em busca de um percurso singular de sentidos michl pêcheux mikhail bakhtin althusser cinco noções...

24
489 Linguagem em (Dis)curso, Tubarão, v. 4, n. 2, p. 489-512, jan./jun. 2004 Anselmo Peres Alós * Mestrando no Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. E-mail: [email protected].

Upload: hokaloskouros9198

Post on 04-Oct-2015

8 views

Category:

Documents


2 download

TRANSCRIPT

  • 489Linguagem em (Dis)curso, Tubaro, v. 4, n. 2, p. 489-512, jan./jun. 2004

    Anselmo Peres Als

    Teoria em grego quer dizer

    O ser em contemplao

    Cntico dos cnticos

    Quntico dos qunticos

    Sei que a arte irm da cincia

    Ambas filhas de um Deus fugaz

    Que faz num momento e no mesmo momento desfaz

    (Gilberto Gil, Quanta)

    1 INTRODUO

    O presente trabalho pretende sintetizar algumas reflexes acerca de

    conceitos fundamentais para a Anlise do Discurso (AD) de escola francesa. Um

    dos traos mais instigantes da AD seu carter errante, promovido pelos diversos

    deslocamentos epistemolgicos e reformulaes tericas aos quais se props

    para definir seu terreno de atuao, bem como a permanente redefinio qual

    EM BUSCA DE UM PERCURSO SINGULAR DE SENTIDOS:

    CINCO NOES BSICAS DO DISPOSITIVO TERICO

    NA ANLISE DO DISCURSO

    Anselmo Peres Als

    *

    Resumo: A inteno deste trabalho a realizao de uma reflexo sobre cinco categorias de

    suma importncia dentro do dispositivo terico da Anlise do Discurso (lngua, histria, ideologia,

    sentido, sujeito). O encadeamento destas categorias conceituais em um percurso singular de

    sentidos absolutamente necessrio para que se possa desenvolver qualquer tipo de anlise dentro

    do quadro epistemolgico da Anlise do Discurso de escola francesa.

    Palavras-chave: teoria; metodologia; anlise do discurso.

    * Mestrando no Programa de Ps-Graduao em Letras da Universidade Federal do RioGrande do Sul. E-mail: [email protected].

  • 490 Linguagem em (Dis)curso, Tubaro, v. 4, n. 2, p. 489-512, jan./jun. 2004

    Em busca de um percurso singular de sentidos: ...

    se submete, dado que as reconfiguraes demandadas por cada nova anlise no

    campo do dispositivo analtico terminam por reconfigurar tambm o dispositivo

    terico

    1

    . Ao conjugar/deslocar princpios tericos e procedimentos analticos de

    outras disciplinas, a anlise do discurso torna evidente a interferncia do histrico

    e do ideolgico assim como seu apagamento no momento mesmo de

    constituio dos sentidos.

    O presente trabalho no se configura como uma anlise discursiva,

    explicitando quais os elementos do dispositivo terico esto sendo postos em

    funcionamento, desenhando o dispositivo analtico que ser posto em

    funcionamento por ocasio da anlise. Minha inteno neste trabalho a de

    trabalhar com cinco noes ou conceitos que so fundamentais para a

    compreenso da AD: histria, ideologia, lngua, sentido e sujeito. Curiosamente,

    o efeito final do trabalho resulta em cinco blocos, sendo o primeiro o mais breve

    e o ltimo o mais extenso. Isso ocorre porque pontos j discutidos vo

    reaparecendo nas reflexes acerca das categorias seguintes. Quando falo em

    ideologia, por exemplo, impossvel fugir da questo da luta de classe, de certa

    forma j contemplada no momento em que tento sintetizar algumas consideraes

    sobre a categoria histria. Dada esta estrutura espiralada, assim como o fato de

    que o foco do trabalho so as noes de sujeito e sentido, neste trabalho, optei

    por no incluir um segmento intitulado concluso ou consideraes finais,

    pois um bloco desta natureza implicaria em um amontoado sinttico de

    informaes redundantes, cuja nica funo seria responder s expectativas

    academicistas de uma aliteracia que serve, em ltima anlise, como critrio de

    legitimao da forma hegemonicamente estabelecida de produzir conhecimento.

    Todavia, acredito que a estrutura espiralada deste trabalho tem tambm

    um aspecto positivo. Mais do que positivo, diria que necessrio: a introduo

    gradual do leitor no mbito terico da AD. Se o signo ideolgico descrito por

    Bakhtin se configura enquanto uma arena de luta pela significao, cabe lembrar

    que a academia tambm se configura enquanto uma arena de luta, no apenas

    pela significao, mas tambm pelo prestgio e pelo poder advindos da legitimao

    do poder (oriundo do prestgio da cultura letrada em um pas onde poucos so

    os que tm acesso universidade) em seus interstcios.

    1 A respeito das diferenas entre dispositivo terico e dispositivo analtico, conferir: ORLANDI,E. Anlise de Discurso: Princpios e Procedimentos. 2. ed. Campinas: Pontes, 2000.

    UsuarioStamp

  • 491Linguagem em (Dis)curso, Tubaro, v. 4, n. 2, p. 489-512, jan./jun. 2004

    Anselmo Peres Als

    2 HISTRIA

    Para que se possa compreender o sentido produzido pela concepo de

    histria dentro do dispositivo terico da Anlise do Discurso, faz-se interessante

    revisitar um importante texto de Althusser intitulado Resposta a John Lewis

    (1978, p. 15-51) no qual, a partir de uma (re)leitura de Marx e Lnin, ele define

    histria como um processo sem sujeito nem fim. John Lewis levanta trs teses

    para definir o que seja a histria. Althusser, por sua vez, retomando as teses do

    marxismo-leninismo, derruba o pensamento de Lewis, cujas teses so as seguintes:

    a) o homem que faz a histria;

    b) o homem faz a histria transcendendo a histria;

    c) o homem conhece apenas o que ele faz.

    Louis Althusser rebate Lewis, evidenciando o trao essencialista e totalizador

    da concepo de sujeito por ele utilizada. Para isso, Althusser retoma as teses

    marxistas-leninistas, a saber:

    a) so as massas que fazem a histria;

    b) a luta de classes o motor da histria;

    c) conhece-se apenas o que .

    Observemos agora o que diz Althusser sobre cada uma das teses marxistas-

    leninistas:

    a) So as massas que fazem a histria. O marxismo-leninismo coloca, no

    lugar de um sujeito emprico e idealizado (o Homem), as massas; ou seja,

    formaes sociais heterogneas e/ou em conflito. Observe-se um exemplo

    de como isso funciona, exemplo este dado pelo prprio Althusser no

    referido texto: os escravos eram a maior das classes/massas no regime

    escravocrata, mas foram os explorados entre homens livres que

    realmente fizeram histria naquele momento. Logo, o conflito,

    funcionando como motor, que impulsiona o funcionamento histrico,

    visto no como sucesso cronolgica de eventos de carter teleolgico,

    mas sim como uma cadeia de avanos e retrocessos, rupturas, enfim.

