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novas da Número 10, Setembro de 2003 10 número Plataforma contra a Via Rápida do Morraço julga ilegal o projecto Suspendem juízo contra um grevista detido no 15-J Organizaçons nacionalistas homenageiam combatentes PP ameaça exploraçons agrícolas familiares Cara umha Lei Galega contra a Violência de Género Notas acerca do desemprego e da contrataçom O seqüestrador arrependido Segundo a EPA, no segundo tri- mestre do ano 2003 havia na Galiza 148.700 desempregados e desempregadas. Certamente, este dado confirma que o desem- prego desceu em 12.700 pessoas em relaçom ao trimestre ante- rior. Ora bem, tal e como reco- menda a própria EPA, para valo- rar a evoluçom do desemprego, nom se devem comparar os dados de um trimestre com os do trimestre anterior, porém, o ade- quado será confrontá- los com os do mesmo trimestre do ano precedente. A razom desta forma de operar é eliminar os efeitos estacionais da evoluçom do des- emprego, como por exemplo, o conhecido efeito da reduçom do desemprego a conseqüência do auge da ocupaçom no sector ser- viços (e, sobretudo, nos serviços associados ao turismo), auge que é especialmente intenso no segundo e no terceiro trimestre de cada ano. Pois bem, se con- frontamos a informaçom do segundo trimestre de 2003 com a do segundo trimestre de 2002, temos que na Galiza há mais 5.200 desempregados e desem- pregadas, o que nos leva a afir- mar que o nosso mercado labo- ral evoluiu negativamente no último ano. O Partido Popular recebeu para o tesouro do partido umha quantida- de próxima dos mil milhons de pesetas procedentes dos donativos que narcotraficantes e contraban- distas da Galiza fizérom durante anos. Alguns destes contribuintes fôrom personagens sobejamente conhecidas como Vicente Otero “Terito”, José Ramón Barral “Nené”, Luis Falcón “Falconetti”, José Manuel Prado Bugallo “Sito Miñanco”, Manuel Ferrazo, Marcial Dorado, Manuel Carballo Jueguen, Manuel Nieto ou José Luis Vilela. Ainda que as opera- çons venham de antigo –desde a Aliança Popular de Manuel Fraga–, o PP de Mariano Rajoy continua a fazer vista grossa ao caso e permite que alguns destes “capos” utilizem mesmo as insti- tuiçons públicas para branquear o dinheiro. Mariano Rajoy reunia-se com “capos” sendo presidente do Partido em Ponte Vedra Militante do PP responsável polo contrabando de umha tonelada de cocaína Grandes bancos amigos dos narcotraficantes galegos A geração do português galego Artigo de Opiniom de Vítor Meirinho nh No passado dia 28 de Agosto falecia em Compostela Raimundo García Domínguez "Borobó" aos 87 anos de idade. Pouco antes, no dia 5 de Agosto já falecera na Corunha, com 93 anos, Domingo Garcia-Sabell. No mesmo mês de Agosto de 2003 deixaram-nos dois dos quatro autores do "sequestro mais longo de todos os tempos". Roxélio Pérez González "Roxerius", "o inxel curmao de M-A", já morrera em 1963. Máximo Rodríguez Buján "Máximo Sar" (Padrom, 18-10- 1922) é pois o único sobrevivente dos quatro autores do seques- tro de Manoel-António e o único que ainda poderia dizer- nos o que aconteceu exactamente na manhã daquele "fatídico Domingo 15 de Abril de 1956"

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novas daNúmero 10, Setembro de 2003

10número

Plataformacontra a ViaRápida doMorraço julgailegal o projecto

Suspendemjuízo contra um grevistadetido no 15-J

Organizaçonsnacionalistashomenageiamcombatentes

PP ameaçaexploraçonsagrícolasfamiliares

Cara umha LeiGalega contra aViolência deGénero

Notas acerca do desemprego e da contrataçom

O seqüestrador arrependido

Segundo a EPA, no segundo tri-mestre do ano 2003 havia naGaliza 148.700 desempregadose desempregadas. Certamente,este dado confirma que o desem-prego desceu em 12.700 pessoasem relaçom ao trimestre ante-rior. Ora bem, tal e como reco-menda a própria EPA, para valo-rar a evoluçom do desemprego,nom se devem comparar osdados de um trimestre com os dotrimestre anterior, porém, o ade-quado será confrontá- los comos do mesmo trimestre do anoprecedente. Arazom desta formade operar é eliminar os efeitosestacionais da evoluçom do des-

emprego, como por exemplo, oconhecido efeito da reduçom dodesemprego a conseqüência doauge da ocupaçom no sector ser-viços (e, sobretudo, nos serviçosassociados ao turismo), auge queé especialmente intenso nosegundo e no terceiro trimestrede cada ano. Pois bem, se con-frontamos a informaçom dosegundo trimestre de 2003 coma do segundo trimestre de 2002,temos que na Galiza há mais5.200 desempregados e desem-pregadas, o que nos leva a afir-mar que o nosso mercado labo-ral evoluiu negativamente noúltimo ano.

O Partido Popular recebeu para otesouro do partido umha quantida-de próxima dos mil milhons depesetas procedentes dos donativosque narcotraficantes e contraban-distas da Galiza fizérom duranteanos. Alguns destes contribuintesfôrom personagens sobejamenteconhecidas como Vicente Otero“Terito”, José Ramón Barral“Nené”, Luis Falcón “Falconetti”,José Manuel Prado Bugallo “Sito

Miñanco”, Manuel Ferrazo,Marcial Dorado, Manuel CarballoJueguen, Manuel Nieto ou JoséLuis Vilela. Ainda que as opera-çons venham de antigo –desde aAliança Popular de ManuelFraga–, o PP de Mariano Rajoycontinua a fazer vista grossa aocaso e permite que alguns destes“capos” utilizem mesmo as insti-tuiçons públicas para branquear o dinheiro.

Mariano Rajoy reunia-se com

“capos” sendo presidente do

Partido em Ponte Vedra

Militante do PP responsável

polo contrabando de umha

tonelada de cocaína

Grandes bancos amigos dos

narcotraficantes galegos

A geração do

português galego

Artigo de Opiniom deVítor Meirinho

nh

No passado dia 28 de Agosto faleciaem Compostela Raimundo GarcíaDomínguez "Borobó" aos 87 anosde idade. Pouco antes, no dia 5 deAgosto já falecera na Corunha, com93 anos, Domingo Garcia-Sabell.No mesmo mês de Agosto de 2003deixaram-nos dois dos quatroautores do "sequestro maislongo de todos os tempos".Roxélio Pérez González"Roxerius", "o inxel curmaode M-A", já morrera em1963. Máximo RodríguezBuján "Máximo Sar"(Padrom, 18-10- 1922) épois o único sobreviventedos quatro autores do seques-tro de Manoel-António e oúnico que ainda poderia dizer-nos o que aconteceu exactamente namanhã daquele "fatídico Domingo15 de Abril de 1956"

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Desde que as normas ortográficas dogalego-português promovidas pelasinstituições autonómicas da Galiza (as«Normas ortográficas e morfolóxicas»do Instituto da Lingua Galega e da RealAcademia Galega) estiveram em vigor,o reintegracionismo teve geralmenteuma concepção das mesmas como sim-ples instrumento de desgaleguização(deslusificação) da língua do País,como quinta coluna do assimilacionis-mo castelhano-espanhol.Não vou considerar a correcção ouincorrecção, total ou parcial, desta aná-lise. Destaco apenas que uma análisecomo esta não deixa de ser correlativacom uma determinada estratégia deproselitismo social em favor da língua;estratégia que tem pouco a ver com ogradualismo reformista e sim, porém,mais a ver com planos de acção socialpara os quais talvez tenhamos quereconhecer que não estávamos no lugarajeitado.Seja como for, parece-me que a reformahá pouco aprovada podia merecidamen-te ser motivo para os reintegracionistasfazermos publicidade de nós mesmos.Acho isto ao pensar num facto impor-tantíssimo sem o qual esta reforma nãose teria feito: a existência do reintegra-cionismo. Quer queiram quer não, areforma aproxima as normas autonómi-cas dos padrões brasileiro e português,e significam uma concessão –emborapequena– de razão ao lusismo.Que isto não seja dito assim do lado doconflito linguístico em que militamostalvez se deva às particulares circuns-tâncias de desenvolvimento social doreintegracionismo. Participa-se bastan-te –ainda– da mentalidade que tem assi-nalado para caracterizar o regeneracio-nismo espanhol dos finais do séculoXIX e inícios do XX. Este movimentoacreditava –tal como o reintegracionis-mo galego esteve acreditando até hoje–que o melhor para solucionar os gravesproblemas do país era declamar contraeles com uma retórica propositadamen-te carregada de negativismo e de catás-trofes, e ao tempo purista na crítica.Esperava-se com isto provocar nasociedade um tal alarme, uma tal cons-ciência da calamidade colectiva, que aprópria sociedade gerasse uma reacçãode orgulho ferido que regenerasse opaís. Na verdade, esta pretensão diziapouco sobre a inteligência estratégicados regeneracionistas e muito sobre aclasse social a que pertenciam: intelec-tual e funcionária, pouco tendente à efi-

ciência prática. No final do caminhohistórico, o fruto do regeneracionismoesteve na polarização social que gerouna questão nacional espanhola, e nãoem que os regeneracionistas conseguis-sem realmente o seu propósito.Acho que o exemplo deveria servir dereflexão para o reintegracionismo.Embora nos possa parecer pouco nobre,a história demonstra que a adesão popu-lar às causas que os pequenos gruposlevantam não foi causada porque ocomum do povo quisesse servir sofre-dores entregues a lutas cujo estandarteprincipal fosse o laio, mas porque nesseapoio a gente achava motivos de orgul-ho e de comunhão formosa com osdemais. Precisa-se sobretudo de que olusismo se convirta, pri-meiro para nós pró-prios, depois para oresto, na causa doprogresso inevitá-vel, identificada empositivo e em refe-rência exclusiva a simesma. Assim é queganhará para si osseus –por ora e aguar-demos que não por sem-pre– inimigos, que sãomas não devemos quererque sejam. Creio que ofuturo do reintegracionismogalego-português estáfundamentalmente nasnossas mãos, nasmãos dosreintegra-cionistas.A assun-ção daresponsa-b i l idadeque lhestoca éo b r i g a -ção dosg r u p o sq u edefendema l g u m acausa, ecreio que ol u s i s m ogalego, comas mudançasque vemfazendo ultima-mente, estará embom caminho.Felizmente.

2 segunda Setembro 2003 novas da galiza

segunda

Editora: Minho Média S.L

Director: Ramom Gonçalves.

Redacçom: Marta Salgueiro, CarlosB.G., J.Manuel Lopes, Antom Álvarez,Miguel Garcia, Joám Evans, Tiago Peres.

Correspondentes: Compostela, UgioCaamanho / Vigo, Xiana González /Ponte-Vedra, Álvaro Franco / Lugo,Joám Bagaria / Corunha, ArmandoRibadulha / Ourense, Tiago Peres /Barbança, Joám Evans / Marinha,André Outeiro / Paris, J.Irazola /Madrid, José R.Rodríguez

Colaboraçons: Xurxo Souto, MaurícioCastro, Tomé Martins, Xesus Serrano,Manuel Andrade, José R.Pichel,Antom Garcia Matos, Xabier LagoMestre, A Gente da Barreira, EduardoSanches, Ignacio Ramonet, SantiagoAlba, Ramón Chao.

Fotografia: Borxa Vilas, Rosa Veiga,Miguel Garcia, Arquivo NGZ.

Humor Gráfico: Suso Sanmartim,Pestinho +1.

Publicidade: Tiago Peres.

Imagem corporativa: Paulo Rico

Maquetaçom: Carlos BG / MiguelGarcia

Correcçom lingüística:

Eduardo Sanches Maragoto.

NOVAS DA GALIZA

Apartado dos correios 106927080 Lugo. Galiza. Tel: 639 146 [email protected]

As opinions expressas nos artigos nomrepresentam necessariamente aposiçom do jornalOs artigos som de livre reproduçomrespeitando a ortografia e citando pro-cedência. É proibida outro tipo dereproduçom sem autorizaçom expressado grupo editor.

Feche de Ediçom: 01/06/0315.09.03

A geração do português galegoVítor Meirinho

Precisa-se sobretudo de que o lusismo se

convirta, primeiro para nós próprios,

depois para o resto, na causa do progressoinevitável, identificada

em positivo e em referência exclusiva

a si mesma.

