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© 2009, BV Films Editora Ltdae-mail: [email protected] Visconde de Itaboraí, 311 – Centro – Niterói – RJCEP: 24.030-090 – Tel.: 21-2127-2600www.bvfilms.com.br / www.bvmusic.com.br

É expressamente proibida a reprodução deste livro, no seu todo ou em parte, por quaisquer meios, sem o devido consentimento por escrito.

Originalmente publicado em inglês com o título:The Pilgrim’s Progress

Editor Responsável: Claudio RodriguesCapa e editoração: GuilO Peregrino - Parte II Tradução: Simone Lacerda de Almeida Viviane Borges Soares AndradeRevisão de texto: Marcus Vinicius Cardoso Paulo Pancote Ariana Fátima C. Baptista

ISBN: 978-85-61411-18-31ª edição - Setembro/2009Impressão: Imprensa da FéClassificação: Bíblia

Impresso no Brasil

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O PEREGRINO John Bunyan

Parte II

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Capítulo I

J á faz algum tempo que lhes contei o sonho que tive a respeito do Cristão, o Peregrino, e de sua perigosa jor-nada rumo à Cidade Celestial, o que foi muito agradável

para mim e proveitoso para vocês. Eu lhes disse, também, o que vi a respeito de sua esposa e filhos e quão indispostos estavam para seguir com ele em peregrinação, tanto que ele foi forçado a ir sozinho, por-que não ousou correr o perigo de sofrer a destruição que temia estar por vir, se ficasse com eles na Cidade da Destruição. Sendo assim, como lhes mostrei, ele os deixou e partiu.

Aconteceu que, por causa das muitas tarefas que me ocuparam e mantiveram-me longe das minhas viagens habituais, àquelas partes para onde foram, não tive até agora uma oportunidade de investigar mais a fundo aqueles que ele deixou para trás, para lhes dar tal relato. Mas, ultimamente, tendo algumas preocupações a esse respeito, nova-mente segui naquela direção. Dessa forma, levantando meu acampa-mento na floresta, quando me deitei, novamente sonhei.

Enquanto sonhava, vejam só, um velho cavalheiro veio até onde eu estava deitado. E como ele estava indo para o mesmo lugar que eu ia, então, me levantei e segui com ele. Desse modo, enquanto andáva-mos como fazem normalmente os viajantes, começamos a conversar e nossa conversa dirigiu-se para o tema do Cristão e sua jornada. Assim comecei a falar com o velho homem.

― Senhor, eu disse, que cidade é aquela ali embaixo, que fica à esquerda do nosso caminho?

Então disse o Sr. Sagacidade (pois este era o seu nome): ― É a Cidade da Destruição, um lugar muito populoso, mas com um tipo de povo muito preguiçoso e de má índole.

― Pensei que fosse mesmo essa tal cidade, falei, ― pois já estive aqui uma vez, e portanto, sei que o que diz é verdade.

Sagacidade ― É bem verdade que eu gostaria de poder falar me-lhor daqueles que ali moram.

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O Peregrino6

― Bem, Senhor, respondi, ― assim percebo que o senhor é um ho-mem bem-intencionado; e alguém que tem prazer em ouvir e contar o que é bom. Mas, diga-me, o senhor nunca ouviu o que aconteceu com um homem nessa cidade há algum tempo, cujo nome era Cristão, que partiu numa peregrinação em direção a regiões mais elevadas?

Sagacidade ― Se ouvi! Sim, e também ouvi dos sofrimentos, pro-blemas, guerras, cativeiros, gritos, lamentos, temores e assombros que ele encontrou no caminho em sua jornada; além disso, devo lhe dizer, todos no nosso país falam dele. Há algumas casas onde não apenas se ouviu falar dele e seus feitos, mas seguiram-no, buscando relatos de sua peregrinação. Sim, acho que posso dizer que muitos lhe desejam sucesso em sua arriscada jornada, pois, embora ele fosse considerado um tolo enquanto vivia aqui, agora que se foi, é altamente respeitado por todos. Pois, como se diz, ele vive bravamente onde está, e muitos deles estão decididos a não seguir o mesmo caminho de perigos, mas ficam com água na boca pelos seus ganhos.1

― Eles podem mesmo se sentirem assim, disse eu, ― se acham que qualquer parte desta história é verdade e que ele vive bem onde está. Pois agora ele vive na Fonte da Vida e o que ele tem vem sem esforço e sofrimentos, pois ali não há dor. Mas, me diga, as pessoas falam dele?