    Observe-se o que Althusser escreve, tornando clara a evidncia de que so

    as massas (entendidas enquanto coletividades organizadas em classes), e

  • 492 Linguagem em (Dis)curso, Tubaro, v. 4, n. 2, p. 489-512, jan./jun. 2004

    Em busca de um percurso singular de sentidos: ...

    no o homem (entendido aqui como o sujeito cartesiano) que alavanca

    a histria:

    Quando isso [o enraizamento de todas as formas da luta de classes na luta de

    classes econmicas] se torna claro, desaparece a questo do sujeito da

    histria. A histria um imenso sistema natural-humano em movimento,

    cujo motor a luta de classes. A histria um processo sem sujeito. A

    questo de saber como o homem faz a histria desaparece completamente;

    a teoria marxista rejeita-a definitivamente em seu lugar de nascimento: a

    ideologia burguesa. (1978, p. 28)

    b) A luta de classes o motor da histria. A partir da noo luta de classes,

    Althusser desenvolve duas concepes diferentes de marxismo. A primeira

    delas, que ele chama de marxismo reformista, parte da premissa de que

    no a luta de classes que est em primeiro plano, mas sim as prprias

    classes sociais. A segunda delas Althusser identifica como marxismo

    revolucionrio; dentro desta concepo, impossvel separar as classes

    da luta de classes, pois s existem classes porque existe a luta entre as

    classes. Colocando-se como um marxista revolucionrio e no um

    reformista, Althusser mostra que a luta entre as classes, e no o Homem,

    o verdadeiro sujeito (ou motor) da histria: a histria no tem, no

    sentido filosfico do termo, um Sujeito, mas um motor: a luta de classes

    (1978, p. 71). Como Althusser deixa claro, a prpria idia de uma origem

    para a histria parte de uma filosofia burguesa:

    Uma coisa certa: no se pode partir do homem, porque isso seria partir de

    uma idia burguesa de homem; e porque a idia de partir do homem, em

    outras palavras, a idia de um ponto de partida absoluto (de uma essncia)

    pertence filosofia burguesa. Essa idia do homem, do qual se deve partir

    como de um ponto de partida absoluto, o pano de fundo de toda ideologia

    burguesa, a alma inclusive da grande Economia Poltica clssica. O homem

    um mito da ideologia burguesa: o marxismo-leninismo no pode partir do

    homem. Ele parte do perodo social economicamente dado: e, no final

    de sua anlise, pode chegar aos homens reais. Esses homens so ento o

    ponto de chegada de uma anlise que parte das relaes sociais do modo de

    produo existente, das relaes de classe. Esses homens so homens

    inteiramente diferentes do homem da ideologia burguesa. (1978, p. 29-30)

  • 493Linguagem em (Dis)curso, Tubaro, v. 4, n. 2, p. 489-512, jan./jun. 2004

    Anselmo Peres Als

    c) Conhece-se apenas o que . A terceira tese levantada por Althusser , ao

    mesmo tempo, tese de existncia, de materialidade e de objetividade;

    ela afirma que s passvel de conhecimento aquilo que existe; afirma que

    o princpio basilar da existncia a materialidade e, finalmente, afirma que

    toda a existncia objetiva, ou seja, anterior aos processos subjetivos

    que tentam conhec-la (ou seja, a existncia anterior e independente em

    relao subjetividade). De acordo com Althusser:

    Essa Tese ao mesmo tempo Tese de existncia, Tese de materialidade e Tese

    de objetividade. Ela afirma que se pode conhecer apenas o que existe; que

    o princpio de toda existncia a materialidade; e que toda existncia

    objetiva, isto , anterior subjetividade que a conhece e independe dela.

    (1978, p. 31)

    Quando se afirma que a existncia, por ser objetiva, anterior

    subjetividade que pretende apreend-la enquanto objeto do conhecimento, fica

    exposta a importncia da noo de historicidade. Ora, se a existncia objetiva

    e o sujeito um efeito de sentido (de acordo com Michel Pcheux), pensar a

    historicidade faz-se de fundamental importncia para a compreenso dos sentidos,

    dado que no momento em que o fio da histria e o fio da lngua se entrelaam

    que o fio do discurso estabelecido, evidenciando sentidos a partir dessas duas

    materialidades (lngua-histria).

    Logo os homens, os sujeitos empricos, so necessariamente sujeitos na

    histria, mas no sujeitos da histria. Em outras palavras, os indivduos humanos

    so ativos na histria: so agentes de prticas sociais dentro do processo histrico.

    Por sua vez, ser agente na (ou dentro de) implica em no ser livre (no sentido

    idealista do termo); implica em estar determinado pelas formas de existncia

    determinadas pelas relaes sociais existentes em uma dada conjuntura: esses

    agentes no podem ser agentes a no ser que sejam sujeitos:

    Os indivduos-agentes, portanto, agem sempre na forma de sujeitos, enquanto

    sujeitos. Mas o fato de que sejam necessariamente sujeitos no faz dos agentes

    das prticas scio-histricas o nem os sujeito(s) da histria (no sentido

    filosfico do termo: sujeito de). Os agentes-sujeitos s so ativos na histria

    sob a determinao das relaes de produo e reproduo, e em suas

    formas. (1978, p. 67)

  • 494 Linguagem em (Dis)curso, Tubaro, v. 4, n. 2, p. 489-512, jan./jun. 2004

    Em busca de um percurso singular de sentidos: ...

    Assim, Althusser vai afirmar que a forma de existncia histrica de todo e

    qualquer sujeito a forma-sujeito, e que para que um sujeito interfira na histria,

    ele ter de ser revestir da forma-sujeito que, em ltima anlise, definida e

    determinada pelas relaes sociais de produo e reproduo.

    3 IDEOLOGIA

    Ideologia, tal como sujeito, um conceito que vem sendo deveras criticado,

    seja nas cincias sociais, nos estudos literrios e filosficos e nas cincias da

    linguagem. Muitos, ao decretarem o fim das ideologias, decretam juntamente o

    fim da histria, vista como a histria da luta de classes. Essa uma estratgia

    prpria dos exploradores, que possuem interesses em eliminar a luta entre as

    classes, mas no as classes propriamente ditas. Logo, torna-se possvel perceber

    que o prprio ato de enunciao do fim da(s) ideologia(s) , em si mesmo, um

    ato ideolgico.

    No momento em que foi forjada por Marx, a categoria ideologia se

    confundiu com a ideologia dominante (ou hegemnica). Ao ser definida como

    o conjunto de concepes sociais e culturais de um grupo social especfico, em

    um determinado momento da sua evoluo histrica, a ideologia torna-se um

    conceito totalizante. Perde-se de vista o fato de que, em um determinado perodo

    histrico, coexistem um conjunto de concepes relativo ao grupo dominante e

    diversos outros constructos de concepes culturais; estes ltimos correm

    subterraneamente vida social, paralelos ideologia hegemnica, naturalizada

    como a nica existente.

    Destarte, fica evidente a existncia de, ao menos, dois recortes ideolgicos

    possveis: um que d conta da classe dominante e outro que d conta da(s)

    classe(s) espoliada(s) (vemos aqui classe tendo em mente a mxima de

    Althusser anteriormente citada: so as massas que fazem a histria o que

    configura as classes como agentes ou sujeitos sociais).

    importante ressaltar aqui que, em um primeiro momento, todas essas

    reflexes foram tecidas a partir de uma preocupao exclusivamente econmica:

    h uma classe que explora (burguesia) e outra que explorada (proletariado).

    Entretanto, na medida em que esse conceito (ideologia) migra do campo das

    cincias polticas e econmicas para o dos estudos literrios e discursivos, faz-se

  • 495Linguagem em (Dis)curso, Tubaro, v. 4, n. 2, p. 489-512, jan./jun. 2004

    Anselmo Peres Als

    necessrio repensar as categorias dominante e dominado, explorador e

    explorado. Para a AD, de acordo com Helena Brando ([s.d.], p. 19-28), trs

    concepes de ideologia so de particular interesse: a de Marx, a de Althusser e

    a de Ricoeur.

