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Alterar maus hábitos para práticas mais saudáveis, como ser mais grato e positivo, é possível e recomendado por especialistas. Saiba por que e mude sua vida! TEXTO E ENTREVISTAS GIOVANE ROCHA DESIGN JOSEMARA NASCIMENTO É preciso V ocê tem algum hábito? Provavel- mente a resposta foi afirmativa. Afinal, por mais inovadora que a pessoa procure ser, existe algo que ela prefira de um mesmo jeito sempre ou, pelo menos, na maioria das vezes. E não há problema em se manter um hábito, desde que ele traga somente benefícios no seu dia a dia. Isso porque um costume ruim pode prejudicar você em diferentes níveis. A seguir, entenda como suas práticas influenciam diretamente no seu bem-estar e veja práticas que envolvem o autodesenvolvimento para reverter ou evoluir isso. Saindo do piloto automático Acordar, levantar da cama, lavar o rosto, tomar um café para acordar, trocar de roupa e ir trabalhar. Pode haver uma alteração ou outra nessa lista de afazeres, mas a rotina de parte do grande público começa assim. Ainda que essas atividades não demandem um raciocínio complexo para serem executadas, elas exigem algum esforço das atividades cerebrais, mesmo que você não perceba. “Certamente são hábitos que já viraram inconscientes e que já nem percebe-se mais que faz isso ou aquilo. Ou seja, entrou em seu piloto automático”, explica a analista comportamental Vanderleia Boing Nienkotter. Entretanto, mesmo que esses costumes não passem em branco pelos neurônios, eles não exigem o suficiente das células nervosas ao ponto de desenvolvê-las. Portanto, mudar pequenos costumes é importante para tornar as práticas conscientes e ter benefícios reais. A possibilidade de alterar o funcionamento cerebral tirando-o do piloto automático é co- mudar (?) “O cérebro não é um músculo, mas pode se comportar como se fosse um e ser exercitado. Para que isso aconteça, não é preciso nada muito radical – o simples fato de escovar os dentes com a outra mão já dá uma turbinada no órgão” William Ferraz, master coach especialista em neurociência e inteligência emocional 14 | Segredos da Mente - REPROGRAME SEU CÉREBRO

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Alterar maus hábitos para práticas mais saudáveis, como ser mais grato e positivo, é possível e recomendado por especialistas. Saiba por que e mude sua vida!TEXTO E ENTREVISTAS GIOVANE ROCHADESIGN JOSEMARA NASCIMENTO

É preciso

Você tem algum hábito? Provavel-mente a resposta foi afirmativa. Afinal, por mais inovadora que a pessoa procure ser, existe algo que ela prefira de um mesmo jeito

sempre ou, pelo menos, na maioria das vezes. E não há problema em se manter um hábito, desde que ele traga somente benefícios no seu dia a dia. Isso porque um costume ruim pode prejudicar você em diferentes níveis. A seguir, entenda como suas práticas influenciam diretamente no seu bem-estar e veja práticas que envolvem o autodesenvolvimento para reverter ou evoluir isso.

Saindo do piloto automáticoAcordar, levantar da cama, lavar o rosto,

tomar um café para acordar, trocar de roupa e ir trabalhar. Pode haver uma alteração ou outra

nessa lista de afazeres, mas a rotina de parte do grande público começa assim. Ainda que essas atividades não demandem um raciocínio complexo para serem executadas, elas exigem algum esforço das atividades cerebrais, mesmo que você não perceba. “Certamente são hábitos que já viraram inconscientes e que já nem percebe-se mais que faz isso ou aquilo. Ou seja, entrou em seu piloto automático”, explica a analista comportamental Vanderleia Boing Nienkotter.

Entretanto, mesmo que esses costumes não passem em branco pelos neurônios, eles não exigem o suficiente das células nervosas ao ponto de desenvolvê-las. Portanto, mudar pequenos costumes é importante para tornar as práticas conscientes e ter benefícios reais.

A possibilidade de alterar o funcionamento cerebral tirando-o do piloto automático é co-

mudar (?)