Sagacidade ― E como falam! As pessoas comentam estranhamen-te a respeito dele. Alguns dizem que agora ele anda de branco, que tem uma corrente de ouro em seu pescoço,* e uma coroa de ouro e pérolas em sua cabeça. Outros dizem que os Seres Resplandecentes, que algumas vezes apareceram a ele em sua jornada, tornaram-se seus companheiros, e que é amigo deles no lugar onde está agora, como um vizinho é do outro. Além do mais, afirma-se com certeza que o Rei do lugar onde ele está,† já lhe deu uma casa rica e agradável na corte, e que todos os dias come, bebe, anda e caminha com ele; e recebe os 1 Isso é muito natural e comum. O homem deste mundo irá canonizar alguns como santos, depois de mortos, os quais antes eram estigmatizados com os piores nomes quando vivos. Além de outros que poderia mencionar, lembro-me especialmente de um homem de Deus, fiel ministro de Cristo, o falecido Rev. Sr. Whitfield. Poucos foram mais reprovados publicamente do que ele. Ainda assim, quantas vezes tenho ouvido pessoas que consideravam seu caráter e conduta os mais terríveis e, agora que ele está morto, falam dele do modo mais respeitoso! Estas pessoas vivem o momento – são como aqueles que seguiram o nosso Salvador por causa de “pães e peixes”.* Apocalipse 3.4; 6.11† Zacarias 3.7

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Capítulo I 7

sorrisos e favores daquele que é o Juiz de todos naquele lugar. Além disso, alguns esperam por seu Príncipe, o Senhor daquele país, do qual dizem que virá em breve para estas regiões e saberá as razões, se é que se pode dar alguma, pelas quais os seus vizinhos deram tão pouco va-lor a ele* e o ridicularizaram tanto quando perceberam que se tornaria um peregrino. Pois, dizem21que agora que ele caiu nas boas graças do seu Príncipe, seu soberano está tão preocupado com as indignidades que foram lançadas sobre o Cristão quando se tornou um peregrino, que olhará para todos como se o tivessem feito a ele mesmo; e não se espantem, pois foi pelo amor que ele tinha por seu Príncipe que se aventurou de tal forma.3

Falei então ― Eu ouso dizer que estou contente por isso. Estou feliz pelo bem do pobre homem, pois agora pode descansar de seu trabalho,† colher o benefício de suas lágrimas com alegria, e também por estar fora do alcance das balas dos seus inimigos e daqueles que o odeiam. Eu também me alegro ainda pelo rumor acerca de tais coisas que corre por este país. Quem pode dizer se isso não terá um bom efeito sobre aqueles que ficaram para trás? Mas, diga-me, Senhor, en-quanto ainda está fresco em minha mente, você ouviu algo sobre a sua família? Pobres corações: imagino o que têm feito.

Sagacidade ― Quem? Cristiana e seus filhos! Eles provavelmente farão como fez o Cristão, pois embora todos tenham se comportado como tolos a princípio, de jeito nenhum quiseram ser persuadidos, tanto pelas lágrimas quanto pelas ameaças do Cristão; eles pensaram melhor e isso foi funcionando para eles. Então, fizeram as malas e também seguiram atrás dele! 4

