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O Peregrino (em duas partes) John Bunyan Tradução Charles David Becker

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O Peregrino(em duas partes)

John Bunyan

TraduçãoCharles David Becker

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Cristão

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O PeregrinoPor

John Bunyan

TraduçãoCharles David Becker

2009

Publicadora MenonitaCaixa Postal 105

Rio Verde GO - 75901-970

www.menonita.org.bre-mail: [email protected]

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O Peregrino,por John Bunyan,foi publicado no inglês sob o títuloThe Pilgrim’s Progresse traduzido para o português pelaPublicadora MenonitaC.P. 10575901-970 Rio Verde – GO

TODOS OS DIREITOS RESERVADOSNenhuma parte desta edição pode ser utilizada ou re-produzida em qualquer meio ou forma, seja mecânico, eletrônico ou mediante fotocópia, gravação, etc., nem apropriada ou estocada em siste ma de banco de dados, sem a expressa autorização da Publicadora Menonita.

Esta edição de O Peregrinofoi publicada pelaLiteratura Monte Siãocom autorização expressa daPublicadora Menonita

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Índice

Resumo da vida do autor. . . . . . . . . . . . . . . .9

O PEREGRINO (primeira parte)

Capítulo I . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .15

Capítulo II . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .35

Capítulo III . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .49

Capítulo IV. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .69

Capítulo V . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .79

Capítulo VI. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .99

Capítulo VII . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .113

Capítulo VIII . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .137

Capítulo IX . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .143

Capítulo X . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .163

Capítulo XI . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .175

A PEREGRINA (segunda parte)

Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .189

Capítulo I . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .193

Capítulo II . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .203

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Capítulo III . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .215

Capítulo IV. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .227

Capítulo V . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .239

Capítulo VI. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .257

Capítulo VII . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .279

Capítulo VIII . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .297

Capítulo IX . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .311

Capítulo X . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .317

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Resumo da vida do autor

John Bunyan, o autor, nasceu em Elstow, perto de Bedford, na Inglaterra, no ano de 1628. Seu pai, Thomas

Bunyan, consertava tachos e panelas. John aprendeu a mesma profissão. Conhecemos muito pouco da sua mãe, que chamava-se Margaret Bentley.

A família Bunyan, que durante séculos morou na Inglaterra, era relativamente rica, mas na época do nasci-mento de John, perdeu quase todas as suas propriedades, tornando-se pobre. John estudou na escola em sua aldeia, onde aprendeu a ler, escrever e fazer cálculos.

Mais ou menos aos dez anos de idade, John parou de estudar para poder aprender a profissão de seu pai. Ele nunca chegou a ganhar muito dinheiro e aos dezessete anos de idade, com a Guerra Civil em andamento, ingres-sou no exército, provavelmente no Exército Parlamentário. Muitos dos personagens em O Peregrino parecem ter ori-ginado dos corajosos oficiais puritanos que ele conheceu.

Bunyan se julgava um dos piores homens. No entanto, seus pecados “graves” parecem resumir-se em quatro de-litos: 1) Aos domingos à tarde ele gostava de participar de uma brincadeira chamada “derruba-gato”, na qual uma pessoa era escolhida dentre um grupo de jovens, para em seguida todos tentarem derrubá-lo. 2) Ele gostava de dançar. 3) Ele gostava de tocar os sinos da igreja paroquial [provavelmente fora de horário]. 4) Ele leu um livro en-titulado A História de Sir Bevis de Southampton [uma obra

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O Peregrino

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de ficção]. Talvez mais sério do que tudo isso foi o hábito que adquiriu de usar palavrão. No entanto, seus amigos e conhecidos o tinham como um jovem comportado e piedoso.

Ele se casou com mais ou menos vinte anos de idade. Sua esposa era membro da igreja anabatista, uma mulher muito virtuosa. Sem dúvida foi a influência positiva dela que o levou a uma profunda convicção religiosa. Ele abandonou todos os seus maus caminhos, deixando de brincar de derruba-gato, de dançar, de tocar os sinos, de leitura de obras de ficção e de usar palavrão.

Durante um período de dois ou três anos ele passou por severas tentações, chegando a padecer de distúrbios mentais. Suas noites estavam repletas de visões e sonhos. Constantemente ele orava, mas passou-se muito tempo antes de sentir-se em paz. Ele tornou-se membro da Igreja Bedford em 1653, mas não tinha certeza da sua redenção até mais ou menos no ano 1655.

Seus amigos começaram a animá-lo a pregar a Palavra e logo tornou-se um dos pregadores mais populares na Inglaterra. Ao mesmo tempo ele começou a escrever, sempre tendo em mente a classe mais pobre. Ele falava e escrevia sua linguagem, sendo este um dos motivos por que “a grande multidão o ouvia com prazer”.

Não demorou e os pastores da Igreja da Inglaterra ficaram sabendo de suas pregações e se ofenderam ao saberem que ele os criticava pela maneira como viviam.

No dia 12 de novembro de 1660, pouco depois que Charles II tornou-se rei, Bunyan foi preso e encarcerado na cadeia municipal em Bedford, onde permaneceu, salvo pequenos períodos de liberdade, durante doze anos.

