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UNESP ! UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA Faculdade de Ciências e Letras ! Araraquara - Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários

PROGRAMAÇÃO E CADERNO DE RESUMOS

XVIII Seminário de Pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários da UNESP/Araraquara

24 a 27 de outubro de 2017

Déborah Garson Cabral Leonardo Vicente Vivaldo

Brunno V. G. Vieira (Orgs.)

ISBN online: 978-85-8359-046-0 XVIII Seminário Araraquara p. 1-88 2017

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XVIII SEMINÁRIO DE PESQUISA DO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS LITERÁRIOS

Realização Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários

Comissão Organizadora

Brunno Vinicius Gonçalves Vieira João Batista Toledo

Aparecido Donizete Rossi Fernando Brandão dos Santos

Juliana Santini Luiz Gonzaga Marchezan

Déborah Garson Cabral (discente) Leonardo Vicente Vivaldo (discente)

Comitê Científico Alvaro Luiz Hattnher (IBILCE/UNESP)

Ana Cláudia Romano Ribeiro (UNIFESP) Benedito Antunes (FCLAS/UNESP)

Cleide Rapucci (FCLAS/UNESP) Gisele Frighetto (UFSCAR)

Júlio Cezar Bastoni da Silva (UFSCAR) Pablo Simpson Kilzer Amorim (IBILCE/UNESP)

Susanna Busato (IBILCE/UNESP) Jacyntho Lins Brandão (UFMG)

Leonardo Tonus (Université Paris-Sorbonne, França) Luiz Gonzaga Marchezan (FCL-UNESP)

Maria Cecília Colombani (Un. de Morón, Argentina) Maria de Fátima Sousa e Silva (Un. de Coimbra, Portugal)

Mariângela Alonso (UENP/PR) Roberto Acízelo de Souza (UERJ)

Tereza Virgínia Ribeiro Barbosa (UFMG)

Comissão de Trabalho Brunno Vinicius Gonçalves Vieira Déborah Garson Cabral (discente)

Leonardo Vicente Vivaldo (discente)

Seminário de Pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários (18. : 2017 : Araraquara, SP)

Programação e caderno de resumos da XVIII Seminário de Pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários / XVIII Seminário de Pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários; Araraquara, 2017 (Brasil). ! Documento eletrônico. - Araraquara : FCL-UNESP, 2017. ! Modo de acesso: <http://fclar.unesp.br/#!/pos-graduacao/stricto-sensu/estudos-literarios/publicacoes/>.

ISBN online: 978-85-8359-046-0

Literatura. 2. Literatura -- Estudo e ensino. 3. Poesia brasileira. I. Título.

Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca da FCLAr ! UNESP.

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Prezados participantes,

Damos as boas-vindas a todos que atenderam às chamadas do evento, mas também aos conferencistas e debatedores de projetos que aceitaram nosso convite para participar deste XVIII Seminário de Pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários. Como tem ocorrido desde 2015, este ano é aquele intervalar, cujo seminário não se erige sobre um tema comum relacionado a uma linha de pesquisa específica, mas abre espaço para divulgação e debate de trabalhos em desenvolvimento no programa e, para tanto focaliza a interlocução que nos privilegia com renomados pesquisadores de universidades estrangeiras e brasileiras.

No último quadriênio 2013-2016, nosso programa recebeu uma excelente avaliação da CAPES, passando ao quesito 6, patamar buscado árdua e incessantemente por docentes e discentes do programa há quase duas décadas. O trabalho conjunto de todos os alunos e professores, portanto, é merecedor de reconhecimento e a realização deste evento também propicia uma ocasião para comemorarmos essa conquista e fortalecermos ainda mais os projetos e as linhas de pesquisa do programa.

Como uma forma de valorizar o trabalho de todos os envolvidos, creio que vale a pena transcrever o parecer final da Comissão de Avaliação da CAPES sobre o trabalho do último quadriênio:

"O Programa de Estudos Literários da UNESP/Araraquara demonstrou, no quadriênio, consistência estrutural e desempenho que excede os parâmetros exigidos pela Área para um programa nota 6. Sua proposta é coerente e adequada, o corpo docente é altamente qualificado e reconhecido na área, caracterizando-se pela ampla circulação nacional e internacional. Do total dos professores permanentes, 97% estiveram diretamente envolvidos em atividades de docência, pesquisa e orientação. Mais de 50% do corpo docente tem pós-doutorado e 02 docentes possuem bolsa de produtividade em pesquisa/CNPq. Os índices de produção intelectual dos docentes permanentes extrapolam os sugeridos pela Área. Com uma mediana acima do que é definido pela Área para um Programa nota 5, sua produção é qualificada (mais de 53% da publicação de artigos de docentes permanentes concentra-se no estrato superior, A1-B2) e bem distribuída, circulando regional, nacional e, também, internacionalmente ! o que confirma a sua liderança na Área. O mesmo ocorre com a média de produção discente, que é de 1,76 (muito acima do índice de 0,8 estabelecido como muito bom para a área). O tempo médio de integralização do mestrado é de 25,6 e o do doutorado é de 50 meses. A infraestrutura é adequada para um bom desenvolvimento das atividades de ensino, pesquisa e gestão. O PPG estabelece uma relação direta com a educação básica, concretizada através de iniciativas e projetos que atuam de maneira efetiva e concreta na escola. A nucleação regional e nacional é diferenciada, pautando-se pela

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formação de mestres (84) e doutores (49) no quadriênio, além de 22 doutorados-sanduíche realizados fora do Brasil com bolsa PDSE da CAPES e de outras agências. Há convênios nacionais e internacionais ativos, com reciprocidade, envolvendo docentes e discentes. A visibilidade, a importância e o reconhecimento do Programa na Área são concretizados, principalmente, por meio da significativa quantidade e qualidade de suas publicações. Pelas razões aqui sintetizadas, recomenda-se a ascensão do Programa de Pós-graduação em Estudos Literários da UNESP/Araraquara para a nota 6."

Destacando a qualidade da produção do corpo discente e docente, a expressiva formação de mestres e doutores e os inúmeros intercâmbios internacionais e nacionais que levaram nossas pesquisas mundo afora, esse parecer nos dá a sensação de dever cumprido dado o investimento igualmente expressivo que recebemos de agências financiadoras como CAPES, CNPq e FAPESP, bem como da Pró-Reitoria de Pós-Graduação da UNESP, instituições a quem agradecemos o apoio financeiro e que esperamos não sejam sucateadas neste momento de crise institucional, moral e financeira vivenciado e enfrentado cotidianamente por todos nós.

Diante desse parecer, agradecemos igualmente a todos os docentes em nome da nossa ex-coordenadora Profa. Dra. Juliana Santini que esteve na coordenação do programa entre os anos de 2013 e 2016, e ao corpo discente em nome do Prof. Dr. Marco Aurélio Rodrigues, doutorado nesse quadriênio em regime de co-tutela com a Universidade de Coimbra e que colaborou com o preenchimento da Plataforma Sucupira ao fim de 2015 e 2016. No caso específico da organização deste evento, não poderíamos deixar de agradecer também a acolhida receptiva do Prof. Dr. Fernando Brandão dos Santos e de toda a comissão organizadora da XVIII Semana de Estudos Clássicos que se dispuseram a compartilhar alguns momentos de sua programação com nosso XVIII Seminário e o apoio da PROPG/UNESP.

Celebremos o nosso passado recente e estejamos empenhados em nos desenvolver ainda mais neste quadriênio que neste ano se inicia, são estes os votos de felicitações e de esperança com os quais abrimos este evento.

Brunno V. G. Vieira

p/ Comissão Organizadora do XVIII Seminário

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Q U A D R O D E A T I V I D A D E S Dias/ Horas

24/10 25/10 26/10 27/10

10h às 12h

Conferência de Abertura: Humanidades, educação, literatura Prof. Dr. Roberto Acízelo de Souza Mediação: Prof. Dr. Luís Gonzaga Marchezan

Conferências: A Sacralidade délfica: um cenário simbólico na tragédia grega - Profa. Dra. Maria de Fátima Sousa e Silva Faculdade de Letras Universidade de Coimbra, Portugal (Atividade conjunta XXVIII SEC) Todo sobre mi padre. La función paterna en la Teogonía hesiódica Profa. Dra. María Cecilia Colombani Facultad de Letras, Universidad de Morón Universidad Nacional de Mar del Plata UBACyT (Atividade conjunta XXVIII SEC) Mediação: Prof. Dr. Fernando Brandão dos Santos

Planejamento e metas para o PPGEL (quadriênio 2017-2021) Apresentação: Profa. Dra. Juliana Santini Prof. Dr. Brunno V. G. Vieira Prof. Dr. João Batista Toledo Prado

Conferência: Experiências da exogenia nas políticas culturais e no romance brasileiro contemporâneo Prof. Dr. Leonardo Tonus (Université Paris-Sorbonne) Mediação: Prof. Dr. Adalberto Luís Vicente

12h às 14h30

Almoço

Almoço

Almoço

Almoço

14h30 às 16h30

Sessões de Comunicação

SC1, SC2, SC3, SC4

Sessões de Comunicação

SC5, SC6, SC7 SC8

Sessões de Comunicação

SC9, SC10, SC11, SC12

Sessões de comunicação

SC13, SC14, SC15

16h30 às 17h

Coffee Break

Coffee Break

Coffee Break

Coffee Break

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17h às 18h30

Sessões de Debate de projetos SD1, SD2

Sessões de Debate de projetos SD3, SD4

Mini-curso: ! Ética, Política y Justicia en

Hesíodo. Una Lectura

Antropológica de Trabajos y Días" Profa. Dra. María Cecilia Colombani (Atividade conjunta

XXVIII SEC)

Sessões de Debate de projetos

SD5, SD6, SD7

Mini-curso: ! Ética, Política y Justicia en

Hesíodo. Una Lectura

Antropológica de Trabajos y Días" Profa. Dra. María Cecilia Colombani (Atividade conjunta

XXVIII SEC)

Sessões de Debate de projetos

SD8, SD9, SD10

Mini-curso: ! Ética, Política y Justicia en

Hesíodo. Una Lectura

Antropológica de Trabajos y Días" Profa. Dra. María Cecilia Colombani (Atividade conjunta

XXVIII SEC) 18h30 às 20h

Intervalo

Intervalo

Intervalo

Intervalo

20h 21h Atividade Cultural: Nuvens de Aristófanes - Giz-en-Scène (Atividade conjunta XXVIII SEC)

Conferência de Encerramento: ! A morte e os mortos: Homero e a zona de convergência cultural do Oriente Médio" Prof. Dr. Jacyntho Lins Brandão (FALE-UFMG) Mediação: Prof. Dr. Fernando Brandão dos Santos

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PROGRAMAÇÃO GERAL 24/10/2017 ! TERÇA-FEIRA das 10h às 12h

Anfiteatro A

SESSÃO DE ABERTURA Coordenação: Brunno Vinicius Gonçalves Vieira João Batista Toledo Prado Juliana Santini CONFERÊNCIA DE ABERTURA Humanidades, educação, literatura Conferência de Abertura: Prof. Dr. Roberto Acízelo de Souza Mediação: Prof. Dr. Luís Gonzaga Marchezan

24/10/2017 ! TERÇA-FEIRA das 14h30 às 16h30

SESSÕES DE COMUNICAÇÃO

SC1. LITERATURA E FEMININO Anf. D Coordenador: Vanessa Aparecida Ventura Rodrigues 1.Pós-Colonialismo e Identidade em Niketche: uma história de poligamia, de Paulina Chiziane Jéssica Fabrícia da Silva 2. Reflexões sobre a memória em Mujeres que caminhan sobre hielo Marcelo Maciel Cerigioli 3. Leituras do feminino e do patriarcado em Marguerite Duras e Lygia Fagundes Telles Vanessa Aparecida Ventura Rodrigues 4. A montanha de cristal: do poder à ruína, e uma persinagem feminina que esvanece Therezinha Maria Hernandes SC2. POESIA E EXPRESSÃO Anf. E Coordenador: Taís Matheus da Silva 1.Poesia concreta e espacialista: variantes e invariantes no contexto experimental Thiago Buoro 2. Eu bem vin estar o moucho: uma tradução do sistema galego de crenças Taís Matheus da Silva 3. Poesia e figuratividade: o IV canto das Geórgicas de Virgilio Thalita Morato Ferreira

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SC3. CARTAS, CRÔNICAS E TESTEMUNHO Sala 33 Coordenador: Luis Eduardo Veloso Garcia 1.A expansão de campo literário e o ensaísmo ficcional de Modesto Carone Efraim Oscar Silva 2. Por uma poética das cartas: a literariedade na correspondência de Caio Fernando Abreu André Luiz Alselmi 3. A crônica contemporânea brasileira e seus novos espaços Luis Eduardo Veloso Garcia SC4. DESLOCAMENTOS DA LITERATURA FRANCESA Sala 35 Coordenador: Natália Pedroni Carminatti 1.Poesia dramática de Villiers de L! Isle-Adam: a mimesis aristotélica em crise Lígia Maria Pereira de Pádua Xavier 2. Um estado de alma: o sentimento de " Vague des passions# em Chateaubriand Natália Pedroni Carminatti 3. Jean D! Ormession e o mito do Judeu errante Taciana Martiniano de Oliveira 24/10/2017 ! TERÇA-FEIRA das 17h às 18h30

SESSÕES DE DEBATES

SD1. INTERFACES DA LITERATURA Anf. D Debatedor: Prof. Dr. Benedito Antunes Mediador: Profa. Dra. Sylvia Helena Telarolli de Almeida Leite 1. Diálogos inespecíficos: Literatura brasileira contemporânea e fotografias Renan Augusto Ferreira Bolognin (D) 2. Alegoria e carnavalização do corpo em O Santeiro do mangue, de Oswald de Andrade Sirlene Sales Maciel (M) 3. O texto literário na sala de aula: estudo e prática de leitura do texto literário Ana Carolina Miguel Costa (M) SD2. LITERATURA E TEXTOS SAGRADOS Anf. E Debatedor: Prof. Dr. Pablo Simpson Kilzer Amorim Mediador: Profa. Dra. Maria Lúcia Outeiro Fernandes 1. O tratamento da espiritualidade x religiosidade nos romances sociais e intimistas dos anos 30 Elisa Domingues Coelho (D) 2. O humor judaico como ferramenta de desconstrução do sagradoCanônico: as releituras bíblicas na obra romanesca de Moacyr Scliar Rafaella Berto Pucca (M) 3. O narrador e o tempo em José Saramago: uma leitura da obra Caim Guilherme Pina (D)

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25/10/2017 ! QUARTA-FEIRA das 10h às 12h

CONFERÊNCIAS Anf. A

- A sacralidade délfica: um cenário simbólico na tragédia grega

Profa. Dra. Maria de Fátima Sousa e Silva (Universidade de Coimbra)

- Todo sobre mi padre. La función paterna en la Teogonía hesiódica

Profa. Dra. María Cecilia Colombani (Universidad de Morón)

Mediação: Prof. Dr. Fernando Brandão dos Santos

25/10/2017 ! QUARTA-FEIRA das 14h30 às 16h30

SESSÕES DE COMUNICAÇÃO

SC5. PROSA - CONSTRUÇÕES Anf. D Coordenador: Naiara Alberti Moreno 1. O percurso de formação do protagonista de Longe da Água, de Michel Laub Naiara Alberti Moreno 2. A descrição na narrativa poética de Antonio Lobo Antunes Carlos Henrique Fonseca 3. Espaço e subjetividade no romance Aos 7 e aos 40, de João Anzanello Carrasoza Ednéia Minante Vieira 4. Rubem Fonseca e o desenvolvimento do romance policial no Brasil Murilo Eduardo dos Reis SC6. CONHECIMENTO, CRENÇAS E SAGRADO Anf. E Coordenador: Carina Zanelato Silva 1. O paradoxo do conhecimento em Heinrich Von Kleist Carina Zanelato Silva 2. Maria Luiza: o deslocamento do discurso da moral religiosa no percurso narrativo Elisa Domingues Coelho 3. Escrituras nem tão sagradas assim: efeitos de sentido gerados pelas apropriações de temas e figuras bíblicas no conto As pragas, de Moacyr Scliar Rafaella Berto Pucca SC7. POESIA E TRADIÇÃO Sala 33 Coordenador: Prof. Dr. Sérgio Mauro 1. Um estudo do verso ! alexandrino " João Francisco Pereira Nunes Junqueira 2. ! Pardalzinho " : uma revisita à tradição Larisa Fernanda Steinle

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3. A visão da ciência na poesia de Giovanni Pascoli Sérgio Mauro 4. ! Encaro o tempo e digo: venha, cara" : o clássico e o contemporâneo na poesia de Geraldo Carneiro Leonardo Vicente Vivaldo SC8. LITERATURA: DIÁLOGOS Sala 32 Coordenador: Evelyn Caroline de Mello 1. Aflições modernas e contemporâneas em Mrs. Dalloway e Saturday Isaías Eliseu da Silva 2. Literatura e ditadura: entre a casa e a rua. Ecos de resistência nas obras de Ana Maria Machado e Heloneida Studart Evelyn Caroline de Mello 3. Literatura Fantástica no Brasil Lígia C. F. S. Massoli 4. Do cinema para a literatura: a hibridização midiática através do liálogo entre o cinema e o romance Das nackte auge, de Yoko Tawada. Thaís Porto

25/10/2013 ! QUARTA-FEIRA das 17h às 18h30

SESSÕES DE DEBATES DE PROJETOS

SD3. INTERFACES DA LITERATURA II Anf. D Debatedora: Profa. Dra. Gisele Frighetto (UFSCAR) Mediadora: Profa. Dra. Juliana Santini (PPGEL/UNESP) 1. Formas e representações do amor em Marçal Aquino: uma leitura do romance ! Eu recebera as piores notícias dos seus lindos lábios" , Igor Iuri Dimitri Nakamura (M) 2. Com muito blue nos tons e tanto Estácio nos pés: (i)mobilidade, espaço e samba em Paulo Lins, Gabriel Capelossi Ferrone (M) 3. Belle toujours e a eloquência do silêncio (Considerações sobre o épico no filme de Manoel de Oliveira), Moisés Henrique Mietto Romão (M) SD4. TEMAS E FORMAS DA LITERATURA FRANCESA Anf. E Debatedor: Profa. Dra. Ana Cláudia Romano Ribeiro (UNIFESP) Mediadora: Profa. Dra. Andressa Cristina de Oliveira (PPGEL/UNESP) 1. A narrativa poética de Christine de Pizan em Le Livre de la Cité des Dames, Karla Cristiane Pintar (D) 2. A manifestação do fantástico tradicional no século XX: Les Malédictions de Claude Seignolle Amanda da Silveira Assenza Fratucci (D)

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3. Thérèse Desqueyroux: uma poética do fogo e da lucidez, Carla Alexandra Ezarqui (M) 4. Os elementos poéticos e surrealistas em L! Écume des jours (1947), de Boris Vian, Glenda Verônica Donadio (M) 25/10/2013 ! QUARTA-FEIRA às 21h

Anfiteatro A

Nuvens de Aristófanes Giz-en-Scène

26/10/2013 ! QUINTA-FEIRA das 10h às 12h

Anfiteatro C

PLANEJAMENTO E METAS PARA O PPGEL (quadriênio 2017-2021) Apresentação: Profa. Dra. Juliana Santini Prof. Dr. Brunno V. G. Vieira Prof. Dr. João Batista Toledo Prado 26/10/2013 ! QUINTA-FEIRA das 14h30 às 16h30 SESSÕES DE COMUNICAÇÃO

SC9. NARRADORES, AUTORES E TEORIAS Anf. D Coordenador: Profa. Dra. Claudia F. de Campos Mauro 1. Da metamorfose ao clone: aspectos do fantástico na Literatura italiana Claudia F. de Campos Mauro 2. O leitor modelo em Eco: um passeio pelo bosque narrativo de mãos dadas com o narrador Deborah Garson Cabral 3. A narradora intelectual como personagem inepta em Alberto Moravia: aproximações Sérgio Gabriel Muknicka 4. Jogo de máscaras autorais: um caso de autor-transcritor em A casa dos budas ditosos, de João Ubaldo Ribeiro Rosana Letícia Pugina SC10. CINEMA E(M) DESCONSTRUÇÃO Anf. E Coordenador: Douglas de Magalhães Ferreira 1. O roteiro cinematográfico, via Joaquim Pedro de Andrade Douglas de Magalhães Ferreira 2. O feminino no cinema oliveiriano: dialética e espelhismos Fernanda Barini Camargo

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3. Tecnologia e duplicação: o caso do episódio ! Volto já" da série de televisão Black Mirror Vinícius Lucas de Souza 4. Nos rastros de Woolf: herança e subversão em As horas, de Michael Cunningham Laís Rodrigues Alves Martins SC12. PROSA NACIONAL Sala 33 Coordenador: Marina Venâncio Grandolpho 1.Paixoes, sensações e epifania em contos de Clarice Lispector Letícia Coleone Pires 2. Machado de Assis, ! O ideal do crítico " e um ! Propósito " na ! Semana literária" Marina Venâncio Grandolpho 3. O santeiro do mangue: alegoria do messianismo no matriarcado de Pindorama Sirlene Sales Maciel 4. Uma casa e múltiplos universos: o espaço em Relato de um certo Oriente, de Miltom Hatoum Manoelle Gabrielle Guerra

26/10/2013 ! QUINTA-FEIRA das 17h às 18h30

SESSÕES DE DEBATES DE PROJETOS SD5. GÊNERO: REPRESENTAÇÕES Anf. D Debatedor: Profa. Dra. Mariângela Alonso (UENP) Mediador: Prof. Dr. Paulo Andrade (PPGEL/UNESP) 1. A representação da mulher nos romances espanhóis sobre o pós-guerra, Marcelo Maciel Cerigioli (D) 2. A liberdade feminina como força criadora: o matrismo na ficção de Natália Correia, Vivian Leme Furlan (D) 3. Figurações do feminino em Desmundo (1996), de Ana Miranda, Juliana Cristina Minaré Pereira (M) SD6. TEMPO, NARRATIVA E MEMÓRIA Anf. E Debatedor: Prof. Dr. Júlio Cezar Bastoni da Silva Mediadora: Profa. Dra. Claudia F. Campos Mauro (PPGEL/UNESP) 1. Justiça e direito em Memórias de um sargento de milícias e Memórias do cárcere, Gustavo de Mello Sá Carvalho Ribeiro (D) 2. Uma poética da fragmentação: estudo do narrador autodiegético em The Sound And The Fury e As I Lay Dying, de William Faulkner, Claudimar Pereira da Silva (M) 3. O jogo temporal em Os meus sentimentos (2012), de Dulce Maria Cardoso, Gabriela Cristina Borborema Bozzo (M) SD7. REINVENÇÕES DO ROMANCE Sala 33

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Debatedor: Prof. Dr. Alvaro Luiz Hattnher Mediador: Profa. Dra. Maria de Lourdes Ortiz Gandini Baldan (PPGEL/UNESP) 1. Huxley, Bradbury, Burgess e Brandão: a relação estado-arte como aspecto temático do romance distópico, Gabriela Bruschini Grecca (D) 2. J. R. R. Tolkien: o autor e o gênero, Stéfano Stainle (D) 3. A intertextualidade e o gótico em releituras de "Branca de neve e os sete anões", Maisa dos Santos Trevisoli (M)

27/10/2013 ! SEXTA-FEIRA das 10h às 12h

Anfiteatro B

CONFERÊNCIA Experiências da exogenia nas políticas culturais e no romance brasileiro contemporâneo Prof. Dr. Leonardo Tonus (Université Paris-Sorbonne) Mediação: Prof. Dr. Adalberto Luís Vicente 27/10/2013 ! SEXTA-FEIRA das 14h30 às 16h30 SESSÕES DE COMUNICAÇÃO

SC13. PROSA, FILOSOFIA E PSICANÁLISE Anf. D Coordenador: José Lucas Zaffani dos Santos 1. Fulgurações do poético em O som e a fúria e Enquanto agonizo, de William Faulkner Claudimar Pereira da Silva 2. Morte e voz narrativa em O náufrago e Árvores abatidas ! uma provocação, de Thomas Bernhard José Lucas Zaffani dos Santos 3. Enquanto agonizo e os palimpsestos filosóficos de William Faulkner Leila de Almeida Barros 4. " Que bom que eles vão morrer # : uma leitura política do romance A redoma de vidro, de Sylvia Plath Vanessa Cezarin Bertacini SC14. LITERATURA CLÁSSICA Anf. E Coordenador: Prof. Dr. Márcio Thamos 1. A tradução da Arte poética pela Marquesa de Alorna: estudo dos elementos paratextuais Joana Junqueira Borges 2. Édipo, Jocasta, Ide e a complexidade das relações parentais na Tebaida, de Públio Papínio Estácio Leandro Dorval Cardoso