* Lucas 14.15 2 O Rei do Cristão ficará do lado do Cristão. Oh, peregrino, escreva isso na tábua do seu coração e leia-o a cada passo da sua jornada!3 Note bem: Não importa o que professamos, se o amor de Cristo não for a verdadeira fundação. O tudo sem amor nada é. É este amor, como o óleo na lâmpada, que mantém a confissão de Cristo como luz bri-lhante. Quanto mais a sentimos, mais ardente é o fogo do zelo e mais firmemente desejaremos conhecer o Senhor. Não o deixaremos, nem desistiremos, até que vejamos e desfrutemos do Senhor em Seu reino. Que o Senhor inflame nosso amor a Ele, Sua verdade e Seus caminhos! † Lucas 10.16; Apocalipse 14.134 Apesar dos sentimentos e argumentos afetuosos de um terno marido, ou de um parente amoroso pa-recerem ser ineficazes agora, quando o Senhor trabalhar com Seu grande poder, somente então, eles se provarão eficazes no propósito da salvação. Ainda assim, não devemos negligenciar nossa tarefa, mas sermos dedicados a ela e deixar o evento para a soberana graça.

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O Peregrino8

Isso é bem melhor, ― eu falei ― Mas como, foram a esposa e todos os filhos?

Sagacidade ― Sim. Eu posso afirmar, pois estava lá bem na hora e fiquei a par de toda a questão.

― Então, ― disse eu, ― pode um homem afirmar que isso é ver-dade?

Sagacidade ― Não preciso temer ao afirmá-lo. Quero dizer, eles partiram em uma peregrinação, a mulher e os quatro meninos. E já que vamos andar uma boa distância juntos, vou lhe contar toda a his-tória.

Essa mulher, Cristiana (pois este é seu nome desde o dia em que, com seus filhos, assumiu a vida de uma peregrina), depois que seu marido se foi para além do rio, e ela não teve mais notícias dele, seus pensamentos começaram a trabalhar em sua mente. Primeiro, porque ela tinha perdido seu marido e o laço de amor entre eles estava que-brado. Pois você sabe, a natureza não faz nada além de entreter os vivos com muitos pensamentos, com lembranças daqueles amados que perdemos. De fato, a lembrança de seu marido lhe custou muitas lágrimas. Mas isso não foi tudo, pois Cristiana também começou a considerar que seu comportamento impróprio para com seu marido fora a causa de não mais vê-lo e por isso ele fora tirado dela. Então, veio sobre sua mente, como uma reflexão, todo o seu comportamento artificial, grosseiro e pagão para com o seu querido marido. Esses pensamentos também lhe travavam a consciência e a sobrecarregavam de culpa. Além de tudo, sofria muito com a lembrança dos gemidos incansáveis, das muitas lágrimas e lamentos de seu marido. E como ela endureceu seu coração contra todas as suas súplicas e persuasões amorosas para que ela e seus filhos fossem com ele! Sim, não houve nada que o Cristão não tenha dito, ou feito diante dela, enquanto seu fardo pesava em suas costas, que pudesse lhe convencer. Agora, tudo retornava para ela como o brilho de um relâmpago e partia seu co-ração em dois; especialmente aquele seu amargo grito, “O que devo fazer para ser salvo?” – que soava em seus ouvidos mui tristemente.5

1

5 Veja aqui, a forma cruel e grosseira que parentes e amigos tratam os que servem verdadeiramente a Deus, em virtude da religião. E como devem sentir na amargura de seu espírito, e gemer de tristeza em sua alma, aqueles que os desprezaram se o Senhor um dia lhes conceder o arrependimento para a vida.

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Capítulo I 9

Então ela disse aos seus filhos, “Filhos, estamos todos perdidos. Espantei seu pai com meu pecado e ele se foi. Ele queria ter-nos junto a si, mas eu não quis. Também impedi a vocês de terem a vida”. Dito isso, os rapazes romperam em lágrimas e choraram desejosos de ir ao encontro do seu pai. “Oh”, disse Cristiana, “era nosso destino ir com ele! E teríamos nos saído bem, muito melhor do que estamos agora! Embora, antes, eu tenha imaginado estupidamente que as preocupa-ções de seu pai fossem fruto de uma imaginação tola, ou que ele esti-vesse dominado por sentimentos de melancolia, agora eu não consigo deixar de pensar que elas surgiram por outra causa, a saber, a luz da vida foi dada e ele,* pela ajuda da qual, agora percebo, escapou das ciladas da morte”. 61

Então todos eles choraram de novo e clamaram: “Oh, maldito o dia!”

