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Retrato da saúde privada no Nordeste brasileiro. A região pode esperar mais investimentos? NOVOS MERCADOS N o Brasil, o Produto Interno Bruto (PIB) do Norte e Nordeste foi o que mais cresceu entre 2003 e 2006. No mesmo período, essas regiões experimentaram a saída de milhares de pessoas da linha da pobreza, por meio de programas sociais implantados pelo Governo Federal. O número de carteiras assinadas cresceu 4%, houve redução do trabalho infantil e migração de mão de obra da zona rural para a urbana, principalmente para atuar em Serviços 1 . O aumento do consumo atraiu investidores, e a região se tornou alvo também dos movimentos de fusões e aquisições no setor de saúde. De acordo com Bruno Dias, diretor executivo regional da Rede D’Or São Luiz, a parcela da população do NE coberta por planos de saúde era de 8% no começo de 2007, frente à média nacional de 19,3%. De olho nesse potencial, os primeiros a chegar foram as companhias de medicina diagnóstica Dasa e Fleury (NKB), em 2004; seguidos pela Rede D’Or, Hapvida, Amil, e depois, United Health. " O mercado respondeu, e a quantidade de usuários de planos de saúde na região Nordeste cresceu 60,4% entre 2006 e 2016, enquanto a média no Brasil foi de 34,4%”, disse o executivo durante o V Congresso Norte-Nordeste de Gestão, realizado pela GPeS - Gestão de Projetos em Saúde em agosto desse ano, com a parceria da Revista Melhores Práticas 2 . De acordo com Dias, a entrada de beneficiários se deu especialmente no plano de tipo coletivo empresarial que passou de 6,5 milhões em 2000 para 33,3 milhões em 2015. | Mercado | Por Gilmara Espino 14 Melh res Práticas

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Retrato da saúde privada no Nordeste brasileiro. A região pode

esperar mais investimentos?

NOVOS MERCADOSN

o Brasil, o Produto Interno Bruto (PIB) do Norte e Nordeste foi o que mais cresceu entre 2003 e 2006. No mesmo período, essas regiões experimentaram a

saída de milhares de pessoas da linha da pobreza, por meio de programas sociais implantados pelo Governo Federal. O número de carteiras assinadas cresceu 4%, houve redução do trabalho infantil e migração de mão de obra da zona rural para a urbana, principalmente para atuar em Serviços1.

O aumento do consumo atraiu investidores, e a região se tornou alvo também dos movimentos de fusões e aquisições no setor de saúde.

De acordo com Bruno Dias, diretor executivo regional da Rede D’Or São Luiz, a parcela da população do NE coberta por planos de saúde era de

8% no começo de 2007, frente à média nacional de 19,3%.

De olho nesse potencial, os primeiros a chegar foram as companhias de medicina diagnóstica Dasa e Fleury (NKB), em 2004; seguidos pela Rede D’Or, Hapvida, Amil, e depois, United Health.

"O mercado respondeu, e a quantidade de usuários de planos de saúde na região Nordeste cresceu 60,4% entre 2006 e 2016, enquanto a média no Brasil foi de 34,4%”, disse o executivo durante o V Congresso Norte-Nordeste de Gestão, realizado pela GPeS - Gestão de Projetos em Saúde em agosto desse ano, com a parceria da Revista Melhores Práticas2.

De acordo com Dias, a entrada de benefi ciários se deu especialmente no plano de tipo coletivo empresarial que passou de 6,5 milhões em 2000 para 33,3 milhões em 2015.

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Por Gilmara Espino

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Cenário atualSegundo analistas e imprensa, já no fi nal

de 2010 havia sinais claros de que o "voo brasileiro” seria curto. Decisões relacionadas a políticas sociais, gestão do câmbio, subsídios setoriais, entre outras medidas governamentais estagnaram o desenvolvimento dos estados.

A região Nordeste foi a última a desacele-rar, mas agora o faz de modo mais intenso.

Em entrevista3, Flávio Ataliba Barreto, dire-tor-geral do Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (Ipece), esclarece que a crise econômica atingiu primeiro o setor industrial, mais forte no Sul e no Sudeste, e que somente a partir de 2015 teria chegado mais fortemente ao comércio, serviços e construção civil, setores dos quais o Norte e Nordeste são mais dependentes.

Saúde suplementarDe acordo com a apresentação de Bruno

Dias, o estado do Maranhão ainda apresenta a menor cobertura suplementar em comparação com o tamanho da população. Eram 3,6% em 2006 contra 7,2% atualmente. Isso equivale a 482 mil benefi ciários, dos quais 318 mil ou 65% estão na capital, São Luís.

Esse é um estado em que a oferta de planos de cooperativas médicas, seguradas e medi-cinas de grupo está bem equilibrada, sem concentração de mercado.

O mesmo não ocorre no Ceará. Ainda que seja o terceiro estado do Nordeste com maior número de benefi ciários, a Hapvida detém sozinha 39,9% da oferta de saúde suplementar.

Outros exemplos de concentração são Alagoas e Paraíba, onde quase metade da população atendida é da Unimed.

No Piauí, onde 53% do mercado é atendido pela medicina de grupo, 3,7% correspondem à Hapvida. Esse é o estado com menor número absoluto de benefi ciários, 291 mil ou 9% da população.

A participação das seguradoras ainda é pouco expressiva em Sergipe, Alagoas e Rio Grande do Norte.