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3editorialSetembro 2003novas da galiza

Suso Sanmartim

sumário

A droga que financiouo Partido Popular

Novas da Galiza descobre as aportaçons do narcotráfico à

direita espanhola, assim como arelaçom dos principais “capos”

com dirigentes do PP

Notas acerca do desemprego e dacontrataçom

A economista Rosa Verdugoachega-nos à situaçom actual domercado laboral galego.

Reflexons desde amúsica galega

Os nossos colaboradores habituais transladam-nos nasecçom musical deste númeroas principais reflexons realizadas desde dentro dos próprios grupos

Os seqüestradores deManuel António

NGZ indaga nas chaves doseqüestro da obra do poeta

galego Manuel António, denunciando as responsabili-

dades ainda nom depuradas

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É já quase um tópico afirmar que, no sistemasocioeconómico em que vivemos, a política con-vencional costuma funcionar como umha pro-longaçom sem cesuras dos interesses, nomeada-mente económicos, dos sectores mais poderososque manobram na sombra. Tópico que, por sim-ples, nom deixa de conter umha carga de verda-de que a própria gente comum certifica dia-a-dia. Quem nom ouviu falar reiteradamente narua da condiçom corrupta dos políticos, da suaausência de ética, do predomínio absoluto do"tudo serve" ou do "salve-se quem puder".NovasGZ debruça-se este mês sobre tam conhe-cido tema, mas fai-o para materializá-lo e fazê-lo palpável em dados, nomes e factos. Assim,aprofundando nas páginas centrais na questomdo narcotráfico, refuga voluntariamente o tópicoespanhol sobre os "traficantes galegos", esse queassocia as nossas rias com um viveiro indiscri-minado de delinqüência organizada que amiúdeé apresentado, roçando o racismo, como "idios-sincrasia nacional". Com os dados oferecidos econvenientemente sistematizados polos nossos epolas nossas jornalistas, o leitor ou leitora pode-rá com certeza concluir que o problema do nar-

cotráfico neste país é, em grandíssima medida, oproblema dos poderes político-económicos quenos governam, do controlo institucional emCámaras municipais e parlamentinhos até à tira-nia quotidiana exercida polo caciquismo de sem-pre. A direita espanhola enraizada na nossanaçom nom só executa as suas directrizes comabsoluta desconsideraçom para com os mínimosprincípios democráticos legalmente consagradosde maneira tam hipócrita, como também medra,desenvolve-se e procura os seus apoios numterreno avesso e oculto à olhada dos demais: oda economia ilegal e a grande delinqüência orga-nizada -essa que Aznar, ao contrário do que pre-tende fazer com o pequeno ladrom, nom quer"varrer da rua"-. A reportagem apresentada falapor si só e define, sem necessidade de mais pala-vras, a orientaçom e perfídia de quem consagraa sua política a defender com a maior agressivi-dade o actual enquadramento jurídico-político.Um jornalismo rigoroso e atrevido como o quetentamos exercitar deve e pode, com toda ahumildade, desmascarar o urdimento de interes-ses que sustém na Galiza o espanholismo maisduro.

editorialPolítica e narcotráfico

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ERRATA

Na reportagem sobre o Opus Dei, publicada no passado número, quando assinalávamos que, dentro dogrupo de membros laicos da Prelatura, “os homens e mulheres casados que som fiéis da Obra” eramos numerários, estávamo-nos a referir aos supernumerários.

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Plataforma contra a Via Rápida doMorraço considera ilegal o projecto

Redacçom

Ainda hoje, os e as habitantes doMorraço desconhecem o traçadofinal da via, assim como tambémo desconhecem as CámarasMunicipais de Moanha e Bueu,que protestam pola ocultaçom deinformaçom imprescindível. Aestrada vai estender-se da Pontede Rande até Aldám (18,3 km) esupom a expropriaçom de 1.040m2 de edificaçons, com base noscálculos da velha cartografiaempregue pola Conselharia dasObras Públicas.O projecto inicial de estrada dealta velocidade começou em1994 e encontrou umha maciçacontestaçom por parte das pesso-as da comarca. Deu lugar à cons-tituiçom da Plataforma contra aVia Rápida do Morraço, com-posta por 15 colectivos ambien-

talistas, culturais, sociais e umhacomunidade de montes, entreoutros. O porta-voz, Luís Pérez,considerou o projecto de via“umha aberraçom ambiental esocial”, que supom a “degrada-çom da faixa costeira”, afectamais de vinte caminhos, altera osespaços naturais e a paisagem e“destrói 21 jazigos arqueológi-cos de enorme importáncia his-tórica”, boa parte deles cataloga-dos como bens de interesse cul-tural. Luís Pérez destacou tam-bém o impacto que já está a cau-sar a alteraçom do regime deáguas, que “provocará inunda-çons em Cangas e Moanha”,assegura.A alternativa da Plataforma pro-pom conseguir um tránsito maisfluente mediante pequenas recti-ficaçons no traçado da estrada C-550, com a dotaçom de passa-

gens pedonais aéreas, rotundas,passadeiras, mais faixas na estra-da e, sobretudo, estradas de cir-cunvalaçom para Cangas eMoanha, projectos aprovados“para os quais nom há dinheiro”,diz Luís Pérez em alusom iróni-ca ao avultado orçamento comque conta a via rápida, que supe-ra o montante de dez mil milhonsdas velhas pesetas.O estudo de impacto ambientalrealizado pola conselharia carecede análise hidrológica, que “simfoi realizado pola Plataforma”,afirma o porta-voz. O colectivosocial considera ilegal a via rápi-da, entre outros factores, porestar apoiada num informeambiental “deficiente, obsoleto emal elaborado”. Denunciárom asirregularidades perante oTribunal Superior de Justiça daGaliza (TSJG), organismo que

nom solicitou da COTOP a infor-maçom necessária para a deman-da final “após 2 anos e com aobra inciciada, quando por lei sódisponhem de 20 dias”.Neste momento a Plataformaestá a pressionar o TSJG e apre-sentou alegaçons na Comissome no Parlamento europeu. Àespera de respostas, considerama via rápida “umha obra ilegaldesde o início, e portanto tam-bém deve ser interrompidadesde o início”.Diversas fontes apontam que oobscurantismo da obra se deve ainteresses vinculados com aespeculaçom urbanística, espe-cialmente em Aldám. Do Novasda Galiza continuaremos a pes-quisar à volta desta questompara oferecer informaçom por-menorizada em próximas edi-çons.

4 notícias Setembro 2003 novas da galiza

PP ameaça

exploraçons

agrícolas

familiares NGZ

O governo espanhol do PP senten-ciou, mediante real-decreto, o des-aparecimento do Regime EspecialAgrário da Segurança Social(REASS). Isto ocasionará que aspessoas que trabalham no campodeverám passar a ser autónomas oudescontar no REASS por um perí-odo transitório, até à equiparaçomdo pagamento. Traduzido à realida-de, esta medida supom a equipara-çom das pequenas exploraçonsagrícolas com empresas de outrossectores, segundo fontes doSindicato Labrego Galego (SLG),e implicará um incremento nasquotas de 66,9% numha fase quecomeça no dia 1 de Janeiro de2004.O SLG mostrou a sua oposiçomfrontal a esta medida, exigindo co-mo critérios inegociáveis “que asbases de desconto se calculem combase na renda real de cada explora-çom”, já que se se implementar areforma, “muitas pessoas deixarámde descontar por causa da impossi-bilidade de enfrentar as quotas”.

Vaga de

incêndiosNGZ

Só entre Junho e Julho os nossosbosques sofrêrom o impacto de 34fogos postos (incêndios intenciona-dos) de séria consideraçom. Soma-dos aos posteriores, o último cálcu-lo feito público sobre o terrenoafectado indica que o lume assolou13.000 hectares. O presidente dacoordenadora galega das Comuni-dades de Montes Vicinais em MaoComum, Alfredo Pereira, acusou aConselharia do Ambiente de fata-lismo pasmoso por equiparar o lu-me a “algo inevitável como a chu-va ou a neve” e exigiu políticas deprevençom.Fontes sindicais qualificam o PlanoInfoga (plano de protecçom flores-tal da Junta) como um “fracasso”,dado que se mantém, com peque-nas oscilaçons, a percentagem debosque queimado do ano anterior.A Comunidade Autónoma Galegapadeceu a metade dos incêndiosproduzidos no Estado entre 1999 e2002. Neste sentido, a ADEGA rei-vindicou a “protecçom especial dosbosques autóctones mais valiosos”,políticas de promoçom para as nos-sas árvores e o desenvolvimento deumha estratégia de luita contra olume, assente em medidas preven-tivas. Reclamárom também a cria-çom de um sector industrial flores-tal “que aproveite os recursos dosnossos montes de forma compatí-vel com o meio e gerando riquezano País”.

Sem se conhecer o traçado definitivo, as obras já começárom em Moanha, Cangas e Bueu

A controvertida via rápida doMorraço está a ser construída desdeo início do Verao. Dez anos de oposi-çom cidadá impediram a execuçom

do projecto até agora, forçando aCOTOP a apresentar quatro propos-tas diferentes ao longo da década de90. Mas as obras estám em andamen-

to, inspiradas no modelo propostoinicialmente e criticadas por falta detransparência.

A via rápida arrassará com espaços de grande valor na península do MorraçoFonte: Página web da Plataforma Anti-Via Rápida

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5notíciasSetembro 2003novas da galiza

Violência de género: questom de vida ou morte

Redacçom

A prevençom, a segurança e a pro-tecçom som termos que ao falar-mos de violência de género esta-belecem a diferença entre a vida ea morte. Os nove primeiros mesesdo ano tenhem sido especialmenteamargos para o movimento femi-nista galego. Pilar de Marim,Laura em Vigo, Beatriz naCorunha, Cándida em Moanha ....som nomes de mulherer quefórom assassinadas. A cada assas-sinato sucede-lhe a mobilizaçomdo movimento femista. A MarchaMundial das Mulheres realizaconcentraçons de denúncia cadavez que umha mulher é morta amaos da violência machista. Asorganizaçons feministas levammuitos anos reivindicando anecessidade de medidas de pre-vençom, de segurança e protec-çom que poderiam ter evitado amorte de demassiadas mulheresna Galiza. O movimento femistaestá a trabalhar na elaboraçomdumha Lei Galega contra aViolência de Género. Umha leique está promovida polas organi-zaçons que formam parte daMarcha Mundial das Mulheres eque persegue a erradicaçom daviolência de género, tendo emconta as características própriasdo nosso país. Trataria-se dumtexto que teria que ser elaborado

com o consenso e fruto do debateconjunto do movimento femista.A intençom é apresentá-lo atravésde umha iniciativa legislativapopular no Parlamento Galego.Fora das insuficientes medidas decarácter, muitas das vezes, electo-ralista que venhem aprovandodesde o governo do PartidoPopular, evidencia-se, cada vezmais claramente, a necessidadedumha soluçom global a um pro-blema que tem a sua raíz na socie-dade patriarcal, no submetimentodas mulheres, nas relaçons depoder.

O porque de umha Lei Galega

contra a Violência de Género

O movimento feminista galegoviu a necessidade, ante o constan-te aumento de mulheres assassina-das, de contemplar o problema dejeito global e multidisciplinar enom com remendos e falsas solu-çons. Trataria-se dumha Lei que,tendo em conta as limitaçonsquanto a competências que ten-hem a Xunta da Galiza e mais oParlamento autonómico, optimiceos recursos dos que dispom paraavançar na erradicaçom da violên-cia contra as mulheres. É umhaevidência assegurar que para aelaboraçom desta norma teria-seque contar com o debate e a apor-taçom do movimento feminista ede mulheres.

Na manhám do passado dia 17 deSetembro era suspendido emPonte-Vedra o juízo contra o mili-tante de NÓS-Unidade PopularÁlvaro Franco Silva “por prescri-çom das causas” de que estava acu-sado. Franco Silva fora agredidonuns grandes armazéns por váriospolícias durante a Greve Geral de15 de Junho de 2001, tendo que serconduzido ao hospital com diversaslesons. O vizinho de Ponte-Vedrafora acusado naquela altura por“desordens públicas” e estava pen-

dente dum processo no Julgadonúmero 5 desde havia mais de umano. A suspensom do juízo estamanhá era argumentada polo juízem base a que “tinham prescrito asfaltas de que se acusa a FrancoSilva, ao passarem mais de 6 mesesentre a sua suposta comissom e oprocesso judicial”. Tanto o advoga-do da acusaçom quanto o fiscaladerírom surpresivamente à nulida-de do juízo. O autodenominado organismopopular anti-repressivo Ceivar feli-

citou-se pola encerramento do pro-cesso sem qualquer tipo de sançompara o vizinho de Ponte-Vedra, masdeclarou como “nulidade politica-mente interessada” o ocorrido estamanhá. Segundo Ceivar, FrancoSilva fora “brutalmente agredidopor vários efectivos policiais quan-do participava no desenvolvimentoda Greve Geral de 15 de Junho de2001”. Aponta o organismo anti-repressivo que “os agentes denegá-rom no seu momento o traslado deFranco Silva a dependências sani-

tárias, apesar da evidência do seudeteriorado estado como produtoda agressom de que fora objecto”.Valoriza também o organismo que,tanto o retrasso na celebraçom doprocesso, quanto a sua conseguintesuspensom, “à que se apontárominesperadamente o fiscal e o advo-gado dos agressores”, obedece àintençom última do juíz de “deixarimpunes” estes últimos dado o ele-vado número de pessoas que pre-senciaram a agressom policial.