No dia seguinte, Cristiana teve um sonho. Ela viu como se um grande pergaminho estivesse aberto diante dela, no qual estava regis-trado a soma de seus caminhos; e tudo parecia, pensou, muito negro para ela. Então ela clamou alto em seu sonho:* “Senhor, tem miseri-córdia de mim, pecadora!” 7 – e os meninos a ouviram.

Depois disso, ela pensou que vira dois seres de aparência muito ruim ao seu lado, dizendo: “O que faremos com esta mulher? Pois ela cla-ma por misericórdia, acordada e também dormindo! Se acontecer dela continuar o que começou, nós a perderemos assim como perdemos seu marido. Portanto precisamos, de um jeito ou de outro, buscar tirar dela esses pensamentos a respeito do que será daqui para frente, caso con-trário ninguém neste mundo a impedirá de se tornar uma peregrina.”* João 8.126 É alguma surpresa que, um pecador convencido e esclarecido seja julgado por aqueles que, ao seu redor estão ainda mortos em seus pecados, como alguém cheio de caprichos e melancolia? Não, é muito natural que nos julguem loucos e tolos. Mas nós sabemos que eles é que o são. Pois, quando agradar ao Senhor lhes tirar o véu da descrença do coração e remover as escamas de ignorância de seus olhos, então eles confessarão junto com os cristãos, que a luz da vida foi dada a eles.* Lucas 18.137 Este é o primeiro grito de um pecador convicto – misericórdia para os perdidos e infelizes. E logo após, os olhos do pecador são abertos e ele vê que está arruinado, num estado desesperado, então, ele grita por misericórdia. Do deus deste mundo que, até agora, o cegou e manteve seu coração seguro através da presunção, e que se opôs ao progresso do pecador em direção ao trono da graça, volta-se para um Deus de misericórdia, para o Salvador dos perdidos. Satanás não se separa facilmente da sua presa. Mas Jesus, o homem forte, armado com uma força toda poderosa e amor duradouro, por fim conquistará e o lançará para longe. Esta é a misericórdia do pecador, sem a qual ninguém poderia ser salvo.

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O Peregrino10

Então ela acordou suando muito e tremendo. Mas depois de algum tempo, voltou a dormir. E então ela pensou que via Cristão, seu ma-rido, num lugar de alegria entre muitos imortais, com uma harpa em suas mãos, de pé e tocando diante Daquele que se assenta no trono, com um arco-íris sobre a sua cabeça. Ela também viu como se ele in-clinasse a cabeça, com sua face voltada para o chão que estava sob os pés de seu Príncipe, dizendo: “Eu agradeço de coração ao meu Senhor e Rei por trazer-me a este lugar.” Então gritou um grupo de seres que ficava ao redor e tocou as suas harpas; mas nenhum homem vivo po-dia dizer o que eles falavam, apenas Cristão e seus companheiros.

Na manhã seguinte, quando ela acordou, orou ao Senhor, e conver-sou com seus filhos por um tempo, quando alguém bateu com força à porta. A este, ela falou: “Se você vem em nome de Deus, entre.” Então ele disse: “Amém”, e abriu a porta, saudando-a: “Paz seja nesta casa”. Quando o fez, falou dirigindo-se a ela: “Cristiana, você sabe de onde eu venho?” Ela corou e tremeu. Seu coração também começou a inquietar-se para saber de onde ele vinha e qual era a sua questão com ela. Então, ele lhe disse: “Meu nome é Segredo;8

