º - poeta da eternidade - linguagem viva · literatura. somente iniciaram o namoro após o...

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Ano XXIII Nº 283 março de 2013 Marigê Quirino Marchini, escritora, poeta, contista, ensaísta, crítica literária, tradutora, autora de obra infanto-juvenil e advogada, foi colaboradora jornal Linguagem Viva, desde março de 1991, editou e assinou a coluna de Livros Italianos. Conheci Marigê na sede da União Bra- sileira de Escritores, na Rua 24 de Maio, 250, 13º andar, em São Paulo, no final da década de 80 e, a partir de então, a amizade se con- solidou. Na gestão do saudoso Henrique L. Alves, 1990/92, fomos companheiras de di- retoria da UBE. O primeiro trabalho de sua autoria pu- blicado no Linguagem Viva, edição n.º 19, março de 1991, pág. 5, foi o poema Três Vi- sões: I – Dresden 1945 [...] Pela alma dos museus, / as rbitas do silêncio contemplam / a relíquia das cinzas e dos ossos. [...]; II – Acampamento em Dia de Vento Este vento é o da Pérsia é/ o mesmo/ da- quele beco/ em que Alis e El Haddid se ama- ram/ em 642 [...]e III Vídeo Game 91 24 horas ininterruptas a cidade arrasa com fúria impessoal. Marigê era do tempo da máquina de es- crever, então às vezes me ditava ao telefone algum poema para publicação como a última colaboração publicada no jornal, Da Balada dos Quatro Ventos: Na noite de minha morte habitarei os galhos dançarinos E na coreografia do vento Direi adeus a mim mesma Com Oratório de um dia de verão, po- esias, primeiro livro que li, cons tatei que Marigê Quirino Marchini veio para ficar e se perpetuar no tempo como Cecília Meireles e Henriqueta Lisboa. Marigê - Poeta da Eternidade Rosa ni Abou Adal As imagens marchinianas são a alma da sua poesia: [...] Em horas de íngreme es- tio / deserto em mim e no mundo / se choro me faço água [...], Fábula do Temporal, pag. 42. Depois fiz a leitura de Balada de Qua- tro Ventos, livro de estreia, e confirmei a pri- meira impressão, porque a obra em questão veio para consagrá-la. A linguagem rica em imagens e bem lapidada marca o início da carreira: [...] debaixo das pálpebras azuis / a incandência das manhas, / e sobre a palma das mãos / nervuras de crisântemos. [...], Balada da Bela Adormecida, pág. 22. Autora de Balada dos Quatro Ventos (poemas, 1955), Diário de Bordo (poemas, 1957), Oratório de Um Dia de Verão (poe- mas, 1982), Sonetos do Imperfeito (poe- mas, 1984); Figuração Onírica (poemas, 1989), Infância Querida por Vívian (literatu- ra infantil, 2001, com ilustrações da autora) e Hierofanias: O Religioso na Lírica Femini- na (ensaios e críticas literárias, 2003). Marigê teve boa acolhida crítica de respeitáveis nomes da nossa literatura como Jamil Almansur Haddad, Maria de Lourdes Teixeira, Manuel Bandeira, Antônio Soares Amora, Helena Silveira, Álvaro Augusto Lopes, entre outros. Não usarei adjetivos para qualificá-la, pois os mesmos seriam insuficientes diante do seu universo poético. Marigê Quirino Marchini publicou poucos livros, porém o suficiente para destacá-la entre os melhores poetas da sua geração. Colaborou na LB - Revista da Literatura Brasileira que foi editada por Aloísio Mendon- ça Sampaio. Foi membro do Clube de Poe- sia, diplomou-se em Direito em 1959. Per- tenceu à Academia de Letras da Faculdade de Direito do Largo São Francisco, onde co- nheceu o companheiro, da vida e das Letras, o saudoso escritor, advogado e poeta J. B. Sayeg. Foi uma esposa e mãe dedicada, e a avó querida do Artur. Marigê trouxe do berço a sua bagagem cultural, do ventre da sua mãe - a poeta Stela Quirino dos Santos. O sangue poético dos Quirinos e dos Sayegs se esten- deu às filhas Elisa Marchini Sayeg e Lilian Cristina Marchini Sayeg. J. B. Sayeg conheceu primeiro a poeta Marigê na Academia de Letras da Faculda- de de Direito do Largo São Francisco. Ele havia lido uma reportagem que saiu sobre ela na Revista Fatos e Fotos e afixou-a no mural da Academia. Surge a afinidade poética e começaram a passear para conversar sobre Literatura. Somente iniciaram o namoro após o término da Faculdade e, então, pode co- nhecer a Maria Gema Quirino Marchini. Certa vez Sayeg me informou que foi na Livraria Saraiva, em frente da Faculdade, que leu todo o livro Diário de Bordo . Disse que ficou encantando com a obra. Ele tem razão. Diário de Bordo é uma sonata de poesia que mostra as relíquias da linguagem da poeta. O encantamento tam- bém tomou conta de mm e tenho certeza de que esse encanto se eternizará. Pena não há espaço para publicar todo o livro, mas fica uma pequena parte desse encanto: Diário de Bordo De um passado tempo, aqui que marujo ébrio içará as velas domingo de manhã quando todos perguntarem o seu nome sua nacionalidade o nome do seu barco e a tripulação? Ele nada saberá contar senão que as paredes são como os fuzilados, erguidas contra as sombras e ele preferia os peixes voadores. Marigê Quirino Marchini nasceu em 17 de fevereiro de 1936, em São Paulo, e fale- ceu no dia 20 de fevereiro, no fechamento da edição nº 282, cujo editorial foi dedicado à poeta e colaboradora. J. B. Sayeg e Marigê Quirino Marchini Rosani Abou Adal é jornalista, escritora, poeta e vice-presidente do Sindicato dos Escritores no Estado de São Paulo. di vulg aç ão

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Page 1: º - Poeta da Eternidade - Linguagem Viva · Literatura. Somente iniciaram o namoro após o término da Faculdade e, então, pode co-nhecer a Maria Gema Quirino Marchini. Certa vez

Ano XXIII Nº 283 março de 2013

Marigê Quirino Marchini, escritora, poeta,contista, ensaísta, crítica literária, tradutora,autora de obra infanto-juvenil e advogada, foicolaboradora jornal Linguagem Viva, desdemarço de 1991, editou e assinou a coluna deLivros Italianos.

Conheci Marigê na sede da União Bra-sileira de Escritores, na Rua 24 de Maio, 250,13º andar, em São Paulo, no final da décadade 80 e, a partir de então, a amizade se con-solidou.

Na gestão do saudoso Henrique L.Alves, 1990/92, fomos companheiras de di-retoria da UBE.

