamante. Foi ato de iniciativa da administração local da filial, que assim entendeu de agir dada a natureza e o significado do fato vivido pela reclamante, que precisava chegar ao conhecimento da direção da reclamada de modo formal e circunstanciado, no que se deve reconhecer o zelo com que, diante do ocorrido, se houve a gerência local.

volta ao índiceNesse contexto, é significativa a circunstância de que o afastamento de Paulo Roberto Lemos da empresa se deu em seguida, no próprio mês de agosto de 2002 (fl. 84), antes mesmo do término do contrato de experiência da reclamante. E, ao que demonstra o lançamento existente na cópia do contrato de trabalho (fl. 84), sua dispensa ocorreu por iniciativa da empregadora.A alegação de destruição do documento, nestas circunstâncias, é inverossímil, configurando-se, pois, a confissão cominada, por força da aplicação dos artigos 355, 357, 358, inciso III, e 359, inciso II, do CPC.Por outro lado, as alegações de Paulo Roberto Lemos, de que a autora está inventando este fato em represália à não renovação do seu contrato de trabalho e com o intuito de obter um ganho fácil, são descabidas. Como se referiu, o fato ocorreu no início do contrato de experiência, quando nem mesmo o empregador poderia antever se a reclamante seria efetivada ou não. Não se trata de uma estória que surgiu após a demissão da autora, mas de fato que ocorreu enquanto ela estava trabalhando para a reclamada, chegando a ser objeto de correspondência enviada à matriz, dada a gravidade do fato. A contraversão que Paulo Roberto busca sustentar - transmudar-se em vítima - revela-se inconsistente e inverossímil, denotando típica má-fé, pois, não suficiente a agressão perpetrada contra a reclamante ao tempo da relação contratual, busca agora infamá-la, deturpando o ocorrido. Seus argumentos, todavia, não resistem ao exame da prova, conforme já demonstrado na presente fundamentação.Não sobreleva, também, a alegação de demora no ajuizamento da ação, esta justificada pelo receio da vítima à exposição pública do constrangimento a que foi submetida. De se considerar, ainda, que a reclamante acreditava que a empresa iria agir de forma necessária a esclarecer o ocorrido, como lhe foi assegurado. Segundo suas declarações, "...não registrou ocorrência policial porque o gerente disse que iria tomar as providências;...; que demorou para entrar com a ação porque o gerente Vianei disse que ia tomar providências" (ata de fl. 66).Tal atitude, aliás, era de se esperar, em vista da responsabilidade civil do empregador pelos atos dos prepostos, consoante artigo 932, inciso III, do novo Código Civil, situação em que se enquadra o reclamado Paulo Roberto Lemos, tendo agido, como agiu, na condição de supervisor da atividade geral da loja (vide testemunho de Leandro Marcelo Farias, fls. 67/68), sabendo-se de sua condição de superior hierárquico da reclamante (vide defesa de Paulo Roberto Lemos, fl. 39).Configurado, pois, o ato lesivo praticado pelo empregado da primeira reclamada, reconhecidamente superior hierárquico da reclamante, está caracterizado o dano moral alegado. Bem se pode avaliar o constrangimento da reclamante ao ter de relatar o ocorrido aos colegas, depois à gerência, de ver este fato ser levado ao conhecimento dos superiores, na matriz, de informá-lo aos familiares, em suma, de torná-lo público, fora o abalo de sua honra subjetiva em razão do próprio assédio sexual vivenciado.Sendo assim, acolhe-se parcialmente a pretensão. Configurado o dano à honra e à imagem da autora, condena-se a primeira reclamada a repará-lo mediante indenização de R$10.000,00 (dez mil reais), valor que é arbitrado tendo em consideração a natureza e a gravidade do dano moral, o estado civil da reclamante (mulher casada) e a capacidade econômica da reclamada (empresa de médio porte).

69

:: Ano II – Edição Especial nº 7 ::

ASSÉDIO MORAL E ASSÉDIO SEXUAL 1ª PARTE: DECISÕES DO TRT DA 4ª REGIÃO

(...)volta ao índice

volta ao sumário

3.4. Exma. Juíza Cacilda Ribeiro Isaacsson. Processo nº 00377-2005-131-04-00-6 (apensado Processo nº 00078-2006-131-04-00-2) – Vara do Trabalho de Arroio Grande. Publicação em 27.04.2006.(...)