1 eu moro com aque-les que estão nos lugares altos. Você tem falado de onde vivo, como se você tivesse um grande desejo de ir até lá; também há um relato de que agora você tem consciência do mal que fez ao seu marido, ao endurecer seu coração contra o seu caminho, e mantendo desta forma, seus filhos na ignorância. Cristiana, Aquele que tem misericórdia me enviou para lhe dizer que Ele é um Deus pronto para perdoar e que se alegra em multiplicar o perdão para cobrir as ofensas. Ele também gostaria que você soubesse que lhe convida para vir à Sua presença, à Sua mesa, e que Ele lhe alimentará com a gordura da casa, e com a herança de Jacó, Seu pai. Lá está o Cristão, que era seu marido, jun-to com as legiões celestiais, e mais seus companheiros, e estão para sempre contemplando aquela face que ministra vida aos que a olham; e eles ficarão felizes quando ouvirem o som dos seus passos nos um-brais da casa do seu Pai.”

Cristiana ficou grandemente envergonhada e baixou a cabeça, en-quanto o seu visitante continuou: “Cristiana, aqui, também tenho uma8 “O temor do Senhor é o princípio da sabedoria” (Salmos 111.10) e “o segredo do Senhor está com aqueles que o temem” (Salmos 25.14). O Espírito, o Consolador, nunca convence a alma do pecado sem convencer e confortar o coração com ondas de perdão gratuito e liberdade, pelo sangue do Cordeiro.

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Capítulo I 11

carta para você, que trouxe das mãos do Rei do seu marido.” Ela a tomou e abriu; tinha o cheiro do melhor perfume e estava escrita com letras de ouro. O conteúdo da carta era o seguinte: “O Rei gostaria que você fizesse como fez o Cristão, seu marido, pois este era o caminho para vir a esta cidade e para viver na presença do Rei em alegria, para sempre.” Diante disso, a pobre mulher ficou bastante emocionada e clamou ao visitante: “Senhor, o senhor me levaria, e a meus filhos comigo, para que possamos ir adorar ao Rei?”

Então, o visitante disse: “Cristiana, antes do doce vem o amar-go. Você deve passar por tribulações, como aquele que foi antes de você, para entrar na Cidade Celestial. Diante disso, lhe aviso para fazer como fez o Cristão, seu marido. Vá até a Porta Estreita além da planície, pois ela fica na entrada do caminho que deve seguir, e eu lhe desejo tudo de bom. Também lhe aconselho a levar esta carta com você, para que a leia para si mesma e seus filhos, até que a saibam de cor. Pois esta é uma das canções que devem cantar enquanto esti-verem nesta casa de peregrinação. Também deve entregá-la na porta mais adiante.”91

Agora em meu sonho, vejo que este velho cavalheiro, enquanto me contava a história, parecia ele mesmo estar muito impressionado com ela. Ele continuou:

― Depois disso, Cristiana chamou os filhos e começaram a con-versar. Ela começou, “Meus filhos, eu estive, como podem perceber, atrasada nos exercícios de minha alma acerca da morte de seu pai, não que eu duvide em nada de sua felicidade, pois estou satisfeita agora por que sei que ele está bem. Também fui muito afetada com esses meus pensamentos sobre o meu e o estado de vocês, que acre-dito ser, por natureza, infeliz. Meu comportamento para com seu pai no seu sofrimento também é um grande peso na minha consciência; pois endureci tanto o meu coração quanto o de vocês contra ele, e nos recusamos a ir com ele naquela peregrinação.

Os pensamentos dessas coisas me matariam agora mesmo, se não fosse por um sonho que tive ontem à noite, e pelo encorajamento que

9 Diz o Senhor “Quando o Espírito vier, ele testemunhará de mim - os levará a toda a verdade - lhes mostrará o que há de vir” (João 15.26 - N.T.). Tudo isto o pecador convicto encontra de verdade na ex-periência. Como o Espírito Santo testifica de Cristo, então ele leva a alma até Cristo, para que possa ser a única esperança, justiça e força do pecador. Assim, ele glorifica a Cristo.

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O Peregrino12

recebi de um estranho esta manhã. Venham meus filhos, vamos fazer as malas e ir até a porta que leva à Cidade Celestial, para que vejamos seu pai e estejamos com ele e seus companheiros em paz, de acordo com as leis daquela terra.”