O primeiro trabalho de sua autoria pu-blicado no Linguagem Viva, edição n.º 19,março de 1991, pág. 5, foi o poema Três Vi-sões:

I – Dresden 1945 [...] Pela alma dosmuseus, / as órb itas do silêncio contemplam/ a relíquia das cinzas e dos ossos. [...];

II – Acampamento em Dia de Vento“Este vento é o da Pérsia é/ o mesmo/ da-quele beco/ em que Alis e El Haddid se ama-ram/ em 642 [...]” e

IIIV ídeo Game 91

24 horas ininterruptasa cidade arrasa

com fúria impessoal.

Marigê era do tempo da máquina de es-crever, então às vezes me ditava ao telefonealgum poema para publicação como a últimacolaboração publicada no jornal, Da Baladados Quatro Ventos:

Na noite de minha mortehabitarei os galhos dançarinos

E na coreografia do ventoDirei adeus a mim mesma

Com Oratório de um dia de verão, po-esias, primeiro livro que li , cons tatei queMarigê Quirino Marchini veio para ficar e seperpetuar no tempo como Cecília Meireles eHenriqueta Lisboa.

Marigê - Poeta da EternidadeRosani Abou Adal As imagens marchinianas são a alma

da sua poesia: [...] Em horas de íngreme es-tio / deserto em mim e no mundo / se chorome faço água [...], Fábula do Temporal, pag.42.

Depois fiz a leitura de Balada de Qua-tro Ventos, livro de estreia, e confirmei a pri-meira impressão, porque a obra em questãoveio para consagrá-la. A linguagem rica emimagens e bem lapidada marca o início dacarreira: [...] debaixo das pálpebras azuis / aincandência das manhas, / e sobre a palmadas mãos / nervuras de crisântemos. [.. .],Balada da Bela Adormecida, pág. 22.

Autora de Balada dos Quatro Ventos(poemas, 1955), Diário de Bordo (poemas,1957),  Oratório de Um Dia de Verão (poe-mas, 1982), Sonetos do Imperfeito (poe-mas, 1984); Figuração Onírica (poemas,1989), Infância Querida por V ívian (literatu-ra infantil, 2001, com ilustrações da autora) eHierofanias: O Religioso na Lírica Femini-na (ensaios e críticas literárias, 2003).

Marigê teve boa acolhida crítica derespeitáveis nomes da nossa literatura comoJamil Almansur Haddad, Maria de LourdesTeixeira, Manuel Bandeira, Antônio SoaresAmora, Helena Silveira, Álvaro Augusto Lopes,entre outros.

Não usarei adjetivos para qualificá-la, poisos mesmos seriam insuficientes diante do seuuniverso poético. Marigê Quirino Marchinipublicou poucos livros, porém o suficientepara destacá-la entre os melhores poetas dasua geração.

Colaborou na LB - Revista da LiteraturaBrasileira que foi editada por Aloísio Mendon-ça Sampaio. Foi membro do Clube de Poe-sia, diplomou-se em Direito em 1959. Per-tenceu à Academia de Letras da Faculdadede Direito do Largo São Francisco, onde co-nheceu o companheiro, da vida e das Letras,o saudoso escritor, advogado e poeta J. B.Sayeg.

Foi uma esposa e mãe dedicada, e aavó querida do Artur. Marigê trouxe do berçoa sua bagagem cultural, do ventre da sua mãe- a poeta Stela Quirino dos Santos. O sanguepoético dos Quirinos e dos Sayegs se esten-deu às filhas Elisa Marchini Sayeg e LilianCristina Marchini Sayeg.

J. B. Sayeg conheceu primeiro a poetaMarigê na Academia de Letras da Faculda-de de Direito do Largo São Francisco. Elehavia lido uma reportagem que saiu sobre elana Revista Fatos e Fotos e afixou-a no muralda Academia. Surge a afinidade poética ecomeçaram a passear para conversar sobreLiteratura. Somente iniciaram o namoro apóso término da Faculdade e, então, pode co-nhecer a Maria Gema Quirino Marchini.

Certa vez Sayeg me informou que foi naLivraria Saraiva, em frente da Faculdade, queleu todo o livro Diário de Bordo . Disse queficou encantando com a obra.

Ele tem razão. Diário de Bordo é umasonata de poesia que mostra as relíquias dalinguagem da poeta. O encantamento tam-bém tomou conta de mm e tenho certeza deque esse encanto se eternizará. Pena não háespaço para publicar todo o livro, mas ficauma pequena parte desse encanto:

Diário de Bordo

De um passado tempo, aquique marujo ébrio içará as velasdomingo de manhãquando todos perguntarem o seu nomesua nacionalidade o nome do seu barcoe a tripulação?Ele nada saberá contar senão queas paredes são como os fuzilados,erguidas contra as sombrase ele preferia os peixes voadores.

Marigê Quirino Marchini nasceu em 17de fevereiro de 1936, em São Paulo, e fale-ceu no dia 20 de fevereiro, no fechamento daedição nº 282, cujo editorial foi dedicado àpoeta e colaboradora.

J. B. Sayeg e Marigê Quirino Marchini

Rosani Abou Adal é jornalista, escritora,poeta e vice-presidente do Sindicato dos

Escritores no Estado de São Paulo.

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Página 2 - março de 2013

Debruçados sobre as águas doRio Negro, examinamos os galhos eos destroços que chegam de outrasregiões e das profundezas de um tem-po ainda mais distante. Eles são pe-ças essenciais na recomposição deum jogo de marés e destinos, sonhoe agonia. São indícios de uma histó-ria quase desconhecida, primeiro defausto e euforia, depois de desalentoe naufrágio. Na noite cega que seaproxima pelos lados esquecidos danascente do rio, há um mistério dealgas e gritos que já assombra nossatarde chuvosa.

Tanto aqui em Manaus , nosigarapés des ta Veneza americana,como em todas as vilas que nascemdos rios de água preta, ou de águaverde, ou de água branca, nosinf indáveis domínios da mata, as tar-des lentas e úmidas prenunciam noi-tes úmidas e lentas, num cotidianosem promessas.

É longa a trilha que trouxe essagente até o f inal de tarde que agorase esvai nas águas escuras de umaaventura que deixou para trás asemoções mais fortes da conquista, daexploração, do domínio, para descerao fundo do rio e da geografia. Numcontinente acossado pela violência epela tragédia, o destino frequente-mente lembra um inesperado furacão.Em Manaus, o destino é a chuva, omormaço, a correnteza que tudo car-rega — inclusive a decadência — nadireção do mar.

Os desbravadores de outrostempos não vieram para dizimar oshabitantes mais antigos. Nem o ce-nário que os precedeu era um paraí-so habitado por criaturas amáveis epuras. Os homens que subiram pe-

Amazônia revisitada

los caminhos das águas traziam nabagagem um projeto civilizatóriocheio de contradições, mas que sig-nif icava de fato um grande salto adi-ante. Se os conquistadores eram vi-olentos e implacáveis, não podemosjulgá-los por critérios atuais. Com asua chegada, criavam uma nova pai-sagem étnica, mes tiça, ins tigante,marcada por tensões e pretensões.Começava então uma aventura mai-or na curva de um rio que antecedeos rios.