Ele foi acusado de dois crimes, a saber: de pregar o evangelho e de não frequentar a igreja paroquial. Em sua sentença condenatória, o juiz disse: “John Bunyan, da ci-dade de Bedford, operário, tem, com intenções diabólicas e perniciosas, se abstido de ir à igreja e de estar presente

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no culto divino; ele tem conduzido diversas reuniões ilícitas, através das quais perturbou e desviou os bons súditos deste reino, assim contrariando as leis de nosso senhor soberano, o rei”. Isto ele disse sem sequer se dar ao trabalho de ouvir qualquer testemunha. Em seguida o juiz Keeling dirigiu-se ao réu: “Ouça a sentença: Você voltará à prisão, onde permanecerá durante os três meses seguintes. Ao findar os três meses, se você não consentir em ir à igreja para ouvir o culto divino, e se não deixar de pregar, será banido do reino. Se não voltar com uma licença especial do rei, será pendurado pelo pescoço. Isso eu lhe digo com toda clareza. Carcereiro, leve-o”.

Bunyan respondeu: “Se eu saísse da prisão hoje, ama-nhã estaria pregando novamente, pela ajuda de Deus”.

Naqueles tempos os presos tinham que trabalhar para se sustentarem. Sendo que Bunyan não podia exercer sua profissão de consertador de tachos e panelas, teve que aprender a fazer renda, que um vendedor ambulante vendia para ele na rua. Ele também dava aulas de religião para os presos e continuava escrevendo. Ele tinha quatro crianças, uma delas uma menina cega. Sua primeira es-posa morrera e ele se casara novamente um pouco antes de ser preso.

Estar separado de sua família doía muito em Bunyan; ele se preocupava especialmente com a filha cega, por quem tinha um carinho especial. Ele escreveu: “Pobre menina, como fico condoído com a sua porção na vida. Você é obrigada a apanhar, a mendigar, a passar fome, frio, falta de roupa e mais mil calamidades. Tudo isso que você sofre ameaça despedaçar o meu coração”.

No entanto, ele permaneceu fiel. Comentando seu jul-gamento, disse: “Quando eu saí das portas do tribunal, senti muita vontade de anunciar que sentia a paz de Deus em meu coração e por isso bendizia o nome do Senhor. Saí para a prisão com o consolo de Deus em minha alma!”

O caso de Bunyan incomodava os juízes. Eles o cha-

Resumo da vida do autor

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mavam repetidamente, pois tinham medo de bani-lo ou enforcá-lo. Ele não prometia parar de pregar, de maneira que sempre mandavam-no de volta para a prisão. Seus amigos intercediam em seu favor junto às autoridades, mas estas não se comoviam. Sua esposa, uma mulher jovem e refinada, foi a Londres e apresentou uma peti-ção à Câmara dos Lordes, pleiteando a sua liberdade. Os argumentos que apresentou foram de alto nível, mas de nada adiantou. O juiz Twisden perguntou: “Seu marido pretende parar de pregar? Caso pretenda, pode trazê-lo para cá”. Ela respondeu: “Meu senhor, enquanto ele con-seguir falar, não parará de pregar”.

Em outra ocasião Bunyan disse: “Tenho resolvido, en-quanto o Todo-poderoso for meu auxílio e escudo, a sofrer por sua causa, mesmo que envelheça até criar musgo nas minhas sobrancelhas, antes de abandonar a minha fé ou meus princípios”.

Passar doze anos na prisão sem a mínima culpa parece ser uma injustiça terrível. No entanto, foi durante aqueles anos que Bunyan teve tempo para meditar e escrever, e assim se preparar para sua obra mestra. Durante o dia, sua filha cega costumava ficar ao seu lado. Durante as longas noites ele meditava e escrevia. A prisão era um lugar detestável, mas o carcereiro tratava os presos com dignidade, permitindo que de quando em quando Bunyan visitasse sua família. Numa destas ocasiões, o sacerdote de uma diocese vizinha ficou sabendo da sua ausência e mandou um emissário à prisão para conseguir provas que incriminasse o carcereiro. Enquanto isso, em casa, Bunyan começou a sentir uma grande inquietação e por isso re-solveu voltar à prisão mais cedo. Quando o emissário do sacerdote perguntou: “Todos os presos estão aqui?”, ele respondeu: “Sim, estão”. O emissário tornou a perguntar ao carcereiro: “John Bunyan está aqui?” Novamente o carcereiro respondeu que sim, e para não haver dúvida alguma, mandou chamar o preso. Depois deste inciden-

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te, o carcereiro disse a Bunyan: “Você pode sair quando quiser, pois já vi que sabe muito mais do que eu quando deve voltar”.

Bunyan foi liberado no dia 13 de setembro de 1672, quando se tornou o pastor da Igreja Bedford, mas era chamado para pregar a Palavra em todo o Reino Unido.

Em 1675, novamente passou uns poucos meses na prisão, desta vez provavelmente na prisão velha sobre a ponte de Bedford. Acredita-se que foi aqui que começou a escrever esta obra imortal. Ele terminou a primeira parte logo depois de sair da prisão; publicada em 1678, foi um sucesso imediato. A segunda edição saiu no mesmo ano. A segunda parte foi publicada em 1684. Foram impressas onze edições durante a vida do autor.