“O cérebro não é um músculo, mas pode se comportar como se fosse um e ser exercitado. Para

que isso aconteça, não é preciso nada muito radical – o simples fato de escovar os dentes com a outra mão

já dá uma turbinada no órgão”William Ferraz, master coach especialista em neurociência e inteligência emocional

14 | Segredos da Mente - REPROGRAME SEU CÉREBRO

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nhecida como neuroplasticidade. Já estudada pela neurociência, essa habilidade comprova que é possível romper com padrões que não promovam o autodesenvolvimento, podendo substituí-los por outros comportamentos através da criação de novas conexões neurais. “O cérebro não é um músculo, mas pode se comportar como um e ser exercitado. Para que isso aconteça, não é preciso nada muito radical – o simples fato de escovar os dentes com a outra mão já dá uma turbinada no órgão”, indica o master coach especialista em neurociência e inte-ligência emocional William Ferraz.

Efeitos reaisLivrar-se de maus costumes e incluir novos

na rotina, sem dúvidas, é um excelente im-pulso para o desenvolvimento cerebral. Mas as vantagens não ficam limitadas ao encéfa-lo. “Hábitos, no mau sentido, envolvem mui-to mais do que ‘registros nas redes neurais’.

Compreendem sensações, funções fisiológicas, emoções e, para um psicanalista, busca incons-ciente de satisfação de desejos”, afirma Nicolau José Maluf Jr., psicólogo e analista reichiano. O profissional compara a repetição maçante de um costume com um transtorno de origem nervosa. “Tudo o que é mecânico, repetitivo, quando associado a um fator psíquico negativo, gera rebaixamento da consciência, desânimo, comportamento robotizado e até depressão profunda, conforme pesquisado pela psicologia do trabalho”.

Porém, não há motivos para se desesperar e sair mudando todos os seus hábitos, uma vez que existem os que não carregam essa conotação negativa. Caminhar por longos períodos, por exemplo, tem um efeito meditativo para muitas pessoas, ajudando a se conhecerem melhor. En-tão, para saber classificar se deve ou não pensar em mudar alguma prática, basta responder à seguinte pergunta: Esse hábito faz sentido para você? Se não, está na hora de desenvolver seu

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“Ter atitude positiva diante da vida pode trazer

modificações na mente. Uma pessoa que age

positivamente tenderá a ser alguém mais interessante e sociável, com capacidade

de criar laços”Renata Bento, psicóloga

autoconhecimento e buscar práticas que ajudarão a reprogramar seu cérebro e evoluir sua psique.

AutossabotagemA tarefa de sair do piloto automático não é

sempre fácil. Inclusive, pode ser dificultada ainda mais por um fator: você mesmo. Isso porque um hábito bastante presente entre as pessoas, segundo a master practitioner em Programação Neurolinguística Lilian Bertin, é a premiação automática. Nesse caso, o indivíduo se esforça demais para cumprir alguma tarefa no traba-lho, por exemplo, e se presenteia com excessos, seja comendo, gastando, bebendo, entre outras ações. “Os prazeres imediatos são um pagamento perigoso, gerando muitos hábitos que não são saudáveis”, alerta a especialista.

A saída para isso, como aponta Lilian, é iden-tificar o que ativa o gatilho para esse costume de compensação e dificultar o processo, o que fortalecerá sua vontade de mudar gradualmente e evitará a sabotagem. “Se o problema for comer, livre-se de tudo que possa comprometer sua dieta e deixe à vista somente coisas permitidas; se for gastar, quebre o cartão de crédito, coloque na carteira apenas o necessário”, sugere Bertin.

Mas, não necessariamente, você deve agir para se autossabotar. Basta um pensamento bem consolidado para o manter preso naquela rotina que não estimula sua evolução. Então, reconhecer e substituir procrastinação, medos e outras crenças limitadoras, como remorso, pelos seguintes modos de pensar pode fazer toda a diferença no seu estilo de vida (saiba como ser mais produtivo na página 10).