Há uma idéia de rio que prece-de o batismo dos rios. Ela corre àfrente do rio real, é símbolo e metá-fora, jamais nos abandona, nem se-quer no sono. Os rios de hoje pas-sam pelos labirintos da razão antesde desaguar nos oceanos.

Por isso mesmo, debruçamo-nossobre as águas negras para exami-nar os destroços que chegam deoutras regiões e de outras culturas,conscientes de que alguma coisamuito importante ali submergiu parasempre. Lendas, histórias, emoções,memórias, formas específ icas de co-nhecimento, maneiras de caçar e depescar — tudo desceu devagar eresvalou para o esquecimento, dei-xando-nos todos ainda mais pobrese vulneráveis.

Rodolfo Konder é jornalista,Diretor da ABI em São Paulo

e membro do ConselhoMunicipal de Educação.

Rodolfo KonderOs escr itores brasileiros prec isam de

mais incentivo, espaço na mídia, distribuição,divulgação e comercialização das suas obras.Necessitam de mais Leis de Incentivo queatendam as suas necessidades.

A maioria paga o livro do próprio bolsopara editar a obra. Depois, sem espaço para divulgação na mídia esem distr ibuição, não conseguem recuperar o inves timento. O f atonão atinge apenas escritores novos e, também, aqueles que são pu-blicados por pequenas e médias editoras que não conseguem con-correr com as editoras de grande porte que compram espaços nasvitr inas das livrarias para exporem suas obras. Os valores sãoexorbitantes e podem chegar a R$ 25 mil.

O autor de obras literárias necessita que sejam criadas mais Leisde Incentivo à Literatura referentes à produção literária, divulgação edistribuição de obras literárias.

As Leis de Incentivo à Cultura na área da Literatura, quer sejamestaduais, municipais e federais, precisam ser revistas e atualizadas.A Literatura quando tem algum apoio das referidas Leis, com poucaverba, vai sempre para o mesmo grupo que está em evidência namídia.

Quando a Literatura será lembrada e respeitada para mesmo es-paço que as outras Artes no que diz respeito às Leis de Incentivo àCultura?

Talvez seja bom lembrar que a arte literária também é Cultura.

Editorial

Rio Negro

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Página 3 - março de 2013

Em 9 de julho do ano passado,na Academia Paulista de Letras, emcerimônia comemorativa dos oiten-ta anos desde a RevoluçãoConstitucionalista, Hernâni Donatofalou mais uma vez sobre o temaque conhecia como poucos. Refor-çava para seus ouvintes, comosempre f ez , o legado dapaulistanidade. Um ano antes, ementrevista ao jornal Globo News ,lembrara aos telespec tadores oapoio que esse levante teve por par-te de toda a população de São Pau-lo .

Quem levará adiante a missãode divulgar os ideais paulistas deentão, que dever iam permanecercomo um farol nacional?

Hernâni, que foi presidente doInstituto Histórico e Geográf ico deSão Paulo, enf atizava a importân-cia da revolução de 1932 citando afrase do ex -presidente JuscelinoKubitschek: “Não há na nossa his-tória movimento que mais mereçaa reverência do povo bras ileiro”.Mérito que é prec iso sempre reite-rar, principalmente quando, passa-dos tantos anos, alguns jovens ima-ginam que a avenida 9 de Julho ho-menageie a independência da pá-tria alheia, a dos argentinos...

Mas Hernâni não se restringiua essa face da nossa História. Seuslivros dão atenção a muitos outrosaspectos do que é ser bras ileiro.

O legado de Hernâni Donato

Selva Trágica, de 1960, passa-se noMato Grosso, na f ronteira com oParaguai, no cenário das planta-ções de mate, onde os trabalhado-res viviam em escrav idão. Segun-do Fábio Lucas, esse romance re-presenta “um dos mais altos mo-mentos da novelística de conteúdosocial no Brasil” (em O Caráter So-cial da Literatura Brasileira). Quatroedições se esgotaram rapidamen-te. A versão cinematográf ica do li-vro, dirigida por Roberto Farias em1963, representou o Brasil no Fes-tival de Veneza e foi a estreia deReginaldo Farias como ator. O livrofoi relançado em 2011.

Da literatura infanto-juvenil atéa tradução de A Divina Comédia,passando pelos seus muitos estu-dos históricos , seus romances epelas biografias que publicou, o ho-mem alto de voz grave e caráter fortedeixa entre nós a marca que certa-mente não se apagará.

Quando recebi o livro O Senhordas Matemáticas f iquei meio triste.Eu queria ler mais poemas de Ma-ria Carpi. Sua poesia me fascina. Aoiniciar a leitura, um susto. Que gê-nero era aquele? Quanta poesia, damais pura, naquela pretensa prosa!

Dif icí limo seria class if icar ostextos, que versam muito sobre ossonhos , sensações , sentimentos;episódios externos e internos. É queos olhos de Maria Carpi têm um fil-tro mágico que vê além de. Sua re-alidade jamais é a nossa, percebi-da só em primeiro plano.

A o terminar o liv ro, li nacontracapa, as palavras de Ivo Bar-roso, escritor e tradutor, nascido emErvá lia, Minas Gerais, homem domundo, cosmopolita, erudito, poe-ta: “Outro lance inédito é escreversobre sonhos, não os sonhos queidealizamos, mas sonhos realmen-te sonhados , com sua nitidez ouseu enuv iamento próprios , sonhoscom ou sem sentido, numa narrati-va-confissão quase psicana-lírica.Você consegue transformar em re-alidade legível, quase palpável essa“matéria de que são feitos os nos-sos sonhos”.

Realmente são duas caracte-rísticas marcantes do livro: umaanálise criteriosa, mais poética quecriteriosa, do material dos sonhos,sem muita preocupação com seuconteúdo manifesto ou latente. Ma-ria Carpi passeia pelos bastidoresdo seu Inconsciente, perscruta seusporões com uma curiosidade lírica.Freud tenta desvendar o Inconsci-ente humano, desenvolve um mé-todo para conseguir acesso ao ID.Maria Carpi habita-o, transforma-oem puro lirismo. Se Freud pudesseter lido O Senhor das Matemáticas,rasgaria sua obra A Interpretaçãodos Sonhos, publicada em 1899 eenlouqueceria de lirismo. V irar iapoeta.

Interpretar os sonhos de MariaCarpi é um Décimo Terceiro Traba-lho de Hércules, pela r iqueza dosconteúdos manifestos e/ou latentes,pela sua complexidade. Ungida dereligiosidade, a autora habita os tex-tos bíblicos , com familiaridade,adentra neles, participa em narrati-vas na primeira pessoa, como noepisódio das Bodas de Canaã (pág.

O SENHOR DAS MATEMÁTICASEly Vieitez Lisboa Betty Vidigal

110, 111). Ela chega à Santif icaçãodivina do Sonho: “Ao sétimo dia, osonho viu que o mundo era bom edescansou”. A religiosidade permeiaem todo o livro, santif icando-o.