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3. Eneida, canto III: tradução decassilábica segundo um modelo de proporcionalidade métrica Márcio Thamos 4. As Artes Grammaticae latinas e o conjunto da literatura técnica da Antiguidade Clássica Vivian Gregores Carneiro Leão Simões SC15. PRESENÇA DA LITERATURA FRANCESA Sala 33 Coordenador: Profa. Dra. Andressa Cristina de Oliveira 1. Dessacralização e presença do mito da femme fatale na Modernidade Andressa Cristina de Oliveira 2. Idas e vindas das concepções pré-românticas do gênio Daniel Moraes Gregores

27/10/2013 ! SEXTA-FEIRA das 17h às 18h30

SESSÕES DE DEBATES DE PROJETOS SD8. POESIA: INVENÇÃO E RESISTÊNCIA Anf. D Debatedora: Profa. Dra. Susanna Busato Mediadora: Profa. Dra. Fabiane Renata Borsato (PPGEL/UNESP) 1. A poesia resiste? Um mergulho nos questionamentos modernos e pós-modernos por meio da obra poética de Nuno Júdice, Bruna Fernanda de Simone (D) 2. Mnemosine e pós-utopia no fluxo do rio Lete: uma leitura crítica de ! A educação dos cinco sentidos" , Jorgelina Rivera (D) 3. Construção e utopia na poesia de invenção, Alex Wagner Dias (M) SD9. DESLEITURAS E RELEITURAS DO GÊNERO Anf. E Debatedora: Profa. Dra. Cleide Rapucci (FCL Assis) Mediadora: Profa. Dra. Maria Dolores Aybar Ramirez (PPGEL/UNESP) 1. Rhiannon e o sagrado feminino, Camila Goos Damm (M) 2. Uma desleitura feminista da tradição: As brumas de Avalon e O incêndio de Tróia, De Marion Zimmer Bradley, Juliana Cristina Terra de Souza (M) 3. De Orlando a Orlanda: a transexualidade nos romances do século XX, Marcelo Branquinho Massucatto Resende (M) SD10. LITRATURA GRECO-ROMANA E SUAS FORMAS Sala 33 Debatedora: Profa. Dra. Tereza Virgínia Ribeiro Barbosa (UFMG)

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Mediadora: Maria Celeste Consolin Dezotti 1. Da tékhnŃ ao trágico, Adilson Oliveira dos Santos (M) 2. As construções do herói épico greco-latino: relações entre epopeia e contexto, Jéssica Frutuoso Mello (M) 3. A presença feminina na elegia de Ovídio, Jaqueline Vansan (D) 27/10/2013 ! SEXTA-FEIRA às 20h

Anfiteatro A Conferência de Encerramento A morte e os mortos: Homero e a zona de convergência cultural do Oriente Médio

Prof. Dr. Jacyntho Lins Brandão (FALE-UFMG)

Medição: Prof. Dr. Fernando Brandão dos Santos (PPGEL/UNESP)

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Resumos das comunicações

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POR UMA PÓETICA DAS CARTAS: A LITERARIEDADE NA CORRESPONDÊNCIA DE CAIO FERNANDO ABREU

André Luiz Alselmi (UNESP; Centro Universitário Barão de Mauá)

[email protected] Prof. Dr. Adalberto Luís Vicente (UNESP)

Palavras-chave: Texto epistolar; Cartas e literatura; Caio Fernando Abreu. As correspondências de escritores levantam uma questão crucial: que tipo de leitura esse discurso contempla? É preciso ler as missivas como documentos históricos, biográficos, ou literários? As pesquisas que tomam por base esse gênero textual frequentemente rendem-se ao fascínio do conteúdo presente nesses textos, ressaltando ora seu caráter biográfico, ora seu lado histórico, ora seu aspecto paratextual, frequentemente negligenciando seu valor literário. Servir-se da correspondência de um escritor apenas como mero instrumento para análise de outras questões ! como a autobiografia e o estudo de sua obra ! tiram a autonomia do texto epistolar, na medida em que o convocam somente pelo seu valor informativo. Nesse sentido, faz-se necessário abordar esse tipo de produção também em sua textualidade, evitando as separações dicotômicas entre forma e conteúdo. Logo, um estudo que se proponha a abordar o aspecto literário das cartas deve, além de seu conteúdo ! metalinguístico ou não ! , preocupar-se com a análise formal das missivas, consideradas em seus aspectos linguísticos, sintáticos e estilísticos, de maneira a revelar, de um lado, como o escritor promove rupturas com a linguagem corrente e, de outro, como o discurso das cartas aproxima-se, de certa maneira, do discurso dos outros textos literários do autor, em termos formais. A partir disso, ocupando-se de questões relativas ao uso da língua, esta comunicação pretende demonstrar como algumas missivas de Caio Fernando Abreu ! reunidas na coletânea Cartas (2002), com organização de Ítalo Moriconi ! rompem com a linguagem corrente, por meio da criação de neologismos, do uso de estrangeirismos e regionalismos, ou, ainda, do recurso da hifenização e do emprego de letras maiúsculas no meio da oração. Para corroborar com a ideia de que as epístolas de escritores, frequentemente, possuem relevante valor literário, analisam-se, ainda, as transformações que o epistológrafo opera no campo estilístico-sintático, sobretudo com transgressões às regras de pontuação, inversões e empregos de diferentes figuras de linguagem, com vistas a fazer um uso criativo da linguagem, conferindo às suas cartas um valor estético.

DESSACRALIZAÇÃO E PRESENÇA DO MITO DA FEMME FATALE NA MODERNIDADE

Profa. Dra. Andressa Cristina de Oliveira (UNESP; FCLAr; DLM; PPGEL; PET)

[email protected]

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Palavras-chave: Femme fatale; mito; modernidade. A retomada do mito da femme fatale, notadamente o de Salomé, retratado primeiramente nos evangelhos de São Marcos, São Mateus e São Lucas, fez escola na modernidade do século XIX e, sobretudo, durante o Simbolismo francês. As narrações bíblicas, absolutamente concisas, referem-se a Salomé como uma mera extensão de sua mãe, seu objeto de vingança contra o profeta João Batista. E ela assim permanecerá até o século XIX, quando, captada pelas mãos dos artistas românticos, decadentistas e simbolistas, a princesa finalmente adquire autonomia, desvencilhando-se da sombra de sua mãe. Vê-se que, Salomé, que até então havia sido apresentada como mero apêndice de sua mãe, Herodíade, aparece, no final do século XIX, como a grande personificação da anima perversa, assumindo o papel que outrora pertencera a mulheres míticas como Cleópatra e Helena. No decorrer da história das artes, foram inúmeras as retomadas do mito de Salomé. Maurice Kraft chegou a contar, em 1912, 2789 obras que tratavam do tema. Salomé tornou-se a grande musa dos artistas românticos tardios e, sobretudo, dos decadentistas e simbolistas, inspirando poetas, prosadores, músicos e pintores de toda a Europa. Retratada nas telas de Gustave Moreau e Henry Regnault, nas obras de Aubrey Bearsdley, na música de Richard Strauss e de Jules Massenet, bem como nas obras literárias de Heinrich Heine, Théodore de Banville, Gustave Flaubert, Stéphane Mallarmé, Jules Laforgue, Oscar Wilde, Apollinaire, entre tantos outros, essa mulher fatal remodelada vem representar a essência da transgressão na modernidade ! da linguagem, da temática, da atitude do artista em relação à sua própria produção. Dessa forma, pretende-se, aqui, realizar a abordagem e demonstrar a presença deste mito tanto na pintura, quanto na literatura e na música entre a segunda metade do século XIX e o início do século XX.

O PARADOXO DO CONHECIMENTO

EM HEINRICH VON KLEIST

Carina Zanelato Silva (UNESP; CAPES) [email protected]

Profa. Dra. Karin Volobuef (UNESP) Palavras-chave: Heinrich von Kleist; ceticismo; conhecimento. O ensaio Über das Marionettenthteater (Sobre o teatro de marionetes, 1810), de Heinrich von Kleist, evidencia e debate um problema frequente na obra do autor: a cognição humana é capaz de completude? Este trabalho tem por objetivo discutir a ruptura entre a autoconsciência e o mundo exterior ! marcada pelo ceticismo que permeia as obras literárias de Kleist ! através da análise do ensaio acima mencionado, partindo da proposição de que no Teatro de Marionetes o autor estabelece a condição humana como uma posição intermediária, que não possui nem a total falta de reflexão

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da marionete nem o conhecimento absoluto de Deus. Esta condição mostra uma crise diante do paradoxo filosófico a que toda a humanidade está destinada: ser eternamente torturada por um grau de consciência que nos impulsiona a buscar o conhecimento, mas que ao mesmo tempo nos limita. Fundamentado em uma possível leitura que o autor fez da filosofia de Kant, esse paradoxo revela que Kleist entendeu a filosofia kantiana apenas pelo seu viés empirista, muito mais evidente na filosofia cética de David Hume ! da qual Kant absorveu os princípios básicos para a composição de sua própria filosofia ! do que no criticismo propriamente dito. Se para Kant a impossibilidade da autoconsciência de apreensão da coisa em si, da verdade absoluta que rege a nossa realidade, não desfaz a capacidade da razão humana de produzir conhecimentos de validade objetiva (a priori), para Kleist essa impossibilidade revela uma perda irreparável da objetividade da razão e dos princípios que regiam a verdade de seu conhecimento sobre o mundo, levando-o a questionar até mesmo as possibilidades do conhecimento e da consciência do eu diante desse conhecimento. Sofremos, devido à nossa tomada de consciência " proveniente# do fruto da árvore do conhecimento e à nossa posterior " expulsão do paraíso # , uma penalidade similar à de Sísifo ou Tântalo, buscando a completude do conhecimento infinito sem possibilidade de alcançá-lo, processo esse que pode ser percebido na constante errância dos personagens kleistianos diante de uma realidade que não lhes possibilita o alcance da completude, seja ela o amor (Die Verlobung in St. Domingo), a felicidade (Penthesilea), a justiça (Michael Kohlhaas), etc.

A DESCRIÇÃO NA NARRATIVA POÉTICA DE ANTÓNIO LOBO ANTUNES

Carlos Henrique Fonseca (UNESP)

[email protected] Profa. Dra. Maria Lúcia Outeiro Fernandes (UNESP)

Palavras-chave: Descrição; António Lobo Antunes; narrativa poética. Ao longo da história do romance, a descrição, enquanto recurso narrativo, foi vista de diferentes formas, mas sempre representando um aspecto fundamental das estruturas narrativas. No romance contemporâneo, a descrição parece ocupar um lugar de destaque no que se refere à construção de imagens, bem como em narrativas onde a memória ocupa o primeiro plano. No romance Conhecimento do inferno (1980), de António Lobo Antunes, a descrição significa recurso fundamental na consolidação daquilo que consideramos ser a qualidade poética de sua escrita, nos horizontes do pós-modernismo expresso no romance português contemporâneo. A proposta desta comunicação apresenta, num primeiro momento, uma reflexão sobre a relação entre o narrar e o descrever com base em aspectos apontados por Georg Lukács e por Gérard Genette. Ainda que o posicionamento crítico de Lukács e outros estudiosos da narrativa de seu tempo apresente uma visão negativa da importância crescente dada à descrição, que participaria, a seu ver, de uma verdadeira decadência da arte narrativa, não é isso o que se constata na produção romanesca contemporânea. Uma nova realidade traz novas racionalidades e novas visões de mundo, e muito do que era postulado como

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decadência, hoje converte-se em parâmetros válidos e atuantes. No segundo momento, buscar-se-á a consideração da descrição no horizonte do que Jean-Yves Tadié chamou de récit poétique, a fim de desvelar alguns traços específicos à obra de António Lobo Antunes, tanto no que tange às características próprias do seu uso da descrição quanto à possibilidade de reconhecer sua obra enquanto narrativa poética. A descrição, articulada à assumida valorização da dimensão figurativa, e de um eu-lírico que rege sobremaneira seu narrador, permite situar seus romances neste contexto. Procura-se mostrar, portanto, como a profusão de descrições e de imagens poéticas não representa perda na qualidade narrativa de um autor como António Lobo Antunes, mas sim revelam novas possibilidades de escrita romanesca.

DA METAMORFOSE AO CLONE: ASPECTOS DO FANTÁSTICO NA LITERATURA ITALIANA

Profa. Dra. Claudia F. De Campos Mauro (FCLAr; UNESP)

[email protected]

Palavras-chave: Primo Levi; fantástico; literatura italiana; ficção científica

O objetivo desta pesquisa é, através da análise de alguns contos do escritor italiano Primo Levi, apresentar um panorama da literatura fantástica ! , dentro do contexto da literatura italiana. Na Itália, é o século XX o terreno fértil para o surgimento de obras ligadas ao modo fantástico. Os elementos fantásticos permeiam a literatura italiana desde os seus primórdios, podendo ser encontrados em Dante Alighieri (La Divina Commedia), Giovanni Boccaccio (Decameron), Ludovico Ariosto (L! Orlando Furioso) e Torquato Tasso (Gerusalemme Liberata). Posteriormente, no Romantismo, em um movimento chamado de Scapigliatura, a Itália conhece o fantástico nos moldes de Poe, Hoffmann, Gautier pelas mãos, principalmente, de Ugo Tarchetti .O século XX, isto é, o Novecento italiano, explora não mais somente as angústias e o terror, mas se concentra nas temáticas da perda da harmonia do homem consigo mesmo e com o mundo em torno dele, do sentido de desorientação, da constante ameaça às grandes certezas, da existência de eventos extraordinários. Primo Levi, acompanhando a tendência do fantástico italiano da segunda metade do século XX explora, como disse Calvino, um fantástico abstrato, de característica lógica e intelectual. Desnuda comportamentos humanos e faz duras críticas à sociedade. O homem, com a progressiva afirmação da sociedade de massa, sente-se à mercê de forças que não consegue controlar; a lógica do sistema social, econômico e burocrático é incompreensível e absurda, e desorienta e aterroriza o indivíduo. A percepção positivista do real é colocada em crise e o progresso da ciência , ao invés de restringir o campo do desconhecido, o amplia enormemente, apagando a fronteira entre real e impossível. Pretendemos mostrar como Levi explora, sobretudo, o tema da " ciência sem consciência! , fazendo com que o fantástico assuma , em seus contos, também o papel de elemento de denúncia social e ambiental através da exposição de certos comportamentos individuais e coletivos da sociedade.

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UMA POÉTICA DA FRAGMENTAÇÃO: ESTUDO DO NARRADOR AUTODIEGÉTICO EM THE SOUND AND THE FURY E AS I LAY DYING, DE

WILLIAM FAULKNER Claudimar Pereira da Silva (UNESP; CNPq)

[email protected] Prof. Dr. Paulo César Andrade da Silva

Palavras-chave: William Faulkner; narrador; voz e focalização; narrativa poética; fragmentação. O presente projeto objetiva a análise da figura do narrador, na obra do escritor norte-americano William Faulkner, por meio de uma delimitação teórica específica, calcada em narradores de tipo autodiegético, isto é, aqueles que narram e configuram-se ao mesmo tempo como personagens centrais da narrativa (REIS & LOPES, 1988, p. 118). A partir dos pressupostos teóricos cristalizados por Gérard Genette em Discurso da Narrativa (197-), mais especificamente os conceitos de voz e focalização, pretende-se analisar o modo como estes dois mecanismos operam na construção da sintaxe discursiva de três narradores previamente selecionados na obra faulkneriana. Trabalhamos com a hipótese de que os conceitos de voz e focalização, ou seja, o processo de enunciação e a instauração da perspectiva sobre a dimensão diegética configuram-se como fatores determinantes para a sedimentação de uma narrativa de teor poético, respaldada nas técnicas de fluxo de consciência e monólogo interior, no aparato metalinguístico, na modulação lírica de tais vozes, e nas construções geológico-subjetivas desses narradores. A partir desses componentes, julgamos que instala-se, na narrativa de Faulkner, aquilo que nomearemos como uma poética da fragmentação, isto é, a representação da fragmentação subjetiva do (s) narrador (es), em termos de estrutura, linguagem e poeticidade. O corpus de nosso projeto baseia-se, como já reiterado, em narradores-protagonistas, imiscuídos na ação, e que possuam tal maneira de narrar. Dessa forma, trabalharemos com três narradores provenientes de dois romances importantes da obra do escritor sulista: os irmãos Benjamin e Quentin Compson, de The Sound and The Fury (2014), e Darl Bundren, de As I Lay Dying (2010).

IDAS E VINDAS DAS CONCEPÇÕES PRÉ-ROMÂNTICAS DO GÊNIO

Daniel Moraes Gregores (UNESP; CNPq) [email protected]

Profa. Dra. Karin Volobuef (UNESP)

Palavras-chave: Gênio; imaginação; Kreisler.

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É no romance Lebensansichten des Katers Murr, do autor alemão E. T. A. Hoffmann, que encontramos aquela que é apontada pela maioria dos estudiosos como a caracterização mais completa do personagem Johannes Kreisler. Maestro e compositor de sensibilidade apurada, meio genial meio louco, Kreisler influencia concretamente alguns dos mais importantes nomes do romantismo musical europeu, como Schumann, Brahms e Berlioz, para citar alguns. Para além da questão musical propriamente dita, talvez a confluência de um ideal romântico do gênio em sua caracterização esteja ligada a este fato. No intuito de compreender adequadamente este ideal, o estudo das diferentes percepções acerca do gênio ao longo do século XVIII se mostra de particular relevância, pois claramente se podem notar as diferentes tonalidades que o entendimento do conceito adquire em países como a Inglaterra, a França e a Alemanha. Ainda em meio aos ecos da antiguidade clássica no que tange ao gênio, é neste momento histórico que começam a se delinear mais claramente os traços do gênio que viriam a influenciar de modo determinante o movimento romântico de uma maneira geral. E é nele que começa a amadurecer a reflexão acerca dos desdobramentos de tais considerações para a arte e para a compreensão do papel do artista. Este, cuja ! invenção " até então se via restringida pelos grandes modelos e pela natureza, passa a adquirir o poder de efetivamente ! criar " , numa postura de ousadia frente à natureza e ao paradigma maior do criador para o mundo ocidental: a figura de Deus. Entretanto, é somente por caminhos tortuosos que o gênio chegará, finalmente, em atitude satânica, a ser compreendido como verdadeiro motor da evolução humana. Caminhos que demonstram a resiliência da concepção mimética clássica na arte mas que, por outro lado, apontam para a progressiva e inevitável ruína dos pressupostos da estética do século XVII europeu.

O LEITOR MODELO EM ECO: UM PASSEIO PELO BOSQUE NARRATIVO DE MÃOS DADAS COM O NARRADOR

Deborah Garson Cabral (UNESP) [email protected]

Profa. Dra. Claudia Fernanda de Campos Mauro (UNESP) Palavras-chave: leitor-modelo; narrador; protocolos de leitura; narratologia. Este trabalho se propõe a desenvolver um dos principais elementos da narrativa, o leitor. Dentro dos romances de Umberto Eco, é evidente que esse ! personagem" é, obrigatoriamente, participante da construção da narrativa. Eco propõe, em seus textos teóricos, a inserção do leitor como pressuposto para a escrita e para a consolidação da intenção do autor em seu texto e, por isso, os estudos sobre os protocolos de leitura e a produção de sentidos dentro do texto (e além dele) são fundamentais. Portanto, através da leitura de sua produção ficcional, é possível encontrar os mecanismos que comprovam sua premissa de que o leitor está no texto. Utilizando, então, três de seus romances, o que a autora desta proposta busca fazer é encontrar a maneira como este

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leitor caminhará nas linhas do texto, ultrapassando-as, mas ainda dentro dele, adentrando o bosque da ficção de mãos dadas com o narrador, segundo elemento de estudo neste trabalho. O narrador, enquanto Virgilio que acompanha e direciona Dante em sua trajetória pelo Inferno, será o contraponto das narrativas escolhidas, que produzem novos sentidos e contam a história do outro, mas também de si mesmo. Assim, é de extrema importância refletir acerca da transformação do conceito de narrador, desde os primeiros estudos sobre a crítica literária. Em especial, os narradores dos romances de Eco, que, para além de apenas uma narração de fatos ocorridos, propõem um caminhar com, convidando o leitor a adentrar o mundo das palavras e ordená-las na busca de seus possíveis significados. Por isso, também é papel deste estudo traçar um histórico sobre esta temática, vindo de encontro com a contemporaneidade, para dar as mãos, então, aos estudos sobre a literatura de recepção e o papel do leitor no processo de produção de sentido do texto literário. É em parceria com o narrador que o leitor conhecerá os caminhos possíveis da narrativa, fazendo suas escolhas e desbravando novas possibilidades interpretativas.

O ROTEIRO CINEMATOGRÁFICO, VIA JOAQUIM PEDRO DE ANDRADE

Douglas de Magalhães Ferreira (UNESP; CAPES) [email protected]

Profa. Dra. Maria de Lourdes O. G. Baldan (UNESP)

Palavras-chave: literatura e cinema; roteiro cinematográfico; Joaquim Pedro de Andrade. Inserido no intrincado campo de pesquisa das inter-relações literatura/cinema, este trabalho toma como objetos de reflexão e análise dois roteiros não filmados de autoria de Joaquim Pedro de Andrade (1932-1988), um dos expoentes do Cinema Novo. O primeiro deles, O Imponderável Bento contra o Crioulo Voador, narra as peripécias de um libidinoso santo pelos arredores de Brasília. Escrito por volta de 1986 e publicado em livro em 1990, O Imponderável Bento assume, em definitivo, a orientação surrealista com a qual a obra do cineasta vinha flertando desde Guerra conjugal (1975), numa crítica ferrenha ao realismo político. Espécie de misto de roteiro cinematográfico com novela literária, exibe evidente cuidado para com a palavra, oscilando entre o erudito e o chulo, e faz uso de um método de composição pouco ortodoxo para o gênero, com raras indicações técnicas de câmera, abandono dos tradicionais cabeçalhos de abertura para cada sequência e a preferência, muitas vezes, pelo discurso indireto em lugar do direto. O segundo roteiro, Casa-grande, senzala & cia, publicado em livro em 2001, é uma leitura do célebre estudo de Gilberto Freyre. Ao lidar, de forma intercalada, com as façanhas dos diferentes grupos em conflito durante os primeiros tempos do Brasil colonial, configura-se como uma espécie de épica à brasileira, mas sem pompas e repleta de lances de humor e de antropofagia. Pretende-se, aqui, por meio da análise de um excerto de cada objeto, explorar as peculiaridades e potencialidades do gênero roteiro, no intuito de contribuir tanto para a sua caracterização e problematização de seu

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estatuto ! se nem literatura nem filme ainda, qual é o seu lugar?, quanto para a (re)interpretação da cinematografia de Joaquim Pedro, uma vez que as palavras de seus roteiros não filmados podem iluminar as próprias imagens de seus filmes de fato produzidos, pois guardam muitos traços comuns entre si, como a prática do humor irônico, o sublinhar da hipocrisia das relações interpessoais, o interesse pela formação social, tradição cultural e identidade nacional brasileiras.

ESPAÇO E SUBJETIVIDADE NO ROMANCE AOS 7 E AOS 40, DE JOÃO ANZANELLO CARRASCOZA

Ednéia Minante Vieira (UNESP) [email protected]

Profa. Dra. Juliana Santini (UNESP)

Palavras-chave: espacialidade; Aos 7 e aos 40; João Anzanello Carrascoza; Ancorando-se nos estudos acerca da espacialidade literária, a presente pesquisa pretende analisar a configuração do espaço no romance Aos 7 e aos 40, de João Anzanello Carrascoza, tanto em seu aspecto narrativo quanto em sua estruturação gráfica, e seu diálogo com a subjetividade. Para isso, inicialmente, serão considerados os apontamentos dos antropólogos Michel de Certeau e Marc Augé acerca dos termos " espaço # , " lugar # e " não-lugar # e de que maneira esses conceitos permitem uma análise mais completa a respeito das referências espaciais expressas no romance. Também serão discutidas as considerações feitas pelo fenomenólogo Gaston Bachelard quanto ao espaço, sobretudo no que diz respeito à configuração espacial da casa de infância. Posteriormente, será abordada a relação entre espaço, memória e identidade e como esse tripé fundamenta a obra Aos 7 e aos 40. Para o estudo dessas questões, serão reportadas as observações acerca de memória, feitas, sobretudo, por Jacques Le Goff e, no que diz respeito à identidade, as reflexões feitas por Stuart Hall. Com base nos teóricos elencados, pretende-se, compreender de que forma a espacialidade (narrativa e gráfica) apresenta-se nas duas fases da vida (infância e meia-idade) do protagonista e de que forma, apesar de distintas, são complementares; de que maneira a configuração espacial da casa e sua associação com a memória contribuem para a subjetividade e para a construção e busca identitária da personagem; e de que forma a narrativa dialoga com a fragmentação, a estruturação e a disposição gráfica do texto e dos capítulos, contribuindo ainda mais para a construção de sentido pretendido. Espera-se, por meio dessa pesquisa, confirmar que a espacialidade e a subjetividade expressas na narrativa e nos recursos gráficos da obra Aos 7 e aos 40, por serem os pilares do romance, são peças fundamentais para melhor entendimento da obra e posterior compressão da literatura de João Anzanello Carrascoza.