Morre

empregado

em ALCOA

de Sam Cibrao

NGZ

Como já se apontou no númeroanterior do Novas da Galiza, asegurança em ALCOA Sam Cibraonom está a agradar toda a gente.Neste contexto, no passado 21 deAgosto morria um trabalhadorauxiliar. O operário, electricista,morreu como consequência daexplosom de um camiom-cisternaque realizava operaçons de trasfegade alumina. O motivo da explosomparece ter sido o excesso de pres-som na bomba que realiza a trasfe-ga da alumina dentro da secçom deelectrodos.Apesar das medidas tomadas polaempresa ALCOA, nom há garantiasde avondo para os empregados dasempresas auxiliares, como de factose verificou neste lutuoso sucesso.

Moradia

de Fraga

reconstruiu-se

com fundos

reservados

NGZ

O que fora director da Guarda Civile da polícia espanhola, o generalSáenz de Santamaría, finado hápoucas semanas, reconheceunumha entrevista televisiva emitidadepois da sua morte, que ManuelFraga “recebeu dos fundos reserva-dos por três vezes o valor da mora-dia” que perdeu em 1988 numhaacçom armada do EGPGC. Polasua parte, o BNG perguntará aFraga no Parlamento galego polaquantidade exacta que recebeucomo conseqüência da destruiçomda sua moradia de Perbes, situadano concelho marinhao de Minho.Entretanto, a Junta desmentiu que oseu presidente “tivesse recebidoumha quantidade indevida” e assi-nalou que “Fraga tem esclarecidoem numerosas ocasions que perce-beu o que lhe correspondia comoqualquer vítima do terrorismo”. Otitular do executivo galego já tinhacomparecido na Audiência Nacio-nal como testemunha no julgamen-to sobre os fundos reservados.

Organizaçons feministas trabalham numha Lei Galega contra a Violência de Género

Trata-se dum militante independentista que participava num piquete em Ponte-Vedra

Cartaz da campanha da Marcha Mundial pola Lei Galega contra a Violência de Género

Suspendem juízo contra grevista detido no 15-JJ

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6 notícias Setembro 2003 novas da galiza

Como já é habitual, diversasformaçons políticas nacionalis-tas dérom tributo a MonchoReboiras no passado dia 12 deAgosto, dia em que o patriotagalego foi assassinado polapolícia espanhola em 1975. AUPG celebrou em horário mati-nal umha oferenda floral nocemitério de Imo, Concelho deDodro, onde se encontra ente-rrado o patriota e, à tarde, reali-zou umha concentraçom naferrolá rua da Terra, lugar emque Moncho foi abatido polapolícia espanhola. Pola suaparte, a organizaçom unitária daesquerda independentista,NÓS-Unidade Popular, home-

nageou Reboiras num acto cele-brado na mesma rua ferrolá,que consistiu numha oferendafloral e num comício, sob alegenda “Por umha Galiza livre,a luita continua”. A FrentePopular Galega também lem-brou o mártir, numha concen-traçom no cemitério de Imo,sob a legenda “Paremos o fas-cismo. A luita continua!”.No passado dia 17 de Agosto ecom motivo do Dia da GalizaMártir, numerosos actos fôromorganizados ao longo de todo oPaís. Em Poio, realizou-seumha oferenda floral no monu-mento a Alexandre Bóveda quese encontra na Caeira, em que

tomárom parte, além de signifi-cados políticos e políticas doBNG, os presidentes das funda-çons Bóveda e Castelao. Ainda,estivo presente Amália, filha doinsigne nacionalista. Outraslocalidades da Galiza comoPonte Vedra, Oleiros ou PonteAreas também recordá-rom afigura de Bóveda com diferen-tes actos. Na véspera deste diatam significativo, Galiza Novada Corunha lembrou PedroGalán Calvete no Campo daRata, lugar onde durante aGuerra Civil os facciosos fusi-lárom muitos e muitas patriotase antifascistas. Este destacadomembro da Mocidade Gale-

guista da cidade herculina foiassassinado aos dezassete anosde idade.A homenagem a Bóveda eReboiras unirá-se à dos militan-tes do EGPGC Lola Castro eJosé Vilar nos actos do Dia daGaliza Combatente que aesquerda independentista, atra-vés de NÓS-UP, convoca paraos dias 10 e 11 de Outubro. Àsoito da tarde da sexta-feira aorganizaçom realizará umhaoferenda floral no cemitério deMeirás, onde está enterrada aguerrilheira, e no sábado às13:00 horas terá lugar na Ruada Terra de Ferrol o acto políti-co central da comemoraçom.

Subestaçom

eléctrica

ameaça espaço

protegido

de Covelo

NGZ

A empresa eléctrica Euroventoprojecta a construçom de umhasubestaçom eléctrica, umha linhade alta tensom e um parque eóliconum espaço natural protegido daSerra do Suído. O colectivoambientalista Assembleia doSuído apresentou alegaçonsperante a Conselharia da Indústriareclamando a paralisaçom do pro-jecto por causa do seu impactoambiental. De facto, a Serra doSuído é das poucas serras da mon-tanha galega livre de instalaçonseólicas. Conta com branhas, tur-beiras, avifauna e umha popula-çom lobeira considerável.

Mudança

climática

adianta-se em

várias décadas

NGZ

Diversas organizaçons ambienta-listas apontam que a mudança cli-mática se está a produzir de formamais acelerada do que o inicial-mente previsto, já que as tempera-turas e as alteraçons sofridas nomse esperavam até dentro de 20 ou30 anos. Na FederaçomEcologista Galega (FEG) situamcomo causantes as actuais emis-sons de gases de efeito de estufa einformam que as centrais térmicasdas Pontes e de Meirama emitíromem 2000 quinze milhons de tone-ladas de CO2, polo que as consi-deram “a maior fábrica de mudan-ça climática da Península”.

Organizaçons nacionalistas homenageiam

combatentes mortos

A AMI denuncia especulaçom ereivindica direito à vivenda“Aluga-se vivenda com vistas àasfíxia económica, preço desorbi-tado, condiçons deploráveis, difi-culdades de pagamento incluidas,e negócio garantido (para proprie-tários e imobiliárias)” O cartazencontra-se colado acarom denumerosas ofertas de aluguer,mas os telefones de contacto quefiguram como responsáveis desta

som os do PP, PSOE, o conselhei-ro Alberto Núñez Feijoo, ealgumhas das principais promoto-ras e imobiliárias do país, comoFADESA ou San José. Trata-se dochamativo anúncio com que aAMI procura denunciar a especu-laçom imobiliária e reivindicar odireito à vivenda digna para amocidade.

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reportagemSetembro 2003novas da galiza 7

reportagem

As detençons de Pablo Vioque eJosé Ramón Barral, "Nené", entreMaio e Junho de 2001, pugéromem evidência que os negóciossujos e a corrupçom política vamde mao dada na Galiza. "Nené"nom foi o único cargo público doPartido Popular vinculado aassuntos de tabaco ou de drogas.Assim, Alfredo Bea Gondar, ex-presidente da cámara municipalde Ogrobe polos "populares", foiprocessado pola sua participaçomem operaçons de milhares de qui-los de cocaína junto ao advogadoPablo Vioque e outros narcotrafi-cantes. Outro exemplo é LuisVilas Jueguen, que foi vice-presi-dente da Cámara polo PP em VilaGarcia de Arouça.A revista de investigaçom edenúncia social KALEGORRIArecolheu em diversas reportagenssobre o mundo do contrabando eo narcotráfico na Galiza que ocessado presidente da Cámara dalocalidade de Ribadúmia noSalnês, "Nené" Barral, foi um dosangariadores mais eficientes dedinheiro para os "populares" gale-gos. Ainda nomhá muito, anga-riou entre taba-queiros e narco-traficantes maisde 500 milhonsde pesetas para oPP. Em contra-partida, "Nené",grande valedor eantigo sócio dopresidente daDeputaçom dePonte Vedra e doPP nesta provín-cia, RafaelLouzán Abal,conseguia nomsó posiçons dei m p u n i d a d e ,como tambémque organismos públicos admitis-sem como válidas facturas portrabalhos nunca realizados.Exemplo disto é umha empresa

cujos titulares eram pessoas pró-ximas do narcocontrabandistaBaltasar Mouta Piñeiro. Moutaestivo associado com "Nené" emnegócios de tabaco, da mesmamaneira que o narcotraficante

Manuel CarballoJueguen. A citadasociedade chegou aobter receitas pordecenas e decenasde milhons de pese-tas com débito emcámaras municipaisdas Rias Baixas, eestas, por sua vez,com débito naDeputaçom ponte-vedresa, por umhastarefas que jamaislevou a cabo.Aí nom acabavamas vantagens de talrelaçom para ambaspartes. Muitas dassociedades monta-das nos polígonos

industriais de Ribadúmia eCambados fôrom financiadascom dinheiro procedente de ope-raçons ilegais.

De contínuo a presidenteda DeputaçomJosé Ramón Barral é um históricodo PP em Ponte Vedra. De facto,o actual presidente da Deputaçomdesta província, Rafael Louzán,nom era mais do que um subordi-nado dele. Louzán começou a tra-balhar como contínuo na cámaramunicipal de Ribadúmia sob omandato de "Nené". Logo chega-ria a vereador e vice-presidenteda Cámara. No ano 2000alcançou a presidência provincialdo partido, cargo em que substi-tuiu Xosé Cuíña. Na actualidadeexerce como presidente daDeputaçom de Ponte Vedra.Ambos possuíam interessescomuns em diversas empresas.No ano 2001, o Partido Socialistada Galiza solicitou o compareci-mento de Louzán Abal naDeputaçom provincial de PonteVedra para que explicasse "osseus vínculos mercantis com asociedade Limvial S.L, firmarelacionada com José RamónBarral". Esta sociedade estavaadministrada polo irmao de"Nené", que na altura era presi-

dente do PP de Ribadúmia,Feliciano Barral, que também foirelacionado com o contrabandode tabaco. O comparecimento deLouzán nom se produziu devido ànegativa do PP, que tinha a maio-ria nesta insti-tuiçom.Outro exemplo dav i n c u l a ç o mempresarial entreeles foiA u t o m o c i ó nVillagarcía S.A.Esta empresa,criada entre"Nené" e VicenteOtero Pérez,a l c u n h a d o"Terito" -um dospioneiros do con-trabando de taba-co na Ria deArouça- tivoRafael Louzáncomo administra-dor e conselheiroentre os anos 1993 e 1995."Terito", já falecido, foi militantede honra da desaparecida AlianzaPopular, que o condecorou com a

insígnia de ouro e brilhantes dopartido, galardom que tambémrecebeu José Ramón PradoBugallo, "Sito Miñanco", outrodos históricos do narcocontraban-do. "Terito" foi durante anos oreferente "popular" emCambados, da mesma maneiraque em Ribadúmia o foi "Nené" ePablo Vioque em Vila Garcia deArouça. Todos eles se reuniamcom assiduidade em Ponte Vedracom o entom presidente do parti-do desta província, MarianoRajoy.