3.2. DECORRENTES DE ASSÉDIO MORALRequer o autor o pagamento de indenização por assédio moral no valor não inferior a 100 salários mínimos, frente ao caráter pedagógico e compensatório da indenização. Menciona que no final do contrato de trabalho foi alvo de destrato e agressões verbais pelo seu patrão, Sr. Edgar. Por seu turno, a reclamada se defende sustentando que "nunca houve por parte do Rdo. qualquer atitude agressiva contra o Rte., já que o Sr, Edgar, normalmente não comparece na loja, o que deixa a cargo de sua filha". Acrescenta que "não há nas atitudes relatadas pelo Rte. nenhuma violência psicológica regular, sistemática e duradoura, o que descaracteriza o assédio moral" (fl. 74).Os depoimentos colhidos (em parte já transcritos no item 1 da presentes) corroboram a tese da defesa.A representante da reclamada, em depoimento pessoal, declara que "(...) há três anos, aproximadamente, Letícia administra a empresa, tendo em vista os problemas de saúde (perda auditiva e de memória) que Edgar teve; que Edgar permanece no escritório que montou em sua casa, saindo em raras oportunidades para ir aos bancos (...)" (fl. 147).A segunda testemunha trazida pelo autor MAICO AVILA BENTO assevera que "(...) não necessitavam de ordens diretas, pois os funcionários da demandada sabiam o serviço que tinha que ser executado; que inicialmente Edgar controlava a empresa e a partir de determinado momento Letícia passou a desempenhar tal função; que quando Letícia não resolvia algum problema entrava em contato com Edgar para pegar orientação; que Edgar raramente comparecia na empresa, esclarecendo que mesmo antes de seu afastamento do local “nunca foi de conversa”, conversando com os funcionários apenas o necessário; que acha que Letícia estava começando a comandar a empresa quando do acidente do autor; que quando do retorno do autor do benefício previdenciário, o depoente não notou nenhuma alteração no tratamento dispensado a este, tanto pelos colegas quanto por Edgar, salientando que este nunca foi de muita conversa (...)" (fl. 148).Tais informações são confirmadas pela terceira testemunha convidada pelo autor DENOCI CONCEIÇÃO FERNANDES ao dizer que “(...) o depoente e os outros funcionários não precisam receber ordens, pois sabem o serviço a ser executado; que Letícia e sua mãe é que comandam a empresa; que quando do retorno do autor do benefício, Edgar já não comandava mais a empresa; que nunca viu o reclamante recebendo tratamento ríspido por parte dos empregadores, tendo sido tratado de forma normal quando do seu retorno do benefício; que se recorda do reclamante ter comparecido no estabelecimento do demandado acompanhado da primeira testemunha, ocasião em que conversou com a sócia presente na audiência; que o depoente, na ocasião, estava fazendo entregas e não participou da conversa; (...) que Edgar e Letícia tomavam as decisões e apenas Letícia repassava as ordens aos funcionários (...)” (grifei – fl. 149 dos autos). Destaco que esta testemunha trabalha para a demandada há 17 anos e que segundo apreciação do Juízo, de grande credibilidade suas declarações.Por fim, ressalto que o próprio reclamante, em seu depoimento pessoal, reconhece que "(...) antes de se acidentar recebia ordens de serviço de Edgar e Denoci; que quando do retorno do benefício previdenciário, a filha de Edgar (Letícia) era quem estava no estabelecimento diariamente, mas quando necessário o Sr. Edgar comparecia no local para alguma decisão específica; que não pode reclamar de Letícia, a qual sempre foi muito educada, embora depois do acidente não falasse tanto com o depoente quanto antes. (...) que quando Edgar não estava na empresa, acaso necessitasse falar com ele, tinha de solicitar sua empresa no local; que diretamente Edgar não permanecia na empresa, quando do retorno do depoente do

70

:: Ano II – Edição Especial nº 7 ::

ASSÉDIO MORAL E ASSÉDIO SEXUAL 1ª PARTE: DECISÕES DO TRT DA 4ª REGIÃO

benefício, pois ficava em sua residência, que se localiza na parte superior do prédio da empresa demandada (...)" (fl. 146 - grifei).Desta forma, verifico que não há nos autos qualquer prova de que a reclamada tenha agido de modo a denegrir a imagem ou a honra do autor. Ademais, conforme cabalmente comprovado, a empresa era comandada por Letícia, filha de Edgar. Considero não caracterizada a ocorrência de dano.Portanto, indefiro o pedido.(...)

volta ao índice volta ao sumário

3.5. Exma. Juíza Lila Paula Flores França. Processo nº 1194-2003-411-04-00-6 – Vara do Trabalho de Viamão. Publicação em 26.05.2004.(...)II) FUNDAMENTAÇÃO1. DANO MORAL. INDENIZAÇÃONarra a reclamante ter sido constrangida pelo empregador e sofrido abalo em sua honra. Explica que trabalhava junto com seu marido, o gerente do estabelecimento, que foi acusado de furtar a importância de R$ 91.000,00. Após a acusação, diz que não foi despedida, que seu pedido de demissão não foi aceito e que foi designada a nova gerente. Alega ter o empregador, num gesto galanteador, realizado ligação telefônica para a sua mãe e solicitado que fosse bem cuidada, ao lhe ter sido informado que estava deprimida. Prossegue narrando que em anteriores oportunidades o patrão se convidou para ir jantar na sua casa, após a despedida do seu marido, e que Patrícia, sócia e advogada da empresa, sugeriu a sua separação judicial, com restrição de visita do marido à sua filha. Também narra que em uma oportunidade o patrão lhe ofereceu chimarrão e diante de sua recusa, recebeu resposta com significado dúbio (fl. 03, item 1.4). Por derradeiro, diz que não suportou a pressão do empregador, que entrou num estado depressivo e se afastou do serviço para tratamento de saúde por 08 dias, sendo que pouco antes do termo final do atestado, enviou uma carta de rescisão de contrato de trabalho para a empresa. Postula pagamento de uma indenização por danos morais equivalente a 150 salários mínimos.O reclamado nega as imputações de assédio sexual. Confirma que o marido da autora, Sr. Cristian, furtou importância em dinheiro, conforme está sendo apurado em processo crime em andamento.A prova testemunhal não apura tenha o reclamado tratado a autora com falta de respeito. Nesse sentido o depoimento da primeira testemunha inquirida, da própria reclamante: “... que nunca presenciou nenhum tratamento de falta de respeito do rdo com a rte”... (fl. 147).De outra parte, o que resta provado é que a comunidade local, a cidade de Palmares, na qual a reclamante estava inserida, passou a questionar se o dono do posto assediava ou não a reclamante, quais seriam as razões para o marido ser despedido e não a esposa (reclamante), se o casamento da reclamante estava ou não abalado, se o reclamado ia morar ou não com a reclamante, se eles iam ou não ficar juntos. Nesse sentido é o depoimento da segunda testemunha inquirida: ”... que as pessoas acharam uma coisa duvidosa o marido ter ido embora e a esposa assumido como gerente; que ouviu falar, por comentários que o casamento da rte. estava abalado porque o marido tinha ido embora e a rte. tinha ficado trabalhando; que a rte. era casada e morava junto com seu marido; que sabe que o marido da rte. teve um tempo ausentado e teria ido para a terra Natal; que o marido da rte. foi para a terra Natal logo que foi despedido, quando a rte. assumiu como gerente; que nunca viu o rdo. assediar a rte., ouviu comentários; que havia comentários que o dono do posto ia ficar com a rte., morar com a rte.; que havia comentários porque a cidade é pequena; que não tem mais informações; que só sabe de comentários das pessoas: “será que vão ficar juntos, a rte. e o rdo”.?...(fl.149).Ainda que tenha sido provada a desconfiança acerca da solidez do casamento da reclamante, perante a comunidade local, não há um dano a ser indenizado. Explica-se.Dano moral é uma compensação pecuniária para trazer de volta um bem estar à vítima que, em face de um sofrimento causado por ato ilícito, teve um prejuízo. Mas o sofrimento precisa ser