No verão de 1688, Bunyan foi a Reading para tentar acalmar um pai irado. Na sua volta, foi apanhado por uma tempestade que o deixou tão resfriado que dentro de poucos dias faleceu.

Resumo da vida do autor

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Capítulo I

Enquanto andava pelo deserto deste mundo, cheguei a um lugar onde havia uma caverna. Entrei e me deitei

para dormir. Durante o tempo que dormia, tive um sonho.Neste sonho, eu vi um homem vestido com trapos. Ele

estava com as costas viradas para sua própria casa. Em sua mão segurava um livro e nas costas carregava um fardo pesado. Eu vi quando ele abriu o livro e se pôs a ler. Entre mais que lia, mais ele chorava e tremia. Finalmente, não aguentando mais, começou a clamar em voz alta: “Oh! que farei?”

Logo em seguida voltou para casa, onde fez o possível para se comportar normalmente, para sua esposa e filhos não perceberem seu desespero. Mas sendo que o grande peso que sentia nas costas aumentava cada vez mais, não pôde ficar calado. Resolveu se abrir com a esposa e os filhos.

Ele lhes disse:— Minha querida esposa e vocês, meus amados filhos,

eu estou preocupadíssimo por causa de um peso que estou sentindo. Fui informado que a nossa cidade será queimada com fogo do céu. Naquela hora terrível, nós, juntamente com nossos filhos preciosos, teremos um fim lamentável, a não ser que seja encontrado um caminho de escape, o que por enquanto eu não conheço.

A esposa e os filhos do homem ficaram muito assusta-dos, não porque acreditassem em suas palavras, mas sim

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O Peregrino

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por acreditarem que ele estivesse ficando louco. Sendo que já estava ficando tarde, resolveram deitar-se, achando que um bom descanso poderia curar sua moléstia e que no dia seguinte amanheceria melhor.

Mas a noite não trouxe alívio algum, pois ao invés de dormir, passou as horas lamentando e chorando. Quando o dia amanheceu, sua família quis saber como ele estava passando. Ele lhes respondeu que estava ficando cada vez pior. Novamente ele tentou falar sobre o que estava sentindo, mas sua família foi ficando cada vez mais dura com ele. Ora o ameaçavam, ora lhe imploravam, ou sim-plesmente o ignoravam.

Era por isso que ele se fechava no quarto e orava, não apenas por eles, mas por si próprio também, pois queria de uma forma ou outra encontrar alívio. Outras vezes ele caminhava sozinho pelos campos. Durante vários dias ele passou seu tempo assim.

Aí eu vi, um dia enquanto ele passeava nos campos, que estava lendo seu livro. Sendo que ainda não havia en-contrado uma solução para seu problema, clamou, como já fizera muitas vezes: “O que eu devo fazer para ser salvo?”

Ele olhava primeiro para um lado e depois para ou-tro, como se quisesse fugir de lá correndo. Mas ao invés de correr, ficou parado, pois não sabia para que lado correr. Enquanto eu observava tudo isso, um homem que se chamava Evangelista foi até onde ele estava e perguntou:

— Por que você está chorando?Ele respondeu:— Meu senhor, pelo livro que estou lendo, vejo que

estou condenado à morte, para depois ser julgado. Mas acontece que não estou disposto a morrer, muito menos de ser julgado do jeito que estou.

Evangelista lhe perguntou:— Por que você não quer morrer, já que esta vida é tão

cheia de problemas?

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Capítulo IO homem respondeu:—Porque eu temo que este fardo que estou carregando

nas minhas costas vai me afundar mais do que a própria sepultura. Vou acabar na terra dos mortos. Meu senhor, já que não estou disposto a sofrer a pena da prisão perpétua,

Cristão conversa com sua família

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O Peregrino

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tenho medo de ser julgado e sentenciado. Tudo isso me faz chorar.

Evangelista lhe disse:—Já que sua situação é grave assim por que está aqui

parado?Ele respondeu:—Porque não sei para onde ir.Evangelista lhe deu um livro no qual estava escrito:

“Fuja da ira futura”.O homem leu estas palavras e depois olhou para Evan-

gelista. Perguntou:— Para onde eu devo fugir?Evangelista apontou para um campo bem largo e

perguntou:—Você está vendo aquela portinha lá na frente?O homem respondeu:— Não, não estou vendo.Evangelista fez outra pergunta:— Você consegue enxergar aquela luz lá longe?Ele disse:— Parece que estou vendo.Evangelista lhe disse:— Não tire seus olhos daquela luz. Vá caminhando

até chegar na porta. Bata e alguém lhe dirá o que fazer.No meu sonho, eu vi como o homem começou a correr.

Logo sua mulher e filhos perceberam o que estava acon-tecendo. Começaram a gritar, pedindo que voltasse. Mas o homem tapou os ouvidos com os dedos e continuou correndo. Clamava: “Vida! Vida! Vida eterna!” Correu pelo meio do campo sem olhar para trás.