Detido polo SVAApesar dos tam firmes apoioscom que José Ramón Barral con-tava no partido e mesmo com aprotecçom do próprio ManuelFraga, "Nené" nom pudo subtrair-se às guerras subterráneas entre asdiferentes famílias do PP, sendodetido a 15 de Maio de 2001 poloServiço de VigilánciaAlfandegária (SVA) ao lado doseu irmao Feliciano e outras qua-tro pessoas. Os funcionários deAlfándegas localizárom 430.000

maços de tabaco"ruivo", valoradosem mais de 990.000euros, escondidosentre tábuas demadeira no interiordos contentores quetransportava umnavio que atracouno cais viguês deGuixar.Pos t e r io rmen te ,fôrom detidasoutras duas pessoasem Valência polasua implicaçom nocaso.A detençom de"Nené" foi possívelgraças a umhadenúncia anónima

que dirigiu a investigaçom poli-cial para ele.Paradoxalmente, foi preso deforma inesperada logo depois da

Partido Popular recebeu centos de milhons depesetas de narcotraficantes e contrabandistas

Mariano Rajoy reunia-se com "capos" sendo presidente do Partido em Ponte Vedra

O Partido Popular recebeu para o tesouro do partido umha quantidade próxi-ma dos mil milhons de pesetas procedentes dos donativos que narcotraficantese contrabandistas da Galiza fizérom durante anos. Alguns destes contribuintesfôrom personagens sobejamente conhecidas como Vicente Otero "Terito", JoséRamón Barral "Nené", Luis Falcón "Falconetti", José Manuel Prado Bugallo

"Sito Miñanco", Manuel Ferrazo, Marcial Dorado, Manuel Carballo Jueguen,Manuel Nieto ou José Luis Vilela. Ainda que as operaçons venham de antigo -desde a Aliança Popular de Manuel Fraga-, o PP de Mariano Rajoy continuaa fazer vista grossa ao caso e permite que alguns destes "capos" utilizemmesmo as instituiçons públicas para branquear o dinheiro.

O PP recebeu umha quantidade próxima dos mil milhons de pesetas procedentes de narcotraficantes e contrabandistas

Muitas dassociedades

montadas nospolígonos

industriais deRibadúmia eCambados

financiárom-secom dinheiroprocedente de

operaçons ilegais

"Terito" emCambados,"Nené" em

Ribadúmia eVioque em Vila

Garcia deArouça eramreferentes do

PP. Reuniam-seem Ponte Vedra

com Rajoy

Arquivo

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8 Setembro 2003 novas da galizareportagem

conclusom das investigaçons,quando se dedicava ao negóciode contrabando de tabaco deforma pública e notória desde1970. Som muitos os que quigé-rom ver por atrás da repentinaqueda em desgraça do ex-presi-dente da cámara de Ribadúmia alonga mao do secretário geral doPP da Galiza e polícia espanholem licença, Jesús Palmou.Outros, polo contrário, apontam apossibilidade de o próprioLouzán ter atraiçoado o seu men-tor, o que explicaria a sua actualinimizade.

Também VioqueTampouco transcendêrom porenquanto à opiniom pública aschaves para conhecer quem estápor trás da perda da impunidadedo advogado estremenho quemora desde o ano 1977 em VilaGarcia de Arouça, Pablo Vioque,outrora presidente da Cámara deComércio de Vila Garcia eactualmente em prisom por tráfi-co de cocaína.Íntimo amigo dos mais conheci-

dos narcotraficantes e tabaquei-ros, Vioque tem comido comManuel Fraga em mais de umhaocasiom no Parador deCambados. Naquelas datas erafreqüente que estivessem acom-panhados à mesa por tam ilustrescomensais e sobejamente conhe-cidos como Luís Falcón,"Falconetti", ou Vicente OteroPérez, "Terito", sócio habitual emtodo o tipo de negócios do narco-delator Manuel CarballoJueguen, outro dos ilustres finan-ciadores do PP. Todos e cada umdos comensais tenhen contribuí-do em mais de umha ocasiomcom quantidades acima dos 50milhons de pesetas para os"populares".Outros lugares habituais deencontro de Manuel Fraga comos narcocontrabandistas eram osbares-restaurantes "Santos","Benito Calteiro", "La Sirena" e"Alúmina", na localidade ponte-vedresa de Vila Nova de Arouça.Pablo Vioque tivo desde o iníciomuito tacto para mediar entre osseus clientes narcocontrabandis-

tas e os "populares". De facto, foiele o que preparou no ano 1984as entrevistas que por duas vezesmantivérom o que naquela alturaera presidente "popular" da JuntaXerardo Fernández Albor acom-panhado por quinze altos cargosdo governo autonómico comvários tabaqueiros refugiados emPortugal depois de que o novoexecutivo do PSOE pugessepreço às suas cabeças.Os dous encontros celebrárom-senos hotéis "Adegas" e "MonteFaro", próximos de Valença doMinho. Os "exilados" solicitáromdo presidente galego que interce-desse por eles perante Madrid.Além de Albor, Vioque e a longalista de funcionários autonómi-cos, também estivérom presentespor parte da Junta o vice-presi-dente Xosé Luis Barreiro e o seusegundo, Alejandro LópezLamela. Alguns dos tabaqueirosque se encontrárom com Alborfôrom José Manuel Ferrazo,Marcial Dorado Baulde, ManuelNieto e José Luis Vilela, expertoem evadir divisas para a Suíça.

Militante do PP responsável polo contrabando de umha tonelada de cocaína

Outro dos integrantes do PartidoPopular que KALEGORRIAmenciona nos seus trabalhos deinvestigaçom sobre o narcotráfi-co na Galiza é Ramón LongaVidal, alcunhado "Chito". LongaVidal, militante do PP em VilaGarcia de Arouça, foi detido odia 5 de Janeiro do ano passadopor causa da suaparticipaçom nocontrabando demil quilos decocaína intercep-tados emPortugal. No diaseguinte, o juizda AudiênciaNacional Juandel Olmo orde-nou a entrada emprisom incondi-cional do mili-tante "popular",assim como deoutras seis pesso-as pola sua pre-sumível relaçomcom a drogaapreendida.Os mil quilos de cocaína fôromdescobertos no porto de Leixões,em Portugal. A droga estavaoculta no interior de um conten-tor que transportava um navioque tinha partido do Brasil e que

antes de chegar a Portugal jáfizera escala na localidade gadi-tana de Algeciras. A organizaçom de Longa Vidalcontratou um camiom que par-tiu de Portugal com o intuito dedistrair a Polícia espanhola.Agentes da Udyco, UnidadeContra a Droga e o Crime

O r g a n i z a d o ,interceptárom oveículo no muni-cípio viguês deMós. Ao se aper-ceberem de quenom transportavadroga, a unidadeespecial daPolícia espanholaalertou a suahomóloga portu-guesa. Este corpoencontrou a cargano interior deumhas pranchasde madeira depo-sitadas num doscontentores donavio atracado

em Leixões. O militante do PP foi preso emCarril junto com Vicente BerrideCaamaño e um filho deste últi-mo, para o qual o juiz Del Olmodecretou liberdade sem fiança. Oresto dos narcotraficantes da

organizaçom fôrom detidos emVigo e Ourense. BerrideCaamaño era patrom do iate deluxo "Crazy Mary" quando oServiço de VigilánciaAlfandegária (SVA) lhe confis-cou no ano 1996 mais de 5.000quilos de haxixe na costa deChipiona, na província de Cádiz.

Também coca de IrunRamón Longa Vidal participoucom o conhecido narcotraficantegalego José Paz Carballo numhareuniom para comprar parte da

tonelada de cocaína que agentesda Polícia espanhola decomissá-rom numha lota da rua PelloBixente de Irun no dia 7 de Maiode 1997. Agentes deste corpovendêrom aos narcotraficantesgalegos José Antonio "Tucho"Oubiña e Plácido VázquezVázquez vários centos de quilosda cocaína interceptada naqueladata em Irun. Estes, por sua vez,vendêrom-na a Paz Carballo. Ostermos da operaçom fechárom-seno transcurso de umha comida norestaurante "O Lagar" da locali-

dade pontevedresa de Vila Joáme o preço acordado foi de cincomilhons de pesetas por quilo. Longa Vidal já tinha sido con-denado no ano 1990 a dousanos de cárcere e dez milhónsde pesetas de multa no julga-mento da "Operaçom Nécora".O seu irmao, José Longa Vidal,também foi interrogado polojuíz Baltasar Garzón, instrutordo sumário, pola sua presuntarelaçom com umha rede denarcotráfico e branqueamentode dinheiro.

Longa Vidalfoi detido oano passado

por ter participado nocontrabandode mil quilos

de coca interceptadosem Portugal

Agentes da Polícia espanhola vendêrom a narcotraficantes galegos vários centos de quilos da cocaína interceptada em Irun

Manuel Fraga reuniu-se com narcocontrabandistas em Vila Nova de Arouça Arquivo

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Setembro 2003novas da galiza 9

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reportagem

Grandes bancos, amigosdos narcotraficantes galegosNo transcurso do julgamentoque tivo lugar como conseqüên-cia da chamada "OperaçomNécora", vários altos directivosdo Banco Bilbao Vizcaya(BBV) -actualmente BBVAapós a fusom com Argentaria-chegárom a sentar-se durantevários meses no banco dos réus.Este caso, ins-truído porGarzón, acaboupor absolver amaior parte dosp r i n c i p a i s"capos" galegosdo narcotráfico,por causa dadeficiente inves-tigaçom domagistrado.Na altura, osarguidos fôromo director, o sub-director e osrepresentantesdo principal bal-com bancárioque naquelemomento tinhao BBV em VilaGarcia deArouça. Apesarde que o pedido fiscal inicialpara cada um deles era de noveanos de prisom, surpreendente-mente, no último momento, aacusaçom pública retirou asincriminaçons em contra dosarguidos. Segundo se souboentom, os directivos locais doBBV fizérom chegar até aos

seus superiores a sua recusa asofrer umha condena, já queeles nom eram nada mais doque o degrau inferior de umhacorrente em que se encontra-vam envolvidos os seus chefes,incluída a secçom estatal dopróprio banco.O que se demonstrou no julga-

mento é quedurante muitotempo até 18narcos da Ria deArouça estive-ram a branquearno BBV milha-res de milhonsde pesetas, nomsó com totalimpunidade, mascom a com-placência e cola-boraçom da enti-dade financeira.Já com anteriori-dade, o BancoSantander -a c t u a l m e n t eBSCH após afusom com oBanco CentralHispano- admi-tiu o depósito de

3.500 milhons de pesetas poruns até entom desconhecidoshoteleiros, os irmaos FernándezEspina. Estes, conhecidos polassuas conexons com narcotrafi-cantes sul-americanos, torná-rom-se nuns dos melhoresclientes do banco dos Botín.Posteriores investigaçons jor-

nalísticas permitírom estabele-cer as boas relaçons, mesmocomerciais, dos FernándezEspina com empresários e polí-ticos da Corunha, inclusivecom o presidente da CámaraFrancisco Vázquez. Outrasinqueriçons permitírom des-vendar que os FernándezEspina tinham vários oficiaisda Guarda Civil assalariados,entre eles um general, além deum director geral doPatrimónio do Estado. O Banco Santander e o BBV

apareceriam envolvidos tempodepois no maior escándalo debranqueamento internacional dedinheiro, a chamada"Operaçom Casablanca" pro-movida polas autoridades esta-do-unidenses. Junto a estesdous bancos, apareciam tam-bém envolvidas outras entida-des financeiras sul-americanas.Todas elas participárom nomaior escándalo internacionaldo narcotráfico e branqueamen-to de dinheiro, por um importede centos de milhares de mil-

hons de pesetas.Os representantes do BBV,Santander e três entidades cre-ditícias sul-americanas fôromcondenados por tribunais mexi-canos a elevadas penas. O temafoi manchete nos principais jor-nais, rádios e televisons emvários países da América doSul. No Estado Espanhol o temafoi oculto polos media, nom épor acaso que o BBVA e oBSCH controlam dous terços detudo o que se vê, lê, e ouve emtelevisom, imprensa e rádio.

Representantesdo BBV e do

Santander fôrom condenadospor tribunais mexicanos.O caso foi

manchete deprimeira página

nos media sul-americanos.