    Retomando em parte o que j foi explorado, a concepo de ideologia em

    Marx tem como fortes traos a iluso, a abstrao e a inverso da realidade. A

    ideologia, embora no esteja desvinculada das condies materiais de produo,

    faz com que nisso se creia atravs de suas idias. Assim, a classe que tem os meios

    materiais de produo disporia, ao mesmo tempo, dos meios de produo

    morais ou ideolgicos. Logo, a ideologia (no sentido a ela atribudo por Marx-

    Engels) configura-se como um instrumento de dominao de classe porque a

    classe dominante faz com que suas idias passem a ser as idias de todos. Destarte,

    pode-se afirmar que a ideologia qual Marx e Engels se referem , especificamente,

    a ideologia da classe dominante.

    Para Paul Ricoeur, a ideologia est caracterizada por cinco traos: a) a

    perpetuao de um ato fundador; b) uma natureza dinmica e motivadora; c) o

    carter simplificador e esquemtico; d) um funcionamento operatrio e no-

    temtico e, finalmente, e) a intolerncia (ou trao de resistncia). Detenhamo-

    nos um pouco mais atentamente sobre cada um destes traos:

    a) A ideologia, perpetua um ato fundador inicial. Esse ato est ligado

    necessidade de um grupo conferir-se uma imagem de si mesmo, de

    representar-se, no sentido teatral e performtico do termo. Logo, toda

    ideologia assenta-se sobre um deslocamento/ruptura fundador(a) em

    relao ideologia dominante/hegemnica em um determinado momento

    histrico;

    b) A ideologia dotada de uma natureza dinmica e motivadora. Ela estimula

    uma prxis social que a concretiza; a prxis pode aqui ser vista como a

    prpria materialidade constitutiva da ideologia. Mas do que reflexo da

    realidade, a ideologia a prpria justificativa (o grupo social necessita de

    uma razo de ser) e projeto (pois modela e dita as regras de uma conduta

    social) dessa realidade;

    c) Visando eficcia social de suas idias, a ideologia racionalizante e suas

    formas de expresso preferenciais so as mximas, slogans e formas

  • 496 Linguagem em (Dis)curso, Tubaro, v. 4, n. 2, p. 489-512, jan./jun. 2004

    Em busca de um percurso singular de sentidos: ...

    lapidares. A fim de dinamizar seu funcionamento na produo de sujeitos

    em seu interior, pode-se afirmar que ela simplificadora e esquemtica;

    d) O carter operatrio e no-temtico da ideologia pode ser ilustrado da

    seguinte forma: mais do que pensar sobre a ideologia, a partir dela que

    pensamos (pois ela est entre as instncias determinantes das formas de

    subjetividade humana). Por causa deste estatuto no-reflexivo, ela muitas

    vezes taxada de iluso ou de alienao;

    e) Finalmente, a ideologia intolerante, devido a uma certa inrcia que

    parece caracteriz-la. Em outras palavras, o funcionamento da ideologia

    pode ser caracterizado como a resistncia ao novo, ao que lhe exterior,

    motivando-a em direo a um movimento-funcionamento de conservao.

    Torna-se compreensvel a motivao que faz com que uma instncia que

    nasce como ruptura finda como elemento de manuteno e regulao:

    grosso modo, como se a ideologia fosse dotada de um sentimento de

    auto-preservao. Assim, a sedimentao ideolgica pode levar o sujeito

    ao enclausuramento ideolgico, e s dificuldades de se escapar desse

    enclausuramento, se tivermos em mente que o assujeitamento ideolgico

    no se d livre e conscientemente, mas inconscientemente.

    Althusser, por sua vez, elabora trs teses que, juntas, configuram uma

    espcie de teoria geral da ideologia. Segundo ele, a classe dominante gera

    mecanismos de perpetuao para manter o poder. Tais mecanismos so os

    Aparelhos Repressores do Estado (por exemplo, as foras militares) e os Aparelhos

    Ideolgicos do Estado (a escola, a igreja, etc.). As teses que ele formula, pois, so

    as seguintes:

    a) A ideologia representa a relao imaginria de indivduos com suas

    reais condies de existncia. O homem produz formas simblicas de

    representao de sua relao com a realidade concreta. Logo, se tais

    relaes so imaginrias, supem um distanciamento da realidade

    concreta, desenhando ento aquilo que pode ser chamado de processo

    de simbolizao (de natureza inconsciente) do real, do dado pr-

    simbolizao. A ideologia estaria situada enquanto instncia possibilitadora

    da representao/simbolizao do real, tornando-o passvel de

    interpretao;

  • 497Linguagem em (Dis)curso, Tubaro, v. 4, n. 2, p. 489-512, jan./jun. 2004

    Anselmo Peres Als

    b) A ideologia tem uma existncia porque existe sempre em um aparelho e na

    sua prtica ou suas prticas. A existncia da ideologia , portanto, material,

    porque as relaes vividas, nela representadas, envolvem a participao

    individual em determinadas prticas e rituais no interior de aparelhos

    ideolgicos concretos. A ideologia se materializa nos atos concretos, ou seja:

    (1) a prtica s existe dentro e atravs de uma ideologia, executada por um

    indivduo investido de uma forma-sujeito tambm ideologicamente

    determinada e (2) a ideologia tem uma materialidade que se revela a partir

    de sua materializao, ou seja, da discursivizao de uma prtica social;

    c) A ideologia interpela indivduos como sujeitos. atravs do mecanismo

    nomeado por Althusser como interpelao que a ideologia, funcionando

    nos rituais materiais da vida cotidiana, opera a transformao de indivduos

    em sujeitos. O reconhecimento d-se no momento em que o sujeito se

    insere, a si mesmo e a suas aes, em prticas reguladas por aparelhos

    ideolgicos. Entretanto, tal reconhecimento no da ordem do consciente,

    mas sim do inconsciente, o que aponta uma dupla via de determinao

    do sujeito: pela ideologia e pelo inconsciente.

    Orlandi (1998, p. 154) afirma:

    Quando dizemos que inconsciente e ideologia so noes solidrias, estamos

    afirmando essa relao necessria sem, no entanto, reduzir a ideologia ao

    inconsciente. Isso implica em compreender a lngua como sistema, mas no

    como sistema abstrato: a lngua como ordem significante que se inscreve na

    histria para fazer sentido. E implica tambm em considerar o sujeito

    discursivo enquanto sujeito histrico.

    Logo, a ideologia entendida como instncia definida pelo processo

    histrico-discursivo, materialidade enraizada na produo dos sentidos e mesmo

    na produo do sujeito tal como definido pela Anlise do Discurso advindo

    da a relao sujeito-ideologia-inconsciente. Sujeito e sentido, fugazes e errantes,

    podem ser captados enquanto efeitos do funcionamento discursivo a partir da

    observao das modulaes ideolgicas presentes no discurso. E a partir da

    idia de lngua que se torna possvel atingir essas instncias, a partir do

    funcionamento da lngua na histria que se pode depreender a materialidade

    do ideolgico.

  • 498 Linguagem em (Dis)curso, Tubaro, v. 4, n. 2, p. 489-512, jan./jun. 2004

    Em busca de um percurso singular de sentidos: ...