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A EXPANSÃO DE CAMPO DO LITERÁRIO E O ENSAÍSMO FICCIONAL DE MODESTO CARONE

Efraim Oscar Silva (UNESP; CAPES) [email protected]

Profa. Dra. Rejane Cristina Rocha (UFSCar; UNESP) Palavras-chave: Literatura brasileira; ficção contemporânea; Modesto Carone. Esta comunicação se propõe a apresentar o projeto de pesquisa intitulado Atos de equilibrista: Modesto Carone e a narrativa dos múltiplos pertencimentos, iniciado em 2016, cujo objetivo é analisar a obra de criação de Modesto Carone, constituída por quatro livros de contos e uma novela, quanto à sua proximidade com formas e temáticas não literárias. A crítica que primeiramente recepcionou os livros de ficção de Carone identificou neles uma tensão quanto às formas consagradas do literário e uma contiguidade em relação à forma ensaio. Mas a crítica não relacionou esses aspectos da produção ficcional de Carone a uma tendência das artes contemporâneas, apontada por críticos e teóricos pertencentes a vários campos das humanidades. Trata-se, no caso da literatura, de uma expansão de campo, de um movimento para fora de si, que desloca o literário do que seu lugar consagrado como específico e o faz experimentar outros discursos, mobilizando signos, sentidos, repertórios, leituras e percepções oriundos de vários lugares, gêneros, campos cognitivos e estéticos. Os discursos que exprimem a vida contemporânea têm se caracterizado pela diversidade, pela multiplicidade e pela simultaneidade. Nenhum discurso expressa apenas aquilo que é, ou aquilo para o qual foi originalmente destinado: mescla-se e integra-se a outros discursos. Nosso plano de trabalho prevê identificar, na obra em questão, o apagamento dos traços estruturantes da literariedade tal como foi estabelecida pela instituição literária, sobretudo pela crítica universitária: as marcas definidoras de gênero, algumas das instâncias narrativas na sua forma clássica, a linguagem poética e a subjetividade. Busca-se verificar a hipótese básica de que a obra de criação de Carone insere-se em uma nova constituição do literário, na qual estão embotadas as marcas específicas do seu campo, resultando em uma expansão que a aproxima de formas e temáticas não literárias. A hipótese secundária é a de que essa obra se insere na partilha do sensível do mundo contemporâneo, na qual este sensível já não é domínio exclusivo de um único campo, nem de um único grupo social.

MARIA LUIZA: O DESLOCAMENTO NO DISCURSO DA MORAL RELIGIOSA NO PERCURSO NARRATIVO

Elisa Domingues Coelho (UNESP) [email protected]

Profa. Dra. Juliana Santini (UNESP)

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Palavras-chave: Literatura brasileira; romance; década de 30 A década de 30 figura, em sua numerosa prosa, com uma vastidão de personagens femininas, sempre numa mesma constituição: um narrador, uma voz masculina, em uma história em que o mesmo enredo da mulher ludibriada e desgraçada que se ! perde" e termina miseravelmente na prostituição se repete. Maria Luiza, junto a# O Quinze, desponta desse modelo ao trazer uma personagem feminina em absoluta centralidade e sem ser atravessada pelo olhar masculino, operando, na realidade, o inverso uma vez que é o seu olhar que atravessa todas as personagens e determina o que se deve pensar delas. Seu título já antecede a singularidade do romance, que se filia aos romances que se ocupavam centralmente dos ! temas do espírito " , como nomeado pela crítica da época, e se iniciará em um movimento, que surgirá mais adiante em grande volume na obra de Clarice Lispector, de uma mulher em relação simbiótica com a vida doméstica. Sua subjetividade, portanto, é totalmente composta por ela e os preceitos morais que a sustentam: cindido esse pilar, toda a sua constituição espiritual desmorona e não há outra possibilidade a não ser mergulhar nesse mundo interior em ruínas. O projeto literário do livro, em sua estrutura, não deixa dúvidas do cerne da narrativa ao, em primeiro lugar, introduzir as personagens em relação à protagonista, o que justifica de imediato a centralidade da mesma, e, em segundo lugar, ser dividido em duas partes, a partir não das ações que compõem o enredo, mas da cisão ruína/transformação. Ao passo que a perspectiva narrativa é construída de modo a intensificar esse processo através de um percurso narrativo constituído por três trajetórias centrais: a construção da personagem enquanto fortaleza moral de si e da família; a preparação e posterior abalo dos pilares de sua subjetividade; a trajetória espiritual de questionamento das antigas certezas e reelaboração por dentro do discurso da moral religiosa.

O FEMININO NO CINEMA OLIVEIRIANO: DIALÉTICAS E ESPELHISMOS

Fernanda Barini Camargo (UNESP) [email protected]

Renata Soares Junqueira (FCLAr; UNESP) Palavras-chave: Literatura, Manoel de Oliveira, Agustina Bessa-Luís. O longevo cineasta português Manoel de Oliveira (1908-2015) ficou bem conhecido na história mundial do cinema pelas suas originais transposições de textos literários para a tela do cinema. Dentre as suas mais produtivas parcerias está, a par da que manteve sempre com o presencista José Régio, a da prolífica escritora Agustina Bessa-Luís, nortenha também ela. Nesta comunicação, pretendemos lançar luz sobre alguns aspectos relevantes da construção de personagens femininas que Manoel de Oliveira extraiu de narrativas de Agustina, nomeadamente no seu díptico cinematográfico constituído pelos filmes O princípio da incerteza (2002) e Espelho mágico (2005), respectivamente inspirados nos romances agustinianos Joia de família (2001) e A alma dos ricos (2002).

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Veremos como elementos específicos da linguagem cinematográfica ! a exploração da cor em diversas tonalidades, a iluminação, o enquadramento, o close-up, a movimentação ou a fixação da câmera, a articulação de banda sonora às imagens, o corte e a montagem dos planos etc. ! dão azo a que o cineasta acentue ou transforme características mais ou menos evidentes das protagonistas dos romances, e como ele inverte ludicamente os perfis dessas personagens em Espelho mágico, filme que, como o nome indica, reflete especularmente (invertidos, portanto) os mesmos arquétipos do feminino (o da santa e o da devassa) que víamos em O princípio da incerteza, encarnados nas mesmas atrizes nas duas películas: Leonor Baldaque e Leonor Silveira, grandes musas do cinema oliveiriano. Pretendemos lançar luz sobre as especificidades de cada linguagem (do texto literário e do texto cinematográfico), acentuando as potencialidades fílmicas mobilizadas por Oliveira na produção do díptico. Que tipo de interpretação dos textos de Agustina Bessa-Luís, entendendo os efeitos de sentido produzidos pela literatura da ficcionista portuguesa quanto aos avatares femininos, essas inversões especulares do cineasta sugerem, é o que esperamos apontar, evidenciando assim como cinema e literatura podem reciprocamente iluminar-se.

AFLIÇÕES MODERNAS E CONTEMPORÂNEAS EM MRS. DALLOWAY E SATURDAY

Isaías Eliseu da Silva (FCLAr; UNESP) [email protected]

Maria das Graças Gomes Villa da Silva (FCLAr; UNESP)

Palavras-chave: Mrs. Dalloway; Saturday; Romance. Um dos principais romances da literatura modernista, Mrs. Dalloway, de Virginia Woolf, foi publicado pela primeira vez em 1925 e traz em seu enredo as aventuras e as reflexões de um dia na vida da protagonista Clarissa Dalloway. A narrativa desenrola-se no contexto do período entreguerras e traz personagens afetadas pelos efeitos da primeira guerra mundial e pela estrutura social da Inglaterra no início do século XX. Uma das características mais notáveis em Mrs. Dalloway é o tratamento dado à forma por apresentar uma narrativa não-linear, avessa às convenções do tradicional romance realista, e por utilizar-se do fluxo de consciência em um trabalho de exploração da memória das personagens. Saturday é um romance escrito por Ian McEwan e publicado em 2005. Notadamente inspirado no romance de Woolf, Saturday narra um dia na vida do neurocirurgião Henry Perowne na Londres contemporânea e dramatiza, através das personagens, as aflições presentes nos grandes centros urbanos do século XXI. O pano de fundo do enredo é composto pelos ataques terroristas aos Estados Unidos em nove de setembro de 2001 e pelos protestos contra a invasão americana ao Iraque realizados em Londres em janeiro de 2002. No romance de McEwan, predomina o modo de narrar realista e o enredo se desenrola de forma linear e sem experimentalismos. Por conta das conexões entre uma obra e outra, propõe-se, nesta comunicação, a abordagem dos referidos romances com vistas à percepção de como as aflições das personagens e o modo de narrar são diferentes quando comparadas uma obra modernista e outra

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contemporânea. Para tanto, propõe-se como metodologia a revisão bibliográfica baseada na fundamentação teórica fornecida por Matei Calinescu e Marshall Berman sobre a modernidade e pelos textos de Zygmunt Bauman e Fredric Jameson a respeito da contemporaneidade. Autores como Michael Bell e Karl Erik Schollhammer darão sustentação teórica aos conceitos sobre a literatura modernista e a contemporânea, respectivamente.

PÓS-COLONIALISMO E IDENTIDADE EM NIKETCHE:

UMA HISTÓRIA DE POLIGAMIA, DE PAULINA CHIZIANE

Jéssica Fabrícia da Silva (UNICAMP; IEL; CAPES) [email protected]

Profa. Dra. Suzi Frankl Sperber (UNICAMP; IEL) Palavras-chaves: identidade; narrativa moçambicana; Paulina Chiziane. Este trabalho pretende observar, por meio da perspectiva de Rami, narradora do romance Niketche: uma história de poligamia, da moçambicana Paulina Chiziane, como as mulheres moçambicanas são construídas no enredo. A história narrada por Rami mostra sua posição enquanto mulher dentro da sociedade moçambicana e dentro de seu casamento, no qual a instituição selada pelos votos católicos não é respeitada, visto que seu marido, o comandante da policia Tony, possui quatro amantes: Julieta, Luísa, Saly e Mauá Saulé. É interessante notar que as relações extraconjugais de Tony funcionam como uma ! colcha de retalhos" de Moçambique, já que cada mulher representa uma região e, dessa forma, uma cultura diferente deste país. Destarte, buscar-se-á análises que dissertem sobre pós-colonialismo e identidade, partindo da visão da narradora para demonstrar as outras mulheres de Tony. Além disso, também será necessário trabalhar com a questão da representação e mimetização da sociedade moçambicana, evidenciando que se trata de uma construção literária de Moçambique feita pela autora, ou seja, não representando uma Moçambique de facto. Conquanto, torna-se fundamental indispensável salientar como essa sociedade é marcada por suas contradições devido ao duplo movimento colonizador por parte de portugueses e árabes, utilizando, para isso, por exemplo, o teórico cultural e sociólogo jamaicano Stuart Hall, o filósofo francês Frantz Fanon e os pesquisadores pós-coloniais Homi Bhabha e Gayatri Spivak. Além disso, será necessário para a pesquisa estudos que reflitam a posição da mulher em África, como os ensaios apresentados no livro A mulher em África, organizado por Inocência Mata e Laura Cavalcante Padilha, e a mulher na atual sociedade contemporânea, adotando os posicionamentos da filósofa americana Angela Davis e da escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie. Torna-se, então, perceptível a importância desses pontos para a apreensão da obra, pois esta é construída de forma interdependente, o que gera a unidade de sentido do romance.

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A TRADUÇÃO DA ARTE POÉTICA PELA MARQUESA DE ALORNA: ESTUDO DOS ELEMENTOS PARATEXTUAIS

Joana Junqueira Borges (FCLAr; UNESP; CAPES) [email protected]

Prof. Dr. Brunno V. G. Vieira (FCLAr; UNESP)

Palavras-chave: Marquesa de Alorna, Tradução, Arte poética A quarta Marquesa de Alorna, D. Leonor de Almeida Portugal Lorena e Lencastre, foi uma poeta portuguesa que viveu de 1750 a 1839, tendo sido, então, influenciada pelas tendências literárias do neoclassicismo, predominante no século XVIII, mas também, por conta do seu conhecimento e contato com autores anglo-germânicos, pode fazer parte dos artistas da época que colaboraram para a penetração das premissas que guiariam o Romantismo no século seguinte. Assim, sua presença na literatura portuguesa atravessa o século e as tendências literárias. No entanto, é importante destacar que apenas uma parcela muito pequena da sua produção foi publicada em vida e nenhuma dessas publicações foi de obras autorais, ou seja, publicou em vida apenas traduções, talvez por ser uma maneira mais ! modesta" de manifestar sua poeticidade, ! escondendo-se" atrás da ideia de que a autoria era de outro. A primeira delas é a tradução da Arte poética de Horácio, que tem sua publicação envolta por diversas questões que concernem tanto à sua vida, quanto a elementos políticos e sociais da época, isso porque em 1812 D. Leonor de Almeida encontrava-se exilada, em Londres, enquanto a família real, que representava, para a época a noção de nação, encontrava-se fugida no Brasil. Uma análise, por exemplo, do soneto que introduz essa edição, apresenta aspectos em que se nota a crítica da poeta ao período político que Portugal atravessa e clama por uma restauração da glória portuguesa. Há ainda outros aspectos que precisam ser evidenciados, como a ausência de uma introdução em que se verifique o seu projeto tradutório, ou até mesmo seu entendimento da obra horaciana, como era comum entre os autores homens que publicaram versão para este texto, ou ainda o fato de se tratar de uma publicação ! anônima" , tendo sido assinada apenas ! por uma Portuguesa" , o que ressalta sua identificação e defesa da unidade e restauração do país. A análise dos paratextos da publicação de 1812 apresenta algumas diferenças aos da versão manuscrita que encontramos em Lisboa, na Torre do Tombo, de modo que caracteriza uma importante discussão acerca das escolhas editoriais da Marquesa de Alorna.

UM ESTUDO DO VERSO ! ALEXANDRINO "

João Francisco Pereira Nunes Junqueira (FCLAR/UNESP; CAPES) [email protected]

Prof. Dr. Brunno Vinicius Gonçalves Vieira (FCLAR/UNESP)

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Palavras-chave: Verso Alexandrino; Versificação; Poesia. A presente comunicação pretende apresentar a visão dada pelo poeta-crítico Péricles Eugênio da Silva Ramos (1919-1992) ao verso alexandrino, ou verso de doze sílabas poéticas. Partindo de seu ensaio ! O verso alexandrino " , presente em O verso romântico e outros ensaios (1959), analisaremos as possibilidades de construção desta medida de verso. Para isto, colocaremos em debate o alexandrino arcaico (ou também denominado espanhol), verso que foi utilizado na poesia brasileira antes da reforma métrica de Castilho (1851), e cujo número total de sílabas poéticas pode chegar a quatorze, o alexandrino clássico (ou francês), verso popularizado nas letras poéticas brasileiras após o Tratado de Castilho e, por fim, um rápido panorama dos alexandrinos irregulares, cuja denominação, para evitar certas confusões versificatórias, poderia ser definida como verso dodecassílabo, medida, esta, cultuada, principalmente, por poetas modernos como Manuel Bandeira, entre outros. Dois são os objetivos desta comunicação: o primeiro deles é mostrar as várias facetas do verso alexandrino, e como o desconhecimento de uma delas pode gerar juízos errôneos sobre alguns poetas da literatura brasileira, principalmente do período romântico, momento em que o uso concomitante do alexandrino arcaico e clássico, em um mesmo poema, chegou a gerar algumas confusões de leitura; o segundo objetivo é colocar em discussão o pensamento crítico-teórico do poeta paulista Péricles Eugênio da Silva Ramos em relação ao verso alexandrino. Este segundo ponto parte de uma pesquisa mais ampla de nossa parte, cuja função é resgatar e recolocar em circulação a obra poética, tradutória e as abordagens crítico-teóricas do escritor lorenense Péricles Eugênio da Silva Ramos.

MORTE E VOZ NARRATIVA EM O NÁUFRAGO E ÁRVORES ABATIDAS ! UMA PROVOCAÇÃO, DE THOMAS BERNHARD

José Lucas Zaffani dos Santos (FCLAr; UNESP; CAPES) [email protected]

Profa. Dra. Wilma Patrícia Marzari Dinardo Maas

Palavras-chave: Thomas Bernhard; literatura alemã; morte. Os romances do escritor austríaco Thomas Bernhard possuem como característica marcante um narrador anônimo que, após a morte de alguém próximo, conduz um ininterrupto solilóquio acerca de suas memórias. Estas estão sempre ancoradas na Áustria, país que os narradores bernhardianos abandonam para tentar criar um novo sentido para suas vidas em outros lugares. O tema da morte também é constante nas narrativas do autor e esse fato serve de motivo para que se inicie o relato. A frieza das relações humanas e os atos fortuitos que determinam a vida e a morte são questões abordadas incansavelmente. Partindo desses elementos, nossa proposta é verificar como o estatuto da morte configura o espaço literário em duas obras de Bernhard, a saber, O náufrago (1983) e Árvores abatidas ! uma provocação (1984). Na primeira, o narrador passa a discorrer sobre sua juventude, quando conhecera e se tornara amigo de

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Wertheimer e Glenn Gould ! ambos já mortos no presente da narrativa. No entanto, é somente após o suicídio de Wertheimer que o narrador passa a empreender sua fala monológica. Na segunda obra, o dia do enterro de Joana coincide com o " jantar artístico # que o casal Auersberger oferecerá para recepcionar um célebre ator do Burgtheater de Viena. A narrativa inicia-se com o narrador já na casa dos Auersberger, depois de muito considerar se deveria ou não comparecer. Sentado em uma poltrona, ele rememora o período em que convivera com a maioria das pessoas ali presentes, as quais ele considera artistas medíocres. Essas lembranças são entrecortadas pelas reflexões do narrador acerca do suicídio de Joana. Para tratar desse aspecto, utilizaremos como fundamentação teórica o Seminário 10 ! A angústia, livro em que Jacques Lacan aponta o suicídio (ou passagem ao ato) como uma forma encontrada pelo sujeito para sair de uma cena a qual ele não conseguiria mais sustentar pela palavra. Desse modo, em um primeiro momento, abordaremos como o contato com a morte reverbera na subjetividade desses narradores, inserindo-os, novamente, no espaço em que eles tanto batalharam por se desvencilhar. É também a partir da morte dos amigos que esses dois narradores passam a olhar para si próprios refletindo, assim, sobre os caminhos que encontraram para dar significação a suas existências.

NOS RASTROS DE WOOLF: HERANÇA E SUBVERSÃO EM AS HORAS, DE MICHAEL CUNNINGHAM

Laís Rodrigues Alves Martins (UNESP; CNPq) [email protected]

Prof. Dr. Aparecido Donizete Rossi (UNESP) Palavras-chave: As horas; Desconstrução; Pós-Modernismo. A teoria desconstrucionista, conforme preconizada por Jacques Derrida, suscita, ainda hoje e de modo especial no cenário sul-americano, reações um tanto quanto acaloradas por parte da crítica. Esse desconforto se deve, em grande medida, ao fato desta corrente filosófico-literária promover uma verdadeira desarticulação da lógica binária de base estruturalista, a qual, como se sabe, regulamenta toda a matriz de pensamento no ocidente. Deste modo, pode-se dizer que, ao invés de fomentar a polarização de noções opositivas e hierárquicas, a desconstrução derridiana atua em sentido contrário, isto é, em favor de uma diluição de fronteiras, pois trata, por exemplo, de maneira quase indistinta, a literatura e a crítica, a ficção e a historiografia. Observa-se uma manifestação semelhante na estética pós-moderna: essencialmente pautada por uma incessante busca pelo polissêmico, pela heteroglossia e pelo hibridismo. O pós-modernismo se propõe, ainda, a questionar as noções de central e periférico, bem como as fronteiras entre os textos e os gêneros literários. Por conseguinte, pode-se dizer que os romances pós-modernos se caracterizam por estabelecer diálogos explícitos com outras obras e discursos, a partir do recorrente e expressivo emprego de práticas paródicas e intertextuais. Como se sabe, os escritores pós-modernos a elas recorrem com o intuito de promover um revisionismo crítico do passado. Partindo do pressuposto de que é possível articular a teoria desconstrucionista de base derridiana com a estética

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pós-moderna, intenta-se demonstrar, nesta comunicação, como a narrativa As horas (The hours, 1998), de autoria do norte-americano Michael Cunningham, pode ser vista como representante de ambas as estéticas supracitadas. Enfatizar-se-á, também, a dúbia relação do referido romance com a obra modernista Mrs. Dalloway (1925), da escritora inglesa Virginia Woolf. Procurar-se-á elucidar de que maneira Cunningham se vale da prosa ! woolfiana" sem a ela se deixar enredar por completo, haja vista que dispõe de liberdade tanto para lhe prestar um tributo quanto para subvertê-la.

ÉDIPO, JOCASTA, IDE E A COMPLEXIDADE DAS RELAÇÕES PARENTAIS NA TEBAIDA, DE PÚBLIO PAPÍNIO ESTÁCIO

Leandro Dorval Cardoso (FCLAr; UNESP; CAPES) [email protected]) Prof. Dr. Brunno V. G. Vieira

Palavras-chave: Tebaida; Públio Papínio Estácio; épica; No presente trabalho, serão analisadas, especialmente, três personagens (Édipo, Jocasta e Ide) do poema épico Tebaida, do autor romano Públio Papínio Estácio, publicado no ano de 92 d.C. Nessa obra, Estácio desenvolve uma narrativa sobre o episódio mitológico conhecido como a guerra dos Sete contra Tebas, em que Polinices, filho de Édipo e Jocasta, trava uma disputa com seu irmão Etéocles pelo trono de Tebas logo após Édipo descobrir seu infortúnio e mutilar os próprios olhos, abdicando do poder sobre a cidade. No correr da história, Jocasta, mãe e avó de seus filhos com Édipo, e mãe também de seu próprio esposo, tenta dissuadir seus filhos-netos da luta, assumindo, então, um papel pacificador diante do conflito entre seus rebentos # conflito esse, é forçoso que se diga, provocado principalmente por uma maldição lançada por Édipo contra seus descendentes. O complicado relacionamento parental entre Jocasta e Polinices e Etéocles, mas também entre Jocasta e Édipo, bem como o deste com seus filhos, acaba sendo tratado por Estácio como um dos assuntos do poema, trabalhado especialmente pelo contraste entre estas e outras figuras parentais que surgem durante a narrativa. Em se tratando das figuras maternas, a principal delas, chamada Ide, surge logo após um combate que resultou na morte de cinquenta jovens soldados tebanos. Esta mãe, desesperada, chega ao campo de batalha buscando, entre restos de corpos, os cadáveres de seus dois filhos, referenciados pelo patronímico ! Tespíadas" . Depois de muito revirar, Ide encontra os seus corpos unidos por uma mesma lança # e o simbolismo, aqui, em relação ao assunto principal do poema, uma guerra entre irmãos que matam um ao outro durante a batalha , é bastante claro. Com esta cena, Estácio cria o retrato de uma família cujas relações # pelo que se pode inferir a partir do texto # impõem-se como opostas àquelas que se observam na casa de Édipo, sejam elas entre irmãos, sejam entre pais e filhos. Aqui, então, serão comparadas diferentes passagens da obra com vistas a verificar os meios pelos quais Estácio estabelece e contrapõe essas personagens e os seus relacionamentos.

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ENQUANTO AGONIZO E OS PALIMPSESTOS FILOSÓFICOS DE WILLIAM FAULKNER

Leila de Almeida Barros (UNESP) [email protected]

Prof. Dr. Alcides Cardoso dos Santos (UNESP) Palavras-chave: Literatura e Filosofia; existência; morte. Resumo: Enquanto agonizo (1930), quinto romance de William Faulkner, é habitado por narradores-personagens que discutem e desenvolvem em seus monólogos uma gama de questões filosóficas. Tais personagens veem-se atormentadas, em maior ou menor grau, pela busca constante de um significado para suas existências. A angústia que habita os membros da família Bundren extrapola mesmo a experiência da morte. Isto é, mesmo que o luto prolongado pela viagem até Jefferson amenize a dor da morte da matriarca, os Bundren conservam certa sensação de estranhamento e desligamento do mundo exterior. As reflexões da família acerca da morte, da linguagem, do tempo e, acima de tudo, da existência exprimem-se em quarenta e três capítulos cuja estrutura é a do fluxo de consciência e do monólogo interior. Parece-nos evidente que um romance heterogêneo como Enquanto agonizo não poderia igualmente ter como fim qualquer unidade ou consenso filosófico. O objetivo deste trabalho, portanto, não é apenas o de oferecer uma investigação em que a compreensão das questões filosóficas apresentadas pelo romance torne-se metodologicamente viável graças às evidências da análise do texto literário. Em outras palavras, a Literatura quando colocada lado a lado com a Filosofia não tem como única função ilustrar questões filosóficas ou objetivá-las concretamente. Acreditamos que grande parte dos textos que compõe a obra de Faulkner possui em seu âmago a latente possibilidade de, em certo sentido, construir e desconstruir conceitos filosóficos por meio de sua própria linguagem, temas e personagens. No caso de Enquanto agonizo, cremos que nenhum pensamento filosófico pode, por si só, qualificar ou tão-somente esclarecer cem por cento as inquietações dessas vozes. Considerações outrora feitas por filósofos como Arthur Schopenhauer, Friedrich Nietzsche, Martin Heidegger e Georges Bataille são revistas por Addie, Anse, Cash, Darl, Dewey Dell, Jewel e Vardaman cujas palavras se escrevem por cima desses conceitos já consolidados, num movimento constante, fazendo germinar via linguagem uma multiplicidade de novas reflexões.