71

:: Ano II – Edição Especial nº 7 ::

ASSÉDIO MORAL E ASSÉDIO SEXUAL 1ª PARTE: DECISÕES DO TRT DA 4ª REGIÃO

efetivo, grave, não um mero aborrecimento, até porque dissabores fazem parte da vida em sociedade.

volta ao índice

No caso em tela entende-se que inexistiu um prejuízo a ser reputado como passível de dano moral. Como leciona Sérgio Cavalieri Filho, em Programa de Responsabilidade Civil, editora. Malheiros, 3ª edição, página 89: “ ...só deve ser reputado como dano moral a dor, vexame, sofrimento ou humilhação que, fugindo à normalidade, interfira intensamente no comportamento psicológico do indivíduo, causando-lhe aflições, angústia, e desequilíbrio em seu bem estar. Mero dissabor, aborrecimento, mágoa, irritação ou sensibilidade exacerbada estão fora da órbita do dano moral, porquanto além de fazerem parte da normalidade do nosso dia-a-dia, no trabalho, no trânsito, entre amigos e até no ambiente familiar, tais situações não são intensas e duradouras, a ponto de romper o equilíbrio psicológico do indivíduo. Se assim, não se entender, acabaremos por banalizar o dano moral, ensejando ações judiciais em busca de indenizações pelos mais triviais aborrecimentos”.Também é preciso salientar a necessidade da existência de um nexo causal direto entre o ato ilícito e o dano causado. A reclamante alegou depressão, inclusive com necessidade de se afastar do trabalho por 08 dias. A necessidade de se ausentar do serviço restou provada, pela juntada do atestado médico (documento fl. 64). Também a primeira testemunha inquirida depõe no sentido de que a reclamante precisou tomar remédios porque estava sofrendo muita pressão. Todavia, não foi feita prova convincente no sentido de que a doença da reclamante decorreu do alegado assédio do empregador. Registre-se que o atestado médico não menciona a razão da necessidade de suspensão das atividades. De outra parte, a presunção é de que a reclamante ficou abalada é com as imputações feita a seu marido, já que graves e com possibilidade de vir a ser condenado em ação penal (alegação de furto da importância de R$ 91.000,00).Pelos motivos expostos, entende-se como indevido o pagamento de indenização de dano moral, tanto porque o prejuízo provado foi existência de comentários acerca da solidez do casamento da reclamante, que se entende como não passível de indenização, como porque não provado o nexo causal entre o alegado assédio e a perturbação psíquica da reclamante.(...)

volta ao índice volta ao sumário

3.6. Exmo. Juiz Luciano Ricardo Cembranel. Processo nº 00807-2005-662-04-00-9 – 2ª Vara do Trabalho de Passo Fundo. Publicação em 13.03.2006.(...)e.2.) ASSÉDIO MORAL.O reclamante pretende o pagamento de uma indenização por dano moral no valor “equivalente a 100 (cem) vezes o valor da remuneração constante e considerada para fins de rescisão contratual”, pela dor moral que lhe foi impingida durante a execução contratual. Explica que sofreu discriminação e pressões de toda ordem, com ameaças de demissão, transferências para lugares distantes e desqualificação. Refere que foi estigmatizado como “funcionário sem perfil”. Sustenta que desde o momento da sua admissão sofreu assédio moral por parte do seu superior hierárquico Moacir Trentin, que dizia que “deveria pensar em outro trabalho porque não tem cara para trabalhar no banco” e “antes de mandar você para a rua vou dar a você mais uma chance. Você vai fazer um curso de operador de caixa e se não se der bem, não vai ter o que fazer aqui no banco”, entre outras. Aduz que este lhe acusava de estar abaixando o nível da agência e que iria iniciar o processo demissional. Expõe que era pressionado para aumentar as vendas dos produtos do reclamado. Relata que, quando no posto de Vanini, foi proibido de entrar na agência de Casca, o que era permitido para outros funcionários.O reclamado impugna a pretensão ao argumento de que não houve assédio moral. Refere que durante o contrato de experiência o reclamante recebeu avaliação com conceito ótimo e muito bom do gerente de expediente da agência onde trabalhava e que após sempre foi avaliado dentro da média. Expõe que lhe foi proporcionado que realizasse curso de caixa, laborando com função gratificada de caixa executivo e com um acréscimo salarial que poderia chegar a 50%. Refere que o reclamante pediu demissão porque havia logrado aprovação em outro concurso público que lhe era mais benéfico. Argumenta que ele não sofreu nenhuma espécie de coação e que o pedido de demissão é válido.