Os vizinhos também saíram de suas casas para verem o que estava acontecendo. Alguns zombavam dele. Outros o ameaçavam. Outros ainda lhe imploravam que voltas-se. Entre estes havia dois, que se chamavam Obstinado e Vacilante, que resolveram correr atrás e trazê-lo de volta à força.

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Nestas alturas, o homem já estava bem na frente deles, mas mesmo assim resolveram tentar alcançá-lo, o que não demoraram a conseguir.

Vendo-os chegar, o homem perguntou:—Meus vizinhos, o que vocês desejam?Eles responderam:— Viemos convencê-lo a voltar conosco.Ele lhes disse:— De forma alguma voltarei. Vocês moram na Cida-

de da Destruição, onde por sinal eu nasci. Se morrerem naquele lugar, o que cedo ou tarde acontecerá, irão se afundar mais do que a sepultura num lugar que arde com fogo e enxofre. Muito pelo contrário, meus bons vizinhos, venham comigo.

Obstinado exclamou:— O que! E largar para trás todos os nossos amigos e

os muitos confortos que temos?Cristão, pois é assim que ele se chamava, respondeu:— Sim, porque nada que vocês abandonarem pode se

comparar com aquilo que eu estou procurando. Se forem comigo, encontrarão as mesmas coisas que eu procuro, já que no lugar para onde eu vou há suficiente para todos. Venham comigo e verão que tudo que eu digo é verdade.

Seguiu-se o seguinte diálogo:Obstinado: Já que está deixando as coisas do mundo, o

que é que você na realidade está procurando?Cristão: Eu procuro uma herança incorruptível, inconta -

minável e imarcescível, guardada nos céus. Sendo que está guardada nos céus, é uma herança segura que vou receber na hora certa se eu a procurar com toda diligência. Tudo isso está escrito em meu livro. Se quiserem, podem ler.

Obstinado: Não quero nem saber desse livro seu. O que quero saber é se você vai ou não vai voltar conosco.

Cristão: Não voltarei com vocês porque já coloquei minha mão no arado.

Obstinado: Então vamos, vizinho Vacilante. Vamos

Capítulo I

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para casa sem este sujeito. Este tipo de pessoa, depois que invoca com uma coisa, se julga mais sábio do que sete homens de bom juízo.

Vacilante: Calma aí. Não diga essas coisas. Se o que o bom amigo diz é verdade, então a herança que ele procura é muito melhor do que a que nos espera. Estou achando que vou acompanhar o nosso vizinho.

Obstinado: O que! Mais um louco? Preste atenção ao que digo e volte comigo. Para onde um sujeito desmiola-do desses vai lhe levar? Vamos, vamos. Mostre-se sábio e volte comigo.

Cristão: Meu bom vizinho Vacilante, venha comigo. Tudo que eu disse lhe espera…e muito mais. Caso você ainda sinta dúvidas, pode ler este livro, pois tudo que está escrito nele é verdade. São palavras escritas com o sangue do próprio autor.

Vacilante: Pois bem, vizinho Obstinado, quero deixar cla-ro que irei com este bom homem. Seremos com-panheiros de viagem… Amigo Cristão, só uma pergunta: Você conhece bem o caminho por onde nós vamos andar?

Cristão: Eu estou sen-do orientado por um homem que se chama Evange lista. Foi ele quem me ensinou como che gar a uma pequena porta lá na frente, onde receberemos mais ins-truções sobre o caminho.

Vacilante: Tudo bem, bom vizinho, então vamos.Obstinado

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Obstinado: Eu voltarei para a minha casa. Não quero nem ficar perto de gente enganada e fanática.

No meu sonho, eu vi Obstinado voltar para sua cidade. Cristão e Vacilante atravessaram o campo. Enquanto an-davam, os dois conversavam:

Cristão: Mas que coisa boa, vizinho Vacilante. Fico tão feliz por você ter resolvido ir comigo. Se Obstinado tivesse sentido o poder e os terrores invisíveis que nos rodeiam, como eu já senti, teria pensado duas vezes antes de voltar para sua cidade.

Vacilante: De fato, vizinho Cristão, e já que somos só nós dois aqui, conte-me mais sobre as coisas que nos esperam e onde elas se encontram.

Cristão: O que eu vejo em minha mente às vezes eu tenho dificuldade em expressar com minha língua. Mas já que você quer saber, vou ler alguns trechos do meu livro.

Vacilante: Você sinceramente acredita que as palavras de seu livro são verdadeiras?

Cristão: Sem a menor dúvida, pois o autor deste livro não sabe mentir.

Vacilante: Tudo bem. O que é que ele diz?Cristão: Ele fala de um reino que nunca terá fim. Ele

oferece vida eterna àqueles que quiserem morar naquele reino eternamente.

Vacilante: Gostei. E que mais?Cristão: Ele dará a todos os cidadãos daquele reino

uma coroa de glória e roupas que resplandecem como o sol que vemos no céu.

Vacilante: Isto é muito bom. E que mais?Cristão: Naquele lugar não haverá tristeza. Ninguém

chorará porque o próprio rei enxugará todas as lágrimas dos olhos.