PAIXÕES, SENSAÇÕES E EPIFANIA EM CONTOS DE CLARICE LISPECTOR

Letícia Coleone Pires (UNESP; CAPES) [email protected]

Profa. Dra. Maria Célia de Moraes Leonel (UNESP)

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Palavras-chave: Clarice Lispector; contos; sensações. O objetivo da comunicação é apresentar alguns resultados de nossa pesquisa de mestrado. O centro da dissertação é a verificação do modo como, por meio da linguagem e de outros elementos, como história, narrador, personagem, focalização, espaço e tempo, Clarice Lispector constrói narrativas poéticas, em que sobressai a manifestação de percepções advindas dos campos sensoriais, por sua vez oriundas de determinadas paixões, e que podem atingir momentos epifânicos. O corpus da pesquisa é formado por duas coletâneas de contos, Laços de família e A legião estrangeira, com ênfase em quatro composições de cada livro, respectivamente: ! A imitação da rosa" , ! Preciosidade" , ! Mistério em São Cristóvão " e ! O búfalo " , ! Mensagem" , ! O ovo e a galinha" , ! Evolução de uma miopia" e ! A legião estrangeira" . Na comunicação apresentaremos a análise de dois contos, um de cada coletânea, para, na poética de Clarice Lispector, evidenciarmos as manifestações mencionadas. De Laços de família escolhemos o último conto da coletânea, ! O búfalo " , narrativa simbólica por ter, em sua constituição, características recorrentes na obra clariceana no que se refere ao nosso tema, como, por exemplo, o olhar, a relação eu e o outro, a epifania, entre outras. A composição de tais elementos é feita por meio do viés poético que as obras de Clarice Lispector, em geral, possuem. Para a verificação desse ponto utilizaremos, principalmente, o estudo de J.Y. Tadié, Le récit poétique. Já de A legião estrangeira, destacamos o conto homônimo da coletânea, ! A legião estrangeira" , que também encerra a obra, no qual temos, pelo processo de rememoração, a história da relação entre a narradora e Ofélia, uma criança, e, com o surgimento de um terceiro elemento, um pinto, tem-se o nascimento de uma paixão, a inveja. Essa paixão é etimologicamente relacionada com o olhar e, na narrativa, sua gênese é percebida pela narradora ao observar na expressão facial da criança, a mudança nos olhos.

POESIA DRAMÁTICA DE VILLIERS DE L´ISLE-ADAM: A MIMESIS ARISTOTÉLICA EM CRISE

Lígia Maria Pereira de Pádua Xavier (UNESP) [email protected]

Prof. Dra. Guacira Marcondes Machado Leite (UNESP)

Palavras-chave: Literatura Francesa; Poesia dramática; Villiers de l# Isle-Adam. O drama, desde antiguidade, sempre gozou de grande prestígio. Aristóteles, por exemplo, elege a tragédia como gênero supremo em toda tradição clássica visto seu caráter mimético puro. No Renascimento, ela também goza de grande deferência, pois sendo fiel ao projeto humanista antropocêntrico, permite inserir o homem e suas

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relações intersubjetivas no palco através do diálogo. No entanto, no final do século XIX, o conceito de mimesis aristotélica é questionado em todos os segmentos artísticos: com o progresso científico e a consolidação do capitalismo, o homem acreditava estar no auge do processo civilizatório evidenciando o culto do ! eu" , do individualismo, que fora consagrado como valor absoluto pela revolução burguesa. Assim, testemunha-se uma crise que faz eco às transformações sociais: a crise da representação. Se na Antiguidade Clássica a relação poeta/público-leitor era estreita já que todos compactuavam do mesmo valor moral e estético, transmitido pelo conceito de mimesis, na metade do século XIX, essa relação entra em colapso já que a arte não almeja a representação, mas sim a expressão do eu lírico. Não mais sujeito à verossimilhança aristotélica, o drama entra em crise e desvencilha-se das regras das três unidades estabelecendo um novo conceito de teatro mais afeito às revoluções artísticas da época. E é justamente na recusa do tratamento mimético da realidade que o teatro villieriano se coloca e se faz poesia dramática, dando voz aos anseios mais profundo do eu e comunicando-os ora pela dramatização da palavra poética, ora pela dramatização do silêncio. Dessa forma, o objetivo da minha comunicação será apresentar alguns aspectos importantes da obra dramática villieriana que o colocam no epicentro dessa crise do drama pela sua posição iconoclasta de reivindicação de um novo fazer teatral, destacando-o, assim, como um dos desbravadores do teatro simbolista francês que culminaria em uma revolução das formas cênicas que, por sua vez, engendraria o teatro moderno.

! ENCARO O TEMPO E DIGO: VENHA, CARA" : O CLÁSSICO E O CONTEMPORÂNEO EM GERALDO CARNEIRO

Leonardo Vicente Vivaldo (UNESP; FNSA,CAPES) [email protected]

Prof. Dr. Antônio Donizeti Pires (UNESP)

Palavras-Chave: Clássico; Contemporâneo; Poesia Brasileira; Geraldo Carneiro. Quando iniciada uma discussão sobre o intrincado conceito de contemporâneo, parece ser ponto de partida quase obrigatório o profícuo texto ! O que é o contemporâneo?" # do filósofo italiano Giorgio Agamben. O curto, embora instigante ensaio, consegue abordar de maneira muito ampla e profunda as diversas concepções acerca do que seria, ou poderia ser, o contemporâneo. E se para a discussão do contemporâneo o referido texto de Agamben é quase ! lugar-comum" , ! Por que ler os Clássicos" , do também italiano Ítalo Calvino (1923-1985), é a referência fundamental sobre a importância dos textos clássicos/canônicos. Desta forma, aproximando as leituras de Agamben e Calvino, notamos que o clássico, assim como o contemporâneo, possui uma inquietação natural: o contemporâneo não aceita completamente o próprio tempo e indago-o; o clássico, de certa forma, também indagou o seu tempo e, mergulhando profundamente nele e questionando-o, entendeu-o melhor (e, provavelmente por conta disso, continuará indagando e entendendo melhor diversos outros tempos que não propriamente o seu apenas). Portanto, contemporâneo e clássico possuem esta capacidade de burlar a

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imposição temporal, revalidando suas próprias origens (e onde percebemos que o arcaico do contemporâneo bem poderia ser o clássico ou até, quem sabe, que o arcaico do clássico seria, à sua época, a sua dose de contemporâneo). Sendo assim, o clássico e o contemporâneo possuem uma relação muito mais próximo do que podemos supor à primeira vista. E caminhando nesta direção, a poesia do mineiro-carioca Geraldo Carneiro, tão ! ensurdecedora" de vozes e imagens quanto a agitação de uma escola de samba na Sapucaí ou mito grego, faz desfilar diversos autores, estilos e tempos, promovendo um aparentemente encontro caótico entre todas as idiossincrasias da vida contemporânea, mas sempre munido de inúmeras interferências ao mundo clássico. Odisseu, Orfeu, Ícaro: três trágicos destinos selado pelos Deuses do mundo clássico, agora resignificados, passam, assim, a representar o próprio poeta/homem de hoje (e de ontem # e sempre).

A CRÔNICA CONTEMPORÂNEA BRASILEIRA

E SEUS NOVOS ESPAÇOS

Luis Eduardo Veloso Garcia (UNESP; CAPES) [email protected]

Profa. Dra. Juliana Santini (UNESP) Profa. Dra. Rejane Rocha (UFSCar)

Relacionada ao suporte do jornal impresso como um elemento definidor de seu estilo e característica, o gênero crônica viu, nas últimas décadas, a abertura de novos suportes para a sua produção integral através da Internet, e por se tratar de um texto que reflete os trâmites do jornalismo, pode-se supor que, de certa forma, trouxe para sua estrutura interações e dinâmicas comunicacionais que fazem parte da atualidade em que é produzida. O trabalho em questão procurará apontar, então, uma leitura sobre os novos espaços que compreendem a crônica brasileira contemporânea, levando em consideração duas perspectivas de significação de espaço: o espaço onde a crônica é produzida na atualidade, os seus suportes, a sua materialidade, e os espaços representados dentro do espaço literário do texto, dos quais o ciberespaço se apresenta como um caminho incontornável no tempo presente. Além disso, reflexões sobre novas perspectivas conceituais de referência espacial # e, principalmente, a perda dele # , que fazem parte da contemporaneidade, como os casos da desterritorialização e da gentrificação, serão elucidadas no modo de agir do cronista em seus escritos, demonstrando claramente que tal figura representa, de maneira dinâmica e complexa, as situações e concepções que formam sua época, afinal, não existe gênero que se alimente mais do tempo presente do que a crônica. Para que tal leitura atinja uma interpretação satisfatória, a obra de quatro cronistas de grande repercussão na crônica contemporânea e, consequentemente, nos espaços que compreendem as redes sociais da Internet brasileira, será tomada como um caminho de exemplificação: Gregório Duvivier, Antônio Prata, Tati Bernardi e Xico Sá. O que se propõem nesse trabalho, portanto, é um novo olhar para a crônica contemporânea, entendendo de que maneira suas transformações de suportes alteram sua maneira de ser consumida e entendida pelo nosso tempo presente, além de suas representações feitas no espaço literário.

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UMA CASA E MÚLTIPLOS UNIVERSOS: O ESPAÇO EM RELATO DE UM CERTO ORIENTE, DE MILTON HATOUM

Manoelle Gabrielle Guerra (UNESP; CAPES) [email protected]

Profa Dra Juliana Santini (UNESP) Palavras-chave: Espaço; Memória; Milton Hatoum. Este trabalho tem por objetivo discutir a construção do espaço em Relato de um certo Oriente, romance inaugural de Milton Hatoum. Publicado em 1989, a narrativa configura-se como um relato feito pela filha adotiva de uma família de origem libanesa que migrou para Manaus no início do século XX. A busca pelo passado e pela própria identidade impulsiona essa narradora inominada a viajar para a cidade da infância em uma tentativa vã de reencontrar sua mãe adotiva, detentora de todos os segredos da família. A problematização do espaço no romance parte de uma contraposição que se estabelece entre público e privado, externo e interno, e também de um entrelaçamento da espacialidade com os personagens por meio da memória. Há um movimento de rememoração a partir do qual os espaços da narrativa se abrem em infinitas lembranças, recuperando um quadro familiar caracterizado pela manutenção da tradição, revitalizada nos gestos e hábitos. Um Oriente é fundado em meio ao Amazonas, sustentado pela memória da terra natal, o Líbano, e sua constante reconstrução no interior da casa perpetua-se por meio dos símbolos e da língua materna, como um refúgio para aqueles que se encontram expatriados. Os espaços da infância desdobram-se entre as diversas moradas da família, e se sobrepõem na mente dessa narradora no instante de sua chegada à cidade, como em um jogo de espelhos provocados pelos elementos culturais que compõem as casas representadas no romance. Os ambientes internos são organizados simbolicamente por meio de objetos, os quais fazem parte da vida íntima dos membros desse clã, permitindo o alojamento de lembranças que ajudam a reconstruir o tempo passado. O sobrado da família e a loja do patriarca representam tempos diversos da vida desses personagens, e contribui para a reconstrução de uma história em cujo centro repousa a figura de Emilie, mãe de todos e senhora soberana desse universo que constitui a narrativa.

REFLEXÕES SOBRE A MEMÓRIA EM MUJERES QUE CAMINAN SOBRE HIELO

Marcelo Maciel Cerigioli (FCLAr/UNESP)

[email protected] Profa. Dra. María Dolores Aybar Ramírez

Palavras-chave: Memória; História; Literatura Espanhola.

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Na Espanha está ocorrendo na última década um movimento de resgate das memórias individuais e coletivas do século passado, a partir das discussões geradas pelo projeto de lei da memória histórica. Esse movimento se reflete também na ficção produzida na atualidade no país. No Estado policialesco e extremamente repressor da ditadura franquista, as pessoas praticamente não tinham direitos. No caso das mulheres, menos ainda. Observando isso e buscando conhecer melhor a literatura contemporânea que trata desse período, observamos que não só as personagens femininas se destacam, mas também as escritoras que passaram a narrar esse contexto. Muitas autoras foram testemunhas desse momento histórico na infância, ou, no caso das que nasceram depois, são filhas ou netas de mulheres que viveram na pele a repressão, principalmente as nascidas em famílias que estavam do lado dos que perderam a guerra ou simpatizavam de alguma forma com a esquerda. Este artigo busca refletir sobre a questão da memória no romance espanhol Mujeres que caminan sobre hielo, de Gloria Ruiz. Para tanto, baseia-se nos estudos de Maurice Halbwachs, Jacques Le Goff, Paul Ricoeur, Pierre Nora e Santo Agostinho. No romance estudado, publicado em 2014, a autora dá voz aos vencidos da Guerra Civil, em sua luta para sobreviverem nessa sociedade asfixiante. Sob a perspectiva feminina, o livro apresenta os dramas e os desafios das protagonistas, Julia, Maru e Eve, amigas inseparáveis num vilarejo na Espanha nesse período de ditadura. O presente dessas heroínas é muito afetado pelo passado, tanto em relação aos seus familiares como também em relação à História da Espanha. Nessa obra, as personagens estão em constante diálogo com seu passado. Assim, a memória é crucial para a construção desse romance, como um eixo, no qual os ! lugares da memória " são importantes para as personagens poderem manter vivas as recordações sobre o passado, criando a sua identidade. Além disso, podemos constatar que se uma personagem se lembra de alguma coisa é porque alguém disse algo, ou porque um lugar ou um objeto está associado a algo significativo da sua trajetória, demonstrando que a memória é construída de forma coletiva nesse romance.

ENEIDA, CANTO III: TRADUÇÃO DECASSILÁBICA SEGUNDO UM MODELO DE PROPORCIONALIDADE MÉTRICA

Prof. Dr. Márcio Thamos (UNESP) [email protected]

Palavras-chave: Eneida, tradução, proporcionalidade métrica. Esta comunicação tem o intuito de apresentar considerações referentes ao desenvolvimento de um projeto de tradução da Eneida de Virgílio (70-19 a. C.), em andamento nos últimos anos. O objetivo da pesquisa é penetrar na estrutura semiótica do texto-objeto selecionado para (re)conhecer-lhe então o poético, a fim de produzir uma tradução em português capaz de manter aquilo que normalmente se entende por conteúdo (o que o texto diz) e ao mesmo tempo preservar, tanto quanto possível, valores significativos da expressão (como o texto diz o que diz). Como fundamento para o trabalho, considera-se que a tradução de um texto poético só pode chegar a ter um

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caráter de poesia quando, juntamente com a preocupação básica de traduzir a substância do conteúdo, intenta-se também uma tradução da substância da expressão, procurando, portanto, ultrapassar os limites de uma tradução metafrástica, isto é, aquela feita mais para dar o sentido de uma obra do que para mostrar suas qualidades estéticas. Na busca de parâmetros para certa afinidade requerida pela tradução em relação ao texto original, procura-se observar que a tradição literária do português, formada pela sensibilidade de seus poetas mais notáveis ao longo de séculos, atesta uma equivalência estilística entre o decassílabo e o hexâmetro ! e, em se tratando de épica clássica, tal correspondência é bastante evidente. Assim, os hexâmetros do Canto III da Eneida foram transpostos em decassílabos, de acordo com o modelo adotado pela tradição clássica em português, vale dizer, quase sempre em versos com acento característico na sexta sílaba (heróico), e mais esporadicamente em versos com acentos característicos na quarta e na oitava (sáfico). É certo que nenhum padrão quantitativo pode dar conta da qualidade de uma tradução, no entanto, pretende-se mostrar como a tradução do Canto III, recentemente concluída, pode ratificar empiricamente certa equivalência entre o verso latino e o português, segundo um modelo de proporcionalidade métrica, fundado na materialidade da expressão, que vem sendo deduzido das etapas anteriores da tradução da epopeia virgiliana. Para esta comunicação, serão tomadas como exemplo passagens da Eneida, acompanhadas da tradução, de acordo com o modelo proposto.

MACHADO DE ASSIS, ! O IDEAL DO CRÍTICO " E UM ! PROPÓSITO " NA ! SEMANA LITERÁRIA"

Marina Venâncio Grandolpho (UNESP) [email protected]

Prof. Dr. Wilton José Marques (UFSCar/UNESP) Palavras-chave: Oitocentismo; Machado de Assis; crítica literária. O presente trabalho configura uma discussão inicial sobre o que está proposto e sendo desenvolvido em nossa pesquisa, tematizada pela crítica literária machadiana, mais precisamente pelos textos de crítica de poesia produzidos por Machado de Assis (1839-1908) para a coluna " Semana literária# , publicada no Diário do Rio de Janeiro entre janeiro e julho de 1866. Sob direção de Quintino Bocaiúva, " principal redactor # do jornal na época, Machado publicou 30 textos de crítica literária diversa, nos quais meditou sobre textos poéticos, dramáticos, narrativos e sobre história e crítica literárias do Brasil oitocentista. A proposta geral de nossa pesquisa adota como corpus 16 dos 30 textos presentes na coluna, privilegiando a análise de dois textos críticos sobre a própria crítica literária e de 14 textos críticos sobre poesia. No entanto, no presente trabalho, faremos um recorte, a fim de discutir parte do que está sendo desenvolvido em nossa pesquisa, destacando nesse momento apenas um dos dois textos sobre crítica e história literária publicados na coluna ! o texto inaugural. Nesse sentido, introduziremos a discussão sobre a " Semana literária# considerando seu primeiro texto ! sem título como todos os outros textos nela publicados, mas intitulado " Propósito # quando publicado, posteriormente, em livro ! , procurando, num segundo momento, estabelecer relação

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com o texto ! O ideal do crítico " , publicado em outubro de 1865 # poucos meses antes da estreia da coluna em questão # , também no Diário do Rio de Janeiro. Em ambos os textos há uma discussão sobre a crítica literária presente no Brasil oitocentista, em que Machado trata especialmente da importância do papel do crítico na formação do público leitor # ainda escasso no cenário oitocentista # e da relação entre o fazer e a prática literária, concebendo o fazer literário como um ofício que busca aprimoramento. Desse modo, por crer na importância do papel do crítico, evidenciada por Machado de Assis, e na relevância da crítica machadiana para o cenário literário brasileiro em formação, propomos uma reflexão inicial mas aprofundada sobre esse assunto.

RUBEM FONSECA E O DESENVOLVIMENTO DO ROMANCE POLICIAL NO BRASIL

Murilo Eduardo dos Reis (UNESP; CAPES)

[email protected] Profa. Dra. Maria Célia de Moraes Leonel (UNESP)

Palavras-chave: Rubem Fonseca; narrativa; romance policial. A comunicação resulta da intenção de verificar como se deu o desenvolvimento da vertente literária do romance policial no Brasil e os motivos que levam a obra de Rubem Fonseca a ser tida como um marco, no que diz respeito a esse tipo de narrativa no país. Para atingirmos nossos objetivos, é fundamental que comparemos o modo como o gênero se estabeleceu em terras brasileiras e nos Estados Unidos e na Europa. A forma básica desse tipo de literatura foi criada por Edgar Allan Poe nos contos que têm como protagonista C. A. Dupin, textos que devem ser tomados como base para refletir a respeito de questões que envolvem o gênero. Faz-se necessária uma breve incursão pelas modificações sofridas pela literatura policial desde a sua origem, tanto no que diz respeito aos temas que são compostos pelas categorias narrativas, sobretudo as personagens ali representadas, bem como o modo como tais elementos estruturais se relacionam para a construção do tema. O embasamento teórico é constituído por bibliografia que dá conta da literatura policial e sua evolução histórica, da mesma maneira que do estudo das categorias da narrativa. Com relação à produção fonsequiana, utilizamos a fortuna crítica do escritor, formada por ensaios que podem ser classificados como gerais e específicos ou pontuais, que abordam características da obra do autor. Examinamos, com base no romance A grande arte - publicado em 1983 - como o escritor se apropria de recursos peculiares ao romance policial. Outros textos de Rubem Fonseca também são trazidos à baila por conta da repetição de certas características de sua obra (principalmente entre os anos 1960 e 1980) ou pela retomada de algumas personagens (como Mandrake, detetive de A grande arte, outrora protagonista de contos). Dessa maneira, buscamos explicar o fato de tais romances terem se estabelecido como monumentos na planície da literatura policial brasileira e, consequentemente, alçado Rubem Fonseca como modelo a ser seguido por escritores como Patrícia Melo, Tony Bellotto, Jô Soares e Marçal Aquino.

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O PERCURSO DE FORMAÇÃO DO PROTAGONISTA DE LONGE DA ÁGUA, DE MICHEL LAUB

Naiara Alberti Moreno (UNESP, CAPES), [email protected]

Profa. Dra. Juliana Santini (UNESP) Profa. Dra. Wilma Patricia M. D. Maas (UNESP)

Palavras-chave: Romance de formação; romance brasileiro contemporâneo; Michel Laub. A fortuna crítica que vem se construindo em torno das obras de Michel Laub refere-se a sua produção recorrendo, não raras vezes, embora levianamente, à ideia de ! romance de formação " . Essa associação costuma ser legitimada também pela divulgação dos romances, pelos paratextos dos livros e pelo próprio autor em entrevistas. Além disso, é possível dizer que tal fenômeno pode ser reconhecido igualmente na crítica de outros escritores contemporâneos a Michel Laub. Haveria pertinência nessa aproximação entre um conceito criado, a princípio, para designar obras europeias produzidas sob a égide do Iluminismo do século XVIII e romances brasileiros do começo do século 21? O ato de filiar romances contemporâneos a um modelo canônico serve, certamente, como estratégia de mercado, mas isso tornaria, automaticamente, ilegítima a aproximação? Respostas apressadas a essas perguntas parecem não conduzir a reflexões profícuas, esgotando-se em si mesmas. Nesse sentido, esta pesquisa se volta a tal problema levando em conta que, aparentemente, diante de um conceito tão amplo e difuso como o Bildungsroman, é inócua a pergunta se os romances de Laub pertenceriam à vertente. Antes disso, os caminhos desta pesquisa têm demonstrado que, no plano dos gêneros, a noção de ! participação " possibilitaria, de forma mais profícua que a ideia de ! pertença" , a iluminação de aspectos dos romances de Laub ainda não problematizados pelos estudos literários. Assim, como tentativa de saldar minimamente essa lacuna, este trabalho consiste na apresentação de uma leitura do romance Longe da água, na qual se busca delinear o percurso de formação do narrador-protagonista: um homem de 30 anos narra episódios de sua adolescência que marcariam definitivamente os rumos de sua vida, ou ainda, as passagens ou entradas para a vida adulta. Dessa forma, observa-se como são trabalhados na obra temas caros aos romances de formação: o (suposto) desenvolvimento do protagonista, a presença de rituais de iniciação, a descoberta do sexo e das artes, a escola enquanto espaço de socialização, o contato com os mentores, a saída da casa paterna, a entrada na vida profissional. Para analisar o modo como esses temas se plasmam na obra e interpretar sua presença, servirão de embasamento à discussão as reflexões sobre o Bildungsroman de autores como Bakhtin e Franco Moretti. Finalmente, em vista do deslocamento histórico, social e cultural em relação aos modelos, espera-se reconhecer o que se poderia entender por formação no universo da obra.

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UM ESTADO DE ALMA: O SENTIMENTO DE ! VAGUE DES PASSIONS " EM CHATEAUBRIAND

Natália Pedroni Carminatti (UNES; CNPq)

[email protected] Profa. Dra. Guacira Marcondes Machado Leite (UNESP)

Palavras-chave: Paixões; Vago; Chateaubriand.