72

:: Ano II – Edição Especial nº 7 ::

ASSÉDIO MORAL E ASSÉDIO SEXUAL 1ª PARTE: DECISÕES DO TRT DA 4ª REGIÃO

volta ao índiceDe acordo com a Doutora em Direito do Trabalho, Sônia A. C. Mascaro Nascimento, “assédio moral caracteriza-se por ser uma conduta abusiva, de natureza psicológica, atenta contra a dignidade psíquica, de forma repetitiva e prolongada, e que expõe o trabalhador a situações humilhantes e constrangedoras, capazes de causar ofensa à personalidade, à dignidade ou à integridade psíquica, e que tenha por efeito excluir a posição do empregado no emprego ou deteriorar o ambiente de trabalho, durante a jornada de trabalho e no exercício de suas funções” (“O Assédio Moral no Ambiente do Trabalho”, artigo publicado na revista LTr 68-08, p. 922). Como viola um direito personalíssimo, a prática de assédio moral gera a obrigação de reparar o dano moral sofrido.Impende que se analise, portanto, a ocorrência dos elementos caracterizadores do assédio, já que este é o ponto de partida para o cabimento da indenização. Seguindo os ensinamentos da doutora supramencionada, são eles: natureza psicológica; conduta repetitiva, prolongada ofensiva ou humilhante; finalidade e; necessidade do dano psíquico-emocional.No que diz respeito à natureza psicológica, o assédio moral é concebido como uma forma de “terror psicológico” praticado pelo empregador ou pelos colegas de trabalho, revelado por meio de comportamentos, palavras, gestos, atos e escritos capazes de ofender à personalidade, à dignidade ou à integridade física ou psíquica de uma pessoa, de colocar seu emprego em perigo ou de degradar as condições de trabalho. Em outras palavras é a modalidade de conduta que se verifica agressiva e vexatória, capaz de constranger a vítima, trazendo nela sentimentos de humilhação, inferiorização, afetando essencialmente a sua auto-estima.Nesse aspecto o depoimento da testemunha Francisco Artur Vieira Borba é esclarecedor: “[...] o reclamante estava subordinado ao gerex Moacir Trentin; que o gerex considerava o reclamante sem o perfil de bancário, pois ficava a desejar nas vendas dos produtos e não era ágil no atendimento; que havia reuniões semanais na agência onde era cobrado pelo gerente Moacir do reclamante maior quantidade de vendas a fim de cumprir as metas; que a cobrança ocorria também em relação aos demais empregados; que era comentado nessas reuniões das vendas insuficientes do reclamante; que as vendas eram verificadas mediante a avaliação de desempenho funcional (ADF), onde era colocado o desempenho de cada empregado, sendo a nota mínima 03, abaixo dessa, era considerada insatisfatória; que várias vezes o gerente, de forma “deselegante”, cobrou do reclamante maior empenho nas vendas, já que estavam abaixo da média exigida, sob ameaça de demissão; que isso foi presenciado pelo depoente; que o reclamante se queixou com o depoente de tais cobranças; que o reclamante diante dessa pressão estava estressado e insatisfeito no local de trabalho; que em virtude de fortes pressões, o reclamante foi aconselhado pelos colegas a procurar outros caminhos, que consistiam transferência de agência e até outro emprego; que espontaneamente informa que o trabalho no posto de Vanini foi por orientação dos colegas que verificaram possibilidade de abertura de procedimento para dispensa, tamanha pressão sofrida [...]; que muitas vezes o reclamante comentou estar arrependido ter ingressado no reclamado, por conta dessas pressões; que acredita que o reclamante parou de trabalhar para o reclamado por causa de toda essa pressão; que nas reuniões semanais havia constrangimento nas cobranças das metas; que os empregados estavam constrangidos de oferecer os produtos aos clientes devidos a restrição desses, ou seja, lugar pequeno, clientes limitados, sendo que a maioria deles já tinha adquirido a totalidade dos produtos vendidos; que o próprio depoente já adquiriu produtos como CAP, seguro, para atender metas; que não se recorda os conceitos de avaliação admitidos na ADF; que para atingir a nota 03 é necessário ficar na média da expectativa de atendimento, no desempenho funcional e no cumprimento das metas; que a nota era de 01 a 05; que apresentado o documento da fl. 364, o depoente explica que tal folha é apenas uma parte da avaliação; que a avaliação feita é levada para consideração no processo de dispensa, sendo levava em consideração/parecer do gerex; que sabe de dois casos em que o gerex opinou pela dispensa, sendo que as mesmas foram efetivadas, por exemplo, Vitor Hugo Watts Cornelo e Irene, não se recordando o nome; que essas dispensas culminaram eis que houve repetidas vezes o conceito abaixo de 03; que o constrangimento também era verificado do seguinte modo: como o reclamante tinha vendas insatisfatórias o gerex, às turras, gritava “pô Valdir de novo tive que quebrar um galho teu em Brasília, da próxima vez vai ser demitido”; que isso ocorreu várias vezes [...]” – grifei – fls. 972-3.

volta ao índiceCristalina a pressão psicológica sofrida pelo reclamante através do gerex da agencia de Casca, com injustificável exposição vexatória e vulnerabilidade da autoconfiança do autor.