Pense positivoVocê está assistindo à televisão após um dia

cansativo de trabalho ou estudos. Ao “zapear” pelos canais, passa por um noticiário sensa-cionalista que reporta notícias trágicas com o intuito de prender o público ali pelo maior tempo possível. Mais alguns cliques no controle remoto e se depara com um episódio repetido da sua série (filme, desenho ou outro tipo de

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CONSULTORIAS Lilian Bertin, master practitioner em Programação Neurolinguística, empresária e palestrante; Nicolau José Maluf Jr., psicólogo, analista reichiano e coordenador do Instituto de Formação e Pesquisa W.Reich (IFP-REICH); Renata Bento, psicóloga, especialista em criança, adulto, adolescente e família, psicanalista e membro da Sociedade Brasileira de Psicanálise do Rio de Janeiro (RJ); Vanderleia Boing Nienkotter, analista comportamental, farmacêutica e educadora em saúde; William Ferraz, master coach especialista em neurociência e inteligência emocional do Instituto Ideah, em São Paulo (SP).

programa) favorita. Qual opção você escolheria para assistir? Ou melhor dizendo, qual das pro-gramações tiraria seu estresse e proporcionaria relaxamento? Provavelmente a segunda opção. E a escolha não se dá por querer ficar alienado aos fatos ruins que acontecem ao seu redor. Mas, sim, porque se a sua balança mental de bem e mal-estar estiver pendendo para o lado ruim, a tendência é você se sentir cada vez pior caso a carga negativa aumente um pouco.

Essa mesma lógica serve para mostrar como você é capaz de direcionar sua mente para o melhor lado frente a diversas situações. Ou seja, o que vale mais a pena cultivar no dia a dia, pensamentos positivos ou negativos? “Ter atitude mais construtiva diante da vida pode trazer modificações na mente. Uma pessoa que age positivamente tenderá a ser alguém mais interessante e sociável, com capacidade de criar laços. Pode significar persistir, não desanimar diante da primeira adversidade, mas sim tolerar a frustração e seguir em frente”, explana a psi-cóloga Renata Bento.

Contudo, é preciso saber que essa mudança de hábitos, em alguns casos, pode levar mais tempo para ser completa. Para isso, a especia-lista esclarece que é preciso ter em mente que os pensamentos negativos existem e, em vez de ignorá-los, buscar compreender suas origens para, então, ressignificá-los. “Um processo analítico ou de psicoterapia pode trazer grandes benefícios para o autoconhecimento. Além disso, o contato com a música, com a arte, situações que possam promover uma maior intimidade com seu mundo interno também favorecem o encontro íntimo”, conclui a psicóloga.

Com esse estilo de pensamento mais desenvolvido, vários benefícios podem ser percebidos, tanto a nível físico como mental. E, em tempos nos quais a ansiedade e o estresse são distúrbios comuns na sociedade, os proveitos de se ver o copo meio cheio se mostram ainda mais vantajosos. Isso porque os pensamentos negativos influenciam o organismo a se preparar para uma situação adversa. Desse modo, substâncias químicas (adrenalina e noradrenalina, por exemplo) são liberadas e reações ansiosas e de estresse são desencadeadas pelo corpo, como o aumento da pressão sanguínea, sudorese, etc. (saiba mais sobre como reprogramar o cérebro contra esses transtornos na página 12).

#GratidãoEssa pode até parecer uma expressão retirada de alguma rede social

focada em posts motivacionais, mas, se compreendida e aplicada da for-ma correta, a gratidão também se torna um hábito muito saudável. Para entender o poder dessa prática, primeiramente, é preciso compreender que ser grato não significa simplesmente aceitar tudo o que acontece a sua volta. O princípio da gratidão, segundo Vanderleia Nienkotter, é enxergar experiências ruins como oportunidade de aprendizado e agradecer pelos bons acontecimentos. “Precisamos treinar nosso cérebro para entender que não existem erros, mas oportunidades de buscar novos resultados”, defende a analista comportamental. Ela ainda explica que é uma questão de como se enxerga determinada situação, por mais adversa que ela pareça ou realmente seja. “Para todas as coisas que acontecem conosco, podemos transformar em algo bom e ser grato, ou podemos ressignificar algo que foi ruim e retirar aprendizados”, conclui.

Uma maneira eficiente de incluir a gratidão na sua rotina é por meio da lei da atração. Esse conceito parte do princípio de que quanto mais você se mostra grato pelas coisas boas e pelos aprendizados com as situações ruins da vida, atrairá mais energias positivas para si mesmo. “Mesmo que ainda não tenha o resultado que espera, comece a vibrar positivamente como se já estivesse realizado, porque isso acabará atraindo benefícios para você” ressalta Vanderleia. Para tanto, faça uma lista no fim do dia relatando pelo que você é grato na vida. Outro método é iniciar o dia agradecendo pelas coisas boas que poderão acontecer e, no fim, agradecer novamente pelo que foi bem-sucedido. Im

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