Em 1802, a publicação de René não foi tão ! estrondosa" como aquela da novela Atala no ano precedente. Nas palavras de Chateaubriand, em Mémoires d ! outre-tombe (1849-1850), se René não existisse, o memorialista não mais o escreveria, caso pudesse, destrui-lo-ia. De qualquer forma, aquele início de século XIX impulsionou um estado de alma, denominado por Chateaubriand, " vague de passions# . Para nós, falantes do português, paixões vagas, indefinidas, incertas, completamente obscuras. René não alcançou o mesmo sucesso de Atala, no entanto, definiu o universo melancólico dos homens. Será mesmo que o texto merecia ser destruído? Pensando nisso, na presente comunicação, propomos uma delicada discussão sobre a supracitada obra de François-René Auguste de Chateaubriand. Pré-romântico, discípulo de Jean-Jacques Rousseau, o escritor bretão, em René, apresentou-nos pela primeira vez, o homem em conflito com suas paixões, melancólico e determinado por suas tragédias existenciais. Uma consciência desassossegada, uma vida atormentada por seu gênio, um sofrimento indecifrável: René, angustiado por " passions# e " malheurs# , é modelo exemplar da teoria exposta no livro apologético de Chateaubriand, Génie du christianisme, publicado no mesmo ano da novela. A princípio, René serviria de ilustração ao capítulo IX consagrado às " Vague des Passions# ; todavia, posteriormente, fora anunciado separadamente. Sendo assim, trataremos aqui do " frère d ! Amélie# , alcunha que lhe pesara tanto no decorrer de seu percurso existencial, não possibilitando que a personagem se desligasse de seu fatídico destino. Responsabilizar-se pelas próprias ações, renunciar aos sentimentos perversos e antagônicos, aceitar a sua condição miserável é tarefa árdua para René, visto não saber lidar com as incongruências de seu coração. Assim, temos em mãos um texto sinalizador de uma problemática individual, entretanto, por sua temática, converte-se em uma problemática mais abrangente, isto é, universal. Ora, não estamos diante de uma simples troca de algarismos romanos, estamos no século XXI, revivendo, intensamente, as metamorfoses sentimentais experimentadas por René no século XIX. Algarismos invertidos que tangem a um mesmo incômodo, aquele do homem em desarmonia com suas paixões.

ESCRITURAS NEM TÃO SAGRADAS ASSIM: EFEITOS DE SENTIDO GERADOS PELAS APROPRIAÇÕES DE TEMAS E FIGURAS BÍBLICAS NO

CONTO AS PRAGAS DE MOACYR SCLIAR

Rafaella Berto Pucca (UNESP) [email protected]

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Profa. Dra. Maria Lúcia Outeiro Fernandes (UNESP)

Palavras-chave: literatura contemporânea; releitura bíblica; figuratividade. O presente trabalho busca apresentar os efeitos de sentidos gerados pela representação da figuratividade no conto As Pragas do escritor gaúcho Moacyr Scliar, narrativa esta que aborda uma recorrência na obra do escritor de origem judaica: a releitura bíblica. Para tanto, utilizaremos a teoria semiótica, sob inspiração greimasiana, demostrando como o texto corporifica o plano do conteúdo no plano da expressão, através das seleções de temas e figuras que carregam uma história de significação já cristalizada pelo discurso canônico ocidental, mas que adquirem nossas possibilidades de leitura quando recontextualizadas. Mostraremos, desta forma, que a (re)escritura em questão, incorpora as mesmas isotopias figurativas do texto original (as dez pragas do Egito), mas gera diferentes interpretações da parábola bíblica na elaboração das isotopias temáticas. Percebe-se, então, que paralelamente ao tema da opressão/subordinação patriarcal, temos outras isotopias temáticas de nível inferior, tais como a incredulidade, a zombaria, o desamparo, a amargura, o ódio e o desafio; isotopias estas que subvertem o primeiro sentido e desconstroem a sacralidade do texto original. Além disso, efeitos de circularidade presentes em figuras que remetem ao ciclo das águas se corporificam na própria estrutura textual da obra de Scliar, sendo o inicio e o fechamento do conto idênticos na elaboração discursiva, indicando um eterno retorno ao ponto inicial, uma simbologia a própria dinâmica do tempo. Assim, a alternância cíclica da História se cristaliza na estrutura da obra literária, que revive o sentido clássico, mas o subverte, questionando as metanarrativas canônicas que enfatizam valores como o patriarcalismo e o etnocentrismo das sociedades ocidentais. Fica evidente, pois, a metáfora da circularidade no sentido de reviver para reavaliar e recriar, uma postura muito recorrente na literatura contemporânea. Neste sentido, podemos dizer que a análise da figuratividade nos permite elencar os efeitos de sentido gerados pelas seleções de isotopias temáticas e figurativas que se completam no percurso da leitura para garantir a coerência semântica do texto.

JOGO DE MÁSCARAS AUTORAIS: UM CASO DE AUTOR-TRANSCRITOR EM A CASA DOS BUDAS DITOSOS, DE JOÃO UBALDO RIBEIRO

Rosana Letícia Pugina (UNESP; CNPq) [email protected]

Profa. Dra. Maria de Lourdes Ortiz Gandini Baldan (UNESP) Palavras-chave: Tacca; autor-transcritor; A casa dos budas ditosos. O autor é a individualidade materialmente responsável pela criação literária. Desta forma, é sujeito de uma atividade a partir da qual se dá um universo ficcional, por conseguinte, toda obra pertence a um autor. Inicialmente, é ele que se expõe, pois

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assume a responsabilidade pela palavra dita. Em alguns casos, no processo artístico, o autor pode dissimular a voz narrativa, tornando velada a sua imagem: ele cede o seu lugar para uma personagem no início do romance, nas notas introdutórias ou nas advertências. Assim, essas obras vêm à luz pelas mãos de um editor, redator ou organizador. É um caminho para ! documentar " a literatura, isto é, aproximá-la da realidade para que se tenha o efeito da verossimilhança, o que se realiza nesses romances por meio do emprego do recurso criativo chamado de autor-transcritor. Essa ocultação atrás de um terceiro é uma maneira hábil para dizer o que se pensa sem assumir a responsabilidade sobre o que foi dito. Como resultado, tem-se uma estratégia ardilosa de criação literária construída pelo afastamento entre os papéis do suposto autor # aquele que assina a obra # , e do autor fictício # aquele que se apresenta como escritor # e que, por isso, possui autoridade para levar o fio narrativo até o final. Com base em tais definições, o tema deste trabalho é o estudo do conceito de autor-transcritor proposto por Tacca (1983) em A casa dos budas ditosos, de João Ubaldo Ribeiro (1999), cujo núcleo é o relato autobiográfico de CLB, uma mulher sexagenária, que relembra as suas práticas sexuais. O objetivo geral é compreender a concepção de autor-transcritor cunhada por Tacca (1983) e os objetivos específicos são observar como esse conceito se aplica ao corpus, bem como apurar qual é o seu efeito na tecedura do romance ubaldiano. Como apoio teórico, recorre-se também aos estudos de Bourneuf e Ouellet (1976), Reis e Lopes (1988), e Maingueneau (1997) a respeito do autor-transcritor. Para amparar a análise do romance constituinte do corpus, optou-se pelos escritos de Olivieri-Godet (2009) e, para a melhor compreensão da construção social do gênero feminino, recorreu-se aos apontamentos de Beauvoir (1967). A metodologia do trabalho quanto à abordagem é exploratória, qualitativa e de cunho bibliográfico. No final, espera-se ter verificado o modo de construção da voz do autor-transcritor em A casa dos budas ditosos como uma astúcia enunciativa da criação romanesca.

A NARRADORA INTELECTUAL COMO PERSONAGEM INEPTA EM ALBERTO MORAVIA: APROXIMAÇÕES

Sérgio Gabriel Muknicka (UNESP; CAPES)

[email protected] CAPES

Profa. Dra. Cláudia Fernanda de Campos Mauro (UNESP) Palavras-chave: Alberto Moravia. Conto. Personagem. Este estudo discorre sobre as personagens femininas nos contos ! La cosa più terribile della vita" e ! Una donna piuttosto comune" da coletânea Boh (1976) do autor italiano Alberto Moravia (1907-1990) # artista romano que concebeu sua obra tanto em prosa (contos, novelas e romances) como em peças de teatro e em roteiros cinematográficos. A escolha desta coletânea específica deu-se, pois seus contos trazem à tona indagações fulcrais no que tange à poética moraviana, como a lassitude do indivíduo frente à realidade vivida, o corpo como mercadoria e objeto de consumo, o fetichismo de objetos, a hipocrisia social, o sexo e a angústia existencial. As personagens

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protagonistas dos contos escolhidos debatem-se até o último momento para tentar lidar com os dilemas e trilemas de suas vidas. No entanto, ao fim e ao cabo, tudo é reduzido ora a uma visão de mundo apática e desencantada ora a uma escarnecedora ironia devido à inexistência de profundidade em um universo cujos habitantes, apesar de ansiarem por se fazer ouvir, restringem-se a ranger como meras engrenagens da máquina social. Moravia conseguiu expor a psicologia neurótica de suas protagonistas, retratando-as como figuras cínicas e distantes. A linguagem, simples e desprovida de ornamentos tanto linguísticos quanto estruturais, é reflexo disso. Acredita-se, todavia, que o tom de oralidade, às vezes bastante marcado em certos contos, pode ser lido como a confissão elegíaca dessas personagens que desfrutam da posição privilegiada ! embora não totalmente confiável ! de uma narradora que, por meio da focalização interna fixa, elabora à vontade suas histórias por meio do discurso em primeira pessoa. Ressalta-se que o uso desse recurso faz com que toda a narração fique subordinada à visão da própria narradora. Ao longo das narrativas, observou-se que o autor transferiu seu pensamento intelectual para a protagonista que refletindo sobre si mesma, lucubra acerca das mazelas da existência humana. Diferentemente das personagens de obras de fôlego do autor, como Mariagrazia de Gli indifferenti (1929) ou Cecilia de La noia (1960), as personagens destes contos não mais aparecem para dar apoio à figura do intelectual masculino, mas elaboram suas próprias narrações, expondo seus dramas de forma bastante teatralizada, tal quais as personagens intelectuais masculinas concebidas por Luigi Pirandello (1867-1936), Italo Svevo (1861-1921), Italo Calvino (1923-1985) e Dino Buzzati (1906-1972).

A VISÃO DA CIÊNCIA NA POESIA DE GIOVANNI PASCOLI

Prof. Dr. Sérgio Mauro (UNESP) [email protected]

Palavras-chave: ciência, religiosidade, poesia italiana. Giovanni Pascoli (1855-1912), como tantos outros literatos e intelectuais italianos da sua época, isto é, final do século XIX e primeiras décadas do século XX, nutriu um relacionamento ambíguo com os aspectos científicos que cada vez mais conquistavam espaço na sociedade europeia daquela época. Na verdade, Pascoli, assim como Carducci e, em parte, D" Annunzio, não acreditava no progresso científico-tecnológico como # libertador $ e solução definitiva para os problemas humanos. Coerentemente com a sua visão # pietista$ ou # piedosa$ em relação à condição humana, ele manifestava em suas poesias, sobretudo em Myricae, uma grande curiosidade pelos elementos naturais No entanto, apesar das referências às inúmeras espécies de plantas, é apenas com as poesias de Canti di Castelvecchio (1903) que o poeta manifesta grande curiosidade pelos aspectos científicos. Há uma nítida e lenta evolução dos temas íntimos e familiares, típicos de Myricae, para a observação direta de fenômenos naturais, que se referem tanto à memória de eventos da infância como de acontecimentos históricos. Um claro exemplo disto pode ser encontrado na poesia que celebra a passagem do cometa Halley.

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Tenciona-se verificar como Pascoli, o poeta do ! fanciullino " , que demonstrava piedade pela condição humana, pelos mais fracos e socialmente oprimidos, conseguiu também, ainda que frequentemente de maneira simplista, enfrentar uma das principais questões do seu tempo, isto é, a relacionada às conquistas da ciência e da tecnologia e o modo como atuavam na sociedade da época. Um exemplo significativo desta tentativa, por vezes exasperada, de conciliação entre o devido respeito pela tradição humanista clássica e a necessária adequação aos novos tempos, inclusive do ponto de vista linguístico, se encontra na poesia Italy, de 1904, dedicada aos imigrantes italianos que se estabeleceram nos Estados Unidos. Em Italy, há um curioso pastiche entre o dialeto da região de Pascoli (Romagna) e o inglês ! modificado " pelos italianos de Nova York. Pretende-se, enfim, analisar a religiosidade na poesia de Pascoli que aparece intimamente associada à dimensão cósmica e à visão dos fenômenos naturais, além de uma clara tendência a um desejo explícito de evocar aspectos do divino, que não deve ser desprezado na apreciação crítica.

O SANTEIRO DO MANGUE: ALEGORIA DO MESSIANISMO NO MATRIARCADO DE PINDORAMA

Sirlene Sales Maciel(UNESP) [email protected]

Prof. Dr. Paulo César Andrade(UNESP) Palavras- chave: antropofagia; messianismo; Oswald de Andrade O presente resumo trata do estudo comparativo da O Santeiro do Mangue: mistérios gozosos em forma de ópera de Oswald de Andrade com a visão antropofágica do autor relacionando-a com a tese escrita em 1950 A crise da filosofia messiânica, um dos últimos escritos do autor. Desde a publicação do Manifesto Antropófago em 1928 o poeta incorporou em toda a sua obra as ideias da antropofagia, mesmo com a adesão ao Partido Comunista Brasileiro em 1930 e a influência do marxismo em seus textos, o autor nunca deixou de abordar em suas obras a questão antropofágica. No caso do Santeiro do Mangue, um poema-drama essa relação se apresenta por meio de alegorias nas figuras sacro-cristãs, na prostituição do corpo, e também na visão teleológica. A alegoria aparece no sentido da revelação estabelecendo uma relação particular com os mistérios gozosos cristãos, isto é, com esse recurso o sujeito lírico e as outras vozes presentes na obra pretendem ironizar os ritos cristãos. Para o autor as saídas messiânicas estão presentes em nossa sociedade como apelo para a busca de resolução dos problemas, dessa forma condena tanto o messianismo político quanto o religioso apresentando-os como equivalentes. Esse pensamento converge com o poema-drama em que podemos perceber a crítica aos líderes políticos que representam no imaginário popular um messias salvador da pátria, ou no caso específico do poema-drama um salvador das condições de miserabilidade do mangue # zona de prostituição no Rio de Janeiro na década de 40 # ou um símbolo religioso que através da fé, da crença em um mundo após a morte e na permanente proteção divina que salvará a humanidade senão aqui na terra em um plano superior divino. Na tese oswaldiana o messianismo estaria

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em crise e estaríamos caminhando para a libertação das amarras que emperram o pleno desenvolvimento social e humano, e isso seria possível apenas em uma sociedade matriarcal, obviamente isso não aconteceu, mas além de atual essa ideia filosófica certamente é um dos mistérios a ser revelado no poema-drama.

JEAN D'ORMESSON E O MITO DO JUDEU ERRANTE

Taciana Martiniano de Oliveira (UNESP) [email protected]

Profa. Dra. Guacira Marcondes Machado Leite (UNESP) Palavras-chave: D'Ormesson, Ahasverus, mito Escritor, jornalista, formado em Letras, História e Filosofia, membro da Academia Francesa e da Pléiade, entre os temas abordados pelo autor francês Jean d'Ormesson estão presentes o tempo, a História e o amor. Temas que, segundo o próprio autor, não dependem de nossa vontade. Dentre os mais de quarenta títulos que compõem sua bibliografia, selecionamos para esta ocasião o romance entitulado História do Judeu errante, publicado em 1990. Obra irônica, fragmentada e recheada de intertextualidade, o autor relata por meio dela as experiências de Ahasverus, o Judeu errante, ao longo de mais de 2000 anos, relacionando o lendário personagem a uma humanidade em constante evolução. Datando do século XIII, o primeiro manuscrito conhecido a abordar o mito do Judeu errante relata o arrependimento de um homem que, tendo se negado a ajudar Cristo, se converte ao cristianismo, passando a viver como eremita e pregando a palavra de Deus. A lenda se tornará popular somente a partir do século XVII, quando ganha uma segunda versão com a publicação de um texto anônimo, redigido em alemão e entitulado: Curta Descrição e História de um Judeu chamado Ahasverus. Em quatro páginas, o texto conta a história de um sapateiro judeu que se recusando a dar descanso a Jesus, quando este ia em direção ao Calvário, é condenado por Cristo a errar pelo mundo até o dia do Julgamento Final. Traduzido em várias línguas, o texto teria sido editado mais de 40 vezes. Apesar de inúmeras teorias, as origens da lenda ainda permanecem incertas. O que se pode afirmar é que o impacto por ela causado foi sentido tanto do ponto de vista social (antissemitismo) quanto do ponto de vista artístico, inspirando artistas e escritores do mundo todo, entre eles Gustave Doré, Apollinaire, Jorge Luis Borges, Castro Alves, Machado de Assis, Vinicius de Moraes. O Ahasverus de D'Ormesson reunindo em si os grandes opostos que caracterizam o homem, bondade/maldade, amor/ódio, revolta/arrependimento, dor/alegria, traz consigo uma instigante abordagem histórica assim como uma desconcertante visão crítica, despertando nossa curiosidade e reflexão. D'Ormesson faz de Ahasverus um personagem múltiplo, livre dos limites do tempo e do espaço. Cosmopolita, ele reprensenta a errância existencial e o abandono a que está destinada a condição humana.

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EU BEN VIN ESTAR O MOUCHO: UMA TRADUÇÃO DO SISTEMA DE CRENÇAS GALEGO

Tais Matheus da Silva (UNESP) [email protected]

Profa. Dra. María Dolores Aybar Ramírez (UNESP) Palavras-chave: Rosalía de Castro; Poesia galega; Tradução. Rosalía de Castro publicou em 1863 a obra Cantares gallegos, considerada o marco do Rexurdimiento Cultural Gallego. Desde o declínio da estética trovadoresca, por volta do século XIV, a língua galega perdeu sua relevância no âmbito da cultura escrita, e foi alvo da política linguística de imposição da língua castelhana, levada a cabo pelos reis católicos no século XV. A produção literária na Galiza ressurge na segunda metade do século XIX, a partir de um movimento de inspiração romântica e com tendências protonacionalista. Há diversos escritores e poetas responsáveis pelo renascimento cultural na Galiza, mas nenhum deles teve tanto destaque como Rosalía de Castro, porque foi ela a primeira quem ousou escrever numa língua viva apenas na cultura oral, sem referências ortográficas de apoio, e reivindicar o reconhecimento da língua galega como língua de expressão poética. Cantares gallegos é resultado de uma intensa pesquisa e coleta de versos sobreviventes nos falares de pescadores, lavradores, emigrantes, pastoras, viúvas e de tantas outras personagens do universo galego, Rosalía toma a tradição oral como matéria prima e compõe os Cantares. Dentre as muitas cenas do cotidiano representadas nesta obra, o poema Eu ben vin estar moucho coloca em evidência o encontro dos sistemas de crenças celta e católico, quando uma jovem, eu lírico do poema, avista um mocho, ave símbolo do mal agouro. A jovem entende esse evento como um castigo por seus amores pecadores e, para livrar-se do mal agouro, busca estratégicas místicas do catolicismo e das crenças celtas. Este poema compõe a antologia Poesia, de textos rosalianos traduzidos e organizados por Ecléa Bosi. Assim, o objetivo desta comunicação é analisar as soluções encontradas pela tradutora para transpor, do galego ao português brasileiro, o encontro de sistemas de crenças distintos no poema Eu ben vin estar moucho. Nossa análise fundamenta-se no ensaio Sobre os diferentes métodos de traduzir, de Friedrich Schleiermacher, e na releitura deste ensaio empreendida por Antoine Berman.

DO CINEMA PARA A LITERATURA: A HIBRIDIZAÇÃO MIDIÁTICA ATRAVÉS DO DIÁLOGO ENTRE O CINEMA E O ROMANCE DAS NACKTE

AUGE, DE YOKO TAWADA

Thaís Porto (UNESP) [email protected]

CAPES Profa. Dra. Natália C.P. Fadel Barcellos (UNESP)

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Palavras-chave: literatura contemporânea; cinema; intermidialidade

Yoko Tawada vem recebendo grande destaque no meio acadêmico devido à originalidade com que trata de temas frequentemente abordados na literatura contemporânea. A autora japonesa mudou-se para a Alemanha no início dos anos oitenta a fim de seguir seus estudos germânicos e lá fixou sua carreira. Tawada escreve poesia, teatro, contos e romances, tanto em alemão como em japonês. A partir de seu olhar estrangeiro, a autora brinca com a língua alemã e escreve sobre o sujeito geográfico e culturalmente deslocado na sociedade. Assim se encontra a personagem principal do romance Das nackte Auge, uma jovem vietnamita que, por conta de um engano, acaba desembarcando em Paris no final na década de oitenta. Em meio à sociedade ocidental capitalista, a jovem se vê completamente excluída, principalmente devido à impossibilidade de comunicação com os locais. No entanto, a personagem encontra nas salas de cinema, mais especificamente nas personagens interpretadas pela atriz Catherine Deneuve, um local de refúgio da realidade, de identificação. Com o passar da narrativa, que é composta por treze capítulos que levam o título de um filme, a jovem vietnamita se vê cada vez mais envolvida pela ficção projetada nas telas dos cinemas parisienses, invertendo assim aquilo que Marc Augè classifica como lugar e não-lugar. A sala de cinema, que, a princípio, caracterizar-se-ia como um mero local de trânsito, ou seja, um não-lugar, passa a representar um local de identificação, significação e até mesmo de comunicação, isto é, um lugar segundo o conceito do antropólogo francês. A medida em que a narrativa cinematográfica é incorporada ao romance, tem-se levantada de maneira extraordinária questões acerca do olhar (desnudo) sobre o estranho, o estrangeiro.

POESIA E FIGURATIVIDADE: O IV CANTO DAS GEÓRGICAS DE VIRGÍLIO

Thalita Morato Ferreira (UNESP) [email protected]

Prof. Dr. Márcio Thamos (UNESP) Palavras-chave: figuratividade; poesia latina; Virgílio O presente estudo contempla o texto poético do ponto de vista da sua composição. Ao focalizar o processo de criação do texto artístico e ressaltar o modo como a palavra é trabalhada pelo poeta, busca-se, através do conceito semiótico de figuratividade, o entendimento de que a palavra verbal porta um encantamento imagético. Acredita-se,

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assim, que o poeta encontra na palavra o elemento material, concreto, de que necessita para a criação de imagens. Ao fundamentar-se na ideia explicitada por Greimas, Jakobson, Bertrand e Joseph Brodsky, o trabalho apoia-se na ideia de que a poesia apresenta referências, alusões, paralelos linguísticos e figurativos. Busca-se reconhecer, assim, que um poema emprega sempre uma forma, um arranjo particular e expressivo da linguagem, destacando-se pela sua figuratividade. Virgílio, poeta do Período Clássico na Literatura Latina, nasceu em Andes, arredores de Mântua, no ano 70 a.C. Além das Bucólicas, coleção de dez poemas pastoris, compôs as Geórgicas, obra com temas agrários; e a Eneida, epopeia em doze cantos. As Geórgicas, compostas entre 37 e 29 a.C, apresentam conteúdo instrucional sobre agricultura, segundo os pressupostos da poesia didática. A obra é organizada em quatro Cantos ou Livros e traz como tema a terra e os encantos da vida rural, apresentando-nos uma série de ensinamentos relacionados aos trabalhos rurais. Os temas presentes em cada Canto são: no primeiro, a lavoura; no segundo, a arboricultura, sobretudo, a viticultura; no terceiro, a pecuária de grandes e pequenos animais; e no quarto, a apicultura. O ! IV Canto " , córpus da presente pesquisa, segue os pressupostos da poesia didática, com uma linguagem rica em procedimentos estilísticos. No excerto selecionado para leitura e análise (hex. 8-32), procuramos observar como a estrutura poética atua, entrama e ordena as palavras que estão em andamento no poema. Assim, com a preocupação de investigar o arranjo particular da linguagem poética, destacamos a construção expressiva do texto, a sua dimensão figurativa. Logo, procura-se desenvolver uma investigação científica sobre poesia latina e figuratividade.