No Estadoespanhol nada

se soubo

18 narcos da Ria de Arouça branqueárom no BBV milhares de milhons de pesetas

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10 Setembro 2003 novas da galizaanálise

análise

Começamos, pois, examinando osdados do desemprego da EPA.Segundo esta fonte estatística, nosegundo trimestre do ano 2003havia na Galiza 148.700 desem-pregados e desempregadas.Certamente, este dado confirmaque o desemprego desceu em12.700 pessoas em relaçom ao tri-mestre anterior. Ora bem, tal ecomo recomenda a própria EPA,para valorar a evoluçom dodesemprego, nom se devem com-parar os dados de um trimestrecom os do trimestre anterior,porém, o adequado será confron-tá-los com os do mesmo trimestredo ano precedente. A razom destaforma de operar é eliminar os efei-tos estacionais da evoluçom dodesemprego, como por exemplo,o conhecido efeito da reduçom dodesemprego a conseqüência doauge da ocupaçom no sector ser-viços (e, sobretudo, nos serviços

associados ao turismo), auge queé especialmente intenso no segun-do e no terceiro trimestre de cadaano. Pois bem, se confrontamos ainformaçom do segundo trimestrede 2003 com a do segundo trimes-tre de 2002, temos que na Galizahá mais 5.200 desempregados edesempregadas, o que nos leva aafirmar que o nosso mercadolaboral evoluiu negativamente noúltimo ano. A informaçom publicada polaEPA permite-nos conhecer quaisos grupos etários mais afectadospolo aumento do desemprego.Neste sentido, desde o segundotrimestre de 2002 até ao segundotrimestre do ano 2003, o desem-prego reduziu-se em 1.900 pesso-as no colectivo de 16-19 anos eaumentou no resto, sendo espe-cialmente significativa a evo-luçom do grupo de 20-24 anos,que eleva o número de desempre-

gados e desempregadas em 4.200pessoas. Se atendermos ao génerodo desemprego verifica-se que,para o período anteriormenteespecificado, há mais 2.700desempregadas e mais 2.500desempregados. Estes resultadosvenhem a confirmar o que já sabí-amos: o desemprego afecta nome-adamente dous colectivos, ajuventude e as mulheres. Aliás, secruzarmos as duas variáveis(idade e género), observamos queo maior aumento do desempregose concentra nas mulheres comidades compreendidas entre 20 e24 anos, com 2.400 desemprega-das mais, dados ilustrativos acercada ainda difícil inserçom laboralda mulher no mercado do trabalhogalego.Finalizámos o segundo trimestredo ano 2003 com umha taxa dedesemprego de 11,9%, mas comimportantíssimas diferenças porgénero e por idade. Assim, entreos homes verifica-se umha taxa dedesemprego de 7.8%, enquantonas mulheres esta taxa se situa em17.2%. Por idade, as maiorestaxas de desemprego registam-sena faixa etária de 16-19 anos, comum valor de 28.8% (26.7% oshomes e 32.7% as mulheres) e nafaixa etária de 20-24 anos, comum valor de 25.0% (18.3% oshomes e 33.1% as mulheres).O crescimento do desempregoexperimentado no último ano con-trasta com a ascensom do númerode contratos registados polas esta-tísticas do INEM. Assim, duranteo período que vai de Janeiro aJulho do ano 2003, na Galiza assi-nárom-se 418 mil contratos,enquanto no mesmo período doano anterior só se efectuárom 401mil contrataçons. Ora, mais doque o número de contratos, éimportante conhecer as caracterís-ticas dos mesmos e, nomeada-mente, aquelas referidas àduraçom da relaçom contratual. Eé neste sentido que os resultados

Notas acerca do desempregoe da contrataçom

Rosa Verdugo

Através do presente trabalho pretendemos dar aconhecer a situaçom actual do mercado laboralgalego. E para fazê-lo, vamos analisar, por

umha parte, os números do desemprego da EPAe, por outra parte, as contrataçons registadasnas estatísticas do INEM.

A informaçom disponível ratifica que os contratos a prazo estám associados a um salário menor ao dos contratos efectivos.

Se compararmos o

segundo trimestre

de 2003 com o de

2002, veremos que

na Galiza o

desemprego cresce

em 5.200 pessoas,

quer dizer, o nosso

mercado laboral

evoluiu negativamente

O desemprego

afecta sobretudo a

juventude e as

mulheres. O

maior aumento

concentra-se nas

mulheres com

idades entre 20 e 24

anos, com mais

2.400 desempregadas

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Setembro 2003novas da galiza 11análise

nom deixam lugar parao optimismo, já que, dototal de contratos assi-nados nos sete primeirosmeses do presente ano,só 17 mil tenhem carác-ter indefinido (contratossem termo), o que signi-fica que 95.8% dos pos-tos de trabalho criadosnesse período som decarácter temporário(contratos a prazo).Desta forma, o aumentodo número de contratosexplica-se, um anomais, polo incrementodas contrataçons deduraçom determinada.A continuaçom passa-mos a analisar as contra-taçons realizadas duran-te os sete primeirosmeses do ano 2003. Amaioria dos contratos aprazo efectuados duran-te esse período enqua-dram-se dentro de duasmodalidades: "de obra eserviço" e "eventuais por circuns-táncias da produçom". Assim, dototal de contratos a prazo assina-dos, 80.4% pertenciam a algumhadessas duas categorias. Se atender-mos à sua duraçom, 39.6% doscontratos eventuais por circunstán-cias da produçom tenhem umhaduraçom inferior a um mês, 30.2%duram entre 1 e 3 meses e 26.2%entre 3 e 6 meses. E esta reduzidaduraçom dos contratos está a difi-cultar o acesso à cobrança de pres-taçons por desem-prego, já que, paraos trabalhadores et r a b a l h a d o r a scada vez é maisdifícil poder con-seguir os dozemeses de descon-to necessáriospara aceder àcobrança do sub-sídio de desem-prego. E comoresultado, dimi-nuem as receitasdos assalariados ea s s a l a r i a d a smenos privilegia-das, a saber, aque-les e aquelas quefinalizam o seucontrato a prazo epassam a engros-sar a listagem dodesemprego semque a suasituaçom dedesemprego lhesoutorgue direito a receber algumtipo de subsídio de desemprego. A maioria dos contratos "de obraou serviço" e dos contratos "even-tuais por circunstáncias da pro-duçom" som realizados com meno-res de 30 anos, o que nos permiteafirmar que a juventude é a maisafectada pola precariedade laboral.

De facto, 48.5% dos homens queassinárom um contrato de obra ouserviço som menores de 30 anos,enquanto nas mulheres a percenta-gem é de 50.0%. No caso dos con-tratos "eventuais por circunstánciasda produçom", 56.4% dos homense 61.1% das mulheres incluídossob esta fórmula contratual tenhemmenos de 30 anos.Se considerarmos o tipo de jorna-da, 19.2% do total de contratoscelebrados som a tempo parcial.

Do total de con-tratos "de obra eserviço" 18.0%som a tempo par-cial. Por género,as mulheres somas mais afectadas,já que do total decontratos "de obraou serviço" cele-brados comhomens 11.4%som a tempo par-cial, elevando-se apercentagem atéao 30.2% para asmulheres. Algosimilar acontececom os contratos"eventuais por cir-cunstáncias daproduçom", sendo26.2% a tempoparcial. Por géne-ro, do conjunto decontratos "even-tuais por circuns-táncias da pro-

duçom" celebrados com mulheres,38.9% som a tempo parcial,enquanto esta percentagem só é de15.1% para os homens. Realmente,se a jornada a tempo parcial fossedesejada polo trabalhador ou tra-balhadora, esta fórmula nom signi-ficaria precariedade laboral,porém, unicamente manifestaria a

preferência do assalariado ou assa-lariada por um tipo de empregoque lhe possibilita dispor de tempopara realizar outras actividades,como por exemplo, ampliar a suaformaçom, dedicar-se ao cuidadode familiares ou, simplesmente,desfrutar de mais tempo de ócio.Ainda que nom existam dadosestatísticos que compilem estainformaçom, tudo parece indicarque o elevado número de contratosa tempo parcial nom está relaciona-do com a preferência do trabalha-dor ou trabalhadora por esta moda-lidade de emprego. Polo contrário,reflecte a escolha da empresa deumha fórmula que, além de terassociados menores custos labo-rais, possibilita ocultar jornadas atempo inteiro com contratos atempo parcial. Neste sentido, a ele-vada percentagem de contratos atempo parcial deve ser interpretadacomo mais um indicador da preca-riedade do mercado laboral. À medida que os contratos a prazovam ganhando peso no conjunto dacontrataçom vai manifestando-secom maior intensidade a dualidadeno seio do proletariado, agora radi-calmente dividido em dous grupos:os trabalhadores e trabalhadorasefectivas e os trabalhadores e tra-balhadoras a prazo. Portanto, acontrataçom a prazo gera dife-renças dentro do mundo do trabal-ho. Os trabalhadores e trabalhado-ras a prazo nom só percebem recei-tas menores do que os efectivos eefectivas como ainda tenhem umhamaior instabilidade no seu posto detrabalho. A informaçom disponívelratifica que os contratos a prazoestám associados a um saláriomenor do que os contratos efecti-vos: segundo dados da"Distribuicom Salarial emEspanha" do INE, no ano 1995 ostrabalhadores e trabalhadoras com

contrato a prazo ganhavam 40%menos do que os trabalhadores etrabalhadoras com contrato efecti-vo. Pola sua parte, salários meno-res significam menor poder aquisi-tivo e menor consumo privado,tanto em termos quantitativoscomo qualitativos. Fora do ámbitoestritamente económico, os trabal-hadores e trabalhadoras contrata-das sob um regime temporárioestám potencialmente ameaçadospolo ajustamento do quadro depessoal da suaempresa, facto queincrementa a suaincerteza emrelaçom ao futuroe gera pressonspsicológicas nes-tes trabalhadores etrabalhadoras.Os contratos aprazo reduzemsignificativamenteos custos laboraisque suporta aempresa: porumha parte, a fina-lizaçom de umcontrato a prazonom está associa-da a custos de des-pedimento e, poroutra, as quotasempresariais àSegurança Socialsom inferioresnessa modalidadede contrataçom.Desta forma, àmedida que aumenta a contrataçoma prazo nom só se produz umhareduçom dos custos laborais daempresa mas tamém se está a pro-vocar um desequilíbrio financeironas contas do INEM: tenha-se emconta que as receitas diminuem (jáque os novos contratos reduzem asquotas que pagam empresas e tra-

balhadores ou trabalha-doras à SegurançaSocial) e as despesasaumentam (já que afinalizaçom de um con-trato a prazo é seguidapola entrada do trabal-hador ou trabalhadorano desemprego, o qualeleva o número dedesempregados edesempregadas e, por-tanto, as despesas asso-ciadas ao pagamento desubsídios de desempre-go).Anteriormente indicá-vamos que o aumentoda ocupaçom registadanos últimos anos é con-seqüência do auge dacontrataçom a prazo,precisamente a maissensível à conjunturaeconómica. Como ésabido, um dos efeitosdo aumento do trabalhotemporário é a maiorresposta do emprego às

mudanças cíclicas: com contratos aprazo, o emprego em expansom émaior do que sem eles, já que ocusto marginal dos trabalhadores etrabalhadoras a prazo é menor doque o custo marginal dos trabalha-dores e trabalhadoras efectivas. Noentanto, também é maior a quedado emprego quando a economiaentra em recessom, já que se pres-cinde de trabalhadores e trabalha-doras a prazo que tenhem ummenor custo de despedimento. Fai-

se necessário,pois, pôr em fun-cionamento osmecanismos ade-quados para evi-tar situaçons dopassado, quandoa destruçom deemprego nosperíodos de criseultrapassava acriaçom deemprego nosperíodos de augeeconómico, sendoo resultado umhaperda líquida dovolume de ocu-paçom.Tudo o expostonos permite con-cluir que, naactualidade, omercado laboralgalego se caracte-riza por umha ele-vada precarieda-de, sendo a juven-

tude e as mulheres os colectivosmais afectados: elevada taxa dedesemprego, predomínio absolutodas contrataçons a prazo, reduzidaduraçom dos contratos efectuadose elevado número de contratos atempo parcial.