Então, seus filhos caíram num choro de pura alegria e, porque o coração de sua mãe já se inclinava desta maneira, o visitante lhes de-sejou adeus e começaram a preparar-se para partir em sua jornada.

Mas, quando eles estavam quase partindo, duas mulheres que eram vizinhas de Cristiana, vieram à sua casa e bateram à porta. Ela disse, como antes, “Se vêm em nome de Deus, entrem!” Diante disso, as duas mulheres ficaram chocadas, pois este era um tipo de linguagem que não costumavam ouvir, ou muito menos vê-la saindo dos lábios de Cristiana.10 Ainda assim entraram, mas notaram que a boa mulher estava preparando-se para ir embora de sua casa.

Então começaram a dizer: “Vizinha, por favor, o que significa isso?”

Cristiana respondeu e disse à mais velha, cujo nome era Sra. Te-merosa: “Estou me preparando para uma jornada (esta Temerosa era filha daquele que encontrou o Cristão na Montanha da Dificuldade e que queria que ele voltasse por medo dos leões).

Temerosa ― Para qual jornada, posso saber?Cristiana ― Para ir até meu bom marido. ― E dizendo estas pala-

vras, começou a chorar.Temerosa ― Eu espero que não, boa vizinha. Por favor, pelo amor

de seus pobres filhos, não se ponha numa posição tão indigna para uma mulher.

Cristiana ― Não, meus filhos vão comigo, nem um só deles deseja ficar para trás.

Temerosa ― Eu imagino quem ou o quê lhe convenceu a fazer isso!

Cristiana ― Oh, vizinha, se você soubesse tanto quanto eu, você também desejaria ir comigo!10 Leitor, pare e pense: nunca nenhum de seus amigos antigos e colegas não cristãos reconheceram a diferença na sua linguagem e em sua conduta? Eles ainda gostam tanto de você quanto antes? Que razão, então, você tem para se considerar um peregrino? Pois ninguém começa a ser um peregrino antes de cumprir-se a Palavra: “Então purificarei os lábios dos povos” (Sofonias 3.9). Se o coração não conhecer bem o Senhor, a língua o descobrirá; e os que forem carnais e profanos o ridicularizarão e o desprezarão por isso. Isto sempre será verdade e é um sinal claro de que você está no “caminho”.

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Capítulo I 13

Temerosa ― Por favor, que conhecimento você tem que lhe afasta dos seus amigos e lhe tenta a ir até “ninguém sabe aonde?”

Então Cristiana replicou ― Eu tenho sido muito afligida desde que meu marido partiu. Especialmente depois que ele foi para além do rio. Mas o que mais me incomoda é o meu comportamento briguento para com ele, enquanto ele estava naquela situação difícil. Além dis-so, estou agora como ele estava antes; nada mais me resta senão sair em peregrinação. Ontem à noite, eu sonhei que o via. Oh, que a minha alma estava com ele! Ele mora na presença do Rei do país; ele senta e come com ele em sua mesa; tornou-se um companheiro dos imortais e tem uma casa que lhe foi dada para morar, a qual se for comparada com o melhor palácio da terra, este parecerá apenas uma esterqueira. O Príncipe do lugar também mandou me buscar, com a promessa de me receber se eu for até Ele; seu mensageiro esteve aqui até agora, e me trouxe uma carta que me convida a ir. E depois ela mostrou a carta,11 a leu e perguntou a elas: O que dizem disto?