73

:: Ano II – Edição Especial nº 7 ::

ASSÉDIO MORAL E ASSÉDIO SEXUAL 1ª PARTE: DECISÕES DO TRT DA 4ª REGIÃO

A repetição da conduta igualmente se revela inconteste pelo depoimento supratranscrito, cuja humilhação prolongada interferiu na vida do assediado de modo direto, comprometendo sua identidade, dignidade, relações afetivas e sociais, o que também é corroborado pela testemunha Leonila Occhi Dasilva, verbis: “[...] que ao se oferecer para o trabalho voluntário o reclamante justificou que precisava trabalhar com crianças para melhorar sua auto-estima, já que estava sendo pressionado no trabalho, estando insatisfeito no emprego; que várias vezes o reclamante desabafou e chorou para a depoente comentando estar se sentindo um “lixo”; que o reclamante dava aulas gratuitas de violão para o filho da depoente; que fazia isso para se sentir melhor; que a sua tristeza se dava pela cobrança de maior rendimento, sendo esse consistente na venda de produtos do reclamado; que o serviço voluntário do reclamante consistia em ensinar as crianças cantar e tocar [...]” – fl. 973.Quanto à finalidade, nas palavras de Sônia A. C. Mascaro Nascimento, o “objetivo principal do assédio moral é a exclusão da vítima, seja pela pressão deliberada da empresa para que o empregado se demita, aposente-se precocemente ou ainda obtenha licença para tratamento de saúde, bem como pela construção de um clima de constrangimento para que ela, por si mesma, julgue estar prejudicando a empresa ou o próprio ambiente de trabalho, pedindo para ausentar-se ou para sair definitivamente” (ob. cit. p. 925).No caso, o desejo de excluir o reclamante é demonstrado pelo depoimento da testemunha Francisco Artur Vieira Borba acima transcrito, sendo relevante ressaltar, pela importância da questão, as ameaças de dispensa feitas pelo gerex, bem como a transferência do autor da agência de Casca para o posto de Vanini, por orientação dos seus colegas, já que a permanência naquela sinalizava a dissolução contratual, tamanha a perseguição sofrida.Por fim, é evidente o sofrimento psicológico do reclamante. Aliás, muito bem demonstrado pela testemunha Leonila Occhi Dasilva, cujo depoimento já restou transcrito, cabendo salientar, para não ser enfadonho, a tristeza e a baixa auto-estima relatada.A propósito, Sérgio Cavallieri Filho assevera que “o dano moral está ínsito na própria ofensa, decorre da gravidade do ilícito em si. Se a ofensa é grave e de repercussão, por si só justifica a concessão de uma satisfação de ordem pecuniária ao lesado. Em outras palavras, o dano moral existe in re ipsa; deriva inexoravelmente do próprio fato ofensivo, de tal modo que, provada a ofensa, ipso facto está demonstrado o dano moral à guisa de uma presunção natural, uma presunção hominis ou facti, que decorre das regras da experiência comum” (“Programa de Responsabilidade Civil”, 2003, p. 102).Induvidoso, no caso, o dano de ordem moral, derivado do terror psicológico experimentado pelo autor, fazendo jus à indenização respectiva.Na mensuração do dano moral levo em consideração a intensidade da lesão, o sofrimento do autor, a repercussão da ofensa, a posição social das partes e a finalidade compensatória e punitiva da “indenização”. Neste diapasão, defiro o pagamento da importância de R$ 30.000,00 (trinta mil reais), a título de indenização pelos danos morais.(...)

volta ao índice volta ao sumário

3.7. Exmo. Juiz Sílvio Rogério Schneider. Processo nº 00788-020/02-1 – 20ª Vara do Trabalho de Porto Alegre. Publicação em 30.09.2005.(...)18. Indenização - dano moral.O autor pleiteia indenização por dano moral, por ter sofrido constantes pressões e humilhações por parte do Sr. Sérgio Paulakoski, seu superior hierárquico, durante certo período contrato de emprego. Alega que tais humilhações ocorriam perante seus demais colegas, sempre que as metas estabelecidas pelo réu não eram cumpridas, e que tais fatos lhe causaram grande abalo psicológico.Em sua defesa, o réu admite ter estabelecido metas para seus empregados, mas nega ter procedido da maneira articulada pelo autor nas ocasiões em que tais metas não fossem atingidas. Afirma que nunca houve ofendeu o autor, e que este nunca foi humilhado ou rebaixado por ele durante a relação de emprego. Afirma não estarem presentes os requisitos que ensejam a responsabilidade civil de indenizar o dano moral alegado. Requer a rejeição do pedido.Não se discute mais acerca da possibilidade da indenização por dano exclusivamente moral, independentemente de causar ou não reflexos na esfera patrimonial do requerente. A própria

74

:: Ano II – Edição Especial nº 7 ::