    4 LNGUA

    Na anlise de discurso, procura-se compreender a lngua fazendo sentido,

    enquanto trabalho simblico. O trabalho simblico do discurso est na base

    da produo da existncia humana. (ORLANDI, 2000, p. 15)

    A Anlise do Discurso aborda a lngua de uma maneira diversa daquela

    pela qual a lingstica o faz. A lingstica imanente separa o componente subjetivo

    da lngua a partir do corte saussureano, considerando a lngua um sistema

    arbitrrio do qual o homem apropria-se com fins de comunicao. Saussure, em

    seu Curso de Lingstica Geral, ao mesmo tempo em que define o objeto da

    lingstica justamente como a lngua enquanto sistema, deixa de lado no apenas

    o elemento subjetivo, mas todas as outras formas de manifestao discursivas no

    ligadas ao verbal, deixando-as a cargo da semitica. Em outras palavras, Saussure:

    a) reconhece o social como um componente da lngua, embora descarte-o

    do objeto de lingstica;

    b) reconhece no apenas o extralingstico, como outras prticas de

    produo de sentido, embora no as considere inerentes sua cincia

    (leia-se: lingstica estrutural).

    Quando Saussure tenta responder a questo o que lngua?, reconhece

    o componente interacional da mesma, embora o exclua do objeto que constri

    para a lingstica:

    Mas o que a lngua? Para ns, ela no se confunde com a linguagem;

    somente uma parte determinada, essencial dela, indubitavelmente. , ao

    mesmo tempo, um produto social da faculdade da linguagem e um conjunto

    de convenes necessrias, adotados pelo corpo social para permitir o

    exerccio dessa faculdade nos indivduos [...]. (SAUSSURE, 1974, p. 17)

    Em outras palavras, l em Saussure j encontramos meno a um

    componente social, interacional da lngua. A grande questo que esse aspecto

    da lngua deixado de lado, e o objeto da lingstica acaba privilegiando apenas

    o conjunto de convenes necessrias; inaugura-se, assim, uma forma x de se

    pensar a lngua, uma forma que a encara como um sistema formal e abstrato.

    Somente com mile Benveniste que h a recuperao da subjetividade dentro

  • 499Linguagem em (Dis)curso, Tubaro, v. 4, n. 2, p. 489-512, jan./jun. 2004

    Anselmo Peres Als

    da lngua, passo fundamental para a reabilitao do componente subjetivo

    enquanto elemento constitutivo dos processos de significao.

    Um outro filsofo da linguagem que deveras criticou as abordagens

    imanentistas lingsticas de seu tempo foi Mikhail Bakhtin. Ainda que compartilhe

    com Saussure a perspectiva de que a lngua , antes de tudo, um fato social assentado

    sobre as necessidades comunicativas do gnero humano, Bakhtin no pensa a

    lngua enquanto um sistema lgico-formal de abstraes, mas sim como algo

    concreto, uma espcie de resultado coletivo do trabalho individual de cada falante.

    No entanto, h um outro componente, alm desse de natureza concreta

    que, de acordo com Bakhtin, tambm constitutivo da linguagem. Alm do

    enunciado, o processo de interlocuo (visto que a linguagem interao verbal)

    passa a fazer parte do conjunto que constitui a realidade da lngua. O signo no

    mais visto como um sinal inerte, parte de um conjunto maior, de uma estrutura

    abstrata denominada lngua, mas dialtico, vivo, dinmico. a partir da que

    Bakhtin formula a noo de signo ideolgico:

    Todo signo est sujeito aos critrios de avaliao ideolgica (ou seja: se ele

    verdadeiro, falso, correto, justificado, bom, etc.). O domnio do ideolgico

    coincide com o domnio dos signos: so mutuamente correspondentes. Ali

    onde o signo se encontra, encontra-se tambm o ideolgico. Tudo que

    ideolgico possui um valor semitico. (BAKHTIN, 1997, p. 32)

    Dessa forma, a lingstica imanente (aquela que se prope a estudar a

    lngua enquanto estrutura fechada, amarrada), que v as lnguas naturais

    como estruturas abstratas formais, no pode dar conta da lngua como um todo,

    pois no se apercebe do papel da ideologia e da subjetividade (fundamentais

    para a compreenso dos mecanismos de produo de sentidos) como constitutiva

    de seu objeto. Helena N. Brando afirma:

    Sistema de significao da realidade, a linguagem um distanciamento entre

    a coisa representada e o signo que a representa. E nessa distncia, no

    interstcio entre a coisa e sua representao sgnica que reside o ideolgico.

    ([s.d.], p. 10)

    Dada a dualidade constitutiva da linguagem, e de uma lingstica que

    desenha seu objeto enquanto estrutura abstrata lgico-formal, torna-se necessrio

  • 500 Linguagem em (Dis)curso, Tubaro, v. 4, n. 2, p. 489-512, jan./jun. 2004

    Em busca de um percurso singular de sentidos: ...

    uma nova perspectiva de estudos da linguagem que recupere o elemento

    interlocutivo e o ideolgico que constituem a lngua enquanto produto resultante

    da interao social.

    Para a AD, a lngua no pode ser vista por si s como constituinte essencial

    do discurso. O trabalho da AD se d sobre a materialidade discursiva,

    desconstruindo-a para identificar os funcionamentos discursivos que promovem

    a iluso do sentido nico. Tal materialidade discursiva , ao mesmo tempo,

    lingstica e ideolgica. Lingstica porque se realiza no plano da enunciao, e

    ideolgica porque est sempre vinculada aos processos de representao entre o

    real e o imaginrio discursivos (INDURSKY, 1997, p. 20). Ao mesmo tempo em

    que o discurso representa efeitos da luta ideolgica de classes dentro do

    funcionamento da lngua, manifesta no interior do ideolgico a existncia da

    materialidade lingstico-discursiva.

    Pcheux coloca duas noes fundamentais e opositivas: a noo de base

    lingstica (o prprio sistema lingstico, enquanto conjunto de estruturas morfo-

    sintticas regido por leis internas) e a noo de processo discursivo-ideolgico.

    Diz ele:

    [...] o sistema da lngua , de fato, o mesmo para o materialista e para o

    idealista, para o revolucionrio e para o reacionrio, para aquele que dispes

    do conhecimento dado e para aquele que no dispe desse conhecimento.

    Entretanto, no se pode concluir, a partir disso, que esses diversos personagens

    tenham o mesmo discurso: a lngua se apresenta, assim, como a base comum

    dos processos discursivos diferenciados, que esto compreendidos nela na

    medida em que, como mostramos mais acima, os processos ideolgicos

    simulam os processos cientficos. (PCHEUX, 1988, p. 91)

    Sobre a noo de base lingstica, Pcheux escreve o seguinte:

    Ao opor base lingstica e processo discursivo, inicialmente estamos

    pretendendo destacar que [...] todo sistema lingstico, enquanto conjunto

    de estruturas fonolgicas, morfolgicas e sintticas, dotado de uma

    autonomia relativa que o submete a leis internas, as quais constituem,

    precisamente, o objeto da lingstica. (1988, p. 91)

    E, dado como ponto de partida a noo de base lingstica, Pcheux

    desenvolver a noo de processo discursivo. Segundo ele, sobre a base que o

  • 501Linguagem em (Dis)curso, Tubaro, v. 4, n. 2, p. 489-512, jan./jun. 2004

    Anselmo Peres Als

    processo se ergue, como podemos ver nesse trecho: , pois, sobre a base dessas

    leis internas que se desenvolvem os processos discursivos, e no enquanto

    expresso de um puro pensamento, de uma pura atividade cognitiva, etc., que

    utilizaria acidentalmente os sistemas lingsticos (1988, p. 91).