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Oportunidades de investimentoAs seguradoras, como Bradesco

e SulAmérica, são as mais fortes na Bahia, com 23,5% da fatia de mercado. Isso é uma vantagem para os prestadores de serviços, uma vez que não é permitido que seguradoras tenham hospitais pró-prios, o que aumenta a dependência que essas fontes pagadoras têm de bons hospitais locais.

De acordo com Bruno Dias, a oferta de leitos na Bahia ainda é deficitária, o que ajuda a posicio-nar esse estado como os que estão entre os de investimentos futuros mais prováveis.

Pernambuco já ocupou essa posição. Durante a administração do gover-nador Eduardo Campos, a região investiu na geração de empregos, o que contribuiu para o salto de 60,5% no número de benefi ciários de planos de saúde entre 2000 e 2016.

Esse estado, entretanto, tem uma particularidade em relação aos demais: não há deficit expressivo de leitos privados, o que aumenta a competição entre os prestadores e exige estratégias bem defi nidas de negócios.

"Em Recife, mais do que em qualquer outra capital do Nordeste, ou se compete por preço ou por qualidade”, explica Dias.

Em Sergipe, ainda que haja uma distribuição mais uniforme entre as fontes pagadoras, o número absoluto

de indivíduos com acesso à saúde suplementar é pequeno, 317 mil vidas, e já há hospitais de referência para uma área coberta menor, o que inibe novos entrantes no mercado.

“A Rede D’Or São Luiz evita investir em áreas com a predomi-nância de um único plano de saúde pela dependência que ocasionaria de uma mesma fonte pagadora. Da mesma forma, preferimos fazer aqui-sições ou fusões com organizações em que se reconhece um ganho maior pela sinergia de processos”, explica o executivo.

O perfil de aquisições da Rede, uma das maiores consolidadoras da área de saúde nos últimos anos, é de preferir hospitais que não possuam plano de saúde próprio, tenham mais de 100 leitos e faturamento superior a R$ 100 milhões por ano.

Investidores estrangeirose novos negóciosPara Antonio Carlos Abbatepaolo, diretor-executivo da Associação Brasileira de Planos de Saúde (Abramge), o mercado deve esperar a retomada dos investimentos no setor nos próximos anos.

Entre 2000 e 2005, 18 operadoras de planos de saúde pediram can-celamento de registro na Agência Nacional de Saúde Suplementar por motivo de incorporação. Entre 2006

e 2015, esse número saltou para 67 empresas, sendo 8 no Nordeste.

Ainda é cedo para saber como um mercado que até 2014 era fechado para o capital externo (para operadoras, o impedimento terminou em 1998) irá se comportar diante de melhores condições para competir no Brasil.

De todo modo, seja capital nacional ou não, com investimentos em modelos já existentes ou mais inovadores, como unidades particulares de baixo custo para serviços primários de saúde (Dr. Consulta é um exemplo), o sistema como um todo ainda precisará fazer seu dever de casa se quiser crescer e atrair investidores.

Entre as necessidades, está discutir o modelo da cobertura assistencial que deseja (e consegue) garantir aos seus cidadãos, a microrregulação, a judicialização e os modelos de remuneração.

Mesmo assim, Abbatepaolo é oti-mista e justifica : "o setor ainda é pouco presente no mundo virtual (ao passo que healthcare é o maior foco de venture capital em todo o mundo) e o envelhecimento da população continuará a aumentar a demanda por serviços de saúde. Além disso, o Brasil é o segundo maior mercado de plano de saúde no mundo e o maior da América Latina. Fatores que, em minha opinião, continuarão a atrair novos negócios”, fi naliza.

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Referências 1) INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílios. Brasília, 2007.2) Bruno Dias e Carlos Abbatepaolo foram ouvidos como pales-trantes convidados do V Congresso Norte-Nordeste de Gestão, que teve a programação desenvolvida pela equipe da GPeS Gestão de Projetos em Saúde e parceria da Melhores Práticas.

3) CUCOLO, Eduardo (Ed.). Norte e Nordeste perdem fôlego e viram lanterna da economia. Folha de São Paulo. Brasília, p. 1-1. 6 mar. 2016. Disponível em: <http://folha.com/no1746914>. Acesso em: 1 dez. 2016.4) MAURICIO OLIVEIRA. Abramge (Ed.). Remédio anticrise. Visão Saúde, São Paulo, v. 1, n. 1, p.18-23, jun. 2016. Disponível em: <https://goo.gl/8mprvO>. Acesso em: 1 dez. 2016.

2009• HAPVIDA Operadoras Santa Clara e MMS Saúde (PE)

2010• DASA, HAPVIDA e Amil Cerpe (PE) operadora Santa Helena (PE)e operadoras Excelsior e ASL respectivamente

2011• Rede D'Or São Luiz e Fleury

Diagson (BA) e Hospital São Marcos

2012• United Health

AMIL

2014• HAPVIDA

Hospital e Plano de Saúde Luis França (CE)

2013• AMIL

Hospital Monte Klinikum (CE)

2008• DASA e Medial

Clínica Unimagem (CE)

2007• Rede D'Or São Luiz

Hospitais Prontolinda e Esperança (PE)

Linha do tempo - Aquisições

2016• Rede D'Or São Luiz

Hospital Memorial São José (PE)

2015• AMIL

Hospital Promater (RN)

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