Rosa Verdugo é economista

O mercado laboral galego caracteriza-se por umha elevada precariedade, sendo a juventude e as mulheres os colectivos mais afectados

No fim do segundo trimestre

de 2003 haviaumha taxa dedesemprego de

11,9%, com diferenças porgénero e por

idade. Há 7.8% de homens

desempregadosperante 17.2% de mulheres

Do total de contratos

efectuados nossete primeiros

meses deste ano,só 17.000 som de

carácter indefinido,isto é, 95.8% dos

postos de trabalhocriados som de caráctertemporário

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12 cultura Setembro 2003 novas da galiza

reportagem

Suso Sanmartin

Máximo Rodríguez Buján"Máximo Sar" (Padrom, 18-10-1922) é pois o único sobrevi-vente dos quatro autores dosequestro de Manoel-António eo único que ainda poderia dizer-nos o que aconteceu exactamen-te na manhãdaquele "fatídicoDomingo 15 deAbril de 1956". Opróprio Borobó -numa conversaque sobre oassunto mantive-mos com ele, nodia 3 de Abril de2002, emCompostela- assi-nalava MáximoSar como a teste-munha mais fiá-vel. O Borobódizia "ter muitascoisas na cabeça",lamentando-se deter cometido erros na recons-trução publicada de uns factosdos quais, passados tantos anose apesar da sua impressionantememória, já não se lembravacom clareza.Parafraseando o Borobó, e sem-pre com Manoel-António no

fundo, poderíamos dizer que omomento estelar da nossarelação com ele ocorreu emRianxo, 28 de Janeiro de 2000(suposto septuagésimo aniversá-rio da morte de Manoel-Antonio), onde por aquelasdatas (do 25 ao 29 de Janeiro)estavam a celebrar-se umas

Jornadas de Estudodedicadas aCastelao que con-tavam com a pre-sença do mestre.Dizemos "supostoseptuagésimo ani-versário da seufalecimento" edizemos bem. Já odizíamos nos carta-zes com quenaquela alturae m p a p e l á r a m o sRianxo e ainda nospanfletos querepartimos emmão, Paço deViturro (sede das

Jornadas) inclusive. Um daque-les panfletos caiu, por acaso, nasmãos do Borobó, tal e como elemesmo no-lo contou no seu"Anaco" intitulado "O Secuestrode Manoel-Antonio", publicadono nº 921 d'A NOSA TERRA,no dia 10 de Fevereiro de 2000:

"...o momento estelar da nosa [de Roxerius e Borobó] relación ocorreu en Asados, preto do pazo dos Torrados, un ano daqueles. Cando fun con il, e con Domingo García Sabelle Maximino Rodríguez Buján, abrir a habitación do seu curmán Manoel-Antonio, pechada pola nai diste dende o mesmo día do enterro do poeta".

O SEQÜESO SEQÜESTRADOR ARREPETRADOR ARREPENDIDONDIDO

B O R O B Ó

Borobó: "O inxel curmán de Manoel Antonio" em "Roxerius: Pedagogo Galeguista" (Caderninho interior d'A Nosa Terra nº 816, 5 de Fevereiro de 1998)

No passado dia 28 de Agosto falecia em Compostela Raimundo GarcíaDomínguez "Borobó" aos 87 anos de idade. Pouco antes, no dia 5 deAgosto já falecera na Corunha, com 93 anos, Domingo Garcia-Sabell.

No mesmo mês de Agosto de 2003 deixaram-nos dois dos quatro autoresdo "sequestro mais longo de todos os tempos". Roxélio Pérez González"Roxerius", "o inxel curmao de M-A", já morrera em 1963.

[email protected]@terra.es

Borobó, por Suso Sanmartín

Máximo Bujáné o único

sobrevivente dossequestradores,

o único que poderia

dizer-nosexactamente oque aconteceu

Manoel-Antonio está a sofrer o sequestro mais longo de todos os tempos

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culturaSetembro 2003novas da galiza 13

"Sorprendeume ledamente a lei-tura dunha folla amarela que serepartiu durante o Congreso deCastelao celebrado en Rianxo.Asinada pola CoordenadoraCachimba pola Paz (a cachimba,sen dúbida, perdida do poeta Decatro a catro) dita folla informa-ba de que Manoel Antonio nonmorreu en Asados, no 1930,senón que foi secuestrado no"sequestro mais longo de todosos tempos, que dura já a frioleirade 44 anos".Efectivamente, ao contrário doque todo o mundo crê e/ou nosquer fazer crer, M-A nãomorreu, nem em Assados(Rianxo) em 1930 (como se rezana sua falsificada certidão deóbito) vítima da tuberculose,nem dez anos depois na França,em 1940 (como afirma XesúsGonzález Gómez, sob o pseudó-nimo de Ramón Posada, em"Ucronia") vítima dos nazistas.M-A está vivo, como ElvisPresley.Passaram já três anos desdeentão e, apesar de todos osesforços da sociedade civil,ainda não se lhe pôs fim a estavergonha que dura já a bagatelade 47 anos.Para dar cabo desta vergonha éque nasceu a CoordenadoraCidadã "Cachimbo pola Paz"que, com aquela "folha amarela"e sob o lema de "Basta Já!Manoel António a casa!", convo-cava à cidadania toda à primeiradas concentrações que, para exi-gir a sua imediata libertação,teve lugar na sexta-feira 28 deJaneiro, às 20:00 horas perante acasa natal do poeta, sita na rian-xeira Rua de Baixo e que conti-nuariam a celebrar-se semanal-mente no mesmo sítio, à mesmahora, até que Domingo Garcia-Sabell não pusesse em liberdadeincondicional o autor de "DeCatro a Catro".À nossa convocatória acudiu omesmíssimo Borobó em pessoa,tal e como no-lo contou - emboracometendo um pequeno lapso,quanto à efeméride em questão,impróprio da sua prodigiosamemória- no final do seu citado"Anaco" d'ANT: "...ocorréusemedar a cara en Rianxo, na noiteexacta que se cumplía o centena-rio do nacemento do seu grandepoeta, pra explicarlle áCoordenadora Cachimba polaPaz e demais compañeiros, aactuación -naquil polémicosecuestro da obra inédita do adailda vangarda galega- dos tres mal-vados captores que acompañaronnise día de autos ao autor deManoel-Antonio, o aparecido: o

inesquencíbel Roxerius, MáximoSar e Borobó, alias Borobó. Quenquedou mais ledo aínda, pola boaacollida que tivo a sua explica-ción".A Helena Vilar Janeiro tambémestivo ali, como muitas outraspersonalidades que naquelasdatas se davam cita em Rianxocom motivo das Jornadas deEstudo dedica-das a Castelao,escrevendo dalia uns dias, nodia 4 deFevereiro de2000, no ELC O R R E OG A L L E G O :"Ofrecían [amocidade rian-xeira] lazadasbrancas parapedir a libera-ción de ManuelAntonio e expli-caban este caso,con humor, enfolliñas voan-deiras. O curio-so é que un dossecuestradores,o mestre Borobó, puxo a lazadabranca e expuxo a súa versióndos feitos tras da pancarta, agari-mosamente flanqueado polosacusadores. Non sei se foi maisfermosa a rebeldía dos novospara denunciar o que consideranunha manipulación do poeta deAsados ou a lúcida madurez doentrañable erudito para afrontar aafouteza. Doque dou fe é deque a concentra-ción acabou enaplausos mutuose de que Borobólevou postaaquela lazadabranca o tempoque quedaba decongreso".Quatro diasmais tarde, nodia 8 deFevereiro, tam-bém em ECG,M a n u e lDourado Deira,num seu artigoi n t i t u l a d o"Denuncia dunsecuestro sensangue nin horror" dizia que"Borobó tivo noticia do actoaquela mesma tarde noCongreso, e adoptou a intelixen-tísima actitude, propia da súaenciclopédica sabedoría, de sepresentar na Rúa de Abaixo deRianxo, para escoita-la acusa-ción e darlle a correspondente

resposta pública narrando a súaversión dos feitos ocorridos enAbril de 1956. Vários amigosasistentes ao Congreso acompa-ñamos a Borobó, e podo dar fe,como xa anticipou Helena coasúa habitual delicadeza, de quealí non houbo máis ca moita cor-dialidade e desexos de paz sim-bolizados por unha lazada bran-

ca que os xuve-nís denuncian-tes prendían nopeito (no ladodo corazón) dosasistentes que odesexaran".Com este artigoDourado davaréplica públicaa um escandali-zado MáximoSar que, sabe-dor polaimprensa doGesto de" C a c h i m b opola Paz", rati-ficava a suaauto-inculpató-ria declaraçãoinicial de "Tras

las huellas de Manoel Antonio"(feita em LA NOCHE, o 21 deAbril de 1956, poucos diasdepois de perpetrado o seques-tro) no seu artigo intitulado "Yoayudé a "secuestrar" a ManoelAntonio" (ECG, 06-02-00). Assim mesmo foi: Borobó, com83 anos de idade, sem importar-se o mais mínimo de perder o

ónibus que aorganização doCongresso deCastelao puserapara palestran-tes e a risco deque lhe partis-sem a cara,esteve ali"dando" amesma, já nemtanto paradefender a suaprópria inocên-cia como o bomnome do" R o x e r i u s " .Sirvam estastorpes linhascomo homena-gem póstuma aDom Raimundo

García Domínguez, "Borobó", osequestrador arrependido, queera e sempre será para nósPresidente de Honra do"Cachimbo pola Paz."

Pola Coordenadora Cidadã"Cachimbo pola Paz",

Suso Sanmartin

ERRATANa reportagem sobre o Opus Dei, publicada no passado número, quando assinalávamos que, dentro do grupo de membros laicos da Prelatura,

"os homens e mulheres casados que som fiéis da Obra" eram os numerários, estávamo-nos a referir aos supernumerários.

"Encol da obra pantasma deManoel Antonio: Alén(da). Edirá algún, de pantasma nada,que é real e ben real. Pois máispantasmal aínda, penando poresas bibliotecas. ¿A de García-Sabell? ¿Ou xa anda pola daFundación Barrié?" (...) "Sabell,moi enfermo, vendeu hai pouco asúa biblioteca á FundaciónBarrié de la Maza, privada.¿Irán aló os papeis de ManoelAntonio? ¿Sairán á fin á luz?".

"Encol da obra pantasma de ManoelAntonio: Alén(da)". (Reportagem assina-da por Miguel López Calzada e publicadaem www.vieiros.com na quarta-feira, 12de Julho de 2000 com motivo do centená-rio de M-A.).

"Aproveitando a expectación quese ten levantado por este motivo[46º aniversário do seqüestro deM-A], foise facendo máis insis-tente un malintencionado rumorsegundo o cal xa se tería produ-cido a liberación do que de segu-ro xa se convertera no secuestromáis longo da historia do EstadoEspañol. De confirmarse estanova, os manuscritos e textosinéditos do Poeta do Mar estarí-an baixo custodia da FudaciónBarrié de La Maza, que os teríaadquirido previo pago de unsubstancioso rescate ao insignebibliotáfo Domingo García-Sabell".

"Últimas novas sobre o seqüestro de ManuelAntonio" (Carta de Miguel Anxo FachadoBaquedano) publicada n'A Nosa Terra Nº1.032 (Do 2 ao 8 de Maio de 2002) págs. 6-7.

"A Fundación Barrié de la Mazaquere manifestar, en relación coacarta aparecida en A Nosa Terrao pasado 3 de maio, Últimasnovas sobre o secuestro deManuel Antonio, que non posúeningún tipo de documentaciónpersoal, manuscritos, textos iné-ditos, etc do ilustre poeta deRianxo. A Biblioteca de D.Domingo García-Sabell, da que aFundación Pedro Barrié de laMaza é propietaria, non inclúe adevandita documentación".

"Puntualización da Fundación Barrié"(Resposta da Fundaçom P. Barrié de la Mazaà carta do M-A Fachado) publicada n'A NosaTerra Nº 1.034 (Do 16 ao 22 de Maio de2002) pág. 4.

Manoel-António,García-Sabell e

Barrié de la Maza

Manoel Antonio

nom morreu em

Assados, em 1930.

Foi retido no

"sequestro mais

longo de todos os

tempos, que dura

já 44 anos"

"Cachimbo polaPaz", sob o lema

de "Basta Já!Manoel António acasa!" convocavaa cidadania toda à

primeira das concentraçons

para exigir a sualibertaçom

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14 cultura Setembro 2003 novas da galiza

portal galego da línguaMais uma secçom noportal: Galeria PGLA equipa polo desenvolvimento doPortal Galego da Língua oferec maisumha novidade para continuarmos aconstruir um dos mais grandes por-tais da Galiza. A ''Galeria PGL'' visaser um autêntico arquivo informati-vo e mesmo lúdico de tudo aquilorelativo a som, vÞo, imagens, gráfi-cos e flash. As secções som:Arquivo Sonoro (entrevistas, mani-festações, conferências), ArquivoAudiovisual (recompilaçom de gra-vações de eventos, ou tramos de gra-vações audiovisuais), Bandeiras daGaliza (as bandeiras históricas eactuais da Galiza), Foto-reportagens(actos e actividades relativas à línguae cultura galego-portuguesa) eVários Galeria PGL (aquilo que,sem ter a ver com a língua directa-mente, puder ser de destaque).

O mais longo poemasobre o Estado doMundo escrito emPortuguêsO sítio www.ofulgordalingua.compromove esta iniciativa dentro dasactividades da capitalidadeNacional da Cultura 2003, deCoimbra. Começou a 15 de Maio, etem data agendada para o fim a 31de Dezembro de 2003. A iniciativade escrever o mais longo poemasobre o Estado do Mundo em lín-gua portuguesa pode seguir-se viaInternet. As normas desta interes-sante acção ficam explicadas nopróprio web do Fulgor da Língua.