Outro belo exemplo dessa reli-giosidade é como Maria Carpi abor-da o degastado tema Mãe; ela o fazcom originalidade: “ Mãe dá-seem partilha e comunhão. Certa vez,em sonhos, sentei-me à mesa etudo desapareceu. S o m e n t eminha mãe a si própria distribuía.Ela era as espécies do pão e do vi-nho” (pág. 59).

Em meio à prosa, surge umbelo poema, repetindo mais umavez, a Profissão de Fé dos Poetas:“A palavra sempre foi-me sobejo. /Avaro sou apenas de meu silêncio“(Pág. 22). Que mulher magníf ica éesta, que se casou com a Palavra,gera Poes ias e as amamenta? Esuas magníf icas metáforas: “E sentiuma grande abertura no tempo: oImprovável ass inalou-me com aestrela na fronte, como a um cedro.Entro em ervas”(pág. 53).

Ivo Barroso diz que o poemamais belo do livro está nas páginas120 e 121. Realmente o verso f inalé um achado: “Eu não me desculpode morrer sem avisar”. Mas a afir-mativa é duvidosa. Dif ícil é escolherentre todos os poemas já escritospor M.C., nesse e em outros livrosseus e dizer qual é o melhor, o maisperfeito. Sua sensibilidade exube-rante atrai e fascina.

Maria Carpi é uma criatura fei-ta de poesia pura.

Ely Vieitez Lisboa é escritora.E-m ail: [email protected]

Betty Vidigal é escritora, poeta,contista e jornalista.

Henâni Donato

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Página 4 - março de 2013

Poemas: II Antologia - 2008 - CANTO DO POETA

Trovas: II Antologia - 2008 - ESPIRAL DE TROVAS

Haicais: II Antologia - 2008 - HAICAIS AO SOL

Débora Novaes de Castro

Opções de compra: Livraria virtual TodaCultura: www.todacultura.com.brvia telefax: (11)5031-5463 - E-mail:[email protected] - Correio:

Rua Ática, 119 - ap. 122 - São Paulo - SP - Cep 04634-040.

Antologias:

Poemas Devocionais: UM VASO NOVO...

Poemas: GOTAS DE SOL - SONHO AZUL - MOMENTOS- CATAVENTO - SINFONIA DO INFINITO –

COLETÂNEA PRIMAVERA - AMARELINHA - MARES AFORA...

Haicais: SOPRAR DAS AREIAS - ALJÒFARES - SEMENTES -CHÃO DE PITANGAS -100 HAICAIS BRASILEIROS

Trovas: DAS ÁGUAS DO MEU TELHADO

Nihonjin, a emoção de umahistória contada sem pressaNildo Carlos Oliveira

A impressão que passa é deque o autor não teve pressa paracomeçar a história. Da mesma for-ma que não teve pressa paraterminá-la. De um ponto a outro elafoi es truturada com a naturalidadecom que o artista vai montando umaestrutura, peça a peça, ocasional-mente detendo-se no meioda empreitada para repa-rar se os ajustes permiti-rão o resultado previsto.

O prof essor OscarNakano, que leciona litera-tura na Univers idadeTecnológica Federal doParaná, avançou, passo apasso, na concepção deseus personagens, bus-cando-os no ambiente an-cestral e familiar, para es-crever o romance Nihonjin,com o qual conquis tou oPrêmio Benvirá de Litera-tura, selo da Saraiva, em2011.

O desenho dessespersonagens dentro da his tória daimigração japonesa, a dis tribuiçãodeles espacialmente por algumasregiões de São Paulo e do Paraná,e os conflitos de cada um, em es-pecial o impacto produzido pelo des-dobramento dos ef eitos pós -2ªGuerra mundial em seus descen-dentes, bordeja os traumas que elesviveram, sem que, em momento al-gum, a obra adquira um caráter desaga. Ela prossegue mantendo oritmo cadenciado de uma his tór ia

contada sem pressa - uma narra-tiva tecida com naturalidade, semretórica discursiva, apoiada na re-f lexão proporcionada pela passa-gem do tempo.

Encantam, no conjunto, os per-sonagens femininos , que emborapareçam gravitar à sombra projeta-da pelos homens , vão compondoum mundo consistente, de apropri-ação de conhecimento, num meio

adverso. Kimie é oexemplo: “.. . cala-da, cabisbaixa,en ca ramuja da ” .Não poderia ser deoutro modo. A famí-lia saiu do porto deKobe e chegou,perplexa, naquelecomeço do séculopassado, ao portode Santos , paraseguir o roteiro deentão: o desembar-que na Hospedariados Imigrantes, noBrás, e, depois , aviagem para o mun-do desconhec ido

do interior.A adversidade ambiental, de lín-

gua, tradições e costumes, bateriaà porta dos imigrantes com a forçade uma tempestade. Apesar disso– e da vontade do sonho do retorno,cada vez mais improvável – elesforam se acostumando à rotina ar-bitrária e superando injus tiças, aexemplo daquela praticada na fa-zenda em que trabalhavam. Comocontinuar submetidos à obrigaçãode comprar somente no armazém

local, que cobrava preçosescorchantes por produtos de sub-sistência, quando poderiam adqui-ri-los a preços inferiores, em outroses tabelec imentos?

O processo de identif icaçãocom a terra, a formação dentro deoutra cultura, a tentativa da obten-ção de uma margem maior de liber-dade no campo, arrendando ou ad-quirindo propriedades, o es forçopela manutenção das tradiçõesmilenares , permeiam as páginas,até o impacto provocado pela der-rota do Japão na guerra. Derrota? -Quem insistis se em ac reditar nes-sa verdade estaria traindo os prin-c ípios do Yamaodamashii, pelosquais dever iam se manter comosúditos f ieis do Império. Af inal, o bra-ço da Shindo Renmei estaria ergui-do contra eles, onde quer que eleses tivessem. Foi o que aconteceucom Haruo, personagem persisten-te, de mente aberta, abatido a tiros.

A paisagem humana evoca avivência nas fazendas, os laços dedescendência na cidade paulista deBastos e o ambiente na rua Condede Sarzedas, na Pauliceia, àquelaaltura com a nova geração assimi-lando o enraizamento no país. Nãodeixa de ter um toque saudosista oreconhecimento do contador da his-tória: “O passado agora habitavaoutro espaço, surgia para justif icaro presente... O tempo é atemporal”.Lições do prof essor Nakasato, oromanc ista.

Nildo Carlos Oliveira é escritor,ensaísta, novelista e jornalista.

ROSAS BRAVAS

Estava em Portugal,Era inverno em Setúbal,Tudo era gelo e sal,Mas no sopé da serra,Entre o m atagal,Brotavam rosas bravas ,Caninas,Cheias de espinhos,Nas bermas dos caminhos,Nas pontas do roseiral.

Rosa brava,Vermelha,Como se houvesse nascidoNo cam po de batalha,Do sangue de um heró i caído.