A MONTANHA DE CRISTAL: DO PODER À RUÍNA, E UMA PERSONAGEM FEMININA QUE SE DESVANECE

Therezinha Maria Hernandes (UNESP; CAPES) [email protected]

Profa. Dra. Karin Volobuef (UNESP)

Palavras-chave: contos de fadas; variações; influências. O conto de fadas ! A montanha de vidro " , na versão polonesa traduzida para o alemão por Hermann Kletke e, a partir desta, para o inglês por Andrew Lang, encontra um contraponto real no Monte Roraima. Chamado de ! a montanha de cristal" por Sir Walter Raleigh, no relato de sua exploração datado de 1595, era tido como um portal para o tesouro mítico de Eldorado. Segundo lendas locais, o Monte Roraima é o que restou da árvore de todos os frutos guardada por Makunaíma, que a cortou para punir a ganância dos homens. De início, a pesquisa tinha como pressuposto avaliar a interferência recíproca entre história e narrativas populares. No entanto, após o estabelecimento dos elementos ! montanha, árvore, mulher " como tema, bem como de elementos secundários e suas variantes # cristal/vidro, aves/plumas/águia, lince/outros felinos, dragão/serpente-, deparamo-nos com a gradativa perda de importância da figura feminina, restando apenas elementos do feminino em sua forma simbólica. Considerando que o conto-base ! A montanha de vidro " é uma versão polonesa do tipo

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530 do catálogo ATU, o levantamento inicial dos textos para comparação e análise partiu de narrativas europeias, especialmente da Noruega. No entanto, visando a averiguar a possível interferência europeia sobre as lendas relativas ao Monte Roraima, especialmente no que diz respeito a ser um portal para o tesouro mítico de Eldorado, houvemos por bem pesquisar, dentre outras narrativas, lendas portuguesas sobre mouras encantadas em montanhas, dado o predomínio ibérico na colonização desta parte das Américas. Todavia, com relação ao Monte Roraima, a despeito de ser referido em lendas locais como resultado do corte de uma árvore de todos os frutos, faltava a figura feminina, o que nos levou a buscar outras fontes. Neste resumo, não será possível descrever como nos deparamos com um conjunto de lendas orientais sobre Tsunemasa, as tennyô (donzelas celestiais, relacionadas por sua vez com a origem de narrativas da obra ! Mil e um dias" , 1710-12, de François Pétis de la Croix, 1653-1713) e a deusa Benzaiten, cuja morada era uma montanha de cristal em Chikubushima. A montanha mítica e sagrada chamada Monte Horai, em japonês ! Horai-Yamá" , guarda com ! Roraima " não apenas uma intrigante similaridade fonética, mas também a descrição de ser sempre verde e ter árvores de todos os frutos. Desse modo, detectamos que a figura feminina relacionada com a montanha e a árvore gradualmente perde importância até desaparecer, o que atualmente é o foco de atenção da pesquisa.

POESIA CONCRETA E ESPACIALISTA:

VARIANTES E INVARIANTES NO CONTEXTO EXPERIMENTAL

Thiago Buoro (UNESP) [email protected]

Profa. Dra. Fabiane Renata Borsato (UNESP)

Palavras-chave: Concretismo; Espacialismo; Poesia Visual. O projeto lança a proposta de comparação de dois acontecimentos poéticos mais ou menos coincidentes no tempo, um brasileiro e outro francês: o Concretismo e o Espacialismo. Portanto, respeitados os limites da pesquisa de doutorado, não se trata apenas de cotejar poemas, mas de confrontar todo o conjunto de criação, linguagem e recepção mobilizado no âmbito do gênero a que pertence (este que é tão fugidio!) e dentro do sistema literário vigente em cada país. Portanto, em adaptação dos termos saussurianos, estão sendo observados os dois conceitos complementares no tratamento do tema: o sincronismo e o diacronismo. O primeiro fornece a descrição do tipo de poema visual que os poetas-teorizadores procuraram realizar; o segundo mostra os desdobramentos históricos dessa forma poemática e o impacto que ela causou e continua causando no universo literário e cultural de seu país original. Ao final, deverão ser respondidas duas indagações fundamentais que terão conduzido o desenvolvimento da reflexão. Primeiro: quais as semelhanças e as diferenças entre o poema concreto e o poema espacialista, no que diz respeito a sua linguagem? Segundo: quais as semelhanças e as diferenças entre o significado que cada movimento poético teve em seu ambiente cultural?

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Por ora, alguns resultados da comparação predispõem-se à exposição. É o caso da diferença significativa encontrada na solução visual dos poemas: enquanto o Concretismo reivindica a estrutura funcional, o Espacialismo se compraz tanto com as velhas formas iconogrâmicas usadas desde a Antiguidade de Símias de Rodes, quanto com uma plástica de intensa carga gestual, mas de reduzido poder referencial. Diferente dos poetas brasileiros, que se opunham ao procedimento figurativo no qual se baseia a poesia visual de Appolinaire, os espacialistas franceses Pierre Garnier e Ilse Garnier dispensaram intenso tratamento estético a suas criações, não excluindo nenhum recurso que pudesse contribuir com o aumento da informação visual: linhas, formas, cores, texturas e figuras. O resultado é diferente da comunicação clara e precisa do poema concreto. À razão concretista, o poema espacialista consegue opor os devaneios do inconsciente.

LEITURAS DO FEMININO E DO PATRIARCADO EM MARGUERITE DURAS E LYGIA FAGUNDES TELLES

Vanessa Aparecida Ventura Rodrigues (UNESP) [email protected]

Profa. Dra. Guacira Marcondes Machado Leite (UNESP)

Palavras-chave: Feminino; patriarcado; memória O estudo comparado de autores e de suas obras tem merecido destaque nos estudos críticos de literatura, não porque comparar uma literatura à outra seja uma novidade em teoria literária, mas porque a literatura comparada como ciência destacou-se no século XX, quando foram estipulados métodos para a realização da comparação entre autores e textos literários. Em nosso trabalho, levaremos em consideração que as escritoras Marguerite Duras e Lygia Fagundes Telles produzem suas obras no âmbito do embate da mulher frente ao mundo, cujas experiências, recordações e devaneios se entrecruzam formando um mosaico desordenado de uma geração colhida pelo esfacelamento das relações familiares, basicamente em um contexto turbulento da história de seus países. Não é ignorado que a Literatura sempre foi um dos meios encontrados pelo homem para transgredir os valores culturais impostos pela sociedade, primordialmente no que se refere à família, à igreja e ao estado, estes que sempre exerceram forte poder coercitivo sobre grupos os sociais, determinando, assim, o comportamento, primordialmente, das mulheres com o passar dos séculos. Dessa forma, obras de autoria feminina ecoam nos ouvidos do leitor questionador, pois a literatura, como arte, possibilita um olhar diferenciado perante o mundo, olhar este que busca fundir a experiência vivida com a experiência lida, e que veio lançar uma proposta destrutiva da figura idealizada da mulher. Há nas personagens de Lygia e de Duras almas dilaceradas pelo sofrimento, jamais justificado, próprio da condição humana. Marguerite Duras enfrenta a colonização francesa na Ásia, pertencendo a uma família branca e pobre, em meio a um ambiente estranho e hostil, permeando sua obra de autobiografia e, ante a vasta obra de Duras, restringiremos nosso objeto de estudo ao romance La vie tranquille, segundo romance produzido pela escritora. De Lygia, abordaremos os contos Elzira e O

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espartilho e o romance Verão no Aquário, visto que suas personagens vivem em contextos diferentes, sendo as protagonistas dos contos da primeira metade do século XX, momento em que a mulher brasileira desperta para o seu papel de submissão dentro da sociedade e a protagonista do romance, já liberta, nos anos 60, momento em que há um desmoronamento da família tradicional, sem que nenhum modelo bem definido viesse ocupar o lugar dela.

! QUE BOM QUE ELES VÃO MORRER" : UMA LEITURA POLÍTICA DO ROMANCE A REDOMA DE VIDRO, DE SYLVIA PLATH

Vanessa Cezarin Bertacini (UNESP; CNPq)

[email protected] Prof. Dr. Aparecido Donizete Rossi (UNESP)

Palavras-chave: Sylvia Plath. A redoma de vidro. Leitura política.

Sylvia Plath (1932-1963) é uma escritora norte-americana conhecida principalmente por sua produção poética e associada ao estilo da poesia confessional. A redoma de vidro (1963), seu único romance, é constantemente lido como uma autobiografia ! com seus acontecimentos e personagens reais redesenhados pela autora ao narrar a fase dos seus vinte anos ! , e a vida de Esther Greenwood, sua protagonista, lida como a vida da própria Plath. Neste trabalho, propõe-se a leitura do romance à luz da crítica dialética e das propostas de uma leitura política promovida por Fredric Jameson (1934-), por meio da qual se possa alcançar uma interpretação do romance de Plath que não é atingida pelos modelos tradicionais de interpretação literária. Em sua obra O inconsciente político: a narrativa como ato socialmente simbólico (1981), Jameson defende a leitura política do texto literário e a ideia de um inconsciente político, isto é, da possibilidade de interpretação do texto ou artefato cultural em termos do coletivo, e propõe essa interpretação partir de três níveis ou horizontes de leitura e do desvelamento de estratégias de contenção, formas simbólicas que permitem que o leitor atento encontre as contradições e descontinuidades na superfície do texto que podem conduzi-lo ao reconhecimento da História, ou que, ao contrário, prenda o leitor na teia superficial do texto e o impeça de enxergar o caráter político do objeto literário. Desta forma, busca-se, aqui, arriscar uma leitura política do romance, em que os três horizontes de leitura possam ser atingidos a partir do texto considerado autobiográfico, e mostrar como a utilização da crítica dialética sobre um texto do âmbito das escritas de si pode conduzir o leitor ao desvendamento das estratégias de contenção existentes devido caráter pessoal da obra, isto é, como a utilização da forma autobiográfica é usada para mascarar e, ao mesmo tempo, desvelar o caráter político e coletivo do romance de Sylvia Plath. Os horizontes de leitura do romance A redoma de vidro seriam, portanto, o relato da vida de Esther Greenwood na década de 1950 americana, o feminismo e a situação das mulheres nos Estados Unidos da década de 1950, e a Guerra Fria e a ameaça do Comunismo frente à América Capitalista.

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TECNOLOGIA E DUPLICAÇÃO: O CASO DO EPISÓDIO ! VOLTO JÁ" , DA SÉRIE DE TELEVISÃO BLACK MIRROR

Vinicius Lucas de Souza (UNESP; CNPq) [email protected]

Prof. Dr. Aparecido Donizete Rossi (UNESP)

Palavras-chave: Black Mirror. Tecnologia. Duplo. Ao se deter na série de televisão de ficção científica Black Mirror, criada por Charlie Brooker, pode-se notar os vários usos da tecnologia ora em cenários que se aproximam do atual momento da sociedade humana ! em termos de desenvolvimento tecnológico ! , ora em futuros possíveis, além das consequências que tais aparatos provocam nas relações humano-humano e humano-tecnologia, gerando conflitos de diversas ordens. A presente comunicação objetiva focar no primeiro episódio da segunda temporada, " Volto Já# ( " Be Right Back# , 2013), escrito por Charlie Brooker e dirigido por Owen Harris, intentando abordar como o tema do duplo (Doppelgänger) é entrelaçado à tecnologia. No episódio em questão, é levantada a possibilidade de conversar, via mensagens de textos, com pessoas falecidas, a partir da criação de uma inteligência artificial (IA) que copia os traços idiossincráticos desses indivíduos por meio de arquivos digitais (mensagens de textos, perfis em redes sociais, vídeos). Num segundo momento, as trocas de conversas passam a ser possíveis via celular, em que a IA simula a voz da pessoa morta. No terceiro estágio, a implantação dessa inteligência artificial num corpo sintético, similar ao " original# , é possibilitada, revitalizando o contato com o ente querido em " carne e osso # . Nessa volta dos mortos tecnológica, o ser duplicante é capaz de imitar o texto, a voz e o corpo do falecido, atuando similarmente aos replicantes do romance Androides sonham com ovelhas elétricas? (Do Androids Dream of Electric Sheep?, 1968), de Philip K. Dick, que é o mesmo entendimento desenvolvido no filme Blade Runner (1982), de Ridley Scott, apontado, tradicionalmente, como uma adaptação do romance de Dick: seres criados artificialmente que, a olho nu, são idênticos aparentemente a seres humanos. Assim, o objetivo dessa comunicação é analisar esse duplo do episódio mencionado da série Black Mirror que, via um processo replicante textual, vocal e corporal, materializa e mimetiza as marcas humanas fantasmáticas que assombram o mundo virtual.

AS ARTES GRAMMATICAE LATINAS E O CONJUNTO DA LITERATURA TÉCNICA DA ANTIGUIDADE CLÁSSICA

Vivian Gregores Carneiro Leão Simões (UNESP; CAPES) [email protected]

Prof. Dr. João Batista Toledo Prado (UNESP) Palavras-chave: Antiguidade Clássica; literatura técnica latina; Artes grammaticae

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A literatura técnica da Antiguidade Clássica corresponde ao conjunto de textos, majoritariamente escritos em prosa, que veiculam conhecimentos com alto grau de especificidade e têm objetivo claramente didático. Tais obras oferecem ao público saberes de ordem prática e, em geral, são manuais e tratados voltados para a transmissão de conhecimentos científicos e tecnologias. Apesar do caráter diverso dos escritos técnicos antigos existentes, é possível reconhecer elementos pragmáticos e estilísticos que os distinguem das demais produções escritas da época, dentre os quais chamam a atenção a cuidadosa sistematização do conteúdo e a utilização de ferramentas linguísticas específicas para a comunicação especializada, além do público leitor ao qual tais obras são destinadas. As Artes Grammaticae perfazem um subconjunto sui generis da literatura técnica antiga; seja por originalmente servirem à melhor compreensão dos poetas, seja por tratarem da própria matéria linguística, ou ainda pela singularidade de seu público, versado nas artes gramaticais e interessado pelas belas letras. A presente comunicação se propõe, então, a oferecer uma visão sucinta acerca da literatura técnica antiga tendo em conta o grande volume e variedade de textos que essa categoria abrange, bem como uma breve apresentação das Artes grammaticaes latinas, seu desenvolvimento ao longo da história e principais características. O material e as ideias discutidos representam uma fração das questões que vêm sendo desenvolvidas pela pesquisa de doutorado intitulada ! O aspecto literário da Literatura técnica de instrução, uma análise de caso: Artes grammaticae! , em andamento pelo Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários da Faculdade de Ciências e Letras, UNESP " Araraquara, sob orientação do Prof. Dr. João Batista Toledo Prado e com o apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, a Capes.

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Resumos de Projetos de Pesquisa

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DA TÉKHNŀ AO TRÁGICO

Adilson Oliveira dos Santos (M)

Prof. Dr. Fernando Brandão dos Santos

Palavras-chave: tékhnŃ, trágico, decisão trágica, Prometeu, Édipo

Este projeto de pesquisa visa ao estudo do conceito do trágico dentro literatura grega antiga, cuja manifestação foi formalizada nas obras notórias dos três grandes tragediógrafo do século V a.C. que chegaram até nós (Ésquilo, Sófocles, Eurípides). Partiremos da perspectiva mitológica da doação do fogo aos homens por Prometeu e construiremos nosso ponto de partida a partir da ampliação gradual dos sentidos de tékhnŃ na Grécia Antiga, para abarcar além do sentido já patente de ! técnica" e ! arte" , também os sentidos de inteligência, espírito, conhecimento. Posteriormente, a ideia é nos concentrar no afeto da "esperança" (elpís) e do "medo" (fóbos) que impulsionará o homem a agir na situação trágica. Tipificar a decisão trágica da Grécia Antiga contrastando com uma decisão trágica da literatura moderna. E, desse modo, chegarmos ao conceito do trágico e exemplificá-lo com a tragédia de "Édipo".

CONSTRUÇÃO E UTOPIA NA POESIA DE INVENÇÃO

Alex Wagner Dias (M) Profa. Dra. Maria Lúcia Outeiro Fernandes

Palavras-chave: poesia; composição; utopia; cinema; pintura.

O trabalho pretende demonstrar que a poesia de invenção, observada pela produção da poesia moderna a partir de poetas que se destacaram também no campo teórico e crítico da poesia, é pautada por um atravessamento da utopia. Procura-se observar como estes poetas-críticos-teóricos se posicionaram através de uma comparação entre a composição poética: do cálculo e da intuição. Para demonstrar isto, foram selecionados autores que permitam-nos percorrer seus discursos, coerências e contradições, através de suas teorias literárias e de suas poesias. A partir da análise de poemas e teorias literárias dos poetas Fernando Pessoa, Edgar Allan Poe, Ezra Pound, Vladímir Maiakóvski, João Cabral de Melo Neto, Haroldo de Campos e Octavio Paz, relacionando-os, também, às teorias do cinema e da pintura # via o olhar de artistas e teóricos como Kandinsky, Eisenstein e Andrei Tarkovski # , busca-se aferir que há um diálogo em suas obras, suas

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teorias e caminhos de composição que foram adotados. As escolhas se justificam pela importância e influência que tais obras, tanto teóricas, quanto poéticas, tiveram e ainda têm para pesquisadores, críticos e poetas de nosso tempo. Aproximar artistas de artes distintas ! poesia, pintura e cinema ! nos permite averiguar de modo mais expansivo os percursos que sustentam suas composições, no plano prático (a obra em si) e teórico, fazendo não uma arte sobressair-se a outra, mas por possibilitar diálogos que enriqueçam a primazia do desenvolvimento de novos olhares críticos para os poetas que destacamos neste trabalho e da possibilidade de encontrarmos novos estímulos às leituras de suas obras.

A MANIFESTAÇÃO DO FANTÁSTICO TRADICIONAL NO SÉCULO XX:

LES MALÉDICTIONS DE CLAUDE SEIGNOLLE

Amanda da Silveira Assenza Fratucci (D) Profa. Dra. Ana Luiza Silva Camarani

Palavras-chave: Literatura Francesa; Fantástico, Claude Seignolle.

Sabemos que a literatura fantástica foi muito fecunda nas produções narrativas europeias durante o século XIX. Surgiu como modalidade literária durante o período do Romantismo europeu, com a intenção de representar o mundo interior e subjetivo da mente, conferindo à imaginação humana uma importância maior do que a da razão e da realidade. Grande parte dos estudiosos do fantástico afirma que esse fantástico tradicional que se manifestou ao longo do século XIX teve uma vida relativamente curta, não chegando ao século XX. Tzvetan Todorov, principal estudioso da literatura fantástica do século XIX, afirma em sua Introdução à Literatura Fantástica, que a manifestação tradicional da modalidade se esgotou com os textos de Maupassant no final do século XIX. O que temos nos dias atuais, portanto, é uma série de estudos a respeito da manifestação mais recente da modalidade fantástica que afirmam que há atualmente um neofantástico, principalmente nas literaturas de língua espanhola; outros tratam o Realismo Mágico ou Maravilhoso como manifestação fantástica atual. Assim, o que se objetiva neste estudo é mostrar que o fantástico tradicional do século XIX ainda tem, ao longo do século XX e até os dias atuais, uma permanência na literatura. O objetivo maior deste trabalho é, portanto, dar continuidade aos estudos teórico-críticos acerca da modalidade fantástica, iniciados no Mestrado, mostrando que o fantástico tradicional continuou manifestando-se na literatura do século XX, trazendo a hesitação como principal aspecto. Para isso, partiremos da leitura, interpretação e análise dos textos ficcionais selecionados, de autoria de Claude Seignolle, escritor contemporâneo, verificando e buscando compreender como se dá a presença do fantástico tradicional nas obras do autor. Além disso, buscaremos compreender quais são as características que diferenciam esse fantástico tradicional aplicado à literatura dos séculos XX e XXI do neofantástico definido por Sartre, Alazraki ou Bessière.

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O TEXTO LITERÁRIO NA SALA DE AULA: ESTUDO E PRÁTICA DE

LEITURA DO TEXTO LITERÁRIO

Ana Carolina Miguel Costa (M - Capes) Profa Dra Fabiane Renata Borsato

Palavras-chave: Texto literário; ensino; prazer da leitura.

Notamos que o aprendizado dos alunos está fortemente baseado no ensino especializado, muitas vezes apoiados por professores preocupados com a reprodução de conteúdos que serão cobrados em exames vestibulares. Na sala de aula, o docente deve conseguir o prazer da leitura, e a conscientização sobre seus benefícios. Contudo muitos não o fazem, recorrem aos textos como meio para ensinar algum conteúdo específico, como gramática ou técnicas de redação. Diante desse problema, pretendemos refletir sobre o fato de que a literatura não é apenas um instrumento para outros fins e planear métodos para aproximar alunos dos textos literários. Queremos mostrar como ele pode ser trabalhado na sala de aula, as possibilidades de reflexão, crítica e os benefícios que pode trazer. Como consequência, objetivamos despertar o interesse dos alunos pela leitura, os motivar a querer aprender/ler mais, mostrar o quão importante é o estudo do texto com um fim nele mesmo. A pesquisa focou inicialmente no estabelecimento de métodos de seleção dos textos literários, leitura em sala de aula e análise dos resultados. Os textos literários para leitura com o grupo de alunos do 7º ano foram selecionados a partir de três critérios: a presença de fortuna crítica sobre o texto literário que atestasse seu valor estético; a realização de uma entrevista com os alunos para conhecimento de suas predileções literárias e a diversidade de procedimentos utilizados pelos autores dos textos literários, visando à construção de um corpus de textos que apresentassem categorias e elementos variados para ampliação do conhecimento sobre os gêneros narrativo, lírico e dramático. O trabalho em sala de aula teve início pautado na leitura em voz alta do texto literário, seguida de elaboração de questões epilinguísticas, conforme proposto pelos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) de Língua Portuguesa (1997), para incitar a reflexão sobre o texto e seus recursos expressivos. Os encontros foram gravados em áudio para posterior análise de conteúdo e verificação da qualidade de leitura dos alunos, realizada em cada um dos encontros. A análise de conteúdo foi pautada no método quantitativo e qualitativo proposto por Laurence Bardin (1977).

A POESIA RESISTE? UM MERGULHO NOS QUESTIONAMENTOS MODERNOS E PÓS-MODERNOS POR MEIO DA OBRA POÉTICA DE NUNO

JÚDICE

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Discente: Bruna Fernanda de Simone (D)

Profa. Dra. Maria Lúcia Outeiro Fernandes.

Palavras-chave: poesia contemporânea, modernidade, pós-modernidade, poesia de resistência, Nuno Júdice.

Desde sua primeira publicação em 1972, Nuno Júdice, poeta português contemporâneo, produz intensa e regularmente obras poéticas de alta qualidade e singularidade. Trata-se de uma produção singular, pois busca fazer do poema o espaço mais legítimo para discussões a respeito da produção poética, seus questionamentos e seu lugar em um mundo em que a cultura e a arte perdem cada vez mais espaço. Em A convergência dos Ventos, publicado em 2015, não é diferente. O poeta insiste em manter viva a poesia e toda a tradição literária do ocidente dentro de seus poemas, retomando histórias de escritores consagrados, revivendo personagens que marcaram a literatura, promovendo diálogos com mitos, personagens bíblicos e poetas de diversas gerações. Nos poemas de Júdice, tanto neste livro como em outros, há a presença de um sujeito poético que, assumindo a máscara de poeta, revela os processos de criação do próprio poema que ali se inscreve, além de deixar evidente sua viagem ao passado literário e sua vontade de reivindicar para a poesia o lugar de proteção dela mesma e de toda a sua tradição. O sujeito poético parece não acreditar em um futuro para a arte e, por isso, volta-se ao passado para eternizá-lo em seus poemas. Tal atitude configura-se como uma resistência ao fim da poesia. O presente trabalho busca analisar as formas pelas quais os poemas presentes em A convergência dos Ventos (2015) promovem uma renovação da tradição da poesia moderna por meio da resistência, embora também estejam mergulhados em questionamentos pós-modernos, demostrando, portanto, que há, numa obra tão contemporânea, a confluência de ideias advindas dos dois momentos aqui explanados.

RHIANNON E O SAGRADO FEMININO

Camila Goos Damm (M ! CAPES) Prof. Dr. Aparecido Donizete Rossi (UNESP ! FCL-Ar)

Palavras-chave: Rhiannon. Mabinogion. Sagrado feminino. Feminismo. Mitologia celta. O presente projeto tem por objetivo analisar as características arquetípicas presentes na personagem da deusa Rhiannon, de O Mabinogion, a partir de uma perspectiva jungiana e das reflexões de Erich Neumann em A Grande Mãe. A partir dessa análise, buscaremos demonstrar a relevância do resgate de figuras femininas pertencentes às mitologias fundadoras para o conceito de sagrado feminino, pois a relação entre a mulher e a espiritualidade sofreu grande repressão desde o declínio do paganismo e a ascensão do catolicismo. Mostraremos também a importância desse resgate para o movimento feminista, que tem como uma de suas buscas o redescobrimento dos mitos e

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histórias em que a mulher é figura central; e também parao resgate da relevância histórica e cultural das mitologias ora referidas, das quais podemos ver reflexos até hoje, apesar das tentativas de modificação e mascaramento visando o menosprezo da figura feminina.

THÉRÈSE DESQUEYROUX: UMA POÉTICA DO FOGO E DA LUCIDEZ

Carla Alexandra Ezarqui (M ! CNPq) Profa. Dra. Andressa Cristina de Oliveira

Palavras-chave: François Mauriac. Narrativa francesa. Espaço romanesco. Imagem literária. Fogo.