Nova língua mundialUm estudo, realizado pola empresafrancesa Nomen, acabou de fazerpúblico o facto de, na França,serem marcas duas de cada cincopalavras que uma pessoa conhece.Esta "nova língua", o nome dasmarcas, pode ainda ser consideradajá o segundo idioma mais interna-cional, que também ajuda a fazer avida mais fácil aos turistas na suacomunicaçom. É o novo esperanto,afirmam os investigadores e inves-tigadoras que dérom a conhecer osresultados preliminares do estudo.

Língua quéchuamorrerá em 2030Embora falada por oito milhões depessoas no Peru e em outros trêspaíses, a língua quéchua poderámorrer em 2030, conforme as con-clusões do estudo da aplicaçom deum modelo matemático desenvolvi-do por uma dupla de pesquisadoresamericanos. O estudo, publicado narevista científica Nature, usou comomodelo duas variáveis: a popu-laçom falante de cada umha das lín-guas que coexistem dentro de umterritório e o status atribuído a elas.

Umha novacarrinha comercial

em Galego

Umha nova carrinha comercial nanossa língua percorre o País delado a lado. A empresa orteganaBacalhau Da Loira, S.L. acaboude adquirir o veículo e, como já éprática habitual na firma, a rotu-laçom da mesma fijo-se em gale-go-português. Os gerentes daempresa salientam que "muitaspessoas reconhecem a sua línguano que está escrito nas carrinhas".

Jovens da AMIgaleguizam

indicadores de Compostela

As estradas da comarca deCompostela falam galego. A mili-táncia da Assembleia da MocidadeIndependentista dedicou o mês deAgosto a percorrer os caminhosdos concelhos de Santiago, Ames,Briom, Teo, e Vale do Dubra corri-gindo as placas de sinalizaçom emque apareciam deturpados osnomes das nossas cidades e aldeias.

Primeiro mapa daGaliza em galego-

-portuguêsA Assembleia Comarcal deCompostela de NÓS-UnidadePopular editou no passado mês deJulho um mapa da Galiza. Neleaparece recolhida a proposta deterritório nacional galego da orga-nizaçom independentista.Também oferece umha comarcali-zaçom alternativa à proposta ins-titucional da Junta, aparecem ostopónimos de comarcas, concel-hos e as suas cabeças, assim comooutros núcleos de interesse. Tudona ortografia patrimonial galego-portuguesa. No momento de fixaros topónimos tomou-se quasecomo única base o recém nascidoTopogal da AGAL.

www.agal-gz.org

Organização Não Governamental brasileira inclui Galiza como país lusófono

C E A P / L o r o s a e(www.lorosae.org.br), ONG sedia-da na maior cidade neolatina domundo, São Paulo, é uma organi-zação voltada à Promoção Humana,com atividades na EducaçãoAmbiental, a Lusofonia e o TimorLeste, em particular, desde 1998.Conforme explica um dos seusmáximos responsáveis, Elias deSouza Jr., valorizam as expressõesculturais de todos os povos, comdestaque para a língua. "Nós brasi-leiros somos Lusófonos, isso é, fala-mos o português, assim como ospovos de: Angola, Cabo Verde,Guiné Bissau, Moçambique,Portugal, São Tomé e Príncipe,

Timor Leste e Galiza", salientam nofolheto com que estão a divulgar naaltura quer a sua organização, quer asua campanha "Baladas pra Timor". Elias de Souza Jr., destaca ainda ointeresse da sua organização noconhecimento da cultura galega eda Galiza, até porque é tambémobjetivo seu o debate e discussãode "todas as variantes da línguagalego-portuguesa existentes aoredor do planeta" e precisamentedesde essas terras pois "a dis-cussão para o grande público dalusofonia no Brasil é muito recen-te" e está a caminhar para setornar normal e proveitosa aomáximo do seu potencial.

Mil primaveras mais para o galego no Bérzio

Uma análise da situaçom dogalego no Bérzio durante o curso2002-03, e mesmo uma brevereferência histórica aos trabal-hos em prol do ensino do galegonessa comarca, som os temasrecolhidos numa ampla reporta-gem assinada polos membros de''Fala Ceibe'', Nuria Mariño eBenito Sousa, e publicada narevista do I. E. S. Gil y Carrascode Ponferrada.

Rapazes e raparigas da Ponte,Toral de Meraio, Carucedo,Toral dos Vados, Cacabelos, VilaFranca do Bérzio, Campo Naraiae Ponferrada, recebêrom algumamatéria em galego. Todo umsucesso nunca antes atingido efruto de mais de vinte anos delutas e reivindicaçons por partede diversos colectivos defenso-res do galego e da cultura galegano Bérzio.

AGAL-Ourense apoia Secretáriode Ginzo de Límia

O grupo local da AGAL(Associaçom Galega da Língua) deOurense perante as notícias apareci-das no jornal La Región em relaçomà acçom do vereador do PSOE deGinzo de Límia, Iglésias Sueiro,contra o secretário do Cámara muni-cipal por escrever "Carvalhinho"com "V" e Verim com "M", quercomunicar o seguinte:Nom compreendemos em quemente sá pode caber a mania perse-cutória contra as pessoas que nomseguem os ditados do seu "pensa-

mento único" em relaçom à língua,tanto mais proveniente de pessoasque se dizem democratas e de umpartido como é o PSOE que se defi-ne a si próprio de galeguista. [...]Umha pessoa como o senhorSueiro, educado no PartidoComunista e perseguido durante aditadura franquista, pode agora pas-sar de perseguido a perseguidor,[…] Do nosso ponto de vista seriamais útil para todos e todas que sededicasse a potencializar o seu usoe emprego nele próprio e entre os

seus companheiros e companheirasde partido como o presidente daCámara de Vigo Ventura PérezMarinho e o da Crunha FranciscoVázquez, acérrimos militantes anti-galegos [...] Aconselharíamos aosenhor Sueiro que os textos emgalego da sua autoria e que temosvisto nalgum jornal fossem de mel-hor qualidade lingüística, já quecomete erros que nom cometerianengum aluno ou aluna de primá-ria. Nom estará incumprindo a leique diz defender? [...]

Henrique Carvalho, também membro da AGAL, foi acusado de "reintegracio-nista linguístico" e de nom cumprir a lei, no que à norma diz respeito, polo

porta-voz socialista Iglesias Sueiro.

CEAP/Lorosae promove na atualidade a campanha ''Baladas pra Timor''

Mais de 400 estudantes escolhêrom voluntariamente estudar galego neste curso

Um sucesso nuncaantes atingido efruto de mais de

vinte anos de lutas ereivindicaçons

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REFLEXONS DESDE AREFLEXONS DESDE A

músicaSetembro 2003novas da galiza 15

MÚSICA GMÚSICA GALEGALEGAADavide Loimil e Inácio Gomes

Nestes últimos anos tivemos ocasiom deconversar com muitos conjuntos musicais

galegos. Com eles, trocamos impressons arespeito de diversos temas, tanto musicaiscomo políticos, culturais, etc.

A seguir, apresentamos-vos algumhas destasreflexons. As bandas da Galiza tomam apalavra e posicionam-se.

LínguaÉ evidente a quantidade de portasque som fechadas às nossas ban-das para elas trabalharem normal-mente. Um dos obstáculos comque topam é o idioma, marginali-zado dos grandes circuitos comer-ciais. Para Meninh@s da Rua,"cantar em galego, inclusive naprópria Galiza (salvo para gruposfolclórico-bravus), supom umhaeiva considerável". A bandacorunhesa quijo também assinalar"umha outra porta fechada: atemática das letras". Olhando paradiante, "cremos que o futuro damúsica em galego está emPortugal e no nosso caso maisainda, porque Portugal é um paísonde se vende muito Metal"Podemos colocar Ugia Pedreira navanguarda em muitos aspectos,mas um dos mais significativos é oda norma ortográfica do nosso idio-ma que emprega. Ugia apostou fir-memente na grafia histórica. Paraela, "o reintegracionismo é umharealidade absoluta que já ganhoumuitas batalhas. Para onde quer queolhes encontras reintegracionismo,na música, na literatura, na escultu-ra, nas aulas... é um movimento quenom pode parar". No entanto, nomdeixa de reconhecer que "há muitaslacunas dentro da música e tudoestá por construir, isto é um camin-ho de amor-ódio, às vezes frustran-te e às vezes esperançador. Porexemplo, em lugares como aBretanha onde tenhem centros dedocumentaçom musical, onde osmúsicos e as músicas som acarin-hadas e respeitadas, com discográ-ficas que funcionam, mao-de-obraespecializada... nom tenhem, emtroca, umha situaçom lingüísticamuito estimulante. Creio que tudoestá por chegar, mesmo a permea-bilidade nesta questom".Mais cépticos a este respeito semostrárom os Non Residentz. Paraa banda de hip-hop a barreira prin-cipal nom é a idiomática: "nominteressa, nem a língua nem os mer-cados, a questom é a boa música ea boa distribuiçom. Aqui tampoucopodemos comprar discos brasilei-ros que som êxitos lá."

Cena musical galegaMuito se tem falado ao redor da"indústria musical galega", ou maisbem, infelizmente, da inexistênciade umha indústria musical autócto-ne no nosso país, a diferença do queacontece noutras latitudes, por

exemplo com o que representamMetak (Euskal Herria), GridaloForte (Itália)...Diskatocam reconhecem imediata-mente a complexidade do tema aabordar, e começam por esclarecera questom da indústria musical:"matizaremos que nom queremosumha indústria musical mas siminfra-estrutura musical. Nom preci-samos de vampiros da música, onecessário som salas onde tocar,festivais onde paguem um mínimo,e sobretudo um público". Quantoàs comparaçons (Euskal Herria,Itália...), a banda de ska-reggae per-cebe diferenças substanciais a res-peito do contexto galego, já que "aItália é um pais com milhons dehabitantes, rádios livres com gran-des audiências e numerosos centrossociais. Euskal Herria é um caso

excepcional em toda a Europa, com"gaztexes" em cada vila, muitosconjuntos musicais, rádios...Concluindo, som lugares commovimentos sociais muito fortes ecom muitos mais meios. Galizanom pode ser comparada com essaszonas mas temos que trabalhar aospoucos, primeiro tem que haverinteresse por parte das pessoas eumhas condiçons mínimas paratocar e gravar, quer dizer, nom épossível avançarmos quando sópodemos tocar em duas casas ocu-pas ou em quatro ou cinco salas".Falando já de propostas concretas,"a soluçom passa pola introduçomde grupos locais nas festas dasvilas, penso que nom é muito difícilpagar 100.000 ptas. a um grupoquando se paga 2 milhons a AzúcarMoreno ou 1 milhom a umhaorquestra. A partir de umhas con-diçons mínimas haveria decertomais grupos e conseqüentementemais discos, as rádios iam ver-seobrigadas a passar esses discos...Tudo isto anda ligado".Umha banda já diluída, Nen@s da

Revolta, foi especialmente críticacom o tema da indústria musical naGaliza. Na altura, há poucos anos,reconheciam que "talvez a únicainiciativa interessante em muitosanos tenha sido a criaçom daAssociaçom de Músic@s emLíngua Galega (AMELGA)". Ascausas da "lamentável" situaçom éo "contexto, do mais árido. A Juntae as cámaras muincipais gastamquantidades milionárias em projec-tos elitistas, mas os músicos e asmúsicas da base, carecem do maismínimo apoio. O prin-cipal problematalvez seja aimpossibilidadede tocar se nomé em péssimas,inaceitáveis con-diçons. Aqui a res-ponsabilidade é com-partilhada por todo omundo. Primeiroestám as cámarasmunicipais, quegastam dezenasde milhonscom Ana Belénou os BeachBoys, enquantopara as bandasgalegas de rock (leia-semestiçagem, hip-hop, pop,etc.) torna-se impossível ace-der aos programas. Houvoquem aguardasse por algumhamudança com os movimentos depoder político: depois isto des-mentiu-se. A política nacionalistaneste sentido é um decalco da doPP (aí está o penoso exemplo deVigo)". Nen@s da Revolta somespecialmente críticos, tendo emconta o que dele se aguardava,com o nacionalismo maioritário."Estám a consegui-lo: nom existe,nem há indícios de que venha aexistir um rock galego, quer dizer,um quadro básico de grupos, con-certos, etc. Com os dedos de umhamao contam-se as bandas commais de um disco".A distribuidora Projecto Global étambém crítica com a situaçom e opapel que nela jogam as insti-tuiçons: "Nom há projecto, cena,colectivo nem proposta artísticaque poda sustentar-se ou ter futurono apoio institucional e qualquerprojecto durará apenas o que dure osubsídio; para nós é claro, só a par-tir da colaboraçom, apoio e trabal-ho conjunto de pequenas realidadese estruturas populares será possível

alcançar umha situaçom normaliza-da ou polo menos enfrentar, comum mínimo de garantias, aquelespoderes que querem silenciar a vozdo nosso povo e das nossas ideiasantagonistas". Com a via institucio-nal quase descartada, ponhemcomo exemplo de oásis no deserto"o colectivo Expressom Sonora daCorunha que, aos poucos, com umlocal onde distribuem diversomaterial (música , roupa, livros,publicaçons) e promovem as suasactividades constantes apoiandooutros colectivos, estám a dinami-zar o ámbito político-cultural nasua zona. Visto isto, acha-se emfalta que na Galiza nom existammais colectivos semelhantes nou-tras vilas, bairros ou cidades, em

vez de apoios institucionais.Nom deveríamos esperar

grande cousa destes apoios.Polo contrário, deveríamos

tentar chegar nós mes-mos".