    Assim, o que Pcheux chama de processo discursivo no a fala, no

    sentido de uma manifestao individual (a parole) da lngua:

    [...] diremos que a indiferena da lngua em relao luta de classes

    caracteriza a autonomia relativa ao sistema lingstico e que,

    discursivamente, o fato de que as classes no sejam indiferentes lngua

    se traduz pelo fato de que todo processo discursivo se inscreve numa

    relao ideolgica de classes [...]. (1988, p. 91)

    a partir dessas definies (base lingstica e processo discursivo) que

    Pcheux afirma servir a lngua tanto para comunicar quanto para no-comunicar:

    Pierre Raymond [In: Le passage au matrialisme, Paris: Seuil, 1973] chamou

    recentemente a ateno para o fato de que esse meio ou esse instrumento

    2

    no instrumento tcnico ou cientfico e que essa comunicao no a

    priori identificvel s comunicaes materiais fornecidas por diversos meios

    estudados em outros domnios, o que leva a pensar que a expresso instrumento

    de comunicao deve ser tomada em sentido figurado e no em sentido

    prprio, na medida em que esse instrumento permite, ao mesmo tempo, a

    comunicao e a no-comunicao, isto , autoriza a diviso sob a aparncia

    da unidade, em razo do fato de no se estar tratando, em primeira instncia,

    da comunicao de um sentido. (PCHEUX, 1998, p. 92-3)

    Logo, a lngua constitui a condio de possibilidade do discurso, enquanto

    os processos discursivos constituem a fonte de produo dos efeitos de sentido

    no discurso. A lngua o lugar material em que se realizam os efeitos de sentido.

    A lngua, a partir do trabalho terico de Pcheux e de outros tericos da AD, passa

    a ser vista no apenas como conjunto de convenes formais das quais o sujeito

    se apropria para significar(-se), mas como condio de possibilidade de

    constituio de um discurso. A lngua para a AD concebida como uma

    2 Pcheux, a esse ponto do texto, refere-se definio de lngua de Marx e Engels em AIdeologia Alem: meio de comunicao entre homens.

    UsuarioStamp

  • 502 Linguagem em (Dis)curso, Tubaro, v. 4, n. 2, p. 489-512, jan./jun. 2004

    Em busca de um percurso singular de sentidos: ...

    materialidade ao mesmo tempo lingstica e histrica. Tal concepo de lngua

    resultar em uma radical mudana na maneira de pensar o sujeito enquanto

    instncia produtora de sentido.

    Eni Orlandi trabalha sobre a questo da lngua, deslocando a discusso para

    o campo das materialidades discursivas. Em Ordem e Organizao na Lngua

    (ORLANDI, 1996, p. 45-51), ela trabalha com as distines de ordem e organizao,

    explicitando porque a lngua, tal como vista pela(s) lingstica(s) em geral, no a

    mesma noo que aquela trabalhada no mbito da teoria do discurso.

    Comeando pela ordem, ela afirma que ordem no pertencem as

    unidades abstratas (segmentos) da lngua. Quando um analista se refere ordem

    da lngua, ele est pensando a lngua enquanto funcionamento: sua unidade de

    anlise (o recorte discursivo) no se configura apenas como um fragmento da

    lngua, mas a prpria categoria j sugere, a um recorte representativo de linguagem

    e situao. Esta unidade mnima, construda teoricamente enquanto objeto pelo

    analista, o que permite que este d conta do funcionamento, uma dinmica

    presente na ordem e no na organizao. no mbito da ordem que se fazem

    presentes no apenas a materialidade da lngua, mas tambm a materialidade da

    histria se cruzando no fio do discurso; entretanto, esta j no mais a ordem da

    lngua, mas a ordem do prprio discurso (ORLANDI, 1998, p. 45). A organizao,

    por sua vez, a instncia da lngua onde prevalecem a ordem e as sistematicidades:

    Ultrapassando desse modo a organizao (regra e sistematicidade), podemos

    chegar ordem (funcionamento, falha) da lngua e da histrica (equvoco,

    interpretao), ao mesmo tempo em que no pensamos a unidade em relao

    verdade (organizao) mas como referida posio do sujeito (descentramento)

    (ORLANDI, 1998, p. 47).

    na organizao da lngua que esto presentes as regras e a combinatria,

    mas somente na sua ordem que os sentidos emergem, a partir da interferncia

    da ordem da histria, constituindo a ordem do discurso.

    5 SENTIDO

    Segundo Saussure em seu Curso de Lingstica Geral, o sentido o

    produto de um jogo de diferenas. Entretanto, para identificar as diferenas que

    geram os sentidos preciso considerar alguns sentidos como evidentes, como

  • 503Linguagem em (Dis)curso, Tubaro, v. 4, n. 2, p. 489-512, jan./jun. 2004

    Anselmo Peres Als

    um ponto de partida. Assim, um mesmo signo/enunciado pode ter significados

    distintos. Tal concepo, todavia, resulta em uma retomada da primazia do sujeito

    (o sujeito como fonte do sentido). Austin, por exemplo, ao desenvolver sua teoria

    dos atos de fala, afirma que aquilo que faz de um enunciado um comando, uma

    promessa ou um pedido no o estado de esprito de quem fala no momento da

    enunciao, mas certas regras convencionais, que envolvem aspectos do contexto.

    Austin desenvolve, assim, dois tipos distintos de atos de fala: os constatativos,

    que descrevem um estado de coisas e so passveis de serem verdadeiros ou

    falsos, e os performativos, que no so nem verdadeiros nem falsos, mas realizam

    a ao a que se referem no mesmo ato em que nomeiam tal ao. O enunciado

    bblico faa-se a luz! (e o fato de ele ter realmente produzido luz) pode ser visto

    como o enunciado performativo par excellence.

    Todavia, o efeito performativo (visto por Austin como um constatativo

    imperfeito) pode ser visto como um enunciado elptico em qualquer enunciado.

    Ou seja, todo o enunciado performativo (realiza algo e d nome a esse algo),

    enquanto os constatativos viriam a ser um tipo especfico de ato performativo.

    Enfim, o sentido para Austin termina por se configurar como a realizao feliz ou

    infeliz de um ato performativo, jogando o sentido para a esfera do itervel e

    repetvel a partir de regras convencionadas.

    Culler, ao refletir sobre as teorias de Austin, afirma o seguinte: algo pode

    ser uma seqncia significante se itervel, somente se pode ser repetido em

    vrios contextos [...], citado e parodiado. A imitao no um acidente, mas

    condio de possibilidade [da significao] (1997, p. 138).

    Como fica claro neste trecho, nem Austin nem Culler (ao refletir sobre

    Austin) alcanam o ponto fulcral especulado pela AD, que o da determinao

    dos sentidos. Pcheux leva tambm em considerao a iterabilidade e a

    reversibilidade dos enunciados, chegando mesmo a afirmar que todo o discurso/

    enunciado passvel de se tornar outro (o jogo da determinao dos sentidos

    pelas posies-sujeito e pelas formaes discursivas); mas leva tambm em

    considerao algo completamente esquecido por Austin e Culler: o papel da

    ideologia e do inconsciente na determinao dos sentidos.

    Dado que, para a Anlise do Discurso, o sujeito no apenas est ligado

    constituio dos sentidos, mas ele prprio se constitui enquanto um efeito de

    sentido a partir das relaes que trava com a formao discursiva na qual est

  • 504 Linguagem em (Dis)curso, Tubaro, v. 4, n. 2, p. 489-512, jan./jun. 2004

    Em busca de um percurso singular de sentidos: ...

    inserido, vejamos como lngua, ideologia e histria se articulam para a emerso

    do efeito-sujeito (ou melhor, das diferentes posies-sujeito) para, finalmente,

    compreendermos como se estabelece o sentido tal como visto pela anlise do

    discurso.