ASSÉDIO MORAL E ASSÉDIO SEXUAL 1ª PARTE: DECISÕES DO TRT DA 4ª REGIÃO

Constituição de 1988 acabou por dirimir a questão, ao garantir expressamente a indenização por dano moral, de forma distinta à indenização por dano material ou à imagem. Cumpre analisar, então, o cabimento ou não da indenização pleiteada no caso vertente.Valentin Carrion esclarece, com propriedade, que “dano moral é o que atinge os direitos da personalidade, sem valor econômico, tal como a dor mental psíquica ou física. Independe das indenizações previstas pelas leis trabalhistas e se caracteriza pelos abusos cometidos pelos sujeitos da relação de emprego. (…) Não se caracteriza pelo simples exercício de um direito, como é a dispensa, mesmo imotivada, ou a revelação de fatos pelo empregado em sua defesa, quando acusado; (…) só se caracteriza dano moral se houver abuso desnecessário” (in Comentários à Consolidação das Leis do Trabalho, 22a ed., 1997, Saraiva, p. 359).É do autor o ônus da prova quando vem a Juízo pleitear indenização por dano moral. Deve provar, de forma robusta e inconteste, a lesão à moral, à dignidade ou a qualquer outro valor subjetivo, bem como o nexo causal entre o dano alegado e o fato que lhe deu causa.Diante do conjunto probatório constante nos autos, constato que o autor se desincumbiu do encargo que lhe coube. A prova oral produzida demonstra que o réu lesou seus direitos de personalidade, pelo uso abusivo do seu poder empregatício, traduzido em ofensas e humilhações desferidas pelo superior hierárquico do autor, Sr. Sérgio Paulakoski.A primeira testemunha indicada pelo autor, Sr. Marcos André de Araújo Figueiro, relatou ao Juízo que “(...) presenciava fatos que não eram normais na relação de trabalho partindo do sr. Sergio em relação a todos os funcionários subordinados a ele, aproximadamente 4; que o sr. Sergio desrespeitava constantemente essas pessoas, diariamente, acrescentando o depoente, chamando-os de “incompetentes”, “seus m”, “seus fdp”, em relação ao depoente, “seu advogadinho de m”, o que ocorria na presença dos demais; que esclarece o depoente que assim que ingressou na área de crédito, pouco depois ficou sabendo de uma carta elaborada pelos subordinados do sr. Sergio à Ouvidoria do banco solicitando providências em relação aos fatos acima mencionados; que foi puxado pelo braço pelo sr. Sergio quando este ficou sabendo da carta, sendo ameaçado e humilhado pelo mesmo; que os fatos acima citados aconteciam em maior intensidade em relação ao reclamante, a quem foi atribuída a autoria da carta; que o sr. Sergio ameaçava seus subordinados de demissão; que ocorria do sr. Sergio denegrir a imagem do reclamante quando conversava em particular com o depoente; (...) que não foi tomada nenhuma providência pelo banco após o recebimento da carta pela Ouvidoria; (...)” (fls. 699-700).A segunda testemunha indicada pelo autor, Sra. Fernanda Caruso Madera, por sua vez, respondeu ao Juízo que “(...) o sr. Sérgio Paulakoski faltava com o respeito em relação aos seus subordinados diariamente ou dia sim, dia não, humilhando-os freqüentemente na presença de todos; que o sr. Sérgio costumava gritar com o reclamante na presença de todos, dizendo “quem manda aqui sou eu”, “vocês são pagos para trabalhar”; que a situação estava insustentável, chegando a depoente a emagrecer 11kg, motivo pelo qual ela e os demais subordinados do sr. Sérgio enviaram uma carta à ouvidoria do banco solicitando providências, do que não tiveram retorno até a presente data; que o sr. Sérgio era o chefe da depoente e do reclamante; que a situação se agravou após o envio da carta, chegando o sr. Sérgio a conseguir demitir um subordinado, sr. Eris Pedro Ezequiel e afastar outros; que o reclamante foi transferido para outro setor após o envio da carta, não sendo mais subordinado ao sr. Sérgio, vindo outra pessoa para a área uns três meses depois; que o sr. Sérgio se intitulava de “O Poderoso”; (...)” (fls. 700-701).É sabido que o empregador tem o direito de fixar metas de produção a serem perseguidas por seus empregados. Entretanto, isso não autoriza o abuso de expor aqueles que não alcançarem tais objetivos a constantes ofensas e humilhações, constrangendo-os perante outros colegas de trabalho.O exercício do poder hierárquico do réu evidentemente encontra seus limites nos princípios constitucionais da inviolabilidade da honra e da imagem. No caso vertente, ficou sobejamente demonstrado que o réu invadiu esses limites. Por meio do superior hierárquico do autor, Sr. Sérgio Paulakoski, ofendeu-o e o humilhou constantemente, o que lesou a sua honra. Ficou demonstrado também que tais atos ilícitos foram publicamente praticados no meio profissional do ex-empregado, havendo também violação de sua imagem.O autor sofreu, portanto, abalo moral passível de indenização, a qual não pode propiciar o enriquecimento da vítima, mas também não pode ser insignificante, a ponto de absolver o infrator de uma punição adequada, servindo de estímulo para a perpetuação da prática ilícita.Sendo assim, condeno o réu a pagar ao autor indenização pelo dano moral sofrido, a qual arbitro no valor equivalente a R$ 100.000,00 (cem mil reais).

75

:: Ano II – Edição Especial nº 7 ::