Vacilante: Como são os habitantes daquele lugar?Cristão: São serafins e querubins, isto é, criaturas res-

plandecentes. Naquele lugar você encontrará milhares e dezenas de milhares de pessoas que já viveram aqui

Capítulo I

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O Peregrino

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e depois foram para lá. Não haverá ninguém odioso ou mal-inten-cionado. Antes todos serão amorosos e santos. Anda rão com Deus e per manecerão em sua presença para todo o sempre. Resumindo, neste lugar veremos os anciãos com suas coroas de ouro. Veremos as santas virgens com as harpas de ouro. Veremos os homens que foram despedaçados pelo mun-do, aqueles que foram queimados na fogueira, devorados pelas bestas feras e afogados nos ma-

res por causa do amor que tiveram pelo Senhor daquele lugar. Agora todos estarão bem de novo, vestidos com a imortalidade.

Vacilante: Meu coração vibra com estas notícias. Mas será que realmente dá para chegar neste lugar? O que é que temos que fazer?

Cristão: O Senhor, que é o Governador daquele país, deixou instruções claras em seu livro. O que ele diz, na realidade, é que todos que desejarem estas coisas podem recebê-las de graça.

Vacilante: Muito bem, meu bom companheiro. Fico mui-to feliz de ouvir tudo isso. Vamos andar mais depressa.

Cristão: Eu não posso caminhar muito depressa devido ao fardo que carrego nas costas.

No meu sonho, eu vi como os dois se aproximavam de um pântano bem no meio daquele campo pelo qual

Vacilante

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passavam. Sendo que nenhum dos dois estava prestando atenção, caíram no lamaçal. O nome deste lugar é Pântano do Desespero. Continuaram andando neste pântano até ficarem totalmente enlameados. Devido ao fardo pesado em suas costas, Cristão começou a afundar.

Vacilante: E agora, vizinho Cristão. Onde você está agora?

Cristão: Sinceramente, eu não sei.Vacilante (com muita raiva): Muito bem! Então esta é a

felicidade da qual você andou falando? Se já de saída nós nos encontramos numa situação dessas, o que podemos esperar mais adiante? Se eu conseguir sair deste lugar com vida, vou deixar que você fique com a minha herança naquele país que está procurando.

Vacilante foi lutando dentro da lama até conseguir sair quase no mesmo lugar onde entrou, que na realidade ficava perto da sua casa. Afastando-se do companheiro com passos rápidos, nunca mais foi visto.

Cristão agora teve que pelejar no Pântano do Desespe-ro sozinho. Mesmo assim, não voltou atrás, como fizera Vacilante, mas continuou em frente, afastando-se cada vez mais de sua casa. A cada passo, aproximava-se mais da pequena porta na frente. Mas devido ao fardo pesado nas costas, não conseguia sair do pântano.

Em meu sonho, vi quando um homem chegou para socorrê-lo. Este homem se chamava Socorro. Ele pergun-tou: “O que você está fazendo aqui?”

Cristão: Meu senhor, o homem que se chama Evange-lista me explicou como chegar àquela porta na frente, para assim escapar da ira futura. Mas enquanto caminhava, caí neste lugar.

Socorro: Por que você não procurou a escada?Cristão: Creio que foi por medo. Descuidei e acabei

caindo.Socorro: Dê-me sua mão.Cristão estendeu sua mão e Socorro o tirou daquele

Capítulo I

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O Peregrino

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pântano. Vendo-o novamente em terra firme, mandou que continuasse sua viagem.

Aí eu me aproximei de Socorro e perguntei:— Meu senhor, já que este pântano está bem no ca-

minho de quem foge da Cidade da Destruição, por que ninguém o conserta, já que muita gente deve cair nele?

Cristão no Pântano do Desespero

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Ele me disse:— Este pântano não tem conserto. Por ser um lugar

baixo, é justamente para cá que corre toda sujeira e corrupção do coração que sente o peso do pecado. Não é por menos que se chama o Pântano do Desespero, pois o pecador que se dá conta que está perdido sente muitos temores e dúvidas. Se você reunir toda a sujeira e cor rupção da sua alma, além dos temores e dúvidas que sente, e colocar tudo num lugar só, o resultado será o pior pântano imaginável.

“O Rei não gosta deste lugar. Durante quase dois mil anos seus obreiros têm trabalhado sob a direção de seus engenheiros para consertar este lugar. Já despejaram aqui no mínimo 20 mil carretas de informações. São milhões e milhões de instruções que têm vindo de todas as provín-cias do reino ao longo de muitos séculos. (Quem conhece o assunto, afirma que não existe material melhor para fazer aterro.) Se instruções resolvessem o problema, o problema teria sido resolvido há muito tempo. Mas não resolveram e até hoje temos o Pântano do Desespero. E podemos ter a certeza de que este pântano nunca acabará.

“É verdade que o Legislador mandou colocar uma fileira de pedras no meio do pântano. Mas é tão grande o despejo de sujeira neste lugar que muitas vezes é quase impossível enxergar as pedras. E mesmo vendo-as, os ho-mens que entram neste lugar ficam tão tontos que acabam caindo na lama.”