    6 DO SENTIDO AO SUJEITO

    Na perspectiva do analista do discurso, o sujeito produz seu discurso a

    partir de posies-sujeito pr-determinadas dentro das formaes discursivas

    (FD), o que termina com as iluses a respeito da possibilidade de um sujeito

    ideal, neutro e autnomo, pois as posies-sujeito, da mesma forma que este

    sujeito (da AD) so socialmente construdas. O sujeito da AD, cortado pela ideologia

    e pelo inconsciente, perde a onipotncia que portava nas reflexes de Benveniste:

    ele agora descentrado (INDURSKY, 1997, p. 27-8). Enquanto Benveniste no

    considera a possibilidade de um sujeito (psicolgico) ocupar um mesmo lugar

    para proferir sua fala/seu enunciado (um enunciado nunca recupervel, dadas

    as condies do contexto situacional), a AD cr que este mesmo lugar pode sim,

    no apenas ser ocupado por um mesmo sujeito mais de uma vez, mas que pode

    servir de locus enunciativo para que vrios indivduos situem sua fala (discurso),

    dadas certas afinidades ideolgicas.

    O sujeito para Pcheux o efeito resultante da relao entre duas instncias

    materiais, a lngua e a histria. Logo, ele no totalmente livre (no tem o

    domnio absoluto de si), tampouco completamente determinado por mecanismos

    exteriores a ele. Tendo em mente as consideraes de Bakhtin, h aqui um ponto

    de convergncia, ainda que o lingista russo trate de um sujeito consciente, o

    que, em ltima anlise, aponta para um sujeito autocentrado com o domnio de si.

    O que chamo de ponto de convergncia entre Bakhtin e Pcheux o fato de

    ambos serem pensadores que partem da recusa de uma concepo subjetivo-

    psicologista do sujeito, ao mesmo tempo em que refutam tambm os excessos

    logicistas da lingstica ao tratarem dessa mesma questo.

    Em Marxismo e Filosofia da Linguagem, Bakhtin critica severamente os

    trabalhos da psicologia no momento em que concebem o sujeito como um mero

    efeito psquico-fisiolgico. Para ele, a constituio do sujeito (ou da conscincia)

    est perpassada pela palavra interior, o que faz com o que o material semiolgico

    (sempre carregado ideologicamente dado seu carter social) tenha um papel

  • 505Linguagem em (Dis)curso, Tubaro, v. 4, n. 2, p. 489-512, jan./jun. 2004

    Anselmo Peres Als

    fundamental na constituio da subjetividade. Bakhtin chama o nascedouro de

    tal concepo de subjetivismo idealista, e dele se distancia. Pcheux, por sua

    vez, ao enunciar os esquecimentos que tornam possvel o sujeito, defendendo

    uma teoria no-subjetiva da subjetividade, aproxima-se do pensamento

    bakhtiniano por conta de sua recusa ao subjetivismo psicologista.

    Quanto aos excessos logicitas, Bakhtin critica concepes como as de

    Saussure de lngua como sistema fechado (imanentistas), mostrando que tais

    concepes fecham os olhos para o papel da ideologia e do social na constituio

    da significao. Nestas teorias, o sujeito , grosso modo, no apenas senhor de si,

    mas tambm um utilitarista, que se apropria da lngua para se comunicar com

    outros indivduos. Bakhtin chama tal corrente de objetivismo abstrato e, ainda

    que tal termo no seja expresso nas reflexes que Pcheux desenvolve sobre o

    sujeito, h aqui uma convergncia: no momento em que Pcheux desenvolve sua

    crtica ao conteudismo praticado nas cincias sociais e menciona a iluso sobre

    a qual elas trabalham (a de que a lngua uma ferramenta transparente, adequada

    descrio dos fatos sociais), Pcheux tambm se distancia desse objetivismo

    abstrato nomeado pelo pensador russo:

    [...] a concepo do processo de metfora como processo scio-histrico

    que serve como fundamento da apresentao (donation) de objetos para

    sujeitos, e no como uma simples forma de falar que viria secundariamente

    a se desenvolver com base em um sentido primeiro, no metafrico, para o

    qual o objeto seria um dado natural, literalmente pr-social e pr-histrico.

    (1988, p. 132-3)

    Em outras palavras, nem o sujeito nem os objetos (entendidos aqui como

    as coisas exteriores ao sujeito) so autnomos em sua existncia. necessrio

    que tanto um quanto o outro sejam significados, e isso s se torna possvel a

    partir do momento em que a lngua (base material) e a histria se cruzem, gerando

    sentidos. Pcheux no v, pois a lngua como algo exterior ao sujeito, do qual ele

    se aproprie para enunciar os sentidos, mas como algo fundamental para a

    constituio no apenas dos sentidos, mas do prprio sujeito. Se Pcheux, apesar

    desses pontos em comum, desenvolve uma concepo singular de sujeito,

    analisemos, pois, qual essa concepo.

    Se tanto o sujeito quanto os sentidos so gerados a partir desse cruzamento,

    o sujeito no autnomo, mas mais um sentido apreendido pelos eixos j

  • 506 Linguagem em (Dis)curso, Tubaro, v. 4, n. 2, p. 489-512, jan./jun. 2004

    Em busca de um percurso singular de sentidos: ...

    mencionados no exato momento em que se cruzam. Da no se falar em sujeito,

    mas em efeito-sujeito, o que permite lembrar uma outra afirmao de Pcheux:

    a de que o sujeito efeito de sentido entre interlocutores.

    Assim, o sujeito no um dado ou uma evidncia, mas o resultado de um

    processo, tal como Althusser j havia afirmado. Refletindo sobre isso, apontando

    para a materialidade da lngua enquanto base e da histria enquanto motor do

    processo de constituio do sujeito, Pcheux traz tona o apagamento do sujeito

    enquanto um efeito no prprio ato de sua formulao, o que possibilita que o

    indivduo, investido da forma-sujeito, acredite ser a fonte primordial dos sentidos

    3

    .

    Assim, ao realizar tal desvelamento, Pcheux abre caminho para que se possa

    derrubar essa premissa transcendentalista do sentido (vinculada a um neo-

    platonismo que acredita num mundo real e num mundo das idias, sendo o

    sentido da ordem desse ltimo, e tendo a lngua um papel de mediao termo a

    termo entre os dois), permitindo que se investigue no apenas a materialidade

    dos sentidos, mas tambm a sua materializao (que se opera no mbito

    discursivo). Pcheux, ao dizer que:

    [...] [] a ideologia que fornece as evidncias pelas quais todo mundo sabe

    o que um soldado, um operrio, um patro, uma fbrica, uma greve, etc.,

    evidncias que fazem com que uma palavra ou um enunciado queiram dizer

    o que realmente dizem e que mascaram, assim, sob a transparncia da

    linguagem, aquilo que chamaremos o carter material do sentido das

    palavras e dos enunciados. (1988, p. 160),

    torna evidente que a prpria ideologia possui uma materialidade especfica que

    (distinta da materialidade lingstica mas que, a partir do momento em que a

    lngua e a histria se cruzam e o sujeito da emerge) torna-se identificvel, no na

    superfcie lingstica, mas na superfcie discursiva. Em outras palavras, o papel da

    3 O apagamento do fato de que o sujeito resulta de um processo, apagamento necessrio nointerior do sujeito como causa de si, tem como conseqncia, a nosso ver, a srie do quese poderia chamar as fantasias metafsicas, que tocam, todas, na questo da causa: porexemplo, a fantasia das duas mos que, tendo, cada uma um lpis, se desenham uma outra sobre a mesma folha de papel e, tambm, a do salto perptuo no qual, de um impulsoprodigioso, se salta pro alto antes de se ter tocado o solo; poderamos continuar. Vamosnos deter, propondo atribuir a esse efeito fantstico pelo qual o indivduo interpelado emsujeito o nome de efeito Mndchhausen, em memria do imortal baro que se elevavanos ares puxando-se pelos prprios cabelos (Pcheux, 1988, p. 17).