O fogo é uma das imagens predominantes em toda a obra de François Mauriac (1885-1970), sobressaindo-se em Thérèse Desqueyroux, obra publicada em 1927. A escrita deste romance é permeada pela onipresença do elemento ígneo e trata do drama vivenciado pela personagem principal Thérèse, na impossibilidade de adaptação ao seu meio, à vida que lhe é imposta por ele. Proveniente de uma família de grandes proprietários de pinhais é, justamente, a união de propriedades vizinhas o que determina o matrimônio de Thérèse e a ocorrência de incêndios nestes espaços, a sua separação. Sufocada pelas amarras sociais, pela desilusão com a felicidade conjugal, a protagonista envenena o marido lenta e gradativamente, vislumbrando a liberdade; no entanto, é desmascarada antes que ele fosse morto, o que a condena à solidão eterna. Fundamentado na análise desta obra, este trabalho pretende analisar a imagem literária do fogo, a partir de um estudo sobre a representação espacial, tendo em vista que o fogo é uma imagem desencadeada pelo espaço. Em seguida, com base na simbologia desse elemento, associá-la-emos a um movimento de revelação da complexidade da personagem principal, uma vez que, na obra de Mauriac, o espaço entrecruza-se às paixões das personagens. Ademais, por extensão de sentido, o fogo será reportado à lucidez, característica marcante dos heróis mauriaquianos, e, consequentemente, aos momentos de reflexão da protagonista, a serem igualmente analisados, e que pausam a narrativa, por vezes por meio de aforismos, contribuindo para a singularidade da personagem.

FULGURAÇÕES DO POÉTICO EM O SOM E A FÚRIA E ENQUANTO

AGONIZO, DE WILLIAM FAULKNER

Claudimar Pereira da Silva (M ! CNPq) Prof. Dr. Paulo César Andrade da Silva

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Palavras-chave: William Faulkner; narrativa poética; fragmentação.

William Faulkner é considerado um dos mais importantes e influentes escritores do século 20, uma das quatro bases de sustentação da literatura modernista, ao lado de James Joyce, Virginia Woolf e Marcel Proust. Como as árvores da região Sul dos Estados Unidos, a obra de Faulkner enraíza-se em um tronco semântico-estrutural imponente, enfeixando temas e figuras articuladas à conjuntura histórica, social, econômica desta região do país, representada imaginariamente pelo condado de Yoknapatawpha, microcosmos fictício criado pelo autor. Na obra do escritor sulista, há o constante jogo escorregadio dos tempos, a pluralidade de vozes e perspectivas, a supuração de subjetividades desagregadas que desaguam em linguagens fragmentadas e densamente poéticas, a um passo do silêncio de si mesmas. Nos anos de 1929 e 1930, em plena metástase das ideias modernistas, Faulkner publicou, respectivamente, O som e a fúria e Enquanto agonizo, considerados pela crítica como dois de seus romances mais experimentais. Fraturado em quatro partes e imbuído de vozes narrativas distintas, O som e a fúria (2004) narra o processo de decomposição moral e econômica de uma família do sul dos Estados Unidos, os Compson, cuja ruína ocorre devido à incapacidade de seus membros em adaptar-se à nova conjuntura histórico-social que instala-se no sul após a derrota na Guerra Civil Americana (1861-1865). Enquanto agonizo (2010), romance polifônico sustentado na apresentação de 59 monólogos interiores, dispostos alternadamente, narra a viagem dos Bundren, uma família de agricultores pobres, através dos espaços míticos do condado de Yoknapatawpha, com o objetivo de enterrar o corpo de Addie Bundren, a matriarca da família, cujos restos mortais ela pede que sejam enterrados em Jefferson, sua cidade natal. Desse modo, a presente comunicação objetiva a análise da narrativa poética nestes dois romances, tendo como corpus três narradores: os irmãos Benjy e Quentin Compson, de O som e a fúria, e Darl Bundren, de Enquanto agonizo. Trabalhamos com a hipótese de que estas três vozes narrativas operam na constituição daquilo que nomearemos como uma poética da fragmentação, isto é, a representação da dissolução subjetiva do (s) narrador (es), em termos de estrutura, linguagem e poeticidade. Para tanto, serão utilizados os pressupostos teóricos sobre a narrativa poética de Jean-Yves Tadié (1978), Ralph Freedman (1963) e Massaud Moisés (1967), além do montante teórico-crítico de Faulkner, no intuito de respaldar nossas análises.

O TRATAMENTO DA ESPIRITUALIDADE X RELIGIOSIDADE

NOS ROMANCES SOCIAIS E INTIMISTAS DOS ANOS 30

Elisa Domingues Coelho (D) Profa. Dra. Juliana Santini

Palavras-chave: Literatura Brasileira; Romance; Modernismo; Religiosidade; Espiritualidade.

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A produção literária de 1930 vem sendo estudada segundo a categorização, já enraizada na crítica desde que formulada por Lafetá na década de 70, entre estético e ideológico e sua consequente esquematização entre esse dualismo, reflexo da postura militante da intelectualidade desse decênio. Uma de suas consequências foi a associação da temática religiosa ao romance intimista, já que essa vertente esteve relacionada, por um critério mais ideológico que literário, ao grupo dos escritores católicos. A intenção desse estudo é, diante disso, mover a questão da religião do campo ideológico para o literário, de forma a romper com a associação do que ficou conhecido como ! temas do espírito " ao romance intimista e grupo dos escritores católicos. Objetiva-se, desse modo, ver como a temática transita e compõe a composição estética dos romances das duas vertentes literárias. Para uma primeira elaboração desse projeto, em meio a uma grande dificuldade de se encontrar uma bibliografia na crítica literária, partiu-se da leitura de Raízes do Brasil, o qual justifica esse estudo comparativo, uma vez que a religião teria exercido um importante papel na nossa formação social, perpassando, desse modo, toda e qualquer composição dos romances de temática social, que, a princípio não teriam o mesmo apelo a esse tema como os romances intimistas, por não se ocuparem diretamente da crise espiritual, como esses últimos o fazem. Para analisar seu funcionamento, serão analisados os romances sociais O Quinze, de Rachel de Queiroz; Menino de Engenho, de José Lins do Rego e os intimistas Maria Luiza, de Lúcia Miguel Pereira; Sob o Olhar Malicioso dos Trópicos, de Barreto Filho. O primeiro insere, com a personagem de Mãe Nácia, a religiosidade como o primeiro elemento que a constituirá como voz da tradição enquanto, no segundo, a religião do Engenho se mostra, ao contrário, mais uma incorporação da religiosidade nos costumes. O terceiro romance, na crise espiritual, eixo do romance, mostra a passagem da religião do Engenho para a de Mãe Nácia enquanto, o último romance, por sua vez, traçará a trajetória de uma vida devastada pela moral religiosa, ponto de partida da trajetória de Maria Luiza.

COM MUITO BLUE NOS TONS E TANTO ESTÁCIO NOS PÉS: (I)MOBILIDADE, ESPAÇO E SAMBA EM PAULO LINS

Gabriel Capelossi Ferrone (M) Profa. Dra. Juliana Santini (O)

Palavras-chave: espacialidade, deslocamento, Samba, Umbanda, Paulo Lins.

Este trabalho tem como objetivo apontar e analisar as estratégias narrativas para a construção de diferentes espacialidades em Desde que o samba é samba, segundo romance de Paulo Lins, publicado em 2012. Com fortuna crítica ainda pequena, a obra recria e ficcionaliza o nascimento e desenvolvimento do gênero Samba no bairro carioca Estácio, em meados da década de 1920. A partir disso, será problematizado como as histórias do Samba e da Umbanda atuam na mobilidade, ou não, das personagens da narrativa. Todas elas são situadas em um momento histórico definido e sofrem, direta ou indiretamente, influências impulsionadas pela construção espacial do romance. Na obra, a dualidade entre favela e centro da cidade criada por Lins não foi apresentada de

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forma ingênua ou coincidencial, já que carrega consigo confrontos sociais e culturais históricos. Por isso, a discussão partirá da premissa de que as diferentes espacialidades cumprem papeis fundamentais na análise literária. Este estudo se valerá, inicialmente, das proposições de Michel de Certeau, com suas diferenciações entre Espaço e Lugar, de Maurice Halbwachs, com sua teoria sobre a memória coletiva, e de Georg Wink, sobre a intencionalidade da construção de um espaço em determinada narrativa para observar a dimensão da interferência que o espaço pode tomar na valoração das manifestações culturais e sociais construídas ao longo da narrativa. Por fim, terão ênfase, principalmente, os múltiplos espaços, simbólicos e físicos, da obra que, ora apresentam tensões e rivalidades desenvolvidas a partir de um relacionamento conturbado entre as pessoas que os dividem, ora aproximam-nas, impulsionadas pelos elementos culturais locais ! Samba e Umbanda.

HUXLEY, BRADBURY, BURGESS E BRANDÃO: A RELAÇÃO ESTADO-ARTE COM ASPECTO TEMÁTICO DO ROMANCE DISTÓPICO

Gabriela Bruschini Grecca (D ! CAPES) Profa. Dra. Rejane Cristina Rocha

Palavras-chave: Literatura contemporânea. Literatura comparada. Romance distópico. Topoi. Relação Estado-Arte. A presente pesquisa tem por objetivo geral voltar-se para o estudo do romance distópico enquanto subgênero literário. Ao mesmo tempo em que se reconhece a distopia como oriunda da ficção científica, questiona-se se a primeira já não mostra, na contemporaneidade, um desprendimento da última, isto é, se a distopia ainda representa narrativas que retratam a angústia perante a ciência, ou se já tem criado suas próprias convenções. Um exemplo disto é Não verás país nenhum, de Ignácio de Loyola Brandão, obra na qual a intervenção do Estado na vida individual e coletiva não necessita de mecanismos tecnológicos de aparência futurista para acontecer; eles potencializam o teor distópico do futuro retratado nas obras, mas não o determinam totalmente. Em segundo lugar, ao voltar-se para o estudo dos topoi destas narrativas, percebeu-se a necessidade de trazer a complexidade de uma temática que aparenta estar sempre presente nas distopias: a discussão sobre a função social da Arte. Acredita-se que as distopias, ao abordarem manifestações artísticas (como em Fahrenheit 451, ao descrever a queima de livros), demonstram questionamentos atuais sobre o estatuto da arte perante Estados de Exceção e perante a Lei, pois, ao mesmo tempo em que estas obras relatam diversas estratégias de manipulação da arte por parte das instituições dominantes (banir, esvaziar, padronizar), também é possível observar como ela age decisivamente na revolta dos protagonistas (seja de forma utópica, seja como instrumento de resistência). Assim, nossa hipótese gira em torno do questionamento de ser possível encarar as relações entre Estado e Arte como um traço característico dos romances distópicos, e de demonstrar o quanto elas não se resumem a um modo de acontecer, nem representam um único juízo de valor. Para tanto, partimos de Admirável Mundo Novo como obra paradigmática, a fim de verificar as diferenças do modo de abordar as relações entre Estado e Arte em uma obra clássica do gênero e as contemporâneas selecionadas, sendo elas Fahrenheit 451, Laranja Mecânica e Não

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verás país nenhum, esta última crucial para trazermos todas estas indagações, tanto da existência do subgênero como de suas convenções, para a literatura brasileira.

O JOGO TEMPORAL EM OS MEUS SENTIMENTOS, DE DULCE MARIA CARDOSO

Gabriela Cristina Borborema Bozzo (M ! CNPq) Profa. Dra. Maria Célia de Moraes Leonel

Palavras-chave: Dulce Maria Cardoso, Os meus sentimentos, tempo, memória, não-pertença.

Nossa pesquisa tem, como objeto de análise, o segundo romance da escritora portuguesa contemporânea Dulce Maria Cardoso, Os meus sentimentos, publicado primeiramente em 2005. O objetivo do trabalho é investigar o modo como se dá a reconstrução da memória da protagonista, o que se dá, prioritariamente, pelo recurso das inversões temporais. Pretendemos demonstrar que tal recurso é auxiliar importante no tema do romance que é o sentimento de não-pertença, que pode ser salientado pela frase " conheço o amor de ouvir falar # . A narrativa apresenta estrutura pouco convencional, sem paragrafação tradicional e é repleta de bordões, que além de interromperem o discurso, remetem a histórias e tempos diferentes do que está sendo narrado. O estudo da composição da temporalidade é feito sempre tendo em vista as demais categorias da narrativa, como a história, as personagens, o narrador, a focalização, o espaço e a linguagem. Para o estudo do tempo e de outras categorias como o narrador ou voz narrativa e focalização, tomamos, como embasamento teórico, as proposições de Gérard Genette em O discurso da narrativa. No que se refere aos artifícios que norteiam a construção do tempo, é bastante útil as distinções que esse estudioso realiza relativamente à ordem, às anacronias, e também em relação à duração e à frequência. Para melhor compreendermos as características da exploração de recursos estruturais pertunentes à narrativa portuguesa contemporânea na obra, examinaremos o contexto literário em que esse romance foi produzido, bem como seu significado na produção da autora. Consideramos que, de acordo com ela, Os meus sentimentos definiu seu estilo de escrita. Para o exame do contexto, tomamos como baliza sobretudo a narrativa portuguesa contemporânea, bem como estabelecer limites entre o estilo narrativo da autora e as características intrínsecas ao romance estudado. Por fim, é importante destacar que os poucos estudos existentes sobre a autora pautam-se nos estudos culturais, por ela ser mulher e retornada, aspectos muito salientados após a publicação de O retorno, de 2011.

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OS ELEMENTOS POÉTICOS E SURREALISTAS EM L ! ÉCUME DES JOURS (1947), DE BORIS VIAN.

Glenda Verônica Donadio (M ! CNPQ) Profa. Dra. Andressa Cristina de Oliveira

Palavras-chave: Boris Vian, Narrativa poética, Surrealismo. Esta pesquisa de mestrado busca demonstrar as características da estética surrealista presentes na obra L ! Écume des Jours (1947), de autoria de Boris Vian, além da presença do hibridismo de gêneros, pois pode-se considerá-la uma narrativa poética de acordo, sobretudo, com os trabalhos de Tadié (1994), Bradbury (1999), Lima (1995) e Moisés (2012). Ademais, visto o ano de publicação da obra, será realizada uma contextualização a respeito da produção literária do período do pós-guerra ! a partir de 1945 ! colocando em evidência as principais alterações estéticas ocorridas nesta época, de acordo com os pressupostos teóricos de Bersani (1970). Dessa forma, a obra prima de Vian será inserida neste contexto por meio da demonstração de sua relevância para a renovação de conceitos vigentes no âmbito literário como o Amor, a Liberdade, a Poesia e o humor, bem como seu papel na elaboração de uma crítica social ! à religião, às amarras sociais, à recusa ao amor, ao erotismo, à figura da mulher, entre outros. Ainda, em conjunto com a demonstração referida acima, ressaltar-se-á a importância do trabalho com a linguagem realizado pelo autor, responsável pela elaboração da narrativa poética com fins à criação e à liberação da imagem surrealista, sem as quais nenhum dos aspectos anteriores seria exequível.

O NARRADOR E O TEMPO EM JOSÉ SARAMAGO: UMA LEITURA DA OBRA CAIM

Guilherme Pina (M) Profa. Dra. Maria Celeste Consolin Dezotti

Palavras-chave: José Saramago. Caim. Narrador. Foco narrativo. Dialogismo. A partir dos estudos teóricos sobre narrador e tempo da narrativa, pretende-se realizar um estudo sobre a obra de José Saramago, Caim (2009). Este livro reconta algumas das mais famosas passagens do Antigo Testamento a partir do ponto de vista do personagem bíblico Caim. Ao ser condenado a errar pelo mundo após ter matado seu irmão Abel, Caim vai servindo como óculos para o narrador, que o usa para contar, de uma maneira muito irônica, crítica e escarnecedora, alguns acontecimentos narrados no Antigo Testamento. É notável a discrepância entre a ordem desses acontecimentos nos livros

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bíblicos e no livro de Saramago. O fio que conduz a ordem dos fatos na narrativa não é o tempo cronológico. O que se propõe nesta pesquisa é evidenciar qual seja o fio condutor da narrativa, traçando paralelos com a narrativa bíblica, embasado nas teorias de Genette (sem ano) e Benjamin (1994).

JUSTIÇA E DIREITO EM MEMÓRIAS DE UM SARGENTO DE MILÍCIAS E MEMÓRIAS DO CÁRCERE

Gustavo de Mello Sá Carvalho Ribeiro (D-CAPES) Profa. Dra. Maria Célia de Moraes Leonel

A justiça encontra bastante relevância na prosa nacional, envolvendo tanto o termo como tema quanto como órgão estatal responsável pelo exercício de tal princípio. Temos como objetivo geral do trabalho verificar como a justiça brasileira é representada na literatura em dois romances: Memórias de um sargento de milícias de Manuel Antônio de Almeida e Memórias do cárcere de Graciliano Ramos. Levando em consideração que são obras separadas uma da outra por um século e com modos bastante diferentes de abordar a questão da justiça, a primeira, narrativa centrada em personagens-tipo e a outra, autobiografia de testemunho, compararemos os romances para levantar e examinar as diferenças na representação da justiça brasileira. Naturalmente, será levado em conta o contexto literário de cada produção. Para tanto, cada obra será analisada particularmente de modo que os resultados dessa atividade possam permitir a comparação. A metodologia do trabalho, em primeiro lugar, consiste em, a partir de proposições teóricas sobre justiça e direito e conceitos relativos a esses campos, levantar e examinar como componentes literários constroem a visão desses temas nas obras em pauta por meio da investigação minuciosa das categorias narrativas - personagens, história, narrador, focalização, tempo, espaço, linguagem - sempre relacionadas umas às outras. Em segundo lugar, utiliza-se o método comparativo para verificar semelhanças e diferenças em relação aos temas e à elaboração deles nas obras selecionadas. Para isso, lançamos mãos de um embasamento teórico que pode ser resumido da seguinte forma: primeiramente, ensaios sobre os autores e suas obras, dentre os quais podemos destacar, "Dialética da malandragem" de Antonio Candido e "Dettera: ilusão e verdade - Sobre a (im)propriedade em alguns narradores de Graciliano Ramos" de Valentim Facioli; em segundo lugar, sobre teorias do direito e da justiça, destacam-se História do direito de Flávia Lages de Castro e Filosofia do direito de Paulo Nader; por último, sobre estudos de narrativa, O discurso da narrativa de Gérard Genette e "O romance como epopeia burguesa" de Georg Lukács.

FORMAS E REPRESENTAÇÕES DO AMOR EM MARÇAL AQUINO: UMA LEITURA DO ROMANCE ! EU RECEBERIA AS PIORES NOTÍCIAS DOS

SEUS LINDOS LÁBIOS "

Igor Iuri Dimitri Nakamura (M-CAPES)

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Prof. Dr. Paulo César Andrade da Silva Palavras-Chave: Literatura Brasileira; Ficção Brasileira Contemporânea; Representação; Narrativa; Recepção. Marçal Aquino (2005) engendrou em "Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios" uma narrativa amorosa em contraste com a realidade social abrutalhada, na qual o conflito de classes, o marginal e a violência generalizada se desvencilham e culminam com a diegese da barbárie. Ao se ponderar essas observações, pretende-se estudar as representações do amor na narrativa realista do romance, escolhido como corpus da pesquisa. Pretende-se ainda desenvolver uma leitura dos aspectos narrativos da obra. A princípio, defende-se a hipótese de que o amor é representado através de um hiper-realismo, de modo a entrelaçar-se com a temática da violência ao longo do enredo. Para isso, têm-se como arcabouço teórico os trabalhos sobre ficção brasileira contemporânea e representação desenvolvidos por Candido (1989, 1993), Dalcastagnè (2007), Pellegrini (2007, 2008) e Schollhammer (2008, 2011, 2016), assim como os estudos de Auerbach (1971), Hal Foster (2014), Watt (2010) e Williams (1958), além da proposta narrativa de Genette (1995). Deste modo, em um primeiro momento, explana-se a fortuna crítica de Marçal Aquino e realiza-se um percurso teórico envolvendo a representação e o realismo. Na sequência, descrevem-se alguns aspectos teóricos da narrativa. Em outro momento, estuda-se o amor através da representação realista da obra. Feito isso, interpreta-se o amor a partir das formas narrativas do romance. Espera-se, portanto, contribuir com a fortuna crítica de Marçal Aquino, com uma pesquisa voltada tanto para a temática do amor, quanto para os estudos da narrativa, expandindo as possibilidades de leitura do romance.

A PRESENÇA FEMININA NA ELEGIA DE OVÍDIO

Jaqueline Vansan (D) Prof. Dr. João Batista Toledo Prado

Palavras-chave: Elegia latina; Ovídio; puella. O gênero elegíaco desenvolvido em Roma no século I a. C., representado pelos versos de Tibulo, Propércio e Ovídio que resistiram até os dias atuais, caracterizava-se principalmente pela metrificação em dísticos elegíacos ! estrofe que alternava um hexâmetro datílico (versos de seis pés métricos) e um pentâmetro datílico (verso de cinco pés métricos) ! e pela temática amorosa, que girava em torno da paixão do poeta por uma jovem mulher, descrita, na maior parte das vezes, como perversa e corruptível. A puella, nesse sentido, é um dos personagens principais a povoar o mundo elegíaco, sendo com frequência associada a amantes reais daqueles que se dedicavam a cantá-las. Ovídio, entretanto, parece fugir desse paradigma, tanto ao querer deixar patente a ficcionalidade da figura de sua amada, em Amores, como ao desvendar, nos versos das

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elegias didáticas da Ars amatoria, as artimanhas de construção e características próprias das jovens amantes dos poetas, ou ainda ao conceder voz às mulheres, nas Heroides, obra composta principalmente por correspondências escritas por heroínas míticas a seus amados imprevidentes. Tais fatos parecem contribuir para a variação no gênero elegíaco romano promovida por Ovídio, uma vez que sua produção elegíaca desenvolve possibilidades antes pouco exploradas por seus contemporâneos. Tendo isso em vista, a presente pesquisa tem o objetivo de investigar, por meio da análise de poemas e de revisão bibliográfica, a presença e a forma como se constrói a figura feminina na elegia ovidiana, a fim de averiguar a influência dessa figura na alteração das convenções estabelecidas para a poesia amorosa romana, contribuindo, assim, com os estudos já desenvolvidos sobre esse gênero.

AS CONSTRUÇÕES DO HERÓI ÉPICO GRECO-LATINO: RELAÇÕES ENTRE EPOPEIA E CONTEXTO

Jéssica Frutuoso Mello (M-CNPq) [email protected]

Prof. Dr. Brunno Vinicius Gonçalves Vieira Palavras-chave: Herói; poesia épica; Homero; Apolônio de Rodes; Virgílio. Buscando contribuir com a pesquisa acerca do personagem épico, o projeto propõe-se a estudar as diferentes construções que o herói recebeu nas epopeias da Antiguidade, considerando o contexto de produção dos textos selecionados. Tendo em vista que a literatura é um processo histórico em que as obras têm seu lugar no tempo e no espaço e que objetivamos traçar paralelos entre a obra literária e seu contexto de produção, tomamos como nossos objetos de estudo as principais epopeias gregas, Ilíada e Odisseia de Homero e As Argonáuticas de Apôlonio de Rodes, e a romana Eneida de Virgílio. Assim, partindo da premissa de que a organização sócio-histórica pode influenciar as caracterizações dos heróis épicos, abrangeremos intervalos de tempo e espaços diversos, de maneira a ponderar não só contextos políticos e literários diferentes, como as relações tanto de aproximação quanto de afastamento dos modelos literários anteriores.

MNEMOSINE E PÓS-UTOPIA NO FLUXO DO RIO LETE: UMA LEITURA CRÍTICA ! A EDUCAÇÃO DOS CINCO SENTIDOS "

Jorgelina Rivera (D-PECPG/CAPES) Profa. Dra. Diana Junkes Bueno Martha

Palavras-chave: Memória; Criação de precursores; Haroldo de Campos; Pós-utopia.