No meu sonho, vi quando Vacilante chegou em casa novamente. Seus vizinhos logo foram até sua casa. Alguns o elogiaram, dizendo que agiu bem em voltar. Outros o chamaram de tolo pelo fato de ter caído na conversa de Cristão. Outros ainda zombavam dele, chamando-o de covarde. Diziam: “Você teve coragem de iniciar a via-gem, mas na hora de enfrentar pequenas dificuldades, mostrou-se fraco”.

Por causa destas conversas, Vacilante passou alguns

Capítulo I

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dias em casa. Mas quando ele começou a sair na rua no-vamente, o povo esqueceu-se de sua covardia e começou a falar mal de Cristão.

Enquanto continuava sua viagem sozinho, Cristão viu à distância um homem que atravessava um campo, caminhando para seu lado. Acontece que este homem se chamava Sabedoria Mundana. Ele residia em Vida Carnal, uma cidade muito grande localizada perto da cidade natal de Cristão. Ao se encontrarem, Sabedoria Mundana já sabia mais ou menos quem era Cristão (pois quando este deixou a Cidade da Destruição, todos ficaram sabendo, não apenas em sua própria cidade, mas também em todas as cidades vizinhas, onde este acontecimento se transformou no assunto do dia). Foi por isso que Sabedoria Mundana, vendo como Cristão estava cansado e ouvindo seus gemidos, iniciou a conversa.

Sabedoria Mundana: Olá, meu amigo! Para onde você vai tão encurvado deste jeito?

Cristão: Encurvado sim, pois onde você já viu alguém com um fardo mais pesado do que o meu? Você pergunta para onde eu vou. Digo-lhe, meu senhor, que estou me dirigindo para aquela porta estreita lá na frente. Fui infor-mado que chegando até aquela porta, vou encontrar um caminho no qual ficarei livre do meu fardo.

Sabedoria Mundana: Você tem uma esposa e filhos?Cristão: Tenho sim, mas o peso deste fardo é tão grande

que não consigo cumprir minhas responsabilidades para com eles. Do jeito que estou, é como se não tivesse filhos.

Sabedoria Mundana: Você aceitaria um conselho meu?Cristão: Se for bom, aceito sim, pois estou precisando

muito de bons conselhos.Sabedoria Mundana: Eu lhe aconselho a livrar-se deste

fardo o mais rápido possível, pois do jeito que você está agora, não serve para nada – aliás, nem poderá gozar das bênçãos de Deus enquanto andar encurvado deste jeito.

Cristão: É justamente isto que eu procuro; quero ficar

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livre deste fardo. Mas acontece que por conta própria sou incapaz de me livrar dele. E não existe homem nesta terra capaz de tirá-lo de cima de mim. É justamente por isso que estou me dirigindo para aquela porta estreita. Quero ficar livre do meu fardo.

Sabedoria Mundana: Quem colocou esta ideia em sua cabeça?

Cristão: Um senhor que eu conheci, que para mim é um homem de muito respeito e integridade. O nome dele, se não me engano, é Evangelista.

Sabedoria Mundana: Maldito o homem que anda dando este tipo de conselho. Não há caminho mais perigoso ou difí-cil no mundo todo do que este que Evangelista lhe indicou. Se continuar neste caminho, descobrirá que tudo que eu digo é verdade. Você já experimentou alguns dos perigos, pois vejo que está todo sujo com a lama do Pântano do Desespero. Mas veja bem que aquele pântano é apenas o começo de uma série de coisas desagradáveis que lhe sobrevirão. Preste atenção a minhas palavras, já que eu sou um homem mais velho do que você. No caminho em que pretende andar, você encontrará cansaço, dores, fome, perigos, nudez, espada, leões, dragões, trevas, enfim, a morte. Como muitos podem confirmar, tudo que lhe digo é verdade. Eu pergunto: Por que um homem jogaria sua vida fora para seguir os conselhos de um estranho que nem conhece direito?

Cristão: Meu senhor, este fardo que carrego nas costas para mim é muito mais terrível do que tudo que você acabou de me dizer. Pouco me importo com o que possa me acontecer no caminho, desde que eu consiga me livrar deste peso.

Sabedoria Mundana: Onde você arrumou este fardo que está carregando nas costas?

Cristão: Foi este livro que seguro em minha mão que me ensinou que estava carrgando um fardo desnecessariamente.

Sabedoria Mundana: Sabia! Não é só você que caiu nessa. Conheço outros homens fracos, que nem você, que tenta-ram entender coisas acima da sua inteligência e se deram

Capítulo I

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mal. Se deram mal porque além de não entender, como é o seu caso, saíram à procura de coisas que nem existem.

Cristão: Eu sei perfeitamente o que procuro. Procuro alívio, porque não aguento mais este fardo.

Sabedoria Mundana: Mas por que procurar alívio de uma maneira tão perigosa? Se você tivesse paciência para me ouvir, poderia lhe indicar uma solução muito mais sen-sata, não tão cheia de perigo. Sim, tenho a solução. Posso assegurar-lhe que no lugar dos perigos você encontrará segurança, amizade e felicidade.