    UsuarioStamp

  • 507Linguagem em (Dis)curso, Tubaro, v. 4, n. 2, p. 489-512, jan./jun. 2004

    Anselmo Peres Als

    ideologia o de produzir evidncias de que os sentidos desde-sempre esto l.

    Assim, ela vai naturalizar constructos ideolgicos discursivos como verdades

    absolutas e socialmente legitimadas. E justamente essa materialidade que nos

    permitir identificar as afiliaes do sujeito do discurso, permitindo assim a

    identificao das posies-sujeito ocupadas em um determinada formao

    discursiva:

    [...] o sentido de uma palavra, de uma expresso, de uma proposio, etc.,

    no existe em si mesmo (isto , em sua relao transparente com a

    literariedade do significante), mas, ao contrrio, determinado pelas posies

    ideolgicas que esto em jogo no processo scio-histrico no qual as palavras,

    expresses, e proposies so produzidas (isto , reproduzidas). [...]

    Chamaremos, ento, formao discursiva aquilo que, numa formao

    ideolgica dada, isto , a partir de uma posio dada numa conjuntura dada,

    determinada pelo estado da luta de classes, determina o que pode e o que

    deve ser dito. (1988, p. 160)

    Pcheux no apenas sintetiza sua concepo de sujeito (uma posio

    ideolgica a partir da qual o indivduo pode atribuir determinados sentidos), mas

    tambm mostra qual a noo de formao discursiva sobre a qual trabalha (que

    no a mesma noo foucaultiana, ainda que Pcheux dela parta para

    reconfigurar a noo de formao discursiva dentro do dispositivo terico da

    anlise do discurso): uma teia produzida por diferentes posies-sujeito

    aparentadas por sua localizao ideolgica que se configura enquanto um

    universo lgico mais ou menos estabilizado (outra expresso cara a Pcheux),

    e que tem como funo determinar o que pode e o que deve ser dito:

    Isso equivale a afirmar que as palavras, expresses, proposies, etc., recebem

    seu sentido da formao discursiva na qual so produzidas: retomando os

    termos que introduzimos acima e aplicando-os ao ponto especfico da

    materialidade do discurso e do sentido, diremos que os indivduos so

    interpelados em sujeitos-falantes (em sujeitos de seu discurso) pelas

    formaes discursivas que representam na linguagem as formaes

    ideolgicas que lhe so correspondentes. (1988:160-1)

    Pcheux nos mostra um sujeito duplamente determinado ao qual no

    mais possvel atribuir nem intenes, nem estratgias. De acordo com Indursky,

    [p]or todos esses traos que demarcam esse sujeito, a Anlise do Discurso

  • 508 Linguagem em (Dis)curso, Tubaro, v. 4, n. 2, p. 489-512, jan./jun. 2004

    Em busca de um percurso singular de sentidos: ...

    centra seu interesse nas diferentes formas de representao do sujeito (2000,

    p. 71). A partir da noo de formao discursiva e de forma-sujeito

    4

    , Pcheux

    desenvolve suas reflexes sobre o desdobramento do mesmo. Nessas reflexes,

    as posies-sujeito possveis so vistas em sua relao com a formao discursiva

    dominante (que determina a forma-sujeito), apontando para a determinao do

    sujeito a partir de uma instncia ideolgica que tem sua materialidade disseminada

    na formao discursiva e materializada no discurso, mostrando assim o seu

    funcionamento na constituio do sujeito: nesse reconhecimento que o sujeito

    se esquece das determinaes que o colocaram no lugar que ele ocupa -

    entendamos que, sendo sempre-j sujeito, ele sempre-j se esqueceu das

    determinaes que o constituem como tal (1988, p. 170).

    Enfim, pode-se dizer que sujeito e sentido constituem-se simultaneamente

    atravs da interpelao. E atravs do modo pelo qual a posio-sujeito relaciona-

    se com a forma-sujeito que temos o desdobramento do sujeito do discurso (esta

    questo de crucial importncia para se entender o funcionamento da matriz

    heterossexual na cultura ocidental, como ser visto mais adiante). Pcheux mostra

    que existem trs formas pela qual essa relao pode se dar: a de identificao, a

    de contra-identificao e, finalmente, a de desidentifiao.

    Na primeira dessas possibilidades, a de identificao, o que temos um

    sujeito do discurso que pode ser caracterizado como um bom-sujeito, ou seja,

    uma posio-sujeito coincidente com a forma-sujeito que regula os sentidos

    dominantes de uma formao discursiva:

    A primeira modalidade consiste numa superposio (um recobrimento)

    entre o sujeito da enunciao e o sujeito universal, de modo que a tomada

    de posio do sujeito realiza seu assujeitamento sob a forma do livremente

    consentido: essa superposio caracteriza o discurso do bom sujeito que

    reflete espontaneamente o Sujeito (em outros termos: o interdiscurso

    determina a formao discursiva com a qual o sujeito, em seu discurso, se

    identifica, sendo que o sujeito sofre cegamente essa determinao, isto , ele

    realiza seus efeitos em plena liberdade). (PCHEUX, 1988, p. 215)

    4 a forma pela qual o sujeito do discurso se identifica com a formao discursiva que oconstitui. Esta identificao baseia-se no fato de que os elementos do interdiscurso, aoserem retomados pelo sujeito do discurso, acabam por determin-lo. Tambm chamado desujeito do saber, sujeito universal ou sujeito histrico de uma determinada formao discursiva,a forma-sujeito responsvel pela iluso de unidade do sujeito (FERREIRA, 2001, p. 15).

    UsuarioStamp

    UsuarioStamp

  • 509Linguagem em (Dis)curso, Tubaro, v. 4, n. 2, p. 489-512, jan./jun. 2004

    Anselmo Peres Als

    Na segunda delas, a da contra-identificao, o que temos um trabalho do

    sujeito do discurso sobre a forma-sujeito, resultando na tomada de posies

    no-coincidentes, divergentes, discordantes (INDURSKY, 2000, p. 74). Ou seja,

    no mais possvel pensar o sujeito enquanto uma noo autocentrada e

    monoltica; devemos ter em mente os seus desdobramentos:

    A segunda modalidade caracteriza o discurso do mau sujeito, discurso no

    qual o sujeito da enunciao se volta contra o sujeito universal por meio de

    uma tomada de posio que consiste, desta vez, em uma separao

    (distanciamento, dvida, questionamento, contestao, revolta...) com

    respeito ao que o sujeito universal lhe d a pensar: luta contra a evidncia

    ideolgica, sobre o terreno dessa evidncia, evidncia afetada pela negao,

    revertida a seu prprio terreno. Essa reverso apresenta traos lingsticos

    [...] Em suma, o sujeito, mau sujeito, mau esprito, se contra-identifica

    com a formao discursiva que lhe imposta pelo interdiscurso como

    determinao exterior de sua interioridade subjetiva, o que produz as formas

    filosficas e polticas do discurso-contra (isto , contradiscurso), que constitui

    o ponto central do humanismo (antinatureza, contranatureza, etc.) sob suas

    diversas formas tericas e polticas, reformistas e esquerdistas. (1988, p.

    215-6)

    Tal formulao realiza um salto dentro das prprias concepes tericas

    da Anlise do Discurso, pois permite a instaurao da diferena dentro de uma

    formao discursiva a partir do desdobramento do sujeito, ou a contra-

    identificao.