Rosa brava,Branca,Com o o coração puroDe alguém que eu amavaE de quem, livremente, fui escrava.

Raquel Naveira é escritora,poeta, professora universitária

e crítica literária.

a Camilo Pessanha

Raquel Naveira

Camilo Pessanha

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Página 5 - março de 2013

Vestibular & Concursos

Sonia Adal da Costa

Sonia Adal da Costa, professora de cursos preparatórios paraconcursos públicos e v estibular, formada pela Univ ersidade

de São Paulo, é pós-graduada em Teatro Infanto-Juvenilpela Univ ersidade de São Paulo.

Indicador Profissional

Um novo livro de Fábio Lucastraz sempre alegria para o espírito,é uma festa para a inteligência oufonte de conhecimento. Pode-se di-zer assim do seu O Zelador do Céue Seus Comparsas , lançado aoapagar das luzes – como frequen-temente se encontra nas folhas –do ano que virou história: 2012. Edi-tado pela Sarau das Letras ,Mossoró, RN, nos brinda com 10contos da melhor qualidade, como,aliás, se esperaria de um autor comsua responsabilidade.

Os contos são de casos acon-tecidos na sua cidade imaginária deTransvalina, que f ica perto de suaEsmeraldas de nascença, hoje in-tegrada à Região Metropolitana deBelo Hor izonte. A capital e natalcresceram tanto que enfim se en-contram em problemas e unidaspela geografia. Sinal dos temposnos países emergentes ouemersos.

O objetivo do contista foi alcan-çado. Os relatos inseridos em OZelador do Céu e Seus Comparsasprocuram “aproximar o universo cri-ado ao mundo real. Buscam repre-sentar a experiência humana sob oenf oque do real imaginado. Reve-renc iam, mediante os cabedais dalinguagem, a beleza estética, ou oprazer da leitura”. O leitor aprova.

Personagens muito raros sãocriados e apresentados por FábioLucas , a começar pelo sr. Jac intoCruz, que – aos feriados e dias san-tos – escalava o seu mirante, sufi-cientemente caracter izado, paraobservações insinuantes. De ócu-los azuis e barbas compridas, ali f i-cava horas, mudo, agarrado à pe-quena luneta, has teada a bandeirabrasileira no pequeno mastro envol-

O Zelador do CéuManoel Hygino

vido em f ita verde-amarela. Umanotável f igura!

Pois esse é apenas um dospersonagens, fantasiado de síndicode Deus, contando e recontando asestrelas para ver se todas estavamno devido lugar. Se convencido queestava tudo em seu devido lugar,descia de seu posto de observaçãopara o mundo comum aos mortais.Mas Transvalina era também ondemorava o profeta Ramiro, não mui-to apreciador da higiene, hálito fe-dorento, perpassado pelo cheiro decafé e tabaco azedo, aderidos àbarba, adivinhador de catástrofes,visitante de moribundos e decifradorde avisos de morte.

Deliciosos episódios são des-critos com a gente do lugar, a quenão faltam a abobada Bartira, DonaDulce, a beldade dos Correios, ado-rada pelo Sô Ernesto, pretensodono dos segredos do universo. Re-alizava-se por ver a funcionária, oi-tava maravilha do mundo, umaefusão de carnes, vigiada à distân-cia pelo admirador ignoto. Um livro,enfim, para se ler com prazer e in-teresse.

Manoel Hygino é membro daAcademia Mineira de Letras.

Escolha a opção correta:

1- Exis te raio X?2- Uma pessoa pode ficar de

buço?3- É correto Sicrano ou

Siclano?4- A palavra correta é

carroçaria ou carroceria?

Respostas:1- Não. O fís ico alemão des -

cobriu os raios X.

2- Não. As pessoas ficamde bruços .

3- É Sicrano, assim comoFulano e Beltrano.

4- As duas formas são cor-retas, pois são formas variantes,as sim com o s elvageria ous elva jaria, lavanderia oulavandaria, m as a palavra corre-ta é serralharia e não serralhe-ria.

A Fundação Biblioteca Nacionallançou a edição nº 36, da revistaPoesia Sempre, a primeira de 2013,que reúne 25 poetas mineiros con-sagrados e traz as escolas e movi-mentos em ordem c ronológica:Arcadismo, Romantismo, Simbolis-mo, Parnasianismo, Modernismo ePós -Modernismo nos estilos clás-sico, moderno e contemporâneo.

Revista Poesia Sempre édedicada a poetas mineiros

A revista, editada por Af onsoHenriques Neto, inclui uma entrevis-ta com A f fonso Romano deSant’Anna, ex-presidente da FBN ecriador da revista, e abriga o ensaioMinas Gerai s e sua poes ia, deLetícia Marlad.

A sessão Resenhas traz co-mentários analíticos sobre os livrosEspelho dos Melodramas e Foliasdo Ornitorrinco, de Rodrigo de Haro,por Claudio Willer, e Teares de umCanto-livre, de Viviane de SantanaPaulo, por Floriano Martins. Tambémtem uma sessão dedicada a tradu-tores brasileiros.

A edição reúne os poetas clás-sicos Claudio Manuel da Costa e Sil-va Alvarenga. Modernistas: CarlosDrummond de A ndrade e PedroNava. Contemporâneos: Adão Ven-tura, Adélia Prado, A ffonso Ávila,A ff onso Romano de Sant ’anna,Aricy Curvello, Henriqueta Lisboa,Ricardo A leixo, Ronaldo Werneck,Yeda Prates Bernis, entre outros.

A revista Poesia Sempre – Mi-nas Gerais pode ser adquirida naLoja do Livro da Biblioteca Nacionalw w w.bn.br/lojadolivro.

Informações: Tel.: (21) 2220-1309. E-mail: lojadoliv [email protected]

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Página 6 - março de 2013

A ETERNIDADE MUSICAL DE NAZARETHRaymundo Farias de Oliveira

di vulgação

Ernesto Nazareth

Raymundo Farias de Oliveira éescritor e procurador do

Estado aposentado.

(do livro À beira,Ed. Blocos, 1999, RJ)

LUA FRIAEunice Arruda

Luafria

irmãSequer me espreitas

Vejo-te pálidaprotegida pela névoa

frialua

minguada magoada irmã

Eunice Arruda é escritora,poeta, contista, pós- graduadaem Comunicação e Semiótica

pela PUC-SP.

O mundo sem a música seriaum equívoco, disse o f ilósofo. E amúsica é uma linguagem poéticamais apta do que a própria poesiapara expr imir o que atinge asprofundezas inacessíveis, senten-ciou um dos mestres da mús icaerudita.

E quem já não ouviu dizer que“a música é a linguagem universal”?É isso. As melodias e harmoniascons tituem um animado diálogo denotas musicais que nos impressio-nam de maneira profunda. Pausas,compassos, diminutas, sustenidose bemóis nos arrastam pelas mãosda emoção e nos colocam frente afrente ao silencioso portal das mis-teriosas “profundezas inacessíveis”cogitadas por List.