Temerosa ― Oh, digo que a loucura possuiu você e seu marido, para se arriscarem em tais dificuldades! Você ouviu, tenho certeza, o que seu marido encontrou pelo caminho, desde o primeiro passo, como nosso amigo Obstinado pode testemunhar, pois seguiu com ele, e Volúvel também. Também ouvimos várias vezes, como ele se en-controu com leões, com Apoliom, com a Sombra da Morte e muitas outras coisas. Também não podemos esquecer o perigo que encarou no encontro na Feira das Vaidades. Pois se para ele, embora homem, fosse tão difícil passar por todas aquelas coisas, o que é que você, uma mulher, pode fazer? Considere também esses quatro pobres pequenos, sua carne e sangue. Por que você deve ser tão precipitada e lançar-se dessa forma? Não, pelo menos por amor ao fruto do seu corpo – seus filhos – fique em casa.12

11 Esta foi uma carta de amor, cheia do amor de Jesus e do precioso convite de seu coração amoroso aos pecadores para que venham a Ele, como está registrado em Sua Santa Palavra. Felizes são os pecadores cujos olhos são abertos para compreendê-la! É isso que o mundo chama de loucura! 12 O Senhor, que nos convence pelo Seu Espírito e nos chama com Sua Palavra conhece bem os inimi-gos que farão oposição ao nosso progresso para a vida divina; portanto, ele nos conta, “Se o seu próprio irmão ou filho ou filha, ou a mulher que você ama ou seu amigo mais chegado secretamente instigá-lo dizendo: ‘Vamos adorar outros deuses’, não se deixe convencer, nem ouça o que ele diz” (Deuteronômio 13.6). Deixe a Palavra de Deus ser a regra e a conduta de Cristiana, um exemplo para todos que voltam sua face em direção a Sião. Cuidado com a racionalização da carne. Tremam diante do pensamento de retroceder, pois o Senhor “não se agradará dele” (Hebreus 10.38).

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O Peregrino14

Mas Cristiana replicou ― Não venha me tentar, minha vizinha; agora tenho um prêmio em minhas mãos para ganhar e serei uma grande tola se não aproveitar esta oportunidade. E quando você me fala de todos esses problemas que talvez enfrente pelo caminho, para mim estão distantes de ser um desencorajamento, pois eles mostram que estou certa. “O amargo deve vir antes do doce”, e que também “tornará o doce ainda mais doce”. Por essa razão, já que você não veio à minha casa em nome de Deus, como eu disse, eu lhe peço que vá embora e não me perturbe mais.

Então Temerosa a insultou e disse a sua companheira: ― Vamos, vizinha Misericórdia, vamos deixá-la entregue à sua própria sorte, já que ela despreza nosso conselho e companhia. Mas Misericórdia es-tava em dúvida, e não pôde concordar tão rapidamente com a sua vizinha, por duas razões: 1) Seu coração se angustiava por Cristiana. Então, ela disse consigo mesma, se minha vizinha precisa mesmo ir, vou com ela por uma parte do caminho, para ajudá-la. 2) Seu coração se angustiava por sua própria alma, pois o que Cristiana dissera atraíra sua atenção. Por isso, disse dentro dela mesma, eu conversarei mais sobre isso com Cristiana, e se eu achar verdade e vida no que ela dis-ser, irei com ela também. Por estas razões, Misericórdia começou a argumentar com sua vizinha Temerosa.

Misericórdia ― “Vizinha, eu vim mesmo ver Cristiana esta ma-nhã; e uma vez que ela está, como você disse, dando seu último adeus ao seu país, acho que caminharei no sol da manhã com ela para ajudá-la no seu caminho”. Porém, ela não lhe disse nada a respeito de sua segunda razão, guardando-a para si mesma.

Temerosa ― Bem, eu vejo que você também está começando a se enganar. Mas acorde enquanto há tempo e seja sábia. Enquanto estivermos fora de perigo, estaremos protegidas. Mas, se entrarmos no meio de uma aventura, nada poderemos fazer para a nossa segu-rança.