    A desidentificao, por fim, vem dar conta daquilo que sucede quando o

    trabalho na e sobre a forma-sujeito (realizado pelo sujeito do discurso) conduz

    a uma ruptura to grande em relao ao conjunto dos saberes da formao

    discursiva que a posio-sujeito da resultante no mais est contida nesta. Se

    uma formao discursiva aquilo que, numa formao ideolgica dada, isto ,

    a partir de uma posio dada numa conjuntura dada, determinada pelo estado da

    luta de classes, determina o que pode e o que deve ser dito (PCHEUX, 1988, p.

    160), a posio-sujeito produzida pelo processo de desidentificao faz com que

    o sujeito do discurso migre para uma outra formao discursiva, na qual o sujeito

    do discurso vai identificar-se com a forma-sujeito a ela correspondente.

    Cabe mencionar que essa aparente liberdade da qual o sujeito do discurso

    dispe em nenhum momento derruba a dupla determinao do sujeito, de ordem

    ideolgica e inconsciente. No h aqui espao para um processo de

  • 510 Linguagem em (Dis)curso, Tubaro, v. 4, n. 2, p. 489-512, jan./jun. 2004

    Em busca de um percurso singular de sentidos: ...

    dessubjetivizao libertador do sujeito do discurso, mas sim o deslizamento de

    um terreno para outro, o que permite a instaurao de novos sentidos, verdade,

    mas que nem por isso deixam de estar regulados por saberes ideologicamente

    determinados. Sobre isso Indursky diz: [...] no se trata de uma simples e pura

    dessubjetivizao, a partir da qual o sujeito se torna livre. O que ocorre o

    deslizamento de uma forma de subjetivizao para outra, a identificao com

    uma outra forma-sujeito e seu domnio de saber (2000, p. 74).

    O deslocamento dos sentidos do/no interdiscurso (o j-dito, a memria

    discursiva, ou ainda, tal como Orlandi reitera em vrios de seus trabalhos a

    memria do dizer) que produz os efeitos de sentido, recuperveis na superfcie

    discursiva a partir das posies-sujeito

    5

    , esses sendo os responsveis pela

    cristalizao dos sentidos. Ao mesmo tempo em que o sentido delimitado e

    determinado pelo reitervel (interdiscurso), pode subverter a ordem dos sentidos

    j estabelecidos a partir dos deslocamentos (resultantes do trabalho do sujeito do

    discurso sobre a forma-sujeito). Assim, pode-se pensar o sujeito como instncia

    subordinadora e subordinada, como errncia, enfim. Entretanto, os deslocamentos

    no obedecem diretamente vontade do sujeito, pois, grosseiramente falando,

    pode-se afirmar que o sujeito caminha livremente sobre as paragens

    interdiscursivas, produzindo trilhas no interdiscurso, gerando efeitos de sentido.

    Todavia, esse sujeito caminha vendado, e os fios da trama de sua venda so os fios

    da ideologia e do inconsciente, fios que mais do que obscurecer a viso do

    sujeito determinam seus percursos.

    REFERNCIAS

    ALTHUSSER, L. Ideologia e aparelhos ideolgicos do estado. Trad. J. J. Moura

    Ramos. Lisboa: Presena/ Martins Fontes, 1974.

    ______. Posies-1. Rio de Janeiro: Graal, 1978.

    AUSTIN, J. L. How to do things with words. Cambridge: Harvard University Press, 1975.

    BAKHTIN, M. Marxismo e filosofia da linguagem. 8. ed. So Paulo: Huicitec, 1997.

    ______. Esttica da criao verbal. So Paulo: Martins Fontes, 1992.

    5 Determinadas por relaes de identificao, contra-identificao ou desidentificao dosujeito do discurso com a forma-sujeito estabelecida na conjuntura da formao discursivadominante (PCHEUX, 1988, p. 159-239).

  • 511Linguagem em (Dis)curso, Tubaro, v. 4, n. 2, p. 489-512, jan./jun. 2004

    Anselmo Peres Als

    BRANDO, H. N. Introduo anlise do discurso. 7. ed. Campinas: Editora da

    UNICAMP, [s.d.].

    CULLER, J. Sobre a desconstruo: teoria e crtica do ps-estruturalismo. Trad. Patrcia

    Burrowes. So Paulo: Rosa dos Tempos: 1997.

    FERREIRA, M. C. L. (Coord.). Glossrio de termos do discurso. Porto Alegre: Instituto

    de Letras da UFRGS, 2001.

    INDURSKY, F. A fala dos quartis e as outras vozes. Campinas: UNICAMP, 1997. p. 9-

    50.

    ORLANDI, E. P. Interpretao: Autoria, Leitura e Efeitos do Trabalho Simblico.

    Petrpolis: Vozes, 1996.

    ______. Anlise de discurso: Princpios e Procedimentos. 2. ed. Campinas: Pontes,

    2000.

    PCHEUX, M. Semntica e discurso: Uma Crtica Afirmao do bvio. Trad. Eni P.

    Orlandi et all. Campinas: Editora da UNICAMP, 1998. (Coleo Repertrios).

    RICOEUR, Paul. Interpretao e ideologias. Trad. H. Japiassu. Rio de Janeiro:

    Francisco Alves, 1977.

    SAUSSURE, F. Curso de lingstica geral. So Paulo: Cultrix; Editora da USP, 1974.

    Recebido em 22/04/03. Aprovado em 20/09/03.

    Title: In search for a singular course of meanings: five basic notions of the theoretical device of

    Discourse Analysis

    Author: Anselmo Peres Als

    Abstract: The present work is a reflection on five significant categories in the theoretical device

    for Discourse Analysis (language, history, ideology, meaning, subject). The chaining up of such

    conceptual categories in a singular course of meanings is absolutely necessary so to make possible

    any kind of analysis within the epistemological frame of Discourse Analysis of the French School.

    Keywords: theory; methodology; discourse analysis.

    Ttre: la recherche dun parcours singulier de sens: cinq notions de base du dispositif thorique

    de lAnalyse du Discours

    Auteur: Anselmo Peres Als

    Rsum: Lintention de ce travail concerne la ralisation dune rflexion sur cinq catgories

    conceptuelles dune importance capitale dans le dispositif thorique de lAnalyse du Discours

    (langue, histoire, idologie, sens, sujet). Lenchanement de ces catgories conceptuelles dans un

  • 512 Linguagem em (Dis)curso, Tubaro, v. 4, n. 2, p. 489-512, jan./jun. 2004

    Em busca de um percurso singular de sentidos: ...

    parcours singulier de sens est absolument ncessaire pour quon puisse dvelopper nimporte quel

    type danalyse dans le cadre pistmologique de lAnalyse du Discours de lcole franaise.

    Mots-cls: thorie; mthodologie; analyse du discours.

    Ttulo: En busqueda de un percurso singular de sentidos: cinco nociones bsicas del dispositivo

    terico en el Anlise del Discurso

    Autor: Anselmo Peres Als

    Resumen: La intencin de este trabajo es la realizacin de una reflexin sobre cinco categoras

    de suma importancia dentro del dispositivo terico del Anlise del Discurso ( lengua, historia,

    ideologa, sentido sujeto). El encandeamiento de estas categoras conceptuales en un percurso

    singular de sentidos es absolutamente necesario para que se pueda desarrollar cualquier tipo de

    anlise dentro del cuadro epistemolgico del Anlise del Discurso de la escuela francesa.

    Palabras-clave: teora; metodologa; anlise del discurso.