Não tenhamos dúvida. A músi-ca une e reúne as pessoas com oslaços inefáveis da fraternidade nãosó na majestade dos teatros, como,também, na s implic idade de umasala, no singelo recanto de um quin-tal ou na humildade de um botequim.Os gos tos es téticos var iam. Porisso, há música para todos. É a artena sua dimensão pluralista e demo-crát ica.

Semana passada, fugindo dealgumas aflições que às vezes nosrodeiam, fui buscar conforto e ale-gria espiritual numa roda de cho-

rões . No santo sentido. Chorõesmusicais . Aqueles que “choram”com melodias e harmonias. Cená-rio de bandolim, violões, cavaquinho,pandeiro e muita, muita sensibilida-de e emoção. Muita técnica a servi-ço da inspiração. Às vezes, até al-gumas lágrimas teimosas testemu-nhando o frenesí espiritual.

Izaias Bueno de Almeida, Isra-el (seu irmão), Marcos, Getú lio eTigrão são os chorões de quem falo.Jamil Caram e seu f ilho Cezar inhoforam os responsáveis pelo “ágape”sonoro que nos embalou no beloespaço, lá na rua Coriolano.

Sem nenhum protocolo, semnenhum roteiro, sem qualquer for-malidade, Izaias e seus chorõesderam vazão a uma cascata dechoros e valsas de Ernes toNazareth, alguns com ar ranjosespecialíssimos, que nos empurroua todos para as “profundezas ina-cessíveis ” do mistério da arte mu-sical.

Talvez sem saber, os “chorões”e nós, os pouquíssimos ouv intesprivilegiados, estivéssemos inician-do ali naquele instante, sem pompaou circunstância, a mais calorosa edelirante recordação de Ernes toNazareth e a mais sublime home-nagem a ele expressa nessa mes-ma recordação.

É que depois de amanhã (20de março)o calendário vai registraros 150 anos de nasc imento de

Ernesto Nazareth, lá no morro doPinto (Santo Cristo), na Cidade Ma-ravilhosa, antiga Capital do país.

Filho de Vasco Lourenço daSilva, despachante aduaneiro, e deCarolina Augusta da CunhaNazareth, dona de casa e pianistaamadora, ele viveu para a música epara o piano com muita paixão eperseverança. Aos 14 anos, com-pôs a primeira música: “Você bemsabe”, dedicada ao pai. Em 1909,começa a tocar piano na sala deespera do antigo Cinema Odeon, omais luxuoso da cidade (conf. o jor-nal O Globo, 10/03/13), na avenidaCentral. Muita gente passa a ir aoOdeon só para ouví-lo tocar, semdar atenção aos f ilmes.

Em 1932, já com a surdezavançada, é diagnos ticado comopor tador de síf ilis. É internado noHospíc io D. Pedro II, na Praia Ver-melha. Foge de lá algumas vezes.No ano seguinte, é internado naColônia Juliano Moreira, emJacarepaguá. Em 1º de fevereiro de1934 foge da colônia e é encontra-do morto, por afogamento, três diasmais tarde, numa represa próximaà instituição, aos 70 anos.

4 de fevereiro de 1934...Nazareth está morto e sua cidadevive a loucura dos festejos carna-valescos. Estranha mistura cariocade tristeza e alegria!

Entre as mais de duzentas pe-ças musicais que Nazareth deixou,

estão algumas que me emoc ionamprofundamente: “Coração que sen-te”, “Eponina”, “Turbilhão de beijos”,“Expansiva”, “Fidalga”, “Confidênci-as”, “Faceira”... valsas que nos ar-rastam para o meio de um mar deindagações sem f im . E depois mer-gulhamos na alegria contagiante dos“tanguinhos para piano”, hoje maischamados de “choros” – “Odeon”,“Brejeiro”, “Floreaux”, “Escorregan-do”, “Escovado”, “Ameno resedá”...Uma constelação de belíssimas es-trelas no céu imenso de suacriatividade mus ical.

Só ele e seu estilo. SalveNazareth, sempre ErnestoNazareth!

Caio Porfírio Carneiro é escritor,crítico literário e membrodo Instituto Histórico e

Geográfico de São Paulo.

Caio Porfírio Carneiro

Numa manhã ass im ela apa-receu. Apareceu na porta do bar,onde eu tomava um café, olhou-me tristemente e foi embora. Foiembora, andar vagaroso, olhos nochão. Olhos no chão, não se vi-rou uma única vez. Um a única vezolhou em frente, ajeitou o xale,agasalhou-se melhor no sobretu-do. No sobretudo me agasalheitambém, que o tempo estava úmi-

NUMA MANHÃ ASSIMdo e ninguém atrás dela. Atrásdela apenas eu, que apressavaos passos mais e mais. Mais emais me aproximava dela e delame emparelhava. Dela me empa-relhava e, lado a lado, trocamosolhares . Trocam os o lhareslongamente, parados. Parados,não tínham os palavras , só um sus-surro: "você", "você". Um beijotriste ela me deu. Um beijo tristeeu lhe dei. Olhando para o chão,dobrou à esquerda e se foi comos seus pensamentos. Olhando

para o chão, dobrei à direita e fuicom os meus pensamentos. Qua-se uma segunda despedida daparte dela, lembrando a primeira,saudosa e doída. Quase uma se-gunda despedida minha, lem-brando a primeira, saudos a edoída.

Numa manhã assim.

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Página 7 - março de 2013

Notícias de PiracicabaLançamentos & Livros

Profa. Sonia Adal da Costa

Revisão - Aulas Particulares - Digitação

Tel.: (11) 2796-5716 - [email protected]

Concursos

O Grupo Oficina Literária de Piracicaba realizará reunião no dia 3de abril, quarta-feira, às 19h30 na Biblioteca Municipal.

 O Sarau Literário Piracicabano, coordenado por Ana Marly de Oli-veira Jacobino, será realizado no dia 16 de abril, terça-feira, no auditório daBiblioteca Pública Municipal de Piracicaba.

O Centro Literário de Pir acicaba realizará reunião no dia 30 demarço, sábado, às 15 horas, na Biblioteca Municipal. Ivana Negri fala so-bre vida e obra de Lygia Fagundes Telles.

POESIA AO VENTO, coordenado por Irineu Volpato, será realizadono dia 19 de abril, sexta-f eira, às18h30, no SESC. O poeta FranciscoLagreca será apresentado por Irineu Volpato.

O Grupo das Escritoras da Clip Intermediária, Luzia Stocco, Ra-quel Delvaje, Madalena Tricanico, Lídia Sendin, Leda Coletti, Ana Marly deOliveira Jacobino, lançaram o livro de poesia infantil Brinca, Brinca e fazPoesia, no dia 15 de Março, na Biblioteca Pública Municipal de Piracicaba.