Dizendo isso, a Sra. Temerosa retornou à sua casa e Cristiana preparou-se para sua jornada. Mas quando Temerosa saiu para voltar para sua casa, ela mandou chamar mais algumas de suas vizinhas, a saber, a Sra. Bêbada, a Sra. Sem Consideração, a Sra. Inconstante e a Sra. Não-sabe-de-nada. Então, quando elas estavam indo para a sua

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Capítulo I 15

casa, ela contou a história de Cristiana e de sua pretensa jornada.13 E assim ela começou a sua história:

― Vizinhas, como não tinha muito a fazer hoje de manhã, fui visi-tar Cristiana e quando cheguei à porta, bati – como vocês sabem que é nosso costume; e ela respondeu, “Se vem em nome de Deus, entre”. Então entrei, pensando que tudo estava bem, mas a encontrei prepa-rando-se para deixar a cidade, ela e seus filhos. Então lhe perguntei qual o significado daquilo, e ela me disse, em resumo, que agora se decidira a sair numa peregrinação, assim como fizera seu marido. Ela também me contou de um sonho que tivera e como o Rei do país onde seu marido está a mandara buscar com uma carta-convite para que fosse também até lá.

Então, disse a Sra. Não-sabe-de-nada : ― O quê!? E você acha que ela irá?

Temerosa ― Sim, não importa como. E penso assim porque meu maior argumento para persuadi-la a ficar (que eram os problemas que encontraria no caminho), é na opinião dela, um ótimo argumento para encorajá-la a ir em frente em sua jornada. Pois ela me disse, desse jeito, que “o amargo vem antes do doce”; sim, e uma vez que isso acontece, “o doce se torna ainda mais doce”.

Sra. Bêbada ― Ah, que mulher tola e cega! E ela não vê como um aviso as aflições que seu marido padeceu? Da minha parte, penso que se ele estivesse aqui de novo, ficaria contente com sua vida e não se arriscaria tanto por nada.

A Sra. Sem Consideração também replicou, dizendo: ― Que de-sapareçam esses loucos da cidade. Que bom se nos livrarmos dela, eu penso. Se ela permanecesse aqui na cidade e mantivesse esse pensa-mento, quem poderia viver perto dela tranquilamente? Pois, ou ficaria muito melancólica ou hostil, ou falaria dessas coisas todo o tempo e ninguém suportaria. Portanto, eu acho que nunca sentirei a sua par-tida, deixe-a ir, deixe que coisas melhores venham tomar o seu lugar:

13 Aqui vemos as palavras de nosso Senhor provadas “uma será levada e outra deixada” (Mateus 24.41). Misericórdia é chamada, e Temerosa deixada. Aparentemente, tudo parece acaso e acidente, que qualquer um chegue ao conhecimento da verdade. Mas é o amor que elege e direciona todas as coisas, e a graça soberana que rege todas as coisas. E “tudo isso provém de Deus, que nos reconciliou consigo mesmo por meio de Cristo” (2 Coríntios 5.18). Eis aqui a soberania divina. Que podemos dizer sobre estas coisas? “Se Deus é por nós, quem será contra nós?” (Romanos 8.31).

Page 16: © 2009, BV Films Editora Ltda · 2015. 9. 24. · O PEREGRINO John Bunyan Parte II . Capítulo I J á faz algum tempo que lhes contei o sonho que tive a respeito do Cristão, o Peregrino,

O Peregrino16

o mundo nunca mais foi bom depois que esses tolos excêntricos vie-ram morar nele.14

Então, a Sra. Inconstante completou com o seguinte: ― Vamos, deixemos de tal conversa. Estive ontem na casa de Madame Libertina, onde nos divertimos muito. Pois estávamos lá, eu e a Sra. Amante-da-Carne, e mais três ou quatro, com a Sra. Luxúria e a Sra. Corrupção e alguns outros. Nós ouvimos música, dançamos e tudo o mais ne-cessário para nos encher de prazer! Ouso dizer que minha pessoa é uma mulher admiravelmente bem criada e o Sr. Luxúria é igualmente agradável.

14 Veja como estes miseráveis carnais brincam com a própria danação, enquanto desprezam as verdades preciosas de Deus e ridicularizam Seus amados, escolhidos e chamados! Mas assim como foi no começo (aquele que nasceu da carne perseguiu aquele que nasceu do espírito), assim o é agora, e será para sem-pre, enquanto a semente da mulher e a semente da serpente estiverem sobre a terra.