ASSÉDIO MORAL E ASSÉDIO SEXUAL 1ª PARTE: DECISÕES DO TRT DA 4ª REGIÃO

(...)volta ao índice

volta ao sumário

3.8. Exmo. Juiz Sílvio Rogério Schneider. Processo nº 00198-2005-020-04-00-7 – 20ª Vara do Trabalho de Porto Alegre. Publicação em 30.09.2005.(...)3. Indenização - dano moral.A autora pleiteia indenização por dano moral, alegando ter sofrido assédio sexual por parte do Sr. Moisés Ávila Duarte, sócio da ré, traduzido em constantes pressões e perseguições durante o contrato de emprego. Aduz que em razão de sua resistência ao assédio, teve sua atuação excluída da área de Viamão e foi despedida pela ré. Postula indenização pelo dano moral sofrido.Em sua defesa, a ré nega veementemente os fatos articulados pela autora na petição inicial, dizendo que se tratam de acusações caluniosas e difamatórias em face da pessoa de seu sócio-diretor, com o objetivo de denegrir sua imagem frente a seus colaboradores. Afirma que a retirada da autora da área de Viamão e sua despedida ocorreram em razão do seu baixo desempenho nas vendas. Requer a rejeição do pedido.De plano, ressalto que conheço apenas do pedido referente à indenização por dano moral decorrente de assédio sexual, porque o de indenização decorrente de perseguição está nele contido, tendo ambos a mesma causa de pedir.Não se discute mais acerca da possibilidade da indenização por dano exclusivamente moral, independentemente de causar ou não reflexos na esfera patrimonial do requerente. A própria Constituição de 1988 acabou por dirimir a questão, ao garantir expressamente a indenização por dano moral, de forma distinta à indenização por dano material ou à imagem. Cumpre analisar, então, o cabimento ou não da indenização pleiteada no caso vertente.Valentin Carrion esclarece, com propriedade, que “dano moral é o que atinge os direitos da personalidade, sem valor econômico, tal como a dor mental psíquica ou física. Independe das indenizações previstas pelas leis trabalhistas e se caracteriza pelos abusos cometidos pelos sujeitos da relação de emprego. (…) Não se caracteriza pelo simples exercício de um direito, como é a dispensa, mesmo imotivada, ou a revelação de fatos pelo empregado em sua defesa, quando acusado; (…) só se caracteriza dano moral se houver abuso desnecessário” (in Comentários à Consolidação das Leis do Trabalho, 22a ed., 1997, Saraiva, p. 359).É da autora o ônus da prova quando vem a Juízo pleitear indenização por dano moral. Deve provar, de forma robusta e inconteste, a lesão à moral, à dignidade ou a qualquer outro valor subjetivo, bem como o nexo causal entre o dano alegado e o fato que lhe deu causa.Diante do conjunto probatório constante nos autos, constato que a autora se desincumbiu do encargo que lhe coube, o que, convenhamos, é extremamente difícil de acontecer em casos de assédio sexual, em razão do caráter reservado que cerca estes atos ilícitos.A prova oral produzida demonstra que a ré lesou seus direitos de personalidade, pelo uso abusivo do seu poder empregatício, traduzido no assédio sexual praticado pelo seu sócio, Sr. Moisés Ávila Duarte, durante o contrato de emprego.

volta ao índiceDisse a primeira testemunha indicada pela autora, Sr. Eduardo Moacir Wolff: “(...) que presenciou o sócio Moisés se insinuando para a reclamante por ocasião de um churrasco promovido pela empresa após uma reunião de trabalho, no ano de 1999; (...)” (fl. 952).A segunda testemunha de indicação da autora, Sr. Alexandre Bittencourt de Rabello, por sua vez, confirmou os fatos alegados, conforme se observa em seu depoimento: “(...) que presenciou o sr. Moisés se insinuando para a reclamante nas reuniões da empresa e nos churrascos que aconteciam após; que as reuniões não eram freqüentes; que a reclamante reagia normalmente nas ocasiões em que ocorriam tais insinuações; que a reclamante chegou a comentar com o depoente sobre tais insinuações e que estava chateada com tais fatos; (...)” (fl. 953).Ao ver do Juízo, nenhuma relevância para o deslinde da questão têm os depoimentos da segunda e terceira testemunhas indicadas pela ré, as quais afirmaram não ter presenciado os atos ilícitos em análise (fls. 953-954). Isso porque o assédio sexual relatado na petição inicial foi constituído por uma série de atos que se sucederam no tempo, de modo que o fato de uma ou outra testemunha afirmar não ter presenciado tais atos não quer dizer que outros atos não ocorreram. Ademais, as testemunhas indicadas pela ré não ficaram 24 horas por dia ao lado do seu sócio, a

76

:: Ano II – Edição Especial nº 7 ::

ASSÉDIO MORAL E ASSÉDIO SEXUAL 1ª PARTE: DECISÕES DO TRT DA 4ª REGIÃO

ponto de seus depoimentos terem o condão de invalidar as afirmações das testemunhas indicadas pela autora.O exercício do poder hierárquico da ré evidentemente encontra seus limites nos princípios constitucionais da inviolabilidade da honra e da intimidade. No caso vertente, ficou sobejamente demonstrado que a ré invadiu esses limites. Seu sócio, Sr. Moisés Ávila Duarte, assediou sexualmente a autora durante o contrato de emprego, o que lesou a sua intimidade e provavelmente lhe causou problemas pessoais irreparáveis. Ademais, o desrespeito assume grau maior de reprovação em razão de a autora ser pessoa casada na época dos fatos, como reconhece a ré em sua contestação.Embora não tenha ficado provado que em razão de sua resistência ao assédio sexual acima comprovado é que a autora foi excluída da área de Viamão e despedida pela ré, presumo que assim tenha ocorrido, com base nas máximas de experiência advindas do que ordinariamente acontece nessas situações.A autora sofreu, portanto, abalo moral passível de indenização, a qual não pode propiciar o enriquecimento da vítima, mas também não pode ser insignificante, a ponto de absolver o infrator de uma punição adequada, servindo de estímulo para a perpetuação da prática ilícita.Sendo assim, condeno a ré a pagar à autora indenização pelo dano moral sofrido, a qual arbitro no valor equivalente a R$ 25.000,00 (vinte e cinco mil reais).(...)