O Prêmio Portugal Telecom de Literatura está com inscr içõesabertas, até o dia 7 de abril, para livros de poesia, romance, conto/crônica,esc ritos em língua por tuguesa, publicados em 2012, no Brasil. Osinteressados deverão preencher a f icha de inscr ição em http://w w w .premioportugaltelecom.com.br/ insc r icoes/ e env iar quatroexemplares da obra para PORTUGA L TELECOM BRA SIL, Rua Cubatão,nº 320 4º andar – Paraiso - 04013-001 – São Paulo – SP. 4. Premiação:R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais) para o vencedor de cada categoria.Informaçõe s: [email protected] Re gulamento:http://w w w.premioportugaltelecom.com.br/regulamento2013.pdf .

O Prêmio Passo Fundo Zaffari & Bourbon de Literatura está cominscrições abertas até o dia 17 de junho para romance publicado, em línguaportuguesa, nos últimos dois anos, no período entre junho de 2011 e 31 demaio de 2013. Premiação: R$ 150 mil. O vencedor será anunciado no dia27 de agosto, na abertura da 15ª Jornada Nacional de Literatura de PassoFundo, no Rio Grande do Sul. Os interessados poderão inscrever apenasum romance. É necessário enviar seis exemplares da obra, acompanhadasde breve currículo e da f icha de inscrição. Regulamento e inscrições:http://jornadasliterarias.upf .br/15jornada/index.php/concursos .html

Informações sobre a Jornada de Literatura: Tel.: (54) 3316-8368 -w w w.jornadasliterarias.upf.br, [email protected]

Concurs o de Contos Josué Guimarães, destinado a trabalhosinéditos de autores com livros publicados ou não, es tá com inscriçõesabertas até 1 de junho. Os vencedores serão conhecidos durante a aberturada 15ª Jornada Nacional de Literatura, no dia 27 de agosto, no Portal dasLinguagens, Campus I da Univers idade de Passo Fundo (UPF). Osinteressados poderão enviar até três contos. Premiação: 1º lugar: TroféuVasco Prado e R$ 5.000,00; 2º lugar: R$ 3.000,00 e: Troféu Vasco Prado.Regulamento e inscrições: http://jornadasliterarias.upf .br/15jornada/index.php/concursos.html

Quarteto, contos de Waldir Luna Carneiro,Scortecci Editora, São Paulo, SP, 60 páginas. O au-tor é escritor, jornalista, f iccionista e dramaturgo.

Segundo Eucli des Marques Andrade, membroda Academia Mineira de Letras, “Seus contos mos-tram o pulso de um verdadeiro f iccionista, não só osabor e a boa estrutura f iccional, mas ainda aquelessinais de solidariedade (quase invisíveis de tão levese daí a sua força) que captam, desde logo, a adesãoplena do leitor. E para is so concorre o sorriso bemhumorado – meio terno, meio irônico – que o narradorexperiente destila nessa espécie de halo a envolvero texto bem elaborado.”

Waldir Luna Carneiro: Praça Getúlio Vargas, 20 - Alfenas - Centro -MG - 37130-000.

Nervo Exposto - de Havana a Santiago deCuba , de João Pavese, Editora Terceiro Nom e, SãoPaulo, SP, 280 páginas .

O autor é escritor, fotógrafo e form ado em Le-tras pela Universidade de São Paulo.

O romance começa com um coração dilace-rado pela perda do primeiro amor. Para esquecersua paixão, João decide cruzar Cuba de bicicleta,e o que se segue é uma divertidíss im a crônica decos tum es, na qual o autor entra e sai das casas edas ruas cubanas.

Editora Terceiro Nome: Tel.: (11) 3816-0333www.terceironome.com .br

A Rainha do Calçadão, Opus 14, romance,de Esdras do Nascimento, Global Editora, SãoPaulo, SP, 432 páginas.

O autor é escritor e Doutor em Letras pela Uni-versidade Federal do Rio de Janeiro, com a tesesobre o romance Variante Gotemburgo. Foi agra-ciado com o prêmio de melhor romance da APCA,com Lição da Noite, em 1998.

A obra abriga um texto altamente sofisticado,com nar rativas que alternam primeira e terceirapessoas, misturam passado e presente, objetivi-dade jornalística, análise psicológica, enfoque po-lítico e de elaboradas técnicas literárias.

Global Editora: w w w.globaleditora.com.br

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Linguagem Viva

Página 8 - março de 2013

Prof. Sonia

Notícias

Francisco Carvalho, escritor,poeta e membro da AcademiaCearense de Letras, faleceu no dia4 de março, aos 86 anos, em For-taleza, CE. Com a obra QuadranteSolar, em 1982, foi agraciado como Prêmio Nestlé de Literatura. Exer-ceu o cargo de Secretário Executi-vo dos Órgãos Deliberativos Supe-riores da Univers idade Federal doCeará (Conselho Universitário eConselho de Ensino, Pesquisa eExtensão).

Fábio Lucas lançará O zela-dor do céu e seus comparsas ,lcontos, pela Editora Sarau das Le-tras, no dia 4 de abril, quinta-feira,às 19 horas, na Casa das Rosas,Av. Paulista, 37, em São Paulo.

O Instituto Histórico e Geo-gráfico de São Paulo realiza even-to em comemoração do Dia Nacio-nal da Mulher, no dia 27 de março,quarta-feira, às 15 horas.

Nas terras de Quilombo, liv roreportagem sobre o quilombo deCaçandoca de José Ortega e IaraSouza, será lançado no dia 28 demarço, às 19 horas, na Casa dasRosas, em São Paulo. O quilombo,localizado em Ubatuba, litoral nortede São Paulo, é o único em terrasda mar inha brasileira.

Altair Martins foi laureado como Prêmio Moacyr Scliar de Literatu-ra – Conto de 2012, com a obraEnquanto água. Ele receberá a im-portância de R$ 150 mil e terá a obrareeditada pela Corag.

O Fórum das Letras de OuroPreto será realizado de 29 de maiode 2 de junho, em Ouro Preto, MG.w w w.forumdasletras.ufop.br.

A Feir a do Livro de SantaMaria será realizada de 27 de abrila 12 de maio, na Pça Saldanha Ma-r inho, em Santa Mar ia, RS. A sincrições para lançamentos de li-vros vão até o dia 20 de abril, na Bi-blioteca Pública Municipal HenriqueBastide. Tel.: (55) 3218-1396.

José Monir Nasser, escritor,professor, autor de A Economia doMais e realizador do programa Ex-pedições ao Mundo da Cultura, fa-leceu no dia 17 de março, aos 56anos, em Curitiba.

Domingos Paschoal Cegalla,professor, gramático, poeta, roman-cista, escritor e tradutor, faleceu nodia 9 de fevereiro, no Rio de Janei-ro. É autor do Dicionário de dificul-dades da língua portuguesa, daNovíssima gramática da língua por-tuguesa, do Dicionário escolar: lín-gua por tuguesa e da Novaminigramática da língua portugue-sa, entre outros livros.

