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Page 1: Como todos os judeus, Paulo, o fariseu, vivia num mundo em que presente e futuro eram claramente distintos. O presente era o domínio da Lei de Moisés
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Como todos os judeus, Paulo, o fariseu, vivia num mundo em que presente e futuro eram claramente distintos. O presente era o domínio da Lei de Moisés. Era a fase da história da salvação caracterizada pela meticulosa obediência aos mandamentos da Lei. Não havia lugar para o Messias.

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O Messias era personagem dos tempos futuros. Ele simplesmente chegaria um dia à sua comunidade de salvação, como estava determinado e garantido pela Lei, e inauguraria uma nova era em que a Lei não seria mais necessária.

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Os cristãos, insistindo que Jesus era o Messias, não entendiam completamente o que estavam fazendo da tradição judaica. Diziam que as duas fases da história da salvação, que deveriam ser sucessivas, estavam coexistindo. O Messias tinha chegado, mas no tempo que era o da Lei. Por isso achavam que podiam aceitar Jesus e ainda continuar a obedecer à Lei.

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Para Paulo, pelo contrário, isso era radicalmente subversivo. Ao insistir que a fé em Jesus era necessária para a salvação, os cristãos de fato estavam dizendo que a Lei não garantia a salvação. Ao aceitarem os “pecadores” que a Lei repelia, afirmavam que as decisões da Lei estavam superadas.

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Somente Paulo teve a perspicácia de ver como a coexistência da Lei e do Messias tornava-os rivais fatais.

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Os judeus não precisavam de dois salvadores. Ou eram salvos pela Lei ou pelo Messias. Quem optasse por Jesus como Messias, na verdade rejeitava a Lei. Do mesmo modo, quem confiasse na Lei rejeitava identificar Jesus com o Messias.

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Não há duvida de qual lado Paulo ficou: totalmente do lado da Lei. Para ele não tinha havido relação alguma, nem publica nem privada, de que a Lei tivesse sido ab-rogada.

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Além disso, as obras de Jesus nem remotamente pareciam com as que os fariseus esperavam do Messias, as reveladas nos Salmos de Salomão, obra farisaica do século I a.C.

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Os Salmos 17 e 18, dos Salmos de Salomão, previam o advento de um rei, que seria filho de Davi, o Senhor Ungido, ou o Ungido do Senhor. Ele libertaria a nação de seus inimigos e restauraria Jerusalém, fazendo-a santa como no passado. Sua arma seria sua palavra.

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Como rei justo, instruído por Deus e puro de todo pecado, seria juiz e pastor. Destruindo os pecadores e expulsando os gentios, reuniria o povo santo, no qual a injustiça não teria lugar. A comunidade messiânica seria sem pecado.

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Comparado com esse modelo, Jesus não poderia ser o Messias. Seus seguidores, portanto, estavam errados e deviam ser corrigidos. Paulo assumiu para si essa tarefa como prova de seu zelo pela Lei (Fl 3,6). Era o modo de separar-se de quem não tinha percebido o desafio que os cristãos representavam contra a Lei.

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O que Paulo passou a fazer mostra, em contraste com outros, como assumiu com seriedade suas responsabilidades de fariseu. Até a que ponto isso foi uma válvula de escape para a raiva contida em Paulo pela perda de sua esposa e filhos é apenas objeto de conjetura.

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Nada em suas cartas indica que Paulo tenha recebido algum mandato oficial contra os cristãos. Foi uma escolha pessoal. Satisfazia apenas a si mesmo. Portanto, ao contrário do que Lucas diz, não podia fazer detenções, torturas ou prender quaisquer cristãos para forçá-los a reconhecer que tinham sido enganados.

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Tudo o que tinha de fazer era caçá-los e persegui-los e, afinal, tornar miseráveis suas vidas. A intensa e implacável vontade de destruí-los (Gl 1,13), não deixaria que os cristãos ficassem sossegados nem seguros. Cada vez que fossem a uma sinagoga estariam expostos aos terríveis desafios de Paulo.

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Ele poderia provocá-los, por exemplo, a fazerem uma oração judaica tradicional que negasse que o Messias já tivesse chegado. Se recusassem, ele podia vituperá-los como falsos judeus. Mesmo sem usar da força, a pressão que faria sobre os cristãos seria enorme.

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Outro aspecto da atitude “ou eles ou nós” de Paulo, em relação aos cristãos, ainda teria importantes conseqüências. Exteriormente queria dizer: “estamos certos, eles errados”, mas a base dessa posição era a recusa de dois possíveis salvadores.

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Um só era necessário, ou a Lei ou Jesus. Portanto, no dia em que se convencesse de que Jesus era de fato o Messias, estaria mentalmente preparado para abandonar a Lei, imediata e completamente.

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Se Jesus era o Messias, tinha terminado o tempo da Lei. O que a Lei exigia para que os homens conseguissem a salvação não vigorava mais. Portanto os gentios, que também esperavam pela salvação, não eram em nada diferentes dos judeus. Para ser salvo não importava mais o seguimento da Lei, mas a aceitação de Jesus.

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O Messias não era Messias somente para judeus. Era o Senhor de todo o mundo. Sua aceitação de Jesus em nada dependeu da Lei. Logo, do mesmo modo, a Graça seria dada aos pagãos que a Lei punha do lado de fora.

MURPHY-O'CONNOR, Jerome. Paulo de Tarso - História de um apóstolo. São Paulo, SP: Paulus, Loyola, 2004.