volta ao índice volta ao sumário

3.9. Exma. Juíza Lígia Maria Belmonte Klein. Processo nº 00010-2005-015-04-00-5 – 15ª Vara do Trabalho de Porto Alegre. Publicação em 10.09.2005.(...)11. INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAISA reclamante alega que durante mais de oito anos da duração do contrato de trabalho foi submetida a verdadeiro terrorismo moral e psicológico, patrocinado pelo gerente do setor de anúncios classificados do Jornal Zero Hora, Sr. Sérgio Caraver. Afirma ter sido submetida à falta de respeito e humilhações, com ofensas, pois o gerente, nas reuniões com suas subordinadas, na maioria mulheres casadas, dirigia-se a elas aos berros proferindo expressões do mais baixo nível, reproduzidas na fl. 21 da petição inicial. Diz que o referido gerente dirigia-se especificamente com relação à autora com frases humilhantes. Relata que tal situação foi levada à gerência por suas colegas e nada foi feito, tanto que o referido gerente continua na reclamada. Em conseqüência, requer indenização por danos morais no valor de cem vezes sua maior remuneração.A reclamada, na defesa, diz que o uso das palavras, não necessariamente as apontados na inicial, atribuídas ao gerente de área, Sr. Caraver, não tinham o objetivo de ofender ninguém, mesmo porque pronunciadas de público, seguramente no sentido de estimular as vendas, em benefício de todos, de vez que maiores vendas geravam maiores ganhos. Quanto às demais, nega a acusação.

volta ao índiceA reparação por dano moral tem previsão constitucional – art. 5º, inc. X. O Novo Código civil Brasileiro, no art. 186, dispõe: art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.Como se constata, a Constituição da República e a lei ordinária contemplam a ampla reparação dos danos decorrentes de ação ou omissão que violem direito ou causem dano.Atualmente, a regra geral é de que a responsabilidade é subjetiva, com fundamento no art. 186 do Código Civil em vigor, pelo qual se exige, para o reconhecimento do direito à percepção de indenização por danos morais a prova da ação lesiva por parte da empregadora, do resultado prejudicial ao empregado (vítima) e do nexo causal entre este e aquela. A indenização por dano moral decorre da lesão sofrida pela pessoa natural em sua esfera de valores, como a dignidade, a honra, o moral, a imagem, a integridade física, bem como outros valores de natureza extrapatrimonial.A prova oral colhida não deixa dúvidas.A testemunha Mauro Antonio Brum Devit, trazida a depor pela reclamante, declarou que: “...o depoente participava de reuniões presididas por Sergio Caraver, que se dirigia a seus

77

:: Ano II – Edição Especial nº 7 ::

ASSÉDIO MORAL E ASSÉDIO SEXUAL 1ª PARTE: DECISÕES DO TRT DA 4ª REGIÃO

subordinados, inclusive a reclamante, utilizando as palavras de baixo calão, agressivas e ofensivas; que além das expressões constantes no item 39 da fl. 21 (deste teor: “eu fodo com a vida de vocês; caralho; cadelas; dêem o cu para vender...”), o referido superior utilizava, ainda, outros palavrões... o depoente questionou Sergio Caraver acerca de sua conduta e foi por ele dispensado...”(fl. 440).A testemunha Vera Lúcia Rodrigues Alves, trazida a depor pela reclamante, além de confirmar o já afirmado pela testemunha anterior, declarou: “... o referido supervisor utilizava, ainda outros palavrões como “lixo” e “merda”; que não presenciou a reclamante sendo desrespeitada fora das reuniões embora tenha ouvido comentários ... diversas vezes a reclamante comentou com a depoente que se sentia desrespeitada e humilhada com a conduta de Sergio Caraver... a depoente foi dispensada por ter solicitado a Sergio que a respeitasse...”(fl. 441).A testemunha Franciskelly de Azevedo Lima, trazida a depor pela reclamada, declarou que: “... Sergio Caraver uilizava palavrões para estimular as vendas; que a depoente se sentia bastante constrangida com as expressões utilizadas por Sergio, exatamente as que constam no item 39 da fl. 21... que Sergio Caraver foi dispensado em 2004.”(fl. 441 -sublinhei).Como se constata, está sobejamente provada a violência moral com que o referido gerente da reclamada tratava os subordinados, o que sequer é efetivamente negado pela reclamada.Além do desrespeito contido nas expressões grosseiras com se dirigia aos empregados, ficou também evidenciado o abuso na condução do trabalho pela forma de exigir trabalho extraordiário.A reclamante juntou cópia de advertência feita pela reclamada, nestes termos: “Quando vocês foram contratados, foram avisados que às sextas-feiras deveriam trabalhar até sangrar? Então não se façam de ‘desavisados’, às 8 da noite levantando e indo embora. Todos devem ficar na sexta, até acalmar o movimento (espera), ou até no mínimo até às 21:30 horas...”. Isto para uma jornada iniciada às 9h(fl. 72).A violência moral é manifesta.Ainda que o objetivo fosse mera cobrança de resultados, a atuação do gerente excedeu os limites da lei e ultrapassou, em muito, o limite do razoável. A referida atitude constitui ato ilícito, com previsão legal no art. 187 do CC. A reclamada responde pelos atos do seu gerente por responsabilidade imprópria na forma do inc. III do art. 932 do CC, devendo ser indenizado tal prejuízo.Por estas razões, defiro parcialmente o pedido, para determinar o pagamento de indenização por dano moral no valor equivalente a um ano do salário da reclamante [no valor da média adotada pela Previdência Social para o cálculo do benefício de auxílio-doença = R$ 1.710,00 (arredondado) X 12 meses], o qual considero cumprir o efeito compensatório para a reclamante e punitivo para a reclamada, e de prevenir novas condutas nesta linha, desestimulando-a de tal comportamento.(...)

volta ao índice volta ao sumário

78