A Revista Época f irmou par-ceria com o site Catraca Liv re, deGilber to Dimenstein. Os sites com-partilharão em suas páginas pautase notícias em seções especiais.

Raquel Naveira fez leitura depoemas, no dia 11 de março, duran-te o espetáculo Antôni o, da atr izClarisse Abujamra.

Marilisa Rathsam , artista plás-tica que foi fundadora do Museu Bra-sileiro da Escultura, lançou o livroMuseu Bras i l ei ro da Escul turaMari lisa Rathsam – Da criação a2008.

A Câmara Brasileira do Livroelegeu nova diretoria, para o biênio2013/2015, composta por KarineGonçalves Pansa (Pres idente) ,Bernardo Gurbanov (Vice-Presiden-te A dminis trativo e Financeiro) ,Hubert Alquéres (Vice-Presidente deComunicação), Vitor Tavares (Vice-Presidente Secretário), e dos dire-tores Lúc ia Jurema Figueirôa,Henr ique Kiperman, WagnerVenez iani Cos ta, Vera Lúc iaBalhes tero, Susanna Florissi, Mar-cos Pedri, Antônio Erivan Gomes,Marcus Teles C. de Carvalho, Fran-cisco Salvador Canato, Paulo Victorde Carvalho, Nassim Batista da Sil-va, José de A lencar Mayrink, LuizAntônio de Souza, Mario Amadio,Drummond e Lima e Luís AntônioTorelli. Conselho: Cosmo Juvela,Marcelo Luciano Martins Di Renzo,Cláudia Massola, José Xav ierCor tez, José Cas tilho MarquesNeto, Carlos Tauf ik Haddad, Eduar-do Yasuda, Flávio Reis e Márcia Lí-gia. Conselho Fiscal: Titulares: Ca-rolina Riedel, Osw aldo Siciliano eRoberto Francisco Ferrero. Suplen-tes : Alf redo Weiszf log, MauroMartins e Rosely Boschini.

O Colet ivo DulcinéiaCatadora, livros com textos em pro-sa e poes ia, ensaios edocumentários do Coletivo em ati-vidade na comunidade, farão partedo acervo do Museu Mar, na regiãoportuária do Rio de Janeiro. O gru-po de rec icladores do Glicério, emSão Paulo, trabalha a diversidade, ainc lusão e o compartilhamento.

O 2° Salão do Livro Infantil eJuvenil de MG será realizado de 9a 18 de agosto, em Belo Horizonte,com promoção da Câmara Mineirado Livro e apoio institucional da Câ-mara Brasileira do Livro e do Sindi-cato Nacional de Editores de Livros.

M ár io de Andr ade :etnógrafo-fotógrafo-poeta, mos-tra de fotografias com curadoria dapesquisadora Adrienne Firmo, f ica-rá em cartaz até o dia 5 de maio, deterça-feira a domingo, das 9 às 20horas, no CAIXA Cultural São Pau-lo, Praça da Sé, 111, em São Pau-lo. A exposição reúne 60 fotos empreto-e-branco realizadas por Máriode Andrade em 1927, durante via-gem ao Estado do Pará e ao Peru.No dia 13 de abril, sábado, das 15às 16h30, Adrienne Firmo falará so-bre a proposta curatorial e, BiancaDetino, sobre a importância ar tísti-ca e cultural do arquivo Mário deAndrade que pertence ao Instituto deEstudos Brasileiros da Universida-de de São Paulo. Informações: (11)3321-4400 .   

A 13ª Feira Nacional do Livrode Ribeirão Preto, que será reali-zada de 6 a 16 de junho, com o temaLivros nos fazem livres, abrigaráatrações literárias, show s, f ilmes eapresentação de peças de teatro.w w w.feiradolivroribeirao.com.br

O Pr ogr am a de Apoio àDigitalização de Acervos Cultu-rais e Históricos no Brasil, queserá feito pelo Ministério da Cultura,selecionará, por meio de editais, 20instituições culturais brasileiras pú-blicas ou pr ivadas para adigitalização dos seus acervos comvalor histórico e/ou cultural. Serãoinvestidos R$ 600 mil e os editaisserão divulgados até o mês de abril.

O Mutirão Cultur al da UBEorganizará a Coletânea do MutirãoCultural da UBE –Vol I, nos gêne-ros poesia, conto ou crônica, comtema livre. Informações com SueliCar los através do [email protected] .

Flávio Aguiar, escritor e pes-quisador da USP, lançou A Bíbl iasegundo Beliel, livro de f icção, queabriga uma sátira sobre as históri-as bíblicas.

A Associação Paulista de Crí-ticos e Artes realizou solenidade depremiação dos melhores de 2012,nas categorias Arquitetura, Artes Vi-suais , Cinema, Dança, Literatura,Música Popular, Música Erudita, Rá-dio, Teatro, Teatro Infantil eTelevisão,  no dia 12 de março, noSesc Pinheiros, em São Paulo. Nacategoria Literatura f oram laurea-dos : O Céu dos Sui c i das , deRicardo Lísias, (Romance), O Somda Revolução-Uma História Cultu-ral do Rock 1965/1969, de RodrigoMerheb  (Ensaio/Crít ica), A Máqui-na do Poeta, de Nelson Cruz ,(Infanto-Juvenil), Um Útero é do Ta-manho de um Punho, de AngélicaFreitas (Poesia), Aquela Água Toda,de João A nzanello Car rascoza(Contos/Crônicas /Repor tagens) ,Ul ysses, de Caetano W. Galindo(Tradução), Marighella, o Guerrilhei-ro que Incendiou o Mundo, de MárioMagalhães (Biograf ia). Votaram:A milton Pinheiro, Dirce Lor imier,Gustavo Ranieri, Luiz Costa Perei-ra Junior, Ricardo Nicola, SérgioMiguez e Ubiratan Brasil.

Sábados Inquietos, do jorna-lista e crítico literário José Castello,foi lançado pela Editora LeYa. A obrareúne cem das mais de 250 colu-nas publicadas no caderno “Prosa”,do jornal O Globo.

A 17ª edição da Feira Pan-Amazônica do Livro, que será re-alizada de 26 de abril a 5 de maio,em Belém, PA, f az homenagem aoescritor paraense Ruy Barata.

A Fundação Nacional do Li-vro Infantil e Juvenil disponibilizao catálogo da Feira do Livro Infantilde Bolonha, que será realizada de25 a 28 de março na Itália, no en-dereço http://w w w.fnlij.org.br .

Luis Sergio Krausz é o ven-cedor do 2º Prêmio Benvirá de Lite-ratura com o romance Deser to. Acomissão julgadora foi formada porJosé Luiz Goldfarb, Luiz Bras e AnnaMaria Martins.

A Vir ada Sus tentável, queserá realizada de 6 e 9 de junho, emSão Paulo, es tá com insc r içõesabertas, até o dia 1 de abril, paraatrações, atividades e conteúdos.w w w.viradasustentavel.com

di vulgação

Francisco Carv alho