Cristão: Por gentileza, me conte este segredo.Sabedoria Mundana: Na frente você está vendo uma ci-

dadezinha que se chama Moralidade. Um dos moradores desta cidade chama-se Legalista, um homem muito ajui-

Sabedoria Mundana

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zado e de boa reputação. Ele é especialista no assunto de tirar fardos das costas dos homens. Pelo que entendo, ele já ajudou muita gente. E tem mais. Ele sabe curar aqueles que andam com a cabeça atrapalhada por causa do fardo pesado que carregam. Pode dirigir-se à casa dele e imedia-tamente será atendido. Sua casa fica a pouco mais de um quilômetro daqui. Caso ele não esteja em casa, seu filho, um rapaz bonito que se chama Polido, irá atendê-lo. Como o pai, ele também é especialista neste assunto. Depois que você ficar livre de seu fardo, se não quiser voltar para a sua cidade natal, o que não é nem aconselhável, pode mandar chamar sua esposa e filhos para virem morar nesta cidade. Há muitas casas desocupadas que podem ser alugadas por um preço razoável. Aliás, tudo é barato nesta cidade e sei que será muito feliz. Alguns de seus vizinhos serão Crédito e Moda, dois homens muito honestos.

Durante alguns instantes Cristão ficou confuso, mas chegou à conclusão de que o homem lhe falava a verdade e que seus conselhos deviam ser seguidos.

Cristão: Meu senhor, qual é o caminho que me levará à casa daquele homem honesto?

Sabedoria Mundana: Você está vendo aquele morro na frente?

Cristão: Estou, sim.Sabedoria Mundana: Siga no rumo daquele morro. A

primeira casa que você encontrar será a dele.Baseado nesta conversa, Cristão deixou o caminho

em que andava e dirigiu-se à casa de Legalista. Mas entre mais que subia, mais alto o morro parecia ficar. De um lado do caminho parecia ser tão íngreme que Cristão ficou com medo que caísse em cima dele. Confuso, ele parou. Para piorar as coisas, seu fardo estava pesando cada vez mais em seus ombros. Em alguns lugares, grandes chamas de fogo saíam da encosta do morro. O medo de ser consumido por elas o fez tremer de medo.

Cristão estava começando a compreender que fora um

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grande erro seguir os conselhos de Sabedoria Mundana, quando viu Evangelista que se aproximava dele. Ao ver o rosto severo deste, Cristão enrubesceu.

Evangelista: Cristão! O que você está fazendo aqui?Ao ouvir estas palavras, Cristão não soube o que res-

ponder. Ficou mudo.Evangelista: Não é você o homem que eu encontrei

chorando fora dos muros da Cidade da Destruição?Cristão: Sim, meu querido senhor, sou eu.Evangelista: Eu não disse para você seguir o caminho

que dá na porta estreita?Cristão: Sim, meu querido senhor.Evangelista: Como é que tão depressa abandonou aque-

le caminho? Este não é o caminho que eu lhe indiquei.Cristão: Tão logo eu saí do Pântano do Desespero, en-

contrei um senhor que me disse que numa cidadezinha aqui perto eu encontraria um homem que tiraria das mi-nhas costas este fardo pesado. E eu acreditei.

Evangelista: Como era este homem?Cristão: Parecia ser um cavalheiro. Ele conversou muito

comigo e finalmente resolvi seguir seus conselhos. Mas ao chegar a este lugar onde parece que o morro vai cair em cima de mim, parei.

Evangelista: O que o cavalheiro lhe disse?Cristão: Ele começou me perguntando para onde eu ia

e eu lhe disse.Evangelista: E aí, o que ele disse?Cristão: Ele me perguntou se eu tinha família e eu lhe

disse que sim. Comentei que o fardo estava tão pesado que não conseguia mais cumprir minhas responsabilidades para com a família.

Evangelista: O que ele achou disso?Cristão: Bem, ele achou que eu devia me livrar des-

te fardo o mais rápido possível. Eu lhe disse que era justamente isto que estava tentando fazer, inclusive que estava me dirigindo à porta estreita para encontrar o

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lugar de libertação. Mas ele me disse que me mostraria um caminho melhor e mais curto, no qual não encon-traria tantas dificuldades como no caminho que você me ensinou. Segundo ele, eu iria para a casa de um cavalheiro que é especialista no assunto de remover fardos. Eu acreditei em suas palavras e deixei o primeiro caminho e segui neste com a esperança de encontrar alívio. Mas ao chegar a este lugar e ver como as coisas realmente são, fiquei com muito medo e parei. Agora estou muito confuso.

Evangelista: Vamos conversar um pouco. Quero lhe mostrar as palavras de Deus: “Não despreze aquele que fala, pois se não escaparam os que desprezaram aquele que falou sobre a terra, quanto menos escaparemos se despre-zarmos aquele que fala do céu?” E, “O justo viverá da fé. E se ele recuar, a minha alma não terá prazer nele”. Você é este homem! Você está rejeitando os conselhos do Altís-simo, está se afastando do caminho da paz. Se continuar deste jeito, não haverá mais solução para seu problema”.

Cristão (caindo como se estivesse morto): Ai de mim, que vou perecendo!