Umha das poucas ban-das que podemos

enumerar com mais d e

umdisco editado é Skárnio. Esteconjunto, aliás, tem tocado commuita freqüência no País e noestrangeiro, se bem que muitasvezes em concertos solidários,onde as despesas quase sempresuperam as receitas. Eles diag-nosticam a situaçom da seguintemaneira: "Na Galiza decaiu tudobastante, pensamos que depoisdo boom que tivo o movimentobravu, com o qual muitas bandasse vírom beneficiadas, tudo foiabaixo. Hoje em dia ficam muipoucas bandas se temos em contaas que existiam há um par de

anos. Muitas bandas desapare-cem e mui poucas começam.Pessoalmente, acho que é umproblema de consciencializaçompolítica, pois nós, como bandapolítico-musical temos muitaslimitaçons e os escassos apoiosque há, beneficiam mais as ban-das de folk. Pensamos que émuito importante a conscienciali-zaçom política na música".

Pagar aos grupos galegos...Directa ou indirectamente, a ques-tom económica situa-se num pri-meiro plano. Existe criatividade,mercado e sobretudo necessidadesna Galiza, mas é necessária umhainfra-estrutura adequada, e tambémpossibilidades reais para as bandas.A Matraca Perversa pom em relevoeste tipo de dificuldades: "Deve ter-se em conta que um grupo musicalgasta muito dinheiro em material.Só um exemplo, A MatracaPerversa gasta entre todo o materiale instrumentos quase três milhons,e nom é a brincar". Além disso, emmuitos casos somos nós próprios amenoscabarmos os nossos grupos;é habitual que bandas estrangeirassejam cabeça de cartaz em concer-tos ou festivais galegos, e por cima,que as bandas do País sejam as quemenos recebem (quando recebem).Para os integrantes da Matraca,"como banda galega que somos,

isso parece-nos mui mal... Essaé a triste realidade. É verda-de que algumha vez temosperdido dinheiro e nemsequer pudemos cobrir aviagem, e isto nom deve-ria acontecer. A culpa deque aconteçam estas cou-sas nom recai sobre a

organizaçom, mas nas pes-soas. Este é um dos muitos pro-

blemas da situaçom musical gale-ga; nom há resposta das pessoas emesmo há mais apoio às bandas doEstado espanhol que às da própriaTerra. Devido a isto a organizaçomdos concertos dá marcha atrás nomomento de contratar conjuntosgalegos e as bandas desaparecem.Naturalmente, somos conscientespara nom pedirmos muito dinheiroa quem nom o possui, mas tampou-co é bom perdermos o nosso.Apesar de tudo, temos plena cons-ciência do que custa a certos colec-tivos organizar concertos e conside-ramos que o caché deve basear-sena assistência que junta umhabanda e o nível musical da mesma".

"Nom precisamosde vampiros da

música. Precisamosde salas onde tocar,festivais e, sobretudo,

um público"

Page 16: 10meronovas.gal/wp-content/uploads/2016/10/ngz10.pdf · pois o único sobrevivente dos quatro autores do seques-tro de Manoel-António e o único que ainda poderia dizer-nos o que

A hóstiasXan Carlos Ansia

Há diferenças que é melhoramanhá-las a paus. Antes demeter-se em jurisprudências eaparelhos do Estado, que aca-bam por enredar mais do quesolucionar as disputas. O mel-hor é pôr-se farronqueiro e diri-mir as discrepáncias chegandoàs maos.A princípios dos anos oitentaCuqui Fraguela, vereadora doBN-PG em Compostela e PacoRodríguez, já daquela sendo oque hoje é, acabárom umha juntada Mesa de Forças PolíticasGalegas aos puxons de cabelo,deixando de parte cenas decomissons de garantias e forma-lismos fastidiosos. Dava-se porfinalizada umha das mais cruen-tas cisons do nacionalismo gale-go, por pouco mais de umhamadeixa de cabelo crecho.No sindicalismo ainda se lembraa mordidela que lhe espetárom aMera os do Frente Obreiro deVigo, durante as primeiras dis-cussons sobre o tipo de organi-zaçom de classe que era necessá-ria nas fábricas. Facto respondi-do nas acçons punitivas de umpiquete móvel que tivo o seumomento culminante em Lugo.Ali a liorta interna acabou compontos de sutura e vários partesde lesons por incrustaçom deelementos sólidos, tipo cinzeiro.E que maior pancada que aquelaque deu há anos Beiras a CamiloNogueira, quando por meio deumha carta aberta e como finalde umha série de repreensonspolas alianças do camilismo como PSOE, espetou-lhe por letraimpressa: “Galiza, quando aacossam, revolta-se. Bem sei quevós já nom.”Decantei-me polo positivo destemodus operandi, quando devolta de umha noite de colagem,todo o nosso trabalho foi arran-cado das paredes da zona velhade Compostela. Ao vermos adesfeita decidimos convocar umcomité de zona para, entreoutros pontos, valorarmos asmedidas a tomar. Enquanto sediscutia se pôr o tema de nonona ordem do dia, um camaradada Terra de Trasancos já lhetinha partido o nariz ao fulanoque, um a um, fora arrancandotodos os cartazes.

novas da

Marta Salgueiro

Ugia Pedreira caminha na van-guarda da música tradicionalgalega, misturando sons com for-mas de entender a vida e a músi-ca, fusionando, criando e reelabo-rando. Depois da sua experiênciacom Chouteira, volta ao rego comnovas propostas musicais mani-festadas na supremacia estéticade Ecléctica Ensemble e no senti-mento de Marful. E, ao mesmotempo, continua a trabalhar noensino da música tradicional, àfrente do conservatório folk deLalim.

Que tivérom em comumChouteira, Ecléctica Ensemble eMarful para além de UgiaPedreira?Os três projectos giram em torno àcuriosidade pola música tradicionalgalega. É um constante processo decriaçom pessoal que te leva em cadamomento a entender a música deumha ou de outra forma. É mesmoumha maneira de entender a vida.Em Ecléctica prima a improvisa-çom e a reelaboraçom da musica deraiz nom só galega. Em Marfulconstruímos um mundo musicalque é umha ponte entre os anos 30 e40 (quando chegárom à Galiza os“ritmos negroides” como diziam ascrónicas da época) e a actualidadede quatro intérpretes musicais commúltiplas influências e preocupa-çons.Nestes últimos projectos trata-se decriar um lugar para saltar do cenárioao vazio e ver o que acontece nosolhos do espectador ou da especta-dora.

Tens umha vida artística commuitos frentes abertos e projectosdiversos. Nom é dificil de conju-gar? Ou será que na diversidadeé onde a Ugia encontra mais satis-façons artísiticas? Os diferentes frentes andei a procu-rá-los, ainda que as pessoas (umaminoria com certeza) poda conhe-cer-me com a etiqueta de “cantantefolk”, as etiquetas vam gastando-se,reciclando-se, mudando. Desde quetenho juízo estivem a criar e a com-por cançons sem enquadramento deestilos, umhas estám registadas comChouteira, outras estarám comMarful, outras ficam no espectáculode Dillei, e já estou a fazer letras emelodias para outro futuro disco eoutro e outro... Quer dizer, o cantaré para mim a forma mais simples decomunicar-me, e no palco é no

meio em que me sinto mais cómo-da.

És umha mulher jovem commuita experiência na música tra-dicional, mas também tens cola-boraçons com muitos grupos derock e ainda de outras tendênciasmusicais. Se tivesses que avaliarneste momento a tua achegamusical ao País, que é o que des-tacarias?Difícil pergunta! É verdade quecolaborei várias vezes com omundo do rock... gosto imenso.Mas quando mais aprendim e dis-frutei foi na produçom do Sr.Bombom. Um musical que fizemcom Marful, Davide Otero, CristinaDomínguez, Olga Nogueira e PabloGiráldez em 2000 e que foi repre-sentado quatro vezes no País. Agoramesmo nom estou à espera de maisnada que fazer o meu trabalho omelhor possível. Tento falar aopublico com sinceridade. Tentonom deixar atrás demasiados cadá-veres e levar umha vida tranquila eclara. Neste mundo artístico hámuita aparência e isso aborrece-meprofundamente.Venho de umha casa onde se canta-va de jeito natural, minha maecorrigia-me algumha nota e assim

me criei, com umha voz solista comrepertório de flamengo, tonadaasturiana, romances e cantares gale-gos que luziam a voz. Em Chouteirahavia um protagonismo desta formade cantar –uma mistura entre nortee sul-. Ecléctica vai um pouco além,dando prioridade ao acaso. Marful éo coraçom, a ironia das letras e aqualidade musical dos meus com-panheiros Marcos Teira, PedroPascual e Pablo Alonso. Estou aconhecer a história musical daGaliza e é muito reveladora. Olhasatrás para ver o que fizérom outrose outras artistas nos anos 70, nosanos 50... nos anos 20 e vês quefôrom muitas e muitos os que mar-cárom as pautas e abrírom horizon-tes. Eles e elas som as que me inte-ressam tanto dentro como fora doPaís.

A partir do teu trabalho no con-servatório, que conclusons tira-rias da situaçom da ensino musi-cal no País?Ainda existem muitos conceitosdentro da música tradicional que sedesconhecem, em parte por falta deformaçom ao respeito, por causa dainexistência de um centro de docu-mentaçom musical, porque o ensinodesta música está tratado pola admi-

nistraçom como na altura doSindicato Vertical, porque a Galizasom individualidades que formamum conjunto.Isto está em construçom como tudoo demais. Polo que quer que sejatocou-me a mim e a muitas outraspessoas da minha geraçom –queandamos por volta dos 30 anos-levantar umha casa com problemasde licenças, seguros, terrenos,pouca ajuda... e ainda que o nossoponto de referência esteja fora –naEuropa verdadeira- nom podemosconstruir umha casa que nom seadapte as necessidades específicasdo terreno, como tem feito a típicaemigraçom galega. Esta nova casanom é toda de pedra à mostra, temelementos contemporáneos e sobre-tudo tem que ser funcional, bonita ,fácil de limpar, e grande para nelaentrar muita gente.Logo começará a pós-graduaçomda Universidade de Compostelasobre Música Galega, isto é muitoimportante para a situaçom do ensi-no desta música, já que em muitoscasos continua ainda relegada a“gaitas do País” em qualquer cartazsem gosto de qualquer festa paro-quial. Logo será criada tambémumha associaçom paralela poloCMTF de Lalim, para levar a caboproduçons artísticas e aproveitartodo o talento que há, umha asso-ciaçom para que todo o mundo inte-ressado conheça as actividades epublicaçons. Para quem desejarimplicar-se mais esta associaçomterá a funçom de colocar um placarde madeira finlandesa nesta casa.

Para onde evolui a música tradi-cional e para onde acreditas tuque deveria evoluir?Os grandes arquivos de documen-taçom musical no Leste da Europaestám a regressar a maos privadas.Na Galiza ainda nom saírom demaos privadas. Neste novo ano lec-tivo no CMTF de Lalim vamosreceber um arquivo privado que vaiser estudado –pode ser um passoadiante ou atrás, conforme a pers-pectiva-. Às pandereteiras galegasagora já lhes é permitido fazer poli-fonia, nos anos 80 nom lho permi-tia a sua religiom. Ainda bem queapareceu Lomax. Os novos alunose alunas de gaita tenhem como“unica referência” gaiteiros dadécada de 90, sobretudo aquelesque digitam rapidamente.É um facto que a música tradicionale folk é um espectáculo, passou aoutra fase.

“Neste mundo artístico há muita aparência e isso aborrece-me profundamente”

a entrevista Ugia Pedreira