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Objetiva-se dar continuidade ao que foi desenvolvido na dissertação intitulada ! Duas poéticas de leitura: tradição e invenção nos projetos literários de Jorge Luís Borges e Haroldo de Campos" , realizada sob a orientação da Profa. Dra. Diana Junkes Bueno Martha e defendida na UNESP/SJRP. Na dissertação, a partir dos diálogos de Haroldo de Campos com Borges, foi possível apontar os percursos de duas poéticas de leitura que convergem sob a perspectiva da criação de precursores, lidos, amiúde, sob a perspectiva da memória de leitura desses autores. Na tese de doutoramento, pretende-se estudar com maior profundidade a relação entre memória e criação de precursores na obra de Haroldo de Campos, em sua etapa pós-utópica. Ou seja, a pergunta de pesquisa é: Considerando-se a pós-utopia como uma poética da agoridade, fortemente marcada pela articulação da poética sincrônica e de uma visão de história aberta, no sentido benjaminiano de ! leitura do passado como relampeja " (Tese IX), fica patente a importância da reconstrução crítica dos precursores como expediente que possibilita a revisão e a reinvenção do cânone, seja pela criação ou transcriação. Nesse sentido, caberia avaliar em que medida a memória como categoria de articulação do pensamento, passado e presente, como rememoração e limiar, mostra-se crucial para a compreensão do processo criativo haroldiano em sua fase pós-utópica, acentuada a partir de 1979, com a publicação de Deus e o diabo no Fausto de Goethe. Um dos livros em que o expediente memorialístico mais se manifesta é ! A educação dos cinco sentidos" que tem sido menos estudado, proporcionalmente ao restante da obra e por isso é que o elegemos como corpus. A originalidade da pesquisa reside em investigar o papel da memória e sua articulação com a poética sincrônica e com a visão de história mobilizada por Campos, tal originalidade estende-se ainda na medida em que essa investigação privilegiará as relações do poeta com o pensamento de Walter Benjamin sobre a história. Além disso, a inclusão das considerações de Henri Bergson sobre a memória e a leitura que dele é feita por Benjamin configuram-se como uma abordagem ainda inédita para a obra de Haroldo de Campos.

FIGURAÇÕES DO FEMININO EM DESMUNDO (1996), DE ANA MIRANDA

Juliana Cristina Minaré Pereira (M-CNPq) Profa. Dra. Guacira Marcondes Machado Leite

O trabalho em desenvolvimento tem como corpus a obra Desmundo (1996), de Ana Miranda, e objetiva analisar as figuras femininas que compões a narrativa, que trata do período colonial brasileiro. O texto literário constitui-se como um ponto de vista diferente do que é propagado pelo discurso patriarcal dominante. A partir do momento que se tem uma personagem mulher conduzindo o fio narrativo, a percepção que se cria em torno do fato histórico é diferenciada. Quando Oribela, personagem principal do romance, narra sua trajetória de Portugal até o Brasil e todos os infortúnios que vive, traz consigo não apenas sua vivência particular, mas também a de outras mulheres que compõe sua história e que percebem o # desmundo $ de maneira distinta. É a partir dessa formação narrativa compostas por várias figuras femininas, órfãs, índias, negras, freiras e até a rainha de Portugal, que a pesquisa se desenvolve, objetivando compreender

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como cada uma dessas personagens são problematizadas. Para tanto, será elementar trazer para a pesquisa as concepções de literatura de autoria feminina e suas contribuições para as discussões sobre gênero. Logo, as figurações da mulher são elementares para retratar esse novo olhar sobre o fato histórico, colocando em evidência o ponto de vista feminino, sempre preterido e silenciado pelo discurso dominante. O estudo torna-se, portanto, fundamental para o entendimento desse universo da mulher no período colonial, e, sobretudo, pretende compreender as reverberações da história na contemporaneidade.

UMA DESLEITURA FEMINISTA DA TRADIÇÃO: AS BRUMAS DE AVALON

E O INCÊNDIO DE TRÓIA, DE MARION ZIMMER BRADLEY

Juliana Cristina Terra de Souza (M-CAPES) Prof. Dr. Aparecido Donizete Rossi

Palavras-chave: revisionismo crítico; desleitura; Feminismo; Marion Zimmer Bradley. O presente projeto de pesquisa de mestrado tem por objetivo investigar as questões do Feminismo e os procedimentos de revisionismo crítico da tradição lendária e mítica ocidental na produção artística da escritora norte-americana Marion Zimmer Bradley (1930 ! 1999). Em prévia pesquisa de TCC [As representações do feminino em As brumas de Avalon, de Marion Zimmer Bradley (2015)] observou-se que a escritura dessa autora efetua uma desarticulação nas figurativizações em torno do feminino presentes na tradição literária. A partir do que já foi feito a proposta deste projeto de pesquisa é analisar o diálogo re-visionista com os textos patriarcais canônicos na obra de Bradley a partir da teoria feminista de Sandra Gilbert e Susan Gubar, dos postulados sobre o processo de revisionismo crítico de Adrienne Rich, e dos conceitos de angústia da influência e desleitura de Harold Bloom. O corpus selecionado para análise compreende os romances As brumas de Avalon (The Mists of Avalon, 1982) e O incêndio de Tróia (The Firebrand, 1987).

A NARRATIVA POETICA DE CHRISTINE DE PIZAN EM LE LIVRE DE LA CITE DES DAMES

Karla Cristiane Pintar (D) Profa. Dra. Guacira Marcondes Machado Leite

Palavras-chave: Christine de Pizan; Damas; Idade Média; autoria feminina; alegoria.

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Detentora de um vasto e valioso período quando campos políticos, econômicos e culturais se formaram como bases para sociedades posteriores, a Idade Média ainda se encontra frente a diversos estudos tímidos e, por vezes, resumindo seus dez séculos em rótulos, sintetizando seu significado. É nesse entremeio colocado à deriva que Christine de Pizan, autora francesa, em 1405, elabora Le Livre de la Cité des Dames, pautando seus conhecimentos e sua escrita na condição do feminino no Medievo, encerrando a construção de sua obra na edificação de uma cidade povoada por mulheres virtuosas, sugerindo um local que lhes pudesse conferir voz e, de certa maneira, autonomia. Para tanto, os recursos usados pela autora na edificação de uma cidade utópica se alicerçam no uso da alegoria e de adversativas, ricos artefatos linguísticos prestigiados pelo cânone medieval. Desse modo, a escrita de Pizan é demarcada por um forte traço poético o qual, diante dos dogmas patriarcais, é responsável por consolidar a autoria feminina dessa escritora. Mesmo escrevendo uma obra com marcantes traços políticos ! primordialmente por estabelecer leis constituintes dessa nova cidade ! , a autora usa elementos literários para reanalisar a moral e a ética da sociedade medieval. O tratado criado por Christine de Pizan, dentro da obra, é auxiliado por três Damas Celestiais, as quais conduzem a personagem Christine ! que também leva o nome da autora ! na elaboração da cidade, sempre com diálogos argumentativos e histórias de mulheres virtuosas que seriam modelos para a idealização do espaço. Analisa-se, portanto, que o caráter científico e sistemático, antes usado para constituir documentos que faziam referência aos estamentos sociais, é substituído por uma linguagem, grosso modo, menos ríspida e mais altruísta ao argumentar sobre adequadas posições tanto da sociedade em que se encontrava quanto do recente espaço feminino. Assim, ainda que guiada por um cânone varonil vigente, Pizan usa de sua perspicácia e prudência para evidenciar a linguagem poética como base para que significados sejam revistos e recriados em proveito de uma voz que se expande em pluralidade, conferindo importância ao corpo feminino a às suas palavras, mesmo que inserida dentro de uma urbe ficcional apresentada.

A INTERTEXTUALIDADE E O GÓTICO EM RELEITURAS DE BRANCA DE

NEVE E OS SETE ANÕES

Maisa dos Santos Trevisoli (M-CAPES) Prof. Dr. Aparecido Donizete Rossi

Palavras-chave: Intertextualidade. Releituras. Contos de Fadas. Gótico A intertextualidade é um tópico amplamente estudado por autores renomados como Genette, Bakhtin, Kristeva, dentre outros. Dentro do estudo da intertextualidade nos interessa a ideia de palimpsesto, que amplia o sentido destas relações entre textos, que ficam muitas vezes presas a conceituações limitadas. O estudo que pretendemos procura, nas releituras dos contos de fadas, em especial as que usam o conto " Branca de Neve e os Sete Anões# como texto-base, o modo como a intertextualidade é

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empreendida. Nos debruçaremos sobre o seguinte corpus: ! Snow White and the Seven Dwarfs" (1971), de Anne Sexton, e dois contos, ! Snow, Glass, Apples" (1994), de Neil Gaiman, e ! The Dead Queen" (2005), de Robert Coover. A relação entre as releituras citadas e o conto de fadas ! Branca de Neve e os Sete Anões" propõe um desvio, foge dos limites impostos por este último, subvertendo-o em diversos sentidos. O gótico é um dos modos de subversão observado em todas as releituras do corpus. Assim, ao considerar o gótico como elemento intertextual, pretendemos refletir sobre os caminhos utilizados pelas releituras na apropriação criativa de outros textos.

DE ORLANDO A ORLANDA: A TRANSEXUALIDADE NOS ROMANCES DO SÉCULO XX

Marcelo Branquinho Massucatto Resende (M-CAPES) Prof. Dr. Aparecido Donizete Rossi

Palavras-chave: transexualidade; teoria queer; desconstrução; Virginia Woolf; Jacqueline Harpman O presente projeto visa percorrer a literatura do século XX de modo a estabelecer, por meio da teoria queer e da desconstrução, uma arqueologia dos romances cuja temática principal perpassa a construção de uma mimetização da transexualidade como conhecida no século XXI. Ao longo do século XX, a transexualidade era caracterizada como patologia e doença mental passível de interferência das ciências da psique, percepção que vem de uma herança da visão da Idade Média e da Modernidade acerca do corpo do hermafrodita e do andrógino, além do pensamento binário acerca do gênero, em que o homem e mulher constituem corpos distintos e definidos a partir do órgão sexual, não sendo mais vistos como extensão um do outro, como na Antiguidade. O desenvolvimento dos estudos culturais no fim do século XX permitem leituras de obras sob a perspectiva da teoria queer. Debruçaremos, portanto, no romance Orlando (1928), de Virginia Woolf, que traz um aristocrata do século XVI experimentando sua fluidez de gênero ao mesmo tempo em que vivencia as transformações da sociedade burguesa inserida na Modernidade. Em meio a outras obras notáveis, nos preocuparemos também com Orlanda (1996), de Jacqueline Harpman, cuja protagonista experimenta seu desejo de trocar de corpo com um homem e experimentar novas vivências com sua metade/duplo masculina/o. A pesquisa busca, a partir destes dois romances que serviriam como eixos norteadores e representativos de um protótipo de literatura "trans" no século XX, analisar, por meio da descontrução derridiana, a linguagem pela qual a transexualidade é construída, além do contexto nos quais foram concebidos, de modo a averiguar quais as possíveis contribuições e heranças deixadas para a literatura e a identidade transexual do século XXI.

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A REPRESENTAÇÃO DA MULHER NOS ROMANCES ESPANHÓIS SOBRE O PÓS-GUERRA

Marcelo Maciel Cerigioli (D) Profa. Dra. María Dolores Aybar Ramírez

Palavras-chave: Representação; Mulher; Romance Espanhol. Com a Guerra Civil a Espanha viveu batalhas sangrentas por todo o país, confrontos por terra, bombardeios e grandes fugas de pessoas de seu território. Na sequência vieram 36 anos de regime ditatorial, no qual o Estado estabelecia as obrigações, os direitos e os deveres do cidadão no âmbito público e privado. Nos últimos 10 anos surgiu na Espanha o interesse por resgatar as memórias públicas e privadas desse período histórico, o que se refletiu no mercado editorial com a publicação de muitos livros retratando a Espanha do século XX. Buscando conhecer melhor a literatura contemporânea que trata do período pós-guerra, observamos que tanto as personagens femininas como também as escritoras que narram esse contexto passaram a se destacar no cenário literário espanhol. Muitas autoras foram testemunhas desse momento histórico na infância, ou, no caso das que nasceram depois, são filhas ou netas de mulheres que viveram na pele essa repressão. Desta forma, chegamos a presente pesquisa, que busca analisar como romances contemporâneos retratam a mulher desse período. Para esta investigação foram selecionados como corpus os livros Mujeres que caminan sobre hielo, escrito por Gloria Ruiz e La sonata del silencio, de Paloma Sánchez-Garnica. Seguindo o pressuposto de que a obra literária pode constituir um modo de representação da realidade e ampliando-o em direção às questões de gênero, para a análise utilizamos uma reflexão sociológica na abordagem do texto literário. A fundamentação teórica para esta investigação se baseia nos estudos da narrativa, sobre o romance, a representação e a questão de gênero.

BELLE TOUJOURS E A ELOQUÊNCIA DO SILÊNCIO (CONSIDERAÇÕES SOBRE O ÉPICO NO FILME DE MANOEL DE OLIVEIRA)

Moisés Henrique Mietto Romão (M-CAPES) Profa. Dra. Renata Soares Junqueira

Palavras-chave: Cinema e teatro, cinema épico, Manoel de Oliveira, Belle toujours, teatro épico. É recorrente no cinema de Manoel de Oliveira (1908-2015) a prática de ruptura da linearidade diegética e do ilusionismo tal como os valoriza o cinema hollywoodiano, ao qual o cineasta português é declaradamente avesso. A decupagem e a montagem clássicas, à Hollywood, estão fora da estética cinematográfica oliveiriana, que antes se

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compraz com a revelação dos seus métodos (ou do dispositivo cinematográfico) ao espectador, que assim é chamado a refletir criticamente sobre o conteúdo e sobre a forma dos seus filmes. Esta postura, se fosse transposta para o teatro, seria similar àquela que sempre preconizou o teatro político de Bertolt Brecht (1898-1956) ! ainda que naturalmente seja preciso, de antemão, guardar as devidas proporções quanto ao intuito estético-político de um e de outro artista.

Este projeto de pesquisa propõe um levantamento analítico de recursos épicos ! deliberadamente concebidos para provocar um distanciamento crítico do espectador relativamente ao que na tela do cinema se projeta ! num corpus constituído pelo filme Belle toujours (2006), de Manoel de Oliveira. Procuraremos mostrar que no cerne do conjunto de procedimentos estéticos adotados pelo cineasta está uma sutil ironia que entretece o tácito diálogo que o filme quer estabelecer com a sua matriz cinematográfica, o Belle de jour (1967) de Luis Buñuel (1900-1983).

O HUMOR JUDÁICO COMO FERRAMENTA DE DESCONSTRUÇÃO DO SAGRADO CANÔNICO: AS RELEITURAS BÍBLICAS NA OBRA

ROMANESCA DE MOACYR SCLIAR

Rafaella Berto Pucca (D) Profa. Dra. Maria Lúcia Outeiro Fernandes

Palavras-chave: Desconstrução; sagrada escritura; humor judaico; hermenêutica; Moacyr Scliar. A proposta defendida por este projeto visa à realização de uma leitura de círculo hermenêutico de três romances do escritor gaúcho Moacyr Scliar, obras estas reconhecidas como releituras bíblicas, a saber, A mulher que escreveu a Bíblia (1999), Os vendilhões do templo (2006) e Manual da paixão solitária (2008). A intenção é evidenciar, a partir da análise pretendida, como o humor (característica peculiar da literatura judaica) é utilizado como ferramenta para a desconstrução do discurso sagrado canônico, buscando dar vazão a reflexões que abordam aspectos relegados pela historiografia tradicional, tais como: a condição feminina, a homossexualidade e a própria vivência do sexo em momentos distintos da História. Trataremos, assim, de demonstrar como tais obras focalizam vozes e olhares que certas conveniências e a censura institucionalizada deixaram à margem no processo de composição da historiografia oficial (concebendo o texto bíblico como histórico e ficcional ao mesmo tempo, uma referência canônica para ambos os campos do saber). Ainda, vale a pena ressaltar há uma intencional relação estabelecida entre as três obras, isto tanto na proposta de releitura bíblica quanto na criação estrutural que olha para o passado com o olhar do presente a partir de um mote gerador que dá voz a marginalizados ex-cêntricos, pelo viés da desconstrução. Esta relação, contudo, pouco foi explorada, pois, com exceção de A mulher que escreveu a Bíblia que já conta com amplas análises que compõem a fortuna crítica de Scliar, as demais obras são consideradas relativamente recentes, com raras publicações críticas, escritas pouco antes da morte do autor. Neste sentido, a ideia de uma trilogia nos parece evidente (seja esta uma intencionalidade presente desde a primeira produção ou não) e, portanto, os romances devem ser analisados com este enfoque por ampliar ainda mais a percepção do leitor e a fortuna crítica do autor.

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DIÁLOGOS INESPECÍFICOS: LITERATURA BRASILEIRA

CONTEMPORÂNEA E FOTOGRAFIAS

Renan Augusto Ferreira Bolognin (D)

Profa. Dra. Rejane Cristina Rocha Palavras-chave: Literatura Brasileira Contemporânea; Representação; Fotografias; Inespecificidade. Esta pesquisa objetiva depreender qual(is) o(s) sentido(s) construído(s) no diálogo entre a fotografia e a literatura brasileira contemporânea através dos romances Nove noites, de Bernardo Carvalho; Divórcio, de Ricardo Lísias; e do romance gráfico Rremembranças da menina de rua morta nua, de Valêncio Xavier. Para levar a cabo as análises dos textos literários supracitados, selecionamos como tema de pesquisa o(s) porquê(s) da existência destes diálogos na literatura brasileira contemporânea através dos conceitos inespecífico e campo expansivo, com Florencia Garramuño (2014), e outros autores que se debruçaram nestas questões ou outras concernentes à literatura/arte contemporâneas, como Josefina Ludmer (2007), Rosalind Krauss (1979), Marjorie Perloff (1995) e Hal Foster (2017); nos conceitos simulacro e simulação, de Baudrillard (1991); e estabelecemos as bases filosóficas da tese na esteira da filosofia desconstrucionista de Jacques Derrida (1997) e nos debates político-artísticos de Jacques Rancière (2009). Como hipóteses desta pesquisa, levantamos as seguintes: i. O diálogo inespecífico (entre literatura e fotografia) dos textos do corpus possui traços distintivos em relação a romances anteriores que o estabeleceram; e ii. O uso abundante de imagens no período contemporâneo influencia singularmente a constituição de romances com fotografias, pois demonstra uma divergência sensível e/ou uma singularidade em seus protocolos de inteligibilidade e formas de visibilidade (RANCIÈRE, 2012) entrelaçada a uma espécie de obsessão pelo ! eu" no período contemporâneo, um contraste claro em relação a romances de períodos anteriores que se ancoravam em imagens de lugares e objetos. Com a soma dessas hipóteses, pensamos que o diálogo inespecífico percebido na aliança dos textos literários analisados e de suas fotografias demonstra questionamentos políticos referentes não apenas a arte, mas também ao Brasil contemporâneo. Para levar a cabo o objetivo geral da pesquisa (apontado nas primeiras linhas deste resumo), o separamos em alguns específicos: i. Analisar os romances e a relação com suas fotografias; ii. Aprofundar os conceitos de ! Inespecificidade" e ! Campo expansivo " ; iii. Levantar textos literários com a relação literatura/fotografia; iv. Explorar a relação fotografia/textos narrativos a partir dos conceitos simulacro e simulação pela imagem do ! eu" no período contemporâneo; v. Relacionar protocolos de inteligibilidade e formas de visibilidade na inespecificidade.

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ALEGORIA E CARNAVALIZAÇÃO DO CORPO EM O SANTEIRO DO

MANGUE, DE OSWALD DE ANDRADE

Sirlene Sales Maciel (M) Prof. Dr. Paulo César Andrade

Palavras-chave: alegoria; carnavalização do corpo; Oswald de Andrade; poema-drama; Literatura Brasileira. O presente projeto aborda a obra O Santeiro do Mangue: Mistério gozoso em forma de ópera de Oswald de Andrade analisando os recursos como a alegoria e a carnavalização do corpo na construção do texto. O poema-drama foi escrito entre 1936 - 1950, sendo um dos últimos escritos do autor que foi publicado em livro apenas em 1991. A obra retrata a história de Eduleia ! a prostituta - e seu caso de amor com Seu Olavo dos Santos ! o vendedor de santos, no bairro do Mangue no Rio de Janeiro, antiga zona de prostituição na década de 40. O mistério oswaldiano reescreve pelo avesso os mistérios gozosos cristãos. Para esse estudo será utilizado o método analítico e comparativo, sendo o objetivo do trabalho pesquisar e analisar a fortuna crítica e obras que contextualizam a obra no cenário histórico-cultural do período da sua produção no século XX, analisar as teorias relacionadas com a alegoria e carnavalização do corpo e compará-las com a obra, investigar na obra, a partir das teorias que tratam do grotesco, dos recursos épicos e da antropofagia e avaliar se o pensamento político e filosófico oswaldiano possui relevância para a construção do poema-drama. Como fundamentação teórica utilizaremos alguns dos escritos do autor como o Manifesto Antropofágico (1928), A crise da filosofia messiânica (1950). Sobre a alegoria partimos dos estudos de Walter Benjamin em Origem do drama trágico alemão (1928), obra em que o autor parte dos estudos etimológicos, bem como da ideia alegórica na antiguidade, sua relação com o barroco e dessa forma contribui para a construção do conceito moderno do termo. O escopo teórico de Mikhail Bakhtin será consultado para o estudo da carnavalização do corpo e do grotesco, sobretudo a obra A cultura popular na Idade Média e no Renascimento (1965), em que o autor analisa a produção de François Rabelais. Os recursos épicos e o estudo de Bertolt Brecht são fundamentais para compreender a intenção do autor e a sua perspectiva teleológica, pois o autor visava também convencer os prováveis espectadores e leitores da sua ideologia e desconstruir os mistérios sacros-cristãos.

J. R. R. TOLKIEN: O AUTOR E O GÊNERO

Stéfano Stainle (D) Prof. Dr. Aparecido Donizete Rossi

Palavras-chave: J. R. R. Tolkien; O Senhor dos Anéis; Gêneros; Epopeia; Romance.

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O Senhor dos Anéis [The Lord of the Rings, 1954 - 1955], obra prima do escritor sul-africano J. R. R. Tolkien (1892 ! 1973) ! escrito entre os anos de 1937 e 1949 ! trouxe consigo a inovação no cenário da literatura mundial do século XX. A negação à modernidade e a retomada do medievalismo fez com que Tolkien fosse rejeitado pelo cânone estético de sua época, ou seja, por remar contra a maré vigente, o modernismo e pelo fato de seu projeto literário ter como princípios condutores ideias em contestação naquele momento da história literária, como, por exemplo, a unidade primordial proposta por narrativas cosmogônicas e a centralidade do sujeito. Sua obra apresentou um desvio radical aos preceitos dos movimentos vanguardistas, movimentos esses que, dentre diversas outras propostas, constituiam-se por meio do nihilismo, assim como a busca pela negação do considerado velho e antigo, a tradição literária. Enquanto o modernismo buscava o esvaziamento do ser diante da existência, a obra de Tolkien propunha o contrário: a busca pelo ser por meio da existência. Inserida num contexto vanguardista, a obra de Tolkien seguiu por um caminho improvável, ainda que esperado, qual seja a herança pré-rafaelita. O movimento Pré-Rafaelita talvez tenha sido um dos poucos movimentos francamente ingleses, um movimento que não teve desdobramentos fora da cultura inglesa, pois consistia de um grupo de poetas e pintores da segunda metade do século XIX que, pertencendo à terceira e última geração romântica nas ilhas britânicas, postulavam o preceito estético de retorno à época e tradições medievais como uma espécie de resistência à apropriação do estético para fins sócio-históricos, filosóficos e mercadológicos. O movimento Pré-Rafaelita britânico culmina na questão estética que conclui o século XIX inglês: o embate entre um grupo de artistas, liderado por Oscar Wilde, que defendia a imanência da arte, a arte pela arte; e um outro grupo de artistas, liderado por George Bernard Shaw, que defendia que a arte deve ter uma utilidade sócio-política, a arte pela sociedade. O modernismo britânico é tributário do grupo liderado por Shaw, enquanto Tolkien e sua obra alinham-se ao grupo liderado por Wilde.

A LIBERDADE FEMININA COMO FORÇA CRIADORA:O MATRISMO NA FICÇÃO DE NATÁLIA CORREIA.

Vivian Leme Furlan (D-FAPESP) Prof. Dr. Jorge Vicente Valentim

Palavras-chave: Autoria feminina; Ficção portuguesa contemporânea; Matrismo; Natália Correia. O presente projeto tem por finalidade investigar a obra literária de Natália Correia, escritora e ativista cultural portuguesa, direcionando a análise ao percurso da literatura de autoria feminina em Portugal e ao conceito de " matrismo # proposto pela autora. Através do resgate deste conteúdo, objetiva-se investigar se esta proposta não seria uma maneira da autora em elencar e consolidar avant la lettre uma forma especial de feminismo, em que prioriza, sobretudo, a igualdade dos gêneros. Para tanto, a análise

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centrar-se-á, em especial, em três de seus textos: A Madona (1968), A ilha de Circe (1983) e As Núpcias (1992). Entendemos que esses textos, ao tocarem em temas como a liberdade do corpo feminino, o erotismo, a androginia, o incesto, a mitologia, a crítica aos conceitos cristãos cerceadores, atrelados à ideia de transcendência, e, principalmente, ao conceito de matrismo, proposto pela autora, acabam por envolver também propostas de emancipação dos textos de autoria feminina/feminista, tão importantes na consequente e devida ocupação do espaço das mulheres na literatura e na sociedade.

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