Evangelista (pegando a mão direita dele): Todo pecado e blasfêmia se perdoará aos homens. Não seja incrédulo, mas crente.

Estas palavras reanimaram Cristão. Trêmulo, ele levantou-se.

Evangelista: Preste muita atenção à minhas palavras. Vou lhe dizer quem o enganou. O homem com quem você se encontrou, Sabedoria Mundana, tem o nome certo, pois sua religião é a religião deste mundo, sendo por isso que frequenta a igreja na cidade de Moralidade. Ele adora esta religião pelo fato de não ter nenhuma ligação com a cruz. Devido à sua natureza carnal, ele constantemente procura atrapalhar o meu trabalho. Há especialmente três coisas na religião deste homem que você precisa detestar do fundo do coração:

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1. O fato de que ele o desviou do caminho certo.2. Sua tentativa de induzi-lo a detestar a cruz.3. O fato de que ele deseja a sua morte e desviou seus

passos para o caminho da morte.Vejamos agora:Primeiro, ele lhe desviou do caminho certo. Isto acon-

teceu porque você deu mais importância aos conselhos de Sabedoria Mundana do que aos de Deus. O Senhor manda: “Esforçai-vos por entrar pela porta estreita” – justamente a porta que eu lhe indiquei – “porque eu vos digo que muitos procurarão e não poderão”. Foi exatamente desta porta que este homem malvado o desviou, querendo as-sim levá-lo à destruição. Por isso é preciso detestar este homem – e também a sua natureza carnal que o fez seguir seus conselhos.

Segundo, você precisa detestá-lo pelo fato de ter tentado induzi-lo a odiar a cruz. Você deve valorizá-la mais do que todos os tesouros no Egito. Além do mais, o Rei da glória lhe disse que quem quiser salvar a sua vida vai perdê-la. Ele diz que “se alguém vier a mim, e não aborrecer a seu pai, e mãe, e mulher, e filhos, e irmãos e irmãs, e até mesmo a sua própria vida, não pode ser meu discípulo”. Portanto, quando alguém procura desfazer-se da cruz, contrariando tudo que a Palavra de Deus ensina, esta religião é falsa e precisa ser detestada.

Terceiro, você precisa detestá-lo pelo fato de que des-viou seus passos para o caminho da morte. Lembre-se também que a pessoa que ele indicou para ajudá-lo não tinha as mínimas condições de tirar o fardo pesado de suas costas.

O homem que ele indicou para ajudá-lo chama-se Legalista. Ele é o filho de Escrava. Ela, com todos os seus filhos, que também são escravos, moram à sombra do monte Sinai, deste mesmo monte que você está achando que vai cair em cima de sua cabeça. Eu lhe pergunto: Se esta mulher e todos os seus filhos são escravos, tem lógica

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acreditar que ela tem poder para libertar outros escravos? Da mesma forma Legalista não tem poder algum para tirar seu fardo de suas costas. Nunca houve caso de um homem se libertar deste fardo por força própria – e nunca haverá.

Veja bem que é impossível ser justificado pelas obras da lei, ou de encontrar algum alívio por meio desta lei. É mais do que evidente que Sabedoria Mundana é um invasor. Legalista é um enganador. E seu filho, Polido, apesar de sua boa aparência, não passa de um hipócrita. Ele tampouco tem condições de ajudar ninguém. Pode crer, tudo que este homem insensato fala, todo o barulho que faz, não passa de uma tentativa de enganá-lo, de tirá-lo do caminho que lhe indiquei, para assim não alcançar a salvação.

Evangelista agora olhou para o céu e pediu uma confirmação de tudo que havia acabado de dizer. Imediatamente uma voz e fogo saíram da montanha onde Cristão se encontrava, fazendo com que ficasse todo arrepiado. As palavras que ouviu foram estas: “Todos aqueles que são das obras da lei estão debaixo da maldição, pois está escrito: Maldito todo aquele que não permanecer em todas as coisas que estão escritas no livro da lei, para fazê-las”.

Ao ouvir estas palavras, Cristão desesperou-se, pois não via outra alternativa, a não ser a morte. Começou a clamar em voz alta, amaldiçoando o dia em que se encon-trara com Sabedoria Mundana. Ele ralhava consigo mesmo por ter seguido seus conselhos. O que lhe causava mais vergonha foi o fato de ter acatado os argumentos deste senhor, assim permitindo que sua carne o dominasse ao ponto de abandonar o caminho certo. Seguiu-se o seguinte diálogo:

Cristão: O que você acha? Ainda há esperança para mim? Há possibilidade de voltar para o caminho certo e continuar minha viagem para a porta estreita? Ou para mim este é o fim? Terei que voltar para minha terra coberta

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de vergonha? Estou muito arrependido por ter seguido o conselho do homem. Há perdão para este pecado?

Evangelista: Seu pecado é grave, porque na realidade cometeu dois grandes erros. Primeiro, você desprezou o bom caminho, e segundo, deu preferência aos caminhos falsos. No entanto, o homem na porta lhe receberá, já que ele deseja o bem para todos os homens. Mas tome muito cuidado para nunca mais abandonar o bom caminho. Muitos têm perecido ao entrarem nestes caminhos falsos.